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FERRÃO, R.G.; FERRÃO, M.A.G.; FONSECA, A.F.A.; MISTRO, J.C.; VOLPI, P.S.

;
VERDIN FILHO, A.C.; MAURI, A.L.; LANI, J.A. Capítulo 2 – Cultivares In: FONSECA, A.;
SAKIYMA, N.; BORÉM, A. Café conilon: do plantio a colheita, Viçosa: Editora UFV, 2015, p.
29 – 49.
*Introdução
+ O café (Coffea sp.) é originário da África, sendo Coffea arábica da Etiópia e Coffea
canephora do Congo. A primeira espécie apresenta maior adaptação a regiões de maior atitude e
mais frias. A segunda, entretanto, adapta-se melhor a áreas de menores atitudes, normalmente
abaixo de 500 m, e temperatura média anual mais elevada, entre 22 e 26 °C.
- Canephora = 38% da produção mundial.
*Melhoramento genético de Coffea canephora no Brasil
+ No melhoramento genético de espécies alógamas via propagação sexuada, há
dificuldade de fixação de características de interesse na descendência originada de cruzamento
entre plantas consideradas superiores. Contudo, a facilidade de propagação assexuada
(vegetativa) no café Conilon possibilita a manutenção de características presentes nas plantas-
mães, constituindo-se, assim, importante ferramenta para obtenção de ganho energético mais
rápido e com menor custo.
+ Estaquia como método de reprodução vegetativa dominante.
+ O café Conilon é uma cultura alógama com 100% de fecundação cruzada, decorrente
principalmente do fenômeno da autoincompatibilidade gametofítica na espécie, que inviabiliza a
autofecundação ou o cruzamento entre as plantas que apresentam a mesma constituição
genética. Dessa forma os materiais genéticos de um cultivar clonal devem ser compatíveis entre
si.
+ Segundo Lewis (1949) e Ramalho et al. (1990), incompatibilidade gametofítica é
governada por um gene denominado S com, pelo menos três alelos S 1, S2 e S3. Esse é um
fenômeno que ocorre devido a inibição, ao mau desenvolvimento, ao retardamento ou a
ausência de crescimento do tubo polínico no comprimento total do estilete, que possui o mesmo
alelo do pólen. A presença de alelos em comum, em indivíduos diferentes, impede a fecundação
cruzada e, por consequência, a produção de frutos.
+ Nove cultivares melhorados que são a base para a renovação do cafeeiro no ES.
- O plantio desses cultivares, aliado à utilização de outras tecnologias oriundas
do programa de pesquisa (espaçamento, plantio em linha, adubação e calagem, poda, manejo de
pragas, doenças e plantas daninhas, conservação de solo, irrigação, acima de 100 sacas
beneficiadas/ha e, além de um produto final de qualidade superior.
Obs: Irrigação como prática crucial na obtenção de produtividades superiores a 100 sc/ha.
+ O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), localizado em Campinas-SP iniciou o
programa de melhoramento de Coffea canephora em 1970, com cafeeiros dos grupos Conilon,
Robusta e híbridos entre os dois grupos, além de híbridos interespecíficos, como os derivados
de C. canephora e C. congensis e de C. canephora e C. eugenioides.
- Nesse programa, foram selecionadas diferentes progênies dos grupos Robusta,
Conilon e Bukobensis e um cultivar porta-enxerto, com resistência a nematoide.
+ EMBRAPA Rondônia
- BRS Ouro Preto.
*Cultivares
+ Para a espécie Coffea canephora, os cultivares podem ser clonais ou propagados por
sementes.
+ Cultivares clonais
- Cultivares clonais são constituídos pelo agrupamento de clones que se
destacaram para as características desejadas e que forma definidos após uma série de
procedimentos experimentais e biométricos, utilizados na pesquisa científica.
- Para oferecer maior segurança ao produtor quanto à polinização e não
diminuição drástica da base genética da população de plantas, recomenda-se que os cultivares
clonais sejam formados pelo grupamento de pelo menos oito clones superiores e compatíveis
entre si.
+ Cultivares propagados por sementes
- Heterogênese.
+ Cultivares de Café conilon desenvolvidos pelo INCAPER
- No programa de melhoramento genético, do INCAPER, foram desenvolvidos,
lançados e registrados no MAPA oito cultivares clonais e um de propagação por sementes.
● Desenvolvimento dos cultivares: variedades reproduzidas por
estaquia e avaliadas em ensaios mínimos de quatro colheitas em três locais diferentes.
- As principais características avaliadas nos experimentos são: altura média da
planta; diâmetro médio da copa; época e uniformidade de maturação dos frutos; porcentagem de
grãos chochos, grão moca e grão chatos; peso médio de 1000 grãos; grãos retidos na peneiras
11, 13, 15 e maior que 15; peneira média; relações café cereja/café coco, café cereja/café
beneficiado e café coco/café beneficiado; reação às principais doenças (ferrugem, cercosporiose
e mancha-manteigosa) e pragas (bicho-mineiro, broca-da-haste e cochonilha-da-roseta);
adaptação a fatores abióticos; e qualidade final.
● Cultivar EMCAPA 8111
X Cultivar clonal lançado em 1993, constituído pelo
agrupamento de nove clones compatíveis entre si, de maturação precoce e uniforme. A época de
colheita é normalmente nos meses de abril a maio. A produtividade média nas primeiras quatro
colheitas sem irrigação é de 58 sacas beneficiadas/ha (29% maior do que a testemunha-cultivar
propagado por semente), com amplitude de variação dos clones entre 49 e 64 sacas
beneficiadas/ha, rendimento médio no beneficiamento de 4,03 (kg de cereja/kg de beneficiado)
e peneira média igual a 14.
● Cultivar EMCAPA 8121
X Cultivar clonal lançado em 1993, formado pelo agrupamento
de 14 clones compatíveis, de maturação intermediária e uniforme e colheita normalmente no
mês de junho. A produtividade média das primeiras quatro colheitas sem irrigação é de 60 sacas
beneficiadas/ha (33% maior que a testemunha-cultivar propagado por sementes), com amplitude
de variação de clones entre 52 e 72 sacas beneficiadas/ha, rendimento médio no beneficiamento
de 3,96 (kg de cerejas/kg de café beneficiado) e peneira média igual a 15.
● Cultivar EMCAPA 8131
X Cultivar clonal lançado em 1993, composto pelo
agrupamento de nove clones compatíveis, de maturação uniforme e tardia, e colheita
normalmente nos meses de julho e agosto. Apresenta, nas quatro primeiras colheitas sem
irrigação, produtividade média de 60 sacas beneficiadas/ha (33% maior do que a da testemunha-
cultivar propagada por semente), com amplitude de variação entre clones de 51 a 72 sacas
beneficiadas/ha, rendimento médio no beneficiamento de 3,76 (kg de cereja/kg de café
beneficiado) e peneira média igual a 14.
● Cultivar EMCAPA 8141 – Robustão Capixaba
X Cultivar clonal lançado em 1999, constituído pelo
agrupamento de dez clones compatíveis entre si e que possuem como principal característica a
tolerância a seca.
X Este cultivar é recomendado, prioritariamente, para o plantio
em condições não irrigadas, principalmente em regiões de défice hídrico. Recomenda-se que
seus clones sejam plantados em linhas, tendo em vista que a maturação dos frutos de cada um
ocorre em épocas distintas, entre maio e julho. Essa prática proporciona que a colheita realizada
separadamente não deprecie a qualidade do produto final.
X Embora se caracterize como tolerante à seca, a variedade
Emcapa 8141 – Robustão Capixaba mostrou-se responsiva à suplementação de água,
alcançando, nessas condições produtividade média de até 112 sacas beneficiadas/ha, além de
alto vigor vegetativo, moderada resistência às principais doenças e grãos para peneira média
superior a 15.
● Cultivar Emcapa 8151 – Robusta Tropical
X Cultivar propagado por sementes, lançado em 2000, oriundo
da recombinação de 53 clones elites do programa de melhoramento do Incaper.
X Apresenta elevada produtividade, ampla base genética e
rusticidade, elevado vigor vegetativo, arquitetura adequada para manejo e poda peneira média
de grãos superior a 15 e adaptação a diferentes regiões do Espírito Santo. A maturação dos
frutos ocorre, normalmente, entre maio e junho. A produtividade média obtida em diferentes
ambientes capixabas, oriunda da soma de 23 colheitas, foi de 50,3 sacas beneficiadas/ha. Em
condições irrigadas ou de boa precipitação pluviométrica e distribuição de chuvas, tem potencial
para atingir mais de 80,0 sacas beneficiadas/ha.
● Cultivar Vitória Incaper 8142
X Cultivar clonal lançado em 2004, formado pelo agrupamento
de 13 clones superiores compatíveis entre si, que reúnem, simultaneamente, características de
interesse que os distinguem entre os mais adequados, considerando tanto o potencial produtivo
quanto outros aspectos importantes para sustentabilidade da atividade.
X Destaca-se com produtividade média de 70,4 sacas
beneficiadas/ha, em condições não irrigadas, superando em 21,05% a média dos demais
cultivares clonais recomendados pelo INCAPER na ocasião do lançamento. Em condições
irrigadas, apresentou rendimento superior a 100 sacas beneficiadas/ha. Além de elevada
produtividade, somam-se os seguintes atributos: estabilidade de produção, alto vigor vegetativo,
baixa percentagem de grãos do tipo moca, tolerância à seca, moderada resistência à ferrugem,
uniformidade de maturação e grãos de tamanho grande. Para o seu plantio, recomenda-se
utilizar a técnica do plantio em linha.
● Cultivar Diamante ES 8112
X Cultivar clonal, lançado em 2013, constituído pelo
agrupamento de nove clones compatíveis entre si, de maturação precoce e uniforme e com
colheita concentrada no mês de maio. Apresenta produtividade média de 80,73 sacas
beneficiadas/ha, o que supera em 39,19% a média do cultivar Emcapa 8111 e em 14,73% e a
média do Vitória Incaper 8142, lançados em 1993 e 2004, respectivamente.
● Cutivar ES 8122 – Jequitibá
X Cultivar clonal, lançado em 2013, constituído pelo
agrupamento de nove clones compatíveis entre si, de maturação intermediária e com colheita
concentrada no mês de junho. A produtividade média do cultivar de 88,75 saca/ha supera em
47,92% e 26,07% a média dos cultivares Emcapa 8121 (intermediário) e Vitória INCAPER
8142, lançados em 1993 e 2004 respectivamente.
● Cultivar Centenária ES 8132
X Cultivar clonal, lançado em 2013, constituído pelo
agrupamento de nove clones compatíveis entre si, de maturação tardia e com colheita
concentrada em julho. A produtividade média de 82,36 sacas beneficiadas/ha supera em 37,27%
e 16,99% a média dos cultivares EMCAPA 8131 (tardio) e Vitória Incaper 8142, lançados em
1993 e 2004, respectivamente.
X Os cultivares Diamante ES 8112, ES 8122 – Jequitibá e
Centenária ES 8132 se diferenciam, sobretudo, pela época de maturação dos frutos: precoce
(maio), intermediárias (junho) e tardias (julho). A produtividade média em condições não
irrigadas das três variedades, de 84 sacas beneficiadas/ha, supera em 42,4% o rendimento das
primeiras lançadas em 1993 (Emcapa 8111, Emcapa 8121 e Emcapa 8131) e 19,4% de Vitória
Incaper 8142, lançada em 2004.
# Esses três últimos cultivares apresentam potencial
genético de rendimento superior a 120 sacas beneficiadas/ha, em plantios irrigados e com alta
tecnologia. Reúnem também estabilidade de produção, porte médio, alto vigor vegetativo, baixa
porcentagem de grãos chochos e mocas, uniformidade de maturação dos frutos, grãos grandes,
tolerância a seca e moderada resistência à ferrugem.
X O grande destaque dos cultivares Diamante ES 8112, ES
8122 – Jequitibá e Centenária ES 8132 é a qualidade superior da bebida.
+ Cultivares de Coffea canephora, Desenvolvidos pelo IAC
- Cultivar Apoatã IAC 2258
● Cultivar porta-enxerto, oriundo de introdução de sementes da planta
matriz 2258 do CATIE, Costa Rica, em 1974, e avaliada no IAC com denominação IAC 2258.
● Os cafeeiros do porta-enxerto Apoatã IAC 2258 caracterizam-se por
multicaules, muita vigorosidade e exuberante sistema radicular. Apresenta elevada resistência
ao agente causal da ferrugem e aos nematoides Meloidogyne exígua, M. incógnita e M.
paranaenses.
● Em experimentos realizados em Rondônia o Apoatã, além de
adaptação e alta produtividade, mostrou-se com maturação tardia (julho, agosto); relação café
maduro (cereja) e café beneficiado igual a 5,0; peso de 1000 sementes do tipo chato de 141
gramas; peneira média 16,7; 89,5% de sementes do tipo chato; teor de sólidos solúveis de
31,2% e o cafeína nas sementes de 1,7%.
- Cultivar Guarini IAC 1598
● O cultivar Guarini IAC 1598 é oriundo de um conjunto de planta
superiores selecionadas de um germoplasma de matrizes do Horto Florestal da Companhia
Paulista da Estrada de Ferro de Rio Claro/SP, em 1945. Uma das introduções de C. canephora
em Campinas destacou-se por apresentar produção elevada e, como característica principal,
frutos e sementes bem maiores do que o do cultivar Conilon, além de nível de resistência a H.
vastatrix superior. A este conjunto de cafeeiros deu-se o nome de Guarani.
● Em experimentos realizados em Rondônia, o Guarani, além de
adaptação e alta produtividade, mostrou-se com maturação tardia (julho/agosto); relação de café
cereja/café beneficiado igual a 5; peso de 1000 sementes do tipo chato de 131 gramas; peneira
16,6; 78% sementes do tipo chato; teor de sólidos solúveis de 28,3%; produtividade na quarta
colheita de 67,0 sacas beneficiadas/ha; resistência às principais raças de ferrugem; exuberante
sistema radicular; elevada resistência ao nematoide Meloidogyne exigua e certo grau de
resistência a M. incognita.
- Bukobensis IAC 826 e 827
● A origem de Bukobensis parece ser Uganda, na África. Sua
introdução no IAC ocorreu por sementes provenientes de plantas matrizes do Horto Florestal da
Companhia Paulista de Estradas de Ferro de Rio Claro, São Paulo, em 1945, com posterior
seleção de plantas produtivas e maturação precoce ou semiprecoce e mais uniforme. As
melhores seleções do IAC receberam as siglas Bukobensis IAC 826 e IAC 827.
● Esses cultivares são de porte médio, semelhante ao café Conilon com
sementes maiores; maturações precoce ou semiprecoce; boa produtividade; resistência à
ferrugem e ao nematoide Meloidogyne exigua; e altos teores de sólidos solúveis nas sementes.
*Cultivar desenvolvido pela Embrapa Rondônia
+ A Embrapa Rondônia, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e
Universidade Federal de Viçosa (UFV), vem trabalhando com melhoramento genético de
Coffea canephora desde 1978, na sua Estação Experimental no Município de Ouro Preto do
Oeste, visando, sobretudo ao desenvolvimento de cultivares com adaptação e estabilidade de
produção para as condições edafoclimáticas da Amazônia Legal.
+ Cultivar BRS Ouro Preto
- Cultivar clonal lançado em 2012, formado pelo agrupamento de 15 clones
superiores, compatíveis, de maturação intermediária e tolerantes aos principais estresses
climáticos observados nos polos de cafeicultura, em Rondônia (alta temperatura), elevada
umidade do ar e défice hídrico moderado). Destina-se a cafeicultores que utilizam tecnologias
recomendadas para o cultivo de sequeiro ou com irrigação.
- O cultivar apresenta potencial de produtividade de 70 sacas beneficiadas/ha;
ciclo de maturação de 270 dias após a florada principal; alta estabilidade de produção; alto vigor
vegetativo; boa uniformidade de maturação; grãos grandes com peneira média de 15; média de
36% de grãos mocas; resistência moderada a ferrugem e a cercosporiose; e qualidade de bebida
neutra com maiores teores de sólidos solúveis e cafeína que os cultivares comerciais de café
arábica.
+ Outros cultivares recomendados para Rondônia
- As seguintes progênies são recomendadas para Rondônia:
● Café robusta: IAC 1647, IAC 2258, IAC 2259, IAC 2293;
● Café Conilon: 69-5, 66-3, e 68; e
● Guarani: IAC 1675, Apoatã IAC 2258.
+ Outros cultivares
- Tabela 2.1 – Cultivares de Coffea canephora registrados no MAPA, em março
de 2014.
Denominação Tipo de registro Mantenedor N° Registro
Conilon Cultivar Incaper 05381
EMCAPA 8111 Cultivar Incaper 05384
EMCAPA 8121 Cultivar Incaper 05383
EMCAPA 8131 Cultivar Incaper 05382
EMCAPA 8141 – Robustão Capixaba Cultivar Incaper 05385
EMCAPA 8151 – Robusta Tropical Cultivar Incaper 05386
Vitória Incaper 8142 Cultivar Incaper 20471
Diamante ES 8112 Cultivar Incaper 31002
ES 8122 (Jequitibá)* Cultivar Incaper 31003
Centenária ES 8132* Cultivar Incaper 31001
Apoatã IAC 2258 Cultivar Incaper 02958
BRS Ouro Preto* Cultivar Incaper 29486
Ipiranga 501 Cultivar Incaper 26043
SV 2010 Cultivar Incaper 27053
Verdebrás G30/G35 Cultivar Incaper 06380
*Cultivares clonais registrados e protegidos no Brasil junto ao Serviço Nacional de Proteção de
Cultivares (SNPC), MAPA.

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