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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL


CURSO DE TECNOLOGIA EM PRODUÇÃO SUCROALCOOLEIRA

CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA E ANATOMIA


DA CANA-DE-AÇÚCAR

PROF. MARCELO LEITE


 A cana-de-açúcar é uma planta perene
pertencente ao gênero Saccharum, da
família Poaceae, tribo Andropogoneae,
representada também pelo milho, sorgo e
arroz.
Tabela 1. Classificação taxonômica antiga e atual da cana-de-açúcar.
Especificação Engler (1887) Cronquist (1981) Termi-
nação
Divisão (Filo) Angiospermae Magnoliophyta phyta
Classe Monocotyledoneae Liliopsida opsida
Ordem Glumiflorae Cyperales ales
Família Gramineae Poaceae aceae
Tribo Andropogoneae Andropogoneae eae
Subtribo Saccharininae Saccharininae inae
Gênero Saccharum Saccharum
Espécie Saccharum officinarum Saccharum officinarum
S. barberi S. barberi
S. robustum S. robustum
S. spontaneum S. spontaneum
S. sinensis S. sinensis
S. eduli S. eduli
 As principais características dessa família
são a forma da inflorescência (panícula), o
crescimento do caule em colmos, as folhas
invaginantes que apresentam lâminas
(limbo) com bordos serrilhados e as raízes
fasciculadas.
COLMO
 Há pelo menos seis espécies do gênero,
sendo a cana-de-açúcar cultivada
atualmente um híbrido multiespecífico.
 Híbrido: é uma variedade ou cultivar
formado a partir do cruzamento sexual
entre diferentes espécies afins.

Espécie A + Espécie B = híbrido C


 Os híbridos atuais recebem uma
nomenclatura específica que informa a
instituição responsável pelo cruzamento e
seleção, o ano do cruzamento e o número
específico do clone.

Exemplo: IAC91-5155 / RB92579


Algumas das principais siglas do Brasil:
 CB – Campos;
 IAC – Instituto Agronômico de Campinas;
 RB – República Brasil (Planalsucar/Ridesa);
 SP – São Paulo (Copersucar);
 CTC – Centro de Tecnologia Canavieira;
 PO – Pedro Ometto (Usina da Barra);
 PB – Pernambuco.
 É uma cultura que produz, em curto
período, um alto rendimento de matéria
verde, energia e fibras, sendo considerada
uma das plantas com maior eficiência
fotossintética.
 Seu centro de diversidade é a Nova Guiné e
o centro de origem é desconhecido.
 Centro de origem: Locais onde existe a

maior diversidade genética de uma

determinada espécie e de disseminação

desta variabilidade.
 Centro de diversidade: Difere do C.O. pelo
número de subespécies dentro dos limites
de espécies separadas.
 Conhecer o centro de origem e de
diversidade de uma planta de interesse
agrícola é fundamental, pois lá
encontraremos fontes de variação genética
imprescindíveis para serem usadas em
programas de melhoramento vegetal.
 A importância do melhoramento:

A cana-de-açúcar tem pouca resistência a


doenças e alta exigência em solo e clima.
 A alta suscetibilidade dessa espécie a

diversas doenças, em especial ao mosaico,

levou os países produtores a iniciar

programas de melhoramento através da

hibridação entre diferentes espécies do

gênero Saccharum.
 As canas cultivadas atualmente são
consideradas um híbrido das seguintes
espécies:
Saccharum officinarum

S. barberi

S. robustum

S. spontaneum

S. sinensis

S. eduli
 Portanto, a terminologia taxonômica atual

dos cultivares de cana é Saccharum spp., já

que não se cultiva comercialmente canas

que não sejam frutos de melhoramento

(híbridas).
Nota: spp. é o plural de sp., que é uma abreviação para
espécie, nos casos em que esta não pode ser
determinada.
 Saccharum spontaneum é uma espécie que

tem dado boa contribuição ao

melhoramento com suas características de

vigor, perfilhamento, capacidade de rebrota

e resistência a doenças e pragas.


 São plantas de porte menor, colmos curtos

e finos, fibrosos e praticamente sem açúcar.

 Apresenta sistema radicular bem

desenvolvido e perfilhamento abundante.


 Saccharum robustum tem pouca

participação nos híbridos atuais, exceto nos

havaianos.

 As plantas apresentam porte alto, colmos

fibrosos e são muito pobres em sacarose.


 Saccharum sinensis apresenta colmos finos

e fibrosos, ocasionalmente ricos em

sacarose.

 Sistema radicular desenvolvido suportando

estresse hídrico.
 Saccharum barberi apresenta porte médio,

colmos finos e fibrosos e são pobres em

sacarose. São rústicas e pouco exigentes

em solo, suscetíveis ao mosaico e

tolerantes ao frio.
 Ao discutir aspectos botânicos de cada

órgão da planta, é necessário enfatizar que

a cana-de-açúcar é uma planta que

perfilha.

 Essa característica influencia todo o manejo

da cultura.
Gema

Zona radicular
Primórdio
da raiz
 Cada perfilho comporta-se como uma
planta independente e autônoma, pois tem
órgãos próprios como raízes, folhas e
frutos.

 Contudo, aqueles perfilhos que compõem a


touceira continuam tendo ligações entre si e
podem eventualmente trocar alguns
nutrientes e água.
 O perfilhamento é afetado por vários

fatores como luz, temperatura, umidade do

solo e nutrientes.
 A extensão do perfilhamento e a

sobrevivência dos perfilhos até a

maturidade são características varietais,

porém é influenciada pelo clima, solo e

condições nutricionais.
 As gemas plantadas irão gerar os perfilhos
primários, cujas gemas poderão gerar os
perfilhos secundários e suas gemas os
terciários e assim sucessivamente.
 A fase de perfilhamento em grande parte

determina a produtividade da cultura, mas

nem todos os perfilhos sobrevivem.


 Os colmos apresentam formato cilíndrico

sendo compostos por NÓS e ENTRENÓS.

 Eles podem ser definidos como a porção

acima do solo, que sustenta as folhas e a

inflorescência.
 O colmo de cana é formado pelo:
 NÓ, região onde se insere a bainha da
folha;

 ZONA RADICULAR, que inclui a gema e


vários primórdios radiculares;

 ANEL DE CRESCIMENTO, região com


células que permitem o alongamento do
entrenó;

 Zona cerosa e Entrenó.


 Além dessas estruturas, há a chamada

cicatriz da bainha.

 As folhas mais velhas se tornam menos ativas

e morrem com o tempo, desprendendo-se do

colmo e deixando uma cicatriz.


 O formato e a cor do colmo é uma

característica fenotípica importante e muito

útil na descrição e identificação de cada

variedade.
Detalhe:
Gemas opostas
no colmo
 As gemas (localizadas em cada nó) são

dispostas nos colmos alternadamente e

protegidas pela bainha da folha, que é

presa firmemente ao internó.

 As gemas apresentam diversos formatos.


Colmos
 Tipos de gemas:
Retangular Redonda Triangular Oval

IAC91-1099 IACSP93-2060 IACSP95-3028 IACSP95-5000


 Camadas de células lignificadas formam a
casca, cuja função é proteger os tecidos
internos.

 Internamente ao colmo são observados os


feixes vasculares (análise tecnológica:
“fibras”). Eles são praticamente paralelos ao
longo dos internós, mas se embaraçam nos
nós.
 Esse “embaraçamento” permite diversas
ramificações necessárias para dirigirem-se
às bainhas e folhas da planta.

 São os canais de transporte de água e


nutrientes entre o sistema radicular e todas
as demais partes da planta (xilema e
floema).
 O tecido mais macio envolvendo os feixes é
formado pelas células que armazenam o
caldo contendo açúcar.

 Assim, o colmo é a parte mais importante


economicamente da planta, pois é dele que
se obtém o produto a ser extraído na
indústria.
 O teor de fibras dos colmos varia durante a

safra de 9 a 20%, entre as variedades

mais macias e usadas na alimentação

animal e aquelas mais duras e finas,

geralmente mais rústicas e resistentes a

determinadas condições de cultivo.


 Vários fatores afetam o crescimento dos

colmos, sendo água, nutrição, temperatura,

luz e área foliar os mais importantes.


 As folhas são responsáveis pela interação

da PLANTA com a ATMOSFERA, trocando

gases e vapor d’água através dos

estômatos que abrem e fecham em função

da TURGIDEZ das CÉLULAS-GUARDA.


 Nas células-guarda estão os cloroplastos,

onde é realizada a FOTOSSÍNTESE

incorporando o carbono atmosférico e

transformando-o em carboidratos de alto

valor energético.
 As folhas, assim como as gemas, são

alternadas, opostas e presas aos nós dos

colmos. Elas podem ser divididas em duas

partes;

 Superior: conhecida como LÂMINA.

 Inferior: envolvendo o colmo e


chamada de BAINHA.
LÂMINA:

Estrutura alongada e relativamente plana,

de comprimento variável na fase adulta entre

0,5 a 1,5 m, com largura de 2,5 a 10 cm

(dependendo da variedade).

É sustentada por uma nervura central que se

estende por todo o seu comprimento.


LÂMINA:

Costuma ter bordos serrilhados (corpos

silicosos) e algumas variedades apresentam

pêlos finos chamados joçal, no dorso das

bainhas, dificultando o manuseio.


LÂMINA:

As folhas podem ser numeradas de acordo

com o “sistema Kuijiper”, que serve para

padronizar os estudos de crescimento,

nutrição, e diagnose foliar.


LÂMINA:

Nesse sistema, a folha que apresenta a

primeira aurícula visível (Top Visiable Dewlap,

TVD) no topo da planta onde se localizam as

folhas novas, recebe a denominação de folha

+1.
LÂMINA:

Esta folha representa a primeira folha

completamente desenvolvida do ponto de

vista fisiológico e totalmente desenrolada

anatomicamente.
LÂMINA:

As folhas mais velhas e secas assim como os

seus nós, recebem numeração crescente, ou

seja, +2, +3, etc, e as mais novas, em

direção ao ponteiro e gema apical, recebem a

numeração 0, -1, -2, etc.


O florescimento da cana é indesejável para o

manejo da cultura nos campos comerciais,

devido ao consumo de energia com perdas

no teor de sacarose e alterações na qualidade

de matéria-prima industrial.
O florescimento, contudo, é altamente

interessante para os programas de

melhoramento.
Assim, ele pode ser induzido ou inibido

através de variações nas épocas de plantio e

corte, localização das áreas de cultivo, uso de

maturadores ou inibidores do florescimento,

irrigação, adubação, manejo artificial do

fotoperíodo etc.
Para o florescimento, são necessárias

algumas condições específicas de

fotoperíodo, temperatura e umidade.


O tipo de inflorescência é de panícula ou
flecha, e a flor é hermafrodita com um óvulo.

Os pistilos têm a terminação com estigmas


roxas ou vermelhas, caracterizando o aspecto
PLUMOSO da panícula.

O androceu é constituído por 3 estames


sustentando uma antera cada um.
O grão de pólen é muito pequeno com uma

meia-vida de somente 12 minutos após a

dispersão pelo vento.

 Depois de 35 minutos nenhum grão de

pólen é mais viável.


A semente é na verdade um fruto cariopse,

elíptico, com cerca de 1,5 mm de

comprimento por 0,5 de diâmetro

transversal.
O florescimento está ligado ao fenômeno da

isoporização ou chochamento dos entrenós e

é altamente prejudicial ao uso industrial da

cana pois reduz drasticamente a eficiência da

extração de sacarose.
A isoporização ocorre quando há uma

desidratação dos tecidos do colmo em virtude

do transporte de caldo e açúcares do colmo

em direção às panículas.

Ao perder água o colmo adquire, de forma

gradativa, coloração branca.


As raízes têm função principal de

sustentação, além de absorver água e

nutrientes.
Secção longitudinal do ápice da raiz.

Ponto de crescimento.

Camadas de células
que formam a capa
protetora ou coifa.
O sistema radicular da cana planta explora

mais intensamente as camadas superficiais,

se comparado a cana soca, que apresenta

um incremento na exploração de

subsuperfície.
Embora a cana planta apresente menos raízes

que as soqueiras, sua eficiência de abasorção

por unidade de superfície é maior, pois

apresenta um conjunto de raízes mais novas e

tenras que as soqueiras, que têm uma

proporção maior de raízes velhas e

lignificadas.

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