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Restaurando a aliança conjugal

Texto Base: Gênesis 2:24,25


1. Introdução
Você sabe qual é o significado bíblico da palavra aliança? Você já parou para pensar na profundidade e nas
implicações de uma aliança? Estamos começando mais um ano, essa é uma grande oportunidade de revermos nossos
conceitos e valores. De pedirmos ao Senhor que, por meio de seu Espírito e de sua Palavra revelada, nos conduza à
toda verdade. É tempo de romper com o comodismo, com a ociosidade e com a ignorância espirituais. É tempo de
restaurar princípios e valores bíblicos. É tempo de restaurar as alianças firmadas por Deus.
Pois, são elas que regulam o nosso relacionamento com Ele e com o próximo. Cada vez que rompemos uma aliança
divinamente estabelecida, quebramos um princípio, e, cada vez que quebramos um princípio, trazemos algum tipo de
maldição sobre nossa vida. Por outro lado, o seu cumprimento determina nosso sucesso e nossa felicidade.
2. Conceito Bíblico de Aliança
No Antigo Testamento, a palavra hebraica que normalmente define o conceito de aliança é berît (aparece cerca de
287 vezes). Berît seria substantivo feminino do verbo barah (escolher, procurar). A idéia seria de eleição, seleção.
“Sempre quando há aliança se está elegendo, escolhendo alguém.”
Quando analisamos os termos de aliança no Antigo Oriente Médio, percebemos que as palavras têm o sentido de
“unir”, “ligar”, “amarrar”. O aspecto básico da aliança na Bíblia é unir, ligar pessoas distintas. A própria etimologia
da palavra fala disso. O propósito é criar um relacionamento com compromisso. As pessoas que entram num
relacionamento de aliança se comprometem uma com a outra assumindo um compromisso mútuo o qual é geralmente
confirmado no ato por um juramento (hebraico – alah “juramento”): Gn.21:22-32 (aliança – Abraão/Abimeleque);
Gn. 26:26-30 (aliança – Isaque/Abimeleque); Dt.29:10-15 (aliança – Deus/Israel); Js.9:15-20 (aliança –
Israel/Gibeonitas).
O juramento tinha um papel tão importante no estabelecimento de uma aliança que no AT as palavras berît e alah ou
shevuah são usadas como sinônimas – Dt.29:10-15 “para que entrem em uma aliança, para que entrem em
juramento”. Juramento e aliança num contexto de aliança são sinônimos.
Aliança é uma ligação ou união baseada em sangue e administrada de modo soberano por Deus. O conceito de uma
união baseada em sangue indica que a aliança do AT expressa a idéia de um relacionamento sério com implicações de
vida e morte. Numa cerimônia onde havia morte de animais, a aliança era feita sendo declarado que se o
cumprimento não ocorresse a parte devedora acabaria como o animal sacrificado, ou seja, uma quebra de uma das
partes poderia resultar em morte. Por isso que a Bíblia diz que o salário do pecado é a morte (Rm 6:23). O pecado é a
quebra de uma aliança. Toda vez que o povo hebreu pecava havia morte (Ez 18:20). Se alguém não morresse, ainda
assim havia morte, morte substitutiva para a remissão dos pecados (Lv 4).
3. Aliança no Éden
Apesar de não conter a palavra berît no relato do Éden, no relacionamento entre Deus e Adão(a primeira referência
está em Gênesis 6:18, no relato de Noé), Oséias sugere claramente que havia uma aliança entre ambos (Os 6:7). Deus
tinha uma aliança com Adão, e, como toda aliança, havia direitos e deveres: Adão não podia tocar na árvore do
conhecimento. A quebra desta aliança implicaria em morte, em derramamento de sangue. E foi o que aconteceu,
Adão quebrou a aliança e houve morte. Que morte? Morte substitutiva! Agora, ele e sua companheira tinham
vergonha um do outro. Isso contrariou profundamente o nosso Deus. Sabe o que Deus fez? Ele próprio sacrificou
animais para cobri-los. Houve morte, houve sangue (Gn 3:21). O pecado trouxe a vergonha, o sacrifício os cobriu. Na
verdade, trata-se de um sacrifício profético que aponta para o Cordeiro de Deus, cujo sangue derramado na cruz do
Calvário nos purifica de todo o pecado (Jo 1:29; 1Jo 1:7).
4. Princípios da Aliança Conjugal
A aliança conjugal foi estabelecida por Deus, foi Ele quem selou este pacto. Nesta aliança também há sangue: é
natural acreditar que Eva, em sua primeira relação sexual, sangrou. Normalmente, as relações sexuais envolvem
sangue. Toda vez que os casais se relacionam sexualmente em amor, estão reafirmando a aliança conjugal. Havia
uma prática muito comum entre os hebreus onde, após a noite de núpcias, mostrava-se o lençol manchado de sangue.
Este é o símbolo da concretização da aliança e da pureza da mulher (Dt 22:13…).
Deus repudia o divórcio porque significa quebra de aliança. Por outro lado, Ele se alegra na fidelidade conjugal.
Observe os textos abaixo:
E não fez ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência
para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque
o SENHOR, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio, e aquele que encobre a violência com a sua roupa, diz o
SENHOR dos Exércitos; portanto guardai-vos em vosso espírito, e não sejais desleais. (Ml 2:15,16)
Assim, o que adultera com uma mulher é falto de entendimento; aquele que faz isso destrói a sua alma. A mulher
virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que o envergonha é como podridão nos seus ossos. (Pv 6:32; 12:4)
Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias
da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol. (Ec 9:9)
Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. (1 Co
7:2)
Finalmente, vamos examinar o “texto base” e observar os princípios implícitos nestes dois versículos de Gênesis
2:24,25.
A) Princípio da Renúncia – Portanto deixará… Deixar significa, entre outras coisas, renunciar. È, na verdade,
renunciar a vida que se levava antes do casamento. Existem pessoas que casam mas querem continuar levando a
vidinha de solteiro. Continuam enfiados na casa dos pais; por qualquer briguinha, vão pra casa da mamãe falar mal do
cônjuge. Deixar é deixar, é renúncia. É abrir mão da rodinha de amigos; do futebol (quando se torna prejudicial); do
passeio com as amiguinhas; das viagens à sós… É claro que existem as exceções.
Existe um ritual milenar judaico muito interessante: a noiva costuma caminhar três, quatro ou sete vezes em torno do
noivo, dependendo do costume local. Duas razões são dadas para este procedimento, uma é que a noiva, dessa
maneira mostra que o marido será o centro da existência dela; e a outra é que isso simboliza o fato de que o noivo
agora estará rodeado pela luz e pela virtude que só o casamento traz.
Parafraseando o Apóstolo Paulo, podemos dizer: quando eu era solteiro, falava como solteiro, sentia como solteiro,
discorria como solteiro, mas, logo que me casei, acabei com as coisas de solteiro (1Co 13:11). Resumindo: solteiro
vive como solteiro, casado vive como casado. Renuncie!
B) Princípio da Prioridade ¬– Deixará o homem a seu pai e a sua mãe… É cortar o cordão umbilical e entender que o
cônjuge é a pessoa mais importante. Pois, é com o cônjuge que iremos viver pelo resto da vida. A aliança conjugal
sobrepõe-se à aliança maternal. Ela não anula os vínculos com os nossos pais, pelo contrário: devemos continuar
honrando papai e mamãe.
Depois de Deus, o cônjuge passa a ser a pessoa mais importante de nossa vida. Se algum casamento não segue esta
ordem é porque algo está errado. Veja a declaração de Paulo em Efésios 5:28,29 : Assim devem os maridos amar as
suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca
ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
O cônjuge é mais importante que os filhos, que os amigos, que tudo que há neste mundo: As muitas águas não podem
apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o
desprezariam (Ct 8:7). Os filhos, um dia, irão construir seu próprio lar. No ninho do casal ficará apenas o casal.
C) Princípio da Unidade – Unir-se-á à sua mulher… Este é um princípio ignorado por muitos cônjuges. Ele não sabe
por onde ela anda, ela não faz a mínima idéia de onde ele esteja; ele diz uma coisa, ela diz outra; ele diz “não”, ela diz
“sim”. É uma tremenda confusão!. Este princípio é muito amplo, ele envolve diversos aspectos na vida de um casal,
desde o relacionamento entre ambos à criação dos filhos. Por isso, devem buscar um denominador comum, um ponto
de convergência (Am. 3:3). Os cônjuges precisam dar satisfação de onde vão ou deixam de ir. De preferência, devem
andar juntos sempre que for possível.
Adão ignorou este princípio. Onde ele estava enquanto a serpente seduzia sua esposa? Isso é falta de unidade. Por que
Eva deu ouvidos à serpente, ignorando a orientação de Adão? Isso é falta de unidade. Por que Adão tentou se
esquivar da responsabilidade culpando a mulher e o próprio Deus? Isso é falta de unidade. Talvez, você conheça
casais que só andam separados, isso pode indicar que alguma coisa não vai muito bem nesse casamento. A unidade
também é prejudicada pela falta de renúncia e de prioridade. Ninguém quer renunciar sua vontade para entrar em
comum acordo; ninguém quer abrir mão de sua razão para satisfazer o próximo.
O casal unido é forte, a família unida é forte, a igreja unida é forte. A unidade multiplica a força: Cinco de vós
perseguirão a um cento deles, e CEM de vós perseguirão a DEZ mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de
vós (Lv 26:8). Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não
haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E,
se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa (Ec 4:10-
12). Essa unidade deve estar acima das preferências pessoais, deve buscar o bem comum, a felicidade do próximo.
D) Princípio da Sexualidade – Serão ambos uma só carne… É justamente na relação sexual que esta palavra, “uma só
carne”, se cumpre literalmente. O sexo no casamento é uma benção de Deus. Por isso, ele deve ser sem mácula (Hb
13:4). O sexo é, principalmente, a renovação da aliança conjugal. Quando os princípios estão sendo quebrados, as
conseqüências aparecem no sexo: a frieza, a abstinência, o egoísmo e tantas outras anomalias.
A renúncia também faz parte do ato sexual, pois o corpo do homem pertence a mulher e o corpo da mulher pertence
ao homem (I Co 7:4). Não é bom que um casal sexualmente ativo se prive do sexo. Isso é uma brecha para Satanás
agir (I Co 7:5). Por isso é que não deve haver espaço para mágoas e ressentimentos, o perdão deve ser uma constante
(Ef 4:26,27).
Há casais que, apesar de tanto tempo juntos, ainda não se descobriram no sexo. Há problemas, e, na maioria das
vezes, fáceis de resolver. Mas, se não há unidade eles não vão falar a mesma língua, é frustração sobre frustração,
culpa sobre culpa, e o que era para ser uma grande benção torna-se motivo de desavenças.
Nestes casos, é preciso buscar o diálogo e, quando necessário, a ajuda de um especialista.
E) Princípio da Transparência – E ambos estavam nus… O relacionamento de Adão e Eva (antes da queda) era
transparente, não havia o que esconder, a própria nudez era vista com muita naturalidade. A vida à dois deve ser
assim: transparente. Se um dos cônjuges faz alguma coisa que o outro não pode saber, tem alguma coisa errada. Há
esposas que não sabem realmente no que o marido trabalha, porque ele faz segredo.
Muitos pais ensinam os próprios filhos a fazerem coisas escondidas: “Mamãe vai fazer isso, mas papai não pode
saber, é um segredo nosso”. Muitas dessas experiências são reproduzias pelos filhos quando se casam. O cônjuge não
pode ser o último à saber o que está acontecendo no lar, no trabalho ou seja lá onde for. Se há unidade, deve haver
transparência.
Um dos significados da palavra transparência é “que deixa perceber um sentido oculto”. Quando o casal é
transparente as coisas não ficam em oculto, elas são reveladas. Não deve haver segredos entre eles (salvo as raras
exceções). Os cônjuges não usam máscaras, não mentem (Col 3:9), não fazem nada às escondidas. Uma só carne, é
uma só carne, é unidade, é sexo, é transparência.
Que esta palavra os abençoe tremendamente.
Seu pastor e amigo: A. Lima

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