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Smartphones1
Abstract: The focus of this research is the use of smartphone cameras for filmmaking, correlating
technological transformation with practical and cultural shifts in cinematic production meaning.
The study investigates the extent, changes, and validations of smartphone utilization in
filmmaking, in addition to analyzing other possibilities and potentials of the device through a
critical approach.
Introdução
Com a popularização dos smartphones e a evolução das câmeras presentes neles, cada
vez mais pessoas têm utilizado seus celulares para produzir conteúdo audiovisual, incluindo
conteúdos mais elaborados como filmes e afins. A hipótese desta pesquisa é a de que o uso de
celulares na realização cinematográfica tem se tornado uma opção para a produção de filmes
independentes, visto que esses aparelhos disponibilizam recursos e ferramentas de edição que,
smartphone por meio de uma abordagem crítica, buscando compreender se essa nova realidade
pode de fato proporcionar acesso mais democrático a realização audiovisual, especialmente para
1
Trabalho apresentado no XXVI Encontro SOCINE na sessão: CI 22 - Audiovisual e democratização no
Brasil
2 Doutoranda do PPGCOM da UERJ. Mestre em Criação e Produção de Conteúdos digitais/ Audiovisual da
uma análise dos filmes de Steven Soderberg, Unsane (2018) e Sean Baker, Tangerine (2015),
livremente inspirada no método de análise fílmica proposta por Jacques Aumont e Michel Marie
(2004). Assim, entende-se que não existe método universal de análise de filmes e por isso cada
análise deve ser feita por critérios pautados pelo analista a partir da obra em questão.
pelo smartphone e necessitamos investigar como os seres humanos interagem com ele a fim de
nossa era é a crescente onipresença de telas nas mais diversas experiências humanas.
longo das últimas décadas, a chegada dos smartphones trouxe um novo nível de acesso às telas.
Elas agora não necessitam mais de um espaço apropriado para serem acessadas, estão
não é baseado apenas na utilidade das aplicações que ele viabiliza, se baseia também na
capacidade de estar presente na vida cotidiana dos seus usuários. O celular “assume o papel do
dispositivo capaz de transformar um não lugar em um lugar, na medida em que conecta o usuário
indivíduos, mas também podem ser usados como ferramentas para resistência e transformação
social. Assim, o dispositivo pode ser entendido como um conjunto de forças que atuam de
maneira complexa e que podem ser usadas tanto para o controle quanto para a libertação.
Com uma visão menos otimista, Foucault levantou uma questão que é destacada por
Agamben (2009) ao afirmar que os dispositivos têm sempre função estratégica e são usados
como táticas de guerra. São utilizados com vistas a submeter alguém a algum poder por meio
de táticas de poder. Funcionam dentro de uma relação de poder e dentro de uma relação de
que há uma relação intrínseca com as tecnologias cotidianas que coloca em evidência a
saber e poder. “Temos assim duas grandes classes, os seres viventes (ou as substâncias) e os
dispositivos. E entre os dois, como terceiros, estão os sujeitos. Chamo sujeito o que resulta da
relação e, por assim dizer, do corpo a corpo entre os viventes e os dispositivos” (AGAMBEN,
2009, pg.41)
Embora o avanço dessa tecnologia possa, sem dúvida, facilitar uma infinidade de ações,
é sua capacidade de intervir em todas as dimensões da vida que lhe confere uma importante
2016). A evolução da comunicação sem fio é a mais rápida já registrada na história em termos
na mobilidade. Onde quer que o usuário vá, seu smartphone pode ir com ele. Além disso os
discutem os desafios que ainda precisam ser superados para permitir uma implantação mais
incentivar a adoção dessas tecnologias, por outro cria-se no imaginário coletivo uma
e a obsolescência programada, são forjadas pela indústria como tática para impulsionar as
defasados.
A Experiência do Cinema
Segundo Jaques Aumont (2012), o dispositivo cinema é composto por vários elementos
interconectados que criam a experiência de assistir a um filme. Esses elementos incluem não
apenas o filme em si, mas também a sala de cinema, a tela, o projetor, o som e a relação do
espectador com todos esses elementos. O cinema compõe uma complexa rede de produção de
modernidade.
O dispositivo cinema é um conceito muito usado, que aparece em meados dos anos de
1970, com teóricos franceses como Jean-Louis Baudry e Cristian Metz, numa proposta de pensar
a existência de uma ideologização vinculada aos aparelhos de base e definir como fica a
representação que cria a ilusão de que o espectador está vendo algo que é real e objetivo. Ele
argumenta que a relação do espectador com a tela do cinema é semelhante à relação com um
espelho, onde o espectador se identifica com a imagem refletida na tela. Para o autor, o
dispositivo cinema funciona como uma forma de controle social que molda a visão do espectador
e o leva a aceitar as normas e valores que estão implícitos na imagem apresentada na tela.
Ismail Xavier (1984), afirma que Baudry lança um “ataque radical que compromete o
próprio aparato técnico do cinema” (XAVIER, 1984, pg.14) e vai mais além colocando o próprio
cinema em questão. Por outro lado, Christian Metz (2014) enfatiza a natureza linguística do
cinema e argumenta que o dispositivo cinema é composto por uma série de convenções
simbólicas que permitem que o filme seja compreendido pelo espectador. Também argumenta
que o dispositivo cinema é parte de um sistema cultural mais amplo e que o significado do filme
dispositivo, seja procurando um espaço fora da tela, seja produzindo novas relações com o
espectador, seja abandonando a sala escura e ocupando outros espaços etc. De fato, o cinema
sempre dependeu do suporte técnico para existir. Sua técnica de produção é parte condicionante
de sua existência. Pode-se dizer assim, que mudanças no suporte acarretam mudanças
estéticas e éticas.
O Encontro Intermídia
Nesse encontro do smartfone com o cinema, surgem diferentes possibilidades de
interações gerando desdobramentos diversos. O papel da câmera e das imagens geradas pelo
smartphone podem variar bastante de uma obra para outra. Existem filmes que são construídos
mostrando a vida através da tela, recurso conhecido como “screenlife”. Uma outra possibilidade
acarreta uma adaptação da linguagem para esta diferente perspectiva. Para esta pesquisa
interessa o uso da câmera do smartphone como dispositivo técnico gerador de imagens para a
Em 2011, o curta-metragem Night Fishing dirigido, produzido, escrito pelo diretor sul-
Festival Internacional de Cinema de Berlim. Foi o primeiro curta metragem do mundo, gravado
com um iPhone (4), exibido numa tela de cinema. Desde então muitos filmes captados com
comoção ao ser exibido no Sundance Film Festival, em 2015, quando, ao final da última cena,
surgiu o letreiro revelando ao público ter sido o filme gravado exclusivamente com as câmeras
do smartphone da Apple, Iphone 5S. Quinta obra cinematográfica de Sean Baker, Tangerine foi
o primeiro filme do diretor a ser gravado com as câmeras de aparelhos celulares. Com orçamento
de apenas aproximadamente 100 mil dólares, o filme se apresenta como uma comédia dramática
que aborda a realidade de prostitutas transgênero em uma área pouco revelada de Los Angeles.
O elenco principal é composto por duas transexuais que nunca haviam atuado profissionalmente
costumava ser de fato um ponto informal de encontro e prostituição de mulheres trans de Los
Segundo Sean Baker a decisão de filmar Tangerine veio bem antes da decisão de gravar
com Iphone. “Filmar com Iphone foi uma ideia que surgiu porque estávamos trabalhando no
orçamento e vendo como íamos fazer isso com o orçamento limitado que tínhamos (BAKER,
2016, on-line). O diretor também afirmou que já tinha o projeto há muito tempo e já estava sem
filmar havia quase cinco anos. Percebeu que era crucial que fizesse o filme naquele momento
eggs (2021), e um novo filme também curta-metragem, do diretor sul coreano Park Chan-Wook,
Life is but Dream3 (2022), também foram gravados por meio da câmera do smartphone da Apple.
Diferentemente de Sean Baker, Gondry e Chan-Wook tiveram seus filmes financiados pela
reinventar para contar suas histórias no contexto do século XXI, a Apple passou a investir na
veiculação da imagem do seu smartphone como câmera para se fazer cinema. Em suas versões
atuais, as câmeras dos smartphones vêm com variados controles, comandos e lentes, que
cinema. Soderbergh havia desistido de fazer cinema devido a seus questionamentos com
relação ao esquema das grandes indústrias, mas no festival de Berlim em 2018, apresentou o
filme Unsane, gravado de maneira idependente, com a câmera de um Iphone 7 plus e kits de
lentes da marca Moment 4. Sobre a realização do filme com o smartphone, o cineasta afirma
achar “que esse é o futuro. Qualquer um que vá ver este filme que não tenha ideia da história
por trás da produção não terá ideia de que foi filmado no telefone. Isso não faz parte do conceito”
(SODERBERGH, 2018, on-line). Na mesma entrevista, o cineasta declara que faria novos filmes
com o celular, o que de fato fez. O filme seguinte do cineasta, High Flying Bird (2019), disponível
na rede de streaming, Netflix, foi inteiramente gravado com um iPhone 8 e alguns acessórios.
Desafios e Oportunidades
Percebe-se que para a realização de um filme não basta ter um aparelho celular com
uma boa câmera, é necessário ter o conhecimento da parte técnica junto a uma gama de
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https://www.youtube.com/watch?v=HnzKqxtnWDY
4 Empresa especializada em venda de equipamentos para câmera de celular. Disponível em:
https://www.shopmoment.com/about
Além da sensibilidade artística e da afinidade com a linguagem também é necessário
câmera. Além disso, é preciso ter um roteiro, saber planejar a produção, dispor de elenco,
locações e figurinos, e ter apuro com a iluminação e enquadramento das cenas. Apesar dos
desafios, o cinema com celular, por reduzir consideravelmente o orçamento de uma obra, tem
smartphone, filmes para o cinema já são uma realidade incorporada aos modos de produção,
tanto como uma escolha estética quanto como uma alternativa econômica. A máxima de Glauber
Rocha, "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", se aplica a este momento, especialmente
criação.
Referências
BAUDRY, Jean-Louis. Cinema: efeitos ideológicos produzidos pelo aparelho de base. IN:
XAVIER, I. Org. A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilme, 1983.
BURSZTYN, Gabriel. A experiência fotográfica da cidade na era dos smartphones: ser e agir em
um espaço-tempo híbrido. Tese (Doutorado). Université de Paris 8 – Vincennes, Saint-Denis.
Paris, 2016.