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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - FACULDADE DE EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO - CLÁUDIA SANZ

Nikolly Dos Santos Aguiar


231003255

A SOCIEDADE DO CONTROLE E O NEOLIBERALISMO NAS INTROMISSÕES


NA CONSTRUÇÃO DO “EU”

Brasília
20/07/2023
E eu tô do mesmo lado que você
E eu tô no mesmo barco que você
Então, pensa, ouve e vive a música
Pitty, 2003
Introdução
Pitty em seu álbum “Admirável Chip Humano” (2003) que completa 20 anos em 2023, é
repleto de críticas à sociedade do controle e seus efeitos, enfatizando um verso de uma delas:

Pane no sistema, alguém me desconfigurou


Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Pitty, 2003

Associado ao episódio “Quedra livre” da série estadunidense Black Mirror (2016), o cenário é
estabelecido por cada ser possuir médias avaliativas, tudo o que faz tem uma nota, ao final do
episódio a personagem principal, Lacie, após uma consecutividade de avaliações ruins ela é
levada presa e tem suas “lentes de avaliação” e seu celular retirado, após isso, pode perceber
como a realidade é.
Esse ensaio busca relacionar as questões da sociedade do controle correlacionando com o
neoliberalismo de modo que perceba os efeitos na coletividade e as interferências nos
processos de construção de si mesmo e de sua subjetividade. É dividido em quatro parte
principais, a primeira destacando Foucault e Deleuze, algoritmos e funcionamentos
tecnológicos, a segunda explora a ideia de autenticidade e performance, a terceira uma maior
ênfase no neoliberalismo e enfim a quarta sobre a autoestima da mulher negra.

1. Instauração da Sociedade do Controle


A disciplina até certo ponto foi eficaz, até que surge deficiências e limitações no regime da
sociedade disciplinar que poderiam ser superadas. como por exemplo no seu funcionamento
que se baseava em um confinamento permanente dividido em turnos e espaços nas
instituições de sequestro (escolas, hospitais, presídios, hospícios, quartéis e fábricas), a
moldagem da energia de trabalho e depois o desmolde que seria liberar esses corpos no
espaço e esperar que continuassem dóceis e agissem de acordo com a modelagem posta
(DELEUZE, 1990).
Frente à várias crises nas instituições de sequestro e reformas inúteis (DELEUZE, 1990), a
disciplina começa agir de maneira inovadora com linguagens computacionais, destacando o
smartphone, maneira essa que é contínua, variável e individualizante (DELEUZE, 1990),
através de:
A) Menos limitações de espaço e tempo: smartphones que agem a qualquer minuto no
espaço livre e aberto, garantindo a continuidade;
B) Garantia do uso frequente: sensação de necessidade, dispositivo que oferece as mais
diversas utilidades práticas e facilitadoras, também garantindo a continuidade;
C) Sujeito endividado: na sociedade disciplinar havia o sentimento de quitação, já na
sociedade do controle nada se quita, tudo há uma continuidade e também novas
divididas, ex: formação escolar (DELEUZE apud FERRAZ, 2018), mais uma
peculiaridade que garante a continuidade;
D) Alcançamento das singularidades e afetos: criação de perfis variáveis que atendem de
maneira individual a cada pessoa, garantindo a variável e também a peculiaridade
individualizante.
Ao mesmo tempo que a disciplina é individualizante, conhece muito bem cada característica
do que está sendo controlado, ela também é massificadora (DELEUZE, 1990) pois como
Back (2022) descreve:

Para identificá-lo, uma assinatura; para posicioná-lo na massa, uma matrícula.


Contudo, havia aí uma ambiguidade subversiva. Se bastava assim uma palavra de
ordem para sujeitar uma massa inteira de indivíduos, a resistência pôde se servir da
mesma técnica. Melhor seria "dividuar" os indivíduos por meio de uma senha, e assim
transformar a massa em um conjunto de dados. É o que só a linguagem numérica das
máquinas computacionais tornaria possível. Não por acaso, o poder fundamental da
sociedade de controle está concentrado entre quem pode coletar e reunir os big data.
Back, 2022
Agenciamento de vida
O algoritmo dos smartphones são máquinas que aprendem com o tempo, então quanto mais
usados consequentemente mais dados e mais “termos de uso” são aceitos e mais ele aprende
sobre os gostos e rotina do sujeito e vão se organizando para criar algoritmos mais eficientes
em técnicas de dedução, é a tecnologia chamada machine learning (BACK, 2022).
O agenciamento de vida é a peculiaridade que facilita a continuidade da sociedade do controle
pois o algoritmo assume seu papel como quem governa a vida, afetando e influenciando de
maneira sútil a tomada de decisões e já prever quais seriam tomadas, sendo essa a moeda de
troca, o sujeito oferecer sua subjetividade e dados em troca de ter um dia a dia mais prático ou
um feed que tenha seus gostos (MORENO et al, 2021).

São apresentados como dispositivos facilitadores da árdua tarefa de existir quando, na


verdade, sua adoção não objetiva outra coisa a não ser tornar o adestramento mais
sutil, menos doloroso e, de preterencia, imperceptivel e alegre.
Oliveira, 2021

O agenciamento de vida através de um objeto, o celular, é tão real que ultimamente tem
havido criações como “cardápio qr code” que promovem a exclusão de quem não possui o
celular, destacando também o estranhamento quando vemos alguém que não o possui,
questionamentos do tipo “como essa pessoa vive?”. Situações como o aplicativo Waze e
Google Maps, que te indicam a melhor rota e os melhores lugares para serem visitados, ou
então as notificações constantes do Ifood te indicando comida pedir, o monitoramento
constante de quantas horas, minutos e segundos é passado utilizando o celular e as
“próprias” intervenções do sujeito para “reduzir e controlar” esse tempo e a maneira que ele
é passado (MORENO;MARTINS;TREMBLAY, 2021). Ou então um exemplo mais concreto,
a Alexa, é mais fácil descrever o que esse aparelho não pode fazer do que ele pode. Quando
Moreno, Martins e Tremblay afirmam que “…cada vez mais os algoritmos têm retirado o
protagonismo das mãos dos atores humanos.” (MORENO et al, 2021), como por exemplo
aplicativos de registrar ciclo menstrual onde o usuário preenche com todas suas informações
extra pessoais e ao longo dos registros e uso o próprio algoritmo vai prevendo e informando
sobre as fases do ciclo menstrual, ou então aplicativos de organização de finanças onde todos
os gastos e renda é registrado e o aplicativo vai modulando como o sujeito deve gastar e
economizar seu próprio salário. É visto em funções básicas que qualquer celular tem, como
calendário, bloco de notas, despertador e calculadora, que nesse caso não necessariamente
algoritmos mas sim aplicativos, celulares têm por muitas vezes substituído a autonomia
humana.

Funcionamento de uma Timeline


O mundo tem tido índices altíssimos de tempo de tela, de acordo com uma pesquisa recente
da Electronic Hub (2023) em alguns países como o Brasil e a África do Sul tem médias
superiores a 50% do dia passado em frente às telas, e a média do mundo inteira corresponde a
cerca de 40% do dia, ajudando assim, na absorção de dados dos algoritmos e a modulação
do feed, sendo esse um fato delicado, a ideia de aparecer apenas conteúdos que interessam
não parece de primeira impressão algo ruim que possa ocasionar algo negativo, mas veja bem,
vamos analisar a trilogia de algumas teorias da conspiração. Há a teoria da conspiração da
terra plana e do homem nunca ter ido á lua mas existem algumas muito sérias que envolvem
crimes hediondos, numerosas vezes ligados á extrema direita, supremacia branca e a terrível
Q4non, no documentário “Dilema das redes” (ORLOWSKI, 2020, 01:01:07) é descrito o
pizzagate, em 2016 uma teoria da conspiração absurda que faz analogia á algumas pizzarias
específicas com tráfico humano e pedófilia, levou a uma grande repercussão nas redes sociais
e em fóruns e grupos de extrema direita resultando em um homem armado ter viajado da
Santa Carolina do Norte para o Comet Ping Pong para “investigar” o porão de uma pizzaria
que sequer havia porão, além das milhares ameaças que essas pizzarias receberam. Quando o
sujeito começa demonstrar que gosta de algum determinado assunto, as postagens começam
surgir intensamente, o fechando em uma bolha, consequentemente pela massificação, ver
milhares de pessoas pensando como ele e produzindo mais conteúdo, faz o pensar que essa
respectiva opinião está certa, um ciclo repetitivo e vicioso. E se essa bolha for danosa à
sociedade? O culto do lucro a todo custo está indo muito longe, trazendo à tona o pior que há
nas pessoas e criando um caos generalizado em massa (ORLOWSKI, 2020, 1:17:25).

Perfis e modulação
A ideia de perfil no meio algorítmico corresponde a toda movimentação que mantemos na
internet, cada pesquisa, compartilhamentos e likes nas redes sociais vão construindo rastros
que caracterizam a construção de um perfil (MORENO;MARTINS;TREMBLAY, 2020).
Perfil esse inserido em um teste de personalidade chamado “Big Five”, que é aplicado por
psicólogos e com apenas cinco características já é capaz de determinar toda sua
personalidade (BBC NEWS, 2018). Chegando a ser assustador já que toda complexidade e até
contradição humana é reduzida apenas em cinco características, “O poder social do algoritmo
está, justamente, no modo como este produz seres humanos mensuráveis, tipificáveis.”
(MORENO et al, 2020).
Com apenas dez curtidas, ele é capaz de decifrar que tipo de pessoa você é com mais
chance de acerto do que seus colegas. Com 150 curtidas, é mais preciso que seus pais.
E com só 300 curtidas, é melhor em prever os resultados do seu teste de personalidade
do que seu parceiro.
BBC News, 2018

Na realidade, visto no documentário “Privacidade Hackeada” (AMER; NOUJAIM, 2019)


esses dados foram utilizados para bombardearem os tipos de personalidades com especificos
anúncios, como por exemplo na proposta do ex-presidente Donald Trump de porte de armas,
com certeza o perfil caracterizado como protetor que é extrovertido e se preocupa com os
outros teve sua timeline repleta de anúncios promovendo o porte de armas como um meio de
proteger, por exemplo, sua família (BBC News. 2018). Havendo assim uma modulação do
querer, como na música “Admirável Chip Novo” em que a cantora brasileira Pitty utiliza
verbos no imperativo, fazendo uma analogia ao funcionamento dos smartphones e seus
algoritmos:

Pense, fale, compre, beba


Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Não senhor, sim senhor
Não senhor, sim senhor
Pitty, 2003

2. Padrões Performáticos
O indivíduo no contemporâneo se torna “dividual”, (DELEUZE apud FERRAZ, 2018) sua
subjetividade padronizada e controlada (OLIVEIRA, 2021), voltada a ter uma fragmentação
da identidade para se tornar algo flexível e mutável (SIBILIA, 2015), por que? Veja bem,
quando associamos a “era da performance” de Sibilia (2015) e o “neo-sujeito”
(DARDOT;LAVAL apud OLIVEIRA, 2021) vemos a seguinte semelhança, que para viver no
contemporâneo o sujeito jamais pode ser ter sua própria personalidade com suas
verdadeiras subjetividades, o sujeito é sim um ser voltado à contradições pela própria
complexidade humana, porém, quando se é colocado uma pressão empresarial de
constantemente se reinventar para buscar atenção e aprovação dos olhares externos, se torna
uma outra coisa. São subjetividades com inclinações a apenas esses motivos, por isso são
epidérmicas (OLIVEIRA, 2021; SIBILIA, 2015). O contemporâneo também está incluso em
uma lógica de pensamento que o performático é ser “autêntico” e receber suas validações por
isso, esse o motivo da adoração pelas redes sociais, em especial o Instagram, possui uma
lógica inteiramente empresarial onde o indivíduo é o produto e por lá ele faz sua propaganda,
seja de beleza, de ideias de vida, por ser culto, sempre é uma propagando para os olhares,
como se o próprio feed fosse uma vitrine a qual os seus melhores atributos estão enfileirados
para o público (SIBILIA, 2015). Assim como o trecho de Racionais MC 'S (2002) “...quem
não é visto, não é lembrado.”, demonstra a mesma lógica na atualidade, quando alguém não
possui rede social o pensamento é que essa pessoa não existe, assim como não ter celular:

Esse ajuste na definição é muito eloquente, nem que seja porque converte o performer
em um personagem: aquele que sempre tem testemunhas, alguém que precisa ser
observado porque sua existência está condicionada por esse olhar dos outros. Os
personagens só existem enquanto são observados: somente são alguém se outros vêm
sua performance.
Essa é, precisamente, uma das definições possíveis para essa outra entidade
escorregadia, o personagem: não se trata aqui de remarcar a ambígua - e cada vez
menos relevante - diferenciação entre realidade e ficção, mas de encarnar uma
subjetividade que somente existe se estiver sob observação
Sibilia, 2008, 2015

Entrando na questão do público x privado, ainda existe privacidade digital? Pois na lógica
comercial tudo pode ser um “conteúdo” incluindo a própria privacidade, seguindo o mesmo
funcionamento do Twitter, um diário digital e público, mas como um diário que tem como
objetivo escrever, refletir e debater sobre seu secreto individual continua sendo um diário em
uma rede social onde os algoritmos dominam? Fica o questionamento.

Para Han (2018), a sociedade digital se caracteriza pela falta de respeito. Nela a
intimidade e exposta e o que é de interesse privado se torna público. Há uma contusão
quanto ao que é de interesse público e o que deve ser visto como privado. Ainda para
Han, não há respeito, pois esse está diretamente relacionado ao nome e na sociedade
digital isso é o que menos importa, pois enfatiza-se a dimensão de exterioridade que
resulta no apagamento da interioridade e da singularidade.
Oliveira, 2021

Vários exemplos podem ser citados como perfis de bebês que os pais criam até mesmo antes
de nascer, parto gravado, onlyfans e muitos outros.

Ditadura da Performance da Positividade


Logo, também é necessário que haja uma “marginalização do sofrer”, pois a tristeza se torna
algo proibido de ser falado e demonstrado, algo análogo à fracasso, a sociedade impõe que
sentimentos explosivos ou considerados negativos devem ser sucumbidos (FERRAZ, 2018),
apenas a alegria existe e ela deve ser obrigatoriamente exposta (SIBILIA, 2015)!

Exclusão do Autêntico
Levando assim, a exclusão do autêntico, pois ele não se encaixa nessa lógica:

Em vez disso, sua potência em termos de veracidade ou autenticidade se apoia em sua


capacidade de aparentar e mostrar e, nesse mesmo ato, inventar ou performar aquilo
que eles estão sendo, fortemente apoiados em um eu considerado verdadeiro e cuja
existência se apresenta com toda a legitimidade do real.
Sibilia, 2015

Se relacionando com o episódio “Quedra livre” (2016), a personagem principal, Lacie, em


meio a uma situação que precisava de ajuda, a obteve de uma motorista do caminhão que
tinha uma média mínima, julgada e considerada “excluída” naquela forma de sociedade.
Embora uma incrível ironia acontece, a motorista é a personagem mais autêntica e verdadeira,
ela não seguia os moldes e modulações impostos, enquanto nenhum dos que tinham papel e
“aparência” de serem boas pessoas ajudaram Lacie, pelo fútil motivo de ela não ter uma
aprovação e boa avaliação dos outros indivíduos, indo completamente contra a nota e os
ideias publicados em seus perfis:

Trata-se de sujeitos que devem ser transparentes e parecer autênticos, não porque
sejam fiéis à sua essência - daí sua condição ilusória -, mas por que aparentam muito
bem ser aqueles que aparentemente eles estão ou gostariam de estar sendo.
Sibilia, 2015
Sorrisos plásticos
Cumprindo seu papel
Enfeitando um rosto de pedra
Se a regra é ser tão simpático
Mesmo que seja só
Pra convencer toda a plateia

Flashes capturam a melhor fachada
Mas quem vê foto, não vê coração
Não quero mais fantoches ao redor
Agindo sempre assim
Só quando for conveniente
Pra ganhar bônus e somar pontos
À sua carteirinha de hipócrita oficial
PItty, 2003

Lacie no final do episódio causa uma grande confusão na festa de casamento de uma amiga e
recebe inúmeras notas negativas, a levando a uma espécie de prisão com celas individuais
onde seu celular e as lentes avaliadoras que possuíam em seus olhos são retirados de si, sendo
assim, a solidão e exclusão de quem se nega a seguir a onda do mercado e tem a coragem de
ser si mesmo. Pois como Deleuze (1996) afirma, cada regime possui suas liberdades mas
também suas sujeições.

3. Saúde Mental no Contemporâneo


O indivíduo tenta se encaixar, mas falha, e por essa lógica causar uma maior fragilidade e
carência do eu (SIBILIA, 2017), começa a seguinte problemática: jovens, redes sociais e
saúde mental (ORLOWSKI, 2020, 00:03:34), em “Dilema das Redes” é descrito notícias com
temas chocantes, como dezenas de milhões de americanos viciados em dispositivos
eletrônicos, depressão e problemas de autoestima em jovens. E por quais motivos e como as
redes trazem esses inquietações?
A) Avaliação constante
Na sociedade disciplinar, o indivíduo tinha avaliações de desempenho apenas nas instituições
de sequestro, com a instauração da sociedade do controle há inúmeros instrumentos
avaliativos, as avaliações também se tornam variáveis e contínuas, alcançando com maior
profundidade as características que terão uma nota baixa (FERRAZ, 2018). A avaliação
constante põe em questão fatores com hierarquização e separação da sociedade, quem é
sucedido e quem não é, tornando para essas pessoas padrões que são inalcançáveis s e
infinitos, dívidas sucessivas uma à outra (FERRAZ, 2018).
B) Competitividade
Como o neoliberalismo e a sociedade do controle vão afinando a pessoa para ser individual e
egoísta, tudo que ele quer é estar em primeiro lugar, a lógica de estarmos em uma eterna
competição com os outros (DELEUZE apud FERRAZ, 2015) já vem pré-programada em
nosso funcionamento na escola e pelas redes sociais isso vai se agravando e também é uma
competição com nós mesmos (DELEUZE apud FERRAZ, 2015), pois o mercado através de
suas exigências infinitas que vão se tornando cada vez mais impertinentes um investimento e
um reinventar de si, como se o seu “eu” tivesse datas de validade (OLIVEIRA,2021).
C) Produtividade
O tempo vai se resumir em ser tempo gasto em trabalho e o local que estiver como local de
trabalho (HAN apud OLIVEIRA, 2021) como por exemplo home officce, ou a simples tarefa,
que agora não é mais simples, de montar um perfil no instagram, tudo se converte à trabalho
e o sujeito deve manter sua cabeça pensando nisso e também o realizando, no menor prazo de
tempo possível e em maior quantidade, não mais pensando na qualidade (FERRAZ, 2018).
Gerando assim, uma pressão imensa ao ser, e um grande medo do fracassar, porque toda
responsabilidade e culpa pelo erro é apenas sua, uma meritocracia (muito promovida por
aristocratas) que o sucesso depende apenas de você (OLIVEIRA, 2021).

Tal como enfatizado em "Queda livre", o diagrama da avaliação produz sensações de


inadequação, fonte de grandes sofrimentos, medicalizados sob o modo de níveis
variados de depressão ou como transtornos de ansiedade. A pressão constante das
avaliações faz com que se incorpore e naturalize tal imperativo, em vez de se buscar
identificar e colocar em xeque a lógica e o regime de vida em que se está inserido.
Ferraz, 2018

Lógica da Exclusão
E as singularidades que não se encaixam nos padrões de beleza? Como pessoas gordas,
deficientes, negras e etc… Em “´Privacidade Hackeada” mostra uma notícia sobre a
Dismorfia do Snapchat (ORLOWSKI, 2020, 4:40) que se trata da busca por cirurgias práticas
que se assemelham aos filtros do Snapchat, agora mais atualizado, o Instagram.
O buraco é bem mais embaixo quando se trata de mulheres negras, pois o padrão de beleza
visto nas redes continua europeu, e há uma inclusão seletiva nesse assunto, pois a cor pode
estar inclusa em filmes, desenhos e etc mas traços como cabelo crespo e a cultura raramente
(BARBOSA, 2018) pois a inserção do negro está ligado a sua cultura, ele pode até ser
incluso desde que tenha sua cultura “embraquecida” (CUNHA; MELO; CRUZ, 2021). O que
acontece com as mulheres negras, mantém uma performance de mulheres brancas nas
redes a fim de buscar seu espaço (BARBOSA, 2018). Fortalecendo uma solidão imposta da
mulher negra, Barbosa (2018) questiona, como essas negras irão se fortalecer e criar
sororidade?

Subjetividade
Nem um perfil, muito menos um feed será capaz de mensurar ou definir a subjetividade
humana, destacando um verso de “Só de passagem”:

Eu não sou meu carro


Eu não sou meu cabelo
Esse nome não sou eu
Muito menos esse corpo
Não tenho cor nem cheiro
Não pertenço a lugar algum
Eu posso ir e vir como eu quero
Nada me toca nem aprisiona
Vou pairando leve, leve
Acima da carne e do metal
Eu possuo muitas coisas
E nada disso me possui
PItty, 2003

Conclusão
É visto como os algoritmos e o neoliberalismo exercem um grande poder em nossas vidas e
pondo isso, não é possível continuar parado, é necessário a mudança que talvez comece
apenas dentro de nós mas possa ir espalhando para o coletivo como fosse uma revolução. O
sistema faz de tudo para chamar nossa atenção, evitando que principalmente os adolescentes,
não se armem contra eles, e como é esse armamento? Se negando a entrar no jogo de
performance e impondo sua própria singularidade e autenticidade

Sempre priorizaremos as pessoas mais ricas e poderosas? Ou diremos: "Há momentos


em que existe um interesse nacional. Mas há momentos em que o interesse das
pessoas, dos usuários, é mais importante do que os lucros de uma pessoa que já é
bilionária.”
Orlowski, 2020, 1:24:02

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERRAZ, Maria Cristina Franco . Do imperativo da avaliação: espelhos negros da contemporaneidade. E-


COMPOS (BRASÍLIA) , v. 22, p. 1-15, 2018.
SIBILIA, Paula. Autenticidade e performance: a construção de si como personagem visível In Fronteiras:
Estudos Midiáticos. UNISINOS, Porto Alegre, v. 17, n.3, Set/Dez 2015.

OLIVEIRA, Luiz Cláudio Batista. O homo digitalis nos labirintos da sociedade neoliberal.
Comunicologia. v. 14v, n. 1 - Jan. /Jun. 2021.

MORENO, B. S.: MARTINS, C. J.; TREMBLAY, D. Algoritmo e


governamentalidade: novas configurações da produção de subjetividades
contemporâneas. In CID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, v. 11, n.
2, p. 23-36, 2020. DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v112p23-36 Acesso em: 16/05
2023.

BARBOSA, Karina Gomes e SOUZA, Francielle Neves de. A solidão das meninas negras: apagamento do
racismo e negação de experiências nas representações de animações infantis In revista Eco-Pós (online) , v.
21, p. 75-96, 2018.

A QUEDA (Black Mirror), dirigido por Joes Wright, outubro 2016.

DILEMA DAS REDES, dirigido por Jeff Orlowski, 2020.

PRIVACIDADE HACKEADA, dirigido por Jehane Noujam e Karin Amer,


2019.

Trilha de Letras recebe Paula Sibilia Programa Completo. 2017, 1 video (27:22 minutos). Publicado pelo
canal TV BRASIL
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bOCGw4EYYQM&embeds_referring_euri=https%3A%2F
%2Fwww.paulasibilia.com%2F&source_ve_path=MjM4NTE&feature=emb_title>. Acesso em: 12 jul. 2023.

Como a Cambridge Analytica analisou a personalidade de milhões de usuários no Facebook, 2017. 1 video
(4:14). Publicado pelo canal BBC News Brasil
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x1SnHHby0wA>. Acesso em: 12 jul. 2023.

‌Pitty, 2003. Admirável Chip Novo. Disponível em: <https://youtu.be/lGz-idtX_rk> Acesso em: 12 jul 2023.

Pitty, 2003. Só de Passagem. Disponível em <https://youtu.be/ENoUB5HL1e4> Acesso em: 12 jul 2023

Pitty, 2003. I wanna Be. Disponível em <https://youtu.be/Dg8R-3y8EdM> Acesso em 12 jul 2023

Pitty, 2003. Do mesmo lado. Disponível em <https://youtu.be/w00n3V9JZFg> Acesso em 12, jul 2023

Racionais Mc’s. 2002. Eu sou 157. Disponível em <https://youtu.be/CsglWlcZTio> Acesso em 12 jul 2023

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