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Sociedade de Controle
INTRODUÇÃO
Gilles Deleuze (1990) indicou alguns aspectos que poderiam distinguir uma
sociedade disciplinar de uma sociedade de controle. As sociedades disciplinares
podem situar-se num período que vai do século XVIII à Segunda Guerra Mundial. Os
anos da segunda metade do século XX foram marcados pelo seu declínio e respectiva
ascensão da sociedade de controle.
Deleuze sugere que as sociedades disciplinares têm dois polos, "a assinatura que
indica o indivíduo, e o número de registro que indica sua posição em uma massa" Nas
sociedades de controle, “o essencial não seria mais uma assinatura ou um número,
mas uma cifra: a cifra é uma senha. A linguagem digital de controle é composta por
cifras, que marcam informações de acesso ou recusa.
É o seu conteúdo que importa, ou é o seu padrão de composição e acesso?
Enquanto os conteúdos apontam para pessoas, os padrões nos remetem a quê? Existe
diferença entre viajar uma vez ou vinte vezes em seis meses para o mesmo país? Estes
parecem ser aspectos cruciais na mudança de estratégias que nos levaram dos
modelos tradicionais de disciplina aos modelos mais sofisticados de controle atuais.
Existe uma associação profunda entre o lugar, o espaço físico e o sentimento de
posse de bens intangíveis. Nos dispositivos disciplinares, como nos mostra Foucault
(1998), há uma espécie de polarização entre a opacidade do poder e a transparência
dos indivíduos. O poder, por sua situação privilegiada, ficaria fora do alcance dos
indivíduos, enquanto estes estariam em situação de observação constante.
Com a web, poderíamos finalmente ter liberdade de expressão, acesso democratizado
à informação etc. Isso pode significar que a velha dicotomia opacidade-transparência
não é mais relevante. O poder hoje seria cada vez mais ilocalizável, porque está
disseminado entre os nós da rede. Sua ação não seria mais vertical, como antes, mas
horizontal e impessoal.
A QUESTÃO DA VIGILÂNCIA
O projeto Echelon representa um caso exemplar, pois pode ser considerado o
último grande descendente dos sonhos de uma sociedade disciplinar e sua concepção
de vigilância. Com a explosão das comunicações, uma nova figura ganha força: a
vigilância das mensagens, do tráfego de comunicações. Passamos por Sherlock
Holmes, que seguiu os índices e pistas dos movimentos dos suspeitos, e chegamos ao
007.
A maneira como nos movemos pelas informações revela muito de como
pensamos. Há uma espécie de vigilância generalizada no social, já que todos podem,
até certo ponto, seguir os passos de todos. As empresas controlam seus clientes, as
ONGs controlam empresas e governos, os governos controlam os cidadãos e os
cidadãos controlam a si mesmos.
DA IDENTIDADE AO CÓDIGO
Quando assinamos algum documento, estamos imprimindo ali a nossa
identidade. Sendo assim a assinatura caracterizada como o signo de maior
identidade pessoal. O CPMF, que é o número de registro numa massa, assegura
ao indivíduo seu estatuto de existente regulamentado. O controle ainda inventa
os seus próprios dispositivos: o código e a senha no lugar da assinatura diferença
é que a assinatura é produzida pelo indivíduo, e o código é produzido pelo
sistema, para o indivíduo: é dito intransferível, pois, dado que foi feito por você,
como sua marca própria e singular, pode ser passado a outro. No ponto de vista
da geografia, o código vem substituindo gradativamente a identidade. As noções
de identidade e corpo físico sempre estiveram associadas uma à outra. Não
esqueçamos, no entanto, que essa ubiqüidade dos seres só é possível por causa
do dinheiro eletrônico, que representa mais uma mutação do capitalismo, pois se
o dinheiro papel é caro e sem controle em sua circulação, o dinheiro eletrônico,
além de reduzir os custos, acaba gerando mais controle sobre os indivíduos e a
circulação do capital. O papel moeda é anônimo, o dinheiro eletrônico não. Que
é o caso do imposto CPMF criado no Brasil, através do qual é possível controlar
toda a circulação financeira digital do país.
CONCLUSÃO
Sabemos que a sociedade disciplinar é um tipo de poder onde o espaço
social é o exercício predominante de práticas, uso de instrumentos e técnicas e
níveis de aplicação que comportem a possibilidade da disciplina.
Enquanto a sociedade de controle vem de uma combinação entre a disciplina e a
biopolítica, que no caso, para Deleuze, "somos corpos em diferenciação".
A sociedade de controle é caracterizada pela invisibilidade e pelo
nomandismo que se expande junto com as redes de informação. Enquanto a
sociedade disciplinar é constituída por poderes transversais que se dissimulam
através de modernas instituições e estratégias de disciplina e confinamento, a
sociedade de controle caracteriza-se pela invisibilidade.