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A
s alterações climáticas suscitam preocupações crescentes em todos os
países do mundo. Historicamente, a pecuária está lígada ao
desenvolvimento econômico de diversas regiões brasileiras. De acordo
com Natel et aI., (2016),a cadeia produtiva de ruminantes movimentou em 2015 em
torno de R$169,3bilhões, gerando cercade 7 milhões de empregos. Com um rebanho
de bovinos, caprinos e ovinos estimados em 200, 9,79 e 18,4 milhões de cabeças, o
país detém a produção de carnes como uma das principais atividades da agropecuária
brasileira (PIRESet aI., 2015). Na região Nordeste do Brasil, o rebanho destas três
espéciesequivalem a 12,6%,65,6%e 92,8%do plantei nacional (IBGE,2017).
Capftulo14 233
com o MCTIC (2014), a soma das emissões de pequenos ruminantes, suínos,
equfdeos e bubalinos corresponde a 3% da emissão total de CH. de origem
fermentativa.
11 METANO
O
metano é um gás inodoro e incolor emitido em maior quantidade
pelos ruminantes. Sua molécula é um tetraedro apoiar, de pouca
solubilidade na água, e, quando adicionado ao ar, transforma-se
em uma mistura de alto teor explosivo (VIEIRA et al., 201 O).A produção do metano é
realizada pelos organismos metanogênicos ruminais, a partir de hidrogênio (H2) e
gás carbônico (C02). O processo pode ser visto como um dreno, que utiliza o H2
produzido pelos microrganismos ruminais, favorecendo a produção total de ATP
(QIAO et aI., 2014).
Bovinos podem produzir com cerca de 250 a 500 Udia, já ovinos e caprinos
produzem 25 a 55 Udia, sendo essa produção dependente do tamanho e categoria
do animal e ingestão de matéria seca (MACHADO et al., 2011; OLIVEIRA et aI., 2017).
O metano advindo do esterco contribui em 2% das emissões globais desse GEE e
0,4% das emissões globais dos gases de efeito estufa (KNAPP et al., 2014). Ovinos e
caprinos produzem entre 10 a 16 kg de CH/ano e bovinos cerca de 60 a 160 kg de
CH/ano (FREIRE et aI., 2015) provenientes do esterco.
234 Caprtulo 14
Segundo Paulino e Teixeira, (2009), considerando que a taxa de lotação
média no Brasil é em torno de 1,1 bovinos/hectare, verifica-se que os bovinos
emitem 56 kg de metano e 54 kg de gás carbônico por ano.
PRODUÇÃO DE METANO
A
produção de metano pelos ruminantes faz parte do processo da
digestão. Quando o alimento chega ao rúmen, ele é atacado por
microorganismos ruminais que convertem o alimento ingerido em
energia na forma de ATP (adenosina trifosfato). Deste processo são formados
compostos como os ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato),
mas também geram subprodutos indesejáveis como o CO2, H2 e CH. (VALADARES
FILHO e PINA, 2011). Um total de 87±1.2% da produção total de metano ocorre no
rúmen e 95±1.4% do metano ruminal é excretado via eructação (DAVIDSON e
STABENFELDT,2014).
Caprtulo 14 235
Tabela 10 Gêneros, espécies e substratos metanogênicos em ruminantes.
Espécie Substrato
Animal Gênero
,
,
representativa metanogênico
M.ruminantium;
Bovino; Ovino Methanobrevibacter C02/H2; formato
M.smithii
M.formicicum;
Bovino; Ovino Methanobacterium C02/H2; formato
M.bryantii
236 Capítulo 14
Manipulando a cornposiçao nutricional da alimentação de ruminantes
pode-se alterar a produção de metano, haja visto que a composição e qualidade
dos alimentos interferem na fermentação e nos produtos resultantes da
fermentação ruminal. De acordo com Freire et aI., (2015), a produção de metano é
influenciada pelo nível de ingestão de ração, o tipo de carboidrato da dieta e a
alteração da microflora ruminal. Desta maneira, estratégias alimentares que
reduzam as emissões de metano podem trazer benefícios ao meio ambiente e ao
próprio ruminante.
Suplementação
com concentrado Suplementação
com óleos
,\ t ! ?~
61eos
'" ,
Estratégias nutricionais para
~ Essenciais
a redução do metano
,...,""....
~
Capítulo 14 237
metano. No entanto, Wright et aI., (2007) afirmaram que mesmo que alguma vacina
seja encontrada, esta será específica para cada situação, pois a população
metanogênica pode variar com base na dieta e localização geográfica do
hospedeiro, de modo a aumentar o desafio de se trabalhar com imunizadores.
238 Capítulo 14
óleo de girassol, observaram que a inclusão do óleo de girassol nas dietas reduziu a
produção de metano. Yadegheri et aI., (2015), testando o efeito da adição de óleo
essencial na produção de meta no, observaram redução de 4,22; 4,32; 4,03; 2,51 e
1,81 mL 11 OOgde MS para os níveis de O;250; 500; 750 e 100 IJI/L de inclusão de
óleos essenciais na dieta.
Concentrado na dieta
Capítulo 14 239
dieta, devido ao aumento da taxa de passagem. Entretanto, tais efeitos não são
aparentes quando o consumo desses alimentos é restrito. A amoniação ou a
suplementação proteica de forragens de baixa qualidade aumentam a perda de
metano proporcionalmente ao incremento da digestibilidade. Entretanto, a
produção de metano por unidade de produto é reduzida (CANESINet al., 2014).
240 Capítulo14
Uso de ionóforos e nitrato
O
método do marcador hexafluoreto de enxofre (SF6) é
relativamente novo e foi descrito pela primeira vez em 1994. A
técnica tem sido utilizada principalmente para mensurar a emissão
de metano em animais em pastejo. A ideia básica do método é medir a emissão de
metano a partir taxa de emissão conhecida de um gás marcador pelo rúmen. Para
Capítulo14 241
este resultado, um gás não tóxico, fisiologicamente inerte e estável é necessário. O
SF6 atende a esses critérios, é barato, tem um limite de detecção extremamente
baixo e é simples de analisar. Essa técnica apresenta como vantagem a
possibilidade dos animais manterem seus comportamentos naturais habituais
(HILLetal.,2016).
Figura 2. Animais equipados com os aparatos para a coleta de gases pela técnica do
SF6.(Fonte: Arquivo pessoal).
Uma vez que a canga está carregada com pressão negativa, a amostra do ar
exalado pelos animais é coletada para o seu interior e, terminado o período de
coleta, normalmente de 24 horas, as amostras são diluídas com nitrogênio e
analisadas em sistema de cromatografia gasosa para se determinar as
concentrações de SF6e CH4 em seu interior (HAMMOND et al., 2016). A partir da
242 Capítulo 14
taxa conhecida de liberação do SF6no rúmen e das concentrações destes gases nas
amostras de gás mensuradas, calcula-se o fluxo de metano liberado pelo animal.
Essatécnica elimina a necessidade de confinar e domar os animais para gaiolas,
máscara facial ou câmaras respirométricas e permite que eles se desloquem em
condições normais de pastejo (ZOTII & PAULINO,2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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