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B ÍB L IA D O P E R E G R IN O
I yj?lon o eeóoubo ini .ohá'udsac'V ob c
NOVO TESTAMENTO
Titulo original
Biblia d e l peregrino - Nuevo Testamento - Edición de <■■■ti i<1¡. ■
Ega - Mensajero - Verbo Divino
© Luís Alonso Schoke!, 1996
Edigáo brasileira
Tradugáo do texto bíblico
José B ortolini e ivo Stornioio
Revisáo literária
José D ias G ouiart
Revisáo tipográfica
Jeam Carlos Lopes
Capa
Cláudio Pastro
© PAULUS - 2000
Rua Francisco Cruz, 229
04117-091 Säo Paulo (Brasil)
Fax (0...11) 570-3627
Tel. (0...11) 5084-3066
http://www.paulus.org.br
dir.editorial@paulus.org.br
4brrviaturas
l'it'fácio à ediqáo brasileira
Prólogo
Viinibulário de notas tem áticas do N ovo Testamento
^ nitf’elho segundo M ateus
t vmi^clho segundo M arcos
> vini)',dho segundo Lucas
( Viiii);clho segundo Joáo
Alus dos Apóstalos
i mía aos Romanos
hlnicira carta aos Corintios
•si finida carta aos Corintios
i min aos Gálatas
t mía aos Efésios
i mía aos Filipenses
i mía aos Colossenses
l't in ir ira carta aos Tessalonicenses
•»numida carta aos Tessalonicenses
hlnicira carta a Timoteo
fci.^imda carta a Timoteo
I mia a Tito
i mia a Filemon
i mía aos Hebreus
i mía de Tiago
l'ilinnia carta de Pedro
ti*.pínula carta de Pedro
hlini'iia carta de Joáo
carta de Joáo
|n , n ía carta de Joáo
I mía de Judas
A|im alipse
E m ordern alfabética:
Ab Abdias IC r Primeiro livro das Crónicas
Ag Ageu 2Cr Segundo livro das Crónicas
Am Amos Ct Càntico dos Cánticos
Ap Apocalipse Dn Daniel
At Atos dos Apóstolos Dt Deuteronòmio
Br Baruc Ecl Eclesiastes
C1 Colossenses Eclo Eclesiástico (Ben Sirac)
ICor Prim eira carta aos Corintios Ef Efésios
2Cor Segunda carta aos Corintios Esd Esdras
7 ABREVIATURAS
M líster MI M alaquias
h lixodo Mq M iquéias
h 1 /cquiel Mt Evangelho de Sáo M ateus
II l ’il ¡penses Na Naum
hn l'ilemon Ne N eem ias
Nm Números
Hl ( ¡álatas
(Im (¡Cnesis Os Oséias
IM' 1 labacuc lP d Primeira carta de Sáo Pedro
III' 1 lebreus 2Pd Segunda carta de Sáo Pedro
1» Isaías Pr Provérbios
iil Carta de Sao Judas Rm Carta aos Romanos
II Joel IR s Primeiro livro dos Reis
In Joñas 2 Rs Segundo livro dos Reis
Jó Jó Rt Rute
Jo Evangelho de Sao Joáo
II» Primeira carta de Sao Joáo Sb Sabedoria
»'Jo Segunda carta de Sao Joáo Sf Sofonias
Uo Terceira carta de Sáo Joáo SI Salmos
Jr Jeremías ISm Primeiro livro de Samuel
Is Livro de Josué 2Sm Segundo livro de Samuel
Jt Judite Tb Tobías
Jz Livro dos Juízes Tg Carta de Sáo Tiago
Ix Evangelho de Sáo Lucas lT m Prim eira carta a Timoteo
Lm Lamentagóes 2Tm Segunda carta a Timoteo
l.v Levítico lT s Primeira carta aosTessalonicenses
2Ts Segunda carta aosTessalonicenses
Mc Evangelho de Sáo Marcos
Tt Carta a Tito
IMc Primeiro livro dos M acabeus
,’Mc Segundo livro dos M acabeus Zc Zacarías
O utras abreviaturas:
N otas
As notas de rodapé foram escritas com dupla intengáo: exegética e teológico
pastoral. Assim, pois, partindo da com preensáo exegética, que esclarece a com
preensáo do texto, tais notas se abrem á in terp retad o teológico-pastoral, na qual
nao falta o eco do Antigo Testamento, as vezes para ilustrar o tema e outras pau
contras tá-lot
As alternativas de tradugáo se encontram ñas próprias notas.
Paralelos
I lá lugares paralelos de perícope (entre paréntesis depois de cada título ou segin i
do texto) ou de versículo (incluidos ñas notas de rodapé).
PREFACIO A EDIQAO BRASILEIRA
i*ï ^ V, , ... ;
■I ■ ■■••■ . . . .
«¿ m «i - - >'tosi^ vA
îio<\ ,am\y ßl> Mrumaoi o rtnam
IjpV M; lPd 3,9). De Cristo aos discí- basar) significa muitas vezes aspec
! Mili*is, de despedida (Le 24,50-53). tos de urna realidade unitaria ou pre
.■jtr Jesús ao Pai, sobre os páes (Mt dom inio de um aspecto ou dimensáo
»(4,19; Le 24,30). Do homem a Deus: do homem. Sublinha a corporeidade,
■lupressa louvor ou agradecim ento o realism o — nao fantasma — (Le
t|M e 14,16; Rm 1,25; Tg 3,9). Do 24.39); fator de relagáo: “urna carne”
íhnvo ao M essias, aclam agáo (Mt (Gn 2,23ss); de descendéncia “car
i ¡11,39, Ramos). De um homem a ou- nal” (Rm 1,3); da en-car-nagáo (Jo
• lio, desejando-lhe um bem ou felici- 1,14); u n iversalidade, toda carne.
ImiuIo-o (Hb 7,1-7; Le 2,34, Simeáo); M uitas vezes indica a debilidade ou
; mis p erseg u id o re s (L e 6,28; Rm caducidade do homem. Pode deter
| I 14). —» Perdáo. m inar seu significado por polariza-
gao: sarx = o material/so/na = o or
c gánico; carne/espírito, carne/Deus,
carne/redengáo (Rm 7-8; G1 5); car-
(nlamidade. —* Praga. ne/coragáo (Rm 2,28). O puramente
(Jftlice. Segundo a tradigáo do AT, pode humano: critérios, valores, interesses,
í ser de ira ou de béngáo. De ira (Mt o instintivo (2Cor 5,16; F1 1,6; títu
li 26,39; Jo 18,11); Babilonia (Ap 16, los humanos (2Cor 11,18). —»• Cor-
19). De béngáo: eucarística (M e 14, po. —* Sangue. —■*Alma.
I 23; IC or ll,2 5 s s , antes desse bebe- Castigo. -* Retribuigáo.
i se um prim eiro cálice na ceia pascal, Cegueira. Jesús cura (Le 11,14; Jo 9).
Le 22,14-18). Oferecido aos ídolos M etáfora de incapacidade ou resis-
= demonios (IC o r 10,21). téncia a crer ou com preender (Le
Caminho. M etáfora comum (AT) de 6.39); guias cegos (M t 23,16; Rm
conduta, proceder. A vida nova dos 2,19). -* Visáo.
cristáos cham a-se sim plesm ente O César. Nome próprio do primeiro dita-
Caminho em At 9,2; 19,2; etc. Como dor romano (Calígula), que se trans
processo rumo á meta, Cristo é o ca m ite e passa a significar imperador.
minho para o Pai (Jo 14,6); para a Le 2,1 m enciona César A ugusto a
vida (M t 7,14); para a salvagáo (At propósito do recenseam ento; Jesús
16,17). Os cam inhos de D eus sao responde á pergunta sobre o tributo
seus designios, métodos e estilo (Rm imperial (Le 20,22-25); Pilatos arris
11,33). —* Mediador. ca perder sua am izade (Jo 19,12);
Canto. Sao escassas no NT as referen Paulo apela a seu tribunal (At 25,
cias musicais. De instrumentos: a alu- lls s ) . —> Autoridade.
sáo a brinquedos infantis (M t 11,17), Céu. Im agina-se com o o lugar onde
ao toque de trombeta hiperbólico (Mt Deus habita; depois se usa para nao
6,2), á trom beta escatológica (IC o r pronunciar o nome de Deus (cf. “cas
15,52; lT s 4,15). Mais generoso Ap, tigo do céu”). Como destino final fe
com as sete trom betas (A p 8 ), as liz, expressa-se com diversos com
cítaras (Ap 5,8) e os cantos (Ap 5,9). ponentes e imagens, como lugar ou
Carisma. Dom gratuito e extraordiná- estado, com o prémio ou dom. Festa
rio, variado, repartido pelo Espirito (M t 25,21); banquete (Le 13,29), pos-
para o bem da com unidade. Texto se do reino (Mt 25,34); alegría (lP d
básico (IC o r 12-14) com enumera- 4.13); gloria e paz (Rm 2,6.10); as-
gao e descrigáo de alguns. Mengóes sento (E f 2,6; Ap 3,21); coroa (lP d
freqüentes e dispersas em At. Podem- 4.13); paraíso (Le 23,43); seio de
se agrupar: de conhecimento, de pa- A braáo (Le 16,23). Em Ap se apre-
lavra, de agáo. senta como cidade com a presenga e
Carne. É difícil determ inar conceitos com panhia de Deus. —» Terra.
na antropología semítica, que o NT Circuncisáo. Jesús observa a Lei (Le
em boa parte retoma. Carne (sarx, 2,21), e Paulo diz de si (F13,5). Quan-
NOTAS TEMÁTICAS DO NT 18
Eva. Além das referencias explícitas á Fé. a) Crer em: Deus que ...... i. i. i. ,
criagáo (lT m 2,13) e ao pecado (2Cor cumpre em Cristo; ñas |>ai >< n . t
11,3), poderiam aludir por contraste Jesús; em Joáo, sinònimo il. . ■mmi
á M adalena no jardim no dia da res- achegar-se a, receber. I>) < mi m
surreigáo (Jo 20) e á m ulher celeste Deus e em Jesús Cristo qm • i ■ i
de Ap 12. —* Adáo. por causa de e em seus mil.u i• iM
Evangelho. —* Introdugáo aos Evan- 9,2); falta fé (M e 6,5s). c) I .
gelhos. radical, decisiva (Me 9,42; M i i "i,
Exem plo. Oferece-se á imitagáo: Deus por eia se obtém a justiga (Km t| ,
Pai na sua perfeigáo (M t 5,48); Jesús processo (Rm 10,14-17). Ti.ulii# »*
no seu sacrificio por am or (Jo 13, em —» obras (Tg 2,14-26): ...... In
15.34; lP d 2,21); Paulo (IC o r 11,1). vida (Jo 20,31; lJ o 5,13). lili 11 i.ii
Expiagáo. É pagamento ou compensa- de urna fé que equivale a —* e\|.. i..,
gao por um reato ou culpa; pode ser ga. —* Pregagáo.
ato cúltico. A ela se refere Hb 9,22s; Fecundidade. E a bèngào primai ia ii ..
parecem aludir 2Cor 7,1; lJo 1,7.9. 1,22), suprem a em M aria, mai .1
—» Sacrificio. —* Perdáo. Messias (Le 1,42). A cadeia da In un
didade conduz desde A dào ate I<- n
F (Le 3,23-38). M etaforicamente, l'an
lo é màe (Gl 4,19) e pai (IC or 4.1 ■i
Familia, a) Dos deveres fam iliares se —» Genealogia.
fala em poucas ocasióes: dever de Felicidade. —» Bem-aventuranga.
sustentar (nao só honrar) os país (M t Festa. C alendários do AT (Lv t ,
7,8-11 par.). Em séries: C1 3,18—4,6 Dt 16).
(os escravos, ou seja, em pregados e Filho (hyios, país). Como em hebraii. .
operários tom avam parte na ordena- em sentido estrito e ampio, deseen
gao familiar); lT m 5,4; Tt 2,4s. b) Je dente, discípulo, membro. Senii< !• ■
sús im póe lim ites ao am or familiar, pròprio (Le 11,12). Filho de Deus a )
subordinando-o á fidelidade á sua Sentido limitado, equivale a homi m
pessoa (M t 10,21): estabelece urna de Deus (M t 14,33). b) Título me:,
nova familia, cujo vinculo é cumprir siànico: nos sinóticos Jesus nào o u s a
a vontade do Pai (M t 12,46-50). c) em Joáo aparece cinco vezes. c) Sen
As relagóes fam iliares sao tomadas tido transcendente (At 13,33); por sua
como sím bolo para expressar o mis- atividade, expulsando dem onios e
tério: paternidade de Deus, frater- perdoando pecados; título —» Senhoi
nidade dos cristáos, m atem idade de e —» M essias (At 2,36); enviado por
Ap 12 (Sinagoga ou Igreja). Deus (Rm 8,3; Gl 4,4); Filho em sen
Fariseus. Herdeiros dos hasidim (lM c tido pieno (CI 1,13; Hb 1,2 — contra
1) que se distanciam de Joáo Hircano posto aos profetas — ); tem um -* co-
(135-104 a.C.) e de sua política mun nhecimento intimo e ùnico do —» Pai,
dana; organizam -se e conseguem a possui o Espirito, realiza a filiagào de
hegemonía espiritual cerca do ano 70; Israel (M t 2,15, citando Os 11,1). Fi
dominam o judaism o posterior, sao lho ùnico e herdeiro, em intimidade
leigos, entre eles há especialistas da com o Pai. Ñas cartas se m ostra sua
lei (g ra m m a teis - letrados); nem natureza divina, origem divina, po
colaboracionistas nem rebeldes; afer der divino. O tem a predom ina no
rados as suas tradigóes. Esperam o evangelho de Joáo. O Filho concede
Messias, créem na —» ressurreigáo, na a filiagào, é o m ediador ùnico. O tí
justiga pelas —* obras. Méritos: sen tulo Filho de Deus é no N T soterio-
tido religioso, fidelidade, ter salva lógico com implicagòes metafísicas.
do o judaism o. Críticas: juridicism o, —* Trindade.
form alism o, particularismo. —* Sa- Filhos de Deus. Texto básico: Rm 8 .
duceus. De escravos feitos livres pela adogào
23 NOTAS TEMÁTICAS DO NT
M ()l 4,5ss), portanto livres, co-herdei- (Jo 1,14). As vezes substituí Deus ou
»fiw, com direito à imortalidade; cha- é redundante (At 7,55). Os crentes a
■Blnmos Deus de Abba e somos real- esperam (C11,27), como estado e náo
» flim te filhos de D eus (lJ o 3 ,ls s ), lugar (Rm 8,21); assemelham-se a ela
* ¡rmáos de Jesus primogènito e parti- (F1 3,21).
9 elpantes da natureza divina (2Pd 1,4); Glossolalia. Forma particular de lingua-
■ (liiscidos pela fé (Jo 1,12s) e pelo —» ba- gem, mais expressáo que inform ado,
1 llsmo (Gl 3,26s). porque a sua articu la d o náo corres
j Pode ser teofánico (Hb 12,19, ponde a urna língua comum, partilha-
Sinai). Parece ter caráter de prova: da. Tem, antes, f u n d o monológica.
P paixáo? (Le 12,49), s a lg a d o (M e E ininteligível, se náo se interpreta,
I' M,49). Tem f u n d o judicial: no batis- supondo-se que contenha in form ado
i mo (?) (M t 3 ,l i s ; IC or 3,13). Signi- (IC o r 14). Urna língua m ilagrosa
' fica a c o n d e n a d o definitiva (M t 18, m ente entendida por pessoas de mui-
8 ), eterna (Hb 10,27; 2Pd 3,7), geena tas línguas (At 2). —* Carisma.
(Mt 5,22; Ap 8,7ss; 11,5), -> inferno Graga. a) De quem a possui, é o atrati-
1 (Ap 20,10.14). vo e seu efeito, a ce itad o , populari-
franqueza, liberdade, audàcia (par- dade (At 2,47; 4,33); ganhar o favor
1 resia). Jesús anunciando sua paixáo (At 24,27). b) De quem a dá, é o favor:
(Me 8,32), subindo para a festa (Jo gratuito (Rm 3,24), dilatado e abun
7,10), ensinando (Jo 16,25-29); na sua dante (Rm 5), náo pelas obras (Rm
vitória (C1 2,15). O apóstolo na sua 11,16); é ativo e eficaz (IC o r 15,10;
p re g a d o a judeus e pagaos (At 4, 2Cor 6,1), salva (E f 2,5), é suficiente
13.29; 2Cor 3,12). O cristáo para apro (2Cor 12,9). N áo se deve receber em
xim arse de Cristo (Ef 3 ,lis ); unida à váo (2Cor 6,1), sob pena de perdé-la
esperanza (Hb 3,6). —* Verdade. = cair em desgrana (G1 5,4).
Guerra. Um dos sinais escatológicos
G (M t 24,6). Uso freqüente como m e
táfora: Apocalipse contempla a bata-
Galiléia. Regiáo setentrional da Pales lha celeste de M iguel contra o Dra-
tina. Ai Jesús com eta seu ministério, gáo (A p 12,7) e a guerra da Fera
antes de subir a Jerusalém e marca contra os consagrados (Ap 13,7; Ef
encontro com seus discípulos para 6 , 1 2 ); fala de urna luta contra pode
depois da ressurreigao. res malignos. Mais freqüente é o tema
Genealogia. Segundo o costume do AT, da vitória: Jesús venceu o mundo (Jo
dois evangelistas compóem urna ge 16,33; Ap 3,21), como leáo (Ap 5,5),
nealogia estilizada de Jesús. Mt 1,1- com o cavaleiro (Ap 19,11); á sua
17 vai descendo de Abraáo a Jesus im ita d o , os cristáos sáo convidados
em très etapas de catorze nomes; Le a vencer (Ap 3,5; 21,7) pelo sangue
3,23-28 vai subindo até Adáo e Deus, do Cordeiro (Ap 12,11), pela fé (lJo
numa visào mais universal: Jesus é 5,4). Da guerra se tomam as imagens
filho de Adáo (ben ’adarri). de —» espada e —* armadura.
Glòria, a) Na esfera da honra, presti
gio (IC or 10,31; FI 2,11); dar, reconhe- H
cer a glòria (Le 17,18), a confissào
(Jo 9,24). A sua fo rm u la d o constituí Heranga. É conseqüéncia da filia d o
as doxologias. b) Na esfera da rique de Cristo (Mt 21,3; Hb 1,2) e se esten-
za, fausto, é pouco freqüente. c) Na de aos co-herdeiros (Rm 8,17); ou-
imagem de esplendor, brilho: dos torga-se pela —* alianqa = testam en
astros (IC o r 15,40; Le 2,9; 2 C o r3 ,7 - to (Hb 9,15); seu penhor é o Espirito
4,6, ex p lan ad o importante), na trans (E f l,13s). Náo basta ser filhos car-
fig u rad o (Le 9,32); elemento da es nais de Abraáo (Rm 4); abre-se aos
catologia (Mt 24,30; 25,31); revela-se pagáos (E f 3,6; G13,28s). Seu objeto
NOTAS TEMÁTICAS DO NT 24
mo sím bolos instituig 6 es_(Hb); usan póem (Mt 23,31); antecipa-se (Jo 3,18);
do modelos, p. ex., do Éxodo, Pen consuma-se na paixáo (Jo 12,31s). Fica
tateuco, M ateus; caso especial é o pendente um julgam ento futuro e fi
Apocalipse. A chave é cristológica, a nal: de Deus (Rm 2,16; 2Tm 4,1); de
técnica muitas vezes —* targúmica ou Cristo (Mt 25; At 17,31). —* Ira. —» Tes-
—» midráxica. temunho.
Ira. Persiste o conceito do AT. A ira de Juram ento. R ecom endam náo jurar
Deus abarca toda a hum anidade pe (M t 5,33-36 e Tg 5,12), denuncia a
cadora (E f 5,6), da qual Jesús nos li- casuística do jurar (M t 23,16-22). Pe
vra (lT s 1,10); a ira escatológica ou dro jura falso (M e 14,71). Aceita-se
condenagáo afetará os impenitentes o juram ento: Jesús no processo (Mt
(Rm 2,4s). Também Jesús é capaz de 26,36s; 2Cor 1,23; Hb 7,20s.28) fala
mostrar ira ou indignagáo (M e 3,5) e do juram ento de Deus, que confirma
de apresentá-la ñas parábolas (Le a promessa.
12,46). O cristáo náo deve ceder á ira Justina. Com urna só raiz, dikai-, se
(Mt 5,22; Rm 12,19). Pode designar expressam m uitos significados man
condenagáo. —» Julgamento. tendo certa unidade de contexto men
Irmáo. —* Familia. tal. Para orientar-se, é útil dispor tic-
um repertorio de distingóes com suax
J oposicóes. A ntes de tudo, honradez/
justiga/inocéncia. a) Honradez: em
Jejum . Nega o valor ou a oportunida- relagáo a urna norm a/em relagáo ii
de (M e 2,18-22); relativiza-o (C1 2, um a pessoa: a D eus/aos homeni,
16; Rm 14,17); aprova-o (M e 9,29); oposto: m aldade, perversáo. b) N.i
pratica-o (At 10,30). Por analogía, a ordem jurídica: justiga, direito naln
continencia (lC o r 7,5). ral/positivo, mérito; oposto: injiiMl
Jerusalém . a) Empírica: a ela váo os ga, prejuízo, ofensa, c) Na ordem |ii
magos (M t 2), Aria espera a liberta dicial: inocencia; oposto: culpa, rrulit
d o de Jerusalém (Le 2,38); ai se con Em segundo lugar, deve-se distinguí'
sumará a paixáo (M t 16,21); Lucas ajustiga do soberano, legal, que |
constrói a grande subida de Jesús a castigar ou indultar; a do jui/, n til
Jerusalém que comega em 9,51. Re butiva, que deve absolver ou <omi
cebe Jesús com festa (Ramos), mas nar; a das partes, comutativa. Cuiii" iw
logo o rejeita (Mt 23,38) e sofrerá o antigüidade o soberano era lamltfHi
castigo (Le 19,44). M as nela comega juiz, a primeira e a segunda (hmImh
a Igreja (Pentecostes) e déla parte a sobrepor-se e também conliitulli
pregagáo apostólica (Le 24,47). b) A Em terceiro lugar, deve-sc con .iilcH>
celeste é a —» Igreja (Hb 12,22; Ap a passagem do negativo ao ..... ......
21-22). —* Galiléia. da maldade á honradez, por intnl«»
Judeus. Ñas passagens polémicas de ga de atitudee de condula, d.i m|n«u
Joáo (Jo 5; 8 ; 19 etc.) costuma desig ga = divida á justiga, poi mi ■
nar as autoridades; a apresentagáo dos compensagáo, ajuste; da i ul|"i i in
judeus em vários textos está condi céncia, por expiagao, «■imi|iiimt>HM
cionada pelas polém icas em curso na total da pena, indulto mi >■i .i. i 'i. •
primeira geragáo, que culm inam na exemplos ilustra rao ov.»-. di^iirtihf»
ruptura do sínodo de Jám nia = Yabné M ateus op 6 eájustii.;.i I.ni -h. .. Ii (til
(por volta de 85 d.C.). Paulo tem e objetiva, a nova limu nl< * >iiÍM
como norma dirigir-se primeiro aos exigente em conleiido i inI■n"ii h k
judeus (At); sobre a vocagáo deles (M t 5,20; 6,33). lo Ir, i....... ti M
reflete em Rm 9—11. na o julgam ento do l piin ■(■< M
Julgam ento. É im inente com a chega- do uma inocencia, nina <mI|-< •'«tj
da do —» reinado de Deus: o Batista condenagáo. Al Id. >'• | | > it#j
o anuncia, várias parábolas o pro- sin tese: vcncrai, h <(/■*/*• “• ■!
27 NOTAS TEMÁTICAS DO NT
com Deus; justiga (dikaiosyne) para blasfêm ia (At 6,57-60), Paulo nâo
com os hom ens. Paulo utiliza com chega a morrer (At 14,18).
abundancia e fluidez as im agens e Leáo. Título de Cristo (Ap 5,5) e figu
vocabulàrio dessa justiga. Rm 1,17: ra dos viventes (Ap 4,7). Imagem do
Deus revela sua justiga-inocència-di- Diabo (lP d 5,8).
reito de soberano, fazendo passar da Lei. Como instituigáo humana, é copia
culpa à inocència pelo indulto; Rm da ou imitada de outras culturas; de-
3,5: nas relagóes do hom em com pois canonizada como torá = instru-
Deus, opóe com clareza o direito-ino- gáo = ordenagáo de Deus, vinculada
cència (dikaiosyne) de Deus e a nos- à alianga; duplicada no Deuteronó-
sa culpa = nao direito (adikia); Rm mio; com entada e recoberta por le
3,21 fala de urna honradez-justiga trados e rabinos, com tendência a
obtida nào pela lei, mas pela fé; Rm absolutizá-la, a tom á-ia universal. O
5,20 contrapòe: pela lei, o delito e a N T reconhece sua origem mosaica
culpa; pela graga-indulto, a vida; Rm (G13,20) e divina (Rm 2,27). Seu con-
6,13.19: fala dos mem bros como ins teúdo é bom (Rm 7,12); mas a sub-
trumentos da nova honradez. Ef 4,24: mete a urna crítica geral que abrange
fala do hom em novo criado em esta todos os seus campos, o ético, o ju rí
do de inocència-honradez (dikaiosy dico, o ritual. O termo nomos quali-
ne). O verbo dikaioo também tem urna ficado equivale às vezes a regime: do
gama de significados. Mt 11,19: a Sa- pecado (Rm 7,22), de pecado e mor
bedoria (sophia) se acredita; Le 7,29: te (Rm 8,2), do Espirito de vida, i. é,
c reconhecer que D eus tem razào, de Cristo (G1 6,2), da fé (Rm 3,27).
direito; Le 10,19: apresenta urna ten Jesús e a Lei: sua atitude, conduta e
tativa de justificar-se-desculpar-se principios sem com plexos. Aceita,
pela casuística; Le 18,14: contrapòe mas relativiza e limita: sobre o tem
a sentenga de Deus absolvendo o pe- plo (M t 5,24), a oferenda (M e 7,9), o
i ador contrito e condenando o supos- sábado, as norm as de pureza (M t
10 honrado, m érito/demérito; Rm 2, 7,14-23). Radicaliza o ético na série
I ? e 3,20: sobre a fungào da lei e da de antíteses (Mt 5,21-48). Reduz tudo
Ir; Rm 3,26: Deus possui a justiga e ao duplo preceito (Mt 22,34-40). Se
l’i-rdoando pode outorgá-la ao peca- gundo Paulo, a Lei nao outorga a ju s
11«ir. O adjetivo dikaios. Honradez (Mt tiga aos judeus: prova-o pela Escri
I 19); de ju stig a co m u tativ a (M t tura, pela experiéncia universal e
'o,4); o soldo (CI 4,1); inocència: pessoal, “é a força do pecado” (IC or
un',ue inocente (M t 23,35); Jesus 15,56). Nâo obriga os pagaos conver
Inocente (Le 23,47); julgam ento (Le tidos: At 15,2; 2Cor 3; E f 2,15; C1 2,
■(1.2 0 ). 14. Agora Cristo é a lei: ocupa o lu
gar da torá rabínica em símbolos ti
L rados do AT.
Lepra. O termo hebraico designa gene-
• niii|i.iilu. Opòe-se à luz, com o subs- ricam ente urna enfermidade da pele,
........ menor na noite ou nas trevas em muitos casos curável; é muito du-
■i l ,S;Ap 18,23). Comparagàoem vidosa a existéncia da lepra na Pa
i " il»>I;is (M t 25,1-8); o Batista em lestina antiga. Nos Evangelhos subli-
>■lm;iiii i luz do Messias (Jo 5,35); a nha-se o aspecto de impureza legal.
i 'i ivi.i profètica (2Pd 1,19); o olho Letrados, juristas (gram m ateis, nomi-
«pi llili i fornece luz (M t 6,22). Nào koi). Na m aioria eram —» fariseus.
lei i il., ( ssária na Jerusalém celeste Faziam estudos especiáis da —* Lei
H i t ' '. ’)■ -* Luz. (tora), recebiam urna espécie de títu
< ,io. Pena para blasfem os (Jo lo e podiam ensinar; eram consulta
1 1 II H) e adúlteras (Jo 8,3-11). dos em matérias legáis (halaká). Em
l i lièvi"• morre lapidado, acusado de geral sâo hostis a Jesús, embora um
NOTAS TEMÁTICAS DO NT 28
tente segui-lo (M t 8,19) e outro nao digào ocidental). M aria a máe de Je
esteja longe do reino (M e 12,28-34). sus: domina a etapa da infancia (Mt
Liberdade. a) Psicológica: é afirmada 1,18-25; Le 1-2). Nos sinóticos rea
ou pressuposta no aceitar ou rechaçar parece em Mt 12,46-50 par. Joáo a
a mensagem, mas fica condicionada apresenta em momentos decisivos e
e lim itada pelo —» m undo (lJ o 2,15) entrelazados: em Caná, primeiro si-
e pelo instinto (Rm 7; 8,7). b) Política: nal, e junto à cruz, onde é nomeada
nao im porta tanto, reconhece-se o máe de Joáo; depois da ressurreiqáo
pagamento do tributo (Mt 22,2): tam- está em Jerusalém acom panhando os
bém importa m enos a liberdade so apóstelos (At 1,14). Maria Madalena:
cial (IC o r 7,21-24). c) Crista: é con é uma das mulheres curadas que acom-
cedida pela verdade (Jo 8,32), por panham Jesús (Le 8,1-3); presente no
Cristo (Jo 8,36), pelo Espirito (2Cor Calvàrio (M t 27,36); diante do sepul
3,17); é liberdade do pecado (Rm 7,14; cro (Mt 27,61); vai ao sepulcro (MI
6,14.18), da —» morte (Cl 2,12-14), que 28,1); segundo Jo 20,1-18, é a primei-
é o último inimigo (IC o r 15,26), de ra testemunha e anunciadora da res-
—» Satanás (Ap 20,3.10), do instinto surreiqáo. M aria de Betánia, irmá de
(Rm 8,13), da —» lei ou regime legal Marta, aparece hospedando e escu
(Gl, Rm 6 ). Mas nao há de ser pre tando Jesús (Le 10,38-41), o unge (Jo
texto para o mal (IC or 8,9; lP d 2,16). 12,1-8). — Mulher.
—* Roma. —►César. —» Franqueza. M atrimonio. Jesús corrige a legislarán
Línguas m isteriosas. —» Glossolalia. mosaica, apelando para a instituidlo
Luz. Sentido próprio (M t 10,27; Jo que refere Gn 2; Me 10,1-9 par. Hit
3 ,2 0 ), e le m e n to da te o fa n ia na alguma excegáo? Mt 5,32 e 19,9 silo
transfiguraçâo (Mt 17,2). Como sím textos discutidos (porneia). Instili
bolo: Deus é luz (lJo 1,5); Cristo é góes sobre o matrimonio (IC o r 7; I I
luz (Jo 1,4; 8,12); o discípulo deve sé- 5,22-33; lP d 3,7). O matrimònio,
lo (M t 5,14.16; E f 5,8s; lJ o 2,9-11). símbolo da uniáo do Messias coni «
—» Trevas. Igreja (E f 5; Jo 3,29; 2Cor 11,2; A|-
21,2.9; 22,17.20). -» Virgindade
M M ediador. Gl 3,19 refere a Moni'*
Agora Jesús Cristo é o único Mnllit
M aldiçâo. Nao se deve m aldizer ao dor entre os homens e Deus, cuino
próximo nem ao inimigo (Le 6,28; Filho, profeta, servo (lT m 2,5; I Mi N,(i
Rm 12,14; T g 3,9s); os judeus se 9,15ss; 12,24). Por sua relagño mili *
am aldiçoam no processo de Cristo com o Pai (M t 11,27), porque vni un
(Mt 27,25). Jesús amaldiçoa a figuei- Pai (Jo 14,6).
ra (Mt 21,8); tornou-se maldiçâo (so- M elquisedec. Hb 5,1-10 e 7,1 «
freu as conseqüéncias), pelos homens ploram a figura de Melquiseilo mi
(Gl 3,13). Paulo amaldiçoa o falso Gn 14 e SI 110.
pregador (Gl 1,8) e o incestuoso para M em oria. Em forma implícita •■•Jil |n»
converté-lo (IC o r 5,3-5). —» Bênçâo. sente como exigencia em toil.i ,i mil
M anifestaçâo. —» Revelaçâo. —* Pa- sáo de Jesús. Explicitamenle i ' IMmii
rusia. a recomendagáo de Jo I5,.’0 i ii In»
M âos, im posiçâo das. Gesto eficaz de tituigáo form al da memonn "ion
cura (Me 16,18), de bênçâo (M e 10, rística (IC o r 11,25). llm.i |ni>ll^4t
16) ou rito de nomeaçâo (2Tm 1,6), produz seu efeito de recniiliri loieiih
que costum a incluir o dom específi quando é recordada ao ciuii|nli
co do Espirito (At 8,17). Pedro (Mt 26,65), os ¡mino. (Mi H
Maria. Très figuras principáis têm esse 63), os cristáos (2IM M-uimi
nome no evangelho: a máe de Jesús, corda os fatos da inlam i.i ( I ■ ' l" ') |
a M adalena e a de Betánia (as duas M em oria judicial dir. ili Iti,««
nMimas se confundem ás vezes na tra- 18,5).
29 NOTAS TEMÁTICAS DO NT
e dotada de força superior. Convida zantes, homens rclij'.ioM r.. /•/1. i>,<
à conversâo e à fé. Os Evangelhos e noi (At 10) ou \ehom cn,‘i t u i t|
os Atos a apresentam em açâo. —» Pagaos.
Primicias, primogénito, a) Cristo é o Ppovérbios, aforismos, si ni'ii. ,
primogénito do Pai (Hb 1,6), de mui- das formas do mashal. !■ " .... i .
tos irmâos, da criaçào (Cl 1,15), dos generosamente o género m i ........ a
mortos por ser o prim eiro ressuscita- namento e pregagáo. .........................
do (IC o r 15,20.23; Cl 1,18; Ap 1,5). pilar um repertorio ou aniel.., ¡ . i
b) O cristâo; é prim icias (2Ts 2,13; les, como um texto sapiem i.il .i • 1
Tg 1,18; Ap 14,4), em bora cronoló P ublicano. Cobrador tic itn| >•■ n
gicamente se possam chamar prim i servigode Roma; iam acomp mh . i
cias os judeus (Rm 1,16); o primeiro e protegidos por policiais 11 ■- i . ■i
convertido de uma regiâo (Rm 16,5). tipos de impostos: o geral (/■■ "
Possuir com o prim icias o Espirito phoros) e o da alfándega ou Im in
(Rm 8,23). dor (telos). O sistema se pn i . .
Profano. Em teoria há dois sistemas de abusos: o cobrador, e mar. .mi.I.
oposiçôes: sagrado/profano e puro/ chefe, se enriqueciam á cusía .la p
im puro-contam inado; na prática se pulagáo, por isso eram mal vra.i
sobrepóem. O profano pode ser con cham ados de pecadores. Coi ive 11. ...
sagrado, o impuro pode ser purifica se Levi-M ateus e Zaqueu. O ía ......I
do por abluçôes ou açôes rituais. Os publicano (Le 18,9-14).
tabus, alimentos e relaçôes nao ad- Pureza legal. A legislagao do 1 < m
mitem mudança. e do Deuteronómio e mais ainda a m
Profeta. Os do AT sao citados ou a eles terpretagáo rígida dos fariscir.
se fazem alusóes. Os do NT: existén- abolidas por Jesús (Mt 15,1 ls:.) <¡i.
cia (At 13,1; 21,10; talvez Ef 3,5); insiste na pureza interior, que 6 i....
nomeaçâo (E f 4,11), profetisas (At bem-aventuranga (Mt 5,8). —* Prolan.
21.9). Jesús é profeta (Le 4,24), tido
como tal (M t 21,46), o profeta (Jo R
6,14). A profecía é um carisma (IC or
12,28ss; 14,32; !Ts5,20). O A ^ c a lip - Rabí, rabino. Pela etimología é ti 11■I•■
se se apresenta com o profecía (1,3; honorífico, na prática era título bi
22 . 10). mestre. O Batista e com freqüéiu i.i
Promessa. O AT é em boa parte pro- Jesús o recebem. As vezes se tradu,
messa, em sua dinám ica interior his por didaskalos = mestre ou epistat. ,
tórica e em seu m ovim ento para o R econciliagáo. Texto básico 2Coi >
futuro. O NT vem cum prir e trans 18ss: Deus reconcilia consigo o ho
bordar todas as prom essas do AT no mem, por meio de Cristo. Pregá-la e
dom de Jesús e do Espirito, a) Jesús o m in istério apostólico prim ário
é o sim = realizaçâo das promessas Reconciliam -se judeus com pagao;.
(2Cor 1,20); faz múltiplas promessas (E f 2,16), o céu com a térra (C11,20).
aos seus: bem -aventuranças (Mt 5,1- —* Perdáo. —» Pecado.
12), apoio na missáo (M t 28,20); re Redengáo. O NT prolonga o uso do;
sume-as na vida eterna (Jo 3,16). b) verbos hebraicos pdh e g 7. No sen l i
O Espirito é a promessa do Pai (At do genérico de libertar (Le 1,68; 2,38.
1,4; G1 3,14). c) O cristâo é herdeiro 24,21); de uma conduta (Tt 2,14; Hb
das prom essas (E f 3,6), continua es 9,15; lP d 1,18). Com o matiz de com
perando o cum prim ento da promes prar, resgatar uma propriedade alie
sa final (Hb 10,26). —» Esperança. nada (IC o r 6,20; 7,23; G1 3,13; 4,5;
Prosélito = adventicio. Distinguiain-se Ap 5,9); para adquirir (E f 1,14) por
os plenam ente convertidos ao juda um prego (lP d 1,18; Rm 3,24). Com
ismo e circuncidados (Mt 23,15), pre o matiz de resgatar de uma escravi
sentes (At 2,11; 6,5); e os simpati dáo (Rm 8,23; E f 4,30).
NOTAS TEMÁTICAS DO NT
2,18). Sazáo (kairos) um tempo pre Filho (lJ o 5,10), sobre o homem (At
definido que se oferece como ocasiáo 15,8). Jesús com suas obras (Jo 10,
talvez única, talvez últim a (Le 19, 25), diante de Pilatos (Jo 18,37; lT m
44s; 2Ts 2,6); é preciso aproveitá-la 6,13); sobre o Pai (Jo 7,7). A Escritu
(Ef 5,16). Tempo; de p re p a ra d o (Hb ra dá testem unho (At 10,43; Rm
1,1), da paciencia de Deus (Rm 3,26), 3.21). O Batista (Jo 1,7.15), Paulo (At
de s a lv a d o (Rm 3,25). O tempo in 23,11), os apóstolos (At 1,8). Tim o
dicado (G1 4,4). —» Eternidade. teo (2Tm 1,8). c) Sentido técnico de
T en tad o. Deve-se distinguir a prova martirio (Ap 2,13; 17,6).
d o que se deve superar para mode- Trabalho. O exemplo de Jesús na sua
rar-se e acreditar-se, e a te n ta d o que vida oculta o recomenda (M e 6,3; Mt
é induzir positivam ente ao mal. Por 13,55); dos que ele escolhe como dis
á prova nao é induzir ao mal; ser ten cípulos (M t 4,18s); referencia ñas
tado pode ser uma p ro v a d o . a) As parábolas; como termo de compara-
de Cristo sao provas em que se con gao com a tarefa apostólica (M t 9,37;
fronta o designio do Pai com o opos- Jo 4,38); Paulo o pratica (At 20,34;
to (sentido etim ológico de sata); Je IC or 4,12) e o inculca (2Ts 3,6). Tra
sús vence e se acredita, b) O cristao balho mais importante sào a obra de
deve suportar provacóes (Tg 1,3; lP d Deus (Jo 6,28s) e a tarefa apostólica.
1,7; IC o r 11,19), é tentado pela con Tradigáo. A transmissáo sucessiva da
cupiscencia (Tg 1,13-15) e pelo Dia- mensagem evangélica é essencial. Con-
bo que é o tentador (lT s 3,4s). teúdos concretos: a eucaristia (IC or
ierra, a) Como no AT, compóe com o 11,23), o Creio (IC o r 15,3), os ensi-
cóu o universo (M t 28,18), passará namentos e normas (2Ts 2,15; 3,16).
com ele (M e 13,31), dando lugar a Opóem -se ás tradigóes dos fariseus,
<nitros novos (Ap 21,1). Com valor que obscurecem e invalidam a lei de
imbólico se opóe ao céu como o pu- Moisés (M t 15,2-6) e outras tradigóes
i miente humano ao divino (Mt 6,10. m eram ente humanas (C1 2,8).
I9; Le 2,14; Jo 3,31). b) A térra habi- T ran sfigu rad ». Suprema m anifesta
i nía, universal (Ap 8,13; 13,3; Mt d o da gloria de Jesús em vida: pro
11 >34). A térra cultivada (Hb 6,7; Tg longa a m a n ife sta d o aos pastores
' ■.IK). c) O solo (Mt 10,29; Le 22,44). (Le 2), a do batism o, e antecipa a
\ morada subterránea dos m ortos ressu rreid o . Descreve-se acumulan
(Mi 12,40; E f 4,9). d) Símbolo do do motivos simbólicos: —» gloria (Le
t- <uio (M t 5,4). 24, 26), luz (IC o r 15,40-44; lJo
I' i m iento. E o significado original 5,1), -* nuvem (Mt 26,64; lT s 4,17),
ili ■i'.iego diatheke, que passa a signi- brancura (M e 16,5; Mt 28,3), as teji
li' H lecnicamente alianza. Com os das da presenta, o —» testemunho da
■ ‘(♦'•i sentidos jo g a Hb 9,16s e G1 Lei e dos Profetas e o do Pai. Vin-
I U>v Pode-se considerar bén^áo cula-se à —» Paixáo (Le 9,31). Textos
.........icntária a de Jesús na ascen- (Le 9, 28-36 par.; 2Pd 1,16). O cris-
I >•■(I >; 24,50-52); o discurso da ceia táo participa dessa gloria (2Cor 3; F1
11" i I 17) é discurso testamentário, 3.21).
I i'mulo m odelos do AT e de apó- Trevas. Em sentido m etafórico, é o
mundo sem Deus (lJo 1,5), do peca
* ... a) Pode ter o sentido ju- do (Jo 12,35), do demonio (Ef 6,12),
II iilii i nico, p. ex., no processo de do òdio (lJ o 2,11), do castigo defini
í 1 ni (MI 18,16). b) Geralmente sig- tivo (Mt 22,13). Deus é luz sem tre
i-1' i ■ unía d e c la ra d o formal e pú- vas (1 Jo 1,5), das trevas tira luz (2Cor
|t i mi (|ual alguém se comprome- 4,6), transforma as trevas em —»• luz
i ■1111a I no pensamento de Joao. (E f 5,8).
í ' ■ i i c o s : Jo 5,31-39; 8,13-18; Trindade. O texto de Mt 28,19 cor
l 'cus dá testemunho sobre o responde a uma fórm ula batism al
NOTAS TEMÁTICAS DO NT 40
2,10), livro (Ap 2,5), manancial (Ap gènero apocalíptico, b) A visáo pro
7,17), palavra (F1 2,16). priam ente dita com o ato supranor-
Videira, vinho. a) Israel era a videira mal da imaginagáo ou dos sentidos:
que fracassou; Jesús é a videira au Pedro (At 10,16), Paulo as menciona
téntica, que merece fé, única, da qual em IC or 12,lss. c) Símbolo da visáo
os cristáos sao ramos (Jo 15,lss). b) escatològica de Deus (Mt 5,8; IC or
Além do uso normal do vinho, deve- 13,12; 1Jo 3,2). —»Céu. —» Revelagáo.
se notar: o vinho eucarístico, m en Vitoria. —» Guerra.
cionado como cálice, o vinho m ila Viúva. Estado social e econòmico mais
groso de Caná, o vinho drogado e que familiar. E tradicional o cuidado
letárgico da cruz (M e 15,23), o vi das viúvas geralmente sem recursos
nho novo no reino (Mt 26,29). (At 6,1; Tg 1,27); IT m 5,3-16 des-
Vinganga. —»Ira. creve uma organizacáo que parece
Virgindade. Doutrina em IC o r 7. M a atribuir alguma fungáo particular ás
ría é virgem (Le 1) e também Jesús viúvas na com unidade e as conside
(cf. Mt 19,10). Em sentido m etafóri ra com direito a um subsidio.
co, oposta á idolatria com o fornica Vocagáo. —» Eleigáo.
d o (Ap 14,4). —> M atrimonio. Vontade. —* Designio.
Visáo. Além do uso norm al de ver,
pode-se considerar no contexto da
revelagáo. a) Como recurso conven
z
cional da época, especialm ente de Zelo. Diligència, fervor (IC o r 12,31;
m jos (Le 1,11). Recurso freqüente do Gl 4,18; lP d 3,13).
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JE R U S A L E M S S
B elém •
M A nión
EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
INTRODUgAO
D urante certo tempo, a comunidade antítipo de M oisés e superior a ele. Já
judaica se reparte em tendencias e gru nos relatos da infancia nos fa z obser
pos, que em alguns casos se poderiam var o paralelismo. M uito mais como le
chamar de seitas. Quatro parecem ser gislador — nao mero m ediador — e
us m ais im portantes: saduceus, fari- mestre.
seus, essénios e zelotes. Com o dentro N este evangelho Jesús aprova e re-
de alguns grupos se podem form ar es comenda os m andamentos da lei ju d a i
colas, é legítimo fa la r de pluralismo. ca; e os corrige, propondo “bem-aven-
i onvivem entre tensoes, tolerancia, in- turaneas ” e acrescentando: “eu porém
•liferenga. Em certa época, os que re- vos d ig o ... ” D iante da conduta de ad
• <mhecem Jesús como M essias sao um versarios típicos, pronuncia em tom
.1,7 upo a mais, olhado p o r outros gru- polém ico seus ais. D urante seu minis-
/'('.v com suspeita ou tolerancia. N ao tério lim ita-se ao Israel de entáo; ex
liiltam ameagas e esbogos de persegui cepcionalmente concede algum milagre
do. Em 70 sobrevém a catástrofe de a pagaos, olhando com suspeita seus
rusalém e Judéia. D as ruinas mate- concidadáos. Depois do momento esca-
1litis e da crise espiritual emerge um tológico, investido de plenos poderes
1upo fariseu que unifica poderosa- com a ressurreigao, lega o seu ensina-
nt,’ o judaism o normativo, excluin- mento como mandamento. Em lugar da
1 ••iualquer pluralismo. A rejeigáo aos convergencia das nagóes, anunciada
'i /nos, ou “nazarenos”, v a ise inten- pelos profetas, ordena a dispersao p o r
lindo até tornar-se oficial no sínodo todo o mundo. Em lugar da circunci-
'• 1m inia (entre os anos 85 e 90). Os sáo, instaura o batismo.
Ihilen i ristáos sao excluidos form al- M ateus chama de “igreja ” a com u
|t. ule da sinagoga. P or seu lado, que nidade crista, e a considera continua
■ luí, ilo espiritual, sentimental e de con- dora legítima do Israel histórico. E o
|hm eiuirdam em relagao a suas raízes Israel auténtico, que já entrou na eta
fiilllICtIS? pa final. Jesús anunciou a iminéncia do
I l'iiiii i’ssas com unidades parece es- “reinado de D eus ” e realizou o ato de
I 11 1 l ’i iruanamente Mateus. Nao pre- cisivo com sua m orte e ressurreigao. A
)hi‘ \¡>licar usos e tradigóes judai- comunidade nao deve ter saudade do
i Ir os respeita, estima e explora, passado, nem renegá-lo. A tingiu um
a continuidade e a novidade, presente glorioso, nao imaginado. A g o
H ’ mu dono de casa que tira de ra se aglutina em sua lealdade a Jesús,
|| i' i" usa coisas novas e v elhas” M essias e Mestre, novo M oisés e filho
' ('i mtinuidade, porque em Je- de Davi. E urna comunidade conscien
•iiii >Mi ■ssias, se cumprem aspro- te e organizada: vño se fx a n d o normas
• ii I d atinge sua perfeigáo; só de conduta, p rá ticas sacram entais e
un .bordando as expectativas. litúrgicas, até urna instituigao ju d i
•hlii-com freqüéncia textos do cial; urna comunidade que se abre para
H .h • \< ssenta) que se cumprem proclam ar a sua mensagem a judeus e
" • iln vida de Jesús. Sua ge- pagaos. Jesús a tinha preparado, es-
ahi ientonta a A braáo, “nosso colhendo, instruindo e prevenindo seus
l P ' i . h \ so, apresenta Jesús como após tolos.
MATEUS 46 INTRODUgÁO
• I 17 Mateuscomeça sua historia imi- condeu os espioes (Js 2), Rute, a estran-
>genealogías do Génesis (5; 10; 36) geira moabita, e Betsabéia, a adúltera mae
..... cas. Mas troca o tradicional plural de Salomào (2Sm 11); a quinta é María.
' ii oes” pelo singular (que o grego usa Nao chama María esposa de José, mas sim
>1ln .’,4 e 5,1), porque vai concentrar- o contràrio, José esposo de Maria (Gl 4,4
iiiima geraçâo especial, culminante, a diz “nascido de mulher”).
l> .ir., apresentado com seu título de Pode-se comparar esta genealogia com
PMltr. A bênçâo genesíaca, que era ex- a de Lucas 3,23-38, que é ascendente e
« i h. “crescei e multiplicai-vos”, aqui remonta a Adáo.
* "i ' linear, em progressâo ininterrupta 1,1 Gn 11; lC r 1-3.
i i•!. nilude histórica do Messias. 1,16 *Ou: cujo título é o Messias.
i i i i l.iro e explícito o seu desejo de 1,18-25 A sèrie precedente desemboca
il h i rrie, pela divisâo em très seg- no fato individual, que nao é um a mais,
Iielo número de dois setenarios porém único e extraordinàrio. Mateus se
H*1 i 1' ' l ipa. Com tal artificio, o nascí- apóia na promessa/profecia de Is 7,14, lida
1 li .us fica inserido e enquadra- num sentido específico já pela tradi§ao
lll i i" luna da humanidade, na historia judaica. O hebraico ‘Imh significa de modo
HIHi r" 11 Abraáo é o pai dos crentes, indiferenciado “moga, jovem nubil”. Isaías
I tt limitador de uma dinastía real; o refere provavelmente à esposa de Acaz,
i- i n. lu í,trios de promessas divi- a mae de Ezequias. Os judeus de lingua
i illm da historia humana e da grega tinham especificado o sentido tra-
■.ir ma. Mencionam-se quatro duzindoparthenos = virgem. Mateus segue
►r i ....... hu .i de Judá que o engana e essa tradigáo e autentica-a no seu relato. É
H •' " ; l. Kaab, a prostituta que es- possível que tivesse intengáo apologética
48 1,19 2,15 49 MATEUS
MATEUS
sim: Sua máe, M aria, estava prom etida 22Tudo isso aconteceu para que se magos* do Oriente se apresentaram em haviam visto surgir avangava á frente
a José, e antes dr m atrim ònio engra- cumprisse o que o Senhor havia anun Jerusalém, 2perguntando: deles, até deter-se sobre o lugar em que
vidou por obra do Espirito Santo. Jo ciado por meio do profeta: 23Ve, a virgem — Onde está o rei dos judeus recém- estava o menino. 10Ao ver o astro, en-
sé, seu esposo, que era honrado e náo está grávida, dará à luz um filho que será nascido? Vimos surgir seu astro e vie- cheram-se de ¡mensa alegría. 1!Entra-
quería difam á-la*, decidiu repudiá-la chamado Emanuel (que significa Deus- mos render-lhe homenagem. ram na casa, viram o menino com sua
privadam ente. 20Já o tinha decidido, conosco). 24Quando despertou do sono, 3Ao ouvir isso, o rei Herodes come- máe Maria, e, prostrando-se, prestaram-
quando um anjo do Senhor lhe apare- José fez o que o anjo do Senhor lhe ha gou a tremer, e toda Jerusalém com ele. lhe homenagem. Depois abriram seus
ceu em sonhos e lhe disse: via ordenado, e acolheu sua esposa.25Po- 4Entáo, reunindo todos os sum os sacer cofres e lhe ofereceram como dons ou-
— José, filho de Davi, náo tenhas rém náo teve relagóes com ela, até que dotes e doutores do povo, perguntou- ro, incensó e mirra. I2Em seguida, avi
medo de acolher Maria como tua espo deu à luz um filho, a quem chamou Jesús. lhes onde deveria nascer o M essias. sados por um sonho que náo voltassem
sa, pois o que eia concebeu é obra do ^Responderam-lhe: á casa de Herodes, regressaram para sua
Espirito Santo. 21Dará à luz um filho, a 2 Homenagem dos m agos — ‘Jesús — Em Belém de Judá, como está es térra por outro caminho.
quem tu cham arás Jesús, porque ele nasceu em Belém de Judá, quando crito pelo profeta: 6Tu, Belém, no terri
salvará seu povo de seus pecados. Herodes reinava. Aconteceu que uns torio de Judá, em nada és o m enor dos Fuga para o Egito e matanga de ino
povoados de Judá, pois de ti sairá um centes — 13Depois que partiram, um
chefe, o pastor do m eu po vo Israel. anjo do Senhor apareceu em sonhos a
contra boatos que comegavam a difundir mostrar que em Jesús cumprem-se as pro 7Entáo Herodes, chamando secreta José e lhe disse:
se sobre o nascimento de Jesús. No senti fecías. Dá-nos como equivalentes o nomc mente os magos, perguntou-lhes o tem
de Jesús e o de Emanuel. — Levanta-te, pega o menino e a máe,
do de “virgem” foi recebido no texto e ilo exato em que havia aparecido o as foge para o Egito e fica ai até que eu te
transmitido pela Igreja. ini; 8depois os enviou a Belém com a avise, porque Herodes vai procurar o
O relato mostra com toda a clareza que 2,1-12 O episodio está centrado no tem;i
fi'iomendagáo: menino para matá-lo.
a maternidade de Maria nao é obra de José, da realeza. Herodes, chamado o Grande
(37-4 a.C.), é rei da Judéia, um reí estran Averiguai com exatidáo o que se 14Levantou-se, pegou o menino e a
mas do Espirito Santo, fato que é afirma n l« re ao menino. Quando o encontrar-
do duas vezes no breve relato. José, inter geiro, idumeu, nomeado e protegido pelo máe, ainda de noite, e se refugiou no
senado romano; é visto como ilegítimo poi •l. ., informai-me, para que eu também Egito, 15onde residiu até a morte de He
pelado enfaticamente como “filho de Da
vi”, garante a linhagem dinástica de Jesús, parte da populaçâo (cf. Dt 17,15). Jesiw a prestar-lhe homenagem. rodes. Assim se cumpriu o que o Senhor
que receberá esse título. Celebraram-se, nasce na cidade de Davi, como descendí'n T endo ouvido a recom endagáo do anunciou pelo profeta: Chamei meu fi-
segundo o costume, os esponsais, náo o te de Davi, potencialmente sucessor lcgl ■i Ilartiram. Imediatamente o astro que Iho que estava no Egito.
casamento, e náo há coabitatilo preceden timo (cf. Am 9,11; Ez 37,24; Jr 30,«),
do o nascimento. (Pode-se comparar com 33,15). Para Herodes é um rival perigosu, 1" lilhos. De Belém saiu Davi e sairá 2.10 Amengáo enfática da alegría náo é
outros nascimentos extraordinários: Gn 21; a ser eliminado. Concordam com Heroilm i, ./, scendente esperado (cf. 2Sm 5,2 uma simples nota psicológica, mas reco-
25,23-26; Jz 13,3-5.) cortesáos e vizinhos complacentes da cu .....o Iítulo de pastor). A tradígáo leu neste lhe uma longa tradigáo do AT.
Aqui se diz que José era “honrado”. O pital; “toda Jerusalém” é enfático e inti n ri■* imIio a epifania ou m an ifestalo do 2.11 Entram na casa (de José), náo numa
termo poderia significar que era “inocen cional, antecipando uma oposiçâo. ■i i, I' a aos pagaos, ligando com o anún- gruta usada como dormitorio. Náo men
te” no assunto que comegava a se mani Uns “magos” orientais (astronomie í ' I' 1¡n 49,10: “Nao se afastará de Judá ciona José. Na tradigáo bíblica, tem papel
festar, mas que nao queria repudiá-la. astrologia nao estavam separadas enlfliit •■■i.....em o bastáo de comando do meio preponderante a máe do rei ou do herdei
(Veja-se a legislagáo em Dt 22,23-24.) veja-se Dn 2,2.10 em grego), que o niih , ir. n»rlhos, até que lhe tragam tributo ro (cf. SI 45,10). “A máe com o menino”:
“Privadamente” com o mínimo de teste- rador supóe conhecedores de tradignril • i"" iis lhe rendam homenagem”. pode aludir a Mq 5,2: “até que a máe dé á
munhas, sem processo ou agáo pública. A prediçôes judaicas (talvez o oráculo «lf 1 I ' i >u: astrólogos. luz”. A máe com o menino será uma ima-
visáo em sonhos recorda os sonhos de ou- Balaáo, Nm 24,17 sobre a estrela de luid I * ( >ru go anatole significa o “levan- gem favorita da iconografía crístá.
tro José e os supera. O menino será real que avança), acorrem a render homciinuHl » i ni i.ilico = oriente, ou o levante ou 2,13-15 José continua em seu papel de
mente “filho” de María. Se José impóe o ao presumido herdeiro, tratando-o mini fctif!" 1.......astro. Aqui vale o segundo sig confidente sofrido e eficiente: é ele quem
nome é porque age como pai legal (com- título de “Rei dos judeus” (será o lilulnt|( uí" i i" i >■.magos dizem “seu astro”, com enfrenta os problemas domésticos e trans-
pare-se com Zacarías, Le 1,13). O nome cruz, 27,11.29.37). A astucia malien« til )IHi ' .ivo que o dá por conhecido. cendentais, e os resolve, executando or-
do menino (o mesmo que Josué e pareci Herodes é vencida pelo milagro da r'iliijí B * i ..........ador mostra Herodes conhe- dens divinas. A citagáo de Oséias (11,1) é
do com Oséias) enuncia e anuncia o desti e pela fidelidade dos visitantes. ( >•. mugit ■ i, i " iinga messiànica dos judeus. adaptada oportunamente ao episodio, e
no: se um rei deve “salvar” seu povo, tam- trazem o tributo dos pagaos ao rei uiliM ■NI 1 .... ns doutores interpretando a sugere que Jesús está refazendo concen
bém o descendente de Davi nasce para (Is 60,6; Z c8,20-22; SI 72,10-15; H'.'.11 M ii i n o Messias anunciado e es- tradamente a sorte histórica do seu povo.
salvar seu povo dos pecados. Salvagáo te Omitem-se as descriçôes, já couln>i<|fl ■ É 1 i i 'a n u o s sacerdotes costumavano (Veja-se também Nm 27,8). Oséias se re
ológica, náo política. Mateus emprega o em textos do AT. *< 1............ os doutores, fariseus. fere ao éxodo e apresenta Israel como
sonho como meio de revelagáo fidedigna A profecía de Miquéias (5,1) M'i i .’Sin 5,2. menino que o Senhor chama “meu filho”.
(cf. Eclo 34,1-8). humilde aldeia de Belém as prt-i • ¡A i' mi. i Mu- homenagem”: reconhe- A aplicagáo a Jesús confere ao título outra
1,19 *Ou: era inocente, mas nao queria... de Jerusalém. A mesma oposir.m " 0#1 i »ii.i 'iirmil.ule superior. Mas na boca dimensáo.
1,22-23 Abraáo, o patriarca, Davi, o rei, presente relato. Só que para Mali u» |4 M p *» (Mili ' piessáo de ironía perver Pode-se comparar com a sorte de Moisés:
■ .ir,,,., I ..lías, o profeta. Mateus gosta de é humilde, mas gloriosa por caira >l> « y tii# 1 «li i ’i lar os visitantes. salvo (Ex 2,1-9), perseguido para ser morto
m
MATEUS 50 2,16
parai o caminho para o Senhor, aplai- direito de tirar-lhe as sandálias. Ele vos
nai sua estrada. Esse Joào usava urna batizará com Espirito Santo e com fogo.
veste de pèlos de camelo, cingia-se com 12Já em punha o a pá para lim par sua
cinturaci de couro e se alim entava de eirá: o trigo o recolherá no celeiro, e
gafanhotos e mel silvestre. 5Iam a eie queim ará a palha num fogo que nao se
de Jerusalém, de toda a Judéia e da re- apaga.
giào do Jordào, 6e se faziam batizar por
eie no Jordào, confessando seus peca Batismo de Jesús (Me 1,9-11; Le 3,21s;
dos. 7Ao ver que m uitos fariseus e sa- Jo 1,29-34) — 13Por esse tempo, foi Je
duceus iam para que os batizasse, dis- sús da Galiléia ao Jordáo e se apresen-
se-lhes: tou a Joáo para que o batizasse. 14Joáo
— Raga de víboras! Quem vos ensi- o impedia, dizendo:
nou a fugir da c o n d e n a d o que se apro — Sou eu quem precisa ser batizado
xima? 8Dai frutos válidos de arrepen- por ti, e tu vens a mim?
dimento, 9e nào penseis que basta dizer 15Jesus lhe respondeu:
a si mesmos: N osso p a i é Abrado. Pois — Deixa por ora, pois desse modo
vos digo que dessas pedras Deus pode convém que realizemos toda a justiga.
hiar filhos para Abraào. 10O machado Diante disso, consentiu. 16Jesus foi
l i està posto à raiz da árvore; a àrvore batizado, saiu da água e logo o céu se
<|iie nao produz frutos bons será córta abriu, e ele viu o Espirito de Deus que
la langada ao fogo. n Eu vos batizo descia como urna pom ba e pousava so
iun agua em sinai de arrependimento. bre ele; 17ouviu-se urna voz do céu que
i pois de mim, vem alguém com mais dizia: Este é o meu Filho querido, o meu
"iioridade do que eu, e eu nào tenho predileto.
4,1-11 Deve-se evitar chamá-las de ten- quando lhe pede pao (Mt 7,9). Ver tam<
taçôes, porque sâo provaçôes. Como o bém Sb 2,18 e o contexto.
povo de Israel, passado o mar Vermelho e 4.6 Os anjos a servido do homem, (tf
guiado por Moisés, é posto à prova repeti filho, contra poderes nefastos. Citacjáo dt
das vezes no deserto, assim Jesús, depois um salmo de confianza (SI 91,11-12). |
do batismo, é guiado pelo Espirito e en 4.7 Dt 6,16.
frenta provaçâo no deserto. O povo falhou 4.8 O monte da visáo parece reminl
várias vezes, Moisés urna vez. Jesús su cencía do de Abraáo, quando se detéin
pera todas as provas. O evangelho encena país de Canaá (Gn 13) e do monte de OI
dramáticamente o grande confronto, en Moisés contemplou a térra antes de ti
tre o projeto salvador do Pai e o anti- rer (Dt 34; cf. Ez 40,2); opóe-se ao m<
projeto apresentado pelo rival (diabolos, da transfigurado (Mt 17,1). Os reine
o Satâ do AT; cf. Jó 1-2). O mílagre fácil mundo com seu esplendor se opftcffl
e injustificado, o espetáculo gratuito abu reino dos céus com sua gloria. Sol
sando dos anjos, e sobretudo o poderío homenagem, ver Dn 3,5.10.15.
universal, submetendo-se às regras do 4,10 Vai-te: compare-se com 16,2.1,
jogo impostas pelo pretenso soberano do tagáo de Dt 6 em termos de monotd
mundo. Contra isso, très citaçôes tiradas estrito. Ele está acima dos anjos (III»
do contexto do éxodo: Dt 8,3; 6,16; 6,13 4,12-17 Cafamaum, junto ao lugo,
(cf. Ex 17,1-7 e Nm 20,7-13). sua cidade (9,1). Galiléia, a comaren ti
4.1 Levado pelo Espirito: como Ezequiel ra paga e paganizada, será ceníírio ilu
(3,12; 11,1). O Espirito, pelo quai foi con lagáo luminosa, como no grande itl
cebido e que desceu sobre ele no batismo. de Is 8,23-9,1 messianicamente liil
4.2 Jejuou: como Moisés (Ex 34,28) e presenta do menino dos títulos xultl
sentiu fome como o povo. A mensagem abreviada de J
4.3 A prova da filiaçâo: No contexto de como a do Batista (3,2). Só i|iin
Dt 8,3 fala-se de Deus como pai que edu- personifica, e o arrependimcnlo <|
— nao dá a seu filho urna pedra é para receber o evangelho (4,,’ t,
5,2 53 MATEUS
sa, para os que habitavam em sombras C ham ou-os, 22e eles ¡m ediatam ente,
de m orte Ihes am anheceu a luz. 17A deixando a barca e o pai, o seguiram.
partir disso começou Jesus a proclamar: 23Jesus percorria toda a Galiléia en-
— A rrependei-vos, pois está próxi sinando ñas sinagogas, proclamando a
mo o reinado de Deus. boa noticia do reino e curando todo tipo
de enferm idades e doengas entre o po-
Chama os prim eiros discípulos (Me vo. 24Sua fama se espalhou por toda a
1 , 1 6 - 2 0 ; Le 5 , 1 - 1 1 ) — 18Enquanto cami- Siria, de modo que lhe traziam todos os
nhava junto ao lago da Galiléia, viu dois que padeciam diversas enfermidades ou
irmâos — Simâo, apelidado Pedro, e tinham doengas: endemoninhados, lu
André seu irm âo — que lançavam urna náticos, paralíticos. Ele os curou.
rede na água, pois eram pescadores. 25Seguia-o urna grande m ultidáo da
|(,Disse-lhes: Galiléia, Decápole, Jerusalém, Judéia
— Vinde comigo e vos farei pesca e Transjordania.
dores de homens.
20Im ediatam ente deixaram as redes e Sermáo da montanha: as bem-aven-
0 seguiram. 21Um pouco mais adiante
viu outros dois irmâos — Tiago de Ze-
1>cdeu e Joâo seu irmâo — na barca com
in pai Zebedeu, consertando as redes.
5 turancas (Le 6,20-23) — 'Vendo a
m ultidáo, subiu ao m onte. Sentou-se
e os discípulos se aproximaram. 2Abriu
a boca e os instruiu nestes termos:
3Felizes os pobres de coragáo, 7Felizes os misericordiosos, "Felizes vós quando vos injuriarem Jesus e a lei — 17Náo penseis que vim
porque o reinado de Deus lhes per- porque os trataráo com misericordia. e vos perseguirem e vos caluniarem de abolir a lei ou os profetas. Nao vim abo
tence. 8Felizes os limpos de coragáo, tudo por minha causa. 12Ficai contentes lir, mas cumprir. 18Asseguro-vos que,
4Felizes os afligidos, porque veráo a Deus. e alegres, pois vosso premio no céu é enquanto durarem o céu e a terra, nem
porque seráo consolados. 9Felizes o que procurara a paz, abundante*. Da mesma forma persegui um i ou til da lei deixará de se realizar.
5Felizes os despossuídos, porque se chamaráo filhos de Deus. rán! aos profetas que vos precederam. 19Portanto, quem violar o mínimo des-
porque herdaráo a térra. 10Felizes os perseguidos por causa da ses preceitos e ensinar outros a fazé-lo,
fiFelizes os que tém fome e sede de justiga, Sal e luz (Me 9,50; Le 14,34s; Me 4,21; será considerado mínimo no Reino de
justiga, porque o reinado de Deus lhes per- Le 8,16; 11,33) — 13Vós sois o sal da Deus. Mas quem o cumprir e o ensinar
porque seráo saciados. tence. térra: se o sal perde o gosto, com que o será considerado grande no reino de
salgaráo? Serve somente para ser joga- Deus. 20Pois eu vos digo: se vossa justi
do fora e para que as pessoas o pisem. ga náo superar a dos letrados e fariseus,
“felicidade” humana paradoxal, que vin com várias dessas bem-aventurangas). O 14Vós sois a luz do mundo. Náo se pode náo entrareis no Reino de Deus.
cula promessas de bens excelentes a exi salmo se reza no contexto da partilha ideal esconder uma cidade construida sobre 21O uvistes que foi dito aos antigos:
gencias extraordinárias. Mateus insiste em da terra (Js 12-21) e do injusto agambar- um monte. 15Náo se acende um lam- N áo matarás-, o homicida responderá
atitudes mais do que em situagóes. Mais camento. Aqui nao se deve logo espiritua parina para tapá-la com uma vasilha, perante o tribunal. 22Pois eu vos digo:
do que espiritualizar, vai à raiz; pretende lizar. mas para colocá-la no candelabro, a fim todo aquele que se encher de cólera
mais o alcance que a precisáo. Tal como 5.6 Fome e sede sáo metáfora freqüente de que ilumine todos os que estáo na contra seu irmáo responderá perante o
estao formuladas, a felicidade nao está no de desejo intenso, de necessidade sentida, casa. 16Brilhe vossa luz diante dos ho
e seu objeto pode ser inclusive Deus (p. tribunal. Quem chamar seu irmáo de
exercício, mas em suas conseqiiéncias; mens, de modo que, ao ver vossas boas inútil responderá perante o Conselho.
mas nao se exclui que a conseqüéncia ex. SI 42,2; 63,2). O objeto aqui é a justi
ga, tomada em seu sentido mais ampio. obras, glorifiquen! vosso Pai do céu. Quem o cham ar de louco incorrerà na
acóntela já no exercício. A mesma pro
messa toca à primeira e à oitava, em in- Varios textos do “sermáo do monte” es
clusào; a quarta e a oitava referem-se à clarecen! o alcance transcendente de tal
justiga. justiga: 5,20; 6,1.25.31.33. É a justiga que 5,11-12 Passando á segunda pessoa ver euleam (e as vezes corrigem), receberá sua
5.3 O tema dos pobres é corrente no AT corresponde ao reinado de Deus. “Seráo bal, acrescenta essa ampliagáo da oitava; plenitude de sentido no cumprimento da
e seu sentido é claro; ver como exemplo o saciados”: Eclo 4,28 diz: “Até a morte luta supóe as perseguigóes dos primeiros cris- nova economia. A lei se articula em múl
cántico de Ana (ISm 2,8 e SI 72,4.13 lido pela justiga, e o Senhor combaterá em teu táos, aos quais anima. Um bom comentá- tiplos preceitos, que se cumprem quando
em chave messiànica). O difícil é precisar favor”. rio pode ser lido em lPd 4,4.12-19; 2Cr sao postos em pràtica. As profecias, como
o sentido da restrigáo toi pneumati (que o 5.7 A misericordia ou piedade é um dos 36,16. A chave está na cláusula “por cau predigóes, cumprem-se quando o anuncia
paralelo de Le 6 nao traz). Indica a inte- atributos máximos de Deus (Ex 34,6 par.). sa de mim” (cf. SI 44,23 por tua causa, e do acontece.
rioridade consciente: em sentido inte Também é aconselhada ao homem (Pr 74,22). Os profetas predecessores sáo “Nào penseis”, diz, como que adiantan-
lectual? ou seja, reconhecem sua pobreza 14,21), inclusive como “bem-aventuranga” Elias, Amos, Jeremías e outros. do-se a uma dedugáo precipitada dos ou-
diante de Deus, sabem que sao pobres; em (SI 41,2). O passivo é teológico, tem Deus 5,12 *Ou: porque Deus vos premiará vintes (da Igreja). Refere-se a “preceitos”
sentido volitivo? ou seja, aceitam a pobre como agente. Compare-se com Pr 14,31 c com abundancia. contidos na Escritura, náo a tradigóes ou
za e renunciam à cobiga. O portugués “de 19,17. 5,13-16 O sal comunica e reparte seu interpretagóes acrescentadas. O i (yod) é a
coragáo” respeita a ambigüidade do origi 5.8 Ou, sinceros, com Deus e com os sabor e conserva alimentos, mas pode se menor letra do alfabeto hebraico. Jesús fala
nal. O reinado de Deus vem para eles. homens (vejam-se as fórmulas de SI 24,4 desvirtuar; a luz ilumina todos, mas pode com uma autoridade que está acima da le-
5.4 Os afligidos: freqüente nos salmos, e Pr 22,11). Essa pureza que procede du ser escondida. Assim há de ser a comuni- gislagáo antiga. Sua interpretagáo é autén
como argumento para mover e comover a dentro opóe-se à pureza somente extern« dade cristá: ativamente, náo por vaidade, tica.
Deus; também nos dois éxodos (Ex 3,17; ou ritualista (Mt 23,25-28). Ver a Deus i mas para louvor do Pai. A cidade irradian A dos letrados e fariseus: ou porque náo
Is 48,10; 61,1-3). O consolo é típico de desejo e esperanga suprema (SI 11,7; 17,15; do luz do alto é como a Jerusalém que, em cumpriam o que ensinavam, ou porque
anuncios proféticos (Is 40,1 par.). É fre 63,3), que Moisés nao alcangou (Ex 33,20 meio as trevas, ilumina como farol os po- invalidavam a lei com sua casuística, ou
quente 1er no AT unidos “pobre e afligi e a alusáo de Jo 1,14). vos, na visáo de Is 60,1-3; sua luz é so- porque se fixavam na letra sem penetrar
do”; náo é raro que o segundo esteja uni 5.9 A paz faz parte do anúncio mes inente reflexo do amanhecer do Senhor. no espirito. Jesus cumpre lei e profetas
do com “oprimido ou marginalizado”, e siánico (Is 2,2-5 em chave escatológicii 5,14 Is 60,1-3. em seu sentido profundo. O reino de Deus
até se confundam por sua semelhanga fo cf. Pr 12,20). A forma grega fala de agflo 5.17-48 Depois de propor “felicidades” é visto como um territòrio no qual se entra,
nética. Sob esse pano de fundo as trés pri- em favor da paz e da concordia (Eclo 2.V ■ni lugar de “mandamentos”, Jesús expóe ou como uma instituigáo á qual alguém
meiras bem-aventurangas poderiam ser 1-2 em àmbito doméstico). Filhos de Deus ■na posigáo diante da lei tradicional, a torá. se incorpora. Os membros do novo rei
tratadas unitariamente: pobres e afligidos é título honorífico que se le em Dt 14,1 I’iimeiro em termos genéricos, incluindo no tém de superar os doutores, imitando
e oprimidos seráo consolados com a terra Os 2,1. A tradigào aplicou a Jesús o título luda a Escritura na fórmula consagrada “lei Jesús.
e o céu. de Isaías 9, “príncipe da paz”. profetas”; depois numa série de contra- 5,21-26 Na forma reiterada “foi dito/eu
5.5 Citagáo do SI 37,11, acrescentando 5.10 Os perseguidos: 10,23; 23,34. “I'w posigóes agudamente perfiladas. vos digo” Jesus se apresenta como autori
o artigo; salmo dedicado aos injustamente causa da justiga”: por serem justos, comí' 5.17-20 O AT, especialmente na sua qua- dade soberana. Aqui há alguém maior que
despossuídos (e que tem outros contatos vítimas inocentes: ver Sb 2. ulade de lei, que também os profetas in- Moisés. A primeira antítese compreende
MATEUS 56 5,23
pena do fogo. 23Se enquanto levas tua jogado inteiro no forno. 3üSe tua máo
oferenda ao altar te recordas de que teu direita te leva a pecar, corta-a e atira-a
irmào tem queixa contra ti, 24deixa tua para longe. É melhor perder um mem
oferenda diante do aitar, vai primeiro bro do que ser jogado inteiro no forno.
reconciliar-te com teu irmào e depois vai 31Foi dito: Quem repudia sua mulher Ihe
levar tua oferenda. -^Procura rapidamen dé urna ata de divorcio. 32Pois eu vos
te um acordo com aquele que pleiteia digo: quem repudia sua mulher— exceto
contigo, enquanto estás a caminho com em caso de concubinato — a induz a
eie. Do contràrio, teu rival te entregará adulterar, e quem se casa com urna di
ao juiz, o juiz ao oficial de justiga, e te vorciada comete adultèrio.
colocarào no cárcere. 26Asseguro-te que 33Também ouvistes que foi dito aos
nào sairás enquanto nào tiveres pago o antigos: Nao perjurareis e cumprirás teus
último centavo. 27Ouvistes que foi dito: juramentos ao Senhor. 34Pois eu vos di
Nào cometerás adultèrio. 28Pois eu vos go: nao juréis de modo algum: nem pelo
digo: quem olha urna mulher desejan- céu, que é trono de Deus; 35nem pela ter
do-a, jà cometeu adultèrio com eia em ra, que é estrado de seus pés; nem por
seu coragào. 29Se teu olho direito te leva Jerusalém, que é a capital do Soberano;
a pecar, arranca-o e atira-o para longe. 36nem por tua cabega, pois nao podes
É melhor perder um membro do que ser tornar branco ou preto um cábelo. Seja
vossa linguagem sim, sim, nào, nâo. 0 postos fazem isso. 47Se amais somente
que passa disso procede do Maligno. os vossos irmàos, que fazeis de extraor
38Ouvistes que foi dito: Olito por olho, dinàrio? Também os pagaos fazem isso.
dente po r dente. 39Pois eu vos digo: nâo 48Sede, portanto, perfeitos como vosso
résistais ao malvado. Pelo contràrio, se Pai do céu é perfeito.
alguém te dá uma bofetada na face di-
reita, oferece-lhe a esquerda. 40Ao que EsmoIa, ora^ao e jejum (Le 11,2-
pleitear contigo para tirar-te a túnica,
deixa-lhe também o manto. 41Se alguém
te força a caminhar mil passos, caminha
com ele dois mil. 42Dá a quem te pede, e
nâo rejeites quem te pede emprestado.
43Ouvistes que foi dito: Am arás o teu
6 4) — 1Guardai-vos de praticar as boas
obras em público para serdes admirados.
Caso contràrio nao vos recompensará
vosso Pai do céu. 2Quando deres esmo-
la, nao fagas tocar a trombeta à frente,
como fazem os hipócritas* ñas sinago
próximo e odiarás o teu inimigo. 44Pois gas e nas ruas, para que o povo os lou-
c u vos digo: Amai vossos inimigos, rezai ve. Asseguro-vos que já receberam seu
pelos que vos perseguem. 45Assim sereis pagamento. 3Quando deres esmola, nào
lilhos de vosso Pai do céu, que faz sur saiba a esquerda o que faz a direita. ‘ Des
gir seu sol sobre maus e bons, e faz cho- se modo tua esmola ficará oculta, e teu
ver sobre justos e injustos. 46Se amais Pai, que ve o escondido, te pagará.
■órnente os que vos amam, que prèmio 5Quando rezardes, nao faqais como
merecéis? Também os coletores de im- os hipócritas, que gostam de rezar em
5,38-42 Quinta antítese. Trata-se da lei 6.1 O principio geral se prende à inten
■lo taliäo (Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21), d o ou finalidade, que pode ser raiz ou
i"' na sua origem tentava por um freio à motor das obras, modelando-as qualitati
■ 111ral da violencia (o grito de Lamec, Gn vamente. Contradiz a norma de 5,16? Nao,
I 23-24); o principio da equivalencia rege porque tal norma fala de conseqiiéncia, nao
iimilos textos do AT, até salmos em que o de finalidade, e o resultado é o louvor de
"uiiile apela a Deus para que lhe faga jus- Deus, nao do homem. Orientadas para o
M',.1 () freio que Cristo propòe é vencer o Pai celeste, nossas obras recebem dele uma
m.il rom o bem (cf. SI 35,11-13). Os très recompensa.
i » .i propostos representam muitos ou- 6.2-18 Normas sobre esmola, oragáo e
" " uà ordem do sofrer, possuir e execu- jejum, tres práticas tradicionalmente reco
" I ùnica e manto sao as duas pegas do mendadas.
Vi h i . ilio normal (cf. Dt 24,13). Sobre a 6.2 *Ou: comediantes.
Hi 'i.....idade pode-se ver Pr 3,27s; sobre 6.2-4 A esmola é muito recomendada no
li i incrostar veja-se a instrugào de Ben AT, especialmente em textos tardios. So-
mi' (líelo 29,1-13). bressai o livro de Tobias, que a converte
■ i ■ 18 Sexta antítese. Sobre o òdio ao quase em leitmotiv; ver também Is 58,10;
liilinir.o nao conhecemos nenhum texto Pr 3,27; SI 112,3.5 etc. Subordinar a es-
(Hi i" no do AT. Aproximam-se a boa dis mola, que é altruismo, ao interesse pes-
tili 11 '»I 139,22: “Eu odeio, Senhor, os que soal, que é egoísmo, é esvaziá-la de senti
1* ttli i un”; Pr 29,27 “o criminoso é de do (pode-se pensar em patrocinadores
li’ i ni" | irlos justos”. O preceito de Jesus publicitarios). Deve-se salientar o aforismo
fi ■Hi '.ngestöes do AT (como Ex 23,4- do v. 3, no qual esquerda e direita pode-
• i> i ' 1 I 7-18; Jr 15,15) e as faz culmi- riam sugerir a oposta valorizado tradi
li "■ ■ i. ns,io e no motivo: nada menos cional. “Quem se compadece do pobre em
li ...... Lu mi de Deus Pai. Enfaticamen- presta ao Senhor” (Pr 19,17). Ben Sirac
' ' il ."I”, porque Deus controla suas nos oferece uma instrugáo sobre o mes-
..............in favor dos homens, sem dis- quinho e o generoso (Eclo 14,2-19).
iij ■ . .. il é fonte de bens, luz e calor. 6.5-15 Sobre a oragáo: em particular, de
' i I'*,2 e outros textos convidam poucas palavras, o Pai-nosso.
* ..miidade” de Deus. Jesus fala 6.5-6 Nào se refere à oracíto comunità
| 1, i ii'ii.n.i" e a centra no amor. ria, que é necessariamente pública; mui-
MATEUS 58 6,6
pé nas sinagogas e nas esquinas para se pois vosso Pai sabe do que nécessitais,
exibirem ao povo. Asseguro-vos que jà antes que o peçais. 9Rezai assim:
receberam seu pagamento. 6Quando fo Pai nosso do céu! Seja respeitada a
res rezar, entra no teu quarto, fecha a santidade do teu nome, 10venha teu rei
porta e reza a teu Pai em segredo. E teu nado, cumpra-se teu designio na terra
Pai, que vê o escondido, te pagará. 7Quan- como no céu; n dá-nos hoje o pao de
do rezardes, nâo sejais faladores como amanhá*, 12perdoa nossas ofensas co
os pagâos, que pensam que à força de mo também nós perdoamos aos que nos
palavras serâo ouvidos. 8Nâo os imitéis, ofendem; 13náo nos deixes sucumbir à
tos salmos concluem com o louvor a Deus 6.10 O reinado de Deus é o exercício do
“perante a assembléia”, mas falam tam- seu poder. Vir é símbolo espacial que se
bém de orar na cama (SI 4,5; 77,2-5), de resolve na realizagáo histórica final (SI
súplica de doentes (SI 6; 38). Jésus fala, 98,8-9). Este pedido corresponde ao anún
antes, da oraçâo em particular. Nâo se deve ció primordial da boa nova, por obra do
convertê-la em espetáculo. Que contra Batista e de Jesús.
senso louvar a Deus para glòria propria! Cumprir o designio equivale ao anterioi,
Deus nâo está confinado no templo, mas a exercer o reinado. O designio é concreto
presente em toda parte, embora oculto (Is e diferenciado. O pedido náo é fatalismo
45,15). nem resignado inerte. Este pedido resson
6,6 2Rs 4,33. ao longo do evangelho (7,21; 12,50) e no
6,7-8 Nao condena a freqiiéncia (Le momento dramático do Getsémani (26,4.’)
18,1) nem a assiduidade, mas a proli- *Ou: de cada dia.
xidade (cf. Tg 1,26; nao frear a lingua; 6.11 Sendo duvidoso o significado iln
Eclo 7,17). Antes de pedi-lo: Is 65,24; epiousion (a Vulgata traduz de forma ilili
SI 139,4. rente a mesma palavra em Mt supersnl>\
6,9-13 Nós a chamamos “oraçâo do tantialem e em Le quotidianuni), propoem
minical” porque foi ensinada por nosso se duas interpretares. O pao empinni
Senhor, e por isso tem um lugar privile cotidiano, “que dá pao a todo vívente" IM
giado. No contexto se apresenta como 136,25); o pao do amanhá escatol(V.n o:
compendio oposto à prolixidade (poly- celeste, antecipado na eucaristía (Jo l>) <1
logia). E fazer-lhe justiça multiplicá-lo? segundo parece um pouco mais provnvi'1
Nâo será melhor saboreá-lo ou ruminá-lo? (ver Ex 16,19-25 sobre o alimento p.u ■<"
Contém urna invocaçâo e sete pedidos, dia de descanso), a náo ser que prcvalcyi»
très em honra de Deus, quatro a favor do bivalencia, e no sustento diário tía vnln •
homem. Várias sintetizam a dimensáo em vislumbre a vida perdurável, o dia elnllrt
pírica com a transcendente: Pai/céu, rei- 6.12 O perdáo: o texto usa a imafrm
no/venha, terra/céu, perdoamos/perdoa. divida, que abarca qualquer caso Nmi
6,9 Invocaçâo a Deus Pai (SI 89,27 o tenhais dividas com ninguém, a nao i I
rei; Eclo 51,10 um particular). Lucas es- do amor mutuo” (Rm 13,8), como na jm
creve só “Pai”; talvez se trate da fórmula rábola dos devedores (Mt IX,.’/ Mi ^
original ou primitiva. Pai equivale ao novo eondigáo do perdáo mutuo está |a . iihm
nome de Deus que implica a consciéncia ciada e comentada em Eclo . ’ X , I / •'* *
da filiaçâo, testemunhada pelo Espirito; é doa a ofensa a teu próximo e, !•■r
a primeira palavra do cristào (cf. Rm 8,15- dires, teus pecados seráo perdoinln«1
16; Gl 4,6-7). 6.13 Aprovagáo é condieao <tn IminniH
Santificar nâo é dar, mas reconhecer. Q em particular do homem ii li;-n■■• ti >1
nome pode ser também o título e a fama. 2,1-5) e do cristáo; náo pedimo |mi>i ■fi
Náo mostrar a santidade de Deus foi o de nos livres de provagóes; com l<un mi ■■¡
lito de Moisés (Nm 27,14). Is 29,23 o negativa pedimos para sii| h i a la M Mi
anuncia para a salvaçâo escatològica. Ez 26,41).
36,23 o estende aos pagáos. O contràrio é O maligno é o tentadoi. ........ i i........
profaná-lo: abusando dele, manipulan- tenta provocar a queda; « o ‘«ai i . i
do-o, trivializando-o. serpente.
6,25 59 MATEUS
pela comida e bebida para conservar a ga, e o resto vos daráo por acréscimo.
vida ou pela roupa para cobrir o corpo. 34Portanto, náo vos preocupéis com o
Nao vale m ais a vida do que o susten amanhá, pois o amanhá se ocupará con
to, o corpo m ais do que a roupa? 260 b - sigo mesmo. A cada dia basta o seu pro
servai as aves do céu: nao semeiam nem blema.
colhem nem ajuntam em celeiros e, no
entanto, vosso Pai do céu as sustenta. Avisos diversos — 'N áo julgueis e
Nao valéis vós mais do que elas? 27Quem
de vós pode, à força de se preocupar,
7 náo sereis ju lgados. 2Com o jul-
gardes vos julgaráo. A medida que usar-
prolongar um pouco a vida? 28Por que des para m edir será usada para con-
vos angustiais pela roupa? O bservai vosco. 3Por que observas a felpa no olho
como crescem os lirios silvestres, sem de teu irmáo, e náo reparas a viga do
trabalhar nem fiar. 29A sseguro-vos que teu? 4Como te atreves a dizer a teu ir
nem Salomào, com todo o seu esplen máo: deixa-me tirar a felpa do olho, en-
dor, se vestiu com o um deles. 30Pois se quanto levas uma viga no teu? h i p ó
à erva do cam po, que hoje cresce e crita! Tira primeiro a viga de teu olho,
amanhâ a lançam ao forno, Deus veste e entáo poderás distinguir para tirar a
assim, nâo vestirá melhor a vós, des felpa do olho de teu irmáo.
confiados? 31Em conclusâo, nâo vos hNáo jogueis o que é santo aos caes,
angustiéis, pensando: o que com ere náo jogueis vossas pérolas aos porcos,
mos, o que beberem os, o que vestire para que náo as pisoteiem e depois se
mos. 32Tudo isso procuram os pagaos. voltem para destrogar-vos.
E vosso Pai do céu sabe que tendes ne- 7Pedi e vos daráo, buscai e encon
cessidade de tudo isso. 33Buscai antes trareis, batei e vos abriráo; 8pois quem
de tudo o reinado de Deus e sua justi- pede recebe, quem busca encontra, ii
quem bate lhe abrem. 9Quem de vós, frutos os reconhecereis. Colhem-se uvas
se seu filho lhe pede pao, lhe dá urna das sargas ou figos dos cardos? 17Uma
pedra? 10ou se lhe pede peixe, lhe dá árvore sadia dá frutos bons, urna árvo-
urna cobra? n Pois se vós, sendo táo re prejudicada dá frutos ruins. 18Uma
maus, sabéis dar coisas boas a vossos árvore sadia nao pode dar frutos ruins,
filhos, quanto mais dará vosso Pai do nem urna árvore prejudicada pode dar
céu coisas boas aos que lhe pedirem! frutos bons. 19A árvore que nao der fru
12Tratai os outros assim como quereis tos bons será cortada e lancada ao fogo.
que vos tratem. Nisso consistem a lei e 20Assim, pois, pelos frutos os reconhe
os profetas. cereis.
21Nem todo aquele que me disser:
A conduta correta — 13Entrai pela Senhor, Senhor! entrará no reino de
porta estreita; porque é larga a porta e Deus, mas aquele que cum prir a vonta-
espacioso o cam inho que leva á perdi- de de meu Pai do céu. 22Quando che-
cao, e sao muitos os que por ela entram. gar aquele dia, muitos me diráo: Senhor,
'''Quáo estreita é a porta, quáo aperta- Senhor! Nao profetizamos em teu nome?,
do o cam inho que leva á vida, e sao nao expulsam os demonios em teu no
poucos os que a encontram! 15Guardai- me?, nao fizemos milagres em teu no
vos dos falsos profetas, que se aproxi- me? 23E eu entáo lhes declararei: Nun
iiKim de vós disfam ados de ovelhas, e ca vos conheci; apartai-vos de mim,
I><>r dentro sao lobos ferozes. 16Por seus malfeitores.
lucí patemidade imita a Deus. Precisamen- 7,15 Os falsos profetas foram o pesade-
| por seu amor paterno, quer dar “coisas lo dos auténticos (cf. Jr 23 e Ez 13 entre
.... nao satisfazer caprichos prejudi- outros). Elogiam e nào denunciam (Is
i i i s . Ver em 2Cor 12,8-9 um caso em que 30,10); prometem falsamente a paz (Jr
11' i i s nega um pedido de Paulo; outras 6,14; 8,11). Nào faltarào falsos profetas ñas
■vi s por causa da má disp o silo dos que comunidades cristas (Mt 24,11.24; IJo 2
..... .. a ele, se nega a responder (Ez 14). fala de anticristos), nem mestres que “elo-
/.II) SI 37,4. giem os ouvidos” (2Tm 4,3).
M A regra de ouro, suma de toda a 7,16-20 Também é tradicional a imagem
I ■iiiura, se encontra, na sua formulagào do fruto (Eclo 27,6; Pr 1,31; 11,30; 31,3);
■c a iva, em outras culturas, também em ver também a parábola de Joatáo em Jz 9,
II I, I i. Sua aplicagào abarca desde o co- a de Isaías em Is 5 e Tg 3,12. Os frutos
ii li ni" ite o heroico. É outra formulagào podem ser suas agóes ou os efeitos da sua
....i..... ao próximo: “como a si mesmo” pregacào (cf. Jr 8,11; Ez 13,10).
•Mmi.i vertente ativa. 7,21-23 Esses vv. tragam um horizonte
1 i .17 O cristao há de tomar decisóes escatològico que todo o sermáo da mon-
• 'umiliar entre dificuldades e ambigiii- tanha adotará. Porque nele está a “vonta-
pil> le .us o previne e lhe oferece eritè de do Pai” (6,10; cf. SI 143,10) a ser cum-
mi i•n i distinguir, usando e renovando prida, é o caminho que leva à vida. “Em
• . ns tradicionais do caminho, da nome de” significa: como enviados, repre
■ ■ il i construgào. A insistencia do sentando ou invocando o Senhor; também
' l ' i indica o sentido pràtico da ins- o fazem os falsos profetas (segundo Jr
in in li l as sete vezes de “fazer” no po- 27,15). Tampouco bastará a atividade
M» I» I n . neo de Is 5,1-7). carismàtica de profetizar ou fazer milagres.
* | * i l i 11adicional a imagem dos dois “Aquele dia” refere-se à parusia, o mo
— • i|i ex. Pr 4,10-19), inclusive està mento de prestar contas. Invocar Jesús
ii ili ' l i Ii novo o critèrio de largueza como Senhor é profissào solene de fé, mas
• •• " . a (ciimparar com o caminho lar- nao basta. A admoestacào é grave: a últi
b» • 'il 11'>.-15 ou 18,37). O proprio Je- ma frase é urna sentenza definitiva de con
......... . corno caminho e como por- denado, adaptagao do SI 6,9, súplica de
l i ' ' ' i 10,7.9). um doente.
MATEUS 62 7,24
24Assim, pois, quem escuta estas mi- 27Caiu a chuva, cresceram os rios,
nhas palavras e as póe em prática pare- sopraram os ventos, golpearan) a casa
ce-se com um hom em prudente que e ela desmoronou. Foi um desmorona-
construiu a casa sobre rocha. mento terrível.
25Caiu a chuva, cresceram os ríos, 28Quando Jesús terminou seu discur
sopraram os ventos e se abateram so so, a m ultidáo estava maravilhada com
bre a casa; mas nao a derrubaram por seu ensinamento; porque ele a ensinava
que estava alicergada na rocha. 2f,Quem com autoridade, nao como os letrados.
escuta estas m inhas palavras e nao as
póe em prática parece-se com um ho Curas (M e 1,40-45; Le 5,12-16;
mem sem juízo que construiu a casa
sobre areia.
8 7,2-10; Jo 4,43-54; Me 1,29-34; Le
4,38-41) — 'Q uando descia do monte,
7,24-27 Podc-se 1er a comparagáo so rar, Jesús está introduzindo o reinado de
bre o paño de fundo de Ez 13,10-14, que Deus, que deseja salvar o homem todo,
fala da construyo fraca que é derrubada inclusive do poder da morte.
pelo aguaceiro. Jesús apresenta com auto- Os relatos de cura seguem com grande
ridade a sua mensagem como terreno fir liberdade um esquema básico, no qual cos-
me sobre o qual se pode construir urna vida tumam-se destacar o diálogo com o doen
frente á furia dos elementos. Os dois tipos te ou a pessoa encarregada e o efeito nos
sao qualificados de prudente e sem juízo, que presenciam ou ouvem falar. No pri-
termos sapienciais (cf. Mt 11,19; ICor meiro plano se aprecia a necessidade de
1,30); o manifestó de Jesús oferece ao ho crer e confiar em Jesús para dispor-se a
mem que o cumpre a sabedoria auténtica, receber a cura.
para que seja realmente homo sapiens.
7,28 A autoridade de Jesús nao se apóia 8,1-4 O texto grego fala de “lepra”, de
em citagóes de doutores, nao progride por “limpar”, e da “oferta” estabelecida pela
casuística sutil; expóe com limpidez e exi leí. Estamos, pois, no ámbito de Lv 13—
ge sem concessóes. 14: urna elaborada sintomatologia de do-
engas da pele, de gravidade variada, que
8—9 Formam um bloco de dez curas contagiam por contato e podem excluir do
(contando as duas separadas de endemo- culto. Nao é certo, é muito duvidoso que
ninhados), interrompidas por urna viagem se trate no evangelho de lepra em sentido
marítima com milagre e duas vocagóes. clínico; é que a versáo grega traduziu por
Dez é o número de totalidade, que se arti lepra um termo hebraico genérico que en
cula em varios campos da saúde e integri- globa muitas lesóes da pele (nenhuma
dade do homem. Outra contagem possí- identificável como lepra). Aquí se trataría
vel: nove curas humanas mais um milagre da forma extrema, incurável. Os sacerdo
cósmico. Como paño de fundo, devemos tes examinavam, diagnosticavam e em
ter presentes os anúncios proféticos de certos casos confinavam ou excluíam da
curas: p. ex. Is 35 na caravana que volta vida civil. Exemplo interessante dessa ex-
do desterro anuncia a cura de cegos, sur- clusáo pode ser lido no relato de 2Rs 7.
dos, mudos e coxos; pode-se acrescentar Outros casos: María, irmá de Moisés (Nm
alguns milagros dos profetas taumaturgos, 12), o rei Ozias (2Cr 26,16-21). Jesús cura,
Elias e Eliseu, o “leproso” Naamá, o me limpa, restituí á vida da comunidade. (■'
nino morto. Quanto aos beneficiarios, sao muito expressivo o diálogo conciso: “se
dignos de atengáo: um doente crónico ex queres, podes”: eré no poder, conta com o
cluido da sociedade, um pagao, urna mu- querer. Jesús quer, pois para isso tem o
lher em estado impuro e endemoninhados. poder. Se Jesús evita a publicidade, quei
O valor de sinal das curas está confirma que, pelo cumprimento de um preceito,
do na mensagem ao Batista (11,5). Mas as a classe sacerdotal se dé conta de sua ali
curas nao sao prova extrínseca e hetero vidade. Os sacerdotes deviam diagnosli
génea de urna doutrina e missáo, mas já car, nao podiam curar, mesmo que o qui
sao realizagáo parcial e concreta: ao cu- sessem.
8,17 63 MATEUS
urna grande m ultidáo o seguía. 2Um que vá, ele vai; a outro que venha, ele
leproso se aproxim ou dele, prostrou-se vem; ao servo que faga isso, ele o faz.
diante dele e lhe disse: 10Ao ouvi-lo, Jesús se admirou e dis
— Senhor, se queres, podes curar-me. se aos que o seguiam:
3Ele estendeu a máo e o tocou, di- — Eu vos asseguro: fé sem elhante
zendo: nao en co n trei em nenhum israelita.
— Quero, fica curado. u Digo-vos que m uitos víráo do Orien
No mesmo instante curou-se da le te e Ocidente e sentaráo com Abraáo,
pra. 4Jesus lhe disse: Isaac e Jaco no reino de Deus. 12Ao
— Nao o digas a ninguém; vai apre- passo que os cidadáos do reino seráo
sentar-te ao sacerdote e, para que lhes expulsos para as trovas exteriores. Ai
conste, leva a oferta estabelecida por haverá pranto e ranger de denles.
Moisés. 13Ao centuriáo Jesús disse:
5Ao entrar em Cafarnaum, um centu- — Vai e acó n tela como acreditaste.
riáo se aproximou dele e lhe suplicou: Nesse instante o criado ficou curado.
— 6Senhor, meu criado está em casa 14Entrando Jesús na casa de Pedro,
deitado com paralisia, e sofre terrivel- viu a sogra dele deitada com febre.
mente. 15Tom ou-a pela máo, e a febre passou;
7Disse-lhe: ela se levantou e se pos a servi-los.
— Eu irei curá-lo. 16Ao entardecer, lhe trouxeram muitos
8M as o centuriáo lhe replicou: endem oninhados. Ele, com urna pala
— Senhor, nao sou digno de que en vra, expulsava os dem onios, e todos
tres sob mea teto. Basta que pronuncies os enferm os se curavam . 17Assim se
urna palavra e meu criado ficará cura cumpriu o anunciado pelo profeta Isaías:
do. ‘Tam bém eu tenho um superior e E le assum iu nossas fraquezas e car-
soldados as minhas ordens. Se digo a este regou nossas enfermidades.
Seguim ento (Le 9,57-62) — 18Vendo ca, os discípulos o seguiram . •'11m. . i,.
Jesus a multidào que o rodeava, deu tamente levantou-se tal tempcsi i.l. >u|
ordem de atravessar o lago. 19Entào lago, que as ondas cobriam a em lun i
aproximou-se um letrado e lhe disse: qáo; enguanto isso, ele continua' i i ,
— Mestre, eu te seguirei aonde fores. mindo.-"’Aproximaram-se e o de | ■.i i
20Jesus lhe respondeu: ram, dizendo:
— As raposas tèm tocas, os pássaros — Senhor, salva-nos, pois c s ta m n i
tèm ninhos, mas este Homem nào tem afundando.
onde recostar a cabe$a. 26Disse-lhes:
21Outro discípulo lhe disse: — Como sois covardes e desconI I<>1
— Senhor, deixa-me ir prim eiro en Levantou-se e ordenou aos ventos < n
terrar meu pai. lago, e sobreveio urna calma perlc ii i
22Jesus lhe respondeu: 27Os homens diziam assombrados:
— Segue-me, e deixa que os m ortos — Que tipo de individuo é es.s<
enterrem seus mortos. quem até os ventos e o lago obedeo 111
Salvador e seu amor pelos homens” (Tt (1,5). Levanta-se e repreende: como o Si
3,4). nhor á maré dos povos (Is 17,13), o m.u
8,18-22 O entusiasmo suscitado pelo (Na 1,4) ou o mar Vermelho (SI 106,'>)
ensinamento e pelos milagres nao deve ilu Assim se revela dominador dos elemut
dir, pois o seguimento de Jesús é exigen tos cósmicos (como Deus em SI 104,7 (>)
te. Os dois casos sao complementares e Os presentes entrevéem nele um poder su
exemplares: um é um letrado que quer fa- bre-humano superior aos ventos (SI 104,1)
zer-se discípulo, e Jesús o enfrenta com a 8,28-34 Segundo a concepgáo da época,
dificuldade; outro é discípulo, e Jesús náo o mundo dos espíritos perniciosos ou ma
lhe permite distrair-se. Apresenta a pobre lévolos se associa com o contaminado que
za quotidiana do pregador itinerante. As mancha, também o territorio pagáo, com o
raposas: SI 63,11; Ez 13,4; as aves: SI doente que contagia (Lv 11,7; SI 91,6), com
104,12.17. Pr 27,8 compara o “vagabun o mundo infernal que devora (Jó 18,13). Os
do longe do lar” com o “pássaro que fugiu demonios sentem a presenta de Jesús, re
do ninho”. Sobre o fundo de Jr 16,5-7 res- conhecem-no e o confessam Filho de Deus,
salta a exigéncia radical de Jesús, numa ou Messias. Confissáo pesarosa e fon¿ad;i
fórmula paradoxal, especialmente porque como a dos inimigos derrotados no AT,
enterrar os pais era dever sagrado, como “e saberáo que eu sou o Senhor” (freqiien
se lé nos relatos patríarcais, ou com insis- te em Ez). Confissáo de impotencia e me-
téncia no livro de Tobías (Tb 4,3-4; 14,12): do, que náo vale: “Também os demonios
os que confinam seu horizonte a esta vida créem e tremem de medo” (Tg 2,19).
mortal que se ocupem de enterrar; eles por Com sua presenta e agáo, Jesús vai des
sua vez seráo enterrados. Jesús chama a terrando o poder demoníaco: empurrando-
urna vida nova, à vida. Nem sequer basta o ao reino do impuro (porcos, Is 66,3.17),
a atividade exemplar de Tobit enterrando ao abismo da perdigáo (precipicio, mar).
mortos (cf. Tb 2,3-8; 14,10). Os vizinhos náo demonstram apreciar tal
8,23-27 O mar na sua realidade empírica libertagáo, e sua atitude contrasta com a
pode ser força destruidora, incontrolável admiragáo de outros ante o poder de Je
para o homem (cf. SI 69,3.16; 107,23-30). sús. Está bem libertar de demonios dois ho
Até ai os pescadores do lago seriam um caso mens e de sustos a populagáo, mas nego
a mais. Porém o mar apresenta outro as cio é negocio.
pecto no AT: é a potencia levantina, caóti Embora a regiáo seja pagá, náo se diz
ca, que Deus submete e apazigua (SI 93; que os personagens o sejam. “Antes do
104,6-7; etc.). Jesús “dormia” como Joñas tempo” é antes da derrota final.
65 MATEUS
r Hti inii.n no territorio de gadarenos, tendido numa maca. Ao ver a fé que ti-
•mi tin lln ao encontro dois endemo- nham, Jesús disse ao paralítico:
■iiili nli >•., saídos dos sepulcros; eram — Animo, filho! Teus pecados estáo
i >ii denlos, que ninguém se atrevía a perdoados.
r i " .n |x>i aquele caminho. 29Imedia- 3Entáo alguns letrados pensaram:
uim nir |)iiseram-se a gritar: — Esse blasfema.
I 11lio de Deus! Que tens conos- 4Jesus, lendo seus pensamentos, disse:
,n " Vu sté antes do tempo para nos — Por que pensáis mal? sO que é
Ht. miiu-iitar? mais fácil: dizer teus pecados estáo per
\ i i i ta distancia havia urna grande doados, ou dizer levanta-te e caminha?
ni iii.kI.i de porcos fugando. 31Os demó- 6Pois, para que saibais que este Homem
iit*■*. Ilic suplicaram: tem autoridade na térra para perdoar pe
Se nos expulsas, envia-nos á ma- cados — dirigindo-se ao paralítico, dís-
ii.nl,i de porcos. se-lhe:
1 Disse-lhes: — Levanta-te, toma a maca e vai para
Ide. casa.
l ies saíram e entraram nos porcos. A 7Ele se levantou e foi para sua casa.
n i , n i . ida em massa se langou ao lago por 8Ao ver isso, a multidáo ficou espanta
iini.i encosta e se afogou na água. Os da, e dava gloria a Deus por ter dado
|M’.lores fugiram, chegaram ao povoa- tal autoridade aos homens.
iln e contaram o que havia acontecido
. mu os endemoninhados. 340 povoado Chama M ateus (M e 2,13-17; Le 5,27-
m u i massa saiu ao encontro de Jesús e, 32) — 9Seguindo adiante, Jesús viu um
.ni vé-lo, lhe suplicaram que se retiras- homem (chamado Mateus) sentado dian
nr de seu territorio. te da mesa dos impostos. Disse-lhe:
— Segue-me.
Cura um paralítico (Me 2,2-12; Le Ele se levantou e o seguiu. 10Estando
9 5,17-26) — 'Subiu a uma barca, atra-
vessou á outra margem e chegou á sua
Jesús na casa, sentado á mesa, m uitos
coletores e pecadores chegaram e se
eidade. 2Levaram-lhe um paralítico es- sentaram com Jesús e seus discípulos.
8,29 *Ou: que queres de nós? (IR s artigo, a um individualmente; somente as-
1,18). sim se explica a admiragáo expressa pelo
povo (homem/homens); nao se admiram
9,1-8 O paralítico é doente incurável, de que um personagem sobre-humano te
está morto em vida. Os carregadores ma nha recebido tal poder.
lcriáis sao também portadores espirituais, “O perdáo é coisa tua”, diz SI 130,4 (cf.
pela fé. Jesús conduz a atengáo para a re- Is 55,7 rico em perdáo); os mediadores do
lagáo, tradicionalmente sentida, entre do- AT nao perdoam, só intercedem pedindo
enga e pecado. Vejam-se salmos de doen- perdáo para os outros (Ex 32; Nm 14; 2Sm
tes, p. ex. 38,4.6 “por causa do teu furor, 12 etc.). O máximo que fazem é oferecer
por causa de meus pecados, por causa de sacrificios de expiagáo (Lv 4). Deus con-
minha insensatez”; e 41,5: “Cura minha fere sua autoridade a Jesús “na terra”j cum-
vida, pois pequei contra ti”; um eco em prindo assim a profecía de Jr 31,34. É mais
Tg 5,14-15. Perdoando, Jesús nao blasfe fácil perdoar que curar? E mais atraente,
ma, pois veio libertar do pecado (Mt 1,21). mais convincente para os objetores da
Como “homem”, recebeu poder de perdo- cura; mas a cura física deve remeter á cura
ar e curar; o povo se admira de que tal espiritual, que segundo SI 51,12 equivale
poder tenha sido concedido “aos homens”. a uma criagáo.
A expressáo grega ho hyios tou anthropou 9,9-13 Nao somente perdoa pecados,
designa um individuo da coletividade hu mas transforma o pecador: de um explo
mana (semitismo: compare-se com o títu rador, com uma palavra, faz um discípulo.
lo de Ezequiel “filho de Adáo”), e com o O sistema de arrecadagáo de impostos, por
MATEUS 66
“ Vendo isso, os fariseus disseram aos guém póe um remendó de pane n.mi
discípulos: numa roupa velha; pois o a cresi, m i>i i
— Por que vosso mestre come com repuxa a roupa e faz um rasgo pi ■
coletores e pecadores? l7Nem se póe vinho novo em odi <■■\ <
12Ele ouviu e respondeu: lhos, pois os odres arrebentariam, •■ ■
— Os sadios nao tém necessidade de nho se derramaría e os odres se .-sii
médico, e sim os doentes. !3Ide estudar gariam. Vinho novo se coloca e m u.li
o que significa misericordia quero e nao novos, e ambos se conservan!.
sacrificios. Nao vim chamar justos, mas
pecadores. Duas curas (Me 5,21-43; Le 8, lo i
14Entáo aproxim aram -se dele os dis — 18Enquanto lhes explicava isso, .i|•>..
cípulos de Joáo e lhe perguntaram: ximou-se um funcionário, prostituí
-— Por que nós e os fariseus jejua- e lhe disse:
mos, ao passo que teus discípulos nao — M inha fílha acaba de morrer. M.i
jejuam ? vem, póe a máo sobre ela, e recohnu
15Jesus lhes respondeu: a vida.
— Podem os convidados ao casamen 19Jesus levantou-se e o seguiu coiii
to fazer luto enquanto o noivo está com seus discípulos. 20Entretanto, urna m u
eles? Chegará um dia em que o noivo lher que estava há doze anos sofiviM.
lhes será tirado, e entáo jejuaráo. 16Nin- de hemorragias, aproximou-se por (i.r.,
pma despertar (Jo 11,4.11-13). O ceticis- versóes variantes estariam aqui para com
iiin do povo faz ressaltar a fé do funcioná- pletar o número de dez curas. Também para
i hi e o poder de Jesus. Pela primeira vez, preparar a declarado de 11,5.
mostra que seu poder atinge até a morte, 9,32-34 Este relato está reduzido a es
romo o de Deus (Tb 13,2). Aquele que quema, para que ressaltem a atitude favo-
ilevoive a vida nao se contamina tocando rável do povo e maliciosa dos fariseus.
imi cadáver.
A cura tem algo parecido, já que ser to 9.35-11,1 A sèrie das dez curas foi in
cado por urna mulher com hemorragias terrompida duas vezes com um relato de
contamina. Através do contato mediato do seguimento e outro de vocaqáo. Agora
manto, acontece o contato profundo com aborda formalmente o grande tema da es
Jesus pela fé. Esse é o contato que cura. colha e missáo dos doze. O episodio tem
9.23 Cerimónias fúnebres: Jr 9,16-20. alcance imediato durante a vida de Jesús
9.24 “Riam-se”: como Sara estéril ao que prepara, com o trato assiduo, as teste-
ouvir o anuncio da sua fecundidade (Gn munhas da ressurreigáo. Por eia se passa
18,12-15). re á missáo apostólica das novas comuni
9.27-31 O detalhe da casa indica que o dades, em movimento de expansáo. Pela
milagre se realiza em particular, e prepara segunda etapa, o texto chega até nós como
u proibiçâo do v. 30; esta por sua vez des síntese exemplar e autorizada da paixáo e
taca a força de propagaçâo dos milagres. gloria do apostolado.
O diálogo solicita e obtém formalmente a A unidade se abre e termina sobre a ati-
fé, como condiçâo para serem curados. vidade missionària de Jesus, percorrendo
Pela fé os cegos já estavam vendo mais cidades, pregando, proclamando, ensinan-
além: Filho de Davi é título messiànico do e curando (35-36 e 11,1). No centro
( 1, 1.20 ). enuncia o grande principio da semelhan-
9.27-34 Essas duas curas soam como §a: o discípulo como o mestre. Por isso a
duplicados: os cegos, do cegó de Jericó, atividade de Jesús emoldura toda a instru
com notáveis coincidéncias verbais (20, y o aos discípulos.
29-34); o mudo, do mudo que provoca a 9.35-38 A sinagoga era lugar de culto e
controvèrsia sobre Belzebù (12,22-29). As também de ensino ou catequese. Jesús
MATEUS 68
escolhe esse lugar de reuniáo para seu se o destino de Judas. A lista vem a •.<i
anuncio pessoal: a boa noticia do reino programática. Comega aquí um tema qm
(4,23). O éxito de Jesús aumenta o traba- terminará ñas últimas páginas do Apo
lho, para o qual reúne colaboradores ínti calipse, na Jerusalém celeste, com “dozi
mos que, agindo, aprenderáo junto dele. Á pedras de alicerce que trazem os nomr
imagem da pesca (4,19) se acrescentam a dos doze apóstolos” (Ap 21,14).
clássica do pastor (Jr 23; Ez 34; SI 23; 80) 10.4 *Ou: fundamentalista.
e a do ceifador (mencionada em SI 126). 10,5-15 A mensagem que pregarem sera
Sao as duas atividades básicas daquela cul a de Jesús, o reinado de Deus que se apa1
tura, que contínuaráo a ser usadas para se senta (4,17). Váo munidos de poda
descrever o apostolado na Igreja. Oficios taumatúrgico, á semelhanga do mostrado
que seráo encargo recebido, nao iniciativa por Jesús e recebido gratuitamente; nao
própria. A multidáo tinha seus chefes: sa devem aproveitar-se dele por cobiga. Ve
cerdotes e doutores; no entanto, Jesús se co-
jam-se o gesto e as palavras de Pedro ao
move ao vé-los, como Moisés quando lhe fazer o milagre, “aquilo que tenho te dou'
anunciam a morte próxima (Nm 27,17); (At 3,5). Sua área de operagáo é por ora
como via o povo um profeta na presenta restrita e mostra a preferencia cronológi
de dois reis (IRs 22,17). Jesús assume o ca por Israel, citado com seu nome tradi
oficio de um bom pastor e deixará a seus cional; como Jesús (15,24). No fim, náo
discípulos a tarefa de colher (Jo 4,37-38). terá limites (28,19).
10.5 Os samaritanos náo sao o Israel
1 0 ,1-4 Os escolhidos, chamados, sao auténtico, estáo a meio caminho entre os
doze, como as tribos de Israel (19,28), judeus e os pagaos (2Rs 17,29-34). Ben
como a familia do novo Israel. Antecipa- Sirac diz deles: “a terceira já náo é povo’’
se o título futuro de apóstolos, ou seja, (Eclo 50,26).
mensagciros; o Mestre comunica-lhes seus 10.6 As ovelhas dispersas, por culpa dos
poderes messiánicos (7,29). Encabega-os pastores: “meu povo era um rebanho per
Pedro com seu novo nome de oficio. Sao dido” (Jr 50,6).
de origem e mentalidade diversa: nomes 10,8 O quarteto abraga tudo, até o po
hebraicos e gregos, pescadores, um publi- der sobre a morte. A lepra é mencionada á
cano, um zelota..., e Jesús será seu centro parte porque contamina. Sao os poderes
de unidade. A tradigáo identificou Natanael exercídos por Jesús na série precedente.
(Jo 1,44) com Bartolomeu, Levi (Me 2,13; 10,9-10 Levar duas túnicas era consi
Le 5,27) com Mateus (Mt 9,9). Antecipa- derado um luxo. O salário era pago por
I» M 69 MATEUS
ful« mii| mi ,111o tcm direito ao sustento. parecer diante de govem adores e reis
1 (imiiiln enlrardes num a cidade ou al- por minha causa, para que deis testemu
iri,i i'i i^untai por alguma pessoa res- nho diante deles e dos pagaos. 19Quan-
, . 11.1t 1 I, c hospedai-vos com ela até do vos entregarem, nao vos preocupéis
,111111 li •• ' 'Ao entrardes na casa, sau- com o que iréis dizer; 20pois nao sereis
i,ii 11 1'se cía merece, nela entrará vos- vós que falareis, mas o Espirito de vos-
.* 1.,1 se nao a merece, vossa paz vol so Pai falando por vós. 21Um irm áo
átil ii vos. l lSe alguém nao vos receber, entregará á morte o seu irmáo, um pai
.»•Mi 1 sentar vossa mensagem , ao sair a seu filho; filhos se revoltaráo contra
!,ii|in l,i casa ou cidade, sacudí o pó dos pais e os mataráo. 22Sereis odiados de
1 Asseguro-vos que no día do jul- todos por minha causa. Quem resistir
(Oiiienlo a sorte de Sodom a e Gomorra até o fim se salvará. 23Quando vos per-
«Miu niais leve que a daquela cidade. seguirem numa cidade, fugi para outra;
"'Vede, eu vos envió como ovelhas eu vos asseguro que náo tereis percor-
1 tilie lobos: sede prudentes como ser- rido todas as cidades de Israel antes que
Itrilles, cándidos como pombas. 17Cui- venha este Homem*.
,I111I1>com as pessoas! Poís vos entre- 240 discípulo náo está acima do mes-
|,,ii,u> aos tribunais e vos agoitaráo em tre nem o servo acima do senhor. 25Ao
■11,is sinagogas. 18Eles vos faráo com- discípulo basta-lhe ser como seu mes-
1II11 (por isso se chama diària, do latim “testemunha fiel” e a sua mensagem de
,humus), o trabalhador era diarista (Lv “testemunho” (Ap 1,2-5).
l'J. 13; Dt 24,15). É como dizer que os en- O mais doloroso é que a p erseguilo
vimlos nao acumularáo dinheiro, viveráo venha de familiares e amigos (21-22),
iln scu salàrio devido dia por dia, confian como a de Jeremías: “também teus irmáos
do era Deus segundo o ensinamento do e tua familia te sao desleais” (Jr 12,6 par.),
Mestre (6,25-33). de alguns salmos: “mas eras tu, meu ca
10,11-15 Levam a paz do Messias, que marada, meu amigo e confidente, a quem
ns amantes da paz saberáo reconhecer e me unia doce intimidade” (55,13-15; 69,9;
ne disporào a receber (SI 120; 122; Mt 5,9). Jó 19). O motivo (22), “por minha causa”,
Mas a rejeicjáo será fatal (cf. Le 19,42): e o exemplo do mestre (24-25) os fortale
nearretará o castigo exemplar das cidades cerá, até a parusia: a perseverarne é virtu-
que violaram a hospitalidade (Gn 18—19; de fundamental. O horizonte é eclesial e
Sb 19,17). escatològico.
10,16-36 Fortaleza ñas perseguigóes. 10.23 A fuga nem sempre é resultado
liscutamos a mensagem de Jesus e sua de covardia; pelo contràrio, pode ser exi
ressonáncia ñas primeiras comunidades gida pela prudencia; o apóstolo deve pou-
cristas. par-se para sua missáo. Em alguns casos
Urna equagáo de quatro animais (16) pode servir à expansáo missionària, como
simboliza seu destino: cordeiros e lobos, documentarli os Atos dos Apóstolos. O
nao pacificados (Is 11,6; Jr 5,6); estranha anúncio parece referir-se à parusia, como
conduta de um pastor. A serpente cauta e em textos semelhantes (embora alguns os
sinuosa (Gn 3,1), a pomba que voa em li- fagam referir-se à ressurreigao). Supóe a
nha reta (Is 60,8). situaejáo da comunidade crista, que aguar
As perseguigóes seráo internas, “sina da com expectativa a vinda sempre imi-
gogas”, e externas, “reis”. Comparecendo nente do Senhor glorificado.
como acusados (18), atuaráo como teste- 10.23 *Ou: o Filho do Homem.
munhas (como Jeremías no seu julgamen- 10,24-25 Grande principio da relagào do
to, Jr 26; e Paulo, At 23,11). Por isso seu apóstolo com Jesus: nunca deixará de ser
testemunho se compara (19-20) à palavra servo e discípulo. Aprende para servir e
profètica; dai a veneraejáo primitiva aos servindo aprende. Màxima blasfemia é
mártires e a conservado devota das atas atribuir ao diabo a agào de Deus (Mt
de martirio. O Apocalipse chama Jesús de 12,27).
MATEUS 70
tre, e ao servo corno seu senhor. Se cha- homens, eu o renegarei diante do nni|
m aram de Belzebù ao dono da casa, Pai do céu.
quanto m ais a seus empregados. 26Por- 34Náo penseis que vim trazer p.i/ |
tanto, nao os temáis. Nada há de enco- térra. Nao vim trazer paz, mas es¡ . 1.i .
berto que nao se descubra, nem escon 35Vim tomar inimigo um homem com 1
dido que nao se divulgue. 270 que vos pai, urna filha com sua mae, urna //, >(
digo de noite, dizei-o em pleno dia*; o com sua sogra; 36e os inimigos d e .....
que escutais no ouvido, apregoai dos pessoa sao os de sua casa. 37Quem anmi
terrados. 28Náo temáis os que matam o seu pai ou sua máe mais que a min: m
corpo e nao podem matar a alma; temei é digno de mim; quem amar seu I1II1
antes àquele que pode acabar coni cor ou sua filha mais que a mim, nao t ln
po e alma no fogo. 29Nào se vendem no de mim. 38Quem nao tomar sua a u,
dois pardais por alguns centavos? Mas para seguir-me, nao é digno de nnm
nenhum deles cai no cháo sem licenza 39Quem se agarrar á vida irá per de ti
de vosso Pai. 30Quanto a vos, até os cá quem a perder por mim a conservan
belos da cabega estáo contados. 31Por- 4°Quem vos recebe a mim recebe; quem
tanto, nao os temáis, pois vós valéis me recebe recebe aquele que me envii 111
mais que m uitos pardais. 32Aquele que 41Quem recebe um profeta por sua con
me confessar diante dos homens, eu o digáo de profeta, terá recompensa 11.
confessarci diante do meu Pai do céu. profeta; quem recebe um justo por sun
33A quele que m e renegar diante dos condicao de justo terá recompensa do
iii*ih ' i )in-m dcr de beber um copo de dos, surdos ouvem, mortos ressuscitam,
ipil.! lii-.i ;i a um destes pequeños por pobres recebem a boa noticia; 6e feliz
...........lu,;ao de discípulo, eu vos asse-aquele que nao tropeca por minha causa.
...... que nao perderá sua recompensa. 7Quando partiram, Jesús pós-se a fa
lar de Joáo á multidáo:
| 1<»liando Jesús terminou de dar — sO que saístes para contemplar no
| I mslrugóes aos doze discípulos, deserto? Um canigo sacudido pelo ven
,m u i dali para ensinar e pregar por to? O que saístes para ver? Um homem
l,e. cidades. vestido elegantem ente? Vede: os que
se vestem elegantemente habitam nos
Milu <■Joño Batista (Le 7,18-35)— 2Na palácios reais. 9Entáo, o que saístes para
ini ni, Joáo ouviu falar da atividade de ver? Um profeta? Eu vos digo que sim,
i, Me, c Ihe enviou esta mensagem por e mais que profeta. I0A este se refere
mi i" de seus discípulos: aquele texto da Escritura: Eu envió odian
’Es tu aquele que devia vir, ou te meu mensageiro para que me prepa
•la vemos esperar outro? re o caminho. !1Eu vos asseguro: dos
' Irsus respondeu: nascidos de mulher aínda nao surgiu um
Ide informar a Joáo sobre o que maior que Joáo Batista. No entanto, o
Hiivis e vedes: 5Cegos recobram a visáo, último no reino de Deus é maior do que
i. isi is caminham, leprosos sao purifica- ele. 12Desde os dias de Joáo Batista até
11,1 V. de enlace, como 7,28, que en- tras palavras, o cumprimento de profecías
ifiia, em forma de inclusáo, a instruyo messiánicas confirma sua missáo. A bem-
|uo:edente. aventuranca, traduzida em forma positiva,
11.1-19 Em algumas comunidades pri- felicita a quem o recebe como Messias. Tro
niilivas foi preocupante a questáo sobre o pezar é sentir-se defraudado por ele e náo re-
luj’ar de Joáo Batista com referencia a Je- conhecé-lo como Messias. Esta mensagem
m i s . Algo disso se reflete nesta perícope. é em primeiro lugar para judeus, em segun
V.iinos dividi-la em duas partes: Jesús res- da instancia estende-se a pagaos converti
|iiindc a Joáo e seus discípulos definindo dos. A imagem de alguém que se faz Mes
■.na identidade messiánica (1-6); Jesús de- sias condiciona a esperanza e a acolhida.
tine a missáo do Batista e explica a reagáo 11,7-15 Em seguida Jesús define a mis
ilosjudeus (7-15.16-19). sáo de Joáo. Por sua conduta ascética, é
11.2-3 A pergunta de Joáo é sincera ou como o primeiro dos profetas, Elias, que
retórica? Alguns pensam que Joáo faz a se retirava ao deserto e enfrentava o rei e
pergunta simplesmente para que seus dis sua corte (IRs 17-18). Por seu estilo de
cípulos recebam a resposta. Muitos pen vida atraiu o povo, e náo por um luxo os
sam, por causa do contexto e da atitude tensivo ou por volubilidade caprichosa.
ambigua dos discípulos, que Joáo pergun- Pela sua atividade, devidamente reconhe-
le desiludido ou desconcertado. A pergun- cida, Joáo é o Elias anunciado (MI 3,1;
la é nada menos que sobre o Messias es Eclo 48,10-11). Até ele chegou a velha
perado, futuro, “aquele que há de vir” (MI economía; ele se apresenta á nova, anun
3,1). Joáo o esperava como o juiz escato- ciando a presenta do reino e do Messias.
lógico, armado de pá e fogo (3,11-12), e Sua atividade supera todos os anúncios
sua imagem se fundamenta na Escritura proféticos, mas náo se iguala a pertencer
(p. ex. Is 66,5-6.15-16); as noticias que ao novo reino (compare-se com a segunda
recebe falam de um Jesús benéfico, aco- parte do Benedictas, Le 1,76-79). Todavía,
lhedor, disposto a perdoar. muitos sáo hostis ao reino, ou olham-no
11,4-6 Jesús responde primeiro sobre sua indiferentes, sem entrar no jogo.
pessoa e missáo, apontando para urna ima 11,6 Is 61,1.
gem da Escritura alternativa. Aponta os mi- 11,10 MI 3,1.
lagres realizados (8-9), nos quais ressoa um 11,12 Discute-se o sentido de “os vio
eco de profecías (is 35,5-6; 61,1). Em ou- lentos”. a) Os inimigos do reino que se
MATEUS 72
agora o reino de Deus sofre violencia, nar as cidades em que havia reali ni
e pessoas violentas o arrebatam . 13Até a maioria de seus milagres sem que n»
Joáo todos os profetas e a lei eram pro arrependessem:
fecía. 14E, se estáis dispostos a recebé- — 21Ai de ti, Corazim, ai de ti, 11« i
lo, ele é o Elias que devia vir. 15Quem saida! Pois, se em Tiro e Sidònia ti
tiver ouvidos, escute. sem sido feitos os milagres reali/.i< i. •
16A quem com pararei esta geragáo? em vos, há tempo teriam feito pemil n
Sao como criangas sentadas na praga, eia com pano de saco e cinza. 22Pois <u
que gritam a outras: vos digo que o dia do julgam ento scrii
17Tocamos a flauta mais leve para Tiro e Sidònia que pani
e nao dangastes, vós. 23E tu, Cafarnaum, pretendes <7,
cantamos lamentagóes var-te até o céu ? M as cairás até o a h i \
e nao fizestes luto. mo. Pois se em Sodoma tivessem sul.
18Veio Joáo, que nao com ia nem be feitos os milagres realizados em ti, - l ■
bía, e dizem : está endem o n in h ad o . subsistida até hoje. 24Pois eu vos dipi
19Veio este Homem que come e bebe, e que o dia do julgam ento será mais lev<
dízem: vede que comiláo e beberráo, para Sodoma que para ti.
amigo de coletores e pecadores. M as a
sensatez* é acreditada por seus efeitos. O Pai e o Filho (Le 10,21s) — 25Ness;i
ocasiào Jesus tomou a palavra e disse.
Recrimina as cidades da G aliléia (Le — Dou-te gragas, Pai, Senhor do céu
10,13-15) — 20Entáo pós-se a recrim i e da terra! Porque, ocultando estas coi
imi cimo, estreito e altissimo, esta efusáo 12 Neste capítulo o autor descreve a
ila espiritualidade íntima de Jesús; teste- crescente hostilidade dos fariseus contra
iiiunho da predilegáo do Pai, do seu senti Jesús. As controvérsias resultantes ser-
mento filial e da missáo soberana que re- vem para esclarecer aspectos da missáo
rebeu. Como em Is 29,14, os prodigios e agáo de Jesús. Trata-se do sábado, da
ile Deus confunden! a sabedoria dos sá- origem do seu poder de taumaturgo, da
bios: “Eu continuarci prodigando prodi exigencia de um sinal que comprove sua
gios. .., confundirei a sabedoria dos sábios”. missáo.
( ) prodigio presente é o envió e presenta de 12,1-15a Dois episodios sobre o sába
scu Filho, mistério que os “ignorantes” do: um caso de fome e um de doenga. Os
humildes compreendem, pois nao viveni fariseus acusam Jesús de permitir que
satisfeitos com seus preconceitos; ao pas seus discípulos violcm o sábado, precei-
so que os doutores que se créem suficien to do decálogo (Ex 20,10), tido em má
tes olhando nao véem (cf. Is 42,20). A fé xima estima depois do exilio. Recorde-
pascal dos cristàos acolhe e proclama essa se o episodio dos fugitivos que se deixam
revelagáo. Arelagáo filial de Jesús com seu matar por náo se defenderem em dia de
Pai, o Deus criador do universo, é única. sábado (lM c 2,31-38). Segundo a lei,
Do Pai recebe, como mediador único, a violá-lo merecía pena de morte: o delito
missáo de revelar e salvar. O evangelho e foi cortar lenha em dia de sábado (Nm
a primeira carta de Joáo sao o niellior co 15,32-36; cf. Ez 20,13). Mas urna ca
mentario a esta breve e densa perícope. suística minuciosa, no seu afá de defen-
11,25 ICor 1,26-29. dé-lo contra perigos e tentagoes, havia
11,27 *Ou: um Filho... um Pai. Jo 1,18; estreitado os limites mínimos dessa vio-
10,15. lagáo.
11,28-30 Nao só os animais, também Jesús responde no estilo da halaká, ale
os homens carregam o jugo como sinai e gando um relato sobre Davi e seus sol
exercício de escravidáo. Era um jugo cur dados (ISm 21,2-7), que aparentemen
vo de madeira, apoiado com almofadas te violam a proibigáo de Lv 24,5-9. Se
sobre os ombros, que servia para transpor o sábado é dia consagrado ao Senhor,
tar cargas equilibradas. A imagem é fre- também aquele páo era alimento con
qüente no AT: pode referir-se à lei (Jr 2,20; sagrado ao Senhor. A necessidade anula
5,5 etc.), à tiranía estrangeira (Is 10,27; Jr a proibigáo e o páo consagrado náo se
27,8 etc.) e também à sabedoria, em prin profana. Náo se atreveráo os fariseus a
cipio jugo, no firn jóia (Eclo 6,24.30 no criticar o rei Davi. A crescenta outra
contexto 18-31). A escravidáo no Egito disposiqáo legal (Nm 28,9-10). A Escri
se definía pelas “cargas” (Ex 6,6). O jugo tura, tomada como norma de conduta,
que Jesús impóe, aceito com amor e le desacredita a casuística sobreposta. O ho-
vado com sua ajuda, é leve, particular mem náo deve escravizar-se a urna ins-
mente se comparado com as cargas dos tituigáo legal ou a suas in te rp re ta res
fariseus (23,4). casuísticas.
MATEUS 74
12,6-7 Completa-o apelando à sensatez Fazer o bem nào se opóe ao descanso; náo 6
ou capacidade de compreender urna pala- descanso deixar de fazer o bem. Seus rivais
vra profètica em todo o seu alcance (Os fícam sem resposta, mas decidem fazer o mal
6,6). A citagao de Oséias adapta-se à si- àquele que consideram já um perigo pú
tuagáo, já que sacrificio é fazer sagrado, blico. No relato de Mateus, é este o momen
consagrar, ao passo que dar de comer ao to (cf. 27,1), em que se decide o desenlace.
faminto é misericordia. Portanto, Jesús de 12,15b-21 Jesús retira-se seguido de urna
clara “inocentes” seus discípulos. Está em multidào e continua fazendo o bem. Se proí
jogo o valor do homem acima da institui be que sua atividade seja divulgada, ele o
d o . Concluí com um aforismo lapidar, ao pode fazer para nao provocar indevidamen-
qual Me 2,27 dará urna formulagáo nao te os doutores ou entáo porque nao quer que
menos incisiva. seus “sinais” degenerem em espetáculo ou
12,9-15a O segundo caso acontece numa em busca imediata sem sentido transcen
sinagoga, que é o centro onde se lè e se co dente (cf. Jo 6,26). Diante da deliberacáo
menta a lei. Aquilo que o templo é no espa dos fariseus, o narrador pronuncia um ve
go, ámbito demarcado e consagrado a Deus, redicto que consiste em aplicar a Jesús um
é o sábado no tempo, dia separado em honra texto profètico, aquele que chamamos de
de Deus. Ben Sirac diz que a distintilo pro “primeiro càntico do Servo”. Colocado ai,
cede de Deus (Eclo 33,7-9). No sábado o servirá também de contraste para a contro
homem participa ou se associa ao descanso vèrsia que se segue, na qual os rivais o de-
genesíaco do Criador (Ex 20,8-11). Seus ri- nunciam como servo do diabo. O texto pro
vais se adiantam com urna pergunta capcio fètico define o título, a missáo também para
sa, que supóe algum antecedente, p. ex., a os pagaos, o estilo nao violento de sua ati
cura anterior. Jesús responde com um ar vidade. Temos aqui urna leitura “cristoló-
gumento a minore ad maius, apelando ao gica” do AT, que transborda o momento
senso comum, e nao à Escritura e talvez histórico em que está inserida. É refle-
polemizando com interpretacoes de douto- xáo teológica madura, mais que crónica
res. O sábado nao proíbe fazer o bem. E Je de acontecimentos.
sus faz o bem publicamente, provocando. 12,18 Is 42,1-4.
Deus “descansou” depois de fazè-lo intera 12,22-32 Controvèrsia sobre a origem
mente bom, mas nao cessou de fazer o bem. do seu poder. Completa-se nos vv. 43-45.
75 MATEUS
I I I i m I i i i|iic rccobrou a visào e a fala. 23A gou até vós o reinado de Deus. 29Como
iHiillldao assombrada comentava: poderá alguém entrar na casa de um
Nao será este o filho de Davi? hom em forte e levar seus bens, se pri
HM:is os fariseus ao ouvir isso dis m eiro nao o am arra? D epois poderá
tillili: saquear a casa. 30Quem nao está co-
I sto expulsa demonios com o pom igo está contra mim. Quem nao reú
lle i de Belzebù, chefe dos demonios. ne com igo dispersa. 31Por isso eu vos
'Y ,le, lendo seus pensam entos, re- digo que qualquer pecado ou blasfe
(llli'oii: m ia pode ser perdoado aos homens,
Um reino dividido internam ente m as a blasfem ia contra o Espirito nao
viti para a ruina; urna cidade ou casa tem perdáo.
dividida internam ente nào se m antém 32A quem disser algo contra este Ho
ile pé. 26Se Satanás expulsa Satanás, co m em pode-se perdoar; a quem o dis
nni seu reino se m anterá? 27Se eu ex ser contra o Espirito Santo, nao se lhe
pulso dem onios com o poder de Bel perdoará nem no presente nem no fu
zebù, com que poder vossos discípulos turo.
ns expulsam? Por isso, eles vos julga- 33Plantai urna árvore boa, e ela dará
i no. “ M as, se eu expulso os dem onios fruto bom; plantai urna árvore prejudi-
i imi o Espirito de Deus, é porque che- cada, e ela dará frutos prejudicados.
( ) doente neste caso está quase incomuni- pulsos seus agentes. Seria voltar-se con
rlível (nao se diz que fosse surdo): sofre tra si pròprio.
com duas das quatro doenças citadas em 12.27 O segundo argumento supoe o
Is 35,5-6. Diante do milagre, o povo se exercício profissionai dos exorcismos. Es-
pcrgunta se Jesús nao seria o Messias. Os ses discípulos se sentiriam englobados a
fariseus, nao podendo negar o fato eviden- pari na acusagáo dos fariseus, e reagiriam
Ic, acusam Jesús de ser agente da divinda- julgando os acusadores.
de pagâ Baal Zebul (cf. 2Rs 1, onde o nome 12.28 O Espirito de Deus è mais pode
se deforma maliciosamente em Baal Zebub roso que todos os espíritos malignos, e com
= Senhor das Moscas), identificado como sua agáo atesta a presenta do reinado de
príncipe ou soberano dos espíritos malig Deus no seu Messias.
nos. Jesús responde utilizando imaginati 12.29 O terceiro argumento é reminis
vamente crenças e representaçôes popu cencia de Is 49,24: “E possível tirar a pre
lares sobre o reino dos espíritos. Todo esse sa a um soldado, escapa um prisioneiro de
mundo cederá, retirando-se ante o poder seu tirano?”
de Jesus, e assim o reinado de Deus avan- 12.30 O aforismo é complementar ao de
çarà e irá se manifestando. Me 9,40 e Le 9,50. Frente ao Messias nao
Toda a controvèrsia se desenvolve sob cabe neutralidade.
o signo do Espirito, que Jesús, como ser 12.31 A blasfemia contra Deus se con
vo do Senhor, recebeu (12,18). Adiante se siderava delito gravissimo (Ex 22,27; Lv 24,
encontra o mundo dos demonios ou “es 11-16 pena de lapidagáo; Eclo 23,12 pala-
píritos imundos”, seres malignos, mem vras que merecem a morte). Jesus argumen
bres de um reino sob um chefe, que procu ta ad hominem : blasfemar contra o Espiri
raci manter seu dominio sobre as pessoas. to é negar ou denegrir a agáo manifesta de
Jesús o reprime e expulsa com a força do Deus. O homem se fecha totalmente a essa
Espirito: assim recebe e dá um testemu- agáo, corta o galho em que está apoiado.
nho messiànico. 12,33-37 Agora cabe a Jesús julgar seus
12,23 Jr 30,9. julgadores maliciosos, tomando-os na pa-
12,25 Jesús responde com très argumen lavra, pois “o fruto mostra o cultivo da
tos. O primeiro é de lógica: é a comparaçào árvore; a palavra, a mente do homem”
com a discordia doméstica ou a guerra ci (Eclo 27,6 e Mt 7,16-20). Sobre a palavra
vil. Nao tem sentido afirmar que Sata como expressáo: Jó 7,11; 32,18-19. Res-
nás delegue poderes para que sejam ex- ponsabilidade das palavras: Lv 5,4.
MATEUS 76
Pois, pelo fruto conhecereis a árvore. tará no julgam ento com esta geri>,.m
34Ninhada de víboras! Como podéis di- e a condenará, porque eia veio el«>• *
zer palavras boas se sois maus? A boca tremo da terra para escutar o sabii .!■
fala do que enche o coraçâo. 350 ho- Salom ào, e aqui há alguém maioi qu.
mem bom tira coisas boas de seu bom Salomáo.
tesouro; o homem mau tira coisas más 43Quando um espirito im undo sai .1.
de seu mau tesouro. 36Eu vos digo que um homem, percorre lugares áridos bu .
no dia do julgam ento o homem presta cando domicilio, e nao o encontra. "l n
rá contas de qualquer palavra incon táo diz: Volto para a casa de onde s . i i
siderada que tenha dito. 37Por tuas pa Ao voltar, encontra-a desabitada, v.u
lavras te absolveráo, por tuas palavras rida e arrumada. 45Entáo vai, reúne ou
te condenaráo. tros sete espíritos piores que ele, e -.o
póe a habitar ai. E o final desse homi-m
O sinal de Joñas (M e 8 ,l i s ; Le 11,29- toma-se pior que o comego. Assim acou
32) — 38Entáo alguns letrados e fariseus tecerá a esta gera^áo malvada.
lhe disseram:
— Mestre, querem os ver-te fazendo A m àe e os irmáos de Jesus (Me '
algum prodigio. 31-35; Le 8,19-21) — 46A inda estav.i
39Ele lhes respondeu: falando à m ultidào quando se apresen
— Urna geraçâo m alvada e adúlte taram fora sua màe e seus irm àos, de
ra reivindica um prodigio, e nao lhe sejosos de falar com e ie .47A lguém lhr
será concedido outro prodigio, a nao disse:
ser o do profeta Joñas. i0A ssim como — Vè, tua màe e teus irmáos estao ai
esteve Joñas no ventre do monstro ma- fora e desejam falar contigo.
rinho très dias e très noites, assim es 48Ele respondeu àquele que falava:
tará este H om em ñas entranhas da ter — Quem é minha màe? Quem sào
ra très dias e très noites. 4lD urante o m eus irmàos? 49E, apontando com a
julgam ento, os ninivitas se levantaráo mào os discípulos, disse:
com esta geraçâo e a condenaráo, por — A i estao minha màe e m eus ir
que eles se arrependeram com a pre- màos. 50Quem cum prir a vontade de
gaçâo de Joñas, e aqui há alguém maior meu Pai do céu, esse é meu irmào, m i
que Joñas. 42A rainha do sul se levan- nha irmà e minha màe.
12,38-42 Pelo contexto, o que pedem a 12,43-45 Retorna á imagem dos espí
Jesús é um sinal ou prodigio que garanta ritos, preveníndo contra a recaída. Como
sua missáo. Há sinais que garantem an- ilustragáo da imagem, ver Is 34,13-15; SI
tecipadamente (Jz 6,36-40), outros confir 102,7; o deserto é sua morada, como a de
man! o já sucedido (cf. Ex 3,12). O relato Azazel (Lv 16,10.21), ou de Asmodeu
de Joñas é polivalente e recebeu diver (Tb 8,3).
sas explicagoes: morte e ressurreigáo (Jn 12,46-50 Este episodio parece fora de
2,1), pregagáo aos pagaos e sua conver- contexto, como se fosse acrescentado para
sáo (Jn 3-4). Essa conversáo de um gran nao se perder, antes de comeqar a grande
de inimigo tradicional de Israel se vol série de parábolas. A rigor, deveria ser lido
tare no juízo final contra os impenitentes com o cap. 10, que trata dos discípulos.
que nao creram na ressurreigáo. O caso dos Nao sao só discípulos e apóstolos, mas
ninivitas atrai por semelhanca o exemplo também sua nova familia, núcleo inicial
da rainha de Sabá (IR s 10,1-10). Jesús de urna familia mais extensa e unida, por
é mais que um profeta, mesmo o mais que ele será centro e vínculo. O termo “ir
eficiente, e mais que um rei, até o mais máos” abrange, em linguagem bíblica,
sábio. também os parentes. Quanto á máe, nin-
12,39 Jn 1,17. guém como María cumpriu a vontade do
12,41 Jn 3,5.8; IRs 10,1-10. Pai: sua maternidade se identifica com um
77 MATEUS
tlaixar fazer: “faça-se em m im ...” (Le 13.1-3 Faz do lago cenário e da barca
pùlpito; a sinagoga nao lhe basta.
13.1-9 e 18-23 A primeira parábola des-
13 Parábolas, provérbios, refróes sao creve o dinamismo da palavra proclama
luiduçôes diversas do hebraico mesha- da, as dificuldades que encontra em seu
llm, eonceito pouco diferenciado. (Do desenvolvimento, o éxito final (cf. Is 55,
Inlim parabola deriva nosso vocábulo 10-11, nao tornará a mim vazia). A com-
"palavra”.) Básicamente sao compara paragáo é vegetal, para mostrar de forma
r e s que revelam ou ilustram aspectos global a vitalidade do anúncio evangéli
lia vida. Podem ter forma descritiva ou co, condicionado pelo modo de recebé-lo.
narrativa, podem ser simples ou desen Da parte de Jesús, é dom; da parte dos
volvidas. Sao antes de tudo os Sapien- ouvintes é responsabilidade. Acomunida-
eiais que as usam (Provérbios e Ecle de acrescentou à comparagáo do Mestre
siástico), também o Saltério (49; 78) e urna explicagáo por alegoría, isto é, des
os profetas (Is 28,23-29; Ez 15). A com- membrando suas partes e atribuindo um
paraçâo pode também encobrir, desper significado particular a cada membro.
tando a curiosidade, desafiando o en- Compare-se com a breve comparagáo do
genho, incitando a descobrir. Assim o grao que morre e dá fruto (Jo 12,24). A
mashal se aproxima do hida ou adivi- explicagáo alegórica permite descrever
nhaçâo (SI 49,5; 78,2). obstáculos diversos, que a vida opóe ao
As duas funçôes, descobrir e encobrir, crescimento da mensagem nos cristàos. A
se atribuem ás parábolas de Jesús. Mateus correspondéncia nao é exata, pois iden
reúne, neste capítulo, sete em dois blocos: tifica a semente (nao o terreno) com o re
quatro para o povo em geral, das quais ceptor. Mateus recolhe no evangelho uma
duas sao explicadas aos apóstolos em par versáo primitiva da parábola de Jesus e
ticular; e très para os discípulos: semen- uma explicagào homilética para a comu-
te, joio, mostarda, fermento, tesouro, pé- nidade crista.
rola, rede; agricultura e pesca, comércio e 13,10-17 Entre exposigào e comentário
trabalho doméstico. se insere uma reflexao sobre a fungáo das
O tema das parábolas é o reinado de parábolas. O texto de Isaías (6,9-10) pre-
Deus, nao como teoria, mas como procla- diz o fracasso do profeta por culpa dos
maçâo que para ser compreendida exige ouvintes. Dada a dureza dos ouvintes, a
resposta. Como se um arauto anunciasse pregacao profètica os irrita e endurece, e
o inicio do reinado de um soberano, exi- Ihes agrava a culpa (Isaías fala de sua ex-
gindo aceitaçao e obediéncia dos súditos. periéncia em 30,9-11). Mesmo prevendo
Quem nao quer aceitar, se nega a compre- o resultado negativo, o profeta nao pode
ender. Entrevê-se a resistencia de uns e a calar-se, pois é Deus que o envia, e a de
indecisáo de outros, enquanto que os dis nùncia tem uma intengáo salvadora. Ma-
cípulos sao iniciados no mistério: com- teus muda o “para que/de modo que” de
preendendo e aceitando estáo entrando no Marcos em “porque”: a atitude condicio-
reino de Deus. nou a compreensáo.
MATEUS 78
— Por que lhes falas contando pará escuta o discurso e logo o acolín ...
bolas? alegría; 21m as nao langa raiz e toiu*
n Ele lhes respondeu: se efém ero. Chega a tribulagáo ou |» i
— Porque a vós é concedido conhe- seguigáo pela m ensagem , e sucumi»
cer os segredos do reinado de Deus, a 22A que foi sem eada entre espinhnm
eles nao é concedido. 12Aquele que tem, é aquele que escuta o discurso; mas n|
Ihe será dado e lhe sobrará; ao que nao preocupagóes m undanas e a sedue.i"
tem lhe tiraráo inclusive o que tem. 13Por da riqueza o sufocam , e nao dá fruto
isso lhes falo contando parábolas: por 23A que foi sem eada em térra fértil ■
que olham e nao véem; escutam e nao aquele que escuta o discurso e o m
ouvem nem com preendem . I4Cumpre- tende. Este dá fruto: cem ou sessi. Mi i
se neles aquela profecía de Isaías: Por ou trinta.
m ais que escuteis, nao compreendereis; 24Contou-lhes outra parábola. O re i
p o r mais que olheis, riño vereis. 15A men nado de Deus é como um homem que
te deste povo se em botou; tornaram-se sem eou sem ente boa em seu campo
duros de ouvido, taparam os olhos. Nao 25Enquanto as pessoas dorm iam , sen
acontega que vejam com os olhos, ou- inimigo foi e semeou joio no meio do
gam com os ouvidos, entendam com a trigo, e foi embora. 26Quando as haste.
mente, e se convertam, e eu os cure. 16Fe- cresceram e comegaram a granar, des-
lizes vossos olhos que véem e vossos cobriu-se o joio. 27Os servos foram e
ouvidos que ouvem. 17Eu vos asseguro disseram ao dono: Senhor, nao seme
que muitos profetas e justos ansiaram aste semente boa em teu campo? D e
ver o que vós vedes, e nao viram, e ou- onde vem o joio? 28Respondeu-lhes:
vir o que vós ouvis, e nao ouviram. Um inimigo fez isso. Os servos lhe dis
18Escutai a explicagáo da parábola do seram: Queres que o recolhamos? 29Res
semeador. pondeu-lhes: Nao; pois, ao recolhé-lo,
19Se alguém escuta o discurso sobre arrancareis com ele o trigo. 30Deixai que
o reino e nao o entende, vem o m alig cresgam juntos até a ceifa. Quando che-
no e lhe arrebata o que foi semeado em gar a ceifa, direi aos ceifadores: Recolhei
sua m ente. Essa é a sem ente sem eada primeiro o joio, atai-o em feixes e lan-
junto ao caminho. 20A que foi semeada gai-o ao fogo; o trigo colocai-o em meu
em terreno pedregoso é aquele que celeiro.
14,9 Num fundo remoto vislumbra-se mo. O diálogo com os discípulos os con
mitro juramento insensato e a danga fatal verte em testemunhas do milagre e em
o inocente de filha de Jefté (Jz 11). modestos colaboradores, que primeiro tém
14,10-11 Com quanta frieza distante in de apreciar a insuficiéncia dos seus pró-
forma o narrador. Como se a cabera numa prios meios e depois desprender-se do pou-
bandeja fosse troféu militar (cf. Jt 13,15) co que tém (cf. IRs 17,9-13). Para ouvir
0 U sobremesa de um banquete. Jesús, o povo abandona suas aldeias e pa
14,12 Compare-se com ISm 31,12 a rece esquecer-se do sustento: “nao fome
respeito de Saúl. de pao, mas de ouvir a palavra do Senhor”
14,13-21 A partilha do alimento maravi- (Am 8,11-12). O número dos cestos pare
Ihoso, comumente chamada multiplicagáo ce significar as doze tribos.
dos páes, é narrada nos quatro evangelhos, Deus é doador por exceléncia (SI 104,
e duas vezes em Mt e Me. Deve ser lida 27-28; 136,25 “dá pao a todo ser vivo”;
sobre o pano de fundo dos relatos de Ex e 145,15-16 “tu lhes dás o alimento a seu tem
Nm sobre o maná (como explica Jo 6) e de po”), que agora dá por meio do seu enviado.
um relato profètico menor (Eliseu em 2Rs A génerosidade faz parte do seu reinado.
4,42-44). Jesús age como um novo Moisés 14,23-34 Na escuridáo da noite, na agi-
e como profeta. Ántecipa, outrossim, o ali tagáo de um mar turbulento, Jesús apare
mento eucaristico. Assim a interpretou a ce a seus discípulos. Podemos chamar isso
tradigáo, apoiada ñas fórmulas litúrgicas do de cristofania e compará-lo com os rela
v. 19, tomadas da pràtica litúrgica primiti tos da transfiguragáo e da páscoa. Jesús
va: a agáo de gragas, a fragáo do pao, a dis- domina os elementos (SI 77,20), infunde
tribuigáo pelos discípulos. paz e confianga com sua presenga (fórmula
Jesús recusou um milagre fácil e cómo clássica, p. ex. Is 41,10; 43,5), com sua
do para satisfazer sua pròpria fome no de palavra, com o contato da sua máo (cf. SI
serto (4,4), porque ele vive da palavra de 53,9; 73,23; 80,18).
Deus; agora reparte ao povo essa palavra 14,23 Os evangelistas náo nos informam
e recorre ao milagre para dar-lhe também o conteúdo dessa oragáo (como faráo antes
o pao. O simbolismo se sustenta no realis- da paixáo). Só nos dizem o lugar, a monta-
MATEUS 82
,** ■ ‘Por que teus discípulos violam a — Toda planta que meu Pai do céu
IfHillgáo dos antepassados? Pois nao náo plantou será arrancada. 14Deixai-os:
llVtim as máos antes de comer. sáo cegos e guias de cegos. E, se um ce
'Ele respondeu-lhes: gó guia a outro cegó, os dois cairáo num
I <—• E por que vos violáis o preceito de buraco.
us em nome de vossa tradigáo? *Pois 15Pedro respondeu:
É US mandou: Sustenta teu p a i e tua
fíe . Aquele que abandona seu p a i ou
— Explica-nos essa comparagáo.
16Ele Ihes disse:
mu máe é réu de morte. 5Vós, ao con- — Também vós continuáis sem en
Kdrio, dizeis: Se alguém declara a seu tender? 17Náo percebeis que o que entra
l ou a sua máe que o socorro que lhe pela boca passa para o ventre e é ex
E vía é oferenda sagrada, 6já nao tem que
«intentar seu pai ou sua máe. E assim
pulso na latrina? 18Ao contràrio, o que
sai da boca brota do coragáo; e isso sim
Invalidáis o preceito de Deus em nome contam ina o homem. 19Pois do coragáo
de vossa tradigáo. 7Hipócritas! Bem pro- saem pensam entos malvados, assassi-
fctizou sobre vós Isaías quando disse: natos, adultérios, fornicagáo, roubos,
'Estepovo me honra com os lábios, mas perjurios, blasfemias. 20Isso sim conta
«.’« coragño está longe de m im ;9o culto mina o homem. Mas comer sem lavar
que m e prestam é inútil, pois a doutrina as máos náo contam ina o homem.
que ensinam sao preceitos humanos.
10E chamando a multidáo, disse-lhes: A m ulher cananéia (M e 7,24-30) —
, — Escutai e entendei. u Náo conta 21Daí partiu para a regiáo de Tiro e Si-
mina o homem o que entra pela boca, dónia. 22Um a m ulher cananéia da re
mas o que sai da boca: isso contamina giáo saiu gritando: \ >-
p homem. — Tem com paixáo de mim, Senhor,
,, 12Entáo aproximaram -se dele os dis filho de Davi! Minha filha é m altrata
cípulos e lhe disseram: da por um demonio.
* — Sabes que os fariseus se escanda Ele náo respondeu urna palavra. Os '
lizaran! ao ouvir o que disseste? discípulos se aproximaram e lhe supli
í 13Ele respondeu: caran! :
— Despede-a, pois vem gritando atrás cegos com visâo. E glorificavam o I >•h
de nós. de Israel.
24Ele respondeu:
— Fui enviado somente as ovelhas Dá de comer a quatro mil (Me 8 i
desgarradas da Casa de Israel! ^P orém 10) — 32Jesus chamou os discípulo >
ela se aproximou e se prostrou diante lhes disse:
dele, dizendo: — Tenho compaixâo dessa m ultidi..
-— Senhor, ajuda-me! pois hà très dias estâo com igo, e n.m
26Ele respondeu: têm o que comer. Nao quero despoli
— Nao é certo tirar o pao dos filhos los em jejum , para que nâo desmaicm
para jogá-lo aos cachorrinhos. pelo caminho.
27Ela replicou: 33Os discípulos lhe disseram:
— É verdade, Senhor; mas tam bém — Onde poderemos em lugar despo
os cachorrinhos com em as m igalhas voado prover-nos de pâes suficiente,
que caem da mesa de seus donos. para saciar tal multidáo?
^E n táo Jesús lhe respondeu: 34Jesus lhes perguntou:
— Mulher, que fé táo grande tens. — Quantos pâes tendes?
Que teus desejos se cumpram. Responderam:
E a fílha ficou curada nesse momento. — Sete e alguns peixinhos.
29Daí se dirigiu ao lago da Galiléia, su- 35Ele ordenou ao povo que sentassi
biu a um monte e se sentou. 30Acorreu no châo. 36Tomou os sete pâes e os
grande multidáo levando consigo coxos, peixinhos, deu graças, partiu o pâo e o
mutilados, cegos, mudos e muitos ou- deu aos discípulos; estes os deram ii
tros doentes. Colocavam-nos a seus pés multidáo. 37Todos com eram até ficai
e ele os curava. 31De modo que a multi satisfeitos; e com os restos encherani
dáo estava admirada vendo mudos fa- sete cestas. 38Os que haviam comido
lar, mutilados sarar, coxos caminhando, eram quatro mil homens, sem contar mu
discípulos e com a mulher esclarece emo ta: umas migalhas da mesa de Jésus va-
tivamente atitudes e normas. Já o profeta lem o pâo todo, e com elas a mulher se
Elias havia outorgado seus milagres a uma contenta.
mulher fenicia (IRs 17). 15,29-31 Sumário de curas que parece
Canaá se opóe tradicionalmente a Israel dar um marco coletivo ao milagre indivi
(desde Gn 10 e 15 em diante). Os títulos dual precedente. Menciona quatro tipos de
que a mulher dá a Jesús, lidos em contex enfermidade, como expressâo de totalida-
to cristáo, equivalem a urna profissào: Fi de (cf. Is 35,5-6). A multidáo reconhece
llio de Davi (= Messias) e Senhor. Pela fé, nos milagres a bondade e o poder daquele
essa mulher se apresenta como tipo dos que chamam Deus de Israël (SI 72,18;
pagaos que crerao; que crèem quando o 106,48).
evangelho está sendo escrito. No projeto 15,32-39 Aquela que era chamada “se
genérico de Deus primeiro vem os direi- gunda multiplicaçâo dos pâes” é um du
tos e necessidades do povo escolhido (Jr plicado do relato anterior (14,13-21) com
50,17); mas a fé da mulher paga e a bonda- algumas variantes significativas: o atrati-
de de Jesus superam qualquer privilègio. vo da sua pessoa e a tenacidade do povo
O silencio de Jesus póe à prova e depu que já há très dias está com ele e esgotou
ra a fé da mulher. Mais ainda a compara as provisoes; a fraqueza para fazer o ca
l o com os cachorros (ao que parece, já minho de volta (cf. IRs 19,7); os núme
domesticados). A posigáo de Jesus é por ros, a fórmula eucarística simplificada. É
exclusao: tirar de uns para dar a outros; resultado da compaixâo do Senhor, e nâo
semelhante posigáo pode ter ressurgido nas exibiçâo de poder: “nâo passaráo fome
comunidades primitivas. Mas Jesus nào porque aquele que se compadece deles os
tem riquezas para todos? A mulher aceita conduz” (Is 49,10.13). Ver o milagre de
humildemente o papel e retorce a respos- Eliseu em 2Rs 4,42-44.
85 MATEUS
16 ,1-4 Discute-se a autenticidade de 2b- 16,13 Daqui até o final do cap. 18 Jesús
I (que fazem sentido no contexto). Desta vai dedicar-se a seus discípulos para ir for
vez, os fariseus estáo acompanhados dos mando a comunidade. Ña confissáo de
miduceus, que, embora um pouco ra Pedro e na transfigurado culmina a com-
cionalistas, exigem um sinal celeste (cf. posigáo de Mateus sobre o mínistério de
Is 7,11) como legitimagáo daquele que se Jesús. Ambas as cenas apontam para a res
«presenta como Messias. Ao reí Acaz é surreigáo.
oferecida a opgáo de um sinal no abismo 16,13-20 O texto de Mateus é muito
ou no céu (Is 7,11). Jesús responde com denso e elaborado. Apresenta um fato tal
um argumento engenhoso: eles interpre como a comunidade o entendeu e viveu.
tan! sem dificuldade os sinais atmosféri Note-se o paralelismo das identífícagóes:
cos naturais do céu; mas nao sabem inter o povo diz que o Filho do Homem é
pretar os sinais terrestres, as conjunturas Joáo, Elias, Jeremías, profeta
decisivas da historia, que em Jesús sao vós dizeis que eu sou...
evidentes. Pois que se atenham ao sinal Pedro diz que tu és o Messias Filho de
definitivo de Joñas (morte ou abismo e Deus
ressurreigáo). Jesús diz que tu és Pedro
16,5-12 Da preocupadlo material os dis Trata-se de identificar o ser da pessoa
cípulos devem passar á confianza, instrui de Jesús (náo de um ser transcendente e
dos pelos milagres dos páes. Da com- misterioso); “o Filho do Homem” e “eu”
preensáo material devem passar a urna sáo o mesmo sujeito que busca um pre
espiritual e a urna atitude de vigilancia. A dicado.
levedura faz fermentar (13,33), mas tam- O povo náo hostil, que presenciou a ati-
bém póe a perder e é excluida durante a vidade de Jesús, considera-o algum envia
páscoa (Ex 12,15; ICor 5,7-8). Que vivam do especialíssimo de Deus para preparar a
prevenidos contra o influxo dos ensina- era messiànica; inclusive alguém poupa-
mentos ou tradigóes judaicos, tal como os do da morte (Eclo 48,1) ou morto e redi
propóem as duas escolas extremas e opos- vivo para ter maior autoridade (Le 16,30).
tas: os saduceus e os fariseus. As comuni Simáo, que pela carne e sangue é filho de
dades cristas se distanciam de ensinamen- Joñas, declara que Jesús é o Messias es
tos judaicos que poderiam desvirtuá-las. perado; e Jesús o ratifica, declarando que
MATEUS 86 Ift 11
(p u lcra; quem perder a vida por mim, como a luz. 3A pareceram-lhe M oisés e
I mee mirará. 26Que aproveita ao ho- Elias conversando com ele. 4Pedro to
■mimi c.anhar o m undo inteiro às custas m ou a palavra e disse a Jesús:
ili mia vida? Que prego pagará por sua — Senhor, como se está bem aqui!
vliln? 'O Filho do Homem hà de vir Se te parece bem, armarei très tendas:
wim a glòria de seu Pai e acompanha- urna para ti, outra para M oisés e outra
tlti ile scus anjos. Entào pagará a cada para Elias.
imi con forme a sua conduta. 28Eu vos 5A inda estava falando quando urna
lordura: há alguns dos que estào aqui nuvem lum inosa lhes fez sombra, e da
ijiii' nao sofreráo a morte antes de ver nuvem saiu urna voz que dizia:
rilegar o Filho do Homem como rei. — Este é o meu Filho amado, o meu
predileto. Escutai-o.
fl Transfiguragào (Me 9,2-13; Le 6Ao ouvir isso, os discípulos caíram
A / 9,28-36) — 'S eis dias m ais tar de brucjos, tremendo de medo. 7Jesus
ili', Jesus tomou Pedro, Tiago e seu ir- se aproximou, tocou-os e lhes disse:
iiinoJoáo e os levou à parte a urna mon- — Levantai-vos, náo temáis!
litnlia elevada. 2E transfigurou-se diante 8Levantando os olhos, viram somen-
ili'lcs: seu rosto resplandecía como o te Jesús. 9Enquanto desciam da monta-
•ni, suas vestes se tornaram brancas nha, Jesús lhes ordenou:
miAa máxima afirmaçâo. Pode-se perder elusive a nuvem, que vela e revela, é lu
il villa por algo, alguém que valha mais, e minosa (Jó 37,15; IRs 8,10-12). É de den
i-niào a perda é ganho: “pois tua lealdade tro que lhe brota a luz, náo lhe vem de fora
Ville mais que a vida” (SI 63,4). como a de Moisés (Ex 33-34).
16.27 A referêneia explicita à parusia A gloria de Jesus atrai Moisés e Elias
«conseilla aquí a traduçâo “Filho do Ho- (os dois arrebatados por Deus?), o media
mern” como título. Vira como rei para jul- dor da alianza e o primeiro dos profetas;
C.ar e retribuir (SI 62,12; Eclo 35,24). No outrora representantes da leí e dos profe
ultimo v. se percebe a expectativa da co- tas, agora testemunhas e interlocutores de
munidade pela vinda próxima do Senhor Jesús. O Antigo Testamento testemunha a
glorioso. favor de Jesus Messias. A gloria parece
16.28 SI 62,12; Eclo 35,24. abolir o tempo ou atualizar o passado.
A nuvem é companheira ordinària de
17,1-8 A manifestaçâo da gloria de Cris teofanias (freqüente em Ex e Nm), também
to é um momento culminante, que anteci- na liturgia (Lv 16,2; Is 6,4). Da nuvem soa
pa a ressurreiçâo e está escrito à luz da a voz de Deus (Dt 5,22; SI 99,7). Aqui é a
páscoa. Situa-se entre dois anuncios da voz do Pai dando testemunho de seu Fi
paixáo, justificando o projeto do Pai e o lho: combinando citagóes de Is 42,1; SI 2,7
destino de Jesús. O texto deve ser lido so e Dt 18,15; ou seja, do Servo, do rei, do pro
bre o paño de fundo de Ex 24,1-18, que feta futuro. “O Pai conhece o Filho” e o re
fornece vários motivos: os très acompa- vela (Mt 11,27). Escutai-o: também quan
nhantes, o monte, a nuvem, os seis dias, a do anuncia a paixào e pede seguimento.
obediencia, a manifestaçâo luminosa, a A intervengáo de Pedro expressa o gozo
visáo de Deus. Aidentificaçâo com o mon da visáo e poderia aludir à festa das Ten-
te Tabor náo tem fundamento exegético. das. Como ele identifica Moisés e Elias, o
A transformaçâo é luminosa. Segundo narrador náo diz. E a terceira intervengo
urna tradiçâo constante no AT, a Gloria se de Pedro, e parece expressar um desejo de
faz visível em forma luminosa (p. ex. SI ficar no mistério glorioso. O silencio im
57,6.12; Eclo 42,16). O rosto de Jesús bri- posto por Jesús ao descer une a transfigu
Iha como o sol (Eclo 17,31); em alguns ra d o passageira com a glorificado defi
salmos pede-se ao Senhor que “faça bri- nitiva. Pelo que viram e ouviram, os tres
Ihar seu rosto/mostre seu rosto radiante” poderiam repetir: “Contemplamos sua glo
(SI 31,17; 67,2; 80,4); também suas ves ria, gloria de Filho único do Pai” (Jo 1,14;
tes: a luz é a veste de Deus (SI 104,2); in- cf. Is 35,2; 40,5).
MATEUS 88 17,10
17,10-13 A pergunta surge atraída pela Jesús se queixa com palavras que .......
visáo de Elias. Os discípulos se tornam eco cendem o contexto preciso. Queixa •.< ■•
da crenga popular, ensinada pelos douto- pressando cansado acumulado; conio u >*►
res (segundo MI 3,23-24 e Eclo 48,10): se Moisés, tarto de suportar o povo (Nm l i l i
Elias ainda nao voltou, Jesús nao é o Mes- 15); como o cansado de Deus na et.i|"i a
sias. Já voltou, diz Jesus, e cumpriu sua deserto (SI 95,10; Is 43,14). O delito <i. i
tarefa de preparar o povo. Mas nao o re geraqáo é a falta de fé: eia se deli...... •*
conheceram (no plural, nao só Herodes). neficència e no maravilhoso. Mas o .
A paixáo de Joáo, à mercè do “capricho” pulos tèm de robustecer a fé para culi* i m «<
deles, prefigura a de Jesus, e essa é outra o que se aproxima. A confissali ili !'■ili" >
preparatilo mais profunda. a transfigurarán hào de guià-lns.
17,14-21 Afunqáo desse relato é instruir Alguns manuscritos acrescenliiin h v tf
sobre a fé, a partir de um fato concreto. tomado de Me 9,29.
Tomou-se proverbial “urna fé que move 17.21 *Falta em muitos códii i
montanhas” (ICor 13,2), pela qual o ho 17,22-23 Segundo anuncio ih pinh-
mem repete a agáo de Deus (Jó 9,6). Mas (16,21-23; 20,18-19). A resposi.i. i "'•«
nao seria fé se agisse por capricho ou por za do grupo. Pedro já náoopoi i. ,i ..... .
espetáculo. Jesus cura por compaixáo e 17,24 Ex 30,12; 38,26.
cumprindo sua missáo libertadora. Agua 17,24-27 Trata-se do iiiip*• *
e fogo é um merismo que abarca qualquer templo, cobrado localmente Mi m li'»*#
perigo (Is 43,2; SI 124,3-4). por Neemias (Ne 10,33), tal vi . , niiin lf§
18,8 89 MATEUS
cagáo de urna lei (Ex 30,11-16). O inci d eclarares do AT sobre exaltagao e hu-
dente, no qual se misturam tragos maravi- milhagáo (p. ex. o cántico de Ana, ISm 2;
Ihosos, serve tambem de instrugáo aos dis SI 113 etc.). Especialmente interessante é
cípulos, e provavelmente á comunidade Eclo 3,17-20. O termo gregopaidion, além
judeu-cristá, enquanto aínda existia o tom da idade, pode denotar o oficio: menino,
illo. Mais tarde a comunidade crista o apli- crianga, ou criado, servente. SI 8,3 e 131,2
‘ .irá a tributos com finalidade religiosa falam de “menino” como modelo de lou-
impostas pelo imperador. Se o templo é a vor e como exemplo de saber contentar
i isa de Deus, seu Filho nao deve pagar se. O menino colocado por Jesús no cen
iiibuto; nem mesmo seus outros filhos. tro é urna presenga simbólica: no reino
i'.i);á-lo é concessáo, nao obrigagáo. O celeste todos seráo pequeños, filhos de
i pisódio do peixe nao é contado segundo Deus, e essa será sua grandeza.
ii íorma clássica do milagro; sua interpre Acolher o menino é conseqíióncia do
ndió c duvidosa. Segundo SI 8, o homem que precede (cf. Gn 21,20): pode-se en
i.mibém senhor dos peixes do mar. tender em seniido próprio ou metafórico.
Deve-se fazé-lo “em atengáo a Jesús”.
IS Mateus reúne aqui varias instruyóos 18,6-9 Escandalizar é em sentido pró
|*in i .i comunidade. Tema central é a aten- prio por tropegos, provocar a queda. As-
VI“1 devida aos pequeños, necessitados, sim soa a proibigáo legal: “Náo porás tro-
«i- ir.ores, extraviados; é o valor da humil- pegos ao cegó” (Lv 19,14). O escándalo
il nli da compreensáo, do perdáo mutuo e pode provir de outrem ou de sí mesmo
il'i n i "nciliagáo. “Menino e pequeños” (12,29-30). Aqui se refere a tropegar e fa-
M | h ti se em 1.14, “irmáo” em 15.21.35. lhar na fó; daí a gravidade do delito (com-
I . viro dos “discursos” de Jesús (com pare-se com o “tropego” ou “resvaláo” de
U tli.....inte, 5—7 e o das parábolas, 13), o SI 73,2). A perda do seduzido seria mais
Miiiin. i .mtes de partir para a Judéia (19,1). grave que a morte do sedutor. Alude ao
• '■ i 5 O protocolo da época era escru- moinho caseiro, manual. Dada a condigáo
É . . i . ni designar precedencias e definir do homem na sociedade, pela maldade de
■ M « 1 ()s discípulos podem contagiar-se uns ou a fraqueza de outros, é inevitável
ÉNH........ . (23,8-12). Como será no que haja tropegos ou caídas.
■ ||i" tío Dous, que ó a nova comunidade Dcpois passa a órgáos corporais que
■ t ...... Imiensáo transcendente? A ques- podem vir a ser perigosos em sua fungao:
I h i'i.ivi1, devido ao afa em busca de ri- a máo, sede da agáo; o pé, da conduta (ca-
I ' i. uperar-se e de superar, ao mo minho); o olho, da faculdade estimativa.
lí- i i i • iuna alheia. A resposta de Jesús O fogo definitivo que consomé (Is 35,9-
■o l .inbora contraste com preten- 10; 66,24; Dn 7,11) se contrapóe á vida
1' ■l.... i, está na linha de múltiplas que dura.
MATEUS 90 IH '■
corta-o e joga-o fora. É m elhor entrar tu e ele a sós. 16Se nao te dá atengan
na vida manco ou coxo do que com faze-te acompanhar de um ou dois,/«».!
duas m áo ou dois pés ser atirado ao que o assunto se resolva p o r duas mi
fogo eterno. 9Se teu olho te é oeasiá 9 très testemunhcis.
de queda, arranca-o e joga-o fora. É 17Se nao lhes dá atençâo, informa a
m elhor para ti entrar na vida zarolho com unidade. E se nao dá atençâo à co
do que com dois olhos ser atirado no munidade, considera-o um pagáo ou um
forno de fogo. coletor. 18Eu vos asseguro que o que
ligardes na terra ficará ligado no céu, o
A ovelha perdida (Le 15,3-7) — 10Cui- que desligardes na terra ficará desliga
dado para nao desprezar um destes pe do no céu*. 19Eu vos digo também que.
queños. Pois eu vos digo que seus an- se dois de vos na terra se póem de acor
jos no céu contem plam continuam ente do para pedir alguma coisa, meu Pai do
o rosto do meu Pai do céu*. 12Que vos céu a concederá. 20Pois onde há dois
parece? Suponham os que um homem ou très reunidos em meu nome, ai es
tenha cem ovelhas e urna se extravie: tou eu, no meio deles.
nao deixará as noventa e nove ñas en- 21Entáo Pedro aproxim ou-se e per
costas para ir buscar a extraviada? 13E guntou:
se chega a encontrá-la, eu vos assegu- — Senhor, se meu irmáo me ofende,
ro que se alegrará mais por ela do que quantas vezes devo perdoá-lo? Até sete
pelas noventa e nove nao extraviadas. vezes?
Do m esm o modo, vosso Pai do céu 22Jesus lhe responde:
nao quer que se perca sequer um des — Eu te digo que nao sete vezes, mas
tes pequeños. setenta e sete. 23Pois bem, o reino de
Deus se parece com um rei que decidiu
Perdáo das ofensas (Le 17,3) — 15Se ajustar contas com seus criados, ^ m e
teu irmáo te ofende*, vai e admoesta-o diatam ente apresentaram -lhe um que
IIh ilcvia dez mil talentos. 25Com o nao ficaram muito tristes e foram contar ao
llnlin com que pagar, o patráo mandou patráo tudo o que havia acontecido.
<|ui- vcndessem sua mulher, seus filhos 32Entáo o patráo o chamou e lhe disse:
y ludas as suas posses para saldar a di C riado perverso! Eu te perdoei toda
vida. ’"O criado se prostrou diante dele, aquela divida porque me suplicaste;
«ii|ilicando-lhe: Tem paciencia comigo, 33náo devias também tu ter compaixáo
ii rti te pagarei tudo. -’Compadecido, o de teu companheiro como eu tive de ti?
jiiilrao daquele criado o deixou ir e lhe 34E indignado o entregou aos tortura
(ii'idoou a divida.28Ao sair, aquele cria- dores até que pagasse totalmente a di
iln cncontrou outro criado que lhe de- vida. 35Assim vos tratará meu Pai do
vin ccm denários. Agarrou-o e o sufo- céu, se náo perdoais de coragáo cada
i ava, dizendo: Paga o que me deves. um a seu irmáo.
“'( aindo a seus pés, o companheiro lhe
nuplicava: Tem paciencia comigo, e eu O d iv ó r c io (M e 1 0 ,l-1 2 s ) —
le pagarei. 30Mas o outro negou e o pos 'Q uando Jesus term inou esse
mi prisáo até que pagasse a divida.3 Ao discurso, transferiu-se da Galiléia para
ver o que acontecerá, os outros criados a Judéia, do outro lado do Jordáo. 2Se-
Mestre, que obras boas devo fa- vos repito: é mais fácil um camelo pas
##i para alcanzar vida perdurável? sar pelo buraco de urna agulha que um
''Kespondeu-lhe: rico entrar no reino de Deus.
Ciuarda os m andam entos. 25Ao ouvir isso, os discípulos fícaram
'"I’erguntou-lhe: espantados e disseram:
• Quais? — Entáo, quem poderá salvar-se?
Jesus lhe disse: 2601hando para eles, Jesus lhes disse:
—-Nao matarás, nao cometerás adul — Para os homens isso é impossível,
tèrio, nao roubarás, nao perjurarás, para Deus tudo é possível.
''‘honra o p a i e a màe, e am arás o pró- 27Entáo Pedro lhe respondeu:
\ Imo como a ti mesmo. — Ve, nós deixamos tudo e te segui
ll)0 jovem lhe disse: mos. Que será de nós?
•— Cumpri tudo isso. O que m e resta 28Jesus lhes disse:
lit/.or? — Eu vos asseguro que vos, que me
’’Jesús lhe respondeu: tendes seguido, no m undo renovado,
— Se queres ser perfeito, vai, vende quando o Filho do Hom em sentar em
leus bens, dá aos pobres, e terás um te- seu trono de gloria, tam bém vos senta
«ouro no céu; depois segue-me. reis em doze tronos para reger as doze
22Ao ouvir isso, o jovem partiu tris tribos de Israel. 29E todo aquele que
te, pois era muito rico. por mim deixar casas, irmáos ou irmás,
^Jesus disse a seus discípulos: pai ou máe, mulher ou filhos, ou cam
— Eu vos asseguro: um rico difícil pos, receberá cem vezes mais e herdará
mente entrará no reino de Deus. 24Eu vida perpètua. 30M as m uitos prim ei-
ros seráo últim os, e últim os seráo pri- os primeiros, esperavam receber mar,
m eiros. no entanto, também eles receberam um
denário. n Ao recebé-lo, protestai.m>
Os diaristas da vinha — 'O rei contra o proprietário: 12Estes último
nado de Deus se parece com um trabalharam urna hora e os igualaste .1
proprietário que saiu de manhá para nós, que suportamos a fadiga e o calih
contratar trabalhadores para a sua v i do dia. 13Ele respondeu a um deles: A 1111
nha. 2Combinou com eles um denário go, nao te faço injustiça; nao combina
ao dia e os enviou para a sua vinha. mos um denário? 14Portanto, toma o <|iu'
3Voltou a sair no m eio da manhá, viu é teu e vai-te. Eu quero dar ao último o
outros ociosos na praga 4e lhes disse: mesmo que a t i . 15A caso nao posso dis
Ide também vós para a m inha vinha, e por de meus bens como me agrada? Ou
vos pagarei o que for justo. 5Eles fo- tens de ser mesquinho por eu ser geni
ram. Voltou a sair ao meio-dia e no meio roso? 16Assim, serào prim eiros os últi
da tarde e fez o mesmo. 6Ao cair da tar mos e últimos os primeiros.
de, saiu, encontrou outros parados e
lhes disse: O que fazeis aqui parados Novo anùncio da m orte e ressurrci
todo o dia sem trabalhar? 7Respondem- çâo (M e 10,32-34; Le 18,31-34) -
lhe: Ninguém nos contratou. E ele lhes 17Quando Jesus subia para Jerusalém
diz: Ide também vós para a minha vi tom ou à parte os doze e pelo caminho
nha. 8A o anoitecer, o dono da vinha lhes disse:
disse ao capataz: Reúne os trabalhado — 18Vede, subim os a Jerusalém , e
res e paga-lhes sua diária, comegando este Homem será entregue aos sumos
pelos últimos e acabando pelos primei- sacerdotes e letrados, que o condena-
ros. 9Passaram os do entardecer e rece- râo à morte. 19Eles o entregarâo aos pa
beram um denário. 10Quando chegaram gâos para que o injuriem, o açoitem e o
anuncia e o último explica, em perfeita 20.1 Começa uma série de très parábo
inclusáo. No comego anuncia-se urna in- las sobre a vinha. Vinha ou videira é ima-
versáo de valores que no final desemboca gem tradicional de Israel (Is 5; SI 80 etc.),
numa igualdade. A relagáo correta do ho- e se aplicam depois à Igreja.
mem com Deus decide-se no trabalho. 20.2 A jomada costumava ser de sol a
Quer proceder em regime de obras, por via sol e pagava-se diariamente (diària = diur-
de justiga? Farà um contrato com Deus, nalis).
trabalhará pelo salàrio, o pedirá em justi 20,6-7 Deduz-se que os últimos fos-
ga e o receberá. Mas náo ficará satisfeito sem gente necessitada, sem trabalho e sem
ao contemplar a sorte do companheiro: diària.
protesta e insinua injustiga em Deus; por 20,8 Segundo o costume de Lv 19,13;
que tem urna idéia da justiga distributiva Dt 24,15; Jó 7,2. Ainversáo da ordem nor
que exige proporgáo matemática de traba mal é significativa.
lho e salàrio. Sua idéia de méritos e direi- 20.15 Semitismo: mesquinho, invejoso.
tos gera inveja e mesquinhez. Quer o ou- Veja-se a engenhosa instruçâo de Eclo
tro trabalhar em regime de necessidade 14,3-10.
pròpria e generosidade do patráo? Entáo 20.16 A sentença final é aberta. Aplica
nao terá que postular a proporgáo, mas se à relagáo dos judeus e pagâos em rela-
aceitar agradecido a desproporgáo. Deus çâo ao reino, aplica-se dentro da Igreja em
náo é injusto ao ser generoso. Jesús, como diversas circunstâncias. Os primeiros re-
capataz, vem repartir. Cabe ao homem pro fugiam-se em suas prestaçôes de serviço,
curar o regime favorável. O último náo ti- os últimos na generosidade de Deus.
nha trabalho nem encontrava patráo. Existe 20,17-19 Terceiro anúncio da paixâo
melhor patráo do que Deus? Contanto que (16,21; 17,22), ao empreender a última
a pessoa náo queira submetè-lo ao regime viagem para Jerusalém. Essa subida é
da justiga comutativa. como uma peregrinaçâo pascal, em dire-
iti I I 95 MATEUS
i tinil i<|ucm. No terceiro dia ressus- será assim entre vós; pelo contràrio,
illniii. quem quiser ser grande entre vós, que
se torne vosso servidor; 27e quem qui
I'm iIra a ambigáo (M e 10,35-45) — ser ser o primeiro que se torne o vosso
"I niao se aproxim ou a máe dos Zebe- escravo. 28Da mesma form a que este
i I i m i s a u n seus filhos e se prostrou para Homem nao veio para ser servido, mas
Iti/er um pedido. 21Ele lhe perguntou: para servir e dar sua vida como resgate
Que desejas? por todos.
Kcspondeu:
Ordena que, quando reinares, es- Cura dois cegos (M e 10,46-52; Le 18,
li s dois filhos meus sentem um á tua 35-43) — 29Quando partiram de Jericó,
iliicitu e outro á tua esquerda. urna grande m ultidáo o seguía. 30Dois
"Jesús lhe respondeu: cegos, que estavam sentados à beira do
- Nao sabéis o que pedis. Sois capa- cam inho, quando ouviram que Jesús
/i\s de beber a taga que eu vou beber? passava, puseram-se a gritar:
Respondem: — Senhor, filho de Davi, tem com-
— Podemos. paixáo de nós!
^'Diz-lhes: 31A multidáo os repreendia para que
— Bebereis m inha taga, mas sentar á calassem. Mas eles gritavam mais forte:
ininha direita e esquerda nao cabe a mim — Senhor, filho de Davi, tem com-
i'onceder; será para aqueles a quem meu paixáo de nós!
l’ai destinou. 32Jesus se deteve e lhes falou:
24Quando os outros dez ouviram isso, — Que quereis que vos faga?
l'icaram indignados com os dois irmáos. 33Responderam :
25Mas Jesús os cham ou e lhes disse: — Senhor, que nossos olhos se abram.
— Sabéis que entre os pagaos os go- 34Compadecido, Jesús lhes tocou os
vemantes submetem os súditos, e os po olhos, e no mesmo instante recobraram
derosos impóem sua autoridade. 26Náo a visáo e o seguiram.
çâo à nova páscoa. Segundo o texto, a sen- pelo martirio (At 12,2), nao em Joáo. Mas
tença de morte procede das autoridades também existe paixáo sem chegar ao mar
judaicas, a execuçâo cabe aos pagaos. tirio. Aqui temos outro exemplo de que
20,20-28 Continua o tema de grandes e nem tudo o que pedimos nos é concedido:
pequeños, desta vez no plano do poder. O “ainda que náo saibamos pedir como é
episodio acontece no círculo dos doze e devido” (Rm 8,26).
mostra como os apóstolos entenderam mal Um modo de exercer o poder no mundo
o ensinamento do Mestre. Do fato concre civil é autoritario e tiránico: náo pode ser
to Jesús sobe ao principio geral, válido para vir de modelo para a comunidade de Je
a sua comunidade. sus. Nela haverá autoridade, mas vai ser
O pedido da máe pode recordar as ma exercida náo por alarde de poder, mas com
nobras de Betsabéia em favor de seu filho espirito de servigo. (Ver como o expoe
Salomáo (IRs 1,15-21) e se enlaça com a Pedro, lPd 5,1-4.) Tal é a grandeza e a
promessa dos doze tronos (19,28): entre primazia no reino. Jesús é o exemplo su
os doze haverá dois privilegiados, os ¡me premo (cf. Is 53,12; lTm 2,6). O símbolo
diatos do rei. Jesús mostrou preferencia por do “resgate”, com termos aparentados,
eles, como antes por Pedro (4,21; 17,1). aparece em outros textos: Rm 3,24; ICor
Pretendem os irmáos superar ou antecipar- 1,30; Ef 1,7.14. Segundo SI 48,8-10, nin-
se a Pedro, passar de segundos a primeiros? guém pode entregar o resgate de sua vida,
A “taça” é a da paixáo (Jr 25,15-29; Ez para viver sempre.
23,32-34; Is 51,17-23; SI 75,9). A máe dos 20,29-34 O episodio dos cegos se en-
Zebedeus assistirá um dia à paixâo e mor contra a meio caminho. Prolonga as ins-
te de Jesús (Mt 27,55-56). Quando Mateus trugóes aos discípulos com o tema do se
escreve, a prediçâo já se cumpriu em Tiago guimento; antecipa o triunfo de Jerusalém
MATEUS 96
com a confissáo dos cegos (cf. 21,9.15). É de galileus peregrinando a Jerusalém pan
urna cura messiànica (cf. Is 29,18). a Páscoa se transforma em entrada reve
A cegueira corporal é compensada por ladora, acompanhada pelo fervor popula i
sua agudeza espiritual: reconhecem Jesús Deve-se 1er sobre o pano de fundo das acia
como descendente davidico, o Messias; magóes na entrada de um rei: Saloman
tres vezes invocam-no como Senhor; re- (IRs 1,38-40), Jeú (2Rs 9,13.30). O epi
fugiam-se em sua compaixáo. Ao toque de sòdio está iluminado por très citaçôes coni
Jesus recuperam a visáo (cf. Is 35,5) e se binadas e adaptadas: chegada do Salvadoi
tomam seguidores ou discípulos. (Is 62,11), entrada humilde do Messias (Ze
O seu grito passou à liturgia na forma: 9,9), hosana de súplica e aclamagáo (SI
“Senhor, tende piedade de nós”. 118,25-26). Jesus é recebido como o rei
messiànico: ele o aceita, mas salientando
21-25 Formam um bloco compacto e o caráter pacífico, sem aparato militar ou
estilizado, que Mateus compòe para mos cortesáo (nao alarma os romanos). Nao
trar a tensáo crescente entre Jesus e as monta um espetáculo: inclusive o jumen
autoridades judaicas, e para preparar o de tinho está à sua disposigáo, por designio
senlace na paixáo e morte. As fortes ten- superior. Jesús age como diretor de cena
s5es entre judaismo e cristianismo na épo sapiente e dominador.
ca da composigáo do evangelho influem 21,5 Cita a primeira frase: os ouvintes
na redagáo acentuando o tom e os deta- ou leitores conheciam o contexto, que
lhes polémicos. Entre o Jesús histórico e a anuncia a chegada de “teu Salvador”. O
igreja do autor se dá uma correlagáo que texto grego de Zacarías tem très adjetivos:
configura o relato. Deve ser lido olhando justo, salvador, humilde (o hebraico diz
as duas vertentes. A interpretaqáo precisa “vitorioso” em segundo lugar). Mateus
levar em conta o gènero literário da con retém só o terceiro adjetivo, que nao con-
trovèrsia, presente entre escolas filosófi tradiz as bem-aventuranças. O jumentinho
cas ou entre seitas de uma religiáo. Pode era cavalgadura pacífica e mansa (Jz 5,10);
ter havido também influéncia de alguns a mula podia ser cavalgadura règia (IRs
modelos de violenta denuncia profètica e 1,38.44); para a guerra serviam muías e
de polèmica com falsos profetas, inclusi cavalos (Jz 5,22; 2Sm 18,9). O contexto
ve no debate de Jó com os amigos nao fal- de Zacarías anuncia a destruiçâo do apa
tam palavras injuriosas. As discussoes com rato bélico.
as autoridades judaicas combinam com os 21,9 O grito Hosana é antes um grito de
ensinamentos para a comunidade. socorro (2Rs 6,26-27). Depois se conver
te em aclamagáo e se tornou familiar por
21 , 1-11 A cena faz o papel de pórtico causa do Salmo 118, recitado na festa das
para o que se segue; realiza a mudanga de Tendas. O ato de bendizer admite duas lei-
cenário e oferece um fundo de contraste. turas: a) “Em nome do Senhor” ligado com
O que pode ter sido uma simples caravana “bendito”, bendiz invocando o Senhor
*11» 97 MATEUS
•••Uiiando entrou em Jerusalém, toda 14No templo aproxim aram -se cegos
i Hiliule perguntava agitada: e coxos, e ele os curou. 15Quando os
t» Uuem é esse? sum os sacerdotes e letrados viram os
a multidáo respondía: milagres que fazia e as crianzas no tem
liste é o profeta Jesús, de Nazaré plo gritando Hosana ao filho de Davi!,
•t (laliléia. ficaram indignados 16e lhe disseram:
— Ouves o que estáo dizendo?
Purifica o tem plo (M e 11,15-19; Le Jesús lhes respondeu:
iíl4í-48; Jo 2,13-22) — 12Jesus entrou — Sim; nunca ouvistes que tirarei um
Icmplo e expulsou todos os que ven- louvor da boca de bebés e crianzas de
lllm e compravam no templo, virou as peito?
•HVNns dos cam bistas e as cadeiras dos 17Deixando-os, saiu da cidade e se
iU|Cvendiam pom bas. 13Disse-lhes: dirigiu a Betánia, onde passou a noite.
t»- Está escrito que minha casa será
HMDde oragao, ao passo que vos a con- A figueira seca (M e 11,12-14.20-24)
firlestes em covil de ladróes. — 18De manhá, a caminho da cidade,
momo diz o original hebraico; ver o texto tomada do discurso de Jeremías contra o
iilíssico de Nm 6,24-26). b) “Vem em abuso no templo (como talismá mecáni
mime do Senhor”, como seu representan- co), que quase lhe custa a vida. O covil é o
II, “Filho de Davi” é título messiànico lugar onde os bandidos abrigam sua im-
(20,29.31). punidade. As palavras de Jesús apontam
21.10 Compare-se essa agitacelo com a mais além dos comerciantes e cambistas.
ile 2,3, pelo nascimento do descendente de Pode-se acrescentar o final de Zacarias
Olivi. (Zc 14,21): “Já nao haverá vendedores no
21.11 A expressáo “o profeta” poderia templo”.
despertar a recordagáo de Dt 18,15. De 21.14 Sobre cegos e coxos, ver Lv 21,18,
Nuzaré: 2,23. que legisla sobre os sacerdotes, e 2Sm 5,8,
21,12-17 Apurificagáo do templo é con- que recolhe um dito proverbial: “Nem
«cqüéncia do que precede: entra na capi coxo nem cegó entre no templo”. O tem
tili, dirige-se ao templo para purificá-lo, plo é lugar para acolher os necessitados e
como anunciara Malaquias: “Logo entra fazer o bem.
rá no santuàrio o mensageiro da alianza 21.15 As autoridades cultuais e doutri-
que procuráis” (MI 3,2). O templo fora nárias consideram profanado do templo
centro religioso e também político, dir-se- essas curas e a aclamagáo messiánica das
lu centro de gravidade de residentes e da criangas (recorde-se o incidente entre
diàspora. Mais do que urna purificalo sis Amos e Amasias, Am 7,10-15). Jesús res
temática, o gesto de Jesús é agáo simbóli ponde citando SI 8,3, que equivale a di-
ca: em àmbito restrito, dá urna licjáo com zer: a aclamagáo messiánica á minha pes-
nutoridade. O que era o comércio de gado soa é louvor provocado por Deus.
c de moedas no pàtio maior do recinto do 21,18-22 Cena á primeira vista incon
templo se pode deduzir de testemunhos da gruente. Os profetas praticaram a agáo sim
época: centenas ou milhares de caberas de bólica, explicada depois, como forma de
gado e de aves, càmbio de moeda de mui- predican. Jesús age aqui como profeta. A
tos países. Se a operagáo era necessària, figueira pode representar Israel: “Como
prestava-se a múltiplos abusos, tolerados figo temporáo na figueira descobri vossos
pela autoridade. Desfigurava o sentido e a pais” (Os 9,10); Miquéias identifica os fru
t'unqáo do templo. tos com homens leáis e honrados (Mq 7,1-
Jesús rubrica seu gesto com duas cita- 2); Jeremías, os que recusam converter-se
QÓes proféticas combinadas. A primeira (Is (Jr 8,13). Pelo fato de nao dar o fruto es
56,7) se lè no principio da terceira parte perado (cf. Is 5,1-7, na imagem da vinha),
do livro de Isaías, numa importante mu- Jesús a amaldicoa (compare-se por con
danga da legislado. A segunda (Jr 7,11) é traste com SI 1,3-4; 129,8; Is 65,8). O Is-
MATEUS 98
rael que nao dá fruto será rejeitado (mas máo déem por condenada a resposta vei
complete-se eom a reflexáo de Rm 9—11). dadeira. Condenar antecipadamente nao é
Mais tarde poderá ser aplicada a membros julgar. Jesús foge de urna resposta que nao
da eomunidade crista (Mt 7,19). estáo dispostos a aceitar. Por sua parte, ja
A explicadlo nao encaixa e encaixa. Nao o povo e um centuriáo romano haviam re-
encaixa porque do destino da figueira = po eonheeido sua autoridade superior (7,29;
vo salta para a fé operadora de milagres 8,9; 9,6-8). No batismo de Joáo está im
(17,2; ICor 13,2). Encaixa porque a fé é o plicada sua missáo de mostrar que o Mes-
primeiro fruto que se exige ou a seiva da sias está presente. Além disso, Joáo é como
árvore. um esbogo de Jesús.
21,23-27 O discurso do templo (Jr 7 e A controvérsia se prolonga em tres pa
26) custou a Jeremías um processo no qual rábolas de grande alcance: os dois filhos,
confirmou sua missáo profética. A atua- os vinhateiros, os convidados ao casamen
gáo de Jesús no templo o conduz a urna to. As trés contém um elemento de conde-
espécie de interrogatorio oficial, ante au nagáo e um de salvagáo.
toridades religiosas e civis; já intervieram 21,28-32 A parábola dos dois filhos está
os doutores. Na autoridade de ensinar e reduzida a um esquema, que é o dizer e o
fazer milagres está comprometida toda a agir em resposta á vontade de Deus. Os
missáo e identidade de Jesús. Ele trans dois filhos podem representar diversos
forma o interrogatorio em controvérsia de personagens: o povo do Israel histórico que
estilo rabínico: responde perguntando. E disse sim (Ex 19,8) e nao cumpriu (p. ex.
lógico que os sacerdotes indaguem sobre Jr 2,20); a geragáo do momento, com res-
a fonte de urna autoridade exercida em peito á pregagáo do Batista (cf. 3,7) e de
seus dominios; nao é justo que de ante Jesús. O outro filho representa qualquer
•1,4« 99 MATEUS
i ii ino ile Deus. 32Porque veio Joào, E o herdeiro. Vamos matá-lo e ficar com
min.nulo o cam inho da honradez, e a heranga. 39Agarrando-o, langaram-no
tu i ii sies nele, ao passo que os cole- fora da vinha e o mataram. 40Quando
ut»* i' as prostitutas creram . E vós, voltar o dono da vinha, como tratará
i I m i i i o ilepois de ver isso, nào vos ar- aqueles agricultores?
. (ii'iulestes nem crestes nele. 41Respondem-lhe:
— Certamente destruirá aqueles mal
11»vlnhuteiros (Me 12,1-12; Le 20,9-19) vados e arrendará a vinha a outros agri
"l .scutai outra paràbola. Um proprie- cultores que Ihe entreguem seu fruto na
'H1*1 plantou urna vinha, rodeou-a com colheita.
xii.i eerca, cavou um lagar e construiu 42Jesus lhes diz:
nini lorre; a seguir arrendou-a para — Nunca lestes na Escritura: A p e
llallis agricultores e partiu. 34Quando dra que os arquitetos desprezaram ago
hrtfou a colheita, enviou seus servos ra é a pedra angular; é o Senhor quem
i*iiin recolher dos agricultores o fruto fe z isso e nos parece uní m ilagrel Por
|iii Ihe cabia. 35Eles agarraram os ser isso vos digo que vos tiraráo o reino
ví is: espancaram um, mataram outro e de Deus e o daríto a um povo que dé os
i|ieilrejaram o terceiro. 36Enviou outros frutos devidos. [44Quem tropezar nes-
mi vos, mais num erosos que os primei- sa pedra se despedazará; aquele sobre
ii is, e os trataram da mesma forma. 37Fi- o qual ela cair ficará esm agado]*.
imlinente lhes enviou seu filho, nensan- '5Quando os sumos sacerdotes e os
.1*1(|ue respeitariam seu filho. 3hMas os fariseus ouviram suas parábolas, com-
ip.i ¡cultores, ao ver o filho, comentaram: preenderam que falava deles. 46Tenta-
ram prendé-Io, mas tiveram medo da seus servos: O banquete nupcial esta
multidáo, que o tinha com o profeta. preparado, mas os convidados náo o
mereciam. 9Portanto, ide as encruzilha-
O banquete de casam ento (Le das e convidai para o casamento todos
14,15-24) — 'Jesús tomou de novo os que encontrardes. 10Os servos saí-
a palavra e lhes falou usando parábolas. ram pelos caminhos e reuniram todos
20 reino de Deus se parece com um rei os que encontraram , maus e bons. O
que celebrava o casamento de seu filho. saláo se encheu de convidados. u Quan
3Enviou seus servos para chamar os do o rei entrou para ver os convidados,
convidados ao casam ento, mas estes observou um que náo usava traje apro-
nao quiseram ir. 4Entáo enviou outros priado. 12Disse-lhe: Amigo, como entras
servos, recom endando que dissessem te sem traje apropriado? Ele emudeceu.
aos convidados: Meu banquete está pre 13Entáo o rei ordenou aos serventes:
parado, os touros e anim ais cevados Atai-lhe pés e máos e langai-o fora ñas
foram degolados e tudo está pronto. trevas. A i haverá pranto e ranger de
Vinde ao casamento. 5M as eles se des- dentes. 14Pois sao m uitos os convida
culparam: um foi para seu campo, ou- dos e poucos os escolhidos.
tro para seu negocio; 6outros agarraram
os servos, os m altrataram e mataram. O tributo a César (M e 12,13-17; Le
70 rei se enfureceu e, enviando suas 20,20-26) — 15Entáo os fariseus foram
tropas, acabou com aqueles assassinos deliberar um modo de enredá-lo com
e incendiou sua cidade. 8Depois disse a suas palavras. 16Enviaram -lhe alguns
23.1 -36 Aquí culmina a polèmica da 23.3 Para fazer concordar este aviso com
comunidade crista com as autoridades reli outros precedentes (p. ex. as antíteses do
giosas judaicas. A redagáo provavelmente cap. 5) seria preciso restringir seu alcan
reflete a época em que os cristáos já tinham ce: o que vos disserem de acordo com
sido excluidos da comunidade judaica. O Moisés. A citagáo de Dt 4,2 proíbe acres-
gènero de polèmica explica indubitáveis centar ou suprimir. Denuncia urna contra-
exageras ou sim plificares ao descrever o digáo radical, dizer e náo fazer. Jesús fez e
contràrio; alguns tragos sào mais caricatu ensinou, ordenou e deu exemplo.
ra que retrato. Léem-se coisas semelhantes 23.4 Os fardos pesados parecem ser as
em escritos filosóficos polémicos da épo múltiplas observancias. Jesús impóe um
ca. O texto se apresenta condicionado pe jugo leve (cf. 11,29-30).
las circunstancias e pelo gènero. A descri- 23.5 Segundo a lei de Nm 15,38-39; Dt
gào e caracterizado de letrados e fariseus 6,8-9 materialmente entendida, sem respei-
náo concorda em tudo com o que sabemos tar sua fungáo, que era “recordar os man-
desses grupos através de outras fontes. Por damentos do Senhor e ajudar a cumpri-los”.
outro lado, é possível e conveniente tomar 23.6 Vejam-se os conselhos de Pr 25,6-
o texto como descric;fio de tipos que se po- 7; Eclo 13,8-9 e a parábola de Le 14,7-10.
dem encontrar em outros grupos religiosos, 23,8-11 Aqui vemos como Jesús (como
inclusive a pròpria comunidade. O hipócri Mateus) dirige palavras polémicas aos
ta, como tipo humano, fica desmascarado. seus. Também Tiago tem urna preocupa-
Compoe-se de sete ais, gènero que já se gáo semelhante (Tg 3,1). Mestre é o Se
encontra em séries em textos proféticos (Is nhor (Is 48,17), e agora Jesús (Mt 8,19; Jo
5,8-23; Hab 2,7-20). O número 7 parece in 13,14 etc.). “Pai” parece tomado aqui co
tencional. Predomina neles acontradigáo da mo título honorífico, sem referéncia á pa-
conduta e a hipocrisia. Grande afa prose- ternidade física (veja-se, p. ex., Jz 17,10;
litista, mas resisténcia ativa contra o reino, Is 9,5). A irmandade de todos na comuni
o pequeño e o grande, o interior e o exterior, dade fica fortemente destacada.
agressáo em vida e honras após a morte. 23.11 Segundo 20,26-27 par.
23.1 A introducilo faz o texto soar como de 23.12 Aforismo de alcance geral (Jó
nùncia pública; ao mesmo tempo dá a enten 22,29; Pr 15,33; 29,23) e de aplicagáo es
der que oferece algo especial para os discípulos pecial na comunidade cristá.
23.2 Escritos rabinos descrevem Moisés 23.13 Primeiro ai. Refere-se á hostili-
sentado numa “cátedra” para ensinar, como dade do judaismo contra a pregagáo do
fundador de urna tradigáo oral que os douto- evangelho documentada, p. ex., em vários
res dizem conservar e transmitir (Jesús tam- episodios dos Atos.
bém se senta para ensinar, Mt 13,2; 26,55). 23.14 *Alguns manuscritos acrescentam
Significa o ensinamento autorizado de Moisés o v. 14, tirado de Le 20,47: 14A¿ de vós,
para as geragóes sucessivas (Dt 4,2; 32,46). letrados e fariseus hipócritas, que devoráis
MATEUS 104
15A i de vós, letrados e fariseus hipó var, sem descuidar o resto. 24Gma <DI
critas, pois percorreis mar e terra para gos, que filtráis o m osquito e bcbaltfl
ganhar um prosélito, e quando o conse camelo!
guís, o tornáis m erecedor do fogo duas 25Ai de vós, letrados e fariseus lii|>
vezes mais que vós! critas, que limpais por fora a taga ■ .
lfiAi de vós, guias cegos, que dizeis: prato, quando por dentro estáo clicm
Quem jura pelo templo nao se com pro de roubos e devassidáo. 26Fariseu o-p
mete; quem jura pelo ouro do tempio Limpa primeiro por dentro a taca, e nu
fica comprometido! ’’Insensatos e ce sim ficará limpa por fora.
gos, o que é mais importante: o ouro ou 27Ai de vós, letrados e fariseus hipoi ii
o templo que consagra o ouro? 18Dizeis: tas, que pareceis sepulcros caiados ¡"»
Quem jura pelo altar nao se com pro fora sao form osos, por dentro esi i
mete, quem jura pelo dom que há so cheios de ossos de mortos e de todo li¡»
bre o altar fica comprometido. 19Cegos! de impureza. 28Dessa forma, por I o n
O que é mais importante: o dom ou o pareceis justos diante das pessoas, pnij
altar que consagra o dom? dentro estáis cheios de hipocrisia e inl
20Com efeito, quem jura pelo altar qüidade.
jura por ele e por tudo o que há sobre 29Ai de vós, letrados e fariseus hipo
ele; -'e quem jura pelo templo jura por critas, que construís mausoléus para o»
ele e por quem o habita; 22e quem jura profetas e monumentos para os justi >•,
pelo céu jura pelo trono de Deus e por -°comentando: Se tivéssemos vivido n<
aquele que nele está sentado. tempo de nossos antepassados, nao ir
23Ai de vós, letrados e fariseus hipó riamos participado do assassinato do-
critas, que pagais o dízimo da menta, do profetas. 31Com isso reconheceis que
anis e do cominho, e descuidáis o mais sois descendentes dos que mataram oí.
grave da lei: a justiga, a misericordia e profetas. 32Portanto, enchei a medida do:,
a lealdade. Isso é o que se deve obser- vossos antepassados. 33Serpentes, ninha
os bens das viúvas com o pretexto de fa- para ver aqui a descrido de um tipo hu
zer longas oragoes. Por isso tereis urna mano.
sentenga mais severa! 23,25-26 Refere-se a prescrigóes de pu
23,15 Prosélito quer dizer convertido ao reza (Lv 6,21; 11,33; Mt 15,11), das quais
judaismo e circuncidado. Por varios sácu passa metafóricamente á pureza interior
los os judeus desenvolvcram grande ativi- Também aqui identificamos um tipo hu
dade proselitista com notáveis resultados. mano.
Como a circuncisáo o obriga a cumprir 23,27-28 Cadáveres e sepulcros produ-
toda a lei, o expóe ao castigo do descuin- ziam por contato a máxima contaminagáo
primento. Merecedores do fogo é literal e deviam ser evitados (Lv 21,11; Nm 6,6;
mente “filhos da Geena” (13,42), em opo- 19,11-21; Eclo 34,25); por isso se pinta-
sigáo a “filhos do reino” (13,34). vam com cal os sepulcros para serem evi
23,16-21 Ridiculariza a interpretado tados. Por outro lado eram ornamentados
casuística sobre o juramento: nao conde para honra dos defuntos. A comparado
na o juramento (comparar com 5,35-37). dos hipócritas com o mundo da morte é
Normalmente o juramento era feito por violenta, quase macabra. Alguém conclui
Deus; substituindo o nome de Deus, invo- ría que eram extremamente abomináveis.
cava-se o céu ou o templo ou o altar. “Guias 23,29-32 O costume de erigir mausoléus
cegos”: como em 15,14; Rm 2,19. ou monumentos funerários está documen
23,23-24 Interpretado da lei dos dízi- tado (de Raquel Gn 35,20; de Sobna Is
mos (Nm 18,11-13; Dt 14,22-23). Em no 22,16; do poderoso Jó 21,32). Completam
me de coisas pequeñas sacrificam o im a medida (cf. Gn 15,16), matando o últi
portante, também exigido pela lei e pelos mo profeta (Dt 18,15), Jesús.
profetas (Mq 6,8; Am 5,24; Is 1,17; Jr 22, 23,33 Comega urna espécie de conclusáo
15; Pr 21,21). Nao é preciso esforgar-se violenta. Víboras: 3,7; 12,34; Is 14,29; 59,5.
H 10 5 MATEUS
23,34 Profetas: Zc 1,4; doutores sao os Mateus: porque muitos eventos eram fu
ilicstres sapienciais; letrados, os de Me turos e desconhecidos em seus detalhes, e
I ,!,35. Très grupos de pregadores do evan- porque se sobrepóem ás perspectivas.
(¡rllio perseguidos violentamente; como o No pano de fundo estáo, por um lado, o
fivro dos Atos pode ilustrar, e já se anun- anúncio de Ezequiel sobre o final trágico
ríava no discurso sobre o apostolado (10, e iminente (Ez 7); por outro lado, as es-
1 /.23). A violéncia homicida começa com o catologias e apocalipses bíblicos e extra-
Iralricídio de Caim (Gn 4,8), espécie de pe- bíblicos (como Is 24—27; 65-66; Zc 14;
i ido original do odio, passa pelo profeta Dn), com suas fórmulas estereotipadas,
Zacarías (2Cr 24,20-21) e chega até ao tem suas descrigóes fantásticas, o acompanha-
po em que Mateus escreve. mento cósmico, alguns dados temporais,
23,37-39 A lamentaçâo por Jerusalém o estilo vago e alusivo.
c sentida. Em Jerusalém concentra-se urna Os apóstolos parecem fundir e confun
historia de infidelidades (compare-se com dir duas coisas: a destruigáo do templo e o
o quadro esquemático de Ez 20 e a descri fim do mundo, quando virá o Messias.
ólo da Cidade Sangüinária em Ez 22). Pedem sinais exatos para elaborarem um
Embora haja culpa em seus chefes (cf. Is calendàrio seguro e razoavelmente exato.
1,21-22), a cidade continua sendo amada Acuriosidade se mistura com o temor.
(Is54,10). Antecedentes de tais sentimen- Em sua resposta, Jesus recusa toda de-
tos podem ser os Salmos (SI 74; 79; 102,15) terminagáo temporal, nao apura a distin
e as Lamentaçôes, que choram culpas e t o dos dois planos: transforma a infor
desgraças. m a lo em exortagáo à vigilancia diante de
Como a galinha: cf. Is 31,5; deserta: Jr enganos, á fortaleza frente a trib u íales
7,14. Conclui com a invocaçâo do SI certas, à expectativa do inesperado diante
118,26, citada também na entrada em Je da desatengáo.
rusalém (21,9). A referencia é escatológica. Para orientar-nos na leitura, podemos
prestar atengáo a temas repetidos: falsos
24-25 Formam o último grande discur messias e profetas (4-5.11.23-26); catás
so de Jesús, dirigido a seus discípulos, so trofes sociais, políticas (7-8) e cósmicas
bre os acontecimentos fináis (escatologia: (8,29.37-38). Outro recurso de orientagao
do grego eschaton = último). Divide-se em é distinguir quatro blocos. Dois no centro:
très partes: urna descritiva de eventos futu a destruigáo de Jerusalém, prefigurando o
ros, outra parenética sobre a vigilancia, e juízo final (15-28 e 29-31). Ñas extremi
a terceira, o quadro do juízo final. dades uma descrigáo geral e urna exorta-
gáo à vigilancia (4-14 e 32-44).
24,1 -44 Este é provavelmente o texto 24,1-2 Mateus imagina Jesús saindo do
mais difícil de interpretar no evangelho de templo e voltando a contemplá-lo a certa
m ateus 10 6 24.1
•— Vedes tudo isso? Pois eu vos as- 9Entregar-vos-áo para vos torturar c
seguro que desmoronará, sem que fi matar; todos os povos vos odiaráo poi
que pedra sobre pedra. causa do meu nome. 10Entáo muitos fa
3Estando sentado no monte das Oli lharáo, se trairáo e se odiaráo mutua
veiras, os discípulos se aproximaram mente. n Surgiráo muitos falsos profetas
em particular, e lhe perguntaram: que enganaráo a muitos. 12E, ao cres-
— Dize-nos quando acontecerá isso cer a iniqüidade, o amor de muitos se
e qual é o sinal de tua chegada e do fim esfriará. 13Mas quem agüentar até o fim
do mundo. se salvará. I4A boa noticia do Reino será
4Jesus lhes respondeu: proclam ada a todas as nagóes, e entáo
— Cuidado para que ninguém vos chegará o fim.
engane. 5Pois muitos se apresentaráo
alegando meu título, dizendo que sao o A grande tribulagáo (Me 13,14-23; Le
Messias, e enganaráo a muitos. 6Ouvi- 21,20-24) — 15Quando virdes entroni
reis falar de guerras e noticias de guer zado no lugar sagrado o ídolo abomi-
ras. Atengáo! Nao vos alarméis. Tudo nável anunciado pelo profeta Daniel (o
isso acontecerá, mas ainda nao é o fi leitor que o entenda), l6entáo os que
nal. 7Povo se levantará contra povo, vivem na Judéia escapem para os mon
reino contra reino. Haverá carestías e tes; 17quem estiver no terrago náo des-
terremotos em diversos lugares. 8Tudo ga para recolher as coisas da sua casa;
isso é o comeqo das dores do parto. 18quem se encontrar no campo náo volte
distancia. Essa imaginagáo tem valor sim dos (14), os fiéis se salvaráo (13). A ima-
bólico: Jesús sai do templo, pela última gem do parto e o anúncio de urna salvagáo
vez, deixa-o definitivamente para trás. E sao motivos de esperanza na prova.
se reúne com seus discípulos, a nova co- 24.5 Como houve falsos profetas (Jr 23;
munidade. O templo magnífico, de gigan Ez 13 etc.), haverá falsos messias (cf. At
tescos silhares, construido por Heredes 5,35-39); Joáo os chamará de anticristos
Magno, é o trampolini para saltar ao tema (lJo 2,18). Pode-se 1er a intervengáo de
do discurso. Tornou-se proverbial a ex- Gamaliel diante do Conselho (At 5,35-37).
pressáo “nao ficará pedra sobre pedra”. 24.6 Náo vos alarméis: Jr 30,5.
Pode recordar a destruigáo do templo salo 24.7 Povo contra povo: Is 19,2; 2Cr5,6.
mónico, em 586 a.C. (cf. Lm 2,6-7; 4,11). 24.8 Dores de parto: Jo 16,21-22; Ap
24,3 Os discípulos perguntam duas coi 12,2. Um parto fecundo. Pode-se compa
sas sem definir a sua relagáo. “Isso”: a rar com as imagens de Is 26,7, escatologia,
destruigáo do templo. “Tua chegada” é a e 42,14, volta do exilio.
parusia, o comparecimento do rei em visi 24.9 Perseguigáo: já anunciada em Mt
ta oficial, a vinda gloriosa de Jesús Senhor, 10,17.23.
que coincide com o fim do mundo (os dis 24.11 Falsos profetas: Dt 13.
cípulos perguntam representando a comu- 24.12 O amor: Ap 2,4.
nidade crista). 24.13 Agüentar: Mt 10,22.
24,4-14 Urna sèrie de acontecimentos 24.14 É como se a atividade missionària
tremendos precederá o final, mas nao se (28,19) estivesse retardando o final; a tare-
podem ordenar num calendàrio. Prevale- fa encomendada náo está terminada. Con
ceráo a anarquía interior, as guerras entre tinuará para a frente em meio a contra-
povos, as catástrofes naturais, a purifica- digòes e apesar de resisténcias. Sobre a
gao pelas perseguigóes. Ao juntarem-se a dilagáo do fim: Ez 7.
pressáo externa com a crise interna, mui 24,15-28 Costuma-se denominar “a
tos “falharáo” na fé e na caridade. Tudo grande tribulagáo” aquela que precede
junto sao as dores de parto da nova e defi ¡mediatamente a vinda do Messias. Temas
nitiva era (8). Portanto, é preciso agüentar e fórmulas procedem em boa parte da lite
e esperar: pois a causa enobrecerá o sofri- ratura escatològica e apocalíptica, e em
mento (9), o evangelho será pregado a to- parte ressoam como recordagáo da destrui-
24,29 107 MATEUS
para pegar o manto. 19A i das grávidas sível, inclusive os escolhidos. 25Vede
c das que derem ä luz naqueles dias! que eu vos preveni. 26Se vos dizem:
•'■"Orai para que a fuga nao acóntela no Vede, está no deserto, nao saiais; ou
invernó ou no sábado. 2lHaverá urna tri- vede, está na despensa, nao deis aten-
bulagäo täo grande como näo houve des gao. 27Pois, como o relámpago aparece
de o comego do mundo até agora, nem no levante e brilha até o poente, assim
liaverá no futuro. 22Se nao fosse abre será a chegada do Filho do Homem.
viado aquele tem po, ninguém se sal- 28Onde está o cadáver os abutres se reu-
varia. Contudo, em atengáo aos esco- niráo.
Ihidos, aquele tem po será abreviado.
23Entáo, se alguém vos diz que o M es A parusia (M e 13,24-27; Le 21,25-28)
sias está aqui ou ali, näo lhe deis aten- — 29Im ediatam ente depois dessa tribu-
gäo. 24Surgiräo falsos m essias e falsos lagáo, o sol se escurecerá, a lúa nao irra
profetas, que faräo portentos e prodi diará seu esplendor; as estrelas cairao
gios, a ponto de enganar, se fosse pos- do céu e os exércitos celestes tremeráo.
gao de Jerusalém. Está claro que os tragos 24,20 Ver o episodio do sábado em lM c
nao se podem tomar ao pé da letra para 2,31-40.
construir urna crònica antecipada dos 24,25-26 Os dois lugares onde, segun
eventos. Mas, admitindo o sentido simbó do crengas da época, poderia aparecer o
lico ou alegórico, perguntamos se a visáo Messias: em campo aberto e despovoado,
corresponde a eventos históricos (a queda em lugar habitado e escondido.
de Jerusalém no ano 70) ou a eventos fu 24.27 Do relámpago se assinalam o re
turos (o ato final antes do desenlace). É pentino e o evidente. Pode ser sinal teo-
possível também que, na contraluz da ca fánico (SI 18,8-16).
tástrofe de Jerusalém, se vislumbre o final 24.28 Soa como provèrbio de duvidosa
dos tempos. interpretagáo. Talvez se refira aos falsos
Urna situagáo ameagadora e grave que messias que se aproveitam da turbuléncia
aconselha a fuga rápida náo é desconheci- (cf. as raposas de Ez 13,4). Ou sinal da
da: a fuga de Ló (Gn 19,17); “aquele dia” catástrofe (como em Ez 39,17-20). Se se
de Jeremías (Jr 30,5-10.23-24; 51,6.45-47; coloca no final de segào, nào é para uni-lo
Ez 7,16). Em escala menor a espiritualida- com o v. precedente, mas como aforismo
de a propóe (SI 11,1; 55,7-10). O texto ci conclusivo. E urna pincelada macabra, de
tado de Daniel (a famosa “abominagáo da aves necrófagas aproveitando-se da matan-
desolagáo”, Dn 9,27) refere-se ao ídolo que ga; recorda a visáo de Abráo (Gn 15,11) e
Antioco IV mandou colocar no templo de o episodio de Resfa (2Sm 21,10). Algum
Jerusalém (167 a.C.; cf. lM c 1,54); o con comentarista tomou-o como valor positi
texto fala de “assassinato do Ungido”, de vo: o Senhor reunirá seus mortos.
“guerra e destruigào”, de cidade e templo 24,29-32 A chegada final do Messias é
arrasados. Seria o texto urna atualizagáo construida com tragos proféticos e apoca
composta e difundida nos dias turbulen lípticos. O colossal aparato estelar proce
tos da represália romana dos anos 66-70? de de Is 13,10, e se lé com variantes em
As citagóes indicadas e as outras (Dn outros textos como “luto da natureza” por
12,1; J12,2) fomecem imagens abertas, apli- urna catástrofe (Is 24,23 escatologia; J1
cáveis a muitas situagóes. Dn 12,1 já esta- 2,10; Ez 32,7-8). A tradigáo iconográfica
va fora do seu contexto histórico restrito; J1 crista identificou o “estandarte” (o sinal)
2,2 é urna transposigáo simbólica de urna com a cruz. No texto de Mateus “o sinal”
praga agrària, e também fica disponível. Por pode ser a mesma aparigáo gloriosa do
outro lado, o texto de Mateus desemboca Messias, o sinal de Joñas (12,39; 16,1-4).
na exortagáo à cautela e à vigilancia. É pro- Ao pranto celeste responde o terrestre,
vável que este fragmento se dirija à comu- numa citagao adaptada de Zc 12,9-14.
nidade crista sobre o tema da parusia, Em Dn 7,13 “urna figura humana” (náo
prefigurada na destruigào de Jerusalém. mais um animal feroz) sobe à presenga do
24,30
MATEUS
30Entào a p a re c e rá no céu o estandarte beram, até que veio o dilùvio e levou a
do Filho do H o m e m . Todas as ragas do todos. A ssim será a chegada do Filho
mundo fardo l u t o e verào o Filho do do Homem. 4tlDoishomens estaráo num
Homem ch eta r / 1 & ^ nuvcns do ( C U , corri campo: um será levado e outro será
glòria e poder. 31E n v ia rá seus anjos para deixado; 41duas mulheres estaráo moen-
reunir, com um g r a n d e toque de trom- do: urna será levada e outra deixada.
beta, os eleitos d ° s quat™ ventos> de 42Assim, pois, vigiai, porque nao sabéis
um extremo a o u t r o do céu. o dia em que chegará vosso Senhor. 43E
sabéis que, se o dono da casa soubesse
O dia e a h o ra fN Íc 13,32-37, Le 17,26- a que hora da noite vai chegar o ladráo,
30.34-36)__32y^prendei o exemplo da estaría vigiando para que nao abram um
figueira: quan d o o s ram os se tornam buraco na parede.
tenros e brotam a s [olhas, sabéis que a 44Portanto, estai preparados, porque
primavera está p ró x im a . Também vós, este H om em chegará quando m enos
quando virdes q u e acontece tudo isso, pensardes.
sabei que o fim e s tá próxim o, às por
tas. 34E u vos a sse g u ro que esta geracáo V igilancia (M e 13,33-36; Le 12,41-48)
nào passará a n te s que acóntela tudo — 45Quem é o servo fiel e prudente,
isso.35Céu e te rra passaráo, m inhas pa- encarregado pelo dono de casa de re
lavras nào p assafáo- 6Quanto ao dia e partir em suas horas a comida para os
à hora, ninguém o s conhece, nem os an empregados? 46Feliz o servo a quem o
jos do céu nem o F ilh o , só o Pai os co dono de casa, ao chegar, encontrar atuan-
nhece. 37Como e o 1 tem pos de Noé, as- do assim. 47Eu vos asseguro que o en-
sim será a chegada do Filho do Homem. carregará de todos os seus bens. 48Ao
38Nos dias antes d o dilùvio, as pessoas contràrio, se um servo mau, pensando
comiam, bebiam 6 se casavam , até que que o dono de casa tardará, comegar
Noé entrou na arca- E eles nao perce- a espancar os companheiros, a com er e
ii beber com os bébados, 5uo patráo des- mogas despertaram e se puseram a pre
se servo virá em dia e hora que menos parar as lamparinas. 8As insensatas pe-
imagina 51e o despedazará, dando-lhe diram as prudentes: Dai-nos um pouco
o destino dos hipócritas. A i haverá pran- do vosso azeite, pois nossas lamparinas
lo e ranger de dentes. se apagam. 9As prudentes responderam:
Talvez nao baste para todas; é melhor
’Entáo o reinado de D eus será ir com prá-lo no armazém. 10Enquanto
como dez mogas que saíram com iam comprá-lo, chegou o noivo. As que
suas lamparinas para receber o noivo. estavam preparadas entraram com ele
■Cinco eram insensatas e cinco pruden na sala de casamento, e a porta foi fe
tes. 3As insensatas pegaram as lampa- chada. 11Mais tarde chegaram as outras
riñas, porém nao levaram azeite. As mogas, dizendo: Senhor, Senhor! A bre
prudentes levaram frascos de azeite nos! 12Ele respondeu: Eu vos asseguro
com as lamparinas. 5Como o noivo tar- que nao vos conhego. 13Portanto, vigiai,
dasse, todas cochilaram e dorm iram .6A porque nao conheceis o dia nem a hora.
meia-noite ouviu-se um grito: Aqui está 14E como um homem que partia para
o noivo, sai para recebé-lo! 7Todas as o estrangeiro; antes chamou seus ser-
gem revela aos homens sua condigáo de vros como Pr e Eclo. Sao adjetivos de enor
servos e administradores, responsáveis pe me peso, a ponto de as qualidades apare-
rente o patráo. O servo fiel merece a qua cerem personificadas como Sensatez e
lific a lo de prudente, sensato. Pode refe- Senhora Insensatez (Pr 9). Na parábola,
rir-se aos chefes judeus e nao menos a por sua sensatez ou necedade, está em jogo
chefes da comunidade crista. Critèrio de o sentido último da vida.
julgamento será a conduta com os outros As lámpadas e o óleo que as alimenta
servos ou companheiros de servigo. O cas sao expressáo da vigilancia noturna (Pr
tigo encarece a gravidade da culpa e suas 31,18; Jr 25,10 Ap 18,22). Ao mesmo tem
conseqüéncias; hipócritas sao os mal po servem para inculcar a responsabilida-
vados que fingiram bondade (8,12; 13, de pessoal: aqui nao vale descuidar-se fi-
42.50). ando-se no oütro. Mais ainda, essa noite
mágica nao é noite para dormir (cf. Ct 5,2-
25 ,1-13 Circunstancias de um casamen 6; Is 51,17; 52,1). Esta parábola é exclusi
to sao transformadas e rodeadas de um va de Mateus e é a terceira referencia ao
halo misterioso. Nao há quem conduza a tema nupcial (9,14-15; 22,1).
noiva (SI 45,14-15; Gn 2,22), mas é o noi 25,14-30 Da cena nupcial Mateus nos
vo que está para chegar (Ct 2,8; 5,2). A transporta ao mundo da economia, que
noiva é substituida por dois grupos con- também vale para explicar o mistério do
trapostos de mogas, o que introduz o tema reinado de Deus. A simples expectativa e
do julgamento e da eleigáo (cf. SI 45,15- vigilancia se convertem e culminam aqui
16). O banquete é celebrado à meia-noite, em responsabilidade para a agáo no mun
e assim se introduz o tema da vigilancia do. A responsabilidade é proporcional ao
(cf. Ct 3,1; 5,2); entra-se no casamento ou “talento” recebido para o servigo. Premio
festa nupcial (Ct 1,4; 2,4). As reminiscen e castigo pela administragáo se orientam
cias do Càntico dos Cánticos se acumu- para o julgamento definitivo. O relato se
lam e conferem certo ar de realismo à cena. centra no servigo ao patráo, dono único do
Ao mesmo tempo se sobrepóem outros tra dinheiro, e nao fala expressamente do ser
gos que geram urna atmosfera irreal. Nao vigo aos outros. Ele reparte livremente e
esquegamos que o Apocalipse (a Biblia) nao de modo arbitràrio seu dinheiro, le
termina com a espera ansiosa da esposa/ vando em conta “a capacidade de cada
comunidade pela vinda do esposo. um”; em grego dynamis, dinamismo, ca
As mogas sao classificadas em pruden pacidade de fazer. Só que também essa
tes, ou sensatas, e néscias. Duas catego capacidade é dom (cf. Dt 8,17-18). Um
rías contrapostas de sólida tradigáo em li- talento equivale a cerca de 35 quilos.
MATEUS 110 25.11
vos e lhes confiou seus bens. 15A um Muito bem, servo fiel e cumpridor, l<n
deu cinco milhôes, a outro dois, a ou- te confiável no pouco, eu te poiilm i
tro um; a cada um segundo sua capaci- frente do importante. Entra na festa dt
dade. E partiu. Im ediatam ente 16o que teu patráo. “4A proxim ou-se tamlx m
havia recebido cinco m ilhôes negociou aquele que havia recebido um milháo o
com eles e ganhou outros cinco. 17Da disse: Senhor, eu sabia que és exigen
mesma forma aquele que havia recebi te, que colhes onde náo semeaste e ie
do dois milhôes, ganhou outros dois. colhes onde náo espalhaste. 25Como i i
18Aquele que havia recebido um milhâo nha medo, enterrei teu milháo; aqui ten-,
foi, fez um buraco no châo, e escondeu o que é teu. 2fiO patráo lhe responden:
o dinheiro do patrào. 19Passado muito Servo indigno e preguigoso. Já que sa
tempo, o patrào dos servos apresentou- bias que colho onde náo semeei e reco
se para pedir-lhes contas. 20Aproximou- lho onde náo espalhei, 27devias ter dep< >
se o que havia recebido cinco milhôes sitado o dinheiro num banco, para que,
e lhe apresentou outros cinco, dizendo: ao chegar, eu o retirasse com ju ro s.2 Ti
Senhor, deste-m e cinco m ilhôes; vê, rai-lhe o milháo e dai-o para aquele qu<
ganhei outros cinco. 2,0 patrào lhe dis tem dez. 29Pois a quem tem se lhe dará
se: Muito bem, servo fiel e cumpridor; e sobrará; a quem náo tem se lhe tirara
foste confiâvel no pouco, eu te ponho à inclusive o que tem. 30Expulsai o servo
frente do importante. Entra na festa de inútil para as trevas de fora. A i havera
teu patrào. "A proxim ou-se aquele que pranto e ranger de dentes.
havia recebido dois m ilhôes e disse:
Senhor, deste-me dois milhôes; vê, ga O julgam ento das na^óes — 31Quan
nhei outros dois. 230 patrào lhe disse: do chegar o Filho do H om em com
O patráo se ausenta (15, final de Lucas) vas tende a crescer; mas a preguiga deixa-
e tardará em voltar. Já náo menciona urna o inerte, e o preguigoso fica de máos vazias.
chegada iminente (19, escatologia adia A quem aproveita o dinheiro enterrado?
da, 2Ts 2,2). Quando volta pede contas O provèrbio final, com sua formulagáo
da administragáo, numa espécie de jul- paradoxal (13,12), expressa felizmente o
gamento, no qual o patráo qualifica a con- duplo movimento: do mais ao sempre
duta e retribui. Os dois primeiros sao: mais, do menos até o nada.
cumpridor, ou seja, bom em seu oficio, e Premio e castigo sáo de cunho escato
fiel ou fiável (é o título de Moisés segun lògico. Prèmio: participar do banquete
do Nm 12,7); o terceiro é malvado ou mau escatològico do Senhor. Castigo: a expul-
em seu oficio preguigoso, um adjetivo sáo e as trevas da morte (8,12; 22,13).
substantivado como tipo em Pr. O prè 25,31-46 A agáo do homem e das socie
mio supera qualquer previsáo: perto dele dades em suas relagöes mútuas tem urna
os milhóes eram nada; de urna possessáo dimensáo transcendente que Deus conhe-
administrada sobe-se à convivencia como ce e sanciona. Essa idéia ou mistério se
patráo. dramatiza na linguagem de um grande jul
O terceiro procura defender-se, pondo gamento público e universal. Como ante
a culpa no patráo exigente. Realmente o cedentes literários podem-se recordar: o
medo do risco paralisa (Ecl 11,10), a inér- rito de Js 8,32-35 completado com Dt
cia se afirma na preguiga. Mas o dinheiro 27,12-28,14; a nota escatològica de Is
náo é urna semente que se enterra e cresce 24,21-22; os destinos opostos de Is 65,13-
por si só; é o homem que imprime nele 15; Dn 12,2 o indica ou implica; Sb 4,20-
seu dinamismo para fazè-lo crescer. A co- 5,16 o descreve a seu modo.
laboragáo humana está fortemente subli- Em primeiro lugar o texto propöe um
nhada. problema de dupla identificagáo: a) fala
O diálogo com o terceiro criado mostra de “todas as nagóes” pagas ou de todas
a outra face do dinamismo do traballio sem distingáo? b) os “irmáos menores”
humano. O dinheiro confiado a máos ati- de Jesus sáo os cristáos ou todos os ne-
«M r. 111 MATEUS
i'íiruii c E u c a ristía (M e 14,12-26; Le mem vai, com o está escrito sobre ele;
¡11 .’O; Jo 13,21-30; IC or 11,23-25) — mas ai daquele pelo qual este Homem
'Ñu primeiro dia dos ázimos os discí- será entregue. Seria melhor para esse
,•iiliif. se aproxim aram de Jesús e lhe homem nao ter nascido.
iwlÜlintaram: 25 Disse-lhe Judas, o traidor:
. Onde queres que te preparemos a — Sou eu, Mestre?
^lii ilc Páscoa? Diz-lhe:
'"Kespondeu-lhes: — Tu o disseste.
«• Ide á cidade, a um tal, e dizei-lhe: 26Enquanto ceavam, Jesús tomou um
< Unía m ensagem do M estre: M inha pao, pronunciou a béngáo, o partiu e o
lintii está próxima; em tua casa celebra- deu a seus discípulos, dizendo:
i f l i i l’áscoa com meus discípulos. — Tomai, comei, isto é o meu corpo.
'“Os discípulos prepararam a ceia de 27Tomando a taca, pronunciou a acao
(•Incoa seguindo as instrugoes de Jesús. de graqas e deu-a, dizendo:
■"An entardecer, ele se pos á mesa com — 28Bebei todos déla, porque este é
u«diize, 2le enquanto comiam disse-lhes: o meu sangue da alianza, que se derra
■ Eu vos asseguro que um de vós ma por todos para o perdáo dos peca
vtil me entregar. “ Consternados, come- dos. 29Eu vos digo que daqui em diante
i,liram a perguntar-lhe um por um: nao beberei deste produto da videira até
— Sou eu, Senhor? o dia em que o beberei convosco no
J,Respondeu: reino de meu Pai.
■— Aquele que pos comigo a máo na 30Cantaram o hiño e saíram para o
Havessa, esse m e entregará. 24Este Ho- monte das Oliveiras.
A figura de Judas atraiu a atenedlo de es para ela Judas se converte em tipo de trai
critores que tentaram analisar ou imagi dor, e assim seu nome para nossos idio
nar seu processo interno. mas; e a resposta pessoal de Jesús pode
26.17-30 Vários detalhes do relato apon- dirigir-se de novo a novos traidores da sua
lam para urna ceia ritual da Páscoa: os pre pessoa. Judas nao o chama de Senhor, mas
parativos (17.18.19), o roteiro com a bén- rabi, mestre. O ai do narrador nao é so-
i;Ao (26) e os hinos (30). Mas nao se mente compaixáo por Jesús, mas dor pelo
menciona o cordeiro (imolado no templo), fato de que entre os doze haja um traidor
c a cronologia de Joáo exclui que se trate (lJo 2,19).
de ceia pascal. Portanto, ou Jesus anteci Um par de alusóes á Escritura dáo re
pa por conta pròpria o rito, ou segue outro levo ao relato: a traigáo do amigo (SI
calendàrio, ou a celebragáo crista da nova 41,9), o “ir embora” da morte (Is 53 e SI
Páscoa (ICor 5,7) influí na redagáo do re 22 ).
lato. 26,26-30 Jesús celebra e institui sua eu
26.17-19 Como na entrada festiva em caristía e manda celebrá-Ia em sua memo
Jerusalém (21,1-4), Jesus conhece e con ria. As primeiras comunidades o cumprem,
trola a situagáo. Pode dar ordens aos dis celebrando o rito (At 2,42.46; 20,7.11;
cípulos e ao anfitriào. Ele a chama de “mi ICor 10,16; 11,20). Essa prática influi na
nha hora”, apropríando-se da celebragáo redagáo do fato fundacional, produzindo
tradicional (Ex 12,3-5). Ao escurecer co- duas variantes básicas: a de Paulo e Lucas,
mega o novo dia e treze é um número a de Marcos e Mateus.
aceitável de comensais, segundo o direi- Os gestos que o narrador detalha sao ob
to. Só que “os doze” tém um sentido no vios: tomar e partir um pao como entáo
vo (10,1): o novo Israel celebra a nova era cozido, ou pronunciar as costumeiras
Páscoa. béngáo sobre o pao e agáo de gragas sobre
26,20-25 O anúncio precedente se faz o vinho e distribuí-los. Mas esses gestos
mais preciso, porque Jesús quer revelar estáo carregados de sentido superior: Je
detalhes pessoais. A lembranga da traigáo sús nao come, mas se entrega; ele o parte
passa pela reagao da Igreja primitiva, pois para repartir e para que partilhem. O dom
MATEUS 114
indica a morte, e o partilhar é a uniáo com prova e luta, forma díptico com a cena da-,
ele. provaçôes no deserto (4,1-11). Como fun
Ao passar o cálice de vinho, explica com do de contraste, podemos pensar eni
mais riqueza e precisáo seu sentido supe Jeremías (Jr 15 e 20); como acompanha
rior. O vinho é o sangue, que indica a morte mento, a terceira Lamentaçâo.
como entrega; é o sacrificio da nova alian Aqui se expressa a angustia humana de
za (Ex 24,8), que expia os pecados. Be- Jesús, como em tantos salmos de súplica
bendo, os discípulos se unem ao sacri (p. ex. SI 42-43; 55,2-6 etc.); ouvimo-lo
ficio, partilham o sangue, sede da vida reiterar a súplica (Hb 5,7); na luta, triun
(comparar com a proibigáo de Lv 3,17; fa a entrega plena e confiante à vontade
7,26-27 etc.), e selam a alianga que cons do Pai (Hb 10,9). Dois pedidos do Pai
tituí o povo novo. nosso ressoam na cena: seja feita a tua
Jesús une esse banquete com o do céu vontade, náo nos deixes sucumbir na pro-
onde reina seu Pai; a esse banquete des vaçâo.
de agora seus discípulos estáo convida Mateus nos mostra além disso o ho-
dos (22,2-10): “convosco”. Nele se ser mem angustiado que busca companhia:
virá um vinho novo, como corresponde “com eles” (36), “comigo” (38.40), e náo
ao mundo novo (Ap 21,1-3). O canto do a encontra (cf. SI 38,12; Jó 19,13-19.21;
hiño costumava compreender os Salmos Lm 1,16). O sono inconsciente dos très
113-118. íntimos o faz sentir ainda mais a soli-
26,31-35 Segundo anuncio trágico: os dáo. No meio da tempestade ele dormía
discípulos váo tropegar na grande prova na barca.
(cf. 6,13), se dispersaráo como ovelhas O cálice está cheio da ira do Senhor
(citagáo de Zc 13,7); mas sua queda náo contra o pecado (Jr 25,15-29; Ez 23,33):
será definitiva, porque o pastor, ressus- o Pai lho oferece, Jesus deve esgotá-Io.
citado, voltará a reuní-los na Galiléia (in Espirito e carne se opóem como o forte
sinuado, cf. Jr 32,37; Ez 34,13). O pro e o fraco (Is 31,3). O espirito “decidido”
testo de Pedro é presungáo, que agrava deve ser acompanhado de um espirito
a queda. “Eu pensava muito seguro: ja- generoso (diz SI 51,12-14). As palavras
mais vacilarei” (SI 30,7). Sempre have- de Jesús, através dos très apóstolos, sao
rá na Igreja uma Galiléia onde os que dirigidas à Igreja, a todos os cristáos.
se dispersam voltaráo a reunir-se com o 26.37 Sao os très que assistiram à trans-
Pastor. figuraçâo.
26,36-46 Nesta cena, o narrador quer 26.38 O Salmo 8 8 expressa com ima-
revelar-nos algo da espiritualidade de Je gens intensas essa tristeza mortal: cova,
sús; por isso, deveríamos lé-la junto com confinamento, trevas abismais, escolhos,
a confissáo de 11,15-27. Pelo que tem de incèndio, espanto...
115 MATEUS
26,45 Aproxima-se a hora: Jo 12,23; bre amigos e inimigos disserta Ben Sirac
13,1; 17,1. (Eclo 6,5-17; 12,8-18).
26,47-56 Em toda a cena da prisáo, se 26,51 Espada: a palavra grega pode de
gundo Mateus, Jesús domina a situaçâo, signar um punhal ou navalha de uso pes-
como o Servo do Senhor (Is 42,3-4). Repri soal e pacífico.
me a violéncia, mesmo defensiva, de um dos 26,52-54 O episodio serve de admoes-
seus; aceita o beijo do traidor (cf. SI 55,13- tagáo para a Igreja em tempo de perse
15); sem opor resisténcia denuncia a vio g u id o . Morrer por Cristo, náo matar por
léncia injustificada da multidáo. Nào é um Cristo, é seu heroísmo (cf. 5,10-11.39-
bandido perigoso, mas um mestre público 41). Jesús concentra trés argumentos: Pri-
e pacífico. Poderia convocar forças superio meiro o provèrbio que penetrou como
res (2Rs 6,16-18); mas sua força está em refráo: nele ressoa a lei do taliáo ou a
aceitar o designio do Pai: assim foi anuncia dialética da violéncia; quem a desata tor-
do na Escritura, assim tem que acontecer. na-se vítima déla. Segundo, o auxilio ce
26.47 O pelotáo é enviado pela autorida- leste milagroso. Terceiro, a vontade do
de religiosa e pela civil (ver 26,3), e vem Pai.
armado com as espadas e paus da polícia do 26.55 Os capítulos 21-24, especialmen
templo. te 21,23.
26.48 “O beijo do inimigo é falaz” (Pr 26.56 Segundo o anunciado antes (Zc
27,6), mas Jesús o chama de amigo. So- 13,7).
MATEUS 116 26,57
— É o que disseste. E eu vos digo 72De novo o negou, jurando que nao
(|ue desde agora vereis o Filho do Ho- conhecia esse homem. 73Pouco tempo
rnem sentado á direita do Todo-pode depois aproximaram-se os que estavam
roso e chegando ñas nuvens do céu. ai e disseram a Pedro:
65Entáo o sumo sacerdote, rasgando — Tu és realmente um deles, pois o
a veste, disse: sotaque te denuncia.
— Blasfemaste! Que falta nos fazem 74Entào começou a lançar maldiçôes
as testem unhas? A cabais de ouvir a e a jurar que nâo o conhecia. Imediata-
blasfemia. 66Qual é o vosso veredito? mente o galo cantou 75e Pedro recor-
Responderam: dou o que Jésus dissera: Antes que o
— Réu de morte. galo cante, me terás negado très vezes.
67Entáo lhe cuspiram no rosto, de- E saindo, chorou amargamente.
ram-lhe bofetadas e o golpeavam , 68di-
zendo: C onduzido a Pilatos (Me 15,1;
— Messias, adivinha quem te bateu. Le 23,1s; Jo 18,28-32) — 'N a
manhá seguinte, os sumos sacerdotes e
Nega§5es de Pedro (M e 14,66-72; Le os senadores do povo deliberaram para
22,56-62; Jo 18,15-18.25-27) — 69Pe- condenar Jésus à morte. 2Amarraram-no,
dro estava sentado fora, no pátio. Apro- conduziram -no e o entregaram a Pila
ximou-se urna criada e lhe disse: tos, o governador.
— Tu também estavas com Jesús, o
galileu. M orte de Judas (At 1,18s) — 3Entào
70Ele o negou diante de todos: Judas, o traidor, vendo que o haviam
— Nao sei o que dizes. condenado, arrependeu-se e devolveu
71Saiu para o pórtico, outra criada o os trinta denários aos sumos sacerdo
viu, e disse aos que estavam ai: tes e senadores, 4dizendo:
— Este estava com Jesús, o N aza — Pequei, entregando à morte um
reno. inocente.
combina urna frase do SI 110,1 com outra cia. E se arrepende logo e profundamente.
de Dn 7,13: supóe-nas bem conhecidas e as Um galo lhe recorda a predigáo de Jesús
aplica a si. Desde agora: com sua confissáo (e se reveste de lenda na tradigáo). Pedro,
comega a se manifestar seu poder. Quando como a Igreja, é chamado e perdoado.
ressuscitar, esse poder celeste se estenderá.
26,65 A blasfemia é punida com a mor 27,1-2 A deliberagáo matutina serve
te (Lv 24,16). para pronunciar ou ratificar a pena e en
26,67 Ver o terceiro càntico do Servo tregar assim o réu ao governador. O relato
(Is 50,6). A zombaria supóe que o Messias discorre em base ao verbo entregar: anún-
é profeta e possui o dom de adivinhar. cios 17,22; 20,28-29; 26,2; Judas 26,15.
26,69-75 Os quatro evangelhos, que re- 16.21. 23.24.25.46.48; 27,3.4; os chefes a
conhecem a primazia indiscutível de Pilatos 27,2; Pilatos a eles 27,26. Era com
Pedro, narram sem dissimulagáo seu pe petencia romana permitir a execugáo de
cado e arrependimento. Sem dúvida, o condenagóes á morte. Como se verá de
consideram urna dor de Jesus e um ensi- pois, as autoridades judaicas buscam algo
namento para a Igreja. Colocado aqui o mais: um processo civil por rebeliáo, ter
relato, a negagáo contrasta fortemente com reno no qual eles nao sao competentes.
o testemunho de Jesus e com seu testemu- Pilatos representava o poder militar de
nho em Cesaréia (Mt 16,15-17). Roma na regiáo. Náo é estranho que se
Mateus o gradua em intensidade crescen encontre em Jerusalém durante a festa e
te: nega, jura, langa maldigóes; os inter aglomeragáo da Páscoa.
locutores váo mudando, mas coincidem em 27,3-10 O episodio da morte de Judas
ressaltar a origem galilaica de Jesus e Pedro. interrompe estranhamente o curso do re
O apóstolo nega por medo, nào por arrogàn- lato, como se a entrega de Jesús ao gover-
m a t eu s 118 27,5
sioneiro fam oso cham ado B arrabás. — M as que mal ele fez?
l7Quando estavam reunidos, perguntou- Eles porém continuavam gritando:
Ihes Pilatos: — Crucifica-o.
— Quem quereis que eu vos solté? 24Vendo Pilatos que nao conseguía
Barrabás, ou Jesús chamado o Messias? nada, ao contràrio, estavam se amoti
18Pois sabia que o haviam entregue por nando, pediu água e lavou as máos di
inveja. 19Estando ele sentado no tribu ante da multidáo, dizendo:
nal, sua mulher lhe mandou um recado: — Nao sou responsável pela morte
— Nao te metas com esse inocente, deste inocente. E problema vosso.
porque esta noite, em sonhos, sofri mui- 250 povo respondeu:
to por sua causa. — Nos e nossos filhos somos respon-
Entretanto, os sumos sacerdotes e sáveis por sua morte.
os senadores persuadiram a m ultidáo 26Entáo soltou-lhes Barrabás, m an
para que pedisse a liberdade de Barra dou agoitar Jesus e o entregou para que
bás e a condenagáo de Jesús. 210 go- o crucificassem.
vemador tomou a palavra:
— Q ual dos dois quereis que vos A zom baria dos soldados (M e 15,16-
solté? 20; Jo 19,2s) — 27Entáo os soldados do
Responderam: governador conduziram Jesús ao preto
— Barrabás. rio* e reuniram em torno dele toda a
22Responde Pilatos: companhia. 28Tiraram-lhe a roupa, envol-
— O que fago com Jesús, cham ado o veram -no num manto escaríate, 29tran-
Messias? garam urna coroa de espinhos e a puse-
Todos respondem: ram em sua cabega, e um canigo na máo
-— Crucifica-o. direita. Depois, zombando, ajoelhavam-
23Ele lhes disse: se diante dele e diziam:
deus, sem culpas verdadeiras. Em lugar de um messias político e violento. Nesse ter
encerrar o assunto com sua autoridade (re- reno deve ser condenado por Pilatos.
corde-se o episodio de At 23,1-10), busca A cena teatral serve para repartir respon
urna escapatoria, o privilègio do indulto sabilidades. Pilatos declina toda respon-
de Páscoa: enfrenta os judeus com urna sabilidade, faz o gesto simbólico de lavar
escolha comprometida. Barrabás pode re as máos como prova de inocencia (cf. SI
presentar a violencia contra o poder estran- 26,6; 73,13). Mas nao pode prová-la, e seu
geiro (era “famoso”: quer dizer que era gesto se torna proverbial em nossas cultu
urna espécie de herói popular?); Jesús se ras. O povo em massa assume a responsa-
apresenta como o Messias pacífico (5,9; bilidade, com a fórmula consagrada (cf.
7,38-42; 12,18-21; 26,52), sem reivindi- Dt 19,10; Js 2,19; Jz 9,57; 2Sm 1,16; 3,28-
cagóes políticas. As autoridades judaicas 29; IRs 2,33.44; Ez 33,4). Ao julgaressas
intervèm rapidamente para inclinar o ple palavras, nao devemos esquecer o teste-
biscito contra Jesús. munho de Paulo (ICor 2,8).
27,19-23 Nesse ponto intervèm a mu 27,27-31 As zombarias da soldadesca se
lher de Pilatos. Concedia-se aos sonhos, concentram no título presumido de rei dos
especialmente em conjunturas graves, va judeus. O manto escaríate serve de manto
lor premonitorio (cf. Eclo 34,6). Ao me régio. A coroa é infamante, feita de sar
nos infundiam respeito. gas, mas nao torturadora (como mostra a
Pilatos conhecia provavelmente a popu- iconografía); o texto nao fala de cravar,
laridade de Jesus, dava como certa a res- mas de colocar. Também é cómica a cana
posta a favor. Por isso, fica desconcertado a modo de cetro real. As cuspidas substi-
com a resposta popular. A crucifixao era tuem o beijo, e os golpes com a cana subs-
pena comum de escravos e rebeldes a tituem a saudagáo.
Roma: os acusadores abandonam a visao 27,27 *Ou: residencia do pretor ou ma
de um Messias transcendente, em favor de gistrado.
120 27 ,3(1
Salve, rei d o s ju d e u s! vam crucificados dois bandidos, um à
Cuspiam-lhe, p e g a v a m o c a n ic o e direita e outro à esquerda. 39Os que pas
3jlarT1 eom e le em su a c a b e ra . savam o insultavam balançando a ca
Terminada a zo m b a ria , tiraram -lhe beça 40e dizendo:
manto e lh e p u s e ra m su a s v e s te s . — Aquele que destrói o tem plo e o
ePois o lev a ra m para cru cificar. reconstrói em très dias, que se salve; se
é filho de Deus, que desça da cruz.
Nlorte de Jesús (M e 15,21-41; Le 23, 41Por sua vez, os sumos sacerdotes
"49; Jo 19,17-30)— 32A saída encon- com os letrados e senadores zombavam,
aram um homem de Cirene, chamado dizendo:
33Í?a°’ e 0 forgaram a carregar a cruz. — 42A outros salvou, a si mesmo nao
Uiegaram a um lugar chamado Gól- pode salvar. Se é rei de Israel, desça
S°ta (isto é, Caveira), 34e lhe deram a agora da cruz e creremos nele. 43Con-
eber vinho m isturado eom fel. Ele o fiou em Deus: que o livre, se é que o
Jje0 v°u, mas nao quis beber. 35Depois ama. Pois disse que é filho de Deus.
crucificá-lo, repartiram por sorte suas 44Também os bandidos crucificados
estes 36e se sentaram ali, montando com ele o injuriavam.
Suarda. 45A partir do meio-dia, todo o territo
. Acima da cabecja puseram um le- rio se escureceu até a metade da tarde.
. lr° eom a causa da condenagáo: Este 46À m etade da tarde Jésus gritou com
c esus, reí dos judeus. 38Com ele esta- voz potente:
-— Eli, Eli, lema sabactani (ou seja: tropa que m ontavam guarda a Jesús di-
Deus meu, D eus meu, p o r que m e aban ziam espantados:
donaste?). — Realmente este era filho de Deus.
47Alguns dos presentes, ao ouvi-lo, 55Estavam ali olhando de longe mui-
comentavam: tas m ulheres que haviam acompanha-
— Este cham a Elias. do e servido a Jesús desde a Galíléia.
48Imediatamente um deles correu, to- 56Entre elas estavam Maria Madalena,
mou uma esponja em papada em vina M aría máe de Tiago e José, e a máe dos
gre, e com um can ijo Ihe deu de beber. Zebedeus.
Os outros disseram:
— Espera, vejam os se Elias vem sal- Sepultam ento de Jesús (M e 15,42-47;
vá-lo. Le 23,50-56; Jo 19,38-42) — 57Ao en-
50Jesus, lanzando outro grito, expirou. tardecer chegou um hom em rico de
510 véu do tem plo se rasgou em dois, A rimatéia, chamado José, que também
de cima a baixo, a térra tremeu, as pe- tinha sido discípulo de Jesús. 58Apre-
dras racharam, 52os sepulcros se abri- sentando-se a Pilatos, pediu-lhe o ca
ram e muitos cadáveres de santos res- dáver de Jesús. Pilatos m andou que o
suscitaram. E, quando ele ressuscitou, entregassem. 59José o tomou, envolveu-
53saíram dos sepulcros e apareceram a o num lengol de linho limpo, “ e o de-
muitos na cidade santa. 54Ao ver o ter positou num sepulcro novo que havia
remoto e o que acontecía, o capitáo e a cavado na rocha; depois fez rodar uma
hebreus usavam o começo como título do 27,54 Com a confissâo dos soldados pa
livro. Os evangelistas levaram muito em gaos Mateus quer mostrar a força reveladora
conta o SI 22 ao narrar a paixáo. da morte de Jesús e sua força de atraçào
27.48 É uma bebida refrescante, que sobre os pagaos. A perspectiva é eclesial.
serve também para aludir a SI 69,22 (pa De passagem, propóe um contraste: os ju-
ralelo de “veneno na comida”). deus recusam, os pagaos confessam.
27.49 Gracejo cruel jogando com o 27,55-56A noticia sobre as mulheres ser
nome de Elias e recordando que o profeta ve de ponte para os relatos da ressurreiçâo.
deve voltar a serviço do Messias (MI 3,23). Sua presença até o final contrasta com a
27,51-53 Expirou = expulsou o alentó/ ausencia covarde dos discípulos. Desde o
espirito. A bivaléncía da palavra grega começo alegre na Galiléia, até o final do
pneuma permitiu a alguns escutar uma ve loroso, elas o acompanharam e serviram.
lada alusáo ao dom do Espirito. Com très Outro ensinamento para a comunidade.
traços simbólicos, Mateus comenta o sig 27,57-61 A sepultura de um homem era
nificado dessa morte, sem esclarecer sufi extremamente importante entre os israe
cientemente sua intençâo. O véu do templo litas (Is 22,16). O último reconhecimento
(Ex 26,31-35): significa o final do culto da pessoa. Ver-se privado déla era a igno
antigo?, o acesso a Deus aberto a todos, sem minia final (cf. Is 14,18-20; Jr 22,18-19).
segredos? tem alguma dimensáo cósmica? Um justiçado devia ser removido para
O terremoto é muitas vezes teofánico, como nao contaminar o terreno (Dt 21,22-23);
reaçâo da térra na presença do seu Criador era destinado à vala comum. José quer ofe-
(SI 18,8; 77,19 etc.). Quanto aos sepulcros recer sua homenagem postuma ao Mestre
abertos, Cristo morto conquista o reino dos e se une assim à homenagem antecipada
mortos e os faz reviver (cf. Dt 32,39; ISm da mulher que o ungiu para a sepultura
2,6; Tb 13,2; SI 30,4); pode conter uma (26,13). Mateus dá importáncia aos deta-
alusâo à grande visáo de Ez 37,1-14, dos lhes do sepulcro. Ao ato do sepultamento
ossos que revivem. Cristo ressuscitado assistem como testemunhas duas dentre as
transmite sua vida aos “santos”, que entram mulheres citadas anteriormente. A sepul
na cidade novamente “santa” (cf. Is 26,2) e tura e o sepulcro testemunham a morte de
se manifestam como testemunhas da res- Jesús, sua descida à cova, ao xeol, ao rei
surreiçâo do Senhor. no dos mortos.
MATEUs 122 27,61
grande pedra na entrada do sepulcro e citou da morte. A última impostura se
foi enibora. 61Estavam ai M aría Mada- ria pior que a primeira.
lena e a outra María, sentadas diante Respondeu-lhes Pilatos:
do^sepulcro. — A i tendes uma guarda. Ide e vigiai-
_. No día seguinte, o que segue á ví- o, como entendeis.
gília, os sumos sacerdotes se reuniram 66Eles vigiaram o sepulcro, pondo
com os faríseus e foram a Pilatos 63di- lacres na pedra e postando a guarda.
zer-lhe:
~ Recordamos que, quando aínda R essurreigáo (M e 16,1-8; Le
vivía, aquele impostor disse que ressus- 24,1-12; Jo 20,1-10) — ‘Passa-
citariano terceiro día. 64M anda que vi- do o sábado, ao despontar a aurora do
giem o sepulcro até o terceiro dia, para primeiro dia da semana, M aria Mada-
que seus discípulos nao roubem o ca lena com a outra M aria foram exami
dáver e digam ao povo que ele ressus- nar o sepulcro. 2Sobreveio um forte tre-
27,62-66 Com esta noticia, e com sua dade, sua manifestaçâo certa, seu trato com
conseqiiéneía de 28,11-15, M ateus quer os discípulos, a personalidade de diversas
responder a rum ores m alicio so s que os testemunhas.
judeus ¡am difundindo co ntra o s cristáo s Saltando o intermèdio de 11-15, Mateus
e contra a ressurreiçâo de Jesús. A inten- estiliza seu breve relato em très momentos:
çào do narrador é polém ica, e nem todos a mensagem do anjo às mulheres, a apariçâo
os detalhes sáo v erossím eis. É plausível de Jesús a elas, a missâo dos discípulos.
que queíram se o p o r ao gesto de Pilatos 28.1-10 O primeiro dia é o domingo
de entregar a José o cadáver. T am bém que (dominicus), como o chamaráo os cristáos
consideren! Jesús com o “ im postor” , quer em memoria do Senhor. Nada mais? Ma
dizer, faiso profeta e falso M essias. É im- teus nos acostumou à concentraçâo e den-
provável que tenham n oticia de que Jesús sidade de alusóes. Num horizonte mais
tinha predito sua ressurreiçâo, e dir-se-ia largo esse dia poderia ser o primeiro de
urna projeçâo da situaçâo posterior, quan uma nova semana, da nova era, na qual,
do o evangelho é escrito. C hegam o s fari- após as trevas da morte, amanhece a luz
seus, que haviam p edido u m sinal (12,40): da glorificaçào (cf. SI 57,6.12).
ai tém o sinal de Joñas. Para os judeus terminou o descanso
Pilatos nao retrata a concessáo a José, sabático, e é lícito caminhar e trabalhar.
mas cede ao pedido das autoridades, tai- As mulheres vâo fazer uma visita de afeto
vez suspeitando um fundo religioso mis ou de inspeçâo; dessa forma tornam-se tes
terioso no assunto que para ele está liqui temunhas de que o “sepulcro” foi simples
dado. Para Mateus, os “lacres” sáo uma lugar de passagem.
garantía involuntariamente acrescentada: 28.2-4 Aqui o narrador monta uma cena
todas as precauçôes humanas fracassaráo dramática cheia de ressonâneias e contras
diante do poder de Deus. tes com a morte. O tremor é de teofania,
como o tremor na morte; o anjo é mensa-
28 Se no relato da paixáo os très si- geiro de Deus, pois Deus náo abandonou
nóticos seguem trilhos paralelos, nos re seu Filho; seu aspecto é de outro mundo,
latos da ressurreiçâo apresentam divergén- sua força, sobre-humana; parece refletir a
cias impressionantes. O momento e o gloria de Deus e do ressuscitado. Náo vem
modo da ressurreiçâo, ninguém tenta des abrir a porta do sepulcro para que saia o
crever: transcende a experiência sensivel. morto (Jo 11,39.44), mas para mostrar que
Nem sequer nos dâo um relato paralelo à náo está mais ai; os guardas tremem ante
transfigura,^ Afirmam o fato triunfal a apariçâo sobrenatural. Como mortos, no
mente e o confirmant com relatos diver reino a que pertencem.
sos. Nestes se encontra o núcleo essencial: 28,2 Pode referir-se a “um anjo” ou “o
a identificaçgo d 0 aparecido, sua identi- anjo do Senhor”, segundo o costume da
dade cotn o Jésus de antes, sua corporei- Escritura (m al’ak Yhwh).
28,16 123 MATEUS
mor, pois um anjo do Senhor, deseen- — Náo temáis; ide avisar meus ir-
do do céu, chegou e fez rodar a pedra, máos que se dirijam á Galiléia, onde
sentando-se em cima. 3Seu aspecto era me veráo.
de relámpago e sua veste branca como a n Enquanto elas caminhavam, alguns
neve. 4Os que m ontavam guarda come- da guarda foram á cidade e contaram
garam a tremer de medo e ficaram como aos sumos sacerdotes tudo o que acon
mortos. sO anjo disse as mulheres: tecerá. 12Estes se reuniram para delibe
— Nao temáis. Sei que buscáis a Je rar com os senadores e ofereceram aos
sús, o crucificado. 6Náo está aqui; ressus- soldados urna boa soma, 13recomendan-
citou com o havia dito. Aproxim ai-vos do-lhes:
para ver o lugar em que jazia. 7Depois, — Dizei que de noite, enquanto dor-
ide correndo anunciar aos discípulos míeis, os discípulos chegaram e rouba-
que ele ressuscitou e irá á frente para a ram o cadáver. 14Se a noticia chegar aos
Galiléia; lá o vereis. Esta é minha m en ouvidos do governador, nos o tranqui
sagem. lizaremos para que náo vos castigue.
®Afastaram-se depressa do sepulcro, 15Eles aceitaram o dinheiro e segui-
cheias de medo e alegría, e correram ram as instrugoes recebidas. Assim se
para dar a noticia aos discípulos. 9Je- espalhou esse boato entre os judeus até
sus saiu ao seu encontro e lhes disse: hoje.
— Salve.
Elas se aproximaram, abracaram seus M issáo dos discípulos (M e 16,14-18;
pés e se prostraram diante dele. Le 24,36-49; Jo 20,19-23; At 1,9-11) —
10Jesus lhes disse: 16Os onze discípulos foram á Galiléia,
ao monte que Jesús Ihes havia indica zer discípulos entre todos os povos,
do. I7Ao vé-lo, prostraram -se, mas al- batizai-os consagrando-os ao Pai, ao
guns duvidaram. 18Jesus se aproximou Filho e ao Espirito Santo, 20e ensinai-
e lhes falou: lhes a cum prir tudo o que vos mandei.
— Concederam -m e plena autorida- Eu estarei convosco sempre, até o fim
de no céu e na térra. 19Portanto, ide fa- do mundo.
vía seus discípulos para a missáo univer a vida de acordo com o ensinamento de
sal, nao mais limitada aos judeus (10,6; Jesús.
15,24). Nao háo de ensinar para serem Inaugura-se o tempo da Igreja, cujo fim
mestres de muitos discípulos (23,8), mas nao é ¡mínente. É preciso viver e agir nes-
para “fazer discípulos” de Jesús. Como rito se tempo com a certeza de que Jesús, nao
de consagragáo administraráo o batismo, obstante ir-se embora, fica com eles.
com a invocagáo trinitária explícita (com- Emanuel era Deus Conosco na historia do
pare-se com a fórmula de At 2,38; 8,16; povo eleito. Agora é Jesús glorificado com
ICor 1,13; G1 3,27). Como conseqüéncia, sua Igreja para sempre.
EVANGELHO SEGUNDO MARCOS
INTRODUQAO
Como a nuvem noAT, M arcos em seu M arcos evoca urna figura desconcer
rvangelho joga com o velar e o desve tante ante um auditorio desconcerta
lar. Seu tema é a pessoa de Jesús, mais do: nao seria parecida a situaqáo his
aínda que seu ensinamento e milagres, tórica ? Jesús é o M essias que há de
r a reaqáo do povo á sua pessoa. O m is padecer: no extremo aguarda a morte
terio de Jesús, o Jesús misterioso. M ar ignominiosa; p elo caminho o acompa-
cos possui a luz da ressurreiqao, mas nham incom preensño e hostilidade.
no longo do seu relato nao abusa des- Quando chega o triunfo final, Marcos
sa luz esplendorosa; ao contrario, apre- volta a ser conciso: a cortina do tem
senta os homens cegados e deslum bra plo rasgada e a confissáo do centuriáo
dos, mais que iluminados. pagáo contrastam com o silencio m e
Já no principio, declara que Jesús é droso das mulheres ao ouvirem o anun
“filho de Deus ” e que o relato sobre ele cio categórico do jovem vestido de bran
é “boa noticia ”. ¡mediatamente soa urna co. A nte a morte o pagáo confessa, ante
declaraqao solene do Pai, um impulso a ressurreiqao as discípulos se assustam.
do Espirito, urna vitória fulgurante so M arcos é mestre de urna escritura “a
bre Sata e urna pacificaqáo cósmica (com duas vo zes”. D etém -se numa cena, se-
asferas). Jesús anuncia a chegada ¡mí leciona dados certeiros que dáo impres-
nente do “reinado de D eus ”, M arcos sáo de realismo, explora o dramatismo.
se limita a contar seu “comeqo M as cena e traqos tém na pena de M ar
O fa to estava anunciado e era espe cos um alcance superior, sao expres-
rado, mas sua novidade (2,21) provoca sóes simbólicas do mistério. Bom exem-
a confrontaqao dramática. Para os es plo é a confissáo do centuriáo: com um
pectadores, a luz fica velada. N ao o alcance na boca do personagem nar
compreende a sua fam ilia (3,21) nem rativo pagáo, e outro alcance na pena
seus concidadáos (6,1), tampouco seus do autor. Ou entáo as cenas conjugadas
discípulos chegam a compreender; fa - da incompreensáo dos fam iliares e a
riseus — poder religioso — e herodia- apresentaqáo da nova fam ilia de eren-
nos — poder político —- decidem eli- tes. Ou a enigmática noticia do jovem
miná-lo (3,6). Contudo, alguns pagaos q u efo g e nu da paixáo, resolvida no jo
reconhecem seu p o d er (7,24). Os dis vem vestido de branco que anuncia a
cípulos estáo cegos, nao aceitam o anun ressurreiqao. M arcos se presta a urna
cio da paixáo: m as Jesús p ode curar leitura fácil, de superficie, como urna
os cegos (8,22). m elodia simples; mas é preciso esfor-
D iríam os que Jesús, p o r seu lado, qar-se para ouvir o contraponto.
nao facilita a compreensáo; manifesta
seu poder milagroso, e impóe silencio: Composigáo
aos demonios, as testemunhas, aos dis
cípulos. M ais de urna vez tenta escon Numa primeira parte sucedem-se velo-
d e rse , com éxito escasso (7,24 e 9,3). zes: batismo, deserto, discípulos, primei-
R e v e la se na transfiguraqño, e impóe ros milagres e controvérsias, 1—3. Segue -
reserva até a ressurreiqao. Q uase um se o mínistério na Galiléia 4,1—7,23.
terqo do livro está dedicado ao ciclo D epois de um intermèdio na Fenicia e
inteiro da paixáo em Jerusalém. Cesaréia, 7,23-8,26, acontece a mudan-
MARCOS 126 INTRODUíJÁO
ga decisiva, com a confissáo de Pedro, gao tem fundam ento pouco firme. Nao
transfiguragao e anuncio da paixao, e teria sido mais eficaz apresentar aos
a cam inhada para Jerusalém, 8,27— vacilantes uns discípulos de Jesús fir
10,52. Em Jerusalém: acolhida, contro- mes e valentes na fé ? Além disso, nao é
vérsias, discurso escatológico, 11—13; legítimo negar ao autor a vontade de
paixao e ressurreigáo, 14,1-16,8. (Al- escrever urna obra de maior alcance,
guém acrescentou um apéndice, 16,9- para além de urna estreita conjuntura
20, ao fin a l desconcertante do autor). local e temporal.
Autor Data
D esde sempre, este evangelho se cha- N ao parece que M arcos se refira à
mou “segundo M arco s”. Urna velha destruigáo de Jerusalém como já acon
tradigáo ou lenda, transmitida de se tecida.
gunda máo, fa z do autor um discípulo E m fungáo de urna reconstrugào coe
de Pedro, de quem teria recolhido a rente, a maioria dos comentaristas co
informagáo sobre Jesús. Outros tenta- loca a composigáo na época turbulen
ram identificar o autor com a persona- ta das revoltas contra o im pèrio de
gem de nome Marcos, que figura nos Roma antes da conquista da capital;
A tos (12,12; 13,5.13) e envia saudagóes com isso pretendem deixar o espago de
e m C l4 ,1 0 e 1P d 5,13, mas, sendo M ar urna geragào para a form agño e cris-
cos um nome corrente na época, a iden- talizagáo de tradigóes oráis. É urna hi-
tificagáo é incerta. pótese, baseada em dados internos, que
Os destinatários sao em boa parte nem todos compartilham.
convertidos de língua grega, a quem é O certo é que seu evangelho fala a
preciso explicar term os e costumes ju qualquer grupo e geragáo, estabelecen-
daicos. Escreve M arcos para urna co- do alguns fatos fundamentáis, irrefutá-
munidade definida ou para todos os que veis, po r entre incompreensóes e fra-
desejarem saber a respeito de Jesús? A quezas. Sem o evangelho de Marcos, a
partir de dados dispersos no evange imagem de Jesús seria mais simples e
lho, alguns tentam reconstruir o perfil mais pobre. Jesus é “filh o de D e u s”:
da comunidade, supondo que M arcos isso diz o narrador, duas vezes o Pai, os
escreve sua obra para responder a seus demonios, o centuriào. E “o Messias ”,
problem as específicos. Seria urna co o “ungido Pedro o proclama, e J e
munidade pobre e perseguida, vacilan sus manda que se guarde segredo (8,27-
te na fé, que se reflete na conduta dos 30). Um cegó e a multidáo o reconhe-
discípulos do evangelho. Tal reconstru- cem como “filho de D avi ”.
MARCOS
go”, a companhia e trato pessoal, o conhe- do ou santo (= consagrado, título que dáo
cer mediatamente, o assimilar por fami- a Jesús). Os dois poderes estáo frente a
liaridade. “Foram com ele”: até onde che- frente: o diálogo ñas intervengóes de cada
gará o seguimento? um esclarece o sentido misterioso. O es
1.21-28 O curso do relato tem sido até pirito pronuncia nomes e títulos de Jesús
agora veloz. Curiosamente, nesse episo para sujeitar seu poder ou o reconhece, a
dio se remanseia, como se Marcos lhe atri- contragosto, como o vencido ao vencedor;
buísse um valor particular. Efetivamente, como os pagaos em vários oráculos de
nessa primeira atuagáo de Jesús se unem Ezequiel, como Antíoco Epífanes (2Mc
ensinamento e milagre. Aqui se apresen- 9,12). Jesús nao dá explicagóes, dá ordens
ta, na linguagem e na mentalidade da épo que os rivais tém de cumprir.
ca, a confrontagáo primeira e a vitória de 1,27 Na pergunta do povo se ouve a per-
Jesús sobre os poderes do mal que escra- gunta com a resposta da comunidade crista.
vizam o homem. O povo, ao ver e ouvir, O fato de ter ouvido muitas vezes o relato
comega a admirá-lo. Formam o círculo nao deve embotar nossa estupefagao. O ám
ampio, em torno dos seguidores íntimos. bito é ainda restrito, a regiáo setentrional.
1.21-22 Por algum tempo, Cafarnaum 1,29-31 A sogra de Pedro é a primeira
será seu centro de operagóes. Respeita as beneficiária do poder curador de Jesús,
instituigóes religiosas e se aproveita délas transmitido pelo contato da sua máo (SI
para sua atividade. Ensina, nao como 62,9; “tua direita me sustenta”, SI 73,23).
repetidor de tradigóes (7,3), mas como fonte Urna vez curada, póe-se a seu servigo. O
autorizada de doutrina. “Farei brilhar meu fato acontece durante o sábado e na casa de
ensinamento como a aurora, para que ilu Simáo. Dos parentes nao se volta a falar
mine as distancias” (Eclo 24,31). O povo nos evangelhos; Paulo faz alusáo ao ma
sem querer comega a fazer comparagóes. trimonio de Pedro (ICor 9,5).
Quando léem esse evangelho, os cristáos 1,32-38 Ao por do sol, termina o sába
repetem a comparagáo entre tradigóes hu do, e o povo acorre atraído por sua fama;
manas e a autoridade do seu Mestre. a uniáo de enfermidade e possessáo será
1,23-26 É chamado de “espirito imun urna constante. O dia seguinte é “pro
do”, qualidade incompatível com o sagra- gramático”: comega com um momento de
m a rco s 130 1,33
porta. Ele lhes expunha a mensagem. — Por que pensáis isso? 90 que é
Chegaram alguns levando um paralí mais fácil? Dizer ao paralítico que os
tico, carregado por quatro; 4e, como nao pecados estáo perdoados, ou dizer-lhe
conseguissem aproximá-lo por causa da que carregue o leito e com ece a andar?
multidáo, ergueram o teto sobre o lu “’Pois bem, para que saibais que este
gar onde estava Jesús, abriram um bu Homem tem autoridade na térra para
raco e desceram o leito em que jazia o perdoar pecados — diz ao paralítico — :
paralítico. 5Vendo Jesús a fé que eles “ Falo contigo, levanta-te, toma teu leito
tinham, disse ao paralítico: e vai para casa.
— Filho, teus pecados sao perdoados. 12Levantou-se imediatamente, tomou
6Estavam ai sentados alguns letrados o leito e saiu diante de todos. De modo
que refletiam em seu íntimo: que todos se assombraram e glorificavam
— 7Com o pode falar assim? Quem a Deus: Nunca vimos coisa semelhante.
pode perdoar pecados, a nao ser sonrien
te Deus? C ham a Levi (Mt 9,9-13; Le 5,27-32) —
8Jesus, adivinhando o que pensavam, 13Saiu novamente á margem do lago.
disse-lhes: Todo o povo acorría a ele, e ele os ensi
lada ao pecado: talvez como efeito da sua Jesús se apropria da expressáo “filho do
causa, ou como sintoma de um mal in homem” (ho hyios tou anthropou = ben
terior. Podem-se conferir os salmos dos 'adatn, título corrente em Ezequiel), que
enfermos (p. ex. 32; 38; 41). Em sua ins- por um lado afirma sua condigáo humana,
trugáo sobre a enfermidade Ben Sirac reco- correlativo de “filho de Deus”, e por ou-
menda: “reza a Deus e ele te fará curar... tro lado está associada com a “figura hu
l limpa teu coragáo de todo pecado” (Eclo mana” de Daniel (7,14). Isso pode ser fonte
38,9-10). Os carregadores, talvez familia de ambigüidade, conforme pretenda Jesús
res, querem a cura física do doente. Jesús afirmar sua condigáo humana exemplar ou
desvia a atengáo para o mais importante e queira aludir á sua parusia gloriosa. (Pro
grave da sua tnissáo: vencer o pecado com curo diferenciar a tradugáo segundo os
o perdáo. A enfermidade pode ser situa- casos.)
gáo de humildade e ocasiáo de arrependi- A cena comega com urna descrigáo pre
mento: “Outras vezes corrige-o no leito de cisa, ao gosto de Marcos, e termina com a
dor” (Jó 33,19). glorificagáo coral de Deus, no estilo de
Embora o passivo “sao perdoados” pos- muitos salmos.
sa ser teológico (Deus, agente da passi- 2,1-2 Uma casa com terrago é cenário
¡ va), os letrados atribuem a sentenga a Je funcional do fato. Abrir um buraco para
sús, e ele se mostra de acordo. Ai surge a entrar era operagáo de ladróes (Ex 22,1-
opositólo. Os letrados, com a tradigáo, de- 2); fazem isso “á luz do dia”, destruindo
fendem que perdoar pecados é competen sem consideragóes, abrindo uma passagem
cia exclusiva de Deus (SI 130,4: “O per do tamanho de um homem, numa ostenta-
dáo é coisa tua”; 51,6 no contexto, e outros gao de criatividade e decisáo. Jesús reco-
salmos penitenciáis, Is 43,25). Jesús rei nhece, na agáo, a fé.
vindica esse poder na térra, também como 2,5 O título “filho” é carinhoso, como de
homem; entende-se, recebido de Deus. superior a inferior, de mestre a discípulo.
Veja-se a promessa da nova alianza: “Eu 2.7 Blasfema: em sentido ampio, por
perdóo suas culpas e esquego seus peca que se arroga um privilégio exclusivo de
dos” (Jr 31,34). Deus. A pena da blasfemia é a lapidagao.
E o prova com urna agáo que empírica 2.8 Penetrar os pensamentos é próprio
mente se considera mais difícil. Pois, para de Deus (Pr 15,11).
expiar pecados, o culto oferecia recursos 2,11 O Senhor... afofará o leito de sua
institucionais; para curar milagrosamen enfermidade (SI 41,4).
te, nao. A cura prova o poder, já que Deus 2,13-17 Levi era coletor de impostos,
náo escutaria um blasfemo. A cura exter oficio que acarretava a seus titulares o
na expressa e revela a interna. qualificativo formal de “pecadores”, por-
MARCOS 132 2,14
nava. 14Ao passar, viu Levi de Alfeu, sen O jejum (Mt 9,14-17; Le 5,33-39) —
tado junto á mesa de impostas, e lhe diz: 180s discípulos de Joáo e os fariseus
— Segue-me. estavam de jejum . Váo e lhe dizem:
Levantou-se e o seguiu. — Por que os discípulos de Joáo e os
15Era convidado na casa dele, e mui- dos fariseus jejuam e teus discípulos
tos coletores e pecadores estavam á nao jejuam?
mesa com Jesús e seus discípulos. Pois 19Respondeu-lhes Jesús: — Podem os
muitos eram seus seguidores. 16Os le companheiros do noivo jejuar enquan-
trados do partido farisaico, vendo-o co to o noivo está com eles? Enquanto tém
m er com pecadores e coletores, disse- o noivo com eles, nao podem jejuar.
ram aos discípulos: "°Chegará um dia em que lhes arreba
— Por que come com coletores e pe tarlo o noivo, e nesse dia jejuaráo.
cadores? 2lNinguém póe remendó de paño novo
17Jesus os ouviu e respondeu: numa roupa velha; pois o acrescentado
— Os saos nao tém necessidade de repuxa a roupa e faz um rasgo pior.
médico, mas os doentes sim. Nao vim 22Ninguém póe vinho novo em odres
cham ar justos, m as pecadores. velhos, pois o vinho arrebenta os odres,
que tratavam com nao judeus e abusavam Jesús responde com a autoridade de um
do cargo, provocando o odio do povo, pois anfitriáo ou do convidado especial que
exploravam e estavam a servido dos ro preside (cf. Eclo 32,1); responde com um
manos. O cargo era recebido em arren- refráo. Quem se considera sadio nao pro
damento. O chamado soberano de Jesús cura o médico (cf. Eclo 38,1-15), e Jesús
prescinde de preconceitos e convengóes e veio como médico, ostentando o título que
vence a possível resistencia da cobiga. o AT costuma atribuir a Deus: “Eu sou o
Também a cobiga é uma forma de idola Senhor, que te cura” (Ex 15,26; Dt 32,39;
tría (Ef 5,5) e o deus do dinheiro, Mamón, Is 19,22). Do refráo salta para a definigáo
é rival de Deus (Mt 6,24). Como os pesca de sua missáo: Jesús “veio”, é aquele que
dores, Levi deixa tudo e “segue” a Jesús; devia vir, com a missáo de um chamado
porque a renuncia está em fungáo do se- universal: pecadores sáo todos, mesmo os
guimento, que dá sentido á renúncia. Mar que nao querem reconhecé-lo: “porque
cos é conciso: o longo e difícil processo de ninguém está livre de pecado” (IRs 8,46).
conversáo (veja-se o episodio do jovem 2,18-22 Após o banquete, urna contro
rico, 10,17-31) resolve-se num imperativo vèrsia sobre o jejum: a coeréncia narrativa
de Jesús, como uma palavra criadora: “Cria é notável. O jejum era tradicionalmente
em mim um coragáo novo” (SI 51,12). praticado por lei ou por devogáo, como ex-
Na oportunidade se oferece um banquete pressáo de arrependimento, humildade ou
aos colegas de profissáo (ou da casta): “na luto (Zc 7,3-5; a crítica de Is 58). Também o
casa dele”. De quem? O grego é ambiguo. círculo de Joáo Batista se surpreende dian
O mais natural é que seja Levi quem ofe te do estilo de vida de Jesus e seus discípu
rece o banquete (de despedida), e o convi los. A uma pergunta responde outra, bem
dado principal é o seu novo chefe. Gra no estilo rabínico. Jesús levanta a questáo
maticalmente é possível que o anfitriáo até outro plano. Ele é o Messias esposo e
seja o próprio Jesús, na sua casa de Cafar- seus discípulos desfrutam por ora a sua pre
naum. Em tal caso, o convite seria enor senta festiva: “companheiros, cornei e be-
memente significativo, quase um ato de bei” (Jr 33,11; Ct 5,1). Antes a esposa de
solidariedade religiosa. Seja como for, Yhwh jejuava por sua infidelidade; agora
compartilhar a mesa com “pecadores” é celebra-se o casamento de fidelidade (cf.
pecaminoso e escandaloso, pois ser co Os 2,21-22). “Será tirado deles”: alude em
mensal (co-mens-al) é um ato significati surdina à morte violenta (cf. Is 53,8), já
vo de relagáo amistosa, selada pela bén- acontecida quando Marcos escreve.
gáo sobre os alimentos. Os guardas da 2,21-22 Soa o refráo como explicagáo,
legalidade protestam: nao seráo pecado “pelo contràrio”, em forma rítmica. Pode-
res também Jesús e seus companheiros? ria ser assim formulado: Náo ponhas re-
3,4 133 MARCOS
mendo novo em paño velho, nao ponhas A cena se concluí com um provèrbio
vinho novo em odres velhos. Tém relagáo incisivo, que alarga sua vigencia a muitos
com o anterior? Talvez enquanto o casa casos equivalentes. O provèrbio geral se
mento inaugura urna vida nova, e nao é aplica de modo especial a Jesús, o Homem
um emplastro para solteiro; é vinho novo pleno e autèntico.
que nao pode ser perdido.
A mensagem de Jesús nao é um remen 3,1-6 Nesta quinta cena, culmina a ten-
dó para consertar o paño gasto (SI 102,27; sáo e se consuma a ruptura. O tema è o
Jr 13,7; Jó 13,28); é um vinho que as ve- sábado, e a ocasiào è ofereeida na sinago
lhas instituyóos nao podem conter. Tam- ga por um doente que tem a máo, órgáo de
bém essa discussáo se encerra com um re- agáo, atrofiada (cf. SI 137,5). Acontece na
fráo. Jesús nao é um letrado a mais no grupo sinagoga, lugar de reuniáo para orar e ex
ou na série. Ele traz algo novo que tornará plicar a Escritura. Os rivais (Marcos náo
antiquado o precedente: “o antigo passou, diz quem) vigiam ou espiam Jesús com má
chegou o novo” (2Cor 5,17; Hb 8,13). intengáo: “as palavras do malvado sáo ar-
2,23-28 Aqui a questáo é a observáncia madilhas mortais” (Pr 12,9; cf. Jr 20,10;
do sábado, prescrita pelo decálogo (Ex SI 59,4), quer dizer, náo procuram discu
20,8). Ben Sirac o considera instituido da tir e resolver urna questáo debatida, mas
“sabedoria divina” (Eclo 33,8); era questáo desacreditar aquele que propóe uma dou-
capital na prática religiosa judaica. Arran trina e conduta diversas.
car espigas, a lei permite (Dt 23,26); debu- Jesús aprecia a intengáo e a converte em
Ihá-las no sábado, a jurisprudencia rabínica desafio, no qual ele toma a iniciativa, e
proíbe. A intervengo dos fariseus se apre- coloca a questáo na aresta aguda da deci-
senta náo como simples chamada de aten- sáo ética, o bem e o mal (Dt 30,15, “hoje
gáo, mas como acusagáo. Jesús responde, ponho diante de ti a vida e o bem, a morte
no estilo da halaká, com um exemplo bí e o mal”). Inclusive o mal por omissáo do
blico do rei mais ilustre, Davi, o qual mos- bem. A pergunta pode atingir também os
tra que em caso de necessidade suspende-se rivais, que proíbem o bem da cura e se
a obrigagáo da lei (ISm 21,1-6). Se é sagra permitem o mal da intengáo perversa e que,
do o sábado, tempo consagrado a Deus, náo acusando Jesús, sacrificam a saúde de um
o eram menos os páes oferecidos a Deus (Lv infeliz. A decisáo ética se concretiza na
24,5-9). Davi náo sente escrúpulos, e o sa ajuda ao próximo necessitado: exigencia
cerdote colabora com ele. Os objetantes se superior a instituyóos religiosas humanas
atreveriam a censurar a conduta do rei Davi? (mesmo que se digam divinas), e mais ain-
MARCOS 134 3,5
Eles calavam. 5Repassando sobre eles Uma multidáo, ao ouvir o que fazia, acor
um olhar de indignagáo, embora dolo ría a ele. 9Disse aos discípulos que ti-
rido por sua obstinagáo, diz ao homem: vessem de prontidáo urna barca, para
— Estende a máo. que a m ultidáo náo o apertasse. 10Pois,
Ele a estendeu e a máo ficou restabe- visto que curava a muitos, os que sofri-
lecida. 6Os fariseus saíram ¡m ediata am enfermidades lancavam-se sobre ele
mente e deliberaram com os herodianos para to c á -lo .11Os espíritos imundos, ao
como acabar com ele. vé-lo, langavam-se sobre ele, gritando:
Tu és o filho de Deus. 12Ele os repreen-
Curas junto ao lago —- 7Jesus se retirou dia severamente para que náo o desco-
com seus discípulos para junto do lago. brissem.
Seguia-o urna m ultidáo da G aliléia,
Judéia, 8Jerusalém , Iduméia, Transjor- Escolhe os Doze (M t 10,1-4; Le 6,12-
dánia e do territorio de Tiro e Sidónia. 16) — 13Subiu á montanha, foi chaman-
da, superior á sua interpretagáo rigorosa e conhecem a presenga do poder divino que
inumana. Os rivais pensam que se deve os vencerá, mas Jesús náo quer aceitar um
sacrificar o homem á instituidlo. Jesús se testemunho suspeito, que pode turvar a sua
indigna, porque póe a instituigáo ao servi missáo: “Também os demonios créem e tre-
do do homem. (Compare-se com o caso mem de medo” (Tg 2,19).
de consciencia de lM c 2,32-40.) 3.13-31 No restante do capítulo, antes
3.5 A linguagem exige nossa atengáo. do discurso das parábolas, soa outra terrí-
Jesús parece unir urna cólera divina (tema vel confrontagáo, colocada entre duas ce
freqüente no AT) com urna compaixáo nas dedicadas á nova comunidade. Da
humana. A máo “restabelecida” indica um massa do povo destacam-se os discípulos
inicio de atividade normal: “fortalecei as que o seguiráo.
máos iracas” (Is 35,2). 3.13-19 Aprimeira cena é a eleigáo dos
3.6 Areagáo dos rivais ao ensinamento de doze, que se articula significativamente
Jesús os leva á obstinagáo (Dt 29,18; Jr 3,17 em dois tempos. Chamado espontáneo e
par.). E déla passam á alianga com os parti- livre de Jesús, “os que ele quis” (cf. SI 115,
dários ou empregados de Heredes, á deci- 3; Jo 15,16); nomeagáo de um grupo res-
sáo de eliminar o perigoso Jesús, a planejar trito de doze (muitos manuscritos acres-
o modo de realizá-la. Marcos tem pressa no centam o título de apóstolos). Os doze
seu relato. No bloco dos cinco episodios com enquanto grupo sáo “feitura” de Jesús, se
sua culminagáo, domina a intengáo nar gundo a linguagem grega.
rativa, estilizada as expensas da cronología. Os doze representam globalmente as
3,7-12 Novo sumário que sintetiza e doze tribos do Israel tradicional (náo urna a
prefigura acontecimentos. Jesús é um cen urna, já que vários sáo galileus). Seráo como
tro de atragáo, diríamos irresistível. O en os patriarcas do novo povo. Por oficio e
tusiasmo da multidáo contrasta com a obs mentalidade sáo de origem diversa: honra
tinado dos fariseus. Vém da Galiléia, que dos pescadores e coletor suspeito, gente
é seu terreno de operagócs no momento; da pacífica e o extremista Simáo (zelota, cf.
Judéia com a capital: já náo é Jerusalém o lM c 2,26-27.50; 2Mc 4,2). Judas projeta
centro de atragáo (SI 84 e 122), mas Jesús. já uma sombra premonitoria, com o verbo
Também da Transjordánia a leste, incluin- “entregar” como palavra-chave no livro.
do o semipagáo Edom ao sul. E o territo Para eles e por ora, o importante é “con-
rio pagáo de Tiro e Sidónia a noroeste. Em viver” com Jesús; daí partirá a missáo, que
bora limitadas na sua extensáo real, as prolongará com autoridade delegada a ati
regióes representam em escala reduzida o vidade de Jesús. Um fato táo obvio como
que um dia será a igreja (cf. SI 87). estar com outra pessoa comega a ter uma
Marcos sugere essa visáo, sem sacrificar transcendencia incalculável, já que o “es
tragos descritivos realistas: o detalhe da tar com” é recíproco.
barca, a multidáo atraída pelos milagres, a 3,13 “A montanha” (com artigo) tem
urgencia de tocar o taumaturgo, a pressáo valor simbólico: subida e convergencia,
física da multidáo. Os poderes do mal re- lugar de encontro com Deus.
3,30 135 MARCOS
do os que quis, e foram cora ele. 14No- — Tem Belzebu dentro de si e ex
meou doze [a quem chamou apóstalos] pulsa os dem onios pelo chefe dos de
para que convivessem com ele e para monios.
enviá-los a pregar 15com poder para ex 23Ele os exortava com c o m p a ra re s :
pulsar demonios. — Como pode Satanás expulsar Sa
16[Nomeou, pois, os doze]. A Simáo tanás? 24Um reino dividido internamen
chamou Pedro; 17a Tiago de Zebedeu e te nao pode subsistir. 25Uma casa divi
a seu irmáo Joáo chamou Boanerges dida internamente nao pode manter-se.
(que significa Trovejantes), 18André e 26Se Satanás se levanta contra si e se
Filipe, Bartolom eu e M ateus, Tomé, divide, nao pode subsistir, mas perece.
Tiago de Alfeu, Tadeu, Simáo o zelota 27Ninguém pode entrar na casa de um
19e Judas Iscariotes, que o entregou. homem forte e levar seus bens, se pri
meiro nao o amarra. Depois poderá sa
Jesús e Belzebu (M t 12,22-32; Le 11, quear a casa. 28Eu vos asseguro que aos
14-23; 12,10) — 20Entrou em casa, e homens seráo perdoados todos os pe
se reuniu tal m ultidáo que nao podiam cados e blasfem ias que pronunciarem.
sequer comer. 29M as aquele que blasfem ar contra o
21Seus familiares, quando o souberam, Espirito Santo jam ais terá perdáo; é réu
saíram para dominá-lo, pois diziam que de um delito perdurável.
estava fora de si. 22Os letrados que ha- 30É porque diziam que tinha dentro
viam descido de Jerusalém diziam: de si um espirito impuro.
3,17 Ainda nao se esclareceu a etimolo 3,23-30 Acusagao gravissima que visa
gía do apelido; alguns o ¡nterpretam com a desacreditar pela base toda a atividade
Filhos do Trováo ou Trovejantes. de Jesús, declarando-o agente do rival (=
3,20-21 A resistencia se infiltra entre Sata) de Deus. (Pode-se recordar a con
seus familiares ou parentes próximos (cf. frontado inicial de Moisés com os magos
Zc 13,3), embora seja mais incompreensáo egipcios, Ex 7,11-12.) E urna a cu sa d 0
que hostilidade. Quem sao? Parece que nao absurda em simples lógica e se voltará
possam ser identificados com os do versí contra os que a pronunciam. Agora Jesús
culo 31, que acorrem com um recado pa se dirige ao povo presente, rebatendo aos
cífico. Sao provavelmente achegados que acusadores com dupla comparado. Rei
o conheceram num estilo de vida corren- no pode ser a povoagáo (Is 19,2), e casa, a
te, e nao conseguem integrar sua nova fi grande familia.
gura. Como se para eles fosse urna perso- Satanás tem seus agentes (o Apocalipse
nagem nova. Procuram dominá-lo, impedir explica isso), seus instrumentos, sua mo
sua atividade; julgam que delira ou que nao rada e servidores, certa liberdade de agáo;
sabe conter-se e eventualmente temem por insinua-se a oposigao ao reino de Deus e
ele (a interpretado é duvidosa). à casa ou familia de Deus. Jesús já de-
3,22 O fato de serem letrados e desce- frontou com ele (1,13) e o venceu. Nao é
rem de Jerusalém confere-lhes certo cará- que urna faegáo do reino de Satanás este
ter oficial ou ao menos oficioso; como os ja lutando contra outra; todos formam um
enviados do templo pata interrogar o Ba reino compacto. O ataque vem de fora, de
tista (Jo 1,19). Com sua brevidade, Mar um que é mais forte que ele, e o atará e sa
cos cria a impressáo de que os letrados tra- queará seu dominio (cf. Ab 5-6). Quan
zem já confeccionada a sentenga. Belzebu do ele for atado (15,1), também o domi
é um dos nomes tradicionais do Diabo (to nio da morte o será — podem pensar
mado do deus de Acarón, 2Rs 1). A quem os leitores de Marcos (cf. Le 10,Í8; Hb
liberta os possessos declaram o primeiro 2,14).
possesso, aliado subdoloso do chefe dos Atribuir a Satanás o que é agao de Deus
demonios. Zebul significa provavelmente é blasfemar contra o Espirito de Deus.
príncipe; aludiría ao forte da casa que será Ora, quem se obstina diante dos sinais
preciso amarrar. evidentes, fecha-se à agáo de Deus, tam-
MARCOS 136 3,31
A máe e os irmáos de Jesús (Mt 12,46- Parábola do sem eador (Mt 13,1-
50; Le 8,19-21) -— 31Sua máe e seus
irmáos foram, se detiveram fora e en-
4 23; Le 8,4-15) — ’Em outra ocasiâo
começou a ensinar junto ao lago. Reu-
viaram um recado cham ando-o. 32As niu-se junto a ele tal multidáo, que teve
pessoas estavam sentadas em tomo dele de subir numa barca que estava na água;
e lhe dizem: sentou-se, ao passo que a multidâo es
— Vé, tua máe e teus irm áos [e ir- tava na terra, junto ao lago. 2Ensinava-
más] estáo fora e te procuram. lhes muitas coisas com parábolas, e lhes
33Ele lhes respondeu: dizia instruindo-os:
-— Quem é minha máe e meus irmáos? 3Atençâo! Um semeador saiu para se-
34E olhando os que estavam sentados mear. 4Ao semear, algumas sementescai-
em círculo ao redor dele, diz: ram junto ao caminho; vieram os pás-
— Vede minha máe e meus irmáos. saros e as comeram; 5outras cairam em
35Pois, quem cumpre a vontade de meu terreno pedregoso, com pouca terra; fal-
Pai do céu, esse é meu irmáo, irmá e máe. tando-lhes profundidade, brotaram lo-
bém ao perdáo, pelo qual vencería Sata É significativa a preferêneia por imagens
nás. Quem recusa o perdáo, nao pode re- végétais, ou melhor, agrárias. Nelas se
cebé-lo. conjugam os fatores da sementé, do terre
3,31-35 Marcos descreve a cena com no e também do trabalho do homem. Elas
traços significativos. Jesús no meio, o povo fazem compreender a vitalidade, o dina
sentado ao redor, fora desse círculo os fa mismo condicionado do reinado de Deus
miliares. E preciso notar que nao se men e do seu anuncio. Se por um ladosugerem
ciona o pai; Jesús adulto deveria ser o chefe a vitalidade da mensagem, por outro indi-
da familia. Quer dizer, os seguidores rele- cam que a sua força nâo é a eficácia, mas
garam a segundo lugar a familia, separan a fecundidade, e que esta tem suas leis e
do Jesús dos seus. Quem tem mais direi- seus tempos. Nâo é de estranhar que pro
to? A familia quer romper o círculo, reclama fetas e sapienciais tenham recorrido com
seu parente famoso. Cabe a Jesús decidir freqiiência à imagem agrária (para citar
a questâo, e ele o faz com autoridade. Os alguns, Pr 11,18 e 22,8 o que semeia, 12,11
vínculos familiares sao coisa grande; por e 20,4 o trabalho de cultivar, 31,16 o ter
isso Jesús, que tem um Pai no céu (Le 2,41- reno etc.).
52), está criando uma nova familia, defi 4,1-2 De novo apreciamos o gosto de
nida pelo cumprimento da vontade de Marcos pelo traço descritivo como cená-
Deus: era normal na familia que todos aca- rio: a barca serve de púlpito; da praia o
tassem a autoridade do pai (e quem a cum- povo contempla Jesús como vindo das
priu melhor que Maria?). águas; por contraste, escutam uma lingua-
gem agrícola que poderia refletir condi-
4,1-34 As parábolas discorrem entre çôes e costumes galileus. As parábolas ou
comparaçâo e adivinhaçâo, e podem as- comparaçôes sâo meio de instruçâo (SI
sumir forma narrativa: velam e desvelam 49,5; 78,2; cf. Eclo 39,2-3).
segundo a capacidade e disposiçâo do ou- 4,3-9 A primeira é quase uma metalin-
vinte; por isso, a parábola se aparenta com guagem que explica o sentido e a funçâo
o “enigma” ou adivinhaçâo (SI 49,5; 78,2). da tal linguagem (como Is 55,10-11 ou Jr
Por isso, sao palavra ativa, que interpela e 23,24): é palavra acerca da palavra. Para
exige resposta, provocando a separaçâo os detalhes, aqui váo alguns paralelos: o
dos ouvintes em dois campos. O tema cen sol que abrasa (Eclo 43,3-4), os espinhei-
tral é o reinado de Deus, que chega e vai ros (Pr 24,31). Protagonista é a semente,
se afirmando. O fato transcendente se tor essa pequenez prodigiosa, que se deixa
na de algum modo inteligível pela media- tomar e espalhar e ¡mediatamente inicia
çâo de símbolos. sua atividade. E a primeira página do Gé
Marcos reúne num discurso très pará nesis observa e destaca a semente de er-
bolas agrárias, a explicaçâo de uma, a fun- vas e árvores, como agentes de fertilidade
çâo de todas e algumas sentenças. (Gn 1,11-12). O desenvolvimento se pa
4,21 137 MARCOS
go; 6mas, ao sair o sol, se abrasaram e, m inho onde se semeia a palavra; en-
como nao tinham raízes, secaram. 7Ou- quanto escutam, chega Satanás e leva
tras caíram entre espinheiros: os espi- a palavra semeada. lflOutros sao como
nheiros cresceram e as sufocaram, e nao o que foi semeado em terreno pedrego
deram fruto. 8O utras caíram na térra so: quando escutam a palavra, acolhem-
fértil e deram fruto, brotaram , cresce na com alegría; 17mas nao tém raízes,
ram e produziram urnas trinta, outras sao inconstantes. Acontece urna tribu
sessenta, outras cem. 9E acrescentou: í a l o ou perseguiqáo pela palavra, ¡me
Quem tiver ouvidos, escute. diatam ente sucum bem . ‘8O utros sao
í 10Quando ficou sozinho, os acompa- semeados entre espinheiros: escutam a
nhantes com os doze Ihe perguntaram palavra, 19mas as p re o c u p a re s m un
sobre as parábolas. n Ele lhes dizia: danas, a seducjáo das riquezas e o afá
— A vós é com unicado o segredo do por tudo o mais os penetram, os sufo-
reinado de Deus; aos de fora tudo é pro- cam e os deixam sem fruto. 20Os ou
posto em parábolas 12de modo que p o r tros sao o semeado em térra fértil: es
mais que olhem nao vejam, por mais que cutam a palavra, acolhem-na e dáo fruto
ougam nao entendam; nao acontega que de trinta ou sessenta ou cem.
se convertam e sejam perdoados*.
13E acrescentou-lhes: Outras parábolas e comparagóes (Le
— Se nao entendeis esta parábola, 8,16-18; Mt 13,31-35; Le 13,18s; Mt
como entendereis as restantes? 13,34s) — 21Dizia-lhes:
14Aquele que semeia, semeia a pala- — A cende-se urna lam parina para
vra. l5Uns sao os que estáo junto ao ca- colocá-la debaixo de urna vasilha ou
rece ao de alguns provérbios do tipo très tempo da Igreja, aponta para a rejeigáo e
+ um quarto: très fracassos e um éxito des para a ruptura consumadas.
tacado. Também os espinheiros sao vege 4.12 *Qu: a nao ser que se convertam...
táis, dotados de urna vitalidade ameaça- 4,13-20 A explicagáo alegorizante, por
dora; ao passo que os pássaros exploram correspondèncias membro a membro, é da
sua liberdade de vôo. Ou seja, a semente comunidade que medita e aplica a si o en-
jaz ameaçada. sinamento (compare-se com o símbolo
4,10-12 Intermèdio sobre a funçâo das conciso da semente que morre e germina,
parábolas, dedicado aos doze, porque a de Jo 12,24-25). Também a comunidade
eles caberá explicar as parábolas do Mes se reconhece na parábola e formula alguns
tre. Entender seu segredo é dom celeste, perigos e ameacas entre os quais lhe cabe
nao conquista humana. Os de fora sâo os viver e agir.
que nao entram ou nâo querem entrar no No primeiro caso a palavra fica na su
reino de Deus; ficam voluntariamente fora. perficie, nao penetrando no íntimo. No
O tema das parábolas é o reinado de Deus segundo caso penetra, mas nao se enraíza.
como mistério (Sb 2,22; 6,22): presente ou No terceiro caso penetra, enraíza-se, mas
iminente, mas oculto; e a parábola tem nao vence a concorréncia de outra ger
muito de enigma. Quem se fecha a esse m inado hostil. Dito ao contràrio, a pala
mistério olha sem ver, ouve sem escutar. vra precisa ser recebida, acolhida, assi-
Nele se cumpre o destino fatal anunciado milada, protegida. É um mistério “vital”.
a Isaías: “tém olhos cegados e nao véem, 4.13 Entender a primeira é condigáo para
a mente, e nao entendem” (6,9-10; 44,18- entender as seguintes: a primeira é progra
19). Acontece o endurecimento numa es- mática.
pécie de processo dialético, e o oráculo 4,21-25 A sentenza, refráo ou aforismo
antecipa o desenlace. Outros traduzem a é um gènero diferente, embora aparenta
última cláusula: “a nao ser que se conver do com a parábola (em hebraico tém o
tam”; tiram a força do paradoxo. mesmo nome). Costumam ser autónomas
No tempo de Jesus, a frase alude à re- e elásticas para amoldar-se a diversas si
sisténcia contumaz das autoridades; no tu a re s . Marcos reúne aqui quatro e, ao
MARCOS 138 4,22
debaixo da cama? Nao se póe no can- depois a espiga cheio de graos. 29E quan
deeiro? 22Náo há nada oculto que nao do o trigo está maduro, passa a foice,
se descubra, nada encoberto que nao pois chegou a ceifa.
se divulgue. 23Quem tiver ouvidos, es 30Dizia também:
cute. — Com que compararemos o reina
24Dizia-lhes também: do de Deus? Com que parábola o ex
— Cuidado com o que ouvis: a m e plicarem os? 31Com uma semente de
dida com que m edirdes usaráo convos- mostarda: quando é semeada na terra,
co e com acréscimos. 25A quem tem, é a menor das sementes; 32depois de
será dado; a quem nao tem lhe será ti semeada, cresce e se torna a maior de
rado o que tem. todas as hortaliças, e lança ramos tao
26Dizia-lhes: grandes que as aves podem se aninhar
— O reinado de Deus é com o um ho- em sua sombra.
mem que semeou um campo: 27de noi- 33Com muitas parábolas semelhantes
te se deita, de dia se levanta, e a semente lhes expunha a mensagem, adaptada à
germina e cresce sem que ele saiba co sua capacidade. 34Sem parábolas nao
mo. térra por si m esm a produz fru lhes expunha nada; mas em particular,
to: primeiro o caule, depois a espiga, explicava tudo a seus discípulos.
colocá-las nesse contexto particular, faz encerra na semente, onde Deus a inseriu
com que o iluminem e se iluminem recipro (Gn 1,11-12). Essa vitalidade se proces-
camente com ele. O leitor pode ensaiar sará segundo seu pròprio ritmo, porque
relagóes paralelas e oblíquas. P. ex., duas Deus continua agindo: “eu plantei, Apolo
sobre o divulgar e duas sobre o corres regou, mas era Deus quem fazia crescer”
ponder. (ICor 3,6-7; cf. SI 65,10-12)para além do
Aos discípulos foi explicado o segredo, trabalho humano: “Deus o concede a seus
nao para o guardarem consigo, mas para amigos enquanto dormem” (cf. SI 127,2).
difundi-lo, como uma luz (cf. Eclo 24,32- O reinado de Deus nao crescerà por puro
34). O ocultamento presente, de Jesús e esforço humano, nem se estende com a
seu segredo, nao é definitivo; tem uma violéncia; é preciso deixá-lo crescer; sua
fu n d o e se ordena á futura manifestado força é misteriosa. E um convite à espe-
(também a semente se esconde sob a tér rança (ao passo que Tg 5,7 convida à pa
ra). “E gloria de Deus ocultar um assun- ciencia). Passa a foice (cf. J14,13).
to” (Pr 25,1). 4,30-32 Se a parábola precedente se fi-
A resposta á mensagem é uma medida xava no ritmo do crescimento, a presente
que será desbordada pela fecundidade do sublinha a desproporçâo entre o tamanho
grao: “Ensina o sábio, e será mais sábio” de uma semente e a planta na qual se con
(Pr 9,9). Cabe outra interpretado: se en- verte. Começa com uma semente concre
sinais generosamente, aprendereis e com- ta, miúda; mas quando se pôe a descre
preendereis mais; “Aprendi sem malicia, ver a pianta, a paràbola se deixa levar
reparto sem inveja e nao guardo para mim pelas reminiscéncias de Ez 17,23; 31,6 e
suas riquezas” (Sb 7,13). O grao que nao Dn 4,12-21, para sugerir a largueza aco-
dá fruto apodrece, e o terreno perde até o lhedora de uma àrvore frondosa, do rei
que tinha. no de Deus.
Mas as sentengas podem desprender-se 4,33-34 Conclusào do discurso das pa
de qualquer contexto para suscitar novo rábolas. A “capacidade” nào é puramente
sentido. A última é um paradoxo que nao intelectual, já que inclui a disposiçâo do
se deve embotar com explicagóes razoá- ouvinte para aceitar o ensinamento; quem
veis (em termos sapienciais, sobre o pru tem prevençâo contra é “incapaz” de en
dente e o néscio, é feliz a descrido de Eclo tender. “Explicava tudo a seus discípulos”:
21,12-15). é uma antecipaçâo colocada aqui por Mar
4,26-29 Embora o homem ceda o terre cos para arredondar o discurso. Além dis
no e o trabalho de lavrar, a vitalidade se so, aponta ao tempo da Igreja.
5,1 139 MARCOS
2Ao desembarcar, um homem possuí- 8(Pois lhe dizia: Espirito imundo, sai
do por um espirito imundo saiu-lhe ao desse homem.) 9Perguntou-lhe:
encontro do meio dos sepulcros. 3Ha- — Como te chamas?
bitava nos sepulcros. Nem com cadeias Ele respondeu:
alguém podia dominá-lo; 4pois muitas — Chamo-me Legiáo, porque somos
vezes o dom inavam com correntes e muitos.
grilhóes, e ele fazia saltar as correntes 10E lhe suplicava cominsistencia que
e rompia os grilhóes, e ninguém podia nao o expulsasse da regiáo. n Havia ali,
com ele. 5Passava as noites e os dias na ladeira, urna grande manada de por-
nos sepulcros ou pelos montes, dando cos fugando. 12Suplicavam-lhe:
gritos e golpeando-se com pedras. 6Ao — Envia-nos aos porcos para que
ver Jesús de longe, pós-se a correr, pros- entremos neles.
trou-se diante dele 7e, dando um gran 13Ele o permitiu. Entáo os espirites
de grito, disse: imundos saíram e entraram nos porcos.
— Que tens comigo, filho do Deus A manada, de uns dois mil, lançou-se
Altíssimo? Eu te conjuro por Deus que ao lago por um precipicio, e se afogaram
nao me atormentes. na água. 14Os pastores fugiram, e o con-
O relato, que se pode 1er como texto rea 28,15; 65,4). Sai-lhe ao encontro, como
lista, mostra sua coerència significativa, se saído do reino da morte. Jesus aceita o
o enquadramos ñas crengas da época. Je encontro, nâo teme contaminar-se porque
sus se adentra em territorio pagáo, impuro vem libertar purificando.
(ISm 26,19; 2Rs 5,17), onde se apascen- 5,3-4 A força descomunal do energú
tam animais impuros (Dt 14,8; Lv 11,7); meno é um traço realista (essa é a etimolo
ai encontra um homem possuído de um gia de “energúmeno” = acionado de den
espirito imundo, que habita em sepulcros tro por um demonio). Sua força rompe as
(ou camaras mortuárias), lugares impuros correntes (cf. Is 45,14; SI 149,8); mas nao
que contaminam. Um texto de Isaías ilus pode com as outras que o prendem; será
tra a conexáo desses elementos: “habita- necessària a força maior de Jesús.
va nos sepulcros e pernottava ñas grutas, 5,5 Também é realista o ferir-se com
comía carne de porco, pondo nos seus pra- pedras. Mostra o caráter autodestrutivo e
tos caldo abominàvel’ (Is 65,4). O homem anti-humano da possessáo.
é libertado, e toda a impureza se afunda 5,7-12 O diálogo dramatiza a resistèn
no abismo do mar. Os vizinhos nao agra- z a até a concessào, para dar relevo à su-
decem a operagáo de limpeza do forastei- perioridade de Jesús. Os demonios nao
ro. O homem libertado nao é admitido querem nada com ele: chamam-no de fi
como discípulo, mas recebe um cargo cir lho do Deus Altíssimo, título divino opor
cunscrito aos seus, que ele executa alar tuno em boca pagà. E em nome de Deus,
gando o pròprio alcance. tentam conjurá-lo. Se o demonio conhece
As crengas da época pertencem também o nome e título de Jesús, Jesús pergunta
os ritos e textos de exorcismos, bem do pelo nome, como se o ignorasse. Ou para
cumentados. O possesso ou seu demonio que declare que nâo tem nome, mas nú
se volta contra o exorcista, pronuncia seu mero. Chama a atençâo no texto grego o
nome para dominá-ló, inclusive tenta con- uso do termo latino “legiáo”, tipicamente
jurá-lo. Sentindo-se impotente, pede urna romano e militar.
concessào: um alojamento alternativo (ani 5,13 Entrados na vara, mostram seu nú
mal ou terreno), nao ser expulso para o mero de legiáo e sua violencia destrutiva.
deserto (Is 13,21; 34,14; Br 4,35; Tb 8,3), Mas a concessào de Jesus é sua ruina: afun-
ficar no territòrio para exercer ai seu do dam-se no caos do mar.
minio. Esses tragos influem na forma do 5,15-18 O endemoninhado recobrou sua
relato de Marcos e a explicam. dignidade humana, individual e social.
5,2 Os sepulcros sugerem a vinculagáo Mas os vizinhos pagáos, embora libertos
da possessáo ao reino dos mortos (cf. Is de urna presença demoníaca, ainda nao
5,27 141 MARCOS
taram na cidade e nos campos; e foram Duas curas (Mt 9,18-26; Le 8,40-56)
ver o que tinha acontecido. Aproxima- — 21Jesus atravessou novam ente, de
ram-se de Jesús e viram o endemoni- barca, para a outra margem, e reuniu-
nhado que tivera dentro de si urna legiáo, se a ele grande multidáo. Estando ju n
sentado, vestido e em perfeito juízo; e to ao lago, 22chega um chefe de sina
se assustaram. 16Os que haviam presen goga, chamado Jairo, e ao vê-lo se lança
ciado explicavam -lhes o que acontece a seus pés. 23E lhe suplica insistente
rá ao endem oninhado e aos porcos. n E mente:
comegaram a suplicar-lhe que partisse — M inha filhinha está ñas últimas.
de seu territorio. 18Quando embarcava, Vem e pôe as máos sobre eia, para que
o endemoninhado suplicava que lhe per- se cure e conserve a vida.
mitisse acompanhá-lo. 19Náo o permi- 24Foi com ele. Seguia-o grande m ul
tiu, mas lhe disse: tidáo que o apertava.
— Vai para tua casa e aos teus, e con- 25Havia uma mulher que há doze anos
ta-lhes tudo o que o Senhor, por sua sofría de hemorragias; 26sofrera muito
misericordia, fez contigo. ñas m áos de m édicos, tinha gastado
20Ele foi e pós-se a apregoar pela tudo sem melhorar, pelo contràrio, só
Decápole o que o Senhor havia feito por piorando. 27O uvindo falar de Jesús,
ele, e todos se maravilhavam. m isturou-se com a multidáo, e por trás
tocou-lhe o manto. 28Pois pensava: Bas 36Jesus, ouvindoo que falavam, dis
ta tocar seu manto e ficarei curada. 29No se ao chcfe da sinagoga:
mesmo instante a hemorragia estancou, — Nao temas, basta que tenhas fé.
e sentiu no corpo que estava curada da 37Náopermitiu queninguém o acom-
doença. 30Jesus, consciente de que urna panhasse, exceto Pedio, Tiago e seu ir-
força tinha saído dele, voltou-se entre as máo Joáo. 38Chegam á casa do chefe
pessoas e perguntou: da sinagoga, vé o alvoroqo e os que cho-
— Quem tocou no meu manto? ravam e gritavam sem parar. 39Entra e
31Os discípulos lhe diziam: lhes diz:
— Vês que a multidáo te comprime — Para que esse alvoroqo e esses
e perguntas quem tocou em ti? 32Ele prantos? Amenina nao está morta, mas
olhava ao redor para descobrir aquela adormecida.
que o havia feito. 33A mulher, assusta- 40Riam-se dele. Mas ele, expulsando
da e tremendo, pois sabia o que lhe ha todos, pegou o pai, a máe e seus com-
via acontecido, aproximou-se, prostrou- panheiros, e entrón onde estava a me
se diante dele e lhe confessou toda a nina. 4IPegando a menina pela máo, diz-
verdade. 34Ele lhe disse: lhe: Talitha qum (que significa: Menina,
— Filha, tua fé te curou. Vai em paz eu te digo: Levanta-te!). 42No mesmo
e fica curada de tua doença. instante a menina se levantou e se pos
35Ainda estava falando, quando che- a caminhar. (Tinha doze anos.) Ficaram
garam os enviados do chefe da sinago fora de si pelo assombro. 43Recomen-
ga para dizer-lhe: dou-lhes encarecidamente que ninguém
— Tua filha morreu. Nao im portu o soubesse e ordenou que lhe dessem
nes o Mestre. de comer.
crenças populares, considera Jesús como zer: a doenqa pode-se curar, para a morte
carregado de um fluido terapéutico, des- nao há remédio. A resposta de Jesús serve
carregado e transm itido por contato, de contraste. Há remédio, sim: a fé.
mesmo que seja mediato (cf. At 19,12). 5,37 Enquanto isso, o tradicional pran-
O narrador se coloca na mente do perso- to fúnebre comegou (Jr 9,16-17). Jesús se
nagem. rodeia de poucas testemunhas: os pais da
5,30-34 Agora se sucedem as duas rea- moga e tres discípulos. Pronuncia urna fra
çôes: de Jesús, ressaltada pela observaçâo se carregada de sentido. É conhecida a re-
dos discípulos, e da mulher. Devem ser li- lagáo sono-morte em muitas culturas, tam-
das como correlativas, em funçâo do que bém no AT: osono eterno (Jr 51,39.57), o
revelam. Jesús pergunta como surpreso: sono da morte (SI 13,4), sem despertar (Jó
quem foi? onde está? como se lhe houves- 14,12). Jesús joga com a ambigüidade
sem roubado algo ás ocultas. Constata e (como no caso de Lázaro, Jo 11,11-12).
confirma que urna força prodigiosa bro- Os presentes nao captam a alusáo; riem-
tou dele; mas acrescenta que foi a fé da se porque nao conhecem um poder supe
mulher que a extraiu. E a chama cari- rior á morte, nao conhecem o poder de
nhosamente de filha. Ela se assusta com o Jesús. A comunidade crista que lé capta
atrevimento (que fez!). Violou as leis de seu sentido mais profundo: Jesús é a vida,
pureza, misturando-se com as pessoas e vencedor da morte. Na versáo grega de
tocando Jesús; na presença de um chefe Paulo: “Onde está, ó morte, tua vitória?”
de sinagoga que deve zelar pela pureza ri (ICor 15,55).
tual. Prostrada e humilde, confessa. Sua 5,41 Devolve-lhe a vida pelo contato:
crença no fundo era fé: pode ir em paz. A “tomas minha máo direita” (cf. SI 63,9;
fórmula usual de despedida carrega-se de 73,23) e por uma ordem soberana. A tra-
novo sentido. digáo conservou a lembranga da frase em
5,35-36 Entretanto, a moça morreu e tra- aramaico (o tradutor grego se excedeu um
zem a noticia a Jairo. Nao há nada que fa- pouco ao explicar o vocativo).
6,7 14 3 MARCOS
noite aproxim a-se deles cam inhando térra em Genesaré e atracaram. 54Quan-
sobre a água, tentando ultrapassá-los. do desem barcaram , o reconheceram .
49Ao vé-lo cam inhar sobre o lago, cre- 55Percorrendo toda a regiáo, foram le
ram que fosse um fantasm a, e deram vando a ele em m acas todos os doen-
um grito. 50Pois todos o viram e se es- tes, onde ouviam que se encontrasse.
pantaram. Ele, porém , imediatamente 56Em qualquer aldeia ou cidade aonde
lhes falou e disse: ia, colocavam os enferm os na praqa e
— Ánimo! Sou eu, nao temáis. lhe rogavam que os deixasse tocar ao
51Subiu á barca com eles, e o vento menos a orla do manto. E os que o to-
cessou. Eles nao cabiam em si de es cavam ficavam curados.
panto; 52pois nao haviam entendido na
da a respeito dos páes, pois tinham a A tradigáo (M t 15,1-20) — 'Reu
mente obcecada. 7 niram-se junto a ele os fariseus e
alguns letrados vindos de Jerusalém.
Curas em G enesaré (M t 14,34-36) — 2Viram que alguns de seus discípulos
53Term inada a travessia, alcanqaram tomavam alim entos com máos impu-
vosso Deus, sou santo” (Lv 20,7; 19,1). todo. Ex 40,12 refere-se ao banho ritual
Essa consagrado funda a identidade do dos sacerdotes: 40,31-32 incluí Moisés e
povo. Com o louvável propósito de for
prescreve ablugóes de pés e máos antes de
mar um povo observante da lei e santo ou aceder á tenda do encontro ou ao altar. Lv
consagrado ao Senhor (como os sacer 15 enumera coisas que contaminam e pres
dotes dedicados ao culto), os dirigentes creve banhos de purifica«;áo. Nm 19 legisla
fariseus tinham acumulado prescrigóes sobre aguas lustráis e purificares. Nao se
vinculantes. As conseqüéncias pernicio trata de higiene sem mais, e sím de pureza
sas das observancias acumuladas eram vá- ritual.
rias: impunham ao povo urna carga in-
7,5 Nao apelam a Moisés e á torá, mas á
suportável na vida cotidiana, apelando “tradiqáo dos anciáos”.
ilegítimamente para a vontade de Deus;
7,6-8 Aprimeira réplica brande a profe
em alguns casos a interpretado anulava
cía contra a suposta prescribió. O texto de
o sentido da lei; favorecía urna religiáo Isaías (29,13) denuncia duas coisas: o de
ritualista e externa; favorecía o orgulho sacordó entre o interior e o exterior, cora-
dos observantes que desprezavam os de- gao e labios; o preferir os preceitos huma
mais (Jo 7,49).
nos aos divinos. O primeiro ponto define
O movimento farisaico era urna reali- a hipocrisia objetiva (nem sempre cons
dade perigosa para os cristáos no tempo ciente e pretendida; hypokrites é o ator tea
de Marcos. Mas os aquí descritos conti- tral). 0 segundo ponto é o decisivo na con-
nuam sendo um tipo que pode afetar qual- trovérsía.
quer pessoa sinceramente religiosa. Nao
7,9-13 Asegunda réplica é ad hominem.
seria justo condená-los e imitá-los: “ao jul- O exemplo escolhido serve bem para os
gar o outro, te condenas, porque tu, que
que vieram de Jerusalém. Refere-se aos
julgas, cometes as mesmas coisas” (Rm
preceitos de Ex 20,12 e 21,17, nos quais a
2, 1).
antítese kbd/qll abarca o campo da honra
Entre as muitas observancias, algumas (preferido por Eclo 3,1-16 e na nossa for
se referem a lavatorios e ablugóes; sao
m ulado corrente, “honrar pai e máe”) e o
cotidianas e dáo na vista, e os doutores lhes
campo económico, preferido aqui. Em
atribuíam grande importancia (cf. Jt 12,8- nome do culto, abandonam e náo susten-
9). Baseiam-se em leis cúlticas, sacerdo- tam os pai$ necessitados. Deus náo preci
tais (Ex 40; Lv 15; Nm 19), que os fariseus sa desses dons, os país sím. Veja-se tam
levam ao extremo e tentam impor ao povo bém Pr 20,20.
7,30 149 MARCOS
padecer muito, ser reprovado pelos se ro às custas da pròpria vida? 37Que pre
nadores, sum os sacerdotes e letrados, go pagará o homem por sua vida? 38Se
sofrer a m orte e depois de tres dias res- alguém se envergonhar de mim e de
suscitar. 32Falava-lhes com franqueza. m inhas palavras, diante desta geragáo
Pedro o levou á parte e se pos a intimá- adúltera e pecadora, o Filho do Homem
lo. 33M as ele se voltou e, vendo os dis se envergonhará dele quando vier com
cípulos, diz a Pedro: a gloria de seu Pai e acompanhado de
— Retira-te, Satanás! Pensas de mo seus santos anjos.
do humano, nao segundo Deus.
34E cham ando a multidáo com os dis 'E lhes acrescentou:
cípulos, disse-lhes: — Eu vos asseguro que estáo aqui
— Quem quiser seguir-me, negue a presentes alguns que nao sofreráo a
si mesmo, carregue sua cruz e me siga. m orte antes de ver chegar o reinado de
35Quem se empenha em salvar a vida Deus com poder.
a perderá; quem perder a vida por mim
e pela boa noticia a salvará. 36Que apro- A transfiguradlo (Mt 17,1-13; Le 9,
veita ao hom em ganhar o mundo intei- 28-36) — 2Seis dias depois, Jesús to-
26Dando um grito e sacudindo-o, saiu. faz cair, corta-o. É melhor entrar coxo na
32Eles, embora nao entendessem o — Mestre, vim os alguém que expul- vida, do que com os dois pés ser langado
O menino ficou como um cadáver, de assunto, nao se atreviam a fazer-lhe sava demonios em teu nome, e o im pe
modo que muitos diziam que estava mor- díamos, pois nao anda conosco. no forno. 47Se teu olho te faz cair, arranca-
perguntas.
to. 27Porém Jesús, tomando-o pela máo, 39Jesus respondeu: o. E melhor para ti entrar zarolho no reino
levantou-o, e o menino se pos de pé. de Deus, do que com os dois olhos ser lan
Instrugào comunitària(M t 18,1-9; Le — Nao o impegais. Alguém que faga gado no forno, ^onde o verme nào morre
28Quando Jesús entrou em casa, os dis 9,46-50; 17,ls)—33Chegaram a Cafar- ummilagre em meu nome nao pode em se e o fogo nao se apaga. 49Todos seráo tem
cípulos lhe perguntavam em particular: naum e, já em casa, lhes perguntava: guida falar mal de mim. 40Quem nao está
— Por que nós nao conseguim os ex- perados no fogo. 50O sai é bom; mas se o
— Sobre o que discutíeis no caminho? contra nós, está a nosso favor. 41Quem sai se toma insosso, com que o tempera-
pulsá-lo?
34Ficaram calados, pois no caminho vos der de beber um copo de água por rào? Tende sai e vivei em paz com outros.
29Respondeu:
iam discutindo sobre quem era o maior. serdes cristáos, eu vos asseguro que nao
— Essa espécie só sai à força de 35Ele sentou, chamou os doze e lhes perderá sua recompensa. 42Se alguém es
oraçâo. candalizar um desses pequeños que cré- Sobre o divorcio (M t 19,1-12)
disse: — *Dai se dirigiu ao territòrio
— Se alguém deseja ser o primeiro, cm, seria melhor que lhe pusessem uma da Judéia, do outro lado do Jordáo. No-
Prediz de novo a morte e ressurrei- seja o último e servidor de todos. pedra de moinho ao pescogo e o atiras-
çâo (M t 17,22-23; Le 9,43-45)— 30Dai vam ente o povo acorreu a eie e, segun
3ílDepois chamou urna crianga, colo- sem ao mar. 43Se tua máo te faz cair, cor do seu costume, os ensinava. 2Aproxi-
foram percorrendo a Galiléia, e ele nâo cou-a no meio deles, acariciou-a e lhes ta-a. E melhor entrar na vida com uma só m aram-se alguns fariseus e, para pò-lo
quería que ninguém o soubesse. 31Aos disse: máo, do que com as duas ir parar no for-
discípulos explicava: à prova, lhe perguntaram:
— 37Quem acolher urna destas crian- no, no fogo inextinguível*. Se teu pé te
— Este Homem vai ser entregue em gas em atengáo a mim, a mim acolhe.
m âos de homens, que o matarào; de- Quem acolhe a mim, nao é a mim que sacrificios humanos (Jr 7,32; 19,6). Acres-
pois de morrer, ao final de très dias, fissionais (At 19,13-14) que, ao verem o
acolhe, mas sim àquele que me enviou. éxito de Jesus, póem o nome dele nos centa uma citagào de Is 66,24, que nao
ressuscitarâ. 38Joáo lhe disse: muda de sentido ao ser citada. Fala de ca
conjuros. O provèrbio final prega a tole
rancia: o nome de Jesús nao é monopolio dáveres langados a uma fossa, onde apo-
da comunidade (ICor 12,3). Deve ser lido drecem comidos por vermes, ou sao in
tos com que ressuscitou a filha de Jairo ocasiáo. Naturalmente, urna moldura in com seu complementar de Mt 12,30, ob cinerados até consumir-se. O verme nao
(5,41-42). morre, o fogo nao se apaga antes de con
tencionada: os discípulos continuam sem servando a diferenga “conosco/comigo”.
E preciso refletir sobre a reagáo dos di compreender a mensagem de Jesus e o Um bom antecedente encontra-se nos dois cluir sua tarefa aniquiladora.
versos personagens. O poder soberano de 9,49-50 Enlace verbal, “o fogo”. O pro
seguem com a bagagem de seus critérios que recebem espirito fora da cerimònia,
Jesus, “eu te ordeno” (em nome pròprio), vèrbio é enigmático: alude a gráticas
humanos. A instruçào é dirigida à comu- na reagáo ciumenta de Josué e a resposta
a fé trabalhosa do pai, o estupor e a in- cúlticas? (Lv 2,13-16; Ez 43,24). É o fogo
nidade crista, também em suas relaçôes magnànima de Moisés (Nm 11,26-29). Ver
compreensào do povo, a frustralo dos dis para fora (41). também a atitude generosa de Paulo con a prova que conserva (como na salmoura)
cípulos. Um milagre de Jesus é urna pedra aquele que resiste? Quem supera a prova
9.34 Se nao se atrevem a responder é forme F1 1,15-18. do fogo nao será arremessado ao forno.
que move as águas e provoca um movi porque se envergonham diante de Jesus por 9,41 Enlace verbal, “em nome de, em
mento. atengáo a”. Enlace temático, a motivagáo. Enlace verbal, “o sal”. Explica-se bem
causa da conversa. A confissào de Pedro
9,29 Entende-se, a oragào com fé e por (9,29) e o tratamento especial com os très “Cristáos” = de Cristo (2Cor 3,23); é lógi à luz de Mt 5,13, sobre os discípulos como
mais fé. (Alguns manuscritos acrescentam co concluir que os que fazem tal favor nao sal da terra. O sal se empregava em alian-
(8,2) valeriam como ocasiáo.
“e jejum”, corno pràtica que acompanha a sao cristáos. A expressào é hiperbólica, gas; partilhar o sal era sinal de amizade.
9.35 Provèrbio de formulaçâo parado
oragào.)
9,31-32 O grego emprega o perfeito,
xal: o último será preferido (cf. Mt 20,8;
Le 13,30). Seria contradizé-lo submeter-
mesmo levando em conta o valor da água
nessa regiáo.
.
10 1-11,45 Antes da entrada em Jeru-
“ficou entregue”, como se fosse um fato 9,43 *Os vv. 44 e 46 sao repetigáo do 48. salém, Marcos propóe quatro instrugóes
se ao último lugar com a finalidade de al- básicas destinadas as comunidades cristas
aceito por Jesus, incompreensivel para os cangar o primeiro. A adigáo do servigo é 9,42-48 Escándalo é algo gue faz trope
discípulos (cf. Dt 29,3). que vivem no meio do mundo. As ques-
um principio capital para a comunidade zar e cair. O assunto é a fé. E agravante o
9,33-50 Marcos reúne numa instrugào crista. fato de as vítimas serem “os pequeños que tóes tratadas sao: o matrimonio, as crian-
urna sèrie de sentengas de Jesus, conser crèem”. Isso explica a gravidade da pena. gas, a cobiga e a ambigáo. Nos quatro ca
9,36-37 O menino serve como exemplo sos Jesús se póe do lado dos fracos. Sao
vadas e transmitidas pela tradigào e uni de último, a quem Jesús dedica a sua pre Mas o tropego pode proceder da pròpria
das por conexóes temáticas ou verbais: pessoa: de órgáos em si bons que se des quatro ensinamentos encenados, ou me
ferencia (compare-se com Mt 25,35). Ade lhor, cenas que dáo ocasiáo a ensinamen
“em atengào a/em meu nome” (37.38. máis, o menino pode representar Jesús, mandan! pelo objeto ou pela inclinagáo do
39.41) e “escandalizar/fazer cair” (42.43. homem. O olho que olha cobigando, a máo tos transcendentes. As quatro cenas tém
como Jesús representa o Pai. A título de um desenvolvimento dramático.
45.47). Predomina o tema da humildade, ilustragâo, veja-se a imagem de Is 66,12- que pega o proibido (Gn 3,6), o pé que
ou seja, a dignidade e a grandeza do pe 13: “Sereis levados nos braços e sobre os anda no mau caminho. O extremo do cas
queño. O narrador coloca no discurso tigo e das mutilagóes preventivas serve 10.1-12 Alei de Moisés (Dt 24,1-3) ten
joelhos sereis acariciados”. tava proteger os direitos da mulher, mes
urna moldura: o cenário, na casa de Cafar- 9,38-40 A intervengáo de Joáo é recur para inculcar a gravidade de perder a fé
naum, a casa é como urna escola de após ou de induzir outra pessoa a fazer o mes- mo concedendo vantagem ao homem. A
so narrativo, que se enlaça com a cena pre teoria fisiológica da época favorecía a
telos; e a pergunta aos discípulos como cedente. Podia tratar-se de exorcistas pro- mo, O forno è a Geena onde se ofereciam
MARCOS 15 8 10,1
— Pode um hom em rep u d iar sua 10Entrando em casa, perguntaram-lhe
mulher? de novo os discípulos sobre o assunto.
3Respondeu-lhes: nEle lhes diz:
— Que vos m andou Moisés? — Quem repudia sua mulher e casa
4Responderam: com outra, comete adultèrio contra a
— M oisés permitiu escrever a ata de primeira. 12Se eia se divorcia do mari
divorcio e repudiá-la. do e casa com outro, comete adultèrio.
5Jesus lhes disse:
— Porque sois obstinados, Moisés Abengoaalgumas crianzas (Mt 19,13-
escreveu semelhante preceito. 6Mas no 15; Le 18,15-17) — 13Traziam-lhe crian
principio da criagào D eus os fe z homem zas para que as tocasse, e os discípulos
e mulher, 1e p o r isso um homem aban as repreendiam. 14A o ver isso, Jesus
dona seu pai e sua máe, une-se à sua indignou-se e disse:
mulher, 8e os dois se tornam urna car — Deixai que as crianzas se aproxi
ne. D e m odo que já nao sao dois, mas men! de mim; nao as im peláis, porque
urna só carne. 9Portanto, o que Deus o reino de Deus pertence aos que sao
juntou, o homem nao separe. como elas. 15Eu vos asseguro que quem
parcialidade em favor do homem: desco- 10.9 A raíz grega significa unir sob um
nhecia a fungáo do óvulo e imaginava o jugo, “con-jugar”. A citagào de Gn 1,27;
sémen como portador de novo ser. A leí 2,24 diz “apegar-se, aderir-se”, como ten
do divorcio era urna concessao em regime dencia da natureza. O provèrbio opòe en
de mesquinhez, que muitas vezes se inter faticamente Deus ao homem, talvez alu-
pretava com perigosa leviandade ao defi dindo ao Deus de Gn 1 e ao Moisés de Dt
nir essa “coisa vergonhosa” de que fala a 24; só que Moisés se apresenta corno por-
lei. Os fariseus querem “por à prova” Je ta-voz de Deus.
sus num assunto tào central como o matri 10.10 A explicagào é para os discípulos
monio (e que pode alarmar os maridos, cf. em particular. Consiste em tirar a conse-
Est 1,16-18). Apresentam a questáo par- qiiència do que foi dito. A última cláusula
tindo da lei de Moisés, supondo que Je supóe uma legislagào mais igualitària.
sus, mais do que propor uma interpreta- 10,13-16 Ao contexto geral do matrimò
gao alternativa, invalide a lei. Marcos nio pertencem também as criangas. Eram
imagina uma discussào pública, na presen desejadas e estimadas como prolongamen-
ta da multidào, visto que o matrimònio to de uma vida limitada; eram bem trata
interessa a todos. das. Todavia, até a maturidade responsà-
Jesus aceita o desafio no terreno da to vel nào gozavam de piena consideragào.
rà, refazendo-se ao Deuteronòmio e ao Nào sendo capazes de acumular méritos
Génesis. Contrapóe à lei de Moisés o pro- com as observancias, nào podiam aspirar
jeto originai de Deus (Gn 1,27; 2,24; 5,2), ao reino futuro. Exatamente essa capaci-
que busca a igualdade dos cónjuges, a en dade de merecer as mantém capazes de
trega total e duradoura que unifica. Na receber gratuitamente, que é a condigào
versào do evangelho mais antigo, nào hà para entrar no reino que Jesus anuncia.
excegào. Marcos transforma uma ou várias senten-
Em alguns manuscritos nào aparecem gas de Jesus sobre as criangas numa cena
os fariseus, como se a pergunta fosse feita que conjuga gestos com ensinamento. A
pelo povo: mas o “tentá-lo” é tàtica fa atitude dos discípulos serve de contraste.
risaica. A pergunta de Jesus diz “mandou”, Poderia representar uma tendencia na co-
a resposta diz “permitiu”: para os fariseus munidade; alguns suspeitam de uma refe-
é o bastante. Obstinagào: Jr 18,12 par.; SI rència ao batismo de criangas. As criangas
81,13. sào merecedoras de respeito e carinho; tèm
10,6 A expressao “no principio” pode livre acesso a Jesus, e ninguém deve im-
também ser lida como título do livro, “no pedi-las. Sào, além disso, exemplo de co
Génesis”. mo acolher o reino de Deus. Por qual
1(1,23 159 MARCOS
mio receber o reino de Deus com o urna perjurarás, nao defraudarás, honra teu
■nanga nao entrará nele. p a i e tua müe.
16Acariciava-as e as abengoava, pon 2üEle lhe respondeu:
ilo as máos sobre elas. — Mestre, tudo isso eu cumpri des
de a adolescencia.
Ohom em rico(M t 19,16-30; Le 18,18- 21Jesus o olhou com carinho e lhe
10) — 17Quando se pos a caminho, che- disse:
nou alguém correndo, ajoelhou-se di- —■Urna coisa te falta: vai, vende tudo
ulte dele e lhe perguntou: o que tens e dá-o aos pobres, e terás um
-— Bom Mestre, o que devo fazer para tesouro no céu. Depois, vem comigo.
lierdar a vida eterna? 22A essas palavras, o outro franziu a
18Jesus lhe respondeu: testa e partiu triste, pois era muito rico.
— Por que me cham as bom? Nin- 23Jesus olhou ao redor e disse a seus dis
guém é bom, a nao ser Deus. lwConhe- cípulos:
ces os mandamentos: N ao matarás, nao — Como é difícil para os ricos entrar
cometerás adulterio, nao roubarás, nao no reino de Deus!
i|ualidade? Talvez pela simplicidade sem tado nos deveres para com o próximo (Ex
|>reconceitos; ou pelo abandono confiante 20,12-16; Dt 5,16-20). Pois bem, cumprir
(SI 131), contraposto à auto-suficiência; tudo isso é a plataforma para seguir mais
ou sobretudo pelo espirito filial que se re adiante, mudando mentalidade. Falta o
vela sobretudo na criança (tratando-se de mais importante, que é renunciar á rique
um adulto, nao reparamos na filiaçâo). As za, embora legítima: “e se prospera vossa
caricias e a bênçâo de Jesús sao já um fortuna, nao lhe entregueis o coragáo” (SI
iieolhé-los no reino. 62,11; 112,9) para seguir Jesús. Se nao é
10.17-31 Seguem-se très ensinamentos capaz de renunciar á riqueza, ama a Deus
sobre o possuir: a vocaçâo de um rico (17- de todo coragáo? Ou tem o coragáo divi
22), o impedimento da riqueza (23-27), o dido? Terá cumprido todos os mandamen
galardáo da pobreza (28-31). O tema da tos exceto o primeiro, de amar a Deus. A
“vida eterna” abre e fecha a perícope (17 companhia ou seguimento de Jesús justi
C 30). O tema do “reino de Deus” centrali fica a exigencia; mas nao se propóe como
za-a (23.24.25). condigáo para “herdar a vida eterna”, em
10.17-22 Com poucos vv. o narrador bora receba em troca um tesouro celeste
compóe urna cena intensa e convincente. (ou de Deus). A esmola, táo estimada na
Vemos o homem entusiasta e decidido, que espiritualidade bíblica, nao é a renuncia
vem correndo (quer chegar por primeiro?), total que Jesús lhe pede.
saúda com título elogioso, propóe sem 10,18 Bom é título corrente de Deus e
mais a sua pergunta, afirma satisfeito sua bondade é seu atributo (SI 25,8; 34,9; 54,8
grande prestaçâo — começou o quanto etc.). Jesús nao procura sua honra pessoal,
antes — (cf. Pr 22,6). E vemos Jesús cor- mas a de Deus.
rigindo e temperando o título, remetendo 10,22 O homem nao deu o passo para
o demandante ao já sabido; só depois lhe seguir adiante, ao invés, “partiu triste”: por
mostra seu carinho. Nesse ponto inverte- causa do custo da exigencia, por sentir-se
se dramáticamente o movimento. Vejamos sem animo para a renúncia. Nada se diz
como. do destino final desse homem, que fica
O homem propóe sua consulta em ter com seus mandamentos e suas riquezas. E
mos tradicionais: o que é preciso fazer para um caso típico que admitirá diversas apli-
conseguir, visando o mais alto (cf. Dt 4,1; cagóes, e que no momento dá ocasiáo á
S,33; 8,1; 30,19). No Deuteronómio Deus reflexáo de Jesús.
l>romete vida ao povo na terra prometida; 10,23-25 E comum no AT a denúncia
o jovem refere-se à vida perdurável na era contra os que confiam, ou seja, apóiam sua
definitiva. Todavía conserva a mesma es- existencia na riqueza (p. ex. SI 49,7-8;
liiritualidade de obras. A essa colocaçâo 62,11: “se vossa riqueza prospera, nao
icsponde suficientemente o decálogo, ci- ponhais nela o vosso coragáo”; Jr 17,10;
marcas 160 10,24
— Mestre, querem os que nos conce minha esquerda náo cabe a mim conce-
das o que te pedirmos. dè-lo, mas é para quem está reservado.
36Perguntou-lhes: 41Quando os outros ouviram isso, in-
— O que quereis que vos faga? dignaram -se com Tiago e Joño. 42Mas
37Responderam: Jesús os chamou e lhes disse:
— Concede-nos sentar-nos em tua — Sabéis que, entre os pagaos, os que
gloria, um á tua direita e outro a tua sao tidos como chefes submetem os sú-
esquerda. ditos, e os poderosos impóem sua au-
3xJesus replicou: toridade. 43N§o será assim entre vós; ao
-— Nao sabéis o que pedis. Sois ca- contràrio, quem quiser entre vós ser
pazes de beber a taga que eu vou beber, grande, que se faga vosso servidor, 44e
ou batizar-vos com o batismo que vou quem quiser ser o primeiro, que se faga
receber? vosso escravo. 45Pois este Homem náo
39Responderam: veio para ser servido, mas para servir e
— Podemos. dar sua vida como resgate por todos.
Porém Jesús lhes disse:
— Bebereis a taga que vou beber e O cegó de Jericó (Mt 20,29-34; Le 18,
recebereis o batism o que vou receber; 35-43) — 46Chegam a Jericó. E quan
40mas sentar-vos a minha direita e á do saia de Jericó com seus discípulos e
to supóc nos irmaos urna concepgáo polí (como diz Ecl 9,6-7); mas pelo preceito e
tica do messianismo: um dia Jesús triun pelo exemplo de Jesús (visto como o ser
fará e ocupará o trono de “gloria”. Eles, a vo de Is 53,10),
quern o Messias tratou como favoritos Na mengáo do cálice e da imersáo, o
(1,19-20; 5,37), querem assegurar para si cristáo pode 1er ñas entrelinhas urna alu-
nessa hora os dois primeiros postos de sáo ao batismo e á eucaristía como parti-
mando e de honra. Outros comentaristas o cipagáo na paixáo de Cristo (Rm 6,3-4;
interpretam em relagao aos dois melhores ICor 11,26).
lugares no banquete celeste. Do banquete 10.45 O máximo servigo de Jesús será
passa-se á taga, que náo é a do banquete. dar a vida como resgate. O AT menciona
Para isso estáo dispostos a enfrentar as lu- diversos tipos de resgate: Judá escravo pela
tas e sofrimentos com seu chefe. Fazem o liberdade de Benjamim (Gn 43), um es
pedido em dois tempos, para conquistar a cravo por dinheiro (Lv 25,47-48), os levi
benevolencia. Assim os apresenta Marcos. tas pelos primogénitos, um animal por um
Náo entenderam o elementar. O destino homem etc. Jesús chega ao extremo, ofe-
do Messias é esgotar o cálice da ira (Jr recendo sua vida (Rm 3,24; ICor 1,30).
25,15-29; Is 51,17); é submergir-se na tor 10.46 Para “subir” (10,32) a Jerusalém
rente da paixáo (SI 42,8; 69,2.16; 124,4). partindo da Transjordánia, Jesús tem de
Um dia, quando o tiverem compreendido, atravessar o Jordáo e passar pela cidade
os dois irmaos compartilharáo sua sorte, até das palmeiras, Jericó, refazendo de certo
o martirio (de Tiago, At 12,1-2). Isso náo modo o itinerário dos israelitas (Js 3-6).
garante os primeiros lugares no reino trans O episodio de Jericó, pelo grito do cegó,
cendente. Somente Deus reserva os lugares prepara ¡mediatamente a entrada em Jeru
e os reserva como quer. Mais ainda, ambi salém e se integra assim num bloco de
cionar os primeiros lugares excluí deles. quatro atos significativos de Jesús: cura do
Porque a comunidade do Messias rege- cegó (10,46-52), acolhida triunfal (11,1-
se por principios opostos aos do mundo. 11), maldigáo da figueira (1,12-14), puri-
Nela, a ambigáo será substituida pelo es ficagáo do templo (11,15-19). A esses atos
pirito de servigo. Náo é que o servigo seja seguiráo as controvérsias com as autori
meio para conseguir o primeiro lugar, mas dades e uma instrugáo para os discípulos
que no servigo reside a dignidade. Náo em sobre o futuro e o final.
virtude de um oráculo individual (como O primeiro bloco compóe-se de duas
em Gn 25,23), nem por desordem social vertentes. A primeira, positiva, mostra Je-
MARCOS 162 10,47
sus poderoso em milagres e aclamado. A 3,8). O povo o repreende porque grita, pelo
segunda, negativa, mostra-o rejeitando o que grita. Jesús aceita a confissáo, além
uso que fazem do tempio e repelindo o de confirmá-la como brotada da fé.
povo numa agio simbòlica. Narrativamen
te as pegas estào ligadas por indicagòes 11, 1-11 Pela Páscoa confluem a Jeru
topográficas: Jericó, Jerusalém, Betània, salém rios de peregrinos: “para lá sobem
o tempio. as tribos, as tribos do Senhor” (SI 122,4).
10,46-52 A cura do cegó pouco se pare Jesús náo é um a mais, perdido no caudal
ce com a anterior (8,22-26). Através do anónimo. Vem a Jerusalém cumprir seu
realismo narrativo da cena impóe-se o pa- destino. Vaí “ser entregue”; mas antes pla-
radoxo da situagáo. O cegó, condenado por neja com previsáo milagrosa e executa
sua doenga e reprimido pelo povo, perce com precisáo soberana: “se o Senhor dos
be o que os outros nao vèem. Ouve men Exércitos decide, quem o impedirá?” (Is
cionar Jesus de Nazaré, invoca o “filho de 47,27). A sua entrada é para os contempo
Davi”. A sua fé, embora imperfeita, é um ráneos um ato significativo: aclamam o
órgào mais penetrante: “nào tendo olhos herói popular com imprecisos sonhos mes-
vè”. Por eia receberà de Jesus o dom da siánicos, pronunciando versos litúrgicos.
visáo recobrada. Nele cumprem-se as pro Num plano superior, a entrada é significa
fecías: “verào a glòria do Senhor... abrir- tiva para a comunidade crista crente. Mar
se-áo os olhos dos cegos” (Is 35,5; 42,7. cos, que é seu intérprete e guia, dá a en
18). ¡mediatamente “segue” a Jesus, que tender isso discretamente em seu relato.
o mandara “chamar”. Um itineràrio exem 11,2-7 Em proporgáo, os preparativos
plar, de fé e iluminagào, chamado e segui ocupam muito espago. Jesús planeja urna
mento. entrada solene, em montaría régia, mas hu
O seu grito é urna confissào messiànica. milde, náo belicosa. A alusáo a Zc 9,9: “olha
Jesus é um descendente legítimo de Davi, teu rei que está chegando... cavalgando um
anunciado e esperado (Jr 23,5; 33,15; Zc burro”, define o caráter pacífico e mostra
11,19 163 MARCOS
— Hosana! Bendito o que vem em no Purifica o templo (Mt 21,12-17; Le 19,
me do Senhor. wBendito o reino de nos- 45-48; Jo 2,13-22) — 15Chegaram a
so pai D avi que chega. Hosana aoA ltis Jerusalém e, entrando no templo, pós-
simo! se a expulsar os que vendiam e com-
11 Entrou em Jerusalém e se dirigiu ao pravam no templo, virou as mesas dos
templo. Depois de inspecioná-lo intei- cambistas e as cadeiras dos que vendiam
ramente, visto que era tarde, voltou com pombas, 16enáo deixava ninguém trans
os doze para Betánia. portar objetos pelo templo. E lhes ex-
plicou:
Amaldigoa a figueira (M t 21,18-19) — Está escrito: minha casa será casa
— 12N o dia seguinte, quando saíam de de oraçâo, mas vós a convertestes em
Betánia, sentiu fome. Í3A o ver de Ion- covil de bandidos.
ge urna figueira frondosa, aproximou- 18Os sumos sacerdotes e letrados ou-
se para ver se encontrava alguma coisa; viram isso e procuravam com o aca
mas encontrou somente folhas, pois nao bar com ele; m as o tem iam , porque
era época de figos. 14Entào lhe disse: todo o povo adm irava seu ensinam en-
— Jamais alguém com a teus frutos. to. 19Q uando anoiteceu, ele saiu da ci-
Os discípulos o ouviam. dade.
que o plano de Jesús está cumprindo o va recordar que o cuidado do templo era com-
ticinio. É um jumentinho que ninguém mon- peténcia do rei desde a sua construçâo.
tou: como se disséssemos urnas primicias 11,12-14 O que se segue é a primeira
de montaría, como as pedras nao talhadas parte de uma açâo simbólica, como faziam
para um altar (Ex 20,25), como as árvores os antigos profetas em tempos críticos,
frutíferas até a quinta colheita (Lv 19,23- sobretudo Jeremías e Ezequiel. A açâo
25), como o sepulcro novo. Salomáo, re- simbólica é uma espécie de parábola em
cém ungido rei, havia entrado na capital forma de mímica. O gesto, embora descon
“montado em muía do rei” (IRs 1,44). Além certante, pode ser fator expressivo. Por
disso, Jesús usa o título de Senhor. tante, nao estranhemos se nos parece es-
11,8 É urna homenagem honrosa (cf. tranha a açâo de Jesús. A figueira, como
2Rs 9,13, Jeú proclamado rei); nao consta outras árvores, pode representar o povo
que as palmas fossem usadas para cobrir escolhido (Jr 8,13; Os 9,10); os figos re
o chao (cf. SI 118,27). A vegetagáo soma- presentan} os judeus (Jr 24,1-8); agora a
se á homenagem. figueira representa o povo incrédulo, que
11,9-10 Aprimeira parte é citagáo do SI tem folhagem de aparêneias e nao dá fru
118,25-26. “Hosana”, que antes fora sú to. A imagem dos frutos é convencional à
plica de auxilio (como nosso “socorro”, força de repetiçâo (Is 37,31; Ez 17,8-9.23).
cf. 2Rs 6,26; 19,19), mais tarde se con- O texto nào parece distinguir entre a esta-
verteu em simples aclamagáo (e assim pas- çâo das bêberas e a dos figos (que o
sou á nossa língua). O salmo era cantado hebraico distingue com dois termos; “bê-
na festa dasTendas e outras ocasióes. Lou- bera” é quase igual a “primogénita”); o
va-se invocando o Senhor (cf. Nm 6,24- mês de abril nào é estaçâo de figos, mas
27); mas os leitores posteriores uniram quando muito de bêberas (Ct 2,13).
“vem em nome do Senhor”, como descri 11,15-19 Também a chamada “purifica-
b o posterior do Messias. çâo” do templo é uma açâo simbólica de
Marcos acrescenta em paralelo uma se Jésus. Na esplanada do templo, no átrio
gunda aclamagao, que identifica o Mes acessível aos pagâos, montava-se para a
sias como o rei descendente de Davi (Jr Páscoa um verdadeiro mercado de animais
33,17.21; Ez 37,24), e dá a este o inusita para o sacrificio e bancas de câmbio para
do título de “nosso Pai”, colocando-o en o imposto do templo (Ex 30,12-16); tudo
tre os patriarcas. era tolerado pelas autoridades. Esse é um
11,11 ¡mediatamente faz uma visita de dado realista. A intervençâo de Jésus deve
inspegáo ao templo, com a qual Marcos ter sido limitada quanto à extensâo; um
prepara a cena do dia seguinte. Devemos gesto, mais que uma operaçâo sistemâti-
MARCOS 164 11,20
ca. Très detalhes representam a totalida- instrugáo ¡mediata dos discípulos Jesús
de: pombas (oferta da populaçâo pobre), loma um dado particular e dá a seu comen
cambistas, o átrio como caminho para o tario uma diregáo inesperada. Náo fala da
transporte de mercadorias. rejeigáo dos incrédulos (SI 37,22), mas da
Sao as palavras que explicam e ampliam oragáo dos fiéis. Com isso prolonga uma
o alcance do gesto. Sao urna citaçâo com frase pronunciada antes no templo, “casa
binada de Is 56,7 e Jr 7,11. Comecemos de oragáo”.
pela segunda: Jeremías denuncia o abuso Como deve ser a oragáo? Tendo em Deus
do templo por parte dos judeus, que o con- uma fé que confia em seu poder e quer es-
vertem em refúgio para continuar pecan cutar, “que pega com confianza e sem du
do impunemente (como fazem os bandi vidar” (Tg 1,6). O exemplo é uma hipér
dos em seus covis); a citaçâo aumenta a bole expressiva, talvez proverbial (cita-o
gravidade do abuso. A primeira se Ié no ICor 13,2). Falando de oragáo, por asso-
começo da terceira parte de Isaías: é urna ciagáo, é atraído o tema do perdáo no Pai-
profecía para o futuro, com aboliçâo de Dosso (que Marcos náo cita). A instrugao
uma lei precedente. Duas coisas sao es- de Jesús a seus discípulos encerra-se com
senciais no versículo: a funçâo do tem areferencia ao “Pai do céu”.
plo, casa de Deus, casa de oraçào, e a aber
tura aos pagaos. A citaçâo transborda a 11 ,27—12,40 A discussáo com as auto
situaçâo ¡mediata e projeta a visâo para o ridades judaicas desenrola-se em seis atos
futuro, para o novo templo, casa de Deus, que o narrador quis agrupar aqui. No cam
aberto a todos. Os leitores de Marcos cap- po doutrinal, mostram como se despren-
tam o alcance. De algum modo também dem e se apartam de Jesús. No campo nar
as autoridades judaicas, que querem eli rativo, preparam o desenlace violento da
minar Jesús pelo que fez e disse: “o ouvi- paixáo. Os interlocutores mudam o sufi
ram”. Aaçâo de Jesús, como Marcos apre- ciente para representar a totalidade: fari-
senta, nao é violenta: nao há resistencia. seus e saduceus, senadores e herodianos,
Nao tem alcance político: náo alarmou os sumos sacerdotes e letrados. O povo e os
romanos, nem é citada no processo. discípulos fazem o papel de público. Tam
11,20-26 Um dia Jeremías esmigalhou bém o tema varia, provavelmente dado
um jarro de louça e explicou aos presen pela tradigáo. Poderíamos articulá-lo as-
tes que dessa forma o Senhor quebraría o siin, mas sem pretensóes: sobre a autori
povo e a cidade, “como se quebra uma dade de Jesús, e correlativamente á de
vasilha de louça e nao é possível recompó- Davi, autoridade de César nos impostos,
la” (Jr 18,1-2.10-11). Aquilo que o pro autoridade de Deus em seus enviados e em
feta fez com as máos, Jesús o faz com a seus mandamentos.
palavra: amaldiçoa e deixa estéril a árvo- 11,27-33 A pergunta “fazes isso” é vaga
re simbólica. O desenlace, a figueira seca, e genérica. Pelo contexto próximo, pode-
completa a açâo simbólica, a maldiçâo: riaümitar-se á purificagáo do templo; pelo
entre as maldiçôes de Dt 28 e Lv 26, várias contexto mais ampio, parece abranger o
se referem a árvores frutíferas. Para a co- conjunto de sua atividade, inclusive os
munidade crista o sentido é claro. Para a miiagres e o ensinamento. Os falsos pro-
12,1 165 MARCOS
ximam-se dele os sumos sacerdotes, os mos nele; 32vam os dizer: dos homens?
letrados e os senadores 28e lhe dizem: (Tinham medo do povo, pois todos ti-
-— Com que autoridade fazes isso? nham Joáo com profeta auténtico.)
Quem te deu tal autoridade para faze-lo? 33Entáo responderam:
29Jesus respondeu: — Nao sabemos.
— Eu vos farei urna pergunta: res E Jesús lhes disse:
pondedm e, e vos direi com que autori — Tampouco eu vos digo com que
dade fago isso. 30O batism o de Joáo autoridade faço isso.
procedía de Deus ou dos homens? Res-
pondei-me. Os vin hateiros (M t 21,33-46;
31Eles discutiam entre si: Se disser- Le 20,9-19) — ‘Pôs-se a falar-
mos: de Deus, nos dirá: por que nao cre- lhes em parábolas:
tável para a sua construgáo; mas ele se con nificava no campo económico a submissáo
verte em base da nova construgáo (por sua política ao imperador. A imagem de César
ressurreigáo). Será a agao clara de Deus.
na moeda cunhada multiplicava sua presen-
12,13-17 A pergunta é urna armadilha ga e circulava na vida econòmica cotidiana
para desacreditar Jesús como colabora do país. Além disso, a moeda ostentava
cionista, ou denunciá-lo como revoltoso. símbolos do culto imperial. A efigie de
Armadilha em forma de dilema, “o ho
Tibério trazia uma inscrigáo que o identifi
mem que adula seu companheiro estende cava como “divi Augusti filius”. A imagem
urna rede a seus passos” (Pr 28,23; 29,5). de Deus estava terminantemente proibida,
Mas a armadilha está dissimulada, recober- e a imagem de reis judeus tradicionais nun
ta de corteses adulagoes: “verniz que co_
ca foi usada em moeda (foi usada pelos
bre a louca sao os lábios que adulam com Asmoneus e pela familia de Herodes). A
má intengáo” (26,23). Dada a má inten única imagem de Deus é o homem.
gáo, os louvores soam como hipocrisia. Eles disseram “pagar”, Jesús responde
Os fariseus aceitavam resignados o im “devolver”. A frase de Jesus, por sua for
pèrio e seus tributos como castigo divino
ma lapidar e por sua amplidáo indife-
que cessaria por agao do Messias. Os par- renciada, tornou-se proverbial e aplicável
tidários de Herodes aceitavam o status quo. a múltiplas situagóes.
Fariseus e herodianos náo costumavam 12,18-27 Os saduceus se baseiam na le-
concordar entre si; só se unem contra o gislagáo (Dt 25,5) para propor um caso di
inimigo comum (3,6). O partidarismo se vertido que ponha em ridículo a crenga na
condena e cega no julgamento (Pr 24,23;
ressurreigáo. Sao eles que caem no ridí
Jó 13,8.10; 32,21). O tributo a César sig culo (Pr 29,9), ao mostrarem que náo en-
12,31 167 MARCOS
— 19M estre, Moisés nos deixou es sarça? Deus lhe diz: Eu sou o D eus de
crito que quando alguém morrer sem Abraáo, o D eus de Isaac, o D eus de J a
fdhos, seu irmáo case com a viúva, para co. 27Náo é um Deus de mortos, mas de
dar descendencia ao irm áo defunto. vivos. Estais muito enganados.
20Havia sete irmáos: o prim eiro casou
e morreu sem descendencia; 21o segun O preceito mais im portante (M t 22,
do tomou a viúva e morreu sem des 34-40; Le 10,25-28) — 28Um letrado
cendencia; a mesma coisa o terceiro. que ouviu a discussáo e apreciou o acer
22Nenhum dos sete deixou descenden tó da resposta, aproximou-se e lhe per-
cia. Por último morreu a mulher. 23Na guntou:
ressurreigao [quando ressuscitarem], de — Quai é o mandamento mais im
qual deles ela será mulher? Pois os sete portante?
casaram com ela. 29Jesus respondeu:
24Jesus lhes respondeu: — O mais importante é: Escuta, Israel,
. -— Estáis enganados, pois nao enten- o Senhor nosso Deus é um só. 30Amarás
deis a Escritura nem o poder de Deus. o Senhor teu Deus com todo o cora-
^Q uando ressuscitarem da m orte, ho- çâo, com toda a alma, com toda a men
mens e m ulheres nao casaráo, mas se- te, com todas as tuas forças. 310 segun
ráo no céu como anjos. 26E a propósito do é: A m a rá s o p ró xim o com o a ti
de que os mortos ressuscitaráo, nao les mesmo. Náo há mandamento maior do
tes no livro de M oisés o episodio da que estes.
mente ao primeiro, para que nao se des conta com a opiniáo común de que Davi
cuide. Ao acrescentar que “nao há outro seja o autor do salmo e que fale inspirado,
maior”, implica que qualquer preceito deve com autoridade divina. A comunidade cris
submeter-se aos dois primarios. Joáo dis ta deu a Cristo o título de Kyrios. Dada a
serta sobre a vinculagáo de ambos (lJo tendéncia do evangelista, temmuita força
3,11-24; 4,20-21). Quem os cumpriu a nao o que a aprovaçâo do povo apresenta, em
ser Jesús? Quem os cumpriu como Jesús? contraste com a atitude das autoridades.
O letrado está de acordo e alude a outros 12,38-40 A maneira de conclusáo, o
textos da Escritura (talvez Dt 4,35 ou Is 45, narrador reúne algumas críticas contra
21). Na escala de valores, substituí “precei- autoridades corruptas. É o que fizeram os
tos” por “holocaustos e sacrificios”, quer di- profetas reiteradamente (p. ex. Jr 21-23;
zer, a pràtica do culto. Doutrina frequente Mq 2-3). Os letrados e doutores arroga-
no AT (p. ex. Is 1,10-20; SI 50; Eclo 34-35). vam-se urna autoridade superior e exerciam
O letrado, que aceitou a soberanía de urna influéncia dominante entre o povo.
Deus na velha legislado, agora se abre ao Daí a gravidade da denuncia.
reinado de Deus, que se faz presente em O primeiro capítulo de acusaçâo é a vai-
Jesus. Desse modo, afasta-se dos letrados dade, parente da soberba, fustigada pelos
incrédulos. Para a comunidade de Marcos, Sapienciais e pelos profetas (Pr 8,13; Is
esse letrado judeu se incorpora à igreja, e 2,12). O segundo é a exploraçâo de classes
pode representar outros. indefesas (as viúvas, segundo ampia tradi-
12,35-40 Desta vez, Jesús pergunta so çâo, Is 1,17.23) sob pretexto de oraçôes que
bre a descendencia davidica do Messias, resultam viciadas; abusam ao mesmo tem
apoiada na Escritura, aceita pelos expertos, po das viúvas e do culto. De modo bem dife
identificada em Jesus pelo cegó e pela mul- rente os profetas Elias e Eliseu socorriam
tidáo (10,47-48; 11,10). “Chegam dias... as viúvas e os órfüos (IRs 17; 2Rs 4 e 8).
em que darei a Davi um rebento legítimo” Pelo tema da oraçào, esta série se prende
(Jr 23,5; 33,15); “meu servo Davi será seu ao capítulo anterior (11,17.26).
rei” (Ez 37,24). Acrescenta-se a leitura 12,42-44 Atraída pela palavra “viúva”,
messiànica de textos como Is 11,1-10; Am entra aqui esta narraçâo: episodio sucedido
9,11; SI 45 e outros. ou parábola em açào. Colocada nesse con
Jesús quer introduzir em sentido superi texto próximo, irradia reflexos de contras
or e transcendente a expressáo “Senhor” (cf. te. Seu desprendimento total ante a cobiça
SI 110,1. O grego diz ho Kyrios toi kyrioi dos outros; o último lugar ante a busca dos
mou; o hebraico Yhwh la’adony). Para isso primeiros; seu conceito puro do culto, vivi-
13,1 169 MARCOS
inuito. 42Chegou urna viúva pobre e pos indigència, pós tudo quanto tinha para
dois centavos. 43Jesus chamou os dis viver.
cípulos e lhes disse:
— Eu vos asseguro que essa pobre D iscu rso escatològico: R uina
viúva pôs no cofre mais que todos os do tem plo (Mt 24,1-14; Le 21,5-
outros. 44Com efeito, todos puseram 24) — !Quando saia do templo, um de
daquilo que lhes sobrava; esta, em sua seus discípulos lhe diz:
— Mestre, olha que pedras e que cons- dores de parto. 9Ficai de sobreaviso.
trugoes! Eles vos entregaráo aos tribuíais, vos es-
2Jesus lhe respondeu: pancaráo ñas sinagogas, couparecereis
— Ves esses grandes edificios? Pois diante de magistrados e reispor minha
desmoronaráo, sem que fique pedra so causa, para dar testemunh# diante de
bre pedra. les. 10Em todas as nagóesdeverá ser
3Estava sentado no monte das Olivei anunciada antes a boa noticia. nQuan-
ras, diante do templo. Pedro, Tiago, Joáo do vos conduzirem para eíregar-vos,
e André lhe perguntaram em particular: nao vos preocupéis com oque haveis
— 4Quando acontecerá tudo isso? Qual de dizer; diréis naquele momento aquilo
é o sinal de que tudo está para acabar? que Deus vos inspirar. Poisnao sereis
5Jesus comecou a dizer-lhes: vos que falareis, mas o Espirito Santo.
— Cuidado! Que ninguém vos enga- 12Um irmáo entregará seu irnao á mor-
ne. 6Muitos se apresentaráo alegando te, um pai a seu filho; filhosse levanta-
meu título e dizendo que sou eu, e enga- ráo contra pais e os mataría. 13Sereis
naráo a muitos. 7Quando ouvirdes ru odiados de todos por causado meu no-
mores de guerras e noticias de guerras, me. Aquele que agüentar atéofim se sal
nao vos alarméis. Tudo isso deverá acon vará.
tecer, mas ainda nao é o fim. 8Pois se
levantará povo contra povo, reino contra A grande tribulagáo (Mt 24,15-28; Le
reino. Haverá terrem otos em diversos 21,20-24) — 14Quando virdes o ídolo
lugares, haverá carestías. É o comego das abominável erigido onde nio se deve
(o leitor que o entenda), entáo os que está aquí ou ali, nao lhe deis atengáo.
viverem na Judéia escapem para os 22Pois surgiráo falsos messias e falsos
montes. 15Aquele que estiver no terra profetas, que faráo sinais e prodigios, a
do nao desga nem entre em casa para ponto de enganar, se fosse possível, os
recolher alguma coisa; 16aquele que se escolhidos.
encontrar no campo, nao volte para re 23Quanto a vos, estai atentos, pois vos
colher o manto. preveni.
17Ai das grávidas e das que amamen-
tam naqueles dias! 18Rezai para que nao A parusia (Mt 24,29-31; Le 21,25-28)
acóntela no invernó. 19N aqueles dias — 24Naqueles días, depois dessa tribu-
haverá urna tribulaqáo táo grande co lacáo, o sol escurecerá, a lúa nao irra
mo nunca houve desde que D eus criou diará seu esplendor, 25as estrelas cairáo
o mundo até hoje, nem haverá. 20Se o do céu e os exércitos celestes tremeráo.
Senhor nao abreviasse aquela etapa, 26Entáo veráo chegar o Filho do Ho-
ninguém se salvaría. Mas, em atengáo mem numa nuvem, com grande poder
aos que escolheu, será abreviada. 2,En- e majestade. 27Entáo enviará os anjos e
táo, se alguém vos disser que o Messias reunirá os escolhidos dos quatro ven-
quase um aviso, urna chamada de atengáo (cf. Dn 13,1-3). A incerteza deve alimen
ao leitor, para que o entenda em código. tar a vigiláncía.
Quer dizer-lhe que nao tome ao pé da le 13.24-27 O fato da parusia ou vinda do
tra a citagao? ou que a veja cumprida num Messias se afirma de modo transparen
acontecimento próximo? ou num futuro te; todo o resto é opaco. Primeiro a da
indefinido? A referencia à Judéia parece ta. Marcos, que gosta tanto da ligagáo “lo
definir o cenário, a nao ser que equivalha go” (euthys), usa aquí um vago “naqueles
à imagem de territorio povoado. Hoje nao días”, fórmula corrente nos profetas para
temos dados para averiguar a que se refe indicar um futuro indefinido. Os outros sao
ría o discurso primitivo: o que a tradigáo motivos próprios da apocalíptica e textos
transmitía, ou o que Marcos recolheu. afins.
Costuma-se aduzir à tentativa do impera 13.24-25 Comegando pela perturbagáo
dor Calígula de instalar sua estátua no tem estelar (Is 13,10; 24,23; 34,4), que se pode
plo de Jerusalém (ano 39/40). considerar como testemunho cósmico do
A fuga em tempo de perigo extremo nós fato. As estrelas sao o exército celeste que
a conhecemos por textos de gènero dife cumpre as ordens do Senhor (cf. Eclo 43,
rente (Is 48,20; Jr 4,29; SI 11,1; 55,8-9), e 9-10).
a fuga no tempo dos Macabeus (lM c 2,28; 13.26 A “figura humana” que sobe ao
2Mc 5,27). “As grávidas e as que amamen- céu numa nuvem (em Dn 7,13-14), desee
tam”: pela difículdade da fuga e pela an agora entre nuvens, ostentando o poder
gùstia acrescentada; nao porque expostas universal e perpétuo recebido do Altís-
à sanha do inimigo (2Rs 15,16; Os 14,1). simo. O texto de Daniel identifica depois
“Como nunca houve nem haverá” é hi a “figura humana” com “o povo dos san
pérbole proverbial (cf. Dn 12,1). O tema tos do Altíssimo” (7,18-27), ou seja, a co-
da abreviagáo do tempo se lé em apoca- munidade judaica fiel. O NT e a tradigáo
lipses nao canónicos. Por outro lado, a sal- crista a identifican! com o Messias Jesús.
vagáo em atengáo aos escolhidos já está 13.27 A reuniáo dos eleitos se lé na es-
presente no grande diálogo de Abraáo com catologia de Isaías (Is 27,12-13; cf. Zc 2,
Deus: “Longe de ti fazer tal coisa! Matar 6.10; Dt 30,4).
o inocente com o culpado” (Gn 18,23-33). Em conclusáo, a parusia se propóe como
13,21-23 Retoma, variando, o tema do fato cósmico, histórico (naqueles días),
v. 5, formando assím urna inclusilo de to transcendente (poder, majestade), univer
dos os preparativos antes da parusia. Em sal. A tradigáo crista é unánime em espe
lugar de oferecer-lhes um sinal indubitável, rar a “vinda” de Jesús Cristo e afirma que
os previne dos enganos que seráo muitos será “gloriosa”.
MARCOS 172 13,28
tos, de um extremo da terra a um extre pertos, poijue nao conheceis o día nem
mo do céu. a hora! 'i como um homem que, ao
ausentarle sua casa, a confiou a seus
O dia e a hora (Mt 24,32-44; Le 21,29- servos, reprtindo as tarefas, e encarre-
33) — 28Aprende¡ o exemplo da figuei- gou o porttiro de vigiar. 35Assim, pois,
ra: quando os ramos ficam tenros e as vigiai, potjue nao sabéis quando vai
folhas brotam, sabéis que a primavera chegar o dio da casa: ao anoitecer, ou
está próxima. 29Também vos, quando à meia-noí;, 0u ao canto do galo ou de
virdes acontecer isso, sabei que está pró manhá; 36pja que, ao chegar de repen
ximo, ás portas. 30Eu vos asseguro que te, nao vossirpreenda adormecidos. 370
nao passará esta geracáo antes que acon- que vos digo, eu o digo a todos: Vigiai!
teca tudo isso. 31Céu e terra passaráo, mi-
nhas palavras nao passaráo. 32Quanto Conpiò para matar Jesús (Mt
ao dia e à hora, ninguém os conhece. 26,1-5; Le 22,ls; 11,45-53)— 'Fal-
Nem os anjos no céu, nem o Filho; só o tavam doisfas para a Páscoa. Os sumos
Pai os conhece. 33Aten<jáo! Estai des- sacerdotes t os letrados procuravam
13,28-37 Sobre a data dos acontecimen- fórmula “aq«;ie dia” é típica de anuncios
tos futuros, a última segáo nos deixa na profé ticos, entre os quais sobressai Sf 1,15
incerteza. Partimos da repetigáo, forman (“dies irae dksHla”); Zc 14,7 diz que “será
do inclusáo marcada, de “essas coisas” e conhecído deYhwh”. “O Filho” é o Mes-
“tudo isso” (13,4). Todas essas coisas sao sias em sua ctndígáo humana e sua missào
os fatos que precedem a parusia e indicam histórica delimitada. Contudo, a formula-
sua proximidade. O problema é que “tudo gao correlativa 0 Filho-o Pai, é extraor
isso”, inclusive a grande tribulagáo, sao dinària.
descricóes bastante genéricas, modeladas Conclusàode tudo é um convite a vigiar
por citagnes e alusóes. A comparagáo ve como atitude básica do cristáo. A breve pa
getal sugere um processo imánente da his rábola procun sublinhá-lo com os deta-
toria; sugere também que a parusia traz Ihes gráficos do porteiro sonolento: “guar
urna primavera como o parto doloroso traz das caídos, amigos do sono” (cf. Is 56,10).
urna nova vida? Compare-se com o orá Servos, patráce casa apontam para a co
culo de Is 18,5: “Pois que antes da colhei- munidade crisa. A nova páscoa inaugura
ta, ao chegar o fim da florada, quando a para o cristáo uma noite de vigilia (Ex
flor se transforma em uva verde...”. E um 12,42), até queimanhega o dia da parusia.
tempo concreto, mas nao rigorosamente
preciso. Ezequiel anunciara a iminéncia da 14—15 Paraler e interpretar estes capí
desgraga: “o fim chega, chega o fim, esprei- tulos, serviráo algumas observagóes. a) Os
ta-te, está chegando” (Ez 7,5 no contexto); discípulos quiseram conservar a recorda-
e o povo cagoava da demora: “passam dias gáo de um fato, à primeira vista inespera
e dias e nao se cumpre a visáo” (12,22). do e inexplicável, mas que nao se deve
13.30 Este v. parece refletir a atitude da esquecer como se fosse episodio vergo-
comunidade que espera uma parusia pró nhoso: “algo qje nao pode ser descrito,
xima; atitude própria da primeira geragáo algo inaudito” (is 53,3); “loucura e sem-
crista (documentada p. ex. em 2Ts). sentido era aos olhos dos pagaos” (cf. ICor
13.31 A expressáo enfática equivale á 1,23). b) A paixáo de Jesús responde a pre-
concessiva, “ainda que passem...” (como digóes ou figuras do AT, em particular a
em Is 54,10; Jr 31,35-36). Um salmo fala figura do inocente perseguido, que culmi-
do céu e da térra: “eles pereceráo, tu per nam em Is 53 e SI 22. c) Dai se segue cer
maneces” (SI 102,27), ao passo que Is 40,8 to interesse apologético, isto é, de repartir
garante que “a palavra de Deus se cumpre responsabilidades para afirmar a inocen
sempre”. cia do acusado, como em salmos de súpli
13,32-37 Como se quisesse corrigir o ca (7; 17 etc.) d) O sentido teológico da
que precede, ou ao menos evitar interpre- paixáo é táo importante quanto o fato: é
tagóes demasiado precisas e confiadas. A preciso inserir a paixáo no plano do Pai
14,5 173 MARCOS
upoderar-se dele com algum estratage chegou uma mulher com um frasco de
ma e m atá-lo. 2M as diziam que nao perfume de nardo puro, muito caro. Que-
devia ser durante as festas, para que o brou o frasco e o derramou na cabera
povo nao se amotinasse. dele. 4Alguns comentavam indignados:
— Para que esse desperdicio de per
Ungáo em Betánia (Mt 26,6-13; Jo 12, fume? 50 perfum e poderia ser vendido
1-8) — 3Estando ele em Betánia, con por trezentos denários, para dá-los aos
vidado em casa de Simáo, o leproso, pobres.
para que adquira sentido. A comunidade cando a guarnigáo romana). A Páscoa era
medita para compreender o sentido de um tempo de grande aglomeragáo em Jerusa-
fato táo misterioso: “eu meditava para lém e ás vezes de exaltagao popular. A in-
entendc-lo, mas era-me muito difícil, até tengáo dos chefes vai esmagar-se contra
que entrei no mistério de Deus” (SI 73,16- os planos de Deus, que já fixou a data de
17), para ir elaborando sua cristologia e uma nova páscoa.
cclesiologia, para configurar a liturgia. O relato continua logicamente com a
Esforgo que se cristaliza tanto nos relatos oferta de Judas (10-11). No meio se insere
evangélicos como na proclam ado primi uma cena de contraste.
tiva e ñas exposigóes doutrinárias das car 14,3-11 Simáo, o leproso, quer dizer,
tas. A elaboragáo narrativa, com a seqüén- curado de uma doenga notoria da pele;
cia de episodios, precede em boa parte os seria um personagem conhecido na comu
evangelhos escritos. nidade que transmite o fato. Uma mulher,
Dado o estilo despojado dos relatos, de- aquí anónima, irrompe na sala do banque
ve-se prestar atencáo em qualquer detalhe, te, contra as normas vigentes. Embora o
que pode ser intencional e significativo. perfume acompanhe de ordinàrio os ban
Em particular, quando lemos o relato de quetes (Am 6,6), o que a mulher oferece é
Marcos, temos de tomar precaugóes. Es exorbitante: com sua homenagem quer
tamos acostumados a 1er o relato da pai- expressar o quanto aprecia o hospede.
xáo nos quatro evangelhos, dos quatro Para entender o protesto de alguns co-
tiramos um relato unificado. Depois descar- mensais e a defesa de Jesús, vamos remon
regamos os materiais do conjunto em cada tar-nos ao livro de Tobias, no qual se re-
evangelho. Estamos por demais habituados comenda reiteradamente a esmola e se póe
a 1er obras que amplificam o relato, bus em primeiro plano o enterrar os mortos. A
cando a coeréncia dos dados, analisando os mulher tomou parte, à sua maneira e por
motivos das acóes, entrando na psicología antecipagáo, no sepultamento de Jesús;
dos personagens, preenchendo lacunas. Isto para a esmola haverá tempo. “Nao falta-
que temos lido o temos meditado e assi- ráo pobres”, diz Dt 15,11, e o contexto o
milado. Aconseqiiéncia é que nao consegui explica; por vossa mesquinhez, por náo
mos 1er com atitude aberta e disponível o cumprirdes o mandamento de Deus; se o
relato individual. Faz falta, portanto, um cumprísseis, nao haveria pobres (15,1).
esforgo para apreciar separadamente cada Jesús afirma seu conhecimento da pai
relato da paixáo. Isso nao tira o valor das xáo e morte próxima e da pregagáo futura
reconstrugóes do conjunto histórico ou na Igreja. O obséquio prestado à pessoa
das meditagóes guiadas pela fé. de Jesus e a fama divulgada dos que lhe
sao fiéis seráo norma pràtica da comuni
14,1-2 Sobre a data exata, a crítica nao dade.
chegou aínda a uma solucáo comumente 14,5 Trezentos denários é o salàrio de
aceita. A expressáo grega pode significar trezentos dias de um operário. E preciso
também “no segundo dia”, ou seja, “no dia comparar essa generosidade com o pa-
seguinte” (cf. 8,31). Tomam a iniciativa radoxal desperdicio da viúva pobre (12,
dois grupos restritos, os mesmos de 10,33 41-44). O perfume de nardo em contexto
e 11,18. O narrador tem o cuidado de amoroso (Ct 1,12). Rompendo o frasco ex-
separá-los do “povo”, que poderia alvoro- pressa o dom total, sem reservas, como é
gar-se ou amotinar-se com o fato (provo- o amor.
MARCOS 174 14,6
E a repreendiam. 6M as Jesús disse: — Ide á cidade e vos sairá ao encon
— Deixai-a. Por que a aborrecéis? tró um homem carregando um cántaro
Ela fez urna boa obra para comigo. 7Po- de água. Segui-o, 14e onde ele entrar,
bres sem pre tereis entre vós e podéis dizei ao dono da casa: 0 Mestre per-
socorré-los quando quiserdes; a mim gunta onde está a sala em que vai co
nem sem pre tereis. 8Ela fez o que po m er a ceia da Páscoa com seus discípu
día: antecipou-se para ungir meu cor- los. 15Ele vos mostrará um saláo no piso
po para a sepultura. 9Eu vos asseguro superior, preparado com divas. Prepa-
que, em qualquer lugar do m undo onde rai-a para nós nesse lugar.
for proclamada a boa noticia, será men 16Os discípulos saíram, dirigiram-se
cionado tam bém o que ela fez. á cidade, encontraram o que lhes havia
l0Judas Iscariot, um dos doze, dirigiu- dito, e prepararam a ceia da Páscoa.
se aos sum os sacerdotes para entregá- 17Ao entardecer, chegou com os doze.
lo. n Ao ouvir isso, eles se alegraram e 18Puseram-se á mesa e, enquanto co-
prom eteram dar-lhe dinheiro. E ele co- m iam, Jesús disse:
megou a procurar urna oportunidade — Eu vos asseguro que um de vós
para entregá-lo. vai me entregar, um que come comigo.
19Consternados, comegaram a per-
Páscoa e Eucaristía (Mt 26,17-35; Le guntar-lhe um por um:
22,7-20.31-34; Jo 13,21-30.36-38) — — Sou eu?
12No primeiro dia dos ázimos, quando 20Respondeu:
se im olava a vítima pascal, os discípu — Um dos doze, que molha o pao
los lhe dizem: comigo na travessa. 2‘Este Homem se
— Onde queres que vamos preparar vai, como está escrito sobre ele; mas ai
para ti a ceia da Páscoa? daquele por quem este Homem será
13Ele enviou dois discípulos, encar- entregue! Seria melhor esse homem nao
regando-os: ter nascido.
14,6-7 Jesús póe-se do lado da mulher que nao aconteceu. Digo: meu designio se
insultada pelos comensais. Marginaliza cumprirá, realizo minha vontade” (Is
dessa forma os pobres? Nao. Se os comen- 46,10; cf. 41,27; 42,9; 43,12; 44,7-8; 45,
sais tivessem a mesma atitude da mulher, 21). O carregador de água (um escravo?),
os pobres receberiam ajuda. O texto alu confere realismo á cena; sem sabé-lo ser
dido (Dt 5,1-11) denuncia a mesquinhez. ve de guia, guiado de longe por Jesús. O
14,10-11 Em forte contraste, a traigáo “dono da casa”, que reconhece Jesús como
de Judas. Insinua-se o motivo do dinhei o Mestre, já tinha preparado a sala. O res
ro; mas o que impressiona o narrador é que tante sao os discípulos que preparam, se
seja “um dos doze”. A traigao do amigo é gundo o costume (o narrador supóe que
particularmente odiosa e dolorosa (SI os detalhes sejam conhecidos).
55,13-15; Eclo 6,8-13). 14,17-21 De novo transparece o saber e
14,12-16 De novo tropegamos no pro o dominio tranquilo de Jesús. Ele conhece
blema da data: temos de seguir os sinó- a traigáo e o traidor: admite-o á mesa con
ticos, que situam a cena na noite da Pás sigo, deixa-o molhar o pao no mesmo pra-
coa (14 de Nisá), ou Joáo, que faz coincidir to; denuncia o fato, revela o culpado, co
a morte de Jesus com a hora em que se loca a agáo no plano mais ampio, citando
sacrificavam no templo os cordeiros pas- um versículo da Escritura, que soa assim:
cais? A solugáo afeta o caráter ordinàrio “Até meu amigo, em quem eu confiava e
ou pascal da cena. Por ora nao temos res- partilhava do meu pao, sobressai em trair-
posta certa nem convergencia de opinioes. me” (SI 41,9, súplica de um pobre doente
Como em 11,1-6, Jesus conhece e diri perseguido e atraigoado); partilhar o ali
ge tudo de antemáo. Como o Senhor na mento cria e expressa familiaridade (“com-
pregagáo do Isaías do exilio: “De antemáo panheiro” deriva de “cum-pane”). Tam
eu anuncio o futuro, antecipadamente, o bém está anunciada a sua morte (talvez em
14,32 175 MARCOS
Is 53); “está escrito a meu respeito que ce. Com esse sangue sacrificai, sela-se a
deverei cumprir tua vontade” (SI 40,4-5). nova alianga (Ex 24,8 e Jr 31,31-33), san
O “ai” é forma típica da literatura profèti gue do Homem, náo de um animal; os
ca (cf. Is 1,4, “filhos degenerados”). Me- apóstolos comegam a constituir o povo da
lhor nao ter nascido: é urna forma corren nova alianga. Pào e vinho, alimento dessa
te para detalhe extremo: “desejarás nào ter nova juventude (Zc 9,11).
nascido, amaldigoarás o dia em que viste O banquete presente prefigura o celes
a luz” (Eclo 23,14; cf. em outro sentido Jó te, portanto a morte nào será o firn. “O
3; Jr 20). Apesar de tudo, Deus lhe conce- Senhor oferece neste monte a todos os
deu existència e liberdade, mas o engajou povos um banquete de manjares suculen
em seu designio. tos, um festim de vinhos envelhecidos” (Is
14,25-26 Discute-se, sem chegar a um 25,6). Ao ler as breves linhas de Marcos,
acordo, se a ceia foi ou nao pasca! em sen contemplamos a comunidade que nos
tido estrito. A favor estào a tríplice men- transmite o fato com suas próprias pala-
gáo de “páscoa”, o contexto próximo e o vras e sua celebragào.
canto do hiño no final. O problema da data 14,27-31 Depois do anúncio da traigào,
e a ausencia completa do cordeiro fazem o anúncio da desergào. Todos vào trope-
duvidar. gar e cair, porque nào entendem o misté-
Diríamos que Marcos despojou o relato rio. Mas é certa a ressurreigào, e entáo o
para deixá-lo no que considera essencial. pastor guiará suas ovelhas para a Galiléia
“Enquanto ceavam” indica novo comego (16,7). A citagào de Zc 13,11 ilumina a si-
(talvez relato indepcndente em sua ori- tuagào com a imagem rica do pastor. Os
gem). Tomar pao, abengoar e partir sao comensais no banquete falharào no peri-
gestos comuns, que competem ao pai de go (cf. Eclo 12,9; 37,4). Pedro pretende
familia ou a quem preside. Jesus nao come, ser excepcional, e a presungào agravará a
ele reparte; e explica o gesto com urna defecgào: “Eu dizia tranqiiilo: jamais va-
palavra inaudita. Dá-lhes seu corpo em cilarei” (SI 30,7).
forma de pào, e pelo pao do seu corpo ele 14,32-42 Desta vez Marcos deixa asso-
os in-corpor-a. A segunda parte é comum mar algo da intimidade de Jesus. Na ora-
no gesto, é mais explícita e náo menos gáo “derrama o coragào” (SI 62,9; 142,3).
inaudita na explicagào. Meu sangue: sede Soam dois pedidos e a invocagào do Pai-
e portador da vida: “o sangue é a vida” nosso: faga-se tua vontade e náo sucum
(Dt 12,23); vai ser derramado na morte por bir na prova. Em meio à solidào e ao aban
todos, náo somente pelos judeus (Is 53,12), dono, dominado pela angùstia mortai,
e agora se dá como bebida aos presentes; Jesus fala com o Pai. Suplica, insiste, en
e todos menos ele bebem do mesmo cáli- trega sua vontade. Teríamos de reunir
MARCOS 176 14,33
fragmentos de salmos para imaginarmos “Está para chegar sua hora, seu prazo nao
essa ¡ntimidade. Getsêmani é o momento demora”; e a famosa série de Ecl 3,2-8.
escolhido, porque na cruz (segundo Me) 14,36 É o cálice da iraeda amargura (Jr
Jesús pronunciará só urna palavra. 25,15-29; SI 75,9; Lm 4,21). É o cálice
Para a solidáo, SI 38,12; Jó 19,13-19: devido a Samaria e a Judá e a todos os
“meus irmáos se afastam de mim”; para a pecadores (leiam-se as violentas expres-
angustia SI 38,10-11; 55,2-6: “agito-me na sóes de Ez 23,31-34).
minha ansiedade... sobre mim caem terro 14,37-38 Ver a breve parábola e admo-
res mortais; medo e tremor me invadem, e estaçào de 13,34-36. Amaneira de pro
um calafrio me envolve”; a luta interior vèrbio. Para a oposiçüode carne e espiri
no estribilho do SI 4 2 ^ 3 : “Por que te aca- to, veja-se Is 31,3.
brunhas, alma minha, por que te pertur 14,41 -42 À luz do que se segue, nao faz
bas?”; a entrega ao Pai: SI 31,16 “minha sentido 1er os dois verbos como imperati
sorte está em tua máo” e 55,23: “descar- vos, convidando ao descanso. Em máos
rega teu fardo em Yhwh”. Pode-se com dos pecadores: compare-se com as súpli
parar também com a oraçâo de Moisés em cas: as garras do mastim (SI 22,21), do
Nra 11,11-12 e com a terceira Lamentaçâo, inimigo (SI 31,9; 106,10), do malvado (SI
pronunciada por urna pessoa: “Olha mi 37,33; 71,4).
nha afliçâo e minha amargura... estou aba 14,43-52 Aceña da prisáo acontece com
tido. .. E bom esperar em silencio a salva- toda a rapidez até o v. 46, com seu mo
çâo do Senhor...” (Lm 3,19-20). mento mais intenso no beijo traidor (Pr
14,33 Sâo as très testemunhas de um 27,6; 2Sm 20,9, beijo traidor de Joab).
milagre de ressurreiçào e de transfigura- Depois seguem-se très momentos que
çâo (5,37; 9,2). amplificam a cena. Os très grupos que
14,34-36 Veja-se a expressáo de Joñas compóem o Sinedrio ou Grande Conselho
diante do fracasso (Jn 4,9). enviam um pelotáo armado.
14,35 Nao é corrente chamar isso de “a 14,47 A fútil tentativa de defesa por parte
hora”; o termo é típico de Joao (que o usa de um dos presentes é atestada pelos qua
muitas vezes, Jo 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; tre evangelistas e serve de contraste ao
17,1); ver também a hora trágica de Is 13,22: segundo momento, a alocuçâo de Jesús.
14,55 177 MARCOS
14,48-49 Sao palavras de dominio e re- do-o por delito de rebeldía? Entáo sua cul
preensáo; sugerem má consciencia nos pa foi ceder por cálculo.
exccutores ou ilegal idade no modo da exe- As razóes e as culpas dos processos con-
eugáo. Bandido: como qualquer zelota tinuam sendo debatidas e, por mais que se
revoltoso; os zclotas nao ensinam pacifi esforcem os investigadores, suas posturas
camente no templo. Sem pretendé-lo, o religiosas afetam o estudo. Alguns chegam
grupo armado está cumprindo a Escritura: a negar que tenha havido um processo re
se se refere a um texto em particular, seria ligioso, ou o reduzem a um veredicto sem
o canto do servo (Is 53,7-8). valor forense. Talvez seja parte do destino
14,51-52 O terceiro momento é um enig humano de Jesús que a sua condenagáo e
ma. Como simples fato ilustra o ambiente execugáo continuem sem se esclarecer to
noturno, a suspeita e confusáo do momen talmente e solicitem a atitude profunda de
to. Se o narrador o oferece como contras leitores e examinadores. Para os discípu
te, o seguimento se opóe á fuga dos discí los, a condenagáo ficou incompreensível;
pulos, sua fuga á entrega de Jesús. A cena mas a ressurreigáo justificou plenamente
de José, deixando o manto ñas máos da o inocente. Para os cristáos, a ressurrei
mulher de Putifar, oferece uma semelhan- gáo reconhecida ajudou a compreender a
ga casual. O que mais intriga os críticos condenagáo. Para os nao crentes, a conde
sao as coincidencias na descrigáo desse nagáo continuará sendo um enigma histó
jovem e do outro na ressurreigáo (16,5): rico, e a justificagáo se imporá na parusia.
as conseqüéncias que daí se tiram nao pas- Com essas ressalvas, escutemos Marcos
sam de conjecturas. Se nos referirmos a contando o processo religioso. Celebra-se
Am 2,14-16, a fuga desse jovem selaria a ante o Grande Conselho completo. Depois
debandada geral, pois é o sétimo e último de tenteios infrutíferos pela via dos teste-
na enumeragáo; o veloz, o forte, o solda munhos, o sumo sacerdote centra a ques-
do, o arqueiro, o ágil, o ginete e o soldado táo no messianismo. A partir da sua posi-
mais valente. gáo, a pergunta é capciosa: se Jesús nega,
14,53-65 De alguns mártires se conser- se desqualifica; se afirma, se comprome
varam as atas do processo ou notas te. Jesús responde com um ato paradoxal:
taquigráficas. Dos dois processos de Je confessando, ele se acusa, se entrega; ci
sús, o religioso e o civil, nao se conserva tando dois textos combinados da Escritu
senáo o relato dos evangelistas, os quais, ra (Dn 7,13 e SI 110,1) e apropriando-se
embora desejem conservar alguns fatos deles, anuncia o triunfo posterior.
históricos, se ocupam mais dos aspectos 14,53-54 Marcos narra um processo ou
ético e teológico. Jesús é inocente e é con interrogatorio diante do Conselho em ple
denado porque se arroga o título de Mes- na noite (contra a posterior lei mishnaica).
sias transcendente. E inocente e é conde Pedro entra em cena para um papel de con
nado porque se faz rei e se rebela contra traste.
Roma. Tiveram razáo os judeus, condenan 14,55-56 Marcos dá a entender que a
do um falso Messias? Entáo a sua culpa sentenga de condenagáo está de antemáo
l'oi nao crer. Teve razao Pilatos condenan- decidida e que as testemunhas procuram
MARCOS 178 14,56
vam, 5f’pois embora muitos testemunhas- 630 sumo sacerdote, rasgando as ves
sem falso contra ele, seus testem unhos tes, diz:
nao concordavam. 57A lguns se levan — Que necessidade tem os de teste
taran! e testemunharam falso contra ele: munhas? “ Ouvistes a blasfemia. Que
— 58Nós o ouvimos dizer: Destruirei vos parece?
este templo, construido por maos hu Todos sentenciaram que era réu de
manas, e em très días construirei outro, morte. 65Alguns com egaram a cuspir
nao feito com maos humanas. nele, a tapar-lhe os olhos e dar-lhe bo
59Mas tampouco nesse ponto o teste- fetadas, dizendo:
m unho deles concordava. 60E ntáo o — Adivinha!
sumo sacerdote se pos em pé no centro Também os criados lhe davam bofe
e perguntou a Jesús: tadas.
— Nada respondes ao que estes ale-
gam contra ti? Nega^óes de Pedro (M t 26,69-75; Le
6IEle continuava calado, sem respon 22,56-62; Jo 18,15-18.25-27) — “ Pe
der nada. De novo o sumo sacerdote lhe dro estava embaixo, no pátio, quando
perguntou: urna criada do sumo sacerdote, 67ven-
— Tu és o Messias, o filho do Bendito? do Pedro que se aquecia, ficou olhan-
62Jesus respondeu: do para ele e lhe disse:
— Eu o sou. Vereis o Filho do Homem — Tu também estavas com o N aza
sentado à direita da Majestade e chegan- reno, com Jesús.
do entre nuvens do céu. 68Ele o negou:
justificá-la. Segundo a lei: “Somonte pelo aqui “Filho do Homem”, para que se en-
depoimento de duas ou tres testemunhas é tenda a condigáo transcendente que mais
que se procederá á execuqáo do réu” (Dt tarde se atribuiu á “figura humana” de
17,6; 19,15). Sobre testemunhos falsos Daniel. O trono de majestade e a vinda
pode-se recordar o episodio de Jezabel e celeste (SI 110,1; Dn 7) implicam o poder
Nabot (1 Rs 21) e os conselhos sapienciais judicial, ameaga velada para os seus juízes.
(Pr 6,19; 12,17; 14,5; 19,28). Para quem nao eré, as palavras de Jesús
14,58-59 Parece incluir dois delitos: sao blasfemia, punida com pena de morte
atentado contra o templo (Jr 26) e magia (Lv 24,16).
ou trato com poderes ocultos. Da frase 14,65 Marcos traslada a este ponto
acerca do templo diferem as formulagóes afrontas e ultrajes sucedidos em outros
(Mt 26,61; Jo 2,19; At 6,14). Na boca da momentos da paixáo. Apresenta assim a
falsa testemunha Marcos póe urna afirma- figura do servo paciente: “Ofereci as cos
gao que resulta verdadeira num plano su tas aos que me batiam, a face aos que me
perior (cf. ICor 3,11.16); no novo templo arrancavam a barba, nao escondí o rosto
ele será a pedra-ehave e será obra de Deus, diante dos ultrajes e cuspidas” (Is 50,5),
nao de máos humanas. “que entregue a face a quem o fere e se
14,60-61 O silencio recorda a figura do sacie de opróbrios” (Lm 3,30).
servo: “nao abria a boca... como ovelha 14,66-72 A negagáo de Pedro, prepara
muda diante do tosquiador” (Is 53,7) e ser da no v. 54, é um sofrimento a mais para
ve para provocar a pergunta do presiden Jesús, e ao mesmo tempo é cumprimento
te. O “Bendito” é Deus (evitando mencio- da sua predigáo. Com o testemunho va-
ná-lo); Filho de Deus é título que se pode lente de Jesús diante do Conselho, con
dar ao Messias davídico, de acordo com trasta a covardia de Pedro diante dos ser-
2Sm 7,14 e SI 2,7; 89,27-28. vos. Marcos gradúa hábilmente a cena;
14,62-63 No contexto, “eu sou” é a res- primeiro Pedro se faz de desentendido,
posta afirmativa. Em círculos cristáos a ante a insistencia nega, atemorizado pelo
fórmula Eu sou (ego eimi, reiterado em grupo jura. “Nao o conhego” pode sci
Joáo) faz ressoar a revelagáo de Ex 3,14. semitismo, equivalente a “nao tenho trato
IVI.i referencia escatológica, traduzimos com ele” (cf. Jó 19,13). Um incidente li i
i
15,9 179 MARCOS
— Nao sei nem entendo o que dizes. lho, sum os sacerdotes, senadores e le
Saiu para o saguáo [e um galo can- trados puseram-se a deliberar. Amarra -
tou]. 69A criada o viu, e comegou outra ram Jesús, o conduziram e o entrega
vez a dizer aos presentes: ran! a Pilatos. 2Pilatos o interrogou:
— Este é um deles. — És tu o rei dos judeus?
70De novo o negou. Pouco tempo de- Respondeu:
pois, tam bém os presentes diziam a — E o que dizes.
Pedro: 3Os sumos sacerdotes o acusavam de
— Realmente és um deles, pois és muitas coisas. 4Pilatos o interrogou de
galileu. novo:
71Entáo comegou a proferir maldiijóes — Nao respondes nada? Vé de quan-
e a jurar que nao conhecia o homem de tas coisas te acusam.
quem falavam . 72No m esm o instante 5Mas Jesús nao lhe respondeu, com
cantou o galo pela segunda vez. Pedro grande admiragáo de Pilatos. APela fes-
recordou o que lhe havia dito Jesús: ta costum ava deixar-lhes livre um pre
Antes que o galo cante duas vezes, me so, aquele que pedissem. 7Um tal Bar
terás negado tres. E comeQou a chorar. rabás estava preso com os amotinados
que numa revolta haviam cometido um
Jesús diante de Pilatos (M t 27. homicidio. 8A multidáo subiu e come-
l s . l l -14; Le 23,1-5; Jo 18,28-38) <jou a pedir-lhe o costumeiro. 9Pilatos
— ’Logo ao amanhecer, todo o Conse- lhes respondeu:
num grito repetido que pede morte e infa Simáo e seus fílhos deviam ser conheci-
mia (cf. Nm 14,10). dos em alguma comunidade primitiva. Seu
A Pilatos nao custava muito condenar nome gentílico (Cireneu, de Cirene) pas-
um judeu para “satisfazer” a uns tantos sou a designar urna obra de caridade, por
judeus. O gesto é ambiguo: cede por fra- que leva o peso de outrem (cf. Lm 1,14).
queza e covardia? (como o rei Sedecias Além disso, é o primeiro seguidor de Je
em relacào a Jeremías.) Ou concede a pe- sús, de acordo com a norma de 8,34.
tigào com compiacente sarcasmo? A flage- 15.22 Deixando de lado fantasías —
lagáo costumava preceder a crucifixáo. identificagáo com o monte de Abraáo e
15,16-20 Aceña dos soldados pretende Isaac, com a sepultura de Adáo — , o lugar
zombar, nao torturar, e está centralizada devia servir para execugóes públicas. Fi-
no título de rei. É urna parodia grotesca e cava fora da cidade (Hb 13,12).
humilhante. A coroa real é de sargas, o cetro 15.23 A bebida oferecida entorpecía e
é urna cana (implícito), o manto imita a atenuava o tormento. 0 narrador parece
cor da realeza. Segue-se a saudagáo e acla- aludir ao cumprimento de urna profecía (SI
magáo. Depois se anima a zombaria e pas- 69,21; cf. ISm 15,32). “Dai vinho ao afli-
sam aos golpes e ultrajes (cf. Jr 20,7; SI to: que beba e esqueja o sofrimento” (Pr
44,14). Abrutalidade anula a compaixáo. 31,6).
15,21-32 Os narradores da crucifixáo e 15.24 As vestes do condenado eram a
morte langaram máo de textos do AT, com paga dos verdugos; mas o texto alude a SI
preferencia o Salmo 22, a grande súplica 22,18.
do inocente perseguido. O estilo de Mar 15.25 A hora náo coincide com a de Jo
cos neste último trecho é sobrio, diríamos 19,14. Talvez Marcos atribua um sentido
insensível; como se deixasse todo o senti especial á hora terceira.
mento ao leitor. 15.26 Segundo o ponto de vista, o título
15,21 Na trave horizontal da cruz se fi- assume significados diversos: infamia do
xavam ou atavam os bragos para igá-la condenado, zombaria do fracassado, glo
sobre a trave vertical, já fincada na terra. ria do humilhado.
15,40 18 1 MARCOS
criçâo dizia: “O rei dos judeus”. 27Com — Eloi, Eloi, lemá sabachtáni (que
ele crucificaram dois bandidos, um à significa: D eus meu, Deus meu, p o r que
direita e outro à esquerda*. 2gOs que m e abandonaste?).
passavam o insultavam balançando a 35Alguns dos presentes, ao ouvir isso,
cabeça e dizendo: comentavam:
— Aquele que derruba o templo e o — Vé. Ele chama Elias.
reconstrói em très dias, 30que se salve, 36Alguém empapou urna esponja em
descendo da cruz. vinagre, prendeu-a num canigo e lhe
31Por sua vez os sum os sacerdotes, ofereceu de beber, dizendo:
zombando, com entavam com os letra — Quietos! Vejamos se Elias vem
dos: para libertá-lo.
— Salvou outros, a si m esm o nao 37M as Jesús, lanzando um grito, ex-
pode salvar. 320 M essias, o rei de Isra pirou. 380 véu do templo se rasgou em
el, desça da cruz para que o vejam os e dois de cima a baixo. 390 centuriáo, que
creíamos. estava em frente, ao ver como expirou,
Os que estavam crucificados com ele disse:
o injuriavam. — Realmente este homem era filho
33Ao meio-dia toda a regiao escure- de Deus.
ceu até a metade da tarde. 34No meio 40Estavam ai olhando á distancia al-
da tarde, Jesús gritou com voz potente: gumas mulheres, entre elas M aria Ma-
15.27 Talvez a noticia dos dois bandi por inteiro o salmo. Pertence ás lendas de
dos aluda a Is 53,12, citado expressamen- Elias o ser considerado como protetor de
te em alguns manuscritos. Estáo ai como necessitados.
se fossem urna escolta burlesca do rei. 15,36 Na bebida refrescante se lé urna
15,28-30 Os gestos de zombaria, como alusáo ao SI 69,21. Pelo comentário de
em SI 22,7; 109,25. Como se fosse um quem oferece a bebida, parece que procu
pretenso mago. Talvez jogando zombetei- ra prolongar a vida do moribundo para dar
ramente com o nome de Jesús (= o Senhor tempo a Elias (cagoando?).
salva) dizem “que se salve”. 15,37-38 Um grito potente ñas condi-
15,31-32 A observado dos sumos sa góes em que se encontra o moribundo,
cerdotes encerra urna verdade profunda e extenuado e sufocando-se, nao é realista.
paradoxal. Jesús nao pode mudar o desig Provavelmente, para o narrador é a “voz”
nio do Pai (14,35, “se é possível”). da teofania (p. ex. ISm 7,10; Is 29,6), ou
Também o título de Messias tem duplo de uma súplica intensa.
sentido: zombaria na boca dos inimigos, O simbolismo do véu do templo é am
confissáo na boca dos fiéis. Rei de Israel é biguo (Ex 26,31-35). Diz que o culto anti-
o título correto; dito da dinastía davídica go, com seus compartimentos e segredos,
(2Sm 5,12; 12,7). Pedem urna legitimagáo terminou. Ou que o acesso a Deus é agora
in extremis, sabendo que nao chegará. O patente. Recorde-se Ef 2,14 “derrubou o
desafio coincide com o dos ímpios: “Glo- muro de separagáo”, e também “pelo san
ria-se de ter Deus por pai... Se o justo é gue de Jesus, irmáos, temos acesso ao san
filho de Deus, ele o ajudará” (Sb 2,16.18). tuàrio” (Hb 10,19; cf. 9,8).
15,33 As trevas nao sao naturais, mas 15,39 Este é um ponto culminante. Mui-
teofánicas (Am 8,9; Ez 32,7). Todo o ter tos o viram e náo o compreenderam. O
ritorio ou toda a térra. centuriáo representa Roma, o poder pagáo,
15.27 *Alguns manuscritos acrescen- que pela cruz alcanna a fé. O simples
tam: 2S£ se cumpriu a Escritura que diz: centuriáo é agora mais que o procurador.
“e foi contado entre os malfeitores ” (Is Sua confissáo é como a resposta à voz do
53,12). Pai (1,11; 9,7). “Meu servo terá éxito...
15,34-35 E o primeiro versículo do Sal por seu intermèdio triunfará o plano do
mo 22, que a tradigáo conservou em Senhor” (Is 52,13; 53,10). Primicias dos
aramaico. Pode sugerir que Jesús recitou pagáos convertidos.
MARCOS 182 15,41
dalena, M aria máe de Tiago o menor e qoI e o colocou nsm sepulcro escavado
de Joset, e Salomé, 41as quais, quando na rocha. Depois, fez rodar urna pedra
ele estava na Galiléia, o tinham seguido na boca dosepulcro. 47Maria Madalena
e servido; e muitas outras que haviam e Maria de Josel observavam onde o
subido com ele para Jerusalém. colocava.
sentado á direita; e ficaram espantadas. 13Eles foram contá-lo aos outros, que
''Disse-lhes: tampouco creram neles. 14Por último,
— Nao vos espanteis. Procuráis Jesús apareceu aos onze quando estavam á
Nazareno, o crucificado. Ressuscitou, nao mesa. Repreendeu-lhes sua increduli-
está aqui. Vede o lugar onde o haviam dade e o b s tin a d o por nao terem crido
posto. Mas ide dizer a seus discípulos e nos que o haviam visto ressuscitado da
a Pedro que irá á frente deles para a morte. 15E lhes disse;
Galiléia. Lá o veráo, como lhes havia dito. — Ide por todo o mundo, proclaman
8Saíram fugindo do sepulcro, tremen do a boa noticia a toda a humanidade.
do e fora de si. E por puro medo, nada 16Quem crer e for batizado se salvará;
disseram a ninguém. quem nao crer se condenará. 17Estes
sinais acompanharáo os que crerem: em
Epílogo (M t 28,9s; Le 24,13-35; Jo meu nome expulsaráo demonios, fala-
20,11 -18) — 9No primeiro día da sem a ráo línguas novas, 18pegaráo serpentes;
na, pela manhá, Jesús ressuscitou e apa- se beberem algum veneno, nao lhes cau
receu a Maria Madalena, da qual tinha sará daño. Poráo as máos sobre os doen-
expulsado sete demonios. 10Ela foi con- tes, e ficaráo curados.
tá-lo aos seus, que estavam chorando e lsO Senhor Jesús, depois de falar com
de luto. eles, foi levado ao céu e sentou á direi
n Eles, ao ouvir que estava vivo e que ta de Deus. 20Eles saíram para pregar
havia aparecido, nao lhe deram crédi por todos os lugares, e o Senhor coo-
to. 12Depois apareceu disfanjado a dois perava e confirmava a m ensagem com
deles que iam passeando pelo campo. os sinais que a acompanhavam.
clamado por urna voz celeste, e Marcos zer. Lançando mao de várías tradiçôes,
lhe dá a ressonáneia do seu evangelho. acrescentaram os vv. 9 a 20.
Em qualquer hipótese o mais importan A María Madalena: Le 8,2; Jo 20,11-
te é a mensagem. O Nazareno, o homem 18. Com a reaçâo de incredulidade dos
com quem tendes tratado, o crucificado de discípulos.
modo injusto e incompreensível, ressus Aos dois discípulos a caminho de Emaús:
citou (na voz passiva). O sepulcro vazio o Le 24,13-35. Nova incredulidade.
confirma. Essas duas paiavras “o crucifi Aos onze: Le 24,36-43.
cado ressuscitou” sao como um querigma A missáo universal: Mt 28,16-20; Le
primordial, de urgencia. 24,46-49; lTm 3,16. O nao crer se enten
Como outrora ele se apresentou e cha- de como resisténcia positiva à mensagem
mou discípulos, assim agora vai reunir os do evangelho.
seus no lugar dos comegos e se deixará Ascensáo e exaltaçâo: Le 24,50-53; SI
ver por eles. Será o novo comego, consu- 110,1 (cf. 2Rs 2,11; Eclo 48,12).
magao do primeiro; porque aqueles que o Cumprimento da missâo: é o tempo da
virem, terao de dar testemunho disso. Era Igreja, dos Atos e do que vem depois.
isso que as mulheres deviam ter comuni Outro final apócrifo soa assim: “Elas
cado aos discípulos com Pedro à frente. E comunicaram o anuncio inteiro aos que
nao é necessàrio dizer mais. Marcos póe estavam com Pedro. Depois, por meio de
ponto final no seu relato. les, Jesús enviou do Oriente ao Ocidente
16,9-20 Outros membros da comunida- o pregáo santo e incorruptível da salva-
de pensaram que aínda havia muito a di- çâo eterna. Amém ”.
EVANGELHO SEGUNDO LUCAS
IN T R O D U Ç Â O
O livro de Lucas, ou sua prim eira expansüi) da Igreja. Como o A T profe
parte, é, sem dúvida, evangelho, e tem tiza e prtfigura Jesús, assim Jesús pro
muitas coisas em comum com Marcos fetiza e prefigura a missáo dos A pósto
e M ateus. Contado, a obra de Lucas é
bem diferente. los. Forna-os a seu lado, os instruí, os
previne, iá-lhes o seu Espirito. Depois,
Em prim eiro lugar, p o r seu caráter
ao contar seus “atos”, o autor se com-
grego. Usa a língua grega melhor que
praz em tstabelecer paralelos de situa-
os outros, embora nao elimine todos os
Çào e tanbém verbais. O modelo de Je
semitismos tradicionais, em grande par
sús continua atuando.
te devidos ao influxo doAT. Dirige-se
Tamben há um centro espacial, que
a leitores desligados de questóes judai
cas. Oferece urna mensagem mais m e é Jérusalem. A i comeqa o relato e ai se
diatamente acessível a leitores pagaos. concluí o itinerario de Jesús, até que
retorne ao céu. D aí parte a expansüo
Em segundo lugar, apresenta-se co
até os confuís do mundo.
m o historiador de estilo grego: cuida
doso ao consultar suas fon tes e apurar Lucas entrelaqa seu relato com da
os fatos, curtido em viagens, especial tas da historiografía profana, com sen
m ente marítimas. M enciona um círcu tido encamacionista. Por seus olhos,
lo de testem unhas oculares: depois, um uma comunidade autónoma e consoli
grupo de narradores (que poderiam ser dada voltaoolhar para repassar as pró-
os mesmos). P or detrás, vem ele para prias origens, que sáo a vida de Jesús
recolher e ordenar. Sem deixar de pro desde a infancia. Urna comunidade, já
clamar a fé, querfazer obra de historia curada de aguardar urna parusia imi-
dor. N a hora de compor suas cenas, nao nente, toma consciéncia do seu ser e
é puram ente grego: depende de tradi- da sua vocaqáo histórica, no seio da
qóes evangélicas escritas e talvez oráis, ordenaqáo política do seu tempo.
e segue a grande tradiqáo narrativa
hebraica. Perfil do evangelho
Em terceiro lugar, porque seu evan
A) Quanto à com posiçâo. Embora em
gelho é nada mais que a prim eira p a r boa parte esteja condicionado pelo mo
te de urna obra maior, que continua nos delo de Marcos, inclusive na ordem de
A tos dos Apóstolos. Com essa opera- varias perícopes, epor materiais que com-
gao, o evangelho passa a ocupar urna partilha com Mateus, Lucas compôe a
posiqáo intermédia, a metade dos tem seu gosto. b¡o bloco da infáncia cons-
p os: entre o anuncio e preparaqáo do trói um díptico de correspondéncias ri
AT, que se estende até o Batismo, e o gorosas, entre Isabel e Maria, Joâo e Je
tempo da Igreja, que comeqa em Pen- sús. Estabelecida a simetría de base,
tecostes. A preparaqáo da antiga eco pode efetuar deslocamentos significa
nomía é essencial para compreender a tivos. Très hinos, em estilo bíblico, bali-
m issáo de Jesús. Os personagens da zam o relato.
infancia, especialmente Simeáo, encar- O que mais sobressai no livro, segun
nam essa tensáo do passado para o do opiniáo comum, é o relato da gran
m om ento culminante que chegou. N áo de viagem ascensional: para Jerusalém
m enos im portante é a continuaqáo, a (9,51) arrastando os discípulos; para
INTRODUÇÂO 185 LUCAS
1,1-4 Lucas compoe com grande cui Lucas compóe em quadros paralelos
dado um prólogo no estilo retórico da épo duas anunciagóes angélicas, dois nasci
ca, para justificar ou explicar o novo rela mentos, dois hinos de agáo de grabas, a
to de fatos já contados, o método de estudo máe estéril e a máe virgem; o encontni
e exposigáo, a finalidade do livro. Nao sen das duas máes, que é encontro pré-natal
do ele testemunha ocular, atém-se à tradi- de Joáo e Jesús. Estas as duas persona
gáo dos que assistiram e que estiveram a gens principáis: Joáo precede no tempo,
servido da palavra, da mensagem evangé Jesús na dignidade. A relagáo se proion
lica. Seu relato remontará aos comegos e gará no capítulo 3. A composigáo para
estará exposto com ordem (nao necessa lela faz ressaltar a categoría excepcio
riamente cronológica). Nos acontecimen- nal de María e Jesús. Nao há paralelismo
tos se cumpriu um designio; contá-lo dá entre Zacarías e José, que atua em según
garantía a um ensinamento. Lucas está do plano.
consciente de ter composto urna obra li 1,5-25 Era o tempo do chamado He
teraria. rodes o Grande (37-4 a.C.). Os país tém
algo de patriarcas, embora ele seja um
1,5—2,52 O chamado “evangelho da in sacerdote que profetiza e o filho venha a
fancia” ocupa dois longos capítulos e é ser grande profeta, como os sacerdotes
c o n trib u ito pròpria de Lucas, que pode profetas Jeremías e Ezequiel. Seu sacer
contar com informagóes oráis ou com do docio tem a legitimagáo da estirpe (Abias,
cum entado já elaborada. Ele nos conta lC r 24,10); ela é descendente de Aaráo.
que o Espirito preenchia ou guiava ou ins Seu nome significa O-Senhor-lembra, o
pirava as principáis personagens. Num déla Meu-Deus-jura ou promete. Hero
mundo de relajóos familiares e de políti des nao tem tal legitim ado. Isabel é es
ca imperial irrompe e age urna presenta téril: náo por castigo (Micol, esposa de
celeste. Lucas projeta nestas páginas a Davi, 2Sm 6,23), mas como outras mu-
deslumbrante e depurada luz da ressur- lheres ilustres, Sara, Rebeca e Raquel (Gn
reigáo. 11,30; 17,16-17; 25,21; 29,31), e sobre -
O estilo do relato semítico é mais mar tudo como Ana, a máe do profeta Samuel
cado nestes capítulos: sao abundantes as (ISm 1-2), que consagrou Daví. Os país
expressóes de cunho hebraico, claras re sáo ademais exemplares segundo a reli-
miniscencias do Antigo Testamento, pa giosidade tradicional (Jó 1,1; Tb 1,3; Ez
ralelismos de ascendencia poética, padróes 36,27): sua justiga aceita por Deus con
narrativos: tres hinos transformam o rela siste no cumprimento exato de todos os
to em oragáo. preceitos.
187 LUCAS
"('cria vez, quando oficiava diante de no 16e converterá muitos israelitas ao Se
Dciis com os do seu turno, 9conforme nhor seu Deus. 17Irá à frente, com o espi
ii ritual sacerdotal, coube-lhe entrar no rito e o poder de Elias, para reconciliar
Mutuario para oferecer incensó. 10En- pais com filhos, rebeldes com o modo
uiinnto isso, a multidáo do povo ficava de ver dos honrados; assim preparará
fura, orando durante a oferta do incen- para o Senhor um povo bem disposto.
«i, “ Apareceu-lhe um anjo do Senhor, 18Zacarias respondeu ao anjo:
do pé á direita do altar do incensó. 12Ao — Q ue garantía me dás disso? Pois
vi lo, Zacarías se assustou, tomado de sou anciáo, e minha m ulher de idade
li'inor. 130 anjo lhe disse: avanzada.
— Nao temas, Zacarías, pois teu pe 190 anjo lhe replicou:
dido foi ouvido, e tua m ulher Isabel te — Eu sou Gabriel, e sirvo na presen
ilurá um filho, a quem chamarás Joáo. t a de Deus: enviaram-me para falar-te,
Hlile te encherá de gozo e alegria, e para dar-te esta boa noticia. 20M as olha:
imiitos se alegraráo com o seu nasci- Ficarás mudo e sem poder falar, até que
mento. 15Será grande diante do Senhor; isso se cumpra, por nao teres crido em
MltObeberá vinho nem licor. Estará cheio m inhas palavras, que se cum priráo em
de Espirito Santo desde o ventre mater- seu devido tempo.
1,8-10 Os sacerdotes oficiavam por tur 14; 25,21). O nome Joáo significa O-Se-
nos de permanencia, e oferecer o incenso nhor-se-compadece. Logicamente, o filho
ora privilègio nao repetido. O rito era fei- será uma alegria para o pai, que assim terá
Id no altar especial do incenso (Ex 30,7.34- um sucessor (Jr 20,15; e Sara em Gn 21,6).
,18; SI 141,2), no interior do templo, en A alegria será partilhada por muitos aos
guanto o povo esperava no àtrio exterior. quais a missáo da crianza afetará (Gn 30,
A revelagao acontecerá em contexto cúbi 13; Is 9,2; 66,10).
co, como a de Isaías (Is 6 ). 1,15-17 Segue a breve descrido de seu
1.11-20 A aparigáo angélica imita mo destino. Será grande na apreciado decisi
delos tradicionais, como os de Gedeáo e va do Senhor: “o maior até agora entre os
Sansáo (Jz 6,12; 13,3), e se ordena ao orá nascidos de mulher”. Como os nazireus,
culo de anunciado, segundo os cánones se absterá de vinho (Nm 6,3; Jz 13,4).
do gènero. Sao tópicos da cena: a apari- Cheio do Espirito, como Josué (Dt 34,9) e
Sfio inesperada, o susto, a objegáo, o sinal. nisso consistirá sua grandeza. Ou como
0 oráculo costuma anunciar a concepgáo, Elias (cf. 2Rs 9,15), com o qual exercerá
o nascimento, o nome e o futuro do meni a f u n d o profètica de “converter” (Jr
no; às vezes acrescenta prescrigóes die 3,12.14; 15,19; 18,11; Dn 12,3 “brilharáo
téticas (Gn 16,11-12; Jz 13,3-5; Is 7,14-16). como estrelas”), e a fu n d o específica de
1.11-14 O grego é decalque do hebraico “reconciliar”. Do texto bíblico (MI 3,23-
(mal’ak Yhwh): com a expressáo “anjo do 24) suprime a segunda parte, “converter
Senhor” designa uma m anifestado, às os filhos aos pais” (como já tinha feito Eclo
vezes visual, do Senhor. (No v. 19 identi- 48,10), talvez porque o movimento é ago
fica-se com o nome pròprio.) Provoca o ra todo para o futuro, náo para o passado.
temor numinoso ou intimidado da presen A cláusula paralela traga o perfil ético da
ta do divino ou do sobre-humano (Dn 10,7 reconciliado, como que evitando m alen
no ouvi-lo, Hab 3,18). tendidos. Assim prepara para o Senhor um
1,13-14 O oráculo é pormenorizado. povo (cf. Is 43,21) bem disposto a receber
Cometa com a fórmula clàssica: “nao te a novidade que se aproxima (cf. Am 4,12).
mas”, que serve para conter o pavor ini 1,18-20 Duvida como Abraáo e Sara (Gn
cial: a divindade chega com intendo pa 17,16; 18,11), pede um sinal como Gedeáo
cífica. Além disso serve para dispor o (Jz 6,36-40). A objegáo serve ao narrador
ànimo á recepgáo da mensagem. A seguir para encarecer o puro dom de Deus, o mi-
vem o anúncio: o nascimento de um filho, lagre da fecundidade (cf. Is 66,9). O anjo
que será dom especial de Deus, respon- está a servigo de Deus, assiste à corte divi
dendo ao pedido do sacerdote (Gn 18,10. na, segundo representagóes tradicionais.
LUCAS 188
tAK ít luz um filho, a quem chamarás que era considerada estéril já está de seis
Ir,sus. 32Ele será grande, levará o título meses.37Pois nada é impossívelpara Deus.
ilo h’ilho do A ltíssim o; o Senhor Deus 38M aria respondeu:
llic dará o trono de D avi seu pai, 33para — A qui tens a escrava do Senhor.
i|hc reine sobre a C asa de Jaco para Que sua palavra se cumpra em mim.
«■mpre, e seu reinado nao tenha fim. O anjo a deixou e se foi.
wMaria respondeu ao anjo:
— Como acontecerá isso, se eu nao M aria visita Isabel — 39Entáo Maria
convivo com um homem? se levantou e se dirigiu apressadamente
•I50 anjo lhe respondeu: à serra, a um povoado da Judéia. 40En-
— O Espirito Santo virá sobre ti e o po trou em casa de Zacarías e saudou Isa
der do Altíssimo te fará sombra; por isso bel. 41Quando Isabel ouviu a saudaçao
a consagrado que nascer levará o título de Maria, a criatura deu um salto em seu
ilc Filho de Deus. 36Vé: Também tua pá ventre; Isabel, cheia de Espirito Santo,
rente Isabel concebeu em sua velhice, e a 42exclamou com voz forte:
1,34 Da objeçâo autores antigos e mo final, confessa: “nenhum plano é irreali-
dernos deduziram um voto virginal de Ma zável para ti” (Jó 42,2).
ría; todavía, o presumido voto nao concor 1.38 Maria nao usa um verbo ativo na
da com os dados do contexto. Urna objeçâo primeira pessoa, “cumprirei” (Ex 19,8),
do destinatàrio é corrente no género anun- mas um intransitivo “aconteça”: o que dis
eiaçâo; a presente serve para que o narrador se o anjo, ou seja, a açâo divina e sua con-
lublinhe a concepçâo sem intervençâo do seqüência (como um novo Génesis). Dei-
varáo. Podemos, sim, afirmar, por força do xar Deus agir é a suprema humildade e
contexto, que Maria se pusera à inteira dis- grandeza de Maria (1,49). A tradiçâo en-
posiçâo de Deus, incluida sua capacidade tendeu o consentimento de Maria como
maternal, que é bênçâo genesíaca. pronunciado em nome da humanidade.
1,35-37 Num parágrafo breve, recebemos 1.39-56Areclusáo de Isabel se abre para
pela voz do anjo um resumo de cristologia. receber a visita de sua prima. As duas li-
A maternidade será obra do Espirito (cf. Jo nhas paralelas se cruzam numa intersecçâo
3,5); o “poder” de Deus agirá como som transcendental. O novo episodio, o encon
bra que fecunda (cf. SI 91,1; 121,5). Espi tro de duas parentes em sua primeira gra
rito e poder ou força formam um para videz, se polariza para o encontro misterio
lelismo, porque o Espirito é o dinamismo so de Jesus e Joáo e para o hiño de Maria.
de Deus criador e recriador. Ñas fórmulas Joâo, o anunciado, é chamado antes de
“vir sobre” e “cobrir com a sombra” alguns nascer: “Antes de formar-te no ventre, eu
Icram urna sutil alusao nupcial. Outros au te escolhi; antes de saíres do ventre te con-
tores o relacionaram com a sombra da nu- sagrei” (Jr 1,5; Is 49,1).
vem, segundo Ex 40,34: “A nuvem cobriu 1.39 De Nazaré a um povoado (desco-
a tenda do encontro e a gloria de Yhwh en- nhecido) da Judéia seriam uns dois dias
cheu o santuàrio”. E uma explicaçâo su de caminhada. Podemos supor que o sa
gestiva: Maria coberta pelo Espirito e cerdote Zacarias nao morava longe de Je-
cheia da gloria de Deus. Nascendo de mu- rusalém e do templo. A tradiçâo localizou-
lher, nasce homem. Sendo concebido pela o em Ain Karim.
açâo do Espirito nascerà consagrado, “san 1.40-41A saudaçao de Maria é medianeira
to” por exceléncia (4,34; cf. o título divino de gozo e de inspiraçâo celeste. A criatura
“Santo de Israel” em Is 5,19.24; 37,23 etc.). expressa seu gozo inconsciente (de sinal con
E será Filho de Deus de modo especial, nao tràrio os gémeos de Gn 25,22). Isabel fala
simplesmente como Adáo (3,21). profetizando. Alguém quis ver Maria como
A maternidade de Isabel serve de sinal a arca da aliança, com base em 2Sm 6 .
náo solicitado do que foi anunciado, do 1,42 A interpretaçâo profètica mencio
poder divino. “Há algo difícil para Deus?”, na très elementos conjugados: a fé, a ma-
diz o Senhor anunciando ao cético Abraáo temidade, o Messias. Bendita: embora pos
a maternidade de Sara (Gn 18,14); Jó, no sa recordar mulheres ilustres (Jael, Jz 5,24;
LUCAS 190 1,43
Judite, Jt 13,18; Abigail, ISm 25,33), o con samente a maternidade, implícita no con
texto próximo nos convida a pensar na texto próximo. Nao é improvável que Lu
béngáo genesíaca da fecundidade (Gn 1, cas tenha adaptado um hiño já existente. Do
28; 9,1; 17,16; Dt 28,4). Nenhuma mater- càntico de Ana e seu contexto (ISm 1—2)
nidade da historia pode ser comparada com toma: o tema básico da maternidade (2,5),
a de María; a ela estavam direcionadas as duplas poderosos/humildes, ricos/pobres
muitas maternidades precedentes. (2 ,5.7.8), a reviravolta da situagáo, o gozo
1,43 Chama o filho de Maria de “meu da celebragáo (2,1), a santidade de Deus
Senhor”, como que reconhecendo o Mes- ( 2 ,2 ), a atengào para a humildade ou hu-
sias. Nao sabemos se o autor alude a SI 110,1. milhagáo (1,11), o Deus de Israel (1,17).
Na pluma e boca cristas, Senhor é título 1.46 A grandeza: SI 34,4; 69,31.
divino de Jesús Cristo. A béngáo acrescenta 1.47 O hinoé alegre, festivo. A “alegria”
a felicitagáo (macarismo), a primeira de irrompeu pela saudagáo de Gabriel, e agora
urna série sem fim: a fé é mérito principal: toma a palavra na boca de Maria. Meu sal
crendo, tomou possível o cumprimento. vador: 2Sm 22,3; Is 43,3.
1,46-55 Maria dirige o louvor para Deus, 1.48 Humildade e humilhagáo: Maria
que fez tudo, ao passo que ela deixou fa- pertence ao “povo pobre e humilde” que o
zer. Na passagem prodigiosa da virginda- Senhor conservou (Sf 3,12). Me felicita
de a maternidade ela descobre o estilo e o ráo: como as vizinhas de Lia por causa do
esquema da agáo renovadora de Deus, nascimento de Aser ( = Félix, Gn 30,13),
manifestada também na esfera política e mas projetado para um futuro sem fim.
na económica (ISm 2,4-8; SI 113,6-9): nao Profecia que vem se cumprindo na igreja.
para mudar os lugares, deixando as coisas 1.49 Poderoso: Sf 3,17. Gabriel mencio-
como estáo, mas sim no espirito messiáni- nava o “poder” do Altissimo. Proezas: SI
co das bem-aventurangas (felicidades, ven 126,2-3; J1 2,20-21. Santidade: o triságio
turas). A ela felicitaráo (Gn 30,13; Ct 6,9) de SI 99; Is 57,15; Gabriel havia apelado
todos os que reconhecerem esses valores. ao Espirito Santo e ao futuro menino san
Ela é a “serva” que representa Israel, “ser to ou consagrado.
vo” desvalido e socorrido por Deus (e tam 1.50 Misericordia: SI 103,17; e o estri-
bém a igreja das bem-aventurangas). O bilho litúrgico do Salmo 136.
hiño é de puro estilo bíblico, cheio de ci- 1,51-52 Exerce o poder: SI 118,15-16. O
tagóes e reminiscencias do AT. brago: Ex 15,16; Is 51,5.9. Desbarata, derru-
O cántico está composto em estilo de ba: SI 89,10-11 (davidico); Jó 5,11-12; 12,19.
hiño, com temas tradicionais. Divide-se 1.53 SI 57,9 e as mudanzas de SI 107,33-
em duas secóes, com o corte final do ver 41. Vazios: Dt 15,13.
sículo 50. Parece enlacar-se a Israel, o po- 1.54 Seu servo: Is 41,8. Se a misericor
vo escolhido; no tempo, parte de Abraáo e dia é pura iniciativa, a lealdade supóe um
continua sem fim. Náo menciona expres- compromisso: SI 25,6; 98,3.
1,69 191 LUCAS
competía ao rei salvar (Saúl, ISm 10,27; um 1,80 Como Sansáo (Jz 13,24-25); como
rei de Israel (2Rs 7,26s). Davi tem o título o menino Samuel (ISm 2,21). Mora no
de “servo” (2Sm 3,18; 7,8; SI 89,4.21). deserto como Elias (IRs 17); no seu caso,
1.70 Sem dar nomes, supóe que vários esse retiro significa afastar-se do templo e
profetas anunciaram o Messias. do culto. A sua atividade fica pendente até
1.71 Tema freqüente nos salmos (p. ex. o capítulo 3.
18,1; 31,16; 106,10.45).
1.72 Deus “se recorda”, leva em conta a 2,1-7 Segundo quadro do segundo
sua alianga, é coerente com seu compro- díptico: nascimento de Jesús. Posto junto
misso (Ex 20,6; SI 18,15; SI 105,8). ao nascimento de Joáo, ressalta pela dife-
1.73 Promessa com juramento, alianga renga. Para o quadro histórico, Lucas nao
em forma de compromisso unilateral. poupa dados; para o nascimento do Sal
1,74-75 Traduz as promessas patriarcaís vador, elege a brevidade e a simplicidade.
em termos de servido auténtico. Livrará do O Messias nasce como qualquer homem
“temor” (74) e do pecado (77). Para urna vida “No ventre materno foi esculpida minha
“a servigo”, tambcm cúltico, do Senhor. carne... também eu respirei o ar comum.
1,76-79 O destino de Joáo é sua missáo, e ao cair na térra que todos pisam estreei
de abrir caminho para outro, para o “Se minha voz chorando, como todos” (Sb 7,3-
nhor” (76). Abre caminho como arauto, 6 ; G14,4), mais pobremente que a maioria
“anunciando a salvagáo” (77) e dispondo o (9,58): “por vós fez-se pobre para enrique-
povo para o perdáo pelo arrependimento cer-vos com sua pobreza” (2Cor 8,9). Mas
(77). Assim ele poderá chegar: o esperado, os planos humanos de poder c dominio, o
a luz no caminho da vida e da historia. recenseamento, se subordinam ao plano
1.76 Será o precursor, segundo MI 3,1 e divino, anunciado pelo profeta: o Messias,
Is 40,3. como descendente de Davi — José o ga
1.77 A experiencia da salvagáo pelo per rante — , há de nascer em Belém (ISm
dáo dos pecados (Jr 31,34; 33,8; SI 130,4). 16,1; Mq 5,1). Séculos antes, o recensea
1.78 Entranhável: título clássico de Deus mento de Davi provocou um castigo divi
(Ex 34,6; Dt 4,31; SI 103,8). Pelo contex no (2Sm 24). Nasce como súdito do im
to, o grego anatolé parece significar, nao perador do mundo de entáo, Augusto (30
broto, mas o levante, o levantar-se da luz a.C.—14 d.C.); que Deus guia como ins
que assoma e ilumina; mas nao vem do trumento (cf. Is 10,5). Hoje se considera
oriente, e sim “do alto”, do céu: “sobre ti como data mais provável o ano 6/5 a.C.
amanhecerá o Senhor” (cf. Is 60,1-2). “Primogénito” diz que é o primeiro, sem
1.79 Alusáo a Is 9,1; 42,7. O caminho supor que haja outros, pois indica uma
da paz: Is 59,8. qualidade legal (Ex 13,2; Dt 21,15-17). Em
2,15 19 3 LUCAS
provar a mensagem: serao testemunhas que chega. A esperanza alimentou sua vida,
oculares como o foram escutando, “o que a expectativa alimenta sua velhice, náo o
haviam visto e ouvido” (cf. Is 43,10. 12; deixando morrer. A esperanza funda-se em
44,8). Os fatos comprovam as palavras, e muitas profecías, na expectativa de unni
estas revelam o sentido dos fatos. Primei- promessa pessoal do Espirito Santo. No
ro é o grupo reduzido (17); depois vem a AT, “ver a salvagáo” pode significar sim
divulgagáo (18); segue-se a interiorizagáo plesmente assistir a urna agáo salvadora
de Maria, que guarda tudo na memoria e o de Deus; pode equivaler a desfrutar déla.
medita (talvez Lucas aponte para Maria Em Simeáo se acumulam os significados:
como fonte última de informagáo). Maria ver é ter nos bragos, desfrutar, porque a
é modelo da Igreja que contempla os mis- salvagáo é o Salvador. Certo de um futuro
térios da vida de Cristo. espléndido (32) que comega, pode morrer
2,21 A circuncisáo é sinal da promessa tranqüilo; como se fosse a alforria de um
crida (Gn 17,12) e é lei para Israel (Lv escravo(Ex 21,26-27; Dt 15,13). Penetrou
12,3). Jesús nasce sob a lei (G1 4,4); mas no NT antes de morrer.
náo é a lei que salva, e sim ele, como o diz 2.25 Trata-se do consolo escatologico,
seu nome, imposto por Deus, para marcar messiànico (Is 40,1); “o Senhor consola
o seu destino (cf. Is 12,2). seu povo” (49,13; SI 94,19).
2,22-24 “Nascido sob a lei” (G1 4,3). 2.26 *Ou: O Ungido do Senhor (cf. ISm
Segundo a legislagáo (Lv 12,8; Ex 13,2. 24,7; SI 84,10; 89,39.52; Lm 4,20). Aqui
12.15). Embora já tenha nascido “consa em sentido messiànico estrito.
grado” (1,35). Vemos que “primogénito” 2.30 Viram: Is 40,5; “um rei em seu es
é qualidade que náo diz nada do que ve- plendor” (Is 33,17).
nha ou náo depois. A lei de Moisés con- 2.31 Todos os povos: Is 52,10; SI 98,2.
duz o Filho do Altíssimo á casa do Pai. 2.32 “Fago de ti luz das nagóes” (Is 42,6;
2,25-32 O velho e o menino. Em Simeáo 49,6).
se alonga o AT para se unir com o Novo; 2,34-35 A béngáo é provavelmente sa
estica o pescogo para ver a personagem cerdotal (como em ISm 2,20). Destino
195 LUCAS
mil; será uma bandeira disputada, e as 39Cum pridos todos os preceitos da leí
olili l icaráo evidentes os pensamentos de do Senhor, voltaram á Galiléia, à sua
nulos. '“’Quanto a ti, uma espada te atra cidade de Nazaré. 40O menino crescia
vesará. e se fortalecía, enchendo-se de saber; e
"'listava ai a profetisa Ana, filha de o favor de Deus o acompanhava.
I limici, da tribo de Aser. Era de idade
«migada, vivera com o marido sete anos O m enino Jesús no templo — 41Por
ilqiois do casam ento 37e permaneceu ocasiáo da festa da Páscoa, seus pais iam
viuva até os oitenta e quatro. Nao se afas- a Jerusalém todos os anos. 42Quando
iiiva do templo, servindo noite e dia com cumpriu doze anos, subiram à festa se
magües e jejuns. 38Apresentou-se nesse gundo o costum e.43Ao terminar a festa,
momento, dando gragas a Deus e falan- enquanto eles voltavam, o menino Je
lo ilo menino a todos os que aguarda- sus ficou em Jerusalém, sem que seus
vmn o resgate de Jerusalém. pais o soubessem. ^Pensando que esti-
Iiiimático do Messias e de sua máe. Como 2,41-52 Jesús completa a idade em que
Imido, pode-se 1er a profecía de MI 3,1: assume suas obrigagóes legáis: a marca
mitrada do Senhor no santuàrio e grande inicial da circuncisáo desemboca na en
iiiirificagáo. A profecía está formulada em trega da lei. Esta submete agora com mais
imagens ou com tragos bélicos: o sinal ou autoridade que o pàtrio poder. Cheio de
^Mandarte (SI 74,4.9), o tomar partido (cf. sabedoria e graga, dà uma ligáo dolorosa a
12,51), o cair e levantar-se (Is 8,14; SI 20,9), seus pais, contrastando duas paternidades.
ii espada como emblema (Ex 33,2; Am 9,4). Dá também uma ligáo aos doutores da lei
2,35 A primeira frase está entre parén- no templo de Jerusalém.
ii'ses em vários manuscritos. Caso tradu Jesús é filho carnal de Maria, pela qual
ci um semitismo, equivale: a “a espada está ligado fisicamente á humanidade.
,ilravessará o pescogo” (cf. Jr 4,10). Ou- Está ligado a eia por afeto e submissáo
uos procuram antecedentes em Ez 14,17; filial. Mas essa relagáo fica relativizada
/,c 12,10; 13,7. Os pensamentos: Dt 8,2. e submetida a outra superior. Jesús é filho
2,36-38 Segundo seu costume, Lucas poe legal de José, pelo qual fica registrado ofi
uma mulher ao lado de um homem. Ana cialmente como descendente de Davi. Mas
procede de uma tribo setentrional, é viúva também a sua relagáo com José fica relati
c anciá, como Judite (Jt 16,22-23), profetisa vizada e submetida á relagáo de Jesús com
romo Débora (Jz 4—5), ou Huida (2Rs o Pai.
22,14). Segundo Joel (3,2) nos últimos tem O adolescente está cortando muitos vín
pos profetizaráo homens e mulheres, jovens culos com um só gesto, que por isso se
<■anciáos. Ana se une a Simeáo: para o torna espetacular e dramático, como agáo
narrador a coincidencia nao é casual. O simbólica. Náo pede permissáo, porque
"resgate de Jerusalém” é expressáo única recebe ordens diretamente do Pai. Maria e
(cf. Is 52,9): poderia sugerir o resgate da José ficam implicados, tém que contribuir,
cscrava. Dirigindo-se á matrona Jerusalém, com sua angùstia e dor, para a trama: no
o Senhor lhe atribuí o título “teu Reden final, esses atores náo compreenderam
tor” (Is 49,26; 54,5; 60,16). completamente. O relato de Lucas pòe em
2,39-40 Semelhante a 1,80, só que sem primeiro plano a relagáo suprema e miste
ictirar-se ao deserto. Lucas se detém na riosa de Jesus com o Pai.
i|ualidade sapiencial que inclui conheci- 2.41 Segundo Dt 16,1-8. Veja-se o pa
inentos, juízo sáo, sensatez. Náo o recebe ralelo de ISm 1,3.7.21; 2,19.
de uma vez (como poderia sugerir Is 11,2), 2.42 É a segunda viagem explícita de
mas por maturagáo lenta; como o apresen- Jesus a Jerusalém e ao templo, como uma
lam os mestres sapienciais. Vejam-se os visita ao Pai.
paralelismos com o menino Samuel (ISm 2.43 É a primeira iniciativa independen-
2,21.26; 3,19). Na sua pregagáo Jesús ado- te e consciente de Jesus.
lará o estilo sapiencial com mais freqiièn- 2.44 Supóe que a caravana se repartía
eia que o profètico. em vários grupos. Tampouco entre “pa-
LUCAS 196 2,4,
vesse na caravana, fizeram um dia de 50Eles náo entenderam o que lhes dis-
viagem e começaram a procurá-lo entre se. 51Desceu com eles, foi a Nazaré <
parentes e conhecidos. 45Náo o encon continuou sob sua autoridade. Sua mac
trando, voltaram a Jerusalém à procura guardava tudo isso em seu íntimo. 52Je
dele. 46Após très dias, o encontraram no sus progredia em saber, em estatura c
templo, sentado em meio aos doutores, no favor de Deus e dos homens.
escutando-os e fazendo-lhes perguntas.
47E todos os que o ouviam estavam ató Pregagáo de Joáo Batista (Mt 3,1
nitos com sua inteligência e suas respos-
tas . 48Ao vé-lo, ficaram desconcertados,
3 12; Me 1,1-8; Jo 1,19-28) — 'No
ano quinze do reinado do imperador
e sua mâe lhe disse: Tibério, sendo Póncio Pilatos govema
— Filho, por que nos fizeste isso? dor da Judéia, Herodes tetrarca da Ga-
Vê: teu pai e eu te procurávamos angus liléia, seu irmáo Filipe tetrarca da Itu
tiados. réia e da Traconítide, e Lisánias tetrarca
49Ele replicou: da Abilene, 2sob o sumo sacerdocio de
— Por que me procuráveis? Nao sa- Anás e Caifás, a palavra do Senhor foi
bíeis que eu tenho de estar na casa do dirigida a Joáo, filho de Zacarías, no de
meu Pai? serto. 3Percorreu toda a bacía do Jordáo
prios se Joáo nao seria o Messias, I6Joáo corpórea de pomba e ouviu-se um;i vi<
dirigiu-se a todos: do céu:
— Eu vos batizo com água; mas está — Tu és o meu Filho querido, o inm
para chegar aquele que tem mais auto- predileto.
ridade que eu, e eu náo tenho direito de Sfclr i' -i • V
desam arrar-lhe a correia das sandálias. Genealogía de Jesús (M t 1,1-17)
Ele vos batizará com Espirito Santo e 23Q uando Jesús começou seu minisU'
com fogo. 17Já em punha a pá para pe- rio, tinha trinta anos e passava por h
neirar sua eirá: recolherá o trigo no ce- lho de José, que o era de Eli, 24o de Mil
leiro, queim ará a palha num fogo que tat, o de Levi, o de Melqui, o de Janai
náo se apaga. o de José, 25o de Matatías, o de Amos,
18Com muitas outras exortagóes anun- o de Naum, o de Esli, o de Nagai, ' o
ciava ao povo a boa noticia. de Maat, o de Matatías, o de Semeín, o
190 tetrarca Herodes, repreendido por de Josec, o de Jodá, 27o de Joaná, o di
Joáo por causa do assunto de Hero- Ressa, o de Zorobabel, o de Salatiel, o
díades, sua cunhada, e pelos dem ais de Neri, 28o de Melqui, o de Adi, o de
crim es com etidos, 20acrescentou a to Cosá, o de Elmadá, o de Her, 29o de .!<•
dos o de prender Joáo no cárcere. sus, o de Eliezer, o de Jorim, o de Matul,
o de Levi, 30o de Simeáo, o de Judá, o
Batismo de Jesús (Mt 3,13-17; Me 1,9- de José, o de Joná, o de Eliacim, 31o di
11) — 21Enquanto todo o povo se bati- Meléia, o de Mená, o de Matatá, o de
zava, tam bém Jesús se batizou; e en- Natá, o de Davi, 32o de Jessé, o de Obed
quanto orava, o céu se abriu, 22desceu o de Booz, o de Salá, o de Naasson, 33o
sobre ele o Espirito Santo em figura de Aminadab, o de Admin, o de Arni, o
3,18 Além de profeta, Joáo é arauto de 3.21 Como em outras ocasióes, Lucas
boas noticias (cf. Is 40,9), por suas últi registra o fato da oragáo sem informar so
mas palavras, anunciando a proximídade bre o conteúdo. Pode-se conjecturar que
do Messias. pega o que se cumprirá ¡mediatamente. O
3,19-20 Esse anúncio é a última palavra céu se abre para revelar um mistério (Is
pública de Joáo. Herodes o encarcera por 63,19; Ez 1,1).
que o profeta se tinha atrevido a denun 3.22 A voz do Pai se dirige em segunda
ciar o pecado do tetrarca; destino seme- pessoa a Jesús: “tu és” (SI 2,7). No segun
lhante ao de Jeremías, preso para que náo do predicado soa um eco do canto an
falasse. gélico, eudokia. A expressáo “em figura
3,21-22 Mas antes do aprisionamento corpórea” é enfática e própria de Lucas.
aconteceu este grande episodio: novo en 3,23-38 Este Filho de Deus é também
contró de Joáo com Jesús, já adultos. O Filho da humanidade, ben ’adam. Paulo
batismo de Jesús, sumariamente registra remonta a Davi (Rm 1,3), Mateus sobe até
do por Lucas, apresenta-se quase como Abraáo, Lucas até Adáo e Deus. Em últi
agáo simbólica: humilhagáo que provoca ma análise, todos nós homens somos “fi-
a exaltagáo (cf. F12,8-10). Misturado com Iho-de-Adáo”. Nesta lista náo figura ne-
os pecadores sem o ser, Jesús recebe o nhuma máe; compensa-o o relevo de
duplo testemunho do Espirito e do Pai. Maria. As genealogías sáo listas intro-
Testemunho, por autoridade e conteúdo, duzidas no Génesis (Gn 5; 10; 36), am-
muito superior ao do Batista. O Espirito plamente exploradas em lC r 1—4. Lucas
se manifesta em imagens (a pomba da arca, escolhe a disposiçâo ascendente, menos
Gn 8,12, ou do amor, Ct 2,10), o Pai na usada.
voz (Jo 12,28.30). O testemunho do Pai Embora menos que Mateus, Lucas es
sobre o Filho há de orientar e iluminar toda tiliza sua lista em 77 nomes, onze sete-
a narragáo seguinte. Adescida do Espirito nários: très até o exilio, très até Davi, dois
é como a consagragáo ou ungáo do Mes até Isaac, très até Adáo. Algumas perso-
sias para seu ministério. nagens importantes ocupam o lugar inicial
199 LUCAS
lou. A sinagoga inteira tinha os olhos ve fechado tres anos e meio e houve
Iixos nele. 21Ele comegou dizendo-lhes: grande carestía em todo o país. 26A ne-
— Hoje, em vossa p resenta, cum- nhum a délas foi enviado Elias, a náo
priu-se esta Escritura. ser á viúva de Sarepta, na Sidónia. 27Ha-
22Todos o aprovavam, admirados com via m uitos leprosos em Israel no tem
i-ssas palavras sobre a gra§a* que saiam po do profeta Eliseu; ninguém ficou
ile sua boca. E diziam: curado a náo ser o sirio Naamá.
— Mas nao é este o filho de José? 28Ao ouvir isso, todos na sinagoga se
23Ele lhes respondeu: indignaran!. 29Levantando-se, expulsa-
— Sem dúvida me diréis aquele re- ram -no para fora da cidade e o levaram
l'ráo: médico, cura-te a ti mesmo. O que a um precipicio do monte sobre o qual
ouvimos que aconteceu em Cafarnaum, estava construida a cidade, com inten-
laze-o aqui, em tua cidade. gáo de precipitá-lo de lá. 30Ele, porém,
24E acrescentou: passando entre eles, foi-se embora.
— Asseguro-vos que nenhum profe
ta é aceito em sua pàtria. -“ Certam ente, O e n d em o n in h ad o (M e 1,21-28) —
vos digo, havia muitas viúvas em Israel 31Desceu a Cafarnaum, cidade da Gali
no tempo de Elias, quando o céu este- léia, e aos sábados ensinava o povo.
32Estavam assom brados com seu ensi- por eia. 39Ele se inclinou sobre eia. n
namento, pois falava com autoridade. preendeu a febre, e eia passou. Imcdm
33Havia na sinagoga um homem pos- tamente levantou-se e se pòs a servi li >■
suido pelo espirito de um demonio ¡mun 40Ao pór-do-sol, todos os que tinham
do, que comegou a gritar: doentes atingidos de diversos males i •
— 34 Ah! que tens comigo, Jesús de levavam a ele. Ele punha as máos su
Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei bre cada um e os curava.
quem és: o consagrado de Deus. 41De muitos saíam demonios, gritan
35Jesus o repreendeu: do: Tu és o filho de Deus. Ele os repie
— Cala e sai dele. endia e nào os deixava falar, pois sa
O dem onio o arremessou no meio e biam que ele era o Messias.
saiu dele sem causar-lhe daño. 42De manhá saiu e se dirigiu a um
36Ficaram todos estupefatos e comen- lugar despovoado. O povo o procui.i
tavam entre si: va, e quando o alcangaram, o seguía
— O que significa isso? M anda com vam para que nao fosse embora. 43M;i
autoridade e poder nos espíritos ¡mun ele lhes disse:
dos, e saem. — Tenho que levar tam bém ás de
37Sua fam a se espalhou por toda a mais cidades a boa noticia do reinado
regiáo. de Deus, pois para isso fui enviado.
44E pregava ñas sinagogas da Judéin
C uras e pregagáo (M t 8,14-17; Me
1,29-39) — 38Saiu da sinagoga e entrou C ham a os prim eiros discípulo-.
em casa de Simáo. A sogra de Pedro
estava com febre alta, e lhe suplicaram
5
(M t 4,18-22; Me 1,16-20; Jo 1,35
51) — 'A multidáo se com prim ia ao
4,33-37 Segundo a mentalidade da épo febre como antes ao demònio (v. 35, vei
ca, a doenga é atribuida a um poder ma bo epitimaó). Eia fica curada de ¡mediati >
ligno personificado; a cura é exorcismo. e táo perfeitamente, que se pòe a servir os
Nao contamina um demonio ¡mundo o re hospedes. E um milagre doméstico, fami
cinto religioso da sinagoga? Pelo menos é liar, realizado de forma rápida.
inconciliável com a presenga “santa” de 4,40-41 Sumário de curas, ñas quais
Jesús: “Que concordia tem Cristo com doenca e possessáo se misturam. O tato
Belial?” (2Cor 6,15). O demonio pronun corporal realiza e expressa a transmissáo
cia nome e títulos do exorcista, quer para do poder curador a cada um dos doentes
neutralizá-lo, quer por despeito da derro Ao invés, aos demonios ele “conjura” (o
ta. O título “consagrado”, santo de Deus, mesmo verbo do v. 35), e náo aceita deles
parece ter aqui alcance messiànico (sim- o título messiànico “filho de Deus”.
plesmente sacerdotal em SI 106,16). O 4,42-44 Sumário de viagern apostólica.
demonio teme pelos do seu grupo, “nós”. O afà de Jesus pelo retiro acaba sendo váo:
Jesús pronuncia duas ordens categóricas. sinal da popularidade que vai alcanzando.
“Cala”: que nao diga seu nome e título; Náo pode confinar-se num lugar, porque a
“sai”: de teus dominios ilegítimos. Real sua missáo é difundir “a boa nova” (3,18;
mente Jesús vem “acabar com eles”. “Re 4,18) do reino de Deus. É curioso que no
preendeu” é o verbo que se diz de Deus sumário o autor salta da Galiléia á Judéia,
debelando rebeldías (Zc 3,2 a Sata; SI 68,31; antecipando os acontecimentos, a fim de-
106,9). O povo, que admirou a “autorida alargar o sumário. Como se dissesse que o
de” do seu ensinamento, admira agora “a acontecido na Galiléia era exemplar. Je
autoridade do seu poder sobre o demonio”. sús se considera “enviado” — pelo Pai —
4,38-39 Lucas menciona Simáo, que ele e guiado pelo Espirito. Desta “missáo”
ainda nào apresentou: a comunidade (e o partem as outras.
leitor) sabia de quem se tratava. A doente
jaz sobre urna esteira e Jesus, de pé, a do 5,1-6,16 Nova segáo. Lucas nos apre
mina de cima. Nào lhe fala; dirige-se à sentou a ungào messiànica de Jesús no
203 LUCAS
uilui dele para escutar a palavra de rompiam. 7Fizeram sinais aos socios da
I •• II-., enquanto ele estava á beira do outra barca para que fossem ajudá-los.
de (íenesaré. 2Viu duas barcas jun- Chegaram e encheram as duas barcas,
ln ,i margem, pois os pescadores ha- que quase afundavam . 8Ao ver isso,
i iiiin descido e estavam lavando as re- Simáo Pedro caiu aos pés de Jesús e
ih'ii 'Subindo a urna das barcas, a de disse:
' . i m i . i o , pediu-lhe que se afastasse um — Afasta-te de mim, Senhor, pois sou
|inm <> da térra. Sentou-se e, da barca, um pecador.
iiiincgou a ensinar o povo. 4Quando 9Pois o espanto se havia apoderado
ii iininou de falar, disse a Simáo: dele e de todos os seus companheiros
Rema lago adentro ejo g a as redes por causa da quantidade de peixes que
|nii;i pescar. havia pescado. 10O mesmo acontecía
Keplicou-lhe Simáo: com Joáo e Tiago, que eram socios de
Mestre, labutam os a noite inteira Simáo. Jesús disse a Simáo:
«»•ni nada conseguir; porém, já que o — Náo tem as, daqui para a frente
ili/.cs, jogarei as redes. pescarás homens.
' Tizeram isso e apanharam tamanha n Entáo, atracando as barcas á térra,
i|ii;intidade de peixes que as redes se deixaram tudo e o seguiram.
dos íntimos. Ao chamado respondem com exemplo importante éoferecido pelo Sal
o seguimento ¡mediato e incondicional. mo 38; interessa tambémo Salmo 41, pela
5.12-26 Em duas curas revela-se o po mençâo do leito. Os trèsmotivos funcio-
der de Jesus. Em comum tèm a gravidade nam neste caso, com umarepartiçâo e um
da doenga e a atitude de fé. Estáo dispos desenlace diferente: doença/cura, pecado/
tas em pregressa«: por ser mais grave a perdâo, hostilidade/demonstraçâo. Apre-
paralisia, pela passagem ao perdáo dos sentam-lhe um doente incurável, e Jesús
pecados e pela oposigáo nascente dos vai direto à raiz, o petado; de modo
fariseus e dos letrados. provocatorio, desafiante, Este milagre é
5,12 *Ou: limpar-me. especial, porque se realiza como prova de
5.12-14 Embora nao se trate de lepra em um poder: inferior numsentido, “mais fá
sentido clínico, o homem sofría de urna gra cil”, superior em outro sentido: “quem,
ve doenga da pele que o afastava do convi exceto Deus”. Esse “filho de Adáo”, Ho
vio social e do culto (Lv 13,45-46; cf. Lm mem por antonomàsia, recebeu entre seus
4,15). Já curado, tinha de apresentar-se ao poderes o de perdoar pecados. O enfermo
sacerdote para que este confirmasse ofi é simplesmente “homem" (18.20).
cialmente a “limpeza” legal e para levar Judeus observantes eperitos na interpre-
urna oferenda de a§áo de gragas (Lv 14). O taçâo da lei acorreram inclusive da Judéia
doente eré no poder de Jesus. A prostratilo e da capital, talvez coma finalidade de
e o título Senhor soam no evangelho com inspecionar. Lucas amplia a concorréncia
acento cristáo. Jesús nao teme contagiar-se para dar a impressáo deumconfronto glo
tocando o impuro, antes, cura-o com seu bal. Na mentalidade da época, a doença
contato. Os sacerdotes diagnosticam, Jesús estava ligada ao pecado, como efeito ou
cura. Pode-se contrastar este breve relato como síntoma. Os queempregam seu en-
com o milagre da água do Jordáo, dirigido genho e esforço para apresentar-lhe o en
por Eliseu (2Rs 5). fermo buscam a saúde corporal. Jesus vai
5,15-16 Lucas considera importante a no ao fundo, percebe a fé (também do doen
ticia e a insere entre as duas curas: o dese- te) e sua boa disposiçâo, epronuncia urna
jo de solidáo e oraqáo de Jesus. É um dado fórmula de absolviçâo(navoz passiva, cf.
que nao se presta a descrigáo dramática SI 32,1-2). Jamais um profeta ou sacerdo
nem a encenagáo (cf. Eclo 39,9-10). A so- te pronunciaram palavras semelhantes;
briedade do narrador responde á discrigáo perdoar pecados é competência de Deus
do Mestre. (Compete ao leitor deter-se res (Is 43,25; SI 130,4). 0 verbo slh sempre
petosamente.) tem Deus por sujeito, e na voz passiva é
5,17-26 Até agora Jesus curou corpos e conseqüência da expiaçâo ritual. Quem se
expulsou demonios. Pois bem, a missáo arroga tal autoridade, blasfema (Lv 24,11-
primària do Messias é perdoar pecados (Mt 16). Assim, o primeiro confronto de Jésus
1,21; cf. Le 1,77; 3,3). Fá-lo-á num caso com seus rivais acontece na frente mais
exemplar. Na espiritualidade do Antigo avançada: a libertaçâo do pecado.
Testamento aparecem, em diversas cone- Embora a forma passiva “sâo perdoa-
xóes, doenija e pecado e hostilidade. Um dos” pudesse ser entendida como teologi-
5,33 205 LUC
todas as aldeias da Galiléia e Judéia e leito e foi para casa, dando gloria a
também de Jerusalém. Ele tinha força Deus. 26Cheios de espanto, diziam:
do Senhor para curar. 18Uns homens, — Hoje vimos coisas incríveis.
que levavam um paralítico num a maca,
tentavam introduzi-lo e colocá-lo diante C h a m a Levi (Mt 9,9-13; M e 2,13-17)
de Jésus. 19Nào encontrando modo de — 27Pouco depois saiu e viu um coletor,
fazê-lo, por causa da multidâo, subiram chamado Levi, sentado diante da mesa
ao terraço e, entre as telhas, o descerara dos impostos. Disse-lhe:
com a maca, no centro, diante de Jé — Segue-me.
sus. 20Vendo a fé deles, disse-lhe: 2SDeixando tudo, levantou-se e o se-
— Homem, teus pecados estâo per- guiu. 29Levi Ihe ofereceu grande banque
doados. te em sua casa. Havia grande número
21Os fariseus e os letrados começa- de coletores e outras pessoas sentados
ram a pensar: à mesa com eles. 30Os fariseus e letra
— Quem é esse que diz blasfêm ias? dos murm uravam e perguntavam aos
Quem, exceto Deus, pode perdoar pe discípulos:
cados? — Como é que coméis e bebeis com
22Jesus, lendo seus pensamentos, res- coletores e pecadores?
pondeu-lhes: 31Jesus lhes replicou:
— 230 que é mais fácil? Dizer: teus — Os sadios náo tém necessidade de
pecados estâo perdoados, ou dizer le- m édico, e sim os doentes. 32Náo vim
vanta-te e anda ? 24Pois para que saibais cham ar justos, mas pecadores para que
que este homem tem autoridade na ter se arrependam.
ra para perdoar pecados — disse ao pa
ralítico— , falo contigo: levanta-te, car- S obre o je ju m (M t 9,14-17; M e 2,18-
rega tua maca e vai para casa. 22) — 33Eles lhe disseram:
[mediatamente se levantou diante — Os discípulos de Joáo jejuam com
de todos, carregou o que havia sido seu freqtiência e fazem suas oraçôes, bem
ca, com Deus como agente da passiva, Je de romana e aproveita-se dele para enri-
sús náo se refugia nessa possível interpre- quecer-se à custa do povo. Ladrâo e cola
taçâo, antes aguça a controvérsia. Na ter boracionista. Sáo esses os antecedentes.
ra e como homem, ele mesmo tem esse Chamado e resposta, na brevidade despo
poder e veio exercé-lo. jada com que se apresentam, mostram toda
5,17 A força do Senhor: Jr 10,6; SI 66,7; a sua força. A segunda parte é o banquete
Jó 12,13. *Ou doutores da Lei. de despedida e de homenagem ao novo
5.25 O paralítico entoa urna espécie de senhor. A objeçâo dos rivais (cf. SI 104,21-
liturgia de louvor a Deus, e a multidâo se une 22; Pr 29,27) Jesús responde irónicamen
ao louvor. É o ritmo clássico dos salmos. te com um aforismo: há doentes que, por
5.26 Coisas incríveis sáo a cura de uma se considerarem sáos, recusam o médico
doença incurável, que fazia do doente um e se tomam incuráveis (cf. Eclo 38,1-15).
morto vivo. Também o poder de Homem A dor é um mecanismo que delata a doen
para perdoar pecados. ça; por isso acorrem tantos doentes a Je
Para a comunidade de Lucas e para seus sús. Em troca, nem todos sentem a dor pelo
leitores, a purificaçâo do impuro e o per- pecado. A espiritualidade de observáncias
dáo dos pecados tém ressonáncias batis- chega a suprimir semelhante dor. Levi é
mais (cf. lPd 3,21). modelo do pecador arrependido e perdoa-
5,27-32Aceña tem duas partes. Pela pri- do que se converte em apóstolo.
meira se enlaça com o chamado (5,1-11); 5,33-35 Terceiro momento de confron
pela segunda continua o processo dos to: a propósito de jejuns voluntários como
confrontos. prática ascética de determinados grupos
O coletor é tido como “pecador”. Toma religiosos. O Messias se apresenta como
seu oficio por arrendamento da autorida- esposo: título reiterado de Yhwh no AT (Os
LUCAS 206 5,34
2; Is 49; 54; 62; Ez 16 etc.), aplicado a 23,26). Segundo Ex 34,21, o descanso sa
Jesús no NT (Ef 5,22-32). O casamento é bático obriga também “na semeadura e na
tempo de alegría compartilhada (Jr 16,8- ceifa” (sobre o maná e o sábado, Ex 16,19-
9; Ct 3,11; 5,1; SI 45). De “comer e be 30). Jesús argumenta a pari com um caso
ber” (5,30). Mas Lucas conhece já o tem da historia de Davi (ISm 21,1-6), no qual
po em que Jesús lhes foi arrebatado (Is urna lei cultual (Lv 24,5-9) fica suspensa
53,8): o tempo da Igreja. por necessidade maior; Davi o fez “na casa
5,36-39 Com a imagem do casamento de Deus” com aprovagáo do sacerdote.
podem-se conciliar a da roupa e do vinho. Aquilo que é o templo no espado é o sába
Ambas tém associagóes nupciais (p. ex. Is do no tempo (cf. Ex 31,12-18). A lingua-
52,1; 61,10; SI 45,9; Ct 2,4; 8,2) e servem gem parece enfática: “tomou, comeu, re
para explicar a “novidade” (“renovando partiu”. Passando por cima da Escritura,
seu amor” diz Sf 3,17, e o portugués “noi Jesús apela ao poder recebido, que se so-
vo” vem de novum). “Antigo”, velho, é o brepóe também á veneranda instituigáo do
adjetivo que Paulo aplica á alianqa de Is sábado (Ex 20,8; Is 58,13; Jr 17; Ne 13,15-
rael (2Cor 3,14). A imagem dos odres (Jó 20). Mas náo apela para a sua dignidade
32,19). Ambas as imagens sao muito ex- messiànica como descendente de Davi, e
pressivas, como se disséssemos: o Mes- sim á sua condigáo humana excepcional.
sias náo vem para por remendos em panos Náo só a interpretado dos doutores, mas
gastos, traz um vinho que fermenta vida também a pròpria lei fica em segundo pla
nova. no; e na igreja o sábado será substituido
5,39 Náo se refere ao antigo, de melhor pelo “dia do Senhor” (kyriaké, dominica,
qualidade, mas ao costumeiro, o de sempre. Ap 1,10).
6,6-11 Quinto momento do confronto.
6,1-5 Quarto momento de confronto. O O progresso está marcado, porque dessa
primeiro versículo da cena apresenta um vez Jesus se adianta a desafiar os rivais e
grupo itinerante, necessitado, sem um sus pelo desenlace ominoso. A sinagoga é o
tento cotidiano garantido. Para eles náo há lugar do ensinamento de Jesús, que é mais
milagre. Os detalhes descritivos tém urna importante ainda que a cura, porque por
fungáo na controvérsia. Segundo a inter- meio da controvérsia eleva a principio o
pretagáo rabínica do descanso sabático, os caso particular. Ensina com a palavra e dá
discípulos fazem urna agáo proibida, náo urna liQáo com o milagre explicado. Lucas
como roubo, mas como trabalho (ef. Dt atribui a letrados e fariseus uma intengáo
ft, 17 207 LUCAS
linha urna máo paralisada. 7Os letrados Escolhe os doze (M t 10,1-4; M e 3,13-
c os fariseus o espiavam para ver se 19) — 12Naquele tempo, subiu a urna
eurava no sábado, para ter algo de que m ontanha para orar e passou a noite
acusá-lo. 8 Ele, lendo seus pensamentos, orando a Deus. 13Quando se fez dia,
disse ao hom em da máo paralisada: chamou os discípulos, escolheu entre
— Levanta-te e póe-te de pé no meio. eles doze e os chamou apóstolos: 14Si-
Ele se pos de pé. 9Depois se dirigiu a máo, a quem chamou Pedro, André, seu
cíes: irmáo, Tiago e Joáo, Filipe e Bartolo
— Eu vos pergunto o que é perm iti meu, 15M ateus e Tomé, Tiago de Alfeu
do no sábado: fazer o bem ou o mal, e Simáo o zelota, Judas de Tiago 16e
salvar urna vida ou destruí-la. Judas Iscariot, o traidor.
10Depois, olhando todos á sua volta,
disse ao homem: S erm áo na planicie (Mt 4,23-25; 5,1-
— Estende a máo. 12) — 17Desceu com eles e se deteve
Ele o fez e a máo ficou restabelecida. numa planicie. Havia grande número de
MEles ficaram enfurecidos e delibera- discípulos e grande multidáo do povo,
vam o que fazer com Jesús. vindos de toda a Judéia, de Jerusalém,
da costa de Tiro e Sidônia, 18para es- 21 Felizes os que agora passais fomc,
cutà-lo e curar-se de suas enfermidades. porque vos saciareis.
Os atormentados por espiritos imundos Felizes os que agora choráis, porque
ficavam curados, 19e toda a m ultidào rireis.
tentava tocar nele, porque dele saia urna 22Felizes quando os homens vos odia-
força que curava a todos. rem, vos desterrarem, vos insultarem,
20Dirigindo o olhar aos discípulos, denegrirem vosso nome por causa deste
dizia-lhes: Homem. 23Saltai entáo de alegría, por
— Felizes os pobres, porque o reina que vosso prêmio no céu é abundante *
do de Deus lhes pertence. Assim vossos pais trataram os profetas.
para o próximo discurso; e por seu poder Mateus e Lucas coincidem em acres-
curador, que se transmite por contato. Po centar suas próprias motivaçôes, “porque,
demos fular do poder de Deus encarnado vede, pois”; isto parece deslocar a ventu
em corpo humano, do poder vivificante ra da situaçâo para suas conseqüências,
que “nossas màos tocam” (lJo 1,1). Dos que se resumem no “reinado de Deus”.
possessos se diz que “eram curados”. Essa primeira parte dirige-se “aos discí
6.20-49 Como nâo houve mudança de pulos”.
lugar, o autor parece ater-se à noticia que 6,20-21 Como très aspectos de uma si
acaba de dar: “numa planicie”; com o que tuaçâo, representam qualquer classe de
o “sermáo da montanha” em Mateus muda necessitados, indigentes, desvalidos, mar-
de nome em Lucas. O discurso se divide ginalizados, oprimidos etc. O Deus do AT,
em très partes: as bem-aventuranças e mal- pela legislaçao e pela profecía, mostrou seu
aventuranças (20-26), o preceito do amor especial cuidado deles (p. ex. Is 29,19 sal-
(27-38), parábolas e comparaçôes (39-49). vaçâo escatológica; 57,15 e o citado 61,1;
6.20-26 A proclamaçâo programática de como ocupaçâo do rei, SI 72). O reinado
Lucas distingue-se marcadamente da de de Deus vem para libertá-los e mudar sua
Mateus. Pela composiçâo: divide-se em duas sorte, já na historia, embora sem excluir a
estrofes paralelas e antitéticas, que consumaçâo.
correspondem a dois géneros literários. Cada 6.20 Pobres: mesmo limitando-nos ao
estrofe articula-se em très peças concisas e termo ‘ebyôn, nós os encontramos na le-
urna desenvolvida. Pelo conteúdo: as très gislaçâo e nos sapienciais, muitas vezes
equivalem a variaçôes ou mostram aspec nos profetas e nos salmos (cf. Dt 15,1-11;
tos da mesma realidade. Náo há atitudes po Is 29,19; SI 74,21).
sitivas (como beneficencia, trabalho pela 6.21 Os famintos sáo uma categoría
paz). A pobreza nao está qualificada pela mais limitada (Is 58,7; SI 107,9; J1 2,26).
interioridade. Talvez a versáo de Lucas es Os que choram têm seu precedente na ca
teja mais próxima da forma original. tegoría freqüente do “afligido”; em senti
Os dois géneros literários estáo bem es- do próprio vale o “enxugar as lágrimas”
tabelecidos no AT. A bem-aventurança (Is 25,8 escatológico; 30,19; SI 56,9 na
(macarismo, ’sry) é freqüente sobretudo vida; 126,5-6).
nos salmos e sapienciais. A mal-aventu- 6,22-23 A perseguiçâo por causa de Je
rança (Ai de!, hoy) é profètica (ou fúne sús Cristo. No AT os profetas foram per
bre). Lêem-se séries de ais em Is 5,8-23; seguidos por cum prirem sua missáo
Hab 3,6-19; Eclo 2,12-14. Com outros (11,47; 2Cr 36,16): desde Elias por Jezabel
géneros literários formam-se as séries con (IRs 19) até a figura exemplar de Jeremías,
trapostas de bênçâos e maldiçôes de Dt 27- “o profeta queimado”, passando por Amos
28. Jesús une-as num díptico essencial de (Am 7). A perseguiçâo por Jesús e seu
dita e desdita, bem e mal do homem. Re- evangelho é uma constante da Igreja des
velaçâo escatològica que abre caminho de a época dos A tos dos Apóstolos e tem
pelo paradoxo (náo fruto de urna árvore lugar importante no Apocalipse. Ver IPd
proibida). Anuncio que confronta e divide 4,14.
a humanidade, que introduz e difunde o 6,23 *Ou: porque Deus vos recompen
reinado de Deus na historia humana. sará com abundancia.
209 LUCAS
'Mas ai de vos, ricos, porque rece 27A vós que escutais eu vos digo:
béis vosso consolo; Amai vossos inimigos, tratai bem os
"■ai de vós, que agora estáis saciados, que vos odeiam; 28bendizei os que vos
porque passareis fome; ai de vós que maldizem, rezai pelos que vos injuriam.
.ij’ora rides, porque chorareis e fareis 29 A quem te bater numa face, oferece-
luto; lhe a outra, a quem te tirar o manto náo
-'’ai de vós quando todos falarem bem lhe negues a túnica; 3<lao que te pede,
tic vós. Assim vossos pais trataram os dá, e ao que te tira algo, náo o reclames.
lalsos profetas. 3‘Como quereis que os hom ens vos tra-
6,24-25 O trio forma urna unidadc e fazer mal a outrem sem razáo: do que
ilcve ser entendido em oposigáo ao ante- se queixa o salmista (35,7; 6,5);
lior. O tipo humano tem antecedentes no nial por mal: pode ser castigo legal ou
AT: na série de ais de Isaías (Is 5,10-23), a vingança legítima;
injustiga acompanha o luxo; parecida é a mal por bem: máximo agravante (SI
descrigáo de Sodoma (segundo Ez 16,49); 35,12; 38,21; Pr 17,13; Jr 18,20);
enérgica é a descrigáo do luxo em Amos bem sem razáo: por compaixáo, por
(Am 6,1-9; cf. Tg 5,1). generosidade; Ex 23,4-5 exorta à compai
Ao reinado de Deus, que comunica seu xáo pelo asno do inimigo e pelo inimigo;
consolo (Is 40,1; 49,13; 51,12), opoe-se o bem por bem: se recebido, é agradeci-
consolo humano efémero e váo (cf. Jó mento; náo tem mérito especial, segundo
21,34). vv. 32-33; cf. lPd 2,19-23;
6,26 Sobre os falsos profetas, é muito se esperado, é interesseiro: contra isto
expressivo Miqucias (2,11; 3,5.11); tam- adverte o v. 34;
liém J r 2 3 e E z l 3 e o grande confronto de bem por mal\ ISm 24,18; Pr 25,21-22;
1Rs 22. é o tema central da exortagáo. Paulo o for
6,27-38 O amor ao próximo, em parti mula assim: Nao te deixes vencer pelo mal,
cular aos inimigos, ocupa boa parte do dis mas vence o mal com o bem (Rm 12,21).
curso programático de Jesús. Dirige-se a O estilo é aforístico: de frases concisas,
todos os que escutam. Embora esteja for incisivas; ligadas ou articuladas em para
mulado em imperativos, náo deve ser en lelismos e agrupadas em unidades menores.
tendido como novo código legal para re 6,27-28 Convém tomar juntos os qua
gular urna conduta em determinados casos, tre verbos, que rcúnem e articulam: o afeto
mas como expressáo de um espirito que ou atitude, “amai”; as obras, “tratai bem”;
anima de dentro toda a vida cristá. A mo- as palavras, “bendizei”; a oragáo, “rezai”.
tivagáo náo deve ser interesseira; busca Sobre o último podem-se recordar: Moisés
precisamente refrear o egoísmo interessei- intercedendo pelo Faraó (Ex 8,25; 9,28-
ro. A motivagáo é o exemplo de Deus Pai, 29), Jeremías por seus perseguidores (15,
que seu Filho vem revelar, para devolver 15). Pela oragáo o ofendido recomenda a
sua imagem aos homens. Deus o ofensor, e isso é grande beneficio;
No centro soa a regra de ouro, que ou- ao mesmo tempo olha o ofensor numa
tros textos e culturas formularam em ter perspectiva superior. A oragáo favorece os
mos negativos (“náo fagas...” Tb 4,15; très atos precedentes.
Eclo 31,15 num campo muito restrito) e 6,29-30 Capacidade de suportar a injus-
Jesús exprime em forma positiva, muito tiga no corpo ou ñas posses. Como um
mais exigente: “fazer”; porque o amor in manifestó de náo violéncia. O dar e em
culcado náo se esgota em sentimentos (cf. prestar a fundo perdido, como o aconse-
Is 5,1-7). Aqui se vai á raiz da ética: fa lha Dt 15,1-11; comparar com as salva
zer o bem/fazer o mal ñas relagóes recí guardas de Eclo 29,1-13.
procas com os outros. Por serem recípro 6,31 Se alguém procura instintivamen
cas, permitem tragar um quadro ou pauta te o próprio bem, pense que também os
para distinguir casos típicos, que se po- outros o procuram. Se duvida como tratar
deriam ilustrar com exemplos ou textos o próximo, consulte seus próprios dese-
bíblicos: jos. Náo somente tratar como o tratam, mas
LUCAS 210 6,32
tem, tratai vos a eles. 32Se amais os que e náo sereis julgados; nao condeneis e
vos amam, que mérito tendes? Também náo sereis condenados. Perdoai e vos
os pecadores amam seus amigos. perdoaráo. 38Dai e vos daráo: recebereis
Se fazeis o bem aos que vos fazem urna medida generosa, calcada, sacudi
o bem, que mérito tendes? Também os da e transbordante. A medida que usar-
pecadores fazem isso. 34Se emprestáis des será usada para vos.
quando esperáis cobrar, que mérito ten- 39E acrescentou urna comparacáo:
des? Também os pecadores emprestam — Poderá um cegó guiar outro cegó?
para recuperar outro tanto. 35A ntes, Náo cairáo ambos num buraco? ““ O dis
amai vossos inimigos, fazei o bem sem cípulo náo é mais que o mestre; embora,
esperar nada em troca. Assim vossa re uma vez instruido, venha a ser como seu
compensa será grande e sereis filhos do mestre. 41Por que reparas no cisco do olho
Altíssimo, que é generoso com ingra do teu irmáo, e náo reparas na viga que
tos e maus. 36Sede compassivos, como tens no teu? 42Como podes dizer ao teu
vosso Pai é compassivo. 37Náo julgueis irmáo: Irmáo, deixa-me tirar o cisco do
como desejaria que o tratassem. Para tan seu alcance se estende a qualquer campo
to promove a iniciativa de fazer o bem. da vida. O cristáo náo deve erigir-se em
Pór-se na situaçao do outro, adivinhar seus juiz do próximo, náo deve condenar sem
desejos, sentindo os próprios. Em outro razáo, ser indulgente. Isto náo suspende o
contexto, Ben Sirac aconselha: “Pensa que juízo de valores que é parte integrante do
teu vizinho é como tu” (Eclo 31,15). Como sentido moral.
seria urna sociedade regida por esse prin A imagem da recompensa refere-se a um
cipio? recipiente de medir cereais, que ao ser sa
6,32-35a Répété très normas: amar, fa cudido contení mais, e ao qual depois náo
zer o bem, emprestar. Très coisas que os se passa a rasoura. Deus é compassivo e
homens honestos praticam, só que em li generoso (Pr 19,17).
mites estreitos e pensando no intéressé. O 6,39-45 O autor anuncia aqui uma pará
que Jesús propoe é superior porque derra bola, como se pretendesse ilustrar o ensi-
ba os limites da reciprocidade e o motor namento precedente. A rigor nos achamos
do intéressé. perante várias sentcncas em forma de com
6,35b A recom pensa virá de Deus: parado, de aforismo comentado, de vi-
“Quem se compadece do pobre empresta nheta polémica, de pergunta didática. A
ao Senhor” (Pr 19,17). Filho do Altíssimo: conexáo temática com o que precede náo
o título é usado pelo Eclesiástico (Eclo é manifesta.
4,10), encerrando urna instruçâo sobre es- 6.39 O lugar original desta vinheta ou
mola e beneficência a pobres e oprimidos, comparagáo é a polémica com os letrados,
órfáos e viúvas, “e Deus te chamará filho”. intérpretes da lei (Mt 23,16). Dirigida aqui
O título pode ser lido no Salmo 82,6, num aos discípulos, mostra que o farisaísmo é
contexto de administraçâo da justiça em atitude típica que também pode ocorrer na
favor do necessitado. Nós diríamos que o comunidade. Sáo cegos os que náo véem
filho puxa o pai. com os olhos de Jesús. Sem a metáfora da
6,36 “Compassivo” é um dos títulos cegueira, Is 3,12.
clássicos do Senhor, que se repete em fór 6.40 O lugar deste aforismo é a instru-
mulas litúrgicas: Ex 34,6; Dt 4,31; J12,13; (¿áo aos discípulos sobre os sofrimentos da
Jn 4,2; SI 86,15; 103,8; 145,8. Agora o tri missáo (Mt 10,24-25). Aqui o Mestre é
buto pertence a “vosso Pai”: “Como um Cristo: o discípulo náo pode aspirar a
pai se enternece com seus filhos...” (SI superá-lo; por outro lado, deve procurar
103,13). transmitir o que dele recebeu.
6,37-38 Seguem-se quatro sentenças 6,41-42 Outra vinheta feliz, hiperbólica,
paralelas, duas negativas e duas positivas, que nos legou as expressóes “o cisco e a
cinzeladas por formas correspondentes. trave”. Quem corrige a outros que se cor
Embora a formulaçâo de très seja forense, rija. A trave é como uma cegueira para os
7,1 211 LUC.
teu olho, quando nao ves a viga do teu? explicar-vos com quem se parece. 48Pa-
Hipócrita! Tira primeiro a viga de teu rece-se com alguém que ia construir
olho, e depois poderás distinguir para urna casa: cavou, afundou e colocou um
tirar o cisco do olho de teu irmáo. alicerce sobre a rocha. Veio uma en
43Náo há árvore sadia que dé fruto dien te, a torrente se chocou contra a
podre, nem árvore podre que dé fruto casa, mas náo pode sacudi-la, porque
sadio. 44Pelos frutos distinguís cada ár estava bem construida. 49Ao contràrio,
vore. Náo se colhem figos das sargas aquele que ouve sem por em prática
nem se colhem uvas dos espinheiros. parece-se com alguém que construiu a
450 homem bom tira coisas boas do seu casa sobre a terra, sem alicerce. A tor
bom tesouro interior; o mau tira o mal rente se chocou e a casa desmoronou.
de seu mau tesouro. A boca fala do que E foi um a ruina colossal.
está cheio o coragáo.
46Por que me invocáis: Senhor! Se-
nhor!, se náo fazeis o que vos digo? C ura o servo do centuriáo (Mt
47Aquele que vem a mim escuta mi-
nhas palavras e as póe em prática. Vou
7 8,5-13; Jo 4,43-54) — ‘Quando ter-
minou seu discurso ao povo, entrou em
próprios defeitos. Atengáo aos censores Também insinúa que a construgáo da vida
que se créem exemplares. cristá estará ameagada de fora. Se o edifi
6.43-49 Para concluir o discurso, urna cio é valioso, sua ruina será terrível.
comparagáo agrària e outra urbana, na
combinagáo clàssica daquela cultura (cf. 7.1-17 Ao discurso seguem-se dois mi-
Jr 1,10); entre as duas, uma comparagáo lagres insignes. Um é a cura á distáncia,
doméstica. Nelas sintetiza a importancia a favor de um pagáo doente que está ñas
decisiva da interioridade e a necessidade últimas. O outro é a ressurreigáo do filho
de traduzir o ensinamento em conduta. de uma viúva. Indubitavelmente, Lucas
6.43-44 Cada árvore dá fruto segundo dá importancia á condigáo dos benefi-
sua espécie e qualidade. Pelo fruto identi ciários.
ficamos a árvore (Tg 3,12). 7.1-10 A figura do centuriáo está toda
6.45 Imagem doméstica: o tesouro pode descrita com tragos significativos. E um
ser o depósito, a adega ou a despensa. No pagáo, simpatizante da religiáo e das prá-
homem é a intimidade, o coragáo como sede ticas judaicas, as quais tem dedicado par
da vida consciente e livre. Ao cingir-se à bo te da sua fortuna (ou autoridade) cons-
ca, á palavra, o provèrbio se aplica a quem truindo (ou mandando construir) uma
ensina; mas seu alcance é mais ampio. sinagoga. Reconhece a dignidade especial
Segue-se a necessidade de ir assimilando de Jesús: aproxima-se dele por intermediá-
e acumulando coisas boas para partilhá- rios e náo se atreve a hospedá-lo (náo apre-
las com outros no momento oportuno. senta como motivo a proibigáo judaica de
6.46 No plano da imagem, “senhor” é o entrar em casa de pagáos, mas a dignida
patráo: pouco vale que o criado diga “sim, de pessoal de Jesús). O que mais importa
senhor”, se depois náo cumpre as ordens é que eré no poder sobrenatural de Jesús.
(MI 1,3). No tempo em que Lucas escre- Enquanto o povo procura tocá-lo para re-
ve, Senhor é título de Jesús; era muito im ceber dele seu fluido curador (6,19), o
portante reconhecè-lo e confessá-lo (Rm centuriáo reconhece que basta uma ordem
10,9), o que supóe a assistència do Espiri de Jesús para que acontega a cura. Sua
to Santo (lC or 12,3). Contudo, a invoca experiencia militar é imagem para expres-
d o pode esvaziar-se de sentido, se náo sar esse poder. Mas, curiosamente, o nar
conduz a cumprir seus ensinamentos. rador náo menciona essa palavra de Jesús,
6,47-49 A comparagáo concluí todo o mas diz apenas que se póe a caminho com
discurso á maneira de peroragáo. Todo o ele. O relato está bem graduado em dois
ensinamento de Jesus é para a vida; se fica encontros e desemboca, náo na admiragáo
na simples informagáo, sem se traduzir em do povo, como outros (4,36), mas na ad
obras, carecerá de fundamento para ele. miragáo de Jesús diante da fé do pagáo.
lucas 212 7 , '
Cafarnaum. 2Um centuriáo tinha um yAo ouvir isso, Jesus admirou-se e voi
servo a quem estim ava m uito, que es- tando-se disse à multidáo que o segui;i
tava doente a ponto de morrer. 3Tendo — Nem sequer em Israel encontrei
ouvido falar de Jesús, enviou-lhe uns fé semelhante.
notáveis judeus para pedir-lhe que fos- lüQuando os enviados voltaram para
se curar seu servo. 4 A presentaram -se a casa, encontraram o servo curado.
Jesús e lhe rogavam insistentem ente,
alegando que ele merecía esse favor. R essuscita o filho d a viúva — "Pros
— 5Ama nossa nagáo e ele próprio seguindo, dirigiu-se a urna cidade cha
nos construiu a sinagoga. mada Naim, acompanhado pelos discí
6Jesus partiu com eles. N ao eslava pulos e grande multidáo. 12Justamenti
longe da casa, quando o centuriáo lhe quando se aproximava da porta da cida
enviou alguns amigos para dizer-lhe: de, levavam para fora um morto, filho
— Senhor, nao te incomodes; nao sou único de urna viúva; acompanhava-a um
digno de que entres sob meu teto. 7Por grupo considerável de vizinhos. 13Ao
isso, nem sequer me considerei digno vè-la, sentiu compaixáo e lhe disse:
de aproximar-me de ti. Pronuncia urna — Náo chores.
palavra, e meu servo ficará curado. 8Tam- 14Aproximou-se, tocou o féretro, e os
bém eu tenho um superior e soldados carregadores pararam. Entáo disse:
as minhas ordens. Se digo a este que vá, — Jovem, falo contigo, levanta-te.
ele vai; a outro que venha, ele vem; ao 150 morto se levantou e comeqou a
servo que faga isso, ele o faz. falar. Jesus o entregou a sua máe. 16To
líos ficaram espantados e davam gloria — Joáo Batista nos enviou para per-
ii Deus, dizendo: guntar-te se és tu aquele que deveria vir,
— Um grande profeta surgiu entre ou se tem os de esperar outro.
nos; Deus se preocupou com seu povo. 21Entáo Jesús curou muitos de doen-
1 'A noticia do que havia feito se di- gas, enfermidades e espíritos maus; e de-
vulgou por toda a regiáo e pela Judéia. volveu a visáo a muitos cegos. 22Depois
lhes respondeu:
Sobre Jo á o B atista (M t 11,2-19) — — Ide informar a Joáo sobre o que
'"Os discípulos de Joáo o informaram vistes e ouvistes: cegos recuperam a vi
ile todos esses fatos. Joáo chamou dois sáo, coxos caminham, leprosos ficam lim-
«le seus discípulos 19e os enviou ao Se- pos, surdos ouvem, mortos ressuscitam,
nhor para perguntar-lhe: pobres recebem a boa noticia. ^ E feliz
— Es tu aquele que deveria vir, ou aquele que náo tropera por minha causa.
Icmos de esperar outro? 24Q uando os m ensageiros de Joáo
2l)Os hom ens se apresentaram a ele e partiram, ele come^ou a falar de Joáo á
lite disseram: multidáo:
7.36-50 Por que Lucas inseriu aqui a sem hesita§áo e com insistència. E Jesus a
•ua historia da pecadora perdoada? Por deixa fazer sem rejeitá-la nem opor resis
que se enlaça com o que precede em vá- tènza.
rlos particulares: a pecadora corresponde 7.39 Com razáo se escandaliza o anfi
nos “publicanos” do v. 29; seria urna das triáo (e náo seria o único); por cortesia se
«rrependidas e batizadas por Joáo; o jul- abstém de manifestá-lo em voz alta. Pro
K¡ir e condenar o próximo (6,37); dar ra- nuncia um juízo mental. Se Jesús náo adi-
/.íio a Deus com o arrependimento (v. 29); vinha o oficio da mulher, náo possui a cla-
Jesús come e bebe, amigo de pecadores rividència pròpria de um profeta (náo
(v. 34). pensa na outra parte: se conhece o oficio é
7,36 Jesús aceita dos fariseus convites culpado por omissáo, por deixar fazer; a
para refeiçôes (11,37; 14,1), e aproveita a omissáo seria mais grave que a ignoran
ocasiáo para ensinar. O anfitriáo é correto cia). Mas Jesus adivinha o pensamento
c cortés, náo é cordial: náo presta deferen dele, com o que rebate o juízo sobre ele, e
cias extraordinárias (vv. 44-46; cf. Gn lhe responde em voz alta, corrigindo as-
18,4; SI 23,5). Pretende também provar sim o seu juízo sobre a mulher.
Jesús em sua conduta e doutrina? 7.40 O recurso é contar urna parábo
7.37-38 Nisto urna pecadora pública, la para distanciar e ao mesmo tempo com
provavelmente urna prostituta, irrompe na prometer o fariseu: terá de julgar o ca
sala (cf. Os 1,2; 3,1). Os comensais estáo so, como mentalmente a julgou. No fim,
reclinados em almofadas, com a cabeça o juiz será julgado. Como Davi (2Sm
para a frente e os pés para fora. Embora a 1 2 ) ou o jurado na cangáo da vinha (Is
sala do banquete estivesse aberta, era mui- 5,1-7).
to pouco decoroso que tal mulher entrasse 7,41-43 A parábola é descarnada e a so-
na casa de tal anfitriáo; os fariseus eram lugáo é obvia. O “suponho” pode expri
muito cautelosos nesses assuntos. O que mir cortés modèstia. O fariseu entrou no
cía faz depois com Jesús é táo afetuoso jogo e náo pode evitar a aplicagáo. Abre
quanto escandaloso: soltar os cábelos na se outro julgamento sobre a mulher no
presença de homens, enxugar com eles os qual, por comparará«, o fariseu está im
pés banhados em suas lágrimas, o esban- plicado.
jamento do perfume, embora náo o derra 7,44-46 O triplo contraste serve para
me na cabeça, como era costume). Tudo dar relevo as mostras de um afeto inten-
LUCAS 216 7,47
fume; eia me ungiu os pés com mirra. Mulheres com Jesús — 'Em segui
47Por isso te digo que lhe foram perdoa- da, foi percorrendo cidades e aldeias
dos muitos pecados, já que sente tanto proclamando a boa noticia do reinado de
afeto. Aquele a quem se pcrdoa pouco, Deus. 2Acompanhavam-no os doze e al-
sente pouco afeto. gumas m ulheres que havia curado de
48E disse a eia: espíritos imundos e de enfermidades.
— Teus pecados estáo perdoados. María Madalena, da qual tinham saído
49Os convidados comegaram a dizer sete demonios; 3Joana, mulher de Cuza,
entre si: mordomo de Herodes; Suzana e muitas
-— Quem é esse que até perdoa pe outras, que os atendiam com seus bens.
cados?
50Ele disse à mulher: Parábola do sem eador (M t 13,1-23;
— Tua fé te salvou. Vai em paz. Me 4,1-20) — 4 Reuniu-se grande mul-
8,5-8 Urna parábola agrària se le num 8,11-15 Supde-se que a explicaçâo ale
contexto profètico (Is 28,23-29). Embora górica, membro a membro, seja obra da
Jesús náo tenha sido lavrador por profis- tradiçâo posterior. Nela podemos notar
sáo, cresceu numa cultura dominada pela váríos pontos: a) Areciprocidade: a semen-
agricultura, tanto que Adáo e Cairn se apre- te é a palavra, porque a palavra de Deus é
sentam como lavradores. Lucas simplifi semente vital e fecunda, que cresce e se
ca o resultado final sem graduar a fertili- multiplica, b) Essa palavra deve ser semea-
dade da semente, multiplicando-a pela da pela pregaçâo do evangelho, que é por
cifra fantástica ou emblemática de cem (cf. antonomàsia palavra de Deus. c) A semen-
Gn 24,12). A parábola segue o esquema te está ameaçada por forças externas e in
de très mais um: très ameaças e um bom ternas, com as quais é preciso contar. Es-
resultado. Os animais (aves), as plantas sas forças sáo (em nossa terminología de
(espinheiros), os minerais (pedras) podem catecismo): o demonio (v. 1 2 ), o mundo e
ser hostis à colheita, a semente exige pro- a carne (v. 14); a elas acrescentamos a “su
teçâo permanente. perficial idade” e falta de convicçâo (v. 13).
A exclamaçâo final de Jesus è como um 8,16-18 Nesta série apreciamos o paren
aparte do narrador, que apresenta seu re tesco da parábola com o refráo ou provèr
lato como interpelaçâo. Escutar náo pode bio. Em fórmula concisa encerram um
ser urna recepçào passiva. A exclamaçâo potencial de significados. O oculto se deve
é como urna versào ainda mais grave do comunicar, o oculto se saberá. Escutando,
grito profètico “escutai!” (Is 1,2.10; 46,3 aprende-se a escutar; assimilando, alarga
etc.). Poderíamos parafrasear a exclama se a capacidade; quem julga saber e pos-
çâo: Quem tiver entendimento, entenda. suir tudo, irá ficando sem nada...
8 ,10a O segredo do reinado de Deus é 8.12 A fé responde à palavra, e da fé
sua presença em Jesus; é que está chegan- segue-se a salvaçâo. O Maligno procura
do e avançando. Entendè-lo è dom de impedir o processo porque procura a per-
Deus, “a vós foi dado” (cf. Dt 29,3.20; cf. diçâo.
Le 10,21-22). 8.13 A prova é inevitável e de duplo efei-
8,10b Completa o dito no v. 8 . Ao náo to: consolida o firme, destrói o fraco. “A
escutarem as parábolas, como era devi- raiz do honrado náo se arranca” (Pr 12,3).
do, cumpre-se neles a maldiçâo de Isaías 8.14 Um profeta pregava: “Lavrai os
(6,9-10; 42,20). Quem náo escuta como de campos e náo semeeis espinheiros” (Jr 4,3).
ve, quem náo sintoniza, náo fica sem com- Já Adáo teve de lutar com os espinheiros
preender, mas se endurece progressiva (Gn 3,18); e em contexto escatològico bro-
mente. tam espinheiros da vinha (Is 27,4).
LUCAS 218
váo se sufocando e nao amadurecem. e seus irmáos, mas náo conseguiam api (i
15A que cai em térra fértil sao os que ximar-se por causa da multidáo. 20Avi
com excelente disposigáo escutam a saram-no:
palavra, a retém e dáo fruto com perse- — Tua máe e teus irmáos estáo for.i
veranga. e querem ver-te.
16Ninguém acende urna lamparina e 21Ele lhes replicou:
a cobre com urna vasilha ou a póe de- — M inha máe e m eus irm áos sao
baixo da cama, mas a coloca no cande os que ouvem a palavra de Deus e ;i
labro para que os que entram vejam a cumprem.
luz. 'P o i s nao há nada oculto que nao
se descubra, ou escondido que nao se Acalm a a tempestade (Mt 8,23-27; Mi
divulgue e se manifeste. 18Atengáo, por 4,35-41) — 22Num desses dias ele su
tante, como escutais, pois a quem tem se biu a uma barca com os discípulos e lhes
lhe dará, e a quem nao tem se lhe tirará disse:
até mesmo o que parece ter. — Vamos atravessar para a outra mar
gem do lago.
A m áe e os irm áo s (M t 12,46-50; Me Zarparam 23e, enquanto navegavani,
3,31-35) — 19Apresentaram-se sua máe ele ficou dormindo. Um furacáo se pre
8.15 Se cada planta dá fruto segundo sua na etapa da infáncia; agora aparece em
espécie (Gn 1,11-12), também a palavra público. Os irmáos sáo mencionados aquí
de Deus dará fruto segundo sua espécie. A e em At 1,14. Pois bem, com perfis áspe
perseverancia é virtude inculcada com fre- ros, o vínculo familiar é usado como sím
qüéncia (Le 21,19; Rm 2,7; 2Cor 6,4 etc.). bolo para expressar o mistério da nova fa
8.16 Esta parábola minúscula fica en milia que Jesús está fundando, na qual se
globada na explicagáo para os discípulos. sublimam as relaçôes naturais.
Daí brota seu sentido contextual: com a A palavra de Deus contém e comunica
explicagáo de Jesús os discípulos foram fecundidade, maternidade. A palavra de
iluminados. Náo devem guardar para si o Deus plenamente aceita tomou Maria máe.
ensinamento, como um saber esotérico Ao crescer a familia, a palavra cria e man-
para iniciados, mas devem difundi-lo: “Fa- tém o espirito de fraternidade. Jesús sus-
rei brilhar meu ensinamento como a auro pendeu o vínculo paterno humano, para
ra, para que ilumine as distancias” (cf. Eclo atender à casa ou ás coisas do Pai (2,41-
24,32; 37,22-26). 49); seguindo seu exemplo, é possível fa-
8.17 Também este aforismo fica envol zer parte da nova casa do Pai. Toda comu-
vido pelo contexto. O mistério do reinado nidade cristá deve ser materna e fraterna.
e tudo o que os discípulos estáo aprenden- 8.22-39 Os dois milagres relatados for-
do em particular está destinado a manifes- mam um díptico que devemos contemplar
tar-se. E um aviso para eles e para as futu primeiro no seu conjunto. Jesús enfrenta e
ras comunidades. debela as poténcias adversas: a força mí
8.18 Para o novo aforismo, dispomos de tica do océano, os poderes diabólicos que
urna frase que o sitúa: trata-se da arte de escravizam o homem. O primeiro com uma
escutar. O aforismo é um paradoxo, que ordem soberana, o segundo com um exor
admite explicares, mas náo tolera uma cismo graduado. Também pesa a reaçâo dos
mudanza de form ulado. Sugere o dina assistentes: medo, falta de fé, estupor dos
mismo do receber e produzir. O que “se discípulos; medo e terror dos gerasenos,
guramos” sem produzir apodrece, “nos é proclamaçâo do possesso curado.
tirado”. 8.22-25 Para 1er o episodio é oportuno
8,19-21 Vimos a eleigáo dos doze (6,12- por como paño de fundo o primeiro qua-
16) e a incorporado de umas mulheres ao dro da historia de Joñas: o profeta embar
grupo (8,2-3). Cabe agora á familia? Pa cado, adormecido, vento e água na tem
rece que só querem vé-lo, saudá-lo. Lucas pestade. A diferença é que, agora, na barca
dedicou a Maria um lugar predominante vai Jesús, que náo está fugindo e é mais
1,111 219 LUCAS
i|iic profeta. O lago quase doméstico de do-o da sociedade, leva-o ao deserto (Jó
( lenesaré, mesmo com suas tormentas pro 6,18; 30,3-7; Dt 32,10) e o faz inquilino e
verbiáis, representa agora papel dramáti companheiro do mundo dos mortos, que o
co do oceano levantino ou monstro mari contamina (Nm 19; Jó 17,13), torna-o
nilo. Embora o narrador nao cite um texto intratável, dotado de força sobre-humana.
cin particular, a sua linguagem o prende a O demonio comparece ao julgamento do
niuitos textos do AT. Escolhemos para a exorcismo: reconhece um título transcen
ligua SI 65,8; 93,3-4; e 103,4.7 como re dente de Jesús, identifica-se com seu no
presentado de muitos outros. Para os ven me, que é nome de multidáo, sofre a tortu
ios, Eclo 39,28: “Há ventos... que com sua ra do processo. Suplica náo ser condenado
fùria desfazem as montanhas”; e SI 48,8: à pena máxima, porém a urna pena limita
"Como vento sufocante que faz naufragar da, em sua terra, passando do mundo hu
os navios de Társis”. Vento e água sao os mano ao mundo animal. Mas sua maldade
elementos peculiares dos pescadores. volta-se contra ele: os porcos endemo-
Jesús dá ordem de zarpar: cometa o de- ninhados despencam os demonios no abis
nafio. Póe-se a dormir (como Joñas, 1,5), mo marinho. Vários traços dessa cena sao
dando vantagem ao adversário. O mar conhecidos por documentos contemporá
mobiliza sua fùria: como em SI 107,25 ou neos de exorcismos.
Jn 1,4 em chave realista, como em SI 18,5 8.26 E territorio pagáo, idólatra. Con-
em chave simbólica. Os discípulos sao tes- vém recordar que já Paulo identificava os
temunhas da potencia destruidora das ídolos com os demonios (ICor 10,20-21).
águas (SI 107,26-27) e da pròpria falta de 8.27 Nu: Saúl em transe ISm 19,24; Jó
fé. Despertou (SI 78,65) e “ameagou” 24,7.10. Em sepulturas, muitas vezes es
(3,35.39.41): é o verbo do “bufido” de cavadas ou aproveitando cavernas. Is 65,4
Deus reprimindo o oceano ou o exército reúne alguns dados denunciando o povo
inimigo (Is 17,13; 50,2; Na 1,4; SI 104,7; “que se sentava nos sepulcros e pernoita-
106,9). Jesús é Senhor dos elementos. va ñas grutas, que comia carne de porco,
Lucas descreverá urna cena medianamente que dizia: Retira-te!” Jesús nao denuncia,
parecida na navegagào e naufràgio de Pau compadece-se.
lo (At 27). 8.28 Título messiànico e gesto de ho-
8,26-39 A segunda c o n fro n talo está menagem; a seu pesar. O demonio e Jesús
contada com amplidào e riqueza de deta- sao inconciliáveis.
lhes, de acordo com as crenchas da época e 8,30 Legiáo: palavra latina no texto; uni-
as práticas do exorcismo. dade militar de uns seis mil homens. Je
O demonio culpável apoderou-se de um sus sozinho contra tantos (Lv 26,8; Dt 32,
homem e o seqüestrou (Ex 21,16). Excluin- 30; Is 30,17; SI 55,19).
LUCAS 220
8,43-44 Os detalhes servem para real 8,52a Refere-se aos ritos fúnebres cos-
zar o contraste: doze anos/no mesmo ins tumeiros (cf. Jr 9,16-17).
tante, ninguém a pudera curar/parou, gas- 8,52b-53 O sono como imagem da morte
lou a fortuna/tocou-lhe a orla. A açao da é clássico (SI 13,4; Jr 51,39.57 “sono eter
mulher tem algo de furtivo, como se rou- no, definitivo”); invertem-se os termos:
basse às escondidas. A açâo de Jésus é efi nao sendo definitiva a morte da jovem,
caz, ¡mediata, gratuita. equivale a um sono. Para ela é um voltar á
8.45 Com a pergunta Jésus nào preten vida, ainda nao é glorificagáo. Mas sim
de descobrir um culpado, mas manifes boliza de antemáo a futura ressurreigáo:
tar um exemplo de crente. Pedro oferece usa o mesmo verbo grego (18,23; 24,7).
uma explicaçâo tâo razoável quanto ob Riso e pranto denotam o mesmo desespe
tusa: há tocar e tocar. “Aquilo que nossas ro do homem frente á morte.
màos apalparam ... a Palavra de vida” 8,54 Compare-se com 2Rs 4,12-36.
(Uo 1 , 1 ).
8.46 E a força de Deus que a fé conse- 9,1-6 A missáo dos doze continua de
guiu extrair (4,36; 5,17). modo ideal a eleigao (6,12-16). “Apósto-
8.47 Faz uma dupla confissâo “diante los” quer dizer enviados; era o título que
de todos”: da sua culpa cometida tocando lhes havia imposto. Sao os doze, como
cm estado de impureza, e do milagre rea corpo ou colégio compacto. Jesús foi en
lizado por Jesús. viado (4,18.43), agora ele envia (cf. Jo
8.48 Se houve culpa legal, fica absolvi- 20,21). O poder que ele possui (4,36), ele
da e curada, por sua fé. o comunica. Confia-lhes a própria tare-
8,49-50 Como se dissesse: nao há nada fa de “proclamar a boa noticia do reina
a fazer (Jó 10,21; 14,12); contra a morte, do de Deus” (8,1). Assim se estende seu
o Mestre nao tem poder. E assim ressalta raio de agáo, sem que ele deixe de ocu
a resposta: contra a morte a fé tem poder. par o centro. Sendo assim, esta m issáo
222
lu^ AS
_0 o s os dem onios e para curar doen- havia surgido um dos antigos profetas
2E os enviou para proclam ar o rei- 9Herodes comentava:
^ \ A o de D eus e curar enfermos. 3 Dis- — Eu mandei degolar Joáo; quem s<
na3 hes: rá esse de quem ougo tais coisas? I
se^ _ N ao leveis nada para o caminho: desejava vé-lo.
z n bastáo, nem sacóla, nem pao, nem
heiro, nem duas túnicas. 4Na casa Dá de com er a cinco mil (M t 1 4 ,1 l
que entrardes, perm anecei até par- 21; M e 6,30-44; Jo 6,1-14) — 10O-,
e.ir* 5Se nao vos receberem, ao sair da apóstalos voltaram e Ihe contaram tudo
tl.I\ ^ d e sacudí o pó dos pés com o prova o que haviam feito. Ele os tomou á pai
elCU t r a eles. te e se retirou a urna cidade chamad, i
co<í^3 uando saíram , percorreram as al- Betsaida.
- ^is anunciando a boa noticia e curan- u M as a multidáo ficou sabendo e o
^>or toda parte. seguiu. Ele os acolheu e lhes falava do
reinado de Deus, curando os que tinha m
p ó d e s e J o á o (M t 14,1-12; M e 6,14- necessidade. 12Como caísse a tarde, os
fV ~ — 7H erodes ficou sabendo de tudo doze se aproximaran! para dizer-lhe:
í* u e h avia acontecido e estava em — Despede a multidáo para que váo
° , ^ i d a ; porque uns diziam que era Joáo as aldeias e campos dos arredores pro
^ u sc ita d o da m orte, 8outros que era curar hospedagem e comida, pois aquí
que tinha aparecido, outros que estam os no despovoado.
dir o povo. Afastar-se de Jesús seria a so- feitor e, no entanto, odiado; por isso,
luidlo? A de Jesus se mostra em agáo. aprendei. E agora, a caminho!
O povo há de (literalmente) “reclinar 9,18-20 A versào lucana chama a aten-
le”, como comensais num banquete. Em gào por sua brevidade e também pelo con
"grupos de cinqiienta”, como os israelitas texto de oragao em que se coloca. A ora-
no deserto (Ex 18,25). A massa do povo gáo de Jesús é o contexto da confissáo dos
volta a ser um povo organizado como em apóstolos por0 meio de Pedro. Como a in
mitros tempos e co mega a ser o povo do dicar que além da confissáo esconde-se urna
novo reino, que celebra seu banquete co profundidade insondável. Jesús pergunta
munitàrio. Este encerra solenemente urna numa espécie de resumo de sua atividade
clapa do ministério de Jesús na Galiléia. até agora e apresentando o futuro. Propoe
O olhar ao céu é de petigáo e confianza a pergunta fundamental, “quem sou eu”,
(SI 123,1). A bèngào é dada sobre qual- em dois tempos, para que a resposta dos
quer alimento, em especial o eucaristico discípulos se destaque sobre as opinides
(24,30; ICor 10,16). Abengoar é transmi do povo. A pergunta é desafiadora (nao
tir fecundidade: cresceí e multiplicai-vos. simples curiosidade ou má disposigáo,
O “partir” supóe páes grandes e dà nome como as de Herodes), e se dirige a todos.
it eucaristía, “a fragáo do pao” (At 2,42). Cada um tem de dar sua resposta. O povo,
O servir, comer e ficar satisfeitos e sobrar com todo o seu entusiasmo, nào ultrapas
podem estar influenciados pela linguagem sa o nivel profètico ou o nivel de Joáo. Na
do citado 2Rs 4. Doze cestos: é o número cena evangélica, Pedro responde como
das tribos, dos apóstolos cabera de todos. A eles foi dado conhecer
9,18-50 Segue-se urna sèrie de seis pegas o segredo do reinado de Deus. O Messias
que devem ser lidas como unidade maior. de Deus é o Ungido de Deus: primeiro tí
(’omega a confissáo messiànica de Pedro: tulo de Saul, depois do monarca descen
depois, entre duas predigóes da paixáo, a dente de Davi (SI 2,2.6; 18,51; 132,17; Lm
Iransfiguragào e a cura do epilético; fecham 4,20). Na boca de Pedro, significa o Mes
a sèrie urnas breves instruyóos. Ou seja: sias esperado. Por ora, nào deve divulgá-
Jesús é Messias; Messias sim, porém pa lo, para evitar interpretagoes equivocadas.
ciente; Messias paciente, porém glorioso; 9,21-27 Messias paciente. Imediatamen-
glorioso e também benfeitor; Messias ben- te depois da confissáo messiànica de Pe-
LUCAS 224
dro, Jesús pronuncia, como Homem, a pri- e, pela perda, dá sentido à vida. Uma vid.i
meira das très prediçôes da paixáo (vv. 44- que apenas se esgota em conservá-la níio
45; 18,31-34). O designio de Deus para tem sentido, se arruina. O destino de Je
seu Messias o conduz à gloria através da sus, traçado pelo Pai e estendido exemplar
paixâo e morte. Daí se seguem conse- mente aos homens, é paradoxal; parte do
qüéncias para os apóstolos e discípulos de mistério do reinado de Deus.
Jesús. A aceitaçao e seguimento desse ca- 9.25 Variaçâo aclaratoria (cf. SI 49),
minho decidirao o destino último do ho delineada na oposiçâo do ser e do possuir.
mem. Acruz fica implantada no seguimen O demonio ofereceu a Jesús o dominio do
to, também a cruz cotidiana, que consiste mundo inteiro: era o projeto oposto ao do
em ir superando o egoísmo que arruina o Pai. E volta a tentar apoiando-se no ins
homem. tinto de conservaçao do homem.
9.22 Os très grupos mencionados for- 9.26 Projeta a situaçào presente até ;i
mam o grande Conselho (22,66), que é parusia, a hora da verdade definitiva, a
representaçâo e guia do povo. A reprova- vinda “gloriosa” do Messias acompanha
çâo está vista como ato oficial; o termo do de seu séquito (Zc 14,5). Envergonhar
pode aludir à “pedra rejeitada pelos cons- se: SI 69,7-8; 119,46.
trutores” (SI 118,22). Outras frases e o pro- 9.27 A interpretaçâo é duvidosa. Se
cesso aludem ao poema do Servo (Is 53); Lucas recolhe sem mais um dito transmi
assim completa o texto citado e assumido tido pela tradiçâo, o versículo seria teste-
na auto-apresentaçâo em Nazaré (4,16-30). munho da expectativa das primeiras co
A ressurreiçâo segue-se à morte na primi munidades (da qual fala 2Ts); ele a teria
tiva proclamaçâo (kerygma). recolhido aqui por associaçâo temática. Se
9.23 Alarga-se o círculo de destinatá- Lucas pretende dar à frase um sentido
rios. Portanto, “seguir” abrange a vida de adaptado à sua época, “ver o reinado de
qualquer cristáo. A cruz é a trave vertical Deus” seria reconhecé-lo na ressurreiçâo
que o condenado tinha de levar no último de Jesús.
trecho da vida. O discípulo há de fazé-lo 9,28-36 Messias paciente, porém glorio
“em companhia” de Jesús, por ele tem de so. Imaginemos os pensamentos de “aque-
estar disposto ao martirio. Só que o marti le Homem” (= Filho de Adâo). A partir de
rio, fato final, nao anula o ritmo paciente sua apresentaçâo em Nazaré (4,18), atra-
de cada dia. vessou entusiasmos, incompreensôes e
9.24 Note-se a assimetria: “salvar/per hostilidades dos chefes. Para o povo, que
der por mim”. Esse motivo, referido à pes- conhece a Escritura (Torá e Profetas), o
soa do Messias, dá sentido ao perder a vida Messias tinha de ser reconhecível, identi-
», 17 225 LUCAS
iiiin-se. 35Da nuvem veio urna voz, que enquanto nâo contaram a ninguém o
tli/.ia: que haviam visto.
— Este é o meu Filho escolhido. Es-
i'iilai-o. O menino epilético (Mt 17,14-18; Me
u'Ao ressoar a voz, Jesús se achava 9,14-27) — 37No dia seguinte, ao des-
mi/.inho. Eles guardaram silencio e por cer do monte, saiu-lhes ao encontro gran-
de multidáo. 38Um homem da multidáo 45Mas eles nâo entendiam essa lin
gritou: guagem; seu sentido era-lhes oculto e
-— Mestre, rogo-te que des atengáo a ininteligível; mas nâo se atreviam a per
meu filho, que é único. 39Um espirito o guntar a respeito disso.
agarra, de repente grita, o contorce e o
faz espumar, e difícilm ente se afasta, D iversas instruçôes (Mt 18,1-5; M<
deixando-o moído. 40Pedi aos teus dis 9,33-40) — 46Surgiu um a discussáo
cípulos que o expulsassem , mas nao entre eles sobre quem era o maior.
foram capazes. 47 Jesus, sabendo o que pensavam,
41Jesus respondeu: aproximou uma criança, colocou-a jun
— Que geraqáo incrédula e perver to a si 48e Ihes disse:
sa! A té quando terei de estar convosco — Quem acolhe esta criança em aten-
e vos agüentar? Traze aqui o teu filho. çâo a mim, a mim acolhe; e quem mr
42Ainda se aproximava, quando o de acolhe, acolhe aquele que me enviou.
monio o arremessou e o retorceu. Jesús O menor de todos vós é o maior.
ameagou o espirito im undo, curou o 49Joáo lhe disse:
menino e o entregou a seu pai. 43E todos — Mestre, vim os alguém que expul
se maravilharam da grandeza de Deus. sava demonios em teu nome e o impe
dimos, pois nâo anda conosco.
Nova predigáo da m orte e ressurrei- 50Jesus replicou:
gáo(M t 17,21-23; M e 9,30-32) — Visto — Nao o impeçais. Quem nao está
que todos se adm iravam do que fazia, contra vós está a vosso favor.
disse a seus discípulos:
— “^Prestai atengáo a estas palavras: Cam inho para Jerusalém — 51Quan-
Este Homem será entregue em máos de do ia se cum prindo o tempo para que o
homens. levassem*, enfrentou decidido a via-
gern para Jerusalém, 52e enviou ä frente — Eu te seguirei para onde fores.
ílguns mensageiros. Eles foram e en- 58Jesus lhe respondeu:
Irnram numa aldeia de samaritanos para — As raposas tém tocas, as aves tém
prcpará-la. 53Mas estes nao o recebe- ninhos, mas este Homem nao tem onde
rnm, porque se dirigia a Jerusalém. 54Ao reclinar a cabeça.
ver isso, seus discípulos Joäo e Tiago 59A outro disse:
ilísseram: — Segue-me.
— Senhor, queres que mandemos que Respondeu-lhe:
tiuia um raio do céu e acabe com eles? — Senhor, deixa-me ir primeiro en
55Ele se voltou e os repreendeu. 56E terrar meu pai.
purtiram para outra aldeia. “ Replicou-lhe:
— Deixa que os mortos enterrem seus
Seguimento (Mt 8,19-22)— 57Enquan- mortos; quanto a ti, vai anunciar o rei
lo caminhavam, alguém lhe disse: nado de Deus.
lie Jesús para Jerusalém, para a cruz, para cores esses manifestados no tempo de
o céu. Partindo um pouco antes, o inicio Esdras. Os samaritanos tinham seu tem
do ministério na Judéia repete esquemáti plo no monte Garizim e nao reconheciam
camente o comego do ministério na Gali- o de Jerusalém.
léia: batismo e transfíguragáo; confronto 9,54-56 A reaçâo dos discípulos é de
com o demonio no deserto e com um ende- cunho profètico, como a de Elias: “Se sou
moninhado no vale; rejeigáo em Nazaré e um profeta, que caia um raio e queime a ti
na Samaría; escolha dos apóstelos e dos e a teus homens” (2Rs 1,10.12), e parece
discípulos. O comego é um ato consciente justificada pela ofensa feita àquele que é
c decidido de Jesús: “enfrentou”, literal mais que profeta. Nao entenderam o pro
mente “endureceu a face”. Como o Servo: grama de Jesus nem sabem para onde ele
"por isso nao me acovardava, por isso en se dirige. Sacudir o pó dos pés nao é
durecí o rosto como pedra” (Is 50,7), como fulminar com fogo celeste (9,5).
¡i dureza de Jeremías: “coluna de ferro, Alguns manuscritos acrescentam: “Nao
muralha de bronze” (Jr 1,18), como Eze- sabéis de que espirito sois. Este Homem
quiel: “parti decidido e inflamado” (Ez 2,6). nao veio para destruir vidas humanas, mas
O substantivo usado (analempsis) corres para salvá-las”.
ponde ao verbo de arrebatamento de Elias: 9.57-62 Très cenas de seguimento ilus-
“o Senhor vai levar hoje” (2Rs 2,3.5, soli tram o começo da marcha de Jesús. Sao
citado em 19,4). O significado original é personagens anónimas, típicas. A primei-
“tomar, levar” (como o latim assumere); ra e a terceira tomam a iniciativa sem se
lógicamente, se aquele que toma está no reni chamadas, a segunda é Jesus quem a
alto, no céu, tomar é levantar (como ex chama. Nos très casos, é decisiva a pron-
plica o v. l i e Eclo 48,9). O matiz de le tidáo, o desprendimento de outros víncu
vantar, como símbolo, adere-se ao termo los, a disposiçâo de enfrentar o descon
(At 1,2.11.22; lTm 3,16). forto. Tudo isso dominado pelo desejo de
A viagem está balizada por referencias, seguir em companhia do Senhor.
sem muita preocupado com a geografía 9.57-58 O salmo da criaçâo canta, entre
(9,52; 17,11; 18,35; 19,1.28). Pelo cami- outras coisas, as habitaçôes de aves e ani
nho váo sucedendo-se ensinamentos, pa mais (104,12.17-18). Jesus se parece com
rábolas, milagres, controvérsias. *Ou: de Jacó na paisagem pedregosa de Betel: “pe-
sua assungáo. gou urna pedra do lugar, colocou-a como
9,52-53 A viagem cometa solenemen- travesseiro e deitou-se naquele lugar” (Gn
te, enviando á frente quem prepare cami- 28,11). Seguir Jesus è caminhar sem pà
nho e aloj amento (como o Batista na pri- tria nem lar (cf. Pr 27,8). Ben Sirac consi
meira parte). Logo tropera em resistencia. dera desonroso e desgraçado viver de es-
Desta vez sao os antigos rancores dos sa mola (Eclo 40,28-30).
maritanos contra os judeus, radicados na 9,59-60 Enterrar os pais é dever sagra
conquista pela Assíria (2Rs 17,24-41), ran- do (Gn 35,29; Tb 14,10-13). Jesús respon-
LUCAS 228 9,(i I
vlrrni. ‘'Curai os enferm os que houver, 16Quem vos escuta, escuta a mim;
p tli/ci-lhes: O reinado de Deus chegou quem vos despreza, despreza a mim;
iili' vós. 10Se entrardes num a cidade e quem me despreza, despreza aquele que
Hilo vos receberem, sai às rúas e dizei: me enviou.
11 Ale o pó desta cidade, que se pegou
cni nossos pés, o sacudimos e devolve Voltam os setenta e dois — 17Volta-
m os a vós. Apesar de tudo, sabei que o ram os setenta [e dois] muito contentes
trinado de Deus chegou. 12Eu vos digo e disseram:
i|iic naquele dia a sorte de Sodoma será — Senhor, em teu nome até os de
milis branda que a dessa cidade. m onios se submetiam a nós.
18Respondeu-lhes:
«(■crimina as cidades da Galiiéia (Mt — Eu via Satanás cair do céu como
11,20-24) — 13Ai de Ti, Corazim! Ai de um raio. 19Vede: Eu vos dei poder para
II, Betsaida! Porque, se em Tiro e Si- pisar serpentes e escorpiôes e sobre toda
ilónia tivessem sido feitos os milagres a força do inimigo, e nada vos fará mal.
u-nlizados em vós, há tempo teriam fei- 20Contudo, nâo vos alegreis porque os es-
lo penitencia sentados na cinza com píritos se submetem a vós, e sim porque
pano de saco. 14E assim, a sorte de Tiro vossos nomes estáo registrados no céu.
o Sidónia no julgamento será mais bran
da que a vossa. 15E tu, Cafarnaum, pre- O Pai e o Filho (Mt 11,25-27; 13,16-17)
Iendes elevar-te até o céu? M as cairás — 21Naquela ocasiáo, com o júbilo do
aló o abismo. Espirito Santo, disse:
— Dou-te grabas, Pai, Senhor do céu e — Mestre, que devo fazer para het
da térra! Porque, ocultando essas coísas dar vida eterna?
aos entendidos, tu as revelaste aos igno 26 Respondeu-lhe:
rantes. Sim, Pai, essa foi a tua escolha. — O que está escrito na Lei? O que c
22Tudo me foi entregue por meu Pai. Nin- que les?
guém conhece quem é o Filho, a nao ser 27 Replicou:
o Pai, e quem é o Pai, a nao ser o Filho e — A m arás o Sen h o r teu D eus di
aquele a quem o Filho decida revelá-lo. todo o coragáo, com toda a alma, com
23 Voltando-se para os discípulos, dis- toda a m ente e ao próxim o como a li
se-lhes em particular: mesmo.
— Felizes os olhos que véem o que 28 Respondeu-lhe:
vedes! 24Eu vos digo que muitos profe — Respondeste corretamente: fazi
tas e reis quiseram ver o que vós vedes, isso e viverás.
e nao viram, escutar o que vós escutais, 29Ele, querendo justificar-se, pergun
e nao escutaram. tou a Jesús:
— E quem é meu próximo?
O bom sa m a rita n o — 25Nisso um ju 30Jesus lhe respondeu:
rista se levantou e, para pó-lo á prova, — Um homem descia de Jerusalém
lhe perguntou: para Jericó. Deu de cara com assaltan
se expressa nesta confissáo. Com estas rer”; compare-se com Simeáo “meus olhos
palavras Jesús se transfigura e irradia luz viram” (2,29-30).
de revelagào. Sugestóes ou vislumbres do 10.25-37 O diálogo com um letrado ou
AT parecem convergir neste ponto, espe jurista serve a Lucas para introduzir a pa
cialmente da Sabedoria personificada (Pr rábola do “bom samaritano”, que somen
8,22-31; Eclo 24). te ele nos conservou.
A oposi§áo entendidos e ignorantes é 10.25-28 O letrado coloca a pergunta em
clàssica na literatura sapiencial (Eclo 21, termos de religiosidade deuteronomista:
12-24 e outros) Aqui invertem-se os valo para viver é preciso cumprir (Dt 4,1; 5,33;
res em virtude de urna revelagáo superior 8,1; 16,20; 30,16); muda o horizonte, que é
e em paralelo com outras inversóes (cf. o agora uma vida perpétua no mundo novo.
Magnificat, 1,51-53). Os entendidos sáo “Herdar” é termo técnico no AT e seu obje
aqui os chefes judeus; os ignorantes sáo to é a térra. A pergunta tem sua resposta
os discípulos (compare-se com a fungao explícita na “lei”, por isso Jesús faz aquele
da lei, que “instruí o ignorante”, no SI que pergunta responder; ele nao legisla, mas
19,8); mas o enunciado transborda o hori urge o cumprimento. O letrado responde
zonte temporal (cf. ICor 1-2). O Pai re sintetizando todos os preceitos (seiscentos
vela antes de tudo a filiagáo única de Je e treze na conta dos rabinos) em dois, o
sus (3,22; 9,35). Jesus é o Filho, revelador amor a Deus e o amor ao próximo (Dt 6,5 e
do Pai (Joào desenvolverá essa teologia). Lv 19,18; síntese que Jesús faz segundo Mt
10,23-24 Esta é urna bem-aventuran§a 12,28 e 22,27-29). O homem consegue a
(macarismo) para o ver e o ouvir penetran plenitude da vida saindo de si: para Deus e
do, em termos de encarnaqào; ver e ouvir para o próximo como termos correlativos.
no e pelo Filho ao Pai (cf. lJo 1,1-2). Os A resposta, diz Jesús, é correta, a síntese
discípulos sáo testemunhas privilegiadas está bem feita; seguindo a religiosidade da
dessa revelagào, que se estenderà a todos lei, é preciso cumprir o que foi dito. Os dois
os cristáos. Profetas, que vislumbravam o mandamentos sáo nao somente síntese, mas
futuro, e reis, que prolongavam a dinas também alma de todos os outros: somente
tia: pode-se aduzir a petigào do povo (Is o amor dá sentido e justifica a lei.
63,19), a mengáo de reis (Is 52,15 e 60,3) 10,29 O letrado o escuta como repreen-
e também Davi, rei-profeta, como supos- sao e busca uma escapatoria na casuística:
to autor dos salmos. o simples e claro se problematiza, neutra
10,23 Ver Eclo 48,11 referido à volta de lizando sua validez. Pelo visto, identificar
Elias: “Ditoso quem te ve antes de mor- Deus náo era problema; identificar o próxi-
1(1, .IH 231 LUCAS
It'N i|ue lhe tiraram a roupa, o cobriram pousada e lhe recomendou: Cuida dele,
ili' j'.olpes e foram embora deixando-o e o que gastares eu te pagarei na volta.
nrmimorto. 3,Coincidiu que descia por 36Qual dos tres te parece que se portou
else caminho um sacerdote e, ao vè-lo, com o próximo daquele que deu de cara
(uissou longe. 320 m esmo fez um levi com os assaltantes?
li! : chegou ao lugar, viu-o e passou lon- 37 Respondeu:
Hr. ” Um samaritano que ia de viagem, — Aquele que o tratou com m iseri
rlicgou onde estava, viu-o e se compa- cordia.
doccu. 34Pòs azeite e vinho nas feridas E Jesus lhe disse:
i ;is atou. A seguir, m ontando-o em sua — Vai e faze tu o mesmo.
t avalgadura, o conduziu a urna pousa-
da e cuidou dele. 35No dia seguinte, ti M a rta e M a ria — 38Prosseguindo via
nnì dois denàrios, deu-os ao dono da gem, Jesus entrou numa aldeia. Urna
mi), sim. Próximo, no contexto do Leví- comportou como próximo? É preciso to
Iico, é o israelita; o Deuteronómio reserva mar a iniciativa, é preciso tornar-se próxi
0 título de “irmáos” para os israelitas. A mo do necessitado. A resposta de Jesus nao
príitica dos doutores podia excluir peca é teòrica: sua palavra quer educar na arte
dores e nao observantes. Em última ins- de tomar-se próximo.
Ifincia eles decidem quem é e quem nao é Num segundo tempo, a comunidade viu
próximo. Para Jesús, nao há escapatoria. Jesus na figura do bom samaritano e o de-
1,m lugar de discutir e teorizar, propóe urna senvolveu em detalhe. O mais vàlido e
parábola exemplar: um espelho nao para sugestivo deles é o que desee, se aproxi
justificar a própria conduta, mas para ma e ajuda o homcm necessitado.
criticá-la e corrigi-la. 10,34 O azeite suaviza e protege a feri-
10,30-37 Podemos observar as persona- da (Is 1,6), o àlcool do vinho desinfeta. Am
gens e estudar sua relagáo. “Um homcm” bos se prestam a explicagóes alegóricas.
qualquer, anónimo, sem indicagáo de pa 10,37 Ver Is 61,1; Pr 14,21.
tria nem oficio, vítima indefesa de saltea 10,38-42 Aqui temos urna casa que re
dores; jaz meio morto num caminho de cebe e hospeda o pregador. Como em ou-
curvas e abismos. Um “samaritano”, quer tros tempos urna mulher toma a iniciativa
dizer, meio pagáo; gentílico que é quase para hospedar o profeta Eliseu (2Rs 4,8-
um insulto para um judeu (Jo 8,48). Mas 10; cf. At 16,14-15). Também desta vez é
“compassivo”, solícito, generoso, tanto urna dona de casa que hospeda Jesus.
que a tradigáo o distinguiu com o título de Como o honra? Alguém que fala ou escre-
“Bom Samaritano”. Um “sacerdote” e um ve deseja sobretudo ser ouvido ou lido: é
“levita” (clérigo de ordem inferior), ou vaidade? ou é aprego pelo que eie ofere-
seja, funcionarios do culto, atentos as pres- ce? Entáo que é mais importante, dar ou
crigóes de pureza ritual. A tensáo entre receber? (At 20,35), servir ou escutar? Os
culto e ajuda ao próximo, justiga social, é doutores desse tempo nào explicavam a lei
urna constante no AT, profetas, sapienciais, às mulheres. No caso de Jesus, eie veio
salmos (Is 1,10-20; Jr 7; SI 50; Eclo 34,18- para dar vida e ensinamento. Essa vida é o
35,10). Os dois clérigos da parábola sepa- ùnico necessàrio; sua doutrina há de ser
raram compaixáo e culto. ouvida. Se o sustento é necessàrio, para
A relagáo de “próximo”. O termo grego viver é mais importante “o que sai da boca”
(plesíon) corresponde a um hebraico, que de Jesus, seu ensinamento. Como as preo-
significa vizinho (Pr 25,17; 27,14) ou ami cupagóes podem abafar a semente (8,14),
go (Pr 27,9; 17,17; Eclo 37,1-6). É con- assim o afá pode impedir a escuta.
ceito de relagáo recíproca, que inclui dois A tradigào, simplificando um pouco e
correlativos: um considera e trata o outro esquematizando, fez das duas irmàs sím
como próximo = amigo. Isto explica o bolos da vida ativa e contemplativa, como
deslocamento da resposta com relagáo á formas diversas e complementares da exis
pergunta: quem é meu próximo? quem se tencia cristá.
LUCAS 232 10, w
U ]Certa vez, estava num lugar oran tro de dentro lhe responde: Nao me
importunes; estamos deitados eu e meus
do. Quando term inou, um dos discípu
los lhe pediu:
li ri "l ili vos digo que, se nao se levan dem ónio [que era] mudo. Q uando o
t i |i;ira dà-los por amizade, se levan- dem onio saiu, o mudo falou; e a multi-
iiti .1 por seu aborrecim ento para dar-lhe dáo ficou admirada. 15Mas alguns dis-
■i que necessita. 9E eu vos digo: Pedi e seram:
ni', ilarao, buscai e encontrareis, batei — Ele expulsa os demonios com o
i. vos abriráo; 10pois quem pede rece- poder de Belzebu, chefe dos demonios.
Im\ i|iiem busca encontra, a quem bate 1''Outros, para pó-lo á prova, pediam-
Un abrem. "Q uem de vós, se seu filho lhe um sinal celeste. 17Ele, lendo seus
11ir pede pao, lhe dà urna pedra? Ou se pensam entos, lhes disse:
Un pede peixe, lhe dà urna cobra? 12Ou — Um reino dividido internamente
m pede um ovo, lhe dà um escorpiào? vai á ruina e desmorona casa sobre casa.
"l’ortanto, se vós, sendo táo maus, sa- 18Se Satanás está dividido internamen
liris dar coisas boas a vossos filhos, te, com o seu reino se manterá? Pois
i|inmto m ais vosso Pai do céu dará o dizeis que eu expulso os demonios com
I 'spirito Santo àqueles que lhe pedirem. o poder de Belzebu. 19Se eu expulso os
demonios com o poder de Belzebu, com
Jesus e B elzebù (Mt 12,22-30.43-48; que poder os expulsam vossos filhos?
Me 3,20-27) — 14Estava expulsando um Por isso, eles vos julgaráo. 20 Mas, se
i.iH's culturáis da época: o pao é assado em nio, liberta o mudo e o restituì à comuni-
i lisa a cada dia, todos dormem num ùnico dade humana normal.
nimodo, a porta está trancada com urna A admiragào dos presentes é desenlace
Imrra. Um breve salmo repete quatro ve- freqüente nos mílagres, e ainda nao signi
/rs “Até quando?” (SI 13). fica fé messiànica. Alguns, para desacre
11,9-10 Em forma de aforismo recolhe ditar Jesus ou para justificar sua rejeido,
ii ordinamento. Isto é o contràrio de urna atribuem o éxito do exorcismo a um pacto
icsignagào fatalista aos acontecimentos, com o “chefe dos demonios”. Dáo-lhe o
ramo se fossem vontade de Deus. A ini- nome de Belzebu, o deus de Acarón, a
riativa de Deus, em imperativos, quer pro quem Ocozias queria consultar (2Rs 1,2).
vocar a iniciativa do homem: “estarào ain- Isaías fala de um pacto com a divindade
ila Calando e eu os terei escutado” (Is 55,6; infernal Xeol (Is 28,15). Outros pensam
(iS,24). Quem pede confessa-se necessita- que o éxito do exorcismo nao basta para
do, quem insiste nao procura outro remé- acreditar o Messias, pois outros exorcistas
ilio, bate à porta de quem sabe que irá res tém poderes semelhantes. Um sinal celes
ponder. te, nos astros ou nos meteoros, será urna
11,11-13 A imagem do pai é mais ex- garantía (para o limite máximo dos sinais,
pressiva. Jesus “quer revelar-nos” o Pai e ver Is 7,11). O julgamento é puro precon-
nos revela também o Espirito Santo (10, ceito: Será verdade que Jesús exibe poder
22). Os homens, mesmo os pais, sao egoís sobre um demonio? — E poder delegado
tas; contudo, o amor paterno se sobrepóe. do chefe dos demonios. Seu poder pode
I leus é o dador (SI 136,25; 144,10; 146,7), ser auténtico? — Nao nos é suficiente.
scu dom máximo é o Espirito Santo (Jo Exigimos um sinal celeste.
14,17; At 2,33; 5,32; Ef 1,17). 11,17-20 A primeira objedo, Jesús res
11,14-26 Um exorcismo público serve ponde com um argumento de congruencia
para introduzir em contraste a adm irado e outro de semelhanga. Os demonios lu-
popular e as reservas de alguns em dois tam contra outros, nao entre si. Se dizem
pontos: a origem do poder de Jesus (vv. que Jesús é agente de Belzebu, tém de di-
17-26), a necessidade de um sinai parti zer o mesmo dos filhos deles, e estes se
cular (vv. 29-32). A mudez é atribuida à voltaráo para condená-los. A conseqüén-
possessào diabòlica que impede a comu cia é que na a d o de Deus se mostra “o
nicado. A de Ezequiel foi induzida por dedo de Deus” (Ex 8,10): o confronto de
Deus como sinai, a de Zacarías foi castigo Moisés com os magos do Egito é atraído
por sua falta de fé. Jesus expulsa o demó- mentalmente por tal expressáo: quando
LUCAS 234 Il I
pela terceira vez suas artes mágicas fra- de realista maternidade, faz eco à felicita
cassaram, tiveram de reconhecer a açâo da gao de Isabel e à predigào de Maria (1,45.
divindade. 48). Pode emprestar sua voz a urna huma
11,21-26 A luta com Satanás é travada nidade que felicita Maria que escutou e
desde o principio (Gn 3,15). Com suas ar cumpriu, ou deixou cumprir-se, a palavra
mas domina os homens, despojo conquis de Deus.
tado, e está seguro: “Mas podc-se tirar a 11,29-32 Esta geragáo, contemporàne i
presa de um soldado? Escapa um prisio- de Jesús, é malvada por sua incredulida
neiro de um tirano?” (Is 49,24-25). Sim, de. Reclama sinais, mas desqualifica os
porque Jesús é mais forte, como o veio de que lhe sao dados. Joñas níio fez milagros
monstrando, e está tirando-lhe as armas em em Nínive; a presenta e p re g a lo de um
que confiava. Seu despojo sao os homens profeta israelita na metrópole paga foi si
libertados (cf. Is 53,11-12). Portanto, os nal suficiente para o arrependimento e o
que foram libertados desse poder nao de- perdáo. A geragáo ninivita de adultos e de
vem abdicar da vigilancia, porque a hosti- crianzas suscitou a cornpaixáo divina. Ora,
lidade continua e o inimigo pode retornar o sinal está ai: a pessoa, os ensinamentos
com mais força e maior prejuízo que antes. e os milagres de Jesús. Mas, como náo
11.23 Complemento de 9,50, também querem aceitá-lo, em lugar de sinal se con-
em contexto de exorcismo, mas na primei- vocaráo duas testemunhas de acusaqáo,
ra pessoa do singular. que no dia final das contas deporáo num
11.24 Como sugerem as descriçôes de juízo comparativo de agravantes (Ez 16,
Is 13,21; 34,13-15. 46-52). “Compareceráo assustados por
11,26 A frase admoesta gravemente o ocasiào do inventàrio de seus pecados.,
cristáo convertido que apostata e se entre aquele dia o justo estará de pé sem temor”
ga novamente ao poder diabólico. Seu de (Sb 4,20-5,1). As testemunhas seráo: o
lito tem urna agravante e o desenlace pode profeta Joñas com os ninivitas arrepen-
ser definitivo. didos e a rainha de Sabá, paga, que fez urna
11,27-28 Esta mulher do povo, talvez longuíssima viagem para ouvir o sábio
máe, representa o sentir popular. Pelo fi- Salomáo (IRs 10). Os pagaos acusaráo
lho louva a máe e vice-versa. Em termos os judeus incrédulos que rejeitaram Je-
235 LUCAS
m is , mais que profeta e mais que mestre outro lado, nao engloba a classe inteira, a
ili- sabios. cada individuo, mas toma fariseus e letra
11,33-36 A explicaçâo utiliza um jogo dos mais como tipos. Ai entra também a
ili- palavras baseado num semitismo in- autoridade que se arrogam enquanto mes-
liiiduzivel. Em hebraico “olho bom/sim- tres e juízes de outros e sua influéncia e
jilcs” significa generoso, “olho mau” sig ascendencia sobre o povo. Quando no ano
nifica tacanho ou avaro e invejoso, nunca 70 o estado judaico foi destruido, foram
'lignifica doente (Pr 22,9; 23,6; 28,22; Dt os fariseus que salvaram a continuidade.
I S,9; Eclo 14,3.10; 31,13). O olho é o ór- O cristao que le esta página deve exami-
}',.!<> da visao e sede da estimativa (cf. o nar-se antes de atirar a primeira pedra.
semitismo “bom aos olhos de”). O olho, 11,37-38 Marcos explica essas práticas
i|iie capta a luz, fornece-a a todo o corpo, com certo detalhe (Me 7,2). Nao se trata-
o corpo inteiro vè pelo olho; se o órgào va de práticas simplesmente higiénicas,
nfio funciona, o homem inteiro fica às es- mas de pureza legal e cúltica. Em teoria,
euras; em pieno meio-dia um cego se move limpos para receber o sustento como dom
em trevas. Na ordem moral, a generosida- de Deus.
ile, olho simples, irradia: “Se dás teu pao 11,39-41 Resulta estranho e talvez sig
¡io faminto... surgirá tua luz nas trevas” nificativo o modo de juntar pegas que apa
(Is 58,10); a tacanhez, olho mau, torna tudo rentemente nao se correspondem. O ex
opaco e tenebroso. Para “simples = gene terior do copo e do prato/o interior do
roso”, ver Rm 12,8; 2Cor 9,11.13; Tg 1,5. homem/o interior (do prato e do copo)
11,34 *Ou: é a làmpada; *Ou: tacanho. dado em esmola. Apesar da montagem, o
11,37-53 A ocasiào, pouco propicia, de sentido se entende: Deus busca a intimi-
um convite a urna refeiçâo serve para in- dade responsável do homem, a qual se
troduzir o tema das abluçoes. Dai se passa expressa ñas obras de caridade. A esmola
;i urna invectiva violenta contra determi é muito recomendada em livros tardíos (Tb
nadas condutas e atitudes, típicas de fa 4,7.11; 12,9; Eclo 4,1). O exterior é o que
riseus e letrados. Lucas divide o discurso se vé, porém provavelmente o que mais
em duas seçôes: contra os fariseus, contra se suja seja o interior. Deus fez o homem
os letrados (juristas). Emprega, em duas do barro e lhe insuflou o alentó vital, cons
series de très, a forma profètica do Ai! (Is ciente e livre. Deus vé e julga. Talvez o que
5,11.18.20-22; Ez 13,3.18). enche o prato seja abuso do oficio (roubo);
Neste capítulo, mais que em outros, soa dado em esmola, ficará limpa a vasilha.
a polémica entre judaismo estabelecido e Néscios! é a antítese de doutos, entendi
cristianismo emergente; o texto é prova- dos; o néscio nao tem direito de ensinar.
velmente posterior à excomunhâo oficial 11,42 Sobre dízimos, Lv 27,30. Ajusti-
dos cristáos, “nazarenos” pelas autorida 5 a se refere ao próximo, de modo que a
des de Jámnia (85-90 de nossa era). Por frase equivale a urna síntese completa. E
LUCAS 236 lin
preciso salvar a hierarquia dos preceitos grabas é eliminado (IRs 22; Is 30,10-11;
segundo o conteúdo. O fato de estar orde Jr 26; 38); depois se erige a ele um man
nado é um dado formal, pede cumprimen- soléu como homenagem postuma (cf. 2 Rs
to. Mas o que conta é o conteúdo. Pode 23,17-18). Profeta morto nao fala. O es
acontecer que, por força de observar ni- quema pode abarcar várias geragóes: urna
nharias, se descuide do substancial. elimina o profeta, outra lhe dedica o mau-
11.44 Os sepulcros enterrados eram soléu. Todas sao membros da mesma fa
marcados com cal, para evitar que os tran milia.
seúntes os pisassem e se contaminassem. Remontando-se a Abel, nao o convertc
A imagem é muito forte pelo que sugere: em profeta, mas denuncia os assassinos de
o mundo da morte escondido entre os vi profetas como fratricidas; herdeiros do pe
vos; a corrupçâo e a impureza dissimula cado original contra a fraternidade. Zaca
das no meio do povo. rías (= Azarias) encerra a série histórica
11.45 Nem todos os fariseus eram letra (2Cr 24,20-21) com a agravante do lugar
dos e vice-versa; mas os fariseus respeita- onde se cometeu o assassinato. Falta aín
vam o corpo dos letrados e se esforçavam da na série Jesús, mas sua sorte fica apon-
por executar e fazer cumprir as decisóes tada de sobra para os leitores de Lucas.
destes. Por isso, a invectiva de Jesús recai 11,52 O “saber” é provavelmente a com-
sobre os estudiosos competentes, que se preensáo da Escritura. Os letrados se ar-
sentem ofendidos. rogam o monopolio da sua compreensáo;
11.46 Diante da objeçâo, Jesús nao re eles possuem a chave, e ninguém mais. Por
trocede, mas muda de objetivo. Denuncia esse caminho eles penetram o verdadeiro
a quantidade acumulada de observancias, sentido da Escritura (cf. 2Cor 3,14), e nao
que torna insuportável o cumprimento da permitem a outros entendé-lo. O “entra”
lei. Impóem obrigaçôes e nâo ajudam a poderia sugerir também o reino de Deus,
cumpri-las. Ao passo que eles, com agu para o qual a Escritura conduz.
dezas casuísticas, eximem-se de cumpri- 11,53-54 A batalha próxima escolhe
las. A imagem das cargas traz a recorda- como campo a dialética, na qual os letra
çâo das cargas do Egito (Ex 1,11; 2,11) ou dos se sentem fortes. Se o cagam em algu-
as de Salomáo e Roboáo (IRs 12). ma palavra delituosa (como a um suposto
11,47-51 O esquema é simples. O pro profeta), apresentaráo outra batalha mais
feta que denuncia crimes e anuncia des- grave.
237 LUCAS
12,1 Mudando de cenário, Lucas faz te sentes sobre escorpióes” (Ez 2,6). O
rom que a peroratilo seja ouvida por todo fogo aniquila o que a morte deixa; mata
ii mundo; ou seja, a massa submissa aos se e depois se queima totalmente: “mata-
luriseus, que agora escuta Jesús como ram a fera, esquartejaram-na e a atiraram
mostre e profeta. Hipocrisia pretende ser ao fogo” (Is 66,24; Dn 7,11). Equivale a
«intese das atitudes denunciadas; é dissi dizer que náo alcanzará a vida futura (cf.
mular o interior com o exterior, é inverter Ap 19,20; 20,14-15; 21,8).
il escala de valores, é confundir ao invés 12,6-7 Correlativo de náo temer é con
de esclarecer. Mais que um delito especí fiar. Curioso é que seja a mesma persona-
fico é um arbitrio, um fermento que pene gem a que pode ditar sentencia de conde
tra e corrompe toda a massa (Ex 12,15; n a d o e a que cuida dos desvalidos como
ICor 5,7). de pássaros indefesos. Do paradoxo segue-
12,2-3 Diante da simulagáo e da hipo se que o que se deve realmente temer é
crisia, recomenda-se a sinceridade, tendo fazer-se merecedor da condenagáo; em
etn conta o desenlace (cf. Eclo 24,21.24). outras palavras, a pessoa teme a si mes
É convite e advertencia. Convite a parti- ma, náo os outros, cujo poder alcanza só
lliar o bem aprendido; advertencia de que esta vida, náo a “segunda morte” (Ap
um dia serào arrancadas máscara e dis- 21,8). O Salmo 36 mostra o cuidado de
íurce. Deus por “homens e animais”, em geral e
12.4-12 Essa instrugáo dirige-se aos em particular; o Salmo 104 o desenvolve.
"amigos”, provavelmente aos discípulos 12,8-9 O medo deve ser vencido em or-
(Jo 15,15). Exorta à coragem de confessar dem ao testemunho público e arriscado em
publicamente Jesús. Na boca de Jesús sao favor de Jesús. O horizonte antes indica
palavras proféticas, na pena de Lucas re- do do juízo final (fogo) coloca-se em pri
l'letem perseguigóes já experimentadas meiro plano. Entáo, ante a corte celeste,
(morte de Estèvào e de Tiago e processos “os anjos de Deus” (cf. Dn 7,10), cada um
diversos). será reconhecido ou reprovado. O texto
12.4-5 A primeira é nao temer. A frase grego se desloca do “eu” presente, ao “Fi
clàssica de encorajamento “nao temáis” lho do Homem” da parusia e ao passivo
lem aqui urna explicagáo. Ver a vocagáo (teológico) da rejeigáo. Em resumo, a ati-
de Jeremías: “Nao tenhas medo deles, caso tude presente e pública diante de Deus
contràrio, eu te farei ter medo deles” (Jr decidirá o destino último do homem.
1,17-18), o encargo de Isaías (Is 8,12-13), 12,10 Blasfemia contra o Espirito San
a vocagáo de Ezequiel: “Náo tenhas medo to, nesse contexto, parece significar o re-
deles... ainda que te rodeiem espinhos e jeitar obstinadamente o seu testemunho a
Lt j c A S 238 12,11
favor de Jesús, pelo quai a pessoa se fecha descansar, agora comerei de minhas pos
-jo perdáo que Jesús oferece. Como se dis- ses, nâo sabe o que acontecerá até que o
géssemos: a pessoa corta o galho sobre o deixe a outro e morra”. Num monólogo
qual está sentada. interior se denuncia. Seu ideal de vida c
12,11-12 Outro conselho para o momen comer e beber e desfrutar (cf. Jr 22,15;
to da confissâo, que o próprio Espirito su Ecl 2,24; 3,13; 8,15); espera “muitos anos”
gerirá (ICor 12,3). O confessor fala nesse de vida; trabalhou e agora pode “descan
fiiomento como profeta inspirado: “O Es sar”; acumulou e pode viver de rendas.
pirito do Senhor fala por mim, sua pala- Seu horizonte é imánente: esta vida (cf.
vra está em minha língua” (cf. 2Sm 23,2). Sb 2,1-9).
O próprio Lucas mostrará o exemplo de Ao monólogo responde o próprio Deus:
pstêvâo discutindo e testemunhando (At essa filosofía de vida é “insensata” (Sb
6,10; 7,35). 2 , 1 .2 1 -2 2 ). O rico tem a vida como em-
12,13-15 A intervençâo de alguém da préstimo e está vencendo o prazo de resti-
multidáo amplia o ámbito dos ouvintes. tuí-la. A morte sempre iminente devolve
Tinha razáo talvez aquele homem, ao re sua dimensâo e pode devolver seu sentido
clamar o que lhe era devido (cf. Gn 21,10; à vida. Rico para Deus é quem com o que
Jz 11,2); é razoável supó-lo. Naquela cul é seu ajuda o próximo: “Quem se compa
tura, herdar era assunto importante, nâo dece do próximo empresta a Deus” (Pr
somente para o herdeiro, mas também para 19,17; Eclo 29,8-13).
a continuidade da familia. O Eclesiástico 12,22-34 De novo se dirige a seus dis
instruí sobre testamentos (Eclo 32,20-24). cípulos; o ensinamento, portanto, é para
Pois bem, Jesús nâo veio dirimir pleitos quem vai dedicar-se a pregar o evange-
de intéressés pecuniários. Ele ensina a dar lho. O estado de preocupaçâo e ansieda-
mais do que a reclamar. Vai à raíz que vi de atrapalha gravemente no ministério; a
cia as relaçôes humanas e escraviza a vida cura nâo é psicológica, mas teológica.
as posses. A riqueza nâo é seguro de vida Acima de tudo, devem por o reinado de
(SI 49). Deus, que é o tema da boa noticia (v. 31).
12,16-21 O rico do relato é um bom Para pregá-lo, tém de estar libertados: nâo
exemplo de confiança nas riquezas (SI só de riquezas que atam e travam, mas
49,7.19; 52,9; Pr 11,28). Se nâo está ins também de preocupaçôes que afogam e
pirado em Eclo 11,18-28, faz bom para desalentam. Das riquezas, é possível li-
lelo com ele: “Quando diz: Agora posso bertar-se repartindo aos pobres (v. 33);
H H 239 LUCAS
h i villa ou pela veste para cobrir o nhâ é lançada no forno, quanto mais a
■«>i| Xi ' 'A vida vale mais que o susten- vós, desconfiados. 29Nâo andéis bus
it 1 1 h corpo mais que a veste. 240 bser- cando o que comer ou o que beber; nao
II u s corvos: nào semeiam nem co fiqueis pendentes disso. 3(5Tudo isso sao
lin mi, nao têm celeiros nem despensas, coisas que as pessoas do mundo procu-
■I >i us os sustenta. Quanto mais que as ram. Quanto a vós, vosso Pai sabe que
■ni s valéis vós. 25Quem de vós pode, à elas vos fazem falta. 3lBasta que bus
i.ni,.i de preocupaçôes, prolongar um quéis o reinado dele, e o resto vos será
l«meo a vida? 2hPois, se nâo podéis o dado por acréscimo. 32Náo temas, pe-
minimo, por que vos preocupáis com o quenino rebanho, porque vosso Pai de-
h .in? 27Qbservai como crescem os li cidiu dar-vos o reino. 33Vendei vossos
ni is, scm trabalhar nem fiar; porém, eu bens e dai esmola. Fazei bolsas que nâo
vus digo que nem Saiomáo, com todo envelheçam, um tesouro inesgotável no
h se h esplendor, se vestiu como um de céu, onde os ladróes nâo chegam nem
li s 2KPortanto, se Deus veste assim a a traça os rói. 34Porque, onde está o vos
i iva do campo, que hoje cresce e ama- so tesouro, ai estará o vosso coraçâo.
12.35-48 Exorta à vigiláncia com urna 12,42-46 Ver a figura de José (Gn 41,37-
montagem de tres parábolas: servo e pa 44). O administrador da parábola está en
tráo, dono e ladráo, administrador. O ho carregado de outros criados; ocupa um
rizonte se alarga para a Igreja, que espera posto intermèdio, ocupa-se de pessoas, nao
a parusia ou retorno do Senhor. Embora a de bens. Aaplicagáo imediata aponta pani
exortacjao valha para todos, há diversos os discípulos que recebem cargo media
graus de responsabilidade. As parábolas dor. As condutas opostas sao: um servigo
tém como horizonte a parusia e sua apli organizado para os outros servos ou um
c a d o no tempo da Igreja. aproveitar-se licensiosamente da situagáo.
12.35-38 O israelita se cinge e prende a A demora do patráo a vir responde à gera-
túnica talar para trabalhar ou caminhar ou gáo de Lucas, que já nao espera urna paru
para brigar (Ex 12,11; IRs 20,11). Estar sia iminente. Contudo, o espirito de vigi
cingido é estar disponível. As lamparinas láncia deve permanecer, porque a demora
indicam que a cena acontece de noite (cf. nao desmente o fato (Ez 7,1-12; 12,21-28).
Pr 31,17-18). Lucas nao apresenta o patráo E como o fato é certo, a incerteza da hora
como noivo, mas como convidado a um incita à vigiláncia. Sem cessar é iminente
casamento anónimo. A reagáo do patráo é o que pode acontecer a qualquer momento.
inverossímil, desorbitada, e nisso está a gra- 12,47-48a A ignorancia de ordens con
ga: o patráo age como servo (22,27) e con cretas do patráo é atenuante, mas nao exi
vida os criados a um banquete (Ap 3,20). E me da responsabilidade genérica. O conhe-
o banquete do céu, que só com hipérbole cimento é agravante; e os discípulos as
se pode esbogar (Mt 26,29; Is 25,6). Duas conhecem.
vezes chama “felizes” (macarismo) os cria 12,48b Referido aos governantes em Sb
dos que vigiam. 6,1-8: “Os elevados seráo julgados impla-
12,39 Os ladróes escolhem a noite: “de cavelm ente... os fortes sofreráo dura
noite ronda o ladráo, penetra ás escuras ñas pena”.
casas” (Jó 24,14.16), e utilizam o procedi 12,49-50 Fogo e água podem resumir
mento de abrir um buraco; a surpresa é seu qualquer tipo de perigo (Is 43,2). Será que
principal recurso (Ex 22,1). Embora a vigi as duas imagens se referem aqui ao mes-
lancia seja coletiva, aplica-se a cada pessoa. mo fato, a paixáo próxima? Em 3,16 fala-
24 1 LUCAS
aproxim aram alguns fariseus para di- dos: Quantas vezes eu quis reunir teir
zer-lhe: filhos como a galinha reúne a ninhmln
— Sai daqui, pois Herodes procura sob suas asas; e vos resististes. 35Poi
matar-te. bem, vossa casa ficará deserta. Eu vo .
32 Respondeu-lhes: digo que nao me vereis até o momeniii
— Ide dizer a esse raposo: Vé: hoje em que diréis: Bendito o que vem em
e amanhá expulso dem onios e realizo nome do Senhor!
curas; depois de am anhá term inarei.
33 Contudo, hoje, amanhá e depois, devo Cura um hidrópico— 'Numa
prosseguir minha viagem, porque nao ocasiáo em que entrou no sá
convém que um profeta morra fora de bado para comer na casa de um chelo
Jerusalém. 34Jerusalém, Jerusalém, que de fariseus, eles o vigiavam. 2Pós-si
matas os profetas e apedrejas os envia diante dele um hidrópico. 3Jesus tomón
dar Jesús? Buscam descarregar a culpa emñas que servem de instruyóos. Numa espi;
outro? Jesús nao admite intimidaçôes em cié de “simposio” evangélico. Dos conso
seu caminho. Embora detenha o poder, lhos particulares sobe á visáo escatològici
Herodes é um animalejo sem importáncia Por ora Jesús é o convidado e correspondí
(cf. Ez 13,4; Ne 3,35). Esta vez nao é como
com seu ensinamento; no fim convidará o
a do outro Herodes e as crianças inocenPai. A instrugáo de Ben Sirac sobre ban
tes. Jesús tem ainda tarefa clara. Morrerá
quetes e convidados pode servir de fundo
quando chegar sua hora, nao antes; em empírico, sapiencial (Eclo 31,12-32,13).
Jerusalém, nao fora. Cabe a Deus fixar os 14,1 O convite a um banquete no sába
prazos (SI 75,3). Os poderes humanos po-do oferece ocasiáo para vários ensinamen
dem executar, mesmo sem pretendé-lo tos reunidos. Imaginemos que Jesús, se
nem sabé-lo, o plano decidido por Deus; gundo o costume, leu e comentou numa
nao podem interferir nem impedi-lo. O sinagoga e, ao terminar, um dos chefes o
esquema dos très dias pode ter sido toma
convida à ceia solene do sábado. Outros
do de Os 6,2 e adaptado como enigma à colegas fariseus participam da ceia. Jesús
situaçâo presente. náo recusa esses convites nem desperdiga
13,34-35 O Senhor quis proteger seu tais ocasioes, mesmo sabendo que o vigiam
povo “à sombra das suas asas” (SI 36,8; (cf. 7,36-50; 11,17-53). Lucas reúne qua
63,8) e a capital com sua presença no tem
tro pegas numa espécie de simpòsio ao
plo (Is 31,5; 37,33-35), exigindo ao mes
estilo grego. O banquete oferece a ocasiáo
mo tempo a conversáo (Jr 7). Ela, em veze o tema central, que se desenvolve com
de receber “profetas e enviados”, os mavariedade de aspectos e interlocutores.
tou (Ne 9,26; At 7,52), “resistiu” ao cha
Nesse banquete se prefigura a refeigáo
mado de Deus. Leia-se a terrível descri-eucaristica e se anuncia o banquete celes
çâo da “Cidade Sangüinária” traçada por te. Os fariseus convidados o vigiam para
Ezequiel, profeta da catástrofe: “Cidadeavaliá-lo com o critèrio das observancias
que se encaminha para seu fim” (Ez 22,2).
(cf. SI 37,32).
Agora vem Jesús, novo enviado de Deus, 14,2-6 O primeiro episodio reitera o
para cumprir a mesma missáo; e vai so- tema da cura no sábado (13,10-17). Acom-
frer o destino dos profetas. Ora, como já
paragáo do filho ou do boi caídos num
aconteceu urna vez (Lm 1,8.14.18 etc.), a
pogo (cf. Ex 21,33-34) torna mais aguda a
casa habitada ficará deserta, seja o tem
situagáo. O interesse pelo animal ou o de
plo, seja a cidade (IRs 9,7-9; Jr 12,7). Mas
ver paterno se sobrepòem à prescrigáo, e
chegará um dia, quando o veráo voltar, eesses sentimentos náo faltam a Jesús. Per-
o receberáo com a saudaçâo do salmo gunta desafiando e comenta argumentan
(118,26). Anuncio de conversáo? (cf. Rm do. Sua pergunta náo proíbe, mas permite
11,25-26). o repouso sabático. Se um homem normal
socorre de sábado a um filho ou animal,
14,1 -24 Com a situaçâo comum de co “Deus socorre homens e animais” (SI
mida ou convite, Lucas reúne quatro ce- 36,10). Calam-se diante da pergunta por-
245 LUCAS
i|ue dáo por descontada a resposta. Nào e também em proveito de quem é caritati
rcspondem ao argumento porque nao tém vo. O convite interesseiro atinge seu pa
rcsposta. gamento neste mundo e nesta vida. A ca-
14,7-11 Num banquete de casamento o ridade desinteressada tem pagamento
protocolo designa rigorosamente os luga transcendente. A “ressurreicjáo dos justos”
res. A parábola fala de conseqüéncia, nao é a glorificado a exemplo e pelo dom de
ile finalidade. Pois, se alguém se dirige ao Jesús Cristo.
último lugar para provocar a honra de ser 14,15 Com a frase final, “a ressurreigao
chamado ao primeiro, está incorrendo na dos justos”, se liga a exclamado do fa-
mesma vaidade, inclusive mais refinada. riseu. Ele se considera incluido entre es-
“É melhor ouvir: suba para cá do que ser ses justos e sonha com a dita de participar
humilhado diante de um nobre” (Pr 25,6-7). do banquete com que o Messias inaugura
1 4 ,1 1 Aforismo de valor geral, que pode rá seu reinado (Is 25,7-9; 65,13-14). O
ilesprender-se do contexto (Ez 17,24; Pr Apocalipse dá novo sentido á frase “Feli-
15.33). Um provèrbio formula-o assim: “A zes os convidados as nupcias do Cordei-
frente da gloria caminha a humildade” (Pr ro” (Ap 19,9).
15.33). Exemplo máximo é o pròprio Je 14,16-24 Jesús responde com uma pa
sus, como o expoe Paulo (F1 2,6-11). rábola que freia e desvia semelhante espe
14,12-14 Sobre a generosidade desin- ranza ou presundo. O banquete é grande
leressada. E o ensinamento de 6,32-33 e é pelo número de convidados e a qualidade
tradicional (Is 58,7-12; SI 112,9; Eclo 7,32- dos manjares. Muitos foram convidados e
33). A novidade está no modelo de convi aceitaram. Chega a hora, com o banquete
dados e na recompensa escatològica. Os preparado, e os convidados recebem o se
convites mutuos, como costume social, gundo convite. Nesse momento se desdi-
criam e afiangam um círculo de bem-es- zem com várias desculpas. E faltar á pala-
tar, do qual sao excluidos os mais neces- vra e ofender gravemente o anfitriao. Suas
sitados. Acaridade que Jesús prega e pratica desculpas recordam os “espinheiros” da
rompe esse círculo a favor dos indigentes parábola do semeador (8,14). Negocios, tra-
LUCAS 246
hora do banquete, enviou seu servo avi daqueles convidados provará o nun
sar os convidados: Vinde, já está pre banquete.
parado. 18Um após o outro, todos fo
rarci se desculpando. O prim eiro disse: Odiscípulo (Mt 10,37-38) — 25Seguu
Comprei um terreno e preciso ir exami- o grande multidáo. Ele se voltou e III'
ná-lo; por favor, aceita m inhas descul disse:
pas. 190 segundo disse: Comprei urna — 26Se alguém vem a mim e nao | »it
junta de bois e vou prová-los; por fa em segundo lugar seu pai e sua m;n
vor, aceita minhas desculpas. 2Í)0 ter- sua mulher e seus filhos, seus irmáos p
ceiro disse: Acabo de casar e nao posso irmás, e até sua pròpria vida, nao podi
ir. 210 servo voltou para inform ar o se- ser meu discípulo. 2'Quem nao leva su#
nhor. O dono de casa, irritado, disse ao cruz e nao me segue nao pode ser mai
servo: Sai depressa até as pravas e rúas discípulo. 28Se um de vos pretende coir.
da cidade, e traze pobres, m utilados, truir urna torre, nao senta primeiro pai .i
cegos e coxos. 220 servo lhe disse: Se- calcular os gastos e ver se tem com qui
nhor, foi feito o que ordenaste, e aín terminá-la? 29Náo acóntela que, tendí i
da sobra lugar. 23Ó senhor disse ao ser lanzado os alicerces e nao podendo
vo: Sai pelos cam inhos e veredas e com pletá-la, todos os que veem p<>
obriga-os a entrar, até que se encha a nham-se a cagoar dele, 3°dizendo: Este
casa. 24De fato, eu vos digo que nenhum comegou a construir e nao pode con
balho, familia, embora sejam atividades tam com o chamado de Jesús. Por isso o
honestas, impedem realmente de compa seguidor ou discípulo de Jesús tem que
recer a um banquete? rejeitar, “odiar” esses impedimentos (cf. E.\
O anfitriáo nao renuncia á festa nem 33,9). Se nao está disposto a isso, náo rcú
quer que se percam os manjares prepara ne as condigóes para rematar o projeto.
dos. Como se exultasse presenteando, hos 14,26-27 Vínculos familiares: Na bén
pedando. Sua generosidade nao é condi gao a Levi, Moisés pronuncia estas frases
cionada pelo interesse ou pela qualidade “Disse a seus país: Nao fago caso de vos.
dos hospedes. Faz um duplo convite. Pri a seus irmáos: Náo vos reconhego; a seus
meiro na cidade as categorías de antes (v. filhos: Náo vos conhego”, porque antepu
13); depois aos arredores, aos que encon- seram o mandato de Deus (Dt 33,9, referido
trarem. Como estes resistiráo, envergonha- a Ex 32,26-29). A vida e a cruz: 9,23-24.
dos ou incrédulos, será preciso trazé-los e 14,28-32 As duas parábolas insistem no
forgá-los amistosamente. Esses acorrem e conhecimento das condigóes e na plena
enchem a casa. Os outros ficam definiti consciéncia com que se deve tomar a de
vamente excluidos. Deus dá a todos. E o cisáo de seguir a Jesús. Diferente parece o
ser humano quem recusa aceitar. Quem caso dos pescadores e de Levi, a quem urna
recusa o dom ofende o doador. palavra soberana de Jesús ilumina e moví
A parábola pode se aplicar a judeus que as,1-11.27-28); ou o caso de Paulo, cega
resistiram e a pagaos que responderam. do e iluminado (At 9). Talvez se inspireni
Também é aplicável dentro da Igreja, pela ñas normas de prudencia que a sensatez
sua dimensáo escatológica (cf. ICor 1,26- ordena: “Com sensatez constrói-se urna
29). Os primeiros foram escolhidos por casa... Com estratagemas ganha-se a guer
vontade do anfitriáo, os outros sao convi ra” (Pr 24,3.6). Contém um paradoxo na
dados em sua condigáo de marginalizados. aplicagáo: se para construir ou fazer guer
14,25-27 Sobre o seguimento de Jesús. ra é preciso contar com meios, para seguir
Pode-se unir com o trio de 9,57-62. Jesús a Jesús, o essencial é náo possuí-los.
caminha para Jerusalém a fim de padecer 14,28 Pode tratar-se de urna dessas tor
e morrer. Nesse contexto soam as condi res que se construíam nos pomares para
góes para o seguimento. Os vínculos pu vigiar ou como abrigo contra o mau tem
ramente humanos de familia, o interesse po (Is 5,2), mais sólidas e cómodas que
pessoal, interferem muitas vezes e contras- uma cabana (Is 1,8).
tM.II) 247 LUCAS
i Iiiii. uSe um reí vai travar batalha com — 4Se algum de vós tem cem ove-
millo, nao senta prim eiro para avaliar Ihas e perde urna, nao deixa as noventa
*t' poderá resistir com dez mil a quem e nove no deserto e vai atrás da ex
veni atacá-lo com vinte mil? 32Se nao traviada até encontrá-la? 5 Sim, ao encon-
piule, quando o outro ainda está longe, trá-la, a coloca nos ombros contente,
ii|ivia-lhe urna delegagao para pedir-lhe 'Vai para casa, cham a amigos e vizi-
11 pa/. 33Assim é para qualquer de vos: nhos e lhes diz: A legrai-vos comigo,
(Jiicm nao renunciar a seus bens, nao porque encontrei a ovelha perdida. 7Eu
pode ser meu discípulo. vos digo que da m esma forma haverá
M0 sal é bom; mas, se o sal se torna no céu m ais festa por um pecador que
Insosso, com que o tem perarlo? 35Náo se arrepende do que por noventa e
*i>rve nem para o campo nem para a nove justos que nao precisam arrepen-
pxlerqueira; deve ser jogado fora. Quem der-se.
llver ouvidos para ouvir, escute. 8Se urna m ulher tem dez dracm as e
perde urna, nao acende urna lampari-
| A o v elh a e a m oeda p erd id a na, varre a casa e procura diligente
— ’Todos os coletores e os pe mente até encontrá-la? 9Ao encontrá-
didores se aproxim avam para ouvir. la, chama as amigas e vizinhas e lhes
'Os fariseus murmuravam: diz: Alegrai-vos comigo, porque encon
— Este recebe pecadores e come com trei a dracma perdida. ’“Eu vos digo
des. que da mesma forma se alegrarlo os
3Ele lhes respondeu com a seguinte anjos de Deus por um pecador que se
parábola: arrepende.
14,34-35 Parece dirigido ao discípulo. nam nas très os sentimentos, e entre eles,
Terá que desfazer-se para comunicar seu a alegria; é a vantagem de falar com rela
sabor e para conservar alimentos: se o per- tos, e nâo com teorias. Como a ovelha e a
de, será rejeitado. dracma, assim o homem, apesar de peca
dor, é propriedade de Deus: “Perdoas a
15,1-2 Começa urna segunda série de todos porque sáo teus, Senhor, amigo da
parábolas, mais ampia que a do cap. 8 . vida” (Sb 11,26).
Nesta seçâo reúnem-se as très parábolas 15,3-7 A primeira toma a imagem de
chamadas “da misericordia” e outras duas uma atividade muito sensível na tradiçâo
sobre o uso dos bens. As très primeiras bíblica: compare-se a figura do rei pastor
cstáo construidas com cálculo: sobre urna que vai à luta para resgatar uma ovelha
dupla paralela se levanta a figura domi (ISm 17,34-36) e a grande exposiçâo de
nante. As paralelas sao: um homem no Ezequiel (em particular Ez 34,11-16). As
campo e sua ovelha extraviada; urna mu- noventa e nove fieam em lugar seguro.
Iher em casa e sua moeda perdida. A ter- Leva a ovelha nos ombros (como em Is
ceira costumamos chamar “do filho pró 40,11). É um por centro da sua proprieda
digo”, porém melhor seria chamá-la “do de; no entanto, alegra-se com um gozo
pai amoroso”. Segundo a introduçâo, as comunicativo, incontido, como se tivesse
très se dirigem a “coletores e pecadores”, uma relaçâo pessoal e náo só económica
para os quais sâo verdaderamente boa com a ovelha (cf. 2Sm 12,1-4). É a alegria
noticia, e eles acorrem ansiosos para que sobe até o céu. A frase é audaz: no céu
escutá-la. Em contraste, ressalta o desgos- se festeja o acontecimento.
to dos fariseus, apresentados como tipo, 15,8-10 O segundo caso parece mais
e que reapareceráo na figura do irmáo modesto à primeira vista. Mas a mulher é
mais velho. As très falam do perdáo de mais pobre e perdeu um décimo de seus
Deus para o pecador; por isso podemos haveres. Proporcionalmente a alegria é a
encabeçà-las com o texto clássico: “Deus mesma e só em parte a aplicaçâo: nâo se
nâo quer a morte do pecador, mas que se fala de alegria comparativa. Contudo, a
converta e viva” (Ez 18,23.32). Predomi- alegria acusa um sofrimento precedente:
LUCAS 248 15.11
a perda dói. Um pecador convertido é algo fortuna” (29,3; Eclo 18,30-19,2). Fome o
valioso que os anjos de Deus recuperam. miséria nao sao castigo extrínseco, ma
15,11-32 Poderíamos partir de dois tex conseqüencia de urna conduta, sangáo
tos clássicos que revelam o aspecto emo imánente.
tivo e entranhado da paternidade de Deus 15,15 Submetido como escravo a um
(Os 11 e Jr 31,18-20). Mais em concreto, patráo pagáo (Le 25,27); “a fome do día
um salmo nos fala do Deus pai que, como rista trabalha por ele, porque sua boca o
um pai por seu filho, enterncce-se e per- estimula” (Pr 16,25). Oficio humilhanti
doa (103,13). A “rainha das parábolas” é para qualquer um, mais ainda para um ju
transparente em seu desenvolvimento: a deu, forgado a ficar entre animais impu
partida, a dissipagáo libertina, a queda hu- ros (Lv 11,17). Como se nao bastasse, es
milhante, as privagóes, a saudade da casa ses animais gozam de melhor sorte que ele.
paterna, o retomo á nova vida, o abrago sem 15,17 O narrador entra na mente do jo-
recriminagóes, a festa. Contudo, vale a pena vem para revelar suas reagoes. A necessi
observar mais de perto alguns detalhes. dade faz refletir, aínda em termos de inte
15.11 Ao passar da ovelha e da moeda resse pròprio: “naquela ocasiáo era mais
ao filho, a exposigáo se torna mais pro feliz do que agora” (Os 2,9; Jr 2,19).
funda e reveladora. Aqui Jesús está cum- 15,18-19 Superando o interesse pròprio,
prindo algo do que disse ( 1 0 ,2 2 ): está re descobre a dimensáo transcendente: O
velando o Pai. A paternidade humana é pecado vai contra Deus (José, Gn 39,9; o
reflexo de Deus, e por isso serve para fazé- Faraó, Ex 10,16; o povo, Dt 1,41; Davi,
lo compreender. O dramático relato de 2Sm 12,13; SI 51,8). O jovem, mesmo que
José, com desfecho feliz, nos fala de amor só mentalmente, impòe a pena a si mes
paternal; e dois momentos trágicos na vida mo: perder todos os direitos de filho (cf.
de Da vi: o primeiro filho de Betsabéia, e Gn 43,9).
Absaláo morto (2Sm 12,15-25; 19,1-9). 15,20 O pai nào leva o assunto por via
15.12 A parte que corresponde ao mais legal (Dt 21,20), mas se deixa levar pelo
novo é um tergo dos bens movéis (Dt afeto paternal: “minhas entranhas se co-
21,17). Ben Sirac recomenda nao ceder a movem e cedo à compaixáo” (Jr 31,20);
heranga em vida: seria dar poder a outros “meu coragào se contorce dentro de mim,
e submeter-se e estar á mercé deles (Eclo minhas entranhas se comovem” (Os 11,8);
33,20-24). identifica-o de longe, sai correndo a seu
15.13 Distante significa longe da pre encontro. O abrago sela a reconciliagáo,
senta paterna, rium desterro voluntário, antes que o filho pronuncie a confissáo:
buscando a liberdade. Uma libertinagem “Volta, Israel apóstata, pois nao estou ira
que o leva logo á miséria: “porque bebe do... nao guardo eterno rancor” (Jr 3,12).
dores e comilóes se arruinaráo” (Pr 23,21); E recebido como filho: traje e anel serao
“quem se junta com prostitutas dissipa sua os sinais externos.
249 LUCAS
15,24 É um reviver; nào a simples vol 16,1 As duas parábolas que se seguem
ici, mas o arrependimento e o perdào (Jr tém como tema comum o uso dos bens.
i, II; cf. Eclo 32,5s). Urna vida nova me- Os do patráo no caso do administrador
n re ser festejada. (16,1-13), os próprios no caso do rico (16,
15,25-32 A parábola tem urna segunda 19-31). Ambas abrem passagem para suas
luirle porque nem todos se alegram com o próprias instrugóes medianamente ligadas,
■Irsonlace. Há quem nao aceita nem com- a primeira aos fariseus (16,14-18), a se
jiicende a fraqueza do pai. Jonas é um gunda aos discípulos (17,1-10). A primei-
, «empio admirável: nào quer ser profeta ra dirige-se aos discípulos; a segunda, por
ili* um deus “compassivo e clemente, pa náo haver urna segunda mudanza, dirige-
ciente e misericordioso” (Jn 4,2), capaz de se aos fariseus.
ilrixar mal seu profeta por perdoar os ini- 16,1-9 A parábola do administrador pode
migos. O irmào mais velho, que regressa soar desconcertante. Porque se diz clara
ilo traballio no campo, discorre em termos mente que ele era desonesto, o patráo o
ili! retribuido comparativa, protesta con louva, e Jesús no-lo apresenta como mo
ila o irmào e o pai. E o pai, no mesmo delo. De que? Que urna parábola intrigue
Irrreno, o faz ver que está bem pago con náo é desconcertante, mas saudável.
vivendo com ele. O irmào mais velho tem É o administrador de um rico abastado.
ile aceitar a misericòrdia do pai e reconci Acusam-no de má administrado, e pela
liarse com seu irmào arrependido. Pater- a§áo do amo deve-se deduzir que a acusa
nidade gera fraternidade. d o foi comprovada. O castigo lógico é
15,27 O criado se fixa apenas no aspec demiti-lo imediatamente. Assim, ele que
to externo: “recuperou-o sào e salvo”. Se vivia folgadamente enfrenta urna emergen
nlhasse em profundidade, diria: “arre- cia. Este dado é capital. Como homem
pendido e transformado”. O pai diz: “vol entendido em negocios se detém a calcu
imi à vida”. lar e buscar saídas para a emergéncia, den
15,29 O filho mais velho designa sua tro do sistema económico em que se move
vida dizendo “te sirvo”; o pai replica: “estás e conhece por dentro. Descarta duas saí
sempre comigo, e tudo o que é meu é teu”. das razoáveis, que ele náo é capaz de en
No contexto da vida de Jesus, o irmào frentar, e planeja outra astuta: criar inte-
mais velho pode representar o fariseu resses, buscando cúmplices. Em outros
como tipo. No contexto posterior, seu al termos, dos devedores do patráo fazer de-
i-ance é universal. Demos grabas a Lucas vedores de favores seus. Alguns comen
i|iie contribuiu com essa jóia para a litera tadores dizem que o tanto por centro per-
tura universal. doado cabia a ele; mas o relato náo parece
LUCAS 250 ii.
o e Ihe disse: O que é isso que me con- astucia com que havia agido. Por. <<■
tam de ti? Presta-me contas de tua ad- cidadáos deste m undo sao m ais ¡isin
ministraçâo, pois nâo poderás continuar tos com seus colegas do que os cidadflu»
no cargo. 30 adm inistrador pensou: O da luz. 9E eu vos digo que com o dinlii i
que vou fazer, agora que o patrâo me ro sujo ganheis amigos, de modo qm
tira o cargo? Nâo tenho forças para ca quando acabar, eles vos recebani ih
var; pedir esmolas me dá vergonha. 4Jà morada eterna. 10Aquele que é c o h I m
sei o que vou fazer para que, quando vel no pouco, é confiável no muii"
me despedirem, alguém me receba em quem é desonesto no pouco, é desoiio»
sua casa. 5Foi chamando um por um os to no muito. n Pois, se com o dinluii.
devedores de seu patrâo, e disse ao pri- sujo nao fostes confiáveis, quem vm
meiro: Quanto deves ao m eu patrâo? confiará o legítimo? 12Se no alheio nau
6Ele respondeu: Cem barris de azeite. fostes confiáveis, quem vos confiara ■
Disse-lhe: Pega o recibo, senta-te rápi vosso?
do, e escreve cinqüenta. 7Ao segundo 13Um em pregado nao pode estai i
disse: E tu, quanto deves? Respondeu: servigo de dois patróes: pois odiará mu
Cem medidas de trigo. Disse-lhe: Pega e amará o outro, ou apreciará um e di
teu recibo e escreve oitenta. sO patrâo prezará o outro. Nao podéis estar a su
louvou o adm inistrador desonesto pela vigo de Deus e do dinheiro.
apoiar isso. Afinal de contas, o patráo era na administrado dos bens recebidos. T.i
rico e a perda global de uns mil denários lento e engenho também sao dons recebi
nao era excessiva para ele. Maior prejuízo dos que administramos.
tinha sido a má administrado precedente. 16,9 “A esmola liberta da morte e expm
O recurso é táo engenhoso quanto de o pecado; os que dáo esmolas se saciaran
sonesto; e o patráo admira o engenho (cf. de vida” (Tb 12,9). “Dinheiro” em grego
Pr 22,3; 27,12). É inegável que esse ad se diz Mamón, deus da fortuna.
ministrador era homem de recursos. De- 16,10-11 Seguem-se algumas sentenga’.
vemos acrescentar por nossa conta a apli aparentadas com o tema. Ver a parábol.i
cad o ? Os bens nos foram confiados por parecida de 19,17-26. O que se requer do
Deus para os administrarmos. Sobrevém administrador é que seja fiel (ICor 4,2)
uma situado de emergéncia, e eles váo O primeiro aforismo é geral: o “pouco” r
acabar. Com esse dinheiro ao qual se pren- o “muito” admitem muitas identificadas
dem tantas injustigas grandes ou peque No contexto presente, o pouco sáo os beir.
ñas, é preciso fazer amigos o quanto an deste mundo, o muito sáo os bens do ccu
tes; perdoando dividas, fazendo favores a ou do reino de Deus.
outros mais necessitados. Conclusáo nao 16.12 Mais difícil é o segundo aforismo
menos desconcertante: o próprio Deus, o (alguns manuscritos léem “nosso”). Alheio\
patráo “defraudado”, nos recebe em sua ao homem (ou a Deus) sáo os bens que
“morada eterna”. “Quem se compadece do ficam fora e passam; “vosso”, próprios, sáo
pobre empresta ao Senhor” (Pr 19,17). A os bens que Deus entrega ao fiel. Os bens
parábola se quebra no final. Porque há uma de dentro orientam e regulam o uso dos
prudéncia crista que é insensatez aos olhos bens de fora.
do mundo, mas á luz do evangelho é su 16.13 O terceiro é aplicagáo do primeiro
prema, prudéncia paradoxal. mandamento: o Deus verdadeiro nao ad
16,3 Ben Sirac disserta sobre a mendi- mite rivais. Mamón, deus das riquezas, quci
cáncia: “É melhor morrer que andar mendi ser servido como rival ou competidor do
gando; quem depende da mesa alheia tem Deus (cf. Is 65,11). O dinheiro é para sci
de saber que nao vive” (Eclo 40,28-30). administrado como meio de fazer o bem,
16,8 Chama os discípulos de “cidadáos nao como sujeigáo a ele (Mt 6,24). “Quem
(filhos) da luz”: ver lTs 5,5; Ef 5,8. No ama o dinheiro será por ele extraviado...
novo reino da luz e segundo seu regime Feliz o homem que se conserva íntegro 0
deveriam desdobrar iniciativa e engenho nao se perverte com a riqueza” (Eclo 31,5.8)
251 LUCAS
16.14 Em lugar de objegáo ou comentá- mas num além imaginado e descrito se
iln, como é seu costume outras vezes, gundo algumas crengas da época.
I m as faz intervir a zombaria dos fariseus, A parábola é clara na colocagáo (cf. Pr
típula vez como tipos de amor ao dinheiro, 22,2), desenvolvimento e desenlace. Em
* por isso identificáveis com muitos ou- busca de clareza, corremos o perigo de nao
lliin, Segundo eles, a riqueza é béngáo de tomá-la como parábola, mas como manual
Ih’iis, premio pela observancia. E sem de novíssimos. Ora, se a tomamos como
limito preocupar-se, introduz o autor urnas descrigáo realista, muitas coisas estranhas
Imitas sentencias heterogéneas. se deduzem: que no céu os eleitos se ban-
16.15 Outra forma de cobija: acumular queteiam reclinados sobre almofadas, com
ultras de observancia pensando que com Ábraáo no lugar principal; que céu e in
iilns se adquirem direitos sobre Deus, ou ferno sao dois lugares ao alcance da vista
illicito á recompensa de Deus e á estima e da palavra, separados por uma espécie
ilns homens. O alto é a altivez, que Deus de abismo ou desfiladeiro; que do inferno
detesta: “O Senhor detesta o arrogante” (Pr se pode interceder pelos vivos. Será pre
10,5; Is 2,9-18). Conhece o coragáo (Pr ciso tomar uma metade em sentido realis
15,11; 16,5). ta e outra metade em sentido metafórico?
16,16-17 O regime antigo, leis e profe Segundo o profeta Ezequiel, “este foi o
tas, terminou com o Batista. Com Jesús pecado de Sodoma: soberba, fartura de páo
romega o regime novo, o reinado de Deus. e bem-estar aprazível... mas nao deu uma
E preciso esforgo e luta para incorporar máo ao infeliz e pobre” (Ez 16,49). E qual
ía a ele, ou ceder a seu convite premente. foi seu castigo? “Do céu o Senhor fez cho-
(luiros o interpretam em relagáo á violen ver fogo e enxofre sobre Sodoma e Go
cia externa a que se vé submetido. Contu morra, e arrasou aquelas cidades” (Gn
llo, a substancia da lei continuará em vi 19,24-25).
gor; ou a lei do novo reino de Deus (cf. SI A parábola se coloca no terreno das pos-
102,26s). Se a lei era a vontade de Deus for ses, na oposigáo entre riqueza e pobreza.
mulada para os homens, ao chegar o rei- Apresenta um rico pecador e um pobre que
liudo de Deus, cumpre-se perfeitamente. supóe justo. Afirma que haverá castigo e
16.16 *Ou: usam de violencia contra ele. prèmio transcendentes depois da morte.
16,18 Precisamente neste ponto do di- O pecado é exposto com dados do rico
vórcio, Jesús anula a lei de Dt 24,1. Ver a e de seus irmáos. Consiste em entregar-se
oxplicagáo de Me 10,11-12 e ICor 7,10-11. à boa vida sem preocupar-se com os ne-
16,19-31 A segunda parábola costuma cessitados (Is 22,13; Ez 16,49; Am 6,4-6;
Ncr chamada do “rico Epuláo e Lázaro”, Sb 2). Uma riqueza empregada assim é
lazendo do latim epulo = comiláo, um injusta. Acrescenta-se o náo fazer caso da
nome próprio. O rico da parábola nao tem Escritura, Moisés e profetas; fórmula que
nome, o pobre se chama Lázaro = Eleazar é todo um tratado de rebeldía. Na Escritu
« Deus auxilia. As avaliagóes correlativas ra está bem clara e reiterada a exigencia de
de bem-aventurangas e mal-aventurangas socorrer o pobre (p. ex., Dt 15,1-11; Is 58).
(6,20.24) se cumprem neste relato; nele se De Lázaro se contam os sofrimentos,
realiza a reviravolta que Ana e Maria can- náo as virtudes. Estas se deduzem do fato
tam (ISm 2; Le 1,52-53). Nao nesta vida, de ele ser levado pelos anjos ao céu. Náo
LUCAS 252
havia um pobre, cham ado Lázaro, co- favor, manda-o à casa de meu pai, •’“<ut
berto de chagas, e deitado á porta do de tenho cinco irmàos, para que os mi
rico. 21Queria saciar-se com o que caía m oeste a firn de que náo venham i.im
da mesa do rico. Até os caes iam lam- bém eles parar neste lugar de tornimi.
ber-lhe as chagas. 29A braáo lhe disse: Eles tèm Moisc, n
220 pobre morreu e os anjos o leva- os profetas: que os escutem. 30Repl io m
ram para junto de Abraáo. O rico tam- Náo, pai Abraáo; se um morto os vi i
bém morreu e o sepultaram. 23Estando ta, eles se arrependeráo. 31Disse-lhe: Si)
no Hades, em meio a tormentos, levan- náo escutam M oisés nem os profeti'
tou os olhos e avistou Abraáo com Lá m esm o que um morto ressuscite, n.i>
zaro a seu lado. 24Chamou-o e lhe dis- lhe farào caso.
se: Pai Abraáo, tem piedade de mim, e
envia Lázaro, para que molhe a ponta "I ^ Instru^óes aos discípulos (Mi
do dedo na água e me refresque a lín- A / 18,6s.21s; Me 9,4) — ’Disse n
gua, pois estas cham as me torturam. seus discípulos:
~5A bralo respondeu: Filho, recorda que — E inevitável que haja escàndalir,
em vida recebeste bens, e Lázaro, por mas ai de quem os provoca! 2Seria nir
sua vez, desgranas. A gora ele é conso lhor que lhe encaixassem no p e s a »,.1
lado, e tu, atormentado. 26A lém disso, urna pedra de m oinho e o atirassem ;i.
entre vós e nós há um abism o imenso; mar, antes de escandalizar a um desse-
de modo que, ainda que se queira, náo pequeños. 3Ficai atentos: Se teu irmüti
é possível atravessar daqui até vós, nem pecar, repreende-o; se se arrependn
passar daí até nós. 27Insistiu: Entáo, por perdoa-o. 4Se sete vezes ao dia te ofen
consegue afugentar os caes que lhe lam- 16,26 Nesta vida convivem ricos e pii
bem a umidade das chagas. bres, malvados e honrados. Na vida futu
Imagina-se já cumprido o anùncio de ra a se p a ra lo è definitiva e insuperável
Daniel: “Muitos dos que dormem no pó 16,31 A frase se abre para sugerir a res
despertarlo: uns para a vida eterna, outros surreiglo de Jesus e a resistencia dos in
para a vergonha perpètua” (Dn 12,2). Com crédulos. Segue-se urna nova sèrie de ins
variantes: o rico “è sepultado”, o pobre nao, truyoes heterogéneas.
pelo contràrio, è levado ao céu, onde o
primeiro patriarca ocupa o lugar de honra. 17,1 -2 Escándalo è o que faz tropezar c
16.23 Salvo rarissimas excegòes (Jó 14, cair (SI 73,2); de ordinàrio se refere à fé.
22), o Xeol do AT náo è lugar de tormen E um agravante que as vítimas sejam os
tos e sim de existencia sem vida. A parà pequeños: “Náo amaldigoarás o surdo neni
bola segue represen tagóes que conhece- porás troperos ao cegó” (Lv 19,14). San
mos por apócrifos (4Esd), com fogo do inevitáveis, porque brotam como reaglo .i
forno instalado no vale de Hinon (Geena). exigencias do evangelho, e também di
Lázaro está reclinado ao lado direito de estilos de vida socialmente aceitos e am
Abraáo, em cuja almofada se apóia com o piamente divulgados. Os pequeños, os fra
cotovelo esquerdo. eos e necessitados, os que passam por eri
16.24 O fogo como tormento náo è tra ses, estío mais expostos. Paulo tira urna
dicional. É o elemento divino, o inaces- aplicadlo: “Comendo, nlo destruas al
sivel, em Is 33,14, o aniquilador em SI guém pelo qual o Messias morreu... Poi
68,3. um alimento nlo destruas a obra de Deus”
16.25 A resposta de Abraáo desmente (Rm 14,15.20).
urna teoria da retribuirlo nesta vida. Po 17,3-4 Lucas fala primeiro de pecado em
breza e riqueza estao em correlalo . A ri geral e recomenda a repreenslo ou admoes-
queza de um, desfrutada com egoismo, taglo, para que o pecador se dè conta e se
provocou e conservou a pobreza do outro. corrija. É urna espécie de denuncia profe
As vítimas inocentes que choram “serio tica em formato menor. Ora, perdoar o ir-
consoladas”. máo supóe que ele nos ofendeu (Gn 50,
tf,l I 253 LUCAS
tal u sete vezes voltar a ti dizendo que o que vos mandaram, dizei: Somos ser-
** tirrepende, perdoa-o. vos inúteis, cumprimos nosso dever.
'( )s apóstolos disseram ao Senhor:
Aumenta-nos a fé. Cura dez leprosos — "Cam inhando
*<) Senhor disse: para Jerusalém , atravessava a Galiléia
r - Se tivésseis fé corno um grào de e Sam aría. 12A o entrar num a aldeia,
iiliiNlurda, dirieis a essa amoreira: Ar- saíram a seu encontro dez leprosos que
illlcu-te pela raiz e planta-te no mar, pararam a certa distáncia 13e, levantan
•In vos obedecería. do a voz, disseram:
’Ouem de vós, se tem um servo aran — Jesús, Senhor, tem piedade de nós.
ci ou pastoreando, quando voltar do 14Ao vé-los, disse-lhes:
.■«tupo, lhe dirá que sente depressa à — Ide apresentar-vos aos sacerdotes.
rtMKU? 8Pelo contràrio, lhe dirà: Prepa- Enquanto iam, ficaram curados. 15Um
•ii-nic de corner, cinge-te e serve-me deles, vendo-se curado, voltou glorifi
i'iiquanto como e bebo; depois comerás cando a Deus em voz alta, 16e caiu de
■beberás tu. 9Terá de agradecer ao ser brujos a seus pés, dando-lhe gracas. Era
vii por ter feito o que mandou? 10Assim samaritano. ''Jesú s tomou a palavra e
Minbém vós: Quando tiverdes feito tudo disse:
15-21; Eclo 28,1-6). Segundo a doutrina (Lv 13,45-46; 14,2). Um caso parecido,
i!» Levítico (Lv 19,17). O culpado seja embora menor, se conta de Maria, irmá de
idpido em arrepender-se, humilde em pe- Moisés, confinada sete dias fora do acam
>llr perdáo; o ofendido esteja sempre dis pamento (Nm 12,9-16); é clàssico o caso
inolo a que, pelo perdâo, triunfe a paz. Ir- do sirio Naamá, curado ñas águas do Jor-
iiiAo é o israelita no AT, é o cristâo no NT. dáo e convertido ao culto do Deus de Is
17,5-6 A força da fé náo depende da rael (2Rs 5); muito curiosa é a atua<¿áo dos
grimdeza, mas sim do seu ponto de apoio quatro leprosos durante o cerco de Samaria
que é a promessa de Jésus. Pedir que Je- (2Rs 7).
*118 a faça crescer já é expressâo de fé, es- Os doentes incuráveis se movem em
llllia do seu valor, consciência da pròpria grupos. Quando chega Jesus, ficam a certa
impotencia. A pitoresca imagem da amo distáncia, para náo contaminarem: “Afas-
llira é pròpria de Lucas; é uma imagem ta-te, estou impuro, afasta-te, náo me
hiperbólica empregada para encarecer o toquéis!” (Lm 4,15); e dai gritam pedindo
poder sobre-humano da fé. ajuda. Aordem que Jesús dá implica o pro
17,7-10 A parábola, com toda a dureza cesso de cura, pois adianta o final, o teste-
ilii cena descrita, vem sublinhar a relaçâo munho oficial dos sacerdotes. Ao obede
de serviço do discípulo. Náo pode alegar cer a Jesús, os leprosos já demonstram
ilireitos nem exigir remuneraçâo. O que confianza, pois do contràrio evitariam o
lite compete é simplesmente estar sempre diagnóstico oficial. Pelo caminho de ida
il serviço de Jesus, com a humildade de descobrem que estáo curados, sem neces-
ipiem reconhece a desproporçâo entre sua sidade de ablugóes, banhos e vários ritos,
prestaçào e a tarefa encomendada. e entáo um volta sem mais para agrade
17,11-19 Embora nao se trate de lepra cer, enquanto os outros, cumprindo o man
cm sentido clínico, trata-se de uma doen- dato de Jesús, preocupam-se com o aspecto
1,'a grave e contagiosa da pele, que impede jurídico, ou seja, o ser oficialmente decla
h participaçâo no culto e na vida civil or rados curados.
dinària. O Levítico regula a conduta des É frequente no Saltèrio que o homem
des doentes, pensando mais em proteger curado ou libertado acorra a dar graejas a
os outros do contàgio do que em prestar Deus na presenta de uma assembléia (SI
iijuda aos necessitados. Também regula a 31,22-25). Aqui um dos curados, adiando
conduta em caso de cura: cabe aos sacer o requisito legal, retoma, dá gloria a Deus
dotes examinar, opinar e dar a permissâo em alta voz, dá gragas a Jesus e se prostra
para a reincorporaçâo plena à sociedade a seus pés: uma síntese significativa. Este
LUCAS 254
— Nao foram curados os dez? 18Náo vereis. ^ S e vos disserem: Ei-lo :u|m
houve quem voltasse para dar gloria a Ei-lo ali ! náo saiais nem os sigáis . 2 ‘l’oi
Deus, a nao ser este estrangeiro? como o relámpago brilha de um limi
19E lhe disse: zonte a outro, assim será o Filho il>
— Levanta-te, vai, tua fé te salvou. H om em [quando chegar o seu di.i|
25M as primeiro deve padecer muilo i
A chegada do reinado de Deus (Mt ser reprovado por esta geragáo. 260 <|m
24,23-28.37-41) — 20Os fariseus lhe aconteceu no tempo de Noé acontecí
perguntaram quando iria chegar o rei rá no tempo do Filho do Homem: 27('o
nado de Deus, e ele lhes respondeu: miam, bebiam, casavam-se, até que N(i|
— A chegada do reinado de Deus nao entrou na arca, veio o diluvio e acaboii
está sujeita a cálculos; 21nem diráo: Ei- com todos. 28Ou como aconteceu n
lo aqui! Ei-lo ali! Porque está entre vós. tempo de Ló: Comiam, bebiam, com
22Depois disse aos discípulos: pravam, vendiam, plantavam, consliu
— Chegaráo dias em que desej aréis íam. 29Mas, quando Ló saiu de Sodonin
ver um dos dias deste Homem, e náo o choveu fogo e enxofre do céu e acabuu
gesto do samaritano (meio pagáo) p5e em eia no tempo da igreja pela presenta di
relevo a ingratidáo dos nove judeus, que Ressuscitado, “eu estou convosco”.
parecem esquecer-se de deveres elemen 17,22 Depois se dirige aos discípulo
tares ou náo reconhecer a mediagáo de para exortá-los à vigilancia. O texto dis
Jesús. A gratidáo a Jesús pela salvagáo é tingue “dias” e “o dia”. Segundo o ensi
componente essencial da vida cristá. namento tradicional, há dias de Yhwh no-
17,19 Tua fé te salvou: e os outros nove? quais o Senhor intervém de forma extrn
curou-os, apesar de náo terem fé? ou a sal- ordinària na historia; há também o dia di-
vaqáo de que fala abrange mais que a sim cisivo de Yhwh, num futuro indefinido
ples cura? Exemplo clàssico de ambos é o livro d|
17.20-37 Como em outras ocasióes, Joel: a praga dos gafanhotos e a libertario
Lucas reparte urna instrucjáo em duas se- sao um dia de interven§áo divina (caps
qóes, urna para os discípulos, outra para 1— 2 ); nos capítulos seguintes anuncia-so
os demais. Desta vez responde primeiro “o dia do Senhor, grande e terrível” (9,4)
aos fariseus sobre o tempo do reinado de Também a “figura humana” de Dn 7 tem
Deus e depois instrui os discípulos sobre seus tempos (Dn 9,2.24-26 e 12,11-12 se
a vinda do Messias. A segunda parte é ocupam de cómputos e suscitaram espe
como urna antecipagáo do grande discur c u lares). Os discípulos quereráo assistii
so escatológico do cap. 2 1 . a alguns desses dias (2 2 ) e náo o obteráo,
17.20-21 A expressáo “reino/reinado de em troca, devem esperar “o dia” (vv. 3(1
Deus” é quase exclusiva de Jesús. Mas um 31). Tempo e lugar náo sao previsíveis; sri
conteúdo semelhante, com outros aspec é certo que antes há de suceder a paixáo
tos, era conhecido, esperado e objeto de do Senhor (cf. a pergunta de 19,11). Di/
esp ecu lares. Dois salmos anunciam a isso caminhando para Jerusalém.
chegada de Yhwh como rei (96,13-14 e 17,26-30 Será como no tempo do dilú
98,8-9). Muitos judeus esperavam a res- vio (Gn 6 - 8 ) ou da catástrofe da Pentápolr
tauragáo política de Israel. Como Jesús (Gn 19). Enquanto o povo está ocupado
anunciou repetidas vezes a chegada do rei com os assuntos da vida e despreocupado
nado de Deus, os fariseus o identificam de assuntos transcendentes, sobrevém o
com sua expectativa e lhe perguntam pela julgamento. É interessante a síntese des
data exata. critiva da vida cotidiana: sustento e fami
Jesús evita uma resposta em termos de lia, comprar e vender (economia), piantili
cronología. O reinado de Deus já está pre (agricultura), construir (vida urbana). O
sente e ativo entre eles, na pessoa e a§áo de julgamento se dará pela água ou pelo fogo
Jesús: proclamou-o na sinagoga de Nazaré (cf. 2Pd 3,5-7 numa interpretado peen
(4,16). Só falta que o queiram reconhecer. liar). Será juízo de separagáo (vv. 34-35),
A resposta conserva e aumenta sua vigén- como o anuncia urna escatologia: “meus
255 LUCAS
.¡ivos cantaráo de pura alegría e vós gri 18,1 Lucas adianta a intengáo didática
lléis de pura dor” (Is 65,13-15), como su- da parábola e a enquadra assim na sua ex
. ilcra já no Egito (Ex 8,19; 9,4.7). plicado. Náo longas oragóes, mas sim rei
17,31-33 Nesses momentos de crise nin- teradas e prementes. Para que venha o Se
, 111-ni deve fiar-se de falsas referencias, nhor fazer justiga.
i.iiis a vinda será celeste e visível para to- 18,2-8 As víúvas eram um grupo espe
Iiin, como relámpago que alumia toda a cial particularmente exposto a abusos le
.imliada celeste e deslumbra a térra (cf. SI gáis e judiciais, entre outras razóes, por
>1,19). Entáo será preciso arriscar tudo, que náo podiam subornar nem pagar (Is
.ii' a vida, para salvar-se (v. 33), sem deter- 1,17.23; Pr 15,25; SI 94,6). O juiz em fun-
'<• cm recolher pertences que já náo ser gáo era “iniquo”: náo temía a Deus nem
ení (v. 31), sem voltar atrás como a mu- respeitava as pessoas. É significativa a
llicr de Ló (Gn 19,17.26; Sb 10,7). Noé associagáo: respeitar a Deus e as pessoas;
|.ícparou-se para salvar-se na arca, Ló fu- implicam-se mutuamente (cf. SI 14 e, em
iilu precipitadamente. Há momentos ur forma positiva, as parteiras egipcias, Ex
inales em que atarefar-se com medidas de 1,17). Os julgamentos costumavam cele
icguranga é entregar-se á catástrofe, ao brarse à porta da cidade ou em outro lu
iiiis s o que arriscar tudo é salvagáo. O gar público, de modo que a viúva tinha
hebraico o afirma assim (literalmente): acesso e podia reclamar publicamente. A
lomarei minha carne cm meus dentes, mulher nao desespera nem se resigna, in
|iiirei minha alma em minha palma” (Jó siste tenazmente. E sua única arma; resig
11,14). narse seria fazer o jogo da injusticia. Até
Podemos resumir: um tempo próximo que o juiz ceda e se ocupe dela por puro
iln paixáo, um tempo de espera da Igreja, egoísmo: para que náo me encha (diría
uní dia final de julgamento. mos em linguagem popular).
17,35 Refere-se ao moinho de máo do É audaz sobrepor a Deus a imagem do
mestico, acionado por duas mulheres de juiz injusto e egoísta. Quando Deus tolera
nina só vez (Jr 25,10). *Alguns manuscri o malvado e deixa sofrer suas vítimas, é
bís acrescentam (segundo Mt 24,40):36Dois injusto? (Jr 15,15). A surpresa nos faz fi-
estaráo no campo: um será tomado, o ou- xar-nos mais no ponto central: Deus farà
in>será deixado. justiga, e sem demora. O salmista repete
17,37 Os discípulos perguntam pelo lu “até quando?” (SI 13). Muitos aconteci-
nar do julgamento, talvez por referencia mentos históricos induzem os homens a
mi “vale de Josafá” (J1 4,2). A resposta de duvidar da justiga de Deus. Deus náo se
Icsns continua sendo evasiva. A imagem desentende nem desatende os eleitos: “Há
|iarece ser eco de Ez 39: a grande matanga um Deus que faz justiga na terra” (SI 9,9;
iln inimigo invasor atrai as aves do céu: 58,12; 94,2). Virá fazer justiga; mas náo
I )ize a todas as aves e as feras selvagens: basta: o eleito deve conservar a fé para
Itcnni-vos e congregaí-vos, vinde ao ban continuar orando e para receber o que vem.
quete que vos preparei”. A fé e a esperanga num Deus, justo juiz,
LUCAS 256 lit
viúva que recom a a ele para dizer-lhe: gas porque náo sou como o resto d
Faze-me justiga contra meu rival. 4Por homens, ladróes, injustos, adúlteros, iJ
um tempo ele se negou, porém, mais como esse coletor. 12Jejuo duas v c / m
tarde pensou: Em bora eu nao tema a por semana e pago dízimos de tudn
Deus nem respeite os homens, 5visto que possuo. 130 coletor, de pé e à di
que esta viúva está m e im portunando, táncia, nem sequer levantava os olí»*
eu lhe farei justiga, para que nao me ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó
esbofeteie. Deus, tem piedade deste pecador. I
sO Senhor acrescentou: vos digo que este voltou para cas;i alt
— Atengao ao que diz o juiz injusto. solvido, o outro náo. Pois, quem m
7E Deus, nao farà justiga a seus esco- exalta será humilhado, e quem se hu
lhidos se gritam a ele dia e noite? Ele milha será exaltado.
os farà esperar? 8Eu vos digo que lhes
farà justiga logo. Porém, quando o Fi Aben coa algumas criangas (Mt 19,1
llio do Homem chegar, encontrará essa 15; Me 10,13-16) — 15Aproximaram
fé na terra? lhe tam bém algumas criangas para qu.
as tocasse. Ao ver isso, os discípulo
O fariseu e o coletor — 9Para alguns as repreendiam. lfiMas Jesús chamou
que confiavam em sua pròpria honra as, dizendo:
dez e desprezavam os demais, contou- — Deixai que as criangas se apro\i
lhes esta parábola: mem de mim e náo as impegais, poi'. ,|
— 10Dois homens subiram ao tem elas pertence o reino de Deus. 17Eu viu
plo para orar: um era fariseu, o outro asseguro que quem náo receber o reiim
coletor. 110 fariseu, de pé, orava assim de Deus como urna crianga, náo enti.i
em voz baixa: O Deus, eu te dou gra- rá nele.
deve animar a Igreja até o firn de seu iti A sentenga conclusiva é mais ampia qm
neràrio terrestre. a parábola, mas nos ensina que o arrepcn
18,9-14 Esta parábola é extremamente dimento e a confissáo do pecado sao uin.i
importante. Descreve satiricamente um forma egrègia de humildade (Ez 17,24). A
tipo de religiosidade falsa e contrapóe-lhe parábola se dirige de cheio à Igreja. I
afetuosamente um tipo autèntico. O fariseu assim ninguém poderá orgulhar-se dianli
é um personagem do relato, figura típica de Deus” (ICor 1,29).
que se pode encontrar em todas as latitu 18,15-17 No contexto histórico, a cena
des. O personagem está satisfeito de si e das criangas mostra a atitude bondosa r
despreza os demais: a conexáo é signifi náo convencional de Jesús; o toque di
cativa. A agáo de gragas recita-se no AT suas máos valerá como urna béngáo. Em
pelos beneficios recebidos de Deus; o ambos circula urna mùtua corrente de
fariseu a perverte dando gragas a Deus por simpatia. Jesus vè refletida nelas sua li
sua pròpria bondade, a de suas obras e liagào e as aproxima, ultrapassando siu
observancias (Dt 14,22). inconsciència. No contexto literario, equi
Também o coletor é personagem típico. vale a urna agào simbòlica: as crianga:
Os judeus qualificavam tais pessoas de encarnam espontáneamente a atitude fun
pecadoras. Diantc de Deus, o publicano damental para entrar no reino de Deus,
nao rejeita o título de pecador; assume-o Náo tèm de confessar pecados como o
no arrependimento: “Declarei-te meu pe coletor, mas náo alegam méritos como
cado, náo te encobri meu delito” (SI 32,5). fariseu; sua fraqueza as leva á confianza
Só pede piedade (SI 51,3-11; 41,5). Ob- e ao abandono (SI 131,2) e ao louvor sin-
tém o perdáo e comega a ser justo, a estar gelo (SI 8,2). No contexto da eomunida-
em paz com Deus: “Feliz o homem a quem de, os críticos questionam se o relato tc
o Senhor náo aponía o delito e cuja cons ria algo a ver com a questào do batismn
ciencia nao é turva” (SI 32,1-2). das criangas.
1«."I 257 LUCAS
18.18-30 Segue-se urna sèrie sobre a ri a vida eterna. “Ensinaste-me, Senhor, des
queza e a pobreza dos discípulos: riqueza de a juventude” (SI 71,17). Cumpriu “tudo”.
c seguimento (vv. 18-23), riqueza e reino 18,22-23 Nesse ponto, Jesús intervém:
ile Deus (vv. 24-27), pobreza dos segui náo tudo, falta algo, o mais importante. Li-
dores (vv. 28-30). vrar-se das riquezas em favor dos pobres
18.18-23 Um chefe, nao sabemos se da (cf. SI 112,9; Eclo 29,11) e seguir pes-
unagoga ou do conselho. Lucas nao diz que soalmente a Jesús. O chefe rico se entris
na jovem. Podemos notar o tema da bon- tece: quereria seguir em companhia de Je
ilade, e a tensáo tudo/falta algo. Talvez seja sús sem abandonar suas posses. Doravante
(ucciso uni-los e ver a bondade como urna ficará com elas e com seus mandamentos.
|ilenitude que só se dá em Deus (cf. SI 16,2). Valeu mais Mamón, rival de Deus. Um te
liste homem tem boa disposigáo básica: souro no céu, reservado por Deus para a
eumpriu tudo, como o inculca o Deute outra vida: “Quáo grande bondade reser
ronòmio, e aspira à vida transcendente e vas a teus fiéis” (SI 31,20), ou, será Deus =
sem fim. O Deuteronòmio promete vida céus, o teu tesouro.
longa para os cumpridores, prolongar a 18,24-27 O fato provoca uma reflexáo
vida, continuidade do povo na terra (Dt geral de Jesús. É muito difícil, e inclusive
1,40; 5,16; 6,2 etc.). O chefe aspira mais. “humanamente impossível” conciliar rique
Cometa com o título cortés e desusado, zas e reinado de Deus. Explica-o com uma
lalvez de cultura grega, e Jesús se apro- com parado que faz sentido como hipér
veita disso para elevar-se á origem de tudo, bole. A razáo sao as atitudes que a riqueza
mostrando dessa forma ser um “bom mes- costuma induzir: confianza nela e descuido
Ire”. Deus mostrou “toda a sua bondade” dos pobres, como mostrou a parábola de
ii Moisés (Ex 33,19) e os salmos a cantam Lázaro (16,19-31; cf. Eclo 13,3.20); e além
(25,7; 27,13; 31,20; 145,7). Em sentido ple do mais, porque o reino de Deus é dos po
no, só Deus é bom, como é sábio (segun bres (6,20). Contudo, Deus pode mover o
do Eclo 1,8). coragáo de modo que os homens antepo-
O chefe fez a pergunta clàssica da espi- nham o reinado dele as posses. “Feliz o
ritualidade da lei: obras para ganhar/herdar homem que se conserva íntegro e náo se
a vida eterna. A tal colocacáo responde su perverte pela riqueza... fez algo admirável
ficientemente a lei, o decálogo (Ex 20,13- em seu povo” (Eclo 31,8-9); “a máo do
16); Jesús enumera preceitos da “segunda Senhor náo fica curta para salvar” (Is 59,1).
líibua” e náo menciona as observancias. O 18,28-30 Entáo, adianta-se Pedro como
homem se sente satisfeito (sem desprezar o próximo da fila: se o chefe cumpriu “to
os outros): com suas obras garantiu para si dos” os mandamentos, nós fizemos “tudo
LUCAS 258
— Eu vos asseguro que ninguém que ram-lhe que Jesús de Nazaré estava pa-,
tenha deixado casa ou mulher ou irmáos sando. 3SEle gritou:
ou parentes ou filhos pelo reino de — Jesus, filho de Davi, tem pied;u l.
Deus, 30deixará de receber muito mais de mim!
nesta vida e vida eterna na era futura. 39Os que iam à frente o repreendiani
para que calasse. Mas ele gritava mam
Novo anuncio da m orte e ressurrei- forte:
$áo (M t 20,17-19; M e 10,32-34) — — Filho de Davi, tem piedade ili
31Levando os doze á parte, disse-lhes: mim!
— Vede: Subim os a Jerusalém e se 40Jesus parou e mandou que o bu-,
cumprirá neste Homem tudo o que os cassem. Quando o teve próximo, peí
profetas escreveram . 32Será entregue guntou-lhe:
aos pagaos: cacoaráo dele, o insultaráo, — 41Que queres que eu te faga?
cuspiráo nele, 33o agoitaráo e o mata- Respondeu:
rao; e no terceiro dia ressuscitará. — Senhor, que eu recupere a visáo.
34Eles nao entenderam nada, o assun- 42Jesus lhe disse:
to lhes era obscuro, e nao compreen- — Recupera a visáo, tua fé te salvou
diam o que ele dizia. 43No mesmo instante recuperou a vi
sáo e o seguía glorificando a Deus; e o
O cegó de Jericó (M t 20,29-34; Me povo, ao ver isso, louvava a Deus.
10,46-52) — 35Quando se aproximava
de Jericó, um cegó eslava sentado ju n J esu s e Z aqueu — 'E ntrando
to ao cam inho pedindo esmola. 36Ao em Jericó, atravessava a cidadi-
ouvir que passava a multidáo, pergun- 2quando um homem chamado Zaqueu
tou o que estava acontecendo. Disse- chefe de coletores e muito rico, 3tentava
o que faltava”. É verdade, diz Jesús: eles e o é menos no relato a con fissáo do cegó
todos os que no futuro forem como eles em très tempos. Primeiro reconhece-u
seráo recompensados com outros bens já como Messias sucessor de Davi (Jr 33,15;
nesta vida e receberáo a vida eterna, que o Ez 34,23-24; 37,24), depois chama-o de
chefe rico procurava. Senhor (cf. F1 2,11), finalmente dá gloria
18,31-34 Só para os doze prediz de novo a Deus e segue a Jesús. E um itinerario
(9,21-22.44-45) o fato e alguns detalhes para todos os que se convertem: podemo-.
da sua paixáo e morte, e também sua res- recordar que o batismo se chamou “ilumi
surreigáo. Eles continúan! incapazes de naçâo” (cf. Hb 6,4; 10,32); estes a fé salva.
entender o mistério da paixáo (Is 53,1; cf. 18,35 Jericó impóe urna descida profund
Dt 29,3), nao obstante os profetas já o te- antes da subida definitiva para Jerusalém.
rem anunciado (entre os quais incluí tai- 18,37 O povo o identifica com seus dado
vez Davi, SI 22); apesar de estar acostu- civis, nome e naturalidade, Jesús de Nazaré.
mados a escutar os livros proféticos e a 18,38-39 O cegó, que nao aprecia a dis
recitar os salmos. Ou soja, tudo será cum- tancia, grita, por mais que o repreendam.
prido, nao só a vertente triunfal; essa se É o grito genérico “tem piedade” (SI 57,2;
cumprirá, mas através da paixao. 123,3).
18,35 Dois episodios em Jericó respon 18,40-41 Jesús manda que ele se aproxi
den) de algum modo ao que vai sendo nar me para dialogar e lhe pede que especifi
rado. Este cegó que reconhece o Messias que a petiçâo. Jesús nos pede que lhe peça
contrasta com a cegueira mental dos doze. mos, com fé. Uma esmola já seria piedade
Este rico que se converte revela o que é (SI 112,5); será muito pouco para a genero-
possível para Deus. O cegó, sem ver, já sidade de Jesús.
conhece o Filho de Davi; Zaqueu procura
ver e chega a conhecer o Senhor. 19,1-10 Pelo relato e por textos parale
18,35-43 Se é importante e significati los, compreendemos que a riqueza de
va a cura que Jesús efetua (Is 35,5-6), nao Zaqueu procede do seu oficio, desempe
I» Il 259 LUCAS
tu ijiicin era Jesus; porém, nao o conse- — Ve, Senhor: dou a metade de meus
liiit.i por causa da multidào, pois era bai bens aos pobres, e a quem defraudei
ti ule estatura. 4Adiantou-se correndo e restituo quatro vezes mais.
ini mi a um sicómoro para vè-lo, pois iria 9Jesus lhe disse;
iüiv .,11 por ali. 5Quando Jesús chegou ao — Hoje chegou a salvaqáo a esta
myiii, levantou os olhos e lhe disse: casa, pois também ele é filho de Abraáo.
Zaqueu, desee depressa, pois hoje l(lPorque este Homem veio procurar e
idilio de hospedar-me em tua casa. salvar o que estava perdido.
' I le desceu apressadamente e o rece
lan muito contente. 7Ao ver isso, todos Parábola dos em pregados (M t 25,14-
niiirmuravam, dizendo que fora hos- 30) — "C om o a m ultidao o escutasse,
|u ilar-se em casa de um pecador. 8Mas acrescentou urna parábola, pois esta-
/.nqueu se pòs de pé e disse ao Senhor: vam perto de Jerusalém e eles criam que
iiliado sem escrúpulos. Os romanos davam (13,6), cabe a ele e á sua casa a promessa
■ni arrendamento a cobranza de impostos de salvado. Um profeta, sem definir data,
irin exigir outra coisa senáo o pagamento anunciava: “Praticai a justiqa, pois minha
limpestivo da quantidade estipulada. Um salv ad o está para chegar”. Jesús decla
. líele de coletores, como intermediário su- ra: Hoje chegou, porque ele é o Salvador
|ierior, tinha mais ocasióes para enrique- que veio buscar o que estava perdido (Ez
i er-se “defraudando”: nao o fisco, mas os 34,7).
pobres cidadáos. Zaqueu deseja ver Jesús, 19,11 -27 É uma montagem hábil de duas
r Mía curiosidade náo parece simplesmen- pegas: a do pretendente a rei e a do dinheiro
ic superficial. De alguma maneira, também a juros. Aprimeirase inspira provavelmen-
ele se pergunta quem é (como Herodes e te em algum fato histórico, quando os roma
melhor que ele, 9,9). Jesús se adianta (SI nos dcpunham e nomeavam reis locáis, em-
V), 11; 79,8), sai ao seu encontro, pede pou- bora possa recordar antecedentes bíblicos
s.ula a um pecador. Talvez seja irónica a (ISm 10,27; 11,12). Asegunda é uma exor-
vinheta do homem muito rico e muito bai- tagáo a trabalhar com os dons recebidos.
ninho, que sobe numa árvore. A cena ga- 19,11A introdudo esclarece a dupla pa
nlia com isso interesse, já que Jesús tem rábola. Jesús vai subindo a Jerusalém: para
t|iie falar-lhe olhando para cima. Jesús o padecer e ser glorificado. Vai caminhar
eliama pelo nome, como se o conhecesse, para receber do Pai o poder real (cf. SI
como se houvesse descido expressamente 72,1-2; 110,1). Os discípulos pensam que
liara visitá-lo. vai proclamar ¡mediatamente, em Jerusa
Zaqueu obedece contente: que Jesús se lém, o reinado de Deus prometido e anun
hospede em sua casa é urna honra: como a ciado, sem passar pela paixáo. “Diante do
urca na casa de Obed-Edom e de Davi (2Sm Senhor, que está chegando, já está chegan-
(i), como pede o autor de um salmo: “Quan- do para reger a térra” (SI 96,13; 98,9). Náo
ilo virás á minha casa?” (101,2). Mas o é assim: para receber o poder real, primei-
lato provoca urna reaqáo contrastada, em ro terá que morrer. Entáo voltará com po
triángulo: os presentes, Zaqueu, Jesús. der, como rei, mas náo imediatamente. Vai
Os presentes se escandalizam, pois o demorar, e enquanto isso eles teráo de ocu-
importante é observar as normas da pure- par-se com as tarefas determinadas. Se o
/.a legal. Zaqueu faz uma devoluqáo gene fizerem devidamente, participaráo afinal
rosa, acima do duplo que a lei exige (Ex do governo no reino celeste, ao passo que
22,1-4), mesmo segundo o cálculo de os que resistiram ativamente á sua missáo
Davi, “quatro vezes” (2Sm 12,6). Á ma- seráo condenados e executados. A segun
ncira de expiado, reparte a metade da sua da parábola ensina que os dons náo sáo
fortuna com os pobres e fica com o resto. propriedade, mas depósito encomendado,
Náo se desprende de tudo para seguir Je e que o homem tem de colaborar para que
sús, pois náo foi chamado. Jesús faz a de rendam. Deus náo “o dá enquanto dor-
clarado final: como a um “filho de Abraáo” mem” (SI 127,2).
LUCAS 260
19.12 Um salmo lido em chave messià o patrâo como déspota implacável, como
nica começa assim: “Ó Deus, confia teu o Faraó (Ex 5).
julgamento ao rei, tua justiça a um filho 19,23 Teoricamente o depositado pode
de rei” (SI 72,1). ficar intacto, como uma jóia num banco
19.13 Aqui menciona dez, depois só très O Senhor quer que o depositado funcione-
vâo agir. O dinheiro entregue se chama corno semeado, que cresce e se multipli
“mina”: em Atenas equivalía a cem drac- ca. O diligente demonstrou sua capacida-
mas, na Palestina a cinqüenta siclos de de de tirar partido do dinheiro confiado.
prata; urna quantidade moderada, que con 19,26 O aforismo é um paradoxo, e
trasta com a enormidade da recompensa. como tal deve ser tratado. Ao interpreta
19.14 Supôe-se que os cidadâos o odeiem lo cabem diversas aplicaçoes, p. ex. o ter
sem razâo e se oponham a um direito. No ceiro tem (confiado) e nao tem (pròprio);
contexto do evangelho, os conterráneos ou tirar-lhe-âo o que tem sem possuí-lo; ou
concidadâos sâo os judeus em relaçâo a tra explicaçâo: os dotes que tem e as reali-
Jésus (cf. Jo 18,35). zaçôes que náo tem.
19.15 Investido com o poder supremo, 19,28 Foi o último ensinamento duran
estabelece a hora de prestar contas. Alu- te a caminhada e está pensado para o futuro
sâo à parusia. 19.29-48 Très cenas apresentam a che
19,17 A formula é rigorosa: “teu dinhei- gada do rei messiànico: a entrada festiva
ro”. Um provèrbio diz: “Mâo diligente na cidade, o choro pela cidade rebelde, a
mandará, mâo negligente servirá” (Pr 12, purificaçâo do templo. Nada se diz do pa
24; 17,2). lácio nem do pretorio.
19,21 A idéia que esse empregado tem 19.29-40 A entrada em Jerusalém pode
do patrâo è contrària à realidade: o patrào ser como a de outras vezes, ou ele se mis
foi razoável ao emprestar e muito genero tura com os peregrinos que acorriam para
so ao remunerar. O acomodado e covarde a Páscoa. Desta vez, a última, quando se
quer descarregar sua culpa no patrâo, e a aproxima sua “subida”, Jesús quer entrar
si mesmo se condena (Pr 12,27), descreve como rei.
261 LUCAS
19,30-34 Dirige os preparativos com sua “gloria”. Talvez soe na palavra “paz” urna
presciencia e dominio: envia os discípu alusáo velada ao nome de Jerusalém, onde
los para que lhe procurem a cavalgadura ainda náo reina a paz, como veremos a
lldequada. Um jogo de palavras destaca o seguir.
dominio: os “donos” perguntam, o Senhor 19,39-40a O protesto dos fariseus pode
o reclama (kyrioi/kyrios). significar oposigáo tenaz a Jesús ou medo
Nao é cavalgadura militar (SI 20,8; 147, dos romanos. Dáo-lhe o título de Mestre.
10), e sim a anunciada por Zacarías: “teu Mas este episodio náo se menciona nem
rei está chegando... humilde, cavalgando no processo religioso nem no civil. A res-
mn jumento...” (Zc 9,9). Mas, trata-se de posta de Jesus soa como provèrbio. Seu
primicias de cavalgadura, já que ninguém sentido preciso depende do paralelo que
lité agora a montou: táo nobre será seu pri- lhe indicamos; se é Is 52,9, o grito das
meiro servido (cf. para outros destinos Nm pedras será triunfal: “Prorrompei a cantar
19,2; Dt 21,3). Estendendo seus mantos em coro, ruinas de Jerusalém, pois o Se
sobre o jumento, à maneira de gualdrapa, nhor consola seu povo, resgata Jerusalém”;
os discípulos “fazem Jesús montar”; como se é Hab 2,11, o grito é de acusagáo: “As
quando Salomáo foi ungido rei e subiu pedras das paredes reclamaráo”. O primei-
para sentar-se no trono de Davi: “ordenou ro se harmoniza melhor com o que prece
que conduzissem Salomáo montado na de, o segundo com o que se segue.
inula do rei... Subiram em clima de festa, 19,41-42 Para os ouvidos do povo, Je
a cidade está alvorogada” (IRs 1,33-35.44- rusalém leva impressa no seu nome, como
45). Também o atapetar recorda a aclama um destino, a paz. Os peregrinos a saú-
d o de Jeú como rei (2Rs 9,13). dam com a paz (SI 122), o arauto lhe anun
19,37-38 Comega o desfile jubiloso em cia a chegada do rei e da paz (Is 52,7 e no
que se louva a Deus e se aclama o Messias. citado Zc 9,9-10). Jerusalém náo aceita a
A saudagáo clàssica do salmo (118,26) saudagáo (10,5-6), náo recebe a visita (1,
Lucas acrescenta “o rei”. O versículo do 6 8 ). Em conseqiiència, a cidade “compac
salmo citado continua ressoando e orien ta” será destruida. Este pranto por Jerusa
tando para a parusia (Le 13,35). A segun lém faz eco aos da outra destruigáo (Jr
da parte da aclamagáo recorda o càntico 9,19-20; 13,17; Lm 1,2.16; 3,48-51).
de Natal (2,14), com a “paz” trasladada 19,41 Jesús chora ao pronunciar sua trá
ao céu (ou a Deus), em paralelo com a gica predigáo. Náo a pronuncia irado e com
LUCAS 2(y 2 19,11
está oculto a teus olhos. 43Chegarj urn 47D iariam ente ensinava no tempi"
dia em que teus inim igos te rodeado Os sum os sacerdotes, os letrados e o»
de trincheiras, te sitiaráo e te cercaráo chefes do povo tentavam acabar corti
por todos os lados. 44Derrubar§o p0r ele; 48mas nao encontravam como faze
térra a ti e a teus filhos dentro de tj e lo, pois o povo em massa estava pi n
nao te deixaráo pedra sobre pedra;pQr_ dente de suas palavras.
que nao reconheceste o tempo da visita
divina. Autoridade de Jesús (Mt 21,? i
27; Me 11,27-33)— ‘Certodia,, ii
Purifica o templo (Mt 21,12-17 Me quanto ensinava no templo e anuncu
11,15-19; Jo 2,13-22) — 45Depoisen_ va ab o a noticia ao povo, apresentarain
trou no templo e comegou a expuisar se os sumos sacerdotes e os letrado:
os m ercadores, 46dizendo-lhes: com os senadores 2e lhe disseram:
— Está escrito que minha casa écasa — Com que autoridade fazes isso?
de oraqáo, e vos a transformastes em Q uem te deu essa autoridade?
covil de bandidos. 3 Respondeu-lhes:
I ai também vos farei urna perguntase ausentou por bastante tempo. 10No
Ii>ii.i que me respondáis: 40 batism o de tem po oportuno, enviou um servo aos
In.io vinha de Deus ou dos homens? agricultores para que lhe entregassem
T Ics discutiam entre si: Se dissermos o fruto que lhe correspondía. Mas os
ili* I )cus, ele nos responderá por que nao agricultores bateram nele e o despedi-
i ir utos nele; 6se dissermos dos homens, ram de máos vazias. n Enviou outro ser
ii povo em massa nos apedrejará, pois vo. Mas eles bateram nele, o insulta
i'h!;io convencidos de que Joáo era pro ran, e o despedirán, de m áos vazias.
li 1.1. 7Entào responderam que nao sa 12Enviou um terceiro, e eles o feriram
ín.un de onde vinha. 8E Jesus lhes re- e lanqaram fora. 13Entáo disse o dono
plicou: da vinha: Que farei? Enviarei o meu fi
- Tampouco eu vos digo com que lho predileto; talvez o respeitem. 14Mas,
iiiiloridade fago isso. ao vé-lo, os agricultores deliberavam
entre si: E o herdeiro; vam os matá-lo
Os vinhateiros (Mt 21,33-46; Me 12,1- para ficar com a heranga. 15Lan 5 aram-
I.’) — 9Contou ao povo a seguinte pa no fora da vinha e o mataram. Pois bem,
tibola: que fará com eles o dono da vinha?
— Um homem plantou urna vinha, 16Irá, acabará com esses agricultores e
iirrendou-a para alguns agricultores e entregará a vinha a outros.
permissáo da autoridade e sem contar com Abraáo se lamenta de que seu criado será
Ha. Mas a pergunta se estende á atividade herdeiro (Gn 15,2). Na correspondencia:
ilc Jesús e ao título messiánico que lhe es- Jesús é o Filho único e herdeiro legítimo.
lilo dando. Jesús, que recebeu do Pai a au- Os chefes judeus querem eliminar Jesús
Inridade (9,35), responde com um dilema, para continuar controlando a instituigáo,
|mra eles sem saída, sobre a autoridade de fechada aos pagáos. Numa reflexáo pos
loáo Batista. Este, na qualidade de profeta, terior: Jesús ressuscitado herdará em sua
linha atestado a missáo de Jesús. Náo res- pessoa instituigóes e símbolos do Antigo
pondendo, Jesús responde. Porque o dile Testamento, e herdará também as nagóes
ma, por transparencia, ajusta-se a Jesús: se (SI 2,8), e nomeará novos administrado
sua autoridade vem de Deus, como o ates- res de sua nova vinha, a Igreja. Neste pon
lain os milagres, por que náo créem nele? to náo podemos esquecer que a igreja-máe
Se dizem que vem dos homens, teráo de de Jerusalém era formada por judeus.
enfrentar a opiniáo e o entusiasmo popu 20.9 Acabada a libertaqáo, saída do Egi-
lares. O salto ao contra-ataque é lógico. to e entrada em Canaá, Deus parece afastar-
20,9-18 Que autoridade tém os chefes? se e agir por meio de seus encarregados.
como a exercem? Urna parábola o diz. A 20.10 Cf. Ct 8,11.
vinha é imagem tradicional de Israel (Is 20.13 É o título prenunciado em 3,22
S, 1-7; 27,2-3; SI 80), cujo dono é o Senhor (cf. Me 9,7).
(.Ir 12,10). Os chefes a receberam como 20 .14 Ucrania do Senhor é seu povo (Dt
iiilministradores; tratam-na como donos e 4,20; J1 4,2). Ele promete urna heranga ao
pretenden, ficar com ela como herdeiros, rei “seu filho” (SI 2,8). Os leitores da co-
diminando o filho, herdeiro legítimo, de- munidade de Lucas dáo á frase um grande
pois de ter maltratado os servos. A pará alcance: com Jesús Messias termina a ve-
bola é transparente para o povo, para os Iha economía; seria necessário eliminar
interessados e para o leitor de Lucas. A Jesús para que continuasse como eles a
vinha é o povo, os servos sáo os profetas, entendem e controlam.
o filho é Jesús. 20.15 Assim, “langar fora” pode soar
No cometo a vinha figura como proprie- como excomungar (cf. Jo 9,22), e também
ilade de quem a plantou. Depois é defini- pode significar a morte fora da cidade (Hb
da como heranqa, que caberá ao único her- 13,13).
ileiro. Na falta deste, os arrendatários se 20.16 A vinha comega a ser aqui a Igre
apossam da propriedade ou heranga. ja, confiada aos apóstolos. “Deus nos li-
LUCAS 264
vre”: nao está claro se é o povo ou as au to da submissáo a Nabucodonosor (Jr 27)
toridades que o dizem. Jesús encontra urna saída engenhosa: pedí-
20,17-18 Aeitagáo é tomada do Salmo que lhe mostrem a moeda do tributo. Ele-,
118, o mesmo da aclamagáo do hosana. levam na bolsa a moeda com a imagem
Com mudanga violenta de imagem, vem em que há atributos divinos do odiado
dizer que a morte do herdeiro nao será o imperador Tibério. Usam-na; logo, rea >
final; muito ao contràrio, desdenhado nhecem sua validez; guardam-na; portan
como inservível pelos construtores, será a to aceitam o regime que representa. Que
base do futuro edificio. tirem as conseqüéncias. Com isso lhes la
20.18 Para os rebeldes Yhwh se converte pou a boca (SI 63,12). Mas nao basta, i
em pedra de tropego (Is 8,14); urna pedra, preciso responder ao que nao perguntani
desprendida da montanha sem ajuda de á pergunta realmente importante, porque
máo humana, esmaga e tritura os reinos é o homem que leva a imagem de Deus e i
(Dn 2,44-45). ele pertence. O problema e a respost:i
20.19 Como em 19,48, separam-se povo orientam as primeiras comunidades cris
e autoridades. tas em sua vida dentro do império e acu
20,20-26 Numa contra-ofensiva e com sadas pelos judeus (At 17,7; 18,12-13). A
um estratagema, os rivais propòem a Je frase final soltou-se do contexto e a usa
sus um dilema do qual nao possa escapar. mos como moeda corrente.
Posto entre a espada e a parede, terá que 20,27-40 Nesta questáo, os saduceus dis
fazer urna declaragáo que o comprometa cordam acérrimamente dos fariseus, como
gravemente ante as autoridades romanas. ilustra o episodio de Paulo (At 23,8), e tém
De fato, o tema do tributo soará no pro do seu lado quase toda a tradigáo preceden
cesso perante Pilatos (23,2). O dilema da te. Tal como a imaginam, a suposta ressui
autoridade imperial romana se coloca no reigáo consiste em prolongar ou repetir i
terreno económico, que todos sentem e nao vida presente. Vigoram as mesmas leis, nao
deixa saída. obstante surjam novas situagóes. É fácil r¡
A adulagáo serve de entrada (Pr 6,24; dicularizar essa doutrina, e agora váo di
26,28). Podem insinuar que Jesus se apre vertir-se á custa de Jesús. O caso que in
sente imparcial entre o povo judeu e o po ventam se baseia na chamada lei do levirato
der romano. Essa imparcialidade lhe permi (Dt 25,5; Gn 38,8; Rt 4).
te decidir num caso concreto “o caminho Jesús comega corrigindo a falsa ima
de Deus”. Recorde-se a postura polèmica gem: a ressurreigáo verdadeira consiste em
de Jeremías, profeta do Senhor, no assun- passar a uma categoría nova, comparável
Ml.-I / 265 LUCAS
o.iiid , adm irados com a resposta, ca- Isaac e Deus de Jacó. 38Náo é Deus de
lni.iiti-se. m ortos, m as de vivos, pois para ele to
dos vivem .
\ n ssu rre ig á o (M t 22,23-33; Me 12, 39Intervieram alguns letrados;
|H ¡7) — 27Entáo se aproximaran! al- — M estre, como falaste bem.
|iiiiis saduceus — que negam a ressur- 40E nao se atreveram a fazer-lhe mais
h H.ao — e lhe perguntaram: perguntas.
— 2KMestre, M oisés nos ordenou que
mu homem casado morre sem filhos, O M essias e Davi (Mt 22,41-46; Me
n ii irmao case com a viúva, para dar 12,35-37) —- 41Entáo ele lhes disse:
ilrscendéncia ao irmao defunto. 29Pois — Como dizem que o Messias é fi-
lirm, eram sete irmáos. O primeiro ca- lho de Davi? 42Se o pròprio Davi diz
.i>ni e m orreu sem deixar filhos. 30As- no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao
11111 o segundo 3le o terceiro casaram meu Senhor: Senta-te à minha direita,
i uní ela; e assim os sete, que morreram 43até que eu faga de teus inimigos es
mui deixar filhos. 32Depois morreu a trado de teus pés.
iiiulher. 33Quando ressuscitarem, de quem 44Se Davi o chama senhor, como pode
.i inulher será esposa? Os sete foram ser seu filho?
maridos déla.
l4Jesus lhes respondeu: Invectiva contra os letrados (Mt 23,1-
- Os que vivem neste mundo tomam 36; M e 12,38-40; Le 11,37-54) — 45Na
marido ou mulher. 35Os que forem dig presen ta de todo o povo, disse aos dis
nos da vida futura e da ressurrei^áo da cípulos:
morte nao tom aráo m arido nem mu- — 46Cuidado com os letrados, que
llicr; 36porque nao podem m orrer e sao gostam de passear com largas túnicas,
como anjos; e, tendo ressuscitado, sao apreciam as saudagóes na rúa e os pri-
lilhos de Deus. 37E que os mortos res- meiros lugares ñas sinagogas e banque
snscitam tam bém M oisés o indica, na tes; 47que devoram a fortuna das viú-
l>assagem da sarga, quando ao Senhor vas com pretexto de longas oraijóes.
ele cham a Deus de A braáo, Deus de Sua sentenza será mais severa.
nos “filhos de Deus” da tradigáo (SI 29,1; grego repete o substantivo kyrios. Supos-
K2 ,6 ), ou seja, os anjos. O matrimònio, em ta a leitura messiànica, corrente entáo, o
seu aspecto de fecundidade, é lei da vida e salmista (Davi) chama o Messias de meu
ila morte. Acabada a morte (ICor 15,26), Senhor, o que implica reconhecer-se súdi-
mìo se geram filhos. Jesús se refere ao to ou vassalo. Logo, o Messias náo pode
matrimònio em sua fun§áo de procriar, ser simples descendente de Davi. Jesus
segundo a exposigáo do caso, náo enquan- temiina com urna pergunta: responda quem
lo relagáo pessoal amorosa. O segundo é puder e quiser. Paulo nos dá urna respos
mu argumento da Escritura no estilo da ta autorizada: “nascido físicamente da li-
época (Ex 3,2.6). O Senhor nao pode nhagem de Davi, a partir da ressurreiijáo
aduzir sua identidade como Deus dos mor estabelecido pelo Espirito Santo Filho de
ios; seria absurdo imaginá-lo como divin- Deus com poder” (Rm 1,3-4). O texto de
ilade infernal (cf. Is 28,15; SI 49,15). Os Davi inclui urna promessa e urna amea§a:
que vivem, vivem para o Senhor (Rm 14,8) que o Messias submeterá todos os seus ini
e os que sáo do Senhor vivem. Jesús afir migos.
ma a ressurreigáo, náo a sobrevivéncia da 20,45-47 O discurso concluí com urna
cloutrina grega. Essa ressurreigáo, a exem- acusagáo grave e pública contra os letra
plo e como dom do Senhor glorificado, é dos, intérpretes oficiáis da Lei. Acusa-os
transmitida como artigo da fé cristá. de vaidade e cobija. Se a vaidade pode ser
20,41-44 O salmo citado (110,1) distin inofensiva, a cobiija se volta contra o povo
gue entre Yhwh e ’adony (meu senhor); o pobre e vicia o culto.
LUCAS 266
21,1-4 Colocada aqui, a breve cena, qua- dado orientador: onde Marcos fala do “íd<■
se parábola em agáo, redobra seu signifi lo abominável” na grande tríbulagau
cado. Qucr dizer, depois de purificar o tem Lucas fala do assédio de Jerusalém. Es\,i
plo para que seja casa de oragáo, depois será a grande tribulagáo próxima. Predi
de denunciar a cobiga dos fariseus que se gao de Jesús ou composigáo de Lucas?
aproveitam das viúvas, depois de afirmar Um profeta que pelo ano 30 fosse d i
sua autoridade transcendente. Havia no nunciar os pecados e ameagar o castigo d<
átrio do templo cofres para os impostos Jerusalém, encontraría na tradigáo b í b l i e . i
do culto e as contríbuigóes voluntárias. quase todo o material que lemos aqui: iu
Nao importa o detalhe inverossímil do pregagáo e relatos do livro de Jeremía1
relato. Essa viúva é como aquela da histo ñas visóes de Ezequiel, em algum salmo,
ria de Elias (IRs 17), que repartiu com o ñas Lamentagóes. Cada versículo de Luca
profeta a última comida sua e do filho. No poderia receber a anotagáo de vários pa
reino do espirito, a medida nao é a quanti- ralelos. Nem todos: as perseguigóes (v. 1
dade. Dando tudo ao Senhor, confia no 17) se ilustram abundantemente com tes
Deus que se ocupa das viúvas (SI 6 8 ,6 ; Pr tos dos Atos dos Apóstolos. O curioso (•
15,25). que, escrevendo depois da queda de Jeru
21,5-36 O discurso escatológico de salém (70 d.C), Lucas nao tenha ofereci
Lucas comega como os outros, anuncian do urna descrigáo mais realista, mesmo d e
do a destruidlo do templo (vv. 5-9) e a es- ouvir dizer.
tende depois á capital (vv. 20-24); em bre Quanto á parusia, futuro indefinido,
ve apéndice anuncia a parusia (vv. 25-28) imagens e linguagem, dependem em gran
e seus sinais (vv. 29-33), e concluí convi de parte de escatologias e apocalipses bi
dando á vigilancia (vv. 34-38). Resta urna blicos ou apócrifos. Náo desaparecem de
pega (vv. 10-19) que pelo tema encaixa em todo as ambigüidades. Sinais cósmicos
duas partes. semelhantes (vv. 11.25) podem induzir a
Diríamos que o discurso se propóe de confusáo; alguns sinais anunciaráo a
finir etapas e tempos, pois sao freqiientes parusia próxima (vv. 29-30), mas chegara
as indicacóes temporais: v. 9 quando... aín de repente (v. 34).
da nao; v. 1 2 antes disso...; vv. 2 0 - 2 1 quan 21.5 O templo construido por Herodes,
do... entáo; v. 24 até que; v. 27 entáo; v. 28 de cuja magnificencia restam mostras ou
quando comegar; w . 30-31 quando... está vestigios até hoje. Um salmo canta a bele
próximo; v. 32 esta geragáo; v. 34 de re za do monte Siáo, onde se ergue o templo
pente. A seqüéncia temporal pode se salomónico (SI 48). Ageu e Zacarías ocu
esquematizar assim: a) tempo precedente pam-se com a reconstrugáo por agáo de
(v. 1 2 ) de sedugóes (v. 8 ) e perseguigóes Zorobabel.
(vv. 12-13.16), conduta aconselhada (vv. 21.6 O mesmo que no ano 586 a.C. “O
14-15.19); b) sinais antes da destruigao de Senhor repudiou seu altar, desfez seü san
Jerusalém (vv. 9-11.20), medidas para sal- tuário... estendeu o prumo e náo retirou a
var-se (v. 21), a catástrofe (vv. 22-24); c) máo que derrubava” (Lm 2,5-9; cf. SI 74).
sinais antes da parusia (vv. 25-26), condu Náo deixar pedra sobre pedra é fórmula
ta ou parusia (vv. 27-28), parusia. Há um estereotipada.
Il •! 267 LUCAS
21.8 A pergunta enlaga-se á destruigáo tua boca e te ensinarei o que terás de di-
ilo templo; a resposta afasta enormemente zer” (Ex 4,11; IRs 5,14).
o horizonte, até o tempo da Igreja. Em tem 21,16-17 A traiqáo dos parentes: Mq 7,6;
po de crise surgem os exaltados e se apro- Jr 12,6; Jó 6,15.
vcilam os astutos (Dt 13,2-6), p. ex., os ca- 21.18 E xpressáo proverbial (IS m
>.iis de Teudas e Judas, referidos por Lucas 14,45). Também os Atos registram episo
(Al 5,36-37). Sou eu, subentende-se o dios de libertagáo milagrosa.
Messias. Chega a hora: Ezequiel martela 21.19 Do anúncio passa á exortagáo, que
o lema de forma obsessiva (Ez 7,1-12; cf. vale para os cristáos de qualquer época. A
I)n 7,22). constancia é virtude capital (Rm 2,7; 2Cor
21.9 Em tempo de crise, que náo se dei- 12,12; Q 1,11).
xcm vencer pelo pánico (Jr 30,10). O avi 21.20 É o assèdio pelas tropas de Tito
no precedente deverá ressoar em cada si- no ano 70 d.C. A tragèdia passada se repe-
luagáo semelhante. te e as predigóes proféticas, como se náo
21.10 Sáo antes sinais genéricos: fome, tivessem esgotado seu sentido, recuperam
peste e espada sáo quase tópicos (Is 19,2- atualidade. Nos tempos de Jeremías e Eze
1; Jr 21,9-10). quiel foram as tropas da Babilonia, agora
21,12-13 Segundo os Atos, os Apósta sáo as legióes romanas. Na base se encon-
los, Paulo em particular (F11,12-13), com tra a teimosia pecadora da cidade, náo so-
parecen, diante de tribunais religiosos e mente um jogo político humano. Lucas
eivis, dáo testemunho de Jesús e anunciam acrescenta conselhos para os que conside
0 evangelho diante deles; Estéváo e Tiago ra inocentes. Já Isaías anunciara um assè
morrem mártires. Ora, o que é historia para dio frustrado (cf. Is 29,1-3; 2Rs 25,1).
1,ucas se converte em anúncio e exorta- 21.21 A cidade amuralhada já náo ofe-
<,'áo para os sucessores que lerem seu evan- rece seguranza; os montes oferecem gua
gelho. ridas recónditas (lM c 2; SI 11,1), como
21,14-15 Equivale a um carisma de sa- na primeira fuga de Matatías (1 Me 2). Em
hedoria superior: “Observando a sensatez tais circunstancias o deserto inóspito pode
de Pedro e Joáo, e constatando que eram oferecer refúgio (55,7-9; Jr 50,8; 51,45).
liomens simples e iletrados, admiravam- 21,22-23 Dia de vinganqa ou de justiga
sc...” (At 4,13; 6,10; cf. Jó 32,13); como vindicativa, dia de ira ou de sentenza de
Moisés ou Salomáo: “Ve, eu estarei em condenaqáo (Jr 46,10; 51,6; SI 79,10; Ez
LUCAS 21
se c u m p lir á tudo o que está escrito. “ Ai numa nuvem com grande poder e glu
das gráv id a s e das que am am entam na- ria. 28Quando comegar a acontecer tudn
quele d i^ -' Sobre o país virá urna gran isso, erguei-vos e levantai a cabega, pul»
de desg< aQa’ e sobre este povo a ira. se aproxima a vossa libertagáo.
24Cairáo 3 0 fi° de espada e seráo leva 29E lhes acrescentou urna parábola
dos p r i s í ° neiros a todos os países. Je — O bservai a figueira e as outia
rusalém s e r á pisada por pagaos, até que árvores: ^Q uando soltam brotos, saber
a etapa c3 o s pagaos se cumpra. com certeza que o veráo está próximo
31Assim vós, quando virdes acontecci
A parusia (M t 24,29-31; M e 13,24-27) isso, sabei que se aproxima o reinado
— 25H a v ^ e r á sinais no sol, na lúa e ñas de Deus. 32Eu vos asseguro que eslu
estrelas. N a térra se angustiaráo os po- geragáo náo passará, antes que aconli'
vos, d e s ^ o n c e r t a d o s pelo estrondo do ga tudo isso. 330 céu e a terra passano,
mar e d a £ ondas. 26Os homens desmaia- minhas palavras nao passaráo.
ráo de ir^edo, aguardando o que estará
para s o b í ev ir 3 0 m undo; pois as poten Vigilancia — 34Prestai atengáo: Qut
cias c e le s te s seráo abaladas. 2'E ntáo vossa mente náo se embote com o vi
veráo o F ilh o do H om em chegando ció, a embriaguez e as p re o c u p a re s da
25,14-17; Is 3 4 >8 ; 61.2; 63,4). Lucas in animal) é elevada numa nuvem (nao des
terpreta » queda de Jerusalém como casti ce) e levada à presenta do Anciáo, do qual
go de D e u s>como tinham feito os profe recebe o poder; a “figura humana” é, se
tas. As “grávidas e as que amamentam” gundo o texto, a comunidade dos “santos
náo pode *11 fu8 ir e estao expostas à bruta- do Altissimo, que receberáo o reino e o
lidade da tropa inimiga (2Rs 8,12; 15,16; possuiráo pelos séculos dos séculos”. Na
Os 14,1; A m 1,13). leitura do evangelho a figura humana é um
21,24 Pisada por pagaos (Lm 1,10). A individuo, o Messias, Jesus, em sua hu
etapa dos pagaos: a) com valor positivo, a manidade arquetípica; recebeu de Deus o
etapa em <lue vao se convertendo, segundo poder (depois de ascender ao céu) e agora
a teologií» de Paulo (Rm 11,25-26), apoia- “desee numa nuvem” para “libertar” os seus
dos no plural grego “estagóes” (kairoi); b) 21,28 Levantar a cabega: SI 3,4; 27,6; 110,7
com valof negativo, até que chegue a hora Lucas contempla a parusia como aconte-
deles (Lrí1 l>21-22; SI 75,3; Jr 51,33). A cimento alegre, libertario definitiva.
nota tem poral indica pausa longa, depois 21,29-32 A parábola da figueira refere-sc
da qual ebegará o desenlace. em geral à proximidade do reinado de Deus
2 1 ,2 5 - 2 6 O cenário cósmico, segundo No contexto presente, parece visar à queda
urna das versoes tradicionais, está dividido de Jerusalém; outros pensam que se refere a
em très zonas: céu, terra e mar. Nas très parusia, e nesse caso se falaria do reinado
sucederá«? portentos e agitaçôes dispondo definitivo de Deus: “depois virá o fim, quan
o cenário da parusia. No céu sol, lúa e as do entregar o reino a Deus Pai” (cf. ICoi
tros, ternO clássico (Is 13,9-10; 34,4-5; Ez 15,24-28). A parábola, em sua qualidade de
32,7-8). terra>que Deus “formou habi- imagem, é aplicável a diversas situagóes.
tável” (Is 45,18) e que distribuiu entre as 21.33 O último versículo, em estilo afo
naçôes ( P f 32,8), acontece a angustia dos rístico, garante tudo o que foi anunciado
povos qu0 j a nao acham segura sua moradia até aqui (cf. Is 55,11; SI 102,26-27).
(Is 34,7-8)- No mar 3 contece o retomo a sua 21,34-36 Isto se refere à parusia. Env
condiçâo primordial violenta (SI 18,5-6.16; bora preceda a preparagáo do cenário cós
Dn 7,2). Os astros seriam as poténcias que mico, pode-se dizer que “aquele dia” che-
regem a ordem do mundo (Ag 2,6.21). gará de repente (Sf 1,15). A maneira de
21,27 Concisamente a chegada do Mes- preparar-se náo é perguntando datas e fa
sias, e n u n c i a d a adaptando a visáo de bricando um calendàrio, mas vigiando
Daniel (Dn 7)> 0 qual anuncia o seguinte: constantemente.
“urna figura humana” (nao já um quinto 21.34 Ver Rm 13,12-13.
•1.7 269 LUCAS
vlilii, de modo que aquele dia vos sur- ázimos, chamada Páscoa. 2Os sumos sa
|irrenda de repente, 35pois cairá como cerdotes e os letrados procuravam como
Ifinudilha sobre todos os habitantes da acabar com ele, pois temiam o povo.
Ivirá. 36Vigiai a todo o momento, pe- 3Satanás entrou em Judas, apelidado
illndo para poderdes escapar de tudo o Iscariotes, um dos doze. 4Ele foi com
une vai acontecer e para vos apresen- binar com os sum os sacerdotes e os
lurdcs diante do Filho do Homem. guardas um m odo de entregá-lo. 5Eles
wDe dia ensinava no templo; de noi- se alegraram e se comprometeram dar-
I» Naia e ficava no m onte das Oliveiras. lhe dinheiro. 6Ele aceitou e andava pro
'"I i lodo o povo madrugava para escutá- curando urna ocasiáo para entregá-lo,
In no templo. longe da multidáo.
a vítima pascal. 8Jesus enviou Pedro e xáo! l6Eu vos digo que náo tornara
Joáo, recom endando-lhes: com é-la até que alcance seu cumpri
— Ide preparar-nos a ceia de Páscoa. mentó no reino de Deus. 17E tomamlu
9 Disseram-lhe: a taga, deu gragas e disse:
— Onde queres que a preparemos? — Tomai isto e reparti-o entre vó»,
10Respondeu-lhes: 18Eu vos digo que daqui por diante ii.k
— Quando entrardes na cidade, sairá beberei do fruto da videira até que clu
ao vosso encontro um homem levando gue o reinado de Deus.
um càntaro de água. Segui-o até a casa 1‘'Tomando um pao, deu gragas, o pai
em que entrar u e dizei ao dono da casa: tiu e o deu, dizendo:
O M estre pergunta onde está a sala em — Isto é o meu corpo, que é entn
que vai com er a ceia de Páscoa com gue por vós.
seus discípulos. 12Ele vos mostrará um 20Igualmente tomou a taga depois <l<
saláo no piso superior, com divás. Pre- cear e disse:
parai-a ai. — Esta é a taga da nova alianga, se
13Foram, encontraram o que lhes ha- lada com o meu sangue, que é derra
via dito, e prepararam a ceia de Pás mado por vós. 21Mas atengáo! A mae
coa. l4Quando chegou a hora, pòs-se à daquele que me entrega está comido
mesa com os apóstolos 15e lhes disse: na mesa. Este Hom em segue o curso
— Com o desejei com er convosco definido*; mas ai daquele que o en
esta vítim a pascal antes de minha pai- trega!
22,11A lei ordena: “Cada um procurará primento quando toda sua missáo esti
uma res para sua familia, urna por casa” ver cumprida, quando regressar ao Pai
(Ex 12,3). A familia de Jesús sao seus dis Está sob o signo da paixáo próxima e foi
cípulos. A lei diz: “Cada cordeiro será co desojada (12,49-50).
mido dentro de uma casa, sem jogar fora A nova Páscoa se descreve nos vv. 19
nada”; Jesús escolhe um salao numa casa 20. Para ela, Jesús toma o rito do pao e do
amiga (Ex 12,46). terceiro cálice e os dota de um sentido ra
22,14-20 No relato da instituigáo da eu dicalmente novo. Ele se entrega por eles
caristía, Lucas segue um caminho próprio em corpo e sangue, entrega-lhes sua vida
que pode despistar o leitor. É que associa E pela participagáo no pao e no vinho os
elementos da Páscoa antiga com a insti faz participantes da sua vida. Com o sa
tu id o da nova. Daí a mengáo dos dois crificio do seu sangue sela a nova alianga
cálices. O primeiro visa á celebrado ju (Ex 24,8; Jr 31,31-33). As fórmulas de
daica, o segundo, á celebrado crista. Lucas se aproximam das de Paulo (ICor
A celebragáo judaica era conhecida 11,23) e refletem usos das comunidades
(talvez menos entre pagaos convertidos): cristas.
primeiro cálice, ervas amargas e relato Seguem-se instrugóes aos apóstolos.
pascal, canto da primeira parte do Hallel 22,21-23 Na festa da irmandade há um
(SI 113-114); segundo cálice, o pao é par traidor: “até meu amigo, de quem eu me
tido e repartido e se come o cordeiro; fiava e partilhava meu pao, sobressai em
terceiro cálice e canto do resto do Hallel trair-me” (SI 41,10; 55,14-15). Náo basta
(SI 115-118). Um dos versículos citados a presenga física, é antes um agravante.
soa assim: “Erguerei o cálice da salva- Embora Jesús siga o curso definido por
gao invocando o nome do Senhor” (SI Deus, isso náo tira a responsabilidade hu
116,13); o Salmo 118 é um dos mais cita mana, que marca o destino de um homem.
dos no NT. Dos ritos, Lucas toma: a re- A cena contém um aviso para as comuni
feigáo em termos genéricos e a ceia, o pri dades cristas, e assim o compreendeu Pau
meiro cálice, a agáo de gragas. Essa lo (ICor 11). Os futuros discípulos repe-
Páscoa judaica é para Jesús a última e a tem assustados as perguntas dos apóstolos.
despedida, pois a próxima será a celes 22,22 *Ou: va i segundo o quefoi deter
te, no reino de Deus. Atingirá seu cum- minado.
Il !•> 271 LUCAS
'liles comegaram a perguntar entre mais e bebáis e vos senteis em doze tro
(i i|iiem deles iria fazer isso. nos para reger as doze tribos de Israel.
22,24-30 O primeiro salmo recitado do 22,28 Esta observado visa mais ao futu
llallel canta Deus “encimado” que “se ro que ao passado dos apóstolos; para ou-
ultaixa” e “levanta do pó o desvalido... tras geragóes, ela tem valor de condicional.
Itara sentá-lo com os nobres” — entenden- 22,31-34 Satá se apoderou de Judas e
ilo-se sentar-se em posto de autoridade (SI ameaga todos os demais. Como no come-
113,5-7). O que se canta vale para os dis qo do lívro de Jó, exige para si os apósto
cípulos? — Sim, mas náo como eles ima- los para submeté-los á prova. Quando Je
f inam, mas pelo caminho contràrio. Como sús ia ser submetido á prova, era movido
I lavi recebeu do Senhor, Jesus recebeu do pelo Espirito e repleto dele (4,1). Simáo
l’ai, numa espécie de pacto, a autoridade ainda náo conta com semelhante auxilio;
i cal (Is 55,3; SI 89,4.29.35). Logo vai re- mas a oragáo de Jesús é mais forte que
|>arti-la com os apóstolos, só que num es Satanás, a quem já venceu (11,21-22). Os
ilio novo, fundado em seu exemplo. Náo apóstolos náo sao poupados da prova; a
fundado no poder, como os reinos huma- Pedro náo faltará a fé, ainda que lhe falte
itos, mas no servido. Numa espécie de cor a valentía para confessá-la (ver a distin-
po colegial, de doze tronos ou escaños, váo gáo entre fé e confissáo em Rm 10,10). A
governar o novo Israel, fraterno e diferen fé náo é desempenho puramente humano,
ciado. mas se apóia nessa oragáo de Jesús. O con
22.24 A disputa recorda o dito dos vertido, com a experiencia dolorosa de sua
íariseus (20,46). Talvez estejam se apro- fraqueza (Gl 6,1; ICor 10,12), poderá “for
veitando das preferencias que Jesús de- talecer” seus companheiros (cf. Jr 15,19).
monstrou por tres apóstolos e por Pedro. Nesse momento Pedro se fia demais em
22.25 Náo só os pagáos; também Sa sua boa disposigáo (cf. Eclo 11,24-25) de
muel previu abusos de poder (ISm 8,11- adesáo a Jesús: “contigo”. De modo se
18) e Roboáo precipitou o cisma com sua melhante admoestará Paulo: “Quem julga
alitude autoritària (IRs 12). “Benfeitor” estar firme, cuidado para náo cair” (ICor
foi o título de uni rei da dinastia lágida 10 , 12).
(Euergetes). 22,35-38 Com a paixáo comega urna
22,26-27 Nem Ben Sirac dá conselhos nova etapa de hostilidade e desvio, e os
a anciáos e jovens para se comportaren! apóstolos teráo de valer-se por si, sem o
lividamente nos banquetes (Eclo 32,1-10). apoio próximo de Jesús. Ele os enviava
LUCAS 272
lu, a alocuçâo de Jesús definindo o senti- minha nas trevas e náo sabe aonde vai”
iln c a dimensáo do ocorrido. (lJo 1,5.11). Poder das trevas ou tene
22,47-48 O “beijo de Judas” passou à broso é o poder de Sata e da morte (Na
iiüdiçâo como emblema de traiçâo: “Nao 1,8; SI 88,13; Jó 10,21; Sb 17).
f urna tristeza mortal quando o amigo ín- 22,54-62 Depois do beijo do traidor, a
llmo se torna inimigo?” (Eclo 37,2). “Mas negaçào do primeiro apóstolo. Pedro quer
i's tu, meu amigo e confidente, a quem demonstrar sua lealdade seguindo-o; avan
me unia doce intimidade” (SI 55,14-15). ça e entra confiando em si. Dormiu e náo
A pergunta de Jesús tem a força suprema se uniu à oraçâo do Mestre. Nenhum evan
ila mansidáo. gelista correu um véu sobre a covardia
22,49-51 Os apóstolos continuarti sem daquele que se fazia de valente, sobre a
entender, pensando ainda no fato das es fraqueza da “pedra”. A Pedro advém a pri-
padas e expressando sua fidelidade com meira ocasiáo de dar testemunho, náo,
» violéncia. Com isso entram no jogo do porém, diante do tribunal público (21,13),
"poder tenebroso”. Assim nao o vence- e falha no ensaio. Os detalhes mudam nas
rfio, e justificarlo humanamente a reaçâo diversas versoes.
ilos inimigos. Curando o servo ferido, Je Lucas apresenta très assaltos e très der
sús demonstra que náo tem nada a ver rotas, sem outro progresso senâo a reitera-
rom a violéncia crescente e, mais ainda, çâo e o transcorrer do tempo e o passar do
louvada. Também esta cura é emblema comentário de uma mulher ao testemunho
ila vontade de Jesus de curar feridas mais das testemunhas (Dt 19,15). As très teste-
profundas e fatais. Com o bem quer ven munhas concordam e seu testemunho é ve
cer o mal: “A ninguém devolváis mal por raz: “estava com ele, era um deles”. Contu-
mal... nao te deixes vencer pelo mal, do, Pedro renega o mais íntimo, sua relaçâo
mas vence com o bem o mal” (Rm 12, com Jesús; Jesús náo o renega (cf. 12,9).
17.21). O galo é o despertador da consciencia de
22,52-53 No plano visível se justifica a Pedro: sem palavras lhe atualiza a palavra
rensura: o ensinamento de Jesus foi pú de Jesús. O olhar deste náo é traço realista,
blico, no templo dialogou ou discutili com mas sim um modo de indicar o intéressé
eles. É um mestre e nao um bandoleiro. pessoal de Jesús (Is 66,2; SI 13,4); o mes-
lini outro plano està acontecendo a gran mo vale do “voltar-se”: “Por tua grande
ile confrontaçâo da luz com as trevas (Jo compaixáo, volta-te para mim” (SI 25,16;
5,9); “Deus é luz sem mistura de trevas... 69,17). “Puseste nossas culpas... à luz do
Ouem odeia seu irmào està nas trevas, ca- teu olhar” (SI 90,8). O pranto de arrependi-
LUCAS 274 22,mi
— Realmente este estava com ele, o haviam preso cacoavam dele e bali.n 11
pois também é galileu. “ Tapando-lhe os olhos, diziam-lhe:
“ Pedro respondeu: — Adivinha quem te bateu.
— Homem, nao sei o que dizes. 65E lhe diziam muitas outras injúri i
Imediatamente, quando ainda falava, 66Ao amanhecer, reuniram-se os se
o galo cantou. filO Senhor se voltou e nadores do povo, os sumos sacerdole
olhou para Pedro; este recordou o que e os letrados, conduziram-no diante de
lhe havia dito o Senhor: Antes que o ga Conselho 67e lhe disseram:
lo cante, me negarás très vezes. 62Saiu — Se és o Messias, dize-nos.
fora e chorou amargamente. Respondeu-lhes:
— Se vo-lo disser, náo me crereis.
Diante do Conselho (M t 26,59-68; Me 68e se perguntar, náo me respondereis.
14,55-65; Jo 18,19-24)— 63Aqueles que 69Mas daqui em diante o Filho do Ho
mento é como um batismo que purifica (Jz cendente, segundo as visóes de Daniel, :i
2,4; Is 22,12; Jr 3,21). pedra desprendida da montanha sem in
22,63-65 Os que prenderam Jesús eram tervemjáo humana, a “figura humana” (Dn
sumos sacerdotes, guardas do templo e 2; 7), lida já em chave messiánica. As au
senadores (v. 52). Os que agora o cus toridades esperam o tipo a), mas náo es
todiara seriam alguns daqueles, provavel- táo dispostas a reconhecer esse título em
mente da guarda do templo. Nao se refe- Jesús, pensam que este se apropria ilegili
rem ao título messiànico, e sim à fama de mámente. Por isso transferem capciosa
profeta. Aquele que lé pensamentos pode mente a pergunta ao sentido b), que lhes
ver com os olhos fechados, para ele náo permitirá acusar Jesús diante do Procuni
há trevas (cf. SI 139,11-12). Mas se cum- dor romano, como rebelde. Jesús náo re
prirá o anunciado no terceiro cántico do cusa o primeiro sentido, mas lhe acrescenl.i
Servo (Is 50,5-6). Náo é justiça, e sim vin- enfáticamente o terceiro.
gança. Jesús náo responde taxativamente, por
22,66-71 Lucas apresenta urna sessáo que seria inútil, já que eles resistem em
matutina diante do Grande Conselho (Si crer (cf. a atitude de Jeremías, Jr 38,15).
nèdrio), formado pelos sumos sacerdotes, Tampouco pergunta, porque já o fez, sobre
letrados ou intérpretes autorizados da lei o Batista e sobre Davi, e náo responderán)
e senadores do povo. Náo lhe dá forma (cap. 20). Assim, pois, responde em outro
exata de processo: náo sao interrogadas plano: substituindo o “eu” pela expressáo
testemunhas, náo se pergunta com jura que atrai a ressonáncia de Dn 7,14 e apro-
mento, náo se pronuncia sentença. O as priando-se da frase do SI 110,1. Mas supri
sunto versa sobre dois títulos equivalen me a “vinda ñas nuvens” e o “vereis”, por
tes: Ungido ou Messias e Filho de Deus. que a exaltacjáo está sucedendo “agora”.
E preciso esclarecer seu significado. Mes Filho de Deus, na mente dos judeus, é o
sias pode-se entender de très modos que título que Deus confere ao rei ungido no
náo se excluem mutuamente, a) O descen dia da nomeagáo e entronizagáo: “Tu és
dente de Davi anunciado e esperado, que meu filho, eu hoje te gerei” (SI 2,7); aind;i
restaurará a soberanía de Israel: “Náo fal náo tem o sentido metafísico da confissáo
tará a Davi um sucessor que se sente no trinitária, ou seja, que coincide com o pri
trono” (Jr 33,17), como mediador da lei meiro (unidos apareciam em Me 14,61) c
de Deus para todos os povos. b) O Mes é título religioso, náo político. Á pergunt;i
sias político da luta contra Roma; talvez sobre esse título, Jesús responde categori
atualizando frases de Miquéias: “Vamos, camente, inclusive com a fórmula “Eu
Siáo, trilha, e eu te darei chifres de ferro e sou”, em que pode ressoar a revelagáo de
patas de bronze para que tritures muitos Deus (Ex 3,14).
povos... O resto de Jacó será em meio ás Lucas náo diz que o declaram réu, mas
naçôes como um leáo entre feras selva- que tém o testemunho do imputado para
gens” (Mq 4,13; 5,7). c) Um Messias trans- apresentar o caso ao procurador.
275 LUCAS
iiii'in estará sentado á direita da M ajes- tributo a C ésar e d ecla ra n d o -se M es
hulr de Deus. sias rei.
'"Disseram todos: 3Pilatos lhe perguntou:
Entáo, tu és o Filho de Deus? — Es tu o rei dos judeus?
Rcspondeu: Respondeu:
- E o que dizeis: eu o sou. — E o que dizes.
''Replicaram: 4Mas Pilatos disse aos sumos sacer
Que necessidade temos de teste- dotes e à multidáo:
miiiihas? Nós o ouvim os de sua boca. — Náo encontro culpa alguma neste
homem.
Diante de Pilatos (Mt 27,l a .11- 5Eles insistiam:
14; Me 15,1-5; Jo 18,28-38) — — Está agitando todo o povo da Ju-
1 Inda a m ultidáo se levantou e o con- déia; comegou na Galiléia e chegou até
iln/.iu a Pilatos 2e com egaram a acu- aqui.
nigáo: fiAo ouvir isso, Pilatos perguntou se
— Encontram os este agitando nos- esse homem era galileu; 7e, ao saber que
»11 naijáo, opondo-se ao pagam ento do pertencia á jurisdigáo de H erodes, o
rem eteu a Herodes, que nessa ocasiáo — Vos me trouxestes este homcm
se encontrava em Jerusalém. alegando que agita o povo. Vede: eu n
examinei em vossa presenta e nao en
Jesús diante de Herodes — 8Herodes contro neste homem nenhuma culpa da-
se alegrou muito ao ver Jesús. Fazia que o acusais. 15Tampouco Herodes.
tempo que desejava vé-lo pelo que ou- pois ele o remeteu a mim. Como vedi.-,
via dele, e esperava vé-lo fazer algum nao cometeu nada que merega a morir
milagre. 9 Fez-lhe muitas perguntas, mas 16Eu o castigarei e o deixarei livre.
ele nao Ihe respondeu. ‘"Os sumos sa [17Pela festa tinha de lhes soltar um
cerdotes e letrados estavam ai, insistin- preso.] 18Mas eles gritaram todos juntos
do em suas acusagóes. u Herodes com — Fora com ele! Solta-nos Barrabás 1
seus soldados o trataram com desprezo 19(Este estava preso por causa de um
e cagoada e, impondo-lhe urna veste es motim na cidade e um homicidio.)
pléndida, o remeteu a Pilatos. 12Nesse 20Pilatos se dirigiu de novo a eles, ten
dia H erodes e Pilatos estabeleceram tando libertar Jesús; 21mas eles gritavam
boas relagóes, pois até entáo tinham — Crucifica-o! Crucifica-o!
sido inimigos. 22 Falou-Ihes pela terceira vez:
— Mas que delito cometeu? Nao en
Condenado á morte (M t 27,15-26; Me contro nele nada que merega a mortc.
15,6-15; Jo 18,39-19,16) — 13Pilatos Vou castigá-lo e deixá-lo livre.
convocou os sumos sacerdotes, os che- 23Mas eles insistiam com grandes gri
fes e o povo e 14lhes disse: tos, pedindo que o crucificasse; e redo
cias justas; procura unicamente livrar-se vo”. Quer dizer que daí em diante mem
do assunto. Passa-o a outra jurisdigáo, ti bros do povo atuaráo junto das suas auto
rando partido da opcracao. ridades. O povo náo agiu como acusador;
23,8-12 Herodes Antipas, tetrarca da Ga- assistiu a um processo público e pode cons
liléia (3,1), filho de Herodes o Grande. tatar que nao foi comprovada culpa algu
Considera Jesús um espetáculo, objeto de ma. No futuro o povo náo será mero expec
curiosidade; e o milagre, um alarde de ha- tador (Is 5,3). O que abrange o termo
bilidade que se contempla de fora, sem par “povo” pode ser problema de leitura. A
ticipar; como o atirar-se do beiral do tem seguir, Lucas vai atribuir também ao povo
plo, sugerido por Satanás. Embora tenha uma parte da responsabilidade.
Jesus à sua frente, Herodes fica distante, o 23,16 Após a declaraçâo de inocéncia,
diálogo é impossível. O silencio de Jesús o castigo ou admoestaçâo, a flagelaçâo é
denuncia a falsidade da situagáo (Is 53,7). uma pura e cruel injustiça.
As autoridades judaicas persisterci em acu- 23,17-25 Com enfática regularidade sc
sá-lo (cf. SI 35,11; 69,20; 109,6-7). Ao ver sucedem as très declaraçôes de inocênciii
se defraudado, Herodes se desforra com e vâo crescendo os gritos dos judeus. O
urna zombaria que confirma a inocencia de episodio é a última tentativa de Pilatos paru
Jesús: veste-o como “candidato” a um car deixar Jésus livre: jà que náo o consegue
go honorífico (candidus = espléndido). Po- por absolviçâo de inocente, tenta-o por
de-se recordar Davi, voluntariamente bur indulto de culpado. Alguns manuscritos
lado na corte do rei Aquis (ISm 21,11-18). acrescentam o v. 17 como explicaçâo do
23,12 Os poderes civis se aliaram, o pa- episodio. O desenlace é um trágico para
gào e o meio judeu, como comenta a ora- doxo: fica em liberdade o revoltoso homi
gáo dos cristáos, aduzindo um versículo do cida e triunfam uns amotinados: “Vós
salmo messiànico (SI 2): “aliaram-se con rejeitastes o santo e inocente, pedistes que
tra teu santo servo Jesús, teu Ungido, Hero vos indultassem um homicida e matastes
des e Póncio Pilatos, com pagaos e gente o Príncipe da vida” (At 3,14-15).
de Israel” (At 4,27). 23,20-23 Lucas salta a atividade dos
23,13-16 Acontece urna mudanga im chefes incitando o povo (Is 3,15). A cru
portante: Pilatos convoca também “o po- cifixâo é a forma mais cruel de execuçâo
277 LUCAS
nes?” ( J f 25,29; e para a imagem Nm em sua morte: Se esse justo é filho de Deuk
17,23). ele o auxiliará e o arrancará das màos <l>
23,32-33 Segundo a profecía de Is 53,12. seus inimigos” (Sb 2,18).
Os evaPgelistas supoem conhecido o su 23,36-38 Oferecem vinagre como belìi
plicio c ía crucifixáo e nao se detêm a des- da refrescante; também recordando o sul
crever Sua brutalidade. Deixam-no à ima- mo (69,21). A zombarla dos soldados fa/
ginaçâo do leitor. Hoje sabemos que os eco à dos chefes judeus: a “Messias I
cravos páo atravessavam máos e pés, e sim corresponde “rei dos judeus”. A zombarla
o carpo e o tarso. O fato da crucifixáo é està no tom, pois o que dizem é verdadc
um artíg 0 de nossa fé, e a cruz muda de embora o título clàssico seja Rei de Israel
sentido na historia. O título infamante da cruz é título hono
23 34-46 Lucas recolhe très palavras de rifico. Jamais esqueja o cristào que Jesir
Jesús ría cruz: pelos culpados (34), ao la- era judeu e de dinastia reai.
dráo (43), Por si (46). A primeira e a últi 23,39-43 Esta cena é propria de Lucas é
ma coriieçam igual: Pai! Revelaçâo de um está elaborada com cuidado. Dois malici
mistério que nos sobrepuja. Tinha dito que tores no mesmo tormento e os destino
“ninguém conhece o Pai senáo o Filho e opostos por sua relagào com Jesus. A di
aquele a quem o Filho o queira revelar” reita e à esquerda: como as bèn§àos e mal
( 1 0 ,2 2 ); agora o faz, em sua capacidade dicjóes da alianza (cf. Js 8,33), como no
de perdoar; porque agora está sendo “com- juizo de Mateus (Mt 25,31). A separacelo
passivO como o Pai o é” (6,36). e oposigào versa sobre o tema da realeza
Jesús intercede; como Abraáo (Gn 18), Para um, serve à zombaria do desespeni
como Moisés (Ex 32; Nm 14), como Sa do, nào à peticjao sèria de um milagre; náo
muel ( ISm 12), como Jeremías (Jr 15,15) há milagre que os salve. Para outro, é re
e mais que eles; e continuará para sempre velagào misteriosa e acolhida com fé. D;i
intercedendo (Hb 7,25). Náo pode negar a por descontado que esse condenado um dia
culpa, busca urna atenuante: “Ele conhe será rei e lhe pede que entáo se lembre de
ce nossa condiçâo e se lembra que somos seu companheiro de suplicio (como Jose
de barro” (SI 103,13-14). Disso Pedro e no càrcere, Gn 40,41); “lembra-te” é peti
Paulo faráo eco falando aos judeus (At gáo frequente nos salmos (25,6; 74,2;
3 1 5 . 1 7 ; 13,27). O que fizeram ultrapassa 119,49). Sua fé passou pela confissào do
sua capac*dade de compreensáo: “Israel crime e pela aceitagào da pena, por com
náo conhece, meu povo náo pondera” (cf. preender que zombar desse homem é nao
SI 103,13-14). respeitar a Deus.
A partilha das roupas entre os executo- A petigào “quando” responde a promes
res era prática normal; aqui indica o cum- sa “hoje” (cf. FI 1,23). “Paraíso” (no seri
primento de urna profecía (SI 22,18). tido original, “parque”), é imagem de urna
23 35 Também as zombarias correspon- vida feliz após a morte, na qual Jesus exer
dem à profecía (SI 22,7-8). “Vamos ver se cerá seu reinado. Jesus já possui o poder c
é v e r d a d e o que diz, comprovando como pode prometer coni seguranza e generosi
279 LUCAS
ilude règia. A salvagáo é “estar com ele” bém confessando a inocencia de Jesús.
(. I. lTs 4,17). Homenagem postuma do pagáo, como a
23,44-45 A escuridáo ao meio-día é ex- prestada ao Servo (Is 53,9): “embora nao
Imordinária, teofánica: “farei o sol se por tívesse cometido crimes nem houvesse
no meio-día e em pleno dia escurecerei a engano em sua boca” (Is 53,9).
li-rra” (Am 8,9); dia de julgamento para o 23.48 A morte na cruz é fecunda. A
I araó (Ez 32,7), “ao faltar o sol” (Is 13,10; penitencia que comegou com a pregagáo
li 15,9; J1 3,4). do Batista (3,7-14) culmina agora ante o
O véu do templo separava o arcano “espetáculo” sem palavras. O espetácu
mide estava presente a gloria de Deus; era lo nao foi o castigo fulminante dos cul
iiccssível só ao sumo sacerdote, urna vez pados (SI 64,9-10), mas a morte de um
|io r ano, entre nuvens de incenso, no dia inocente. Cumpre-se o luto de Jerusalém
il;i expiagáo (Ex 26,31-33). Esse sinal anunciado por Zacarías: “Derramarei um
ila velha economía se rasga, deixa de espirito de compungáo e de súplica de
funcionar, porque doravante o acesso a perdáo. Ao olhar-me traspassado por
Deus está presente, sempre a todos, por eles, eles lamentaráo como se fosse a Ia-
meio de Jesús: “com o mesmo Espirito e mentagáo por um filho único; eles chora-
p o r meio dele, temos acesso ao Pai” (Ef ráo como se chora um primogénito” (Zc
2,18). 12,10).
23.46 As últimas palavras de Jesús sáo 23.49 Mantém-se á distancia: como os
ritagáo adaptada de um salmo (31,5): onde amigos de Jó “vendo a atrocidade de seu
este invoca a “Deus”, Jesús diz “Pai”. sofrimento” (2,12-13), como os conhecidos
Deixa seu alentó vital em depósito (as- do salmista: “meus próximos se mantém ao
sim o hebraico original) a alguém que é longe” (SI 38,12; 88,9). As mulheres “se
fiel, em quem se fia plenamente; sabe que guidoras” (8,2; 23,55). Um centuriáo roma
recobrará seu depósito. No mesmo sal no, urna multidáo de judeus, urnas mulhe
mo se diz (v. 16): “em tuas máos está o meu res constantes sáo o primeiro grupo que está
destino”. “A vida dos justos está ñas máos reunindo: “dar-lhe-ei urna multidáo como
ile Deus” (Sb 3,1). Expirou: “fez-se obe quinháo” (Is 53,12).
diente até a morte, urna morte na cruz” 23,50-51 A eles junta-se este homem
(IT 2,8). nobre, judeu, honrado, membro do Con
23.47 Confessando o pròprio pecado, a selho, mas em dissenso, que espera o rei
pessoa dá gloria a Deus (Js 7,19); e tam- nado de Deus anunciado por Jesús.
LUCAS 280
T
havia consentido na decisáo dos outros observar o sepulcro e como l i .i 'i A
nem na execugáo dele, e esperava o rei colocado o cadáver. 56Voltaram
nado de Deus. 52Foi a Pilatos e lhe pe- raram aromas e ungüentos, e no m I S
diu o cadáver de Jesús. 53Desceu-o, en- do guardaram o descanso de p m t n i
volveu-o num len§ol e o depositou num
sepulcro cavado na rocha, no qual aín R essurrei^áo de Jesú s (Mi '»
da ninguém fora enterrado. 54Era o día 1-10; Me 16,1-8; Jo 20,1-H'i
da Preparagáo, e come§ava o sábado. 'N o primeiro dia da semana, de m .iiljfl
55As mulheres que o haviam acompa- gada, foram ao sepulcro levando i > ¡
nhado desde a Galiléia foram atrás para fumes preparados. 2Encontraram rertlu I
ni« .1 |ii •li .1 ilo sepulcro, 3entraram, Tiago. Elas e as outras o contaram aos
■«ti iiiin m i ontraram o cadáver de Je- apóstelos. “ Mas eles tomaram o relato
, 'I Miiv.mii desconcertadas pelo fato, por um delirio e náo creram nelas.
,,i im'Ii i m llies apresentaram dois per- Î2 Pedro, ao contrârio, se levantou e foi
hh|h ir. m in vestes fulgurantes. 5 E, ao sepulcro. Inclinando-se, viu somen-
uhm li' r.M'in espantadasolhando para te os lençôis. E voltou para casa estra-
, i hiiii, i li'.s llies disseram: nhando o acontecido.
l'iu que procuráis entre os mortos
,i|iii l. i|ne està vivo? 6Nào està aqui, C am inho de E in a ú s— 13Naquele mes-
,,.»n ,i limi. Recordai o que vos disse mo dia, dois deles iam em direçâo a
... i ,i ii .iluda na Galiléia, ou seja: Este urna aldeia cham ada Emaús, distante
i Iiihh mi eleve ser entregue aos pecado- cerca de duas léguas de Jerusalém. 14Iam
i m i crucificado; e no terceiro dia comentando tudo o que aconteceu. 15En-
i .uii'.i liará. quanto conversavam e discutiam, Jésus
I li1, se lembraram das palavras dele, em pessoa os alcançou e se pôs a cami-
tnllniam do sepulcro e contaram tudo nhar com eles. l6Eles porém tinham os
«im mi/,e e a todos os outros. 10Eram olhos incapacitados para reconhecê-lo.
M iii.i M adalena, Jo an a e M aria de 17Perguntou-lhes:
24,29 Oferecem insistentes sua hospita- valor de síntese. Articula-se em duas par
llilade com o desejo de tirar proveito (como tes: a aparigáo e identificacáo (vv. 36-43)
Itconteceu com Eliseu, 2Rs 4,10; como Ma e a missáo (w . 44-49).
ullé fez com o anjo, Jz 13,13-18; como 24,36-43 A primeira incorpora urna in-
( lixleáo, também com o anjo, Jz 6,18). tengáo apologética, provocada talvez por
24,30-31 Lucas impóe à refeiçâo a for objegóes externas, ou por dúvidas dentro
ma litúrgica de urna eucaristia: bênçâo e da comunidade de Lucas: os discípulos náo
l’raçâo e partilha do pâo; nâo se diz que ele sáo crédulos ou ingenuos (Pr 14,15), an
h tenha tomado nem se menciona o vinho tes, desconfiados, críticos, exigem provas.
(22,19). O alimento lhes abre os olhos, re- Estas se articulam ou se estilizam em duas
vcla-lhes a identidade do caminheiro, a intervengóes — tocá-lo (lJo 1,1) e vé-lo
vida do ressuscitado, o sentido da instru comer — acompanhadas de palavras.
ido precedente. Urna vez reconhecido, sua O narrador indica dois tragos psicológi
prcsença física nâo é necessària. cos: a perturbagáo e as dúvidas pelas noti
24.32 A metáfora psicológica (SI 39,4), cias que váo chegando, e o náo crer de puro
iicmelhante ao nosso “ter o coraçâo abra- gozo: como quem náo quer entregar-se a
nado” mostra a participaçâo intensa numa urna boa noticia por medo de ficar outra
cxegese bíblica que nâo é pura informa vez frustrado. Bonito demais para ser ver-
tilo académica, porque é revelaçâo do Se dade.
nhor glorificado. 24,36 Sem bater, sem atravessar a porta,
24.33 A experiência e a noticia sáo muito de repente “se apresenta”, ou seja, mani-
grandes para ficar com elas. Inmediatamen festa corporalmente sua presenga. Asauda-
te, sem reparar as duas léguas de distáncia gáo tradicional, invocando a paz, forma in-
nem a escuridáo da hora, regressam a Je clusáo com o anúncio do Benedictus (1,79)
rusalém. e especialmente o do nascimento (2,14).
24.34 É curioso que só indiretamente se 24,39 Sáo de fato as máos do fazedor
laça referencia à apariçâo de Jesus a Si- de milagres, os pés do pregador itinerante,
mào. Recompensa-o apresentando Pedro carne e ossos de sua comum humanidade
como testemunha digna de fé, capaz de (Gn 2,23; cf. Jz 9,2).
"fortalecer” os outros. 24,41-43 No seu discurso na casa de
24,36-49 Esta é em Lucas a única apa Cornélio, Pedro vai contar como Jesús
riçâo ao grupo inteiro, razâo pela quai tem apareceu e “nós comemos e bebemos com
LUCAS 284 24.1
— Tendes aqui algo para comer? 47e em seu nome se pregaría penitéiu lu
420 fereceram -lhe um pedazo de pei- e perdáo dos pecados a todas as na
xe assado. çôes, com eçando por Jerusalém . 48 Vn,
43EIe o pegou e o com eu na presenta sois testemunhas disso. 49Eu vos envn.
deles. 44Depois Ihes disse: aquele que o Pai prometeu. Ficai na 11
— Isto é o que vos dizia quando aín dade até que do céu sejais revestid"
da estava convosco: que tinha de cum- de força.
prir-se em mim tudo o que está escrito 50A seguir os levou a Betânia e, a
na lei de M oisés, nos profetas e nos guendo as máos, os abençoou.
salmos. 51E enquanto os abençoava, separon
45Entáo abriu-lhes a inteligencia para se deles e era levado ao céu.
que com preendessem a Escritura. 46E 52Eles se prostraram diante dele ■
acrescentou: voltaram a Jerusalém muito contente
— A ssim está escrito: o M essias ti 53E passavam o tempo no templo beit
nha de padecer e ressuscitar da morte; dizendo a Deus.
INTRODUÇAO
Itirnbém o originalissim o livro de vinho, casamento, trabalho, pastor, ca
11 iiio é um evangelho. Se atendermos à minho, pomba, palavra. Outras vezes
iiiirnqáo básica, proclam ar a f é em Je- sáo personagens do AT, mencionados
im para pro vocar a f é de outros, o explícitam ente ou aos quais se fa z alu-
.piarlo evangelho é o m ais puro e radi- sáo em filig r a n a s p a ra quem sa b e
•iil. Como em D t 29, a existéncia se adivinhá-los: A brado, M oisés, Jacó-
•Irride diante da lei de Deus, assim em Israel, a mulher infiel de Os 2, Davi, a
hnlo se decide diante de Jesús: p o r ele esposa do Cántico dos Cánticos. A c i
m contra ele, fé ou incredulidade. ma de tudo ressoa a fórm ula “Eu sou ”,
,loáo se concentra assim na pessoa pròpria de Yhwh, de que Jesus se apro
,Ir Jesús. Mas, em conteúdo biográfico pria reiteradamente.
i1 muito m ais reduzido que os outros Também se abre a influxos judaicos
evangelistas. Supde conhecidos os da do rabinismo oficial ou de Qumrd, p o n
llos e nao pretende preservar nem ela do Jesús no lugar da lei. Conheceu tai-
borar seus materiais. Seleciona alguns vez tendéncias difusas e pouco defini
¡utos importantes que apresenta e de- das de um gnosticismo incipiente, a que
\rnvolve com singular talento literário. parece opor-se.
N uoéque substitua o relato pela expo-
\i\üo de urna doutrina religiosa, urna Composiçâo
"cristologia M ais que doutrina, ofe-
n'ce matèria de contemplando. A des- O livro está composto com singular
crigáo é realista, com pitadas antido- artificio. A cronologia está condensada
réticas: ve, cheira e apalpa. M as sua em duas séries de días e um ciclo de
i ralidade é simbólica, carregada de um festas. Os comentaristas costumam di
accesso de sentido, que a fé descobre e vidir assim este evangelho: Prólogo e
il contemplagao assimila. A sua visdo introduçâo (1). Livro dos sete sinais (2—
pode ser apresentada num diálogo com 12), articulado em très blocos. O pri-
a artificio do mal-entendido que Jesús meiro (2—4) localiza em Caná dois si
corrige; ou em cenas dramáticas de pro n a is, e x e m p lo s d e fé , fo r m a n d o
tagonista e antagonista e comparsas; ou inclusdo; no meio, vários casos de re
cm acaloradas controvérsias. A polèm i cusa, fé pela metade e fé plena: autori
ca e a ironia sáo recursos que maneja dades judaicas, Nicodemos, o Batista,
para aprofundar em seu personagem . a sam aritana e os samaritanos. O se
Jodo utiliza seus materiais e recur gundo bloco (5—10) se articula em qua-
sos com liberdade e dominio. A sua tro festas, com seu tema corresponden
patria é a Escritura: presente num gru te: o sábado e o trabalho; a Páscoa e o
po de citaqóes form áis (a grande dis p ao da vida; as Tendas com a água e a
lància de M ateus), em frases alusivas luz; a D edicaçâo e o templo. O tercei-
(¡ue se adaptam a outra situaqáo, num ro bloco (11—12) apresenta o último si-
tccido sutil de símbolos apenas insinua nal, que conduz à cruz. Segue-se o li
dos, como se convidasse a um jo g o de vro da gloria, que abrange a grande
enigmas e desafios. Para captar o pano despedida no cenáculo ( 13—17), a pai-
de fundo de Jodo é preciso submergir xdo (18—19) e a ressurreiçâo (20). O
no mundo sim bólico doA T: luz, água, capítulo 21 é urna adiçâo posterior.
JOÁO 286 INTRODU(,M
gao especial (SI 57,12). O mundo criado se condensam em fórmula litúrgica (lí*
pelo Logos era bom (Gn 1,31; C1 1,10), 34,6 par.).
mas esse mundo, por livre escolha, “nao 1.15 Um personagem nao apresentad'
reconhece” a luz (cf. Rm 1,20-21) e assim e urna citaçâo ainda nao recolhida mo*.
se toma mau. No evangelho, “mundo” terá tram que este versículo é inserçâo de enj'..i
com freqüéncia essa conotagao negativa. te. Sua identificaçâo virá em 1,30. Afirm.i
1,11 “Os seus” admite duas leituras: a) a precedéncia cronológica e de autorid;nl
A humanidade inteira (como em Eclo 24,6- do Logos. Ou seja, o testemunho do Ha
7; Br 3,20-21), capaz de receber ou recu tista coincide com o ensinamento do evan
sar. b) O povo eleito. Asegunda leitura sig gelista; este, porém, remontou ao “prin
nifica um estreitamento do horizonte. cípio”.
1,12-13 A palavra é acolhida pela fé, e 1.16 Enlaça com 14b na primeira pos
acolhida outorga a filiagao divina, que su soa do plural. Nao deve causar estranhe/.i
pera a humana, carnal (cf. Sb 7,2), porque a passagem, pois no hiño à Sabedoria iIm
pertence a outra ordem, Alguns manuscri Eclesiástico também se passa no fim à pri
tos e comentaristas antigos leram “este meira pessoa, com o tema do receber (Eclo
nasce...”, referindo-o ao nascimento vir 24,30-34). Afirma que o Logos feito ho
ginal de Jesús. mem é o mediador de todo dom divino. A
1,14 Finalmente, o Logos se apresenta última frase é duvidosa pela partícula “em
em pessoa, toma “carne” (en-carna-^ao), lugar de” (anti, gr.; tahat hbr.), que costu
se faz simples homem (Gl 4,4); o tema da ma introduzir urna realidade que substi
“carne” retorna em passagens importan tui, sucede ou responde a outra. Cabein
tes do NT (Rm 1,3; 8,3; lTm 3,16). Arma várias interpretaçôes: a) em lugar da leal
a “tenda” onde se manifesta sua “gloria”. dade do Sinai, a de uma nova aliança; b)
Nao como no templo feito por homens: por uma outra graça, em progressáo con
“Entào a nuvem cobriu a tenda do encon tínua; é a mais comum; c) em troca do sen
tró e a gloria do Senhor encheu o santuà favor, nossa lealdade para poder corres
rio” (Ex 40,34-35; IRs 8,11; Ez 44,4), mas ponder.
como Filho único do Pai; como um filho *Ou: graça após graça.
único que herda tudo; cf. “tudo o que é teu 1.17 Explícitamente contrapóe os dois
é meu” (Jo 17,10). testamentos ou economías. Moisés promul
*Lealdade e fidelidade. Parece prová- gou uma lei (Ex 31,18), cujo conteúdo era
vel que o texto do prólogo adapte a dupla a bondade nas relaçôes com Deus e com o
clàssica de atributos divinos hesed we’emet, próximo; preceitos e proibiçôes que nao
que admitem urna gama de tradugóes conseguiram realizar o que continham.
(basicamente, leal à pessoa, fiel à sua pa Aquele mandamento extemo tomou-se re
lavra): favor estável, bondade constante, alidade em e por Jesús Cristo. Finalmente
amor fiel... No Logos feito homem reside se pronuncia o nome até aqui evitado, iden-
a plenitude da divindade (C1 2,9) na for tificando-se o Logos feito homem com Je
ma de seus dois atributos insignes, pro sús de Nazaré, o Messias. Nao se deve mais
clamados pessoalmente pelo Senhor e que olhar para a lei como modelo de conduta.
289 JOÀO
1,18 Moisés pedia para ver a Deus, “mos- missáo oficial sao pessoal do templo, se
ii>i me tua glòria”, mas nào o conseguiu gundo a distincao tradicional de sacerdotes
il ,x 33,18-20), porque “nao podes ver meu e levitas (p. ex. na parábola do bom sa-
misIo, porque ninguém pode vè-lo e conti maritano, Le 10,25-37), e membros do par
nuar vivo”. Só o Deus Filho ùnico o conhe- tido farisaico também hostis a Jesús em Jo.
i u por sua relagào intima, e veio para des- O interrogatorio procura identificar a
. irvc-lo. Com essa frase se levanta a cortina personalidade de um personagem que está
•l i i evangelho: o que se segue é essa “exe- se tornando popular (o narrador o dá por
jjese” de Jesus Cristo em fatos e palavras. conhecido), e procede por exclusáo até a
No Antigo Testamento às vezes aparece afirmagáo. Nao é o Messias (v. 20) espe
ii palavra de Deus como personificado rado como descendente legítimo de Davi
|iuctiea: “nao voltará a mim vazia... mas (Jr 23,5; 33,15; cf. Zc 6,12). A segunda
i innprirà minha ordem” (Is 55,11); “quan pergunta rebaixa: Elias, o precursor do
di) a noite mediava sua corrida, tua pala Messias, reservado no céu até seu momen
vra todo-poderosa se langou do trono reai to (MI 3,1.23-24; Eclo 48,10). A terceira,
ilos céus” (Sb 18,14-15). De modo seme- o profeta (com artigo) alude á promessa
Ihante é apresentada a Sabedoria personi- de um sucessor de Moisés (Dt 18,15).
licada (Pr 8; Eclo 24 etc.). No pròlogo de A quarta lhe pedem e aceitam sua iden-
lofio a Palavra é urna pessoa. tificagáo pessoal. Joáo a dá citando o co
É preciso emparelhar este solene prólo- m eto do profeta do desterro (Is 40,3); se
Ho com o inicio da primeira carta de Joào gundo o texto grego que une deserto com
(IJo 1,1-4). voz (o hebraico o junta, com melhor lógi
*Ou: descreveu. ca, com “aplanar”). Isaías diz “Senhor”, o
1,19-28 Abre-se o ciclo do Batista, que Batista pensa em Jesús, o Messias. A volta
*c encerrará em 3,30. Sua fungao é a de do exilio era a volta da Gloria a Jenisalém.
precursor do que hà de vir e testemunha 1,24-25 A pergunta dos fariseus supóe
ilo que chegou. Diante de tendencias erró que batizar é uma agáo transcendente, que
neas, o evangelista quer deixar definida a se deve justificar.
posigào de Joào com respeito a Jesus, e 1,26-27 Joáo responde com um enigma.
eomega fazendo-o em forma de um teste- O que eu fago está claro; mas já existe um
iimnho qualificado perante oficiáis auto- personagem desconhecido, que chega de-
i irados. Os “judeus” neste evangelho sào pois de mim, embora me anteceda em di-
ile ordinàrio as autoridades hostis a Jesus, reitos. O enigma da sandália (deveria ser
romo grupo restrito e tipico; geralmente inteligível para peritos na lei) alude á lei
nao sao o povo judeu. Os enviados em do levirato (ver a fungáo da sandália no
JOÁO 290
— Eu vos batizo com água. Entre vós 32Joáo deu este testemunho:
está alguém que nao conheceis, 27que vem — Contemplei o Espirito descciu!.
depois de mim; e eu nao sou ninguém do céu como pomba e pousando solm
para soltar-lhe a correia da sandália. ele. 33E u nao o conhecia; mas quem nn
28Isso acontecía em Betania, junto ao enviou a batizar me havia dito: aqu< l
Jordáo, onde Joáo batizava. sobre o qual vires descer o Espirito i
29No dia seguinte, viu Jesús aproxi pousar, é o que haverá de batizar con»
m a rs e e disse: Espirito Santo. 34Eu o vi, e testemunlm
— Ai está o cordeiro de Deus, que que ele é o Filho de Deus.
tira o pecado do mundo. 30Dele eu dis
se: Depois de mim vem um homem que Os primeiros discípulos (M t 4,18-.’ 1
existia antes de mim, porque está antes Me 1,16-20; Le 5,1-11) — 35No diase
de mim. 31Embora eu nao o conheces- guinte, Joáo estava com dois de seu>
se, vim batizar com água para que se discípulos. 35Vendo Jesús passar, di/:
m anifestasse a Israel. — A i está o cordeiro de Deus.
tema do matrimonio com a cunhada, Dt feste” a Israel quem ele é. Este nome do
25,5-9; Rt 4), e comega a insinuar o que povo tem sentido positivo, em oposiçào .i
se irá esclarecendo: que Jesús é o Messias “os judeus”.
esposo. 1,34 Com a mençâo do “testemunho
1,28 Nao confundir esta Betània com a termina em inclusâo o que começou em
que está perto de Jerusalém. 1,19. Mas o testemunho do Batista nao cst.i
1,29-34 Depois do testemunho sobre sua completo.
fungáo, vem o testemunho sobre Jesús; 1,35-42 Começa na atividade do Batis
este nao solicitado e diante de um público ta, outro dia, na qual vai tirar conseqüên
nao definido. Comega um ciclo de anota- cias do seu testemunho. Generosamente
goes cronológicas, de urna semana, que se cede a Jesús seus discípulos, com urna t ía
concluirá no casamento de Caná. O texto se os incita a segui-lo. Sao eles: Andrc c
inverte a ordem temporal, que seria: anun um outro (Joáo?). Mais que urna cena rea
cio de um sitial, visáo do sinal, identifica- lista, o autor quer escrever um modelo de
gao por ele, testemunho. chamada e seguimento. Nao nos trabalho-
O sinal é o Espirito que desee e repousa cotidianos de pescadores, mas como dis
sobre ele (Is 11,2; 48,16; 61,1); alude ao cípulos previamente instruidos e prepara
batismo nao narrado. Como urna pomba dos. Tanto que lhes basta urna frase para
(talvez aludindo ao Càntico dos Cánticos; entender: este é o cordeiro de Deus. Como
note-se a uniào de Espirito e esposa em se tal título fosse urna tese da escola (di
Ap 22,17); em figura de “vento” (Is 32,15) fundo pastoril e náo de pesca).
náo seria visível. Seguem-no e váo com ele. E ele lhes faz
Jesús recebe tres títulos: a) “Cordeiro de a pergunta exigindo que se examinem a
Deus”, com fungào sacrificai expiato sério, que tomem consciencia do que prc
ria, segundo Is 53,13-15; lPd 1,18-19. Será tendem e o declarem sem dissimulaçâo.
título emblemático de Jesús, glorificado Eles respondem com outra pergunta, que
no Apocalipse. b) Aquele que batiza com a nivel superficial significa “onde te alo
Espirito Santo, náo com água somente; jas”, e a nivel profundo investiga o misté
o tema é desenvolvido no diálogo com rio da morada transcendente de Jesús. As
Nicodemos (3,5-8); é o Espirito que in quatro da tarde, “hora décima”, pode es
funde vida nova, c) O Filho de Deus (al- tar registrada como plenitude de dez (mui
guns manuscritos dizem: o eleito, segun to duvidoso) ou como arremate do dia (que
do Is 42,1): título messiànico na boca do acaba ás seis).
Batista, título transcendente na pena de 1,36 Embora o pareça, a “passagem” de
Joáo. Jesús náo é casual; em seu movimento
1,31 O batismo de Joáo, purificando, exerce urna força de atraçâo, quer ir A
prepara o terreno para que Jesús “mani- frente.
I II. 291 JOÀO
' <>s discípulos o ouviram e seguiram 42E o conduziu a Jesús. Jesús olhou
llMIV para ele e disse:
" li siis se voltou e, ao ver que o se- — Tu és Simáo, filho de Joáo; tu te
..... Ihes diz: cham arás Cefas (que significa pedra).
() que estáis procurando? 43No dia seguinte, dispunha-se a par
Kcsponderam: tir para a Galiléia, quando encontra Fi
Rabi (que significa Mestre), onde lipe. Jesús lhe diz:
minas? — Segue-me.
'M>iz-lhes: 44Filipe era de Betsaida, térra de A n
Vinde e vede. dré e Pedro. 45Filipe encontra Natanael
I mam, pois, viram onde morava e e lh e diz:
lli .iram com ele nesse dia. Eram as — Encontramos aquele de quem fa-
>|iuili'o da tarde. 40Um dos que haviam lam M oisés na lei e os profetas: Jesús,
.niv ido Joáo e tinham seguido Jesús era filho de José, natural de Nazaré.
\mlré, irmáo de Simáo Pedro. 41Encon- 46Natanael replica:
nii primeiro seu irmáo Simáo e lhe diz: — De Nazaré pode sair alguma coi
Encontramos o Messias (que se sa boa?
iniiluz Cristo). Filipe lhe diz:
I ,.19 Desde o inicio Jesús quer torná-los cessário citar Dt 18,18 e vários textos pro-
li'Nlemunhas oculares. Supóe-se que o tem- féticos.
I») que passam com ele seja preenchido Quanto à figura de Natanael (= dom de
. mu alguma instrugáo preliminar. Ter Deus) deve ser entendida sobre o pano de
minado o primeiro encontro, André já sen- fundo do patriarca Jacó-Israel, visto por Gn
ir a necessidade de comunicar sua desco- 28,32 e Os 12. O nome de Jaco soa ao ouvi-
liorta. do popular como traigoeiro, falso, que pas
1,40-42 Pedro náo esteve entre os dis- sa o pé; viveu fiel a seu nome armando ci-
■11>nlos do Batista. E urna conquista de ladas para seu irmáo (a. Gn 27,36; Os 12,4),
uní irmáo, o qual já eré que Jesús é o Mes e por isso tem de fugir. A caminho, numa
áis. (Já no comego lhe deu o título de mes- visáo noturna contempla urna rampa, que
lic.) Diríamos que Pedro chega na undé une terra e céu, pela qual sobem e descem
cima hora (cf. Mt 20,6). Filho de Joáo: mensageiros divinos (b. Gn 28). Voltando
uniros testemunhos dizem “filho de Joñas” da casa de Labáo para Betel, em nova vi
( : Pomba). Já no primeiro encontro com sáo noturna luta com Deus, que lhe muda
Icsus, sem prévia informagáo, conhece e o nome para Israel (c. Gn 32) e o abengoa.
iceonhece Simáo, e com autoridade sobe- Damos um salto de séculos quando “to
lana, escolhe Pedro e lhe impóe o novo das as tribos de Israel... todos os conse-
nome da nova fungáo (Mt 16,18). Simáo lheiros de Israel... foram a Hebron... e un-
I omega a ser Pedro e terá que aprender a giram Davi rei de Israel” (d. 2Sm 5,1-3).
levar o nome. Pois bem, Natanael náo tem “falsidade”
1,43-51 Novo dia e chamada de outros (a. Jaco), mas é um verdadeiro Israel (c) e
tlois discípulos. Repete-se o esquema de como tal reconhece a Jesus como “o rei de
iim que atrai o outro. Betsaida era vila de Israel” (d. cf. Sf 3,15). Jesús responde-lhe,
pescadores (como o nome o indica), deta- para todo o grupo, com urna revelagáo. É
llie que harmoniza Joáo com os sinóticos. ele a verdadeira rampa que une o céu à
1.44 Sobre Filipe o narrador náo podia terra, o mediador das mensagens celestes
sor mais conciso: Para seguir Jesús, é su e das oragóes humanas (b). Natanael o
ficiente escutar seu imperativo (reapare chamou “Filho de Deus”; Jesús confessa-
cerá em 6,5-7; 12,21-22 e 14,8-9). se “filho do homem” (ben ’adam, homem
1.45 A dupla “Moisés e os profetas” verdadeiro). Esta última declaragáo é
equivale á Escritura, e funciona como con- dirigida ao grupo inteiro, “eu vos asseguro”.
tissáo global, que entronca Jesús com a 1,46 Apergunta de Natanael pode expres-
historia e a esperanga do povo. Seria ne- sar o desprezo de um habitante ás margens
JOÂO 292
do lago e pode abarcar mais: como será o bolo freqüente do amor de Yhwh pela co-
Messias natural de Nazaré? Jo nao alude a munidade, muitas vezes personificada na
Mq 5,1. Le 4 mostra que os habitantes de capital: “Como um jovem se casa com um»
Nazaré nao aceitaram Jesús como Messias. donzela, assim te desposa aquele que le
1,48 A alusáo á figueira, perfeitamente construiu” (Is 62,5; Os 2; Is 1,21-26; 5,1
clara para Natanael, continua sendo enig 7; 49; 54; 62,1-9; Ez 16; Br 4-5). No N I
mática para nós. Uns pensam na figueira é símbolo da uniáo do Messias com a Igrc
como imagem de Israel (Os 9,10); outros ja: “Esse símbolo é magnífico, e eu o apli
na vida tranquila e cotidiana sob a parreira co a Cristo e à Igreja. Cristo amou a Igrcj.i
e a figueira (IRs 5,5). Urna tradigáo antiga e se entregou por eia” (Ef 5,21-33; Mi
identificou Natanael com Bartolomeu; 22,1-14; 25,1-13; 2Cor 11,1-4; Ap 12.
muitos pensam que nao foi um dos doze. 19,7-9; 21,2). O vinho é dom do amor: “tua
1,51 O céu se abriu para Jesús (Me 1,13); boca é um vinho generoso” (Ct 1,2.4; 2,4 ;
Jesús o abrirá e o tornará acessível (cf. 4,10; 7,10; 8,2) e se anuncia como dom
14,6-10). messiànico: “plantaráo vinhedos e bebe
rao seu vinho” (Am 9,13-4; Os 14,7; Ji
2,1-25 No inicio da atividade de Jesús 31,12; Is 25,6; 62,9). É além disso símbo
e ainda encaixadas no ciclo do Batista, es- lo do Espirito (At 2,15-16).
táo duas agóes públicas e programáticas Mas o casamento de Jesús náo é simbo
de Jesús. De Caná da Galiléia ao templo lizado como presente, pois “nào chegou a
de Jerusalém. Em Caná realiza o “sinal” hora” (palavra-chave em Joáo, sobretudo
do vinho messiánico; em Jerusalém anun apontando para a paixáo e glorificagáo:
cia o sinal da ressurreigáo. Em ambas res 4,21; 5,25; 12,3.27; 16,2.32). Qual é o pa
ponde a fé dos discípulos e de muitos. pel de Maria? No casamento é urna convi
2,1,11 Urna festa de casamento na aldeia dada importante; com autoridade, trans-
é o episodio que sustenta um sistema de lada os criados ao servigo de Jesús. No
símbolos. O casamento é um momento fes casamento prefigurado deste e segundo a
tivo que costuma congregar muitas pessoas. tradigáo bíblica, eia é a máe do noivo:
O versículo final define o fato: é o primeiro “com a coroa que lhe cinghi sua màe, no
sinal, portanto deve ser lido como cabega dia de seu casamento, dia de festa de seu
de urna série; é manifestagáo da gloria de coragào” (Ct 3,11; SI 45,10; IRs 1,16.28;
Jesús (gloria do Filho único do Pai, segun Jr 22,26). Com eia se retirará no final a
do 1,14), como gesto de poder e de “bon- Cafarnaum (v. 12). O mestre-sala faz o
dade”; pelo sinal os discípulos “créem” em papel de testemunha involuntária do pro
Jesús. No evangelho como livro, o relato dígio: a água das ablugóes (Me 7,3-4) náo
se dirige ao grande círculo de discípulos traz o amor e a fecundidade.
fiéis. 2,1 Contando desde o chamado de An
A festa de casamento sustenta e unifica dré, é o sexto dia, que é o dia da criagao
os símbolos. O matrimonio é no AT sím- do homem e da mulher (Gn 1).
293 JOÁO
2.3 Acabar o vinho é sinal trágico: “Já Ihas e pombas; com licenza das autorida
llflo bebem vinho entre cangóes, e o licor des do templo, um àtrio se convertía qua-
lem sabor amargo para quem o bebe” (Is se em estábulo ou mercado. Além disso,
16,9-10; 24,9; J1 1,10). para o tributo do templo ou para oferendas
2.4 Mais que repreensáo, a frase parece voluntárias, o povo que vinha de outros
um convite a nao intrometer-se no assun- países tinha de trocar dinheiro. Os cam
lo. O narrador a chamou “máe de Jesús”; bistas prestavam este servigo e faziam seus
Jesús a chama “mulher”. Náo cabe a ela negocios. Contra o abuso, Jesús executa
definir os tempos nem as agóes de Jesús. uma agáo simbólica, que explica e amplia
2.5 Como o Faraó a propósito de José numa ordem decisiva; o “mercado” alude
(Gn 41,55). ao final de Zacarías: “e já náo haverá mer-
2.9 De onde: aponta ao mistério da ori- cadores no templo do Senhor dos Exérci-
|jcm de Jesús e de seus dons (4,11; 7,27; tos, naquele día” (14,21).
H, 14). Em lugar de Is 56 e Jr 7, como nos
2.10 A mudanga da água em vinho sim sinóticos, Joáo alega um versículo de um
boliza a passagem da velha á nova econo salmo bastante usado, de um inocente per
mía. O vinho novo é o vinho melhor, “me- seguido (SI 69,9). Ao fazé-lo seu, Jesús
llior que o amor” dos noivos humanos (Ct demonstra seu interesse pela instituido do
I,2.4). templo de Jerusalém. Se num principio o
2.11 Em Caná ele fará o segundo sinal, templo foi construgáo e responsabilidade do
encerrando um ciclo (4,54). reí (IRs 7-8 par.), no tempo de Jesús era o
2,13-22 Com relagáo aos sinóticos, Joáo centro espiritual de todos os judeus, da Pa
untecipa o episodio da purificado do tem lestina e da diàspora. O modo de alegar o
plo, já que o carrega de sentido simbólico verso é exemplar, porque apresenta a com-
referindo-o á morte e ressurreigáo. Um re preensáo que os discípulos adquirem depois
sultado é o encolhimento do ministério na da ressurreigáo. O que o evangelista diz aquí
Galiléia. pode ser estendido, como principio herme-
No plano realista, Joáo é generoso em nèutico, a grande parte da obra: o evange-
detalhes. A celebragáo da páscoa consu lho registra a compreensáo do mistério de
mía grande quantidade de reses, bois, ove- Jesus depois da sua ressurreigáo.
JOÁO 294 2,1
17Os discípulos se recordaram daque- os discípulos recordaram que ele havlu
le texto: O zelo p o r tua casa m e devo dito isso, e creram na Escritura e ñas p.i
ra. l8Os judeus lhe disseram: lavras de Jesús.
— Que sinal nos apresentas para agir 23Estando em Jerusalém para as fes
desse modo? tas de Páscoa, muitos creram nele ao vn
19Jesus lhes respondeu: os sinais que fazia. 24M as Jesús nao si|
— Derrubai este templo, e em très fiava deles, porque os conhecia todos;
dias o reconstruirei. 25nao necessitava de informacóes solm
20Os judeus replicaram: ninguém, pois sabia o que há dentro do
— A construçâo deste templo demo- homem.
rou quarenta e seis anos, e tu o recons
truirás em très dias? Je sú s e N icodem os — 'H avia uní
21Mas ele se referia ao templo do seu
corpo. 22Quando ressuscitou da morte,
3 homem do partido fariseu, cham;i
do N icodem os, uma autoridade entr#
2,18-21 Aagáo um tanto violenta de Je juiz. 22-30 testemunho do Batista. Nao po
sús provoca a reagao das autoridades: demos postular que esta ordem lógica se ja
quem age dessa maneira tem de compro- a auténtica e original; também no prólogo
var sua autoridade com algum sinal ates- entravam duas cunhas sobre o Batista.
tador. O sinal que Jesús oferece, condicio 3,1-13 Nicodemos se destaca do grupo
nal, tem por objeto o próprio templo que fariseu. Mas continua ligado por sua espi
acaba de purificar. Da frase sobre o tem ritualidade simplesmente reformista, por su.i
plo temos várias versóes: a das falsas tes- dependencia de “sinais”, por sua comprecn
temunhas no julgamento (Me 14,58 e Mt sao “terrena”; aínda atua “de noite” (cf. 1.
26,61), as zombarias na erucifixáo (Me 59,9-10; Jo 9,4). Respeita Jesús como igual
15,29 e Mt 27,40) e a presente, que é como “mestre”, e como superior, “enviado de
um desafio: destruí... eu reconstruirei. Os Deus”. Jesús lhe propóe a mudanga radical
judeus o tomam ao pé da letra, por falta de nao renovagáo, mas inovagao, “nascer de
penetracao (recurso favorito de Joáo). O novo”. Nascer é comegar, o nascimento de
narrador dá a interpretacao correta (ICor fine o ser: natura vem de natus. Nicodemos
6,19) e apela de novo para a compreensáo nao entende (outro “mal-entendido” dos de
do fato á luz da ressurreigáo. Os leitores Joáo), porque discorre no plano da razáo
do evangelho de Joáo conheciam a ressur humana. “Desde o seio materno” é fórmu
reigáo de Jesús e a destruigáo do templo la proverbial no AT (Jz 13,5; Is 44,2; Jr 1,5
pelos romanos (ano 70 d.C.). etc.); “entrar” corresponde as crengas fisio
2,23-25 A fé tem graus de intensidade e lógicas da época, que imaginavam o homem
estabilidade. Urna fé incipiente reconhece a já presente no semen, para ser elaborado
pessoa (ou seu título, se “nome” se toma no seio materno. Sobre a fisiologia da ge
como semitismo) pelos milagres que faz; ragáo no AT lemos mais dúvidas que expli
externamente parece auténtica e plena, in cagóes (Ecl 11,5; 2Mc 7,22; Sb 7,1-2).
ternamente é deficiente e insegura. Por isso Jesús responde rigorosamente á objegáo:
Jesús adota urna atitude de reserva, “nao seio materno é a água (mitologúmeno co-
confia” (com o mesmo verbo pisteuó), por mum a muitas culturas) batismal (como o
que vé o interior: “Deus nao vé como os entendeu a tradigáo), fecundada pelo Es
homens, que véem a aparéncia; o Senhor vé pírito. Também a tradigáo bíblica contem
o coragáo” (ISm 16,7; SI 139,1-4; Pr 15,11). pla a mulher como pogo ou manancial (Pi
5,15.18; Ct 4,12.15). O paralelismo di
3,1-36 A ordem lógica do capítulo está água e espirito na fertilidade é anunciado
claramente alterada. O tema do Batista é desde o exilio (Is 44,3). A fungáo do prin
urna cunha que interrompe o diálogo e ins- cipio Espirito é primordial. Quem nascc
trugáo a Nicodemos. Pelo tema, a instru- desse Espírito/vento move-se livremente
gáo também parece alterada. Na ordem ló num espago novo e superior.
gica seria: 1-12 diálogo e testemunho. 31- 3,1 Nicodemos é nome grego (= Vitoria
36: Jesús revelador do Pai. 13-21 exaltado e do povo) embora judeu influente. Jesús o
295 JOÁO
ih iiiileus. 2Foi visitá-lo de noite e lhe nasce carne, do Espirito nasce espirito.
7Náo estranhes se te disse que é preciso
Rabi, sabemos que vens da parte nascer de novo. sO vento sopra onde quer:
.li I >eus como mestre, pois ninguém po- ouves seu rumor, porém nao sabes de
tli la/.er os sinais que fazes, se Deus onde vem, nem para onde vai. Assim acon
min i'stiver com ele. tece com aquele que nasceu do Espirito.
'Icsus lhe respondeu: 9Nicodem os lhe respondeu:
liu te asseguro que, se alguém nao -— Como pode acontecer isso?
mu er de novo, nao poderá ver o rei- 10Jesus replicou:
iimlo de Deus. — Tu és o mestre de Israel e nao en-
'Nicodemos lhe respondeu: tendes essas coisas? n Eu te asseguro:
Como pode um hom em nascer falamos daquilo que sabemos, testemu-
Hmio velho? Poderá entrar de novo no nhamos o que vimos, e nao aceitais nos-
venire materno para nascer? so testemunho. 12Se vos disse coisas da
Mesus lhe respondeu: terra e nao credes, como crereis quando
Eu te asseguro que, se alguém nao vos disser coisas do céu? 13Ninguém
nascer da água e do Espirito, nao pode- subiu ao céu, a nao ser aquele que des-
iii entrar no reino de Deus. 6Da carne ceu do céu: este Homem. 14Como Moi-
i humará (com urna ponta de ironía?) “o dade, o dinamismo. Nisso apóia-se a com
meslre de Israel”. p a ra lo .
.<,2 A noite pode ser também tempo de 3.9 A explicagáo de Jesús complicou as
lliiminagáo (SI 1,2; 4,5; 16,7); especial coisas para Nicodemos. Naquele mundo
mente escutando Jesús. Se Nicodemos pro- evocado pelas palavras de Jesús, o racio
nira a clandestinidade, Jesús pode ensinar cinio do mestre judeu vacila.
Imito de noite quanto de dia: “tampouco a 3.10 Um mestre ou doutor (Pr 5,13); “teu
dKcuridáo é escura para ti, a noite é clara Mestre” (Is 30,19-20).
rumo o día” (SI 139,12). 3.11 Dar testemunho pode ser fungáo
3.3 Aquele que nasce “vè” a luz do dia profètica (Is 8,16); aqui Jesus aponta mais
(el. SI 49,20; Jó 3,16). O novo nascimen alto (ver no prólogo 1,18). O Apocalipse
to permite ver ou desfrutar o reinado de dá a Jesús o título de testemunha fidedig
I leus que se anuncia como um amanhecer na (Ap 1,5).
(el. SI 97,1.11). 3.12 A subida ao céu, se nao se toma
3.4 Entrar: como a semente na terra; a como a vertente ascendente da encamagáo,
palavra hebraica significa tanto a semente adianta a futura glorificado. Nesse senti
vegetal como o sèmen e a descendencia do o interpreta o versículo seguinte. Coisas
humana. terrenas sáo a mensagem da salvagáo, coi
3.5 Segundo a tradigáo, a água é o ele sas celestes sáo a origem e o itineràrio do
mento feminino. O Espirito, o elemento Filho de Deus, que “desceu” para tornar-se
masculino fecundante (alguns Padres alu “filho da humanidade”, homem. Jesús vem
den) inclusive ao “espirito” e ás “águas” dar testemunho e exige ser acreditado (aqui
ile Gn 1). Ver a interpretado de Tt 3,5 “nos podem ser lidos os versículos 31-36).
Milvou com o banho do novo nascimento 3.13 “Quem subiu ao céu e desceu? Quem
e a renovagáo pelo Espirito Santo”. encerrou o vento no punho?” (Pr 30,4) une
3.6 Ver o prólogo (1,13). E sobre a ge- a subida ao céu e o controle do vento.
iagáo, Ecl 11,5. Enuncia o principio da 3.14-21 Encadeando repetigóes verbais,
geragáo segundo a espécie natural, ou seja, Joáo distribuí várias sentengas em torno
“Adáo gerou á sua imagem e semelhan- da fé: crer para ter vida (vv. 14 e 16), in-
ga” (Gn 5,3). credulidade e condenagáo (v. 18), luz e tre-
3,8 Em grego como em hebraico, o mes- vas (vv. 19 e 21).
mo vocábulo pode designar o vento, o 3.14-15 Olhando para a serpente de
alentó, o espirito. À natureza do Espirito bronze igada num estandarte, os mordidos
Santo corresponden! a mobilidade, a liber- de serpentes se curavam (Nm 21,8-9) pela
JOÁO 296
sés no deserto levantou a serpente, as- de Deus. iyO julgamento trata dislo
sim será levantado este Homem, 15para luz veio ao mundo, e os homens preferí*
que quem crer nele tenha vida eterna. ram as trevas á luz. É que suas agot'l
16Deus tanto amou o mundo, que entre- eram más. 20Quem age mal detesta a lu
gou seu Filho único, para que quem crer e náo se aproxima da luz, para que u n
nao pereda, mas tenha vida eterna. 17Deus delate suas agóes. 21Quem procede lc.il
nao enviou seu Filho ao mundo para jul- mente aproxima-se da luz, para que
gar o mundo, mas para que o mundo se manifeste que procede movido por Den
salve por meio dele. 18Aquele que crer
nele nao será julgado; o que nao crer já Jesú s e Jo ñ o B atista — 22Um pouen
está julgado por nao crer no Filho único depois, Jesús com seus discípulos se di
iii'iii ;i Judéia; ficou ai com eles e co- náo sou o M essias, mas me enviaram á
a batizar. 23Também Joáo bati- frente dele. 29Quem tem a noiva é o noi-
i.iv.1 em Enom, perto de Salim, onde vo. Aquele que o ouve alegra-se por
lluvia agua abundante. A multidáo acor- ouvir a voz do noivo. E nisso consiste
11,1 1- se batizava. 24(Ainda nao haviam m inha alegría com pleta. 30Ele deve
pnslo Joáo na prisao.) crescer, eu diminuir.
Surgiu urna discussáo dos discípu-
ln'. de Joáo com um judeu a propósito E nviado de Deus — 3lQuem vem de
ili purilicagoes. 26Foram a Joáo e lhe cima está acima de todos. Quem vem
ilisseram: da térra é terreno e fala coisas terrenas.
Rabi, aquele que estava contigo Quem vem do céu está acima de to
na outra margem do Jordáo, de quem dos. 32Ele testemunha o que viu e ou
ili'sle testemunho, está batizando, e to- viu, e ninguém aceita seu testemunho.
ilns váo a ele. 33Quem aceita seu testem unho acredi
•''Joáo respondeu: ta que Deus é veraz. 340 enviado de
— Ninguém pode arrogar-se coisa Deus fala das coisas divinas, pois Deus
ultim a, se Deus nao a conceder. 28Vós náo dá o Espirito racionado. 350 Pai
f<uis testemunhas do que eu disse: Eu ama o Filho e póe tudo em suas máos.
viuia - esposa e esposo, voz e alegría - foi de; e assim o testemunho pode dar “vida
lomada de Jeremías, que a repete como eterna” ou colocar sob a “ira (condenado)
leitmotiv de tragédia e restaurado: “A voz de Deus”.
nlcgre e a voz gozosa, a voz do esposo e a 3.31 No contexto ¡mediato, este ver
voz da esposa” (com ritmo e rima no ori sículo poderia ser aplicado a Joáo e a Je
ginal hebraico: 7,34; 16,9; 25,10; 33,11; sus. Joáo ensina e prega práticas válidas
muda ressoa em Ap 18,23). Jesús é o Mes- aquí e neste regime. Jesus procede de ou
nias esposo, Joáo é o amigo que escuta. A tra esfera. Isolado do contexto, o versículo
"voz” precisa ser ilustrada com trechos do tem um alcance geral: só Jesús é media
( '('íntico dos Cánticos. E a esposa? Talvez dor da revelado definitiva (lJo 4,5). Mais
Joáo a tenha preparado com o banho de aínda: pela origem e pela glorificado (cf.
purificado (como é costume nos casamen- F1 2,9-11).
los). A voz da esposa talvez fique penden- 3.32 O “ninguém” se relativiza ñas pa-
Ic até chegar “a hora” da ressurreigáo. lavras seguintes (como ocorre p. ex. no
( 'rescer e diminuir sao os verbos da fecun- salmo 14). Ou seja, ninguém, se náo for
ilidade e sua antítese (Jr 30,19; cf. perú por revelado (Mt 11,27).
urcbu de Gn 1,28). Sáo as últimas pala- 3.33 Acredita: ou póe um selo. A aceita
vras de Joáo Batista neste evangelho. d o pela fé é correlativa da revelado, por
3,31-36Amaioria dos comentaristas pen- isso o homem pode acreditar que Deus é
sa que estes versículos sáo continuado dis- veraz no que revela ou fiel no que promete.
lante do coloquio de Jesús com Nicodemos; 3.34 Jesús é o enviado de Deus por
ns relagóes temáticas e verbais sáo abun antonomàsia; em fu ndo dele foram envia
dantes. Náo se tem atinado com a explica dos os profetas. É o Espirito que permite
d o do lugar que agora ocupam no relato. pronunciar “as palavras (oráculos) de
() texto se desdobra em antíteses elementa Deus”. Assim sucedía aos profetas do AT,
res, conforme o gosto de Joáo: celeste/ter embora possuíssem participares medidas
reno, crer/náo crer, vida/ira de Deus. do Espirito (cf. Nm 11 para o governo),
O discurso se remonta a uma visáo tri- ao passo que Jesus possui a plenitude des
nitária em agáo. O Pai ama o Filho, con- se mesmo Espirito.
lia-lhe tudo, dá-lhe o Espirito em plenitu- 3.35 E o amor trinitàrio que permitirá
ile, envia-o. O Filho cheio do Espirito dá definir “Deus é amor” (lJo 4,8). Como
lestemunho do que viu e ouviu (3,11), coi recebe tudo em suas máos, também pode
sas celestes. O homem acolhe esse teste- comunicar o Espirito (6,63). Esse tema é
inunho pela fé, recusa-o pela incredulida- desenvolvido ao longo do Evangelho.
JOÁO 298
36Quem eré no Filho tem vida eterna. 3abandonou a Judéia e se dirigiu nov.i
Quem nao eré no Filho nao verá a vida, mente para a Galiléia. 4Tinha de ati.i
pois nele perm anece a ira de Deus. vessar a Samaría. 5Chegou entáo a um
aldeia da Samaría chamada Sicar, peí
Jesús e a sam aritana — [Os fari- to do terreno que Jacó dera a seu fílln*
4 seus ficaram sabendo que Jesús ga-
nhava mais discípulos e batizava mais
José. 6A í estava o po§o de Jacó. Jesus,
cansado da viagem, sentou-se tranqiii
que Joáo. 2(Se bem que fossem seus dis lamente junto ao po<¿o. Era meio-du
cípulos que batizavam , nao ele pes- 7Chega urna mulher da Samaría pai.i
soalmente.) Quando soube disso, Jesús tirar água. Jesús Ihe diz:
3,36 Crer e náo crer sáo atitudes que cada de Os 2: infiel ao marido Yhwh (<
configuram a vida inteira, como vida eter 2,4.6), entregue aos ídolos amantes (2, /
na ou como fracasso definitivo. 9), pervertendo o culto (2,15), ameagad«
de morrer de sede (2,5); mas cortejad,i
4,4-42 Aqui temos um daqueles capí a sós por Yhwh (2,16), reconciliada (,'
tulos em que Joáo faz brilhar seu talento 17-18.21), de modo que comega um 11
de narrador e muito mais sua capacidade cío agrário (2,23-24) e a fecundidade dn
de entrelagar no relato, discretamente, mulher.
símbolos de perspectiva profunda. Sendo 4,4 Tinha que atravessar a Samaría. A
relativamente ampio o relato, convém in indícagáo geográfica exata e banal se caí
dicar alguns pontos de referencia do pro- rega de novo sentido. Na Samaría come
cesso. A principio, Jesús aparece sobre o ga quase o paganismo. Desde a conquislii,
paño de fundo patriarcal, doador de um deportagáo em massa e nova coloni/;i
dom táo precioso para os patriarcas co gao por obra da Assíria, a Samaría loi
mo a água. Segundo: Jesús é um profe olhada com hostilidade e desprezo pe
ta (v. 18): porque adivinha uns fatos ou los judeus; e ela correspondeu com su.i
porque denuncia urna conduta? Terceiro: hostilidade (p. ex. no tempo de Esdras c
Jesús é o Messias que também os sama- Neemias). Mas Jesús tem urna missáo n.i
ritanos esperam (v. 26). Quarto: é o Sal Samaría.
vador do mundo, na confissáo dos sama- 4,5-6a A primeira cena está sob o sinal
ritanos (v. 42). da água: elemento vital para o homem, di
No desenrolar do diálogo e das agóes modo especial para aquelas regióes e cuI
sucedem-se uns saltos temáticos que po- turas, elemento que se presta para o uso
dem desconcertar numa primeira leitura. simbólico. Dele o AT oferece abundante-
Da água do matrimonio (concubinato), testemunhos. Leia-se entre outros Gn 2f>
deste a urna consulta cultual; muda a cena para apreciar o que significavam os po
com a saída de um personagem e a chega- gos para aqueles pastores seminómades
da de outros, e surge o tema agrario da O Génesis náo menciona esse pogo; mn
colheita. Como se coordenam? Bebida e se Jacó comprou um terreno (Gn 33,19;
refeigáo sáo companheiras obvias; do pogo 48,22; Js 24,32), podemos deduzir qur
d’água ao matrimonio, o AT nos acostu- estava provído de um manancial. Os doi-,
mou a transitar pela via do símbolo. Mais dados, pogo e patriarca, sáo funcionáis no
difícil 6 o salto ao culto e sobretudo á ima- relato.
gem agrária. 4,6b A hora do calor (sexta = sesta), o
Pois bem, coloquemos como paño de cansago da caminhada, a sede junto ao
fundo o capítulo matrimonial de Os 2 pogo sáo elementos que o narrador pre
(com apoio em outros textos de Oséias), dispóe para trabalhar com eles.
e se justificará a construgáo de Jo 4, além 4,7 O diálogo vai ser um jogo de pe
de urna série de detalhes. Como o texto dir e recusar, oferecer e pedir; como de
de Oséias é concentradamente simbóli graus para subir e saltar ao plano superioi
co, ao sobrepor-lhe o de Joáo, este se tor do “dom de Deus”. (Diz um comentaris
na simbólico ao quadrado. A “mulher ta: como na cruz, pede água para depois
samaritana” é como a Samaría personifi- dá-la.)
299 JOÁO
4.8 O distanciamento dos discípulos “em ti está a fonte viva”; “com gozo tira
ilrixa a sós a mulher e o homem. Com de reis água do manancial da salvagáo” (Jr
licada discrigáo Joáo nos faz entrever o 2,13; SI 36,10; Is 12,3). A do pogo mata a
plano simbólico do amor. Junto a pogos sede cada vez que se bebe, e se torna a
«ucedem os encontros de Rebeca, Raquel, beber. A sua sacia a sede definitivamente
Se lora (Gn 24; 29; Ex 2,15-22); a esposa porque se converte dentro da pessoa em
é urn pogo (Pr 5,15-18). manancial. Que brotará perpetuamente ou
4.9 Para esta mulher, a caridade tem que comunicará uma vida ¡mortal. A água
lionteiras. Suas palavras expressam mais de Jesús pode ser sua revelagáo ou o dom
ilespeito que estranheza (Esd 4,3). do Espirito (7,37-38).
4.10 Soa o verbo “saber”, táo importan 4.15 Segundo mal-entendido ou corte do
te no evangelho de Joáo. E também em tema por enquanto. Da água do pogo Je
Os 2; “ela nao compreendia que era eu sús passa (bruscamente ou suavemente?)
i|iiem lhe dava...” concretamente (2,10) ao assunto matrimonial. Lendo Os 2,5, o
iliz que ela náo compreendia que era dom salto de Jo 4,16 surpreende menos: “eu a
ilo Senhor. Conhecer o dom e também a transformarei numa térra seca, a farei mor-
pessoa, “quem é”; dom que ela irá desco- rer de sede”. A mulher dos seis amantes
lirindo gradualmente “e conhecerás o Se sofre outro tipo de sede: “abre a boca ... t
nhor” (Os 2,22). * Ou: água de manancial. bebe de qualquer fonte que aparece” (Eclo
4,11-12 Primeiro mal-entendido (no es- 26,12).
Iilo de Joáo). A sutil ambigüidade de “água 4.16 Ir buscar água na fonte pública era
viva” ela a resolve em “água de nascente, tarefa normal das mogas (Rebeca, Raquel,
nao estancada” ou recolhida em cisternas Séfora) e o seria também das casadas,
(cf. Jr 2,13; Is 48,21). Táo rico é o manan como fungáo doméstica. Pela idade da
cial do lugar, que desde os tempos do pa mulher, pode o viajante deduzir que é ca
triarca Jacó está manando e matando a sede sada, só que Jesús olha mais longe.
de geragóes. Náo se crerá maior que Jacó, 4.17 A palavra grega significa homem/
o judeu viajante, o pai das doze tribos (Gn varáo e marido (como na nossa língua
■18,22). “mulher”), o que permite o jogo de pala
4,13-14 Jesús revela o sentido simbóli vras que se segue. Ver também a sutil e
co das suas palavras, a sua interpretagáo grave distingáo de Os 2,18.
da água, de acordo com a tradigáo bíblica: 4.18 O número exato de cinco poderia
"Abandonaram-me, fonte de água viva”; aludir ao comego da idolatría ou sincre-
JO Á O
H "'A iimlher deixou o cántaro, foi á clareando para a colheita. 360 ceifador
«Mxln r disse aos vizinhos: já está recebendo sua diária e colhendo
,gV¡nde ver um hom em que me fruto para a vida eterna; assim o cele-
h M|Iiiii o i|iic fiz: será ele o Messias? bram semeador e ceifador. 37Desse mo
*Tlrs saíram da aldeia e acorreram do se cumpre o refráo: um semeia e ou-
f f|t< "Entretanto, os discípulos lhe tro ceifa. 38Eu vos enviei para colher
onde nao trabalhastes. Outros trabalha-
Knbi, come. ram e vós entrastes para tirar proveito
« h e lites disse: de suas fadigas.
lenho um sustento que vós nao 39Nessa aldeia muitos creram nele pe
üMfllirccis. lo que a mulher contara afirmando que
)s discípulos comentavam: lhe tinha dito tudo o que fizera. ^'Os sa-
Será que alguém lhe trouxe de maritanos acorreram a ele e lhe pediam
WMiirr? que ficasse com eles. Permaneceu ai dois
“ Irsus lhes diz: dias, 41e muitos outros creram por causa
Meu sustento é cum prir a vontade das palavras dele; 42e diziam á mulher:
il*i|iirle que me enviou e term inar sua — Já nao eremos pelo que nos con
iiliiit l5Náo dizeis vós que faltam qua- taste, pois nós m esm os escutam os e
Ifn meses para a ceifa? Pois eu vos digo: sabemos que este é realmente o salva
levantai os olhos e observai os cam pos dor do mundo.
tuli versa sobre coisas sérias com mulhe- dourados de espigas, o traballio, o salàrio
im (cf. Eclo 9,3.5.8.9 no contexto) O e o gozo da colheita (Is 9,1; SI 4,8), o re
muñidor testemunha a liberdade limpa de fráo resignado “um semeia, outro ceifa”.
I u k i i s . Eia, interiormente transformada, O sentido transcendental é transparente. Os
Mitncça sua campanha de divulgaçâo so- profetas semearam a seu modo, e Jesús está
lifrpondo os dois títulos: o de profeta adi- semeando. Ai já existe urna messe espiga
vIiilio certo (cf. Os 7,1 “manifesta-se o da, os samaritanos maduros para a fé (a
ilrlito”), e o de Messias duvidoso. Foi con- Samaria que Yhwh semeará para si, Os
lugiada pelo desejo missionàrio. 2,25). Fica pendente uma colheita maior que
4,31-34 A refeiçâo forma díptico com a caberá aos discípulos recolher. A colheita
liebida. Desta vez sao os discípulos a to- escatològica: “Naquele dia o Senhor tri-
inarcm a iniciativa, e acontece outro mal lhará as espigas desde o Grande Rio até a
entendido, que provoca a explicaçâo trans Torrente do Egito; mas vós, israelitas,
cendente. É algo que tampouco os íntimos sereis respigados um por um” (Is 27,12).
"sabem, conhecem”. O que alimenta e dá Todo um programa missionàrio.
forças a Jesús é cumprir o designio daquele 4,39-42 Sucede uma conversáo prodi
que o enviou (variante de Dt 8,3); o ali giosa de samaritanos semipagáos. A mu
mento já náo é a lei nem a sabedoria (SI lher foi a evangelizadora (adiantando-se a
19,11; Pr 9,5; Eclo 24,18). Cabe a Jesús Maria junto ao sepulcro, 20,11-18) e de-
terminar a tarefa que Deus suspendeu no sencadeou um processo. Ao ouvi-la cre
Nétimo dia da criaçâo (Gn 2,2). ram “nele”; crendo acorreram a ele; ou-
4,35-38 O que foi a açâo de Jesus pre vindo-o creram mais e melhor. E fazem
gando a uma semipagá, eleva-se a princi sua profissáo de fé, “sabemos, conhece-
pio e exemplo de expansáo missionària. mos” que Jesús é o Salvador do mundo
Da refeiçâo se passa suavemente ao tema (cf. Is 45,15.21) náo só de judeus e sama
agràrio: semeadura, ceifa e colheita, como ritanos; náo só profeta ou Messias po
itnagens do ministério presente de Jesus e lítico. O Salvador é e traz a salvagáo,
futuro dos discípulos. Pode-se comparar revelado e vida. O título pagáo de sobe
com a versáo breve dos sinóticos (Mt 9,37; ranos, assumido pelos cristáos e predi
[j: 10,20). Pertencem à linguagem corrente cado de Jesús, adquire um sentido novo,
a frase (provèrbio?) “daqui a quatro me autèntico, definitivo. Título que já lemos
ses a ceifa”, a visáo oposta dos campos já no AT.
JOÂO 302
4,43-45 Terminada com grande éxito a 1,22), ele insiste alegando a urgéncia. Qu;m
jnissáo na Samaría, Jesús retorna á Gali do Jesús pronuncia sua palavra, o homem
léia, onde é bem recebido, embora super eré nele. Quando comprova cuidadosa
ficialmente: pelos milagres presenciados mente o milagre, creu nele com toda a fa
em Jerusalém. O v. 44 é uma variante do mília. Jesús náo desceu a Cafarnaum, foi
que se le nos sinóticos (Me 4,4; Le 4,24) sua palavra que alcangou eficazmente o
fnelhor situados. Para que tenha sentido moribundo: no Logos havia vida (1,4), “a
¿iqui, nao podemos referi-lo á Galiléia, mas Palavra de vida. A vida se manifestou: nós
gim á Judéia, apoiando-nos em 4,22: o a vimos e damos testemunho” (lJo 1,1-2).
¡Vlessias é judeu de tribo, e entre “os ju- Que o pai arraste a familia inteira é cor
¿leus” encontrou hostilidade. rente, dada a estrutura familiar da época
4,46-54 Por meio de uma inclusáo, Joáo (ver p. ex. o caso de Cornélio em At 10).
define um ciclo de atividades de Jesús,
para tanto, transiere a cena dos sinóticos 5,1 Cometa uma série com uma indica
(M t 8,5-13 e Le 7,1-10) a Caná, com os re gáo temporal vaga: “uma festa”. Uma tra
toques correspondentes. O primeiro sinal digáo antiga e alguns manuscritos infor
s e insere na plenitude da vida, uma festa mam que era a Páscoa. Por esse dado c
¿e casamento; o segundo está no limite da porque a multiplicado dos páes acontece
vida e da morte, um ponto que nao pede na Galiléia, alguns comentaristas invertem
jtiuita elaborado simbólica. Joáo náo diz a ordem dos capítulos 5 e 6. O texto do
que o homem era pagáo; apresenta-o como relato só esclarece que era sábado. O ca
funcionário do rei (tetrarca) Herodes An pítulo 6 se coloca pouco antes da Páscoa:
tipas, com residéncia em Cafarnaum. O 7-8 pertencem á festa das Tendas; 10,22-
doente náo é o criado, mas o filho. Se o 39 á Dedicagáo. Dessa maneira Joáo repai
j^iilagre demonstra o poder de Jesús dian te a atividade de Jesús pelas festas tradicio-
te da morte iminente (cf. SI 30), o funcio nais judaicas. Deixada a Galiléia, o campo
nario encena o processo da fé. Cometa de operagóes seráo Jerusalém e Judá.
com um ato de confianza baseada na fama O desenvolvimento da perícope é sim
¿e Jesús, a quem pede um milagre. Quan- ples: após um relato de milagre (1-9) veni
¿o Jesús critica a ánsia de milagres (lCor uma controvérsia sobre o sábado (10-18);
303 JOÁO
— Ve: Estás curado. Nao voltes a pe Autoridade de Jesús — 19Jesus tomón
car, para que nao te acóntela algo pior. a palavra e lhes disse:
lsO homem foi e disse aos judeus que -— Eu vos asseguro:
era Jesús quem o havia curado. 16Por O Filho náo faz nada por sua conia
esse motivo os judeus perseguiam Jesús se náo vé o Pai fazer.
por fazer tais coisas no sábado. 17Jesus, O que este faz
porém, lhes disse: o Filho o faz igualmente.
— Meu Pai continua trabalhando e 20Porque o Pai ama o Filho
eu também trabalho. e lhe mostra tudo o que faz;
18Por esse motivo os judeus, com mais e lhe mostrará agóes maiores,
em penho, tentavam m atá-lo, porque para que vos admiréis.
nao só violava o sábado, mas além dis 21Assim como o Pai levanta os morto',
so cham ava a Deus de seu pai, igualan- e lhes dá vida,
do-se a Deus. assim o Filho dá vida aos que quei
li'xlo AB); numa poderosa imagem (Is siculo com o detalhe “já chegou”. Esses
'(1,14-19). Ver-se-á em Lázaro e no que “mortos” sao os que ainda náo créem, os
c”.sa ressurreigáo simboliza, a vida nova quais, se ouvirem e atenderem à chamada
ipic o Filho “quer dar”. do Filho de Deus presente, dele receberáo
5,22-23 A tarefa de “julgar” (talvez em a vida autèntica e definitiva. Porque o Fi
•icntido ampio) o Pai a delega ao Filho: lho, como o Pai, possui essa vida e pode
runfia teu julgamento ao rei, tua justiga a comunicá-la (Jo 1,4; lJo 1,1-4).
mu filho de rei” (SI 72,1) e com eia a hon- 5,27-29 Passa à escatologia adiada, ou
iii conseqiiente). Por isso, a honra presta seja, ao futuro juízo final. Jesús, como
da ao Filho redunda no Pai (cf. Eclo 3,11). homem e segundo a visáo de Daniel (Dn
5,24 “Julgamento” significa aqui um 7,14), recebe do Pai o poder de julgar em
discernimento, urna prova e comprovatilo última instáncia, no juízo definitivo, ao
di: qualidade, antes de aceitar e acolher qual deveráo comparecer todos (Dn 12,2):
(como a selegáo que Yhwh anuncia em Ez uns para a vida, outros para a condenagáo:
.’0,35-38). Pois bem, os que ouvindo a essa é a alternativa. A palavra grega signi
palavra de Jesus creram no Pai nao sao fica em primeiro lugar o levantar-se e, dai,
submetidos a esse julgamento de compro ressuscitar. Os que jazem “poem-se de pé”
v a lo , porque crendo já deram o grande (Ez 37,10) para comparecer.
passo “da morte á vida”. Ou seja, a vida 5,30 Com este versículo retoma ao tema
definitiva que Jesús comunica pela fé. do cometo e concluí. Sua sentenza pre
5,25-26 Há urna escatologia iminente, sente e futura é justa (cf. Is 11,3), náo é
urna adiada, uma antecipada ou realizada. parcial (cf. 2Cr 19,7; At 10,34; Rm 2,11)
A primeira produz a expectativa de comu nem interessada; ajusta-se ao designio da
nidades primitivas, que consideravam pró quele que o enviou.
xima a vinda gloriosa do Senhor. A adiada 5,31-47 Um segundo discurso de Jesús
se impòe quando passa uma geragáo sem versa sobre o testemunho, tema central
que chegue a parusia. A antecipada diz que deste evangelho. E necessàrio um teste
il escatologia já está em ato, na comunida- munho que garanta a missáo de Jesús. Tes
de cristá, desde a ressurreicáo de Jesús. temunho em pròpria causa náo vale (cf.
Também se pode chamar escatologia 8,14.17; Pr 27,2); é necessàrio o testemu
presente: é a que Joáo propoe. Neste ver- nho alheio de uma testemunha fidedigna
JOÁO 306
(Pr 14,5.25). Jesús conta com os seguin- 5,37-38 Propóe très manifestaçôes de
tes testemunhos: um humano de Joáo Ba Deus: a voz, a figura, a palavra. Dado que
tista (1,17-29), as obras milagrosas que junta e nega voz e figura (como Ct 2,8) <■
realiza por ordem do Pai (3,2; 10,25), o dado que no Sinai ouviram a voz de Deus,
celeste do Pai (provavelmente alude ao será preciso explicar de outro modo o
batismo, embora Joáo náo o narre; mas versículo presente. Ou se toma “voz” no
veja-se IJo 5,9-10), a Escritura, em parti mesmo plano que imagem, a realidade de
cular Moisés. Deus que excede os sentidos, ou se tom.i
Mas seus interlocutores náo se rendem o verbo “escutar” em sentido modal de
ante tantos testemunhos. Aceitaram a aceitar e submeter-se (em hebraico sm
“lámpada” de Joáo, mas náo a luz que ela bqwl = obedecer). Sobre o ver imagem
refletia e anunciava (1,8); as obras mila Dt 4,12; Ex 33,20.
grosas os desqualificam (5,18); do Pai náo Por sua vez, a “palavra” eles a recebe
conservam a palavra; a Escritura náo a ram por meio de Moisés e dos profetas
querem entender porque se negam a olhar “Muitas vezes e de muitas formas falou
na diregáo para onde ela aponta (cf. 2Cor Deus no passado a nossos pais por meio
3,13-14); em Moisés náo créem (cf. Ex 6,9 dos profetas. Nesta etapa final nos falou
como antecedente). A razáo de tanta resis por meio de um Filho” (Hb 1,1-2).
tencia é que vivem fechados num círculo 5,39 O estudo da Escritura (SI 1,2) es
vicioso, num sistema de louvores mutuos pecificando “lei, sabedoria, profecía, pa
e complacencias partilhadas, como intér rábolas, provérbios e enigmas” (Eclo 39,
pretes oficiáis e reconhecidos da lei. Fe 1-3). A Escritura transmite vida eterna se
chados no sistema, praticamente dáo tes conduz a Jesús (cf. 2Cor 3).
temunho em próprio beneficio. Usam a lei 5.41 A honra e o crédito de Jesús náo
e as observancias como instrumentos de dependem do que os homens dizem e pro
prestigio; só recebem a quem se apresenta pagam, tantas vezes interessados e mali
aceitando o sistema. A Jesús, que se dis ciosos. Assim o aprendeu Paulo (ICor
tancia e denuncia, náo o recebem. 4,3).
5,32 Fala em categorías jurídicas, pro- 5.42 O amor de Deus: o de Deus ao ho
cessuais. Este outro, embora náo alheio, é mem, que eles náo conservam quando se
o Pai. fecham para ele. Ou o do homem a Deus,
5,34 Se insiste em acreditar-se, é por que eles náo tém porque estáo dominados
que nisso está a salvaqáo dos homens, que pelo egoísmo e desejo de honrarías. Na
é sua missáo. falta dele, submetem-se a qualquer que
307 JOÁO
"I ii vim cm nome de meu Pai, e nao D á de com er a cinco mil (M t 14,
me rccebeis;
se outro viesse em nome próprio,
6 13-21; Me 6,30-44; Le 9,10-17) —
'A lg u m tem po depois, passou Jesús
vos o receberíeis. para a outra margem do lago da Galiléia
''( orno podéis crer se, recebendo hon- (o Tiberíades). ~Seguia-o grande mul-
niS mutuas, tídáo, pois viam os sinais que fazia com
nao buscáis a honra que vem so os doentes. 3Jesus se retirou a um m on
monte de Deus? te e ai sentou-se com seus discípulos.
' Nao penseis que serei eu quem vos 4Aproxim ava-se a Páscoa, a festa dos
■misará diante do Pai; judeus. 5Levantando os olhos e vendo
Moisés, em quem confiáis, vos acu a multidáo que acorría a ele, Jesús diz
sará. a Filipe:
"'Pois, se crésseis em Moisés, creríeis — Onde compraremos páo para que
cm mim, comam?
pois ele escreveu a meu respeito. 6(Dizia isso para pò-lo à prova, pois
'WE se náo credes no que ele escreveu, sabia bem o que iria fazer.) 7Filipe lhe
como iréis crer em minhas palavras? respondeu:
pretenda ter autoridade, talvez a falsos pro- 6,3-15 Este milagre é contado pelos qua-
idas ou falsos messias. tro evangelistas e duas vezes por Mt e Me.
5.44 A gloria que só Deus dá (náo ou- As seis redagòes testemunham a venera-
liu), que dá (sem merecimentos), que é a gao com que as primeiras comunidades
auténtica. cristas conservaran! e transmitiram o mi
5.45 De mediador da lei Moisés se con lagre. O fato, na redagáo final do capítulo,
vierte em testemunha de acusagáo ou em diz respeito ao passado, a Moisés, aos
liscal que acusa: “Este cántico será minha israelitas e ao maná no deserto (Ex 16), a
lestemunha contra os israelitas... Este có Eliseu (2Rs 4,42-44); diz respeito ao futu
digo da lei... que fique como testemunha ro (presente para os evangelhos escritos),
i imtra ti” (cf. Dt 31,19.21.26). á celebragáo eucaristica. E que o milagre
5.46 Onde na toral Talvez nos oráculos se dirige a urna das necessidades básicas
ilc Balaáo, tidos por messiánicos (Nm 23- do homem: o alimento, que por isso é ge-
14) ou no testamento de Jacó (Gn 49,10), rador de símbolos. Joáo vai conceder mais
ou implícitamente ñas promessas a Abraáo. espago á exploragáo simbólica do que ao
relato. Por essa razáo (ou porque depende
6,1-2 As mudanzas de cenário servem, de outra tradigáo), a versáo de Joáo ignora
no narrador, de pegas de transigáo e pres- alguns detalhes significativos.
lam-se para introduzir episodios novos. O relato presente destaca a iniciativa de
I’or isso estes versículos se ligam com Jesus: arrastou o povo a uma regiáo dis
outros do capítulo (vv. 15.22-25). Geogra- tante e afastada, observa-o, provoca o dis
lieamente tudo acontece no lago e em tor cípulo, controla seu plano, dá as ordens
no dele. Em termos de atitude de Jesús, antes e depois, ele mesmo reparte o páo.
aprecíam-se o duplo movimento de retirar O povo o receberá como dom, de sua máo.
se á solidáo e de voltar para a multidáo. Filipe e André representam a visáo huma
Ketira-se, porque o povo busca milagres e na, de um realismo impotente, forgada a
náo fé; volta, por causa da necessidade fí calcular sem resolver (o denário era a dià
sica e espiritual do povo. Na primeira par ria de um operário); ao mesmo tempo dáo
le do capítulo, acontece a seqüéncia co- voz á necessidade humana. “Acorrer a Je
mum aos evangelistas de dois milagres: a sus” (v. 5) significará passar fome?
lefeigáo prodigiosa e o caminhar sobre a 6,4 Segundo Js 5,10-12, com a primeira
ligua do lago (1-15.16-24). Segue-se o am Páscoa em Canaá termina o maná próprio
pio discurso sobre o páo da vida (25-50), do deserto. A última páscoa de Jesús ce
com o qual enlaga-se o discurso eucarístico derá passagem ao novo maná.
(51-59), e concluí com a reagáo de apos- 6,5-6 Aprova supóe a ignoráncia do que
tasía e a confissáo de Pedro. é provado (exemplo clàssico, Abraáo, Gn
JOÁO 308
— Duzentos denários de pao nao bas- — Este é o profeta que devia vir ,m
tariam para que cada um recebesse um mundo.
pedago. 15Jesus, sabendo que pensavani m
8Um dos discípulos, André, irmáo de para levá-lo e proclamá-lo rei, retiroii
Simáo Pedro, lhe diz: se novamente sozinho ao monte.
— 9Está aqui um menino que tem cin
co páes de cevada e dois peixes; porém, C a m in h a s o b re a s á g u a s — 16Ao
o que é isso para tanta gente? entardecer, os discípulos desceram :m
10Jesus disse: lago. 17Embarcaram e atravessaram o
— Fazei o povo sentar. lago em diregáo a Cafarnaum. Havia
(H avia grama abundante no lugar.) escurecido e Jesús ainda náo os tinlia
Sentaram. Os homens eram cinco mil. alcanzado. 18Soprava um vento forte i
n Entáo Jesús tomou os páes, deu gra- o lago encrespava. 19Quando haviam
gas e os repartiu aos que estavam sen remado uns cinco ou seis quilómetros,
tados. Fez o mesmo com os peixes: tudo viram Jesús que se aproximava do bai
o que queriam. 12Quando ficaram sa- co caminhando sobre as águas, e se as
tisfeitos, Jesús disse aos discípulos: sustaram. 20Ele lhes diz:
— Recolhei as sobras, para que nada — Sou eu, náo temáis!
se perca. 21Quiseram recolhé-lo a bordo, e ime
13Recolheram -nas e, com os pedamos diatamente a barca chegou á térra para
dos cinco páes de cevada que sobraram onde se dirigiam.
dos que comeram, encheram doze ces
tos. f4Quando o povo viu o sinal que O páo d a vida — 22Na manhá seguin
fizera, disseram: te, a m ultidáo que ficara na outra mar
22). Joáo joga com o equívoco e o mal 6,16-21 Após a tarde feliz, a noite; após
entendido. a incompreensáo do povo, a revelagáo aos
6,8 O páo de cevada era páo modesto, discípulos. A versáo do milagre no lago c
de pobres ou gente simples. A historia de muito simples e despojada; náo é fácil re
Eliseu (2Rs 4,42) o menciona, e ele ocupa construir a cena. Náo faltam os elementos
todo o relato de Rute (um clássico do ho- simbólicos: a noite, o mar agitado, com
mem e do Deus doador). ressonáncias mitológicas clássicas (SI 93
6,10 O detalhe da reiva náo facilita a par.), a ausencia de Jesús. Em troca, falta
alusáo aos israelitas no deserto. a ordem soberana de Jesús que acalma o
6,11a A fórmula é inconfundivelmente mar (nos sinóticos). Seu dominio ele o
eucarística. manifesta “passeando” sobre a água: “e
6,llb-13 Comem quanto querem, ficam náo ficava rastro de suas pegadas”; cami
saciados, sobra: Jesús representa a gene- nha sobre o dorso do mar (cf. SI 77,20; Jó
rosidade de Deus “que alimenta a todos”, 9,8); o que precisa aquietar sáo os temo
“que abre sua máo e sacia todo ser viven- res dos discípulos. Ele o faz com a fórmu
te” (SI 136,25; 145,15). Náo sabemos se la tradicional “náo temáis”, e com a fór
com os doze cestos alude as doze tribos. mula freqüente em Jo de auto-revelacáo,
Fica claro que náo se deve desperdigar o “sou eu” (eco de Ex 3,14). Pode-se cha
dom de Deus. mar este relato de epifanía ou cristofania,
6,14-15 O profeta ao qual se alude é o porque nele se manifesta sensivelmente a
anunciado em Dt 18,15.18, sucessor de divindade poderosa.
Moisés para instruir o povo. Por seu tumo, 6,18 É oportuno recordar o relato de
o “rei” é o Messias descendente de Davi. O Joñas e o SI 107, sobre os perigos do mar.
segundo adquire um caráter político que 6,22-25 Estes versículos servem para
Jesús quer evitar a todo custo. O povo in- mudar o cenário por via marítima, da zona
terpretou mal e superficialmente o milagre. oriental do lago á ocidental. O narrador,
Jesús busca a fé, náo o entusiasmo esporá que transportou fácilmente os discípulos
dico e menos ainda o fanatismo agressivo. e Jesús, náo acerta ao transportar o povo.
309 JOÀO
geni viu que ali nao havia senáo um bote, — Eu vos asseguro que me procuráis,
»mulo que os discípulos tinham ido so nao pelos sinais que vistes, mas por
rullos e Jesús nao fora com eles. 23De que ficastes saciados de pao. 27Traba-
libertades chegaram outras barcas per lhai, nao por um sustento que perece,
iodo lugar onde Jesús dera graqas e eles mas por um sustento que dura e dá vida
llnham comido o pao. 24Quando a mul- eterna; aquele que este Homem vos da
Ililao viu que nem Jesús nem seus discí rá. Nele Deus Pai pos o seu selo.
pulos estavam ali, embarcaram nos bo 28Perguntaram-lhe:
les e se dirigiram a Cafarnaum á procura — O que devemos fazer para traba-
tic Jesús. 25Eles o encontraram na outra Ihar ñas obras de Deus?
imirgem do lago e lhe perguntaram: 29Jesus lhes respondeu:
— Rabi, quando chegaste aqui? — A obra de Deus consiste em que
•'’Jesús lhes respondeu: creíais naquele que ele enviou.
(Quantos botes precisaram para atraves do Senhor” (Am 8,11); b) obras/fé (cf. Is
ar? quanto tempo?) Mais importante é a 30,15); c) o maná de Moisés/o maná de
tunexáo teológica, a referéncia ao mila- Jesús: “Os israelitas comeram maná du
Hrc em termos de eucaristía (v. 23) e o fato rante quarenta anos... até atravessar a fron-
tic que o povo procura Jesús e acorre a ele. teira de Canaá” (Ex 16,35).
6.25-26 A pergunta tem sentido depois 6.26 Jesús lhes responde. De certo
ilu transiçâo marítima, mas nao tem senti- modo, essa expressáo abrange os vv. 26-
ili) para introduzir a primeira resposta bre 58. Como orientar-se neles se os temas se
ve, nem muito menos o colossal discurso entrecruzan!, as citagóes e alusóes bíblicas
que se segue. É preciso 1er obliquamente, se acumulam, as perguntas e objegóes
pura que vise mais alto: quando, como, de mudam a perspectiva? Como se articula o
imde chegaste? A vinda de Jesús é trans discurso? A divisáo temática se esfuma, o
cendente. Nesse sentido a pergunta se en diálogo faz girar a exposigáo, repetindo e
cuadra. Também a resposta destoa se con avanzando.
sideramos que acabam de presenciar o Aceitamos como hipótese comum a di
«¡nal do pao e por ele acorrem a Jesús. Mas, visáo: vv. 25-34 à maneira de introdugáo
em outro plano, a resposta é justa: sacia- ao tema; vv. 35-50 homilía sobre o pao e a
rum-se de pao, viram-no como prodigio, fé; vv. 51-58 exposigáo eucaristica. Redu-
mas nao como sinal que revela Jesús; acor- zimos o conjunto a dois temas simples:
rcm ao milagreiro, nao ao enviado de dou o páo = palavra ou ensinamento ou
Deus. revelagáo; sou o páo = corpo. O primeiro
A questáo do pao é perfeitamente para predomina nos vv. 35-50, o segundo do
lela à questáo da água. A samaritana se v. 51 a 58.
ilcslumbrava com o sonho de urna água, Sao referentes á Escritura as passagens
material, que poupasse trabalhos e solu- que falam de comer em sentido figurado.
cionasse problemas indefinidamente. O 6.27 Possível alusáo a Ex 16,20 (se nao
povo se entusiasma com um pao, recebi- o é, serve de ilustra§áo): o maná guardado
ilo milagrosamente sem trabalho e que para o dia seguinte se estragava, o que
conserve a vida — indefinidamente? En guardavam para o sábado se conservava.
tender um milagre como sinal é remontar E o mesmo esquema da água da samaritana
no assinalado; pois bem, o milagre de um (cap. 4). O selo dá garantía, e este Homem
pao que prolonga a vida cotidianamente (por antonomàsia) traz o selo de Deus que
iiponta para o dom de um pao que instaura é o Espirito (Ef 1,13; 4,30; 2Cor 1,22).
urna vida nova, eterna, dom de Jesús. O 6,28-29 A pergunta retoma o verbo “tra-
versículo 26, com a antítese explicada, soa balhar”: para ganhar o páo é preciso fazer
como programa de quanto segue. as tarefas designadas pelo patráo. Obras
6.26-34 Diálogo em très turnos, a) Páo de Deus sao as que Deus exige na alianqa;
que perece/pâo que dura: “nao fome de pao representam o regime da antiga alianza.
nem sede de água, mas de ouvir a palavra No novo regime, a muitas obras corres-
JOÁO 310
ponde urna obra, e ela consiste em crer no é fundamental Dt 8,3 e por contraste (¡n
enviado de Deus. A fé é obra de Deus. Indo 2-3 sobre a árvore da vida.
atrás de Jesús, receberam o páo como dom, Do estilo homilético podemos mencio
nao por seu trabalho; pois agora seu es- nar (segundo o narrador, Jesús prega numa
forgo deverá ser crer em Jesús e receber a sinagoga): a citagáo da Escritura como tem í
salvagáo como dom. (v. 31), o comentário e seus elementos, co
6,30-31 Para crer pedem credenciais. mer-páo-céu, uma citagáo de profetas (v
Como se o milagre do páo náo fosse si- 45), conclusáo repetindo o tema.
nal, e de fato náo o entenderam como sinal. 6,35 Enuncia e explica uma tese. Com
Moisés, mediador da alianga, podia apre- pare-se com o que diz a Sabedoria: “Quem
sentar o prodigio cotidiano e celeste do me toma como alimento terá mais fomc,
maná (Ex 16; Nm 11,7-9; SI 78,24; Sb 16, quem me bebe terá mais sede” (Eclo 24,
20-21). Entra no diálogo a expressáo “páo 21). Na raiz o homem tem fome e sede
do céu”. de vida. Comer e beber estáo ordenados
6,32-33 A contraposigáo relativiza o á vida, sao necessidades vitáis. Tal dese-
antigo. O dom do maná ocupa um lugar jo sublima-se na ánsia de vida sem fim.
importante na tradigáo bíblica. Narra e Essa ánsia somente Jesús a satisfaz. A ar
adorna o episodio Ex 16, registra seu final ticulagáo comida e bebida poderia indi
Js 5, canta-o o SI 105,40 e ainda ressoa car uma reminiscencia eucarística; também
em Sb 16.0 doador náo era Moisés, e aque pode ser devida ao paralelo táo sugestivo
le páo náo era realmente celeste. A realida- desta segáo com o diálogo com a sama
de está aquí: o doador é o Pai, o dom é ritana (no qual também havia bebida e
Jesús, sustento da vida nova. A mediagáo comida). Vir a ele e crer nele sáo equiva
de Moisés fica perfeitamente superada. lentes.
6,34 Parece com o pedido da samaritana 6,36-37 Viram o milagre, náo o pene
(4,15); no Pai-nosso se pede “nos dai hoje” traram como sinal, náo acreditaram na
(Mt 6,11). A petigáo serve para introduzir pessoa de Jesús. E o olhar superficial que
a nova segáo, sobre o páo da vida, que é náo penetra na realidade. A este se opóc a
em primeiro plano o ensinamento e no se comunidade dos fiéis que Jesús recebe
gundo plano a eucaristia. como dom do Pai. O Pai tem a iniciativa:
6,35-50 O uso do páo ou do alimento envia seu Filho, recomenda-o aos que eré-
em sentido figurado é conhecido na Es em, designa-lhe uma missáo salvadora.
critura. Os profetas o aplicam á palavra de “Langar fora” pode ser reminiscencia da
Deus: o citado Am 8,11; de modo especial expulsáo do paraíso (Gn 3); também po-
Is 55,1-11, que soa quase como paralelo deria aludir polémicamente á prática de
do texto que comentamos. Os sapienciais excomungar da sinagoga (cf. Jo 9,22).
o aplicam á sabedoria ou sensatez: Pr 9,1- 6,39-40 O último dia é o dia do juízo
6; Eclo 15,3; 24,18.21-22. No Pentateuco, final (11,24; 12,48). A vontade do Pai é a
311 JOÁO
uli.i vida eterna, e eu o ressuscitarei no Pai. 47Eu vos asseguro que quem eré
iillimo dia. tem vida eterna. 48Eu sou o pao da vida.
"O sjudeus m urmuravam porque ha- 49Vossos pais comeram o m aná no de
>ni dito que ele era o pao descido do serto e morreram. 50Este é o pao que
i ni; 42e diziam: desee do céu, para que quem o comer
- Este nao é Jesús, o filho de José? nao morra. 51Eu sou o pao vivo desci
Ñus conhecem os seu pai e sua máe. do do céu. Quem comer deste pao vi
i orno diz que desceu do céu? vera sempre. O pao que eu dou para a
1'Jesús lhes disse: vida do mundo é a minha carne.
— Nao murm uréis entre vós. 44Nin- 52Os discípulos comecaram a discutir:
üiiem pode vir a mim, se o Pai que me — Com o pode este dar-nos de comer
t'iiviou nao o atrair; e eu o ressuscitarei sua carne?
mi último dia. 45Os profetas escreve- 53Jesus lhes respondeu:
iiiin que todos serao discípulos de Deus. — Asseguro-vos que, se nao comerdes
Oucm escuta o Pai e aprende, virá a a carne e beberdes o sangue deste Ho
mim. 46Náo que alguém tenha visto o mem, nao tereis vida em vós. 54Quem
caristia para conseguir a vida eterna. Afir- atragáo do Pai e pelo dom do Espirito scrsi
maçâo e nao raciocinio, que a fé capta e aceito e será vivificante.
aceita. Jesús se entrega como alimento 6,60-61 E duro pelo que propóe e pcln
dessa vida participada do Pai, que agora que exige. Náo é duro para a fé. Escula
ele comunica aos fiéis. Porém, “comer e lo, aceitando. O escándalo é o contràrio
beber” náo sáo atos puramente mentais, da fé; é tropero que faz cair.
mas a eucaristía é “verdadeira comida e 6,62 A expressáo grega é urna protese
bebida”. Realismo sensível do sacramento. sem apódose; o que falta é suprido pel.i
6,56-57 Esta vida já está presente na- frase precedente (segundo a tradugáo)
quele que eré e come, mas alcançarà sua Alguns autores buscam uma apódose: aca
plenitude na ressurreiçâo futura. A fórmula baria o escándalo, se esclareceriam minha:.
“eu nele e ele em mim” procura expres- palavras (Is 31,3; cf. 2Cor 3,6). Porém
sar, com mais força do que usando a pre- para a incredulidade, ver esse homem, Je
posiçâo “com”, a uniáo íntima e perma sus, glorificado, seria mais insuportável.
nente. Explica-o e completa-o a fórmula 6,63-64 Opera com uma semelhanga d e
seguinte “viver por”. Aduzir como mode proporgáo. A carne, ainda que orgánica,
lo e exemplo de dita uniáo do Filho com o sem o principio vital do alento ou espiri
Pai é o máximo que se pode dizer. Está to, está morta e náo percebe. De modo se
claro que aqui se coloca a questáo vital melhante o homem carnal se encerra em
para o homem. um horizonte puramente humano, e nao
6,60-71 Há talvez razóes para pensar que percebe mais além. Somonte o principio
em algum momento esses versículos vi- vital do Espirito ergue a uma vida supe
nham ¡mediatamente depois do v. 50. Si rior com horizonte novo. O dom do Espi
gamos a hipótese. O escandaloso é que rito sucede á ascensáo, tarnbém em Joáo
diga que desceu do céu, e ele responde que (7,38-39; 20,22). Veja-se o paralelo no diá
há de subir para lá outra vez. A carne in logo com Nicodemos (3,13).
válida é a condiçâo humana entregue ás 6,66-67 Isto supóe um grupo maior de
suas forças (náo a carne eucarística). Pedro discípulos, dos quais se destacam os Doze
se refere as “palavras”. Por outro lado, no (mencionados aqui pela primeira vez). Vol
texto atual esta seçâo entra em contato com tar atrás pode significar a apostasia (Is
os vv. 51-58 e reage a eles, sólidamente 59,13; SI 44,19). Portanto, o ministério de
ligados ao discurso precedente. Assim re Jesús na Galiléia encerra-se com uma de
sulta que também o discurso eucarístico é feccáo numerosa de discípulos e seguido
“escandaloso”, difícil de aceitar; só pela res de Jesús.
313 JOÁO
na cara que suas agóes sao más. 8Subi 14No meio da festa Jesús subiu a.
vós á festa, porque eu nao subo a essa tem plo para ensinar. 15Os judeus m
festa, pois m eu prazo aínda náo se m entavam surpreendidos:
cumpríu. — Como possui tal cultura, se ri.u
9Dito isso, ficou na Galiléia. lüQuan- tem instrugáo?
do seus parentes já tinham subido á fes 16Jesus lhes respondeu:
ta, tam bém ele subiu, náo em público, — Meu ensinamento náo é meu, nía-
mas as escon d id as.11Durante a festa os daquele que me enviou. 17Se alguém esta
judeus o procuravam e perguntavam: disposto a cumprir a vontade dele, pode
— Onde andará ele? rá distinguir se meu ensinamento proco
12Entre a m ultidáo m urm urava-se de de Deus ou se eu o invento. 18Aquelt
muito a respeito dele. Uns diziam que que fala por conta pròpria busca a pro
era bom; outros que náo, que enganava pria gloria; mas o que busca a gloria da
o povo. 13Mas ninguém falava sobre ele quele que o enviou é veraz e náo procedí
em público por medo dos judeus. com injusticia. 19Náo foi Moisés quem vo:
sa festa ou tempo definido pela estagáo para ensinar no templo, publicamente, nao
agrícola ou por vossos planos interessei- para fazer milagres espetaculares.
ros. A vós o mundo náo odeia porque 7,15 Os rabinos ou letrados aprendiam
pertenceis ao seu sistema; a mim me odeia “aos pés” de um mestre (At 22,3) as opi
porque o denuncio, como profeta que sou, nioes de doutores ilustres, muitas vezes
sua má conduta (cf. Is 29,21; Ez 3,26; Pr sobre temas de conduta (halaká) como io
9,8; 15,12). Jesus submete a si o calendà terpretagáo da lei de Moisés. No final da
rio, náo se submete ao calendàrio; pois os formagáo eram reconhecidos oficialmcn
tempos de Deus tem um ritmo pròprio e te como tais. Jesús, o artesáo plebeu de
soberano: “Quando escolher a ocasiáo, eu Nazaré, náo recebeu tal formagáo, e no
julgarei retamente” (SI 75,3). entanto seu ensinamento é surpreendente
7,11-13 Embora oculto, está presente “Como se tornará douto... o artesáo...?'
como tema de conversa e comentário. Náo (cf. Eclo 38,25.27).
busca urna publicidade que assombre a 7,16-18 Jesús responde a fundo, no ter
todos por igual; em lugar disso, divide, reno da lei e da sua interpretagáo pelos
porque incita a tomar partido. Urna divi- doutores. Antes de tudo, ele náo aprenden
sáo acontece entre as autoridades hostis e de mestres humanos, e sim diretamente do
o povo intimidado por cías. E entre o povo Pai que o enviou. Seu ensinamento pre
mesmo, os que reconhecem sua bondade tende que se realize a vontade de Deus,
e os que o consideram falso profeta. Essa razáo primeira e última da lei. Náo é ensi
divisáo, iniciada na vida de Jesús, prolon- namento teológico, mas de agáo (de alguni
ga-se e se toma aguda ñas décadas seguin- modo como a halaká). Quem está dispos
tes, até a ruptura oficial de Jámnia. Na sua to a cumpri-la se abre e reconhece a ori
origem é urna divisáo entre grupos judeus, gem divina do ensinamento (o contràrio
náo acerca da esperan§a messiànica, e sim fica implícito). Um mestre formado e re-
sobre o messianismo de Jesús. conhecido ensina também em nome prò
7,11 Ouve-se novamente a pergunta prio (além de citar outros), e assim busca
“onde?”, que aponta para o enigma de Jesús. e consegue prestigio; mas por ànsia de
7,14 A festa das Cabanas durava urna prestigio pode falsificar ou deformar o
semana. O narrador reparte seu material, ensinamento (implícito). Quem náo busca
grande parte diálogo e controvèrsia, em seu prestigio, mas o daquele que o enviou.
dois momentos: o meio da festa e o último é desinteressado, nao comete fraude, nao
dia, soleníssimo. O ambiente é tenso, as falsifica o ensinamento (Ez 13,3; Jr 23,26).
atitudes divididas. Podemos recordar as Está bem claro tudo o que ele deixou im
atitudes diversas dos israelitas no deserto, plícito.
ñas suas “tendas” (tabernáculos, Ex 33,9- 7,19 Se os versículos 16-18 enlagavam
10; 16,26-27). Jesus aproveita a afluencia se bem com o v. 15, sobre a instrugáo, os
315 JOÂO
■li li a lei? Mas ninguém de vós cumpre 25A lguns de Jerusalém comentavam:
<i leí. Por que procuráis matar-me? — Náo é este aquele que tentavam
"A multidáo respondeu: matar? 26Está falando em público e náo
Estás endemoninhado. Quem pro- lhe dizem nada. Teriam as autoridades
i ni.i matar-te? reconhecido realm ente que esse é o
'Respondeu-lhes Jesús: M essias? 27Só que deste nós sabemos
Por urna obra que realizei, todos de onde vem; quando vier o Messias,
viis surpreendeis. 22Como Moisés vos ninguém saberá de onde vem.
piomulgou a circuncisáo — nao que 28Entáo Jesús, que ensinava no tem
¡noceda de Moisés, m as dos patriarcas plo, exclamou:
vós circuncidáis o homem no sáb a- — Vós me conheceis e sabéis de onde
ilo. ’'Pois se o hom em recebe a circun- venho. N áo venho por minha conta,
■kilo no sábado para nao violar a lei de mas me enviou aquele que é veraz. Vós
Moisés, por que vos irais comigo por náo o conheceis; 29eu o conhego por
Irr curado com pletam ente um homem que procedo dele e ele me enviou.
lio sábado? 24Náo julgueis pelas apa- 30Tentaram deté-lo, mas ninguém o
irncias, julgai com justiga. prendeu, pois náo havia chegado a sua
hora. 31M uitos do povo creram nele, nifica essa frase: vos me procurare i'. <
pois diziam: nao me encontrareis, e para onde eu lm
— Quando o M essias vier, fará mais vós nao podereis ir?
sinais do que este? 37No último dia, o mais solene da le,
32Os fariseus ficaram sabendo dos ta, Jesús se pos de pé e exclamou:
cochichos do povo. Entáo os sum os — Quem tiver sede venha a mim pani
sacerdotes e os fariseus enviaram guar beber: 38quem crer em mim. Assim di/
das para deté-lo. a Escritura: D e suas entranhas brota
33Mas Jesús disse: rao ríos de água viva.
— Pouco tempo estarei ainda convos- 39(Referia-se ao Espirito que have
co; depois, voltarei ao que me enviou. riam de receber os que créem nele: aiu
34Vos me procurareis e nao me encon da nao havia Espirito, porque Jesús aiiul.i
trareis, e para onde eu vou vos nao po- náo havia sido glorificado.) 40Alguni>
dereis ir. da multidáo, ao ouvir essas palavras,
35Os judeus com entavam entre si: diziam:
— Aonde pensa ele ir, para que nao — Este é realmente o profeta.
o encontremos? Pensará partir para a 41Outros diziam:
diáspora entre os gregos? 360 que sig — Este é o Messias.
7,31 Refere-se a urna das imagens do sar a chuva do novo ciclo agrícola, c) A
futuro Messias como autor de milagres. festa havia incorporado esperanzas mes
7,32-34 Membros do Conselho enviam siánicas, como atesta (ou provoca) o co
guardas ou policiais do templo para dete- mentário á festa nos capítulos fináis d
rem Jesús pelo que acaba de dizer ou por Zacarías (o manancial em 14,8; a chuva
tudo o que precede. Jesús conserva o do em 14,17, a homenagem ao Reí e Senhor)
minio sobre tudo e sobre todos. Completa De pé no meio do templo, gritando, Je
a revelagáo do círculo de sua existencia: sus se apresenta como o manancial pro
procede do Pai e a ele voltará (13,3; 16,28). metido. Com muitos autores modernos,
Agora que está próximo, poderiam pro- lemos um paralelismo cruzado:
curá-lo: “Buscai o Senhor enquanto se quem tiver sede venha a mim,
deixa encontrar” (Is 55,6), mas o procu- beba quem eré em mim
ram para matar. Um dia o mataráo, e en As entranhas náo sáo as do fiel (cf. 4,14),
táo, ainda que o busquem, náo o encontra- mas as do Messias. Ele é a rocha no deser
ráo nem poderáo chegar ao lugar onde to, o templo na cidade.
estará, junto do Pai como no principio A que texto se refere concretamente?
(1,18; 17,5). Sáo tantos os candidatos, que é impossí
7,35-36 Outro dos mal-entendidos de vel decidir; provavelmente se refere glo
Joáo carregados de ironia. As autoridades balmente ao dom da água: de Moisés, os
imaginam Jesús como mestre itinerante citados; do templo (Ez 47; J1 4,18; Zc
que se dirige aos pagáos para fazer prosé 14,8); dos profetas (Is 12,3; 43,20; 44,3;
litos (cf. Mt 23,15). A historia posterior 55,1); dos sapienciais (Eclo 24,24-27, em
toma verdadeiras estas palavras (ai está a comparagáo, Pr 18,4); de salmos (105,
ironia), porque Jesús, quando o evange- 40-41). Que o Espirito (vento) se derrame
lho está sendo escrito, é mestre dos pagáos. (como água) o conhecemos por um para
7,37-39 Provavelmente o sétimo dia. lelismo de água e vento, fertilidade e fe-
Recordemos alguns dados da festa das cundidade: “Vou derramar água sobre o
Cabanas: a) Atualizava litúrgicamente a deserto, vou derramar meu alentó (espiri
experiencia do deserto. Ai Moisés obteve to) sobre tua estirpe” (Is 44,3). A promes-
para o povo maná para comer (Jo 6) e água sa comegará a cumprir-se na cruz.
da rocha para beber (Ex 17,6; SI 78,20). 7,40-43 Parece-nos escutar um eco do
b) Na liturgia havia urna cerimónia da interrogatorio de Joáo Batista (sem men
água, levada processionalmente da fonte cionar Elias, 1,20-21). O profeta é o anun
ao templo e se faziam petigóes para apres- ciado em Dt 18,15-18, o Messias prome-
317 JOÁO
Hilo e esperado. Mas Jesús nao se deixa depois de Le 21,38. Contudo, o relato é
nnquadrar: é profeta, mas nao um a mais canónico, ou seja, faz parte do NT inspira
imsérie; é Messias, mas nao como o ima- do, conserva a recordagáo de um episodio
glnam os judeus. A objetjáo apóia-se em de Jesus e é uma jóia literária e religiosa.
Inxtos da Escritura, sem citá-los; vários A lei decreta pena de morte para a adúl
mihre a linhagem davídica do Messias, e tera (Lv 20,10), pena de morte por lapidagáo
Mq 5,1 sobre seu nascimento em Belém. para a prometida ou desposada infiel ao
Sr o primeiro é repetidas vezes afirmado homem a quem legítimamente pertence,
lio NT, o segundo referem-no somente embora ainda nao conviva com ele (Dt 22,
Mnteus e Lucas. A objegáo pode refletir 21). Ez 16,38-40 menciona a l a p i d a l o
lima controvérsia de comunidades judeu- como pena normal das adúlteras. No plano
i'ristás com o judaismo oficial. simbólico, muitos textos do AT apresentam
7,45-49 Visto que alguns do povo se de- Yhwh esposo que perdoa e reconcilia con
claram a favor de Jesús, também os guar- sigo a mulher infiel: Samaria (Os 2) ou Je-
ilns ficam impressionados ao ouvi-lo (cf. rusalém (Is 1,21-26; 49; 54; Ez 16).
SI 45,3) e nao se atrevem a executar as or- A cena se desenrola publicamente, no
ilcns recebidas. De fato, ninguém fala como templo, onde costuma ensinar. Letrados e
Jesús porque ele é a Palavra de vida eterna. fariseus (ou letrados do partido dos fariseus)
A resposta dos fariseus, como vem citada apresentam ao “mestre” um caso legal prà
pelo evangelista, é uma auto-acusagáo (ao tico, provavelmente com intengáo capcio
mesmo tempo que refuta o caráter exclusi sa (como a moeda de César, Me 12,13-17).
vo total, já que alguns se converteram): as Nao lhe pedem urna sentenza forense (o
imtoridades se fecharam á fé. Ao mesmo mestre náo é juiz), mas um ditame sobre a
lempo, expressam todo o seu desprezo pela aplicado da lei mosaica (náo de uma ob
elasse baixa, ignorante, incapaz de cumprir servancia qualquer) a um caso particular.
ns observancias (cf. Jr 5,4). Deus gosta de Isto pressupóe que os interlocutores viram
rcvelar-se aos ignorantes guardas do tem Jesus distanciar-se da lei ao perdoar peca
plo e á depreciada plebe, e nao aos doutos dos. A pergunta pode equivaler: nós a sur-
fiiriseus (Mt 11,25). Mas há excegóes, como preendemos em flagrante adultèrio; deve
prova o caso seguinte. nios levá-la ao tribunal competente ou a
7,50-52 A observacáo judiciosa de um executamos sem mais? (cf. Gn 38; Dt 17,7).
tío grupo (3,1) respondem só com o sar Jesús, em lugar de responder logo, es-
casmo. Seu desprezo pela Galiléia faz eco creve no cháo, responde e continua a es-
no inicial de Natanael (1,46). crever. O que escreve? Como o narrador
nao o diz, os comentaristas encontraram
7,53-8,11 É hoje opiniáo corrente que ampio campo para conjecturas: algum tex
este relato é insenjao posterior. A linguagem to da legislagáo penal, o nome dos que “se
em parte nao é de Joáo; falta nos manuscri afastam do Senhor” (Jr 17,13), ou simples-
tos antigos; alguns manuscritos o eoloeam mente rabiscos. Na primeira vez, como que
JOÁO 318
tomando tempo para refletir, na segunda labros num átrio do templo. Jesús se aprc
como qué esperando que os “impeeáveis” senta como “luz do mundo”, náo só de ls
executassem a sentença. Da sua atitude se rael. A luz descobre as formas e permite ;i
rena e majestosa se desprende urna força visáo (Jó 38,13-14), e por isso é símbolo
que desmascara (“colocaste nossos segre- de conhecimento intelectual. Além disso
dos ante a luz do teu olhar”, SI 90,8), urna é vida. Embora a fórmula “luz da vida
indignaçâo que os faz “retroceder confu (ou luz viva, que náo é preciso alimentai
sos” (SI 70,3-4; 129,5). periódicamente; á semelhanga da água d.i
Na vida de Davi lemos um caso judicial vida/viva, que mana sempre) náo seja fre
insigne (2Sm 14): o rei tem que senten qüente (SI 56,14; 33,30), a idéia é comum
ciar se deve condenar o homicida ou per- já que viver é ver a luz do día e o parto ó
doar a seu filho culpado. A lei foi feita para dar á luz. A luz é um dos símbolos mais
o homem (e a mulher), e Jesús nao veio ricos e freqüentes para falar de Deus e do
para julgar (condenar) e sim para salvar divino; indico dois textos do saltério (SI
(12,47). A salvaçâo desta mulher está no 27,1; 36,9-10). O segundo é mais pertinen
perdáo e na emenda (Ez 16,63). te porque concentra num par de versículos
“Quem estiver sem pecado”: há outro os temas de Joáo: comida, bebida, manan
“adultèrio” mais grave, a infidelidade dos cial, luz: “nutrem-se da gordura de tu.i
dirigentes a seu Deus, denunciada pelos casa, lhes dás de beber da torrente de tuas
profetas (p. ex. Ez 16; Os 2). delicias, porque em ti está a fonte viva e
8.12-59 Entre declaraçoes solenes e con- tua luz nos faz ver a luz”.
trovérsias incisivas, este capítulo discorre Em Joáo, o símbolo atrai seu oposto, as
sem ordem rigorosa. Algumas indicaçôes trevas, morte física (Jó 10) e do espirito. A
do texto, mais que os temas, ajudam a di- luz se impóe com sua evidencia, náo pro
vidi-lo em blocos. Toda a discussáo gira cisa demonstragóes; mas a pessoa pode fe
em torno da identidade e missáo de Jesús, char os olhos á luz. Seguir a Jesús é cami
definidas por sua origem, o Pai, e seu des nhar atrás, deixando que marque e ilumine
tino. Frente à origem e destino dos chefes nosso caminho. Se corresponde ao hebra i
incrédulos. Outras divisées nós propomos co “ir atrás de”, equivale á total adesáo a
para facilitar o comentário. pessoa.
8.12-20 Um dos ritos da festa das Ca 8,13-16 A argumentagáo é difícil. No
banas consistía em acender vários cande- mundo dos humanos, muitas vezes falsos
319 JOÁO
no celeste; a fé, acolhida como dom, per manter-se fiéis. O evangelista pode estai
mite a passagem. se referindo a judeu-cristáos. Se atender
8.25 Muitas Ieituras tém sido propostas mos ao que se segue, com seu encaden
para a enigmática frase inicial. Alguns re mentó dialogal, náo se explica que falr
lacionan! o “principio” com a Sabedoria, assim a pessoas que créem. Urna solugáo
“sou o Principio” (Pr 8,22; Eclo 24,9), bastante artificial é supor que creram pela
outros completam a frase por conta pró- metade ou que o diálogo os fez reagir con
pria. ‘ Alternativas: antes de tudo, o que tra (cf. a mudanga de atitude na sinagoga
vos digo; simplesmente o que vos tenho de Nazaré, Le 4). A dificuldade fica ale
dito. nuada se supomos um corte no v. 36.
Eu sou: em forma absoluta, ocupa em 8,31b-38 Dois temas entrelazados do
Joáo o lugar do “ 'ani Yhwh” no AT. E fór minam a discussáo: a liberdade e a des
mula de autoapresentaçâo ou reconheci- cendéncia de Abraáo. Que liberdade? A
mento. Veja-se, por exemplo, Is 45,18-25, política: independencia dos romanos, por
que répété très vezes a fórmula; como ob que só Yhwh é rei de Israel. A libertadlo
jeto de reconhecimento é corrente em total e definitiva na nova era. A deseen
Ezequiel. Em Jesús Deus se faz definiti déncia física de Abraáo garante a según
vamente presente. da? Alguns rabinos diziam que pelos mé
8.26 Cf. 12,49. ritos de Abraáo o Senhor salvaría todos os
8.28 A exaltaçâo da cruz se referem tam- israelitas: outros acrescentavam a fideli-
bém 3,14 e 12,32-34. dade á torá.
8.29 Nem sequer na cruz o Pai abando O escravo náo pertence á casa e pode
na o Filho, que está cumprindo a vontade ser expulso (como Ismael, cf. Ex 21,2; Di
do Pai. A morte de Cristo na cruz é exal 15,12); o filho pertence á casa e nela per
taçâo e náo prova que Deus tenha rejeita- manece (como Isaac). Mas o escravo pode
do Jesús como falso messias. receber a liberdade, emancipar-se e aínda
8.30 Anota reitera a divisáo de opinióes herdar (Pr 17,2). Embora seja filho de
e atitudes que as palavras de Jesús provo- Abraáo, livre por nascimento, pelo peca
cam. Este é um versículo de transiçâo. do o homem caí na escravidáo. Segundo
8,31a Se atendermos ao que precede, a tradigáo repetida, por causa dos pecados
nota é coerente: convida os que creram a Deus “submete” Israel a potencias estran
321 JOÁO
line •• ''C onsta-m e que sois da linha- de que escutei de Deus, isso Abraáo nao
......de Abraáo; porém tentáis matar-me, fazia.41Vós fazeis as obras de vosso pai.
i.... minha palavra nao penetra em Respondem-lhe:
v111, ' l u digo o que vi junto de meu Pai; — Nós náo somos filhos bastardos;
ir, la/eis o que ouvistes de vosso pai. temos um só pai, que é Deus.
42Replicou-lhes Jesus:
Sosso pai — 39Responderam-lhe: — Se Deus fosse vosso pai, me ama-
Nosso pai é Abraáo. rieis, porque vim da parte de Deus e
Ii sus replicou: aqui estou. Nào vim por minha conta,
Se fósseis filhos de Abraáo, faríeis mas foi ele que me enviou. 43Por que
ih i iln as de Abraáo. 40Entretanto, tentáis náo entendeis minha linguagem? Por
nmi.11 me, a mim que vos disse a verda- que náo sois capazes de escutar minha
in nas (episodios dos Juízes e o caso má- Filhos de Deus equivale aqui a povo de
«mu i da Babilonia). Jesús é o Filho. Com Deus, como mostram muitos textos da Es
,n.i levelaçâo, que é a verdade, Jesús vem critura, no singular e no plural (p. ex. Ex
lilu ilar dessa escravidáo; somente ele pode 4.23 filho primogènito, Is 63,8). Os filhos
iiiiliirgá-la; o homem, por suas forças, nao nascem desleais, degenerados (Dt 32,20; Is
(inile eonquistá-la. 1,4), e Deus os rechaza ou os esquece (Os
8.37 Mas tropeça na resisténcia c nas 4,6). Chega a considerá-los bastardos, fi
liitençôes criminosas, que nao correspon lhos da infiel ou da infidelidade, visto que
dí ni à descendência de Abraáo. Em Gn a idolatria è adultèrio (Os 2,4): Deus nao
18,19 se diz que Abraáo “há de instruir os reconhece como “povo meu” (Os 1,9).
mus filhos, sua casa e sucessores, a man- Pela parece liga se deduz a paternidade,
ii i se no caminho do Senhor praticando o argumenta Jesus, e vós vos pareceis com
■Incito e a justiça”. o ancestral da mentira e proto-homicida,
8.38 Deixa no ar a idéia de que há outro o diabo. Para a mentira, alude á serpente
|in¡ na historia. Ver Ez 16,3 “teu pai era astuta e mentirosa, que se atreve a rejeitar
iiniorreu e tua máe era hitita”, e o caso de a verdade de Deus: “náo é verdade que
(.linar (Gn 38,24). tereis de morrer” (Gn 3,4); como o ídolo
8,39-40 O tema da descendencia de “mestre de mentiras” (Hab 2,18). Para o
Altraáo se torna crítico e polémico na con- homicidio, pode aludir ao relato de Cairn,
luivérsia entre judaismo e cristianismo, interpretado em Gn 4,7, como incitagáo de
ruino mostram diversos textos de Paulo; pecado espreitador (como um animal); Sb
|nucm já o Batista havia polemizado so- 2.24 o tematiza: “a morte entrou no mun
¡iic o tema (Le 3,7-9). O filho deve ser do pela inveja do diabo e os do seu parti
i mno o pai, nao basta a descendencia físi- do passaráo por eia”. Assim como ser fi
i a; a idéia é tambern sapiencial (Pr 10,1; lhos de Deus equivale a ser povo de Deus,
17,25; 19,26; Eclo 16,1-4). O que Abraáo assim ser filhos do diabo equivale a ser
ln/.ia era ceder diante do sobrinho, resga- dos seus, do seu mundo e esfera; Mt 13,38
Inr prisioneiros, orar por Sodoma, hospe explica que o joio sáo “os filhos do Ma
dar o hospede desconhecido. O que fazem ligno” e lJo 3,10 contrapóe “os filhos de
i-les é procurar matá-lo (5,18; 7,1.19). Deus” aos “do Diabo”; Paulo chama o
8,41-47 A polémica se extrema ao con- mago Elimas, “filho do Diabo” (At 13,10).
11apor-se os predicados “filhos de Deus” e Com a metáfora equivalente “estirpe” re-
"Iillios do diabo”. Esta é a seçâo mais dura fere-se Deus à descendéncia hostil da ser
iln capítulo, talvez de todo o evangelho. pente (Gn 3,15), e escuta-se um eco de Is
( 'imvém recordar que isto se escreve re- 14,29, aplicado à Filistéia.
Iletindo a polémica entre judaismo e cris- Outro critèrio para identificar a paterni
lianismo, com a expulsáo consumada dos dade è a linguagem. Um filho entende o
rristâos do tronco judaico. Alérn disso, a idioma paterno, compreende seus ensina-
lensáo e a hostilidade histórica se trans- mentos e acata suas ordens. Os rivais náo
lormam no evangelho em tipo e exemplo, querem escutar para aprender e compreen-
iiplicável a diversos casos. der a linguagem celeste de Jesús.
JOÁO 322
palavra. ^V osso pai é o diabo, e vos — Agora estamos certos de que estás
quereis cumprir os desejos de vosso pai. endemoninhado. Abraáo morreu, tam
Ele era homicida desde o principio; nao bém os profetas, e tu dizes que quem
se manteve na verdade, porque nele nao cum prir tua palavra jam ais sofrerá a
há verdade. Quando diz mentiras, fala morte. 53Es, porventura, maior que nos
sua própria linguagem, porque é m enti so pai Abraáo, que morreu? Os profetas
roso e pai da mentira. 45Quando eu digo também morreram. Quem pretendes ser?
a verdade, nao me credes. 46Quem de vós 54Jesus respondeu:
me acusa de algum pecado? Se vos di — Se eu me glorio, minha gloria náo
go a verdade, por que nao me credes? tem valor; é meu Pai quem me glorifica,
47Aquele que vem de Deus escuta as aquele que vós chamais nosso Deus,
palavras de Deus. Por isso vós nao es- 55ainda que náo o conhecais. Eu, ao con
cutais, porque nao procedeis de Deus. trário, o conheqo. Se dissesse que náo o
conheqo, seria mentiroso como vós. Mas
A ntes de A b ra á o — 48Responderam- eu o conheqo e cumpro sua palavra. 56Vos
lhe os judeus: so pai Abraáo se alegrava esperando ver
— Nao tem os razáo em dizer que és meu dia: viu-o e se alegrou.
samaritano e estás endemoninhado? 57Os judeus lhe replicaram:
49Jesus respondeu: — Náo completaste cinqüenta anos
— Nao estou endemoninhado, mas hon e conheceste Abraáo?
ro meu Pai e vós me desonrais. 50Eu nao 58Disse-lhes Jesús:
procuro a minha gloria; há quem a procu — Asseguro-vos: antes que Abraáo
ra e julga. 51Asseguro-vos que quem cum existisse, eu existo.
prir minha palavra jamais sofrerá a morte. 59Recolheram pedras para apedrejá-lo;
52Disseram-lhe os judeus: mas Jesús se escondeu e saiu do templo.
concreto que fez o milagre, ao que signifi O primeiro é a figura do porteiro: desig
ca sua personalidade. Com enorme densi- na alguém ou é simples recheio descritivo"
dade se concentra em dois verbos: “tu o tens O AT nos fala de porteiros do palácio du
visto — creio”. E o narrador póe na boca templo, responsáveis pela seguranca. A pn
do cegó a confissào crista de Jesus como rábola dá a entender que o porteiro náo del’
Senhor (Kyrios). xa os ladróes entrar, mas abre sem mais ao
9,39-41 Estes versículos arrematam o pastor. Pode conter uma explicado da fu
processo contràrio: a cegueira contumaz das tura funcáo dos apóstolos em relaqáo :■<>
autoridades. Toda a atuaçâo de Jesus é um Pastor que é Jesús. E pode conter uma crl
grande processo porque obriga a tomar par tica aos porteiros que náo se comportarafli
tido. Formula-o num jogo de paradoxos. bem (cf. Is 56,10).
Vem dar a vista aos que nao vêem e que- O segundo detalhe é que fala só de “le
rem ver até o fundo; e deixar cegos os que varpara fora” as ovelhas e de guiá-las indo
vendo nao querem ver. á frente; náo fala de reconduzi-las ao re
dil. Provavelmente se sugere ai a primeirn
10,1 -18 A imagem o pastor, aplicada a libertagáo em suas duas fases de “saída"
chefes, ao rei, a Deus, é tradicional no AT. do Egito e “caminhada” pelo deserto, guia
Tem seu antecessor ilustre na pessoa de dos por Deus (SI 80,2). Primeira liberta
Davi, o rei pastor (SI 78,70-71), os profe gáo que prefigura a presente, na qual Je
tas a ernpregam (Is 40,11; 44,28; Jr 23; Ez sus vai levar para fora e guiar, e náo vai
34; Zc 11) e os salmos (23; 80). O mate reconduzir ao velho redil.
rial é táo abundante que daria um tratado O terceiro detalhe é menos chamativo
cujos detalhes iluminariam por semelhan- é a relagáo pessoal do pastor com cada
ça ou contraste a figura do Messias. Jesús ovelha: conhece-as pelo nome, elas reco
toma o título real, messiànico, divino e o nhecem sua voz. Adáo punha nomes ao:,
desen voi ve em très variaçôes: o pastor e animais (Gn 2,19-20), nome de espécie.
os ladróes (vv. 1-6), a porta do redil (vv. o pastor de Joáo póe nomes individuáis,
7-10), o dono e o assalariado (w . 11-18). pessoais: “Chamei-te por teu nome, tu és
Esta divisáo simplifica e aplaina algumas meu” (Is 43,1; cf. 43,25). Naturalmenle
dificuldades do texto e de todo o capítulo. “ouvir sua voz” soa ñas duas vertentes,
10,1-6 Ao terminar, chama o discurso de imagem e de realidade (18,37). Tani
de “parábola”, termo que inclui também a bém nos diz que tem havido falsos pas
comparaçâo. Numa descriçâo (significan tores, antes e agora; e o último versícu
te) de tipo realista, apresentam-se deta lo sugere que os presentes náo se dáo
lhes próprios do significado que dáo o que por aludidos, porque lhes convém náo en
pensar. tender.
327 JOÁO
"I issa é a parábola que Jesus lhes pro- 15como o Pai me conhece e eu con liego
|tñh, porém eles náo entenderam a que se o Pai; e dou a vida pelas ovelhas. 16Te-
(»lena. 7Assim, pois, falou-lhes outra vez: nho outras ovelhas que náo pertencem a
• Asseguro-vos que eu sou a porta este redil; a essas tenho que guiar, para
ilo rebanho. 8Todos os que vieram antes que escutem minha voz e se forme um
ili’ ínim eram ladróes e bandidos; mas só rebanho com um só pastor. 17Por isso
un tivelhas náo os escutaram. 9Eu sou a o Pai me ama, porque dou a vida, para
finita: quem entra por mim se salvará; recuperá-la depois. 18Ninguém a tira de
(Hiilcrá entrar e sair, e encontrará pas- mim; eu a dou voluntariamente. Tenho
ingi iis. 10O ladráo só vem para roubar, poder para dá-la e recuperá-la depois.
mular e destruir. Eu vim para que tenham Este é o encargo que recebi do Pai.
vida, urna grande vitalidade. n Eu sou o 19Essas p a la v ra s p ro v o c a ra m n o
hom pastor. O bom pastor dà sua vida v a divisáo entre os judeus. 20M uitos
pulas ovelhas. 120 mercenàrio, que náo diziam:
t' pastor nem dono das ovelhas, quando — Está endem oninhado e louco. Por
vi1o lobo vir, foge abandonando as ove- que o escutais?
llias, e o lobo as arrebata e dispersa, 21Outros diziam:
l'pois ele é mercenàrio e náo lhe impor — Essas palavras náo sáo de um en
tuni as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor: demoninhado; pode um endem oninha
l’iinheQO as minhas e elas me conhecem, do abrir os olhos dos cegos?
lisses ladróes e bandidos podem ser fai soteriologia: Jesús dá a vida voluntariamen
nos messias ou mestres abusivos. As ove te, sacrifica-se; sua morte será salvaçào pa
lhas que reconhecem a voz sao os fiéis que ra todos. Sua relaçâo com as ovelhas é pes-
pela fé sintonizara com a voz. soal: táo pessoal como a sua com o Pai.
10,7-10 Este uso metafórico da porta é ori Também nesta seçào pode-se descobrir
ginal. Sabemos como eram guardadas a por- urna referencia dupla: denúncia de lobos
lu exterior do templo e as outras interiores, vorazes e pastores interessados e descui
permitindo o acesso únicamente aos autori dados (Ez 34,2-6), aviso e convite aos pas
zados (cf. SI 118,20). Também Jerusalém tores da Igreja (At 20,28-29; lPd 5,1-2).
Icin sua porta de acesso. Um texto escato- É evidente o sentido missionário, univer
lógico anuncia: “Abri as portas, para que salista do v. 16: sob o signo da unidade do
filtre um povo justo” (Is 26,2). Jesús é o úni pastor e das ovelhas sem distinçôes (Ez
co acesso (como o é a escada de Jaco 1,51): 37,22; cf. Ef 2,13-16).
Acasa de Deus, ao reino de Deus, ao Pai (14,6). 10.9 Jesús assegura a suas ovelhas a li-
10,8 A frase é muito dura pelo seu alcan berdade de movimentos e o sustento apro-
ce geral. Talvez se refira as autoridades de priado (cf. SI 23).
urna época; a náo ser que aluda a falsos 10.10 A vida que Jesús traz é urna vida
messias, náo reconhecidos pelos israelitas plena e perpétua, urna participaçâo, por
nuténticos. Ou se dá valor hiperbólico á meio dele, na vida divina. Para isso veio,
^eneralizagáo (como p. ex. no SI 14). pois o homem com suas forças nao pode
10,9-18 Ao chegar a este ponto, do pas- alcançâ-la.
lor modelo, a imagem torna-se estreita e a 10,14 Trata-se do conhecimento pes
realidade penetra e a suplanta. Sobretudo soal, mútuo; incluí o tratamento confiado.
no tema central do “dar a vida por”. Lendo 10,16 O AT anuncia repetidas vezes a
ii historia de Davi, compreendemos que o reunificaçâo dos israelitas dispersos (Is
pastor do rebanho paterno arrisca a vida 49,22; 60,9; Mq 5,1 etc.). Além disso, al-
para lutar com feras defendendo as ovelhas guns textos anunciam urna incorporaçâo
( ISm 17,35-36) e náo faltaram reis que ar de pagáos (Is 66,18-20; Zc 8,21-23). Je
riscaran! e perderam a vida lutando. Jesús sús assume a missáo universal sem distin
é categórico e insiste: dá a vida a, dá a vida çôes, e a Igreja deve continuá-la.
por (vv. 10.11.15.17-18). O v. 18 poderla 10,19-21 Estáo estes versículos em seu
ser o enunciado de urna importante tese de lugar ou sáo uma inserçâo? Pelo tema e pela
JOÀO 328 io
A festa d a D cdica^áo — 22Celebrava- ^ e u lhcs dou vida eterna e jam ais pon •
se em Jerusalém a festa da D e d ic a d o e ceráo, e ninguém as arrancará de minli
era invernó. 23Jesus cam inhava no tem máo. 29Aquilo que o Pai me deu é maioi
plo, no pórtico de Salomáo. 24Os judeus que tudo, e ninguém pode arrancá-lo ilit
o rodearam e Ihe perguntaram: máo do Pai. 30O Pai e eu som os uní
— Até quando nos manterás em sus 31Os judeus recolheram pedras pafn
pense? Se és o M essias, dize-o clara apedrejá-lo. 32Jesus lhes disse:
mente. — Por encargo do Pai vos fiz ver mui'
25Jesus Ihes respondeu: tas obras boas: por qual délas me |»
— Eu vo-lo disse e nao credes. As drejais?
obras que fago em nome de meu Pai dáo Os judeus lhe responderam:
testemunho de mim. 26Porém, vós nao — Por nenhuma obra boa te apedn
credes, porque nao sois das minhas ove- jam os, mas pela blasfemia, porque sen
lhas. 27Minhas ovelhas escutam minha do homem te fazes Deus.
voz, eu as conhego e elas me seguem; 34Jesus lhes respondeu:
referencia aos cegos, dir-se-ia que sao con- é porque náo sáo “ovelhas suas” (embow
tinuagáo do cap. 9. Pode-se transladá-los ele continué sendo o Pastor, cf. Is 30,21)
para lá ou considerá-los como pega de en 10,28-29 Jesús está cumprindo o man
gate (cf. 1,15.19-20; 7,21-24) com a qual o dato do Pai e ninguém poderá frustrá-le
narrador nos avisa que continuamos no E duvidosa a interpretagáo do v. 29: o
mesmo contexto de doutrina e controvèr Pai, que o deu a m im ...”.
sia. Outra vez a distingáo de pareceres que Concluí com urna afirmagáo que reflcto
Jesús provoca continuamente. Convém fri um estado maduro da fé cristá. “Somos"
sar que Joáo menciona “judeus” favorá- no plural, “um” no singular neutro. Pai (de
veis a Jesús (contra o que afirmam os pois Filho). No contexto refere-se á agao
fariseus de 7,48); deve-se levar isto em conta as obras. A reflexáo teológica posterioi,
quando encontramos “os judeus” neste meditando sobre este texto e outros senir
evangelho. lhantes, cunhará a fórmula trinitária da
10,22-23 A festa da Dedicagáo celebra “pessoas” e da “natureza”. Os judeus o con
va a purificagáo e nova consagrado do al sideram blasfemia (Lv 24,16); o narradoi
tar no tempo de Judas Macabeu (164 a.C., dá a entender que tomam no sentido forte
I Mc 4,59). Como caí no inverno, o povo o que se coloca a seguir; e por isso contra
se refugia nos pórticos do templo. Talvez diz o monoteísmo estrito da fé de Israel
para o narrador a lembranga do Macabeu 10,32-39 A objegáo: já náo sáo as obra
atualizava a esperanza messiànica de liber- (realizadas no sábado), mas sim as pala
tagáo, tal como o povo e as autoridades a vras, a suposta blasfémia. Pois bem, Jesu .
entendiam. Nos w . que se seguem a con náo “se faz Deus”, mas a Palavra é Den .,
trovèrsia versará sobre dois títulos: Mes ou melhor, “se fez” homem. Jesús respon
sias, Filho de Deus. Os dois terminam nu- de comentando um texto bíblico segundo
ma afirmagào “trinitària” e na conseqüente as técnicas de entáo, usando concretamente
tentativa de agáo violenta contra Jesús. o argumento a minore ad maius. Chama o
10,24-31 Os chefes o rodeiam, o asse- salmo (82,6) Leí em sentido de Escritura,
diam, exigem dele urna resposta inequí O texto original se referia as divindade.
voca sobre a sua condigáo de Messias (re- inferiores chamadas a prestar contas ante o
corde-se o interrogatorio de Joáo Batista, Deus supremo e condenadas por sua adnii
1,19-28). Como o título Messias é ambi nistragáo injusta. Mais tarde, abolido todo
guo, Jesús o evita e dá em troca o conteú- trago de politeísmo, os ’elohim do salmo
do da sua missáo, que é dar vida eterna e foram identificados com juízes ou govn
proteger e agir em nome do Pai. As obras nantes “pela graga de Deus”. Nessa idenii
que realiza (5,36) sáo a garantía da sua ficagáo se apóia a argumentagáo de Jesns:
missáo. Em síntese, essas obras sao o po se eles recebem o título de “deuses” pot
der de Deus posto a servigo do homem terem recebido e transmitido a palavra di
necessitado. Se náo se deixam convencer Deus (quer dizer, como intérpretes de Deus).
329 JOAO
Na vossa lei está escrito: Eu vos zava, e ficou ai. 41Muitos acorreram a
lililí sois deuses. 35Se chama de deuses ele e diziam:
ii(iicli s a quem foi dirigida a palavra de — Embora Joáo náo tenha feito ne-
Hi ir., e a Escritura náo pode falhar, nhum sinal, tudo o que disse deste era
iii|iiole que o Pai consagrou e enviou verdade.
ni mundo dizeis que blasfema porque 42E muitos ai creram nele.
iiv.r (|ue é fillio de Deus? 37Se náo fago
ri i >1>ias de meu Pai, náo me creíais. 38Se R e ssu sc ita L á z a r o — 'H avia
ii lago, ainda que náo creiais em mim,
■ii'tlu em minhas obras, e vos convence-
n um doente chamado Lázaro, de
Betânia, a aldeia de Maria e sua irmá
ii i1,ile que o Pai está em mim e eu no Pai. Marta. 2M aria era quem havia ungido
wlentaram prendé-lo, mas ele esca- o Senhor com mirra e lhe exugara os
1«ni de suas máos. pés com os próprios cábelos. Seu irmáo
'"Passou de novo para a outra mar- Lázaro estava doente. 3As irmás lhe
in mi do Jordáo, onde outrora Joáo bati- enviaram um recado:
iiininto mais e em que ordem superior po- Eliseu (IRs 17,17-24 e 2Rs 4,29-37). Nos
I '
i i iíi receber o título aquele que foi “consa- sinóticos lemos dois episodios: o jovem fi-
Kinilo” imediatamente pelo Pai (e corn lho da viúva de Naim (Le 7,11-17) e a filha
imi tilha a santidade divina, cf. 6,69; 17,19). de Jairo (Me 5,22-24.34-43). O segundo é
I sto recíproco “estar em” é urna variante mais pertinente por seus pontos de contato
ilii ileclaragáo precedente. manifestos com o relato de Joáo. Nos trés
10,40-42 Esta noticia tem valor estrutu- ressoa e retumba a ordem eficaz de Jesús.
ml ile inclusáo e conclusáo (Jo 1,29.34). O milagre servirá para a gloria de Deus
i iinclui urna etapa importante do minis- (vv. 4.40) e também para que o povo creía
ii lio de Jesús: Páscoa, Cabanas, Dedica na missáo de Jesús (w. 15.42). Como no
gli >. Concluí na hostilídade aberta das au- milagre do cegó, a quem Jesús abre os olhos
liil iclades diante das declaragóes solcnes da fe para que receba a luz da revelagáo. Em
ile .lesus. Afasta-se de Jcrusalém. A inclu outro plano, serve para mostrar o afeto hu
ían consiste na volta ao cometo, aos lu- mano a uns amigos (vv. 3.5.11.36) e a co-
i'.nes do testemunho do Batista, que foi se mogáo humana diante da morte (vv. 33.38).
■iimprovando; ai, de novo, muitos acor- O relato emprega a técnica do suspense
i cui a ele e nele créem (2,23; 7,31; 8,30). ou dilagáo com fungáo narrativa e teoló
gica. O protagonista adia de propósito a
11,1-44 Outro grande milagre contado viagem; quando está para chegar, a agáo
i o n i maestria. E o sétimo e último dos si- se detém em dois diálogos com as duas
nais, que comegaram em Caná (2,11). A mulheres; diante do túmulo se detém para
vitória sobre o último inimigo (ICor 15, uma oragáo; o final se precipita. Contém
.'(>) e sobre quem tem seu dominio (Hb muito diálogo carregado de sentido trans
14). Num sentido cumpre-se aqui o pro cendente, com o recurso do mal-entendi-
metido (5,28-29). Só em certo sentido. do que se explica e das frases de duplo
I ii/.aro nao ressuscita glorioso para viver sentido. As oposigoes simples atravessam
•irmpfe, simplesmente volta a esta nossa as cenas: dia e noite, luz do dia e da fé,
villa. Mas essa ressurreigáo prefigura a de dormir e morrer, ressurreigáo final e ante-
lesus: tres dias, sepulcro e panos. Simbo cipada, e lógicamente vida e morte (cf. o
liza também a vida sobrenatural que ele salmo 30 com suas polaridades).
comunica. Por isso, o gesto é acompanha- 11,1-2 Os personagens femininos sáo co-
ilo de uma declaragáo do tipo “eu sou” com nhecidos pelo relato de Le 10,38-42.0 narra
Iiiedicado. Paradoxalmente esse dom da vi- dor identifica Maria por um fato que conta
ila vai provocar a morte de Jesus e por eia rá mais tarde (12,1-8). Este enlace faz os dois
■.na glorificagáo. Este capítulo se torna, episodios convergirem rumo á páscoa. Lá
portante, a introduco narrativa da paixáo. zaro náo tinha sido apresentado até entáo.
O Antigo Testamento nos oferece dois 11,3 Jesús se tinha afastado, mas náo
antecedentes, os milagres de Elias e de escondido (10,41); o narrador supóe as ir-
JOÂO 330 II
— Senhor, teu am igo está doente. — Senhor, se está dormindo lí> ,<•
4Ao ouvir isso, Jesus comentou: curado.
— Essa doenqa náo vai acabar em 13Jesus porém se referia à sua mon>
m orte; é para a glòria de Deus, para enquanto eles creram que se referí.i i
que o filho de Deus seja glorificado por sono. 14Entáo Jesús lhes disse aben,
eia. mente:
5Jesus era am igo de Marta, de sua -— Lázaro morreu. 15E por vos mi il
irmá e de Lázaro. '’Quando ouviu que gro de náo estar lá, para que creíais \ .
estava doente, prolongou por dois dias mos vé-lo.
sua estadía no lugar. 7Depois disse aos 16Tomé (que significa Gémeo) dí
discípulos: aos dem ais discípulos:
— Vamos voltar à Judéia. -— Vamos também nós morrer com 1 1
8Os discípulos lhe dizem: 17Quando chegou, Jesús o encontré
— Rabi, há pouco os judeus tenta- háquatrodiasno sepulcro. I8Betánia lu
vam apedrejar-te, e queres voltar para lá? a uns très quilóm etros de Jérusalem
9Jesus lhes respondeu: 19Muitos judeus tinham ido visitar M u
— O dia náo tem doze horas? Quem ta e Maria para dar-lhes pésames pi I
caminha de dia náo tropeqa, pois vè a morte de seu irmáo. 20Quando Mail
luz deste mundo; Hlquem caminha de ouviu que Jesús chegava, saiu a seu en
noite tropera, pois nao tem luz. contro, ao passo que Maria permaná i
"D ito isso, acrescentou: em casa. 21Marta disse a Jesús:
— Nosso amigo Lázaro está dormin- — Se estivesses aqui, Senhor, ni' i
do. Vou despertá-lo. irmáo náo teria morrido. 22Mas sei qin
12Os discípulos responderam: Deus concederá o que pedires.
más informadas dos movimentos de Jesús. horas do Filho e ainda náo chegou sin
Enviam-lhe urna mensagem de eloquente hora; chegará com o poder das trevas. I n
discriçâo (como a indicaçào de Maria em tretanto, ele é “a luz do mundo” (8,12, cm
Cana, 2,3). Compare-se com a petiçào: do cegó 9,5; 12,46).
“Náo me abandones, Senhor... vem de 11,11 O sono como imagem da morii .
pressa socorrer-me” (SI 38,22-23). tradicional: “dá luz a meus olhos, para <|in
11.4 A frase é de duplo ou triplo senti náo durmam o sono da morte” (SI 13.1
do. Esta enfermidade acabará em morte, 76,6; Jr 51,39.57).
mas náo acabará, porque o morto voltará 11,12-13 Mal-entendido e explicaçiiu
à vida. Acabará em morte, a de Jesús. Náo no estilo de Joáo.
acabará em morte, porque o milagre e a 11.15 Assim empreende o caminho ul
morte de Jesús glorificam a Deus e ao Fi timo para Jerusalém: para dar vida, pam
lho de Deus ressuscitado (cf. SI 30,12-13). dar a vida. Vale a pena se o fruto for a I.
A gloria é urna só: o Filho glorifica o Pai 11.16 Pode-se escutar, como que ante
com sua vitória sobre a morte, o Pai glori cipando a atítude confiada e temerària d.
fica o Filho. Pedro (13,37), ou em tom de résignai..n
11.5 0 amor, em sua forma de amizade, fatalista, com urna perspectiva limitacia
póe em movimento o poder: “senáo tua 11.17 Os quatro dias indicam que .,
direita e teu braço e a luz de teu rosto, pois corrupçào avança. “Um ou dois dias pai.i
os amavas” (SI 44,4). as lágrimas”, diz Ben Sira (Eclo 38,17).
11.6 Os dois dias apontam para a morte 11,19 Segundo o costume: Jr 16,5.
de Cristo. 11,20-27 Neste diálogo, ascende o reía
11,8 Enlaça com o episodio anterior to por degraus ao cume da revelaçâo e d.i
(10,31). fé. Marta expressa a crença já comum su
11,9-10 Responde com aforismos ou bre a ressurreiçâo no final dos tempo-,
refráes em imagem (cf. Is 59,1 e Jr 13,16; “ele, com sua misericordia, vos devolvei i
Jó 5,14 e 12,25). O dia é o tempo de traba o alento e a vida” (Dn 12,2; 2Mc 7,9.11.11
llio sereno (SI 104,23). Deus controla as 23.29). Reconhece a Jesús o título de Mes
331 JOÄO
nías com seus equivalentes, Filho de Deus Mas o encontro fica pela metade do cami-
» “o que há de vir” (6,14). Cré em seu po nho. Repete a primeira frase de Marta, nao
der de intercessáo, mas nao parece incluir a segunda, de esperanza na intercessáo.
no seu ámbito o ressuscitar um morto. Je- Nao se chega a iniciar o diálogo, e Maria
m i s responde com urna declaraçâo que le fica na zona do pranto e da impotencia
vanta o conceito de vida, sem dividir o humana (cf. Eclo 38,16-20), sem subir até
Immem. Embora seja mortal e morra, a fé de sua irmá, a única que realmente
i|iiem eré recebe urna vida superior; e se pode consolar.
inorre a esta vida terrena, sua morte nâo é 11,33-37 Discute-se o significado do
o final. Penhor disto é o que ele vai reali verbo grego aqui e no v. 38. As expres-
zar. Em Jesús já se encarnam a ressurrei- sóes que acompanham sao “agitagáo e
(,'iio e a vida definitiva, e pode fazer com pranto”, com os quais o narrador quer
i|ue outros participem de sua plenitude. mostrar a compaixáo humana de Jesús, que
Nâo se separam a fé em sua pessoa e a é o que mobiliza seu poder (SI 35,14). Em
isperança nessa vida superior e eterna. Só outras passagens costuma expressar indig
i|iie Maria nâo deve ficar na esfera pura n a d o , repreensáo ou zanga. Maniendo
mente natural. Jesús é para o homem vida esse significado, alguns o interpretam
já concedida e presente, e ressurreiçâo no como a indignaqáo de Jesús diante do po
final. der da morte e de Satanás; outros o consi
11,26-27 E preciso crer nisso, por isso deran! reaqáo ante a falta de fé. Talvez seja
Jesús lhe faz a pergunta formal. E ela res simplesmente expressáo externa e chama-
ponde com a profissáo de fé cristá, numa tiva de um sentimento intenso.
iormulaçâo enfática. O “sim” abraça tudo A dupla reaejáo dos presentes é signifi
n que Jesús disse; Senhor é o título do glo cativa. Há quem aprecia a compaixáo e
rificado; o eu compromete toda a pessoa; amizade como valores auténticos; há quem
o verbo está no perfeito, de açâo perma se queixa por nao se traduzir em remédio
nente; e como predicado os très títulos. ¡mediato. Estes náo contam com a hipóte-
11,28-32 Maria atende ao chamado pes- se de urna ressurreigáo, e sim com a da
soal do Mestre, indo aonde estava sua irma. cura de um doente in extremis (SI 30,4).
jo à o 332 ll.ii'
— Retirai a pedra! — Desatai-o e deixai-o ir.
Diz-lhe Marta, a irmà do defunto: 45Muitos judeus que tinham ido visitili
— Senhor, jà cheira mal, pois faz Maria e viram o que ele fez, creram neln
quatro dias. 46Mas alguns foram contar aos fariseus "
40Jesus lhe responde: que Jesús havia feito. 47Os sumos sacci
— Nào te disse que se creres verás a dotes e os fariseus reuniram entáo o CoiM
glòria de Deus? selho e disseram:
41Retiraram a pedra. Jesus levantou — O que fazemos? Este homem estil
os olhos ao céu e disse: realizando muitos sinais. 48Se o deixai
— Pai, eu te dou gragas porque me mos assim, todos creráo nele. Viráo os m
ouviste. 42Eu sabia que sempre me ouves, manos e destruiráo o santuàrio e a nagfiQ
mas o digo pela multidào que me rodeia, 49Um deles, chamado Caifás, que cu
para que creiam que tu me enviaste. sumo sacerdote nesse ano, lhes disse:
43Dito isso, gritou com voz forte: — Náo entendeis nada. 50Náo vedi",
— Lázaro, vem para fora! que é m elhor que um só m orra peln
morto saiu com os pés e as màos povo e náo pereda a nagáo toda?
atados com vendas e o rosto envolto num 51Náo disse isso por conta pròpria
sudàrio. Jesus lhes disse: mas, sendo sumo sacerdote nesse ano,
11,40 A objegào de Marta é óbvia, po- sào extraordinària, considerando que "u
rém diz mais. Porque o mau cheiro é sinai caso Jesus” é grave e pode ser muito peri
de corrupgào: “o mau cheiro se desprende goso.
dos cadáveres” (Is 19,6; 34,3; J12,20; 2Mc Nesta cena temos um exemplo clàssico,
9,12), como o aroma o é de vida e imorta- e explicado, de ironia dramática: em vii
lidade. (Ver no Salmo 133 a explicaqào do tude do contexto, compartilhado por au
aroma como “aroma para sempre”.) tor e público, um ator diz mais do que pon
11,41-42 A oragào de Jesus é de agào de sa, nào capta o alcance das palavras deli
gragas, nào diretamente de petiqào, embo- (E o grande procedimento no encontro ili
ra suponha a petigào precedente. Ao falar Judite com Holofernes; mas nào é normal
era voz alta, Jesus quer atribuir a glòria ao que o narrador explique a ironia em apai
Pai e fazer que creiam em sua missào (cf. te.) Caifás apresenta urna observagáo po
IRs 18,37). litica sobre o supremo interesse do Esta
11,43-44 O grito de Jesus é soberano. do, tendo em conta experiencias ingratas
Como urna vocaijào pessoal, como chama e contando com a presentía sempre amea
do à vida, quase como palavra criadora: ijadora dos romanos. A popularidade de
“que dà vida aos mortos e chama à exis- Jesús, aumentada pelos milagres, pode le
tència o que náo existe” (Rm 4,17). Cha var a urna insurreigáo e provocar a repres
mado para “sair” do reino opressor: “Sai sáo violenta, com a destruiráo do templo
da Babilònia” (SI 48,15), comparado com e da nagáo. Mais vale sacrificar a tempo
“Eu vou abrir vossos sepulcros, vou tirar- aquele que é foco do grande perigo.
vos de vossos túm ulos” (Ez 37,17). O autor traduz essas palavras em profe
“Desatá-lo” é como que romper as amar eia: em virtude do seu cargo, sem que ele
ras da morte (cf. At 2,42; SI 116,3). o advirta, Deus o toma como intérprete do
11,45-54 Está se encerrando urna etapa seu designio, que é a salvagáo do povo (de
do evangelho, e o narrador volta ao tema Israel) e a reuniào (em uma igreja) dos “fi
da divisào de opinióes; para isso emprega Ihos de Deus” (1,12), sem distingáo de
o nome “judeus” em sentido ampio, como nacionalidade. O autor escreve com a pers
membros da comunidade. Correlativa pectiva da sua geragáo cristá.
mente as autoridades sáo aqui os sumos Outros detalhes reforcam a ironia: quan
sacerdotes e os fariseus e a instancia su do dizem (v. 48) que “todos creráo nele”
prema que era o Grande Conselho (ou (“crer” ambiguo); ou entáo a frase “náo
Sinèdrio). Fariseus neste caso seriam os entendeis nada”, e a alusáo involuntária a
letrados do partido, os únicos que faziam Is 53,10 (v. 49); a ambigüidade de “por/
parte do Conselho. Este se reúne em ses- em lugar de” (v. 50).
333 ío á o
lifiilelizou que Jesus m orreria pela na- Un<jáo em Betánia (Mt 26,6-13;
vHo. 52E nao só pela na§áo, mas para M e 14,3-9) — ‘Seis dias antes
i»iinir os filhos de Deus dispersos. A s da Páscoa, Jesús foi a Betánia, onde
ili», a partir desse dia, entraram em estava Lázaro, que Jesús ressuscitara da
«'ordo para matá-lo. 54Por isso, Jesus m orte. 2Ofereceram-lhe um banquete.
|4 nào andava publicam ente entre os M arta servia e Lázaro era um dos co-
|udeus, mas partiu para urna regiáo pró- mensais. 3Maria tomou urna libra de per
llina ao deserto, a um povoado cha fum e de nardo puro, muito caro, ungiu
mado Efraim, e ficou ai com os discí com ele os pés de Jesús e os enxugou
pulos. com os cábelos. A casa se encheu com
v,Aproximava-se a Páscoa judaica, e o perfume. 4Judas Iscariotes, um dos
mu itos subiam do campo para Jerusa- discípulos, que o iria entregar, diz:
lím a fim de purificar-se antes da fes- — 5Por que nao venderam esse per
1«, v’Procuravam Jesús e, de pé no tem fum e por trezentos denários para repar
plo, comentavam entre si: tid o s entre os pobres?
— O que vos parece? Será que nao 6(Dizia isso, nao porque lhe importas-
vlríí à festa? sem os pobres, mas porque era ladráo;
,7Os sum os sacerdotes e os fariseus e, como carregava a bolsa, roubava o que
hiiviam dado ordens para que o denun depositavam.) 7Jesus respondeu:
ciasse quem co n h e c e sse seu p a ra — Deixa que ela o guarde para o dia
llelo, de m odo que pudessem pren- de m inha sepultura. 8Pobres sem pre
ilfi-lo. tereis entre vós, a mim nao me tereis.
11,54 Jesús se retira até que chegue a A cena central contrapóe duas figuras
llora (2,12; 3,21; 7,1). olhando para Jesús: Maria e Judas (carre-
11,55-57 Desde esse momento, Jesús é um ga um pouco a máo num paréntese acerca
Individuo procurado pela polícia. Sua ausén- de Judas). Depois Jesús sentencia entre
cia se faz sentir justamente no templo. A ambos. Maria quer expressar a intensida-
purificadlo era um rito prévio á celebra de do seu amor com um presente de quali-
do pascal (2Cr 30,17). Estes w . servem de dade e caro; Judas nao entende a lingua-
Iransigao para a etapa final do evangelho. gem do amor, só entende a do interesse
Alguns o chamam “livro da gloria”, por (disfamado de caridade).
que na morte e ressurreigao de Jesús se O perfume é tributo sepulcral antecipa-
consuma a glorificagáo do Pai e a sua. A do, aroma de vida perante a corrup§áo; é
visáo unitaria é importante e está marcada símbolo de unidade fraterna (SI 133), sím
no vocabulário: gloria, glorificar. bolo de amor (Ct 1,3.12-13; 4,14). O per
fume difunde e dilata seu odor: frasco,
12,1 -50 Este capítulo, com seu mate corpo, casa (e mais além). Escutando a
rial heterogéneo, concluí a atividade de Je densidade das coincidéncias de linguagem
sús e, pulando o longo parénteses íntimo desta perícope com o Cántico dos Cánti
(13-17), enlaga-se com a paixáo. Após cos, vários Padres da Igreja contemplaram
ilois breves relatos vem um discurso im essa mulher como representando o papel
portante. O narrador reitera o enlace cau- da amada com respeito ao Messias esposo
niiI com o milagre de Lázaro, langa sinais (como Natanael com respeito ao “rei de
cm diregáo á paixáo e glorificado, e abre Israel”, 1,50).
urna janela á conversáo dos pagáos. 12,2-5 Reclinados (Ct 1,12); mirra (Ct
12,1-8 O primeiro episodio nesta última 1,13; 4,6.14); nardo (Ct 1,12; 4,13.14);
presenta em Jerusalém é a chamada ungáo dinheiro (Ct 8,7.11-12); aroma (Ct 1,3).
cm Betánia. Parece-se com a dos sinóticos. 12,5 O salário de trezentos dias.
Comparando com Lucas se aprecia melhor 12,7-8 Sepultura: 19,40. A citagáo pro
ii diferenga radical: para Lucas se trata do cede de Dt 15,11, em contexto de remis-
gesto agradecido da pecadora perdoada; sáo de dividas, mas nao para justificar a
para Joáo é expressáo pura de amor. existéncia de pobres.
JOÁO 334
— Ouvimos na lei que o Messias per viu sua gloria e falou dele. 42Todavi,J
manece para sempre. Como dizes tu que muitos, inclusive dos chefes, cremili
aquele Homem tem de ser levantado? nele; mas, por medo dos fariseus, nílil
Quem é esse Homem? o confessavam, para que nao os expul»)
35Jesus lhes disse: sassem da sinagoga. 4’Preferiram a i >
— Ainda vos resta um breve tempo ma dos hom ens à fam a que vem d<|,
de luz. Enquanto tendes luz, cam inhai Deus. 44Jesus exclamou:
para que as trevas nao vos surpreendam. — Quem eré em mim, náo é em min|
Quem caminha as escuras nao sabe para que ere, mas naquele que me envinu)
onde vai. 3fiEnquanto tendes luz, crede 4=quem me ve, ve aquele que me cil%
na luz, para ficardes iluminados. viou. 46Eu vim ao m undo com o lu.
Assim falou Jesús; depois se afastou para que náo fique no escuro quem cu|
deles e se escondeu. 37Apesar dos mui- em mim. 47Eu náo julgo aquele que en*
tos sinais que havia realizado na presen cuta m inhas palavras e náo as cumpn
t a deles, nao acreditavam nele. 38A s pois náo vim julgar o m undo, mas sal
sim se cumpriu o que disse o profeta vá-lo. 48Quem me despreza e náo acn
Isaías: Senhor, quem acreditou em nosso ta m inhas palavras, tem quem o julj'.a
anuncio? A quem se revelou o brago a palavra que eu disse o julgará no id
do Senhor? 3yE assim nao podiam crer, tim o dia. 49Porque eu náo falei por mi
como diz também Isaías: wCega-lhes nha conta; o Pai que me enviou un
os olhos, embota-lhes a mente: nao ve- encarrega do que devo dizer e fa)ai
jam com os olhos nem entendam com a 50E eu sei que seu encargo é vida etcì
m ente nem se convertam, de modo que na. O que digo, o digo com o o Pai me
eu os cure. 41Isaías disse isso porque disse.
"> L ava os pés dos d iscíp u lo s — havia posto tudo em suas máos, que ti
I « 7 'Antes da festa da Páscoa, sa-
i" in lo .lesus que chegava a hora de pas-
nha saido de Deus e voltava a Deus,
4se levanta da mesa, tira o manto e, to
ii di sle mundo ao Pai, depois de ter rnando urna toalha, cinge-a. 5A seguir,
un.i i l o os seus do mundo, amou-os até póe água num a bacia e começa a lavar
ii cxiremo. 2Durante a ceia, quando o os pés dos discípulos e a secà-los com
I ii.il») tinha sugerido a Judas Iscariotes a toalha que tinha cingido. 6Chegou a
■111»■o entregasse, 3sabendo que o Pai Simao Pedro, que Ihe diz:
13,10 Ao que está sujo por dentro de na vo de fé na pessoa, Eu sou. Essa fé está na
da adianta que, por fora, lhe lavem os pés. base da missáo. A referéncia serve de tran
13.12-17 A segunda explicagáo eles a sigáo ao anuncio que se segue.
podem entender agora: é fácil de compreen- 13,21-30 O anuncio da traigáo se apre-
der, talvez menos fácil de realizar. E o va senta numa cena dramática que permite
lor exemplar do gesto, o sentido de servi- contrapor ao traidor o “discípulo predile
5 0 humilde que deve animar a vida do to” de Jesús. É a primeira vez que a ex-
cristáo e que carrega consigo urna bem- pressáo aparece e se repetirá a seguir. O
aventuranga. texto bíblico dá indicios náo muito segu
13.13-14 Mestre e senhor podem ter na ros para identificá-lo; urna tradigáo muito
situagáo um significado de estima e respei- antiga o identificou com Joáo evangelista.
to; mais tarde adquirem o valor de títulos O que podemos dizer é que era urna per-
transcendentes (cf. Mt 23,8-10). A prática sonalidade respeitada ñas comunidades
ñas comunidades cristás refere-se lTm 5,10. onde se escreveu ou se cristalizou o evan-
13.15 O que ele fez é no contexto ¿me gelho.
diato lavar os pés. Logo depois será dar a No meio está Jesús. Estremece (SI
vida pelos outros (cf. toda a perícope de 42,5.11; Is 21,3) ante a presenta do odio
Me 10,32-45). satánico: “mas a morte entrou no mundo
13.16 O aforismo se le com variantes em pela inveja do diabo” (Gn 4,7; Sb 2,24).
Mt 10,24-25 e Le 6,40. *Ou: o apóstolo. Todavía, conserva seu dominio soberano:
13,18-19 Atraigáo de um náo deve des conhece os planos ocultos (Le 1,17 par.),
concertar, pois ele a anuncia de antemáo e faz um gesto de afeto particular, dá a Judas
estava predita na Escritura (SI 41,10): Je a ordem de agir. Essa ordem é paradoxal:
sús aplica a si a oragáo de um inocente “dei-lhes preceitos que náo eram bons?”
perseguido. O extraordinário é que, ao (Ez 20,25); é que “ninguém me tira a vida,
cumprir-se a traigáo anunciada, seja moti- eu a dou livremente” (10,18).
339 JOÁO
iiin ' 'Simáo Pedro lhe faz um gesto e 28Nenhum dos comensais compreen-
Hit* diz: deu por que o dizia. 29Alguns pensa-
l’ergunta-lhe a quem se refere. ram que, como Judas tinha a bolsa, Je
" lie se inclinou para o lado de Jesús sus o tivesse encarregado de comprar o
» lite disse: necessàrio para a festa ou que desse
- Senhor, quem é? algo aos pobres. 30Apenas tomou o bo
•''Kesponde-lhe Jesús: cado, saiu. Era de noite.
■- Aquele a quem eu der um pedago
ilo pao molhado. A g lo ria de Je sú s — 31Quando saiu,
Molhou o pao e o deu a Judas, de Si- Jesús disse:
liiAo Iscariotes. 27A trás do bocado, en- — Agora foi glorificado este Homem,
liou nele Satanás. Jesús lhe diz: e Deus foi glorificado por meio dele.
—O que tens a fazer, faze-o logo. 32Se Deus foi glorificado por meio dele,
13,25 O discípulo predileto estava num rer, reúne os filhos e pronuncia as últimas
lunar de honra, recostado no diva á direita palavras, à maneira de testamento espiri
lie Jesús, apoiando o cotovelo esquerdo no tual: Jaco (Gn 49), Moisés (Dt 32-33),
illvfi. Esse inclinar a cabega para o peito Samuel (ISm 12), Davi (2Sm 23; IRs 2),
lie Jesús foi interpretado por devota tradi- Matatías (lM c 2,49-70), Tobías (Tb 14).
«ft» como um auscultar o coragáo, a inti- Nao é inusitado o fato de Joao pór na boca
inidade de Jesús. de Jesús um testamento espiritual.
13,27 Anteriormente Sata lhe havia Mais que ato puramente jurídico, o tes
"sugerido”, agora entra e se apodera dele: tamento é urna despedida, na qual se ajun-
"A porta está de tocaia o Pecado, e embo tam as lembrangas e se cruzam os conse-
la tenha ánsia de ti, tu podes dominá-lo” lhos. A despedida dá um tom cordial ás
(Un 4,7), palavras e um peso acrescido a instrugóes
13.30 E a hora das trevas; Judas se per- e conselhos. No caso de Jesus, a despedi
tic na obscuridade (3,19; “sobre eles se da é anómala, porque nao é a última. Ele
t'slendia pesada noite, imagem das trevas se vai, mas tomarào a vé-lo. A ida definitiva
que iriam surpreendé-los”, ver a grande será a ascensáo (que Lucas narra). E como
exposigáo simbólica de Sb 17). No meio se oferecessem a um personagem uma gran
ilesta noite refulge o esplendor da gloria, de festa de despedida, em condigóes pro
que se anuncia a seguir. picias, embora a partida vá realizar-se uns
13,31-35 Enuncia vários temas que meses mais tarde. A de Jesús na ceia é uma
retornaráo como motivos reconhecíveis: desdedida definitiva antecipada.
relagáo de Jesús com o Pai, glorificagáo E urna explicagào. Vai acontecer em
mutua, proximidade do fim, preceito do breve algo terrível, dificílimo de entender,
»mor. A paixáo, cumprimento do designio porque é duro de aceitar. Jesús explica de
divino e sacrificio por amor, é glorifica antemáo o sentido profundo de uma exe-
dlo de Deus pelo homem e do homem por cugáo infamante que leva à gloria, que é
Deus (contrasta com a glorificadlo de Ex plena e definitiva. A explicagào vale para
14,4.17-18). Os primeiros vv. formam in- os discípulos dentro do livro e para todos
tlusáo com 17,24 e emolduram tudo na os futuros leitores do evangelho. Como
Ciloria (também o quarto cántico do Ser também os conselhos sao legado perma
vo comega anunciando o triunfo, Is 52,13; nente, perpètuo.
o SI 22,24 o póe no final). Acima de tudo, é uma visa o transcen
13.31 Podemos colocar neste v. o co- dente. Como se já estivesse levantado na
mego do grande discurso, que será inter cruz, exaltado na gloria, subindo ao céu.
rompido por perguntas ou diálogos oca- Seu olhar, mais que o de Moisés (Dt 34),
xionais. É um testamento, urna despedida, abarca os espagos e os tempos, suas pala
lima instrugáo. vras se mostram, ao mesmo tempo huma
O género testamento está bem arraiga nas e divinas, e se oferecem e solicitam a
do ñas literaturas bíblica e profana da épo contemplagáo. Esta é uma das passagens
ca. Um personagem ilustre, antes de mor- mais contemplativas do NT.
JOÀO 340 i \ ii
também Deus o glorificará por si, e o — Darás a vida por mim? Assegiim
glorificará logo. Filhinhos, ainda es- te: antes que o galo cante, très vezes ni#
tarei convosco mais um pouco. E, como negarás.
disse aos judeus, aonde eu vou vós nao
podereis ir. Eu vo-lo digo agora. 34Eu A Jesús, cam in h o p a r a o l*¡n
vos dou um m andamento novo: Amai- I l 'N ao fiqueis perturbados. C n i
vos uns aos outros, com o eu vos amei: em Deus e crede em mim.
am ai-vos assim uns aos outros. 35Nisso 2Na casa de meu Pai há muitas mor.u l.i
conheceráo todos que sois meus discí se náo, eu vos teña dito, pois vou pro|n
pulos, se tiverdes amor uns pelo outros. rar-vos um lugar.
36Diz-lhe Simáo Pedro: 3Quando eu for e o tiver preparad"
— Senhor, para onde vais? voltarei para levar-vos comigo, para qm
Responde-lhe Jesús: estejais onde eu estou.
— Para onde eu vou náo podes seguir 4E sabéis o cam inho para ir aond.
me agora. Tu me seguirás mais tarde. eu vou.
37Diz-lhe Pedro: 5Diz-lhe Tomé:
— Senhor, por que náo posso seguir — Senhor, náo sabemos aonde var.
te agora? Darei minha vida por ti. Como podemos conhecer o caminhu'1
38Responde-lhe Jesús: 6Diz-lhe Jesús:
Por outro lado, a progressáo e a compo- obra puramente humana. É dom de Don
sigáo nos desorientam. Fora a divisáo que será outorgado depois que Jesús se li
indicada (13-14,15-16,17) e algunsblocos ver sacrificado por primeiro. Pedro por un
mais consistentes, no resto sáo freqüen- náo pode segui-lo (cf. 21,18).
tes os saltos e as repetigoes. Especialmen
te chamativas sáo as numerosas repeti- 14,1 O livro de Isaías narra o pavor do
góes entre 13,21-14,31 e 16,4-33. No texto rei diante da ameaga inimiga: “agitou-sr
atual produzem um efeito de espelho. Na seu coragáo como as árvores do bosque
génese do texto atuaram fatores difíceis de com o vento”; o profeta inculca-lhe: “se
identificar com forte probabilidade. Al- náo crerdes, náo subsistiréis” (Is 7,1.7)
guns pensam em sentengas soltas de Je Jesús inculca, agora, e comunica, urna fe
sús, recolhidas, entrelagadas e comentadas. confiada. O apoio é agora duplo e uno: ele
Outros pensam em duas tradigóes parale e o Pai. Compare-se com o fiar-se em Deus
las do mesmo discurso, reunidas depois e e em Moisés por ter passado o mar Ver
náo harmonizadas. Muitos supóem pegas melho (Ex 14,31).
autónomas inseridas no discurso por as- 14,2-3 A idéia de casa e lar onde habitar
sociagáo. Tudo isso é plausível, embora tranqüilos é comum aos homens (cf. Ri
impossível de demonstrar. 3,1). Na historia do povo, o Senhor é o
Pois bem, já que náo podemos recons anfitriáo que lhe prepara moradia beni
truir um texto original, simples e coeren- abastecida em Canaá (SI 68,11; Dt 6,10-
te, temos de abordar sua leitura deixan- 11); a seguir, Josué reparte a térra para que
do-nos levar, em ritmo lento, com paradas cada familia tenha um lar (Js 13-18). Davi
para que ressoe. Também pelo estilo no quer preparar urna morada para o Senhor
qual abundam os aforismos, as frases rít (SI 135,5). Joáo imagina o mundo celeste
micas, os paralelismos quase poéticos. como um grande palácio ou como o tem
13,34 O preceito do amor é novo, náo pío de muitos aposentos (cf. IRs 22,25; Jr
pelo conteúdo (Lv 19,18.34; Dt 10,19), 35-36); um texto escatológico fala de “en
mas pela extensáo, pelo motivo, pelo exem- trar nos aposentos” (para refugiar-se, Is
plo. Deverá ser o distintivo dos discípu 26,20). Veja-se a exposigáo de Paulo em
los de Jesús (lJo 3,14). 2Cor 5,1-10.
13,36-38 O anuncio do v. 33 provoca a 14,4-6 Ao mesmo contexto do éxodo
intervengáo de Pedro e o anúncio da ne- pertencem a experiencia e a imagem do
gagáo. Confessar Jesús até a morte náo é caminho. O Senhor indicava o caminho
341 JOÂO
mm o fogo ou com a nuvem, ele mesmo 14,12-14 Pela fé o fiel adere a Jesús, pode
Uiilava o povo, ou por meio do anjo ou por cooperar com sua atividade, fazer as obras
lucio de Moisés (Ex 33,14; SI 77,21). Je- de Jesús (nao só milagres). Seráo maiores,
tlis nao é guia, mas caminho; como é es- na sua força reveladora, uma vez que Jesús
imía até o céu (1,51), como é porta de en- já terá sido glorificado: os A tos dosApós-
Iriula (10,7). Por ele vem a verdade da tolos começam a ilustrar essa promessa.
ii'velaçâo e a vida que é seu resultado; por O tema da eficácia da oraçâo se reitera
ele transitamos rumo ao Pai. E um canu no discurso (15,7.16; 16,23-26). A condi-
tillo auténtico (verdadeiro) e vital, é ver- çâo é a fé na sua pessoa, é alegar seu nome
iliule e vida em caminho. como mediador ou intercessor. O que pe-
14,7 Conhecer quem é ele é conhecer o direm será cumprido por ele ou pelo Pai.
|>ui (8,19). Vê-lo com olhos de fé é ver o É freqüente no saltério dizer “pelo teu
Pili. nome” ou um equivalente (25,11; 31,4; 54,
14,8-11 Filipe formula a seu modo a 3; 79,9 etc.); a novidade é que doravante
pctiçâo audaz de Moisés (Ex 33,18), à quai se invocará o nome de Jesús. Na liturgia e
o prólogo fez alusáo (1,18; lJo 4,12). E a na espiritualidade cristas se impós o orar
esperança do orante (SI 17,15), a experién- “por Jesús Cristo nosso Senhor”.
cia de Jó (42,5). Filipe formula também o 14,15-17 Na oraçâo clássica (Dt 6,4-5)
ufa de todo homem auténticamente reli se inculca o amor de Deus com toda a
gioso: contemplar a Deus como sentido úl alma; a seguir, se ineuleam a lembrança e
timo da existência. É que nao aprofundou a observáncia dos mandamentos. O mes
no conhecimento de Jesús. Conhecer é mo esquema Jesús propóe aqui. Do guar
urna das palavras-chaves do evangelho de dar seus mandamentos se seguirâo très
Joáo, muito importante também ñas car dons correlativos: o Espirito valedor, o
tas paulinas. A uniáo íntima de Jesús com amor do Pai, a presença do Pai e do Filho
o Pai implica: a pessoa (“estar em” 10,38), no fiel. A visâo é trinitária em açâo.
us palavras (12,49), as obras; as très apon- Ao partir, Jesús promete enviar em seu
tam para o Pai e convergem para ele. O lugar o Espirito, cujas funçôes iráo se es-
Pai é o espaço vital de Jesús, Jesús é o es- clarecendo no discurso, em parte através
paço de manifestaçâo do Pai. Somente a dos títulos. O primeiro que aparece é em
fé o pode descobrir e contemplar. grego parákletos, que encerra uma gama
jo à o 342 14JH
de significados: defensor, advogado, con gao e no templo. O que Jesús diz aqui i
solador, intercessor, valedor; o ùltimo de isto e muito mais: a uniáo dos fiéis com
signa “a pessoa que ajuda urna outra com ele é como a sua com o Pai. Para expres
sua influencia ou poder”. Jesus diz “ou- sar o mistério, emprega a fórmula difícil
tro”, em seu lugar ao partir. Chama-o tam da inabitagáo mùtua.
bém “Espirito da verdade”, provavelmen- 14.21 Forma inclusáo com o v. 15 i
te a verdade divina revelada aos homens; explica o que precede em termos de amoi
equivalerla a “revelador” (cf. Sb 1,5; ICor mutuo. E como se a relagáo do Filho com n
2 , 10- 12). Pai se dilatasse para dar guarida aos fiéis.
O “mundo” (sentido pejorativo) é in- 14.22 Pode-se escutar esta pergunta em
compatível com essa verdade: ele se recu dois tons. Como reprovagáo, pedindo qui
sa a “ver” a manifestatilo. Os discípulos se manifeste a todos (cf. 7,3-4); náo mere
já o tèm e o terào presente pela presenta ce resposta. Como recurso didático do
de Jesus e pela experiencia interior. narrador, para centrar o ensinamento.
14,18-19 “Orfáos” como categoria so 14,23-24 A pergunta de Judas, Jesús res
cial: que náo podem valer-se, des-validos, ponde insistindo no que acaba de dizer. O
desamparados (cf. SI 68,6). Pela morte mundo náo ama Jesús nem guarda seus
Jesus se vai, para passar a urna vida nova, mandamentos; por isso náo pode captar a
de outra ordem. O mundo, que só conhece manifestagáo que será a morte e ressurrei
o Jesus histórico, o considera acabado com gáo. E preciso amar para entender, e nao
a morte (cf. Sb 3,2): ignora-o, prescinde existe amor sem observancia dos manda
dele. Mas a vida nova de Jesus inaugura mentos. Mas o amor é relagáo pessoal e
urna relagáo mais intima, urna experien mùtua, a máxima entre os homens. Como
cia de vida comunicada, partilhada. No será essa relagáo com Jesus e com o Pai?
Ressuscitado encontra o fiel seu espago Um orante suplicava: “Quando virás a
vital, e no fiel a presenga de Jesus toma mim?” (SI 101,2). O Pai e o Filho respon
alento. A “volta”, a curto prazo, é a res- dem ao pedido de modo inesperado.
surreigào, realidade, testemunho e comu- 14,25-26 O Espirito se chama aqui San
nicagào de vida; vida superior já presente. to, enviado do Pai em atengáo a (em nomi
Mas essa vinda próxima náo exclui a vol de) Jesus. Sua fungáo de “ensinar” respon
ta a longo prazo. Da volta do desterro se de á sua condigáo de Espirito da verdade
diz “vèem face a face o Senhor que volta (cf. Is 63,11; SI 16,7; Jr 31,34). É o agend'
a Siáo” (Is 52,8). da tradigáo recordando o passado, todo o
14,20 O Senhor estava “no meio de, ensinamento de Jesus, e farà progredir na
entre” seu povo, “com” ele, na peregrina- sua compreensào.
343 JOÀO
vos ensinará tudo e vos recordará tu para que creiais quando acontecer.
llo o que eu vos disse. Já nao falarei muito convosco,
■ 'liu vos deixo a paz, eu vos dou a porque está chegando o príncipe deste
Hilnlia paz. mundo.
Nao vo-la dou com o a dá o mundo. Ele nao tem poder sobre mim,
Nao vos p erturbéis nem vos aco- 31mas o m undo há de saber que eu
vimlcis. amo o Pai
"Ouvistes que vos disse que vou e e que fago o que o Pai me mandou
voltarci para visitar-vos. fazer.
Se me amásseis, vos alegraríeis de Levantai-vos! Vamo-nos daqui!
que eu vá ao Pai,
|K>is o Pai é m aior do que eu. A vid eira v erd a d e ir a — 'Eu
'liu vos disse isso agora, antes que sou a videira verdadeira e meu
montera, Pai é o vinhateiro.
14.27 A paz era a saudagáo judaica cór terais. O núcleo é constituido pela compara-
lente de chegada ou despedida (Ex 4,18; Jz gao (ou parábola) da videira e seu comentá-
I H,6), com freqüéncia simples palavra con rio. O estilo é o que estamos escutando:
vencional. Sao clássicos a saudagáo a Jeru- aforismos, frases rítmicas, paralelismos. Sao
Milém(SI 122) e o anuncio messiànico (Is 9). palavras-chaves “dar fruto” e “permanecer”.
( ) mundo defende pazes injustas ou defende No AT é mais freqüente falar da vinha
a paz com paliativos ou pronuncia desejos que da videira como imagem de Israel. Na
hipócritas. Nào assim a saudagáo ou despedi linguagem poética, a distingáo tem pouca
da de Jesús, que é sentida e eficaz (cf. SI 85,9). importancia; o uso pode estar ditado pela
14.28 “O Pai é maior do que eu” é um conveniencia do tema ou pelo gosto do au
dos textos debatidos ou defendidos na con tor. Entre todos os textos que se costumam
trovèrsia ariana. Ao longo do evangelho e citar, acho mais pertinentes: Is 5,1-7; 27,2-
ueste discurso há dados para explicar a fra 5.10-11 (vinha); Jr 8,13; Ez 15 e 17; SI 80
se: o Pai o enviou, tragou o designio que (videira). Ao tomá-los como paño de fun
ele deve executar, comunica-lhe o que vai do, nao pretendo reduzir Jo 15,1-17 a mo
dizer. A resposta se dá no plano da fuñ delos tradicionais, mas mostrar a mudanga
ólo; no plano ontològico, os teólogos dis- radical operada. Em vários momentos a
linguiráo “como homem, como Deus”. vertente real se impóe á imaginativa.
14.29 Anunciar de antemao é pròprio de O esquema de Is 5 é: um vinhateiro plan
quem controla o futuro. Ao pronunciá-lo, ta urna vinha seleta e déla cuida, espera que
serena e conforta; ao cumprir-se, acredita e dé fruto, dá uvas azedas, ele se irrita e a des-
ilumina. O esquema é típico do Segundo trói. O vinhateiro é Yhwh e a vinha é Israel,
Isaías: “Predisse o passado de antemáo..., o fruto esperado é justiga e direito. Joáo
de repente o realizei e aconteceu” (48,3-5). substituí: o vinhateiro é o Pai, a videira é Je
14,30-31 O príncipe deste mundo é o Di- sús; portanto, nao urna planta humana, aín
ubo. Satanás. Nao porque ele seja poderoso, da que de qualidade (que depois falha), mas
mas porque o mundo o segue voluntariamen urna transplantada do céu, que nao falhará;
te. A morte de Jesus nào será urna vitória o fruto esperado é o amor a ele e o amor
de Satanás, mas cumprimento do designio mútuo (que abrange e radicaliza a justiga).
do Pai, prova de amor e obediencia frente O desenvolvimento também é próprio de
a este mundo hostil. O convite final pa Joáo, que o obtém concentrando-se na vi
rece indicar que num tempo ou numa tra- deira e nos sarmentos (compare-se com SI
digáo aqui vinha o episodio do Getsémani. 80,12). Toda a vitalidade destes provém da
Atualmente o discurso continua e se alonga. sua uniáo com a videira, e se traduz em dar
fruto; separados, os sarmentos nao dáo fruto
15,1-17 O enunciado metafórico marca o (Jr 8,13), secam, sao queimados (Is 27,11).
comego, a mengào do “fruto” (v. 16) marca 15,1 Videira verdadeira: ou “genuína”,
o final desta segáo. Entre ambos temos o tema aludindo a Jr 2,21: “Eu te plantei, videira
dominante ao qual se somam temas cola- seleta, de cepas legítimas”.
JOÀO 344 IV
2Os sarmentos que em mim nao dáo pedi o que quiserdes e acontecí'm
fruto ele os arranca; para vós.
os que dáo fruto os poda para que 8Meu Pai será glorificado se derili •>
déem mais fruto. fruto abundante
3Vós já estáis limpos pela palavra que e fordes meus discípulos.
vos disse. ’Como o Pai me amou, eu vos amei:
4Perm anecei em mim e eu em vos. permanecei no meu amor.
Como o sarmentó náo pode dar fruto lüSe cumprirdes meus mandamenti r,
por si só, se náo permanecer na videira, permanecereis em meu amor;
tam pouco vós, se náo perm aneceis assim como eu cum pro os manila
em mim. m entos de meu Pai
5Eu sou a videira, vós os sarmentos: e permaneció em seu amor.
quem permanece em mim e eu nele, 11 Eu vos disse isso para que partici
dará muito fruto; péis da minha alegría
pois sem mim náo podéis fazer nada. e vossa alegría seja plena.
Se alguém náo perm anece em mim 12Este é o meu mandamento:
será lanzado fora como o sarmentó, que vos améis uns aos outros como
e secará: eu vos amei.
sao recolhidos, lanzados ao fogo e 13Ninguém tem amor maior do que
queimam. aquele que dá a vida pelos amigos.
7Se permanecerdes em mim e minhas 14Vós sois meus amigos se fazeis o
palavras perm anecerem em vós, que vos mando.
15,2-3 O grego usa o verbo “limpar” em coloca a agáo no campo do amor, e o fruto
vez de um próprio que signifique “podar”. esperado era a pràtica da justiga e o direi
Da imagem agraria salta para a realidade to entre os homens. Lá se tratava do amoi
espiritual expressa em Iinguagem cultual, conjugal, aqui do amor paterno, filial, c
como em Ex 36,25.33 ou em SI 51,4. A os frutos sáo amor fraterno. Náo é um amoi
mensagem de Jesús recebida com fé puri simplesmente humano, porque recebe sua
fica os fiéis (a mesma expressáo ocorre no seiva de Jesús. Funda e engloba tudo o que
lava-pés, 13,10). [s 27,4 fala de “sargas e abarca a justiga e o direito. Modelo e foi
cardos” na vinha. ga é o amor de Jesus ao Pai e a seus “ami
15,4-5 A relagáo entre videira e sarmen gos”. O amor filial de Jesús se traduz em
tos sugere urna uniáo vital. Os sarmentos cumprir o mandamento do Pai, o amor do
náo sáo extrínsecos, a videira existe com fiel para com Jesús se traduzirá em cum
os sarmentos. Podem ser arrancados ou prir seu mandamento.
podados, porém sáo parte integrante da 15,11 Quando há amor, o cumprimento
videira. Assim Jesús com os fiéis: brotam é gozoso, até o sacrificio pode ser alegre.
dele, nao sáo acrescentados; permanecem O tema da alegría e seu correlativo, a festa,
unidos a ele e dele recebem a seiva. A é freqüente no AT; com Yhwh como sujei
mesma idéia referida a Deus: 2Cor 3,5. to: “vou alegrá-los em minha casa de ora-
15.6 Pode haver alusáo ao fogo esca- gáo” (Is 56,7); a seu servo (SI 86,4); “hou
tológico (cf. Ez 15,5-7; Is 27,11). ve urna festa, porque o Senhor os inundou
15.7 Pelo contexto próximo, petigóes de gozo” (Ne 12,43). Também At 2,46.
para dar fruto. No contexto mais ampio, 15,12-13 A morte de Jesus fica definida
ver Me 11,24; Jo 14,13; 16,23. como ato supremo de amor, “até o extremo”
15.8 O fruto abundante da videira será (13,1). Um orante se dirigía a Deus: “Vale
a gloria do vinhateiro. mais tua lealdade do que a vida” (SI 63,4);
15,9-10 Primeiro diz cumprir manda- Jesús diz que o amor vale mais que esta vida,
mentos (no plural) como expressáo do porque Ihe dá sentido e a transcende.
amor. Depois os reduz a um mandamento 15,14-15 Em Is 41,8 Israel recebe o tí
(no singular), que consiste em amar o pró tulo de “servo” e Abraáo de “amigo”. Ser
ximo. O precedente imaginativo de Is 5 vo do Senhor pode ser título honorífico.
345 JOÀO
i >s discípulos conviveram em regime de que estáo do seu lado (mais que amor é
imizade com o mestre. Aqui o sinal da egoísmo partilhado); o mundo odeia Je
¡imizade é partilhar confidencias (cf. Jó sús e os que ele lhe arrebata. Há urna cor
."1,4; SI 55,15). respondencia rigorosa: nao reconhecem os
15,16 Aelei^áo é iniciativa soberana de enviados de Jesús, porque nao reconhecem
Icsus (Me 3,13), como o é de Yhwh no AT nem Jesús nem aquele que c enviou.
(Nm 16,7; eleigáo do povo Dt 7,7; de Davi 15,20-21 Eu lhes disse: 13,16; Le 6,40.
. ' S i t i 6,2 etc.). O segundo condicional soa estranho: como
se o mundo em alguma ocasiáo ou em al-
15.18-16,4 Esta segáo aponta para o gum ponto tivesse cumprido o mandato de
liiluro, para a condiqáo dos fiéis envoltos Jesús. Deve-se tomá-lo como integrante de
pelo mundo pagáo e diante do judaismo um paralelismo antitético que equivale a
oficial. Diante do òdio, lógico, deveráo dar dizer: eles vos trataráo como a mim em
Icstemunho animados pelo Espirito. tudo, no bem e no mal. O tema continua
15.18-21 Diante do amor, o òdio: quem em 16,1-4.
poderá mais? O mundo tem aqui (e com 15,22-24 Segue-se uma serie de condi
Ircqiiéncia em Joáo) sentido pejorativo: cionáis. Agora sobre a responsabilidade
está dominado por Satanás (14,30) e agravada do mundo. Veja-se, desenvolvi
encarna a oposi§áo radical à missáo de do em condicionáis, o esquema do Profe
Icsus. O òdio e o amor sao incompatíveis, ta como atalaia do povo (Ez 33). Jesús se
como a luz e as trevas, o bem e o mal (cf. manifestou com palavras e obras e de nada
I’r 29,27). A sorte de Jesús será comparti- elas valeram.
Ihada por seus discípulos, como o expòs a 15,25 Literalmente se le em SI 35,19 e
instruyo aos apóstolos (Mt 10) e o dis 69,4. A figura do inocente perseguido é
curso escatològico (Mt 24 par.). Foi já a freqüente.
sorte dos profetas (Ez 2,6; 3,7 e o destino 15,26-27 O tema do Espirito parece in-
ile Jeremías). O mundo pode amar os seus, terromper o curso do pensamento; nao é
JOÁO 346
'E u vos disse tudo isto para que 5A gora volto para aquele que tm
nao tropeceis. enviou,
2Sereis expulsos da sinagoga. Chega- e ninguém me pergunta aonde vim
rá um tempo
quando quem vos m atar pensará ofe- A obra do Espirito — 60 que vos <w
recer culto a Deus. se vos encheu de tristeza;
3E faráo isso porque nao conhecem o 7mas vos digo a verdade: para vm
Pai nem a mim. convém que eu vá.
4Digo-vos isso para que, quando che- Se eu náo for, o Valedor náo vira p ai
gar seu momento, vos:
vos lem breis de que vo-lo disse. se eu for, vo-lo enviarei.
Náo vo-lo disse no principio, porque 8Quando ele vier,
estava convosco. convencerá o mundo
assim. Pelo contràrio, o Espirito é o gran do convicto o mundo (8-11); para dcnlm
de acompanhante do futuro. De outra par guiando a comunidade (12-15). Dun
te, antecipa a seçâo de 16,6-15 e esses agóes complementares.
versículos poderiam ser colocados depois 16,6-7 A tristeza da despedida se jnm
de 16,5 (ou 16,4). O Espirito atesta por si a dor diante do futuro de perseguigóes C|<m
e por meio dos discípulos inspirando-os lhes anunciou. O fato de pó-los de sobifl
(Mt 10,20) e o objeto do testemunho é a viso servirá no momento da prova; im
pessoa de Jesus e sua obra. Os discípulos momento atual, é motivo de dor intensa
háo de ser testemunhas históricas (Is 8,16- Contudo, há motivo para alegrar iJ
18), porque acompanharam Jesús em seu (14,28) ou para mitigar a dor, consideran
ministério, e testemunhas inspiradas da sua do o resultado da ida. Jesús tem de ser glu
missáo transcendente. Do testemunho fa- rificado antes de enviar o Espirito (7,3‘)|,
laráo explícita ou implicitamente os Atos entáo o enviará (20,22). Aquele que escro
(1,8; 5,32). ve vive no tempo da Igreja; seu evangelio
testemunha a atividade do Espirito.
16, 1-4 Continua o tema da perseguiçâo 16,8-11 Estes vv. sao difíceis e debah
por causa de Jesús. Sobrepóem-se duas dos. Proponho urna explicagáo baseada cin
perspectivas, a próxima, da paixâo e mor usos judiciais do AT (especialmente iln
te; a futura, da difusâo do evangelho. A verbo hwkyh), nos quais as fungóos esla
segunda se refere o “expulsar da sinago vam menos diferenciadas. Antes de tudo,
ga” (9,22), que era um fato consumado deve-se observar que Jesús está para si'i
quando se escreveu este evangelho. Quan submetido a julgamento e condenado. (>
to a “matar”, é possível que o autor esteja Pai abrirá outro processo, em instancia
pensando em Estêvâo e Tiago. É terrível a suprema, e empregará o Espirito come
frase que o apresenta como urna espécie advogado e fiscal, como condutor do pro
de homicidio ritual, como obra agradável cesso. Nele se inverterá o resultado. Com
a Deus. Sem querer nos vêm à memòria seu testemunho e argumentagáo (elegesos)
textos como SI 149,9 “executar a senten- convencerá ou deixará convencido o mun
ça ditada é urna honra”, ou o zelo fanático do: em termos judiciais, de uma culpa, d<
dos Macabeus contra seus compatriotas urna inocencia, de uma condenagáo. O'
(como o narra lM c 2,46); e outras práti- que condenaram sao os culpados, o con
cas da historia religiosa que náo escutaram denado é inocente, o sistema que o conde
ou náo compreenderam essa denùncia. nou sai condenado. A culpa consiste em
16.4 Ver 13,19 sobre a funçâo do anún- náo ter crido, apesar dos sinais; crer e nc
cio antecipado. gar-se a crer sáo atitudes que comprome
16.5 Alguns o unem com a seçâo que se tem toda a existencia: “Se náo crerdes, nao
segue. Também se pode tomar como tran- subsistiréis” (Is 7,7). A inocencia se com
siçâo. Sobre a pergunta: 13,36; 14,5. prova porque Jesús é acolhido por Deus.
16,6-15 Em poucos versículos traça a “pois o ímpio náo comparece perante ele’
açâo futura do Espirito para fora, deixan- (Jó 13,16). A glorificagáo prova que Jesus
347 JOÁO
.1. mu pecado, de urna justiga, de urna A legría após o sofrim ento — 16Daqui
MlliHis'n*: a pouco nao me vereis, pouco depois
y |NH'iido, porque nao creram em mim; me vereis.
'"ii |nsliga, porque vou ao Pai e nao 17Os discípulos comentavam entre si:
iiic veréis mais; — Que é isto que nos diz: Daqui a
" m»rulenga, porque o príncipe deste pouco nao me vereis, pouco depois me
Hlilllilo está sentenciado. vereis; e: Vou ao Pai?
^Militas coisas me restam para vos 18Diziam:
illfi'i, — A que pouco se refere? Nao en
mus por enquanto nao podéis com tendem os o que diz.
tln* 19Jesus compreendeu que queriam lhe
"Ouando ele vier, o Espirito da ver- perguntar, e lhes disse:
ilmlr, — Discutís entre vós sobre o que eu
vi is guiará para a verdade plena, vos disse: Daqui a pouco nao me vereis,
ruis nao falará por sua conta, pouco depois me vereis.
mus dirá o que ouve, e vos anunciará 20Eu vos asseguro que chorareis e vos
i» liiluro. lamentareis,
"Ele me dará gloria enquanto o m undo se diverte;
ni >ique receberá do meu e o explicará. estareis tristes, mas vossa tristeza se
l udo o que o Pai tem é meu, transform ará em alegría.
por isso vos disse que receberá do 21Quando uma m ulher vai dar á luz
tniMi e vo-lo explicará. está triste, pois chega a sua hora.
NT Ap 12. Is 66 fala do parto maravilhoso tenha limites, para que o receber compie
de todo um povo (em contraste com o len te a alegría. Um pai que ama seu filini
to e trabalhoso dos doze patriarcas), e náo lhe nega o que pede razoavelmente
menciona o gozo da festa. Is 26 é mais Pois bem, Deus Pai ama os que amam
audaz, fala da térra máe que dá á luz mor seu Filho, e lhes concede tudo o que
ios vivificados. Na especulado judaica se pedem movidos pelo Espirito (Rm 8,
falava das dores do parto que abririam a 26-27).
porta para a era messiáníca. 16,23a.25.29-30 Ao longo do discursu
No contexto ¡mediato da ceia, a imagem e em ocasióes precedentes os discípulo',
fala da fecundidade da paixáo e morte de interromperam ou abordaram Jesus coni
Jesús, da dor partilhada dos discípulos e perguntas: pela forma e também pelo con-
da próxima alegría que o ressuscitado tra- teúdo do seu ensinamento. No sentido res
rá. No contexto mais ampio da Igreja, trito e no contexto próximo, “parábolas”
enuncia urna condigáo permanente: o sa foram a da videira, a da mulher parturien
crificio por amor e o gozo da sua fecun te (Mt 13). Em contexto mais ampio e em
didade. A alegría que o Espirito infunde, o sentido lato, também eram “parábolas” as
mundo náo a arrebata com suas persegui- agóes simbólicas (lavar os pés, purificar o
qóes (cf. SI 4,8; Is 35,10). templo), os milagros como sinais (cura d e
16,23a “Aquele dia” é expressáo corren- um cegó, ressurrei<jào de um morto). Em
te que introduz anuncios escatológicos, de outra ordem, as com parares e símbolos
um futuro certo e indefinido; pode identi- empregados no seu ensinamento. Só a ex
ficar-se com o dia do Senhor. Como exem- periéncia viva, mediada pelo Espirito, p5e
plo típico veja-se a séríe anafórica de Zc em contato com a realidade sem media
12-14. Joáo recolhe a fórmula para indi gáo de “parábolas”. Tal é a promessa de
car o dia escatológico que chega com a Jesus para depois da ressurreigáo.
glorificado de Jesús: “será um dia único, 16,29-30 Os discípulos respondem coni
escolhido pelo Senhor” (Zc 14,7) que se um mal-entendido. Detendo-se no senti
prolonga na historia. Acabar-se-áo as per- do mais estreito e no contexto limitado,
guntas de agora, os pedidos seráo escuta- comparam as “parábolas” (linguagem fi
dos e reinará a claridade. Perguntar e pe gurada) com a linguagem pròpria, e ima
dir sáo parentes, já que perguntar é pedir ginam ter entendido tudo. Como eles o
urna resposta. fiel, o teólogo, podem iludir-se, pensando
16,23b-24.26-27 Quem pede e recebe que entendem perfeitamente. Mas a re
fica satisfeito e contente; que o pedir náo velagáo náo anula o mistério: nesta vida,
349 JOÁO
.i pcssoa sempre fica apontando para o 33). Isto indica que urna oraçâo se encai-
Iniilingivel. xa bem no final de um discurso de despe
16,31-32 Jesus os corrige, assinalando dida. Dentro desta seçâo do evangelho,
ii luluro próximo. Nao entenderam o mais este capítulo répété vários temas do cap.
■Ir mentar e próximo, a paixào. Entender 13 formando urna inclusáo. Ao passo que
litio é urna operagào puramente intelectual, pela tonalidade e por alguns temas se en
mus se ordena à conduta. A dispersáo dos laça idealmente com o prólogo.
iliseípulos responde à profecia (Zc 13,7, Pode-se articular o capítulo de formas
■il;ula pelos sinóticos). diversas, segundo o critèrio que se adote:
A expressào clàssica de Yhwh confor- pessoas por quem pede, partículas arti
Imido o homem “eu estou contigo” tem culatorias, repetiçâo em duas ondas de
v.ilor supremo quando se diz que o Pai “es motivos semelhantes e palavras idénticas.
i l i comigo”. Dai deriva sua validade para 17,1a Aprimeira frase é de enlace, mas
ii apòstolo (2Tm 4,16-18). nâo extrínseco; indica, antes, que o dis
16,33 Termina com um grito antecipado curso desemboca na oraçâo, nela culmina
ile vitória: pode-se dar por realizado: “eu (cf. SI 91,14-16). O gesto de olhar para o
iiiu tua vitória” (SI 35,3). Com seu sacrificéu é conhecido (11,41; SI 123,1).
cio por amor, Jesus vence o mundo e Sata- 17,lb-5 Propóe e desenvolve o tema da
inis. Seus discípulos sao chamados a par- gloria. Conceito fundamental no AT, como
licipar da luta e da vitória. Sentir o ànimo manifestaçâo de esplendor e poder. Moisés
i|iie ele infunde já é ganhar urna batalha. pedia (Ex 33,18). A glòria do Pai e a do
Filho sao correlativas: o Pai glorifica o
17,1 Costuma-se chamà-la de oragào sa Filho e essa gloria reverte no Pai. O Filho
cerdotal de Jesus. Com eia se dirige ao Pai glorifica o Pai, cumprindo a obra de amor
e roga pelos fiéis presentes e futuros. Pro que manifesta a “plenitude de bondade e
nunciada em voz alta é ao mesmo tem fidelidade” (1,14). Fala como se já tivesse
po revelado da intimidade de Jesús com consumado o sacrificio. A gloria que ti
o Pai. Aqui Jesus se revela como Filho e nha “antes que houvesse mundo” alude ao
.issim revela Deus como seu Pai. Jesus prólogo (1,1). Para Deus a finalidade é
¡iparece como a escada de Jacó, que une a glorificar, para os homens, é dar vida eter
Ierra ao céu (1,51; Gn 28). Jesús fala da na: porque ele possui a vida (1,4).
Ironteira entre céu e terra, na conjun§áo 17,3 A vida eterna consiste no conheci-
do divino e do humano. mento pessoal (Sb 15,3), experiencia e tra
Se olhamos o final do Deuteronòmio, to do Deus verdadeiro como Pai e de Je
vemos Moisés entoando um càntico de sus como Messias enviado (15,3; cf. ICor
despedida e bendizendo as tribos (Dt 32- 8,6). Jesús pode comunicar esse conheci-
JO ÁO 350
mento porque possui a plenitude (1,14), til e ameagador, assim os fiéis, retirado',
porque veio explicá-la (1,18). E o reve do sistema opressor, devem atravessar seu.
lador (Mt 11,22-23). perigos, antes de chegar á pátria prometí
17,6-8 O Pai entregou ao Filho: suas da. Na etapa precedente Jesús os acompa
palavras para que as ensinasse aos homens; nhou, guiou e protegeu (foi tirando-os i
um grupo de homens extraídos do mundo afastando-os do mundo, cf. Tg 4,4); par;i o
(como os israelitas do Egito): que eram futuro, roga ao Pai que os proteja. Nao os
seus, como novo povo escolhido, e mais pode tirar completamente, antes os envi.i
ainda como filhos (1,12), que créem em ao mundo que devem converter, como tam
Jesús como enviado, em suas palavras bém Jesús foi enviado ao mundo (1,10). O
como procedentes de Deus, e as cumprem. mundo hostil está dominado pelo Maligno
Esses homens sao agora os discípulos e (o diabo, Satanás): por esse mundo Jesu;.
seráo mais tarde os cristáos. náo roga, pois declarou guerra e venceu i
O nome de Deus se manifestou a Moisés ambos. Roga, sim, ao Pai que proteja os seus
(Ex 3,14, Yhwh) para identificá-lo diante das ciladas do Maligno, enquanto eles atra
dos demais, para a invocagáo e a súplica. vessam o mundo (como das serpentes do
Jesús revela o nome de Deus, que será Pai: deserto, Nm 21,6-9). Pelo caminho, um se
ao fazer dos fiéis “filhos de Deus”, comu- perdeu (como se perderam muitos no de
nica-lhes a experiencia pessoal de Deus serto), como estava previsto na Escritura
como Pai e lhes ensina a invocá-lo com (SI 109,4-8; outros propóem SI 41,10).
esse nome. Outros autores pensam no “Eu 17.9 O termo “mundo” atinge aqui seu
sou” que Jesús pronuncia várias vezes. significado radical, extremo: é aquele ou
17,6 Recebe-os o Pai por haver realiza aqueles definitivamente fechados ao dom
do seu designio: “por meio dele triunfará da fé. Excluíram-se e condenaram-se. O
o plano do Senhor” (Is 53,10); “meu salà Senhor ordenava a Jeremías: “Náo ínter
rio o tinha meu Deus... fago-te luz das cedas em favor desse povo” (Jr 14,11).
nagóes” (Is 49,4.6); “olhai, com ele vem Contudo, o amor de Deus abarca o mundo
seu salàrio” (Is 40,10). inteiro (Jo 3,16); e mais adiante pede que
17,9-19 Come^ando com “rogo” e até o o mundo conhe^a e creía (17,21.23).
v. 19, a segáo está dominada pela palavra 17.10 Sua gloria se manifesta no que
“mundo”. Em sentido ampio, equivale aos realizou neles, que sejam filhos de Deus
homens na terra; em sentido restrito de pela fé; também porque eles refletiráo essa
nota o sistema hostil a Deus e a Jesús. gloria em outros (2Cor 3,18).
Como os israelitas, saídos do Egito opres- 17.13 A alegría: Jo 15,11.
sor, tiveram de atravessar um deserto hos- 17.14 O odio do mundo: Jo 15,18-19.
351 JOÁO
I»iique nao sao do mundo, como tam- que também eles sejam um em nós,
ni nao sou do mundo. para que o m undo creia que tu me
•'Nao pego que os tires do mundo, enviaste.
m u í s i|ue os livres do M aligno. 22Eu lhes dei a gloria que tu me deste,
"‘Nao sao do m undo, com o tam bém para que sejam um, como somos nós.
»11 nAo sou do mundo. -3Eu neles e tu em mim, para que se
1'( onsagra-os com a verdade: tua jam plenamente um;
(«lluvia é verdade. para que o m undo conhega que tu me
"'( orno tu me enviaste ao mundo, eu enviaste
i» i'iiviei ao mundo. e os amaste, com o me amaste.
'''Por eles me consagro, para que fi- 24Pai, os que me confiaste quero que
firm consagrados com a verdade. estejam comigo
'"Nao rogo som ente por eles, mas onde eu estou; para que contemplem
liiinbóm minha gloria;
(míos que creráo em m im por meio a gloria que me deste, porque me amas
ilu Niias palavras: te antes da criagáo do mundo.
Jlüue todos sejam um, como tu, Pai, ^ P a i justo, o m undo nao te conhe-
Mullís em mim e eu em ti; ceu; eu te conheci,
e estes conheceram que tu me en 4Jesus, sabendo tudo o que lhe iria ac<>n>|
viaste. tecer, adiantou-se e lhes disse:
26Dei-Ihes a conhecer teu nome e o — A quem procuráis?
darei a conhecer, 5Responderam-lhe:
para que o am or que tiveste por mim — Jesús, o Nazareno.
esteja neles, e eu neles. Diz-lhes:
— Sou eu.
P risá o de Je sú s (Mt 26,47-56; Também Judas, o traidor, estava co#
M e 14,43-50; Le 22,47-53) — eles. 6Quando lhes disse sou eu, relio
'D ito isso, Jesús saiu com os discípu cederam e caíram por térra. 7Pergim
los para o outro lado da torrente do tou-lhes novamente:
Cedrón, onde havia um jardim . A i ele — A quem procuráis?
entrou com seus discípulos. 2Judas, o Responderam-lhe:
traidor, conhecia o lugar, porque mui- —- Jesús, o Nazareno.
tas vezes Jesús se reunirá ai com seus 8Jesus respondeu:
discípulos. 3Entáo Judas tomou um des — Eu vos disse que sou eu; mas,
tacamento e alguns criados dos sumos me procuráis, deixai estes ir emborn
sacerdotes e dos fariseus, e se dirigiu 9Assim se cum priu o que havia dito
para lá com tochas, lanternas e armas. N ao perdi nenhum dos que m e confuí \
o Pai se reproduz na deles com Jesús ou conta a oragáo no horto. No presente epi-.'>
entre eles (vv. 21.22). Terceiro, o Pai os trata
dio, segundo a versao de Joáo, Jesús atún
como trata o Filho: amor (vv. 24.26), como como protagonista e ao mesmo tempo co
o Filho os trata, guarda (vv. 11.15), santifimo diretor da cena. Escolhe o cenário oh
ca (vv. 17.19). Quarto, eles sao como Je lugar, conhece os movimentos de Judas, n
sús: nao sao do mundo (vv. 14.16); como quem despachou (13,21-30); conhece o m
tratam a Jesús, assim também ao Pai (co- teiro do que vai suceder; toma a iniciativa
nhecem, créem, v. 8). Acrescentando o que de perguntar e se identifica de modo solenc,
foi dito do Espirito nos capítulos preceden dá as ordens á tropa; repreende e reprime IV
tes, encontra-se aquí material para elabo dro. Além disso, explica o sentido dos falo
rar urna teología trinitaria. apelando para um símbolo bíblico conlie
cido. Feito tudo isso, deixa fazer. Toda ii
18-20 Em dois capítulos Joáo concen cena é de um dramatismo contido e austem
tra a narrativa da paixâo. A narrativa avan 18,1-2 Náo dá o nome do horto, que o-,
ça linearmente: prisáo de Jesús (18,1-13); sinóticos chamam de Getsémani (que, con
interrogatorio diante de Anás com nega- forme a etimología, significa prensa ou
çâo de Pedro (14-27); interrogatorio dian lagar de óleo). Por outro lado, nos diz que
te de Pilatos e condenaçâo à morte (18,28- era lugar freqüentado pelo grupo. Isto
19,16a); crucifixâo e morte (19,16b-37); significa um encontro marcado, calcula
sepultamento (38-42). Nos longos inter do e náo formulado, com o traidor.
rogatorios e com discretas alusóes bíblicas 18,3 É o pessoal de servigo e polícia
o narrador medita e expóe o sentido da do templo e das autoridades. O “destaca
paixâo e morte do Senhor. mento” é nome que se refere a soldado-,
romanos.
18,1 “Dito isso”, ou seja, terminado o 18,5 Nazareno é a designaqáo que usa
longo discurso, começa de novo a açâo, ram os judeus para os cristáos. Na boca
que desta vez é a paixâo. O primeiro gesto do personagem (na pena do narrador), a
é “sair”, e é a última saída pessoal daquele resposta de Jesús é soleníssima, transccn
que “saiu do Pai” (8,42; 13,3; 16,27-28; dente: o chamado Jesús Nazareno se cha
17,8). Sai ao encontro da morte, e da vida. ma “Eu sou”. Ao ser pronunciado o nome,
18,1-13 O primeiro episodio é a prisáo retrocedem (SI 35,4; 40,15; 56,10; 129..S)
no horto. Já notamos que Joáo nâo conta a e caem derrubados (SI 9,4; 27,2).
iniciativa de Jesús para a entrada em Jerusa- 18,9 Anunciado em 6,39; 17,12. Por oía
lém e para procurar o local da ceia; tampouco náo o podem seguir.
1« 'I 353 JOÀO
ir "'Simâo Pedro, que estava armado com Jesús no palácio do sumo sacer
rspada, a desembainhou, feriu o ser- dote, 16ao passo que Pedro ficou fora, á
>h lin sumo sacerdote e lhe cortou a ore- porta. O outro discípulo, conhecido do
lliii direita. (O servo se cham ava Mal- sumo sacerdote, saiu, falou com a por-
iii ) "Jésus disse a Pedro: teira e ela deixou Pedro entrar. l7A cria
limbainha a espada: Nâo vou be- da da portaría diz a Pedro:
lu’i ¡i taça que o Pai me ofereceu? — Náo és tu também discípulo desse
1'<) destacamento, o comandante e os homem?
■ii.ulos dos judeus prenderam Jésus, o Ele responde:
iitiiarraram 13e o levaram prim eiro a — Náo sou.
Auas (que era sogro de Caitas, o sumo 18Como fizesse frió, os servos e os
«merdote desse ano.) guardas haviam aceso urna fogueira e
se aqueciam. Pedro estava com eles aque-
Oíante de Caifâs (Mt 26,57s.59-66; cendo-se.
Me 14,53-64; Le 22,54.66-71) Nega- 190 sumo sacerdote interrogou Jesús
yVs de Pedro (Mt 26,69-75; Me 14,66- sobre seus discípulos e seu ensinamento.
Le 22,55-62) — 14Caifás era aque- 20Jesus lhe respondeu:
lr «pie havia dado seu parecer aos judeus — Falei publicamente ao mundo; en-
i | i h ‘ convinha que um sô homem mor- sinei sempre em sinagogas ou no tem
lesse pelo povo. plo, onde se reúnem todos os judeus, e
''’Simâo Pedro e outro discípulo se- nada disse as escondidas. 21Por que me
guiam Jésus. Como esse discípulo era interrogas? Interroga os que me ouviram
uiiihecido do sumo sacerdote, entrou falar, pois sabem o que Ihes disse.
18,10 Pode-se tratar de urna grande faca o interrogatòrio se realiza na casa de Anás,
de uso pessoal protegida em sua bainha. e é este quem o conduz. Se é assim, por
No contexto, espada é emblema de vio que o chama “sumo sacerdote”? Respon-
lencia (cf. Is 2,4; Os 2,20). O cálice da ira dem uns: porque conserva o título hono
ile Deus (Jr 25,15-29; SI 75,9 e paralelos). rífico; outros transferem o v. 24 para depois
I o Pai quem a estende para que a beba do v. 13 (com levíssimo apoio documen
«té o fim: “a taga larga e profunda e de tal); outros traduzem o verbo do v. 24 como
grande capacidade... taga de espanto..., a mais-que-perfeito (com pouco apoio gra
beberás, a sorverás” (Ez 23,32-34). matical). b) Que caráter e alcance tem o
18.12 “Judeus” sao as autoridades ju interrogatòrio? Náo parece um julgamen-
daicas antes mencionadas. to formal: nao o conduz o sumo sacerdote
18.13 Anás tinha sido sumo sacerdote em fungáo, nao se citam testemunhas, o
de 6 a 15 d.C. e conservava o título hono réu náo responde taxativamente mas pede
rífico e toda a influéncia pessoal e fami provas, e náo se pronuncia sentenga, é de
liar. No ano desses acontecimentos, era noite e ele é devolvido a Caifás. Para que?
Caifás o sumo sacerdote (18-36 d.C.). A impressáo que o breve relato deixa é de
18,14-27 O segundo episodio é o inter um interrogatorio policial antes do proces
rogatorio. Traz encaixada outra cena, para so formal. E o v. 24 com a indicagáo do v.
|>roduzir um efeito de simultaneidade e de 28 “da casa de Caifás” parece insinuar que
forte contraste. Enquanto Jesús se refere a ai se realizou o julgamento matutino, de-
seu ensinamento público, Pedro nega ser pois do canto do galo. Os vv. 25-27 en-
seu discípulo, com a fórmula significativa chem narrativamente o tempo intermèdio.
e reiterada “náo o sou”. 18,14 Joáo gosta dessas identificagóes
18,14.19-24 O episodio do interrogato que remetem a passagens precedentes
rio nos coloca diante de dois problemas (11,49-51).
principáis, a) O papel de Anás. Tomando 18,19-21 Náo há acusagóes (palavras
os vv. 13 e 24 como inclusáo, “levaram- contra o templo, pretensoes messiánicas),
no primeiro a Anás”, este “o enviou a mas apenas perguntas sobre pontos que
( ’aifás, sumo sacerdote”. Daí se segue que podiam ser perigosos no terreno político e
JOÂO 354 IX. ”
22Quando disse isso, um dos guardas — Nao és tu também discípulo délo '
presentes deu um tapa em Jesus, di- Ele o negou:
zendo: — Nao sou.
— É assim que respondes ao sumo 26Replica-lhe um dos servos do sumo
sacerdote? sacerdote, parente daquele a quem Pe
2;,Jesus respondeu: dro cortara a orelha:
— Se falei mal, mostra-me a malda- — Nao te vi eu com ele no jardim?
de; mas, se falei bem, por que me bates? 27Novamente Pedro negou, e imedi;i
24Anás o enviou am arrado ao sumo tamente o galo cantou.
sacerdote Caifás.
25Simáo Pedro continuava aquecen- Jesus diante de Pilatos (Mt 27,ls. 11
do-se. Perguntam-lhe: 14; Me 15,1-5; Le 23,1-5) — ^Levant
eiilfto Jesus da casa de Caifás ao palácio — Náo nos é permitido matar ninguém.
iln invernador. Era de manhá. Eles nao 32(Para que se cumprisse o que Jesús
íiilniram no palácio do governador pa havia dito, indicando de que morte iría
ni evitar contam inar-se e poderem co morrer.) 33Pilatos entrou de novo no pa
lliri ¡i Páscoa. 29Pilatos entáo saiu para lácio do governador, chamou Jesus e lhe
mule estavam e lhes perguntou: perguntou:
De que acusais este homem? — Es tu o rei dos judeus?
'"Kesponderam-lhe: 34Jesus respondeu:
Se náo fosse um malfeitor, náo o — Dizes isso por tua conta, ou fo
lu íamos entregue a ti. rarti outros que te disseram de mim?
"I’ilatos replicou-lhes: 35Respondeu Pilatos:
-Tom ai-o o julgai-o segundo a vos- — Como se eu fosse judeu! Tua na-
«II legislado. <jáo e os sumos sacerdotes te entrega-
Os judeus lhe disseram: ram a mim. Que fizeste?
separagáo. Pilatos responde com urna eva se enquadraria melhor logo antes da
siva que implica náo-aceitagáo. crucifixáo.
18,38b-40 Terceira cena: Barrabás. Em 19,4-8 Quinta cena: Pilatos e as autori
lugar de pronunciar sentenga de absolvi- dades judaicas. A forma é a apresentagáo
gáo, Pilatos busca urna escapatoria que e aclamagáo do rei, segundo o modelo de
ponha em apuros os judeus e os faga de Saúl (ISm 10,24-25), Salomáo (IRs 1,38-
sistir do intento. Os judeus ficam presos 40.46-47), Jeú (2Rs 9,12-13), Joás (2Rs
no dilema; mas Pilatos dá um passo no 11,12-14). Só que aqui Jesús aparece com
declive escorregadio da injustiga: preten outra indumentária régia e escuta como
de indultar um inocente depois de decla única aclamagáo “crucifica-o”. Autores
rar que nao é culpado. Um inocente pede antigos viram na coroa urna alusáo a Ct
justiga, nao clemencia (cf. SI 7; 17). Nao 3,11. Pilatos declara pela segunda vez que
se sai bem; nao esperava que a aversáo Jesús é inocente. Na intengáo de Pilatos,
chegasse a tanto. “homem” poderia indicar desprezo ou
pena. Na mente do narrador pode ser
19,1-3 Quarta cena: Jesús e os solda correlativo do título “filho de Deus” (v. 7).
dos. Pilatos continua escorregando: manda Alguns pensam que alude a uma profecía
agoitar o inocente e o entrega as zomba- de Balaáo na versáo grega: “Surge o astro
rias dos soldados. Que pretende? Des- de Jaco, levanta-se um homem de Israel”
prestigiá-lo aos olhos do seu povo, ou (Nm 24,17). O grito “crucifica-o” é pro
excitar a compaixáo. O narrador nao dis- nunciado por um grupo limitado, ao qual
simula a injustiga do procurador. Pilatos, irritado, responde com um sarcas
A zombaria versa sobre o título de rei. mo, repetindo pela terceira vez que Jesús
A coroa é de material desprezível, com es é inocente.
pinhos como raios; é colocada, nao crava- A lei invocada é, na mente dos “judeus”,
da; é zombaria, nao tortura. A púrpura (vio a pena contra a blasfémia (Lv 24,16). Na
leta) era cor imperial. Jesús sofre em mente do narrador a frase vai mais longe:
silencio: “ofereci as costas aos que me ba- a figura de Jesús é inconciliável com a in-
tiam..., nao cobri o rosto diante dos ultra terpretagáo que os judeus fazem da lei:
jes e cuspidas” (Is 50,6-7). A flagelagáo para conservar essa “lei” é preciso elimi-
357 JOÂO
liar Jesús: “gloria-se de ter Deus por pai” fes judeus, que o entregaram ao poder ci
(cf. Sb 2,13.16.18). O fato de alegar a lei vil de Roma.
Indica que os judeus tomam o título de fi- 19.12-16 Sétima cena: Pilatos entrega
llio de Deus em sentido forte. Para o pa Jesús. Acossado pelos judeus e pela sua
bilo Pilatos, soava como um ser divino inseguranga interna diante de Jesús, Pilatos
dolado de poderes extraordinários. Por isso tenta libertar ou libertar-se desse réu táo
*c assusta: teme entrar num terreno para difícil. Nesse momento os judeus atacam
ele vedado e muito perigoso. pessoalmente o procurador com a ameaga
19,9-11 Sexta cena: Jesús e Pilatos. ou a chantagem. Seja ou náo título honorí
<Yimplemento da segunda. A primeira per fico “amigo de César”, Pilatos está colo
fuma de Pilatos é ambigua: de que regiáo cando em jogo o cargo, ou por interferir
geográfica (Jo 1,8), ou de alguma esfera ñas leis locáis, reconhecidas por Roma, ou
sobre-humana. Seria táo difícil e improdu- por tolerar um individuo politicamente
livo explicar-lhe, que Jesús se cala. Pilatos muito perigoso. Neste ponto o narrador
insiste, irritado, mas em sua pergunta retó deixa reconhecer o tom de sua voz, acu
rica se condena: se tem poder para absol mulando alusóes teológicas.
ver e já o declarou inocente très vezes, tem 19,12 *Ou: o imperador.
poder material, náo ético, de condená-lo à 19.13-14 Pilatos “senta-se” para pronun
cruz; náo só tem poder, mas também obri- ciar a sentenga ou “senta” Jesús: a ambi-
gagáo, de soltá-lo. O narrador náo dissi güidade do verbo pode ser intencional. Sen-
mula nem atenúa a culpa do procurador. ta-o ou entroniza-o (significado freqüente
O poder que Pilatos possui é recebido do verbo ysb) para apresentá-lo como “vos
de Deus, e por isso ele é responsável pe- so rei” (compare-se com a fórmula de apre-
rante Deus: “O poder vos vem do Se- sentagáo de Saúl (ISm 12,13). O lugar é o
nhor.. ele indagará vossas obras e explo Lajeado (lithostroton), palavra raríssima
rará vossas intençôes” (Sb 6,1-10; 2Cr que se lé duas vezes na versáo grega do
19,6-7). Quanto a Jesús, julgado julga e AT: Ct 3,10 a liteira do noivo; 2Cr 7,3 o
declara as culpas respectivas dos partici pavimento onde se adora a gloria de Deus.
pantes no processo. Conhecemos por Há urna alusáo? A hora é meio-dia, hora
Jeremías e Ezequiel o juízo comparativo em que se imola o cordeiro pascal.
(Jr 3,11; Ez 16,46-48; 23,11). Por múlti 19,15 Culmina a rejeigáo de Jesús e com
plas razóes, é mais grave a culpa dos che- ele a da alianga. Isto pelas palavras que o
JOÁO 358 19, If.
16Entáo o entregou para que fosse go. 21Os sum os sacerdotes diziam ,1
crucificado. Pilatos:
— N ao escrevas Rei dos Judeus, i<
C rucifix áo (M t 27,32-44; Me 15,21- sim: Ele disse: sou Rei dos Judeus.
32; Le 23,26-43) — E o levaram. 17Je- 22Respondeu Pilatos:
sus saiu carregando ele próprio a cruz — O escrito escrito está.
para um lugar cham ado Caveira (em 23Quando crucificaran! Jesús, os sol
hebraico Gólgota). 18A í o crucificaran! dados pegaram sua roupa e a dividí rain
com outros dois, um de cada lado, e em quatro partes, uma para cada sohla
Jesús no meio. 19Pilatos mandara escre- do; exceto a túnica. Era uma túnica seiii
ver um letreiro e cravá-lo na cruz. O costuras, tecida de cima a baixo, de urna
escrito dizia: Jesús, o Nazareno, Rei dos pega só. 24Entáo disseram:
Judeus. — Nao a rasguemos. Vamos sortea
20Muitos judeus leram o letreiro, por la, para ver com quem ficará.
que o lugar onde Jesús fora crucificado (Assim se cumpriu o escrito: Repar
ficava perto da cidade. Além disso, es- tiram minhas vestes e sortearam minlm
tava escrito em hebraico, latim e gre- túnica.) Foi o que fizeram os soldados
narrador p5e, como arremate, na boca dos 19,17-18 Primeira cena. Jesús carrega .1
judeus. Rei de Israel tinha que ser o Senhor cruz: Joáo náo introduz Simáo de Cireni
(ISm 8,7; SI 93; 95; 96-99); o rei davídico como tampouco menciona em seu evan
tinha que ser seu representante; para o fu gelho o principio de carregar a cruz para
turo se esperava o Messias ou Rei ungido. seguir Jesús (Mt 10,38 par); “carregou
Agora reconhecem como único rei o impe nossas dores” (Is 53,4). Saiu: da cidadi-
rador de Roma. A ironía é trágica: Pilatos Nos arredores se executavam as sentenças
exposto a perder a amizade de César, eles capítais (Nm 15,35; At 7,58; cf. Hb 13,13).
leáis a César (em contraste com Is 26,13). Última e definitiva saída, abandonando-a
19,16 A “entrega” equivale á sentencia. Voltará a ela ressuscitado, para dar-lhe uma
O procurador romano a pronuncia; o deli funçâo nova. Náo sabemos se o topónimo
to imputado equivale a rebeliáo contra Caveira tinha alcance simbólico, como pre-
Roma, e o modo de execuqáo é romano. sença da morte; o termo se lé na cena
19,17-42 Podemos intitulá-lo crucifixáo macabra de Jezabel morta (2Rs 9,35), mas
e morte. De novo o narrador o constrói em náo se percebe nenhuma conexáo. Os “ou
sete cenas com algumas corespondéncias tros dois” aludem talvez a SI 22,17 (salmo
cruzadas. A primeira e sétima sáo pó-lo na favorito dos relatos da paixáo).
cruz e tirá-lo déla; na segunda e na sexta 19,19-22 Segunda cena. Era normal es
Pilatos trata com as autoridades judaicas. A crever em cima do condenado o título ou
terceira e a quinta relacionam Jesús com os delito pelo qual era executado. Pilatos Ihe
soldados. Na quarta (central) está o trián dá um alcance internacional: na língua do
gulo Jesús, sua máe e o discípulo predileto. lugar e ñas duas línguas francas do Impe
Cada cena concentra-se no essencial: rio (daí uma tradiçâo tirou a idéia de cha-
sem descricóes patéticas, sobrepondo com má-las de très línguas sagradas).
poucos tragos realistas uma constelado de Na dinámica do relato, o choque dos sa
símbolos. Jesús na cruz é o rei que come- cerdotes com Pilatos é significativo. Rejei
5 a a distribuir dons: sua túnica e vestes, taram Jesús como rei (Messias), procla
um filho para uma máe e uma máe para maran! César rei único; agora o Procurador
um filho, seu alentó ou vida ou espirito, executa aquele que ele mesmo proclama
seu sangue e água. A Escritura está pre rei, ou proclama rei um condenado. Ambas
sente em citacjóes, alusóes e no paño de sáo coisas ofensivas para a sensibilidade
fundo simbólico. O cumprimento da Es judaica. Pilatos, que representa César,
critura tem valor apologético, frente aos mantém a proclamaçâo.
judeus, e teológico, para os fiéis. Os sím 19,23-24 Terceira cena. Que aos execu
bolos seráo vistos em cada cena. tores caiba a posse das vestes do executado
359 JOÁO
rni normal. A citagáo (SI 22,18) desdobra a (SI 22,18 e 69,21), e répété très vezes que
uperagáo em veste e túnica. Sem o saber se cumpriu. A morte de Jesús encaixa-se
- sugere o narrador — os soldados estáo assim perfeitamente na Escritura e é crí-
cumprindo urna previsáo. Que seja tecida e vel. O Filho cumpriu o encargo designado
»Kmcostura pode ser urna descriólo realis pelo Pai. Pela sede, esta cena se liga com
ta, Tem além disso sentido simbólico? Na a da samaritana. Aquele que pede de be
Iradigáo, alguns pensaram que fosse a tú ber, logo depois dará água. Além disso, o
nica sacerdotal; outros, que representa a cumprimento da última Escritura penden
unidade da Igreja. Quanto as suas vestes te é o cumprimento de tudo. Jesús o sabe
(no plural em grego), alguém pensa no cis (como em 13,1, fechando um ciclo), o provo
ma de Israel simbolizado no manto rasga ca. O último cumprimento da sua obra é
do do profeta (IRs 11,30-31), e no valor morrer (3,16). Sua morte é dom: entrega
de totalidade cósmica do número quatro. O seu último alentó, com ele sua vida, com
manto é símbolo de heranga na transmis- ela o Espirito. Seu último grito é de triunfo.
Nfio de poderes de Elias a Eliseu (2Rs 2). 19,31-37 Sexta cena. Quebrar as pernas
19,25-27 Quarta cena. As “tres Marías” tinha por finalidade acelerar a morte, isto
com o “discípulo” representam a faixa de é, abreviar a tortura: faltando o apoio, so-
Israel fiel a Jesús até o suplicio. Entre elas, brevinha a asfixia. Mas, para que o golpe
Ncleciona a máe. Em termos sociais, o filho de lança? Para certificar-se da morte, pen-
tínico, antes de morrer, assegura um destino sam alguns. Pois, segundo Dt 21,23 o cor-
ii máe (viúva?); recomenda-a a um amigo po do sentenciado nao devia ficar pendu-
leal. O relato aponta além. Jesús lhe dá o rado durante a noite (cf. G1 3,13). As seis
tratamento de 2,4: “mulher”: chegou a hora da tarde começava o sábado, nesse ano o
entáo anunciada. A máe do rei recebe como primeiro dia da Páscoa.
nova familia, como irmáo de Jesús, o discí O brotar sangue e água, embora clínica
pulo ideal. Este poderá suscitar fílhos ao ir- mente possível, é considerado de suma im-
máo mais velho morto (Dt 25,5-10). María portáncia pelo narrador, quando insiste no
|iode encarnar a nova Eva que “adquiriu um que afirma urna testemunha ocular fide
liomem com a ajuda de Deus” (Gn 4,1). Pa digna (provavelmente o discípulo predi
ra a tradigáo antiga, é figura da Igreja máe. leto). A testemunha viu o fato e penetrou
19,28-30 Quinta cena. Que dessem á em seu sentido. E o atesta para provocar
vítima água com vinagre, como bebida ou corroborar a fé (lJo 5,6-8). Que signi
refrescante, é um trago realista. O narrador fica o fato? A morte é certa. Da morte bro
ve nisto o cumprimento de urna profecía ta a vida e cumpriu-se a Escritura. No evan-
JOÀO 360 l'i i,.
verdade, para que creíais. 36Isso aconte- cificado havia um jardim e nele um u>
ceu para que se cumprisse a Escritura: pulcro novo, no qual ninguém li.ivJ
N ao Ihe quebrareis nenhum osso; 37e sido sepultado. 42Como fosse v e - h
outra Escritura diz: Contemplaráo aque- da festa judaica e como o sepulcro r-.ii i
le que transpassaram. vesse próximo, ai colocaram Jesús j
gelho, a água parece responder á profecía manifestam e expressam sua devocáo: peí
de 7,38-39; o sangue, sede da vida (Lv sonagens que representam outros como li
17,11; Dt 12,23, pode indicar o cumpri- pos e se apresentam como modelos.
mento do dar a vida (10,11.15.17-18). A Os aromase os lengóis de linho nao era m
tradigáo descobriu outros simbolismos: os de uso corrente para enterrar os mortos (ver
sacramentos do batísmo e eucaristía, a o caso do reí Asa em 2Cr 16,14); tém algo
Igreja que nasce do lado do novo Adáo; o de festivo (SI 45,9; Pr 7,17; Ct 4,14). Ou
peíto aberto como novo tabernáculo da sao homenagem postuma, tentativa deses
presenta de Deus e do acesso do homem. perada de reprimir o mau cheiro da coi
A primeira citagáo procede de Ex 12,46 rupgáo. Nos funerais dos reís “se queima
ou Nm 9,12 (embora se pareja também vam perfumes” (Jr 34,5), nao serviam para
com SI 34,21), e serve para mostrar que ungir o cadáver. Com os lengóis “atam” ou
Jesús é o cordeiro da nova Páscoa. A se envolvem, amarrando totalmente o corpo.
gunda procede de Zc 12,10 e diz que o cru Também é homenagem excepcional que o
cificado será o centro dos olhares para a sepulcro seja novo. Localizado num jardim:
conversáo: “derramarei um espirito de afli- cova e campo para a sepultura de Sara (Gn
qüo e de pedir perdáo. Ao olhar-me trans- 23), sepulcro no jardim real (2Rs 21,18.26).
passado por eles próprios faráo luto como O detalhe do jardim serve para localizar o
por um filho único”. episodio seguinte. O trabalho fica termi
19,38-42 Sétima cena: enterro de Jesús. nado antes que comece o solene descanso
O cadáver de Jesús nao é langado á vala sabático. Jesús já descansa em paz.
comum dos sentenciados (Is 53,9) nem
abandonado ao mau tempo e as feras (ISm 20-21 Ressurreigáo. O momento e
17,44), mas recebe honrosa sepultura. Com modo da ressurreigáo nao se descreve: e
petía ao procurador dar licenga para retirar objeto da fé e transcende a percepgáo hu
o corpo de um sentenciado. O enterro ex mana sensível. O Ressuscitado, sim, mani-
cede as honras fúnebres normáis pela quan- festa-se corporal e gradualmente. Primeiro
tidade e qualidade dos aromas, pela quali- com sinais de ausencia: sepulcro vazio, len
dade dos tecidos, pelo sepulcro novo. Pelas qóis e sudário abandonados, mensagem por
máos de José e Nicodemos, a Igreja come terceiros (vai se aproximando). Depois, em
ta a honrar a morte de Jesús. O discípulo figura e voz irreconhecíveis. Depois com
clandestino e o visitante noturno agora se sua voz e figura de sempre, e as marcas re-
361 JOAO
- I'nli mi Inclinando-se, vé os len- pulcro; viu e creu. 9Até entáo nao ha-
. ni ii<> i lian, mas nao entrou. 6Chega viam entendido o escrito, que deveria
>m >'.miau Pedro atrás dele, e entrou ressuscitar da morte. l0Os discípulos
.... i'iiliTo. Observa os panos no chao, voltaram para casa.
...... lacio que lhe envolverá a cabe-
1 n.n i no chao com os panos, mas en- A parece a M a ría M adalena (Me 16,9-
l i.l.i .i parte. 8Entáo entrou o outro 11) — n M aria estava fora, chorando
i. .. ijiuln que chegara primeiro ao se diante do sepulcro. Chorando, inclinou-
20.12 Sào duas te ste < rnunh a s celestes, Pai. A mensagem combina diferenga com
como mostram suas v e s t e s. Guardarti o semelhanga: em virtude da minha glorifi-
lugar, nao o corpo; ou entao, “sentados” cagào, meu Pai é agora vosso Pai (1,12),
tomam posse do lugar d& morte como en meu Deus é vosso Deus (compare-se com
a fórmula de MI 2,10). Amensagem pascal
viados celestes.
20.13 O título “meu ^enhor” soa ainda é mensagem de fraternidade com Jesus.
em sentido corrente (p. ex- assim chama 20,18 Maria è a primeira evangelista da
Abigail a Davi, ISm 2-5). Supoe que os ressurreigào. O título Senhor agora nào è
mensageiros celestes e s t á o a par da sitúa- ambiguo, é o título que a fé dà ao Ressus-
gao; censura-os por nao ° terem guardado? citado.
20.14 É frequente naS aparigoes que Je 20.19-23 É ainda o dia da nova Páscoa, e
sus assuma urna figura desconhecida. Per- também os discípulos temem ser persegui
tence a urna condigao corpórea nova, a par dos por causa da sua relagào com o senten
tir da qual pode esconder'se e manifestar-se. ciado. As portas trancadas sào também tes-
20.15 Jesus a chama em primeiro lugar temunho da nova condigáo corporal de
“mulher”. Eia diz “senilor”. e o título ago Jesus. O medo será vencido com a saudagáo
ra é ambiguo. da paz pascal; a dúvida e o desánimo, com
20.16 Jesús fala no timbre costumeiro a identificagäo corporal. Jesus atravessa as
de sua voz e a chama Pe¡o nome (10,3. barreiras externas e internas do homem.
14.27; cf. Is 43,1). Eia o reconhece (cf. Ct Na cena podem-se reconhecer tragos de
2,8; 5,2). É o mesmo d e antes e é novo, e uma celebragäo eucaristica: dia do Senhor,
nào precisa de aromas. presenga de Jesus na comunidade, recon-
20.17 O verbo no irfperativo presente ciliagào pelo perdào, recordagào da pai-
supoe que eia o abraca e de alguma forma xào, dom do Espirito.
o segura: “vou a g a r r á - l° e náo o soltarei” 20.19-20 A saudagáo com a paz nào é
(Ct 3,4). Embora Jesús já tenha sido glori convencional, mas cumprimento de uma
ficado e possa dar o ¡¿spirito, ainda lhe promessa (14,27-28; cf. Is 52,7; 60,17;
restam tarefas antes dc encerrar o ciclo. 66,12). Também a alegria è cumprimento
Permanece ainda um modo de presenta (16,21-22; cf. Is 51,3.11; SI 35,9).
particular, intermèdio, corn respeito a essa 20,21 Amissào é ato soberano de Jesus,
presenta e atividade: 3 inda nào subiu ao para prolongar sua pròpria missào. Tem
20,30 363 JOAO
22Dito isso, soprou sobre eles e dis- 26Oito días depois estavam de novo
se-lhes: dentro os discípulos, e Tomé com eles.
— R ecebei o E sp irito Santo. 23A Jesús veio a portas fechadas, colocou-
quem perdoardes os pecados, ficaráo se no meio e disse-lhes:
perdoados; a quem os m antiverdes, fi — A paz esteja con vosco!
caráo mantidos. 27Depois, diz a Tomé:
24Tomé (que significa Gémeo), um — Póe aqui o dedo e vé minhas máos.
dos doze, nao estava com eles quando Estende a máo e coloca no meu lado, e
veio Jesús. 25Os outros discípulos lhe náo sejas incrédulo, mas eré.
diziam: 28Tomé lhe respondeu:
— Vimos o Senhor. — Meu Senhor e meu Deus.
Ele replicou: 29Diz-lhe Jesús:
— Se eu nao vir em suas máos a mar — Porque me viste creste. Felizes os
ca dos cravos e nao colocar o dedo no que creráo sem ter visto.
lugar; se nao puser a máo em seu lado, 30M uitos outros sinais Jesús fez na
nao crerei. presenta de seus discípulos e que náo
como origem e modelo a missáo de Jesús 20.24 Os companheiros lhe dizem o mes-
pelo Pai, e como instrumento e garantía o mo que Maria dissera, “vimos o Senhor”:
dom do Espirito. título que a fé enuncia. Compare-se com
20.22 O gesto de soprar recorda a criado “encontramos o Messias” (1,41.45).
dohomem (Gn2,7; Sb 15,ll)earessurreí- 20.25 Tomé quer identificar Jesús pelas
gáo dos mortos (Ez 37). E como a criado marcas corporais da crucifixáo (os outros
do homem novo, dotado do alentó do Es as teriam mencionado).
pirito, em virtude da ressurreígáo de Jesús. 20,26-27 Jesus se apresenta no meio de
20.23 O poder de perdoar ou imputar pe todos, exatamente como no domingo an
cados soa como variante de Mt 18,18 (e Mt terior. Nao vai dedicar a Tomé urna apari-
16,19). Aexpressáo polar (os dois extremos) d o a sos: no meio da comunidade poderá
pode significar totalidade (cf. Is 22,22 o ver Jesus e professar a fé. Como que desa
poder simbolizado pelo controle da porta); fiando, Jesús aceita submeter-se à prova
os verbos estáo na voz passiva teológica, exigida, mas exige fé. Tomé se contenta
“ficam perdoados (por Deus)”. E um po com ver, como os outros.
der que discerne e julga, que reconcilia ou 20.28 A profissào de fé em Tomé é ple
excluí: que se dá em primeiro lugar aos dis na. “Meu Senhor” ( ’adonay) substituí em
cípulos, e que eles exerceráo de formas diver tempos posteriores o nome nao pronuncia
sas (aqui entra a interpretado e explicado do de Yhwh; “meu/nosso Deus” é título clàs
posteriores): admitindo ou nao ao batismo, sico da alianza. Lemos os dois unidos no SI
na penitencia também sacramental (embo- 35,23: “Desperta, levanta-te em minha de-
ra imputar ou reter pecados nao seja ato fesa, meu Deus e meu Senhor, em minha
sacramental, mas sim exercício de poder). causa” (atengao aos verbos; cf. Am 5,16).
20,24-29 O episodio gravita rumo á pro- E como urna resposta final as declara
fissáo de fé feita por Tomé (11,16) e a de r e s “Eu sou” do evangelho.
c larad o final de Jesús. Do grupo dos 20.29 Sao as últimas palavras de Jesús
“doze” (denominadlo técnica) se desliga na versáo original do evangelho. Dirige o
Tomé para representar um papel importan olhar ao futuro (como em 17,20). Os dis
te. É o incrédulo que pede provas palpá- cípulos tém tido urna fu n d o especial: ser
veis, que eré nos milagres indubitáveis; que testemunhas oculares para dar testemunho
irónicamente, pela sua teimosia, acaba sen dele. Os futuros teráo de aceitar esse tes
do testemunha excepcional. Serve de aviso temunho e crer. Para eles há uma bem-
para todos os que no futuro teráo de crer aventuranga especial (IPd 1,8).
por sua palavra, pela m ediado do testemu- 20,30-31 O epílogo descreve o livro
nho apostólico dos que “viram”, quer di- como antologia ou se le d o e declara sua
zer, conviveram com Jesús. finalidade. O evangelho referiu sete sinais
JOÂO 364 20,31
constam neste livro. 31Estes ficam es — Vamos contigo.
critos para que creíais que Jesús é o Saíram, pois,esubiram à barca; mas
M essias, o Filho de Deus, e para que nessa noite nada pescaram. 4Já de ma-
crendo tenhais vida por meio dele. nhá estava Jesús na praia; mas os discí
pulos nao reconheceram que era Jesús.
A parigáo ju n to ao la g o — ‘De- Diz-lhes Jesús:
pois, apareceu novam ente aos — Jovens, tendes algo para comer?
discípulos junto ao lago de Tiberíades. Responderam:
A pareceu assim: 2Estavam juntos Si- — Nao.
m ao Pedro, Tomé (chamado o Gémeo), 6Disse-lhes:
N atanael de Caná da Galiléia, os Zebe- — Lançai a rede à direita da barca e
deus e outros dois discípulos. 3Diz-lhes encontrareis.
Simáo Pedro: Lançaram-na e nao podiam arrastá-
— Vou pescar. la por causa da multidáo de peixes. 70
Respondem-lhe: discípulo predileto de Jesús diz a Pedro:
sar impaciéncia por chegar. Se tem funçâo preciso cancelar com a tríplice declaraçào,
simbólica, seria um esforço de purificaçâo humilde, de amor: “ao entardecer sereis
antes de aproximar-se de Jesús (duvidoso). examinados no amor” (Joáo da Cruz). A
21,8 Arrastando: na rede ou traineira, variaçâo nos termos “amar, querer” e “ove
sem tirar os peixes para a barca. No plano lhas, cordeiros, cordeirinhas” parece esti
simbólico é a força de Jesús “atraindo tudo lística, mais que teológica. Pedro recebe um
a si” (12,32). encargo especial e único para a comunida-
21.11 Cento e cinqüenta e très é o valor de (lPd 5,2), que continua sendo rebanho
numérico das letras das correspondentes de Jesús (cap. 10).
palavras hebraicas (dggym gdwlym), um A nota temporal do v. 15 quer unir esta
exercício de gematria bem ao gosto da épo cena com a manifestaçâo e a refeiçâo prece
ca. No relato, serve para exprimir a abun dente: o individual fica enquadrado no co
dancia. A rede nâo se rompe: símbolo da munitàrio. O destino de Pedro se expressa
unidade da Igreja, segundo os antigos co em imagens que apontam para o martirio,
mentaristas. Os peixes tirados da água po- talvez para a cruz com o “estender os bra-
dem encerrar simbolismo batismal, atesta ços”. O “cingir-se” da tarefa cotidiana trans-
do na antigüidade. forma-se em “ser cingido” ou atado à for
21.12 Precisamente porque sabem nâo ça (cf. At 21,11-12) e conduzido a morrer.
se atrevem, por urna espécie de temor reve Depois da ressurreiçâo e reconciliado
rencial. com Jesus, Pedro “o seguirá até a morte”
21.13 As fórmulas sao eucarísticas. E (13,37). O martirio “glorifica” a Deus (12,
Jesús quem reparte; nâo se diz que ele coma. 33; lPd 4,16).
21.15-23 Esta cena foi escrita quando 21,15 A pergunta sobre o amor pode ser
as duas personagens já morreram, na épo relacionada com 14,21 e 15,13; a imagem
ca tardia da Igreja primitiva. do pastor com o cap. 10. Se Mateus propòe
21.15-19 O diálogo com Pedro desperta a confissao de fé como fator de sua consis-
várias ressonáncias. Dos sinóticos e para a tència “pétrea”, Joâo propòe o amor a Je
reconciliaçâo, Le 5,1-11 (“afasta-te de sus como condiçâo e garantía de sua açâo
mim... nâo temas”) e Mt 14,30-31 (“por que pastora!. Pedro amadureceu no amor, como
duvidaste?”); para a missáo Le 5,10 (pes se dirigisse ao Mestre e Senhor um “amor
cador de homens) e Mt 16,16 (edificarei com todo o coraçâo e todas as forças”.
minha Igreja). Mais fortes e obvias sao as 21,17 Tu sabes tudo: como demonstrou
ressonáncias da tríplice negaçâo, que é na prediçâo (13,38) e segundo a confissâo
JOÁO 366 21,18
O j?'' 800
ATOS DOS APOSTOLOS
INTRODUÇÂO
Embot a seja possivel 1er este livro urna constante do livro que culmina na
como obra autónoma, é melhor ter cm última página, em Roma.
conta que é apenas a segunda parte de A organizaqáo das igrejas é fluida, com
urna obra, e que somente lida como tal um corpo dirigente local de “an d a o s”
é que manifesta todo o seu sentido. É (em grego presbyteroi); os apóstalos tem
obra única no N ovo Testamento, de a responsabilidade e a autoridade supe
grande valor histórico, embora aceite rior; a seu número se somam Matías,
convençôes da época: principalmente Barnabé e Paulo. Existe urna constancia
o gosto pelo maravilhoso e os discur de vida sacramental e litúrgica: batismo
sos na boca dos personagens. Só que e eucaristía, imposiqao das máos, celebra-
os discursos tém na obra urna funçâo qóes; e com isso a instruqao catequética.
particular: sao o evangelho proclam a Ñas cenas íntegras e em detalhes signi
do, segundo o mandato de Jesús. Quan- ficativos, os Atos dos Apóstelos sao cum-
to aos personagens, dois protagonistas primento de um mandato ou profecía de
atuam sucessivámente em primeiro pla Jesús, eco de um ensinamento, repeti-
no: Pedro na prim eira parte (caps. 1— qáo ou reflexo de urna aqao. Bastará ci
12), enquanto se consolida a igreja de tar alguns casos (vejam-se os paralelos):
Jerusalém e periferia; Paulo, que vai
batism o de Espirito e fogo Le 3,16/
promovendo a difusáo do evangelho
At 2,1-4
pela Asia, Europa e até Roma.
descida do Espirito Le 3,21s
Lendo com mais atençâo, suspeita-
At 11,16
se que éprotagonista precisamente esta
centuriáo romano Le 7,1-10/
palavra ou mensagem, que se difunde At 10
com estranha força de convicçâo. R e ressuscita urna menina Le 8,49-56/
tend/>o texto, conclui-se que o verda- At 9,36-42
deiro protagonista é o E spirito prom e v isio gloriosa,
tido e enviado p o r Cristo à sua Igreja. transfiguraçâo Le 9,28-36/
O material narrativo p o d e ser cata At 7,55s e
logado em relatos, discursos e sumá- 9,4ss
rios. Ocupam grande espaço osproces- tem pestade acalmada 1x8,22-25/
sos, que sao relatos com discursos At27,13-26
incluidos. A ssistim os no relato à con- subida a Jerusalém Lc9,31.51/
solidaçâo, expansâo e crescimento da At 19,21;
Igreja, em muitas igrejas ou comuni 21,15
dades locáis que form am a grande uni- processo e morte de Estéváo:
dade. Primeiro, tem a prim azia a de —nao podem resistir-lhe Le 21,15/
Jerusalém, onde tudo começa; depois, At 6,10
toma afrente a de Antioquia. A expan —perante
sâo nâo é só geográfica: é principal o Grande Conselho Le 22,66/
mente um ir penetrando e ganhando At 6,12s
adeptos no territorio e cultura pagaos; —pede perdáo
é ao mesmo tempo um desprenderse, pelos inimigos Le 23,34/
nao pretendido, do judaism o. Esta é At 7,60
ATOS DOS APOSTOLOS 370 INTRODUgÁO
O autor é o mesmo do evangelho; a A data: duvida-se entre 62/63 antes da
tradiqáo antiga o chama Lucas. Teste- sentenqa contra Paulo, ou depois de 70,
munha de alguns fatos (se n á o fo r cita- como indica o evangelho. Os destinatá-
gao de fo n tes ou recurso narrativo). rios sáo, principalmente, pagaos con
Parece pertencer ao círculo de Paulo. vertidos.
ATOS DOS APOSTOLOS
1,1-2 Este breve prólogo une o presente cia capital no pensamento de Lucas. Tragou,
livro ao evangelho como segunda parte de a partir de Le 9,51, a grande “subida” de Je
urna obra, com o que a historia da Igreja nas- sús para Jerusalém, a fim de padecer e ser
cente fica firmemente ligada ao ministério crucificado; o último ato da subida será a
de Jesús. Este ministério se resume em duas ascensáo. Depois, Jerusalém será o bergo e
atividades, obras e palavras, e se define por o ponto de partida da Igreja.
seus limites temporais. O “principio” pare 1,5 Identifica o “Prometido pelo Pai”
ce referir-se á atividade pública de Jesús (Le citando e adaptando uma frase do Batista
1 ,2 ), sem incluir o que chamamos evange (Le 3,16; Jo 1,33). Adata fica pendente,
lho da infancia. O final é original de Lucas. convidando á constancia.
Em comparagáo com outros evangelistas, 1,6-11 Ascensáo: liga-se com o final do
Lucas sublinha duas etapas intermedias: evangelho. Para os outros evangelistas, a
urna de quarenta dias (número simbólico), ressurreigáo é a “glorifica^áo” ou exaltagáo
que pertence ainda á atividade de agir e en- de Jesús, para sentar-se á direita de Deus.
sinar de Jesús na térra, e outra de prepara- Este final é um acontecimento transcenden
gáo ao dom do Espirito, dedicada á oragáo. te, nao acessível aos sentidos. Lucas dra
O prólogo revela a consciencia de escritor. matiza o fato, inspirando-se em anteceden
Dedica sua obra a Teófilo, nao sabemos se tes bíblicos, em lendas apócrifas e talvez
amigo ou protetor. Muito diferente é a quase em modelos helenísticos. Do AT conhece a
dedicatoria do Salmo 45 a “um rei”, e por ra- referencia concisa a Henoc (Gn 5,24; Eclo
záo oposta, o longo prólogo de 2Mc 2,19- 44,16) e o relato misterioso, quase litúrgico,
32. Lucas teve mais éxito em “tomar memorá- do rapto de Elias na presenga de Eliseu e
vel o nome”. Entre as obras de Jesús se destaca num carro de fogo (2Rs 2,1-13; Eclo
a eleigáo dos apóstolos (Le 6,12-13), e entre 48,9.12; lM c 2,58); também a “figura hu
as palavras as instrucóes fináis, provavelmen- mana” de Dn 7 é levada ao céu numa nu-
te depois de ressuscitar. Menciona a ascen vem para receber do Anciáo o poder.
sáo na voz passiva do verbo levantar, elevar. Lucas adota o esquema vertical, que colo
1.3 Quarenta dias é número simbólico, que ca a divindade na altura celeste (SI 123,1).
recorda Moisés na montanha (Ex 24,18; 34,28; Usa o verbo “elevar-se” (epairo, raro com este
Dt 9,9) e Elias peregrino (IRs 19,8). Com én- fim) e o corrente “levantar, elevar” (que
fase certeira junta os dados, “vivo depois de pa corresponde ao hebraico Iqh). Convoca dois
decer” (a morte). Um fato acreditado por “pro personagens masculinos celestes e prefere a
vas’’(Le2434), manifestagóes visuais e palavras. nuvem ao carro de fogo (“tomando as nuvens
1.4 Partilhar a mesa (o sal) é uma das pro como teu carro”, SI 104,3). Aceña visual se
vas (Le 24,36-43). Jerusalém tem importán- anima com diálogos e instrugóes. Desta
ATOS DOS APÓSTO LOS 372 1,7
7Respondeu-ihes: Escolha de Matías — I2Entáo, do mon
— Nao cabe a vós saber os tempos e te das Oliveiras voltaram a Jerusalém;
circunstàncias que o Pai fixou com sua esse monte fica á distáncia de Jerusalém
exclusiva autoridade. 8Mas recebereis a apenas uma caminhada de sábado, g u a n
força* do Espirito Santo que virá sobre do chegaram, subiram ao piso superior
vós, e sereis m inhas testemunhas em onde se alojavam: Pedro e Joáo, Tiago e
Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até A ndré, Filipe e Tomé, Bartolomeu e
os confins do mundo. Mateus, Tiago de Alfeu, Simáo o zelota e
9Dito isso, em sua presença se ele- Judas de Tiago. 14Todos eles, com algu-
vou, e urna nuvem o ocultou a seus mas mulheres, a máe de Jesús e seus pa-
olhos. 10Continuavam com os olhos fi- rentes, persistiam unánimes na oracáo.
xos no céu enquanto eie partia, quando 15Num desses dias, levantou-se Pedro
duas personagens vestidas de branco se no meio dos irmáos, cento e vinte pes-
apresentaram n e lhes disseram: soas reunidas, e disse:
— Homens da Galiléia, que fazeis ai — 15Queridos irmáos, devia cumprir-
olhando o céu? Este Jesus que vos foi se o que o Espirito Santo profetizou por
arrebatado para o céu, virá como o vis meio de Davi a respeito de Judas, aque-
tes partir para o céu. le que guiou os que prenderam Jesús,
apresentaçâo lucana procede nossa festa resumir, ou deixar cair chaves de interpre-
litúrgica da Ascensáo. Na literatura apócrifa, tagáo. Pode ser que o aprendeu das para
prolifera o género intitulado “Ascensáo de N.” das retrospectivas ou prospectivas de nar
1,6-7 O breve diálogo revela o horizonte radores bíblicos (p. ex. Jz 2,11-23; 2Rs 17).
mental dos discípulos, mesmo depois da res- A mengáo do monte das Oliveiras suge-
surreiçâo, mas antes de receber o Espirito: re que foi o lugar da ascensáo; pode ser
urna restauraçâo política de Israel (cf. Mt influxo da lembranga da profecía de Zc
17,11; Ab 20-21; Sf 3,19-20). Jesus se nega 14,4 sobre a vinda (do Messias) a tal monte.
apredizer datas (Mt 24,36-37; Me 13,32). A caminhada de um sábado é pouco me
1,8 O Espirito tradicionalmente comuni nos que um quilómetro. A lista dos após
ca força física (Jz 14,6.19) ou espiritual (Is tolos é tradicional (Le 6,14-16). As mulhe
11,2-3). Os apóstolos a receberáo para urna res sáo das que tinham seguido Jesús (Le
missáo particular: ser “testemunhas” de Je 8,2-3; 10,38-42; 23,49.55; 24,10); entre elas
sus. A palavra é densa de conteúdo, por sua se destaca sua máe. Os irmáos sáo paren-
freqüência em todo o NT, em suas variaçôes tes de Jesús. A sala superior podia ser lu
verbais e nomináis. As etapas estáo marcadas: gar de retiro ou de reuniáo (9,37; 20,8).
Jerusalém, centro; dai, em movimento cen A tarefa principal é a oragáo em comum;
trífugo, a Judéia, a semipagá Samaria, os pa imagem inicial de comunidades cristas. A
gaos “até os confins do mundo” (Is 48,20; segunda tarefa será completar o grupo dos
49,6; 62,11). Essa consciência de universa- doze: também a eleigáo dos doze é prece
lidade se deve ao narrador inspirado; os dis dida de oragáo (Le 6,12).
cípulos levaráo tempo para compreendé-la. 1,15-26 Define-se o primeiro grupo que
* Ou: poder. vai receber o Espirito: uma comunidade
1.10 Ajijos em figura humana sáo compa- de irmáos; o número, dez por comunida
nhia costumeira em momentos solenes: o nas de, imagem do novo Israel. É uma comu
cimento (Le 2,9), a ressurreiçâo (Me 16,5). nidade hierárquica, dirigida pelos apósto
1.11 Como designaçâo de origem, “Ga los, entre os quais se destaca Pedro. O
liléia” nao se aplica a todos; sim, como de apostolado é particular de uma sorte, um
signaçâo dos seguidores de Jesús. O anún- servigo, uma responsabilidade (kleros,
cio da volta é conciso, sem indicaçao alguma diakonai, episkopen). Os apóstolos sáo o
temporal. E pura afirmaçâo do fato, garanti lago auténtico entre a vida de Jesús e a vida
da por duas testemunhas celestes. da Igreja: tém de ter convivido com ele
1,12-14 Este é o primeiro dos famosos durante todo o seu ministério e tém de dar
sumários de Lucas. Paradas narrativas que testemunho de sua ressurreigáo. O discur
olham para trás e para a frente, a fim de so de Pedro vem a ser programático.
2,2 373 ATOS DOS APOSTOLOS
l7que era um dos nossos e compartilha- nós, um deve ser conosco testemunha
va o nosso ministério. 18Com o paga de sua ressurreiqáo.
mento de sua iniqüidade com prou um 23D esignaram dois: José, cham ado
terreno, caiu de cabega para baixo, ar- Bársabas, apelidado Justo, e Matias.
rebentou-se pelo meio e Ihe saíram as 24Depois rezaram assim:
entranhas. 19Todos os habitantes de Je- — Tu, Senhor, que conheces os cora-
rusalém tom aram conhecim ento, de cóes de todos, indica-nos qual dos dois
modo que o terreno se chama em sua escolhes 25para ocupar o lugar desse m i
língua Hacéldama (ou seja, cam po de nistério apostólico, que Judas abandonou
sangue)*. 20Pois está escrito no livro para ir ao lugar que lhe correspondia.
dos Salmos: Fique sua morada despo- 26Tiraram sortes, e a sorte caiu em
voada, que ninguém nela habite, e que Matias, que foi incorporado aos onze
seu lu g a r seja o cu p a d o p o r outro. apóstolos.
21Portanto, de todos os que nos acom-
panharam enquanto o Senhor Jesús en- Pentecostes (Jo 20,22) — ‘Quan
trava e saía entre nós, 22desde o batis-
mo de Joáo até que foi arrebatado de
2 do chegou o dia de Pentecostes, es-
tavam todos reunidos. 2De repente veio
toda a casa; talvez signifique que se ouve 2,9-11 Alista, metida à força na perguntli
em toda a casa. dos presentes, quer dar impressâo de pin
2.3 Um só Espirito pousa, e se distribuí ralidade e totalidade. Olhada de perlo i
(ICor 1 2 , 1 1 ). desconcertante, porque mistura povos, re
2.4 A informagáo sobre a lingua nao é gióes, provincias romanas, junto com n
coerente: aquí diz que falavam “línguas Judéia. Cretenses e árabes poderiam abni
estrangeiras” capacitados pelo Espirito. car Ocidente e Oriente.
Mais abaixo, o povo diz que falam numa 2,12-13 A segunda reaçâo é divisáo de
lingua, a pròpria, mas que cada um a en- opinioes entre a perplexidade e a zomltii
tende na sua (como numa milagrosa tra- ria; fácil recurso para desqualificar o que
dugáo simultànea). nao se entende (cf. ISm 1,14). Do ponto
2,5-8 Acena anterior se imaginava numa de vista narrativo, a zombaria serve do
sala em beneficio dos presentes. De repen transiçâo.
te os apóstolos se encontram como num 2,14 O discurso de Pedro é solene e im
cenário ante um público numeroso, forma portante. E o primeiro que se pronunci.i
do de judeus piedosos ou devotos, proce depois de receber o Espirito; à imagem de
dentes de toda a diàspora e estabelecidos Jesús que, depois de receber o Espirito nu
em Jerusalém. Urna reuniáo como a anun batismo, pronuncia um discurso progra
ciada pelos profetas (Is 26,13; 49,22; 60,4.9; mático na sinagoga de Nazaré (Le 4). É o
Zc 8,7-8), com caráter mais ideal que real. primeiro de urna série de discursos seme
Os perfis aqui se confundem, porque o lhantes (3,12-16; 4,8-12). Embora elabo
narrador supóe muitas coisas ou délas se rado pelo narrador, parece refletir um mo
despreocupa. Se residiam em Jerusalém, délo de pregaçâo primitiva aos judeus.
nao entendiam o aramaico? Por que o es- Divide-se cómodamente em duas partes,
trondo os congrega todos nesse lugar? marcadas pela dupla introduçào: w . 15-21
Quando os discípulos comegaram a falar? e 22-36.
A primeira reagáo é de admiragáo diante Pedro fala de pé, à maneira dos orado
do prodigio: algo sem precedentes na tra- res gregos, levanta a voz como o requer o
diaio bíblica. A lingua dos apóstolos toma público, pede atençâo como qualquer ou
se universal, como a do céu (SI 19). A divi- tro (Is 1,10; 28,23; SI 49,2), para urna
sáo e dispersáo de Babel (Gn 11) inverte a mensagem importante.
diregáo. A diàspora judia convertida será o 2,15-28 Dedica a primeira parte a ex
primeiro círculo concèntrico da confluen plicar o que está acontecendo, negando a
cia para o alto do monte (Is 2,2-5); o se explicaçâo superficial, da embriaguez, e
gundo círculo seráo os “prosélitos” (v. 1 1 ). propondo a explicaçâo justa que, para um
375 ATOS DOS APOSTOLOS
pela máo de gente sem lei, e o matastes. com juram ento que um descendí mh|
-4Mas Deus, libertando-o dos rigores da carnal seu se sentaría em seu r/miid
morte, o ressuscitou, pois a morte nao 3Ipreviu e predisse a ressurrei(r;au 11.1
podía reté-lo. 2sO próprio Davi diz dele: Messias, dizendo que näo ficaria I
Ponho sempre diante de mim o Senliejr: donado na morte, nem sua carne <’*/■
com ele á direita nao vacilarei. 26Por rimentaria a corrupqäo. 32A este Ji'mi
isso, meu coraqáo se alegra, minha lín- Deus ressuscitou, e todos nós somit»
gua exulta e minha carne descansa es- testemunhas disso. 33Exaltado à diivilJ
peranqosa: Aporque nao m e deixarás de Deus, recebeu do Pai o Espirito S.in j
na morte, nem perm itirás que teu fie l to prom etido e o derramou. E o q»
conheqa a corrupqáo. 2STu me ensilla estáis vendo e ouvindo. 34Pois Davi itilil
rás o caminho da vida, m e encherás de subiu ao céu, mas diz: Disse o Seniioi
alegría em tua presenqa. 29 Irmáos, pos ao meu Senhor: senta-te à minha din i
so dizer-vos com toda a franqueza: o ta, 35 até que faqa de teus inimigos cui
patriarca Davi morreu e foi sepultado, Irado de teus pés. 36Portanto, que to>11
e o sepulcro dele se conserva até hoje a Casa de Israel reconhega que a eMI
entre nós. 30Mas, com o era profeta e Jesus, que crucificastes, Deus o nonio m
sabia que Deus lhe havia prom etido Senhor e Messias.
1 1 i|uc ouviram lhes tocou o cora duos em escutar o ensinamento dos após-
lli i disscram a Pedro e aos outros tolos, na solidariedade, na fraçâo do pao
e nas oraçôes. 43Diante dos prodigios e
I ) i|uc devenios fazer, irmaos? sinais que os apóstolos faziam, uní sen
"l'i ilio lhes respondeu: tido de reverencia se apoderou de to
Ariependei-vos e batizai-vos, cada dos. MOs fiéis estavam todos unidos e
, ni invocando o nome de Jesus Cris- possuíam tudo em comum; 45vendiam
l'ii.i que sejam perdoados os vos- bens e posses, e os repartiam segundo a
.. |ii <ados.'.E recebereis o dom do necessidade de cada um. ^’D iariam en
■pillilo Santo. 39Pois a promessa vale te acorriam fielm ente e unánim es ao
■tlil vi is c vossos filhos e para os dis- templo; em suas casas partiam o pao,
iiKi v a quem o Senhor nosso Deus com partilhavam a comida com alegria
ihiiiiii. e sim plicidade sincera. 47Louvavam a
imi muitas outras razóes os con- Deus e todo o mundo os estimava. O
iihivn e exortava, dizendo: Senhor ia incorporando à comunidade
Salvai-vos, afastando-vos desta todos os que iam se salvando.
... nirao pervertida.
"< )s que aceitaram as palavras dele Cura do paralítico (Le 5,17-26) —
, Ii.ili/aram, e nesse dia unías très mil 'P edro e Joao subiam ao tem plo
¡m*M>as se incorporaram. 42Eram assi- para a oraçâo das très da tarde. 2Um
tumava ser transportado diariam ente e do a Deus. 9Todo o povo o viu i >u|H
colocado à porta do templo cham ada nhando e louvando a Deus. 10E, ;...... «
Formosa, para que pedisse esm ola aos nhecer que era aquele que pedia i n. i
que entravam no tempio. 3Ao ver Pedro sentado à porta Formosa do temei
e Joào entrando no tempio, pediu-lhes encheram -se de assom bro e esp.im
esmola. 4Pedro, acompanhado de Joào, diante do acontecido. "C o m o comi
olhou-o fixamente e lhe disse: nuasse agarrado a Pedro e a Joào, imi
— Olha para nós! o povo acorreu assombrado ao póni,
5Ele os osservava, esperando receber de Salomào.
deles alguma c o isa .6 Pedro porém lhe
disse: D iscurso de Pedro no pòrtico - 1 '
— Prata e ouro nào tenho, mas o que vè-los, Pedro lhes dirigiu a palavi.i
tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, — Israelitas, por que ficais olhan.l
o Nazareno, póe-te a andar. para nós como se tivéssemos feito r n
7Pegou-o pela máo direita e o levan- homem andar com nosso proprio p>
tou. No mesm o instante, pés e tornoze- der e religiosidade? 130 Deus deAbniih i
los se robusteceram, 8ergueu-se de um de Isaac e de Jacó, o Deus de nosso
salto, pós-se a andar, e entrou com eles pais glorifìcou seu servo Jesus, quc vm
do. O relato do milagre se atém a um es O segundo efeito, exigido pelo esi|in
quema tradicional, com alguns detalhes ma, é o assombro do povo: é urna esl t >
mais descritivos. Realiza-se em lugar pú nheza ou perplexidade que deseja compirai
blico, o templo, ao qual os apóstolos con- der. Atitude que Pedro aproveita para un
tinuam espiritualmente vinculados, ao me novo discurso.
nos na oraçâo. Outros textos do AT falam 3,11-26 Este segundo discurso reiteri n
da “oferenda vespertina” (Dn 9,21 e SI esquema de delito, designio de Deus, cha
141,2). mado à conversáo; mas introduz outra si < I
O aleijado vivia de esmola, sem outra rie de elementos próprios. Por um lado i
esperança. Do templo extraía nada mais mais compreensivo, pois reconhece a ate
que a caridade dos visitantes e o cenário nuante da ignorancia; por outro lado é mali
espléndido e inoperante da Porta Formo- incisivo, pois coloca a situagao de opc,;iin
sa. A esmola era muito recomendada (Eclo definitiva diante de um juízo final. O dis
3,30; 7,10; Tb 4; 12), e déla se valia o alei curso se dirige a “Israel” como povo elcili■
jado para continuar sobrevivendo. Pedro e por isso insiste em temas conaturais
com Joâo váo romper o esquema, com a Messias, profeta, patriarca. O Israel de ago
irrupçâo de urna força nova no ámbito do ra tem de realizar a promessa patriarcal cu
templo. O olhar mútuo exprime c provoca anúncio profetico, reconhecendo e aceitan
a expectativa (também do leitor): a roti- do o Messias. Os que se negarem senio “ex
neira do doente, a confiante de Pedro (cf. cluidos do povo” (Lv 23,29). O estilo do
SI 145,15). discurso demonstra expressoes semíticas e
Pedro professa urna pobreza que o faz rico soa com acento arcaico.
(Le 9,3; Mt 10,9): pode invocar com éxito o 3.12 De novo os chama israelitas (nao
nome de Jesús Nazareno como Messias judeus), porque estáo ai, no templo, repre
(como a invocaçâo de Yhwh, Si 20,6.8; sentando o povo da alianza. O povo admi
33,21; 124,8). A invocaçâo é acompanhada ra um taumaturgo; inclusive descobre nele
do gesto humano, o tato comunicativo (cf. urna religiosidade profunda, fonte de po
a açào de Deus em SI 73,23). O efeito é der maravilhoso. E preciso chegar mais
¡mediato, acontece o que anuncia o salmo além: mais longe e mais perto.
(145,14); é espetacular, como que cumprin- 3.13 Partindo do título tradicional e pa
do a profecía (Is 35,6). Louvando a Deus, tríarcal de Deus (Ex 3,6.15), traga um arco
como se descobrisse novo sentido para o que descansa na “glorificagao” de Jesús
templo. (Is 52,13) e dai se precipita no delito.
379 ATOS DOS APOSTOLOS
.m.-)i,r,u-s e rejeitastes diante de Pi- nado. 210 céu tem que reté-lo até o
ihM i|iir ilecretava sua libertaqäo. l4Vós tem po da restauragáo universal, que
i»11-1 .i>•s o santo e inocente, pedistes Deus anunciou desde os tem pos am i
,m vir. nulultassem um homicida 15e gos por meio de seus santos profetas.
-, o Príncipe da vida. Deus o res- "M o isé s disse: N osso D eus vos susci
I- . I I . mi da morte, e nos somos teste- tará um profeta como cu, um de vos
mihI m n ilisso. sos irmáos: escutai o que ele disser.
I'iiii|iie creu em seu nome, este que 23A q u e le que nao escutar o profeta
.iili.. n s e vedes recebeu vigor desse será excluido de seu povo. 24Todos os
.m.. i- a le obtida dele lhe deu saúde profetas, desde Samuel e por turnos,
Mi i | i l i la na presenta de todos vós. falaram e anunciaram estes tem pos.
' I nlretanto, irm äos, sei que vós e 25V ós sois herdeiros dos profetas e da
i..’h r. cliefes fizestes isso por igno- alianza que Deus outorgou a nossos
iii. i.i IKSó que Deus cum priu assim pais, quando disse a Abraáo: P or tua
itnimciado por todos os profetas: que descendencia seráo benditas todas as
(i Messias iria padecer. ^A rrep en fa m ilia s do mundo. 2f'Deus ressuscitou
t í vos e convertei-vos, para que se seu servo e o enviou prim eiram ente a
,|iii|’iiem vossos pecados, 20e assim vós, para que vos abengoasse, fazen-
i i bais do Senhor tem pos favoráveis do que cada um se converta de suas
yus envié Jesus, o M essias predesti- m aldades.
concedido aos homens, que possa sal 2nQuanto a nos, nao podemos calar o
var-no v que sabem os e ouvimos.
^Observando a ousadia de Pedro e 21Repetindo suas ameacas, eles os des
loao c constatando que eram homens pedirán!, pois nao encontravam um modo
,imple- s c ¡letrados, adm iravam -se; ao de impor-lhes urna pena, por causa do
reconhi-cer que haviam sido compa- povo, que dava gloria a Deus pelo acon
ilheiros ilc Jesús, 14e ao verem com eles tecido. 220 homem beneficiado com o
i) honiem curado de pé, ficaram sem sinal da cura tinha mais de quarenta anos.
réplica. '“’Ordenaram, pois, quesaíssem 23Ao ver-se livres, reuniram-se com seus
Jo tribunal, e se puseram a deliberar: companheiros e contaram o que lhes ha
— "'O que fazemos com esses ho- viam dito os sumos sacerdotes e os letra
inensV l izeram um milagre evidente, dos. 24Os que ouviram levantaram a voz
lodos os habitantes de Jerusalém o sa- unánimemente, dirigindo-se a Deus:
liem, c nao podemos negá-lo. 17Contu- — Senhor, que fizeste o céu, a térra,
do, para que nao se continué divulgando o m ar e tudo o que eles contém; 25que
entre o povo, os proibirem os de voltar por boca de teu servo Davi, inspirado
it falnr com alguém a respeito desse pelo Espirito Santo, disseste: Por que
homem. se agitam as nagóes e os povos plane-
18Cham aram -nos e ordenaram -lhes ja m em váo? Os reís da térra se le
uue absolutamente se abstivessem de vantaram e os governantes se aliaram
talar e ensinar em nome de Jesús. 19Pe- contra o Senhor e seu Ungido. 27De
dro e Joáo lhes replicaram: fato, nesta cidade aliaram-se contra teu
— Parece justo a Deus que obedeza santo servo Jesús, teu Ungido, Herodes
mos a vós antes que a ele? Julgai-o. e Póncio Pilatos, com pagaos e gente
Pedro ilustra citando o Salmo 118,22 (Le Os apóstolos nao opuseram resistencia à
20,17). E concluí com urna declaragáo de prisáo, responderam ao interrogatorio: re-
»Icance universal, transpondo as frontei- conhecem a autoridade e seu limite.
ras do povo de Israel. Jogando talvez com 4,21 Ao mencionar a última ameaga, o
o significado do nome hebraico de Jesús narrador distingue entre autoridades e
(Yhwh salva), proclama-o salvador único povo: o povo “dá gloria” a Deus pelo acon
de todos. Veja-se o título Salvador atribui tecido. Para dar gloria a Deus, as autori
do ¡i Yhwh: Is 43,3; 45,15; 49,26; 60,16. dades deveriam ter confessado a pròpria
4,13-14 A primeira reagáo é de descon culpa (cf. Js 7,19).
certó honrado. Impressionou-os a firmeza 4,23-31 Podemos imaginar a ànsia e a
de Pedro, o saber de homens sem estudos, expectativa da comunidade durante a au
u prova inegável do milagre (cf. Le 10,21). sencia, o gozo quando voltam, o interesse
A solugáo é deliberar a sós. ao ouvir. O narrador omite tudo isso e cita
4,16-18 Na dinámica do relato, esta é a oragáo comunitària. O sucedido é urna
unía ocasiáo oferecida as autoridades para advertencia de que a paz é provisoria, de
rever sua agáo precedente e aceitar Jesús que o perigo espreita. Em tal situagáo pro
como Messias. Escolhem a linha oposta. nunciara urna oragáo no estilo de muitas
Sem castigar esses inocentes, tentam man do saltèrio. O inocente perseguido recor-
char o nome do condenado (SI 9,6; 60,29; da a Deus seus feitos na criagáo e na his
83,5; 109,13; Jr 11,19). Assim confirmam toria, expóe o perigo em que se encontra e
o fato e se endurecem em sua posicáo. suplica protegào para si, castigo para o ini-
4,19-20 Se o profeta nao pode deixar de migo, ou as duas coisas. As vezes respon
pronunciar a mensagem recebida de Deus de um oráculo ou urna voz interior.
(Jr 1,17; 26,12-15; Ez 33,6), muito menos A oragáo presente está composta pen
pode calar-se a testemunha oficial da res- sando também no leitor. Remonta-se à cria
Nurreigáo (Le 12,3). E Pedro langa ao tri gáo (citando SI 146,6; Ex 20,11). Expóe
bunal outra causa a julgar, na qual sao os fatos recentes, adaptando livremente o
juízes e parte: a quem se deve obedecer? comego de um salmo (2,1-2: teráo que
ATOS DOS APOSTOLOS 382
de Israel, 28para executar tudo o que tua via indigentes entre eles, pois o( .|»i
mào e teu designio haviam anunciado. possuíam campos ou casas os vcmluit.
29Agora, Senhor, presta atenqào às suas levavam o prego da venda 35e o cI. |»>«|
ameagas, e concede a teus servos anun tavam aos pés dos apostólos. A i ¡.I i uw
ciar tua mensagem com toda a ousadia. era repartido segundo sua necesMil.nl»
30Estende tua mào, para que acontegam 36Um tal José, a quem os apostólos. In
curas, sinais e prodigios pelo nome do mavam Bamabé (que quer dizer ('<utt»
teu santo servo Jesus. lado), levita e cipriota de nasciim ni.»
31Ao term inar a súplica, o lugar onde 37possuia um campo: vendeu-o, K-vttiM
estavam reunidos tremeu, eles se enche- dinheiro e o pos aos pés dos apósl* >1...
ram do Espirito Santo e anunciavam a
mensagem de Deus com ousadia. A nanias e Safira — 'C erto Aiu
ttU|>NM's, nâo poderias ficar com o junto de seu marido. n Toda a igreja e
MIm'Iih? O que te m oveu a agir as- os que ficaram sabendo espantaram-se.
p | 1 Nao mentiste aos homens, mas a
M ilagres (Le 4,38-41; 5 ,12-26) —
*A«<<mvir essas palavras, Ananias caiu 12Por m áos dos apóstelos aconteciam
$il in, c os que ouviram se atemoriza- muitos sinais e milagres entre o povo.
4iii "I Jus jovens foram, o cobriram e o Todos de comum acordo acorriam ao
ftWiiiiii para enterrar. 7Umas très horas pórtico de Salomáo; 13ninguém dos es-
4|iio larde chegou sua esposa, sem sa- tranhos se atrevía a reunir-se com eles,
iii|ue acontecera. 8Pedro lhe dirigiu em bora o povo os elogiasse. 14Ia jun-
i|»»liivra: tando-se a eles um número crescente
|)ize-me: vendestes o campo por de fiéis ao Senhor, homens e mulheres,
•tt# preço? 15ao ponto de levar os enfermos para a
. Sim, respondeu ela. rúa e os colocar em liteiras e macas,
•l'edro replicou: para que, ao passar Pedro, ao menos sua
*». l’or que vos pusestes de acordo som bra os cobrisse. 16Também os ha
HitH pôr à prova o Espirito do Senhor? bitantes dos arredores de Jerusalém le-
Vi, us pés dos que enterraram teu ma- vavam enfermos e possuídos por espi
tii|i i cstâo à porta para levar-te. rites imundos, e todos se curavam.
|nlinediatamente caiu m orta a seus
ii»n lintraram os jovens e a encontra- P e r se g u id o — 17Entáo o sum o sacer
idin morta; levaram -na e a enterraram dote e os seus, ou seja, o partido sadu-
I i.i'.perados ao ouvir isso, delibe vos a nao vos meterdes com esses ho
r im i iondená-los à morte, 34quando mens, mas deixai-os em paz. Pois, se o
... i i msclho se levantou um fariseu cha- projeto ou a execugíto for coisa de ho
li >Gamaliel, doutor da lei, muito mens, fracassará; 39se é coisa de Deus,
m II
iii h . I
o por todo o povo. Ordenou que nao podereis destruí-los, e estareis lu
il«* va ni sair os acusados 35e se dirigiu tando contra Deus. Deram-lhe atengáo,
i H r . i nibléia: ^cham aram os apóstolos, os agoitaram,
Israelitas, muito cuidado com o que os proibiram falar em nome de Jesus e
tilt'1' l.i/.er a esses homens. 36Faz algum os despediram. 41Eles saíram do tribu
i«iii|i<i surgiu Teudas, que pretendía ser nal contentes por haver sido considera
«lniu'ni, e o seguiram uns quatrocentos dos dignos de sofrer desprezos pelo no
luiMiciis. Mataram-no, e todos os seus me dele. 42E nao cessavam, a cada dia,
«unidores se dispersaram e acabaram no templo ou em casa, de ensinar e anun
► mi nada. 37Mais tarde, durante o censo, ciar a boa noticia do Messias Jesús.
•iiifiiu Judas, o Galileu, e arrastou gente
ili> povo atrás de si. Também ele mor O s sete diáconos — 'Por essa oca-
ii il, c todos os seus seguidores se espa-
lliiiiam. 38Agora, portanto, aconselho-
6 siáo, aumentando o número dos dis
cípulos, os de lingua grega comegaram
gas especiáis para eles, 6,9; 24,12.) Muí- e dedicagáo se parecem com o episodio
tos eram fiéis as tradigóes dos antigos, uns de Moisés quando escolheu os setenta i u
poucos se convertiam ao cristianismo. Este laboradores que compartilharam do si n
último grupo provoca tensóos novas, para “espirito” (Nm 11).
dentro c para fora da comunidadc. O estranho é que depois nao verenin
Para dentro: a ocasiáo trivial, embora esses sete de nome grego “servindo a nn
sentida, da partilha, talvez dissimule ten- sa”, e sim pregando “a palavra”. Como m
sóes mais profundas. As viúvas, grupo so fossem urna instancia subordinada ao
cial desvalido e objeto de atengáo especial doze para dirigir os helenistas.
na tradigáo bíblica, vivem da caridade na 6,7 O incidente fica resolvido, e o nar
comunidadc crista. Mas, pelo visto, ou se rador o indica noticiando o continuo eres
gundo as queixas, as viúvas helenistas re cimento da comunidadc. Personificando a
ceben! um trato pior, ou seja, a diferenga "palavra” ou mensagem, diz que “crescia
de língua é origem de discriminagáo e esta O mais surpreendente era que das filen,v.
é agente corrosivo da unidade. Havia ten- dos inimigos acérrimos, a classe sacerdo
soes mais profundas que afloravam neste tal, brotavam conversóes ao cristianismo,
incidente? (Recordem-se as repetidas quei- 6,8-15 Para fora: hostilidade entre hele
xas ou protestos dos israelitas no deserto.) nistas cristáos e helenistas nao convertidos.
Os doze (designagáo inusitada neste li- Estévao é nao só protomártir, mas tamban
vro) convocam urna assembléia de discí prototipo do cristao possuído pelo Espírilo
pulos e propóem, como remédio, formar e testemunha até a morte. Grande nos mi
um novo comité encarregado da partilha, lagres, na dialética, nos discursos, ñas vi
já que eles tém de dedícar-se a pregagáo e sóes. Parece entusiasta, muito ativo na sua
á oragáo. As duas atividades, da palavra propaganda, incisivo na sua denúncia. Aqui
de Deus e do alimento das pessoas, se cha- lo que seus rívais nao conseguem racioci
mam “servigo”. A assembléia elege e pro- nando e discutindo, procuram obté-lo com
póe os nomes; os apóstolos, impondo as urna campanha de difamagao para desacre
maos, lhes transmitem o encargo e a graga ditá-lo também diante do povo e dos fariseus
para cumpri-Io. O número é seto, corrente letrados. Assim conseguem mobilizar o
em grupos judeus e diferente dos “doze”. povo: dado novo que muda a situagáo. Nao
As qualidades requeridas sao “espirito e param até conduzi-lo perante o Conselho.
prudencia”: se se toma como hendíadis, 6,9 Libertos ou Emancipados parecem
pode equivaler a “dotes de prudencia” ser descendentes de judeus prisioneiros de
(como Ex 28,3); se se toma pneuma em guerra. *Ou: Libertos.
sentido transcendente, seria Espirito San " 6,10 Ver Le 21,15.
to e prudencia humana (Is 11,3). Aeleigao 6,11 Mt 26,59-61.
387 ATOS DOS APOSTOLOS
I», I t A acusagáo se concentra ñas duas do por Deus como “libertador”. Moisés dá
|i(tulles instituígoes judaicas: o templo (Jr aos israelitas leis, “palavras de vida” que eles
d, 11)i- a leí (lMc 2,27; 3,43). É provável que náo cumprem. Anuncia-lhes também profe
.. in iisagóes tenhamalgum fundamento, já tas sucessores seus, e eles os mataram (a acu
(in Irsus se tinha distanciado do templo sagáo náo mencionava a profecía: tudo se
Imvia violado a lei ou sua interpretado. reduzia á leí e ao culto).
ti. 14 Isto se refere a urna predico do fu Passemos á acusagáo sobre o culto. Deus
mín escatològico que transtorna todas as “apareceu” a Abraáo (v. 3) e lhe anunciou
«(« langas. O Messias havia de vir para de- que seus descendentes celebrarían! o culto
I
ii v i t a soberanía a Israel e, por esse meio, em Canaá (v. 7). O Sinai é “lugar sagrado”.
llll|inr a lei de Moisés a todos os povos, fa- Moisés lhes ensina o culto autentico; eles
•i'Mtln do templo o centro de peregrinado fabricam para si um ídolo e o adoram. Dá-
i ulto. O que atribuem a Esteváo é exata- lhes urna tenda copiada do modelo divino;
mnite o contràrio. eles retém a tenda de Moloc. Céu e terra
(i, 15 Aresposta de Estévao é por enquanto sáo trono de Deus, e eles se empenham em
mu rosto angélico: talvez radiante como o confiná-lo num templo.
,li' Moisés depois de falar com Yhwh (Ex Assim chega ao cume: o Justo anuncia
M..’9-35; cf. 2Sm 14,17). Com esse versí- do, ao qual dedica um versículo depois de
>ilio conecta no relato o desenlace, 7,55- um discurso táo longo: por qué? Porque os
iill. Um longo discurso interrompe a agáo. tipos precederam. Abraáo foi testemunha
da gloria de Deus; José vendido, “Deus es-
7,1-53 O discurso de Estévao perante o tava com ele”; Moisés rejeitado, “agradava
( It.inde Conselho, mais que declaragáo ou a Deus”. Do Justo (Jesús, náo pronuncia o
ililfesa, é urna resposta ad hominem. Na su nome) duas palavras de acusagáo: vós o
perficie soa como síntese seletiva de histó- entregastes, o matastes. Por que náo men
rln bíblica, com citagóes de textos ou frases, ciona a ressurreigáo, a exaltagáo? Porque a
enm algum trago midráxico, com nao pou- adia para um final de grande efeito: a exal-
eiis liberdades nos detalhes. Dir-se-ia que náo tacáo náo é a última pega de um relato; é
lesponde as acusares sobre a lei e o templo algo que Estévao contempla e atesta.
i’ i|ue quase náo fala de Jesús. No entanto, A realeza tem pouca importancia no dis
lido com atengáo, vé-se que a figura de Je- curso. Davi “alcangou o favor de Deus”
iiis, rejeitado pelos judeus e constituido Se- (nada diz da descendencia davídica do
nlior, guia a selegáo de dados e o desenvol- Messias). Quanto ao sacerdocio, é preciso
vimento. Alguns silencios sao significativos. adivinhá-lo no culto (a mengáo de Aaráo
Ahistória comega com a eleigáo de Abraáo junto a Moisés náo é lisonjeira). O templo
(o mais universal dos patriarcas) e com sua fica relativizado: é “obra de suas máos”,
iilianga (nào a do Sinai), cujo sinai é a cir- como também o bezerro (vv. 41.48), e há
cuncisáo (que os judeus da diàspora conti- outros lugares sagrados nos quais Deus se
nuam praticando). José, o “irmao” inocente, manifesta. Para os judeus da diaspora é
é vendido pelos “patriarcas” ao estrangeiro interessante recordar que Abraáo procede
e exaltado pelo Faraó. Moisés é a figura cen de fora, que José e Moisés desfrutaram por
tral do discurso (mencionado na acusagáo). algum tempo da benevolencia do Egito.
Exposto pelos pais, recolhido e educado pela 7,1 Este eomego, de interrogatorio for
princesa; defensor de seus “irmáos” e rejei mal, parece elaboragáo posterior. O desen
tado por eles; fugitivo e escolhido, é envia- lace náo será urna sentenga pronunciada e
ATOS DOS APOSTOLOS 388 7,2
executada, e sim um motim violento pro Náo vé que logo será um auténtico pro
vocado por urna suposta blasfemia. O au blema.
tor quis dar ao martirio de Estéváo um ca- 7.9 Dedica muito espago a José, único
ráter jurídico, paralelo ao de Jesús. Estéváo dos doze irmáos (nisto segue Gn 37—50).
comega com títulos conciliadores e res Provavelmente porque é a vítima inocen
petosos. te, depois reivindicado e salvador dos ir
7.2 O “Deus da Gloria” é a primeira máos. Deus estava com ele (Gn 39 o diz)
palavra a partir da qual tudo comega. Para precisamente quando parecía abandonado
o título: SI 29,3. “Apareceu” (deixou-se na prisáo.
ver): Gn 12,7; 17,1; 18,1 etc. Abraáo re 7.10 Abenevoléncia do Faraó é agáo de
cebe o título tradicional, táo querido dos Deus ao conceder a José “atrativo e pru
judeus, “nosso pai”. As palavras de Esté dencia” (Gn 41,39).
váo náo garantem a exatidáo dos fatos nem 7,12-13 Discretamente diz que na primei-
das suas referencias bíblicas. ra vez os irmáos náo o reconheceram (quan-
7.3 Citagáo literal de Gn 12,1. Sublinha do só buscavam provisóes), e na segunda
o tema da “saída”. ele se deu a conhecer (Gn 42,1; 45,16).
7.5-6 Cita duas promessas: o dom da Haverá uma referencia oblíqua a Jesús?
térra e da descendencia; náo menciona a 7,14-15 É importante a descida de Jacó
béngáo. e familia ao Egito (Gn 46,27).
7.6-7 A citagáo tirada da visáo (Gn 15) 7.16 Segundo Gn 23, comprou o sepul>
acrescenta uma frase de Ex 3,12, confe- ero em Hebron. Trasladado e sepultado
rindo assim caráter sagrado ao lugar onde (Gn 49,33; 50,7-13).
se encontra o patriarca: todo o territorio 7.17 O Egito se converte em terreno
de Canaá ou só o lugar da visáo? nutricio e quase materno do crescimenlo
7,8 Estéváo menciona a circuncisáo sem de Israel (Ex 1,7). O helenista diz isto com
indicio de discussáo ou dúvida (Gn 21,4). segunda intengáo?
7,38 389 ATOS DOS APOSTOLOS
monte Sinai a ele e a nossos pais; que introduziram na herança dos par í',
recebeu palavras de vida para com uni- que Deus expulsou diante deles; c i.
car-vos. 39N ossos pais nào quiseram rou até o tempo de Davi. 46Este ol>i.
obedecer-lhe; pelo contràrio, o rejeita- o favor de Deus e solicitou pernu i>|
ram e desejaram voltar ao Egito; 40e para procurar urna morada para o I >• < ■
pedir am aA arào: fabrica-nos um deus deJacó. 47Mas coube a Salom áo conti
que nos preceda, pois a esse M oisés que truir-lhe o templo, 48em bora o Allí-, i
nos tirou do Egito nào sabem os o que mo nao habite construçôes human.i
aconteceu.^E ntào fizeram o bezerro, como diz o profeta: 490 céu é m e u tin
ofereceram sacrificios ao ídolo e cele no e a terra é estrado de m euspés </n.
braran! festa em honra da obra de suas casa irás construir para mim ? — di •>
màos. 42Por isso, Deus decidiu entregà- Senhor-— que lugar para meu desetm
los ao culto dos astros do céu, corno so? S0N âo fo i minha máo que fe z /;/./■•
está escrito nos livros proféticos: A c a isso?
so m e oferecestes vítimas e sacrificios 51Duros de cerviz, incircuncisos d.
uestes quarenta anos de deserto, ó Casa coraçâo e de ouvidos, resistindo seni
de Israel? AÌTransportastes a tenda de pre ao Espirito! Sois como vossos pai
M oloc e o astro do deus Refà e as ima- A qual dos profetas vossos pais rían
gens que fizestes para adorà-los. Por perseguiram? Mataram os que profi li
isso vos deportarci para além de B abi zavam a vinda do Justo, aquele que vói
lònia. 44Nossos pais no deserto tinham agora entregastes e assassinastes. 53Vo\,
a tenda do testem unho, conform e as que recebestes a lei por ministério ili
instrugóes daquele que mandou M oisés anjos, e nâo a observastes.
fabricá-la, conforme o modelo que lhe
havia mostrado. 45Nossos pais a rece- M o rte de Estéváo — 54Ouvindo sen
beram e, sob o comando de Josué, a discurso, eles se mordiam por dentro 8
programático de Jesús em Nazaré (Le 4) 7,49 Com este texto categórico Estévfin
toma como base urna profecía (Is 61). concluí a parte expositiva. O templo il<
7,39-41 Pois bem, já no deserto os is Jerusalém é “obra de máos humanas”. O
raelitas tentaram anular a libertario e de universo, seu verdadeiro templo, é obra dn
sandar o caminho para regressar ao Egito máo de Deus. O profeta o diz, “o Senhoi
(Nm 14) e perverteram o culto fabricando o diz”.
um deus manipulável (Ex 32). 7,51-53 Com toda a força da sua exposi
7,42-43 O culto á “rainha do céu” (Jr çào, volta-se o orador contra os ouvintes,
7,8; 44,16-19; cf. Jó 31,26-28) pode ser seus acusadores, e suas palavras tém acen
alusáo ao culto astral, proibido expressa- to profètico. “Homens de dura cerviz”, obs
mente (Dt 4,19). A “tenda de Moloc” pro tinados, é apelo corrente (Ex 32,9 par.;
cede de urna falsa tradugáo de Am 5,26 Dt 9,6; Jr 7,26; Ne 9,16); também “incir
(que menciona duas divindades estran- cuncisos de coraçâo” (por dentro, Lv 26,41 ;
geiras). Jr 9,25). Resistir ao Espirito (Is 63,10). Per
7,44-48 Todo o ampio capítulo da en seguir os profetas: pode-se documentar dr
trada em Canaá e da sua ocupagáo (livro alguns e deduzir acerca de outros (Is 8,11 ;
de Josué) se condensa em “introduzir” a 30,10-11; 50,6; Jeremías: Ez2,6; Am 7; 2Cr
tenda móvel, imagem auténtica do mode 36,16). O título grego “o Justo”, como se
lo celeste (Ex 27,21; 25,9.40; Js 3,14-17). mitismo, pode significar o mesmo que “o
Um rei se encarregou de imobilizá-la para Inocente”: Jesus o é por antonomàsia. Di-
confinar Deus. Davi o pediu (e lhe nega- modo que para ele convergem as numero
ram). Salomáo o executou (e nao acertou, sas perseguiçôes de “inocentes” menciona
2Sm 7; 1Rs 6). Estéváo podia ter citado das no AT.
IRs 8,27, frase em que Salomáo relativiza 7,54 A reaçâo dos ouvintes, interna e
sua empresa e nao está longe do texto ci externa (SI 35,16), mostra que foram en-
tado de Isaías (66,1-2). tendendo a intençâo do discurso e que nao
391 ATOS DOS APOSTOLOS
i.iHi'i iin o s tientes contra ele. 55Ele, — Senhor, nao lhes leves em conta
fin i.iil.i I spíritoSanto,fixandooolhar este pecado.
«i......... viu a gloria de Deus e Jesús á E dito isso, morreu.
iIhi ii.i de Deus, 56e disse:
Vejo o céu aberto e aquele Homem ^ 'Saulo consentía com a execugáo.
.!• |h .1 direita de Deus.
I li s deram um grande grito, tapa- P e r s e g u i l o e pregagáo na S am aria
. iiii ir. ouvidos e se langaram juntos (Le 21,7-19) — Nesse dia, desenca-
i mili .i d e , 58o langaram fora da cidade deou-se grave perseguigáo contra a
........ cgaram a apedrejá-lo. A stestem u- igreja de Jerusalém, de modo que to
mIi.i-. Iiaviam deixado os mantos aos pés dos, exceto os apóstolos, se dispersa
ih mu jovem chamado Saulo. 59Enquan- ran! pelo territorio da Judéia e Samaria.
iii o apedrejavam, Estéváo invocou: 2Homens piedosos sepultaram Estéváo
Senhor Jesús, acolhe o meu espí- e lhe ofereceram um funeral solene.
i tii > 3Saulo devastava a igreja, entrava ñas
'•"I ■, ajoelhado, gritou com voz pode- casas, agarrava homens e mulheres e
l i i ’. , i : os punha na prisáo. 4Os dispersos per-
llir iipôem razóes. Sua reaçâo é “visceral” de “discípulos” em Jerusalém. Alguns pen-
[hlis kardiais). sam que a perseguiçâo se encarniça só
7,55-56 Chega o momento culminante. contra os cristáos helenistas, mais indepen-
I Nlcvao poderia repetir como Jó (42,5) dentes e incisivos em suas atitudes; do
II uihecia-te só de ouvido, mas agora meus contràrio, nao se explica como os apósto
nllios te viram”. O que contou, ele o sabe los possam ficar tranquilamente na capi
Ihh Iradiçâo, porque ouviu ou leu. Agora, tal. Saulo aparece em primeiro plano como
iinm rapto de inspiraçâo, contempla o ativista na perseguiçào; mas esta noticia
llumem (Jesús) à direita de Deus, exalta- pode estar sendo exagerada para preparar
ilii (Le 3,21; 20,42). Por que de pé e nao por contraste a espetacular conversáo.
'.rutado? (SI 110,1). Talvez na atitude de O sepultamento do justiçado Estéváo
pronunciar sentença (cf. SI 12,6; 76,10; Is répété a seu modo o de Jesús (Le- 23,50-
.’.,19), ou entâo em atitude de auxiliar (SI 53). Nâo sabemos se esses “homens pie
1,8; 9,20; 10,12; 35,2). dosos” fossem judeus ou cristáos. Estéváo
7,57-58 Para os ouvintes é o cúmulo, nâo entrou nos anais da Igreja como
t preciso observar formalidades, passam protomártir e seu nome grego se difundiu
il açao violenta (SI 35,16; Jó 16,9-10). Fora ampiamente.
da cidade (Nm 15,35; lRs 21,13-14; Hb 8,4-25 Se os apóstolos ficaram em Je
13,12). A lapidaçâo era a pena do blasfe rusalém, esse Filipe nao é o apóstolo, e
mo (Lv 24,14-16). sim o segundo dos sete helenistas recen
7,59-60 Nas suas últimas palavras, Es- temente eleitos. A dispersáo, fuga aos
têvâo segue de perto o Mestre (Le 23, olhos dos homens, é difusáo do evange-
46.34; cf. SI 31,6). Com dois traços, como lho aos olhos iluminados do narrador. Urna
île passagem, o narrador faz entrar em cena força externa hostil desencadeia urna for
um personagem secundário, que logo será ça interna fecunda. A abertura oficial da
o grande protagonista: por ora se chama Igreja será celebrada por Pedro no caso de
Saulo. Cornélio, mas os episodios do presente
capítulo significam saltar a fronteira se-
8,1-3 Mais que sumário, estes très vv. guindo a recomendaçâo de Jesús (1,8):
sao conclusáo e transiçâo. O choque dos “Jerusalém, Judéia, Samaria, até os con
judeus, com participaçâo popular, com um fins do mundo”. A Judéia se conserva fiel
chefe dos cristáos helenistas, é urna faísca à tradiçâo; Samaria era considerada meio
que se alastra, até o ponto de provocar urna pagâ, meio apòstata, infectada de sincre
fuga generalizada. Nao total, porque em tismo (cf. Jo 4). É o campo de operaçôes
torno dos apóstolos há urna comunidade dos “evangelistas” ambulantes.
ATOS DOS APOSTOLOS 392
8,20-21.23 A reagáo de Pedro é irada no vore seca”, aboliçâo pràtica de uma lei (Dt
liiin, doutrinal no conteúdo. Pronuncia 23,1-7). Estáo expondo, em açào, como se
unía especie de maldigáo arrazoada, que explica e se compreende a Escritura na
vai mais contra a atitude do que contra a nova comunidade.
ONlranha pessoa. O dom de Deus náo se A açào se move de fora, um pouco ex
iitinpra. Pretendé-lo é cultivar urna rela- machina: um anjo do Senhor dá ordens, o
(,iio turva com Deus, porque é náo com- Espirito manda, o Espirito arrebata (vv.
pieender a livre generosidade de Deus, 26.29.39). A cena central avança com ra
porque pensa em termos dedo utdes. Com pidez até sua culminaçâo. Um símbolo
nnmelhante atitude náo pode “comparti- unitàrio de fecundidade governa o relato:
lliar” a vida da comunidade. Por dentro, do terreno “deserto” brota urna fonte de
Simáo está cheio de fel (Dt 29,17-18) e “água” vivificante; do livro incompreen-
|ireso com cadeias (Is 58,6). sível brota um sentido que ilumina e trans
8,22-24 Contudo, há lugar para o arre- forma; o estéril recobra vida nova.
pcndimento e para pedir perdáo da mal- 8,26-29 Podemos imaginar Filipe como
<lude. Pedro termina exortando. Náo con missionàrio itinerante, em busca de novas
sidera imperdoável a culpa. De fato, Simáo pessoas a evangelizar. Desta vez, por or-
pede a intercessáo dos apóstolos (cf. Ex dem superior, escolheu uma estrada pou
M,4; ISm 12,19). Supomos que o fizeram, co movimentada, que une a capital com a
¡linda que o narrador náo o diga. cidade costeira de Gaza (uns 100 km). Por
8,25 Se o v. se refere aos apóstolos, o eia um estrangeiro vai descendo numa car
uutor dá a entender que também eles pre ruagem: um eunuco núbio, ministro das
garan! o evangelho na Samaria, e alarga finanças da rainha, cujo título real é Can
i onsideravelmente a missáo de Filipe. dace (como “Faraó” o é do rei egipcio).
8,26-40 Segundo episodio, fundamen Homem culto, simpatizante da religiáo
tal e sugestivo, da missáo de Filipe. Com judaica, embora náo circuncidado, “pro
ilagos realistas, num cenário irreal, se en- sélito da porta”. Retorna de uma peregri-
contram e se separam dois personagens. naçâo ao templo de Jerusalém (cf. Is 2,2-
() que estáo representando é outra abertu- 5; Zc 8,22-23). Talvez tenha adquirido ai
la transcendental da Igreja, na qual se cum um pergaminho copiado com o texto de
ple urna profecía (Is 56,3): “Náo diga o Isaías. Vai lendo-o em voz alta, como era
rstrangeiro: O Senhor me excluirá do seu costume até que se inventou o 1er mental
povo. Náo diga o eunuco: Eu sou uma ár- mente.
ATOS DOS APOSTOLOS 394
8,30 Filipe reconhece de ouvido o texto uma expressáo modesta: “o que impede il>
lido: té-lo-ia escutado varias vezes nos me batizar?” O fato de eu ser estrangcu*'
oficios sinagogais da sua térra. A benefi ser eunuco, morar numa corte real, seu
cio do leitor, o narrador o cita na versáo que o impede? Na pergunta ressoam ;i,
grega dos Setenta (LXX) com algum re dúvidas e incertezas das primeiras cornil
toque. Embora cite apenas dois vv. (Is nidades. Lucas responde que o gesto ili
53,7-8), podemos supor que o diálogo ver Filipe é coisa de Deus, do seu Espirito.
se sobre a perícope inteira (52,13-53,12). Como efeito e sinal da vida nova, o ho
O estrangeiro compreende o sentido ma mem sente “alegría”. Seria tentador com
terial do texto, apresentado como parado- parar este homem com Naamá o sirio (2K'
xo inaudito; mas nao sabe identificar o 5), que, uma vez curado por Eliseu, pcile
personagem de quem se fala. Neste caso, para levar uma quantidade de térra palc.
identificá-lo é compreender o texto. Como tina para poder nela dar culto a Yhwh. Níio
a figura é táo surpreendente, com o que conhecemos o nome do eunuco par.i
leva aprendido de doutores judeus, nao venerá-lo na Igreja; talvez seu nome scj.i
consegue “entender o que lé”. Filipe, ou multidáo.
melhor, o narrador, usa aqui um jogo de * Alguns manuscritos acrescentam: 37Re.\
palavras (ginoskeis, anaginoskeis). pondeu Filipe: Crés de todo o coragáo '
8,31-35 Em grego “explicar” é guiar, Respondeu o eunuco: Creio que Jesús
encaminhar, para o que nao bastava todo Cristo é o Filho de Deus.
o caminho de peregrinado ao templo. Fi 8,39 Ver a expressáo de IRs 18,12.
lipe, como Jesús no caminho de Emaús (Le
24,27), oferece ao estrangeiro urna aula de 9,1-3 O “caminho de Damasco” conver
exegese crista: a páscoa de Jesús, sua mor- te-se em frase proverbial e os escritos de
te e ressurreigáo, é a chave de inteligencia Paulo nao cessam de influir e de ser co
da Escritura. mentados. A historia da sua conversan
8,36 O estrangeiro nao confessa que “lhe volta a ser contada com variantes, dentro
arde o coragáo”, mas quando descobre uma de discursos autobiográficos, em 22,4-1 (>
fonte pelo caminho, pede o batismo com e 26,9-18; aludem ao fato G11,11-16; ICoi
395 ATOS DOS APÓSTO LOS
|i>tini ir. c mulheres. 3Estando em via- abrir os olhos, nao enxergava. 9Toman-
u' ni |.i perto de Dam asco, de repente do-o pela máo, fizeram -no entrar em
mu i lu/. celeste o ofuscou. 4Caiu por Damasco, onde esteve très dias, cegó,
ii 11.1 r ouviu urna voz que Ihe dizia: sem com er nem beber.
S;iu 1, Saúl, por que me persegues? 10Havia em Dam asco um discípulo
Krspondeu: chamado Ananias. Numa visáo o Se
Ouem és, Senhor? nhor lhe disse:
I >isse-lhe: — Ananias!
I a i sou Jesús, a quem tu perse- Respondeu:
(.iiii 6Agora levanta-te, entra na ci- — Estou aqui, Senhor!
•liiile, e ai te dirao o que deves fazer. n E o Senhor a ele:
'i )s acompanhantes se detiveram mu — Dirige-te à rua Principal e procu
llí i .. pois ouviam a voz e nao viam nin- ra em casa de Judas um certo Saulo de
(jurin. KSaulo levantou-se do chao e, ao Tarso: o encontrarás orando.
l'i.K-lO; F1 3,6-8. Num instante, o perse (6,7). A intengáo de levá-los presos a Je-
cutor encarnizado se converte em servo rusalém para serem julgados parece res
i ni do Messias, em poucos dias se faz seu ponder a uma situagáo posterior. No con
(¡mude propagador. Um dia chegará a di- texto pode refletir a preocupagáo das
/i i i|ue Jesus é sua vida (F1 1,21) e excla- autoridades judaicas centráis diante do
in.irá: “Ai de mim de nao anunciar a boa progresso da seita dos “nazarenos”.
milicia” (ICor 9,16). 9,3 O leitor deve imaginar um Saulo mo
No AT há um caso espetacular de mu- vido de zelo fanático pelas tradigóes ju
ihnga, que nao podemos chamar de con daicas, ao final de uma longa viagem, qua-
versilo. E o mago Balaáo, contratado para se chegando á meta. Nesse ponto soa o “de
nmaldigoar eficazmente Israel, do qual o repente”, de ascendencia dramática e bí
Senhor se apodera para fazer que pronun blica (Is 29,5; 48,3). Nao vé figura algu-
ce béngáos e profecías. Só o esquema é ma; só uma fulguragáo que o deslumbra,
parecido: de mago hostil a profeta insigne derruba e cega; sem dúvida uma luz teofá-
(Nm 23—24). O resto serviría para ilustrar nica (2Rs 6,18-19; SI 77,19; 80,3).
por contraste. 9,4-5 A voz se identifica com o solene
Pelo esquema observamos que a conver “Eu sou”, seguido do nome; assume pes-
j o de Saulo é, antes de tudo, uma vitória soalmente a perseguigáo contra a comuni-
do Jesús ressuscitado, capaz de “atrair tudo dade, com a pergunta de Davi a Saúl (ISm
ii sí” (Jo 12,32), inclusive seu grande ini- 24,15). “Eu sou Jesús” soa curiosamente
ni igo. Pelo contràrio, as semelhangas com parecido com “Eu sou tua salvagáo” (de
ii historia de Heliodoro (2Mc 3) sao nu SI 35,3).
merosas nos detalhes, mas compóem um 9.5 *Alguns manuscritos acrescentam:
relato totalmente diverso. E duro para ti dar coices contra o ferrao.
No presente relato de Lucas, o momen 9.6 Saulo e seus planos caem por térra
to culminante é brevissimo. Mais espago (SI 27,2). A única instrugáo que recebe é
se concede à incorporalo de Saulo à co- esperar ordens concretas na cidade. Como?
munidade de Damasco. Nisto é o pólo A voz se cala e deixa que atuem duas vi-
oposto do eunuco de Candace. sóes conjugadas.
9,1-2 Apresenta-nos Saulo “respirando” 9,9 Saulo entra em Damasco cegó e le
ou resfolegando ameagas de morte, como vado pela máo de alguém. O jejum de tres
os homens violentos contra o indefeso (cf. dias serve de preparagáo.
Am 8,4; SI 56,2-3; 57,4). O sumo sacer 9,10-16 Aqui Lucas recorre a uma técni
dote nao tinha jurisdigáo sobre as comuni ca narrativa audaz e difícil, para nos comu
dades judaicas da diàspora, mas podia dar nicar a simultaneidade (coisa hoje fácil no
cartas de recomendagáo para influir mo cinema: “Montagem em paralelo”). En-
ralmente ñas decisóes de sinagogas locáis. quanto Ananias recebe instrugóes numa vi
A presenga de judeu-cristáos em Damas sáo, Saulo vé em outra visáo o que vai acon
co atesta a rápida difusáo do evangelho tecer muito em breve (futuro antecipado).
ATOS DOS APOSTOLOS 396 <) 11
12(N um a visáo, Saulo contem plava sao, levantou-se, batizou-se, 19conim .
certo Ananias que entrava e lhe impu- recuperou as forças. E ficou alguns <lu*
nha as m àos para que recuperasse a vi com os discípulos de Damasco. 2('I nyn
sáo.) 13Ananias respondeu: se pôs a proclamar ñas sinagogas <¡m
— Senhor, ouvi m uitos falar desse Jesús é o Filho de Deus. Todos m
hom em e contar todo o mal que fez aos ouvintes comentavam assombrados:
consagrados de Jerusalém. 14Agora està — Nâo é este o m esm o que devasi.i
autorizado pelos sumos sacerdotes para va em Jerusalém os que invocam lu í
prender os que invocam teu nome. nome e veio aqui para levá-los preso»
lsO Senhor lhe respondeu: aos sumos sacerdotes?
— Vai, pois ele é meu instrumento 22Mas Saulo ia ganhando força e con
escolhido para difundir meu nome en fundía os judeus que habitavam em I >,i
tre pagaos, reis e israelitas. 16Eu lhe masco, afirmando que Jesus é o Messi, r
m ostrarei o que deve sofrer por meu 23Passados muitos días, os judeus det i
nome. diram eliminá-lo; 24mas Saulo ficou s.i
17A nanias saiu, entrou na casa e lhe bendo do seu plano. E, visto que vigía
impós as màos, dizendo: vam as portas da cidade dia e noite pai.1
— Irm áo Saúl, o Senhor Jesús me eliminá-lo, 25certa noite os discípulo
enviou, aquele que te apareceu quando o desceram num cesto muro abaixo.
vinhas, para que recuperes a visáo e te
enchas do Espirito Santo. Saulo em Je ru sa lé m — 26Ao chegai n
18Imediatamente caíram de seus olhos Jerusalém, tentava juntar-se aos disci
urnas com o escamas, recuperou a vi- pulos; mas eles o temiam, pois náo acre
HlHViim c|ue fosse discípulo. 27Entào desceu para visitar os consagrados que
( Imi nube o apresentou aos apóstolos, e
Minimi como eie havia visto o Senhor
habitavam em Lida. 33Encontrou um
certo Enéias, que fazia oito anos estava
imi eliminilo, como lhe havia falado e paralítico na cama. 34Pedro lhe disse:
pulii <|iial ousadia anunciara o nom e de — Enéias, Jesús Cristo te cura. Le-
| * min em Damasco. 28Saulo perm ane- vanta-te e arruma a cama!
iimi m i Jerusalém, m ovim entando-se Imediatamente se levantou. 35Todos
(Ivi finente; anunciava corajosamente o os habitantes de Lida e Saron viram isso
Dinne de Jesus, 29conversava e discutía e se converteram ao Senhor.
m i m i os judeus de lingua grega, que ten- 36Em Jope vivia urna discípula cha
iKvnm eliminà-lo. 30Mas os irmàos fi- mada Tabita (que quer dizer gazela):
nintm sabendo, o acom panharam até distribuía muitas esmolas e fazia obras
( ‘estiréia e o enviaram a Tarso. de caridade. 37Aconteceu que nessa oca-
"A igreja inteira da Judéia, Galiléia siáo ficou doente e morreu. Elas a lava-
1«Sumaria vivia em paz. la se construin- ram e colocaram no piso superior. 38Visto
ilu na veneragào ao Senhor e crescia que Lida está perto de Jope, os discí
Kiiimada pelo Espirito Santo. pulos, ouvindo que Pedro se encontra-
va ali, enviaram dois homens para bus-
( lira e ressurreigao (Le 5,17-22; 8,49- cá-lo:
%) — 32Numa de suas viagens, Pedro — Vem cá, sem demora!
conta em Gl 1,18-2,3. Em quem devemos do pagao Comélio. Pedro aparece como pre-
flar-nos mais? Em Lucas, que escreve com gador itinerante, que vai fazendo paradas em
Inl'ormagòes alheias, provavelmente por comunidades cristas (“consagrados”). Nos
Irudigào orai, ou em Paulo, que fala na pri- dois episodios seguintes se observa o intéres
meira pessoa e jura que nao mente? Cer- se do autor em sintetizar eventos representa
liimente, o texto de Gàlatas é muito polè tivos e influentes. O cenário é a regiáo cos-
mico; procura minimizar a dependencia teira, desde Jafa até Cesaréia.
mia frente a outros apóstolos. Por sua par 9,33-35 O primeiro milagre recorda o
ie, Lucas quer vinculà-lo à comunidade de Me 2,1-12, só que condensado. O tem
lipostólica de J erusalém, e o texto de At tem po da doença, a instantaneidade da cura e
lilgo de sumàrio, no qual se destacam o a atividade do homem curado sáo os ele
medo da comunidade e a mediagào eficaz mentos essenciais (nada de perdáo de pe
ile Bamabé. É aceito e pode mover-se li- cados). A fórmula de cura é anómala: um
vremente. Logo se langa à pregagào, espe modo de afirmar que o agente nao é Pedro,
cialmente para os judeus helenistas, como mas Jesús. O milagre tem força de irra-
fizera Estèvào (talvez por seu conhecimento diaçâo pela regiâo e provoca conversóes
do grego). Repete-se o esquema de perse em massa. Soou o nome e o duplo título:
gli icao e fuga até sua cidade natal. E as- Jesús, Messias, Senhor.
sim se encerra o ciclo inicial de Paulo. 9,36-43 O segundo milagre recorda os
9.31 A “Igreja” se estende jà por todo o de Elias e Eliseu (IRs 17,17-24 e 2Rs 4,17-
territòrio do antigo Israel. E curiosa a uniào 38) e acompanha de perto o relato da res-
em grego das duas metáforas, “se construía” surreiçâo da filha de Jairo (Me 5,36-43),
e “caminhava”. As duas metáforas se relati- com um detalhe intéressante: em Me 5,41
vizam mutuamente para oferecer dois aspec Jesús ordena: “talitha qutrí' (cordeirinha,
tos da Igreja, reais e em tensào: estabilida- levanta-te); aqui Pedro ordena: “Tabitha
de, àmbito fechado acolhedor, dinamismo, anastethi” (gazela, levanta-te). O traço pró-
mobilidade. “Veneragào do Senhor” é tra- prio do presente relato é a atividade de be-
duqao da fòrmula hebraica (yir ’at Yhwh) e nefïcência da defunta (cf. SI 41,2; Tb 4), es
se refere a Deus. “Em paz”: SI 122; 125,5. pecialmente em favor das viúvas, segunda
9.32 Neste v. comega a atividade missio ampia tradiçâo bíblica (Jó 29,13; Tg 1,26).
nària de Pedro, fora de Jerusalém e dentro 9,38 Dista uns quinze km, très horas
da Judéia, que vai culminar na conversào de caminhada. “Nâo tardes”, como em su-
ATOS DOS APOSTOLOS 398
plicas e promessas (SI 40,18; 70,6; Is vam dois graus de adesáo: os que se h
46,13). ziam judeus completamente, aceitando n
9,40 Pedro ora como os profetas (Jesús circuncisáo para observar a lei inteira.
dá gragas antes de ressuscitar Lázaro, Jo os que se detinham á porta sem circum i
11,41). dar-se, simpatizantes, prosélitos.
Para se fazerem cristáos, tinham os p.i
10-11 Se temos de julgar pelo espago gaos que incorporar-se plenamente ao ju
ocupado, este episodio, que costumamos daísmo? Ou parcialmente? Ou de nenhimi
chamar de conversáo de Cornélio, é um modo? Vimos o caso do eunuco núbio quo
dos mais importantes do livro. Melhor pela devogáo ao templo de Jerusalém o
seria chamá-lo de conversáo de Pedro; pela leitura dos livros sagrados, se enc;i
porque Cornélio nao resiste, está aberto minha sem saber para o batismo. Caso
aos judeus; Pedro está fechado aos pa parecido é o de Cornélio, centuriáo roma
gaos e resiste. Além do mais, o relato no da guarnigáo da residencia do procura
aponta para o cap. 15, ou seja, o concilio dor, em Cesaréia. Sua historia se parece
de Jerusalém. Aqui Pedro, inspirado por com a do centuriáo de Cafarnaum (Le 7 ,1
Deus, toma uma decisáo transcendental; 10 par.) na vida de Jesús, mas a transboi
lá a igreja-máe, reunida em concilio, ra da, pelo dinamismo do Espirito.
tifica e amplia a decisáo transcendental. O relato se p5e em marcha com a técni
Trata-se nada menos que da abertura da ca narrativa de duas visoes simultáneas,
Igreja de Cristo aos pagaos: coisa obvia concedidas a dois homens em oragáo. I
para nós, nao fácil de compreender nos uma técnica muito parecida com a dupla
comegos. oragáo, de Tobias e de Sara, que converge
Na tradigáo de Israel, muitas leis e ob no ángulo celeste e caminha para o encon
servancias erguiam como que um muro no tró. Técnica que dispoe do plano celeste e
qual se abriam urnas tantas portas estrei- que encontramos ñas visóes simultáneas
tas. Em tensáo com elas, muitos textos de Ananias e de Saulo (9,10-13). Uma vez
proféticos anunciavam ou cantavam a iniciado, o presente relato segue seu pró-
abertura de Israel. A título de exemplo, prio roteiro, até repousar num exame das
indicaríamos o salmo 87, “todo homem ali suas conseqüéncias.
nasceu”. Is 19,25 “bendito meu povo, Egi-
to, Assíria, obra das minhas máos”; a con 10,1-8 Cornélio toma dos judeus o mais
fluencia de povos para Siáo atraídos pela universal: a oragáo (Is 56,7) e a benefi-
“leí e a palavra de Deus” (Is 2,2-5). Qual céncia (Pr 31,20; Eclo 3,14-15; 7,10; 17,
das duas tendencias devia prevalecer? 22; 29,12-13; Tb 4 e 12). Por sua inclina-
Como se conciliavam ambas? O cap. 56 gáo para o judaismo, é um pagáo a meio
de Isaías se atrevía a abolir a lei da exclu- caminho. Deus o escolhe para uma fun-
sáo dos pagaos, e proclamava o templo gáo que extrapola o ámbito da sua pessoa
“casa de oragáo... para todos os povos”. e da sua familia.
Na prática e para a época que nos ocu 10.1 A noticia sobre a coorte Itálica é
pa, o judaismo atraía náo poucos pagaos anacrónica.
com seu monoteísmo, sua religiáo muito 10.2 Ao povo judeu, entende-se. Estrió
mais pura, sua moral exigente. E se da- las (Tb 12,8): ver em contraste Le 3,14.
IM I I 399 ATOS DOS APOSTOLOS
.......¡i Deus com toda a sua familia. 7Quando o anjo que Ihe falava par-
I i ,h i umitas esmolas ao povo e orava tiu, chamou dois criados e um soldado
.» .iiIn.unente a Deus. 3Pelas très horas piedoso que o servia, 8explicou-lhes o
i ......li v ili claramente numa visäo um assunto e os enviou a Jope.
ni" ili Deus que entrava em seu quar 9No dia seguinte, enquanto eles ca-
ti i Ihr dizia: minhavam e se aproximavam da cida-
< ornélio! de, Pedro subiu ao terraço para rezar
I li olhou-o assustado, e disse: por volta do meio-dia. 10Sentiu fome e
(.»ne queres, Senhor? quis comer alguma coisa. Enquanto pre-
Kespondeu-lhe: paravam, entrou em êxtase. "V iu o céu
I uas oragöes e esmolas subiram àaberto e um objeto como urna enorme
imi .ruga de Deus e foram levadas em toalha, descida pelas quatro pontas até
• •uta. 'Agora, pois, envia gente a Jope o chao. 12Continha todo tipo de quadrú-
luti a buscar certo Simào, apelidado Pe- pedes, répteis e aves. 13E ouviu urna voz:
1I111 '’Lie está hospedado em casa de — Levanta-te, Pedro! Mata e come!
.1111.10 , o curtidor, junto ao mar. 14Pedro respondeu:
10, ? Pela mengáo da hora se deduz que e tabus. A distingáo náo se justifica por
n i i'lic a visáo enquanto está orando, no razóes higiénicas nem por razóes éticas.
linimento da oferenda vespertina (SI 141, Pode ter o valor ascético de subjugar o ins
’I Aparece-lhe o anjo do Senhor, modo tinto biológico.
.miente de expressar a manifestagáo do O apetite irrompe autoritariamente na
’■rubor, que nao pode ser visto; em sua oragáo de Pedro. De repente, numa trans-
jingunta, Cornélio o chama Senhor (ver o mutagáo extática, apresentam-lhe uma to
mlercámbio de expressóes na historia de alha repleta de manjares, sem distingáo;
i Irileáo, Jz 6,12-24). Lucas, no seu evan- uma voz lhe ordena, lhe permite, comer.
lirllio da infancia, nos familiarizou com Tal é o mecanismo psicológico: a expe-
mlcrvengóes angélicas, inclusive com riéncia real, elementar, de fome e alimen
mime próprio. to, é assumida e transferida para manifes
10.4 O susto é a reagáo humana normal tar um novo sentido complexo ou uma
n.i presenga do sobrenatural (Le 1,12-13; constelagáo de significados. Mais grave
VMO). Segundo a representagáo corren- que a distingáo de alimentos em comestí
ir, "as oragóes sobem” do chao e chegam veis e tabus é a distingáo dos homens em
ni céu á presenga de Deus (SI 18,7; judeus e pagáos.
119,170; Eclo 7,10; 36,21). Sao levadas Na nova comunidade, semelhante dis
mi conta, servem de recordagáo, sao aten tingáo náo terá vigor; todos sáo acolhidos
didas (cf. Ex 28,29; 30,16). por igual. E, como conseqüéneia, também
10.5 De novo encontramos a tática de as distingóes alimenticias perderáo seu
icmeter a outros para receber instrugóes. valor. Os pagáos já náo contaminam; o
O Senhor nao comunica urna mensagem, apetite social do hornera já náo tem de
romo fazia aos profetas, mas póe o eleito evitá-los; a Igreja pode acolhé-los e assi-
rm contato com um membro da comuni- milá-los sem objegóes.
ilade. No caso presente também o envia, 10,11-13 A toalha ou lengol desee do
como reagáo que provoque urna transfor- céu, do Criador de todos os animais. Náo
magáo. sabemos por que faltam os peixes; talvez
10,9 Também Pedro ora, e está muito como recordagáo dos animais que saíram
preso a observancias que sáo uma barrei- da arca. De fato, a ordem de comer pode-
ra para a difusáo do evangelho. De uma ria continuar citando (Gn 9,3): Tudo o que
ilessas observancias se vale a visáo para se move e possui vida vos servirá de ali
falar-lhe em código. mento, tudo isso eu vos dou, como vos dei
O judeu controla e submete o apetite a verdura das plantas (Gn 8,17).
natural, refreando-o frente a alimentos ar 10,14 Pedro objeta, segundo os cánones
tificialmente repartidos entre comestíveis do género (p. ex. Jr 32); pela boca de
ATOS DOS APOSTOLOS 400 III I '
Pedro, expressa seus reparos e resistências para apresentar e recomendar aquele qu.
a comunidade primitiva ou um setor im os enviou. Pelo nome e pelo oficio fien
portante que alega a legislaçâo (Lv 11) claro que é um romano, embora simpan
e o exemplo de um profeta (Ez 4,14). E zante dos judeus (Le 7,5). Tem que escu
bom que se escute a objeçâo. tar Pedro, quando Pedro ainda nao sabe u
10.15 A resposta é lapidar (cf. Me 7, que deve dizer (comega a suspeitá-lo).
15.19). 10,23 Os irmaos de Jafa, além de acoui
10.16 A açâo se répété très vezes. Incul panhá-lo na viagem, garantem a dimen
cando o ensinamento, mas sem explíca sao comunitària e serviráo de testemu
lo. A liçào é tào importante quanto obscu nhas. Cesaréia fica a uns cinqüenta km de
ra para Pedro (que entretanto nâo comeu). Jafa.
10.17 Como o eunuco ficava perplexo 10,25-26 Comélio saúda o hospede com
diante de um texto, assim fica Pedro per solenidade ostensiva, como a um homem
plexo diante da visâo, esperando que quem de Deus, um enviado do céu, e Pedro lhe
a enviou a explique, como ensina a tradi- responde com urna palavra densa, que co
çâo (Ez 12,9-10; 24,19). loca ambos no mesmo plano. Como se in
10.18 Especificam: Simâo apelidado sinuasse: tu capitao e eu apóstolo; poueo
Pedro, porque também o dono da casa se importa, os dois sao homens. Terá que afit
chamava Simâo. mar: tu romano e eu judeu? Os dois sao
10,19-20 O Espirito parece desfrutar da homens (cf. Jó 31,15; Sb 7,1).
perplexidade de Pedro, pois adia a expli- 10,27-28 Já que Pedro veio acompanha
caçâo e em seu lugar lhe dá urna ordem do de “alguns irmáos”, o encontro é de
que deve executar sem reservas. (A Balaáo ambas as partes coletivo. Nesta sala ou
só na segunda vez Deus lhe manda acom- pàtio cai a primeira barreira de separagáo
panhar os emissários de Balac, Nm 22,20.) entre pagaos e judeus (Jo 18,28).
Até agora o Espirito se contenta com mo O encontro abre os olhos de Pedro e o
ver os personagens ignorantes rumo ao faz compreender o sentido da visáo: já nao
desenlace. pode chamar nem o pagáo nem homem
10,21-22 As explicaçôes dos visitantes algum de profano ou impuro. Agora co
nao explicam nada substancial; só servem mega realmente a conversagáo.
til IO 401 ATOS DOS APOSTOLOS
i|iii <u nao considere profano ou impu- D iscu rso de P ed ro — Com preendo
iii iirnhum homem. Por isso, quando verdadeiram ente que Deus nao é par
lili' i liamastes, vim sem resistir. Dese- cial, 35mas aceita quem o respeita e pro
111 Mihcr para que m e chamastes. cede honradam ente, de qualquer nagáo
'"< ornélio respondeu: que seja.
I lá tres dias, por esta hora, eu es- 36Ele com unicou sua palavra aos is
iii\.i recitando a oragáo da tarde em raelitas e anuncia a boa noticia da paz
mullía casa, quando um homem com por meio de Jesús, o Messias, que é
ii,i|c resplandecente se colocou diante Senhor de todos.
■le in ini 31e me disse: Cornélio, tua ora- 37Vós conheceis o que aconteceu por
i,¡ iiie tuas esm olas foram ouvidas por toda a Judéia, comegando pela Galiléia,
I »cus e levadas em conta. 32Envia gen- a partir do batismo que Joáo pregava.
ii- ;i Jope e chama Simáo, apelidado Pe 38Deus ungiu com Espirito Santo e poder
llín, que está hospedado em casa de a Jesús de Nazaré, que passou fazendo
Simfio, o curtidor, junto ao mar. 33Em o bem e curando todos os possuídos pelo
Manida te fiz cham ar e tiveste a bon- diabo, porque Deus estava com ele. Nós
ilade de vir. Estam os todos na presenga somos testemunhas de tudo o que fez na
ilf Deus, dispostos a ouvir o que o Se- Judéia e em Jerusalém. M ataram-no,
nlior te ordenou. pendurando-o num madeiro. 40Mas Deus
''Pedro tomou a palavra: o ressuscitou no terceiro dia e fez que
aparecesse, 41náo a todo o povo, mas as — 47Pode alguém impedir que s< Im
testemunhas designadas de antemáo por tizem com água os que receberam >>
Deus: a nós, que comemos e bebemos Espirito Santo como nós?
com ele depois que ressuscitou da mor- E ordenou que os batizassem ¡n\•■
te. 42Encarregou-nos de pregar ao povo cando o nome de Jesús, o Messias. I li
e testemunhar que Deus o nomeou juiz lhe pediram que ficasse alguns dias.
dos vivos e mortos. 43Todos os profetas
dáo este testemunho a respeito dele: que Relato de Pedro em Jerusalcin
em seu nome os que nele créem rece-
bem o perdáo dos pecados.
^P ed ro nao acabara de falar, quando
o Espirito Santo desceu sobre todos os
ouvintes. 45Os fiéis convertidos do ju
daismo se assombravam ao ver que o
n — ‘Os apóstolos e os ir
que estavam na Judéia ouviram qm
também os pagaos haviam aceitado ,i
palavra de Deus. 2Quando Pedro subm
a Jerusalém, os judeus convertidos dis
cutiam com ele, 3dizendo que havia ni
dom do Espirito Santo era concedido trado em casa de incircuncisos e havui
aos pagaos também; 46pois os ouviam comido com eles. 4Pedro lhes expós o
falar em línguas e exaltar a Deus. En- que acontecerá, ponto por ponto, des
táo Pedro interveio: de o comego:
'liu estava orando em Jope, quan- de pé que lhe dizia: Envia gente a Jope
éi llvc uma visâo em êxtase: um obje- e faz vir Simáo, apelidado Pedro, 14que
iu, l omo enorme toalha, descia do céu te dirá palavras que seráo salvagáo para
plus quatro ponías e chegava até mim. ti e tua familia. 15Apenas comecei a fa-
HHIum atentamente e vi quadrúpedes, lar, desceu sobre eles o Espirito Santo,
(»rus, répteis e aves. 7Ouvi urna voz que como sobre nós no principio. 16Eu me
mr ili/ia: Levanta-te, Pedro! M ata e lem brei do que o Senhor havia dito:
mime! 8Respondi: De nenhum modo, Joáo batizou com água, vós sereis bati-
Hvnhor, pois nunca entrou por minha zados com o Espirito Santo. 17Portan-
Ntti’ii nada de profano ou impuro. 9Pela to, se Deus lhes concedeu o mesmo
»»Hunda vez me falou a voz do céu: O dom que a nós, por terem crido no Se
t^iie Deus declara puro, nâo o declares nhor, Jesus o Messias, quem era eu para
Impuro. 10Isso aconteceu très vezes e im pedir a Deus?
depois tudo foi novamente recolhido ao 18Ao ouvir o relato, se acalmaram e
i'íu. "Nesse momento, très homens en- deram gloria a Deus:
vlmlos de Cesaréia chegaram à casa em — Também aos pagaos Deus conce
i|iie me encontrava. u O Espirito me deu o arrependimento para a vida.
urilonou ir com eles sem hesitaçâo. Es-
Irs seis irm áos me acom panharam e A igreja de Antioquia — 19Os que se
filtramos na casa daquele homem. 13Ele haviam dispersado por ocasiáo da per
luis explicou que vira em casa um anjo s e g u id o ocasionada por Estéváo, es-
ilu discurso, manifestando seu caráter de oriental. As très sao populosas e pluralistas
"Inspirado”; cita em confirmaçâo uma frase em raças, povos, culturas, línguas e reli-
tío Batista (Le 3,16). A conclusáo de Pedro, giôes. A língua grega é o instrumento mais
formulada como pergunta retórica, é muito freqüente de comunicaçâo. E curioso que
grave: fechar-se ao batismo dos pagaos se Lucas nao tenha incluido Alexandria em
ria por impedimentos a Deus. A fé em Je- sua historia (só menciona a sinagoga dos
uus Messias basta. O Espirito Santo vai ins- alexandrinos 6,9, e um alexandrino cha
truindo e dirigindo a Igreja com fatos e mado Apolo, 18,24). Os que vivem nessas
«ituaçôes novas; nao lhe deu um programa cidades estâo acostumados a encontrar-se
prévio com todos os detalhes previstos. com gente diversa; ao invés, Jerusalém é
11,18 Os ánimos se acalmam, a tensáo uma cidade relativamente fechada.
dcrena num hiño de louvor a Deus. Mas o Antioquia tinha sido a capital selêucida
problema fica dentro de muitos, como se das lutas dos Macabeus. Já entáo tinha fa
verá no concilio de Jerusalém (cap. 15). E vorecido os contatos e provocado tensóes
provável que o relato de Lucas sobre este entre judaismo e cultura grega.
episodio seja resumo de uma sessáo mui Quanto as pessoas que váo intervir (e já
to mais agitada. intervieram), vamos propor uma quadro
11,19-26 A conversáo do eunuco e de esquemático sacrificando matizes. Em am
Comélio sao fatos individuáis, embora sig bos os extremos se encontram judeus pu
nificativos. A fundaçâo e consolidaçào da ros e pagaos puros. Entre os judeus se dis
igreja de Antioquia significa uma abertu tingue o grupo fechado e hostil à nova “seita
ra e irradiaçâo institucional. Pena que dos nazarenos” (primeira etapa de Paulo,
Lucas seja táo sucinto em sua informaçâo. sinagogas locáis) e os tolerantes (Gamaliel).
Supôe conhecidas muitas coisas que con- Segue-se o grupo dos judeus que, sem dei-
vém expor aqui em síntese seletiva. xar de o ser, abraçam a fé crista (os apóste
Roma, Alexandria e Antioquia sao as los); entre eles um partido defensor da cir-
très grandes metrópoles do Mediterráneo cuncisâo e da lei como condiçao para
central e oriental. Roma representa o po tomar-se cristáo (Tiago). Vém depois os
der imperial e a nova cultura romana; helenistas convertidos, judeus da diáspora
Alexandria recolhe a herança cultural gre- de língua grega; menos ligados a práticas
ga; Antioquia é o enlace com o mundo judaicas e mais abertos (Estéváo, Filipe).
ATOS DOS APOSTOLOS 404 II
palharam-se até a Fenicia, Chipre e An- igreja um ano inteiro, instruindo um.i ■•
tioquia, anunciando a mensagem somen- munidade numerosa. Em Antioquia cli.i
te aos judeus. 20Entre eles havia alguns maram pela primeira vez os discípulo
cipriotas e cireneus que, ao chegar a An- de “cristäos”.
tioquia, puseram-se a falar aos gregos, 27Por esse tempo, alguns profetas di
anunciando-lhes a boa noticia do Senhor ceram de Jerusalém a Antioquia ' i m
Jesus. 2iA mäo do Senhor os apoiava, deles, chamado Agabo, se levantou m
de modo que grande número creu e se pirado e predisse urna grande carcsii.
converteu ao Senhor. 22A noticia chegou universal (que sobreveio no tempo di
aos ouvidos da igreja de Jerusalém, que Cláudio). 29Entäo os discípulos decidí
enviou Barnabé a Antioquia. 23Ao che ram enviar, cada qual segundo suas pen
gar e comprovar a graqa de Deus, ele se sibilidades, urna ajuda aos irrnaos c)ii<
alegrou 24e, como era homem bom, cheio habitavam na Judéia. 30Fizeram is-..
de fe e do Espirito Santo, exortou todos enviando-a aos anciäos por meio de B u
a serem fiéis ao Senhor de todo o cora- nabé e Saulo.
gäo. Bom número de pessoas aderiu ao
Senhor. 25Barnabé partiu para Tarso em Martirio de Tiago. Pedro encm
busca de Saulo 26e, quando o encontrou, cerado — ‘Nessa ocasiäo, o n i
conduziu-o a Antioquia. Atuaram nessa Herodes iniciou urna p e rse g u id o con
Pagaos prosélitos, simpatizantes da religiáo Santo”, dotes que Ihe permiten! apreciar i
judaica, que abracam a fé (o eunuco, Cor- discernir os feitos e planejar para o futuro
nélio), pagaos sem relagáo com o judais O segundo personagem é Saulo, cujo'
mo, que passam diretamente á fé crista. dotes Barnabé parece conhecer ou intim
Antioquia, por seu pluralismo cultural Notemos que no comego é Barnabé quem
e religioso, oferece um campo de operagóes dirige. Sua colaboragao durante um ano m
mais oportuno para novas experiencias. teiro em terreno privilegiado deve ter inclín
Gerada pela igreja de Jerusalém, conver- do dois aspectos: a pregagáo direta do evan
te-se logo no grande centro de irradia- gelho a grupos diversos, e a elaboragáo de
gáo da Igreja. Lucas menciona brevemen novas formas de pregagáo para os pagaos
te duas fases. Aprimeira, a dos helenistas, O grupo dos fiéis recebe dos de fora um
dirigida exclusivamente aos judeus. Nao nome que é todo um símbolo. O conteúdo
diz que éxito tiveram. A outra, audaz, de judaico chamado Messias (= Ungido) se
cipriotas e cirenaicos, dirigida aos pagaos: traduz livremente para o grego com o par
Deus os apóia (Le 1,66; Mt 10,6), e o éxi ticípio passivo Christos, e os romanos lhc
to é notável. Isto significa que em An acrescentam o morfema latino de adjetivo
tioquia comega a haver urna numerosa e resulta christianos = cristáo.
comunidade crista sem vínculos preceden 11,27-30 A noticia sobre os profetas
tes com o judaismo. ambulantes se repete no livro. A coleta di
Segundo Lucas, a igreja de Jerusalém que se fala admite duas explicagoes: a) I
conserva a alta diregáo e a responsabilida- a coleta mencionada em outros textos, bas
de última. Ante a nova situagao, tem que tante posterior, que o narrador antecipa
tomar partido, informando-se e agindo. aqui para mostrar a solidariedade entre a
Aqui o narrador introduz dois personagens nova comunidade florescente e a de Jeru
que já atuaram no livro: Barnabé e Paulo. salém. b) Foi urna coleta menor, promovi
O primeiro, embora cipriota helenista, nao da por Barnabé (o qual renunciou a seus
pertence ao grupo de Estéváo, mas colabo- bens), como expressáo de solidariedade c
rou com os apóstolos. Foi um dos protago vínculo de uniáo. A carestia fez outrora
nistas na experiencia da comunidade de Abraáo (Gn 12) e os filhos de Jaco (Gn 41)
bens (4,36-37). Parece urna pessoa apta para peregrinar.
conduzir as relagóes entre Jerusalém e
Antioquia. O texto o elogia sobriamente (v. 12 , 1-2 O martirio de Tiago fica reduzi
24) “homem bom, cheio de fé e do Espirito do a urna breve noticia que faz compreen-
IIAI 405 ATOS DOS APOSTOLOS
>Iri o perigo que Pedro corre. Diríamos que o dia seguinte, já é noite. O prisioneiro
ii Inlii merecía maior atengáo. E o primei- inocente dorme com sono tranquilo, inclu
iii mártir dos apóstolos, personagem de sive um tanto pesado (SI 3,6-8).
n ievo nos relatos evangélicos. Na sua Nesse momento irrompe o mundo so
mul te violenta, Tiago está “bebendo o cá- brenatural. A verossimilhança fica sus
lii'i',”, conforme Jesús lhe anunciara (Me pensa ou subordinada, a imaginaçâo lan
10,38 par.). Conta a lenda que seus restos ça mâo de sinais conhecidos. A luz celeste
murtais foram trasladados a Compostela. na obscuridade do calabouço (cf. Is 9,1;
l ) rci é Herodes Agripa, neto de Herodes 49,9), o anjo do Senhor como apariçâo da
u (¡rande (o dos inocentes); primeiro te- divindade capaz de tocar e ser vista. (Esta
imrca (37-41), depois reí de quase toda a luz nâo desperta os guardas?) O ritmo se
Palestina (41-44). O motivo da condena faz lento para que observemos os detalhes:
dlo ou execuqáo se insinúa no v. seguinte: cinto, sandálias, manto, um guarda, outro
"agradava aos judeus”. Tratar-se-ia de um guarda, o portáo externo, a rúa. Detalhes
partido hostil á nova seita ou de pessoas realistas traduzem o invisível ou impal-
influentes. A agáo mostra que a persegui pável. O próprio Pedro se move como so
d o se dirige agora á alta direqao da Igreja, námbulo, sua açâo é inaçào. (Os guardas
as testemunhas ¡mediatas de Jesús, a ju- nâo viram? A porta metálica náo rangeu
ileus que nao romperam com o judaismo. ao abrir-se e fechar-se?) Só no final de uma
12,3-19 A data insinúa talvez uma cor rua ou beco Pedro acaba de acordar e com-
respondencia com a Páscoa de Jesús (Le preende o acontecido.
22,1). Se é assim, Pedro comega a seguir 12.4 O verbo grego significa levantar;
seu Mestre; e se nao chega até o final, nao como o lugar de onde sai é o cárcere, o
6 por covardia. A libertagáo de Pedro se verbo equivale a tirar; mas o dativo mati
apresenta num relato de singular vivaci- za o significado, “tirá-lo ao povo”; com
dade (compare-se com 5,19-22), a meio binado com o verbo do v. 6 “levá-lo”, nos
caminho entre o realismo de reagóes hu dá o sentido total: tirá-lo e oferecé-lo numa
manas e o halo maravilhoso de aparigóes execuçâo pública.
e prodigios. O prisioneiro está guardado 12.5 Veja-se o pedido de Paulo prisio
com medidas de máxima seguranga: cor- neiro (C14,3). Ñas preces litúrgicas da Igre
rentes, portas, tumos de guardas. Em rá ja, teve espaço a oraçâo pelos encarcerados.
pida mudanga de cenário Lucas nos mos 12,7-8 Compare-se com a libertaçâo náo
tra um simples dado de transcendencia milagrosa e nao menos impressionante de
teológica: a Igreja reza por seu chefe pri Jeremías (Jr 38,7-13). As correntes: SI 107,
sioneiro; a distancia, as grades nao rom- 14; 116,16; veja-se em Is 52,1-2 a seqüén-
pem a uniáo espiritual dos fiéis. Rezar é a cia despertar — vestir-se — soltar-se.
única coisa que podem, e podem muito. O 12,9 Em algumas visoes (p. ex. de
tempo passa, a execugáo está marcada para Ezequiel), o vidente é ao mesmo tempo
ATOS L>OS APOSTOLOS 4-06 I / 11
urna posigáo junto ao procónsul romano. Lucas, é urna autoridade romana benevo
Lucas diz que ele era “inteligente”: supo- la ao evangelho.
mos que por seu desejo de escutar Barnabé 13,13 Nao diz por que Joáo Marcos voll.i
e Saulo, nao porque Lucas fizesse caso do para Jerusalém; pode ser que náo estivo,
charlatáo. Elimas detecta nos recém-che- se plenamente de acordo com a linha de
gados rivais perigosos, que ameagam sua agáo dos companheiros.
influencia, e por isso se esforga por repri 13,15 Na celebragáo do sábado lia si
mir e anular o influxo deles sobre o go primeiro urna perícope da torá e depoi-.
vernador. Até que se chegue ao confronto urna perícope dos profetas (haftará). Se
formal, na presenga do governador, que guía-se o comentário ou a homilía. Qual
terá de decidir-se pela fé ou pela magia. A quer judeu presente podía propor seu co
fé que os missionários pregam nao tolera mentárío. Como em Le 4, os visitantes san
o sincretismo. convidados a falar. O convite fala de “exoi
13.9 Toma a palavra Saulo (nao Bar tagáo” dirigida “ao povo”. Em principio c
nabé) e fala “inspirado” diante do gover o povo judeu, mas as sinagogas acorriam
nador (cf. Le 21,15). Num estilo entre também prosélitos e simpatizantes.
retórico e oracular, de profeta, interpela, 13,16a Paulo fala de pé, no estilo gre
denuncia o delito e anuncia o castigo. go. Usa o nome mais ampio e tradicional,
13.10 “Filho do diabo” pode significar “israelitas”, entáo nome ideal. Mas se di
varias coisas: discípulo do diabo, ser dia rige também aos simpatizantes com um
bólico; como se chama Bar-Jesus (Filho de título que é freqüente nos salmos, “vene
Jesús), o titulo pode soar como zombaria radores de Deus”.
sarcástica. E do diabo por ser embusteiro 13,16b-41 O ampio discurso de Paulo
(cf. Jo 8,44) e porque se opóe ao caminho se assemelha muito aos de Pedro (2,22-
reto de Deus (Pr 10,9; Os 14,10; Ez 33,20). 36; 3,12-26); a razáo obvia é que se dirige
13.11 Deus mesmo, “a mao do Senhor”, a judeus. Contudo, a nova linha de Paulo
executará a sentenga. A cegueira corporal ou a presenga de náo judeus na sala induz
será símbolo da espiritual (Mq 3,6); mas algumas mudangas de matiz.
será temporal, dando espago ao arrepen- 13,17 A prímeira frase do discurso é “o
dimento. Deus deste povo de Israel escolheu nos-
13.12 O ensinamento sobre o Senhor sos país”: pura iniciativa de Deus, realiza
(Jesús), que antes o procónsul tinha escu- da numa eleigáo soberana. Os judeus pre
tado, adquire ante o acontecido um cará- sentes na sinagoga sáo continuagáo dessa
ter de grave admoestagao: o governador eleigáo: Ela se manterá? ou se ampliará?
se sente surpreendido e abraga a fé. Para Sem passar por José, salta o tempo do
409 ATOS DOS APOSTOLOS
H'piiinli) morava no Egito. Com brago 23De sua linhagem, segundo a pro
. i|iiinln os tirou dai 18e durante quaren- m essa, Deus tirou Jesus corno salvador
..... . is conduziu-os pelo deserto. de Israel. 24A ntes de sua chegada, Joao
' 7 i pulsou setepovos pagàos de Ca- pregou um batismo de penitencia a todo
ii,bi (•¡■ntregouseu territòrio em heranga o povo de Israel. 25Pelo firn de sua car-
i hiui'l. 2(lPor quatrocentos e cinqùen- reira mortai, disse: Nao sou aquele que
1« .iiios deu-lhes juizes até o profeta pensáis; depois de mim vem alguém,
Allunici. 2lEntao pediram um rei, e Deus ao qual nào tenho o direito de tirar-lhe
II I. . ileu Saul, filho de Cis, da tribo de as sandálias dos pés.
H.'iijamim, que reinou quarenta anos. 26Irmáos descendentes de Abraào e
1 Tendo-o deposto, nomeou Davi co todos os que adorais a Deus: A vós é
nni rei, de quem deu testemunho: En- enviada esta m ensagem de salvagào.
•imin •/ Davi de Jessé, um homem de quem 27Os habitantes de Jerusalém com seus
Hinlo, que cumprirà todos os meus de chefes nào o acolheram nem às pala-
si'¡OS. vras dos profetas que sào lidos nos sá-
I i;ilo e o qualifica como “exaltagáo” (nao vador de Israel (outra vez o nome do povo
Inmiilhagáo). eleito em sua amplidáo ideal).
I3,17b-19 A libertagáo está articulada 13,24-25 Muita importancia relativa é
mis tres tempos clássicos: saída do Egito, dada a Joáo Batista: sua atividade e seu
. iiininhada pelo deserto, ocupagáo de Ca testamento. Enviado a “todo o povo de Is
limi. As pragas e a passagem do mar estáo rael” (novo acento) como precursor e arau-
ulntetizadas no “brago erguido” (Ex 12,51) to de um batismo de “arrependimento”.
.lo Senhor. No deserto saltam-se a alianga Tem alguma atualidade? (cf. v. 38). De seu
i' íi lei (que mais adiante se citaráo na sua testamento cita urna frase que se lé com
impotencia); nao menciona Aaráo nem o leves variantes aqui e nos quatro evange-
mito. Os “quarenta anos” aludem clara lhos (cifra excepcional, Le 3,16 par.): pro-
mente à rebeldía do povo (Nm 24,34). Os vável alusáo á lei do levirato.
"sote povos” formam o número clàssico 13.26 Com nova introdugáo passa ao
completo (Dt 7,1). tema cristológico. Chama os judeus presen
13.20 Quatrocentos anos correspondem tes de “descendentes de Abraáo”, distin-
no Egito, quarenta ao deserto, dez á con guindo-os do resto. Mais tarde, Paulo dará
quista e ocupagáo da terra. Os Juízes for outra amplitude á “linhagem de Abraáo”
mam um bloco de transigáo (Jz 2,16) “até” (cf. G1 3,29; Rm 4,16-17; 9,7-8). A “men
Samuel, a quem dá o título de “profeta”, sagem de salvagáo” se dirige agora a to
por sua vocagáo e porque recebia orácu dos; a sinagoga pode ser ainda lugar de
los de Deus. encontro e de escutar a nova mensagem.
13.21 Saúl serve para marcar o comego 13.27 Sem carregar a máo sobre a cul
ilo regime monárquico (ISm 8-9) e como pa, embora sem dissimulá-la, sublinha o
tundo de contraste para a eleigáo de Davi fato de que foram instrumento para que se
(ISm 16,12). cumprissem as profecías. O verbo grego
13.22 De Davi (ISm 16,12-13) recolhe vibra com certa ambigüidade: a ignoran
o aspecto positivo (segundo SI 89,20), com cia pode ser atenuante (3,17) e pode ser
tragos que podem converté-lo em tipo do culpada, “nao reconhecer”: náo acolheram
luturo Messias. Jesús como Messias e Salvador, náo o re-
13.23 “Da sua linhagem” (Is 11,1): se conheceram anunciado ñas profecías. Em
Saul relativiza o regime, Davi relativiza a bora aos sábados se leiam “lei e profetas”,
pessoa, porque sua fungáo mais importante o orador se detém expressamente nos pro
é receber urna promessa e gerar um des fetas, que representam o fator dinámico,
cendente. Promessa ou anúncio e cumpri- projetado para o futuro. Náo basta ser des
mento sáo o esquema que governa o que cendente de Abraáo, é preciso abrir-se ao
se segue. De Davi salta a Jesús, que, fa- futuro já presente como cumprimento.
zendo jus ao nome, é enviado como Sal- Condenando cumpriram (sem querer):
ATOS DOS APOSTOLOS 410 n 'i
como os irmáos de José fizeram com que O primeiro (SI 2,7) afirma a adogáo do
se cumprissem seus sonhos. rei como filho, em termos de geragáo. O
13.28 A culpa está mais clara nesta fra segundo (Is 55,3) é promessa de “lealda
se (Le 23,4.21). de” a Davi, que se cumpre no Leal poi
13.29 Todo o tempo da crucifixáo até excelència. O terceiro (SI 16,10) afirma
morrer era um ir cumprindo profecías (cf. que este náo sofrerá a corrupgáo. Ou seja,
Jo 19,28). O sepultamento ratifica a mor o Filho de Deus, descendente e herdeiro
te (Le 23,53 par.). de Davi, vence a morte. Náo se cumpre a
13,30-31 De novo, quem toma a inicia profecía em Davi, e sim em Jesús, ressus-
tiva é Deus (cf. v. 17), autor da ressurrei- citado por Deus.
çào. A frase sucinta faz parte do kerigma e 13,38-39 Segue-se a exortagáo conclu
da confissáo primitiva. Do fato sao teste siva, de oferta e admoestagáo (como em
munhas os apóstolos (Bamabé e Paulo nao textos proféticos ou penitenciáis, Is 1,10-
entram no grupo). 20; SI 50,22-23). A lei de Moisés, como
13,32-33a Eles sáo “evangelistas” ou todos os seus ritos e cerimónias, nao pode
anunciadores da boa noticia, a saber, que, garantir o perdáo dos pecados; foi e se
ressuscitando a Jesús, Deus cumpriu para demonstra inoperante no substancial. Ago
os filhos o prometido aos pais. E notável ra se oferece a todo o mundo, por meio de
nessa síntese todas as promessas no fato Jesús, sem outra condigáo senáo crer nele
singular de ressuscitar Jesús: parece exa (aqui ressoa um puro pensamento paulino).
gerado ou simplista? Quem o tiver com- 13,40-41 A fé em Jesús nao é ato neutral:
preendido como Paulo náo julgará desse aceita-se para salvagáo ou se rejeita para
modo. Podiam entendé-lo seus ouvintes? castigo (cf. Js 24). A admoestagáo se faz
13,33b-37 Sim, se sabem interpretar a adaptando um texto profètico (Hab 1,5),
Escritura. Os très textos citados faziam como que dizendo: a obra que Deus reali-
parte, talvez, de florilégios usados na pre- zou (ressuscitando Jesús) provocará espan
gaçâo e na catequese. Os très textos de- to aos que náo crerem.
vem ser tomados formando unidade, no 13,42-43 Apesar do dito sobre a lei de
novo contexto e iluminados pela glorifi- Moisés, a primeira reagáo dos ouvintes é
caçâo de Jesús Cristo. favorável; ao menos como curiosidade de
411 ATOS DOS APOSTOLOS
"No silbado seguinte, quase toda a po- ram os que estavam destinados á vida
imliigiio se reuniu para escutar a pala- eterna. E assim a palavra de Deus se
vmtic Deus. espalhou por toda a regiáo. 50Mas os
,|'’M;is os judeus, ao ver a multidáo, judeus incitaram m ulheres piedosas da
HH'lieram-se de inveja e contradiziam classe alta e os notáveis da cidade, pro-
un pnlavras de Paulo com insultos. 46En- vocaram urna perseguigáo contra Pau
liiu l’aulo e Barnabé falaram com toda lo e Barnabé, e os expulsaram de seus
ii niisadia: lim ites.5‘Eles, sacudindo contra os ou-
A vós, por prim eiro, era preciso tros o pó dos pés, partiram para Icónio;
iiiic fosse anunciada a palavra de Deus. 52enquanto isso os discípulos se en-
I'nrém, visto que a rejeitais e nao vos chiam de alegría e do Espirito Santo.
|ulgais dignos da vida eterna, nós nos
dirigiremos aos pagaos. 47Assim nos A Em Icónio — ‘Em Icónio entra-
nrdenou o Senhor: E u fa q o de ti luz das l i ram juntos na sinagoga judaica
naqóes, para que m inha salvaqáo atin- e falaram de tal m odo que m uitos ju
ln os confins da térra. deus e gregos creram. 2Os judeus náo
48Ao ouvi-lo, os pagaos se alegraram, convertidos incitaram e corromperam
glorificaran! a palavra de Deus e cre- os ánimos dos pagaos contra os irmáos.
i'ontinuar escutando. Por enquanto nao definitiva, com a qual se encerrará o livro
Ibes fecham a sinagoga como lugar de pre- (28,26-28). Também para a missáo univer
gagáo (cf. Am 7,12-13). E mais (como sal podem alegar urna profecía (Is 49,6)
ncontece em algumas conferencias): um dirigida pelo Senhor a seu Servo (a Jesús,
grupo misto de judeus e prosélitos conti segundo Le 2,32), escutada agora como
nua conversando com Paulo e Barnabé. dirigida aos pregadores do evangelho. “In
Dariam mais explicagóes, responderiam a dignos da vida eterna” que se alcanga só
perguntas. Despedem-se convidando-os a pela fé em Jesús.
serem fiéis ao “favor” que Deus lhes está 13,48-49 “Destinados á vida eterna” é
fazendo com a mensagem do evangelho. um modo de dizer eleitos; equivale a “es
13,44-45 O éxito dos pregadores vai ser critos no céu” (Le 10,20). A boa noticia
sua fatalidade. Porque a noticia foi difun infunde alegría (cf. Le 19,6). O evangelho
dida e comentada e quase todo mundo quer é palavra do Senhor acerca do Senhor. Os
escutar no sábado seguinte os novos pre convertidos se convertem em difusores do
gadores e ouvir esse discurso táo novo “so evangelho entre pagáos.
bre o Senhor”. Entre prosélitos e pagáos, 13,50-51 “Mulheres piedosas” simpati
deixam em minoria os judeus, os quais zantes ou adeptas do judaismo. Sáo as au
sentem inveja: do éxito dos adventicios, toridades da cidade que decretam e exe-
de seu novo ensinamento, de perder o pri cutam a expulsáo dos visitantes, que
vilègio de povo escolhido (cf. Rm 10,19; respondem com o gesto tradicional (Le
11,11.14). Entáo enfrentam os pregadores 9,5; 10,11 par.).
com argumentos e insultos, e podem en- 13,52 Embora a cidade esteja represen
quadrar-se no delito dos “habitantes de tada pelas autoridades, ficam nela muitos
Jerusalém com suas autoridades”; náo “discípulos”, e neles a presenga ativa do
aceitam ter de partilhar com os pagáos sua Espirito Santo.
condigáo de povo do Senhor. Fecham-se
no seu particularismo e rejeitam a mensa 14,1-6 O episodio de Icónio é esque
gem universalista. máticamente igual ao precedente. Primei
13,46-47 Paulo e Barnabé tomam posi- ro a conversáo de um bom número de ju
gáo e a declaram abertamente. O que di- deus e pagáos, que comegam a formar urna
zem aqui, como caso particular, vai con- comunidade mista (náo se deve supor que
verter-se num programa forcado de agáo: se formassem duas comunidades). Os ju
pregar primeiro aos judeus, ser rejeitados, deus que recusam a fé incitam os pagáos
dirigir-se aos pagáos. Até a declaragáo náo convertidos e influentes contra os “ir-
ATOS DOS APOSTOLOS 412
3D urante bastante tempo ficaram ai, — Levanta-te direito sobre teus pés1
apoiando sua ousadia no Senhor, que Ele deu um salto e comegou a andai
acreditava sua m ensagem de graga rea n O povo, ao ver o que Paulo havia fci
lizando milagres e sinais por meio de to, levantou a voz e disse em sua líu
les. 4A populacíio se dividiu: Uns a favor gua licaónica:
dos judeus, outros a favor dos apósto- — Deuses em figura de homens des
los. 5Pagáos e judeus, com o apoio dos ceram até nós!
chefes, se m ovim entaram para maltra- 12Chamaram Barnabé de Zeus e Pan
tá-los e apedrejá-los. 6A o saber disso, lo de Hermes, pois era o porta-voz. 13( )
os apóstolos fugiram para as cidades da sacerdote de Zeus, que era venerado
Licaónia, Listra, Derbe e seu territorio. junto á cidade, trouxe touros e grinal
7A í estiveram anunciando a boa noticia. das as portas da cidade, e tentava ofere-
cer um sacrificio com a multidáo. 14Ao
E m Listra — 8Em Listra havia um ho- ouvir isso, os apóstolos Barnabé e Paulo
mem aleijado dos pés, mutilado de nas- rasgaram as vestes e se langaram em
cimento, que jam ais caminhara. 9Sen- diregáo á multidáo, gritando:
tado, escutava o que Paulo dizia. Este — 15Homens, que fazeis? Nós tani
olhou para ele e, vendo que tinha fé para bém somos homens de vossa mesma
salvar-se, 10disse-lhe em voz alta: condigáo, e vos anunciamos que é ne~
máos”, o que significa divisáo e tensáo tos deuses, crenga em suas incursóes ter
dentro da cidade (Le 12,51-53). Paulo e renas em figura humana. Seria bom com
Barnabé nao arredam pé, continuam no seu parar este episodio com a visita dos tres
lugar (as autoridades nao os expulsam); o personagens a Abraao e Sara (Gn 18-19)
Senhor realiza por eles milagres e prodi para definir oposigòes e matizes.
gios (Le 4,22, nao mencionados na mis- 14,8-10 Tudo comega com urna cura
sao precedente). Chamar os pregadores de como aquela realizada por Pedro (3,1-10);
“apóstolos” nao corresponde à terminolo a presente é mais esquemática, mas náo
gia normal de Lucas (At 1,21-22). Esses esquece o fator essencial da fé (Le 5,20;
milagres beneficiam o povo necessitado, 7,50; 8,48; 17,19; 18,42). Para o efeito que
confirmam a “mensagem da graga de produz, o narrador nos pede que tenhamos
Deus”: com outras palavras, como os mi em conta que era “aleijado de nascenga” e
lagres trazem saúde, assim a mensagem que a cura é instantánea, com urna sim
traz salvagáo; os pregadores sao simples ples ordem de Paulo.
instrumentos. 14,11-13 Contudo, a reagáo do povo in
A divisáo na cidade permite à oposicáo dica um grau extremo, muito primitivo, de
aliar-se e tomar-se agressiva. Pagaos e ju religiosidade. Talvez alimentado com re
deus, com a participagáo de chefes judeus, latos de poetas assimilados sem crítica e
se preparam para apedrejá-los (como a com o culto a Zeus num santuàrio local.
Estéváo?, 7,54-59). Mas nao chegou a hora De acordo com o panteáo helenista, Bar
do martirio, pois resta muito para evan nabé, mais distante e solene, tem que ser
gelizar. Zeus; Paulo, o intérprete que fala, será
14,8-20 O incidente pitoresco de Listra Hermes. O sacrificio é ato de reconheci-
ilustra os primeiros encontros dos prega mento e gratidáo aos deuses pela visita e
dores cristáos com a cultura paga poli beneficio.
teísta. E um caso particular de relígiosida- 14,14-17 O discurso de Paulo pode ter
de ingenua e incrédula, de urna populagáo sido um exemplo de pregagáo a pagáos
que eré ñas historias ou lendas poéticas de sem contato com o judaismo. Lucas pre-
deuses que se apresentam aos homens em fere reservar tal discurso para o episodio
figura humana; inclusive se sentem valo de Atenas (17,22-31), e aqui se contenta
rizados por serem eles que recebem urna com o essencial para impedir o sacrificio
dessas visitas. Sao dois os ingredientes e insinuar de passagem a necessidade e a
pressupostos na situagáo: crenga em mui- linha de uma conversáo.
413 ATOS DOS APOSTOLOS
nào poderiam salvar-se. 2Isso provocou anciáos. 3Os enviados pela comunida
forte oposigào de Paulo e Barnabé e de atravessaram a Fenicia e a Saman.i
urna discussào com eles; de modo que contando aos irmáos a conversáo do-
se decidiu que Paulo e Barnabé, com pagaos e enchendo-os de alegría. 4Chc
alguns outros, iriam a Jerusalém, para gando a Jerusalém e sendo recebiilo-,
tratar do assunto com os apóstolos e os pela comunidade, pelos apóstolos e pe
li in iniciaos, contaram -lhes o que Deus entre ambos e purificando-os com a fé.
Imvia l'oito por meio deles. 5M as alguns 10Portanto, por que tentáis a Deus, im
i i invertidos da seita farisaica se levan- pondo ao pescoso dos discípulos um
Ininni e disseram que era preciso circun- jugo que nem nossos pais nem nós fo-
i liln los e ordenar-lhes a observar a lei mos capazes de suportar?11Pois eremos
ile Moisés. 6Os apóstolos e os anciàos ter sido salvos, e eles também, pela gra
w reuniram para exam inar a questào. cia do Senhor Jesus.
' Ini nando-se acesa a discussáo, Pedro 12Toda a assembléia, em silencio, se
Icvmitou-se e lhes disse: dispòs a ouvir Barnabé e Paulo, que lhes
Irmàos, vós sabéis que desde o contaram os milagres e sinais que Deus
principio Deus me escolheu entre vós tinha realizado entre os pagaos por in
pura que por meu interm èdio os pagaos term èdio deles. 13Q uando se calaram,
imvissem a boa noticia e cressem. 8Deus, Tiago respondeu:
que conhece os cora<jòes, deu testemu- — Escutai-me, irmàos. 14Simeào ex-
nlio a seu favor, dando-lhes o Espirito plicou como desde o co meco Deus quis
Sunto corno a nós, 9sem fazer distingào escolher entre os pagàos um povo que
15,5 Que nao convence a ala mais con- um “jugo” de escravidáo (Jr 2,20; 5,5). Se
urrvadora, de convertidos do partido fa- só a graga de Jesús Cristo salva (G1 2,16),
liseu (colegas de Paulo na sua formagáo, frente a ela todos somos iguais.
imlicalmente opostos em seus critérios 15,12 O discurso de Pedro é urna sín-
iilliais). A discussáo de Antioquia se reno- tese eficaz, que soa como muitos ensina-
va em outro nivel em Jerusalém. mentos das cartas de Paulo. É acolhido
15,6-7 Para resolvé-la os dirigentes se com um silencio de aceitagáo. Concéde
icliram com os dois delegados, e a discus- se a palavra aos delegados de Antioquia,
81*10 volta a acalorar-se; prova de que o os quais alegam os milagres com que
partido conservador era forte e decidido. Deus foi confirmando a missáo entre os
Alé que Pedro se levanta para falar. pagáos.
15,8-11 É Pedro que fala; o comunica- 15,13-21 Tiago confirma em substancia
lío de Paulo e Barnabé serve para apoiar e as palavras de Pedro, inclusive citando,
confirmar seu discurso. Pedro se refere á com mudanzas, a versáo grega (LXX) de
sua experiencia pessoal com Cornélio, uns vv. de Amos, que difere vistosamente
apresenta-a como fato fundacional, “des do original hebraico. O hebraico e o gre-
de o principio”, da nova linha da Igreja; a go falam de “reconstruir como nos tem
experiencia de Antioquia passa a segundo pos antigos”. Tiago omite nesse ponto a
plano. Cornélio e os seus aparecem como referencia ao passado. O hebraico anun
primicias e Pedro como pioneiro. Embora cia que o futuro reino de Davi reconquis
a rigor o autor primario de tudo seja Deus, tará o resto de Edom hostil e os reinos
que fala pela boca de Pedro e envia seu vassalos propriedade de Yhwh. O grego diz
lispírito sem distingáo. E o Espirito o fa- que “o resto dos homens e os pagáos to
lur que se difunde e derruba barreiras e dos buscaráo” (sem complemento); Tiago
cria a nova unidade. acrescenta “o Senhor”. Na última frase da
As leis de “pureza” separam e excluem citagáo reaparece a referencia ao passado
os pagáos; mas se instaurou um novo prin que foi omitida, mas com uma mudanga
cipio de pureza, que é a fé, partilhada sem substancial: náo se trata de reconstruir a
distingáo por judeus e pagáos convertidos. instituigáo antiga, mas de cumprir a pro
Atitude total e íntima do homem é a fé que fecía antiga.
Deus conhece e reconhece (Jr 11,20; Pr 15,14 O que fez Pedro (chamado aqui
15,11). Portanto, opor-se á incorporado pelo nome hebraico Simeáo) era nada
plena dos pagáos é opor-se a Deus. E náo menos que a agáo de Deus comegando a
vale objetar que nós nos salvamos pela lei escolher para si um povo constituido de
e eles pela graga, pois nem nós observa pagáos. O conceito tradicional de eleigáo
mos a lei, nem ela nos salvou; era antes fica profundamente transtornado. Levar o
ATOS DOS APOSTOLOS 416
nome indica que sâo possessáo de Deus: 15,22 Terminada a discussáo privad.i
no fundo, deve-se ouvir a expressáo Yhwh com um acordo, passa-se à assemblei.i
nosso Deus. geral, que ratifica o acordo e se dispóe i
15,19 Impor aos pagaos convertidos a comunicá-lo, por meio de seus delegados
circuncisáo e a leí seria “por obstáculos” á comunidade de Antioquia e vizinhas. Os
à sua conversâo (cf. Is 56,1-8). delegados de Jerusalém sáo como um in
15,20-21 Contudo, Tiago acrescenta tercambio cortés e pacifico.
uma cláusula restritiva, um trio ou quarte- 15,23-29 Na carta se acrescentam deta-
to de observâncias de pureza. A intençâo lhes dignos de nota. Sao desautorizados
dessas exigencias parece ser assegurar a os extremistas e sua agáo espontánea (el
convivencia pacífica de pagaos e judeus Mt 23,4). Em contraste, sáo louvados
em comunidades cristas mistas; pois os Barnabé e Paulo por seu espirito de sacri
judeu-cristàos continuant ouvindo aos sá ficio em prol do evangelho. Apela-se ao
bados e cumprindo diariamente a lei de Espirito Santo, que ratifica a decisáo dos
Moisés. responsáveis; em termos modernos, diri-
Contaminar-se com ídolos é comer car am que sua decisáo é carismàtica.
ne sacrificada a divindades falsas (cf. ICor 15,31-32 Os antioquenos se sentem ali
10,20-22); fornicaçâo é aquí o matrimo viados, reanimados com a carta. Sua agáo
nio dentro de limites proibidos (Lv 18); apostólica foi substancialmente confirma
comer sangue ou animais estrangulados da e restabeleceu-se a paz. As restrigóes nát)
(sem tirar-lhes o sangue) repugna à lei (Lv pesam numa comunidade mista como a
3,17; 17,10) e à sensibilidade judaica. Très deles. Ao comunicado se acrescenta a voz
das cláusulas se referem a comidas. Cabe do Espirito que anima pela boca de seus
perguntar: se essas normas se justificam profetas.
pelo bem da paz, deveráo ser aplicadas em 15,33 *Alguns manuscritos acrescen
comunidades formadas exclusivamente tam: MSilas decidili ficar ali, de modo que
por pagáos convertidos? Judas voltou a Jerusalém.
Ill / 417 ATOS DOS APOSTOLOS
15,35 Funciona como conclusáo: Paulo Sua posiqáo é ambigua, e os judeus po
e Barnabé podem continuar sua agáo e seu dem com razáo objetar que Paulo procu
projeto, enriquecidos com tantas expe ra ofendé-los, negando publicamente um
riencias. direito judaico. Paulo elimina a ambigüi-
15,36-40 Trata-se de um incidente me dade (incorrendo na própria? Cf. ICor
nor, ou sobe á superficie algo profundo? 7,17-24) e consegue um excelente cola
I)eve-se marcar o v. 36 como cometo de borador, seu favorito (F1 2,19-24; lTs 3,
urna nova etapa, ou é continuagáo com 2-6; ICor 4,17; 16,10-11) e herdeiro de
mudanza de pessoal? Á primeira vista, tra sua mensagem. O último v. retorna com
ta-se de eleigáo de colaboradores, de re variantes topográficas como leitmotiv
cuperar Joao Marcos, um dia fugitivo (13, (2,41.47; 4,4; 5,14; 6,7; 9,31.35.43; 11,21;
13), na intengáo de Barnabé; de rejeitá-lo 12,24; 14,1).
como inconstante e náo fidedigno, na ré 16,6-10 Ocorre urna mudanza transcen
plica de Paulo. Cabe perguntar por que se dental de diregáo geográfica, e é o Espiri
faz violenta a discussáo: terá amadureci- to Santo ou Jesús quem impóe o caminho.
do em Paulo um projeto novo que Barnabé Primeiro fechando a passagem a algumas
náo compartilha? (cf. a separagáo de Abráo tentativas, depois enviando um sonho ora
e Ló, Gn 13). cular. Paulo tem que deixar por ora a Asia
De fato, notamos que desta vez Paulo para passar á Europa: um fato que perten-
toma a iniciativa de urna nova expedigáo ce á historia da nossa cultura. De repente
apostólica, escolhe um novo companhei- o relato adota a primeira pessoa do plural,
ro e parte, náo enviado formalmente pela com certo sabor autobiográfico. O uso de
comunidade, e sim com a despedida cor sonhos para comunicar mensagens divi
dial por ela. Agora Paulo vai recomenda nas é mais freqüente em Mateus. Lucas
do pelos irmáos “ao favor do Senhor”. Por normalmente faz intervir anjos. Um ma-
esses aspectos, embora as primeiras eta cedónio anónimo, que aparece num sonho,
pas sejam de repetigáo, Paulo empreende é a voz da Europa pedindo auxilio. Sem
urna nova empresa missionária. querer recordamos que da Macedónia par-
tiu a grande difusáo cultural que chama
16,1 5 O caso de Timoteo é particular. mos helenismo. A situagáo está mudando:
Sendo de máe judia, é israelita de direito; agora o helenismo vai receber como auxi
sendo de pai pagáo, náo foi circuncidado. lio a boa noticia de Jesús.
ATOS DOS APOSTOLOS 418
gando à Misia, tentavam passar para a Sentamos e cometamos a conversar coni
Bitinia, mas o Espirito de Jesus o impe- algumas mulheres. 14Escutava-nos unii
diu. 8Portanto, deixaram a Misia e des- m ulher chamada Lidia, comerciante do
ceram a Tròade. púrpura de Tiatira e pessoa devota. ( )
Senhor lhe abriu o coragào para qiu-
Visào de P au lo — 9Certa noite, Paulo prestasse atengào ao discurso de Pau
teve urna visào: Um macedònio estava lo. 15Ela se batizou e pedia:
de pé e Ihe suplicava: Vem à Macedònia — Se me tendes por fiel no Senhoi.
para ajudar-nos. 10Após essa visào, pro vinde hospedar-vos em minha casa. I
curamos ir à M acedònia, convencidos insistía conosco.
de que Deus nos cham ava para anun-
ciar-lhes a boa noticia. “ Zarpando de Preso e liberto— 16Certo dia, quando nos
Tròade, chegam os rapidam ente a Sa dirigíamos para a oracào, saiu-nos ao en
motracia e, no dia seguinte, a Neàpolis; contro urna criada que tinha poder do
12dai a Filipos, a prim eira cidade da adivinhar e, com suas adivinhagóes, pro
provincia da Macedònia, colònia rom a porcionava grandes lucros a seus patróes.
na. Ficamos alguns dias nessa cidade. Indo atrás de Paulo e de nós, gritava:
13Num sábado, saim os pela porta da — Estes homens sào servos do Deus
cidade em diregào à margem de um rio, A ltissim o e nos pregam o caminho da
onde pensávamos que se fizesse oradio. salvagào.
16,11-12 Por mar e terra chegam a Fili náo é normal que seja a mulher a chefe da
pos, a cidade que recebe seu nome de Fili- casa (cf. SI 113,9). Os missionários acei
pe, pai de Alexandre Magno. Como colò tara a hospitalidade generosamente ofere-
nia romana (desde o ano 31 a.C.), gozava cida, segundo o conselho do Senhor (Le
dos privilégios e era administrada segun 10,3-10) e o exemplo do profeta (2Rs 4).
do a lei de Roma. Mas seu privilègio maior 16,16-40 Após um comego aprazivel,
é ser a primeira cidade européia a receber desencadeia-se bem cedo a perseguigào,
os mensageiros do evangelho. que é a acolhida da Europa (Grècia e Ro
16.13 A palavra grega que traduzimos ma) a Paulo, depois de ter-lhe pedido au
por oragào pode designar por metonimia xilio. O relato é heterogéneo pela inser-
um lugar de oragào, seja urna sinagoga, gào da cena noturna no càrcere. Se lermos
seja um lugar ao ar livre, como se a proxi- saltando do v. 24 ao 35, o relato fluì, sal
midade da àgua favorecesse a oragào ou vo a demora inexplicável em alegar a ci-
servisse para ablugóes. A circunstancia de dadania romana: Paulo e a criada que adi-
ser um sábado faz pensar num rito judai vinha, irritagào dos patróes, denùncia,
co; mas o fato de se reunirem mulheres motim do povo e violència contra os prega-
sozinhas dissuade disso. Dir-se-ia que sào dores, libertagào e expulsào cortes. O flu-
todas pagàs simpatizantes do judaismo. O xo se corta para dar passagem a urna cena
clima de oragào partilhada favorece a co- fantàstica (w . 25-34), que nào se encaixa
municagào da mensagem. bem nesse contexto forgado.
16.14 Náo se fala do resultado de con 16.16 “Poder de adivinhar” è em grego
junto; o narrador se fixa em urna, a pri “espirito pitònico” (da serpente que guar
meira mulher cristá na Europa. Originària dava o oráculo de Delfos). Lucas quer re
de Lidia (Asia Menor), dedicada ao lucra lacionar o fato com a expulsào de demo
tivo comércio de luxuosos tecidos fingi nios do evangelho (Le 4,35; 8,29-38 par.).
dos em púrpura, adepta da religiáo judai Os patróes exploram os dotes dela, supos-
ca. E Deus quem a abre por dentro (o tamente sobrenaturais, com urna religio-
coragào) para que escute e aceite e se en sidade que è negócio.
tregue à mensagem. 16.17 Se a moga era perspicaz e se man-
16.15 O batismo com “toda a casa” (in tinha informada dos fatos correntes, nào
cluí também servos e empregados) è nor tinha que adivinhar muito para fazer sua
mal nessa sociedade (10; 16,33; 18,8), mas declaragáo pública. Nào captamos bem o
IA. H 419 ATOS DOS APOSTOLOS
"Vez isso por muitos dias, até que Pau- cutavam . 26De repente, sobreveio um
lu, cansado, voltou-se e disse ao espirito: terremoto que sacudiu os alicerces da
Em nome de Jesús Cristo, eu te prisáo. ¡mediatamente todas as portas se
ni ileno que saias déla. abriram e as correntes de todos se solta-
1 mediatamente saiu déla. 19Vendo seus ram. 270 carcereiro acordou e, ao ver as
Imi roes que lhes havia escapado a es- portas abertas, empunhou uma espada
pcnmga de negocios, agarraram Paulo para matar-se, crendo que os presos ti-
r Si las, os arrastaram á praca, diante das vessem fúgido. 28Mas Paulo lhe gritou
autoridades, 20e, apresentando-os aos bem forte:
magistrados, disseram: — Náo fagas mal nenhum a ti mes-
— Estes homens estáo perturbando mo, pois estam os todos aqui!
nossa cidade; sao judeus 21e pregam 29Ó carcereiro pediu luz, correu para
costumes que nós, rom anos, nao pode dentro e se langou aos pés de Paulo e
mos aceitar nem praticar. Silas. 30Conduziu-os para fora e lhes
220 povo se reuniu contra eles e os disse:
magistrados ordenaram que os desnu- — Senhores, que devo fazer para me
ilassem e os agoitassem. 23Depois de salvar?
urna boa surra, os colocaram na prisáo 31Responderam-lhe:
c ordenaram ao carcereiro que os guar- -— Cré no Senhor Jesús e te salvarás
dasse bem guardados. 24Recebido o en com tua familia.
cargo, colocou-os no último calabougo 32Expuseram a ele e a toda a familia
e amarrou seus pés ao cepo. 25A meia- a m ensagem do Senhor. 33A inda de
noite Paulo e Silas recitavam um hiño noite os levou, lavou-lhes as feridas e
a Deus, enquanto os outros presos es- se batizou com toda a familia. 34A se-
tom com que grita: é louvor e recomenda pena dolorosa e infamante. Depois disso
d o , zombaria e parodia, desafio aos pre os eoloeam uma noite na prisáo (cf. a sor
sumidos salvadores? “Altissimo” podia-se te semelhante de Jeremías, 37,14-16). No
dar como título a Zeus ou a Yhwh\ nao sa calabouço ficam até a manhá seguinte, da
bemos se a ambigiiidade do narrador é in qual se ocupa o v. 35.
tencional. 16,25-34 Lucas aproveita esta noite va-
16,18 Seja como for, a repetido irrita zia e os acontecimentos para enché-la com
Paulo, e ele recorre a seu poder numa es- um relato de libertaçâo, em que Paulo se-
pécie de exorcismo pela invocagáo do gue as pegadas de Pedro (12,1-19). Os tra-
nome de Jesús Cristo. O espirito “saiu” e ços realistas fazem sentir mais as incoerén-
com ele “saiu” o rendimento (como o dos cias. Em que calabouço estáo Paulo e Silas
porcos em Le 8,26-39). Será preciso dis para serem ouvidos pelos demais presos?
cutir se era o espirito que produzia o ren E para inteirar-se do que acontece no cár-
dimento, ou era o rendimento que inven cere, para gritar do seu lugar ao carcereiro?
tava o espirito (Lucas nada mais conta). Que terremoto é este que abre portas e sol-
16,19-21 A intervengo dos patroes é ta corpos sem produzir outros danos? Por
violenta, ilegal; pode ser que a executa- que náo escapam, como fez Pedro?
ram por meio de outros criados. A acusa- Temos que entrar no espaço fantástico
gáo é maliciosa, hoje diríamos que basea- do relato para escutar o que nos inculca o
da em anti-semitismo e xenofobia: opóe narrador. Antes de tudo, a serenidade e o
romanos a judeus, costumes estrangeiros gozo dos dois presos espancados que trans-
aos pátrios, e provoca a animosidade po formam o cárcere em casa de oraçâo (cf.
pular. Sem querer dizem uma coisa certa: SI 77,7; como os très jovens na fornalha
que a mensagem crista perturba, sacode e da Babilonia, Dn 3). O terremoto é teofa-
agita a vida pagá da cidade. nia, manifestaçâo da divindade em açâo
16,22-24 Com náo menor violéncia ile (cf. Ez 38,19). Abrem-se as portas como o
gal: cedem ao motim popular e sem inter profeta promete (Is 45,1), e saem livres (SI
rogatorio nem processo lhes infligem uma 124,7).
ATOS DOS APOSTOLOS 420 16,35
guir, os levou para sua casa, ofereceu- 380 s guardas comunicaram isso aos
lhes urna refeigáo e festejou com toda magistrados, que se assustaram ao ou
a casa o fato de haver acreditado em vir que eram cidadäos romanos. 39Vic
Deus. ram, se desculparam, os fizeram sair <
35Quando amanheceu, os magistrados lhes pediam que fossem embora da ci
enviaram os guardas para que soltas- dade. 40A o sair do cárcere, dirigiram
sem aqueles hom ens. 3fiO carcereiro se à casa de Lidia, saudaram e anima
informou Paulo sobre o assunto: ram os irmàos, e partiram.
— Os m agistrados ordenaram que
vos soltem; portanto, ide em paz. "I H Em TessalÓ nica— A travessan
37Paulo replicou: A / do Anfípolis e Apolónia, chega
— Eles nos agoitaram em público e ram a Tessalónica, onde havia urna si
sem julgam ento, a nós que som os ci- nagoga judaica. 2Segundo o costume,
dadáos romanos, langando-nos na pri- Paulo foi a ela e, durante très sábados,
sáo, e agora nos mandam sair as escon discutía com eles, citando a Escritura,
didas? De nenhum modo! Que venham 3explicando-a e mostrando que o Mes
eles e nos fagam sair. sias tinha de padecer e ressuscitar ao
O efeito mais maravilhoso é a conver- gáo. Com este final, Lucas envia talvez
sáo do carcereiro, libertado por Paulo da uma mensagem indireta as autoridades
tentativa de suicidio: o preso acaba sendo romanas do seu tempo.
o libertador. Aquí o relato recobra veros- 16,39-40 Ao partir, Paulo e Silas dei-
similhanga dentro da sua brevidade. Apri- xam uma mulher e um homem converti
meira reagáo do carcereiro é ainda de pa- dos com suas casas. Lucas náo mencio
gáo diante do prodigio: estes homens estáo na outros.
protegidos por algum deus, é preciso res-
peitá-los e escutá-los; talvez a divindade 17,1 -2 Tessalónica era a capital da Ma-
queira comunicar-me por meio deles urna cedônia, a segunda etapa da missáo, tal
mensagem. Sua pergunta se abre a maior vez a primeira no projeto. Cidade portuá-
sentido gragas á ambigüidade, “para sal- ria, rica e aberta, na quai náo faltava a
var-me” (Le 3,10-14). Depois, em rápida comunidade judaica com sua sinagoga;
alternancia, escuta, eré, cuida dos feridos primeiro lugar de pregaçâo, na tática de
(Le 10,34), se batiza com toda a familia, Paulo (9,20; 13,5.14; 14,1). Très sábados
festeja com um banquete o acontecimen- consecutivos permitiam desenvolver e dis
to. Com certeza, em suas repetidas esta cutir os temas principáis. Essa duraçâo se
días em prisáo, Paulo converteu mais de refere ao primeiro amadurecimento de
um carcereiro, com sua paciencia e pala- conversóes; náo significa que ¡mediata
vras. E esse era o prodigio importante e mente tenha vindo a reagáo hostil.
permanente, esse o terremoto que livrava 17,3 A discussáo se faz sobre a Escritu
tantos prisioneiros do paganismo. ra. O processo exposto é provavelmente
16,35 Para que o fio narrativo continué, um exemplo.
temos de supor coisas estranhas: que o Primeiro, Paulo procura corrigir a visáo
carcereiro, depois do banquete, levou os do Messias triunfal que os judeus privilé
presos outra vez para o cárcere, os pren- giant; com textos da Escritura (Is 53; SI
deu com cepos, fechou as portas para dar 22 e outros) mostra que o Messias “tinha
a impressáo de que nao houve nada. Sal de padecer” (Le 24,46).
temos mentalmente para a cena noturna a Depois, já que aqueles judeus admitiam
fim de lermos o desfecho. a ressurreiçâo e a outra vida, mostrava-lhes
16,36-38 Paulo se converte em acusa que o Messias havia de ressuscitar. Uma
dor dos magistrados, demonstrando que vez preparada como um molde essa visáo
violaram as leis romanas e que estáo ex- bíblica do Messias, encaixava nele a figu
postos as sangóes correspondentes. Por ra de Jesús. Um modo de raciocinar mo-
isso exige e obtém uma discreta repara- vendo-se em terreno comum.
17, l(> 421 ATOS DOS APOSTOLOS
tcii eiro dia, e que esse Jésus que lhes E m B eréia — 10A seguir, de noite, os
uminciava era o M essias. 4A lguns de irmáos enviaram Paulo e Silas a Beréia.
les se deixaram convencer e se asso- Quando chegaram , foram á sinagoga
i'iaram a Paulo e Silas; tam bém grande dos judeus. "E stes eram mais toleran
numero de prosélitos gregos e nào pou- tes que os de Tessalónica; acolheram
i ns mulheres influentes. ^Cheios de in- com interesse a mensagem, e todos os
vcja, os judeus recrutaram alguns va dias analisavam a Escritura para ver se
gabundos da rua, am otinaram o povo, era certo. 12M uitos deles abragaram a
perturbaram a ordem da cidade e se apre- fé, da m esm a forma que algumas mu
sentarara na casa de Jasâo, com inten lheres nobres e náo poucos homens gre
tai) de fazer Paulo e Silas com parecer gos. 13Quando os judeus de Tessalónica
diante da assem bléia do povo. ' Nào os ficaram sabendo que Paulo havia anun
encontrando, arrastaram Jasào e alguns ciado a m ensagem de Deus em Beréia,
irmáos à presença dos magistrados. E foram ai para incitar e amotinar o povo.
gritaram: 14Sem tardar, os irmáos fizeram Paulo
— Estes, que revolucionaram o mun descer ao litoral, enquanto Silas e Ti
do inteiro, apresentaram -se aqui e ''Ja moteo ficavam atrás. 15Os que escolta-
sào os acolheu. Todos eles atuam con vam Paulo o conduziram a Atenas; a
tra os editos do imperador, afirmando seguir, voltaram com instrugoes para
que há outro rei, Jésus. Silas e Tim oteo o alcangarem ai.
8Ao ouvir isso, a m ultidào e os m a
gistrados se assustaram , 9exigindo de Em A ten as — 16Enquanto os esperava
Jasào uma fiança, e os soltaram. em Atenas, Paulo se indignava ao ob-
A lei judaica reconhecida e amparada pe 18,24-28 Vem a ser aqui ambigua a fi
los romanos? Galiào o toma no segundo gura de Apolo (bandeira de todo um parti
sentido: Paulo nào violou nenhuma lei ro do em Corinto, ICor 1,12; cf. 3,4-6.22; 4,6;
mana; e se se trata de vossa legislagào e suas 16,12).
interpretagóes, desfrutáis de autonomia Por um lado, parece um cristáo conhe-
para resolverdes entre vós vossos pleitos. cedor da figura de Jesús á luz da Escritu
Para o romano, o que separa Paulo dos ra; ele só deve aperfeigoar seus conheci-
uutros judeus sào questóes verbais sem mentos. Por outro, nao está batizado nem
substancia. Para Paulo e os judeus, a dife- recebeu o Espirito Santo. Talvez Lucas
renga é radicai. Galiào pensa que Roma queira apresentá-lo como discípulo do
està acima de semelhantes distingóes, e que movimento do Batista, bem informado
a mensagem de Paulo nào afeta o Impè sobre a atividade de Jesús e que se faz
rio. Nào quer empenhar a autoridade de Ro discípulo cristáo (como os de Jo 1,35-51).
ma em assuntos internos ao judaismo; quan Provém do grande centro cultural de
do precisamente Paulo quer afetar todo o Alexandria, onde se tinha familiarizado
mundo com sua mensagem universal. com a Escritura e com suas técnicas de
Galiào despreza os judeus e zomba de interpretai;fio. Urna vez bem formado, póe
les, o narrador se aiegra com seu fracas toda a sua pericia bíblica a servigo do
so. Os pagàos da cidade desafogam em evangelho.
Sostenes seus sentimentos anti-judaicos, Encarregado de sua instrugáo é o casal
enquanto algo muito grave està aconte- judeu expulso de Roma, que freqüenta re
cendo por debaixo de urna superficie ir- gularmente a sinagoga (só como ouvin-
relevante. tes?). O tema da instrugáo “com maior
18,18 Nào temos idéia nem meios para exatidáo” é “o caminho de Deus”, termo
averiguar o sentido deste voto. No rito se genérico que abarca muitas coisas (cf. Dt
parece com o do nazireato (Nm 6,18). Tal- 5,33; Jr 7,23), embora Apolo já conheces-
vez Lucas queira indicar que Paulo nào se “o caminho do Senhor” (drk Yhwh, ex-
rompeu completamente com o judaismo. pressáo pouco freqüente no AT, Jz 2,22; Jr
18,19-23 Segue-se um sumario de carà- 4,4-5).
ter geogràfico, no qual se destaca a aten De passagem, Lucas nos conduz a Éfeso,
e o especial concedida pelo narrador a com sua sinagoga e sua comunidade de
Efeso, campo importante da atividade fu “irmáos” e sua relagáo com outras igrejas.
tura de Paulo. Ao invés, de Antioquia só Terreno preparado para a visita estável de
diz que passou ai urna temporada. Paulo.
ATOS DOS APOSTOLOS 426 IH '(
19,1-7 Aquí temos outro encontro com elemento novo consiste em que toda a co-
membros do movimento espiritual do Ba munidade de “discípulos”, por decisao de
tista, o qual podía ser invocado como ri Paulo, se aparta da sinagoga e busca outro
val da Igreja, mas também podia ser pre- lugar de reuniáo. Uma escola talvez de
paragáo para a Igreja (Le 3,5-7). Assim retórica: naquele tempo as escolas erani
acontece em Éfeso: o Batista, já morto, assunto privado de indivíduosj deve-se
com seu convite ao arrependimento e a supor que o mestre era cristâo. É sugesti
esperar o julgamento, com seu testemu- vo imaginar como a retórica clàssica al
nho explícito sobre Jesús, continua con- terna com o evangelho e a catequese (a
duzindo discípulos postumos para o ver- propósito, onde havia aprendido Lucas a
dadeiro Messias. Entre os dois batismos, arte de escrever?).
a diferenga externa era menor, de modo 19,10 Dois anos é um tempo muito lon
que os pagaos podiam confundi-los. A di- go na vida apostólica de Paulo. Éfeso se
ferenga essencial consiste no dom do Es converte em centro de irradiaçâo na pro
pirito (Jo 7,39) e suas manifestagóes (8,17; vincia da Asia; também ponto de expedi-
10,44). Assim, de outro ponto de vista, çâo de várias cartas: aos Gálatas e aos
vamos vendo o papel fundamental do Es Corintios. De táo longa temporada Lucas
pirito na vida da Igreja. Ademáis, nunca vai contar-nos dois episodios que julga
se batiza “invocando (o nome do) Batis característicos.
ta”, como se invoca o nome de Jesús. 19,11-20 O tema central deste episodio
19,5 *Ou: consagrando-se ao Senhor é o confronto de Paulo taumaturgo com os
Jesús. magos; portanto, pode-se colocar em sé
19,8-10 Repete-se o esquema de prega- rie com os episodios de Simáo e de Elimas
gao na sinagoga e rejeigáo dos judeus. O (13,4-12). Éfeso era conhecida como uma
1« 427 ATOS DOS APOSTOLOS
19,23-40 Lucas compóe uma página ria confirma que é aplicável a muitas situa
magistral de sociología de massa, de reli- góes semelhantes. Certeiro em sua apre-
giosidade popular embebida em naciona sentagào da polèmica de Paulo contra os
lismo e interesses económicos. ídolos (17,24.29; cf. Is 44,9-20; Sb 14,18
O objeto de culto é Ártemis, a deusa máe 21). Astuto em derivar o interesse econó
asiática, deusa da fecundidade, e seu tem mico do comego para a nobilissima devo-
plo, uma das maravilhas do mundo. Deto gào à venerabilissima divindade. Astuto
nador do tumulto é o chefe do grémio dos em apresentar o negocio como servigo. O
artesáos, protagonista é a populadlo. A reli- tempio da deusa, Artemision, era um con
giáo é explorada para o negocio, e o negocio junto de 120 metros por 70, rodeado de
se justifica com a religiáo: assim age De- 128 colunas de 19 metros de altura.
métrio. O que aos habitantes falta de forma- 19,29 A faisca violenta dos ourives vai
gáo religiosa e convicgáo pessoal se supre se propagando à populagáo, que agarra
com gritos emotivos e com o arrastáo da ma- dois companheiros de Paulo e se dirige ao
ré humana. Buscam-se vítimas expiatorias. lugar público mais espagoso, o teatro de
Frente ao culto coletivo de Ártemis, dis- 24.000 lugares.
corre o Caminho, um dos nomes do cristia 19,31 Aintervengáo dessas autoridades
nismo (9,2; 19,9). Seu expoente, Paulo, é mostra que o cristianismo tinha penetrado
retirado quando tenta intervir. O povo con até ñas classes influentes.
funde os cristáos com os judeus, cujo ex 19.33 Em contraste, a comunidade ju
poente é Alexandre. Caberá ao poder civil daica, sentindo-se em perigo, envia um
apaziguar o furor religioso da populagáo. delegado para acalmar os ánimos. Mas
19,24 Os gregos deram o nome da sua deusa obtém o contràrio. Na oposigáo ás ima
da caga, Ártemis (em latim Diana), a uma di- gens de deuses, os judeus náo eram me
vindade asiática, da qual se conservam nu nos firmes que os cristáos.
merosas imagens. As estatuetas da deusa 19.34 Segue-se a o tumulto de milhares
dentro de um nicho ou miniatura de templo de gargantas unidas num grito repetido
eram vendidas como lembranga devota ou sem parar. Pode-se recordar o estribilho
curiosa (como acontece em nossos dias). dos judeus no tempo de Jeremías (Jr 7,4)
19,25-27 O diagnóstico de Demétrio é ou da manifestagáo de protesto social no
certeiro e astuto. Certeiro, porque a histó- tempo de Neemias (Ne 5,5).
429 ATOS DOS APOSTOLOS
ram morto. 10Paulo desceu, lancou-se Despedida dos efésios — 17De Mileto
sobre ele, o abragou e disse: mandou um recado, convocando os an
— Nao vos assusteis, pois ainda està ciaos da comunidade. 18Quando chega
vivo. ram, disse-lhes:
u Depois subiu, partiu o pao e comeu, — Sabéis que desde o primeiro dia em
prolongou a conversa até de m adruga que pus os pés na Asia passei todo o teni
da, e depois partiu. 12Levaram o jovem po convosco, 19servindo o Senhor com
vivo e se consolaram muito. toda humildade, com lágrimas e em to
13Nós nos dirigimos ao barco e zarpa das as provas que as intrigas dos judeus
mos para Assos, onde deviamos reco- me provocaram. 20Náo omiti nada de útil
lher Paulo. Isso era conveniente, já que para pregar-vos e instruir-vos, em pu
ele fazia a viagem a pé. 14Quando nos blico e em vossas casas. 21Inculquei em
alcangou em Assos, embarcou conosco judeus e gregos o arrependimento dian
e nos dirigimos a Mitilene. 15Zarpamos te de Deus e a fé em nosso Senhor Jesús.
dai e no dia seguinte chegamos diante 22Agora, acorrentado pelo Espirito,
de Quio, no terceiro passamos Samos e vou a Jerusalém, sem saber o que ai me
no seguinte chegam os a Mileto. '^Pau acontecerá. 23Sei apenas que em cada
lo decidirá passar ao largo de Efeso, cidade o Espirito Santo me assegura que
para nào perder tempo na Asia. De fato, me esperam correntes e perseguigoes.
se fosse possivel, queria chegar a Jeru- 24Mas de forma alguma considero mi-
salém para o dia de Pentecostes. nha vida preciosa, contanto que com-
domina a situaçâo: a celebraçâo da vida do definitivamente, fica sua figura como que
Ressuscitado nào vai terminar com a morte erguida no pedestal literário deste discurso
de um dos participantes; pelo contràrio, o e sua voz continua vibrando com a emogáo
incidente servirà para mostrar “a força da res- da despedida. Seu discurso é recordagao de
surreiçâo”. Paulo imita os gestos de Elias e uma missáo pessoal cumprida e legado de
Eliseu (IRs 17,21 e 2Rs 4,34). Com toda a uma missáo por cumprir, historia e profecía,
serenidade sobe e concluí o rito. E ainda lhe exemplo e admoestagáo. Acumulam-se nele
restam forças e coisas para dizer até a hora da temas e expressóes típicas de Paulo em suas
partida. É o ùnico caso em que urna ressurrei- cartas; mas o alvo está afastado no tempo; é
çào acontece dentro de urna eucaristia, e o antes o tempo de Lucas.
narrador quer que o apreciemos. O desenrolar do discurso é repetitivo,
20,13-16 A lista pontual de itinerários, como se Paulo náo soubesse terminar. Po
localidades e datas parece tirada de um di demos resumir seus temas: é uma missáo
àrio de bordo. Aqui volta a primeira pessoa recebida do Senhor Jesús, guiada pelo Es
do plural, que continuará até o fim do livro. pirito. Consiste em servir, anunciar, ensi-
20,17 Em Mileto Paulo e seus acompa- nar, testemunhar, em meio a provas e tri
nhantes fazem escala. A cidade dista de Éfeso b u ía le s, a judeus e gregos.
uns 60 km. Convoca os “anciáos”, ou seja, 20,19 Servir: “servo” é o título que Paulo
um conselho de cunho palestino; mais abai- adota (Rm 1,1; F1 1,1; Tt 1,1; G1 1,10).
xo os chama de “supervisores” (em grego Humildade: F1 2,3; C1 2,18.23. Lágrimas:
episkopous), que é o nome do grupo de res- 2Cor 2,4. Intrigas: At 9,24.
ponsáveis ñas comunidades paulinas. 20.21 A judeus e gregos: Rm 1,16;
20,18-35 Embora Paulo náo esteja ás 10,12; lCor 1,24; G1 3,28.
portas da morte, despede-se definitivamente 20.22 Acorrentado (prisioneiro): C14,3;
de uma comunidade querida, à qual dedi- 2Tm 2,9.
cou dois anos de sua atividade. Por isso seu 20.23 Correntes: F11,7.13; C14,18. Per-
discurso é testamentàrio e se inscreve na seguigóes: Rm 5,3; 2Cor 1,4.
rica série do género: Jaco (Gn 47,29-49,28), 20.24 Terminar a carreira é clara alusáo
Josué (Js 22,1-8; 23), Samuel (ISm 12), á morte (2Tm 4,7). Servigo é termo cor-
Davi (IRs 2,1-10), Tobias (Tb 14,3-11), rente, como também evangelho. A graga
Matatías (lM c 2,49-68). Paulo, ao partir ou favor de Deus (Rm 5,2,15; lCor 1,4).
il,.’ 431 ATOS DOS APOSTOLOS
píele minha carreira e o m inistério que sagem de sua gracia, que tem poder para
irivhi do Senhor Jesús: anunciar a boa vos construir e para outorgar a heranga
n<>1íoia da graga de Deus. 25Pois bem, a todos os consagrados. Nao cobicei
neí i|iie nao voltareis a ver-me, vós to a prata nem o ouro nem as vestes de nin
llos cujo territorio atravessei procla guém. 34Sabeis que com minhas máos
mando o reino. 26Por isso, declaro hoje provi as necessidades minhas e de meus
111 k* nao sou responsável pela morte de com panheiros. 35Ensinei-vos sempre
ninguém, 27pois nao me abstive de anun- que, trabalhando assim, deve-se acolher
i'inr o designio completo de Deus. 28Cui- os fracos, recordando o dito do Senhor
dai de vós e de todo o rebanho que o Jesús: Mais vale dar que receber.
l'.spírito Santo vos confiou como pas 36Dito isso, caiu de joelhos com to
tures da igreja de Deus, e que adquiriu dos e orou. 37Aconteceu um soluto ge-
pagando com seu sangue. 29Sei que de- ral. Langando-se ao pescogo de Paulo,
pois da minha partida se introduziráo o abraqavam, 38tristes sobretudo pelo
entre vós lobos ferozes que nao respei- que havia dito, que náo voltariam a ve
laráo o rebanho. 30Inclusive do meio de lo. Depois o acompanharam até o barco.
vós sairáo alguns que diráo coisas per
vertidas, para arrastar atrás de si os dis Viagem para Jerusalém — ' Ar
cípulos. 3,Portanto, vigiai e recordai que rancando-nos deles, zarpam os
durante tres anos náo cessei de admoes- e navegam os direto até Cós, no dia
tar-vos com lágrimas, de dia e de noite. seguinte até Rodes e daí para Pátara.
12Agora vos confio ao Senhor e á men- 2Encontrando um barco que cruzava
20.25 Reino ou reinado (de Deus): freqüen- como alguém a cuja custodia e protegáo
le nos evangelhos, menos freqüente em At. se encomendam objetos e pessoas. A pa
20.26 A “morte” equivale aqui à perda lavra é um dinamismo que constrói e man-
da vida eterna. A responsabilidade do pre- tém o edificio da Igreja, é um depositàrio
gador: Ez 33. que entrega a heranga (celeste) aos consa
20.27 O designio de Deus: Ef 1,11; Rm grados a Deus (cf. Sb 5,5).
9,19. A integridade: cf. Dt 4,2. 20,33-34 Paulo se mostra em suas car
20.28 Encargo aos dirigentes em imagem tas muito cuidadoso em náo agir por cobi
pastoral: verdescrigáodochefe ideal (lTm ja nem interesse e em evitar até mesmo a
3,1-7). O verso é um resumo de eclesiolo- aparéncia disso. Lucas o apóia com sua
gia: a Igreja é de Deus (ICor 1,2; 2Cor 1,1; atitude crítica frente á riqueza.
11,16; 15,9). Adquiriu-a “com o pròprio 20,35 O provèrbio citado náo se le à le
sangue”: tem que referir-se a Cristo, embo- tra em nenhum evangelho, mas recolhe o
ra gramaticalmente pareja o contràrio (Rm espirito das bem-aventurangas.
3,25; 5,9; C11,20; lPd 1,19). Os chefes sao
pastores nomeados pelo Espirito (ICor 12). 21,1 -10 Quando Jesus se dispóe a subir
20,29-30 Em forma de profecía se refle- a Jerusalém para padecer (Le 9,51), está
tem os perigos internos e externos de des plenamente consciente do seu destino e
vio, que textos posteriores atestam (cf. Jo 10, pode anunciá-lo mais de uma vez aos dis
12; Dt 13,2-6). Por outro lado, no momento cípulos. Paulo se dispóe a seguir Jesús (cf.
do relato, Paulo já havia experimentado pro Le 9,52-62), sem conhecer o destino. E o
blemas semelhantes na Galácia e em Corin Espirito quem deve dizer-lhe, diretamen-
to (cf. Gl 4,17; 2Cor 11,8-9; lTs 2,3-4). O te ou por meio de outros: 20,25; 21,4.10.
autor póe uma previsáo semelhante na bo Náo lhe é dito para deté-lo na viagem, mas
ca de Moisés antes de morrer (Dt 31,16-21). para que aceite com plena consciencia seu
20.31 O verbo admoestar (noutheteo) é destino; como Jesus o anunciou a Pedro
exclusivo de Paulo (Rm 15,14; ICor 4,14; (Jo 21,18-19). Náo será uma páscoa, que
lTs 5,12.14). celebrou em pleno territorio de missáo, e
20.32 Verso importante para urna teolo sim um pentecostes (na intengáo de Paulo),
gia da palavra. Aparece personificada, que é o dia do Espirito no presente livro.
ATOS DOS APOSTOLOS 432
para a Fenicia, em barcam os e zarpa 12Ao ouvir isso, nós e os habitantes >i
mos. 3Avistando Chipre e a deixando á lugar lhe suplicávamos que nao subis
esquerda, navegamos para a Siria e che- se a Jerusalém. 13Mas Paulo respondí h
gamos a Tiro, onde o navio tinha de des- — O que fazeis chorando e comoven-
carregar. 4Encontramos os discípulos e do meu coracào? Pelo nome do Senlmt
nos detivemos ai sete días. Alguns, mo Jesus, estou disposto a ser acorrentado c
vidos pelo Espirito, aconselhavam Pau a morrer em Jerusalém.
lo que nao fosse a Jerusalém. 5Quando 14Como nao conseguíssemos fazé-ln
se cumpriu nosso prazo, saímos para mudar de idéia, tranqüilizamo-nos, ili
continuar viagem. Todos, com suas mu- zendo:
lheres e filhos, nos acompanharam até — Que se cumpra a vontade do Senhoi
fora da cidade. Ajoelhamo-nos na praia 15Passados esses días, fízemos os pri
e oramos. 6Depois nos despedimos, em parativos e empreendemos a subida pa
barcamos, e eles voltaram para casa. 7De ra Jerusalém. "Alguns discípulos de Cesa
Tiro deseemos até chegar a Ptolemaida. réia nos acompanharam até a casa de um
Saudamos os irmáos e ficamos com eles velho discípulo, Mnason de Chipre, que
um día. 8No día seguinte partimos e che- nos hospedou.
gamos a Cesaréia. Entramos na casa de
Filipe, um dos sete evangelistas, e nos Em Jerusalém — 17Ao chegar a Jerusa
hospedamos com ele. 9Ele tinha quatro lém, os irmáos nos receberam contentes.
filhas solteiras profetisas. 1QDepois de I8No día seguinte, fomos com Paulo visi
vários dias de estadía, desceu da Judéia tarTiago; apresentaram-se todos os andaos
um profeta chamado Agabo. 11Aproxi- 19Depois de os saudar, lhes expós detalha-
mou-se de nós, pegou o cinto de Paulo, damente o quanto Deus realizara por seu
atou-se com ele de maos e pés, e disse: intermèdio entre os pagaos.20Ao ouvir isso,
— Isto diz o Espirito Santo: o dono deram gloria a Deus e disseram a Paulo:
deste cinto será amarrado em Jerusalém —- Verás, irmao, quantos milhares de
pelos judeus, que o entregaráo aos pagaos. judeus se converteram à fé, todos prati
As notas da viagem nao nos permitem prisáo. As fórmulas estáo calcadas ñas de Je
mais que percorrer os portos e descobrir sus (Le 9,44; 21,16). O judeu apóstolo dos pa
que as costas do Egeu, por volta do ano 54, gaos será entregue pelos judeus aos pagáos.
estavam semeadas de comunidades cristas 21.13 A resposta de Paulo é muito pareci
e que Paulo era um grande personagem da com a declaragáo confiante de Pedro (Le
bem recebido em qualquer igreja local. 22,33). As lágrimas dos habitantes sáo como
21,3-4 Tiro havia sido antigamente o as das piedosas mulheres por Jesús (Le 23,28).
grande centro comercial do Mediterráneo 21.14 Ante a decisáo de Paulo, todos acei-
(Ez 27-28). Jesus visitou sua regiáo (Me tam “a vontade de Deus”; como Jesús em
7,24) como ponto extremo da sua ativida- Getsemani (Le 22,42).
de. Seu porto, outrora famoso, contempla 21,16 Trata-se provavelmente de uma
agora urna comunidade crista em oragáo. parada na viagem de Cesaréia a Jerusalém
21,8-9 Filipe, um dos sete helenistas, mis (uns 100 km).
sionàrio itinerante que converteu o eunuco 21,17-20a Arecepgáo dos novos peregri
(At 8), parece ter-se tornado sedentario e nos em Jerusalém nao foi triunfal, porém
pai de urna familia de carismáticas (cf. Is cordial. Primeiro a comunidade de “irmáos”
40,9; SI 68,12). Mas as profetisas nao tém os recebeu. No día seguinte, fez-se a visita
nenhuma mensagem específica para Paulo. oficial as autoridades: o senado de “anciáos”
21.10 Isto compete, antes, a um profeta presidido por Tiago. Paulo lhes conta com
vindo de Jerusalém, que nós ouvimos pre- detalhes suas viagens missíonárias.
dizer urna carestia (11,28). Além de ser O comunicado é calculado no que diz e
profeta, conheceria de primeira máo a si- no que náo diz. Diz “o que Deus operou
tuagáo política de Jerusalém. por meu ministério em favor dos pagáos”.
21.11 Com uma agáo simbólica, no esti O autor foi Deus, Paulo foi simples ins
lo dos antigos profetas, anuncia a Paulo a trumento; ao agir em favor dos pagáos,
m ;/ 433 ATOS DOS APOSTOLOS
. mies da lei. 21Corre o boato de que aos cante da lei.25Aos pagaos convertidos á fé
imlciis que vivem entre pagaos ensinas a comunicamos nossos decretos sobre as
i!mmlonar a lei de Moisés e Ihes dizes que vítimas idolátricas, o sangue, os animais
ii.ii*circunciden! seus filhos nem sigam estrangulados e a fornicado.
ihi',sos costumes. 220 que fazer? Certa- 26No dia seguinte, Paulo tomou aque
11Hnlc licaráo sabendo que chegaste. ^Pois les homens, purificou-se com eles e foi
l'i'in, segue nosso conselho: há entre nós ao templo para avisar a data em que
i|ii;ilro homens que fizeram un: voto. 24Vai term inada a p u rificad o c levaría a ofer
I>i111licar-te com eles, e paga os gastos para ta para cada um deles.
i | i k - rapem a cabega; assim todos saberáo
i| iic os boatos que correm a teu respeito Preso no tem plo — 27Q uando esta-
n.io lém fundamento e que és judeu prati- vam para se cum prir os sete dias, os
I le us ratificou a linha missionària da Igre- para quem esteve contaminado por conta
|.i. O que nao diz: a conversilo de muitos tos profanos; com o voto se oferecia urna
liulcus, pela pregado de Paulo e pela dis- oferenda. Arcando com as despesas, Paulo
cussáo baseada na Escritura. O mais sur- mostra amplamente seu zelo pelas obser
Iii condente é que nao diz nada da coleta, vancias tradicionais, com o que fará cessar
Iinalidade ¡mediata da viagem. Esse silèn- os boatos.
cio de Lucas tem dado o que pensar e 21,25 De passagem, os anciáos ratificam
conjecturar a muitos comentaristas. as cláusulas do concilio (At 15), como mí
Às “aqòes de Deus” relatadas respon- nimo exigido dos pagaos convertidos, mem-
ilem os assistentes “dando gloria a Deus”, bros de comunidades mistas.
em ato quase litúrgico, talvez recitando 21,27-36 O plano judicioso de Tiago fra-
algum hiño do saltèrio. cassa no momento em que ia realizar-se, e
21,20b-22 E passam à resposta: “eles” no nesse ponto tem inicio o novo curso dos
plural. Imaginamos que Tiago toma a pala- acontecimentos. Podemos dizer que com a
vra; dirige-se a Paulo no singular, “irmao”. “subida a Jerusalém” cometa a paixáo de
E se coloca a tensáo existente para sugerir Paulo. O comego é paradoxal: os conci-
lima solugáo. Desde o comedo a resposta soa dadáos judeus e a sua cidade adotiva o re-
como contraposkjáo: Paulo mencionou os jeitam, os romanos hostis o salvam encar-
pagaos, eles falam dos judeus; Paulo teria cerando-o, o prisioneiro conduzido parece
mencionado o grande número (17,4); eles fa controlar os acontecimentos e a palavra.
lam de dezenas de milhares. Os judeus con Tudo cometa com um pretexto malicio
vertidos sao rigorosos observantes da lei; de so. Era proibido aos pagáos, sob pena de
Paulo se diz que induz a apostatar de Moi morte, transpor a barreira do átrio extemo
sés. Notemos a mudanza radical: anos atrás do templo, porque sua presenta podia con
se maravilhavam de que “aquele que per taminar o lugar sagrado. Soa o alarme, cor
seguía a Igreja tinha-se convertido em seu re o boato e se tomam medidas urgentes:
propagador”. Agora se afirma que aquele fecham as portas do templo para que Paulo
que mais observava a lei, tornou-se entáo náo possa apelar para o direito de asilo (IRs
inimigo déla. 2,28-31); tiram-no para fora para náo matá-
O boato, referido ás comunidades mis lo no lugar sagrado (2Rs 11,15; 2Cr 24,20-
tas, nao é objetivo, pois Paulo continuava 22) e se dispóem a linchá-lo.
fiel ás práticas judaicas e deixava os outros Lucas compóe urna cena dramática efi
em liberdade. Teve até a considerado de caz, na qual se representa outro drama de
circuncidar Timoteo (16,3). maior alcance: Jerusalém rejeita a última
21,23-24 Assim, pois, lhe propóem um oferta do evangelho. Paulo, como Jesús, lhe
gesto público, significativo, de urna pràtica trazia a paz (Le 19,42) e lhe respondem com
de devogáo. Valerá como argumento a mi a guerra (SI 120,7). Quando levarem Pau
nore ad maius. O gesto tem a ver com o voto lo, Jerusalém ficará para trás, e o narrador
de nazireato (Nm 6,1-18). Entende-se que náo se voltará para olhá-la no resto do livro.
os quatro pagadores de promessa eram ju- 21,27 Os judeus da Asia podiam proce
deu-cristáos. A purificado era rito prèvio der de Éfeso, onde teriam conhecido Paulo.
ATOS DOS APOSTOLOS 434 21..’»
judeus da Asia, vendo-o no tem pio, in- por causa do tumulto, m andou que o
citaram a multidáo e o agarraram, 28gri- conduzissem á fortaleza.
tando: 35Quando chegaram á escada, o su
— Socorro, israelitas! Este é o ho- biram carregado pelos soldados, a finí
mem que ensina a todos em todos os de evitar a violencia da multidáo. 36Poí-.
lugares urna doutrina contrària ao povo, todo o povo os seguia gritando:
à lei e ao lugar sagrado. A caba de in- — Mata!
troduzir alguns gregos no tempio, pro 37Quando iam introduzi-lo na forla
fanando este santo lugar. leza, Paulo disse ao comandante:
29Tinham visto antes com eie Tró- — Posso dizer-te urna palavra?
fimo, o efèsio, e pensavam que Paulo o Respondeu-lhe:
houvesse introduzido no tem pio. 30A — Sabes falar grego!? 38Náo és tu o
cidade inteira se agitou e todo o povo egipcio que há uns dias sublevou qua
veio correndo. Agarraram Paulo, o ar- tro mil sicários e os levou ao deserto7
rastaram para fora do tempio e fecha- 39Paulo respondeu:
ram as portas. 31Quando tentavam ma- — Sou judeu de Tarso, cidadáo di
tà-lo, chegou ao com andante da coorte urna cidade nada desprezível. Pego-U'
o aviso de que a cidade inteira estava licenga para falar ao povo.
amotinada. 32Reuniu soldados e centu- 40Ele o permitiu, e Paulo, de pé sobre
rióes e veio depressa. Eles, ao ver o a escada, ergueu a máo para o povo.
com andante com os soldados, pararam Fez-se um silencio profundo e Paulo
de bater em Paulo. 33Entáo o com an lhes falou em hebraico:
dante deteve Paulo, m andou prendè-lo
com duas correntes e procurou infor- Discurso de Paulo — 'Irm áos
m ar-se quem era e o que havia feito. e pais, escutai minha defesa.
34Da multidáo cada um dizia urna coi- 2Ao ouvir que lhes falava em hebrai
sa. Nao podendo averiguar a verdade co, ficaram mais quietos. Ele disse:
21.28 Contraria ao povo: talvez por sua terrogado. Primeiro o romano pergunta ao
dedicagáo aos pagaos; porque rompe a povo o que sucederá: em váo.
unidade dos judeus (cf. 15,14). Contra a 21,36 Enquanto é levado escada acima,
lei e o templo: a mesma acusacáo movida a multidáo grita pedindo sua morte (Le
contra Estéváo (6,13-14). “Profanais meu 23,18; Jo 19,15).
templo introduzindo estrangeiros em meu 21,37-40 Com um detalhe pitoresco, fica
santuario” (Ez 44,7). bem claro que Paulo náo é um chefe anti
21.29 Se esses judeus vinham de Éfeso, romano de revoltosos. Contra toda veros-
é possível que conhecessem de vista similhanga, Lucas aproveita o momento
Trófimo (20,4). para que Paulo pronuncie um discurso.
21.30 “A cidade inteira”, diz Lucas com Náo de circunstancia, pois náo alude ao
énfase; compare-se com o episodio de que acaba de acontecer, e sim recordando,
Herodes ao chegarem os magos estrangei vagueando sobre “a cidade eterna”. Sua
ros (Mt 2,3). palavra “náo está algemada” (2Tm 2,9);
21.31 A coorte tinha seu quartel na for é, antes, dominadora. Os romanos lhe ofe-
taleza Antonia, que dominava a esplanada recem urna tribuna excepcional e ele fala
do templo. Se habitualmente os romanos de pé, á moda grega.
estavam de guarda prevenindo motins e 21,38 Sicários eram em sentido próprio
levantes, desde que Ñero subiu ao trono gente armada de punhal; mais tarde equi-
(54 d.C.) parece que foi aumentando a valerá a bandido.
impaciéncia dos judeus.
21,33 O comandante romano salva Pau 2 2 ,1-21 O discurso de Paulo é como
lo da morte aprisionando-o: cumpre-se a urna despedida de Jerusalém, do templo.
profecía de Agabo (21,10), e até o final do Náo rebate a acusagáo específica recente,
livro Paulo é um prisioneiro errante e in mas pronuncia urna “apología” da sua
I) III 435 ATOS DOS APOSTOLOS
'S olí judeu, natural de Tarso da Ci- 9Os acompanhantes viam a luz, mas nào
li< lu, rmbora educado nesta cidade e ins- ouvíam a voz daquele que falava comi-
11 iili l( i a>m toda a exatidáo na lei de nos- go. 10Eu lhe disse: Que devo fazer, Se
min .mlepassados aos pés de Gamaliel, nhor? O Senhor respondeu: Levanta-te
i'iilnsiasta de Deus, com o sois atual- e vai a Damasco; ai te dirào tudo o que
iiicnlc lodos vós. 4Eu perseguí de m or te é ordenado fazer. n Como nào enxer-
ir i-ssc Caminho, prendendo e colocan gasse, ofuscado pelo brilho daquela
do na cadeia homens e mulheres, 5como luz, os acompanhantes me levaram pela
pode ni testemunhá-lo o sumo sacerdo- mào, e assim cheguei a Damasco. ^C er
lr c lodo o senado. Deles recebi uma to Ananias, homem piedoso e pratican
nula para os irmáos e me pus a cami- te da lei, de boa reputatilo entre todos
nlio de Damasco para prender os que ai os judeus da cidade, 13veio visitar-me,
cslavam e conduzi-los a Jerusalém para apresentou-se e me disse: Irmào Saul,
M-rcm castigados. 6Caminhando, já per- recupera a visáo. Nesse momento pude
lo de Damasco, pelo meio-dia, de re vè-lo. 14Ele me disse: O Deus de nos
pente uma intensa luz celeste resplan- sos pais te destinou a conhecer seu de
clcceu ao meu redor. 7Caí por térra e signio, a ver o Justo e a escutar direta-
escutei um a voz que me dizia: Saúl, mente sua voz; 15pois serás, diante de
Saúl, por que me persegues? R e s p o n todo o mundo, testemunha do que vis
dí: Quem és, Senhor? Respondeu: Eu te e ouviste. 16P ortanto, náo tardes:
sou Jesús Nazareno, a quem persegues. Batiza-te e lava-te dos pecados, invo-
vida; como judeu e como testemunha do nuar que continuam agredindo Jesus, de
Justo (Le 23,47; At 3,14; 7,52). Os dados pois de havè-lo eliminado, e que eie està
da sua autobiografía sao em boa parte os vivo. No contexto soa como censura e acu-
do cap. 9, só que com marcado acento ju sagáo, já que Paulo ia para Damasco res
daico. Judeu de nascimento e educagao, paldado pelas autoridades judaicas.
judeu em seu zelo pelo “Deus de nossos 22,10 “Senhor” na boca de Paulo, em-
pais” (Dt 26,7; Esd 7,27) e em seu zelo bora seja apenas citado, tem todo o seu
anticristáo; judeu observante e respeitado sentido de profissáo cristá; náo assim para
pelos judeus é Ananias. Salvo na citagáo o auditorio. “É ordenado” por designio
do v. 8, evita pronunciar o nome de Jesús. divino, transmitido por um homem.
A visáo no templo é um dado novo e muda 22,13 Também é ambiguo o título de
a diregáo do discurso. “irmáo”: para Paulo, em sua lembranga, é
Aos membros do Conselho dá o título saudagáo cristá; para os ouvintes é sauda-
de “pais”, como Estéváo (7,2). gáo judaica. Acura é milagrosa (Le 18,42).
22.2 Fala à multidáo em aramaico. 22,14-15 Estes w . sao muito importan
22.3 Discípulo de Gamaliel, filho do tes. A eleigáo de Paulo é como a de um
famoso Hílel (5,34-36). Pode-se compa profeta antigo e muito mais. Pode conhe
rar este comego com FÍ 3,2-7. Em sua de- cer o designio concreto de Deus, ver e es
vogáo religiosa, identifica-se com seus cutar diretamente o Justo (ou Inocente) por
ouvintes (nào lhes reprova a violencia). antonomàsia e ser testemunha ocular de
22.4 Em oposigáo à “lei dos antepassa- tudo. Quer dizer, a instrugáo de Ananias é
dos”, chama o cristianismo de Caminho só complementar. Paulo se encontra ao
(9,2). nivel dos apóstolos. Chamá-lo Justo/Ino
22.5 Chama os judeus de Damasco de cente, se por um lado evita pronunciar o
“irmáos”, nome clàssico do Deuteronòmio. nome de Jesus, por outro encerra a acusa-
22.6 A luz celeste eclipsa a luz do meio- gáo de terem condenado o inocente: as
dia. sim é como os ouvintes o podem escutar.
22,8 Acrescenta o adjetivo Nazareno, 22,16 Ananias (ou Paulo) menciona o
título com que os judeus distinguiam os novo rito de perdáo, que substituí a lei com
cristàos. “A quem persegues”: dito a um todos os seus mecanismos: o batismo com
auditòrio judeu na sua cidade, pode insi- a ínvocagáo do nome (de Jesús). Paulo su-
ATOS DOS APOSTOLOS 436 22,1
cando seu nome. 17Quando voltei a Je- do o amarravam com correias, Paulo
rusalém, estando em oraqáo no templo, disse ao centuriáo ai presente:
entrei em éxtase 18e vi aquele que me — Podéis açoitar sem processo um
dizia: Sai depressa de Jerusalém, pois cidadáo romano?
nao aceitaráo teu testem unho a meu 26A o ouvir isso, o centuriáo foi avi
respeito. 19Repliquei: Senhor, eles sa- sar o comandante:
bem que eu prendia os que créem em ti — O que fazes? Esse homem é ro
e os aqoitava ñas sinagogas. 20Sabem mano.
também que, quando se derramava o 270 comandante se aproximou e lhe
sangue de Estéváo, tua testemunha, ai perguntou:
estava eu aprovando e guardando a rou- — Dize-me: és romano?
pa dos que o matavam. 21Ele me disse: Respondeu:
Vai, pois eu te envió a povos distantes. — Sim.
22Escutaram -no até esse ponto. De- 28Respondeu o comandante:
pois levantaram a voz, dizendo: — Comprei a cidadania por urna boa
— Elim ina do mundo esse homem! soma.
Nao pode continuar vivendo! Paulo disse:
23Como continuassem gritando, ras — Eu a possuo de nascença.
gando as vestes e jogando pó pelo ar, 29Imediatamente os que o iriam in
~4o comandante mandou que o fizessem terrogar se afastaram dele. O com an
entrar na fortaleza e o interrogassem dante se assustou ao saber que o tinha
sob os agoites, para averiguar por qual preso sendo romano. 30No dia seguinte,
motivo clam avam contra ele. ~5Quan- querendo apurar com certeza as acusa-
póe que os ouvintes captam todas as alusóes. uma vocagáo, esta de Jerusalém é a missáo
Mas nao menciona o dom do Espirito. (segundo os dois tempos do profeta, p. ex.
22,17-21 Este episodio é novo e só se conta Jr 1,4-10). Como na sinagoga de Nazaré,
aqui. Lucas reservou-o para este momento “nenhum profeta é aceito na sua pátria” (Le
transcendental, acrescentando-lhe valor 4,23). Realmente, Jesús glorificado com
contextual. Segundo o relato, Paulo fala sua “palavra” está construindo para si um
diante do templo, de onde acaba de ser ex novo templo (Jo 2,19-21; At 20,32).
pulso, acusado de profaná-lo. Pois bem, anos 22,22-23 Os ouvintes, irritados pela úl
atrás, neste templo onde orava como judeu tima parte do relato, confirmam com sua
devoto, “ele” (Jesús) lhe apareceu e falou. reagáo o que disse Jesús na visáo: “nao
a) Tomemos o ponto de vista dos ouvin aceitaráo teu testemunho sobre mim”.
tes no relato: a aparigáo de um personagem Com gritos e gestos (cf. Jó 2,12) pedem a
ilustre do passado nao é impensável, como morte de Paulo, e que os executores sejam
mostra a lenda de 2Mc 15,11-16, segundo os romanos (Le 23,18.21).
a qual apareceram numa visáo o sumo sa 22,24-29 Rejeitado por seus irmáos ju-
cerdote Onias e o profeta Jeremías. O im deus, Paulo agora alega a sua cidadania
pensável é que seja “ele” (o Crucificado) romana, e os representantes de Roma a
quem apareja para dar ordens. reconhecem e respeitam. Paulo é “por nas-
b) Tomemos o ponto de vista de Paulo: cimento” judeu e romano. O procedimen-
Jesús, já glorificado, volta e toma posse do to de interrogatorio com tortura era nor
templo onde ensinou e do qual profetizou. mal entáo; mas duas leis romanas proibiam
E urna última presenga soberana. Vem dar agoitar no interrogatorio ou algemar sem
urna ordem a Paulo: que abandone a cida- sentenga um cidadáo romano. Por ora náo
de com seu templo. Deve sair, como Abráo se chega ao interrogatorio civil.
de Ur, como os israelitas do Egito, os ju-
deus da Babilonia. E quando Paulo objeta 22,30-23 -10 Depois da tensáo prece
com seu passado judaico, Jesús o envia a dente, o narrador nos oferece uma cena
“povos distantes” (povos pode equivaler a bastante inverossímil, como drama que
pagaos). Se a visáo de Damasco era como termina em comédia para o leitor.
14, H 437 ATOS DOS APOSTOLOS
Um Conselho judeu, submisso ao coman 23.2 Como se tivesse dito algo grave e
dante romano, que dá a ordem de compa- inconveniente: urna mentira invocando em
recimento, apresenta o presumido réu, falso o nome de Deus (cf. Jó 15,5).
assiste vigiando ao processo. Um sumo sa 23.3 Náo sabemos se o narrador conhe-
cerdote que age contra a lei, sem averiguar cia o assassinato posterior de Ananias. A
nada. Um Conselho dividido por dissen- expressáo de Paulo equivale a uma maldi-
sóes doutrinais graves, que se deixa empur- gáo. A imagem é tomada de um discurso
rar para elas. Na frente, um Paulo profètico de Ezequiel contra os falsos profetas (13,10-
diante de seu juiz, astuto com os membros, 15), rebocadores de paredes inconsisten
que se diverte em incitá-los mutuamente. tes para criar falsas ilusóes que o tempo
Diverte-se também o narrador olhando ral abaterá. Como se dissesse que o sumo
de fora as claras divisóes judaicas? sacerdote (e sua instituicáo) sáo uma cons
No tempo dos acontecimentos, o Gran tru y o de falsas aparéncias, fraca, conde
de Conselho se compunha de sacerdotes, nada á ruina. Sobre o abuso da lei, pode-se
em sua maioria do conservador partido ver SI 94.
saduceu, de letrados, na maioria do partido 23,5 Citagáo de Ex 22,28. Além do sen
fariseu, e de membros da aristocracia civil. tido obvio, se poderia escutar a frase em
Quando Lucas escreve, só o grupo fari tom irónico: eu náo o sabia, porque ele náo
seu ainda sobrevivía e conseguía organizar se comportou como sumo sacerdote.
se para garantir a continuidade. Lucas pode 23,6-8 A descrigáo das crengas dos sa
recordar neste ponto as discussóes de Jesús duceus está simplificada. E certo que náo
no templo, pouco antes da paixáo: com os admitiam a ressurreigáo, porque náo a en-
fariseus sobre sua autoridade, com os sa- contravam nos livros da lei. Nisto eram
duceus sobre a ressurreigáo (Le 20,27-40). mais tradicionais que os fariseus. Na ótica
O desenvolvimento é muito esquemá de Paulo, a ressurreigáo dos mortos e a de
tico e algo confuso. Náo está claro se se Jesús estáo vinculadas inseparavelmente
trata de um interrogatorio conduzido pelo (lC or 15). Os saduceus náo admitem ne-
comandante ou de um processo conduzi nhuma, os fariseus náo admitem a de Jesús.
do pelo Conselho. Náo há verdadeiro diá Colocada a questáo com esta amplitude, a
logo, nem testemunhas, nem sentenza. Dir- afirmagáo de Paulo resulta verdadeira e
se-ía que também a autoridade romana profunda: seu juízo versa sobre a ressurrei-
olha de fora, atenta apenas a manter a or gáo, e ele é uma testemunha da vida. Ao
dem num povo dominado. rejeitar Jesús glorificado, a questáo vital se
reduz a discussáo de partidos. Que discu-
23,1 Paulo declara-se inocente (cf. SI tam: Paulo se dissocia, embora alguns fa
17,4-6), apelando implicitamente ao jul- riseus pretendam usar seu testemunho como
gamento de Deus. argumento para discutir, náo para crer.
ATOS DOS APOSTOLOS 438
isso.) 9Armou-se urna gritaría, e alguns 160 filho da irmá de Paulo ficou \,i
letrados do partido fariseu se levantaram bendo da trama, foi á fortaleza, entrón
e afirmaram polémicamente: econtou a Paulo. 17Este chamou um d<>
— N ao encontram os culpa alguma centurióes e lhe disse:
nesse homem; talvez um espirito ou an- — Leva este jovem ao com andante,
jo Ihe tenha falado. pois tem urna in fo rm a d o para ele.
I0Visto que o conflito se intensificava, 18Cuidou dele, o conduziu ao coman
o com andante temeu que despedagas- dante e disse:
sem Paulo. Mandou a tropa descer, tirá- — O prisioneiro Paulo me chamou <■
lo do meio e levá-lo á fortaleza. n Na noi- pediu que te trouxesse este jovem , que
te seguinte o Senhor lhe apareceu e disse: tem algo para dizer-te.
— Coragem! Assim como deste teste- 190 comandante o pegou pela man,
munho de mim em Jerusalém, tens de dé levou-o á parte e lhe perguntou:
lo em Roma. — O que tens para me contar?
20Respondeu:
Compió contra Paulo — 12De manhá — Os judeus com binaram pedir-lc
reuniram-se os judeus e juraram nao co que amanhá fagas descer Paulo ao Con
m er nem beber até matar Paulo. 13Os selho, com pretexto de exam inar mais
conspiradores eram mais de quarenta. atentamente seu caso. 2,Náo lhes dés
14Apresentaram-se aos sumos sacerdo atengáo, pois um grupo de mais de qua
tes e senadores e lhes disseram: renta trama contra ele. Juraram nao co
— Juramos nao provar nada até ma mer nem beber até eliminá-lo. Agora
tar P a u lo .15Agora cabe a vos propor ao estáo preparados, esperando teu con
comandante e ao Conselho que o tragam sentimento.
aqui, com pretexto de investigar mais 220 comandante despediu o jovem,
atentamente seu caso. Antes que se apro recomendando-lhe que nao dissesse a
xime, estaremos prontos para eliminá-lo. ninguém que o havia informado disso.
23.9 Declaraçâo de inocéncia, como a conta que Paulo iria conduzido sob guar
de Jesús (Le 23,4.14). da romana.
23.10 Outra vez é o romano quem salva 23.15 Membros sacerdotais e civis do
a vida de Paulo. Conselho. O importante é tirá-lo da custo
23.11 A palavra do Senhor dá certeza e dia romana na fortaleza; do resto se ocu-
força a Paulo, pela “necessidade” do de pam eles, sem comprometer publicamen
signio divino (Le 2,49; 4,43; 19,5; At 1,21). te o Conselho (cf. SI 11,2; 64,5).
Esse designio abrange Jerusalém e Roma 23.16 E possível que o cunhado de Paulo
num magnífico arco. nao fosse convertido e que o sobrinho se intei-
23.12-22 Vendo Paulo custodiado pelos rasse do plano por contatos da familia. O rela
romanos, alguns voluntários planejam um to dá a impressáo de que o rapaz age por
atentado contra ele. Parece tratar-se de par- conta própria, talvez por afeto ao tio famoso.
tidários do movimento zelota, fanáticos da A libertagáo vai chegar pela conjungao
lei, que para defendê-la estào dispostos a da lealdade da familia e com a honradez do
eliminar os infratores. Seu modelo podia romano. Observa-se que Paulo podia rece-
ser Matatías (lM c 2,24-27.45-47), seu pa ber visitas e que o jovem nao era suspeito.
trono Fínéias (Nm 25,7-9). Buscam a cum- 23.17 Em tempos turbulentos, qualquer
plicidade encoberta do Conselho e a cola- informagao é preciosa, pelo que o centu-
boraçâo ignorante da guarniçào romana. riáo náo pode deixar de atender ao pedido
23.12-13 Veja-se um voto semelhante, de Paulo, sem saber do que se tratava.
por tempo limitado, em tempo de guerra 23.21 O comandante confia no rapaz, tal
(lSm 14,24), que quase custou a vida de vez em virtude dos fatos recentes, e sente
Jónatas. Os conjurados nao se compro- que o preso corre grave perigo (cf. SI 35,4;
metem a um jejum demorado, pois cal 37,32; 40,15).
culant resolver o assunto bem rápido. O 23.22 A recomendagáo dá a entender que
número elevado de quarenta tinha em a familia náo está ciente da agáo do rapaz.
r
l íntretanto, o comandante decide agir sem violéncia num atentado. Eu pela segunda
demora. vez livrei-o do atentado mortal e o trans
23,23-25 Aceña é sobria e sugestiva. De ferí á tua jurisdigáo. O comandante fica
noite, escoltado por um forte destacamen muito bem perante seu superior e se livra do
to romano, cavalgando, Paulo se afasta assunto. Paulo terá nova ocasiáo de dar tes-
depressa e definitivamente de Jerusalém. temunho, cada vez mais acima (Le 21,13).
I’ode-se recordar a fuga do rei Davi ante o 23,31 O narrador náo conta que Paulo
usurpador? (2Sm 15). Talvez Paulo nao estava a muitas horas de distáncia quando
repare que está cumprindo a ordem de Je os do Conselho comegaram a movimen-
sús na visáo: “sai depressa de Jerusalém... tar-se de manhá. Antipátrida distava uns
cu te envió a povos distantes” (22,18.21). 60 km de Jerusalém.
Quanto ao número da escolta, provavel- 23,34 O governador faz urna peigunta pre
mente o comandante náo foi táo generoso liminar ao preso e decide convocar os acusa
como o narrador o é: dir-se-ia a escolta de dores. O pretorio de Herodes era a residen
um reí. É duvidoso o significado da pala- cia oficial do governador na capital Cesaréia.
vra que traduzimos como “auxiliares”.
23,26-30 A operagáo equivale a trasla 24,1 Mudou a situagáo. Agora os chefes
dar o preso a um tribunal superior, o supre judeus tém que deslocar-se até a capital
mo romano daquela provincia. A carta está do poder romano local, comparecer e sub-
redigida no estilo epistolar da época. Em meter-se a um tribunal estrangeiro, empre-
substancia é fiel aos fatos, com algumas gar um advogado perito em direito roma
mudanzas que náo parecem puramente es no; e tém que alegar acusagóes precisas
tilísticas. Podem fícar por conta do narrador. contra as leis romanas.
O comandante se apresenta como liber Entre idas e vindas e contando com a
tador de um cidadáo romano injustamente distáncia de 100 km, cinco dias denotam
seqiiestrado e ameagado de morte por seus a pressa que o Conselho tem para des-
correligionários. Ele mesmo o conduziu ao fazer-se de Paulo (Is 59,7; Pr 1,16).
Conselho para aclarar por via legal as acu- Lucas, que vem demonstrando seu ta
sagóes. Tudo náo passava de controvér- lento de narrador dramático, agora vai fir-
sias internas (18,14-15) que puseram as mar-se no género retórico “judicial”. Em-
claras sua inocéncia. O que náo consegui bora muito resumidos, oferece-nos dois
rán! por via legal, querem executá-lo pela discursos de um processo romano. Tertulo,
ATOS DOS APOSTOLOS 440
suas acusagóes contra Paulo. 2Fizeram- — Como sei que há anos adminisl i .ik
no comparecer, e Tertulo comegou sua a justiga para esta naqáo, confiadameii
acusaqáo: te pronuncio minha defesa. n Tu própi u >
—- 3Ilustríssim o Félix: Grabas a ti podes comprovar que nao se passarmi
gozarnos de paz estável e gracas á tua mais de doze dias desde que subí a Jei u>
providencia esta nagáo consegue me- salém em p e reg rin a lo . f2Nem no tem*
lhoras; em tudo e por todo lugar o re pío nem ñas sinagogas nem pela cidad.
cebemos com profundo agradecimen- me encontraram discutindo com alguém
to. 4Para nao cansar-te, solicito de tua ou sublevando o povo. 13Náo podem pro
clemencia que escutes minha exposi- var nenhuma das acusagóes contra mim
gáo resumida. 5D escobrim os que este 14Isto sim: confesso-te que venero a Den
homem é urna peste, que promove dis seguindo esse Caminho que eles cha
cordias entre os judeus do mundo in- mam de seita; creio em tudo o que est.i
teiro e que é um líder da seita dos na escrito na lei e nos profetas, 15e confia
zarenos. 6Q uando tentava profanar o do em Deus, espero como eles que ha
templó, nós o prendem os e quisemos verá ressurreiqáo de justos e injustos
julgá-lo segundo a nossa lei, 7mas o 16Eis porque também eu procuro man
tribuno Lisias, com grande violencia, ter em tudo urna consciencia irrepreen
o arrancou de nossas máos, mandando sível diante de Deus e dos homens
que seus acusadores viessem a ti. 8Tu 17Após urna ausencia de anos, fui em pe
próprio, exam inando-o, poderás com- regrinagáo ao templo, levando esmolas
provar a verdade de nossas acusagóes. para meu povo e oferendas. 18Aí me en
9Os judeus o apoiavam, afirmando que contraram, num rito de purificalo , e nao
era certo. 10O govem ador fez um sinal com urna multidáo nem num tumulto.
para Paulo, e este tomou a palavra: 19Mas alguns judeus da Asia, esses te-
nome romano, tem o título grego de “rei- justiga do juiz (cf. SI 7,12; 31,2). Em se
tor” (orador). Era provavelmente judeu, guida passa a refutar as acusagóes.
empregado habitual ou ocasional dos su 24,11-13 a) Circunscreve o atentado a
mos sacerdotes. Respeitando a terminolo Jerusalém, territòrio da jurisdiqáo do pro
gía, o discurso de Tertulo se chama “acu- curador. Nem teve tempo nem deu mostras
saçâo” e o de Paulo “defesa”. de ser um agitador, nem o podem provar.
24,2-8 O advogado começa seu discur 24,14-16 b) Confessa pertencer a essa
so, segundo o costume, com a captatio que os inimigos chamam “seita” e ele cha
benevolentiae, louvando profusamente o ma “O Caminho”. Supondo-o menos co-
juiz. Louvar é de praxe, pode-se variar o nhecido, aproveita o momento para uma
grau. A historia que conhecemos por ou substanciosa explicado.
tras caminhos desmente tais louvores. Tam- Esse caminho é continuatilo e culmina-
bém pode ser judicial apelar à “clemen gao. O Deus que adoro é o dos antepassa-
cia” ou epiqueia, que neste caso se solicita dos; admito e venero todas as suas escritu
a favor dos acusadores. Segue-se a expo- ras, leis e profetas. Compartilho com meus
siçâo das acusaçôes, que sao très: a) Pro acusadores a esperanza, garantida por Deus,
vocar entre os judeus, por todas as partes numa ressurreigào de bons e maus (Dn 12,2)
da diáspora (do Impèrio), agitaçôes e “se- para comparecer a julgamento. E segundo
diçôes” (cf. o paralelo de Le 23,2). b) Ser isso, regulo toda a minha conduta em mi-
chefe da seita dos “nazarenos” (2,22; 6,15), nhas relagóes com Deus e com os homens.
que reconhecem Jesus como Messias Rei Poderia dizer, com outras palavras, que este
(17,7), rival do imperador, c) Ter procura é o caminho indicado hoje por Deus (para
do profanar o templo (Ez 44,7), que os amplificar estes w . deveriam ser citados
romanos se comprometem a proteger (21, muitos textos das cartas paulinas).
28-29). Na conclusáo, remete-se à saga- 24,17-20 c) Quanto a profanar o templo,
cidade e objetividade do juiz. é invengáo de uns adventicios da provin
24,10-21 Paulo é mais breve nos elo cia da Asia: que se apresentem e provem
gios de praxe: reconhece a autoridade e a as acusagóes. Aquí, Paulo, inesperada-
441 ATOS DOS APOSTOLOS
.......... comparecer e acusar-me do que que era judia, ouviu-o dissertar sobre a
M' . n ni contra mim. 20Ou entáo, que os fé em Jesus Messias. 25Porém, quando
.......... les digam qual delito encontraran! Paulo comegou a falar de honradez, de
i|u nulo comparecí diante do Conselho, autodom inio e de julgam ento futuro,
',i u ní ser o de ter declarado em voz Félix se assustou e disse:
ili i «liante deles que me julgavam por — Por ora podes retirar-te; eu te cha-
’..i da ressurreiqao dos mortos. marei em outra ocasiáo.
Id ix , que estava bem informado 26Esperava receber dinheiro de Pau
milnc o ( 'aminho, rem eteu-os para ou- lo, e por isso o chamou com freqiiencia
ii ocasiao, dizendo-lhes: para conversar com ele. 27Passados dois
(guando vier o com andante Lisias, anos, Pórcio Festo sucedeu a Félix, o
i ii u solverei vosso pleito. qual, querendo agradar aos judeus, man-
'A seguir, deu ordens ao centuriáo teve Paulo preso.
l<na que mantivesse Paulo detido, com
i nía liberdade, e que nao impedisse aos Apela^áo a César— ‘Trés dias
unís de lhe prestarem seus servigos. após tomar posse do cargo, Fes
'I’assados alguns días, Félix mandou to subiu de Cesaréia a Jerusalém. 2Os
i liamar Paulo; com sua mulher Drusila, sum os sacerdotes e os chefes dos ju-
mente, menciona a coleta em favor do tem 25.1-12 A relagáo de Paulo com Festo é
plo e de seus “concidadáos” (judeus, cris- um jogo de competencias e jurisdigóes com
liios). O dado é histórico; dito aqui, pode um desenlace espetacular. Em grande par
wrvir, como recurso narrativo, para exci- te por causa das autoridades judaicas, Pau
liii a cobiga do procurador. lo está sendo julgado sob a jurisdigáo de
24,21 Em lugar de conclusáo própria, o Roma. Agora os judeus procuram subtraí-
orador desafia os rivais e concluí reafir lo dessa competencia para eliminá-lo pelo
mando sua fé na ressurreigáo. Para os acu caminho: a violencia interferindo com a
sadores, urna recordagáo desagradável, legalidade. Festo, embora desejoso de agra
para Paulo urna esperanza inamovível. dar aos judeus no principio do seu manda
24,22-23 A noticia nos pega de surpre- to, nao acede ao pedido, antes os convoca a
sa, mas nao é inverossimil. Por esse tem seu tribunal romano de Cesaréia, onde se
po, o cristianismo se tinha difundido e, nao repete o processo náo frustrado por Félix.
sendo doutrina esotérica, as pessoas cul O novo processo náo resolve nada, porque
tas, e também os responsáveis, podiam tudo estava claro e a única solugáo lógica
conhecé-lo. O lógico seria deixar livre o seria libertar o acusado. Mas Festo propóe
acusado. Félix prefere contemporizar e transferir para Jerusalém a celebragáo do
ilcixa Paulo em prisáo menos severa. julgamento. A proposta é ambigua: trata-se
24,24-26 A imagem de Félix nao é li- de simples mudanga de sede ou mudanga
sonjeira. Escuta com curiosidade, mas sem de competencia? Nada resolve urna mudan
comprometer-se. Nisto se parece com os ga de sede, e Paulo se despediu para sem-
atenienses ávidos de novidades (cap. 17). pre de Jerusalém. Urna mudanga de com
É venal: quer dinheiro para libertar um petencia seria contra a lei romana, deixaria
inocente (cf. Is 1,23). o inocente á mercé de seus inimigos. Paulo
A presenta de sua mulher, urna judia se toma acusador do juiz: acima dele está a
divorciada, traz á memoria o episodio do lei, e se náo a respeita, acima dele está o
Batista e Herodes (Le 3,19). imperador. Festo se enredou num jogo sem
24,27 O normal teria sido libertar os saida, enquanto que Paulo encontra a saída
presos menos perigosos e nao dcixá-los prevista no plano de Deus: chegar até Roma.
como he ranga ao sucessor. Félix prefere 25.1-3 Depois de dois anos parado (se
deixar boa lembranga sua entre os judeus. gundo o narrador), tudo se move rápida
Na perspectiva de Lucas, Félix está cola mente. A visita do novo procurador á cida-
borando com o designio de Deus, que quer de santa é obrigatória, e nela as audiencias
conduzir Paulo até Roma. para as autoridades judaicas locáis. Estas
1
ATOS DOS APOSTOLOS 442
também tèm pressa e querem aproveitar a culpa, a morrer por respeito á leí. Talve/
benevolencia inicial e a relativa ignoran ressoe aqui, em forma de premonigáo nar
cia do recém-chegado procurador. A pro rativa, uma alusáo á morte de Paulo, que o
posta pretende remediar o fracasso do aten narrador conhecia. Como cidadáo roma
tado precedente. no, apela ao imperador: em demanda de
25,4-5 Festo tem a prudencia suficiente justiga? ou para cumprir o designio de
de nao se deixar envolver num assunto Deus?
complicado. Sem ofender os judeus, pode 25.12 O procurador pronuncia a fórmu
oferecer-lhes a possibilidade de intervir la jurídica. Como o livro nao conta o com
numa revisáo do processo. parecimento de Paulo perante o impera
25,6-8 Lucas nao repete detalhes, mas dor romano, esta frase do procurador
resume o já contado. Da parte dos judeus, cumpre antecípadamente esta fungáo. O
muitas acusagòes e nenhuma prova. Da leitor pensa que Deus fala pela boca do
parte de Paulo, tres pontos que resumem pregador.
tudo, as leis judaicas e as romanas: a lei, o 25.13 Agripa II, filho de Agripa (cuja
templo, o imperador. morte repentina se conta em 12,20-23), de
25.9 O que parece proposta diferente nao dinastía herodiana, convivía com sua irmá
é tal e soa com ressonáncias agourent: “su Berenice. Favoreceu o judaismo mas se
bir a Jerusalém”. Já subiu e nào está dis manteve leal a Roma, e foi o último rei
posto a repeti-lo. dos judeus.
25.10 Paulo responde repisando o “tenho 25,14-21 Numa conversa com o ilustre
que”. No contexto imediato, urna alusáo visitante, Festo quer mostrar a corregáo
ao direito processual, no contexto ampio legal com que procedeu, e de passagem
um remontar-se ao designio de Deus. confirma a inocencia de Paulo. Náo há
25.11 A atitude de Paulo é como a de delito nem acusagáo fundada contra as leis
Jeremías perante seus juízes (Jr 26,14-15). do império, existem apenas controvérsias
Ele que está disposto a morrer inocente por religiosas que as autoridades judaicas de-
amor a Jesus, estaria disposto, em caso de vem resolver.
443 ATOS DOS APOSTOLOS
mu.i • i o'.imne romano entregar um ho- 23No dia seguinte, com toda a pompa
mm ni .mies que possa confrontar-se com apresentou-se Agripa com Berenice, e
. ii, ii usadores e tenha ocasiáo de de- entrou na audiencia acompanhado de
(■iiili i si- das acusaqóes. 17Quando eles com andantes e personalidades impor
-i hMiniiam aqui, eu sem demora, no tantes da cidade. Festo mandou Paulo
illn M->Miiiite, sentei no tribunal e man- com parecer 24e falou:
.lm comparecer aquele homem. 18Le- — Rei Agripa e todos os presentes,
iinl,iiam-se para depor, mas nao apre- aqui está o homem pelo qual todos os
"■'Hi.irani nenhum delito dos que eu judeus, em Jerusalém e aqui, vieram a
ii | >••ilava. 19Somente traziam contra mim clamando que náo deve ficar vivo.
i'li conlrovérsias sobre sua religiáo e 25Eu pude com provar que náo havia
mil ni' um tal Jesús, morto, que Paulo cometido nada digno de morte. Entáo,
’illmia estar vivo. 20E, com o me sentis- quando ele apelou a Augusto, decidi
■> | um plexo sobre a questáo, perguntei- enviá-lo. 26M as náo tenho nada certo
Ihr se quería ir a Jerusalém para ai ser para escrever. Por isso o apresentei a
|iil|’,;ulo. 21Paulo apelou para ser reser- vós e especialmente a ti, rei Agripa, para
vml o á jurisdigáo de Augusto. Entáo que se faga urna in v estig ad o e eu pos
Miniiclei deté-lo até que possa enviá-lo sa escrever um relatório. 27Pois náo
un imperador. parece razoável enviar um preso sem
"Agripa respondeu: explicar as acusagóes contra ele.
- Eu tam bém gostaria de escutar
i v.c homem. Discurso de Paulo — 'A gripa
Kespondeu-lhe: disse a Paulo:
- Amanhá o escutarás. — Podes fazer tua defesa.
I )o seu ponto de vista romano, deixa cair ao templo para purificar-se, passou dois
nina observadlo que, contada pelo narra- anos preso. Náo é a força da palavra, que
ilnr, soa com ironia dramática: a morte de quer atrair o povo para ser ouvida?
um tal Jesus e sua presumida ressurreigáo, 25,24 O governador em pessoa apresen-
uni detalhe a mais ñas disputas entre judeus. ta o orador. Soa enfática a afirmaçâo “to
É brutal o contraste com a atitude de dos os judeus”; é a énfase do narrador ñas
l’aulo, que considera a ressurreigào de Je vésperas de Paulo levantar áncora.
sus o ponto substancial do seu testemu- Na boca de Festo pode incluir uma sutil
nlio. O comunicado de Festo excita a cu- justificaçâo: embora náo encontrasse deli
liosidade do rei Agripa. tos contra a leí romana, náo podia ignorar
25,20 De novo a ambigüidade de antes: o clamor de toda a comunidade judaica.
(|iie alcance tem “ser julgado em Jerusa 25,26-27 A passagem para a interven-
lém”? questáo de sede ou de competencia? çào do rei é trivial e significativa: é preci
25,23-27 O próximo episodio vai dis so escrever algo no comunicado para ex
correr entre espetáculo divertido, ofereci- pedir um homem como réu (e eu náo tenho
do ao rei visitante, e “interrogatorio” pe- nada para alegar contra ele; cf. SI 35,11).
rante alguém entendido em assuntos
judaicos. Dará ocasiáo a Paulo para ofere- 26,1 Quando o rei Agripa concede a
ccr renovado testemunho ante “governa- Paulo a palavra para que se defenda, o
dores e reis” (Le 21,12), e ao autor para autor a está concedendo para que pronun
cumular novos testemunhos sobre a ino cie seu último discurso formal. Poder-se-
cencia de Paulo. ia juntar num díptico com o discurso de
25,23 Produz certo efeito irónico esta despedida em Mileto (20,18-35), embora
entrada règia, esta afluencia distinta e nu pelo conteúdo se pareça com os preceden
merosa, para escutar um preso: táo impor tes relatos de sua conversáo (9,1-22 e 22,6-
tante é ele ou seu ensinamento, táo notável 16). À primeira vista se diria uma repeti-
é o orador? Ele náo convocou o audito çào; lido atentamente, pesam mais as
rio: veio a Jerusalém trazer urna coleta, foi diferenças que as semelhanças. Em primei-
ATOS DOS APOSTOLOS 444
'I ni u que fiz em Jerusalém , com au- do que te farei ver. 17Eu te defenderei
luililmle recebida dos sumos sacerdo- do teu povo e dos pagaos aos quais te
IM, poiulo na prisáo m uitos consagra- envió. lsTu lhes abrirás os olhos para
iliii I (|iiando os condenavam á morte, que se convertam das trevas para a luz,
hi ilnva meu voto. n M uitas vezes ñas do dom inio de Satanás para Deus, para
'lim^ogas eu os m altratava para fazé- que recebam o perdáo dos pecados e
lim blasfemar; e meu furor cresceu a uma porgáo entre os consagrados por
(•linio ilc persegui-los em cidades es- crer em mim.
MHit^'.ciras. 12Viajando com esse intuito 19Náo resisti, rei Agripa, à visáo ce
(iiini I )amasco, com autoridade e reco- leste, pelo contràrio, comecei a pregar:
iiiriulagáo dos sumos sacerdotes, 13ao 20prim eiram ente aos de Damasco, de-
in#iii-dia envolveu-nos a mim e a meus pois aos de Jerusalém , na Judéia, e aos
. umpanheiros uma luz celeste mais bri- pagaos, para que se arrependessem e se
llninlc que o sol. 14Caím os todos por convertessem a Deus, com práticas vá
1*1 ra e eu escutei um a voz que me dizia lidas de penitencia. 21Por esse motivo
vni hebraico: Saúl, Saúl, por que me os judeus se apoderaram de mim e ten-
|MMsegues? E inútil dar coices contra o taram acabar comigo. 22Mas, protegi
iiuuilháo. 15Perguntei: Q uem és, Se- do por Deus até hoje, pude testemunhar
imor? E o Senhor respondeu: Sou Je- a pequeños e grandes, sem ensinar ou-
mis, a quem tu persegues. 16Fica de pé, tra coisa senáo o que predisseram os
Imis para isto te apareci, para nomear- profetas e Moisés, ou seja, 23que o Mes-
li' servidor e testem unha do que viste e sias haveria de padecer, ressuscitar por
lesus, quena “extirpar” seu nome; como verbo das aparigóes do ressuscitado (Le
iiuc cumprindo o preceito deuteronomista 24,3.34). Os dois cargos, “servo e testemu
Je “extirpar a maldade” (Dt 13,6; 17,7.12; nha”, se dizem dos doze (Le 1,2; 24,48).
19,13.19; 21,21-22 etc.), ou entendendo a 26.17 “Eu te defenderei”: como os pro
hcu modo o propósito de um governante fetas (Jr 1,8.19; 15,20) ou o orante (SI 40,
(SI 101,8). 14 etc.). É enviado aos judeus e depois aos
“Dar o voto” competiría só aos membros pagáos.
do tribunal, em concreto do Grande Conse- 26.18 A conversáo prolonga o símbolo
Iho. Náo parece que Paulo tenha pertencido da luz, freqüente na profecía (Is 42,7;
ii ele, na qualidade de letrado. Segundo es 58,10; 60,2-3; 62,1-2; Br 5,3); reaparece
te resumo, a perseguicelo parte de Jerusalém. em fórmulas batismais (C11,12-14). Sata
26,12-18 O relato de sua experiencia a nás é o chefe das trevas (cf. Ef 6,12). O
cuminho de Damasco difere notavelmente “perdáo dos pecados”: Le 1,77; At 10,43;
dos outros. Nao menciona a cegueira, nem 13,38; prometido em Jr 31,34. A fé em
il cura, nem a intervengo de Ananias, nem Jesús consagra.
il fuga de Damasco. A conversáo se trans 26,19-20 A missáo de Paulo é ato de
forma em relato de vocagáo no estilo das obediencia a Deus, a quem náo se podia
proféticas (Is 42,7; 61,1). Exalta-se a sobe negar. Sua execucáo se divide em etapas
ranía de Jesús glorificado, que ocupa o lu crescentes: Damasco, Jerusalém, Judéia,
gar de Yhwh, e predomina o símbolo da luz. os pagáos. Encontramos outra vez distin
26.13 Aprimeira percepirlo é uma luz ce guidos os dois verbos “arrepender-se e
leste, envolvente, mais brilhante que o sol converter-se” (também diversos em he
(cf. Mt 17,2 “como o sol”; Is 30,26; SI 104,2). braico), como em 3,19 (cf. Le 17,4). “Prá
26.14 Assim chamavam o aramaico. O ticas válidas de penitencia”: semelhante á
provèrbio citado de Eurípides faz de Paulo pregagáo do Batista (Le 3,8). Náo men
um animal indócil que se debate e se esgo- ciona o batismo.
ta em vào. Alguém vai reduzi-lo à obedien 26,23 Jesús ressuscitado por primeiro
cia: o amo. será chamado “primogénito dos mortos”
26,16 “Fica de pé” como Ezequiel em (C1 1,18; Ap 1,5) anuncia a luz do novo
sua vocagáo (Ez 2,1). “Apareceu-me” é o dia, como a sentinela (Jr 31,6; SI 130,6-7),
'l
luz universal sem distingào para judeus e brilhante do narrador. Num relatório rico
pagàos (Is 49,6). de dados precisos, dignos de um conhecc
26,24-25 Para o romano, fechado em sua dor da navegaçâo de entào (de prime irii
mentalidade, o testemunho de Paulo so ou de segunda mâo), monta-se a aventurn
bre a ressurreigào nao é delito e sim de teológica do grande apóstolo dos pagâos
mencia; o estudo o transtornou (cf. Ecl 12, Como Joñas era o antiprofeta, assim Pan
12). Também os que pronunciam o quarto lo parece um antijonas. Os dois váo pre
càntico do Servo reconhecem que seu gar num país pagáo: Joñas à força, Paulo
anuncio é “inaudito” e que nào será crido prisioneiro sem coaçào. Joñas poe em pe
(Is 52,15—53,1). Mas Paulo nào falou de rigo seus companheiros de navegaçâo,
coisas que estudou, e sim do que viu. O Paulo os salva; Joñas dorme, Paulo vigia.
que aos homens parece loucura, é para o O océano que corta a fuga de Joñas ini
crente “verdade e sensatez” (e vice-versa, pulsiona a viagem de Paulo.
cf. ICor 1,18-25). Em ambos os casos, o velho elemento,
26,26-27 Ante o ceticismo do romano, o hostil océano de tantas tradiçôes, se de
Paulo apela aos conhecimentos do judeu sata contra os homens (SI 18,5-6.16; 42,8;
Agripa e aduz como autoridade reconhe- 69,2-3.16; 77,20; 93,2-4; 107,25-27). Des
cida por ambos “os profetas”. ta vez os elementos parecem opor-se à
26,28-29 O rei se evade com urna salda viagem de Paulo, ao designio de Deus,
cortes: louva o orador, sem vestir a cara- como se o Xeol quisesse devorá-lo; mas
puga; como os ouvintes do “mùsico” Eze- o Senhor domina o océano (Eclo 43,23)
quiel (33,31-33). Com nào menos corte e o submete a seus planos. Também os
sia, mas vibrando de paixào missionària, apóstolos passaram, em escala pequeña,
responde Paulo; e desta vez se dirige a to por urna experiência semelhante e expe-
dos os presentes. Gostaria de vè-Ios todos rimentaram o poder de Jesús (Me 6,47-52
cristàos e sem correntes, livres de verdade. par.).
26,30-32 O veredicto final nào se pro Num contexto realista, de dimensóes
nuncia no tribunal, e sim em conversa priva humanas, diminuidas pelo vasto mar, Pau
da. O narrador se encarrega de que o leitor lo é urna figura sobre-humana: sabe e
o escute antes que Paulo embarque. Agri aconselha, prevé e prediz, nào desfalece e
pa nào entende que, no designio de Deus, reanima, é quem comanda a navegaçâo.
a viagem a Roma se paga com a prisào. Ao grande viajante, ao náufrago salvo
(2Cor 11,25), Lucas dedica esta homena-
27 ,1-44 A travessia marítima, com a gem marítima. Os peritos poderáo expli
tempestade e o naufràgio, sào urna pe§a car e apurar a exatidáo da sua descriçâo.
* 1 1') 447 ATOS DOS APOSTOLOS
terceiro dia, com as próprias maos, des- — Se náo perm anecerem no bai *>i
fizeram-se dos apetrechos do barco. vós náo vos salvareis.
20Durante vários dias nao se viam nem 32Por isso, os soldados cortaram ak
sol nem estrelas, e com o a tempestade cordas do bote e o deixaram cair no n i.if,
nào se acalmasse, esgotava-se qualquer 33Quando raiava a aurora, Paulo convi
esperanza de salvagáo. dou todos a comer:
“‘Estávamos há dias sem comer, quan — Estáis na expectativa há catoi/,
do Paulo se pòs no meio e disse: dias, sem provar nada. 34Eu vos acón,
— Amigos, devieis ter-me escutado e selho a comer, pois é necessàrio para a
nào sair de Creta, poupando-vos tais pe- vossa saúde. Náo perdereis sequer um
rigos e perdas. 22Porém agora vos exor cábelo da cabega.
to a ter coragem, pois nenhuma vida se 35Dito isso, tomou páo, deu gragas a
perderà, somente a embareacào. 23Nes- Deus na presenta de todos, o partiu o
ta noite apareceu-me um anjo do Deus comegou a comer. 36Todos se anima
ao qual pertengo e a quem venero, 24e ram e se alimentaran!. 37Eramos no na
me disse: Nao tem as, Paulo; tens de vio duzentos e setenta e seis. 38Comc
comparecer diante do imperador; Deus ram até saciar-se, e depois esvaziaram
te concede a vida dos que viajam conti o barco, jogando o trigo no mar.
go. 25Portanto, coragem, amigos! Con 39Fez-se dia. Os marinheiros náo re
fio em Deus que acontecerá o que me conheciam a terra, mas divisaram unn
disseram. 26Encalharemos numa ilha. enseada com urna praia, e decidiram
27Era já a décim a quarta noite e con- de qualquer forma, encalhar ai o navio
tinuávamos à deriva pelo Adriático. À 40Soltaram as áncoras, deixando-as caii
meia-noite os marinheiros pressentiram no mar, enquanto afrouxavam as amai
que nos aproximávamos da terra. 28Des- ras do timáo. Igaram a vela da popa a
ceram a sonda e mediram vinte bragas; favor do vento e dirigiram -se para a
logo em seguida a desceram novamen- praia.
te e mediram quinze bragas. 29Temen- 41Mas, ao passar entre duas corren
do bater contra os recifes, soltaram qua- te s, o n a v io e n c a lh o u , a p ro a se
tro áncoras da popa, e rezavam para que encravou e ficou imóvel. 42Os soldados
amanhecesse. 3üOs marinheiros tenta- decidiram matar os presos para que nin-
vam abandonar o barco. Já estavam guém escapasse nadando. 43Mas o ca-
descendo o bote sob pretexto de soltar pitáo, querendo salvar a vida de Paulo,
áncoras da proa, 31quando Paulo disse o impediu e ordenou que saltassem por
ao centuriáo e aos soldados: primeiro os que sabiam nadar e chegas-
'..ilvará a vida do centuriáo, de seus subor O segundo episodio é urna cura que recor-
dinados e companheiros. da pela linguagem a primeira cura de Je
27,44 Cumpre-se a predigan de Paulo e sús, a da sogra de Pedro (Le 4,38-39).
ii promessa do seu Deus. 28,2 Ver Le 22,56.
28,4-7 Os nativos raciocinam com lógi
28,1 O episodio exalta e engrandece a ca religiosa elementar: cedo ou tarde o
íigura de Paulo. Em Malta nao é prega- malfeitor paga; se os homens náo o casti-
ilor, e sim taumaturgo benfeitor. Ninguém gam, a divindade o faz (cf. o esquema de
iliria que é um prisioneiro entre outros, pois Am 5,19). Com a mesma lógica, ao ver que
age como protagonista absoluto. Os nati o veneno náo lhe faz efeito, o consideram
vos se chamam em grego “bárbaros”, quer como urna divindade (14,15, em Listra). A
dizer, que náo falam grego (e sim um dia- rigor se cumpre o anúncio de Me 16,18.
leto púnico). O que os caracteriza neste 28,7 Também o governador, de nome
momento è sua “extraordinària amabilida- latino, mostra sua benevolencia e genero-
ile” (philanthropia), o mesmo que se dis sidade, hospedando em sua propriedade
se do centuriáo. Acolhem os náufragos esse numeroso grupo de náufragos.
generosamente e se fazem credores dos 28.9 O mesmo efeito que o milagre de
milagres de Paulo. Deste se contam bre Jesús produz (Le 4,40), só que sem pos-
vemente duas historietas. A primeira é a sessos do demonio.
da víbora (perfeitamente verossímil naque- 28.10 As honras sáo tributadas em aten-
las condigoes), que os nativos interpretam gáo a Paulo, sem que se repita o equívoco
segundo critérios religiosos em linha du de Listra.
pla. O leitor deve lè-la contemplando ao 28.11 O navio está dedicada, ou leva as
fundo o episodio das serpentes no deserto insignias dos Dióscuros (Castor e Pólux),
(Nm 21,4-9), a promessa escatològica do como patronos de navegantes. Náo sabe
profeta (Is 11,8) e a de Jesús (Le 10,19; mos se com este detalhe o autor quer subli-
Me 16,18). Depois de ter vencido a perse nhar o ambiente pagáo da nova situacáo.
g uido dos homens e dos elementos, fal 28,14-15 No relato atual, a última frase
lava a Paulo vencer a fera mais perigosa. é proléptica, como título do que se segue
ATOS DOS APOSTOLOS 450
¡mediatamente. Porque Paulo em Roma como fizeram com Jesús (Le 18,32; 20,20.
nao parece entrar como prisioneiro, e sim 24,7), e se opuseram à sua libertaçâo. Con-
numa recepcáo da comunidade. Ao vé-los tudo, Paulo nâo pretende pagar mal com
e ao compreender o que significa, Paulo mal, acusando seus acusadores.
dá gragas por tudo: enfim, em Roma. A última frase do discurso tem muito rele
28,16 O v. nos devolve á realidade de vo: nâo os judeus, e sim Israel na sua ampli
Paulo em sua eondigáo de preso á espera tude de povo escolhido; nao a leí, mas a espe
de julgamento. Por ora é tratado com con- rança (24,15; 26,6-7; Le 2,34). Para Paulo,
sideracáo. “a esperança” é o Esperado (Le 7,19-20).
28,17-31 A última página do livro reco- 28,21-22 Aresposta é estranha, dado que
lhe e resume idéias já propostas e concluí em Roma havia urna sólida comunidade
coerentemente toda a série narrativa que crista, as comunicaçoes com Jerusalém
cometa em 1,8: “sereis minhas testemunhas eram freqüentes, e o cristianismo já se ti-
em Jerusalém, na Judéia, na Samaría e até nha difundido por todo o Mediterráneo
os confins do mundo”. O movimento de central e oriental. Consideram os cristáos
Paulo desde Jerusalém até Roma materia como urna seita dentro do judaismo, com
liza o movimento espiritual da Igreja, que batida por outros judeus, mas nâo exco-
se desprende definitivamente do judaismo mungada (isto sucederá durante o decé-
e se abre inteiramente aos pagaos. É um nio 80-90 d.C.). Despedem-se mostrando
processo anunciado pelos profetas: a resis- seu intéressé em conhecer diretamente o
téncia de Israel por Is 6,9-10; 65,2; o desti que Paulo pensa.
no dos pagaos em muitos textos (p. ex. SI 28.23 A reuniáo aberta acorre uma boa
67,2; 87; 98,3; Is 40,5). Roma será o novo representaçâo judaica. A casa onde Paulo
centro de irradiacáo universal: tema que fica vive confinado toma certo ar de sinagoga,
fora do livro. na qual todos sáo judeus (nâo menciona
28,17a E como a última tentativa de di- adeptos). A reuniâo, exposiçâo e discussáo
rigír-se aos judeus. Como o preso está con foram bastante longas, um día inteiro; Lucas
finado, convoca os chefes da comunidade nâo nos dá senáo o índice dos pontos trata
judaica de Roma, que podiam ser os che- dos (que já expós ao longo do livro). Sáo
fes das diversas sinagogas da cidade. Gen très pontos: o reinado de Deus (Le 4,43;
te importante e influente no mundo políti 9,2; At 1,3; 14,22), a pessoa e mensagem de
co da capital. Jesús (At 1,1; 8,35; 9,20), o fundamento bí
28,17b-20 Paulo comega dando expli blico de tudo isso (Le 24,26-28; At 3,21-23).
c a r e s numa apología pessoal, resumo de 28.24 Na reaçâo, deve-se distinguir (co
coisas ditas (22,1-16 e 26,2-23). Os judeus mo em casos precedentes) a atitude de in
de Jerusalém “o entregaram aos romanos”, dividuos e a da comunidade como tal. Al-
IN II 451 ATOS DOS APOSTOLOS
«i ilcixavam convencer, outros resis- os olhos, para nao ver com os olhos
lliini em crer. 25Quando se despediam nem ouvir com os ouvidos nem enten
Nrin pór-se de acordo, Paulo pronunciou der com a mente, para se converterem,
mui ullima palavra: de modo que eu os cure. 2RPois sabei
Hem falou o Espirito Santo aos que esta salvagáo de Deus é enviada aos
vimos pais por meio do profeta Isaías! pagaos, e eles escutaráo*.
"'Vili ii estepovo e dize-lhe: Certamen- 30Dois anos inteiros viveu por conta
I r oiivireis, porém sem entender; cer- pròpria. Recebia os que iam a ele 31e pro
liinirnte olhareis, porém sem ver 21Em- clamava o reinado de Deus e ensinava o
luiiini-se a mente desse povo, com os que diz respeito ao Senhor Jesús, com
nuvidos simplesmente ouvem, taparam toda a liberdade e sem impedimento.
INTRODUgÁO
( >i/tie era a Roma imperial na m eta to de Clúudio expulsou os judeus (ano
lli- Jo séc. I d.C. éfartam ente conhecido 49); Suetónio registra lacónicam ente
l'i't documentos, monumentos e repro- o fa to : “expulsou os ju deus que, in
,Incoes artísticas. M ais de um milhao citados por Cresto, multiplicavam seus
<!<■habitantes (mais da metade eram es- m o tin s ”. Q ue entre ju d e u s a g a rra
i tuvos), coni urna classe alta rica e cul- dos ás suas tradiqóes e ju deus con
1,1 O luxo apoiado na misèria. Palá- vertidos ao cristianism o surgissem
pios, templos, colunatas, termas, e o contendas é urna conjetura plausível,
¡itrum como centro da vida citad ina. nada mais. Pode-se citar a analogía
Roma, capital de um im perio sem de A t 17,1-8.
l>recedentes, centro de um mundo que Podemos contar com prosélitos, quer
w considerava “o m u n d o ”. Centro de dizer, pagaos atraídos á religiáo e éti
uradiaqáo e atraqüo. D e Roma partiam cas judaicas; também entre os proséli
rxércitos para conquistar, procónsules tos se davam conversóes ao evangelho;
I inra governar provincias, leis e correios a etapa judaica Ihes servia de ponte (At
t/ue percorriam a rede vital de estra 13,43). Finalmente, temos de contar
das e rotas. A Roma afluíam estrangei- com pagaos convertidos. A comunida-
ros de todo tipo: embaixadores, vassa- de crista de Roma, como indica a car
los, comerciantes, fugitivos, mestres, ta, era em sua maioria de origem paga
l>regadores de muitos cultos. Entre seus e em parte de origem judaica. Para o
habitantes se contava urna comunida- judeu apóstola dos pagaos, esse dado
de, compacta, diferenciada e numero era muito importante.
sa de judeus: contaram-se treze sina
gogas (ou comunidades). F lávioJosefo Finalidade
[ala de oito mil judeus adidos de urna
cmbaixada. Pois bem, p o r que Paulo tinha de
Nao obstante tal riqueza de informa escrever urna carta a urna igreja que
l e s , ficou ás escuras a origem da igre- nem tinha fundado nem conhecia pes-
ja crista em Roma. Que Pedro fo i a R o soalm ente? N ao urna carta qualquer,
ma e a i sofreu o martirio é certo; que de cortesía ou de circunstancia, mas
tenha estado antes ou tenha fundado urna carta doutrinal de envergadura,
essa igreja, nao tem fundam ento histó talvez a m ais im portante do apóstolo.
rico. Entáo, quem foi o missionàrio anó A lg o a própria carta sugere, nao po-
nimo que levou a sem ente crista a R o rém o bastante para satisfazer a curio-
ma ? A que grupo pertencia ? Dado o sidade dos exegetas. A discriqao da
vai-e-vem humano da capital, perde- carta deixa ampio espaqopara inferir
ram-se seus tragos. ou conjecturar. Vamos abrir o leque
Teria sido um judeu convertido?L u das propostas, que nao se excluem m u
cas, com sua m ente universalista, diz tuamente.
que entre os ouvintes de Pentecostes a) Paulo olha com desconfianqa para
havia peregrinos rom anos (At 2,10); Jerusalém. Quando vai com o produto
o m esmo Lucas m enciona um casal j u da coleta, seu em penho acariciado,
deu, A quila e Priscila (At 18,2), que quer ter esclarecido seu pensam ento
se m udou para C orinto quando o edi sobre as relaqóes entre judeus e pagaos
CARTAAOS ROMANOS 456 INTRODIJC;
2.1-11 Até aqui falou dos pagaos na ter- o arrependimento e o perdào. A pregagao
ceira pessoa, inclusive aceitando alguns dos profètica anuncia julgamentos fináis de
seus ensinamentos. Agora se dirige a seus época ou de impèrio no curso da historia:
irmáos judeus na segunda pessoa, em for exemplo clàssico é a destruigáo de Jeru-
ma de controversia ou no estilo da diatribe, salém e o exilio. A frase grega joga com a
fingindo um rival cujas objegòes se citam e repetigáo de “cólera”; poder-se-ia substi
se refutam. O estilo da diatribe, cultivado tuir por “acumulas condenagáo para o dia
como recurso retórico pelos gregos, tem tam- da sentenga”. Coragáo impenitente: Is
bém antecedentes na pregacelo profètica (p. 46,12; Ez 2,4; 3,7.
ex. Jr 2-3). Se os pagaos “nao tem descul 2,6 Segundo SI 62,12 e outros.
pa”, menos a tém os judeus (2,1). Ele o vai 2,7-8 Sobre a retribuigáo, a pontuagáo
expor em dois passos: w . 1-3 ao julgar estás correta das frases opóe “vida eterna” a “ira
julgando a ti; vv. 4-11 ao abusares da pa e cólera”, um substantivo adjetivado e urna
ciencia de Deus, agravas a sentenza final. geminagáo sem adjetivo. Avida perdurá-
2.1-3 O juiz julgado é tema bem conhe- vel é para os que buscaram a imortalidade
cido no AT: Nata e Davi (2Sm 12), a can- fazendo o bem; eles a procuram, nào a
gao da vinha (Is 5,1-7). No NT pode-se ver possuem; a imortalidade é destino, mais
Mt 7,2-5 e Jo 8,7, os juízes da adúltera. A que condigáo, segundo Sb 1,23 (compáre
sentenga de Deus é justa: corresponde à ver se com a contraposigáo de Is 66,14-16). A
dade dos fatos (SI 7,12; 10,8). E insensatez segunda parte opóe “verdade” a “injustiga”.
pensar que o homem possa evitar o julga 2,9-11 Angústia e tribulagáo, como em
mento de Deus, explica Eclo 16,17-23. 8,35 e 2Cor 6,4; em oposigào à paz (cf. Sb
2.4 O tema da paciencia de Deus com 3,3). Deus nao é parcial (Dt 10,17; 2Cr
os judeus e também com os pagaos está 19,7; Ef 6,9). Com o binomio judeu/grego
sugerido em Gn 15,16, visáo de Abraáo, e retoma a colocagao central: os gregos re-
desenvolvido com maturidade em Sb 11, presentam os pagaos. Os judeus sao o tema
23-12,21. “Paciente” é um dos títulos clás- da explanagao seguinte, na qual se discu
sicos de Yhwh (Ex 34,6), recolhido em ten! dois supostos privilégios: a lei e a cir-
fórmulas litúrgicas (SI 86,15 par.). cuncisáo.
2.5 Contra o abuso da paciencia de Deus 2,12-16 O critèrio decisivo é o pecado,
adverte Eclo 5,4-7. O dia da cólera, dies nao que o ato seja legal ou seja delito. Pelo
irae, é o dia do julgamento definitivo (Sf pecado “perecem” (Ez 18,4.13.18.20.24),
1,14-18), quando já nao sobra espago para pelo delito sao julgados. Antes da lei nao
463 CARTA AOS ROMANOS
m nmielo a lei seráo julgados. 13Pois cegos, luz dos que estáo ñas trevas,
I »«'iis nao absolve os que escutam a lei, 2ümestre de néscios, instrutor de igno
i miii os que a cumprem. 14Quando pa- rantes, e que possuis na lei a síntese do
(iiios, que nao tém lei, cum prem espon- conhecimento da verdade, 21tu, que en-
Imii ámente o que a lei exige, nao tendo sinas outros, nào ensinas a ti? Tu, que
Ir i, oles sao sua lei, 15já que demonstram pregas que nao se roube, roubas? 22Tu,
levar a exigencia da lei gravada no co- que proíbes o adultèrio, o cometes? Tu,
nu;ao. A consciencia proporciona seu que detestas os ídolos, saqueias seus
Irslemunho e os raciocinios dialogam templos? 23Póes teu orgulho na lei, e
»(■usando ou defendendo, 16em vista do desonras Deus violando a lei? 24Pois
día em que, de acordo com o meu evan- está escrito: Por vossa culpa, os pagáos
ncllio e por meio de Jesús Cristo, Deus blasfemarli o nome de Deus.
julgará o que está oculto no homem. 25A circuncisáo é vantajosa, se cumpres
a lei; se a violas, tua circuncisáo te deixa
Os judeus e a lei — 17Tu, que te cha incircunciso. 26Ao contràrio, se os incir
inas judeu, te apóias na lei, te glorias cuncisos guardam os preceitos da lei, náo
de Deus, 18conheces a vontade dele, seráo considerados como circuncisos,
instruido pela lei aprecias o que é me- ainda que náo o sejam? 27Alguém física
llior, 19estás convencido de ser guia de mente incircunciso que cumpra a lei jul-
híi delito; a lei estabelece e define a figura fo pode ser ilustrado com citagóes do AT:
do delito e acrescenta a cláusula penal. “apoiar-se” (Mq 3,11); “gloriar-se” (Jr
( orno antes afirmou o conhecimento na 9,23); “conhecer a vontade” (Br 4,4); “dis
tural de Deus, assim agora afirma o co- tinguir apreciando” (Is 7,15; Eclo 39,4);
uhecimento natural de valores éticos dita- “luz dos pagáos” (Is 49,6; Sb 18,4); “mes-
dos pela consciencia. A consciencia moral tre e instrutor” (Eclo 24,23-24, onde o le
funciona como lei. Compare-se Pr 20,27 gal se torna sapiencial); o conhecimento
“o espirito humano é lampada do Senhor” mediante a lei (Br 4,1). Pode-se acrescen-
com Pr 6,23 “o mandamento é lámpada, a tar do NT: judeu como título (Ap 2,9; 3,9);
instrugáo (tora) é luz”. Depois a conscien guia de cegos (Mt 15,14).
cia psicológica, assistida pelo sentido éti 2,21-22 Menciona dois preceitos do
co, emite urna espécie de julgamento inte decálogo (cf. SI 50,18). Sobre as riquezas
rior como fiscal e defensor. cobigáveis dos ídolos, ver Dt 7,25; sobre
No final, no julgamento que terá como o saque dos templos, 2Mc 3; Carta de
norma “o meu evangelho” e como juiz Jeremías (Br 6,57).
Jesús Cristo, virá á luz o mundo da cons 2,24 Volta contra os doutores judeus o
ciencia (cf. SI 90,8) e será ratificado defi texto de Is 52,5; cf. Ez 36,20.
nitivamente (cf. Mt 25,31 referido a “to 2,25-29 A circuncisáo chegou a ser si-
das as nagoes”, entenda-se, pagas). nal distintivo. Honra para os judeus, como
Náo faltam no AT exemplos de pagáos selo corporal da alianga (Gn 17), zomba-
honrados: as parteiras do Egito (Ex 1), o ria dos pagáos (cf. lM c l,14s). Na boca
núbio Ebed-Melec (Jr 38,7-13), em chave dos judeus, “incircunciso” era insulto: Jz
polémica os marinheiros do livro de Joñas, 14,3; ISm 17,26; 31,4; 2Sm 1,20; Ez 32.
e o grande personagem estrangeiro Jó. No entanto, já a lei e os profetas tinham
Paulo pensa talvez em estoicos e outros pregado a circuncisáo do coragáo (Lv
pagáos; no final de At, o autor comenta a 26,4; Dt 10,16; 30,6; Jr 4,4; 9,25; Ez 44,
amabilidade, philanthropia, do centuriáo 7.9). Portanto, o valor da circuncisáo fí
e dos malteses (At 27-28). sica fica relativizado (lC or 7,19; G1 5,
2,17-24 O estilo se toma mais polémi 3.6).
co, quase agressivo. Acumula cinco privi- 2,27 O pagáo julgará o judeu numa es
légios mais cinco, reais ou pretensos, co pécie de acareagáo perante o juiz, num jul
mo plataforma de onde langar suas cinco gamento por comparagáo de culpas: ver
perguntas retóricas acusadoras. O parágra- Ez 16,52; Mt 12,41s.
C A R TA AOS ROMANOS 464 2,:
gará a ti que, com teu código e tua cir nenhum modo! Pois, se nao, como pn
cuncisáo, violas a lei. 28Ser judeu nao derá Deus julgar o mundo? 7Porém, m
consiste em sinais visíveis; a circuncisáo minha falsidade exalta a fidelidade di
nao consiste num sinal na carne. 29Ser Deus para sua gloria, por que além dis
judeu é condicáo interna: a circuncisáo é so me condena como pecador? b a g a
do coragáo, do espirito, e nao de letra. mos o mal para que redunde em bem
Este é o que recebe o louvor de Deus, e — é o que alguns me atribuem calunio
nao dos homens. sámente; eles carregaráo sua justa con
denagáo.
'E n táo , que vantagem leva o judeu,
3 o u para que serve a circuncisáo?
2M uito grande em todos os aspectos.
T odos sao p e c a d o re s — 9Em sin tese
nósjudeus levamos vantagem? De mo
Prim eiro, porque lhe confiaram os orá do algum! Já demonstramos que todos,
culos de Deus. 3Entáo, o que acontece judeus e gregos, estáo submetidos ao
se alguns foram infiéis? A infidelidade Pecado. ‘“Como está escrito:
deles é anulada pela fidelidade de Deus? “N ao há um honrado, n nenhum. sen
4De nenhum modo! Deus se mostrará sato,
fiel, ainda que todos os homens sejam nao há quem procure o bem.
falsos. Como está e s c r i t o r a sentenga 12Todos se extraviaram e se perver
terás razao, do julgam ento sairás ino teram,
cente. 5Mas, se nossa culpa comprova nao há quem faga o bem, nem se-
a inocencia de Deus, o que diremos? quer um.
(Falo segundo a lógica humana:) Que 13Sua garganta é um túmulo aberto:
Deus é injusto ao aplicar a pena?* 6De mentem com suas línguas,
2.28 O sinal externo vale quando corres Dt 7,9); é o homem que nao merece con
ponde a algo interno; do contràrio, é más fianza: citando SI 116,11).
cara ou disfarce. Segundo ponto: a justina/inocencia de
2.29 Louvor = epainos, pode ocultar Deus. No pleito bilateral, se urna parte re-
urna paronomàsia hebraica: yehudi -hwdh conhece a pròpria culpa, reconhece a ino
= judeu-louvar (Gn 29,35; 49,8). O lou cencia da outra: ver SI 51,6 e a posigáo de
vor que Deus pronuncia é a máxima apro- Jó, especialmente 40,7-14. — Mas nao é
vaqáo. Salvo no sarcasmo dirigido a Jó (Jó o meu pecado que glorifica a Deus, e sim
40,14), nao se diz expressamente que Deus minha confissao = toda (Js 7,19). — Mas
elogie um homem. a confissao supóe o fato e, assim, media
tamente, o meu pecado justifica a Deus;
3,1-8 Continua a diatribe. Paulo anteci entao — lógica humana — que Deus nao
pa e encadeia objecjóes dos adversários e condene. — Alto lá! Deus é juiz supremo
vai respondendo ad hominem, ad absur- e ninguém pode discutir suas decisóes (Gn
dum, apelando a principios. Objetam que 18,24s; Sb 12,13-15).
da doutrina de Paulo se seguiría que, na Terceiro ponto: urna coisa é Deus tirar
sua relagáo ou julgamento bilateral com o o bem, mesmo do mal (Gn 50,20; Ex 9,16),
homem, Deus é injusto, ou que pecando outra coisa é fazer o mal para que resulte
se promove a honra de Deus. o bem (cf. 5,20).
E central o tema da fidelidade, articula 3,5 *Ou: ao descarregar a ira.
do sobre formas da raiz grega pist- = con 3,9-20 Recapitula e tira a conclusáo.
fiar, ser fiel/infiel. Deus confiou aos ju- Judeus e gregos (pagaos), cada um a seu
deus seus oráculos, sua revelagáo (cf. Hb modo, com lei ou sem lei, todos estáo
5,12; lPd 4,11). Quem confia algo a ou- “sob” o impèrio do Pecado. Prova-o com
trem confia nele, se fia nele (Moisés, Nm urna citagáo combinada de salmos e pro
12,7). Se este é infiel e trai a confianza, fecía: SI 14,1-3 visáo pessimista da huma-
nem por isso é infiel quem lhe mostrou nidade; SI 5,10 se refere aos perseguido
confianza. Pois bem, Deus é fiel (Ex 34,6; res do justo; SI 140,3 contra o malvado
465 CARTA AOS ROMANOS
.ni', luí ¡ios escondem veneno de ás- resultará honrado diante de D eus por
fiilcs. ter cum prido a lei, pois a lei dá somen-
1\iiti hoca está cheia de malicia. te consciencia do pecado.
1 S'rus pés correm p a ra derram ar
ii l l l y j i c , Absolvigáo pela fé — 21Contudo, ago
"'.m'í/.v caminhos estáo semeados de ra, prescindindo da lei, apesar de teste-
mi mi c destruiqao. munhada pela lei e pelos profetas, re-
1 Nao conhecem o caminho da pa z vela-se essa justiga de Deus que salva*
" nem tém o temor de Deus. 22pela fé em Jesús como Messias; v á
r'<)ra, as cláusulas da leí se destinara lida sem distingáo para todos os que
mus súditos da lei; e assim a todos tapa- créem. 23Todos pecaram e estáo pri
.! .i hoca, e o mundo todo fica sob o vados da presenta de Deus. 24Mas sáo
juram ento de Deus. 20Por isso ninguém absolvidos sem m erecé-lo, generosa-
' miento; SI 10,7 salmo alfabético com ele- sobre a qual se derramava o sangue da
llh*iitos judiciais; Is 59,7s; SI 36,2 é um expiagáo (Ex 25; Lv 16). Paulo concen
"oráculo do Delito”; SI 143,2 o v. prece tra esses símbolos na atitude radical da
dente ao citado soa assim: “Nao entres em fé ou adesáo: raiz pist- (vv. 22.22.25.
pleito com teu servo”. 27.28.30.30.31). Podemos resumir: Pelo
3,19-20 Os textos estáo adaptados e se pecado, o homem é devedor e caiu na
rnglobam sob a epígrafe “lei”, que equi escravidáo; Cristo, “expiando com seu
vale aqui a Escritura. Para os judeus, é sangue o pecado, resgata” o escravo que
palavra autorizada que “tapa a boca” a nele eré.
ipialquer objegáo (lM e 9,55; SI 107,42; A fé exclui a lei como condigáo para se
Jó 4,17). E nao só os judeus, mas todos os salvar, mas está atestada nos escritos “da
liomens (cf. SI 65,4) caem sob a jurisdi- lei e dos profetas”, fórmula que equivale á
1,110 de Deus, que é juiz supremo e univer Escritura inteira. Pode-se pensar, sem citá-
sal (SI 7,9; 82,8). los agora, em textos clássicos como Is 7,9;
O final lapidar reaparece em 5,20 e 7,7; 28,16. A fé exclui o “orgulho”, ou seja, a
contrasta com Eclo 17,11 e 45,5. autocomplacéncia, o alegar méritos e di-
3,21-31 Texto capital e denso, que des- reitos para obter de Deus a justiga. Na
creve a justiga de Deus revelada na agáo agáo de Jesús Cristo “se revela” a justiga
lie Jesús Cristo. Todos sáo pecadores, di- de Deus: a que atuava antes, adiando com
l y a a conclusáo precedente. Pela fé em paciencia a execugáo da pena, até que
Jesús Cristo como Messias, todos podem chegasse o Messias; agora dando grátis a
receber de Deus sua justiga, afirma ago justiga a quem crer no Messias.
ra. Um conjunto de conceitos e símbolos 3.21 Sem a lei: porque o Messias é o fim
soteriológicos sobre a salvagáo oferece da lei (10,4; cf. 2Cor 3,14). Onde lemos esse
a sua riqueza e dificulta a compreensáo; testemunho? Em muitos lugares, p. ex. Lv
é conveniente aduzir as fórmulas ori 26,44s; Dt 30,1-6; Jr 31,31-34; Ez 20,40-
gináis. 44. *Ou: o indulto outorgado de Deus.
Dikaioumenoi pode significar: absolvi 3.22 A circuncisáo e a lei distinguem; a
dos — se sáo inocentes — , ou indultados fé náo distingue, quer dizer, náo exclui
— pois sáo culpados — e tornados jus ninguém.
tos; neste contexto, ser justo é náo ser de- 3.23 A “presenga” é em grego a gloria,
linqüente nem réu, náo ser devedor nem que reside no templo em meio ao povo e
ofensor. Apolytrosis significa o resgate: se afasta por sua infidelidade (Ez 10 e 43).
de uma propriedade alienada, que deve Embora esteja de pé quando Paulo es-
voltar ao dono, ou de um escravo que creve esta carta, o templo náo garante me
deve recobrar sua liberdade; é ato de so- cánicamente a presenga do Senhor (cf. Jr
lidariedade da familia, do clá e, em sua 7 e 26).
falta, do soberano. Hylasterion era a pla 3.24 “Sem merecé-lo”, de graga (cf. Ex
ca de ouro (kiporet) que recobria a arca, 21,2.11; Is 52,3).
CARTA AOS ROMANOS 466
mente, pelo resgate que Jesus Cristo en- 0 exemplo de Abraáo — ‘Portan
tregou. 25Deus o destinou a ser com seu
sangue* instrumento de expiagáo para
4 to, o que dizer de Abraáo, nosso an
tepassado segundo a carne? 2Se Abran* >
os que crèem. Deus mostrava assim sua foi ju sto pelas obras, podia orgulh.u
justicia, quando pacientem ente nao le se; mas nao diante de Deus. 30 que di/
vava em conta os pecados de outrora, a Escritura? A b ra á o creu em Deus, .
26e dem onstra sua justica no presente, isso Ihefoi anotado com o crédito. 4Au
sendo justo e tornando justos* os que que executa urna tarefa lhe dáo o sn
crèem em Jesús. lário como pagam ento, nao como coi
27Onde, pois, fica o orgulho? Fica ex tesia. 5Ao que nao a executa, mas que
cluido. Por qual lei? Das obras? Nada se fia naquele que torna justo o mal
disso; pela lei da fé. 28Pois sustentamos vado*, a fé lhe é anotada como créili
que o homem recebe a justiga* pela fé, to. 6Nesse sentido, Davi pronuncia ;i
independentem ente das obras da lei. bem -aventuranga daquele que recebe
29Deus o é somente dos judeus? Nao o de Deus a justiga sem mérito de obras
é também dos pagaos? Certo, também 1Feliz aquele a quem fo i perdoado n
dos pagaos; 30já que Deus é único e delito e cujos p ecados foram sepul
concede a justiga* aos circuncisos pela tados; *fe liz aquele a quem o Senhoi
fé e aos incircuncisos pela fé. ^S ig n i nao leva em conta o pecado. 9 Portant<>
fica isso que com a fé invalidamos a essa bem -aventuranga vale somenti
lei? De nenhum modo! Pelo contràrio, para o circunciso, ou também para o in
a confirm am os. circunciso? Afirmamos que para Abraáo
i /.' Ihr foi anotada com o crédito. tos da lei, mas também para os que cre-
I mi que situagáo? A ntes ou depois em como A braáo, que é pai de todos
•i. * ih uncidado? Nao circuncidado, nós. 17Com o está escrito: Farei de ti
mi r, incircunciso. n E com o sinal da pai de m uitas naqòes; a juízo de Deus,
|n .1 n,.i (|ue, sem estar circuncidado, de quem se fiou, que dá vida aos mor-
n i Hiera por crer, recebeu a circunci- tos e chama à existencia o que nao exis
i,i,i 1 )csse modo, ficou constituido pai te. 18Esperou fiando-se contra toda es
,li a m b o s : dos incircuncisos que cre- peranza, e assim se converteu em pai
i.un c Ihes foi anotado como crédito, de m uitos povos, segundo o que foi
1 V ilos circuncisos que, nao contentes dito: assim será tua descendencia.
■ni si-lo, seguem as pegadas de nosso 19Sua fé nao vacilou, apesar de consi
|iiii Abraáo, que acreditou sem estar derar seu corpo envelhecido — tinha
, m uncidado. cem anos — e o seio envelhecido de
Sara. 20Náo duvidou com desconfianza
A p rom essa de d e sc e n d e n c ia — da promessa de Deus, mas, fortalecido
"Nao foi pela lei que prom eteram a pela fé, glorificou a Deus, ^ co n v en ci
Aliraáo ou á sua linhagem herdar o do de que podia cum prir o prometido.
mundo, m as pelo m érito da fé. 14Pois, 22Por isso lhe anotou como crédito. 23E
■.(■os herdeiros o sao em virtude da lei, esse lhe fo i anotado como crédito nao
n lé é vá e a prom essa é nula. 15Porque foi escrito somente para ele, 24mas tam
ii lei provoca a condenaqáo: onde nao bém para nós, a quem nos creditaráo o
lia lei, nao há transgressáo. 16Por isso, crer naquele que ressuscitou da morte
luí de basear-se na fé como dom. E as- Jesus, Senhor nosso, 25que se entregou
sim a prom essa será válida para toda a p o r nossos pecados e ressuscitou para
linhagem, nao som ente para os súdi- nos tornar justos.
5,1-11 Comega outra segáo. A lingua- em Tg l,14s; 2Pd 1,5-8. A esperanga bro
gem jurídica se retira a segundo plano, ta e se sustenta do amor que Deus nos tem
cedendo lugar a urna mais ética; ao predo e que o Espirito Santo faz que experimen
minio da justiga de Deus sucede o pre temos em nossa consciencia. Ao reconhe-
dominio do amor. Já nao se distinguem ju- cermos internamente, pelo toque do Espi
deus e gregos, e da justiga recebida se fala rito, que Deus nos ama, nossa esperanga
no passado. se sente segura: aquele que nos ama nao
Reconciliados com Deus pela fé, entra pode defraudar-nos (cf. SI 22,6; Eclo 2,10).
mos numa situagáo de paz e esperanza: paz 5,6-10 Exalta o amor desinteressado de
que supera a tribulagáo, esperanza que Jesús Cristo com um sistema de quatro
transforma o presente. Desfrutamos da oposicoes que produzem efeito cumulati
“graga” ou favor de Deus e de seu “amor” vo. Malvados perdoados, culpados indul
revelado no sacrificio de seu Filho. Agora tados, inimigos reconciliados, reconcilia
pomos “nosso orgulho” nao em méritos de dos legítimamente orgulhosos (Is 45,25;
obras, mas na esperanza (v. 2 ), ñas tribu- SI 64,11). A morte de Cristo é antes de tudo
lagóes que a robustecem (v. 3), em Deus revelagáo do amor incondicional de Deus:
mesmo (v. 11). Tudo por meio de Jesús um amor nao suscitado por nossa boa con-
Cristo (5,2.9.11.17.21). O tema deste frag duta, antes pelo contràrio. Nao podemos
mento se desenvolve no cap. 8 . estar orgulhosos de nós: todo o nosso or
5.1 Quem já nao é devedor nem ofensor gulho reside em Deus. Já nao orgulhosos
está reconciliado e em paz: Is 52,7; Ez de seu poder (SI 115,3), e sim do seu amor.
2,14-17; C1 1,20. No fundo escutamos o texto de Is 53 (cf.
5.2 O acesso é agora sob urna condigáo. lJo 4,10).
No AT mencionavam-se as eondigóes éti 5,9-10 O sangue = morte nos traz vida e
cas de acesso ao templo (SI 15 e 24), da salvagáo.
porta reservada aos vencedores (SI 118, 5,12-21 Paulo expóe a libertagáo do pe
19s; ver Ef 2,18; 3,12). Esperamos a glo cado e da morte, na grande comparagáo
ria ou “o destino glorioso” (SI 73,24). entre Adáo e Cristo. E um texto àrduo e di
*Alguns manuscritos o omitem. fícil, como se Paulo estivesse lutando para
5.3 Tribulagóes: 8,35; 2Cor 12,9-10; Tg compreender e formular um mistério. Por
1,2-4; lPd 1,6. isso, estes w . tem suscitado e continuam
5,3-5 O recurso retórico do encadeamen- suscitando tantos esforgos de interpretagáo.
to ■— sorites no sentido ampio — nós o Entre todas as interpretagóes, há urna
conhecemos por Os 2,23, e o encontramos para nós autorizada, formulada no Deere-
469 CARTA AOS ROMANOS
nim (le peccato originali, do Concilio Tri- personificada, hamartia, com transgressáo
ilrntíno (1546, DS 1510-1516), que res singular, parabasis, paraptoma.
ponde a “como a Igreja católica o tem en- d) Deve-se entender Pecado e Morte em
h'iulido sempre e em toda parte”. Em sentido forte. Pecado que escraviza (6,12)
H'siimo afirma: que o pecado de Adáo nao e faz romper com Deus. Morte total, náo
n iiletou a ele apenas, mas a toda a sua só física, mas a primeira e segunda (ICor
ili scendéncia; e nao só ñas conseqüéncias 15,56; Ap 2,11). E deve-se entender tam
ilc penas e morte, mas também no próprio bém à luz de seus contrários, Justina e
pecado; que se transmite por propagagáo Vida, no seu sentido forte de relagáo posi
c nao por imita§áo; que o único remédio tiva com Deus e vida duradoura.
i' Jesús Cristo. e) E central a relagáo numérica um/to-
Aínda que a fórmula “pecado original” dos junto à desproporgáo qualitativa ou de
nfio se leia na carta de Paulo, é um intento intensidade.
válido de reformular conceptualmente um f) A lei (de Moisés) chega mais tarde.
eonteúdo central da perícope. Pelo que Transforma uma falta de ética em delito
cncaminha e orienta a leitura. Nao pode jurídico e pode conter cláusula penal. De
mos entrar aqui numa discussao teológi fato, provoca a multiplicagáo das trans-
ca, particularmente árdua. Para interpre gressóes: “a água roubada é mais doce”
tar o texto paulino convém levar também (Pr 9,17).
em conta algumas observagóes. 5.12 0 original cometa com um “como”
a) É central a c o rre la to Adáo/Cristo: que termina em anacoluto, sem o membro
nao se pode entender o texto prescindindo correspondente. Como se Paulo se detives-
de um dos correlatos; nao se pode expli se para limpar o terreno antes de chegar à
car o enigma do pecado fundacional e uni sua afirmagáo central. Contudo, já no pri-
versal sem incluir na explicagáo Cristo meiro v. deixa estabelecido um fato, “por
como libertador. Nao é explicagáo teóri um homem entrou”, sem tentar explicá-
ca, mas de fatos, de pessoas. Nao é expli lo; também afirma sem mais a vinculagáo
cad o mítica nem gnóstica; partindo do entre pecado e morte (cf. lJo 4,10). Todos
coragáo da historia, Paulo quer abarcar até pecaram, também pessoalmente: 2 , 1 2 ;
sua origem. 3,9.23; ICor 6,18; Ef 4,26. Ainda que se
b) O Adáo da historia corresponde á fi difunda como um contàgio, náo é uma fa-
gura literária de Gn 2-3. Paulo nao muda talidade, e sim uma responsabilidade (cf.
o género literário do relato, que é etiolo Tg 1,13-15).
gía. Quer dizer, tenta dar razáo de um fato 5.13 Segundo Gn 3, Adáo recebeu e v¡-
universal remontando-se á sua origem olou um preceito positivo, “náo comas”;
pontual. isso porém náo é a lei a que Paulo se refe
c) No texto, Pecado e Morte sáo perso re. A imputagáo de um reato supoe uma
nificares literárias. Délas se predicam ver lei promulgada. *Ou: náo era reato.
bos: “entrou, difundiu-se, estava em, reinou”. 5.14 Moisés define temporalmente a pro
Pode-se comparar com outras imagens, ni ulgaijáo da lei.
como a serpente de Gn 3 — nao citada por 5.15 Traduzo por “delito” o gregoparap
Paulo — ; veja-se a versáo desmitizada de toma,, cuja etimologia é “queda mais além”
Eclo 21,2, onde a “cobra” é simples com- e se assemelha a trans-gressáo. Seu posto
paraqáo; o animal acuado que espreita Caim náo é manter-se de pé, e sim receber um
de Gn 4,7; o autor dos oráculos do SI 36,2; favor, que, por proceder de Deus e outor-
a Morte como Pastora no SI 49,15 etc. Náo gar-se por meio de Cristo, supera ¡mensa
se deve confundir Pecado, como potencia mente a “queda” humana.
CARTA AOS ROMANOS 470
mente seráo oferecidos a todos o favor trometeu para que proliferasse o deli
e o dom de Deus, pelo favor de um só to; mas onde proliferou o delito, a gni
homem, Jesús Cristo. lflO dom nao é ga transbordou. 2iAssim como o p a a
equivalente ao pecado de alguém . Pois do reinou pela morte, também a grava,
o julgam ento de um só pecado termi- por meio de Jesús Cristo Senhor no-,
nou em condenagáo, o perdáo de mui- so, reinará pela justiga para urna vnl
tos pecados term ina em absolvigáo. eterna.
17Pois, se pelo delito de um só reinou a
morte através somente dele, com maior M ortos para o pecado, vivos com
razáo, por meio de um só, Jesús Cristo,
reinaráo vivos os que recebem o favor
abundante de urna justiga gratuita. 18As-
sim, pois, com o pelo delito de um a
condenagáo se estende a toda a huma-
nidade, assim por urna agáo reta se es
6 Cristo — ’Portanto, o que dizei
Que continuemos no pecado para que
seja abundante a graga? 2Nem pensar!
Nós que morremos para o pecado, como
iremos continuar vivendo nele? 3 N0o
sabéis que todos nós que fomos batiza
tende a todos os homens a sentenga que dos, consagrando-nos ao Messias Jesús,
concede a vida. 19Como pela desobe submergimos em sua morte? 4Pelo ba
diencia de um todos se tornaram pe tismo nos sepultamos com ele na morte
cadores, assim pela obediencia de um para viverm os urna vida nova, assim
todos se tornaráo justos. 20A lei se in- como Cristo ressuscitou da morte pela
n petidos, mas de urna nova condigáo (cf. terial, Paulo afirma que o corpo pode e
SI 51,12; 2Cor 5,17). deve ser instrumento do bem: concepgáo
6,5 Paradoxo audaz: urna imagem vital, realista da unidade do homem e da sua res-
"enxertar”, se aplica a urna morte; e nao é ponsabilidade. O que é possível em regi
o trigo semeado de Jo 12,24. me de graga, náo de lei.
6,6-7 A condigáo pecadora nos faz es 6.15 Nova objegáo, em estilo de diatribe.
cravos (Jo 8,34) e devedores. Essa velha E falsa a alternativa ou lei ou libertina
condigáo (Ef 4,22; C1 3,9) é anulada ao gem: a graga náo dá licenga para pecar; ao
ser crucificada com Cristo (G1 2,20). A contràrio, capacita para submeter o pe
cscravidáo era as vezes conseqüéncia de cado.
dividas impagáveis (Gn 47,25; Dt 15,12). 6.16 Ver Dt 15,16s; Gl 5,13; Sb 2,24.
6.9 Cristo desbanca, destrona o senho- Trata-se de urna escravidáo voluntária a
rio da morte: ver ICor 15,54 que cita a um poder tiránico. O pecado conduz seus
versáo grega de Os 13,14. Sua morte náo súditos à morte; a obediencia conduz á
c cíclica, como a de deuses da vegetagáo justiga, e por eia à vida.
(cf. Ez 8,14), mas definitiva, como o dia 6.17 Modelo ou compendio. Porque a
inaugurado em Is 60,19-20. nova vida crista é um programa exigente
6.10 Quer dizer, morre a urna situagáo na de conduta, ao qual o homem se submete
qual reina o pecado com suas conseqüéncias. voluntariamente.
6.11 Ver 14,8-9. 6,18-19 Continua explorando a imagem
6.12 Por viver em “corpo mortal”, o cris- como concessáo, consciente de seus limi
táo continua exposto ao pecado, solicitado tes. Em linguagem jurídica se trataría de
pelo desejo (Tg 1,14). Deve dominá-lo e urna mudanga de senhor.
submeté-lo, como diz Deus a Caim (Gn 4,7). 6,21 A morte é o fracasso definitivo do
6,13-14 Frente a concepgóes gregas que homem, e arrasta ao fracasso todos os seus
consideram maus o corpo e o mundo ma- bens (SI 49; Dt 30,15).
CARTA AOS ROMANOS 472
terminarti na morte. 22Mas agora, emanci Quando o marido morre, fica livre di >vln
pados do pecado e escravos de Deus, vos- culo legal e nao é adúltera se se une com
so fruto é urna consacraci«) que desem outro. 4Da mesma forma vós, irmaos, polo
boca em vida eterna. “’Pois o salàrio do corpo de Cristo morrestes para a le i > |
pecado é a morte; o dom de Deus, por Je deis pertencer a outro: ao que ressusciiim
sus Cristo Senhor nosso, é vida eterna. da morte, para que déssemos frutos par i
Deus. 5Enquanto vivíamos sob o instin
C o m p a r a lo com o matrim onio to, as paixóes pecaminosas, incitadas p> l
7 — *Eu vos falo, irmaos, como a pes- lei, agiam em nossos membros e dáv.i
soas entendidas em leis: Nao sabéis que mos fruto para a morte. hMas agoi.i
a lei obriga o homem só enquanto vive? emancipados da lei, morrendo ao que no»
2A mulher casada está legalmente ligada mantinha presos, servimos com um espí
ao marido enquanto ele vive. Se morre o rito novo, nao segundo um código caduco
marido, fica livre da autoridade do mari
do. 3Se eia se une a outro enquanto o A condigáo pecadora-— 7Que concluí
marido está vivo, é considerada adúltera. mos? Que a lei é pecado? De modo ne
6.22 À “morte” (sem adjetivo) se opoe xonada, esta página é magistral. Como se
“vida eterna”. A morte é um fato definiti na porta de entrada e saída da consciénei.i
vo; a vida só é definitiva se perdura. estivesse á espreita uma fera, o Pecado, que
6.23 A “salario” (Is 59,18; 66,6) opóe “ameaga” o homem, e que o homem “deve
“dom” (Pr 18,16; 19,6), pois nao conside dominar” (ver a historia de Caim, Gn 4,1-8)
ra exigencia natural a vida eterna. Por outro lado, o fragmento está emol
durado por duas afirmagóes sobre a vit!;i
7,1-6 Libertario da lei. O tema da lei já segundo o Espirito, 7,6 e 8,2. O contexto
apareceu várias vezes, porque 6 urna preocu sitúa a perícope na experiencia de salv;i
pado de Paulo. A lei, urna vez promulgada gao. No fundo do seu pensamento está o
(por Moisés), obrigou o israelita, introdu- relato de Gn 2-3, que aparece por alguir.
ziu a figura do delito e, de fato, multiplicou detalhes da exposigáo.
os pecados. Essa lei continua obrigando os Quem fala na primeira pessoa? Nao é a
cristáos? Nao, porque interveio urna morte, pessoa de Paulo em confissáo autobiográ
e os mortos nao sao sujeitos da lei. Paulo fica; ao menos, nao descreve o que Paulo
introduz urna comparagáo jurídica, que apli sentia quando vivia como judeu fervoro
ca de modo assimétrico: no exemplo, é a viú- so, de estrita observancia farisaica. Paulo
va que fica livre, na aplicagáo é o morto. fala como personagem dramático, porta
Em compensatilo, indica urna imagem voz da humanidade, expressando uma ex
matrimonial, na qual Cristo ressuscitado é periencia comum. Ou entáo fala um per
o marido, o cristáo é a esposa, e a uniao é sonagem literário no qual Paulo projeta a
fecunda em frutos para Deus (Jo 15,8), desti experiencia sob a lei, tal como a contení
nado à vida (Ez 20,11). O contràrio da fecun- pía agora, da outra margem da libertagáo.
didade fatal das paixóes, ativadas pela lei, De que lei fala? Da lei natural? Náo c
que dáo frutos destinados a morrer (Tg 1,15). provável. Da tora antecipada até Adáo ou
7,6 A Lei, consignada num código exter até Noé? (Eclo 17,7; 45,5). Náo é esse o
no, nao personalizado (compare-se com Jr modo de pensar de Paulo (cf. 4,13-15; G1
31,31 e a espiritualidade de SI 40,9), man- 3,17-19). Refere-se á lei de Moisés, como
tinha-nos presos. Concluí introduzindo urna provam o texto e o contexto: antes da lei
nova oposigáo: Espírito/letra (código) e (7,9a), sob a lei (7,9b-24), depois da lei (7,
novidade/yelhice; ver a petigáo de SI 51,12. 25-8,29). O horizonte de Paulo é a lei ju
7,7-25 E este o trecho mais patético da daica; o horizonte do leitor pode-se deslo
carta. A luta já nao é externa, urna diatribe car para atualizar o texto. O importante é
contra os objetores fingidos, e sim interna, que o leitor se reconhega nesta página.
num desdobramento e dilacerado da cons 7,7 “Eu o conheci”: a lei, ao proibir, dá
ciencia, que acaba num grito de socorro. nome, abre os olhos, chama a atengáo para
Pelo que tem de introspecgáo lúcida e apai- o objeto proibido (como a serpente fez com
473 CARTA AOS ROMANOS
I va); incita, apresenta-o no seu aspecto tecido de oposiçôes e tensóes que só urna
valioso que provocou a proibigáo, exibe-o pergunta e urna exclamaçào conseguirâo
rumo desafio (os rabinos diziam que a lei resolver. No campo dos objetos, a oposi-
te p r im e os maus desejos). Cobigar é ter çào ética clàssica do bem e do mal (Dt
mo do decálogo: Ex 20,17 e Dt 5,21. 30,15; Is 5,20; Mq 3,1); a lei da razáo fren
7.8 Entole é o preceito singular, hamartia te à lei do pecado. No campo psicológico
i*a poténcia dominadora. Sem preceito nao do conhecimento opóe: nos consta, nao
está constituido o delito, e o Pecado está entendo, estou de acordo; no campo do afe-
inerte, porque nao tem onde exercer seu to, querer e detestar. Na constituiçâo do
poder. O preceito é sua grande oportuni- homcm, interior e membros, espiritual e
ilade: o que estava amortecido revive. carnal ou instintivo. Na ordem da açâo,
7.9 Eu vivia (tranqüilo, despreocupado) querer e executar.
sem a lei. Ao chegar ela á minha conscien 7,14 E espiritual porque seus conteúdos
cia, violei-a formalmente, advertidamente procedem de Deus, porque apela ao espi
(SI 19,14), e fui réu de morte (Ez 18,4). rito ou razáo do homem, ao passo que este,
7,10-11 A lei prometía condicionalmente pela força do instinto, se vende ao domi
vida (Lv 18,5; Dt 6,21 etc.). Entáo, o pecado nio do Pecado (SI 51,1).
se aproveita do preceito para enganar ou se- 7,15-16 O que quero sao aspiraçôes
tluzir e matar (Gn 3). Sem cláusula penal moráis que coincidam com os conteúdos
promulgada, nao se pronuncia sentenga da lei. Essas minhas aspiraçôes, embora
capital. A Morte aguarda sua oportunidade. sejam ineficazes, atestam o valor da lei.
7,12-13 A lei nao manda pecar, seu con- 7,17-18 Habita, se alojou e se instalou
teúdo é bom (Eclo 15,20). O bem nao é em mim (cf. SI 55,16), atua apesarde mim.
causa do pecado, mas ocasiáo; e assim nao 7.22 Um impulso natural, nobre, nous,
se revela a maldade intrínseca do Pecado: o leva a deleitar-se internamente na lei (SI
fica disfargado. Através dos verbos, é pos- 19,8-12; 119; 2Cor 4,6; Ef 3,16).
sível seguir o processo de hamartia perso 7.23 Dentro do homem se trava a bata-
nificada: está inerte, revive, se aproveita, lha, com caídos e prisioneiros de guerra
engana, mata, converte o bem em mal. (cf. Is 10,4; 42,7).
7,14-25 Continua a análise psicológica 7,24-25 Ao grito desesperado da derro
em forma de monólogo dramático, todo ta, responde o grito agradecido da vitória.
CARTA AOS ROMANOS 474
dessa condigáo mortal? ^Gragas a Deus, gao pecadora, para acertar contas cuty
por Jesús Cristo Senhor nosso! Em re o pecado; em sua carne condenou •
sumo, com a razáo eu sirvo á lei de Deus, Pecado, 4para que cumpríssemos a jir
com o instinto á lei do pecado. ta exigencia da lei, nós que nao proco
demos por instinto, mas pelo Espíritu
Vida pelo E spirito— ’Em conclu- 5De fato, os que vivem segundo o ¡ir,
8 sao, nao há condenagáo para os que
pertencem ao M essias Jesús. 2Porque a
tinto se inspiram no instinto; os que \ i
vem segundo o Espirito se inspirant m
lei do Espirito vivificante, por meio do Espirito. 60 instinto tende á morte. n
M essias Jesús, me emancipou da lei do Espirito tende á vida e á paz. 7Porque a
pecado e da morte. 30 que a lei nao tendencia do instinto é hostil a Deir.
podia, por causa da debilidade da con- pois nao se submete á lei de Deus ncm
digáo carnal, Deus o realizou enviando pode fazé-lo; 8e os que seguem o iir.
seu Filho, assemelhado á nossa condi- tinto nao podem agradar a Deus. 9Ma:.
Com mais força do que no esquema tradi Espirito de Deus ou do Messias se instala
cional de perigo — libertaçào — açâo de em nosso espirito como principio de vidn
graças (SI 40,2). nova. Primeiro, inspira aqóes concordc.
com ele; depois estende seu poder até vi
8 Chegamos ao ápice da carta, uma das vificar o corpo mortal. Vence a fragilida
páginas mais ricas e belas de Paulo, uma de ética e a caducidade orgánica do ho
página excelsa da literatura religiosa da mem. Salva o homem inteiro.
humanidade. O cap. está dominado pelo 8,2 Lei significa aqui um regime parti
Espirito/espirito, palavra que se repete 29 cular: poder, jurisdigáo e também o modo
vezes. Quem me livrará? gritava no final de exercé-los. Morte aliada com Pecado
do parágrafo precedente. Agora responde: impóem uma lei tiránica que escraviza o
o Messias, infundindo-me um novo prin homem. O Espirito, pela mediagáo do
cipio mais poderoso, o Espirito Santo que, Messias, impóe uma lei mais forte, que li
sem aniquilar o instinto, o submete e su berta todos os escravos e os destina á vida.
pera. Esta posiçâo induz uma explanaçào 8,3-4 A lei era impotente: primeiro, por
por oposiçâo dos dois poderes: Espirito e que mandava e proibia de fora sem comu
instinto (ou sensualidade),/«¡eumü/.va/'x. O nicar o vigor; segundo, pela resistencia ou
Espirito capacita para cumprir a lei e as- fragilidade do homem instintivo.
segurar a vida (cf. SI 51,12-14; Ez 36,27). Paulo enuncia claramente a preexistén-
8,1 Condenaçâo: em virtude das cláu cia de Cristo, enquanto Filho de Deus. A
sulas penáis da lei (Dt 27-28). “carne” é a condigáo humana mortal, é o
8,1-13 Apalavra grega sarx corresponde terreno onde o Messias enfrenta hamartia,
ao hebraico basar, que designa qualquer provocando-a para derrotá-la (cf. Is 8,9s;
ser vivo, em especial o homem, particu 14,25), sem contaminar-se e cumprindo
larmente como ser fraco e caduco. Paulo cabalmente o conteúdo válido da lei. A
emprega a palavra polarizada, oposta a “carne” humana é impotente; a carne hu
pneuma = espirito; pneuma pode designar mana de Jesús Cristo se expóe á agressáo
o espirito humano (com letra minúscula) mortal do Pecado, para vencer o Pecado
ou o divino (com letra maiúscula). Das morrendo, e a Morte ressuscitando.
diversas traduçôes propostas, “carne” des 8,5-7 O instinto é de conservagáo e de-
foca o significado, devido a nossos hábi senvolvimento, é também egoísmo e ego
tos lingüísticos; “baixos instintos” se apro centrismo. Mas o homem nao se realiza
xima bastante. Preferí “instinto” sem mais, pelo egoísmo, antes se consomé e fracas-
polarizado por Espirito. sa: tende á morte. Nao aceita os manda-
Pois bem, o instinto é um dinamismo mentos restritivos de Deus (cf. Gn 2,17),
no homem que inspira e promove açôes; considera Deus como rival (cf. Is 30,9-11).
mas, deixado a si, se opóe a Deus e con- 8,9 O Espirito do Messias é o Espirito
duz à morte definitiva (cf. Gn 6,3.5). O de Deus. E dom de Cristo aos que créem
475 CARTA AOS ROMANOS
ih Ir; portanto, se alguém nao o possui, é glória futura. A demora se explica porque
in.il ile que nâo é cristâo, nâo pertence a o herdeiro nao entra ¡mediatamente na
i nslo. É a petiçâo do SI 51,12-14 no novo posse da heranga. Compartilhar com Cristo
, iinlexto cristâo. nao exige repartir a heranga; exige, sim,
H, 10-11 O corpo é mortal (SI 39; 49; 90), compartilhar a paixáo (F1 3,10-11).
liir.lra o destino à imortalidade. Mas o 8,19-23 A interpretado destes vv. de
I i|iír¡to o supera com sua força vivificante, pende do significado atribuido a ktisis: cria
i|iir abrange também o corpo mortal (Ez gáo ou humanidade. A tradigáo exegética
i/), como se demonstro” na ressurreiçâo tem optado pelo primeiro. O correlativo
ilr Jesús Cristo (ICor 4,14; FI 3,21). “nós” e o contexto sobre escravidáo e li-
8,12-13 Mortificar significa dar morte; berdade, corrupgáo e gloria, fracasso e es-
ini objeto devem ser as açôes hostis a peranga, favorecem o segundo. Com ou-
I »rus e contrarias à vida crista. O Espirito tras palavras: a “nós”, os cristáos, se opóe
ilií forças para isso. o resto da humanidade; e náo a “nós”, os
X, 14-17 O Espirito nos faz filhos de homens, se opóe o resto da criagáo.
Deus e herdeiros. No AT Deus se mostra a) Se o sujeito é a criagáo inteira, Paulo
romo pai do povo: libertador (Ex 4,23), dá dimensáo cósmica á redengáo. Isto su-
nlucador (Dt 8,5), defraudado (Dt 32,6; póe que, com a queda do homem, a criagáo
Is 1,2; 63,8.16), afetuoso (Jr 31,20; Os inteira (também a estelar?) ficou submeti-
11,1), compreensivo (SI 103,13); pai do da á desordem e déla participa (o contrário
rei (SI 2 e 89,27s; 2Sm 7). Duas vezes, da distingáo que o salmo 104 propóe); ou
mim texto tardio, um individuo chama entáo supóe que a caducidade da criagáo
Deus de Pai (Eclo 23,4; 51,10). No NT a (SI 102,27) procede do pecado de Adáo
revelaçâo de Deus como Pai é centrai. (seria dilatar a sugestáo dos cardos de Gn
8,15-16 Duas testemunhas confirman! 3). A libertagáo desta criagáo escravizada
iiossa filiaçâo: nosso instinto filial ou “es estaría vinculada á doutrina do céu e térra
pirito de filhos”, que nos sugere o apelo novos (Is 65,17; 66,22; 2Pd 3,13).
afetuoso “abba", e o Espirito (cf. Do 4,18). b) Se o sujeito é a humanidade inteira,
8,17-18 Herdeiro: Gl 4,7; lPd 1,4. É fora os cristáos, Paulo formula o anseio
conseqiiència de sermos filhos, sem pro de vida e vida plena que todo homem aca-
blemas de exclusào ou preferencia: com- lenta no íntimo.
pare-se com os problemas de sucessào de Em ambas as hipóteses deve-se manter
(in 21,10; 27,36-38; Jz 11,2, e a sucessào que os cristáos formam um grupo á parte:
dinàstica (IRs 1; SI 45). Para terminar, sua redengáo está realizada, mas náo con
introduz outra oposiçâo que exporá no sumada. Falta algo substancial á sua filia-
parágrafo seguinte: sofrimentos presentes/ gáo divina: a glorificagáo também do cor-
CARTA AOS ROMANOS 476
po. Por isso, também os cristáos gemem e que é liberdade. Também o corpo pertni
esperam. Em ambas as hipóteses, a cria- ce à condigáo filial de filhos de Deus.
çâo/humanidade aparece com “a cabeça 8,24-25 Expressam a tensáo escatoló
voltada e expectante” (etimologia de apo- gica entre a salvacáo realizada e a penden
kara-dokia); com as dores de um parto que, te. “Ver” no sentido de ter diante e desfm
apenas com suas forças, nâo teria éxito (cf. tar. O texto chama “esperanza” o que lili,
Is 26,17s; 37,3). Será necessària uma nova com outro matiz, chamará “fé”.
açâo de Deus (cf. Jo 16,21; Ap 12). É pos- 8,26-27 Segundo uma interpretado, nao
sível que Paulo pense ñas clássicas “dores conseguimos (como crianzas) articulai
de parto” que anunciam a era messiànica. devidamente nossos desejos e necessitili
Alguma participaçâo da natureza na li- des, e o Espirito se encarrega de formula
bertaçâo do povo pode-se encontrar nos los; como o Espirito é dinamismo de a§ao,
salmos 96 e 98, em Is 35; 55,12s etc. também é dinamismo de oragáo. Segundo
8.18 E curiosa a oposiçâo. A sofrimen- outra interpretado, o Espirito acrescenla
tos nao opóe alegrías, como se poderia sua intercessáo “inefável” a nossas súpli
esperar da filosofía corrente. Opoe gloria, cas. Em ambas as interpretares, o Espi
uma qualidade divina que irradia e nos rito age como mediador eficaz: na prime i
atinge. Compare-se com 3,23. ra parece mais interior ao homem, na
8.19 Arelaçâo que propomos, entre hu segunda aparece fora. Poderíamos distin
manidade e cristáos filhos de Deus, é se- guir entre intérprete e intercessor (os dois
melhante à de Jr 31,9s, entre pagaos e Is compostos de inter-). Aquele que sonda c
rael filho do Senhor; ver também lJo 3,2. Deus (Jr 11,10; Pr 15,11).
*Ou: a criaçâo. 8,26 *Ou: com gemidos inefáveis.
8,20-21 Segundo esta explicaçâo, a cor- 8,28-39 O capítulo se encerra com esta
rupçâo ou condiçâo mortal é a última es- espécie de canto triunfal ao amor que Deus
cravidâo do homem (cf. ICor 15,26). Pois e Cristo nos tém. Por ele podemos vencer
bem, os filhos de Deus sâo livres por natu em qualquer processo a que nos subme-
reza; enquanto tais, nâo nasceram na escra- tam, podemos derrotar os inimigos mais
vidâo. E o argumento de Deus em Ex 4,23 fortes coligados. Embora o parágrafo co-
e Jr 2,14. Sua liberdade é gloriosa porque mece com o amor do homem a Deus, a
quem os adota lhes comunica sua gloria. iniciativa nao é do homem, pois foi Deus
8.22 “Dores de parto” indica às vezes a que comegou destinando e chamando (cf.
intensidade da dor e da angùstia, outras Dt 7,7-8; Jr 31,2).
vezes exprime a dor fecunda: compare-se 8,28 “Tudo concorre”. Alguns manus
Jr 4,31 com ISm 4,19-22. critos póem Deus como sujeito: o sentido
8.23 Se a corrupçâo é escravidâo, o es- nao muda. Ver em Gn 50,20 como Deus
cravo é “resgatado” para a imortalidade, converte o mal em bem.
477 CARTA AOS ROMANOS
i Iti li ., ilus cham ados segundo seu de- de Cristo: tribulagáo, angústia, perse
•Itfiiin "'Aos que escolheu de antemáo g u id o , fom e, nudez, perigo, espada?
•ImIIiioii o s a reproduzir a im agem de 36Com o diz o texto: P or tua causa so
«dii I illm, de modo que fosse ele o pri- m os p o sto s á m orte o día inteiro, tra-
Hintji'iiito de m uitos irm áo s.30A os que tam -nos com o ovelhas de matanga.
Iinviii destinado cham ou, aos que cha- 37Em todas essas circunstancias, so
>inni i i s fez justos, aos que fez justos mos mais que vencedores, graqas áque-
i» yloiilieou. 31Levando isso em con- le que nos amou. 38Estou convencido
•«, t|iic podemos dizer? Se Deus está de que nem m orte nem vida, nem an-
i | i i m u s s o lado, quem estará contra? jo s nem potestades, nem presente nem
"Ai|tiele que nào poupou seu pròprio futuro, nem poderes 3,nem altura nem
I llliu, mas o entregou para todos nós, p rofundidade, nem criatura algum a
. unió nao nos vai dar de presente todo nos poderá separar do am or de Deus
■i ir^o com ele? 33Quem será fiscal dos m anifestado em Cristo Jesús Senhor
ijiii' Deus escolheu? Se D eus absolve, nosso.
"iiiirm condenará? A caso Jesús Cris-
in, iu|iiele que m orreu e depois ressus- A escolha de Israel — 1Vou falar-
■Itiiu e está à direita de Deus e suplica
|iui nós? 35Quem nos afastará do am or
9 vos sinceramente como cristáo, sem
mentir; e o Espirito Santo confirma o tes-
8.29 A imagem de Deus (Gn 1,27), de destino de Israel: é uma digressáo injusti
limitada pelo pecado, se refaz como ima- ficada? integra-se na totalidade da carta? Á
gtini ou semelhança do irmáo mais velho. primeira vista, este bloco se insere sem tran-
i) unigénito do Pai e primogénito de Maria sigáo: depois de um final entusiasta e vi
11i' 2,7) será o primogénito da humanida- brante (8,38), vem um juramento solene. E
ilü, A fiiiaçâo é correlativa da fratemidade. verdade que nao há transigáo explícita; mas
8.30 O final de um processo de cinco o tema de Israel tem preocupado o autor
tuses é “glorificar”, ou seja, comunicar ao desde o comego, em seu reiterado binomio
lioinem sua gloria, vinculada agora à sua “judeus e gregos”, na ampia segáo dedicada
Imugem (que é o homem) e que nao pode aos judeus (2-3). Seria universal uma sal-
mir comunicada à falsa imagem, que é o vaijáo por Jesús Cristo que excluísse o povo
Idilio (cf. Is 42,8; 48,11). judeu? Aqui surge o enigma: que os judeus,
8.31 “Estar contra” e “acusar” ou ser fis- depois de esperar o Messias durante sácu
cul é em hebraico o verbo satan: ver o co- los, nao o tenham acolhido a sua chegada.
moço do livro de Jó e Zc 3. Podemos pensar que a presente segáo pre
8.32 Alude ao episodio de Isaac: Gn tende resolver o problema. Podemos tomá-
22,12.16; com sua atitude, o patriarca de- la como ilustragáo da doutrina e ao mesmo
monstrou seu “respeito a Deus”. tempo resposta a objegóes contra ela. Tam-
8,34 É como um credo sintetizado. Cita bém podemos pensar que Paulo interpela
SI 110,1 para expressar a exaltaçâo de Jesús. os cristáos de Roma convertidos do paga
8,36 Acitaçâo pertence a uma súplica co- nismo. Isto implica uma resposta sobre os
Ictiva (SI 44,11). O mesmo salmo (44,4) ex destinatários. Que Paulo se dirija polémi
plica a vitória pela açâo exclusiva de Deus. camente a judeus fechados ao evangelho e
8,37-39 A vitória de Jesús Cristo em Jo que comece captando-lhes a benevoléncia
16,33 é aqui vitória nossa, pelo amor que (9,1-5), nao explica a colocagáo, nem mui
Deus nos demonstrou na obra de Jesús Cristo. tos dados do texto. Mais provável é pensar
Diz o Cántico dos Cánticos (8,6) que “o amor que Paulo se dirige aos cristáos de Roma,
é forte como a morte”; Paulo está dizendo em sua maioria procedentes do paganis
que o amor é mais forte que a morte, que mo, para corrigir sua atitude frente aos ju
Deus nos ama para além da morte; conclui deus que recusam o evangelho.
mos que este amor é penhor de ressurreiçâo. Segundo essa opiniáo, Paulo descobre
naqueles cristáos o perigo da auto-suficién-
9-11 Numa carta que aborda um tema cia, a preocupadlo de justificar-se num jul-
fundamental, Paulo dedica très capítulos ao gamento comparativo com Israel, según-
CARTA AOS ROMANOS 478
temunho de minha consciencia. 2Sinto todos filhos; mas é em Isaac que omii
urna tristeza muito grande, urna dor in- nua tua linhagem. 8Isto é, os filhos mi
cessante na alma: eu por m eus irmáos, nais nao sao os filhos de Deus, mas s.i.i
os de m inha linhagem , 3desejaria es considerados sua linhagem os filh< iL
tar excluido da com panhia do Messias. promessa. 9A promessa soa assim: /'■>/
4Sáo israelitas, adotados como filhos de esse tempo voltarei e Sara terá um \i
Deus, tém sua presenta, as alianzas, o Iho. 10Ainda mais: Também Rebeca o >n
culto, as promessas, 5os patriarcas; de cebeu de um só, de Isaac, nosso patán
sua linhagem segundo a carne deseen- ca. n Portanto, antes que nascessem
de o M essias. Seja para sem pre bendi antes que fizessem algo bom ou man
to o D eus que está acim a de tudo. para que o designio escolhido por Den
Amém. se cumprisse, 12náo pelas obras, mas pi-ln
6Náo é que a promessa de Deus te- vocaijáo — , Rebeca recebeu um orácn
nha falhado. Pois nem todos os que pro- lo: o maior servirá ao menor. 13E assim
cedem de Israel constituem Israel: 7nem está escrito: Am ei Jacó, rejeitei Esau
por serem descendentes de Abraáo, sao 140 que diremos? Que Deus é injusto?
|ii iirnliiim modo! l5Ele diz a Moisés: ponham os que Deus quisesse mostrar
I h ilte compadeço de quem quero, te sua cólera e manifestar seu poder agüen-
tilla i'ii'ilude de quem quero. 16Ou seja, tando com muita paciencia objetos odio
Mrtn dépende de querer nem de correr, sos, destinados á destruigáo, para ma
mih'i tli- que Deus tenha piedade. 170 nifestar também a riqueza de sua gloria
Itmli) da Escritura diz ao Faraó: Com nos objetos de sua compaixáo, predis-
(<*rc objetivo te exaltei, para mostrar postos á gloria. 24Pois estes somos nós,
/‘lu ii minha força e para que minha aos quais chamou, nao só dentre os ju-
l,iiiiii se difunda por toda a terra. 18Ou deus, mas também dentre os pagaos.
* | , daquele que ele quer tem piedade,
ii ii 25Como diz Oséias: Chamarei o Náo-
Ai|iicle que quer endurece. 19Objetarás: povo de Povo-meu, e de Am ada a D esa
Coi (|iie ele se queixa, se ninguém pode mada; 26e onde antes Ihes dizia: nao
npor-sc à sua decisâo? 20E tu, homem, sois meu povo, a i se chamaráo filhos
•|iu'in és para replicar a Deus? Pode a do Deus vivo. 27Sobre Israel, Isaías pro
nlmi reclamar contra o artesâo porque clama: A inda que os israelitas sejam
,t fin assim? 21Nâo tem o oleiro liber- numerosos como a areia do mar, so-
ilmlc para fazer da mesma massa um mente um resto se salvará. 280 Senhor
nlijclo precioso e outro sem valor? 22Su- vai executar no p a ís a destruigáo de-
9,29 A mesma doutrina do resto perten- 10.1 Paulo pode rezar pela salvagáo dos
ce á próxima citagáo (Is 1,9), que acres- judeus, porque nao foram rejeitados poi
centa um componente afetivo da terrível Deus. Compare-se com Jeremías, a quem
experiencia. Deus proíbe interceder (Jr 14—15); na id
9,30-32 A justiga de que fala é a verten- tima ceia Jesus disse que náo orava pelo
te positiva de já nao ser culpado, de estar mundo (Jo 17,9).
em relagáo de amizade com Deus. Os ju- 10.2 “Zelo”: bom exemplo é o pròprio
deus quiseram consegui-lo por seu esfor- Paulo (At 22,3; Gl 1,13) e os que respon
go, como devido em justiga a seu desem- deram ao grito de Matatías (lM c 2,26s).
penho, e falharam; nao quiseram recebé-lo Mais tarde deu o nome a um movimento r
como dom, e ficaram sem ele. Os pagaos a um partido político: os “zelotas” (funda-
nao ofereceram nada mais além da sua fé mentalistas, integristas).
para aceitarem o dom. 10.3 Deve-se entender isto à luz do po
9,32-33 A imagem da pedra, composta sicionamento bilateral, a relagáo de duas
de duas citagóes (Is 8,14 e 28,16) corro partes em termos jurídicos. A parte culpa
bora a importancia da fé. A pedra é o Mes- da náo tem justiga/direito nem pode alegar
sias Jesús: de tropego para uns, de apoio méritos; a parte ¡nocente pode ceder sua
para outros; a diferenga está na fé. justiga e restabelecer relagóes pacíficas.
*Ou: nao caíram sob o indulto de Deus.
10 O tom pessoal e sentido no comego 10.4 Assim como em grego telos, “fim”
do capítulo precedente dá lugar aqui a um pode significar final e finalidade. É possí-
tom de controvérsia ou debate. Paulo ar vel que Paulo tenha querido jogar com a
gumenta com citagóes bíblicas, interpre polissemia. A lei antiga estava ordenada
tadas e aplicadas no estilo rabínico. ao Messias; chegado este, a lei cumpriu
O zelo religioso dos judeus por Deus e sua missáo e é abolida (cf. 2Cor 3,14). O
pela observancia era louvável, só que des Messias náo vem como agente da lei, para
medido e extraviado. O que era prometido impo-la universalmente.
ao cumprimento falhou por descumpri- 10.5 Lv 18,5 o enuncia, Ez 18 o comen
merito. A observancia tinha algo de esforgo ta em estilo casuístico. O correlativo táci
sobre-humano para trazer o Messias; mas to é que morrerá quem náo a cumprir.
nao era esse o caminho. O Messias veio, 10,6-8 A citagáo (Dt 30,12-14) pertence ao
sua mensagem foi pregada e está ao alcan discurso final de Moisés em Moab, no qual
ce do ouvido; a resposta é simplesmente a inculca a observáncia da lei, já acessível pe
fé, acessível ao coragáo e á boca. Tal é o la revelagáo de Deus. No lugar da lei, Paulo
designio de Deus, válido para judeus e pa coloca o Messias, e substituí a observáncia
gaos, que deve ser levado em conta pelos pela fé. A revelagáo é agora o grande arco
cristáos. Porque a conversáo nao é urna obra de descida e subida: encarnagáo — morte
que merega por justiga a salvagáo. e ressurreigáo — exaltagáo (cf. F1 2,6-11).
481 CARTA AOS ROMANOS
H iti ‘.i <t ) 7ou quem descerá ao Abis- boas noticias! 16Só que nem todos res-
.... ' (i >11 si'j;i, para fazer o Messias su- pondem á boa noticia. Isaías diz: Senhor,
iili i "c ) que acrescenta? A palavra está quem acreditou em nosso anuncio? 17A
,i.i ira alcance, na boca e no coraçâo. fé entra pelo ouvido, ouvindo a mensa-
I*i li h se a palavra da fé que proclama gem do Messias. 18Mas eu pergunto: Aca
mos ''se confessas com a boca que Je- so nao ouviram? Claro que sim: sua pre
■II', i Senhor, se crês de coraçâo que gando atinge a térra inteira, até os confins
I ii ir. h rcssuscitou da morte, tu te sal- do o universo suas palavras. 19Insisto: E
>MiAs "'C'om o coraçâo eremos para ser Israel nao entendeu? Primeiramente fala
lu i" ,, rom a boca confessamos para ser Moisés: Eu os enciumarei com um povo
ml vi is,l'pois a Escritura diz: Quem nele ilusorio, os provocarei com uma nacao
. iiii/iii nâo fracassarâ. I2E nâo hà dife- insensata. 2()Isaías se atreve a dizer: Fiz-
ii ni .i entre judeus e gregos; pois é o me encontrar pelos que nao me procura-
...... Senhor de todos, generoso com vam, apresentei-me aos que nao pergun-
h hlu s os que o invocam. Todo aquele tavam por mim. 21Referindo-se a Israel,
,/ii, invocar o nome do Senhor se salva- diz: O dia inteiro tinha as máos estendi
i,i " ( bntudo, como invocarâo, se nele das para um povo rebelde e desafiador.
min creram? Como crerâo, se nâo ouvi-
iniii falar dele? Como ouvirâo, se nin- O resto de Is r a e l— 'Pergunto:
iMinn Ihes anuncia? 15Como anunciarâo,
ne nâo os enviam? Como está escrito:
n D eus rejeitou seu povo ? De mo
do nenhum! Pois eu também sou israe
( hir helos os pés dos mensageiros de lita, da linhagem de Abraáo, da tribo
de Benjamim, 2Deus nao rejeitou o p o - nao ouvem, até o día de hoje. 9E I ).u i
vo que escolhera. Sabéis o que a Escri diz: Que sua mesa se torne uma arnni
tura conta de Elias, como ele ora a Deus dilha, uma rede, um tropego, um cti\u
contra Israel: 3Senhor, mataram teus go; 10que seus olhos fiquem escuro-, t
profetas, demoliram teus altares; sobrei nao vejam, que suas costas semprc s|
sámente eu, e m e procuran! para ma- en cun’em. ’’Pergunto: Tropegaram ;il4
tar-me. 4Que Ihe responde o oráculo? sucumbir? De modo nenhum! Só que <•
— R eservei-m e sete m il hom ens que tropego deles provocou a salvagáo di ■
nao dobraram o joelho diante de Baal. pagaos, provocando por sua vez os cm
5Do mesmo modo, hoje fica um resto mes daqueles. 12Pois se seu tropego n-
por eleigáo gratuita. 6Portanto, se é gra presenta uma riqueza para o mundo
tuita, nao se deve às obras, porque en- se sua ruina representa a riqueza dni
táo nao seria gratuita. 7Qual a conseqüén- pagaos, quanto mais será sua conver*
cia? Israel nao obteve o que procurava, sao em massa.
embora os escolhidos o tenham obtido.
Os outros se endureceram, 8como está Salvagáo dos pagaos — 13Agora me
escrito: Deus Ihes deu um espirito de tor- dirijo a vós, pagaos: Já que sou aposto
por, olhos que nao véem, ouvidos que lo dos pagaos, honro meu ministério,
sugerida a ele por alguns pagaos converti gao? Paulo estaría recordando o que so
dos? Sente que fluí de quanto está expli freu da parte de seus irmáos? (2Cor 11,26)
cando? Paulo é uma excegáo viva; o que Nao parece, a julgar pelo que se segue.
nao basta, porque confirmaría a regra (cf. 11,9 Citagáo de SI 69,22-23.
o arrazoado de Deus com Moisés em Ex 11,11-12 A atitude dos judeus tem sidu
32,14-19). Nao basta um caso único, como benéfica para os pagaos e nao é definitiva
nao bastava o caso de Elias — “só eu fi- Paulo matiza o vocabulário, distinguindo
quei”. Deus lhe assegura que em Israel tropegar, cair e sucumbir, opondo diminuí
(reino setentrional) resta um grupo nume gao e plenitude (aliterados em grego). Est.i
roso de “sete mil” fiéis (IRs 19). O que última antítese pode referir-se ao número,
aconteceu entáo se repete agora: os Atos alguns/todos, ou á qualidade, fracasso/éxi
dáo testemunho de muitas conversóes de to. O contexto próximo fala de número c
judeus (At 14,1), e Tiago fala hiperbólica também de situagáo. “Provocar ciúmes”:
mente de dezenas de milhares (At 21,20). tomado do cántico de Moisés, Dt 32,21.
A igreja de Roma contava certamente com 11.13-24 E a explanagáo do paradoxo que
judeu-cristáos. acaba de enunciar, mudando o alvo. Do que
11,5-6 Mas Paulo aproveita o exemplo Paulo disse, os cristáos procedentes do pa
bíblico de Elias para observar que a elei ganismo nao devem tirar conseqüéncias
gáo foi iniciativa gratuita de Deus, “reser abusivas, como seria desprezar os judeus
vei-me...”, nao conseqüéncia da fidelida- ou prescindir deles, cultivar um sentimen-
de dos javistas. Assim conduz o raciocinio to de superioridade com definhamento da
ao tema reiterado da graga: gratis, gratuito. fé (v. 20); isto implicaría esquecer a graga
11,8-10 Restam os outros, os que resis- e cair em outra forma de religiosidade de
tem: Paulo os encontra em suas viagens. obras. Explica isso com duas imagens bre
Também isso estava previsto, como prova ves e outra mais elaborada.
uma combinagáo de citagóes da lei, profe 11.13-14 Parece retomar nestas linhas o
tas e salmos, devidamente aplicadas ao propósito da visita anunciada no comego
caso precedente. Dt 29,3 pertence aos dis da carta: “comunicar-vos algum dom espi
cursos fináis de Moisés, depois das expe ritual que vos fortalega... partilhar o conso-
riencias do éxodo e do deserto; coincide lo da fé” (1,11). O “enviado aos pagaos”
com a fórmula de Is 29,10; o Salmo 69 é continua sendo e sentindo-se judeu, pode
uma súplica de um perseguido, que inclui falar com autoridade e experiéncia. Ao fa-
uma invectiva contra seus perseguidores. lar aos pagaos, obliquamente se dirige a seus
Tem intengáo polémica esta última cita- compatriotas.
II ((, 483 CARTAAOS ROMANOS
11.15 “Rejeigáo”: o sujeito náo é Deus que é Deus quem planta e fomece a seiva
negou-o em 11,1 — , e sim os judeus (Is 60,21; SI 80,9).
i|iir náo aceitaram Jesús como seu Mes- 11,18 Náo se enxerta oliveira silvestre
jiiis. Daí seguiu-se a paixáo que “reconci- em oliveira boa, e sim o contràrio. Paulo
Ihni o mundo” com Deus. Quando o acei- contrapóe a doméstica á silvestre. A eco
iait-m, promoveráo para si e para outros nomía do AT de algum modo sustenta a
ii1. frutos da ressurreigáo, ou seja, “vida a do novo.
partir da morte”. 11,19-20 E a fé que decide, náo as obras,
11.16 Duas comparagóes paralelas ilus- e no regime de fé náo há distingáo; a falha
11 .un a relagáo de urna parte privilegiada de alguns sirva de advertencia (cf. Jr 49,
ruin o resto. Consagrar as primicias (Dt 12), para náo se envaidecer.
Vi; Ne 10,36s) era um rito que consagra- 11,21-22 A fé é resposta á “bondade”
v;i a totalidade, era reconhecer a fecun- de Deus, que aqui substituí a graga; a fé
ilnlade da térra como dom de Deus. A raiz deve manter-se sob o regime dessa mes-
r o “radical” que define a natureza da ár- ma bondade; pois quem sai da fé cai no
vnre (cf. SI 92,13s). Aaplicagáo é duvido- regime de severidade (cf. Jr 49,12).
n i; ; talvez os judeus convertidos sejam as 11,23-24 A severidade náo é o definiti
primicias e os patriarcas a raiz. Histórica vo: a bondade pode mais; por eia, e náo
mente poder-se-ia considerar primicias o por méritos, há esperanga para os ramos
|iovo primo-génito (Ex 4,23). separados.
11.17 A terceira imagem é tirada da hor 11,25 Quem descobre algo investigan
ticultura, e sua explanagáo e seu posicio- do pode gloriar-se do seu saber; quem re
namento náo sao correntes. Será intencio cebe a solugáo secreta náo pode gloríar-se
nal a incoeréncia, para mostrar a agáo livre de penetragáo. Paulo vai comunicar um
e paradoxal de Deus? ou explora o autor a segredo que convida à humildade e á es
imagem básica tirando déla tragos diver peranga.
gentes? A segunda hipótese corresponde 11.26-32 O segredo é a futura conver
mclhor ao estilo de Paulo. Náo é raro no sáo corporativa dos judeus. Quando e
AT comparar o povo escolhido com urna como náo o revela.
planta: um álamo (Os 14,6), urna figueira 11.26-27 Cita Is 59,20s, retocando a
(.Ir 8,13), carvalho (Is 61,3), urna oliveira versáo grega e acrescentando uma varian
(.Ir 11,16; Os 14,17); é importante notar te de Jr 31,34.
CARTA AOS ROMANOS 484
conform e o escrito: D e Sido sairá o li foi seu conselheiro? 35Quem Ihe den / <ii
bertador para julgar os crimes de.facó. m eiropara receber em troca? 36A|>íhn>
21E ste será o meu pacto com eles, quan dele, por ele, para ele tudo existe. A •!.
do eu perdoar seus pecados. 28Com o a gloria pelos sáculos. Amém!
critèrio do evangelho, sao inimigos para
o nosso bem; pelo critèrio da escolha, Normas de vida cristá — ]A j.mi
sao amados, em atengao aos patriarcas. ra, irmáos, pela misericordia .1.
29Pois os dons e o chamado de Deus sao Deus, eu vos exorto a vos oferecenl. >
irrevogáveis. 30C om o vos no passado como sacrificio vivo, santo e aceitávol
nao obedecíeis a Deus, e agora, pela de- seja esse o vosso culto espiritual. 2Nau
sobediéncia deles fostes tratados com vos ajustéis a este mundo, e sim trann
piedade, 31da mesma forma eles no m o formai-vos com uma mentalidade nov.i.
mento desobedecen!, ao passo que de para discernir a vontade de Deus, o qm
vós se compadecem, e um dia se com- é bom, aceitável e perfeito. 3Apelando
padecerao também deles. 32Pois Deus ao dom que me fizeram, oirijo-me a c¡t
encerrou a todos na desobediéncia, pa da um de vossa comunidade: nao ti
ra compadecer-se de todos. 33Que abis nhais pretensóes desmedidas, mas ten
mo de riqueza, sabedoria e prudencia dei á medida, cada um segundo o gran
de Deus! Quáo insondáveis suas deci- de fé que Deus lhe designou.
sóes, quáo impenetráveis seus caminhos! 4É como num corpo: temos muiio
MQuem conhece a mente de Deus? Quem membros, nem todos com a mesma fun
11,28-29 Se olharmos a partir da nossa tá. Exortagáo, nao mandamento nem sim
perspectiva de pregadores do evangelho, pies instrugáo. Paulo nao propóe um código
os judeus se tém mostrado hostis (os Atos articulado de preceitos. Tampouco se entre
o documentam); se olharmos a partir das tém nuraa sèrie de conselhos sapienciais
perspectivas de Deus que elege, os vemos no estilo de Tb 4. Atreve-se a propor seu
como eleitos, pela promessa feita a Abraáo: conselhos como ajuda para encontrar .i
veja-se a argumentagáo de Moisés ape vontade de Deus. Dois pontos se destacani
lando aos patriarcas (Ex 32,13). “Irrevo- a norma da fé e a primazia da caridade.
gável”: como diz um oráculo de Balaáo
(Nm 23,19) e um profeta promete (Is 54,10). 12 ,1 Uma conduta cristá tem sentido
11,30-31 Segundo um processo alterna cultual, valor de sacrificio que Deus acei
tivo semelhante ao de Ez 18. ta. Ver Eclo 35,1-3 sobre equivaléncias c
11,32 Principio audaz, paralelo ao de G1 Jo 4,23 sobre o culto espiritual.
3,22. 12.2 Para conhecer a vontade de Deus
11,33-36 Encerra a exposigáo com uma náo basta a lei, que é genérica, nem as in
doxologia ampia ou com um hiño minús terpretagóes de tipo casuístico; é preciso o
culo, exaltando a sabedoria do designio discernimento entre coisas boas e melho-
salvador de Deus (Is 40,13; Jó 11,6; 15,8). res; e o discernimento correto exige uma
Pela revelagáo o homem descobre um abis mudanga de mentalidade, um distancia-
mo, cuja profundidade pressente, mas que mentó dos critérios do mundo (Tg 4,4).
nao pode medir nem sondar. O mistério 12.3 Paulo joga com a raiz de phronein
sempre será maior que a capacidade hu que é componente de sophrosyne = tempe-
mana (SI 139,6). ranga, uma das quatro virtudes cardeais. A
11,36 A fórmula nos diz o sentido últi “medida” pede uma norma ou parámetro:
mo de tudo (sentido = diregáo). Podería- para o cristao, o grau ou proporgáo de fé. O
mos traduzi-la em categorías temporais: homem pode ser des-medido, des-mesura-
comego, curso e final, que correspondent do, náo só elevando-se frente a Deus, mas
ao “era, é e será” de Ap 1,4. também invadindo terreno alheio.
12,4-5 O tema da proporgáo se ilustra
12-13 Á parte doutrinal da carta, acres- com a comparagáo do organismo (desen
centa uma exortagáo sobre a conduta cris- volvida em ICor 12): a medida do órgáo é
485 CARTA AOS ROMANOS
uflu, nssim, embora seiamos muitos, ninguém paguéis mal com ma\,propon-
fiiiiiiiimos com Cristo um só corpo, e de-vos fa zer o bem que todos aprovam.
«mi n'lugáo aos outros somos membros. 18Na medida do possível, de vossa par
I Ihi’tiu >s os diferentes dons que possuí- te, vivei em paz com todos. I9Náo vos
Hiim segundo a graga que nos foi conce- vingueis, queridos, dai lugar ao casti
illiln por exemplo, a profecia regulada go de Deus. Pois está escrito: M inha é
|wln le; 7o servido para administrar; o a vinganqa, eu retribuirei, diz o Senhor.
Mihinamento, para ensinar; 8o que exor- 20Porém, se teu inimigo tem fome, dá-
in, cxortando; o que reparte, com gene- Ihe de comer, se tem sede, dá-lhe de
niKiil.iile; o que preside, com diligen beber; assim o fa rás corar de vergo-
cia. o que alivia a dor, com bom humor, nha*. 21Náo te deixes vencer pelo mal,
'i (»mor seja sem fingimento: detestan mas vence o mal com o bem.
do o mal e apegados ao bem. 10O amor
liiiicrno seja afetuoso, estim ando os O bediéncia as autoridades —
uniros mais que a si mesmo. u Com zelo *Que cada um se submeta as au
liiennsável e fervor de espirito servi ao toridades constituidas, pois toda auto-
hrnhor. 12Alegrai-vos com a esperan- ridade procede de Deus; ele estabele-
1, 11, sede pacientes no sofrimenío, per- ceu as que existem . 2Por isso, quem
slMlentes na oragáo; 13solidários para resiste á autoridade resiste á disposigáo
i nin os consagrados em suas necessi- de Deus. E os que resistem arcaráo com
iliules, praticando a hospitalidade. 14Ben- a própria pena. 3Os governantes nao
dlzei os que vos perseguem, bendizei e infundem medo aos que agem bem, mas
Hilo amaldigoeis. 1=Com os alegres ale- aos malfeitores. Queres nao ter medo
utai-vos, com os que choram chorai. da autoridade? Faze o bem e terás sua
’•'Vivei em mutua concordia. Nao aspi- aprovacao, Visto que é ministro de Deus
icis grandezas, mas igualai-vos aos hu para teu bem. Mas, se ages mal, teme,
mildes. N ao vos consideréis sábios. 17A pois nao é á-toa que em punha a espa-
mía funcáo no conjunto. O organismo é uno 12.18 Paz: Hb 12,14 e a sétima bem-
« plural: o principio de unidade é Cristo. aventuranga (Mt 5,9).
I )aí a dupla relagáo de cada membro: com 12.19 Vinganga: Lv 19,18; Dt 32,35.
»cu principio e com os demais membros. 12.20 Tirado de Pr 25,21s, com o enig
As fungóos sao os dons recebidos. mático modismo “amontoar brasas sobre
12,6-8 Comega urna série que nao pre a cabega”, que traduzo conjecturalmente,
tende ser exaustiva, nem deve desintegrar guiado pelo sentido. Outros, com menos
a unidade. A profecia se destina á fé, nao a coeréncia, o referem ao castigo, segundo
satisfazer a curiosidade. Parece que a “par- SI 11,6. *Literalmente: amontoarás bra
lilha” nao pede medida e sim generosida- sas sobre sua cabega.
dc; ao passo que o “bom humor” é medida
ila compaixáo. 13 ,1-6 Sobre a obediéncia devida as au
12,9 Sem fingir: lTm 1,5; lPd 4,10s. toridades civis. No ano da carta (57/58) já
12,11 “O Senhor” designa provavelmen- reinava Ñero (54-68), mas ainda nao havia
le Cristo. estourado a perseguigáo violenta contra os
12.14 Ver Mt 5,44; ICor 4,12. Pode ex cristáos. O autor supóe que as autoridades
cluir também a súplica e ainda o apelo á sao legítimas e honestas; escreve a urna
justiga vindicativa; quer dizer, supera a comunidade minúscula que vive na grande
espiritualidade de alguns salmos. capital do grande império. Pr 8,16 atribuí á
12.15 Ver Pr 25,20 e Eclo 7,34. Sensatez personificada o capacitar para o
12.16 Embora nao o diga expressamen- govemo; Sb 6,1-11 insiste na responsabili-
te, implica que a humildade favorece a dade das autoridades diante de Deus; se
caridade (Pr 3,7; Is 5,21). gundo Jr 27,6, é o Senhor quem confere
12.17 Mal com mal: SI 37; Pr 20,22; autoridade a Nabucodonosor. O governante
24,29. é ministro de Deus “para o bem” do honra
CARTA AOS ROMANOS 486
iiinao e valorizá-lo como o valorizou Je- a liberdade promulgada por Cristo. O que
,ns Cristo, que deu a vida por ele. A apli- em nada diminuí o heroísmo dos mártires
i ai,ao tem urna parte negativa, nao julgar no regime do AT (2Mc 7).
■>ini tro, porque o julgamento compete ex- 14,3-4 Sao as duas tentagóes sutis, que
ilusivamente a Deus; nao escandalizar o se superam contemplando a bondade de
■miro, por respeito á sua fraqueza; e tem Deus que acolhe a todos; e como Senhor
•mira parte positiva: ajudar a levar os far- de cada um, o julga e o sustenta. Veja-se a
ilos e procurar a paz. distingáo segundo Eclo 33,7-9.
Pois bem, com toda a sua compreensáo 14,6 Dar gragas pelo que se come, seja
c liondade, Paulo nao deixa de afirmar que o que for, é reconhecer que é bom e que é
o escrupuloso está enganado, é fraco na fé, dom de Deus (cf. Is 62,9).
<•Ihe sugere dados para que mude de menta- 14,7-9 Senhor é aqui título de Cristo,
lulade. Paulo nao justifica a consciencia segundo a confissáo crista primitiva; está
meticulosa, mas admoesta a conscien ligado ä ressurreiqäo (F1 2,5-11). Só Se
cia madura, tentada de soberba. Em últi nhor dos vivos? (Mt 22,32); também Se
ma instancia, é Deus quem “acolhe, sus nhor dos mortos, para a vida. A morte fica
tenta e julga”. assumida na experiencia crista, grabas ao
Os vv. 7-9 dominam a perícope e se des- fato de Jesus ter experimentado a morte e
lirendem déla como programa de existén- té-la vencido ressuscitando.
cia crista. 14.10 Comparecer depois da morte (Hb
9,27; At 17,31).
14.1 “Fraquejam na fé”: porque ne- 14.11 Citagao de Is 45,23.
cessitam apoiá-la em observancias. E as 14,14 Quer dizer, a impureza legal é urna
observancias se apóiam em raciocinios qualidade que o homem projeta no objeto.
equivocados. Para o momento, é melhor Recorde-se a visáo de Pedro no episodio
"acolhé-lo” sem entrar em discussóes com de Cornélio (At 10-11).
ele, relegando o desacordo a outra zona 14,17 A “justiga” de nossa relagáo com
ou momento. Deus, a “paz” com Deus e com o próxi
14.2 Nao é mais forte quem se atém a mo, a “alegría” que o Espirito infunde na^..
observancias dietéticas, mas quem aceita consciencia. j er
CARTA AOS ROMANOS 488
14,20 Obra de Deus é a comunidade e do por própria iniciativa; em outros termi r..
cada membro déla. fidelidade ás promessas feitas aos patriai
14,22-23 A consciencia pessoal se con cas. Deus deve a si mesmo essa fidelidade
fronta a sos com Deus; mas nao pode pres à palavra dada. Asegunda é iniciativa pura,
cindir das exigencias sociais. Compare-se ato livre de misericordia em favor dos pagaos,
a bem-aventuranga com SI 32,2. A fé é a que nao eram beneficiários de urna promes
convicgao da consciencia iluminada. sa. Logicamente, prometer é ato de mise
ricórdia, cumpri-lo é ato de fidelidade.
15,1 Ver G1 6,2. A iniciativa de Deus é única, bifurca-se
15.3 Ver SI 69,9 aplicado a Cristo. na realizagào histórica e volta a unir-se n i
15.4 Ver lMc 12,9. Consolar era oficio realidade da Igreja. Comenta a vocado dos
do arauto ou “evangelista” (Is 40,1); a Es pagaos com várias citagóes. A primeira (SI
critura, como palavra inspirada, pode conso 18,50), posta na boca de Davi, é um grande
lar eficazmente. Parecem opostos e sao com salmo de agáo de gragas; a segunda perten
plementares: paciencia (sofrer) e consolo. ce ao chamado càntico de Moisés (Dt 32,
15,7-12 Parece recapitulado ou conclu- 43); a terceira faz parte do brevissimo Sal
sáo dos caps. 9-11. A chave do sentido está mo 117; a quarta pertence a urna adido tar
na distingáo entre fidelidade e misericor día ao poema de Isaías, vinculada ao Mes
dia. Com toda probabilidade, as duas pa- sias (11,10).
lavras gregas, aletheia eleos, respondem 15,13 Ressoa o tema da esperanza neste
ao binomio hebraico hesed w ’emet que v. que poderia ser a saudado final, a con
Yhwh pronuncia na sua auto-apresentaqáo clusáo de toda a carta. Mas antes retoma o
(Ex 34,6); repete-se como fórmula litúr tema da projetada viagem a Roma. Depois
gica e em múltiplos contextos. de mencionar o ministério de Cristo, na
Paulo interpreta a primeira como fideli conclusáo apela a Deus (Pai) e ao Espirito
dade ou lealdade ao compromisso contraí Santo, junta a fé e a esperanza.
III II 489 CARTA AOS ROMANOS
1 6 Sobre saudagóes táo ampias e deta- 16,20 Sata personifica ou encarna tudo o
lhadas, veja-se a introdugáo. que se opoe ao designio de Deus com o
16,3-5 Isto supóe que os exilados tinham evangelho. O Deus da paz destruirá o semeador
voltado a Roma e que ai dispunham de de discordias (cf. Gn3,15; Me 1,13; Le 10,18).
meios para oferecer sua casa a urna comu 16,23 Alguns manuscritos acrescentam:
nidade. 2'Que a graga de nosso Senhor Jesús Cris
Esta última recomendagao pa- to esteja com todos vós.
s-escrito. 16,15-17 A doxologia recapitula temas
»u: simples. da carta e de outros escritos. O “único sá
di. colhe o dito em 1,5. bio” (segundo Eclo 1,8).
PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
INTRODUgAO
<orinto era na antigiiidade urna ci- urna comunidade crista. A mensagem
ih/</<■ privilegiada p o r sua situaqào: de Paulo era boa noticia para eles, pois
mu \ dois portos, abertos a dois mares, Ihes devolvía a dignidade humana e
iiln iam-se ao nascente e ao poente, Ihes infundía esperanqa.
i onvertiam-se em encruzilhada ou p on A julgar pelos documentos, a nenhuma
te comercial e cultural entre A sia eE u - com unidade Paulo dedicou tanta aten-
mpii. Arrasada p elos rom anos (147- gao e tantos desvelos. Em certo sentido,
l-Ki a.C.), fo i reconstruida com grande Corinto fo i a igreja paulina po r exce
¡■splendor (45 a.C.), dotada de edificios lencia. Evangelizar Corinto era anunciar
suntuosos e facilidades portuárias. Foi a boa nova a todas as nagóes, congre
irpovoada em grande parte por colonos gadas e irrequietas. Era experimentar
ila Itália, aos quais se som avam rapi- o encontro ou choque entre evangelho
ilmnente cidadàos de muitas nagóes. e paganism o; depois disso, o rápido e
l'unto assim que os gregos eram m ino bem sucedido crescimento de urna co
rili. Era urna cidade cosmopolita, com m unidade de recém-batizados. Plantas
número m uito elevado de escravos, e tenras expostas ao paganism o envol
rom presenga considerável de judeus. vente, com suas doutrinas e maus cos-
i.m 2 7 a.C. fo i nomeada capitai da pro tumes, impedidas pelo peso de sua vida
vincia romana da A caia (Grècia). A passada tao próxima.
prosperidade econòmica se unia a vida Conhecem os a ocasiáo da carta pela
licenciosa: seu principal tem plo era própria carta. Paulo se encontrava em
dedicado a Afrodite, e nele se pratica E feso (54-57), evangelizando a gran
va a prostituigáo sagrada (a isto alude de capital m arítim a da A sia e as ci-
6,15-20); Corinto era a cidade do pra- dades vizinhas, quando Ihe chegaram
zer. A i se celebravam periodicam ente más noticias de Corinto. Escreveu-lhes
os jogos ístmicos. Era também confluen urna prim eira carta, hojeperdida (IC or
cia de religióes e cultos dispares, leva 5,9); surgiram outras noticias alar
dos po r moradores heterogéneos e por mantes: de divisóes internas e escán
pregadores itinerantes. dalos na comunidade. A s noticias che
Paulo chegou a Corinto depois de seu garam a co m panhadas de consultas
fracasso em Atenas (At 18,1), para en sobre p ontos de doutrina e costumes.
trar fraco, tendo apenas seu evange- P aulo respondeu com a que hoje cha
Iho, naquele fervedouro de homens e mam os prim eira carta aos Corintios.
culturas: um pregador de mais outro N inguém duvida de sua autenticidade
culto o rientai ainda m ais estranho. paulina; o m ais que adm item ou con-
Acolheram-no Aquila ePriscila, um ca cedem alguns é alguma moderada ela-
sal de judeus convertidos ao cristianis boragáo posterior.
mo, exilados de Roma pelo edito do im A ocasiáo diz algo da composigáo da
perador Claudio (49 d.C.). A i ficou o carta, como se pode deduzir no texto,
apóstolo um ano e meio. Rejeitado p e mas diz muito pouco sobre o conteúdo.
los judeus (segundo o esquema de L u Porque Paulo, atacando abusos e resol-
cas), recrutou convertidos sobretudo vendo dúvidas, se remonta a alturas ver
entre os plebeus e escravos da cidade, tiginosas e desee a profundidades m is
e os preparou para fo rm a r com eles teriosas de doutrina. Sem pretender,
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 492 INTRODUCA!
1.1-9 Aintrodugáo à carta contém, corno sus (cf. Jo 17,17.19; veja-se a fórmula
ile costume, saudagáo e agáo de gragas. Na “consagrou os seus chamados”, Sf 1,7;
•.midagao mencionam-se remetente e des- outras consagragóes Dt 15,19; Jr 1,5). A
linatários; a agáo de gragas é específica saudagáo se estende a todos os cristáos de
ncsta carta. Pode-se notar no grego o jogo outras igrejas, cuja identificagáo comum
rom a raiz kal- à qual pertencem chamar consiste em invocar como Senhor (Kyrios)
(vv. 1,2.9), invocar (v. 2), igreja (= convo- Jesús Cristo (cf. J1 3,5; F1 2,11). “Graga e
cagao, v. 2). A raiz kar- pertencem graga paz”, junta a saudagáo grega com a he
(vv. 3.4), dar gragas (v. 4) e dom ou carisma braica numa dimensáo nova. Sóstenes é
(v. 7). Nota-se também a presenga domi provavelmente aquele mencionado em At
nadora de Jesus Cristo, mencionado nove 18,17.
vezes em nove versículos mais um prono 1,4-8 A costumeira agáo de gragas se
me: todo o sentido do evangeiho é orien- concentra em dons particulares com que
lar para a pessoa de Jesus Cristo. Comega foram enriquecidos, carismas de falar e de
na “consagragáo” (batismal), terminará na entender, dos quais se ocupará na carta
“manifestagáo”. O nome de Deus, que se (caps. 12 e 14). Esses carismas tém urna
pronuncia assim quatro vezes, identifica fungáo no presente, mas ficam orientados
se como “Deus, Pai nosso e de Jesus Cris e submetidos á “manifestagáo” última de
to” (v. 3); correlativamente Jesus Cristo é Jesús Cristo, quando chegar “seu dia” (cf.
seu Filho (v. 9). Am 5,18; J1 3,4). O “testemunho de Cris
1.1-3 A saudagáo se dirige a urna igreja to” equivale ao evangeiho proclamado, que
locai, aludindo a outras igrejas. Paulo se recebeu confirmagáo com os carismas e
apresenta com seu título de apóstolo ou que por sua vez confirmará os que créem.
enviado; como embaixador, menciona o 1,9 Deus é fiel (título divino em Dt 7,9;
nome e título de quem o envia, “Jesus Is 49,7), para dar arremate ao que foi cc
Messias”. O cargo procede da decisào de megado (SI 138,8). O cristáo entra em cc
Deus, que o chama, é sua “vocagáo” (como munháo com o Filho de Deus e por ek
a dos profetas no AT). A eia corresponde a com o Pai (lJo 1,3). O posicionamento
“vocagào” à “santidade” dos cristaos de cristológico e eclesiológico desta introdu-
Corinto (que atualiza o chamado à santi gáo marca e orienta toda a carta.
dade de todo o povo, no Levitico). Pelo 1,10-17 O primeiro assunto que Paulo
batismo ficaram consagrados a Cristo Je- trata sao as divisoes e rivalidades em sua
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 494
feita concordia de pensam ento e de guém pode dizer que foi batizado m
opiniâo. "P o is fiquei sabendo, irmâos vocando meu nome. 16Bem, batizei lain
meus, pelos de Cloé, que existem dis bém a familia de Estéfanas; porém, qu<
cordias entre vos. 12Refiro-me ao que ca eu saiba, nao batizei mais ninguém. I >■
da um anda dizendo: Eu sou de Paulo, fato, o M essias nâo me enviou para bu
eu sou de Apolo, eu sou de Cefas, eu tizar, mas para anunciar a boa notíci.i,
sou de Cristo. I30 Messias está dividi sem qualquer eloqüência, para que n;n >
do? Foi Paulo crucificado por vos, ou se invalide a cruz do Messias.
fostes batizados invocando o nome de
Paulo*? 14Graças a Deus, batizei so- A mensagem da cruz — 18Pois a men
mente Crispo e Caio; 15dessa forma nin- sagem da cruz é loucura* para os que
• |" nlrm; para os que se salvam é for- para os cham ados, judeus e gregos, um
r .1. Deus. ‘‘'Com o está escrito: Aca- M essias que é força de Deus e sabedo
i d i n n sabedoria dos sábios ria
e de Deus. 25Pois a loucura de Deus é
,, ntluiiilin’i a inteligencia dos inteligen- mais sábia que os homens, a fraqueza
i, - "< )mlc há um sábio? Onde um letra- de Deus é mais forte que os homens.
1.1 ’ <)mle um investigador deste mun- 26O bservai, irmáos, vós que fostes
i" ’ I >cus nao converteu em loucura a chamados: nao m uitos sábios humana
«tiln ili >■ia mundana? 21Como, pela sá- mente, nao m uitos poderosos, nao mui
111.1 ilisposigáo de Deus, o mundo com tos nobres; 2/ao contràrio, Deus esco-
,ii,i sabedoria nao reconheceu a Deus, lheu os loucos do mundo para humilhar
I irus dispós salvar os fiéis pela loucu- os sábios, Deus escolheu os fracos do
iii* ila cruz. 22Porque o sju d eu s pedem m undo para hum ilhar os fortes, 28Deus
,ni,iis, os gregos procuram sabedoria, escolheu os plebeus e desprezados do
,in passo que nós anunciam os o Mes- mundo, os que nada sao, para anular os
iiiis crucificado, escándalo para os ju- que säo alguma coisa. E assim nin-
I
i imis , loucura para os pagaos; 24mas guém poderá orgulhar-se diante de Deus.
,. ni ido á vida. Vários textos tardíos do AT 1,19 Acitaçâo une urna frase polémica do
hlriilificam hokma com tora, sabedoria profeta contra a falsa prudéncia de conse-
■mu lei (p. ex. Eclo 24; Br 3); sábio ou lheiros políticos (Is 29,14) e urna frase sobre
iloiilor é o estudioso e intérprete da lei o fracasso dos planos políticos (SI 33,10).
(líelo 39,1-11). Paulo identifica a sabedo- 1.21 Paulo se compraz num jogo aperta-
i i.i com o projeto paradoxal do Pai e sua do de correspondencias. Pode dar idéia um
ii ;iliza§áo por meio Jesús Cristo. decalque do grego: “já que pela sabedoria
Osjudeus esperam um Messias triunfa de Deus o mundo nao conheceu a Deus pela
dor (nao o Servo de Is 53): um Messias sabedoria, Deus dispos...”. *Ou: o absurdo.
instigado é para eles urna mensagem es 1.22 Ver Mt 12,38 par.
candalosa. Para os gregos (que cultivam o 1,24 “Os chamados”: retorna a desig-
saber, filo-sofia) um salvador sentenciado naçâo do prólogo ( 1,2).
e absurdo: quem nao se salvou a si, mal 1,26-31 Esse paradoxo, força do fraco,
poderá salvar outros. A cruz denuncia a se prolonga e se manifesta na comunidade
mal empregada sabedoria humana e de de Corinto, composta de gente socialmen
monstra um poder e saber de Deus para- te sem importancia (Tg 2,5; Mt 11,25); nao
iloxais, que o homem descobre pela fé. A sao muitos os intelectuais, os poderosos, a
Irase “só um é sábio” (Eclo 1,8) adquire nobreza. Como outrora uns escravos no
urna ressonancia nova. Egito (Dt 7,7-8; Is 49,7), assim agora elege
O parágrafo distingue dois campos, ju- os contrarios: gente iletrada, sem influén-
ileus e gregos (pagaos), e trabalha com an- cia, sem títulos. A antítese dos filósofos, “o
líteses elementares. A primeira é sabedo- ser e o nao ser” adquire outro sentido na
ria/loucura (ou razáo e absurdo): é típica ordem da salvaçâo: ser cristáo é ser nova
dos pagaos (cf. Br 3,22-23) e dos gregos criaçâo (2Cor 4,17). Continua a antítese
i|ue investigam e discutem; mas também confundir/gloriar-se: com o fraco Deus con
cntram nesta categoría os “letrados” que funde ou faz fracassar o forte e assim nin-
se ocupam da lei (Jo 5,39). A segunda é guém pode gloriar-se diante de Deus (Jr
poder/fraqueza: poder de Deus que se 9,22-23 sobre a falsa gloria e a auténtica;
manifesta nos sinais ou milagres, do qual cf. Dt 8,17-18). Por meio de Jesus Messias
participará o futuro Messias (Mt 12,38). comunicam-se aos fiéis qualidades e açoes
Como desenlace, entra a terceira antítese: de Deus: a sabedoria como sentido da vida
perdicao/salvagáo. A cruz de Cristo rom (cf. Eclo 1,10), a justiça que nos faz justos
pe os sistemas em que se encastelam ju- em nossa relaçâo com Deus (tema da carta
deus e pagaos e revela, de modo inespe aos Romanos, cf. Jr 23,5s), a consagraçâo
rado e difícil, a sabedoria e o poder de (cf. Jo 17,19), o resgate como libertaçâo da
Deus. escravidäo (cf. Dt 4,6.8; SI 130,7).
1,18 *Ou: absurdo. *Ou: um milagre. 1,27 Compare-se com Eclo 11,1-6; Jz 7,2.
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 496 t
30Gragas a ele, vos sois de Jesus o M es na sabedora humana, mas no pod< i d|
sias, que se tornou para vós sabedoria vino. 6Aos maduros* propusemos mu
de Deus, justiga, consagragäo e resga- sabedoria: nao a sabedoria deste m in
te. 31Assim se cumpre o que está escri do ou dos chefes deste mundo que v.m
to: Quem se gloria glorie-se do Senhor. decaindo. 7Propusemos a sabedor¡;i *1.
Deus, mistério oculto, por decisao d i
Sabedoria superior— 'Quando fui vina, desde o passado para vossa gin
2 até vós, irmáos, nao me apresentei
com grande eloqüéncia e sabedoria para
ria. 8Nenhum príncipe deste mundo .i
conheceu: pois se a tivessem conheci«
anunciar-vos o mistério* de Deus; 2pois do, nao teriam crucificado o Senhor d.i
entre vós näo decidí saber outra coisa a gloria. 9Porém, como está escrito: Aquí
näo ser Jesus M essias, e este, crucifi lo que olho nao viu nem ouvido ouriti
cado. 3Fraco e tremendo de medo, apre- nem mente humana concebeu, isso Den .
sentei-me a vós; 4minha m ensagem e preparou para os que o amam.
minha proclamagáo nao se apoiavam
em palavras sabias e persuasivas, mas R evelada pelo E spirito — 10A nós
na d em o n strad o de poder do Espirito, Deus o revelou por meio do Espirito
5de m odo que vossa fé näo se fundasse Pois o Espirito explora tudo, inclusive
2.1-9 Continua o tema da sabedoria, co duros”: parece qualificativo irònico do-,
mo o mostram a seis repetiçôes da palavra corintios; deveriam sé-lo e nao o sao (3,1).
sophia. O termo reiterado serve para unifi O título Senhor da gloria é título divino,
car variaçôes e oposiçoes. Pode ser sabe tomado de SI 24,8 que o refere à entrada
doria de Paulo, retórica, humana, mundana, triunfal de Yhwh Rei no templo; Paulo o
divina; pode opor-se a segredo e a poder. aplica a Jesús Cristo e o relaciona com a
2,1 *Ou: segredo. crucifixáo. *Ou: perfeitos.
2.1-5 A falta de eloqüéncia e o temor 2.9 A citagáo é tirada de Is 64,3 com
recordam a experiéncia de Moisés (Ex pletada por um par de versículos; Isaías
4,10-16) e a de Jeremías (Jr 1). Paulo nao menciona “os que esperam”, Paulo diz “os
baseou seu ministério em valores da cul que amam”.
tura grega: filosofía como atividade sim- 2,10-16 Emprega urna com paralo tirada
plesmente humana (cf. Jó 28), retórica co da hermenéutica humana, coordenando os
mo recurso para persuadir. Seu tema nao fatores: emitente, receptor, tema e lingua-
é descoberta humana, mas segredo reve gem. A intimidade secreta de um homem é
lado, e se condensa numa pessoa, Jesús. sua consciencia que a conhece (Pr 14,10;
Sua força persuasiva procede do Espirito. 20,27) e só eia pode comunicá-la. Deve
O mistério ou segredo de Deus costuma fazé-lo com palavras apropriadas ao tema e
referir-se ao plano de Deus para a salva- à capacidade dos ouvintes. A mensagem está
çâo universal por meio de Jesús Cristo: ao condicionada, muitas vezes limitada, pela
se proclamar o evangelho aos pagaos, o invalidez da linguagem em rela§áo ao te
plano de Deus está se cumprindo. ma, pela disposilo dos ouvintes. Estes de-
O temor de Paulo se explica pelo desco vem sintonizar-se com o tema e a linguagem,
munal da empresa: urna mensagem estra- devem ajustar seu horizonte ao do autor.
nha (Is 53,1 a chama inaudita), à margem De modo semelhante, só o Espirito co
e contra a sabedoria humana reconhecida. nhece a intimidade de Deus, a ele compe
2,6-8 Também Paulo tem sua sabedo te revelá-lo e torná-lo compreensível: “tua
ria, que ele apresenta diante das outras: é luz nos faz ver a luz” (SI 36,10). A Paulo
o mistério de Deus antes mencionado, um como intermediàrio compete comunicar
projeto antiquíssimo que hoje se realiza e oportunamente a outros o que recebeu por
se manifesta, e cuja finalidade é comuni revelado. Os destinatários tém de sinto
car aos homens a gloria de Deus. Os che- nizar-se com o Espirito, adotando a “men-
fes deste mundo sao as pessoas que con- talidade crista”.
tam na sociedade (nao os demonios). A 2.10 O “profundo” é, na mentalidade
ignorancia os desculpa em parte. Os “ma- semita, o incompreensível ou insondável.
497 PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS
. |>ii>1iiniüclades de Deus. "Q ual ho- pies homens, como a crianzas na vida
iii. in . iui Ik cc o pròprio do homem, se crista. 2Eu vos dei leite para beber, e
ti.m. 11 -.|>u ito* humano dentro dele? Do náo alim ento sólido, pois ainda nào
hi. .mu modo, ninguém conhece o pró- podíeis com ele; nem agora podéis, V is
|iiin ili Deus, a nào ser o Espirito de to que ainda sois guiados pelo instinto*.
I ti n ' Portanto, nós recebemos nào o Pois, se há entre vós invejas e discor
. 111111<>do mundo, mas o Espirito de dias, nào vos deixais guiar pelo instinto
11. ii. que nos faz compreender os dons e por critérios humanos em vossa con-
.|ii. I ¡cus nos fez*. 13Expomos isso nào duta? 4Quando alguém diz eu sou de
>mu palavras ensinadas pela sabedoria Paulo, e outro eu sou de Apolo, nào vos
lumi.ma, mas ensinadas pelo Espirito, comportáis de modo meramente huma
. aplicando as coisas espirituais em ter no? Quem é Apolo? Quem é Paulo?
mi i'. espirituais. 14Um simples homem M inistros de vossa fé, cada qual segun
mu i aceita o que procede do Espirito de do o dom de Deus. 6Eu plantei, Apolo
l>ms, pois isso lhe parece loucura; e regou, mas era Deus quem fazia cres
il.in pode entendè-lo, porque só se dis- cer. 7De modo que nem aquele que plan
■i me espiritualmente. 15A o contràrio, ta conta, nem aquele que rega, mas é
ii homem espiritual o discerne inteira- D eus quem faz crescer. 8A quele que
mi Mle e nào se submete a discernimento planta e aquele que rega trabalham na
ullieio. ,6Quem conhece a m ente do Se- m esm a obra; cada qual receberá seu
nhor para dar-lhe liqòes? Nós, porém, salàrio conform e seu trabalho. 9Nós
pnssuimos a mentalidade de Cristo. som os colaboradores de Deus, vós sois
lavoura de Deus e construgáo de Deus.
í Im atu rid a d e dos co rin tio s — 'Eu, 10Segundo o dom que Deus me deu,
*,/ irmáos, nào pude falar-vos como a com o arquiteto experiente coloquei o
liomens espirituais, mas com o a sim- alicerce; outro continua construindo.
(S1 24,3), de Jerusalém (SI 87,1). O fun 3,21-24 Quanto aos nomes que erguiani
damento da Igreja é Jesús Cristo. como bandeiras opostas, pertencem a to
3.11 Ver Is 28,16. Convém recordar que dos, porque todos pertencem ao único
Deus “fundou” o orbe (SI 24,2; 78,69; Messias, e este ao único Deus.
102,26; Pr 3,19). Paulo abre o horizonte espiritual dos co
3.12 Compare-se com a construyan fan rintios retorcendo as palavras deles: “eu sou
tástica de Is 54,11-12; Tb 13,17. de Paulo” diziam uns; responde: Paulo e os
3,15 Cf. Zc 3,2. outros sao de todos. Nao só, mas também
3,16-17 No templo antigo residía a Glo as polaridades da existencia humana sao
ria de Deus (Ex 40,34); Salomáo conside vossas; é muito forte dizer que também a
ra maravilhoso o fato (IRs 8,27). O tem morte lhe pertence, se se pensa no contexto
plo era urna in s titu id o venerada e do AT e da filosofía. Mas nao sao árbitros
respeitada, como mostram vários episo absolutos, porque nao sao a última instan
dios: Jr 7 e 26; Mt 21,12-16; Jo 2,13-22; cia, mas pertencem a Cristo. Precisamen
At 21,28-40. O novo templo nao é um re te esta perteneja é que os fez superiores.
cinto, e sim a comunidade crista; está con
sagrado, porque nele reside o Espirito 4,1-5 Estando no servilo ¡mediato de
(6,19; 2Cor 6,16). Deus, Paulo e seus colaboradores nao es-
“Destruirá”: aplicado da lei do taliáo táo submetidos ao julgamento meramente
(cf. Is 33,1). humano. Embora o julgamento da conscién-
3,18-20 Volta o tema das faegóes e da cia seja favorável, Paulo se submete ao jul
sabedoria auténtica, que os corintios con- gamento supremo e final de Deus (SI 7,10;
seguiráo sacrificando uma prudéncia sim- 17,3; Pr 15,11; 16,2; 21,2). O critèrio será a
plesmente humana. A primeira c ita d o é fidelidade no exercício do cargo (cf. de
tirada do discurso de Elifaz em réplica Moisés, criticado por Maria e Aaráo em
a Jó (Jó 5,13). A segunda, de um salmo Nm 12,7).
que exalta Deus como juiz justiceiro (SI Talvez insinué que a comunidade ou
94,11). urna fa ed o dela tentava submeter Paulo a
499 PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS
li in.ios, em atençâo a vós apliquei o prudentes; nós, fracos; vós, fortes; vós,
in.' i A|tolo e a mim, para que apren- estimados; nós, desprezados. "A té ago
.1.11 Mi nos isto: nâo ir além do que està ra passam os fom e e sede, andam os
i ii i il" ', para que ninguém se inche de semi-nus, tratam-nos a golpes, vagamos
ut (i1111io a favor de um e contra outro. a esm o, 12cansam o-nos trabalhando
i ini in ir declara superior? O que tens com nossas máos. Insultados, bendize-
li» n ui recebeste? E se o recebeste, por mos; perseguidos, resistimos; l3calunia-
i|in le glorias como se nâo o tivesses dos, suplicamos. Somos o lixo do mun
n 11 ludo? 8Já estais saciados! Já vos do, a escoria de todos até o presente.
wiiiqiiecestes! Sem nós já reináis! Oxa- 14Náo vos escrevo isso para vos enver-
M |.i H inâsseis, para que nós reinásse- gonhar, mas para admoestar-vos como
11111*. eonvosco. 9C ontudo, penso que a filhos queridos. 15Pois, embora tenhais
I ini s expôs a nós, os apóstalos, como como cristáos dez mil instrutores*, nao
i ll i i mos, como condenados à morte; tendes muitos pais. Anunciando a boa
(nn*. nos tornamos espetáculo do m un noticia, eu vos gerei para Cristo. 16Eu vos
do. de anjos e de hom ens. 10Nós por recom endo, pois, que imitéis a mim.
i usto somos loucos; vós por Cristo, 17Para isso eu vos enviei Timoteo, meu
IIIl|..i monto. Sobre julgar por aparéncias ou cutar ressonáncias escatológicas (Ap 3,17;
iinlcs do tempo, ver Eclo 11,1-7. 5,10).
■1,6 O que acaba de dizer sobre si mesmo Já disse que os fiéis de Corinto nao pro
r Apolo deve valer como exemplo, aplicá cederti da classe alta e endinheirada (1,26).
is I a outros nomes e situagóes (principio 4.9 Alusào aos jogos do circo, em que
linmenéutico que o leitor deve ter em con- escravos e condenados à morte eram exi-
i.i) A frase que se segue é duvidosa: alguns bidos em espetàculos cruéis. Dir-se-ia que
In'iisam que é insergáo de um copista: “o Deus é o imperador que oferece seus ser-
»i«-está escrito em cima do a”; outros pen- vos em espetáculo; tal é a vida do apòsto
•..iiu que é exceder-se na interpretado da lo. Os últimos: em categoria ou como o
I scritura: abolindo a lei como Paulo, ou final refinado do espetáculo. Compare-se
Interpretando alegóricamente como Apolo. com a sorte de Sansao (Jz 16,25).
I'ór o próprio orgulho nos méritos do che 4.10 Parece que a referencia a Cristo
le adotado. *Ou: naopassar do limite. afeta as très antíteses. Até se poderia pa
4,8-21 Recolhendo em tom satírico fe- rafrasear: nós, por Cristo escolhemos sua
i mo a idéia precedente, o paradoxo da cruz, loucura, sua fraqueza, seu desprestigio;
|iropóe o contraste entre as fraquezas e vós, em Cristo buscáis o saber, a força e a
■.ofrimentos dos apóstolos e a gloria que honra. Ou seja, quereis Cristo glorificado,
ns corintios já pensam possuir. náo crucificado.
Recorde-se o pedido da máe dos Ze- 4.11 Errquanto isso, nós vivemos a dor
bedeus (Mt 20,21-23): Jesús glorificado já das bem-aventuranças e do seguimento (cf.
reina; e os corintios, como se já tivesse Le 9,58).
■llegado a consumagáo, se créem já parti 4.12 Alusào ao trabalho para sustentar
cipantes do reinado definitivo de Cristo. se (At 18,3; 20,34; lTs 2,9).
Mas o cristáo, e em grau especial o após- 4,14-16 Era freqüente na atividade sa
lolo, vive ainda na etapa da cruz, partici piencial que o mestre chamasse os discí
pando dos sofrimentos do Messias. pulos de “filhos” (Pr 4,1-6; Eclo 39,13
Paulo refuta as pretensóes dos corintios etc.). Da metáfora Paulo toma dois mo
ipiase com sarcasmo: oxalá fósseis reis mentos. Primeiro, a geraçào: o apóstolo
para que coubesse a mesma sorte a mim. evangelizador gera filhos, nâo para si, mas
Desenvolve a idéia de um apaixonado e para Cristo (Gl 4,19). Segundo, a educa-
retórico jogo de contrastes. çâo pode ser branda ou exigente (cf. Dt
4,8 Recolhe dois temas das bem-aven- 8,5), inclusive áspera (Eclo 30,1-13), com
turangas: a “riqueza” dos pobres que pos- a vara (Pr 13,24; 23,13s).
suem o reino e a “saciedade” de quem tem 4,15 *Ou: pedagogos.
lome de justiga (Mt 5,3.6); podem-se es- 4,17 Timoteo e Corinto: lTs 3,2.
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 500
filho querido e fiel ao Senhor, para que pírito, já dei a sentenqa contra ac|u> l>
vos recorde m inhas normas cristas, tal que comete tal delito, como se eu i-.ii
com o as ensino por toda a igreja. 18A1- vesse presente: 4reunidos em nomc
guns, pensando que nao vos irei ver, Senhor nosso Jesús Cristo, vós com itu n
andam inflados de orgulho; 19mas eu os espirito, com o poder do Senhor now« i
visitarei logo, se Deus quiser, e entáo Jesús, 5entregai esse individuo a Sal.i
medirei, nao as palavras dos orgulho- nás para m ortificar sua sensualidad. .
sos, e sim suas forças. 20O reinado de de modo que o espirito se salve no din
Deus nao consiste em palavras, mas em do Senhor Jesús. 6Vosso orgulho ñau
força. 210 que escolheis: que eu vá com tem razáo de ser. Nao sabéis que com
a vara, ou com am or e mansidáo? uma pitada de fermento toda a mass.i
fermenta? 7Extirpai o fermento vellm
0 incestuoso (D t 27,20; Lv 18,8; para serdes massa nova, uma vez que
5 20,11) — 'O uve-se realmente que sois ázimos, já que nossa vítima pascal
entre vós há um caso de imoralidade Cristo, foi imolado. 8Por conseguint«,
que nao acontece nem mesmo entre os celebremos a festa, nao com fermento
pagaos; alguém convive com a mulher velho, fermento de maldade e pervei
de seu pai. 2E vós, táo orgulhosos, nem sidade, mas com ázimos de sincerida
sequer vos entristeceis, de modo que de e verdade.
seja expulso da comunidade aquele que 9Já vos escrevi em minha carta que
comete tal açâo. 3Eu, de minha parte, nao vos m isturéis com gente imoral
ausente de corpo m as presente em es- 10Náo me referia em geral a uma gente
4,18 Se por ocasiáo da primeira evan- 5,3-4 Propóe uma assembléia da comu
gelizacáo chegou acovardado, agora pode nidade á qual assistirá representado por sua
apresentar-se com autoridade. carta, que leva o voto de condenagáo (se
gundo o uso antigo). O ato se celebrara
5,1-13 Em flagrante oposigáo á sufi invocando Jesús como Senhor e com sua
ciencia dos corintios se encontram duas autoridade.
condutas que Paulo vai denunciar. O in 5,5 A pena é a exclusáo da comunidade
cesto, condenado por judeus e pagaos, nao (nao penas físicas), na qual Jesús é Senhor;
é sinal da nossa liberdade crista, da qual com isto passa ao dominio dos poderes
podem jactar-se os corintios, e sim vergo- adversos (que podem causar doenga e pos
nha que precipita a ferm entado do mal sessáo). A finalidade, no que se refere ao
na comunidade inteira, como o fermento culpado, é sua salvagáo no dia do julga-
ñas massas. Por isso, é preciso extirpar o mento definitivo. É duvidoso se a frase
culpado (Dt 17,7.12 e outras dez vezes). significa mortificar a sensualidade (instin
A exclusáo da comunidade ou excomu- to) ou destruir a vida corporal. *Ou: para
nháo — afastá-lo de Cristo, entregá-lo a destruir sua carne.
Satanás — há de ser medicinal para o cul 5,6-7 Considerando alguns efeitos do
pado, para que extirpe sua conduta “ins fermento, existia uma legislaqáo rígida
tintiva”, imoral. sobre sua exclusáo durante a semana dos
5,1 Em seu catálogo de incestos, o Le- Azimos (Ex 12,15.19-20), sob pena de ser
vítico registra as relagóes com a concubina excluido da assembléia de Israel.
do pai (19,8), e indica para o delito a pena 5.8 Fermentado é o velho, submetido á
de morte para ambos (20,11). De maneira corrupgáo; ázimo é o novo (Ez 12,19),
geral, abrangendo todos os casos de inces destinado á incorruptibilidade.
to, diz que o culpado “será excluido do seu 5.9 Esta carta nao se conservou. Ve-se
povo” (18,29), que é o povo de Deus. A que tinha sido mal interpretada. Por isso
lei romana era mais benigna no castigo. É explica aqui as normas do trato com os
clássico no AT o relato do incesto das fi- pagaos. A comunidade crista era uma mi-
lhas de Ló (Gn 19,30-38). Talvez a mu noria na populosa cidade. O autor toma a
lher fosse paga, pois nada se diz déla. lista de imoralidades dos repertorios en-
501 PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
linniiil ilcste m undo, aos avaros, ex- aqueles que a igreja menospreza? 5Di-
|i|i Mmlores e idólatras. Se assim fosse, go-o para que vos envergonheis. Será
ilm i i icis ter saído do mundo. u Concre- que nao há entre vós nenhum sábio para
iiiinriile vos escrevi que nao vos mis- resolver pleitos entre irmáos? 6Ao con
Imilv.eis com alguém que leva o nome tràrio, um irmáo pleiteia com outro, e
i|ii 11111:10 e é imoral, avaro, explorador, isso em tribunais de infléis. 7Pois bem,
Mollili';!, difam ador ou beberráo. Com já é lastimável que tenhais pleitos en
nem comer! 12Será que toca a mim tre vós. Por que náo vos deixais, antes,
inibir os de fora? Vós nao julgais os de prejudicar? Por que nao vos deixais des
iluntro? l3Os de fora Deus julgará. Ex- pojar? 8No entanto, sois vós os que pre-
l<ltl\(ii o m alvado do vosso meio. ju d icam e despojam irm áos vossos.
9Náo sabéis que os injustos náo herda-
6 Pleitos entre cristáos — 'Q uando ráo o reino de Deus? Náo vos iludáis:
mu de vós tem um pleito com ou- nem fornicadores nem idólatras nem
lin, como se atreve a ser julgado Délos adúlteros nem efeminados nem homos-
Injustos e nao pelos consagrados? 2Náo sexuais 10nem ladróes nem avarentos
«iilieis que os consagrados julgaráo o nem beberróes nem caluniadores nem
mundo? E se vós julgareis o mundo, nao exploradores herdaráo o reino de Deus.
unís competentes em questóes de pou- n A lguns de vós no passado eram des
111 importancia? 3Náo sabéis que julga- ses; m as fostes lavados, consagrados e
irmos os anjos? Quanto mais os assun absolvidos pela invocacao do Senhor
ti is da vida ordinària. 4Se tendes litigios nosso Jesus e pelo Espirito do nosso
milinários, com o nomeais como juízes Deus.
e exige urna vida nova. Por motivo do con criad o do “homem e mulher”, Gn 1) c
texto, apresenta o batismo primeiro como ascende também à esfera da salvaçào.
purificado, seguem-se a consagrad0 a 6,15-18 Nessa dimensào, o cristáo i
Deus e o estado de justiga. Ouve-se o eco membro de Cristo, que pagou um preço
ou a antecipado de urna fórmula trinitària alto por eie (ICor 12; cf. Is 43,24). Acita
na invocado batismal. çâo de Gn 2,24 recebe aqui urna aplicaçâo
6,12-14 Adota o estilo da diatribe, repe- inesperada: supôe a força maior da prosli
tindo e refutando objegoes dos corintios, tuta nesse ato imoral (nâo é eia que se fai
nos vv. 12-13 e talvez em 18a. Os corintios membro dele, mas é ele que “se apega”).
podiam apelar para o ensinamento de Je 6,19-20 O corpo do cristáo (nao só a co
sus recolhido em Me 7,19 (veja-se o con munidade) é templo visível do Espirito que
texto). Para estendè-lo a pari à sexualida- Deus comunica. Por isso, o uso do corpo
de, Paulo rejeita a mera interpretado está submetido a regras superiores. No
mecánica do primeiro e sua simples apli templo se celebra a liturgia proclamando
c a d o à esfera sexual. a gloria de Deus; o corpo do cristáo, como
6,12 Trata-se da liberdade, dedutível templo do Espirito, dará gloria a Deus.
talvez do “tudo é vosso” (3,22). Pois bem,
a liberdade tem um limite: o que convém 7,1 Aqui Paulo começa a responder a
ao individuo e à sociedade. Do contra consultas dos corintios. Neste capítulo,
rio, quem pretendía ser livre se submete sobre o matrimonio, com um aparte sobre
a outro poder. O cristáo todo está consa circuncisáo e escravidáo. Afrase citada dos
grado a Cristo, também na sua dimensào corintios parece opor-se à instituiçâo de
corporal, por meio da qual seu espirito se Gn 2. Poderia responder à solicitaçâo de
relaciona e que está destinada à ressur- correntes ascéticas no judaismo e no he
re id o . lenismo.
O ensinamento de Paulo se opóe fron 7,2-7 Toda esta seçâo se refere a casa
talmente a urna dicotomia do homem e a dos. No extremo oposto dos que proclama-
um espiritualismo que rebaixa ou desde- vam “o amor livre” encontram-se os que
nha o corpo. O homem inteiro, com seu excluem o matrimonio (talvez v. 1) ou re-
corpo, pertence à esfera da salvado: por laçôes sexuais dentro dele. Paulo afirma a
ele morreu corporalmente Jesús, “o Se- doutrina de Gn 2,18. Sobre a entrega mu
nhor é para o corpo”, e o corpo há de com- tua, recorde-se Ct 4,16: “entra, meu amor,
partilhar da gloria do Ressuscitado, “o no teu jardim”; 6,3: “eu sou do meu ama
corpo é para o Senhor”. A sexualidade é do e meu amado é meu”; 7,11 “eu sou do
parte importante do corpo (insinuado na meu amado e ele me busca com paixáo”.
503 PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS
No AT cita-se como caso excepcional o se uniu até formar “uma só carne”; por
i l libato de Jeremías, imposto como açào outra parte, a fidelidade a Jesús acima de
nimbólica ao profeta (Jr 16). A continèn todos os vínculos de familia (incluida a
t i periódica para a oraçâo é paralela ao mulher e os filhos, Le 14,26 par.). Supos-
|cjum. Já que nesta primeira seçâo se va tos o amor e a vontade de paz do cónjuge
loriza a igualdade que Paulo defende en- náo-cristáo, o cónjuge cristáo é capaz de
lrc marido e mulher, o dever é mùtuo, o transmitir-lhe sua consagrado, a ele e aos
ueordo é mùtuo. Paulo propóe o celibato filhos. Era normal que, ao converter-se o
como carisma, nao como lei; e carisma sig pai de familia, se convertesse toda a casa,
nifica dom gratuito de Deus. Paulo nao inclusive os criados. O notável aqui é que
concebe o celibato como proeza do esfor- a mulher pode transmitir a consagragáo,
go e do controle humano. talvez em virtude da uniáo estreita, “uma
7,8-9 Abrasar-se: a imagem se lé em só carne”. Se a paz é impossível, se o náo-
lido 23,17 e Pr 6,27-28: um se refere ao cristáo toma a iniciativa de separar-se, a
luxurioso, o outro ao adúltero. Comparar outra parte náo fica ligada, “escravizada”
o amor com o fogo é corrente em muitas (em grego).
culturas; Ct 8,7 o chama “labareda divi 7.16 A interpretado deste argumento é
na” que “as águas torrenciais” nao apagam. duvidosa. Paulo náo quer afirmar, e sim
7,10-11 A lei judaica e seus comentá- abrir a porta a uma solucáo possível ou
rios rabínicos admitiam o divorcio (cf. Dt provável. a) Se damos uma resposta afir
24.1-4); Jesús, chamado aqui “o Senhor”, mativa, resulta: Quando muito, a parte cris
reafirmou a lei fundamental do matrimo tá consegue conduzir á salvagáo (conver-
nio indissolúvel (Me 10,1-12 par.). Eram sáo) a outra parte, convém manter a uniáo
muito raros os casos em que a mulher po com paciencia, b) Náo há probabilidade
día tomar a iniciativa de separar-se. suficiente de que a parte cristá consiga
7,12-16 Casamento de cristáo com infiel: salvar a outra; por isso, náo deve hesitar
sobre este assunto Paulo nao pode aduzir em deixá-la, livrando-se assim de uma
nenhum mandamento de Jesus. Neste caso “escravidáo”.
podem entrar em jogo duas forças: por uma 7.17 Este versículo náo nos tira das dú-
parte, a fidelidade ao cónjuge, com o qual vidas. Na teoría e na prática, Paulo prefe-
PRIME1RA CARTA AOS CORINTIOS 504
..... i .1 nao chorassem, os que se ale- 36Se alguém sente que se comporta
......... ... se nao se alegrassem, os que incorretamente com sua companheira
......Iii.un como se nao possuíssem, 3los virgem, que está em idade de casar*,
’11*■ ir..mi o mundo com o se nao des de modo que deve tom ar urna decisáo,
imi i-. .m i. Pois a re p re sen ta d o deste faga o que quiser e casem-se, pois nào
mimilo está acabando. pecam. 37Todavia, quem está firme em
' ( .lucro que estejais livres de preo- sua decisáo, sem sucumbir à necessi-
■ii| i.u.oes: o solteiro se preocupa dos dade, pelo contràrio domina sua vonta-
■i . m i t o s do Senhor e procura agradar de, farà bem maniendo intacta sua com
.ni Senhor. 330 casado se preocupa com panheira. 38Concluindo, quem casa com
ir, .r.suntos do mundo e procura agra- sua companheira virgem faz bem; quem
iliii a sua mulher, 34e está dividido. A náo casa faz melhor. 3yUma mulher está
.... Ilier solteira e a virgem se preocu- vinculada enquanto viver o marido; se
!i ni i com os assuntos do Senhor para o marido morrer, eia fica livre para ca
i ii.irem consagradas de corpo e espi sar com quem quiser, desde que seja
lilo A casada se preocupa com os as cristáo. 40Porém, na minha opiniáo, será
umios do m undo e procura agradar ao mais feliz se náo casar. E penso que
m.ii ido. 35Digo-vos isso para o vosso também eu possuo o Espirito de Deus.
In ni: nao para vos por urna arm adi-
ili.i , mas para que vossa d e d ic a d o ao V ítim as sacrificadas aos ídolos
Senhor seja digna e assidua, sem dis-
ii ;n,'óes.
8 (Rm 14) — 'A respeito da carne
imolada aos ídolos: E sabido que todo»
temos conhecimento. Porém o conheci- nós. 7Mas nem todos possuem essc c n|
mento infla, ao passo que o amor edifi nhecimento. Alguns, acostumados á ii I.<
ca. 2Se alguém pensa que já tem conhe- latría, comem a carne como realmenl«
cida algunia coisa, ainda nao conhece sacrificada aos ídolos, e sua consciénciii
com o se deve. 3Ao contràrio, se alguém fraca fica contaminada. 8N áo é o al i
ama a Deus, é conhecido por Deus. mentó que nos aproxima de Deus: nada
4Quanto a comer carne sacrificada aos perdemos se náo comemos, nada ga
ídolos, sabemos que nao existem os ído nhamos se comemos. 9A pesar de tudn
los do mundo, e que Deus é um só. 5Em- tende cuidado para que essa vossa li
bora existissem no céu e na terra os berdade náo seja tropero para os fia
cham ados deuses, e há muitos deuses e eos. "'Pois, se alguém vé a ti, que ten
senhores, 6para nós existe um só Deus, conhecimento, á mesa num templo ido
o Pai, que é principio de tudo e fim látrico, náo se animará sua consciencia
nosso, e existe um só Senhor, Jesús fraca a comer carne sacrificada aos ído
Cristo, por quem tudo existe, também los? n E por teu conhecimento se perdí
nii Hi u n í irmao por quem Cristo mor- e Cefas? 6Somos Barnabé e eu os úni
n ii r l icssc modo, pecando contra os cos que nao tém direito de ficar sem
ii nuil i1, c abalando sua consciencia fra- trabalhar? 7Quem serviu como soldado
i i. ( n - c a i s contra Cristo. 13Concluindo,ás próprias custas? Quem planta urna
11 mu alimento escandalizar meu ir- vinha e nao come seus frutos? Quem
nniii. ¡amáis com erei carne, para nao cuida de um rebanho e nao se alimenta
i m .imlalizar o irmáo. do seu leite? 8Meu argumento nao é pu
ramente humano, pois também a lei o
<>cxcm plo de P a u lo — 'N o entan- diz. yNa lei de M oisés está escrito: Nao
9 lo, nao sou livre? Nao sou apósto- porás focinheira no boi que trilha. Por
|n 1 Nao vi Jesús, Senhor nosso? Nao acaso Deus se preocupa com os bois?
»mis vos obra minha a servigo do Se- ,0Náo o diz, antes, para nós? Claro, está
k I h . i ? 2Se para outros nao sou apósto- escrito para nós: com esperanza lavra
Im, para vos eu sou. O selo do meu apos o lavrador e trilha o trilhador, com a
tolado para o Senhor sois vós. 3Minha esperanca de colher. "S e nós semeamos
ilrlcsa diante dos que me julgam é esta: em vós o espiritual, será excessivo que
'Nao temos direito de com er e beber? colham os o corporal? l2Se outros des
Nao temos direito de nos fazcr acom- frutan! desse direito sobre vós, por que
¡uiihar por urna esposa crista, como os nao nós? Todavía, nao fizemos uso de
ilrmais apóstolos, os irmáos do Senhor tal direito; pelo contràrio, tudo supor-
I 1,21). “Escandalizar” é provocar a que- ter convivido com Jesús) ou que nao es
ila. Ver Rm 14,15-20. tenda seu apostolado evangelizador a eles.
O que se segue favorece a primeira in-
9 O último versículo formulou o princi terpretaçâo, pois o selo serve para auten
pio ou o propósito de limitar a liberdade a ticar um título: a comunidade que fundou
«■rvigo da cariaade. No presente capítulo, em Corinto comprova sua missáo apos
I'aulo desenvolve o principio com seu exem- tolica.
I>lo: os direitos de um apóstolo e a renuncia 9.3 Defesa e julgamento expressos em
a eles pelo bem da comunidade. Estes di- terminologia forense.
reitos se provam com vários argumentos: 9.4 Ver a instruçâo de Jésus aos discí
da razáo, da Escritura, de semelhanqa. pulos (Le 10,8).
a) Da razáo: o soldado recebe o soldo 9,5-6 “Irmâos do Senhor” (Me 3,31).
(Nabucodonosor da parte de Deus, Ez 29, Barnabé (At 4,36-37; 13-14; Gl 2,1). Po-
18-20); o lavrador se alimenta da sua co- de-se recordar as “mulheres” que acom-
Iheita (Is 62,8-9; 65,21); o mesmo vale para panhavam Jésus em seu ministério (Le 8,2-
o pastor (Pr 27,26-27). 3; 24,22).
b) Da Escritura: a lei que protege o ani 9,7 Soldado, lavrador e pastor, très ca
mal que trabalha (Dt 25,4), interpretada em tegorías de urna economia simples. Pen
fungáo do homem. Urna alusáo ao que diz sa nos soldados mercenários da época
um doutor (Eclo 6,19). (“soldado” se relaciona com “soldo”, sa
c) De semelhanga: como fazem os ou làrio).
tros apóstolos, ou os ministros do culto. 9,9 Dt 25,9; mas cf. SI 36,10; 104,27-
Mas o orgulho de Paulo nao é a liberdade, 28; 145,15-16. Paulo se refere a urna lei
e sim a renuncia por amor e zelo apostóli promulgada, nao à providência gérai.
co. Compare-se com 2Cor 11,7-9. 9.11 Nas instruçôes aos apóstolos con-
9.1 “Livre” de nascimento, “apóstolo” ta-se com a hospitalidade gratuita dos des-
de vocagáo (1,1). “Eu vi Jesús Senhor”: tinatários (Mt 10,11-13 par.).
apresenta-se como testemunha da ressur- 9.12 Obstáculo poderia ser que os po
reicáo (Kyrios At 9,17; 26,15). É o que bres ficariam sem evangelho por nâo pode-
fundamenta sua missáo (cf. At 1,22). rem pagar o pregador. Também a impres-
9.2 Pode significar que os outros nao sâo de que o pregador atuava por cobiça
o reconhecem como apóstolo (por nao ou para vantagem pròpria.
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 508
tamos para nào por obstáculos à boa judeu para ganhar os judeus; coni o*
noticia do Messias. 13Nào sabéis que os submetidos à lei como se eu estivesse,
m inistros do culto comem das ofertas em bora náo o esteja, para ganhar os
do tem plo, e os que servem ao altar submetidos à lei. 21Com os que náo U m
participam das ofertas do altar? lei, como se eu náo a tivesse — embo
14Do mesm o modo, o Senhor dispós ra náo rejeite a lei de Deus, pois eston
que os anunciadores da boa noticia vi- subm etido á do M essias — , para ga
vam do seu anuncio. 15Eu, porém, nao nhar os que náo tèm lei. 22Tornei-mr
fiz uso de nenhum desses direitos. Nao fraco com os fracos, para ganhar os fra
escrevo para que agora os reconhegais eos. Fiz-me tudo para todos, para sal
(prefiro morrer!). Ninguém me tirará var alguns de qualquer forma. 23E tudo
essa gloria. 16Anunciar a boa noticia nao fago pela boa noticia, para participai
é para mim motivo de orgulho, mas déla. “4Náo sabéis que no estádio coi
obrigacáo que me incumbe. Ai de mim rem todos os corredores, mas um so
se eu nào a anunciar! 17Se o fizesse por ganha o premio? Correi, portanto, pani
iniciativa pròpria, receberia meu salà consegui-lo. 25Os que com petem se
rio; se náo é por minha vontade, é por abstèm de tudo; e o fazem para ganhai
que me confiaram um encargo. 18Qual urna coroa corruptível, nós urna incor-
será, entáo, meu salàrio? A nunciar gra ruptível. 26De minha parte, eu corro
tuitamente a boa noticia, sem fazer uso mas náo á-toa; luto, mas náo dando
do direito que seu anuncio me confere. golpes ao vento. 27Ao contràrio, treino
19Sendo inteiramente livre, me fiz es- meu corpo e o submeto, para que náo
cravo de todos para ganhar o maior nú acontega que, depois de proclamar aos
m ero possível. 20Com os judeus me fiz outros, eu seja desclassificado.
9.13 É norma da legislagáo: Lv 7,7-10; 9.20 Refere-se á lei judaica com suas
Dt 18,1-3. observancias. Nos Atos aparece Paulo
9.14 É o que lemos em Gl 6,6, fazendo cumpridor da lei, inclusive circuncidando
eco ao principio enunciado por Jesús (Le Timoteo (16,3) ou cumprindo um voto
10,7). (21,26).
9.15 A partir deste versículo, remonta á 9.21 Diante dos pagáos, que nao seguem
descoberta da origem e sentido da sua mis- a leí judaica, Paulo prescinde dessa lei,
sáo, o estilo na sua execugáo. E o faz com embora submetido à lei de Cristo.
um estilo retórico de grande efeito e clara 9.22 Ele tem de educar os “fracos”, dos
maestria. Deve-se escutá-lo declamado em quais falou antes (8,7-12), náo os deixan-
voz alta, observando o ritmo, os parale do em sua “fraqueza” ignorante.
lismos, os paradoxos. 9.23 De modo que seja boa noticia tam-
9.16 Sente-se como um profeta, forga- bém para mim. E essa é a paga daquele
do a pregar; veja-se de modo especial o que trabalhou de graga.
exemplo de Jeremías, “forgado por tua 9,24-27 Recorre a urna imagem espor
máo” (15,17), embalado por um fogo in tiva, sugerida pelos jogos ístmicos, que se
terior da mensagem, “fazia esforgos para celebravam em Corinto, e também pelo
contè-la e náo podia” (20,9). Ai de mim, uso da imagem por parte da filosofía po
por minha pregagáo! dizia Jeremias; ai de pular. A liberdade fica também limitada
mim, se náo anuncio!, diz Paulo. pela necessidade de treinar-se e compe
9,17-18 Refere-se a um escravo admi tir até o final. No estádio, só um é corea
nistrador, que náo recebe salàrio, e se opóe do; no terreno cristáo todos, contanto que
ao cidadáo livre que é contratado por di- corram segundo o regulamento e sem de
nheiro. A generosidade desinteressada é sanimar.
seu melhor salàrio. O horizonte é escatològico (Sb 5,16).
9,19-23 Livre: como judeu, como ci Paulo, que agora faz as vezes de árbitro
dadáo romano, como cristáo; escravo de ou arauto dos vencedores, é ao mesmo
todos, a exemplo de Cristo (Jo 13,13- tempo lutador e corredor rumo á meta
17). (compare-se com 2Tm 4,6-8).
Ili I ' 509 PRIMEIRA CARTAAOS CORINTIOS
10,1 -10 Ilustra a necessidade de perse- 10,3-4 Comida e bebida se unem, como
vn.ir até o final fazendo desfilar, em esti na eucaristía. Eram materiais na sua es-
lo midráxico, vários episodios escalonados séncia, eram “espirituais” por sua origem
i l n s israelitas no deserto. O procedimento milagrosa e por seu sentido profètico (cf.
ilas series é conhecido e praticado no AT: Jo 6,22 e 7,37s).
n s Salmos 78, 105 e 106, o cap. 10 de Sa- Alude à lenda da rocha que seguia como
litdoria, a memoria penitencial de Ne 9. manancial itinerante o povo em seus des-
(> lema do éxodo era um dos mais explo- locamentos: os rabinos a identificaram
lailos na tradigáo rabínica. Os episodios com a lei, que acompanhava o povo em
r \emplares recolhidos sao: a travessia do sua historia.
mar (Ex 14), o maná (Ex 16), a água da 10,5-6 Desejar o mal: cf. Am 5,14; SI
uicha (Nm 20), a covardia diante do peri 52,5. “Estendidos”: Nm 14.
co (Nm 14), o bezerro de ouro (Ex 32), a 10.7 Tacha de idolatria venerar urna
prostituido sagrada (Nm 25), as serpen- imagem de Yhwh (Ex 32).
les (Nm 21), a revolta (Nm 17). 10.8 Vinte e quatro mil, diz Nm 25,9;
O modo de tratar os episodios é esque talvez esteja confundindo com Nm 26,62.
mático, seguindo um padráo bastante li- 10.9 Ver Nm 21,5-6.
vre. O principio hermenéutico é ver os fa 10.10 O título “exterminador” pertence
los e sua versáo escrita como tipos ou a outros contextos (contra o Egito, Ex
prefiguragóes do futuro, que é a era final 12,13; o assèdio, Is 54,16 etc.).
ilo evangelho. Quer dizer, o ponto de vista 10.11 A “etapa final”: lPd4,7; lJo 2,18.
o o momento presente com seus proble O principio hermenéutico pode ser esten
mas e exigencias. dido a muitos outros fatos do AT: o que o
Na exortagáo vai misturando o “vós” e povo vive é como uma representado sa
o “nós”: todos, também os pagaos conver- grada, urna espécie de auto sacramental,
lidos, devem sentir-se em continuidade exibido antes os futuros leitores/público,
rom o Israel do éxodo, “nossos pais” ou que háo de sentir-se interpelados pelo dra
antepassados. ma representado.
10,1-2 A passagem através de elemen 10,12-13 O deserto é a etapa tradicional
tos aquáticos — entre duas muralhas de da “prova”: Ex 16,4; 20,20; Dt 8,2.16. A
agua no mar Vermelho, sob a nuvem no prova pertence à existéncia humana e à
deserto — era urna espécie de batismo que vida crista: no Pai-nosso pedimos para
os incorporava a Moisés. Ex 14,31 concluí: superá-la (Eclo 2,1-6), nao eliminá-Ia.
"creram no Senhor e em Moisés, seu ser As tentagóes concretas, e algumas que
vo”, que resulta, assim, em tipo de Cristo. das, dos corintios já apareceram na car-
PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS 510 10, M
Alimentos idolátricos e liberdade cris demonios; náo podéis com partillui h
ta — 14Portanto, meus queridos, fugi mesa do Senhor e a mesa dos demonio*
da idolatría. 15Falo a gente entendida; 22Q uerem os provocar ciúm es no Si
julgai por vós mesmos. 16A taga de bén- nhor? Somos mais fortes do que ele '.1
5 3 0 que abengoamos, nao é comunháo 23Tudo é permitido, dizeis. Mas, ncm
com o sangue de Cristo? O pao que tudo convém. Tudo é permitido. Porém,
partimos, nao é com unháo com o cor- nem tudo edifica. 24Ninguém procuu
po de Cristo? 17Um é o páo e um é o seu interesse, mas o do próximo. 25Co*
corpo que formamos, apesar de muitos; mei tudo o que se vende no agougue
pois todos partilham os o único páo. sem criar problema de consciéncia, poi
l8Considerai os israelitas de raga: Os 26do Senhor é a térra e tudo quanto clu
que comem as vítimas sacrificadas náo contém. 27Se um pagáo vos convida o
estáo em com unháo com o altar? 190 aceitais, comei de tudo o que vos sci
que pretendo dizer? Que as vítimas ido vir, sem criar problema de consciénci;i
látricas sáo alguma coisa ou que os ído 28Mas se alguém vos avisar: E carne su
los sáo alguma coisa? 20A bsolutam en- orificada, náo comáis: em atengáo ;i
te náo. Contudo, visto que os sacrificios quem vos avisou e á consciéncia. 29Náo
dos pagaos sáo oferecidos a demonios me refiro á própria consciéncia, mas a
e náo a Deus, náo quero que entreis em do outro. Como assim?! M inha líber
comunháo com os demonios. 2!Náo po dade vai ser julgada pela consciénci.i
déis beber a taga do Senhor e a taga dos alheia? 30Se eu participo dando gragas.
ta. A seguir, vai deter-se num caso parti 10.19 Ver Dt 32,17.
cular. 10.20 Entre tantas referencias a demonios
10,14-22 Sobre a participagáo em banque nos evangelhos, podemos destacar a figura
tes cultuais pagáos. No banquete cultual o de Satá frente a frente com Jesus no deserto;
homem se faz comensal da divindade, a última exigéncia de Satá é ser adorado.
“compartilha” sua mesa (SI 36,9; 63,6; 65,5; 10.21 Ver Dt 4,24.
116,13). Porém, conforme foi dito antes 10.23-30 Retorna ao tema da liberdade
(8,4), poderíam objetar: se os ídolos náo sáo (6,12) e seu limite imposto pela caridade.
nada, seu banquete é neutro. Paulo respon Acrescenta algum aspecto novo, tanto na
de com outra versáo (que a apologética casuística como na motivagáo. Casos do
explorará): as divindades pagas sáo demo cristáo que vive em ambiente pagáo e pre
nios. E esses demonios sáo hoje os “rivais” cisa relacionar-se com ele. Pode-se com
do nosso único Deus, que é um “Deus ciu- parar com a casuística entre judeus propos
mento” (Ex 20,5; 34,14; Dt 4,24; 5,9; 6,15). ta por Ag 2,10-13.
Veja-se especialmente Dt 32,16-17 (pro- 10.23-24 O uso da liberdade há de ser
vávcl inspiragáo de Paulo), que enumera “construtivo”; e só o será, se a preferencia
em paralelismo sinonímico “deuses estra- for dada ao próximo, especialmente ao
nhos, abominacoes, demonios que náo sáo próximo necessitado.
deus, deuses desconhecidos”. 10.25 E diferente a condigáo da pessoa
10,16-17 De passagem nos oferece um e do objeto. O objeto submetido a um rito
denso ensinamento sobe a eucaristía como náo muda sua natureza; a pessoa que par
comunháo com Cristo e com os irmáos. ticipa de um rito se torna responsável.
Expressa-se e afianca-se uma espécie de 10.26 Cita o comego de um salmo (24,1)
parentesco “camal”, de “consangüinidade” que enumera condigóes éticas para entrar
misteriosa com o Senhor. O cálice de bén- no templo.
gáo procede do ritual judaico e é transfor 10,28 O aviso dado em público muda a
mado por Jesús (Le 22,19-20 par.). Frisa situagáo: faz da refeigáo um ato confes
o paralelismo: corpo eucarístico de Cris- sional, induz a alternativa de dar bom ou
to/corpo eclesial de Cristo. O páo único o mau exemplo.
simboliza, a refeigáo o realiza. 10,30 O cristáo se torna responsável
10,18 Ver Lv 3. também pela consciéncia alheia, que ele
Il 511 PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
i>hi i|ih ii.io m t censurar por aquilo pelo jo que com preendais que o Messias é
i» il .Ion ripeas?31Portante,quercomáis cabega de todo homem, o homem é ca
.mi Iii Ii.iis ou fagais qualquer outra coi- b e ra da m ulher e Deus é cabega do
■i l.i/ci tildo para a gloria de Deus. M essias. 40 homem que reza ou profe
N.m deis motivo de escándalo, nem a tiza com a cabsga coberta, desonra sua
1' 111, ir. nem a gregos nem á igreja de cabega; 5ao contràrio, a mulher que reza
i i r . " ( 'orno eu, que tentó agradar a ou profetiza com a cabega descoberta,
1. 1.1. >•.. nao procurando minha vantagem, desonra sua cabega: é como se tivesse
ni.i. ,i de todos, para que se salvem. a cabeca rapada. 6De modo que, se urna
mulher nao se cobrir, que rape a cabe
| 1Imitai-me, como eu imito Cristo. ra; e se é vergonhoso rapar o cábelo,
entáo que se cubra. 70 homem nao pre
i • vou das m u lh eres — 2Eu vos lou- cisa cobrir a cabega, pois é imagem da
>ii porquesem prevoslem braisdem im glòria de Deus, ao passo que a mulher
i 11 mservais meus ensinamentos do mo- é gloria do homem. 8Pois nao é o ho
iln como os transmití. 3Contudo, dese- mem que procede da mulher, e sim a
li I ile respeitar e tratar com compreensáo 11.2 Comparem-se estas “minhas tradi-
■ Indulgencia. góes” com a grande tradigáo de 11,23.
10,31-32 Resume o duplo critèrio que Como exemplo de fidelidade a tradigóes
n ).|- o caso presente e qualquer outro da paternas, pode-se recordar o episodio dos
i uta crista. O primeiro é positivo: mesmo recabitas de Jr 35.
|.. alividades neutras devem ser realizadas 11.3 A “imagem e semelhanga” de Gn
■ni honra de Deus, para gloria de Deus (SI 1,27, que coloca no mesmo plano o ho
11 \ I ); o segundo é negativo: nao dar es- mem e a mulher, é substituida por urna
i ¡tíldalo a pessoas próximas nem a desco- disposigáo hierárquica, com o Messias
nliecidos. como pega intermèdia: Deus é cabega de
Cristo, que é cabega do homem, que é
10,33- 11,1 Paulo pode propor-se como cabega da mulher.
modelo por sua origem judaica e sua de 11,4-5 Há urna zona de igualdade que
d icalo aos pagaos; mas, acima de tudo, convém destacar: o mesmo se diz, sem
|iorque imita Cristo. Cristo é o modelo pri distingáo, do homem e da mulher no cul
mario (Rm 8,29) que o cristào imita me- to: “reza e profetiza” é o substancial. Há
iliata ou ¡mediatamente (FI 3,17; 2Ts 3,7- outra zona que distingue gesto e aspecto:
'))■ Dai brota urna espiritualìdade definida é o addentai. Esta segunda ilustra a parti-
como imitagào de Cristo. cipagáo dos dois sexos no culto, nao con
11,2-16 Pelo tema, a nosso ver secun fundidos (cf. Dt 22,5). Segundo Jr 14,3-4,
dario, e pela maneira de argumentar, esta o homem cobre a cabega em sinai de luto,
mstrugao nos parece desconcertante. Que “defraudado”.
iliíerenca dos outros temas tratados na car 11,7-10 O modo de argumentar pela
ta! Se esta era urna das consultas dos co Escritura é curioso. Gn 1,27 fala de “ima
rintios, Paulo nao tem sobre o assunto ins- gem e semelhanga”, aqui se diz “imagem
Irugóes do Senhor. O que é urna pràtica e gloria”. A imagem se diz do homem, à
condicionada por usos sociais, limitada em mulher cabe a gloria por mediagao do ho
lempo e espago, Paulo tenta justificar com mem. A “correspondencia” (kenegdo, Gn
argumentos da antropologia, “ensina a 2,21-22) é substituida por finalidade. As-
natureza” (v. 14) e da Escritura, nada me sim resulta que a mulher procede do ho
nos que do primeiro capítulo do Génesis mem e é para o homem: isso deve se mos
(vv. 8-9). Joga com o sentido pròprio e trar no culto, e o sinal social é cobrir a
metafórico de “cabega” e com a analogia cabega. Por causa dos “anjos”: a interpre-
do véu e da cabeleira. É possível que se tagào é duvidosa e discutida. Alguns os to-
refira ás mulheres casadas, supondo que mampsir seres celestiais, representantes do
descobrir-se em público era falta de res- munoo ijeleste na liturgia terrestre. Outros
peito (cf. Gn 24,65; Dn 13,32). pensam era oficiantes do culto, aos quais
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 512
mulher do homem. 9E o homem nao foi discutir, nós nao temos esse costuina
criado para a mulher, e sim a mulher pa nem as igrejas de Deus.
ra o homem. 10Por isso, a mulher deve
levar na cabega o sinal da autoridade*, Agape e eucaristía — 17Ao recomen,
em atengáo aos anjos. “ Embora para o dar-vos essas coisas, existe algo que nfli i
Senhor nao haja m ulher sem homem, louvo: vossas reunióes trazem mais pie«
nem homem sem mulher. l2Pois, se a juízo que beneficio. 18Em primeiro lu
mulher procede do homem, tam bém o gar, ouvi que quando vos reunis em a\«
homem nasce da mulher, e ambos pro- sembléia, há divisóes entre vos, e em
cedem de Deus. 13Julgai vos mesmos: parte acredito; 19pois é inevitável qw
é conveniente que urna mulher reze a haja divisóes entre vós, a fim de que m
Deus com a cabega descoberta? 14Náo mostré quais os que entre vós sao autén
vos ensina a natureza que é urna deson- ticos. 20E assim acontece que, quando
ra para o homem ter cábelos longos, 15ao vos reunis, nao coméis a ceia do Se
passo que é honra para a mulher té-los? nhor. 21Pois uns se antecipam para ctm
Pois os cábelos longos sao dados á m u sum ir a própria ceia e, enquanto um
lher com o véu. 16E se alguém quiser passa fome, o outro se embebeda. 22N3o
H.i. i ,i-.as para comer e beber? Des- cada um se examine antes de comer o
, i. mi .1 assembléia de Deus e enver- pao e beber a taga. 2l,Pois, quem nao
niliar. ns que nada tém? Que posso reconhece o corpo (do Senhor), come
li . i \ ns? Vou louvar-vos? Nisto nao e bebe a própria condenagáo.
i., iinivo 'Pois eu recebi do Senhor 30Esta é a causa de haver entre vós
lim vos transmití: O Senhor, na noite muitos doentes, enfermos e que muitos
i-in i|ur era entregue, tomou pao, 24dan- morreram. 31Se nos examinarmos, nao
Ih i'i ,n a-, o partíu, e disse: Isto é o meu seremos julgados. 32E se o Senhor nos
hi 11 0 1111o se entrega por vós. Fazei isto julga, é porque nos exorta para nao nos
ni nn inória de mim. 25Da mesma for- condenar com o mundo. 33Portanto, ir-
niii iliipois de cear, tomou a taga e dis- máos meus, quando vos reunís para co
' I '.la taga é a nova alianza selada mer, esperai uns pelos outros. 34Se al-
.■ni " meu sangue. Fazei isto cada vez guém tiver fome, coma em sua casa;
|in .i IH'beis, em memoria de mim. 2fiDe assim nao vos reunireis para ser con
i iin si-mpre que coméis este pao e be- denados. Os demais assuntos, eu os re-
iii l’i i sla taga, anunciais a morte do Se- solverei quando ai chegar.
I ii, alé que volte. 27Portanto, quem
m ii
que, quando pagaos, seguieis um im 8Um, pelo Espirito, tem o dom de la
pulso para ídolos mudos. 3Por isso vos lar com sabedoria; outro, segundo ti
fago saber que ninguém, movido pelo mesmo Espirito, o de falar com pene
Espirito de Deus, pode dizer: Maldito tragáo; 9outro, pelo mesmo Espirito u
seja Jesus! E ninguém pode dizer: Se fé; outro, pelo único Espirito, cansina'
nhor Jesus! se nao é movido pelo Espi de curas; 10outro, realizar milagres; ou<
rito Santo. tro profecía; outro, o discemimento ili
4Existem carism as diferentes, mas espíritos; outro, falar línguas diferín
um único Espirito; 5existem ministérios tes; outro, interpretar línguas m isten.’
diferentes, mas um único Senhor; 5exis- sas. "M as tudo é realizado pelo m i
tem atividades diferentes, mas um úni mo e único Espirito, repartindo a cailn
co Deus que realiza tudo em todos. 7A um com o ele quer. 12Como o corpo,
cada um é dada urna m an ifestad o do sendo um, tem muitos membros, e ot.
Espirito para o bem comum. membros, sendo muitos, formam u m sil
engano ás falsas divindades. Chama de radores de Moisés foi dada urna parte igual
“mudos” os ídolos, seguindo urna velha e de “espirito” para alivio do chefe, a servi
tradicional polèmica, “tèm boca e nao fa- qo da comunidade (Nm 11).
lam” (SI 115,5; 135,16; Br 6) e selecionan- 12,8-10 Enumera depois nove dons, sem
do entre suas impotencias a falta de co preocupado de ser completo ou preciso
municado. Pertencem á ordem da doutrina (em sentí
A confissào batismal e reiterada de Je do ampio) e dos milagres. Faltam por ora
sus como “Senhor” só é possível por ins os carismas de organizado e beneficen
p ira d 11do Espirito, e é portanto um critè cia. Como antecedente, é obrigatório citai
rio básico para julgar os carismas. Quanto os quatro “ventos = espíritos” do Messias
à anticonfissáo “maldito seja Jesus!” ten- futuro (Is 11,2): “sensatez e inteligéncia,
ta-se explicá-la de modos diversos: serve fortaleza e prudencia, conhecimento e res
de contraste para realzar a confissào posi peito de Yhwh”; e para as manifestacocs
tiva; distingue em Jesús o humano ou orgíacas ou extáticas, a historia de Saúl
corpóreo (maldito) e o divino ou espiri (ISm 10,11; 12,19.24) e várias experién
tual (Senhor); fórmula de abjurado ou cías de Ezequiel).
apostasia exigida dos cristáos pelas auto “Sabedoria e conhecimento” transferí
ridades locáis, judaicas ou pagas; temor dos ao contexto cristáo (cf. 2Sm 23,2, de
de alguns carismáticos de que, durante o Davi; Jó 32,8). “Fé” em seu caráter parti
éxtase, se lhes escape alguma blasfémia cular: para operar milagres (Me 9,23) ou
involuntária (coisa impossível). Em qual- para o testemunho. Junto a “curas”, os
quer caso, um critèrio, por sua natureza, “poderes” poderiam referir-se a exorcis
se abre em duas diregóes. mos. A “profecía” complementa-se com a
12,4-6 O primeiro è afirmar a unidade discrido (cf. IRs 22,24), e serve para co
de origem e a variedade de manifestado. municar instrucóes particulares; as “lín
Sem usar a terminologia trinitària evo- guas misteriosas” (glossolalia) se comple
luida, è claro o pensamento trinitàrio: Es mentan) com sua interpretado.
pirito (Santo), Senhor (Jesus), Deus (Pai). 12.11 Dinamismo e soberanía do Espi
O trio correlativo nao se deve atribuir rito: decide, reparte, ativa.
membro a membro, mas è cumulativo: 12.12 *Ou: o Messias.
carismas, ministérios e atividades tèm sua 12,12-30 Propóe o segundo argumento,
origem comum em Deus (cf. Os 14,9). Nao desenvolvendo a imagem (nao alegoría
sao qualidades naturais, nem fruto do es estrita) de um organismo. É obvio o as
forzó humano; nao sao mérito nem privi pecto da diversidade funcional, é essen-
lègio; urna vez recebidos, nao ficam à dis- cial o aspecto da correlagáo e interdepen
posido autònoma do homem. dencia. A pluralidade e variedade a servido
12,7 Todo carisma individual está orde da unidade. Unida ao Messias, a Igreja é
nado ao bem da comunidade. Aos colabo- como um corpo. Nao é legítimo identifi-
515 PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS
i"|hi, iissim c Cristo*. 13Todos nós, centes nao precisam disso. Deus orga-
mi Riegos, escravos ou livres, nizou o corpo, dando maior honra ao
Mim Imli/amos* nura só Espirito para que carece déla, 25de modo que nao hou-
lumini mos uni só corpo, e absorvemos vesse divisáo no corpo, e todos os mem
iiili *11 I spirito. 140 corpo nào consta bros se interessassem igualmente uns
‘I# imi membro, mas de muitos. 15Se o pelos outros. 26Se um membro sofre, so-
i«i illudesse: Visto que nào sou mào, nào frem com ele todos os membros; se um
|i*ili‘m,'o ao corpo, nem por isso deixa- m em bro é honrado, alegram -se com
i.i tir pcrlencer ao corpo. 16Se o ouvi- ele todos os membros. 27Vós sois corpo
.linlisscsse: Visto que nào sou olho, nào de Cristo e membros singulares seus.
jWilriigo ao corpo, nem por isso deixa- 28Deus os dispós na igreja: primeiro
•in ile |>ertencer ao corpo. 17Se todo o apóstolos, segundo profetas, terceiro
i‘itl|Ht fosse olho, como ouviria? Se fos- m estres, depois m ilagres, depois ca
ludo ouvido, corno cheiraria? 18Deus rismas de cura, de assisténcia, de go
i||*pAs os membros no corpo, cada um verno, de línguas diversas. 29Sáo todos
•■min>quis. I9Se tudo fosse um só mem- apóstolos? Sao todos profetas? Sao to
Iiiii, onde estaña o corpo? 20Portanto, dos m estres? Sao todos taumaturgos?
un membros sào muitos, o corpo é um. 30Todos tém carism as de cura? Falam
'Nfto pode o olho dizer à mào: Nào todos línguas m isteriosas? Sao todos
[inviso de ti. Nem a cabega aos pés: intérpretes? 31Aspirai aos carismas mais
Nilo preciso de vós. 22M ais ainda: Os valiosos. E agora vos indicarei um ca-
iliumbros do corpo considerados mais minho muito melhor.
fnu os sào indispensáveis, 23e os que
i imsideramos menos nobres rodeamos H iño ao am or cristáo — 'A ín
ile inaior honra. Tratamos com maior da que eu fale todas as línguas
ilecència as partes indecentes; 24as de- humanas e angélicas, se nao tenho amor,
. ni cada membro mencionado com uma 13,1 -13 O que num corpo realiza a fun-
timgáo específica na Igreja; é legítimo, sim, cionalidade orgánica, na Igreja o realiza o
iihscrvar o interesse do autor pelos mem- supercarisma que é o amor cristáo. Ao che-
liros mais fracos, mais escondidos, menos gar aqui, a retórica de Paulo se toma lírica
iipurentes. para cantar o amor. Pode-se comparar com
12,13 Comparado com G1 3,28, falta os ensinamentos do sermáo da última ceia
ni|ui o binomio homem e mulher; “gregos” (especialmente Jo 15,12-17) e a primeira
oquivale a pagaos. O Espirito = vento, carta de Joáo. Aos termos gregos corres
loma no batismo figura líquida: o homem pondentes, eros,philia, Paulo preferiu um
nc submerge nele e o absorve. Ou melhor, menos freqüente e mais neutro, agape.
n beber/absorver alude á eucaristía. Todos Porque nao canta o amor conjugal, como
no único Espirito (Ef 4,4-6). no Cántico dos Cánticos, nem o amor de
Ou* submergimos. camaradas que Davi cantou (2Sm 1,19-27),
12,16 “Ouvido que escuta, olho que vé: a nem outros amores humanos, aínda que
limbos fez o Senhor” (Pr 20,12; cf. SI 94,9). nobilíssimos. Canta o amor que o Espirito
12,26 Provável alusáo á paixáo e glo de Deus, de Cristo, infunde no cristáo. Ain-
ria: sofrimento e honra. da que em algumas de suas manifestagóes
12,28-30 Outras duas enumeragóes que coincida com as de outros amores, a ori-
nao coincidem com a precedente em nú gem e finalidade os transcendem.
mero ou em todos os elementos; há alguns Como género literário, parece-se com o
novos, “de governo e assisténcia”. Dentro louvor grego. Do AT, para a comparagáo,
da série e destacando-se, figuram os que convém citar, antes de tudo, o poema de
podemos chamar “cargos”; participam do Ben Sirac, “Melhor que os dois” (Eclo
dinamismo dos carismas, mas tém fungáo 40,18-27): o poeta vai enumerando duplas
de diregáo. Sao o trio apóstolos, profetas de valores e acrescenta um terceiro ele
e mestres. Compare-se com Rm 12,6-8. mento “melhor que os dois”; até chegar
PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS 516
ao décimo, melhor que os dois e que os 7), náo é para negar-lhes o amor; Paulo
vinte e nove, o “respeito de Yhwh”. Mais imagina urna hipótese em que o paradoxo
freqiientc é o elogio da Sabedoria por au acrescenta énfase á afirmagáo. Nós pode
tores sapíenciais: a busca fracassada e re- mos pensar em movimentos que por can
solvida (Jó 28), grande parte do lívro da saco ou desprezo renunciam aos bens, no-,
Sabedoria, os vinte e um atributos (Sb quais se queimam como gesto de protes
7,22-23). Também o amor do presente ca to; náo seria semelhante entrega a grande
pítulo parece personificado. prova de amor? Paulo sobe do ato em si
Podemos dividir o canto em très partes: ao espirito que o anima.
valor superior do amor (vv. 1-3), por suas 13,4-7 Quinze características do amor,
qualidades (vv. 4-7), por sua duraçâo (vv. ñas quais a abundancia conta mais que ;i
8-13). precisáo. Oito sáo enunciados negativos,
13,1-3 Carismas de falar (12,28), de o que se deve evitar; há um quarteto posi
conhecer (12,8), de fazer milagres (12,9), tivo final. Dado o caráter de série, poder-
de entrega. se-iam encontrar breves paralelos ou ilus
13.1 Pensa em sua experiéncia de via t r a r e s em conselhos sapienciais e em
jante que o pos em contato com línguas relatos; p. ex. “o amor dissimula as ofen
diversas. Imagina os anjos falando mu sas” (Pr 10,12); “lábios honrados tém gos-
tuamente numa Iíngua celeste, náo na que to de afabilidade” (Pr 10,32); “O reflexi
usam para comunicar-se com os homens. vo sabe agüentar” (Pr 14,17) etc.
Os instrumentos musicais citados sáo tai- 13,8 Os carismas válidos em si ficam
vez de percussáo; de qualquer modo, náo relativizados ao comparar-se com a pleni-
produzem urna linguagem articulada. tude e a perfeigáo do amor; sáo expedien
13.2 Mistérios sáo revelados ou expli tes provisorios.
cados ao profeta, como afirma Amos (3,7). 13.12 Os espelhos antigos, de metal
Ezequiel e Zacarías contam suas visóes; polido, náo eram táo perfeitos como os
Daniel acrescenta explicagóes de um anjo. nossos de mercúrio. Ver frente a frente sig
Depoís o texto menciona a fé taumatúrgica nifica o trato pessoal de Moisés com o
anunciada por Jesús (Me 11,23 par.). Senhor (Nm 12,6-8); era o desenlace da
13.3 A terceira é paradoxal (alguns ma luta de Jaco (Gn 32,31) e era a esperanga
nuscritos léem “para gloriar-me” = por do salmista (17,15).
vaidade): é possível semelhante entrega 13.13 O trio final (G15,3-4; lTs 1,3; 5,8)
sem amor? Por convicçâo estoica, niilis- náo corresponde ao nosso trio de “virtu
mo, alarde louco? Pense-se nos jovens na des teologais”, já que a caridade significa
fornalha (Dn 3) ou nos sete irmáos (2Mc neste capítulo o amor fraterno.
li" 517 PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS
14, l -39 A j ulgar pela extensáo relativa 11); náo é necessàrio que contenha uma
iIh cnpítulo, Paulo julgava necessàrio dei- nova revelagáo, nem que seja predigáo.
<ni bem claras as coisas, ou os corintios 14.1 Do “amor” acaba de falar; dos
« iiiiii entusiastas e nao fáceis de se con carismas ou dons espirituais falou no cap.
vincer. A conclusao (v. 37) denota um tom 12. Entre eles concede o primado à profe
lli'i iiamente irritado. Dado que o vocábu- cía, que vai contrapor sistematicamente à
ln ).',rego glossolalia nao se aclimatou em glossolalia. Sua preocupagào apostòlica é
portugués, traduzo lalein glossei/glossais a “edificagào” da Igreja, que se antepòe
I»ir “falar línguas misteriosas”. Parece ter ao proveito individuai.
siilo comum ñas primitivas comunidades 14.2 Dirige-se a Deus sem necessidade
i' recobrou vigencia em alguns grupos nos de redigir um texto, contente em “derra
illlirnos decenios. mar seu coragáo” (expressáo do AT), bor-
Parece consistir em pronunciar uma bulhando sons (como o dia no SI 19,3):
si'rie de fonemas ou sons sem sentido ar Deus o entende. “Mistérios” ou coisas es
ticulado na propria língua ou em outras condidas.
i'Htrangeiras. É síntoma de um estado es 14.3 Encontramo-nos numa liturgia da
piritual, expressáo de sentimentos, sem palavra, onde se distinguem ou enumeram
Inlormacáo articulada. Está mais perto do diversas atividades: “exortar, animar, re
I j c s t o que da palavra; está antes da inter- velagáo, conhecimento, profecía, ensina
|rigáo. mento, instrugáo”. Náo é fácil defini-las e
As vezes é traduzível em linguagem ar distingui-las.
ticulada e significativa. O “espirito” hu 14,4-5 Na glossolalia a pessoa se expres
mano sente e experimenta, a “mente” com sa privadamente; com a profecia comuni
preende e articula o que ainda nao estava ca uma mensagem da parte de Deus. Mas,
nrticulado. se hà algum componente de informagào
Pode-se comparar com manifestagóes misturado com a simples expressáo, é ne
extáticas das antigas comunidades pro- cessàrio traduzi-lo a uma lingua corrente
féticas (bene nebi’im, ISm 10,1-12; 19, inteligivel.
18-24). Para a pessoa, o dom é desafo 14,6 O “ensinamento” é proposto em
ro, confirmagào; para a comunidade cren- nome pròprio, ainda que a pessoa tenha o
le, pode ser testemunho da agáo misterio carisma de ensinar.
sa do Espirito; para os náo-crentes, pode 14,7-8 Também os instrumentos musi
ser um fenòmeno desconcertante, até ridí cais inertes, que nào transmitem informa
culo. gào articulada, devem estar de algum modo
Opoe-se a profecía, que significa aqui afinados para emitir urna melodia reconhe-
falar movido pelo Espirito, em nome de cível. Escolhe como representagáo um ins
Deus, dirigindo-se á comunidade ou a um trumento de sopro e outro de corda. A parte
membro (como Ágabo, At 11,28; 21,10- a trombeta, que segundo as convengoes
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 518 I l li
das línguas: se nao pronunciáis pala- os outros, prefiro dizer cinco palavi
vras inteligíveis, como se entenderá o que inteligíveis do que pronunciar de/ mil
dizeis? Estaríeis falando ao vento. 10Com m isteriosas. 20Irmáos, náo sejais crin»
tantas línguas existentes no mundo, ne- gas quanto à mentalidade; sede criun
nhuma carece de significado. n Se nao gas quanto à malicia e adultos quanti» |i
entendo o significado de urna língua, mentalidade. 21Na lei está escrito: l'm
sou um estrangeiro para aquele que me meio de homens de línguas e lábios <mi
fala, e ele o é para mim. 120 mesmo trangeiros f alarei a este povo, e //<•/»»
acontece convosco: Já que aspirais a assim m e obedecerá, diz o Senhor. 11<
dons espirituais, procurai-os abundan sorte que as línguas misteriosas sao m
tem ente para a edificagáo da igreja. nal para os que nao créem, náo para in
13Portanto, quem fala urna língua miste que créem. A profecía náo o é para <r
riosa pega o dom de interpretá-la. 14Pois, que náo créem, mas para os que créem
se rezo em língua misteriosa, enquanto 23Suponham os que se reúna a ign-|¡i
m eu espirito reza, m inha m ente fica inteira e todos vos comeceis a falar lm
estéril. lsO que posso fazer? Rezarei guas misteriosas: se entram alguns rv
com meu espirito e minha mente, can- tranhos ou que nao créem, náo diráo que
tarei hinos com meu espirito e minha estáis loucos? 24Ao contràrio, se todo-,
mente. 16Se deres gragas com teu espi profetizam quando entra alguém qm
rito, com o responderá amém á tua agáo náo eré ou um estranho, sente-se intci
de gragas aquele que ocupa um lugar pelado por todos, julgado por todos
particular, se náo sabe o que dizes? Dás “5revelam -se os segredos de seu cora
gragas de modo belo, mas o outro náo gáo, cai de brugos adorando a Deus i
se edifica. 18Eu, gragas a Deus, falo lín declara: Realmente Deus está convosco
guas m isteriosas mais que todos vos. 26Que concluimos, irmáos? Quandi i
' 9M as numa assembléia, para instruir vos reunis, que um traga um hiño, ou
produz sínaís significativos (como nossos bavam do profeta arremedando seus orá
toques de alvorada, siléncio, retirada, in culos, como se fossem ligóes de um pro
cèndio). Pode-se ver: a pràtica em Nm 10, fessor na escola; o profeta retorce a zoni
e como imagem Am 3,6; Is 58,1. baria, ameagando com a opressáo d<
14,10-11 Segunda comparagáo, de urna estrangeiros de língua ininteligível. Por sua
língua estrangeíra e desconhecida: como conta, Paulo acrescenta que é puro casi i
sofrimento segundo SI 114,1; Dt 28,50; go, náo salutar, porque náo induz á con
como castigo em Gn 11, a experiéncía de versáo.
Ezequiel 3,5s. 14.22 A ligagáo deste versículo com o
14,13-14 Outra ativídade litúrgica sao a contexto é obscura: depende da fungáo
súplica e o hiño. A glossolalia reza como atribuida ao “sinal”, revelagáo, denùncia
simples efusáo, sem articular um sentido ou prova. Alguns o léem como objegáo da
inteligível para a pessóa que reza. As sú queles que defendem a glossolalia como
plicas do salterio sáo oragáo articulada em testemunho para os infléis; a tal objegáo res
seu sentido. E possível, ao menos em par ponderia Paulo nos versículos seguintes.
te, traduzir em palavras a simples efusáo, 14.23 Todos falando ao mesmo tempo
dar linguagem ao sentimento. em pseudolínguas daráo a impressáo di
14,15-16 Ao mesmo campo pertence a urna reuniáo de loucos ou de um culto or
béngáo ou agáo de gragas. Alguém a pro giaco pagáo.
nunciava e a comunídade, grega, respon 14,24-25 O profeta inspirado pode leí
día com a fórmula semítica amém. os pensamentos, denunciar seus pecados
14.19 “Instruir” ou catequizar. ao recém-chegado, fazer que os reconhe
14.20 Ef 4,14; F1 3,15. ga e que por isso reconhega Deus presente
14.21 “Lei” equivale aqui a Escritura. (Zc 8,23).
A citagáo de Is 28,11 -12 náo coincide com 14,26-33a Com toda a ordem exigida,
a versáo dos Setenta. Uns ouvintes zom- as assembléias descritas dáo a impressáo
519 PRIMEIRA CARTAAOS CORINTIOS
Itn mu ensinamento, outro urna revela algo, perguntem a seus maridos em casa.
ron unirò urna m ensagem misteriosa, É vergonhoso que uma mulher fale na
m i l i u sua interpretaçâo: tudo para edi- assem bléia.)
lli .il,,in comum. 36Partiu de vós a palavra de Deus?
'Se se t'ala em iínguas misteriosas, Chegou somente a vós? 37Se alguém se
liilrm dois, no máximo très, um depois considera profeta ou inspirado, reco-
ilii u n i r ò , e que outro o interprete. _8Se nhega que o que escrevo é preceito do
Milu lia intérprete, cale-se na assembléia Senhor. 38E quem nao o reconhecer, nao
uti lule para si e para Deus. 29Tratando- será reconhecido. 39Em síntese, irmáos,
•ii ilo profetas, falem dois ou très, e os aspirai a profetizar e nao im peláis fa-
mil tu s devem discernir. 30Se um dos que lar em Iínguas misteriosas. 40E que tudo
hnIiiu sentados recebe uma revelaçâo, se faga com ordem e harmonía.
u île a n t e s cale-se. 31Todos podéis pro-
l i 'l t / a r , cada um por sua vez, para que Ressurreido dos mortos — 'Ago
I n d u s aprendam e se animem. 32Mas a ra, irmáos, quero comunicar-vos
I n s p i r a ç â o profètica está vinculada aos a boa noticia que vos anunciei, que acei-
p r o f e t a s ; 33porque Deus nao quer a anar tastes e conservastes, 2que vos salva, des
q u í a , mas a paz. de que conservéis a mensagem que vos
(Como em todas as assem bléias de anunciei; do contràrio, teríeísraceito em
consagrados, 34as mulheres devem calar váo a fé. 3Antes de tudo, eu vos transmití
Itti assembléia, pois nao lhes é permiti- o que havia recebido: que Cristo mor-
ilu Calar, mas devem submeter-se como reu por nossos pecados segundo as Es
prescreve a lei: 35se querem aprender crituras, 4e foí sepultado e ressuscitou
lie variedade e animagáo; bastante espon- 15, l-3a A introdudo é solene porque dá
lllneas, sem seguir um programa prede lugar ao fundamental e funcional: é a “boa
terminado; com ampia margem para a par noticia” que o apóstolo lhes anunciou (seu
ticipado dos presentes. E isso nao se kerigma), que eles “aceitaram” com a “fé”,
considera contrario á paz nem á vontade tornando-se “fiéis”; é “boa” porque “sal
ilc Deus. va” quem a aceita e mantém. Nao é um
14,33b-35 A instrugáo interrompe o dis talismá que opera mágicamente, exige a
curso, contradiz o que foi dito em 11,5, colaborado humana (aviso aos corintios
Upela á “lei” contra o costume de Paulo antes de entrar na matéria). Paulo o “rece-
em casos semelhantes. E com toda a pro- beu”: do próprio Jesús como revelado, de
babilidade uma interpolado posterior (que outros como fórmula; e o “transmitiu” fi
entra no canon fortemente condicionada). elmente. Receber-transmitir é o esquema
Alguém da gerado seguinte, de um gru de uma cadeia de tradigáo.
po conservador, pode ter acrescentado esta 15,3b-5 Fórm ula de p ro c la m a d o
norma restritiva, repetindo nela algumas (kerigma) e de profissáo de fé (credo; cf.
palavras para adaptá-la ao contexto (vv. At 13,29-31). E o germe de elaboragóes
28.30.34 calar-se, w . 32.34 submeter-se, ulteriores? E um resumo de muitos ensi-
vv. 31.35 aprender). namentos? (Faz-nos lembrar a profissáo de
14,36-38 Estas frases revelam que Pau Dt 26,5-10, que outrora se acreditou ser o
lo encontrava resistencias na comunidade credo primitivo e germinal dos israelitas e
de Corinto, talvez por excesso de fervor mais tarde se viu que era uma síntese mui-
ou pelo gosto e satisfado dos carismas. to madura e decantada.) Está composto de
frases breves, bem tratadas em unidade
15,1 -58 Exposido fundamental sobre (nao mera sucessáo). Dois fatos correla
a ressurreido. A ressurreígáo de Cristo, tivos: morte-ressurreido, ambos segundo
objeto da profissáo de fé das testemunhas a Escritura; morte que expia os pecados (e
(vv. 1-11); a ressurreido dos cristaos cor substituí as precedentes expiagóes). A se
relativa á de Cristo (vv. 12-34); o modo pultura rubrica a morte, as aparigóes ates
da ressurreido (w . 35-58). tara a vida. A morte é redentora, livra dos
PRIMEIRA CARTA AOS CORINTIOS 520
"M.r. nao! Cristo ressuscitou como ao dizer que tudo lhe está submetido, é
in lum ia ilos que morreram, 21visto que, evidente que se exclui aquele que tudo
> l«ii iiin homem veio a morte, por um lhe submeteu. 28Quando tudo lhe for
i.... h uí vem a ressurreigáo dos mortos. submetido, também o Filho se subme-
i .lo que todos morrem por Adáo, terá aquele que lhe submeteu tudo, e
|inli i', iccuperaráo a vida por Cristo. assim Deus será tudo em todos. 29Se nao
i .nía um por sua vez: a prim icia é fosse assim, o que fazem os que se ba-
i ir.lo; depois, quando ele voltar, os tizam pelos mortos? Se os mortos nao
. ir.iai>s; -^a seguir vira o fim, quando ressuscitam, por que se batizam por eles?
i Ir rntregar o reino a Deus Pai e aca- 30Por que nós nos expomos continua
li.ii rom todo principado, autoridade e mente ao perigo? 31Dia após dia estou
|n iilrr. '‘’Com efeito, eledeve reinar ató m orrendo. Juro, irmáos, pelo orgulho
Iii it idos os seus inimigos sob seus pés; que sinto de vos diante de Cristo Jesús
'ii ultimo inimigo a ser destruido é a Senhor nosso. 32Se por motivos hum a
minie. 21Tudo submeteu sob seus pés: nos lutei com as feras em Éfeso, de que
quando eu chegar, nao será necessàrio mente; irá quando for oportuno. 1 \ i
fazer a coleta. ^Quando chegar, envia- giai, permanecei firmes na fé, sede v i
rei com cartas os que tiverdes escolhi- lentes e corajosos. 14Tudo o que li/i i
do, para que levem vossas ofertas a Je- des, fazei-o com amor. 15Tenho qn.
rusalém. 4Se convém que tam bém eu fazer-vos uma reco m en d ad o : Conl>•
vá, eles me acompanharáo. 5Eu vos fa ceis a familia de Estéfanas: sao a pil
rei urna visita quando atravessar a M a mícia da Acaia e se aplicaram ao sen i
cedònia, pois deverei passar por ali. 6É 5 0 dos consagrados.
possível que permaneva algum tempo 16Peqo-vos que estejais á disposk.iu
ou inclusive passe o inverno convosco, de gente como essa e de quantos cola
para que me ajudeis a continuar a via- boram com suas fadigas. Estou mui
gem. 7Nessa ocasiào, náo vos quero ver to contente com a chegada de Estéfan 1
de passagem, mas espero passar urna Fortunato e Acaico: eles compensaran;
temporada convosco, se o Senhor o per vossa ausencia, 18acalmaram meu es
mitir. 8Estarei em Efeso até Pentecos- pírito e o vosso.
tes, 9pois me foi aberta urna porta gran 19A sigrejasda Asia vos saúdam. Mm
de e favorável, em bora os adversários tas saudagoes vos enviam como cir.
sejam muitos. 10Quando Timòteo che táos Aquila, Priscila e toda a común 1
gar, fazei com que náo se sinta assusta- dade que se reúne em sua casa. 20Todos
do entre vós, pois trabalha na obra do os irmáos vos saúdam. Saudai-vos mu
Senhor como eu. u Ninguém o despre- tuamente com o beijo sagrado. 21A san
ze. Despedi-o e fazei-o prosseguir seu dagáo de Paulo é de meu punho e letra
caminho, para que se junte a mim, pois 22Quem náo am ar o Senhor seja mal
o espero com os irmáos. 12Insisti com dito. Vem, Senhor!* 23A graga do Se-
o irmáo Apolo para que vá ver-vos com nhor Jesús esteja convosco. 24Tendes
os irmáos; mas ele se recusa decidida- todos o meu amor por Cristo Jesús.
INTRODUQAO
lie ( orinto e sua comunidade temos 1 Cor e que o ofensor seja o incestuoso
Hiln Iinstante e coisas importantes. Por de IC o r 5. N o extremo oposto se en-
i, i provocado a carta precedente, ICor, contram os que consideram 2Cor como
i t<i/ comunidade teria muitos méritos compilagáo posterior de seis fragm en
hutnricos. M as deparamos com outra tos ou escritos de Paulo. Com a m aio
. ili in, a que chamamos 2Cor. Sobre as ria nos inclinamos a pensar que a enig
ncnnstáncias que motivaram esta “se- m ática carta se encontra nos caps.
i limiti ” carta, temos mais dúvidas que 10—13. A póiam a hipótese a súbita mu-
cuezas. Primeiro, porque Lucas dei- danqa de tema e conseqiientemente de
1, 11/ urna lacuna narrativa; segundo, estilo: Paulo se torna polèmico, apai-
iuni¡ue a carta brinca de esconde-es- xonado, recorre à ironia e ao sarcasmo,
• Inule com suas alusóes a coisas co- desmascara os rivais como falsos e in-
nltccidas das duas partes, desconheci- teresseiros, reivindica sua linha de con-
•liis para nós. A carta nos intriga e duta, compara-se com eles.Assim, com
\uscita nossa pesquisa. tragos nervosos, sacudidos pela cóle
( 'omecemos ordenando alguns d a ra, vai tragando seu retrato apostólico.
llos. a) A s visitas de Paulo a Corinto: Um detalhe significativo é que em 1—
itittincia-se, quase como ameaga, urna 2 se apresentam como passados os ver
Icrceira visita ", 12,14; 13,1-2; e urna bos que em 10-13 indicam propósito,
mtssáo de Tito (em lugar de Paulo), 7,5- segundo a correspondencia: 2,9 e 10,6;
7.13-16; 12,18. b) Escritos: menciona- 1,23 e 13,2; 2,3 e 13,10. Os corintios
\e urna carta precedente, escrita “com se queixam de que P aulo tenha cance
Ingrimas ”, 2,3-4; 7,8. c) O ofensor cas lado a prometida visita, de que tenha
tigado e perdoado, 2,5-11 ; 7,12. Em faltado à palavra; o apóstolo responde
trsumo: Paulo fe z urna segunda visita em tom pessoal.
,i Corinto, provavelm ente para resol Quanto ao resto da carta, 8—9 pode-
ver problemas; entáo, ou depois de sair, ria ser um ou dois bilhetes, nos quais
/ni gravem ente injuriado p o r um m em se prom ove a coleta para a igreja p o
bro da comunidade. Em Corinto foi-se bre de Jerusalém, assunto m uito caro
consolidando um grupo de rivais, que a Paulo como expressáo de unidade e
iliscutiam a autoridade do apóstolo e solidariedade entre as igrejas. Os w.
rstabeleciam a pròpria. Paulo envia urna 6,14—7,1, p or sua posigào violenta, pelo
curta muito dura e ameaga com urna ter- tem a e estilo, difícilm ente se podem
ceira visita. Entrementes encontra Tito, atribuir a Paulo. Surpreende na carta
i/ue volta da sua missáo pacificadora asfalta de nom es na saudagáo final.
com boas noticias: Paulo escreve ou D e táo com plicadas circunstancias,
tra carta conciliadora e renuncia à ter- e pelo talento e desejo de Paulo, bro-
ceira visita. tou um escrito muito pessoal e intenso
Agora se trata de: a) identificar a Quase tanto como o valor da doutrina.
carta “com lágrimas ”; b) definir a uni- pesa a comunicagào da pessoa. A car
tlade oupluralidade de 2Cor. Sendo táo ta vem a ser um tratado vital da mis-
Imucos os dados, nao é estranila a di sao apostólica; inclusive coloca o apòs
vergencia de opinióes. Bem poucos de- tolo acima de M oisés, num inspirado
fendem ainda que a citada carta seja com entário m idráxico (3,1—4,6). O
SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS 526 INTRODUí.A'l
A póstolo é ministro da reconciliaçâo 1.2.14-4,6 M inistério apostólico .
realizada p or Jesús Cristo (5,17-6,10). comparagáo com Mois<
Jesus Cristo é o Sim categórico e defini
4,7-5,16 Confianza em Deus e <•.
tivo, o cumpl imento das promessas (1,
peran^a da gloria.
19-20). O castigo que a comunidade im- 5,17—6,13 O ministério da reconcilia
póe equilibra-se com o perdüo que o
gao e o paradoxo do Apon
ofendido oferece (2,5-11 ). A Igreja espo
tolo.
sa do Messias e o ciúme de Paulo por ela
6.14—7,1 Insergáo: templos de Deir,
(11,1-4). A força da fraqueza (12,1-10).
N âo é táo fá c il reduzir esta carta a II. 8 e 9 A coleta para a igreja <l>
urna sinopse, mas podem os tentar. Jerusalém
l >< Paulo, apóstolo de Cristo Jesus tribulaçâo. 5Pois, corno abundantes sâo
I I >•il vontade de Deus, e do irmäoTi-
>niHi h , a igreja de Deus em Corinto e a
nossos sofrimentos por Cristo, assim
por Cristo é abundante nosso consolo.
imlii'. us consagrados de toda a provin- Pois, se sofremos tribulaçôes, e para
ln ila Acaia: 2graça e paz da parte de vosso consolo e salvaçâo; se recebemos
i ii ir, m u s s o Paie do Senhor Jesus Cristo. consolos, é para vosso consolo, que vos
dà forças para suportar o que nós su
I nuvolo na tribulaçâo — 3Bendito portamos. Nossa esperança em relaçâo
i |n Deus, Pai de nosso Senhor Jesus a vós é firm e, pois sabem os que da
i ir.in. Pai compassivo e Deus de todo m esma forma que partilhais nossos so
.'ir,ulo, 4que nos consola em qualquer frim entos, tam bém partilhareis nosso
iiilmlaçâo, para que nós, por força do consolo.
itiisolo que recebemos de Deus, pos- 8Nâo gostaria, irmâos, que ignorás-
1111os consolar os que sofrem qualquer seis o que tivemos de agüentar na pro-
1,1-2 Saudagáo costumeira, que incluí: consolo auténtico (SI 94,19; Is 57,18), e
un remetentes com nome e título, os desti- pela causa que os inspira: Cristo (cf. Mt
imlarios, a saudagáo. Ao “apóstolo” se as- 5,11-12 par.).
!» ia um irmáo, o mais fiel colaborador “Compassivo” é um dos títulos básicos
.Ir I’aulo. A comunidade de Corinto se abre da revelagáo do Senhor (Ex 34,6), repeti
.i Inda a provincia romana da Acaia. do na liturgia, ligado á sua paternidade (SI
“Consagrados” (a Deus), participam da 103), corrente na piedade islámica. O con
.»a santidade, como povo de Deus (cf. Ex solo que o apóstolo recebe redunda em
I *>,fi). “Graga”, saudagáo grega, e “paz”, favor de seus fiéis, pela solidariedade ou
wmdagáo hebraica, se transferem unidas comunháo em sofrimento e alegría. Des
.ni contexto cristáo. de o comego a carta estabelece um tom
1.3-110 profeta do exilio — que costu- dramático.
III,unos chamar de Segundo Isaías — , que 1,3 “Bendito seja Deus” é fórmula cor-
nc apresenta como “evangelista” ou arau- rente na piedade de Israel. Paulo acrescenta
ln de boas noticias, comega sua mensagem um título que serve de identificado defi
líos atribulados judeus exilados em Babi nitiva: “Pai de nosso Senhor Jesús Cris
lonia com um imperativo repetido: “con to”. Assim o será sempre para os cristáos.
solai, consolai meu povo” (Is 40,1). 1,8-10 Há outro vínculo mutuo: a ora-
Sua pregaqáo é mensagem de alento e gáo pelo que sofre ou está em perigo, e a
ronsolo (ver também SI 94,19). Paulo, pre agáo de gragas por sua libertagáo; recor-
dador de seu “evangelho”, cuja atividade de-se, a esse respeito, a “oragáo insisten
descreve nesta carta, comega com urna te” da comunidade por Pedro encarcerado
mensagem de “consolo na tribulagáo”; e condenado á morte (At 12,5).
melhor que mensagem, poderíamos cha- Vários salmos dáo testemunho desse
má-la testemunho. Dez vezes em nove espirito de solidariedade na súplica ou na
versículos soa o termo consolo ou conso agáo de gragas (SI 35,27; 40,17).
lar. Com tal consolo se fortalecem a espe O perigo de morte foi, na consciencia
ranza e a confianza. de Paulo, como morte antecipada, “sen-
1.3-7 A tensáo de opostos, “tribulagáo” tenga suspensa”; a “esperanga” em Deus
e “consolo” se resolve de modo paradoxal foi como ressurreigáo antecipada (cf. SI
pela agáo de um Deus Pai, fonte de todo 30,4 “me fizeste reviver quando descia á
SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS 528
víncia da Asia: algo que nos abateu táo vosso orgulho, assim como vós o u<ml
acima de nossas forças, que nao espe- so. 15Com essa confianza eu m e pri >|m i
rávamos sair com vida. ir primeiramente visitar-vos, comí >no
9Dentro de nós trazíamos a sentença vo obséquio, lftseguir depois para a M .
de morte, para que nao confiássem os cedònia e dai retornar a vós, para qm
em nós, mas em Deus que ressuscita os preparásseis minha viagem à Judi n
mortos. 10Ele nos livrou de táo grave Seria tal propósito um ato de levian
perigo de morte, e continuará nos liber dade? Decidi-o por m otivos humano«
tando. Estou seguro de que nos livrará vacilando entre o sim e o nao? 181h n
de novo, "s e colaboráis rezando por me é testemunha de que, quando nn
nós. Assim, sendo muitos os que me al- dirijo a vós, nao confundo o sim e (i
cançam esse favor, seráo muitos os que nao. 19Pois o Filho de Deus, Cristo li
o agradeceráo. sus, aquele que nós, com Silvano e l i
moteo vos pregamos, nao foi um sim r
M udança de planos —- 12Nosso orgu- um nao, já que nele se cum priu o sim,
Iho consiste no testemunho da conscien 20porque todas as prom essas de Di n
cia. Ou seja, que pela graça de Deus, e nele cumpriram o sim, e dessa form i
nao por prudencia humana, me compor- nós por ele respondemos amém, par;i n
tei com todos, e em particular convosco, gloria de Deus. 21E Deus quem nos man
com a simplicidade e sinceridade que tém, a nós e a vós, fiéis a Cristo; ungin
Deus pede. 13Nâo vos escrevi outra coi nos, 22selou-nos e pós em nosso cora
sa, a nao ser o que ledes e compreendeis. gao o Espirito como penhor.
14E como em parte o compreendestes,
espero que o compreendais inteiramen- M otivos da m udanza de planos
te: que no dia de nosso Senhor seremos 23Juro por minha vida e tomo Deus poi
ii !■munii.i que, se nao fui a Corinto, tigo que a maioria lhe impós. 7Agora,
l>ii i un misidoragáo a v ó s.24N ào somos ao contràrio, deve-se perdoá-lo e ani-
limili-, il*- vossa fé, mas cooperadores má-lo, para que náo aconteqa que a pena
i l i v i i v . a alegría, já que vos mantendes excessiva acabe com ele. 8Por isso vos
111nii ’. na lé. exorto a garantir-lhe vosso amor. 9Ao
vos escrever, queria pór-vos á prova,
y ' l 'n idi por conta pròpria nao visi- para ver se obedecíeis em tudo. 10A
é>á i.u vos, para nao vos afligir. 2Pois, quem perdoais, eu também perdòo; pois
tu viis aflijo, como posso esperar que meu perdáo, se tive algo a perdoar, foi
ni' nlegre aquele que afligi? 3Eu vos por vós e em atenejáo a Cristo, n para
..... evi nquilo, para que ao chegar nao náo dar ocasiáo a Satanás, cuja astúcia
un illigissem os que deveriam alegrar- náo desconhecemos.
11ii . |ii-isuadido como estava de que m i 12A o chegar a Tróade para anunciar
tili.i alegria era também a vossa. 4Com a boa noticia de Cristo, pois o Senhor
inunde abatimento e ansiedade vos es- me abria as portas, e náo encontrando
. i rvi , derramando lágrimas, nao para ai Tito, meu irmáo, 13náo tive sossego;
vii', afligir, mas para que conhecésseis por isso me despedí deles e parti para a
n (.’lande amor que vos tenho. M acedònia.
difunde em todos os lugares o aroma do tinta, mas com o Espirito do Deus vi\ n
seu conhecimento. 15De fato, somos o nao em tábuas de pedra, mas em coi.i
aroma de Cristo oferecido a Deus, para góes de carne.
os que se salvam e para os que se per- 4Temos essa confianza em Deus, gi .1
dem. 16Para estes, cheiro de morte que gas a Cristo. 5Náo é que por nossa p.u
mata; para aqueles, fragrancia de vida te sejamos capazes de atribuir a nós ,il
que vivifica. E quem é digno disso? guma coisa, mas nossa capacidade vem
1'Porque nao vamos, com o muitos, tra de Deus, 6que nos capacitou para ;ul
ficando com a palavra de Deus, mas ministrar urna alianga nova: nao de siin
falamos com sinceridade, como da par pies letras, mas de Espirito; porque .i
te de Deus, diante de Deus, e com o letra mata, o Espirito dá vida. 7Pois, si|
membros de Cristo. o ministério de morte, com suas letni:
gravadas em pedra, se realizou com gli')
IComegamos outra vez a recomen- ria, a ponto de os israelitas nào pode
3 dar-nos? A caso precisam os de car
tas de re c o m e n d a d o vossas ou para
rem fixar o olhar no rosto de Moisés
por causa do brilho transitorio de seu
vós? 2Vós sois nossa carta, escrita em rosto, 8como nao será mais glorioso o
nosso coragáo, reconhecida e lida por ministério do Espirito? 9Pois, se o nu
todos. 3Dem onstrais ser carta de Cris nistério da condenagao era glorioso,
to, despachada por nós, escrita nao com quanto mais o será o ministério da ab
O vencedor de urna batalha importante vado em tábuas de pedra (Ex 24,12) e a leí
desfilava cm “triunfo”, acompanhado de impressa no coragáo (Jr 31,33). Cristo é o
um séquito de prisioneiros e entre nuvens autor dessa carta viva, e Paulo o ama
de incensó e aromas (cf. SI 68,19). Paulo nuense ou carteiro. Acrescenta urna opo-
se alegra de desfilar como prisionciro no sigáo que prepara o v. 6: a tinta que molh:i
triunfo de Cristo, difundindo-lhe o aroma, e marca o pergaminho. O Espirito-vento
que é o conhecimento dele. que se infunde no íntimo.
2,15-16a Aimagem se transfere ao cam 3,4 Daqui até 4,6 (ou ao menos até 3,18),
po cultual dos sacrificios, que iam acom- o autor propóe urna reflexáo sobre o mi
panhados de incensó e defumadouros e nistério do apóstolo comparado com o de
“aroma que aplaca” (Ex 30,34; Lv 2,1- Moisés. O estilo é midráxico, conduzido
2.15-16; 16,12; Nm 15 e 28). O aroma da principalmente pela lógica dos símbolos e
pregagáo evangélica é bivalente, confor apoiado numa série de contrastes. Nao se
me é recebido: mortífero para uns, vivi deve buscar nestas linhas urna exegese cien
ficante para outros. tífica do éxodo. Os textos de base sao to
2,16b-17 Soa como enunciado de um mados das tradigóes (ou lendas) sobre
principio. Ninguém é por si apto para a Moisés: Ex 33,7-11 e 34,29-35.
empresa. O apóstolo é mediador da “pala Moisés voltara “radiante” após ter esta
vra de Deus”, que é o evangelho, é res- do pessoalmente com o Senhor glorioso.
ponsável perante Deus e age vinculado ao A “gloria” de Yhwh é luminosidade que se
ministério de Cristo. Nao pode ser um co imprime e se reflete no rosto de Moisés.
merciante que, negociando com a mensa- Os israelitas o reconhecem, com temor
gem, a torna inofensiva, como faziam os reverencial, como mediador da palavra de
falsos profetas: o evangelho nao é mer- Deus, que ele comunica, e da gloria de
cadoria. A frase tem urna ponta de polémi Deus, que reflete. Para nao intimidá-los,
ca contra “muitos” nao mencionados. Ver Moisés cobria o rosto com um véu até
lPd 4,11. “voltar” a (a tenda do encontro com) o
Senhor. Com estes símbolos, Paulo tecc
3,1-3 Na vida citadina e na crista eram sua exposigáo.
correntes as cartas de recomendagáo (At 3,6-9 Comega a contraposigáo em ter
18,27; Rm 16,1-2; ICor 4,10). Combina e mos audazes, extremados (nao busca ma-
opóe duas citagóes do AT: o decálogo gra tizes). A lei da antiga alianga era boa em
531 SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS
~i ii i-onteúdo e trazia como acréscimo clá- menéutico: com a vinda de Cristo ou sua
iti.nl.i', penáis em caso de nao cumprimen- ressurreigáo, removeu-se o véu e apare-
tii ( omo era externa ao homem e náo lhe cem as novas dimensóes de profundida-
•Itivn forças para cumpri-la, de fato fazia de, altura e plenitude de significado que
Incorrer nas penas conseqüentes, a “con- estavam ai veladas.
.limaçào”, e náo permitía a desculpa da 3,14 *Ou: nao se descobre que com
i)jiii il ància. Por isso, chama de “ministé- Cristo caduca.
ilo ile morte”: a morte náo é finalidade, 3,16-17 C ita d o segundo os Setenta,
unís eonseqüéncia (como explica Ez 18). com o verbo no futuro, em lugar do im
i » líspírito, pelo contràrio, personaliza, perfeto do original hebraico (Ex 34,34):
Inlcrioriza a lei, e se converte em dinamis quando se converterem, “voltarem” para
mo do seu eumprimento (cf. Ez 36,27; Jr o Senhor (= o Espirito), será removido o
11.31; e a tríplice invocaçâo ao espirito, véu, compreenderáo a Escritura e alcan-
Imme, santo, generoso” de SI 51,12-14). Qaráo a liberdade (Rm 8,2).
Assim garante a “absolviçâo”, outorga a 3,18 Do “esplendor” (gloria) passa à
vula. A “letra” é a escrita, e em particular “imagem” (unidos em ICor 11,7), aludin
ii cláusula penal (cf. Ez 18). do a Gn 1,27. Ao nos expormos e receber-
3,10-11 Outros dois pontos de compa- mos o impacto da gloria luminosa do Se
mçâo. A intensidade do resplendor: conti nhor, e pela eficácia do Espirito, nossa
nua imaginando a gloria em termos de imagem deformada vai se transformando
Inminosidade (um fósforo aceso nao bri- pouco a pouco até recobrar a imagem de
llia à luz do sol do meio-dia). A duraçâo Deus (que é Cristo, 4,4). Ideal apostólico
ilas duas alianças (como indica o texto e de vida cristá, que funda o valor da con
clàssico de Jr 31,31). tem plado de Jesús Cristo, transformadora
3,12-13 O “véu” dissimulava o resplen- do fiel. Numa espécie de transfigurado
dor, ao passo que o apóstolo o exibe sem espiritual (Mt 17,2).
ilissimulaçôes (cf. Is 49,6; Mt 5,14-16).
Além disso, o véu ocultava aos israelitas 4,1-2 Continua desenvolvendo o tema
que toda aquela instituiçào tinha um “fim” do ministério, que é puro dom, e por isso
e urna “finalidade” (duplo valor do grego impóe urna responsabilidade (lTm 2,5).
lelos), que estava em funçâo do futuro, e Duas táticas se opóem, a franqueza e a sin-
por isso era provisoria. ceridade de que falou antes: o ocultar por
O “véu”, a seguir, náo é o de Moisés, e vergonha (cf. Eclo 41,15-16), o deformar
sim o que os judeus póem ao 1er a Escritu por astucia. Aquele que antes apelava ao
ra (At 15,21): impedidos por esse obstá testemunho da pròpria consciencia, ago
culo voluntario, náo compreendem o sen ra se expóe ao julgamento da consciencia
tido profundo do que léem (veja-se o final dos outros (1,12), mas “na presenta de
de At 28,27). Encerra um principio her- Deus”.
SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS 532
im. <i mesmo espirito de fé, do qual 'S abem os que, se a tenda terres
i.i im i ilo “acreditei e por isso falei”,
mi iil h-li i nós eremos e por isso falamos,
5 tre em que vivem os se desfaz, rece
bemos de Deus a hospedagem de uma
"i iinvcneidos de que aquele que res- eterna moradia no céu, náo construida
•ii'.i lim i o Senhor Jesus ressuscitarà a por m áos hum anas. 2E nquanto isso,
!<•i. i nni Jesus e nos levará convosco à suspiram os com o desejo de revestir-
hi i piesença. 15Tudo é em vosso favor, mos a habitacáo celeste, 3caso chegue-
.1. iinido que, ao multiplicar-se a graça mos vestidos e náo ñus. 4Pois nós que
. ni 11- muitos, seja abundante a açâo de habitamos em tendas suspiramos aca-
im111,a s para a glòria de Deus. brunhados, porque náo desejaríam os
desvestir-nos, mas revestir-nos, de mo
I «perança da glòria — 16Portanto, näo do que o m ortal fosse absorvido pela
mi’, icovardamos: se nosso exterior vai vida. 5Quem nos preparou precisamente
■.i desfazendo, nosso interior vai se re para isso é Deus, que nos deu o Espiri
novando dia após dia. !7"18A nós, que to como penhor.
li mus o olhar fixo no invisivel e näo no 6Por isso, estam os sem pre confian
vr.ivel, a leve tribulaçâo presente nos tes e sabem os que, enquanto o corpo
I hni luz uma carga incalculável de gio for nossa pàtria, estam os exilados do
ii. i l’ois o visivel é transitòrio, o invisi- Senhor. 7Pois cam inham os pela fé,
I ri é eterno. náo pela visáo. 8Mas, com ànimo, pre-
ihi ;i falar e proclamar em língua articula- o temos defronte, como o passado (Rm
■l.i, inteligível. É a proclamaçâo de uma 8,24).
f x p e r a n ç a : que a ressurreiçâo de Jésus se
i oiiiunicará a nós. 5,1 A vida em tendas recorda aos is
4.15 Como de costume, tudo ha de con- raelitas a vida patriarcal e a caminhada pelo
i luir-se no louvor a Deus. deserto (enconada na festa das Tendas); tam
bém aos recabitas de costumes beduinos (Jr
4.16—5,10 Recorda e desenvolve o tema 35). Aimagem se aplica ainda ao individuo
ila tribulaçâo presente e da gloria futura, (Is 38,12; Jó 4,19-21). O oposto sáo as casas
i-ntretecendo sem ordem rigorosa très ima- que eles encontram já construidas na térra
f.cns. Atenda, que se arma e desarma, com prometida (Dt 6,11; Js 24,13). A casa celes
parada com o edificio permanente; o des te, sendo construida por Deus, é perpétua.
terrado ou peregrino comparado com o 5,3-4 Os hebreus consideravam ofensi
eidadáo; o despido comparado com o ves- va a nudez, recordadlo permanente do pe
lido ou revestido. As imagens guiam um cado (Noé, Gn 9,18-24; os embaixadores
séquito de oposiçôes elementares: exterior de Davi, 2Sm 10,4; Isaías numa agáo sim
i: interior, visível e invisível, leve e pesa bólica, Is 20 etc.). “Nu” equivale aqui a
do, transitorio e eterno, morte e vida, fé e morto. Por isso, o “nu se veste”, o vestido
visáo. O resultado é uma exposiçâo vigo (= vivo) “se reveste”. “Absorvido” cor
rosa, náo uma análise matizada. responde talvez ao hebraico bl‘, que sig
4.16 O apóstolo se sente submetido a nifica também aniquilar (cf. Is 25,8 “ani
um movimento duplo e oposto: de deca quila a morte”).
dencia física e até mental, de crescimento 5,6 Talvez seja reminiscencia do exilio
espiritual diário. Atuam a força da “corrup babilónico, “com saudades de Siáo” (SI
t o ” e da “renovaçâo”. 137), experiencia histórica exemplar (Hb
4.17-18 A raiz hebraica kbd é bivalente, 11,13) e experiencia individual dolorosa
significa peso e gloria (também riqueza e (SI 120,5).
honra). O texto o desdobra em “um peso 5,8 O “corpo” representa aqui a situa
de gloria” “excessivo”, que desequilibra d o presente. “Morar com o Senhor”:
todas as balanças (no SI 62,10 o leve sao como os sacerdotes no templo (SI 65,5;
lodos os homens). Para os hebreus, o fu 84,2-3), como deseja e espera o orante ilu
turo está atrás deles: é invisível porque náo minado (SI 73,23ss).
SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS 534 n "
feririam os exilar-nos do corpo para de nós diante dos que presumem :i|m
morar com o Senhor. 9De qualquer for réncias e náo o interior. 13Se nos cm *
m a b a p àtria ou ex ilad o s, aspiram os demos, é por Deus; se nos controlara >i
ser-lhe agradáveis. 10Todos devere- é por vós. 14Porque o amor de Crisin
mos com parecer diante do tribunal de nos pressiona, ao pensarnos que, se mu
Cristo, para receber o pagam ento do morreu por todos, todos morreram. ' I
que fizemos com o corpo, o bem ou o morreu por todos, para que os que v i
mal*. vem náo vivam para si, mas para qurm
por eles m orreu e ressuscitou. lf’l )i
O critèrio da fé — n Conscientes do modo que nós, daqui para a frente, »
respeito devido ao Senhor, procuramos ninguém consideram os com critério'.
persuadir os homens. Diante de Deus, humanos; e se outrora consideraniif
lhe somos manifestos. E espero que o Cristo com critérios humanos, agora |.i
sejamos também diante de vossas cons náo o fazemos.
ciencias. 12E nao procuramos outra vez
recom endar-nos a vós; desejamos, an A m ensagem da recon ciliad o — 17^«'
tes, dar-vos ocasiáo de vos orgulhardes alguém é cristáo, é criatura nova*. O
n<liit,-áo a Deus é ofensor, devedor, culpa- 50-51; Is 1,10-20; Dn 9,7), um tem a jus-
ilo Como por si mesmo nao pode recon- tiça, a razáo, e o outro a culpa, o pecado.
i’iliar-se, compete a Deus reconciliá-lo con Deus colocou Cristo, embora inocente, na
nivo; ele o faz por meio de Cristo, que parte do pecado; de suas conseqüências,
rurrega as culpas dos outros (Is 53) para como vítima expiatoria. Desse modo nos
i|nc lhes sejam perdoadas. Só assim o ho colocou na parte da sua justiça. Pelo per-
rnera perdoado volta a ser “inocente”. A dáo que Cristo nos conseguiu, já náo so
icconciliagáo é radical, equivale a urna mos injustos. *Ou: justos.
nova “criagáo” (cf. SI 51,12); é oferecida
Vcomunicada pela mensagem apostólica, 6,1-2 Liga-se com o que precede. O per-
"ministério da reconciliagáo”. O homem dáo, que remove o pecado, completa-se
simplesmente “se deixa” reconciliar, res com a “graça”, que é a nova situaçào fa
ponde á oferta removendo obstáculos e vorável. Chegou o dia do grande jubileu
liceitando. do perdáo de dividas (Lv 25; Dt 15,1-11;
5,17 Apalavra grega ktisis pode signifi Is 61,1); é preciso aproveitá-lo benefician-
car criagáo/criatura ou humanidade (cf. do-se dele. O texto bíblico (Is 49,8) é tira
Km 8,19-22). O cristáo é criatura/huma- do do segundo cántico do Servo: contém
nidade nova. O “antigo” é a conduta pre urna mensagem de reconciliaçâo e um
cedente, no caso individual, ou o regime anuncio de repatriaçâo: o que se cumpre
ilo AT, em termos de historia da sal vacilo. plenamente na obra de Cristo. O segundo
A novidade: a volta do exilio (Is 43,18), a éxodo aponta para o terceiro e definitivo.
escatologia (Is 65,17). *Ou: humanidade 6.3-10 Deus “capacita” o apóstolo (3,5)
nova. e este “dá crédito” a seu ministério. Ele o
5,19 Deus realiza a reconciliado “náo expóe numa explanaçâo retórica magnífi
apontando” ou náo imputando os delitos ca, usando a enumeraçâo, as polaridades,
(cf. SI 32,1-2). o paradoxo. O parágrafo respira um ar
5,21 Esta é urna daquelas frases em que triunfal.
Paulo apura a expressáo até os limites da 6.4-7a Enumeraçâo: o orador se deixa
linguagem: o uso do abstrato pelo concre levar pelo entusiasmo. No seu fluxo, é di
to enrijece a frase (compare-se com G1 fícil descobrir uma ordem ou precisar cada
3,13). Literalmente: “aquele que náo co- conceito. Talvez valha o seguinte: Da “pa
nhecia pecado, ele o fez pecado”, e seu ciencia” como conceito genérico pendem
correlativo “para que fóssemos justiga de très trios. O primeiro parece mais psicoló
Deus”. Náo resta mais remédio senáo pa gico, mais interior; o segundo refere-se a
rafrasear; para isto nos apoiamos em perseguiçoes de fora; o terceiro fala de sa
liturgias penitenciáis do AT. Na relagáo crificios impostas pelo ministério (o jejum
bilateral de julgamento contraditório (SI náo é ritual nem ascético). Segue-se um
SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS 536
Si h i sen l)eus e eles seráo m eu povo. alegria em toda espécie de trib u lad o .
r . ¡/huno, sa i do meio e apartai-vos 5Nem sequer ao chegar à M acedònia
.l. /, v iIt. o Senhor. Nao toquéis o im encontrei alivio corporal, mas todo tipo
piliti, r cu vos acolherei. l8Serei vosso de adversidade: por fora contendas, por
i'.tt i ñ u seréis m eusfilhos efilhas, diz dentro temores. 6Mas Deus, que con
H St'iiluir Todo-poderoso. forta os abatidos, nos confortou com a
chegada de Tito. 7Náo só com sua che
' Assiin, portanto, dispondo de tais gada, mas também com o consolo que
7 piomessas, m eus queridos, purifi-
<IMi mo nos de toda impureza de corpo
havia recebido de vós: ele me contou
sobre vossa saudade, vossa angustia,
. i .pililo,com pletandonossaconsagra- vosso afá por nós; e isso me alegrou
. iiii i respeitando a Deus. ainda mais.
8Se vos entristecí com minha carta,
Itru^fu) dos corintios e de Paulo — nao o lamento; lamentei-o, sim, ao com
I imi nos lugar: nào prejudicamos nin- provar que aquela carta, no momento,
iuirm, nao arruinam os ninguém , nao vos entristeceu; 9agora me alegro: nao
i flo ra m o s ninguém. 3Náo o digo em por vossa tristeza, mas pelo arrependi-
inni ile co n d en ad o , pois vos disse que mento que provocou. Vossa tristeza foi
iiii morte ou na vida vos levo no cora- como Deus quer: de nossa parte, nao
i..111. ‘Posso falar-vos cora plena ousa- recebestes nenhum daño. lüUma triste
ili.i e sentir plena satisfaqáo por vos. za pela vontade de Deus produz um ar-
I slou cheio de consolo, transbordo de rependim ento saudável e irreversível;
iln Levítico (Lv 26,12): emprega um raro a d escrido intensa de SI 55,2-6. O Deus
verbo composto grego, que corresponde a que consola os aflitos: Is 51,12; 61,2; SI
nina forma hebraica também rara. Signi- 86,17.
I ii a um ir e vir que recorda as andangas 7,8-16 Efeito positivo da carta severa.
ilu povo pelo deserto; junta estabilidade Predominam no parágrafo as palavras
iiini movimento. A segunda é do profeta “tristeza, contristar”, que se repetem oito
ilo exilio (Is 52,11), convidando os exila vezes, contrastadas com “alegria e conso
dos a sair de Babilonia num novo éxodo. lo”: temas da carta.
A lerceira procede da promessa dinástica Aproveita o caso particular para propor
ii Davi (2Sm 7,14), que agora se estende a um principio tradicional e de largo alcan
Indos os cristaos; a especificado “filhos ce: a diferenga entre tristeza segundo Deus
i' l ilhas” procede de Is 43,6. e segundo o mundo. A primeira produz
vantagem, a segunda nasce de urna perda
7,1 Paulo afirma que esses anuncios e a consuma.
ilo AT sao promessas dirigidas aos cris- Podem-se encontrar muitos precedentes
laos, para além do contexto histórico ori desse principio na literatura profètica e
ginal. sapiencial. Urnas vezes a desgrana é pro
7,2-4 Continuado de 6,13. Os problemas va do inocente (Jó), outras vezes é castigo
e lensóes com os corintios parecem resol- do culpado (teoria de Eliú, Jó 33). Urnas
vidos. Triunfam o consolo e a alegria. Res- vezes o sofrimento descobre e denuncia
labeleceu-se um clima de mútua confian um pecado; outras vezes a denuncia pro
za, a partir do qual pode olhar serenamente duz sofrimento. Neste parágrafo, Paulo re
o passado, transfigurado por seus resulta-, nuncia à reserva (5,13) e, sem remédio, se
ilos positivos: a chegada de Tito com boas acusa. Aqui poderia terminar o corpo da
noticias, o efeito saudável da carta severa. carta.
Ver At 20,33. 7.9 O arrependimento é outra forma de
7,3 “Nem a vida nem a morte os pode tristeza e pesar pelo feito; o pecador arre-
separar” (2Sm 1,23; cf. Rt 1,16-17). pendido do SI 51 pede com o perdáo “a
7,5-7 Desenlace do que ficou pendente alegria da salv ado”.
em 2,13. “Por fora e por dentro”: veja-se 7.10 Ver Eclo 38,18.
SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS 538
urna tristeza por razóes m undanas pro- sim nosso orgulho diante de Tito se |un
duz a morte. n Prestem atencño em quan- tificou. 15E seu afeto por vós crcsi >
tas coisas suscitou em vós essa tristeza quando recorda vossa docilidade e a 11n
segundo Deus: quanta diligencia, quan- ticulosa atençào com que o recebes h
tas desculpas, quanta in d ig n a lo , quan 16Quanto me alegro de poder con) mi
to temor, quanta saudade, quanto afa, plenamente em vós!
quanta puni^ào. D em onstrastes piena
mente que nesse assunto nào sois cul A co leta para Jeru sa lém (km
pados. l2Portanto, se vos escrevi, nào
foi pelo ofensor nem pelo ofendido*,
mas para que descobrisseis por vós pró-
prios e diante de Deus vossa solicitude
por nós. Isso me encheu de consolo.
Ao nosso consolo acrescentou-se a
8 15,26; 12,8) — 'Q uero informai
vos, irmâos, a respeito da graça qm
Deus concedeu ás igrejas da Macedo
nia. 2Ëm meio a urna grave provaçào,
transbordaram de alegria; em sua n
trema pobreza, esbanjaram generosid.i
alegria imensa pela alegría de Tito, que de. 3Na medida de sua forças deram
ficara satisfeito convosco. 14Pois, se eu eu o testemunho, e acima délas. 4l 's
me gloriara de vós diante dele, nào fi- pontaneamente e com insisténcia no'i
quei mal; pelo contràrio, como anterior pediam o favor de participar nesse su
mente vos disséram os as verdades, as- viço aos consagrados. 5Superando nú
7.11 No caso presente, além do arrepen- tensificam o que já se encontra na lei (|i
dimento, Paulo cita urna série de sete con- ex. Dt 15,1-11) e em numerosos provérbiu
seqüéncias felizes da carta amarga. (Pr 19,17 “quem se compadece do polín
7.12 Distingue um culpado, “ofensor”, empresta ao Senhor”). No caso presenil
da comunidade, que ele agora declara ino a coleta, além de aliviar urna situaçâo lo
cente. O “ofendido” era ele. O assunto, cal, expressava a unidade das igrejas cris
porém, nao era questáo pessoal, mas esta- tas em urna Igreja, a estima particular pela
va em jogo o bem da comunidade. *Ou: igreja-máe de Jerusalém, a harmonía de
como ofensor. pagaos e judeus convertidos, a solicitiuli
de um membro mais forte por outro mai'
8 - 9 Paulo tomou muito a peito o as fraco (ICor 12). Por outra parte, a situaçâo
sunto da coleta a favor dos cristáos pobres em Jerusalém prova que a experiéncia di
de Jerusalém (GI 2,10). Podía considerar possuir os bens em comum (At 5,1-11)nao
se um antecedente o tributo do templo e tinha resolvido os problemas económicos
outras oferendas voluntárias com que os ju-
deus da Judéia e da diáspora contribuíam 8.1 Poder dar, e dar generosamente, ¿
periódicamente para a manutcneáo do tem “graça de Deus”. Deus é o grande “doa
plo e para o culto. Além do valor material, dor”, que dá ao homem dons e exemplo
semelhante contribuigáo expressava a iden- de dar e do que dar (SI 136,25; 145,16 e o
tidade e a unidade do povo disperso (SI livro de Rute). Macedônia foi a primeira
133), sua uniáo em torno do templo ama regiáo européia missionada por Paulo; ai
do (Ez 24,21 “o encanto de vossos olhos, se encontravam os primeiros agrupamen
o tesouro de vossas almas”). Lida nessa tos cristáos. Paulo os apresenta como exem
luz, a coleta poderia sugerir que os cris pío: algumas cidades da Macedônia eram
táos reconheciam nos pobres de Jerusalém ricas, mas os cristáos náo eram ricos.
urna presenta especial de Deus, como num 8.2 E o paradoxo renovado, menciona
novo templo. do mais acima (6,9-10): pobres de recur
Acrescente-se a importancia que foi ad- sos, ricos de generosidade; como a viúva
quirindo a esmola depois do exilio, como em seu donativo (Le 21,1-4).
provam numerosos textos: vejam-se a tí 8,3-4 Boa descriçâo do voluntariado:
tulo de exemplo Eclo 29,1-13 e os conse- toma a iniciativa, pede, insiste, considera
lhos de Tobit a seu filho (Tb 4,7-11: “quem um favor poder contribuir (cf. At 11,29).
dá esmola apresenta ao Altíssimo urna boa 8,5 Também com suas pessoas: quer di-
oferenda”); esses textos prolongam e in- zer, servem pessoalmente, além de dar; é
539 SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
iilins expectativas, ofereceram suas pes- haverá igualdade. 15Como está escrito:
*mm, primeiro a Deus e depois a nós, A quem recolhia muito, nada Ihe sobra-
if^iiiulo a vontade de Deus. 6Por isso, va; a quem recolhia pouco, nada Ihe
jiMillmos a Tito, já que comeqou, que faltava.
|pv*1 ii lermo entre vos essa generosa 16Dou grabas ¿HDeus que inspirou em
Impla. ;E visto que tendes abundáncia Tito a m esm a s o lic itu d e por vós, 17e
tli* lililí), fe, eloqüéncia, conhecimento, ao aceitar meu pedido, de boa vonta
fui vi ii para tudo, afeto por nós, tende de e com toda a diligencia foi ter con-
liimbem abundáncia dessa generosida- vosco. 18E nviam os com ele o irm áo
de "Nao o digo como urna ordem, mas, que se torn o u fam oso em todas as
Vp i i i Io o entusiasmo de outros, quero igrejas com o pregador do evangelho.
(Mimprovar se vosso am or é genuino, ^M ais ainda, foi nom eado pelas igre
•l'nis conheceis a generosidade de nos- ja s como com panheiro de nossa via-
mi Senhor Jesús Cristo que, sendo rico, gem nessa coleta, que adm inistram os
jini vos se tornou pobre para vos enri- para a gloria do Senhor e com nosso
i|iiri-er com sua pobreza. melhor desejo. 20Queremos evitar qual-
lul)ou-vos ininha opiniáo nesse as quer crítica sobre nossa gestáo de so
imilo: Já que no ano passado tomastes ma táo grande. 21P rocuram os a g ra
n Iniciativa do projeto e sua execuqáo, dar nao só a Deus, m as também aos
"iif.ora vos convém levá-lo a termo. homens.
Ilessa forma, ao entusiasm o por pro- 22Enviam os com eles outro irmáo,
ji'lií-lo corresponderá o realizá-lo segun cuja diligencia tem os comprovado em
do vossas possibilidades. 12Pois onde muitas ocasióes, e muito mais agora,
luí entusiasmo aceita-se o que for, sem pela confianza deles em vós. 23Quer se
petlir o impossível. 13N áo se trata de trate de Tito, com panheiro e colabora
aliviar outros passando vós apuros, mas dor nosso a vosso servido, quer de nos-
ile obter a igualdade. 14Que vossa abun- sos irmáos, delegados das igrejas e glo
ilAncia remedeie por agora sua escas- ria de-Cristo, 24dai-lhes provas de vosso
hc/., de forma que um dia a abundáncia amor e creditai a eles e as igrejas o or-
deles remedeie vossa escassez. Assim gulho que sinto por vós.
lili tipo mais valioso de prestagáo. O ser tribos e clás (Js 13—19). Mas é urna igual
vido ao próximo necessitado coincide com dade instável, que se deve restabelecer
o servido a Deus. Pode-se comparar com periódicamente (era a fungáo do jubileu).
n colaborado da populagáo para recons- Alguns comentaristas restringem a “abun
Iruir a muralha, sob as ordens de Neemias dáncia” de Jerusalém a bens espirituais.
(Ne 3). Ver Pr 3,27; Tb 4,9.
8,7-8 Tinha descrito os carismas e colo 8,15 A citagáo pertence a uma das len-
cado por cima o amor (ICor 12-13). Ago das sobre o maná (Ex 16,18): partilha igua-
ra aplica o dito: reconhece os carismas dos litária de Deus, a despeito da avidez ou
corintios e os póe á prova na generosidade. mesquinhez humanas.
8,9 O exemplo de Cristo é o ponto cul 8,18-19 Nao sabemos de quem se trata,
minante: funda e exalta a caridade crista. e é estranho que nao figure com seu nome
Este v. é um momento de cristologia “des (At 6,6).
cendente”, como F1 2,5-11: da riqueza di 8,20-21 Em todo o assunto, Paulo pro-
vina (C12,9) desee a pobreza humana para cedeu com cautela para evitar nao só abu
enriquecer com sua plenitude (Jo 1,16). sos, mas até a aparéncia deles. Neste pon
Convém 1er este v. junto com o hiño ao to quer estar de bem com Deus e também
amor de ICor 13. com os homens (citando Pr 3,4).
8,12-14 É o ideal de igualdade relativa: 8,23 Os delegados das igrejas nessa obra
a cada um segundo sua necessidade; como de caridade transportam e refletem a “glo
lia partilha — ideal e aproximada — da ria de Cristo”; como o homem caritativo a
Ierra prometida segundo o tamanho das gloria de Yhwh (segundo Is 58,8).
SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS 540 .1
'A respeito desse servilo a favor dos pode cumular-vos de dons, de modo qm
9 consagrados, nao preciso mais es-
crever-vos. 2Consta-nos vossa boa dis
tendo sempre o necessàrio, vos solus
para todo tipo de boas obras. 9Como r i ,
I
9,1 O que se segue, se nào é outra carta 9.8 Na instru§áo sobre remissào de di
sobre o mesmo assunto, recolhida aqui de- vidas (Dt 15,1-11) há urna promessa para
vido ao tema, equivale a urna insistencia a generosidade em cumprir a lei: “Dá-lhc, I
temperada pela discriqào. Paulo quer esti e náo de má vontade, pois por esta agáo o I
mular sem forcar; acumula argumentos e Senhor teu Deus abengoará todas as tu;is |
os repete. Com toda a exposigào recompòe obras e todos os teus empreendimentos”
o grande círculo do dar. a) Deus é “o doa- 9.9 Citagào de SI 112,9. Este salmo apli- I
dor” por excelencia: dà o bom desejo (cf. ca ao homem qualidades que o salmo pre
Ex 35,29; 36,3-7) e os meios de onde dar; cedente atribuiu a Deus.
no AT a terra é o dom primàrio de Deus, b) 9.10 Recorda o final da mensagem do
O homem que possui dà ao necessitado (Dt Segundo Isaías aos exilados, que exprime
15,1-11; SI 112; Eclo 14,3-6). c) Uns e ou- em imagem agrària a fecundidade da pala
tros dáo grabas a Deus. Ao chamar de “con vra de Deus (Is 55,10). A generosidade hu
sagrados” os pobres de Jerusalém, eleva mana participa de urna fecundidade seme- I
todo o assunto a um plano superior; tam- lhante. “Esmola”: esta tradugáo supoe que
bém a tarefa fica consagrada. o termo grego dikaiosyne corresponde a uso
9,5 *Ou: mesquinhez. tardío do hebraico sedaqá. Se náo se acei
9,6-7 Citagòes livres, segundo a versào ta, se deveria traduzir “frutos de vossa jus-
grega, de alguns provérbios. O texto origi tiga”, que náo se enquadra bem no contexto.
nai diz: “Há quem seja prodigo e aumente 9,13 A “submissáo” ao evangelho de Cris
sua riqueza, e há quem guarde sem medida to traz consigo a solidariedade com os ne-
e se empobrecía” (Pr 11,24); “quem se compa cessitados.
dece do pobre empresta ao Senhor” (19,17);
“quem semeia maldade colhe desgrana” 10-13 Mudanza brusca de tema e de tom:
(22,8). Náo só inculca o dar, mas ainda o em relagáo a 8-9 e mais ainda em reiagáo a
espirito com que se dà (cf. Eclo 18,15-18). 1,8-7,16. Náo poucos exegetas pensam que
541 SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS
tórica clàssica. Pois bem, se o termo de tem a mente nos lábios...” Ao assumi-lo <
comparagáo de urna pessoa é sua pròpria declará-lo insensatez, Paulo o exorciza e
pessoa, nada ganhará. Se o homem é a purifica. Bancar o idiota no palco pode
medida de tudo, nao o é de si; a medida demonstrar grande talento. Alguns comen
deve ser externa. Se o sábio recomenda taristas pensam que Paulo alude a um tipo
“conhece-te a ti mesmo”, é preciso sair de da comédia grega, como o bobo ou o có
si para consegu¡-lo. mico do teatro clássico.
10.13 Veja-se a preocupado com as 11,2-4 Esses vv. utilizam a idéia tradi
medidas em Zc 2,59 e nos últimos capítu cional do Deus ciumento (Ex 20,5; 34,14;
los de Ezequiel. Dt 4,27; por Jerusalém Zc 1,14; 8,2) na ima
10.14 Ver At 18. gem conjugal. Urna jovem já desposad.!
10,15-16 Coloca-se o problema quando (com vínculo jurídico) deve conservar-sc
escreve aos romanos, igreja que nao tinha casta para seu marido (cf. Eclo 42,9-10 “na
fundado (Rm 15,20). Recorde-se o refrió casa paterna náo fique grávida”). Um ho
de Jesús aos discípulos: “um semeia e ou- mem encarregado de guardá-la vive solíci
tro colhe” (Jo 4,37-38). to e vigilante; carrega, por assim dizer, os
10,17-18 É o grande principio enuncia ciúmes do futuro marido (cf. Ef 5,26).
do por Jeremías (Jr 9,23), que se opóe ao A desposada é a igreja de Corinto. Cristo
gloriar-se do sábio em seu saber, do sol é o esposo, Paulo o guardiáo. O perigo de
dado em sua coragem, do rico em sua ri sedutj'áo lhe permite recordar o “tipo” de
queza. Gloriar-se é atribuir a si os resulta
Eva (Gn 3,4; Ap 14,4; inclusive segundo a
dos e alegar méritos (cf. Dt 8,17s; Is 10,14s
tradigáo rabínica, que imaginava rela§5es
etc.) Gloriar-se no Senhor é gloriar-se porde Eva com um demonio). Apóia-se na
ter como Deus o Senhor e por haver rece- equagáo corrente no AT de idolatría e pros
bido tudo dele: é um orgulho paradoxal. tituido. Em lugar de outros deuses, entram
aqui um Jesús, um espirito e um evangelho
11,1 O que vai dizer a seguir pode soar estranhos. Dir-se-ia que estes “ciúmes”
como desatino pròprio de um néscio. Póde substitutivos fizeram Paulo desatinar.
se comentar com abundantes textos sapien- 11,4 Ver G1 1,6-9.
ciais sobre a conduta do néscio: “é fardo 11,5-15 Volta depois (ainda na ima-
na viagem, o néscio ri sonoramente, se gem de néscio?) a retorcer argumentos e
precipita na casa, fica na porta zombando, pretensóes dos rivais, que pregam um
S43 SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS
■i*I*1 l i/ mal em humilhar-me para vos to. 14E nao é de estranhar: se o pròprio
ii|ii,iiHlccer, pregando gratuitam ente a Satanás se disfarla de mensageiro da
»imi imlk ia de Deus? 8Saqueei outras luz, 15náo é surpreendente que seus
mu | r. aceitando salàrio delas para vos ministros se disfarcem de agentes da
. i* ii 'Iinquanto vivi convoco, embo- justiga. O fim deles corresponderá às
i |• i .'.asse apuros, nao fui pesado a suas obras.
Miiij'iinii. Os irmàos vindos da Mace-
. . |noviam às minhas necessidades. Alardes de um insensato fingido (At
ii ni|iic me mantive e me m anterei sem 15—28) — 16Repito: que ninguém me
ii hi m i pesado. 10Eu vos garanto por tome por insensato; ou entáo, aceitai-
i il .in que ninguém na A caia me pri me como insensato, para que também
llil i ili ssa honra. n Por què? Por que eu possa me orgulhar um pouco. n O
m-Iii vos amo? Deus o sabe! 12E o que que vou dizer, em apoio de minha pre
i ii.ii, continuarci fazendo, para tirar s u n t o , nao é ordem do Senhor, mas
«mili pretexto aos que o procuram para minha insensatez. 18Já que muitos se
■i ni)’iilharem de ser com o eu. 13Esses orgulham de méritos humanos, eu tam
Mi', ’..io falsos apóstalos, operários fin bém me orgulharei. 19Pois vós, táo sen
tilili r., disfamados de apóstalos de Cris- satos, suportáis de boa vontade os in-
sensatos. 20Suportais que alguém vos patricios, perigos por causa dos pagai i J
tiranize, devore, despoje, despreze, perigos em cidades, perigos em caiiipn
esbofeteie. 2!C onfesso envergonhado aberto, perigos no mar, perigos por c m J
que fui brando convosco. Pois bem, ao sa de falsos irmáos. 27Com fadi r.i ti]
que os outros se atrevem — digo como duros trabalhos, muitas noites sem doi
insensato •— eu tam bém me atrevo. mir, com fome e sede, com freqiieni' I
22Sáo hebreus? Eu também. Sao israe jejuns, com frió e sem agasalho. i
litas? Eu também. Sao da linhagem de além de tudo isso, o fardo cotidiano, i I
Abraáo? Eu também. 23Sáo m inistros p reo cu p ad o por todas as igrejas. Al
de Cristo? — Falo como louco: — eu guém cai doente sem que eu adoe^afl I
mais ainda. Ganho deles em fadigas, Alguém tropega sem que eu fique im
ganho deles em prisóes, ainda mais em paciente? 30Se é preciso orgulhar-se, nu
açoites, em perigos freqüentes de mor orgulharei de minha fraqueza. 31Deu\,
te. 24Cinco vezes os judeus me deram Pai do Senhor Jesús — seja bendito pa
os quarenta açoites menos um, 25trés ra sempre! — sabe que nao minto. 321m
vezes me açoitaram com varas, urna vez Damasco o governador do rei Arela-, I
me apedrejaram; très vezes naufraguei, vigiava a cidade para me prender. 33Poi I
e passei um dia e urna noite em alto mar. urna janela e num cesto de junco ni<-
26Quantas viagens, com perigos de rios, desceram muralha abaixo, e assim <.-■
perigos de bandidos, perigos de meus capei de suas máos.
vem suportar o breve desatino de Paulo. compatriotas e pagaos. Váo separados rio:,
Pelo visto, pensa ele, teria sido melhor e mar, como se pertencessem a categoría-,
tratá-los com dureza. diversas; os rios normalmente náo tinhani
ll,21b-29 Até o v. 26 a enumeraçâo pa pontes, se atravessavam por vaus nem
rece submeter-se a um esquema formal sempre fáceis e seguros. “Bandidos” ou
quaternàrio, que se esfuma no v. 27 e re salteadores de caminhantes ou caravanas:
toma talvez nos vv. 28-29. Para maior cla Jz 9,25; 11,3; Le 10,30. Os “falsos irmáos'
reza seguirei o esquema, embora náo en sáo membros da comunidade cristá.
contre nele significado apreciável. 11,27 A nova série, de quatro ou cinco
ll,22-23a Primeiro quarteto. Parece-se membros (“fadiga e duros trabalhos” como
com o recurso sapiencial “por très... por género que logo se especifica): sublinha
um quarto; há très coisas... e urna quarta” as necessidades naturais náo satisfeitas
(p. ex. Pr 30; Eclo 25,ls). As comparaçôes Pode-se ver a descriqáo de Jó 23,4.7.8.
de igualdade, “também eu”, rompem seu 10 . 11.
discurso na superaçâo do quarto membro, 11,28-29 Juntando os dois vv., obtém-
“eu mais”. A referencia tríplice à linhagem se outro quarteto coerente: todos os dias c
dá a entender que os rivais sâo judeus con todas as igrejas (por ele fundadas), em par
vertidos que aspiram a cargos de direçâo. ticular individuos doentes ou vacilantes.
11,23b Segundo quarteto, com traços 11,30-33 Depois da séfie genérica, se-
paradoxais. E superior, náo em privilégios, leciona um fato concreto. Apenas batiza-
mas em sofrimentos (cf. At 5,41). do e iniciada sua atividade de pregar, é
11,24-25 Terceiro quarteto: que pro perseguido de morte (At 9,23-25). Chama
longa a corrente de sofrimentos. Très ve de “fraqueza” aquele momento, porque
zes por mâos de homens: judeus (açoites teve de fugir em lugar de enfrentar o ris
e lapidaçâo Dt 25,3) e romanos (varas); co. Pode-se comparar com a fuga de Elias
a quarta por açâo dos elementos. Talvez para o Horeb (IRs 19).
ressoe na última a concepçâo do oceano 11.31 Soa como rubrica final, que inter
hostil mitológico: Joñas, SI 18; 107,23- preta o monólogo dramático do “néscio”.
28 etc. A fiegáo náo foi mentira, nem o disfarce
11,26 A lista de perigos abrange dois enganoso, antes, manifestaram a verdade:
quartetos, com oposiçoes, polaridades e tomo a Deus por testemunha.
equivaléncias. Retorna a distinçâo entre 11.32 At 9,24.
545 SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS
nhor que o afastasse de mim. 9Ele me 16— Que seja, diréis, eu nâo vo lu
respondeu: basta-te minha graça; a for pesado; porém, astuto como sou, \c«l
ça se realiza na fraqueza. Portanto, com peguei nuraa arm adilha.17— Acaso \ >>1
muito gosto me orgulharei de minhas explorei por meio de alguns dos in< "|
fraquezas, para que se aloje em mim o enviados? 18Pedi a Tito, e com ele i'iil
poder de Cristo. 10Por isso, estou con viei o irmâo. Tito vos explorou? N m
tente com as fraquezas, insoléncias, ne- nos guia o mesmo espirito? Nâo |n i
cessidades, perseguiçôes e angustias mos as mesmas pegadas?
por Cristo. Pois, quando sou fraco, en- 19Pensais que volto a justificai m>
táo sou forte. diante de vós? Falam os na presan, i
de Deus e como cristâos: M eus quorl
O m in isterio em C o rin to — n Com- dos, fiz de tudo para construir v o : , m
portei-me como insensato: vos me obri- comunidade. 2(lM as receio que ao olí-
gastes. Tocava a vos recomendar-me. gar nâo vos encontre como desejan i
Pois embora eu nâo seja nada, em nada nem vós a mim como desejaríeis. 'I
sou inferior aos superapóstolos. 12A mo encontrar rivalidades, invejas, pal
marca do meu apostolado se definiu xôes, ambiçôes, maledicencia, muriim
entre vós: na constancia, sinais, prodi raçôes, arrogancias, alvoroços. 21Tem,i
gios e milagres. 13Em que fostes m e que ao chegar, Deus torne a humilh.n
nos que outras igrejas, exceto no fato me diante de vós, e tenha de ficar d,
de eu nâo vos ter sido pesado? Perdoai- luto por tantos que persistem em si n ,
me essa ofensa. l4Vede, pensó em visi- pecados, sem se arrependerem da im
tar-vos pela terceira vez; e nâo serei um pureza, fornicaçâo e dissoluçào em qm
peso, pois nâo procuro o que é vosso, vivem.
mas a vós. Nâo cabe aos filhos econo
mizar para os pais, mas aos pais para 'E a terceira vez que vou visitai
os filhos. 15Com todo o prazer eu me gas- vos, e toda questáo será decidí
tarei e desgastarei por vós. E se vos amo da pelo depoimento de duas ou très tes
mais, por que vós me amais menos? temunhas.
“Nâo sabemos pedir como convém” (Rm a máe nem a ama do povo (Nm 11,11
8,26). Deus nâo reduz a carga, mas dupli 15).
ca as forças para levá-la: ver a súplica de 12,15 F1 2,17.
Jeremias e a resposta de Deus (Jr 15,20s). 12,16-18 Antecipa urna objeqáo (praco
Assim Paulo remonta a um principio de ccupatio retorica): que Paulo nao tirón
grande transcendéncia: Deus demonstra proveito pessoalmente, mas sim por intei
seu poder usando instrumentos fracos; a mediários. A resposta, em forma de per
fraqueza é o terreno em que age e se ma guntas retóricas, expressa indignaqáo dian
nifesta a força de Deus: ver o exemplo de te de semelhantes insinuares.
Gedeáo (Jz 6,14-16 e 7,2-7). A idéia, se- 12,20-22 Expressar o temor é uma ma-
nâo a fórmula, é corrente nos salmos de neira oblíqua de denunciar uma situarán
súplica. Paulo reforça o ensinamento com presente e, ao mesmo tempo, uma exorta
um paradoxo lapidar. ijao a remediar quanto antes. Oito produ
12.12 O trio “sinais, prodigios e mila tos ingratos brotam nessa comunidade c
gres” mostra que Paulo também foi tau ameagam destruí-la. Se para quando ele
maturgo em Corinto: esses milagres eram chegar nao tiverem remediado, ele sofre-
“sinais” do poder de Deus, que acredita- rá a “humilhagao” correlativa do “orgu
vam o evangelho, segundo a promessa de Iho” que sentia antes pelos corintios. Será
Jesús: Me 16,7; Jo 14,2. como “luto” por pessoas mortas.
12.13 “Ofensa” ou falta de delicadeza
em mencionar a questáo económica. 13,1-10 No anuncio, um tanto ameaga-
12.14 Compare-se com o protesto que dor, da terceira viagem, retorna uma cons
Moisés faz a Deus, alegando que nâo é tante da teología e espiritualidade paulinas:
547 SEGUNDA CARTA AOS CORINTIOS
IN T R O D U C O
Galácia nao favorecía a Paulo em sua dialéti. ■</
Em conclusüo, é mais razoável escutui
Durante o séc. III a.C., tribos indo- em 2,1-10 urna referencia implícita ir
árias seestabeleceram na regiao da Fri concilio de Jerusalém.
gia, na Asia Menor central. Povo guerrei- Outro problema sério consiste em
ro e de salteadores: em outraspalavras, harmonizar os relatos de Gl eAt, ou <L
controlavam a rota que ia do Eufrates dar preferencia a um. E multo difícil
ao Mediterráneo e cobravam tributo reconciliá-los, ao menos num ponto: (11
das caravanas. N i Antigüidade eram 1,18-24 e A t 9,26-29. Em outros pon
chamados celtas, g allo i, galos. A mo tos, concordam ou nao se opóem. P. ex
derna capital Aneara conserva o anti- Saúl perseguidor Gl 1,13 eAt 8,3; 9, ls;
go nome Ankyra. Derrotados pelos ro “vocagáo” Gl 1,15-17 e conversáo Ai
manos (189 a.C.), os galosperderam a 9; viagem a Jerusalém Gl 2,1-10, tal
independencia. No ano 25 a.C., agre- vezA t 11,30 e 12,25. At nao mencíonu
garam-lhes a regido meridional e de- a viagem á Arabía (1,17). Que versan
clararam todo o territorio provincia ro corresponde melhor aosfatos? Por um
mana. Temos assim duas entidades: lado, sabemos que Lucas esquematiza
urna étnica, dos habitantes tradicionais com crítéríos teológicos; por outre.
do norte, e outra mista, definida jurí Gálatas é um escrito apologético e po
dicamente por Roma. A que grupo se lémico. Fora de ambos, nao temos ou
dirige a carta ? Paulo costuma usar a tras fontes, razáo por que a questáo
denominagáo romana. Talvez esta ques- continua disputada.
táo, debatida por eruditos, nao seja Sobre as circunstancias da carta, ti
decisiva para compreender a carta. ramos toda a nossa ínformaqáo da pro
pria carta. Ñas comunidades da Ga
Paulo na Galácia lácia, em sua maioria de matriz paga,
apresentaram-se uns judaizantes pn
Segundo osAtos dosApóstolos, Pau gando que os cristáos, para salvar-se,
lo esteve na “regiao gálata ” e atraves- tinham de circuncidarse e observar cer
sou-a em tres ocasióes: 13,13-14,27; tas prescriqoes mosaicas. Correlativa
16,1-5; 18,23. Na zona meridional p a mente, tentavam desacreditar Paulo,
rece que fundou algumas igrejas, ñas sua eondiqáo de apóstolo e sua doutri-
quais predominavam os pagaos conver na. Semelhantes ensinamentos provo-
tidos; pois, segundo o esquema repeti caram urna crise grave nessas igrejas
do por Lucas, os judeus rejeitaram Pau jovens, ñas quais nao poucos se deixa-
lo e Barnabé. vam convencer pelas razóes dos adven
Mais importante é o problema da ticios. Epossível que entre os converti
dataqáo: antes ou depois do concilio dos houvesse alguns judeus e prosélitos
de Jerusalém (At 15). Os que datam a do judaismo. Podemos suspeitar que sur-
carta antes, aduzem seu silencio sobre gissem discordias no seio da comuni-
o decreto e o episodio do confronto com dade. A teoría que identifica os adven
Pedro. O argumento do siléncio é fra- ticios com gnósticos ou com libertinos
co em si, pelo alcance limitado de tal é fruto de isolar e desorbitar certos da
decreto, e pode voltar-se contra, já que dos da carta.
i ih >i >ik ; a o 549 CARTA AOS GÁLATAS
1,1-5 C ham am a atençâo nesta saudaçào tan cialm ente sua m ensagem libertadora
a am plitude, a énfase com que Paulo afir “passam ” a outro (A t 15,24). É quase uma
m a sua vocaçào e missüo divina, com o se ap o stasia a fav o r de um a su p o sta “ boa
tivesse que legitim á-la perante outros. Em noticia” que nao é boa. C om pare-se com
breve espaço, Deus Pai é m encionado très os israelitas da alianza: dando culto a Yhwh
vezes: é ele quem ressuscita seu Filho, quem do éxodo, só que em figura de touro. ( l
tem um designio libertador para nós. De Je evangelho que Paulo prega nao adm ite al
sús se m enciona o título de M essias e seu ternativa; quem tcnta suplantá-lo merecí-
sacrificio, “entregou-se”, expiatorio, “por a c o n d e n a d o sagrada do anatem a, é exe-
nossos pecados” (R m 4,25; lT m 2,6; Tt cráv el. O term o c o rresp o n d e ao hereni
2,14; lJ o 5,19; cf. Is 53,6.12). hebraico, que sugere excom unháo.
Paulo escreve com o apóstolo, de um a co- 1,8 O condicional irreal re fo rja a afir
m unidade a outras com unidades de um a re- ma<jáo. “A njo do céu” ou enviado de Deus
giáo. C om o em outras cartas, a saudaçào reco rd e-se o episo d io de M iq u éias ben
sintetiza e exalta a saudaçào grega, “gra- Y im la e o falso profeta (I R s 22). *Ou
ça”, e a hebraica, “p az” (R m 1,7; IC o r 1,3; enviado celeste.
2C or 1,2; cf. E f 4,17). 1,10 A gradar o auditorio (captado be
N uraa espécie de novo éxodo “nos tira”: nevolentiae) era axiom a da retórica clás
nao M oisés, e sim Jesús C risto, nao a um sica; Paulo renuncia a isso para m anter sua
só povo (“m eu prim ogénito” Ex 4,23), e lib erdad e de denuncia. P ara ag rad ar ao
sim a m uitos, nao do Egito, m as de um ouvinte escraviza-se ao gosto alheio e trai
“m undo” dom inado pela m aldade ou pelo a m ensagem : “eu o odeio porque nao me
M au (cf. o P ai-nosso, M t 6,13). O tem a da profetiza o b em ”, dizia o rei de Israel acer
libertaçâo é central na carta. ca do profeta M iquéias ben Y im la (IR s
1,6-10 Sem dilaçôes, saltando a costu- 22); v er tam bém o cham ado testam ento de
m eira açâo de graças, ataca o assunto, que Isaías (Is 30,10). Parece-se m ais com os
considera capital. Tentam falsificar o evan profetas do AT (Jr 15,19; M q 3,8).
gelho auténtico. N âo é “outro”, porque nao 1,11-12 Dáo-nos aproxim adam ente e em
elim inam a C risto; m as ao deform ar subs- ordem inversa a com posigáo da carta. O
5 5 1 CARTA AOS GÁLATAS
tviingelho de Paulo nao procede de h o 1,15-17 E leíto com o Jerem ías (Jr 1,5)
mi us (j)ara anthropou 1,13—2,21), nào è antes de nascer, em bora ch am a d o tarde.
i.i cundo os hom ens (kata anthropon 3,1— Isso significa que toda a etap a an terio r
ii. 1(1); irá com provà-lo com dois argum en- tem sentido e fica e n g lo b ad a num p ro je
lii-. ila Escritura tom ados do ciclo de A braào to divino, e que sua vocaçâo deve ser urna
{iiila graphen 3,6-9 e 4,21-31). ruptura significativa, exem plar: o com eço
Nào é de caráter h um ano, nao è um da etapa decisiva e prevista. E ssa m udan-
Imi nanismo nem urna doutrina ou escola fi ça é realizada p or um a revelaçâo da pes-
li isofica entre outras da época. Tampouco soa de Cristo: um a cristofania. Jesús de
|iioccde de traditilo rabínica, diz o discípulo N azaré nâo é um proscrito, e sim o Filho
ile (lamaliel (At 5,34-39; 22,3). Tampouco de Deus. Essa revelaçâo é ao m esm o tem
|uocede da tr a d ito sapiencial, mas è de estir po sua vocaçâo com o m ensageiro para os
pi- profètica, por revelaijào (cf. Is 50,4). pagaos.
1.13-21 C om o se transform ou em eris Paulo quer sublinhar aquí sua indepen
imi o fariseu perseguidor? Q ue postura ado- dencia de fontes hum anas, sua dependen
liixam diante dele as autoridades cristas de cia direta de Jesús. D eve-se co n fro n tar es
lerusalcm? Sua controvèrsia com Pedro: tes parágrafos com a versáo de Lucas em
1,13-24; 2,1-10; 2,11-21; A t 8 -9 . A t 9 e 15. N ada sabem os de sua estada na
1.13-14 “Judaism o” designa a co n cep A rabia: dedicado à m editaçâo e à ascese?
t o doutrinal, a espiritualidade e o modo (com o Elias ju n to à torrente de C arit, lR s
oficial de proceder dos ju d eu s de entào. É 17). D iríam os que os très anos na A rabia
urna form a posterior, cristalizada, da reli- equivalem ao tem po dos apóstolos na com-
j.>iao e religiosidade de Israel. De algum panhia de Jésus.
modo se opoe à “com unidade de D eus” 1,18 “C onhecer P edro” : p o r interesse e
ou Igreja; Paulo exacerba a distin§ào e consideraçào, nào para aprender dele o que
oposigào (A t 22,3-5). A s “tradigoes pater o próprio C risto ¡he ensinou. T iago é o
nas” abarcam o AT e de modo especial suas personagem im portante e influente de At
interpretagòes oficiáis, dos doutores letra 12,17; 15,13; 21,18.
dos, rabinos (cf. Mt 15,2-6; FI 3,5-6). Seu 1.23 A “ fé” vai ser co n ced o central na
cham ado foi repentino e extrem o, m uito carta.
mais que o de A m ó s (A m 7 ,14 -1 5 ). O 1.24 E um a constante ao co n clu ir redu-
“zelo” corresponde ao D eus “zelo so ” (Dt zindo tudo à gloria e louvor de D eus.
4,24 par.) e podia inspirar-se em m odelos
com o Finéias ou Elias (N m 25; IR s 18), 2 ,1 -1 0 O evangelno de Paulo, recebido
invocado por M atatías ( lM c 2,24-27). por revelaçâo ¡m ediata e pessoal, foi re-
CARTA AOS GÁLATAS 552
conhecido pelas autoridades apostólicas de 2.5 C om pare-se com a atítude firm e d<>
Jerusalém (A t 15,2). profeta: Mq 3,8.
2.1 B arnabé era de casta levítica, Tito 2.6 “ R esp eitáv eis” : nao p o r critèrio',
representava o convertido puro do paga hum anos é assunto que com pete a Den
nism o grego: urna dupla paradigm ática; e (cf. Dt 10,17; Eclo 35,15-16). A s recomen
até provocadora para os leitores da carta. dagoes de A t 15,19.20.29 valiam para co
2.2 Paulo se apresenta, nao porque o te- m unidades m istas, form adas por cristáos
nham convocado a prestar contas, mas “se procedentes do judaism o e do paganism o
guindo urna revelagáo” . Q uer provocar as 2,7-8 A divisáo náo é rígida: Pedro ha
autoridades a um reconhecim ento oficial, vía batizado C ornélio, Paulo pregava na
nao porque duvide, m as porque nao duvi- sinagogas judaicas.
da do seu evangelho. A “revelaqáo” o fez 2.9 Fica sancionada a validade do apus
com preender a conveniencia da aceitagao tolado entre os pagáos e se afirma a vocaçào
eclesial, com o garantía para ele e tam bém universal crista. M ais força que a autori
para seus convertidos. B usca-o por causa dade, tem nesse m om ento a “ solidarie
da situ arán criada pelos “falsos irm áos” dade”, que se expressa no gesto de apertar a
com suas acusagóes e insinuagoes. N ao máo. O episodio pessoal fica superado.
pode aceitar que essas intrigas váo frus 2.10 A esta recom endaçâo responde a
trar o realizado e o pendente. A dem áis, era grande coleta (A t 11,29; 24,17; Rm 15,15
preciso evitar urna divisáo da Igreja nas 18; lC o r l 6 ,l ; 2C or 8 -9 ).
cente em ju d eu s cristáos e pagaos cristáos. 2,11-21 O episodio de A ntioquia com
2,4 Da m áo de Tito e diante dos falsos plem enta e confirm a a conclusáo anterior
irm áos, entra em cena a grande oposigáo A n tio q u ia foi im portante com o base dt
da carta: a liberdade crista frente à escra- expansâo do evangelho; ai se cunhou o ad
vidào sob a lei (3,23; 4,5; 5,1-3). A liber jetiv o “cristáo”. E vocando urna controvèr
dade crístá é parte essencial de um “evan sia pública com Pedro, Paulo introduz urna
gelho autèn tico ” . Tito se apresenta com o sintese de seu pensam ento sobre a salva
prova viva da liberdade crístá, contra as çào do hom em pela fé e náo pelas obras
exígéncias dos que tentam im por a circun- A quele que era pecador e culpado, seni
cisáo e suas conseq ü én cias com o cam i- m éritos próprios è restabelecido num a si
nho n ecessàrio para a salvagáo. É bom tuaçâo de filiaçào divina e am izade com
recordar a im p o rtan cia da circuncisáo na D eus. N áo se justifica, porque o pecado
lei, que a faz rem ontar a A braáo (G n 17; náo tem ju stificaçâo ; náo se reivindica,
nao se m enciona no texto de Is 56, que se porque náo há urna inocéncia caluniada
anula). que reivindicar. Pelo perdáo ou graça ou
553 CARTA AOS GÁLATAS
íinislia, deixa de ser culpado, fica reabili- 2,16 A frase final, que soa com o cita-
imlii, cancela-se sua divida, anula-se sua gáo, nao se le literalm ente no AT; aproxi-
i niidenaçâo. A única condiçâo é a adesáo m am -se déla SI 143,2 e textos sem elhan-
un íé no M essias, que com sua m orte sal- tes de Jó. O fracasso da lei está indicado
vii o hom em . E m penhar-se por conseguir no Salm o 19, depois de cantar suas exce
i salvaçao por m éritos próprios é tornar lencias; note-se a form a concessiva: “aín
Imil¡I e inválida a m orte de C risto. da que teu servo se esclarega e obscrvá-la
l udo isso se jo g av a na conduta h ipócri traga grande proveito...”
ta ile Pedro e de outros. Pela m orte subs- 2,18-19 A argum entagáo está com prim i
iniiliva de C risto, o fiel m orre com C risto da. “D erru b ei” a lei p ara salvar-m e por
an pecado e à lei, e com eça a viver com a C risto apenas; se agora declaro que neces-
vula recebida de C risto; por isso C risto sito da lei para salvar-m e, reconstruo o que
vive nele. derru b ei e co n fesso que C risto nao me
2,11-14 A lei e as tradiçôes separavam valeu, pois m e deixou em estado de peca
us judeus com urna barreira de prescriçôes do. “U m constrói e outro derruba: que o u
ilc pureza legal, para que nao “se co n ta tro proveito tira além da fadiga?” (Eclo
m inassent’. Pedro, esquecendo ou d escui 34,23).
dando sua experiencia fundam en tal (At 2.19 O eu de quem fala é pessoal e exem-
10-11), por m edo de judaizantes adv en ti plar: Rm 7,6.
cios (ou pelo bem da paz), evitava com er 2.20 Texto discutido. Segundo as cláu
com os pagaos (tam bém a eucaristía?). sulas penáis da lei, m erece a m orte; ins
I’aulo denuncia publicam ente sem elhante truido pelo fracasso, em lugar de voltar a
conduta. ela, a abandona, “m orre para ela” , e busca
2,15-21 E xplica sua tese com très opo- a salvagáo em outro lugar, em D eus e na
siçôes básicas e com plem entares: pecado cruz de C risto. Ver Jo 13,1; T t 2,14.
ou estado de inim izade com D eus, é “ju s- 2.21 O sacrificio de C risto foi “entrega
tiça” ou estado de am izade; m orte e vida por am or” e gerou vida ¡m ortal para si e
como conseqiiéncia do anterior; lei e fé para os dem ais. Paulo se une, se identifica
como rneio de obter a “justiça” . C om o fun com esse sacrificio, e assim experim enta
do de contraste, seria bom citar num ero em si a vida do glorificado, em bora ainda
sos textos do AT que apresentam a lei corno viva pela “fé” e esperanga.
meio de obter a ju stiça e por ela assegurar V amos resu m ir a linha do que vem a
a vida (ver especialm ente Dt). seguir. O evangelho de Paulo nao é “se-
CARTA AOS CALATAS 554
gundo a m edida dos h o m en s” , ao gosto da “carne” , da condigáo hum ana nao vilu
dos hom ens, e sim seg u n d o a E scritura. lizada pelo E spirito de D eus. T a m p o n o >h
Prova-o a ex p erien cia dos G álatas (3,1- dom do “ espirito” depende no AT de ohi .id
5) e o exem plo de A braáo (3,6-18 e 4,21- ou m éritos precedentes, antes pelo coni i,i
31). E ntáo, que v alo r tem a lei? E xplica- rio: pede-o um orante num a oragáo pi
o em 3 ,1 9 -4 ,7 . A o p asso que 4 ,8 -2 0 é um nitencial (SI 51,12-14), prom ete-o um pm
convite a refletir. P or co n seg u in te, nao feta, assegurando “nao o fago por vós, m.m
cabe com p ro m isso en tre lib erd ad e e es- por meu santo nom e” (E z 36,22-28).
cravidáo sob a lei (5,1-12), só que a li 3.3 *Ou: em sensualidade.
b erdade se realiza no servigo do am or 3.4 *Ou: táo grave padecer em vào!
(5,13-26). 3,6-14 A rgum enta com binando textos cm
torno de um tem a, para criar ou recriar um
3 - 4 N estes capítulos, Paulo prova sua contexto de significado, iluminado pela n -,
tese com argum entos da Escritura, que ser surreigáo de C risto e pela experiencia ci i
ven! para refu tar as p reten só es dos ju d a i tá, c colocado em novo horizonte de com
zantes. O m odo de argum entar nao é o m o preensáo.
derno, de urna ex eg ese crítica, e sim o A lei acarreta bengáo para o cum prinn n
rabínico da época. Supóe bom conheci- to, m aldigáo para a transgressáo (D t 27
m ento da E scritura no autor e nos d estin a 28). C risto, em bora inocente, submetc-se
tarios. E terreno com um de encontro para a urna “ m aldigáo” específica da lei (Dt 2 1,
dialogar ou discutir. Paulo nao considera 23), ser suspenso de um m adeiro, para iu
caduco o AT enquanto E scritura inspira validar o regim e da lei. Urna lei, segundo
da; só que o interpreta sob nova luz (cf. a qual um inocente é condenado (Jo 19,7),
2C or 3,15 -1 6 ). T am bém os ju d a iz a n te s nao ficará em vigor. C risto m orre para rus
reconhecem C risto, tam bém Paulo reco- taurar o regim e... Para restaurar o regimi
nhece as E scrituras. de béngáo e prom essa, que só exige acci
tagáo e acolhida com fé (Is 7,7; 28,16
3,1 -5 Servcm de introdugáo, estranha- 30,15). R egim e inaugurado, antes da lei
m ente agressiva e apelando á experiencia em A braáo (Gn 15,6) e é confirm ado eni
dos gálatas, pagaos convertidos. R ecebe- Hab 2,4 (texto favorito de Paulo).
ram o E spirito e os carism as que o m ani- A prom essa feita a A braáo tem outra clá
festavam . A ceitaram a m ensagem da cruz usula de alcance universal (G n 12,3; 18,
(necedade para os pagaos, IC o r 1,23). A 18). Q uem repete a atitude de A braáo liga
“insensatez” consiste em descer da esfera se com ele, é seu descendente, ainda qm
do Espirito, dom divino, á do instinto ou seja de outra raga ou povo. O m érito (di
carne. A qui parece abarcar tam bém o ins kaiosyne) de A braáo consistiu em crer em
tinto de conservagáo egoísta, traduzido em Deus, crendo naquilo que lhe prom etía; poi
apegar-se á seguranza por m eio de obras, isso fo i-lh e an tecip ad a urna espécie de
observancias e ritos corporais. Se retornam “evangelho” ou prom essa de paternidade
a urna reügiosidade de obras, podem per universal. C risto, carregando a maldigáo,
der o E spirito e ficar na invalidez m ortal livra-nos dela e aplica e estende a todos a
555 CARTA AOS GÁLATAS
licngáo” prom etida a A braáo, a qual se (cf. A t 7,38). Com suas cláusulas, delim i
condensa no dom do Espirito. ta e perm ite reconhecer os pecados (IR s
■V15-18 Segundo argum ento. Está apoia- 8,46). Com seus conteúdos, vai educando
ilo no duplo valor da palavra grega dia- urna hum anidade crianga. A o m esm o tem
llicke, alianga ou testam ento. Paulo tom a po, ao náo ser cum prida inteiram ente, por
n segundo com o equivalente de “prom es- um lado agravava a culpa, pois náo se po
mi" que dá direito de herdar. No AT se dis- día alegar ignorancia; por outro lado mar-
linguem: urna alianga que equivale a um cava a necessidade de urna salvagáo ra
i'iimpromisso unilateral que D eus assum e dical. A lei náo anula nem vai co ntra a
(eonstrugáo heqim berit, própria da esco- prom essa.
l,i sacerdotal) e outra que significa um pac 3 ,2 2 C onclusáo categórica sobre o d e
ió bilateral, em bora proposto por iniciati signio universal de D eus: Rm 3,11-19.
va de D eus (eonstrugáo karat berit). A
primeira nao se distingue apenas da pro- 3 ,2 3 —4 ,7 Terceiro argum ento. U sa duas
mcssa ou juram ento. Pois bem , urna he- im agens: o cárcere e o tutor (R m 10,4). O
ranga devidam ente outorgada nao é an u cárcere é am biguo: tira a liberdade, mas,
lada por urna leg islarlo posterior. A alianza náo sendo perpétuo, protege a vida. Veja
ilo Sinai chega séculos depois da prom es- se Paulo, prisioneiro e protegido por urna
sa feita a A braáo, e náo pode anulá-la (Ex escolta rom ana, a cam ínho de C esaréia.
12,40; Rm 4,14). O tutor. N a fam ilia grega, o m enino pe
Lendo o coletivo “linhagem ” com o sin queño era co n fiad o a escrav o s, que po-
gular (G n 12,7), afirm a que o herdeiro da diam ser cultos e am áveis, e tam bém in
prom essa patriarcal é Cristo. cultos e cruéis. Q uando chegava a data da
3,16 *Ou: descendente. m aioridade, decidida pelo pai, o filho se
3,19-22 E ntáo, a que veio a lei? Que em ancipava e adquiría todos os direitos,
sentido teve e tem ? A lei tem valor: é dom com o filho e com o herdeiro. A lei foi um
de Deus, outorgado pelo m ediador M oisés tutor durante a m enoridade do povo. Deus
CARTA AOS GÁLATAS 556
*mili pieconceitos hum anos e religiosos, tida à escravidáo (ou vassalagem política?)
"Un (¡mi Paulo fraco com o a C risto (M t e um a Jeru salém transcendente, celeste,
líl HI) Se Ihes disse verdades am argas, é destinatária da prom essa de Is 54,1-3.
in i| .mu ii. ao passo que outros os cortejam E nquanto m ontanha sagrada, Jerusalém
|f | .’.S.23; 29,5; SI 5,10) por interesse. equivale ao Sinai, m ontanha da lei; en
I I / +( )u: cumulam-vos de atengóes. quanto m orada dos descendentes de A gar,
I l'< A imagem maternal para um apòsto é lugar de escravidáo.
li Hl|n (• enraum: com pare-se com a queixa 4,21 A rgum enta ad hominem, passando
• Mm-.cs (Nm 11,12). O apóstolo dà à luz de lei = instituigào a lei = Escritura.
mu .lui e amor e assiste ao crescim ento e 4,26 U m a longa e rica tradigáo crista
|ti|iiini,,n>” do cristáo à imagem de Cristo. proclam a e canta a M áe Igreja.
4 ' I ' 1 O quarto argum ento, m ontado 4,29 A B iblia nào fala de tal persegui-
biIh. 11111: 1 liansposicáo “alegórica” de íex- cao, e sim a tradigáo rabínica; o texto bíbli
111 « liihlieos, é quase desconcertante para co diz que Ism ael brincava com seu irmáo-
■Mi i i n in n a fosse válido para intérpretes zinho Isaac (G n 21).
l i ha 1 I.1 -.na época. Ponto de partida é o
i* |.iii. -,ulne os filhos de A braáo (segundo 5,1 C om o conclusáo do que precede e
Mu Mu ' I ). O com entarista apura as opo- introdugáo ao que se segue, soa éssa frase
íl^ii n r nlagóes. Sara, esposa legítim a e lapidar, um dos grandes aforism os cristáos
i|in 1 .leiil, m ilagrosam ente dà à luz um de Paulo (Jo 8,32.36). O escravo de alguérr
IIII111 livie, Isaac. A gar, concubina escrava, pode ser com prado por outro para ser guai
Mn In.- um íilho escravo, Ism ael, o qual é dado — m udanga de am o, náo de condi
; t i l i i i ' l i 1 ila lieranga e expulso. A s figuras gáo — , ou pode ser resgatado e posto em
( t l i ii i ii i iu - . ile A gar e Sara, Paulo sobrepóe liberdade. Tal é a agáo de Cristo.
I |n 1 ii >1 1 1 1u agáo c làssica de Jeru salém 5,2-6 A conseqiiencia é um a opgáo en
u m ........inarca e esposa de D eus. Só que tre dois sistem as inconciliáveis: circunci-
II un,.,...... na Jerusalém em pírica, subm e- sáo m ais lei, ou C risto m ais Espirito, obras
CARTA AOSGÁLATAS 558 i
to de n a d a v o s se rv irá . 3E u v o s a sseg u - de; m a s n a o to m é is a lib e rd a d e c o ....
ro de n o v o q u e q u e m se c ir c u n c id a r e s e stím u lo d o in stin to ; a n te s, serv i un-. .ui|
ta rá o b rig a d o a c u m p rir in te g ra lm e n te o u tro s p o r am or. 14P o is to d a a lei se nnn
a lei. 4V ó s q u e p ro c u rá is a ju s tig a p e la p re co m u m p re c e ito '.Amarás teu pnim
le i ro m p e s te s c o m C ris to e c a ís te s na mo como a ti mesmo. 15M a s atengAnl
d e sg ran a. 5Q u a n to a n ó s, p e lo E sp irito S e v o s m o rd é is e d e v o rá is m utuam eli
e p e la fé, e sp e ra m o s a ju s tig a d e se ja d a . te, a c a b a re is c o n s u m in d o -v o s todos
6S en d o de C risto J e s ú s, n a o im p o rta e s I6E u v o s re c o m e n d o q u e a ja is seguii
ta r ou n a o c irc u n c id a d o s ; o q u e c o n ta é d o o E sp irito e n ao e x e c u te is os desü|<n
urna fé a tiv a d a p e lo am o r. d o in stin to . 17P o is o in s tin to te m dosel
7C o rríe is m u ito b em : q u e m se inter- jo s c o n trá rio s a o s d o E s p irito , e o Espi
p ó s p a ra q u e n ao s e g u ís s e is a v e rd a d e ? rito te m d e se jo s c o n trá rio s a o s do iir.
8A q u e le q u e v o s c o n v e n c e u , n a o v e m tin to ; e tá o o p o s to s sá o q u e n a o fazo!»
d a q u e le q u e v o s c h a m o u . 9U m a p ita d a o q u e q u e re is. 18M a s, se o E sp irito vo .
d e fe r m e n to f e r m e n ta to d a a m a s sa . g u ia , n ao e stá is su je ito s à lei. A s agóri
10C o n fio n o S e n h o r, q u e n a o m u d a re is d o in s tin to sa o m a n ife s ta s i fo rn ica rá n ,
d e a titu d e. M as, a q u e le q u e v o s in q u ie in d e c e n c ia , d e v a s s id à o , 20id o la tria , leí
ta, se ja q u e m for, a rc a rá c o m a p ró p ria timaría, in im iz a d e s, rix a s , in v e ja , cólo
sen ten g a. u Q u a n to a m im , irm á o s, se ra, am b iq a o , d is c o rd ia s , fa c g ó e s, 21cin
a in d a p re g o a c irc u n c is á o , p o r q u e m e m e s, b e b e d e ira s , c o m ila n g a s e coisa',
p e rs e g u e m ? A c a b o u -s e o e sc á n d a lo da s e m e lh a n te s. E u v o s p re v in o , c o m o j . i
cru z! 12M a s e ss e s q u e v o s su b le v a m , v o s p re v e n i, q u e q u e m p ra tic a isso nào
q u e se m u tile m * c o m p le ta m e n te . h e rd a rá o re in o d e D e u s.
22P e lo c o n trà rio , o fru to d o E sp irito <
G uiados pelo Espirito — 13V ó s, ir a m o r, a le g ría , p a z , p a c ie n c ia , am abili
m á o s, fo s te s c h a m a d o s p a ra a lib e rd a - d a d e , b o n d a d e , fid e lid a d e , 23m o d éstia
niiior. A lei nada tem a objetar contra essas duta. E sse é o fardo do hom em , responder
iililudes, e nao poderá acusar quem as cul- por suas agóes, no que ninguém pode subs-
llva (lT m 1,9). tituí-lo.
5,24 A “m ortificagáo” de que fala tem 6,6 E spécie de rem uneragáo pelo tem
romo objeto “o instinto com suas paixóes e po e trabalho dedicados (IC o r 9,11.14).
ilcsejos” ; podem os cham á-la mortifieagáo 6 ,7 -9 C om p ro v érb io s do m undo ag rí
Interior, radical. Nao se refere diretamente a co la (cf. Pr 22,8; O s 8 ,7) apresenta a pro-
|KMiiténcias corporais. Tal mortifieagáo ga- jeg á o e sc ato ló g ica do ex p o sto . N o te rre
llha sentido cristáo com o imitagáo e parti- no do instinto b ro ta a corrupgáo, porque
eipagáo na paixáo de Cristo. Cf. Rm 6,7; o E sp irito nao o v iv ific a ; no te rre n o do
8,13; C1 3,5. E sp irito b ro ta v id a p e rp é tu a , d e fin iti
va. A s o b ras in s p ira d a s p e lo e s p irito de
6,1-10 C om o em outras cartas, acres- fé e a m o r nao sao in ú teis nem se frus-
eenta urna segáo parenética, repetindo e traráo.
tirando conclusóes. 6,11-18 C oncluí resum indo idéias prin
6.1 A c o rre g á o fraterna pode ser ato de cip áis e despedindo-se. Paulo escreve a
umor se é hum ilde, acom panhada do ex a carta, de seu punho e letra, com o garantía,
me da p róp ria consciencia e ev itan d o o com letras grandes que sublinham a im
orgulho pelos bens recebidos (T g 5,19). portancia. N a polém ica com os judaizantes
6.2 H á urna “lei de C risto” (I C o r 9,19- o s acusa de duas culpas entrelazadas: pór
21) que consiste no am or m útuo. L evar os um lado, nao cum prem inteiram ente a lei;
lardos é im agem tirada do m undo da es- p or outro, querem alcangar triunfos em seu
cravidáo ou do trabalho (cf. M t 23,4, os proselitism o, á custa da liberdade alheia
fardos dos fariseus; Rm 15,1). (cf. M t 23,15).
6.3 É um a nota psicológica penetrante 6,14-15 Todo o orgulho de Paulo está
sobre a capacidade do hom em de engañar na cruz de C risto, em sua m orte e sacrifi
se a si m esm o. cio p o r amor, em participar déla e pregá-
6,4-5 C om o a responsabilidade é assunto la com o único m eio de salvagáo. A cir-
pessoal, cada um deve exam inar sua co n cuncisáo carnal, que já nao conta, antepóe
CARTA AOS GÁLATAS 560 fi. I
as m arcas de seus sofrim entos pelo ap o s sus com o M essias com todas as conseqii
tolado (IC o r 1,31). èncias; os ju d eu s convertidos de verdade
6.15 *Ou: humanidade. (cf. o “ israelita au tèn tic o ” de Jo 1,41).
6.16 A os ju d aizan tes se opoe o “Israel O utros pensam que o Israel de D eus é ti
de D eus”, o auténtico, que reconhece Je tulo novo da Igreja.
CARTA AOS EFÉSIOS
INTRODUÇAO
1/r\o foi desde tempos antigos urna molde epistolar como recurso retórico.
-, i.hiili’importante por sua posiçâo geo- Deveria ser catalogada no género de
i¡nilieti. Porto de mar para onde con- celebraqao ou panegírico. Falta no tex
lliiiu o comercio do interior e chega- to o tom pessoal, remetente e destina
i il i» ilo Mediterràneo. No ano 133 a.C. tários se conhecem por ouvir falar (1,
f>'i thrlarada capitai da provincia ro- 15; 3,2), faltam referéncias a urna situa-
iiiiirin da Asia. Entre seus muitos edi- qao concreta.
Ih ais suntuosos sobressaía o tempio c) De Paulo? Cada vez sao mais nu
,/i ¡lirado a Artemis, deusa asiàtica da merosos os autores que a consideram
In undidade (At 19). Como cidade ro obra de um discípulo de Paulo que es-
mana no Mediterràneo orientai, for creve a pagaos convertidos da segun
mava um trio com Antioquia e Ale- da geraqáo. Aduzem-se argumentos de
\iindria. varios campos. O vocabulário contém
Quando Paulo visitou Efeso (At 19,1), muitas palavras exclusivas e outras
enrontrou ai alguns cristàos nào bem usadas com significado novo. O estilo
informados. lnstruiu-os e formou com nao é simplesmente diverso, mas nota-
i /i's urna florescente comunidade cris- velmente inferior: usa parágrafos lon
hi, de pagaos convertidos, base de ope- gos e monótonos, carregados de subs
niqòes para a expansào missionària. tantivos com preposiqao (na traduqáo
( ) apòstolo residiu ai très anos (54-57), suavizei o estilo para torná-lo legível e
i-i l tre éxitos e dificuldades. Referem- inteligível), é redundante no uso de si
w a Éfeso IC or 15,32; 16,8s e talvez nónimos, falta-lhe o movimento das
.’('or 1,8. perguntas. Também a doutrina é dife
No uso corrente, este documento fi rente: professa urna escatologia adia
gura como carta de Paulo aos Efésios. da, pois a salvaqáo já ocorreu; a mui
Os très dados sâo discutidos por urna tas igrejas locáis sucede urna Igreja
critica competente. única e universal; a controvérsia de
a) Aos efésios? O nome da cidade fal judeus e pagaos parece superada. Es
lu em códices importantes. Foi cance tes argumentos nao sao decisivos e dei-
lado do texto original para deixar o es xam a soluqáo pendente.
paça em branco, disponívelpara outras Alguns consideram de mais peso sua
localidades ?Nao há antecedentes nem dependéncia literal da carta aos Colos-
rasos parecidos de semelhante pràti senses. Compare-se 4,1-2 com C13,12-
ca; as cartas circulavam conservando 13; 5,19-20 com 3,16-17; 6,21-22 com
o nome dos destinatários origináis. Foi 4,7-8. A metade dos vv. de Eftém para
ucrescentado a um texto nao especifi lelos em Cl. Por isso, pensam muitos
cado? Dado o caráter do escrito e le que E f imita conscientemente Cl, em
vando em conta a noticia de Cl 4,16, bota mude o enfoque doutrinal.
ulguns pensam que era dirigida origi O mais importante desta carta é sua
nalmente a Laodicéia; outros créem riqueza temática. Se a carta aos Colos-
que era desde o começo um texto cir senses é cristológica, esta é eclesioló-
cular. gica. Ambas as coisas se implicam, mas
b) Carta ? Parece, antes, um tratado, muda o peso relativo. Deus tinha um
urna exposiçâo homilética vertida no plano, escondido durante sáculos e re-
CARTA AOS EFÉSIOS 562 INTRODIK
1,1-2 Por faltar em alguns m anuscritos pio D eus, identificado com o “Pai de Je
il cspccificaçâo “em E feso”, alguns tèm sus C risto” (v. 3) e nosso pela adogáo (v.
pensado que esta era urna carta circular, 5); ele é o agente de tudo “segundo seu
llilii cm vàrias igrejas. Em bora sejam cos- designio e decisáo” (vv. 5.9.11). R ealiza
imiic ñas cartas e passem facilm ente inad tudo “por m eio de C risto” (m encionado
vertidos, observem os os títulos: D eus Pai nos vv. 3.5.10.12). Term ina o parágrafo
m o s s o (ponham o-no s em relaçào com a com a referencia ao Espirito, “selo e g a
maçâo dom inical), Jesus C risto “S enhor”, rantía” (vv. 13.14).
Me,lande proclam açâo crista, que costum a- V ários tem as sao transposigáo de “tipos”
M io s incluir no final de nossas súplicas. do AT: eleigáo, filiagáo, resgate, sabedo-
1,3-14 Parágrafo dificflim o, provavel- ria, heranga. A razáo é que a consum atilo
iiicnte o m ais difícil do NT. Tem apenas ou plenitude p resente estava p rev ista e
seis verbos em form a finita; o resto sao decidida de antem áo (vv. 4.5.9.11).
participios (adjetivos verbais) ou gerún- 1,3-6 Prim eira onda. Com ega com o tí
ilios (ad v érb io s verbais). Q uin ze frases tulo de C risto = M essias = U ngido, o e s
circunstanciáis se ligam com a preposiçâo perado. T erm ina com o título “o Predile-
Kfega en (m ultifuncional), nove com eis, to ” : outrora título de Israel (D t 32,15; Is
as quais se som am outras com kata ou dia. 44,2); agora título de Jesús C risto, pronun
li como se o autor tornasse alento p rofun ciado no batism o e na transfiguragáo (M t
do para pronunciar sua com plexa bênçào 3,17 par.; 17,5 par.).
ilo um só respiro, num a ùnica frase g ra “ A bengoou-nos” recolhe a grande tra-
matical. digáo do AT: a de Isaac, paterna, testam en
Para orientar-nos neste alarde (ou em a- tària e lim itada (G n 27); a de Jacó, pater
ranhado) gram atical, observam os très o n na e distribuida ás doze tribos (G n 49); a
das que co n clu em em très m en çô e s de de M oisés, profètica, para as tribos (Dt 33).
"louvor” (vv. 6.12.14). D epois m arcam os Isaac abengoou Jacó e nao lhe restou ou-
as séries que reduzem algo a C risto (na tra béngáo; o Pai celeste em C risto aben-
versáo portuguesa “por”): quatro na pri- goa a todos.
ineira onda, duas na segunda, urna na ter- “A ntes da criagáo”: ou seja, da prim eira
ceira. L evam os em conta tam bém os b e palavra do G énesis “ no principio, D eus
neficios de D eus, na voz ativa e passiva. criou” . Jerem ías foi escolhido pelo Senhor
Na traduçâo e na disposiçâo gráfica p ro “ antes de te form ar no v en tre” (Jr 1,5); os
curai facilitar a leitura. cristáos, antes da criagáo do m undo (cf.
O texto pertence ao género das bênçâos, Rm 8,28s); o projeto de Deus abarca o tem
Ireqiiente na liturgia judaica: o hom em po inteiro (Is 43,13).
“bendiz” a D eus agradecendo as “bênçâos” “ Santos” ou consagrados: com o Israel,
recebidas. O texto é trinitàrio. N o princí- “um povo santo” (E x 19,6), “os santos do
CARTA AOS EFÉSIOS 564
A ltíssim o” (D n 7,22.27); “pelo am or” (in- que funda a unidade hum ana, da qual fa
fundido), nao por m ero rito. “Filhos” : tí lará a carta.
tulo coletivo de Israel (Ex 4,23; Is 1,2; Os Ser “h erdeiros” ou ser heranga. Ambos
11,1 etc.), agora dos cristáos (Jo 1,12; U o os sentidos se léem no AT: Israel herda a
3,1-10). A “ gloriosa graga” é o favor que térra (Ex 23,30; D t 19,3; Js 14,1) e é he
revela sua gloria. ranga de D eus (D t 9,29; 32,9; SI 78,71).
1,7-12 Segunda onda: C 1 1,14-20. O an- A gora nós cristáos som os herdeiros (Rm
tigo resgate com egou no Egito com o san 8,17.28-29).
gue pascal (Ex 12) e se perpetua no culto, 1,12 A q u i com eg a a d istin g áo “ n ó s” =
especialm ente pelo s sacrificios de expia- os judeus, que “esperávam os um M essias” ,
gáo (L v 4 e 16). E ra um resg ate de escra- e “v ó s” = os p ag ao s, do v. seguinte.
vos para a liberdade: o nosso é um resg ate 1,13-14 T erceira onda. N o com ego se
de p ecad o res p a ra o perdáo, tam bém com refere aos p agáos, que, em bora nao espe-
sangue, o da cru z (H b 9, 22). rassem um m essias prom etido, acolheram
A “sabedoria” ou sensatez nao é aqui o evang elh o com o m ensagem auténtica.
qualidade ou aquisigáo hum ana (Pr 3,13), O que dep o is diz do E spirito v ale para
e sim dom , revelagáo (Ecio 24; Sb 9) que todos os cren tes sem distingáo. O E sp iri
nos capacita para com preenderm os o “d e to Santo “p ro m etid o ” co n cen tra to d as as
signio secreto” de D eus, o que vai expli prom essas e é com unicado no batism o (At
car na carta (R m 16,25). 13,26 par.). E um “selo ” : sinal de autori-
O “cum prim ento dos tem pos” ou dos dade e posse (G n 38,18; IR s 21,8), garan
prazos pode referir-se á e n c a rn a d o (G1 te (Jr 32,10-14); quem o traz gravado mos-
4,4) ou á glorificacáo (cf. C1 l,1 5 s). C éu e tra a quem p erte n ce e quem o p rotege
térra podem representar as duas partes que (2 C o r 1,22). E “g ara n tía ” ou penhor, an-
com pdem o universo criado (D t 32,1; Is tecipagáo de urna entrega: de que um día
1,2). Tam bém podem distinguir-se e opor- herdarem os o reino; de que, com o posse
se com o m undo hum ano e m undo divino, d ivina, um dia serem o s resg atad o s (Rm
separados (SI 135,16; Is 55,9). Em C risto 8,23).
se realiza sua u niáo definitiva, indisso- 1,15-16 A agáo de gragas é breve. R esu
lúvel, e por ele c o m e ta um longo proces- m e toda a conduta crista na fé em Jesús
so de reunificagáo: é a unidade prim ordial com o S enhor e no am o r fraterno. Tudo
565 CARTA AOS EFÉSIOS
un, 1 , 1 e c o rd a n d o -v o s e m m in h a s o ra - e d e q u a lq u e r títu lo q u e se p ro n u n c ie
. 11 pego: n e ste m u n d o o u n o q u e v irá.
1 i hic o D eus de n o ss o S e n h o r Jé s u s 22Tudo submeteu sob seus pés,
i il in, l’ai d a g lo ria , v o s c o n c e d a n o m e o u -o c a b e g a su p re m a d a Ig re já ,
mu esp irito de s a b e d o ria e re v e la ç â o 23q u e é se u c o rp o e se p re e n c h e da-
.pi. vos faça c o n h e c ê -lo q u e le q u e p re e n c h e tu d o e m to d o s.
"'e vos ilu m in e o s o lh o s d a m e n te ,
i ii i .ip reciardes D a m o r t e a v id a — 'T a m b é m v ó s
ii l'sp eran ça a q u e v o s c h a m a ,
:i esp lén d id a riq u e z a d a h e ra n ç a q u e
2 o u tro ra e stá v e is m o rto s p o r v o sso s
p e c a d o s e tr a n s g re s s ó e s . 2S e g u íe is a
|.Miníete ao s c o n sa g ra d o s c o n d u ta d e ste m u n d o e as o rd e n s do
'''e a g ra n d e z a e x tra o rd in á ria d e se u c h e fe q u e m a n d a n o ar, o e sp irito que
I.i hlei cm fa v o r d e n o s q u e e re m o s, a g e n o s re b e ld e s. 3C o m o e le s, ta m b é m
segundo a e fic á c ia d e su a fo rç a p o - n ó s se g u ía m o s o s im p u lso s d o instin to,
ilemsa; c u m p ría m o s os d e se jo s e p e n sam en to s
"poder q u e e x e rc e u em C risto , d o in stin to , é ra m o s o b jeto d a ira c o m o
ressu scitan d o -o d a m o rte e se n ta n d o - o s outros.
n a sua d ire ita n o c éu , 4M a s D e u s, ric o em m ise ric o rd ia , p e
‘acim a de to d a a u to rid a d e e p o te s- lo g ra n d e a m o r q u e te v e p o r n ó s, e s
i,iile e p o d e r e so b e ra n ia , ta n d o n ó s m o rto s p o r c a u sa d o s d elito s,
i nino dom de D eus, pelo que se Ihe d e rias representam a totalidade cósm ica, que
viali gragas. pode incluir anjos e exércitos celestes.
1,17-23 O texto é difícil pela duvidosa Seu “títu lo ” suprem o é Kyrios, com o
.ili ibuigáo das oragóes fináis e do relativo. equivalente de Yhwh (cf. F1 2,9).
Alcndendo ao tem a, é fácil distinguir urna 1.22 SI 8,6 o diz sim plesm ente do ho-
parte de petigao (vv. 17-19) e outra cristo- m em , do ser hum ano. E ste texto e H b 2,6-
logica (vv. 20-23). A tendendo à form a, 8 estreitam a aplicagáo ao H om em por
croio distinguir très petigóes, com a cristo excelencia, Jesús C risto. “Cabega da Igre-
logia englobada na terceira. j a ” : Cl 1,18.
Primeira petigao (v. 17): um carism a de 1.23 A frase é densa e am bigua, por isso
sabedoria revelada (cf. Is 11,2-3). Dom do diferem as interpretagóes: a) A Igreja sujei-
I spirito, nao aquisigáo hum ana; revelagào to plenifica, com pleta Cristo, com o o cor
oli sensibilidade para perceber o m isterio. po completa a cabega; Cristo plenifica tudo.
“Para conhecè-lo”: a D eus Pai ou a Jesus b) A Igreja está cheia de Cristo, o qual... c)
Cristo? Pelos vv. que se seguem , pelo teor A Ig re ja e stá c h e ia d a q u ele q u e D eus
ila carta e textos sem elhantes (2C or 5,16; plenificou com sua plenitude (Jo 1,14.16;
II 3,10), inclino-m e ao segundo: conhe- C l 1,18-19).
cer e reco n h ecer Je su s com o M essias,
como Filho de Deus Pai (Le 10,21-22 par.). 2,1 -3 Situagáo anterior de desgraga. Está
Segunda petigáo (v. 18): ilum inagáo (Cl articulada nos grupos “vós” e “ nós”. “V ós”
1,12). A heranga só a tem os em esperan seriam os pagaos, súditos do M aligno, rei
za; sendo futura, nào a vem os. M as urna do m undo e chefe dos rebeldes a Deus.
luz celeste nos perm ite contem plá-la à dis “ N ós” seriam os judeus, que, apesar da lei,
tancia (cf. Hb 11,9-13): “na tua luz vem os cedem ao instinto (Tt 3,3) ou se agarram a
a luz” (SI 36,10). ritos corporais externos. Urna conduta guia
Terceira petigáo (vv. 19-21): faz a transi da pelos poderes m alignos deste m undo,
g o para a cristologia. C om preender o “po pelos desejos perversos próprios, equivale
der” extraordinàrio de D eus, com o qual a “estar m ortos pelo pecado” (Ez 18,13.20;
realiza em Cristo seu projeto admirável: a 33,8-10; cf. D t 30,15-19). Pelo que “ natu
ressurreigáo com o vitória definitiva sobre ralm ente”, lógicam ente, incorre-se na “ira”
a morte (IC o r 15,14); a exaltagáo à sua di ou condenagáo (R m 1,18; Cl 3,6).
reita (SI 110,1) com o in s ta u r a lo do reina 2,4-10 D e sem elhante estado D eus nos
do de Deus. “A cim a de” : as quatro catego- livrou e livrou tam bém a eles por pura
CARTA AOS EFÉSIOS 566
n o s fez re v iv e r co m C ris to — g ra tu i c h a m a v a m c ir c u n c id a d o s d e co ip .
ta m e n te fo s te s sa lv o s; — 6c o m C risto re c o rd a i 12q u e n a q u e le te m p o viví, n
J e s ú s n o s re s su sc ito u e n o s fe z se n ta r se m M essias, ex c lu id o s d a cid ad an i.i <l>|
n o céu , 7p a ra q u e se re v e le a o s sé c u lo s Isra e l, a lh e io s á alian g a e su a s p ro n n
fu tu ro s a e x tra o rd in á ria riq u e z a d e su a sas, sem e sp e ra n z a e se m D e u s n o n mu
g rag a e a b o n d a d e c o m q u e n o s tra to u do. 13A g o ra , g ra b as a C ris to Je s ú s c em
p o r m eio d e C risto Jesú s. v irtu d e d o seu sa n g u e , v ó s, q u e ani.
8G ra tu ita m e n te fo s te s s a lv o s p e la fé, e s tá v e is lo n g e , a g o ra e stá is p erto .
n a o p o r m é rito v o sso , m a s p o r d o m de 14E le é a n o ss a p a z , ele q u e d e dn¡»
D e u s; 9n a o p e la s o b ra s, p a ra q u e n in - fe z u m , d e rra b a n d o c o m seu co rp o n
g u é m se o rg u lh e . 10S o m o s c r ia tu r a s m u ro d iv iso rio , a h o s tilid a d e ; 15anulan
d e le , c ria d o s p o r m eio d e C ris to Je s ú s d o a lei c o m se u s p re c e ito s e c lá u s u la ^
p a ra r e a liz a r m o s a s b o a s a g ó e s q u e c ria n d o a ssim , e m su a p e ss o a , d e dua«
D e u s n o s c o n fia ra c o m o ta re fa . u m a só e n o v a h u m a n id a d e , fa z e n d o a1»
p a z e s. 16P o r m e io d a c ru z , m a ta n d o u n
Unidade por C risto — n P o r isso v o s, su a p e sso a a h o s tilid a d e , re c o n c ilio u ou
q u e a n te s é re is p a g a o s d e c o rp o , c h a d o is c o m D e u s, to m a n d o -o s u m só o >i
m a d o s in c irc u n c iso s p o r a q u e le s q u e se p o . 17V eio e a n u n c io u a paz a vós, o,i
iniciativa: por m isericordia e por amor, nao Israel (IS m 14,6; 17,36; 31,4; Rm 9,4)
p or m érito de obras. Alianza e promessas: literalmente, a expres
P rim eiro passo da salvagáo foi a passa- sao estranha “aliangas da prom essa” (pon
g em da m orte (pecado) á v id a (graga). sa em Is 55,3?); talvez tente sintetizar a
D epois, enquanto m em bros de C risto, nos “ prom essa” (coletivo) patriarcal e as alian
faz participar, de antem áo ou em esperan gas com o povo e com a casa de Davi.
za, da ressurreigao e reinado de Cristo. “ Perto e longe” segundo a distingáo ;l<
Em conclusáo, som os nova criacao de Is 57,19 (cf. A t 2,39). “Pelo san g u e” : da
D eus por m eio de C risto e nos cabem ta- alianza (Ex 24,6) ou da libertagáo de pre
refas (obras) que nao sao condigáo, e sim sos (Zc 9,11).
conseqüéncia da salvagáo. 2.14-20 C risto derrubou com seu corpo
2,4-7 Variagáo e aplicagáo livre da defi- glorificado a barreira que antes separava
nigáo clássica de D eus no AT (Ex 33,19; os ju d eu s dos pagaos. De m em bros dis
34,6; J12,13; Jn 4,2; SI 86,15; 103,8). Rico persos fez “um co rp o ”, de estrangeiros e
em misericordia (rab hesed), am or (rahum), nativos fez urna cidade e fam ilia, de pe
favor (hanun), bondade (tub). O corpo se- dras heterogéneas fez um “ed ificio” . Rea
gue em tudo a cab era. “ G ratuitam ente” : lizou a grande pacificagáo: dos homens
v er A t 15,11. com D eus, abrindo-lhes “acesso ao Pai”,
2,10 “C riaturas dele” : (cf. SI 138,8; Jó dos hom ens entre si, “criando um a nova
10,8). C riado: 2C or 5,17. P ara as bo as hum anidade”. N ao se lhe pode comparai
obras: T t 2,14. a reuniao de Judá e Israel prom etida por
2.11-20 Se antes vós e nós éram os iguais E zequiel (37,15-19), m as pode-se cantai
no pecado, agora o som os na salvagáo e o SI 133.
podem os form ar urna unidade: pela pro- 2.14-15 D estrói a barreira interior, que
xim idade, a paz, a reconciliagáo, a com um é a hostilidade (cf. Ez 25,15) e a barreira
cidadania e fam ilia, a estrutura única. exterior, que é a lei. Talvez se im agine a
2.11-13 O antes e o agora dos pagaos barreira do tem plo que obstruía o acesso
convertidos. E stavam privados dos privi- aos pagaos (sob pena de m orte). A barrei
légios do povo escolhido; sobretudo, nao ra já nào é necessària (cf. SI 80,15; 89,41 ;
esperavam um M essias e viviam sem Deus, Is 60,10.18). A criagáo do hom em nove
porque seus deuses eram falsos (D t 32,21 pode corresponder à nova criagáo (de Is
e a pregagáo do Isaías do exilio). A cir- 65,17 e 66,22; 2 C o r5 ,1 7 ).
cuncisáo com o sinal corporal de perten- 2,16 C om o outro Sansáo, C risto m orn
cer ao povo; “incircuncisos” era insulto em m atando: por am or a todos sem distingáo.
567 CARTAAOS EFÉSIOS
i. IK O acesso ao tem plo estava rigoro- C item os alguns textos: “as nagóes, os
Niiiiiente regulam entado e vigiado. A gora confins da térra”, subm etidos (SI 2); Jeru-
1 1 1 u■, em lugar de tem plo tem os o Espirito salém m ae de povos “nascidos ali” (SI 87);
(i I .lo 4,23), todos tém acesso ao Pai. O v. culto ao S enhor (SI 102,16.23); Egito e
i iintém urna referencia trinitaria. A ssíria (Is 56; 19,19-25) etc. M as os p a
2 .19 Nao é a situagáo m édia do im igran- gaos nao podiam com partilhar a heranga
ir, nao cidadao, ainda que protegido pela com Israel (cf. Gn 21,10; Jz 11,2) nem for
Iri. A gora gozam os da plena cidadania. m ar um corpo com ele. Pois bem , a rique
Israel se cham ava tam bém “ a Casa de Is- za do M essias transborda e se reparte ago
rnel”, e no m eio déla habitava Yhwh no ra a todos. Esta é a grande revelagáo, da
lim pio: agora som os m em bros da C asa de qual Paulo está orgulhoso e que o estim u
I )eus, que é tam bém um tem plo espiritual la em seu m inistério.
(I Ib 12,22-23). 3.1 Em grego a frase fica em suspenso.
2.20 O alicerce: Is 28,16; A p 21,14. A “ P risioneiro” : ver a introdugáo (Fm 1.9).
pedra angular: SI 118,22. 3 .2 Sobre o m inistério de Paulo em Efe-
2,21-22 E stranho edificio, que se trans- so, v er A t 19.
lorma em tem plo, feito de pedras vivas e 3,3-4 Refere-se á carta aos C olossenses,
capaz de crescer. difundida com o carta circular?
3.5 Profetas inspirados da nova econo
3 ,1 -1 3 Q uando Paulo (o eu da carta) se mía, ativos na Igreja (p. ex. A t 11,27; 13,1;
declara apóstalo dos pagaos, nao pensa só 15,32; 21,10; IC o r 12,28).
uuma divisáo territorial, m as im plica urna 3.6 O evangelho é com o a prom ulgagáo
descoberta: que o M essias esperado pelos que to rn a efe tiv o o c u m p rim e n to p ara
judeus veio tam bém para os pagaos, nao é quem queira aceitá-lo.
m onopolio de Israel. Este é um grande se- 3.7 IC o r 15,9-10.
gredo que D eus m anteve gu ard ad o por 3.8 O “últim o” (cf. E clo 33,16-18): por
muitos sáculos. A braáo se afasta de sua que foi perseguidor, porque chegou m ais
fam ilia, de seu país, Ism ael fica de fora, tarde (IC o r 15,9-10). A “riqueza”: alusáo
com o tam bém Esaú. Se alguns textos do á S abedoria. “In so n d áv el” : Is 40,28; SI
AT se abriam aos pagaos, algum as cláu 145,3; Jó 5,9; 9,10; 11,7.
sulas do texto ou os leitores lhes punham 3 ,1 0 Se unim os este v. ao 18, nos rem e-
limites: reduziam -nos aos pagaos subm e- tem ao com ego do E clesiástico (1,1-3.8).
tidos a Israel ou convertidos plenam ente. N essa segáo predom ina a linguagem sa-
CARTA AOS EFÉSiOS 568
......... i nni toda a h u m ild a d e e m o d è s repartiu dons aos homens. 9(Q u e sig
ti« i imi p acien cia, s u p o rta n d o -v o s m u - n if ic a “ s u b iu ” , s e n â o q u e d e s c e u às
........... ile ro m am or, 3e sfo rg a n d o -v o s p ro f u n d e z a s d a te r ra ? ) !()A q u e le q u e
...........uiler a u n id a d e do e s p irito c o m o d e sc e u é o m e s m o q u e su b iu a c im a d o s
• Uh nliula paz. 4U m é o co rp o , u m o E s c é u s p a ra p le n ific a r o u n iv e r s o .l ‘A u n s
pi* un. .iv.im c o rn o è urna a e sp e ra n g a a ele n o m e o u a p ó sto lo s, a o u tro s p ro fe
in tosles c h a m a d o s; 5u m é o S en h o r, ta s, e v a n g e lis ta s , p a s to re s e m e stre s,
• m i i 1 1<-, um o b a tism o , hu m D e u s, Pai u p a ra a fo rm a ç â o d o s c o n s a g ra d o s na
ili in . li in , i|u e e stà a c im a d e to d o s , en - o b ra c o n fia d a , p a ra c o n s tru ir o c o rp o
in i*i*los, em to d o s. d e C risto ; l3até q u e to d o s a lc a n c e m o s
i .ida um d e n ó s re c e b e u a g ra g a na a u n id a d e d a fé e d o c o n h e c im e n to do
un i lula do don) de C risto . 8P o r is so se F ilh o d e D e u s, e s e ja m o s h o m e n s per-
li Suhindo ao alto levava cativos e fe ito s , e a lc a n c e m o s a id a d e d e u m a
Hii ,i i oeréncia de IC o r 12, utiliza a ima- Israel “o S en h o r nosso D eus é som ente
,'i in ilo corpo (vv. 3.12.16). H à alguns as u m ” (D t 6,4). C om pare-se tam bém com
pi i ios claros ou nao m uito obscuros na “um só pai e um m esm o D eus” (MI 2,10);
i ip lan ag áo da im ag em : a u n id a d e na na im agem de pastor (Jo 10,16).
I>li11 .il idade, a relagáo com a cabega (v. 15), 4,7-11 Da unidade b ro ta a pluralidade,
•i pmgáo dos m em bros (v. 16), o cresci e esta se unifica pela organicidade. Proce
mi ilio para a m aturidade (v. 13). O utros de de C risto glorificado, que reparte seus
1 1, montos tu rvam o p erfil da im agem : dons, com o faz um v en ced o r espléndido.
mistura o conceito de “construgào” , fala D ois m otivos literarios que encontra em
.Ir crescer até alcangar a cabega, introduz SI 68,19, adaptado ao caso sem esforgo,
mmi im agem m arinha, e nào reprim e seu gragas à versáo grega. Para a descida e
i ostume de trabalhar com preposigóes e subida, veja-se Jo 3,13; para a série de fun-
Milistantivos acum ulados. çôes, IC o r 12,27-29. A s “ p ro fu n d ezas”
Dado curioso é que enum era sete fato- podem referir-se à terra dos vivos, em com-
ics com o principio de unidade (vv. 4-6); paragao com o ceu (Is 44,23; cf. “debaixo
ionio pluralidade de órgàos ou fungòes, do sol” Ecl 4,7.15 etc.); neste caso se re
m i cinco (v. 11). A fé, que é principio de fere à encarnagáo. Tam bém pode designar
unidade (v. 5), se converte em m eta (v. 13). o m undo subterráneo, abissal, dos m ortos
( ) amor com a preposigáo en soa très ve- (Dt 32,22; Ez 31,14; SI 63,10), em cujo
/cs (w . 2.15.16), no principio e no firn, caso se refere à m orte e sepultura. Veja-se
mostrando sua im portancia no projeto de a viagem cósm ica da S abedoria em Eclo
unidade eclesial. 24,5 e contexto. "T odos os cé u s” (plural):
4 . 1 O “cham ado” ou vocagào é o inicio os très ou os sete, segundo diversas repre-
ile ludo (Is 42,6; 43,1; 49,1; CI 3,12) Em sentaçôes.
prego os verbos “cham ar” e “ex o rtar” uti- 4,11-12 IC o r 12,28. A p ó stalo é título
li/ani a m esm a raiz. O “agir” equivale à próprio do NT; os outros quatro tém ante
tarefa de 2,10. O prisioneiro: Fm 9. cedentes no AT (evangelista de Is 40,9).
4.2 V irtudes que acom panham e favo- Os cinco se distinguem do gru p o dos fiéis
ri-cem o am or (Pr 19,11; 2,23; SI 131,2; pelo m in istério esp ecífico : c o n stru ir ou
Celo 3,17; 4,8; IC o r 13). estruturar o corpo que é a Igreja (pode-se
4.3 U nidade espiritual ou bem da uni- recordar o verbo “co n stru ir” , dito da mo-
dade que o E spirito produz (CI 3,14-15). delagem da esposa Eva, Gn 2).
4,4-6 A sèrie tem sua lògica, em bora nao 4 ,1 3 -1 4 C o n tin u a o crescim en to : em
siga urna ordem rigorosa. E m baixo tem os idade ou estatura e em m aturidade (cf. Le
a "fé”, selada no “batism o”, que in-corpor- 2 ,4 0 .5 2 ). De p assa g e m , em ling u ag em
a o “co rp o ” e sustenta a “esperanga” da sapiencial e conjurando um a im agem de
consum agao; em cim a a Trindade: E spiri m ar agitado, adverte contra as falsas dou-
lo, S enhor e Pai. trin a s. V er C1 1 ,2 8 . “ C ria n g a s ” : IC o r
A fòrm ula tem sabor litùrgico e é borri 14,20.
conipará-la com a confissào co tidiana de 4,13 *Ou: plenitude.
CARTA AOS EFÉSIOS 570
1 1 imi ,1 lu n a n c n h u m a p a la v ra o fe n s iv a , é u rn a fo rm a de id o la tria — re c e b e rá
Mi r. nina palavra boa que e d ifiq u e q u em h e ra n g a n o re in o d e C risto e d e D e u s.
|in i r.a e a g rad e a q u e ra a e sc u ta . N a o
<lll|ar. o I .sp irito d e D e u s q u e v o s se - O reino da luz — 6N in g u é m v o s e n g a -
imi paia o d ía d o re s g a te . 31A fa s ta i d e n e co m d is c u rso s v a z io s , p o is p o r c a u
u n luda a m a rg u ra , p a ix á o , c ó le ra , g ri- sa d isso so b re v é m a ira de D e u s so b re
ih , in su lto s e q u a lq u e r tip o d e m a l- o s re b e ld e s. 7N áo v o s to m é is c ú m p li-
•l'iili ' S e d e a m á v e is e c o m p a s s iv o s c e s d e les. 8P o is, se n o p a ss a d o fo ste s
un . para c o m o s o u tr o s . P e r d o a i- v o s , tr e v a s , a g o r a p e lo S e n h o r s o is lu z :
mi.....D eus v o s p e rd o o u e m a te n g á o a c o m p o rta i-v o s c o m o filh o s* d a lu z .9—
i iM o . F ru to d a lu z é to d a b o n d a d e , ju s tig a e
v e rd a d e . — 10P ro c u ra i d is c e rn ir o q u e
£ 'Im itai a D e u s c o m o filh o s q u e ri- a g ra d a ao S en h o r. n N á o p a rtic ip é is d a s
»» ilns; 2agi c o m am o r, c o m o C ris to o b ra s e s té re is d a s tre v a s, p e lo c o n tr à
vi iMimou até en treg ar-se p o r v o s a D e u s rio , d e n u n c ia i-a s . 120 q u e e le s fa z e m
i inni) oferenda e sacrificio de aroma á s e s c o n d id a s d á v e r g o n h a d iz é - lo .
iiviiiilável. 3F o rn ic a c á o , im p u re z a d e 13T u d o o q u e é e x p o sto à lu z fic a e v i
i|iinl(|iier tipo, cobiga, n em se q u e r se n o - d e n te , 14e o q u e é e v id e n te é lu z. P o r
inricm no m eio de v o s, c o m o c o n v é m isso diz: D e sp e rta , tu q u e d o rm e s , le-
■i i uiisagrados; 4d a m e s m a fo rm a , co i- v a n ta -te d a m o rte , e C risto te ilu m in a
iui'i ob scen as, e s tú p id a s, g ro s s e ira s , in - rá! 15O b se rv a i a te n ta m e n te c o m o ag is,
1 1 invenientes; p e lo c o n trà rio , a ag á o de n a o c o m o in s e n sa to s , m a s c o m o s e n s a
iniigas. 5P o is d e v e is sa b e r q u e n e n h u m to s. 16A p ro v e ita i a o c a sià o , p o is o s te m
Ini m cador ou im puro ou av aren to — que p o s sa o m a u s . 17P o r isso , n a o s e ja is
im p ru d e n te s, m a s c o m p re e n d e i o que á g u a e c o m a p a la v ra , e consagi'lt |m
o S e n h o r d e seja . 18Náo vos embriaguéis 27p a ra a p re s e n ta r u rn a Ig re ja glon> >¡.i|
com vinho, q u e g e ra lu x ú ria, m a s enchei- se m m a n c h a n e m ru g a n e m c o is .i i
v o s de E sp irito . 19E n tre v o s e n to a i s a l m e lh a n te , m a s s a n ta e ir re p re e ir.r >l
m o s, h in o s e c a n to s in s p ira d o s , c a n ta n 28O s m a rid o s d e v e m a m a r su a s mullu
d o e to c a n d o d e c o ra c á o e m h o n ra d o re s, c o m o a se u p ró p rio c o rp o . Qm n|
S en h o r, 20d a n d o g ra g a s se m p re e p o r a m a su a m u lh e r a m a a si m e sm o ; ....
tu d o a D e u s P a i, e m n o m e d o S e n h o r g u é m ja m a is o d io u o p ró p rio co i|» i
n o ss o Je s ú s C ris to . 21S u b m e te i-v o s u n s m a s o a lim e n ta e d ele c u id a, c o m o ( 'r(|>
a o s o u tro s e m ate n g a o a C risto . to faz co m a Igreja, 30já q u e so m o s nu'iu
b ro s d o se u c o rp o . 31P o r isso , o hontnn
M arido e m ulher — 22A s m u lh e re s abandonará seu pai e sua máe, se uní
se ja m su b m iss a s a o s m a rid o s c o m o ao rá á sua mulher, e os dois ser ao urna vtl
S e n h o r; 23p o is o m a rid o é c a b e g a d a carne. 32E sse sím b o lo é m a g n ífic o , o i ii
m u lh e r, c o m o C ris to é c a b e g a d a Ig re - o a p lico a C risto e á Ig reja. 33A ssim v(>■i
ja , ele q u e é o sa lv a d o r d o co rp o . 24P ois, c a d a u m a m e su a m u lh e r c o m o a I
c o m o a Ig re ja se s u b m e te a C risto , as- m e s m o , e a m u lh e r re sp e ite o m arido
sim as m u lh e re s a o s m a rid o s e m tu d o .
25H o m en s, am a i v o ss a s m u lh e re s, c o m o Filhos e escravos — 'F ilh o s , obo*
C risto a m o u a Ig re ja e se e n tre g o u p o r d e c e i a v o s s o s p a is e m ate n g a n
e la , 26p a ra lim p á - la c o m o b a n h o d e a o S e n h o r, p o is é ju s to q u e o fagais
5,18 A precau g áo diante do vinho é con- A pocalipse utilizam este sím bolo para c<>n
selho sapiencial corrente (urna irònica ex clu ir o texto da B iblia.
p la n a d o em Pr 23,29-33); é original e cris “Sem m ancha nem ruga” pertence au
ta a alte rn a tiv a o p o sta , com o ilu stra o casam ento. “A p re se n ta r” é a fungáo d<>
episodio de Pentecostes (A t 2,13-16). ninfagogo (o próprio D eus apresenta Eva
5,19-20 N ao propde urna distingáo ri a A dáo); C risto faz o papel de ninfagogo
gorosa. Sao reconhecíveis os “ hinos” de seu. A lim entar e cuidar, com relagáo afe
louvor e a agáo de gragas; os “salm os” se tuosa e tem a (thalpo), correspondem á vida
cantavam com acom panham ento; para os conjugal (ver as exigencias em Ex 21,10),
cantos “inspirados” , v er lC r 25,1-3. A im agem passa á equagáo: cabega-coi
5,21 V ersículo program ático do que se po = m arido-m ulher = C risto-Igreja. Con
segue. tudo, deve-se ter presente que a propor
5,22-33 Texto extraordinàrio que a urna gao nao é idéntica, por causa da soberanía
visáo do m atrim onio condicionada cu ltu única do C risto “S enhor” (quando 2Jo I
ralm ente sobrepòe urna sim bologia que a cham a kyria a urna Igreja local, o título
transcende e sublim a. A concepgáo cultu tem outro alcance), e por seu título de “Sal
ral estabelece a desigualdade: o m arido vad o r” (v. 23).
am a, a m ulher se subm ete. O sím bolo con 5,24-25 Q ue nao se deixe desatendida a
siste em extrair do G énesis A dáo e Eva afirm agáo: a Igreja está subm etida a Cris
com o casal fu ndacional e exem plar, para to. O am or conjugal de C risto o leva ao
ascender ao an títip o , o M essias e a Igre sacrificio de si m esm o.
ja. A lém disso, o sím bolo estabelece um 5,26 O contexto condiciona a interpre
exem plo ou m odelo: nao sao C risto e a tagáo do batism o com o purificagáo; m as ó
Igreja que reproduzem a experiencia con tam bém consagragáo.
ju g al, m as é o contràrio. O AT preparou 5,31 S egundo Gn 2,24. Sem que Paulo
generosam ente este sím bolo com a im a- o diga, alguns P adres com entam que o F¡
gem de Yhwh esposo e a com unidade ou a lho de D eus abandona o Pai para unir-se á
capital esposa (O s 2; Is 1,21-25; 5,1-7; Jr sua Igreja.
2,1; 3,1-5; 31,21-22; E z 16; Is 49; 54; Br
4—5); tem os de destacar a com paragáo au 6 ,1 -4 C ontinua no ám bito da fam ilia.
daz de Is 62,5. O s últim os capítulos do A póia-se no decálogo com sua m otivagáo
573 CARTA AOS EFÉSIOS
||(x 20,12): veja-se o com entário de Eclo atuam na atm osfera sublunar. A arm adura
1,1-16. Tam bém os país térn deveres cor- descrita nao é um acertó de talento. V á-
irlativos, que o decálogo nao m enciona. rias c o rre sp o n d e n c ia s e n tre c o n c e ito e
A edueagáo dos filhos é tem a corrente do im agem sao g ratu itas, e é difícil desco-
mundo sapiencial, tanto que acabam ch a brir a coerència da sèrie: justiga, verdade
mando os discípulos de “filh o s” : veja-se e disposígáo, fé, salv ag áo e p alav ra de
n estilo rigoroso de edueagáo de B en Sirac D eus. C ontu d o , a u to re s e sp iritu a is po-
(líelo 30,1-13). Veja-se a recom endagáo de dem tirar bons conselhos dessa arm adura.
l'r 19,18. O AT fala m etafóricam ente das arm as de
6,5-9 Tam bém os escravos pertencem ao D eus (p. ex. SI 7; 18); o desenvolvim ento
Ambito da fam ilia. O notável é a recipro- m ais notável se le em Sb 5,17-23, am plia-
ridade de deveres e trato e a igualdade ra gáo de Is 59,17. N osso autor fala da ar
dical sob o senhor único, que é D eus. Con- m adura do cristao. O auxilio do aliado se
liido, n em a v is á o te o ló g ic a , n e m a consegue pela oragáo (SI 35,1-4). C ingi-
motivagáo “com o a C risto” levaram P au dos: Is 11,5.
lo a tirar conseqüéncias para urna m udan 6,12 *Ou: carne e sangue.
za da ordem social naquele m om ento. 6,15-17 A s “sandálias” sáo o calgado de
6,10-17 A v id a crista é um a m ilicia, com um evangelista itinerante (cf. Is 52,7). Na
seus inim igos, arm as e aliado (2C or 10,4). fé se estilhagam as tentacóes (cf. M t 4 par.).
A im agem é um a batalha contra inim igos A palavra é um a espada (cf. Is 49,2; em
aguerridos e perigosos, em guerra d efen H b 4,12 se trata da espada de execugáo do
siva. Chefe inim igo é o “ diabo” ou o “ m a culpado). O capacete: Is 59,17.
ligno”; tem as suas ordens um exército de 6,19-20 U m m ensageiro encarcerado é
poderes sub alternos, de “e sp írito s” que um paradoxo. O que pede é “liberdade”
CARTA AOS EFÉSIOS 574
INTRODUÇAO
T itu lo e T im o te o , se rv o s d e C ris to c o m e g o u em v ó s u rn a o b ra b o a , a le v a
( li mis, a todos os co n sag ra d o s a C ris-
II ■I' mis q ue resid em em F ilip o s, in c lu í-
rá a te rm o a té o d ia d e C ris to Je sú s. 7E
ju s to q u e eu sin ta isso de to d o s v ó s, já
iln’i m us bispos e d iáco n o s: 2g rag a e p az q u e v o s tra g o no c o ra g á o , e n q u a n to v ó s
I I I *-ii le de D eus n o sso P ai e d o S e n h o r so is so lid á rio s d e m in h a g rag a n a pri-
li mi. ( 'risto. sá o e n a d e fe s a e c o n firm a g á o d a b o a
noticia. 8D eu s m e é te stem u n h a de quan-
..........le g r a g a s — 3D o u g ra g a s a m e u ta sa u d a d e te n h o d e v ó s c o m o afeto
I 'i iis se m p re q u e m e re c o rd o d e v o s, e n tra n h á v e l d e C ris to Je sú s. 9Isto é o
'i M-nipre q ue p eco q u a lq u e r c o is a p o r q u e pego: q u e v o ss o a m o r c re sg a s e m
ii nli is vós, fago-o co m a le g ría , 5p o r cau - p re m a is em c o n h e c im e n to e em to d a
.....le v o ssa p a r tid pag áo no a n u n c io da e sp é c ie de percepgfto, " ’p ara q u e saib ais
iniM n o ticia, d esd e o p rim e iro d ia até a p re c ia r o q u e te m m a io r valo r. A ssim
l iu | i '. ''D isto esto u se g u ro : a q u e le q u e c h e g a re is 1ixnpos e se m tro p e g o ao d ia
1,1-2 “ Paulo”, sem o título corrente de a petigao se enriquece aqui com a proje-
iijtosiólo, que supóe indiscutido. “S erv o '’ gáo escatológica do “dia” de C risto Jesús.
■'Ululo tradicional em am bos osT estam en- Será um dia de plénitude e alegría: nao
i.i . Tim oteo é um dos seus m elhores co- com o o que anunciam A m os e Sofonias
liilioradores; talvez tam bém na evange- (Am 5,18; S f 1,15-18), m as sim com o o
ll/itgáo de Filipos (cf. A t 16,12-40). Ao que anuncia o discurso escatológico (Le
|invo do AT, “santo” ou consagrado a Yhwh 21,28). “ S olidários da graga”, quer dizer,
1 1 x 19,6), corresponde o povo santo, con- da m issáo apostólica de Paulo, com suas
ij’rado a Jesús com o M essias. “ Bispos e conseqiiências de penalidades. Na solidáo
diáconos”: vigilantes ou supervisores e au- ou na hostilidade do cárcere, brota com
h1 1iares ou em pregados. Esses títulos eram força a “ sa u d a d e ” : sen tim en to hum ano
nim uns no mundo grego e ju d eu , e nao transfigurado pela uniáo com Cristo.
linliam o significado e alcance que tém 1,9- 10a Dizem que o am or cega: a cari-
••litro nós. Note-se o plural “b isp o s” . dade crista tam bém ? O im pulso radical
1,3-11 A agao de gragas costum eira se pode desencam inhar ou exorbitar seu d i
i'iitremeia com a súplica, num tom afetuo- nam ism o. É preciso colocar a caridade à
m) e cordial, expressáo de sentim entos. luz do “conhecim ento e percepçâo” , para
Alegría, carinho, saudade, confianga do- poder “discernir” . Eis aqui a “discreta ca
minam as relagóes de Paulo com os fili- ridade” (de Santo Inácio). D iscernir: nao
pcnses. A carta é desde o principio m uito entre o bem e o m al, m as entre o bom e o
pessoal e nos ilustra um aspecto hum ano m elh o r (o autor se disp ó e a um ato de
im portante do apostolado, que segue de discernim ento transcendental, 1,21-25). A
lato o exem plo de Jesús: “eu vos cham o m esm a caridade estim ula a afinar a per-
am igos” (Jo 15,15). cepgao.
Os fil¡penses nao só aceitaram o evan- 1,10b-11 A súplica estende de novo o
V.elho, m as também colaboraram com Pau olhar para a parusia (IC o r 1,8) e conclui
lo na sua propagagáo (v. 5); falta que D eus com urna breve doxologia. “ O fruto da
com plete neles a obra com egada (v. 6), até honradez” ou justiga é m etáfora Corrente,
ii parusia. até lexicalizada, na literatura sapiencial (Pr
1,6-8 “Nao abandones a obra de tuas 1,31; 12,14; 13,2 etc.) A purando a ima-
máos” é a conclusáo de um salm o (138,8): gem , podem os concluir que as obras sao
CARTA AOS FILIPENSES 578
ii -.lecho. Paulo oferece $ua disponibilida- qüente, recom enda-se im itar os sentim en
■I. ,in ato de discernim ento; entao recebe tos de C risto. O utros interpretam : cultivai
<1111. 1 luz especial que equivale a urna res- entre vós os sentim entos próprios do cris
l«i-.la ; daí sua convicgáo, que nao é resulta- táo, de quem vive em C risto.
.lii ile previsáo hum ana. Os filipenses e 2,6-11 H iño a Jesús C risto S enhor e por
m in io s outros saem ganhando; ele sai per- ele ao Pai. D ado que nos vv. precedentes
ile iid o por ora, para sair ganhando no final. P aulo falava de hum ildade e nao de exal-
1,26 O orgulho de serení cristáos, de tagáo, e considerando a form a, é opiniáo
|ieiiencerem com Paulo a C risto Jesús. com um de exegetas que o apóstolo reco-
1,27-28 “C onduta” : em grego politeues- lhe (e talvez retoque) um hiño (aram aico
iliui :com portar-se com o cidadáos, na vida ou grego) do culto cristáo. E útil com para
i i\-il e civilizada; só que a norm a nao é lo com os tres hinos ou aclam agóes celes
il.ula pela polis grega, m as pelo evange- tes de A p 5, que pareccm pressupor e pro-
llio (E f 4,1). Urna vida que supoe luta. A je ta r no céu práticas litúrgicas das igrejas.
tempera e inteireza dos com batcntes será Seriam testem unho, ao m enos indireto, de
i niño antecipagáo do ju lg am en to esca- um culto cristáo prim itivo a Jesús M essias
liilógico, “perdigáo ou salvagáo” . com o Senhor.
1.28 *Ou: pela agáo de Deus. Q u an to ao c o n teú d o e form a interna,
1.29 N ao conta o padecer sim plesm en- reg e-se p elo esquem a hum ilhagáó/exal-
le, e sim a causa e a pessoa pelas quais se tagáo. Pode-se d etectar a presenga de tal
padece (A t 5,11-12 par.). esquem a em textos variados, p. ex.: “A n
1.30 Ver A t 16,22; C1 2,1; de m odo g e tes da honra está a h u m ildade” (Pr 15,33;
nérico 2C or 11,24-12,10. 18,12); “ergue do pó o desvalido para fazé-
lo sentar-se com os nobres” (SI 113,7; cf.
2,1-4 Com um desenrolar avassalador de IS m 2, cántico de A na; SI 22; 118; e o
motivagoes, Paulo introduz sua exortagáo exem plo extrem o de Is 53).
Acaridade e á hum ildade. A m bos os temas Q uanto ao desenvolvim ento, traga uma
sao conhecidos de sobra; o acertó e a impor- gigantesca parábola de descida e subida, em
lancia destes w . está na conexáo: a humilda dois ou quatro tem pos: vv. 6-8+9-11, ou 6-
de, resultado e condigáo de uma caridade 7 a + 7 b -8 + 9 + 1 0 -ll. A p rim eira p arte p a
auténtica e duradoura. Se o egoísmo é o con re c e c o n te r alu so es a A d áo : a “form a” ou
trario do am or (IC o r 10,24), o orgulho é seu im agem de D eus, p retensáo de ser Deus,
inimigo capital. Deve-se colocar estas linhas rebeldía em lugar de obediencia. A segun
entre a simples proposta do amor com o re da parte im ita um rito de entronizagáo se
sumo de todos os m andam entos (M t 22,37- guido de hom enagem e aclamagáo.
40 par.) e a grande explanagáo de I Cor 13. 2,6 O term o grego morphe adm ite várias
2,5 A frase é gram aticalm ente am bigua. interpretagóes: form a externa, aspecto (al-
Na tradugáo proposta, tradicional e fre- g uns traduzem “tragos”), form a interna ou
CARTA AOS FILÍPENSES 580
condigáo; im agem ou natureza. Tam bém très planos de adoradores sao com o os do
é duvidoso e discutido o sentido de har- A p 5,13. Preste-se atençâo na homenagem
pagmon: alarde do que se possui ou rapto do A bism o ou reino dos m ortos, pois mi
de algo alheio; a frase nega, “ nao ju lg o u ” . AT era opiniáo com um que os m ortos ñ a u
C om o ilu s tra d o por contraste podem -se louvam a D eus (p. ex. Is 38,18s; SI 3 0 ,Id
ver as pretensóes divinas do príncipe de 88,11-13); está m ais em sintonía com SI
Tiro (E z 28,6.9), do rei de B abilonia (Is 22,30 “diante dele se prostraráo as cinzas
14,13-14) e o convite irónico de D eus a Jó da tum ba, na sua presença se curvaráo tu
(Jó 40,7-14). dos os que descem ao p ó ” .
2.7 Esvaziou-se: (ekenosen; curiosa asso- 2,11 A conclusao de todo o movimenlo
náncia com eskenoscn de Jo 1,14), expres- é a “gloria do Pai”.
sáo audaz e vigorosa, que nos faz pensar 2,12-13 C om eça a tirar as conseqiién
por contraste na “p lenitude”; “ hum ilhou- cias. U m a ¡m ediata, a obediencia a Paulo
se” (v. 8) é equivalente m ais suave. A con- ainda que ausente. O utra geral, que enun
digáo de escravo é sim plesm ente a condi- cia e resum e o m istério da relaçào entre a
gáo hum ana subm etida a D eus. F az-se “á açào do hom em e a de D eus. A salvaçâo
im agem e sem elhanca” (homoiomati) do com eçada nao está consum ada: por isso,
hom em , dos hom ens. os fiéis háo de trabalhá-la “escrupulosa
2.8 A obediencia ao Pai define toda a m ente” (IC o r 2,3; 2 C o r7 ,1 5 ; E f 6,5): com
sua existencia hum ana até o extrem o da atençâo e cautela para nao falhar. Contu
cruz. Ao tocar este ponto mais baixo, acon do, é D eus quem atua no e pelo homem
tece a e x altag áo p o r agáo so b e ran a de (“ todas as nossas obras tu as realizas para
Deus. nós”, Is 26,12; “consolida a obra de nos
2.9 “E xaltou” : o verbo grego é enfáti sas m áo s” , SI 90,17).
co. “T ítu lo ” : traduz o grego ónoma, que 2.13 Veja-se o principio form ulado em
corresponde a um dos significados corren- Jo 15,5.
tes do hebraico shetn. O nom e é Jesús (que 2.14 Ver IP d 4,9.
com partilha com Josué, O séias e outros do 2.15 C om bina idéias, expressóes ou re
AT), o título é S enhor Kyrios, que co r m iniscéncias de D t 32,5; M t 12,39; Dn
responde a Yhwh ’adonay. 12,3.
2.10 O gesto significa a hom enagem de 2 .1 6 M etáfora e sp o rtiv a ( I C o r 9,24;
a d o r a d o (cf. Mt" 28,9.17; L e 24,51-52: 2T m 4,7).
hom enagem ao ressuscitado; cf. Rm 1,4). 2.17 Transpóe a linguagem do culto a
A extensáo aqui a todo o universo e textos v id a crista e à m issâo ap o stó lica. “ Li
com o IC o r 15,24-28 colocariam a h om e baçâo ” seria derram ar o sangue p o r Cristo
nagem do hiño no final dos tem pos. Os (2T m 4,6).
581 CARTA AOS FILIPENSES
2,18-20 E stas linhas m ostram as rela- jud eu s, cham ando “m utilagáo” a circun-
i.ors afetivas e efetivas entre a com unida- cisáo. Pode-se recordar a pràtica de alguns
iIr e Paulo encarcerado. Tal vez para que ju d eu s para exercitar-se no ginásío á moda
irssalte a fidelidade de T im oteo, exprim e grega (lM c l,1 4 s). Paulo aproveíta a situ-
uin desabafo (v. 21), generalizando a pró- agáo, seja qual for, para pro p o r urna sínte-
|it ia desilusáo. A consciencia de urna pos- se do seu ensinam ento, que coincide com
nívcl condenagáo á m orte (v. 17) sobrepóe sua v ida e se pode apresentar com o dou
n esperanza certa da libertad lo (v. 24). trina e com o exem plo.
3,3 Os judaizan tes insistiam na circun-
3 ,1 a A expressáo sem ítica su bjacente cisáo com suas conseqüéncias com o ca-
significa festejar, com partilhando a alegría, m inho necessàrio de salvagáo. G loriavam -
lista frase poderia ser o com ego de urna se de um rito c o rp o ra l q u e a te sta v a a
saudagáo final (4,10). eleigáo e a alianga, e exerciam sua religio-
3 ,lb - 2 De repente se interrom pe e dá sidade no servigo de um culto m aterial.
tima guiñada violenta, com o se Paulo con- Paulo retorce a pretensáo, opondo-lhe urna
linuasse ditando em outro m om ento, de- cireuncisáo espiritual (cf. Jr 4,4; Rm 2,29),
pois de receber outras noticias, ao desco- um servigo ou culto em espirito (cf. Jo
lirir urna ameaga ou perigo da com unidade 4,23-24; Rm 12,1), um gloriar-se só em
ilc Filipos. Parece referir-se a pregadores C risto (2C or 11,18).
judaizantes que tentavam im por a circun- 3,4-6 Q uanto a m éritos de raga, educa-
eisáo aos pagaos convertidos ao cristianis gao e conduta, pode com petir com qual-
mo. N áo é fácil definir se os ju daizantes quer deles. E num era sete títulos, que lhe
operavam já em Filipos ou se Paulo quer servem de contraste para u m a valorizagáo
só precaver contra a difusáo da doutrina com parativa. O prim eiro é a circuncisáo
deles. C erto é que os epítetos usados sáo (2C or 11,20-22), o últim o a justiga legal:
duros, injuriosos (A p 22,15); fazem eco a é irónico aduzir com o m érito ter persegui
insultos sem elhantes dos pagáos contra os do a Igreja (A t 8,3).
CARTA AOS FILIPENSES 582
u Imin term o a salvagáo com egada, tran s dicional cristâo. N ote-se a inclusâo menor:
ió! mando gloriosam ente todo o nosso ser, “a paz de D eus... o D eus da p az”.
íi tm agem de sua gloria consu m ad a (Rm 4,10-19 A ntes de term inar a carta, quer
K.29). A r e p r e s e n ta d o espacial im porta agradecer o envio a que se referia antes
( h h i c o ; o que im porta é nossa g lo rific a d o (2,25-30). A o m esm o tem po, quer fazer
(I im agem e pela “e ficácia” do R essus- p ro fissâo de in d ep en d ên cia e liberdade
cilado. para sua m issâo apostòlica. E m bora seja
4,1 Ver lT s 2,19-20. fraco, do Senhor recebe forças para supor
4,2-3 N om es para nós desconhecidos, tar q ualquer coisa (2C or 12,9-10); antes
t|iie Paulo parece explorar para engenho- falava de vida ou m orte. A liberdade que
n íis paranom ásias no estilo hebraico. Eu Paulo busca nâo é sim plesm ente a dos es
lalia = B om cam inho, Syn-tike = Encon- toicos, “autarquía”, em bora tenha pontos
Iro, Syzygos = parelha de ju g o . Insiste no de contato com eia.
m orfema syn = com - col- de com panhia 4,1 5 -1 6 C om o p rin cipio g érai, Paulo
ou c o la b o ra d o . Já O rígenes identificou preferiu nào receber p ara si, para nâo ser
esse C lem ente com o quarto papa, autor um peso e para conservar a independên
ile um a fam o síssim a carta en v iad a aos cia. M as seria outra dependencia atar-se
corintios. N o livro da vida se registram os rigidam ente a este principio. A o contrà
que estáo vivos (Ex 32,32; SI 69,28-29; rio, sabe recusar e sabe receber, segundo
Dn 12,1; A p 3,5). as circunstâncias. C om o seus precedentes
4,5 Perto: alude á parusia com o aconte- do AT: p. ex. A braâo recebe do Faraó, re
eim ento alegre (cf. Le 21,28). cusa de M elquisedec (G n 12,16 e 14,22-
4.6-7 Vejam -se os conselhos de Jesús em 24); E liseu aceita da S unam ita e recusa de
Mt 6,25. Paz: Is 26,3. N aam â (2R s 4,9-10 e 5,16).
4.7-9 R econhece os valores do paganis 4,17-19 D epois, passa à linguagem co
mo, m as os subm ete ao ensinam ento tra- m ercial para retorcer seu sentido: sai ga-
CARTAAOS FILIPENSES 584
nhando quem dá (At 20,35, citado por Pau um ato de caridade cristá é sacrificio ofe-
lo com o frase de Jesús). Q uem dá recebe- recido a Deus: “quem dá esm ola oferece
rá de D eus a paga com ju ro s acrescidos sacrificio de lo u v o r” (E clo 34,2).
(cf. Dt 15,1-11; E clo 29,11-13). N um a 4,20-23 C onclui a carta com a doxologia
cunha (v. 18) introduz a linguagem cultual: e saudagóes sem nom es pessoais.
CARTA AOS COLOSSENSES
INTRODUgAO
i . >/. issus, Hierápolis e Laodicéia eram Essas observaqóes se centram depois
n , \ , iilmlcs menores da Frigia, napro- em discrepancias de detalhe que os au
i ni. iii rumana da Asia, situadas a cer- tores analisam. Comparem-se Cl 2,11
in ilistihicia a leste de Efeso; habita- com Rm 6,3-11 e 2,25-29 sobre batis-
,/,r./ 'i >rpopulaqóes autóctones, colonos mo e circuncisáo; 1,19s com 2Cor 5,19
l / i r i ; o s c urna comunidade judaica. Se- sobrereconciliaqáo; l,16com lC or8,6
i . i i i i i I o fontes profanas, urna délas ou sobre o fim da criaqáo; 1,7.23.25 com
, n u e s foram arrasadas por um terre- Rm 13,4s e Fl 1,1 sobre o conceito de
itiiiln entre os anos 60 e 64 d.C. ministro; 2,6 com ICor 7,10 e 11,23-
I'elo que diz a carta, C o lo s s a s foi 26 sobre o objeto da tradiqáo.
. i iiiuylizada por Epafras, discípulo de A favor aduzem-se os seguintes da
I‘iiiiln ( /, 7; 4,12s). Quem escreve a car- dos do texto: a coincidencia de nomes;
i , i diz nao conhecer pessoalmente os com exceqáo do companheiro de pri
ih siinatários (1,4.9; 2,1). Diz também sáo, que em Filemon é Epafras e em
,/in ■se encontra preso: se o autor é Pau Colossenses éAristarco; a coeréncia com
to, dever-se-ia pensar na prisáo de muitos ensinamentos auténticos de Pau
tú una, depois de 60, ou em Efeso, por lo. Outros argumentos consistem em
i iilla de 56-57. A ocasiao é um perigo refutar as razóes dos que negam a au
rjiive de desvio doutrinal naquela igre- tenticidade; as mudanqas de vocabu
¡ii Varios nomes das saudaqóes fináis lário e a omissáo de conceitos se de-
mincidem com os da carta a Filemon. vem ao tema diverso; a doutrina mais
A carta coloca dois problemas sérios madura em alguns pontos se deve a um
e bastante discutidos: quem a escreveu? progresso do pensamento de Paulo e a
{)uem sao os mes tres de erros? Sobre urna situaqáo nova que exigía nova re-
ii ¡irimeira pergunta está equilibrado o flexáo; as discrepancias sao de aspec
numero dos que afirmam e dos que ne- to ou enfoque mais que de substancia.
H<ima autoría de Paulo. Para a segun Concluindo, os dados do texto sao
da pergunta, os candidatos sao gnós apreciados e avallados de modo dife
ticos, devotos de misterios, sincretistas. rente pelos exegetas. Uns continuam
sustentando que Paulo é o autor de
Autenticidade Colossenses; outros imaginam um dis
cípulo da geraqáo seguinte, que imita
Contra alegam-se os seguintes dados hábilmente a impostaqao epistolar para
do texto: o vocabulário contém nume abordar com autoridade emprestada
rosas palavras peculiares, muitaspara um problema novo.
a extensáo da carta; o estilo é monóto Nao menos difícil é traqar o perfil dos
no quanto á sintaxe, carregado de subs m e s tre s p erig o so s, porque reúnem tra-
tantivos e sinónimos; faltam conceitos qos heterogéneos. Nao sao judaizantes,
paulinos fundamentáis, comofé, lei,jus- embora se mencionem algumas obser
tiqa, salvaqáo, revelaqüo, e urna só vez vancias judaicas (2,16). Veneram cria
se menciona o Espirito; a cristologia é turas angélicas e se submetem a pode
mais avanqada, de tipo cósmico; a ecle- res cósmicos, praticam urna ascética
siologia aponía formas institucionais por si mesma e se abstém de múltiplos
que se afirmar&o ñas cartas pastorais. tabus. Dos ensinamentos da carta al-
CARTA AOS COLOSSENSES 586 INTRODIII,
I , I -12 A primeira segáo desta carta tem que dificulta a leitura e a compreensáo. Em
minios pontos de contato com a carta aos parte se deve ao desejo de unificar muitos
I li sios. O comego clássico epistolar: sau- dados, em parte à monotonía do autor na
i I i k . ü o — agáo de grabas — petigáo, cede arte de estruturá-Ios. Distinguem-se urna
lugar a urna explanagao inesperada, trans- segao de súplica com agáo de gragas (vv.
Imídante de ensinamentos. Sendo “paz e 9-14) e outra cristológica (vv. 15-20). Por
ui uga” as saudagóes hebraica e grega com baixo da sèrie pode-se descobrir alguns
binadas, podemos ouvir que, por meio de esquemas ou padróes conhecidos: os ca-
l'imlo, o Pai saúda os cristáos de Colossas, rismas messiánicos, a libertagáo em dois
i*sua saudagáo é eficaz. tempos, a sabedoria personificada. Sao
1,3-8 Já na agáo de grabas aparece o es- abundantes os temas e o vocabulário sa-
lilo um tanto monótono, de incisos e ora pienciais. A tradugáo suaviza um pouco,
rnos ligados sucessivamente por meio de náo totalmente, as asperezas do original.
iclativos, participios e partículas. O senti A disposigáo gráfica leva em conta hábi
do se percebe, apesar de alguma dúvida tos hebraicos de paralelismo com o fim de
menor. Menciona a fé, o amor e a esperan articular o texto. A explicagáo procede por
za. A segunda nao como virtude teologal, partes.
mas sim dirigida ao próximo. A terceira 1,9-11 Petigáo de carismas. No càntico
se refere ao objeto da esperanza e por im de Is 11,1-9, messiànico por origem e por
plicado á virtude. leitura, mencionam-se os carismas ou “es-
A mensagem evangélica chegou a Co píritos” do rebento de Jessé (o novo e fu
lossas nao diretamente por Paulo, e sim turo Davi): sensatez e inteligencia, pruden
por um delegado seu com autoridade apos cia e fortaleza, conhecimento e respeito de
tólica. Essa mensagem “cresce e se multi Yhwh. Na presente petigáo reaparecem os
plica”, em frutos e difusáo, com béngáo dois primeiros, o quarto e o quinto, e se
genesíaca (Gn 1,27; 9,1.7; na restauragáo, estendem a todos os cristáos. Isaías dizia
Jr 23,3). A Igreja local nao deve perder de “espirito de inteligencia”, esta carta diz
vista a Igreja universal, “todo o mundo” “inteligencia espiritual”: o adjetivo o iden
(cf. Mt 28,19 par.). tifica como carisma ou dom do Espirito.
1,5 Ver lPd 1,4. Isaías sugería a plenitude com o “pousar”
1,9-20 Este imenso parágrafo utiliza a dos quatro “ventos” (espirito, alentos) e a
mesma técnica gramatical antes indicada, enunciava comparando-a a urna maré alta;
CARTAAOS COLOSSENSES 588
Que sejais cum ulados do conheci- 12que com alegría deis graças ao l'n
mento de sua vontade, que vos capacitou
com toda a sabedoria e inteligéncia a partilhar a sorte dos consagrados mi
espiritual; reino da luz;
l0que vos comportéis com o o Senhor 13que vos arrancou do poder das tu
merece, agradando-lhe em tudo, vas
dando fruto de boas obras e crescen e vos transportou ao reino do seu I i
do no conhecimento de Deus; lho querido.
n que vos fortaleçais inteiram ente se 14Por ele obtem os o resgate, o ¡ni
gundo a força de sua gloria, dáo dos pecados.
de modo que suportéis tudo com mag- l5Ele é a imagem do Deus invisívcl,
nanimidade; primogénito de toda criaçâo,
esta carta usa o verbo “encher-se” refor- 3,21). O reino de Cristo é reino de luz. Au
çado por cinco mençôes “tudo, em tudo, esquema binàrio básico acrescentam si
de tudo”. dois elementos tradicionais: o resgate dt
O “conhecimento” tem por objeto a von escravos (Ex 6 ,6 ; 15,13) e a partiiha cln
tade de Deus e a Deus mesmo: conheci terra. O resgate é agora o perdáo, e parli
mento pessoal, nao puramente intelectual; lhar a terra é “partilhar a sorte” (termino
de uma vontade genérica e concreta, que logia do livro de Josué). A visâo é inteira
abarca toda a vida (cf. Br 4,4; Le 12,47). mente comunitària, náo individualista. Por
“Dar fruto e crescer” corresponde ao meio do relativo, o v. 14 serve de transigaci,
binomio clàssico “crescei e multiplicai- 1.15-20 No hiño cristológico, podemev.
vos”; a imagem de frutificar é freqüente distinguir a seçào transcendente (w. 15
nos Provérbios. “Agradar a Deus”: de mo 17) e a seçào eclesial (vv. 18-19). Quanto
do que Deus aceite o homem ou seu dom: à forma, articula-se em très relativos que
referindo-se a Levi, Dt 33,11 diz: “aceita enlaçam ou prolongam (vv. 15.16.19) c
a obra de suas mâos”; aplica-se ao Servo onze ou doze pronomes “ele” em diverso’,
(Is 42,1), ao povo (SI 149,4), aos dons na casos gramaticais. Indicio de enumeraçàci
restauraçâo futura (Ez 20,40s), também um sem construçâo calculada. Quanto ao con
poema (SI 104,34). teúdo, combina os atributos cósmicos (vv
“Fortaleza” para “suportar”: porque a 15.16.19) com os de redençâo (w . 14.18
paciência pertence à virtude cardeal da 20). Quanto à origem, nâo é improvável
fortaleza. O que era militar em Is 11 muda que se trate de um hiño litúrgico recolhi
de sentido: nao lutar, e sim suportar. A for do ou adaptado pelo autor. Em tal caso,
ça procede de Deus. seria outro testemunho do primitivo culto
1,9-10 Ef 1,15-16. A “vontade de Deus”: cristâo. E onde se inspira o suposto hino?
Br 4,4; Le 12,47. Para a imagem de “fruti 1.15-17 Estes w . tèm sentido, como lei
ficar”, Is 5,17; Jo 15,15 e textos dos Pro tura em chave cristológica, de textos sa-
vérbios (Ef 2,10; 4,1). “Agradar” a Deus: pienciais dedicados à Sabedoria personi
“aceita a obra de suas mâos” Dt 33,11, o ficada. A personificaçâo de qualidades 6
Servo (Is 42,1), na restauraçâo e com re pràtica corrente dos poetas bíblicos, nor
ferencia cultual Ez 20,40-41, seu povo SI malmente em forma breve e sem explana-
149,4. çâo. Os sapienciais, além das referencias
1,12-14 Ef 1,18. O esquema básico do breves, cultivaram o que podemos chamar
éxodo, repetido ¡numeras vezes no AT, se um género especial: o elogio da Sabedo
articula em duas fases: tirar de, levar ou ria como personagem poético feminino.
¡ntroduz¡r em. Do Egito a Canaá, de Ba Da personificaçâo o NT salta para a pes-
bilonia à pàtria etc. Cristo nos tira ou “ar soa, do feminino ao masculino. Creio útil
ranca” do pecado, das trevas (Ef 1,7). Tre- citar alguns textos.
vas para o hebreu náo é simples ignorancia, Pr 8,22-26 fala da Sabedoria (hokma,
obscuridade mental, e sim significa a mor sophia): de sua preexistência e colabora-
te, inclusive o náo ser (cf. Jó 3). Seu opos- çâo na tarefa criadora: “desde sempre, des
to, a luz, é a vida; ver a luz é viver (Jo de o principio fui formada, antes da ori-
589 CARTAAOS COLOSSENSES
1r'liml>i iiiilu Coi por ele criado, no céu 20que por meio dele tudo fosse recon
e (IH li lilí ciliado consigo,
ii i |iiivr 11- o ¡nvisível, fazendo as pazes pelo sangue da cruz
Hin|i"ii.iili N, dominagoes, autoridades entre as criaturas da terra e as do céu.
<• (iiiliinliulcs. 21Vós outrora estáveis longe, com
111 mili loi criado por ele e para ele, sentim entos hostis e agóes perversas;
í|p t‘ ii 111 ior a tudo, 22 agora, ao contràrio, por meio da mor
i tu le indo tem a própria consistencia. te de seu corpo de carne, vos reconcilia
'“I li i- a cabega do corpo, da Igreja. ran! e apresentaram diante dele: santos,
I 111 ii incípio, primogénito dos mortos, imaculados e irrepreensíveis, 23contanto
iniiii ser o primeiro de todos. que permanegais alicergados e funda
■ Ni*lc Deus decidiu que residisse a dos na fé, sem vos desviardes da espe-
|i|i'iilliiile; ranga que conhecestes pela boa noticia,
li. iii il.i ierra... eu estava junto a ele como os homens”. Eclo 24,8 “aquele que me
m M i i i i " . Jó 28,12-23 canta o caráter trans- criou estabeleceu minha residéncia... na
i pudente e inacessível de hokma: “A Sa- cidade escolhida me fez descansar, em Je-
limlniia, de onde provém ela? Onde está o rusalém reside meu poder”. Sb 7,27 “en
liigui ila prudencia?... Só Deus sabe seu tra ñas almas boas de cada geragáo...”. Sb
i iiniinlio, só ele conhece seu lugar”. Eclo 9,10 “dos céus sagrados a envia”. A ver-
M cía mesma descreve sua viagem cós sao cristológica o aplica à Igreja, da qual
mica c sua atividade: “Eu sai da boca do Cristo é a “cabega”: Ef 4,15; 5,22. Como
Alllssimo... habitei o céu... Desde o prin- é primogènito da criagáo, também o é dos
ilpio, antes dos sáculos me criou... Regi mortos, ao ressuscitar como nova criagáo
un ondas do mar e os continentes e todos os para a gloria definitiva (Ap 1,5). A ima
( i i i v o s e nagoes”. Sb 7-8 enumera e descre- gem concebe o sepulcro como um seio
vr atributos de sophia: “E reflexo da luz materno, inviolado, que dà à luz pela vir
pierna... imagem de sua bondade...”; “a sa- tude do Espirito (cf. Is 26,19).
liodoria, artífice do cosmo, me ensinou 1.19 “Plenitude”: sem artigo (Jo 1,16);
lulo... em virtude da sua pureza tudo atra- deve-se entender segundo 2,9 (cf. Ef 4,10).
vessa e penetra”. Br 3,31-32: “Ninguém Muitos textos mencionam a presenga de
i iinhece seu caminho nem pode se dar conta Deus ou da sua gloria no templo, mas Is
iln sua vereda. Aquele que sabe todas as 6,3 canta que sua gloria enche a terra.
misas a conhece, a examina e a penetra”. 1.20 A reconciliagáo é explicada em
1.15 “Imagem”: transpondo Gn 1,27 2Cor 5,18-20; “fazer as pazes”: Ef 2,14-
Ncgundo 2Cor 4,4; e o citado Sb 7,26. 17 o explica.
"Primogénito”: imagem tomada da gera 1,21-23 Comega a tirar as conseqüéncias
nio, que afirma a precedéncia: SI 90,2 apli do exposto. O “afastamento” de Deus que
ca a imagem á térra e as montanhas; ver o era o paganismo (Ef 2,12s), foi cortado por
lítulo divino “Pai dos astros” em Tg 1,17. um ato de reconciliagáo que é iniciativa
\i os textos citados Pr 8,23 e Eclo 24,9). de Deus. Em lugar dos sacrificios de ani-
1.16 “Tudo foi por ele criado”: a cita- mais com que os judeus expiavam periodi
gáo de Sb 7,21; Jo 1,3 o diz do Logos. “O camente seus pecados, Jesús Cristo tomou
visível e o invisível”: é expressáo polar que “um corpo de carne” fraco e mortal, e com
abarca a totalidade; “tudo sei, oculto ou sua morte expiou, num ato que inaugura a
manifestó” (Sb 7,21). nova situagáo. Agora importa manter-se
1.17 “Consisténcia”: “Alcanza com vi nela, porque comegou a era da “esperan
gor de um extremo ao outro e governa o ga”, fundada na promessa do “evangelhc
universo retamente” (Sb 8,1). Anterior a e cujo final demora. E o paradoxo de es
tudo: Jo 8,58. tar “alicergados e firmes” num movimento
1.18 Ef 1,22-23. Em vários textos sa- rumo ao fiituro. “Toda a criagáo debaixo
pienciais citados, a Sabedoria transcenden do céu” é toda a terra habitada: reflete o
te e criadora desee depois para residir en horizonte geográfico da época; leia-se o
tre os homens. Pr 8,31 “desfrutando com mandato final de Jesús (Mt 16,15).
CARTA AOS COLOSSENSES 590
proclamada em toda a criacao sob o céu. gredo para os pagaos: Cristo para Vt'nl
Eu, Paulo, sou ministro déla. esperanza de gloria. 28Ele é o qui m*
anunciamos, admoestando a cada unni
Ministério de Paulo — 24Agora me ensinando com toda a destreza a i .11I4
alegro de padecer por vos, de com ple um, para apresentar cada um como crl|
tar, a favor de seu corpo que é a Igreja, táo perfeito. 29Para isso trabalho e luiu
o que falta aos sofrimentos de Cristo. com a energia dele que age eficaznii 11
25Por disposigáo de Deus, fui nomeado te em mim.
ministro déla a vosso servido, para cum-
prir o projeto de Deus: 26o segredo es 'Q uero que saibais o que tive de In
condido por sáculos e geragóes, e ago
ra revelado a seus consagrados, 27aos
2 tar por vós e pelos de Laodicéia ,
por todos os que nao me conhecem peí
quais quis Deus dar a conhecer a es soalmente, 2para que se sintam anifna
pléndida riqueza que significa esse se- dos e concordes no amor; para que se
1,24 Como a Igreja-corpo completa dado, que sempre será mistério. Por doni
Cristo-cabega, assim os sofrimentos de de Deus, o cristáo poderá enriquecei m
Paulo prolongam e váo completando os de mais e mais com o conhecimento do mis
Cristo. Corresponde aos anuncios de Je tério de Cristo.
sús (Jo 15,20), sem valor de expiagáo. 1,24-29 Cantou a exaltagáo de C r i s i n
1,24—2,4 Passa a falar de seu ministério (vv. 14-20) e a agáo de Deus. Mas D a r
em favor dos cristáos. Antes de descer a age por meio do homem. Por isso Paulo,
detalhes, convém destacar dois polos que ativado por Deus (v. 29), tem que traba
unificam a perícope: o mistério acerca de lhar e lutar (v. 29) e sofrer (v. 24), para dai
Cristo e o mistério que é Cristo (1,26 e cumprimento ao plano de Deus (v. 25)
2 ,2 ). O primeiro é um segredo que, ao di Varias relagóes verbais e temáticas ligam
vulgarse agora, deixa de ser segredo; o esta segáo ao que precede: o corpo mortal
segundo é um mistério que nao deixa de o de Cristo, o corpo da Igreja (vv. 22.24), a
ser ao ir-se manifestando. plenitude e o dar cumprimento (vv. 19.24
Já o Moisés do Deuteronómio, num dos 25), o apresentar (vv. 22.28).
discursos fináis em Moab, joga com a an- 1,26-27 O segredo escondido é o desti
títese do oculto e do manifestó. Os israe no do Messias também para os pagaos (el
litas tinham assistido como testemunhas Ef 3,4-7). Sua revelagáo nao é simples in-
oculares a todos os prodigios, desde o Egi- formagáo, e sim riqueza que se outorga V
to até Canaa, “mas o Senhor nao lhes deu reparte. “Esperanga de gloria”, de salva-
inteligéncia para entender nem olhos para gáo completa ou de participagáo na glòria
ver nem ouvido para escutar até hoje” de Deus. Ver SI 73,24: “tu me conduze\
(29,3); “o oculto é do Senhor, o revelado segundo teus planos e me levas a um des
é nosso e de nossos filhos para sempre” tino glorioso”.
(29,28). 1,28 Com ènfase repete très vezes “cada
O autor explica o novo segredo. Deus um” ou “a toda classe de pessoas”. “Per
havia prometido formalmente um Mes- feito”: pensa numa maturidade de vida
sias aos judeus, e eles o esperavam para crista, nao na primeira apresentagáo do
si. Mas, no projeto de Deus, o Messias batismo.
estava destinado também para os pagaos;
só que se guardou o segredo até o mo 2.1 Caso particular daquilo que enume
mento oportuno. Agora Paulo é o confi ra 2Cor 11,16-33.
dente, ao qual se comunicou o segredo, e 2.2 Como no capítulo precedente, insis
a ele cabe divulgá-lo formalmente e em te no conhecimento (cf. Eclo 39,6) um co
agáo. Pois bem, resulta que o Messias en nhecimento infundido por Deus e de um
viado supera toda expectativa e imagina- objeto transcendente, um “mistério”. Ver
gao. Leva “escondida” dentro táo inesgo- a manifestagáo ao profeta (Am 3,7) ou ao
tável riqueza, que sempre será mistério; orante “até que entrei no mistério de Deus”
cada manifestagáo sua tem tal profundi- (SI 73,17).
591 CARTAAOS COLOSSENSES
............. 111.111*>s com todo tipo de rique- Jesus Cristo. 9Pois nele reside corpo
, ...........lucim ento, e compreendam ralmente a plenitude da divindade, 10e
,i i'i. .I.i de Deus, que é Cristo. 3Nele dele recebeis vossa plenitude. Ele é a
, , M. i i i . u n lodos os tesouros do saber cabega de todo com ando e poder. "P or
i .|i. . oiilici imento. 4Digo-o para que meio dele fostes circuncidados: nao com
..i..... ni vos engane com argumentos a circuncisáo que os homens praticam,
.i" i.. ' •. I’ois, se com o corpo estou descobrindo a carne do corpo, mas com
....... i. . i-m espirito estou convosco, a circuncisáo de Cristo, 12que consiste
..ni. ni. cm ver-vos form ados e firmes em ser sepultados com ele no batismo
lio \ i l e em Cristo. e em ressuscitar com ele pela fé no po
der de Deus, que o ressuscitou da mor-
Milu ( l ista — 6A ssim , pois, já que te. 13Vós estáveis mortos por vossos
((.. IK -.les Cristo Jesús como Senhor, pecados e pela incircuncisáo camal; ele,
iinlii unidos a ele, 7enraizados e ali- porém, vos vivificou com ele, perdoan-
.. i(,.nlos nele, confirm ados na fé que do-vos todos os pecados. l4Cancelou o
n-, i nsínaram, transbordando em acao docum ento de nossa divida, com suas
.1. i'i.kms. 8Atengáo! Que ninguém vos cláusulas contra nos, e o anulou, pregan-
, 1.1 uvizc com especulacóes, com argü do-o consigo na cruz. ’’Despojando au
id. Míos chochos de tradigáo humana, toridades e potestades, as fez desfilar
... guindo os elem entos do cosmo e nao publicam ente em sua marcha triunfal.
16Portanto, que ninguém vos julgue nadas a gastar-se com o uso, seguín(|á
por questoes de comida ou bebida, so- preceitos e ensinamentos humanos. T lu|
lenidades, festas mensais ou semanais. tém a aparéncia de sensatez, com m i |
17Tudo isso é sombra do que virá; a rea- piedade afetada, m o rtificad o e ausU ill
lidade pertence a Cristo. lfiQue ninguém dade corporal; mas nada valem a n af l
vos desqualifique: ninguém dedicado a ser para satisfazer á sensualidade
mortificagóes e ao culto de anjos, envol
vido em visóes, inchado sem razáo por 'P ortanto, se ressu scitastes com
sua mente carnal; |yao invés de agar-
rar-se á cabega, da qual todo o corpo,
3 Cristo, procurai as coisas do ali..
onde Cristo está sentado á direita di
mediante juntas e ligam entos, recebe Deus; 2aspirai as coisas do alto, nao
sustento e coesáo e cresce como Deus terrenas. Pois morrestes, e vossa vnl,i
o faz crescer. está escondida em Cristo com Deua,
4Quando Cristo, vossa vida, se man!»
V ida nova com C risto — 20Se com festar, entáo vós aparecereis glorioso!
Cristo m orrestes para os elementos do junto com ele.
cosmo, por que seguis as normas dos 5Portanto, mortificai tudo o que iifl
que vivem no mundo? 21Nao pegues, vós pertence á térra: fo rn ic ad o , impu
nao proves, nao toques, 22coisas desti- reza, paixáo, concupiscencia e avan -
2,16-23 (Fago esta divisáo interina para 2,20-3,17 Passamos a outra divisáo, qur
reunir os diversos tipos de erros). Nos vv. com lógica temática e sinais formáis •><
16-17 ainda nos encontramos no mundo sobrepóe á anterior. Em esquema:
judaico, com suas observancias, válidas Se morrestes (2,20) — Se ressuscitash -
como sombra que adianta o perfil de algo (3,1-4)
que se avizinha. A metáfora sombra/reali- mortificai o que é terreno (3,5-11)
dade será um dos principios hermenéuticos conduta positiva (3,12-17).
da tradigáo ao comentar o AT (Hb 8,3). A Assim se prolonga, em suas consc
seguir (v. 18) denuncia um estilo de vida qüéncias, a doutrina do batismo esboga
que junta mortificagóes corporais com vi da em 2,12-13.
sóes: talvez iniciagáo em experiéncias 2,20 Já nao estáis submetidos a seu po
esotéricas, que satisfazem enganosamente: der fatal. O mistério da uniáo com Cristo
incham sem encher (oposto á “plenitude”, glorificado se projeta as coordenadas ima
2,10). “Anjos” rivais de Cristo Senhor. O ginativas de espago e tempo: terrestre r
quadro se enriquece ou se define nos vv. celeste, presente e futuro. Cristo glorifi
21-23: as “mortificagóes” consistem em cado vive com Deus, “sentado á direita'
abster-se sistemáticamente de coisas que (SI 110,1); vive em nós, “vossa vida”, c
Deus criou para uso e consumo do homem, nós por ele. Como Cristo está agora “es
apelando a instituigóes puramente huma condido”, invisivel, embora experimenta
nas. Externamente, a piedade e austerida- do (2Cor 13,5), também nossa vida com
de atraem a admiragáo dos homens; inter ele está escondida. Quando ele se mani
namente, alimentam o orgulho e oferecem festar na parusia, também se manifestar.!
urna satisfagáo enganosa. Acondenagáo é nossa vida, glorificada.
dura e enérgica. Se nao conseguimos iden 2,22 Citagáo de Is 29,13.
tificar históricamente quem ensinava tais
doutrinas e práticas, podemos, sim, iden 3, 1 Citagáo clássica do SI 110,1. Ver Mt
tificar o tipo humano e religioso: é um as 22,41-45 e paralelos.
ceta que exibe seu ascetismo para ganhar 3.3 Ver Rm 6,3.
prestigio e cultivar a própria vaidade. 3.4 Exposigáo ampia em ICor 15.
2,16 Explanagáo ampia em Rm 14. 3,5-11 Embora nao se deva submeter a
2,18-19 A inchagáo mental e vá se opóe tabus (2,21-22), é preciso, sim, “fazer mor-
o crescimento do corpo, dirigido pela “ca- rer” as agóes imorais, “terrenas”, que pro-
bega” que é “Cristo” (Ef 4,15-16). vocam a ira de Deus (cf. Ef 5,6). A meta-
593 CARTA AOS COLOSSENSES
I.H.i da roupa velha e nova quer expressar mesmo nivel e cánticos inspirados pelo
nina transformagáo radical (cf. Ef 4,24): Espirito. Seriam hinos ou súplicas cristas,
n novagáo sucessiva da “imagem” (2Cor compostos à imitagáo dos salmos; alguns
I, l<>). Na nova humanidade desaparecem deles passaram ao NT.
mi nao contam as distingóes religiosas, 3,17 Da liturgia se passa ao resto da exis
i In ica s, sociais. “Tudo para todos”: o que tencia sob o signo de Jesus como Senhor e
l< or 15,28 diz de Deus, este v. aplica a de Deus como Pai (ICor 10,31).
( listo glorificado.
.1,9-10 A imagem também em Ef 4,22. 3.18-4,1 Como na carta aos Efésios e
A imagem: Gn 1,26-27; 2Cor3,18. na primeira carta de Pedro, acrescentam-
3 . 1 1 É o programa de G1 3,28. se alguns conselhos práticos para a situa-
3,12-17 Parte positiva do díptico. É um gáo em que se encontram. Se por um lado
programa pouco articulado, que toca pon- aceita a desigualdade de grau, por outro
Ins essenciais. insiste em deveres correlativos, entre ma
3.12 Títulos do povo escolhido no AT, rido e mulher, pai e filho, patráo e escra
lecolhidos por lPd 2,9. vo. Tudo há de suceder com sentido re
3.13 Eco do Pai-nosso (Mt 6,12-15). ligioso: “como agrada ao Senhor, por
3.14 Ver o hiño ao amor de ICor 13. respeito ao Senhor, servindo ao Senhor, um
3.15 O criterio para superar litigios deve Senhor no céu”. Os conselhos práticos es-
ser construir ou restabelecer a paz de Cris- táo condicionados culturalmente. Mas o
lo: F1 4,7. fato de descer da doutrina à pràtica é um
3.16 Parece referir-se a reunióes litúr ensinamento ou exemplo permanente.
gicas: com ensinamentos partilhados ao 3.18-21 Ver lPd 3,1; Ef 5,25; 6,1-8.
CARTAAOS COLOSSENSES 594 i
2Perseverai na oragáo, vigiando nela ele; acolhei-o se for ai.) “ Também ,1. h
e dando gragas. 3Rezai também por mim, apelidado Justo. Dos judeus coma m
para que Deus abra a porta á boa noticia dos, somente eles trabalharam comí
e me permita expor o mistério de Cristo, pelo reinado de Deus e me serviram a
pelo qual estou encarcerado, 4para que alivio. l2Saúda-vos Epafras, um dos vn
consiga explicá-lo como se deve. 5Tratai sos, servo de Cristo, que em sua'......
os de fora com sensatez, aproveitando a góes luta sempre por vos, para que ■i
ocasiáo. 6Que vossa conversa seja agra- jais decididos e perfeitos em cunipiM
dável, com sua pitada de sal, sabendo tudo o que Deus quer. 13Garanto yuJ
responder a cada um como convém. que ele trabalha com muito empaili
por vós e pelos de Laodicéia e Hieiii
S audagóes — 7Tíquico, irmáo queri polis. 14Saúdam-vos Lucas, o m u Ir
do, fiel ministro e com panheiro no ser- querido, e Demas. 15Saudai os i r m a n
vigo ao Senhor, vos informará de tudo de Laodicéia e Ninfas, e a comunicladii
sobre mim; 8para isso eu vo-lo envió, a que se reúne em sua casa. 16Quan,i
fim de que tenhais noticias minhas, para tiverdes lido esta carta, fazei que si i
que vos animéis. 9Onésimo, irmáo fiel lida na comunidade de Laodicéia, evm
e querido, e um dos vossos, o acompa- lede a deles. 17Dize¡ a Arquipo que pi"
nha. Eles vos informaráo de tudo o que cure cum prir o ministério que recebuu
se passa por aqui. do Senhor.
'“Saúda-vos Aristarco, meu com pa I8A assinatura é de meu punho e l>
nheiro de prisao, e Marcos, primo de tra: Paulo. Lembrai-vos de minha-pn
Barnabé. (Recebestes instrugóes sobre sao. A graga esteja convosco.
4,3 Rezai por mim: Ef 6,19. Lucas: o evangelista; Demas: 2Tm 4,9;
4,5-6 Os de fora sao os nao cristáos, que Arquipo: Fm 2.
devem ser atraídos com cordialidade (nao 4,16 As cartas de Paulo circulavam pe
pela força), oportunamente. las igrejas.
4,7-9 Saudaçôes: Tíquico: At 20,4; Oné- 4,18 O autor costumava ditar a carta a
simo: o escravo de Filemon; Marcos: At um amanuense e depois assinava.
12,12; Aristarco: At 19,29; Epafras: 1,7;
PRIMEIRA E SEGUNDA
CARTA AOS TESSALONICENSES
INTRODUQÁO
1.1 SaudaQào. Sendo esti a primeira (ICor 13,13; Rm 5,2-5; G1 5,5-6; C1 1,4-
.ufi ile l’aulo, vale a pena deter-nos na 5; lTs 5,8; Hb 6,10-12; lPd 1,21-22). A
..niil.ifiio. Na forma segue os cánones da “fé” deve ser ativa, traduzindo-se em obras
.*|in. .i: N a N ’ deseja X; depois acrescen- (G1 5,6); o “amor” é o fraterno que impli
Iiiiii nina oragào, agào de gragas ou sùpli- ca esfor§o; a “esperanza” seja paciente,
i .i i ) esquema convencional se enche de com persistencia (nada de entusiasmo utó
. mili lido novo, cristáo. Embora os reme- pico).
li iilrs sejam très, um é o autor da carta, 1,4 O judeu Paulo chama de “irmaos”,
l'nido, que se apresenta sem mencionar o título cristao, os pagaos convertidos. A
Ululo de apóstolo. eleigáo é um dos termos básicos do AT (as
Destinatàrio é a “Igreja de Deus Pai e vezes substituido por sinónimos). A elei-
•In Senhor Jesus Cristo”. Igreja é palavra gáo é ato do amor de Deus (cf. Dt 7,7-8).
Uir^a que designa o grupo dirigente da ci- 1,5a Doutrina sobre o anúncio evangé
il.uk- grega. Mas corresponde ao hebraico lico, que se estende depois aos escritos. A
"ir.sembléia de Deus/F/zw/i”, que é o povo pregagáo nao é simples palavra humana,
(Nm 16,3 contraposto à autoridade; Dt mas vai carregada ou vitalizada com a
1,4; Mq 2,5; lC r 28,8 título de Israel). energía e eficácia do Espirito Santo; por
Só que nesta carta o lugar de Deus ou Yhwh isso é fecunda e produz fruto (cf. Is 55,10-
i' ocupado igualmente por Deus e Senhor, 11 sem mengáo do Espirito; Rm 15,19;
ti l’ai e Jesus Cristo (Jo 10,30). ICor 2,4). Essa doutrina se prolonga em
Sobre a atividade de Paulo em Tessalò- 2,13.
uica, ver At 17,1-5, onde se fala da hosti- l,5b-6 Propóe a corrente da imita-
lldade dos judeus; da hostilidade dos pa gao: Paulo imita Jesús, os tessalonicen-
tío s fala esta carta (2,14). ses imitam Paulo (ICor 4,16) e se tomam
“Graga” é a saudagào grega; em chave “modelo” de outros (v.7); em geral e con
crista é o favor de Deus, outorgado agora cretamente no sofrer com alegría pelo
por meio do seu Filho. “Paz” é a saudagào evangelho. O paradoxo da alegría no so-
iicbraica; em concreto, com a paz os pere frímento consta no AT (cf. SI 4,8) e é tema
grinos saúdam Jerusalém; o contexto eris central da mensagem evangélica (Le 6,22-
imo enriquece o conteúdo da palavra (cf. 23; At 5,41; 2Cor 3,7). É urna alegría hu
Jo 14,27). manamente nao justificada, infundida pelo
1.2 Agáo de grabas pela evangelizado Espirito.
em Tessalónica. 1,7-8 Macedónia e Acaia eram as duas
1.3 Encontramos reunidos “fé, amor, provincias romanas da Grécia, as quais se
esperanza”, e voltaráo a mostrar-se unidos somam outras da Asia. O fato de Tessaló-
PRIM EIRACARTAAO S TESSALO N ICEN SES 598
nica ser um centro de comunicagóes, foi um trada com comparagóes sugestivas: coitm
fator do progresso; mas a grande difusáo da máe, como pai. Reitera as expressóes “su
fama e seu efeito positivo sao obra de Deus beis, conheceis, sois testemunhas”, num»
(desde o v. 2 Paulo está dando gragas). espécie de amável cumplicidade: embuni
1,9-10 Soa como síntese concisa da pri- já o saibais, vo-lo digo.
meira pregagáo (kerigma) e da conversáo. 2,1-2 Os fatos sáo narrados em At 1<>
Esta é um movimento espiritual de-para 19-40.
(como o indica a etimología de con-verter- 2,3-9 Contém a confissáo negativa o
se). Aos ídolos “mortos”, inertes (SI 115 e positiva, do evitado e do feito. “Engaño
135; carta de Jeremías) se opóe o Deus seria anunciar fatos falsos ou pronunciai
“vivo” (Dt 5,26; ISm 17,26, Davi a Golias; como mensagem de Deus o que náo o é
2Rs 19,4, Senaquerib o insulta; SI 42,3); Como os falsos profetas: “profetas insen
aos deuses “falsos”, váos (Jn 2,9; SI 31,7; satos, que inventam profecías... visiona
Jr 51,18) se opóe o Deus “verdadeiro, au rios falsos, adivinhos de mentiras, que di
téntico”. O caminho dessa conversáo foi a ziam oráculo do Senhor, quando o Senhot
adesáo a Jesús. É significativa a ordem e náo os enviava” (Ez 13,3.6). A fraude podi
disposigáo das pegas da mensagem e suas ser prodigios falsos. “Motivos sujos” coin
conseqüéncias. Coloca em lugar de desta cidem com a “cobiga”; também como os
que a esperanga escatológica do Filho de falsos profetas: “quando tém algo pani
Deus que se encontra no céu (portanto, glo morder, anunciam paz, e declaram umii
rificado), a quem seu Pai “ressuscitou” guerra santa a quem náo lhes enche a boca'
(logo, tinha morrido): ele se identifica com (Mq 3,5; Le 20,47). As “honras humanas'
Jesús (nome histórico), que nos livra da como ñas denúncias de Mt 23,5-7 e para
“condenagáo” ou ira futura, quer dizer, no lelos e Jo 5,41. As “lisonjas”; também co
julgamento definitivo. A “ira” (de Deus) mo os falsos profetas: “enquanto eles cons
expressa em termo de sentimento a condi- truíam a parede, vós a rebocáveis coni
gáo de Deus inconciliável com o pecado, e argamassa” (Ez 13,10); “dizei-nos coisas
objetivamente a sentenga de condenagáo agradáveis, profetizai ilusoes” (Is 30,10)
que há de serexecutada. Conseqüéncia para Parte positiva: fomos provados e coni
os fiéis: a vinda de Jesús será libertadora. provados por Deus (Jr 11,20; Zc 13,9; SI
139,23); confiou-nos o evangelho e nós o
2,1-12 Recordagáo da sua atividade en pregamos. Renunciamos ao direito ao sus
tre os tessalonicenses. Tem algo de pro tento para nao sermos pesados (At 20,34;
testo de inocéncia (como Samuel em ISm ICor 9,12-18). Outros, em lugar de “pe
12,1-5) e muito de expressáo de afeto, ilus- sados”, interpretam “com autoridade”.
599 PRIM EIRA CARTA AOS TESSALO NICEN SES
ittH ■|iin \ os Imito afeto, que estávamos irmáos, im itastes o exemplo das igre-
i||t|in>iiir. ,i ilar-vos nao só a boa notí- ja s da Judéia, fiéis a Cristo Jesús, pois
iM ili I leus, mas anossavida, tanto vos sofrestes de vossos conterráneos o que
«ntiHiimos. ''Lembrais, irm áos, nosso eles sofreram dos judeus; 15eles mata-
iiliMi.u r ladiga: trabalham os de noite ram o Senhor Jesús, nos perseguiram,
f ilii din para nao vos seranos pesados, nâo agradam a Deus e sao inimigos de
»ni|iiiinlo vos proclamávamos a boa no- todos; 16im pedem -nos de falar aos pa
llHii ilc Dcus. l0Vós sois testem unhas, gaos, a fim de que se salvem; e assim
* idiiilicm Deus, de como foi o nosso estáo enchendo a m edida de seus peca
mih i'dcr em relagáo a vós, os fiéis: san- dos. Mas finalmente o castigo os alcan-
hi, |nslo e irrepreensível; n sabeis que ça. 17Nós, irmáos, órfáos temporários
iMlitinos a cada um com o um pai a seu de vós, no corpo e nâo no coraçâo, pela
fililí i , 1 Vxortando-vos, animando-vos, força do desejo redobramos os esfor-
(tlgliulo (|ue agísseis de m odo digno de ços para visitar-vos. 18Eu, Paulo, mais
JIímin, (pie vos chamou para o seu reino de urna vez quis ir ver-vos, mas Sata
» (Irii ia. l;,Por isso, também nós damos nás me impediu. 19Pois, quando vier o
Un t ssnntes gragas a Deus porque, quan- Senhor nosso, Jesús, quem, a náo ser
iIm i invistes de nós a palavra de Deus, vós, será nossa esperança e alegría e a
vil» n acolhestes, nao com o palavra hu- coroa da qual nos orgulham os diante
niiiiia. mas como realm ente é, palavra dele? 20V ós sois minha gloria e minha
ilu I )cus, ativa em vós, os fiéis. 14Vós, alegría.
2.7 c 11 Descreve seu estilo apostólico gelho anunciado oralmente; náo exclui a
i nni iluas compara§5es complementares, aplicagáo á sua versáo escrita.
mino urna máe, como um pai: “também 2,14-16 O primeiro v. mostra que tam
mu lui filho de meu pai, amado ternamente bém os pagáos punham entraves e perse-
|ini minha máe” (Pr 4,3). Pai e máe ocu- guiam seus concidadáos convertidos. Pá-
(ttini lugar privilegiado na educagáo sa- rece que a Paulo dói mais a hostilidade dos
(ilnicial, até o ponto de o mestre se apre- judeus (cf. SI 55,14-15). As expressóes
nnilar com o título de pai e chamar os duras devem ser entendidas á luz dos acon-
discípulos de filhos. Da máe, Paulo toma o tecimentos narrados em At 17 e casos se-
fruto temo, afetuoso (cf. SI 131 e a queixa melhantes. Refere-se aqueles judeus que
iln Moisés em Nm 11); do pai, a educagáo se recusam a aceitar o evangelho e lutam
exigente e solícita (imagem que Dt 8,3 apli- contra sua difusáo (Paulo tinha sido um
cii a Deus em relagáo ao povo no deserto). deles). Contudo, o apóstolo se dirigirá em
2.8 Dar a vida por amor: este texto é primeiro lugar aos judeus em suas sina
milerior à declaragáo por escrito de Jo gogas. As reprimendas sao feitas por um
15,13. homem que se sente judeu de carne e de
2.12 O chamado ou vocagáo comple coragáo. “Encher a medida” implica a pa
menta a eleigáo (1,4; cf. lPd 5,10). O rei ciencia de Deus, dando tempo para con-
no onde Deus reina com gloria. verter-se, até náo tolerar mais (Gn 15,16;
2.13 Retoma a agáo de gragas (1,5-6) “castigando-os paulatinamente, lhes des
para expor em concreto a tribulagáo sofri- tes ocasiáo para se converterem” Sb 12,10;
clu. Antes completa ou enriquece a doutri- cf. Mt 23,32-33). O castigo é a ira, da qual
iia sobre a palavra do evangelho (1,5). A só Jesús Cristo nos livra (1,10).
palavra do pregador do evangelho é pala 2 .1 8 Chama Satanás (rival) o poder que
vra humana, pronunciada por Paulo; mas impede sua viagem apostólica. Veja-se o
6 também “palavra de Deus” e, como tal, “Satá” que impede a viagem de Balaáo
ativa por si, e náo só pelos recursos huma (Nm 22,22.32). Provavelmente, Paulo que
nos de persuasáo. A denominado “pala ría fortalecer a comunidade em suas difi-
vra de Deus” aplica-se no AT sobretudo à culdades.
palavra profètica, normalmente como “pa- 2.19 Na parusia, os tessalonicenses,
lavra de Yhwh”. O texto se refere ao evan- agrupados em torno de Paulo, seráo a co-
PR1MF.IRACARTA AOS TESSALONICENSES 600
'Por isso, nào podendo mais agiien- consola, 8e nos sentim os revivo r
3 tar, decidim os ficar sozinhos em
Atenas 2e enviar-vos Tim òteo, irmào
causa de vossa fidelidade ao S< nlm|
yQue gragas podemos dar a Den-.
nosso e ministro de Deus para a boa no vós, pela alegría que nos p ro p o n .......
ticia de Cristo, para que vos fortalecesse diante de nosso Deus? 10Dia e i.....
apelando à vossa fé, 3exortando-vos a pedimos insistentemente para esiaiiii"-|
nào fraquejar nessas tribulagòes; pois sa ai presentes, a fim de com pletar o i
béis que esse é o nosso destino. 4Assim, falta na vossa fé. n Queira Deus r
quando estávam os entre vós, vos pre- nosso, e o Senhor nosso Jesus, dar 6 <1
dissemos que sofrenam os tribulagóes; to à nossa viagem até vós. I2E a von o
e assim aconteceu, como bem sabéis. Senhor conceda crescer e transboi 11,«
5Por isso, nao podendo mais agiientar, de amor mùtuo e universal, como nui
m andei pedir informagóes sobre vossa vos amamos; 13fortalega vossos coni
fé, temendo que o tentador vos tivesse göes, para que possais apresentai v
tentado e meu traballio tivesse ficado santos e imaculados a Deus, Pai nov u
inútil. 6Agora Timòteo acaba de voltar quando o Senhor nosso Jesus vier cum
da visita a vós, e nos informou a res- todos os seus santos.
peito de vossa fé e amor, da boa recor-
dagào que sempre guardais de nós, da
vontade que tendes de ver-nos, como
nós a vós. 7E assim, irmàos, em meio a
4 Vida crista — 'D e resto, irmào»,
vos pedimos que o m odo de api
agradando a Deus, que aprendesti s >li
necessidades e tribulacòes, vossa fé nos nós e já praticais, continue fazendo pin
roa que o vencedor exibe orgulhoso. Para 7,5), como impediu já urna viagem de Pan
a metáfora, ver Pr 12,4, a esposa do mari lo (2,18).
do; 17,6, os netos do anciáo. Compare-se 3,6 “Informar”: o verbo grego “evango
também com 2Tm 4,8: a parusia será o dia lizar” se usa aquí em sentido profano, tu
feliz de ser premiado. zer boas noticias.
3.10 O que falta à fé é seu desenvolví
3.1 Sobre sua estada em Atenas e o fa mento sempre em ato.
moso discurso no Areópago informa At 3.11 Notem-se os possessivos de pertrn
17,16-34. “Sozinho” teve de enfrentar os ga pessoal e comunitària.
intelectuais gregos, e parece que seu es- 3.12 O amor é mutuo dentro da conni
forgo nao teve muito éxito. Naquele am nidade; igualmente capaz de comunicai
biente sentiu mais a solidáo. se a todos. Semelhante amor, náo por in
3.2 Depois da conversáo, é preciso for teresse egoísta, é dom de Deus.
talecer ou confirmar a fé. 3.13 Aparusia. “Com todos os seus san
3.2-13 O capítulo se desenvolve em tres tos”: sua corte celeste (Zc 14,5; Dt 33,3,
movimentos: o primeiro é a missáo de Ti Jó 5,1).
moteo a Tessalónica, para atuar e trazer
informagoes (vv. 2-5); segundo, as infor 4 ,1 -3a Podemos chamá-lo programa
m a le s favoráveis e tranquilizadoras (vv. genérico de vida espiritual ou conduta cris
6-9); terceiro, nova oragáo de Paulo com tá. Um principio é o “progresso”: o qm
agáo de gragas e súplica (vv. 10-13). Em dirá de si aos filipenses (3,13). Agradar a
toda a perícope, a grande preocupagáo é a Deus nunca é um fato concluido. O outru
fé (2,5.6.7.10); no final se acrescenta o principio é a “santificagáo”, substantivo di
amor universal e, por implicagáo, a espe- agáo. Embora já sejam santos = consagra
ranga na parusia. dos pelo batismo, sua santificagáo devi
3.3-4 Também Jesús o predisse repe continuar. A exortagáo clàssica do Levítico
tidas vezes (Mt 16,24 par.); do AT baste (20,7) passa ao NT relacionada com o Es
recordar o exemplo do Servo (Is 49 e 53). pírito Santo (nesta carta 1,5.6; 4,8).
3,5 O tentador é o diabo, que tenta des- O chamado Código de Santidade dedi
fazer todo o realizado (cf. lPd 5,8; ICor cava urna segáo a relagóes sexuais, coni
601 PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES
„((« " < nnlicceis as instrugóes que 9A respeito do amor fraterno, náo é
. .i. mu>s i iii noine do Senhor Jesús. necessàrio escrever-vos, pois aprendes-
I «m i ,i vontade de Deus: que sejais tes de Deus a amar-vos mutuamente,
miiln i >iu- vos abstenhais da fornica- 10e o praticais com todos os irmáos da
.,4<i 'i|in i .ula um saiba usar seu cor- M acedònia inteira. Contudo, vos reco
|Mi1 1 .un i espeito sagrado, 5náo por pura mendamos que continuéis progredindo.
|Ml*iiu. i niño os pagaos que náo conhe- "E sm erai-vos em manter a calm a, em
mii 11. II-, '’Que nesse assunto ninguém ocupar-vos dos vossos assuntos e tra-
ih inl.1 mi prejudique seu irmáo, por- balhar com vossas máos, como vos re
tuft ii Senhor castiga tais ofensas, como comendamos. l2Assim vos com porta
Hit i. mus dito e inculcado. 7Deus náo reis dignam ente diante dos estranhos,
ii., i li.miou para a impureza, mas para e náo tereis necessidade de nada.
t «iiniilicagáo. 8Portanto, quem despre-
..I náo despreza um homem, mas A vinda do S en h o r (IC or 15) — 13Em
. 11, ii-,, que além disso vos deu o seu relagáo aos defuntos, quero que náo
I .11nilo. continuéis na ignorancia, para que náo
|niillt ular acento sobre o incesto, e uma 4,11-12 Parece ser, como indica a carta
•i i.iin dominada pelos deveíres para com o seguinte, que a expectativa da parusia in-
inmuno (Lv 18—19). Dois temas que Paulo duzia alguns a despreocupar-se dos assun
un n brevemente a seguir. tos ordinários, e mesmo do trabalho. Isso
I, ll>-8 Relagóes sexuais. “Fornieagáo” desacreditava o pequeño grupo cristáo dian
.ii|iii e lermo genérico. Discute-se o senti- te dos pagáos e os fazia passar necessida
ilu ile (literalmente) “possuir/adquirir seu de sem razáo.
lii'ilimnento”. Várias interpretagóes tém
■ililn propostas: a mulher ou esposa (o gre- 4.13—5,11 Aqui trata o problema fun
Uii 'instrumento” significa também re- damental da carta. Quando a escreve, ain-
i Ijiicnte); órgáo sexual (suposto eufemis- da náo se escreveu o primeiro evangelho;
iiin nao atestado); o próprio corpo com seu mas já se cristalizaram muitas tradiqóes
n|ii'lite sexual (o termo “adquirir” se en oráis que os evangelhos váo recolher e ela
cuadra menos bem; dever-se-ia traduzir borar. E, portanto, legítimo ilustrar a pre
|ini “controlar”). O que está claro é que a sente passagem com os textos apocalíp
vnla sexual náo está isenta de regras, an- ticos ou escatológicos, em particular Me
les lica submetida á “santificagáo”; com 13; Mt 24-25.
unirás palavras, entra numa esfera nobre 4.13-18 Jesus anunciou sua vinda glorio
i' exigente; está relacionada com o “co- sa, triunfal (Mt 26,64; Me 14,62; At 1,11).
nhecimento” do verdadeiro Deus. “Como Os cristáos eram convidados a receber o
us pagaos”: a parénese de Lv 18 insiste triunfador para associar-se à sua gloria e
mi que os israelitas náo devem ser como alegría. Cerca de vinte anos depois da mor
us cananeus (18,3.24-29; cf. Jr 10,1- te de Jesús, os cristáos vivem expectantes
10.25). aguardando o “dia do Senhor”. Mas, o que
“Ofender o irmáo”: parece referir-se ao será dos cristáos que morreram nesses dois
mlultério (cf. Pr 6,20-35). “Castiga tais decenios? Segundo a doutrina do AT, “os
ofensas”: também o citado capítulo do Lv mortos náo vivem” (Is 26,14), náo parti
menciona o castigo (18,28-29). O desre- cipan! das festas da comunidade (p. ex. SI
l’.ramento sexual é inconciliável com a pre 30; 88,11). “As sombras se levantaráo para
senta ativa do Espirito Santo no cristáo. te louvar?” Paulo responde que esses mor
4,4 *Ou: sua esposa. tos “se levantaráo”, ressuscitaráo (Is 26,19;
4,9 Em lugar do comum ágape, empre- Dn 12,1) para participar do triunfo de Cris
ga o raro philadelphia = amor fraterno. to. Depois dá conselhos para os vivos.
Mas náo em sentido filosófico, e sim como Paulo esperava fazer parte dos que ve-
virtude “ensinada por Deus” (ver a expres- riam a parusia em vida? Assim parece.
sáo Is 50,4; 54,13; com outra construgáo, Embora alguns pensem que o “nós” tenha
a idéia é freqüente: Jr 31,34; SI 71,17 etc.). alcance potencial, “seja quem for”. Há os
PRIMEIRACARTA AOS TESSALONICENSES 602
vos aflijais como os outros que nào tèm do Senhor chegará como ladran mam
esperanza. 14Pois, se eremos que Jesus no: 3quando estiverem dizendo >|U|
morreu e ressuscitou, o mesmo Deus, paz, que tranqüilidade”, entào, dci(¡>>i
por meio de Jesus, levará os defuntos te, como as dores de parto para a n a «
para estar consigo. 15Isto vo-lo disse- da, cairá sobre eles a calamidade, < m4m
mos apoiados na palavra do Senhor: poderáo escapar. 4A v ó s, irmàos, vii t.
nós, que ficarmos vivos até a vinda do que nào vivéis na escuridào, essi <II«
Senhor, nào precederem os os mortos; nào vos surpreenderá como um ladiiii
16pois o pròprio Senhor, ao soar urna 5Sois todos cidadáos da luz e do din
ordem, à voz do arcanjo e ao toque da nào pertencem os à noite nem ás trc\ i
trombeta divina, descerà do céu; entào 6Portanto, náo durmamos como os n»
ressuscitarào primeiro os cristàos mor tros, mas vigiemos e sejamos sòbrio:. i '
tos; 17depois nós, que estivermos vivos, que dormem o fazem de noite; 7os
seremos arrebatados com eles entre as se embriagam o fazem de noite. 8Nn
nuvens no ar, ao encontro do Senhor; e ao contràrio, como seres diurnos, |« i
assim estaremos sempre com o Senhor. m anejam os sobrios, revestidos com «
18Portanto, consolai-vos m utuam ente coura^a da fé e do amor, com o capa
com essas palavras. cete da esperanza de salvacáo. 9Deui
náo nos destinou ao castigo, mas a | »■
*Em relagáo a datas e momentos, suir a s a lv a lo por meio do Senhor mu
5 nào é necessàrio que vos escreva;
2pois vós sabéis perfeitamente que o dia
so Jesús Cristo, 10que morreu por mm
de modo que, acordados ou dormimi"
que “nao tém esperanza” (v. 13) em outra par.). Desenvolve o tema combinando ima
vida, como os saduceus e muitos pagaos. gens de atividades noturnas: a do ladra<>i
Nao sabemos a que “palavra do Senhor” a do libertino e o sono honrado. O ladi.m
se refere (v. 15); poderia ser urna palavra age ñas trevas, que sao seu reino, chi jm
náo escrita no AT (cf. At 20,35). de repente e procura náo avisar; “duratili
O objeto da esperanga é em substancia a noite ronda o ladráo com o rosto colín
“estar com Deus” (v. 14) e com “o Senhor” to, na escuridao abre brechas ñas casa
(v. 17). Idéia sugerida no AT: “tu me en- (Jó 24,15-16). O patráo deve vigiar di
cherás de gozo na tua presenta, de alegría noite, inclusive mais que de dia. De noiU
perpétua á tua direita” (SI 16,11); “mas eu se celebram as orgias: é preciso ser sóbriir.
sempre estarei contigo” (SI 73,23). como de dia. De noite se dorme: é mistci
O sujeito sao as pessoas: náo entra em viver vigiando (cf. Jr 6,14; Am 2,14-1S
jogo a sobrevivencia de almas separadas, Jo 8,12). Sobrep5e-se uma imagem mili
no estilo da dicotomía grega; é antes a con tar, a armadura, que sugere um assalto be
c e p to que lemos na promessa ao bom la- lico repentino. Amós tinha dito: “o dia do
dráo (Le 23,34 “estarás comigo”; Jo 12,26; Senhor é tenebroso e sem luz” (5,18) c
17,24). Sofonias o descrevia como “dia de obscu
Os dados descritivos sao tomados do ridade e trevas” (1,15). Paulo o representa
repertorio imaginativo dos apocalipses: como dia luminoso para os cristáos, qrn
anjo e trombeta (Mt 24,31; Is 27,13), des devem responder ás exigencias da luz.
riela do céu e arrebatamento ñas nuvens 5,3 “Paz”: Jr 6,14-15; “nao escapa”: Am
(Dt 7,13). Este parágrafo pode ser compa 2,14-15.
rado com um texto posterior, ICor 15. 5,4-5 Noite e trevas: Jo 8,12; 9,4-5.
5,6 A parábola das dez virgens (Mt 25,1
5,1-11 Seguem-se normas para os vivos, 13) se desenvolve de noite e concluí con
baseadas numa certeza e numa ignoran vidando a vigiar.
cia. A vinda do Senhor será repentina, “vós 5,8 Nova menQáo das tres virtudes bási
o sabéis exatamente”, mas náo conhece- cas como armas defensivas.
mos a data. Logo, é preciso vigiar. É o 5,10 “Acordados” sao os que estiverem
ensinamento dos evangelhos (Mt 24,43 vivos quando chegar o Senhor; “dormili
603 PRIMEIRA CARTAAOS TESSALONICENSES
i ihmi • in|ii< rom ele. n Portanto, sar, 18dai gragas por tudo. É isso que
tiiiiii.n >■!'. i cdilicai-vos mutuamente, Deus quer de vós como cristáos. 19Náo
m i . i | i .1 l.i/i i'. apaguéis o Espirito, 20náo desprezeis a
profecía, 2Iexam inai tudo e ficai com
i mm*>1Ii <>-. r smidagóes — 12Nós vos o que é bom, 22evitai toda espécie de
,. ii......... mi.ms, que tenhais conside- mal.
. i.. 11 ii ,i • «un os que trabalham e vos 230 Deus da paz vos santifique com
* . ni mi r admocstam em nome do pletamente, vos conserve íntegros em
Icnli"! 1'iniistrai-Ihes um afeto parti- espirito, alma e corpo, e irrepreensíveis
h I i i i i. .mui por seu trabalho. Conservai para quando vier o Senhor nosso Jesus
, |..i 1'I .lo vos recomendamos, imáos: Cristo. 24Aquele que vos chamou é fiel
(iIiih ii .i.ii o s insubmissos, animai os e o cumprirá. 25Rezai também por nós,
l>|iii!iinlii-,, socorrei os fracos, sede pa- irmáos. 26Saudai todos os irmáos com
i, iiii . i mu lodos. 15Cuidado: que nin- o beijo sagrado. 27Eu vos conjuro pelo
„ i i i ni |u )’ .ue o mal com o m al; procurai Senhor que leíais esta carta a todos os
■-r 1111111' o bem entre vós e para todos. irmáos. “8A graga do Senhor nosso Je
I i. , i i M-mprc alegres, 17orai sem ces- sus Cristo esteja con vosco.
iId" os que entáo estiverem mortos. Todos 5,16 Alegría: em contexto escatológico,
«•in distingáo “viveráo sempre com ele”, Is 25,9; 65,13; 66,10; Sf 3,14; em contex
|íi que viver com ele nao tem fim. to cultual, SI 118,24; J1 2,23. Se tomamos
5.12-22 Conselhos gerais e particulares. o verbo no sentido cultual de “festejar”,
5.12-13 Com os superiores, que “traba- poderíamos colocar na mesma esfera o
lliam” “em nome do Senhor”: Hb 13,7.17. orar, o dar gragas, o profetizar.
5.14 “Irmáos” parece abarcar toda a co- 5.23 “Corpo, alma e espirito”: divisáo
munidade. Pode-se comparar com os cui tripartida do homem, no estilo grego, que
dados de Yhwh pastor por suas ovelhas: serve para afirmar a extensáo total da con-
"buscarei as perdidas, reconduzirei as que sagragáo.
estiverem desgarradas, curarei as que es- 5.24 “É fiel”: Dt 7,9; IRs 8,26; Is 49,7.
liverem feridas. Quanto as gordas e vigo “O Senhor completará seus favores comi-
rosas, as guardarei e as apascentarei como go... náo abandones a obra de tuas máos”
6 devido” (Ez 34,16; cf. Is 35,4; 61,1). (SI 138,8).
5.15 “Mal com o mal”: Pr 20,22; Eclo 5,27 Todos os irmáos daquela comunida-
28,1; Rm 12,17; lPd 3,9. de e provavelmente das vizinhas (cf. C14,16).
SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSI S
‘De Paulo, Silvano eTim öteo ä igre- ponto de estarmos orgulhosos do vrt|
1 ja de Deus nosso Pai e do Senhor
Jesus Cristo em Tessalönica: 2graca e
diante das igrejas de Deus, por v n #
fé e paciencia nas perseguiqòes e 11il<m
paz a vös da parte de Deus Pai e do lagòes que suportáis, 5que sào prova il.
Senhor Jesus Cristo. justo julgam ento de Deus e servii i.
para vos tornar dignos do reino de 1><u»
Agäo de g ra c a s — 3Temos de dar sem pelo qual padeceis. 6É justo que I )riu
pre gragas a Deus por vös, irmäos, co- pague com tr ib u ía lo os que vos mil
mo e justo, porque vai crescendo vossa bulam, 7e a vós, os atribulados, vos .ili
fe e aumentando vosso am or mütuo, 4a vie, bem corno a nós, quando se re vi
1,1-2 A saudagáo é como a da carta pre por onde os dispersei; a ti nao destrum
cedente, com ligeira adigáo. te corrigirei com medida e nao te deíx.m i
1.3 A aqáo de grabas, que na primeira impune” (Jr 30,7.11 e todo o capítuldi
carta recordava o passado, fixa-se agora Tampouco os tessalonicenses poderáo suti
no presente. Na primeira mencionava a trair-se á tribulagao geral, na qual seriln
conversáo, nesta o crescimento. Mencio purificados para “serem dignos do rcin»
na a fé e o amor, nao porém a esperanza. de Deus”, que se vai estabelecer. Do N l
Ver Jo 15,12. podemos escolher Me 13: quando se apru
1.4 Nao menciona a alegría nas tribula- ximar a parusia, haverá urna angustia e oí
Qóes, mas sim a paciéncia animada pela fé. fiéis padeceráo para dar testemunho (vi i
1,5-10 Cometa a interpretado das per os paralelos de Mt 24 e Le 21).
seguí goes em chave de julgamento escato- Pois bem, esse dia será o das contas lí
lógico. Na primeira carta, concebía a pa- nais: terá passado o tempo da misericói
rusia como vinda triunfal e gloriosa, que dia e do perdáo. A formulagáo nos termo-,
satisfaría a esperanza e a expectativa dos da lei do taliáo, repetindo as mesmas pa
fiéis. Aqui se apresenta como julgamento lavras, expressa uma justiga que náo dei
de premio e castigo, no estilo das escatolo- xa impune. Entre os numerosos textos do
gias e dos apocalipses (em geral Is 65-66 AT que se poderiam aduzir, seleciono o SI
e fragmentos de Is 24—27). 94: “Deus justiceiro, resplandece”, e o cap
Duas afirmagóes produzem espanto ou 5 de Sb.
perplexidade aos comentaristas. A primei 1.6 Muitos salmos, que alguns conside-
ra, que as “perseguigóes” sejam “prova” ram vingativos, sáo na realidade um apelo
ou sinal do “justo julgamento de Deus”; a a Deus como juiz, invocando a lei vigente
segunda, o tom de vinganga com que soa do taliáo e renunciando a fazer justiga pe
o castigo. Quanto á primeira, que os ino las próprias máos. Jesús na cruz pede per
centes sofram nao parece “julgamento jus dáo, enquanto durar o tempo do perdáo.
to” de Deus. Quanto á segunda, parece Mas a conduta humana entranha algo de
ignorar a misericordia e o perdáo. definitivo frente a Deus. Pensar o contra
Para explicar a primeira, recorremos ao rio é discorrer como aqueles de quem sen
AT e ao evangelho. Jr 30 anuncia um “día tencia Ben Sirac: “gente de pouco senso
grande e sem igual, hora de angustia para pensa assim” (ver Eclo 16,1-23). Daqui ate
Jaco” e acrescenta, “mas sairá déla”. Será o v. 10 predomina o estilo hebraico de
um día de lrbertagáo; mas as turbulencias paralelismos.
históricas afetaráo também e em parte os 1.7 O dia final de prestar contas será o
israelitas e servíráo para purificá-los de dia da parusia, chamada aqui “manifesta-
alguns pecados: “destruirei todas as nagoes gáo com os anjos do seu dominio”; a corte
il 605 SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES
(il di« ' > ' i i u Senhor Jesus com os anjos nosso Deus vos faga dignos da voca-
W »pii <l<>iiiiiiio 8e com fogo ardente, gáo e vos perm ita cum prir eficazmente
i os que nao reconhecem a todo bom propósito e toda agáo da fé.
IItili mi......bedecem à boa noticia do 12A ssim o nome do Senhor nosso Jesús
ItllliiM m o s s o Jesus. 9Esses sofrerào será glorificado por vós, e vós por ele
MHtil*'Min;;u> perpètua, longe da presen pela graga do nosso Deus e do Senhor
t i (In Villini e de sua majestade pode- Jesús Cristo.
|M«|iiando vier naquele dia revelar
IMMMirilla aos consagrados e suas ma- A p a ru sia (Mt 24; Me 13; Le 21)
iivlíiiii’. aos que crèem. n Por isso, re
mili i» continuamente por vós, para que
2 — 'Irm áos, pela vinda do Senhor
nosso Jesús Cristo e nossa reuniáo com
i Min <mtras passagens se chama “os san- Na sèrie das oito visóes de Zacarías, a
S " | / r 14,5; Mt 25,31; lTs 3,13; 4,16).
|,N ( ilagáo combinada de Is 66,15; Jr
sétima (5,1-11) descreve a Maldade perso
nificada, expulsa do país (para que nao cau
III, »’“vc SI 79,6. O fogo é elemento da di- se daño), levada pelos ares a Senaar (Ba
Vlllllmk' e pode ser instrumento de casti- bilonia) e colocada num nicho sobre um
( i i i mi particular de castigo escatologico pedestal (para ser venerada). Náo é um per
(I. 10,27; 66,15; Sf 1,18; SI 97,3). A cau sonagem, e sim urna personificado; con-
til iln eondenagào é dupla, no estilo do tudo, alguns de seus elementos podem ilus
HHIillclismo: os que nao reconhecem a Deus trar o enigma da carta presente.
ji l I x 5,2; Jr 9,2) nem se submetem ao O personagem misterioso, ou potencia
«vwiuelho. Alguns comentaristas querem maligna, já está atuando de fato: anteci-
li|inrlir o paralelismo entre dois grupos, pou sua agáo. Mas nao está manifesto, náo
jinj¡Aos e judeus. mostra a cara, porque algo ou alguém (neu
1,9 A majestade poderosa: ver Is 2,10-21. tro e masculino, w . 6.7) o impede por ora.
1, 11-12 Breve súplica, como é Costume No final se removerá o impedimento, o
mi estilo epistolar. Destino do cristào é antagonista se declarará, se travará a luta
imilemplar e refletir a glòria de Deus (Jo e o Senhor o vencerá “com o sopro da sua
17,10). boca” (Is 11,4, equivalente da palavra ou
sentenga ou imagem da execugáo), com
2,1 -12 Trata um ponto centrai da carta, sua presenga aterradora (Is 2,19).
um lurecendo a anterior ou corrigindo urna Os tessalonicenses sabiam identificar
Inlurpretagáo equivocada. Tinha dito que esse alguém ou algo, nós náo sabemos. Por
il Scnhor chegaria de repente e aceitava a isso, na falta de informagáo, se multiplica-
itiliia de que sua vinda estaría próxima, em- ram as hipóteses: um personagem, urna ins-
Itora se recusasse a determinar. Agora avi- tituigáo, um sistema ou doutrina. Talvez isso
kii que antes da parusia devem suceder vá- tenha a ver com os mil anos do cárcere do
rlas coisas. Antes de tudo, náo devem crer dragáo (Ap 20,2), ou com seu antecedente
pin rumores alarmantes, em falsas noticias, escatològico de Is 24,22: “ficam encerra
iic iti fiar-se em supostas cartas de Paulo. dos; ao cabo de muitos dias, compareceráo
Primeiro acontecerá urna “apostasia” ou a julgamento”.
ilcfecgáo extensa, em cujo contexto surgi- O Iniquo atuará como emissàrio de Sa
rií um personagem misterioso: descrito com tanás. Empregará o engano, confirmando-
virios títulos e tragos, náo identificado em o com milagres, como um falso profeta (cf.
particular. O primeiro título equivale a “Ho- IRs 22,19-23; Dt 13,2-6). Mas só conse
mem sem lei”, “Malvado por antono guirá enganar os que náo amaram a ver-
màsia” ou “a Maldade em pessoa”. O se dade salvadora do evangelho, mas prefe-
gundo significa “destinado à perdigáo” ou riram a injustiga (para a antítese verdade/
como apelido “filho de Abadon”, que é injustiga, ver Rm 1,18; 2,8).
sinónimo de Xeol. É o Rival (cf. Le 13,17; Mesmo explicado, o texto nos resulta
21,15), que pretende honras divinas (co enigmático, num tema que suscita curio-
mo o rei babilónico em Is 14, ou o de Tiro sidade renovada. Melhor que envolvé-lo
cm Ez 28, ou o seléucida de Dn 11,36). em explicagóes e identificagóes conjetu-
SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES 606
ele, vos pedimos 2que nâo perçais fá tor que os faga crer na mentira; 1 .1 m
cilmente a cabeça nem vos alarméis por seráo julgados os que preferirán! .1 1»
causa de profecías ou discursos ou car justiga ao invés de crer na vertí:m i.
tas falsam ente atribuidas a nós, como
se o dia do Senhor fosse iminente. 3Que O ragóes m u tu a s — 13Temos di 1
ninguém vos engane de nenhum modo: continuas gragas a Deus porvós, muiv 1 1
primeiro deve acontecer a apostasia e amados do Senhor, porque Deus <
deve manifestar-se o Homem sem lei*, tomou como primicias de salvaga< >| >•l
o destinado à perdiçao, 4o Rival que se consagragáo do Espirito e pela Ir ni
ergue contra tudo o que se chama Deus dadeira; 14e por meio de nossa pirj -
ou é objeto de culto, até sentar-se no tem gao da boa noticia vos chamou a |"
plo de Deus, proclamando-se Deus. 5Náo suir a gloria do Senhor nosso Jemi*
lembrais o que vos dizia quando ainda Cristo. l5Portanto, irmáos, permam <
estava convosco? 6E agora sabéis o que firmes, conservai o ensinamento .|"
o retém, para que nâo se manifeste an aprendestes de mim, oralmente ou
tes do tempo. 7A força oculta da iniqüi- carta. 160 próprio Senhor nosso Je u
dade já está agindo; falta apenas que Cristo e Deus nosso Pai, que vos .......
seja afastado aquele que a retém. 8Én- e vos favoreceu com um consolo ¡n 1
táo se revelará o Iníquo, que será des durável e um a esperanga magnih. 1
truido pelo Senhor Jesús com o sopro 17vos dé animo e vos fortalega para lu í
de sua boca e anulará com a manifesta- tipo de palavras e boas obras.
çâo de sua vinda. 90 Iníquo se apresen-
tará, por força de Satanás, com todo tipo 'D e resto, irmáos, rezai por nós, p.u -
de m ilagres, sinais e falsos prodigios;
10com todo tipo de fraudes iníquas para
3 que a palavra do Senhor se difumU
e receba honra, como aconteceu em vos
os que se perdem, porque nao aceitaram so caso, 2e para que nos vejamos livn
o amor à verdade para salvar-se. n Por de gente malvada e perversa. A fé na<1
isso, Deus lhes enviará um poder sedu- coisa de todos. 30 Senhor, que é fiel
rais, será tomar sua substancia e tirar con- as primicias da Asia em Rm 16,5; da Acau
seqüéncias. Nao é uma resposta a nossa ICor 16,15); recorde-se o sonho do man
curiosidade, e sim uma admoestagáo á vi dónio (At 16,9). Também pode ser títu ■
gilancia. genérico dos cristáos (da criagáo,Tg 1,1 S)
2.1 Sua vinda é “reuniáo” nossa com ele: 2.15 Atendo-nos estritamente ao termo,
encontro desejável e libertador. fala de “tradigóes” oráis ou epistolar«
2.2 “Iminente”: outros traduzem o per- significado da palavra “tradigáo” menos
feito grego com valor de presente, “já che- preciso que o nosso técnico.
gou, já está aquí”. 2.16 “Consolo perdurável” é expressan
2.3 *Ou: o Pecado em figura humana. estranha. Se é eficaz, um consolo cessa.
*Ou: a iniqiiidade personificada. Deve referir-se ao efeito, “consolo defini
2,7 A “iniqüidade” (abstrato ou encarna- tivo” (um dos significados do adjetivo gre-
gáo do mal) tem algo de misterioso, como go e semítico), vinculado á esperanga.
presenga oculta, agáo clandestina.
2,11 “Um poder sedutor”: veja-se a vi- 3.1 “Palavra do Senhor” é a mensagem
sáo de Miquéias, filho de Jemla (1 Rs 22, evangélica, como ser vivo que “corre” (cf,
19-23: “O Senhor Ihe disse: Conseguirás SI 147,15: “envia sua mensagem á térra r
enganá-lo. Vai e faze assim”). sua palavra corre veloz”).
3.2 A fé nao é de todos: expressa a ex
2,13-3,5 A visáo sombría se serena nu- periencia complementar: embora a men
ma série de oragóes mutuas, agáo de gra- sagem evangélica seja eficaz, nem todos a
gas e petigáo. acolhem com fé.
2,13 “Primicias”: com Filipos, primicias 3.3 O Maligno: eco do Pai-nosso (Mi
de convertidos na Grécia (na Europa: cf. 6,13).
607 SEGUNDA CARTA AOS TESSALONICENSES
i 1411 <. i 1,1 r protegerá do Maligno. com endam os isto: quem se nega a tra-
H " ule>■ i< mos confianza em vós: balhar, náo coma. n Pois ficamos saben-
• «.t i» m.|in vii', mandamos e continua- do que alguns de vós se com portam
i i . tu 1
«i <) Senhor dirija vossas desordenadamente, muito atarefados e
ih»i ii mi i,i'. para o amor de Deus e a sem fazer nada. 12A esses recom enda
i I | f MI I i dr ( I is to . mos e aconselhamos, no Senhor Jesús
Cristo, que trabalhem tranquilam ente e
i mil ii ii o c io sid a d e — 6Irmáos, em ganhem o páo que comem. 13Vós, ir-
...... Ii. Senhor nosso Jesús Cristo vos máos, náo vos canséis de fazer o bem.
iimh mi.unos que vos afasteis de todo 14Se alguém náo obedecer ás instrugoes
HHiftii iIr i-onduta desordenada e em de minha carta, tomai nota, e náo vos
Ih«hi i ii i lo com as instrugoes de nós re- juntéis com ele, para que reflita. 15Mas
t lili Ir. 'Vos sabéis com o deveis imi- náo o tratéis como inimigo; ao contrà
mi un . m.hi agimos desordenadam ente rio, admoestai-o como irmáo.
«ii«i vii'.; “náo pedimos o pao de graga 16Que o Senhor da paz vos dé a paz
■Miii|iur"i, mas trabalham os e nos afa- sempre e em tudo. O Senhor esteja com
............. de dia e de noite para náo ser todos vós.
,u ..inlir, .i nenhum de vós. E náo é que 17A saudagáo Paulo é de meu punho:
iiitii lí\rssem o s direito; m as quisem os é minha letra e é o sinal em todas as
i,<i vii'. um exem plo a ser im itado, minhas cartas. 18A graga do Senhor nos-
i jiMimlo estávamos convosco, vos re so Jesús Cristo esteja com todos vós.
3,5 A paciencia ou persistencia com que 3,6 A exortagáo se abre com grande so-
i<i|)cramos a vinda de Cristo (cf. Rm 8,25; lenidade, como assunto grave, apelando a
¡5,4). instrugoes precedentes.
.1,6-15 Urna conseqüéncia ilegítima e 3,7-10 Sobre os direitos do missionàrio
In-i igosa, já indicada em lTs 4,11, de pen e a pràtica de Paulo, os testemunhos se
dil que a parusia era iminente, consistía multiplicaráo; este deve ser o primeiro es
ii;i ociosidade, desinteresse e desordem na crito (cf. ICor 9,4.6 par.). O trabalho é
vida civil. Jeremías exortava os exilados maldigáo (Gn 3,30-34) e destino sereno (SI
ile Babilonia a trabalhar e a se ocupar ai, 104,15.23). Contra a ociosidade há nume
nté que chegasse a hora do retomo (Jr 29,1- rosos provérbios (p. ex. Pr 26,13-16). Se a
,M), sem fazer caso dos falsos profetas. parusia nos exime do trabalho, também nos
Paulo aconselha algo semelhante. Quem exime do comer.
diz trabalho para subsistir, diz, por amplia 3,14-15 Compare-se com a instrugáo de
d lo , compromisso com a conjuntura his Mt 18,15-18. A caridade seja sempre a
tórica. Aparusia sempre próxima relativiza norma suprema.
tis valores terrenos, náo suspende a condi- 3,17 Era costume ditar as cartas e au-
gáo terrena do homem. tenticá-las com a assinatura.
CARTAS PASTO R A IS
*.■ *> .i.... . <¡ue o tema diverso criador e outro salvador (gnóstico); o
»Mb'." iiiiiii Iniruugem nova; que se va- A T é palavra de D eus (2Tm 3,15ss):
f■i t. u n i ■.<« irhirio redator; que seu nao o é (gnóstico); Cristo homem, m a
i i » .......ni, i niilm evoluído. Também n ife s ta d o corporalm ente ( I T m 2,5;
fu. , "i n. i informaçâo sobre a ati- 3,16); negam a humanidade de Cristo
! i.I.i.l, ,1, l'iiido luí importantes lacu- (gnóstico).
mi<i i m,l, i'ihliTtuin encaixar-se as car- A lguns acrescentam outra heresia,
ii. I i ip lin is síi o fracas: um anciáo também obtida em negativo: o culto im
„ni,l,i iiiilii iihncnte de vocabulário? perial. A ele pertence o título freqüente
I .,/n ri. w'iiï trinas favoritos? de Salvador, atribuido ao imperador:
as Pastorais o aplicam a Deus e a Cris
IVin lus sobre o autor to: IT m 1,1; 2,3; 2Tm 1,10; Tt l,3 s;
2,10.13; 3,6. D o imperador se costu-
(i i Hundo como m aisprovável a nao m a dizer que “aparece ” = epiphano;
.mil mu itludr das très cartas, pensa-se as Pastorais o aplicam a Cristo na sua
.¡ni i mu discípulo imediato ou m edia- prim eira e segunda vinda: IT m 6,14;
i,, ,l,i yrraçûo seguinte. E ste recorre à 2Tm 1,10; 4,1.8; Tt2,13.
(ni udnnímia, que era procedim ento A s Pastorais sao menos importantes
, inicntr ¡niquela época. D á form a de que outras do corpo paulino, mas for-
i ,n hi ils suas instruçôes e escolhe como necem informaqáo abundante sobre as
,h siiiuitiírios dois personagens insig igrejas da segunda e terceira geragáo.
nia do círculo paulino. C o n ced ese que A data de composigáo seria o fin a l do
I'i i,/i utilizar material original do após- séc. I ou comegos do séc. II.
i, i/i i Vrovavelmente se n tía se herdeiro
1er ilimo de Paulo; talvez os rivais ci-
»,twcm Paulo, deform ando seu ensina- Primeira Carta a Timoteo
niriito. Sinopse
Nao faltou a teoría de um com pila
it >i que teria composto e dado form a 1.1-2 Saudagáo.
il\ très cartas com fragm entos auténti- 1,3-11 Falsos mestres.
i os do apóstolo. 1,12-20 Paulo e Timoteo.
Nada do que fo i dito diminuí o valor 2.1-7 Sobre a oragáo.
am ónico das Pastor ais. Sao parte in 2,8-15 Homens e mulheres.
tegrante do NT, reconhecida sem pre 3.1-13 Bispo e diáconos.
Itor todas as confissóes cristas. Resta 3,14—4,16 M istério cristáo e falsos
l>or esclarecer a identificaçâo das he- mestres.
rrsias ou das doutrinas desviadas e 5.1-16 Viúvas.
I n-rigosas. Os judaizantes sao urna fo r 5,17-25 Anciáos e responsáveis.
ça m enor aínda ativa, como mostram 6.1-10 Escravos e patróes.
ITm 4,3 sobre tabus alimentares, Tt 6,11-21 Recomendagoes a Tim o
1,10 sobre o partido da circuncisâo ou teo; ricos.
jttdeus convertidos, Tt 1,14 sobre “fá
bulas judaicas”, Tt 3,9, “controvérsias A sinopse nos fa z ver o propósito de
sobre a le i”. dar norm as e conselhos para tratar
M ais poderoso, segundo alguns exe- com diversas categorías da comunida-
getas, era o impacto do gnosticismo: de. A precauqao frente aos falsos mes-
créem descobri-lo em negativo, lendo tres, difundida pela carta, concentra
como refutaçâopolém ica alguns enun se no comego e pela metade; ambas as
ciados do texto: Toda criatura é boa vezes contrasta com a fungáo do após
(IT m 4,4); o m undo m aterial é mau tolo e de seu sucessor ou destinatário.
(gnóstico); há um só Deus, criador e N o centro cita urna breve profissáo de
salvador (ITm 1,1; 4,3-4); há dois, um f é ou fragm ento de hiño litúrgico.
PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO
'D e Paulo, apóstolo do M essias Je nao ensinem doutrinas estranhas, 4nm
I sus por d is p o s ilo de Deus, nosso
Salvador, e de Jesus Cristo, nossa espe
se dediquem a fábulas e genealogi a
intermináveis, que favorecem as con
ranto, 2a Timòteo, seu filho gerado pela trovérsias e nao o plano de Deus, qui
fé: graga, m isericòrdia e paz da parte se baseia na fé. sO objetivo dessa exm
de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso ta$ào é um amor que brote de um coi .1
Senhor. gào limpo, de urna boa consciencia i
de urna fé nào fingida. 6Ao desviar m
Falsos mestres — 3Como te recomen- dele, alguns se perderam em vaos tlis
dei quando partia para a M acedònia, cursos, pretendendo ser doutores da lei
fica em Efeso para avisar alguns que sem saber o que dizem nem entender o
illi.lln como autoridade, mas nao costuma- recem como fórmula litúrgica em outras
v ni 11 "dogmatizar”. passagens). Com o tratamento dispensado
I ,S 9a A lei é vista como valor relativo: ao “prímeiro” ou mais insigne dos peca
|iui ii prevenir desmandos proibindo, para dores, Deus dá exemplo e esperanza a fu
Hpiimi-loscastigando. Urna fungáo sobre- turos convertidos (cf. Sb 12,19). Aínda
Iinli>negativa. O Exodo, por seu lado, con- costumamos dizer de um convertido que
11*111 legislagáo criminal, mas nao só. ele encontrou “seu caminho de Damasco”.
I ,9b-10 As listas de virtudes e vicios O relato se lé em At 9 e paralelos, e em G1
•*111111 correntes no ensinamento estoico. O 1,13-15.
Hiitor cita aqui quatorze categorías, sem 1.12 “Fortaleceu”: At 9,22; F1 4,13.
•'specificar. Ex 21,15-17 junta delitos con 1.13 A “ignoráncia” consiste na falta de
tili o pai ou a máe e o seqüestro de um fé ou brota déla (cf. At 3,17; 13,27; 17,30).
licimem “para vendé-lo ou deté-lo” como 1.15 “Merece confianga”: fórmula típi
PKcravo. No mesmo contexto fala do ho ca dessas cartas; com ela se garante enfá
micida. A “sa doutrina” (metáfora médi ticamente o valor do que se afirma ou cita.
ca) é especialidade dessas cartas (2Tm 4,3; A frase se encontra quase literalmente em
I t 1,9; 2,1; variantes: lTm 6,3;2Tm 1,13; Le 15,2; 19,10; Mt 9,13.
Ti 1,13; 2,2). Na línguagem da época, qua 1.16 Os atributos clássicos de Deus,
li ficava-se de “sá” urna doutrina razoável, compaixáo e paciéncia, sao atribuidos a
plausível; bem distante da loucura da cruz Cristo com toda a naturalidade. A salva-
que pregava Paulo (ICor 1). gáo se obtém pela fé em Jesús Cristo. Paulo
1,11 Pois beni, a “sá doutrina” deve ajus- é apresentado como exemplo esperanzo
tar-se ao evangelho, e nao o contràrio; e so para outros, enquanto que Paulo pro-
as cartas daráo breves e substanciosos re- punha como exemplo Abraáo.
sumos do evangelho. 1.17 O primeiro título dessa doxologia
1,12-17 Dá gragas a Deus por sua con- se encontra emTb 13,1.7.11. Os “séculos”
versào e vocagáo (At 9). Os contrastes podem ser as eras da historia.
definem o parágrafo: de perseguidor a ser 1.18 O grande convertido passa a tarefa
vidor, de pecador a homem de confianza. a “seu filho” numa espécie de sucessáo
Pelo contraste, ressaltam as qualidades de legítima; pode-se recordar a passagem de
Deus: paciéncia, compreensáo, compai Elias a Eliseu. Alude a “profetas” das co
xáo, favor (podemos escutar um eco dos munidades cristás, como os que At 21 men
predicados divinos de Ex 34,6, que reapa- ciona, ou os que aparecem em listas de
T
PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO 612 l.l'l
nobre combate, com fé e boa conscien com toda a piedade e dignidade. I:.-...
cia. Ao abandoná-las, alguns naufraga é bom e agradável a Deus, nosso salvn
ran! na fé. 20Entre eles se encontram dor, 4que quer que todos os homens .*
Himeneu e Alexandre. Eu os entreguei salvem e cheguem a conhecer a venl.i
a Satanás para que aprendam a nao blas de. 5Há um Deus somente, há someni.
femar. um mediador, o hom em Cristo Jesir.,
6que se entregou em resgate por tocio-. I
Sobre a o racao — 'E m primeiro lu e como testemunho no momento opot
2 gar, recorriendo que se oferegam sú
plicas, pedidos, intercessoes e agóes de
tuno; 7e eu fui nomeado seu mensage im>
e apóstolo (digo a verdade sem enga
gragas por todas as pessoas, 2especial- no), mestre dos pagáos na fé e na veril,i
mente pelos reis e autoridades, para que de. 8Quero que os homens, em qualquci
possam os viver tranqüilos e serenos lugar, orem elevando as máos puní.'. ]
carismas ou fungóes. As metáforas militar parecem que eles tenham tido acesso a caí
e náutica tém pouco relevo. gos de govemo. Pelo bem do povo deve s,
1,20 Entregar a Satanás equivale a ex- rezar por eles, ainda que sejam pagáos.
comungar temporariamente para provocar 2,3-4 Também eles sao chamados à sal
a emenda. vaçâo (cf. Ez 18,23), que é o conhecimen
to e o reconhecimento da verdade do evan
2,1-15 A segunda preocupado dessas gelho (Mt 20,28). Em outras palavras, nao
cartas é ditar normas concretas para a or- se pede o castigo, e sim a conversáo; um
dem de comunidades locáis. E significati primeiro passo é que sejam agentes da paz.
vo que conceda o primeiro lugar ás reu- 2,5-6 Parecem citaçâo de um hiño
nióes de oragáo, talvez por considerá-las litúrgico ou profissáo de fé. O Deus único
centro da vida comunitària. Por isso, é mais corresponde ao monoteísmo definido no
notável que nenhuma das cartas mencio judaismo (de modo enfático a partir do II
ne a eucaristia (compare-se com ICor 11). Isaías, apoiado em ensinamentos precc
A instrugáo parece dominada pelo desejo dentes). O mediador único entre Deus e
de corrigir abusos internos e externos. De os homens (ICor 8,6; Hb 9,15) é um “ho
passagem, oferece também alguns conse- mem” chamado Jesús, cujo título é Mes-
lhos ou mandatos positivos. O tom é de sias; com ele ficam abolidas as mediaçôes
autoridade, recomendagáo que equivale a de outras religiôes e cultos. Em sua vida
mandato. humana entregou-se (à morte) como “res
2.1 Ñas quatro categorías, é fácil distin gate” (Mt 20,28; cf. SI 49,8) de escravos
guir súplicas, intercessoes e agáo de gra do pecado, com alcance universal. Com
bas; petigá° se confunde com a primeira. sua morte, deu o testemunho supremo de
Pelas autoridades: Rm 13,1-7. amor (Ap 1,5 o chama “a testemunha fi
2.2 Entre elas seleciona primeiro a inter- dedigna”).
cessáo pelas autoridades imperiais e regio- 2.7 Timoteo nao necessitava de tal de-
nais. Há antecedentes notáveis no AT: claraçâo de seu mestre e “pai”. A frase tem
Moisés intercede várias vezes pelo Faraó outra funçâo garantindo urna carta ema
(Ex 8,4-9.24-27; 10,17-19); Jeremías man nada da sua escola. Os très títulos, “men-
da rezar por Babilonia: “rezai por eia, por sageiro, apóstolo e mestre”, reaparecen1
que sua prosperidade é a vossa” (Jr 29,7). unidos em 2Tm 1,11. O mensageiro anun
Supóe-se que as autoridades podem e de- cia boas noticias, evangelho; “mestre” é
vem contribuir para o bem de seus súditos: urna das funçôes (diferente da apostólica)
no civil, “tranqüilidade”, e no religioso, de ICor 12 e paralelos.
“piedade”. Os cristáos, embora difundidos 2.8 Em todo lugar, náo só em lugares
em comunidades sólidas através do impè especiáis; o extremo oposto da centraliza-
rio, eram minoría entre a maioria paga; ha- çâo do culto promovida por Josias; outros
viam superado já algumas perseguigóes e interpretam “os homens de qualquer lu
continuavam dependendo da honradez e gar”. As máos levantadas sao um gesto
boa vontade de seus senhores civis, pois náo comum de oraçâo (p. ex. Is 1,15; SI 141,2).
613 PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO
||vi«‘* tir cólera e discòrdia. 9Da mes- D iferentes categorías — 1Aqui está
IIM ft lima, as mulheres vistam -se de-
MMHriiie nte, se enfeitem com modèstia
3 urna norm a que merece crédito: se
alguém aspira ao episcopado, deseja
l lohiledade: nào com trangas, com urna obra importante. 2Por isso, o bis-
filli" i' pérolas, com vestes luxuosas, po deve ser irreprovável, fiel á sua mu
miti 1 1>111 boas obras, 10como convém a lher*, sobrio, modesto, cortés, hospita
mullirles que se professam religiosas. le ro , bom mestre, 3náo beberráo nem
''A iniilher deve aprender em silencio briguento, mas amável, pacífico, desin-
N»nlimissa. 12Náo admito que a mulher teressado; 4deve governar sua familia
il« Ilt,iìes ou ordens ao homem. Esteja com acertó, mantendo os filhos submis-
i nimia, l 'pois Adào foi criado primeiro sos, com toda a dignidade. 5Pois, se al
li I ' vìi tlepois.14Adào nào foi seduzido; guém nao sabe governar a própria fami
h mulher foi seduzida e cometeu a trans- lia, com o se ocupará da Igreja de Deus?
lt'nsát). 15Mas se salvará pela matemi- 6Náo seja recém-convertido, para que
Í iiile, se conservar com modèstia a fé,
ii umor e a co n sag rad o .
nao se envaidega e incorra na condena
d o do Diabo. 7É conveniente ter boa
2,‘M 5 O que diz das mulheres limita-se os nossos de hoje, nao é legítimo deduzir
ini primeiro lugar as reunióes religiosas; que as fungóes fossem idénticas. A carta
ilrpois se estende a co nsiderares mais oferece orientagóes sobre a aptidáo de
|ri nis. A norma significa urna restricto da candidatos para cargos estáveis de res-
f Hiiiililade concedida por Paulo em ICor
11,4-5, e se aparenta com a insergáo de
ponsabilidade. As cartas mostram que as
comunidades possuíam já sua organiza
|( 'or 14,34-35. É possível que o autor pen- d o , mas permitem reconstruir um quadro
*r nn abusos ou in filtrares por meio de coerente e único.
mulheres, mas nao podemos prová-lo. 3.1 Aprimeira coisa que diz é que a fun
Krforga o que era costume social com um d o de “bispo” ou responsável é urna tarefa
indumento da Escritura. Eva foi seduzida nobre, á qual alguém capaz pode aspirar.
(líelo 25,24); como “Mae de viventes” (Gn 3.2 *Ou: marido de urna só mulher.
1,20) se salvou, pois o castigo nao anulou 3,2-6 Vém depois as condigóes positi
n bengáo da fecundidade (3,16). A mulher vas e negativas. “Marido de urna só mu
Argüirá o destino de Eva e se salvará, se lher” interpreta-se de duas maneiras: a) se
for fiel á sua vocagáo crista de fé e amor, e é viúvo, que nao se tenha casado de novo,
nisso nao se distingue do homem. b) Que seja fiel á esposa legítima. Daí nao
se segue que todos fossem casados; pare
3,1-12 Encontramos aqui duas catego ce que Timoteo e Tito nao o sao.
rías que possuem a autoridade e exercem “Hospitaleiro”: sobretudo em relagáo a
n administrado na comunidade. Os termos membros itinerantes de outras igrejas.
grcgos passaram ao portugués eclesiás “Bom mestre”: logo, sua tarefa náo é só
tico: bispo (episkopos) e diácono. Origi vigiar, mas também ensinar (pregagáo,
nariamente o primeiro significa vigilan catequese etc.).
t e , o segundo, servente: um encarregado 3.3 “Desinteressado”: literalmente, nao
responsável e uns assistentes. Comparada amante do dinheiro; pode-se supor que o
com o que sabemos de Paulo em outros oficio fosse remunerado.
documentos, a presente carta indica um 3,4-6 Que tenha demonstrado sua capa-
grau mais desenvolvido de organizado cidade e acertó como bom pai de familia;
interna da comunidade (At 20,28 e F1 1,1 a atuagáo doméstica será treinamento e
falam de “bispos” ou encarregados no garantía para reger a nova familia que é a
plural, o segundo acrescenta “diáconos”). comunidade (cf. Mt 12,48-50 par.). A “con-
Era lógico que, com o passar do tempo e denagáo do Diabo” é a que ele sofreu, ou
consolidando-se as comunidades, buscas- a que provoca por meio da vaidade.
sem urna organizado mais diferenciada. 3,7 Os de “fora” eram os náo cristáos, a
Contudo, se os termos sáo os mesmos que maioria da populagáo.
PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO 614
fama entre os de fora, para que nao caia Mistério cristáo e falsos mestres
no descrédito e o Diabo nao o engane. 14Isso eu te escrevo, embora espere vi
ig u a lm e n te os diáconos sejam dig sitar-te logo; 15e se me atrasar, que s.u
nos, nao de duplas palavras, nao dados bas como comportar-te na casa de Deu»,
á bebida nem ao lucro vergonhoso; 9de- que é a Igreja do Deus vivo, coluna e lu
vem conservar com consciencia limpa se da verdade. 16Grande é sem dúvid.i
o mistério da fé. 10Também eles devem o mistério de nossa religiáo:
ser provados primeiro, e, se forem a d ia M anifestou-se corporalmente,
dos irrepreensíveis, exerceráo seu mi- justificado no Espirito,
nistério. "Igualm ente as m ulheres se apareceu aos anjos,
jam dignas, nao murm uradoras, sejam foi proclam ado aos pagaos,
sobrias, confiáveis em tudo. 12Os diá foi acreditado no mundo
conos sejam fiéis as suas mulheres*, e exaltado na gloria.
bons chefes de seus filhos e de sua casa.
13Pois os que exercem bem o diaco- 'O Espirito diz expressam ente qui
nato* obtém um posto elevado e auto-
ridade em questóes de fé crista.
4 no futuro alguns renegarâo a fé e si
entregarâo a espíritos engañadores <
3,8-13 Sobre os diáconos, com urna di- 3.15 Em 3,5 a casa-familia do respon
gressáo sobre as mulheres. Do bispo fala- sável se assemelhava à “Igreja”: implici
va no singular, dos diáconos no plural. Al- tamente como casa a governar. Agora cha
gumas condi§óes se repetem. E próprio ma a Igreja “casa de Deus” ou templo: nao
“conservar o mistério da fé”. Costuma-se um edificio material, e sim a comunidade,
entender o corpo de doutrina ou a mensa- que, com seus responsáveis, sustenta c
gem evangélica; alguns tém pensado na eu mantém a verdade do evangelho. Na ima-
caristía como mistério vedado aos pagaos. gem da “coluna” poderia esconder-se uma
O v. 13 lhes atribuí “autoridade” ou capaci- reminiscéncia das colunas do templo salo
dade de expor com franqueza temas da fé mónico, que se chamavam Firme e Forte
crista, o que indicaría também uma fumjáo (IRs 7,15-22).
catequética. 3.16 O “mistério” é aqui uma síntese
3.11 Pela colocado no texto, suspeitamos rítmica de nossa fé, tomada talvez de al-
que essas mulheres eram as esposas dos gum hiño litúrgico cristâo. Em très duplas
diáconos ou talvez do bispo. Sua conduta nao de membros correlativos, professa as di
devia desacreditar os maridos. Ademáis, a mensóes empíricas e transcendentes de
exigencia de que sejam “fiéis” sugere tam Jesús (nao mencionado, suposto). Sua con-
bém alguma funqáo na comunidade. A car diçâo corporal (Jo 1,14; lJo 1,1-2) e espi
ta menciona duas categorías de mulheres: ritual; confirmada provavelmente na res-
as casadas e as víúvas; nao fala de virgens surreiçâo (veja Rm 1,3-4 para uma dupla
consagradas (compare-se com ICor 7). equivalente; mas veja também Le 1,35, na
3.12 *Ou: maridos de uma só mulher. anunciaçâo). Segunda dupla: a “apariçâo”
3.13 *Ou: seu servigo. aos anjos deve ser celeste (cf. Hb 1,6);
3,14-15 Na hipótese de que a carta seja “proclamado” como por arautos, “aos pa-
auténtica, deve-se tomar essas palavras li gáos”, pelo ministério apostólico de Pedro
teralmente: Timoteo fica como delegado (At 10-11), Paulo e outros (náo menciona
interino de Paulo, que espera voltar logo expressamente os judeus). Terceira dupla:
ou com pequeño atraso (nao é o que espera o “mundo” e a “gloria” sao o terrestre e o
na segunda carta, 4,6-8). Na hipótese de que celeste (sem mençâo do mundo inferior,
a carta seja posterior, com nomes simples- dos mortos, coisa que faz F1 2,5-11). O
mente representativos, as palavras sugerem verbo “exaltado” ou arrebatado alude à
a transferencia da autoridade única de um ascensâo e glorificaçâo (Me 16,19).
apóstolo á geragáo seguinte de encarrega-
dos (em 6,14 o encargo dura até a parusia). 4,1-5 O que o Espirito diz deve ser uma
Para ambos os casos valem as normas de profecía na comunidade crista; poderia
conduta inculcadas. referir-se a 2Ts 2,3, que anuncia uma
615 PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO
5,3-16 O autor dedica muito espago á 5,5 Ainda que contem com a ajuda da
situagáo das viúvas na comunidade cristá. comunidade, sua esperanga se apóia em
As viúvas, junto com os órfáos, como ca Deus.
tegoría social necessitada, recebem muita 5,8 A fé é incompatível com algumas
atengáo no AT: na legislagáo (p. ex. Lv condutas éticas.
19,32), nos profetas (p. ex. Is 1,17.23), na 5,10 “Lavar os pés”: a exemplo de Cristo
oragáo (p. ex. SI 68,6), nos sapienciais (Jó (Jo 13,14).
29,12-13); ainda se escuta um eco em Tg 5,12 “A primeira fidelidade”: ao mari
1,27. Agora se apresenta urna situagáo do defunto ou ao caráter sagrado de seus
nova, mais complexa (recorde-se o con- compromissos.
flito sobre as viúvas dos helenistas, At 6,1). 5.14 Compare-se com os conselhos de
O autor distingue varios grupos. As vi Paulo (ICor 7,8.40). O “inimigo” é o pa
úvas jovens e levianas que, livres do vín gáo hostil ao cristianismo.
culo conjugal (cf. Rm 7,2), vivem licencio 5.15 A vida licenciosa é seguimento de
samente. Á estas recomenda o autor que Satanás.
se casem (náo sáo capazes de imitar Judite, 5,17-25 Estes “anciáos” se caracterizain
Jt 8,4-8 e 16,22). Outras vivem com fami náo tanto pela idade, que náo se exclui,
liares que cuidam délas: na linha do quar- quanto pela fungáo comunitária, como
to mandamento (Ex 20,12); ou vivem entre acontece no AT e em outras culturas. For
gues a caridade de algum cristáo. Essas náo mam o conselho ñas cidades e o senado
receberáo subsidio da comunidade. Res- na nagáo (senatus vera de sene;t = velho).
tam as outras, as desamparadas, que seráo Formam um grupo, e sua responsabilida-
socorridas por um fundo comum, produlo de é colegial. Aparecem em Efeso, como
provavelmente de esmolas e doagóes. encarregados da comunidade local, sob a
Entre essas, algumas mais anciás (sessen autoridade de Paulo (At 20,17). Dá a im
ta anos naqueles tempos era urna idade pressáo de que também Timoteo estava
muito avangada), que deram provas dura- acima do colégio local de “anciáos”. Re-
douras de virtude, desempenharáo algumas fere-se a eles a imposigáo de máos do v.
fungóes na comunidade: certamente, rezar 22?; o contexto poderia confirmá-lo. Em
(como Ana, Le 2,36-37) e provavelmente todo caso, está claro que Timoteo tem au
outras tarefas compatíveis com a idade. toridade para nomear e consagrar ritual-
617 P R I M E I R A C A R T A A T IM Ò T E O
i**i'i ■<iliieludo se trabalham pregan- sao evidentes, as que nao o sao nao
.......... .mando. l8Diz a Escritura: Nâo podem ficar ocultas.
hum i.» m lieiranoboiquetrilha;oope-
iîii " ii tu ilireito a seu salário. 19Contra 'O s que estáo sob o jugo da escra
..... hh ni i nâ(» aceites acusaçào que nâo
. |i . mil limada por duas ou très teste-
6 vidáo devem considerar seus senho-
res dignos de todo o respeito, para que
111111111.i. "kepreende em público os pe o nome de Deus e seu ensinamento nao
dilón .. para que os outros aprendam fiquem expostos ao descrédito. 2Os que
.i li',,ni tém senhores que créem, nao devem
!( i>njuro-te diante de Deus, de Cris- desprezá-los por serem irmáos; antes,
i. i |i mi*, e dos anjos eleitos, que obser- devem servi-los, pois os que gozam de
. , 1 . .as normas sem preconceitos nem seus servidos créem e sao dignos de
|i ninlaiismos. 22A ninguém imponhas amor. Isso é o que deves ensinar e re
i|in .sadamente as mâos, nâo te tom es comendar. 3Quem ensina outra coisa e
......plice de culpas alheias. Conserva- nao se atém as palavras sadias de nos-
i. |iiim. 21Deixa de beber somente água; so Senhor Jesús Cristo e a um ensina
............ pouco de vinho para a digestâo mento religioso, 4é um vaidoso que na
■|><h causa de tuas freqüentes doenças. da entende, um doente de disputas e
'( >s pecados de alguns sâo eviden- controvérsias de palavras. Daí brotam
h antes mesmo de serem julgados; os invejas, discordias, maledicencia, sus-
île nulros demoram para se manifestar. peitas malignas, 5discussóes interminá-
I >e modo semel hante, as obras boas veis, próprias de pessoas mentalmente
Míenle, transmitindo assim o carisma re- que explicando o que foi dito sobre o vi
11 ludo (4,14). nho (3,3). Nào se deve exagerar!
( )s anciáos em fungáo nao recebem sub-
Nidio, e sim salário, como prescreve a le- 6,1-2 Sobre a escravidào. A condigác
l’islagáo do AT aplicada por comparagáo fraterna dos cristáos introduz urna rclagáo
11)t 25,4). Exigem trato especial, para o superior entre classes sociais (pois a rela-
liem ou para o mal, segundo a norma bí gáo patráo-servo era um fato social como
blica (Dt 19,15; principio que nao se apli- o sao outras relagóes de dependencia em
i a só aos anciàos). Quando se trata de con nossa sociedade; sem dúvida, prestavam-
sagrar, Timoteo nao deve precipitar-se. se mais ao abuso). O escravo cristào nào
I'ois, se as virtudes facilmente se mani- deve abusar da sua relagáo fraterna; antes,
lestam, muitos pecados se mantem ocul- deve animar de espirito fraterna também
los até que saiam à luz, quando é tarde a submissáo ao patráo (mas o autor nao
ilemais. Entao aquele que os nomeou aca acrescenta a obrigagáo correlativa do pa
ba sendo o responsável pelas conseqiién- tráo, como fazem outros textos: cf. lCor
eias, que nao previu por ser incauto. 7,21-24; Ef 6,5-9; C1 3,22-25 e Fm).
5.17 Distingue entre o simples presidir, 6,3 Arecomendagáo abrange toda a dou-
que seria fungáo administrativa, e o pre trina precedente. Seu critèrio decisivo é o
gar e ensinar, como tarefa acrescentada. ensinamento de Jesús Cristo, o evangelho,
5.18 O principio se lé no evangelho: Mt e a resposta de “piedade” ou religiosida-
10,10; Le 10,17. de, que aqui vem ocupar o lugar tradicio
5.20 Aqueles cujos pecados tenham sido nal da fé. Desenvolve o tema outra vez por
comprovados ou sejam evidentes. A repre- oposigáo aos que se desviam.
ensáo pública corresponde ao cargo públi 6,4-6 O autor os caracteriza duramente
co que exercem. em sua atitude de vaidade, ñas conseqüén-
5.21 A parcialidade é particularmente da cias lamentáveis, na raiz de tudo, que é a
ñosa quando sào as autoridades que a prati cobiga. Trata-se de urna generalizagáo con
carli. Sobre o tema, Pr 24,23; 28,21; Jó 32,21. vencional, pois outros diráo que a raiz
5,23 Por agáo do escriba ou de quem de todos os males é a soberba. Contudo, a
ditava, inseriu-se aqui essa cunha, como análise é correta: o afá de lucro vicia tam-
PRIMEIRA CARTA A TIMÒTEO 618
corrompidas, alheias à verdade, que pen diante de Póncio Pilatos com mu im
sarti que a religiào é um negocio. 6Gran- bre confissáo, 14eu te recom endé qt»
de negócio é a religiào para quem sabe conserves o mandamento sem mam h i
contentar-se, 7já que nada trouxemos ao nem repreensáo, até que apareja <> ‘..
mundo e nada poderemos levar. 8Ten- nhor nosso Jesús Cristo, :íque mu n ,
do roupa e alimento nos contentaremos. rá a seu tempo o bem-aventurado e mu
9Os que se afadigam para enriquecer co Soberano, o Rei dos reis e Scnln ■■
caem nas tenta^oes e armadilhas e múl dos senhores, 16o único imortal que h i
tiplos desejos insensatos e profanos, bita na luz inacessível, que ninguém vm
que precipitam as pessoas na ruina e na nem pode ver. A ele a honra e o po<l' i
p e r d ilo . 10A cobiga é a raiz de todos os para sempre. Amém.
males: por entregar-se a eia, alguns se 17Aos ricos deste mundo recomeml i
distanciaram da fé e se atormentaram lhes que nao se envaidegam; que po
com m uitos sofrimentos. nham sua esperanza nao em riquc/m
incertas, mas em Deus, que nos penm
Recom endagóes a T im o te o — "Tu, ao te desfrutar abundantemente de t u d o
contràrio, homem de Deus, foge de tudo 18Que sejam ricos de boas obras, gem
isso; procura a justi^a, a piedade, a fé, rosos e solidários. 19Assim acum ulai.« ■
o amor, a paciencia, a bondade. 12Com- um bom capital para o futuro e alean
bate o nobre combate da fé. A pega-te à <¿aráo a vida auténtica. 20Querido Timo
vida eterna, para a qual foste chamado teo, conserva o depósito, evita a chai l;i
quando fizeste tua nobre profissáo di tanice profana e as objeijóes de um.i
ante de m uitas testem unhas. 13Na pre ciencia falsa. 21Alguns, professando a
sen ta de Deus, que dá vida a tudo, e de se afastaram da fé. A graqa esteja con
Cristo Jesús, que prestou testemunho vosco.
bém o ensinamento, como sucedia com 6,14 O horizonte temporal se alarga ale
os falsos profetas denunciados por Mi- a parusia.
quéias (Mq 3,1-3). O afá de enriquecer-se 6,15-16 Doxologia solene, por acumula
desacredita o ensinamento: Paulo quis gáo de títulos e atributos divinos. “Sobeni
demonstrar explícitamente seu desinte- no”: 2Mc 12,15. “Rei de reis e Senhor de
resse por alguma coisa. A “autarquía” era senhores”: SI 136,3; Ap 17,14 (atribuido ;i
virtude recomendada por filósofos gre- Cristo). “Morada de luz”: vestido em SI
gos; o autor corrobora seu valor, aludin- 104,2. “Ninguém o viu”: Ex 33,20 e Jo 1,18.
do provavelmente a textos bíblicos (cf. A frase final do v. 21 terminaría perfei
Jó 1,21; Ecl 5,14; SI 49,17). Pelo tema, tamente a carta. Como se ao ditar ou ao
aquí encaixaria o texto de Mt 6,17-19 so revisar tivesse esquecido algo, acrescenla
bre a riqueza. vários versículos.
6,7-8 Muito expressivas sao as declara 6,17-19 Para quem de fato é rico. Se
r e s de Ecl 5,15 e Jó 1,21. Lé-se em Pr gundo o ensino tradicional, nao deveni
30,8: “nao me des pobreza nem riqueza, apoiar sua confianza nas riquezas, toman
concede-me minha raqáo de pao”. do-as rivais de Deus: ver todo o SI 49; “ain
6,11-16 Encargos a Timoteo com doxo- da que cresgam vossas riquezas, nao lhes
logia. “Homens de Deus” é título que al deis o coragáo” (SI 62,11); “náo pus no
guns profetas tém (ISm 2,27; IRs 13,1). ouro minha confianza” (Jó 31,24); “quem
6.12 Sobre o combate da fé: ICor 9,25- confia em suas riquezas murcha” (Pr
26. Refere-se á profissáo de fé batismal 11,28). O ideal do rico deve ser partilhar
ou á da sua nomeagáo ou consagrado. generosamente (cf. Eclo 29,8-13).
6.13 Para o testemunho de Jesús, ver 6,20-21 Recomendado repetida antes
especialmente Jo 18,36-37; 19,11. da breve saudagao final.
619 SEGUNDA CARTA A TIMOTEO
IhiIh 11 ni' ule c iluminou a vida ¡mortal que me prestou em Éfeso, tu os conhe-
Mil ini’i" <l.i lioa noticia. n Dela fui no- ces m ais do que eu.
ji)i.i>ln iiM-nsageiro, apóstolo e'mestre.
-|*tii i un ,a disso c que sofro essas coi- S oldado de C risto — 'Q uanto a ti,
tut, iiiii-, iian me sinto fracassado, pois
1* 1 l i l i i | i k - i i i confiei e estou conven-
2 m eu filho, recobra ánimo com o fa
vor de Cristo Jesús. 20 que escutaste
i liln de <|ii e ele pode guardar meu de- de mim diante de muitas testemunhas,
“ »||n nii- aquele dia. 13Presta atengáo transmite-o a pessoas de confianza, que
E I iimipéndio da sá doutrina que es-
(MlliiMr rom a fé e o am or de Cristo Je-
sejam capazes de ensiná-lo a outros.
3Compartilha os sofrimentos como bom
m Mi com a ajuda do Espirito Santo soldado de Cristo Jesús. 4Um soldado
ijt luibila em nós, guarda o precioso na ativa nao se envo’ve em assuntos ci-
J pnriftilo.
"'I ’.las sabendo que todos os da Ásia
vis, se quer satisfazer a quem o recru-
tou. 5Da m esm a forma um atleta: nao
lili' iilmndonaram, inclusive Figelo e Her- ganha a coroa, se nao compete segun
|||i^i-nes. 160 Senhor tenha piedade da do o regulamento. fiO lavrador que tra-
fiiinlliíi de Onesíforo, que muitas vezes balha é o primeiro a usufruir dos frutos.
lili' nliviou, e nao se envergonhou de 7Reflete sobre o que te digo, e o Se
Vigilar um preso. 17Estando em Roma, nhor te fará entender tudo.
|m ik urou-me até me encontrar. lsO Se- 8Seguindo minha boa noticia, lembra-
lllini llie conceda alcangar a misericór- te de Jesús Cristo, ressuscitado da mor-
illii ilo Senhor naquele dia. Os servidos te, da linhagem de Davi. 9Por ela sofro
2,10 Aglória eterna coroa a salvagáo (cf. 2,19 Um alicerce ou pedra de fundagáo
SI 73,24). com urna inscrigáo se lé em Is 28,16, ape
2,11-13 O minúsculo poema se compde lando à fé: “Quem se apóia nao vacila”. ( )
de quatro frases simétricas e urna final texto dessa carta se compoe de citagòes l i
assimétrica; a mudanga é significativa. Ñas terais ou aproximadas (Nm 16,5; Eclo 17,
quatro, a apódose corresponde á prótase e 26; 35,3).
se dispóem num eixo de passado — pre 2,20-21 A “casa grande” é a Igreja. O tem
sente — futuro. Passado é a morte pelo pío de Jerusalém tinha utensilios materiais
batismo (Rm 6,8); presente é a constancia preciosos. A Igreja tem seus utensilios huma
ñas tribulagóes (Mt 10,22); futuro é a res- nos, para diversas tarefas, mais ou menos
surreigáo e glorificado com Cristo. No honoríficas. Alguns pensam que os “humil
final se rompe a simetría pela parte forte, des” ou sem honra representam os membros
pela bondade e misericordia de Deus (cf. indignos da comunidade, como fato lamentá-
Os 11, 8-9; Ez 36,22; Rm 10,11). O dom e vel e inevitável. Mas o texto náo acrescenta
a oferta de Deus sáo irrevogáveis; se o urna cláusula negativa contra um utensilio
homem os rejcita, ele o reconhece e o san que deveria ser excluido. Para a compara
ciona. gáo, ver Rm 9,21, inspirado em Jr 18.
2,14-17 Contrapee ao palavrório profa 2,23-24 Discussoes e debates eram urna
no e perigoso a palavra da verdade, que é das satisfagóes dos gregos; mas deviam ser
o evangelho. conduzidos segundo regras aceitas, devi
2,18 Se se afirma que a ressurreigáo já damente codificadas numa doutrina pràti
teve lugar (nao no sentido paulino, pela ca, a dialektike texne ou dialética.
participagáo batismal), seguem-se con- 2,25 O “arrependimento” das culpas pas-
seqüéncias graves: nao se deve continuar sadas no paganismo c o “conhecimento da
esperando. Nega-se também o matrimo verdade”, quer dizer, a aceitagáo do evan
nio? (lTm 4,3 apoiado em Me 12, 25). gelho.
623 SEGUNDA CARTA A TIMOTEO
O Diabo, visto como calador com que se aproximam. Antes de partir (vítima
h ile (SI 35,7; 57,7; 140,6), que domina da perseguilo), dá conselhos a seu suces-
,11,1 , presas. Seu “arbitrio” se opóe á “von- sor e o previne do que vai acontecer. E o
i,nIr" ile Deus (a mesma palavra em grego). que fazia Jesús nos discursos escatológicos
(Mt 24; Me 13), e o dizia expressamente:
3,1-7 A maldade dos tempos se apre “eu vo-lo digo agora, antes que acóntela,
venía numa enum erado retórica de tipos para que, quando acontecer, tenhais fé” (Jo
nulvados. Pode estar inspirada, ao menos 14,29). O discípulo e sucessor de Paulo te-
|i.ircialmente, em listas estoicas de vicios. rá que valer-se dos ensinamentos e exem-
I iluvidoso que o autor busque a precisáo plos do mestre e do que aprendeu pela Es
i onceitual de cada tipo. Oito se compóem critura.
ile alfa privativo, que significa carencia, e 3,8-9 Sao nomes que a tra d ito judaica
i niitem por negagáo virtudes opostas. En dá a dois magos do Egito, que procuraram
de eles se pode notar os que afetam o su contestar os prodigios de Moisés com ar
lfilo, como “incontroláveis”, as relagoes tes mágicas.
eom Deus, como “ímpios”, com os pais, 3,10-12 As perseguigóes fazem parte da
"desobedientes”, com o próximo em for missáo apostólica, como anunciou Jesús:
mas diversas. Também se notam os qua- “um discípulo nào é mais que seu mestre”
Iro compostos de fil- (amantes) de si, do (Mt 10,24 no contexto de 16-24); também
ilinheiro, do prazer. na vocagáo de Paulo (At 9,16). Nao só dos
3,1 Comega aqui urna exortagao para os apóstalos, mas de todo cristao autèntico.
lempos fináis que se avizinham. Podemos 3,14-17 Este é um dos textos em que a
alongar a segáo até 4,8, de acordo com a Escritura atesta sobre si mesma; o outro é
h¡pótese que considera essa carta composta 2Pd 1,19-21. E “inspirada por Deus”: so-
na forma de um “testamento”. Paulo pre prada pelo alentó divino. Sao muitos os
vé seu final próximo (que o autor conhece textos do AT que relacionan! o oráculo
como fato passado), de modo que nao po- profètico com a mogáo do Espirito = ven
derá prestar sua ajuda nos tempos difíceis to de Deus. Urna versao bem material se
S E G U N D A C A R T A A T IM O T E O 624
isso o homem de Deus estará formado tive a fé. 8Só me espera a coroa chi in
e capacitado para todo tipo de boas tiga, que o Senhor como justo jm mil
obras. entregará naquele dia. E nao só a .......
mas a todos os que desejam sua inalili
'D iante de Deus e de Jesús Cristo, festagáo.
4 que há de julgar vivos e mortos, eu
te conjuro por sua manifestagáo como
9Procura vir me ver o quanto ani'
I0pois Demas, enamorado deste munì
rei: 2proclama a palavra, insiste opor do, me abandonou e foi para Tes\ <l<<
tuna e inoportunamente, repreende, ad- nica. Crescente foi para a Galácia, I iiu
moesta, exorta com toda a paciencia e para a Dalmàcia. "S om ente Lucie, li
pedagogía. 3Pois chegará o tempo em cou comigo. Toma contigo Marcos <t
que nao suportaráo a sá doutrina, mas, traze-o, pois acho que eie me é mini"
seguindo suas paixoes, se rodearáo de útil no ministério. Enviei Tiquico li
mestres que lhes afaguem os ouvidos. Efeso. 13Quando vieres, traze-me a ca|u
4Náo dando ouvidos á verdade, se vol- que deixei na casa de Carpo, junto colf
taráo para as fábulas. 5Quanto a ti, v i os livros e, sobretudo, os pergaminhoi
gía continuam ente, suporta os sofri- todos. 14Alexandre, o bronzista, traton
mentos, executa a obra de anunciar a me muito mal: o Senhor lhe pagará co
boa noticia, cumpre teu ministério. mo merece. 15Tu também, toma cuida
do com ele, porque se opós durameuli
Recomendagóes e saudagóes — 6Quan- ao meu discurso. 16Em minha primen.i
to a mim, já fazem de mim urna libagáo, defesa, ninguém me assistiu; todos me
e a hora da partida é iminente. 7Combati abandonaram; náo lhes seja levado cui
o bom combate, terminei a corrida, man- conta. n O Senhor, sim, me assistiti e
4,18 Remete a salvagào ao reino celes- 4,22 *Ou: o Senhor te acompanhe espi
le. O autor conhecia o martirio e seu sen- ritualmente.
tido glorioso (cf. Le 23,42s).
CARTA A TITO 626
1.14 Para urna carta muito breve, urna a comunidade: é a preocupagáo de uma
.»miliario muito longa, com algumas no- segunda e terceira geragóes cristas. Trata
lilmlcs (e uso abundante de preposigòes). se de uma espécie de senado ou conselho,
Vivo de Deus” ou de Yhwh é título dos “anciàos” que conhecemos por At
liiiiiiirffico freqiiente no AT. Em outros tex- 14,23 e lTm 5,17. A partícula “pois” (v.
lo». l’aulo prefere dizer “servo de Jesus 7) parece sugerir que o encarregado ou
i ihlo” (Rm 1,1; FI 1,1). A servilo dos “es- responsável supremo (episkopos) é um dos
. iilhklos”, ou seja, o novo povo de Deus. anciàos. Confirma-o a instrugáo de lTm
"1(5”, corno resposta inicial e adesao to- 3,1-7 e o fato de que tal contexto distin
inl, madura com o “conhecimento”, nao é gue só entre “bispo” e “diáconos”.
i i'j.’,;!. À f é segue-se a “esperanza”, que se 1,6 “Fiel à sua mulher” ou nào casado
iipóia na “promessa” de um Deus “infali- em segundas nupcias.
vi' I", fiel à sua palavra, e cujo conteúdo é 1,7-9 Os filhos acreditam ou desacredi
‘vida eterna”. Que a “vida eterna” esteja tara o pai (cf. ISm 2,12-17; Pr 19,26;
luoinetida no AT nào resulta claro, por cau- 29,15; SI 127,5). Comegam as listas de vi
ni ila ambigüidade do termo hebraico, que cios e virtudes que ocuparao boa parte des-
M unifica perpètuo, duradouro ou vitalicio sa carta e que parecem tomadas de reper
(os textos mais claros sào SI 16,11; 49,16; torios. Dois dados coincidem com duas
/1,23-24; Dn 12,2-3). Pois bem, o que está virtudes cardeais gregas: justo e modera
iinunciado entre véus no AT, se “procla do. Os que “contradizem” podem ser pa
ma” agora no evangelho. “Salvador”: tí- gaos ou cristáos equivocados. É notável a
lulo de Deus ñas Cartas Pastorais (lTm atengáo prestada aos aspectos negativos
1,1; 4,10; Tt 2,10; 3,4). que devem ser evitados, alguns genéricos,
“Filho legítimo”: título outorgado tam- outros talvez específicos e reais. O mesmo
hcm a Timoteo (lTm 1,2). A “fé comum” na doutrina, cuidadosamente delimitada
define a semelhanga de pai e filho numa como autèntica, fidedigna e sá (adjetivo
nova natureza (cf. Gn 5,3); transmitir a vida repetido na carta); olhando obliquamente
nova da fé é uma espécie de patemidade. para pessoas que de fora ou de dentro a
1,5-9 A primeira tarefa de Tito em Creta ameagam. Um discreto temor soa nessas
será nomear responsáveis para organizar linhas./
CARTA A TITO 628 1,10
10Especialm ente entre os j udeus con- ' Classes diferentes — JTu, ao con
vertidos há m uitos insubm issos, char-
latáes, engañadores. n A esses é preci
2 tràrio, explica o que corresponde à
sa doutrina: os anciàos sejam sobrios,
so amordazar, pois destroem familias dignos, m oderados, sadios na fé, no;
inteiras, ensinando o que nao devem por amor e na paciencia.
urna ganancia sórdida. 12Deles disse um 3Da m esma forma, as anciás tenharr
de seus profetas: Cretenses, sempre em- postura digna da religiosidade; nao se
busteiros, animais ferozes, glutóes ocio jam escravas da maledicencia nem da
sos. 13Tal descrigáo é correta. Por isso, bebida; sejam boas mestras, 4capaze¡
repreende-os severam ente, para ver se de ensinar as jovens a amar os marido!
recuperam a saúde da fé e abando e os filhos, 5a ser moderadas, castas, la
nara as fábulas judaicas e os preceitos boriosas*, bondosas, submissas ao ma
de homens afastados da verdade. 15Para rido; de modo que a palavra de Deu!
os puros, tudo é puro; para os incrédu náo fique desprestigiada. 6Exorta tamí
los contaminados, nada é puro. Pois tém bém os jovens a ser moderados. 7En
contam inadas a mente e a consciencia. tudo apresenta-te como modelo de boi
16A firm am conhecer a Deus e o negam conduta: integro e grave no ensinamen*
com as agóes; sao detestáveis e rebel to, 8propondo urna mensagem sa e ir
des, desqualificados para qualquer boa reprovável, de modo que o adversárú
obra. fique confundido por náo encontrar na>
1,10-16 Do temor passa à denuncia in para várias categorías: anciàos e jovem
dignada. Alguns pensam que se refere a de ambos os sexos, escravos. Anciàos
judeus náo convertidos, hostis aos cristáos. se refere aqui á idade, opostos aos he*
Mas o texto oferece indicios de que se tra mens jovens (lT m 5,1-2; cf. SI 148,12)
ta de judeu-cristáos: limita “especialmen J1 3,1). É curioso que aos jovens chegu^!
te”, chama-os “insubmissos” (a autoridade diretamente e as jovens só através dal
comunitària), sao objeto de “repreensáo”, anciás. As jovens devem ser submissa
espera que “recuperem a saúde” (v. 13). e “amar” os maridos e filhos; Ef 5,2:
A descrigáo que faz do grupo é violenta reservava o amor aos maridos. Os con
e é agravada pela cita^áo de um autor pa- selhos sao e n u m e ra res mais ou menoi
gào (talvez Epiménides, século VI a.C.). conhecidas. Compare-se com o ideal di
As “fábulas e preceitos humanos” pode- “mulher laboriosa” de Pr 31. Há conse
riam aludir à hagadá e à halaká-, lendas lhos para os escravos, mas falta o corra
fantásticas tecidas sobre relatos bíblicos e lativo para os patróes (Ef 6,5). À bo¡
normas de conduta deduzidas deles; tal conduta o autor atribui valor apologètici
vez extraídas da hagadá e da halaká, e con diante de pagáos hostis ou benévolos, di
trarias à fé. modo particular os escravos, que se enO'
1.15 A oposigáo clàssica de pureza e brecem com urna importante fungáo eclíi
contaminagào recebe aqui urna precisào, sial. A “temperan§a”, virtude grega caí
já que a contam inalo é a “incredulida- deal, menciona-se quatro vezes nesti
de” e náo depende de práticas externas (cf. segáo.
Mt 15,11). Um recipiente contaminado 2.2 A “paciencia” é estreitamente api
contamina o que recebe (Lv 11,32-36). rentada com a esperanza.
1.16 E a fé sem obras, que Tiago conde 2.3 Pede ás anciás que sejam “boas me;
na (2,17-26). A preocupagào de Paulo era tras”; lT m 2,12 proibia ensinar ás mui
antes de tudo a sa lv a lo pela fé, indepen- lheres (ñas reunióes litúrgicas); mas, recoi
dente das obras da lei; a preocupacao da de-se o precedente da avó e da mae
nova geragào crista sáo as obras que bro- Timoteo (2Tm 1,5). Pela terceira vez pn
tam da fé. vine contra o perigo da bebida, que pel
visto amea§ava anciàos, anciás e tambéi
2,1-10 Agora resulta que a “sa dou- candidatos a postos de governo.
trina” consiste em normas de conduta. 2,5 *Ou: boas donas de casa.
629 CARTA A TITO
■l.i de que nos acusar. 9Os escravos se Conduta exem plar — 'Recom en-
nni submissos a seus senhores em tudo,
■■.m placen tes, nào respondóes, 10jamais
3 da-lhes que se submetam e obede-
cam a govemantes e autoridades, estan
luí lando, mas dignos de toda a confian- do dispostos a qualquer obra honrada.
i.-i. para que o ensinam ento de nosso 2Que nao difam em nem sejam briguen-
I 'cus e Salvador recupere prestigio dian- tos; pelo contràrio, amáveis, e que se
lc de todos. m ostrem bondosos com todos. ' Tam
11 M anifestou-se a graga de Deus que bém nós antes éramos insensatos, de
il va todos os homens, 12ensinando-nos sobedientes, extraviados, escravos de
ii i enunciar à im piedade e aos desejos paixóes e prazeres diversos, maliciosos,
mundanos e a viver neste tem po com invejosos, odiosos e odiando-nos m u
Immildade, justiga e piedade, 13espe- tuam ente. 4M as, quando apareceu a
i nido a prom essa feliz e a m anifesta bondade do nosso Deus e Salvador e
lo da gloria do nosso grande Deus e seu amor pelo homem, 5náo por méri
■lo nosso Salvador Jesús Cristo. 14Ele tos que tivéssemos adquirido*, mas táo-
«e cntregou por nós, para resgatar-nos somente por sua misericordia, nos sal-
■li- loda iniqüidade, para adquirir um vou com o banho do novo nascimento
tu ivo purificado, dedicado ás boas obras. e a re n o v a d o pelo Espirito Santo, 6que
I ala disso, exorta, repreende, com ele nos infundiu com abundáncia por
plena autoridade. Que ninguém te des- meio de Jesús Cristo, nosso Salvador;
pi’eze. 7de modo que, absolvidos* por seu fa-
2.11-14 Primeira síntese doutrinal da de civil (de Roma; cf. Rm 13,1-7). O que
nía. Um dos títulos clássicos de Yhwh se segue sao novas séries. Tito era um con
nu AT é hanun (clemente), que outorga seu vertido do paganismo.
i ivor, que concede graça (Ex 34,6; J12,13; 3,4-7 Segunda síntese doutrinal, com
in 4,2; SI 86,15; 103,8; Ne 9,17). Agora a algo de hiño. Da “bondade” de Deus fa-
r i iça” ou favor de Deus se manifestou lam vários salm os (25,7; 27,13; 31,
nii encarnaçâo para a salvaçào de todos 20; 145,7); mas Deus já revelou sua bon
i 1I ni 2,4), na morte de Cristo como “res- dade a Moisés (Ex 33,19). Agora essa
r:iie” (cf. SI 130,8; lPd 1,18-19), no anún- bondade se manifestou definitivamente
■ni da parusia, que funda a esperança e será em Cristo. “O amor ao homem”, em gre-
m.inifestaçâo da gloria”. Assim as duas go philanthropia, é atributo divino único
i pilanias” delimitam o arco inteiro da no NT. Dt 7,7-8 fala do amor de Deus a
ilvii^üo. Nao fala da resposta humana da um povo entre muitos; Sb 11,24 fala do
h ipie está implicada ao enunciar o texto, amor de Deus a todas as criaturas. Agora
ni r. se detém nas conseqüéncias para a Cristo vem revelar o amor universal de
' "minia: afastar-se do mal, praticar o bem. Deus.
\ I)(>as obras sao conseqüéncia iniludível 3.5 Sem méritos nossos: é a doutrina
i' c i povo escolhido. Duas das très qua- básica de Paulo (Gl e Rm). Em duas pala-
li'l.ules recomendadas fazem parte da vras se condensam as duas virtualidades
■i" iii midade das virtudes cardeais: justi- do batismo: banho de purificado (Ef 5,26)
(,ii e lemperança. que nos perdoa o pecado, e novo nasci
mento (Jo 3,5; lPd 1,3), cujo equivalente
V I -3 O complemento do imperativo é a renovagáo pelo Espirito (cf. SI 51,12).
..... i|iie ser a comunidade cretense. As- *Ou: nao por obras de justiqa.
iin ■orno antes qualificou duramente os 3.6 O dom do Espirito: anunciado por
mu m i >ios dessa comunidade, agora, usan- J1 3,1, cumprido em Pentecostes (At
■!•■ i primeira pessoa, recorda seu passa- 2,4.17).
■I' ' n . i o menos repreensível, “também nós 3.7 Absolvidos ou tomados justos pelo
•i muís antes”. indulto ou graga de Deus (Rm 3,24); e as
( 11 ii imeiro conselho dirigido aos turbu- sim herdeiros em esperanza (Mt 19,29).
!■ni" . (-retenses é a submissâo à autorida- *Ou: tornados justos.
CARTA A TITO 630 ' 1 ?
INTRO DUgAO
l'i ln lema, tom e estilo, esta breve legal, embora sugira que está disposto
, i- aclamada como pequeña jóia a pagar Filemon. Tampouco tenta m u
•/> I ‘unlo. dar a estrutura jurídica daquela época
I ilcinon era um cristäo de boa posi- e cultura. M as transfere o problem a e
r i,'. tulvez convertido p o r Paulo. Seu sua resolugáo ao grande principio cris-
>\<m vo Onésimo havia fúgido, p o r al- táo do am or e da fraternidade, mais
riiiini culpa, e tinha ido p a r a r em fo rtes que a relaqáo jurídica de patráo
lú itim, onde Paulo Ihe ofereceu refú- e escravo. Se Filemon perdeu um es-
i■/.»<■ o converteu. A fuga de Onésimo cravo, p ode ganhar um irmao, e Paulo
i ni delito punido com penas graves, e será o agente delicado da perm uta.
I',mío podia tornar-se cúmplice. Pau- Supóe-se que a carta fo i escrita da
h i uno quer resolver a questäo p o r via p risdo de Rom a entre os anos 61 e 63.
CARTA A FILEMON
'D e Paulo, prisioneíro por causa de lo, e agora prisioneiro por causa de < m
Cristo Jesus, e de Timoteo, a nosso que to Jesús, '“apelo a ti em favor de mil
rido colaborador Filemon, ju n tam en te filho meu que gerei na prisao: Onésinm
com a irmä Apia e nosso companheiro n outrora sem proveito para ti, agoi a .1.
A rquipo, e a com unidade de tua casa: grande proveito para ti e para niim
3graga e paz da parte de Deus, nosso Agora eu o envió a ti, e com ele o m< n
Pai, e do Senhor Jesus Cristo. coragáo. 13Eu teria desejado manir l>
4Sem pre que me recordo de ti em comigo, para que, em teu lugar, me sn
minhas oracoes dou grabas a Deus, 5por- visse nesta prisáo que sofro pela boa mi
que ougo falar de tua fé e amor ao Se tícia. l4Mas, sem o teu consentimeniu
nhor Jesus e a todos os consagrados. eu nao quis fazer nada, para que tua bou
6Que tua fé com partilhada seja eficaz agáo nao seja forjada, mas voluntan.i
para reconhecer os bens de todo tipo 15Talvez ele se tenha distanciado de li
que tem os no M essias. 7Tua caridade por breve tempo, para que possas reí u
me proporcionou grande alegría e con- perá-lo definitivamente; 16e já nao como
solo, porque grabas a ti os consagrados escravo, mas melhor que escravo: como
serenam seus sentim entos. 8Por isso, irmáo muito querido para mim e mar.
em bora tenha plena liberdade crista ainda para ti, como homem e como cris
para te ordenar o que é devido, 9prefiro táo. 17Se te consideras companheiro
apelar ao teu amor. Eu, este anciáo Pau- meu, recebe-o como a mim; 18se te ofeu
1-3 A breve carta comeca segundo o es em favor de outros (ICor 9), e agora con
quema clàssico, com saudagáo, agáo de sidera mais eficaz o caminho do amor qui
gragas e súplica. Se à saudagáo acrescen- o da obediéncia. O encarcerado é semelhan
tamos a despedida, aparece o contraste te ao escravo em sua falta de liberdade,
com o conteúdo. Acarta aborda um assunto embora, sendo por Cristo, o preso se sinta
limitado, triangular, entre Filemon, Onési livre. Anciáo: a partir dos cinqüenta anos
mo e Paulo. Entre os remetentes da sau- 10-12 O escravo fugitivo, acolhido poi
dagao e despedida figuram sete nomes, Paulo, pela conversáo é filho seu. Como
entre os destinatários tres nomes e urna filho de Paulo, deve ser livre e goza do
comunidade. Como que insinuando que o carinho paterno. Mas Paulo renuncia a este
assunto se trata à luz pública dos cristáos, segundo direito e devolve o fugitivo. Ain
como caso exemplar e normativo. da que com ele váo as “entranhas” do apòs
4-6 A costumeira agáo de gragas e peti- tolo: sua caridade nao é fria nem distante.
gáo preparam decididamente o assunto ao 15-16 Paulo nao visa à aboligáo da es
concentrar-se na fé, no amor e na solidari- cravatura, tampouco a condena como imo
edade. Porque o assunto vai ser tratado à ral. Mas introduz um novo sistema de rela-
luz da fé (nao por interesses humanos), e gáo crista capaz de mudar a relagáo humana.
a norma suprema será o amor ao Senhor e Ao vínculo de posse sobrepóe-se o de irman
aos irmàos. É desse modo que Filemon dade, que é definitivo. Em termos econó
deverà decidir; e Paulo está certo da boa micos, talvez Filemon saia perdendo; num
disposicüo do seu interlocutor. sistema econòmico paradoxal, sai ganhando.
8-9 Paulo está consciente da sua autori- 18-19 Usando deveras ou fingindo a lin
dade apostólica para impor urna agáo con guagem comercial, Paulo está disposto a
creta, especialmente a um convertido seu pagar os prejuízos causados pelo escravo
(v. 19). Mas sabe renunciar a seus direitos fugitivo, já que desfrutou no cárcere de seus
M 633 CARTA A FILEMON
lui mi li deve alguma coisa, coloque pego. 22Outra coisa: prepara-me hospe-
mu iiiliilüi conia. |l)Assino com meu pu- dagem, pois, grabas a vossas oragóes,
mIih m Irli. i : eu, Paulo, te pagarei, para espero poder saudar-vos.
iitH ii ili/i i i|ue me deves tua pessoa. 23Saúdam -te Epafras, com panheiro
"'tiliii, ii inno, eu te suplico pelo Senhor: de prisáo por causa de Cristo Jesús,
«t¡i iiii inriis sentim entos cristáos. 24Marcos, A ristarco, Demas e Lucas.
‘11 a irvo-te confiando em tua dispo- 25A graga de nosso Senhor Jesús Cristo
nllillhl.iilr: sei que farás mais do que esteja com vosso espirito. Amém.
servidos. Embora a rigor Filemon, como que pego”. A propósito do tema, ver ICor
convertido de Paulo, seja mais devedor. 12,13; Gl 3,28; C1 3,11.
21 Talvez insinué a alforria, declarar li 23 Os cinco nomes figuram também em
berto o escravo. Isso seria fazer “mais do Colossenses.
CARTAAOS HEBREUS
INTRODUÇAO
Costumamos chamá-la “carta de Pau Os argumentos sao internos. Fallimi
lo aos Hebreus ”: os très componentes as referencias pessoais. A noticia mi
tém que ser revisados e corrigidos. bre Timoteo, depois da doxologia ( 11
23), é um pós-escrito am biguo;por ,sn,i
Carta vez, 2,3 indica que o autor receben .
evangelho p o r mediadores, contra n
M ais que carta, no estilo das outras, que afirma P aulo (Gl 1,1-11).
parece urna homilía pronunciada dian
te de ouvintes ou um escrito doutrinal
que interpela os leitores. Falta a intro-
Vocabulário
duçâo clàssica feita de saudaçâo, açâo A carta contém 168 termos que a/’n
de graças e súplica; o autor entra no recem só urna vez no N T (hapax le}’«i
assunto na prim eira frase. A saudaçâo mena), 292 palavras que nào figurata
fin a l é concisa e sem nomes próprios. ñas cartas paulinas, tem usos peculin
O tom e estilo sao elevados e solenes. res das conjungóes; o autor gosta do\
Emprega recursos da oratoria, como sao verbos em -izein, nào usa as transigine
as chamadas de atençâo (p. ex. 3,1.12), típicas de Paulo. A lingua grega é mai \
o adiantar o tema de cada seçâo (ver o pura e elegante que a de Paulo, como
comentário), o alternar entre singular se fosse a língua-máe do autor. O esti
e p lural na exortaçâo, trechos que pa- lo é sereno, expositivo, nào tem a pai
recem p edir urna declamaçâo entoada. xa o, movimentagào e espontaneidad<•
D ada a difusáo da retórica na época, dos escritos de Paulo. A lguns recursos
esses tragos combinant também com um de estilo, como paronomàsia e jogos de
escrito que está falando aos leitores. palavras, só funcionam em grego.
O uso da Escritura nào é táo dife
De Paulo rente do paulino: procedimentos rabíni
eos, argumentos da Escritura, desen-
J á na A ntigüidade se duvidou sobre volvimento midráxico, a relagáo entre
a autenticidade paulina, incluindo-a ou os dois testamentos etc. M as sua ma
nâo na série (listas e comentarios). Dian neira de introduzir e conceber a Escri
te do estilo táo diferente e para salvar tura é diferente: nào menciona os au
a autoria de Paulo, recorreram a vários tores humanos, coisa que Paulo fa z com
expedientes: ClementeAlexandrino dis freqüéncia; atribui diretamente a Deus
se que o original hebraico tinha sido ou ao E spirito qualquer palavra da
traduzido para o grego p o r Lucas; O rí Escritura, ao passo que Paulo o fa z só
genes disse que as idéias eram de P au com as pronunciadas no texto po r ele.
lo, a redaçâo de um secretario versado
na lingua e retórica gregas; Tertuliano Doutrina
diz que o autor era Barnabé (por ser
levita). Em resumo, a carta demorou a M uitos ensinamentos de Paulo estáo
impor-se como paulina, e as dúvidas enunciados ou implícitos na presente
ressurgiram no Renascim ento e termi- carta, tanto que o autor anónimo é co
naram em negaçâo p ela maioria dos locado entre os discípulos de Paulo.
críticos modernos. M as há pontos em que diferem. A con-
Mt m i il m i. Ai) 635 CARTAAOS HEBREUS
ila [<■ (cap. 11). A atitude pe- exortagào. Da sua altura intelectual, o
i ¡mil a lei, muito mais dura em Paulo autor contempla admiráveis e grandio
iÑlH I, /.'>; 7,7-13). Cristologia: detém- sas correspondencias. A primeira, en
*»■ nuils mi condigào de Cristo filho; tre instituigòes do A T e a nova econo
l'iinhi (usa a ressurreigào. Hebreus o mia cristá. A segunda medeia entre a
uhi corno pioneiro da salvagào realidade terrestre e a celeste, solda
J,i\ \eiis irmàos; Paulo o m ostra como das e harmonizadas pela ressurreigào
m ln \n ila Igreja. Segundo Hebreus, e glorificagào de Cristo.
t>khl no crii intercedendo; segundo P au O objetivo é cristolàgico, e o tema
la, esiti presente na sua Igreja. Falta central, provocado pela situagáo dos
iun llebreus o dualism o instinto (sarx)/ destinatários, é o sacerdocio de Jesús
I ipii ilo, característico de Paulo. Nào po- Cristo e o conseqüente culto cristáo. A
tli inos exagerar essas diferengas dou- nostalgia de urna complexa instituigáo
litimis nem extrapolar seu valor: nào e pràtica, o autor opde, nào urna dou-
lui eontradigào, sào aspectos com ple trina e outra pràtica, mas urna pessoa:
mentares, o tema tào unitàrio admite Jesús Cristo, Filho de Deus, irmáo dos
miiilnngas de perspectiva. homens. É o grande mediador, superior
< oncluindo, quem escreveu esta car a M oisés (3,1-6). É o sum o sacerdote,
iti tratado? Paulo, nào; um discípulo só com parável à figura excepcional e
tinónimo. Atribuí-la a Barnabé é urna misteriosa de M elquisedec; explica-o
Miposigüoprecipitada; atribuí-la a A po comentando o SI 110 e seu pano de fu n
lli, tirando argumentos d e A t 18,24s, é do, Gn 14. Jesus nào era da tribo levíti-
mostra de talento. ca nem agiu como sacerdote; sua mor
te nào teve nada de litúrgico. O autor
Destinatários rompe os esquem as e dá um sentido
novo, profundo e alto, à instituigáo sa
A tradigào disse “hebreus ”, ou seja, cerdotal. Jesús Cristo é m ediador de
judeus convertidos ao cristianismo. E urna alianga nova e melhor, anunciada
essa continua sendo a posigào mais em J r 31. Seu sacrificio é diferente: in
Iilausivel, apesar dos esforgos de al- sinuado no SI 40. O novo culto reflete
Kuns crítico s p a ra d em o n stra r que o modelo celeste.
tram pagàos convertidos. E verdade C om o conseqüéncia, a vida cristá
que ha na carta alusóes a pagàos: 3,12 adquire urna dim ensáo litúrgica, ao
“desertor do D eus vivo ”, o judeu nào unir-se o fie l a D eus e aos irmàos. A
o seria; 6,1 “obras m orías ” parece exem plo de Cristo. A exortagào fin a l
designar os ídolos. E sses dados nào insiste na fé e na constancia; a favor
pesam frente à quantidade de indicios dessa fé, que equivale a esperanga,
contrários. A carta cita e comenta con aduz como m odelos urna sèrie de per-
tinuamente oA T; ás vezes alude a tex sonagens.
tos que supóe conhecidos, e o perigo
que tenta conjurar é urna volta ao ju
daismo; chama “p a is ” os homens do
Data
A T (1,1); o “p o v o ” cujos pecados se A carta é anterior à destruigào do
expiam (2,17; 5,3; 7,27) é o judeu. Pon templo no ano 70 (cf. 10,1-3); Clem en
do como destinatários os judeus con te, p elo ano 95, a cita.
vertidos, o texto tem perfeito sentido.
Para que nào faltem as alternativas, Sinopse
algum comentarista propós como des
tinatários os judeus desejosos de con- D o u a q u i urna sin o p se b a sta n te
verter-se, mas indecisos. esquemática, que se irá particularizan
O discurso se con stró i doutrinal- do no comentário. O autor vai adian-
m ente e se desenvolve com singular tando o tema, simples ou duplo, de cada
conexáo, alternando exposigáo com nova segáo.
CARTA AOS HEBREUS 636 iN TR orii 'i
I) lililí) 'M ilitas vezes e de mui- dos pecados, sentou-se no céu à direita
I i i', lumias, Deus falou no passado
í liii','.os país por meio dos profetas.
da M ajestade; 4táo superior aos anjos,
quanto é mais excelente o título que
‘Ni , i . i d ap a final nos falou por meio herdou. 5Pois, a qual dos anjos disse al-
.1. mu fillio, a quem nomeou herdeiro gum a vez: Tu és o meu filho, eu hoje te
•li in. In, por quem criou o universo. 3Ele gereil E em outro lugar: Eu serei para
irllrxo de sua gloria, expressáo do ele um pai, ele será para mim um f i
¡•i ii mi, e tudo sustenta com sua pala- llio? 6Da m esma forma, quando intro-
*-i.i poderosa. Realizada a purificagao duz no mundo o primogènito, diz: Que
1,14 Breve exordio, solene, para intro- 7,25-26: “efluvio do poder... emanagáo pu
■Iii/ ii a figura do Filho de Deus (sem por rissima... reflexo da luz... espelho nítido”:
«millanto mencionar Jesus): sua agáo na todos intentos de expressar o inefável.
. i inicio e na redengáo, sua glorificagáo. O “Tudo sustenta” (C11,17): como conti-
jimíigrafo é ampio, bem construido e redi nuagáo da obra criadora. “Dá consistencia
mido com arte. ao universo”, diz Sb 1,7 da Sabedoria
I, I Do AT escolhe, como mais represen- como espirito; “deu-lhes consistència per
i.ilivos, “os profetas” (2Cr 36,15; Zc 1,4- pètua” (SI 148,6). “Purificagao dos peca
•>). preferindo-os intencionalmente à toral dos”: no Lv se fala de purificagao mate
I >,ido o enfoque da carta, é fácil entender rial (Lv 13) e do povo pecador (16,30);
1111c prefira a profecía à lei; mas dado o uso Ezequiel promete a segunda (Ez 36). A
que faz do Levítico, poderíamos supor que nova purificagáo se realiza pela morte (nao
pensa em tudo o que é profètico no AT. A mencionada). “Sentou-se”: citando pala-
quíntupla al iteratilo em p- acrescenta so- vras do SI 110,1, enuncia a glorificagáo
noridade e cadencia ao comego, que prepa- ou exaltagáo.
la por contraste o que se segue. 1.4 “Título”: é o valor do termo grego,
1.2 Sabe que vivemos na etapa definiti decalque do semítico: o que se segue o
va, aquela que os judeus esperavam como mostra. Um título expressa a condigáo ou
“o mundo vindouro”. Deus fala por meio o cargo. Este v. (recurso repetido nesta
de “um Filho” (sem artigo definido), de carta) anuncia o próximo tema, a compa-
alguém que é Filho; (recorde-se a parábo ragáo com os anjos.
la dos vinhateiros: o senhor envia servos,
depois o filho, o herdeiro, Mt 21,33-42). 1.5-2,16 Primeira parte: o Filho e os an
Invertendo a ordem, apresenta-o como jos. Sua gloria (1,5-14), sua humanidade (2,
mediador da criagáo e como herdeiro. 5-16), com urna exortagáo no meio (2,1-4).
Tudo foi “criado” pela palavra/Palavra, 1.5-14 Desenvolve o tema aduzindo pro
segundo Gn 1; SI 33,6 e Jo 1,3; pela Sabe- vas da Escritura, tomadas da versáo grega
doria, exprime outra concepgáo comple e lidas em chave messiànica (sem mencio
mentar (Sb 8,22-31 e paralelos). “Herdei nar ainda Jesús ou Cristo).
ro” universal, para tomar posse (cf. SI 2,8 1.5 “Filho”: SI 2,7, salmo messiànico em
e toda a concepgáo de Josué). sua origem ou na leitura posterior, bastante
1.3 Vários momentos desde sua origem citado no NT. Pai-Filho: 2Sm 7,7.14; da
e percorrendo o itineràrio histórico. Para profecía dinástica de Nata a Davi, fundamen
falar do mistério da sua origem e nature- tal na teologia da monarquia e do messia
za, emprega urna imagem do mundo da luz nismo posterior (SI 89,27-28; ICr 17,13).
e outra do artesanato que dá forma (C1 1.6 “Quando...”: discute-se a identifica-
1,15). Compare-se com as imagens de Sb gáo. a) Como fala do mundo “habitado”,
CA RTA AO S H EBR EU S 638 1,7
parece referir-se á morada dos homens, e Em resumo: aplicou a Jesús Cristo pri-
o “quando” se referiría á encamagáo (cf. vilégios que se predicam de Yhwh no AT,
SI 40,9, citado em Hb 10,7). b) Outros, referiu a ele textos lidos em chave mes
devido á homenagem angélica, pensam na siànica. Nada disso se pode dizer dos an
morada celeste (mas recordem-se os an jos, ou seja, dos seres celestes que formani
jos no Natal, Le 2,8-15). “Adorem”: ren- a corte a servigo de Deus.
dendo homenagem ao soberano; Dt 32,43
segundo a versáo grega; SI 96,7 e 97,7, 2,1-4 Breve exortagáo sob a forma de
referidos a Deus. conseqiiéncia. O pregador convida á aten-
1,7 “Ventos”: citagáo do SI 104,4 se gao e mais ainda ao cumprimento. Um#
gundo a versáo grega, quer dizer, mudan tradigáo rabínica dizia que Moisés tinhil
do as fungóes de sujeito e predicado (o recebido a lei por meio de anjos (Gl 3,1‘í),
original hebraico fala do poder cosmo e a leí continha numerosas cláusulas pe
lógico de Yhwh). *Ou: usa seus anjos co nais. A essa lei contrapóe a salvagáo que
mo ventos, seus ministros como chamas nós recebemos. O “Senhor” que comega II
de fogo. anunciá-la é Jesús (Me 1,15; Mt 4,17), o»
1,8-9 “Trono”: segundo a leitura grega que “ouviram” sáo os apóstalos e discípu
do discutido v. hebraico (o original é um los; Deus confirma a mensagem com mi
poema nupcial dirigido a um monarca lagros (Me 16,20; At 14,3; 15,8) e com o*
davídico no día de seu matrimonio, SI 45,6). dons do Espirito. Sem formular expressil
1,10-12 Tomado do SI 102, súplica na mente, apresenta a agào de Deus Pai, dn
qual o orante contrapóe a caducidade hu Filho e Senhor, do Espirito (Santo).
mana a perduracao divina. 2.5-16 Primeira mengáo do nome de Je
1.13 Do SI 110, texto favorito do NT e sus, quando passa a expor sua conditili
desta carta. humana. Se os anjos estáo a servigo dos lio
1.14 Anjos destinados por Deus ao ser- mens, um homem está acima deles: Jcsim,
vigo dos homens. Ver SI 91,11 (citado feito semelhante aos homens para salvfl
abusivamente por Satanás, Mt 4,6, impli los por sua morte e para ser glorificado
cado em Mt 4,11 par.); recorde-se a histo 2.5-9 O SI 8 diz que Deus fez o homritl
ria de Tobías e os anjos dos apocalipses. pouco inferior aos anjos (em hebraico, pon
•J.2 639 C ARTA AO S H EBREU S
■.rin subme ter. Agora, porém, ainda nào da mesma forma ele compartilhou, para
vemos que tudo lhe esteja submetido. anular, com sua morte, aquele que con-
'Ao contràrio, vem os Jesus, que pela trolava a morte, isto é, o Diabo, 15e para
I).iixào e morte foi um pouco inferior libertar os que passam a vida como es-
ios anjos, coreado de gloria e honra. cravos por medo da morte. 16Está claro
Assim, pela graga de Deus padeceu a que nao veio em auxilio dos anjos, mas
morte por todos. 10De fato, convinha da linhagem de Abraáo. 17Por isso de-
ipie Deus, por quem e para quem tudo via ser em tudo semelhante a seus irmáos,
iste, querendo conduzir muitos filhos para que pudesse ser um sumo sacer
,i glòria, levasse à perfeigao pelo sofri- dote compassivo e acreditado diante de
mcnto o pioneiro da sua salvacào.11Aque- Deus, para expiar os pecados do povo.
lc que consagra e os consagrados perten- 18Como ele próprio sofreu a prova, pode
i x ' i t i à mesma linhagem, e por isso nào ajudar os que sao provados.
so envergonha de cham à-los irmàos:
'A nunciarei teu nom e a meus irmàos,
no meio da assem bléia te louvarei. 13E
i.unbém: Pus nele minila confianga, eu
3 Jesús e Moisés — 1Portanto, irmáos
consagrados, participantes de uma
vocagáo celeste, considerai o apóstolo
i' os filhos que D eus m e deu. 14Como e sumo sacerdote de nossa confissáo,
■>s filhos compartilham carne e sangue, Jesús: 2fiel é quem o nomeou, como
■o inferior a um deus) e que lhe submeteu 2.16 Forma inclusáo com o v. 5. Cita-
ludo (no hebraico especifica o mundo ani gáo de Is 41,8-9.
mili). Tudo isso nao se cumpre em nenhum 2.17 Anuncia o tema da segáo seguinte:
Iminem, senáo em Jesús: algo inferior aos o título novo de sumo sacerdote e seus dois
iiijos pela sua paixáo, tudo lhe é submeti- atributos, acreditado (diante de Deus) e
■i' i pela glori íicagáo (Ef 1,20-22). “Pela gra- compassivo (com os homens). O título
■i de Deus”: em favor dos homens. anuncia também o tema central do sermáo.
2,10 “Conduzir à gloria” (SI 73,2). A 2.18 “A prova” inicial (Mt 4,1 par.) e a
i•lixao “torna perfeito” ou consumado o final da paixáo.
11111 padeceu livremente (cf. Jo 17,19).
2,10-15 Aspectos da “salvagáo” ou re- 3.1—4,14 A inclusáo por repetiqáo de
•li'ngao. Predomina o tema da solidarie- “sumo sacerdote” e “confissáo” define os
<l.ide, que toma a forma da irmandade, limites desta parte. Consta de breve expo-
pria qual nos torna filhos. O esquema do sigáo (3,1-6) e amplia sua exortagáo (3,7—
i" usamento pode-se formular assim: fa- 4,14). ^
i ndo-se homem, nos torna irmàos seus; 3,1 É o único caso em que se atribui a
■romo é o Filho, seus irmàos também sao Cristo o título de “apóstolo”; mas outras
111líos. A condigáo de filhos se opóe a vezes se diz em forma verbal que o Pai o
morte, controlada pelo Diabo. Aceitando enviou (Jo 10,36; 17,8). “Nossa confis
i morte, a nossa, vence o Diabo (Jo 12,31) sáo”: de fé e esperanza (4,14; 10,23).
i i morte (IC or 15,55), e assim nos livra 3.2-6 Desenvolve o tema “acreditado”,
«lo medo que escraviza. Pois a morte se fidedigno, por comparagáo com Moisés;
1111.irita na consciencia do homem e toma segundo a controvérsia com Aaráo e Ma-
i lumia do medo que escraviza. Vence a ria (Nm 12,6-8). “Casa” pode significar
morte, vence o medo, liberta o escravo também uma comunidade, p. ex. casa de
r . l .>.7). José, casa de Israel; na nova economía a
2.1 2-13 A primeira citaqáo é tomada da casa é a Igreja, “somos nós”. Pois bem,
" .io de gragas final de SI 22,22. As outras Moisés náo fundou a casa de Israel; foi
piofeta Isaías as pronuncia em momen- membro déla, “servo” e administrador fiel,
in di ficéis da sua missáo (8,17-18 segun- capaz de garantir a autenticidade da men-
i l o o grego). sagem de Deus que ele transmitía. Pode-
14 Le 11,21-22 par. sobre o forte e o ríamos acrescentar que transmitir desse
limi:, forte. modo a palavra de Deus era sua tarefa pri-
CA RTA A O S H EBREU S 640
M oisés entre todos os de stia casa. tra aquela geraqào, e disse: Sun m• ntt
3Mais digno de gloria que M oisés, as- sempre se extravia e nao reconlu , «
sim como é mais estim ado o constru- m eus caminhos. n Por isso, irai lo la
tor da casa. 4Toda casa é construida por rei: N ao entraráo em meu descaíivf|
alguém , m as o construtor de tudo é 12Cuidado, irmáos: Nenhum de vu‘, i,
Deus. 5E ntre todos os de sua casa, nha coragáo perverso e incrédulo >1«
Moisés era um servidor fiel para garan sertor do Deus vivo. 13Ao contríi....
tir o que Deus iria dizer. 6Cristo, ao anirhai-vos uns aos outros cada ih
contrario, como Filho, é o chefe da casa; enquanto soa este hoje, para que nm
e essa casa somos nós, se m antivermos guém se endurega, seduzido pelo pn .
a confianga e nos gloriarm os da espe do. 14Porque, se mantemos firmes h
ranza. fim nossa posigáo inicial, somos coutil
panheiros do Messias. 15Quando di/ \,
O dia e o descanso (SI 95,7-11) — hoje escutais sua voz, nao endurt\<iii
7Conseqüentem ente, como diz o Espi o coraqáo como quando o irritarían
rito Santo: Se hoje escutais a voz dele, 16quem, apesar de o ter ouvido, o ¡m
8nao endureqais o coraqao como quan- tou? Claro, todos os que saíram do I p
do o irritaram, no dia da prova no de to guiados por Moisés. 17Com quem m)
serto, 9quando vossos pais m epuseram indignou durante quarenta anos? C'l.i
á prova e m e tentaram, embora tives- ro, com os pecadores, cujos cadàvere»
sem visto m inhas agóes wdurante qua- caíram no deserto. 18A quem jurou qm
renta anos. Por isso m e indignei con- nao entrariam no seu descanso? Atei
mária de administrar a casa. Jesús, porém, pregador e dirigido aos cristaos. Para além
é “Filho”, fundador com Deus da nova casa do seu conteúdo específico, o texto iluslrn
e seu direto administrador. Como urna um modo vital de 1er e meditar o AT em
casa, graças aos materiais e sua disposi- chave crista.
çâo, mantém sua consistencia, assim nos- 3,7 Essa carta prefere citar com “diz
sa casa, se se apóia na confiança (em Deus) e nao com “está escrito”. Pela inspiragao,
e na esperança (do prémio). o salmo pode ser atribuido ao Espírilo
Santo; ademais, o fragmento citado do
3,4—4,13 A exortaçâo se desenvolve salmo nao é súplica do homem, e sim in
como comentário livre do SI 95,7-11, que terpelagáo do Espirito; possui carga pro
se refere ao episodio narrado em Nm 13- fética.
15. Os israelitas, convidados por Deus a 3.11 O “descanso” é no salmo a térra
entrar na terra e tomar posse, se acovardam, prometida (Js 22,4; 23,1). Chama-se tam
recusam e se rebelam; por isso sao conde bém “meu” descanso, porque o Senhor
nados a vagar pelo deserto até morrer, de acompanhou o povo em suas caminhadas
modo que só seus filhos entraráo na terra (Ex 33,14). Na concepgáo do Cronista, o
prometida. O tema do “repouso” atrai urna Senhor descansa quando se constrói o tem
referencia ao repouso de Deus depois da plo (lC r 28,2).
criaçâo (Gn 2,2), o que sublinha a dimen- 3.12 Parece-nos escutar Jeremías (p. ex.
sáo transcendente do fato narrado. 18,12). O título “Deus vivo” com freqüén-
A visao se articula em très ou quatro cia implica o oposto, os ídolos, deuses
tempos: o histórico de Nm 14, o litúrgico inertes.
do SI 95 quando os israelitas já habitam a 3.13 Olhar para o futuro. Implica que
terra, a entrada presente dos cristaos no para os cristaos o “hoje” continuará soan
Reino e — segundo alguns comentaristas do, com urgencia sempre atual, sem dege
— a entrada final no reino celeste. O “ho nerar na rotina cotidiana.
je” é urna data móvel, um conceito dispo- 3,17 Os “cadáveres”: caíram e nao fo-
nível. A experiéncia dos israelitas se torna ram sepultados (Nm 14,29.32, castigo du
exemplar (ICor 10,11), o convite do sal pío; ver por contraste Js 24,32 sobre os
mo se toma atual ao ser pronunciado pelo restos mortais de Josué).
641 CARTA AOS HEBREUS
.. in Mi '"c assim vemos que por sua mente citado: Se hoje escutais sua voz,
ini ii •liilul.uU- mìo puderam entrar. nao enduregais o coragáo. 8Se Josué lhes
tivesse dado o descanso, depois nao se
1 in 111.1111(>vigora a promessa de en- falaria de outro dia. 9Portanto, resta um
4 ii.ii « in seu descanso, sejam os pru- descanso sabático para o povo de Deus.
i. ni. . |Mia (|iie ninguém de v ó sse atra- 10AIguém que entrou em seu descanso,
... | ti 11s nos anunciaram a boa noticia, descansa de suas obras, da mesma for
. mimi <i (.'Ics. Mas, a m ensagem que ou- ma que Deus das suas. n Portanto, esfor-
• n ini ii.'io llies aproveitou, porque nào cemo-nos por entrar naquele descanso,
.. i iiinpcnetraram pela fé para com os para que ninguém caia, conforme o exem-
.(in luiliam ouvido. 3No descanso en- plo daquela rebeldía.
O hiiii >s lodos nós que eremos, como está ,2Pois a palavra de Deus é viva e efi
■lili i linci, irado, que nao entrarao em caz e mais cortante que espada de dois
mi li descanso. gumes; penetra até a sep a ra d o de alma
As obras, sem dúvida, foram concluí- e espirito, a r tic u la re s e medula, e dis
.l:c. com a c ria d o do mundo, 4como se cerne sentim entos e pensam entos do
■l i ntim texto sobre o sétimo dia: No coragáo. 13Náo há criatura oculta á vis
\t'iiino dia Deus descansou de todas as ta déla, tudo está nu e exposto a seus
m u í s obras; 5e neste outro: N ao entra olhos. A ela prestaremos contas.
t i l o no meu descanso. (’Ora, visto que
nljMins ficam sem entrar nele, e os que Je sú s, sum o sacerdote — l4Visto que
ici cberam por primeiro a boa noticia nao tem os um sumo sacerdote excelente,
i niraram por sua rebeldía, 7indica outro que penetrou no céu, Jesús, o Filho de
ilia, outro hoje, pronunciando milito de- Deus, mantenhamos nossa confissáo.
Imiis, por meio de Davi, o texto anterior- lsO sumo sacerdote que temos nao é
insensível á nossa fraqueza, já que foi si a honra de ser sumo sacerdote, nía-, i
provado com o nós em tudo, exceto no recebeu daquele que lhe disse: Tu o o
pecado. 16Portanto, comparecíamos com m eufilho, eu hoje te gerei; 6e em oulm
confianza diante do tribunal da graga, passagem: Tu és sacerdoteperpétuo n,i
para obter m isericordia e alcangar a linha de M elquisedec. 7D urante mi.i
graga de um auxilio oportuno. vida mortal dirigiu pedidos e súplic.i
com clamores e lágrimas, áquele qm
'Todo sum o sacerdote é escolhido podia livrá-lo da morte, e por essa prj
5 entre os homens e nom eado repre
sentante deles diante de Deus, para ofe-
caugáo* foi ouvido. 8Embora sendo li
lho, aprendeu sofrendo o que é obedo
recer dons e sacrificios pelos pecados. cer, 9e já consum ado* chegou a set
2Pode ser indulgente com ignorantes e causa de salvagáo eterna para todos ort !
extraviados, porque tam bém ele está que lhe obedecem , 10e Deus o procla
sujeito á fraqueza, 3e por causa déla tem mou sumo sacerdote na linha de Mcl
de oferecer por seus próprios pecados, quisedec.
da mesma form a que pelos do povo. 4E
ninguém se arroga tal dignidade se nao P erseverarla para alcanzar a pro
é chamado por Deus, com o Aaráo. 5Do m essa — “ Sobre este tema temos mui
mesmo modo, o M essias nao atribuiu a to a dizer, e é difícil explicá-lo, porqm
Icsus é para cristáos maduros, formados e sempre e nao se repetirá em beneficio dos
ntcntos, nao para preguigosos (Tg 1,19). que, uma vez aproveitada, a abandonarem.
(i tradicional a imagem do provar e sabo 6,4-5 Sao quatro os privilégios experi
rear a comida como símbolo de discerni mentados. A “iluminagáo” batismal (cf. Jo
mento. Is 7,15-16 diz do menino anuncia 10,32), o “gosto” ou experiencia do “dom
do que “comerá coalhada com mel até que celeste”, que pode ser o Espirito (dom
aprenda a rejeitar o mal e escolher o bem”; batismal segundo várias passagens de At),
quer dizer, a distinguir pelo sabor os bons “saborear” por experiencia pessoal a pala
alimentos, a distinguir pela idade os valo vra de Deus e seu dinamismo. O SI 34 men
res éticos. Falando de escolhas judiciosas, ciona a iluminagáo e o gosto (SI 34,6.9).
Ben Sirac afirma que “o paladar distingue 6,6 “Expor ao escárnio”: ver especial
os manjares” (Eclo 36,23). O autor apela mente Nm 25,4, referido a uma execugáo
para um “gosto” cristáo treinado para capital pública e aplicado pelo autor à
discernir e apreciar valores. crucifixáo.
6,7-8 O exemplo da terra tem sabor
6,1 Os rudimentos abrangem desde o sapiencial na apresentagáo. O tema é fre-
comego batismal até a consumagáo, alu- qüente (p. ex. Gn 3,8; Is 7,23; 10,17;
dindo a etapas intermédias. Quando se 27,4.11).
opóe a Deus vivo, “obras mortas” costu 6,9-12 Exortagáo à perseveranga até o
ma designar os ídolos (“obras de máos final. A salvagáo de que fala é a última e
humanas”), inertes. Como aqui falta o ad consumada, pois supóe as obras de cari-
jetivo “vivo”, as obras mortas poderiam dade praticadas até a data. As do passado
designar a conduta perversa do paganis náo se esqueceráo, mas náo justificam a
mo, obras que conduzem à morte. preguiga, porque as futuras estáo penden
6,4-8 Tem-se abusado desse texto para tes e a heranga náo está automaticamente
dizer que o pecador torna a crucificar Cris garantida. A confianga e o empenho se
to. Náo existe isto nem com ressalvas. O apóiam parcialmente na conduta passada.
que o autor afirma é que a economia da Mas náo é este seu ponto de apoio funda
paixáo redentora aconteceu uma vez para mental.
CARTA AOS HEBREUS 644
13Quando Deus fez urna prom essa a gáveis, nos quais Deus nao pode meii
A braào, corno näo tiv esse ninguém tir, tem os um consolo válido, nós <|i>>
m aior pelo qual jurar, jurou por si mes- buscam os refugio apegando-nos a <
mo, I4dizendo: Eu te abenqoarei, mul- peranga proposta. 19Ela é como ano mi
tiplicarei tua descendéncia. 15Abraäo firme e segura da alma, e penetra pam
teve paciencia e alcancou o prometido. além da cortina, 20onde nosso Jesin
16Os homens juram por alguém maior, entrou como precursor, nom eado sumo
e o juram ento confirm a e resolve qual- sacerdote perpétuo na linha de Melcim
quer discu ssäo . 17Da m esm a form a sedee.
Deus, querendo provar abundantemente
aos herdeiros da prom essa que sua de- ^ M e lq u is e d e c e Jesús Cristo (Gn
cisäo era irrevogável, interpös um ju / 14; SI 110,4) — 'Esse Melquisedecé
ramento. I8Assim, com dois atos irrevo- o rei de Salém, sacerdote do Deus Al
critura, sem necessidade de recorrer ao sa 7,13-14 Sobre as familias levíticas in
cerdocio dos pagaos. A exposigào é lùcida forma lC r 23-26. Sobre a tribo de Judá,
e basta acompanhá-la de alguns paralelos. veja-se Dt 33,10. Um ato cultual do rei é
7,1-2 Melqui-sedec = rei de justiga (ou considerado abuso em 2Cr 26.
Meu rei é Sedee). Outros textos atestam a 7.16 A vida indestrutivel começa com a
relagào de Sedee com Jerusalém (Jz 1,6; ressurreiçâo; por eia, seu sacerdocio é per
Is 1,21-26); o autor nào explora o dado. pètuo.
“Paz”: segundo etimologia popular, am 7.17 Sobre o fracasso da lei, ver Rm 7,7.
piamente explorada no AT. 7,20 Segundo a descriçâo de Ex 29.
7,3 Vejam-se algumas idéias sobre o 7.25 A intercessâo é funçâo sacerdotal.
Messias em Jo 7,27. Jesús intercede pelos que apelam a ele ao
7,5 Cf. a lei de Dt 14,22-27. dirigir-se a Deus: Jo 14,13-14; 16,23; e a
7,7 “O menor pelo maior”: como o Faraó chamada oraçâo sacerdotal (Jo 17); tam
pelo anciào Jacó (Gn 47,7.10). bém Rm 8,34.
7,10 Segundo as idéias fisiológicas da 7.26 Exaltado: Ef4,10.
época, o descendente “sai das entranhas” 7.27 Assim o dispóe o rito da expiaçâo
do pai e, por ele, do antepassado. (Lv 16,6.11). Jesus nào ofereceu urna viti-
CARTA AOS HEBREUS 646
como os outros sumos sacerdotes, ofe- res. 7Pois, se a prim eira tivessc ni.
recer sacrificios a cada dia, primeiro por irreprovável, nao haveria lugar patn «
seus pecados e depois pelos do povo; segunda. 8M as ele pronuncia unía n
pois isso ele o fez de urna vez para sem preensáo: Vede, chegaráo dias - o/J
pre, oferecendo-se a si mesmo. 28A lei culo do Senhor — em que farei uñin
nomeia sumos sacerdotes a homens fra- alianga nova com Israel e com
cos; o juram ento que substituí a lei no 9náo será como a alianga que fiz . um
meia para sem pre um Fillio perfeito. seus pais, quando os tornei pela /;/./■
para tirá-los do Egito; pois eles na<< ■
A n o v a a l i a n z a (Jr 31,31-34) — mantiveram em minha alianga, e en ;/</•
8 'Estou chegando ao ponto central de
minha exposigáo. Temos um Sumo Sa
me interessei p o r eles — diz o Senhm
— 10A ssim será a alianga que farei coni
cerdote que sentou no céu à direita do a Casa de Israel no futuro — o rd in i
trono da M ajestade, 2oficiante do san do Senhor: — Colocarei minha lei <tu
tuàrio e da tenda autèntica, armada pelo seu peito, a escreverei em seu coragàn',
Senhor e nao por homens. 3Todo sumo eu serei seu D eus e eles serào meli
sacerdote é nomeado para oferecer dons povo. 11Ninguém terá que instruir o sai
e sacrificios; portanto, também este ne próximo, ou o seu irmào, dizendo: </<
cessitava de algo para oferecer. 4Se es- ves conhecer o Senhor; porque todos,
tivesse na terra, nao seria sacerdote, já grandes e pequeños, me conhecer cui
que há outros que oferecem dons legal n Pois eu perdóo suas culpas e esquc
mente. 5Estes oficiam numa figura e go seus pecados. 13Ao dizer nova, de
sombra do celeste, com o diz o oráculo clara velha a primeira. E o que envc
que Moisés recebeu para fabricar a ten Ihece e fica antiquado està a ponto de
da: Atengáo, fa ze tudo conform e o m o desaparecer.
delo que te m ostraram neste monte.
6Ora, a ele cabe um ministério superior, 0 s a n t u à r i o — 'A primeira alian
já que é m ediador de urna alianga me-
lhor, instituida sobre promessas melho-
9 ga continha disposigóes sobre o cui
to e o santuàrio terrestre. 2Foi instalada
.... i i>i ninna tenda chamada O Santo, do urna tenda melhor e mais perfeita,
n i . |n 111 siavam o candelabro e a mesa nao feita por mao humana, isto é, nao
,1.. |mi ■.apresentados.3A trásdasegun- deste mundo criado, 12levando nao san
.......... lina eslava a tenda chamada O gue de bodes e bezerros, mas seu pro
.
i iiiii . .uno, ‘‘que continha o altar de prio sangue, entrou urna vez para sem
........... i arca da alianga, toda revestida pre no santuàrio e obteve o resgate
......... . que guardava urna jarra de ouro definitivo. 13Pois, se o sangue de bodes
........... a vara florescida de Aarao e de touros e a cinza de novilha asper
i ir. i.ilm a s da alianga. 5Sobre eia esta gida sobre os profanos os consagra com
tin i o s querubins da Gloria, fazendo um a pureza corporal, 14quanto m ais o
«anilina para a placa expiatoria. Nao é sangue de Cristo, que pelo Espirito eter
in i i ssario explicar agora com detalhes. no se ofereceu sem m ancha a Deus,
11lina vez instalado tudo, os sacerdotes purificará nossas consciencias de obras
. iiii.nn íreqüentemente na primeira ten- mortas, para que demos culto ao Deus
•l.i para ai oficiar. 7Na segunda entra vivo. 15Por isso, é mediador de uma alian
....m ulé o sumo sacerdote, urna vez por ga nova, para que, intervindo urna morte
mu i, com o sangue que oferece por si e que livra das transgressóes cometidas
Iii las inadvertencias do povo. 8Com is- durante a primeira alianga, os chamados
Nii. u Espirito Santo dá a entender que, possam receber a heranga eterna pro
i nquanto estiver em pé a prim eira ten- metida.
i la, nao estará aberto o acesso ao santuá- 16Onde há testamento deve acontecer
iiii ''Estes sao símbolos do tempo pre- a morte do testamenteiro, 17já que o tes
M iile: sao oferecidos dons e sacrificios tamento entra em vigor com a morte, e
une o oficiante nao pode consum ir; nao tem vigencia enquanto vive o testa
1 pois consistem em comida, bebida e menteiro. TsPor isso, tampouco a pri
alilugóes diversas; disposigóes hum a meira foi instituida sem sangue. 19Quan-
nas vigentes até o m omento da nova do M oisés terminou de recitar diante
ordem. do povo toda a lei, tomou sangue dos
“ Ao contràrio, Cristo, vindo como bezerros e dos bodes, com água, là pur
Sumo Sacerdote dos bens futuros, usan- púrea e um hissopo, e aspergiu o livro e
Icmplo de Jerusalém (p. ex. SI 15,1; 27,5; 9,11-14 Contrapóe o sacerdocio de Cris
(>1,5). Pela mesma razáo, fala de duas ten- to: os “bens futuros” sao os definitivos, a
das sucessivas, que correspondem ao atrio tenda “nao feita a mào” é seu corpo (cf. Jo
c ao camarim. O importante é o estatuto 2,19-21). A vítima é ele com seu sangue
da tenda = santuario: nao é acessível ao (Mt 26,28 par.), o santuario (ou o Santís
povo, é acessível aos sacerdotes, serve de simo, segundo outra leitura) é o céu, onde
passagem ao sumo sacerdote para ter ace- entrou uma só vez para sempre.
so ao camarim ou “santíssimo”, com gra 9.13 A “novilha”: segundo Nm 19,2-10.
ves limitagóes. Oficia um dia por ano, no 9.14 O Espirito é como o fogo que trans
dia da “expiagao”, e tem que repeti-lo cada forma e consagra (cf. Lv 9,24; IRs 18,38;
ano; expia pelos pecados do povo e tam- 2Cr 7,1; 2Mc 1,22; 2,1). As “obras mor
bém pelos seus. A tonda, mais que um aces tas”, como em 6,1.
so evidente, era urna barreira. 9,15-22 Retoma o tema da alianga, so-
9,6 A conclusáo das tarefas em Ex 40. brepondo o outro sentido da palavra gre-
9,9-10 Os ritos materiais do velho cul ga diatheke, “testamento” (ambas sao uma
to nao podem consagrar eficazmente: o disposigáo jurídica). Assim entra o tema
homem continua sendo pecador, nao tem da “heranga” condicionada à “morte do
acesso livre nem o procura. Tudo é ine testamenteiro” (também a alianga do Sinai
ficaz e provisorio (cf. C12,16-17). Vejam- prometía em heranga a terra). A lógica do
se algumas prescrigóes sobre contami- v. 18 nos resulta estranila, pois o sangue =
nagáo e pureza em Lv 11 e 15; Nm 19, morte do animal sacrificado, nào era a
1- 2 2 . morte do testamenteiro. Fica de pé a cor-
CARTA AOS HEBREUS 648
todo o povo, 20dizendo: Este é o san destino humano morrer uma vez i <I*
gue da alianga que o Senhor estabelece pois ser julgado, 28assim Cristo s e *»l •
convosco. 21Com o m esm o sangue as- receu uma vez para tirar os pecado i
pergiu a tenda e todos os utensilios do todos, e aparecerá uma segunda \ «
culto. 22Segundo a leí, quase tudo é pu sem relagáo com o pecado, para s a l \ a i
rificado com sangue, e sem derrama- os que o esperam.
mentó de sangue nao há perdáo.
'A Jei'é sombra dos bens futuro**
O sacrifìcio de C risto — 23Portanto, nao a còpia da realidade. Com
se as figuras do celeste sao purificadas os mesmos sacrificios oferecidos peí m
com tais ritos, o celeste usará sacrifi dicamente a cada ano, eia nunca po<l.
cios superiores. 24Pois bem, Cristo en- tornar perfeitos os que se aproximam
trou, nao num santuàrio feito por máos 2Pois, se os tivesse purificado definii i
humanas, còpia do autèntico, mas no vamente, os que prestam culto, ao r í a n
pròprio céu; e agora se apresenta dian ter consciència de pecado, teriam iv .
te de Deus em nosso favor. ^ N á o que sado de oferecè-los. 3Ao contràrio, com
tenha de se oferecer repetidas vezes, eles renova-se a cada ano a lembranca
como o sumo sacerdote que entra to dos pecados, 4já que o sangue de ton
dos os anos no santuario com sangue ros e de bodes nao pode perdoar peca
alheio; 26em tal caso deveria ter pade dos. 5Por isso diz ao entrar no muntici
cido várias vezes desde a criaqáo do Nao quiseste sacrificios nem oferendtis.
m undo. Agora, ao contràrio, no final m as m e form aste um corpo. 6N áo t<-
dos tempos, apareceu para destruir com agradaram holocaustos nem sacrificios
seu sacrificio os pecados. 27Como é expiatorios. 1Entáo en disse: A qui es
i ,, i mi /*.//</ cumpl ir, ó Deus, tua von- Exortaçâo — 19Pelo sangue de Jesús,
i i,l, i nino está escrito de mim no irmáos, temos livre acesso ao santuàrio,
i..... I'.....in o afirm a que nao quis 20pelo caminho novo e vivo que inau-
ii. ni llii .ij’iadaram oferendas, sacrifi gurou para nós através da cortina, ou
c i, In ili ii austos nem sacrificios expia- seja, de seu corpo. 21Temos um sacer
iiiiiii ( que sao ol'crecidos legalmente); dote ilustre encarregado da casa de
.li | 1 1 uicscen ta: aqui estou para Deus. 22Portanto, aproxim em o-nos de
. mui'i ii nm vontade. Exclui o primei- coraçâo sincero e cheios de fé, purifi
i.. |mi.1 eslabelecer o segundo. 10Pois, cados por dentro da má consciencia e
•. i.... do essa vontade, ficam os consa- lavados por fora com água pura. 23Man-
1.1 i.lo . pela oferta do corpo de Jesús tenhamos sem desvíos a confissáo de
i M.lo, u-iia unía vez para sempre. nossa esperança, pois aquele que pro-
11 lodo sacerdote se apresenta para meteu é fiel. 24Velemos uns pelos ou
iiIh i.ii cada dia e oferece muitas vezes tras, para nos estim ular ao amor e ás
........ sinos sacrificios, que nunca po- boas obras. 25Náo faltemos ás reunióes,
■li ni eliminar pecados. ' “Este, ao con- como fazem alguns; pelo contràrio, to
n .ino, depois de oferecer um único sa- memos tanto ànimo quanto mais pró
. 111 , sentou-se para sempre à direita
ic io ximo vedes o dia. 26De fato, se pecar-
il. Deus 13e aguarda q u e ponham seus mos deliberadamente, depois de receber
tniimgos com o estrado de seus pés. o conhecim ento da verdade, já nao res
" I’ois, com um único sacrificio levou ta outro sacrificio pelo pecado, 27e sim
ir, consagrados à perfeigáo definitiva. a espera angustiante de um julgam ento
1 I ambém o Espirito Santo no-lo teste- e o fogo devorador que consumirá os
iiinnha, pois diz primeiro: l6Esta é a rebeldes. 28Quem transgredía a lei de
iiluinqa que farei com eles no futuro — M oisés, pelo testem unho de duas ou
miit ido do Senhor: — colocarei mirillas très testem unhas era executado sem
la s ern seu peito e as escreverei em seu compaixáo. 29Que castigo m ais severo
i oraqáo. llEsquecerei seus pecados e merecerá quem pisotear o Filho de Deus,
delitos. I8Portanto, se sao perdoados, já profanar o sangue da aliança que o con
nao é necessària a oferta pelo pecado. sagra e ultrajar o E spirito da graça!
10,10 Recorda a fórmula eucaristica (Mt piatório... Levará seu sangue para tras da
.’(i,28 par.). cortina” (Lv 16,3.15).
10,12-13 Nova referencia ao SI 110. 10,20 “A cortina separará o Santo do
10,15-17 Segundo Jr 31,31. Santissimo” (Ex 26,33).
10.19-38 Terceira grande exortagao: tira 10,22 Alusáo batismal, no aspecto de
eonseqüéncias da segao precedente e deve purificaçâo (lPd 3,21). O banho de puri-
unir-se ás duas exortagoes anteriores (3,7- ficaçâo era um dos ritos prescritos aos sa
4,14 e 5,11-6,2). Ressoam os temas do cerdotes (Ex 30,18-21).
“acesso” e o sacerdote acreditado (3,6), a 10.26 A grave admoestaçâo sobre as
“casa” (3,2-6), a purificagào, a “confissào” conseqüencias funestas de nao corres
(4,14), a “esperanga” (3,6), a “constancia” ponder faz eco à de 6,4-8. “Deliberada
(6,11), “o amor e as boas obras” (6,10), a mente”, nao por inadvertência (cf. SI 19,
parusia. A exortagáo positiva, com a lem- 12-13). “Pecar” está no participio presen
branga de tempos exemplares, prolonga as te, indicando continuidade, persisténcia
frases breves de 6,9-11. voluntária.
10.19-25 Parte positiva: eonseqüéncias 10.27 O julgamento do fogo: Is 66,24;
para a conduta crista. Se nos abriram um “os rebeldes”: Nm 16,35.
caminho e um acesso, devemos percorré- 10.28 As testemunhas: Dt 17,6.
lo. Casa de Deus é agora a comunidade 10.29 “Pisotear”, gesto de sumo despre-
crista. zo, “teus executores, aqueles que te dizi-
10,19 “Assim entrará Aarào no santuà am: Deita-te, para que passemos por cima
rio: com um novilho para o sacrificio ex- de ti; e apresentaste tuas costas como um
CARTAAOS HEBREUS 650
chao batido, como urna rúa que serve de na mente do leitor, supondo que conhcyi
passagem aos transeúntes” (Is 51,23); tam os relatos bíblicos correspondentes. É pro
bém significa a perseguido extrema (SI vável que os ouvintes nao os conhecessem
7,6; 36,12). “Profanar o sagrado” é delito com a perspectiva da fé.
grave: para o sábado, a pena é de ex- O procedimento tem antecedentes no
comunháo (Ex 31,14); a alianza (MI 2,10); AT. Em versao reduzida, em Sb 10, que
outros textos em Lv 21. “Ultrajar”: prová- emprega como denominador comum a “sa
vel adaptad0 de Is 63,10. bedoria”, e omite os nomes como que de
10,30 C itad o de Dt 32,35 (segundo o safiando o leitor. Em versáo mais ampia
grego). A primeira parte diz duas coisas: está o elogio dos antepassados, para gló
que a vinganqa (justicia vindicativa) ele a ria de Deus (Eclo 44—50). Também o lei
reserva para si, que a executará (o hebraico tor moderno tem que enriquecer a série de
se refere aos inimigos). A segunda parte Hb 11 com a recordado ou o repasse dos
toma o verbo “julgar” no sentido estrito relatos bíblicos. Todos recebem um “tes
de julgar e condenar (o hebraico se refere temunho” de aprovado.
ao defender). 11,1 A definido da fé nao é táo clara
10,32-38 A exortado positiva apela para quanto se poderia esperar. Contém dois
a conduta exemplar, heroica, dos primei substantivos que admitem interpretad*1
ros tempos. O passado se invoca como objetiva ou subjetiva. Hypostasis é a ga
exemplo e estímulo do presente. “Ilumi rantia oferecida ou a confianza experimen
nados” pelo batismo e animados com a tada; elegxos é a prova da promessa ou a
esperanza do futuro. A citad o do AT com- esperanza suscitada. Por todo o contexto,
póe-se de Is 26,20 e llab 2,3-4. O primei- parece preferível a interpretado subjeti
ro é um texto escatológico que recomen- va, pois se trata de atitudes fundamentáis,
da refugiar-se enquanto passa o castigo, isto sim, provocadas e sustentadas por algo
esperando a libertado próxima. O autor objetivo, a saber, a promessa de Deus.
aplica o segundo á constancia, ao passo Resulta assim que a fé, da qual o autor fala,
que Paulo o aplica varias vezes á fé (Rm salvo no primeiro artigo, se parece mais
1,17; G1 3,11). com a esperanza.
O processo é lógico: precede urna pro
11, 1-40 Este ampio capítulo sobre a fé messa de Deus, o homem se fia nela (fé) e
contém: urna definido da fé, urna série de espera. Urna trad u d ° um tanto livre d a
personagens exemplares, com ou sem co d efinid0 P ° d e ser: a posse do que se es
mentario, urna série de situagóes genéri pera, a percepdo do que nao se vé. Nao
cas ou concretas. O sistema é do denomi se vé, porque é futuro; e segundo os he-
nador comum: a fé, entendida á maneira breus, o futuro fica as costas (cf. 2Cor
do autor, assemelha e reúne a todos. Ló 4,18). O “invisível”, nao manifestó, é aqui
gicamente, o procedimiento é algo re- o que nao existe ou o caos informe que
ducionista; embora os casos se enriquegam nao tem forma evidente.
651 CARTA AOS HEBREUS
i . .. I«. 1.1:11 .1 nprovagáo. 3Pela fé, com- como herariga; e partiu sem saber para
......... . mus (|iie o mundo foi formado onde ia. 9Pela fé, mudou-se como fo-
I» 11 |i lluvia de Deus, o visível a partir rasteiro para o país que lhe haviam pro
iln iiiv c.ivi'l. 'Pela fé, Abel ofereceu a metido e habitou em tendas com Isaac
I •. 11 mu sacrificio m elhor que o de e Jacó, herdeiros da mesma promessa.
1 mu | > •11 ela o declararam justo e Deus 10Pois esperava a cidade construida so
■i11111 v1ti 1 seus dons; por ela, em bora bre alicerces, cujo arquiteto e constru-
un Ht.i rontinua falando. 5Pela fé, Enoc tor é Deus. n Pela fé, tam bém Sara,
luí 11.111.ladado sem passar pela morte, embora de idade avanzada, recebeu vi
. ...... . encontraram porque Deus o ha- gor para conceber, pois pensou que era
1 i i levado; mas antes de seu translado, fiel aquele que o prometía. 12Assim, de
.I1-1 l.iiaram que havia agradado a Deus. um só, já morto para todos os efeitos,
’’i. ni le é impossível agradar. Quem se foi gerada uma m ultidáo como as es-
•i|n<i\una de Deus deve crer que ele trelas do céu e como a areia incontável
1 <e.ie c recompensa os que o procuram. das praias. 13Com essa fé, todos eles
I'rl.i le, Noé recebeu aviso do que ain- m orreram sem receber o prom etido,
11111.111 se via, e cauteloso construiu urna embora o vendo e o saudando de Ion-
.111 ;i para que sua familia se salvasse. ge, e confessando-se peregrinos e fo-
fui ela convenceu o mundo e obteve a rasteiros na térra. 14Os que assim pen-
Instiga que a fé proporciona. 8Pela fé, sam dem onstram que procuram uma
Aluaáo obedeceu ao chamado de par- pátria. 15Pois, se tivessem sentido sau
111 para o país que haveria de receber dade da que abandonaram, poderiam ter
11.3 Ao comegar pela criacáo, nao pode 11,8-17 Ao chegar a Abraáo, o autor se
npruscntar nenhum personagem protago- detém e escolhe varios episodios (é perso
nista: o sujeito somos nós. Junto a afirma- nagem favorito também de Paulo, cf. Rm
gao de Paulo, a respeito do conhecimento 4). O chamado para um destino desconhe-
1I0 Criador pelas criaturas (Rm 1,20; cf. Sb cido, abandonando a pátria (Gn 12). O fiar
I U-5), o autor fala de um conhecimento se em Deus, que lhe prometia descendén-
pela fé, nao tanto do Criador, mas do fato cianumerosa (Gn 15e 17).Agrande prova
da criagáo pela palavra (SI 33,6). Refere- do sacrificio de Isaac, que consistiu em
sc a G11 1, recebido e aceito com fé. obedecer sem perder a esperanga (Gn 22).
11.4 Sobre Abel segue a tradigáo rabíni- Aos episodios acrescenta uma reflexáo
ca mais que o texto de Gn 4. Abel morto “fa teológica, centrada na vitória sobre a morte.
la” com seu sangue, que “clama ao céu” A fé = esperanga de Abraáo atinge mais além
(cf. Hb 12,24; Jó 16,18). Deus mesmo é “tes- da morte. Morta está a capacidade generativa
temunha” da inocencia 011 justiga de Abel. sua e a de Sara, à morte está destinado o
11,5-6 Segundo Gn 5,24; mas substituin- herdeiro legítimo, morrem todos antes de
do o verbo “arrebatar, assumir”, por “trans- alcangar o destino. A razáo é que este é ce
ladar” a outro lugar ou situagáo. A ele se leste e futuro, e todos eles caminham como
referem Eclo 44,16 e 49,14; a ele alude Sb “peregrinos e forasteiros” rumo à pátria,
4,10 com “agradou”. O autor tira a fé por que é uma cidade construida por Deus (nao
dedugáo. Aquele que “se aproxima” ou, é Jerusalém, cf. Is 54,11-12; Tb 13,17-18).
formalmente, deseja aproximar-se. Propóe 11.12 A multidáo prometida em Gn 15
a existencia de Deus como objeto da fé. (cf. Is 51,1-2).
11,7 Gn 6 nada diz da fé que Noé tem, 11.13 A fé = esperanga permite “divisar
e muito menos que por ela alcangou a jus- e saudar” de longe, como a uma cidade
tiga (a grande doutrina de Paulo). O au altaneira. Pode ressoar aqui a experiencia
tor o deduz de que Noé confiou no anun de uma peregrinagáo a Jerusalém, proje-
cio de Deus, obedeceu-lhe e tomou suas tada sobre a celeste.
“precaugóes”. “Convenceu” ou condenou 11,15 Para Isaac, ver Gn 24,6.8; para
o mundo, que pereceu por nao confiar no Jacó, todo o ciclo de sua peregrinagáo á casa
anúncio. de Labáo e de sua volta.
CARTA AOS HEBREUS 652 lli»
voltado para là. 16Pelo contràrio, aspi lho da filha do Faraó, 25e ao invc\ <l<|
rarti a urna melhor, isto é, a urna celeste. desfrute efémero do pecado, prcli im
Por isso, Deus nào se envergonha de se ser m altratado com o povo de De n»
cham ar seu Deus, pois lhes havia pre 26pensando que a ofensa do Unv.M'
parado urna cidade. 17Pela fé, Abraào, valia mais que os tesouros do Egiin •
submetido à prova, ofereceu Isaac, seu com os olhos fixos na recompensa. i1■
filho ùn ic o ,1 aquele do qual lhe haviam la fé, abandonou o Egito sem tem a n
feito esta promessa: Isaac continuará cólera do rei, pois se agarrava ao invi
tua descendencia; 19pois pensou que sível como se fosse visível. 28Pel;i l<
D eus tem poder para ressuscitar da celebrou a Páscoa e aspergiu com san
morte. E assim o recuperou como um gue, para que o exterm inador nao lo
simbolo. 20Pela fé, Isaac abengoou o casse seus primogénitos. 29Pela fé, ai i .1
futuro de Jacó e Esaú. Pela fé, Jacó vessaram o m ar Vermelho como p<n
m oribundo abengoou os filhos de José térra firme, enquanto os egipcios, ;m
21e se prostrou, apoiando-se na ponta tentá-lo, se afogaram. 30Pela fé, a mu
do bastào. 22Pela fé, José, no firn da ralha de Jericó, após ser rodeada du
vida, evocou o éxodo dos israelitas e rante sete dias, desmoronou. 31Pela te
deu instrugóes a respeito de seus ossos. a prostituta Raab acolheu amistosamen
23Pela fé, quando nasceu Moisés, seus te os espióes, e nao morreu com os re
pais o ocultaram por très meses, vendo beldes.
que era um menino bonito, e sem te 320 que resta dizer? Falta-me tempe
mer o decreto reai. 24Pela fé, Moisés, para contar a historia de Gedeáo, Barac
já crescido, renunciou ao título de fi- Sansáo, J^fté, Davi, Samuel e os pro
ve de ponte, e Davi, cabega de dinastía (sal- a retribuigáo náo se dava plenamente nes-
la-se Saúl). ta vida.
11,33-38 A lista que vem a seguir com-
poe-se de faganhas heroicas ou sofrimen- 12,1-4 Tira as conseqüéncias para a con-
los suportados com inteireza, tudo anima duta cristá, em metáfora desportiva: é pre
do pela fé e esperanga. Alguns se podem ciso despojar-se de cargas e desfazer-se de
identificar com passagens do AT, outros impedimentos para “correr a corrida” com
se podem ilustrar, outros ficam disponí- suas provas; é preciso armar-se de “cons-
veis. Aponto alguns mais notáveis. táncia” para chegar á meta. A “nuvem”
11.33 Leóes: Sansáo (Jz 14,18), Davi variada de testemunhas contrapóe-se o
(ISm 17,34-35), Banaías (2Sm 23,20), exemplo supremo de Jesús, que iniciou e
Daniel (Dn 6,23). consumou sua carreira, superando todas as
11.34 “Fogo”: os tres jovens (Dn 3,23- provas. Compare-se essa síntese de pai-
25). “Restabeleceram-se”: Ezequias (Is 37). xáo e gloria com o hiño de F1 2,6-11.
11.35 “Ressuscitados”: a fé é dos tau 12,5-13 Explicou as penalidades, como
maturgos Elias e Eliseu (IRs 17,49-51; esforgo esportivo para alcangar a meta.
2Rs 4,36). “Torturados”: os sete irmáos Como imitagáo de Jesús que comega e ar
(2Mc 7) com a esperanga explícita de res- remata, sofre e triunfa. Agora aplica o mo
suscitar. delo da educagáo paterna, severa e afetuo-
11.36 “Agoites e prisáo”: Jeremías (Jr sa. O ponto de partida da comparagáo é
37,15-16). sapiencial: musar é termo freqüente, qu
11.37 “Serrados”: Isaías, segundo a pode significar educagáo em geral, e err
lenda. particular castigo, adverténcia, corregáo
11,39-40 Inclusáo com o v. 2. Deus adia- “Filho sensato aceita a corregáo paterna”
va o cumprimento de tantas esperangas (Pr 13,1; 22,15 menciona a “vara da cor
para que se realizassem incluindo numa regáo”). Veja-se o programa severo que
grande unidade também os cristáos. O au Eclo 30,1-13 propóe. Daí se sobe á des-
tor quer dizer, contra crengas antigas, que crigáo de Deus como Pai que educa aus-
CARTA AOS HEBREUS 654
8Se nao vos castigam como aos outros, 18Vós nao vos aproxim astes de mu
é porque sois bastardos e nao filhos. fogo ardente e palpável, da escurid.m
9Mais ainda: respeitávamos nossos pais treva e tempestade, 19do toque de trom
corporais que nos castigavam; nao de- betas e de uma voz falando que, ao un
vemos submeter-nos ainda mais ao Pai vi-la, pediam que nào continuasse. 20N.u i
dos espíritos para termos vida? 10Aque- podiam suportar aquela ordem: Aquel,
les nos educavam por breve tempo, co que tocar o monte, ainda que seja um
mo julgavam conveniente; este, para o animal, será apedrejado. 21Táo terrívcl
nosso bem, para que participemos de era o espetáculo, que M oisés comen
sua santidade. “ N enhum a corregáo, tou: Estou tremendo de medo. 22Vos
quando aplicada, é agradável, mas dói; ao contràrio, vos aproxim astes de Si n •
porém, mais tarde produz frutos de paz monte e cidade do Deus vivo, da Jern
e de justiga para os que nela se exerci- salém celeste com seus m ilhares de an
taram. 12Portanto, fortalecei os bragos jos, da c o n g re g a lo 23e assembléia do-,
enfraquecidos, robustecei os joelhos primogénitos inscritos no céu, de Deus,
vacilantes, l3aplainai os cam inhospara juiz de todos, dos espíritos dos justos
vossos pés, de modo que a perna coxa que chegaram à perfeigáo; 24de Jesús,
nao se desconjunte, mas se cure. mediador da nova alianga; de um san
gue aspergido que grita m ais forte que
A graga de Deus — 14Procurai a paz o de Abel. Atengào: nào rejeiteis aqui
com todos e a santificagáo, sem a qual le que fala. Pois se aqueles, rejeitando
ninguém pode ver Deus. 15Vigiai para a quem pronunciava oráculos na terra,
que ninguém se prive da graga de Deus, nào escaparam, muito m enos nós, se
para que nenhuma raiz amarga cresga nos afastarmos daquele que fala a par
e prejudique e contagie os outros. 16Náo tir do céu. 26Se naquela ocasiào sua vo/
haja dissolutos e profanadores como fez trem er a terra, agora proclama o
Esaú, que por urna refeigáo vendeu seus seguinte: Outra vez farei tremer a ter
direitos de primogénito. 17Sabeis que r a e o céu. 27Ao dizer outra vez, mostra
mais tarde, quando tentou recuperar a que se mudará aquele que treme como
béngáo testam entária, foi desqualifi- criatura, para que permaneva aquele que
cado, e, em bora o pedisse com lágri é inabalável. 8Assim, ao receber um
mas, nao conseguiu m udar a decisáo. reino inabalável, sejamos agradecidos,
*h» tifili ' ii I Vus conio lhe agrada, corti Deus julgará fornicadores e adúlteros.
n n|ii tini n vi rència,29p o isnossoD eus 5Sede desinteressados em vossa condu-
imi li ii'i i (levorador. ta e contentai-vos com o que tendes; pois
ele disse: Nao te deixarei nem te aban
Ì l'A orta^ào — ‘Que o amor fra- donará. 6Por isso, podemos dizer con
1
i|iii .
li ino scja duradouro. 2Nào es-
i iiim i liospitalidade, pela qual alguns,
fiantes: O Senhor me auxilia e nao temo:
que poderá fazer-m e um homem ?
«fin n ilici, hospedaram anjos. 3Lem- 7Recordai vossos guias, que vos trans
Imhi vi is dos presos, corno se estivésseis mitirán! a palavra de Deus; observan
Hipni i’i coni eles; dos maltratados, pois do o desenlace de sua vida, imitai sua
»ii'i lumbcm tendes um corpo. 40 matri- fé. 8Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje
iiiiImio scja respeitado por todos, e o lei- e sempre. 9Náo vos deixeis levar por
in niiiii imonial esteja sem mancha, pois doutrinas diferentes e estranhas.
INTRODUÇAO
\uloi c destinatários 2,1 e 5,7); mas contém assuntos bem
cristáos como a debatida questao da
i 1 . abegallto desta caria, ou escrito, relaqáo fé e obras (2,14-26; cf. G l 3 e
m. a, u '/ni o remetente e os destinatários. Rm 4), a regeneraqáo p ela palavral
1 1 1 h uni ■Hago pode corresponder a très m ensagem (1,18), a lei da liberdade
/«i mi i/iiigens conhecidas no NT: os dois (1,25; 2,12).
ií/i. ishitos desse nome, o maior e o me-
ii.'/ r a “irmáo do Senhor”. Embora Género
iii ii-\i ente o título ilustre “servo de
Hi h s c do Senhor Jesús Cristo", o sdois C ostum am os chamá-la carta, ainda
/•i mu iros sao de todo improváveis. De que de carta tenha bem pouco: uma bre
Im w , o irm áo do Senhor, fa la m Gl ve saudaqao m uito pouco convencio
l , í ‘>, 2,9.12; A t 12,7; 15,13; 21,18; nal. Tampouco é uma homilía ou um
l( ni 15,7 (?); um irmáo de Jesús, M e tratado. Parece mais um escrito sapien
o. ¡. Mt 13,55. Personalidade destaca cial doA T: mais com as breves instru-
dla. d i efe de judeu-cristáos, que regeu qóes tem áticas do Eclesiástico do que
,i igreja de Jerusalém e defendeu urna com uma série de refráos e aforismos
Imita conservadora no referente a ob- de P r 10-29.
\erváncias legáis. O texto épródigo em imperativos: 54
Pelo tema e modo de ensillar, a carta em 108 versículos. Sao im perativos
hi'in que conviria a personagem táo sapienciais, de conselho e nao de m an
autorizada. O pôe-se a linguagem e o dato; p o r isso bem diversos p. ex. do
estilo helenístico — afora alguns se sermao da montanha, “eu porém vos
mitismos — com suas aliteraçôes, p a digo ”. As freqüentesperguntas animam
rimomásias, diatribe. A isto se respon- e personalizam a exposiqáo, mantém a
ile que p o d e ter tido urna form a çâ o atenqáo, aproximam o leitor do mes-
especial ou ter-se valido de um secre tre. As instruqóes sáo de tipo ético. Um
tario, ou que interveio um compilador parágrafo breve e substancioso (3,13-
redator. M uitos comentaristas pensant 18) é dedicado a identificar e exaltar
hoje que a obra é pseudónima. a sabedoria ou sensatez (sophia) au
As doze tribos na dispersâo parecem téntica. Com o é freqüente no género
à prim eira vista a diáspora judaica do sapiencial, o autor multiplica suas ima-
AT; mas a referencia natural ao Senhor gens; as vezes as acumula sem desen-
Jésus Cristo obriga a identifcá-las com volvé-las.
as igrejas difundidas pela A sia e pela Temas e fórm ulas tém sido compara
Europa. O número doze indica totali- dos com diversos escritos: com os evan-
dade, a palavra “trib o s” é a sucessâo gelhos, as cartas do NT, textos hele
do novo Israel, a “dispersâo ” é a ex- nísticos, judaicos, intertestamentários,
pansâo crescente. Objetou-se que o es escritos de Qumrá; traqaram-se listas
crito tem pouco de cristâo e até existe de correspondencias e coincidencias.
urna hipótese de que se trate de uma Tal volum e de paralelos prova a exis
composiqâo judaica superficialm ente tencia de um substrato doutrinal co
adaptada p a ra uso cristâo. O texto mían, ao qual toda pessoa tinha aces-
menciona Jesús Cristo très vezes (1,1; so. Contudo, a relaqáo com a prim eira
CARTA DE TIAGO 658 INTRODt l<M 1
carta de Pedro é evidente: a dispersño Sinopse
(1,1 e lP d 1,1); as provagóes pela fé
(l,2 s e lP d 1,6); a regeneragáo pela M ais que “vista de conjunto ”, .. ij
palavra (1,18 e lP d 1,23); a guerra das preciso chamá-la simples lista de a niii
paixóes (4,1 e lP d 2,11); a citagáo de (alguns quiseram contar doze unida,I, i,
Pr 3,34 (4,6 e lP d 5,5); o convite a re segundo o número das tribos).
sistir (4,10 e lP d 5,9). 1,1 Saudagáo.
U nidade? N ao se deve buscar uni- 1, 2-8
dade numa serie livre de instrugóes; + 12-18 Provagóes, paciencia c sci J
embora alguns tenham tentado redu- satez.
zir o texto ao esquema do SI 12. O mais 1,19-27 Falar e escutar, esculm .
que p o dem os observar é a p referen executar, rezar menos c|>i i
cia p o r alguns temas: ricos e pobres, ticar a beneficencia.
o uso da língua. A o segundo se re- 2.1-13 Parcialidade entre rico'. 4
duzem vários, com o verem os na si- pobres.
nopse. 2,14-26 Fé e boas obras.
3.1-12 Dominio da língua.
Data 3,13-18 Sabedoria auténtica.
4.1-10 Raízes das discordias: co
A maioria dos autores a datam do f i biga, inveja.
nal do séc. I; m as houve alguns que a 4,11-12 M aledicencia e julgar n
dataram antes do concilio de Jerusa- próximo.
lém (49) e consideraram prepaulina a 4,12-5,6 Ricos satisfeitos e expío
discussao sobre fé e obras. Essa data- radores.
gáo goza de pouco crédito. 5,7-20 Paciéncia e oragáo.
r
>
CARTA DE TIAGO
■ ' I iii|Mi. m i vi) de Deus e do Senhor íntegros, sem nenhuma deficiencia. 5Se
I l, i r , ( iislo, saúda as doze tribos alguém de vós nao tem sensatez, pega
IH ili 'I'I I’mIO. a Deus, que dá a todos generosamente
sem recrim in ad o , e lhe será concedi
Ci*) IPiiri» »• sensatez — 2M eus irmàos, da. 6Mas, que pega confiante e sem du-
.....li 11< motivo de grande alegria o vidar. Quem duvida é sem elhante as
-i uh , '.ubmetidos a múltiplas provas, ondas do mar sacudidas pelo vento. 7Náo
|.,ii •„ibeis que, ao ser provada, a fé espere esse homem obter nada do Se
¡limili/ paciencia, 4a paciencia torna a nhor: 8homem dividido, instável em to
..Iii.i |iri (cita, e assim sereis perfeitos e dos os seus caminhos.
P o b res e ricos — 90 irmáo humilde se Deus nao é tentado pelo mal, e ele iiumI
glorie de sua exaltacáo, 10e o rico glo- tenta ninguém . 14Cada um é tcni.ni'
rie-se de sua humildade, pois passará pelo próprio desejo que o arrasta c
como flor do campo. u A o sair o sol duz. Depois, o desejo concebe c <l<t i
abrasador, a reiva seca, a flor murcha e luz um pecado, o pecado am aduro < i
seu asp ecto atraente perece. A ssim gera morte. 16Náo vos enganeis, ninn
m urchará o rico em seus negocios. queridos irmáos: I7toda dádiva bou t
todo dom perfeito descem do céu, K
A p ro v a — 12Feliz o homem que su Pai dos astros, nao sujeito a fases m-iii
porta a prova, porque, ao superá-la, re- períodos obscuros. 18Porque quis, <I,
ceberá a coroa da vida que o Senhor nos gerou com a mensagem da veril.i
prom eteu aos que o amam. 13Ninguém de, para que fóssemos como primiYi.1
na tentagáo diga que Deus o tenta, pois da criagáo.
na ora$áo: p. ex. Eclo 39,1-8 combina os 1,12 A provagáo está ordenada ao prf
dois caminhos de aquisiqao; Sb 8,21-9,18 mió ou “coroa” (Ap 2,10), por isso é umit
insiste na peti§áo (já Salomáo teve que bem-aventuran§a. Mas suportar a prov.i
pedir “prudéncia” para governar, IRs 3). qáo é um ato ou urna prova de que o ho
Deus dá generosamente, é o doador por mem “ama” a Deus.
excelencia. Sobre as condigóes da oragáo 1,14-15 Nova série de efeitos conc;i
voltará a falar no final da carta (5,16-18). tenados, desta vez na imagem, quase ale
Para a comparagáo marinha, ver Is 57,20. goria, da geragáo. A imagem procura ex
“Dividido”: em grego “de alma dupla”; o pressar urna espécie de dialética vital r
hebraico diria “coragáo e coragáo”. Mui- fatal. Emprega o “desejo”, que em grego
tos salmos de súplica, expressáo da pieda- é feminino, como mulher que “seduz e ai
de de Israel, dáo prova da confianza do rasta”. Quando o homem cede ao desejo,
orante: ou mencionando-a expressamen- concebe e dá á luz o pecado como execu
te, ou adiantando a a§áo de grabas pelo gao. O pecado (feminino em grego) ama
dom que certamente receberá. durece e gera fatalmente a morte. Compa
1,9-11 O tema dos pobres e ricos se pro re-se com os esquemas de SI 7,15 e Jó
longa em 2,1-9 e retorna em 5,1-6. Opóe a 15,35. E doutrina tradicional que o peca
exaltacáo (sem conotagáo celeste) de ser do acarreta a morte: Ez 18 o expóe em ter
cristáo (lP d 2,9-10) á humildade de reco- mos individuáis.
nhecer-se homem caduco em si e em seus 1,16-18 O título Pai dos astros é sur-
empreendimentos (cf. Jr 9,24-25; Is 40,6- preendente. E normal: Senhor dos Exér-
7; Eclo 43,4). Note-se a assimetria dos citos (estelares); SI 90,2 diz que o uni
opostos: o pobre se sublima no plano so verso foi “gerado”. Pai tem aqui um
brenatural, o rico permanece no plano na sentido fraco, de autor ou causa. Os as
tural. Nao é exatamente a oposi§3o simé tros tém fases de obscuridade. “Que há
trica das bem-aventurangas de Lucas (Le mais brilhante que o sol? Pois também
6,20-26). A imagem vegetal é corrente. tem eclipses” (Eclo 17,31). Deus nao tem
1,12-15 Em grego, a mesma palavra fases de obscuridade, por isso pode en
significa provacáo e tentagáo, segundo a viar sempre sua luz benéfica. A imagem
¡ntengáo positiva ou negativa. Deus nao do “nascimento” do pecado e da morte
se deixa tentar pelo mal ou pelos maus, se contrapóe o símbolo positivo, em que
como se mostrou no deserto (p. ex. SI 78, é Deus quem gera filhos, ou quem os ado
18.41.56; 106,14). Tampouco tenta, pois ta (cf. SI 2,7), pela pregagáo do evan-
nao induz ao mal (casos como 2Sm 24,1 gelho (lJo 3,1). “Primicias da criagao”
ou IRs 22,19-23 devem ser tratados á par faz lembrar Pr 8,22 em grego. Pois bem,
te). Sobre a origem do pecado disserta Eclo se somos seus filhos, ele nos concederá
15,11-20: o pecado nao procede de Deus, “coisas boas”, como diz Le 11,12 par.
e sim da liberdade do homem frente ao Soou a palavra “mensagem” e retornará
bem e ao mal. para ser completada.
661 CARTA DE TIAGO
I Mitili fiilin «■c u m p rir— 19Meus que considera atentamente a lei perfeita, a
lli»«* luimos, |.i estáis instruidos. Con- de hom ens livres, e se mantém, nao co
iiiiln i | hi caila um seja ràpido para m o ouvinte que esquece, mas como
Melimi. Irnlo para fatar, lento para irar- executor da obra, será feliz em sua ati-
>. *"|'oin ii uà do homem nào promove vidade.
i limili,ii di' Deus. 2lPortanto, despoja- 26Se alguém se considera religioso
iIh- di qualquer m ancha e de qualquer porque nao controla a língua, engana a
n.*llnin de inaldade, recebei com man- si m esm o, e sua religiosidade é vazia.
■lilAii ii Niensagem plantada em vós, que 27Religiáo pura e irrepreensível aos olhos
il i ii|ni/ de vos salvar a vida. 22Sede exe- de Deus Pai consiste em cuidar de ór-
i i i l n n d a niensagem e nào somente fáos e viúvas em suas necessidades e em
iiiivlnlrs que se iludem. 23Pois, se al- nao deixar-se contaminar pelo mundo.
^iirm c ouvinte e nào executor, se pa
li >r i m u quem olhava o rosto no espe P a rc ¡a lid a d e — 'M eus irmáos, que
llili 'observou, foi embora e logo se
Mi|ii<Teu de corno era. 25A quele que
2 vossa fé em nosso glorioso Senhor
Jesús Cristo nao esteja unida a favori-
iimluz em obras nao é auténtica (como a menos. Se o uso da língua é táo ambiguo e
ilus demonios), “está morta”. perigoso, no mestre o daño é mais grave.
2,15 Ver a instrugáo de Pr 3,27-28 em 3.1 Entende-se o oficio de mestre na
■.cu contexto. respectiva comunidade. Entre os carismas
2.18 Comparar com G1 5,6. Paulo registra o de falar (ICor 12,8) e en
2.19 Sobre a confissáo dos demonios, tre os oficios indica também o de mestres.
ver Mt 8,29 e paralelos. 3.2 Diz o Eclesiástico: “Feliz o homem
2,23 “Amigo de Deus”: segundo a ex- a quem as palavras nao afligem” (Eclo
pressáo de Is 41,8; 2Cor 20,7; título es- 14,1); e também: “quem nao pecou com a
lendido a outros em Sb 7,27. língua?” (Eclo 19,16).
2,26 O alentó é vida do corpo e a mani- 3.5 Pode ser reminiscéncia do SI 12: “A
festa. As obras do cristáo manifestam sua língua é nossa força, nossos lábios nos
lé e a mantém viva. defendem, quem será nosso patráo?
3.6 A imagem da faísca o leva a urna
3,1-12 A instrugáo sobre o uso correto visâo mais trágica do fogo. Na teoría dos
da língua comega pelo tema do ensinamen- quatro elementos, os antigos diziam que o
to, que é um caso particular, especialmen fogo é ascendente, porque sua esfera é o
te comprometido. O autor sapiencial do em -píreo (pyr = fogo).
NT prolonga urna tradigáo do AT. Entre Tiago imagina, antes, um fogo subter
os sapienciais, ninguém como Ben Sirac ráneo, abissal, do mundo dos mortos. Tai-
se mostra táo consciente de sua nobre e vez pense no castigo de Coré, misturando
exigente fungáo de mestre, ninguém dedi os dados (Nm 16,31-35); ou no final de
ca tanto espago a tratar sobre o uso da lín- Isaías (66,24). O tema “infernal” se pro
gua (Eclo 19,4-17; 23,7-15; 28,13-23; tam longa na mengáo do Diabo em 3,15 e 4,7.
bém Pr 13,3; 15 etc.). Pois bem, o mestre Lemos em Pr 16,27: “O homem depra
Tiago exorta seus ouvintes ou leitores a vado cava fossas mortais, leva nos lábios
nao darem ares de mestres, sem mais nem fogo abrasador” (as fossas têm conotaçâo
CA RTA DE T1AGO 664 i '
alimentada pelo fogo do inferno, infla do pela m odéstiada sensatez. " P ......
ma o curso da existencia. 7A ratja hu se leváis dentro de vos urna inv< 111 . .
mana é capaz de domar e dom esticar sentida e rivalidade, náo vos glorie i- ■u
todo tipo de feras: aves, répteis e pei- ganando-vos contra a verdade. 1 l -
xes. 8A língua ninguém consegue do nao é sensatez que desee do coi. m>iJ
mar: mal incansável, cheio de veneno terrena, animal, demoníaca. 16Ond< Ii4|
mortífero. 9Com ela bendizem os o Se- inveja e rivalidade, ai há desoí !■n.
nhor e Pai, e com ela am aldi^oam os os toda espécie de maldade. 17A sen-.11. J
hom ens criados á im agem de Deus. que procede do céu é antes de tudo lnn
lnDa mesma boca saem béngáo e mal- pa; além disso é pacífica, comprecnsi\<i¡
digáo. Meus irmáos, nao deve ser as- dócil, cheia de piedade e bons rcsiilin
sim. "B rota de urna fonte, do mesmo dos, sem d iscrim inado nem finginn n|
olheiro, água doce e salgada? 12Pode, to. lsO fruto da honradez é semeadi i m
irmáos meus, a figueira dar azeitonas e paz para os que trabalham pela pa/
a videira dar figos? Ou urna fonte sal
gada dar água doce? D iscordias — !De onde nascem m
de túmulo). Com sua imagem, o autor in concordia ou rivalidade (cf. ICor 3,3; I 1
sinua ou supóe que o fogo do inferno é a 4,3). Ademáis, caracteriza as duas saín
geena, que instala e difunde seu fogo atra- dorias com vários qualificativos. A opo .i
vés da língua do homem. Com outras pa- gáo é extrema, sem matizes.
lavras, a língua pode contagiar-se com um 3,15-16 Uma é “terrena”, quer dizer, au
poder infernal aniquilador. rés do chao, sem abertura a uma inspiradlo
3.7 Segundo Gn 1,26 e SI 8. transcendente. É “animal”j ou seja, de ti|«'
3.8 Por seu poder mortífero, o veneno é biológico ou instintivo. E “demoníaca'
afim do fogo. A imaginario bíblica popu poique nao é controlada pela razáo supe
lar poe o veneno na língua da serpente, e rior e fica exposta ao manejo de poderc.
os poetas nao buscam a exatidáo científi inferiores; como a ^astúcia” da serpente
ca em suas imagens. “Afiam suas línguas que seduz Eva, quando esta prescinde d i
como serpentes, com veneno de víbora nos palavra de Deus e cede ao “desejo”.
labios” (SI 140,4). 3.17 A outra recebe vários predicados,
3,9-10 A rigor, béngáo e maldigáo sao alguns dos quais se léem em Sb 7,22.
duas formas literarias comuns, dois atos 3.18 O autor tentou compor um aforismo
correlativos legítimos. O autor coloca a agudo que (a nosso ver) náo conseguiu.
maldigáo entre os delitos por seu objeto. Tomando o dativo com valor de agente da
Pouco diferente é o SI 62,5: “com a boca passiva e vertendo-o na ativa, podemos
bendizem, com o coragáo amaldigoam”. traduzir: os que trabalham pela paz (Mt
3,11-12 Para o estilo de perguntas retó 5,9) semeiam na paz o fruto (efeitos) da
ricas em sèrie, ver Ara 3,3-6. Tres exem- honradez (justiga). Quer dizer, a justiga c
plos de causas: a que produz os dois efei- o último resultado de trabalhar pela paz.
tos, a que produz um fruto nao natural, e a A doutrina tradicional é, antes, a de Is
que produz o contrario. 32,17: “o fruto da justiga será a paz”.
3,13-18 Retorna o tema da sensatez
enunciado em 1,5. Como a sensatez é prà 4,1 Este é o parágrafo mais difícil da
tica, é arte ou habilidade, pode aplicar-se carta, pela sua construgáo artificial e pela
tambem ao mal: “sao hábeis para o mal” cita^áo enigmática dos vv. 5-6. É impor
(Jr 4,22); “há urna astúcia exata e ao mes tante observar a pontuagáo dos vv. 2-3 para
mo tempo injusta” (Eclo 19,25). Distin- seguir a concatenado das breves frases, e
guem-se por seus frutos, especialmente nelas o processo de agóes, resultados ne-
C A R I A U H I IA G O
iillpiU i lui.il ., c nao obtendes, porque ximará de vós. Lavai as máos, peca
-i i.i i» >I• • dores, e purificai as consciencias, inde
'tin .i |irdis, nao o conseguís por- cisos.
,. c di', ni.il, para gastar em vossos 9Afligi-vos, ficai de luto e chorai. Que
ii' 'Adúlteros! Nao sabéis que vosso riso se converta em luto e vossa
n i .......... du mundo é ser inimigo de alegría em afligáo. 10Humilhai-vos di
(i, ii ' ( lu pensais que é em vâo que a ante do Senhor, e ele vos exaltará.
1 1-, ni ni .i di/,: ( 'om inveja ambiciona o 11Irmaos, nao faleis mal uns dos ou-
F-| mi 11•• que depositou em nos; 6mas tros. Quem fala mal do irmáo ou o jul-
,l,i mu i k.i.K/I maior. Por isso diz: Deus ga, fala mal da lei e a julga. E se julgas
11 „i ,h ,ii is soberbos e dà sua graça aos a lei, nao és executor da lei, mas seu
h,mullir'.. 'Submetei-vos, pois, a Deus. juiz. 12Um só é o legislador e juiz, com
I», i h .in Diabo, e ele fugirà de vós; autoridade para salvar e condenar. Quem
*.i|,n i>i11na i-vos de Deus, e eie se apro- és tu para julgar o próximo?
Ricos e satisfeitos — 13Passem os ago podre, vossas vestes estáo com id.r p. i
ra aos que dizem assim: A m anhà ou traça, 3vossa prata e ouro estáo i'nffnj
depois iremos a tal cidade, passarem os dos; sua ferrugem testemunh;i omin
ai um ano, faremos negocios e ganha- vós, consumirá vossas carnes com «i.
remos dinheiro. 140 que sabéis do am a go. Entesourastes para o fim do num
nhà? O que é vossa vida? Sois urna né- do. 4A diària dos trabalhadores, que um
voa que aparece por um instante e logo pagastes aos que ceifaram vossos enui
desaparece. 15Deveríeis, antes, dizer: Se pos, ergue o grito; o clam or dos cuín
o Senhor quiser, viverem os e farem os dores chegou aos ouvidos do Senli>"
isto ou aquilo. 16Ao contràrio, agora vos dos Exércitos. 5Vivestes na terra ímn
gloriáis alardeando. E toda jactancia luxo refinado; cevastes vossos coi lu
dessa espécie é má. 17Quem sabe fazer para o dia da matança. 6Oprimisii i
o bem e náo o faz é culpado. m atastes o inocente. Náo resistirá Dm.
contra vós?
’E agora cabe aos ricos: Chorai e
5 gem ei por causa das penas que se
aproximam de vós. 2Vossa riqueza está
Paciência e oraçâo — 7Irmáos, ten.l.
paciéncia até que venha o Senhor. Piti
qual se julga. Quem se arroga o direito de náo controla o amanhá: “Náo te glories il.,
julgar, coloca-se acima da lei e a submete amanhá, náo sabes o que o hoje vai geni
a julgamento. (Pr 27,1; cf. Le 12,19-20). Os comercian
Sobre a murmuragao e difamagáo: SI tes eram mal vistos na literatura sapieneiul
101,5; Sb 1,11. Só Deus tem autoridade (cf. também Os 12,8; Zc 14,21).
para absolver e condenar (náo menciona 4.14 O homem é como névoa: Os 13, '
o julgamento de Cristo na sua parusia). Sb 2,4; SI 39,6.12.
4.15 Daqui procede a expressáo porlu
4.13-5,6 Em dois trechos trata da ánsia guesa “se Deus quiser”. Entre os protes
de enriquecer-se e das riquezas injusta tantes pode-se dizer “com a cláusula el.
mente adquiridas. O mestre sapiencial pro Tiago” para indicar a condiçâo teológie.i
longa ensinamentos do AT que nos convi- de urna promessa ou projeto.
dam a distinguir e precisar. Há riquezas 4.16 Contra a jactáncia: Jr9,22; Le 12,47.
que sáo béngáos de Deus, como as de
Abraáo ao voltar do Egito (Gn 13). Há ri 5,1-6 Trata das riquezas injustas: fruto
cos, talvez ilegítimamente enriquecidos, de extorsáo ou exploraçâo, de mandar tra
que póem sua confianza ou sua arrogan balhar sem pagar a diària. Tema freqüenli
cia ñas riquezas. Arrogancia é declarar que no AT: na legislaçâo (Lv 19,3; Dt 24,14-15),
sáo criagáo exclusiva do rico, excluindo a no governo (Jr 22,3.13-17), num juramento
intervengáo de Deus (Ez 28); confianza é de inocéncia (Jó 31,38-39). A ameaça c
tratá-las como apoio da existencia, fazen- apaixonada e o tom sarcástico: as riquezas
do-as rivais de Deus (SI 49; 62). Tiago se voltam contra seus possuidores numa es
detecta na ánsia de enriquecer-se um es- pécie de vingança imánente. A riqueza go
quecimento prático de Deus e da condi- ra um fogo que consumirá: os corpos que
gáo humana mortal. engordam cevam-se para a matança.
Há ricos que sáo ricos as custas de ou- 5,2 Eclo 29,10 é urna exortaçâo a em
tros: sáo os que os profetas denunciam com prestar mesmo a fundo perdido. Eclo 3 L i
freqüéncia e veeméncia: “Ai dos que acres- l i contrapóe o rico cobiçoso ao que náo
centam casas a casas e juntam campos a se perverte pela riqueza; durissima é a de
campos, até náo deixarem espago e vive- nuncia de Eclo 34,20-22.
rem só eles no país” (Is 5,8) e também os 5.5 Ver a parábola do rico e Lázaro (Le
sapienciais (Eclo 34,18-22). Tiago se diri 16,19-31).
ge também a estes. 5.6 Este v. deve ser lido em inclusáo com
4.13-16 Enriquecer-se em um ano se 4,6, que tinha funçâo programática. Des
considera precipitado, suspeito: “fortuna se modo, fica claro que o sujeito (implíci
apressada encolhe” (Pr 13,11). O homem to) do verbo resistir é Deus, e o sentido é
Il* 667 CARTA DE TIAGO
MI Hlt Mi.iin no lavrador, com o espera m odo. Vosso sim seja sim , vosso náo
#*HH |ntt |i ni i.i ale receber as primeiras seja náo, e assim nao sereis subm eti-
i dos a julgam ento. 13A lguém de vós so-
ir, lardias, com a esperanza
Im ■iillir.ii 11iilo da térra. 8Tende, tam- fre? Ore. A lguém está feliz? Cante.
iipiti i ir., paciencia, fortalecei o ánimo, 14Um de vós está doente? Cham e os
«ti« .1 i ln i',id;i do Senhor está próxi- anciáos da com unidade para que re-
Iiih 'humus, nao vos queixeis uns dos zem por ele e o unjam com azeite, in
m i i I k r nao sereis julgados: vede, o vocando o nome do Senhor. 15A ora-
luí« rMíi ;i porta. çâo feita com fé curará o doente, e o
'"( i uno exemplo de sofrim entos su- Senhor o fará Ievantar-se. E se come-
milmlu', iiim paciencia, tomai os pro- teu pecados, serâo perdoados. ^ C o n
I (.liin ijiir lalaram em nome do Senhor.
'Vrilr. declaramos felizes os que re-
fessai uns aos outros os pecados, rezai
uns pelos outros, e vos curareis. Mui-
tlMIinni. Ouvistes falar como Jó resis- to pode a o raçâo so líc ita do justo.
llii i ronheceis o desfecho que Deus 17EIias era homem frágil com o nós;
llii |ii(iporcionou, pois o Senhor é com- porém , rezou pedindo que nao cho-
(iiiunIvo e piedoso. vesse, e na terra nao choveu por très
1 'Subrctudo, irmáos, nao juréis: nem anos e seis meses. 18Rezou novam en-
iiil< i ccu nem pela térra nem de outro te, e o céu soltou a chuva e a terra deu
5,19-20 A frase grega nào resolve a atri- SI 32,1). Outros pensam que o beneficiàrio é
buigào de fungòes sintátieas. Quem é o be quem encaminha (o que nào se exclui); con
neficiàrio? O mais lògico é que se salve o ex seguir urna conversào já é honra e privilè
traviado, quando outro o encaminha e faz com gio. A citatilo de Pr 10,12 é segundo o gre-
que os pecados sejam perdoados (cobertos, go e nào corresponde ao sentido original.
PRIMEIRA CARTA DE PEDRO
INTRODUQÀO
NlllOI
ser cristáo comegaram no tem po de
D om iciano (81-96). Responde-se que
\ ,i uiiulagáo o autor se apresenta co- já Ñero perseguiu os cristáos e houve
■II.' l'itlro, apóstolo de Jesus C risto”; outras perseguigoes locáis. O cargo de
■i,, liihil diz que escreve da Babilònia, “a nciáos” na comunidade é posterior.
i, iiiiniinaqdo intencional de Roma. A o Responde-se queA tos o documenta co
i 'in;,. da carta se apresenta corno an- mo m ais antigo e é urna sim ples trans-
, 1,1... trstemunha ocular da paixào e posigáo do uso judaico. E irrazoável
„/, .<tu ile Cristo (5,1); cita, embora nào que escreva a igrejas da A sia que nem
. ilmIntente, ensinamentos de Cristo. havia fundado nem visitado, e aonde
I timligào antiga aceitou o dado des- nao chegava a perseguigáo. Responde-
,/, umita cedo: 2 P d 3 ,l, Policarpo, Cle- se que os cristaos tiveram de sofrer em
Uh flit'. toda parte.
I \ sa seguranga diminuiu ante as ob- O balango da argumentagáo deixa a
In , rir.v da crítica. Vamos repassá-las solugáo indecisa, e os comentaristas se
,,mi us respostas correspondentes. A n dividem em dois grupos: a) O autor é
tri ih- tudo, a linguagem e estilo gre Pedro, anciáo e talvez prisioneiro, p ró
tiin improprios do pescador galileu. xim o da morte; escreve urna espécie de
Hrs\ionde-se que S ilva n o (5,12) re- testamento, cordial, muito sentido. Seu
.hyjtt o texto e nào escreveu só o que tema principal é a necessidade e o va
ri a ditado. A carta cita o A T na versào lor da paixáo do cristáo, a exemplo e
, h i \ Setenta, nào em hebraico, e o tece em uniáo com Cristo. Confia a redagáo
suavemente com seupensam ento. Res- a Silvano, b) A carta é pseudónima. O
l'uiide-se que os destinatarios falavam autor é um desconhecido do círculo de
mi conheciam o grego. Faltam as lem Pedro, que em tempos difíceis quer alen
bi angas pessoais de um companheiro tar outros fiéis, e para isso se vale do
intimo de Jesús. Responde-se que a p e s nome de Pedro. Alguns tragos hábeis Ihe
imi de Jesus Cristo está presente e d o servem para tornar verossímil a fiegáo.
mina a carta, seus ensinam entos res- Os destinatários eram pagáos con
\<>amjá assimilados: compare-se 1,13 vertidos, como m ostram as referencias
rom Le 12,35; 2,12 com M t 5,16; 3,9 de 1,14.18 e 4,3.
rom M t 5,44; 3,14 com M t 5,10; 4,14
rom Le 6,22. O autor conheceu cartas
ile Paulo, inclusive Efésios (que é p o s
Data
terior). Responde-se que uns paralelos Se é Pedro, teve de ser antes de 67,
sao pouco convincentes, outros proce- data limite do seu martirio. Se é um dis
ilrm de um fundo litúrgico ou da pre- cípulo de outra geragáo, seria durante
gagáo oral. O nome de Babilonia nào a perseguigáo de Domiciano (95-96).
se aplicou a Roma antes do ano 70. Res
ponde-se que o A T conhece o uso em Sinopse
blemático de Babel como poder hostil,
e a hostilidade romana nào comegou, A carta náo parece seguir um plano
mas culminou em 70. A perseguigáo ordenado, m as vai m udando de tema
referida (cf. 4,12) e o declarar delito o sem avisar.
PRIMEIRA CARTA DE PEDRO 670 INTKOlM'i
1.1-2 Saudagáo. 3,8-17 P aciencia a exem i.1
1,3-12 Esperanza crista. Cristo.
1,13-25 Conduta crista: 3,18-22 M orte e ressurreigún
como filhos. Cristo e batismo.
2,1-10 Cristo pedra viva, de fun- 4.1-19 H ostilidade do mund<
dagáo. julgam ento de Deus
2,11-25 Vida crista a exemplo de 5.1-4 Aos anciáos/respons.n.
Cristo. 5,5-11 A osjovens.
3.1-7 Casais. 5,12-14 Sauda<j6es.
riUMEIRA CARTA DE PEDRO
'.....ilii^nrs 'De Pedro, apóstolo to, que, segundo sua grande misericordia
I .I. I. .ir. <'lisio, aos eleitos que re-
tidi mi ii i dispersilo do Ponto, Galácia,
e pela ressurreiqáo de Jesús Cristo da
morte, vos regenerou para urna esperan
i i|. i.l... i.i. Asia, Bitínia, 2eleitos pelo za viva, 4urna heranga incorruptível, in-
i • 11<- I >ous Pai, pela co n sag rad o contaminável e que nao murcha, reser
i ■I pililo, para se submeterem a Je- vada para vós no céu. 5Pela fé, o poder
., i ii'.iiu' serem aspergidos com seu de Deus vos guarda para uma salvaqao
anuí’....... vós graqa e paz abundante. disposta a revelar-se no último dia. 6Por
isso estáis alegres, embora por pouco
I .|n i iin^-a c r is ta — 3B endito seja tem po tenhais de suportar diversas pro
I ii ir.. I’ai de nosso Senhor Jesús Cris- vas. 7Se o ouro, que perece, é aquilata-
I I Pedro se apresenta com o mesmo tí- Jesus Cristo. Inclusive antes precede o “de
iiiIii i|iic Icmos ñas cartas de Paulo. Os elei- signio” de Deus (v. 2). De Jesús Cristo re-
i.i i '..ni os cristáos, já “dispersos” ou difun- corda a “ressurreigáo” (v. 3) e a parusia (w.
illilii', pelas provincias romanas da Asia. Se 5.7). O cristáo responde com a fé (w . 5.9),
,i ili.r.pora é para os judeus um fenòmeno a esperanza (v. 3), a constancia (w . 6-7), o
|i. i'.lc i ior, para a Igreja é seu primeiro cres- amor a Cristo (v. 8). Vejamos as etapas.
i ululilo. a) A regeneragáo ou novo nascimento (w.
1,2 Ser cristáo é resultado de urna acao 3.23), em virtude do mistério pascal. A mor
lilnilária (embora Jesús Cristo nao receba te de Cristo fica implícita; menciona só a
.■i|i ii a designagáo de Filho). Aeleigáo é de ressurreigáo. Porque ambas, ressurreigáo de
mu povo novo, internacional; a consagra Cristo e regeneragáo do cristáo, sáo a seu
dlo é de todo o povo, nao se limita a um modo comego de vida nova. A fé inicial é
l'iiip o . Submeter-se é o ato da fé como ade- crer e amar sem ter visto nem conhecido
Niio. Pelo rito do sangue, aplica à Igreja a pessoalmente Jesús— como o conheceu Pe
miagem da alianza, ou seja, submissáo a dro, que conviveu com ele —•. É também o
)hwh como soberano, selada com o sacri- cometo de uma esperanza sem ter visto.
ticio (Ex 24,3-8; cf. Hb 9,12-14). Se o au- b) Avida do cristáo está animada pela fé,
lor da carta é Pedro apóstolo, recordaremos “custodiada” por Deus, alegrada pela espe
i|uando nos falar da provagáo em que ele ranza. Incluí sofrimentos (tema dominante
um dia falhou e chorou amargamente. Se o da carta), que sáo provagáo e purificar a fé.
autor nao é o apóstolo, entáo quem pronun Em meio ao sofrimento, a esperanza enche
cia o texto é um personagem que falhou e de alegría (cf. 2Cor 7,4). Cada familia rece-
chorou. Este é um recurso hermenéutico que beu seu quinháo, quando a terra prometida
pode animar a ccmpreensáo do texto. foi repartida entre as tribos; era sua heranga.
1,3-12 (As divisóes propostas para esta Era urna terra alheia, exposta, ameagada,
carta sao bastante artificiáis). Bendizer a perdida. O cristáo conta com uma “heran
Deus equivale a dar-lhe grabas; o motivo ga” guardada ou reservada no céu. E segu
de conjunto é a “salvatilo” (Pedro poderia ra, nao terá fim; o paradoxo é que o herdei-
ter recordado que o nome de Jesús con- ro toma posse da heranga quando morre,
tém a raiz de “salvar”). Jesús traz o título náo quando morre o testamenteiro. E a re-
de Senhor, talvez o de Messias (christos), ceberá no “último dia”, o dia da parusia,
implicitamente o de Filho de Deus Pai. quando Jesus Cristo se revelar (ICor 1,7).
Toda a salvagáo, desde o comego do ba- 1,4 “Reservada”: ver SI 31,20; C11,5.12.
tismo, ao longo da existencia, até a con 1,7 “O Deus, tu nos provaste, nos refi-
su m alo , é obra de Deus Pai por meio de naste como se refina a prata” (SI 66,10);
P R IM E IR A C A R T A D E P E D R O 672
do no fogo, vossa fé, que é mais precio isso que agora tém anunciado os i |ii.
sa, será aquilatada para receber louvor, zem a boa noticia, inspirados peí I
honra e gloria, quando Jesús Cristo se rito Santo enviado do céu: coisas qn,
revelar. 8Náo o vistes, e o amais; sem ve anjos desejariam presenciar.
lo, credes nele e vos alegrais com alegría
indizível e gloriosa, 9pois recebereis, co Conduta crista — 13Por isso, cinpdm
mo termo de vossa fé, a salvacáo pessoal. mentalmente e sobrios, colocai indi
10A respeito dessa salvacao. indaga- vossa esperanza nessa graca que v o s m u
ram e estudaram os profetas que profe- concedida quando Jesús Cristo se icv»
tizaram a gracia que iríeis receber. 11In- lar. 14Como filhos obedientes, nao m
dagavam para averiguar o tempo e as deixeis modelar pelos desejos de anii
circunstancias indicadas pelo Espirito de quando vivíeis na ignorancia; 15pel(u'i m
Cristo que habitava neles, quando pre- trário, visto que é santo aquele que \ 11
dizia a paixáo de Cristo e a glo rificad o chamou, sede vós também santos em ii
que viria depois. ,2Foi-lhes revelado que do o vosso agir; 16pois assim está esi 11
nao era para eles, mas para servir a vós, to: Sede santos, porque eu sou santo.1 I
........i l . l’.ii iiquele que julga impar- beleza como flor do campo; a erva res-
, i.<111mnir ,is ai^ocs de cada um, agi com seca, murcha a flor, 25mas a palavra do
.........l i i l m . mie vossa permanència na Senhor permanece sempre. Essa palavra
li ii :i 1 S.ibei t|iie vos resgataram de vos- é a boa noticia que vos foi anunciada.
,,i »ii i umilila rccebida em heranga, nào
. uni |ii.il,i e oumcorruptiveis, 19m ascom A p ed ra viva-— 'Portante, despojai-
,, | ii >i ii isii sangue de Cristo, cordeiro
i ih in.niella nem defeito, 20predestina-
2 vos de toda maldade, fraude e hipo-
crisia, toda inveja e difam ado; 2desejai,
tln nuli -, ila criagào do mundo e revela- como crianzas recém-nascidas, o leite
■lii un linai dos tempos, em vosso favor. espiritual, nao adulterado, para cres-
'Cui ineio dele credes em Deus, que o cerdes sadios, 3se é que provastes como
n v.ir.eitou da morte e o glorificou; des- o Senhor é bom. 4Ele é a pedra viva,
i.i lumia, vossa fé e esperanija se diri- rejeitada pelos homens, escolhida e es
fiiin a Deus. 22Purificai vossas cons- timada por Deus; por isso, aproximan-
i ii'iii ias, submetendo-vos à verdade, e do-vos dele, 5também vós, como pedras
limai os irmàos sem fingimento, de co vivas, entráis na construidlo de um tem
m p i o ; amai-vos intensamente uns aos plo espiritual e formáis um sacerdocio
i miuis, 2,pois fostes regenerados, nào de santo, que oferece sacrificios espirituais,
lima semente corruptivel, mas pela pa- agradáveis a Deus por meio de Jesús
l.ivia incorruptivel e perm anente do Cristo. 6Pois na Escritura se lé: Vede,
I >eus vivo. 24Pois toda carne é erva e sua ponho em Siáo uma pedra angular, es-
linio com cautela (cf. SI 28,4; 62,13). Assim o evangelho aceito com fé e selado com o
.i “cautela” complementa a “esperança”. batismo traz o perdáo dos pecados, a puri
Para o autor, os títulos de Pai e de Juiz ficad o radical (3,21); no plano psicológi
nào se excluem (cf. Jr 3,19). Na lei roma co, a verdade do evangelho descobre nos-
na antiga, o pátrio poder se estendia a as- sas impurezas e permite eliminá-las. Sobre
smitos judiciais no ámbito doméstico. o amor fraterno, Jo 13,34. O motivo é a
1,18-21 Começa unido com o que pre regeneracíio ou novo nascimento. Há um
cede por um participio, como se fosse ou nascimento para a corrupgáo, que dá vida
ïra motivaçâo. Mas o conteûdo transbor a um homem caduco (de carne), como erva
da o esquema e toma a forma de uma (Is 40,6-7). E há um nascimento produzi-
confissâo ou profissâo. Do resgate-reden- do pela “palavra perdurável de Deus”. Essa
çâo passa ao resgatador-redentor. Resga- palavra é o evangelho anunciado. O novo
tar é o ato pelo quai se recupera uma pro- nascimento gera irmáos e funda o amor
priedade familiar alienada ou se devolve fraterno.
a liberdade ao escravo indevidamente re
tido. Costuma incluir um pagamento ou 2, 1 Pode-se considerar a crianza na sua
compensaçâo pecuniária: Lv 25,23-28.47- imaturidade (Hb 5,12) ou na sua inocen
48; Jr 32; Rt 3-4. cia primeira (cf. SI 8,2). Os que nasceram
Cristo paga com seu sangue ou sua vida de novo devem alimentar-se com leite para
a liberdade do escravo. Seu sangue é sa- crescerem saos e para apreciar o sabor de
crifical, do “cordeiro” (cf. Is 53), pelo que Deus (SI 34,9; cf. Is 7,15). O que adultera
o resgate é também expiaçâo. A confissâo o leite sao os vicios citados.
sobre Jésus Cristo sintetiza-se em très tem 2,4-8 Desenvolve a imagem da pedra em
pos: predestinado desde sempre, manifes varios aspectos, combinando textos bíbli
tado nesta última etapa, morto e ressusci- cos. Pedra de fundagáo (Is 28,16) na qual
tado (da sua vinda final falou antes). se apóia o homem pela fé. Pedra angular
1,22-25 Novo conselho com motivaçâo (SI 118,22) que é chave ou remate do edi
solene. A purificaçâo se realiza aceitando ficio (cf. Zc 4,7). Pedras vivas sao os cris-
ou submetendo-se à “verdade” do evan- táos; com elas se constrói o templo “espi
gelho: “estais limpos pela palavra que eu ritual” de Deus. Nesse templo oficia um
vos disse” (Jo 13,10). No plano teológico, sacerdote santo ou consagrado (pelo ba-
P R I M E I R A C A R T A D E P F .D R O 674
colhida, preciosa; quem se apoiar ncla Vocagáo crista e exemplo de < i ■i.
nào fracassare. 7E preciosa para vós que — "Q ueridos, eu vos exorto coni" i
credes; ao contràrio, para os que nào hospedes e forasteiros a vos absln.i.
crèem, a pedra que desprezaram os ar- dos desejos sensuais, que fazem fin n i
quitetos é agora a pedra angular 8e pe ao espirito. 12Agi honradamente em tn< mi
dra de tro p ero , rocha de precipicio. aos pagaos, e assim os que vos <111>
Nela tropegam os que nào crèem na pa- mam como m alfeitores, ao verem vn
lavra: tal era o destino deles. 9Mas vós sas boas obras, glorificaráo a Deus im
sois raga escolhida, sacerdocio real, día das contas. l3Em atengáo ao Senlmt
nagáo santa e povo adquirido, para pro submetei-vos a qualquer instituigáo Im
clamar as proezas daquele que vos cha- mana: ao reí como soberano, 14aos du
mou das trevas à sua luz maravilhosa. fes como enviados por ele para casi i
10Vós que outrora éreis Nào-povo, ago gar os malvados e premiar os honrado*
ra sois Povo de Deus; éreis os N;io-com- Tal é a vontade de Deus, que, fazen
padecidos, agora sois Compadecidos. do o bem, tapéis a boca dos insensato'.
tismo, de todos os cristáos); ofereee sacri vos. Tinham que impor-se e acreditar sini
ficios espirituais (cf. Jo 4,23-24), que Deus fé com a “conduta”, por um lado sendo
aceita por mediagáo de Jesús Cristo. Mas fiéis as suas convicgóes, por outro lado
a pedra de fundagáo e angular, se é rejei- levando em conta o julgamento dos de
tada, pode converter-se em pedra de tro- fora. Eram também hospedes e forastci
pego (Is 8,14; cf. Le 2,34). ros em relagáo á pátria celeste, embor;i
2,9-10 As palavras “sacerdocio santo” fossem cidadáos do império (Hb 13,14,
sugerem a Pedro essa exclamagáo entu F1 3,20). )
siasta, composta de citagóes e títulos que Diz o mesmo partindo de outro ponto
o AT aplica ao povo de Israel. “Raga esco de reflexáo. As pequeñas comunidades
lhida... para que proclame meu louvor” (Is cristas eram súditas do império no meio
43,20): era o Israel ideal que devia voltar de uma sociedade paga: como deviam
à pàtria por urna agào nova e originai de comportar-se? Por serem “hospedes e fo
Deus. E agora o povo cristào. “Sacerdo rasteiros”, estavam isentos da lei roma
cio real” (Ez 19,6): eram sacerdotes a ser- na? Como servos de Deus, nao estavam
vigo do Senhor rei (explicagào impro- submetidos as autoridades civis? Co
vável); ou linhagem real que exerce o mo cristáos, podiam despreocupar-se da
sacerdocio (como Ap 1,6; 5,10); ou pala opiniáo da sociedade? Pedro dá nor
cio real do Senhor (menos provável). mas claras e apela para a consciencia cris-
“Povo adquirido” (Ex 15,16 par.): o povo tá, “em atengáo ao Senhor... é a vontade
era “propriedade” de Deus (Ex 19,5; Dt de Deus... em consciencia diante de Deus”.
7,6); agora é o povo cristào. “Das trevas à Mas, se as autoridades se tornam injus
luz” (Is 9,2; 42,7; 49,9). O ùltimo v. é com tamente hostis aos cristáos, como devem
b in a lo livre de Os 1,6.9 e 2,1.25. Os pa comportar-se? A isto responde nos vv.
gaos, que nao eram povo de Deus, agora seguintes.
pela eleigáo sao o verdadeiro povo de 2.11 Hospedes: SI 39,12. Sobre a luta
Deus. interior, Rm 7.
2,11-18 Em 1,14 dizia “como filhos 2.12 Segundo o conselho de Jesús (Mt
obedientes”, aqui continua “como hos 5,16). Na conduta do seu povo, está em
pedes e forasteiros”, depois dirá “como jogo a gloria de Deus. O dia das contas
homens livres”. Preocupa o autor urna pode ser um final relativo ou o final abso
comunidade crista pequeña em meio a luto (cf. Is 10,3; Sb 4,20-5,1).
urna multidào paga que observa critica- 2,13-14 Note-se o motivo, “em aten
mente os adeptos da nova religiào. O gáo ao Senhor”, que é soberano de reis e
exemplo que derem na vida social é ca governantes e respalda a autoridade dos
pitai. Pois bem, a maioria dos cristáos que administram a justiga na sociedade
eram de classe baixa; alguns eram escra- (Rm 13,1-7). De fato, a autoridade roma-
675 P R IM E IR A C A R T A D E P E D R O
« I| ì m i >i uni ) -, "’( ’omo homens livres, contràrio, submetia-se àquele que ju l
111• nini ir..un ii liberdade para enco- ga com justiga. 24Nossos pecados ele
lnii ,i Mi.ildiidc; antes, como servos de os carregou em seu corpo no madeiro,
I imi 1 In mi ili il todos, amai os irmàos, a fim de que, mortos para o pecado,
• •.)ii itili .i Deus, honrai o rei. 18Cria- vivam os para a justiga. Suas cicatrizes
.l.i miI mirtei-vos avossospatróescom nos curaram. 25Éreis com o ovelhas ex
in.In .i ii speito, nao so aos bondosos e traviadas, mas agora voltastes ao pas
»Miitvi i ., mas também aos perversos. tor e guardiáo de vossas almas.
.ilf iii in, citi consciència diante de
I». ir.. M i p o r t a penas e sofre sem moti- M atrim onios — 1Da mesma forma
n ni ilio urna graga. 20Que mérito há
. ni iii'iirnlar golpes, quando alguém é
3 vós, mulheres, subm etei-vos a vos
sos maridos, de modo que, embora al-
. ii 11mi li i? Mas se, fazendo o bem, ten- guns náo creiam na m ensagem , pela
.h •. ili iigüentar puniQÓes, isso é uma conduta de suas mulheres, mesmo sem
ih ni. i de Deus*. 21Essa é a vossa voca- palavras, acabem conquistados, 2ao ob-
i.iin, p o i s também Cristo padeceu por servarem vosso proceder casto e res-
in', (k-ixando-vos um exemplo, para peitoso. 3Vosso adorno nao seja exter
•11ii ,igais suas pegadas. 22Nào havia no: cábelos trancados, jóias de ouro,
Iii i ido nem foi encontrado engano em trajes elegantes; 4mas esteja no íntimo
.un boca; 23injuriado nao respondía com e oculto: na m odèstia e serenidade de
li 11Mi iiis, padecendo nào ameagava, pelo um ànimo incorruptível. Isso Deus apre-
M.i |irotegeu mais de uma vez os cristáos, 2.24 Continua citando Is 53,3-6. A mor
i unió Lucas dá a entender nos Atos. te ao pecado é um fato pontual que deve
2,16-18 O cristáo é ao mesmo tempo li- encerrar uma etapa; a vida para a justiça é
vii- e servo de Deus; mais ainda, em servir um estado que deve permanecer (cf. Rm
n I)eus consiste sua liberdade, que nao é 6, 2. 11).
miniada pela eondigao social de escravo. 2.25 “Ovelhas extraviadas”: Ez 34,5-6;
l iste pode dar um testemunho cristáo im- Mt 9,36.
pressionante.
2,17 “Meu filho, respeita o Senhor e o 3,1 Começa uma exortaçào particular e
reí” (cf. IRs 21,10; Pr 24,21). gérai: ás esposas (vv. 1-6), aos maridos (v.
2,19-25 Até aqui pensou em cristáos que 7), a todos (v. 8). Precedeu uma exortaçào
vivem em paz entre pagaos. Agora pensa em geral a obedecer ás autoridades, e outra
outra situagáo, de hostilidade, perseguido particular aos escravos.
c injustiga. Para tais circunstancias vale o 3,1-6 Reconhecendo a posiçâo da mu-
ensinamento de Jesús (Mt 5,11-12 par.) e seu lher na sociedade da sua época e contando
cxemplo (Jo 13,15; Mt 16,24), evocado por com casamentos mistos, propóe algumas
Pedro e corroborado com citagóes e alusóes normas de conduta cristá. Acastidade (con
do AT. Cita uns vv. do quarto cántico do jugal) e o respeito (ao marido) podem ter
Servo (Is 53,9.3-4.6), alude ao SI 7,9 e dá a força de captaçâo; a modéstia e serenida
Cristo o título de pastor (segundo Ez 34,5-6). de interiores, por seu valor diante de Deus;
2.19 “Recebe uma graga” ou é uma hon o náo ceder à intimidaçâo, de quem? Ou
ra. “Sem causa”: cf. SI 35,7.19. pensa nos perigos de Sara nas cortes pa-
2.20 “Fazendo o bem”: cf. Jo 10,32. *Ou: gâs, ou tem pela frente ameaças sociais
merece o favor de Deus. concretas.
2.22 Citagáo do quarto cántico do Ser 3,3 Sobre o exagerado ornato das mu
vo (Is 53,9). lheres, Isaías pronuncia uma sátira diver
2.23 “Aquele que julga com justica” é tida (Is 3,18-23). O AT nada diz do ornato
Deus (náo Pilatos). Jesús, consciente da sua de Sara. No entanto, várias passagens do
inocencia, póe sua causa ñas máos do Pai. Cántico dos Cánticos e outras compara-
Como faz o inocente acusado, em vários çôes poéticas aprovam e apreciam as jóias
salmos (7; 17; 43 etc.) (2Sm 2,24; Ct 1,10-11).
PRIMEIRA CARTA DE PEDRO 676
eia grandemente. 5Assim se adom avam para herdar uma béngáo. 10Se alfiiriii
no passado as santas m ulheres que es- quer v iver e passar anos próspm m
peravam em Deus e se subm etiam a guarde sua língua do mal e seus .........
seus maridos: 6Como Sara, que obede da falsidade; n afaste-se do mal e l,n,.i
cía a Abraào, chamando-o senhor. Agin- o bem, procure a paz e corra atrás dclii
do bem e nào cedendo a nenhum a inti- 12Porque os olhos do Senhor está o h
midaqáo, vos tornareis filhas dela. xos no honrado, seus ouvidos esciil.un
’Igualmente vós, maridos, que con- suas súplicas; mas o Senhor enfrenU
viveis com elas, tende c o n sid erad o em os malfeitores. 13Quem vos poderá l,i
consciencia com a condigáo m ais deli zer o mal, se sois solícitos no bem? 1 I
cada das mulheres, e estim ai-as como se sofreis pela justiga, sois felizes. Nfio
co-herdeiras da graga da vida. Assim os temáis, nem vos perturbéis. 15Ree< >
nao atrapalhareis vossas oragóes. nhecei internam ente a santidade di
Cristo como Senhor. Se aiguém vos pi
Paciéncia a exem plo de Cristo — f i de explicagóes de vossa fé, estai dis
nalmente, sede todos concordes, com- postos a defendé-la, 16porém com mu
passivos, fraternos, misericordiosos, hu déstia e respeito, com boa consciéncúi,
mildes; 9náo paguéis mal com mal nem de modo que aqueles que difamam vos
injuria com injuria; ao contràrio, ben- sa boa conduta cristá fiquem confundí
dizei, pois para isto fostes cham ados dos de vos ter difamado. 17Se for von-
3.6 Segundo Gn 18,12. Como os homens cer a “santidade” do Messias com o título
sao filhos de Abraao, assim as mulheres de Senhor (F1 2,11). A segunda é uma ati
sao filhas de Sara. vidade apologética para fora: para os que
3.7 Na exortagáo aos maridos, afirma a pedirem explicatóes, judiciais ou sociais,
maior fragilidade corporal da mulher e a sobre essa curiosa c estranha “esperanga”
igualdade espiritual em partilhar a heran que costumam alegar os eristáos. Pedro
ga do céu. Sobre a heranga das mulheres náo recomenda uma dialética destinada a
legisla Nm 35, para assegurar que as pro- derrotar e humilhar o adversário (cf. SI
priedades fiquem dentro do clá ou da tri- 63,12), mas a defesa sensata e “modesta”
bo. Pedro supóe que os eristáos estejam que “respeita” o interlocutor e procura
casados com mulheres cristas. convencé-lo. O contexto da época era de
3,8-9 O ideal de concordia familiar se es- pluralismo religioso e filosófico. É inte-
tende a toda a comunidade crista, cujos mem- ressante o fato de ser a esperanga o aspec
bros, como irmáos de uma familia, partilham to chamativo dos eristáos.
uma heranga comum, uma béngáo. Compa- 3,17-22 Voltando ao tema favorito da
rem-se as béngáos limitadas de Isaac (Gn carta, o sofrimento inocente, introduz uma
27) com as de Jacó para cada filho (Gn 49) profissáo ou instrugáo batismal, que con-
ou as de Moisés para cada tribo (Dt 33). tém um dos textos mais enigmáticos do
Nao devolver mal por mal é conselho do NT. Vejamos o que está claro no texto.
ATe do N T(lSm 24,18; Rm 12,14-18). Primeiro: a morte redentora de Cristo, de
3,10-12 A citagáo é tirada do salmo al alcance universal e definitivo, irrepetívei
fabético 34,12-16; essa citagáo ampia, (cf. Hb 6,6; 9,26), que conduz o homeni
numa carta breve, mostra que os salmos para Deus, consumando a reconciliagáo
se incorporavam á piedade cristá e podiam (2Cor 5,20). Segundo: a morte de Jesús
inspirar a conduta. por sua condigáo humana (de carne) e a
3,13-14 Retoma um dos temas dominan ressurreigáo pela agáo do Espirito vivi
tes da carta: pode-se ver Rm 8,28.34; Mt ficante (Jo 6,63; Rm 8,10-11; ICor 15,44).
5,10 e a citagáo tirada de Is 8,12-13. Terceiro: a ascensáo e senhorio universal
3,15-16 Combina aqui uma atitude in ou glorificagáo (At 1,10; Ef 1,20-21).
terior com uma conduta externa. A primei- Quarto: a virtude “salvadora” do batismo
ra é um ato da consciencia que equivale a em fungáo da ressurreigáo de Jesús Cris
uma profissáo de fé cristológica: reconhe- to, e que inclui: uma “boa consciencia”,
677 PRIMEIRA CARTA DE PEDRO
Miti- il. I ini'. Mirili«>i e sofrer por fazer pela ressurreigáo de Jesús Cristo 22que
H litui iIm 111•r Mitici por fazer o mal. subiu ao céu e está sentado à direita de
"|'iiit|in i ii’iiu in o n d i urna vez por Deus, e lhe foram submetidos os anjos,
in..«.ri | il i in In-,, li |usli) pelos injustos*, potestades e dominagóes.
|ihih i m i i n i i i l i i / i i a Deus: sofreu a
Mu n i r un i n i p i i . irssuscitou pelo Espi H ostilidade do mundo — 'Com o
l i l i ! ’ "i i r . •lini Im proclam ar tam bém
Milu ni.iis lurbada (SI 32,2), e um compro- mas transformagáo da consciencia orien
iii I'.
m i pessoal com Deus. Isso é claro e re- tada para Deus.
|iii -.ruta nma síntese doutrinal, quebem po- Com o que foi dito nao respondemos as
ilr proceder de ritos batismais primitivos. perguntas: a) O “cárcere” é um tempo de
VIS *Ou: o inocente pelos culpados. espera dos condenados até comparecer a
.1,1'»-20 O enigmático se alberga nos vv. julgamento? (Cf. Is 24,21-22 em contexto
I1' a saber, a pregagáo de Jesús aos escatológico.) b) Proclama-lhes a liberda-
"rspíritos encarcerados” de uns antepas- de ou a condenagáo definitiva por sua cul
wulos. O enigma nao foi resolvido até ago- pa ancestral? c) Refere-se aos “espíritos”
iii, antes, tem provocado múltiplas expli- humanos, aos angélicos, a todos? (cf. Is 24,
i agües conjecturais. Entre todas, proponho 21 “exércitos do céu e reis da térra”.) d)
urna leitura baseada na mentalidade do AT Realiza-se a visita entre a morte e a ressur-
wibre a existencia no além-túmulo. reigáo ou o “proclama” já glorificado? e)
Quando morre, o homem “desee” pelo se Respondem os espíritos reconhecendo Je
pulcro ao Xeol, mundo subterráneo e tene sús Cristo como Senhor? Segundo F12,10-
broso dos mortos, que possuem uma existen 11 e cf. SI 22,30. f) A paciencia de Deus
cia umbrática (como “as almas” do nosso durava só enquanto se construía a arca, ou
folclore). Cf. Is 14; Ez 32 etc. (Nao tem senti se prolonga até a vinda do Messias? Se
do no AT dizer que o corpo inerte fica no se gundo Rm 2,4. Finalmente, leia-se aqui 4,6.
pulcro e a alma separada “desee ao inferno”.)
Nesse mundo dos mortos encontram-se, 4.1-5 Retoma o tema do sofrimento, mas
como grupo representativo, homens con em seu aspecto medicinal ou curativo (Jó
temporáneos de Noé, a quem o patriarca 33,16-18; Pr 20,30; Jo 5,14; 8,11; Rm 6,2.7).
anunciava o dilúvio e nao lhe deram aten- 4.2-3 Note-se o trio “desejos humanos,
gáo. Por nao darem atengáo morreram (cf. designios pagáos, vontade de Deus”. A
Ez 33), enquanto que a familia de Noé, por vontade de Deus deve sobrepor-se as ten
crer em Deus, se salvou. Jesús Cristo, par- dencias puramente humanas, que se con-
tilhando a sorte de todos os homens, desee solidam no regime pagáo. Pode-se ver tam
ao mundo dos mortos, nao para permane bém a tremenda enumeragáo de Sb 14,
cer, mas para “proclamar” a libertagáo (cf. 23-26 sobre as conseqüéncias da idolatría
Is 61,1). (cf. Rm 2,1; Tt 3,3).
Pois bem, a salvagáo na arca, através das 4,4 “Cerquemos o justo, porque nos in
águas, é tipo ou imagem da realidade cor comoda, sua vida se distingue da dos de-
respondente (antítipo), que é a imersáo ba- mais e seus caminhos sáo todos diferen
tismal na água. Nao é mero banho físico, tes... de nossas vias se afasta, como se
PRIMEIRA CARI A DE PEDRO 678
vos insultam. 5Mas prestarâo contas àque- 12Queridos, náo vos espanteis o mi h
le que está prestes a julgar vivos e mor- incendio que comecou contra vos, i * imi
tos. 6Eis por que se levou tam bém aos se fosse algo estranho; 13alegrai-v< >■ un
mortos a boa noticia: para que, condena tes, em partilhar os sofrimentos de < rt|
dos corno homens a morrer corporalmen to, e assim, quando se revelar sua gl< >ii *
te, vivessem espiritualmente como Deus. vossa alegría será plenificada. 14Se
7Aproxima-se o firn do universo: se insultam por serdes cristáos, feliz« ,1.
de, portanto, sobrios e moderados para vós, porque o Espirito de Deus e sua H"
poderdes orar. 8Sobretudo, conservai ria repousam em vós. 15Que ninguem .1.
vivo o amor mùtuo, pois o amor cobre vós tenha de padecer por ser ladráo, .r
urna multidào de pecados. ^Praticai a sassino ou criminoso, ou por intromeh i
hospitalidade recíproca, sem murmurar. se em assuntos alheios. 16Mas, se padei <
10Cada um, como bom administrador da por ser cristáo, náo se envergonhe, ao exm
multiforme graça de Deus, ponha a ser- trário, dé gloria a Deus por esse título
viço dos outros o carisma que tiver re- 17Chega o momento de comegar o j uI
ceb id o .11Se fala, como se pronunciasse gamento a partir da casa de Deus. E,
oráculos de Deus; se serve, como se o com eta por vós, como term inará qunn
fizesse com a força que Deus concede; do chegar a vez dos que rejeitam a boa
de modo que em tudo Deus seja glorifi noticia de Deus? 18Se o justo mal so
cado por meio de Jesus Cristo, a quem salva, o que será do ímpio e p ecador1
corresponde a glòria e o poder pelos sé- 19Portanto, os que padecem por vonla
culos dos séculos. Amém. de de Deus, continuem fazendo o beni
contaminassem” (ver todo o fragmento, Sb mina a segáo com uma doxologia que po-
2,12-16 no contexto do capítulo). deria ser o final da carta.
4.5 O julgamento final: At 10,42. 4,12 Náo poucos comentaristas estra
4.6 As opinióes se bifurcam a propósito nham aqui essa reviravolta. Como se os
deste v. Para alguns é prolongamento da sofrimentos ¡merecidos e previstos das pá
“proclaraacao” precedente aos “espíritos”. ginas precedentes se materializassem ago
Para outros, refere-se a cristáos mortos ra numa perseguigáo violenta, num “incen
antes da parusia, que nem por isso se ve- dio que lavra”. Também se pode pensar
ráo privados da vida perpétua, mas ressus- que as indica^óes precedentes preparam e
citaráo ao encontro do Senhor (lTs 4,13). culminam nessa exposigáo final. Trata-sc
4,7-11 O fim do universo é o momento de uma provagáo (Tg 1,2). E um modo de
do julgamento definitivo, de prestar con partilhar os sofrimentos de Jesús Cristo (C1
tas. Sua proximidade impóe a prática das 1,24; F1 3,10), que conduzirá a partilhar
virtudes cristás e o desempenho das tarefas sua alegría (Jo 15,11), inclusive de ante-
específicas ou individuáis a servido da co- máo (2Cor 7,4). Jesús tinha pronunciado
munidade. Entre as virtudes se destaca o uma bem-aventuranqa para os que pade-
amor mutuo; as tarefas se repartem entre cessem por sua causa (Mt 5,11), em aten-
falar e servir (cf. At 6,1-4; Rm 12). Uma <;áo à “grande recompensa”. A presenta
citagáo de Pr 10,12, segundo a versáo gre- especial do Espirito poderia aludir á pro
ga, dá a entender que a prática da caridade messa de Mt 10,22. Náo envergonhar-se
obterá o perdáo dos pecados no dia das con pode aludir a Me 3,38.
tas. O texto original diz que quando alguém 4.17 Pela Igreja ou casa de Deus, come
ama passa por cima das ofensas do outro. ta um julgamento de p u rificalo ou sepa-
4.7 Sobre a proximidade do fim, ver Ez ragáo (como em Jr 25,29); continuará
7, que proclama o anuncio. como julgamento de condenagáo para
4,9 A hospitalidade era virtude aprecia quem rejeitou o evangelho.
da entre os pagaos, nao menos que entre 4.18 Pr 11,31, segundo a versáo grega.
os judeus (cf. Is 58,7; Sb 19,14-16). 4.19 SI 31,6 “em tuas máos ponho a
4,11 Sao oráculos de Deus enquanto pro minha vida”; SI 31,16 “em tua máo está o
ceden! do carisma (cf. 2Sm 23,1-2). Ter- meu destino”.
l'KIM l'IRACARTA Dii l'HDRO
5 ,1 -6 Aexortaçâo por categorías que lí 5,5a Soa com ambigüidade: é questáo
maos em 3,1-9 continua aqui, seguindo um de idade ou de autoridade? Ver Lv 19,32;
esquema semelhante: anciáos, jovens, to- Jó 32,4.
ilos. “Anciáos”, em lugar de significar ida- 5,5b A citagáo procede de Pr 3,34 (cf.
ile (correlativo de jovens), passa a signi- Tg 4,6; 5,6). O grego fala concretamente
liear a funçâo. Antes de despedir-se, o de urna prenda equivalente a um avental.
iinciáo e responsável Pedro aconselha seus Por que o autor a escolheu? Talvez por
i olegas anciáos e responsáveis. Podem-se seu significado de servido; talvez lem-
1er esses vv. como testamento espiritual de brando-se de Jesús lavando os pés.
l’edro. Exibe primeiro seus títulos: teste- 5.6 SI 75,8; ISm 2,7; Le 1,52; 14,11; 18,14.
inunha da Paixáo (que assimilou em sua 5.7 SI 55,23; Mt 7,25-30.
espiritualidade, ainda que lhe tenha custa- 5,8-9 O termo hebraico satan, que signifi
ilo tanto compreendê-la) e participante na ca o rival ou o fiscal (Zc 3,1-2), desdobra-se
esperança da gloria. em dois termos gregos que significam rival
Depois propóe seus conselhos com seu num julgamento e acusador ou caluniador;
procedimento favorito de antíteses: “náo voltam a unir-se fundidos na designado do
isto, mas aquilo”. Très antíteses que sinte adversário por antonomàsia, Satanás. Com-
tizan! o programa de um pastor. O aspecto para-se a um leáo segundo abundante tra
negativo serve para precisar o oposto posi d i t o bíblica. O sofrimento suporta-se em
tivo; mas também poderia aludir a abusos uniáo com Cristo e com a Igreja (F11,29-30).
reais ou possíveis entre os responsáveis. A 5,10 0 final é de entoagáo retórica, com
imagem do pastor era e se tornou tradicio acumulo de verbos rimados.
nal: Jesús Cristo é o “Arquipastor” (pastor 5,13 Babilonia é nome de Roma em có
supremo ou maioral). Ez 34 e Jo 10 sáo os digo; lugar de desterro, de paganismo, hos
textos clássicos. til a Deus.
SEGUNDA CARTA DE PEDRO
INTRODUgAO
Autor e destinatários te — p o r que nao a ressurreigáo ? —f
com bativo com p a ixá o — com o rm
A carta comega com énfase e sole- sua in terven g á o no G etsém ani, ln
tiidade: duplo nom e do remetente, h e 1 8 ,1 0 par. — ; particularizando Pan!,
braico e grego, duplo título, “servo e — resposta ao incidente de G l 2,11
aposto l o ”. A o longo da carta, refere- 14? — ; zeloso da doutrina auténtica
se a outra precedente (3,1), recorda — em lugar de disposto a sofrer, com,:
sua presenga na transfiguragáo (1,18), lP d.
chama P aulo de irm áo (3,15), sente- Os destinatários sao fiéis (1,1) con
se na imin&ncia de morrer (1,14). N ao vertidos do paganismo. Sugerem-no o
está claro o autor? E stá dem asiado estilo, os influxos estoicos, o tipo i/<
clara a ficgáo da sinonimia, entáo co- heresias que combate.
m um ente praticada. O autor quer apre-
sentar o escrito com o se fo sse do após- Género e finalidade
tolo Pedro.
Na Antigüidade discutiu-se bastante Embora se apresente e comece como
sobre a autenticidade e até mesmo a ca- carta, o texto é antes urna exortagáo.
nonicidade deste escrito. H oje sao ra L evando em conta que se diz próxim o
ros os que defendem a autenticidade. á m orte (1,13-15), poderíam os classi
A s razóes contra sao m uito fortes. O fic a r a carta coino um desses testa
autor se trai repetidas vezes: quando se m entos espiritúais táo correntes na
incluí na geragáo seguinte (3,4), quan quele tempo e de ilustre ascendencia
do se distingue dos apóstolos (3,2), ao bíblica.
aludir a um corpo paulino (3,16), ao O autor enfrenta dois problemas prin
discutir o atraso da parusia (3,8). cipáis: o atraso da parusia (cap. 3) e
A isso soma-se a grande diferenga de as heresias (cap. 2). Apresenta o pri-
língua e estilo: vocabulário diferente, meiro como objegáo, em estilo de dia-
expressóes de sabor helenístico, como tribe, e o projeta no futuro, de acordo
“p a rtic ip a n te s da natureza d iv in a ” com suapersonalidade ficticia. Respon
(1,4), os termos eusebeia e arete = pie- de com argumentos da Escritura e f i
dade e virtude. O estilo é pomposo, as losóficos, e exortando á esperanga e á
imagens rebuscadas, o tom polém ico paciencia.
p a ra fo ra ep a ra dentro; sao abundan Por urna constelagáo de indicios al-
tes os adjetivos, nem sempre felizes; guns pensarn que a heresia era urna fo r
prefere a hipérbole ao matiz; introduz ma de gnosticismo: o uso de mitos, a
um polissilogism o artificioso (de oito insistencia no conhecimento. Os indi
membros, 1,5-7). N o grego infiltram- cios sao leves; o autor insiste na liberti-
se sem itism os de construgáo sintática. nagem dos hereges.
Acrescente-se a dependencia deJudas, Relagao com a carta deJudas.Asem e-
da qual falarei odiante. Ihanga de ambas as cartas é evidente.
M as, se o autor nao é Pedro, nos diz Para apreciá-lo, bastaría colocar em co
como um cristao de outra geragáo ima- lunas paralelas: 2Pd 2,1-18/Jd 4-16;
ginava Pedro: testem unha da transfi 3,1-3/17-18; os paralelos de detalhefo-
guragáo (1,18) com o episodio salien ram devidamente reunidos. Quem de-
681 SEGUNDA CARTA DE PEDRO
1,1-2 O grego traz a forma anormal de 1,5-7 Ao dpm divino o cristáo devi
Simeáo, própria do AT. Os destinatários corresponder com sua colaboragáo inteu
sao “iguais em valor” ou mérito, sejam pa sa e graduada. A graduagáo escalonada c
gaos convertidos em relagáo a judeu-cris- recurso retórico do autor, já que listas do
táos, sejam a segunda geragáo em relagáo virtudes sao coisa conhecida (p. ex. 2Cor
á primeira. Igualdade outorgada pela “jus 6,4-5; G1 5,22-23). A fé inicia e o amor
tiga” de quem nao faz distingóes. Jesús concluí, ocupando o conhecimento o ter
Cristo traz em grego o duplo título de Deus ceiro lugar. Nao é fácil precisar o valor de
e Salvador com artigo único (cf. Jo 20,28; cada termo nem suas relagóes exatas.
Rm 9,5). A carta insistirá no “conhecimen 1,8-9 Por ser dinámico, em processo, o
to” ou penetragáo, aqui de Deus (Pai) e de “conhecimento”, que antes era meio (v. 2),
Jesús Senhor (Jo 17,3). agora é resultado; náo é auténtico se Ihe
1,3-4 “Aquele que chamou” parece ser faltam as obras. Sobre a cegueira, ver Is
aqui Jesús Cristo (cf. Mt 9,13), embora ou- 59,9-10.
tras vezes costume ser Deus Pai (lPd 1,15; 1,11 Entra-se no reino, segundo Mt 7,21
2,9). Chamou com sua “gloria” (a da trans- (cf. Js 23,2-6). “Reino eterno” é expres-
figuragáo?, vv. 16-18) e seu mérito ou vir sáo única no NT, mas o conteúdo é fre-
tude milagrosa. Seu “conhecimento” pes- qüente, entroncado na promessa dinástica
soal é o meio para receber os dons. A (2Sm 7; SI 89).
“vida” é a nova que ele concede (Jo 17,2). 1,12-15 Com estes vv. o autor quer apre-
A “piedade” é a correspondente crista sentar a carta como testamento de Pedro,
áquela que os gregos preconizam. seguindo urna velha convengáo: veja-se o
A participagáo na vida divina corres de Moisés (Dt 31), com o anúncio da morte
ponde á filiagáo (Jo 1,13; 3,5; lPd 1,3). próxima, as instrugoes, o memorial para o
Por ela o homem consegue superar a “cor- futuro; também o de Josué (Js 22), o de
rupgáo” ou mortalidade, que pela “concu Davi (2Sm 23) e os apócrifos Testamen
piscencia” domina o mundo (Sb 2,23). tos dos Doze Patriarcas. E fácil reconhe-
683 SEGUNDA CARTA DE PEDRO
(lint** Ha m nliulc possuida, penso em nha santa. 19Com isso confirma-se para
I c h i h I . i i vii', i-.-.o sempre; 13eenquanto nós a mensagem profètica, e vós fareis
viti* lint'i motada, julgo oportuno man- bem em dar-lhe atenqao, como urna làm
viih \ ic.iliuiU's coni essa recordagào. pada que brilha na escuridào, até que
i | h mi 11111- logo deixarei esta mora- amanheca o dia, e o astro matutino ama-
i t •,iii, i ni, in formoli o Senhor nosso nhega em vossas mentes. 20Pois deveis
t Idilli ir.in 1 I : ine csforqarei para que,
hm, umili.i p.uiiila, preserveis esta lem-
sobretudo saber que nenhum a profe
cía é confiada à interpretagào privada,
E 21pois a profecía nunca aconteceu por
iniciativa humana, mas os homens de
A Mloi In ile ( risto — 16De fato, quan- Deus falaram m ovidos pelo Espirito
i )m vi ih anunciamos o poder e a vinda* Santo.
ijn ‘.i tilioi nosso Jesus Cristo, nào nos
giiMv ami is por fábulas engenhosas, mas Contra os falsos profetas e mes-
IIh Ihiiiios sido testemunhas de sua gran-
ili cn 1\|iianelo eie recebeu de Deus Pai
2 tres — 'H ouve também falsos pro
fetas no meio do povo, como haverá
III imi ii e gloria, por urna voz que lhe entre vós falsos mestres, que introdu-
i lii'^mi da sublime M ajestade: Este é o ziráo seitas perniciosas, e, renegando o
mi'ii l illio querido, o m eu predileto. patráo que os comprou, traráo sobre si
'"l usa voz vinda do céu, nós a ouvimos rápida destruicáo. 2Muitos seguiráo a
ijiiando cstávamos com ele na monta- d is s o lu to deles, o caminho da verda-
i i i iK'sse texto vários elementos da tradi- Pascal). Poís bem, as profecías e toda a
(,1111 IiIeraría. A “morada” é uma tenda Escritura devem ser interpretadas correta-
(i niño em Is 38,12; cf. 2Cor 5,1). mente, náo ao arbitrio pessoal, já que sua
1.12 Compare-se o tom positivo e con- origem náo é humana, mas divina. Esse
i lliador de Pedro com a austeridade de texto, junto com 2Tm 3,16, é a prova clás-
Mnisés em Dt 31,16. sica para a inspiragáo da Escritura. E é tam
1.13 A vigilancia aponta para a vinda bém principio geral de interpretadlo.
ilo Senhor (Mt 24 par.).
1, 14 A revelagáo pessoal pertence tam- 2 ,1 A mengáo das profecías suscita uma
licm á convengáo literária; mas veja-se o grave chamada de atengáo. Como no AT,
i aso de Simeáo (Le 2,25-26). a realidade do profeta auténtico provoca-
1.15 Ver Dt 32,46, que apela também va, por inveja ou interesse, a aparicáo do
para o valor da palavra. falso profeta (Dt 13,2-6; Jr 23; Ez 13 etc.),
1.16 *Ou: a vinda com poder. assim agora a atividade de mestres autén
1,16-19 Como confirmagáo do seu en- ticos, oficiáis (At 13,1; ICor 12,28) suscita
sinamento e da esperanza na parusia aduz o afa de outros (Tg 3,1) e o surgimento de
o fato — nao fábula — da transfiguragáo, “falsos doutores”. O autor vai apresentá-
da qual se apresenta como testemunha ocu los, descrevé-los e anunciar seu castigo.
lar. Segue mais a versáo de Mt 17. A “su Para tanto, segue de perto a carta de Judas
blime Majestade” é título ou equivalente com algumas emendas: restabelece a ordem
de Deus. A montanha santa é a da revela cronológica, elimina citagóes de apócrifos,
gáo da sua gloria (o Tabor, segundo tradi- suaviza a linguagem. E uma exposigáo re
gáo nao comprovada), náo o Sinai nem tórica, inchada pela acumulagáo de tragos,
Siáo. Essa revelagáo, enquanto cumpri- mais enfática que precisa. O autor póe no
mento, corrobora a validade das profecías, futuro o que Judas punha no presente, dan-
incluida a da futura vinda (3,4). Assim do-lhe assim o caráter de profecía.
confirmadas, as profecías e toda a Escri O “povo” é Israel (cf. Dt 13,2-6). Deus
tura sáo lámpada que ilumina nossa noite, os comprou para té-los a seu servigo e dar-
até que amanhega o sol (chamado aquí de lhes a liberdade.
luzeiro matutino); ou seja, até sua vinda 2,2 O “caminho da verdade” é a vida
com gloria (cf. SI 57; Is 60 e o Precónio crista segundo o evangelho.
SEGUNDA CARTA DE PEDRO 684
de será difamado, 3e por cobiga abusa- anjos, superiores em força e podo, ni,
ráo de vos com discursos fingidos. Faz os acusam com insultos diante di i >,
tempo que sua sentenza nao repousa, 12Esses, como animais irracional
sua condenagáo nao dorme. 4Se Deus tinados por natureza a ser caç.nln ,
nao perdoou os anjos pecadores, ao con consumidos, insultam o que nao ■m ,,,
tràrio os sepultou em abismos escuros, dem; mas se corromperáo como eli 1'«
reservando-os para o julgam ento; 5se receberáo assim o pagamento de sin m
nao perdoou a humanidade de outrora, justiça. Sua idéia de prazer é a orgi.i,,,
mas, reservando com outros sete a Noé, pleno dia; sujos e nojentos, deleilum
pregadordajustiga, enviou o diluvio ao se em seus embustes quando banqin
mundo dos malvados; 6se condenou So teiam convosco. 14Tém os olhos chenti
doma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas de adultérios, jam ais saciados do peí n
e deixando-as como adverténcia de fu do, sedutores de ánimos vacilantes, com
turos malvados; 7— embora tenha li a mente treinada na cobiça: dignos ,1,
bertado Ló, o justo, que sofria com a con- maldiçâo. 15Deixando o caminho iri,,
duta dos libertinos, o justo que morava extraviaram-se. Seguiram o caminho di)
entre eles, 8que torturava cada dia seu Balaâo de Bosor, que cobiçou o pag»
espirito, ao ver e ouvir as iniqüidades mentó de sua própria iniqüidade. " ' N , ,
deles: 9o Senhor sabe livrar os homens entanto mereceu urna repreeensâo poi
religiosos e reservar os malvados para seu delito, pois sua muda cavalgaduu
castigá-los no dia do julgam ento; ‘"es falando com voz humana, freou a Ion
pecialm ente os que seguem o instinto e cura do profeta. 17Esses sâo fontes sein
seus imundos apetites e desprezam a água, nuvens arrestadas pela tempesta
Soberanía. A udazes e insolentes, insul- de, destinados a densas trevas. 8Pro
tam os G loriosos, n ao passo que os nunciando altissonantes coisas vas o
2,3 A cobiça delata a falsidade (Mq 3; 2.12 O destino desses homens é o div.
lTs 2,5). A sentença de condenaçào, per animais, ou seja, a corrupgáo como morti-
sonificada, náo espera que eles cheguem, definitiva: “O homem o luxo náo perrmi
mas se adianta para surpreendé-los. nece: é semelhante ao animal mudo” (SI
2,4-8 Aduz très exemplos de castigo, 49,13).
mudando a ordem de Judas e substituindo 2.13 Sb 15,7-19 nos dá urna descrigáo
o castigo dos israelitas no deserto pelo di ampia dessas perversóes, explicadas como
luvio. Ao texto bíblico acrescenta detalhes conseqiiència da idolatria.
da tradiçâo rabínica. O primeiro afeta os 2.14 Adulterio e cobija corresponden!
seres celestes de Gn 6,2; a masmorra pode a dois mandamentos do decálogo (Ex 20).
proceder de Is 24,22. O segundo castigo Náo cumpri-los acarreta maldigáo. Sobre
faz urna exceçâo: um Noé visto como “pre- a cobija: Jr 22,13-17.
gador” (lP d 3,20). Também o terceiro cas 2,15-16 Suprimindo dois exemplos de
tigo faz urna exceçâo: um Ló melhorado Cairn e Coré, aduzidos por Judas, ampli
em relaçâo à tradiçâo bíblica (Gn 19). fica o caso de Balaáo (Nm 22-24), desta
Com os très castigos temos prisáo, água cando dois aspectos negativos (como faz
e fogo (cf. Eclo 39,28-29). Esperamos a Js 24,9-10). O salàrio da iniqüidade é o
apódose dos très condicionáis, e náo vem. que lhe ofereceu Balac, rei de Moab, para
2,9-10a Em seu lugar, resume o ensina- maldizer Israel. Por sua atuaijáo final, cha-
mento numa antítese. “Soberania” substi ma-o de “profeta”.
tuí o nome de Deus (cf. SI 36,2-4). 2.17 “Trevas”: do reino dos mortos. Ver
2,10b-ll Aquí começa a descrever a Jó 10,21-22 e a magnífica descrigáo de Sb
conduta dos falsos doutores. Os “Glorio 17.
sos”: parece ser outra denominaçâo dos 2.18 Contra o abuso da liberdade para a
anjos ou os santos. O “náo acusar” se ex libertinagem Paulo já preveniu (Gl 5,13).
plica pelo modelo de Jd 9, onde Miguel A libertinagem torna escravo do pecado
nao se atreve a dar sentença (cf. Zc 3,1-2). (Jo 8,34; Rm 6,16), e por ele torna escra-
685 SEGUNDA CARTA DE PEDRO
n i ............. i ii'il il.i libcrlinagem, se- vossas mentes sinceras. 2Recordai o que
• , in .| m> ni il .1 .ilastaram dos que anunciaram os santos profetas e o man
.................... 1Tminclem-lhes liber- damiento do Senhor e Salvador trans
i, i . ..........i.ivnsda corrupgáo. Pois mitido pelos apóstolos. 3Antes de tudo,
, ........... . i m tava (luquete a quem deveis saber que no firn dos tempos vi-
........ I. l'nii.inin, se alguém se afas- ráo homens cínicos e cagoadores, en
............ . i. ilu mundo, pelo conhe- tregues a seus apetites, 4que diráo: O
,
i iiii. .I' '.i 111ii >i e Salvador Jesús
m que aconteceu com a prometida vinda
■ ,i i ........... 111ni i(c se deixa enredar e dele? Desde que morreram nossos pais,
, ...... . ii lim e pior que o princí- tudo continua o mesmo desde o inicio
,i M. i Ihii mi laque nao tivessem co- do mundo. 5Está oculto a eles, porque
i, i.iii n i 11111 n lio da justiga do que, querem, pois desde atrora existia um
.....I......... iiiln i ido, afastar-se do santo céu e urna térra emergindo da água e
• . i|in Mies liaviam transmitido. que no meio da água estava firme por
........ ii i -.i iu Ii ' s a verdade do provér- meio da palavra de Deus. 6E assim o
111........... volta ao próprio vómito, m undo de entáo pereceu afogado. 70
1. lavado que se revolve na lama. céu e a térra atuais pela mesma palavra
estáo conservados para o fogo, reser
1 M iiiso da parusia — 'Queridos, vados para o dia do julgam ento e da
• ». i.i i- a segunda carta que vos es- condenacao dos homens perversos. 8So-
. i. vii. paia, relembrando, despertar as mente isto, queridos, nao fique oculto
ii iI.i corrupgáo, quer dizer, da morte de- vio, que foi como volta ao caos, como Vi
Iiiiilivn (Sb 1,12.16). toria das águas sobre a térra firme (vv. 5-
/..’O Ii o principio ilustrado por Jesús 6). Da catástrofe surgiu urna nova ordem
.....i urna imagem (Mt 12,45). (Gn 8,22-9,7), na qual vivemos agora.
O Pr Esta ordem atual acabará na nova ca
primeiro refráo se inspira em
'ti, I I; o segundo parece popular. tástrofe, pelo fogo (vv. 7.10-12), executor
da sentenga: Sodoma e Gomorra (2,6) fo-
■VI Com este recurso, o autor se coloca ram urna espécie de ensaio exemplar. Des-
Iii iidetrás da carta de Pedro e justifica seu se modo, os dois elementos destrutivos se
escrito. Imita também Paulo, com suas póem a servigo de Deus: “o universo luta-
v,irías cartas aos corintios e as duas aos rá a seu lado contra os insensatos” (Sb
lessalonicenses. 5,21-23). A segunda catástrofe, futura,
3,2 Os apóstolos sao vistos como bloco abrirá espago para uma nova (v. 13) ou
compacto, transmissor da tradigáo. Quer renovada criagáo (Is 65,17-19; 66,22).
ili/.or, sao vistos á distancia, é preciso re Quanto ao tempo de tais eventos, a res-
frescar a lembranga deles (compare-se com posta será diferenciada (vv. 8-10): a) para
Zc 1,4). Deus, o tempo tem outra medida (SI 90,4);
3,3-4 Sobre as profecías aludidas, póde b) o atraso se deve á paciencia de Deus,
se consultar em especial 2Tm 3,1-9; tam que dá tempo para a conversáo (SI 11,23;
bém as escatologias de Mt 24 e Me 13. 12.2.10) e desoja a salvagáo de todos (Ez
Um antecedente importante se lé em Ez 18,23; lTm 2,4); c) Achegada será repen
12,22-27: do atraso do cumprimcnto de- tina, segundo a tradigáo mais comum (Mt
duzem de maneira errónea a falsidade da 24,43-44; lTs 5,2; Ap 3,3; d) O cristáo con.
predigáo. sua conduta pode apressar o momento d
3,5-10 O autor responde refutando pri transformagáo final (cf. Eclo 35,21-22,
meiro a objegáo dos adversarios, afirman 36.10).
do depois o fato futuro e tratando por ex Quanto ao modo do desenlace, o autor
tenso o tema do atraso. escolhe, das escatologias, o fogo como
Afirmaram que o universo continua agente de destruigáo (vv. 10.12), que al-
como no principio da criagáo (SI 24,2), e cangará os (quatro) elementos que consti-
é falso, aconteceu urna catástrofe: o dilú- tuem a substancia do universo. O fogo é,
SEGUNDA CARTA DE PEDRO 686 i ■
para vós: Para o Senhor, um dia é como ridos, esforcai-vos com essa espi i m
mil anos, e mil anos como um dia. 90 para vos mostrardes na paz, sem m n
Senhor nao tarda a cumprir sua promes cha nem defeito. 15Pensai que a p:n l<»
sa, como alguns pensam, mas tem pa cia de Deus para convosco é para \ •><«i
ciencia convosco, pois nao quer que salvaqáo, como vos escreveu noss<»*|n
ninguém se perca, m as que todos se rido irmáo Paulo, com a sabedor i. 11|<>
arrependam. ‘nO dia do Senhor chega- lhe foi concedida. 16Em todas as su iJ
rá como um ladráo. Entáo o céu desa cartas ele trata desses temas, se bem<|u.
parecerá com estrondo, os elementos se nelas há coisas difíceis de entendei. <|n.
desfaráo em chamas, a terra com suas os ignorantes e vacilantes defomi.nn
obras ficará evidente. n E se tudo vai se como fazem com o resto da Escrilm .
desfazer desse modo, com o deveis ser para sua própria perdigáo. 17Vós, | >•>■
vós? Na conduta santos e religiosos, tanto, queridos, ficai prevenidos e pii
12esperando e apressando a vinda do dia cavidos, para que nao vos arraste o o h .
de Deus, quando o céu se desfará em de hom ens sem principios, e peró n
fogo e os elem entos se derreteráo abra vossa estabilidade. 18Crescei, antes, n i
sados. 13Segundo sua promessa, espe graga e no conhecim ento do Seiilmi
ramos um céu novo e urna terra nova nosso e Salvador Jesús Cristo. A elo i
onde habitará a justiga. 14Por isso, que- gloria agora e até a eternidade. Améin
aliás, símbolo e expressáo da ira divina. 3,15-16 Isso supóe que já existisse um
Portanto, este dia do Senhor coincide com corpo paulino reconhecido, que Paulo tra-
o anunciado por Sofonias (Sf 1,14-18; ver tava de temas semelhantes (p. ex. Rm 2,4-
também o julgamento pelo fogo de Is 66, 10; F1 1,10-11; lTs 3,13), que seus escri
15-16). tos tinham sido mal interpretados por
3,14 Ficaram amplamente refutados os alguns. Tudo isso se enquadra melhor na
zombadores sarcásticos; é preciso tirar segunda geragáo cristá. Só que a sorte ad
conseqüéncias para os bons cristáos. Pelo versa de escritos paulinos é partilhada em
que aquele dia terá de julgamento, devem grau diferente pelo resto da Escritura, ou
conservar-se “sem mancha nem defeito”. seja, pelo AT (cf. 1,21).
Pelo que tem de salvagáo, que vivam com 3,18 Pela última vez menciona o “co
esperanza. Naquele mundo futuro reinará nhecimento” de Jesús Cristo, com seus tí
a justiga (Is 32,16-17; Sb 1,15). tulos Senhor e Salvador.
nUM EIRA CARTA DE JOÁO
INTRODUgAO
1 -2 Joáo tem urna mancira particular 10). A Vida auténtica, divina, ganha esia
de expor: abarca um panorama de dados e vitória prévia, pode comunicar-se (1,7) i
conexóes, e nele se move com mais liber- ser partilhada por pessoas numa comiim
dade que rigor. Nem sempre é fácil seguir- dade.
lhe o fio, descobrir sua coercncia. Por isso Isso, que se apresentou como fato pon
me parece útil adiantar algumas visdes de tual fundacional, inaugura urna situaç.m
conjunto. o homem perdoado recai no pecado (5,1 <>)
Quando nós falamos da “vida”, usamos o morto ressuscitado intercede por ele (2,1
um abstrato, extraído dos seres vivos, ao 2). Pois bem, já perdoado, o homem tan
qual podemos atribuir urna consistencia de voltar ao amor de Deus e ao c u m p rl
imaginativa, inclusive mítica; como se fos- mentó conseqüente de seus mandamentos
se urna entidade autónoma, um ser, urna Isso equivale a imitá-lo ou seguir seu cu
pessoa. A visáo poética, mítica, corres minho (2,3-6; 4,17). Assim, dos “precei
ponde a nossa experiencia impressionan- tos” no plural passa ao “preceito” singu
te do que vive, em sua variedade e ener lar, antigo e novo, reino da luz no mundo
gía. Joáo contempla a Vida como realidade o amor fraterno (2,7-8).
transcendente, divina, pessoal (1,2), que Ess*r visáo de conjunto, na qual intro
num dado momento, o seu, se manifesta duzi conceitos e categorías nossos, se m a
soberanamente. Para os homens, escolhe tiza e se enriquece em muitos detalhes.
um modo de m anifestado humana: atra-
vés dos sentidos, revelar a transcendencia. 1,1-4 Diríamos um esboço para o pró
Essa Vida é ser ou é “luz”, sem mistura logo do evangelho: pelos temas e termos
de nao-ser ou náo-luz — contingencia — , da Palavra, a Vida, o existir desde o prin
como acontece em nós (1,5-6). “Trevas” cípio, o estar junto ao Pai, o ver, o calar o
para os hebreus vém a ser outro símbolo nome de Jesús (supondo-o conhecido). Por
mítico do informe ou caótico, do náo-ser outro lado, falta qualquer referencia à cria-
(cf. Jó 3), que no homem é a caducidade, çào e o termo Gloria. O evangelho apre-
a contingencia; no ser livre se atualiza senta como sujeito a Palavra (cf. Ap 19,13)
como pecado. Pelo afá de salvar seu ser, o e lhe atribuí vida. Esta carta faz da Vida
homem se entrega ao náo-ser, por agarrar um sujeito (très vezes). E a Vida que esta
se á vida, se desvive, e fica com urna vida va junto ao Pai e se manifestou e se anun
que se realiza consumindo-se. cia. E estranho e surpreendente esse modo
Agora o horizonte simbólico gigantes de começar por um complemento “o que”
co se estreita e se concentra num ponto: quadruplicado que se estende até ser iden
essa Vida morre (1,7) e sua morte gera tificado com énfase. Quáo diferente seria
vida, porque destrói o mal tenebroso do começar propondo o tema como título. E
pecado. Só pede ao homem que aceite um toda essa cadeia de verbos na primeira
raio de luz, verdade ou sinceridade, para pessoa que se comprimem, arrestando o
descobrir e reconhecer suas trevas (2,8- autor: dominado e consciente.
H 691 PRIMEIRA CARTA DE JOÁO
M|KI | lit» I '«In i » mcnsagem que sos pecados, ele é fiel e justo para nos
. Vi ih m i im i iamos: Deusé
m i l i t i l i » il i l> perdoar os pecados e lavar-nos de todo
In M it i miMiim iti tir V ii* . ''Se dizemos delito. 10Se dizemos que nao pecamos,
................ ni '.ini vii In i: no entnnto ca- fazemos dele um mentiroso e nao con
tlilnl..... un i ’ii ni li liin. mentimos e nao servamos sua mensagem.
Iiihi" i "in ‘' I n ' ■ini.iiIr 'Mas, se cami-
i mu i'iiimlr rulase nos diz que a mani- modo se qualifica: “Se dizemos...” pode
limiin.iiH mi irvclnçao foi visível, audível e indicar conseqüéncia, mais que condigáo.
Mljiftn I, | hii isMiqucm escreve o faz como 1,5 “Sem trevas”: Tg 1,17 (cf. SI 36,10,
»mi h n ni i >I i.t mullir com très sentidos (cf. o e por contraste Eclo 17,30-32).
i m ili n i| iliii r degustar do SI 34,6.9). Com- 1,7 Note-se o paralelismo “partilhamos
jiiim ni' i mu a revelaçâo esquiva a Moisés sua vida/partilhamos nossa vida”. “Nos
• riliin. "nu il rosto nao podes ver, porque limpa”: Hb 7,14.22. O “sangue” retoma
l t lli| | ! ii'in pode ve-lo e permanecer com no final da carta, 5,8.
i ti lu ( I x í 1,20); “o Senhor nao estava no 1,8-10 Unidos ao v. 6, sao um apelo á
i H ilii nao estava no fogo...” (IRs 19,lis). sinceridade radical, diante do auto-enga-
Ihili imristos gregos registram o fato pas- no e do “fazer dele um mentiroso” (ver
oui", dois perfeitos registram seu resulta 5,10). Pois quem nega seu pecado nao
li" immanente (temos visto e ouvido). O pode receber a purificagáo pelo sangue de
«|inl|>nr, como alusáo provável a Tomé (Jo Jesús; quem o confessa, a recebe. Sendo
/il.27), sugere a ressurreiçâo, nâo explícita táo importante a confissáo do pecado, bas
Mil r a l l a . te recordar textos como Pr 20,9: “Quem
Manifestaçâo e anuncio nâo se esgotam se atreverá a dizer... estou limpo de peca
iMii informaçâo e conhecimento intelectual, do?” (SI 32,3-5; IRs 8,46). É “fiel e jus
nuis desembocam na participaçâo nessa to”: como parte justa/inocente, pode per
vida transcendente. (Como pelo conheci- doar a parte culpada; como fiel, cumprirá
incnto interpessoal participamos na vida do a promessa.
mitro, mas em plano superior.) Isso extrava
sa ile forma inimaginável a promessa do AT: 2,1-6 O eixo dessa segáo é a oposigáo
"ele é tua vida... na terra” (Dt 30,20). Se- pedir/cumprir seus mandamentos. Em tor
melhante conhecimento pode produzir já no do eixo situam-se duas realidades em
um alegría completa (Jo 15,11). Amensagem posigáo assimétrica. Ao cumprimento se
ilo apóstolo é toda positiva e expansiva. associa o “conhecimento” e o “amor” de
1,5-7 Aqui começa a desenvolver seu Deus. Ao pecado se lhe outorgam perdáo
pensamento por oposiçôes radicais, com o e expiagáo pela mediagáo de Jesús Cristo.
símbolo clàssico de luz e trevas. Corrente 2.1 E “advogado” (Le 23,34); em Jo
em muitas culturas, no AT, no NT, e concre 14,18 esse título corresponde ao Espirito
tamente referido a Jesús, no evangelho de Santo. Ao dizer “o Pai” sem possessivo,
Joáo (Jo 1,4-5; 3,19.21; 8,12 etc.). O símbo considera-o de Jesús e nosso.
lo se aplica à conduta humana com suas con- 2.2 “Expia”: Jo 1,29; Rm 3,25.
seqüências (cf. Is 59,10). Também começa 2.3 Comegam aqui outros dois procedi-
aqui o procedimento estilístico da oraçâo mentos de estilo freqüentes na carta, a)
condicional, freqüente na carta (p. ex. 1,6.8. “Quem... aquele que...” serve para deter
9.10; 2,1.4 etc.). Nem sempre significa urna minar e qualificar urna atitude, a eleva
condiçâo para obter algo, mas serve para quase a aforismo (2,4.6.9.10.11.15.22.23
um enunciado hipotético que de algum etc.), b) Aexplicagáo “nisto conhecemos...,
PRIMEIRA CARTA DE JOÁO 692
m andam entos. 4Quem diz que o conhe- ceito novo, que se tom a realidadc n, i>
ce e nao cum pre seus preceitos, mente e em vos; porque se afastam as ti * vu*«
e nao é sincero. 5Mas quem cumpre sua já brilha a luz verdadeira.
palavra tem de fato o am or de Deus ple 9Quem diz que está na luz mas <>.!• i*
namente. Nisso conhecem os que esta seu irmáo continua em trevas. '"(.»n. m
mos com ele. 6Quem diz que perm ane ama seu irmáo perm anece na lu/ c im»
ce com ele deve agir com o ele agiu. tropera. n Quem odeia seu irmáo i> i .
em trevas, cam inha em trevas c ni'
O m andam ento do am or e a luz — sabe aonde vai, pois a escuridáo Un
’Queridos, nao vos escrevo um precei- cega os olhos.
to novo, mas o preceito antigo que re-
cebestes no principio. O preceito anti Os cristáos e o m undo — 12Meus li
go é a m ensagem que escutastes. 8De lhos, eu vos escrevo, pois em nome il< I,
certo modo, porém, vos escrevo um pre vossos pecados estáo perdoados.
20Vós recebestes do Espirito a ungào, 26Eu vos escrevi isso a respeiti >d. ■ .¡
e todos sois expertos. vos enganam. 27Vós conserváis a un
21Nào vos escrevo porque desconhe- que recebestes dele, e nao tendcs un >
ceis a verdade, mas porque a conheceis sidade de que alguém vos ensine | >.>i
e porque nada de falso procede da ver uncáo dele, que é verdadeira e inl.ih .
dade. 22Quem é o mentiroso a nao ser vos instruirá a respeito de tudo. A i ¡ m i
quem nega que Jesús é o Messias? O que vos ensinar, conservai-o. 2KAf,. im
Anticristo é este: quem nega o Pai e o pois, filhinhos, permanecei com eli < i
Filho. 23Quem nega o Filho nao aceita sim, quando aparecer, teremos comIi.ui>,J
o Pai; quem confessa o Filho aceita o e nao nos enveigonharemos dele quanilt
Pai. 24Vós conserváis o que ouvistes vier. 29Se sabéis que ele é justo, sabor.
desde o principio. Se conservardes o que filho dele é quem pratica a jusin. i
que ouvistes desde o principio, também
vos perm anecereis com o Filho e com Filhos de D eus — 'Vede que p ,m
o Pai. 25Pois tal é a promessa que ele
nos fez: a vida eterna.
3 de amor o Pai nos mostrou: serum!
chamados filhos de Deus e o somos I
27) e permanecer constantes até a “vinda” pureza ideal, exemplar. Pois bem, o tip..
de Cristo. “Filho de Deus” por natureza, enquanto luí
2.20 Expertos nos assuntos da vida (perfeito gegennetai), nao peca nem pud.
crista. pecar. Quem peca, mostra ser de outra na
2.21 A “verdade” é a mensagem do tureza, filho daquele que desde a sua ou
evangelho, do qual nao se segue falsidade gcm é pecador, o Diabo (igual ao Maligni,
alguma, a nao ser que o falsifiquem pri- de antes). Entáo, como se explica que ei r.
meiro. táos, filhos de Deus, pequem de fato? Poi
2.22 Pai e Filho sao conceitos corre que ainda náo está consumada sua natun
lativos, implicam-se mutuamente. O Deus za (3,2) nem acabada a “semelhanga",
verdadeiro é o Pai de Jesús Cristo. ainda pode atuar neles o Diabo.
2,25 A promessa: Jo 17,2. “Pecador desde o principio”: refere-se
2.28 O autor joga com a consonancia à tentagáo do paraíso ou ao caso aduzido,
em grego de “confianga” e “vinda”. à aparigáo da morte na humanidade, Abel
2.29 Este v., com 3,10 e 3,24, serve de e Caim (3,11). Para um semita, o comego
enlace. O v. 29 acrescenta um elemento define a natureza (natura a natu).
novo, “filho seu”, que se desenvolve a se O novo tema se ordena em torno do eixo
guir. 3,10 repete 2,29 acrescentando um de oposigóes: filhos de Deus/filhos do Dia
dado, “ama seu irmáo”, que se explica a bo, nao pecado/pecado, justiga/iniqüida
seguir. Por sua vez, 3,24 introduz o tema de. Os extremos se apurara para expressar
do Espirito, que ocupa a segáo seguinte. o inconciliável, e isto explica algumas for-
mulagóes paradoxais. A esse eixo se acres
3,1-10 A guisa de introdugáo. Tema ca centa no parágrafo a “tensáo escatològica”,
pital da revelagáo é nossa filiagáo divi ou seja, entre o que já é e o que será.
na; nao por mero título extrínseco, mas “Filhos de Deus”. No AT, Deus é pai do
por transformagáo da pessoa (3,1). Essa povo inteiro e do rei que o representa (p.
filiagáo se manifesta em seus efeitos e se ex. Ex 4,23 e SI 2,7); só textos tardios o
contrapóe a outra filiagáo, nao simétrica, aplicam a um individuo particular (Eclo
“filhos do Diabo” (3,6-10). Contraposigáo 51,10). No AT, a paternidade/filiagáo é
é um dos principios que governam a car uma revelagáo central (Jo 1,12; Rm 8,23).
ta: nao é estranho encontrá-la nesse mo E paradoxal a expressáo “semente dele”.
mento táo importante. Mas, além de tudo, Só Malaquias fala de “descendencia divi
tem outra fungáo. O autor nao propóe aqui na” (2,15) referindo-se ao matrimonio le
personagens concretos, históricos ou atuais gítimo e aludindo a Gn 1,27. Outros tex
e sim tipos, (inclusive Caim é visto como tos falam de “derramar espirito” sobre a
tipo). Os tipos sao estilizagóes que sim- estirpe = semente (Is 32,15; 44,3). Joáo
plificam a complexidade, em busca de urna diz mais: “ele” deve referir-se ao Pai; a
695 PRIMEIRA CARTA DE JOÀO
. . n 11111111I11 ii.ic) nos reconhece, por- quem pratica a justiga é justo como ele.
iin ii im ii u nnilioco. 8Quem comete pecado procede do Dia
i tu. Milu*. |.i somos l'ilhos de Deus, bo, porque o Diabo é pecador desde o
iim< iiiiiii.i m. io se manifestou o que se- principio. E o Filho de Deus apareceu
icmiii" 'iiiIh mus que, quando ele apare- para destruir as obras do Diabo. 9Nin-
• i m, i..... i-, smielliantes a ele e o vere- guém que seja filho de Deus comete
iiino . i . m u d e c. -’Quem espera nele pecado, pois conserva sua semente; e
i....... im uli 11 un il ica-se, como ele é puro. nao pode pecar, porque foi gerado por
i im ni i órnete pecado viola a lei: o Deus. lüAssim se dem onstra quem é fi
■ i li' . i ii heldia contra a lei. 5E sa- lho de Deus e quem do Diabo: quem
ii i . 111< r Ir apareceu para tirar os pe- nao pratica a justiga nem am a seu ir-
.i.in i i le próprio nao teve pecado. m áo nao vem de Deus.
i|in ni permanece com ele nao peca;
hhi mi pri a nao o viu nem conheceu. O p re c e ito d o a m o r — “ Porque a
I i IIi ImIi os , que ninguém vos engane: m ensagem que ouvistes desde o prin-
■i inrntr” é o próprio Jesús Cristo, ou é a Neste parágrafo, o autor propóe dois si-
imliu . vital e fecunda da parábola? (Mt
i i nais de identificaçâo (2,10) e prodigaliza
I i U<) os enunciados quase aforísticos com par
I ilIms do Diabo”: Jo 8,44 o explica. O ticipio “quem...”. O v. 10 introduz o tema
I U Iii é “pecador desde o principio” ao
h i seguinte, já tratado (1,7-11).
i iln/ir liva (Gn 3; Sb 2,24). Cristo veio 3.1 Como no projeto inicial, a fecun-
ih -.ii iiir a agáo do Diabo (Le 11,21 par.), didade é fruto do amor conjugal, assim
i >pecado = iniqüidade é inconciliável nossa filiaçâo brota do amor de Deus.
.....i I )eus e com Cristo (Jo 8,46), que veio 3.2 O olhar, a visáo, transforma (cf. SI
iiiii lo (Jo 1,29). E é inconciliável com 34,6).
i|iirm vive a filiagáo divina: o grego usa 3.5 Há duas “apariçôes” de Jesús: a his
ni pi i um verbo no perfeito de resultado tórica (neste v.), a parusia (v. 2).
Iir imánente (compare-se com o modismo 3.6 O grego usa dois perfeitos, algo
Iii ii tugués “está feito um campeáo, um ar como “náo o viu nem o conheceu”.
tista etc.”). “Iniqüidade” é, segundo a eti 3,8 Ver a expressáo polémica de Jo 8,
mologia grega, vida “sem lei”, rebeldía à 44.
Iri (de Deus). Com eia Paulo caracteriza o 3,11-24 A perícope se abre e se encerra
I liabo ativo no mundo (2Ts 3,7). A “justi- com o tema do amor fraterno (v. 11 e 23-
i; ¡ ” e o contràrio do pecado e da iniqüida-
i 24a); 24b introduz a seguinte). O tema está
«Ir.; é uma marca de perteneja. indissoluvelmente unido à fé em “seu Fi
A semelhanga. Um filho se assemelha lho Jesús Cristo”. Como opostos a esse
naturalmente a seu pai (Gn 5,3). Pode tam- amor, propóe o caso extremo do homici
hém parecer quando imita sua conduta. Por dio e o mais freqüente, o de negar ajuda.
sua filiagáo batismal, o cristáo já se pare No meio da perícope inséré outro item, o
re com seu Pai Deus; mas deve esforzar da consciencia (kardia).
se por afinar a semelhanga. Deve ser “pu O eixo desse parágrafo é o amor/ódio
ro” e “justo” como ele (o Pai ou Cristo). A ao próximo, que está unido de forma as-
semelhan§a já existe e pode ir crescendo simétrica a vida/morte. O amor leva vida,
(2Cor 3,18). Só será completa e se mani é sinal de vida e comunica vida. O odio
festará totalmente quando se manifestar leva morte e produz morte. Mas o amor,
Cristo glorioso na parusia. Entáo nós que este é o paradoxo, pode enfrentar a morte
agora vemos “no espelho”, o veremos co para salvar a vida de outrem. Cristo mor-
mo é (ICor 13,12). O grego hoti pode ser rendo deu vida e deixou exemplo de sa
completivo ou causal, “que” ou “porque”. crificio por amor (Jo 13,34-35; 15,12-13).
O mundo nao reconhece como seus os que O parágrafo usa uma vez o esquema con
parecem com Deus, pois o mundo “per- dicional para dissipar confusóes (v. 17), très
tence ao Diabo”. vezes o esquema do sinal para discernir (w.
PRIMEIRA CARTA DE JOÀO 696
cípio é que vos am éis uns aos outros. porque cum prim os seus maml i......
12Náo com o Caim , que vinha do M a tos e fazemos o que lhe agrada, i ■
ligno e assassinou seu irmáo. E por que te é o seu mandamento: que acumi,
o assassinou? Porque suas agóes eram na pessoa de seu Filho Jesús ( n i.
más e as de seu irmáo eram boas. 13Náo nos amemos uns aos outros, co m ... i.
vos espanteis, irm áos, se o m undo vos nos ordenou. 24Quem cumpre seu .....
odeia. 14Sabem os que passam o s da d am entos perm anece com Den», •
m orte para a vida, porque am am os os Deus com ele. E sabem os que ele p ..
irmáos. Quem nao ama perm anece na m anece conosco pelo Espirito que n.,
m orte. I5Quem odeia seu irm áo é ho deu.
m icida, e sabéis que nenhum hom i
cida conserva dentro de si vida eterna. D iscern im en to de espirilo-.
16Conhecem os o que é o am or naque- 'Queridos, náo vos fiéis de quali|u> i
le que deu a vida por nos. E tam bém espirito; ao contràrio, comprovai se om k
nós devem os dar a vida pelos irmáos. píritos vèm de Deus; pois muitos lai •••
17Se alguém possui bens do m undo e profetas vieram ao mundo. 2Nisto i.
vé seu irm áo necessitado e lhe fecha conhecereis o Espirito de Deus: todo o»
as entranhas e nao se com padece de pírito que confessa que Jesús C ii i i
le, com o pode conservar o am or de veio em carne mortal, vem de Deus; V.
Deus? 18Filhinhos, náo am em os de pa- do espirito que náo confessa Jesus n.>
lavra e com a boca, mas com obras e vem de Deus, mas do Anticristo. Ouv i .
de verdade. 19Assim conheceremos que tes que viria, agora já está no mundo
procedem os da verdade, e diante dele 4Meus filhinhos, vos procedeis de Deui
terem os a consciéncia tranqüila. 20Pois, e os derrotastes, pois aquele que c.u
em bora a consciéncia nos acuse, Deus em vós é mais poderoso do que aquel,
é maior que nossa consciéncia e sabe que está no mundo. 5Eles sao do mun
tudo. ^'Q ueridos, se a consciéncia náo do; por isso falam de coisas mundanas o
nos acusa, podem os confiar em Deus, 0 mundo os escuta. 6Nós somos de Deus
22e receberem os dele o que pedirm os, e quem conhece a Deus nos escuta, o
i i im 11 i • ' -l- I >• ii it.n i nos fsi'iila. As- guém jam ais viu a Deus: se nos amar-
im | 11 ii' 11i w i il.u Ir ni is o distin- mos uns aos outros, Deus perm anece
, . i ................. i | ■11 Mi > < I i i i ii i i I i i . i em nós, e o am or de Deus está consu
m ado em nós. 13Reconhecem os que
Mih- i mi ii 111 <>uri idos, amemos está conosco, e nós com ele, porque nos
,, « , 11111 1 , * . . |in¡s
ii amor vem de fez participar do seu Espirito. 14Nós o
ii i *...!• ■ H|in Ii 111k- ama é filho de contem plam os e testemunhamos que o
t i ..................................I .................... i I >
c i i n . HQuem nao Pai enviou seu Filho como salvador do
1111 -i........... . i im .i I >cus, já que Deus mundo.
im <i I i' ii i Ii i ih i uisl ou o am or que 15Se alguém confessar que Jesús é o
■ ni ............. i nviando ao mundo seu Filho de Deus, Deus permanece com ele
i id............. | > . iiu t|uc vivam os graqas e ele com Deus. 16Nós conhecemos e
i. 1.i .ii 11 onsisle o amor: nao fo- eremos no amor que Deus teve por nós.
i. . ii" •111■ unam os a Deus, mas ele Deus é amor: quem conserva o amor
......ni.....i m vioti seu Filho para ex- permanece com Deus e Deus com ele.
iim im ..i-, p iia d o s . "Q u erid o s, se O amor chegará em nós à sua perfei-
i n un . ,m n mi tanto, também nós de- <¿áo se formos no mundo o que ele foi e
, i .............. u n . ii nos mis aos outros. l2Nin- esperarmos confiantes o dia do julga-
........ 11f u ni poder, porém é mais pode- universo: “amas a todos os seres e nao
II, i. ,ii|iu-k- que os venceu (Jo 16,33; Mt aborreces nada de tudo o que fizeste”, o
i ' ") pur.). de Joáo é a salvagáo (v. 14).
I / I Depois da digressáo sobre os es- Numa definigáo, é preciso entender o
|,min-., continua o discurso sobre o amor, predicado. Ora, o amor nao se entende te
,1)1111,1 icinontando-se ao mais alto. Joáo óricam ente, mas sim por experiencia
ii i, , ilc-screvc nessas linhas um itineràrio
i inter-humana (vv. 7-8). Nao que preceda
. i..... logico; situa-se antes num ponto de ontologicamente o amor do homem (vv.
|,. n i pi^ao unitario que abarca todo o ho- 10.19), pois todo amor auténtico “proce
•i/<míe. Como contemplador onisciente, de de Deus” (v. 7) e se comunica por seu
luM11 niover-se era qualquer diregao. Se Espirito (v. 13). Deus demonstra seu
,|iii-.cssemos extrair um itinerario, resul- amor, enviando seu Filho como Salvador,
i n i,i ii seguinte. Aorigem do amore Deus, para dar vida (vv. 9.14), e o homem pode
,|nr é am or(w . 8.16), manifesta-se no dom reconhecer o amor de Deus (v. 16). O
,l,i scu Filho, como iniciativa gratuita (vv. amor de Deus é comunicativo: transfor
10 14.19). Nós o percebemos e acolhemos ma o homem em sua imagem (v. 17), per
, ,nii a fé. Nós o vivemos no amor a ele e mite e exige que o homem ame a Deus e
mi próximo (vv. 7.1 ls.20s). Nós o conser ao próximo (vv. 12.20). Os dois amores
vamos com esperanza e seni temor (vv. se implicam mutuamente, de modo que
I (). 18). Entre amar a Deus e amar o próxi um sem o outro nao é real. Só que o amor
mo, qual é o primeiro? Poder-se-ia opor ao próximo é mais fácil de comprovar. O
1,20 e 5,2; para Joáo, sao correlativos e amor perfeito exclui o temor do julga-
mseparáveis. mento e do castigo (vv. 17-18). Pelo amor
Nestes vv. se repete 29 vezes a raiz ao próximo, ainda que náo vejamos a
nfiap-; mais outras cinco em 5,1-3. Men- Deus (vv. 12.20; Jo 1,18), sabemos que
ciona-se o Espirito (v,. 11), da segáo pre Deus permanece em nós e conosco (vv.
cedente, e a fé (v. 16), da seguinte. 12-13). Ver como paralelos Jo 13,34; 3,
Nesse ampio parágrafo, monotemático, 16; 17,26.
a carta alcanza seu ápice, quando tenta e 4,9 Ver a declaraqáo a Nicodemos em
ousa definir Deus. Ens a se ou “infinito”, Jo 3,16; Rm 5,7-8.
sentencia a metafísica. “Deus é amor”, 4.12 Ver Jo 1,18.
afirma Joáo. “O amor é urna divindade” 4.13 Ver Rm 5,5.
dizem algumas religióes; “Deus é amor”, 4.14 Ver a confissáo dos samaritanos em
afirma Joáo. O horizonte de Sb 11,24 é o Jo 4,42.
PRIMEIRA CARTA DE JOÀO 698
mento. 18No amor nào há lugar para o sados. 4Todo aquele que é filho di 11
temor; ao contràrio, o amor desaloja o vence o mundo; e esta é a vilm 11
temor. Pois o temor se refere ao castigo, vence o mundo: a n o s s a fé .5Qui'in vi*
e quem teme nào alcancou um amor per- ce o mundo, senào quem ere i|iii i.
feito. 19N ós am am os porque ele nos é o Filho de Deus? É aquele qu<
amou primeiro. 20Se alguém diz que ama com água e sangue: nào só coni fliiuf
a Deus mas odeia o pròprio irmào, men mas com àgua e sangue. E o I•> .]u
te; pois se nào ama o irmào seu a quem que é a verdade, dà testemunho i
vè, nào pode amar a Deus a quem nào sào as testem unhas: 8o Espirito, a ,iinn
vè. 21E o mandamento que nos deu é que e o sangue, e os très concordali! <i
quem ama a Deus ame também o prò aceitamos o testemunho humano, m...
prio irmào. convincente é o testemunho de I >...
10Quem crè no Filho de Deus pos\m
V ito ria d a fé — 'Todo aquele que testemunho; quem nào crè em Dem .
5 eré que Jesus é o M essias é filho de
Deus, e todo aquele que ama o Pai ama
tom a mentiroso, por nào crer no i.
tem unho que Deus deixou a resi« m
também o Filho. 2Se am amos a Deus e do seu Filho. 1!0 testemunho dei l.u
cum prim os seus m andam entos, é sinai que Deus nos deu vida eterna e i|...
de que amamos os filhos de Deus. 3Pois essa vida està no seu Filho. 12Qm h,
o am or de Deus consiste em cumprir aceita o Filho possui a vida; quem n.n
seus m andam entos, que nào sào pe- aceita o Filho de Deus nào possili .
4,18 Ver Rm 8,15. aquele que gerou, ama aquele que foi p
4,21 Ver Mt 22,37-40. rado (o último pode-se entender do Fillm
ou de qualquer cristáo, cf. lPd l,22s).
5,1-13 Podemos de antemào isolar al- 5.3 Cf. Mt 11,30; Dt 30,11.
gumas linhas nesse complexo parágrafo. 5.4 “É filho”: em grego “foi gerado” ti.
A linha do crer — amar — cumprir (vv. 1- perfeito de resultado; ou seja, quem man
3). A linha do amor: ao Pai — ao Filho de tém realizada a filiagáo, quem a vive.
Deus — aos filhos de Deus (vv. 1-2). O 5,6-9 A fé se apóia num testemunho pin
processo: o mundo se vence com a fé — a ral. A lei exigia duas ou tres testemunlu
fé se apóia no testemunho -— o testemu (Dt 17,6 e 19,15). Jesús exibe tres teslr
nho promete vida. munhas: a água do batismo e da cruz (1,31
No parágrafo anterior, o tema da fé (vv. Jo 19,34); o sangue do sacrificio (Jo l‘i
13.15) estava entremeado com o tema 34); o Espirito manifestado no batismo (Jo
dominante do amor. No presente, o tema 1,32-34) e operante na Igreja (Jo 14,16.2(>
do amor introduz o tema dominante da fé. 16,13-14). Tal é o “testemunho de Den
Os participios no-lo indicam: “todo aque acerca do seu Filho” (cf. Jo 8,14-18). Cabe
le que crè... quem crè... quem aceita...” (vv. ao homem aceitar testemunho táo solene
1.5.12); e se exalta nossa fé vitoriosa (v. e fidedigno.
4). A fé se apóia no testemunho, que é o A partir do final do séc. IV, faz sua apa
tema correlativo dominante. A nossa fé se rigao urna interpolado, que lentamente
opóe o mundo com seus critérios; mas o penetrou em manuscritos da Vulgata latí
mundo jà està vencido (Jo 16,33). A fé, na (a partir do ano 800). Diz assim: “Trés
mais do que simples assentimento intelec sao os que dáo testemunho no céu: o Pai,
tual, é adesào vital, “aceitaqào” aiegre, pela a Palavra e o Espirito, e os trés estáo de
qual nos unimos a Jesus Cristo e dele re acordo".
cebemos vida eterna (Jo 20,31). 5,9 Sobre o testemunho, pode-se ver Jo
Objeto da fé é Jesus Cristo: que é o 5,32.36; 8,18; 10,37s.
Messias (v. 1), o Filho de Deus (v. 5), que 5,11-12 O testemunho do Pai a favor
possui e comunica vida (v. 11). do seu Filho é também a nosso favor,
5,1 Utiliza o verbo gignomai, “gerar”: porque afirma que no Filho temos a vida
aquele que crè, foi gerado... quem ama eterna.
699 P R IM E IR A C A R T A D I JO Á O
\ l 5-21 O final da carta está pontuado 15,2). Esse texto comega e termina assim:
Inti (|iiatro certezas e serve para recapitu “Nao intercedas em favor desse povo... O
la varios temas: vida, Espirito, mundo, destinado á morte, á morte” (cf. Mt 12,31
M.digno, pecado, confiança, Filho de par.; Hb 10,26-31).
I »rus, filhos de Deus. 5.18 Segunda certeza, sobre a incom-
5,14-15 A primeira certeza se refere à patibilidade entre pecado e filiagáo divi
maçâo e se chama confiança. Há salmos na. O grego joga com dois participios do
t|iic chamamos “de confiança”, que a ex- verbo gerar: perfeito para o cristáo, aoristo
|ncssam ou a fomentam. Joao formula urna para o Filho. Aquele que foi gerado pro
i iindiçâo clássica: “segundo sua vontade” tege aquele que tem sido gerado (Jo 17,
(i í. Mt 7,7; Jo 16,24; para o exemplo de 13). Alguns manuscritos léem de outro
( risto, Jo 11,42). modo: o Gerado por Deus se protege por
5,16 *Ou: que acarretam a morte. si mesmo.
5,16-17 Pelo termo “vida” enlaça com 5.19 Terceira certeza: que procedemos
vv. 11-13; pela súplica enlaça com a inter- de Deus (cf. Jo 8,47) e nao temos nada em
cessáo de 2,1. Um caso de petiçao é orar comum com o mundo e o Maligno.
pelo irmao pecador. E segundo a vontade 5.20 Quarta certeza: a encarnagáo do Fi
de Deus que “quer que se converta e viva” lho e sua revelagáo do Deus verdadeiro (Mt
(Ez 18,23.32). Contudo, há casos em que 11,27 par.; Jo 7,28; lTs 1,9). Nossa uniáo
Deus rejeita a intercessáo, porque já deu a com o Pai e o Filho nos comunica vida
sentença irrevogável de morte (Jr 14,11— eterna. E nos aparta de qualquer idolatría.
SEGUNDA E TERCEIRA CARTAS DE JOÁ< )
INTRODUÇAO
Tem -se d isc u tid o a a u ten ticid a d e tolo; o autor fa la com autoridad• , *
destas duas breves cartas. N a A n tig ü i- m o responsável p o r outra comuni,u
dade duvidou-se p o r algum tem po da de, que chama de Senhora e ma, ,1
sua canonicidade. H oje em dia os crí filhos, segundo imagem conheci,l,i ,1
ticos vacilam diante da questáo. Que A T (p. ex. B r 4,9—5,8). Também a ..
as trés cartas ou duas délas tenham m unidade pròpria é m àe de filh o s ,
elem en to s com u n s é indubitável. A irmä, da mesma categoria, da auli ti,
brevidade de am bas e a econom ía alu em com unhào com eia. O problema ,1
siva da m ensagem deixam ampio cam segunda é doutrinal, cristolàgico; o ni,
p o á especulagáo, e a desqualificam . m o da prim eira carta. O problema /
Tem tanta im portancia que seja ou nao terceira é de organizaçâo, pela ami;
de Joño evangelista? O autor se apre- çâo de um rival; recomenda os mi
senta com o título “o A nciáo nom e sionarios itinerantes. Supôe-se q u e ,,
de idade ou título de fungáo? Os a m i duas cartas foram escritas no final ,1,
gos fala ra m da longevidade do após- séc. I.
s I■;<, 11NDA CARTA DE JOÁO
I Anciáo pode significar a idade e a fun- 5 O preceito nao é novo, como em lJo
t;;Io (lPd 5,1). A “Senhora escolhida” é o 2,7-11; Jo 13,34.
lilulo que dá a urna igreja particular; nao é 6 Amor e obediencia aos mandamentos,
eerto que o título tenha conotagáo de sím como em lJo 5,3; Jo 14,15.
bolo matrimonial. Quer dizer, a igreja lo 7 Os impostores e o Anticristo: lJo 2,18-
cal realizando o “mistério” atribuido á 29.
Igreja universal como esposa do Messias 9 Urna coisa é avangar no conhecimen-
(Ef 5). Seguindo a tradigáo do AT, os fi to e penetragáo do mistério e da doutrina
lhos sáo os membros da comunidade (cf. de Cristo (cf. Jo 16,13), outra coisa é “ul
Ap 12,17). A verdade é a mensagem evan trapassar”, afastando-se e apartando-se do
gélica (Jo 8,32; 11,5). ensinamento autèntico.
3 A saudagáo é como a de lTm e 2Tm, 10 Rm 16,17; Ef 5,11; 2Ts 3,6.
com trés dons. 13 A fórmula revela o sentido comuni
4 A alegria é como em F11,3-4. tàrio e a relagáo entre comunidades.
TERCEIRA CARTA DE JOÁO
‘Do A nciáo ao querido Gaio, a quem com unidade; mas Diótrefes, que pi i
amo de verdade. 2Querido, visto que de mandar, nao nos recebe. 10Poi i
espiritualm ente estás bem , pe^o que quando for, denunciarei as agóc .!■i.
tudo corra bem para ti e tenhas saúde. pois com sua m aledicencia no- ,i
-’Alegrei-me muito quando vieram al- prestigia. Nao contente com isso, n«i
guns irmáos e deram testem unho de tua recebe os irmáos nem permite <|im
conduta fiel à verdade. 4Para mim nao fagam os que o desejam, ao conti.m
há maior alegría do que ouvir que meus expulsa-os da comunidade.
filhos sao fiéis à verdade. "Q uerido, náo imites o mal, m u
5Querido, o que fazes pelos irm áos é bem. Quem fa z o bem provém de I Vu
prova de lealdade, apesar de serem es- quem faz o mal náo viu a Deus. 1 I ^
trangeiros. 6Diante da com unidade, de métrio goza da estim a de todos e l.im
ram testemunho do teu amor. Por isso bém da verdade; nós acrescent;miM
é justo que providencies o necessàrio nosso testemunho, e sabes que é v< i
para a missào deles, como Deus mere dadeiro. 13Embora tenha muitas coímm
ce, 7visto que se puseram a caminho em para te escrever, náo quero fazé-lo cofl
nome de Cristo, sem receber nada dos a pena e a tinta. 14Espero ver-te logn ,
pagaos. 8De nossa parte, devem os aco- falar contigo frente a frente. 15A pul
iher gente assim, para colaborar com a esteja contigo. Os amigos te saúd;un
verdade. 9Escrevi alguma coisa para a Saúda nom inalm ente os amigos.
INTRODUÇAO
com exemplos terríveis. Contudo, pro
Sl t l nl
cura tem perar seu rigor com a com-
ihnii.'i api,-senta como Judas, ir- preensâo e compaixüo (vv. 22-23). A
II ,i. h ,ñ u Niin pode ser Judas Ta- carta nâo é atraente. Talvez nos ensine
i. a ¡<i i/ iii ’ n uulor se distingue dos que, diante de certos erros doutrinais
,r . i i, i I /) i.ntre os “irmáos " de e moráis, é m ister tomar posiçâo clara
i.,, w. (i, >' ,- Mi 13,55 citam um e firm e.
i ,i i,i tampinici) pode ser este o autor É muito difícil, com os tragos da car
i................ i , l,i pussou algum tempo des-
i i ta, com pletar o perfil dos falsos mes-
i .i . i,i apostólica (vv. 3-4). N a A n ti- tres. Se soubéssemos de antem ao que
, ni,i.i,h■duvidou-seda canonicidadeda professavam um gnosticismo incipiente,
iiii.i. aparece citada como canónica poderíam os identificar detalhes e ras
, , /.i pi nitrirà vez pelo ano 180. H o je é trear indicios. Seus métodos parecem
I'iniiiii comuni que se trata de um es- ser nao violentos: “insinuam -se” (v. 4),
>ii, i pseudónimo. A qualidade da lin- participant em banquetes (v. 12), baju-
, u ,im u grega, coni sua riqueza de vo- lam (v. 16).
, iihulaiio e composigóes tipicam ente Conjectura-se que a carta fo i escrita
, i, ras, junio ás citagóes dos apócrifos em fin s do séc. I ou comegos do II.
\ , \tmgiio de M oisés e Henoc, fazem
i ; u s a r que o autor era um judeu Ite Sinopse
li insta convertido.
I carta é um escrito contra falsos A carta consta de um só capítulo, de
,1, miares: mais violento na toni que na 25 vv. D epois da saudagüo, descreve
snbstiincia. Recrimina, em lugar de re os falsos mestres, oferece recomenda-
latar com argumentos; langa ataques góes aos fiéis e concluí com a doxo-
genéricos, sem determ inar; am eaga logia.
CARTA DEJUDAS
‘De Judas, servo de Jesús Cristo, ir guns individuos se insinuaran!, h.i i. ...
mào de Tiago, aos eleitos que Deus Pai po fichados para esta sentenza: h<mu m
ama e Jesús Cristo protege: -m isericòr sem religiào, que traduzem o favof li I
dia, paz e amor abundantes. Deus em d is s o lu to e renegam o um..
patráo, o Senhor nosso Jesús ( n i
Falsos m estres —- 3Queridos, no meu *Quero recordar-vos o que aprcnd. i..
em penho em vos escrever a respeito de de urna vez para sempre: o Salva. 1..i ■
nossa salvagáo partilhada, julguei ne tirou o povo do Egito, mas depois m ,< 1
cessàrio escrever-vos para vos exortar bou com os incrédulos. 6Os anjos. p.
a lutar pela fé que os santos receberam náo conservaram seu posto e abanil..
de urna vez para sempre. 4Porque al- naram sua morada, ele os mantém j’tmi
1-2 Sendo os nomes de Judas e Tiago dos os episodios do AT, e nao conheeiil..
táo correntes na época, nao é fácil identi os outros.
ficar o autor real ou suposto. A frase faz Vejamos o material bíblico. Tres gni|n.4
supor que Tiago fosse um personagem coletivos: os israelitas do éxodo (Ex I l
conhecido, talvez o personagem proemi- 15 e Nm 13-14), exemplo de salvabili
nente na igreja de Jerusalém segundo At frustrada; os anjos (talvez de Gn 6), excm
15 par. O título “servo de Jesús Cristo”, pío de queda do céu; Sodoma e Gomoim
imitagáo do tradicional servo de Deus ou (Gn 18—19), exemplo de perversáo casli
de Yhwh, é freqüente ñas cartas de Paulo e gada. Um trio de nomes próprios: Cairn (( in
ñas católicas: é título tradicional. Seu con- 4), exemplo de òdio homicida; Balaáo (Nm
teúdo é claro: alguém que está plenamente 22), exemplo de cobiga e profecía venni.
a servigo de Jesús Cristo. Os destinatários Coré (Nm 16), exemplo de ambigáo.
sao “eleitos” ou chamados; custodiados (Jo Os falsos e perigosos mestres sao descrié
17,11-12). O trio que inclui “amor” é úni tos com abundancia retórica de perversoes
co no NT. e fracassos. Destacam-se entre seus vicios
3 A “salvagáo partilhada”: nao é um fato a libertinagem e a rebeldía arrogante. Gran
individual; é algo possuído em comum, de parte da breve carta se ocupa em denun
porque criou comunidade. Está vinculada ciá-los verbalmente; um espago menor ó
á fé recebida de urna vez para sempre. dedicado à exortagao positiva para os fícis,
Nesta frase densa, apreciamos como o in 4 Paulo tinha dito (Rm 6,14) que “nao
dividuo fica englobado e superado pela estamos sob a lei, mas sob a graga” ou fa
comunidade e pela tradigáo: duas coorde vor de Deus; e alguns interpretavam esse
nadas substanciáis da Igreja. favor como “sem lei”. Mais ainda, como
Quem ameaga essa fé tradicional atenta “sem lei nem senhor” (cf. SI 12,5), e con)
contra a substancia e deve encontrar fir isso renegavam o senhorio de Jesús Cristo.
me resistencia. No desenrolar do seu es “Há tempos fichados” por seus delitos j;i
crito podemos reparar em alguns aspectos registrados, dos quais teráo de prestar con
salientes. Em relagao á Escritura do AT tas (cf. Dn 7,10).
procede por alusüo, ou cita segundo o sen 5 Tirados do Egito, atravessado o de
tido (v. 18); por outro lado, cita palavras serto e as portas da torra prometida, recu
textuais de tradigóes nao canónicas. Pode- saram entrar e morreram no deserto, sem
se interpretar de duas maneiras essa atitu- consumar a salvagào. Sua recordagào ad
de: a) que citava o AT de memoria, sem moesta (como em Hb 4). *Ou: Jesús.
ter á máo um texto ou dispondo dos textos 6 Os anjos tinham “hierarquia” para go
nao canónicos; b) que supunha conheci- vernar reinos (Dt 32,8 grego) e sua morada
705 CARTA DE JUDAS
élítlii» li" li- i ' ' mi » adeias perpé- água, árvores sem frutos no outono, duas
| 1 1- | i -i 1 | >il i1ii ni uit ) di i gì ande dia. vezes mortas e desenraizadas; 13ondas
1 m i " I" i' hi. III.iiili , N(»liunac( ìomor- encrespadas do mar com a espuma de
I4 i il» i iiliiih vi. iiiliav lomicaram ,de- sua descaradez, estrelas fugazes cujo
imi .i i • ii i" . i milla a iialureza, e ago- destino perpetuo sao densas trevas. 14De-
14 uniti tu 11 ii 11.t di uhi logo eterno para les profetizou Henoc, o sétimo descen
i«»ni|‘l" ..........Ini-. I assilli, também dente de Adao: Vede que está chegando
Mii ■ e iili'l" ' i h * soiis sonhos, deson- o Senhor com suas miríades de santos,
................ . tlt '.pie/am a autoridade, 15para julgar a todos: para provar a cul
in nli.itti 11 i ili ti ii isos. ‘‘Oliando o arcan- pa de todos os ímpios, por todas as im
|n K111Mii I ilr.| ni lava com o Diabo o cor- piedades que cometeram, por todas as
lit.lt Mi tl'il"., n.ic i se atreveu a condenà- insolencias que os ímpios pecadores pro
............ ir.itiliis1, mas disse: O Senhor nunciaran! contra ele. 16Sáo estes os que
lt ii Itu i in la "'I '.sics, ao contràrio, amal- protestan), queixando-se de sua sorte e
11|t. 1.......... i|iie nao conhecem e, corno deixando-se levar por suas paixóes. Sua
ti11¡11111r , ni. iiii mais, se corrompem com boca profere insolencias e, se louvam
tt 11111 |ti u eb e m pelos sentidos. n Ai as pessoas, é por interesse.
ili li SejMiiram o caminho de Cairn,
|t< In |mj".amento se entregaram ao ex- R e c o m e n d a r e s — 17Vós, queridos,
litu lii ile I (alano, pereceram por rebel- recordai o que anunciaram os apósta
111.i i timo ( 'oré. l2Estes sào os que con- los do Senhor nosso Jesús Cristo: 18Nos
I .
iiih iii h u v o s s o s banquetes, cevando-se últimos tempos haverá homens cínicos
i u|iascontando-se irreverentem ente; que seguiráo suas ímpias paixóes. ^Sao
niivens arrastadas pelos ventos sem dar esses os que provocam discordias, sao
INTRODUCACI
|«ti(»/i a, l'vvr livro tem fascinado to, tem suas testemunhas, seus segui
K in imitlorcs e artistas, quenem
iii ninnilii com a corretapers-
dores “servos do nosso D eus ” (7,3). Na
frente está Satá, que tem sua capital em
fUniiiu /lililí ìnterpretà-lo. Babilonia, tem seus agentes e um p o
iII 11 interprete no texto. Ora, o au- der limitado. A vitória de Cristo e dos
(.11. i/in' /i/o/nìc seus enigm as em chave seus é segura, mas passa pela paixâo e
lir i introduz no livro mediado- morte. O chefe, o Cordeiro, fo i degola-
(#♦ iliir musi rum e interpretam muitas do, suas testemunhas sáo assassinadas
rtiih’V ihln todas. D eus o revela a Je- ( 11,1-12), seus servos devem superar a
IH< i listo, que envia seu anjo/mensa- grande tribulaqáo (7,14). Chegará o
Helh1, que g"ia Joào, e este o escreve e julgam ento da capital inimiga e sua
plichi ih igrejas, através das quais se queda (17—18), a batalha fin a l (19,11-
illumini li il mensagem a todos os cris- 21) e o julgam ento universal (20,11-
Mim /inni sempre. A pesar de tudo, a 14). D epois virá o fin a l glorioso e ale
iHh'il'ieiiiqào interior ao texto, se fo i in- gre, para o qual tendem o curso e as
h ltu lv r l ¡Hira m uitos contemporáneos, vicissitudes da historia. O fin a l tem a
il iiih, s't'us sucessores, nos p o d e des- form a de casamento, do Messias-Cor-
i tini ertar o u parecer incompreensível; deiro com a Igreja como ao principio
Pillilo Imigaremos mào de outros ins no paraíso (21—22).
ti límenlos de interpretaqào. A luta, como de costume, é acompa-
e) Uni deles, baseado no texto, é o nhada de impressionantes perturbaqóes
m>< in so ao AT. N ào é que o autor cite no céu e na terra. A concepqâo impóe
e»/iiessamente suas fo n tes de inspira o dualismo, as antíteses, as oposiqóes
titi•; mas, para quem està fam iliariza- sim étricas de personagens, figuras e
iIn eom o AT, esse apocalipse é quase cenas. A s correspondencias cruzam
uni tccido de citaqòes, imitaqòes, alu obliquamente a obra. E um dualismo
ces, reminiscencias; m ais de 400 nos dentro do mundo e da historia; nào o
i ii/i. 4—22. E urna obra inspirada amiú- dualismo de instinto e Espirito em Pau
»/(• em modelos alheios e profundamente lo, e menos ainda o dualismo de espi
original. Tudo nos soa com o conheci- rito e matèria nos gnósticos.
iln c nos fascina com sua novidade. Nào
(* colcha de retalhos, nao é m idraxe; Circunstáncias e data
eom materiais usados, é a criaqáo p o
ética de um céu novo e urna terra nova O autor quer avisar e alentar seus
( 21 , 1) .
irmàos cristàos para a grave prova que
f) Construgáo. E evidente que o au se avizinha. Jà houve perseguiqòes e
tor quer levantar um edificio com pac mártires (2,13; 6,9); sobrevem a gran
to e bem distribuido; ordem e nào labi de prova dos fiéis (3,10), quando o im
rinto, razào sobre a fantasia. A o mesmo perador exige adoraqào e entrega (13,
tempo se ve obrigado a interromper e 4.16-17; 19,20). A quem se refere em
inserir (9,21), a adiar (20,1-10), a en- concreto?
caixar um ciclo dentro do outro. Como Os candidatos m ais válidos sào Nero
conseqiiència, sua obra nào é geom e (54-68) e D om iciano (81-96). Os da
tria pura. (Ver a sinopse.) dos do livro, para averiguar, sào très
nào seguros. Em 13,1 mencionam-se
“dez diadem as”: se representa impe
Tema radores, o décimo é Tito (79-81). En:
Passadas as sete cartas, o tema de 17,10 m encionam -se sete reis: o quir
conjunto de 4 -2 2 é a luta da Igreja com to éN ero, o sexto Galba, o sétimo? Em
os poderes hostis. Isso obriga a delim i 13,18 se lê a fam osa transposiqào nu
tar claramente os campos, num dualis mérica do nome: 666 corresponde ás
mo simplificado — assim acontece ñas consoantes de nerón kaisar. Pois bem,
guerras. O chefe da Igreja é Jesús Cris Nero nâo perseguiu os cristàos enquan-
APOCALIPSE 712 INTRCMH i »>•
to tais, m as como vítimas expiatorias senvolve assim (em resumo): \ i
do incendio de Roma. Domiciano, po- Introduqào epistolar; B 1,9 .1 ' ' 4
rém, exigiu ern todo o seu impèrio hon comunidade julgada; C 4,1—9,. //</•(■
ras divinas, “nosso Deus e S en h o r”, mento do cosmo; sete selos e seu ih'ittl* |
declarou delito capital o recusar a ado- tas; D 10,1—15,4 Perseguiqào <• />. t .
raqào, e a lenda o considerou como um veranqa; C 15,5-19,10 A s sete t,u ,n f
N ero redivivo (13,3). A m aioria dos Babilònia; B 19,11—22,9 Julgam . m.
com entaristas se inclina p o r essa data. salvaqào e nova criaqào; A 22. IH Jj
M as seu sentido nao se esgota na re Conclusào epistolar. A s seqóes CI x in
ferencia à conjuntura histórica concre mitiam cada qual coni um hino.
ta. Contanto que nào seja tomado à letra
nem como trampolini para especula- Outra proposta, menos numérica , >i|
qóes, o livro continua transmitindo urna geométrica:
mensagem exem plar a todas as gera-
qóes da Igreja. A s hostilidades comeqa- 1.1-3 Introdugào.
das no paraíso (Gn 3) nào acabarào I,4—3,22 M ensagem às sete igi> |.i
até que se cumpra o fin a l do Apoca- 4.1-11 Liturgia celeste.
lipse: “Sim, venho em breve. Amèni 5.1-14 O Cordeiro e o rolo.
6 .1-8,5 Os sete selos.
Sinopse 6 Seis selos.
7 Os salvos.
Urna distribuiqào numérica articula 8.1-5 O sétimo selo.
assim o escrito: 8,6—11,18 As sete trombetas.
8,6-9,21 Seis trombetas.
1.1 Prologo 10 O rolo pequeño.
II. 2-3 Sete cartas às igrejas II,1 -1 4 As duas testemunhas.
III. 4,1-22,5 11,15-18 A sétima trombeta.
11,19-12,18 A mulher e o dragao.
4—5 Visào introdutória. 13.1-18 As duas feras e a estátua
6.1-8,1 Os sete selos.
14.1-5 Os salvos.
8,2-11,19 As sete trombetas 14,6-20 A hora do julgam ento.
12.1—13,18 Sete visòes da mulher, do
15 Sete pragas.
dragao e das feras. 16 Sete tagas da ira.
14.1-20 ete visóes do Cordeiro e
17 J ulgamento da Grande Pros
dos anjos. tituta.
15.1—16,21 As sete tacas.
18 Queda da Babilonia.
17.1—19,10 Sete visóes da queda de 19.1-4 Hino.
Babilònia.
19.5-10 O casamento do Cordeiro.
19,1—22,5 Sete visòes da batalha e da 19.11-21 O cavaleiro vitorioso.
vitória final.
2 0 . 1 -1 0 O milenio.
IV. 22,6-21 Epilogo 20.11-15 Julgamento universal.
21.1-8 Nova criagáo.
Outra proposta é a estrutura concèn 21,9-22 ,5 A nova Jerusalém.
trica de esquema ABCDCBA que se de- 22.6-21 Vinda de Cristo e conclusào.
APOCALIPSE
I1 . li. i<i i|in I )etis confiou a Je- cutam as palavras desta profecia, se
I .11 i ii in. |>. ii. i que mostrasse a seus
,i i . ■ ,..///. i/rri' acontecer logo; e eie
observara o que está escrito nela. Pois
o tem po está próximo.
i ni nni, I. mi rim anilo seu anjo* a Joào,
,jn il li .li 11ii iil ha que tudo o que viu Mensagem as sete igrejas — 4De Joáo
f 11=11!i. i.i el. I )cus e lestemunho de Je- as sete igrejas da Asia: desejo-vos o
... i ir, i n 'I d i/, quem le e os que es- favor e a paz da parte daquele que é e
I l |.‘. ■. lavilo é o significado etimoló- 1.2 Esse Joáo, por sua paixáo e no des
(.i,, i , la | i,i lavi a grega apokalypsis. No uso terro, é constituido testemunha de tudo o
, ,,ii ni, passim a designar um genero li- que viu e ouviu: visóes e anuncios. Nao
i, i ai In l i n inculo em tempos tardíos e pre- fatos já sucedidos, como tocava aos após-
., ni, mi Al n o livro de Daniel (por volta tolos testem unhar. Desde o principio
•li li, , a < Caraeteriza-se por dividir o afirma solenemente que seu escrito é “pa
|,.i, min cui períodos, conduzindo-o a um lavra de Deus”, quer dizer, profecia e tes-
,1, , iilaee ¡mínente: através de urna colos- temunho de Jesús Cristo. Com o mesmo
il |ir iiurbagào còsmica ou histórica, o fu- tema concluirá o livro (22,20; com o tema
imi, ililoso definitivo abre sua passagem. da palavra se abre e se encerra o conjunto
il, v.r livro, a palavra deve conservar seus Is 40-55).
¡I,ir, significados. 1.3 Refere-se provavelmente a uma lei-
( onfiou”: só Deus conheee o segredo tura litúrgica, em voz alta, partilhada por
11ni 11 o Filho conheee o dia e a hora, Me uma comunidade. Sua finalidade nao é
I i 12). Em outros textos apocalípticos (Zc, satisfazer a curiosidade, mas mover ao
I in), è um anjo quem anuncia ou explica; “cumprimento”, pois se avizinha uma con
,n|iil o mediador é Jesus Cristo, pelo que juntura na qual os cristáos teráo que optar,,
iridie o título de “testemunha fidedigna” mesmo com risco de vida.
1 1,5; 3,14). “Servos” eram no AT sobretu- 1,4-5 Temos aqui uma fórmula quase
i li>os profetas (Zc 1,6); agora sáo os após- trinitária, sem chamar Jesús Cristo de Fi
Inlos. “Logo” é urna palavra que se define lho. Deus (Pai) traz como título o nome de
pelo contexto. Para os destinatarios, pre Yhwh (Ex 3,14), interpretado e articulado
di/, fatos políticos próximos (a grande per em passado, presente e futuro (cf. Is 41,4
seguilo de Roma e sua queda posterior), “o primeiro e o último”; SI 102,28). Vin-
l’ara as geragóes seguintes, o “logo” Tela douro (erchomenos) é tradugáo literal da
li viza a duragào e intima a constante proxi- fórmula hebraica que significa simplesmen-
midade do desenlace. “Seu anjo”: Embo te futuro. Jesús Cristo está presente em seu
la o mediador decisivo seja Jesus Cristo, mistério pascal de morte e glorificagáo.
este pode valer-se de um “mensageiro”, “Primeiro ressuscitado” ou primogénito dos
seu anjo, como sugere a tradigào biblica. mortos (Cl 1,18), náo o único (ICor 15).
“Joào”: urna tradigào primitiva o iden- Como príncipe de reis (cf. SI 136,3;
tificou com o apóstolo Joào. Mas já na 76,13) domina a historia de todos os povos
Antigiiidade, por razóes de critica interna, (ver a confissáo de Nabucodonosor, Dn
comegou-se a duvidar de tal identificagào, 2,47; 4,32). O Espirito é apresentado em
e ainda nào se chegou a urna clarificagào seu caráter e agáo multiforme, como agen
definitiva. Hoje muitos críticos pensam te de Deus: isto significa o número sete
que se trata de outro Joào ou do conheci- (os espiritas = ventos cósmicos sao quatro).
do recurso à pseudepigrafia, normal no 1.4 As igrejas com seus nomes sáo co
gènero apocalíptico. *Ou: mensageiro. munidades concretas. O número sete indi-
APOCALIPSE 714
tam bém os que o transpassaram; 13e no meio das lámpadas urna fiy.iihi
e todas as ragas do mundo humana, vestida de túnica talar, o pol..
baterdo no p eito p o r ele. cingido com um cinto de ouro; wcabi
Assim é, amém. ga e cábelos brancos como la bnm.
8Eu sou o alfa e o ómega, diz o Se- ou como neve, os olhos como chunin
nhor Deus, aquele que é e era e será, o defogo, l5seu sp és como de bronzc pn
Todo-poderoso. lido e acrisolado, sua voz como o t i
trondo de aguas torrenciais. 16Na <li
Visáo de Jesús Cristo — 9Eu, Joáo, reita segurava sete estrelas, de sua bi k »
vosso irmáo, companheiro vosso na tri- saía urna espada afiada de dois gunnv
ca que representan! urna totalidade articu mereceu entrar no “reinado” de Jesús. I’n
lada. Todas sao cidades da Asia Menor (que deceu a servido da palavra ou mensagan
estavam no àmbito do influxo joanino). de Deus e do testemunho que Jesús Crisiu
l,5b-6 A redengáo tem inicio com um deu, quer dizer, do evangelho. Recebe |
ato de amor (cf. Jr 31,3), consuma-se pelo vai comunicar, por escrito (cf. Is 8,16; li
sacrificio expiatorio (cf. Lv 16) e desem 29,1), urna mensagem profètica.
boca na formagáo do novo povo eleito (Ex O primeiro dia da semana, após o sába
19,6, citado em lPd 2,9). do, recebe já seu nome pelo adjetivo den
1.7 O texto original de Dn 7,13 mostra vado de Senhor: kyriakos, dominicus, do
a “figura humana” subindo na nuvem pa mingo (cf. At 20,7). A voz da trombeta nao
ra receber do Anciáo a investidura supre è a sua (Is 58,1), mas a de quem lhe man
ma, universal e perpètua. A tra d ito de- da escrever (Jr 36,28).
duziu que depois desceria na mesma 1,12-16 A descrigáo de Jesús Cristo é
nuvem (anunciado em At 1,9-11) e o refe- mais intelectual que visual, obtida pela
riu à parusia (Mt 26,64 par.). “Bateráo no soma de tragos heterogéneos, que nao
peito”: provavelmente por arrependimen- compóem urna figura fácil de visualizar.
to, segundo Zc 12,10. Deve dominar urna impressáo geral de
1.8 Como em teofanias e revelagóes, poder e majestade. Tem figura humana,
precede urna auto-apresenta§áo de Deus. como a de Dn 7,13. A túnica poderia ser
Pelas duas letras extremas do alfabeto sacerdotal e o cinto real (cf. Is 11,5); os
abrange-se a totalidade; como se dissés- cábelos brancos sao como os do Anciáo
semos do A ao Z, como em 21,6 (a pri- (Dn 7,9). Os pés de bronze revelam fir
meira e a última palavra do SI 1 comegam meza e estabilidade. Sua voz como a que
pela primeira e última letras do alfabeto Ezequiel ouviu (Ez 1,24). Move-se entre
hebraico). “Todo-poderoso”, pantokrator, lámpadas e candelabros, as igrejas que ilu-
converteu-se em termo da iconografía re minam o templo de Deus. Traz ñas máos
ligiosa oriental. o dominio dos exércitos estelares, na boca
1,9-11 Aquele que fala se apresenta sem a sentenza afiada da justiga (cf. Is 11,4). O
categoria nem privilègio, em sua pura ir- conjunto parece com a figura de Dn 10,5-
mandade e igualdade. Pelo sofrimento 6: “Como o sol”: cf. Jz 5,31; Eclo 43,2-4.
715 APOCALIPSE
PN «*(» >Ih chi i mili) o sol brilhando estrelas, aquele que caminha entre as
lutiti ii imi tortali. sete lám padas de ouro: 2Conhego tuas
••(ili i|in ii vi, fai a seus pés como obras, tuas fadigas, tua perseveranga;
HliHln litui i li', pondo sobre mim a tu nao toleras os m alvados, subm etes-
Hléii itti* ili v,i Nao temas. Eu sou o te à prova os que se dizem apóstolos
fHiMt ii" « a ultimo, IKaquele que vive; sem o ser, e provaste que sao falsos;
Hlb h Ululili f agora ves que estou vivo 3sup o rtaste e agüentaste por m inha
|i«|iik m i iilir, dos séculos, e tenho as causa sem desfalecer. 4M as tenho algo
p ttH k dii limi le e do Abismo. 19Escre- contra ti: abandonaste teu am or pri-
t* ti (|iii' viste: í/.v coisas de agora e o m eiro. 5Presta atengao onde caíste, ar-
i, in nnii‘1 cu i depois. 20Este é o sim- repende-te e faze as obras do principio.
C _ dii ilui scie estrelas que viste em mi- D o contràrio, se nao te arrependeres,
hIih illn iia e das sete lampadas de ouro: virei e rem overei tua làmpada de seu
0 « hi ir esliólas sao os anjos das sete lugar.
(ni. as sete lámpadas sao as sete No entanto, contas com isto: detes
j^lcjlll. tas a conduta dos nicolaítas, como eu
detesto. 7Quem tem ouvidos, escute o
M»nsngcm às sete igrejas — *Ao que diz o Espirito às igrejas. Ao vence
2 unjo da igreja ácÉ feso escreve: Isto dor permitirei comer da árvore da vida
1111 ni|iicle que segura na direita as sete que está no paraíso de Deus.
sAo anjo da igrcja de Esm irnu escre- em vossa cidade, onde mor,! N,¡il»
ve: Isto diz oprim eiro e o último, aquele 14No entanto, tenho algo contr, 1 1• i
que estava morto e reviveu. 9Conhé¡go ras ai os que professam a douiiui .
tua tribulagáo e tua pobreza, mas és Balaáo, que induziu Balac a pói um
rico; os que se dizem judeus te injuri- pego diante dos israelitas, i'a/< n.ln
am, porém sao urna sinagoga de Sata com er víiim as idolátricas e I......
nás. 1(lNáo temas o que deverás pade 15Igualmente tu toleras os que pini
cer, pois o diabo vai por na prisáo sam a doutrina dos nicolaítas. 1 \i
alguns de vos e sofrereis durante dez pende-te; caso contrario, irei lorn
dias. Sé fiel até á morte, e te darei a para lutar contra eles com a espmhi
coroa da vida. “ Quem tem ouvidos, minha boca. l7Quem tem ouvido,. mi
escute o que diz o Espirito as igrejas. O o que diz o Espirito as igrejas: Dan i
vencedor nao sofrerá a segunda morte. vencedor o maná escondido, eu 1li- 4«
12Ao anjo da igreja de Pérgamo es- rei urna pedra branca, e gravad' > ili U
creve: Isto diz aquele que tem a espada um nome novo que somente conlijH
afiada de dois gumes. 13Sei onde m o quem o recebe.
ras, onde Satanás tem seu trono. 18Ao anjo da igreja de Tiatira es» ic
Conservas meu nome sem me renegar, ve: Isto diz o Filho de Deus, que li u
nem m esm o quando A ntipas, m inha os olhos como chamas de logo e n |"
testemunha fidedigna, foi assassinado como bronze polido: 19Conhego tn.i
2,8-11 Para o título de perpetuidade, cf. dade, que se antecipa na eucaristía 1 1,.
1,17; Is 44,6. Paradoxo do pobre rico: 2Cor 6,48-58). A pedra branca era um ínstni
6,10. “Sinagoga” significa aquí congrega- mentó jurídico de valor positivo. O n o m í
gao. “Satanás” é o rival que se opóe ativa- novo (Is 62,2) define urna criatura novu|
mente ao plano de Deus. Por outro nome deve ser o de Cristo (compare-se 3,1.’ <)
se chama “Diabo”, que significa acusador 14,1 com 19,12-13).
ou caluniador. Declarou guerra e por um 2,18-28Toma o título de Filho de Den ,
tempo conseguirá vitórias aparentes: a pri- ao qual corresponde a invocagáo “meU
meira morte. Mas nao a segunda, que é a Pai” em 2,28; 3,5.21; típico do evangelio
perda definitiva do destino á imortalidade de Joáo. Como Balaáo na carta anterior,
(Ap 20,14; 21,8). A “coroa da vida”: pode Jezabel d urna figura emblemática, de acoi-
ser imagem esportiva (cf. Tg 1,12; ICor do com a tradigáo bíblica. Ela promovcn
9,25). o culto a Baal na corte e no povo de Israel
2,12-17 A espada de dois gumes, 1,16, (IRs 18-19; 21; 2Rs 9). Em Tiatira pode
serve para executar sentenga (SI 149,6; Hb ría referir-se a urna profetisa que induzia
4,12). Pérgamo, cidade ílorescente, famosa a participar de banquetes idolátricos (como
pelo culto a Esculápio, deus da medicina, em 2,14). Entretanto, urna figura femini
e conhecida pelo culto a Roma e ao impe na com seus amantes e filhos poderia re
rador. Culto “satánico”, inconciliável com presentar todo um grupo da igreja local (el
a fé crista, pela qual morreu a testemunha Is 57,2-13). Segundo longa tradigáo bíbli
(= mártir) Antipas (título de Cristo, 1,5). ca (Os 2; Jr 2; Ez 16), os amantes sao os
Em lugar do Balaáo da Biblia (Ntn 22- ídolos ou falsos deuses, fornicar é praticar
24), o autor segue urna tradigáo rabínica o culto idolátrico, do qual faz parte o ban
que o considera instigador da idolatría (Nm quete sacrifica!. A missao profética nao era
25,1-5). negada as mulheres (Débora, Jz 4-5;
Ao que parece, os hereges admitiam a Huida, 2Rs 22; Le 2,36; At 21,9), pelo que
participagáo em banquetes idolátricos, e urna mulher podía apresentar-se em falso
por isso deviam ser excomungados: ICor como tal. Sobre o profeta que induz á ido
8; 2Cor 6,16. Se o responsável local nao o latría, ver Dt 13.
faz, Jesús o fará com sua palavra cortante A carta convida á conversao, ameagan-
de execugáo (Is 49,2). O maná escondido do com o castigo (SI 7,13). O “leito” su-
(no céu) é comida milagrosa da imortali- gere urna enfermidade grave; seu grupo,
717 A PO CA LI PS E
i,i<> i............. i lua le, lúa perseve- argila 28— é o poder que recebi do meu
,,i, ' • in.t ln ni i aili v., lúas obras recen- Pai; — e lhe darei a estrela da manhá.
4$ m i . II....... 11 111*as precedentes. 20Re- 29Quem tem ouvidos, escute o que diz
i........iiiuln, pois toleras Jczabel, o Espirito as igrejas.
,u» .i .1 . l u í prolelisa e engaña meus
,i ii, , ir.ni.nulo llies a fornicar e a ' A o anjo da igreja de Sardes escre-
..... nuil.r. idolátricas.2lDei-lheum
Mi|n, | >11 i 11111 - se arre penda, mas nao
3 ve: Assim diz aquele que tem os sete
espíritos de Deus e as sete estrelas:
,.. .nii pender (Je sua fornicagáo. Conhe^o tuas obras: passas por vivo e
............Linea la num leito junto com estás morto. 2Vigia e robustece o resto
• l>m . i mi d a fornicaram, e se nao se que está para morrer; pois náo encon
... |i, mi. n ni de sua conduta, lhes en- tró perfeitas as tuas obras diante do meu
iii. i ■1111m ullios lerríveis. 23Matarei Deus. 3Recorda o que recebeste e ou-
ii lillm . e saberáo todas as igrejas viste: observa-o e arrepende-te. Se náo
iiii. .....i u t/ticrn examina entranhas e vigiares, virei como ladráo, sem que sai-
Mu i^iirs. fiara vagar a cada um segun- bas a que horas chegarei. 4Contudo, tens
(m ic. i'itifirias obras. 24Aos outros de em Sardes alguns que nao contamina
liniii.i. declaro-vos que, se nao acei- ran! suas vestes. Vestidos de branco an-
11 i. i '.'..i doutrina nem aprendestes os daráo comigo, pois sáo dignos. 5Tam-
111H1.1 os arcanos de Satanás, nao vos bém o vencedor se vestirá de branco, e
mil.... i nutro peso. 25Basta que con- náo apagarei seu nome do livro da vida;
. i i i . i i que tendes até que eu volte. eu o confessarci diante do meu Pai e di
\. i que vencer e cumprir minhas ins- ante de seus anjos. (,Quem tem ouvidos,
iiiii.nrs até o fim darei poder sobre as escute o que diz o Espirito ás igrejas.
iiiii.nr',: vele as apascentará com vara 7Ao anjo da igreja de Filadelfia es-
./i /i/ /o, as quebrará como vasos de creve: Isto diz o Santo, o veraz, que tem
mir. I’ilhos”, seráo aniquilados. Fala o juiz cia da sentinela. A comunidade de Sardes
•111•' penetra até o interior do homem (Pr está morta, talvez pela fé sem obras (Tg
11 .1 S I 62,12): o castigo servirá de aler- 2,17). A viuda como ladráo (Mt 24,43-44)
M pura o resto das igrejas. Os “arcanos” pode referir-se á parusia geral ou á limita
mi profundidades de Satanás seriam dou- da a individuos.
Hmas esotéricas, talvez mistérios, entáo em Veste contaminada expressa a culpa,
v i i f . i i . Aos vencedores até o final, ou seja, como o caso do sumo sacerdote Josué (Zc
mui excluir o martirio, os fará participar 3,4-5); sua impureza pode contagiar (Lm
mi reinado do Messias (SI 2,8-9). A "es- 4,14-15; Jd 23). Pelo contrário, a veste
tiela da manhá” é o sol nascente (como branca ou reluzente é sinal de gloria (Ap
<•111 2Pd 1,19), o próprio Cristo ressuscita- 6,11; 7,14) e até pode recordar a transfi
ilo (cf. SI 57; lJo 5,12). gurado (Le 9,29 par.). A exortagáo reme
A presente carta insiste na conduta mais te á tradigáo evangélica como mensagem
i|iie na doutrina: obras, amor e fé. As “ins- de conduta ou de arrependimento. O livro
irugóes” sao em grego "minhas obras”, o da vida: onde estáo registrados os desti
e<»nteúdo de seus mandamentos (Jo 15,10). nados á vida eterna (cf. Ex 32,32-33; SI
3,1-6 Os atributos como em 1,16. O sono 69,29; Dn 12,1). A “confissáo” prometida
e párente e imagem da morte (Jo 11,13; SI por Jesús (Mt 10,32).
13,4; Jr 51,57). O responsável parece acor 3,7-13 A imagem dominante dessa car
dado e está adormecido, parece vivo e está ta é a de um templo com suas portas, colu
morto (ou moribundo). Os que dormcm nas e chaves. A urna porta do vencedor
devem vigiar (cf. Is 46,10); os moribun refere-se SI 118,19; de outras portas fala
dos devem reviver. Isaías (51,9-52,6) com- Ez 44,2 e 46,1; há urna para o Rei da Glo
póe um grande diálogo: é Jerusalém, nao ria (SI 24,7). Ter a chave é controlar o re
o Senhor, que deve despertar, pór-se de pé, cinto (Is 22,22; cf. Ap 1,18, as portas do
vestir-se de gala. O SI 130 canta a vigilán- Abismo). O templo de Jerusalém tinha
A P O C A L IP S E 718
a chave de Davi, aquele que abre e niti- sobre o mundo inteiro, para pn.< n m
guém fecha, fecha e ninguém abre: 8Co- habitantes da terra. n Vou chc¡ .n l.
nheço tuas obras. Eis que pus diante de conserva o que tens, para que mi n »
ti urna porta aberta que ninguém pode te arrebate a coroa. 12Farei do vem ■>!• t
fechar. Em bora tenhas pouca força, urna coluna no templo do meu I >m . ,
guardaste minha palavra e nao me re nao sairá mais; nela gravarei o ........
negaste. 9Vé o que farei à sinagoga de do meu Deus e o nome da cid.nl. i
Satanás, aos que se dizem judeus sem meu Deus, a nova Jerusalém que <l.
o ser, pois mentem: farei que venham do céu, de junto do meu Deus, < ni, J
prostrar-se a teus pés, reconhecendo nome novo. 13Quem tem ouvido'. .
que eu te amo. 10Visto que guardaste cute o que diz o Espirito ás igrejn-.
minha recom endaçâo de perseverar, eu 14Ao anjo da igreja de Laodicrm <
te guardarei na hora da prova, que virá creve: Assim diz o Amém, a tesi«....
duas grandes colunas, cada qual com seu a náusea de Deus (cf. Jr 14,19). Poili .
nome próprio (IRs 7,15-21). Metafórica recordar a opgáo radical que Josué exi^iu
mente Paulo chama os apóstolos “colunas” (Js 24,25) ou Elias (IRs 18,21). Contul'
da Igreja (G1 2,9). O vencedor da prova é possível a conversáo, para a qual D eiu
iminente gozará de urna honra semelhan- admoesta e repreende, em ato de b e n e v o
te. Trará gravados très nomes: o de “meu léncia (Tb 11,12-13; Pr 3,12). O primen"
Deus”, o da sua cidade capital (cf. SI 48,2- passo para converter-se é descobrir e n
3), que dá nome aos cidadáos (Is 48,2), e é conhecer a verdadeira situa^áo, sem aclu
“o Senhor está ali” (Ez 48,35); o “novo”, lar a si próprio. Isto é julgar-se rico (< >
de Jesús Cristo, corresponde à sua glorifi- 12,9). A realidade se expressa em tu
caçâo (talvez Kyrios). metáforas aparentadas: pobre, nu, cegó (I 1
O título “Santo” é típico, embora náo 20,2-4; 43,8). O verbo “comprar” paren-
exclusivo, de Isaías (p. ex. 1,4; 37,23; Os incongruente, se realmente é pobre; a n;m
11,9). O título “veraz” pode equivaler a ser que entendamos antes “adquirir”, on
auténtico ou fiel; repetem-se em 6,10. O que contemos com um vendedor que o de
terceiro título adapta um texto de Is 22,22. de gra§a (segundo Is 55,1-2).
A comunidade, embora fraca de forças (cf. Para a conversáo há magníficas promes
2Cor 12,9-10), resistiu até agora aos em sas: banquete e trono. “Bate á porta” como
bates dos falsos judeus, agentes de Sata no Cántico dos Cánticos (5,2), convida a
nás (2,9; cf. 2Cor 11,14-15). Agora devem cear (Mt 25,1-10), oferece um trono junto
preparar-se para urna tribulaçâo gérai (cf. ao seu (SI 110,1; cf. a petigáo da máe dos
Jr 30). Os inimigos de antes reconhecerao Zebedeus, Mt 20,2 par.).
humilhados a vitória dos cristáos fiéis (SI
18,44-45; cf. Is 45,14; 60,14) e o amor que 4-5 Descreve amplamente uma liturgia
Deus lhes professa (cf. Sb 5,2-7). celeste, como prólogo a quanto se segue.
3,14-22 Igreja fundada por Epafras, dis Enquanto as liturgias tradicionais come-
cípulo de Paulo (C1 1,7; 2,1). Os títulos: moravam fatos pretéritos, saída do Egito,
testemunha fidedigna (1,5). Amém: inspi alianza, Páscoa, esta vai introduzir even
rado em Is 65,16 e taivez em 2Cor 1,20 tos futuros e próximos. Incluirá hinos e
em seu contexto: diz o categórico e defi gestos, mas náo sacrificios, porque o sa
nitivo, sem mésela ambigua de sim e nao. crificio definitivo se consumou e está pre
“Principio da criaçâo”: procede de Pr 8,22- sente. E liturgia celeste, modelo da terres
23, que é comentário de Gn 1,1; o “princi tre. Sua cerimónia principal será a leitura
pio” é correlativo do “amém”, que tem de um texto, espécie de libreto ou roteiro
algo de final. Compare-se com C11,15.18. das visoes que váo se apresentar dramáti
Ao Amém categórico se opóe frontal camente.
mente a mésela e confusáo de quente e frió, Personagens. Dois sao protagonistas: o
os compromissos entre paganismo e cris primeiro é o eterno (1,8; Ex 3,14), sobera
tianismo (cf. 2Cor 6,14-16), que provocam no entronizado (v. 9), senhor dos meteo-
719 A P O C A L IP S E
t.i. h ’.. <I SI 18), criador do universo (v. Gestos da liturgia. Reduzem-se á pros-
n .1 SI ! U>; 115,3 par.; 148,5). O se- tracáo de homenagem ou adoragáo, depon
....... pmiagonista é o Cordeiro, título do as coroas, e a oferta do incensó ou per
. M i l >1. nial ico. Renunciando à sua força, fumes, que sao (segundo SI 141,2) as
h ni tir Judá” (5,5), ofereceu-se voluntá- oragóes dos fiéis, que as oferecem como
i li i ni i sacrificio (Is 53,7), como vítima mediadores. Nao há outro sacrificio (Hb
|i,ii. al (l-x 12,3-4) e expiatoria dos peca- 13,15), porque basta o sacrificio do Cor
>1.i-i (Jo 1,29.36). Cordeiro será o nome de deiro degolado.
li ..il-, mais freqüente no livro. Hinos e aclamaqóes. Sao quatro nesta
Na assembléia distinguem-se très gru- segáo e estáo inspirados em modelos do
|in . Um “senado” de vinte e quatro an- AT: dos seres vivos (Is 6,2), dos anciáos
i un is ou senadores, espécie de corte que (cf. SI 29,1-2) e o canto novo (SI 96,1;
min delibera, mas adora e canta hinos. Sao 98,1); dos anjos (cf. SI 103,20-21); de to
|unvavelmente doze do AT e doze do NT, das as criaturas (SI 103,22; 148). Cantam
ii-presentando os dois povos unidos e pa a santidade de Deus, sua agáo criadora,
rificados. Sua figura é humana, corpórea. redentora, seu poder e majestade.
I notável que esses representantes da hu- A visáo é inspirada de perto em Ez 1 e
nianidade tenham um papel preponderan- 10 com mudanzas importantes. Descreve
ii- no céu. O segundo grupo sao quatro se- sem descrever, por aproximares, insistin-
n-s vivos. Quatro é número de totalidade do em efeitos luminosos e na tempestade
cósmica; outros comentaristas pensam em teofánica. Cada ser vivo tem um só aspec
antepassados ilustres do AT (patriarcas, to, os de Ezequiel eram polimorfos. Os de
reis, profetas, doutores); outros os identi- Ezequiel eram querubins, tinham quatro
licam com os quatro elementos (muito pro asas, moviam-se, puxavam um carro e sus-
blemático), ou tudo quanto vive na terra e tentavam uma plataforma; os do Apocalipse
no ar (faltam os aquáticos, cf. SI 8; 96,11; sao serafins (segundo Is 6), tém seis asas,
98,7). Uma tradiçâo de boa aceitaçâo os estáo quietos, porque a Gloria já náo se
identificou com os quatro evangelistas, afasta, mas preside a liturgia perpétua.
atribuindo uma figura emblemática a cada
um. Sua funçâo é suportar a plataforma ou 4,1-2 O comego toma dados de Dn 2,28-
estrado do trono e cantar hinos. Um ter- 20 e Ez 2,2. O vidente tem que subir ao
ceiro grupo sâo os milhares e milhócs de céu, porque ai se revela a historia próxima
anjos que completam a corte celeste e pres- da térra (1,1). O “trono” celeste: Is 66,1;
tam serviço permanente. Os sete espíritos SI 11,4, é sinal de majestade real (SI 45,7).
sao o Espirito multiforme em sua ativida- Deus aparecerá sentado, entronizado (SI
de (como em 1,4). 93,2; 97,2 etc.).
APOCALIPSE 720
4,3 As pedras preciosas, conhecidas no teria que romper os selos antes de come
AT, sugerem urna beleza luminosa; nao §ar a desenrolar; enquanto está enrolado c
parecem ter outro significado individual. selado, nao se pode 1er por nenhum do:,
4.5 O fogo como elemento da divinda- lados. O autor submete a lógica visual ¡i
de (Gil 15,17). lógica narrativa e os vai escalonando.
4.6 O mar cristalino pode proceder de 5,2 “Digno”: talvez com o matiz jurídi
Ez 1,22; na eomparaqao prevalece a lumi- co de estar autorizado. Nenhuma simples
nosidade sobre o elemento aquático. É pro- criatura pode desvelar os segredos de
vavelmente o océano situado por cima do Deus.
firmamento (Gn 1,6-8). 5.5 O primeiro título, Leáo, é tomado
4,8 “Olhos” ou claróes (nao parece ima das béngáos de Jacó (Gn 49,9-10). O se
ginar pavóes). gundo é messiànico (Is 11,1).
4,11 Ver SI 33,6; 115,3. 5.6 A descrigáo do Cordeiro sacrificado
é intelectual. Os sete chifres denotam a
5,1 Entronizado: SI 47,9. O rolo miste plenitude da autoridade (SI 75). Os sete
rioso procede de Ez 2,9-10, com a adigáo olhos sao adaptagáo de Zc 4,1; os olhos
dos selos em fungáo narrativa (cf. Is 8, observam inquisitorialmente.
16;29,11; Dn 12,4-9). Os sete selos garan- 5,8 Acitara é o instrumento de acompa-
tem totalmente o segredo. Lógicamente nhamento mais comum no AT.
7 2 1 APOCALIPSE
i '< \ iinvuladc (lesse cántico consiste do de arco: “dispararei contra vos as fle
mi . i.ili.u .i ulna redentora (segundo Ex chas fatídicas da fome" (Ez 5,16s; tam
ri <11 i n alcance universal (cf. Is 66,18; bém SI 7,13; 64,8); coroado e vencedor:
/, li 1' ), a ]tai licipaçâo de todos no reina- termo característico de Jo, lJo e Ap (cf. Is
I,, ,li I »rus sobre o mundo. E ou se escre- 63,5).
. ,i.n.i ( lisiaos que sao minorías despre- Os executores do castigo o seguem: a
iil i . un perseguidas. “espada”, que é emblema de guerra (Is
VI I A visáo se inspira em IRs 22,19; 27,1; cf. “fome, guerra e peste” em 2Sm
I >u /. 10 e lextos semelhantes. 24,13). Fome que obriga a racionar os ali
S. I l luda criatura, dotada de voz: numa mentos e multiplicar seu prego (cf. 2Rs
itlvr.ao quadripartida inusitada. Sob a ter 6,25-26; Ez 4,10-11); os quatro produtos
ni m- eneontra o mundo dos mortos (F12,10 figuram no quadro desolador de J1 l,10s;
nli rece urna visao tripartida; ver também um denário era a diària do trabalhador.
'.I .'.’,30 sobre a homenagem dos mortos). Encerra a expedigáo a “mortandade” da
Sobre o mar ou nele estáo os peixes e as peste, agente do Xeol ou Hades (cf. Jó
iiiius (SI 104,25-26). 18,13 “a primogènita da Morte”). Embora
nao se enquadrem, o autor recapitula enu
6,1 -8 A visáo dos quatro cavalos proce- merando as quatro pragas clássicas de
i le de Zc 1,7-8 e 6,1-8: très cores de cava Ezequiel (p. ex. Ez 14,21; 5,17). Mas o
los na primeira e quatro na segunda. A fun castigo será limitado: resta trigo, ainda que
dió dos cavaleiros é inspecionar primeiro caro, salvam-se o vinho e o óleo, morre só
c clepois executar o castigo (Zc 1,10 e 6,8). urna quarta parte.
A partir desses elementos, Ap compóe urna 6,1 A visáo que corresponde aos sete
visâo nova. A expediçâo nâo é de inspe- selos está articulada numa primeira sèrie
(,;lo, mas de castigo (como explicam o de cavaleiros, mais duas cenas contrasta
quinto e o sexto selos), controlado em seus das. A visáo correspondente ao sétimo selo
limites. Vai ser feita justiça vindicativa é adiada, dando lugar a urna pausa de pro-
castigando os homicidas (“a vingança do tegáo (cap. 7).
sangue de teus servos derramado", SI A quem se dirige o “Vem”? Alguns pen-
79,10). sam que ao vidente; outros conjeturam que
Encabeça a expediçâo o cavalo branco, invoca a vinda gloriosa de Jesus Cristo (cf.
cor própria do mundo celeste. O cavaleiro 22,20) para julgar; e de fato se apresenta
é provavelmente Jesús Cristo. Vem arma- na visáo como primeiro cavaleiro.
APOCALIPSE 722 il 1
5Quando abriu o terceiro selo, ouvi o co, até que se completasse o ......... ..
terceiro ser vivo que dizia: Vem! Vi sair de seus companheiros de serví i *. ■• (i I
um cavalo preto, e seu cavaleiro trazia irmáos que iriam ser assassinadi >■.>< mi
uma balança na mâo. 6Ouvi urna voz eles.
que saía do meio dos quatro seres v i 12Quando abriu o sexto selo, \ i .p i
vos: Por um denário um quilo de trigo, sobreveio um violento terrem oto,.... *
por um denário très quilos de cevada; se tornou preto como lona de ....... i
mas nao causes prejuízo ao óleo e ao lúa inteira como cor de sangiu- 1\ ni
vinho. ram as estrelas do céu na térra, c uiiiJ
7Quando abriu o quarto selo, ouvi a solta figos uma figueira sacudida ¡ i
voz do quarto ser vivo que dizia: Vem! furacáo. 140 céu se retirou coma tun
8Vi aparecer um cavalo esverdeado; seu rolo que se enrola, montanhas c illi i
cavaleiro se chama Morte, e o Hades o se deslocaram de seus lugares.15() ■. ni)
acompanha. Deram-lhes poder para ma do mundo, os nobres e os generar ■
tar a quarta parte dos habitantes do ricos e os poderosos, todos os escra\ <«
mundo, com a espada e a fo m e e a p e s e livres esconder am-se em grutas ('m i
te e as feras. vernas de montes, 16e diziam aos nn m
9Quando abriu o quinto selo, vi sob o tes e penhascos: Caí sobre nós c el
altar as almas dos que haviam sido as- condei-nos daquele que senta no troim
sassinados por causa da palavra de Deus e da ira do Cordeiro. l7Porque chchón
e do testem unho que haviam dado. o dia solene de sua ira, e quem podi i >
10G ritavam com voz potente: Senhor resistir?
santo e veraz, quando julgarás os habi
tantes da terra e vingarás nosso sangue? O s q u e se s a lv a m — 'Depois, vi
11A cada um deram uma veste branca e
lhes disseram que repousassem um pou-
7 quatro anjos de pé nos quatro dn
gulos da térra, segurando os quatro
6.9-17 O quinto e o sexto selos for- 6,12-17 Segue-se uma breve escatologia
necem um díptico de correlativos para o composta com pegas de Is 34,4; Ez 32,7:
grande julgamento. As vítimas inocentes Is 2,10.19; Os 10,8 e Sf 1,14-15. Sinteti/,.
clamam ao céu (cf. Gn 4,10) pedindo vin- a perturbagáo cósmica e o terror dos ho
ganga, que lhes é prometida para mais tar mens. E uma catástrofe cósmica de pro
de. Os culpados enfrentam o “dia da ira” porgóes inauditas: muda a orografía da tei
(Sf 1,14-15). ra e o mundo estelar.
6,9 As “almas” nao sao as almas sepa A comparagáo da figueira é impressio
radas da dicotomía grega, mas o que nos- nante por sua desproporgáo — embora os
sa linguagem popular chama de “espíri- antigos nao tivessem idéia do tamanho dos
tos”. Em lugar de encontrar-se no Xeol, astros. Sao dados das escatologias, que
Deus lhes deu asilo no seu templo (SI 27, também se encontram com variantes nos
5), sob seu altar (tradigáo rabínica; com- evangelhos sinóticos (Mt 24 par.). A “ira"
pare-se com Jó 14,13). Talvez o altar su- é a sentenga de condenagáo dos malvados.
gira a idéia do martirio como sacrificio. 6.15 Sete categorías que representam
“Por causa da palavra...” (ver Ap 1,9). uma totalidade. “Escondem-se”: cf. Gn
6.10-11 Dali clamam: nao opuseram re 3,8; como na grande teofania de Is 2,10-
sistencia, nao fizeram vinganga com as pró- 19 com suas dez categorías.
prias máos; agora pedem que se lhes faga 6.16 Grito desesperado de quem prefe-
justiga, como tantos orantes de salmos. Já re a morte (Os 10,8).
no citado Zc 1,12 (visáo dos cavalos) escu- 6.17 O clássico dies irae de Sf 1,14.
tava-se o grito de impaciencia e a resposta
de consolo (cf. SI 79,10; Dt 32,43). 7,1-13 O capítulo precedente concluía
A “veste branca” simboliza a salvagáo perguntando: quem poderá resistir? (SI
já concedida a eles; mas a era dos mártires 76,8; 13,3). Este capítulo dá a resposta.
nao terminou (cf. Mt 23,32). Antes do sétimo selo, da grande confia-
723 APOCALIPSE
§Mti* il'i ti h . 11 i.ii:i que nâo soprassem de Benjamim doze mil m arcados com
„¿H* h ii mi, m in sobre o mar nem so- o selo. yDepois vi uma m ultidáo enor
irt* «» iii • un •. Vi outro anjo que subía me, que ninguém podia contar, de toda
k> ..ii. nii i mu o selo do Deus vivo, e naçâo, raça, povo e língua: estavam di
•Mi f •• mm vu/ potente aos quatro an- ante do trono e do Cordeiro, vestidos
¡■rt m. mu /vulos de causar dano à terra com vestes brancas e com palmas na
» « . mi.h 'N.u i causéis dano à terra nem máo. 10Gritavam com voz potente: A
Itt in.ii mm as árvores, até que sele- vitória ao nosso Deus, sentado no tro
,i lin /u n los servos do nosso Deus. no, e ao Cordeiro. n Todos os anjos se
i tu* i H minier«) dos m arcados com o haviam posto de pé ao redor do trono,
»i.. 11 Min c «[uarenta e quatro mil de dos anciâos e dos quatro seres vivos.
uni.....ii iiihos de Israel. 5Da tribo de Caíram de bruços diante do trono e ado-
i.».i.i .I.i/i mil, da tribo de Rúben doze raram, 12dizendo: Amém. Louvor e glo
..til .i.i inlio de Gad doze mil, 6da tribo ria, saber e açâo de graças, honra e for
1« A m i i I n / e mil, da tribo de Neftali ça e poder ao nosso Deus pelos séculos
Inn mil. da tribo de M anassés doze dos séculos. Amém.
mil Mu ii ¡I)«» de Simeáo doze mil, da 13Um dos anciâos se dirigiu a mim e
itllm 11. I ,evi doze mil, da tribo de Issa- me perguntou: Esses que tém vestes
ii iIi i / i - mil, *da tribo de Zabulón doze brancas, quem sáo e de onde vém? Res
mil iI.i ii ¡bo de José doze mil, da tribo pondí: Tu sabes, senhor. 14EIe me dis-
liini.Dii, li.i um episodio de seleçâo e sal- Ou entao judeus convertidos: Tiago fala-
■i|iiim<l;i, exatamente segundo o esquema va de dezenas de milhares (At 21,20).
i. I / 9, ou seja, a marea dos inocentes, Outros pensam que sáo cristáos, como em
l'i | h le se o esquema de Ex 12, a marca 9,4 e 14,1; mas no texto os 144 mil se con-
.l.i. moradias protegidas do exterminio; o trapóem á “multidáo inumerável” de toda
' m|iirma de Noé salvo na arca (Gn 6-8); o na§áo e língua, que pode recordar a pro-
. ■ii|iicma da escatologia (Is 26,20-21). Ora, messa feita a Abraáo (Ex 22,17). O núme
•i cm lais textos se tratava de uma prote- ro 12 x 12 sugere uma multidáo diferencia
.,iin interina, o Apocalipse enlaça a prote- da e ordenada. A men§áo nominal das tribos
i.iin com o destino glorioso definitivo, que descreve o novo Israel (cf. Jo 1,47.49 e Tg
• i ontempla em visâo. 1,1), o novo povo de Deus. Seguindo uma
7,1 Anjos como ministros de fenóme tradiqáo rabínica, omite o nome de Dá.
nos cósmicos: ver 14,18 e 16,5. A terra 7.9 Vestem uma roupa e empunham um
uncinada como quadrilátero. Os ventos emblema. Ou se prepararam para a gran
■orno instrumento de castigo: “há ventos de liturgia, segundo os “ramos” mencio
. lindos para o castigo que com sua furia nados em SI 118,27, e os da entrada real
ili slazem as montanhas” (Eclo 39,28). de Jesús em Jerusalém (Me 11,9 par.). Al
7,2-3 Em Ez 9 os executores ou verdu guns suspeitam uma alusáo á festa das
g o s sao seis ás ordens de um sétimo en- Tendas (Lv 23,40).
. ,ii regado de selar ou marcar os inocen- 7.10 Cantam a vitória ou “salvagáo” (Ex
ii s Em Ap sao quatro anjos que controlam 15,2; SI 74,12; 118,15; Is 56,1 etc.) do
us quatre ventos (Jr 4,11-12; 49,36; 51,1- entronizado (SI 47,9; cf. SI 118,25). Os
líelo 39,28), e um quinto anjo que dá restantes acrescentam um novo setenário
i miens e encarregado de selar. O selo é ins- de aclamagóes (cf. SI 29,1-2).
immento ou garantía de autoridade (IRs 7.13 A pergunta de um dos anciáos é
.’1,8, selo real; Jr 22,24, selo do Senhor; recurso do género (p. ex. Ez 37,3); nos a
I s i 8,2). O selo de Deus pode ser o nome chamamos pergunta didática, destinada a
nmitáriorecebido no batismo ou o próprio chamar a atengáo e concentrá-la sobre um
Iíspírito que se imprime (cf. 2Cor 1,22). ponto concreto.
7,4 Quem sao os 144 mil? Alguns pen- 7.14 Atribulagáo é uma perseguido vio
sam que sáo judeus fiéis do AT, apelando lenta, até o martirio (Mt 24,21), é uma
aossete mil de IRs 19,18 nocido de Elias. participado na paixáo de Cristo. O para-
APOCALIPSE 724
se: Esses sào os que sairam de urna gran a eles foram entregues sete Inni il.. 1«
de tribulacào, lavaram e alvejaram suas 3Outro anjo veio e se pòs junto ut . .li»,
vestes no sangue do C ordeiro.15Por isso com um turíbulo de ouro; deram Ih. ...
estào diante do trono de Deus, prestam- censo abundante para que o ai ......hi
Ihe culto dia e noite em seu tempio, e tasse às oragóes de todos os sanio*, m»
aquele que senta no trono habita entre bre o aitar de ouro, diante do trono 'Ili
eles. 16Nào passarào fom e nem sede, o mào do anjo subiu a fumaga do ........
sol nào os prejudicará nem o mormago, so com as oragóes de todos os '.ani..¡l.
17porque o Cordeiro que está no trono até à presenta de Deus. 5Depois o .m| I
os apascentará e os guiará a fontes de tomou o turíbulo, encheu-o coni
água viva. E Deus enxugará as lágri sas do altar e o arrem essou a tri... j
mas de seus olhos. Houve trovòes e estampidos, relamí",
gos e um terremoto.
doxo de “alvejar no sangue” (limpar em silèncio expectante dos amigos de Jó. 1..
lJo 1,7) delata o caráter intelectual da ima- 2,13).
gem. Is 1,18 contrapòe púrpura e neve; Is Grupos de sete anjos ou arcanjos sa.,
63,3 diz que o sangue (do inimigo) man conhecidos em textos antigos, p. ex. os .1.
cha a roupa. O autor parece adaptar a bèn- Tb 12,15. As trombetas podem estar in
5 §o de Judà: “Lava sua roupa no vinho e piradas por Nm 10,1-10 ou textos seni.
sua tùnica no sangue das uvas” (Gn 49,11). Ihantes, como Js 6, contra Jericó; em con
7,15-17 Alcangaram a salvado defini texto de dia do Senhor, J1 2,1 e Sf l,l(.
tiva e se juntam à liturgia celeste (Ap 4— Além dos sete anjos, há outro que deseiu
5). “Habita” ou “acampa”, segundo o ver penha na liturgia celeste o oficio de m e dia
bo grego (também em Jo 1,14). Sobre eles dor. O “aitar” deve ser o do incenso (I x
se acumulam os bens prometidos em Is 30,1). Acrescenta-se às oragòes o in c e n s i,
49,10 (volta do exilio); SI 23; Is 25,8 (es que outrora se acrescentava às oblagòes il.
catologia). Até o paradoxo do Cordeiro que farinha (Lv 2,1.15). O ato litúrgico provo
faz o papel de Pastor (Jo 10). ca a entrada dos fenómenos teofánicos do
julgamento por meio do fogo (Is 55,15s).
8,1-5 O sétimo selo cumpre tres fun- 8,4 Fumaga litùrgica: Ex 30,1-3; SI
goes. Completa a liturgia celeste com o 141,2.
perfume das oragóes (5,8), desencadeia a 8,6 A sèrie das trombetas tem urna arti
co nflagralo à semelhanga do incèndio de culado semelhante à dos selos. Passa pri
Jerusalém (Ez 10,2) e serve para ligar ao meiro um ràpido quarteto de pragas, in
setenário dos selos o setenário das trom- crescendo. Seguem-se outras duas ampias,
betas. Este será como um paralelo terres paralelas (cap. 9). Urna larga cunha, acerca
tre da visáo celeste (porque a ordem cro de duas testemunhas, interrompe o proces
nològica nào governa esses capítulos). so (10,1-11,14). Finalmente soa a sétima
Apreciamos a polaridade clàssica do e última trombeta: a hora do julgamento e
fogo, inclusive litùrgico: gerador de aro do reinado definitivo de Deus. Com isso
ma e causa de incèndio, como em Ez 9 - se concluí urna parte ampia do livro (em
10, onde o fogo destruidor é tomado do 11,18).
lugar sagrado; ou como no antecedente de O material é tomado das pragas do Egi-
Nm 17. A meia hora é o tempo que dura a to e de outros textos proféticos ou es-
crise: o céu (Deus) se cala, nào intervém, catológicos, e é submetido a urna elabora
deixa fazer. É um silencio agourento, um d o fantástica, por vezes mais intelectual
compasso de espera que cria expectativa que realmente imaginativa. A nao ser que
para o que se segue (recorde-se o longo as leíamos como visóes oníricas, quase
Ü 725 APOCALIPSE
mi .ir ....... . i.i liotive granizo e fogo, 120 quarto anjo deu um toque de
A»*!.!* «il. >u m in sangue, que foi arre- trombeta: um terço do sol foi atingido,
ili i» n i Uni tergo da terra se um terço da lúa, um terço das estrelas,
ulti..... i mu li ico das árvores se quei- de m odo que um terço de todos se es-
4iiih im. i i ,i riva verde se queimou. cureceu*: faltou um terço da luz do dia
‘li .. , In anjo deu um toque de e tam bém da noite. 13Vi urna águia vo-
........ i.i uhm iiiontanha enorme caiu ando no meio do céu e ouvi que gritava
. .il ■i. un i nú mar. Um tergo do mar muito forte: Ai, ai, ai dos habitantes da
ü ii ,ih lui ini ni em sangue, ’um tergo terra, por causa dos très toques restan
<è>>- ... i. vivos marinhos pereceu, um tes que os anjos iráo dar com suas trom-
u tiu il"’, navios naufragou. betas.
■\ i ii 1 1 in o anjo deu um toque de
...... I» i,. . .mulo céu uma estrelagigan- *0 quinto anjo deu um toque de
it .i .ni Ir mio como tocha; caiu sobre
mi 1. 1... 11 los rios e sobre os mananciais
9 trombeta: vi um astro caído do céu
na terra e que recebeu a chave do poço
i, •tul*' ‘A estrela se chama Absinto. do Abismo. 2Abriu o poço do Abismo
i *im ii ii,o ila agua se transformou em e subiu urna fum aça do poço, como fu-
■tl iiiiiin. r muilos homens que a bebe- maga de um forno gigante; o sol e o ar
i.Mii iniiiieram, pois se tornara amarga. se escureceram com a fumaça do poço.
tu.....listas. O autor busca o efeito tremen- 8.12 Notemos o processo crescente: pri
......... piante, com meios enfáticos, bizar- meiro cai granizo (pedrinhas, Eclo 43,15),
i.n N.io tem medo de sobrepor ordens depois desmorona urna montanha, a seguir
ti. i. Harneas, tolerando certa confusáo. precipita-se um astro (Is 14,12); depois
Míi I 1 Primeiro quarteto: afeta a terra, amortecem-se o sol, a lúa e as estrelas. As
.. ni.il, os rios e os astros. J1 3,3-4 reúne trevas sáo a penúltima praga do Egito (Ex
... . logo, fumaga e portentos no sol e 10,21; cf. Sb 17) e sáo correntes em textos
h i Ina “antes que chegue o dia do Senhor”. escatológicos (Is 13,10; Ez 32,7 etc.). *Ou:
I ni Ap esse dia chegará quando soar a sé sua luz diminuiu em um tergo.
nni, i trombeta. A insistencia ñas pragas do 8.13 A águia que fala náo tem antece
I |!ito faz do Exodo um tipo da saída da dentes no AT. Talvez o autor a tenha esco-
lliirja para a liberdade. lhido para que o aviso venha do alto.
K, 7 Alguns costumam dizer “a sangue e
lumi”; o autor os une na sua imaginagáo. 9,1 Joel nos oferece duas versóes de
I n|.;() de raios entre o granizo (Ez 9,23- urna terrível praga de gafanhotos: uma
SI 18,12-13); a tempestade teofánica é mais realista, outra que imagina o avango
.i sétima praga do Egito, a que provoca a dos insetos como um assalto de esquadróes
uiitfissáo do Faraó. Fogo misturado com de cavalaria (J1 1-2). Os dois quadros sáo
-.angue, que abrasa parte da vegetagào (des coerentes, cada qual em seu estilo. O au
ìi nitido parte da criagáo, Gn 1,12). tor de Ap se entrega á metamorfose incon
8,8-9 Vem depois um fogo de monta trolada. Do pogo sai fumaga, da fumaga
nini; um vulcáo? As montanhas sáo o mais saem gafanhotos, os gafanhotos se asse-
rstável da terra. Langa-se no mar (cf. Jr melham a cavalos, os cavalos sáo disfor
s 1,25; SI 46,3) e converte parte da água mes com caudas como escorpióes. Outros
etu sangue (Ex 7,20-21). cavalos sáo de fogo, suas caudas sáo ser-
8,10-11 Vem depois um fogo estelar; pentes.
meteorito? Todas as estrelas tèm nome; O autor se compraz no disforme aterra
esta se chama Absinto, denotando seu des dor, deixando-se levar por reminiscencias
tino. A água potável se torna salobra, náo imaginativas. O astro caído é um anjo ca
potável nem apta para regar: o contràrio ído do céu (cf. Is 14,12 e Le 10,18) que
de Ex 15,22-25 ou 2Rs 2,19-22 (milagre desee para abrir os antros infernáis. A fu-
de Eliseu). “Absinto”: associado com ve maga é como a de Sodoma (Gn 19,28; Is
neno pelo sabor: Jr 9,14; 23,15. 34,9-10). Os gafanhotos exercem uma
APOCALIPSE 726
3Da fumaba saíram gafanhotos que se tinha a trombeta: Solta os quali.. m|
espalharam pela térra. Foi-lhes dado um acorrentados junto ao Grand, i->• .
poder como o que tém os escorpioes da Eufrates). 15Soltaram os quatro nii|i«
térra. 4Mas proibiram-lhes de causar da que estavam preparados para tuna i. ,
nos á erva da térra ou ao verde ou as ár- de um dia de um més de um ano | . ..
vores. Permitiram somente causar daño m atar um terço da humanidado 1 1
aos homens que nao traziam na fronte o o núm ero dos esquadróes d a c a \.il....
selo de Deus; 5náo para matá-los, mas duzentos milhóes. 17Este é o i p .. i
para atorm entá-los por cinco meses. O que vi dos cavalos e seus cavalolitn
tormento é com o o de um homem pica tinham couraças de fogo, cor de |.u m
do por escorpiáo. 6Naquele tempo os to e enxofre. A s cabeças dos cav.il..
homens procuraráo inútilmente a mor- eram como de leóes; das bocas s .u ...
te, desejaráo morrer, mas a morte fugi- fogo, fumaça e enxofre. 18Por essa •. 11.
rá deles. 7Os gafanhotos separecem com pragas que saiam de sua boca: toj-..
cavalos aparelhados para a batalha; tém fum aça e enxofre, um terço da hum >
na cabeca coroas como de ouro, rosto nidade pereceu.
como de homens, 8cabelo como de mu- 19Os cavalos têm sua força na boca >
Iher, seus dentes como de ledo. 9Tém na cauda. Suas caudas parecem serpi n
couracas como de ferro. O barulho de tes com cabeças, e com elas ferem 1
suas asas é como o fragor de muitos car resto dos homens que nâo morreram p. «
ros de cavalos correndopara a batalha. essas pragas, nâo se arrependeram rln\
10Tém caudas como de escorpiáo, como obras de suas mâos: nâo deixaram .1.
ferróes, e na cauda poder para causar adorar os demonios e todos os ídolos
daño aos homens por cinco meses. n Seu de ouro, prata e bronze, pedra e mu
rei é o anjo do Abismo, que em hebrai deira, que nâo vêem nem ouvem n<m
co se cham a A baddon e em grego Apo- andam. 21Nâo se arrependeram de su r
llyon. n O primeiro ai passou; atengáo, homicidios, de suas feitiçarias, de sua
pois a seguir chega o segundo. fornicaçâo, de seus roubos.
130 sexto anjo deu um toque de trom-
beta: escutei uma voz que safa dos qua- O pequeño rolo — ]Vi outro
tro chifres do altar de ouro que está di jo poderoso descendo do céii
ante de Deus 14e dizia ao sexto anjo que envolto numa nuvem, com o arco-iri-.
.»iiii, .1 , .ilii 1..1; seu rosto com o o sol, de Deus, como anunciou a seus servos,
i,i,(p ........as i orno colunas de fogo. 2T i- os profetas.
i, i Hi uno uní livrinho aberto. Apoiou 8A voz celeste que eu tinha ouvido
>,m iIh, iio no mar e o esquerdo em me dirigiu novamente a palavra: Vai,
«cim I i i i i i , V' gritou com voz potente, pega o livrinho aberto da máo do anjo
............ . mu leáo. Quando gritou, fa- postado sobre o mar e a terra firme.
jgirtn......... su a voz os sete trovoes. 9Dirigi-me ao anjo e lhe pedi que me
I , in,l,, os scte trovoes falaram, eu me
i i entregasse o livrinho. Ele me disse: To
ti**lni i i screver. Mas ouvi urna voz ma e come-o, pois na boca te será doce
.......... 111h■me dizia: Conserva em se- como mel e amargo no estómago. 10To-
gi, ,l,i i* que disseram os sete trovoes, e mei o livrinho da máo do anjo e o comi:
......... si revas. 50 anjo que vi postado na boca era doce como mel; mas quan
•i.iu, n mar e a térra ergueu a direita do o engoli senti o estómago amargo. n E
(hiiii o i cu (’e jurou por aquele que vive me dizem: Tens de profetizar novamen
|*i% scculos dos séculos, que criou o te contra povos, nacóes, línguas e reis.
,*ni ludo o que ele contém, a térra e
ni,l,i o que ela contém, o mar e tudo o As duas testem unhas — 1Entre -
,|in t ic contém: nao há mais tempo;
ititaiido soar o toque de trom beta do
n garam-me um canijo semelhan-
te a urna vara e me ordenaram: Levan
, linio anjo, se cumprirá o plano secreto ta-te e mede o templo de Deus, o altar
,,ii mío dos sete selos era o AT interpreta- ramento mais solene (cf. Dt 32,40; Gn
,l.i | >i Cristo glorificado, o presente livri- 14,22), anunciando que o fim é iminente.
tiltil lala da etapa que precederá o julga- 10.1 Esse anjo é extraordinàrio por seus
11n nli) final; náo está selado. A imagem atributos visuais: a nuvem e as colunas de
,1,1 Itvro vem de Ez 2,8-9 e 3,1-3. É preci- fogo como no caminho pelo deserto, o ar
II i innc-lo e assimilá-lo; tem sabor doce, co-iris, que Deus estende (Eclo 43,1 ls).
i unió palavra de Deus (cf. Jr 15,16), é 10.2 Apoiar um pé sobre o mar signifi
mu,irgo pelas ameagas que contém. O li- ca dominio também sobre o elemento lí
viii ingerido confere a missáo de profeti- quido.
/ni (liz 3,1-11) e dá autoridade sobre povos 10.3 Como leáo: em relagáo com a ati-
t u-is (Jr 1,10). Profetizar é dar testemunho vidade profètica (Am 3,8).
tlti parte de Deus: o autor profeta se des 10.4 Se náo escreve, terá que selá-lo na
di ihrará em duas testemunhas coletivas, memoria.
pura a etapa anterior ao julgamento. Afun- 10.5 O gesto de iurar como em Dn 12,7;
i,iti) do livrinho é provocar e garantir o tes- Dt 32,40.
ir niunho cristáo, que é a nova profecía (cf. 10.6 Quer dizer, o prazo já náo retarda
Me 13,11). (cf. Ez 7).
( 'orno o sétimo toque de trombeta fica 10,11 Compare-se com a voca^áo de
adiado até 11,15, esta secjáo reclama um Jeremías (Jr 1,4-10).
espado notável para apresentar algo muito
importante que deve acontecer antes do fim. 11,1 -14 Mas resta a etapa crítica do tes
Antes de receber e devorar o livrinho, es- temunho profètico. A atividade profètica
cutou os sete trovoes (SI 29), que agora tém há de continuar até que chegue o fim, du
voz articulada (cf. Ex 20,18-19; Jo 12,29) rante esta etapa na qual as realidades sáo
para responder ao grito do anjo e explicar bivalentes ou ambiguas, porque os cristáos
como será o final. Joáo o escuta e com- vivem no meio de pagáos. O recinto sa
preende, mas náo pode escrevé-lo nem re- grado é contiguo ao profano ou profana
velá-lo antes que chegue o momento de cum- do; a cidade onde morreu o Senhor se cha
prir-se (Dn 8,26). Intervém como mediador ma Sodoma. O autor afirma a ambigüidade
um anjo magnífico: radiante, solar, de fogo, e tenta a distin<jáo.
de voz possante, capaz de abranger mar e Crise é confrontado e separadlo: os
Ierra detendo-se em ambos. Pronuncia o ju- campos se delimitam cada vez mais. A luta
APOCALIPSE 728
e os que nele adoram. 2Exclui da m edi quiserem. 7Quando term inan m • m u
da o átrio extem o do templo, porque é tem unho,aferaquesobedoA bi m o l í . |
entregue aos pagaos, que pisotearáo a declarará guerra, as derrotará < ai u,
cidade santa por quarenta e dois meses. tará. 8Seus cadáveres ficaráo e leiiilp
3Enviarei minhas duas testemunhas que, dos na rúa da grande cidade que n </ tf
vestidas de paño de saco, profetizaráo nom e sim bólico de Sodom a i I ni
por mil, duzentos e sessenta dias. 4Sáo (onde o seu Senhor foi crucili >i i
as duas oliveiras e as duas lámpadas que 9Durante trés dias e meio, gente i li li I
estao diante do Senhor do mundo. Se versos povos, ragas, línguas e n a . |
alguém procura causar-lhes daño, lan- vigiaráo seus cadáveres e nao pruiinii I
qaráo pela boca um fogo que consumirá rao que as sepultem. lüOs habitanli •. <li<
seus inim igos. Assim deverá m orrer terra se alegraráo por sua derrota ■ i
quem tentar fazer-lhes mal. 6Elas tém festejaráo enviando presentes uns auf
poder para fechar o céu, de modo que outros, pois aqueles dois profetas ai ni
nao chova enquanto estiverem profeti mentavam os habitantes da terra. 11l'.i
zando, e poder sobre as águas para trans- sados tres dias e meio, o sopro de ni i
form á-las em sangue, e poder sobre a de Deus penetrou neles, e se puseiam
térra para feri-la com pragas quando de pé. Os que viram isso ficaram tonni
é aberta: de um lado, a denuncia que pre anos (Dn 7,25; 12,7). Embora sejam pm
ga a conversáo: tal é o testemunho. De fetas, acumulam as fungóes real e sacer
outro lado, a perseguiçâo até a morte (Jr dotal, como as duas oliveiras e as duas lfun
11,21; SI 35,4). Há urna zona de asilo se padas (Zc 4,3.11-14, um só candelabro)
guro (v. 1) para os adoradores de Deus Enquanto durar seu ministério, sua pala
(1 Rs 19,18; SI 27,5; 61,5); outra zona fica vra será fogo que consumirá os rebelde-.
à mercé dos pagaos (SI 79; Lm 1,10). (Jr 23,29; Eelo 48,1; Le 9,54).
11,1-2 O vidente, que já assimilou o li- “Vestidas de paño de saco”: em gesto
vrinho, deve tomar parte ativa na visáo: de luto e penitencia (Jn 3,6-8). “Quando
nao como o modelo ¡mediato de Ez 40,3, quiserem": inclusive com maior poder que
onde o profeta é mero espectador, mas se Elias e Moisés.
gundo outros textos em que o profeta é 11.7 Ouando concluir seu ministério, a
protagonista (Ez 37 e 43). Templo, altar e “fera”, agente do poder da Morte, as dei
atrios representam comunidades humanas, rotará;aparentemente. Porqué? Matando-
cristáos (cf. ICor 3,16; Ef 2,21) e pagaos as por causa do testemunho, as incorpo
(náo-judeus convertidos e penitentes). A ran) á paixáo do Senhor, pelo que obteráo
duraçào equivale a très anos e meio, a a ressurreigáo e ascensáo (v. 11). A fera
metade de um setenario; como o espaço, parece inspirada em Dn 7.
também o tempo é medido. “Excluí da 11.8 A cidade que as matou e matou
medida”: o grego quebra a coeréncia do Cristo merece o nome de Sodoma, a de
medir e emprega a expressáo forte “lan- pravada (cf. Is 1,10), ou Egito, o opressor.
ça-o fora” (freqüente em Jeremías para 11,9-10 Só meia semana, e jazeráo seus
designar o exilio). “Pisoteada”: Le 21,24; cadáveres insepultos, expostos á cagada
Is 63,18. (cf. Is 14,19; Tb 2,18-19), enquanto a po
11,3-6 As duas testemunhas tomam em puladlo e o mundo festejaráo sua derrota
suas atividades traços de Moisés e de Elias aparente.
(Ex 7,17; IRs 17,1). Duas testemunhas é 11,11-12 Sua ressurreigáo segue o es
o mínimo que a legislaçâo exige (Dt 19, quema de Ez 37,10 na visáo dos ossos, até
15): mas os dois representam a comuni- pór-se de pé. Sua ascensáo assemelha-se
dade em sua funçâo profètica e martirial; á de Elias (2Rs 2,11), com um toque de At
“o espirito de profecía” é o testemunho de 1 adaptado. A inesperada glorificagáo dos
Jesús (Ap 19,10); nao se identificam com mártires provoca o terror dos culpados, o
personagens individuáis. O tempo do mi- reconhecimento a contragosto da gloria de
nistério está truncado: só a metade de sete Deus (cf. Ez 39,21; SI 102,16; 2Mc 9,12).
729 APOCAUPSE
in* I i. iim ' i •Miv 11.1111 unía potente 17dizendo: Nós te damos grabas, Se
i i •|>i. Un . 1I1/ 1.1 Nubi para cà. nhor, Deus Todo-poderoso, aquele que
•».ti. hi........... umita nuvcm, enquanto é e era, porque assumiste o poder su
itii i..i.ni, - iilliav a n i p a r a e l e s . premo e o reinado. l8Os pagaos se en
■'ii. i uni..... . lu m>1>1ove io imi gran furecerán!, mas sobreveio tua cólera, a
fi ............. ............li i ima parte da cida- hora de julgares os mortos e dares o
i i i.. .......... . .i te mil pessoas mor premio aos teus servos, aos profetas,
i i . .. ....... i. 11. iiiiilu <>s restantes se aos santos, aos que respeitam teu nome,
•i i. .i ii uni i uiilrssaram a glòria do pequeños e grandes; a hora de destruí-
.......... ......... . 1'< > segundo ai passou; res os que destroem a térra.
. |.. i In jm li ij'.i i o lerceiro.
A m u lh e r e o d ra g á o — 19Abriu-se no
» - ri Iin .i (m u llid a lsO sétimo anjo céu o templo de Deus e apareceu no
i. .. m u . i-ii11M- ile trombeta: vozes po- templo a arca de sua alianza. Houve
. ni. n uaiam no céu: Chegou ao relámpagos, estampidos, trovóes, um
MuniiI-1 ii n inailo ile nosso Senhor e de terremoto e forte chuva de pedras.
. ii M. Ma1,, e reinará pelos séculos dos
■iili i . )■. vinte e quatro anciáos sen- 'Um grande sinal apareceu no
i ni.. i ni m u s tronos diante de Deus céu: urna mulher vestida do sol,
. ni un ile brujos e adoraram a Deus, a lúa sob os pés e na cabera uma coroa
\ ir., rnsao se assemelha à de Jesus (At 1) ativa, agressiva. Os inimigos de Deus saos
. i .In personagem humano de Dn 7,13, os destruidores da terra, que é criaqáo de
......de I lias (2Rs 2,11). Deus; ou, segundo o equivalente hebraico,
11,1 STambém a terra se contagia de ter os que corrompem ou pervertem o mun
mi . rsl remece num terremoto clàssico (Ez do. Combina uma fórmula freqüente so
ih I•>, Is 24,18-20). “Confessar a glòria” bre os profetas e outra do SI 115,13.
ii io significa necessariamente conversào; 11,19 Discute-se a colocagáo deste
11. ii li- ser o reconhecimento do réu confes- versículo, a) Como encerramento da se-
'iii (ef. Js 7,19). gáo precedente: com o reinado de Deus se
11,15-18 Por firn, depois da etapa das inaugura a alianga com seu povo. b) Como
irslemunhas, soa a sétima trombeta e che abertura: o novo ciclo de eventos se abre
ca o firn: reinado de Deus e julgamento com a revelagáo da nova alianga. O tem
linai. É um ato unitàrio cuja articulaqào plo celeste é o próprio céu (21,22).
i mnológica pode variar. A lògica ordena- Para entender este versículo, devem-se
i ia assim: assalto presungoso de urna coa- recordar dois dados: a presenga da arca da
lizào internacional (SI 2,2; Ez 38; cf. Is alianza no templo de Salomao (1 Rs 8,1.6)
8,9-10), derrota (SI 48,5-6; 76,6-7), o jui e a lenda contada em 2Mc 2,4-8. Segundo
camente de prèmio e castigo (Is 65,8-16) esta, Jeremías escondeu a arca numa gru
segundo a lei do taliào; o reinado. Na ta do monte Nebo, e anunciou: Este lugar
escatologia de Is 24—27 descobrimos a se- permanecerá incógnito até que Deus rea
guinte ordem: terremoto (24,18-20), jul lize a reuniáo do seu povo, mostrando-se
gamento e reinado (24,21-23). misericordioso. Entáo o Senhor mostrará
Santos ou consagrados è designalo co de novo estes objetos, e aparecerá a glo
muni dos cristàos; eles mesmos sào “teus ria do Senhor. Se o autor de Ap conheceu
servos, os profetas” (Zc 1,6) pela funqào e explorou essa lenda, o v. torna-se inteli-
profètica partilhada de dar testemunho; gível como comego solene: a teofania ilu
eles mesmos ainda sào os que “respeitam mina o cenário.
teu nome”, fòrmula menos freqiiente (SI
61,6). “Pequeños e grandes” inclui a tota- 12,1 -18 Personagens. Primeiro a mu
lidade (SI 115,13). lher em dores de parto. Os antecedentes
11,18 A còlerà dos pagaos pode proce bíblicos sao muitos, porque é a comuni-
der de SI 2,2 ou de SI 98,1 grego; è còlerà dade de Israel em seu aspecto fecundo, a
APOCALIPSE 730 Iti’
de doze estrelas. : Estava gràvida e gri- 7Foi declarada guerra no cm i,
tava de dor no momento do parto. 3Apa- com seus anjos lutavam coni n •h i»
receu outro sinal no céu: um" enorme o dragao lutava ajudado por ■.i. *
dragào verm elho, com sete caberas e jos; 8mas nao vencia, e perdei.im 4
dez chifres e sete diademas nas cabegas. lugar no céu. 90 dragáo giganic i .
4Com a cauda arrastava um tercio dos pente primitiva, chamado DiaU. .
astros do céu e os arrem essava à terra. tanás, que enganava o mundo mi. .||L
O dragào estava diante da m ulher que foi arremessado na terra com n •. I.. n
dava à luz, disposto a devorar a crianza seus anjos. 10Escutei no céu um.i vm
assim que nascesse. 5Ela deu à luz um potente que dizia: Chegou a vil.n i |
filho homem, que apascentará todas as poder e o reinado do nosso Deu¡ 4
nacòes com vara de ferro. O filho foi ar autoridade de seu M essias; pois Ion ■
rebatado para Deus e para o seu trono. pulso aquele que acusavanossos ii 11■>.
6A m ulher fugiu para o deserto, onde aquele que os acusava dia e noiu .limi
tinha um lugar preparado por Deus para te do nosso Deus. "E les o derrolaiMni
sustentà-la por mil, duzentos e sessen- com o sangue do Cordeiro e com o | ... ■
ta dias. prio testem unho, pois desprezai.im .
matriarca ideal em confronto com os pa do céu” (Dn 8,10). Nao casam bem as . 1.1
triarcas. O texto básico se lé em Is 66,7- caberas da ameaga com os dez chifr. .1.
14, porque dá á luz “um varáo” e um “po- poderio; sao coisas de Dn 7,7.
vo”: o Messias e a nova comunidade. O Vencedor na luta é o filho. E o Mes'.i.i
aspecto crítico do parto é proposto por Os comoprova a citado de SI 2,9. Acitara. >.I.
13,13, ao passo que a dor e a alegria da SI 2,7 em At 13,33 mostra que o nasciniin
maternidade se mencionam em Jo 16,20- to coincide com a ressurreido (e ascens.i.
22. A mulher é celeste por seus atributos SI 110,1), para reeeber de fato o poder ri .1
astrais: mais que a Jerusalém de Is 60, O dragáo-Xeol tentou devorá-lo na paix.m
melhor que a noiva de Ct 6,10. Revestida mas Deus o “arrebatou”, como a Henoe ou
de luz solar, como o Senhor (SI 104,2); a a Elias (Gn 5,24; 2Rs 2). Tratando-se .1.
lúa com otase semelhante a lima góndola, urna projegáo celeste esquemática, o pío
pisada ou sustentando; urna nova conste cesso se concentra em dois momentos.
la d o a coroa, talvez a dos astros que 12,1 Vejamos como se realiza e se desen
correspondem as doze tribos. Os autores a rola a alianza. O céu é aqui, antes de tudo,
identificam em tres planos: a Sinagoga ou um gigantesco painel onde se projeta unin
comunidade de Israel da qual nasce o Mes cena, que é parábola-resumo do que há di
sias, a Igreja que gera o Messias em cada suceder na térra e explicad0 de seu senti
eristáo (cf. G1 4,19), e Maria. Esta última do transcendente. O céu é ademais o lugai
é chamada mulher em Jo 2,4, é mulher c imaginado da divindade. “Sinais” sao as
máe junto a cruz (Jo 19,26). cenas que tcm significado codificado. Vci
A ela se opóe a mulher que cavalga a o convite de Isaías a Acaz (Is 7,11), ofere
fera, vestida de púrgUra e ornada de jóias, cendo um sinal “no céu ou no abismo”.
prostituta adornada qíie embriaga seus se- 12,4 Segundo Dn 8,10.
quazes: cap. 17. 12,6 A fuga pode recordar o SI 55,7-9; é
Antagonista é o dragáo. Dn 7-8 propor como a saída dos israelitas do Egito (Ex
ciona a pauta para esse capítulo e o seguin- 12,40-42), e por isso pode significar a sa
te. O dragáo é no AT o império agressor, Egi- ída da Igreja do judaismo ou do paganis
to, Babilonia (Jr 51,34; Is 51,9-10; Ez 29 e mo. O relato continua no v. 13, após um
32), que encarna na historia o poder mítico interludio complementar.
hostil (cf. Is 14,29). Gn 3,10 o apresenta 12,7-12 O dragáo e seu exército tinham
como serpente sedutora, em hostilidade per- tido um “lugar no céu”. Eram poderes cós
pétua com a mulher e sua descendencia. Por micos ou políticos adorados como divinda-
ora aparece no painel celeste acusando seu des e por este artificio regedores da histo
poder nefasto contra os eleitos, “os astros ria. A confissáo do único Deus verdadeiro,
■ I 31 APOCALIPSE
lid« itti ..... n i 1 l’or isso lestejai, céus, agua como um rio atrás da mulher, para
, 1» .111• ni li . 11.il>■I;iis. Ai da terra c do arrastá-la na correnteza. 16Mas a térra
l(t • • 1 l'iii.|in ilt-si'cu até vós o Diabo, ajudou a mulher, abrindo a boca e beben-
titli'i' i*I«111<ii sabor i|iic Ilio sobra poli- do o rio que o dragáo lanqara pela boca.
i n 170 dragáo, enfurecido com a mulher,
'i illuni In ii dragáo viu que fora arre- partiu para guerrear contra o resto de seus
Mt*—i-1' ■n i li na, perseguili a mulher descendentes, os que cumprem o precei-
,,, li. , il.ulii a luz o menino. 14A
i i to de Deus e conservam o testemunho
Mmlii'i lui.un dadas as duas asas da de Jesús. 18E se deteve á beira-mar.
«uni i |M|Miilc, para que voasse ao seu
In,. .......... Ir se rio, onde será sustentada As d u a s feras (Dn 7) — 'Vi sair
.ut..........liiis anos e meio ano, longe da do mar urna fera com dez chi-
•e»I•>nti 1 A serpente langou da boca fres e sete caberas; nos chifres dez dia-
.tt< a.i ,/ (.Micm-como-Deus, os desmas- serem dois, poderiam ser colocados diante
iii.in . | >iiv>>ii de seus privilegios (cf. SI
das duas testemunhas. A pauta de Dn 7 se
n ' I II) deixa ver com mais detalhe. O dragáo co
I ni ,ii.i audacia insensata o dragáo-dia-
meta a atuar por seus agentes delegados:
urna fera marinha e outra terrestre subde
lhi . lu i'uii ,i arvorar-se em fiscal acusador
legada, urna estátua animada que tem de
i., i iiiii I leus (cf. Jó 1-2; Zc 3,1). Mas o
M, i,i. n derrotou, viu-o cair do céu (Le ser adorada e urna marca de dedicacáo e
|ii |i¡) A morte de Cristo e dos mártiresreconhecimento. Sáo poderes políticos ab
solutos, com suas ideologías, divinizados,
i ii n.i n .ilidade urna vitória sobre Sata-
n.i i|iit- c celebrada com aclamaçôes no empenhados em impor sua soberanía como
.. h M.is Satanás trasladou seu poder à rivais de Deus. Sáo figuras emblemáticas.
No passado tinham sido Babilonia (Is 14)
i. n , i . tmilra os que ficam, enfurecido e
...... pressa. Este é o tempo da Igreja. A com seu imperador e sua estátua (Dn 2-3),
mullid” c agora a Igreja, que torna a dar
depois os impérios “ferozes” sucessivos
(Dn 7—8). No tempo do autor, é a Roma
■i lu/ o Cristo nos cristáos (cf. G1 4,19).
I imperial, com o culto ao imperador divi
Ouatro nomes e um qualificativo
nizado, perseguidora violenta dos cristáos.
Imi ti o poder hostil: Dragáo gigante = Ser-
No decurso da historia, irá tomando no-
Itrille primitiva (Gn 3) = Satanás (rival) =
mes novos, com suas novas estátuas e mar
I m h I h i (acusador); sua tática e sua força
.....sistem no “enganar”, porque é inimi- cas. Em resumo, a fera parodia a figura de
iin da verdade (Jo 8,44). Deus e do Cordeiro: recebe poder do dra
12,11 É significativo o paralelismo dogáo, tem um trono, sara de uma ferida, exi
irsiemunho” e do “sangue do Cordeiro”. ge adoragáo, grita “quem como...?”
12,13-18 Continua a hostilidade do dra Alguns agentes exibem feridas misterio
gan contra a mulher na terra (Gn 3,15). Comsamente curadas, quer dizer, derrotas am-
plamente ressarcidas; outros realizam obras
"usas de águia” (Ex 19,4) a mulher se refu
gia no deserto: como Moisés, Davi, Elias, portentosas, convincentes (Dt 13,2); alar-
mu salmista (SI 55,7-9), durante a metade deiam infundir a vida ao inerte, como de
de sete anos, alimentada com um novo miurgos que remedam a Deus (Gn 2,7). Sua
maná (cf. Jo 6). O dragáo envia, como agen-blasfemia consiste em apresentar-se como
le seu, as “águas torrenciais” (SI 18,5; 32,6;
deuses (Ez 28,9; Is 48,8.10). Com bajula-
In 2,4), que a terra engole (cf. Nm 16,30- qóes, enganos e ameagas pretendem subme-
12). Doravante o dragáo lutará contra o “res-
ter todos, e negam os direitos civis a quem
lo da descendencia” da mulher (Gn 3,15). nao se curva. Mas os cristáos, “registrados
12,18 O dragáo se detém na fronteira no livro da vida” especial, o de um morto
da Ierra e do mar. O anjo poderoso pisava que está vivo, resistiráo com sua fé “perse
io mesmo tempo a terra e o mar (10,2). verante". Os que se submetem sáo destina
dos ao “cativeiro e á morte” (Jr 15,2).
13,1 -18 Entram em cena dois novos per- 13,1 Sai do “mar” (Dn 7,3), que é o ele
si magens, que atuaráo até o cap. 20. Por mento rebelde e hostil onde se tinha deti-
APOCALIPSE 732
do o dragáo (12,18). Os dez chífres po- 13,8 À expressáo tradicional “o livro iln
dem representar uma totalidade de poder vida” (Ex 32,32; SI 69,28) acrescenta m
ou uma série de poderes; algo semelhante “do Cordeiro”, como se fosse ele quem
as sete cabegas; é uma réplica do dragáo leva o registro. “Desde o principio iln
(12,3). “Títulos blasfemos” é o título di mundo”: ou previstos todos de antemím,
vino que se arrogam: ver 17,3. Algum co ou começando pelos primeiros homens o
mentarista percebeu uma alusáo velada: da continuando ao longo da historia.
fera a Roma, do mar ao Mediterráneo, 13,10 O texto citado de Jeremías 15,?
Mare nostrum. diz que a sentença passa a ser executada,
13.2 A fera sintetiza as quatro de Daniel porque já náo é tempo de intercessáo.
(Dn 7,4-6). O dragáo é o de 12,9, poder 13,11-12 Asegunda fera é de categoría
supremo do reino hostil transcendente. inferior: em cabega, chifres e aspecto; so
Nomeia-a plenipotenciaria: inclusive cede- sobressai em falar como um dragáo. Atua
lhe o trono (que o Faraó nao cede a José, “na presença” ou como representante da
Gn 4 1,40). Compare-se com Ap 2,28; 3,21. outra; e sua funçào é a de um falso profe
13.3 Parodia diabólica de Jesús Cristo, ta, como o descrito em Dt 13. Sua finali
com pretensóes de suplantá-lo. Levando dade é promover o culto da outra fera;
em conta lendas correntes da época, é pro- provável alusáo ao culto imperial, que pri
vável que se refira a Ñero. meiro foi de Roma e mais tarde do impe
13.4 “Quem como a fera?” remeda a ex- rador. No detalhe da ferida mortal curada
pressáo “Quem como Deus?” (= M i-ka-’el, alguns véem uma alusáo à lenda de um
Ex 15,11; SI 88,6; cf. Is 46,9). Ver 2Ts 2,4. “Ñero redivivo” que retornaría como im
13.5 “Insolente”: SI 12,5. Um tempo li perador.
mitado, a metade de sete anos; igual ao 13.13 Como se contrôlasse os meteoros:
dragáo (12,6-14). assim o fizeram Elias e Eliseu (IRs 18,24-
13.6 A “morada” é a tenda, o templo ce 39; 2Rs 1,10-12); porque eram profetas
leste; os que o habitam sáo a corte de Deus. auténticos do Senhor a quem obedecem os
13.7 “Foi-lhe dada” (por Deus, passivo raios (Jó 38,35). Sinais enganosos: anun
teológico) equivale a permitir; porque Deus, ciados em Dt 13,2; Mt 24,24.
e nao o dragáo, tem o controle supremo. 13.14 O pormenor da estátua, inspirado
Faz guerra, como o dragáo (12,17). em Dn 2-3, aludiría também ao culto do
I |. 733 APOCALIPSE
fin 11 int m i" 1 ''.mu nutro anjo do tem- número de seu nome estavam junto ao
i»ii t í¡i 11>hi • ni .illa vu/, para aqucle que m ar transparente com as cítaras de
»M i ■ni ni" n.i imvein: Lança a foi- Deus. 3Eles cantam o càntico de M oi
* t- •. il i | hir. clicgou a hora da ceifa, sés, o servo de Deus, e o cántico do Cor-
I . m i . i un da Ierra está bem madu- deiro: Grandes e admiráveis sáo tuas
jn ' \i|in li que eslava sentado na nu- obras, Senhor D eus T odo-poderoso;
iii l ni. un i luirc na terra e a terra foi justos e certos teus caminhos, Rei das
i r ii.nl i 1 '..nu nutro anjo dn templo do nagóes. 4Quem nao te respeitará, Se
i . i imlii ni ele cum uma foice afiada. nhor, quem nao dará glo ria ao teu
"tj.il......... i anjo de junto do altar, aquele nome? Só tu és santo, e todas as nagóes
.......... 11 ■>l.t o logo, e disse em altas viráo adorar-te em tua presenta, por
.... |>m .i ,ii|iiclc que tinha a foice afia- que tuas decisóes foram reveladas. De-
l t I mi i .i Inice afiada e colhe as uvas pois vi como se abria o templo, a tenda
i » i‘li 11 .■ ila Ierra, pois os cachos es- do testemunho no céu. 6Do templo saí-
Mn hiin lut us. '"'O anjo lançou a foice na ram os sete anjos das sete pragas, ves
ii h .11 i ullirii a videira da terra e jogou tidos de linho puro resplandecente, a
i* h r un grande lagar da ira de Deus. cintura cingida com cintos de ouro.
Ti ii.mi u lagar fora da cidade, e o 7Um dos quatro seres vivos entregou
■hii> ih iiansbordou do lagar, e num raio aos sete anjos sete tagas de ouro cheias
i. n■/rulos quilómetros* atingiu a al- da ira do Deus que vive pelos séculos
Im i i l u Iicio dos cavalos. dos séculos.
80 templo se encheu de fu maca por cau
As sete últimas pragas — ‘Vi sa da gloria e poder de Deus, e ninguém
nutro sinal no céu, grande e ad- podia entrar no templo até que se com-
mii.ivel: sete anjos que levam as sete pletassem as sete pragas dos sete anjos.
iiliimas pragas, nas quais se esgota a
lin ilc Deus. 2Vi uma espécie de mar As tagas da ira — JO uvi uma
liiinsparente m isturado com fogo. Os voz potente que saia do templo
■1111' vcnceram a fera, sua imagem e o e dizia aos sete anjos: Ide derramar pela
terra as sete tagas da ira de Deus. 2Saiu deram dando gloria a Deus. )<
o prim eiro e derramou sua taga na ter derramou sua taga sobre o trom >. I
ra: chagas malignas e graves acomete- seu reino ficou em trevas, e mon
ram os que levavam a marca da fera. língua de dor. "B lasfem aran! o
30 segundo derramou sua taga no mar: do céu por suas chagas e dores: 111
transformou-se em sangue como de um se arrependeram de suas agóes. • > i
morto, e morreram todos os seres vi to derramou sua taga sobre o (ii.u i'lil
vos do mar. 40 terceiro derramou sua Rio (o Eufrates): sua água secón -n .
taga sobre os rios e m ananciais, e se abrirpassagem ao sreisd o o rien n \| I
transformaram em sangue. 5Ouvi o anjo sair da boca do dragáo, da boca il.i l> ■
das aguas dizer: Justa é tua sentenza, ó e da boca do falso profeta, tres i pn,
Santo, que és e eras, 6porque derrama- tos ¡mundos como sapos. 14Süo u •
ram o sangue de santos e profetas: tu píritos de demonios que operam sin.iil 1
lhes darás sangue para beber, pois o e se dirigem aos reis do mundo u >r. u ■
m erecem. 7E ouvi o altar dizendo: Sim, únem para a batalha do grande du i-.
Senhor, Deus Todo-poderoso, tuas sen- Deus Todo-poderoso. 15Atengáo, |><u<
tengas sao justas e certas. sO quarto eu chego como ladráo! Feliz aquek <|in
derram ou sua taga no sol, e lhe perm i vigia e guarda suas vestes; assim n
tirán! abrasar os homens com fogo. l'Os terá de andar nu, mostrando suas m i. |
homens se abrasaram terrivelm ente e gonhas. l6Ele os reuniu num lugar i li.i
blasfemaram o nome de Deus, que con m ado em hebraico Harmagedon. <1
trola essas pragas; mas nao se arrepen- sétim o derramou sua taga pelo ar. 1 <
mttil i •, , 1.1 i.....i. '..mi unía voz poten- canats*. \ oni quem fornicaram os r e í s
8 Min 'iM'i A. .iImhi! IKIImivc relàm- do mundo, c om i o vinlio de sua for
, ip . i iin|'i'liiM-Irovócs; houveum n ic a rio se cm bitagat un o s habitantes
.i tu ), h ih M i n i l i , conio jam ais houve do mundo. Transpoilou me em éxtase
Luli i|in h i Inuncus na terra, tao vio a um deserto. Ai vi urna m ullin ( aval-
liniti 1 1>i i. li tirinolo. '''A Grande Ci- gando urna fera de cor escaríate, eobetla
i.t | nini .. i ni lièsedesm oronaram de títulos blasfemos, com sete caberas
ii ii i.i. .l i . n.H.di s. Deus se lembrou e dez chifres. 4A mulher vestía púrpura
i li .t il. mi i i ,t le/ lieber a taga da ira e escaríate, adornada de ouro, pedras
h ......... i ,i "I ugiram todas as ilhas, preciosas e pérolas. Na máo erguia urna
, mi niii.it.mi montanhas. 21Granizo taqa de ouro cheia das obscenidades e
Mtu ini. . n i omo talentos caiu do céu impurezas de sua fo rn icad o . 5Na fron
tu)...... Iimin'iis. ()s homens blasfema- te levava um título secreto: Babilonia,
Hin ■. .ni t i Deus pela praga de grani- a G rande, mae das prostitutas e das
ii. .......... ittna praga terrivel. obscenidades da térra. fiVi a mulher em
briagada com o sangue dos santos e o
I HP ( ) julgam cnto da g ra n d e pros- sangue das testem unhas de Jesús. A
I / Ulula 'Um dos sete anjos que vista déla me enchi de estupor.
i...I. mi r. '.eie tagas aproximou-se de 70 anjo me disse: Do que te admi
iiiittt i me ilirigiu a palavra: Vem, vou ras? Vou te explicar o segredo da mu
i. hi.i .i m i a sentenza contra a grande lher e da fera que a sustenta, daquela
Iii.i .iiiul.t, entronizada entre múltiplos que tem sete cabegas e dez chifres. 8A
fera que viste existiu e já nao existe, centou: Os canais que viste, onde c 1 1
porém subirá do A bism o para ser ani entronizada a prostituta, sao povos, muli >
quilada. Os habitantes da térra, cujos dóes, nagóes e línguas. IfiOs dez chiln
nomes nao estáo escritos desde o prin que viste e a fera detestaráo a prosi i111
cipio do m undo no livro da vida, fica- ta, iráo deixá-la arrasada e nua, com n i*i
ráo assombrados ao ver que a fera exis sua carne e a queimaráo. 17Porque Den»,
tiu e já nao existe e irá se apresentar. para executar seu designio, os mov< u,
9Aqui é preciso talento do perspicaz! harmonizando propósitos e submeten
As sete caberas sao sete colinas sobre do os reinos deles à fera, até que se cu 111
as quais está entronizada a mulher. Sao pram os planos de Deus. I8A mulher qm
também sete reis: 10cinco caíram, um viste é a grande capital, soberana d>’
está reinando, outro aínda nao chegou; reis do mundo.
quando vier, durará pouco. n A fera que
existia e já nao existe ocupa o oitavo Q ueda de B abilonia— 'Depoi
lugar, embora seja um dos sete, e será vi descerdo céu outro anjo, coni
destruido. 12Os dez chifres que viste sao grande autoridade, e a terra ficou ilumi
dez reis que ainda nao reinam; mas du nada com seu resplendor. 2Gritou com
rante urna hora partilharáo a autorida- voz potente: Caiu, caiu a Grande Ba
de com a fera. Tém um único propó bilònia! Tornou-se moradia de dernó
sito e submetem sua autoridade á fera. nios, abrigo de toda espécie de espiri
14Lutaráo contra o Cordeiro, porém o tos imundos, abrigo de toda espécie di
Cordeiro os derrotará, porque é Senhor aves impuras e nojentas, 3porque do vi
dos senhores e Rei dos reis, e os que ele nho furioso de sua fom icagáo beberam
chamou sao escolhidos e leáis. 15Acres- todas as nagóes, e os reis do mundo
nome de Roma. E repetirá esse ciclo na 17,12 Os dez reis nao representam per-
historia, saindo cada vez do abismo da sonagens históricos, mas a grande coali-
perversáo. As “sete colinas” identificam záo internacional que se prepara para o
Roma. Alguns véem nessa expressáo co assalto final, e a derrota (cf. Ez 38—39).
dificada urna alusáo á lenda de um Ñero Porque seráo derrotados pelo “Rei dos reis”.
redivivo que voltaria a reger o império de 17,14 Para o título: Dt 10,17; Dn 2,47;
Roma. Por outro lado, a expressáo ternaria SI 136,3.
“existiu-náo existe-voltará” soa a parodia 17,16-17 Os antigos aliados se tomaráo
do título divino de 1,4 e pode recordar o hostis, os servidores se transformarao em
esquema pascal de Jo 16,16: a fera, triste executores. Váo deixá-la nua, para a ver-
arremedo de Deus e de Cristo. gonha pública: Ez 16,37; Is 47.
17,10-11 Também nestes vv. tem-se
exercitado “o talento” dos comentaristas. 18 Inspirado em Ez 27-28 e com remi
Sao estas as suas perguntas: o número sete niscencias de outros profetas, este capítulo
significa urna totalidade coletiva ou indi anuncia e canta a queda de Babilonia. Co-
ca figuras individuáis? No segundo caso, mega com o anúncio e continua com a sen-
com que reis romanos devem ser identifi tenga, vv. 1-8; seguem-se très lamentaçôes:
cados os sete? Quem é o sexto reinante? dos reis, w . 9-10, dos comerciantes, w . 11-
Quem é o oitavo? Nao se encontrou res- 17a, dos marinheiros, w . 17b-19; concluí
posta satisfatória. O oitavo é como urna com urna açâo simbólica e sua explicaçâo.
encamagáo da maldade, o grande agente 18,1-2 Unj anjo de esplendor celestial (Ez
de Satanás. O importante e claro, nesse 43,2) dá a noticia a todo o mundo, anteci-
artificio alusivo, é que todos se p5em de pando o que Is 21 reserva va para o final. A
acordo em lutar contra o Cordeiro. Os cris- capital orgulhosa era guarida de demonios
táos da época e de todos os tempos nao (Is 13,21; 34,11-14; Jr 50,39); pode referir
devem espantar-se, antes, devem estar con se aos ídolos.
vencidos de que o Cordeiro é o verdadei- 18,3 A fornicadora do capítulo preceden
ro senhor da historia. te, cf. Is 23,17. Detém-se nos aspectos ne-
ti <11 739 APOCALIPSE
i.... i.......ni i din cía, c os com erciantes arom áticas, objetos de m arfim , obje
in I<IHII<I<I •.<- cnriqueceram com seu tos de m adeiras preciosas, de bronze,
Iii.h i ni Iumi 'Ouvi outra voz celeste ferro e m árm ore, 13canela e especia
11h <11, i,i 1’iivo mcu, sai déla, para nao rías, perfum es, m irra e incensó, vinho
ni. .. uinplKcs de seus pecados e nao e óleo, flor de farinha e trigo, vacas e
...l i. i* I■ . m u s castigos. 5Porque seus ovelhas, cavalos, carros, escravas e
i...... i . .i amontoam até o céu, e o Se- escravos. u O lucro que cobiqavas fu-
<•)!• <i i< ni presentes seus crim es. 6Pa- giu de ti, perdeste teu refinam ento e
,( ii IIh i mu a mesma moeda, dai-lhe o esplendor, e nao voltarás a encontrá-los.
i'.i in | i t suasaqóes; a taga em que pre- 15Os comerciantes desses produtos, que
Imi11 *11 -.iias misturas, enchei-a o dobro se enriqueciam com ela, se manteráo
>.«in i ln. 'quanto foi seu fausto e seu ao longe por m edo de seus torm entos,
Iiiki. i la i Ihe em castigo e torm ento. choraráo e ficaráo de luto, 16dizendo:
I ii/ui .i si mesma: Tenho um trono de A i, ai da grande cidade, que se vestía
i.iinli.i, nao ficarei viúva nem sofrerei de linho, púrpura e escaríate, que se
l<mui,oes. Kl’or isso, num dia lhe chega- adornava com ouro, pedras preciosas
i.ti i M í a s pragas: matanga, luto e fome, e pérolas! 17Tanta riqueza arrasada
< n imcndiarao; porque o Senhor Deus num a hora.
<|ur a condena é poderoso. Todos os pilotos e navegadores, ma-
Tur cía os reis da térra que com ela rinheiros e trabalhadores do m ar fica
Immcararn e se deram ao luxo chora- ráo longe e, ao verem a fumaqa do seu
i ai i c la rao luto, quando virem a fumaba incendio, 18gritaráo: Quem era como
11<i seii incendio, *°e de longe, por medo a grande cidade? I9Jogaráo pó na ca
■lo seu torm ento, diráo: Ai, ai da gran b era, choraráo e ficaráo de luto, gri
de cidade, Babilonia, a poderosa, pois tando: Ai, ai da grande cidade, de cuja
mima hora se cum priu tua sentenga! abundancia se enriqueciam todos os
"O s com erciantes da térra choraráo que navegam pelo mar, pois numa hora
r laráo luto por ela, porque ninguém foi arrasada! 20A legrai-vos por ela,
mais compra sua m ercadoria: 12ouro e céus, santos, apóstalos e profetas, por
piala, pedras preciosas e pérolas, linho que, ao condená-la, Deus fez justiga
e púrpura, seda e escaríate, m adeiras para vós.
cativos do comércio imperial: luxo osten- 18.9 Comeqa a lam entado dos reis, co
M voeenriquecim ento de alguns. OAT em merciantes e marinheiros, inspirada em Is
Heral nao olha com bons olhos a profissáo 23,1-2; Ez 26,16-18; 27,12-24.30-36.
ile com erciante, mas veja-se a avaliagao 18.10 Babilonia incendiada é como ou
de Pr 31. tra Sodoma, ao passo que Jeremías a des-
18.4 Convite para sair: em sentido pro crevia submergida pelas águas.
prio (Jr 51,6-9) e em sentido metafórico 18,12-13 Compare-se com a grande enu
para os cristaos (2Cor 6,17). Assim se li- m erado de Tiro (Ez 27,12-24). Encerran
vraráo da cumplicidade e do castigo. do a lista, o comércio brutal de escravos,
18.5 Os pecados acumulados atingem o base desumana do luxo imperial.
limite do tolerável: cf. Gn 15,16. 18,14 Pode-se comparar com os ais de
18.6 Devolvei-lhe: segundo a lei do ta- Hab 2,6-13. O “lucro” da colheita com
liáo, e até mesmo o dobro: SI 137,8; cf. Jr pleta, referida pelo termo grego.
16,18; Is 40,2; porque se excedeu na cruel- 18,20 O castigo do tirano opressor e
dade. Segundo 2Sm 12,4, o culpado deve impenitente é libertado de suas vítimas.
pagar o quàdruplo. E vice-versa, a libertario do inocente exi
18.7 Inspirado diretamente em Is 47, que ge o castigo do culpado impenitente. Con
apresenta Babilonia como matrona sober- denar é fazer justiga, é livrar. Urna aqño
ba e humilhada. digna de ser aclamada (Is 44,23; 49,13).
18.8 Correspondem à destruigao histó Essa alegría contrasta com o pranto das
rica de Jerusalém (2Rs 25). lam entares precedentes.
APOCALIPSE 740
I 1,13; 19,9; 20,6; 22,7; 22,14 (adensam- lhe dá. A “espada afiada” (Is 49,2; Ez
uc no final). 21,14-21 num cántico á espada) é a sen-
19,10 O breve episòdio transforma sig- tenga que pronuncia e que é eficaz; espa
mlicativamente um detalhe de Dn 8,17. O da de execugáo. Lemos em Sb 18,15-16:
vidente caiu “espantado de brugos” diante “Tua palavra todo-poderosa langou-se
ilo unjo. O autor de Ap acrescenta o gesto como guerreiro inexorável... trazendo a
de “adoragáo”, que lhe serve para subli- espada afiada de tua ordem irrevogável”.
iihar que a visào inteira procede de Deus e A “vara” (ou cetro) de ferro” é a do Ungi
c “autèntica” (diz Dn 8,26); nào parece do do Senhor (SI 2,9). “Pisar o lagar” (Is
eonter urna ponta polèmica contra a vene- 63,3) toma o mosto como imagem de san
mgào dos anjos (CI 2,18). gue numa descrigáo violenta: “seu sangue
19.11-21 Deixando pendente o casa salpicou minhas vestes”. O título se lé em
mento, passa a descrever a guerra, da qual Dn 2,47.
so nos apresenta o exército vencedor e as A guerra desse parágrafo é transposigáo
eonseqiièncias da derrota. metafórica com a qual o autor quer evocar
19.11-16 A apresentagào do generai é a violencia da perseguigáo e a seguranga
quase um florilègio de frases do AT. O “céu da vitória: o capitáo já náo cavalga um
aberto” (Ez 1,1) vai mostrar urna visào. O humilde jumento (Mt 21,1-11). Essa co-
cavaleiro “Fiel, Veraz e Justo”: SI 45,5 diz lossal batalha de valores e projetos, trava-
“cavalga vitorioso pela verdade e pela jus- da no mais profundo dos homens e das
tiga”. “Justo no governo”: como o descre- sociedades, no cenário da historia, toma
ve o SI 72 e o anuncia o SI 98,13 “regerá o na superficie poética a figura de urna vitó
universo com justiga”. Os “olhos como ria militar.
chamas de fogo” procedem do personagem 19,12 O nome que ninguém conhece
magnifico e impressionante de Dn 10,6. alude ao mistério transcendente da sua
O “manto empapado de sangue” (Is 63,3) pessoa.
é o do vencedor que volta da guerra e diz 19,17-21 A ordem náo é rigorosa, pois a
“eu que sentencio com justiga e sou pode mobilizagáo (SI 2,2; Zc 14,2) está pospos
roso para salvar”. IJm séquito de seus ta. O anjo está “sobre o sol”, e daí convo
fiéis o segue (compare-se com Is 13). ca as aves que voam pelo céu = ar, debai-
O cavaleiro é a mesma pessoa que a fi xo do sol. Diante do banquete “ditoso” do
gura do comedo, como mostram seus atri casamento, oferece-se outro festim maca
butos partilhados: compare-se 3,14 com bro, tomado de Ez 39,17-20 (cf. Sf 1,7-8).
19,11; 1,14 com 19,12; 1,16 com 19,15; Os mortos nessa batalha nao recebem se
17,14 com 19,16 e também 12,5 com pultura honrosa, mas servem de pasto as
19,15. “Palavra” é o nome que Jo 1,1.14 aves necrófagas.
APOCALIPSE 742
ceram, o mar já nao existe. 2Vi a cidade cial da vida. 70 vencedor terá tud. >n>m
santa, a nova Jerusalém, descendo do em heraneja. Eu serei o seu Den i , U
céu, de junto de Deus, preparada como será meu filho. 8Ao contràrio, os <.m n|
noiva que se apronta para o noivo. des e infiéis, os depravados e assan n '
3Ouvi urna voz potente que saía do tro nos, os fornicadores e feiticein>v >tl
no: Eis a morada de Deus entre os ho- idólatras e mentirosos de toda espei i ||
mens: habitará com eles; eles seráo seus teráo sua parte no fosso de fogo c c n.
povos, e o próprio Deus estará com eles. xofre ardente (que é a morte según.1 11
Enxugará as lágrim as de seus olhos.
Já nao haverá morte nem luto nem cla A nova Jerusalém (Is 54,1 ls; 60,10 I:
mor nem dor. Tudo o que é antigo pas- Ez 40-48; Tb 13,17s)— 9Aproxim< -1 *
sou. 5A quele que estava sentado no tro um dos sete anjos que tinham as s e l.
no disse: Eis que renovo o universo. E ta^as cheias das últimas pragas, e rn>
acrescentou: Escreve, estas minhas pa- disse: Vem, vou te m ostrar a noiva >
lavras sao verdadeiras e fidedignas. 6E esposa do Cordeiro.
me disse: A cabou. Eu sou o alfa e o °Transportou-me em éxtase a unía
ómega, o principio e o fim. Ao sedento grande e elevada m ontanha, e me mus
darei de beber gratuitamente do manan- trou a cidade santa, Jerusalém, que des
verso é descrito com traços conjugados: “principio e fim” (1,8), o alfabeto inteiro
auséncia de males, presença de bens. A de tudo quanto se possa nomear (Is 44,6,
noiva é Jerusalém, quer dizer, mulher e 48,12). “Dá a beber de graga” (Is 55,1): só
cidade, formosa e feliz. O autor dedica exige que tenham sede do manancial da
mais espaço para descrevê-la como cida vida (Jo 7,37; cf. Jr 2,13; Ez 47).
de, mas o leitor nâo há de perder de vista 21.7 Combina apertadamente duas me
o contexto conjugal do amor (que ressoa- tades, deixando que ressoem por harmonía
rá com força no final). O antecedente de as outras duas tácitas: Eu serei seu Deus
Is 40-66 é significativo, porque o texto (e seu Pai), ele será meu filho (e meu povo);
combina e sintetiza sem dificuldade am restrito no caso do reí (SI 2,7; 89,27-28).
bos os aspectos: p. ex. em 49,14-26 se fala O tema da heranga, frequente no AT, se le
de esposa, màe e escombros; em 54,1-10 também no NT: ICor 15,50; lPd 1,3-5.
o diálogo amoroso menciona “o espaço da 21.8 Este v. se enquadraria melhor no
tenda”; no capítulo 60, Jerusalém é ma final do cap. 20; mas veja-se 22,15. Sus-
trona e cidade etc. peitamos urna distragáo do copista; a nao
O novo universo anunciado: ver Is 65,17 ser que se trate de um sentimento como o
e 66,22 com seus contextos: o humano pre que prorrompe no final do SI 104.
domina sobre o cósmico; com outras pala-
vras, o centro é a nova humanidade. O mar 21 ,9 -2 2 ,5 Descrigáo da noiva-cidade:
que desaparece é o océano primordial, caó inspirada em grande parte na última segáo
tico e rebelde (SI 74,13-14; 93,3-4 par.). de Ezequiel 40-48.
21.2 A cidade é a noiva ornada que se 21.9 Este v. é muito importante. Avisa-
anuncia em 19,7 (cf. Is 52,1; 61,10). “Des nos que a minuciosa e fantástica descri
ee”, porque a noiva é tradicionalmente con- b o da cidade é a visáo da noiva, a “espo
duzida ao noivo que a espera (cf. SI 45). sa do Cordeiro” (Jo 3,29). Esse dado nao
21.3 Pelo amor do Cordeiro à nova Je se le em Ezequiel. Nao faltam no Càntico
rusalém, Deus habita entre os homens, e dos Cánticos imagens da amada como ci
os homens com ele (Lv 26,11-12 par.). dade: “bela como Tersa, formosa como
21.4 Nem morte nem lágrimas: como se Jerusalém” (6,4); “teu pescogo é a torre
anuncia na escatologia de Is 25,8 (também de Davi” (4,4); “sou urna muralha, e meus
Is 65,19 e 35,10 no canto à alegría). seios sao torres” (8,10).
21.5 A renovaçào: 2Cor 5,17. 21.10 Ezequiel é conduzido à cidade que
21.6 O resto, a historia trabálhosa e agi está sobre a montanha (Ez 40,2-3); nosso au
tada, passou e acabou. Abrangendo-a in- tor, do alto de urna montanha, a contempla
teira, historia e criaçâo, está aquele que é descendo do céu, porque é criaqáo de Deus.
Il 745 A P O C A L IP S E
.’I I I Nao tem resplendor pròprio, mas 21,22-23 Acidade nao necessita de tem
.. i. i che da glòria de Deus (cf. Br 5,1-4; plo, porque a enche a presenga de Deus e
'< in Ì.I8). de Jesús Cristo (cf. Jo 2,19-21). Tampouco
.’ I l .’-2 1 Parece interessar muito ao Bu precisa de “luz de lámpada” (cf. Ex 25,31-
rnì ,i muralha da cidade, com suas portas 30). Nem da luz dos dois luzeiros da cria-
il / IH,30-35) e alicerces, d isp o s ilo e gáo, pois será como a Jerusalém de Is 60,1-
m in i iais (Is 54,11-12), suas dimensòes 3.19-20: “nao terás mais o sol como luz
II 10,3-5). A cidade é um cubo perfeito do dia, nem o claráo da lúa te iluminará,
. . mil e duzentos km de lado. Estra porque o Senhor será a tua luz perpetua
nili. projeto de urbanistica! Mas é preciso 21,24 Cumpre-se perfeitamente a pro
.. •.miar queocamarim do tempio (Sancta fecía de Is 2,5 e 60,11 sobre o monte.
■ nu tnrum) era um cubo perfeito de uns 21.26 O tesouro das nagóes: como em
i. inelros de lado e revestido de ouro SI 72,10-11, ao rei ideal; cf. Is 60.
IH1111 () cubo é considerado urna forma 21.27 Podem-se recordar as liturgias de
|n i leila, e a cidade é a Sancta sanctorum entrada (SI 15 e 24).
. c i r s i o . Nela impera o nùmero doze, de
11 il I. is e apóstolos (recordem-se os 144 mil 22,1-5 Diz o SI 36,10: “Porque em ti
.lo cap. 7): doze mil estàdios de lado, 144 está a fonte viva e tua luz nos faz ver a
( I x 12) cóvados a espessura da mura- luz”. E o que recolhem estes vv., embora
lli.i, doze pedras preciosas, que recordam com o risco de reincidir no motivo da luz.
c. do peitoral do sumo sacerdote (Ex A imagem do rio se inspira em Ez 47,1 -
te -21); doze anjos custodiam os aces- 12, sem descartar J1 4,18 nem Zc 14,8. Só
(cf. Gn 3,24). que as árvores ribeirinhas de Ezequiel se
A P O C A L IP S E 746
nagóes. 3A i nào haverá nada de m aldi ves adorar. 10E acrescentou: Nao piiitj
to. N ela se encontrará o trono de Deus des em segredo as palavras proli in u
e do Cordeiro. Seus servos o adorarào deste livro, pois o seu prazo està | m n t
4e verno seu rosto e trarao seu nome na mo. "Q ue o malvado continue em m,
fronte. 5A i nào haverá noite. Nào lhes maldade e o impuro em sua impim /a, h
farà falta a luz da làmpada nem a luz honrado em sua honradez e o saniti in
do sol, porque o Senhor Deus os ilumi sua pròpria santidade. 12Eu chegai i i I..
na, e reinaráo pelos séculos dos séculos. go com o pagamento, para dar a cada iun
o que suas obras merecem. 13Eu son ..
V inda de C risto — 6Ele me disse: Es alfa e o omega, o primeiro e o ùltimo, n
tas palavras sào verdadeiras e fidedig principio e o firn. '4Felizes os que lav.nn
nas. O Senhor, o Deus dos espiritos pro- suas vestes, pois terào à sua disposigli
féticos, enviou seu anjo para mostrar a a árvore da vida, e entrarào na cidiuli
seus servos o que deve acontecer em pelas portas. 15Ficaráo fora os sodomii.r,
breve. 7Eis que chego logo. Feliz aquele feiticeiros, fornicadores, assassinos, ido
que guarda as palavras proféticas deste latras, os que amam e praticam a meni n i
livro. I6Eu, Jesus, enviei meu anjo com ev,«
8Eu sou Joào, que ouviu e viu essas testemunho para vós a respeito das igrc
co isas. Ao escutar e ver, prostrei-me aos jas. Eu sou o rebento da linhagem de
pés do anjo que me mostrava isso, a firn Davi, o brilhante astro da manhà.
de adorà-lo. 9Mas eie me disse: Nào o 170 espirito e a noiva dizem: Vem!
fagas! Eu sou servo como tu e teus ir- Aquele que escuta diga: Vem! Quem tivci
màos, qs profetas, e os que guardam as sede venha, quem quiser receberà gra
palavras deste livro. E a Deus que de- tuitamente água de v id a .18— Admoesto
IM lini >ni' i ih i |t.iI i ' i .r. p i o l c l i c a s d e s - gao na árvore da vida e na cidade santa,
I» li i n Si iiI|Mm in ,ii u m m i a i n l g u m a que säo descritas neste livro.
i . . t .. I ii ii Un H m .i < i i i . i i . i a s p r a g a s 20A quele que testem unha tudo isso
M'iiiii iii -li 11vi *i l’Se a l g u c m tirar a l diz: Sim, venho logo. Amém. Vem, Se
pi ni im ■i il I <1.1 . | i . il. i vias p i o l c l i c a s d e s nhor Jesus. 21A graqa do Senhor Jesus
ìi li i n I ii ii lli< I n . u à s u a p a r t i c i p a - esteja com todos vos. Amém.
S, I-13, em que dez virgens devem aguar “chego” responde a noiva movida pelo
dar o esposo: “Chega o noivo, sai a recebé- Espirito, que é amor: “vem”. Os que for-
ln!” O outro é a fórmula repetida quatro mam a comunidade pronunciam o unísso-
vr/.cs no livro de Jeremías, “a voz do es no “vem”. O esposo, a “testemunha” do
poso, a voz da esposa” (7,34; 16,9; 25,10; livro, responde “sim, venho”. E todos re-
13,11) e recolhida em Ap 18,23. petem simplesmente, apaixonadamente,
A noiva estava preparada (19,7; 21,9) e “Vem, senhor Jesús”. Ressoam no fundo
o noivo anuncia “chego logo” (v. 7). Que versículos do Cántico dos Cánticos: “Vem
os homens persistam em sua conduta (v. do Líbano... aproxima-te, entra... já estou
11), como anunciava Daniel (Dn 12,10), vindo” (Ct 4,8.16; 5,1). Assim termina o
pois ele chega em breve (v. 12) para retri Apocalipse e a nossa Biblia: com “a voz
buir (recordem-se os dois grupos de dez do esposo, a voz da esposa”, como come-
virgens). Misturam-se algumas apresenta- gou com a voz jubilosa do esposo (Gn
§óes (cf. Is 44,6 e 11,1), já usadas no livro 2,23), a voz que Joáo Batista escutou com
(1,3; 2,28; 7,14). Ao anúncio do noivo alegría (Jo 3,29).
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