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W.

GRUEN

OS MIL RECURSOS
DA BÍBLIA DE JERUSALÉM

EDIÇÕES PAULINAS
ABREVIATURAS
Os títulos dos livros bíblicos são abreviados da seguinte maneira:

Gênesis.........ececesicecescsrrerererceseõoo Gn Joel........ee ecra a rea nado J1


b. (076[0 PER Ex AMOS..useemassems ines tEiana nada ars a MAS Am
Levítico...........cccceeseces cererrrrrrecerssaro Ly ARMAS saviMaNci nin REMESSA MS URIA DS EIA Ab
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Eclesiastes (Coélet)........................... Do, POMEISES «ums sia mis de hos si Soa AD DD A Fl
CO ua E USE ICS OA DUROU Ct Colossenses .............cieccceesessseaeoo Cl
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Eclesiástico (Sirácida)...................... Eclo Timóteo........ RINS
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Jeremias...............cceeecee
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Lamentações .............ccceceesssssesserenas Lm Epístola de Tiago..............ccccccccc Tg
DM as RSS ISS O ER Br Epístolas de Pedro................... IPd, 2Pd
Ezequiel..............eeseeseseec
ie ccccccrrera Ez Epístolas de João............... 1Jo, 2Jo, 3Jo
cs PPP PR Dn Epístola de Judas................cccccscso. Jd
18 PR Os Apocalipse............ciseiaio Ap
MIL RECURSOS... BASTAM?
A consulta de sempre
Alguém gostaria de familiarizar-se mais com a Bíblia, para aprovei-
tar melhor suas riquezas. Tem notícia de livros e cursos sobre o assunto;
mas fica perdido entre tantas possíveis opções. Aliás, tem que moderar
seu apetite, pois livro custa caro. Como escolher?
Para encaminhar o assunto, vamos imaginar outra situação. Sei fa-
lar português; sou alfabetizado; aprendi datilografia. Que me falta para
poder escrever um romance? Pense você mesmo na resposta.

O que nenhum livro ensina


À semelhança do escrever, também o ler é uma experiência rica e com-
plexa. Exige habilidades e conhecimentos básicos: entender a língua, o
assunto, certas entrelinhas. Tudo isto pode ser aprendido em livros e cur-
sos. Mas não basta.
Entender o texto é meio, não fim. O bom da leitura é, através do
texto, podermos abordar aspectos da vida, compreender gente, viver. Es-
ta habilidade, ou sensibilidade, exige bem mais que informações e mace-
tes. Conseguimos /er um texto à medida que aprendemos a viver. É quan-
to mais profundamente humano for o livro, mais vivência supõe no leitor.
É o caso da Sagrada Escritura. Temos hoje numerosos livros e cur-
sos que podem prestar excelente ajuda para a sua leitura. Entretanto só
se aprende a ler a Bíblia em profundidade convivendo e caminhando nu-
ma comunidade de fé. Esta comunidade não dispensará subsídios; até sen-
tirá necessidade deles. Mas não fará desses instrumentos seu cuidado prin-
cipal; nem lhes pedirá mais do que podem dar. Ninguém espera do tra-
tor, ótimo para nivelar o terreno, que ele também construa a casa.

Uma Bíblia que é uma biblioteca


Feita essa ressalva, vamos retomar a consulta inicial. Como escolher
uma obra realmente útil, que nos ajude a aprofundar a Bíblia? Respon-
demos indicando um livro incrivelmente bem equipado: a BJ.
Num só volume, a BJ é, ao mesmo tempo, Bíblia, síntese histórica,
enciclopédia, vocabulário teológico, atlas. Uma biblioteca.
Quer dizer que ela já nos entrega a reflexão prontinha, fervida e mas-
tigada? Nada disso — e esta é uma das riquezas da BJ: a cada passo ela
oferece possibilidades de trabalho criativo. Basta que saibamos explorar
seus variados recursos.
Ai vão algumas sugestões. Acompanhe-as usando sua BJ.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOAO

Introdução ao evangelho e às epístolas de são João


O evangelho mente difundida em certos círculos do ju-
daismo, cuja expressão se redescobriu re-
A primeira conclusão do evangelho joa- centemente nos documentos essêniosde
nino (20,3!) procura defini-lo e situd-lo li- Qumrã. Neles se atribuia importância es-
terariamente. Como a mais antiga prega- pecial ao conhecimento, dando ao vocabu-
ção da Igreja, é também um “'evangelho "': lário um colorido que anunciava o da gno-
uma proclamação da messianidade e da ji- Se; exprimia-se certo dualismo por meio de
tiação divina de Jesus, a partir dos “si- antinomias: luz-trevas, verdade-mentira,
nais”, para desenvolver a fé em Cristo, co- anjo da luz-anjo das trevas (Beliar); espe-
mo meio de obter a vida. Apesar dos tra- cialmente em Qumrã insistia-se, com uma
ços que atestam uma composição mais tar- perspectiva escatológica, na mística da uni-
dia, o quarto evangelho tem, pois, seme- dade e na necessidade do amor fraterno.
thança com a pregação ou querigma das Todos esses temas reaparecem no evange-
origens remotas do cristianismo; reproduz tho joanino e caracterizam bem o ambien-
a estrutura e os pontos essenciais desse que- te judaico-cristão no qual ele parece ter ti-
rigma: designação de Jesus como Messias do sua origem.
pela descida do Espirito Santo, segundo o Mais ainda: o quaric evangelho, mais
testemunho do Batista (1,31-34); manifes- que os sinóticos, quer dar a entender o sen-
tação da “elória”" de Jesus por suas vbras tido da vida, dos gestos e das palavras de
e palavras (1,35 - 12,50); narração da mor- Jesus. Os acontecimentos da vida de Jesus
te, da ressurreição e de algumas aparições são “sinais”, cujo sentido não transpare-
de Cristo (13,1 - 20,20); missão confiada ceu logo de início, só sendo compreendido
aos apóstolos juntamente com o dom do após a glorificação de Cristo (2,22; 12,16;
Espirito e o poder de perdoar os pecados 13,7); muitas palavras de Jesus eram do-
(20,21-29). Mais ainda, ele se apresenta tadas de uma significação espiritual, que
com a garantia de uma testemunha anônit- não foi percebida senão mais tarde (cf.
ma, “o discipulo que Jesus amava”, que 2,19+); caberia ao Espírito Santo, falan-
tomou parte no drama da paixão (13,23; do em nome do Ressuscitado, recordando
19,26.35; cf. 18,15s), viu O sepulcro vazio e ensinando aos discípulos o que Jesus lhes
(20,25) e o Cristo ressuscitado (21,7.20-24), havia dito, “conduzi-los à verdade comple-
e foi talvez um dos dois primeiros a seguir ta” (cf. 14,26 +). E essa fase da revelação
Jesus como discipulo (t,35s); são essas as que o cxangelho joanino reflete. Por ou-
condições requeridas. conforme o livro dos tro tado, ete demonstra possuir, muito mais
Áros (1,84 ), para que esse testemunho se que os sinoticos, um carater cultual e sa-
possa chamar Capostotico ””, cramental, E no contexto da vida liturgica
Contudo. a obra toanina apresenta tra- judaica que se pussa a vida de Jesus; é em
vos que lhe são proprios e a disiinsuem cla- conexão com as principais festas e muitas
rumente dos evangelhos sinóticos Seu au- vezes no Templo que ele opera os milagres
tor parece ter sofrido influência bastante e pronuncia os principais discursos, ade
forte duma corrente de pensemento «mpi mais, o próprio Jesus ensina que ele €
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OS MIL RECURSOS |
DA BÍBLIA DE JERUSALÉM
1. As Introduções
Na BJ, cada um dos escritos é precedido de uma substanciosa Intro-
dução. Ela concentra o máximo de informação no mínimo de espaço. Já
temos aí bom material para pesquisas e exercicios. Se não, vejamos:
e Cada parágrafo da Introdução trata, em resumo, de um ou mais
temas. Com lápis vermelho (não com tinta, que pode vazar de uma pági-
na para outra), vamos sublinhar as palavras que designam tais temas. Na
margem de fora, os podemos ir numerando.
Como exemplo, tomemos a Introdução ao Evangelho segundo S.
João, à p. 1979. Vamos sublinhar e numerar (veja página ao lado):
ui
am

é também um ““evangelho””

bm
apresenta traços que lhe são próprios

À)
quer dar a entender o sentido

Uo
etc.

e Que tal elaborarmos agora a lista (numerada) de todos os temas


abordados nesta Introdução? Resultará um sumário bem prático.
e Para trabalhos em grupo ou pesquisa pessoal, podemos formular,
para cada tema, perguntas cuja resposta está na Introdução. Ficando ainda
no mesmo exemplo, algumas das perguntas poderiam ser estas:

1. Que se insinua quando se diz que também João é um “'evange-


lho”?
2. Este evangelho é do mesmo tipo que os outros três?
3. Qual é a característica que melhor distingue João dos sinóticos?
etc.

e Terminada a pesquisa sobre a Introdução ao evangelho segundo


João na BJ, podemos continuar o trabalho tomando por base alguma outra
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obra atualizada. Em seguida, comparamos os dados da BJ com os dessa
obra:
— informações em que um livro completa o outro;
— dados em que talvez haja divergências; então ficamos sabendo que,
naquele ponto, ainda não se chegou a um consenso.

2. Seções, títulos e subtítulos


Em geral, as nossas bíblias trazem o texto impresso não todo em se-
guida, mas repartido em conjuntos — maiores e menores — com seus res-
pectivos títulos e subtítulos.
Dividir um trecho em partes, assim como trinchar um frango assa-
do, exige perícia. Quando o trabalho é bem feito, ajuda muito a assimilar
o texto. Além do mais, evita que passemos com demasiada pressa de um
assunto a outro.
Na BJ, as divisões do texto foram feitas com especial cuidado. Re-
pare, por exemplo, os conjuntos que constituem o livro do Gênesis; a Epís-
tola aos Romanos; o Apocalipse. É talvez nos Profetas que esta reparti-
ção em seções mais nos entusiasma e ajuda. Em Provérbios 10 a 29, a
subdivisão em pequenas unidades chega ac máximo. É que cada um dos
fragmentos dessa coleção de aforismos merece ser saboreado isoladamente:
dai os espaços separando um ““provérbio” do outro.
“Os cabeçalhos das diversas unidades não fazem parte do texto bíbli-
co: são obra dos tradutores; visam a dar ao leitor certa orientação relati-
vamente ao que vai ler.
Também os cabeçalhos se prestam a vários tipos de exercícios.
e Por serem sinteses das respectivas unidades, merecem atenção. Ex-
perimente ler esses pequenos resumos não só antes do trecho, mas tam-
bém depois, como revisão.
e Uma atividade proveitosa é procurar outro título para o texto li-
do, e discutir o título que se encontra na BJ. Por exemplo: Mc 11,15-19,
“Os vendedores expulsos do Templo””, à luz do que precede e segue (ve-
rifique!), podia muito bem ser “Jesus esvazia o Templo”. Na sua refle-
xão, O grupo encontraria cabeçalhos ainda mais apropriados. -
Outro exemplo: Lc 15,11-32 é conhecido tradicionalmente como a
parábola do “Filho pródigo”, ou seja, “'esbanjador””. Este título acen-
tua o aspecto negativo. Por que não parábola do filho “arrependido”,
ou ““reencontrado””? Por outro lado, é justo esquecer o pai? Então seria
a parábola do ““pai de coração grande, aberto”. E o outro filho, não en-
tra na história? A BJ procura combinar a reflexão renovada com a tradi-
6
cional; chama este trecho: “O filho perdido e o filho fiel: o filho pródi-
go." Concordamos? Ieriamos outra sugestão?
e Não menos valioso é o conjunto dos cabeçalhos de determinado
livro da Bíblia. Pois este conjunto revela o plano do livro todo. Experi-
mente reelaborar o plano do evangelho segundo Mateus, copiando em or-
dem todos os títulos e subtítulos que se encontram na BJ. Atenção para
diferenciar, também no seu esquema, aquilo que na BJ vem impresso em
formatos diferentes: quanto maior a letra do cabeçalho, maior a unidade
a que ele se refere. Na margem esquerda do seu esquema, indique os ca-
pítulos e versículos das unidades. Ficará assim:

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS


|. O NASCIMENTO E A INFÂNCIA DE JESUS
] 1-17 Genealogia de Jesus
18-25 José assume a paternidade legal de Jesus
2 1-12 A visita dos magos
13-18 Fuga para o Egito e massacre dos inocentes
19-23 Retorno do Egito e estabelecimento em Nazaré

HI. A PROMULGAÇÃO DO REINO DOS CÉUS


1 Parte narrativa

3 1-12 Pregação de João Batista


etc.

Um trabalho deste tipo será compensador. Fornecerá, sem dificul-


dade, uma visão de conjunto de escritos que, de outra forma, podem até
dar a impressão de não terem muito nexo. Verifique isto na 1 João; em
Abdias.

3. As referências marginais
Na margem de fora de cada página aparecem numerosas citações bi-
blicas, chamadas ''referências marginais””. Constituem uma das inova-
ções mais felizes da BJ. Nas Observações, à p. 14 da BJ, estão detalhados
os tipos de informação que essas referências querem dar. Antes de mais
nada, convém ler essa explicação. Mas não nos contentemos com isto:
da teoria passemos à prática, que nos reserva boas surpresas.
7
e Isoladamente, cada referência marginal é uma nova pista de refle-
xão. Tomemos Jo 1,29. A margem, encontramos Ex 12,1 e Is 53,7.12.
Ora, Ex 12,1, na sua nota q desenvolve a temática do Cordeiro Pascal;
Is 53 fala do Servo de Iahweh: sofredor, humilde, silencioso qual cordei-
ro conduzido à morte e justamente deste modo intercessor e salvador vi-
torioso (ver também a nota e de Is 53,7). São toques importantes para
o aprofundamento do texto. Há também uma referência marginal a Jo
4,42; reflita sobre esta relação. Poderíamos acrescentar Lv 14,10-32. Aliás,
é bom que a gente vá acrescentando as referências que descobre, à medi-
da que manuseia a Bíblia: ainda sobra muito espaço nas margens da BJ!
Outro exemplo significativo: Sl 126,6. Descreve-se aqui uma tristo-
nha ''procissão de enterro”? das sementes; mas logo a seguir vem a alegre
caminhada da nova vida que brota daquelas sementes que morreram. A
nota marginal lembra Jr 31,9; leia esse texto, com sua nota a. A nota mar-
ginal do Salmo também aponta para uma relação com Is 65,19 — que
canta a alegria de Jerusalém depois do seu tempo de lágrimas. Lembra
ainda Jo 12,24 e 16,20; confira! Por sua vez, Is 65,19 remete para Ap
21,4. Gostou?
Experimente pesquisar deste modo também a nota marginal de Ap
1,4; ou a série 2Pd 2,4 com os textos paralelos Jd 6 e Gn 6,1-2 (nesta série
encontrará, em resumo, o que está amplamente explicado em O. LORETZ,
Criação e Mito, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1979, pp. 29-49).
e Em conjunto, as referências marginais de um texto também nos
reservam preciosas aberturas. Vejamos Mt 27,32-61. Correndo os olhos
pelas margens de fora, logo salta aos olhos o quanto esta narrativa está
ligada aos Salmos 22 e 69, bem como (de novo!) a Is 53. Meras coinci-
dências? Ou as passagens do Antigo Testamento serão previsões mate-
maticamente exatas sobre o que devia acontecer, séculos mais tarde, ao
Messias sofredor? Seria uma visão muito pobre do que foi o profetismo
israelita! Talvez ainda não saibamos quanto o Novo Testamento deve à
reflexão das comunidades primitivas sobre o Antigo Testamento; nesse
caso, o final da nota t (relativa a Mt 27,48) nos ajudará: “os Sinóticos
/.../ O descreveram em termos que evocam o Sl 69,22'* (para uma expli-
cação mais ampla podemos consultar K. A. SPEIDEL, 4 Sentença, de
Pilatos, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1979, pp. 141-145).
Ainda um exemplo: no Apocalipse, principalmente nos capítulos 4
a 18, ficamos impressionados com o número de referências marginais que
citam o Êxodo, Ezequiel e Daniel — escritos do Antigo Testamento que
lembram deserto e caminhada, exílio, perseguição. Instintivamente sur-
gem diversas perguntas: Que nos dizem essas conexões? Hoje, isto tem
algum interesse especial? Onde? Por quê?
8
e O próprio sistema das referências marginais é muito pedagógico.
Usar sistematicamente tais referências é aprender a fazer a mesma coisa
na vida. Pois, também a história humana, em nível de pessoas como de
sociedades, está cheia de interligações; quem não se acostuma a ler essas
“referências marginais””, nunca superará uma visão ingênua da vida.

4. Os grifos
No Novo Testamento da BJ, as palavras que são citações do Antigo
Testamento estão grifadas. Isto identifica logo os escritos que mais citam
o Antigo Testamento; e, naturalmente leva a questionar os motivos. As-
sim, é fácil constatar que Hebreus é todo permeado de citações do Anti-
go Testamento; fica então mais claro o que diz a Introdução a esse escri-
to, na sua parte final (p. 2116 da BJ), sobre os objetivos e métodos do
mesmo.
Em âmbito mais reduzido, um belo exemplo é o Magnificat, Lc
1,46-55, com sua apresentação na nota c.
Inversamente, no Antigo Testamento a BJ usa um sinal especial (7)
na margem da página, para indicar que, e onde, o texto é citado no Novo
Testamento. Isto ajuda a identificar à primeira vista os textos mais apre-
ciados pela Igreja Primitiva. Confira, por exemplo, Is 53 ou Sl 110!
Às vezes podemos constatar adaptações interessantes por parte da
Igreja Primitiva. Compare a citação grifada de 613,11 com o sentido da
mesma frase no texto de origem, Hab 2,4 (e neste, leia a nota x).

5. A disposição em forma de versos


Numerosas passagens são apresentadas como poéticas sem dizer isto
expressamente: a disposição tipográfica é em forma de versos. Isto ajuda
muito a interpretação. Pois a linguagem poética é, por natureza, mais co-
notativa, cheia de metáforas e comparações. Assim, diante de textos co-
mojs 10,12 e Jó 3,3 a 42,6, ou Cl 1,15-20, já sabemos que tipo de lingua-
gem nos espera. Principalmente nos livros dos Profetas, isto é muito prá-
tico.
Mais. Que um texto esteja escrito em prosa ou em poesia é uma ques-
tão que não atinge só a compreensão que dele temos. Afeta também a
comunicação. Não se pode ler do mesmo jeito um trecho em prosa e ou-
tro em poesia; nem a sós, e muito menos em público. Também nisto, a
BJ presta uma excelente ajuda. Proclamar em voz alta e com sentido um
trecho de João 14 a 17, usando a BJ, é bem mais fácil do que fazê-lo usan-
do uma edição que imprime tudo em seguida, como se fosse prosa.
9
6. Certas maiúsculas
Inesperadamente, certos substantivos aparecem, no meio da frase,
com inicial maiúscula. Evidentemente, é para chamar a atenção. Venfi-
que o motivo. Muitas vezes lhe será de ajuda a respectiva nota explicativa
ao pé da página; ou, eventualmente a “Lista alfabética das notas mais
importantes”, pp. 2356 a 2366. Exemplos: Caminho (At 9,2 — confira
a nota h); Vinda (Mt 24,3 — confira a nota 1).

7. As notas explicativas ao pé da página


Primeiro, leia o que a própria BJ tem a dizer sobre elas, as pp. 13-14.
De modo especial, repare a densidade das “'notas-chave””. Algum
exemplo? Veja ISm 8, nota b; Ez 38,1, nota a; Mt 8,3, nota re Jo 2,11,
nota r (as duas últimas se completam); Rm 1,16, nota j; Rm 9,5, nota
b; ou as interessantes informações de Lc 2,2, nota s.
Muitas vezes, uma nota bem pequena pode levar longe; basta que
a gente a tome a sério. Assim, a nota b de Jo 19,30 assinala o duplo senti-
do, aqui em João, da expressão “entregou o espírito”: refere-se ao últi-
mo respiro de Jesus, como também ao Espírito Santo que ele dá à sua
Igreja, graças à sua morte. Daí a referência, nessa mesma nota, a Jo 1,33
e 20,22. Morte de Jesus e Pentecostes: eis uma importante relação que
João estabelece, e que merece ser aprofundada: também em termos de
hoje.
Outro exemplo característico: a nota | de Lc 2,46 é básica para en-
tender toda essa narrativa.

e À medida que a gente vai usando a BJ, vai descobrindo novas ri-
quezas nas notas explicativas. Ora são informações históricas: 2Rs 24,1,
nota m; Lc 3,1, notas l-m-n-o-p e nota q do v. 2; ora situam melhor os
textos no seu contexto literário: Mt 2,1, nota m; no Pentateuco, a cons-
tante informação sobre a tradição a que pertence determinado texto —
javista, eloísta, sacerdotal. Em livros como os de Isaías e Jeremias, são
as notas explicativas que permitem compreender a situação histórica a que
se referem os oráculos proféticos.
Além disso, nessas notas o leitor encontrará ainda muito espaço pa-
ra sua criatividade. Algumas sugestões:
No final da BJ, às pp. 2356 a 2366 temos uma Lista alfabética das
notas mais importantes. E um índice precioso, que organiza as notas da
BJ num autêntico vocabulário de teologia bíblica. Experimente aprofun-
dar os conceitos Aliança — anjo — fé — glória — justiça — pecado —
10
pobres — profetas — temor (é lendo a nota m de Dt 6,2 que se entende
por que a Lista alfabética omite o termo “'religião”?).
e Podemos dinamizar ainda mais, e de diversos modos, este notável
recurso de BJ.

— Precisando, podemos preparar elencos de explicações a respeito


de determinadas áreas. Assim, sobre certos grupos do judaísmo do tem-
po de Jesus, temos as seguintes informações, espalhadas ao longo da obra:

|IMc 2,42 nota g: os fariseus (origem)


Mt 3,7 nota g: os fariseus
Mt 3,7 nota h: os saduceus
Mt 22,23 nota g: os saduceus
At 4,1 nota r: os saduceus
At 23,8 nota d: os saduceus
Mt 2,4 nota q: os escribas
Mt 5,46 nota a: os publicanos
Mt 10,2 nota x: relação entre os nomes
zelota e cananeu

— Algumas vezes, vale a pena estudar o pensamento de determina-


do escrito à luz de sua linguagem especial. O caso mais notável é o do
Quarto Evangelho. João usa cerca de uma vintena de termos particular-
mente densos de significado. Faça o seguinte: vá passando, em ordem,
as notas explicativas do evangelho segundo João. Toda vez que encon-
trar comentários de palavras ou assuntos básicos, sublinhe-os com lápis
vermelho. Irá achando, sucessivamente, comentários sobre os temas Pa-
lavra, mundo, carne, Glória, judeus, cordeiro, batismo no Espírito, si-
nal, etc. (Deu para acompanhar na sua BJ?). Em seguida, faça uma ficha-
indice de tais termos, com a indicação da respectiva nota explicativa (co-
mo o elenco dos grupos do tempo de Jesus, que apresentamos acima).
Será uma preciosa fonte de aprofundamento. Mas com uma condição:
que, vez por vez, se procure o significado daquele conceito (ou seja, da
realidade a que ele se refere) no nosso mundo de hoje. Em grupo, tais
reflexões tornam-se particularmente ricas.
Uma recomendação: dê atenção não só a conceitos evidentemente
densos de sentido (Logos, mundo, luz/trevas, jJulgamento/testemu-
nho/verdade/mentira), mas também a certas palavras aparentemente inó-
cuas, mas que a BJ julgou que devia comentar; como exemplo, leia a ex-
celente nota m de Jo 19,9; quem se dedica com mais cuidado ao Quarto
Evangelho sabe a importância dessa notinha.
1
8. Outras indicações uteis

e Diferenças de numeração
Acontece frequentemente: na leitura particular, ou no circulo bíibli-
co, alguém quer conferir uma citação do AT, e não encontra a passagem
(“na minha Bíblia está totalmente diferente...””). É que, por vezes, a nu-
meração dos versículos e até dos capítulos da Vulgata Latina e das edi-
ções, geralmente mais antigas, que nela se baseiam, difere levemente da
numeração do texto original. Isto acontece principalmente em Salmos,
Tobias, Judite, Ester e Eclesiástico; mas também, em menor escala, em
outros livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, 1 e
2Samuel, 1Reis, 1 e 2Crônicas, Neemias, IMacabeus, Jó, Sabedoria,
Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Miquéias, Naum, Zaca-
rias, Malaquias.
Para quem usa a BJ, isto não é problema. A BJ segue a numeração
do texto na língua original; mas, na margem, em tipo menor, assinala
também a numeração da Vulgata. A numeração diferente dos Salmos já
vem indicada no próprio cabeçalho, entre parênteses. Como exemplo, re-
pare Os 2, com seus números bem pequenos nas margens de fora.

e Quem é quem?
No Cântico dos Cânticos, o problema é outro. Quem se põe a ler
o livro, não demora a sentir-se bastante confuso: já não sabe mais quem
é que está falando com quem. A BJ tem uma solução: na margem esquer-
da, de modo bem visível, distingue os textos que são da amada, do ama-
do, do coro; os que constituem um dueto, ou são de outro personagem
(o poeta, a sulamita).
e Mudanças de língua
No livro de Daniel, algumas partes foram redigidas em hebraico, ou-
tras em aramaico; finalmente, vieram alguns acréscimos deuterocanôni-
cos em grego (veja BJ p. 1350s). A BJ não se esquece deste detalhe, que
interessa à exegese. Em Dn 2,4 registra, na margem, que os textos que
seguem foram escritos em aramaico; em Dn 8,1, na margem, vem a indi-
cação de que o original volta a ser o hebraico. Uma sugestão: por sua
conta, à margem de 3,24-90 e do cap. 13, escreva a palavra grego.

9. Os apêndices
As informações sobre o Calendário, e a Lista das medidas e das moe-
das dispensam comentários. Tampouco analisaremos aqui os Mapas: um
12
olhar mais atento mostrará a riqueza de dados que eles incluem.
Pelo índice dos mapas, à p. 9, você perceberá que, além dos 4 mapas
a cores nas contracapas da BJ, há outros 5 distribuidos ao longo do volu-
me.
Vale a apena, porém, focalizar dois apêndices que, muitas vezes, têm
passado despercebidos, apesar de sua utilidade.

e O Quadro Cronológico
Constitui uma espécie de moldura geral da Bíblia: situa no tempo
e no espaço os escritos e os principais personagens do Antigo e do Novo
Israel. Não só: toda a caminhada do Povo da Bíblia é integrada no gran-
de contexto da história universal. Como se não bastasse, a cada passo
o Quadro Cronológico ainda nos brinda com preciosas informações de
arqueologia e de história; até sobre os principais livros apócrifos e sobre
os essênios, para dar apenas dois exemplos.
Gostaria de explorar um pouco este Quadro? Sublinhe com lápis ver-
melho a potência política que, em cada época, mandava em toda a re-
gião. Resultará um notável testemunho gráfico de uma grande verdade:
o poder e a força duram pouco. Outra possibilidade: relacione determi-
nado escrito bíblico com o seu ambiente político.
Muitos textos serão apreciados melhor quando lidos no seu contexto
histórico. Assim, o Quadro Cronológico menciona, pelo ano 950 a.C.,
a redação de 2Sm 9 à IRs 2 (é o célebre “Livro da Sucessão Dinástica
de Davi” — cf. a nota u de 2Sm 9 bem como a Introdução aos Livros
de Samuel, p. 333ss). Na época do rei Acaz (736-716 a.C.) é mencionado
o Oráculo de Isaías sobre o Emanuel. Em 622 a.€., sob Josias, é lembra-
da (e caracterizada!) a primeira redação da historiografia deuteronomiís-
tica. O quadro sincrônico dos reis de Judá e de Israel pp. 2333-2334 é
particularmente útil para a compreensão de 1 e 2Rs e 2Cr.
Globalmente, o Quadro Cronológico pode até servir de roteiro para
programar a leitura da Bíblia seguindo a história da redação dos escritos.

e O quadro das dinastias asmonéia e herodiana


Pode ser considerado um detalhe do Quadro Cronológico, cobrindo
o período que vai da morte de Matatias (166 a.C.) até ao final do século
I d.C.
Usado junto com o Quadro Cronológico, é um subsídio quase indis-
pensável para penetrar o complexo período dos Asmoneus, e o próprio
judaísmo do tempo de Jesus. Assim, entre ontras coisas, este Quadro ajuda
a compreender como é que Herodes Magiic, não-judeu, chegou a ser rei
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dos judeus; ou para entender a célebre denúncia, feita por João Batista,
do adultério de Herodes Antipas.

10. O próprio texto da Bíblia


A maior fonte de reflexões, pesquisas, estímulos de toda espécie, é
o próprio texto da Bíblia. E claro que não é neste folheto que vamos abor-
dar assunto tão vasto.

CONCLUSÃO
Alguns destes recursos, de tão valiosos que são, acabaram sendo ado-
tados também em outras edições da Bíblia, mas nunca todos juntos.
Gostaria de aproveitar melhor as riquezas da Sagrada Escritura? Ex-
perimente explorar a BJ, com inteligência e criatividade. Sempre pensan-
do não só no ontem, mas no hoje e no amanhã.
E não se esqueça: a BJ dispensa uma biblioteca; jamais, porém, dis-
pensará a comunidade de fé, sua vivência e reflexão.

Suplemento de “A Bíblia de Jerusalém”


Edições Paulinas — São Paulo
€D Impresso na Gráfica de Edições Paulinas - 1989
Via Raposo Tavares, Km 18,5 - 05550 SÃO PAULO

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