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GRUEN
OS MIL RECURSOS
DA BÍBLIA DE JERUSALÉM
EDIÇÕES PAULINAS
ABREVIATURAS
Os títulos dos livros bíblicos são abreviados da seguinte maneira:
é também um ““evangelho””
bm
apresenta traços que lhe são próprios
À)
quer dar a entender o sentido
Uo
etc.
3. As referências marginais
Na margem de fora de cada página aparecem numerosas citações bi-
blicas, chamadas ''referências marginais””. Constituem uma das inova-
ções mais felizes da BJ. Nas Observações, à p. 14 da BJ, estão detalhados
os tipos de informação que essas referências querem dar. Antes de mais
nada, convém ler essa explicação. Mas não nos contentemos com isto:
da teoria passemos à prática, que nos reserva boas surpresas.
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e Isoladamente, cada referência marginal é uma nova pista de refle-
xão. Tomemos Jo 1,29. A margem, encontramos Ex 12,1 e Is 53,7.12.
Ora, Ex 12,1, na sua nota q desenvolve a temática do Cordeiro Pascal;
Is 53 fala do Servo de Iahweh: sofredor, humilde, silencioso qual cordei-
ro conduzido à morte e justamente deste modo intercessor e salvador vi-
torioso (ver também a nota e de Is 53,7). São toques importantes para
o aprofundamento do texto. Há também uma referência marginal a Jo
4,42; reflita sobre esta relação. Poderíamos acrescentar Lv 14,10-32. Aliás,
é bom que a gente vá acrescentando as referências que descobre, à medi-
da que manuseia a Bíblia: ainda sobra muito espaço nas margens da BJ!
Outro exemplo significativo: Sl 126,6. Descreve-se aqui uma tristo-
nha ''procissão de enterro”? das sementes; mas logo a seguir vem a alegre
caminhada da nova vida que brota daquelas sementes que morreram. A
nota marginal lembra Jr 31,9; leia esse texto, com sua nota a. A nota mar-
ginal do Salmo também aponta para uma relação com Is 65,19 — que
canta a alegria de Jerusalém depois do seu tempo de lágrimas. Lembra
ainda Jo 12,24 e 16,20; confira! Por sua vez, Is 65,19 remete para Ap
21,4. Gostou?
Experimente pesquisar deste modo também a nota marginal de Ap
1,4; ou a série 2Pd 2,4 com os textos paralelos Jd 6 e Gn 6,1-2 (nesta série
encontrará, em resumo, o que está amplamente explicado em O. LORETZ,
Criação e Mito, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1979, pp. 29-49).
e Em conjunto, as referências marginais de um texto também nos
reservam preciosas aberturas. Vejamos Mt 27,32-61. Correndo os olhos
pelas margens de fora, logo salta aos olhos o quanto esta narrativa está
ligada aos Salmos 22 e 69, bem como (de novo!) a Is 53. Meras coinci-
dências? Ou as passagens do Antigo Testamento serão previsões mate-
maticamente exatas sobre o que devia acontecer, séculos mais tarde, ao
Messias sofredor? Seria uma visão muito pobre do que foi o profetismo
israelita! Talvez ainda não saibamos quanto o Novo Testamento deve à
reflexão das comunidades primitivas sobre o Antigo Testamento; nesse
caso, o final da nota t (relativa a Mt 27,48) nos ajudará: “os Sinóticos
/.../ O descreveram em termos que evocam o Sl 69,22'* (para uma expli-
cação mais ampla podemos consultar K. A. SPEIDEL, 4 Sentença, de
Pilatos, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1979, pp. 141-145).
Ainda um exemplo: no Apocalipse, principalmente nos capítulos 4
a 18, ficamos impressionados com o número de referências marginais que
citam o Êxodo, Ezequiel e Daniel — escritos do Antigo Testamento que
lembram deserto e caminhada, exílio, perseguição. Instintivamente sur-
gem diversas perguntas: Que nos dizem essas conexões? Hoje, isto tem
algum interesse especial? Onde? Por quê?
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e O próprio sistema das referências marginais é muito pedagógico.
Usar sistematicamente tais referências é aprender a fazer a mesma coisa
na vida. Pois, também a história humana, em nível de pessoas como de
sociedades, está cheia de interligações; quem não se acostuma a ler essas
“referências marginais””, nunca superará uma visão ingênua da vida.
4. Os grifos
No Novo Testamento da BJ, as palavras que são citações do Antigo
Testamento estão grifadas. Isto identifica logo os escritos que mais citam
o Antigo Testamento; e, naturalmente leva a questionar os motivos. As-
sim, é fácil constatar que Hebreus é todo permeado de citações do Anti-
go Testamento; fica então mais claro o que diz a Introdução a esse escri-
to, na sua parte final (p. 2116 da BJ), sobre os objetivos e métodos do
mesmo.
Em âmbito mais reduzido, um belo exemplo é o Magnificat, Lc
1,46-55, com sua apresentação na nota c.
Inversamente, no Antigo Testamento a BJ usa um sinal especial (7)
na margem da página, para indicar que, e onde, o texto é citado no Novo
Testamento. Isto ajuda a identificar à primeira vista os textos mais apre-
ciados pela Igreja Primitiva. Confira, por exemplo, Is 53 ou Sl 110!
Às vezes podemos constatar adaptações interessantes por parte da
Igreja Primitiva. Compare a citação grifada de 613,11 com o sentido da
mesma frase no texto de origem, Hab 2,4 (e neste, leia a nota x).
e À medida que a gente vai usando a BJ, vai descobrindo novas ri-
quezas nas notas explicativas. Ora são informações históricas: 2Rs 24,1,
nota m; Lc 3,1, notas l-m-n-o-p e nota q do v. 2; ora situam melhor os
textos no seu contexto literário: Mt 2,1, nota m; no Pentateuco, a cons-
tante informação sobre a tradição a que pertence determinado texto —
javista, eloísta, sacerdotal. Em livros como os de Isaías e Jeremias, são
as notas explicativas que permitem compreender a situação histórica a que
se referem os oráculos proféticos.
Além disso, nessas notas o leitor encontrará ainda muito espaço pa-
ra sua criatividade. Algumas sugestões:
No final da BJ, às pp. 2356 a 2366 temos uma Lista alfabética das
notas mais importantes. E um índice precioso, que organiza as notas da
BJ num autêntico vocabulário de teologia bíblica. Experimente aprofun-
dar os conceitos Aliança — anjo — fé — glória — justiça — pecado —
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pobres — profetas — temor (é lendo a nota m de Dt 6,2 que se entende
por que a Lista alfabética omite o termo “'religião”?).
e Podemos dinamizar ainda mais, e de diversos modos, este notável
recurso de BJ.
e Diferenças de numeração
Acontece frequentemente: na leitura particular, ou no circulo bíibli-
co, alguém quer conferir uma citação do AT, e não encontra a passagem
(“na minha Bíblia está totalmente diferente...””). É que, por vezes, a nu-
meração dos versículos e até dos capítulos da Vulgata Latina e das edi-
ções, geralmente mais antigas, que nela se baseiam, difere levemente da
numeração do texto original. Isto acontece principalmente em Salmos,
Tobias, Judite, Ester e Eclesiástico; mas também, em menor escala, em
outros livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, 1 e
2Samuel, 1Reis, 1 e 2Crônicas, Neemias, IMacabeus, Jó, Sabedoria,
Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Miquéias, Naum, Zaca-
rias, Malaquias.
Para quem usa a BJ, isto não é problema. A BJ segue a numeração
do texto na língua original; mas, na margem, em tipo menor, assinala
também a numeração da Vulgata. A numeração diferente dos Salmos já
vem indicada no próprio cabeçalho, entre parênteses. Como exemplo, re-
pare Os 2, com seus números bem pequenos nas margens de fora.
e Quem é quem?
No Cântico dos Cânticos, o problema é outro. Quem se põe a ler
o livro, não demora a sentir-se bastante confuso: já não sabe mais quem
é que está falando com quem. A BJ tem uma solução: na margem esquer-
da, de modo bem visível, distingue os textos que são da amada, do ama-
do, do coro; os que constituem um dueto, ou são de outro personagem
(o poeta, a sulamita).
e Mudanças de língua
No livro de Daniel, algumas partes foram redigidas em hebraico, ou-
tras em aramaico; finalmente, vieram alguns acréscimos deuterocanôni-
cos em grego (veja BJ p. 1350s). A BJ não se esquece deste detalhe, que
interessa à exegese. Em Dn 2,4 registra, na margem, que os textos que
seguem foram escritos em aramaico; em Dn 8,1, na margem, vem a indi-
cação de que o original volta a ser o hebraico. Uma sugestão: por sua
conta, à margem de 3,24-90 e do cap. 13, escreva a palavra grego.
9. Os apêndices
As informações sobre o Calendário, e a Lista das medidas e das moe-
das dispensam comentários. Tampouco analisaremos aqui os Mapas: um
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olhar mais atento mostrará a riqueza de dados que eles incluem.
Pelo índice dos mapas, à p. 9, você perceberá que, além dos 4 mapas
a cores nas contracapas da BJ, há outros 5 distribuidos ao longo do volu-
me.
Vale a apena, porém, focalizar dois apêndices que, muitas vezes, têm
passado despercebidos, apesar de sua utilidade.
e O Quadro Cronológico
Constitui uma espécie de moldura geral da Bíblia: situa no tempo
e no espaço os escritos e os principais personagens do Antigo e do Novo
Israel. Não só: toda a caminhada do Povo da Bíblia é integrada no gran-
de contexto da história universal. Como se não bastasse, a cada passo
o Quadro Cronológico ainda nos brinda com preciosas informações de
arqueologia e de história; até sobre os principais livros apócrifos e sobre
os essênios, para dar apenas dois exemplos.
Gostaria de explorar um pouco este Quadro? Sublinhe com lápis ver-
melho a potência política que, em cada época, mandava em toda a re-
gião. Resultará um notável testemunho gráfico de uma grande verdade:
o poder e a força duram pouco. Outra possibilidade: relacione determi-
nado escrito bíblico com o seu ambiente político.
Muitos textos serão apreciados melhor quando lidos no seu contexto
histórico. Assim, o Quadro Cronológico menciona, pelo ano 950 a.C.,
a redação de 2Sm 9 à IRs 2 (é o célebre “Livro da Sucessão Dinástica
de Davi” — cf. a nota u de 2Sm 9 bem como a Introdução aos Livros
de Samuel, p. 333ss). Na época do rei Acaz (736-716 a.C.) é mencionado
o Oráculo de Isaías sobre o Emanuel. Em 622 a.€., sob Josias, é lembra-
da (e caracterizada!) a primeira redação da historiografia deuteronomiís-
tica. O quadro sincrônico dos reis de Judá e de Israel pp. 2333-2334 é
particularmente útil para a compreensão de 1 e 2Rs e 2Cr.
Globalmente, o Quadro Cronológico pode até servir de roteiro para
programar a leitura da Bíblia seguindo a história da redação dos escritos.
CONCLUSÃO
Alguns destes recursos, de tão valiosos que são, acabaram sendo ado-
tados também em outras edições da Bíblia, mas nunca todos juntos.
Gostaria de aproveitar melhor as riquezas da Sagrada Escritura? Ex-
perimente explorar a BJ, com inteligência e criatividade. Sempre pensan-
do não só no ontem, mas no hoje e no amanhã.
E não se esqueça: a BJ dispensa uma biblioteca; jamais, porém, dis-
pensará a comunidade de fé, sua vivência e reflexão.