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Iniciativa global para a educação e empoderamento

de Jovens na área de combate à corrupção

Ferramentas de apoio ao
desenvolvimento de conhecimentos
para académicos e profissionais
Série de Módulos sobre Integridade e Ética

Módulo 1
Integridade e Ética: Introdução
e Estrutura Conceitual

1
ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME
Viena

Ferramentas de apoio ao desenvolvimento de conhecimentos


para académicos e profissionais
UNODC Série de Módulos sobre Integridade e Ética

MÓDULO 1
INTEGRIDADE E ÉTICA: INTRODUÇÃO
E ESTRUTURA CONCEITUAL
Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Enquadramento

A Série de Módulos UNODC sobre Integridade e Ética oferece 14 Módulos focados numa série de questões centrais dentro destas
duas áreas. Isto inclui valores universais; ética e sociedade; a importância da ética nos sectores público e privado; diversidade
e pluralismo, ética comportamental; e integração da ética e do género. Os Módulos também ilustram como a integridade e a
ética se relacionam com áreas críticas tais como os meios de comunicação social, as empresas, o direito, o serviço público, e
várias profissões.

Os Módulos são concebidos para utilização tanto por instituições académicas como por academias profissionais em todo o
mundo. Os Módulos foram desenvolvidos para ajudar os docentes e formadores a ministrar educação ética, incluindo aqueles
que não são docentes e formadores dedicados a estas áreas, mas que gostariam de incorporar estas componentes nos seus
cursos. Os docentes são encorajados a personalizar os Módulos antes de os integrarem nas suas aulas e cursos. Os Módulos
incluem discussões sobre questões relevantes, sugestões para atividades e exercícios, recomendações para a estruturação de
uma aula, propostas para avaliação dos alunos e formandos, listas de leitura recomendada (com ênfase em materiais de acesso
aberto), slides em PowerPoint, materiais em vídeo e outras ferramentas de ensino. Cada Módulo fornece um esboço para uma
aula de três horas, bem como orientações sobre como desenvolver um curso completo.

Os Módulos concentram-se em valores e problemas universais e podem facilmente ser adaptados a diferentes contextos
locais e culturais, incluindo uma variedade de programas de graduação, uma vez que são multidisciplinares. Os Módulos
procuram reforçar a consciência ética e o empenho dos formandos e estudantes em agir com integridade e equipá-los com as
competências necessárias para aplicar e difundir estas normas nas suas vidas, no trabalho e na sociedade. Para aumentar a
sua eficácia, os Módulos cobrem tanto perspetivas teóricas como práticas, e utilizam métodos de ensino interativos tais como
a aprendizagem experimental e o trabalho em grupo. Estes métodos mantêm estudantes e formandos empenhados e ajudam-
nos a desenvolver o pensamento crítico, a resolução de problemas e as capacidades de comunicação, todos eles importantes
para a educação ética.

Os tópicos dos Módulos foram escolhidos após consultas a nível global com peritos académicos que participaram, em março de
2017, numa reunião de peritos convocada pelo UNODC em Viena, e em três workshops regionais realizados em diferentes partes
do mundo, em Abril de 2017. Os peritos enfatizaram a necessidade de uma maior educação sobre integridade e ética a nível
global e aconselharam sobre áreas centrais a serem abordadas através dos Módulos. Foi ainda considerado fundamental que
os Módulos possam preparar estudantes e formandos para uma ação eficaz orientada por valores, mantenham os estudantes
envolvidos, se prestem à adaptação a diferentes contextos regionais e disciplinares, e permitam aos professores e formadores
incorporá-los em vários outros cursos.

Para atingir estes objetivos, os peritos recomendaram que os Módulos tenham uma série de características, podendo, em última
análise, ser capazes de:

» Ligar a teoria à prática » Aproveitar as boas práticas dos estudantes e


» Enfatizar a importância da integridade e da ética formandos
na vida qotidiana » Ligar a integridade e a ética a outras questões globais
» Encorajar o pensamento crítico e aos ODS
» Sublinhar não só a importância de tomar decisões » Adotar uma abordagem multidisciplinar e multinível
éticas, mas também demonstrar como as » Focar na ética global e nos valores universais,
implementar deixando espaço para diversas perspetivas regionais
» Utilizar métodos inovadores de ensino interativo e culturais
» Equilibrar a ética geral com a ética aplicada » Empregar terminologia não técnica e clara
» Ser de fácil utilização

Com base nestas recomendações, o UNODC trabalhou durante mais de um ano com mais de 70 peritos académicos de
mais de 30 países para desenvolver os 14 Módulos Universitários sobre Integridade e Ética. Cada Módulo foi elaborado por
uma equipa central de académicos e peritos do UNODC, e depois revisto por um grupo maior de académicos de diferentes
disciplinas e regiões para assegurar uma cobertura multidisciplinar e universal. Os Módulos passaram por um meticuloso
processo de aprovação na sede do UNODC antes de serem finalmente publicados online como materiais de fonte aberta. Além
disso, foi acordado que o conteúdo dos Módulos seria regularmente atualizado para assegurar que estão em conformidade
com os estudos contemporâneos e correspondem às necessidades atuais dos educadores.

O presente instrumento de conhecimento foi desenvolvido pela Seção de Corrupção e Crime Económico do UNODC (CEB),
como parte da iniciativa Educação para a Justiça no âmbito do Programa Global para a Implementação da Declaração de
Doha.
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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Termos de Responsabilidade

O conteúdo da Série de Módulos UNODC sobre Integridade e Ética não reflete necessariamente as opiniões ou políticas do
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Estados Membros ou organizações contribuintes, e também
não implica qualquer endosso. As designações utilizadas e a apresentação de material nestes módulos não implicam a
expressão de qualquer opinião por parte do UNODC relativamente ao estatuto jurídico ou de desenvolvimento de qualquer
país, território, cidade ou área, ou das suas autoridades, ou relativamente à delimitação das suas fronteiras ou limites. O
UNODC encoraja a utilização, reprodução e disseminação destes módulos. Salvo indicação em contrário, o conteúdo pode
ser copiado, descarregado e impresso para estudo privado, investigação e ensino, ou para utilização em produtos ou serviços
não comerciais, desde que seja dado o devido reconhecimento ao UNODC como fonte e detentor dos direitos de autor e que
o aval do UNODC às opiniões, produtos ou serviços dos utilizadores não esteja de forma alguma implícito.

As informações disponibilizadas neste documento são fornecidas “tal como estão”, sem qualquer tipo de garantia, expressa
ou implícita, incluindo, sem limitação, garantias de comerciabilidade, adequação a um determinado fim e não-infração.
Especificamente, O UNODC, não oferece quaisquer garantias ou declarações quanto à exatidão ou integridade destes
Materiais. O UNODC poderá, periodicamente e sem aviso prévio, adicionar, alterar, melhorar ou atualizar os Módulos.

Em nenhuma circunstância o UNODC será responsável por qualquer perda, dano ou despesa incorrida ou sofrida que se
alegue ter resultado da utilização deste módulo, incluindo, sem limitação, qualquer falha, erro, omissão, interrupção ou atraso
em relação ao mesmo. A utilização deste módulo é da exclusiva responsabilidade do Utilizador. Em nenhuma circunstância,
incluindo, mas não se limitando, à negligência, o UNODC será responsável por quaisquer danos diretos, indiretos, acidentais,
especiais ou consequentes, mesmo que o UNODC tenha sido avisado da possibilidade de tais danos.

As ligações aos sítios da Internet contidos nos presentes módulos são fornecidas para conveniência do leitor e são precisas
no momento da publicação (última revisão a 19 de maio de 2022). As Nações Unidas não se responsabilizam pela sua
precisão contínua após a publicação deste Módulo ou pelo conteúdo de qualquer website externo.

Reserva de imunidades

Nada neste documento constituirá ou será considerado como uma limitação ou uma renúncia aos privilégios e imunidades
das Nações Unidas, que são especificamente reservados.

As Nações Unidas reservam o seu direito exclusivo, a seu exclusivo critério, de alterar, limitar ou descontinuar a página web
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a qualquer parte da mesma sem aviso prévio.

Nenhuma renúncia por parte das Nações Unidas a qualquer disposição dos presentes Termos de Responsabilidade
será vinculativa, exceto conforme estabelecido por escrito e assinado pelo seu representante devidamente autorizado.

Estes módulos não foram formalmente editados.

A versão em língua portuguesa é fruto da colaboração voluntária de professores e alunos de várias universidades dos países
de língua portuguesa e reflete o carácter pluricêntrico da língua, sendo possível encontrar textos e palavras com diferentes
sintaxes e grafias.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Índice
Introdução 07

Objetivos de Aprendizagem 07

Questões chave 08
Ética 09
Utilitarismo 11
Deontologia 11
Ética da virtude 12
Referências bibliográficas 13

Exercícios 14
Exercício 1: Valores pessoais 15
Exercício 2: Naufrágio 15
Exercício 3: Estudo de caso (Bebê Theresa) 16
Exercício 4: Estudo de caso 17
Exercício 5: Estudo de caso (A Parábola do Sadhu) 18

Exemplo de Estrutura de Aula 19

Leitura Essencial 20

Leitura avançada 21

Avaliação dos estudantes 22

Materiais de Ensino Adicionais 23


Videos 23
Estudos de caso 24

Guia para desenvolver uma disciplina autônoma 25

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Introdução

Este Módulo fornece uma breve introdução aos conceitos de integridade e ética. O Módulo está
projetado para ser utilizado por professores que desejem fornecer aos seus alunos clareza conceitual,
expô-los a dilemas éticos e provocá-los a tomar decisões éticas. O conceito de integridade foi
adicionado para alargar o enfoque do campo mais tradicional da ética. Combinados, os conceitos de
integridade e ética fornecem uma perspectiva mais abrangente – permitindo ir além das discussões
sobre a diferença entre o certo e o errado, a fim de focar, também, nas relações e no comportamento.

Ao longo do Módulo, os alunos serão introduzidos aos conceitos e estimulados, a tomar decisões sobre
o que considerariam como as soluções mais éticas para determinados dilemas. Serão apresentadas
aos alunos três grandes teorias éticas. De seguida, os alunos serão desafiados a concordar ou
discordar dessas teorias, sem medo ou receio de adotar qualquer posicionamento, o que contribuirá
para melhorar o seu aprendizado e proporcionará maior prazer no desenvolvimento do Módulo.

O Módulo é um recurso para professores. Ele está planejado para uma aula de três horas, mas pode
ser utilizado para aulas mais curtas ou mais longas, ou, sendo ampliado, para um curso completo
(ver: Diretrizes para desenvolver um curso autônomo).

Objetivos de Aprendizagem
• Entender e definir os conceitos de integridade e ética
• Descrever três grandes abordagens teóricas, em integridade e ética
• Identificar dilemas éticos e aplicar diferentes abordagens teóricas
• Entender o conceito de integridade pessoal, no contexto deste Módulo.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Questões chave

Este Módulo fornece uma visão geral dos conceitos de integridade e ética. Integridade é um termo
utilizado em muitos contextos distintos, referindo-se, por exemplo, à informação, arte ou música. De
uma perspectiva filosófica, as discussões sobre integridade geralmente envolvem uma dimensão
ética ou moral, de acordo com a Enciclopédia de Filosofia de Stanford1:

O discurso comum sobre integridade, envolve duas intuições fundamentais: em primeiro lugar,
a integridade é, principalmente, uma relação formal que se tem consigo mesmo, ou entre
partes ou aspectos de si mesmo; e, em segundo lugar, a integridade está conectada com uma
importante forma de agir moralmente, ou seja, existem algumas restrições substantivas ou
normativas sobre o que é agir com integridade. (Cox, 2017)

A integridade é definida como “estrita adesão aos valores e princípios morais”, de acordo com o
Dicionário Chambers 21st-Century Dictionary (Chambers, 1999). A discussão a seguir sobre
integridade aborda a origem da palavra e suas diferentes aplicações:

O conceito de integridade deriva do latim, “integritas”. É definida como consistência entre crenças,
decisões e ações, e adesão contínua a valores e princípios. Quando alguém é descrito como
uma pessoa íntegra, sugere-se que tal pessoa não é corruptível como resultado da “totalidade” e
“conectividade” dos valores e princípios que subscreve. A integridade é, frequentemente, utilizada
em conjunto com a ética, sugerindo-se que os valores e princípios a serem respeitados devem
ser os valores e princípios éticos. Alguns dos valores que são frequentemente mencionados a
esse respeito, por exemplo, são a honestidade, abertura, responsabilidade e confiabilidade. A
integridade organizacional refere-se à capacidade das organizações individuais de desenvolver
e implementar uma estrutura de gestão de integridade, para que os funcionários atuem de
acordo com os valores da organização. (Visser, 2007 p. 278)

Segundo a Enciclopédia de Filosofia de Stanford2, podem ser identificadas diferentes formas de


abordagem da integridade:
• A auto-integração refere-se à capacidade dos indivíduos de integrar vários aspectos de sua
própria personalidade, em um todo harmonioso.
• A visão identitária da integridade refere-se à forma como os indivíduos se comprometem com as
coisas com as quais se identificam profundamente (em outras palavras: agir de uma forma que
reflita seu sentido de identidade).
• A visão de auto-constituição da integridade, refere-se a ações que podem ser endossadas pelos
próprios indivíduos no momento da atuação, bem como por um eu futuro.
• A integridade como “defesa de algo” (“standing for something”), traz uma dimensão social para
a definição: implica emitir juízos de valor mas, também requer respeito pelos juízos de valor dos
outros.
• A integridade como propósito moral: essa abordagem descreve a integridade em termos de
compromisso ou de uma clara intenção de viver uma vida moral; isso permite que se discorde
das opiniões de outra pessoa, desde que, ao mesmo tempo, se reconheça que se trata de uma
pessoa íntegra. (Cox, 2017).

1 Website da Enciclopédia de Filosofia de Stanford. Conteúdo em língua inglesa, disponível em: https://plato.stanford.
edu/entries/integrity/. Acesso aos links em 19 de maio de 2022.
2 Ibid. https://plato.stanford.edu/entries/integrity/ 8
Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Ética

Retornando ao conceito de ética, Norman (1998, p.1) definiu a ética como “o esforço na busca da
compreensão da natureza dos valores humanos, do modo como deveríamos viver e do que constitui
uma conduta correta”. A definição de ética no dicionário, é “o estudo ou a ciência da moral” (Chambers,
1999). A moralidade é definida como “uma noção de certo e errado” e a moral, como “pertencendo ou
relacionado aos princípios do bem e do mal, ou certo e errado” (Chambers, 1999).

Embora este Módulo esteja principalmente fundamentado no pensamento filosófico ocidental, é


importante reconhecer a contribuição crítica da filosofia não ocidental. Por exemplo, a Enciclopédia
de Filosofia de Stanford3 afirma o seguinte sobre o pensamento ético chinês:

A tradição do pensamento ético chinês está especialmente preocupada com questões sobre
como se deve viver: o que se considera uma vida valiosa; como conciliar deveres para com a
família e deveres para com estranhos; se a natureza humana está predisposta a ser moralmente
boa ou má, como deve ser o relacionamento com o mundo não-humano? Até que ponto o
indivíduo deve envolver-se na reforma das estruturas sociais e políticas da sociedade? E como
a pessoa deve conduzir-se quando estiver a ocupar uma posição de influência ou poder? As
questões pessoais, sociais e políticas estão frequentemente entrelaçadas nas abordagens
chinesas sobre o tema.

Quem quiser aprofundar-se no pensamento tradicional desses temas, precisa olhar seriamente
para a tradição chinesa. (Wong, 2017).

Uma das figuras mais importantes dessa tradição é Confúcio, que viveu, aproximadamente, entre 551
e 479 a.C. e foi filósofo e fundador da Escola Ru de pensamento chinês. Seus ensinamentos foram
preservados nos Lunyu ou Analects. Sua abordagem é resumida da seguinte forma pela Enciclopédia
de Filosofia de Stanford4:

Confúcio acredita que as pessoas vivem suas vidas dentro de parâmetros firmemente
estabelecidos pelo Céu — o que, muitas vezes, para ele significa tanto um Ser Supremo
proposital, quanto à “natureza” e seus ciclos e padrões fixos — e argumenta que os homens
são responsáveis por suas ações e, especialmente, pelo tratamento dos outros. Podemos fazer
pouco ou nada para alterar nosso período de existência, mas determinamos o que realizamos e
pelo que somos lembrados. (Riegel, 2013)

Quando lidamos com decisões difíceis, muitas vezes sentimos que não há uma resposta clara que
seja certa mas, sentimos intuitivamente, que a decisão implica uma distinção entre o certo e o errado.
As discussões sobre integridade e ética abordam a distinção fundamental entre o certo e o errado.
Esse tipo de decisão é muito mais difícil do que decidir se preferimos um tipo de alimento a outro, ou
se a resposta a uma simples equação matemática é certa ou errada.

3 Ibid. https://plato.stanford.edu/entries/ethics-chinese/
4 Ibid. https://plato.stanford.edu/entries/confucius/.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Algumas pessoas argumentam que não temos escolha se somos éticos ou não, isso é denominado
de “moralidade comum”. Segundo Blackburn (2002, p. 4): “Os seres humanos são animais éticos.
Não quero dizer que naturalmente nos comportamo particularmente bem, nem que estamos
constantemente dizendo um ao outro o que fazer. Mas nós classificamos e avaliamos, comparamos
e admiramos, e reivindicamos e justificamos. Não ‘preferimos’ apenas isto ou aquilo, isoladamente.
Preferimos que nossas preferências sejam compartilhadas; somos nós que as transformamos
em exigências para os outros”. Sissela Bok (1978, p. 23) argumentou que mesmo mentirosos
compartilham com aqueles que enganam o desejo de não serem enganados. Concordar com essa
afirmação indica apoio inerente ao conceito de integridade.

Dentro do contexto de um módulo introdutório, seria útil olhar para alguns exemplos interessantes e
desafiadores. Robinson e Garratt (1997, p. 4) fazem as seguintes perguntas:

• Há alguma diferença entre as leis morais e as leis da sociedade? (Esta questão será abordada
com mais detalhes no Módulo 12).
• Como são os seres humanos: egoístas, gananciosos, generosos e gentis?
• Algumas pessoas são “melhores” na moralidade do que outras?
• Por que eu deveria ser uma boa pessoa?

Essas questões, inevitavelmente, gerarão um debate vigoroso, e também abordarão algumas das
questões filosóficas e teóricas fundamentais abordadas neste Módulo.
No momento em que nós – como seres humanos – expressamos um desejo sobre como algo
deveria ser, usamos a linguagem ética. Quando sugerimos que algo deveria ser diferente, estamos
a classificar, avaliar e comparar, nos termos a que Blackburn se refere. Quando sugerimos que algo
poderia ser melhor, por implicação apoiamos a ideia de que algumas coisas são melhores, mais
desejáveis ou mais aceitáveis do que outras.

O gráfico abaixo explica o papel da teoria, que nos ajuda a entender o mundo, mas que, por si só,
não pode mudar o mundo; precisamos de ação. A ação – e espera-se que seja ação ética – será
informada pela teoria. Qualquer teoria que aborde a forma como as coisas devem ser ou deveriam
ser – como mencionado acima – pode ser classificada como uma teoria ética.

O Mundo

Como é que nós entendemos algo? Como é que nós mudamos algo?
Teoria descritiva Teoria ética
(o que “é”) (o que “deveria ser”) Ação!

Este Módulo abordará três das principais teorias éticas ocidentais: o utilitarismo; a deontologia; e
a ética da virtude. Como foi mencionado acima, a contribuição crítica da filosofia não ocidental é
reconhecida, mas não será abordada em detalhes neste Módulo. Nesta série de módulos, a abordagem
não ocidental da ética será objeto do Módulo 2 (Ética e Valores Universais), Módulo 4 (Liderança
Ética) e Módulo 5 (Ética, Diversidade e Pluralismo).

Note-se que a abordagem da “ética do cuidado”, embora não discutida neste Módulo, é definida e
abordada no Módulo 9 (Dimensões de Gênero da Ética) da atual série de módulos.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Utilitarismo

A premissa básica do utilitarismo é que uma ação é moral se maximizar a “utilidade” social global
(ou felicidade). Dois dos filósofos mais importantes desta tradição são Jeremy Bentham e John
Stuart Mill. O utilitarismo, uma forma de consequência, requer que um indivíduo calcule a resposta
certa a uma questão ética, ponderando as consequências positivas e negativas de uma ação. O que
produzir mais felicidade para a maioria das pessoas, será a solução mais ética. É importante ressaltar
que as consequências devem ser medidas em termos de impacto global, não apenas em termos do
tomador de decisão. Todas as teorias consequencialistas sustentam que a moralidade depende da
consequência das ações. O utilitarismo, um caso específico de consequência, sustenta que o direito
a uma ação depende se ela maximiza uma consequência particular, ou seja, a utilidade social geral.

O exemplo de naufrágio (ver exercício 2) fornece uma maneira fácil de demonstrar essa abordagem.
Imagine que você está envolvido em uma situação de naufrágio – um navio começou a afundar
no meio do oceano. Onze pessoas pularam em um bote salva-vidas, que foi projetado para uma
carga máxima de dez pessoas, e o bote salva-vidas também está começando a afundar. O que os
passageiros devem fazer? De acordo com a abordagem utilitarista, a resposta é fácil: dez vidas salvas
produzirão uma maior utilidade social; assim, segundo o utilitarismo, matar uma pessoa é a coisa
ética a fazer.

Deontologia
A premissa básica da deontologia, em contraste com teorias consequentes, como o utilitarismo, é que
uma ação é moral se estiver em conformidade com certos princípios ou deveres (independentemente
das consequências). A deontologia é derivada da palavra grega deon, que significa dever. O único
nome que se destaca de todos os outros em termos dessa abordagem é o de Immanuel Kant. O
seguinte extrato da Enciclopédia de Filosofia de Stanford5 fornece um bom resumo da posição de
Kant:
Immanuel Kant (1724-1804) argumentou que o princípio supremo da moralidade é um padrão
de racionalidade que ele chamou de “Imperativo Categórico” (IC). Kant caracterizou o IC como
um princípio objetivo, racionalmente necessário e incondicional, que devemos sempre seguir,
apesar de quaisquer desejos ou inclinações naturais que possamos ter no sentido contrário.
Todos os requisitos morais específicos, segundo Kant, são justificados por este princípio, o que
significa que todas as ações imorais são irracionais porque violam o IC. (Johnson, 2018)

Em termos leigos, o Imperativo Categórico pode ser comparado e contrastado com o que muitas
vezes é descrito como a Regra de Ouro, que pode ser encontrada em muitas tradições culturais e
religiosas diferentes: faça aos outros como você gostaria que eles fizessem a você. É, imediatamente,
evidente que esse tipo de argumento fornecerá soluções para problemas éticos, diferentes de uma
abordagem utilitária. No exemplo do naufrágio, não é mais possível justificar matar alguém, porque
a regra que pode ser deduzida como universal é: não matar. Portanto, não importa quais sejam as
consequências, a resposta moralmente correta seria não matar ninguém no bote salva-vidas.

5 Ibid. https://plato.stanford.edu/entries/kant-moral/.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Ética da virtude

A premissa básica da ética da virtude é que a moralidade depende do aperfeiçoamento do caráter.


Diferente do utilitarismo (consequências) ou da deontologia (dever), a ênfase está nas virtudes do
indivíduo. Com base na antiga contribuição de Aristóteles (384 a 322 a.C.), a ética da virtude fornece
uma abordagem mais holística da ética. Stewart destaca as seguintes características da ética da
virtude:
• Preocupa-se com a pessoa ou agente por trás das ações, e não com as ações em si.
• Considera aspectos como emoções, atitudes, hábitos e estilo de vida, como moralmente
relevantes: do jeito que você é, em vez de, simplesmente, o que você faz, pode confluir numa
classificação de bom ou mau.
• Argumenta que a vida é muito complexa para ser guiada por regras rígidas, que ditam como
devemos agir.
• É holístico, pois examina o propósito da vida e não os momentos individuais.
• Promove as virtudes como sendo benéficas para o possuidor delas: “Ser virtuoso é bom porque
é bom para você” (Stewart, 2009 p. 56).

De acordo com a Enciclopédia de Filosofia de Stanford6 , uma virtude é “um excelente traço de caráter.
É uma disposição bem enraizada em seu possuidor - algo que, como dizemos, vai até o fim, ao contrário
de um hábito, como ser um bebedor de chá - para notar, esperar, valorizar, sentir, desejar, escolher,
agir e reagir de certas maneiras características” (Hursthouse, 2016). Outro termo que é importante
na ética da virtude é a sabedoria prática, a capacidade de fazer a coisa certa, não importando as
circunstâncias. A ética da virtude é muito atrativa, porque fornece uma abordagem holística, mas
tem sido criticada por falta de orientação prática. Como Stewart explica: “Quando eu pergunto o que
devo fazer, a ética da virtude me diz que eu deveria ser virtuoso. Isso não ajuda, a menos que eu saiba
quais são as virtudes e qual delas aplicar na minha situação. Como posso conseguir ajuda com isso?
Disseram-me que uma pessoa virtuosa seria capaz de me aconselhar... Mas, e se eu não conhecer
nenhuma pessoa virtuosa?” (2009, p. 69).

Em resumo, todas as três principais teorias éticas ocidentais têm pontos fortes e fragilidades. Não
existe uma “teoria melhor” confirmada. Os indivíduos terão preferências e farão as suas próprias
escolhas. Todas as teorias podem ser consideradas, em conjunto, para auxiliar, para fazer uma
escolha específica. Muitas vezes, as escolhas instintivas são feitas sem referência a uma teoria ética,
embora isso possa, talvez, ser melhor explicado pela ética da virtude. Um risco é fazer uma escolha
predeterminada sobre uma ação preferencial e, em seguida, encontrar uma teoria ética para justificar
uma decisão. Tal abordagem carece de consistência e, portanto, também carece de integridade.

Os exercícios abaixo podem ser utilizados para orientar os alunos através das etapas necessárias
para identificar problemas éticos e aplicar teorias éticas. Alguns dos conceitos que serão abordados
incluem a justiça, a felicidade, o dever, os direitos e o contrato social. Para os alunos mais avançados,
pode introduzir-se a distinção entre ética substantiva (que tipos de ações poderiam ser consideradas
boas e certas?) e metaética (o que significa dizer que “algo é bom ou certo”?).

6 Ibid. https://plato.stanford.edu/entries/ethics-virtue/#Virt

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Referências bibliográficas

Blackburn, Simon (2002). Being Good. Oxford: Oxford University Press.

Bok, Sissela (1978). Lying: Moral Choice in Public and Private Life. Hassocks: The Harverster Press
Limited.

Cox, Damian and others (2017). Integrity. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Edward N. Zalta,ed.
» Available from https://plato.stanford.edu/archives/spr2017/entries/integrity/.

Chambers 21st Century Dictionary (1999). Edinburgh, Chambers.

Hursthouse, Rosalind and Glen Pettigrove (2016). Virtue ethics. The Stanford Encyclopedia of
Philosophy. Edward N. Zalta, ed.
» Available from https://plato.stanford.edu/archives/win2016/entries/ethics-virtue/.

Johnson, Robert and Adam Cureton (2018). Kant’s moral philosophy. The Stanford Encyclopedia of
Philosophy. Edward N. Zalta, ed.
» Available from Stanford Encyclopedia of Philosophy Archive

Norman, Richard (1998). The Moral Philosophers. Oxford: Oxford University Press.

Riegel, Jeffrey (2013). Confucius. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Edward N. Zalta, ed.
» Available from https://plato.stanford.edu/archives/sum2013/entries/confucius/.

Robinson, Dave and Chris Garratt (1997). Ethics for Beginners. Cambridge: Icon Books.

Stewart, Noel (2009). Ethics: An Introduction to Moral Philosophy. Cambridge: Polity Press.

Visser, Wayne and others, eds. (2007). The A to Z of Corporate Social Responsibility. Chichester: John
Wiley & Sons Ltd.

Wong, David (2017). Chinese ethics. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Edward N. Zalta, ed.
» Available from https://plato.stanford.edu/archives/spr2017/entries/ethics-chinese/.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exercícios

Esta secção apresenta um conjunto de exercícios pedagógicos para realizar antes da aula ou durante
a mesma. Uma atividade para realizar no final da aula e destinada a avaliar a compreensão dos alunos
acerca do presente Módulo é sugerida numa secção separada.

Estes exercícios são apropriados para turmas de até 50 estudantes, nas quais os mesmos se podem
organizar em grupos pequenos para discutirem os casos ou realizar as atividades, cabendo aos
representantes de cada grupo transmitir as conclusões ao resto da turma. Embora também seja
possível utilizar esta metodologia de trabalho em pequenos grupos numa turma de grande dimensão,
com várias centenas de alunos, tal é mais desafiante e o palestrante pode querer recorrer a certas
técnicas de facilitação para garantir que haja tempo suficiente para as discussões em grupo e para
a apresentação das conclusões de todos os grupos à turma. A maneira mais simples de viabilizar a
discussão em pequenos grupos numa turma de grandes dimensões é pedir aos alunos que discutam
os problemas com os quatro ou cinco alunos sentados ao lado deles. Dadas as limitações de tempo,
nem todos os grupos poderão apresentar as suas conclusões em todos os exercícios. Recomenda-se
que o palestrante faça seleções aleatórias e tente garantir que todos os grupos tenham a oportunidade
de transmitir os seus comentários, pelo menos uma vez durante a sessão. Se o tempo permitir, o
palestrante poderá promover uma discussão com toda a turma, depois de cada grupo ter apresentado
as suas conclusões.

Todos os exercícios desta secção são adequados tanto para estudantes universitários, como para
graduados ou profissionais. No entanto, as decisões sobre a adequação dos exercícios devem ser
tomadas com base no contexto educacional e social, considerando-se que varia muito o conhecimento
prévio dos alunos e a sua familiarização com estes problemas. O palestrante é incentivado a relacionar
cada exercício aos temas-chave do Módulo.

Recomenda-se que os palestrantes comecem a construir um ambiente propício e amigável logo no


início da aula e antes da realização do primeiro exercício. Isso pode ser feito através de atividades
de “quebra-gelo”, analisando respeitosamente as orientações e opiniões iniciais dos alunos sobre
a corrupção e demonstrando interesse genuíno nas suas perspetivas. Uma vez que os alunos
passem a ver o palestrante como respeitador, genuinamente interessado nas suas orientações
sobre o tema e consistente na gestão dos comentários maliciosos ou pejorativos de outros colegas,
estará estabelecido um ambiente seguro que permitirá uma melhor e mais eficaz aprendizagem e
desenvolvimento por parte dos estudantes.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exercício 1: Valores pessoais
Veja o vídeo “What are your valiews” e reveja a lista de valores pessoais do site mindtools7 Pense
nos valores e na moral do contexto em que vive. Liste suas dez principais regras éticas pessoais.

Diretrizes para o professor

O vídeo é auto-explicativo e fornece orientações claras e práticas, sobre como realizar o exercício. O
professor pode exibir o vídeo e, em seguida, dar tempo, em sala de aula, para os alunos realizarem a
tarefa. Se o tempo permitir, eles podem ler o artigo e discuti-lo em pequenos grupos.

Exercício 2: Naufrágio
Este é um caso clássico na teoria da ética. Dê as seguintes informações aos alunos: imagine que
você está envolvido em um naufrágio – um navio começou a afundar no meio do oceano. Onze
pessoas entraram em um bote salva-vidas, projetado para um máximo de dez pessoas, e o bote
salva-vidas começa a afundar. O que os passageiros devem fazer? Empurrar uma pessoa ao mar
e salvar dez vidas? Ou manter o princípio de “não matar”, o que significa que todos se irão afogar?
O palestrante pode convidar os alunos a darem as suas contribuições e, até mesmo, a votar e, em
seguida, ilustrar como as diferentes abordagens teóricas (por exemplo, o utilitarismo e a deontologia)
levarão a diferentes soluções que são válidas consoante a abordagem adoptada.

Diretrizes para o professor

Este exercício pode ser usado em diferentes contextos, seja para preceder uma apresentação sobre
teorias éticas, ou enquanto um exercício no qual os alunos podem aplicar conhecimentos recém-
adquiridos sobre tais teorias. O uso mais eficaz é provavelmente fazer o exercício prévio à discussão
detalhada das teorias éticas. Isso levará a uma discussão e debate animados; e o professor pode
ilustrar o debate, demonstrando como nossos processos de tomada de decisão podem ser explicados
por teorias éticas. O professor pode, então, revisitar o exemplo, para depois, através de uma abordagem
mais formal, indicar, com clareza, quais as soluções específicas que as diferentes teorias oferecem.

7 Disponível em língua inglesa em https://www.mindtools.com/pages/article/newTED_85.htm

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exercício 3: Estudo de caso (Bebê Theresa)
Este caso está incluído de forma completa em Os Elementos da Filosofia Moral (Rachels e Rachels,
2012).

Resumo: A bebê Theresa nasceu na Flórida (Estados Unidos da América), em 1992, com anencefalia,
uma das piores doenças genéticas. Às vezes chamados de “bebês sem cérebro”, bebês com essa
doença nascem sem partes importantes do cérebro, assim como o topo do crânio. A maioria dos
casos é detectada durante a gravidez e, geralmente, conduz à realização de um aborto. Cerca de
metade dos que não abortaram são natimortos. Nos Estados Unidos, cerca de 350 bebês nascem
vivos, por ano, e geralmente morrem em poucos dias. A bebê Theresa nasceu viva. Os pais decidiram
doar os órgãos dela para transplante. Seus pais e seus médicos concordaram que os órgãos deveriam
ser removidos enquanto ela estava viva (fazendo com que sua morte inevitável ocorresse mais cedo),
mas isso não foi permitido pela lei da Flórida. Quando ela morreu, depois de nove dias, os órgãos
deterioraram-se demais e não puderam ser usados.

Diretrizes para o professor

O palestrante facilita uma discussão em grupo, colocando uma ou mais das seguintes perguntas:

• Como podemos valorizar a vida humana?


• O que se deve fazer quando há um conflito entre a lei e a própria posição moral sobre um assunto?
• Se você estivesse em posição de tomar a decisão final neste caso, o que decidiria e porquê?

Como variação, os alunos podem ser convidados a assumir diferentes funções, atuando, por exemplo,
como pais, médicos ou legisladores, durante um debate de classe.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exercício 4: Estudo de caso

O caso e as perguntas, de autoria de Akshay Vyas, aparecem no site do Centro Markkula de Ética
Aplicada da Universidade de Santa Clara8.

O CASO

Robert está no time de beisebol de uma pequena faculdade no Texas. Ele é um jogador de alto nível
e, por isso, tem muitos seguidores no Twitter e uma grande rede no Facebook. Por esse motivo,
os membros do conselho atlético de sua faculdade acham necessário monitorar as suas contas
nas redes sociais. No Texas não existe uma lei que impeça as escolas de exigir aos indivíduos que
partilhem as suas informações pessoais de acesso e senha das redes sociais. Robert é obrigado a
entregar as informações da sua conta das redes sociais. Os funcionários da universidade dizem que
a intenção da monitorização é para identificar possíveis comportamentos indevidos no início das
manifestações, para permitir que os departamentos atléticos possam adotar providências para educar
os atletas sobre como devem proceder nas redes sociais. Eles passam a verificar, regularmente, o que
Robert posta e sinalizam certas postagens com as quais eles têm problemas. Certo dia, Robert twittou
“Faltando aula para quebrar #schoolsucks #bettercallsaul #breakingbad ruins.” Como Robert admitiu,
nessa mensagem, publicamente, ter faltado às aulas, funcionários da escola sinalizaram o post e
decidiram começar a monitorar, também, a conta de e-mail de Robert, sem o informarem. Uma vez que
a escola fornece uma conta de e-mail, como um serviço, para seus alunos e professores, ela entende
ter o direito de pesquisar os dados armazenados em seu próprio sistema. De acordo com o manual
estudantil da faculdade, os administradores podem acessar contas de e-mail de estudantes, com a
finalidade de proteger o sistema ou “para garantir o cumprimento de outras regras da Universidade”.
O manual, contudo, não menciona se os titulares das contas devem ou não ser notificados de que
seus e-mails estão sendo pesquisados. Ao pesquisar a conta de e-mail de Robert, funcionários da
universidade encontram vários e-mails “questionáveis” entre Robert e seu tutor. Nessas mensagens,
existiam indícios de que o tutor de Robert tinha enviado a ele todas as respostas para tarefas de casa
e testes. Como resultado da investigação, Robert foi colocado em liberdade condicional atlética e seu
tutor foi demitido.

Diretrizes para o professor


O palestrante facilita uma discussão em grupo, colocando uma ou mais das seguintes perguntas:

• As universidades devem ser autorizadas a monitorar e-mails de estudantes e contas de mídia


social? Se sim, em que circunstâncias?
• O que ultrapassa a linha entre a segurança do campus e a invasão de privacidade?
• As regras da universidade sobre e-mail e monitoramento das redes sociais são muito vagas? Se
sim, como essas regras podem ser alteradas de forma a serem mais claras?
• Robert deveria ter sido punido por burla na escola, se não soubesse que seu e-mail estava sendo
monitorado? E o tutor dele?

Como alternativa, os alunos podem ser convidados a assumir diferentes funções, atuando durante o
debate, por exemplo, como Robert, seu tutor e funcionários da universidade.

8 Disponíveis em língua inglesa em https://www.scu.edu/the-big-q/the-big-q-blog/emails-exposed.html

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exercício 5: Estudo de caso (A Parábola do Sadhu)
9

Em 1982, Bowen McCoy passou vários meses caminhando pelo Nepal. No meio da difícil
caminhada, enquanto ele e vários outros se preparavam para alcançar o ponto mais alto de sua
escalada, encontraram o corpo de um sadhu, homem santo indiano. Vestindo pouca roupa e
tremendo de frio, ele mal estava vivo. McCoy e os outros viajantes – que incluíam indivíduos do
Japão, Nova Zelândia e Suíça, bem como guias e carregadores locais do Nepal – imediatamente
o envolveram em roupas quentes e lhe deram comida e bebida. Alguns membros do grupo
separaram-se, para ajudar a levar o sadhu para uma aldeia mais abaixo, a dois dias de distância;
no entanto eles acabaram por o deixar, para continuar a sua escalada. O que aconteceu com
o sadhu? Em seu comentário retrospectivo, McCoy observa que nunca encontrou a resposta
para essa pergunta. Em vez disso, a história do sadhu só levanta mais questões. Na encosta
dos Himalaias, o grupo de indivíduos não estava preparado para um dilema repentino. Todos
eles “fizeram a sua parte”, mas o grupo não estava organizado o suficiente para assumir a
responsabilidade final por uma vida. Como, pergunta McCoy, em um contexto mais amplo,
preparamos nossas organizações e instituições para que elas respondam adequadamente a
crises éticas?10

Diretrizes para o professor

O professor facilita uma discussão em grupo, colocando uma ou mais das seguintes perguntas:
• Você pode identificar as questões éticas neste caso?
• Se você estivesse na posição dos viajantes, como você responderia?
• Qual é a relevância desse caso na sociedade contemporânea?

9O resumo a seguir está disponível em https://hbr.org/1997/05/the-parable-of-the-sadhu:


10 O estudo completo de caso está disponível, em língua inglesa, em https://hbsp.harvard.edu/product/97307-PDF-
ENG?E=60513&R=97307-PDF-ENG&conversationId=806381

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Exemplo de Estrutura de Aula

Esta seção contém recomendações para uma exposição organizada e temporalmente adequada dos
conteúdos, com vista ao alcance dos objetivos da aprendizagem, numa palestra de três horas. O
palestrante pode querer desconsiderar ou reduzir alguns dos pontos abaixo indicados para despender
mais tempo com outras atividades, como a apresentação, a realização de atividades quebra-gelo, a
apresentação de conclusões ou a realização de pequenos intervalos. A estrutura pode ser adaptada
para aulas mais curtas ou mais longas, considerando que duração das mesmas varia de país para
país.

Análise conceitual da integridade (15 minutos)


• O professor pede que os alunos façam grupos de três ou quatro pessoas, e forneçam sua
definição de integridade.
• Alguns grupos fornecem feedback para a classe.
• O professor compartilha uma definição de integridade do livro didático (por exemplo, o fornecido
neste Módulo), e discute as diferenças e semelhanças entre essa definição e as sugestões dos
alunos.

Análise conceitual da ética (10 minutos)


• O professor pede que os alunos façam grupos de três ou quatro pessoas para refletirem sobre
o conceito de ética e, juntos, sintetizarem seus entendimentos em uma formulação curta, clara
e precisa.
• Alguns grupos fornecem feedback à classe, através das suas perspetivas sobre a natureza da
ética.
• O professor compartilha uma definição de ética do livro didático (por exemplo, o fornecido neste
Módulo), e discute as diferenças e semelhanças entre essa definição e as sugestões dos alunos.

Exercícios de classe (30 minutos)


• O professor seleciona um ou mais dos exercícios propostos.
• Os alunos têm a oportunidade de trabalhar em pequenos grupos.
• O professor seleciona alguns grupos aleatórios para compartilhar suas opiniões e conclusões
com a classe, e conclui a discussão com suas próprias opiniões sobre os exercícios.

Uma introdução a teorias éticas e grandes filósofos éticos (60 minutos)


• O professor apresenta as três principais teorias éticas e filósofos ocidentais (poderá ser utilizada
a apresentação do PowerPoint fornecida com este Módulo).
• O professor pode usar os slides como ponto de partida e atualizá-los com base em seu próprio
material.
• A seguir, as principais áreas de foco:
» Utilitarismo: a moralidade depende das consequências
» Deontologia: a moralidade depende da conformidade com os princípios morais
» Virtude: a moralidade depende das virtudes do caráter de alguém.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Discussão de dilemas éticos em pequenos grupos (45 minutos)
• Os alunos dividem-se em pequenos grupos: nos primeiros cinco minutos, cada aluno trabalha
individualmente, escrevendo um exemplo de um dilema ético pessoal com que se defrontou.
Durante os 20 minutos seguintes, os alunos têm a oportunidade de compartilhar seus dilemas
no pequeno grupo. Não é obrigatório que todos partilhem um caso pessoal. Os alunos são
solicitados a respeitar as questões de privacidade e a reconhecer o desconforto que pode estar
envolvido quando se partilha algo muito pessoal.
• Os 20 minutos finais são gastos com feedback dos grupos que, de forma totalmente voluntária,
são convidados a partilhar um exemplo com a classe. O palestrante usa o quadro ou um flip-
chart para capturar palavras-chave do exemplo, lidera a discussão e encerra com suas próprias
opiniões, sobre os exemplos que foram partilhados.

Discussão em plenário (20 minutos)


• O palestrante recapitula os principais pontos da aula e explica os vínculos com outros módulos
da Série de Módulos de Integridade e Ética.

Leitura Essencial

Esta seção fornece uma lista dos principais materiais de acesso aberto que o professor pode pedir
aos alunos para ler, antes da realização da aula com base neste Módulo.

Deigh, John (2010). An Introduction to Ethics. Cambridge: Cambridge University Press.


» Uma versão de acesso aberto do capítulo um deste texto introdutório está disponível a partir de
http://www.insightsonindia.com/wp-content/uploads/2013/09/what-is-ethics-cambridge-university.
pdf.

Enciclopédia de Filosofia da Internet (seção sobre ética, mais especificamente subseção sobre ética
normativa)
» A Enciclopédia da Filosofia da Internet é um recurso de acesso aberto que fornece informações
acadêmicas revisadas por pares, sobre todos os aspectos da filosofia. Os artigos são direcionados a
graduandos avançados em filosofia, bem como aqueles que não estão trabalhando no campo coberto
pelos artigos. A seção relevante dá uma visão geral das teorias da virtude, teorias de dever e teorias
consequentes. Disponível a partir de http://www.iep.utm.edu/ethics/#H2.

The Stanford Encyclopedia of Philosophy.


» Desde 1995, a Enciclopédia de Filosofia de Stanford é um recurso de acesso aberto que fornece
informações detalhadas sobre temas filosóficos, mantidos e atualizados por um especialista ou um
grupo de especialistas. A entrada que traça a história da filosofia grega primitiva, com referência
específica a conceitos como virtude, felicidade e alma está disponível a partir de https://plato.
stanford.edu/archives/fall2014/entries/ethics-ancient/.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Leitura avançada

Leitura recomendada aos alunos interessados em explorar os tópicos deste Módulo com mais
detalhe, bem como para os professores que ensinam o Módulo:

Annas, Julia (1995).


» Uma visão geral da antiga filosofia ética por esta proeminente estudiosa. Mais informações disponíveis
emhttps://global.oup.com/academic/product/the-morality-of-happiness-9780195096521?cc=us&lang=en&#.

Blackburn, Simon (2001).


» Um pequeno livro sobre o tema da ética que pode ser lido em algumas horas – uma introdução
ideal ao tema.

Blackburn, Simon (2002). Sendo bom. Oxford: Oxford University Press.


» Um pouco mais abrangente em sua curta introdução (veja acima), este texto traça vários aspectos
da ética com exemplos da história, política, religião e cotidiano. Mais informações disponíveis em
https://global.oup.com/ushe/product/being-good-9780192853776?cc=us&lang=en&.

Gurzawska, Agata (2015). Institutional Integrity.


» Este trabalho examina diferentes aspectos da integridade, com referência específica à distinção
entre integridade individual e institucional. Disponível a partir de http://satoriproject.eu/media/1.e-
Institutional-Integrity.pdf.

Kreeft, Peter (1983). The Unaborted Socrates. Illinois: InterVarsity Press.


» Este texto examina as questões éticas em torno do aborto. Imagina o que aconteceria se Sócrates
reaparecesse em Atenas moderna, e apresentasse um diálogo entre um médico, um filósofo e um
psicólogo. Mais informações disponíveis em https://www.ivpress.com/the-unaborted-socrates.

MacIntyre, Alasdair (2002). A Short History of Ethics. London: Routledge Classics.


» Este trabalho, escrito por um dos mais importantes eticistas e filósofos contemporâneos,
é desafiador, mas gratificante. Há uma ênfase específica no contexto histórico. Mais
informações disponíveis em https://books.google.co.za/books/about/A_Short_History_of_Ethics.
html?id=FnXQMgEACAAJ&redir_esc=y.

Norman, Richard( 1998). The Moral Philosophers. Oxford: Oxford University Press.
» Este livro, muito acessível, fornece uma introdução à ética olhando para as contribuições dos
principais filósofos ocidentais, incluindo contribuições antigas (Platão e Aristóteles) e modernas
(Hume, Kant, Mill e Hegel). Mais informações disponíveis em https://global.oup.com/academic/
product/the-moral-philosophers-9780198752165?cc=us&lang=en&#.

Rachels, James e Stuart Rachels (2012). The Elements of Moral Philosophy. New York: McGraw-Hill.
» Um livro de texto clássico para aulas de graduação. Veja especialmente os capítulos 1, 6, 7, 8,
9, 10, 12. Mais informações disponíveis em https://www.amazon.com/Elements-Moral-Philosophy-
James-Rachels/dp/0078038243.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Robinson, Dave e Chris Garratt (1997). Ethics for Beginners. Cambridge: Icon Books.
» Este livro introdutório apresenta dilemas éticos complexos em um amplo espectro, incluindo
temas como escolha individual, genocídio, mercados livres e engenharia genética. O estilo é informal,
com uso frequente de desenhos animados.

Cantor, Peter (2011). Practical Ethics. Cambridge: Cambridge University Press.


» Uma introdução clássica à ética aplicada, com temas que vão desde itens de luxo e terrorismo
até eutanásia e meio ambiente natural. O prefácio está disponível on line, a partir de http://assets.
cambridge.org/97805218/81418/frontmatter/9780521881418_frontmatter.pdf

Stewart, Noel (2009). Ethics: An Introduction to Moral Philosophy. Cambridge: Polity Press.
» Trata-se de um texto muito fácil de ler, com seções sobre ética normativa, ética prática e metaética.

Avaliação dos estudantes

Esta seção fornece uma sugestão para uma tarefa pós-aula, com o propósito de avaliar a compreensão
dos alunos do Módulo. Sugestões para atribuições pré-aula ou em classe são apresentadas na seção
Exercícios.

Para avaliar a compreensão dos alunos sobre o Módulo, propõe-se a seguinte atribuição pós-aula, a
ser concluída no período de duas semanas após a apresentação do Módulo:

• Selecione um artigo dos meios de comunicação social que aborde um problema relacionado
com a integridade e/ou ética, como a migração, desigualdades ou privacidade, ou qualquer
tópico apropriado e relevante para o contexto específico.
• Descreva a questão com suas próprias palavras e demonstre, claramente, quais as questões
relevantes de integridade/ética.
• Selecione uma teoria ética (por exemplo, utilitarismo ou deontologia) e aplique essa teoria à
questão, com a finalidade de identificar uma maneira preferida de orientar a tomada de decisões.

Tamanho máximo do texto: 1.500 palavras.

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Materiais de Ensino Adicionais

Esta seção inclui links para materiais e recursos de apoio, como slides do PowerPoint, vídeos e estudos
de casos, que podem ajudar o professor na abordagem e desenvolvimento dos temas e questões do
Módulo. Os professores podem adaptar os slides e outros recursos às suas necessidades.
• Apresentação em powerpoint
• Módulo 1 Apresentação sobre Integridade e Ética11

Videos
Richard, T. Thomas Hobbes e John Locke: Dois Filósofos Comparados (apenas para alunos mais
avançados).
» Disponível a partir de https://www.youtube.com/watch?v=N2LVcu01QEU.

O Significado da Ética e da Educação Ética no Cotidiano.


» Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_8juebyo_Z4.

Shefali Roy sobre “conformidade” e ética (e porque a ética é importante).


» Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=yesE4mcv4CM.

Chris Robichaux (Harvard) sobre o uso de Dungeons & Dragons (e outros meios inovadores) para
ensinar ética.
» Disponívelé em https://www.youtube.com/watch?v=gn_d0oHYVCw.

Moral definida. Um breve vídeo animado para definir a moral, produzido pela University of Texas
McCombs School of Business Available a partir de
» https://www.youtube.com/watch?v=oJXP63lvOeA.

Ética Definida. Um breve vídeo animado para definir a ética, produzido pela University of Texas
McCombs School of Business.
» Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rNiNb9rfC64.

O Lado Moral do Assassinato. Trata-se de uma palestra de uma hora que introduz algumas das formas
fundamentais de pensar sobre ética e tomadas de decisão ética. Forma parte do famoso curso de
justiça apresentado pelo Prof. Michael Sandel da Universidade de Harvard.
» Disponível a partir de https://www.youtube.com/watch?v=kBdfcR-8hEY.

11 https://www.unodc.org/e4j/en/integrity-ethics/module-1/additional-teaching-tools.html

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Estudos de caso

A Parábola do Sadhu. Resumo


» disponível em https://hbr.org/1997/05/the-parable-of-the-sadhu

Estudos de caso deengenharia.


» disponível a partir de http://www.engineering.com/Library/ArticlesPage/tabid/85/articleType/
CategoryView/categoryId/7/Ethics-Case-Studies.aspx

Ética nasprofissões. disponível a partir de


» http://ethics.iit.edu/eb/REGIONAL_ETHICS_BOWL_CASES_2015

Estudos gerais de casos de ética aplicadas.


» Disponível a partir de https://www.scu.edu/ethics/ethics-resources/ethics-cases/

Estudos de caso de jornalismo.


» disponível a partir de http://www.spj.org/ethicscasestudies.asp

Variação na caixa do carrinho, aplicada a carros sem motorista.


» disponível a partir de https://www.scientificamerican.com/article/driverless-cars-will-face-moral-
dilemmas/

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Integridade e Ética: Introdução e Estrutura Conceitual

Módulo 1
Guia para desenvolver uma disciplina autônoma

Este Módulo fornece um esboço para uma aula de três horas, mas há potencial para desenvolver os
seus temas, mais adiante, através de um curso autônomo. O escopo e a estrutura de tal curso serão
determinados pelas necessidades específicas de cada contexto; no entanto, apresenta-se aqui um
exemplo de estrutura, como sugestão. É baseado no livro de Rachels & Rachels (2012).

Sessão Tópico Breve descrição

1 Lidar com dilemas éticos e introduzir o conceito de


Introdução
integridade
2 Substantivo versus metaética Distinção entre substantiva e metaética

Lidar com a questão de diferentes culturas e diferentes


3 Relativismo cultural
códigos morais

4 Subjetivismo e egoísmo Subjetivismo, emotivismo e razão

5 Teoria do contrato social Hobbes, o dilema do prisioneiro

6 Utilitarismo Visão geral da teoria e dos principais filósofos, com


exemplos de aplicação a casos específicos
Visão geral da teoria e dos principais filósofos, com
7 Deontologia
exemplos de aplicação a casos específicos

8 Ética da virtude Visão geral da teoria e dos principais filósofos, com


exemplos de aplicação a casos específicos

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