Você está na página 1de 101

Atendimento Educacional

em Ambiente Hospitalar
e Domiciliar
Autora: Itamara Peters
Release do Curso de Especialização em Serviço de Atendimento
Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Módulo 3: Políticas Públicas acerca do Atendimento
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Esporte (Proece), Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar
Agência de Educação Digital e a Distância (Agead), (Ministrado pela professora Ediclea Mascarenhas
e Instituto de Biociências (Inbio) com o intuito de Fernandes).
atender o proposto pela Diretoria de Educação
Especial da Secretaria de Modalidades Especializadas Módulo 4: Métodos e Práticas Aplicadas nos
de Educação do Ministério da Educação (MEC), é Atendimentos Educacionais em Ambientes
realizado o Curso de Especialização em Serviço de Hospitalares e Domiciliares (Ministrado pela
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar professora Mariuza Aparecida Camillo Guimarães).
e Domiciliar (CESAEAHD), desenvolvido em 10
(dez) módulos, tendo com o objetivo a formação Módulo 5: Avaliação educacional no Atendimento
continuada de professores das redes públicas Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar
de ensino da educação básica que atuam no (Ministrado pela professora Mirella Villa de Araújo
Atendimento Educacional Especializado (AEE) sobre Tucunduva da Fonseca).
o trabalho pedagógico desenvolvido com a criança
Módulo 6: Brinquedoteca Hospitalar (Ministrado pela
e o adolescente no atendimento educacional em
professora Milene Bartolomei Silva).
ambiente hospitalar e domiciliar durante seu período
de hospitalização e/ou tratamento de saúde. Módulo 7: Trabalho interdisciplinar: ética e
humanização no contexto hospitalar e domiciliar
O curso realizado na modalidade de Educação à
(Ministrado pela professora Juliane Aparecida Lima
Distância (EaD), necessita do trabalho de tutores
dos Santos).
para realizar a orientação e acompanhamento
pedagógico aos cursistas, estes fazem a mediação Módulo 8: A família e a escola no processo e
entre o professor, os conteúdos e os cursistas tratamento de saúde da criança e do adolescente
(alunos), acompanham e avaliam a aprendizagem (Ministrado pela professora Amalia Neide Covic).
dos cursistas durante todo o desenvolvimento do
curso. Módulo 9: Recreação e Jogos no Atendimento
Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar
O curso é oferecido a cursistas distribuídos em 20 (Ministrado pela professora Mirian Lange Noal).
turmas, sendo cada tutor selecionado responsável
por uma turma, e tem a carga horária de 390h Módulo 10: Orientação/Prática Científica (Ministrado
(trezentos e noventa) horas, sendo organizado em 10 pela professora Carla Busato Zandavalli Maluf de
(dez) módulos, que são: Araujo).
Módulo 1: Introdução aos Estudos sobre Atendimento Também teremos o Trabalho Final de Curso que será
Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar I ministrado por todos os docentes, coordenação,
(Ministrado pela professora Itamara Peters). supervisão e convidados.
Módulo 2: Psicologia do Educando Hospitalizado
(Ministrado pela professora Alexandra Ayach Anache).
Atendimento Educacional
em Ambiente Hospitalar
e Domiciliar
Autora: Itamara Peters
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Mirella Villa de Araújo Tucunduva da Fonseca
Milene Bartolomei Silva
Ministro da Educação Juliane Aparecida Lima dos Santos
Victor Godoy Veiga Amalia Neide Covic
Mirian Lange Noal
SEMESP - Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação Carla Busato Zandavalli Maluf de Araujo

Nídia Regina Limeira de Sá - Diretora Tutores:


Rosana Cipriano Jacinto da Silva - Coordenadora Geral José Tadeu Acuña
Vanda Cristina Araujo Rocha - Coordenadora Camila Gonçalves da Costa
Rafael Silva Sanches - Chefe de Projetos Lemuel de Faria Diniz
Eneida Bueno Benevides - Chefe de Projetos Danielle Luzia Ramos de Moraes Navarro
Karine Silva dos Santos - Secretária da SEMESP Jaqueline Silva de Moura
Victor Hugo Naglis Vieira
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Samira Mercaldi Rafani
Maria Rita Mendonça Vieira
Reitor da UFMS: Marcelo Augusto Santos Turine Leonardo Ribeiro de Barros
Heriel Adriano Barbosa da Luz
Vice-reitora da UFMS: Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo Aline de Novaes Conceição
Josilene Moreira Silveira
Pró-reitor da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Esporte Lourdes Casanova de Almeida
(Proece/UFMS): Marcelo Fernandes Pereira Tabitha Molna Monteiro
Josiane Vargas Delfino
Diretor do Instituto de Biociências (Inbio/UFMS): Ramon José Marielle Moreira Santos Benatti
Correa Luciano de Mello Tabata Larissa Soldan
Niura Bicalho Barroso
Diretor da Agência de Educação Digital e a Distância (Agead): Vinícius de Oliveira Bezerra
Hércules da Costa Sandim Alessandro Moura Costa

Coordenação: Técnico de Informática:


Jucélia Linhares Granemann de Medeiros Max Millian Rodrigues do Nascimento

Supervisão: Diagramador
Maria Aparecida Lima dos Santos Hélder Rafael Regina Nunes Dias

Formadora: Secretária
Sheyla Cristina Araújo Matoso Danielle dos Santos Barreto
aehd.inbio@ufms.br - (67) 99106-4792
Professores pesquisadores:
Itamara Peters Intérpretes
Alexandra Ayach Anache Ana Maria Ribeiro da Rocha
Ediclea Mascarenhas Fernandes Josiane Ramalho dos Santos
Mariuza Aparecida Camillo Guimarães
Sumário
Apresentação da disciplina 6

Cronograma 8

Sobre a autora 9

Introdução 10

1. Contexto histórico 12

2. Educação inclusiva 32

3. Reflexões sobre a docência 39

4. O aspecto formal do atendimento 76


educacional hospitalar e domiciliar

5. Considerações e discussões relevantes 84

6. Caderno de atividades 86

7. Referências 92
Apresentação da disciplina
Seja Bem-Vindo (a) as discussões sobre: Atendimento Conteúdos:
Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar. • Contexto histórico
• Amparo legal da educação hospitalar
PLANO DE ENSINO • Direito à educação
• Educação inclusiva
Disciplina: Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar • O docente na educação hospitalar
e Domiciliar • O docente em atendimento pedagógico domiciliar
Carga horária: 40 horas
Área temática: Educação e áreas afins Objetivo geral: Reconhecer, analisar e compreender as
Público-Alvo: Professores, pedagogos, gestores, estudantes ações pedagógicas desenvolvidas em contexto hospitalar
e a quem mais interessar. e domiciliar e sua legalidade de forma interativa,
experimentando metodologias diversificadas de ensino no
Justificativa: A proposta deste módulo é provocar as âmbito hospitalar.
discussões no campo do atendimento educacional
hospitalar e domiciliar, trazendo elementos de várias Objetivos específicos:
nuances para o palco, e centrando as discussões no 1) Compreender o histórico da educação hospitalar no
contexto da educação hospitalar. Sabemos que a construção Brasil e no Mundo.
teórica na área ainda está se construindo e consolidando, 2) Reconhecer a escolarização hospitalar e domiciliar
entretanto, buscamos trazer para este material os como um processo de Educação Inclusiva.
constructos que julgamos relevantes para o momento, e em 3) Identificar instrumentos legais do direito à educação e
função de uma escolha optamos por provocar a reflexão, dos direitos da criança e adolescente hospitalizado.
pensando nas múltiplas configurações do atendimento 4) Analisar métodos e estratégias de ensino -
educacional hospitalar e domiciliar que já ocorrem no país e aprendizagem que possam ser desenvolvidos em
estão por ora estruturadas. contexto escolar e hospitalar.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


6
5) Proporcionar a reflexão sobre o processo pedagógico
oferecido para crianças e adolescentes hospitalizados
e em tratamento de saúde.

Metodologia:

 Aula teórica.
 Estudo de textos e mapeamento conceitual.
 Realização de trabalho como forma de pesquisa ou
mapa conceitual.
 Discussão em fórum virtual.
 Reflexões a partir de vídeos e filmes.

Avaliação: Será realizada de forma contínua, através de


frequência e participação nas atividades escritas, produções
de trabalho e seminários. Observando o nível de coerência
com o conteúdo apresentado e capacidade critica discursiva
do cursista.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


7
Cronograma

DATA DE DATA DE INSTRUMENTO


ATIVIDADE VALOR
INÍCIO ENTREGA DE AVALIAÇÃO

Leitura
01/12/22 05/02/23
obrigatória

Aula síncrona 08/12/22 - 19h 08/12/22 - 21h Via Meet

Capítulo I 01/12/22 11/12/22 Resenha 0 - 100

Capítulo II 12/12/22 20/12/22 Fórum 0 - 100

RECESSO 20/12/22 15/01/23

Síntese do
Capítulo III 16/01/23 23/01/23 0 - 100
capítulo

Capítulo IV 24/01/23 31/01/23 Mapa mental 0 - 100

Diário de estudo
Revisão 01/02/23 05/02/23 0 - 100
e reflexão
Aula síncrona 01/02/23 - 18h 01/02/23 - 20h Via Meet

Autoavaliação Reflexões sobre o


01/02/23 05/02/23 0 - 100
ato de estudar

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


8
Sobre a autora
Itamara Peters

Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Letras, área de Estudos Linguísticos da


Universidade Federaldo Paraná (UFPR), Mestre em Letras (ProfLetras) - Universidade
Estadual do Norte do Paraná. Professora doquadro próprio do magistério - Secretaria
de Estado da Educação do Paraná - Núcleo R. de Educação Curitiba -Programa de
Atendimento a Rede de Escolarização Hospitalar. e profissional quadro próprio do
magistério daPrefeitura Municipal de Curitiba. Tem experiência na área de Letras, com
ênfase em Língua Portuguesa e LínguaInglesa na Educação Hospitalar.

Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8150056760038524

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


9
Introdução
Neste módulo iremos trabalhar com alguns elementos Damos continuidade aos estudos trabalhando
específicos do Atendimento Educacional em Ambiente o Direito das crianças e adolescentes hospitalizados
Hospitalar e Domiciliar, trataremos aqui de um breve histórico revisitando documentos publicados a respeito desse direito
dos atendimentos a nível mundial e nacional, para que, na e o modo como tais documentos defendem o direito à
sequência possamos compreender este espaço de atuação escolarização durante o tratamento de saúde. Faremos esse
docente e suas especificidades. Os capítulos deste módulo estudo para situar o contexto, tendo em vista que o aspecto
foram produzidos para dar uma noção global do objeto de legal será detalhado na sequência do curso.
estudo e caminhar progressivamente para a especificidade,
assim, cada capítulo refere-se inicialmente ao aspecto mais Trataremos da Educação Inclusiva discutindo o
amplo e vai progredindo para a especificidade do atendimento conceito e provocando a reflexão sobre a escolarização
educacional em ambiente hospitalar e domiciliar. Com relação hospitalar e domiciliar a partir de um conceito de Educação
aos conteúdos, o módulo está organizado unidades que estão Inclusiva que é apresentado resumidamente.
detalhando a abordagem teórica proposta e as discussões
realizadas neste campo de estudo e pesquisa. Na sequência, o foco do estudo é mais especifico
e direcionado ao contexto da Educação Hospitalar e
Começamos as nossas discussões abordando o Domiciliar, trataremos neste tópico dos aspectos da
contexto histórico mundial e passeando brevemente docência em ambiente hospitalar e domiciliar, que tipo de
pelos países da Europa e América em que o atendimento formação podemos defender? Que aspectos precisam ser
educacional hospitalar e domiciliar já está consolidado. Na focados? Que olhar precisa ter o professor no contexto de
sequência apresentamos um panorama nacional para situar tratamento da saúde? E quais as reflexões necessárias com
o campo de trabalho das discussões. Logo após o resumo relação ao contexto, a formação, a atuação e ao conteúdo a
do contexto histórico, iremos discutir quem organiza no ser trabalhado.
Brasil a Educação Hospitalar e Domiciliar, os objetivos da
escolarização hospitalar e as finalidades do atendimento, Em outra etapa, propomos uma reflexão sobre
tomando como base das discussões o texto do MEC, 2002 e a o sujeito em tratamento de saúde, quem é ele? O que
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. precisamos respeitar neste momento? Como olhar esse

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


10
sujeito? Com a intenção de provocar um olhar cuidadoso e um acompanhamento escolar durante os períodos de
humanizado, não do professor que despeja um conteúdo, afastamento. Além da continuidade dos processos de
mas do sujeito que reconhece a condição do seu educando e escolarização a educação hospitalar visa resgatar as
busca a partir disso possibilidades de pesquisa, de estudo, oportunidades de aprendizagem a crianças e jovens que
de descobertas, etc. se encontram em contexto diferenciado. Assim, pensar
na educação hospitalar e no rol de conteúdos que se tem
Finalizamos o estudo apresentando e discutindo para aprender na e sobre pedagogia hospitalar exige um
brevemente os registros do processo de escolarização recorte e é pensando neste recorte que priorizamos alguns
desenvolvido nos hospitais, clinicas, casas de apoio ou conteúdos que podem se constituir em instrumento técnico
domicílio enfatizando o caráter essencial de um registro na formação de professores para o contexto hospitalar /
bem feito, cuidadoso e claro. Para que seja instrumento domiciliar. Espero que esse recorte traga o encantamento e
da escola de origem e da família no acompanhamento do o desejo da descoberta desse universo rico e diverso que é
processo de aprendizagem desenvolvido durante o período a educação hospitalar.
de internação ou no atendimento domiciliar.
Para refletir:
Enfim, a intenção do módulo é provocar a reflexão do Pedagogia hospitalar – Educação hospitalar – Escola no
nosso papel docente no espaço de Atendimento Educacional hospital – Classe hospitalar – Escolarização hospitalar -
em Ambiente Hospitalar e Domiciliar. Relembrando a termos novos ou já familiares?
importância desse atendimento e discutindo as dimensões
que envolvem à docência em um contexto diferenciado.

Enfatizo que a escola, como oportunizadora de


atividades pedagógicas e educativas, tem como meta o
pleno desenvolvimento do educando; entretanto, constata-
se que alguns deles têm seu processo de escolarização
interrompido quando hospitalizados e, com isso, necessitam
do afastamento, temporário ou permanente, das atividades
escolares em curso. O que justifica a necessidade de

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


11
1
Contexto
histórico
Educação em Hospitais - O que é? De
onde vem? Por quê? Para quê? Como?
1.1 No Mundo atendimentos foi de responsabilidade de Marie – Louise
Imbert, uma professora de filosofia que já acompanhava
Os primeiros atendimentos educacionais registrados crianças em atendimento domiciliar e lidera o movimento
na história mundial são em caráter experimental, ou seja, de professores criando e coordenando as ações da
eram atendimentos educacionais em hospitais instalados associação. Em 1935, o número de atendimentos aumentou
nas capitais dos países e ocorreram: na Dinamarca (1875), significativamente, a Associação criou os primeiros cursos,
na Inglaterra (1913), na Áustria (1917), na Alemanha (1920) 2500 jovens se beneficiaram dos cursos; foram criadas
e França (1926). A partir desses primeiros atendimentos bibliotecas: e espaços de ensino. Entretanto, os custos
cada país organizou a sua legislação e seu sistema de das atividades desenvolvidas pela associação e seus
formação dos docentes para a demanda que se apresentava. professores, cobertos inicialmente por Marie-Louise Imbert
Os primeiros atendimentos ocorreram por meio de desde a criação da Associação exigiram apoio financeiro,
contratações de professores para atendimento em hospitais assim em 1937, A Assistência Pública Hospitalar de Paris
específicos, após a II Guerra mundial é que os atendimentos concede um subsídio à “École à L’Hôpital” e permitiu a
foram ampliados e cada país passa a criar a sua legislação instalação de sua atividade e sede em um pavilhão da
com relação a escolarização hospitalar 1. “Maternité de Port-Royal” (Hospital Materno).

A França nos chama a atenção, pois já em 1926 A associação “l’Ecole à l’Hôpital” trabalha há mais
contava com solicitações junto ao Ministério da Educação do de 90 anos na França para manter a escolaridade dos
país reivindicando legislação, ampliação e regulamentação alunos hospitalizados. Contando com o compromisso de
dos serviços de atendimento escolar hospitalar. Neste professores voluntários que dedicam algumas horas por
mesmo país, em 1929, a Associação Escolar Hospitalar2, semana aos jovens pacientes que podem continuar seu
foi primeira organização francesa autorizada a atender aprendizado, passar nos exames e voltar à escolaridade
sessenta (60) jovens em um hospital de Paris, três vezes que às vezes foi abandonada em virtude do tratamento de
na semana. A criação da associação e dos primeiros saúde.

1 Veja mais no texto: LA PEDAGOGIA HOSPITALARIA EN EUROPA: LA HISTORIA RECIENTE DE UN MOVIMIENTO PEDAGOGICO INNOVADOR
- Aquilino. Polaino-Lorente y O.Lizasoain, Universidad Complutense, Dpt. de Didáctica y Orientación. Universidad de Navarra. Disponível em: http://www.
psicothema.com/psicothema.asp?id=814
2 l’Association l’Ecole à l’Hôpital et obtient l’autorisation d’enseigner trois fois par semaine à l’hôpital Debrousse à 60 jeunes malades. L’Assistance
Publique-Hôpitaux de Paris soutient son action. Para saber mais pesquise: http://ecolealhopital-idf.org/qui-sommes-nous/notre-histoire/.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


13
Ainda na França, em 1935, o urbanista Henry Sellier se fortaleceu e ocorreu, em outubro de 1988, o primeiro
abre as portas para o atendimento educacional das Congresso Europeu de Educação e Ensino de Crianças
crianças e jovens em tratamento de saúde ao propor a Hospitalizadas, evento que deu origem a criação da Associação
criação de uma Escola ao ar livre para tratar de crianças Europeia dos Educadores Hospitalares3, dando força a uma
com tuberculose e doenças respiratórias. A Escola caminhada centrada na defesa do direito à educação das
instalada em Paris é a ampliação e a melhora de outros crianças e adolescentes em tratamento de saúde.
projetos desenvolvidos na Alemanha em 1904, e em Lyon
na França, 1906 que visavam melhorar a qualidade de vida No Continente Americano, o início dos atendimentos
e possibilitar os estudos dos sujeitos que apresentavam ocorreu somente após a segunda guerra mundial em
doenças respiratórias. A partir desse conceito de adaptação algumas regiões dos Estados Unidos e Canadá. Depois foi
do espaço e das atividades para que as crianças e jovens se expandindo para a América do Sul e América Central. Nos
fossem escolarizados, criam-se novas propostas de ensino e registros históricos há informações desses atendimentos na
buscam-se caminhos teóricos. Argentina (1946), com a formação de uma associação civil de
defesa dos direitos educativos da criança enferma, em 2004,
Após a segunda Guerra Mundial, os atendimentos a e luta pela organização de legislações especificas.
crianças e jovens vítimas da guerra em hospitais foi intenso
e a presença dos professores em especial na Europa, Em seguida, a Costa Rica estabeleceu os
contribuiu para a expansão dos atendimentos, a criação atendimentos na Escola Hospitalar de Crianças em São
de cursos para formação de professores, em especial na José. Dando sequência cronológica aos registros oficiais
França, e para a propagação do atendimento em outros teríamos Guatemala (1992), Chile (1995) com a publicação
países (Estados Unidos, Hungria, Itália, Bélgica, Espanha, da “Norma administrativa sobre “derechos del niño
entre outros). Foi um período de engajamento de vários hospitalizado”. De acordo com Bori (2010, p.20), desde
profissionais na construção de projetos e experiências 1960 há professores atendendo em hospitais com um foco
educacionais nas unidades hospitalares. vinculado ao conhecimento e realizando pesquisas neste
campo na Universidade do Chile4. Ainda de acordo com
No contexto europeu, a escolarização hospitalar Bori “os professores das escolas especiais participavam
3 Conheça mais seguindo o link: https://www.hospitalteachers.eu/who/about-us/about-us-s
4 En los años de 1960 ya existía en la Universidad de Chile un centro de profesores especialistas en deficiencia mental. Alrededor de la siguiente
década en los hospitales públicos se iniciaron trabajos de investigación clínica en trastornos específicos del aprendizaje, epilepsia, parálisis cerebral, etcétera.
En ese contexto es de resaltar que los profesores de cuatro escuelas especiales del país participaron activamente en las reuniones clínicas de los respectivos
Atendimentocentros hospitalarios.
Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
14
ativamente dos estudos e do acompanhamento das crianças Niterói (RJ) e se perpetua até a atualidade.
nos hospitais”, fato que evidencia os atendimentos antes da
implementação de legislação especifica. Os primeiros relatos sobre a área foram levantados
por Fonseca8 (1999) e datam de 1950, com o surgimento
Em outros países como o Peru, México, El Salvador, da primeira classe escolar em hospital brasileiro. Ainda
Venezuela e Colômbia os atendimentos e a elaboração de segundo Fonseca (1999, p.10), “o crescimento do número de
legislação são mais recentes coincidem com o movimento classes hospitalares coincide com o redimensionamento
Latino Americano e Caribenho5 de defesa dos direitos das do discurso social sobre a infância e à adolescência, que
crianças e adolescentes hospitalizados e em tratamento de culminou com a aprovação do Estatuto da Criança e do
saúde. Adolescente e seus desdobramentos posteriores” e, com a
clareza dos direitos de acesso à educação para todos, que
1.2 No Brasil promove uma série de debates, discussões e divulgação
de informações sobre o direito a educação da criança em
Se na França o histórico é bem claro com relação tratamento de saúde.
a datas e feitos importantes, no Brasil temos algumas
contradições. Há uma linha de estudo que defende que Porém, é somente a partir da década de 90 que
os primeiros atendimentos de educação em hospitais os movimentos em defesa das classes hospitalares se
aconteceram com a Educação Especial. Porém, o único estabelecem. O fortalecimento do debate e das lutas pelos
atendimento que se volta para a escolarização das crianças direitos das crianças e adolescentes a educação faz com que
se organiza em 1950, no Hospital6 Municipal Jesus7, em tanto a iniciativa privada quanto a pública passem a pensar

5 Saiba mais em: http://www.redlaceh.org/

6 Conheça o Hospital Municipal Jesus. https://www.youtube.com/watch?v=W4n4Jxae3C8.


7 Leia mais em: Ramos, Maria Alice de Moura. A História da Classe Hospitalar. 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/cp040654.PDF.
8 Eneida Simões da Fonseca Professora do Departamento de Estudos da Educação Inclusiva e Continuada da Faculdade de Educação da UERJ,
possui graduação em Pedagogia (UERJ,1983). É especialista em Estimulação Essencial ao Desenvolvimento (UFRJ, 1984), mestre em Distúrbios emocionais
/comportamento em sala de aula (Noruega, 1989) e PhD em Desenvolvimento e Educação de Crianças Hospitalizadas (Institute of Education - University of
London/Inglaterra, 1995). Foi professora de alunos de Educação Infantil (entre 1983 e 2007) na Escola do Hospital Municipal Jesus (SME-RJ) de onde se
aposentou em 2008. É membro da Rede Latino Americana e do Caribe pelo Direito à Educação de Crianças e Jovens Hospitalizados ou Impossibilitados de
AtendimentoFrequentar Escola
Educacional em porHospitalar
Ambiente Motivos de Doença
e Domiciliar (REDLACEH)
- Itamara Peters com sede no Chile e da Organização Europeia de Pedagogos em Hospitais (HOPE).
15
no atendimento das crianças em tratamento de saúde como orientador do Ministério da Educação, publicado em
afirma Paula: 2002, que embora aponte caminhos para organização dos
atendimentos educacionais hospitalares e domiciliares não
As escolas nos hospitais no Brasil tem o caráter de normativa ou de diretriz operacional, o
estão inseridas nos movimentos que fragiliza a garantia do direito ao deixar em aberto a
internacionais em defesa das crianças possibilidade de oferta dos atendimentos.
e adolescentes. Entretanto, embora
existam legislações voltadas para a 1.3 Quem organiza a educação nos hospitais brasileiros?
proteção desses cidadãos, durante
décadas, eles foram tratados pela
cultura da indiferença, herança das
políticas públicas marcadas pelo
descompromisso com as minorias.
(PAULA, 2010, p. 01).

A defesa do direito à educação das crianças e jovens


hospitalizados vem marcada pelas pressões de documentos
internacionais e de normativas que o próprio governo
Fonte: Google imagem (2022).
assume, mas a grande dificuldade ainda é a implementação
das leis, ou seja, estar no texto legal é diferente de se A organização da educação hospitalar é uma
concretizar como direito. Há ainda a necessidade de que responsabilidade de Estados e Municípios, como prevê o
haja diretrizes claras para implementação, regulação documento “Classe hospitalar e atendimento pedagógico
e acompanhamento das atividades educacionais, domiciliar estratégias e orientações” proposto pelo
visando garantir o direito à educação e o direito ao Ministério da Educação – MEC em 2002, que visava orientar o
acompanhamento das atividades escolares e curriculares. processo de implementação dos atendimentos escolares em
hospitais e domicílios.
Na sequência do texto discutiremos o documento

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


16
O atendimento educacional hospitalar educacional, durante o período de
e o atendimento pedagógico domiciliar internação, ao aluno da educação
devem estar vinculados aos sistemas de básica internado para tratamento
educação como uma unidade de trabalho de saúde em regime hospitalar ou
pedagógico das Secretarias Estaduais, domiciliar por tempo prolongado,
do Distrito Federal e Municipais de conforme dispuser o Poder Público
Educação, como também às direções em regulamento, na esfera de sua
clínicas dos sistemas e serviços de competência federativa. (BRASIL, LEI Nº
saúde em que se localizam. Compete 13.716, 2018).
às Secretarias de Educação, atender à
solicitação dos hospitais para o serviço O documento de 2002, relata o que deve ser
de atendimento pedagógico hospitalar e feito, mas sem dizer o modo como deve ser organizado
domiciliar, a contratação e capacitação o processo, ele é até o momento em termos federais o
dos professores, a provisão de recursos único documento a mencionar e tratar especificamente
financeiros e materiais para os referidos da educação hospitalar, orientando a organização do
atendimentos. (BRASIL, 2002, p.16). atendimento, que deve ser assumida pelos órgãos gestores
da educação em nível estadual e municipal.
Mesmo com o documento do MEC, a implementação
não ocorreu de fato em todos os estados, o documento Assim, as classes hospitalares, o atendimento
ficou como um instrumento orientador sem o caráter de escolar hospitalar e o atendimento educacional domiciliar
legislação na área. Legislação esta que veio pulverizada em estão sob responsabilidade das Secretarias de Educação dos
outros documentos e compreendida a partir da legislação Estados e Municípios vinculados aos seus departamentos
mais ampla, sendo definida somente em 2018, no texto da de Educação Básica ou Educação Especial, ou seja, cada
Lei nº 13.716, de 24 de setembro de 2018, que altera a Lei de instituição organiza o serviço do modo como julga ser o
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 mais adequado.
de dezembro de 1996) para garantir o direito à educação do
estudante da educação básica em tratamento de saúde. De acordo com o documento (BRASIL, MEC,2002, p. 16),
“compete às Secretarias de Educação, atender à solicitação dos
Art. 4º-A. É assegurado atendimento hospitais para o serviço de atendimento pedagógico hospitalar
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
17
e domiciliar, a contratação e capacitação dos professores, a adultos, o cumprimento do princípio da universalização e do
provisão de recursos financeiros e materiais para os referidos acesso à educação, bem como os preceitos constitucionais
atendimentos”. Assim, os estados e municípios deveriam da educação como direito social e dever do Estado. Visa
assumir a organização das classes e dos atendimentos atender os educandos em seu direito de estudante, e dar
hospitalares e domiciliares. Porém, há muitos entraves nesse continuidade ao seu processo educacional de forma singular
processo e a organização da educação hospitalar ainda e diferenciada.
depende muitas vezes de projetos que não se concretizam
como políticas públicas de garantia do direito à educação. De acordo com o documento orientador, MEC (2002),
cabe ao atendimento educacional hospitalar e domiciliar
1.4 Objetivos da Educação Hospitalar criar estratégias e buscar recursos para a construção do
conhecimento e de avanços no processo de escolarização,
ou seja, a educação inserida nos contextos de tratamento
de saúde visa acompanhar o processo pedagógico,
criando mecanismos de continuidade dos estudos e
desenvolvimento de habilidades intelectuais, cognitivas,
emocionais, entre outras necessárias aos sujeitos por ela
atendidos.
Fonte: Google imagem (2022).
Cumpre às classes hospitalares9 e ao
A educação em ambiente de tratamento da atendimento pedagógico domiciliar 10
saúde, tem como foco principal a continuidade do elaborar estratégias e orientações
processo educativo formal, em ambiente diferenciado, para possibilitar o acompanhamento
especificamente o ambiente hospitalar e domiciliar. Tem o pedagógico-educacional do processo
objetivo de assegurar às crianças, adolescentes, jovens e de desenvolvimento e construção
9 Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de
internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à
saúde mental.

10 Atendimento pedagógico domiciliar é o atendimento educacional que ocorre em ambiente domiciliar, decorrente de problema de saúde que
impossibilite o educando de frequentar a escola ou esteja ele em casas de passagem, casas de apoio, casas-lar e/ou outras estruturas de apoio da sociedade.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


18
do conhecimento de crianças, jovens preocupação com aspecto humano e humanizado do
e adultos matriculados ou não nos processo educacional, ou seja, a educação hospitalar é um
sistemas de ensino regular, no âmbito processo completamente situado no contexto e no tempo
da educação básica e que encontram-se de interação dos sujeitos, ela atende as necessidades do
impossibilitados de frequentar escola, sujeito em seu momento de hospitalização e escolarização,
temporária ou permanentemente e, conectando esse universo, o da escola de origem e o
garantir a manutenção do vínculo hospital ou o tempo de tratamento da saúde.
com as escolas por meio de um
currículo flexibilizado e/ou adaptado, Dessa forma, o objetivo da educação hospitalar/
favorecendo seu ingresso, retorno ou domiciliar se traduz no encontro com o conhecimento que
adequada integração ao seu grupo pode ser flexibilizado, adaptado, ressignificado, reconstruído
escolar correspondente, como parte e até recortado para fazer sentido diante da realidade
do direito de atenção integral. (BRASIL, imposta.
MEC, 2002, p.14).
A educação hospitalar teria diante da realidade do
O documento do MEC, apresenta o que se espera da tratamento de saúde objetivos múltiplos, mas vale elencar
educação no atendimento ao estudante impossibilitado de alguns que vem sendo ressaltados por estudiosos da área e
frequentar a escola em virtude do tratamento de saúde. estão inseridos em programas de escolarização hospitalar
Evidenciando assim, o caráter acadêmico que se deseja já instituídos nos diferentes estados da federação. Entre os
desta “escola” (o atendimento educacional hospitalar e objetivos principais teríamos os de:
domiciliar não se dá especificamente em uma escola, mas
em espaços múltiplos) em contexto diferenciado.  Impedir a interrupção do processo de aprendizagem;
 Contribuir para reduzir o impacto da hospitalização
Entretanto, a educação hospitalar deve considerar ao trazer o contato com a vida cotidiana;
que a aprendizagem é processo contínuo e singular, para  Fazer a conexão entre educação e saúde;
Covic e Oliveira (2011, p.89) “a escola hospitalar tem um  Contribuir para a recuperação, ao possibilitar a
caráter de ser, não se projeta para frente, mas para o concentração em outro foco, o das atividades
ato presente”, enfatizando os objetivos imediatos e a educacionais;

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


19
 Dar continuidade ao desenvolvimento acadêmico; Em termos mundiais o acompanhamento escolar em
 Possibilitar o retorno a rotina escolar, pós domicilio também é um processo em plena construção. Há
tratamento, sem prejuízo na escolarização; muitos países organizados e com legislação já solidificada
 Promover condições adequadas de desenvolvimento como é o caso de França, Alemanha, Espanha, Portugal,
intelectual e cognitivo; Argentina, Chile entre outros e há casos como o Brasil
 Proporcionar um espaço de escuta e manifestação em que a legislação prevê o processo de atendimento
do sujeito por meio do conhecimento; educacional a criança afastada da escola por questões de
 Abrir espaço para explorar, ampliar e diversificar saúde, mas que não estabelece um formato definido.
as possibilidades de aprendizagem para além dos
muros da escola regular; Estados e municípios se organizam de acordo com
 Potencializar estratégias educativas diversificadas suas possibilidades e capacidades, tomando como base o
que atendam às necessidades de aprendizagem de documento, Classe hospitalar e atendimento pedagógico
cada sujeito. domiciliar: estratégias e orientações, publicado pelo
Ministério da Educação e Cultura – MEC, em 2002.
Assim, os objetivos se correlacionam ao propiciar
a aquisição do conhecimento, o acesso ao currículo O documento ressalta a importância do
formal, o desenvolvimento cognitivo e também promover acompanhamento escolar tendo em vista que:
a compreensão do que acontece com o sujeito no espaço
hospitalar numa situação de tratamento da saúde. Na impossibilidade de frequência
à escola, durante o período sob
1.5 Contexto brasileiro: o atendimento pedagógico tratamento de saúde ou de assistência
domiciliar psicossocial, as pessoas necessitam
de formas alternativas de organização
Se a história do atendimento educacional hospitalar já é e oferta de ensino de modo a cumprir
indefinida, a história do atendimento educacional em domicilio com os direitos à educação e à
é mais complexa ainda. Seu início coincide com o histórico das saúde, tal como definidos na Lei e
classes hospitalares e os atendimentos estão na maioria das demandados pelo direito à vida em
vezes vinculados as ações da Educação Especial e Inclusiva. sociedade. (BRASIL, 2002, p. 11).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


20
Dessa forma, o documento aponta para a busca de é compreendido a partir do documento como sendo
alternativas ao processo de escolarização em razão do aquele que está impedido de estar na escola em razão do
afastamento para tratamento de saúde. Entendendo essas tratamento como afirma o texto.
formas alternativas cabem aos estados e municípios e cada
nível educativo organiza os processos de atendimento O alunado do atendimento pedagógico
educacional a sua maneira, criando assim uma gama de domiciliar compõe-se por aqueles
modelos, formas de atendimento e regulamentação, tanto alunos matriculados nos sistemas
para concessão do direito de ter o acompanhamento de ensino, cuja condição clínica ou
pedagógico como para a organização desse processo de exigência de atenção integral à saúde,
atendimento. Além de abrir a busca de alternativas para o considerados os aspectos psicossociais,
ensino o texto do MEC (2002), enfatiza que: interfiram na permanência escolar
ou nas condições de construção
Atendimento pedagógico domiciliar é do conhecimento, impedindo
o atendimento educacional que ocorre temporariamente a frequência escolar.
em ambiente domiciliar, decorrente de (BRASIL, 2002, p. 16).
problema de saúde que impossibilite
o educando de frequentar a escola Assim, na definição do público alvo do atendimento
ou esteja ele em casas de passagem, pedagógico domiciliar, há a premissa de que haja um
casas de apoio, casas-lar e/ou outras vínculo com a escola de origem e que este estudante esteja
estruturas de apoio da sociedade. matriculado no sistema de ensino da Educação Básica,
(BRASIL, 2002, p. 13). independente do nível de escolaridade e da modalidade de
ensino.
Ou seja, o atendimento educacional domiciliar ou
apoio pedagógico domiciliar é um acompanhamento escolar Segundo Salla (2017):
que se dá na residência da criança ou adolescente, em
período de recuperação ou tratamento de saúde. A Pedagogia Hospitalar e o Atendimento
Domiciliar são unidos pelo público
O público alvo do atendimento pedagógico domiciliar alvo e diferenciados pelo local do

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


21
atendimento. A Pedagogia Hospitalar do estudante e as singularidades do mesmo, não se pode
acontece no ambiente de internação, esquecer que ele está acamado, debilitado e em uma
em salas adaptadas ou nos leitos dos situação de fragilidade física e emocional.
pacientes. Já o APD11 está inserido
na Pedagogia Hospitalar, mas se Neste sentido retomamos e reiteramos a necessidade
caracteriza por acontecer no ambiente dos conhecimentos teóricos que envolvem a educação como
domiciliar do paciente. Geralmente um todo, acrescida dos conhecimentos que envolvem o
este é acometido de uma doença que processo de ensino em educação hospitalar, ou seja, discutir
o impossibilita de frequentar a escola, o modo como a aprendizagem se dá face a doença e ao
mas o possibilita estar no aconchego tratamento de saúde é conhecimento necessário também no
do lar, com o acompanhamento da atendimento educacional domiciliar, pois o professor estará
equipe médica. (SALLA, 2017, p. 48). atuando com esse sujeito que sofre as interferências do
tratamento.
Dessa forma, compreende-se que os aspectos
pedagógicos e as necessidades de organização, adequação
e adaptação das atividades para o atendimento educacional
em domicilio são semelhantes às do atendimento
educacional em ambiente hospitalar. E que cabe neste
caso o respeito ao aspecto contextual, suas nuances e
complexidades.

Compreende-se que embora o atendimento


educacional domiciliar esteja vinculado diretamente com a
escola em que o estudante está matriculado, este processo
de escolarização não é o mesmo da escola regular, há
uma grande necessidade de adaptação e reorganização
dos conteúdos que devem estar relacionados ao contexto

11 APD- Atendimento Pedagógico Domiciliar.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


22
1.6 O direito à educação dos sujeitos em tratamento de
saúde

Fonte: Jornal, https://starofmysore.com.

No Brasil, a educação Hospitalar enquanto direito


é ainda elemento de discussão. Estamos em processo
de organização dos atendimentos e da legislação sobre
a escolarização hospitalar e domiciliar. Entretanto, os
atendimentos vêm sendo pautados na legislação nacional
e nas cartas internacionais dos direitos da criança
hospitalizada.

No âmbito da legislação internacional teremos A


Carta da Criança Hospitalizada12, publica em 1988, na Europa,
instrumento que resume e reafirma os direitos da criança
hospitalizada.

Fonte: Instituto de Apoio a Criança (2022).


12 Leia o documento: Carta da Criança Hospitalizada. Disponível em: https://www.pipop.info/wp-content/uploads/2018/08/mceesip_carta_crianca_
hospitalizada.pdf.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


23
Dentre os direitos relatados está o direito às No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria13 – SBP,
atividades escolares, conforme o texto de tradução enviou ao Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da
portuguesa, cuja redação ressalta que as crianças: “Devem Criança e do Adolescente, em 1995, um documento com vinte
ficar reunidas por grupos etários para se beneficiarem de itens que visava orientar os procedimentos profissionais em
jogos, recreios e actividades educativas adaptadas à idade, relação a crianças e adolescentes. O documento foi votado
com toda a segurança”, (EACH, 1988 – grifo da autora). e aprovado, dando origem a resolução de nº 41, de 17 de
Enfatizando a necessidade de organização dos espaços, de outubro de 1995, que indica os procedimentos com relação
adaptação dos materiais e da implementação de propostas ao período de hospitalização das crianças e adolescentes.
educativas adequadas a cada etapa de desenvolvimento.
O documento trata dos direitos em vários aspectos,
Em outro trecho o documento europeu, trata da remete-se a direitos humanos essenciais, a direitos
questão do espaço adequado, dos atendimentos necessários estabelecidos no Estatuto da criança e do adolescente e
e do preparo dos profissionais para o atendimento a criança amplia outros direitos com relação ao cuidado, a medicação,
hospitalizada. “O Hospital deve oferecer às crianças um o acompanhamento adequado entre outros. A carta dos
ambiente que corresponda às suas necessidades físicas, Direitos da criança / adolescente hospitalizado apresenta
afectivas e educativas, quer no aspecto do equipamento, um conjunto de direitos e cuidados com as crianças. A saber:
quer no do pessoal e da segurança.” (EACH, 1988). Deixando
claro no texto a indispensabilidade da continuidade do DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
processo educativo e a necessidade do espaço para as HOSPITALIZADOS
atividades educativas, culturais e recreativas.
1. Direito à proteção à vida e à saúde, com
Além dos direitos já mencionados, a carta aponta absoluta prioridade e sem qualquer forma de
ainda diretrizes para os cuidados com crianças e discriminação.
adolescentes em tratamento de saúde, indicando as linhas 2. Direito a ser hospitalizado quando for
norteadoras do atendimento durante a hospitalização de necessário ao seu tratamento, sem distinção de
uma criança/adolescente. classe social, condição econômica, raça ou crença
religiosa.

13 Para saber mais acesse: Sociedade Brasileira de Pediatria. https://www.sbp.com.br/.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


24
3. Direito a não ser ou permanecer hospitalizado consentimento informado de seus pais ou
desnecessariamente por qualquer razão alheia ao responsáveis e o seu próprio, quando tiver
melhor tratamento de sua enfermidade. discernimento para tal.
4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai 13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos
ou responsável, durante todo o período de sua disponíveis para a sua cura, reabilitação e ou
hospitalização, bem como receber visitas. prevenção secundária e terciária.
5. Direito a não ser separado de sua mãe ao nascer. 14. Direito a proteção contra qualquer forma de
6. Direito a receber aleitamento materno sem discriminação, negligência ou maus tratos.
restrições. 15. Direito ao respeito a sua integridade física,
7. Direito a não sentir dor, quando existam meios psíquica e moral.
para evitá-la. 16. Direito a preservação de sua imagem,
8. Direito a ter conhecimento adequado de identidade, autonomia de valores, dos espaços e
sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e objetos pessoais.
diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, 17. Direito a não ser utilizado pelos meios de
respeitando sua fase cognitiva, além de receber comunicação, sem a expressa vontade de seus
amparo psicológico, quando se fizer necessário. pais ou responsáveis, ou a sua própria vontade,
9. Direito a desfrutar de alguma forma de resguardando-se a ética.
recreação, programas de educação para a saúde, 18. Direito a confidência dos seus dados clínicos,
acompanhamento do currículo escolar, durante sua bem como direito a tomar conhecimento dos
permanência hospitalar. dados arquivados na instituição, pelo prazo
10. Direito a que seus pais ou responsáveis estipulado em lei.
participem ativamente do seu prognóstico, 19. Direito a ter seus direitos constitucionais e os
tratamento e prognóstico, recebendo informações contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
sobre os procedimentos a que será submetido. respeitados pelos hospitais integralmente.
11. Direito a receber apoio espiritual e religioso 20. Direito a ter uma morte digna, junto a seus
conforme prática de sua família. familiares, quando esgotados todos os recursos
12. Direito a não ser objeto de ensaio clínico, terapêuticos disponíveis. (CONANDA, 1995,
provas diagnósticas e terapêuticas, sem o RESOLUÇÃO 41).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


25
Consideramos todo o texto da Resolução importante,
entretanto, o que nos chama a atenção, é o que aponta
a importância do professor no contexto hospitalar e de
tratamento de saúde, artigo 9º, que em sua redação trata
especificamente do acesso ao conhecimento no espaço de
tratamento da saúde, mencionando claramente o direito à
educação e reafirmando o direito da criança/adolescente
de “desfrutar de alguma forma de recreação, programas
de educação para a saúde, acompanhamento do currículo
escolar, durante sua permanência hospitalar.” (CONANDA,
1995, RESOLUÇÃO 41). Ou seja, se há o reconhecimento
do direito, é necessário ter professores que façam esse
acompanhamento ao currículo, elaborem e gerenciem os
programas de educação nos espaços de tratamento da
saúde. Fonte: Red Latinoamericana y del Caribe14.

Na sequência, a Rede Latino-americana e do Caribe No texto da REDLACEH, são mencionados os direitos


– REDLACEH, lança em 2009, no Rio de Janeiro, a Carta dos de atendimento escolar, de acompanhamento do currículo,
Direitos da Criança e Jovem Hospitalizado à Educação, de informação aos pais dos direitos de continuidade
trazendo neste texto instrumentos legais de defesa do dos estudos e do amparo legal, bem como os direitos
acesso as atividades escolares durante o tratamento de de reconhecimento e aproveitamento dos estudos
saúde. desenvolvidos durante o período de tratamento da saúde.

Para garantir que os atendimentos se efetivem o


documento prevê ainda um conjunto de ações que envolvem
docentes hospitalares, professores das escolas de origem,
14 Conheça o site: Red Latinoamericana y del Caribe: Por el Derecho a la Educación de Niños, Niñas y Jóvenes Hospitalizados o en Situación de
Enfermedad. http://www.redlaceh.org/index.php.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


26
equipes escolares, equipes de saúde, famílias e gestores Ao analisar os aspectos legais do atendimento
como defensores e apoiadores dos direitos educacionais das educacional domiciliar, observamos que não é nenhuma
crianças e adolescentes hospitalizados e em tratamento de surpresa de que haja o direito à educação, entretanto,
saúde. ter uma legislação que ampare esse direito não garante
políticas públicas adequadas ao apoio pedagógico
Cabe ressaltar que os estudos sobre o direito à domiciliar.
educação das crianças / adolescentes, jovens e adultos em
tratamento de saúde será detalhado em outros módulos, Traçando uma linha do tempo, já em 196916, o decreto
mas se fez necessário neste momento chamar a atenção lei que trata dos alunos portadores das afecções indica
de aspectos legais para que possamos compreender o que: a educação é direito, pressupõe que haja avaliação da
campo de estudo em questão e seguir nas reflexões sobre a frequência e que a legislação admite, o regime excepcional
temática discutida. de classes especiais, o da equivalência de cursos e estudos,
bem como o da educação peculiar dos excepcionais; ou
1.6.1 Amparo legal da educação ao estudante em tratamento seja, há uma observação sobre o processo de ensino para
de saúde que se encontra em domicilio haja uma adaptação e uma organização das aulas e do
sistema para acolher estes estudantes. Embora mencione
a exigência de exercícios e não do professor o texto da
lei enfatiza no Art. 2º que a escola deve: “Atribuir a esses
estudantes, como compensação da ausência às aulas,
exercício domiciliares com acompanhamento da escola,
sempre que compatíveis com o seu estado de saúde e as
possibilidades do estabelecimento”.

Fonte15: https://www.pirai.rj.gov.br/materias/item/577. Em 197517, o direito de atendimento domiciliar por

15 Imagem disponível em: https://www.pirai.rj.gov.br/materias/item/577-comecou-a-semana-de-direito-a-educacao-inclusiva.

16 DECRETO-LEI Nº. 1.044, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1044.htm.

17 LEI, Nº. 6.202, DE 17 DE ABRIL DE 1975. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6202.htm.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


27
meio de exercícios é ampliado. Neste caso quem passa a ser a publicação da Constituição Federal (1988), expressa em
incluído na lei são as mães estudantes. O texto prevê que seu artigo 205 que a educação é direitos de todos e dever
as mulheres a partir do oitavo mês de gestação e pós-parto do Estado e da família, enfatizando ainda que o ensino é
sejam acompanhadas com exercícios e tarefas domiciliares, obrigatório, deve ser oferecido pelo poder público e cabe
mediante apresentação de atestado médico. também a ele o desenvolvimento de ações integradas para
promover a universalização e o acesso ao atendimento
Logo na sequência a Lei nº. 6.50318, de 13 de escolar.
dezembro de 1977, garantiu a educação física facultativa aos
estudantes em tratamento de saúde e a públicos específicos Com a publicação da Resolução Nº 02 (2001), o
delimitados por condições físicas e faixa etária. Conselho Nacional de Educação – CNE e a Câmara de
Educação Básica – CEB, instituíram as Diretrizes Nacionais
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para a Educação Especial na Educação Básica e com ela
Nacional – LDB19, apresentou o direito à educação como apontaram que:
direito de todos, e ao delimitar níveis e modalidades de
ensino abordou na Educação Especial, o artigo 58, § 2º que: Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante
“o atendimento educacional será feito em classes, escolas ação integrada com os sistemas de
ou serviços especializados, sempre que, em função das saúde, devem organizar o atendimento
condições específicas dos alunos, não for possível a sua educacional especializado a alunos
integração nas classes comuns de ensino regular”. Trazendo impossibilitados de frequentar as aulas
nesta redação uma brecha que permite incluir os estudantes em razão de tratamento de saúde
em tratamento de saúde nesta condição especifica que não que implique internação hospitalar,
permite a frequência na escola regular, cabendo assim o atendimento ambulatorial ou
atendimento especializado também a estes estudantes. permanência prolongada em domicílio.
§ 1o As classes hospitalares e o atendimento
Mais tarde, em 198820, a lei é revista e ampliada em ambiente domiciliar devem
incluído também as mulheres mães. Ainda neste mesmo ano dar continuidade ao processo de
18 Lei Nº 6.503, de 13 de dezembro de 1977. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6503.htm.
19 Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.
20 Lei Nº 7.692, de 20 de dezembro de 1988. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7692.htm.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


28
desenvolvimento e ao processo de orientações, documento já mencionado que visa apontar
aprendizagem de alunos matriculados estratégias de organização para a implementação de
em escolas da Educação Básica, serviços de atendimento educacional a estudantes em
contribuindo para seu retorno e tratamento de saúde, por meio de classes hospitalares e do
reintegração ao grupo escolar, e atendimento pedagógico domiciliar.
desenvolver currículo flexibilizado
com crianças, jovens e adultos não Com a Política Nacional de Educação Especial na
matriculados no sistema educacional Perspectiva da Educação Inclusiva21 (2008), há o reforço do
local, facilitando seu posterior acesso à conceito de inclusão e da necessidade de acompanhamento
escola regular. pedagógico dos estudantes, mediante ação conjunta
§ 2o Nos casos de que trata este Artigo, entre os profissionais da escola regular e os professores
a certificação de frequência deve especializados. Ressaltando o papel do professor no
ser realizada com base no relatório processo de inclusão e no desenvolvimento de programas
elaborado pelo professor especializado de apoio que minimizem as perdas causadas pela ausência
que atende o aluno. (BRASIL, CNE/CEB, da escola.
2001, art. 13).
Observando o texto legal entendemos que os
Enfatizando assim, o dever de estados e municípios estudantes afastados da escola em função de tratamento
de organizar os seus sistemas de ensino para que garantam de saúde, seja este físico ou mental, tem respaldo legal para
o atendimento especializado aos estudantes que se dar continuidade a seus estudos em ambiente domiciliar.
encontram em tratamento de saúde e em razão deste não Entretanto, a legislação menciona que esse atendimento se
podem frequentar as aulas em suas escolas de matricula, dê quando o afastamento for por longos períodos, porém
seja ela regular ou espacial. o que se considera um longo período de afastamento em
termos de conhecimento e aprendizagem? Em virtude desta
Um ano a mais, 2002, o Ministério da Educação brecha legal, cada ente federado organiza o atendimento
e Cultura – MEC, lança o documento Classe hospitalar pedagógico domiciliar como lhe convém e do modo que o
e atendimento pedagógico domiciliar: Estratégias e seu sistema de ensino comporta esse atendimento.

21 Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


29
No Estado do Paraná por exemplo, os atendimentos equivale no Brasil a Educação Infantil, Ensino Fundamental
domiciliares ocorrem desde 1999, se tornam mais efetivos a e Ensino Médio. Porém, as escolas hospitalares argentinas
partir de 2007 com a implantação do Serviço de Atendimento já estavam em atendimento desde 1946, tiveram seu auge
a Rede de Escolarização Hospitalar – SAREH, e ganham em no início dos anos 70 quando o país possuía uma escola
2017, uma instrução normativa22 que regulamenta e dita as em cada hospital, a partir da ditadura (1976-1983) houve o
regras do atendimento domiciliar, neste documento constam fechamento das escolas hospitalares e domiciliares que
aspectos relacionados a legislação, a definição do que é o só retomaram seus serviços a partir de 1989 com duas
atendimento, a quem se destina e como o direito se garante, escolas segundo Álvarez24 (2014). Atualmente as Escolas
o aspecto da contratação e vinculação dos professores, os Hospitalares e Domiciliares da Argentina contam com um
procedimentos necessários para que se faça o atendimento, aporte legal bem definido, e apresentam-se como modelos
enfatizando a orientação médica e o laudo de afastamento educativos inovadores ao levar aos domicílios laboratórios
das atividades escolares. E por fim, tratando da organização móveis, tecnologia inclusiva e uma proposta de ensino
do próprio sistema de educação para que o direito à completamente distinta e aberta que faz a interface com
educação dos adolescentes e crianças seja garantido. o currículo, mas pauta-se principalmente na pesquisa e na
descoberta como ferramentas do conhecimento.
Outro modelo de atendimento educacional domiciliar
organizado e estruturado vem da vizinha Argentina. Lá são No Brasil, em virtude das grandes dimensões e
criadas Escolas Hospitalares e domiciliares, chamadas de da variedade dos sistemas educativos o atendimento
Institutos23 que se responsabilizam pelo atendimento seja educacional domiciliar esbarra nas mesmas dificuldades da
ele no hospital ou em domicilio. A legislação regulamenta os educação hospitalar, ainda está em fase de implementação,
serviços escolares hospitalares e domiciliares desde 2006 embora seja direito não está concretizado em todos os
e envolve os níveis iniciais, primários e secundários o que estados e sua organização é lenta, gradual e depende dos

22 INSTRUÇÃO Nº 09/2017-SUED/SEED. Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/instrucoes2017/instrucao092017sued_seed.


pdf.
23 Saiba mais sobre os Institutos. http://www.edusalta.gov.ar/index.php/informacion/partes-de-prensa/3363-el-instituto-especial-n-7215-de-atencion-
domiciliaria-y-hospitalaria-de-salta-recibira-el-lunes-el-premio-maestros-argentinos-2017.
http://host195.200-45-224.telecom.net.ar/index.php/informacion/partes-de-prensa/7177-educacion-domiciliaria-y-hospitalaria-la-oportunidad-de-seguir-
creciendo.
24 La educación hospitalaria en Argentina: entre la supervivencia y compromiso social. Antonio García Álvarez. In. Foro de Educación, v. 12, n. 16,
enero-junio 2014, pp. 123-139. 123, ISSN: 1698-7799 // ISSN (on-line): 1698-7802.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


30
sistemas de ensino, bem como de produção do aporte
teórico e técnico que referencie e respalde as propostas.
Pois, somente o documento orientador do MEC e a inserção
em legislação educacional não foram suficientes para
garantir a efetivação de políticas públicas para essa
condição.

Reflexão e pesquisa:
A partir de quanto tempo de afastamento poderíamos
definir que há a necessidade do atendimento educacional
domiciliar? Como estados e municípios se organizam com
relação ao tempo de afastamento para o apoio pedagógico
domiciliar? Como funciona o Atendimento Pedagógico
Domiciliar em teu município e estado?

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


31
2
1. EDUCAÇÃO INCLUSIVA Educação
Fonte: Deposit photos
inclusiva
Refletindo: O que é inclusão? Por que pensar a educação dos estudantes em tratamento de saúde por um viés inclusivo?

O que é inclusão? Por que pensar a


educação dos estudantes em tratamento
de saúde por um viés inclusivo?
No Brasil o conceito de educação inclusiva é recente houve um fortalecimento dos movimentos em prol da
e não está totalmente consolidado. Historicamente há educação especial que promoveram também um repensar
grande preocupação com a Educação Especial, mas num viés do processo e um avanço. Tal avanço se deu inicialmente
institucional inicialmente. Foi através da criação de espaços com o texto Constitucional de 1988, que aponta para o
específicos que essa modalidade se constitui. independente papel do estado como responsável em “promover o bem de
dos processos e dos sistemas de educação básica, todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
funcionando de modo paralelo. Desde muito tempo há uma quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3º, inciso
preocupação que fica evidente na criação de espaços e IV). Evidenciando assim, um novo olhar sobre os sujeitos.
legislação tais como: Ainda no texto constitucional o artigo 206, inciso I prevê,
a “igualdade de condições de acesso e permanência na
 1854 – Criação Instituto Imperial dos Meninos Cegos escola” como um dos princípios para o ensino e aponta o
(Instituto Benjamin Constant); dever do Estado nesse processo. Enfatizando o direito à
 1874 - Inicia-se na Bahia o tratamento de pessoas com educação, e a abertura para outro processo de escolarização
deficiências mentais; diferente do exclusivamente institucionalizado.
 1957 - Criação do Instituto Nacional de Educação de
Surdos - INES; Outro marco importante nesse processo é a Lei 7.853
 1961 – Lei que menciona o Direito à Educação; de 1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
 Lei 4.024/1961: Antiga Lei de Diretrizes e Bases da de deficiência e sua integração social; cria a Coordenadoria
Educação Nacional previa o direito dos “excepcionais” Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
à educação; Deficiência – CORDE; e aponta as responsabilidades na área
 1973 - Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) educacional.
é criado pelo MEC;
I - Na área da educação:
Entretanto, criar espaços distintos para a Educação a) a inclusão, no sistema educacional,
Especial e legislar sobre ela não resolveu totalmente da Educação Especial como modalidade
os problemas de aprendizagem, de convivência, de educativa que abranja a educação
relacionamento e de inserção social. Foi necessário precoce, a pré-escolar, as de 1º e
fortalecer e exigir o direito à educação. Desse modo, 2º graus, a supletiva, a habilitação

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


33
e reabilitação profissionais, com • Declaração Universal dos Direitos Humanos,1948;
currículos, etapas e exigências de • Declaração Universal dos Direitos das Crianças,1959;
diplomação próprios; • Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de
b) a inserção, no referido sistema Discriminação Racial,1968;
educacional, das escolas especiais, • Convenção sobre os Direitos da Criança ,1989;
privadas e públicas; • Declaração de Jomtien,1990;
c) a oferta, obrigatória e gratuita, da • Conferência Mundial Educação para Todos, 1990.
Educação Especial em estabelecimento • Declaração de Salamanca,1994;
público de ensino; • Convenção de Guatemala, 1999;
d) o oferecimento obrigatório de • Carta do Terceiro Milênio, 1999.
programas de Educação Especial a nível
pré-escolar, em unidades hospitalares O contexto brasileiro exige reformulação legislativa
e congêneres nas quais estejam e um olhar mais aberto e inclusivo que se pauta em
internados, por prazo igual ou superior defesa dos direitos dos sujeitos com algum tipo de
a 1 (um) ano, educandos portadores de necessidade educativa especializada, desse levante em
deficiência; defesa dos direitos e da adesão do Brasil aos movimentos
e) o acesso de alunos portadores de internacionais de defesa das pessoas, dos direitos
deficiência aos benefícios conferidos humanos e do direito à educação, exige-se uma série de
aos demais educandos, inclusive medidas públicas no campo da educação que envolvem:
material escolar, merenda escolar e erradicar o analfabetismo; universalizar o acesso ao ensino
bolsas de estudo (BRASIL, 1989, artigo fundamental no país; desenvolver e apoiar a construção de
2º). sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes esferas
públicas: municipal, estadual e federal; e criar instrumentos
A partir de legislação de 1988 e 1989, a Educação que viabilizem as metas anteriores.
“Especial” passa a ser vista e entendida por outro
ângulo. Tomando como base os estudos e movimentos Levando em consideração as convenções, os
internacionais, trilha-se o caminho de busca pela garantia movimentos populares de luta pelo direito a escolarização
do direito à educação e à aprendizagem, tais como: e as cobranças internacionais a legislação brasileira avança

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


34
e se modifica, caminhando para o processo de inclusão. (Estatuto da Pessoa com Deficiência) que entrou em
Nesse processo de avanço podemos destacar a elaboração vigor no dia 06 de janeiro de 2017.
de políticas e diretrizes nacionais como elementos que
norteiam e delineiam os conceitos que serão discutidos. Entre outros documentos que marcam essa abertura
Assim foram publicados os textos: do sistema educativo e demonstram um avanço nos
procedimentos e no conceito de inclusão.
• Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência; Mas o que é de fato inclusão?
• Política Nacional de Educação Especial e Educação
Inclusiva;
• Plano Nacional de Implementação das Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação das Relações
Étnico-Raciais;
• Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar
Indígena;
• 2009 - Territórios Etnoeducacionais;
• Diretrizes Nacionais para o funcionamento das
escolas indígenas;
• Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo;
• Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para
jovens e adultos em situação de privação de liberdade Fonte: http://inclusaosocialreal.blogspot.com
nos estabelecimentos penais;
• Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Diante dos aspectos legais e das teorias que lhes
Jovens e Adultos. dão base, nos cabe compreender que é o conceito de
• LEI Nº 13.14625, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei inclusão, e o que esse conceito implica. A definição pode ser
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência pensada inicialmente pelo termo dicionarizado. De acordo

25 Saiba mais em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/554329/estatuto_da_pessoa_com_deficiencia_3ed.pdf.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


35
com o dicionário o verbete Inclusão refere-se à “inserção; e educadores, de apropriação e
introdução de algo em; ação de acrescentar, de adicionar construção do conhecimento, o que
algo no interior de; condição do que foi incluído”. Trazendo implica necessariamente previsão e
consigo uma série de significações, mas o termo transcende provisão de recursos de toda ordem.
o significado dicionarizado ao indicar uma postura a partir E mais, implica incondicionalmente
dos seus sinônimos26 que envolvem “abranger; compreender; a mudança de atitudes frente as
conter”, entre outros. diferenças uns dos outros e de nós
mesmos porque evoluímos e nos
Partindo do princípio de abrangência a educação modificamos. (CARVALHO, 2016, p. 38).
inclusiva é uma política fundamentada na concepção de
direitos humanos e defende o direito que todos têm, de Desse modo, o ideal de escola inclusiva dialoga
acesso e permanência na escola, sem qualquer forma de com toda a legislação brasileira sobre os princípios
discriminação. Envolvendo assim, uma gama de ações para da educação universal e para todos promovendo a
que o processo educativo se concretize. De acordo com universalização do acesso à educação e a possibilidade de
Carvalho (2016): uma “educação plural e democrática”. Mas, todo processo
educativo inclusivo pressupõe a ação docente e as ações
O conceito de escolas inclusivas desenvolvidas nas escolas e comunidades.
pressupõe uma nova maneira de
entendermos as respostas educativas Para Mantoan (2015, p.62), “A inclusão é uma inovação
que se oferecem com vistas à que implica um esforço de modernizar e reestruturar a
efetivação do trabalho na diversidade. natureza atual das escolas”, ou seja, ao adotar medidas
Está baseado na defesa dos direitos inclusivas a escola inevitavelmente evolui e modifica suas
humanos de acesso, ingresso e práticas pedagógicas. Logo o princípio inclusivo indica outro
permanência com sucesso em escolas conceito de escola, de didática, de metodologia de trabalho
de boa qualidade (onde se aprende a e de ação no âmbito educativo a fim de desenvolver
aprender, a fazer, a ser, e a conviver), sujeitos múltiplos que se desenvolvem em um espaço
no direito de integração com colegas pensado e organizado para promover o crescimento e o

26 Ver: POLITO, André Guilherme. Michaelis Dicionário de Sinônimos e Antônimos. 3ª edição, São Paulo, 2009.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


36
enriquecimento cultural e pessoal.
A ideia que se tem de uma educação
Para Rubio e González (2001), o conceito de inclusiva é a da amplitude, da
educação inclusiva contempla um “coletivo de pessoas flexibilidade e da riqueza que a
marginalizadas”, que necessitam de equidade no processo torna capaz de considerar todos os
educativo independente de suas condições. E isso envolve tipos de necessidade e assegurar
um processo de busca por meios, maneiras e modos de uma escola para todos e que
ensinar e proceder diante da pluralidade o que exige inclui explicitamente as crianças e
constante pesquisa e abertura para os desafios que são adolescentes hospitalizados e também
impostos diariamente. os portadores de doenças crônicas nas
escolas. (RUBIO; GONZÁLEZ, 2001, p.27 –
Podemos compreender assim, que a escola inclusiva Tradução nossa27).
é aquela que proporciona o desenvolvimento integral
de todos os indivíduos, ou seja, ela é uma escola com Assim, a educação inclusiva abrange também a
uma profunda transformação do sistema educativo, que educação hospitalar trazendo consigo esse viés aberto,
faz as mudanças para atender de modo eficaz todos os flexível e comprometido com o desenvolvimento de todos
seus alunos, é uma escola flexível tanto no campo das os envolvidos com o processo educativo. Com base nos
metodologias de ensino como nas estratégias e nos estudos de Rubio e Gonzalez (2001) compreende-se que
processos avaliativos. Pauta-se nos princípios de trabalho há uma clara articulação entre a educação hospitalar e a
cooperativo e colaborativo em que todos os envolvidos educação especial inclusiva, pois ambas envolvem situações
estão comprometidos com as inovações, adaptações e complexas e distintas das situações tradicionais de
avanços provocados pela nova postura. escolarização, promovendo um repensar dos processos. Ou
seja, a educação inclusiva busca oferecer uma educação de
Corroborando com os conceitos discutidos Rubio qualidade a todos os membros de sua comunidade, visando
e Gonzalez (2001) indicam que a educação inclusiva é um uma resposta comprometida com os aspectos que afetam
espaço rico e criativo que permite a descoberta de novas e envolvem as diferenças individuais em todas as suas
formas de ensinar e aprender. dimensões.
27 Texto original: La filosofia que impregna la política educativa es, pues, la de uma educación inclusiva tan amplia, tan flexible y tan enriquecida que
pueda dar cabida a todo tipo de necessidades, que assegura uma escuela para todos y que incluye explicitamente a los niños hospitalizados y a los niños
com enfermedad crónica escolarizados. (RUBIO; GONZÁLEZ, 2001, p.27).
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
37
De acordo com Mantoan28: religioso, étnico etc.

Nas escolas inclusivas as pessoas se Concluímos e compreendemos com o aporte de Silva


apoiam mutuamente e são atendidas (2015) que a inclusão pode ser compreendida:
em suas necessidades específicas por
seus pares, sejam colegas de classe, em uma dimensão mais ampla, que está
de escola ou profissionais de áreas relacionada ao respeito às diferenças e
afins. A pretensão dessas escolas é a a diversidade das pessoas, uma vez que
superação de todos os obstáculos que a diferença não significa desigualdade,
as impedem de avançar no sentido mas ampliação da riqueza cultural que
de garantir um ensino de qualidade, caracteriza cada ser humano, cada
preocupado em desenvolver os grupo social. (SILVA, 2015, p. 101).
talentos, as tendências naturais, as
habilidades de cada aluno para esta É a partir desse viés amplo da inclusão educacional
ou aquela especialidade. (MANTOAN, que estabelecemos uma relação direta entre inclusão
LEPED/Unicamp, 2018). educacional e classe hospitalar, pois a prática pedagógica
desenvolvida nos atendimentos educacionais hospitalares
Nesse entendimento, a educação inclusiva é a escola busca o respeito a pluralidade de sujeitos que dela fazem
que reconhece e respeita as diferenças dos estudantes, parte.
ou seja, é uma escola que entende que todos podem
aprender. Para Mantoan (2015, p.35), a educação inclusiva é
“produto de uma ação plural, democrática e transgressora”,
o estudante de uma escola inclusiva “é outro sujeito” pois
sua identidade não é determinada por “modelos ideias e
permanentes”. Nas escolas inclusivas permite-se e respeita-
se o direito à diferença e a pluralidade cultural de uma
sociedade múltipla, seja no aspecto social, linguístico,
28 Leia: A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL – DA EXCLUSÃO À INCLUSÃO ESCOLAR. Disponível em: http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/nt/
ta1.3.htm. Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade – LEPED/Unicamp.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


38
Reflexões sobre a docência

3
Reflexões sobre
a docência
Refletir sobre os aspectos da docência em ambiente Da mesma forma, Gadotti (2011, p.21) também nos
hospitalar não está dissociada da reflexão sobre a docência faz refletir sobre a docência, o formar-se e o ser professor,
em geral. Os desafios atuais colocam para o professor especialmente nos dias de hoje. O autor questiona: “Qual
uma responsabilidade constante com a sua formação e é o papel do educador, da escola, da educação? O que um
aprimoramento de suas habilidades de docência, e isso professor pode fazer, o que ele deve fazer, o que é possível
evidencia que ser professor é uma escolha amorosa, pois, fazer?” considerando a sociedade e o contexto em que
somente quem está envolvido amorosamente com algo, vivemos.
assume esse compromisso de um processo formativo
continuo e consciente que implica predisposição e Entende-se que o professor é um sujeito a quem se
disponibilidade para aprender e ensinar simultaneamente, exige uma identidade e um modo de ser e proceder que
aceitando a dinâmica de lidar com o conhecimento sua não é exigido de outras profissões. “Ser professor implica
flexibilidade, fluidez e mudança. saber, saber ensinar e saber relacionar-se (com o saber
sempre em evolução, consigo próprio no seu percurso
Quando focamos nesses pontos que constituem de desenvolvimento, com os colegas, os alunos e suas
à docência e suas nuances, pensamos quem é de fato o famílias)”. (ALARCÃO, 2001, p.02). A partir dos conceitos
professor? Quem é esse sujeito que aceita esse desafio diário apontados por Alarcão, podemos pensar na identidade
de ensinar e aprender? Alarcão (2011) nos instiga a pensar do professor como um processo que envolve múltiplos
nesse sujeito, professor e seu agir docente afirmando que: “o saberes e conhecimentos, num processo cíclico de: saber
professor não é um técnico, um aplicador de saberes, mas um ensinar, saber como ensinar, saber o objeto de ensino
mediador”, e nessa função ele se constitui em uma “pessoa (língua, matemática, ciências, etc.), em que contexto, a
com conhecimentos, um profissional do humano que tem quem ensina e com que recursos se dá esse processo de
como projeto de vida, criar condições para que outros — os ensinar.
seus alunos — aprendam e desenvolvam-se”. (ALARÇÃO, 2015 –
Palestra). Logo, o professor é um profissional que se volta para Dessa forma, há uma grande exigência com relação
a formação humana, e todo seu percurso formativo precisa ao processo de formação docente e a continuidade dessa
levar em consideração que além do conhecimento humano formação no exercício profissional da docência. Que Gadotti
é necessário desenvolver habilidades de entendimento e enfatiza dizendo que:
relacionamento com este humano.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


40
ser professor hoje não é nem mais processo formativo similar ao dos outros professores.
difícil nem mais fácil do que era há Entretanto, Fonseca29 (2008, p.29) ressalta que “o professor
algumas décadas atrás. É diferente. da escola hospitalar é, antes de tudo, um mediador das
Diante da velocidade com que a interações da criança com o ambiente hospitalar”. dessa
informação se desloca, envelhece forma, as exigências do contexto, impostas pelo espaço e
e morre, diante de um mundo em pelo processo de tratamento de saúde e sua complexidade,
constante mudança, o papel do requerem um docente com saberes múltiplos que envolvem
professor vem mudando, senão na a diversidade de conhecimentos dos estudantes, os
essencial tarefa de educar, pelo diferentes níveis de ensino, as disciplinas envolvidas
menos na tarefa de ensinar, de em cada área do conhecimento, os aspectos didáticos e
conduzir a aprendizagem e na sua metodológicos do ensino das disciplinas, as concepções
própria formação, que se tornou de ensino, o contato com os documentos prescritivos e
permanentemente necessária. os aspectos afetivos e emocionais do envolvimento com
(GADOTTI, 2011, p.23). pessoas em situação de fragilidade física e emocional,
enfatizo que o docente na escolarização hospitalar atua
Ou seja, a dinâmica do conhecimento, a velocidade com o conhecimento; compreende que as adaptações
das informações e a fluidez dos contextos de ensino curriculares são de sua responsabilidade; prioriza a
remodelam a função docente. De acordo com Gadotti (2011, flexibilização curricular e metodológica, e simultaneamente
p.25) “o professor se tornou um aprendiz permanente, um estuda muitos conteúdos ao mesmo tempo, pois, a demanda
construtor de sentidos, um cooperador e, sobretudo, um de conhecimentos dos estudantes exige e requer um
organizador da aprendizagem”. Cabe a ele também a busca processo constante de aprendizagem.
por um processo de aprendizagem que é simultâneo, cíclico
e que acompanha o ensinar. Além disso, é preciso que o docente esteja preparado
para o inusitado. E saiba que está sujeito a complexidade e a
Na Educação Hospitalar ou Pedagogia Hospitalar a frustrações durante o processo, pois nem tudo irá acontecer
exigência de formação é ainda mais contextual e situada. exatamente como foi pensado ou planejado. Outro aspecto
O professor na educação hospitalar é um sujeito com um importante para a docência em contextos de tratamento

29 FONSECA, Eneida Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2ª ed. São Paulo, Memnon, 2008.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


41
de saúde, é a clareza necessária de que o docente irá atuar como pedagogo, gestor ou docente precisa contemplar a
num espaço distinto do escolar e que neste espaço será formação universitária conjugada com a exigência de um
preciso compreender que: sujeito capaz de criar novas possibilidades de ensino, de
aceitar o desafio de pesquisar, de criar coisas novas e de ir
 É essencial respeitar as dores do outro em busca do conhecimento cientifico, mas principalmente
e entender que isso vai fazer parte do do conhecimento humano e humanizado. O professor da
processo educativo do professor e do educação hospitalar é um promotor de humanização, agente
estudante. da mudança no processo educativo. Para Mattos (2010), há
 Será imprescindível ouvir o outro, uma premissa de que haja uma formação diferenciada, pois,
e isso será um exercício diário de a formação tradicional universitária não consegue ainda
aprendizagem. formar sujeitos capazes de lidar com a adversidade e tirar
 Entender a urgência da leitura do dela respostas criativas.
contexto, e da necessidade da criança/
adolescente, que é muitas vezes A construção da prática pedagógica,
superior à tarefa escolar preparada e para atuação em ambiente hospitalar,
planejada para o momento. não pode esbarrar nas fronteiras do
 Nem sempre as tarefas terão tradicional. As dificuldades, muitas
continuidade, serão finalizadas, etc. vezes, persistem porque não se
 É preciso ter noção de estar e ser consegue ver nelas a oportunidade
inacabado, em constante aprendizagem. de uma atuação diferenciada, pois os
 O processo de aprendizagem é valores e as percepções de condutas e
continuo, intenso e exige muitos ações estão ainda muito enraizados nas
recomeços, retomadas, outras formas formações reducionistas. Essa prática,
de abordagem e principalmente outras portanto, deve transpor as barreiras do
formas de ensinar. (PETERS, 2016, p.231). tradicional e as dificuldades da visão
cartesiana. A ação pedagógica, em
Assim, o perfil formativo do profissional que irá ambiente e condições diferenciadas,
atuar na escolarização / educação/ pedagogia hospitalar como é o hospital, representa um

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


42
universo de possibilidades para o p.03) e que tais atuações se baseiam em um conjunto de
desenvolvimento e ampliação da saberes que se relacionam entre si, gerando a complexidade
habilidade do pedagogo/educador. da docência em si.
Desenvolver tais habilidades requer
uma visão oposta à contemplada pelo
redutivismo, ou seja, ela deve, sim,
contemplar o todo (MATTOS, 2010, p. 51).

Acreditamos que ser professor da educação


hospitalar demanda um olhar sensível e diferenciado do
docente, preparado para perceber os aspectos cognitivos,
psicológicos e sociais deste sujeito (criança, adolescente,
jovem ou adulto) em processo de escolarização e em
tratamento de saúde. Segundo Fonseca (2010), “as
especificidades do atendimento pedagógico em ambiente
hospitalar compreendem a diversidade de estratégias
para favorecer o ensino, a aprendizagem e a consideração
sobre a situação hospitalar do aluno.” Ou seja, é necessário
que o professor faça uma leitura atenta do seu estudante Figura 1: Saberes da docência
para que haja a compreensão dos limites de atuação e das Fonte: a autora, 2018 (com base em TARDIF, 2002, p.03).
possibilidades educativas.
Diante de tais conceitos compreendemos que há uma
Analisando as questões relacionadas à docência pluralidade na formação docente que precisa ser trabalhada
em ambiente hospitalar, compreende-se que esta é uma e compreendida para que tenhamos pessoas cuja formação
atividade desafiadora, e considera-se os estudos de Tardif se volta para o processo de trabalho com o humano.
(2002) ao afirmar que: “a atividade dos professores é um Para Covic e Oliveira (2011) a formação docente deve
exercício profissional complexo, composto, na realidade, de atrelar “teoria e prática em seus múltiplos condicionantes
várias atividades pouco visíveis socialmente” (TARDIF, 2002, contextuais e sociais de uma teoria idealista e reflexiva”.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


43
Fazendo-nos pensar em um processo de formação contínua 3.1. Aspectos didáticos
para o humano e a humanização.

Dessa forma, entendemos que ser professor da,


na educação e para a educação hospitalar é ser capaz
de criar novas possibilidades de ensino e reinventar o
processo ensino - aprendizagem diariamente. O professor
da educação hospitalar é um sujeito que percebe que a
escolarização / educação hospitalar exige uma prática
situada; ou seja, entende que a educação ocorre numa
relação imediata e constante com o ambiente e com os Fonte30: Orlando Azevedo.
sujeitos presentes nele. No hospital o professor é, mais do
que em qualquer outro espaço, mediador do conhecimento. Reflexão
Iniciamos as reflexões sobre didática
Para Paulo Freire (1994, p. 10) “a tarefa de ensinar é acompanhando o vídeo.
uma tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade, Clique no ícone ao lado para assistir:
criatividade, competência cientifica necessárias as relações
educativas”. E é nesta perspectiva impregnada das palavras Poderíamos iniciar as discussões deste tópico com
de Freire que a ação docente se concretiza na educação muitas questões, mas optamos por uma imagem e um vídeo
hospitalar. que trazem algumas ideias do que seja o objeto de estudo
em questão.

Contextualizando o termo, a didática e seus estudos


estão presentes na sociedade desde 1657, com os estudos
de Comenius que escreveu a obra Didática Magna31, na qual
visava explicar e definir que a didática tratava de uma “arte
30 Fonte: nuvem de palavras, autor Orlando Azevedo. Disponível em: http://didaticadastic48945.blogspot.com/2012/06/didatica-o-que-e.html. Acesso:
11/11/2018 às 21:51.
31 Veja: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


44
universal de ensinar tudo a todos”. Desde então, a didática é preciso considerar que provavelmente
vem se construindo teoricamente como um campo voltado a é necessário mudar a forma de ensinar.
pesquisa dos modos e da eficácia no processo de ensinar. Considerar também a possibilidade de o
aluno não dominar ainda os conteúdos
Discutir os modos de ensinar exige reflexão sobre a mais básicos e a possibilidade de falta
atuação docente, os diferentes contextos dessa atuação e de significado do conteúdo para o
os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem. aluno. No primeiro caso, é necessário
Segundo Stoltz (2013), o conhecimento dos sujeitos, a apresentar o conteúdo de maneira
elaboração das atividades e elementos do processo de articulada e não fracionada, dando-
ensino são fatores determinantes para proporcionar lhe uma sequência. Também é preciso
aprendizagem: rever os instrumentos necessários para
o domínio desse conteúdo, no sentido
(...) conhecer o aluno com o qual se vai de levar o aluno a se apropriar dele.
trabalhar. Saber o que ele já conhece No segundo caso, é preciso levá-lo a
e, como professor, dominar o campo aprender, primeiro, conteúdos mais
de conhecimentos que justifica a básicos, para então seguir com o ensino
sua docência. Dominar porque, para de outros problemas mais complexos.
Vygotsky (1994) e Moll (1996), o papel No terceiro caso, é indispensável
principal é do professor. Dele se espera verificar tanto a validade do conteúdo
a organização do real para o aluno de como formas de torná-lo significativo
modo que este aprenda. E isso não é no contexto social e cultural do aluno.
fácil. É preciso trabalhar do geral para o (STOLTZ, 2013, p. 46).
particular, integrando conhecimentos a
partir de suas relações, sem apresentar Logo, o processo didático faz parte do trabalho
o conteúdo de forma fragmentada. docente e envolve o planejamento das atividades, os
O professor é responsável pelo que objetivos de ensino e o desenvolvimento da aula em si.
o aluno vai aprender e se ele vai Esse processo exige do docente um movimento de ensinar
aprender. Se ele não está aprendendo, que envolve o conhecimento e a investigação, enfatizando

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


45
os saberes da docência e a pesquisa como elementos desenvolvimento profissional, na medida que estimulam
constitutivos desse ato de ensinar e, que constroem o modo a pesquisa e a descoberta de novos métodos e formas de
de atuar por meio do ensino. ensinar.

Na obra “Pedagogia da Autonomia: saberes


necessários a prática educativa32”, Paulo Freire faz o 3.2 A rotina docente em ambiente hospitalar
movimento de elencar elementos essenciais à prática
educativa e nos faz pensar sobre as demandas que a A rotina diária de trabalho inicia-se
docência exige. Para o autor “a reflexão crítica sobre a com o reconhecimento do ambiente,
prática se torna uma exigência da relação Teoria e Prática avalia-se a clientela, suas condições
sem a qual a teoria pode ir virando um blábláblá e a prática, físicas e emocionais. Após entrevista
ativismo”. (1996, p.22). Logo, ficam evidentes na defesa do inicial com os pais e a criança, onde são
autor que o rigor metódico, a pesquisa, o conhecimento, levantados dados referentes à sua vida
o respeito aos saberes e necessidades dos educandos, a acadêmica e motivo do tratamento,
criticidade, a ética, o afeto entre outros elementos fazem todas as atividades realizadas são
parte do processo de ensino e compõe o processo didático encaminhadas à escola de origem com
que será organizado pelo professor o parecer pedagógico, apontando as
áreas do conhecimento trabalhadas.
De acordo com Fonseca (2012, p. 18) “ensinar e (CASTRO, 2010, p. 39).
aprender só se efetiva se o professor estiver, de fato
atento ao aluno” ressaltando a importância da atenção Castro (2010) aponta alguns aspectos da rotina
e do cuidado com o processo para que a aprendizagem dos atendimentos educacionais no âmbito hospitalar,
tenha significado e construa sentidos nos estudantes entretanto, há outros fatores que são igualmente
hospitalizados. Ainda de acordo com Fonseca (2012, p.19) importantes como: o vínculo com o estudante e com sua
“o exercício diário de planejamento, observação, registro família, a rotina de medicação e o respeito aos efeitos
e reflexão sobre o trabalho realizado com o aluno” é dessa medicação, bem como a adaptação da criança e do
capaz de aperfeiçoar as habilidades docentes e gerar o adolescente a nova condição que lhe é imposta.

32 Leia mais em: https://nepegeo.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Pedagogia-da-Autonomia-Paulo-Freire.pdf.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


46
Desse modo, caberá ao professor criar estratégias Na Pedagogia Hospitalar, é possível
e meios de ensino que favoreçam a aprendizagem trabalhar o desenvolvimento
contextualizando os conceitos trabalhados e possibilitando intelectual da criança, juntamente
a ressignificação das experiências que os estudantes com o afetivo e social. Ela também
vivenciam neste novo espaço. proporciona uma interação entre a
equipe pedagógica, a criança, a família
No hospital a educação vai além dos muros e a equipe médica como um todo, com
tradicionais, ela contempla a compreensão da saúde como uma única finalidade: o bem-estar e a
tema educativo, de formação humana e social. Considerando recuperação da criança ou adolescente
a saúde enquanto direito fundamental da vida cidadã e hospitalizado. (RODRIGUES, 2012, p. 44).
parte essencial da dignidade humana. O processo educativo
centra-se na própria finalidade do conhecimento que se Dessa forma, o objetivo da educação nos hospitais
produz e se ensina e nas relações epistêmicas da educação é a manutenção do vínculo com a vida, estimulando a
e da saúde. E se efetiva no papel da educação em relação as continuidade dos estudos e o desenvolvimento educacional
questões que envolvem processos educativos em relação à para o retorno à rotina sem prejuízo à formação acadêmica.
saúde. Segundo Rangel (2009), [...] “o educador na, da/e para
a saúde compreende que o acesso ao conhecimento pelos 3.2.1 A docência na educação domiciliar
alunos em formação é um valor e um direito de cidadania.”
(RANGEL, 2009, p.62).

Assim, pensar o ensino no contexto hospitalar exige o


reconhecimento de todo o processo de tratamento e da rotina
de cada estudante. Implica na percepção das necessidades
de discussão e aprendizagens que são necessárias para a Fonte33: CORGA, Elsa. 2019.
compreensão do estudante e da sua condição, e provoca
um processo de ensino situado e adequado ao contexto dos Pensar na docência em ambiente domiciliar exige a
estudantes. De acordo com Rodrigues: consciência do processo de mediação e das relações com
33 Fonte: CORGA, Elsa. Disponível em: https://www.cm-agueda.pt/pages/107. Acesso em: 15/03/19.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


47
o outro e com o seu espaço de vida, proteção, aconchego, de lidar com o aspecto pedagógico há inúmeros recursos
segurança, etc. Ao adentrar na casa do estudante o processo didáticos que auxiliam no desenvolvimento cognitivo e
de escolarização exige a si mesmo uma reconfiguração psíquico, levando o sujeito a mudar o foco, e enfatizar a
do espaço, das metodologias, do tempo e até de alguns possibilidade de desenvolvimento do conhecimento. A
objetivos. descoberta da literatura, da arte, dos jogos, da música, etc.
fazem com que o centro de interesse não seja a doença. Daí
Entende-se que o atendimento educacional a importância da inserção dos programas de escolarização
domiciliar contribui para que os estudantes readquiram em hospitais e domicílios entre outros espaços. Pois,
novas expectativas, tanto com relação ao tratamento de é inegável o benefício do processo educativo. Matos e
saúde, como em relação ao seu processo de escolarização. Mugiatti destacam ainda,
Matos & Mugiatti (2014), ressaltam que ao terem garantido
o processo de escolarização crianças e adolescentes vão O que mais importa é que a criança
deixando de lado as inseguranças, a indiferença a quaisquer ou adolescente hospitalizado venha
“atendimentos psicopedagógicos, situações de depressão receber, sempre e com o máximo
e alheamento que lembram a pseudodebilidade mental”, empenho, o atendimento a que fazem
aspectos estes que interferem no tratamento. jus, nessa tão importante fase da
vida, da qual depende a sua estrutura,
Esse afastamento no seu cotidiano, enquanto pessoa e cidadão. (MATOS e
provocado pela doença e pela MUGIATTI, 2014, p. 65).
hospitalização, traz uma nova situação
à vida do enfermo que, além de afastá- Diante de tais apontamentos, retomamos a urgência
lo do curso normal de suas atividades e a importância do atendimento educacional a crianças
escolares, o induz a apresentar e adolescentes em tratamento de saúde. Ressaltando
alterações de ordem psíquica possíveis que todo o viés qualitativo desse processo educacional
no contexto. (MATOS e MUGIATTI, 2014, passa pela função, empenho e formação dos professores
p. 71). que irão atuar com o estudante em tratamento de saúde.
Corroborando com essas questões Fonseca (2012, p.18)
Embora a escola tenha especificamente o caráter afirma que diante de uma situação de doença “é possível

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


48
refletir e aprender uma série de questões pertinentes não tratamento de saúde exige um profissional que escute
apenas a escolaridade da criança doente, mas também suas necessidades, e que faça o processo de modo
à qualificação profissional docente.” Pois, o processo diferenciado: organizando, adaptando, priorizando aspectos
educativo exige a reconfiguração do ensinar e aprender. que envolvem brincar, pesquisar, descobrir, criar, em que o
interagir com o professor e com o conhecimento, seja um
Assim, para Fonseca (2012, p.18) “ensinar e momento prazeroso de tal modo que amenize o sofrimento
aprender só se efetiva se o professor estiver, de fato, do adoecer e de estar afastado da sua rotina.
atento ao aluno”, o que enfatiza o caráter personalizado
do atendimento educacional domiciliar, reforçando a A condição de tratamento de saúde impõe uma série
necessidade de reformulação do processo educativo e a de restrições que vão do afastamento da escola e de suas
recriação dos mecanismos e recursos de ensino, para atingir atividades ao distanciamento da rede de convívio social e
os objetivos de avanço na aprendizagem. familiar. Segundo Moreno (2015), é necessário que tenhamos
a compreensão do que é o adoecimento e de como
Logo entende-se que ao se dedicar ao atendimento acompanhar esse processo.
educacional domiciliar o docente dever ser capaz de:
O processo do adoecimento pode ser
desdobrar-se frente às reações interpretado de maneiras diferentes
do aluno, especialmente aquelas pelos hospitalizados, assim como
manifestas no olhar de desinteresse, na pelos envolvidos com a situação,
apatia e nos silêncios que, traduzidos, como família, professores e outros.
revelam seus medos e anseios infantis. O adoecimento está relacionado à
Daí a necessidade de se aprender a cultura e à relação educação e saúde.
valorizar os gestos infantis, de saber (MORENO, 2015, p. 223).
decifrar nas pequenas atitudes o que
não conseguem expressar pela fala. Nesta perspectiva, cabe ao professor o entendimento
(ALMEIDA, 2015, p. 10). de como a cultura familiar percebe esse adoecimento, e
com isso implica também considerar que todo processo
Ou seja, a atuação docente com o sujeito em de adoecimento demanda medicação, procedimentos

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


49
muitas vezes invasivos, dificuldades, regras de alimentação, (RUBIO e GONZÁLES, 2001, p. 133 - 134).
ingestão de bebidas, horários de medicação, horários de 34
. Tradução nossa.
visitas, horários de terapias ou fisioterapias, etc. tudo
rigorosamente estabelecido e determinado de acordo com o Marcando assim, a projeção de uma teia de atenção
tipo de doença e a prescrição de tratamento. ao desenvolvimento escolar que integra multiplas
possibilidades e que exige a ação de todos os sujeitos
A atividade escolar nesta linha, se encaixa nas envolvidos. Trazendo claramente o conceito e a perspectiva
frestas da rotina do sujeito que está em tratamento, é de uma escola inclusiva e centrada nas necessidades
uma adaptação de horário que deve considerar todo o individuais. Na qual cada sujeito (estudante) é compreendido
quadro de tratamento da saúde, e se organizar para ser um a partir do seu nível de conhecimento, da sua escola de
momento agradável e de alivio durante o cuidado da saúde. origem, do seu tratamento de saúde, do seu curriculo
Inevitavelmente, um quadro delicado de saúde requer especifico e do seu processo de desenvolvimento cognitivo,
um atendimento humanizado que respeite e contemple a social, emocional, afetivo, etc.
situação de dor e de perda presente na vida do outro.
Ao considerarmos o direito à educação do sujeitos
Rubio e Gonzales (2001, p. 133) destacam que: em tratamento de saúde, inseridos nos programas de
atendimento educacional hospitalar e domiciliar, é
A atenção educacional deve acontecer necessário compreender que essa escola exige uma
em parceria com a assistência médica, reconfiguração. Covic e Oliveira (2011) afirmam que:
para que a criança que precise de
um professor em sua casa, para dar a escola que atenda a essa demanda
continuidade a escolarização, tanto não está posta, no entanto,
quanto possível, tenha o currículo compreendemos que possa acontecer
escolar, em colaboração com o com um processo de aprendizagem
professor da sala de aula do hospital por ressignificação de seus espaços,
e do centro educacional de referência. tempos, horizontes, concepções,
34 La atención educativa debe ocorrer pareja a la assistência médica, por lo que el niño necessitará que um maestro se desplace a su domicilio para
continuar em la medida de lo possible el currículo escolar, em colaboración com el maestro del aula hospitalaria y com el centro educativo de referência.
(RUBIO e GONZÁLES, 2001, p. 133 - 134).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


50
posições e formação. Ressignificar, A relação professor-aluno no contexto hospitalar
compreendido aqui, como o processo e domiciliar é uma relação pautada nos processos
criativo de atribuir novos significados a comunicativos, no vínculo, no afeto e na ética das relações
partir daquele já conhecido, validando e da condição humana. Para Matos e Mugiatti (2014, p.
um novo olhar sobre o contexto em 85), “a construção do saber implica, necessariamente, na
que o sujeito está imerso. Em termos comunicação entre professores e alunos”. Comunicação
mais concretos, nessa ação temos o esta que estabelece os vínculos necessários para o
moto mudança/permanência. (COVIC e desenvolvimento de atividades educativas. Logo,
OLIVEIRA, 2011, p. 27).
Construir o saber supõe comunicação
Ou seja, a escolarização hospitalar e domiciliar requer entre professor e aluno. Os tipos de
um formato mais aberto, centrado na relação dos sujeitos comunicação que se utilizam para esta
e nas suas trajetórias de vida, de tratamento de saúde e construção na maioria das vezes são a
de conhecimento. Paulo Freire enfatizou em sua obra que comunicação verbal, não verbal e escrita.
nenhuma prática educativa se dá no ar, mas num contexto A primeira delas é a mais frequente
concreto, histórico, social, cultural, econômico, político, não no sistema de ensino. A comunicação
necessariamente idêntico a outro contexto. (FREIRE, 1981, verbal, entre professores e alunos, está
p.14). Reforçando o caráter situado do processo educativo e privilegiada, seja pelo valor da presença
enfatizando a personalização dessa educação, em especial física entre eles ou pelo discurso. (MATOS
do atendimento educacional hospitalar e domiciliar, em que E MUGIATTI, 2014, p. 86).
cada encontro é único e deve ser pensado exclusivamente a
partir das demandas do sujeito que será atendido. E dessa forma, a comunicação faz parte desse elo
entre professor-aluno, mas que precisa ser feito de modo
3.3 A relação professor - aluno cuidadoso, para não comprometer a relação. Ainda de
acordo com Matos e Mugiatti (2014) “historiar e explorar a
Reflexão potencialidade de uma criança (adolescente) hospitalizada
Antes de iniciar a leitura assista ao vídeo. nada mais é do que se comunicar com ela”. Entretanto, a
Clique no ícone ao lado para assistir: relação é de um processo educativo e precisa ser pensada
neste viés.
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
51
Assim, a esse processo relacional tem-se conforme A palavra escuta diferencia-se da
Moreno (2015) o “caráter proximal”, e se torna um processo palavra audição. Enquanto a última se
diferenciado que traz consigo particularidades e nuances refere a um dos órgãos do sentido, a
de um processo amplo de humanização e cuidado. Segundo captação dos sons ou a sensibilidade
Moreno, do ouvir, a primeira se refere à
captação das sensações do outro,
A relação professor-aluno é realizando a integração ouvir–sentir. A
uma relação não só pedagógica, associação com a palavra “pedagógica”
mas também ética e cultural a sugere que este ouvir–sentir decorre
permitir a autonomia cognitiva, de uma sensibilidade aos processos
o desenvolvimento afetivo e a psíquicos e cognitivos experimentados
compreensão para lidar com as pelo outro, no caso, a criança
múltiplas culturas, múltiplos olhares hospitalizada (CECCIM, 2010, p.34).
e múltiplas expectativas presentes no
âmbito hospitalar. (MORENO, 2015, p. Entendemos que ao utilizar o termo “escuta
169). pedagógica”, Ceccim (2010) refere-se à capacidade do
professor de compreender a criança na sua totalidade e
Desse modo, na relação professor – aluno no de ser capaz de ler todo contexto que lhe foi imposto pela
atendimento educacional em ambiente hospitalar e domiciliar doença e pelo tratamento altamente agressivo em alguns
temos dois vetores o da comunicação como elemento casos. Em outras palavras, o termo significa a capacidade
estruturante dessa relação e a escuta pedagógica35 como do professor de compreender o estado e as condições de
elemento de acesso ao outro, que fazem parte da relação de aprendizagem da criança hospitalizada. E a partir dessa
ensino – aprendizagem que irá se estabelecer. A expressão compreensão, delinear o processo de ensino que será
escuta pedagógica definida por Ceccim (1997), refere-se a desenvolvido.
um processo intencional e cuidadoso que se desenvolve em
relação ao outro. Segundo o autor, Outro fator importante na relação professor – aluno

35 Termo utilizado e defendido pelo Dr. Ricardo Ceccim. O termo “escuta pedagógica” foi proposto por mim em 1997 ao organizar o livro Criança
Hospitalizada: atenção integral como escuta à vida e retomado em três publicações: Revista Pátio (1999), Revista Integração (1999a) e Revista Temas sobre
o Desenvolvimento (1999b). (CECCIM, 2010, p.34).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


52
é a compreensão de que há múltiplos fatores em ação A educação se dá na relação entre
para que haja de fato um processo de ensino. É importante homens e mulheres em qualquer
considerar fatores como: resiliência, empatia, comunicação, idade. Ninguém é só aluno, ninguém
responsabilidade, colaboração e comunicação na efetivação é só professor. Todas as pessoas são
desse relacionamento. Há neste processo, uma engrenagem educadores e educadoras, seja qual
que precisa ser compreendida e colocada para funcionar. Do for a faixa etária, por que todo mundo
contrário, o processo de ensino não se efetivará. ensina algo a alguém, todo mundo
aprende algo de alguém. (SOUZA E
CORTELLA, 2017, p. 22).

Logo, as relações humanas são permeadas de


aprendizagem e só se constituem na presença e na interação
com o outro. Entretanto, a voz das crianças e adolescentes
deve ser sempre estimulada e ouvida, tanto na definição
da proposta de ensino que será desenvolvida, como ao
longo do período de hospitalização e na avaliação das
atividades realizadas. De acordo com Fonseca (2008, 89) “A
escola no hospital não se sustenta se não estiver alicerçada
Fonte: GAROFALO36, 2018. nos interesses e nas necessidades de seu alunado. Isso
deveria valer para qualquer escola [...]”. Reforçando assim,
Para Souza e Cortella (2017) o professor “partilha a necessidade do alinhamento da relação professor – aluno
conhecimentos com o intuito de fazer crescer, ajudar a para que o processo de aprendizagem se efetive e produza
cuidar e estruturar as relações de afeto”. E nesta ação bons resultados.
estabelece o processo educativo que irá se traduzir em
educação, mas essa educação somente se efetivará se
considerarmos que:

36 Débora Garofalo. Como as metodologias ativas contribuem para o processo de aprendizagem. Postagem de 10/10/2018. Disponível: http://redes.
moderna.com.br/2018/10/10/metodologias-ativas/.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


53
3.4 O espaço de encontro com o outro Ou seja, só há educação se tivermos os sujeitos
envolvidos nesse processo, e se nesse envolvimento houver
Eu não sou eu nem sou o outro, um encontro entre os sujeitos, educadores e educandos, que
Sou qualquer coisa de intermédio: tornam esse processo único e distinto de outros processos
Pilar da ponte de tédio humanos. Logo, a educação é coletiva e exige a interação
Que vai de mim para o Outro. entre os sujeitos num processo dialógico e dialético que
(SÁ-CARNEIRO, 1914). deve contemplar todos os envolvidos.

A partir dos versos de Sá-Carneiro, poeta do início De acordo com Freire (1996),
do século XX, iniciamos as discussões sobre o espaço do
atendimento educacional domiciliar e o espaço do outro, toda prática educativa demanda
a casa do estudante. Nessa perspectiva pensamos a a existência de sujeitos, um que,
educação enquanto processo de mediação, metaforicamente ensinando, aprende, outro que,
traduzindo como uma ponte uma ponte que liga o aprendendo, ensina, daí o seu cunho
conhecimento escolar ao conhecimento da vida, da saúde, gnosiológico; a existência de objetos,
da medicação e de muitas outras coisas necessárias à conteúdos a serem ensinados e
vida. Assim, a educação se constitui um elo de ligação com aprendidos; envolve o uso de métodos,
o outro, com o mundo e com os outros. Para Gallo (2015), de técnicas, de materiais; implica, em
não há como pensar a educação sem a relação dos sujeitos função de seu caráter diretivo, objetivo,
envolvidos. sonhos, utopias, ideais. (FREIRE, 1996, p.
41).
A educação é, necessariamente, um
empreendimento coletivo. Para educar Estabelecendo entre os sujeitos um contrato
– e para ser educado – é necessário pedagógico que exige do professor a direção e a orientação,
que haja ao menos duas singularidades requerendo os saberes específicos da sua formação e
em contato. Educação é encontro de os conhecimentos humanos que envolvem a condição
singularidades. (GALLO, 2015, p. 01). do educando. Dessa forma, a educação se refere a uma
mediação feita para o outro, ela se constrói e reconstrói na

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


54
ação e interação eu e outro (educador – educando). educa, mas o que, enquanto educa, é
educado, em diálogo com o educando
Para Gallo (2015), ao concebermos a educação como que, ao ser educado, também educa.
um processo dialético entre os sujeitos e o conhecimento, Ambos, assim, se tornam sujeitos do
estamos abandonando a dualidade de ensino – processo em que crescem juntos e em
aprendizagem e criando um novo foco o da aprendizagem que os “argumentos de autoridade” já,
compartilhada, mediada. Assim, não valem. (FREIRE, 1987, p. 44).

educar significa lançar convites aos Enfatizando assim, o processo dialógico que envolve
outros; mas o que cada um fará – e os sujeitos do atendimento educacional domiciliar. E
se fará – com estes convites, foge reafirmando que os atendimentos educacionais domiciliares
ao controle daquele que educa. têm uma relação direta com o espaço da família, com o
Para educar, portanto, é necessário estudante e com a produção, ampliação e recriação do
ter o desprendimento daquele que conhecimento. Considerando sempre que os estudantes são
não deseja discípulos, que mostra agora investigadores críticos, em diálogo com o educador,
caminhos, mas que não espera e muito investigador crítico, também (FREIRE, 1987, p. 45).
menos controla os caminhos que os
outros seguem. (GALLO, 2015, p. 15). Cabe ainda, na relação com o outro, compreender
que o professor nesta modalidade de escolarização
Isto posto, nos cabe compreender que na educação (atendimento educacional domiciliar) está inserido no
hospitalar e domiciliar, lançamos sempre um convite contexto da intimidade e dos aspectos mais reservados de
a descoberta, ao estudo, ao conhecimento, a pesquisa cada sujeito.
e ao prazer da aprendizagem. Aprendizagem esta que
é construída num processo de mediação qualificada, Sendo assim, cabe discutir os modos de lidar com
consciente e pontual. Ainda nesta linha de pensamento este espaço e com esta família que acolhe o professor na
Paulo Freire nos faz refletir ao apontar que: sua casa diante de uma condição da criança/ adolescente de
tratamento de saúde. Ao mesmo tempo trata-se da escola
o educador já não é o que apenas que vai até a casa, e de múltiplos sentidos e significados

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


55
que se configuram a partir desta entrada. Cria-se uma A autora defende ainda, que a atuação com a
rede de acompanhamento e relações que se dá com o equipe multidisciplinar se dará de “forma coesa, nunca
estudante, a família, a escola, os tratamentos de saúde isoladamente ou fragmentada”. Enfatizado a formação de
entre outros elementos que compõe uma teia que precisa uma teia de atendimentos que contempla os múltiplos
ser compreendida. olhares com relação ao sujeito. Destaca-se que é importante
que haja um espaço para o compartilhamento do
3. 5 A teia de relações conhecimento dos profissionais envolvidos de modo que os
conhecimentos sejam integrados e as novas ideias sejam
A rede de relações começa a se formar no ressignificadas.
atendimento educacional hospitalar a partir do momento
que o docente adentra em um espaço que não é a escola.
É extremante importante ao professor compreender a
diferença de espaço e o conjunto de normas, regras, rotinas,
horários, procedimentos, valores e funções sociais que este
novo espaço contempla. Todo os elementos presentes neste
novo espaço irão interagir entre si criando uma teia que irá
se formar ao redor do sujeito que foi hospitalizado, está em
tratamento de saúde.

Para Acampora (2015) no contexto do atendimento Figura 2: teia de relações humanas


educacional hospitalar os profissionais da educação devem Fonte: Lyudmyla Kharlamova / Shutterstock
pensar no desenvolvimento integral, com a manutenção da
aprendizagem que seja capaz de possibilitar o retorno a vida “Estar atento a como as relações se dão no ambiente
escolar após a alta. O papel do docente é o “de locutor nas hospitalar é fator pertinente e importante para aqueles que
relações interpessoais da equipe, por meio de uma atuação se interessam pelo atendimento pedagógico educacional
que favoreça o atendimento em uma visão integrada hospitalar” (FONSECA, 2008, p. 24).
biopsicossocial em saúde”. (ACAMPORA, 2015, p. 67).
Logo, cabe ao professor conhecer o espaço e os

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


56
profissionais que atuam neste espaço para atuar no mesmo. No entanto, ao mesmo tempo que a rotina da
É conhecendo a equipe de enfermagem, de médicos, hospitalização produz uma teia de atendimentos para as
psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais e demais crianças e adolescentes ela possibilita uma interface clara
profissionais do hospital que a equipe multiprofissional se entre educação e saúde, abrindo campo para um trabalho
forma e se organiza. Nessa equipe cada sujeito desempenha colaborativo e interativo. Matos afirma que:
a sua função, porém o objetivo é único, o bem-estar da
criança /adolescente que está sob cuidados. Ainda há um extenso espaço a ser
conquistado, tanto na esfera da
Segundo Matos: formação do profissional que se
encontra no hospital, na escola e
Todas as ações pedagógicas na sociedade, quanto da integração
desenvolvidas dentro dos hospitais, de saberes entre saúde, educação,
ou seja, as ações que envolvem em prevenção, família e políticas
seu contexto não somente a criança e educacionais. (MATOS, 2012, p. 168).
o adolescente que está hospitalizado,
mas também toda a realidade Evidenciando assim, a abertura de estudos e
circundante dos multiprofissionais são discussões desse processo multiprofissional e atuante junto
fatores correlacionados e fundamentais a crianças e adolescentes em formação que gera uma rede
para atingir melhores condições de profissionais e apoio em prol de um objetivo único e
de ser e estar no tempo hospitalar comum, a recuperação da saúde e a volta a rotina.
enquanto da internação desta criança/
adolescente. (MATOS, 2012, p. 165-166). Outro fator importante nessa rede de apoio e cuidado
que precisar ser olhado e considerado é o cuidador (Mãe,
Dessa forma, o conhecimento das equipes, as interações pai, avós, irmãos, etc.) que acompanha a criança/adolescente
mutuas e todos os fatores relacionados a rotina das crianças durante a hospitalização ou no seu tratamento. Esse sujeito
e adolescentes durante a internação fazem parte dessa teia cuidador, é a pessoa com quem o professor se relaciona
de relações que se forma no ambiente hospitalar e trazem a diretamente nos atendimentos educacionais hospitalares e
delimitação do trabalho docente neste contexto. domiciliares. É ele que repassa informações sobre a escola de

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


57
origem, sobre o estado de saúde e de animo das crianças e um sujeito nessa teia de relações que precisa ser ouvido e
adolescentes que são atendidos pelo docente. contemplado no processo de atendimento educacional em
ambientes de tratamento da saúde.
A relação com o acompanhante nos hospitais só se deu
a partir de leis e da exigência dos programas de humanização. Rodrigues (2012) nos lembra da necessidade de
Entre essas leis o Estatuto da Criança e do Adolescente – compreensão dos papéis e de uma atuação consciente e
ECA, que afirma no artigo 12º que: “os estabelecimentos coerente no espaço que o professor está ocupando, ressalta-
de atendimento à saúde deverão proporcionar condições se a sua importância neste contexto e relembra-se que:
para a permanência em tempo integral de um dos pais
ou responsável, nos casos de internação de criança ou A ambiência de um hospital permite
adolescente”. (ECA, Lei 8.069 de 13/7/1990). Trazendo ao o estabelecimento de ações
ambiente hospitalar uma nova realidade, de adaptação e de multiprofissionais e interprofissionais
um processo dialógico. Pois é o acompanhante que facilita a a partir da compreensão de papéis
comunicação com a equipe de saúde. e funções profissionais definidas
e com delimitações claras e
Para Fonseca (2008, p.35) a presença do acompanhante intercomplementares de atuação.
no hospital apresenta muitos aspectos positivos e relevantes Nesse momento profissional, a ética,
entre eles o fato de que o “acompanhante conhece muito bem a coerência, o bom senso e a atitude
a criança e o adolescente e lhe serve de interprete da situação colaborativa são fundamentais.
de hospitalização e tratamento”, mas seu papel também é (RODRIGUES, 2012, p. 96)
o de facilitador do vínculo com os profissionais do hospital.
Sendo igualmente importante para a escola na medida em que A família37
promove e participa das interações com o processo de ensino.
Observando e analisando a sociedade podemos
A partir desses apontamentos com relação ao perceber que ela não existe sem um dos seus elementos,
acompanhante da criança ou do adolescente teremos mais que a priori é o mais importante a família. A organização
37 Sugestão de filme: 1. Uma prova de amor - https://www.youtube.com/watch?v=-1n43BZ4coY&list=PLXyB2zVWGdgsevGSOGKjy9CAazykqJ8gm.
2. Laços de afeto: https://www.youtube.com/watch?v=mNK26VXcFPw.
3. Il filo invisibile. https://www.youtube.com/watch?v=Kp3BmnvdBXI.
4. Familia belier. https://www.youtube.com/watch?v=iHxpsosjg4k.
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
58
grupal é um fato natural e sempre ocorreu na existência dois papéis bem distintos: a dama do amor cortês ou a dona
dos seres humanos, embora seja modificada de tempos em de casa. Começou nesse mesmo período a representação do
tempos a família dificilmente deixará de existir. trabalho doméstico, quebrando a imagem de que a mulher é
o ser ocioso. Já no final do século XVI toda a família faz parte
Esse grupo social, denominado família, sofreu muitas das atividades camponesas e é representada nas imagens,
modificações e ainda assim continua existindo. Dessa forma, pinturas da época, participando do trabalho cotidiano.
cada pessoa possui um conhecimento a respeito de uma
família; conhecimento que vai se modificando pela ação da A ideia de família e a sua representação se
própria sociedade e principalmente pelo papel dos meios de constituem como elementos importantes, quando surge uma
comunicação que informam as modificações e alterações que nova simbologia para retratar as fases da vida; marcadas
ocorrem frequentemente alterando as instituições familiares. no século XV, por imagens que representam uma criança,
um casal e um velho. E logo adiante a representação
De um período de enfraquecimento da família; a sua passa a ser de um conjunto de elementos; mostrando uma
supervalorização e declínio há longas histórias que valem representação familiar. Logo, se entendermos a família como
ser consideradas para que possamos entender o perfil dual uma instituição social, percebemos que ela é com toda
de família que a sociedade criou e assim interagir com o certeza a mais antiga das instituições, fundada pelo próprio
contexto de ação docente. homem em sua natureza, através da história e da cultura.

As primeiras ideias de representação da família De uma família medieval quase sem importância e
aparecem quando a idade média retrata os ofícios, embora representatividade, nas famílias atuais encontramos várias
não seja a intenção, a família é aí representada porque formas de representação desse grupo. Se analisarmos a
marca a contribuição nas atividades dos homens e da vida idade média, por exemplo, percebemos que a família não
dos trabalhadores. Embora representada nessa época a era um fator relevante para ser representado de alguma
família é uma imagem discreta; pois a intenção é mostrar o forma, seja na literatura, nas artes ou outro meio. E a partir
trabalho e a importância dele na vida do homem. do século XVI, as imagens desse grupo ficam explícitas, e ele
recebe uma nova importância, já que suas ações vão estar
É somente a partir do século XVI, que as mulheres centradas a partir desse período na criança.
começam a fazer parte das representações; sendo vistas em

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


59
Acompanhando os estudos de Ariès (1998) verificamos emoção; sentimento este que cresceu em torno da família
que no século X, a “família era um grupo reduzido baseado conjugal formada por pais e seus filhos. A grande família
em uma única célula conjugal sem muitos laços de ligação”. ou a família patriarcal formada por avós, tios, primos e
Nos séculos seguintes os laços familiares começaram a se etc. é uma criação dos dois últimos séculos, e da cultura
modificar por dois fatores interessantes, uma lei do estado tradicional.
que obrigava os homens a se agruparem mais estreitamente
e a busca por proteção, ou seja, a ideia de família passou a Quando a sociedade começou a reconhecer o valor
existir como um sentimento de proteção entre as pessoas da família, muitas áreas da ciência viram esse grupo
do mesmo grupo. Foi nesses séculos que os bens de herança social como objeto de estudo. Tais estudos mostram com
passaram a ser comum e não poderiam ser vendidos, muita clareza, todo o processo de transformação pelo
gerando assim famílias imensas reunidas em um mesmo qual a família passou. Como a família é em grande parte
ambiente. a responsável pela formação e repasse de valores morais,
éticos e sociais ao indivíduo, vale considerar que em cada
Já no século XIII a situação se inverteu, em função época temos diferentes modelos familiares, que vão formar
das condições financeiras as famílias voltam a ser uma consciência coletiva diferente. Porém, a modernidade
independentes, porém os laços familiares ainda se mantêm. nada mais é do que o resultado de uma nova adaptação às
E o sentido de família é diretamente relacionado a casa, seu condições que a sociedade passou a exigir.
governo e sua vida. Até o final do século o que se entendia
por família era a linhagem do indivíduo sem que isso tivesse Entre os setores da sociedade que mais sofreu
muita importância social. modificações, a família vai dos casamentos precoces à
prostituição infantil, dos casamentos indissolúveis aos
Entretanto, é somente no século XIV, que os novos divórcios e o convívio dos filhos com as novas uniões que se
modelos familiares começam a surgir e revelam a origem da formam. Cada época conhece e incentiva as transformações
família moderna, que em partes ainda se assemelham ao familiares, em grande parte a mudança ocorre evidenciada
modelo dessa época. pelos meios de comunicação, uso de tecnologia avançada,
e pelo progresso na agricultura e na industrialização. Fatos
No século XVIII, a família é reconhecida como um que exigem novas configurações e forçam a reorganização
valor social do homem e é exaltada em toda sua forma e social dos indivíduos.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


60
A partir de 1970, com o aumento e autenticidade da Mostrando perspectivas similares da nova organização
produção sociológica sobre a família, a sociedade passou familiar.
a conhecer os fatos e fatores de evolução da família. Da
mesma forma que apareciam na história as imagens da Para Freire L. a ideia de família está relacionada
família, aparecem informações sobre modos de vida, também a construção conceitual do próprio termo e aos
comportamento, organização, etc. permitindo uma análise aspectos culturais,
estatística mais detalhada do comportamento familiar.
A família talvez seja uma das
O parentesco das sociedades ocidentais reaparece instituições mais antigas da vida no
com grande força e fica marcado na paisagem demográfica planeta. Os antropólogos e arqueólogos
e social. Em primeiro lugar o aumento da expectativa de já encontraram rastros dessa forma tão
vida faz com que várias gerações estejam presentes no peculiar que diga-se de passagem, não
contexto familiar. Sendo assim, as representações coletivas é privilégio do Homo sapiens. Desde
geradas socialmente passam a se alterar em função desse muito cedo no planeta, talvez até
novo perfil, para compreender a estrutura familiar, as porque a família está intrinsecamente
linhas sociológicas propõem que os estudos sejam feitos relacionada à reprodução, enquanto
observando a esfera dos costumes, do direito, dos hábitos, seres vivos, a família existiu. O homem
pois algumas informações sobre o costume da herança, por pré-histórico, evidentemente, logo
exemplo, podem mostrar de forma mais clara a constituição sentiu a necessidade de constituir uma
da família. “família” para poder ter mais potência
e dominar as forças da natureza e,
Dessa forma a família é entendida como espaço de assim, milênios mais tarde criar o que
posições sociais, e surge como uma construção ideológica, para nós, seres humanos, nos é tão
uma abstração, um domínio desencadernado que supõe precioso: a cultura. Família está muito
uma total ausência de variedade de modelos. Enquanto a estreitamente relacionada com a
interrogação global se refere às relações entre organização cultura, não existe família sem cultura,
familiar e mudança social, outra vertente analisa a família assim como também não existe cultura
a partir de conceitos de industrialização e urbanização. sem família. (FREIRE, L. 2017, p.176).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


61
Ao apontar que os aspectos culturais têm “Art. 53º - A criança e o adolescente
relação direta com a família, o autor nos faz refletir sobre a têm direito à educação, visando ao
relação do docente no atendimento educacional domiciliar pleno desenvolvimento de sua pessoa,
e na relação direta deste docente com a cultura da família, preparo para o exercício da cidadania
seus valores, seu modo de organizar e pensar a vida e qualificação para o trabalho,
entre outros aspectos. Tal reflexão retoma a discussão assegurando-se lhes:
dos princípios éticos e morais envolvidos no atendimento I – igualdade de condições para o
educacional hospitalar e domiciliar. acesso e permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus
Compreender a família como um constructo educadores;
social que se organiza nos cuidados de uma criança ou III – direito de contestar critérios
adolescente, em especial numa situação de tratamento de avaliativos, podendo recorrer às
saúde, exige a clareza de que é a família que apresenta instâncias escolares superiores;
papel essencial no desenvolvimento do indivíduo, é a partir IV - direito de organização e
dela que o sujeito se constrói como humano, cresce e se participação em entidades estudantis;
desenvolve. V – acesso à escola pública e
gratuita próxima de sua residência.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA Parágrafo único. É direito dos pais ou
(BRASIL, 1990) aponta que a base familiar é de significativa responsáveis ter ciência do processo
importância para o desenvolvimento da criança, com a pedagógico, bem como participar da
função de ajuste físico, mental, moral, espiritual e social, definição das propostas educacionais.
resguardando sempre, a dignidade dos menores. Cabe (BRASIL, 1990, Lei 8069).
ainda a família as obrigações referentes a educação e a
escolarização. Conforme o artigo 53, que trata dos direitos Assim, compreende-se que o atendimento
à Educação, Cultura, Esporte e Lazer, a família deve educacional domiciliar a criança ou adolescente em
acompanhar e participar das propostas pedagógicas e tratamento de saúde deve contemplar todo o aspecto
processos que envolvem a formação de seus filhos. familiar envolvido, considerando nas etapas de
planejamento e execução das atividades escolares a

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


62
participação da família, a sua rotina e a sua dinâmica de Logo, a ação docente em ambiente domiciliar
funcionamento. Bertolin e Maito (2015), ressaltam este é organizada pelo viés da participação e atuação da
aspecto ao afirmar que: família, tanto no cuidado com o sujeito em tratamento
de saúde como na atenção e valorização do processo de
O envolvimento da família neste escolarização. Acreditamos diante dessa discussão que
processo é de extrema relevância. o professor tem papel essencial no desenvolvimento de
Esta exerce o papel de anfitriã do uma proposta pedagógica domiciliar ao compreender as
profissional da educação que adentra dinâmicas de organização e respeitar as condições desse
o lar do estudante mediante prévia espaço de atuação.
autorização do responsável. Cabe a
família proporcionar um ambiente
adequado para os atendimentos como:
lugar arejado com cadeiras e mesa para
a realização das atividades pedagógicas
e ambiente livre de excessiva
circulação de pessoas, que permita ao
estudante, concentração no período
do atendimento. Além disso, durante o
período do APD a família deve motivar
o estudante quanto à continuidade
de seus estudos formais, auxiliando o
mesmo nas tarefas de casa, quando
solicitadas e na organização do seu
material para os dias previamente
agendados de APD. (BERTOLIN e MAITO,
2015, p.13449).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


63
Para refletir: Família é fonte de amor inesgotável
Família é um monte de dor inexplicável
Leia a letra da música Família, de Fábio Correa Ayrosa Galvão,
Família faz coisas que ninguém explica
e discuta qual é ideia vinculada a família na atualidade,
Família não vai embora, família fica
como é entendida por você a diversidade de composições
familiares?
Família as vezes briga quase todo dia
Família se você não escolhe, devia
Família é tempestade num copo d’agua
Família mágoa, mas perdoa toda mágoa

Família eu sou, família amor


Família eu quero, tô sendo sincero

Família é assim mesmo, família é uma doideira


Família é pra hoje, pra agora e pra vida inteira
Família é uma luz, um porto seguro
Família é passado, presente, futuro

Família eu sou, família amor


Família - Fábio Jr Família eu quero, eu tô sendo sincero. (GALVÃO, 2015).

Família é coisa mais maluca que eu conheço


Família tem cheiro, tem cor, tem endereço Inegavelmente a família faz parte do processo
Família pode ser a minha, pode ser a sua
educativo, no atendimento educacional hospitalar
Família se constrói em casa, e também na rua
e domiciliar essa relação se acentua e se aproxima.
Família é uma pessoa que vem com defeito Exigindo do docente, habilidades que se diferem do rol
Família pode ser do seu ou do meu jeito didático corriqueiro. Há na nova rotina uma gama de
Família é um instrumento difícil de tocar saberes, de tempos, de dúvidas e de descobertas que são
Família parece casa, mas é um lar compartilhados entre estudante, professor e familiar que
Família eu sou, família amor acompanha as aulas.
Família eu quero, tô sendo sincero

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


64
Para Borges (2009), o “ato educativo pauta-se na em que esses povos atuam. O verbete dicionarizado nos dá
função materna como condição para que o educador tenha o conceito de ética como:
laços identificatórios, para que seu discurso se sustente”.
(BORGES, 2009, p. 07). Assim, a relação da escola com a 1.ramo da filosofia que tem por
família estabelece uma conexão com todos os aspectos objetivo refletir sobre a essência
humanos e cria uma relação triangular entre sujeitos que dos princípios, valores e problemas
envolve diretamente o conhecimento que se constrói com fundamentais da moral, tais como
base nestes aspectos. a finalidade e o sentido da vida
humana, a natureza do bem e do mal,
3.6 A dimensão ética os fundamentos da obrigação e do
dever, tendo como base as normas
consideradas universalmente válidas
e que norteiam o comportamento
humano. 2. Conjunto de princípios,
valores e normas morais e de conduta
de um indivíduo ou de grupo social ou
de uma sociedade. (MICHAELIS38, 2018).

Logo, podemos entender que há uma conduta a ser


“Decência e boniteza de mãos dadas” seguida e que esta conduta é determinada socialmente por
Paulo Freire pares semelhantes ou contextos que exigem do sujeito a
adesão a normas e procedimentos que guiam e regem o
A origem do conceito de ética volta-se para a espaço social de convívio. De acordo com Cohen e Negres
antiguidade grega, remetendo-se a ideia do modo de ser, (1999, p. 04), “a ética se fundamenta em três pré-requisitos:
ou caráter. Tratando –se de um modo de ser e proceder, a 1) percepção dos conflitos (consciência); 2) autonomia
ética é construída de acordo com os povos e os contextos (condição de posicionar-se entre a emoção e a razão,

38 Dicionário Michaelis on-line: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/%C3%A9tica/.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


65
sendo que essa escolha de posição é ativa e autônoma); de convivência profissional. Entretanto,
e 3) coerência”. Ou seja, ser ético exige de cada sujeito a
consciência de seus atos e de sua ação, uma autonomia de [...] as relações na equipe ocorrerão
escolha dos seus procedimentos e tomadas de decisão e de forma ética quando seus
obviamente uma coerência nas suas ações. participantes tiverem consciência de
que, para atuar profissionalmente,
Na educação hospitalar a exigência de um código é preciso ter percepção dos valores
ético é latente, há neste contexto de atuação docente um morais que se refletem nas ações
conjunto de fatores que exigem do docente uma postura e na responsabilidade de cada um,
ética, respeitosa para com seus estudantes, sua doença, traduzindo-se em participação.
sua família e o espaço de atuação. De acordo com Chacon e (CHACON e MARIN, 2012, p. 153).
Marin (2012) o compromisso do trabalho impõe a ética nas
relações profissionais e exige a consciência de que: Ou seja, a participação coletiva que visa um objetivo
único, faz parte do conceito de ser ético e da atuação docente
A ética, nas relações profissionais, no ambiente hospitalar, o professor neste espaço está para
faz-se por meio de respeito, de somar e contribuir com o bem-estar da criança ou adolescente.
responsabilidade, de compromisso
com o trabalho e com o outro, assim [...] no processo de trabalho na classe
como pela afetividade no trato com as hospitalar, está implícito o desafio
pessoas. Pode-se, assim, depreender da passagem de uma ética individual
que, sem os princípios éticos que a uma ética pública, sendo aquela
orientam as relações humanas, torna- marcada pelo hospitalocentrismo
se até mesmo inviável a convivência e uma abordagem especializada e
entre as pessoas. (CHACON e MARIN, esta, que caminha na perspectiva
2012, p. 153). de ações voltadas para as múltiplas
determinações, com vista à melhoria
Desse modo, compreende-se que a dimensão ética é da qualidade de vida das pessoas.
requisito fundamental na atuação com outro e em espaços (CHACON e MARIN, 2012, p. 153).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


66
Assim, a ética pressupõe um trabalho voltado para 3.6.1 Os aspectos éticos do atendimento educacional em
o ser humano, em especial, num contexto de adversidade domicilio
e desafio, diante da doença e da condição do outro. Ser
ético neste contexto exige respeito a todo processo de
tratamento, as dores, ao momento de mau humor, as
lágrimas, a imagem e aos desejos e sonhos das crianças e
adolescentes em tratamento de saúde. Para Paulo Freire
(1996, p. 59) o respeito é um saber necessário à prática
educativa, pois tratar o outro, o estudante, a sua família com
respeito faz parte de uma consciência ética.

Como educador, devo estar


constantemente advertido com relação Disponível em: http://migre.me/bvdaQ
a este respeito que implica igualmente
o que devo ter por mim mesmo. [...] A educação em domicilio está no limite entre o
o inacabento de que nos tornamos espaço íntimo e a ação pública, e em razão desta questão
conscientes nos fez seres éticos. O há a exigência de um cuidado ético nas ações e intenções
respeito à autonomia e à dignidade de de todo o processo educativo. Ao cruzar a fronteira do
cada um é um imperativo ético e não público e adentrar no espaço privado, da casa do estudante
um favor que podemos conceder uns a dimensão ética e o olhar atento e cuidadoso dos docentes
aos outros. (FREIRE, 1996, p.59). precisam estar em alerta. Simultaneamente o espaço
de intimidade se torna público e aberto a indivíduos
Desse modo, ser ético no atendimento educacional (professores) até então, estranhos ao convívio diário da
hospitalar e domiciliar implica em respeito, a toda condição família.
dos sujeitos e as imposições do contexto, ou seja, o trabalho
educacional deve ser desenvolvido de modo a caber nos O espaço doméstico exige uma preocupação com a
intervalos do tratamento clínico, como contributo e alivio questão ética na medida em que o professor irá se deparar
da rotina, sendo uma possibilidade alteração do foco da não apenas com a criança/adolescente em tratamento de
doença para outro campo, o educacional.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


67
saúde, mas com toda sua família, com a rotina da casa, com surgem como consequência inevitável
os animais de estimação, com as lembranças e memórias de tais revelações. (SILVA, 1998, p.52-53).
da família e toda sua intimidade, além das suas condições
socioeconômicas. Diante de tais afirmações, cabe compreender que
a presença do professor em domicilio esbarra em certos
Há na rotina do atendimento educacional domiciliar o segredos íntimos, mas que cabe também a este profissional
contato com um universo do estudante que talvez não fosse o cuidado e a competência para lidar com a situação.
aberto na sala de aula comum, e isso exige claramente um Além disso, é dever do docente ter clareza de que há na
compromisso ético e estético do professor, a delicadeza de Constituição Federal um artigo que trata do direito à
ouvir, acompanhar e tratar tudo com carinho sem expor o privacidade e é seu papel respeitar o espaço íntimo. O artigo
que acompanha na rotina dos atendimentos em domicilio. 5º, inciso X, afirma que: “são invioláveis a intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
Segundo Silva (1998), “há aspectos da intimidade o direito à indenização pelo dano material ou moral
que se revelados em segredo, não podem ser desvelados a decorrente de sua violação”. Diante deste texto reforça-se o
terceiros”, pois quebram uma relação de confiança além de caráter ético necessário ao apoio pedagógico domiciliar.
ferirem princípios legais. De acordo com o autor,
De acordo com Guerra (2006), a definição de
É importante tutelar a intimidade, intimidade envolve questões da vida que não dizem respeito
especialmente porque a revelação de a terceiros, segundo o autor:
certos aspectos das vidas das pessoas
pode por vezes causar discórdia, a intimidade é algo a mais do que a
dor e sofrimento. Imaginem-se as vida privada, ou seja, a intimidade
consequências de revelar a alguém as caracteriza-se por aquele espaço,
relações adulterinas do seu cônjuge; a considerado pela pessoa, como
sua condição de filho adotivo; aos pais, impenetrável, intransponível,
que o filho ou a filha é homossexual; e indevassável e que portanto, diz
muitas outras situações em que a dor e respeito única e exclusivamente à
o sofrimento, o profundo abalo moral, pessoa, como por exemplo, recordações

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


68
pessoais, memórias, diários etc. Este Para Maito (2018, p. 54), na “atividade do professor
espaço seria de tamanha importância do Atendimento Educacio­nal Domiciliar, é determinante que
que a pessoa não desejaria partilhar haja a preocupação com princípios éticos e valores morais”.
com ninguém. São os segredos, as Pois, é por meio de tais princípios que se pode estabelecer
particularidades, as expectativas, enfim parâmetros adequados as ações educacionais que serão
seria, o que vamos chamar de o “canto desenvolvidas. De acordo com a autora:
sagrado” que cada pessoa possui.
(GUERRA, 2006, p.06). O Atendimento Educacional Domiciliar
propicia a interação do pro­fessor com
Logo o professor inserido no ambiente domiciliar, a família e o resgate do estudante
para o atendimento ao sujeito em tratamento de saúde, como ser e cidadão de direito. Nessa
deve compreender essas dimensões e saber trabalhar com dinâmica, o professor precisa ter
estes aspectos de estar no espaço privado em contato com clareza de sua função social para não
questões intimas da família e do estudante. assumir papéis que não lhe cabem. O
comportamento e as atitudes éticas
Ainda de acordo com Guerra (2006, p.06), a “vida ganham uma importância ainda
privada consiste naquelas particularidades que dizem maior nesse contexto pedagógico que
respeito, por exemplo, à família da pessoa, tais como relações envolve atores com diferentes relações
de família”, e outros fatos do cotidiano. São neste caso, fatos estabelecidas com o estudante
e informações que a pessoa compartilha com quem é próximo domiciliar. (MAITO, 2018, p. 54-55).
de si, mas num nível de confiança com relação a informação
confidenciada. Compreende-se que a função do docente Assim, o papel do professor se define e se organiza
no atendimento educacional hospitalar não está neste a partir de sua função docente, mas atrelada a ela, há e
campo especificamente, porém intimidade e privacidade exigência de um princípio norteador e balizador do seu agir
estão no limite da ação do professor, especialmente do que é a ética como ação e procedimento.
professor domiciliar, e quando tais informações vêm à tona
o aspecto ético é essencial, pois nem tudo o que é dito nos Porém, o que é ética e por que tratar tão claramente
atendimentos pode e deve ser compartilhado. dela no contexto educacional hospitalar e domiciliar, como

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


69
se tal conceito não fosse importante em outros espaços do pensamento filosófico, social
educativos também. A grande questão contextual é a e pedagógico, essa herança não é
individualidade e a inserção no espaço da intimidade do aprendida como componente central
outro, o que exige um rigor técnico do docente e princípios de todo profissional da educação nos
éticos muito bem apurados. cursos de formação de professores
educadores. (ARROYO, 2007, p. 04).
Segundo Arroyo (2007, p.04), até mesmo “na Paidéia a
pedagogia se interroga sobre a formação ética do cidadão
da polis, sobre o que é ético e o que deixa de sê-lo, sobre Diante de tais apontamentos nos cabe refletir sobre o
a formação do sujeito virtuoso”. Entretanto, essa discussão momento em que o aspecto ético tão urgente e necessário
não se fixa apenas nos termos é necessário investir na será discutido, compreendido e colocado em prática na ação
construção teórica e de postura humana, para que essa docente. No fazer pedagógico o componente ético aparece
postura seja uma postura ética. Arroyo (2007) discute a ética com um outro elemento associado a ele, a dicotomia
e o comportamento docente como constructos que devem ética/moral. Em uma indefinição de termos e conceitos, La
ser trabalhados durante a formação acadêmica, profissional. Taille, Souza e Viziolli (2004, p.98) defendem que: “moral e
Para o autor, ética não são termos que precisam ser necessariamente
empregados como sinônimos”. No entanto, não são
Em contraste com essa presença discutidos e entendidos na educação em todos os seus
inquietante das questões éticas no aspectos.
cotidiano da prática educativa e
em contraste com a rica herança de De acordo com os autores, “pode-se falar em moral
reflexão sobre as relações entre ética para designar os valores, princípios e regras que, de
e educação pode ser constatada a fato, uma determinada comunidade, ou um determinado
secundarização e até o silenciamento indivíduo legitima, e falar em ética para se referir à reflexão
dessa relação na história mais sobre tais valores, princípios e regras”. (LA TAILLE, SOUZA
recente. Essa tradição foi silenciada. e VIZIOOLI, 2004, P. 98). E, estabelecer um parâmetro de
Não obstante haver uma riquíssima estudo e discussão em linhas distintas de filosofia e ciência,
tradição herdada no campo da ética, compreendendo como tais conceitos interferem e fazem

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


70
parte do contexto e do processo educativo. Ainda segundo tais conceitos podem determinar as finalidades do processo
os pesquisadores, educativo.

A segunda diferença que se faz entre Ao definir os atributos do ato educativo


moral e ética não incide sobre o grau como o de preparar os indivíduos
de abstração de uma em relação à para a vida social, institui-se um
outra (na definição anterior, a ética parâmetro universal sobre os fins da
estaria em nível superior), mas sim Educação. E esse parâmetro pode
sobre duas problemáticas diferentes, ser expresso em um outro discurso
embora certamente indissociáveis. paralelo e a ele correspondente: o de
A moral referir-se-ia à dimensão do formar os indivíduos para o exercício
dever, enquanto a ética diria respeito da Cidadania. O que se coloca como
à dimensão da felicidade. (LA TAILLE, fim ou finalidade da ação educativa
SOUZA e VIZIOOLI, 2004, P. 98). constitui-se, ipso facto, em seu próprio
conceito. Um exame mais acurado
Assim, poderíamos entender que a dimensão dessas proposições indicaria que, por
pedagógica exige tanto princípios éticos como princípios esse caminho conceitual, o discurso
morais para que o processo educativo cumpra seu papel educativo acaba se convertendo numa
de formador de sujeitos e seja atuante no desenvolvimento proposição tautológica, e coopera para
da cidadania. A compreensão do dever docente para com o enfraquecer a construção de um bom
sujeito em atendimento educacional hospitalar e domiciliar entendimento a respeito do que seja a
perpassa também o conceito ético desse docente com Educação. (RODRIGUES, 2001, p. 234).
relação a todo processo de escolarização, de tratamento de
saúde e de estabelecimento de relações educativas. Logo compreender os conceitos de ética, moral e
No campo educacional ética e moral agem como educação exige a elaboração, a construção e a reelaboração
balizadores das ações de docentes e estudantes em todos de definições mais significativas, radicais, rigorosas e claras
os níveis do processo. Rodrigues (2001), ressalta que ao tanto para a educação como para os conceitos de cidadania
mesmo tempo que há uma determinação de papéis e ações e sociedade.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


71
Dessa forma, a educação hospitalar e domiciliar mundo da criança doente implica entender a mudança de
se constitui num mecanismo que inventa e reinventa os foco, as angústias e suas necessidades imediatas.
significados do processo educativo ao considerar como
essenciais para sua ação os princípios éticos e morais, Os tipos de atendimento no universo hospitalar
atrelados ao respeito ao outro e ao debate do que seja dependem da especificidade de cada unidade hospitalar,
educação, escolarização e conhecimento. Trombetta esses atendimentos variam entre os feitos a alunos
e Trombetta (2017, p.167) apontam que: “educadores e internados por longos períodos como: pacientes da
educandos não podem escapar à rigorosidade ética”, pois hematologia, hemodiálise, queimados, transplantados,
esta está atrelada a uma reflexão crítica que se volta para as neurologia, cirúrgicos, entre outros; e atendimentos
discussões relacionadas a condição humana. Assim, “educar aos alunos internados por períodos mais curtos como:
é formar sujeitos éticos tendo em vista a humanização” dos traumatizados, hospital-dia, ambulatórios, etc.
homens e sua rede de relações em sociedade.
Segundo Fonseca (2010), “as especificidades
Ao discutirem os conceitos de ética Trombeta e do atendimento pedagógico em ambiente hospitalar
Trombeta (2017, p.167) afirmam que a educação é na sua compreendem a diversidade de estratégias para favorecer
essência um encontro ético entre o eu e o outro. Reafirmando o ensino e aprendizagem e a consideração sobre a situação
os ideais que temos de educação hospitalar e domiciliar hospitalar do aluno”. Além disso, é necessário um olhar
como processo educativo centrado na relação dos sujeitos. sensível e diferenciado do docente, preparado para perceber
os aspectos cognitivos, psicológicos e sociais deste aluno.
3.7 Os estudantes em tratamento de saúde
O estudante do atendimento educacional hospitalar
No contexto hospitalar é importante compreender é um sujeito matriculado numa escola regular ou especial
que a visão do mundo muda de foco de acordo com o olhar que se ausenta da sua escola por razões do tratamento de
de quem a vê, como nos comprova Mezzono, ao dizer que: saúde. Seu processo de escolarização, na maioria das vezes, é
“Quando alguém adoece o seu mundo entra em parafuso: fragmentado: ocorre no hospital, nos períodos de internação,
as certezas tornam-se dúvidas, a força, muitas vezes cede algumas vezes, em casa, com professor de atendimento
lugar à fraqueza, o otimismo é suplantado pelo pessimismo” domiciliar, quando o afastamento é longo e com tarefas
MEZZONO, (2003, p. 335). E dessa forma, compreender o domiciliares se o afastamento for por períodos mais curtos.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


72
Oriundo de diferentes cidades do estado, ou de Como pensar o afastamento da escola para tratamento de
diferentes estados, o estudante no hospital vive as saúde?
mudanças provocadas pelo deslocamento de sua cidade e
de sua casa, pelo tratamento e pelas restrições impostas
por suas condições de saúde. Há junto com a hospitalização
um processo de adaptação as novas condições de vida
que o tratamento e nova rotina impõe. Os estudantes em
tratamento de saúde são sujeitos que vivem as situações do
tratamento e por consequência carregam consigo as marcas
desses processos.

O processo de ensino-aprendizagem é na maioria Fonte: http://das.prodegesp.ufsc.br/portaria-licenca-para-tratamento-


das vezes, fragmentado, sem continuidade e com pouca de-saude.
frequência na escola de origem, pois o processo de
tratamento acarreta muitas ausências e a quebra da rotina Iniciamos nossa reflexão partindo do princípio de que
escolar; não há para ele uma sequência de conteúdos ninguém quer ficar doente, entretanto a doença acontece
estabelecida num currículo fixo que determine o que e com ela, vem uma série de procedimentos e questões
deve ser estudado antes ou depois, como se ausenta que precisam ser resolvidas. De acordo com Rubio (2001)
rotineiramente, tudo fica fragmentado; há muita fragilidade grande parte das necessidades educativas domiciliares e
emocional e dores que interferem no processo de ensino das defasagens de aprendizagem, está associada a doenças
- aprendizagem; os tratamentos podem ocasionar uma crônicas e enfermidades de longa duração, ou seja, é o
série de intercorrências que interferem no processo de tratamento da doença crônica, da doença grave que exige
aprendizagem e isso do professor a atenção adequada para maiores períodos de afastamento da escola.
apoiar a recuperação. Sendo assim...
Segundo Albertoni e Chiari (2014), “a tipologia
das condições de saúde faz-se a partir da forma como
os profissionais da saúde se organizam nos cuidados e
manifestação das doenças”. Ou seja, tal determinação

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


73
considera fatores como transmissão, contágio, tempo de Outra questão importante relacionada a doença
tratamento, formas de tratamento entre outros aspectos. crônica envolve o quadro de instabilidade, há momentos
Para as autoras, mais críticos em que a doença se manifesta de forma aguda
e requer tratamentos emergenciais e outros momentos em
Em geral, as condições agudas que o tratamento é de manutenção, acompanhamento ou
apresentam um curso curto, inferior a protocolar como nos casos de tratamento oncológico, em
três meses de duração, enquanto que que há um tempo longo de medicação, acompanhamento,
as condições crônicas têm um período afastamento da escola para que o tratamento seja feito.
de duração mais ou menos longo,
superior a três meses, e nos casos de Porém, o afastamento em virtude do tratamento de
algumas doenças crônicas, tendem saúde acarreta uma série de dificuldades. Holanda e Collet
a se manifestar de forma definitiva e (2012, p.35), evidenciam em sua pesquisa que os estudantes
permanente. (ALBERTONI e CHIARI, 2014, com uma doença crônica “apresentam, uma baixa frequência
p.37). na escola e [...] dificuldades para acompanhar o curso
regular durante o tratamento”. Reforçando apontamentos
Dessa forma, os estudos brasileiros, corroboram já feitos por outros autores, de que há comprovações da
com o que apontou Rubio (2001) ao enfatizar que é a dificuldade de manutenção da sequência de conteúdos
doença crônica a que exige mais tempo de afastamento das da escola regular, da regularidade das avaliações e de
atividades regulares e pressupõe maior atenção da saúde e acompanhar efetivamente as discussões, conteúdos e
da família nos cuidados. propostas desse processo escolar.

Há inúmeros fatores que envolvem as doenças e Fonseca (2008) elenca um conjunto de fatores
múltiplas causas, assim como, apresentam também um que envolvem a criança / o adolescente em tratamento
conjunto de sintomas que muitas vezes vai se associando de saúde. Para a autora o sujeito que passa por uma
e desencadeando a exigência de muitos cuidados. Essas hospitalização e que tem uma problemática de saúde para
ocorrências são comuns em cardiopatias, nefrologias, resolver, sente-se angustiado com relação a frequência
síndromes raras e casos oncológicos, por exemplo e implicam escolar, suas atividades e até mesmo com relação a
em um processo de cuidado da saúde e da educação. matricula e ao vínculo com a escola. E isso pode interferir

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


74
claramente na sua percepção de si e do mundo. Fonseca de abandono e isolamento, infusão de
(2008) defende ainda que a criança da escolarização coragem, instilação de confiança no
hospitalar é uma criança de risco. seu progresso e em suas capacidades.
(FONSECA, 2008, p.34).
Risco à sua saúde mental. Risco em
relação à visão que seus familiares Diante de tais apontamentos compreendemos que as
possam ter dela. Risco a sua interligações do processo de apoio educacional em domicilio
autoestima. Risco a utilização plena de devem estar relacionadas a todo o contexto vivido pelo
seu potencial, apesar das limitações estudante em tratamento de saúde, ou seja, será impossível
impostas adoecimento. E não seria uma dissociar a escolarização da vida.
criança de risco uma criança portadora
de necessidades especiais? (FONSECA,
2008, p. 34).

Desta forma, ao organizar os planos de trabalho


para o atendimento educacional hospitalar e domiciliar
o professor deve considerar todos os condicionantes que
envolvem este estudante, e propor um planejamento de
atividades que seja capaz de contemplar a complexidade
e ao mesmo tempo associar o currículo escolar da escola
de origem criança / adolescente. Concordamos com os
apontamentos de Fonseca (2008) ao indicar a função da
escola hospitalar e acrescentamos nesta discussão a
educação domiciliar.

As relações de aprendizagem numa


escola hospitalar são injeções de
ânimo, remédio contra os sentimentos

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


75
2. O ASPECTO FORMAL DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL HOSPITALAR E DOMICILIAR

Fonte: Deposit fotos, 2022.

4
O aspecto
formal do
atendimento
educacional
hospitalar e
domiciliar
As premissas são as de que a educação hospitalar A articulação de tais instancias constitui-se no
deverá estar relacionada a escola de origem do estudante, momento em que o estudante chega para tratamento de
de maneira que ao sair do hospital a criança tenha plenas saúde, o responsável pela classe hospitalar (professor,
condições de acompanhar os conteúdos da escola regular. pedagogo) deve ir até a família e o estudante para conversar
Entretanto, essa relação desafia professores e gestores. sobre sua vida escolar e condições clinicas para verificar
Entende-se que o vínculo entre escolarização hospitalar se o atendimento escolar pode ser realizado e em que
e escola de origem pode ser feito a partir de boletins condições.
informativos enviados pela equipe pedagógica à escola
regular e por meio do parecer pedagógico elaborado pelos Entra – se em contato com a escola para solicitar o
professores que atendem o estudante. Sendo que tais currículo que a criança seguiria e também as atividades já
documentos visam o detalhamento do processo pedagógico realizadas. Cabe à unidade de ensino encaminhar as tarefas
desenvolvido durante os atendimentos educacionais no previstas para que o estudante faça em sua internação ou
hospital ou em domicilio. em domicilio - inclusive as provas, que serão devolvidas
para a correção pelo educador da turma regular. Neste
Assim, para que o processo se concretize e as processo, o professor do atendimento hospitalar/domiciliar
ações educativas sejam consideradas e validadas, há a fará as adaptações que se fizerem necessárias para que o
necessidade de explicar a escola e as famílias de que modo estudante acompanhe o currículo e tenha possibilidades de
o processo educacional, especialmente no hospital ocorre. avançar na sua aprendizagem.

É importante informar aos pais os conceitos da Os estudantes, normalmente estão matriculados


educação hospitalar e como ela se configura no espaço numa escola regular, acompanhando um ano letivo e um
hospitalar, deixar claro que ela é diferenciada da educação de determinado curriculo. O plano de trabalho docente da
uma escola tradicional, que ela segue o princípio da formação escola de origem é solicitado e chegando na unidade, os
global, da integração e da individualidade; que não será professores desenvolvem seu trabalho dando continuidade
pautada em notas, mas em desenvolvimento de aprendizagens. ao planejamento escolar, com as devidas adaptações.
Tendo em vista que os estudantes hospitalizados estarão Resultando assim, um plano de ensino personalizado e
trabalhando com um currículo adaptado às suas necessidades adequado as caracteristicas de cada estudante. Se isso
e condições de aprendizagem. não acontece, o plano curricular da escola não chega ao

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


77
hospital, o professor do atendimento educacional hospitalar registra a tragetória do estudante durante o atendimento
se organiza obedecendo as Diretrizes Curriculares vigentes, escolar hospitalar. A organização bem feita de uma pasta
adequando os conteúdos as necessidades da criança/ ou arquivo, com toda a documentação e tarefas realizadas
adolescente para dar continuidade aos estudos desses no período de internação, também é essencial. Nela devem
sujeitos. ser reunidos os exercícios feitos, os exames aplicados e
os relatórios com a carga horária total do atendimento,
O atendimento do estudante internado é feito pelo os conteúdos abordados e as principais dificuldades
professor de forma cuidadosa e criteriosa; considerando encontradas, inclusive com as observações feitas pelo
seu estado de saúde e suas aprendizagens anteriores, docente e parecer descritivo das atividades e conteúdos
sem descartar as dificuldades, necessidades e condições desenvolvidos no ambiente hospitalar que irão orientar a
temporárias que o tratamento impõe. Outro fator de escola no retorno do estudante a sua escola de origem e na
extrema importância na educação hospitalar é o vinculo continuidade do processo educativo.
entre professor (a), estudante e família, pois se este não
existir todo o trabalho se perde. Quais são os registros necessários na educação hospitalar?

Ensinar um conteúdo escolar no contexto hospitalar


exige do professor qualidades nem sempre comuns.
É preciso ter um amor imenso, grande capacidade de
resiliência e superação de traumas, possibilidade de
lidar com o improviso e o inesperado, dominio de mais
disciplinas além de sua formação, senso de pesquisa e
investigação aguçados, alto nível de comprometimento e
responsabilidade, grande flexibilidade teórica e prática,
treino das emoções e um imenso dominio ético. Fonte: Deposit photos, 2022.

Outro aspecto importante neste processo é a  Levantamento prévio de estudantes em idade de


organização das produções da criança, o registro do escolarização (senso);
processo de ensino e a produção do parecer descritivo que É um levantamento prévio baseado nos

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


78
internamentos que detecta as crianças e Conceituando o parecer descritivo...
adolescentes em idade de escolarização obrigatória e
produz um mapa do trabalho inicial do pedagogo ou
coordenador educacional no hospital.

 Ficha de acompanhamento individual;


É um documento organizado para conter informações
do estudante: nome; série; idade; escola de origem;
dados da família; relato do contato com a escola;
descrição diária das atividades. Na ficha, registra-
se também a data dos atendimentos, a disciplina
trabalhada, o conteúdo, as atividades desenvolvidas Fonte: Deposit photos, 2022.
e o professor responsável pelo atendimento. É esse
documento que apoia os professores na escrita do Parecer: opinião; avaliação; julgamento. (POLITO, 2009,
parecer descritivo. p.457, Dicionário de sinônimos). Juízo técnico sobre questão
jurídica ou administrativa, emitido em processo por jurista,
 Parecer descritivo avaliativo; órgão do ministério público, ou funcionário especializado.
É um documento produzido por professores que Gênero textual desenvolvido pelos docentes da educação
atenderam a criança / adolescente e tem como hospitalar e domiciliar.
objetivo dizer para os interlocutores (escola e
família) como se deu a aprendizagem do estudante Parecer pedagógico o que é?
durante o período em que esteve em atendimento no • Instrumento de avaliação;
atendimento hospitalar ou domiciliar. Ele relata com • Descreve detalhadamente a trajetória do
clareza o desenvolvimento do processo de ensino. estudante;
• Avalia o desempenho e o processo de ensino;
• Indica procedimentos de continuidade do
processo acadêmico;

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


79
Parecer pedagógico de onde vem? no processo de ensino e aprendizagem”. (BRASIL, 2011, p.2).
Pode-se pensar o parecer pedagógico como uma ferramenta
Não nasce como gênero da prática docente: é técnico, de avaliação que fornece suporte a futuras estruturações
médico, psicológico; etc. Esse gênero vem sendo adotado pedagógicas junto ao estudante.
na Educação Infantil, e mais recentemente, no Ensino
Fundamental e Ensino Médio (HOFFMANN, 2001; FREIRE, 2001, Segundo Corazza (2004) o parecer descritivo tem uma
1989; SAUL, 2000). De acordo com Hoffmann (1996, p.57) “os finalidade bem definida:
registros de avaliação sob a forma de pareceres descritivos
[...] surgem justamente na Educação Infantil”, em uma ação Seu propósito declarado é o de
contínua e altamente reflexiva, de forma a expressar “avanços, comunicar – aos pais/mães ou
conquistas, descobertas dos alunos, bem como relatar o responsáveis pela criança e, em
processo vivido em sua evolução, em seu desenvolvimento, algumas escolas, à própria criança
dirigindo-se aos encaminhamentos, às sugestões de e também à equipe diretiva – os
cooperação entre todos que participam do processo”. progressos e as dificuldades
individuais, fornecer sugestões de
Para Camargo e Sarzi (2013, p.1943) o parecer como melhorar, bem como apontar os
pedagógico [...] “constitui-se em um relato avaliativo resultados parciais/finais do processo
que contém o registro das informações a respeito do de aprendizagem (CORAZZA, 2004, p.25).
desenvolvimento educacional do estudante”, descrevendo
detalhadamente o processo de ensino e as conquistas desse Quais aspectos enfatizar?
processo.
• Abordar questões COGNITIVAS que revelam a
O Parecer Descritivo vem se constituindo como uma observação ou compreensão do estudante em seus
das formas mais “completas” de se avaliar os sujeitos- estágios de desenvolvimento;
estudantes. É um instrumento qualitativo uma vez que • Analisar as possibilidades do estudante se
contem a descrição do desenvolvimento educacional desenvolver, de ir além naquela habilidade ainda não
dos estudantes e pode “fomentar o desenvolvimento de adquirida;
recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras • Descrever o desenvolvimento próprio de cada

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


80
criança destacando seus avanços e conquistas; O que registrar?
• Expor as necessidades e intervenções a serem • Os conteúdos estruturantes, específicos e
feitas durante o processo de ensino-aprendizagem. básicos;
• Descrever a trajetória de aprendizagem no • Os resultados do desenvolvimento e da
período. aprendizagem do estudante a partir dos instrumentos
avaliativos do cotidiano da aula: relatos de
O que precisamos saber? experiências, desenhos, cartazes, painéis, produção
oral, produção escrita, reescrita, maquete, jogos,
• Que habilidades e conhecimentos foram brincadeiras, dramatização, experimentações, entre
trabalhados com esse estudante; outros;
• Quais os avanços que o mesmo vem • Os critérios avaliativos;
demonstrando nestas áreas; • Detalhes do desenvolvimento do estudante;
• Apresenta alguma área a ser melhor • Detalhes do processo de apropriação do
desenvolvida; conhecimento;
• Que sugestões você oferece neste sentido; • Anotações do professor apontando os avanços
atividades? Jogos? Leituras? Que trabalhos você vem e necessidades de mediações específicas do processo
realizando junto ao estudante e apresentam bons ensino aprendizagem;
resultados;
• Como o estudante se refere e percebe o seu Foco principal – exigências para o professor:
desenvolvimento neste período?
• Prestar atenção nas manifestações dos
estudantes (orais e escritas);
 Registro de atividades desenvolvidas.
• Descrever e refletir teoricamente sobre tais
Cada professor irá escolher o registro de acordo com a
manifestações;
atividade realizada, os objetivos da proposta de trabalho e
• Partir para ações ou encaminhamentos ao
as condições de produção dos estudantes. O registro pode
invés de permanecer nas constatações.
ser: uma tarefa escrita, uma foto, um poema, uma música,
• Apresentar uma sequência de atividades
um desenho, uma apresentação, um banner, etc.
e abordagens que desencadeiam o processo de
aprendizagem e reflexão sobre o que se está
trabalhando.
Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters
81
Freire (1994) afirmou que, os aspectos histórico- atoleiro que tinham pela lente. Pararam. Desceram da
sociais e as diferenças individuais do educando devem ser camioneta. Olharam o atoleiro, que era um problema
considerados no processo educativo, uma vez que ele é para eles. Atravessaram os dois metros de lama,
defendidos por suas botas de cano longo. Sentiram
um ser histórico e se constrói nas relações com os outros
a espessura do lamaçal. Pensaram. Discutiram como
homens e com o mundo, partindo do pressuposto de que
resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas
cada sujeito possui uma configuração única das experiências pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno
vivificadas. Acredita-se na educação hospitalar como espaço a consistência mínima para que as rodas da camioneta
de configuração única, capaz de dar vez e voz a cada sujeito passassem sem se atolar. Pedro e Antônio estudaram.
que passar por seu domínio, tendo em vista os princípios Procuraram compreender o problema que tinham a
educativos que pautam esse processo de educação e a teia resolver e, em seguida, encontraram uma resposta
de relações que se forma a partir dele. precisa. Não se estuda apenas na escola. Pedro e
Antônio estudaram enquanto trabalhavam.
Reflexão
Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de
Finalizamos esta etapa, com um convite ao estudo, a um problema. Esta atitude séria e curiosa na procura
reflexão, a pesquisa e a descoberta de novos caminhos. de compreender as coisas e os fios caracteriza o ato
Leia o texto “O ato de estudar” e reflita como esse processo de estudar. Não importa que o estudo seja feito no
se organiza na tua carreira acadêmica e docente. momento e no lugar do nosso trabalho, como no caso
de Pedro e Antônio, que acabamos de ver. Não importa
O ato de estudar que o estudo seja feito noutro focal e noutro momento,
como o estudo que fazemos no Círculo de Cultura. Em
qualquer caso, o estudo exige sempre esta atitude séria
Tinha chovido muito toda a noite. Havia enormes poças
e curiosa na procura de compreender as coisas e os
de água nas partes mais baixas do terreno. Em certos
fatos que observamos.
lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama.
Fonte: Deposit
Às vezes, os pés apenas escorregavam nela. Às vezes,
photos, 2022. Um texto para ser lido é um texto para ser estudado.
mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até
Um texto para ser estudado é um texto para ser
acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antônio
interpretado. Não podemos interpretar um texto se o
estavam transportando numa camioneta cestos cheios
lemos sem atenção, sem curiosidade; se desistimos da
de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa
leitura quando encontramos a primeira dificuldade. Que
altura, perceberam que a camioneta não atravessaria o
seria da produção de cacau naquela roça se Pedro e

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


82
Antônio tivessem desistido de prosseguir o trabalho por
causa do lamaçal?

Se um texto às vezes é difícil, insiste em compreendê-lo.


Trabalha sobre ele como Antônio e Pedro trabalharam
em relação ao problema do lamaçal. Estudar exige
disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e
recriar é não repetir o que os outros dizem. Estudar é
um dever revolucionário! (FREIRE, 1989, p. 33).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


83
Considerações e discussões relevantes

5
Considerações
e discussões
relevantes
Neste primeiro módulo discutimos aspectos e intervenções, tanto internas quanto externas, que
relacionados ao Atendimento Educacional em Ambiente interferem no modo de realizar as aulas e nos níveis
Hospitalar e Domiciliar, buscando construir um trajeto que de conhecimento do estudante que está no ambiente
toma como base a história dos atendimentos para chegar na hospitalar e que determinam a trajetória do processo de
função docente e suas nuances, neste processo de ensino. ensino. Dessa forma, exige – se dos docentes capacidade
A intenção foi a de trazer de modo reflexivo uma noção plena de compreensão dos contextos, leitura do espaço
global do objeto de estudo e caminhar progressivamente e dos sujeitos e flexibilidade extrema para organizar e
para a especificidade, assim cada capítulo buscou sair do reorganizar os processos de ensino, os procedimentos, os
aspecto mais amplo e progredir para a especificidade do atendimentos, entre outras questões.
atendimento educacional em ambiente hospitalar.
Therrien e Loiola (2003, p.158) destacam que:
O principal objetivo do módulo inicial foi o de situar o “O saber-fazer contextualizado se elabora a partir das
docente no tempo e no espaço da educação em ambientes características do contexto no interior do qual o professor
de tratamento de saúde discutindo aspectos relevantes para ou a professora evolui”. Assim, a leitura do espaço da
a atuação dos professores e gestores. Considera-se que educação hospitalar determina a prática docente e os
no ambiente hospitalar e domiciliar a responsabilidade do caminhos pedagógicos trilhados neste campo. Abrindo
docente é muito grande com relação aos métodos e técnicas possibilidades de inovação, criatividade, reflexão e pesquisa
de ensino; há a necessidade do compromisso profissional, sobre os processos de ensino.
mas há também uma grande necessidade do sistema de
gestão pública ou privada de incentivar e mobilizar esforços
para a formação contínua, para o estudo in loco e para o
desenvolvimento de práticas inovadoras de ensino.

Compreende-se que a docência no atendimento


educacional hospitalar e domiciliar é uma prática situada
que exige do professor uma postura mais rigorosa,
cuidadosa e assertiva. Há todo um conjunto complexo
de condições de tratamento de saúde, de interações

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


85
Referências

6
Caderno de
atividades
1. Contexto histórico
1.2 No Brasil 1.3 Quem organiza a educação nos hospitais
brasileiros?
Assista o vídeo complementar e debata sobre a
importância da escolarização nos hospitais. Leia o texto “Classe hospitalar e atendimento
pedagógico domiciliar: estratégias e orientações”,
As crianças que vivem num hospital e vão à escola do Ministério da Educação, e analise suas
- learning world proposições e produza uma resenha do documento.

Clique no ícone para assistir

Clique no ícone para ler

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


87
1. Contexto histórico
1.5 Contexto brasileiro: o atendimento pedagógico domiciliar

Pesquise em seu estado ou região qual é o tempo de afastamento


previsto em lei para que o apoio pedagógico domiciliar seja
garantido ao estudante em tratamento de saúde. Como se
organiza esse atendimento em tua cidade / estado?

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


88
2. Educação inclusiva
Assista aos vídeos para saber mais sobre o tema

Linha do Tempo: Educação Inclusiva Webinar Educação Inclusiva: Perspectivas e


Desafios

Clique no ícone para assistir Clique no ícone para assistir

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


89
3. Reflexões sobre a docência
Assista o vídeo e observe quais aspectos de 3.3 A relação professor - aluno
formação docente são ressaltados no vídeo?
Para aprofundar os estudos leia:
Classes Hospitalares
Relação Professor-Aluno: Um diferencial na classe
hospitalar

Clique no ícone
para ler

Clique no ícone para assistir


Classe hospitalar: aspectos da relação professor-
aluno em sala de aula de um hospital

Clique no ícone
para ler

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


90
3. Reflexões sobre a docência
3.5 A teia de relações

Para iniciar as discussões deste capítulo assista à


animação Viva – a vida é uma festa, e pense na
família como elemento do processo de educação e
elemento constituinte do atendimento educacional
hospitalar.

3.7 Os estudantes em tratamento de saúde

Para iniciar as discussões deste tópico escolha e


assista um dos filmes e observe os elementos que
compõe o cotidiano dos personagens.

Cinco passos de você A culpa é das estrelas Como eu era O escafandro e a Teoria de tudo
antes de você borboleta

Clique para assistir Clique para assistir Clique para assistir Clique para assistir Clique para assistir

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


91
Referências

7
Referências
ACAMPORA, Bianca. Psicopedagogia hospitalar: diagnóstico e intervenção. Rio de Janeiro, Wak Editora, 2015.

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 8ª ed. São Paulo, Cortez, 2011.

_____. Palestra. Supervisão Pedagógica em Contexto. I Seminário de Formação de Professores. Local de gravação: Palácio
Sacadura Botte, FPCEUC, Coimbra. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fPn0jmot330. Publicado em 05 de
abril de 2018.

ALBERTONI, Léa Chuster. CHIARI, Brasilia Maria. A inclusão escolar de alunos com doenças crônicas. Curitiba, Appris, 2014.

ALMEIDA, Leonardo Augusto. Desafios no atendimento pedagógico ao aluno em tratamento de saúde: um relato de experiência.
2015. Disponível em: www.eventos.ufu.br/.

ARIÈS, Phillippe. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro, LTC, 1981.

ARROYO, Miguel G. Conhecimento, Ética, Educação, Pesquisa. Revista e-Curriculum, vol. 2, núm. 2, junho, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2007.

BERTOLIN e MAITO. Atendimento pedagógico domiciliar – APD a escola em casa. In: Anais do XII Congresso Nacional de
Educação, EDUCERE, PUC-PR. 2015. ISSN 2176-1396.

BORGES, T. Função materna, educação e ato educativo. Revista Inter Ação, 34(2), 453-464. 2009. https://doi.org/10.5216/
ia.v34i2.8505.

BORI, Maria. Chile: pionero y líder. In: MÉXICO, Apuntes de Pedagogía Hospitalaria. Administração Federal dos Serviços
Educativos. Governo Federal, Cidade do México, 2010.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola, 2008.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


93
BRASIL. Decreto-lei nº. 1.044, de 21 de outubro de 1969. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1044.htm.

BRASIL. Lei n. 6.202/75, de 17 de abril de 1975.

______. Lei Nº 6.503, de 13 de dezembro de 1977. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6503.htm.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial 1988.

_____. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Secretaria de
Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002.

_____. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Brasília,
2001.

_____. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Atualizada em 24/09/2018. BRASIL. Decreto Lei n.1044/69 de 21 de outubro de 1969.

_____. Ministério da Educação. Política Pública de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Nº. 7.853, de 24 de outubro de 1989.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


94
_____. Ministério de Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 3/1998, de 26 de junho de 1998.

_____. Resolução n. 41/95, de 13 de outubro de 1995. (Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente).

______. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Resolução Nº 02, o Conselho Nacional de Educação
– CNE e a Câmara de Educação Básica – CEB. 2001.

______. Estatuto da criança e do adolescente. Lei 8069/1990.

______. Lei Nº 7.692, de 20 de dezembro de 1988. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7692.htm.

______. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.

______. Lei, Nº. 6.202, de 17 de abril de 1975. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L6202.htm.

______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Texto de 07 de janeiro de 2008. http://
portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.

CAMARGO, Renata Gomes. SARZI, Luana Zimmer. Parecer pedagógico como instrumento de avaliação na atuação do professor
de educação especial. EDUCERE -PUC, Curitiba, 2013.

CARVALHO, Rosita Edler. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 11ª ed., Porto Alegre, Mediação, 2016.

CASTRO, Marleisa Zanella de. Escolarização hospitalar: desafios e perspectivas. In. MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Escolarização
Hospitalar: educação e saúde de mãos dadas para humanizar. 2ª ed. Petrópolis, Vozes, 2010.

CECCIM, Ricardo. Classes educacionais hospitalares e a escuta pedagógica no ambiente hospitalar. In: Secretaria de Estado da
Educação. Superintendência de Educação. Diretoria de Políticas e Programas Educacionais. Núcleo de Apoio ao Sareh. Curitiba:
Seed-PR., 2010. – 140 P. - (Cadernos temáticos).

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


95
CHACON, Miguel Claudio Moriel e MARIN, Maria José Sanches. Educação e saúde de grupos especiais. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2012.

COHEN, Claudio; GOBBETTI, Gisele e OLIVEIRA, Reinaldo Ayer de. Breve discurso sobre ética, moral, estética e bioética das
relações. Rev. Bras. Psicanálise [online]. 2021, vol.55, n.2, pp. 41-57. ISSN 0486-641X.

CONANDA. Resolução nº 41, de 17 de outubro de 1995. Dispõe sobre os Direitos da Criança e do Adolescente
Hospitalizados. Diário Oficial da União. Brasília, Seção I, p. 16319-16320, 17/10/95.

CORAZZA, Sandra Mara Corazza. Que Quer um Currículo? Pesquisas pós-críticas em educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

COVIC, Amália Neide. OLIVEIRA, Fabiana Aparecida de Melo. O Aluno Gravemente Enfermo. São Paulo, Cortez, 2011.

FONSECA, Eneida Simões. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2ª ed. São Paulo, Memnon, 2008.

______. Atendimento Pedagógico-Educacional para Crianças e Jovens Hospitalizados: realidade nacional. Brasília: Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999.

______. O papel do professor no ambiente hospitalar e a inter-relação da equipe pedagógica com a equipe de saúde e a
família da criança hospitalizada. In: Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretoria de Políticas e
Programas Educacionais. Núcleo de Apoio ao Sareh. Curitiba: Seed-PR., 2010. – 140 P. - (Cadernos temáticos).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Professora Sim, Tia Não – cartas a quem ousa ensinar. 4ª ed. São Paulo: Olho d’Água, 1994.

______. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,1987.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


96
_____. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 1989.

_____. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra.1981.

GADOTTI, M. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. 2. ed. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire,
2011.

GALLO, Silvio. Eu, o outro e tantos outros: educação, alteridade e filosofia da diferença. Disponível em: http://www.grupodec.
net.br/wp-content/uploads/2015/10/GalloEuOutroOutros.pdf.

GARCÍA ÁLVAREZ, A. La educación hospitalaria en Argentina: entre la supervivencia y compromiso social. Foro de Educación,
12(16), pp. 123-139, 2014. doi: http://dx.doi.org/10.14516/fde.2014.012.016.005.

GUERRA, Sidney. Direito fundamental à intimidade, vida privada, honra e imagem. 2006. Disponível em: http://www.
publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/recife/direitos_fundam_sidney_guerra.pdf.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora. Porto Alegre: Editora HOLANDA, ER, COLLET N. Escolarização da criança
hospitalizada sob a ótica da família. Texto Contexto Enfermagem. 2012. Jan-Mar; 21(1):34-42.

JUSTI, Eliane M. Q. FONSECA, Eneida S. SOUZA, Luciane R. S. Pedagogia e escolarização no hospital. Curitiba, Intersaberes, 2012.

LA TAILLE, Yves. SOUZA, Lucimara S. VIZIOLI, Leticia. Ética e educação: uma revisão da literatura educacional de 1990 a 2003.
Revista: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 91-108, jan. /abr. 2004.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por que? Como fazer? São Paulo, Summus, 2015.

_______. A Educação Especial no Brasil – da Exclusão à Inclusão Escolar. Disponível em: http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/
nt/ta1.3.htm. Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade – LEPED/Unicamp. 2018.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


97
MATOS, Elisete Lúcia Moreira. MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia hospitalar: a humanização integrando
educação e saúde. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2009, 2014.

MATOS. Elizete Lúcia Moreira. Reflexões da conduta ética e a humanização voltada a ação pedagógica do escolar hospitalizado:
novos tempos – novas possibilidades. In: CHACON, Miguel Claudio Moriel e MARIN, Maria José Sanches. Educação e saúde de
grupos especiais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

______. A hospitalização escolarizada e a formação do professor para atuar em contexto hospitalar. In: Secretaria de Estado da
Educação. Superintendência de Educação. Diretoria de Políticas e Programas Educacionais. Núcleo de Apoio ao Sareh. Curitiba:
Seed-PR., 2010. – 140 P. - (Cadernos temáticos).

MÉXICO, Apuntes de Pedagogía Hospitalaria. Administração Federal dos Serviços Educativos. Governo Federal, Cidade do
México, 2010.

MEZZONO, Augusto Antônio.et al. Fundamentos da Humanização Hospitalar: uma versão multiprofissional. São Paulo: Loyola
2003.

MORENO, Leda Virginia Alves. Educação e Saúde: a dignidade humana como fundamento da prática docente em ambiência
hospitalar. Curitiba, Appris, 2015.

NASCIMENTO, Deise Fernandes. FREITAS, Marcos Cezar. A importância da formação e capacitação de profissionais da saúde,
educação e assistência social para a compreensão das vulnerabilidades infanto juvenis e o papel da prevenção. Memorias
Convención Internacional de Salud Pública. Cuba Salud 2012. La Habana 3-7 de diciembre de 2012.

PARANÁ. INSTRUÇÃO Nº 09/2017-SUED/SEED. Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/instrucoes2017/


instrucao092017sued_seed.pdf.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação
Básica. Curitiba, 2008.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


98
PAULA, Ercília M. A. T. Educação nos hospitais: necessidade de discussão desse cenário educativo na formação de professores.
In: Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretoria de Políticas e Programas Educacionais. Núcleo
de Apoio ao Sareh. Curitiba: Seed-PR., 2010. – 140 P. - (Cadernos temáticos).

PETERS. Itamara. Letramentos em Língua Portuguesa: um Estudo de Caso na Educação Hospitalar do Paraná. (Dissertação de
Mestrado) UENP, Jacarezinho, 2016. Disponível em: https://uenp.edu.br/profletras-dissertacoes/profletras-dissertacoes-t2/9452-
itamara-peters-2016/file.

POLAINO-LORRENTE, Aquilino. LIZASOAIN, Olga. La pedagogia hospitalaria en Europa: la historia reciente de un movimiento
pedagogico innovador. Universidad Complutense, Dpt. de Didáctica y Orientación. Universidade de Navarra. Disponível em:
http://www.psicothema.com/psicothema.asp?id=814

POLITO, André Guilherem. Michaelis Dicionário de Sinônimos e Antônimos. 2ª ed. São Paulo, Melhoramentos, 2009.

RAMOS, Maria Alice de Moura. A História da Classe Hospitalar Jesus. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

RANGEL. Mary. Educação e saúde: uma relação humana, política e didática. Educação. Porto Alegre, v. 32, n. 1, p. 59-64, jan. /abr.
2009.

REDLACEH - Rede Latinoamericana e Caribe: Por el Derecho a la Educación de Niños, Niñas y Jóvenes Hospitalizados o
en Situación de Enfermedad. Declaración de los Derechos del Niño, la Niña o Joven Hospitalizado o en Tratamiento de
Latinoamérica y el Caribe en el Ámbito de la Educación. Declaración de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, 9 de septiembre de 2009
en la Asamblea General de REDLACEH.

RODRIGUES, Janine Marta Coelho. Classes Hospitalares: o espaço pedagógico nas Unidades de Saúde. Rio de Janeiro, Wak
editora, 2012.

RODRIGUES, Neidson. Educação: da formação humana à construção do sujeito ético. Revista: Educação & Sociedade, ano XXII,
no 76, Outubro/2001.

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


99
RUBIO, Claudia Grau. GONZALES, Carmen Ortiz. La pedagogía hospitalaria em al marco de uma educación inclusiva. Málaga,
Ediciones Aljibe, 2001.

SÁ-CARNEIRO, Mário de (1914). 16 e 17. Revista Orpheu, ed. fac-similada dos três volumes. 2. ed. Lisboa: Contexto, 1994a. v. 1. p.14.

SILVA, Edson Ferreira da. Direito à intimidade. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.

SOUSA, Mauricio de. CORTELLA, Mario Sérgio. Vamos pensar um pouco? Lições ilustradas com a Turma da Mônica. São Paulo,
Cortez, 2017.

STOLTZ, Tania. Psicologia da educação. Curitiba, UFPR, 2013.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, R.J.: Editora Vozes, 2002.

THERRIEN, Jacques; LOIOLA, Francisco. A. Considerações em torno da relação entre autonomia, saber de experiência e
competência docente no contexto da ética profissional. CD-ROM. Anais do XVI EPENN. Aracaju, Se. 2003.

TROMBETA, Sérgio. TROMBETA, Luis Carlos. Ética. In: STRECK, Danilo R. REDIN, Euclides. ZITKOSKI, Jaime José. Dicionário P

Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar - Itamara Peters


100
Campo Grande-MS
2022

Você também pode gostar