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Resumo: As mais diversas jurisdições fiscais poderão Abstract: The most diverse tax jurisdictions may apply
aplicar as recomendações do Projeto BEPS da OCDE the recommendations of the OECD´s BEPS Project with
com respeito ao tripé coerência (harmonização das respect to the tripartite coherence (harmonization of
regras domésticas com as internacionais), substância domestic rules with international rules), substance (to
(afastar arranjos feitos apenas para reduzir tributos) e eliminate arrangements made only to reduce taxes)
transparência (troca de informações entre jurisdições, and transparency (exchange of information between
solução de conflitos e fornecimento de dados pelos jurisdictions, settlement of disputes and provision
contribuintes). O futuro propõe a moralização fiscal of data by taxpayers). The future proposes a fiscal
por um Fisco Global, mas os interesses de países em moralization by a Global Tax, but the interests of
desenvolvimento na competição internacional ainda developing countries in international competition persist
persistem como um problema não resolvido na pretensa as an unresolved problem in the so-called reform of
reforma da tributação internacional proposta pela OCDE. international taxation proposed by the OECD. The
O artigo abordará brevemente o projeto BEPS, sua article will briefly address the BEPS project, its partial
materialização parcial por um instrumento multilateral materialization by a multilateral instrument and it will
e avaliará de forma problematizada sua legitimidade evaluate - in a problematized discussion - its legitimacy
quanto às soluções de problemas de competitividade in solving problems of international competitiveness.
internacional.
Palavras-chaves: Direito Tributário Internacional; Keywords: International Tax Law; fiscal policy;
política fiscal; concorrência internacional; erosão da international competition; erosion of the tax base;
base tributária; OCDE; soberania colaborativa; mundo OECD; collaborative sovereignty; world after BEPS
pós-Projeto BEPS. Project.
Sumário: 1. Introdução - 2. Projeto BEPS: 2.1. Ações do Projeto BEPS: 2.1.1. Ação 1: Desafios da economia
digital; 2.1.2. Ação 2: Entidades e instrumentos híbridos; 2.1.3. Ação 3: Fortalecer as regras de CFC; 2.1.4.
Ação 4: Dedutibilidade de juros; 2.1.5. Ação 5: Práticas fiscais prejudiciais; 2.1.6. Ação 6: Abuso na aplicação
de tratados contra bitributação; 2.1.7. Ação 7: Estabelecimento permanente; 2.1.8. Ações 8 a 10 e 13: Preço
de transferência; 2.1.9. Ação 11: Medição e monitoramento de BEPS; 2.1.10. Ação 12: Regras de disclosure;
2.1.11. Ação 14: Tornar os mecanismos de resolução de conflitos mais eficientes; 2.1.12. Ação 15: Desenvolver
um instrumento multilateral que auxilie as jurisdições interessadas a integrarem e alterarem suas convenções
em conformidade com as orientações do grupo de trabalho do BEPS; 2.2. Adesões ao MLI pelos países latino-
americanos: 2.2.1. México; 2.2.2. Argentina; 2.2.3. Panamá; 2.2.4. Colômbia; 2.2.5. Brasil - 3. Conclusão
- 4. Referências.
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o capital se tornou móvel em razão dos encurtamentos das
distâncias promovidos pela tecnologia e multiplicação da participação do investimento
estrangeiro nas mais diversas jurisdições internacionais.
1
BRAUNER (2013, pg. 38)
2
BRAUNER (2013, pg. 39). Os citados autores ainda questionam se o crescimento econômico trará, automaticamente, um
desenvolvimento social. Realmente, faz muito sentido afastar o conceito de desenvolvimento do crescimento econômico.
3
ALMEIDA (2013, p. 99): Um dos efeitos deletérios da opção é transferir a arrecadação da base tributária do capital (alta
mobilidade) para o consumo ou trabalho (menos móveis), como cita o Prof. Carlos Otávio Ferreira de Almeida.
4
ALMEIDA (2013, p. 18): O ônus tributário, assim como o incentivo fiscal, é apenas um subfator de influência na decisão do
fluxo de IED: “Em geral, são fatores espaciais, avaliados pelos atores globais na decisão da localização dos investimentos,
aqueles relacionados: (i) aos custos de disponibilidade de fatores de produção: arrendamento de terrenos, construção civil,
matéria-prima, mão de obra, tarifas energéticas, infraestrutura de transporte (portos, aeroportos e malha rodoviária). (ii)
ao processo produtivo> condições naturais, grau de organização de cadeias produtivas; (iii) à comercialização: potencial
de vendas, distancias físicas até o consumidor; (iv) a disposições estatais: ônus tributário, controle alfandegário, ordem
econômica (salvaguarda da concorrência, disposições constitucionais, risco de intervenção, confisco, incentivos fiscais;
(v) fatores estratégicos.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 147
O prof. Avi Nov5 alerta que a busca pela alteração da rota de IED faz com que os
mais diversos territórios travem uma “guerra cega” com os investidores, especialmente
as multinacionais, jogando diversas jurisdições umas contra as outras.6
5
NOV (2004, p. 668)
6
Nem todos os efeitos da concorrência podem ser classificados como negativos, como pode-se citar o (i) aumento da
eficiência do Estado, a busca de (ii) política de contenção da carga tributária, a busca do (iii) equilíbrio orçamentário e,
por fim, a (iv) maximização do bem-estar social.
7
ALMEIDA (2013, p. 99): “Levando ao extremo, o conjunto de políticas fiscais nacionais voltadas à atração de capital
poderia conduzir a uma “corrida para o fundo” (race to the bottom), com significativo declínio de receitas advindas da
tributação do capital, capaz de fazê-la tender a zero. Este o pensamento da chamada “teoria tradicional da concorrência
tributária” (tax competition), que predominou nos anos 1990.”
8
BRAUNER (2013, p. 40), exemplo citado pelos professores: “In sum, one may say that taxation plays a relatively small
role in the original decision to engage in foreing direct investment and that in many cases, political systems and market
climate are more important. However, taxation is a factor relevant at the margin. For example, consider a multinational
enterprise in the business of manufacturing sporting goods that wishes to increase production to respond to demand. (…)
Now, let us hypothesize that Thailand, Malaysia, and Vietnam are all appropriate in terms of infrastructure, transportation
costs and other institutional factors. It is only at this stage where on can see tax entering the equation. If one of these
countries can secure a better financial package (with taxes considered) for the investor, it may be at an advantage.”
9
ALMEIDA (2013, p. 104): “Em vista disso, o sucesso da neutralização da concorrência fiscal nociva depende, em larga
escala, de ações internacionalmente coordenadas, dadas as características hodiernas de mobilidade do capital. Nesse
sentido, a OCDE, em seu Relatório 1998 e atualizações, conclamou membros e não membros a intensificarem a cooperação
internacional, por mio de recomendações segmentas em três frentes: (i) concernentes à legislação doméstica (...) (ii)
concernentes aos acordos de bitributação (...); (iii) concernentes à intensificação da cooperação internacional.”.
10
AVI (2004, p. 14). O citado professor ainda defende uma posição diferente ao sustentar que: “In my view, we must accept
that variations in tax regimes, including a very low corporate tax rate, are a good thing because they give tax payers more
choice, and thus more chance of being satisfied as well as forcing countries to compete by offering different combination
of public goods and taxes.”
11
ALMEIDA (2013, p. 104)
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sobre rendas forâneas para garantir a exequibilidade da norma tributária dos países de
residência em relação a possíveis evasões, elisões e elusões fiscais. A grande questão
que surgiu foi a seguinte: como impor a exequibilidade da norma tributária do estado
de residência em relação à renda oculta em terceira jurisdição?
Como indicado, o soft law não possui meios para impor a coatividade esperada
pelo citado grupo, cabendo cada país decidir por si quais ações considera necessárias
para garantir a efetiva aplicação de suas leis tributárias.
12
“Tax Information Exchange” - TIEA
13
Lista Cinza, países com opacidade que tomarão medidas de ajuste em relação à transparência e Lista Negra, países não
comprometidos com política de transparência de informações para com outras jurisdições fiscais.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 149
Na prática, as jurisdições que constarem nas listas negra e cinza podem sofrer sanções
comerciais dos demais atores internacionais, diminuindo o fluxo de investimento e
ajudas financeiras de órgãos multilaterais, além de sofrerem consequências fiscais
mais severas das legislações tributárias dos demais países. Entre 2000 e 2002, mais
de trinta jurisdições assumiram compromissos formais para implementar os padrões
de transparência e troca de informações da OCDE. Atualmente, não existem paraísos
fiscais listados como jurisdição não colaborativa com a transparência fiscal.
14
OWENS (2013, p. 448)
15
SPONQUIADO (2017, p. 211)
16
BRAUNER (2013, p. 27): “Ireland´s 12.5 percent corporate income tax is a well-known example. One may argue that
this is not a true tax incentive because it applies universally and equally within a jurisdiction. However, the diversion of
the applicable tax rate from the normal or average level of corporate income tax rates internationally may be viewed as
aimed at encouraging or luring investment from competitor jurisdiction.”
17
Outro ponto importante é o efeito do Free Riders (caroneiros), sendo aqueles que obtém uma vantagem que não era alvo
inicial na criação da política de indução (efeito carona).
150 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
quantificando perdas arrecadatórias de até US$ 240 bilhões ao ano para estas
jurisdições.18
Como reação a essa medida pela divulgação das perdas arrecadatórias pelo
fisco inglês, sobrevieram boicotes de consumidores ingleses contra uma das citadas
multinacionais: Starbucks. Os países da OCDE, sensibilizados pela repercussão da
questão, iniciaram um trabalho conjunto, inicialmente incluindo seus membros e
posteriormente admitindo outras jurisdições, inclusive PED e o G20, para o debate
de meios para reduzir a erosão das bases tributáveis e a transferência de resultados
entre países.19
Assim, o Projeto BEPS nasce em 2013 com o intuito de estudar instrumentos para
afastar os efeitos causados pelas assimetrias das legislações domésticas e internacionais
que criam oportunidades tributárias para planejamentos tributários agressivos para
empresas multinacionais.
2. PROJETO BEPS
18
A OCDE estimou que entre 4% e 10% dos lucros das empresas, em âmbito global, não seriam tributados adequadamente,
uma vez que são transferidos para países com alíquotas de imposto de renda reduzidas. Com isso, os governos estariam
perdendo anualmente entre US$ 100 bilhões e US$ 240 bilhões em arrecadação.
19
ALMEIDA (2013, p. 100). O prof. Carlos Otávio Ferreira de Almeida cita autores como Michael Rodi, Benassy-Quere,
Fontagn, Lahreche-Revil, para esclarecer os fatores para os países buscarem a redução da exação do imposto de renda
corporativo: “Aferir com exatidão os efeitos da tributação sobre o fluxo de capital é questão complexa que divide
pesquisadores. (...) ao sustentarem que os mecanismos de preços de transferência e os contratos de mutuo entre empresa
do mesmo grupo facilitam a alteração dos lucros para jurisdições de menor tributação, independente do local de produção
desses lucros. (...) (i) a concorrência tributária não precisará conduzir a uma tributação zero, ao contrário, países atrativos
saberão explorar suas vantagens locacionais, mantendo seus índices de arrecadação; (ii) há uma sensibilidade assimétrica
do IED com relação ao diferencial do Imposto de Renda corporativo na fonte e na residência do investidor. Enquanto
alíquotas mais baixas na fonte que na residência não estimulam significativamente o fluxo de IED alíquotas mais alteras
tendem a desestimula-lo com mais intensidade.”
20
Foram admitidos alguns países da América Latina no debate, incluindo Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Brasil,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Haiti, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, Peru, Trinidad e Tobago e Uruguai. Como
membro do G-20, o Brasil participou das discussões e implementou em sua legislação interna algumas das medidas
previstas no Projeto BEPS.
21
Segundo o Ministério da Transparência do Brasil: “O Brasil foi eleito, ao lado de África do Sul, China e Índia, integrante
do "Bureau Plus" do BEPS (na categoria de "non-OECD countries"), grupo encarregado de supervisionar o progresso do
Projeto e levar a cabo o processo decisório. Com isso, passou a influenciar a agenda da iniciativa, de modo a acomodar as
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 151
Na evolução das discussões, ficou demonstrado que o Projeto BEPS foi silente
na razão real para participação de não membros da OCDE nas discussões das ações
propostas. O valor da inclusão dos países não membros nas discussões sobre tributação
internacional foi legitimar as decisões da OCDE como um líder global de política
tributária.
A longo prazo, sem uma definição clara de equal footing da Estrutura Inclusiva
com um desenho institucional e procedimentos de decisão, a falta de transparência
correrá o risco de ser uma mera política de retórica.
aspirações dos países em desenvolvimento. O relatório final do Projeto BEPS, com seu Plano de Ação, foi apresentado pela
OCDE e endossado pelos países Líderes do G20 na Cúpula de Antalya, na Turquia, em novembro de 2015. Em julho de
2016, os Ministros de Finanças do G20 aprovaram um "quadro inclusivo" ("inclusive framework") para a implementação
e monitoramento do projeto BEPS, que permitirá estender as medidas previstas no BEPS à adesão de novos países,
especialmente países em desenvolvimento. O Brasil integra ainda o grupo de países que vêm negociando o chamado
Acordo Multilateral Tributário (AMT), correspondente à ação 15 do Projeto BEPS, cujo objetivo é multilateralizar” em
um único instrumento os resultados das várias ações do projeto BEPS que modificam dispositivos de acordos para evitar
a dupla tributação (ADTs). Na falta do AMT, seria necessário renegociar e incorporar bilateralmente essas modificações
em cada ADT.”
22
CHRISTIANS (2018, p. 1).
152 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
Como conclusão parcial do ponto enfrentado nesse item, verifica-se que o foco
do Projeto BEPS foi a disputa pela exação de receitas forâneas, especialmente de
empresas multinacionais americanas,23 as quais seriam consideradas Stateless Income.24
Foi deixada de lado a oportunidade de discussão ampla e intensa nesse fórum sobre
a correta alocação das receitas entre PD e PED como forma equitativa de tributação
da renda internacional.
É possível que muitos PED não tinham uma ideia clara como e se suas bases
fiscais foram atingidas por planejamentos tributários agressivos e quais seriam seus
interesses efetivos na participação do Projeto BEPS. Ao invés de se oporem ao
movimento parcial de reforma tributária internacional apenas com foco no Stateless
Income, optaram pelo alinhamento para proteção de suas bases tributárias.
Assim, o interesse velado dos PED foi direcionado no fórum para proteção de
suas bases tributáveis por instrumentos bilaterais e domésticos, bem como o acesso à
informação de seu interesse por meio do compartilhamento de informações fiscais e
bancárias internacionais. Deveras, não importou muito a função clara do planejamento
tributário agressivo aos PED, mas a falta de declaração e sua renda oponível à base
tributária de sua jurisdição fiscal, sendo alvo a possibilidade de alcance de rendas
forâneas como foco para o esforço de alinhamento com a política de transparência
e cooperação internacional.
Como se verá abaixo, o Projeto BEPS gerou quinze relatórios de 2013 a 2016,
balizados em três pilares: coerência, transparência e substância. O presente artigo
23
Essas empresas americanas tiveram um incentivo para expansão de suas atividades no exterior desde os anos 1990 com
a aplicação da regra check in the box rules, diferindo a tributação pelo Corporate Income Tax apenas no momento do
ingresso das receitas nos Estados Unidos. Em alguns casos, alteraram sua residência para outros países de baixa tributação
e, como a manutenção de rendas no exterior sem a tributação era vantajosa para essas empresas multinacionais, aliadas
a estruturas tributárias complexas baseadas em transferência de intangíveis para países de baixa tributação, separação
das atividades por diversas jurisdições, evitando a criação de estabelecimentos permanentes e a criação de meios de
compartilhamento de despesas e empréstimos, há uma forma lícita de redução da carga tributária do grupo econômico e
consequente maximização da rentabilidade do negócio como um todo. Assim, são capazes de não criar estabelecimento
permanente em diversos países ou extrair o lucro dos países com tributação alta por meio de royalties e juros pagos com
retenção na fonte com percentual reduzido ou zero.
24
KLEINBARD (2012, p. 1) esclarece seu conceito: “Stateless income is income that is derived for tax purposes by a
multinational group from business activities in a country other than the domicile of the group's ultimate parent company
but that is subject to tax only in a jurisdiction that is neither the source of the production factors through which it was
derived nor the domicile of the group's parent company”.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 153
não pretende exaurir o conteúdo de cada relatório, mas busca indicar o escopo de
cada relatório, inclusive se contemplado no tratado multilateral e se foi internalizado
no ordenamento jurídico nacional.
Como bases dos três pilares, a Ação 1 (Desafios da economia digital) e a Ação 15
(adoção de um instrumento multilateral). A Ação 15 propõe uma reforma no sistema
para que materialize os resultados das Ações em um instrumento multilateral que
simplificará as medidas de combate à erosão fiscal e transferência de lucros.
O presente trabalho abordará de forma resumida cada uma das Ações para, enfim,
enfrentar a questão da moralização fiscal e a segurança jurídica aos contribuintes por
um Fisco Global.
25
PARIS (2003, p. 177): “Electronic commerce represents a qualitatively new form of commerce that defies many of the
assumptions upon which existing national tax systems and the international tax regime are based, including the notion
that transactions can be located in physical space. As a result, there is a growing disjuncture between the international tax
regime and the nonterritorial character of digital commerce. (…) in asserting that taxation cannot remain a ‘‘sovereign’’
decision. If one accepts that effective sovereignty, or what I have called de facto political authority, can be and is being
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A discussão no país ainda está voltada aos tributos aplicados sobre consumo.
Atualmente, o Brasil enfrenta uma discussão relacionada à tributação entre o ISS
e ICMS no comércio eletrônico, notadamente pela aplicação concorrente da Lei
Complementar 157/2016 e do recente Convênio ICMS 106/2017 para software via
download, mas ambos perquirem a tributação no local do consumo.
disaggregated and internationalized, then sovereignty over taxation could conceivably shift from territorial states to a
decentralized ‘‘international state.’’ Indeed, this process appears already to be under way, and there are strong indications
that it will accelerate in the years to come.”
26
LAW. (2014, p 41).
27
Por outro lado, em relação aos tributos sobre valor agregado (VAT), sobreveio resposta no sentido de criar uma tributação
sobre o consumo e a participação da fonte na tributação dessa capacidade contributiva. O Mini One Stop Shop, regime
opcional que permite prestar alguns serviços via eletrônica, telecomunicação e radiodifusão/televisão na União Europeia
sem precisar se registrar em cada um dos países.
28
A União Europeia recebeu proposta para criar uma tributação de imposto de renda corporativo, conhecido como CCTB,
repartindo o imposto entre os 28 Estados Membros por meio de um rateio, semelhante ao MOSS. Se for adotado o
CCTB, suas diretrizes introduziriam efetivamente um sistema tributário corporativo único para toda a UE para grandes
multinacionais, substituindo assim os sistemas nacionais separados que operam em seus membros
29
Em abril de 2015, o Reino Unido instituiu, em sua lei doméstica, o chamado Diverted Profits Tax (DPT), com o objetivo
de combater as operações de planejamento tributário agressivo utilizadas por multinacionais para desviar lucros da sua
jurisdição, por meio de estruturas de negócio que evitam a caracterização de um estabelecimento permanente no país, seja
mediante a realização de negócios jurídicos artificiais, seja por meio da utilização de entidades sem substancia econômica.
A Austrália criou solução semelhante com Tax Integrity of Multinational Anti Avoidance Law e criou os seguintes critérios:
a operação ter sido realizada para evitar a caracterização de um estabelecimento permanente no país, o proposito principal
do contribuinte é a economia fiscal em relação ao tributo australiano, a receita do contribuinte se superior a 1 bilhão de
dólares australianos e o não residente manter vínculo com paraísos fiscais.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 155
Essa recomendação não é a mesma que a União Europeia fez para seus membros,
que propõe uma forma prática de tratar a manipulação destes instrumentos, dando
prevalência ao tratamento da fonte, sendo este replicado pela residência ou que as
jurisdições prevejam a natureza legal do instrumento para se evitar o efeito indesejável
acima indicado (hybrid mismatches).
30
A Lei 12.973/14 não altera os princípios básicos da tributação no Brasil dos lucros das empresas estrangeiras para abordar a
adoção de IFRS, bem como tratamento automático para lucros obtidos no exterior por entidades controladas e não controladas.
31
Lei Nº 12.249/10: “Art. 26. (...) § 1º Para efeito do disposto no inciso I do caput deste Artigo, considerar-se-á como efetivo
beneficiário a pessoa física ou jurídica não constituída com o único ou principal objetivo de economia tributária que auferir
esses valores por sua própria conta e não como agente, administrador fiduciário ou mandatário por conta de terceiro.” .
32
Intercâmbio sobre decisões administrativas que concedem tratamento tributário especial a determinados contribuintes:
“Exchange on tax ruling” – ETR.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 157
Em relação à legislação interna, a IN RFB 1037/1033 já prevê uma lista negra (black
list) de países com baixa tributação e opacidade, além de indicar regimes tributários
privilegiados e exigir atividade econômica substantiva de empresas holding para
demonstrar se existe a empresa. Já a IN RFB 1.634/16 exigiu, para criar o CNPJ do
Investidor Estrangeiro, a identificação de seu beneficiário final.
33
Posteriormente alterada pela IN RFB 1045/10, 1658/16 e 1683/16.
34
São considerados rulings no Brasil: solução de consulta, solução de divergência e ato declaratório interpretativo.
35
O Foreign Account Tax Compliance Act ("FATCA") é uma lei americana de combate à evasão fiscal em relação a rendimentos
de investimentos estrangeiros de cidadãos norte-americanos e a cidadãos estrangeiros com obrigações fiscais nos EUA.
36
Outro fator relevante foi a decisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil em 24/02/2016 para declarar constitucional
dispositivos da Lei Complementar 105/2001, que permitem à Receita Federal receber dados bancários de contribuintes
fornecidos diretamente pelos bancos, sem prévia autorização judicial.
37
Segundo a Receita Federal do Brasil, “o CRS fornecerá informações sobre ativos financeiros de cidadãos de todas
nacionalidades de jurisdições participantes da CML, ou de acordos similares. Este padrão de trocas está alinhado ao
atual cenário internacional, que busca mecanismos de transparência fiscal, com vistas a coibir práticas de lavagem de
dinheiro e financiamento do terrorismo. O CRS define as informações a serem intercambiadas e estabelece procedimentos
de diligência a serem seguidos pelas Instituições Financeiras declarantes para a coleta e classificação adequada destas
informações. Define também termos que delimitarão o escopo das entidades e contas passíveis de serem reportadas, assim
como o padrão de transmissão dos dados”.
38
A e-Financeira é uma obrigação acessória criada pelo Brasil, enviada pelo SPED, com as informações de saldos em conta
corrente, movimentações de resgate e investimentos, rendimentos de aplicações e poupanças e demais informações de
158 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
Por meio deste plano de ação, buscou-se ampliar a aplicação das Cláusulas
“limitação de benefícios” (LoB), notadamente ao se distinguir objetivamente situações
em que há atividade empresarial, produtora de riquezas e geradora de investimentos,
daquelas outras situações cuja existência não se consegue comprovar e se reputa
apenas como uma empresa conduit. Ademais, é aconselhável a adoção da Cláusula
de “propósito principal” (Principal Purpose Test – PPT), mais ampla e de caráter
subjetivo, que visa alcançar casos de abuso de tratados não cobertos pelas regras
objetivas de limitação dos benefícios.
Por fim, a Ação 13 propõe a troca de informações entre os Fiscos (local file e
master file) com o propósito de fortalecer a transparência fiscal dos documentos
que fundamentam o preço parâmetro entre seus contribuintes, além de avaliar os
custos de compliance dos contribuintes na sustentação documental para avaliação
de necessidade ou não de ajustes de preço de transferência.
Sendo uma variante do princípio da fonte, a criação de valor não deixa de ser
uma regra sem distorções.40 Isso porque qualquer atividade pode contribuir com a
criação de valor, razão pela qual tal critério pode ser mais discricionário do que o
princípio Arm´s Lenght para direcionamento da exação face os contratos firmados
entre partes relacionadas.
39
HEY (2018, p. 1)
40
HELLERSTEIN (2018, p. 1)
41
As regras sofreram atualização pela Lei Nº 12.715/12.
42
O Brasil não assinou o Tratado Multilateral, conforme será analisado no próximo item.
160 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
Com base nessa prática de solução de conflitos previsto pelos acordos assinados
pelo Brasil para Evitar Dupla Tributação, a Receita Federal do Brasil editou a IN
RFB 1669/16, incorporando medidas para implementar o MAP para contribuintes
que sofrerem situações caracterizadas como bitributação.
43
Há o Projeto de Lei 97/13, que pretende regulamentar o Art. 116 do Código Tributário Nacional, com destaque na faculdade
em prestar declaração espontânea de planejamentos tributários que gerem interpretação discordante pela autoridade fiscal.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 161
2.1.12. Ação 15: Desenvolver um instrumento multilateral que auxilie as jurisdições interessadas
a integrarem e alterarem suas convenções em conformidade com as orientações do grupo de
trabalho do BEPS
A Ação 15 é tida como uma solução definitiva para a reforma do sistema tributário
internacional com a implementação do Plano BEPS por meio de uma cooperação
entre os países e sua estruturação por meio de um tratado multilateral.44
Como uma reforma inclusiva, permite-se admitir opções flexíveis aos países
subscritores, viabilizando escolhas simétricas e assimétricas entre os aderentes para
atender seus interesses. Assim, é possível que as opções indicadas pelos países sejam
acrescentadas nos tratados por eles escolhidos como atingidos pelo tratado multilateral
e serão acrescidas as cláusulas escolhidas do tratado multilateral, desde que alinhado
com o outro subscritor, a inclusão de cláusulas escolhidas pelo país aderente.
Nesse sentido, foi adotado um padrão mínimo de adesão, que contempla a Ação 6
(Abusos de Tratados) e 11 (Resolução de Conflitos), a fim de se criar regras uniformes
e prever situações triangulares para se evitar abusos. O MLI também prevê cláusulas
que contemplam regras recomendadas nas Ações 2, 6, 7 e 14 do Projeto BEPS.
Assim, é possível que o país aderente adote o padrão mínimo (com opções), além de
optar por previsões com características específicas, previsões opcionais e alternativas.
44
TAKANO (2016, p. 273).
162 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
O MLI foi objeto de uma rodada de adesões em junho de 2017, com a adesão
de 71 países, com potencial de alterar mais 1.100 tratados. Por outro lado, seis
países assinaram cartas de intenção para que façam a adesão em breve do MLI. Até
30/10/2017, apenas dois países já ratificaram o MLI: Áustria e Ilhas Man.
45
É possível que um país adote uma opção diferente do outro país, sendo possível a aplicação de uma regra assimétrica por
um país se este internalizar a regra não aderida pelo outro país em sua legislação doméstica. Em regra, a regra poderá ser
válida para os dois países apenas se ambos concordarem com sua aplicação (simetricamente).
46
Vale destaque ao Artigo 5º, o qual traz um exemplo de opções de adesão para a aplicação de métodos para a eliminação
da dupla tributação. É possível as jurisdições optarem pelas seguintes regras, inclusive uma aplicação assimétrica desta
previsão: Opção A: prevê que as disposições de um CTA que de outra forma eximissem os rendimentos obtidos ou o
capital de um residente de uma Jurisdição não se aplicariam quando a outra Jurisdição aplicar as disposições do CTA para
isentar tais rendimentos ou capital; Opção B: as jurisdições de contratação não aplicariam o método de isenção em relação
aos dividendos se esses dividendos forem dedutíveis na outra jurisdição contratante; Opção C: o crédito correspondente
deve ser restrito à renda tributável líquida.
47
Estes países optaram por aplicar, aos seus tratados, os rendimentos auferidos por uma entidade ou acordo fiscalmente
transparente.
48
O MLI não incluiu uma disposição LoB detalhada, já que a intenção é incentivar um acordo bilateral que satisfaça o padrão
mínimo ou as diversas jurisdições aceitarem a regra PPT do MLI como uma regra provisória. Nesse sentido, é possível
incluir as seguintes opções nos tratados dos aderentes: Opção 1: um teste de propósito principal (PPT) apenas (Artigo
7, Parágrafo 1 do MLI); Opção 2: Uma combinação de um PPT e uma cláusula simplificada de limitação de benefícios
(LOB) (Artigo 7, parágrafo 8) do MLI); Opção 3: Uma combinação de um LOB detalhado e uma regra anti-conduta, com
base em negociações bilaterais (Artigo 7, Parágrafo 15, Parágrafo a) da MLI). O Artigo 10 prevê regras anti-abusos para
estabelecimentos permanentes situados em terceiras jurisdições, afastando-se a chamada triangular provision. O Artigo
prevê que os benefícios do tratado serão negados se um item de renda (obtido no estado-fonte) derivado por um residente
de outra jurisdição de contratação (estado de residência) e atribuível a um EP em uma terceira jurisdição, está isento de
imposto no estado de residência e o imposto na jurisdição de EP é inferior a 60% do imposto que seria o imposto no estado
de residência se o EP estava localizado lá. O Artigo 11 contém uma regra de "cláusula de salvaguarda" que preserva o
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 163
2.2.1. México
Ademais, para tratar de regras contra abuso de tratados, o México optou por
complementar a cláusula Principal Purpose Test - PPT com uma Simplified Limitations
on Benefits Provision - LOB em termos de cumprimento do padrão mínimo da Ação 6.
Ademais, conquanto a maioria dos países signatários do MLI optou pela oferta
padrão do PPT, vários países da América Latina, incluindo Argentina, Chile, Colômbia
direito de uma parte de tributar seus próprios residentes em relação aos acordos tributários.
164 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
2.2.2. Argentina
Além disso, a Argentina também optou por aplicar o Artigo 6 (3) aos seus tratados,
reforçando seu interesse em cooperação em matéria fiscal: “Desejando desenvolver
ainda mais sua relação econômica e melhorar sua cooperação em questões tributárias”.
Quanto aos efeitos desejados para se evitar abusos de tratados, a Argentina optou
por aplicar aos seus tratados tanto o PPT previsto no Artigo 7 (1)52 quanto a cláusula
LOB simplificada contida no Artigo 7 (8) até (13). A Argentina reservou-se no direito
de não aplicar o Artigo 7 aos tratados fiscais firmados com o Chile e o México, porque
eles já contêm disposições PPT e LOB.
49
A legislação tributária doméstica mexicana não inclui uma regra geral anti-elisiva. No entanto, as autoridades fiscais estão
autorizadas a contestar transações artificiais envolvendo jurisdições com baixa tributação. Na prática, as autoridades
fiscais contestaram a validade de transações em que nenhum benefício econômico é atingido, exceto a redução da carga
tributária, independentemente se as transações ocorrerem entre partes relacionadas ou não.
50
Tal opção também foi contemplada por parceiros como Alemanha, Itália, Espanha, Japão e Holanda.
51
Em relação à EP, o México fez uma reserva na cláusula relativa ao Artigo 14 da MLI que trata de questões de estabelecimento
permanente no caso de divisão de contratos relacionados a projetos de construção.
52
A legislação tributária doméstica argentina estabelece a regra da “realidade econômica”, que pode ser considerada uma
regra geral anti-elisiva. Sob essa regra, a autoridade fiscal pode contestar transações em que a forma da estrutura e contrato
não pareça consistentes com a finalidade ou objetivo econômico pretendido pelas partes que firmaram a transação.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 165
2.2.3. Panamá
2.2.4. Colômbia
A Colômbia optou por aplicar o Artigo 7 (1) como uma medida provisória para
adotar a cláusula LOB Simplificada em substituição ao Nº 1 do Artigo 7 e por meio
de negociações bilaterais.54 Ademais, optou por incluir, nas disposições do MLI, os
tratados firmados com Canadá, Chile, República Tcheca, França, Índia, Coréia do
Sul, México, Portugal, Espanha e Suíça. Em relação ao tratado firmado com o Reino
Unido, seu texto já está alinhado com as disposições do projeto BEPS.
Como a Suíça não incluiu o tratado com a Colômbia como um acordo tributário
coberto, este tratado não será modificado pelo MLI.
Com relação à aplicação das cláusulas do MLI, a Colômbia optou pelo teste do
objetivo principal e pela limitação simplificada da provisão de benefícios. No entanto,
a Colômbia decidiu não incluir as medidas destinadas a evitar incompatibilidades
híbridas e arbitragem internacional.
2.2.5. Brasil
53
Tanto o Panamá, como Guatemala, Nicarágua e Honduras não possuem disposição geral ainti-elisiva na legislação
tributária doméstica.
54
Atualmente, a legislação tributária doméstica colombiana tem uma regra geral anti-elisiva aplicável face empresas
estrangeiras controladas (CFC) e regras de subcapitalização.
55
TOMAZELA (2017, p. 1).
166 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
3. CONCLUSÃO
É evidente que o Projeto BEPS pode ser considerado como um primeiro passo
para uma remodelação do regime de tributação sobre a renda internacional, mas ainda
persistem pontos não finalizados que serão enfrentados em um futuro próximo, como
no caso das Ações 1 e 5, além da comedida reforma do Art. 7 da Convenção Modelo
da OCDE. Por exemplo, a inclusão de uma cláusula LOB ou de Treaty Shopping no
tratado pode não ser interessante para um PED interessado, por meio de suas políticas
fiscais, a atrair IED.57 Ademais, o MLI, mesmo propondo alternativas de cláusulas e
reservas entre os subscritores, poderá um PED ter as mesmas condições de negociação
bilateral para suas opções entre tratados firmados com PD? E o investimento cessará no
caso de optar por cláusulas contra abusos, fazendo com que o IED busque outra rota?
A questão continua válida: a iniciativa do Projeto BEPS tem um justo equilíbrio entre
as necessidades e interesses entre PED e PD na competição tributária internacional?
É possível observar que o Projeto BEPS reflete predominantemente um compromisso
entre os PD e seus interesses relativos à aproximação de seus elementos de conexão
56
Desde 2001, as autoridades fiscais brasileiras consideram-se autorizadas a desconsiderar as transações realizadas pelos
contribuintes com caráter elisivo com fundamento no Artigo 116 do Código Tributário Nacional (CTN). A Regra Geral
Antielisiva foi incluída no CTN sem a auto-aplicabilidade necessária para as autoridades fiscais se valerem dessas regras
sem normas regulamentadoras. Até que o legislativo estabeleça uma aplicabilidade ao GAAR brasileiro, os parceiros de
tratados firmados com o Brasil terão que conviver com a incerteza jurídica de sua aplicação.
57
Ademais, o poder de barganha dos PED é menor que PD nas negociações multilaterais, porquanto é mais fácil imaginar
padrões incompatíveis com a realidade de PED prevaleçam nas negociações, como, por exemplo, a cláusula de arbitragem
pode ser mais desfavorável aos PED, tendo em vista os custos altos dessa alternativa.
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 167
Quanto à moralização do sistema de tributação, a dúvida que paira é se, sob uma
perspectiva ética, o Projeto BEPS resolverá a questão da destinação da arrecadação
para os países que tiveram sua economia depauperada,58 especialmente PED, ou se
a perseguição da renda será exclusivamente para legitimar seu alcance por PD.
Sobre esse paradigma ético, o Projeto BEPS não discutiu quem deve ser
responsabilizado pelo BEPS. O sistema fiscal internacional é o resultado da interação
de diferentes atores que compartilham a responsabilidade pela sua integridade do
sistema. Tanto Estados quanto empresas multinacionais fazem escolhas que afetam sua
função social e isso medeia qual é a sua responsabilidade ética perante a sociedade.
Deveras, os países devem cooperar para melhorar o sistema tributário internacional
de forma equilibrada, seja um PD ou PED, e as empresas devem evitar atitudes
contrárias ao bem social, desistindo de operações agressivas de planejamento tributário
que causem descompasso entre aqueles contribuintes competidores que suportam a
tributação integral nos países que sofrem com BEPS.
58
Prof. Shoueri: “Sob esse prisma, nasce uma pretensão tributária por parte do Estado que vê sua economia depauperada
por conta de um pagamento feito ao exterior. Daí ser possível imaginar, de um lado, um estado instituindo um imposto
sobre ativos no exterior (de que ainda não se cogita, mas seria viável, do ponto de vista econômico, ainda que indesejável
por desincentivar as transações internacionais), e, de outro, um imposto sobre rendimentos pagos ao exterior (tributação
na fonte). (...) Agora, já não se trata de circunstancia de um rendimento haver sido produzido sob o manto protetor de
um Estado (enfoque do benefício), mas de ele ser pago com recursos provenientes do Estado (enfoque pagamento).”
168 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
Evidencia-se na evolução da discussão do projeto BEPS que o papel dos PED como
contestadores da OCDE seria uma visão simplista e improvável, porém se viu que a
OCDE não pode apenas impor sua política sem diálogo. Pode ser uma tendência no
futuro de aumentar a força do nexo da fonte com ampliação da atribuição de lucros
por estabelecimentos permanentes, inclusive no interesse da disputa iniciado pela
economia digital.
4. REFERÊNCIAS
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BRAUNER, Y.; STEWART, M. (Ed.). Tax, law and development. Cheltenham, UK:
Edward Elgar Publishing Limited., 2013, p. 25-56.
BRAVO, Natalie, The multilateral tax instrument and its relationship with tax
treaties, World Tax Journal October 2016, p. 279 et seq.
BROE, Luc de, LUTS, Joris., BEPS Action 6: Tax Treaty Abuse, 2015, 43 Intertax,
Issue 2, Pág. 122–146
CONTROVÉRSIAS SOBRE A POLÍTIcA FIScAL INTERNAcIONAL PÓS-BEPS 169
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LAW. Shee Boon. In Base Erosion and Profit Shifting – Na Action Plan for
Developing Countries. Pg. 41.
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distinction between developed countries and developing countries? In: 23 Virginia
Tax Review. 685 2003- 2004, pp. 686-700.
SHAW, Malcolm N. International law, 6th ed, Cambridge University Press, 2008,
p. 72-92 e 98-105
TOMAZELA, Ramon. Brazil’s absence from the Multilateral BEPS Convention and
the new amending protocol signed between Brazil and Argentina. http://kluwertaxblog.
com/2017/09/05/brazils-absence-multilateral-beps-convention-new-amending-
protocol-signed-brazil-argentina/. Acesso em 26/10/18.
170 REVISTA TrIBUTÁrIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS 2018 • RTrIB 139
PWC , Tax Policy Bulletin, 14 May 2018 Multilateral instrument coming into
force to change many tax treaties from 1 January 2019. https://www.pwc.com/gx/
en/ tax/newsletters/tax-policy-bulletin/assets/pwc-multilateral-instrument-coming-
into-force-changes-treaties.pdf Acesso em 26/10/18.