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Arquitetura, tecnologias digitais e cultura contemporânea

NPGAU – Núcleo de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG


Prof. Dr. José dos Santos Cabral Filho
04 abril a 30 de maio 2018
14:00 às 17:30 hs

Ementa
O impacto das tecnologias digitais sobre os processos de projeto e sobre a arquitetura
contemporânea. A criatividade projetual frente aos novos modelos de representação
arquitetônica. A conformação do sujeito arquitetônico através do engajamento corporal
estimulado pelas novas mídias. O diálogo entre a prática arquitetônica e as manifestações
culturais contemporâneas.

Justificativa
O crescente uso das tecnologias digitais de manipulação e comunicação da informação
tem impactado a produção da arquitetura de forma apenas comparável ao surgimento da
perspectiva científica no Renascimento. No entanto vivemos um período de transição onde,
apesar da prática dos arquitetos em geral ainda se pautar pelos parâmetros antigos, já se
vislumbram novas práticas mais adequadas às demandas do sujeito contemporâneo. O
estudo crítico destas novas práticas e seus substratos conceituais é de suma importância
para se compreender as sutilezas destas mudanças e assim ser capaz de explorar seu
potencial enquanto agente transformador da arquitetura.

A versão do ano de 2018 da disciplina será baseada na leitura dirigida de alguns textos de
Vilém Flusser: os livros “Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da
fotografia” e “O Universo das Imagens Técnicas - Elogio da superficialidade”, alguns
capítulos do “Pós história - vinte instantâneos e um modo de usar” . Estas leituras serão
apoiadas pela estudo de alguns textos fundamentais da Cibernética, assim como outros
textos do próprio Flusser. Tais leituras servirão de pano de fundo e orientarão as
discussões sobre o desenvolvimento da arquitetura nos dias atuais e sua relação com
cultura cibernética de nossos dias.

As aulas da disciplina serão estruturadas idealmente em duas partes: uma breve discussão
inicial sobre texto indicado previamente (artigo de Flusser ou algum texto sobre
cibernética); a segunda parte tratará de uma apresentação sobre os tópicos específicos do
programa de curso para aquela aula, acompanhados por uma discussão em grupo
buscando relacionar as leitura indicada e o tópico apresentado pelo professor. Os textos
serão disponibilizados em PDF.

A estrutura do curso será ciberneticamente circular, onde conceitos específicos serão


analisados e revisitados a cada aula, buscando um aprofundamento sobre a significação
dos mesmos através de uma leitura informada pelos autores e textos investigados em cada
aula.
Programa / Plano de aulas

Aula 1 – dia 04 de abril


Introdução e apresentação do curso
Introdução ao filósofo Vilém Flusser
Introdução à Cibernética

Aula 2 – dia 18 de abril


Discussão sobre o “Filosofia da Caixa Preta – Ensaios para uma futura filosofia da
fotografia”.

Arquitetura como instrumento ético


- A inadequação da arquitetura na atualidade
- Arquitetura do neolítico (aprendendo com o neolítico)
- Arquitetura como mecanismo informacional
- Arquitetura como instrumento ético

- A Fragmentação da experiência contemporânea


- Desengajamento corporal e a perda da cumplicidade
- Arquitetura como comunicação e comunhão
- Transgressão e as vantagens da descorporificação
- Arquitetura e a economia da atenção

Aula 3 – dia 25 de abril


Discussão sobre "O Universo das Imagens Técnicas" (Flusser)
- Capítulos: 1. Abstrair; 2. Concretizar; 3.Tatear

Discussão sobre “The purpose of second-order cybernetics” (Ranulph Glanville)

Do paradigma perspectivo à cibernética


- Representação, planejamento, programação.
- Os antecedentes da representação - determinação e sobrevivência
- Planejamento e o paradigma perspectivo - determinação e liberdade
- O surgimento da perspectiva e o processo de projeto moderno.
- Tentativas de superação do modelo clássico de projetação

Aula 4 - dia 02 de maio


Discussão sobre "O Universo das Imagens Técnicas" (Flusser)
- Capítulos: 4. Imaginar; 5. Apontar; 6. Circular;
Determinismo e cibernética em arquitetura
- Cibernética - representação, planejamento, programação.
- Cibernética de segunda ordem e a inclusão do observador
- Cibernética e ética - indeterminação e liberdade
- Os primeiros experimentos entre cibernética e arquitetura
- Cad e outras representações digitais
- Representações de fato cibernéticas (Shape Grammar, Space Syntax, Arquitetura
Evolutiva, etc)
- Primeiros objetos arquitetônicos cibernéticos (Fun Palace)

Aula 5 - dia 09 de maio


Discussão sobre "O Universo das Imagens Técnicas" (Flusser)
- Capítulos: 7. Dispersar; 8. Programar; 9. Dialogar

Discussão sobre “Cybernetic Theory and the Architecture of Performance: Cedric Price’s
Fun Palace” (Marie Louise Lobsinger)

Os quatro deslocamentos cibernéticos da arquitetura atual


- Criar: do desenho de objetos à programação de processos
- Representar: do desenho projetivo ao modelamento experimentável
- Construir: da resistência à plasticidade (dígito, matéria e materialização
arquitetônica)
- Habitar: de usuário da arquitetura a sujeito arquitetônico

Aula 6 – dia 16 de maio


Discussão sobre "O Universo das Imagens Técnicas" (Flusser)
- Capítulos: 10. Brincar; 11. Criar; 12. Preparar

Discussão sobre “Ethics and Second-Order Cybernetics” (Heinz von Foerster)

O limite ético das estratégias computacionais


- A conjunção entre automação e interatividade
- Arquitetura - estrutura, organismo ou máquina?

Aula 7 – dia 23 de maio


Discussão sobre "O Universo das Imagens Técnicas" (Flusser)
- Capítulos: 13. Decidir; 14. Dominar; 15. Encolher; 16. Música de Câmera

Discussão sobre “The value of being Unmanageable: Variety and creativity in


CyberSpace” (Ranulph Glanville)

Um futuro dialógico para a Arquitetura


- Além da transgressão - o jogo como redenção
- Jogar e brincar - suporte para a incerteza

Pacto lúdico - Para além da transgressão e dos fundamentalismos


- Determinismo arquitetônico e a plasticidade da sociedade brasileira
- Capoeira e Cibernética

Neo-primitivismo e domesticidade digital


- Neo-primitivismo e arquitetura do caçador-coletor
- Nova barbárie - arquitetura e cultura na época da memética tecnológica
- Domesticidade digital - atenção, privacidade e controle na arquitetura

Aula 8 – dia 30 de maio.


Síntese final e fechamento da disciplina.
Apresentação individual dos temas para elaboração do ensaio / objeto.

Bibliografia
Toda a bibliografia de Flusser servirá como apoio às discussões da disciplina. Vasto
material sobre o Flusser pode ser encontrada na internet (com a ajuda providencial do
Google) e especificamente no link < http://www.flusserstudies.net/index.htm >. No
entanto, três livros serão usados mais intensivamente:

FLUSSER, Vilém. O Universo das Imagens Técnicas - Elogio da superficialidade. São


Paulo: Anna Blume, 2008.
_______________ Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia.
São Paulo: Relume Dumará, 2002.
_______________ Pós-história - Vinte instantâneos e um modo de usar. São Paulo: Anna
Blume, 20011.

A bibliografia específica sobre cibernética pode ser encontrada online em vários sites
dedicados ao assunto. Seguem alguns links:

Sobre cibernética em geral - http://www.asc-cybernetics.org


Sobre Heinz von Foerster - http://www.univie.ac.at/constructivism/HvF.htm
Sobre Gordon Pask - http://www.pangaro.com/pask/index.html
Sobre Construtivismo radical - http://www.univie.ac.at/constructivism/
Sobre Ross Ashby - http://www.rossashby.info
Sobre arquitetura evolutiva - 5 aulas do John Frazer sobre ‘Accelerating Architecture’ -
http://www.youtube.com/watch?v=7hWw4NOOV5U

Bibliografia complementar
BLATTCHEN, Edmond (Entrevistador). Ilya Prigogine – do Ser ao Devir. Sao Paulo: Editora
UNESP, 2002.
BENNATON, Jocelyn. O que é cibernética. São Paulo: Editora Nova Cultural e Editora
Brasiliense, 1986.
FRAZER, John. An Evolutionary Architecture. Architectural Association, London: 1995 [PDF
disponível em http://www.aaschool.ac.uk/publications/ea/intro.html]
GLANVILLE, Ranulph. ‘The purpose of second-order cybernetics’, in Kybernetes, London:
33(9/10), 1379 - 1386. 2004).
HAQUE, Usman. ‘The architectural relevance of Gordon Pask’, Architectural Design: 4D
social interactive design environments, London: Academy Editions, vol. 4, no. 77, ago.
2007, p.54–61.
Menges, A. and Ahlquist, S. (Eds.) Computation Design Thinking. John Wiley & Sons Ltd,
Chichester: 2011.
RAHIN, Ali (editor). Contemporary Processes in Architecture. Revista Architectural Design.
London: Wiley-Academy, 2000.
PÉREZ-GÓMEZ, Alberto & PELLETIER, Louise. ‘Architectural representation beyond
perspectivism’, in Perspecta, New York: The Yale Architectural Journal and Rizzoli
International, no. 27, 1992, pp. 20–39.
PÉREZ-GÓMEZ, Alberto & PELLETIER, Louise. Architectural representation and the
perspective hinge, Cambridge: MIT Press, 1997.
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo:
Editora Unesp, 1996.
SANTILLANA, Giorgio de. O Papel da Arte no Renascimento Científico. São Paulo: FAUSP,
1981.
RIBEIRO, Darcy, O povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil, São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
WILSON, Peter J. The Domestication of the Human Species. New Haven: Yale University
Press, 1988.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B., A Inconstância da Alma Selvagem e Outros Ensaios
de Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

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