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Aula 2º

Teoria elementar dos conjuntos

Nesta aula, veremos os fundamentos essenciais dos conjuntos.


Iniciando com uma introdução breve sobre aspectos lógicos, prosseguindo
com o tratamento de conjuntos e subconjuntos, especificamente diferença,
complementar, reunião e interseção. A seguir, estudaremos produtos
cartesianos, relações e os aspectos iniciais que compõe a definição de
funções, expondo diferentes exemplos.
Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• compreender os elementos básicos que compõem a teoria dos conjuntos;


• realizar produtos cartesianos e determinar relações entre conjuntos;
• definir os conceitos iniciais de aplicações (funções).
Estruturas Algébricas 12

Seções de estudo , sendo suficiente para , é suficiente para


que .
1 - Fundamentos Por exemplo, “ser múltiplo de 4 é suficiente para ser par”,
2 - Produtos cartesianos e relações a implicação negada é: “não ser múltiplo de 4 é necessário para
3 - Aplicações (funções) ser ímpar”. Contudo, não ser múltiplo de 4 não é suficiente
para ser ímpar, mas se é ímpar, não é múltiplo de 4, por a
1 - Fundamentos inversão da implicação.
Em uma equivalência, utilizamos a representação:

As seções 1, 2 e 3 foram baseadas principalmente em


Maier (2005) e durante todo o nosso estudo serão amplamente ou
empregados símbolos da lógica, isto é: .
leia-se: “para todo” ou “qualquer que seja”;
leia-se: “existe (pelo menos) um”.
1.1 – Teoremas matemáticos
Os teoremas matemáticos podem afirmar simplesmente
Considerando a propriedade , podemos dizer que implicações ou equivalências de determinadas propriedades.
sempre que esta for verdadeira uma segunda propriedade Conforme Maier (2005), em geral, a demonstração de um
também será, por meio da escrita: teorema se divide em duas partes: “a) b)”, demonstra-se que
. é suficiente para a validade de . O que pode ser feito supondo
a veracidade de , para provar a verdade de , ou, também, de
Assim, a veracidade de pode ser analisada avaliando a modo indireto, supondo a veracidade de , encontrando que
propriedade . é verdade. Portanto, “b) a)”, neste caso deve ser suficiente
Por exemplo, para a asserção : “um certo número para , e deve ser necessário para .
natural é múltiplo de 4” (pode ser verdadeira ou falso) e a
asserção : “ é par”, estabelecemos a seguinte relação entre 1.2 – Conjuntos e subconjuntos
e Apresentando os conceitos primitivos para conjuntos e
. subconjuntos, temos a noção de elemento e de conjunto, a
relação de igualdade “ ” e de pertinência “ ”.
Pois sempre que é múltiplo de , é par. Podemos definir um conjunto como sendo uma
Analisemos da mesma maneira, para certo quadrângulo “família” de “elementos” ou “objetos”. Desse modo, dado
, com as asserções: um conjunto , diz-se que um elemento pertence ou não
pertence a , denotando essas possibilidades, respectivamente,
“ é um quadrado”; por:
: “ é um losângulo”.
ou .
Sabemos que o quadrado é um losango com ângulo
reto, mas a condição suficiente para o losango é que seja Onde um conjunto pode ser denotado pela representação
um quadrilátero equilátero. Portanto, ser um quadrado é de seus elementos, como por exemplo, , ou
condição suficiente para formar um losango e ser um losango ainda pela propriedade dos elementos que o constitui, isto é:
é condição necessária para ser um quadrado, contudo não
é suficiente, pois também deve apresentar necessariamente ou
ângulos retos para ser considerado quadrado (MAIER, 2005). ,
Logo, tem-se a implicação: é lido: é o conjunto de todos os
(elementos) .
, que não pode ser simplesmente invertida.
Para dois elementos e , tal que , admite-se
Exercício 1 uma das possibilidades, ou .
A relação de igualdade também pode ser aplicada aos
Pense sobre as asserções equivalentes, sendo um conjuntos. Dados os conjuntos e , aplica-se:
quadrângulo: , se para todo , e ( ).
: “ é um quadrado”;
: “ é um losango que é um retângulo” (MAIER, Dentre os conjuntos que possuem notação padrão, e
2005). serão empregados de forma recorrente em nossos estudos,
A negação da asserção , por exemplo, é representada dispõe-se:
por , que é verdadeira se é falsa. Negando as duas
asserções, devemos inverter o sentido da seta de implicação: o conjunto dos números naturais;
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Exercício 2
o conjunto dos números
inteiros; Dados dois conjuntos e
o conjunto dos números naturais , expresse e (MAIER, 2005).
não-negativos (conjunto dos números naturais e o zero); Sabendo que corresponde à diferença menos e
o conjunto dos números reais; a diferença menos . Sendo:
o conjunto dos números
racionais. ;
Um conjunto finito é o que pode conter uma quantidade .
finita de elementos distintos. A quantidade de elementos
distintos contidos no conjunto é denotado por , Onde é o conjunto dos números pares que não são
denominado de ordem, sendo um número natural ou zero múltiplos de , enquanto é o conjunto dos múltiplos de
(MAIER, 2005). que não são pares.
Os conjuntos que possuem um único elemento são Dados dois conjuntos e , tal que , escrevemos:
chamados de conjuntos unitários, por exemplo:
.
.
Onde é o conjunto complementar de
Como o conjunto acima possui apenas um elemento, relativo a . Logo:
trata-se de um conjunto unitário.
.
Dados dois conjuntos e , abrangendo , dizemos
que é um subconjunto de , onde todo elemento de
é elemento de , mostrando-se válida a implicação Se , então:
, ou: ou .
Para é válido: , denominado subconjunto
vazio de .
e .
1.4 – Reunião e interseção
Conforme Maier (2005), para quaisquer três conjuntos Dados dois conjuntos e , o conjunto dos elementos
, e , temos as regras: que pertencem a pelo menos ou é denotado por
a) Lei da reflexividade: sempre . , denominado reunião ou união; enquanto o conjunto
b) Lei da anti-simetria: se e , então dos elementos que pertencem a ambos os conjuntos e
.
é identificado como interseção, denotado por (DE
c) Lei da transitividade: se e , então
CARVALHO, 2015; MAIER, 2005).
.
Exercício 3
Explanando mais detalhes sobre as notações dos
conjuntos, para todos os elementos de contidos em ,
tem-se , sendo , escreve-se , , Dados os conjuntos e
ou , lê-se: é um subconjunto próprio (parte própria) , determine e (MAIER,
de ou abrange propriamente. Desse, sabemos que é 2005).
verdadeiro: Sendo o conjunto dos números naturais pares e o
conjunto dos divisíveis por , temos:

e ;
. .

Devemos lembrar que , não necessariamente Com isso, podemos observar as seguintes propriedades
significa que (MAIER, 2005). pares quaisquer conjuntos , e :

1.3 – Diferença e complementar a) ;

Dados dois conjuntos e , os elementos em que b) e ;


não estão em , ou seja, a diferença menos é denotada
por: c) ;

d) Se e , então ;
.
e) Se e , então .
Estruturas Algébricas 14
Dados dois conjuntos , uma relação de
determinados elementos de com determinados elementos
2 - Produtos cartesianos e relações de é um subconjunto do produto cartesiano , ou
Definindo de uma forma sucinta, um par ordenado é seja, , e de forma equivalente, o conjunto de todas
formado pelos valores de e agrupados, os quais as relações de em é calculada pela expressão . Logo:
determinam pontos no plano cartesiano. A coordenada .
indica que os valores de estão atribuídos à abscissa
(eixo ) e os valores de à ordenada (eixo ). Produto Sendo -relacionado com , tem-se a
cartesiano é a multiplicação entre pares ordenados envolvendo notação , onde . Caso contrário, e
conjuntos distintos (DE CARVALHO, 2015; PAPA NETO, .
2011). Chama-se domínio de definição:
2.1 – Produtos cartesianos .
Sejam os conjuntos , , ..., , tem-se o E imagem da relação :
conjunto formado pelo produto destes conjuntos, tal que
cada um de seus elementos pertence à conjunto, ou seja: .

No caso de , tem-se como uma relação


em
Uma relação inversa entre dois conjuntos e , tal que
. é definida como:

O conjunto é chamado de produto cartesiano, os .


elementos , ,..., são -uplas. O elemento éa
i-ésima coordenada da m-úpla ( , ,..., ) ( ). Onde o domínio da relação inversa é igual a imagem
Para , tem-se que e , temos: da relação e a imagem da relação inversa é igual ao domínio,
ou seja, e , em que a inversa
. da relação inversa é a própria relação, (DE
CARVALHO; GALDINO, 2014; MAIER, 2005).
Onde a igualdade destes dois elementos com outros dois Exercício 4
elementos em é dada por:
Dados os conjuntos e e a relação:
e .
,
Para arbitrário, pode ser introduzido o conceito de
expresse os termos de e (MAIER, 2005).
potência cartesiana -ésima de :
Considerando o conjunto dos números inteiros, basta
.
inserir um valor para na relação do enunciado e obter , o
que constitui a relação:
Para os conjuntos finitos , ,..., , a quantidade de
elementos do conjunto do produto destes conjuntos é obtido
pela relação:
E corresponde a:
.

Logo, se , então:

. Podemos também obter uma composição de relações,


sendo os conjuntos , e as relações e
Dados dois conjuntos e , o produto possui uma , define a composição:
determinada quantidade de elementos, dada pelo produto
entre da linha e coluna correspondente do último elemento
da matriz formada, e temos que . Contudo
ou .
No caso, do produto entre dois conjuntos iguais , em
que , então:
, é chamado de diagonal de
(GALDINO, 2014; MAIER, 2005).
Devemos assumir como válidas a lei associativa da
2.2 – Relações composição e a lei de inversão da composta:
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a) Lei associativa da composição: . conjunto todo. E em b), expressa-se que o elemento


b) Lei de inversão da composta: . -relacionado com é determinado somente por . O
conjunto de todos os valores de em ( ) é o conjunto
Para um conjunto e , estabelecemos as imagem:
relações de equivalência seguintes:

a) Reflexiva: se para todo .


b) Simétrica, se : .
c) Antisimétrica, se : e .
d) Transitiva, se : e . O conjunto de todos as aplicações de em é:
Uma relação chama-se uma relação de
equivalência em , se é reflexiva, simétrica e transitiva, deve
satisfazer:
a) . Para , temos que:
b)
.
c) .
O conjunto das relações acima é denotado por . Exercício 5
Se e , em que , dizemos que e
são equivalentes modulo (MAIER, 2005). Seja e a relação definida por
Sendo uma relação de equivalência em , o subconjunto , verifique se é uma
, tal que onde: , é chamado classe aplicação de em (MAIER, 2005).
de equivalência de (lê-se modulo ). Nesse exercício aplicando um valor e encontrando um
Para um conjunto e , é válido para correspondente que não esteja em . Conclui-se que não é
todo : uma aplicação de em , caso contrário, trata-se de fato de
a) , sendo . uma aplicação de em . Nesse caso, determinados valores
podem ser inseridos abrangendo o conjunto dos e não
b) . resultar em , como no caso de raízes de valores negativos.
A título de exemplo, consideremos um conjunto
c) . e o conjunto dos números naturais , as
d) . aplicações são denominadas sequências em . Para
sendo o valor de em , temos que:
Em d) o símbolo de reunião denota a união dos
subconjuntos (classe de equivalência de ), para
.
, resultando no conjunto .
Sendo uma família de subconjuntos de , onde A todas as sequências em , denotamos .
, é uma participação de , se:
Descrevendo outra aplicação, para um conjunto
a) . e com sendo o conjunto
b) Para todos os , temos ou . quociente de mod , a aplicação , tal que
c) . , é denominada aplicação canónica de
sobre (GALDINO, 2014; MAIER, 2005). Isto é.
Seja um conjunto, e a
.
classe de equivalência de para todo . A partição
Um terceiro exemplo de aplicação, trata-se de um
é escrita como:
produto cartesiano definido por:
.
.
Onde é o conjunto quociente de (DE
Onde considera-se os conjuntos , ,..., e
CARVALHO; MAIER, 2005).
.
Com isso, deduzimos a aplicação , em
3 - Aplicações que:

Uma aplicação, ou função, de um conjunto em um


conjunto , onde , é uma relação , se: Denominada a projeção de sobre ou -ésima
projeção de .
a) com .
Como exemplo, consideremos
b) , , temos: .
, as projeções de sobre e são,
Em a) temos que o domínio de definição de é o respectivamente, e .
Estruturas Algébricas 16

indica que os valores de estão atribuídos à abscissa


Retomando a aula
(eixo ) e os valores de à ordenada (eixo ). Assim, produto
cartesiano é a multiplicação entre pares ordenados envolvendo
conjuntos distintos.

Chegamos, assim, ao final de nossa aula. Para 2.1 – Produtos cartesianos


encerrarmos, vamos recordar algumas questões Vimos que dados os conjuntos , , ...,
tratadas ao longo das seções? , tem-se o conjunto formado pelo produto
destes conjuntos, tal que cada um de seus elementos pertence
ao:
1 – Fundamentos . O conjunto é chamado
de produto cartesiano. Para arbitrário, pode ser
Estudamos alguns dos símbolos empregados na lógica introduzido o conceito de potência cartesiana. E vimos que
e as implicações, como por exemplo, considerando uma dispondo conjuntos finitos , ,..., , a quantidade de
propriedade , podemos dizer que sempre que esta for elementos do conjunto do produto destes conjuntos é obtido
verdadeira uma segunda propriedade também será, por pela relação .
meio da escrita: . Em uma equivalência, utilizamos
a representação , de modo que a negação deve ser 2.2 – Relações
inserida em ambos os termos, . Dados dois conjuntos , uma relação
de determinados elementos de com determinados
2 – Teoremas matemáticos elementos de é um subconjunto do produto cartesiano
, ou seja, , e de forma equivalente, o
Como vimos, os teoremas matemáticos podem afirmar conjunto de todas as relações de em é calculada pela
simplesmente implicações ou equivalências de determinadas expressão . Onde, chama-se domínio de definição:
propriedades. Em geral, a demonstração de um teorema se e imagem da
divide em duas partes: “a) b)” e “b) a)”. relação : .

1.2 – Conjuntos e subconjuntos 3 – Aplicações


Apresentamos os conceitos primitivos para conjuntos e
subconjuntos, temos a noção de elemento e de conjunto, a Uma aplicação ou função de um conjunto
relação de igualdade “ ” e de pertinência “ ”. E definimos em um conjunto , onde , é uma relação
um conjunto como sendo uma “família” de “elementos” ou , se com e
“objetos”. Desse modo, dado um conjunto , diz-se que um , , temos: . O conjunto de
elemento pertence ou não pertence a , um conjunto pode todos os valores de em ( ) é o conjunto imagem:
ser denotado pela representação de seus elementos. Também
estudamos que a quantidade de elementos distintos contidos . E o conjunto de todas as aplicações de em
no conjunto é denotado por , e os conjuntos que possuem é .
um único elemento são chamados de conjuntos unitários.

1.3 – Diferença e complementar


Dados dois conjuntos e , sabemos que os elementos
em que não estão em , a diferença menos é denotada
por . E dados dois conjuntos e , Vale a pena
tal que , escrevemos , onde
é o conjunto complementar de relativo a , ou seja,
.

1.4 – Reunião e interseção


Baseado em nossos estudos, para dois conjuntos e , o
conjunto dos elementos que pertencem a, pelo menos, ou é
denotado por , denominado reunião ou união, enquanto o Vale a pena ler
conjunto dos elementos que pertencem a ambos os conjuntos
e é denominado interseção, denotado por . Teoria Elementar dos Conjuntos. Disponível
em: http://www.vision.ime.usp.br/
2 – Produtos cartesianos e relações ~nina/cursos/mac0329-2007/conjuntos.pdf. Acesso
em: 05 out. 2019.
Como sabemos, definindo de uma forma sucinta, um par
ordenado é formado pelos valores de e agrupados, os
quais determinam pontos no plano cartesiano. A coordenada
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Vale a pena assistir


Matemática Elementar. Aula 01: Noções de Teoria dos
Conjuntos. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=1Lt2JyhU9Ko&list=PLxI8Can9yAHescgXa4
QIQFQL15HQvFgM_&index=2. Acesso em: 05 out.
2019.
Teoria dos Conjuntos. União e Interseção
de Conjuntos. Disponível em: https://
w w w. y o u t u b e . c o m / w a t c h ? v = h d a x k D J w W-
I&list=PLE6qFDd4x9w-gJfNQoSh
PWfT4-dt7xKwH&index=3. Acesso em: 05 out. 2019.
Matemática. Aula 03: Conjuntos
Numéricos. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=-AheSXxm_bE. Acesso em: 05
out. 2019.
Matemática. Aula 01: Conjuntos –
EsPCEx. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=oX0PYwI2Fhw. Acesso em: 05
out. 2019.

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