Você está na página 1de 24

Cardinalidade

Na matemática, a cardinalidade de um
conjunto é uma medida do "número de
elementos do conjunto". Por exemplo, o
conjunto A={2,4,6} contém 3 elementos e
por isso possui cardinalidade 3. Existem
duas abordagens para cardinalidade -
uma que compara conjuntos
diretamente, usando funções bijetoras e
funções injetoras, e outra que usa
números cardinais[1].
A cardinalidade de um conjunto A é
usualmente denotada |A|, com uma barra
vertical de cada lado; trata-se da mesma
notação usada para valor absoluto, por
isso o significado depende do contexto.
A cardinalidade de um conjunto pode ser

denotada ainda ou # A.

Comparação de conjuntos

Caso 1: |A|=|B|

Dois conjuntos A e B possuem a


mesma cardinalidade se existe uma
bijeção, ou seja, uma função que seja
simultaneamente injetora e
sobrejetora, entre eles.
Por exemplo, o conjunto E={0, 2, 4, 6,
...} dos números pares não-negativos
tem a mesma cardinalidade do
conjunto N={0, 1, 2, 3, ...} dos números
naturais, uma vez que a função f(n)=2n
é uma bijeção de N para E.

Caso 2: |A|≥|B|

A tem cardinalidade maior ou igual que


a cardinalidade de B se existe uma
função injetora de B para A.

Caso 3: |A|>|B|

A tem cardinalidade estritamente


maior do que a cardinalidade de B se
existe uma função injetora de B para A,
mas não existe nenhuma função
bijetora de B para A.
Por exemplo, o conjunto R de todos os
números reais tem cardinalidade
estritamente maior do que a
cardinalidade do conjunto N de todos
os números naturais pois a função
identidade i:N→R, definida como
i(x)=x, é injetora. Por outro lado, é
possível demonstrar a inexistência de
uma função bijetora de N para R (veja
Argumento de Diagonalização de
Cantor ou a Primeira Prova da
Incontabilidade de Cantor).
Números cardinais
Acima, "cardinalidade" foi definida de
forma funcional. ou seja, a
"cardinalidade" de um conjunto não foi
definida como um objeto específico
independente. No entanto, tal objeto
pode ser definido como segue.

A relação de possuir a mesma


cardinalidade é chamada equipotência, e
ela é uma relação de equivalência sobre
a classe de todos os conjuntos. A classe
de equivalência de um conjunto A sob
essa relação consiste, então, de todos os
conjuntos que possuem a mesma
cardinalidade de A. Existem duas formas
de definir a "cardinalidade de um
conjunto":

1. A cardinalidade de um conjunto A é
definida como a sua classe de
equivalência sob a equipotência.
2. Um conjunto representativo é
designado para cada classe de
equivalência. A escolha mais
comum recai sobre o ordinal inicial
da classe. Esta consiste,
usualmente, na definição de número
cardinal na teoria dos conjuntos.

As cardinalidades de conjuntos infinitos


são denotadas:
Para cada ordinal α, ℵα + 1 é o menor
número cardinal maior do que ℵα.

A cardinalidade dos números inteiros é


denotada aleph-zero (ℵ0), enquanto que
a cardinalidade dos números reais é
denotada c, e também conhecida como
cardinalidade do contínuo. É possível
mostrar que c = 2ℵ0 ; esta também é a
cardinalidade do conjunto de todos os
subconjuntos dos números inteiros. A
Hipótese do Contínuo diz que ℵ1 = 2ℵ0,
isto é, que 2ℵ0 é o menor número cardinal
maior que ℵ0, ou seja, que não existe
conjunto cuja cardinalidade esteja
situada estritamente entre a dos
números inteiros e a dos números reais.
A hipótese do contínuo permanece não-
solucionada num sentido "absoluto"[2].
Veja abaixo para mais detalhes sobre a
cardinalidade do contínuo.

Conjuntos finitos, contáveis


e incontáveis
Caso o axioma da escolha seja
verdadeiro, então a Lei da Tricotomia é
verdadeira para a cardinalidade.
Portanto, é possível fazer as seguintes
definições:

Qualquer conjunto X com


cardinalidade menor que a do conjunto
dos números naturais, ou | X | < | N |, é
dito conjunto finito.
Qualquer conjunto X que tenha a
mesma cardinalidade do conjunto dos
números naturais, ou | X | = | N | = ℵ0, é
denominado conjunto infinitamente
contável.
Qualquer conjunto X com
cardinalidade maior que a do conjunto
dos números naturais, ou | X | > | N |,
por exemplo | R | = c > | N |, é
denominado incontável.

Conjuntos infinitos
A intuição obtida com os conjuntos
finitos desaparece quando se lida com
conjuntos infinitos. No final do século
dezenove, Georg Cantor, Gottlob Frege,
Richard Dedekind e outros, rejeitaram a
ideia de Galileu (por sua vez derivada de
Euclides) de que o todo não pode ter o
mesmo tamanho da parte. Um exemplo
disso é o Paradoxo do Hotel de Hilbert.

A razão disso é que as várias


caracterizações do significado de um
conjunto A ser maior do que um conjunto
B, ou de ter o mesmo tamanho que um
conjunto B, e que são todas equivalentes
para conjuntos finitos, não são mais
equivalentes para conjuntos infinitos.
Diferentes caracterizações podem
produzir resultados diferentes. Por
exemplo, na caracterização popular de
tamanho escolhida por Cantor, pode
acontecer de um conjunto infinito A ser
maior (nesse sentido) do que um
conjunto infinito B; outras
caracterizações podem dar como
resultado que um conjunto infinito A tem
sempre o mesmo tamanho de um
conjunto infinito B.

Para conjuntos finitos, a contagem é


apenas uma bijeção (correspondência
um-para-um) entre o conjunto sendo
contado e um segmento inicial dos
inteiros positivos. Portanto, não existe
noção equivalente para a contagem de
conjuntos infinitos. Enquanto que,
aplicada aos conjuntos finitos, a
contagem produz um resultado único,
um conjunto infinito pode ser colocado
numa correspondência um-para-um com
muitos números ordinais diferentes,
dependendo de como se escolhe
"contar" (ordenar) o mesmo.

Adicionalmente, diferentes
caracterizações de tamanho, quando
estendidas para conjuntos infinitos, irão
violar diferentes regras válidas para
conjuntos finitos. Quais regras serão
violadas varia de caracterização para
caracterização. Por exemplo, a
caracterização de Cantor, que por um
lado preserva a regra de que às vezes um
conjunto é maior do que outro, viola a
regra de que a exclusão de um elemento
torna o conjunto menor. Outra
caracterização poderia preservar a regra
de que a exclusão de um elemento torna
o conjunto menor, mas violaria outra
regra. Além disso, uma caracterização
pode não violar uma regra diretamente,
mas ela pode também não sustentá-la
diretamente, no sentido de que qualquer
que seja o caso se dependa de um
axioma controverso tal como o axioma
da escolha ou a hipótese do contínuo.
Portanto, existem três possibilidades.
Cada caracterização violará algumas
regras, manterá outras e será
inconclusiva em relação a outras.

Se forem considerados os
multiconjuntos, outras regras, válida para
multiconjuntos finitos, serão violadas
(considerando-se a abordagem de
Cantor). Dados dois multiconjuntos A e
B, A não sendo maior do que B, e B não
sendo maior do que A, não
necessariamente implica que A tem o
mesmo tamanho de B. Essa regra é
válida para multiconjuntos que sejam
finitos. A lei de tricotomia é
explicitamente violada nesse caso, em
oposição ao caso dos conjuntos, onde
ela é equivalente ao axioma da escolha.

Dedekind simplesmente definiu um


conjunto infinito como sendo aquele que
possui o mesmo tamanho (no sentido de
Cantor) de pelo menos um subconjunto
próprio seu. Essa noção de infinitude é
denominada Infinito de Dedekind. Essa
definição, no entanto, é válida apenas na
presença de alguma forma do axioma da
escolha, por isso ela não é considerada
válida por alguns matemáticos.

Cantor introduziu os acima-mencionados


números cardinais, e mostrou (no
sentido de Cantor) que alguns conjuntos
infinitos são maiores do que outros. A
menor cardinalidade infinita é aquela dos
números naturais (ℵ0).
Cardinalidade do contínuo

Um dos resultados mais importantes do


trabalho de Cantor foi a demonstração
de que a cardinalidade do contínuo ( ) é
maior do que aquela dos números
naturais (ℵ0); ou seja, existem mais
números reais em R do que números
inteiros em N. Cantor provou que

(veja Argumento de diagonalização de


Cantor).

A Hipótese do Continuum diz que não


existe número cardinal entre a
cardinalidade dos números reais e a
cardinalidade dos números naturais, ou
seja,

(veja Número Beth 1)

No entanto, essa hipótese não pode ser


nem provada nem refutada dentro da
amplamente aceita Teoria Axiomática
dos Conjuntos de ZFC, se ela for
consistente.

A aritmética de cardinais pode ser usada


para mostrar não apenas que o número
de pontos na reta real é igual ao número
de pontos em qualquer segmento dessa
reta, mas também que esse número é
igual ao número de pontos num plano e,
também, em qualquer espaço
dimensional finito. Esses resultados são
altamente contra-intuitivos, pois eles
implicam a existência de subconjuntos
próprios e superconjuntos próprios de
um conjunto infinito S que possuem o
mesmo tamanho de S, apesar de S
conter elementos que não pertencem
aos seus subconjuntos e os
superconjuntos de S conterem
elementos que não estão incluídos nele.

O primeiro desses resultados é aparente


considerando-se, por exemplo, a função
tangente, que estabelece uma
correspondência um-para-um entre o
intervalo (−½p, ½p) e R (veja também o
Paradoxo do Hotel de Hilbert).

O segundo resultado foi demonstrado


pela primeira por Cantor em 1878, mas
ficou mais aparente em 1890, quando
Giuseppe Peano introduziu as curvas de
preenchimento de espaço, linhas curvas
que se torcem e dobram o suficiente
para preencher a totalidade de um
quadrado, um cubo, um hipercubo ou
espaço dimensional finito. Essas curvas
não são uma prova direta de que a linha
tem o mesmo número de pontos que um
espaço dimensional finito, mas elas
podem ser facilmente usadas para obter
tal prova.
Cantor também mostrou a existência de
conjuntos com cardinalidade
estritamente maior do que (veja o seu
argumento diagonal generalizado e
teorema). Eles incluem, por exemplo:

o conjunto de todos os subconjuntos


de R, i.e., o conjunto potência de R,
denotado P(R) ou 2R
o conjunto RR de todas as funções de
R para R

Ambos possuem cardinalidade

(veja Número Beth 2).

As igualdades cardinais
e podem ser
demonstradas usando-se a aritmética
cardinal:

Exemplos e propriedades
Se X = {a, b, c} e Y = {maçãs, laranjas,
pêssegos}, então | X | = | Y | pois {(a,
maçãs), (b, laranjas), (c, pêssegos)} é
uma bijeção entre os conjuntos X e Y.
A cardinalidade de ambos os
conjuntos é 3.
Se | X | < | Y |, então existe Z tal que | X |
= | Z | e Z ⊆ Y.
Conjuntos com a cardinalidade do
contínuo

Grupo de Montagem
O Grupo de Montagem é um exemplo de
organização que sempre mantém a
cardinalidade.

Ver também
Número Aleph
Número Beth
Tipo de ordem
Conjunto contável
Referências
1. Weisstein, Eric W. "Cardinal Number."
From MathWorld--A Wolfram Web
Resource.
http://mathworld.wolfram.com/Cardi
nalNumber.html
2. Penrose, R (2005), The Road to
Reality: A Complete guide to the
Laws of the Universe, ISBN 0-099-
44068-7, Vintage Books

Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Cardinalidade&oldid=64529920"
Esta página foi editada pela última vez às
13h55min de 8 de outubro de 2022. •
Conteúdo disponibilizado nos termos da CC BY-
SA 3.0 , salvo indicação em contrário.

Você também pode gostar