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Propriedades
algébricas dos
números reais
Fabrício Nascimento Silva
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Quando podemos contar os números pertencentes a um conjunto, ou seja, eles
podem ser colocados na forma de lista, temos o chamado conjunto enumerável.
Já o conjunto não enumerável é aquele cujos números não aceitam ser colocados
em lista.
Conjuntos numéricos infinitos são os conjuntos que têm uma quantidade de
números tão grande que não se pode definir qual seu fim, ou seja, não se pode
definir qual é o último elemento desse conjunto; no entanto, esses conjuntos
infinitos podem ser colocados na forma de lista, sendo, então, chamados de
conjuntos infinitos enumeráveis.
É importante destacar desde o início que, ao aprendermos sobre os conceitos
de números enumeráveis e não enumeráveis, vamos delimitar que os racionais
seriam um exemplo do primeiro; e os reais, um exemplo do segundo.
Neste capítulo, você vai estudar sobre conjuntos, seus conceitos, suas defini-
ções e suas aplicações em áreas diversas.
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Conjuntos e operações
Pode-se definir um conjunto como qualquer agrupamento (reunião) de obje-
tos, ilustrados ou definidos pela enumeração ou por uma característica que
apresentem. Cada um desses objetos é considerado elemento do conjunto e
é bem definido, diferente dos demais, atendendo às condições do conjunto.
Por exemplo, podemos enumerar o conjunto dos estados do Brasil, o
conjunto dos móveis em uma sala de aula, ou o conjunto das consoantes do
alfabeto. Normalmente, nomeamos um conjunto com uma letra maiúscula
qualquer e seus elementos com letras minúsculas quaisquer separadas por
vírgulas e colocadas entre chaves.
Como exemplo de nomenclaturas, podemos citar o conjunto dos estados
do Brasil, como E = {Goiás, Brasília, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, ...}, lê-se: conjunto E cujos elementos são os estados do Brasil.
Dizemos que esses elementos fazem parte desse conjunto e pertencem ao
conjunto que determinam. Disso tiramos que Goiás pertence ao conjunto dos
estados do Brasil, assim como a letra B pertence ao conjunto das consoantes
do alfabeto, mas uma cama não pertence ao conjunto dos móveis de uma
sala de aula, o que escrevemos da seguinte forma:
Goiás ∈ E (lê-se: Goiás pertence ao conjunto E). Se a cama não for elemento
do conjunto C das consoantes do alfabeto, escrevemos: a cama ∉ C (lê-se: a
elemento cama não pertence ao conjunto C).
Segundo Ávila (2006), um conjunto pode ser determinado de três maneiras
distintas: por enumeração, por extensão ou por compreensão.
A enumeração é quando conhecemos e conseguimos falar todos os ele-
mentos de um determinado conjunto, por exemplo, podemos falar o conjunto
das letras vogais V = {a, e, i, o, u}.
A extensão é quando não é possível falar ou enumerar todos os elementos
de um conjunto, mas podemos falar ou enumerar alguns, ou seja, uma parte
deles, usando reticências para demostrar os outros, e falamos, ou não, o último
elemento para simbolizar o final desse conjunto. Por exemplo, o conjunto
das letras consoantes C = {b, c, d, f,..., z}.
A compreensão é quando falamos ou utilizamos uma característica que
todos os elementos desse conjunto possuem — e somente eles possuem tal
característica. Esse tipo de definição tem uma forma própria de se descrever.
Se o conjunto B dos elementos x tem uma característica C, vamos defini-lo
da seguinte forma: B = {x / x é C}, e falamos da seguinte forma: o conjunto B
é definido pelos elementos “x” tal que “x” atende à característica “C”. Assim,
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Conjuntos racionais
De maneira simples e sem alardes, podemos definir os racionais como a união
entre os números inteiros e os números advindos de frações com divisões
não exatas, a qual resulta em números decimais ou em dízimas periódicas.
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Cardinalidade
De maneira bem simplificada, dizemos que a cardinalidade de um conjunto
nada mais é do que o número de elementos que pertencem a esse conjunto.
Podemos usar como um exemplo de aplicação dizer que a cardinalidade do
conjunto formado pelos números naturais e menores que cinco é o valor 5,
pois o conjunto seria formado pelos números 0, 1, 2, 3 e 4, ou seja, tem cinco
elementos.
Segundo Anton, Bivens e Davis (2014), dois conjuntos A e B têm a mesma
cardinalidade, se e somente se, existir uma bijeção (uma função ƒ:A→B bi-
jetora é aquela ao mesmo tempo sobrejetora e injetora) entre A e B. Como
exemplo, dizemos que se A e B são conjuntos finitos (com um número finito
de elementos), então A e B têm a mesma cardinalidade se, e somente se, eles
tiverem o mesmo número de elementos.
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Grandezas comensuráveis e
incomensuráveis
Podemos diferenciar as grandezas comensuráveis e incomensuráveis usando
a linguagem coloquial de várias pessoas em seu dia a dia, como por exemplo:
O carinho que sinto por você é incomensurável.
Essa expressão quer dizer que o carinho não pode ser medido; sendo
assim, uma grandeza incomensurável seria uma grandeza que não se pode
medir e a grandeza comensurável seria aquela que pode ser medida e que
tem a mesma unidade de medida de referência.
Podemos citar como exemplos de grandeza comensurável o perímetro de
um retângulo e a medida da diagonal desse mesmo retângulo.
Segundo Lima (2017), a existência de segmentos incomensuráveis implica
a insuficiência dos sistemas numéricos até então conhecidos — os números
naturais e os números racionais; esses números já não bastavam para efetuar
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entre a diagonal e o lado, existem inteiros m e n tais que d/1 = m/n. Podemos
supor, sem perda de generalidade, que m e n não têm divisor comum maior
que 1. Assim, 2 = d2 = m2/n2. Segue que m2 = 2n2 e, portanto, m2 é par, o que
implica que m também é. Logo, existe um inteiro p tal que m = 2p. Temos
então 2n2 = m2 = 4p2 e, portanto, n2 = 2p2. Daí concluímos que n2 é par e, logo,
n também é. Provamos que tanto m quanto n são pares, contradizendo o fato
de que eles não possuem divisor comum maior que 1. Isso mostra que 1 e d
são incomensuráveis.
A comensurabilidade entre dois segmentos quaisquer é equivalente ao fato
de que todo número é racional! A incomensurabilidade entre 1 e d significa
que não é racional. Isto mostrou aos pitagóricos que, ao contrário do
que eles preconizavam, os números (inteiros) e suas razões não eram capazes
de explicar tudo. Acredita-se que esse resultado foi descoberto e revelado
por Hippasus de Metapontum que, por esse motivo, foi expulso da confraria
(pior, segundo a lenda, ele foi jogado ao mar).
É importante, ainda, saber que todo conjunto não vazio de números reais
limitado superiormente possui um supremo e, para seu cálculo, usamos o
limite à direita da função em estudo; também devemos saber que todo con-
junto não vazio de números reais limitado inferiormente possui um ínfimo
que é calculado pelo limite à esquerda da função em estudo.
ligados, esses conceitos são bem diferentes e é importante que sejam estu-
dados e aplicados de maneira correta e clara.
Esses conceitos adquirem relevância desde o início dos estudos dos nú-
meros reais e estão ligados diretamente à ideia de limite usada nos conceitos
dos fundamentos do cálculo e que são a base de estudos básicos e avançados
da derivada e da integral; sem o entendimento do limite, realmente seria
impossível compreender esses novos conceitos, que são base a todas as
áreas das ciências exatas e da natureza.
Antes de finalizarmos essa seção, é importante colocar aqui o axioma
do supremo:
Se A ⊆ R é um subconjunto não vazio e limitado superiormente, então ∃
S ∈ R t.q. S = sup A.
A razão de se mencionar que A ≠ ∅ no axioma do supremo é que o con-
junto vazio é limitado superiormente, mas qualquer número real é uma cota
superior para ele, não existindo então a menor de todas.
Dizemos que um corpo ordenado K satisfaz o axioma do supremo se para
cada subconjunto C ⊂ K não vazio e limitado superiormente existe sup C em K.
Tomamos, ainda, como base o teorema que diz: existe um corpo ordenado
que tem a propriedade do supremo. Além disso, esse corpo contém Q como
subcorpo.
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Referências
ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. L. Cálculo. 10. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. 1 v.
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2006.
DE MAIO, W. (coord.). Fundamentos de matemática: cálculo e análise. Rio de Janeiro:
LTC, 2007.
LIMA, E. L. Análise real. 12. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. v 1.
NERI, C.; CABRAL, M. Curso de análise real. Rio de Janeiro: Autores, 2006.
Leituras recomendadas
AYRES JR., F.; MENDELSON, E. Cálculo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. (E-book).
HUGHES-HALLETT, D. et al. Cálculo: a uma e a várias variáveis. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2011. v. 1.
LIMA, E. L. Curso de análise. 14. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2017. v. 1.
LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
(Coleção Schaum).