DISCUSSÃO E CONCLUSÃO DO ARTIGO: COMPORTAMENTO PLÁSTICO
DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO EM BAIXA TEMPERATURA
Dada a gama de aplicações e aos incontáveis ambientes de trabalho dos aços
inoxidáveis austeníticos - aqueles com maiores teores de Cromo e Níquel na liga, que dessa forma permite que o aço possua maior resistência a corrosão e a oxidação quando comparado aos aços ferríticos e martensíticos – faz-se essencial conhecer seu comportamento em diferentes temperaturas de trabalho, já que esse material, como qualquer outro, apresenta uma resposta melhor trabalhando sob tensões em uma temperatura ambiente quanto em temperaturas menores. Visando mapear esse comportamento, Augusto Eduardo B. Antunes e Lídia Mikko D. Antunes realizaram um estudo na qual foram submetidos a ensaios de tração corpos de prova de dois modelos de aço inoxidável austeníticos tipo 304 (um com maior teor de Carbono, Silício, Manganês e Molibdênio outro com maiores teores de Fósforo, Enxofre, Cromo e Níquel) em temperaturas diferentes, afim de analisar a deformação desses corpos de prova e identificar as modificações cristalinas e transformações martensíticas dos aços em faixas de temperatura adotadas para o estudo. A fase preparatória do ensaio é descrita desde as dimensões dos corpos de prova até o tratamento térmico aplicado nos aços inoxidáveis austeníticos. As temperaturas de ensaio foram obtidas através de agentes criogênicos afim de obter- se as temperaturas de 77K, 193K, 273K e 300K (-196,15ºC, -80,15ºC, -0,15ºC e 26,85ºC respectivamente). Padrões de medição foram adotados para a plotagem dos resultados em gráficos, permitindo melhor compreensão dos resultados obtidos. Dentre as observações foi constatado que não apenas a temperatura, mas o grau de deformação plástica dos corpos de prova decorrente do ensaio de tração também tem influência na transformação de fase austenítica para martensítica. Quanto a taxa de elongamento constatou-se, de certa forma naturalmente, que quanto mais baixa a temperatura menor é essa taxa (devido ao enrijecimento dos aços ensaiados provocado pela baixa temperatura). Percebeu-se também uma relação entre o encruamento das amostras, devido às cargas de tração, e o elongamento relativo nas diferentes temperaturas de testes. Em temperatura ambiente (300K) identificou-se que os aços apresentavam encruamento menor, porém, em compensação, alongaram-se mais. Essa relação foi se estreitando conforme a temperatura diminuiu, até observar-se que numa condição mais extrema de frio (77K) o elongamento relativo foi consideravelmente menor enquanto o encruamento foi superior ao dobro da condição de temperatura ambiente. Encruamento maior significa que o aço apresenta maior resistência, dureza, porém menos ductilidade, tornando-o mais frágil. Nas temperaturas mais altas, o encruamento percebido comportou-se de maneiras diferentes nas amostras. As movimentações das discordâncias dos grãos de austenita até sua estabilidade apresentaram estágios diferentes nessas temperaturas. Conforme as amostras passavam pelo ensaio de tração em temperatura mais baixa, a passagem da fase austenítica para martensítica e ferrítica - já mencionadao que além da temperatura, a própria deformação plástica causada durante o tracionamento das amostras ocasiona o encruamento - os grãos maiores passaram a apresentar maior resposta a interação magnética que as amostras ensaiadas na temperatura ambiente. O acréscimo da interação magnética foi gradativo, conforme o aumento das temperaturas adotadas. Porém, cabe a ressalva que as correlações entre as características dos aços inoxidáveis austeníticos abordados no estudo podem, em grau relativamente pequeno, porém desconhecido, ser ajustadas por fatores que não foram considerados na realização dos ensaios de tração das amostras. Com o término das análises, conclui-se que o comportamento mecânico dos aços inoxidáveis austeníticos possui particularidades importantes a serem consideradas na a escolha do material para determinadas aplicações. A temperatura de trabalho somada aos eventuais esforços de tração que uma estrutura constituída por este material pode estra sujeita influenciam diretamente na transformação austenítica para martensíticas, ou seja, pela movimentação dos grãos durante o encruamento ou pelo enrijecimento das estruturas cristalinas moleculares oriundas das variações de temperatura. Essa transformação de fase pode significar uma mudança crucial no comportamento do material, dependendo do contexto de aplicação. Os aços inoxidáveis são comumente selecionados em ambientes onde se deseja pouca ou nenhuma espécie de oxidação, ou influências magnéticas externas. Se um determinado material que for submetido a um ambiente de baixas temperaturas ou onde haja carregamentos de tração, há a possibilidade de o material não responder como desejado podendo, por fim, acarretar uma série de desdobramentos negativos em um projeto. Nesse contexto identifica-se a importância da engenharia de matérias através dos ensaios mecânicos, pois somente através dessas análises que é possível selecionar materiais mais apropriados para aplicações de maior ou menor temperatura, submetidos a maiores ou menores esforços de tração, compressão, rotação, torção, entre outros tipos de esforços mecânicos nos quais são submetidos afim de obter a melhor resposta do material no projeto o qual ele esteja inserido. Obviamente há diversos outros fatores a serem considerados, como os custos de material. Por exemplo, através de estudos de projeto identifica-se que a melhor resposta para uma aplicação seja um aço hipoteticamente nomeado “xyz”. Porém, se o uso deste material tornar um projeto economicamente inviável, os estudos realizados em décadas de avanços tecnológicos podem oferecer uma alternativa mais viável que busque atender da melhor forma possível a aplicação em questão.