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MÉTODO

Procedimentos de análise de dados

As propriedades psicométricas da subescala de Depressão da Depression,


Anxiety and Stress Scale (DASS-21) foram avaliadas por meio do modelo Rasch para
dados politômicos (Rating Scale; Andrich, 1978). Foram avaliados indicadores da
fidedignidade das pessoas e dos itens, bem como desvios de desempenho, por meio dos
índices de infit e outfit. Ademais, buscou-se investigar se os itens da subescala de
depressão da DASS-21 apresentavam funcionamento diferencial (DIF) para sexo
(masculino, n = 46; feminino, n = 214).
Em relação aos índices de fidedignidade, são esperados valores maiores que 0,70
ou, preferencialmente, valores maiores que 0,80 (Linacre, 2021). Os índices de infit e
outfit quantificam resíduos para os itens em relação ao modelo testado (Bond, Yan, &
Heene, 2020; Linacre, 2021). O Infit avalia padrões de resposta inesperados de
indivíduos que apresentam um nível de traço latente (theta) equivalente ao nível de
dificuldade do item. Outfit, por sua vez, verifica padrões de resposta inesperados
daqueles que apresentam um nível de theta abaixo ou acima do nível de dificuldade do
item. As estimativas de Infit e Outfit podem ser avaliadas pelos indicadores quadrado
médio (mean square; MNSQ) e z-padronizado (z standardized; ZSTD).
Para o MSNQ, o valor padrão esperado é 1. Valores maiores que 1 indicam que
as estimativas apresentaram mais variação do que o esperado pelo modelo Rasch (ou
seja, desajuste) enquanto valores menores que 1 indicam menos variação do que o
esperado pelo Modelo Rasch (ou seja, sobreajuste). As pontuações aceitáveis do MNSQ
normalmente variam de 0,7 a 1,3 logits (Boone, 2016; Bond et al., 2020), mas um
intervalo menos conservador de 0,5-1,5 logits também pode ser usado (Wright &
Linacre, 1994). Já para o ZSTD, valores acima de |2| indicam que a estimativa não se
ajusta adequadamente aos dados.
O DIF foi avaliado por meio do procedimento de Mantel (Mantel, 1963; Linacre,
2021). Itens cujas estimativas de dificuldades se apresentaram como estatisticamente
diferentes para homens e para mulheres (p ≤ 0,05) foram inspecionados. A magnitude
do DIF foi interpretada através do DIF contrast: valores entre | .00 | e | .43 | são
considerados baixos/negligíveis; valores entre | .44 | e | .64 | são considerados
moderados; e valores acima de | .64 | são considerados altos (Linacre, 2021).
RESULTADOS
As análises iniciais apresentaram adequados índices de confiabilidade para os
itens (Confiabilidade = 0,97; Índice de Separação = 5.31) e para as pessoas
(Confiabilidade = 0,85; Índice de Separação = 2.39), o que sugere que as estimativas
obtidas tendem a ser replicáveis.
O mapa item-pessoa (Figura 1) demonstra que a amostra apresentou, no geral,
nível de traço latente menor do que a dificuldade dos itens (média de theta = -1.21;
média da dificuldade dos itens = 0). Ainda é possível perceber no gráfico que boa parte
dos itens estão agrupados entre + 1 logit, de modo que há uma maior precisão na
estimativa do theta dos participantes alocados nesta amplitude do continuum. Essa
informação é corroborada pela Curva de Informação do Teste, apresentada na Figura 2.

Figura 1. Mapa item-pessoa da subescala de Depressão da DASS-21.


Figura 2. Curva de Informação do Teste

Em relação às estatísticas dos itens individualmente, a Tabela 1 apresenta os


indicadores de dificuldade global dos itens, infit e outfit, bem como os thresholds
(limiares). Conforme pode ser visto, o item mais difícil foi o item 7 (d = 1.22) e o item
mais fácil foi o item 5 (d = -.23). Os limiares de todos os itens apresentaram estrutura
crescente, conforme teoricamente esperado. Em relação aos desvios de desempenho
(infit e outfit), é possível perceber que apenas o item 4 apresentou padrão de
desempenho fora dos pontos de corte esperados. Mais especificamente, esse item
apresentou um sobreajuste ao modelo Rasch (i.e., um padrão de resposta melhor do que
o esperado; Infit MNSQ =.76, ZSTD = -2.69; Outfit MNSQ = .72; ZSTD = -2.85).

Tabela 1.
Estimativas de dificuldade, thresholds e desvios de desempenho (infit e outfit) da
subescala de Depressão da DASS-21.
Limiares Infit Outfit
Itens Dificuldade E.P t1 t2 t3 MNSQ ZST MNSQ ZSTD
D
1 -.02 .11 -3,09 -.40 .73 .95 -.46 .96 -.40
2 -.56 .11 -2,73 -.04 1,09 1.06 .69 1.16 1.57
3 .14 .11 -2,40 .29 1,42 .88 1.27 .82 -1.82
4 -.92 .11 -2,19 .50 1,63 .76 -2.69 .72 -2.85
5 -.23 .11 -2,02 .66 1,80 1.01 .11 1.04 .45
6 .36 .11 -1,80 .88 2,02 1.14 1.41 1.07 .69
7 1.22 .12 -.94 1,74 2,88 1.35 3.05 1.13 .99
Nota: E.P = erro-padrão; t1 = threshold 1 (categorias 0-1), t2 = threshold 2 (categorias
1-2), t3 = threshold 3 (categorias 2-3); MNSQ = mean-square; ZSTD = z standardized.
Em relação ao DIF, a tabela 2 apresenta os resultados encontrados. Conforme
pode ser visto, apenas o item 4 (“Eu senti que não tinha muito valor como pessoa”)
apresentou DIF e com elevado tamanho de efeito (DIF Contrast = .73).

Tabela 2.
Funcionamento Diferencial do Item (DIF) da subescala de Depressão da DASS-21.

Mantel DIF
Itens Sig.
qui-quadrado Contrast
1 .18 .67 -.16
2 1.14 .28 -.47
3 .02 .89 .19
4 .04 .84 -.10
5 .00 .99 -.07
6 4.19 .04 .73
7 .03 .86 .05
Nota: sig. = valor de p.

REFERÊNCIAS
Andrich, D. (1978). A rating formulation for ordered response categories.
Psychometrika, 43(4), 561–573. https://doi.org/10.1007/BF02293814
Boone, W. J. (2016). Rasch analysis for instrument development: Why, when, and how?
CBE Life Sciences Education, 15(4), pii: rm4. https://doi.org/10.1187/cbe.16‐04‐
0148
Bond, T., Yan, Z., & Heene, M. (2020). Applying the Rasch model: Fundamental
measurement in the Human Sciences (4th Ed.)., Routledge.
Linacre, J. M. (2021). Winsteps® Rasch measurement computer program User's Guide.
Version 5.1.1.
Wright, B. D., & Linacre, J. M. (1994). Reasonable mean-square fit values. Rasch
Measurement Transactions, 8, 370-371.

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