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Entradas e saídas analógicas

Apresentação
O recurso de entradas e saídas analógicas em microcontroladores iniciou-se devido ao aumento da
complexidade e às necessidades dos sistemas computadorizados. Com o advento da
universalização da informática, iniciado da década de 1960, e a miniaturização dos componentes
eletrônicos, tornou-se cada vez mais comum a aplicação e a utilização de sistemas
microprocessados nas vidas para diversas finalidades cotidianas.

A necessidade dos sistemas digitais em compreender o ambiente em que eles estão sendo
aplicados e utilizados vai além de entender se a lâmpada está acesa ou desligada, mas também ser
capaz de perceber a informação da intensidade de iluminação, por exemplo.

Confira, a partir dos objetos 3D, alguns componentes analógicos utilizados em robótica.

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Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar os comandos de aquisição de informações das
entradas analógicas, as configurações de hardware possíveis para entradas e saídas analógicas, bem
como vai entender como utilizar esse recurso de forma correta e eficiente.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar os comandos de leitura das entradas analógicas.


• Examinar as configurações do hardware utilizado nas entradas e saídas analógicas.
• Analisar as aplicações das entradas e saídas analógicas.
Desafio
Os microcontroladores para automatização de processos, que antes eram manipulados por pessoas,
estão sendo amplamente utilizados por tornarem os processos mais eficientes, confiáveis e
reproduzíveis. Gradualmente, está sendo considerado que processos automatizados são
preferenciais aos processos utilizando mão de obra humana, por diversos motivos, podendo-se
destacar a consistência ciclo a ciclo, o custo e a garantia de resultados. Processos multivariáveis são
muito mais capazes de serem executados por meio de sistemas automatizados do que por pessoas,
por mais experientes que sejam.

Para responder ao Desafio, leia a situação a seguir e atenda ao que é solicitado no enunciado
abaixo.
Com os recursos disponíveis, projete uma solução rápida para implementação imediata na linha de
produção e que consiga indicar quando existe falta de alimentação no módulo de controle, evitando
que o operador inicie o processo de gravação.
Infográfico
Os conversores analógico-digital e digital-analógico são os recursos disponíveis na eletrônica atual
para que sistemas digitais microcontrolados possam interagir com a natureza. A natureza pode ser
definida como qualquer evento natural que ocorre no ambiente e que seja contínuo e variante no
tempo, como, por exemplo, a temperatura.

No Infográfico a seguir, você irá conhecer os passos que envolvem a interação entre o meio
ambiente e os sistemas digitais.
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Conteúdo do livro
A utilização de entradas e saídas analógicas em sistemas microprocessados é de extrema
importância para que o sistema possa interagir com as diversas variações ambientais às quais está
inserido, pois a natureza funciona de forma contínua, que varia em função do tempo.

Existem várias considerações técnicas na utilização de entradas e saídas analógicas para que se
obtenha o melhor desempenho do sistema ou até mesmo para que a informação obtida tenha
confiabilidade adequada para a aplicação.

No capítulo Entradas e saídas analógicas, da obra Robótica, você aprenderá a fazer a análise correta
da utilização das entradas e saídas analógicas, bem como identificará os principais conceitos de
funcionamento e os comandos principais e auxiliares na aplicação desse recurso.

Boa leitura.
ROBÓTICA

Flávio Luiz Puhl Junior


Entradas e saídas
analógicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os comandos de leitura das entradas analógicas.


„„ Examinar as configurações do hardware utilizado nas entradas e saídas
analógicas.
„„ Analisar as aplicações das entradas e saídas analógicas.

Introdução
A utilização de entradas e saídas analógicas provê a interação entre os
sensores do sistema digital com o ambiente no qual ele está inserido. Esse
recurso é responsável por fazer a aquisição de informações necessárias
tanto para o monitoramento quanto para a tomada de decisões por parte
do código de programação elaborado.
Neste capítulo, você vai estudar os códigos de programação utilizados
para obter a informação das entradas analógicas. Também vai conhecer
o funcionamento dos circuitos eletrônicos que fazem a transformação
analógico-digital e digital-analógico e entender sua aplicação em sistemas
reais.

Aquisição de sinais analógicos


As entradas analógicas em um microcontrolador podem ser divididas em duas
partes fundamentais: a eletrônica do microcontrolador e o software. Nesta
seção, iremos abordar os comandos de software envolvidos na realização de
uma leitura do pino de entrada analógica de uma placa eletrônica com um
microcontrolador Atmel, cujo projeto é comumente conhecido como Arduino.
Trata-se de um software open source, ou seja, é disponibilizado livremente
para qualquer um que deseje ter acesso a ele.
2 Entradas e saídas analógicas

Para começar, precisamos de um ambiente de desenvolvimento ou IDE


(do inglês Integrated Development Environment), que é o ambiente no qual
iremos colocar os comandos de programação de forma lógica para obter os
resultados esperados relacionados ao projeto a ser desenvolvido.
O Arduino pode ser programado com várias IDEs de diferentes origens e
características (XOD, Visual Studio, etc.), mas comumente é utilizada a IDE
desenvolvida especialmente para ele, devido a várias características vantajo-
sas, entre elas a completa compatibilidade com as diversas versões de placas
Arduino. Trata-se de um ambiente de programação simples e extremamente
funcional, e ainda é um programa de fácil instalação em computadores, até
mesmo com configurações esparsas.
Antes de iniciarmos o estudo das entradas e saídas analógicas, vamos
abordar alguns conceitos necessários para um melhor entendimento do recurso
que estamos lidando (TEXAS INSTRUMENTS, [201-?]).

„„ Resolução: pode ser dada em bits ou, quando calculada em função da


tensão de referência, em Volts. Indica qual é a máxima discretização
do sinal analógico em etapas digitais.
„„ Frequência de amostragem: geralmente informada em Hz ou amostras/
segundo, indica qual o menor intervalo possível entre medições.
„„ Teorema de Nyquist: este teorema fundamental informa que a frequên-
cia de amostragem de um sistema deve ser no mínimo o dobro da
frequência do sinal que queremos medir. Por exemplo, se quisermos
medir a frequência da rede elétrica AC, que em nossas residências é
de 60Hz, o sistema de aquisição deve ter frequência de amostragem
de pelo menos 120Hz.

Vamos supor que estamos trabalhando no projeto do controlador de tempe-


ratura de uma geladeira, no qual é necessário adquirir o valor de temperatura
proveniente de um sensor analógico tipo termopar. O sensor está posicionado
em algum ponto de interesse dentro da geladeira. O comando para fazer a
aquisição do valor no pino analógico é analogRead(pino), em que pino é o
parâmetro de entrada do comando e indica a qual pino o sensor de temperatura
está conectado (ARDUINO, 2019a).
O Arduino tem pelo menos seis pinos de entrada analógica configuráveis
via código. Esses pinos são configuráveis porque podem assumir a função de
entradas e saídas digitais ou de entradas analógicas. Essa configuração não é
concomitante, ou seja, ou o pino é configurado para a função digital ou para
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a função analógica (WHEAT, 2016). Veja na Figura 1 um exemplo de pinos


de entrada analógica no Arduino Uno.

ADC0 PCINT8 14 A0 23 PC0 A0


ADC1 PCINT9 15 A1 24 PC1 A1
ADC2 PCINT10 16 A2 25 PC2 A2

ANALOG IN
ADC3 PCINT11 17 A3 26 PC3 A3
SDA ADC4 PCINT12 18 A4 27 PC4 A4
SCL ADC5 PCINT13 19 A5 28 PC5 A5

Figura 1. Pinos de entrada analógica no Arduino Uno.


Fonte: Zait (2018).

A quantidade de pinos disponíveis depende da versão do Arduino e, em


alguns casos, do fabricante. Veja no Quadro 1 os modelos de placas Arduino
e suas características.

Quadro 1. Modelos de placas Arduino e suas características

Tensão de Pinos Resolução


Placa operação disponíveis máxima

Uno 5 Volts A0 a A5 10 bits

Mini, Nano 5 Volts A0 a A7 10 bits

Mega, Mega2560, 5 Volts A0 a A14 10 bits


MegaADK

Micro 5 Volts A0 a A11 10 bits

Leonardo 5 Volts A0 a A11 10 bits

Fonte: Adaptado de Arduino (2019a).

O comando analogRead(pino) retorna um valor numérico inteiro entre 0


e 1023 bits (resolução de 10 bits — esse assunto será explorado na próxima
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seção) para valores de entrada entre 0 e 5V. Para o Arduino Uno, por exemplo,
isso significa uma discretização do valor analógico de 49mV (5V/1024bits =
0,0049V). Na prática significa que o conversor analógico-digital (CAD, ou,
do inglês, ADC, analog-to-digital converter) só consegue informar tensões
entre passos de 49mV. Os valores entre esses passos são truncados para o
valor mais próximo. Esse é um conceito muito importante de ser entendido,
pois muitos equívocos ocorrem em virtude do mal planejamento entre três
pontos fundamentais, que são:

„„ fundo de escala do instrumento;


„„ faixa de operação do instrumento;
„„ resolução do sistema de conversão analógico-digital.

As entradas analógicas são estritamente utilizadas com tensão. Elas não


são capazes de medir corrente elétrica.
No código-exemplo mostrado na Figura 2 é possível identificar a utilização
do comando analogRead(), no qual a variável reading recebe o valor numérico
inteiro da entrada analógica e, na sequência, é apresentado na tela auxiliar
(MONK, 2017).

Figura 2. Código utilizando o comando analogRead().


Fonte: Monk (2017).
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Outro comando útil que pode ser utilizado em conjunto é o analogRe-


ference(). Por padrão, o Arduino utiliza como fundo de escala 5V para as
leituras analógicas, conforme vimos anteriormente. Mas imagine que, devido
a alguma característica funcional do seu projeto, o passo de discretização de
49mV proveniente da combinação entre fundo de escala de 5V e resolução
de 10 bits não seja suficiente. Nesse caso, como não é possível alterar a reso-
lução do microcontrolador, opta-se pela mudança na referência da conversão
analógica, ou seja, em vez de a resolução ficar referenciada em 5V, podemos
indicar um outro valor menor e assim aumentar a resolução.
O comando analogReference(mode) deve ser utilizado antes do comando
analogRead(pino) para reduzir a tensão de referência. Os possíveis parâmetros
do comando são os seguintes (ARDUINO, 2019b):

„„ DEFAULT: é o valor padrão assumido pelo Arduino de 5V para a refe-


rência analógica (analog reference).
„„ INTERNAL: o próprio chip ATmega tem uma referência interna de
tensão, sendo 1,1V nos microcontroladores ATmega168 ou ATmega328P
e 2,56V no ATmega8 (não disponível no Arduino Mega).
„„ INTERNAL1V1: referência interna de 1,1V (Arduino Mega somente).
„„ INTERNAL2V56: referência interna de 2,56V (Arduino Mega somente).
„„ EXTERNAL: com esta opção é possível utilizar uma referência externa de
tensão aplicada no pino AREF (0 a 5V somente). A qualidade da tensão
aplicada nesse pino é de extrema importância para a confiabilidade do
resultado. A utilização de fontes não estabilizadas pode acarretar em
leituras erradas.

Sendo assim, com a configuração padrão (tensão de referência de 5V


e 10 bits de resolução), temos discretização de 49mV. Utilizando o recurso
analogReference (INTERNAL) em um ATmega328, passamos a ter uma
discretização de 0,0010V (1,1V/10 bits), ou seja, cinco vezes mais resolução.
Entretanto, a tensão máxima que pode ser lida é 1,1V; ainda é possível aplicar
5V no pino sem danifica-lo, porém a leitura estará saturada em 1,1V.
O comando analogReference() funciona para todas as entradas analógicas
então não é possível ter entradas analógicas com diferentes valores de referên-
cia. Além disso, o microprocessador leva um ciclo de máquina para atualizar
a referência para as entradas, portanto é possível alterar a referência durante
a execução do código, mas levará um ciclo para ser efetivado.
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Um sistema de conversão analógico-digital (DAC) com resolução de 12 bits é capaz de


discretizar 4096 passos de conversão — isso significa que com apenas 2 bits a mais é
possível obter quatro vezes mais resolução do que um sistema de 10 bits.

ResoluçãoDigital = 2nºbits

Resolução10bits = 210 = 1024

Resolução12bits = 212 = 4096

Dessa forma, é possível adequar a resolução analógica do sistema alterando-se a


resolução digital (alteração de hardware) ou alterando-se a tensão de referência do
conversor.

Sistema 1
Resolução digital 12 bits
Tensão de referência 5V

ResoluçãoDigital = 212 = 4096

Tensão de referência 5V
Resoluçãoanalógica = = = 0,00122V
Resolução digital 4096

Sistema 2
Resolução digital 10 bits
Tensão de referência 1,1V

ResoluçãoDigital = 210 = 1024

Tensão de referência 1,1V


Resoluçãoanalógica = = = 0,00107V
Resolução digital 1024

Ambas as situações têm praticamente a mesma resolução analógica, porém o sistema 1


permite tensão de até 5V na entrada analógica, enquanto o sistema 2 permite apenas
1,1V. Esse recurso pode ser utilizado no desenvolvimento preliminar do seu projeto,
permitindo que você planeje a utilização de um microcontrolador com mais recurso
ou uma tensão de referência estabilizada.
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Eletrônica dos conversores analógico-digital


e digital-analógico
Existem vários métodos para a conversão de sinais analógicos em digitais,
tendo cada um deles suas vantagens e desvantagens. O microcontrolador
ATmega328 das placas Arduino faz uso do conversor analógico-digital de
aproximação sucessiva (ATMEL, 2015).
O conversor analógico-digital de aproximação sucessiva representa a maior
parte de conversores utilizados em sistemas microcontrolados. Ele consome
pouca energia, tem alta resolução e ótima precisão. Sua maior limitação são
as pequenas taxas de amostragem e também o fato de seu tamanho aumentar
com o número de bits. É ideal para sistemas com frequências de amostras
abaixo de 10MHz e resoluções entre 8 e 16 bits. Uma grande vantagem é que os
conversores analógico-digital por aproximações sucessivas têm um tempo de
conversão fixo, que não depende do sinal analógico presente em sua entrada.
O funcionamento de um conversor de aproximação sucessiva é bem sim-
ples e funcional. Considere como exemplo a busca por uma palavra em um
dicionário. Quando procuramos por uma palavra, não iniciamos na letra A e
seguimos sequencialmente até a palavra desejada, pois isso seria muito inefi-
ciente. Imagine que desejamos encontrar a palavra “zebra” — teríamos que ler
quase todas as palavras do dicionário até chegar no nosso objetivo. O modelo
de aproximação sucessiva é muito mais eficiente e rápido. Apenas abrimos o
dicionário em qualquer página e verificamos se a palavra desejada está à frente
ou atrás da página em que abrimos, e então repetimos sucessivamente esse
processo até que a palavra seja encontrada (MAXIM INTEGRATED, 2001).
O funcionamento do conversor no Arduino se dá da seguinte forma.

1. A tensão na entrada analógica é mantida através de um circuito tipo


track&hold na entrada do comparador analógico.
2. O algoritmo de busca binária é iniciado na metade da tensão de refe-
rência (VREF/2).
3. Uma comparação é então realizada para determinar se a tensão da
entrada analógica (VIN) é maior ou menor do que a tensão da saída da
conversão digital-analógico (VDAC). Se VIN é maior que V DAC, a saída
do comparador será de nível lógico alto; caso contrário, a saída do
comparador será de nível lógico baixo.
4. O controle lógico do conversor segue bit a bit através do registrador.
Quando pronto, a conversão está completa e a palavra digital está
disponível para ser lida pelo microcontrolador e interpretada.
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A Figura 3 ilustra esse funcionamento, acompanhe.

Entrada Vin
Track/hold + Comparador
analógica
Vdac

Vref Dac
n-bit

N
Saída digital
Registrador (serial ou paralela)
n-bit

Lógica Ras

Figura 3. Esquema simplificado do CAD de aproximação sucessiva.


Fonte: Adaptada de Maxim Integrated (2001).

Já o recurso de saídas analógicas é completamente diferente do que vimos


até agora para as entradas analógicas. As saídas analógicas são utilizadas
para interação com o meio externo quando são necessários outros estados
intermediários além dos estados digitais ligado/desligado.
Vale salientar que o Arduino não possui saídas analógicas na sua forma
mais eficiente, pois, para esse recurso, é necessária uma eletrônica dedicada
assim como estudamos nas entradas analógicas.
O Arduino possui recurso de saídas PWM (do inglês, Pulse With Modu-
lation), cujo conceito é ligar e desligar um pino digital tão rápido que o valor
de tensão será invariável para a percepção humana. Pode ser considerado
uma pseudosaída analógica se levarmos em conta algum tipo de filtro na
saída do pino.
O PWM funciona com uma frequência definida e constante, no caso do
Arduino de 490Hz, porém com o tempo ligado e desligado variando de 0 a
100%, chamado de duty cycle ou tempo de trabalho.
Entradas e saídas analógicas 9

Com duty cycle de 0%, o pino de saída fica sempre desligado e, portanto,
a tensão de saída (filtrada) é 0V. Quando colocamos o duty cycle em 50%, o
pino fica metade do tempo em 5V e metade do tempo desligado, parecendo
que a tensão de saída é de 2,5V. E quando programamos o duty cycle para
100%, o pino fica o tempo todo ligado e a tensão média será de 5V. Confira
uma ilustração desse funcionamento na Figura 4.

0% duty cycle
10% duty cycle
25% duty cycle
50% duty cycle
80% duty cycle
100% duty cycle

Figura 4. Exemplo de diversos duty cycles em uma saída PWM.

Deve-se ter um cuidado na utilização de PWM como saída analógica, pois


estamos considerando que o pino de saída possui um filtro tipo passa-baixa
com frequência de corte em aproximadamente 490Hz, permitindo que a
tensão excursione entre 0 e 5V. Por exemplo, um pequeno motor DC (ou CC,
de corrente contínua) pode variar a sua velocidade de giro com a utilização
de PWM, pois o próprio motor atua como filtro, uma vez que ele fisicamente
não é rápido suficiente para desligar e ligar 490 vezes por segundo.

A função de escrita da saída analógica da plataforma Arduino é a analogWrite(pin,


duty cycle), na qual duty cycle é um valor entre 0 a 255 e pin é um dos pinos PWM
disponíveis (3, 5, 6, 9, 10, ou 11). A função analogWrite provê uma interface simples para o
funcionamento do PWM, porém não provê qualquer controle sobre a frequência. PWM
funciona em uma frequência fixa, apenas alterando o tempo de acionamento do pino.
10 Entradas e saídas analógicas

Aplicação das informações analógicas


Até agora estudamos o embasamento teórico das entradas e saídas analógicas,
mas como isso funciona no mundo prático? Vamos analisar algumas aplicações
básicas: uma fonte de tensão chaveada, um aparelho de ar-condicionado do
tipo inverter e uma balança para medição de cargas.

Fonte de tensão chaveada


As fontes de tensão DC chaveadas (Figura 5) são largamente utilizadas no
nosso dia a dia, como, por exemplo, os carregadores de telefones móveis e de
computadores laptop ou a fonte de alimentação do computador de mesa. Elas
têm características bem definidas quando comparadas com sua versão oposta,
as fontes de tensão lineares. As fontes chaveadas são menores, mais leves,
porém têm mais ruído (ripple), por que fazem chaveamento da tensão de saída.
O princípio de operação, bem simplificado, funciona da seguinte forma:
uma etapa primária gera alta tensão com baixa corrente e então um circuito
tipo PWM liga e desliga essa tensão sobre um grande capacitor. Quanto maior
o duty cycle, mais tensão será aplicada sobre o capacitor e, consequentemente,
maior será a tensão na saída da fonte.
Você pode utilizar um Arduino para fazer a leitura da tensão na saída da
fonte e fazer o ajuste do duty cycle da saída PWM de forma a poder controlar
o valor de tensão desejado (ON SEMICONDUCTOR, 2014).

Alimentação
DC Saída
DC

Fonte de
tensão
Chave
primária
Arduino PWM

REALIMENTAÇÃO

Figura 5. Esquema simplificado de uma fonte chaveada.


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Vamos supor que essa seja uma fonte chaveada com tensão de saída ajustável
entre 0 e 24V. Sabendo que as entradas analógicas do Arduino suportam no
máximo 5V, devemos ajustar o divisor de tensão (realimentação) de forma
que possamos aproveitar ao máximo a resolução disponível de 10 bits, de
forma a deixar o projeto mais versátil e eficaz, sendo capaz de obter a melhor
discretização possível. Neste caso específico, podemos supor que ajustamos
o divisor de tensão para que, quando a tensão na saída da fonte estiver no
máximo (24V), a tensão na entrada analógica seja de 5V. Então, como temos
um conversor analógico-digital de 10 bits (1024 passos), conseguiremos ajustar
a saída na fonte em passos de 0,023V (24V/1024).

Aparelho de ar-condicionado
Vejamos agora um exemplo de funcionamento de um aparelho de ar-con-
dicionado baseado na tecnologia inverter. Esse tipo de tecnologia se difere
do convencional, pois, em vez de o compressor de fluido refrigerante ligar e
desligar para fazer o controle de temperatura do ambiente, o compressor fica
sempre ligado, porém sua rotação varia de entre 0 e 100%, dependendo da
estratégia de controle de cada fabricante. Esse tipo de recurso reduz o con-
sumo de energia elétrica, pois minimiza a quantidade de partidas do motor
do compressor, que é o momento de maior consumo energético, porque é
necessário tirar o motor da inércia.
Para o funcionamento desse, sistema é necessário haver um sensor de
temperatura que faça a medição e um microcontrolador que realize a conversão
analógico-digital do valor lido, para que possa ser compreendido pelo sistema
digital. Junta isso é utilizada uma saída PWM, responsável por modular a
tensão sobre o motor elétrico do conversor, permitindo a variação da rotação
do motor de acordo com a necessidade. A velocidade de um motor elétrico é
proporcional à tensão aplicada e à potência consumida para fazer o trabalho
ao que ele está destinado.
O sinal PWM irá variar de 0 a 100%, sendo 100% durante o início da
operação do sistema de ar-condicionado ou quando selecionado o modo
turbo, por exemplo. Essa variação no PWM proporcionará um controle fino
da rotação do motor elétrico (SAMSUNG, 2018). Acompanhe essa dinâmica
na Figura 6.
12 Entradas e saídas analógicas

Velocidade do compressor
Confortável devido à pequena
Rápido para atingir a temperatura
variação da temperatura ambiente
Rpm

Grande variação de temperatura


Rpm Silencioso devido à baixa evolução do compressor

Rpm
Start
Temperatura (tipo inverter)
Temperatura (tipo convencional)
Evolução do compressor (tipo inverter)
Evolução do compressor (tipo convencional)

Figura 6. Funcionamento de um aparelho de ar-condicionado inverter.


Fonte: Adaptada de Fujitsu (2019).

Sistema de balança digital


Agora vamos avaliar um sistema de balança digital para a medição de, por
exemplo, cargas em veículos. Essa é uma situação na qual é necessária uma
avaliação crítica do sistema de medição devido aos diversos fatores envolvidos,
mecânicos e eletrônicos.
Vamos considerar que um veículo automotivo tem, em média, peso bruto
de 1 t (1000 kg) e carga máxima de 300 kg. Vamos supor também que seja
necessário classificar o veículo em três faixas de carga (0 a 99 kg; 100 a 199 kg;
200 a 300 kg) para posterior cobrança de uma taxa de rodagem por peso,
similar ao conceito utilizado nos diversos pedágios de nosso país.
Além de ser capaz de fazer a correta medição da carga do veículo, o sistema
deve ser robusto o suficiente para oferecer uma alta durabilidade e baixa
manutenção. Isso significa que não é possível utilizar um sensor de força de,
por exemplo, 2000 kg, pois o valor máximo permitido fisicamente ao sensor
seria muito próximo aos valores máximos de medição; as possíveis frenagens
bruscas e os excessos de peso poderiam facilmente danificar o sensor.
Dessa forma, optamos por um sensor com maior capacidade de medição,
digamos de 10 t, para que seja robusto o suficiente e não seja prematuramente
danificado. A pergunta que devemos fazer neste momento é: esse sensor mais
Entradas e saídas analógicas 13

robusto conseguirá discretizar as pequenas faixas de medição para a devida


cobrança? Vamos aos cálculos.
Sendo a resolução do sistema de medição de 10 bits, então, temos 1024
passos de medição. O fundo de escala, ou valor máximo, do sensor de força é
de 10.000 kg e, portanto, teremos passos de 9,7 kg (10.000kg/1024). A partir
dessas informações, podemos concluir que, quando o sistema estiver ope-
rando e fizer a medição de um veículo com carga efetiva de 95 kg, não será
possível afirmar com uma alta confiabilidade se ele pertence à primeira ou à
segunda categoria, pois o sistema não irá conseguir discretizar valores entre
95 e 104,7 kg.
A solução para essa situação pode ser tomada em várias frentes, entre
elas a utilização de um sensor de força com menor capacidade de medição ou
utilização de um sistema de conversão analógico-digital com mais resolução.

ARDUINO. AnalogRead(). [S. l.], 2019a. Disponível em: https://www.arduino.cc/reference/


en/language/functions/analog-io/analogread/. Acesso em: 24 mar. 2019.
ARDUINO. AnalogWrite(). [S. l.], 2019b. Disponível em: https://www.arduino.cc/reference/
en/language/functions/analog-io/analogwrite/. Acesso em: 24 mar. 2019.
ATMEL. ATmega328P Datasheet. San Jose, 2015. Disponível em: http://ww1.microchip.
com/downloads/en/DeviceDoc/Atmel-7810-Automotive-Microcontrollers-ATme-
ga328P_Datasheet.pdf. Acesso em: 24 mar. 2019.
FUJITSU. Tecnologia inverter. Brasil, 2019. Disponível em: https://www.fujitsu-general.
com/br/products/tecnologiainverter.html. Acesso em: 24 mar. 2019.
MAXIM INTEGRATED. Understanding SAR ADCs: their architecture and comparison with
other ADCs. [S. l.], 2001. Disponível em: https://pdfserv.maximintegrated.com/en/an/
AN1080.pdf. Acesso em: 24 mar. 2019.
MONK, S. Programação com Arduino: começando com sketches. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2017. (Série Tekne).
ON SEMICONDUCTOR. Switch-mode power supply: reference manual. Colorado, 2014.
Disponível em: https://www.onsemi.com/pub/Collateral/SMPSRM-D.PDF. Acesso em:
24 mar. 2019.
SAMSUNG. What is a smart inverter?. Estados Unidos, 2018. Disponível em: https://
www.samsung.com/ae/support/home-appliances/what-is-a-smart-inverter/. Acesso
em: 24 mar. 2019.
14 Entradas e saídas analógicas

TEXAS INSTRUMENTS. Choose the right A/D converter for your application. [S. l.], [201-?].
Disponível em: https://www.ti.com/europe/downloads/Choose%20the%20right%20
data%20converter%20for%20your%20application.pdf. Acesso em: 24 mar. 2019.
WHEAT, D. Arduino internals. New York: Apress, 2016.
ZAIT, A. An introduction to arduino uno pinout. In: CIRCUITO.IO BLOG. [S. l.], 2018. Dispo-
nível em: https://www.circuito.io/blog/arduino-uno-pinout/. Acesso em: 24 mar. 2019.

Leituras recomendadas
HART, D. W. Eletrônica de potência: análise e projetos de circuitos. Porto Alegre: AMGH,
2011.
MALVINO, A. P.; BATES, D. J. Eletrônica: diodos, transistores e amplificadores. 7. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2011.
MONK, S. Projetos com Arduino e Android: use seu smartphone ou tablet para controlar
o arduino. Porto Alegre: Bookman, 2014. (Série Tekne).
NELSON, C. [Analog vs. Digital]. [S. l.], [201-?]. Disponível em: https://learn.adafruit.com/
circuit-playground-analog-input?view=all. Acesso em: 24 mar. 2019.
SEDRA, S.; SMITH, K.. Microeletrônica. 4. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2005.
Dica do professor
Uma aplicação muito utilizada das entradas e saídas analógicas é a aquisição dos sinais e posterior
reprodução para que possa ser inserido novamente no meio, como, por exemplo, o funcionamento
dos aparelhos de telefone.

Nesta Dica do Professor, você vai aprender os conceitos de sinais e sistemas contínuos e discretos
no tempo e noções importantes quando se faz o uso de dados provenientes de conversores
analógicos.

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Exercícios

1) Para o funcionamento adequado de um sistema de conversão analógico-digital é necessário


estabelecer certas garantias de que os periféricos estão em perfeito acordo com a aplicação.
Supondo que seja necessário utilizar uma fonte de tensão externa de 3,0V para a referência
do conversor e essa fonte contenha um drift de tensão em função da temperatura, ou seja, a
tensão da fonte varia sensivelmente conforme a temperatura ambiente e essa variação seja
de 0 a 0,5V (3,0 a 3,5V), qual será o erro de medição em bits, sendo esse um conversor de 8
bits?

A) 32

B) 34

C) 36

D) 38

E) 40

2) A programação do arduino é realizada através de comandos em linguagem C e que devem


ser inseridos adequadamente para a correta interpretação do compilador. Analisando os
comandos a seguir, identifique qual está corretamente estruturado com os parâmetros de
entrada correto e grafia.

A) analogRead(pin) e analogReference(DEFAULT).

B) AnalogRead(pin) e AnalogReference(DEFAULT).

C) analogRead() e analogReference(DEFAULT).

D) analogRead(pin) e analogReference(3V).

E) analogRead(pin) e AnalogReference(DEFAULT).

3) Um sistema de reprodução de áudio doméstico é basicamente um conversor digital-


analógico ligado a uma caixa de som para emitir as vibrações sonoras. Considera-se que o
ouvido humano tem capacidade de ouvir frequências entre 0 e 20kHz na sua melhor
performance (idade, histórico de exposição ao ruído, etc.). Considerando essas informações,
qual seria a taxa de amostragem que você escolheria para o seu sistema de áudio?

A) 10kHz.

B) 20kHz.

C) 40kHz.

D) 5kHz.

E) 1kHz.

4) O conceito de PWM é muito utilizado para o controle de velocidade de motores,


principalmente de motores de corrente contínua (CC) nos quais a rotação do eixo é
proporcional à tensão aplicada (desconsiderando para efeito de exercício a carga sobre o
eixo do motor). Considerando um sistema de saída analógica tipo PWM de 8 bits (256)
atuando sobre um motor elétrico com rotação máxima de 12.000RPM, qual é a diferença
entre as rotações?

A) 55RPM.

B) 100RPM.

C) 40RPM.

D) 47RPM.

E) 75RPM.

5) O conversor analógico-digital do tipo de aproximação sucessiva é utilizado no arduino


devido a várias vantagens, entre elas tamanho e custo, além de ter eficiência no processo de
conversão. Justamente esse processo tem tempo de conversão constante, independente da
tensão de referência ou da tensão de entrada no pino analógico. Para um conversor de
10bits, quantas iterações são necessárias para obter o valor digital final?

A) 8.

B) 10.

C) 12.
D) 16.

E) 24.
Na prática
Com o artifício de sistemas microcontrolados, é possível automatizar desde processos complexos,
como, por exemplo, industriais, ou processos simples e cotidianos. A cultura maker ou DIY (Do It
Yourself) trata de utilizar as dificuldades do dia a dia de pessoas normais e criar uma invenção
singular e única para resolver o problema de forma criativa e rápida. O projeto arduino trouxe os
sistemas microcontrolados mais para próximo das pessoas que não têm conhecimento específico
de programação ou eletrônica.

Neste Na Prática, você irá conhecer um projeto feito com o arduino que está disponível com open-
source, ou seja, para reprodução sem fins lucrativos.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Voltímetro com arduino (o mais simples possível!)


Veja, neste vídeo, como utilizar seus conhecimentos para criar seu próprio voltímetro de bancada,
um equipamento indispensável para quem trabalha com eletrônica.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

30 Projetos com arduino [Série Tekne]


Nesta publicação, você verá várias ideias para colocar em prática o seu conhecimento em
conversores analógicos-digitais.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Utilizando PWM como saída analógica na prática


Assista ao vídeo a seguir, que explica como transformar uma das saídas PWM do arduino em um
sinal analógico de 0 a 10V.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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