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Resumo
Este trabalho visa expor o debate que Luce Irigaray trava com a Psicanálise. Inicialmente, contextualiza sua obra no
universo feminista. Irigaray compõe a vertente francesa que, nos anos 1970, dava destaque especial à linguagem. A
autora defende que os desenvolvimentos freudianos referentes ao complexo de Édipo tomam o patriarcado como base
e se edificam aos moldes falogocêntricos, a ser ratificado pela tendência estruturalista que fundamenta os preceitos do
simbólico de Lacan – nessa conjuntura, a mulher não tem representação própria, sendo acomodada aos parâmetros
masculinos que a inferiorizam. Como forma de reverter tal cenário, Irigaray propõe estratégias como a reconfiguração
da relação mãe-filha e intervenções na linguagem, o que permitiria a fundação de uma escrita transgressiva a inscrever
discursivamente o gozo feminino não refreável pelas balizas fálicas.
Abstract
This paper aims to present the debate between Luce Irigaray and psychoanalysis. Initially, it contextualizes her work
within the feminist field. Irigaray composes its French strand that, in the 1970s, gave prominence to language. She
argues that the Freudian developments about Oedipus complex is based on patriarchy and are set up through
phallogocentric resolutions, which would be ratified by the structuralist strand that underlies the Lacan’s precepts of
the Symbolic – in this conjuncture, the woman does not have its own representation, as she adapts to the male
parameters that make her inferior. To disturb such situation, Irigaray proposes some strategies, such as the
reconfiguration of the mother-daughter relation and interventions in language, which would make possible a
transgressive writing type that would discursively inscribe female jouissance, which is not guided by the phallic
parameters.
1
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: rkcossi@hotmail.com
preceitua táticas que objetivam escancarar seus 1965: Sobre o nome próprio”, a constar no
pontos de vulnerabilidade e não identidade. Seminário XII de Lacan – que, por sinal, ao lado
O neologismo “falogocentrismo” nasce de Leclaire, também fez parte da discussão que
da junção desse logocentrismo com o elemento girava em torno do estatuto do nome, do nome
“falo”, que a Psicanálise definiria como o de família, das suas relações com o imaginário, o
operador central da sexualidade – como se trata simbólico e o corpo. Irigaray também se faz
de um elemento que foi em larga escala tomado presente no Seminário XIV, na lição de 1 de
pelo feminismo como masculino, concedê-lo fevereiro de 1966, agora junto de Lucien Mélèze
primazia levaria ao eclipsamento do sexo da e Jenny Aubry, em interlocução com Jakobson e
mulher, homologando a gramática patriarcal. Lacan. Ela levanta questões sobre a diferença
Grosz (1989, p. 29) sublinha que desconstrução é entre sujeito do enunciado, sujeito da enunciação
associada em Derrida a diversos nomes, como e shifter. Mas o tom colaborativo e cordial entre
différance, “suplemento” e “Mulher”, termos que Irigaray e o lacanismo se encerra anos depois. A
reputa apontar ao mesmo tempo para a falta e o publicação de seu primeiro livro, fruto de sua tese
desmedido, arroubo que estorva o sujeito como de doutorado – Speculum: de l’autre femme, de 1974
senhor do seu discurso: “Mulher representa uma –, que lhe deu notoriedade nos círculos
resistência, um lócus de excesso dentro de textos feministas, acabou resultando na sua expulsão da
logocêntricos/falocêntricos, funcionando como École Freudienne de Paris, fundada por Lacan, e a
um ponto no qual o texto se volta contra si impediu de dar continuidade ao ensino
próprio” (Grosz, 1989, p. 33), problematizando a universitário que empreendia em Vincennes. De
diferença e as identidades sexuais tais como toda forma, seu trabalho teve o devido
sistematizadas em uma estruturação binária na reconhecimento dentro e fora da França – é
roupagem patriarcalista. Assimilar a noção de imensa a influência que exerceu sobre Butler e
différance também marca uma diferença no íntimo Braidotti, por exemplo. Preciado (2002, p. 36)
desse feminismo francês – não é a igualdade com chega a homenageá-la ao denominar os corpos
os homens que ele espreita, nem uma possível transmutados pela tecnologia, estandarte de seu
definição do que seria a mulher; pelo contrário, o manifesto contrassexual, de wittigs.
que se pretende é frustrar tal destino. Esse é o Delatar a espoliação da mulher põe em
ambiente feminista de Irigaray. xeque não só questões econômicas, legais e
Luce Irigaray (1932-) é filósofa, linguista morais, mas, sobretudo, como o sistema patriarcal
e psicanalista, cuja obra, imersa na história da formata a linguagem, na qual se assenta nossa
filosofia, vai dos pré-socráticos até os pós- ordem cultural e social como um domínio
estruturalistas, ao passo que mantém um vínculo monopolizado pelo homem. Irigaray tem o
incessantemente conturbado com Freud e Lacan. projeto de iluminar o feminino entendido como
Em 24 de março de 1965, ela participa o ponto cego do discurso filosófico, que também
ativamente, ao lado de Jean Oury e Jean-Paul estaria na base do psicanalítico conformado ao
Valabrega, do debate fechado intitulado “A falogocentrismo, segundo a autora.
propósito da comunicação de Serge Leclaire de
A polarização binária da diferença faria Lisa Jardine (in Brennan, 1997) alega que as
parte do maquinário patriarcal, no interior do qual mulheres não tinham voz lá, que elas não
o homem é identificado com o significante fálico participavam da transmissão da teoria naquela
e a mulher não é passível de representação por época: atestaria tratar-se de um espaço também
conta própria. Consequentemente, a mulher não hierarquicamente dominado pelos homens, o que
seria entendida em seus próprios termos, mas o afastamento de Irigaray parecia confirmar: “a
sempre a partir do que o homem dita o que ela mulher analista deixa o seminário do Mestre e
deve ser, no caso, o negativo dele. Repete-se então começa a produzir um modelo teórico de um
toda uma tradição: se ao homem concerne a imaginário feminino alternativo” (Jardine, in
nobreza do mundo das ideias, a figura da mulher Brennan, 1997, p. 94). Ou seja, o passo dado pelo
é associada à matéria, carne e natureza, só lhe feminismo francês era político, na medida em que
sendo possível aproximar-se do status de sujeito angariava um espaço outro também no âmago da
ao assimilar aspectos da masculinidade, e não a geração da teoria. O social e o simbólico deveriam
partir de suas especificidades. ser revistos para recolher o corpo feminino, assim
A proposta de Irigaray de derrocada do como o corpo da teoria psicanalítica deveria ser
falocentrismo também teria repercussão na modificado ou acrescido de elementos para
clínica psicanalítica em termos práticos; incidiria recebê-lo.
na qualidade da escuta do analista e no manejo da Neste texto, limitar-nos-emos à relação
transferência, tal como elabora nos textos “The que Irigaray estabelece com a Psicanálise. Ela se
limits of transference” e “The gesture of empenha em denunciar o que intuía serem os
psychoanalysis” – ambos publicados em suportes masculinos e opressores que apoiam as
Whitford (1991). obras de Freud e Lacan, fruto do que ela
Irigaray é veementemente avessa à considerava uma incorporação acrítica da
estagnação da Psicanálise institucionalizada. Em estrutura do pensamento falogocêntrico. Como
seu entender, havia uma recusa da Psicanálise de forma de combater tal sistema, Irigaray
analisar politicamente suas estruturas, o que desenvolve um método amparado na
endossaria, segundo a autora, uma cega reconfiguração da relação mãe-filha, na noção de
submissão ao discurso normativo de poder. De mimesis, em inovações teóricas como a
acordo com Gallop (1982, pp. 94-95), tal “simbolização dos dois lábios”, chegando até a
circunstância descrita por Irigaray teria reflexos propor uma latente subversão no campo da
inclusive na prática clínica dos psicanalistas, que linguagem sustentada na ideia de conquista do
tenderiam a submeter seus pacientes à mesma imaginário e abatimento do simbólico, correlata à
relação de subserviência que aqueles manteriam operação de outra lógica a conduzir uma escrita
com seus mestres de escola, assujeitando-os aos revolucionária, e que corre em paralelo às suas
significantes deles. pesquisas sobre a dinâmica dos fluidos e o
Ainda nessa perspectiva de análise da exercício do toque.
política interna à própria instituição psicanalítica,
sim num tipo de negatividade: não é que ela teria estágio uterino na discussão da sexualidade
outro órgão ou outro sexo, mas sim um não-sexo feminina, o que seria tributário de uma
ou não-órgão. Definir a sexualidade feminina especificidade da mulher; ou da peculiaridade do
desse modo, para a feminista, seria como uma prazer da vagina ou do toque dos seios e dos
forma de dominação, uma estratégia que visaria lábios. Por que a masturbação da menina só é
perpetuar o poder nas mãos dos homens e relativa ao clitóris? Se Freud, na leitura de Irigaray,
aniquilar eventuais ameaças, caso a mulher não diz nada acerca de outros componentes do
acessasse alguma categoria de representação a órgão genital feminino e de outras partes
partir do que lhe é próprio. sensivelmente erogeneizadas, ele amputaria certas
Em sua leitura, Freud operaria regiões da genitália feminina que em tese teriam
dicotomicamente e, a partir desse pensamento menor potencial erótico. Fica difícil entender por
simétrico, a feminilidade só poderia ser um que, em Freud, a passagem do clitóris para a
reflexo negativamente equacionado à vagina como principal zona erógena é relevante, e
masculinidade. Assim, Irigaray argumenta que Irigaray sugere que o motivo talvez seja a vagina
para que o homem domine essa economia e o ser uma seção do aparelho genital feminino
processo de especularização seja bem-sucedido, é indispensável para o prazer masculino no ato
forçosa a produção de um “outro”, seu binário sexual. Ademais, se a castração, no complexo de
negativo, a ser diferenciado dele e Édipo, é a de um órgão do menino, e não uma
hierarquicamente subjugado. Segundo a autora, castração “dela”, que diga respeito à perda de algo
do corpo dela. Assim sendo, para Irigaray, a
[a especularização] é uma intervenção genitália feminina só poderia ser percebida com
necessária, exigida por esses efeitos de horror, associada à falta ou a uma falha na
negação que resultam de/ou postas em constituição do sexo ideal, o masculino – dai a
movimento através da censura do inveja do pênis ser o representante do desejo
feminino, através do qual o feminino será feminino de acionar a ordem simbólica; e dessa
admitido e obrigado a assumir tais maneira não feminina, entrar no discurso.
posições: ser/tornar-se; ter/não ter sexo A castração viabilizaria à mulher somente
(órgão); fálico/não-fálico; pênis/clitóris ou uma “saída honrosa”, a mascarada, recurso esse
mesmo pênis/vagina; mais/menos; que Irigaray infere proporcionar algum prazer
claramente representável/continente negro; tipicamente feminino (Irigaray, 1974/1985, p.
logos/silêncio ou tagarelice; desejo pela 114). Para ela, a construção da máscara se
mãe/desejo de ser mãe. (Irigaray, edificaria a partir dos valores que os homens
1974/1985, p. 22, trad. nossa) julgam importantes para uma mulher. Ela
depreende se tratar de um processo fálico e que,
Irigaray (1974/1985, pp. 29-30) aponta no seu desenrolar, conclamaria que a mulher
que não há uma discussão em Freud a respeito de descarte o que, de fato, lhe seria “seu” para
um suposto estágio da vulva, da vagina ou de um
corresponder aos padrões masculinos que impõe destino será a neurose ou a masculinização.
como ela deve se dar a ver. Irigaray aponta que é só nesse momento posterior
Irigaray defende que a castração feminina que, talvez por imposição de valores culturais, a
não poderia ser pensada a partir da mesma menina tenha de abrir mão de seu caráter ativo
referência válida para o menino. Ela sugere que a em prol da feminilidade passiva que é esperada
castração na mulher deva ser encarada como o dela. Mas a mulher seria sempre passiva? – segue
impedimento de representar ou simbolizar a questionando a autora. Não, só em um caso ela
relação inicial com a mãe (período pré-edípico). não é: ela “escolhe” ativamente a posição
Talvez sua “mal resolvida” castração, e a masoquista, tal como se leria em Freud. Para
concomitante dificuldade de entrar como sujeito Irigaray (1974/1985, pp.19-20), ela não teria
nos sistemas simbólicos, tenha a ver com a opção: como deve suprimir sua agressividade sob
impossibilidade de metaforizar aquele desejo um imperativo social, já que deve ser afetuosa e
original fruto da relação mãe-filha. Uma vez que dócil, a mulher converteria sua libido em
Irigaray interpreta que a premissa fálica freudiana impulsos masoquistas, erotizando tal tendência
e a castração são universais, só cabe à menina se destrutiva.
submeter às mesmas metáforas fálicas que o Neurótica, masculinizada ou feminina
menino; só restaria a ela imitá-lo e fazer equivaler masoquista. Irigaray conclui de seu exame que,
seu desejo pela mãe com o desejo por uma mulher, para Freud, toda e qualquer mulher é
e não a um desejar como mulher (a primeira saída patologizável, por ser mulher – e que patologizar
pressupõe que as imagens de mãe e de mulher se a mulher seria uma forma de adaptá-la à
condensam no mesmo ser; a segunda, não). A não sociedade masculina (Irigaray, /1977/1985, p.
significação da mulher nessa relação mãe-filha 73). Nem a maternidade – que, em Freud, seria a
promoveria a depreciação da mãe – e de todas as chancela definitiva do feminino edipicamente
mulheres, já que castradas – aos olhos da menina dignificado – escaparia desse raciocínio.
(Irigaray, 1974/1985, pp. 83-84). Na acepção de Irigaray, a feminilidade,
Outro ponto muito contestado por marcada pela inveja do pênis, tenderia a
Irigaray é a dicotomia ativo/masculino e desaparecer com a maternidade. Fazer-se de mãe,
passivo/feminino que ela enxerga estar impressa tomar o filho como substituto do pênis ausente,
nos escritos freudianos da diferença sexual. Em por ser um recurso fálico, não seria feminino
Freud, na fase pré-edípica, a menina seria como (Irigaray, 1974/1985, pp. 77-78).
um menino tacanho. No estágio sádico-anal, não Então, seria só por meio de repetições,
haveria diferenciação entre homem e mulher – só reiterações de representações fálicas, inscritas no
masculinidade – nem entre atividade e e pelo masculino, que ela entraria no universo
passividade. Seu clitóris é fálico e ativo. Ela tem discursivo do Mesmo. Uma vez que, na sua visão,
de abandonar o investimento nesse órgão sexual como a mulher não seria passível de se inscrever
(e seu objeto de amor inicial, a mãe) para na linguagem por si, ela nada teria a dizer
desembocar na feminilidade normal, abalizada propriamente sobre seu prazer e angústias. Na
pela erotização da vagina. Caso contrário, seu sequência, só restaria aos seus sintomas,
mulher presa a uma versão negativa do Édipo e às se de “ter o falo”. Ela só encontraria o significante
garras do falo, agora alçado ao status de do seu desejo no corpo do homem, que
significante. hipoteticamente o tem, renovando, na visão de
Segundo Irigaray, em “Diretrizes para um Irigaray, o freudismo mais vulgar.
congresso sobre a sexualidade feminina”, Lacan
teve o mérito de ter reaberto o debate a respeito Essa formulação de uma dialética das
da sexualidade da mulher. Evocou novos relações, sexualizadas pela função fálica,
desenvolvimentos fisiológicos referentes ao “sexo de forma alguma contradiz a manutenção
cromossômico”, ao “sexo hormonal”, ao do complexo de castração da menina de
privilégio libidinal do hormônio masculino; Freud (ou seja, sua falta ou não-ter falo)
aclarou a ignorância que ainda imperava sobre a e sua subsequente entrada no complexo
natureza do orgasmo vaginal e o papel do clitóris de Édipo – ou seu desejo de obter o falo
no investimento nas diferentes zonas erógenas de quem é suposto o ter, o pai. Dessa
(Irigaray, 1977/1985, p. 60). Mas, e é a partir daqui forma, a importância da “inveja do
que Irigaray passa a criticá-lo, Lacan teria pênis” da mulher não é posta em questão,
apontado o quanto é fundamental não mas é elaborada mais profundamente em
negligenciar a perspectiva estrutural que já estaria sua dimensão estrutural. (Irigaray,
implícita no complexo de castração freudiano. 1977/1985, p. 62, trad. nossa)
Para se ter uma leitura justa do Édipo, há de se
levar em conta os registros simbólico, imaginário Para Irigaray, o falo, mesmo como
e real. Contudo, para Irigaray, a tradição lacaniana significante privilegiado do simbólico, ainda
não os balanceou devidamente e o registro conservaria uma relação insuperável com o pênis;
simbólico tomou uma dimensão dilatada demais serviria como um instrumento teórico mais
e uma interpretação inadequada. aprimorado a reafirmar a submissão e a
O Lacan dos anos 1950 especifica que o inferiorização da mulher. Professar a diferença a
que está em jogo na castração é a operação da contar de um referente único – e que, ainda, é
metáfora paterna que impede que mãe e filho historicamente masculino, no ponto de vista da
satisfaçam seus desejos de completude fálica. O autora, seria inaceitável. Além do mais, ela
desejo passa a ser simbolizado por intermédio da reprova Lacan em diversos momentos por
linguagem: a necessidade é separada da demanda, considerar que o simbólico “dele” é um registro
fazendo com que o falo seja o significante da falta a-histórico e imutável, que refuta rearranjos. Para
resultante desse processo, o significante do Irigaray, a linguagem deve ser estimada como
desejo. À mulher cabe “ser o falo”. Para tanto, ela maleável, em fluxo e entregue a relações de poder.
deve renunciar a uma parcela essencial da sua Se a cultura ocidental, incluída aí a Psicanálise, na
feminilidade para a construção, processo fálico, perspectiva da feminista, não entende as
da mascarada. Então, para Irigaray, seria sendo o mulheres, é porque insiste em manter os mesmos
que ela não é que ela pede para, ao mesmo tempo, paradigmas falogocêntricos, regidos por leis que
ser desejada e amada. Já do lado do homem, trata- se querem totalizantes.
todo [pas tout], a resposta será que elas que são não- sendo tomadas uma a uma. “A mulher não existe,
todas [pas toutes]” (Irigaray, 1977/1985, p. 88). mas a linguagem existe. Que as mulheres não
Com outros recursos, mas com a mesma existem nessa linguagem – uma linguagem –
força de denúncia dessa pressuposta estagnação regida por um mestre, que ela ameaça – como
paradigmática, em “The mechanics of ‘fluids’”, uma espécie de ‘realidade pré-discursiva’? – que
Irigaray (1977/1985) reputa que toda ciência perturba sua ordem” (Irigaray, 1977/1985, p. 89).
pode ser pensada a partir da categoria do sólido, Irigaray considera que o passo lacaniano de tomar
coligada à masculinidade; e a dos fluidos, à as mulheres uma a uma comporia uma estratégia
feminilidade. O gozo da mulher, nas suas elaborada para impedi-las de conquistar uma
palavras, é líquido, indefinido e ilimitado (Irigaray, representação discursiva ontológica, o que
1977/1985, p. 229), inabarcável pelos parâmetros ameaçaria o império masculino.
falogocêntricos. O sexo da mulher não é uno; seu Irigaray pensa que o falo, atuante sobre o
gozo explode em várias partes do seu corpo, gozo do corpo (do Outro), impõe-lhe
espelhado de maneira multifacetada, num jogo “enumeração: um(a) por um(a). As mulheres
polimórfico de reflexos, contrário à unidade de serão apanhadas, testadas, uma a uma, para evitar
especularização – reflexo reto, simétrico e exato o nonsense” (Irigaray, 1977/1985, p. 98). Localizar
do homem, correspondente à restrição que seu o não todo do discurso na mulher seria uma
sexo unilateral lhe inflige, discrimina Irigaray. forma de fazer com que a falta do indizível fosse
A mulher não é aberta nem fechada: é suportada, dispondo dessa substância chamada
indeterminada, tem uma forma nunca completa gozo. “A falha do acesso ao discursivo no corpo
(Irigaray, 1974/1985, p. 229). Não é infinita, mas do Outro é transformada nos intervalos que
também não é uma unidade; não se pode dizer separam as mulheres umas das outras” (Irigaray,
que ela é isso ou aquilo, o que está muito longe de 1977/1985, p. 98). Nesse sentido, o uma a uma da
se estatuir que ela é nada. Nenhum discurso daria mulher lacaniana seria uma manobra discursiva de
conta da modalidade do seu desejo, nenhuma poder com a intenção de enfraquecer seu
metáfora a completaria. Talvez a mulher se conjunto na luta em se fazer escutar.
falicize para se relacionar com o homem, Como fora da linguagem, pertenceria ao
solidificando-se, de acordo com a feminista. universo do sensível. Seu corpo como marcado
Contudo, “o gozo da mulher excede tudo isso” pelos significantes do homem, suporte das
(Irigaray, 1974/1985, p. 229), uma inundação sem fantasias dele, onde seriam projetados seus
contornos discerníveis. Gozo do corpo porque objetos do desejo. “Nada a dizer desse gozo;
esse é seu espaço autêntico? Não, responde portanto, não gozando. É como ela sustenta, para
Irigaray, mas porque ele é exilado do discurso. eles, a dupla função do impossível e do proibido”
Tal desterro seria ratificado, segundo a (Irigaray, 1977/1985, p. 96).
autora, pelo veredito proclamado por Lacan A sexualização da mulher se daria por
reiteradas vezes em meio à ebulição do feminismo uma imposição lógica a ser arcada pela função de
francês: “A mulher não existe”. Decorre desse objeto a, resto da produção das operações da
aforismo que as mulheres não formem conjunto, linguagem, resto do corpo. Mas se trataria de um
corpo sem órgãos, que não levaria em conta as não todo, estando em parte ausente de si mesma;
zonas erógenas tão consagradas pela Psicanálise: não sujeito, cujo corpo deve ser talhado para
“A geografia do prazer feminino não é escutada” caber na fantasia do homem. Se faltante, sobra a
(Irigaray, 1977/1985, p. 90). Afinal de contas, se ela o “tamponamento” por meio do objeto a que
só se pode gozar de uma parte do corpo do é seu filho. “Não seria essa uma retomada mais
Outro, para a autora, o corpo da mulher deve ser refinada do postulado freudiano sobre a
fracionado, sempre recortado ao se configurar anatomia?” (Irigaray, 1977/1985, p. 102). Se “A
simbolicamente à maquinaria fantasística mulher não existe”, ela parece só entrar na relação
masculina. sexual como mãe, discurso repisado na tradição
Então, qual seria a ação decisiva a incluí- filosófica do qual a Psicanálise não se
la na sociedade dos homens? Acessar o objeto a desvencilharia. “Se há um discurso que
através do seu filho, mas: “Ah sim… ainda [encore] demonstra isso, é o discurso analítico, por pôr em
sem filhos, sem pai?” (Irigaray, 1977/1985, p. 94). jogo, aqui, que a mulher só pode ser tomada como
Antiga equação mãe = mulher? Ela faz do quoad matrem. A mulher só entra em jogo na
homem, pai. Essa seria a única saída dentro da lei relação sexual como mãe” (Irigaray, 1977/1985,
para o desejo feminino, na óptica de Irigaray – ao p. 102) – essa passagem de Irigaray, que
preço de que não seja um sujeito e que o discurso veladamente faz referência ao Lacan do
do homem, seu desejo e seu gozo não sejam Seminário XX, confirmaria, segundo a autora, a
importunados. equação mãe = mulher comumente levada a cabo
E mais, em sua apreciação, Lacan teria pelo homem e que desta vez também se faria
atrelado o gozo feminino à patologia. presente no discurso lacaniano. Com o risco de
que, “sendo a relação sexual impossível, [...] se
Se o homem não tivesse que trabalhar e continue criando leis dessa própria impotência, e
ela se nutrir para procriar, e ter de permanecer subjugando as mulheres” (Irigaray,
interromper seu (outro) gozo, ela poderia 1977/1985, p. 105) – Irigaray interpela se a
viver o amor indefinidamente – daí a Psicanálise poderia lançar mão de outra lógica que
dificuldade para ela de interromper o ato dispensasse a suposta mestria masculina
sexual. Ela sempre quer mais, ainda subterrânea que leva ao ofuscamento da mulher
[encore] escreveu certo psicanalista ao reduzi-la a mãe.
(notadamente Jacques Lacan) que Vertendo-se outra vez ao uso que Lacan
equacionou esse “mais” [toujours plus] a faz de instrumentos científicos novos à
uma patologia. (Irigaray, 1977/1985, p. Psicanálise, Irigaray advoga estar subsumida a
64, trad. nossa) reatualização daquela antiga paridade.
certos lógicos toma o solo ou substrato princípios dos sólidos, transporta-a aos estudos
simbólico no qual o feminino está a das propriedades dos fluidos – se referidos ao
serviço do sujeito masculino. Como o feminino, poderiam ser utilizados para inquirir
sujeito funciona de acordo com a banda sobre a diferença sexual e a imagem associada à
de Moebius, indo de fora para dentro e mulher, contra a especula(riza)ção dual e
de dentro para fora, sem mudar de borda, monolítica que subentende, de acordo com a
isso encerraria o ciclo do amor entre mãe feminista, a estrutura do sujeito modelada pelo
e filha e entre as mulheres. Nessa clausura panorama do homem.
topológica, que não é aberta, o sujeito Irigaray, então, propaga a ideia de que as
reprime-se, não é livre no que poderia vir mulheres não seriam bem compatíveis com os
a se tornar, a mulher é trancada neste quadros simbólicos, suas leis e seus sólidos
“feminino-maternal”, [...] e o que escapa princípios, mas sim próximas a uma agência que
a isso é repugnado. (Irigaray, 1984/1993, tenderia a perturbar tal ordem – no caso, o
p. 105, trad. nossa) registro do real, que confunde as fronteiras e
irrealiza ser capturado. Ao real, Irigaray confere a
Contra esse presumido encarceramento virtude fluida, que se comportaria como uma
do “sujeito feminino” à banda de Moebuis, na aporia na formalização matemática.
qual um lado corresponderia à mulher e o outro à Qual seria importância disso para a
mãe, figuras indissociáveis e indiscerníveis, Psicanálise? Metonímia (fluido) passaria a ter mais
Irigaray (1984/1993, p. 109) passa a ter em conta privilégio que a metáfora (quase sólido);
que a mulher deve construir um mundo em suas desbancam-se dicotomias opositivas e categorias
três dimensões. metalinguísticas. O sexo feminino seria um
A partir das considerações de Aristóteles, excesso à boa forma, essa que alicerça circuitos
Irigaray assume que o lugar é, ao mesmo tempo, fechados como o princípio da constância ou a
dentro e fora, ou que a mesma causa não atua da repetição do estado de equilíbrio. Irigaray chega a
mesma forma dentro e fora, podendo haver uma considerar que o próprio objeto a é do universo
reversão de envelopes – o que permite dispor do dos fluidos – ter sido relacionado a matérias
caráter de reversibilidade, torção e crossing-over sólidas, como às fezes, seria um exercício de
[recroisement] (Irigaray, 1984/1993, p. 41). Isso nos dominação, tentativa de adaptá-los aos meandros
soa como se Irigaray estivesse propondo que a da racionalidade. O objeto a tenderia a apresentar
diferença sexual fosse tratada a partir da topologia o caráter de fluidos como urina, saliva, luz, onda,
do cross-cap ou da garrafa de Klein. O sexo perfume, plasma (Irigaray, 1977/1985, p. 133).
feminino como envoltório, que não se confunde Fluido, a-forma, outra topológica: feminino.
com conteúdo nem continente – lugar que não é
nem a matéria nem a forma, exclusivamente. Para um plano de ataque
Todo esse esforço para fugir do
binarismo, que, segundo a autora, participa da E como viabilizar transformações
engrenagem do simbólico masculino associado a políticas no universo dos sexos? Além da
como homem é mais ou menos a cópia da ideia produzir uma verdade e um significado que seja
de homem, como um infinito reflexo no espelho excessivamente unívoco”. A ideia não é criar uma
(Irigaray, 1974/1985, p. 291). A imitação perene lógica feminina discursiva com fins de se opor à
sustenta o ideal de uma suposta origem, mas algo masculina, o que só confirmaria e daria ainda mais
sempre escapa e indaga justamente se há origem, força ao regime falogocêntrico que opera por
ou se só há cópias sem um ponto de partida. binários excludentes e hierarquizantes.
Pretende-se estimular a repetição das visões “Esta outra lógica discursiva deixaria de
degradantes associadas às mulheres, também privilegiar o ‘próprio’ em benefício do ‘próximo’
chamada de processo de alimentar o não (re)capturado na economia espaço-temporal
essencialismo estratégico: por exemplo, se a da tradição filosófica” (Irigaray, 1977/1985, pp.
mulher é ilógica, ela deve falar logicamente 153-4). Implicaria uma relação diferente com a
(atributo culturalmente masculino) sobre sua alteridade, a verdade, o mesmo e a repetição –
“ilogicidade”. Ocorre que tais repetições nunca contra a especula(riza)ção do espelho plano, a
são bem-sucedidas, nem tudo que é dito ou favor do espelho côncavo, debilitando a
performatizado a respeito da mulher é passível de exclusividade referencial masculina. A autora
ser abarcado – ela nunca é aquilo que pode ser requer uma reformulação do espaço e do tempo
expresso daquela maneira, ou é algo a mais. que atinja um lugar topológico distinto e que
Revelar-se-ia o engodo da superintendência presumivelmente daria espaço ao gozo da mulher.
masculina, que determina os pretensos valores Dessa vez, Irigaray menciona os lábios e toque
identitários empobrecedores das mulheres. “Da para dar corpo às suas ideias.
especularização para o espelho côncavo, no qual Acompanhando seu raciocínio, como
as imagens refletidas do sujeito, suas articulações transmutar o símbolo fálico? Para ir contra o
sejam embrenhadas de transformações falogocentrismo que permearia a diferença sexual
paródicas” (Irigaray, 1974/1985, p. 144). Ou seja, lacaniana, Irigaray propõe, ironicamente ou não, a
a mimesis é a reiteração “irônica” de um atributo simbolização ou a metáfora dos dois lábios, que
negativo destinado à mulher com a intenção de habilitaria a construção de um imaginário
revelar que ela não pode ser reduzida a ele, até que feminino, atestando a especificidade das
tal correlação seja descartada. Além das mulheres. Esse símbolo dos dois lábios não regido
repetições discursivas, incita-se o ato, o que pela lógica fálica estática seria tributário da
guarda muito parentesco com o ato performativo pluralidade sexual da mulher – dois lábios
butleriano e sua concepção de paródia de gênero. reproduzindo seu caráter de abertura e
Com a indução da mimesis, algo não é absorvido, movimento, sempre se tocando, contra a imagem
e Irigaray (1977/1985) situa aqui o gozo monolítica do órgão masculino. Por meio desse
feminino. tipo de simbolização, a mulher preconizaria sua
Para Irigaray (1977/1985, p. 78), há de se autenticidade imaginária e a woman-to-woman
quebrar o espelho fálico que induz language adviria, restituindo seu lugar no discurso
especularizações no discurso, destruir o e sua posição de sujeito.
maquinário teórico que tem a “pretensão de
mulher nunca será somada para compor lugar que ocupam no simbólico seriam
uma entidade genérica: mulher. A/uma deslocados.
mulher se refere ao que não pode ser
definido, enumerado ou formalizado. [...] para Irigaray, é improvável que o
(Irigaray, 1974/1985, p. 229, trad. nossa) simbólico, ou seja, aquela ruptura com o
imaginário na qual o indivíduo é capaz de
O que nos autoriza irmos além: o pensar sobre seu próprio imaginário, em
imaginário feminino pode ser equacionado ao vez de pensar por ele, tome uma forma
inconsciente do pensamento ocidental, não social enquanto não existir outro real. No
simbolizado pela Filosofia, restos, fragmentos da momento, segundo Irigaray, o que temos
estruturação imaginária da ordem simbólica é uma economia do semelhante, um
masculina dominante, segundo Whiford (1991). intercâmbio entre homens – o mesmo
Não estaríamos falando do “inconsciente imaginário, masculino, sem coisa alguma
feminino”, mas de como o registro imaginário para atuar como “ruptura”, exceto as
poderia transformar o registro simbólico – um mulheres. Ou seja, para que os homens
não tem como ser perscrutado sem o outro – e, a façam a ruptura com o imaginário deles,
partir daí, seguindo a comentadora de Irigaray, seria necessário outro termo – a mulher
mudar a fantasia social outorgada às mulheres e como simbólico. Enquanto as mulheres
suas encarnações concretas. continuarem a ser dentro daquele
Costuma-se dizer que o simbólico, dentre imaginário, elas não podem ser o termo
outras funções (entrada no social, na linguagem, que efetua a ruptura. (Whiford, in
constituição do sujeito e do campo do desejo), Brennan, 1997, pp. 162-163)
faculta a ruptura com o imaginário. Mas, “o
simbólico que vocês impõem como universal, No pensamento de Irigaray, a mulher
livre de qualquer contingência empírica ou engendraria uma diferença diferente. A mulher a
histórica, é o imaginário de vocês transformado ser o emblema da différance derridiana. A mulher
numa ordem, uma ordem social” (Irigaray, citada celebraria a ruptura. Quando? Onde isso já
por Whitford, in Brennan,1997, p. 161). Ou seja, aparece? Onde se lê. Na “escrita feminina”. Se as
o problema não seria o simbólico em si, mas reivindicações feministas passam
como o falogocentrismo ocidental (e a Psicanálise necessariamente pela posse do seu corpo e pelo
lacaniana) moldaria o simbólico. Como o direito de decidir sobre ele, o “Movimento da
imaginário masculino acabaria por defrontá-lo e escrita feminina” quer fundar um tipo de escrita
formatá-lo. Nessa interpretação, para Withford que injete o mais visceral e próprio da mulher, sua
(in Brennan, 1997, p. 160), a proposta de Irigaray experiência de gozo imponderável, na linguagem,
seria a reconfiguração do simbólico via a ser convulsionada.
imaginário: revertendo as fantasias sociais Irigaray (1977/1985, p. 91) comenta a
conferidas às mulheres, as representações e o representação do gozo feminino que se dá a ver
na estátua de Bernini de Santa Teresa, que ilustra
a capa do Seminário XX de Lacan: “Em Roma, Gallop, J. (1982). The Daughter’s Seduction –
tão longe, uma estátua, feita por um homem? Feminism and Psychoanalysis. Ithaca: Cornell
Feita para ser olhada? Para saber do gozo de University Press.
Teresa, talvez seja melhor recorrer a seus escritos. Geerts, E. (2010-11). Luce Irigaray: the
Mas como lê-la quando se é homem?”. (Un)Dutiful Daughter of Psychoanalysis –
A escrita feminina derrocaria a ligeira a Feminist “Moving through and beyond”
identificação da mulher com o buraco do the Phallogocentric Discourse of
discurso, e a estratégia decidida não seria reverter Psychoanalysis. Recuperado em 29 março,
o domínio masculino, movimento esse que só 2014, de
robusteceria o falogocentrismo, mas de praticar a https://www.academia.edu/403078/Luce
diferença orientada a partir do interior de outro _Irigaray_the_un_dutiful_daughter_of_ps
sistema. ychoanalysis._A_feminist_moving_throug
Falar (como) mulher (parler-femme) e h_and_beyond_the_phallogocentric_disc
escrever (como) mulher. A escrita ourse_of_psychoanalysis
necessariamente provoca outra economia do Grosz, E. (1989). Sexual Subversions: Three French
sentido. Alterando a forma de escrita ou o Feminists. Australia: Allen & Unwin.
discurso lógico, aposta Irigaray, outros Irigaray, L. (1973). Le langage des déments. Paris:
significados seriam conferidos às mulheres. “[...] Mouton / De Gruyter.
o feminino é sempre afetado por e para o Irigaray, L. (1985). Speculum of the Other Woman (G.
masculino. O que queremos pôr em jogo é uma C. Gill, Trad.) Ithaca: Cornell University
sintaxe pela qual as mulheres possam se Press. (Trabalho original publicado em
autoafetar” (Irigaray, 1977/1985, p. 132). 1974).
Autoafetar e tocar-se são correlatos a modos de Irigaray, L. (1985). The Sex which Is not One. (C.
significação em conformidade com o não Porter & C. Burke, Trad.) Ithaca: Cornell
fechamento feminino, que, em seus termos, University Press. (Trabalho original
consagram-se a desmontar a sintaxe da língua e publicado em 1977).
avistar outra gramática da cultura. Irigaray, L. (1993). An Ethics of Sexual Difference (C.
Burke & G. C. Gill, Trad.) Ithaca: Cornell
Referências University Press. (Trabalho original
publicado em 1984).
Fink, B. (1998). O sujeito lacaniano: entre a linguagem Irigaray, L. (1997). O gesto na Psicanálise. In T.
e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Brennan (Org.). Para além do falo: uma crítica
Freud, S. (2010). Sexualidade feminina (Vol. XVIII, a Lacan do ponto de vista da mulher (pp.171-
P. C. de Souza, Trad.). São Paulo: 186). Rio de Janeiro: Record / Rosa dos
Companhia das letras. (Trabalho original tempos.
publicado em 1931). Jardine, L. (1997). A política da
impenetrabilidade. In T. Brennan (Org.).