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15575:2013
por Matheus Felipe de Oliveira e Rafael de Oliveira Lage | 4, novembro, 2021
Manutenibilidade 14.3
Como se percebe de forma mais clara da tabela acima, os requisitos são, em última
análise, características qualitativas do imóvel, voltadas ao atendimento das necessidades do
usuário, que os materiais, componentes e sistemas devem atender.
Já os critérios são grandezas quantitativas que mensuram os níveis e padrões que devem ser
atingidos em cada um dos requisitos.
Logo, por exemplo, no requisito “altura mínima do pé-direito”, o critério é de 2,50m (dois
metros e cinquenta centímetros) e, para vestíbulos, halls, corredores, instalações sanitárias e
despensas, cai para 2,30m.
Requisito e critério, pois, são duas faces da mesma moeda e estarão sempre associados na
Norma de Desempenho.
Por fim, os métodos de avaliação são os meios de aferição do cumprimento, ou não, dos
critérios estabelecidos para cada requisito, compreendendo as análises, verificações e
simulações aplicados de acordo com o objetivo e o momento de sua realização.
Inaplicabilidade da Norma de
Desempenho
Como em toda regra e normatização há exceções, não poderia ser diferente com a NBR
15575:2013, que previu em seu item 1.2, as situações e circunstâncias não abarcadas por sua
regulação:
Obras já concluídas;
Obras em andamento na data de entrada em vigor da Norma;
Projetos protocolados nos órgãos competentes até a data da entrada em vigor da
Norma;
Obras de reforma;
Retrofit de edifícios; e
Edificações provisórias.
As obras concluídas e as em andamento não podem ser alteradas pela normatização da NBR
15575:2013, sobretudo porque as edificações foram construídas sob a regência de outras
regulações, então em vigor.
Aqui, trata-se do famoso ato jurídico perfeito, realizado no passado e que não pode ser
mudado.
Ademais, quando da publicação da Norma de Desempenho, já havia, evidentemente, várias
obras em andamento, cujas características técnicas, custos e projetos também foram
calculados e aprovados segundo o regime anterior.
Por isso, até em respeito à segurança jurídica, os projetos elaborados e protocolados para
aprovação municipal até a data de entrada em vigor da Norma (19/07/2013) puderam seguir
sem atender às regrais mais rígidas da Norma de Desempenho.
A partir da sua publicação, no entanto, qualquer novo projeto arquitetônico, ainda que já
finalizado, mas não protocolado, precisou se adequar às novas normas.
E no caso da reaprovação de projetos, aplica-se a Norma de Desempenho ou não?
Não há como traçar uma regra geral para essa situação, pelo que acreditamos que a resolução
se dará da análise individualizada de cada caso concreto.
Todavia, não seria razoável aplicar a nova regulação a projetos que não modifiquem
substancialmente o projeto anterior, o que feriria um direito adquirido.
Com relação às obras de reforma e retrofit, é preciso, primeiro, esclarecer a diferença entre
essas duas palavras.
A reforma está ligada às edificações antigas, logo, aquelas construídas antes da entrada em
vigor da Norma de Desempenho. Aqui, trata-se mais de uma restauração, o resgate da
qualidade de algo.
O problema é que algumas legislações locais preveem, por exemplo, que a construção de um
novo bloco num terreno já edificado é uma reforma, trazendo uma confusão conceitual que
acaba gerando certa insegurança.
Diante dessas circunstâncias, certo é que a NBR 15575:2013 terá que desatar alguns “nós”
para uma aplicação linear e sem dúvidas.
O retrofit, por sua vez, é um aperfeiçoamento da edificação, que atinge proporções mais
substanciais que a reforma.
Trata-se de uma mudança do próprio conceito de utilização da edificação, quase sempre com
o agregamento de novas tecnologias que não estavam disponíveis no momento da construção
original do edifício.
Por exemplo, o retrofit pode compreender a modificação dos sistemas elétricos e hidráulicos
dos equipamentos instalados nas áreas comuns dos edifícios (elevadores, iluminação etc.).
Finalmente, as edificações provisórias dizem respeito a refeitórios, galpões, alojamentos e
congêneres, assim como os edifícios comerciais e industriais.
Esta última exceção é bem lógica, haja vista que a Norma de Desempenho é aplicável apenas
a edificações habitacionais, ou seja, residenciais.
Fiscalização do cumprimento da
Norma de Desempenho
Não há, a rigor, nenhum órgão competente específico para fiscalizar a observância, nas
edificações, da Norma de Desempenho.
Por mais que os projetos arquitetônicos precisem ser aprovados pelo Município, raramente
este disporá de pessoal técnico qualificado para esse tipo de avaliação, sobretudo por se tratar
de cálculos, materiais e técnicas complexas.
Quando muito, faz-se um cotejo entre a Norma de Desempenho e os parâmetros previstos
no projeto arquitetônico, teóricos e pré-obra, portanto.
O primeiro momento, em tese, de avaliação de atendimento efetivo dos critérios da Norma de
Desempenho seria o da vistoria para fins de emissão do “habite-se” do empreendimento, mas,
novamente, essa diligência esbarra não só na deficiência estrutural dos municípios, mas
também na complexidade dos métodos de avaliação, que muitas vezes demandam análise
laboratorial.
Em regra, a municipalidade se limita a avaliar parâmetros construtivos superficiais, tais como
a taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento, as áreas construídas, dimensões de pé-
direito, afastamentos, dentre outros.
A ausência de fiscalização, todavia, não significa que o construtor deva ou possa ignorar as
normas técnicas. Pelo contrário, a observância rigorosa delas é, mais do que
necessária, conveniente ao empreendedor, porque, em caso de discussão futura a respeito de
eventuais manifestações patológicas, se ele conseguir provar que seguiu à risca a Norma de
Desempenho, terá maior facilidade de imputar ao usuário a responsabilidade pelo problema,
seja por falta de manutenção, seja por mau uso.
Conclusão
A Norma de Desempenho é, inegavelmente, um instrumento de grande relevância para o
desenvolvimento de qualquer empreendimento imobiliário residencial.
Ela não só é de observância obrigatória na elaboração dos projetos, mas também na execução
das obras, trazendo segurança futura à construtora e aos usuários da edificação.
Conquanto o amplo conhecimento da Norma de Desempenho seja essencial para se começar
qualquer projeto habitacional, pela escassez de material específico e completo, a contratação
de profissionais especializados torna-se indispensável.