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Norma de Desempenho – NBR

15575:2013
por Matheus Felipe de Oliveira e Rafael de Oliveira Lage | 4, novembro, 2021

Se você é construtor(a), certamente já enfrentou, em algumas de suas obras, dificuldade para


atender à chamada Norma de Desempenho, editada pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) no já distante ano de 2013.
Afinal, projetar e desenvolver um edifício vai muito além de atender às regras do Plano
Diretor e do Código de Obras da cidade do empreendimento, passando principalmente pelo
conhecimento e respeito às normas técnicas, que determinam como a construção deve ser
realizada, estabelecendo parâmetros mínimos de desempenho para cada sistema integrante do
edifício.
Nesse artigo, abordaremos esse assunto que é eminentemente técnico, mas bastante relevante
para os construtores e incorporadores (adquirentes, também) que almejam edificar unidades
habitacionais: a NBR 15575:2013, também conhecida como Norma de Desempenho.
Apesar de conhecida no meio da construção civil, não há muito material explicativo acerca da
norma, e, por isso, tentaremos trazer de forma objetiva e didática os seus principais aspectos
jurídicos, sobretudo quanto à sua estrutura, tutela da relação tempo de vida útil/manutenção e
as responsabilidades das partes envolvidas.
Índice [Ocultar]
 1 O que é a Norma de Desempenho
 2 Estruturação da NBR 155575:2013
 3 Abordagem, Requisitos, Critérios e Métodos de Avaliação da Norma de Desempenho
 4 Responsabilidade dos projetistas, construtores e incorporadores
 5 Responsabilidade dos usuários quanto às manutenções da edificação
 6 Prazos de vida útil e de garantia dos sistemas construtivos
 7 Inaplicabilidade da Norma de Desempenho
 8 Fiscalização do cumprimento da Norma de Desempenho
 9 Conclusão

O que é a Norma de Desempenho


A Norma de Desempenho é um documento de natureza técnica concebido e elaborado por
comissão interdisciplinar da ABNT, trazendo um conjunto de diretrizes informativas,
orientativas e normativas para a construção de qualquer edificação habitacional (ou seja,
residencial) e todos os seus sistemas (estrutura, pisos, vedações etc.).
Coube à Comissão de Estudo de Desempenho de Edificação, no âmbito do Comitê Brasileiro
da Construção Civil da Associação Brasileira de Normas Técnicas, formada por engenheiros,
universidades, advogados, enfim, por uma relevante parcela da sociedade técnica que lida
com a construção civil. Por isso é uma norma técnica.
Ela também é de desempenho, pois seu papel é tutelar os principais sistemas construtivos de
uma edificação, com base no resultado que se deseja atingir, e não na forma como obtê-lo
(norma prescritiva).
Além disso, a Norma estabelece padrões mínimos de qualidade que devem ser observados
pelos incorporadores/construtores na hora da construção para que, depois de pronta, se sirva
ao fim (resultado) pretendido ao longo de sua utilização.
No entanto, se engana quem pensa que a NBR15575:2013 traz obrigações apenas para os
agentes construtivos (projetistas, construtores e incorporadores).
Embora seja uma importante ferramenta utilizada por profissionais sérios, a Norma de
desempenho também prevê responsabilidades e deveres aos usuários da edificação, isto é, os
moradores e proprietários, especialmente no que concerne à necessidade de
manutenção/conservação dos sistemas construtivos ao longo da sua utilização.
Também são objetos da Norma, ainda que de maneira sugestiva, a estipulação de prazos de
garantia, métodos de avaliação e os níveis de desempenho (qualidade da construção).
Esses e outros assuntos serão tratados em tópicos próprios, mais adiante.

Estruturação da NBR 155575:2013


A Norma de Desempenho é dividida em 6 (seis) partes, cada uma a tratar um dos sistemas
construtivos compreendidos em seu intuito regulatório. São eles:
 Parte 1: Requisitos gerais (NBR 155575-1:2013);
 Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais (NBR 155575:2013-2);
 Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos (NBR 155575:2013-3);
 Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR
155575:2013-4);
 Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas (NBR 155575:2013-5); e
 Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários (NBR 155575:2013-6).
Veja que, com exceção da Parte 1, todos os outros fragmentos da Norma tratam de um
sistema construtivo específico, que faz parte do todo integrado de uma edificação.
Por opção da comissão que elaborou a Norma, ela não trata diretamente dos sistemas
elétricos, sobretudo porque tais sistemas, em particular, fazem parte de um conjunto
normativo mais amplo, que necessita de pontos de vista que vão além do ato de construir,
sendo tratados no âmbito da NBR 5410:2004.
Na “Parte 1 – Requisitos Gerais”, a Norma estabelece os requisitos e critérios de desempenho
que devem ser observados quando da construção das edificações habitacionais (como um
todo), bem como aqueles requisitos e critérios que devem ser tratados de maneira isolada
para um ou mais sistemas.
Isso é o que diz o item 1.1 da Parte 1 da Norma de Desempenho:
1.1 Esta parte da ABNT NBR 15575 estabelece os requisitos e critérios de desempenho
aplicáveis às edificações habitacionais, como um todo integrado, bem como a serem
avaliados de forma isolada para um ou mais sistemas específicos.
Explicando melhor, confira o item 1.6 da Parte 1:
1.6 Esta parte da NBR 15575:2013 estabelece critérios relativos ao desempenho térmico,
acústico, lumínico e de segurança ao fogo, que devem ser atendidos individual e
isoladamente pela própria natureza conflitante dos critérios de medições, por exemplo,
desempenho acústico (janela fechada) versus desempenho de ventilação (janela aberta).
Sendo assim, por decorrência lógica de interpretação, a “Parte 1 – Requisitos gerais” deve ser
utilizada de forma associada às demais partes (que são específicas).
Abordagem, Requisitos, Critérios e
Métodos de Avaliação da Norma de
Desempenho
Segundo o autor Carlos Pinto Del Mar (em seu livro Direito na Construção Civil, publicado
pela Editora Pini em 2015), que fez parte da Comissão de Estudo de Desempenho de
Edificação, a NBR 15575:2013 aborda o “desempenho” em sua ótica clássica, isto é, com
base na necessidade dos usuários da construção (moradores/proprietários).
Em outras palavras, o patamar de desempenho estabelecido pela NBR 15575:2013 leva em
consideração as expectativas e exigências humanas no que concerne ao comportamento do
edifício após a sua entrega, e ao longo do tempo de utilização.
Portanto, a NBR 15575:2013 mensura as necessidades dos usuários através de requisitos e
critérios, que podem ser avaliados objetivamente pelos “métodos de avaliação”. Os requisitos
traduzem o desempenho na sua forma qualitativa, enquanto o critério remete as necessidades
dos usuários em termos quantitativos.
Em outras palavras, os requisitos são as características qualitativas que cada um dos sistemas
deve alcançar, de acordo com a necessidade dos usuários da edificação, enquanto
os critérios, na acepção da norma, designam os parâmetros de cada um desses requisitos.
Carlos Pinto Del Mar, no mesmo livro, exemplifica os conceitos da seguinte forma:
A iluminação natural é um requisito, isso é, a expressão de um atributo que a edificação
deve ter, para atender os requisitos dos usuários – e assim consta no item 13.2 da Parte 1, da
Norma de Desempenho; o critério para aferição desse requisito vem explicitado no subitem
13.2.1, que indica os níveis mínimos de iluminação natural que a edificação deve atender. (p.
437).
Em relação aos usuários, a Norma de Desempenho, em seu item 4, trouxe três requisitos que
devem ser atendidos pela edificação, quais sejam: (i) segurança; (ii) habitabilidade; e (iii)
sustentabilidade.
Cada um deles se subdivide em vários outros, com a seguinte ramificação:

Requisito Tipo Itens da Norma

Segurança Segurança estrutural 9.3

Segurança contra fogo 8.2, 8.3, 8.4, 8.5, 8.6 e 8.7

Segurança no uso e na operação 9.2

Habitabilidade Estanqueidade 10.2 e 10.3

Desempenho térmico 11.3 e 11.4

Desempenho acústico 12.2, 12.3 e 12.4

Desempenho lumínico 13.2 e 13.3


Saúde, higiene e qualidade do ar 15.2, 15.3 e 15.4

Funcionalidade e acessibilidade 16.1, 16.2, 16.3 e 16.4

Conforto tátil e antropodinâmico 17.2 e 17.3

Sustentabilidade Durabilidade 14.2

Manutenibilidade 14.3

Impacto ambiental 18.4.1

Como se percebe de forma mais clara da tabela acima, os requisitos são, em última
análise, características qualitativas do imóvel, voltadas ao atendimento das necessidades do
usuário, que os materiais, componentes e sistemas devem atender.
Já os critérios são grandezas quantitativas que mensuram os níveis e padrões que devem ser
atingidos em cada um dos requisitos.
Logo, por exemplo, no requisito “altura mínima do pé-direito”, o critério é de 2,50m (dois
metros e cinquenta centímetros) e, para vestíbulos, halls, corredores, instalações sanitárias e
despensas, cai para 2,30m.
Requisito e critério, pois, são duas faces da mesma moeda e estarão sempre associados na
Norma de Desempenho.
Por fim, os métodos de avaliação são os meios de aferição do cumprimento, ou não, dos
critérios estabelecidos para cada requisito, compreendendo as análises, verificações e
simulações aplicados de acordo com o objetivo e o momento de sua realização.

Responsabilidade dos projetistas,


construtores e incorporadores
Para além dos parâmetros de desempenho (requisitos e critérios), a Norma de Desempenho,
em seu item 5, estabelece, dentre outras, algumas responsabilidades para os intervenientes da
construção (todos que, de uma forma ou de outra, com ela se relacionam), inclusive para os
fornecedores de materiais e insumos.
A inovação da Norma veio ao tratar da obrigação do projetista em fixar a vida útil do projeto
(VUP) de cada sistema construtivo da edificação (estruturas, pisos, vedações etc.), sem
prejuízo de especificar os materiais e processos que atendam ao desempenho mínimo.
É óbvio que o projetista não tem como garantir a VUP indicada, e, por isso, ele e os demais
agentes construtivos são responsáveis apenas pelos valores teóricos, até porque, para se
alcançar a vida útil fixada, vários fatores externos que fogem do poder de ingerência dessas
figuras precisam convergir.
Exemplos desses fatores que afetam a vida útil da edificação são a forma de uso, a realização,
ou não, de manutenções conforme orientações e, até mesmo, as alterações das condições
climáticas da região da construção.
Por outro lado, é certo que, ao fixar uma VUP, o projetista deverá ficar atento às diretrizes
técnicas do projeto, para que o potencial da vida útil do sistema seja atingido, sob pena de
responsabilização.
Ademais, de acordo com a normatização, aquele que estipular a VUP também deve indicar as
ações a serem observadas para a garantia do prazo.
Porém, aqui, não se trata daquelas ações de manutenção para conservar o uso da edificação,
mas sim daquelas decorrentes do próprio projeto.
O exemplo usado pela NBR 15575:2013 é o de um projeto da fachada em argamassa pintada,
em que o VUP foi fixado em 20 (vinte) anos, desde que seja refeita a pintura a cada 5
(cinco) anos (ação de manutenção).
Para os construtores e incorporadores, a amplitude de responsabilidades é maior, dentre as
quais podemos citar aquelas previstas no item 5.4, que dispõe sobre o dever de identificar os
riscos previsíveis à época do projeto, informando-os aos projetistas para a correta elaboração
dos estudos técnicos (por exemplo, a existência de aterro sanitário, contaminação do lençol
freático, entre outros).
Também compete aos construtores e incorporadores a confecção do manual de uso e
manutenção da edificação, conforme NBR 14037:2011, que deve ser entregue aos
proprietários das unidades autônomas e, em outra versão, também ao primeiro síndico, no que
se refere aos sistemas das áreas comuns.
É importante deixar claro que este manual pode ter vários nomes, desde que atenda à sua
finalidade, como “Manual de Proprietários”, Manual de Manutenções”; enfim, são vastas as
nomenclaturas utilizadas no mercado, mas que possuem o mesmo objetivo: fornecer
informações de como e quando devem ser realizadas as manutenções e o uso adequado da
edificação.
Veja a importância destes estudos prévios e do manual para a proteção em demandas sobre
eventuais vícios construtivos aqui.
Por fim, a Norma também prevê o cuidado com o entorno da edificação (deslizamentos,
enchentes, vibrações etc.), como forma de salvaguardar a potencialidade do VUP e das
edificações vizinhas, conforme item 6.2, o que, inevitavelmente traz responsabilidades e
obrigações aos agentes construtivos.

Responsabilidade dos usuários quanto


às manutenções da edificação
Se de um lado temos bem definidos os deveres dos agentes construtivos, do outro, para os
usuários, a Norma de Desempenho não deixou de prever responsabilidades, que remetem,
particularmente, ao dever de cuidado com a edificação enquanto em uso.
Assim como um veículo precisa passar por sucessivas revisões para garantia da sua vida útil e
de seu bom funcionamento, os sistemas de um imóvel também demandam manutenções
preventivas que, se não realizadas a tempo e modo previstos pelos usuários, poderão ter sua
vida útil severamente reduzida.
Infelizmente, talvez por razões culturais, as pessoas tendem a acreditar que um imóvel, por ser
um bem com longa vida útil, não precisa passar por manutenção.
É bastante comum, na prática da advocacia imobiliária em favor das incorporadoras,
enfrentarmos ações de reparação movidas por proprietários e condomínio no último ano do
prazo legal de garantia do imóvel (que é de 5 anos, segundo o artigo 618 do Código Civil),
sem que não haja um único registro de realização de manutenção preventiva desde a
entrega do edifício, ainda que o Manual, entregue a todos os usuários, indique várias
diligências que devem ser realizados com 1, 2, 3 anos de existência da edificação.
O desafio das incorporadoras, nesse contexto, passa pela educação dos seus clientes e,
principalmente, do Poder Judiciário, no sentido de que a falta de manutenção conduza
à perda da garantia.
Afinal, realizado o empreendimento nos moldes dos requisitos e critérios definidos pela
Norma de Desempenho, e sendo entregue a cada um dos proprietários o manual de
manutenções e conservação, bem como ao condomínio, no que concerne as áreas comuns,
é obrigação dos usuários seguir as orientações e manter a manutenção em dia, através de
pessoal especializado (item 5.5).
Para que se alcance a vida útil projetada dos sistemas construtivos, ou até mesmo para
potencializá-la, é preciso que, de tempos em tempos, os sistemas da edificação passem por
revisões, substituições e reparações. É claro que, nesse aspecto, ainda repousa a
responsabilidade dos empreendedores em repassar os manuais com informações fidedignas e
que se prestem.

Prazos de vida útil e de garantia dos


sistemas construtivos
Outro relevante ponto da Norma de Desempenho foi a estipulação de prazos de vida útil e de
garantia.
Tais prazos, no entanto, são meramente informativos, sem caráter normativo (obrigatório),
mas sem dúvidas possuem um certo peso, ainda mais diante de um cenário legislativo omisso
neste quesito.
Os prazos de vida útil de projeto foram disponibilizados no Anexo C, tabela 5. São eles:

Relativamente às garantias, a Norma de Desempenho previu, no Anexo D:


Reforça-se que por mais que os prazos acima evidenciados não sejam obrigatórios, a sua
fixação pela Norma de Desempenho é de extrema relevância no mercado e no meio jurídico,
especialmente porque os prazos são pormenorizados, com detalhes e especificações que
apenas, e tão somente, o meio técnico pode apurar.
Novamente segundo Carlos Pinto Del Mar, o detalhamento dessa matéria não poderia ser
mais bem avaliado senão por uma comissão puramente técnica, tal como ocorreu, comissão
esta que, inclusive, possuirá ao longo dos anos tempo suficiente para evoluir os conceitos e as
técnicas construtivas.

Inaplicabilidade da Norma de
Desempenho
Como em toda regra e normatização há exceções, não poderia ser diferente com a NBR
15575:2013, que previu em seu item 1.2, as situações e circunstâncias não abarcadas por sua
regulação:
 Obras já concluídas;
 Obras em andamento na data de entrada em vigor da Norma;
 Projetos protocolados nos órgãos competentes até a data da entrada em vigor da
Norma;
 Obras de reforma;
 Retrofit de edifícios; e
 Edificações provisórias.
As obras concluídas e as em andamento não podem ser alteradas pela normatização da NBR
15575:2013, sobretudo porque as edificações foram construídas sob a regência de outras
regulações, então em vigor.
Aqui, trata-se do famoso ato jurídico perfeito, realizado no passado e que não pode ser
mudado.
Ademais, quando da publicação da Norma de Desempenho, já havia, evidentemente, várias
obras em andamento, cujas características técnicas, custos e projetos também foram
calculados e aprovados segundo o regime anterior.
Por isso, até em respeito à segurança jurídica, os projetos elaborados e protocolados para
aprovação municipal até a data de entrada em vigor da Norma (19/07/2013) puderam seguir
sem atender às regrais mais rígidas da Norma de Desempenho.
A partir da sua publicação, no entanto, qualquer novo projeto arquitetônico, ainda que já
finalizado, mas não protocolado, precisou se adequar às novas normas.
E no caso da reaprovação de projetos, aplica-se a Norma de Desempenho ou não?
Não há como traçar uma regra geral para essa situação, pelo que acreditamos que a resolução
se dará da análise individualizada de cada caso concreto.
Todavia, não seria razoável aplicar a nova regulação a projetos que não modifiquem
substancialmente o projeto anterior, o que feriria um direito adquirido.
Com relação às obras de reforma e retrofit, é preciso, primeiro, esclarecer a diferença entre
essas duas palavras.
A reforma está ligada às edificações antigas, logo, aquelas construídas antes da entrada em
vigor da Norma de Desempenho. Aqui, trata-se mais de uma restauração, o resgate da
qualidade de algo.
O problema é que algumas legislações locais preveem, por exemplo, que a construção de um
novo bloco num terreno já edificado é uma reforma, trazendo uma confusão conceitual que
acaba gerando certa insegurança.
Diante dessas circunstâncias, certo é que a NBR 15575:2013 terá que desatar alguns “nós”
para uma aplicação linear e sem dúvidas.
O retrofit, por sua vez, é um aperfeiçoamento da edificação, que atinge proporções mais
substanciais que a reforma.
Trata-se de uma mudança do próprio conceito de utilização da edificação, quase sempre com
o agregamento de novas tecnologias que não estavam disponíveis no momento da construção
original do edifício.
Por exemplo, o retrofit pode compreender a modificação dos sistemas elétricos e hidráulicos
dos equipamentos instalados nas áreas comuns dos edifícios (elevadores, iluminação etc.).
Finalmente, as edificações provisórias dizem respeito a refeitórios, galpões, alojamentos e
congêneres, assim como os edifícios comerciais e industriais.
Esta última exceção é bem lógica, haja vista que a Norma de Desempenho é aplicável apenas
a edificações habitacionais, ou seja, residenciais.

Fiscalização do cumprimento da
Norma de Desempenho
Não há, a rigor, nenhum órgão competente específico para fiscalizar a observância, nas
edificações, da Norma de Desempenho.
Por mais que os projetos arquitetônicos precisem ser aprovados pelo Município, raramente
este disporá de pessoal técnico qualificado para esse tipo de avaliação, sobretudo por se tratar
de cálculos, materiais e técnicas complexas.
Quando muito, faz-se um cotejo entre a Norma de Desempenho e os parâmetros previstos
no projeto arquitetônico, teóricos e pré-obra, portanto.
O primeiro momento, em tese, de avaliação de atendimento efetivo dos critérios da Norma de
Desempenho seria o da vistoria para fins de emissão do “habite-se” do empreendimento, mas,
novamente, essa diligência esbarra não só na deficiência estrutural dos municípios, mas
também na complexidade dos métodos de avaliação, que muitas vezes demandam análise
laboratorial.
Em regra, a municipalidade se limita a avaliar parâmetros construtivos superficiais, tais como
a taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento, as áreas construídas, dimensões de pé-
direito, afastamentos, dentre outros.
A ausência de fiscalização, todavia, não significa que o construtor deva ou possa ignorar as
normas técnicas. Pelo contrário, a observância rigorosa delas é, mais do que
necessária, conveniente ao empreendedor, porque, em caso de discussão futura a respeito de
eventuais manifestações patológicas, se ele conseguir provar que seguiu à risca a Norma de
Desempenho, terá maior facilidade de imputar ao usuário a responsabilidade pelo problema,
seja por falta de manutenção, seja por mau uso.

Conclusão
A Norma de Desempenho é, inegavelmente, um instrumento de grande relevância para o
desenvolvimento de qualquer empreendimento imobiliário residencial.
Ela não só é de observância obrigatória na elaboração dos projetos, mas também na execução
das obras, trazendo segurança futura à construtora e aos usuários da edificação.
Conquanto o amplo conhecimento da Norma de Desempenho seja essencial para se começar
qualquer projeto habitacional, pela escassez de material específico e completo, a contratação
de profissionais especializados torna-se indispensável.

NBR 17170:2022: Norma de Garantias de


Edificações
NBR 17170 – Norma de Garantias de
Edificações
A NBR 17170:2022 são apresentados conceitos, referências técnicas, requisitos,
diretrizes e procedimentos para a definição das garantias das edificações, ou
separadamente de suas partes, considerando seus sistemas, componentes e
equipamentos, oferecidas pelo incorporador, construtor ou prestador de
serviços de construção aos proprietários da edificação ou contratantes do
serviço de construção.
Esta Norma atualiza o conteúdo técnico do Anexo D (Informativo) – Diretrizes
para o estabelecimento de prazos de garantia, da ABNT NBR 15575-1:2021. A
publicação da referida norma técnica se deu em dezembro de 2022 e possui
prazo de 180 dias para o início de sua aplicação.
Os prazos de garantia da solidez e segurança das edificações devem atender à
legislação vigente.
Os prazos tecnicamente recomendados nesta Norma podem se constituir em
parâmetros para a formulação dos termos de garantia indicados nos manuais de
uso, operação e manutenção das edificações em atendimento à ABNT NBR
14037. Os prazos de garantia tecnicamente recomendados relativos à solidez e
segurança são apresentados nesta Norma em conformidade aos prazos da
legislação vigente e aplicável.
As garantias e seus respectivos prazos apresentados nesta Norma são
parâmetros recomendados, e cabe ao incorporador, construtor ou prestador de
serviços de construção, ou de suas partes, adaptar o disposto nesta Norma de
acordo com a especificidade técnica de suas obras.
As responsabilidades do proprietário, usuários e responsáveis legais da
edificação sobre o uso, operação e manutenção da edificação e de suas partes
são previstas nos manuais citados no parágrafo anterior, na ABNT NBR 5674 e,
em particular no caso das edificações habitacionais, na ABNT NBR 15575.
As garantias legais conforme a legislação vigente, se relacionam especificamente
à adequação, segurança e solidez das edificações, e a NBR 17170 detalha e
recomenda prazos de garantia específicos de sistemas, componentes e
equipamentos das edificações.
Para evitar conflito entre normas, a NBR 17170 – Norma de Garantias – trouxe
explicitamente que o Anexo D da NBR 15.575-1 (prazos recomendados de
garantias) não é mais aplicável. Não houve alterações do que estava sendo
empregado anteriormente, porém a nova Norma trouxe mais detalhes e
ampliou a aplicação das recomendações para além das edificações
habitacionais.
Assim como acontece na Norma de Desempenho, a NBR 17170 também reforça
que as garantias estão atreladas ao uso e a operação correta da edificação e de
seus sistemas, componentes e equipamentos como também relacionadas à
execução correta dos programas ou planos de manutenção desenvolvidos e
realizados pelos proprietários em observância à NBR 5674.

Segundo o site Norma de Desempenho, três discussões superadas, mas que a


Norma de Garantias fez questão de trazer em seu texto é que:
 As disposições da Norma de Garantias destinadas ao incorporador são também
aplicadas ao empreendedor, ainda que não o faça sob regime de incorporação
imobiliária, que realize ou contrate a construção de edificações para venda de
imóveis prontos.
 Em casos de reformas e alterações das condições originais da edificação e de
suas partes, as garantias oferecidas pelo incorporador, construtor ou prestador
de serviços de construção não se aplicam aos itens reformados ou alterados na
edificação.
 A data de emissão do auto de conclusão (por exemplo, habite-se), ou documento
equivalente que ateste a conclusão das obras ou dos serviços, é considerada
legalmente a data de início do prazo de garantia.
Novos esclarecimentos que a NBR 17170 trouxe:
 O desenvolvimento do projeto e a execução da edificação são realizadas
conforme premissas de uso adotadas na idealização do projeto, como por
exemplo as cargas utilizadas no projeto estrutural e as condições de exposição
existentes à época do projeto, como, fatores climáticos, agentes poluentes no ar,
no solo e na água, ruídos no seu entorno e outras que possam estar presentes
no local da sua implantação. Patologias ou perda de desempenho que por
ventura se desenvolvam devido a alterações das condições de exposição
inicialmente previstas não estão abrangidas pelos prazos de garantias previstos.
 Os prazos de garantia não são estabelecidos em função da vida útil de projeto e
não possuem relação com a vida útil efetiva, com a durabilidade e com o
envelhecimento natural dos sistemas, componentes e equipamentos das
edificações.
 Os reparos ou substituições realizadas em componentes, sistemas construtivos
ou equipamentos, pelos serviços de assistência técnica do incorporador,
construtor ou prestador de serviços de construção não alteram e não renovam
os prazos e as condições de garantia originais previstas.
 Em caso de reparos parciais em componentes, sistemas construtivos ou
equipamentos, a garantia deve ter o prazo mínimo de 90 dias ou o remanescente
do prazo original, o que for maior. Esta garantia se refere à área ou quantidade
especifica do objeto de reparação ou substituição e não de seu todo.

Destaque especial à necessidade de se elaborar e entregar manual de uso,


operação e manutenção, elaborado em conformidade com a ABNT NBR 14037
Ao entregar a edificação, a unidade ou os serviços concluídos, o incorporador,
construtor ou prestador de serviços de construção deve entregar o documento
com as condições e prazos de garantia. Os prazos podem ser parte integrante do
manual de uso, operação e manutenção, elaborado em conformidade com a
ABNT NBR 14037 ou instruções de uso e manutenção específicas quando se
tratar de prestação de serviços específicos de construção.
Implementação de meios de registro das manutenções realizadas tanto pelo
proprietário quanto pelo construtor, de modo a permitir a análise crítica e a
implementação de medidas para aperfeiçoar os projetos e construções futuras
afim de atender os prazos de garantias estabelecidos.

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