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CIRCUITOS ELÉTRICOS E

MULTÍMETRO
AULA 3

Prof. Osmar Dias Jr.


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, aprofundaremos os conhecimentos relativos aos multímetros,


desde as características elétricas, as interferências sobre os circuitos onde
estiverem sendo usados e os tipos existentes. Veremos quais tipos de
interferências podem ocorrer ao realizar uma medição.
Quando o multímetro está na posição voltímetro para medir tensão
elétrica, ele é ligado em paralelo com o elemento a ser medido, por isso deve ter
alta resistência interna. De outra forma, quando o multímetro está preparado
para medir corrente elétrica, ele deve ser ligado em série com o circuito a ser
medido, por isso deve ter sua resistência interna a mais baixa possível.
Mostraremos que, para cada tipo de função, o multímetro possui um circuito
interno próprio que é selecionado pelo botão seletor ou por algum outro método
de seleção. Vamos estudar, também, como deve ser feita a medição de
resistência elétrica e quais cuidados devem ser tomados, tanto para uma
medição correta quanto para não se danificar o instrumento.
Falaremos sobre os tipos de multímetro existentes e quais especialidades
cada um pode possuir. Alguns equipamentos são projetados de modo a atender
algum uso específico com maior atenção do que um equipamento mais genérico.
Abordaremos os smart multimeters, ou multímetros inteligentes, que fazem a
seleção da medida automaticamente, bastando colocar as pontas de prova no
elemento e na posição da medição pretendida.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Tipos de multímetro

O nome multímetro já indica o que é esse aparelho. É um instrumento de


medição que pode ser configurado de formas diferentes para obtermos tipos de
medições diferentes. Existem diversos tipos de multímetros com várias funções,
precisões, capacidades e funcionalidades diferentes. Os equipamentos mais
comuns e acessíveis possuem um conjunto básico com as funções mais usadas.
De modo geral, a maioria dos multímetros mais simples pode medir corrente
elétrica, mas existe alguns modelos que realizam essa tarefa por meio do campo
magnético em vez de por condução elétrica. Esse tipo de amperímetro é
conhecido como alicate amperímetro.

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Por meio dessa técnica podemos medir a corrente elétrica sem
interromper o circuito, acoplando magneticamente o medidor ao fio elétrico em
teste. Isso facilita a realização de medições principalmente em circuitos com
altas correntes, quando não há possibilidade para medição por condução direta
de corrente elétrica. Esse tipo de multímetro é mais indicado para medições de
correntes elétricas mais altas, a partir de 1 ampere. Para correntes menores, ele
não apresenta uma boa precisão ou simplesmente não mede. O alicate
amperímetro pode ser analógico ou digital.
Em medições automotivas é raro utilizar esse tipo de medidor. Isso porque
geralmente as correntes em um veículo são mais baixas e existem poucos
dispositivos que consomem correntes altas. Nos veículos apenas o motor de
partida consome corrente elevada, mas esse tipo de instrumento pode ser usado
em veículos se for necessário ou conveniente.

Figura 1 – Multímetro digital com alicate amperímetro

Fonte: Dias Júnior, 2021.

Os multímetros analógicos são os que possuem um ponteiro acoplado a


uma bobina que se move diante de uma escala desenhada em uma placa no
fundo (Figura 2). Esse tipo de equipamento tem boa precisão porque é fabricado
com peças de boa qualidade e precisão e calibrados de forma bastante precisa,
de modo similar aos relógios de ponteiro. O multímetro de ponteiro pode nos

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mostrar, também, se a grandeza medida está variando. Ele faz isso pela
oscilação do ponteiro que ocorreria se houvesse alguma variação na grandeza
medida. Esse comportamento ocorre somente para variações lentas. Por
exemplo, ao medirmos a tensão existente na bateria de um carro, se houver
alguma oscilação no ponteiro, podemos saber que algo anormal está ocorrendo.

Figura 2 – Multímetro analógico com ponteiro e escalas na placa do fundo

Fonte: Dias Júnior, 2021.

Outro tipo de multímetro é o digital. O multímetro digital possui como base


para seu funcionamento um circuito integrado capaz de processar informações,
memorizar, calcular e converter níveis de tensão do mundo analógico para
sequências de números digitais que podem ser processados. Esse tipo de
multímetro tem boa precisão mesmo nos aparelhos mais baratos. A leitura da
medição é facilitada pelo mostrador, que já indica diretamente o valor medido.
Alguns multímetros mostram as unidades com os prefixos associados.

Figura 3 – Multímetro digital comum

Fonte: Dias Júnior, 2021.

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Alguns equipamentos mais modernos proporcionam até mesmo a seleção
da grandeza a ser medida de forma automática. Esse tipo de multímetro é
conhecido como smart multimeter, ou multímetro inteligente. Hoje em dia o preço
de um multímetro analógico é maior que o de um equivalente digital. O custo
depende da escala de produção e comercialização. Como os multímetros digitais
vêm sendo produzidos em larga escala, seus preços caem proporcionalmente.

Figura 4 – Multímetro inteligente MUSTOOL MT111

Fonte: Dias Júnior, 2021.

1.2 Como medir grandezas elétricas

Para utilizarmos o multímetro de forma adequada, devemos ter em mente:

1. o que pretendemos efetivamente medir – essa ideia pressupõe que o


operador sabe qual o comportamento certo do sistema a ser medido e,
portanto, o valor esperado.
2. quais parâmetros o equipamento pode medir, constatando que ele poderá
informar o que precisamos.

Com essas duas informações, podemos definir o método para realizar a


medida e obter a informação de que precisamos para atingir o objetivo
estabelecido. Contudo, quando não sabemos ao certo como o sistema deve se
comportar podemos estabelecer um método para lidar com essa situação. Por
exemplo, podemos medir um sistema igual que sabemos que está funcionado
bem e comparar com o sistema sob inspeção. Outra possibilidade é quase

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projetar o sistema que estamos investigando para entendermos como ele
deveria funcionar. Nesse caso, é extremamente importante tomar o cuidado de
ter previamente todas as informações. Pode ser mais produtivo conversar com
pessoas mais experientes e, principalmente, com as pessoas do setor de suporte
do fabricante do equipamento com o qual estamos trabalhando. Muitos
fabricantes possuem esse tipo de setor para apoiar as equipes de manutenção,
inclusive a nível mundial.
Na área da eletricidade temos poucas grandezas a serem medidas e, na
maioria das situações do dia a dia do mundo automotivo, temos menos ainda.
Porém, algumas vezes basta uma simples medição de um aspecto do sistema
elétrico para entendermos a causa de um defeito ou mau funcionamento. Assim,
o uso do multímetro talvez não seja tão frequente, mas as poucas medições que
fazemos com ele podem ser muito valiosas.
Para utilizarmos um multímetro é necessário sabermos qual grandeza
será medida: tensão, corrente, resistência ou outro tipo de componente. É muito
importante também sabermos qual valor será lido. Por exemplo: se formos medir
a tensão da bateria de um automóvel, esperamos obter uma tensão em torno de
12 V. Esse valor de tensão da bateria é um padrão mundial e já praticado há
muito tempo em todos os veículos leves. Se houver dúvida é necessário
consultar o manual do usuário do veículo ou obter a informação com o fabricante.
Existem alguns veículos mais antigos que usam bateria de 6 volts. Ônibus e
caminhões em geral usam 24 volts, por meio de duas baterias acopladas em
série.

1.3 Escalas em um multímetro

Os multímetros, como já vimos, podem ser configurados para medir e


exibir grandezas elétricas diferentes. Essas possíveis configurações são
chamadas de escalas. Na grande maioria dos multímetros existem as seguintes:

• tensão contínua (DCV ou Direct Current Voltage, tensão em corrente


contínua);
• tensão alternada (ACV ou Alternated Current Voltage, que pode ser
entendido como tensão em corrente alternada);

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• corrente contínua em faixa baixa (DCA ou Direct Current Amperage,
corrente contínua em amperes); escala utilizada para medir correntes
pequenas, menores que 1 A geralmente;
• corrente contínua em faixa alta; escala utilizada para correntes elétricas
maiores que 1 A; normalmente é requerido que o usuário troque a ponta
de prova da conexão da corrente baixa para a conexão da corrente alta;
os circuitos internos das correntes mais altas são diferentes dos circuitos
internos das correntes mais baixas;
• corrente alternada em faixa baixa; segue a mesma lógica da corrente
contínua, mas é alternada; na escala de corrente alternada não
conseguimos medir a corrente contínua e vice-versa, porque cada tipo de
medição possui um circuito interno diferente para cada configuração;
• corrente alternada em faixa alta; também segue a mesma lógica da
corrente contínua em faixa alta, mas para corrente alternada; e, da mesma
forma que na faixa baixa, não conseguiremos medir correntes contínuas
em faixa alta na escala de corrente alternada em faixa alta e vice-versa;
• resistência elétrica em ohms; alguns multímetros possuem um beep
quando a resistência é menor que 50 ohms, podendo indicar zero ohm
(curto-circuito), o que é conhecido como continuidade; um fio elétrico,
por exemplo, deve apresentar a menor resistência possível: zero ou muito
próximo de zero.

Alguns instrumentos podem possuir outras escalas, tais como


capacitância, indutância, hFE (que é o ganho do transistor em teste), resistência
em faixas altas para medir graus de isolamento, frequencímetro (que mostra
quantos pulsos por segundo estão acontecendo na ponta de prova), temperatura
(nesse caso pode ser necessário uma ponta de prova especial), alta tensão
(quando o instrumento está preparado para medir tensões elevadas, como
10.000 volts, 20.000 volts ou mais, e pode ser necessário uma ponta de prova
especial), entre outras possibilidades.
De maneira geral, cada escala possui um circuito eletrônico internamente
para medir a grandeza indicada no botão de seleção. Se alguma grandeza, em
sua ocorrência contínua ou alternada, pudesse ser medida pelo mesmo circuito,
o fabricante usaria somente um circuito – até por questão de custo de produção.
Assim, sempre será necessário selecionar a escala certa para realizar a medição

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da forma correta e adquirir a informação que retrata a realidade absoluta sem
dúvidas.
Infelizmente, devido ao fato de termos multímetros digitais baratos no
mercado, muitos destes podem apresentar problemas de qualidade. Algumas
vezes precisaremos desconfiar um pouco de uma medida que o aparelho nos
mostra. Também podem ocorrer problemas de calibragem no multímetro, seja
porque a bateria está fraca ou porque o sistema interno está com algum
problema, como alteração em valor de componente ou algum desajuste
aleatório. Para saber se o multímetro está certo podemos comparar com algum
que temos a certeza de que está correto. Dependendo da importância do uso do
instrumento ele deverá ser revisado periodicamente por um laboratório
especializado para aferição e calibragem, o que pode gerar, inclusive, uma
certificação que o acompanhará.

1.4 Fundo de escala: o limite dentro de cada escala

Vimos que um multímetro pode ser configurado para medir cada tipo de
grandeza elétrica por meio dos diferentes tipos de escala. Mas ainda é
necessário selecionar, dentro de cada escala, um limite de quanto a grandeza
poderá ser medida. Isso é necessário para obtermos mais precisão nas medidas.
Fazendo uma analogia: se quisermos medir o lado de uma folha de papel,
usamos uma régua de 30 cm ou algo dessa ordem. Até poderíamos usar uma
trena de 5 metros para essa tarefa, ou de 50 metros, mas teríamos dificuldades
para fazer uma medição de objetos pequenos. Outra preocupação seria a
precisão da medida. Usando uma régua com limite próximo da distância que
desejamos medir é mais fácil e mais preciso. Poderíamos tentar medir um lado
da folha que possui algo próximo de 29 cm com uma régua de 10 cm. Até é
possível fazer essa medição, mas novamente haveria maior dificuldade e menor
precisão.
Com as grandezas elétricas o problema pode ser ainda maior, pois não
teríamos como medir uma tensão elétrica por partes, em uma bateria, por
exemplo. Não conseguiríamos medir os 12 volts de uma bateria com um
voltímetro cujo limite é de 2 volts, porque não há como fazer medições parciais.
Então, para a medição da bateria de 12 volts, é necessário que o voltímetro seja
para tensão contínua e tenha o fundo de escala próximo e maior que os 12 volts

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que pretendemos medir. Por exemplo, na Figura 5 escolhemos o fundo de escala
DCV 20 V.

Figura 5 – Multímetro com o seletor na escala de tensão contínua e fundo de


escala em 20V

Fonte: Dias Júnior, 2021.

O multímetro da Figura 6 tem as escalas mostradas.

Figura 6 – Multímetro com escalas indicadas

Fonte: Dias Júnior, 2021.

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Fundo de escala é o maior valor que pode ser medido dentro da seleção
de escala do multímetro. A Figura 6 mostra todas as possibilidades disponíveis
no multímetro DT830B, que é um instrumento relativamente barato, simples, mas
com boa precisão e usabilidade. Também tem boa resistência mecânica, sendo
uma boa opção para levar em uma caixa de ferramentas para uso em campo,
fora de uma oficina ou laboratório. Por outro lado, devido à sua simplicidade
construtiva, ele pode ter uma vida útil menor se exposto a umidade ou sofrer
quedas. Quanto às escalas mostradas na Figura 6, temos os seguintes fundos
de escala para cada tipo de medição possível:

• Tensão contínua: o instrumento pode ser usado com fundo de escala de


200 mV (lê-se duzentos mili-volts) , 2.000 mV (dois mil mili-volts, o mesmo
que 2 volts), 20 V, 200 V e 2.000 V.
• Tensão alternada: possui os limites de escala de 750 Vac e 200 Vac;
• Corrente contínua faixa baixa: possui os fundos de escala de 200 uA
(duzentos micro-amperes, o mesmo que 200 x 10-6 A – é uma corrente
bem baixa mesmo!), 2.000 uA (2 mil micro-ampéres, o mesmo que 2 mA
ou dois mili-amperes, igual a 2.000 x 10-6 A ou 2 x 10-3 A), 20 mA (vinte
mili-amperes) e 200 mA (duzentos mili-amperes);
• Corrente contínua faixa alta: possui o limite de escala ou fundo de escala
de 10 A (dez amperes). Para utilizar essa faixa o seletor deve estar
apontado para 10 A e a ponta de prova vermelha (positiva) deve estar no
borne indicando 10 A também. Notar que o circuito de medição com limite
de 10 A tem escrito junto ao borne a palavra unfused, que significa que
não há proteção por fusível interna. Então, se a corrente ultrapassar esse
limite dos dez amperes, pode haver danos irreparáveis ao instrumento.
• hFE: quando o seletor de escalas aponta para hFE, o multímetro está
configurado para medir o ganho de tensão de um transistor, seja ele NPN
ou PNP. O transistor em teste deve estar no soquete presente no lado
esquerdo do instrumento com seus pinos corretamente inseridos nos
orifícios marcados com E, B e C, respectivamente, emissor, base e
coletor. Os transistores podem ter várias configurações desses pinos e
deve-se, antes de fazer o teste, consultar o datasheet (folha de dados) do
componente eletrônico para poder realizar o teste corretamente. Se o
transistor for inserido com as ‘perninhas’ de modo errado não acontece
nada além de a medição ficar errada, ou seja, o transistor não será
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danificado se for colocado de maneira errada. Um transistor como o
BC548 pode apresentar um hFE de 300 (sem unidade mesmo, ganho é a
relação entre o sinal da saída dividido pelo sinal da entrada), o que
significa que o transistor pode amplificar, se corretamente configurado, em
300 vezes o sinal da entrada. Futuramente, abordaremos esse assunto
com mais profundidade.
• Escala de resistência: possui os fundos de escala ou limites de escala de
200 Ω (duzentos ohms), o que significa que se pode medir desde zero até
200 ohms com essa escala, 2000 Ω (de zero a 2000 ohms), 20 KΩ (até
vinte kilo-ohms ou 20 x 103 ohms), 200 KΩ (até duzentos kilo-ohms ou
200 x 103 ohms ou duzentos mil ohms, já é uma resistência um pouco
alta) e 2.000 K Ω (dois mil kilo-ohms ou 2.000 x 103 ohms ou 2 x 106 ohms
ou 2 mega-ohms, uma resistência muito alta que pode ser considerada
um certo grau de isolamento).
• Escala de tensão contínua: essa escala começa com o fundo de escala
em 200 mVdc (duzentos mili-volts contínuos ou 200 x 10-3 volts, uma
tensão muito pequena), 2.000 mVdc (dois mil mili-volts contínuos ou 2.000
x 10-3 volts, que é o mesmo que 2 volts), 20 Vdc (vinte volts contínuos),
200 Vdc (duzentos volts contínuos) e 1.000 Vdc (mil volts contínuos).

TEMA 2 – MEDIÇÕES DE TENSÃO

A tensão é a diferença de potencial elétrico entre dois pontos. A tensão


elétrica é medida em volts. Quando o multímetro está configurado para medir
tensão elétrica, ele é um voltímetro. Sempre que precisarmos de uma medição
de tensão, devemos definir os dois pontos onde encontraremos essa medida.
Dessa forma, devemos acoplar o voltímetro em paralelo com o elemento a ser
medido. É extremamente importante lembrar sempre de não segurar as pontas
de prova encostando a pele nas partes metálicas, por questão de segurança e
para não haver interferência na medição. Vamos analisar a influência do
acoplamento de um voltímetro em um circuito. Consideremos o circuito com dois
resistores, em que queremos saber a tensão sobre o resistor R1. Primeiramente
vamos calcular os valores teóricos das tensões sobre R1 e R2, conforme o
circuito mostrado a seguir:

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Figura 7 – Circuito básico para teste de medição de tensão

Nesse circuito a corrente total é:

𝑉𝑇𝑜𝑡 12
𝑖 𝑇𝑜𝑡 = = = 2,1 𝑚𝐴
𝑅𝑇𝑜𝑡 4700 + 1000

E as tensões são:

𝑉1 = 𝑖 𝑇𝑜𝑡 . 𝑅1 = 0,0021 . 4700 = 9,9 𝑉

𝑉2 = 𝑖 𝑇𝑜𝑡 . 𝑅2 = 0,0021 . 1000 = 2,1 𝑉

Concluímos que a tensão a ser medida sobre R1 deverá ser de 9,9 V. Isso
significa que o multímetro deverá ser ajustado para medir tensão contínua, com
um fundo de escala de 20 volts. Dessa forma, ele deve, obrigatoriamente, nos
informar 9,9 volts.
Para medir a tensão sobre uma das resistências precisamos colocar a
ponta de prova vermelha (positiva) no ponto de maior potencial e a ponta preta
(negativa) no ponto de menor potencial. Assim, poderemos medir a diferença de
potencial que existe sobre o componente. Então, se desejarmos medir a tensão
sobre R1, devemos acoplar a ponta positiva no terminal que vem da fonte à
negativa no terminal que vai para R2. O esquema ficaria como na Figura 8:

Figura 8 – Circuito de teste com o voltímetro

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Observe que, nesse circuito, temos a presença do voltímetro em paralelo
com a resistência R1. O voltímetro precisa desviar um pouco de corrente elétrica
para poder realizar sua medição. Vejamos o que aconteceria se esse voltímetro
tivesse uma resistência interna de 10 KΩ, por exemplo. O circuito equivalente
ficaria da seguinte forma:

Figura 9 – Circuito equivalente considerando o voltímetro como uma resistência

A resistência equivalente teria o valor de:

𝑅1 . 𝑅𝑉
𝑅𝐸𝑞 = ≅ 3.197 Ω
𝑅1 + 𝑅𝑉

A corrente total passaria a ter o seguinte valor:

𝑉𝑇𝑜𝑡 12
𝑖 𝑇𝑜𝑡 = = ≅ 2,86 𝑚𝐴
𝑅𝑇𝑜𝑡 3197 + 1000

As tensões nas resistências têm os seguintes valores:

𝑉1 = 𝑖 𝑇𝑜𝑡 . 𝑅𝐸𝑞 = 0,00286 . 3197 ≅ 9,1 𝑉

𝑉2 = 𝑖 𝑇𝑜𝑡 . 𝑅2 = 0,00286 . 1000 ≅ 2,9 𝑉

Comparando os valores sobre R1, quando está sem e com o multímetro


acoplado em paralelo, verificamos que o valor da tensão mudou
significativamente. Sem o voltímetro, o valor deveria ser de 9,9 volts. Ao acoplar
um voltímetro teórico com resistência interna de 10 KΩ, essa mesma tensão
mudou pra 9,1 volts. Houve uma diminuição de um pouco mais que 8%. O fato
de o voltímetro ter sido acoplado ao circuito o transformou. Isso é,
evidentemente, inadmissível para um instrumento de medição. Se os
multímetros interferissem dessa forma, sempre teríamos medições erradas. Seja

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pela alteração das características do circuito em inspeção, seja pela
característica do instrumento em si que interfere demais no circuito.
Um voltímetro não pode desviar corrente elétrica significativa, e, para essa
regra ser respeitada, é necessário que tenha alta resistência interna. O ideal
seria uma resistência interna infinita. Na prática, temos duas possibilidades: a) o
voltímetro ter alta resistência interna, ou b) utilizar algum truque para não drenar
corrente elétrica significativa. A primeira opção foi implementada nos voltímetros
analógicos. Já os voltímetros digitais utilizam a segunda possibilidade para
resolver o problema.
Nesse tipo de instrumento, utiliza-se um circuito capacitivo controlado por
um microcontrolador. Existe um circuito de controle digital que aciona uma chave
eletrônica, a qual, uma vez fechada, carrega um capacitor com rapidez (isso
pode ocorrer em poucos milésimos de segundo). Dessa forma, o desvio de
corrente é muito próximo de zero e a resistência interna do instrumento é
virtualmente infinita. Esse método traz bastante precisão para o instrumento, do
ponto de vista de desvio de corrente, mas é necessário haver uma conversão
desse nível de tensão medido em uma palavra digital (bits e bytes), processo
conhecido como conversão de analógico para digital. A conversão é o que define
a precisão e rapidez do instrumento. Por esse motivo, os multímetros mais
baratos mostram medições menos precisas. Mesmo assim são medições
suficientemente precisas para a grande maioria das medições realizadas no dia
a dia.

TEMA 3 – MEDIÇÃO DE CORRENTE

Corrente elétrica é a movimentação de cargas elétricas por meio de um


condutor elétrico. A corrente elétrica é medida em amperes. Quando o
multímetro está configurado para medir corrente elétrica ele é um amperímetro.
Sempre que medirmos a corrente elétrica, devemos acoplar o amperímetro em
série com o circuito. Isso porque precisa haver uma entrada da corrente e uma
de saída. É extremamente importante lembrar de não segurar as pontas de prova
pelas partes metálicas de contato, tanto para não interferir na medição quanto
pela segurança.
Para melhor compreensão, vamos analisar a influência do acoplamento
de um amperímetro a um circuito. Consideremos o circuito com dois resistores
em que queremos saber a corrente total que atravessa R1 e R2:
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Figura 10 – Circuito básico para teste de medição de corrente

Nesse circuito, a corrente total é:

𝑉𝑇𝑜𝑡 12 12
𝑖 𝑇𝑜𝑡 = = = = 0,173912 = 173,912 𝑚𝐴
𝑅𝑇𝑜𝑡 47 + 22 69

Para entendermos a interferência da resistência interna do amperímetro,


vamos considerar a inserção de um amperímetro teórico com resistência interna
de 100 ohms para verificar sua influência na medição da corrente. Esse
amperímetro é teórico porque essa resistência interna é consideravelmente alta
para um amperímetro, como será demonstrado.

Figura 11 – Circuito básico de teste com o amperímetro como se fosse uma


resistência de 100 ohms

Na Figura 11, temos o circuito básico com a inserção do amperímetro e o


circuito equivalente, como se o amperímetro fosse uma resistência elétrica de
100 ohms. O circuito do amperímetro é, verdadeiramente, uma resistência
elétrica que, uma vez colocada em série, produz uma diferença de potencial

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entre os terminais da resistência de modo que o microcontrolador do instrumento
continua medindo tensão elétrica, mas agora uma tensão proporcional à corrente
que está circulando no circuito. Vamos calcular a corrente elétrica circulando no
circuito com a presença desse amperímetro:

𝑉𝑇𝑜𝑡 12 12
𝑖 𝑇𝑜𝑡 = = = = 0,071005 = 71,005 𝑚𝐴
𝑅𝑇𝑜𝑡 100 + 47 + 22 169

A nova corrente elétrica de 71,005 mA tem um valor menor em 102,907


mA em relação à corrente sem o amperímetro, que era de 173,912 mA. Essa
diferença, em porcentagem, é de 58,7%, o que é totalmente inadmissível para
um instrumento de medição. Então concluímos que, se a resistência interna do
amperímetro for muito alta, ele interfere demasiadamente na própria medição
que está sendo realizada e a torna errada demais para ser levada em conta.
Para resolver essa situação existe somente uma solução: utilizar uma
resistência interna muito baixa e amplificadores para aumentar a tensão sobre
essa resistência de forma proporcional à corrente que está circulando pelo
circuito. Essa é a técnica utilizada nos projetos dos multímetros para atingir a
melhor precisão por meio da menor resistência interna possível.

TEMA 4 – MEDIÇÕES DE RESISTÊNCIA

A medição de resistência é relativamente simples. Consiste em acoplar


uma resistência elétrica ou algum elemento que possua característica resistiva
às pontas de prova do multímetro (como uma lâmpada ou um fio elétrico). O
instrumento deverá estar ajustado para a escala de resistência e o fundo de
escala mais próximo superior do valor esperado. Por exemplo: vamos supor que
desejamos medir a resistência de uma lâmpada fabricada para funcionar em 12
volts e dissipar uma potência de 60 watts. Podemos calcular a resistência da
lâmpada por meio dos cálculos vistos nas aulas anteriores:

𝑉2 𝑉2
𝑃 = 𝑖 . 𝑉 𝑒 𝑉 = 𝑖 . 𝑅 => 𝑃 = => 𝑅 =
𝑅 𝑃

Dessa forma, calculamos a resistência que esperamos obter na medição:

122 144
𝑅= = = 2,4 𝑜ℎ𝑚𝑠
60 60

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Assim, esperamos encontrar uma resistência na ordem de 2,4 ohms. Para
realizarmos a medição deveremos configurar o multímetro para a escala de
resistência e o fundo de escala em 200, que é o valor maior que os 2,4 ohms
mais próximo.

Figura 12 – Multímetro ajustado para a escala de 200 ohms pronto para medir a
resistência de 2,4 ohms

Fonte: Dias Júnior, 2021.

Um caso especial da resistência é a resistência igual a zero ou o curto-


circuito. Essa resistência zero também é conhecida como continuidade. Em
várias situações precisamos verificar a continuidade. Por exemplo: em um
automóvel pode ser necessário descobrir se um fio elétrico que está no meio de
um grupo de fios (um agrupamento de fios é chamado de chicote). Para fazer
essa verificação pode-se acoplar uma ponta de prova em uma extremidade do
fio e a outra ponta de prova na outra extremidade. O valor deverá ser zero ohms.

Figura 13 – Multímetro ajustado para fundo de escala de 200 ohms medindo a


continuidade

Fonte: Dias Júnior, 2021.

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Note que o multímetro marca 0,1 ohm quando as pontas estão em curto.
Isso ocorre porque o microcontrolador e demais circuitos internos do próprio
multímetro geram um certo erro na exibição. Mas o fato de estarmos com as
pontas de prova encostadas e o consequente estado de curto-circuito nos
informa o comportamento do multímetro. Alguns equipamentos indicam 0,7 ohm
quando em curto. Na maioria das vezes isso não é um problema grave e
podemos entender que quando em curto o instrumento mostra esse valor. Se for
necessário realizar uma medição apurada em que o valor de 0,1 ohm é
requerido, deve-se utilizar um instrumento de maior precisão, geralmente
dedicado ao tipo de medição a que se propõe.
É extremamente importante lembrar de não segurar com as mãos os
contatos das pontas de prova ao fazer a medida. A pele humana possui certa
resistência elétrica e, se o usuário estiver com as mãos em paralelo com a
resistência que está sendo medida, isso poderia interferir na medição.

TEMA 5 – OUTROS TIPOS DE MEDIÇÕES COM MULTÍMETRO

Os multímetros podem conter funções específicas para medir outros tipos


de grandezas que são particulares de determinadas atividades. Uma
possibilidade é a frequência. Na Figura 13 vemos a escala para medir frequência
e as cinco opções de fundo de escala. Por exemplo: podemos medir a frequência
da rede elétrica em 127 V ou 220 V. Isso porque o limite de tensão é de 500 V.
A frequência da rede elétrica é de 60 Hz ou 60 ciclos por segundo. Para medi-
la, a lógica é a mesma das outras escalas, o valor mais próximo é maior do que
o valor que esperamos medir. Nesse caso selecionamos a escala de 2 KHz, o
mesmo que 2000 Hz.
No mostrador vemos que a medição está apresentada como um valor de
0.060 KHz. Sendo o fundo de escala de 2 KHz, o display já fica preparado para
mostrar as frequências maiores que 1000 Hz em que o ponto poderia ser
deslocado pelo controlador do instrumento, mas a medição efetiva é menor que
1000 Hz e está sendo expressa em KHz. Assim, o valor mostrado 0.060 KHz
significa que é o mesmo que 60 Hz, conforme previsto e desejado antes de se
realizar a medição.

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Figura 14 – Escala de frequência com 5 fundos de escala

Fonte: Dias Júnior, 2021.

Outro tipo de medição é de capacitância. Os capacitores são dispositivos


que armazenam energia elétrica em forma de campo elétrico. Isso acontece
devido ao acúmulo de cargas elétricas. A grandeza física capacitância refere-se
à capacidade de cargas elétricas que podem ser efetivamente acumuladas no
dispositivo em uso. Pelo fato de a capacitância ser medida, na maioria dos casos,
em valores muito pequenos, é obrigatório o uso dos prefixos de potências de dez
com expoente negativo.

Tabela 1 – Prefixos e potências

mili m 10-3
micro µ 10-6
Nano η 10-9
Pico p 10-12

A capacitância é medida em faradays (F) em homenagem ao físico


francês Michael Faraday, que trouxe relevante desenvolvimento ao tema.

Figura 15 – Multímetro mostrando a medição de um capacitor de 10 uF x 450 V

Fonte: Dias Júnior, 2021.


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Na Figura 14 vemos a medição da capacitância de um capacitor de 10 uF
e tensão limite de 450 V. É extremamente importante observar que não podemos
segurar com as mãos as pontas de prova durante a medição da capacitância.
Isso porque o corpo humano possui uma característica capacitiva e isso poderia
associar a capacitância do usuário com a da peça que está sendo medida.

FINALIZANDO

Nesta aula, vimos todos os detalhes sobre os multímetros e seus usos.


Pudemos ter uma visão ampla sobre os tipos de multímetro, tais como o alicate
amperímetro, que tem uma tendência maior para usos em medições de correntes
elétricas mais elevadas; o multímetro analógico, que possui características mais
robustas e pode ter grande precisão nas medidas; e os multímetros digitais, que
são os mais comuns em uso atualmente por possuírem boa precisão e preços
mais baixos.
Os multímetros possuem escalas, que são as configurações possíveis
para o instrumento medir o que for necessário. Elas podem ser de tensão
contínua, tensão alternada, corrente contínua, corrente alternada, resistência,
frequência, capacitância, indutância ou o estado de transistores. Dentro de cada
escala podemos definir o limite a ser medido por meio da seleção do fundo de
escala. Esse parâmetro estabelece o maior valor a ser medido em uma escala.
O fundo de escala existe para melhorar a precisão das medidas. Por exemplo,
em uma escala de resistência, podemos ter um fundo de escala de 200 ohms e
de 2.000 ohms. Nesse caso, o valor de 1 ohm é uma parte em duzentas no
primeiro caso e uma parte em duas mil para o segundo caso. Nos equipamentos
que usamos cotidianamente isso pode ser um problema, pois, no caso do fundo
de escala de 2000 ohms, pode ser que o multímetro não varie de um em um
ohm, mas de cinco em cinco, o que dificultaria a precisão da medição.
Em todas as medições, é muito importante termos sempre em mente, e
em primeiro lugar, a segurança, tanto a nossa segurança pessoal quanto a do
ambiente onde estamos trabalhando e a integridade dos equipamentos
utilizados. Assim, nunca devemos encostar a pele nos contatos metálicos,
mesmo quando sabemos que não há risco de choque. É necessário ter
permanentemente o hábito de cuidar com a segurança, por isso não se deve
encostar nenhuma parte do corpo nos elementos que possam estar energizados.
Também precisamos ter o hábito de tratar o equipamento sob inspeção de modo
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a preservá-lo de qualquer dano. Outro aspecto importante é a produtividade,
pois, ao realizar o trabalho de forma organizada e bem planejada, garantimos a
segurança do processo, a melhor execução do trabalho e, consequentemente, a
obtenção dos resultados desejados. Com isso vêm, naturalmente, a
prosperidade e a satisfação com o que estamos realizando.

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REFERÊNCIAS

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física – volume 3.


Rio de Janeiro: LTC, 2016.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III: eletromagnetismo. São Paulo:


Pearson, 2005.

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