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José Carlos Vilar Amigo

Humanidades, ciências sociais e cidadania em engenharia:


uma introdução à engenharia com um olhar
transdisciplinar

Rio de Janeiro
2021
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Ricardo Lodi Ribeiro

Vice-reitor
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
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A516 Amigo, José Carlos Vilar.


Humanidades, Ciências Sociais e cidadania em Engenharia: uma introdução à Engenharia
com um olhar transdisciplinar [recurso eletrônico]/ José Carlos Vilar Amigo. - 1. ed. - Rio de
Janeiro : EdUERJ, 2020.
1 recurso online (476 p) : ePub.

ISBN 978-65-87949-09-3
1. Engenharia. 2.Cidadania 3. Ciências Sociais Aplicadas. I. Título.

CDU 62

Bibliotecária: Thais Ferreira Vieira CRB-7/5302


Sumário

Apresentação
O propósito e a pertinência deste trabalho
Como este trabalho busca atender ao seu propósito?
Da permanência dos temas e da volatilidade dos conteúdos
Como utilizar este trabalho num curso de engenharia?

1 – Uma visão da engenharia pelas ciências sociais e humanas


As ciências sociais olharam a física como uma ciência diferente
Por que as Naturais e as Sociais se dizem ciências?
E as humanidades ou ciências humanas?
O que é, então, a metodologia científica?
Identificando as diferenças: os métodos
As diferenças nos experimentos e na objetividade de seus resultados
Como as ciências sociais e as humanidades podem contribuir com a
engenharia?
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

2 – Engenharia: uma breve visão filosófica e histórica


Olhando a etimologia
Definição de engenharia hoje
Engenheiro não é profissional técnico e nem cientista
Fatores que influenciam o desenvolvimento da engenharia
A interação dos seis fatores estruturais
Breve visão histórica da engenharia
O ensino da engenharia
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

3 – Contribuições sociais da engenharia


As modalidades na engenharia
Que modalidade/especialidade escolher?
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

4 – Atividades do Engenheiro e sua Adequação ao Perfil Individual


Da natureza das atividades dos engenheiros
Dos tipos de atividades dos engenheiros
Pesquisa e desenvolvimento (P&D)
Ensino
Projeto
Implementação de projetos
Engenheiro de suporte
Engenheiro de vendas
Engenheiro-administrador (gestor)
Engenheiro-empresário
Perito técnico
Consultor
Comentários finais
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

5 – Engenheiro Cidadão – uma visão sociológica


Engenharia: uma das funções sociais do cidadão
A importância da profissão
Cidadania: um valor construído no tempo
O papel social do engenheiro
Dos direitos e deveres do engenheiro
Conclusão
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

6 – O engenheiro-líder
A importância do líder
O que é liderança?
Autoridade, poder e legitimidade
Das características do líder
Tipos de líderes
Estilos de liderança
A liderança nas organizações
Qual o melhor tipo e estilo de líder?
O engenheiro como líder
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

7 – Aprendizagem contínua: uma visão pedagógica da profissão


Terminando o curso de engenharia, posso trabalhar?
O dilema da carreira “Y”
O que é formação?
Sobre os tipos de conhecimentos
Sobre as habilidades
Sobre as atitudes
Sobre as competências
Qual a formação desejada para os engenheiros brasileiros?
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

8 – Demandas da sociedade contemporânea na formação dos engenheiros: uma


visão psicopedagógica
A sociedade contemporânea é a Sociedade da Informação
Cada sociedade demanda diferentes competências
A modificação dos valores e expectativas de cada sociedade
Alguns conceitos que influenciam as demandas de conhecimentos,
habilidades e atitudes
Por que é importante entendermos as características da nossa sociedade?
Características da Sociedade da Informação ou Globalizada
Quadro resumo
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

9 – Desafios atuais da sociedade para a engenharia: uma visão sociotecnológica


Para que conhecer os desafios?
Cinco grandes blocos de desafios
1º bloco: desafios trazidos pela demografia
2º bloco: desafios trazidos pelo meio ambiente
3º bloco: energia
4º bloco: domínio de novas tecnologias
5º bloco: saúde, bem-estar e lazer
Outros temas
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

10 – O engenheiro-ético: visão histórico-filosófica


As questões éticas estão na nossa vida diária
Ética e moral
Breve história da ética
A importância da ética e da moral
Ética, direito e religião
Ética nas empresas e instituições
A engenharia e os códigos de ética
Ética em áreas relacionadas
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

11 – O engenheiro-administrador
Administrar é uma atividade da vida
O que é administração nas organizações?
Teoria Geral da Administração (TGA): breve história e princípios
Os processos de certificação
A escolha da melhor Teoria de Administração
O engenheiro administrador
A administração das nossas vidas e das atividades profissionais
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

12 – Importância da motivação e dos paradigmas nos nossos Planos de Vida: visão


psicológica
Precisamos de motivação para agir
Teorias motivacionais
A importância da motivação para nossa vida
O conceito de paradigma
Como se formam os paradigmas?
Substituindo paradigmas
A ciência e os paradigmas
Como se quebram os paradigmas
Importância dos paradigmas nos nossos projetos pessoais
Motivação e paradigma
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

13 - Pensando o futuro profissional: um plano estratégico


O que é um Plano Estratégico?
Objetivo de se construir um Plano Estratégico Pessoal (PEP)
Um Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP)
Como elaborar o Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP)
Elaborando o PEPP passo-a-passo
Construção de um Plano Tático - definição das ações a serem tomadas
Construção de um Plano de Ação
Ações para garantir o sucesso do Plano
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

14 – O engenheiro-legal
Acabei a faculdade: posso trabalhar?
O sistema de reconhecimento profissional
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)
O CREA e o registro profissional
O sistema CONFEA/CREA: o que são essas instituições?
Das obrigações legais dos engenheiros
Alguns normativos importantes
Remuneração dos profissionais
Atividades e atribuições profissionais
Ética profissional
A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)
O exercício ilegal da profissão de engenheiro é falta grave
As entidades de classe e sua importância
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

15 – E o futuro da engenharia?
Profissões do passado e do futuro
Como desenhar o futuro?
Dimensão Paradigma
Paradigma mecanicista
Questionando o paradigma mecanicista
Novo paradigma: a nova física
Impactos do novo paradigma nas sociedades e nas profissões
Dimensão Ciência
As áreas da ciência que impactarão as tecnologias futuras
Os computadores na nossa vida diária
Desafios para a engenharia no campo computacional
A ciência biomolecular
Questões éticas relacionadas à revolução biomolecular
Desafios e promessas da física quântica
Desafios na área de energia para a física quântica
Outros desafios para a engenharia
O domínio do hiperespaço
A união das três áreas: computação, genética e quântica
Dimensão demandas sociais
Novas engenharias
Exercícios de avaliação de conteúdo
Exercícios vivenciais

Notas

Referências

Sobre o autor
Apresentação

O propósito e a pertinência deste trabalho

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de engenharia,


aprovadas em 11 de março de 2002, explicitavam a necessidade de inclusão nos
“conteúdos básicos” do curso de formação de engenheiros de um tópico intitulado
“Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania” (Brasil, 2002).
No atendimento a essa diretriz, os currículos das Instituições de Ensino Superior
(IES) voltadas para a formação de engenheiros inseriram em suas grades curriculares
disciplinas como Engenharia na Sociedade, Humanidades em Engenharia e
Introdução à Engenharia, entre outras denominações. A definição do conteúdo que
deveria ser abordado durante as horas dedicadas a estas disciplinas, no entanto, ficou
por conta das IES.
A falta de uma diretriz clara para essa definição fez com que o espaço de ensino
dessas disciplinas, ainda que ocupado pela discussão de temas atuais, se transformasse,
muitas vezes, em conversas sem um resultado objetivo, ou na apresentação de alguns
trabalhos sem uma abordagem metodológica que se suportasse em conhecimentos a
serem trabalhados ou habilidades e competências a serem desenvolvidas.
As atuais DCN aprovadas em 24 de abril de 2019 (Brasil, 2019a), mais enfocadas
nas competências a serem desenvolvidas pelos engenheiros do que nos conteúdos a
dominar ao final do curso, mantêm, nas expectativas de perfil e competências desejadas
para os engenheiros, a necessidade de disciplinas ou temas envolvendo o conteúdo
humanístico.
Neste sentido, o relatório que encaminhou para aprovação as atuais DCN (Brasil,
2015) deixa evidente a expectativa de que os profissionais de engenharia desenvolvam
competências conhecidas como soft skills, das quais o documento destaca o domínio de
habilidades como liderança, trabalho em grupo, planejamento, gestão estratégica e
aprendizado de forma autônoma (Brasil, 2015, p. 2).
Além disso, mais do que garantir uma sólida formação técnica dos engenheiros, que
permita a efetiva realização de seus trabalhos e que acompanhe a dinâmica e as
demandas tecnológicas da sociedade, se espera que os cursos de engenharia se voltem
“para uma visão sistêmica e holística de formação, não só do profissional, mas também
do cidadão-engenheiro, de tal modo que [ele] se comprometa com os valores
fundamentais da sociedade na qual se insere […]” (Brasil, 2015, p. 25).
As atuais DCN, mantendo o tom das anteriores, explicitam nas características
desejadas para o perfil do engenheiro em formação as de “ter visão holística e
humanista, ser crítico, reflexivo, criativo, cooperativo e ético […]” (Brasil, 2019a, art.
3º). Essas DCN externam também a expectativa de que o engenheiro adote nas suas
práticas de trabalho “perspectivas multidisciplinares e transdisciplinares” [além de]
considerar aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais […]”
(Brasil, 2019a, art. 3º) nas suas atividades.
Este trabalho tem o propósito de contribuir na construção do perfil desejado para o
engenheiro a ser formado e no desenvolvimento das competências explicitadas nas
DCN de 2019.

Como este trabalho busca atender ao seu propósito?

Dividido em quinze temas, este trabalho projeta sobre a engenharia uma visão
humanista, olhando-a sob a perspectiva das ciências sociais e humanas. Assim como a
luz branca se dispersa num prisma, a engenharia funciona aqui como um prisma, que,
quando iluminado pelas ciências sociais e humanas, pode ser apreciada com várias
tonalidades: da psicológica à sociológica, passando pela filosófica, pedagógica,
administrativa e legal. Estas são as cores dos quinze temas.
Sobre a luz destas ciências, é possível ver no tema 1, “Uma visão da engenharia pelas
ciências sociais e humanas”, os contornos das ciências sociais e humanas e suas
diferenciações em relação às ciências naturais, além de se discutir a metodologia
científica. No tema 2, “Engenharia: uma breve visão filosófica e histórica”, vemos o
esboço do espírito que moveu e move a engenharia. O tema 3, “Contribuições Sociais
da Engenharia”, traça um panorama dos campos em que a engenharia atua e como
contribui para a sociedade com sua atuação. No tema 4, “Atividades do engenheiro e
sua adequação ao perfil individual”, apresenta-se uma visão das atividades que um
engenheiro desenvolve ao longo da sua vida profissional, buscando auxiliar o estudante
na definição, em tempo oportuno – de preferência, ainda na fase inicial de seu curso de
formação –, da atividade que mais se adequa ao seu perfil pessoal, por meio de uma
visão geral do escopo e de como se desenvolve cada uma dessas atividades.
No tema 5, “Engenheiro-cidadão: uma visão sociológica”, existe a proposta de uma
reflexão crítica sobre o que é cidadania a partir do movimento histórico deste conceito.
Com esta reflexão, espera-se que o estudante possa extrair para si uma visão sobre o que
é e como deve agir um engenheiro-cidadão. O tema 6, “O engenheiro-líder”, se propõe
a dar uma base teórica que permita ao estudante observar e avaliar a atuação dos líderes
com os quais convive, seja durante estágios, trabalhos em grupo ou atividades sociais,
com visão crítica e reflexiva, buscando se identificar com algum tipo de liderança que
se adeque mais ao seu perfil, ganhando robustez na forma de atuar como líder.
O tema 7, “Aprendizagem contínua: uma visão pedagógica da profissão”, aborda os
conhecimentos, as habilidades e as atitudes que resultam em um engenheiro
competente, buscando estimular o processo de autoaprendizagem e auto-formação.
Nesse caminho também passa o tema 8, “Demandas da sociedade contemporânea na
formação dos engenheiros: uma visão psicopedagógica”, o qual busca, por meio da
identificação de características típicas da sociedade contemporânea, olhadas do ponto
de vista psicossocial e vivencial, algumas das demandas de conhecimentos, habilidades
e atitudes que devem ser adquiridas pelos engenheiros que ingressam no mercado de
trabalho.
O tema 9, “Desafios atuais da sociedade para a engenharia: uma visão
sociotecnológica”, procura estimular os futuros engenheiros a pensarem sobre as
dificuldades enfrentadas pelas sociedades e as implicações políticas, sociais e
econômicas dos problemas a serem resolvidos pela engenharia no presente e num
futuro próximo. Como resultado adicional do tema tratado, espera-se que o estudante
desperte seu interesse por algum tema atual e sinta-se estimulado a aceitar o desafio de
contribuir para a solução de problemas que possa identificar como impactantes para a
sociedade.
O tema 10, “O engenheiro-ético: visão histórico-filosófica”, tem o propósito de
despertar, de forma embasada, o senso ético do cidadão-engenheiro e do engenheiro-
cidadão. Com este objetivo, parte-se de uma visão histórica do desenvolvimento do
conceito e do senso ético e discute-se o que é ética profissional, como um subconjunto
de reflexão sobre o tema.
O tema 11, “O engenheiro-administrador”, procura, antes de situar o engenheiro
como um administrador, apresentar um resumo das posições teóricas das principais
escolas de administração que foram desenvolvidas na história da administração. No
curso da discussão do tema, foram tecidos comentários sobre sistemas de gestão e
processos de certificação, visando familiarizar o estudante com estes conceitos e
despertar-lhe o interesse por tais assuntos. Com isto, espera-se que o engenheiro em
formação possa desenvolver competências para “aplicar conceitos de gestão para
planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de Engenharia” (Brasil,
2019a, art. 4º), além de “implantar, supervisionar e controlar as soluções de
Engenharia” (Brasil, 2019a, art. 4º).
O tema 12, “Importância da motivação e dos paradigmas nos nossos planos de vida:
visão psicológica”, e o tema 13, “Pensando o futuro profissional: um plano estratégico”,
têm um objetivo comum que é o de projetar o estudante para uma situação futura
ideal, estabelecendo uma visão motivadora – a motivação é discutida no tema 12 – e,
na medida do possível, descolada dos paradigmas que o estudante, sem perceber, coloca
como limites na sua visão de mundo. Motivado a quebrar paradigmas, o estudante
pode exercitar sua criatividade, além de projetar futuros novos para si, desenvolvendo,
o objetivo do tema 13, elaborar um Plano Estratégico Pessoal que desenvolva a sua
“capacidade de sonhar, independentemente dos recursos que se tenha sob controle”
(Brasil, 2015, p. 29), e que permita “a cada egresso conceber a sua trajetória ao longo da
vida e no mundo do trabalho” (Brasil, 2015, p. 29).
O tema 14, “O engenheiro-legal”, tem por finalidade discutir a legalidade no
exercício da profissão, destacando o papel dos Conselhos de Engenharia na
regulamentação e fiscalização da profissão. O tema discute alguns aspectos da legislação
relacionada à atividade de engenharia, buscando despertar o aluno para a importância
dos normativos que regulamentam não só a vida profissional dos engenheiros, mas a
dos cidadãos.
Por fim, no tema 15, “E o futuro da engenharia?”, tem-se o propósito de levar o
leitor a pensar em como será a engenharia que está sendo gestada nos laboratórios de
centros de pesquisa ao redor do mundo, e que mudará cada vez mais o contorno da
profissão, uma vez que disciplinas de várias áreas de conhecimento vêm se
interceptando e propiciando criações de características multidisciplinares e novas
engenharias.

Da permanência dos temas e da volatilidade dos conteúdos

Pela dinâmica dos conhecimentos gerados no mundo, com a criação de novos


conceitos, novas tecnologias e novas técnicas em velocidade exponencial, alguns dos
conteúdos deste trabalho ficarão ultrapassados. Assim, o que pensamos hoje como
desafios para a engenharia, talvez não sejam desafios daqui a cinco ou dez anos. A
legislação válida hoje será substituída por novas abordagens, novas engenharias serão
criadas e novas habilidades e competências serão demandadas dos engenheiros. Estas
ocorrências fazem com que os conteúdos dos temas tratados neste trabalho precisem de
atualização periódica.
Os temas em si, no entanto, permanecerão por mais tempo. Por um longo período,
será importante discutir metodologia científica, atividades e campos de trabalho dos
campos de trabalho dos engenheiros, ainda que novos sejam criados. Sempre será
relevante discutir a abordagem sobre liderança de Weber, conhecer os princípios das
escolas clássicas de administração, discutir a legalidade e a ética no exercício da
profissão, refletir sobre o papel do engenheiro-cidadão, fazer um plano estratégico para
a vida profissional e pensar a engenharia no presente e no futuro.
Desta forma, o conteúdo dos temas discutidos certamente ficará ultrapassado, até
que seja atualizado por quem se interesse em fazê-lo, mas os temas permanecerão
servindo de paradigma para a organização de ementas e currículos do que chamamos
aqui de Humanidades, ciências sociais e cidadania na engenharia ou Introdução à
engenharia.
Outros temas complementares, além dos aqui apresentados, podem ser tratados de
forma independente, nesta ou em outras disciplinas que venham a compor o eixo
humanístico da engenharia, ou em blocos de conhecimentos que considerem
importante o desenvolvimento da visão humanística, social, histórica, filosófica,
pedagógica e legal do engenheiro.
Dentro dos temas tratados neste trabalho não se inclui, por exemplo, um que trate
da competência explicitada nas DCN de 2019, de “comunicar-se eficazmente nas
formas escrita, oral e gráfica” (Brasil, 2019a, art. 4º). Entendemos que esta
competência pode ser estimulada e avaliada durante a execução de relatórios sobre os
quinze temas propostos, ou outros que venham a ser incluídos, bem como nas
pesquisas desenvolvidas pelos estudantes, que devem ter os seus resultados
apresentados de forma escrita e oral, sempre com a utilização de tecnologias atuais de
informação e comunicação.
Além disto, as apresentações orais podem ser feitas pelos estudantes, em sala de
aula, em idioma estrangeiro, exercitando, na prática, a competência de ser capaz de
expressar-se adequadamente em idioma diferente do Português (Brasil, 2019a, art. 4º),
atribuindo-se uma pontuação pelo esforço do estudante em desenvolver esta
habilidade.

Como utilizar este trabalho num curso de engenharia?

Uma vez que as competências comportamentais demandam mais tempo para serem
assimiladas do que as técnicas, as discussões em torno das humanidades, ciências sociais
e cidadania na engenharia deverão, preferencialmente, ser feitas na fase inicial dos
cursos de formação de engenheiros, de modo a permitir que, ao longo do curso, sejam
praticadas e observadas. Nesta visão, a disciplina ou o bloco do qual essas discussões
farão parte, deve ser incluído na formação básica do engenheiro, cabendo numa
disciplina como Introdução à Engenharia, por exemplo.
Por sua abordagem didática, este trabalho apresenta ao final de cada tema dois
blocos de exercícios. O primeiro, “Exercícios de avaliação de conteúdo”, procura
reforçar a assimilação dos conteúdos e levar o estudante a buscar entendê-los melhor.
O segundo bloco, “Exercícios vivenciais”, procura gerar ações práticas ligadas à
aplicação do conteúdo com o objetivo de desenvolver reflexão e competência sobre ele.
Os exercícios vivenciais são propostos para serem feitos pelo estudante
individualmente ou em equipe. Por meio deles, nos trabalhos individuais, será possível
desenvolver e avaliar a capacidade do estudante organizar seu pensamento, ter visão
crítica e humanista, bem como sua habilidade de comunicação escrita e oral. A
capacidade de o estudante pesquisar e aplicar os conteúdos dos temas e de suas
pesquisas na solução do exercício vivencial proposto também poderá ser avaliada em
alguns dos exercícios.
Nos trabalhos em equipe, será estimulada a capacidade dos alunos se auto-
organizarem, observarem e praticarem habilidades de planejamento, liderança, gestão,
cooperação; considerarem aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais
e de segurança nos trabalhos executados, além de refletirem sobre aspectos técnicos da
engenharia. Esses trabalhos terão como eixo a engenharia transpassada pelo olhar das
ciências sociais e humanas.
Os trabalhos elaborados em equipe deverão privilegiar a constituição do grupo com
estudantes de diferentes modalidades/especialidades de engenharia, desenvolvendo,
assim, uma das competências desejadas para os engenheiros – “trabalhar e liderar
equipes multidisciplinares” (Brasil, 2019a, art. 4º).
Para o desenvolvimento de um aprendizado baseado em metodologias ativas, o
ideal é que os alunos leiam o conteúdo do tema a ser discutido, previamente à aula,
buscando, por iniciativa própria, informações adicionais relacionadas a ele e enfocadas
nos exercícios vivenciais.
Os estudantes devem ainda opinar, sempre que possível, sobre os impactos sociais,
econômicos, ambientais, éticos e legais dos trabalhos e projetos elaborados, atuando de
forma concreta no desenvolvimento da competência desejada de “conhecer e aplicar
com ética a legislação e os atos normativos no âmbito do exercício da profissão”,
realizando assim “a avaliação crítico-reflexiva dos impactos das soluções de Engenharia
nos contextos social, legal, econômico e ambiental” (Brasil, 2019a, art. 4º).
Estas abordagens críticas em relação aos vários temas humanos e sociais tornam os
trabalhos extraclasse, em sala de aula ou em auditórios de palestras verdadeiros
laboratórios onde os estudantes podem pesquisar e refletir sobre os aspectos humanos
do exercício profissional, desenvolvendo as suas habilidades e atitudes a partir de
experiências vividas.
Interessante também, de modo a trazer mais densidade e realidade à discussão dos
temas e vivências propostas, é o convite de “profissionais de empresas capazes de
apresentar e discutir problemas concretos, seja do setor produtivo, seja da sociedade
em geral” (Brasil, 2015, p. 31) para proferirem palestras para os estudantes sobre os
temas em discussão.
É possível, pela experiência de sala de aula, que cada um dos quinze temas seja
discutido num espaço de duas a quatro horas-aula, conforme a profundidade que se
queira dar às discussões, o interesse que ele desperte nos estudantes e a sua relevância
para o contexto político-social e de formação dos alunos. Um curso de 30 a 60 horas-
aula, presencial ou à distância, permitirá cobrir todos os temas.
–1–
Uma visão da engenharia pelas ciências sociais e humanas

As ciências sociais olharam a física como uma ciência diferente

Ciência vem do latim scientia e significa “conhecimento”. As ciências são, em geral,


classificadas como formais e factuais (Marconi e Lakatos, 2017, p. 76).
A matemática é uma ciência dita formal. Suas verdades são justificadas por métodos
racionais, onde as deduções lógicas e as demonstrações, ou seja, a forma como os
argumentos racionais são apresentados, validam suas verdades.
A física, a química, a biologia, a sociologia e boa parte da economia se incluem entre
as ciências factuais. Por que factuais? Porque as suas “verdades” são baseadas na análise
de fatos que são passíveis de observação pelos sentidos para se justificarem.
As ciências factuais que estudam os fenômenos da natureza – como a física, a
química, a biologia e a geologia – são chamadas de ciências naturais. A matemática e as
ciências naturais – e, notadamente, a física entre estas ciências – formam a medula das
engenharias modernas. A matemática funciona como uma linguagem com símbolos
próprios. Por meio dela, os engenheiros descrevem o mundo físico… e phýsis, em grego,
significa Natureza; natureza no seu sentido amplo, mas sem a inclusão do ser humano
no seu conceito.
A física foi a primeira ciência a aplicar o que Pitágoras, o filósofo e matemático
grego, pensava: que a essência do mundo era a matemática. Galileu Galilei (1564-
1642) acreditou nisto e se notabilizou por descrever, matematicamente, fenômenos da
natureza; fenômenos físicos.
Além de se notabilizar pela “matematização” da natureza, Galileu se destacou
também pela aplicação de uma metodologia de trabalho, ou seja, a aplicação de uma
sequência de procedimentos, nas suas pesquisas. Esses procedimentos davam a estas
pesquisas resultados confiáveis.
Procedimentos como os aplicados por Galileu foram desenvolvidos e
sistematizados por pensadores preocupados em encontrar uma forma de garantir que
os conhecimentos que se apresentavam pudessem ser aceitos como verdades. Esta
sistematização, ou o caminho a ser seguido para validar os conhecimentos, foi chamada
mais tarde de metodologia científica. Esta metodologia permitiu separar aquilo que era
de fato validado pela razão e demonstrado pela experiência, chamado então de
conhecimento científico, daquilo que se podia entender como mera especulação por
não se fundamentar em experiências que pudessem ser verificadas a qualquer tempo.
Entre os pensadores que ajudaram a desenvolver uma metodologia científica, estão
nomes, como o de Francis Bacon (1561-1626), que é considerado o fundador da
ciência moderna, e o de René Descartes (1596-1650), que, além de desenvolver um
método para descrever formas físicas por meio da matemática, inventando a geometria
analítica, também propôs um procedimento para validar verdades, conhecido como
Método Cartesiano.
Estruturada como ciência confiável porque seguia a metodologia científica para sua
validação, a física serviu de modelo (paradigma) para as outras áreas de conhecimento,
que viriam a se constituir depois da estruturação da metodologia científica, e que
reivindicavam para si o título de ciência, entre elas as chamadas Ciências Sociais.
Alguns pensadores, mais preocupados com a atividade humana, começaram a
desenvolver de forma sistemática conhecimentos que tinham não a natureza bruta e
não humana como enfoque, mas o ser humano enquanto agente que produz cultura e
que modifica seu mundo por meio de sua ação individual e coletiva. Estes pensadores
entendiam que os conhecimentos que eles desenvolviam deveriam ser aceitos como
ciência nos mesmos moldes da física. Para tal, os conhecimentos deveriam se submeter
aos mesmos procedimentos metodológicos da física – à metodologia científica – para
se validarem.
Ciências como a sociologia, a psicologia, a história – saber antigo que não tinha um
método validado para justificar aquilo que afirmava quando historiava –, o antigo
direito – que, vindo desde os romanos, foi mais tardiamente organizado –, a economia,
a administração, a pedagogia e a chamada ciência política, ciências que se
desenvolveram depois da física ter praticado e tornado aceita a metodologia científica,
não podiam, no entanto, se submeter, para se demonstrarem como verdadeiras, à
metodologia científica aplicada do mesmo modo que a física.
Apesar dos esforços feitos para dar o mesmo tratamento atribuído à física para
todas essas “ciências”, os obstáculos que se colocavam para conseguir tal intento eram
muito grandes, pondo em xeque, inclusive, a aceitação do termo “ciência” para
designar tais conhecimentos.
Embora hoje se entenda diferente, durante uma fase da história, compreendia-se
como ciência apenas aqueles conhecimentos aos quais fosse possível aplicar o método
da física. Para tanto, as “novas ciências” teriam que ser matematizadas e basear-se em
fatos que pudessem ser demonstrados a qualquer momento. Como acontecia na física,
deveria ser possível repetir os experimentos, evidenciando as relações entre as variáveis
envolvidas nos fatos observados, variáveis que se agrupavam em causas e efeitos.
Assim, várias questões começaram a ocorrer: como matematizar os conhecimentos
da psicologia? Os testes do Quociente de Inteligência (QI), por exemplo, avançaram
nesta direção, mas foram poucas as iniciativas que tiveram o seu sucesso. Como
expressar matematicamente a emoção humana? ... e os engenheiros que trabalham com
Inteligência Artificial andam pensando nisto... Como repetir a experiência de uma
guerra mundial e como estabelecer uma relação causal entre os fatos observados,
relação esta que possa ser verificada experimentalmente?
As dificuldades para se aplicar a metodologia científica a estas “novas ciências”, tal
qual se aplica na física, findaram por dividir essas ciências em dois grupos: Ciências
Naturais e Ciências Sociais. As Ciências Sociais passaram a olhar a física como uma
ciência diferente, reivindicando para si procedimentos mais adequados.

Por que as Naturais e as Sociais se dizem ciências?

Foi aceita, de forma consensual entre os cientistas, a divisão das ciências factuais em
Ciências Naturais e Ciências Sociais. A física, a química e a biologia, por exemplo,
foram enquadradas nas classificações como Ciências Naturais. A sociologia, a
psicologia social, grande parte de economia, entre outras, como Ciências Sociais.
No grupo das ciências naturais ficaram aquelas que procuravam descobrir leis ou
traçar teorias sobre o funcionamento da natureza, excluindo desta “natureza” o ser
humano enquanto protagonista dos fatos históricos, políticos e sociais, e como
produtor de cultura, como, por exemplo, da literatura, da arte em geral e da filosofia.
O encargo de olhar as atividades do ser humano enquanto vivendo em sociedade
passou a ser o espaço de ação das ciências sociais. Assim, as atividades política,
econômica e social, por exemplo, passaram a ser estudadas pelas ciências sociais e,
nestes exemplos, pelas ciências Política, Econômica e Social, respectivamente.

E as humanidades ou ciências humanas?

A questão da separação entre áreas de conhecimento, que trouxe à luz a discussão


do termo Humanidades, foi levantada de forma marcante numa conferência na
Universidade de Cambridge, em 1959, durante uma palestra do Doutor Snow (1993).
Dr. Snow era um homem que tinha amigos cientistas e amigos escritores. Estes
últimos se autodenominavam “intelectuais”. O que o Dr. Snow percebeu foi a grande
diferença entre as culturas destes dois grupos de amigos: os cientistas e os intelectuais.
A partir desta observação, escreveu um pequeno texto intitulado “As Duas Culturas”
(Snow, 1993), onde nomeava como Humanidades algumas áreas do saber humano que
não eram enquadradas como ciência.
Embora não seja um consenso, Humanidades enquadra áreas do conhecimento
humano que são obtidas sem se submeter necessariamente às etapas da metodologia
científica e que têm suas “verdades” e explicações validadas pela prática, não raro,
apresentadas de forma descritiva, além de uma característica comum: “todas estão
preocupadas em como o ser humano está vivendo e viveu” (Snow, 1993, p. 70). A
filosofia, a história, as letras, as artes, o direito, a psicologia, de uma forma geral, são
exemplos de Humanidades. Numa linguagem mais tolerante com o rigor do termo,
Ciências Humanas.
De uma forma sumária, podemos dizer que as humanidades, embora sejam
enfocadas no ser humano, se diferenciam das ciências sociais pela aplicação da
metodologia científica; as Humanidades não aplicam tal metodologia como o fazem as
ciências naturais e as ciências sociais.
Enquanto as ciências sociais se atêm aos fenômenos humanos devidos à sua ação na
sociedade, estudando a vida social dos indivíduos ou de grupos atuando na sociedade,
as humanidades se ocupam de estudar a atividade humana de produção de
conhecimento e cultura.
Embora as áreas de conhecimento que se enquadram como humanidades ou
ciências humanas não sejam tão bem definidas, podemos nomear como pertencentes a
esta área a filosofia, a história, a geografia, boa parte da psicologia, a educação –
enquanto discussão de princípios –, a antropologia – enquanto estudo dos costumes e
crenças do ser humano –, o direito – em sua abordagem mais filosófica –, as artes e a
literatura (Schwartzman, 2008, p. 4-7).
A administração e a economia, naquilo que têm de tratamento matemático, ou a
sociologia e a geografia, nas suas predições baseadas em fatos, são algumas das
classificadas como Ciências Sociais ou Ciências Sociais Aplicadas.1
O enquadramento das áreas de conhecimento como sociais e humanas não é
unânime. “No Brasil, os termos ‘humanidades’ e ‘ciências sociais’ são normalmente
usados como sinônimos. Na tradição europeia e norte-americana, no entanto, existe
uma distinção bastante clara entre as duas coisas” (Schwartzman, 2008, p. 4).

O que é, então, a metodologia científica?

Em grego, a palavra methodos significa “caminho”. A metodologia científica pode


então ser entendida como o caminho que o “cientista” deve seguir para garantir que o
conhecimento obtido acerca do seu objeto de estudo seja verdadeiro do ponto de vista
científico.
Vejamos as etapas deste caminho, colocando lado a lado um exemplo da área das
ciências naturais e outro da área das ciências sociais.
Tomemos, de um lado, um cientista da área da física que quer descobrir como o
valor da resistência elétrica (R) afeta o aquecimento (Q) de um fio metálico quando
percorrido por uma corrente elétrica (I). Podemos dizer que o cientista buscará uma
explicação para o fenômeno de aquecimento de um fio metálico (phainomenon, em
grego, traz o sentido daquilo que aparece, que se pode ver, que se torna presente ao
observador).
O problema que ele quer resolver é determinar como um fio metálico de resistência
(R) se aquece, liberando uma quantidade de calor (Q) quando percorrido por uma
corrente elétrica (I). A resistência elétrica e a corrente são as causas do fenômeno
observado. O aquecimento do fio é o efeito.
De outro lado, coloquemos um cientista social, um sociólogo, por exemplo, que
quer explicar a causa do aumento dos salários (efeito do fenômeno observado) de uma
determinada classe C de trabalhadores, que trabalha em residências particulares,
prestando serviço para uma determinada classe A, observado em uma determinada
cidade. Identificar as causas deste aumento de salários (efeito) é o problema que se quer
resolver.

Quadro 1 – Etapas ou caminhos da metodologia científica


ETAPAS Ciência Natural Ciência Social
1 – Definição do problema a resolver Relacionar aquecimento de Relacionar aumento de salário da
um fio metálico com a classe C de trabalhadores em
resistência elétrica do fio e a residências particulares da classe A, em
corrente elétrica que passa uma cidade, com outros fatos sociais.
através dele.
2 – Busca de informações para análise do Dados levantados de Levantamento histórico de outras
problema experimentos com diferentes variáveis, como migração de pessoas da
materiais. classe C para a cidade e a demanda de
trabalhadores em residências
particulares da classe A.
3 – Tentativa de explicação dos fenômenos O calor liberado pelo metal é O aumento dos salários da classe C de
observados, utilizando uma teoria proporcional à resistência trabalhadores em residências
conhecida ou, na ausência desta, por meio elétrica do fio metálico e ao particulares da classe A ocorreu
da construção de uma hipótese que quadrado da corrente que proporcionalmente ao número de
explique e relacione as informações passa por ele. imigrantes de classe A e inversamente
disponíveis ao de imigrantes de classe C, para a
cidade em estudo.
4 – Verificação da adequação dos dados De fato, os dados De fato, verifica-se por meio dos dados
disponíveis com a teoria que explica o demonstram que o calor Q disponíveis que os salários subiram
problema ou com a hipótese formulada liberado por um fio metálico com o aumento da imigração da classe
para explicá-lo; ou seja, responder à de resistência R pelo qual A e, inversamente, com a imigração da
pergunta: a explicação teórica ou as passa a corrente I vale: classe C na cidade estudada e em
consequências que podem ser inferidas a Q=R.I2 para os diversos outras cidades analisadas, validando a
partir da hipótese são coerentes com os metais estudados (hipótese hipótese (hipótese validada pelo
dados levantados pelos experimentos? validada pelo método método indutivo).
indutivo).

Fonte: Autor.
O caminho ou as etapas a serem seguidas pelos cientistas, apresentadas no quadro 1,
são as mesmas para ambas as “áreas de conhecimento”.2
Assim, os conhecimentos elaborados de acordo com esta metodologia são aceitos
pelo mundo científico como “conhecimento científico” e, portanto, com conclusões
validadas como científicas. Neste caso, em particular, as ciências naturais e as sociais,
buscando atender à metodologia científica, fazem jus ao título de ciência e, neste
aspecto, se entreolham reconhecendo suas identidades.
Hoje, a maioria dos cientistas, sejam eles das ciências naturais ou sociais, reconhece
os benefícios destas áreas das ciências se olharem não só à procura de suas identidades,
mas também os benefícios que suas diferenças podem trazer umas às outras.
Reconhecem os ganhos de se olharem com a curiosidade dos que buscam aprender,
procurando completar suas deficiências e se deixando transpassar umas pelas outras.
Os que pensam o mundo contemporâneo percebem o quanto as Humanidades
podem ajudar no desenvolvimento das emoções humanas, na criatividade, na crítica e
no resgate do espírito que move as ideias e as ações humanas. E a engenharia é
responsável por materializar boa parte destas emoções, criatividade, ideias e ações na
forma de bens e serviços para a sociedade.
Então, onde estão as diferenças que ainda mantém algum estranhamento entre as
ciências naturais e as sociais e humanas? Por outro olhar, no que podem as Ciências
Sociais e as Humanidades iluminarem as engenharias?

Identificando as diferenças: os métodos

Identificar algumas diferenças entre as áreas de conhecimento ajuda a diminuir o


estranhamento entre as ciências e a ganhar novos pontos de vista.
Um dos pontos de diferença é o método utilizado por cada área de ciência para
validar as suas hipóteses.
Que não se confunda o estudo dos caminhos, que é a metodologia, com o método
utilizado para validar as hipóteses, que é a forma de se organizar os argumentos que
justificam a relação entre os dados obtidos.
Como explicitado no quadro 1, as ciências naturais e as sociais se utilizam, para
formular suas leis e explicações, do mesmo caminho, o qual começa com a clara
definição do seu objeto de estudo, passa pela observação dos fatos, sejam eles, de
natureza humana e social ou de natureza não humana, dependendo da ciência em
questão.
Por meio de experiências e observações, os cientistas coletam dados ou fatos que
consideram relevantes para as suas análises, sejam eles quantitativos ou qualitativos, e
tentam relacioná-los, estabelecendo explicações com nexo causal entre eles. Estas
explicações geram hipóteses que podem se mostrar falsas ou verdadeiras. Caso alguma
experiência contrarie a hipótese formulada, ela será considerada falsa; caso contrário,
verdadeira. Esta é, em linhas gerais, a metodologia científica.
Embora as ciências naturais e sociais sigam as mesmas etapas da metodologia
científica, as análises para validar as suas hipóteses, ou seja, seus métodos de validação,
incorporam especificidades.
As ciências naturais se utilizam, basicamente, dos métodos dedutivos e indutivos.
As sociais, além destes métodos, se utilizam de outros, como o fenomenológico, o
estruturalista, o funcionalista e o dialético.
O método dedutivo parte de verdades gerais – leis, regras, princípios, postulados –
para concluir verdades particulares. Tomemos um exemplo de aplicação do método de
raciocínio dedutivo.
É um postulado da geometria plana que por dois pontos no espaço passa somente
uma linha reta. Com este postulado, podemos concluir que se uma linha reta “r” passa
pelos pontos A e B e outra linha reta “s” passa também pelos pontos A e B, “r” e “s” são
a mesma linha reta.
Ora, conclusões deste tipo são conclusões obtidas por dedução. De princípios
gerais, neste caso, o postulado para as linhas retas em geral, retiramos consequências ou
conclusões particulares que valem para as linhas retas particulares. Outras áreas de
conhecimento que utilizam métodos semelhantes (dedutivos) são a lógica, classificada
como ciência formal (Marconi e Lakatos, 2017, p. 76), e a filosofia.
Em engenharia, são muitos os casos em que usamos deduções. A partir de leis
gerais, como, por exemplo, a 2ª Lei de Newton, que diz que a aceleração “a” de
qualquer corpo de massa “m” é proporcional ao valor desta massa, podemos concluir
que a aceleração de um corpo determinado será proporcional ao valor de sua massa,
ainda que não tenhamos testado este corpo especificamente. Assim, sempre que
tivermos uma massa “m1”, mesmo que não testada, assumiremos, por dedução, que ela
sofrerá uma aceleração proporcional ao valor desta massa particular, quando
submetida a um sistema de forças.
Além do método dedutivo, as ciências naturais utilizam, para concluir suas
“verdades”, outro método que também é familiar aos engenheiros: o método indutivo.
Neste método, ao contrário do método dedutivo, que parte do geral para concluir o
particular, parte-se da observação de casos particulares para se chegar a leis gerais que
são generalizadas para alguma classe de objetos.
Como se desenvolve o método indutivo? Tomemos o exemplo da criação de um
campo magnético com o uso de uma bobina.
Observamos que, passando uma corrente elétrica por um fio de alumínio enrolado
em volta de um cilindro de material com propriedades ferromagnéticas, construindo
assim o que chamamos de “bobina”, será criado um campo magnético no seu interior.
Constatamos também que será criado um campo magnético se enrolarmos um fio de
ferro e, da mesma forma, se enrolarmos um fio de cobre. Com estas observações,
podemos induzir a conclusão de que fios de metal enrolados em cilindros de materiais
ferromagnéticos produzirão um campo magnético.
Notemos que essa conclusão, que se baseia no método indutivo, foi tirada sem que
fossem testados todos os elementos da classe – no exemplo dado, os metais. Assim,
podemos induzir a conclusão sobre a propriedade de todos os metais criarem campos
magnéticos, embora tenhamos testado apenas os três citados, supondo que não
dispúnhamos de outros para efetuarmos os experimentos ou que estes não fossem
conhecidos. Desta forma, ficaria a incerteza quanto à validade para todos os metais.
O método indutivo tem esta característica: a partir das observações com alguns
objetos conhecidos de uma classe, induz que o que aconteceu com eles acontecerá com
todos da mesma classe, ainda que não tenham sido testados. Neste método, a verdade
será aceita até que encontremos algum caso que contrarie a lei vigente, quando então
buscaremos uma nova explicação para os fatos observados.
Nem sempre as ciências sociais podem utilizar os métodos dedutivos e indutivos
para demonstrar as suas hipóteses. Como discutiremos a seguir, algumas vezes é difícil
realizarmos vários experimentos para induzirmos uma conclusão ou provarmos que
uma dedução está correta. Por exemplo, não podemos fazer guerras para testarmos as
suas causas ou causarmos o desemprego para testarmos os seus efeitos na economia.
Podemos, sim, observar estes fatos históricos e sociais e tentar relacioná-los de forma a
obtermos uma explicação.
Para justificar suas hipóteses ou estabelecer relações entre os fatos observados, os
cientistas sociais podem tomar mão de outros métodos, como o fenomenológico, o
dialético, o estruturalista, o funcionalista, para citarmos alguns. Aqui não discutiremos
estes métodos, mas eles podem ser encontrados em autores que os estudam mais de
perto.3
Embora os métodos das ciências sociais estejam validados pela comunidade
científica, eles ainda encontram algumas dificuldades de entendimento e aceitação
pelos cientistas naturais e pelos engenheiros, habituados aos métodos dedutivos e
indutivos.
Apesar de alguns engenheiros mais voltados para atividades humanas e sociais,
como os engenheiros de produção, os ambientais e os que atuam em áreas ligadas à
bioengenharia, terem mais “boa vontade” com as humanidades e as ciências sociais, esta
não é a regra.

As diferenças nos experimentos e na objetividade de seus resultados

Nas ciências sociais nem sempre poderemos repetir os experimentos, como fazemos
com as ciências naturais. Nas ciências naturais, por exemplo, é fácil repetirmos o
experimento de deixarmos um corpo cair de uma determinada altura para verificarmos
a relação entre o espaço por ele percorrido e o tempo necessário para percorrer este
espaço; Galileu fez isto diversas vezes na torre inclinada de Pisa. Nas ciências sociais,
como já comentamos, não é viável repetirmos experiências como uma guerra ou o
desemprego para testarmos se os nexos causais se repetem.
Os impactos da invenção da máquina a vapor no desenvolvimento industrial da
Inglaterra e do mundo podem ser explicados pela observação dos acontecimentos
relacionados com este fato; porém, a experiência da Inglaterra é única e não pode ser
estendida, sem mais considerações, para a França e Portugal, por exemplo. Mesmo na
Inglaterra, não será possível reproduzir esta experiência em um laboratório, na
complexidade em que ela ocorreu nos séculos XVIII e XIX na Europa.
Além das dificuldades práticas de se executar experimentos em ciências sociais, o
fato de termos muitas variáveis neles envolvidas, entre elas, a humana, torna difícil
controlarmos todas para vermos a influência de cada uma isoladamente no fenômeno
observado, tal como é feito nas ciências naturais.
Nos experimentos realizados dentro das ciências naturais, temos variáveis que
podemos controlar com facilidade como correntes elétricas, temperaturas, pressões,
entre muitas outras. Podemos manter algumas delas constantes e variarmos outras de
forma a verificarmos os efeitos das diferentes variáveis nos experimentos,
estabelecendo assim relações de causa e efeito.
Nas ciências sociais, tal controle não é tão fácil devido ao grande número e à
aleatoriedade das variáveis envolvidas, dificultando o tratamento dos fenômenos
sociais por dados numéricos, por meio de modelos matemáticos ou estatísticos,
levando o cientista social, não raro, a explicitar os fenômenos que observa com dados
qualitativos.
O fato de não se poder controlar todas as variáveis, algumas das quais se desconhece
se têm ou não influência no resultado de um fenômeno observado, dificulta ainda a
previsão dos resultados de acontecimentos futuros como se pode fazer no caso das
ciências naturais.
O problema se agrava com a presença da variável humana, menos suscetível ao
controle e à previsão no seu comportamento. As ciências sociais e humanas, ao
contrário das ciências naturais, têm o comportamento humano como variável a ser
considerada.
Assim, tomemos um exemplo simples: se um homem perde a sua fortuna, não se
pode afirmar qual será o seu comportamento de forma objetiva. Nesta situação ele
poderá tomar ações para iniciar um empreendimento que lhe dê novos ganhos, poderá
se tornar um monge, abraçar causas políticas que julgue terem influenciado o desfecho
do seu destino, pode se tornar um homem resignado e religioso e até se suicidar, enfim,
não podemos afirmar, de forma objetiva e previsível, o que vai acontecer, pois não
conhecemos todas as variáveis que influenciarão o seu comportamento.
Pela presença do ser humano como objeto de observação e ao mesmo tempo como
observador dos fenômenos humanos, ocorre outra diferença importante entre as
ciências naturais e as sociais e humanas, que é a subjetividade envolvida na análise dos
dados.
Enquanto os dados das ciências naturais são numéricos, grande parte das ciências
sociais tende a trabalhar mais com dados descritivos e que, desta forma, muito
dependerão da percepção humana para serem escolhidos e analisados. Ainda quando
trabalham com dados numéricos, as ciências sociais ficam sujeitas à subjetividade
humana na escolha destes dados e na sua interpretação.
O fato das ciências sociais e das humanidades terem o ser humano como o ponto
central de seus estudos dificulta, portanto, uma abordagem mais objetiva de análise dos
dados por parte do cientista social, uma vez que é difícil que este deixe de ver os fatos
que analisa de acordo com seu ponto de vista pessoal. Nas ciências naturais, isto não
ocorre – ou ocorre de uma forma mais reduzida.
Na realidade social há, no fundo, coincidência entre o sujeito e objeto, já que o
sujeito que estuda é um ser humano, o qual faz parte da realidade estudada, ou seja, faz
parte da atividade humana. “Assim, não há como estudar de fora, como se fosse
possível sair da própria pele para ver-se de fora” (Demo, 1995, p. 28).
Os objetos das humanidades e ciências sociais são criados a partir de paixões, de
sentimentos e afetos. As ciências naturais, por sua vez, estudam seus objetos sem
levarem em conta os sentimentos ou afetos destes, mas somente os seus aspectos que
podem, em grande parte dos casos, ser quantificados e olhados objetivamente.
Com um olhar mais humano e outro mais centrado no resultado da experiência, a
forma de olhar o mundo se torna diferenciada e, muitas vezes, o saber de uma ciência é
de difícil inteligibilidade para a outra.
Devido à eventual impossibilidade de se adotar um tratamento matemático para os
dados e fatos tratados pelas ciências sociais, muitas discussões, que ainda perduram,
ocorreram ao longo da história, com ênfase se as ciências sociais são de fato ciências ou
não.

Como as ciências sociais e as humanidades podem contribuir com a engenharia?

O exercício de olhar o mundo a partir de outras perspectivas é útil para qualquer


profissional, ajudando-o a atuar de forma mais crítica no seu universo de vida em geral
e de conhecimentos em particular.
Os engenheiros, por terem uma formação muito racional e voltada para ciências
mais exatas e objetivas, tendem a ter um olhar para o mundo menos sensível às
questões que são mais ligadas às áreas humanas e sociais como, por exemplo, a um
questionamento crítico-filosófico sobre o exercício de sua profissão, à importância de
romper paradigmas para criar novos conceitos em engenharia, às implicações políticas
e sociais daquilo que faz, às responsabilidades legais e sociais de suas atividades, aos
impactos ambientais dos seus projetos, às expectativas sociais em relação ao seu
trabalho e às questões éticas que podem resultar das suas ações como cidadão e
engenheiro.
De forma geral, os engenheiros tendem a dar menos importância aos aspectos
emocionais e psicossociais que podem decorrer das suas atividades. Nestes aspectos, as
ciências sociais e as humanidades têm muito a contribuir.
As humanidades e as ciências sociais resgatam, ainda, o espírito que motivou e
motiva as ações humanas na história. Entre estas ações, a estruturação das diversas áreas
das engenharias, colocando na alma dos engenheiros as emoções que impulsionaram e
impulsionam os que construíram seus conhecimentos.
Com uma visão mais técnica, o engenheiro nem sempre está consciente de que seus
atos são motivados pela forma como ele concebe o mundo, concepção muito guiada
por suas opiniões e crenças que nem sempre são ditadas pela razão, uma vez que, como
propõe o físico amador e psicólogo social, Gustave Le Bon (1841-1931), analisando os
fatores que influenciam nossas opiniões e crenças, “[…] sob a superfície das coisas,
oculta-se um mundo de forças inacessíveis à nossa razão, mais pujantes do que esta
razão, e que muitas vezes a conduzem” (Le Bon, 2002, p. 105).
O que os engenheiros ou aqueles que caminham para obter esta graduação têm que
considerar é que não vivemos no mundo das ciências exatas, mas num mundo
construído pelos caprichos, desejos e inundado de sentimentos humanos. Nestas
considerações, as humanidades e as ciências sociais também têm muito a contribuir.
Assim, uma obra de engenharia, como uma simples passarela de pedestre – para não
falar de obras mais complexas –, pode ser uma importante obra de engenharia se as
pessoas às quais a obra se destina tiverem a consciência da importância da sua
utilização; caso contrário, será apenas uma peça decorativa no local de sua instalação.
Construir uma usina geradora de energia elétrica pode ser uma obra de engenharia
importante para a sociedade, mas se não forem olhados os aspectos humanos, os
impactos no meio ambiente e na vida das pessoas que esta obra pode causar, ela pode
ser qualificada de um malefício para o ser humano e ser um ônus para a engenharia, em
lugar de se tornar seu motivo de orgulho.
Na introdução do livro “As Duas Culturas” (The Two Cultures), é ilustrada a
importância das humanidades para o entendimento da ciência:

No mundo acadêmico, o entendimento daqueles que não são cientistas da natureza e das regras sociais da
ciência tem provavelmente sido mais significativamente influenciado pelo trabalho de historiadores, filósofos
e sociólogos voltados para a ciência que pelas mudanças dentro da ciência em si mesma. (Snow,1993, p. xlviii)

Sabemos que muitos romances e livros de ficção científica inspiraram engenheiros e


cientistas, construindo possibilidades de concepções que se transformaram em
produtos sociais. Muito do que os filmes de ficção e desenhos animados da década de
1970, com visão futurista, traziam para a imaginação dos cientistas e engenheiros são
realidades nos nossos dias. As humanidades influenciam as ciências naturais e a
engenharia.
Pelo fato do mundo não ser tão exato quanto às vezes pensamos, do
comportamento humano ser guiado pelas paixões muito mais que pela racionalidade, é
que a visão das humanidades e das ciências sociais torna-se de grande importância para
o engenheiro.
A reflexão sobre a engenharia pelo olhar das humanidades e das ciências sociais
permite também que seja exercida de forma mais plena, pelo engenheiro, a sua
cidadania.
O que é cidadania? Ser cidadão significa ter direitos e deveres. Direitos como “o
acesso a um salário condizente, à saúde, à habitação, ao lazer… expressar-se livremente,
militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos, lutar por seus
valores”. Deveres abrangendo “[…] responsabilidade em conjunto com a coletividade,
cumprir normas e propostas elaboradas e decididas coletivamente […]” (Couvre, 2010,
p. 12).
Para que qualquer indivíduo, e o engenheiro em particular, exerça seu papel de
“cidadão”, ele deve estar atento aos seus deveres como profissional e ser social, deve
estar atento aos valores que norteiem suas obrigações e que dão a elas sentido, bem
como deve ter consciência de seus papéis sociais, entre eles aquele que mais o distingue:
sua profissão. Nisto, as humanidades e as ciências sociais também poderão ajudar.
Consciente de seus deveres e de suas obrigações, o profissional poderá exercer a sua
cidadania e, como engenheiro, ser um “engenheiro-cidadão”. Como cidadão, exercer
suas competências em benefício da sociedade atuando como um “cidadão-engenheiro”.
A formação do engenheiro, como discutiremos em mais detalhes no tema 7, não
envolve somente o domínio dos conhecimentos científicos vinculados às ciências
naturais adicionados ao domínio da linguagem matemática e aos conhecimentos
instrumentais, como a arte de representar o mundo físico a partir de diagramas,
esquemas e desenhos, a habilidade em informática e o mínimo domínio prático das
técnicas, ou seja, da habilidade do fazer. Com estes conhecimentos, pode-se dizer que o
engenheiro se habilitou a receber seu grau, mas não se pode dizer, com o rigor do
termo, que ele esteja “formado”.
A formação vai além dos conhecimentos técnicos e instrumentais; ela envolve
também o desenvolvimento de atitudes e habilidades humanas. Um engenheiro que
projeta e executa sem consciência da dimensão humana do seu trabalho e da
importância social de sua atividade, perde muito da grandiosidade da sua qualificação e
pode estar fadado ao insucesso profissional.
A reflexão sobre temas de humanidades, ciências sociais e cidadania pelos
estudantes de engenharia procura transpassar a engenharia com o olhar da psicologia,
da história, da sociologia, da filosofia, da pedagogia e da política, entre outros olhares
ou visões, como esquematiza a figura 1.

Figura 1 – Como as Humanidades e as Ciências Sociais olham a engenharia


Fonte: Autor.

Estas visões levantam questões que dizem respeito à engenharia, porém não de um
ponto de vista técnico-científico. Na visão técnico-científica, as perguntas que se
colocam para a engenharia são do tipo: qual o modelo matemático que se aplica ao
objeto estudado? Qual o princípio físico que regula o funcionamento e o desempenho
de um determinado circuito ou máquina? Como otimizar o funcionamento de um
determinado processo? Como viabilizar o aproveitamento de tal forma de energia?
Como transformar esta matéria-prima em produto acabado?
Estas perguntas são normalmente respondidas olhando-se os resultados das
aplicações técnicas já utilizadas, das experiências em projetos realizados e buscando nas
ciências naturais o paradigma para suas explicações.
As humanidades e as ciências sociais transpassam esta visão, indo da ótica técnico-
científica para aquela que tem como centro o ser humano. Dentro desta perspectiva,
outras perguntas podem ser feitas, em função do ângulo pelo qual se observa a
engenharia. Os temas que se seguem a este, neste trabalho, buscam suscitar perguntas e
alinhavar respostas sobre a engenharia com o olhar das humanidades e das ciências
sociais.
De uma forma sintética pode-se dizer que um mergulho nos temas de
Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania em Engenharia, tratando a engenharia
com outras visões que não a estritamente técnico-científica, ajudará no
desenvolvimento de engenheiros com perfil de competências e habilidades que
atendam às expectativas de formação do engenheiro brasileiro; ou seja, um profissional
com visão holística e humanista, crítico, reflexivo, criativo, cooperativo e ético e com
forte formação técnica, considerando em seus trabalhos aspectos globais, políticos,
econômicos, sociais, ambientais e culturais (Brasil, 2019a, art. 3º).

Exercícios de avaliação de conteúdo

1.1. Em que sentido a matemática é uma ciência e por que dizemos que é uma
ciência “formal”?
1.2. Quais as etapas a serem seguidas por uma pesquisa que se orienta pela
metodologia científica?
1.3. Cite três áreas do conhecimento que podem ser classificadas como
Humanidades e três que podem ser classificadas como Ciências Sociais.
1.4. Por que não é adequado classificar as Humanidades como ciência?
1.5. Que particularidades existem na aplicação da metodologia científica às ciências
sociais, quando comparadas com a aplicação desta metodologia às ciências naturais.
1.6. Qual a diferença entre o método indutivo e o dedutivo?
1.7. Cite uma pergunta que você faria olhando a engenharia sob um ponto de vista
filosófico, histórico, ético e legal (uma pergunta para cada ponto de vista).
Que resposta(s) você daria às suas perguntas? (Uma rápida leitura nos temas 2, 10 e 14
deste livro poderá ajudar na sua resposta)

Exercícios vivenciais

1.8. Escolha uma área de conhecimento da engenharia (exemplos: geração de


energia, novos materiais, sistemas de comunicação ou outra do seu interesse) e, dentro
desta área, escolha um aspecto para ser pesquisado (exemplos: durabilidade dos
captadores fotoelétricos, características elétricas dos compósitos, configuração
otimizada de transmissores visando menor tempo de comunicação ou outro que mais
lhe interesse). Apresente uma proposta de metodologia de pesquisa para este tema,
baseando-se na metodologia científica.
1.9. Pesquise os métodos de validação das hipóteses (dialético, funcionalista,
estruturalista etc.) utilizados pelas ciências sociais e descreva um deles, buscando
exemplificar como é aplicado.
1.10. Identifique dois assuntos, com enfoque na engenharia, que sejam títulos de
áreas de conhecimento de cursos de mestrado ou doutorado, ou que estejam sendo
pesquisados por alunos de pós-graduação ou pela área de pesquisa de uma empresa ou
de uma instituição de ensino, que pode ser a sua. Identifique, para um dos assuntos, as
atividades (como pesquisa de campo, experimentos de laboratórios e métodos
estatísticos) que serão, estão sendo ou foram realizadas, para desenvolver a pesquisa
dentro de uma metodologia científica.
–2–
Engenharia: uma breve visão filosófica e histórica

Entre as reflexões que faremos, numa tentativa de enxergar a engenharia sob a ótica
das ciências sociais e humanas, a primeira delas tenta observá-la com uma visão mais
filosófica e responder à pergunta: o que é a engenharia? A resposta a esta pergunta dará
ao engenheiro em formação uma melhor dimensão da importância do seu papel social.
Para avançarmos nesta reflexão, nos guiaremos por uma análise da etimologia da
palavra engenharia e por um passeio sobre a tentativa de demarcar os contornos da
definição do que seja a profissão. Demarcando a profissão do engenheiro, poderemos
enxergar melhor o que o diferencia de outros profissionais com os quais partilha o
mesmo campo de atividades, notadamente, os técnicos e cientistas.
Na sequência desta reflexão, buscaremos identificar os elementos que interagem
propiciando um desenvolvimento sistêmico da atividade de engenharia.
A segunda visão que se quer ter da engenharia é pela janela da história. Esta nos dá
uma dimensão da grandiosidade da profissão e do espírito que a impulsionou durante
sua estruturação como área de conhecimento.
Assim, tentaremos delinear um esboço do desenvolvimento histórico da
engenharia. Para tanto, resumiremos seus principais feitos ao longo de sua história, a
qual tem como marco inicial as primeiras transformações que o ser humano impôs aos
elementos da natureza, de forma inteligente. Em seguida visitaremos, de forma breve, a
evolução do ensino da engenharia e, em particular, o ensino no Brasil.

Olhando a etimologia

A etimologia trata da origem e da evolução histórica das palavras.


Dentro da visão etimológica, a palavra “engenheiro” significa aquele que se ocupa
dos engenhos, uma vez que o sufixo “eiro” tem o significado de profissão, ofício,
ocupação.4
A palavra “engenharia” troca o sufixo “eiro” por “aria”. “Aria” tem o significado de
atividade, ramo de negócio. Engenharia é, portanto, o ramo de negócio que lida com os
engenhos.
A palavra “engenho”, por sua vez, deriva do prefixo, “in” ou “em” e da palavra
“geniu”. O prefixo “em” significa “movimento para dentro”;5 “geniu”, por sua vez, tem
entre outros significados o de “espírito inspirador ou tutelar das artes, paixões, virtudes
ou vícios” ou ainda “de capacidade mental criadora.”6 Engenho tem ainda o sentido de
faculdade inventiva, talento, habilidade, destreza; argúcia e pessoa engenhosa, que tem
talento e saber.7 Pode, ainda, ter sua origem atribuída ao in generare do latim, com
significado de faculdade de saber, criatividade (Holtzapple e Reece, 2014, p. 2).
Engenharia pode ser vista, assim, como a profissão exercida por quem traz dentro
de si este espírito inspirador da arte e a faculdade inventiva, fruto da capacidade mental
criadora: o engenheiro.
A primeira utilização da palavra engenho aludindo a uma invenção inteligente
parece datar de 200 d.C. (Holtzapple e Reece, 2014, p. 2), referindo-se a um
equipamento do tipo aríete como um ingenium, ou seja, uma invenção inteligente,
engenhosa.
O significado etimológico talvez seja o mais expressivo da profissão de engenheiro:
nesta perspectiva, ele é aquele que cria, que, de forma inteligente, ordena os elementos
da natureza, dando a eles novas formas de vida, expressões e existência. Criar, dar vida,
colocar um novo espírito nos elementos da Natureza é a arte do engenheiro.

Definição de engenharia hoje

Dada a diversidade de tarefas que um engenheiro executa hoje e os impactos que a


atividade de engenharia tem sobre a humanidade, não é simples descrever com poucas
palavras o que é a engenharia.
No seu sentido etimológico, a atividade de engenharia sendo a arte de criar os
engenhos já existe, praticamente, desde o início da história do homem. Criar
ferramentas, mesmo as mais rústicas, como as de pedra lascada, onde se dá vida e
expressão (utilidade) a um pedaço de pedra, já podia, dentro do sentido etimológico da
palavra, ser considerado um ato de engenharia.
Tomar um pedaço de tronco de árvore e transformá-lo numa ferramenta como
uma alavanca ou uma arma, dando a ele vida e utilidade, pode também ser considerado
como uma criação de um “engenheiro” primitivo.
Podemos dizer que a engenharia já existe desde o início da história da humanidade,
quando o ser humano começou a manipular a natureza buscando viabilizar e melhorar
a garantia de sua sobrevivência.
Dentro de uma visão atual, estas atividades primárias não podem ser consideradas
“engenharia”, mas talvez arte, guiada pela sensibilidade e intuição. Seria mais próprio, a
nosso ver, chamarmos estas atividades de “pré-engenharia”.
Não é fácil dizer em que momento o saber humano passou a usar sua racionalidade
e, de forma sistemática, passou a transformar a natureza, ou seja, a dar àquilo que
existia no mundo, de forma espontânea, novas formas e novas organizações definidas
pela sua vontade, organizando o que estava disponível na natureza de forma
inteligentemente ordenada.
Construir sistemas de drenagem e de irrigação, como ocorreu nas primeiras
civilizações da Ásia e da África, já era uma forma organizada e inteligente de se
interagir com aquilo que existia de forma espontânea na natureza. A esta atividade,
portanto, já seria adequado, dentro dos conceitos atuais, falarmos em engenharia.
As grandes construções ordenadoras dos espaços e da vida social, as estradas abertas
pelos romanos, os canais, aquedutos, templos e sistemas de transportes já merecem a
denominação de obras de engenharia.
Os engenheiros de então valorizavam mais a estética e tinham muitos de seus
princípios construtivos orientados por práticas e crenças, e com pouca fundamentação
racional. Dominavam a arte de fazer, mas não a ciência envolvida neste fazer.
Entendemos como adequado chamar esta engenharia de “engenharia técnica”, dando à
palavra técnica o sentido mais etimológico de “arte de fazer”.
Na engenharia técnica, a maneira de fazer era dominada pelos executantes das obras
e passada por estes mestres aos seus aprendizes e futuros mestres: futuros
“engenheiros”, que se tornariam detentores do conhecimento da arte de fazer – ou seja,
de como montar, quais materiais utilizar, da arte de desenhar e outras técnicas
necessárias à concretização destas obras de engenharia.
A engenharia como a entendemos hoje, no entanto, se caracteriza por ter seu saber
fortemente apoiado no conhecimento científico, ou seja, nas ciências.
Apesar de ter sua fundamentação nas ciências, a engenharia moderna não
renunciou à criatividade e à intuição que a norteou desde a pré-engenharia. Se
olharmos a montagem, o funcionamento da maioria dos equipamentos produzidos
pela engenharia, veremos ali a criatividade em ação.
Uma máquina de engarrafar produtos líquidos ou uma embaladora automática, por
exemplo, têm seus movimentos produzidos por mecanismos extremamente criativos.
São garras, manipuladores, esteiras e movimentos em geral, que não deixam dúvidas
quanto à criatividade daqueles que a projetaram. Esses engenhos começaram a existir
no pensamento de um engenheiro, o qual mais tarde se qualificaria como um inventor,
e têm seu estágio inicial de materialização impulsionado pela criatividade.
Assim, não é somente a ciência que concebe os engenhos modernos. Ela permite
entender e explicar os seus princípios de funcionamento. Os conhecimentos científicos
ajudam a definir critérios, técnicas e métodos usados em engenharia para dimensionar
as peças, escolher os materiais, definir as sequências de montagem e as partes a serem
reunidas para se conseguir o fim a que o “engenho” se propõe. A realização deste, no
entanto, continua tendo muito de criatividade e sensibilidade do artista-engenheiro.
O conceito de engenharia remete hoje ao que podemos chamar de “engenharia
científica”, por fundamentar nas ciências boa parte do saber utilizado na construção de
seus engenhos. O termo engenheiro remete hoje também ao pensamento ordenado –
que se apresenta dividido em partes que são constituintes do problema que se quer
resolver –, sistematizado – com causas e efeitos relacionados –, racional – organizados
e com conclusões suportadas pela lógica – e fundamentado em experiências validadas,
catalogadas e baseadas nos conhecimentos e métodos científicos. O resultado desta
prática profissional resulta em produtos que atendem, de forma otimizada e funcional,
às necessidades da sociedade.
Não é simples elaborar uma definição universalmente aceita para o termo
engenharia. No seu sentido criativo, ela pode ser entendida como uma arte; quando
assentada na ciência, como ciência aplicada. Pelo resultado de seus trabalhos, pode ser
entendida como responsável pela criação, ou no mínimo participação, na construção
do “hardware” social, ou seja, na construção de prédios, máquinas, ferramentas,
equipamentos, artefatos em geral, que vão de roupas a aparelhos cirúrgicos e de
utensílios domésticos a estações espaciais.
Pela sua forma de pensar, ordenada, sistematizada e racional, pode ser entendida
como um método de produção que pode ser aplicado em diversas atividades. Estas
atividades podem ser voltadas para a construção do “hardware” que a sociedade
necessita para funcionar e mesmo para a estruturação de atividades mais “softs”, como
as de planejamento, segurança, economia, entre muitas outras.
Nesta diversidade de formas de ver a engenharia, encontramos algumas tentativas
de circunscrever as atividades dos engenheiros, daqueles que fazem a engenharia, por
meio de definições.
Engenharia, quando enfocamos o uso do potencial da natureza, pode ser definida
como a “ciência pela qual as propriedades da matéria e as fontes de força na natureza
são feitas úteis para o homem através de estruturas, máquinas e produtos” (Lapedes,
1974, p. 493, tradução nossa).
Enfocando a aplicação da ciência e a sua matéria-prima, a natureza, podemos
aceitar a definição de engenharia como “a aplicação dos saberes científicos para criar
algum elemento de valor, a partir dos recursos naturais” (Cocian, 2017, p. 2).
Focalizando os conhecimentos e as habilidades que ela é capaz de reunir e na forma
de aplicá-los para obter seus resultados, podemos entender a engenharia como “a arte
profissional da aplicação da ciência, da experiência, do julgamento e do senso comum
para a conversão dos recursos naturais em benefício da humanidade” (Cocian, 2009,
apud Cocian, 2017, p. 2).
Também é possível definir como a atividade desenvolvida pelos engenheiros,
“indivíduos que combinam conhecimentos da ciência, da matemática e da economia
para solucionar problemas técnicos com os quais a sociedade se depara” (Holtzapple e
Rice, 2014, p. 1).
Olhando as ferramentas e o resultado, podemos chegar à conceituação proposta
pelo Ministério do Trabalho dos Estados Unidos para os engenheiros, como os
profissionais que “aplicam as teorias e os princípios da Ciência e da Matemática para
pesquisar e desenvolver soluções econômicas a problemas técnicos” (Wickert, 2013, p.
3).
Na internet,8 podemos encontrar muitas outras definições de engenharia.
De forma lúdica, a engenharia pode ainda ser definida como “a arte de fazer […]
bem, com um dólar, aquilo que qualquer outro pode fazer com dois” (Holtzapple e
Reece, 2014, p. 1).
Observada de uma forma ampla, vemos que as definições de engenharia podem
conceituá-la como arte, pela criatividade, e como atividade que aplica conhecimentos
científicos – das áreas das Ciências da Natureza e até mesmo das Ciências Sociais – nos
seus produtos criados.
As características do profissional que pratica a engenharia são as de elaborar seus
produtos com base racional – utilizando o pensamento lógico –, em uma abordagem
sistemática – buscando relações de causa e efeito nos seus trabalhos – e com
pensamento organizado.
O ferramental que utiliza nos seus produtos inclui a matemática, indo das
experiências acumuladas pelos profissionais que projetam, operam e mantêm os
“engenhos” até as ciências da natureza (física, química, biologia), as ciências sociais e
humanas (psicologia, teoria do conhecimento, economia, administração, por
exemplo), tendo como matéria-prima a Natureza com suas forças, energias e materiais.
Os seus produtos são máquinas, construções, equipamentos diversos e utensílios
utilizados pelas sociedades humanas que praticam a engenharia.
Suas preocupações vão da praticidade e otimização do uso dos seus produtos até os
cuidados com a preservação da natureza e da humanidade.

Engenheiro não é profissional técnico e nem cientista

Alguns engenheiros, quando começam a exercer suas atividades profissionais, se


sentem intimidados diante da experiência de profissionais que, sem a formação em
engenharia, são capazes de executar coisas que eles não sabem fazer. Assim são, por
exemplo, engenheiros-mecânicos que torneiam mal uma peça ou têm dificuldade para
fazer um cordão de solda elétrica; engenheiros-eletricistas que mal sabem executar uma
simples solda com estanho, ou apertar um conector num terminal de fio elétrico; um
formando em engenharia civil que não sabe montar uma ferragem para executar uma
estrutura de concreto armado.
Contudo, o engenheiro não é formado para estas atividades de execução. Seu
patamar de atividade se situa na determinação dos processos que devem ser executados,
nas suas sequências, nos critérios de cálculos para dimensionar uma estrutura, na
definição dos materiais e resistências necessárias nas estruturas a serem construídas, no
projeto dos circuitos eletroeletrônicos ou outras atividades que demandam
conhecimento das ciências puras e aplicadas, além de conhecimentos tecnológicos
sobre os princípios de funcionamento dos sistemas e equipamentos.
Sua formação, no máximo, deve envolver alguma experiência de execução que lhe
permita compreender os processos, as dificuldades vividas pelos que executam e ter
alguma familiaridade com equipamentos.
Aos profissionais técnicos e tecnólogos cabem as funções de execução e de
orientação para os profissionais que manipulam os equipamentos e as máquinas de
produção. Aos técnicos e tecnólogos cabe, ainda, a execução de desenhos e diagramas
na forma final e a elaboração de cálculos baseados em procedimentos padronizados.
Desta forma, os engenheiros, para materializarem seus produtos, necessitam do apoio
destes técnicos e tecnólogos ou, no mínimo, de profissionais com larga experiência em
execuções de campo.
Por outro lado, que não se confunda o engenheiro com o cientista. O engenheiro
pode trabalhar em pesquisa, mas não é um cientista. Cientistas e engenheiros podem
tomar mão, para o desempenho de suas atividades, das mesmas fontes de
conhecimento: as ciências, mas com diferentes propósitos.
O engenheiro aplica os princípios científicos nos seus produtos. Seu olhar é prático.
A ciência é meio para ele chegar ao seu produto “engenheirado”.
Já o cientista vasculha a natureza em busca de fenômenos instigantes e explicações
para eles. Por falta de espírito prático, nem sempre o cientista reconhece o valor da sua
descoberta. Ernest Rutherford (1871-1937), pai do modelo atômico que concebia que
existiam cargas positivas no núcleo do átomo, com elétrons girando ao redor deste
núcleo, é um caso exemplar. Em 1933, quatro anos antes de sua morte, disse que não
acreditava que a energia do núcleo atômico pudesse ser liberada, o que ocorreu nove
anos mais tarde.9
A engenharia, com seu espírito prático, toma os resultados da ciência e constrói
coisas surpreendentes e úteis à sociedade, incorporando, em muitos de seus produtos,
tecnologias oriundas de dois processos, que são a pesquisa tecnológica – ou pesquisa
científica aplicada – e o desenvolvimento do produto.
Pode-se dizer que

[…] o trabalho do engenheiro é diferente do trabalho do cientista, que normalmente enfatiza mais a
descoberta de leis do que a aplicação de tais fenômenos no desenvolvimento de novos produtos. A
Engenharia é essencialmente uma ponte entre uma descoberta científica e sua aplicação em produtos. A razão
da Engenharia não é o desenvolvimento ou aplicação da Matemática, da Ciência ou da Computação como
fim em si mesma. Antes, ela é um instrumento para a promoção do crescimento social e econômico e uma
parte integral do ciclo comercial. (Wickert, 2013, p. 3).

Para chegar às suas leis, o cientista se utiliza da pesquisa científica. Para chegar aos
seus produtos, o engenheiro toma mão da pesquisa tecnológica.
A pesquisa tecnológica não se confunde com a científica. A pesquisa científica é
ligada à ciência pura e é atividade dos cientistas. A pesquisa tecnológica busca
transformar o conhecimento da pesquisa científica em algo aplicado e útil à sociedade.
A pesquisa tecnológica é seguida pela atividade de desenvolvimento de produto,
que é, em geral, também realizada pelos engenheiros e por uma equipe com técnicos e
tecnólogos.
Para conceituarmos o que é a pesquisa tecnológica e o desenvolvimento de
produto, vamos tomar o exemplo da construção de sensores/geradores de sinais
ultrassônicos. Sabemos que a ciência descobriu que, quando aplicamos uma tensão
alternada em duas das faces adequadamente escolhidas de alguns materiais, como os
cristais, ocorre a oscilação de outras duas faces. A frequência de oscilação dependerá da
frequência da tensão alternada aplicada, podendo esta ser tal que gere um sinal
ultrassônico. Da mesma forma, se provocarmos oscilação das duas faces por aplicação
de esforços de compressão variáveis, será gerada uma tensão elétrica alternada em
outras duas. Estas ocorrências foram denominadas de efeito piezoelétrico e foram
descobertas nos anos 1880 pelos irmãos Jacques e Pierre Curie.
O efeito piezoelétrico é uma descoberta científica. O que fazem os engenheiros?
Pesquisam o potencial da descoberta científica e buscam aplicações por meio da
pesquisa tecnológica. Buscam também a melhor forma de construir os produtos a
serem comercializados, pelo desenvolvimento do produto.
Assim, com base no princípio piezoelétrico, depois das fases de pesquisa tecnológica
e do desenvolvimento do produto, a engenharia pode construir aparelhos ultrassônicos
como produtos de uso social, que podem ser utilizados para inspeções em materiais
diversos e diagnósticos de doenças, entre muitas aplicações.
Para chegar a disponibilizar um aparelho ultrassônico como um produto para a
sociedade, a engenharia passou, então, pelas fases de pesquisa tecnológica e de
desenvolvimento.
Durante o processo de pesquisa tecnológica, o engenheiro pesquisador buscou, no
exemplo dado, descobrir propriedades do efeito piezoelétrico testando diferentes
materiais e estabelecer relação entre as variáveis envolvidas nas medições, como as
faixas de frequências mais adequadas para trabalhar com o material pesquisado, quais
as menores e maiores falhas que poderiam ser detectadas com o uso do sensor
ultrassônico, quais os materiais que teriam boa resposta às medições e como melhorar a
qualidade das informações medidas, ou seja, dados para aplicações práticas e
possibilidades aplicativas para o material piezoelétrico.
O processo que se segue ao de pesquisa tecnológica é o de desenvolvimento do
produto. Nesta fase, busca-se definir, por exemplo, as melhores montagens para criar o
medidor físico, os melhores circuitos para fazer o material piezoelétrico vibrar, as
melhores formas de fixação e arrumação do produto e a melhor sequência de
montagem para gerar o produto final.
A fase de desenvolvimento do produto pode acontecer num laboratório ou numa
planta-piloto, em geral, construindo-se protótipos a serem testados. O resultado do
desenvolvimento é a disponibilidade de métodos de fabricação, técnicas de uso do
produto, aplicações recomendadas, dados funcionais do produto, correlações entre
variáveis para o produto final, comportamentos de diferentes materiais que podem ser
utilizados na construção, resultados de reações químicas, resistência dos materiais às
condições de operação, entre outros resultados, gerando dados para fabricação e uso do
produto. Como define o Dicionário de Engenharia, desenvolvimento é “o trabalho
exploratório requerido para determinar a melhor técnica de produção para trazer um
processo novo ou parte de um equipamento para o estágio de produção” (Parker, 1994,
p. 142, tradução nossa).
É adequado dizer que a pesquisa tecnológica foca no “saber por que” (know-why)
enquanto o desenvolvimento busca “saber como” (know-how). O “por que” se
relaciona com os princípios científicos aplicados no produto e o “como” com o
processo de construção e aplicação do produto. Dominar o know-why e o know-how é
dominar a tecnologia.
Assim, podemos dizer de outra forma que o engenheiro é o grande responsável pela
criação de tecnologia, executando funções que interligam a atividade dos cientistas
com a dos técnicos e tecnólogos.

Fatores que influenciam o desenvolvimento da engenharia

Muitos fatores influenciam o desenvolvimento da engenharia dentro daquela


sociedade que se beneficia com os seus serviços. Podemos distinguir dois tipos de
fatores: os conjunturais, que são relativos ao momento vivido pela sociedade, e os
estruturais, que são aqueles que fazem parte do funcionamento normal da sociedade.
São exemplos de fatores conjunturais as necessidades momentâneas das sociedades
em face de crises – como guerras, doenças e calamidades climáticas – que ameacem a
sua existência. Estas necessidades imperiosas estimulam estudos e investimentos nos
temas de interesse, podendo também impedir seus avanços.
São fatores conjunturais também as definições de políticas econômicas e sociais que
podem levar ao desenvolvimento de temas específicos, como, por exemplo, a decisão de
se substituir energias geradas pela queima de hidrocarbonetos por fontes de energia
renováveis, os investimentos em armas de defesa, a prioridade para as pesquisas
aeroespaciais e o desenvolvimento de aparelhos para diagnósticos médicos.
A disponibilidade de recursos investidos nas pesquisas em ciências puras e aplicadas
e na formação de profissionais (que tem forte relação com as políticas públicas) é outro
fator conjuntural de muita relevância.
Como fatores estruturais, destacaremos seis que consideramos relevantes para o
desenvolvimento da engenharia: a) a capacidade de geração de conhecimento; b) a
capacidade de difusão dos conhecimentos gerados; c) a capacidade de se criar novos
conceitos de produtos; d) o desenvolvimento e o domínio de novas técnicas; e) a
consolidação de know-how; f) o domínio de tecnologias avançadas.
Os seis fatores estruturais são interdependentes, e o progresso de um deles estimula
e permite o progresso dos outros cinco, e a interação destes, o desenvolvimento da
engenharia. Vejamos a importância de cada um.
a) Geração de novos conhecimentos

As ciências são as principais fontes de conhecimentos nas quais se embasam os


engenheiros para elaborar os cálculos, os modelos e princípios utilizados na construção
de seus produtos. É nas descobertas e leis das ciências, principalmente das ciências
naturais, que os engenheiros buscam fundamentar seus métodos de cálculos e as suas
justificativas para adotarem este ou aquele procedimento para execução de seus
produtos.
O conhecimento científico puro é, como vimos, da alçada dos cientistas, que
podem ser, inclusive, engenheiros dedicados às ciências. A pesquisa científica pura é
desenvolvida nas universidades – que têm a vocação natural para a pesquisa científica –
e, em muitos casos, em laboratórios de empresas.
A partir dos resultados das pesquisas científicas, a engenharia, por meio da pesquisa
tecnológica e do desenvolvimento, gera conhecimentos de engenharia, viabilizando a
aplicação prática dos princípios da ciência. Nestas atividades, são desenvolvidas
técnicas para utilização dos princípios científicos, são elaborados dados que permitem
relacionar variáveis físicas, químicas, biológicas, entre outras, as quais são utilizadas em
projetos e execuções de engenharia. Em resumo, são gerados conhecimentos de
engenharia.
Além das ciências puras e das pesquisas tecnológicas (ciências aplicadas), novos
conhecimentos são gerados pela experiência resultante da execução dos projetos de
engenharia e pelas informações concernentes a problemas decorrentes da aplicação real
dos produtos, que não puderam ser identificados nas fases de pesquisa tecnológica e
desenvolvimento.
Todos estes conhecimentos, se devidamente organizados, são utilizados para a
melhoria de novos projetos e para nortear procedimentos para execução, operação e
manutenção de novos produtos, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da
engenharia.

b) Difusão do conhecimento

Apesar de podermos falar da existência da atividade de engenharia desde milênios


atrás, considerando esta como uma arte que cria produtos a partir dos materiais e
forças existentes na natureza em proveito da humanidade, a atividade de engenharia,
tal como a entendemos hoje, passa a existir quando os conhecimentos necessários para
elaboração e implementação dos seus projetos são organizados e ensinados.
Com a organização dos conhecimentos, a engenharia passa a ser uma “ciência”, no
sentido de uma área de conhecimento. Estes conhecimentos podem ser ensinados,
entendidos e aplicados por outras pessoas que não os geraram inicialmente. Estas são
aprendizes, num sentido mais antigo do termo, ou estudantes, num sentido moderno,
dos cursos de engenharia.
A difusão dos conhecimentos de engenharia tem como principal vetor as escolas de
formação de engenheiros. É por meio delas que são transmitidas as informações e
conhecimentos julgados necessários para o exercício das atividades profissionais.
As escolas de engenharia, com os seus cursos de graduação e pós-graduação, não são
os únicos canais de difusão dos conhecimentos. As publicações especializadas, os
artigos que relatam resultados de pesquisas científicas e tecnológicas, os seminários e os
congressos que divulgam experiências vividas e as conclusões a que chegaram outros
profissionais são meios valiosos de difusão de conhecimento.
O conhecimento difundido é o que permite que cada um dos engenheiros possa se
dizer um anão montado em ombros de gigantes, pois, apesar de ter pouca experiência
pessoal, pode conhecer e utilizar a grande experiência já acumulada.

c) Criação de novos conceitos

Filosoficamente, o termo conceito é definido como a “representação dum objeto


pelo pensamento, por meio de suas características gerais” (Ferreira, 2009). Assim,
criando novas representações de uso para um dado objeto, artefato, circuito ou
equipamento, atribuiremos a ele novos conceitos. De forma simples, um copo pode
servir de recipiente para reter líquido, ou como um vaso para plantarmos algumas
sementes e flores, ou de abafador para apagar pequenas velas acesas, ou de lente para
determinados fins ou pode ser simplesmente um objeto decorativo, entre os inúmeros
conceitos que venhamos a atribuir a este mesmo objeto.
Como o conceito está associado à qualidade, ao uso, à forma de se representar
mentalmente alguma coisa, podemos conceituar, por exemplo, um aparelho celular
como um telefone, ou como um computador portátil, ou como um equipamento de
comunicação capaz de se conectar com redes sociais, dar acesso a informações úteis e
desempenhar outras funções de comunicação.
De forma mais simples, um pedaço de madeira resistente pode ser conceituado
como uma ferramenta de levantar cargas, como uma alavanca, ou pode ser conceituado
como uma arma para abater um animal, se olhado de outro ponto de vista. O que
muda não é o elemento físico, o que podemos, num sentido amplo, chamar de
tecnologia, mas o conceito do que é um pedaço de madeira, mudado de ferramenta
para arma.
Grandes avanços da engenharia têm sido feitos somente com a mudança de
conceito: a utilização das ondas eletromagnéticas para diversos fins, ou o uso do
mesmo processador eletrônico para diferentes aplicações, ou a utilização de um mesmo
material para diferentes finalidades, são exemplos gerais.
O conceito está ligado à criatividade. Quando aplicamos um mesmo circuito
eletrônico em novos equipamentos, quando usamos o mesmo drone como
equipamento de filmagem ou de salvamento, quando utilizamos um material
conhecido aplicando-o em novas construções ou quando utilizamos um satélite para
localização e não para simples mapeamento do espaço estamos dando aplicações novas
para as mesmas tecnologias, criando novas possibilidades de uso para o que já existe ou,
de uma forma geral, criando novos conceitos ou deslocando para novos fins, conceitos
já existentes. A nova conceituação ou o deslocamento de um conceito para outro
permite notáveis avanços dos produtos da engenharia.

d) Técnica

Na sua origem, a palavra técnica (do grego τέχνη, téchne) significa a habilidade
humana de fazer e produzir. Os romanos a traduziram com a palavra “arte” (Buzzi,
1983, p. 133). Técnica pode ser entendida como o procedimento ou o conjunto de
procedimentos para se fazer algo, com o objetivo de obter um determinado resultado,
seja no campo da ciência, da tecnologia, das artes ou em qualquer outra atividade.
A arte de se utilizar um pedaço de madeira como alavanca ou arma, por exemplo,
não depende só do conceito ou da aplicação que vemos possível para esse objeto, mas
de como o manipularemos, de como faremos para utilizá-lo como arma e como
alavanca.
De forma geral, a utilização de uma ferramenta, desde uma pedra lascada até um
bisturi a laser, não depende somente do conceito de uso ou da disponibilidade da
tecnologia, mas também de como manejá-la, de como manuseá-la, de como fazer para
utilizá-la. Chamamos de técnica a melhor forma ou a correta de utilizar ou executar
algo.
O domínio e o aprimoramento da técnica são fundamentais para o
desenvolvimento da engenharia. Saber usar os instrumentos, as ferramentas e operar os
processos são atividades do fazer técnico, sem os quais os produtos “engenheirados”
perderiam todo ou muito de seu valor. Termos ferramentas precisas, máquinas
inteligentes, raio-X, ultrassons e outras tecnologias à nossa disposição, de nada servirão
se não conhecermos a técnica de seu uso, os procedimentos e a forma correta de utilizá-
las.

e) Know-how

O know-how, literalmente, “saber como”, é, em sua essência, uma receita que


depende profundamente da técnica e da tecnologia.
Uma fábrica de bombons que foi muito conhecida no Brasil, sediada na cidade de
Vitória, teve seu nascimento pelas mãos de um imigrante alemão que fabricava e vendia
balas. Fazia as balas e, para cada dosagem de açúcar e dos demais produtos, anotava
num papel as proporções de mistura, os tempos de cozimento e as temperaturas ideais
para cada execução. Criou procedimentos. Ele tinha, assim, o know-how de fazer as
balas e, depois disto, desenvolveu o de fazer bombons.
A tecnologia da fábrica evoluiu de processos manuais de elaborar a mistura, separar
as proporções para os doces e embrulhá-los até a automação completa do processo,
onde a intervenção humana se tornou mínima. Para tal, a empresa teve que treinar
pessoas nas técnicas de utilização das novas tecnologias (aqui utilizando o termo
“novas tecnologias” como máquinas mais modernas) e adaptar máquinas que já
existiam para outras aplicações fabris na execução das tarefas de fabricação das balas e
bombons, utilizando, desta forma, o que já havia, com novos conceitos para o
atendimento das suas necessidades. Porém, apesar da tecnologia das máquinas
utilizadas para mistura, embalagem e outros processos, e das técnicas de utilização
destas máquinas, não seria possível produzir as balas nem bombons sem o
conhecimento da sequência de fabricação, das proporções das misturas, dos tempos de
cozimento e de como operar as máquinas, ou seja, sem o know-how.
O know-how não exige que se conheça a ciência que fundamenta os processos de
elaboração dos produtos, mas somente os procedimentos e as técnicas que, uma vez
seguidas, permitirão a obtenção do produto desejado. O “know-how” depende
fundamentalmente da experiência acumulada e sistematizada.
Assim, ao conjunto de experiências, técnicas e procedimentos de execução de um
produto chamamos de “como fazer” ou, utilizando a expressão inglesa, falamos em
termos o “know-how”.
Esta palavra, já incorporada aos dicionários brasileiros, pode abranger mais que os
procedimentos técnicos e de engenharia, englobando além destes os conhecimentos
culturais e administrativos.10 Não se trata aqui, portanto, só da técnica, mas também
da sequência de ações, operações e procedimentos que, em conjunto, permitem que
algo seja feito.

f) Tecnologia

O termo tecnologia tem sido utilizado de forma muito abrangente. Utilizando-o,


podemos estar nos referindo à complexidade dos princípios de funcionamento de um
equipamento, à sua atualidade no que tange às partes que o compõem ou às facilidades
que nos oferecem. Neste sentido, falamos de equipamentos de alta tecnologia, de
tecnologia ultrapassada, de tecnologia avançada e outros termos que dão a dimensão da
complexidade e atualidade dos princípios científicos, processos construtivos e funções
envolvidas no equipamento considerado.
Podemos também utilizar a palavra tecnologia para referenciar o processo de
materialização de um produto, partindo do seu princípio científico e indo até a sua
colocação no mercado. Aqui é utilizada para referenciar o conhecimento dos
princípios científicos que suportam o produto, da sequência de processos e operações
para se fazer o produto e do conhecimento dos fenômenos que se passam no interior
destes processos e operações.
Neste sentido falamos em: a) domínio da tecnologia de algo, quando sabemos
como e por que fazemos este algo; b) em absorção da tecnologia, quando assimilamos
de outros que dominam a tecnologia, os conhecimentos deste fazer; c) em tecnologia
reversa, quando a partir de algo existente vamos em busca dos princípios que o fizeram
existir, saindo do produto e indo até os princípios científicos; d) em processos de alta
tecnologia quando falamos, por exemplo, de processos de fabricação complexos ou
dominados por poucos.
Podemos, ainda, usar o termo tecnologia para falarmos do seu desenvolvimento.
Neste caso, tecnologia se refere ao conjunto de conhecimentos necessários para se
produzir algo, conhecimentos desenvolvidos a partir da pesquisa tecnológica e do
desenvolvimento do produto. Neste sentido, tecnologia denota ainda o domínio do
know-why (saber por que as coisas são feitas da forma como são feitas) e do know-how
(domínio dos procedimentos necessários para se executar um determinado produto).
Falamos também de tecnologia nos referindo aos meios materiais que permitem
que seja feito o que será feito. Neste sentido, falamos, por exemplo, de tecnologia para
levantar cargas, quando nos referimos a uma simples alavanca, a uma talha manual, a
um guindaste mecânico ou a um guindaste magnético. Estas “tecnologias” para
levantamento de cargas só são de fato disponíveis se dominamos as técnicas do seu uso.
A posse da tecnologia, o domínio da tecnologia, usada a palavra tecnologia com o
sentido de meios materiais, permite que a engenharia caminhe para novos patamares.
É com a tecnologia de informática que podemos avançar na modelagem
matemática de novos processos e produtos a serem construídos pela engenharia; é com
a impressora 3D que podemos fabricar novas ferramentas que permitirão dar mais
precisão aos processos de fabricação e, assim, obtermos novas formas em engenharia.
Enfim, o fator tecnologia, produto da própria engenharia, atua para impulsioná-la mais
ainda.
No Dictionary of Scientific and Technical Terms, tecnologia é definida como o
“domínio do conhecimento sistemático de alguma coisa e a sua respectiva aplicação ao
processo industrial; relaciona-se intimamente à ciência e à engenharia” (Lapedes, 1974,
p. 1477, tradução nossa).
O domínio do “conhecimento sistemático” pode, neste caso, englobar o domínio
dos princípios científicos e dos processos de fabricação, ou seja, da sequência de se
fabricar e montar e do domínio do conhecimento sobre a melhor forma de operar algo.

A interação dos seis fatores estruturais

Considerando os seis fatores estruturais apresentados nos parágrafos anteriores,


podemos dizer que o avanço em um fator qualquer impulsiona os demais, num
processo realimentado pela própria engenharia, como representado na figura 2.

Figura 2 – Interação dos fatores estruturais que impactam o desenvolvimento da


engenharia

Fonte: Autor.

Assim, quando se cria uma técnica, esta nova forma de fazer se transformará em um
novo conhecimento. Com ele, pode-se fazer algo de forma mais simples, mais precisa,
com menor custo, viabilizando novos procedimentos (know-how), novos conceitos e
novas tecnologias.
Se temos uma nova tecnologia mais robusta e eficiente, podemos produzir mais e
melhor – como, por exemplo, com uma impressora 3D –, com mais qualidade e
precisão, produzindo máquinas, ferramentas e produtos que podem gerar novos
conceitos e exigir novos procedimentos e formas de fazer (novo know-how e novas
técnicas).
O ciclo de realimentação contínua representado na figura 2 pode gerar o que
chamaríamos de avanço ou desenvolvimento incremental da engenharia, ou seja,
aquele que ocorre sem “saltos”, de forma gradativa e contínua, ou o avanço abrupto ou
descontínuo da engenharia.
Os avanços abruptos estão, em geral, associados a uma nova descoberta científica
ou uma nova criação tecnológica com conteúdo completamente novo. Assim, por
exemplo, a descoberta da característica semicondutora de materiais à base de silício
permitiu a criação de artefatos completamente novos no campo da eletrônica, trazendo
uma descontinuidade em relação à tecnologia utilizada para construção dos
dispositivos eletrônicos.
Os avanços incrementais são os mais comuns em engenharia e são entendidos,
muitas vezes, como aprimoramentos. Comparados à distância no tempo, pode-se
observar sua ocorrência e seus resultados de forma evidente.
Assim, se compararmos a indústria da aviação, iniciada no início do século XX,
com os equipamentos de voo do século XXI, podemos notar que houve um grande
avanço no que diz respeito às tecnologias de motores, às técnicas de navegação, aos
procedimentos de segurança e aos conceitos dos equipamentos de voo. A maioria
destes avanços foram, no entanto, incrementais.
Avanços descontínuos no campo aeronáutico foram trazidos com os motores
chamados “a jato”, com os foguetes que utilizam tecnologia de propulsão diferenciada,
com os sistemas de navegação de controle remoto e com características diferenciadas
de materiais para permitir a navegação aérea fora da atmosfera terrestre.
Podemos ilustrar a interação dos seis fatores estruturais de desenvolvimento da
engenharia retomando o exemplo do princípio piezoelétrico e da construção, a partir
deste princípio, de medidores ultrassônicos.
A descoberta do princípio piezoelétrico foi fator que permitiu o desenvolvimento
de produtos da engenharia com base neste princípio, porém, se a ciência do princípio
piezoelétrico não tivesse sido difundida, não teria chegado ao conhecimento daqueles
encarregados da pesquisa tecnológica e do desenvolvimento de produtos. Precedendo à
pesquisa tecnológica, houve a criação de um conceito de medidor. A pesquisa e o
desenvolvimento produziram técnicas de utilização e procedimentos de fabricação
(know-how) que viabilizaram a tecnologia dos medidores ultrassônicos. Estes
medidores, utilizados pela própria engenharia, permitem o avanço dos seis fatores de
desenvolvimento.
Outro exemplo é o da evolução das ferramentas. O início da história das
ferramentas pode ser pensado a partir das primeiras ferramentas de pedra lascada. Com
estas, as de pedra polida puderam ser feitas e, com o uso destes artefatos, foram
desenvolvidas ferramentas de metal e de corte a laser, por exemplo, numa escalada em
que podemos observar uma tecnologia permitindo o desenvolvimento de outra, com a
exigência de novas técnicas e assim por diante, num processo continuamente
realimentado. Se a engenharia cria uma nova tecnologia, esta permitirá novos
procedimentos, exigirá novas técnicas e assim sucessivamente.
Em resumo, o movimento em um dos seis fatores estruturais altera os demais, os
quais, se alterando, modificam os outros, num processo sistêmico e continuamente
realimentado.
Transformando a ciência em tecnologia, ou seja, “engenheirando” a ciência, a
engenharia avança e cria ferramentas para o desenvolvimento da sociedade e do seu
próprio desenvolvimento enquanto fenômeno social.
Assim, quando a engenharia modifica a sociedade por conta de alguma criação sua,
ela também é modificada pelo resultado social desta mesma criação.

Breve visão histórica da engenharia

Do ponto de vista histórico, vimos que podemos identificar três momentos da


engenharia: a pré-engenharia, a engenharia técnica e a engenharia científica. Nenhum é
menos surpreendente que o outro.
Como poderíamos deixar de admirar os artefatos de pedra e de outros materiais
primitivos construídos pelos primeiros humanos inteligentes que habitaram o planeta?
A construção de ferramentas de pedra, de máquinas simples como as alavancas, os
troncos roliços e a roda – que facilitaram os trabalhos de levantamento de pesos e
movimentação de cargas pelos mais antigos habitantes humanos do planeta,
aumentando a sua capacidade de força e de ação – são engenhos simples, mas da maior
importância no desenvolvimento da humanidade.
As primeiras armas e os primeiros trajes de proteção do corpo podem ser
considerados desenvolvimentos da criação humana e, num sentido primitivo,
atividades de engenharia, ou da pré-engenharia, numa nomenclatura mais precisa.
Podemos dizer, assim, que conceitualmente, a pré-engenharia, como atividade
humana, começou nos primórdios da humanidade sem uma sistematização e sem
grandes projetos.
São obras conduzidas pela intuição e criatividade de seus autores, das quais
resultaram as primeiras técnicas humanas. Estes “engenhos” não são elaborados com
regras estritas ou fórmulas e procedimentos formalmente definidos: são feitos a gosto e
sentimento de seus executores.
Algumas técnicas, como a metalurgia, por demandarem procedimentos mais bem
definidos para a obtenção dos resultados desejados, podem ser denotadas como um
saber mais avançado, mas ainda distante do científico.
Não menos impactante aos olhos dos homens comuns e dos engenheiros dos
nossos dias são as obras de engenharia da Antiguidade. Os sistemas de canais e de
irrigação da Mesopotâmia e do Egito; as pirâmides do Egito e das civilizações maias e
astecas da América pré-colombiana; o Farol de Alexandria, na África; as Grandes
Muralhas chinesas; o Parthenon grego; a Via Ápia e o Coliseu em Roma; as
embarcações gregas e fenícias; as armas de guerra utilizadas antes de Cristo; os
aquedutos e estradas romanas e os canais e túneis, como o túnel de Samos, na Grécia;
esses são alguns exemplos relevantes desta fase da engenharia, que chamamos de
“engenharia técnica”. Pode-se encontrar “engenheiros” no Egito, como Imhotep, a
quem se atribui o projeto e a construção da pirâmide de Djoser, por volta do terceiro
milênio antes de Cristo (Holtzapple e Reece, 2014, p. 9).
Notáveis também são os avanços nos transportes por mar, com novidades nas
embarcações e nos artefatos náuticos. Os gregos, por exemplo, desenvolveram a âncora
no século VII a.C. (Ducassé, 1962, p. 42), inventaram novos tipos de barcos e
desenvolveram arranjos de portos, quebra-mares e cais.
Os antigos gregos também desenvolveram máquinas, tanto no domínio civil como
no militar. As invenções mecânicas de Arquimedes (287 a 212 a.C.) não deixam
dúvidas quanto ao domínio da mecânica pelos antigos, uma vez que utilizavam
engrenagens de madeira, parafusos e sistemas de alavanca para ampliação da força nos
vários sistemas mecânicos que desenvolveram, como a catapulta e os sistemas de
içamento de portões. Arquimedes esclareceu por completo o princípio da alavanca, a
qual já era aplicada desde o início da humanidade.
A força motriz do vapor também foi experimentada pelos gregos, como se evidencia
na bola de Héron, uma espécie de turbina de reação que fazia girar uma esfera pela
impulsão de jatos de vapor.
Os progressos na metalurgia, e especialmente da metalurgia do ferro […] [aparecem] entre o 6º e o 3º milênio
(a.C.), simultaneamente desde o Egito à Mesopotâmia e ao Indo […] [Nesta época] o Mediterrâneo
Ocidental e a Ásia Ocidental possuíam a complicada e poderosa utensilagem da fundição e da forja (Ducassé,
1962, p. 30).

Prensas também foram encontradas nas pinturas em Pompeia, demonstrando o


conhecimento que o Ocidente tinha destes equipamentos que vieram a ser de grande
importância para a criação da máquina de Gutemberg, no século XV.
Estas e muitas outras realizações são testemunhas da atividade humana no que se
pode chamar de “engenharia” na Antiguidade e ainda causam admiração aos
engenheiros de nossos dias.
Seja pela sua imponência ou pela sua engenhosidade – no sentido de criatividade e
inteligência –, as obras da Antiguidade podem ser olhadas como obras de engenharia.
No entanto, como discutido anteriormente, por serem mais conceituadas como arte e
terem pouca ou nenhuma aplicação do conhecimento científico, não fazem jus ao
título de engenharia no sentido contemporâneo do termo.
Caminhando no tempo, chegamos à Idade Média. Apesar de ainda serem mais
guiadas pela intuição e mais arte que ciência, as construções da Idade Média exigiam
conhecimentos específicos e procedimentos de fazer definidos. O uso da mistura de
cal, do óleo de baleia, das pedras, de formas mais resistentes nas estruturas das
construções e outros conhecimentos cujo saber não era mais tão intuitivo e criativo,
mas transmitido de forma sistemática entre o mestre e o aprendiz, dão às obras dessa
época uma roupagem mais formal.
As obras de “engenharia” dessa fase histórica se desenvolveram sob o manto da
experiência, do domínio de técnicas e ainda com grande proporção de intuição e
prática, não deixando de transparecer a criatividade nelas contida. Por esta razão, pelo
uso da experiência, pelo domínio dos procedimentos e dos processos de execução, nos
parece justo o nome de engenharia-técnica para a “engenharia” desenvolvida nessa fase.
O conceito moderno de engenharia, que tem sua base em conhecimentos científicos,
ainda não se aplica.
A Idade Média destacou-se nas construções, principalmente as de cunho religioso, e
pela conquista das forças motoras a partir das rodas d’água, já ensaiadas na antiguidade,
e dos moinhos de vento. A partir do século XII, os moinhos de vento multiplicaram-se,
principalmente nas regiões com poucos rios ou onde estes congelavam. “No século
XIII contavam-se cerca de 120 moinhos de vento nos arredores de Ypres, [Bélgica]”
(Jean, 1976, p. 30).
A Idade Média preservou também alguns avanços na siderurgia, produzindo
trabalhos bem-acabados em latão, cobre e ferro, principalmente o forjado. O ferro teve
vital importância na Idade Média para fabricação de instrumentos agrícolas, os quais
eram protegidos por este metal, nas construções em geral e na fabricação de armas de
guerra e ferradura para os cavalos. Os “engenheiros medievais […] foram os primeiros
que souberam adaptar a energia hidráulica à metalurgia” (Jean, 1976, p. 41), acionando
pesadas ferramentas, como martelos para forja.
São da Idade Média invenções como as lunetas e os óculos, desenvolvidos ao longo
dos séculos XII e XIII, bem como o aprimoramento da tecelagem em seda, do binóculo
e da pólvora para canhão.
Com o avanço da história e com o crescimento de uma classe mais comercial e
capaz de reorganizar a cultura, ocorreu a valorização da arte e da razão, levando a
humanidade a entrar na era conhecida como Renascimento, a qual marcou a Europa
desde o final do século XIV até o final do século XVI. Nesse período, a engenharia
ganhou um conceito mais preciso, porém ainda com uma conotação mais de arte do
que de ciência.
As obras de construção ditas civis atingiram naquela época níveis admiráveis até
hoje. São exemplos a igreja de São Pedro, no Vaticano, e o Palácio do Louvre, na
França.
As artes mecânicas se desenvolveram, e exemplos desta engenharia Renascentista
são os trabalhos deixados por Leonardo da Vinci, o qual estabeleceu, conceitualmente,
projetos de asas voadoras, sistemas de transmissão por engrenagens, bombas de
elevação de água, bicicletas, sistemas de elevação de carga e muitos outros.

Figura 3 – Inventos de Leonardo da Vinci


Asa voadora | Bomba d’água tipo parafuso | Sistema de içamento
Fonte: fotos tiradas pelo autor. Exposição Leonardo da Vinci, Florença, 2012.

Os desenvolvimentos da engenharia naval na Espanha e em Portugal,


impulsionados pela redescoberta e pelo aperfeiçoamento da bússola chinesa, ainda no
século XII, e dos aparelhos de navegação, bem como das técnicas de uso destes
aparelhos, permitiram o desenvolvimento da cartografia e melhor orientação no mar.
A construção das caravelas, da nau redonda e dos galeões são ainda exemplos dos traços
deixados pela engenharia náutica nos preâmbulos da época moderna.
É notória, ainda, a evolução do antigo relógio hidráulico para os relógios de peso, os
quais, por sua vez, levaram aos relógios de pêndulo, do século XVII, e aos de mola, nos
séculos XVII e XVIII, permitindo uma melhor demarcação do tempo (Ducassé, 1962,
p. 75-6).
Embora o uso dos caracteres de madeira, tinta para impressão e do papel já fosse do
conhecimento dos chineses, o aperfeiçoamento da impressão com tipos móveis,
atribuído ao alemão Johannes Gutemberg (1398-1468), pode ser marcado como um
ponto-chave para o desenvolvimento e a difusão do conhecimento na Renascença,
incluindo o conhecimento científico.
Com o aparecimento dos primeiros experimentos embasando conhecimentos,
pode-se falar, de forma mais rigorosa, da existência da engenharia a partir do século
XVIII. Ao longo desse século, os conhecimentos envolvidos na atividade foram
organizados, e boa parte deles passou a ter base científica e, com esta base, foram
aplicados em obras de engenharia.
Com o avanço dos anos e a chegada da Revolução Industrial, ainda em sua primeira
fase, nos séculos XVIII e XIX, avanços notáveis na engenharia podem ser destacados.
Sem abrir mão do espírito inventivo, da intuição técnica e da experiência acumulada,
os engenheiros passaram a fazer, pouco a pouco, uso da ciência nos seus engenhos.
A construção das máquinas a vapor, por exemplo, que envolve processos
termodinâmicos, não foi desenvolvida com base nestes conhecimentos, uma vez que a
teoria de base para as máquinas térmicas só foi desenvolvida por Sadi Carnot (1796-
1832) no século XIX, e as máquinas a vapor começaram a funcionar ainda no século
XVIII.
Da mesma forma, os conhecimentos de resistência dos materiais utilizados para
dimensionamento de estruturas diversas não eram disponíveis quando, por exemplo, a
Basílica de São Pedro, em Roma, foi construída. A Basílica começou sua construção na
primeira década do século XVI, sendo concluída na segunda década do século XVII.
Como a primeira notícia que se tem de estudos sistemáticos sobre resistência dos
materiais é de 1638 – portanto, durante a terceira década do século XVII, sendo estes
desenvolvidos e sistematizados no livro escrito por Galileu, As Duas Novas Ciências,
que, entre outros, trata deste assunto (a Lei de Hooke é de 1660) –, estes
conhecimentos não foram utilizados na construção da Basílica e em nenhuma outra
obra anterior.11
Desta forma, a engenharia com base científica, que chamaremos de “engenharia
científica”, que é o que entendemos por engenharia hoje, só pôde existir depois que a
ciência tomou corpo, o que se deu após a criação do “método científico”.
O método que viabilizou o conhecimento dito científico é devido a pensadores e
pessoas práticas. Dentre estes pensadores podemos destacar Francis Bacon (1561-
1626), considerado o fundador da ciência moderna, pelo método que propôs para
validar as verdades sobre a natureza.
Outro nome relevante é o de René Descartes (1596-1650). Ele desenvolveu o
método de descrever formas físicas e medidas, por intermédio da matemática,
inventando a geometria analítica. Além da geometria analítica, Descartes propôs o seu
conhecido método que também foi subsídio para o desenvolvimento do método
científico. Este consistia em dividir o objeto de estudo em partes mais simples,
estudando estas partes e tirando delas evidências, agrupando-as novamente em um
todo e enumerando as conclusões de forma ordenada.
Embora simples aos olhos de hoje, o método cartesiano organizou a forma de se
pensar e analisar a natureza e está descrito no livro Discurso do Método, de Descartes,
publicado originalmente em 1637.
Os pensamentos de personagens como Voltaire (1694-1778), que incentivou e
enalteceu o espírito mecânico, como Benjamin Franklin (1706-90), o inventor do
para-raios e homem dotado de notório espírito prático, e como Denis Diderot (1713-
84), que se preocupou com o progresso e a difusão de técnicas industriais, também
foram de fundamental importância para a consolidação da engenharia moderna.
Quanto aos homens de espírito prático e realizador, estes não dispensaram a
sistematização dos conhecimentos e a utilização do método científico proposto pelos
pensadores. Este método tinha a experiência e a observação dos fenômenos físicos
como fundamento das suas conclusões.
Dentre os notáveis homens de espírito prático, podemos citar ainda Nicolau
Copérnico (1473-1543), que demonstrou que a Terra girava em torno do sol, e
Galileu Galilei (1564-1642). Este último, negando a ciência antiga, de origem
Aristotélica, tomou ações no sentido de elaborar experiências capazes de demonstrar
suas afirmativas sobre o mundo e tirar, dessas experiências, conclusões embasadas.
Galileu acreditava na possibilidade da descrição matemática do mundo, seguindo
uma tradição que vinha desde Pitágoras. Suas experiências buscavam relacionar as
variáveis físicas, matematicamente. Por suas afirmativas e pelo seu método
questionador, foi acusado de inimigo da fé.
Pelo seu espírito teórico e prático, é de destaque Isaac Newton (1642-1727).
Brilhantemente, ele descreveu o movimento dos corpos em seu livro Principia
(Princípios Matemáticos da Filosofia Natural), que é mais considerado como um livro
de filosofia do que de ciência, no qual, por meio de uma simples equação capaz de
relacionar as forças que atuam sobre o corpo e o seu momento linear ou aceleração,
descreve as leis da gravidade e dos movimentos dos corpos. Além da importância de
Newton para a mecânica, suas observações e experiências englobam fenômenos de
transmissão da luz, e a ele é atribuída a construção do primeiro telescópio reflexivo.
O desenvolvimento do cálculo diferencial, que permitiu o avanço da aplicação da
matemática à natureza, e que é hoje ferramenta correntemente utilizada em
engenharia, tem em Newton e em Leibniz (1646-1716) os seus grandes mentores.
Num prolongamento das atividades da Idade Média, a Idade Moderna desenvolveu
técnicas metalúrgicas com a utilização do carvão de pedra. A fabricação do ferro
fundido, com a utilização do coque e o desenvolvimento do processo de pudlagem
(liquefação e oxidação do ferro), em 1783 (Ducassé,1962, p. 86-7), permitiu o
desenvolvimento do que já se poderia chamar de engenharia metalúrgica, a qual vai
tomar corpo no século XIX.
A mecanização das técnicas de fiação e tecelagem também se desenvolveu na Idade
Moderna, principalmente na Inglaterra, substituindo, em muito, o trabalho braçal
humano. Sir Richard Arkwright (1732-92) construiu uma fiadeira hidráulica (water-
frame), já acenando com a mecanização dos processos têxteis. James Hargreaves (1720-
78) criou, no final da década de 1760, a spinning-jenny, que era uma roda com vários
fusos, aperfeiçoada ainda mais por Samuel Crompton (1753-1827), em 1774,
terminando por criar a mule-jenny. A engenharia mecânica começa a ganhar seus
contornos.
A mecânica avança com a utilização de correias para transmissão do movimento e
de peças de metal nas máquinas, o que deu maior robustez e eficiência ao maquinário
que se desenvolvia. Em 1784, Edmund Cartwright (1743-1823) desenvolveu um tear
que foi exportado para a França. A disponibilidade de equipamentos voltados para a
indústria se multiplicou com o desenvolvimento das máquinas a vapor no início do
século XIX.
O interesse pelo estudo dos gases e vapores também foi grande na Idade Moderna.
De início, não por seus fins práticos, mas pelo interesse no conhecimento puro.
Destes estudos foram equacionadas as leis de pressão dos gases, lei de Boyle e
Mariotte, o estudo químico dos componentes do ar atmosférico e das suas
propriedades.
Aplicando a propriedade elementar das diferenças de densidade dos gases, são feitas
as primeiras tentativas de elevar o homem ao ar, com o uso de um globo cheio de gás,
por iniciativa dos irmãos Montgolfier (1782) e pelos “aeróstatos” de Charles e Pilâtre
de Rozier (Ducassé,1962, p. 99).
Denis Papin (1647-1712), a partir de 1690, com seu espírito inventivo e
empreendedor, desenvolveu, de forma completa, uma máquina a vapor. “Conseguiu
mesmo fazer mover por meio da sua máquina um barco de rodas, mas os barqueiros de
Wesser, com receio de uma concorrência perigosa, destruíram a máquina e o barco”
(Ducassé, 1962, p. 101).
Máquinas a vapor, na época referenciadas como “bombas de fogo”, já tinham sido
ensaiadas por Edward Somerset (1601-67), desde 1628, mas só foram definitivamente
aplicadas em bombas para esgotamento de minas na Inglaterra, em 1698.
O trabalho de desenvolvimento das máquinas a vapor se consolidou com o
operário ferreiro inglês, Thomas Newcomen (1664-1729). A máquina a vapor de
Newcomen é uma máquina de dois tempos, onde a pressão do vapor faz subir um
pistão e no qual, a seu tempo, é injetada água fria em seu interior, formando vácuo e
forçando o pistão a descer, dando assim o movimento alternativo ao pistão.
A baixa eficiência da máquina a vapor de Newcomem foi resolvida pela criatividade
de James Watt (1736-1819), que, estudando o funcionamento da máquina enquanto
trabalhava na manutenção de uma delas (Burns, 1978, p. 669-70), criou meios de
aproveitar melhor a energia do vapor pelo seu uso na sua forma energética maior, pela
redução das perdas calóricas da máquina e pela introdução do condensador no
funcionamento do sistema.
Watt, com o investimento de tempo e recursos materiais nas suas pesquisas, foi
abraçado por um industrial, Boulton, que fundou com Watt a industriosa empresa
Boulton e Watt. A possibilidade de se produzir o vapor d’água fora dos leitos dos rios
com a maior independência das circunstâncias naturais permitiu que a máquina a
vapor fosse utilizada em diferentes aplicações, se tornando um “escravo mecânico”.
A partir do século XIX, a ciência e a indústria andaram mais próximas. Os
desenvolvimentos de uma impactavam mais de perto os da outra. Os equipamentos
industriais começaram a sair dos laboratórios para as indústrias.
Já na França, durante a Revolução Francesa, industriais e cientistas se uniram na
busca de atender às necessidades do povo francês rebelado contra os reis. O laboratório
vai pouco a pouco se aproximando da fábrica e os engenheiros, ou aqueles que
cuidavam da fabricação e funcionamento dos “engenhos”, iam ganhando mais
notoriedade como profissionais.
O aprimoramento dos instrumentos de medição e de observação se torna
necessário de forma a dar mais precisão e permitir a verificação dos resultados dos
laboratórios e das construções neles baseadas. Com eles, a engenharia se torna mais
técnica.
Sob a batuta da modernidade avança também a ótica com lunetas, microscópios,
binóculo prismático e com os recursos necessários para o desenvolvimento futuro da
fotografia e do cinema.
O processo de fabricação do aço é também desenvolvido. Em 1856, Sir Henry
Bessemer (1813-98) descobre que a injeção de um jato de ar no ferro eliminava grande
parte do carbono nele contido, dando-lhe outras propriedades; consolida-se, assim, o
processo de fabricação do aço (Burns, 1978, p. 675).
Na indústria química, com a sua incipiente engenharia química, os
desenvolvimentos dos laboratórios são levados rapidamente para a prática das
indústrias. São gerações de químicos que, como Antoine Lavoisier (1743-94), aceleram
os passos do conhecimento da área, permitindo sua aplicação em diferentes ramos da
vida social, da alimentação à medicina, com o uso de anestésicos, por exemplo. “Vê-se,
assim, a coluna fracionadora da indústria química imitar em ponto grande a proveta de
laboratório” (Ducassé, 1962, p. 119).
A revolução industrial, com a crescente demanda de energia, levou ao melhor
desenvolvimento das antigas rodas hidráulicas, criando turbinas hidráulicas de maior
eficiência e, em 1832, conforme Ducassé (1962, p. 126), o engenheiro francês Benoit
Fourneyron (1802-67) construiu uma turbina hidráulica com rendimento de cerca de
70%.
Inspirados nos desenvolvimentos hidráulicos e nos resultados das máquinas de
vapor, o sueco Gustaf Laval (1845-1913) e, de forma independente, o inglês Charles
Parsons (1854-1931) desenvolveram eficientes turbinas a vapor. Laval desenvolveu a
chamada turbina de ação, e Parsons, a turbina de reação.
O outro desenvolvimento de engenharia que teve grande impacto no mundo
moderno foi o motor de explosão. Apesar das experiências anteriores com motores, em
que a explosão de pólvora gerava as forças motoras, somente em cerca de 1860 é que se
considera que um motor realmente eficaz foi construído pelo engenheiro francês,
nascido na Bélgica, Ètienne Lenoir (1822-1900), que utilizou uma mistura de ar e de
gás de iluminação para explodir e deslocar um pistão num cilindro.
Posteriormente, Étienne Lenoir substitui o gás de iluminação por petróleo, dando
um impulso decisivo para o desenvolvimento da indústria de petróleo, mas ainda
trabalhando com um motor de baixa eficiência. A eficiência do motor de explosão só
foi melhorada com o desenvolvimento do motor de 4 tempos por Beau de Rochas
(1815-93), em 1861. O motor de 4 tempos foi aplicado por Nikolaus Otto (1832-91),
na Alemanha, tornando definitivo seu uso.
Com o motor de explosão, outros desenvolvimentos do mundo moderno tiveram
lugar como os automóveis e a aviação. A aviação se desenvolveu com a possibilidade de
dirigibilidade dos aeróstatos, transformados, então, em dirigíveis. Um dos grandes
experimentalistas e impulsionador dos dirigíveis e que foi o primeiro a realizar a
façanha de viabilizar um dirigível foi o engenheiro brasileiro Santos Dumont, que
muito trabalhou no tema entre 1898 e 1901. Não tardaria que a engenharia
desenvolvesse os aviões, com princípios diferentes dos dirigíveis e muito mais
eficientes.
Outro avanço importante no campo dos motores foi o do motor a diesel
desenvolvido pelo engenheiro alemão Rudolf Diesel (1858-1913), em que a
combustão se dava progressivamente, produzida pela compressão dos gases, e não pela
explosão repentina provocada por uma centelha.
Os motores mais revolucionários, no entanto, foram os elétricos. Ainda no século
XVI, a descoberta das propriedades do ímã por William Gilbert (1544-1603),12
introduzindo a palavra eletricidade derivada da palavra elétron (do grego âmbar), abriu
caminho para a criação dos motores elétricos, ainda no século XVIII, e dos geradores.
A primeira máquina elétrica foi construída entre 1640 e 1670 por Otto von
Grericke (1602-86). As descobertas de Alexandre Volta (1745-1827) no final do
século XVIII, culminando com a construção da primeira pilha, permitiram novas
frentes de trabalho para os engenheiros-cientistas de então.
Sábios como Ampère, Faraday e Laplace estudavam experimentalmente os
fenômenos elétricos, estabelecendo as propriedades magnéticas e as leis da eletricidade.
Coube ao operário belga Zenobe Théophile Gramme (1826-1901) o desenvolvimento
de geradores elétricos que pudessem de fato ser utilizados socialmente. Estes geradores
poderiam ser utilizados para transformar energia mecânica em elétrica e, funcionando
de maneira inversa, produzir trabalho mecânico a partir da energia elétrica armazenada
em baterias, por exemplo.
A invenção do motor/gerador elétrico veio transformar, de forma impactante, a
vida no planeta. O desenvolvimento do motor elétrico, no século XIX, a ciência de
Michael Faraday (1791-1867) e os trabalhos de James Maxwell (1831-79) e de
Henrich Hertz (1858-94), no final do século XIX, abriram caminho para o
desenvolvimento da engenharia elétrica, da eletrônica e das telecomunicações.
As comunicações se desenvolveram com o telégrafo com fio e, depois, com os
telégrafos sem fio, dando início a uma era de notáveis realizações da engenharia que,
associados à eletrônica, são a alma das sociedades contemporâneas desenvolvidas. “Em
1899, Guglielmo Marconi transmitiu uma mensagem sem fio através do Canal da
Mancha e, dois anos mais tarde, através do Atlântico” (Burns, 1978, p. 680).
Num resumo sobre o desenvolvimento das modalidades de engenharia, podemos
dizer que a engenharia civil é considerada como a mais antiga. “Para distinguir os
engenheiros que trabalhavam em projetos civis daqueles que trabalhavam em projetos
militares, o engenheiro britânico John Smeaton criou o termo engenheiro civil por
volta de 1750” (Holtzapple e Reece, 2014, p. 7).
Não se deve confundir a engenharia civil que se distingue da militar com a
engenharia civil dedicada à construção de edificações. A primeira abrangia todas as
engenharias, que depois foram ganhando vida própria, como a mecânica, a engenharia
de minas, a química, a elétrica e a civil, no sentido restrito do termo.
A engenharia mecânica é contemporânea da civil, pois muitos dos dispositivos de
uso da engenharia civil eram de natureza mecânica. Seu aprimoramento foi a partir da
Revolução Industrial, a qual teve expressiva ênfase na construção de equipamentos e
motores de natureza mecânica.
A engenharia química se organiza com as pesquisas de processos de separação,
reação e outros processos, chamados de operações unitárias. “O primeiro curso de
engenharia química foi oferecido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts –
MIT, em 1888” (Holtzapple e Reece, 2014, p. 10).
A engenharia elétrica é o campo de engenharia que nasce com o conhecimento da
eletricidade. Suas atribuições cresceram desde o final do século XIX, tornando-se
chave para o funcionamento de qualquer sociedade contemporânea.
O desenvolvimento da ciência metalúrgica e o melhor entendimento da estrutura
da matéria adquirido pela física permitiram a estruturação da engenharia de materiais e
da engenharia nuclear.
O desenvolvimento de sistemas computacionais modernos, a partir dos trabalhos
de Alan Turing (1912-54), criaram conhecimentos e abriram campos para novas
engenharias, como a de computação, entre outras tantas que foram possíveis a partir de
cálculos, modelos e simulações computacionais.
Com a diversificação dos objetos de estudo das ciências, as engenharias,
acompanhando esta diversificação, foram ganhando especializações que receberam
denominações mais adequadas à identificação de seus objetos de estudo. Veremos, no
tema a seguir, algumas modalidades e especialidades em que foi dividida a atividade de
engenharia.

O ensino da engenharia

A engenharia científica ou moderna não poderia existir antes da estruturação do


conhecimento científico, e este só nasce a partir do século XVII.

Embora a concepção de Ciência remonte aos tempos da Grécia, a organização do trabalho científico tem
início, em grande parte, no século XVII, com o aparecimento das academias ou sociedades científicas,
fundadas por opulentos patronos e desenvolvidas fora das universidades, com o intuito de patrocinar as
experiências científicas. (Bell, 1973, p. 415).

A organização das ciências vai sendo construída ao longo dos séculos XVII e XVIII.

A institucionalização do trabalho científico só se desenvolveu, entretanto, com a formalização das academias


nacionais, como aconteceu na França, no final do século XVIII, e quando a Ciência foi absorvida pela
universidade, o que se iniciou na Alemanha no século XIX, e depois da criação de laboratórios científicos nas
universidades, que passaram a construir centros de comunidade científicas de âmbito universal em seus
respectivos campos. (Bell, 1973, p. 415).

O consenso quanto ao início do que se pode chamar de conhecimento com base


científica está associado aos trabalhos de Galileu Galilei (1564-1642) e de Isaac
Newton (1643-1727).
Galileu se empenhou em descrever o movimento dos corpos em termos
matemáticos. Seus estudos sobre o movimento uniforme acelerado (movimento com
aceleração constante) e sobre o movimento de pêndulos foram passos importantes na
fundamentação da disciplina de mecânica, sendo Galileu precursor de Newton em
muitos conceitos, como o do princípio da inércia.
Por ter aplicado a metodologia científica nas suas análises, sistematizando o
conhecimento na forma de conhecimento científico, Galileu é considerado por muitos
como o pai da ciência moderna.
Em termos do que se pode chamar de “ciência da engenharia”, Galileu publicou, em
1638, “o livro As Duas Novas Ciências, que trata, entre outros assuntos, da resistência
de vigas e de colunas, sendo assim o primeiro livro, em todo o mundo, no campo de
resistência dos materiais” (Telles, 1994, p. 2).
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi outro nome importante na estruturação do
conhecimento da ciência e como percussor de estudos que podem ser considerados
“ciência da engenharia”. Elaborou vários projetos conceituais de máquinas e sistemas
mecânicos, como bombas e asas para voo. Seus projetos eram representados em
esquemas descritivos que, embora sem cálculos aprofundados de engenharia, já podiam
ser chamados de projetos. Da Vinci “fez a primeira tentativa de aplicar a estática para a
determinação das forças atuando em uma estrutura simples, ou seja, a primeira
aplicação da matemática à engenharia estrutural” (Telles, 1994, p. 2).
De grande importância para a organização do conhecimento científico e para o
avanço da matemática foi Isaac Newton (1643-1727). Desenvolvendo o cálculo
infinitesimal, ao mesmo tempo que Leibniz (1646-1716) o fazia, permitiu avanços na
modelagem do mundo físico por meio da matemática. Estruturou no livro Princípios
Matemáticos da Filosofia Natural as leis da gravitação universal e as suas clássicas três
leis, fundamentos da mecânica clássica. Os estudos de Newton sobre ótica e
transmissão sonora também geraram conhecimentos novos e abriram campo para
trabalhos importantes em ciência e engenharia.
Em 1660, Robert Hooke (1635-1703) propõe a lei a ele atribuída e fundamental
para o estudo da resistência dos materiais. “Em 1729, publica-se a 1ª edição do livro La
Science des Ingénieurs […]. Em 1798 é publicado o livro de Girard, primeiro livro
especificamente a tratar de resistência dos materiais” (Telles, 1994, p. 2).
Pode-se dizer que um conjunto sistemático de conhecimentos constituindo o
núcleo do que se podia chamar de engenharia ocorreu somente no século XVIII,
quando os conhecimentos anteriores foram organizados e novos conhecimentos
passaram a ser acrescentados.
A engenharia como profissão ganhou seu espaço e o termo passou a designar as
atividades nas quais a racionalidade, o método de trabalho e o uso da ciência e da
matemática norteavam suas realizações.
Um marco do ensino de engenharia é a fundação da École Nationale des Ponts et
Chaussés, em 1747, em Paris. Esta escola tinha seu ensino direcionado para a formação
de profissionais de engenharia, na época engenharia militar.
Outro feito marcante é a fundação da École Polytechnique, em 1795, por iniciativa
de Gaspard Monge (1746-1818), matemático e criador da geometria descritiva, e
Fourcroy (1755-1809), um estudioso destacado em química.
Esta escola serviu de inspiração para outras escolas de engenharia fundadas
posteriormente. Nesta escola de engenharia ensinavam mestres que foram
consagrados, como Fourrier, Poisson e Lagrange. Ali ensinavam as “matérias básicas da
engenharia, sendo os alunos depois encaminhados para escolas especializadas” (Telles,
1994, p. 4), como a École Nationale des Ponts et Chaussés e a École Nationale Supérieure
des Mines, as quais buscavam formar profissionais capacitados para atender à demanda
de conhecimentos para resolver os crescentes desafios na atividade de extração de
minérios, siderurgia, metalurgia, construção de pontes, estradas e canais.
Poucas escolas dedicadas ao ensino de engenharia existiam no mundo até o final do
século XVIII. Pode-se assinalar a Academia Real de Artilharia, Fortificação e Desenho,
fundada em Portugal, em 1790.
Apesar das iniciativas pontuais, até o final do século XIX, as chamadas
Universidades concentravam suas atividades nas áreas de humanidades, direito e
medicina, e somente por esta época surgem as primeiras escolas fora da França e
Portugal. Na Espanha a primeira escola com ensino de engenharia data de 1803; na
Suíça, o Instituto Politécnico de Viena, de 1815; na Alemanha, o de Berlim data de
1821 e o de Munique, de 1827. Nos Estados Unidos, temos, de relevância, o West
Point (Academia Militar – USA United States Military Academy), em 1802, e o
Massachusetts Institute of Technology – MIT fundado em 1861.13
De uma forma geral, as primeiras escolas de engenharia tinham por objetivo o
treinamento dos alunos nas técnicas, aproximando-se mais das escolas técnicas atuais,
deixando a formação científica em segundo plano. As escolas de engenharia atuais dão
foco na educação e na sólida formação em ciência pura e aplicada e no domínio da
ferramenta matemática.
No Brasil, as primeiras lições sobre o que se poderia chamar de engenharia vieram
pelas mãos dos oficiais de engenheiros, assim chamados os líderes dos grupamentos
militares voltados a trabalhos de engenharia. Estas lições eram direcionadas para a área
de construções.
Nos séculos XVI e XVII, muitos se ocupavam das construções no Brasil. Thomé de
Souza, em meados do século XVI, juntou no Brasil alguns construtores, mestres em
seus ofícios, para erguer fortalezas e edificações na recém-fundada cidade de Salvador.
“No segundo quartil do Séc. XVII, tornam-se cada vez mais numerosas as construções
de pedra e cal […]” (Telles, 1994, p. 8).
Relata-se que em 1744 e 1748 foram escritos os primeiros livros técnicos no Brasil
por um dos engenheiros militares portugueses, residentes no país, José Alpoim (Telles,
1994, p. 8).14 Por falta de engenheiros, atuavam como tal padres e políticos e as
experiências iam sendo criadas a ponto de escravos serem capazes de desenvolver
perícia em construções civis.
No período do Brasil colônia, sendo a economia baseada na escravidão e não na
indústria, as engenharias, além da civil, não tinham demandas que justificassem cursos
de formação.
Com a entrada dos holandeses no Brasil, surgiram novos avanços na engenharia
civil, principalmente no Nordeste do país. O Dique de Tororó em Salvador, de 1624,
uma muralha sobre o quebra-mar natural do porto de Recife, melhorias no porto de
Mucuripe, em Fortaleza, canais e pontes feitos em Recife e fortes militares em
Pernambuco e no Ceará são alguns dos feitos destes estrangeiros. A mais antiga
referência para formar construtores de fortificações é a contratação, por volta de 1640,
do professor holandês de nome Miguel (Telles, 1994).
O rei Dom Pedro II de Portugal, ainda no século XVII, incentivou a criação de
cursos voltados para construção de fortificações no Brasil, de forma a tornar o país
menos dependente dos que viviam em Portugal e “desde o início do séc. XVII
funcionaram no Rio de Janeiro e em Salvador Aulas de Fortificação, destinadas ao
ensino de engenheiros militares, tendo sido as do Rio de Janeiro o embrião da futura
Real Academia de Artilharias, Fortificação e Desenho” (Telles, 1994, p.17).
A Real Academia foi a base em que se fundou a Academia Real Militar, a qual foi
oficialmente fundada em 1810, pelo então príncipe regente do Brasil, D. João VI,
sendo considerada a primeira instituição de ensino formal de engenharia no Brasil.
Como esta escola é tida como sucessora da Real Academia, tem-se o ano de sua
fundação, 1792, como o ano de criação do ensino de engenharia no Brasil.
A Academia Real Militar teve, posteriormente, seu nome modificado para Escola
Militar da Corte e, em 1858, com ideias impulsionadas pelas necessidades de ferrovias,
entre outras motivações, foi decidida a organização de um ensino de engenharia sem
fins exclusivamente militares. Assim, a Escola Militar da Corte passou a se chamar
Escola Central, passando a ensinar matemática e ciências naturais e engenharia civil.
A Escola de Aplicação do Exército, instalada no Rio de Janeiro, e a Escola Militar do
Rio Grande do Sul, criadas em paralelo à Escola Central, ficaram com o ensino militar.
Em 1874, a Escola Central ganhou independência real do ensino militar, passando a se
chamar Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, atual Escola de Engenharia da UFRJ.
Outras escolas surgiram fora do Rio de Janeiro, como a Politécnica de São Paulo, em
1893.
No atual estado do Rio de Janeiro, à época, Distrito Federal, foi fundada a UERJ,
universidade idealizada por Anízio Teixeira, em 1935 (Mancebo, 1995, p. 39-44),
como Universidade do Distrito Federal (UDF) e que começou a funcionar
efetivamente em 1950 com quatro escolas superiores de ensino, das áreas Jurídica,
Economia, Ciências Médicas e Letras. A Faculdade de Engenharia só foi criada em
1961,15 pelo então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, sendo uma
das faculdades da então Universidade do Estado da Guanabara – UEG.

Exercícios de avaliação de conteúdo

2.1. Crie sua própria definição para a atividade de Engenharia.


2.2. O que você entende por pré-engenharia, engenharia técnica e engenharia
científica?
2.3. O que difere a atividade profissional do técnico e do cientista, da atividade do
engenheiro?
2.4. No que diferem as pesquisas científica e tecnológica? Dê um exemplo de cada
tipo na sua área de engenharia.
2.5. Pesquise algumas realizações no campo da ciência e/ou da engenharia
atribuídas a cada um destes personagens: Galileu Galilei, Isaac Newton, Robert Hooke
e Michael Faraday.

Exercícios vivenciais

2.6. Escolha algum nome que tenha contribuído de forma relevante para as
descobertas científicas (Newton, Maxwell, Hertz, Bernoulli, Hooke, Henri Fayol,
John Bardeen, Jean Hoerni, por exemplo), descobertas estas que tiveram impacto na
engenharia, e descreva pontos interessantes da biografia desse personagem e como ele
chegou às suas descobertas e criações (interesses, influências, formação,
acontecimentos que levaram às descobertas, entre outros aspectos relevantes).
2.7. Muitas pesquisas tecnológicas têm sido desenvolvidas para materializar
equipamentos de diagnóstico médico, levar o homem para o espaço, melhorar as
telecomunicações, criar equipamentos e artefatos em geral, criar sistemas autônomos
capazes de operar sem a intervenção humana direta, melhorar a produção de
alimentos, melhorar sistemas de transporte, dar facilidades para a vida social e atender
a outras expectativas e necessidades da sociedade. Escolha uma pesquisa tecnológica da
sua área de engenharia que seja atual e, olhando a grade curricular do seu curso, tente
identificar quais disciplinas poderiam ser úteis para o desenvolvimento desta pesquisa.
2.8. Com relação à pesquisa escolhida no item anterior, faça um plano para
desenvolvimento do produto que deverá resultar dela (exemplos: teste para vários
materiais, envelhecimento do produto em condições simuladas de laboratório,
desenvolvimento dos métodos de fabricação, estruturação da equipe de programadores
e colocação entre clientes escolhidos de um modelo β).
2.9. Coloque-se na posição do gestor do projeto de desenvolvimento do produto do
item anterior. Monte um organograma com as funções necessárias (técnico, assistentes
técnicos, tecnólogos, engenheiro da especialidade Y, por exemplo) capazes de
operacionalizar o desenvolvimento proposto, definindo de forma sumária a atividade
de cada um. Uma rápida leitura no tema 11 – O engenheiro-administrador pode lhe
ajudar a entender o que faz um gestor.
2.10. Junte-se a dois outros colegas, de preferência de modalidades/especialidades
diferentes da sua (se tiver dúvidas quanto ao que é modalidade e especialidade, leia o
tema 3). Escolha um produto ou serviço gerado pela engenharia, com alta tecnologia.
Para este produto ou serviço, identifique dois fatores conjunturais e três estruturais
que facilitaram ou dificultaram o seu desenvolvimento no Brasil. O Brasil faz pesquisas
tecnológicas sobre este produto ou serviço? Tem tecnologia dominada para fornecer o
produto ou serviço em consideração? Tem know-how para fornecê-lo? Domina a
técnica de uso?
2.11. Com relação aos pontos anteriores, explicite duas áreas de conhecimento,
duas habilidades e duas atitudes que ajudariam a dominar e avançar com o
desenvolvimento do produto ou serviço considerado. (Se tiver dúvidas sobre o que é
conhecimento, habilidade e atitude, leia o tema 7 - Aprendizagem contínua).
2.12. Junte-se com um colega e tente identificar, para a época, alguns impactos
políticos e sociais da criação da primeira escola de engenharia no Brasil, a Academia
Real Militar, oficialmente fundada em 1810.
–3–
Contribuições sociais da engenharia

As modalidades na engenharia

A engenharia, em diversos dos seus segmentos, vem, ao longo da história,


contribuindo para a estruturação e o bem-estar da sociedade. Os segmentos da
engenharia reúnem conhecimentos específicos dos engenheiros e estão relacionados
com as modalidades da engenharia, como agrícola, mecânica, elétrica, civil, cartográfica
e produção, entre muitas outras que veremos a seguir.
No que se pode considerar como o início da demanda da atividade de engenharia, à
época não nomeada como tal, foi percebida na área militar. Havia a necessidade, por
exemplo, de se construir estradas, armas e fortalezas com robustez e confiabilidade,
para marchar com os exércitos, combater os inimigos e se defender. Esta era, na
ocasião, a grande contribuição da engenharia e, por isto, a engenharia era, até a
Revolução Industrial, praticamente uma engenharia militar.
A necessidade de outras contribuições da engenharia para a sociedade levou à
separação entre as atividades voltadas para fins militares daquelas direcionadas para as
indústrias e fins não militares, ou seja, voltadas para fins civis. Esta separação ficou
marcada pela criação, em 1771, da assim denominada Smeatonian Society of Civil
Engineers, fundada pelo inglês John Smeaton.
“Pela definição da Royal Charter, a engenharia civil abrangia a aplicação de todos
os conhecimentos sobre extração e processamento dos materiais e de uso das forças
naturais necessárias para a criação do artificial” (Cocian, 2017, p. 48).
A profusão de máquinas e motores necessários ao funcionamento das indústrias
logo trouxe à luz a necessidade de atividades mecânicas. Conhecimentos nesta área se
avolumaram desde o final do século XVII, levando à definição de um novo campo de
trabalho: a engenharia mecânica.
Com o desenvolvimento dos conhecimentos e das tecnologias dedicadas a outras
finalidades – como construir edifícios e estradas, tratar efluentes, construir
automóveis, desenvolver veículos para transporte aéreo, trabalhar com pequenas
potências elétricas, implementar sistemas de comunicação, desenvolver produtos
petroquímicos, atuar no refino de petróleo, para citar algumas –, as engenharias foram
se estruturando de forma a contribuírem para o atendimento destas demandas,
criando as denominadas modalidades de engenharia. Estas incorporavam práticas,
além de conhecimentos científicos e tecnológicos que iam sendo gerados e acumulados
para viabilizar a solução de problemas pertinentes ao seu campo de contribuição social.
Quando um volume significativo de conhecimentos muito especializado era gerado
dentro de uma modalidade, estes conhecimentos eram reunidos, dando origem a
especialidades dentro das modalidades.
As especialidades nascem, então, primeiro como subáreas das modalidades
existentes, que, com o acúmulo de conhecimentos envolvidos nas suas atividades, se
tornam um campo independente de trabalho ou, de outra forma, uma nova
modalidade de engenharia. Deste modo, por exemplo, a engenharia de transportes, a
ambiental e a sanitária foram gestadas na engenharia civil; a engenharia
automobilística, a naval e a aeronáutica, na mecânica e a eletrônica e de
telecomunicações, na eletricista.
Assim foi na história da engenharia: novas engenharias foram sendo criadas, como
a elétrica, inicialmente conduzida pelos fios dos telégrafos; a química; conduzida pelas
descobertas dos químicos, a metalúrgica; a de minas; a agronômica; e outras que foram
e vão sendo criadas cada vez que um volume de conhecimento novo se justifica e, pela
sua especialização, torna difícil a absorção e o domínio por engenheiros que atuam em
outras modalidades ou especialidades de engenharia.
A multiplicidade de modalidades e especialidades abre oportunidades novas para os
engenheiros, mas, por outro lado, torna uma decisão nem sempre fácil para os
estudantes de engenharia a escolha de em qual delas desejam trabalhar. Para o
estudante que se põe diante da necessidade desta decisão, o primeiro passo nesta
escolha é se informar quais são as modalidades e especialidades disponíveis ao seu
alcance físico, o que pode ser feito mediante consulta dos cursos de formação
oferecidos pelas Escolas de Engenharia em seus sites.
Diante do leque de escolhas possíveis, o estudante, em razão do seu gosto, das obras
que ele admira, dos conhecimentos científicos que a modalidade envolve, dos temas
que trata, das ofertas do mercado de trabalho, dos ganhos com o exercício das funções,
das oportunidades que a vida coloca para cada um e de outros fatores – que serão
analisados ao final deste tema –, escolherá sua modalidade/especialidade.
Escolhida uma modalidade/especialidade de engenharia, o profissional passa a ter
direito a exercer e se responsabilizar por algumas atividades, ou, em outras palavras,
ganha atribuições que só podem ser executadas dentro do seu campo de atuação
profissional.
No Brasil, a definição das atribuições e dos campos de atuação profissional é de
responsabilidade do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia),
sendo o atendimento a estas definições fiscalizado pelo CREA (Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia) que atua em cada região do Brasil.
O CONFEA, de forma a ordenar a atividade de engenharia no Brasil, elabora
Decretos e Resoluções que podem ser encontradas no site do Conselho.16
O Artigo 2º da Resolução n.º 1.010, de 22 de agosto de 2005 (CONFEA, 2005)
define nos seus parágrafos os termos atribuição (parágrafo I) e campo de atuação
profissional (parágrafo V).

I – atribuição: ato geral de consignar direitos e responsabilidades dentro do ordenamento jurídico que rege a
comunidade;
[…]
V – campo de atuação profissional: área em que o profissional exerce sua profissão, em função de competências
adquiridas na sua formação;

No parágrafo IV, do mesmo artigo 2º, da Resolução n.º 1.010, é definida a atividade
profissional como a “ação característica da profissão, exercida regularmente”, atividade
profissional esta que discutiremos no tema 4.
O CONFEA (2002b) define também alguns títulos profissionais característicos
das modalidades de engenharia, que vão sendo atualizados conforme a evolução das
modalidades e especialidades ocorre. Alguns títulos são:

a) da modalidade de Engenharia Civil: Engenheiro(a) Ambiental; de Fortificação e


Construção; Industrial Civil; Sanitarista; Sanitarista e Ambiental; Infraestrutura
Aeronáutica; Produção Civil; Hídrico; Urbanista; de Transportes.
b) da modalidade Engenharia Eletricista: Engenheiro(a) de Computação; de
Controle e Automação; de Produção; de Telecomunicações; de Transmissão;
Eletricista; Eletricista – Eletrônica; Eletricista – Eletrotécnica; Engenheiro(a) em
Eletrônica; Engenheiro(a) em Eletrotécnica; Industrial – Elétrica; Engenheiro
Industrial – Eletrônica; Engenheiro Industrial – Telecomunicações; Engenheiro de
Energia; de Software.
c) da modalidade de Engenharia Mecânica e Metalúrgica: Engenheiro(a)
Aeronáutico; Mecânico e de Armamento; de Produção; Metalurgista; Naval;
Mecânico Eletricista; Acústico; Automotivo; Aeroespacial.
d) da Modalidade de Engenharia Química: Engenheiro(a) de Alimentos; de
Materiais; de Têxtil; de Petróleo; de Plásticos; Bioquímico; Nuclear; de Bioprocessos e
Biotecnologia.
e) da Modalidade de Geologia e Minas: Engenheiro(a) de Minas; Geólogo; de
Exploração e Produção de Petróleo.
f) da modalidade de Agrimensura: Engenheiro(a) Agrimensor; Cartógrafo; de
Geodésia; de Topografia Rural; Geógrafo; Topógrafo.
h) Modalidades ditas Especiais: Engenheiro de Segurança do Trabalho
Uma pesquisa na internet17 permite encontrar as modalidades oferecidas pelas
diferentes escolas de formação de engenheiros.
Com o objetivo de disponibilizar um breve “cardápio” de algumas
modalidades/especialidades, segue um resumo das mais comuns, com uma pequena
síntese das suas contribuições para a sociedade.

Engenharia acústica

Desenvolve, aplica e mantém sistemas acústicos, utilizando técnicas e


equipamentos para obter um nível sonoro e de ruídos adequado à estética sonora
desejada e ao bem-estar das pessoas. Aplica-se, nesta tarefa, modelos matemáticos e
equipamentos capazes de detectar o nível sonoro, suas frequências e executar o
controle destes sinais.
Engenharia aeronáutica e aeroespacial

Por meio de conhecimentos de mecânica dos fluidos, aerodinâmica, propulsão por


diversos tipos de motores, automação, navegação entre outros, executa projetos,
construção e manutenção para veículos capazes de se deslocar em meios que não sejam
líquidos nem sólidos. O termo aeronáutico tem sido utilizado para aeronaves que
navegam dentro da atmosfera terrestre e aeroespacial, mas abrange os veículos que
navegam fora dela. Pode incluir ainda atividades de gerenciamento da operação de
aeroportos ou estações de lançamento no que tange aos processos de navegação e, no
caso de veículos que trafegam dentro da atmosfera terrestre, ao fluxo de tráfego aéreo.

Engenharia agrícola

Envolvendo conhecimentos científicos de biologia, química e outros de uso


secundário, atua nos estudos de viabilidade, otimização e gestão de processos de
produção vinculados à agricultura. Pode atuar no estudo da qualidade dos solos, na
qualidade dos produtos e nos processos de produção agrícola. Pode atuar ainda na
qualidade e nos processos de produção de bens derivados de animais.

Engenharia agronômica

A engenharia agronômica, ou agronomia, tem seus esforços direcionados à


produção agrícola e de rebanhos de gados e outros animais produtores de potenciais
alimentos. Ela cuida da produtividade no que tange aos métodos, à qualidade e às
possibilidades de produção e da gestão da produção animal e vegetal. Suas atividades
podem envolver de aproveitamento, otimização e recuperação do solo diante de
desgaste por mau uso até o controle de pragas ou intempéries que prejudiquem a
capacidade produtiva. Pode atuar ainda na melhoria das gerações dos animais,
cuidando de aspectos ligados à saúde (vacinação, por exemplo), à alimentação e
relativos à produção de carne animal, além de processos e produtos que aumentem a
produtividade.

Engenharia de alimentos
Esta atividade cuida do segmento posterior às atividades ligadas aos engenheiros
agrônomos e agrícolas. Seu objeto são os produtos alimentícios. Esta atividade busca
reduzir custos, melhorar qualidade e processos de fabricação, conservação,
armazenamento, transporte e embalagem na indústria de fabricação de alimentos de
origem vegetal e animal. Nesta atuação se ocupa também de atualizar a tecnologia e
melhorar as técnicas para todas as etapas da indústria alimentícia.

Engenharia ambiental

O enfoque desta engenharia é a preservação do meio ambiente. Neste sentido,


estuda, projeta e desenvolve técnicas e tecnologias para preservar e proteger o meio
ambiente dos danos causados pela ação humana. Sua atividade busca permitir o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando e regenerando áreas
degradadas pela ação do ser humano. Avalia os impactos ambientais de projetos
diversos (industriais, comerciais e agrícolas) e define ações para a redução dos impactos
destes projetos no meio ambiente.

Engenharia de aquicultura

Desenvolve técnicas e tecnologias que permitam a operação segura, produtiva e


otimizada de criações de organismos aquáticos em cativeiro. Desta forma, elabora e
implanta projetos, mantendo e gerindo as instalações destinadas à criação de plantas e
animais aquáticos.

Engenharia de automóvel (ou automobilística)

Seu enfoque é o projeto, construção, manutenção e otimização de motores e


sistemas automobilísticos, como suspensão, sistemas de frenagem, sistemas de
arrefecimento e elétricos. A sua ação pode se desenvolver dentro de fábricas
montadoras de veículos ou em escritórios de projetos. A atividade pode envolver
estudos de aerodinâmica, a utilização de diferentes tipos de combustíveis,
desenvolvimento de potência e projeto de motores.
Engenharia biológica ou bioengenharia

Este ramo da engenharia se dedica à aplicação dos métodos e princípios nos


fenômenos que se relacionam com a vida (humana ou não), de forma central, os
biológicos. Neste propósito, aplica conhecimentos da física, química e, principalmente,
biologia e o ferramental matemático e computacional para análise de sistemas
biológicos.

Engenharia biomédica

Trabalhando em atividades multidisciplinares que envolvem conhecimentos das


áreas de ciências exatas e de medicina, a engenharia biomédica busca desenvolver,
projetar, construir, manter e otimizar o uso de equipamentos de diagnóstico,
instrumentos e próteses de uso em medicina e odontologia. Reúne ainda
conhecimentos de física, química, biologia, informática, materiais, automação e
modelos matemáticos do corpo humano, entre outros, para prevenção, diagnóstico,
avaliação e tratamento de doenças.

Engenharia cartográfica

Tem como atividade o desenvolvimento de cartas e mapas de natureza digital ou


impressa, utilizados para diversos fins, entre eles navegação terrestre, marítima e aérea.
Para tal, elabora pesquisas de campo e cálculos a partir de dados geográficos. Faz parte
da sua atividade a captação e a análise destes dados geográficos, aplicando técnicas e
tecnologias específicas para tal fim.

Engenharia civil

Tem por objeto o projeto, implementação, reparo, manutenção e gerenciamento de


obras ditas de engenharia civil, entre as quais se incluem construções residenciais
unifamiliares e multifamiliares, instalações industriais e comerciais, instalações de uso
comunitário como hospitais, rodoviárias, parques, construção de obras ligadas ao
transporte, como rodovias, ferrovias, diques, canais, aeroportos, portos, docas, túneis,
vias suspensas (pontes, viadutos e teleféricos), aquedutos e estações de tratamento e
sistemas de irrigação. Sua atividade pode iniciar-se no estudo do solo, indo até a
manutenção e reparo das obras de sua responsabilidade.

Engenharia de computação

O objeto de trabalho dos engenheiros de computação são os sistemas


informatizados. Juntando os conhecimentos da área de computação (como operam os
computadores, como são construídos, as funções de cada parte, os softwares básicos
utilizados nos sistemas etc.) com conhecimentos da área de eletrônica, os engenheiros
de computação cuidam do desenvolvimento e implementação de projetos que
envolvam sistemas de computação com suas interfaces e comunicações entre estes
sistemas. Podem atuar também na área de automação industrial.

Engenharia de controle e automação

Esta especialidade da engenharia se encarrega dos projetos, implementação e


manutenção de sistemas de automação. Os sistemas de automação são aqueles
desenvolvidos para tomar ações independentes da intervenção humana nos processos
automatizados. Os engenheiros de controle e automação podem se especializar em
diferentes áreas, como automação industrial, predial, comercial e de logística.
Profissionais desta área reúnem conhecimentos dos instrumentos e equipamentos
voltados para a automação e podem se especializar no ramo chamado controle de
processos, no qual se busca não só a substituição humana nas ações de controle dos
processos, mas também a modelagem, projeto e implementação dos melhores
controladores para cada processo. Esta especialidade pode englobar as chamadas
engenharia mecatrônica, a robótica e a engenharia de instrumentação.

Engenharia de custos

Este ramo da engenharia se dedica à elaboração de orçamentos, detalhando as


planilhas dos custos necessários para a materialização de bens, serviços, obras,
contratos e outros itens para os quais os custos sejam importantes no processo de
avaliação econômica e decisões sobre investimentos. A engenharia de custos também
tem em seu escopo a busca das melhores opções para execuções de obras e bens, de
forma a reduzir seus custos. Esta engenharia subsidia a elaboração de fluxos de caixa e a
viabilidade de financiamentos. Além disto, acompanha o desembolso efetivo dos
orçamentos planejados de forma a verificar sua adequação às realizações físicas de
empreendimentos de diversas naturezas, como obras, construções de fábricas e
construções prediais, ou seja, dá subsídios à gestão desses empreendimentos.

Engenharia econômica

Este ramo da engenharia se assemelha em muitos pontos à engenharia de custos.


Em particular, se preocupa com as avaliações contínuas e rigorosas dos impactos
econômicos de várias soluções propostas para resolver um determinado problema e
com os estudos de viabilidade econômica de empreendimentos, procurando reduzir
seus custos e buscando os melhores benefícios e retornos para os investimentos das
organizações. Neste propósito, a engenharia econômica aplica a análise de custos e
retornos de investimentos, utilizando as técnicas de matemática financeira e
contabilidade, simulações de custos e fluxos de caixa. Com as simulações, avalia
melhores investimentos e verifica seus retornos esperados, orientando assim as decisões
gerenciais.

Engenharia elétrica/eletrônica

Esta especialidade se ocupa da geração de energia em usinas de diversas naturezas,


transporte (sistemas e linhas de transmissão) e distribuição de energia elétrica
(subestações e redes de distribuição). Suas atividades envolvem o projeto, a
implementação, a operação, a manutenção e a gestão das instalações citadas. Os
engenheiros elétricos que trabalham com pequenas correntes, voltagens e potências são
os eletrônicos que, junto com os engenheiros de sistemas de potência, estabelecem um
corte nas atividades da engenharia elétrica. Estes engenheiros ainda podem ser
divididos em telecomunicação e computação, como um segmento da eletrônica.
Engenharia do entretenimento

Os profissionais desta área têm diferentes campos de inserção, atuando no


planejamento e no gerenciamento de projetos para a indústria e serviços ligados ao
entretenimento, o que inclui a produção de filmes, gestão de bares, restaurantes e casas
noturnas em geral, música, projetos na área de turismo e criação de jogos eletrônicos.
No Brasil, têm atuado na produção musical e de novelas, que são muitas vezes
exportadas para diversos países. Atua também na produção de filmes, eventos
futebolísticos, carnavalescos e em gastronomia. Na sua atuação, a engenharia de
entretenimento estabelece relações com atividades econômicas, educação, arte e
cultura. O engenheiro de entretenimento avalia e seleciona seus projetos com base em
métodos quantitativos, em teorias e métodos de áreas complementares, inclusive na
aplicação de leis, como as de incentivo à cultura e ao entretenimento. A engenharia de
entretenimento é também conhecida como Engenharia de Produção aplicada ao
Entretenimento.

Engenharia de embalagens

Esta especialidade lida com as embalagens dos produtos a serem vendidos e


transportados, buscando atender aos requisitos de transporte com qualidade e
segurança, atender à estética de apresentação destes produtos e de incorporar as
informações do produto na melhor forma de apresentação, completude e cuidado com
a imagem desses.

Engenharia de energia

Esta especialidade da engenharia é dedicada ao projeto, implementação,


manutenção e gestão de sistemas de geração, transporte (sistemas e linhas de
transmissão) e distribuição de energia. As interconexões entre redes de diferentes
geradoras também fazem parte das atividades desta engenharia. Sua especialidade
envolve diferentes fontes geradoras, como hídrica, eólica, solar e outras fontes
primárias de energia.
Engenharia ferroviária

Atua no projeto, operação, manutenção e gestão de veículos de transporte


ferroviário e metroviário e na infraestrutura necessária para o suporte destes meios de
transporte. Dentro desta atuação, o engenheiro ferroviário pode projetar locomotivas,
vagões, veículos para passageiros, veículos para manutenção da rede, veículos para
instalação de vias, sistemas de comunicação e sinalização de vias ferroviárias e
metroviárias, além de atuar operando as redes e participando de investigações de
acidentes envolvendo os sistemas e equipamentos de sua área, atuando como perito
técnico.

Engenharia física

Esta especialidade, que vem melhor definindo seus contornos, busca aplicar os
conhecimentos da física na criação e desenvolvimento de produtos que os utilizem,
como sensores, geradores de ondas, detetores de partículas e outros. Sua atividade
resulta, em geral, em projeto e construção de partes que vão compor máquinas,
equipamentos e instrumentos.

Engenharia florestal

É o ramo da engenharia que busca a utilização sustentável dos recursos florestais.


Apesar de sua preocupação central ser a preservação dos ecossistemas e florestas, em
especial, diante de projetos que ameacem estes recursos, seu conhecimento se aplica
também ao aprimoramento das espécies existentes nesses ambientes e ao
desenvolvimento de novas espécies. Inerente às suas atividades é o desenvolvimento de
planos de replantio e remanejamento florestal.

Engenharia genética

Este ramo da engenharia recebe o nome de engenharia pelos métodos e técnicas que
utiliza para manipular genes. Seu objetivo é alterar, separar, reproduzir e transferir
genes de um ser vivo para outro, com o uso de técnicas específicas das áreas de química
e biologia. Seu campo de ação não se reduz ao humano, sendo suas técnicas aplicadas a
qualquer organismo vivo e entre organismos vivos de diferentes tipos e classificações.
As modificações ou manipulações genéticas, como são tratados os processos da
engenharia genética, não são feitas naturalmente pelos processos reprodutivos. As
alterações que sofrem os organismos objetivam conferir-lhes características especiais,
sendo muito comuns alterações genéticas no ramo de alimentos, de forma a dar a estes
melhor qualidade ou alterar ou introduzir neles novas propriedades. No campo da
zoologia, mudanças genéticas podem levar à modificação de características de animais,
como sua esterilização, de modo a provocar redução quantitativa das espécies, por
exemplo. Na competência da engenharia genética está a produção de insulina,
interferons, albumina e de outras substâncias que sejam importantes para o bom
funcionamento do corpo humano e que possam ser obtidas por suas técnicas.

Engenharia geológica e de minas

Esta atividade é voltada para o aproveitamento das jazidas de minérios. As


atividades vão desde a explotação (avaliação econômica dos recursos), às definições das
melhores técnicas de exploração e quantificação das jazidas e minas, envolvendo
estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental destes recursos. A atividade do
engenheiro de minas se desenvolve por toda a cadeia produtiva, indo da construção da
planta de extração, passando pela operação, tratamentos e vendas dos produtos e
subprodutos de origem mineral. A atividade desta engenharia pode se estender a
reservatórios de petróleo, água e outros produtos brutos encontrados na superfície e no
subsolo terrestre.

Engenharia hidráulica ou hídrica

Este ramo da engenharia tem seu foco de atenção voltado para as águas, em especial,
para bacias hidrográficas. Sua preocupação é a de garantir a manutenção das bacias
hidrográficas no que diz respeito à sua preservação, perenidade e qualidade. Sua
atividade se estende desde as áreas de exploração das minas de água até o consumo
humano ou industrial deste insumo natural. Com planejamento adequado e planos de
gestão que permitem o uso racional do manancial hídrico, esta engenharia evita danos
gerados pela má utilização da água pelas indústrias, pela agropecuária e por setores
independentes da sociedade.

Engenharia industrial ou de produção industrial

Esta especialidade busca o aprimoramento e a otimização da produção em


indústrias de processamento, como a farmacêutica, a petroquímica, a de petróleo e a de
manufatura (fabricação e montagem de bens em geral). Com a utilização de um
ferramental analítico próprio, enfoca o uso otimizado das máquinas, a organização do
trabalho mais eficiente e com maior bem-estar dos empregados, a melhor utilização
energética e a redução de perdas na produção. Reúne nas suas atividades
conhecimentos das ciências físicas, matemáticas e sociais.

Engenharia de instrumentação

Este ramo da engenharia tem por atividade o projeto, desenvolvimento,


manutenção, calibração e implantação de instrumentos de medição e controle de
variáveis físicas, químicas, físico-químicas ou biológicas, nos diversos segmentos da
sociedade (indústria, agropecuária, prédios comerciais e residencias, veículos das
diversas naturezas, máquinas e sistemas de processamento em geral), com o objetivo de
automatizar processos manuais, proteger as instalações e garantir segurança para os
usuários destas. O engenheiro de instrumentação atua, eventualmente, no campo da
robótica e pode também se especializar no controle de processos. Com formação
interdisciplinar, pode trabalhar em campos específicos, como instrumentação para
aeronáutica, indústria alimentícia, siderurgia, indústria papeleira, indústria cimenteira,
plantas nucleares, hidrelétricas, indústria de petróleo e manufatura, entre outros.

Engenharia de manutenção

Atua corrigindo, prevenindo ou prevendo ocorrências danosas em sistemas,


máquinas, equipamentos, instrumentos, instalações prediais e dispositivos industriais,
domésticos e comerciais em geral, de forma a garantir a sua funcionalidade,
disponibilidade, condição de segurança e operação. Dotada de procedimentos e
metodologia específica, com práticas desenvolvidas pela experiência na manutenção,
esta especialidade atua no planejamento, projeto, execução e controle, evitando
paradas dos dispositivos e sistemas aos seus cuidados que, no caso destas ocorrências,
gerariam custos e perdas por interrupção da produção, produtos fora de especificação e
outras não conformidades produtivas e operacionais.

Engenharia de materiais

Esta especialidade é voltada para a pesquisa, desenvolvimento e produção de novos


materiais puros ou associados em ligas ou mesclas de materiais conhecidos. Sua
atividade avança também pela busca de substituição de materiais conhecidos por
outros de melhor performance, resistência, aparência e qualidade em geral, como a
substituição de aço por materiais plásticos, cerâmicos e resinosos. A atividade envolve o
levantamento de propriedades físicas e químicas dos materiais.

Engenharia mecânica

A engenharia mecânica executa as atividades de desenvolvimento de produtos,


projeto, implantação de projetos, construção e manutenção de máquinas,
equipamentos e sistemas constituídos por elementos essencialmente de natureza
mecânica, como sistemas de aquecimento e refrigeração, sistemas de bombeamento e
compressão e afins. Em geral, é referida como mecânica dos sólidos e dos fluidos. A
primeira delas, a mecânica dos sólidos, é mais voltada para a fabricação de máquinas,
ferramentas e produtos envolvendo materiais trabalhados mecanicamente com a
utilização de processos típicos da área de mecânica como fundição, soldagem e
usinagem. A segunda, a mecânica dos fluidos, é mais voltada para processos térmicos e
mecânicos envolvendo fluidos em escoamento.

Engenharia metalúrgica

Esta engenharia se direciona para o projeto, implementação de projetos e


desenvolvimento de processos para beneficiamento, tratamento e produção de metais e
ligas metálicas. A especialidade comporta ainda a atividade de seleção de materiais para
aplicações nas diversas áreas da engenharia, buscando aqueles que têm as especificações
mais adequadas às aplicações desejadas. Pode atuar também no desenvolvimento de
ligas metálicas.

Engenharia naval

Esta especialidade se relaciona com o projeto, construção, operação e manutenção


de embarcações, que vão desde pequenos barcos até navios, submarinos e plataformas
industriais. O seu escopo de trabalho engloba os sistemas de propulsão, os sistemas de
controle e os desenhos de perfis e projetos funcionais dos veículos náuticos.

Engenharia nuclear

Dedica-se ao desenvolvimento, projeto, construção, operação, manutenção e gestão


de equipamentos e sistemas que utilizam a energia de elementos atômicos para sua
operação. Desta forma, sua atividade relaciona-se com geradores de energia que têm
como fonte primária a nuclear, com equipamentos industriais ou de uso em medicina e
sistemas, instrumentos e processos que envolvam energia nuclear no seu
funcionamento. Sua ótica privilegia a operação segura e otimizada dos artefatos sob sua
responsabilidade. Sua atividade abrange também o tratamento de efluentes radioativos
no que tange ao descarte seguro ou reaproveitamento.

Engenharia de pesca

Aplica conhecimentos científicos das áreas de biologia, química, física e métodos de


engenharia, como modelagem, objetivando desenvolvimento de técnicas e tecnologias
para o cultivo econômico de peixes, moluscos e crustáceos de origem marinha ou
ribeirinha. Busca a otimização da captura, a melhor conservação, o beneficiamento e a
melhoria dos processos industriais para produção dos alimentos desta origem.
Desenvolve também técnicas e tecnologias de criação em cativeiro e de automação dos
processos produtivos daqueles animais.
Engenharia de petróleo

Direcionada à indústria de petróleo e gás, esta engenharia desenvolve projetos,


equipamentos, procedimentos, implanta, mantém e gere sistemas voltados para a
indústria de petróleo, gás e seus derivados. Pode se desdobrar ao longo de toda a cadeia
produtiva, indo desde a prospecção de reservas, passando pela exploração e produção,
transporte, tratamentos, refino, armazenamento e comercialização de tais produtos.

Engenharia da qualidade

Esta especialidade se ocupa com a garantia de performance e especificações corretas


do produto acabado, objeto da produção – seja ela de bens ou serviços –, atuando no
processo de elaboração do produto e na avaliação do produto final. Busca atender às
expectativas do cliente de forma a garantir sua satisfação e fidelidade, atuando também
como promotor do produto. Dentro destes objetivos, a engenharia da qualidade atua
na coleta sistemática de dados, definindo métodos para tal, na análise e tratamento dos
dados coletados, na implantação de procedimentos de trabalho, buscando
padronização, ordenação e pontos de controle dos processos produtivos. Atua, ainda,
na análise de falhas e defeitos, promovendo a proposição de ações corretivas e
preventivas. Avalia também, junto ao cliente, o atendimento às suas expectativas,
propondo ações de melhoria contínua na qualidade dos produtos. Utiliza-se de
métodos próprios para elaboração dos seus trabalhos, buscando atender a exigências de
normas locais e internacionais para a área de qualidade.

Engenharia química

Compreende o desenho, construção e gerenciamento de fábricas nas quais os


processos essenciais consistem em reações químicas, processos de destilação,
cristalização, dissolução, filtragem e extração, entre outros de natureza química e físico-
química. Tem como objetivos o desenvolvimento de métodos de separação de
produtos (como refino e extração), dissolução, mistura, filtragem, entre outros; o
projeto e a implementação de sistemas capazes de atender a estes objetivos, como, por
exemplo, as plantas de refino, petroquímicas, unidades de tratamento de efluentes,
unidades de polimerização, reação em geral, craqueamento de produtos pesados,
produção de tintas, corantes, produtos de limpeza, produtos farmacêuticos, produtos
alimentícios e muitos outros voltados para aplicações industriais e domiciliares. Além
disto, gerencia fábricas onde os processos químicos ocorrem e os produtos são gerados
e estocados, além de se encarregar da coordenação e da execução de análises químicas
no campo e em laboratórios. Pode ainda cuidar da mitigação de impactos dos resíduos
industriais no meio ambiente.

Engenharia robótica

A robótica pode ser encarada como uma subespecialidade dentro da engenharia de


automação. Com o desenvolvimento de máquinas que executam movimentos
predefinidos e tarefas dinâmicas, como manuseio de ferramentas, instrumentos e
equipamentos, a robótica fez jus a se tornar uma especialidade independente, que
projeta, constrói e mantém robôs. A definição dos tipos de robôs, de sua programação
e manutenção também pode ficar a cargo da engenharia robótica, principalmente para
robôs que executam tarefas complexas e vitais na indústria.

Engenharia sanitária

A engenharia sanitária, voltada incialmente para processos de tratamento de água e


efluentes industriais e domiciliares, estendeu suas atividades, consolidando-se como
uma especialidade da engenharia e atuando também no armazenamento, recuperação e
reaproveitamento de efluentes de diversas naturezas, controle de contaminantes em
águas, sejam eles de origem mineral ou animal (insetos, vermes e assemelhados), e indo
até o projeto e a aplicação de técnicas e tecnologia de controle para saneamento de
ambientes agrícolas industriais, comerciais, domiciliares e de convívio em geral, no que
diz respeito à qualidade do ar, sua iluminação, ruído, radiação, toxidez, poluição em
geral e outros aspectos relevantes para a saúde e bem estar humanos.

Engenharia de segurança
Tem como objetivo aplicar a ciência para a prevenção de acidentes. Neste sentido,
este ramo da engenharia tem como enfoque a segurança de instalações industriais de
terra e de mar, instalações comerciais e demais instalações prediais, segurança em
veículos de transporte e segurança em geral dentro de ambientes de uso coletivo. Sua
atividade abrange a elaboração de procedimentos e ações para atendimento às normas
de segurança, elaboração de planos de segurança para obras, fábricas e instalações
industriais em geral e demais instalações de utilização humana e que possam, com a sua
presença (das instalações), ameaçar a saúde física, a mental ou a vida dos que possam
ser atingidos por danos, acidentes, operação ou uso inadequado desses locais, em
especial, seus trabalhadores.

Engenharia de telecomunicações

Esta especialidade da engenharia reúne principalmente conhecimentos de elétrica,


eletrônica, softwares dedicados, sistemas e comunicação em redes, visando desenvolver,
projetar, construir, manter, operar e gerir equipamentos e sistemas de
telecomunicações. Nestas atividades, pode-se lidar com cabeamentos, satélites
artificiais, estações de transmissão e retransmissão, captação e processamento de sinais
de dispositivos de comunicação.

Engenharia têxtil

Dedica-se ao desenvolvimento tecnológico, projeto, construção, manutenção,


operação de equipamentos, máquinas e instalações em geral, voltadas para a tecelagem,
tratamento e fabricação de bens de consumo que utilizam em sua constituição fibras,
tecidos e fios de diversos tipos de materiais. Sua atividade se desenvolve ao longo de
toda a cadeia produtiva têxtil, chegando até a comercialização.

Engenharia de transportes

Voltada para os meios de transporte e para a infraestrutura que suporta sua


operação, a engenharia de transportes planeja, otimiza e orienta a construção de
rodovias, ferrovias, portos, hidrovias, aeroportos e, inclusive, dos veículos que utilizam
estas infraestruturas, definindo os modais mais econômicos e funcionais para as
diversas aplicações necessárias ao funcionamento da sociedade.

Outras modalidades/especialidades

A lista aqui apresentada não esgota as possibilidades de modalidades e


especialidades de engenharia. As novas ciências continuarão criando conhecimentos e
novos campos de trabalho. Se for considerada somente a modalidade do curso, houve
nas duas primeiras décadas do século XXI um aumento de cinquenta por cento destas.
“Enquanto na virada do século registrava-se a existência de cerca de 40 habilitações,
hoje já são 60” (Brasil, 2005, p. 9). Se for considerada também a especialidade, pode-se
identificar mais de 250 denominações no sistema e-MEC.18

Que modalidade/especialidade escolher?

Quem ainda está em fase de formação ou pretende mudar de área de atuação, se vê


diante da pergunta “que modalidade/especialidade escolher?”. Uma resposta direta
pode ser: aquela modalidade/especialidade que tem como objeto central em
engenharia aquele que desperta maior interesse, como construção civil, sistemas
mecânicos, computação e agricultura, por exemplo. Esta é uma resposta de primeira
aproximação.
O fato é que, em muitos casos, assim como gostamos mais de um filme por algo que
nele nos chama atenção – seja a história, as situações de suspense, os efeitos especiais ou
a presença de atores que admiramos –, a especialidade em engenharia deve chamar
nossa atenção por algo que apresente. Este algo pode ser a simples admiração causada
pela grandiosidade ou pela delicadeza de seus feitos ou pela tecnologia que as execuções
realizadas pela modalidade transparecem; pode ser o benefício que trazem à sociedade,
pelos temas que a modalidade trata, pelos conhecimentos que envolve (física, química,
biologia, por exemplo), pelos conhecimentos que associa (matemática e ciência
humanas, como na engenharia de produção, e medicina e engenharia, como na
biomédica, por exemplo) ou porque nos toma de mais emoção quando nos deparamos
com as suas realizações.
No critério de admiração, devemos nos perguntar “que obras de engenharia nos
causam admiração ou nos levam a refletir sobre elas?”. Vemos, por exemplo, uma ponte
estaiada, com magníficos cabos de aço na sua sustentação, e nos admiramos com a
beleza e a capacidade dos cabos resistirem a tamanha carga. A pergunta a fazer é “qual a
modalidade/especialidade do engenheiro que fez esta obra?”. Se quem fez se baseou
nos estudos de alguma modalidade ou especialidade, estudando o que o executante da
obra estudou, o engenheiro-estudante estará apto a fazer a mesma obra.
Pelo critério dos temas, é desejável buscarmos uma modalidade/especialidade que
trate de temas sobre os quais temos interesse, como automação, energia,
nanotecnologia, robótica, inteligência artificial, navegação aérea, enfim, um que possa
ter ênfase dentro da modalidade/especialidade que estamos escolhendo. Dentro deste
critério, uma reflexão sobre os temas que mais gostamos de escutar a respeito, seja
pessoalmente ou pelos meios de comunicação, sobre os que escutamos com mais
interesse quando se trata de engenharia ou que nos despertam maior interesse em ler,
ajuda a decidir sobre a modalidade/especialidade mais adequada ao nosso perfil.
No critério dos conhecimentos que envolve, devemos considerar se os importantes
para a nossa atuação dentro da modalidade escolhida são do nosso agrado e interesse,
ou seja, adequados ao nosso perfil. Assim, se gostamos mais da parte de mecânica na
física, talvez esta seja a modalidade mestra da nossa escolha ou talvez a engenharia civil;
se gosto mais do tópico de ondas eletromagnéticas, a área de telecomunicações pode ser
a escolhida.
Olhando pela conjugação de temas, é desejável tentarmos conjugar numa mesma
modalidade/especialidade temas de nosso interesse. Se gostamos de economia e das
engenharias de uma forma geral, talvez a área de engenharia econômica ou a de
produção, que conjuga conhecimentos de economia com os conhecimentos típicos de
engenharia, seja a escolhida. Se a geografia nos apaixona tanto quanto a engenharia, a
cartográfica pode ser a melhor escolha. Se outros assuntos, mesmo fora da engenharia,
nos interessam como a música, acústica, teatro, medicina, agricultura, economia,
biologia, náutica, surf, futebol, entre muitos, nossa escolha pode nos levar às
especialidades de engenharia que, conjugadas a estes temas, nos tragam prazer de
trabalhar, como engenharia de entretenimento, acústica e biomédica.
Reflexões sobre as modalidades/especialidades listadas anteriormente podem
revelar, de forma mais clara, em qual delas cada profissional, em formação ou já
formado, pode encontrar mais realização e expressar de forma concreta seu potencial
profissional.

Exercícios de avaliação de conteúdo

3.1. Entre no site do CONFEA e identifique, escrevendo, a missão e as principais


funções deste Conselho.
3.2. Qual a diferença do CREA para o CONFEA em relação à missão e às funções a
exercer?
3.3. Cite algumas modalidades de engenharia e algumas especialidades da sua
Instituição de Ensino, explicitando os títulos profissionais destas.
3.4. No Tema 3 – Contribuições sociais da engenharia –, estão descritas,
brevemente, as contribuições que 43 modalidades/especialidades de engenharia podem
disponibilizar para a sociedade. Qual a contribuição da modalidade/especialidade que
você escolheu ou escolherá para exercer?

Exercícios vivenciais

3.5. Identifique uma obra de engenharia da sua área que desperte seu interesse e sua
admiração. Analisando a grade curricular do seu curso, identifique as “disciplinas”, ou
temas, ou blocos de conhecimentos que são necessários para você executar a mesma
obra. Além dos conhecimentos identificados, o que mais lhe faltaria para realizar as
obras consideradas? (Ler o tema 7, Aprendizagem Contínua, pode lhe ajudar a
identificar algumas habilidades e competências que um engenheiro deve ter).
3.6. Procure identificar a área científica que lhe despertou mais interesse até aqui.
Reflita sobre alguma atividade de lazer ou produtiva ou especulativa ou filantrópica ou
qualquer outra que desperte o seu interesse. A engenharia que você escolheu ou vai
escolher tem relação com a área científica e a atividade de interesse identificadas?
–4–
Atividades do Engenheiro e sua Adequação ao Perfil
Individual

Da natureza das atividades dos engenheiros

Logo depois de sair da faculdade, o profissional de engenharia se lança, em quase


todos os casos, em atividades de natureza técnica. São atividades que envolvem cálculos
matemáticos, princípios das ciências da natureza, como os da física e da química,
conhecimento de linguagem simbólica utilizada em documentos de engenharia, tais
como desenhos, esquemas e diagramas, e conhecimentos de informática, entre outros.
Com o passar do tempo, o profissional vai se especializando e ganhando
maturidade técnica e segurança no que faz. Passa, assim, a ser reconhecido e respeitado
como referência no seu meio ou na sua empresa, se tornando uma “competência
profissional”.
Em razão desta competência, é comum que o engenheiro passe a orientar outros
profissionais e a liderar grupos de trabalho formados por outros engenheiros, técnicos
e profissionais de formação técnica e não técnica.
Quando este ponto é atingido, o engenheiro – que, logo depois de formado, gastava
quase todo o seu tempo com atividades de natureza técnica – passa a ter que aplicar
boa parte dele em atividades de relacionamento humano, organização, planejamento e
outras, de cunho menos técnico e mais administrativo ou gerencial. Embora talvez não
seja ainda um administrador formalmente designado, e sim reconhecido como um
competente técnico, vai gradativamente se distanciando da atividade técnica.
Alguns engenheiros, tomando consciência disto, optam por permanecer em cargos
técnicos, atuando no máximo em gerências técnicas, ou seja, aquelas que tratam de
temas como automação, sistemas de transmissão, telecomunicação e projetos de
estruturas, por exemplo. Outros tomam gosto pelas atividades administrativas ou veem
nelas maiores oportunidade de progresso profissional, escolhendo avançar na linha
administrativa/gerencial e se distanciando dos trabalhos mais técnico-científicos. Estas
duas opções quanto à natureza técnica ou gerencial das atividades a serem
desempenhadas pelos engenheiros definem o que se denomina carreira Y.
A escolha entre se manter técnico ou se tornar um gerente é mais uma daquelas que
o engenheiro faz ao longo de sua vida profissional. Antes de escolher a natureza da
atividade a exercer, ele já escolheu a modalidade de engenharia que gostaria de fazer,
definiu sua especialidade dentro da modalidade escolhida, aceitou ou não opções de
locais de trabalho e remunerações e tomou outras decisões. Esta será a decisão de seu
momento: atividade técnica ou gerencial. O termo carreira “Y” espelha esta escolha. A
partir de um caminho único, o engenheiro terá que decidir entre estas duas grandes
opções.
Quem optar pela carreira de natureza técnica vai trabalhar com pesquisas em
laboratórios ou em campo, ensino de temas técnicos, será um consultor técnico, poderá
fazer perícias técnicas e outras atividades de contorno mais técnico. Os cursos de
extensão e de pós-graduação em engenharia lhe darão mais competência para o melhor
exercício das suas atividades. Em geral, o engenheiro que escolhe a atividade de
natureza técnica será um especialista em algum tema relacionado à sua modalidade de
formação, ou aos cursos de extensão e pós-graduação que tenha realizado.
A outra opção de carreira, a gerencial, levará o engenheiro a trabalhar em gestão de
recursos humanos, econômicos, financeiros e materiais. Nesta opção, num primeiro
momento, o engenheiro cuidará de algumas pessoas e da atividade técnica em paralelo.
Geralmente supervisionará um grupo de profissionais técnicos. Com o avanço da sua
atividade gerencial, vai se aprofundando em temas administrativos, como gestão de
recursos humanos, contabilidade, gestão financeira e gestão de projetos; avançando,
assim, cada vez mais nas atividades de gestão e menos nas técnicas.
No auge da carreira, quando o engenheiro já possui boa maturidade como técnico,
gerente-técnico ou administrativo, dependendo da forma como encaminhou sua vida
profissional, não raro, ele será convidado para atuar em entidades de representação
profissional, em grupos externos à empresa, que discutem temas técnicos ou gerenciais
e que têm a participação de profissionais de outras empresas e demais temas menos
técnicos e mais administrativos/gerenciais. Passa, então, a gastar menos tempo na
atividade gerencial propriamente dita e a ter mais demandas com forte componente
político.
Com o passar do tempo, as atividades de natureza política tendem a crescer a ponto
de absorverem seu tempo quase integralmente. É quando o engenheiro, já
transformado em executivo, galga funções de direção dentro das instituições ou
empresas.
O gráfico de faixas de atividades mostrado na figura 4 ilustra o tempo que o
engenheiro gasta com atividades de natureza técnica, gerencial e política conforme vai
ficando mais sênior e com mais tempo transcorrido desde o seu egresso da faculdade.

Figura 4 - Tipos de atividades desenvolvidas pelo engenheiro durante a carreira

Fonte: Autor.

O gráfico retrata que, assim que começa a atuar profissionalmente, o engenheiro


gasta, praticamente, 100% do seu tempo com atividades técnicas. Com o passar dos
anos, sua carga gerencial vai aumentando, podendo ocupar quase a totalidade do seu
tempo. No final de sua carreira, poderá estar gastando todo o seu tempo com
atividades políticas, seja participando de grupos de trabalho junto com profissionais de
outras empresas e organizações, seja representando a organização em que trabalha, em
eventos e instituições, junto aos órgãos de governo ou entidades de classe, ou atuando
no primeiro nível dos gestores de uma organização. Assim, quanto à natureza das
atividades desenvolvidas pelo profissional de engenharia, podemos dizer que elas são de
natureza técnica, gerencial ou política.
Não se deve pensar, no entanto, que o engenheiro que galga cargos mais gerenciais
ou políticos tenha perdido sua essência. Sua racionalidade, sua forma sistêmica de
abordar os problemas, sua metodologia de análise, baseada em fatos e experiências,
focalizado em resultados, costuma se manter ao longo de toda a sua trajetória
profissional, exerça ele a atividade que exercer.

Dos tipos de atividades dos engenheiros

Qualquer que seja a modalidade de engenharia, a especialidade e a natureza da


atividade desenvolvida pelo engenheiro, ele atuará em algum tipo de atividade.
Enquanto a natureza da atividade foca nas ferramentas utilizadas (técnicas, gerenciais
ou de natureza política), o tipo foca no objetivo da atividade, no que se espera como
resultado dela, como a elaboração de um projeto, uma prestação de serviço de
manutenção, a venda de um produto ou a sua produção.
Falando, portanto, do tipo de atividade, o CONFEA (Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia) lista as tipicamente desenvolvidas pelos engenheiros. O
mesmo CONFEA define atividade profissional como “ação característica da profissão,
exercida regularmente” (CONFEA, 2005).19
Algumas das atividades explicitadas pelo CONFEA são:20

1. estudos técnicos;
2. planejamento de tarefas e atividades em geral;
3. projeto e especificação de equipamentos, produtos e sistemas;
4. supervisão, coordenação e atividades ligadas à gestão técnica;
5. supervisão, coordenação e atividades ligadas à gestão;
6. orientação técnica;
7. estudo de viabilidade técnico-econômico-ambiental;
8. elaboração de orçamento;
9. vistoria, perícia, avaliação técnica;
10. elaboração de laudo e parecer técnico;
11. atuar em ensino;
12. atuar em pesquisa e desenvolvimento;
13. experimentação e divulgação técnica de resultados;
14. atuar em padronização, mensuração e controle de qualidade;
15. executar e fiscalizar obras e serviços técnicos;
16. conduzir (liderar) equipes para instalação, montagem, operação, reparo ou
manutenção de equipamentos, sistemas e obras diversas;
17. executar instalações, montagem, reparos, operar e manter equipamentos e
instalação, construções e sistemas diversos;
18. execução de desenho e documentos técnicos em geral;
19. prestar assistência, assessoria e consultoria técnica.

Assim, seja qual for a modalidade e a especialidade em que vá atuar o engenheiro


que ingressa no mercado de trabalho, encontrará opções de tipos de atividades que
serão classicamente desenvolvidas na sua vida profissional.
Os tipos de atividades possíveis são, de forma geral, os mesmos para todas as
modalidades e especialidades. Seja um engenheiro mecânico, civil, cartográfico,
agrônomo ou outro qualquer, ele poderá atuar na atividade de projetos, por exemplo.
O tipo de projeto dependerá da modalidade/especialidade escolhida, porém as
características gerais desta atividade serão semelhantes.
O engenheiro mecânico, por exemplo, poderá estar fazendo projetos de peças de
materiais ferrosos; o civil, projetos de estruturas metálicas; o cartográfico, projeto de
instalação de sensores para levantamento de dados de interesse; e o agrônomo, um
projeto de organização de multicultura. Embora os objetos dos projetos sejam
diferentes, a forma de fazê-los, ou seja, o tipo de trabalho desenvolvido pelo
profissional e as características dos profissionais que desenvolvem a atividade de
projeto, são semelhantes.
De forma mais prática, analisaremos aqui dez tipos de atividades usualmente
executadas pelos engenheiros:

a. pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologias, produtos e serviços;


b. ensino;
c. projeto;
d. implementação dos projetos elaborados;
e. suporte à operação dos projetos implementados;
f. venda de produtos e serviços;
g. administração/gestão;
h. criação de empresas e negócios, atuando como empresário;
i. elaboração de perícias técnicas;
j. consultoria.

Nas análises que faremos a seguir, procuraremos responder às perguntas: O que são,
em linhas gerais, estas atividades? Onde elas se desenvolvem? Quais as características
(perfil) do profissional que atua em cada uma dessas atividades? O que pode o
engenheiro formado ou em formação fazer para melhor se capacitar para trabalhar em
cada uma das atividades?

Pesquisa e desenvolvimento (P&D)

A atividade

Em 1897, o engenheiro mecânico alemão, Rudolf Christian Karl Diesel (1858-


1913) registrava a patente de sua invenção: um motor de combustão por injeção de
óleo, que veio a ser chamado de motor diesel. Diesel foi um dos muitos engenheiros
que se dedicou à pesquisa e desenvolvimento.
O princípio utilizado de injeção de óleo num recipiente pressurizado com oxigênio
era conhecido e foi utilizado por Diesel. Ele não o inventou, mas o aplicou de forma
prática, como fazem os engenheiros que trabalham em P&D. Seu processo de pesquisa
e desenvolvimento se deu de forma empírica e intuitiva, sendo esta uma característica
das pesquisas e desenvolvimentos da época. No conceito, no entanto, Diesel executou
as mesmas atividades de P&D que realizam os engenheiros contemporâneos, sendo
que estes utilizam métodos bem definidos e menos intuitivos e as realizam de forma
sistemática, permitindo o aprendizado e constante melhoria nos produtos
desenvolvidos.
O processo de P&D, como já discutido no tema 2, se dá em duas grandes etapas: a
pesquisa aplicada e o desenvolvimento do produto, que pode ser um bem ou um
serviço. De forma geral, a atividade de P&D realizada por engenheiros exige que estes
aprofundem seus conhecimentos em algum ramo da ciência e identifiquem neles
aplicações capazes de gerar algo de utilidade social.
Assim, realizam a chamada pesquisa aplicada, ou seja, aquela que visa não ao
conhecimento dos princípios científicos de algo, mas à aplicação desses princípios para
produção de bens ou prestação de serviços que possam trazer benefícios à vida social e
que resultem em ganhos pecuniários para quem os produz ou inventa.
Nas atividades de P&D realizadas pelos engenheiros, é comum o desenvolvimento
de protótipos ou modelos. Esta fase se segue, em geral, à de pesquisa aplicada.
Os protótipos ou modelos são construções rústicas, montadas sem o objetivo de
serem produzidas como tal, mas somente de demonstrar o valor técnico e econômico
do objeto a ser desenvolvido. Eles levantam informações sobre a sua real viabilidade
construtiva e efetiva comercialização, além das limitações e dos cuidados a serem
tomados na sua construção e manuseio.
Na etapa de desenvolvimento do produto ou serviço se define, ainda, a melhor
forma para sua apresentação (seu design), como deve ser montado o produto ou
executado o serviço, bem como as fases e a sequência de sua montagem ou execução.
Muitas pesquisas dão origem a trabalhos técnicos apresentando os resultados
atingidos, resultados estes que vão servir de subsídios para a criação de novos produtos
ou a prestação de novos serviços.
Boa parte dos engenheiros que atuam em atividades de P&D são difusores de
conhecimentos, lecionando em instituições de ensino e apresentando seus trabalhos
em seminários e palestras. Muitos dos trabalhos dos pesquisadores se tornam, assim,
material didático e de consulta para profissionais interessados nos temas da pesquisa.
Embora a atividade de pesquisa se dê, a princípio, em laboratórios, muitos
engenheiros desenvolvem pesquisas de campo. Pesquisas como a de produtividade na
engenharia civil são trabalhos desenvolvidos a partir de observações sistemáticas de
execuções de campo.
Muitos engenheiros que trabalham em indústrias de ponta têm entre as suas
atribuições a de desenvolver a tecnologia de produtos, buscar novas aplicações para eles
ou prover melhorias incrementais nos já comercializados. Ocupam-se, ainda, em
buscar melhorias nas técnicas de aplicação das tecnologias existentes, explorando-as ao
máximo e trabalhando na utilização destas em aplicações novas, ou seja, com novos
conceitos.

Onde se desenvolve a atividade de P&D

As atividades de pesquisa e desenvolvimento acontecem, em geral, em centros de


pesquisas de entidades que possam despender recursos para financiá-las (empresas ou
instituições de ensino). Em caso de empresas menores, as atividades são desenvolvidas
de forma menos sistemática dentro de pequenos laboratórios montados para fins
específicos ou mesmo no “chão de fábrica” durante a execução das produções.
Por sua natureza, as Universidades são as grandes alavancadoras das pesquisas que,
em geral, são financiadas por empresas interessadas em seus resultados ou organizações
que têm por objetivo fomentar as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias.

O perfil do profissional de P&D

Pela natureza do seu trabalho, o engenheiro pesquisador tem gosto por estudar e,
em particular, pela pesquisa, seja ela bibliográfica, de laboratório ou de campo. É de
bom tom que tenha interesse pela ciência pura, de forma a poder aplicá-la no
desenvolvimento de seus estudos de cunho mais prático.
Como pesquisador e eventual inventor, o engenheiro pesquisador deve questionar
o cotidiano e, neste sentido, ter um perfil filosófico de indagar sobre os porquês e
contestar o que todos consideram normal. A criatividade e a inventividade são
atributos que em muito facilitam seu trabalho e permitem que ele se diferencie pela
novidade de suas ideias e realizações.
Um pesquisador deve estar atualizado com o tema de seu interesse de trabalho, ou
seja, com o “estado da arte” do que pesquisa. Deve estar a par das tecnologias de
fronteira (de ponta) e frequentar espaços de saber que viabilizem a troca de
conhecimentos (congressos, seminários e palestras em geral). Seu interesse deve ser
focalizado, sendo do seu perfil o aprofundamento em temas específicos.

O que fazer para se capacitar

Se o desejo é ingressar por esta área, é preciso estar bem preparado para ser
competitivo no mercado. Conhecimentos matemáticos mais avançados são sempre
desejados e facilitam o trânsito pela linguagem utilizada na estruturação do
conhecimento científico. Igualmente, o conhecimento de estatística permitirá a
realização de coleta e análise de dados que estruturarão, de forma objetiva, os
resultados das pesquisas.
Estudantes que tenham a oportunidade de fazer iniciação em ciência, trabalhando
junto a professores pesquisadores dentro das universidades, poderão avaliar sua
vocação e ganhar conhecimento metodológico para o desenvolvimento deste tipo de
atividade. Conhecimento de metodologia científica é obrigatório para todos aqueles
que vão se dedicar a esta área.
O pesquisador, por trabalhar na fronteira do conhecimento, tem que avançar além
da graduação em engenharia, por intermédio de cursos de pós-graduação stricto sensu
(mestrado, doutorado e pós-doutorado) de forma a ganhar conhecimento e network.
Sua presença em seminários, apresentando o resultado dos seus estudos, o coloca em
posição privilegiada e lhe dá credibilidade.

Ensino

A atividade

A perpetuação do saber depende da transmissão do conhecimento. Uma boa parte


dos cursos de engenharia se compõe de disciplinas básicas para a fundamentação
teórica dos assuntos mais específicos e técnicos. São desta natureza as matemáticas e as
ciências da natureza, ministradas de forma geral por professores de matemática e
ciências ou por engenheiros com título igual ou maior que o de Mestre.
O curso de engenharia, porém, necessita também de profissionais que detenham
conhecimentos científicos aplicados e que possam dar aos estudantes uma visão prática
de uso dos conhecimentos de interesse mais específico da modalidade ou especialidade
de engenharia estudada. Boa parte destes conhecimentos científicos aplicados é passada
para os alunos dos cursos de graduação por engenheiros que podem ou não ter título
maior que o de graduação.
Assim, em resumo, se o conhecimento teórico deve ser priorizado, ele é levado aos
estudantes por professores formados em ciências ou engenheiros com formação em
cursos de pós-graduação de mestrado, doutorado ou pós-doutorado. Porém, como boa
parte destes mestres e doutores viveram suas vidas profissionais nas universidades
tendo muita bagagem teórica, mas pouca bagagem prática, há demanda – para um
ensino mais aplicado e motivante – de profissionais com experiência de campo que,
sem uma formação a mais que a de graduação, têm especialidade e reconhecido saber
na área que pretendem ensinar. Em geral, são engenheiros que trabalham nas
indústrias e que têm conhecimentos de disciplinas específicas, que envolvem execução
ou perícia prática que podem ser adequadamente ensinadas.
Aulas de laboratórios também podem, dependendo do objeto a ser ensinado, ser
conduzidas por engenheiros com menos bagagem científica, mas com muito repertório
vivencial da profissão.
Assim a atividade de ensino pode ser mais teórica, demandando mestres e doutores,
ou mais objetiva e prática, demandando engenheiros com especialização ou notório
saber em temas específicos.

Onde se desenvolve a atividade de ensino

A atividade de ensino sendo de difusão do conhecimento pode ser exercida dentro


das escolas dedicadas ao ensino da engenharia, em cursos de especialização, em cursos
livres ou em locais de palestras e troca de conhecimento.
De uma forma mais rigorosa, as escolas de engenharia congregam as principais
competências em ensino. Vários engenheiros, no entanto, ensinam em cursos livres ou
mesmo em cursos direcionados para equipamentos, sistemas e produtos voltados para
aplicação em engenharia, muitas vezes oferecidos pelos seus fabricantes.
Não se pode desconsiderar o ensino à distância possibilitado pela tecnologia de
comunicação digital, que faculta que o ensino seja realizado de forma não presencial e
oferecido por quem o queira oferecer.

O perfil do profissional de ensino

O perfil do engenheiro que atua na área de ensino tem muito em comum com o do
profissional que atua na área de pesquisa. Seu saber científico pode ser inferior ao de
outro – se o engenheiro atua em uma área de ensino mais prática –, porém a
organização do pensamento, o gosto pelo ensinar, a vontade de passar conhecimento
para outros, o pensamento lógico e o domínio de uma linguagem simples devem ser
dominantes no seu perfil.
A capacidade de comunicação, verbal principalmente, está dentro das habilidades
desejadas para aquele que pretende ensinar, porém o domínio do tema e a capacidade
de exemplificar e de tornar visível à imaginação o que é ensinado podem compensar a
dificuldade de comunicação.
O engenheiro que se dedica ao ensino gosta de sistematizar o conhecimento
adquirido. Em um curso de engenharia, é importante que se saiba relacionar o seu
campo de saber com as demais áreas de conhecimento da engenharia. O engenheiro
que traz exemplos práticos e conta histórias de suas experiências profissionais traz para
os seus alunos, além do conhecimento, atitudes a serem adotadas por esses profissionais
em formação.

O que fazer para se capacitar

Para o engenheiro-professor que pretende atuar nas universidades – executando,


inclusive, algumas pesquisas dentro da instituição de ensino –, a formação, incluindo
cursos de pós-graduação stricto sensu, se torna fundamental.
Para todos os que ensinam, o contínuo estudo é necessário para se manter a par da
tecnologia e das técnicas de sua área de conhecimento. Além disto, a participação em
congressos e seminários, seja apresentando trabalhos ou participando das discussões
sobre os trabalhos apresentados, lhe dá atualidade e bagagem vivencial para levar para
seus espaços de ensino.
Para o engenheiro que deseja conciliar a atividade profissional na sua especialidade
com a atividade de ensino, é necessário que busque realizar cursos de especialização nos
seus temas de interesse e que, desde o início de sua atividade profissional, organize suas
informações, tornando-as conhecimentos a serem difundidos nos futuros cursos que
ministrará.

Projeto

Antes de falarmos propriamente das atividades de projeto, vejamos o que está


associado a este conceito. Projeto remete à concepção de algo a ser materializado com
base em premissas julgadas verdadeiras. Projeto é algo que tem início e fim: se realiza
em um prazo determinado.
O inglês distingue o “design” do “project”. O primeiro termo se refere ao projeto
apresentado na forma de documentos, tais como desenhos, memórias de cálculos,
descrições e especificações, que tentam dar um mapa de como executar algo. O
segundo termo, project, se relaciona não só com aquilo que se quer executar, mas
também com os recursos que vão ser utilizados para tal execução. Desta forma, é
comum falarmos em “Gestão de Projetos” nos referindo à gestão dos recursos
financeiros, de tempo, humanos e físicos associados a um projeto (no sentido de
Project, no inglês), além da própria atividade de elaborar a documentação que oriente e
defina a sua execução, ou seja, o design.
O termo projeto, no que se refere ao “design”, pode ainda ser do tipo conceitual,
básico e detalhado, de acordo com o nível das informações que se deseja nele
apresentar. Assim, falamos em projeto conceitual, projeto básico e projeto executivo ou
detalhado.
O primeiro tipo de projeto, o conceitual, visa fundamentalmente à tomada de
decisão sobre investimentos em novos produtos, novas instalações industriais ou
prediais. Para tanto, toma mão de dados gerais, como mercado a ser atendido, objetivo
qualitativo e quantitativo do projeto, infraestrutura necessária para sua construção e
instalação, requisitos tecnológicos que devem ser incorporados nos produtos,
equipamentos e sistemas a serem especificados, quantidade de pessoas que ocuparão o
local, necessidades gerais, como área de estoque, identificação de facilidades próximas,
como portos, rios, acessos desejáveis ou disponíveis para uso pela instalação que será
projetada.
O projeto conceitual objetiva o levantamento de dados que permitam a avaliação
macro dos custos, da viabilidade técnica e econômica do produto, planta ou
construção, os insumos necessários, em qualidade e quantidade, as áreas dos espaços
necessários para a instalação dos equipamentos e das pessoas, identificação dos
equipamentos especiais ou que tenham fornecimento mais crítico e devam ser
comprados com antecedência, as tecnologias que vão ser utilizadas no que se deseja
construir e, o mais importante, os investimentos necessários para a concretização do
projeto. Além dessas informações, pode constar no conteúdo do projeto conceitual um
esboço geral e alguns documentos orientativos do que será implementado, podendo
ainda fazer parte deste uma maquete, filmes ou imagens do que se vai construir.
Um dos importantes objetivos do projeto conceitual, dito de forma mais técnica, é
o de se fazer o “Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental” (EVTEA) do
que se pretende executar.
O EVTEA verifica, primeiro, do ponto de vista técnico (T), se as partes ou os
equipamentos necessários à realização do projeto existem no mercado, quais as
tecnologias que deverão ser desenvolvidas e absorvidas para viabilizá-lo, estima o
tempo necessário para o fornecimento de peças, equipamentos e sistemas necessários à
sua execução, define como serão realizadas as montagens críticas na instalação e outros
fatores importantes para o sucesso do projeto, que dependem de uma análise
estritamente técnica. Em segundo lugar, o EVTEA permite verificar o resultado
econômico (E) esperado do projeto. Com base na estimativa de vendas futuras, o
engenheiro, ou outro profissional encarregado da avaliação econômica, estima quando
o projeto estará implementado e em operação, avaliando, assim, quando as vendas
começarão a retornar os investimentos.
Estes valores de resultados ou retornos futuros são trazidos a valores presentes, ou
seja, é estimado a quanto equivaleriam os valores que se espera receber no futuro se
fossem desembolsados quando da aplicação dos investimentos – ou, dito de outra
forma, estima os valores futuros atualizados no presente, considerando as taxas de juros
e lucros esperados para o futuro. Comparando-se os valores dos investimentos com os
valores dos retornos trazidos para a data de aplicação destes investimentos, pode-se
avaliar qual o resultado econômico do projeto, decidindo-se com base nesta
informação, sobre a adequação ou não de se investir.
A terceira avaliação, a ambiental (A), se refere aos impactos que o projeto trará para
o meio ambiente e à comunidade próxima ao local onde vai se materializar, de modo a
verificar se ele é viável sob este ponto de vista e traçar um Estudo e Relatório de
Impactos Ambientais – EIA/RIMA – a fim de se poder evitar, minimizar ou
compensar as ocorrências indesejáveis no meio ambiente.
O projeto conceitual permite, portanto, uma primeira avaliação dos custos e
benefícios, subsidiando a decisão sobre fazer ou não os investimentos necessários.
Aprovado o investimento com base no projeto conceitual, passa-se ao Projeto
Básico. Apesar de ser realizado antes do Projeto de Detalhamento ou Executivo,
comentaremos primeiramente sobre este último.
O projeto de detalhamento, ou executivo, define os detalhes e instruções para a
instalação a ser feita, permitindo que o engenheiro responsável pela implementação do
projeto o execute no campo.
No projeto de detalhamento são definidas as fundações prediais – se existentes –, as
dimensões, as potências e as capacidades gerais de todas as partes, peças e equipamentos
necessários à execução do projeto. Definem-se também os locais exatos de passagem de
cabos elétricos, sistemas de ar-condicionado e esgoto, as dimensões de janelas, portas,
pisos, acabamentos de tetos, luminárias, o detalhe de todos os circuitos elétricos e de
automação e demais circuitos, além de todos os outros itens necessários para a
execução que se deseja realizar. Daí ser também chamado de projeto executivo.
O projeto de detalhamento, ou executivo, definindo os requisitos de instalação de
todas as partes e sistemas, instrumentos e equipamentos necessários, permitirá não só a
materialização das instalações ou do produto que se está projetando, como também a
compra de todo o material necessário para a sua execução.
Esse projeto apresenta maior número de documentos que o conceitual e o básico,
uma vez que atinge o nível do detalhe de toda a instalação. Com este projeto, é possível
também se fazer um orçamento preciso para implementação do projeto no campo.
O Projeto Básico antecede o de Detalhamento. Seu objetivo é explicitar requisitos,
os quais muitas vezes estão ligados à tecnologia que se utiliza na obra ou no produto
que está sendo projetado. Define, além dos equipamentos necessários para fábricas, por
exemplo, as necessidades de refrigeração e iluminação para os ambientes, entre muitas
outras definições, e apresenta, de forma clara, documentos que explicitam os requisitos
a serem atendidos pelo detalhamento. Entre eles, os materiais especiais a serem
selecionados para os equipamentos, os instrumentos, os acessórios em geral, os
documentos importantes a serem gerados no projeto de detalhamento, além dos
requisitos das instalações a serem executadas, como, por exemplo, tipo de pintura,
materiais de acabamento e estruturais.
O Projeto Básico não define detalhes para as instalações, a não ser que sejam
atípicos e tenham requisitos especiais dentro do projeto. De posse deste projeto, não é
possível construir a instalação ou o produto desejado, uma vez que os dados
dimensionais e as especificações detalhadas para a compra de materiais (tais como fios,
tubos, ferragens, componentes diversos) e equipamentos (tais como bombas,
compressores, trocadores de calor, motores, sistemas elétricos e de automação) não são
definidos de forma completa nesta fase de projeto.
O projeto – seja ele conceitual, básico ou detalhado – pode, ainda, ser referenciado
pelo seu propósito como Projeto de Aplicação e como Projeto de Fabricação.
O Projeto de Aplicação visa definir um equipamento, instrumento, máquina ou
motor que deve ser aplicado na instalação que se deseja construir para que funcione
adequadamente. Assim, o projeto “de aplicação” não projeta efetivamente os
equipamentos, mas somente os seleciona entre uma gama de equipamentos
disponibilizados no mercado, pelos seus fabricantes.
O Projeto de Fabricação tem por escopo a fabricação do equipamento,
instrumento, máquina e motor. Portanto, ele define detalhes de fabricação destes
equipamentos, apresentando, em geral, as memórias de cálculos envolvidas na sua
concepção.

A atividade do engenheiro de projeto

A atividade do engenheiro que trabalha em projeto é a elaboração de documentos


técnicos que definem as necessidades da obra, instalação ou produto que está sendo
projetado, de forma a permitir sua execução no campo. Estes documentos são desenhos
de vários tipos: Memoriais Descritivos, Especificações Técnicas, Folhas de Dados e
Listas, entre outros.
A maior parte dos projetos se baseia em normas e boas práticas de engenharia. Estas
últimas, em geral, vêm de experiências anteriores, vivenciadas por quem projeta, ou
catalogadas em bancos de dados das empresas ou na literatura.
Os engenheiros que trabalham em projetos consolidam e organizam seu
conhecimento escrevendo procedimentos que retratam as melhores práticas de
trabalho. O manuseio de softwares de cálculo e de simulação também faz parte das
atividades dos engenheiros projetistas.
Estes devem, ainda, estar atualizados com a tecnologia de sua especialidade, de
forma a escolher as melhores e mais modernas soluções para os seus projetos. Assim,
devem conhecer os novos materiais e equipamentos, com suas vantagens e
desvantagens, e a performance de sistemas semelhantes ao que estiver projetando.

Onde se desenvolve a atividade de projeto

As atividades do engenheiro de projeto se desenvolvem, principalmente, dentro de


escritórios, onde o engenheiro participa, (fisicamente ou por meio de redes de
comunicação), de grupos de especialistas em determinadas disciplinas (como elétrica,
mecânica, civil e mesmo com profissionais de outras áreas de conhecimento). Nesses
espaços, interage com técnicos que elaboram os documentos de projeto, tais como
projetistas e desenhistas.
A atividade pode exigir que, algumas vezes, o engenheiro vá a campo ver os locais de
instalação daquilo que será projetado, realizar medidas e coletar informações de
campo, acompanhar as montagens das instalações e resolver problemas decorrentes de
falhas de projeto ou erros de execução, viabilizando o chamado “suporte técnico”.
O engenheiro de projeto pode ainda ser responsável por dar apoio à pré-operação e
partida de máquinas e sistemas das instalações implementadas a partir dos seus
projetos e, em alguns casos, treinar em local adequado os profissionais que irão operar e
manter os sistemas que projetou.

Perfil do engenheiro de projeto


Os profissionais de projetos, principalmente aqueles que trabalham nos projetos
básicos e executivos, devem ter bons fundamentos em ciências naturais (física e
química) e nas demais ciências envolvidas na sua especialidade, de forma a poderem
entender e criticar as práticas utilizadas nos projetos.
Para desenvolver sua atividade, o engenheiro de projeto necessita conhecer normas
e boas práticas de engenharia. Por isso, deve se interessar pelo estudo daquelas que são
voltadas para a sua especialidade e ter gosto pela pesquisa técnica aplicada, ou seja,
aquela que lhe permite entender os fundamentos dos equipamentos e sistemas sob sua
responsabilidade.
O conhecimento prático das instalações semelhantes às que projeta é de grande
valia na formação do profissional de projetos. O senso prático aliado a uma visão
técnica crítica tende a levá-lo a melhorar cada vez mais a qualidade do seu trabalho.
Por lidar com desenhos e documentos muito mais do que com sistemas físicos, o
engenheiro projetista deve ter boa capacidade de análise de sistemas, bom raciocínio
espacial e domínio da linguagem simbólica utilizada naqueles documentos.

O que fazer para se capacitar

A capacitação efetiva na atividade de projeto vem com a prática, porém algumas


ações podem ser tomadas ainda na faculdade, tais como estudar em cursos de extensão
especializados nas disciplinas e no objeto do interesse da especialidade que se deseja
seguir, visitar feiras técnicas e participar de seminários.
As visitas às instalações industriais e a participação em projetos dentro da
Universidade, mesmo que sejam de final de curso, podem ser de grande valia para a
formação do currículo e para o desenvolvimento de habilidades desejadas em um bom
projetista.

Implementação de projetos

A atividade

Implementar um projeto (design) significa executar fisicamente aquilo que se


encontra nos documentos que o compõem. A responsabilidade do engenheiro de
implementação é, tendo em mãos os documentos de projeto, transformá-lo em
realidade física. Assim sendo, cabe ao engenheiro de implementação transformar um
projeto de uma fábrica na fábrica física capaz de processar a matéria-prima e produzir o
que é desejado. Tendo em mãos o projeto de máquinas, circuitos, prédios, dados
geográficos, transformá-los em máquinas físicas, circuitos eletrônicos, edificações e
mapas, respectivamente.
O engenheiro de implementação de projetos – ou engenheiro de campo, como
também é chamado – em geral administra, também, os recursos humanos e materiais
necessários à realização dos serviços de montagem ou construção.
Os recursos humanos são engenheiros especialistas, técnicos de várias formações e
pessoal administrativo que lhe darão o suporte necessário. Não raro, as
implementações são feitas por meio de contratos de serviços e, nestes casos, será
também sua função a gestão destes contratos.
Os recursos materiais são as instalações onde se desenvolvem as construções e
montagens, e os equipamentos envolvidos na execução e na de administração da
implementação do projeto (tratores, máquinas, computadores etc.), bem como os bens
patrimoniais envolvidos.
Sua função, quase sempre, é menos técnica e mais voltada à gestão de projeto, no
sentido de “project”. Ficam ao seu encargo muitas decisões, como a aprovação geral dos
serviços e a coordenação das equipes. A gestão de recursos econômicos e de tempo
também são da sua responsabilidade, portanto, o atendimento a prazos e desembolsos
planejados.
A qualidade dos serviços executados com base no projeto é também da
responsabilidade do engenheiro de implementação, sendo ele, muitas vezes, o ponto
focal para o qual convergem as solicitações de solução para os problemas surgidos no
curso da implementação do projeto.
Além das atividades de formação das equipes, atendimento a prazos e recursos e da
tomada de decisões das quais emanam soluções para pontos críticos da implementação
do projeto, o engenheiro de implementação também pode fazer algumas incursões
políticas para obtenção de licença para as obras ou produtos em execução, obtenção de
recursos e dar solução a problemas externos que impeçam o bom desenvolvimento da
implementação do projeto sob sua responsabilidade.

Onde se desenvolve a implementação de projetos

A atividade de implementação de projetos se desenvolve no campo. O que


chamamos “campo” pode ir de fábricas a canteiros de obras, conforme o escopo do
projeto a ser implementado.
Algumas atividades podem ser desenvolvidas em escritório, notadamente as de
planejamento, modificações de projeto e a gestão do projeto, bem como reuniões de
coordenação e gerenciamento das execuções, as quais podem tomar grande parte do
tempo do engenheiro de implementação.

Perfil do engenheiro de implementação de projetos

Por ter que liderar equipes e lidar com pessoas de diferentes formações, o
engenheiro de implementação de projetos se desenvolve melhor nas suas atividades
quando apresenta traços de liderança e capacidade de coordenação.
Como motor e ponto focal das ações de execução, ele deve ter iniciativa e tomar
decisões com rapidez, viabilizando frentes de trabalho para sua equipe. O
pragmatismo, o qual leva à soluções de campo com visão prática, e o gosto pelo fazer,
fazem parte do seu perfil.
Em geral, as habilidades de negociação e de relacionamento pessoal ajudam muito
no sucesso de seus trabalhos, pois elas permitem que o engenheiro atue junto a seus
pares de outras áreas, como gerentes de manutenção, de operação, engenheiros de
projeto, que muitas vezes trabalham sob outras lideranças, negociando com os líderes
dessas equipes os recursos de que necessita para o bom andamento da implementação
sob sua responsabilidade. Esta habilidade é muitas vezes chamada de “lateralidade”, ou
seja, o bom relacionamento e trânsito com líderes de equipe do seu mesmo nível
hierárquico.
A visão prática dos processos de fabricação e de construção ajuda muito no
desempenho do engenheiro de implementação. Atuando como gestor dos projetos, sua
visão de gestão deve ser desenvolvida, focalizando o planejamento e o controle dos seus
projetos e a qualidade daquilo que está sendo implementado.

O que fazer para se capacitar

Ajuda na construção do perfil do engenheiro de implementação de projetos em


formação a realização de estágios em fábricas e em obras, de forma a desenvolver sua
visão prática quanto às dificuldades e à capacidade de criar soluções que possam ser
praticamente aplicadas. A habilidade de entender os projetos é também inerente à
atividade.
A leitura de artigos técnicos sobre produtos, materiais de construção e de
fabricação envolvidos em seus projetos permitirá que o engenheiro esteja atualizado e
possa tomar decisões de cunho mais técnico, orientando corretamente o seu grupo de
trabalho ou indicando novas soluções para as implementações desejadas.
Atuando como gestor, são de grande valia os cursos de planejamento que lhe
permitam entender a documentação e a nomenclatura dessa atividade, como curvas de
avanço físico e financeiro.
Finalmente, os treinamentos em gestão da Qualidade e Meio Ambiente são
importantes. Cursos de Gestão de projetos, como os oferecidos pelo Project
Management Institute (PMI),21 são também de grande valor na formação do
engenheiro que atuará como gestor das implementações de projetos.

Engenheiro de suporte

Atividade

O engenheiro de suporte atua fora da atividade-fim de uma empresa. Uma


montadora de automóveis, por exemplo, tem por finalidade montar automóveis. Para
que esta montagem se realize, são necessárias várias outras atividades que não são
especificamente de montagem. Os sistemas automatizados, por exemplo, têm que
funcionar adequadamente. A área de manutenção das máquinas tem que mantê-las em
condições de operar sem interrupção. Os operadores que geram ar comprimido, vapor
e outras utilidades têm que provê-las na quantidade e na qualidade necessária ao
funcionamento da fábrica; o Centro de Processamento de Dados da empresa tem que
processar informações que vão desde a folha de pagamento até o controle de máquinas.
Sem o funcionamento adequado do CPD, não há montagem automática. Todos os
que não trabalham nas áreas-fins são considerados “suporte” à operação da fábrica.
Engenheiros encarregados da manutenção, das telecomunicações, da instalação de
equipamentos, da operação das plantas que produzem vapor, ar comprimido,
encarregados da operação dos sistemas de geração elétrica e outros que trabalham
apoiando a operação final da fábrica ou da planta industrial são engenheiros de
suporte. O suporte existe em todas as atividades. Engenheiros de voo, por exemplo, que
se encarregam da manutenção da aeronave quando esta está em voo, atuam como
engenheiros de suporte, já que a atividade-fim é o transporte de passageiros e carga e a
condução da aeronave.
Engenheiros que atuam em planejamento, segurança industrial, engenharia de
manutenção, operação, em suprimento de material, em contratação de bens e serviços
podem ser considerados como exercendo a atividade de “engenharia de suporte”.

Onde se desenvolve a atividade de suporte

O ambiente no qual se desenvolvem as atividades de suporte depende do tipo de


suporte oferecido. Planejamento e contratação, por exemplo, são atividades
desenvolvidas principalmente em escritórios. Manutenção tem a parte de
planejamento e controle em escritórios e a parte operacional no chão de fábrica ou no
campo. Atividades de operação se desenvolvem, em geral, em centros de controle de
operação ou salas de controle. Segurança industrial e controle de qualidade são
atividades com desenvolvimento prioritário no campo.

O perfil do engenheiro de suporte

A atividade de suporte exige, em geral, “gestão de rotina”. Atividades como


manutenção, planejamento e operação têm procedimentos repetidos periodicamente e
exigem acompanhamento diário de atividades. O conforto com o trabalho rotineiro
deve fazer parte do perfil do profissional de suporte, o qual deve ter a habilidade de
gerir estas rotinas.
Por prestar serviço a outras áreas – uma vez que trabalha para a atividade-fim –, o
profissional que atua na área de suporte deve ser capaz de estabelecer um bom
relacionamento com as pessoas. Trabalhando com sistemas cuja paralisação pode
impactar o resultado da empresa, ele ter espírito prático e capacidade de decisão para
tomar ações no campo com rapidez e eficácia.
A qualidade do seu trabalho é sempre avaliada por seus clientes, pelo que a visão de
qualidade e a capacidade de se colocar no lugar deles, vivenciando o problema que têm
e buscando entregar seus serviços como gostaria de recebê-los, são atributos do perfil de
um bom profissional de suporte. Finalmente, deve ter visão de sustentabilidade para
executar seus serviços com durabilidade e sem impactos em outras áreas.

Ações de capacitação

Para o melhor desempenho de suas funções e para se qualificar como engenheiro de


suporte, dependendo da área em que deseje atuar (manutenção, planejamento,
contratação, segurança e meio ambiente, por exemplo), cursos de extensão em
engenharia de manutenção, em planejamento, em gestão da qualidade e em segurança
do trabalho são fundamentais. O treinamento em gestão é de grande valia e desenvolve
habilidades no profissional de suporte, que se ocupa principalmente com a gestão de
rotinas.

Engenheiro de vendas

A atividade

A atividade de vendas é crítica em qualquer empresa, porque todas têm por função
vender algo: um serviço, um produto, uma solução. Sem vendas, a empresa não
funciona.
Quando falamos em vendas, podemos pensar em vender livros, frutas ou materiais
de consumo e achar estranho um engenheiro trabalhar em tal atividade, porém, as
vendas de que tratamos em engenharia são de grandes serviços, grandes equipamentos
e, muitas vezes, de materiais especiais e de alto conteúdo técnico e tecnológico.
Uma empreiteira, por exemplo, tem que vender serviços de construção de prédios,
estradas ou fábricas. Fabricantes de turbinas, motores, tomógrafos, grandes sistemas de
telecomunicações, de refrigeração e de navegação têm que vender seus produtos.
Ocorre que os conteúdos técnicos desses serviços são muito grandes; envolvem
tecnologias e conhecimentos que não podem ser descritos, apresentados, ofertados e
finalmente vendidos sem uma abordagem mais técnica quanto ao seu desempenho,
suas qualidades e suas características.
Em geral, as empresas têm uma área comercial encarregada das vendas, dos
contratos de serviço e do relacionamento com os clientes. A atividade do engenheiro
que atua nessa área passa por descobrir os mercados, as oportunidades de negócios,
estabelecer relacionamento com os clientes e promover as apresentações técnicas para
os potenciais clientes. Essas apresentações mostram não só aspectos técnicos e de
qualidade, que em geral encantam os técnicos se bem demonstrados, mas também os
benefícios econômicos de seus produtos, o que costuma seduzir aqueles que decidem
pelos investimentos.
Dadas as condições técnicas que podem ser exigidas nos contratos, o
desenvolvimento dos termos dos contratos é também atividade da área e, muitas vezes,
conduzida pelo engenheiro de vendas. O desenvolvimento dos termos de contratos e o
acompanhamento do fornecimento após a sua negociação é também atividade da área
de vendas e, muitas vezes, é conduzida pelo engenheiro de vendas, dadas as condições
técnicas que podem ser exigidas nestes contratos. Efetivada a venda, cumpre ainda ao
engenheiro de vendas o acompanhamento do atendimento de pós-venda, com
eventuais intermediações das ações necessárias à pré-operação dos seus produtos, junto
ao cliente.
O engenheiro de vendas pode ainda ser dono do seu próprio negócio, atuando
como representante técnico e promotor de alguma empresa sediada no país ou no
exterior.

Onde se desenvolve a atividade do engenheiro de vendas

Boa parte das atividades do engenheiro de vendas se desenvolve junto ao cliente em


suas instalações, principalmente as fases de pré-venda, assistência técnica e discussão de
propostas.
A etapa de estudos dos produtos, buscando os mais adequados para o cliente, o
acompanhamento da elaboração de propostas pelas diversas áreas encarregadas de
produzi-las e a elaboração de contratos são executadas nos escritórios da empresa para
a qual o engenheiro de vendas trabalha.

Perfil do engenheiro de vendas

Pela natureza do seu trabalho, um engenheiro de vendas tem melhor desempenho


se tiver boa comunicação, principalmente oral. Conversar, conquistar os clientes,
convencê-los da qualidade daquilo que se quer vender, exige habilidade de
comunicação. Seu discurso, no entanto, deve ter densidade, o que torna imprescindível
o conhecimento técnico do produto que se oferta, ajudando muito a fundamentação
técnica com base em dados científicos e em experiências anteriores.
A capacidade de comparar os produtos que se vende ou se representa com outros
similares do mercado, destacando as suas vantagens, exige também conhecimento
técnico especializado. Desta forma, um perfil que tenha vocação para leitura técnica
especializada e que detenha conhecimentos científicos ligados ao que se vende ajuda
muito no resultado do trabalho, sendo características desejadas no perfil profissional
do engenheiro de vendas.
Ter gosto por conhecer componentes e entender os processos envolvidos no
funcionamento do seu produto ou dos processos nos quais o seu produto será inserido
reforça a argumentação sobre as vantagens do que se vende, sendo adequado ao perfil
do profissional de vendas a habilidade de entender processos em seu funcionamento
geral e ter interesse em conhecer os produtos da sua empresa e dos concorrentes com
algum nível de detalhe técnico e funcional.
Finalmente, ajuda muito o conhecimento de fundamentos de economia que
permitam ao engenheiro de vendas elaborar alguns cálculos de resultados econômicos e
de retorno de investimentos, de forma a convencer seus clientes sobre as vantagens
econômicas daquilo que vende.
Ações para capacitação

O engenheiro formado ou em formação que deseja se preparar para atuar na área de


vendas pode recorrer a cursos de marketing, para apresentar com mais ênfase seus
produtos. Treinamentos, como cursos de extensão direcionados para os produtos que
se quer vender (caldeiras, cromatógrafos, por exemplo), qualificam o profissional para
ter melhores oportunidades no mercado. Treinamentos em elaboração de contratos,
algum conhecimento sobre tributação e, principalmente, conhecimentos em economia
capacitam o engenheiro de vendas em formação, ou aquele que já atua na área, a
melhorar suas oportunidades de sucesso profissional.

Engenheiro-administrador (gestor)

Atividades

Muitas empresas consideram que os engenheiros, apesar de sua formação técnica e


pouco voltada para a administração, têm, boas condições para se tornarem ótimos
gestores, devido à sua racionalidade, objetividade e à capacidade analítica.
O processo de gerir passa, basicamente, por quatro momentos: planejar tarefas e
atividades que devem ser executadas, priorizando-as e definindo seus objetivos;
providenciar a execução das tarefas como planejadas; controlar a execução, verificando
onde ocorreram desvios entre o planejado e o executado; e, finalmente, tomar ações
para evitar os desvios entre o planejado e o executado, em futuros projetos, ou seja,
tomar ações de melhoria do que foi feito.
Neste processo de administração ou gestão, são geridos recursos humanos,
materiais e financeiros. Isto corresponde a formar equipes, definir os recursos humanos
em quantidade e qualidade, definir prazos e aprovar a compra de instalações,
equipamentos e materiais necessários à realização das tarefas, bem como administrar
custos e despesas.
A atividade de planejamento e controle é diária, atuando o gestor no sentido de
verificar se as metas e as atividades que ele definiu para seus colaboradores executarem
estão dentro do planejado. Nesta atividade, o administrador gasta grande parte de seu
tempo. Em geral, este acompanhamento das atividades e a divisão de tarefas dentro da
equipe é feito em reuniões que consomem quase a totalidade do tempo de trabalho do
gestor.
Finalmente, o gestor ajuda a definir, ou define por si só, os planos estratégicos,
táticos ou operacionais de sua empresa, desdobrando-os em ações concretas dentro de
seu grupo de colaboradores. Uma discussão mais aprofundada sobre a atividade de
gestão será feita no tema 11 deste livro.

Onde se desenvolve a atividade do engenheiro administrador

Devido à sua natureza, a gestão, por depender de reuniões e acompanhamento


constante dos resultados, costuma se desenvolver em escritórios. As reuniões com as
equipes são os momentos de atualização e redefinição de objetivos, reavaliação das
ações em curso e redirecionamento dos esforços da equipe.

O perfil do engenheiro administrador

O gosto pela atividade de administração é, sem dúvida, o requisito número um no


perfil de quem trabalha com esta atividade. Ele se mostra na satisfação de se reunir com
as equipes de trabalho, planejar suas metas e acompanhar (controlar) os seus
resultados.
A administração implica a gestão de recursos e, portanto, o perfil do administrador
deve contemplar habilidade de organização, racionalidade e visão sistêmica.
Como o relacionamento humano é fator central de sucesso da atividade, o gestor
deve ter capacidade de perceber sua equipe, o que significa alguma habilidade em
psicologia individual e social.
O gestor lida com processos gerais, e não com atividades específicas, portanto deve
ter habilidade de extrair do particular os conceitos gerais. De forma a obter bons
resultados no seu trabalho, deve ter objetividade e foco no resultado.

Ações de capacitação

A efetiva capacitação do profissional de engenharia em administração pode se dar


com a entrada dele na empresa, caso tenha ingressado como “trainee”. Daí, galgando
várias posições dentro da empresa, vai construindo sua visão sobre seus processos e
sobre a forma de gerir cada um deles, se tornando competente para ir subindo em
posições hierárquicas ou se deslocar para outras empresas que valorizem sua
competência gerencial.
Para engenheiros que são deslocados da função técnica para a gerencial, ou para os
que, ainda dentro da faculdade, desejam desenvolver um perfil gerencial, treinamentos
em gestão da qualidade e de projetos ajudam muito, trazendo a visão de organização e
administração de recursos de forma estruturada.
Cursos na área de administração e de psicologia para administradores ajudam na
formação do administrador/gestor.
Para quem se inicia na profissão ou está terminando a formação em engenharia, os
estágios nas áreas de produção ajudam a entender melhor as características das linhas
de produção e as dificuldades de se administrar pessoas.

Engenheiro-empresário

A atividade

Alguns profissionais de engenharia sonham em construir suas próprias empresas. A


atividade empresarial é a que, por excelência, gera recursos econômicos para a
sociedade. O empresário idealiza seu negócio, emprega pessoas e gera recursos que
permitem prover educação e cuidados aos que se beneficiam de impostos.
Além de desenvolver o seu negócio, o empresário gere os investimentos e prazos
necessários à estruturação e operação do seu negócio, tomando decisões necessárias
para o sucesso do seu empreendimento.
Sua atividade é de risco, uma vez que a sobrevivência da empresa depende do
resultado dos seus negócios. A atividade empresarial engloba a obtenção de recursos de
todas as ordens para conduzir o negócio, envolve os relacionamentos políticos
necessários para obtenção de licenças, desenvolvimento de parcerias que deem solidez
ao negócio, obtenção de empréstimos e outras atividades em que o bom
relacionamento faz a diferença.
Como administrador de seu negócio, o engenheiro-empresário necessita gerir
equipes e ter habilidade para conduzi-las com motivação e direção. Assim, para obter
sucesso no seu empreendimento, além de bom gestor, deve ser um líder de equipes.
Dentro das suas atividades, pelo menos na fase inicial de consolidação do próprio
negócio, está a de fazer articulação com fornecedores, que vão desde universidades até
fabricantes, passando por supridores de mão de obra.
Não raro, principalmente quando o porte da empresa é pequeno, fica também a seu
encargo a condução técnica dos projetos, assumindo muitas vezes o papel de
responsável técnico da empresa.

Onde se desenvolve a atividade do engenheiro-empresário

O local de trabalho do engenheiro-empresário é, principalmente, sua própria


empresa, mas não é o único. Seu trabalho se desenvolve junto aos clientes,
fornecedores, órgãos públicos e agentes financeiros, entre outros. Seu dia a dia costuma
ser preenchido com tomada de decisões e definição de ações para manter o ritmo de
seus negócios.

O perfil do engenheiro-empresário

Antes de tudo, deve ter determinação para superar as dificuldades inerentes ao dia a
dia da implantação e condução da empresa. Seu perfil de liderança fará a diferença no
seu resultado. Ser capaz de direcionar os esforços da sua equipe, conduzindo-a na
construção do negócio, é habilidade decisiva para o sucesso.
A iniciativa – a atitude de tomar as ações necessárias ao sucesso do negócio, fazendo
com que elas aconteçam em tempo e na forma adequada – é uma atitude que empurra
a empresa nas horas de dificuldade e dá a ela novos caminhos no curso diário.
O perfil empreendedor – ou seja, o de querer fazer as coisas acontecerem, de olhar
as dificuldades e ver oportunidades de negócios – é característica de todos os
empresários de sucesso. Empreendedores sempre estão pensando negócios novos,
pensando quais as novas oportunidades que estão se apresentando, enfim, buscando se
realizar produtivamente. Importante também a capacidade de articulação do
engenheiro-empresário, a qual o transforma no elemento capaz de juntar as pessoas e as
instituições e coordená-las para obtenção dos resultados desejados.
Outro fator de sucesso é o domínio de conceitos básicos de economia, de forma que
o profissional-empresário possa avaliar os resultados econômicos do seu negócio e
tomar decisões de investimento fundamentadas em dados e avaliações técnicas.
Finalmente, faz parte do perfil do empresário a capacidade de assumir riscos e
trabalhar sob pressão. Seu trabalho não é igual ao de um profissional assalariado que
sabe quanto ganha no mês e planeja os seus gastos. O empresário sabe o quanto terá
que gastar no mês e que poderá ter despesas não planejadas que precisará
contingenciar. Com base nos resultados estimados ou no seu histórico, avalia seus
ganhos – que podem ser maiores ou menores que as estimativas –, que, caso não
ocorram, podem levar o negócio a sucumbir.

Ações para capacitação do engenheiro-empresário

Ainda na fase de graduação, quem se inclina a se transformar num empresário deve


procurar estágios compatíveis com gestão de negócios, dado que esta é, essencialmente,
a atividade empresarial.
Cursos voltados para administração e economia deixam um lastro na formação que
certamente será útil para o desempenho profissional do empresário e, portanto, devem
ser buscados. Os cursos de gestão de negócios, disponíveis em várias instituições,
podem consolidar num único treinamento as visões de contabilidade, administração e
economia, além de trazerem informações úteis sobre informática e gestão de pessoas.
Para aqueles que tiverem mais disponibilidade de tempo, cursos de mestrado em
engenharia de produção trazem mais robustez à formação empresarial. Não devem ser
deixados de lado os treinamentos e a reciclagem de conhecimento na especialidade
técnica da empresa, no caso de empresas com um perfil mais técnico.

Perito técnico

A atividade
A perícia técnica é uma atividade de suporte a decisões, em geral, decisões jurídicas
ou aquelas que envolvem indenizações e prêmios de seguro. Um engenheiro pode ser
perito em acidentes por incêndio, em automóveis, em avaliação de navios, em
plataformas de petróleo, máquinas específicas, sistemas elétricos, estruturas de
construção civil e assim por diante.
A essência de seu produto é a emissão de laudos e relatórios técnicos, realizados
após inspeções, vistorias e avaliações de campo dos sistemas periciados.
Os relatórios apresentam, com base técnica, os resultados do que foi avaliado e a
consequente conclusão técnica do perito sobre o objeto periciado. Este objeto pode ser
uma simples máquina, de forma a avaliar seu valor para, por exemplo, servir de garantia
em uma demanda judiciária, ou pode ser uma perícia que vise avaliar se uma
plataforma de petróleo que vai ser segurada atende aos requisitos internacionais de
segurança. Pode ser uma perícia para verificar se um acidente ocorrido com um
automóvel é de culpa do fabricante ou se foi provocado por inabilidade do condutor.
Pode ser a tarefa de avaliar se o acidente em um parque de diversões foi por falta de
manutenção, mau uso ou operação indevida. Enfim, o trabalho pericial é suporte para
decisão.
Os relatórios e pareceres são apresentados de forma lógica, estruturados em
linguagem escrita, ilustrados sempre que possível com imagens gráficas, fotográficas ou
desenhos.
Eventualmente, o perito pode ser chamado para testemunhar em juízo e apresentar
seu laudo técnico, de forma oral, para um grupo de profissionais que atuem ou não em
engenharia ou outros peritos.

Perfil do engenheiro-perito

O perito é um observador de detalhes que devem ser ligados logicamente. Desta


forma, faz parte do seu perfil não só o senso lógico, mas também a capacidade de
observação e atenção aos detalhes. Deve ser técnico no objeto periciado, conhecendo as
normas e regulamentações envolvidas no seu funcionamento, construção e operação.
De forma a produzir trabalhos consistentes, deve ser treinado para ser sistemático
no tratamento de informações e dados, e organizado na forma de apresentar seus
resultados. O profissional também deve ter domínio da comunicação escrita, assim
como é também desejável um bom domínio da comunicação verbal.

Ações para capacitação

As ações de capacitação para quem quer seguir a linha pericial e ainda está em
período de formação podem se dar a partir de estágios em companhias seguradoras ou
que tenham relação com tal atividade, como entidades normativas, empresas de
vistorias, entre outras.
Cursos na área de perícia técnica estão disponíveis em várias instituições e
preparam o profissional para a atividade, fornecendo ferramentas e discutindo
procedimentos de trabalho.
A comunicação escrita deve ser dominada, o que torna treinamentos neste campo
de extrema importância.
A formação de uma boa rede de relacionamento com profissionais da área jurídica
ou outros que atuem nos temas de sua perícia ajuda muito, principalmente no início da
carreira.
De forma imprescindível na formação do perito está o domínio técnico do objeto
da perícia. A formação no tema periciado faz-se importante para que o perito tenha
reconhecido saber no tema e tenha sua atuação validada.

Consultor

A atividade

Ser consultor exige experiência e notório conhecimento da área em que a


consultoria será prestada. Assim, raramente recém-egressos das faculdades de
engenharia podem se designar consultores.
A atividade de consultoria é orientativa. Ela se propõe a trazer, para empresas e
profissionais, experiências, conhecimentos e práticas sobre temas específicos. Um
consultor técnico na área de estruturas civis, por exemplo, pode ser contratado para
organizar métodos de cálculos ou para organizar a estrutura de trabalho de uma
empresa que trabalhe com o tema de sua consultoria. Um consultor de qualidade pode
ser contratado para conduzir o processo de implantação de certificação em qualidade
dentro de uma empresa, por exemplo.
A atividade desse profissional passa por conduzir, orientar, treinar, capacitar,
criticar e estruturar assuntos do seu ramo de consultoria. O consultor se relaciona com
técnicos ou gerentes ou ambos, conforme a natureza de seu tema. Em geral, atua
reunindo-se com profissionais da empresa para entender o que fazem e como a
empresa funciona, orienta as pessoas que efetivamente serão responsáveis por
desdobrar suas recomendações e orientações dentro da empresa, gastando boa parte de
seu tempo na atividade de reuniões. Investe também seu tempo na preparação de
relatórios orientativos e no planejamento de atividades, acompanhando-as na sua
implementação e corrigindo o rumo das ações de forma a atingir seus objetivos.
Sua atividade começa com uma análise crítica das atividades da empresa no tema de
consultoria, o que envolve análises do trabalho no campo, onde tudo se desenvolve,
inclui conversas com os executantes, avança com o planejamento e controle das
atividades e consolida suas conclusões em reuniões e nos relatórios orientativos.
Além do trabalho efetivo junto aos clientes, sua atividade deve englobar
participação efetiva em seminários e congressos de forma a apresentar suas ideias e
promover sua imagem de consultor junto aos potenciais clientes, além de se manter
atualizado e de construir seu network.

Onde se desenvolve a atividade do engenheiro consultor

O trabalho de consultoria se desenvolve, em grande parte, nas instalações dos


clientes. É lá que são feitas as observações de campo e as reuniões de definição e
orientação dos trabalhos, além dos treinamentos.
Embora a preparação de relatórios, apresentações e planejamentos possam ser feitas
nas instalações dos clientes, são, em geral, realizadas no escritório do consultor.

Perfil do engenheiro-consultor

O requisito número um do perfil do consultor é a competência no tema sobre o


qual será prestada a consultoria. Para tal, o consultor deverá ter prévia formação
técnica. A habilidade pedagógica ajuda muito o consultor. Sua didática facilitará, por
certo, a compreensão dos que recebem sua consulta sobre a forma de trabalhar, sobre as
mudanças e os procedimentos a serem adotados pela organização e sobre os conceitos
envolvidos no seu trabalho.
O consultor deve demonstrar autoconfiança, deve ser organizado e ter capacidade
de sintetizar de forma clara suas ideias e propostas. A comunicação escrita e oral deve
ser bem dominada, as técnicas de apresentação são de grande valor para seu trabalho e
o relacionamento pessoal é fator de sucesso.

Ações para capacitação do engenheiro-consultor

O consultor tem que ser descoberto como tal para poder vender seus serviços.
Assim, deve participar de seminários e congressos técnicos sobre os temas da sua
consulta, expondo sempre que possível suas ideias em apresentações. Desta forma, é
necessário treinar comunicação escrita e oral.
Este profissional também deve, antes de tudo, dominar o seu tema de consultoria,
tendo uma formação teórica diferenciada que o qualifique de fato como um consultor
com bagagem técnica e com mais conhecimentos do que os seus clientes.
Os estágios e a elaboração de trabalhos técnicos ligados ao tema de consultoria vão
acumulando conhecimentos e dando desenvoltura para este profissional, pelo que deve
ser exercitado sempre que possível. O aprendizado contínuo sobre o tema objeto da
consultoria deve ser feito por autoaprendizagem ou cursos de formação, de forma a
manter o profissional atualizado.

Comentários finais

Apesar das atividades aqui descritas não esgotarem as possibilidades, elas englobam
quase a totalidade daquelas que são desenvolvidas pelos engenheiros.
A experiência tem mostrado que a maioria dos profissionais que ingressa no
mercado de trabalho se aloca nas atividades de elaboração de projetos, na sua
implementação e fiscalização, bem como nas atividades suporte, como manutenção,
por exemplo. Outra parte menos significativa vai para a atividade de vendas, incluindo
as representações. Poucos se dedicam à atividade empresarial, embora os engenheiros-
empreendedores sejam muito valorizados e adquiram um considerável status entre os
seus pares.
Atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento têm sido oportunas para
engenheiros que atuam dentro das universidades, mas ocupam um pequeno percentual
dos profissionais de engenharia. O mesmo ocorre com as atividades de perícia e
consultoria, que têm também uma pequena densidade de ocupação.

Exercícios de avaliação de conteúdo

4.1. O que você entende por carreira “Y”?


4.2. Quanto à natureza das atividades desenvolvidas pelos engenheiros, elas podem
ser técnicas ou gerenciais. O que deve buscar estudar o engenheiro para se tornar mais
competente em cada uma destas atividades?
4.3. De forma prática, quais os tipos de atividades que um engenheiro
provavelmente vai encontrar como possibilidades para desenvolver seus trabalhos?
4.4. Descreva, em linhas gerais, algumas características desejáveis no perfil do
engenheiro que desenvolve trabalhos na atividade de projeto de detalhamento de
engenharia.

Exercícios vivenciais

4.5. Entre no site do CONFEA e procure por Resoluções que tratem de atividades
dos engenheiros. Extraia da Resolução encontrada as atividades ali listadas e diga com
qual delas você mais se identifica e por quê.
4.6. Identifique, entre os tipos de atividades descritas no tema 4, a que mais lhe
atrai. Procure na internet duas instituições e cursos por elas oferecidos que poderiam
melhorar sua competência no desenvolvimento desta atividade.
4.7. Descreva brevemente, pesquisando sobre o tema, como você deveria proceder
para se qualificar como Gestor de Projetos.
4.8. Forme uma equipe com mais 4 colegas. Vocês escolherão um produto de
engenharia a ser elaborado. Escolha um líder de equipe (se quiser saber mais sobre
líder, leia o tema 6).

a. Defina com o líder, caso ele não seja você, quais as atividades (pesquisa,
treinamento de equipe, desenvolvimento de produto, projeto, implementação do
projeto etc.) que devem ser desenvolvidas para a materialização deste produto
escolhido;
b. quais as modalidades/especialidades de engenharia e quais as outras áreas
profissionais que deverão participar do desenvolvimento deste produto;
c. ajude o seu líder a identificar em que atividade cada membro da equipe da qual
você faz parte melhor se encaixaria, considerando o perfil de cada um;
d. peça a outro elemento do grupo para identificar os conhecimentos ou as
habilidades ou as atitudes que indicaram cada um para a atividade na qual foi
alocado;
e. escolha, com sua equipe, um membro do grupo, que não o líder, para identificar
como o líder se comportou no que diz respeito ao tipo e ao estilo de liderança que
foi exercido no desenvolvimento dos trabalhos.

4.9. Você se sente com perfil para atuar como empresário? Por quê?
–5–
Engenheiro Cidadão – uma visão sociológica

Engenharia: uma das funções sociais do cidadão

Fora exceções dignas de nota, como os eremitas e alguns psicóticos, o humano


prefere ou se obriga a viver em sociedade. Vivendo em sociedade, todo indivíduo tem
deveres e direitos, sendo considerado um cidadão.
Direitos são benefícios que recebemos do convívio social e garantia da preservação
da nossa individualidade.
Deveres são esforços que nos obrigamos a fazer para viver socialmente e são limites
para a nossa individualidade. Ser cidadão implica não só ter direitos e deveres, mas
também partilhar valores, compromissos e dividir funções. Valores são bases de decisão
e fundamentos dos compromissos. Compromissos são determinações de vida que
assumimos para o futuro. Funções se referem aos papéis que desempenhamos dentro da
sociedade.
Por que o humano vive em sociedade é uma questão controversa: pode ser por sua
natureza agregadora; pode ser por sua natureza individualista.
No primeiro ponto de vista, o da natureza agregadora, existem necessidades
psicológicas que levam o humano a se juntar a outros: necessidade de amar, desejo de
companhia, identidade de sentimentos…
No segundo ponto de vista, individualista, a decisão consciente ou o impulso
inconsciente de viver em sociedade pode se pautar na impossibilidade do indivíduo se
autorrealizar vivendo isolado, na necessidade de executar algumas ações que
transcendam suas capacidades e habilidades individuais, na vontade de garantir a sua
manutenção física ou pelo anseio por segurança, entre outras razões.
Numa visão intermediária, a inserção do indivíduo na vida social parte dos
interesses e das necessidades individuais de manutenção da vida, terminando o
indivíduo por descobrir, nessa vida social, os sentimentos confortáveis de conviver
socialmente. Neste convívio, podem se desenvolver sentimentos como os de
fraternidade, solidariedade e cooperação, que estimulam o indivíduo a manter sua vida
em sociedade.
Seja qual for o motivo de sua associação, o ser humano é um ser social. Como tal,
deseja preservar seus direitos, deve cumprir seus deveres, zelar por seus compromissos e
exercer com dignidade e responsabilidade as suas funções ou papéis sociais, vivendo
como um cidadão. Entre os papéis ou funções sociais, uma das mais importantes é a
profissão.

A importância da profissão

Vivendo em sociedade, para se sentir adaptado e sobreviver adequadamente, o


cidadão vive personagens sociais ou desempenha funções ou papéis sociais, como os de
pai, mãe, professor, amigo, engenheiro, entre outros.
A profissão é um dos papéis-sociais-chaves, reconhecidos na sociedade
contemporânea como de grande relevância e que, em geral, define socialmente cada
membro ativo da sociedade. É aquilo com o que cada ser humano, cidadão, contribui
para a construção do tecido social. Desta forma, é comum escutarmos a referência a
uma pessoa associada à sua profissão: “fulano de tal, engenheiro de tal empresa”, e daí
seguem os comentários.
Assim como, numa peça teatral, o texto define o papel do ator, o conjunto de
conhecimentos, habilidades e experiências definem o papel profissional do cidadão ou
a sua função social.
Exercendo sua cidadania por meio da sua profissão, o indivíduo se insere como
parte da trama social. São os seus conhecimentos e habilidades que vão lhe permitir
desempenhar com sucesso a sua função social, contribuindo para a solidez e a
permanência da sociedade.
Para assumir papéis ou funções profissionais socialmente aceitas, o indivíduo deve
demonstrar ter as habilidades necessárias para tal e competências compatíveis com a
sua formação e maturidade profissional. A harmoniosa, bem organizada e bem
distribuída divisão de funções é chave no desenvolvimento de uma sociedade.
A definição da parte do “texto social” que será da responsabilidade de cada cidadão
– ou seja, o “script” que cada um deverá desempenhar e as coisas que deverá fazer no
papel ou função que deve assumir socialmente – tem relação com as oportunidades e
com as escolhas que este cidadão fez em cada momento da sua vida.
Entre os “textos” escolhidos para definir a função social profissional de cada um
está aquele que define a profissão de engenheiro. Neste “papel social”, teremos um
engenheiro-cidadão.

Cidadania: um valor construído no tempo

A Constituição da República Federativa do Brasil, que passou a ter vigência no


Brasil a partir de 5 de outubro de 1988, em seu Título 1, artigo 1º, deixa claro que um
dos fundamentos desta República é a cidadania. Seu texto diz:

Art. 1º- A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição. (Brasil, 1988).

Cidadania é o exercício do papel de cidadão. “Ser cidadão significa ter direitos e


deveres, ser súdito e soberano” (Cerquier-Manzini, 2013, p. 11). Direitos como “o
acesso a um salário condizente, à saúde, à habitação, ao lazer […] expressar-se
livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimento, lutar por
seus valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna como ser humano”. Os deveres
abrangem “[…] ter responsabilidade em conjunto com a coletividade, cumprir normas
e propostas elaboradas e decididas coletivamente, fazer parte do governo direta ou
indiretamente […]” (Cerquier-Manzini, 2013, p. 12).
A cidadania não é dada; ela é conquistada com muita luta e deve ser preservada. Os
direitos são obtidos com muito esforço e, não raro, com perda de vidas humanas.
Lutam pelos direitos aqueles que sentem falta deles para se sentirem livres para a
realização de seus projetos e desejos, em busca da felicidade. Lutam pelos direitos
aqueles que os perderam e acreditam que podem resgatá-los.
Os deveres são cumpridos pela certeza de que o cidadão deve cumpri-los diante do
valor que eles têm para a sociedade, por seu sentido ético no estabelecimento da
confiança e do respeito dentro da sua sociedade.
“Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à igualdade perante a lei: é ter direitos
civis [...]. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais” (Pinsky e
Pinsky, 2016, p. 9).
Assim, a cidadania

[…] implica sentimento comunitário, processos de inclusão de uma população, um conjunto de direitos civis,
políticos e econômicos e significa também, inevitavelmente, exclusão do outro. Todo cidadão é membro de
uma comunidade, como quer que se organize, e esse pertencimento, que é fonte de obrigações, permite-lhe
também reivindicar direitos, buscar alterar as relações no interior da comunidade, tentar redefinir seus
princípios, sua identidade simbólica, redistribuir os bens comunitários. (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 46).

Os conflitos em busca de direitos remontam à Antiguidade. Na República


Romana, principalmente nos séculos V e IV a.C., onde parte da plebe urbana, que já se
destacava por sua riqueza dentro da sociedade romana, buscou igualdade de direitos
com os patrícios, os quais tinham o domínio dos privilégios políticos e eram os únicos
reconhecidos até então como cidadãos. “Em 494 a.C., o povo conseguiu que fosse
instituído o Tribunato da Plebe, magistratura com poder de veto às decisões dos
patrícios. Os plebeus puderam criar suas próprias reuniões, os ‘concílios da plebe’,
assim como adotar resoluções, os plebiscitos” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 53).
Numa breve abordagem histórica, vamos encontrar a busca da cidadania, ainda que
não assim nomeada, entre os hebreus, por exemplo. Quando os hebreus clamavam por
ter um rei, no desejo de constituir uma monarquia, já foram advertidos por Samuel22
de que deles seriam cobrados dízimos dos seus trigos e do rendimento de suas vinhas,
além do dízimo dos trabalhos do povo que clamava por um rei. Assim, teriam direitos e
deveres.
Muitas das ideias que hoje envolvem o conceito de cidadania podem ser
encontradas no mundo greco-romano. Os pensadores mais tardios encontraram
inspiração na “tradição manuscrita do ocidente: a ideia de democracia, de participação
popular nos desígnios da coletividade, de soberania do povo, de liberdade do
indivíduo” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 29) já se encontravam entre os greco-romanos.
O conceito de cidadão, na antiguidade, variou de pertencentes às cidades-estado,
como na Grécia, aos cidadãos romanos – que englobavam cidadãos de possessões
conquistadas e até mesmo escravos. “ Roma […] permaneceu mais aberta […] unindo as
cidades submetidas na Itália a um amplo sistema de alianças e depois à plena cidadania,
em 89 a.C. […] integrando ao corpo de cidadãos os escravos libertos por seus senhores”
(Pinsky e Pinsky, 2016, p. 35). Práticas romanas permanecem até hoje, como o voto
secreto, introduzido em Roma no final da República.
Ser cidadão é ser respeitado. Mais uma vez, episódios vividos no Império Romano
são ilustrativos. É o caso de Paulo de Tarso, chamado o Apóstolo Paulo, divulgador do
cristianismo dos primeiros tempos. Preso na Ásia Menor, conforme relato bíblico,23
Paulo era visto como um membro de uma sinagoga dissidente que pregava coisas
distantes da tradição judaica. Diante da pregação de Paulo, os judeus residentes na Ásia
Menor se amotinaram. O comandante das tropas romanas, que tomava conta desta
possessão romana, mandou então prender e açoitar Paulo. Paulo, no entanto, o chama
e pergunta se ele sabe que não é permitido açoitar um cidadão romano sem
julgamento, demonstrando sua cidadania romana. O comandante imediatamente
suspende o açoitamento e marca um julgamento para o dia seguinte.
O poder dos cidadãos romanos era tão respeitado que, numa disputa em jogos de
gladiadores, nem o gladiador podia matar o inimigo indefeso nem o imperador podia
mandar matar, somente os cidadãos presentes no circo tinham este direito.
Não é demais destacar a observação de que a palavra cidadania tem sentido de
liberdade. “Em latim, a palavra ciuis gerou ciuitas, ‘cidadania’, ‘cidade’, ‘estado’. Ciuis é
o ser humano livre e, por isto, ciuitas carrega a noção de liberdade em seu centro”
(Pinsky e Pinsky, 2016, p. 49).
O conceito de liberdade está tão subjacente ao de cidadania que deu corpo àquilo
que levaria ao choque entre o parlamento inglês e a coroa absolutista de Carlos I
(Pinsky e Pinsky, 2016, p. 74), em 1642, e também à Declaração de Independência
Americana (1776) e à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão feita durante a
Revolução Francesa (1789).
As mudanças de valores conduzidos pelo desejo de liberdade são exemplares. “Na
segunda metade do século XIII, ‘os reis de Aragão, da Hungria e da Boêmia colocam
em suas mãos o globo, símbolo de soberania, com a qual os imperadores, desde Carlos,
o Calvo, se ornavam’” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 105). O globo era a representação da
ideia de um império político universal, na figura de um rei poderoso com um poder
político universal, e de um poder central religioso. Estas ideias foram postas em
questão no início do século seguinte. Com o crescimento do conceito de liberdade,
impulsionado por um sentimento ainda pouco consciente de cidadania, o
Imperialismo e a Teocracia foram questionados, e a ideia de direito natural, como
aquele inerente e natural ao ser humano, vai perdendo força.
A ideia de predestinação entra em decadência, levando ao questionamento dos
direitos natos dos nobres. Da mesma forma, perde força a ideia ética que

recomendava aos trabalhadores do campo a aceitação passiva do sofrimento, uma vez que trazia em si a
purificação e o caminho seguro dos céus, e que, de outro lado, tranquilizava a consciência dos nobres (e do
próprio clero) ao fomentar a virtuosidade de uma vida na mais profunda ociosidade. (Pinsky e Pinsky, 2016,
p. 116).

O que vai se vislumbrando, à medida que a Idade Moderna se aproxima, é que a


ideia de diferenciação natural entre os homens, que levava a uma natural aceitação da
desigualdade entre eles, vai caindo por terra. Tudo isto servirá para suportar “uma das
mais importantes transformações levadas a cabo na trajetória da humanidade: a de
citadino/súdito para citadino/cidadão” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 116).
Já delineando o conceito de cidadania na Idade Moderna, a Inglaterra do século
XVII começa a ser sacudida pelos movimentos políticos que buscam os direitos do
cidadão. Os esforços para dar fim a um estado absolutista eram inevitáveis.
Começando pela revolução puritana de 1640, foram seguidos da instauração de uma
república na Inglaterra sob a liderança de Oliver Cromwell. Este era deputado do
parlamento quando o monarca Carlos I ainda liderava a política, em 1649. A república
custou a execução de Carlos I e culminou com a instalação de uma monarquia
parlamentarista, em 1688, quando a Revolução Gloriosa trouxe no seu bojo a discussão
e o estabelecimento dos direitos dos cidadãos. Desde então, na Inglaterra, o rei reina,
mas o parlamento governa.
É com o filósofo inglês John Locke (1632-1704) que a relação entre Estado e
indivíduo começa a ganhar uma forma racional. Para este filósofo inglês, como
delineado no seu livro Leviatã, o indivíduo vem antes do Estado, sendo, portanto, uma
permissão deste indivíduo, e não, como se entendia até então, o indivíduo existindo
para servir ao Estado. No conceito de Locke, porém, o indivíduo cede parte de sua
liberdade para entrar no corpo social e político.
É Locke também que propõe a divisão do poder em três: Executivo, Legislativo e
Judiciário, retirando do rei o poder total. Estabelece-se, assim, um “estado dos
cidadãos, regido não mais por um estado absoluto, mas sim por uma carta de Direitos”
(Pinsky e Pinsky, 2016, p. 129).
Com isto, os indivíduos passam a ter a liberdade em conceito mais amplo, na forma
de liberdade de pensamento e expressão, liberdade de ir e vir, direito à privacidade e
outros direitos dos cidadãos modernos. Apesar de ser um avanço, na Inglaterra a ênfase
dos direitos é dada aos burgueses que, ascendendo economicamente, reivindicam os
direitos políticos. Os direitos serão mais ampliados nas cartas constitucionais dos
Estados Unidos e da França.
Nos Estados Unidos, as filosofias de John Locke, descritas no livro Segundo
Tratado Sobre o Governo Civil, inspiraram fortemente os escritos dos que buscavam a
independência. “O texto da declaração [da independência dos Estados Unidos,
oficializado em 1776 e marco da independência americana] é uma lembrança quase
literal dos princípios básicos do autor do Segundo Tratado Sobre o Governo” (Pinsky e
Pinsky, 2016, p. 141).
Apesar dos avanços das nações inglesas e americanas, os direitos dos cidadãos eram
direcionados aos que detinham o poder econômico. Na Inglaterra, os burgueses
emergentes.
Nos Estados Unidos, muito embora a Declaração de Independência afirmasse “que
todos os homens foram criados iguais e dotados pelo criador de direitos inalienáveis,
como vida, liberdade, busca da felicidade” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 142), esta
igualdade, do ponto de vista de direitos, não valia para as mulheres nem para brancos
pobres: estes não podiam votar. Os escravos só encontram uma chama de liberdade
com a Guerra da Secessão (1861-65). As mulheres americanas só tiveram direito a voto
após a primeira guerra mundial, por emenda constitucional.
É a Revolução Francesa que universaliza o conceito de liberdade e permite ampliá-
lo além dos privilegiados.
Faz parte do pensamento que orienta a construção da sociedade civil formatada
com a Revolução Francesa a ideia de que os homens nascem iguais. Assim, “liberdade,
igualdade e fraternidade [são] os direitos que vão sintetizar a natureza do novo
cidadão” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 163). A Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, elaborada no bojo da Revolução Francesa, suplantava a Declaração de
Independência Americana pelo seu caráter universal. Não se dirigia aos cidadãos
franceses, mas a todos os homens do mundo.
Na Declaração Francesa, o artigo 4º define a “liberdade como o direito de fazer
tudo o que não prejudique os outros”. “Como decorrência do fato de todos serem
iguais perante a lei, as dignidades, os cargos e os postos de trabalho públicos serão
acessíveis a todo cidadão francês” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 167). A Declaração deixa
claro que o Estado tem como principal objetivo assegurar os direitos civis do cidadão e
que deveria haver uma separação entre os poderes em Executivo, Legislativo e
Judiciário.
Os direitos dos cidadãos, no tocante principalmente à classe trabalhadora, se
amplia com a Revolução Comunista de 1917, a qual põe em prática os conceitos
socialistas e traz a discussão da ampliação dos direitos.
No Brasil, os direitos dos cidadãos foram, como em todo o mundo, adquiridos com
esforço e ao longo do tempo. A instituição do mercado livre de trabalho vem com a
abolição da escravatura, mas a condição de escravizados não pôde ser interrompida
com a Lei Áurea, uma vez que a massa de escravizados não foi preparada para sua vida
livre.
A Constituição de 1891 estendia o direito de voto a todo cidadão brasileiro maior
que 21 anos, do sexo masculino, excetuando-se mendigos, analfabetos e religiosos
sujeitos a voto de obediência que exigisse renúncia da liberdade individual. Embora, na
teoria, aumentasse os direitos dos cidadãos, na prática atingia apenas uma pequena
parcela da população, visto que a taxa de analfabetismo ultrapassava os 70% da
população, em 1920 (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 488). Somente a Constituição de 1988
universalizou o voto por meio da extensão facultativa aos maiores de 16 anos e aos
analfabetos (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 460 e 470).
No que diz respeito aos direitos trabalhistas, as conquistas no Brasil foram lentas, e
o Estado se manteve afastado das discussões entre trabalhadores e patrões por muitos
anos da República. Em 1919 foi reconhecida a obrigação do empregador indenizar o
operário em caso de acidentes de trabalho, muito embora o descumprimento de tal
obrigação fosse frequente. O reconhecimento do descanso remunerado durante quinze
dias por ano só foi conquistado em 1925, e a limitação do trabalho para menores de 14
anos só foi deliberada em 1927 (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 473).
Em 1923 foi criada a primeira Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAP) voltada
para os ferroviários. Esta iniciativa foi seguida por outras que resultaram no atual
sistema Previdenciário.
O Ministério do Trabalho, criado em 1930, formula projetos ligados às relações de
trabalho com

a duração da jornada de trabalho, regulamentação do trabalho feminino e de menores, férias para


comerciários e industriais, convenções coletivas de trabalho, salário mínimo, juntas de conciliação de
julgamento, percentagem de estrangeiros empregados nas empresas, criação da carteira de trabalho e nova lei
de sindicalização. (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 478).

O processo de normatização e fiscalização do trabalho se estabeleceu em 1943 com


a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). “Em 1966 foi criado o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 484).
Pela Constituição de 1988, o “Ministério Público deixou de ser parte do poder
executivo para tornar-se uma instituição independente” (Pinsky e Pinsky, 2016, p.
488). O artigo 52 desta Constituição “assegura aos cidadãos o conhecimento de
informações constantes de entidades de caráter governamental ou público” (Pinsky e
Pinsky, 2016, p. 488) e classifica o crime de racismo como inafiançável.
O acesso à educação formal no Brasil também foi concedido em doses, sendo
somente “permitido às mulheres brasileiras em 1827” (Pinsky e Pinsky, 2016, p. 496),
com o acesso à universidade liberado somente em 1879.

O papel social do engenheiro

Dentro da sociedade, qualquer que seja ela, o papel do engenheiro como


profissional e membro constituinte da sociedade em que pratica a sua arte é sempre de
destaque. Aguçando um pouco nossa atenção, onde quer que estejamos agora,
poderemos observar alguma obra da engenharia. Seja na impressão de um livro, na
construção de uma residência, no manuseio de um aparelho eletrônico inteligente, na
recepção de ondas eletromagnéticas, nos meios de transporte, no sistema de ar-
condicionado dos ambientes que frequentamos, nas roupas que utilizamos, ou nos
motores elétricos que animam muitos de nossos equipamentos domésticos. Enfim, seja
nos aparelhos, utensílios, equipamentos, máquinas e sistemas que utilizamos no dia a
dia, na nossa sociedade, nos depararemos com construções que têm embutidas a
atividade de engenheiros.
De uma forma abrangente, podemos dizer que a engenharia aparece em toda a
parte física da sociedade que coube ao homem construir. É da responsabilidade do
engenheiro o provimento do que poderíamos chamar de “hardware” social, a parte
física da sociedade que não nos é dada diretamente pela natureza.
Se, no passado, essa conceituação encontrava mais precisão com a realidade, no
presente, ela incorpora também boa parte de sistemas não materiais. Ocorre que a
aplicação do método racional de análise de problemas, a forma de estruturação de
soluções e a utilização de ferramentas manipuladas pelos engenheiros, como a
modelagem matemática e as simulações, na obtenção de produtos e serviços utilizados
pela sociedade, trouxe o título “engenharia” para atividades que não eram usuais no seu
escopo. Podemos falar de engenharia de software, engenharia de planejamento,
engenharia de segurança, engenharia econômica, engenharia de trânsito, engenharia de
produção, engenharia genética e muitas outras, que não necessariamente têm sempre
como resultado um equipamento, aparelho ou utensílio físico, mas procedimentos e
análises que justificam, organizam e racionalizam processos de interesse da sociedade.
Seja como for, o papel do engenheiro dentro da sociedade é crescente e cada vez
mais importante. Como podemos pensar a sociedade sem os engenheiros eletrônicos
ou civis? Como viveríamos hoje sem GPS para nos localizar e nos orientar nas nossas
viagens? Como poderíamos viver sem satélites, radares, aparelhos de comunicação?
Como seria a medicina sem os equipamentos modernos de diagnósticos, as próteses e
equipamentos de apoio a deficientes das diversas naturezas? Cidades construídas no
deserto, como Dubai e Las Vegas, talvez não passassem de meras imagens fantasiosas,
sem a engenharia.
Dentro da sociedade, o engenheiro exerce seu papel ordenador, prático,
construtivo, criativo, simplificador e viabilizador de um viver social melhor.
O objetivo da profissão é definido no Código de Ética do CONFEA (2014), artigo
8º, item I, que trata dos princípios éticos da profissão e diz:

Do objetivo da profissão:
A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos
maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores.

Sendo a profissão de engenheiro voltada para a sociedade; sendo os profissionais de


engenharia, dentro desta sociedade, partes necessárias para o seu desenvolvimento; e
recebendo desta sociedade o que necessita para viver com dignidade, conforto,
segurança, reconhecimento, posicionamento social e autorrealização, é fundamental
que o engenheiro reflita sobre os caminhos de conduta mais adequados para o
desenvolvimento da carreira. É preciso que escolha as formações em especialidades nas
quais se sinta realmente habilitado e vocacionado, nas quais possa converter em sucesso
as oportunidades mais promissoras e tenha gosto e vontade de investir seu tempo e
recursos materiais.
O engenheiro, como qualquer profissional, terá sempre a obrigação de estar se
capacitando, se construindo. No início, é a formação – a academia trazendo os
símbolos matemáticos e a linguagem quase esotérica das ciências, moldando o espírito
racional, analítico e prático. É no curso de engenharia que o engenheiro ganha sua
formação básica e gesta suas primeiras habilidades e competências.
De acordo as habilidades natas e aquelas que vão sendo conquistadas com a
experiência obtida pelo exercício profissional, o engenheiro vai se transmutando, se
aprimorando, se especializando e, em alguns casos, redescobrindo novos interesses
profissionais.
Com o amadurecimento e o exercício profissional, o engenheiro vai ganhando
competências que o qualificam para liderar, estabelecer relacionamentos duráveis e
produtivos, enxergar de forma mais ampla, estrategicamente, os passos que deve dar na
conquista dos seus objetivos de vida e profissionais.
Como cidadão, a responsabilidade social do engenheiro é grande e sua atuação deve
ser exemplar. Deve conhecer seus direitos e deveres: ser um cidadão-engenheiro.
Dos direitos e deveres do engenheiro

Como parte do tecido social, o engenheiro tem deveres e direitos. Como cidadão,
deve se orientar pela Constituição do seu país e pelas leis que regem o funcionamento
das instituições. Como profissional, se obriga a seguir orientações dos órgãos que
regulam as profissões e dos órgãos de classe aos quais estiver vinculado, exercendo sua
profissão com honradez.
Sobre a honradez da profissão, o Artigo 8º do Código de Ética do CONFEA
(2014) explicita: “A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta
honesta, digna e cidadã.”
No Brasil, o Código de Ética do CONFEA define ainda alguns dos direitos e
deveres do profissional de engenharia,24 além das demais profissões vinculadas a esta
entidade.
No Artigo 9º, “Dos deveres” do engenheiro, podemos destacar os de oferecer seu
saber para o bem da humanidade (inciso I, alínea a); empenhar-se junto aos
organismos profissionais para a consolidação da cidadania e da solidariedade
profissional, e da coibição das transgressões éticas (inciso II, alínea e); alertar sobre os
riscos e responsabilidades relativos às prescrições técnicas e às consequências
presumíveis de sua inobservância (inciso III, alínea f); atuar com lealdade no mercado
de trabalho, observando o princípio da igualdade de condições (inciso IV, alínea a);
orientar o exercício das atividades profissionais pelos preceitos do desenvolvimento
sustentável (inciso V, alínea a).
No Artigo 10, o Código de Ética do CONFEA explicita as “Condutas Vedadas”,
como, por exemplo, ante o ser humano e a seus valores, usar de privilégio profissional
ou faculdade decorrente de função de forma abusiva, para fins discriminatórios ou para
auferir vantagens pessoais (inciso I, alínea a). Ante a profissão, aceitar trabalho,
contrato, emprego, função ou tarefa para os quais não tenha efetiva qualificação (inciso
II, alínea a); nas relações com os demais profissionais: referir-se preconceituosamente a
outro profissional ou profissão (inciso IV, alínea b); e atentar contra a liberdade do
exercício da profissão ou contra os direitos de outro profissional (inciso IV, alínea d).
Os aspectos de “Direitos” são também cobertos pelo Código de Ética. O Artigo 11º
destaca na alínea “a” que “são reconhecidos os direitos coletivos universais inerentes às
profissões, suas modalidades e especializações, destacadamente: à livre associação e
organização em corporações profissionais.”
No tocante à remuneração, o Artigo 12º destaca que “são reconhecidos os direitos
individuais universais inerentes aos profissionais, facultados para o pleno exercício de
sua profissão, destacadamente: à justa remuneração proporcional à sua capacidade e
dedicação e aos graus de complexidade, risco, experiência e especialização requeridos
por sua tarefa”.

Conclusão

A profissão é uma grande responsabilidade. A sociedade, por seus laços invisíveis,


amarra cada indivíduo em sua estrutura e passa a confiar neles como um nó firme do
tecido social.
Assim como nos deixamos direcionar pelos médicos que escolhemos nos nossos
tratamentos, permitimos que cortem nossos corpos e invadam nossa privacidade pela
confiança que temos neles, assim também tomamos um avião confiando na
competência dos engenheiros que o projetaram. Subimos num elevador ou
construímos nossas moradias em prédios elevados confiando que quem projetou e
construiu estes “engenhos” tinha competência para fazê-lo.
Mais do que competência, a sociedade, por meio de seus membros, entende que o
engenheiro fez um projeto com responsabilidade e seriedade, buscou as melhores
práticas de engenharia e utilizou seu conhecimento de maneira adequada.
Como em geral utilizamos produtos e serviços de engenharia feitos por
profissionais que não conhecemos, dos quais não sabemos o nome nem a origem, a
confiança social nos engenheiros se baseia, na confiança da sociedade nas Faculdades
que os formam, acreditando que estas são capazes de ensinar e só entregarão ao
mercado profissionais habilitados. Há também a confiança no Conselho de
Engenharia que regula a profissão e que reconhece o “grau” de engenheiro ao egresso
da Faculdade e que reconhece, de forma mais direta, o resultado do trabalho social do
engenheiro como de importância, qualidade e necessário para o bom desenvolvimento
e funcionamento da sociedade.
A profissão de engenheiro dá dignidade a quem tem este título; o trabalho
competente dá reconhecimento e aceitação social; o reconhecimento valoriza os
esforços e dá sentimento de importância social ao engenheiro. Este é, antes de tudo,
um cidadão com direitos e deveres e que tem sob sua responsabilidade boa parte do
bem-estar social, como engenheiro-cidadão que é.

Exercícios de avaliação de conteúdo

5.1. Como você definiria cidadania?


5.2. Cite três direitos e três deveres do cidadão da sociedade em que você vive.
5.3. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 tem no seu art. 1º o
texto:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, ..., constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
[...]
II - a cidadania,
Dê sua interpretação para o significado de cidadania neste contexto.
5.4. Em que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão pode ser considerada
melhor que a Declaração de Independência dos Estados Unidos?
5.5. Identifique alguns direitos dos cidadãos que foram instituídos tardiamente no
Brasil, com identificação da época de sua adoção.

Exercícios vivenciais

5.6. Em 10 de dezembro de 1948 foi proclamada a Declaração Universal dos


Direitos Humanos (DUDH). Entre no site das Nações Unidas sobre este assunto e
identifique, entre os 30 artigos da DUDH, um que aborde trabalho e remuneração.
5.7. A Declaração de Independência dos Estados Unidos, aprovada em 4 de julho
de 1776, com texto coordenado por Thomas Jefferson, explicita alguns direitos do ser
humano considerados inalienáveis. Explicite-os. Explicite também alguns direitos dos
Estados Independentes americanos.
5.8. Consultando o Código de Ética do CREA, identifique dois deveres e dois
direitos do engenheiro, explicitando os artigos, incisos e alíneas (conforme o caso)
onde se pode encontrar estas informações.
–6–
O engenheiro-líder

A importância do líder

Juntam-se seis alunos para fazer um trabalho em grupo e as discussões começam:


quem fará o quê? Quem dará a forma final ao trabalho? Quando será a reunião? Qual a
forma de apresentação de cada parte feita?
Nestas ocasiões, não é incomum que um aluno se ofereça para receber as partes
elaboradas por cada membro do grupo e dar corpo final ao trabalho, passando a cobrar
dos colegas a pontualidade na entrega e o adequado formato a ser dado ao material
enviado. Ele passará a ser o coordenador do grupo.
Sem esta figura do coordenador, dificilmente o trabalho será finalizado de forma
satisfatória. Se não houver quem cobre os resultados, há grande possibilidade de que
algum integrante do grupo tenha que assumir a parte de outro, que haja conflitos entre
seus membros e que o prazo não seja cumprido.
Podemos dizer que esta pessoa do grupo que cobra os prazos, define as metas,
organiza e orienta o grupo nas suas atividades assumiu a sua liderança. Se não houver
um líder para organizar, dar direção, gerar no grupo a energia necessária para a
realização das tarefas, as coisas têm grande chance de não acontecer.
Na vida diária, a figura do líder é de grande importância. Uma simples organização
de um churrasco de final de semana passa pela necessidade de uma liderança, que pode
aparecer na forma de um administrador de atividades, um organizador que divide
tarefas ou simplesmente alguém que manda o mapa do local de realização do evento
para todos.
Desde a organização de festas de pequenos grupos até grandes movimentos sociais,
a figura do líder é fundamental para dar coesão, organização, direção para as ações e
correção dos caminhos nos momentos devidos. A liderança está presente nas atividades
sociais e, no que aqui nos interessa com mais atenção, nas organizações voltadas para
produção de bens e serviços, com conteúdo de engenharia.
Empresas se organizam colocando líderes nas posições-chave de suas estruturas
organizacionais. Sem boa liderança, a eficiência dos trabalhos e o clima de trabalho
reinante dentro dos grupos que fazem a empresa funcionar podem ser bastante
prejudicados. “A liderança é necessária em todos os tipos de organizações humanas e
essencial em todas as funções da administração” (Chiavenato, 2013, p. 86).
Um bom líder deve entusiasmar seus liderados, direcionar as atividades destes de
forma clara, assumir riscos e vislumbrar oportunidades para seu grupo. Deve lutar pela
manutenção e bem-estar do grupo e procurar fazer, cada vez mais, com que este o
reconheça como líder; desta forma, ele poderá continuar exercendo seu papel, cada vez
com mais autoridade.

O que é liderança?

“A liderança ocorre sempre que alguém procura influenciar o comportamento de


um indivíduo ou de um grupo, qualquer que seja a sua finalidade” (Hersey e
Blanchard, 1982, p. 4). Muitas são as tentativas de uma definição precisa sobre o que é
liderança. Podemos ver alguns exemplos a seguir:

“Liderança é a realização de uma meta por meio da direção de colaboradores


humanos” (Prentice, 1961, apud Maximiano, 2000, p. 388);
“A influência interpessoal exercida em uma situação e dirigida por meio de um
processo de comunicação humana para o alcance de objetivos específicos”
(Hersey e Blanchard, 1982, p. 86);
“É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente
visando atingir objetivos identificados como sendo para o bem comum” (Hunter,
2004, p.28);
“Liderança é o uso da influência não coerciva para dirigir as atividades dos
membros de um grupo e levá-los à realização dos objetivos do grupo” (Jago, 1982,
apud Maximiano, 2000, p. 388).

Podemos observar, das definições anteriores, que a capacidade de um líder


influenciar o seu grupo é a essência da liderança. O termo influenciar pode ser
compreendido como “a força psicológica, uma transação interpessoal na qual a pessoa
age a fim de modificar – intencionalmente – o comportamento de outra”
(Chiavenato, 2013, p. 86). Quando esta influência é bem-sucedida, dizemos que existe
controle sobre o outro.
Para influenciar seu grupo, o líder deve ajudar os membros do grupo a:

ter clareza das necessidades do grupo;


definir formas de atingir a satisfação das necessidades;
agir com motivação;
manter a coesão do grupo;
desenvolver as habilidades necessárias para agir dentro do grupo;
definir as prioridades nas ações.

Além disto, cabe ao líder ainda monitorar as atividades do grupo, atuando quando
estas levam a desvios dos objetivos, e a agir de forma que o grupo reconheça sua
liderança, o que envolve lealdade, respeito, ética e outros atributos de valor para o
grupo.
Observe-se que a liderança pode ser exercida mesmo sem contato direto com os
liderados. Muitos líderes religiosos, ou de ideias filosóficas e mesmo líderes de empresas
têm sua influência disseminada pela ação de liderados aos quais ele outorga autoridade.
Uma vez que a influência do líder sobre seu grupo liderado tem relação direta com
a autoridade do líder e com o poder que emana desta autoridade, o tema “autoridade e
poder” assume um papel importante no entendimento da liderança.

Autoridade, poder e legitimidade

O dicionário define autoridade como o “direito ou poder de se fazer obedecer, de


dar ordens, de tomar decisões, de agir, etc”. O poder é definido como: “(1) – ter a
faculdade de”; “(2) – ter possibilidade de, ou autorização para” (Ferreira, 2009).
Poder e autoridade são palavras usadas, muitas vezes, como sinônimas, devido às
suas estreitas relações. Quando se fala em liderança, no entanto, estas palavras têm
sentidos diferentes.
Pode-se entender que a autoridade do líder “é a habilidade de levar as pessoas a
fazerem de boa vontade o que ‘ele’ quer, por causa de sua influência pessoal” (Hunter,
2004, p. 29) e o poder do líder como “a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer
sua vontade, por causa da posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer”
(Hunter, 2004, p. 29). Assim, numa primeira aproximação, pode-se tentar distinguir
autoridade de poder, compreendendo a primeira como a capacidade de influenciar e o
segundo como a capacidade de coagir.
Autoridade e poder foi um tema de interesse e estudo do sociólogo Max Weber
(1864-1920), que é uma personalidade importante no campo da sociologia. Weber se
preocupou com o que chamou de dominação, que é uma forma de poder baseada na
autoridade, e a estudou, apresentando suas conclusões no livro publicado após sua
morte, chamado Sociedade e Economia.
Weber definiu o poder como “a probabilidade de uma pessoa ou várias impor,
numa ação social, a vontade própria, mesmo contra a oposição de outros participantes
desta” (Weber, 1999, p. 175).
Para Weber (apud Maximiano, 2000, p. 395), a autoridade espelha a
“probabilidade de uma ordem ou comando específico [do líder] ser obedecida pelo
grupo”.
Weber utiliza o termo dominação no sentido amplo de poder. Para ele, dominação
é, portanto, a “possibilidade de impor ao comportamento de terceiros a vontade
própria” (Weber, 1999, p. 189).
Weber destaca dois tipos de dominações:

a. a imposta pelo monopólio, quando, por exemplo, uma pessoa tem o monopólio
de alimentos ou de terras férteis e, em razão deste poder, impõe sua vontade a
outros que dependem dele para se alimentar;
b. a dominação em virtude de autoridade, que significa para ele o poder de mando
de quem tem esta autoridade e o dever de obediência de terceiros.

Exemplos deste segundo tipo de dominação são o poder do chefe de família, o da


autoridade administrativa eleita ou designada para determinado fim e o da autoridade
do gerente, que é nomeado para liderar uma equipe de trabalho dentro de uma
empresa. Este último tipo corresponde a uma atuação usual do engenheiro-líder nas
empresas.
No tipo de dominação que decorre da autoridade, para o indivíduo ter poder, ele
precisa estar investido desta autoridade. O poder vem em razão desta. A autoridade
confere ao líder o que Weber chama de legitimidade, o que significa que o grupo
liderado reconhece a autoridade do líder. Assim, podemos dizer que a autoridade,
quando legitimada, ou seja, oficializada, institucionalizada, reconhecida dentro de um
grupo social, proporciona o poder.
Em resumo: “A aceitação pelo grupo e a justificação para o líder ter autoridade
recebem o nome de legitimação. A autoridade é legitima quando é aceita pelo grupo”
(Chiavenato, 2013, p. 157). Assim, o poder do líder decorre da autoridade e esta
depende da legitimidade, que é a justificação para que a autoridade se exerça.
A legitimação da autoridade, como veremos adiante, pode ser obtida, por exemplo,
por ser reconhecido que o indivíduo, por tradição, tem direito àquela autoridade. Este
é o caso de um príncipe que assume o trono quando o rei morre.
A legitimidade da autoridade pode ser também reconhecida pelos liderados, porque
estes passam a ver no líder que a detém a pessoa capaz de conduzir os ideais do grupo –
ou, numa linguagem mais técnica, pelo carisma do líder.
Pode ainda ser legitimada quando alguém, com reconhecida autoridade para
delegar –por exemplo, o dono de uma empresa –, formaliza por documento que tal
indivíduo está autorizado a falar em seu nome.
Na vida social ou nas empresas, existem líderes cuja autoridade pode não ter sido
formalmente legitimada por um documento ou um ritual. Assim, por exemplo, a
autoridade carismática pode decorrer do fato de o líder ser admirado e respeitado pelo
grupo, sem a necessidade de qualquer tipo de documento ou ritual que afirme esta
autêntica liderança. Nestes casos de liderança não formalizada, chamada de liderança
informal, a autoridade reconhecida decorre do poder do líder, sendo inerente a quem a
detém e, portanto, não havendo necessidade de outorgá-la e tornando-se difícil retirá-
la de quem a possui.
Weber identificou três tipos puros de autoridade baseados em como ela é exercida:
a tradicional, a carismática e a burocrática. Discutiremos estas três formas de exercício
da autoridade no item “tipos de líderes”.
Como toda autoridade, a do líder pode ser questionada. Nesta situação, se ela for
ameaçada, o líder terá como recurso para mantê-la o exercício do poder, caso contrário,
poderá perder a autoridade diante do grupo e com ela o poder.
O exercício contínuo do poder, no entanto, pode trazer posturas autoritárias e
descontentamento dentro do grupo liderado, levando a movimentos de
questionamento do poder ou submissões dentro do grupo que, por sua vez, podem
torná-lo ineficaz, medroso, sem criatividade e incapaz de assumir decisões.

Das características do líder

O líder deve ter alguma característica nata para desempenhar seu papel, ou
qualquer pessoa que assim o deseje pode tornar-se líder?
As respostas clássicas a esta pergunta seguem duas visões: a) a que entende que o
líder tem determinadas características necessárias (que podem ser adquiridas ou natas);
e b) a que entende que o líder se forma e aparece conforme a situação de demanda. Esta
última é a que ocorre no tipo de liderança chamada de situacional.
Na primeira visão, é determinante que o líder tenha algumas características, como
iniciativa e identidade com as pessoas que lidera. Outro fator é sua motivação para ser
líder, a vontade de estar na posição de liderança (Maximiano, 2000, p. 400).
As escolas mais modernas tentam identificar algumas competências e habilidades
que um líder deve ter ou desenvolver. Algumas são:

a. capacidade de despertar o compromisso dos liderados com a sua visão;


b. capacidade de comunicar suas ideias e visão de forma simples, em geral, por meio
de imagens e com uma linguagem coloquial;
c. manter firmes os seus propósitos, apesar de poder encontrar discordâncias dentro
da organização, tratando os discordantes com respeito, de forma a não perder
deles a confiança e a admiração;
d. capacidade de identificar e utilizar os seus pontos fortes, além de melhorar os
pontos fracos.

Os que defendem a segunda visão, a de que a liderança depende da situação


(liderança situacional), argumentam que existem pessoas com características
necessárias à liderança, mas que não são líderes, e que outras pessoas que não têm as
características de líderes assumem a liderança em função da situação que o grupo ao
qual pertence vivencia em determinado momento. Desta forma, as características do
líder não seriam determinantes.
Assim, um tímido marinheiro pode se tornar líder de uma equipe de pessoas,
inclusive pessoas que tenham características de liderança, em situações como a do
naufrágio de um navio, onde as pessoas se deixam conduzir e assim se influenciar pelo
marinheiro, que, embora tímido, é experiente o bastante para lhes dizer como se
salvarem.
De forma geral, espera-se que qualquer líder demonstre, durante o exercício de sua
liderança, habilidades como: capacidade de influenciar, integridade, bom
relacionamento interpessoal e que trabalhe em equipe. Com estas habilidades, espera-
se que ele conquiste o respeito e a confiança da sua equipe, buscando tanto quanto
possível o consenso nas decisões que impactam o grupo. Para influenciar seu grupo, a
habilidade de comunicação aparece como uma das principais.
A liderança situacional será melhor discutida no próximo item, “tipos de líderes”.

Tipos de líderes

Diferentes são as razões pelas quais um grupo aceita a liderança. Estas razões
permitem a identificação de diferentes tipos de líderes.
O líder pode ser aceito pela competência demonstrada para conduzir o grupo numa
situação dada, pode ser aceito pela posição que ocupa numa estrutura organizacional
de uma empresa ou em razão de seu caráter, entre outras.
Apresentaremos alguns tipos de líderes que podem ser identificados pela
abordagem de Max Weber (1999, p. 197-355) sobre autoridade e pelas escolas de
administração humanista e comportamental.
A classificação baseada em Weber se fundamenta no tipo de autoridade que
sustenta o poder do líder. Weber identificou três tipos puros de autoridade: a) a
tradicional; b) a carismática; e c) a racional ou burocrática. Estas geram três tipos puros
de lideranças: a) a tradicional; b) a carismática; e c) a racional ou burocrática.
Líder tradicional

Sua liderança se baseia na autoridade tradicional. Sua base é, portanto, a tradição.


“Esta pode encontrar seu fundamento na tradição sagrada, isto é, no habitual, no que
tem sido assim desde sempre, tradição que prescreve obediência diante de
determinadas pessoas” (Weber, 1999, p. 198). Se o líder chega aonde chegou porque as
coisas são feitas como sempre foram feitas, o líder é legítimo. Assim, o grupo aceita sua
autoridade porque ele foi escolhido da forma tradicional de escolha de líderes e que
sempre foi praticada pelo grupo social em questão.
A autoridade tradicional legitima a autoridade dos reis, uma vez que estes são
sucessores de seus ancestrais também coroados. A mesma tradição legitima a
autoridade dos pais de família nos regimes patriarcais, devido à linha de descendência,
e dos líderes de tribos, por sua linhagem ou pelo reconhecimento de sua capacidade.
Ela legitima também o herdeiro de uma empresa familiar na cadeira da presidência.
Todos os líderes exemplificados são aceitos por terem sido escolhidos segundo a
tradição de escolha e atendendo aos requisitos de posse do grupo. Assim, o poder
tradicional é legitimado pelo grupo liderado porque este acredita que as tradições que
sempre foram praticadas são certas e justas. A tradição pode definir também o processo
de escolha. A escolha de um Papa da igreja católica, por exemplo, se dá por um
processo indireto, onde as pessoas tidas como capazes e autorizadas pelo grupo
escolhem o líder.

Líder carismático

Neste caso, o líder é aceito pelo grupo por causa do seu carisma. Carisma, no grego,
significa dom.25 Pode ser entendido como dom concedido por Deus (Chiavenato,
2013, p. 158). Encontramos ainda, no dicionário, carisma como “atribuição a outrem
de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina mágica, diabólica ou
apenas de individualidade excepcional” (Ferreira, 2018).
É neste último sentido, relacionado à personalidade do líder, ao seu caráter, que
Weber trata esta autoridade. A autoridade do líder carismático é aceita devido à sua
forte personalidade, a qual é capaz de exercer grande influência sobre o grupo. Esta
autoridade não tem base racional e não é delegada nem recebida por herança, como
ocorre no poder legitimado pela autoridade tradicional. O poder é legitimado pela
personalidade do líder, pela autoridade que emana de suas palavras, pela devoção e
confiança que o grupo manifesta em relação a ele.
A autoridade carismática é encontrada em líderes religiosos, em grande parte dos
líderes políticos e em pessoas de notória influência sobre as opiniões e crenças dos
grupos sociais. Moisés, líder dos judeus durante a saída do Egito, era um líder
carismático. Gandhi, na Índia, também o era.
O líder carismático não é escolhido por suas habilidades ou conhecimentos, mas
pela admiração e poder de sedução que exerce sobre os seus liderados. Ele é admirado
pelo seu grupo, sendo, em geral, capaz de alterar, com suas palavras ou com seus atos, as
emoções que conduzem o grupo, levando-o a estados mais próprios para ações de
fundo emocional. Este tipo de líder costuma levar ao grupo visões ousadas e grandiosas
que o motivam até mesmo a sacrifícios e atos extraordinários.
Um líder carismático costuma ser visionário, ou seja, traça visões futuras e cenários
com clareza e emoção, levando o grupo a ter expectativas elevadas. Além disto,
incentiva o grupo a transpor as dificuldades, mantendo o seu entusiasmo pessoal e a
sua demonstração de autoconfiança e, como característica também marcante, busca
tornar o grupo capaz de agir, seja pela organização ou pelo apoio pessoal que dá aos
seus membros, pelos quais expressa sua empatia e confiança.
A autoridade carismática é aquela que “desperta a devoção dos seguidores do líder”
(Maximiano, 2000, p. 398).

Líder burocrático

O líder burocrático sustenta sua liderança na autoridade burocrática (também dita


racional ou legal), que se expressa de maneira formal. Neste caso,

[…] a ‘validade’ de seu poder de mando expressa-se num sistema de regras racionais estatuídas (pactuadas ou
impostas) que, como normas universalmente compromissórias, encontram obediência quando a pessoa por
elas ‘autorizada’ a exige. Neste caso, o portador individual do poder de mando está legitimado por aquele
sistema de regras racionais, sendo seu poder legítimo, na medida em que é exercido de acordo com aquelas
regras. (Weber, 1999, p. 197).
Assim sendo, a liderança legitimada pela autoridade burocrática, legal ou racional,
se baseia em leis, normas e ritos que o grupo aceita como legítimos para validar a
autoridade do líder. De forma geral, a autoridade da liderança é explicitada de maneira
formal por meio de documentação escrita.
A legitimidade do poder legal se baseia, portanto, em normas formalmente
definidas. Assim é, por exemplo, a liderança de um chefe em uma empresa que assume
a função por escolha formalizada por um líder superior na hierarquia e reconhecido
como tal pelo grupo.
Em geral, alguns ritos acompanham a formalização da atribuição de autoridade ao
líder, como, por exemplo, a solenidade de posse de um presidente. Nesses casos, esses
líderes são aceitos como tal, porque o grupo liderado entende que a autoridade tem
fundamento legal e se baseia em normas que regem o funcionamento do grupo, como a
Constituição de um país, por exemplo.
Do mesmo modo ocorre a escolha de um “chefe” de um grupo dentro de uma
organização, que na maioria das vezes atua como um “gerente”. Esta escolha se dá por
meio de um processo formal baseado em procedimentos da organização, como, por
exemplo, a indicação dos nomes feita pelo escalão imediato e a escolha do nome entre
os indicados, pelos ocupantes de dois escalões acima na empresa.
Em muitas organizações burocráticas, são comuns os símbolos de autoridade, que
indicam, inclusive, a hierarquia das autoridades, como os uniformes para os militares,
os tamanhos das salas para os diferentes níveis gerenciais das empresas e os serviços de
que dispõe o líder para seu uso particular.
A atuação do líder formalmente indicado tem, em geral, tempo de duração, o qual,
uma vez terminado, levará à escolha e à formalização do próximo líder sucessor.

Líder situacional

A escola Humanística de administração, dentro da sua Teoria das Relações


Humanas (Chiavenato, 2013), entende que o aparecimento do líder depende da
situação em que se encontra o grupo liderado, ou seja, de suas necessidades
momentâneas. É em função da situação em que o grupo se encontra que ele escolhe o
líder.
Tal abordagem é conhecida, como já foi dito, como liderança situacional.
Dentro desta visão, quem lidera o faz porque seu perfil, seu estilo, o estilo de seu
grupo e a sua forma de conduzir a liderança se adequam melhor à situação vivenciada
pelo grupo. Nesta visão, o “bastão” de líder pode passar de uma mão para outra com a
mudança da situação do grupo.
Consideremos, por exemplo, uma situação em que um passageiro de um avião em
voo passa mal. O piloto ou o responsável pelos passageiros anuncia que precisam de um
médico para atender a um mal súbito ocorrido com um dos passageiros. Quando o
médico se apresentar, ele passa a ser o líder do voo, definindo se o avião deve aterrizar
no aeroporto mais próximo para obter ajuda ou se o voo deve continuar porque o
paciente vai reestabelecer sua condição para seguir. Enfim, o médico passa a tomar
decisões que um passageiro normal não tomaria e somente o comandante poderia
tomar. Este, no entanto, cede sua liderança ao médico, que passa a atuar como um líder
situacional.
A Escola Humanística identifica três relações entre o líder e o grupo que levam o
grupo a aceitar a liderança situacional:

a. o líder é escolhido pelo grupo por ser a pessoa com características mais adequadas
para levá-lo a tomar as decisões certas para caminhar em direção aos seus
objetivos, considerando a situação em que o grupo se encontra. Tendo as
características mais adequadas, o líder é capaz de reduzir as incertezas do grupo,
dando a ele mais confiança e coesão para atingir seus objetivos. Assim, um perito
em fugas em ambientes com fogo, se tiver voz de comando, tende a ser o líder de
um grupo na fuga de um incêndio;
b. o líder é visto como a pessoa que possui ou pode controlar os meios de satisfação
das necessidades do grupo, podendo indicar os caminhos mais adequados para
cada um de seus componentes ou para o grupo como um todo. Este tipo de
relação pode se estabelecer, por exemplo, entre o possuidor dos meios de
produção e os seus empregados. Neste caso, o grupo tem necessidades
(econômicas) que são atendidas pelo líder;
c. o líder é visto como aquele que sabe adequar as características dos indivíduos do
grupo às necessidades que a situação exige. Este caso de liderança é aquele no qual
a situação exige características específicas do líder e de seus subordinados a fim de
superar as dificuldades momentâneas. Assim, num centro cirúrgico, o cirurgião
tenderá a ser o líder, organizando o grupo para a obtenção dos resultados que a
situação exige e buscando que cada um exerça as competências profissionais
necessárias ao bom resultado da cirurgia.

A escola comportamental de administração identifica dois tipos de líderes: o


transacional e o transformador (Maximiano, 2000, p. 390).

Líder transacional

Este tipo de líder troca, “transaciona”, negocia com o grupo liderado. Ele troca o
apoio de seus liderados por algum tipo de recompensa que tenha como oferecer, seja
ela material ou social. Se o grupo atingir os objetivos definidos ou cumprir a missão
que lhe foi dada, receberá uma recompensa como “prêmio”. Por esta razão, esse líder
também é conhecido como líder de recompensa. Sua autoridade de líder decorre,
portanto, de seu poder de premiar as pessoas, sendo este poder reconhecido pelo seu
grupo.
Exemplo deste líder é o “chefe” tradicional, que define os empregados que serão
promovidos ou ganharão aumentos ou premiações diversas. Os liderados tendem a
seguir as orientações e ordem do seu “líder”, devido à obtenção de vantagens que este é
capaz de lhes conceder, mesmo que seus objetivos não sejam os mesmos do líder.
Neste caso, existe uma racionalidade que sustenta a relação do grupo, havendo
pouca ou nenhuma motivação de fundo emocional. A liderança transacional pode
conceder recompensas morais, como elogios públicos, demonstração de
reconhecimento, e outras, ou materiais, como aumentos salariais, bônus e premiações.

Líder transformador

Este tipo de líder tem o papel principal de criar nos liderados uma visão a ser
seguida por eles, seja para o grupo atingir seus objetivos, ou, no caso de empresas, para
alinhar os objetivos do grupo com a visão da empresa, levando os seus liderados a
agirem de modo a concretizarem esta visão.
Esta liderança é muitas vezes identificada como liderança autêntica. A motivação
do grupo para aceitar o líder como tal é de fundo emocional. O líder se vê com uma
missão de natureza moral por envolver a passagem de ideais ou desafios para o grupo
liderado. Este tipo de líder também pode ser, por esta razão, chamado de líder moral
(Maximiano, 2000, p. 397).
A missão de natureza moral se aproxima da autoridade carismática, no caso do líder
evocar valores e ser, para os liderados, o seu condutor. Pode ser ainda identificada com
a liderança baseada na autoridade tradicional, onde o líder é reconhecido por atender
às exigências normativas ou tradicionais.
Considerando o fator que legitima a autoridade do líder diante do grupo, temos
outros tipos de lideranças.

Líder coercitivo

Este líder é, de forma geral, capaz de imputar sofrimentos físicos ou psicológicos aos
seus liderados. Sua liderança decorre deste poder coercitivo, porém o grupo reconhece
o direito do líder de aplicar as punições. Os liderados, neste caso, farão o que o líder
desejar pelo medo de serem punidos, de sofrerem algum tipo de dor ou desconforto.
Um exemplo deste tipo de liderança é a de um militar superior que é capaz de
prender seu comandado caso ele não cumpra as suas ordens; é o tipo de liderança
exercida onde a relação de poder é baseada na força, no mais forte, no mais agressivo. O
poder coercitivo ocorre também nas empresas de forma mais sutil. Nelas, o líder é
capaz de demitir seus liderados, de impor a eles advertências e punições que os deixam
profissionalmente desqualificados.
Neste tipo de liderança, o grupo não tem uma motivação positiva para atender ao
líder, mas o faz por medo das consequências negativas possíveis de serem a ele
imputadas pelo líder. Mesmo podendo haver o reconhecimento de que o líder tem
direito a agir de forma coercitiva, sendo a liderança aceita pelo grupo, a motivação dos
liderados não será positiva.

Líder por competência


Este tipo de líder é reconhecido pelo grupo por sua competência e maior
capacidade de decidir em prol da equipe, de forma adequada. O seu reconhecimento
como líder decorre do seu saber, da sua experiência ou do seu conhecimento. Assim,
este líder pode ser um professor que, mesmo sendo uma figura tímida, de pouco falar,
seja reconhecido por seus alunos como capaz de orientá-los em trabalhos técnicos. Suas
orientações serão seguidas não pelas emoções que provoca no grupo, nem porque o
consideram moralmente equilibrado ou ético em suas ações, mas pelo reconhecimento
de que ele é o melhor tecnicamente para levar o grupo a atingir os resultados desejados.
A liderança deste tipo de líder está, portanto, baseada no seu conhecimento e nas
suas habilidades, na confiança que o grupo tem na sua orientação e na sua capacidade
de difundir sua competência no fazer.
A liderança por competência concede autoridade a muitos engenheiros que
assumem cargos de liderança em gerências técnicas dentro de empresas. Por exemplo,
um engenheiro mais experiente pode, por sua vivência profissional e formação teórica,
ser reconhecido e respeitado como o líder de uma equipe técnica.
A competência técnica significa que o grupo liderado acredita que o líder é mais
competente que os demais do grupo para solucionar as questões técnicas que precisam
resolver. Assim, o grupo acata e escuta, deixando-se influenciar pelos pareceres e
opiniões do líder. É conveniente que o gerente do setor técnico de uma empresa seja
também o líder técnico, tendo sua autoridade na competência técnica que seus
subordinados observam nos seus trabalhos e nas soluções para os problemas que
aparecem para serem resolvidos pelo grupo.
Embora a competência técnica não seja necessária em todos os cargos de liderança,
ela é sempre desejável nas organizações, sendo conveniente que um administrador seja
referência técnica na gestão dos processos administrativos, um engenheiro civil nas
atividades de edificações e um médico nefrologista seja o melhor conhecedor dos
procedimentos que serão aplicados num transplante de rim, por exemplo.

Líder por poder de informação

Este tipo de líder se vale da sua capacidade de acesso a dados e informações que
afetam o direcionamento do grupo. Seu poder reside basicamente nas informações a
que tem acesso e das quais pode dispor em detrimento de outros membros do seu
grupo.
Um exemplo desse tipo de liderança é o exercido por um indivíduo que tem acesso
a reuniões com os decisores de algum tipo de movimento político. Ele se reúne com a
cúpula do movimento, da qual emanam as deliberações e posições que devem ser
adotadas pelo grupo. Como responsável pela sua divulgação e único conhecedor das
decisões tomadas pelas lideranças maiores, passa a deter o poder de orientar e
interpretar para o grupo o significado das decisões.
O poder da informação permite que uma maioria seja dominada por um pequeno
número de pessoas.

A ‘vantagem do pequeno número’ é plenamente eficaz quando os dominadores guardam segredo de suas
intenções, das decisões e do conhecimento, atitude que se torna mais difícil e improvável com cada
acréscimo. Todo aumento do dever de guardar o ‘segredo oficial’ é um sintoma da intenção dos dominadores
de intensificar o poder por eles exercido ou da convicção de este estar exposto a uma ameaça crescente.
(Weber, 1999, p. 196).

Estilos de liderança

Os líderes muitas vezes adotam estilos que são próprios de suas personalidades e,
em muitos casos, mais adequados a uma dada organização ou situação vivida.
Podemos identificar três estilos puros de liderança: autocrático, liberal e
democrático. Estes estilos levam em conta a forma como o líder se relaciona com o seu
grupo.

Liderança autocrática

Neste estilo de liderança, o líder centraliza o poder de decisão com respeito às ações
do grupo. Como líder, ele define diretrizes e não pede a opinião do seu grupo de
liderados. O líder que atua de forma autocrática define as tarefas de cada membro do
seu grupo e também, no caso das organizações, dos participantes dos grupos de
trabalho. Nesse estilo de liderança, o líder tende a não confiar no seu grupo e a não
delegar poderes para os seus liderados. Também costuma impor as suas ideias e
decisões para o grupo, não solicitando participação dos membros na construção dessas
ideias e decisões. De forma geral, não dirige elogios ao grupo e, quando o faz, os
direciona a pessoas específicas, e não ao coletivo.
Por seu estilo centralizador, não estimula a participação de seus liderados nas
decisões nem tampouco a assumirem responsabilidades dentro do seu grupo. Desta
forma, o grupo deixa para o líder, ou “chefe”, o ônus dos erros e os benefícios dos
acertos, apontando-o então como o responsável pelos resultados.
Alguns líderes autocráticos se tornam demasiadamente centralizadores e se sentem
extremamente poderosos, podendo se tornar autoritários e exercer poder coercitivo.

Líder democrático

Este líder procura debater com seu grupo de liderados as ideias, deixando que o
grupo decida as ações e as atividades de cada membro e atuando predominantemente
como facilitador da comunicação e ativador das ideias do grupo. Divide seu poder com
o grupo e não se sente ameaçado por ele. Funciona também como orientador das
discussões, atuando muitas vezes como conselheiro e sugerindo alternativas para
escolha do grupo. As atividades são divididas por escolha do grupo, assim como são
definidos os seus membros, no caso de grupos de trabalho. Nos elogios e críticas,
procura objetividade, buscando sempre se apoiar em fatos, não em sentimentos.
Quanto mais liberal o líder, mais ele repassa poder aos membros do grupo (o que é
chamado de empowerment), para que eles possam atuar de forma responsável e
comprometida.

Líder liberal ou anárquico

Este tipo de líder delega as decisões sobre tarefas e direções a serem tomadas aos
membros do grupo liderado. Tem nenhum ou pouquíssimo controle sobre o que faz
cada liderado e, nas organizações, não acompanha as suas tarefas. Sua presença é pouco
realçada, sendo mais destacada a participação do grupo.
Os membros dos grupos de atividade (e de trabalho, no caso das organizações)
dividem entre si as tarefas, sem intervenção do líder, e a escolha dos próprios membros
é de responsabilidade do grupo. Quando o líder intervém, o faz apresentando não
decisões ou linhas de ação definidas, mas uma série de ideias, que, em geral, coleta
dentro do próprio grupo, disponibilizando-se para eventuais consultas. O líder liberal
não controla o que faz seu grupo nem avalia os seus membros.

Outros estilos de liderança

Outras perspectivas de se olhar os estilos de líderes são identificadas, tendo em


conta se o enfoque do líder é nos membros do grupo liderado ou nas tarefas que o
grupo deve executar (Chiavenato, 2013, p. 239).
Dentro deste enfoque, o líder pode se preocupar muito com a produção, devotando
menos atenção às pessoas que produzem ou, no outro extremo, ter uma preocupação
forte com as pessoas e fraca com a produção. Numa posição mais central, preocupa-se
com a produção e, de forma equilibrada, com as pessoas, buscando o
comprometimento dos seus liderados com os resultados da organização, por meio de
uma comunicação eficaz e um comportamento sinérgico, ou seja, onde o esforço
coletivo ultrapasse o resultado da soma do esforço individual.
Embora os líderes apresentem traços de personalidade que permitem identificar o
seu estilo mais provável, a maioria tende a adequá-lo às diferentes relações que
estabelecem com o grupo de liderados. Assim, tomando exemplos usuais (Maximiano,
2000, p. 403), um líder eleito pelo seu grupo tende a exercer a autoridade de uma
forma mais democrática, por ter a consciência de que seu poder advém da escolha livre
da maioria do grupo que lidera. A nomeação de um gerente pelo seu chefe é um
processo autocrático e permite que o líder seja menos suscetível às opiniões do grupo.
Na organização de um time de futebol informal, por exemplo, onde os jogadores
escolhem em que equipe jogar e o líder do time apenas os representa na disputa do
campo com o adversário e na decisão de quem dá a primeira saída de bola, o líder tende
a ser mais liberal, uma vez que o grupo não deverá consultá-lo ou esperar dele nada a
mais do que já foi feito, sendo mais um representante do grupo que um líder
propriamente.

A liderança nas organizações


Nas estruturas organizacionais, a legitimidade do líder vem, em geral, por meio de
nomeações, podendo ainda ser conquistada em concursos, ou decorrer do domínio dos
meios de produção.
O potencial de influência do líder sobre seus liderados, ou seja, sua autoridade, está
associado, em geral, à sua posição hierárquica dentro da empresa. A legitimidade da sua
autoridade decorre de sua nomeação formal por algum superior com competência e
autoridade reconhecida para tal nomeação.
Dentro das organizações empresariais é comum que existam, além das lideranças
formais, as que não têm autoridade formalmente atribuída, ou seja, as lideranças
informais. Assim, por exemplo, alguns membros da organização exercem influência
sobre determinados grupos em razão de seu poder sobre a vida das pessoas, no que
tange à relação dessas pessoas com a empresa. É o caso de um assistente do presidente
de uma empresa que, pela proximidade com este líder, pode influenciá-lo quanto à
escolha de novos líderes, aumento salarial, avaliação profissional, entre outros quesitos
que afetam a vida profissional das pessoas. As pessoas reconhecem o seu poder e, com
isto, querendo ou não, justificam a sua autoridade.
As lideranças informais26 podem ter também seu surgimento e sua autoridade
reconhecida em função de outros fatores, tais como sua ação política, sua capacidade
de se expor pelas causas do grupo ou mesmo por alguma competência que apresente,
como a de comunicação. Nestes casos, o indivíduo com autoridade não autorizada
formalmente se faz respeitar pela sua presença, pela sua palavra, pelo seu gesto, pelas
suas ideias ou pela sua competência. A autoridade é algo que emana do indivíduo.
A autoridade informal tem influência relevante dentro das organizações. Enquanto
a autoridade formalmente legitimada pode, por meios formais, ser retirada por quem a
deu, a informal não pode, por meios formais, ser retirada de quem a exerce.
De forma geral, a melhor maneira de se exercer a liderança nas organizações é tendo
a autoridade legitimada, e conquistar o reforço desta autoridade pelo respeito,
admiração e estima dos liderados. Assim, o líder terá o poder de influenciar as pessoas
por meio do respeito conquistado e de exercer seu poder, caso seja necessário.
No que diz respeito à sua atuação dentro das organizações, considerando que esta
tenha uma estrutura hierarquizada, a atuação do líder dependerá do nível hierárquico
que venha a ocupar. Assim, por exemplo, todo líder deve desenvolver estratégias para
sua organização e mobilizar as pessoas em direção a elas. Estas, no entanto, serão
estratégicas táticas ou operacionais, conforme o nível hierárquico do líder que as
emana.
Assim, um líder de topo deve atuar para formular estratégias que tenham percepção
do ambiente externo à organização e deixar explícitas as suas políticas, enquanto o líder
intermediário deve atuar desdobrando essas políticas e visões para os níveis mais baixos
da organização, os quais, por sua vez, devem operacionalizá-las.
Quanto às qualidades do líder que atua nas organizações, é desejável que ele seja
visto pelo grupo como possuidor dos meios para satisfação de suas necessidades e que
saiba ajustar as ações de seu grupo para as diferentes situações que o envolvam.
Se o líder ocupa uma posição mais elevada na hierarquia da empresa, detendo mais
poder e responsabilidade, espera-se dele a capacidade de formar uma visão para o
grupo, funcionando como um estrategista que direciona as pessoas para alcançar seus
objetivos e que seja exemplo para o seu grupo liderado.

Qual o melhor tipo e estilo de líder?

Qual o melhor tipo de líder e o estilo de liderança mais adequado? Olhando pela
visão da Teoria das Contingências das organizações (Chiavenato, 2013, p. 323-63), em
que não se considera nada absoluto dentro das organizações, na qual a modificação do
ambiente externo exige modificações e adaptações constantes das empresas, o líder
deve seguir o mesmo eixo contingencial, em que a visão é a de que não se tem um tipo
ou estilo único e melhor para o líder. Estes dependerão da situação; do entorno da
organização. São líderes situacionais.
Os administradores de empresas tendem a gostar da utilização desta visão de líder
situacional, uma vez que nas empresas serão encontradas diferentes situações e
necessidades, exigindo formas diferentes de liderança que se adaptem.
Assim, um gerente mais centralizador pode ser adequado quando a tarefa a ser feita
não é bem assimilada pelos seus liderados; um mais democrático para um grupo mais
maduro e autônomo; um líder que tenha mais facilidade de usar seus poderes de
recompensa e punição pode ser mais interessante num grupo motivado pela
recompensa, e outro que utilize mais o estilo de convencimento do que o de imposição
pode ser melhor para grupos emocionalmente motivados.
As motivações dos liderados (Maximiano, 2000, p. 389), para serem influenciados
pelo líder, devem, tanto quanto possível, ser identificadas para que o tipo de liderança
seja ajustado a elas.
Se os liderados esperam recompensas do líder, sejam elas morais, como, por
exemplo, a lealdade, a defesa das ideias do grupo, a definição de caminhos a serem
seguidos para o grupo atingir seus objetivos, ou recompensas materiais – no caso das
motivações por interesses –, o líder deve ser visto pelo grupo como capaz de atendê-las.
Assim, como visto nos “tipos de lideranças”, um tipo de líder transacional, que troca,
transaciona, no caso da motivação material ou um líder transformador, no caso da
motivação moral, pode ser o mais adequado.
Quanto à natureza da tarefa ou missão a ser executada pelo grupo, quanto mais
estruturada e rotineira ela for e quanto mais amadurecido for o grupo, menos o líder
tende a interferir nas atividades, tendo mais tempo para atuar como um líder moral.
Nesta situação, um líder de estilo mais liberal mostra-se mais adequado. Ao contrário,
se as tarefas são menos estruturadas e inovadoras e são executadas por um grupo
imaturo, aparecerá a exigência de um líder mais presente e com um nível de
intervenção maior, cobrando mais e talvez premiando mais pelos resultados. Neste
caso, um estilo mais autocrático pode ser mais recomendado.
De forma geral, líderes com tendências mais liberais devem ser colocados em
funções de menos execução e de maior concepção, por serem líderes menos moldáveis a
tarefas em que o seu nível de atuação junto aos seus liderados exija comandos e
controles. Estes líderes liberais também tendem a funcionar mal onde não haja
maturidade suficiente dentro dos membros do grupo para que possa efetivamente
delegar tarefas e funções.
Quanto ao melhor estilo de liderança adequado à cada organização, pode-se ainda
considerar o sistema administrativo vigente na organização. Este pode ser classificado
em: a) autoritário coercitivo; b) autoritário benevolente; c) consultivo; ou d)
participativo. Conforme o sistema administrativo, o líder tende a adotar diferentes
estilos (Maximiano, 2000, p. 216-17; 226).
No caso do sistema autoritário coercitivo, é comum que o líder adote um estilo
mais centralizador e pouco comunicativo com seus liderados, principalmente de
maneira informal, que não consulte seu grupo para tomar decisão e que seja formal no
seu tratamento, se atendo às regras formais e punindo os que não as seguem. Seu estilo
tende a se aproximar mais do autocrático.
O líder que atua no sistema autoritário benevolente pratica, em geral, alguma
delegação de responsabilidade, sem perder o controle dos atos gerados por essa
delegação, se comunica com os subordinados imediatamente abaixo dele e reconhece
alguma organização informal dentro da organização. Dentro do seu estilo
administrativo, costuma recompensar materialmente elementos do grupo que se
destacam de forma exemplar. Seu estilo nestas organizações oscila entre o autocrático e
o democrático.
O líder que atua numa administração consultiva tende a permitir a delegação de
autoridade aos níveis inferiores, a consultar os níveis abaixo do seu para tomar decisões,
a buscar maior comunicação com os níveis inferiores da organização e a confiar nas
pessoas, permitindo que se organizem informalmente, desde que não prejudiquem o
bom desempenho da organização, praticando recompensas e punições de natureza
material (salários) e social (reconhecimento). Este estilo de liderança mais se aproxima
do democrático-liberal.
Por fim, o líder que atua numa organização participativa tende a descentralizar
decisões, buscando deixar mais explícitas as políticas da organização e a atuar menos
nas decisões que geram ações operacionais; é eficiente na comunicação, gosta de
trabalhar em equipe e dá ao grupo recompensas materiais e sociais, raramente
exercendo punições dentro de seu grupo. Este líder tende a um estilo mais liberal.

O engenheiro como líder

É comum que o engenheiro comece sua carreira profissional atuando tecnicamente.


Como discutimos no tema 4, também é frequente que este mesmo profissional, que
ingressa em uma empresa apenas com o saber da faculdade, ganhe experiência
específica em alguma área, vá conhecendo melhor a empresa em que trabalha,
desenvolva relacionamentos que lhe permitam circular mais autonomamente dentro
da empresa, ganhando, assim, o que se pode chamar de competência, ou seja, a
capacidade de resolver problemas colocados sob sua responsabilidade.
Com o reconhecimento da sua competência e seu amadurecimento profissional,
não raro, começam as solicitações para que este engenheiro acompanhe funcionários
de diversos níveis que estão ingressando na empresa e para os quais aquele engenheiro
– outrora inexperiente, iniciante nas atividades – é hoje um profissional mais
experiente.
Assim sendo, o engenheiro que havia poucos anos era um iniciante e desempenhava
funções exclusivamente técnicas passa a ter a responsabilidade de orientar alguém,
definindo programas de trabalho, encaminhando atividades e “gerenciando”, de certa
forma, o trabalho de profissionais menos experientes e assumindo, entre outras
funções, a de líder.
Os conhecimentos dele exigidos, as habilidades que se espera que ele domine e as
atitudes que ele deve apresentar, ou seja, as competências que se espera que este
engenheiro, então líder, tenha desenvolvido nesta situação de liderança, são diferentes
das que eram exigidas quando ainda desempenhava uma função iminentemente
técnica. Estas dependerão muito das qualidades pessoais que fazem dele um líder junto
aos funcionários (Maximiano, 2000, p. 398) e da sua autoridade formal que definirá
seu nível hierárquico.
Entre as qualidades individuais, a competência nas relações pessoais é uma das que
reforçarão a sua autoridade no grupo. Este relacionamento pessoal deve se dar para
baixo e para cima, ou seja, dentro do seu grupo de liderados e com os mais altos
escalões hierárquicos da empresa, sendo este último nível de relacionamento
importante para o reconhecimento da autoridade do líder.
Assim, se o líder se relaciona bem com o dono da empresa, pode ser o mais indicado
para levar as reivindicações do grupo a um nível mais elevado. Se tem amigos influentes
em cargos importantes para a execução dos objetivos do grupo, será bom que ele seja o
líder do grupo para ter os canais certos de encaminhamento de suas demandas. Boas
relações pessoais atuando no interesse do grupo aumentam a autoridade do líder.
Outras qualidades pessoais, como a de comunicação, a competência técnica e a
capacidade de formar visão de futuro, fortalecem a autoridade do líder.
Entre as qualidades do líder, as atitudes que toma diante da sua equipe também o
identificam como líder. Assim, embora, nas organizações, os líderes sejam, muitas
vezes, identificados como gerentes, podemos assinalar diferenças entre um líder e uma
pessoa que exerça apenas o papel de gerente.
Dentro desta visão, o líder é visto como inovador, enquanto o gerente apenas
repete e copia; o líder é preocupado em desenvolver as pessoas e a organização, e não
somente em mantê-las, como tende a fazer um gerente não líder; o líder procura ter sua
atenção concentrada mais nas pessoas e menos na estrutura da organização, sendo
inspirador de confiança e tendo visão de longo prazo, o que não faz, necessariamente,
parte das preocupações do gerente (Chiavenato, 2013, p. 227). Buscando entender os
porquês do que ocorre na organização, o líder tem o seu olhar à frente. É capaz de
contestar o status quo, e não simplesmente aceitá-lo, enquanto o gerente tende a tocar
o dia a dia. O líder é autêntico, buscando fazer as coisas da forma que devem ser feitas
na sua visão de certo e errado, enquanto o gerente tende a seguir normas.
Do ponto de vista do nível hierárquico que o engenheiro-líder venha a assumir na
empresa em que trabalhe, espera-se que ele tenha conhecimentos, habilidades e
atitudes adequadas a esse nível.
Tomemos como exemplo engenheiros que atuam como líderes técnicos, liderando
equipes de projeto especializadas, como as de automação, de máquinas, de sistemas de
transmissão, entre outras. Neste caso, liderarão técnicos que atuam executando
cálculos, documentos de projeto e outros afazeres de natureza técnica. Estes tendem a
esperar que o líder possa orientá-los tecnicamente, que possa capacitá-los e defendê-los
quando necessário, porém não tendem a esperar que o líder exerça grande influência
pessoal sobre a equipe e que tenha uma ótima visão sobre o futuro da empresa.
Já de um líder que trabalhe em projeto, porém liderando ênfases – ou seja, que
gerencie gerentes técnicos de diferentes modalidades ou especialidades técnicas como
mecânica, civil, elétrica, automação, tubulação, entre outras –, é menos esperado que
domine os conhecimentos técnicos, mas espera-se que demonstre habilidades
interpessoais capazes de estabelecer relacionamentos produtivos e harmoniosos entre
as várias modalidades e especialidades sob sua liderança.
Se o líder atua como um gerente de área, da qual a atividade de projeto faz parte,
como, por exemplo, um líder de área que tem na sua liderança as áreas de pesquisa, a de
projetos e a de montagem, espera-se que, além das habilidades interpessoais, tenha
percepção e sensibilidade (intuição) para decidir bem, com base nestas.
Por último, de um líder que ocupa uma posição executiva, um diretor ou um
presidente de empresa, por exemplo, espera-se que seja exemplo para sua equipe e que
possa formar para ela uma visão de futuro, mas, por certo, não haverá a expectativa de
que seja uma referência técnica em qualquer especialidade de engenharia.
Assim, em cada posição, o engenheiro-líder deverá ter competências
(conhecimentos, habilidades e atitudes) diferentes, conforme exemplifica o quadro 2, a
seguir.

Quadro 2 – Exemplo de características do líder conforme sua posição hierárquica


Líder Líder de Líder de Líder
Características
técnico ênfase área executivo
Conhecimento técnico Forte Médio Leve Fraco
Capacidade de influência Leve Médio Médio Forte
Respeito e admiração Forte Médio Médio Forte
Habilidades interpessoais Fraco Médio Forte Forte
Definir prioridades Fraco Leve Médio Forte
Capacitar sua equipe Forte Médio Leve Leve
Assumir riscos Fraco Leve Médio Forte
Trabalhar em equipe Forte Médio Leve Leve
Assumir sacrifícios Forte Médio Leve Fraco
Formar visão de futuro Fraco Leve Médio Forte
Boa intuição Fraco Leve Médio Forte
Estabelecer relações pessoais fortes dentro e fora da
Forte Médio Leve Fraco
equipe
Ser exemplo para a equipe Forte Médio Médio Forte

Fonte: Autor.

Exercícios de avaliação de conteúdo

6.1. Explicite algumas situações de sua vida em que você exerceu o papel de líder.
6.2. Defina com suas palavras liderança, autoridade e poder.
6.3. Explicite uma característica que possa distinguir poder de autoridade.
6.4. Quando é adequado dizer que uma liderança é legítima?
6.6. Identifique três livros de autoria de Max Weber. Entre eles, está o trabalho de
referência que apresenta as reflexões de Weber sobre liderança? Qual é este livro?
6.7. Quais os tipos de autoridade identificados por Weber?
6.8. Identifique a diferença entre as autoridades tradicional, carismática e
burocrática.
6.9. O que você entende por liderança situacional?
6.10. Entre os tipos puros de liderança identificados com base na visão de Weber,
qual deles um gerente de empresa exerce com certeza?
6.11. Como você descreveria um líder transacional e um transformador? Qual você
considera melhor para uma organização do tipo “fabricação de produtos
manufaturados”, no que tange à liderança do corpo de técnicos da fábrica?
6.12. Explicite duas diferenças quanto à conduta de um líder autoritário e
democrático junto à sua equipe de liderados.

Exercícios vivenciais

6.13. Identifique algumas de suas habilidades que o qualificariam para o exercício


da liderança numa empresa.
6.14. Reúna-se com outros três colegas e monte uma equipe de trabalho. Suponha
que vocês formam uma equipe dedicada ao desenvolvimento de uma rotina de
manutenção para o prédio da instituição de ensino em que estudam. Esta rotina pode
ser específica para algum tipo de sistema (telefonia, computação, elétrico, automação,
por exemplo) ou para o prédio em geral, para as salas de aula e facilidades do prédio
(sistema de água potável, geração elétrica, elevadores ou outras). Escreva a rotina que
será proposta e:

a. identifique quem mais influenciou para que o grupo trabalhasse de forma


harmônica;
b. quem contribuiu mais para dar foco aos trabalhos do grupo;
c. quem mais motivou o grupo durante a execução do trabalho;
d. quais as habilidades de liderança demonstradas pelos membros do grupo;
e. quais as situações que geraram pouca motivação de alguns na participação nos
trabalhos.

Não é necessário identificar os integrantes por nomes. Pode ser por números, sendo
você um destes numerados.
6.15. Para o exercício anterior, é possível identificar algum tipo ou estilo de
liderança entre os padrões apresentados na discussão deste tema 6, que tenha sido
exercido dentro do grupo? Que comportamentos você pode explicitar para justificar
esta(s) identificação(ões)?
6.16. Que habilidades e competências de um líder você considera importantes para
um professor? E para um engenheiro que liderará uma equipe de especialistas em
alguma área da engenharia?
–7–
Aprendizagem contínua: uma visão pedagógica da profissão

Terminando o curso de engenharia, posso trabalhar?

Depois de muitos anos de estudo, fins de semana resolvendo exercícios diversos e


muito estresse nas provas, o estudante de engenharia conclui todas as exigências
necessárias para ganhar o diploma de graduação.
O sonho imediato de todos os que cursam faculdade, seja de engenharia ou de
outras graduações, é a obtenção do diploma. Este permitirá o exercício da profissão de
forma legal, desde que atendidas as demais regras definidas por cada sociedade.
Não é incomum que o formando, no dia seguinte à sua formatura, se dê conta da
imensa responsabilidade que ganhou junto com o diploma. Agora é esperado que ele
consiga atuar como engenheiro, executando e implementando os projetos sob sua
responsabilidade; espera-se que faça funcionar os equipamentos, construa fábricas, faça
as obras acontecerem como projetadas e, além disto tudo, que se relacione com seus
chefes e eventuais subordinados, tomando todo tipo de ação que deixe explícito que ele
não é mais um aluno de engenharia, mas um engenheiro formado.
As dificuldades que, não raro, aparecem neste momento são principalmente de
ordem técnica, mas as dificuldades de ordem humana também se fazem presentes.
Do ponto de vista humano, ocorre que, embora tenha que se relacionar com
pessoas durante o trabalho, o engenheiro recém-formado não aprendeu isto na
faculdade de maneira formal, uma vez que o enfoque do seu curso estava na
capacitação para executar trabalhos técnicos. Do mesmo modo, é comum seu “chefe”
esperar não somente que ele execute os serviços técnicos sob sua responsabilidade, mas
também que busque os recursos necessários para tal, como computadores e demais
ferramentas, além de tomar decisões para solucionar os problemas que surgirão
durante o exercício de suas tarefas.
Do ponto de vista técnico, atentando-se às expectativas que recaem sobre o
profissional de engenharia, aos poucos, o engenheiro já “formado” vai se dando conta
de que necessita de mais do que os conhecimentos que obteve na faculdade e que se
deram por concluídos com a sua formatura. Em relação a estes, o engenheiro percebe
que são insuficientes para o exercício das suas tarefas e descobre que tem que se
capacitar sozinho ou por meio das oportunidades que a empresa que o contratou
eventualmente ofereça.
De repente, o engenheiro que se julgava formado descobre que não está formado de
todo e, talvez, ao longo da sua vida profissional, nunca esteja: ainda terá um longo
caminho a trilhar.

O dilema da carreira “Y”

De forma mais comum, o engenheiro recém-formado inicia sua carreira com


atividades técnicas, executando cálculos e implementando ações diversas de engenharia
que exigem conhecimentos técnicos.
Com o passar do tempo, no entanto, começa a absorver atividades menos técnicas e
mais humanas, como o gerenciamento de estagiários e de novos engenheiros que
entram na empresa, e até mesmo a coordenação de equipes de trabalho.
À medida que se torna mais maduro como profissional, acaba se defrontando com a
necessidade de decidir qual o caminho que deseja seguir entre dois principais: o técnico
e o administrativo.
O aparecimento desta possibilidade de escolha na carreira é conhecido como
“carreira Y”, em que o Y indica que, vindo de um caminho, terá duas pernas para
escolher: a técnica ou a administrativo-gerencial.
Se decidir pela carreira técnica, em geral, se tornará um especialista. Como tal, é
comum que direcione seu enfoque para cursos de especialização, também chamados de
cursos de pós-graduação lato sensu (no sentido largo do termo pós-graduação). Neles,
ocorre o aprofundamento de temas específicos de interesse, em que instrutores
experientes passam conhecimentos teóricos e práticos sobre algum tema.
De forma alternativa, o engenheiro ingressa em cursos de pós-graduação stricto
sensu (sentido restrito do termo), que são os cursos de mestrado, doutorado e pós-
doutorado. Os objetivos são aprofundar conhecimentos já adquiridos na faculdade e
ganhar novos, além de se manter atualizado com a tecnologia.
O engenheiro que decide ou é levado a atuar como administrador pode funcionar
como um administrador mais técnico, acompanhando trabalhos dentro de um grupo,
gerenciando pessoas e atividades técnicas, ou se tornar um administrador profissional,
desvinculando-se da carreira técnica e passando a atuar como administrador/gestor de
recursos humanos, econômicos e materiais. Neste caso, ele vai necessitar de alguns
conhecimentos e habilidades que um curso regular de engenharia não ensina, como as
técnicas de administração, alguns conceitos de psicologia, conhecimentos de economia,
entre outros, exigindo que busque treinamento especializado para gerir pessoas,
atividades e processos, caso contrário, terá o grande desafio de aprender sozinho, no dia
a dia, com seus erros e acertos, como se relacionar com estas demandas.
O que se conclui é que, ao longo de sua vida profissional, não só para atualizar seus
conhecimentos, como também para se manter em boas condições de produzir, o
engenheiro terá que continuar estudando e ganhando conhecimentos novos.
É olhando para este cenário que podemos nos dar conta de que um engenheiro
talvez nunca esteja formado.
O engenheiro, para estar preparado para atuar com bom resultado em cada fase da
sua vida profissional, deve desenvolver, além dos conhecimentos técnicos, habilidades e
atitudes profissionais compatíveis com a maturidade esperada em função do seu tempo
de formado. O que são estas habilidades e atitudes? Antes de discutirmos estes
conceitos, vejamos o que se deve entender de fato por “formação”.

O que é formação?

Embora chamemos de “formado” o engenheiro que conclui com êxito as disciplinas


da faculdade em que se graduou, de fato, a formação é mais do que conhecimentos.
Podemos dizer que a formação é a soma de conhecimentos, habilidades e atitudes.
A figura 5 ilustra esta visão.

Figura 5 – Conceito de formação


Fonte: Autor.

Por certo, um engenheiro não é capaz de fazer tudo de engenharia, embora seja, a
princípio, capaz de aprender tudo de engenharia a partir de seus conhecimentos
básicos. O que ele desenvolve ao longo de sua vida são competências. Competência é
entendida como a “qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto,
fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade.27
O profissional competente para exercer determinadas atividades deve ter os
conhecimentos, as habilidades e as atitudes necessárias para tal.
Neste ponto, observamos que a visão da estruturação curricular dos cursos de
engenharia e dos cursos superiores, em geral, tende a evoluir da exigência de absorção
dos conteúdos para o desenvolvimento de competências.
O que se espera do engenheiro formado não é que tenha conhecimento dos
conteúdos de cálculo, física, modelagem matemática e outros, típicos dos cursos de
engenharia. Por certo, estes conteúdos serão importantes, mas o que se espera do
engenheiro é que ele tenha, por exemplo, competência para realizar determinadas
tarefas, como transformar um problema real em modelos físicos e matemáticos e que
seja capaz de obter respostas simuladas para estes modelos, prevendo a realidade.
Assim, formação tem a ver com competência, e esta, com conhecimentos, habilidades e
atitudes.

Sobre os tipos de conhecimentos


A palavra conhecer vem do latim “cognoscere”, que, na sua etimologia, pode ser
entendido como “nascimento do ser” (Buzzi, 1983, p. 21), ou de forma mais prática,
passar a ter da realidade (do ser) um novo entendimento.
O conhecimento é um conjunto de informações – sistematizadas ou não – que são
recebidas por meio de transmissão por outras pessoas ou de fontes que as detém, ou
ainda pela experiência vivida. O conhecimento será sempre obtido pela interação com
o outro.
Assim, por exemplo, podemos ter conhecimento da arte de marcenaria pelo
convívio com nosso pai, avô ou vizinho, acompanhando-os enquanto trabalham com
marcenaria. Repetindo as tarefas e a forma de fazer dos nossos “mestres”, ganhamos
conhecimento de marcenaria por experiência. Se pararmos aí, já teremos adquirido
conhecimento não sistematizado.
Podemos avançar no nosso conhecimento escrevendo as técnicas e definindo de
forma racional a maneira de utilizar as ferramentas em cada tarefa, sistematizando
assim o conhecimento.
Também podemos saber que as galinhas cacarejam quando colocam ovos vivendo
num local de criação destes animais e observando seu comportamento. Este é um
conhecimento dado pela experiência do dia a dia, pela vivência.
Na nossa sociedade, boa parte do conhecimento que adquirimos durante a vida nos
é dado nas escolas e nas relações sociais, de forma sistematizada.
Os conhecimentos do engenheiro são majoritariamente passados por outros, por
meio de aulas, palestras, livros ou escritos direcionados para o ensino ou transmissão de
conhecimento.
O conhecimento como um todo é classificado em quatro grandes categorias (Buzzi,
1983, p. 89):

conhecimento pelo senso comum (ou popular);


conhecimento religioso (ou teológico);
conhecimento filosófico;
conhecimento científico.

O conhecimento do senso comum é aquele que recebemos diretamente dos nossos


sentidos ou que advém de informações que recebemos de outros e às quais damos
crédito. É “o conhecimento que se elabora da necessidade de enfrentar fatos imediatos,
da necessidade de resolver problemas propostos por interesses os mais diversos, feitos
sem a prévia discussão” (Buzzi, 1983, p. 102).
O senso comum é o conhecimento a partir do qual conduzimos grande parte de
nossas ações diárias. Em tese, todos nós o temos, acreditando que ele é o bom senso.
Como diz Descartes na primeira parte do Discurso do Método, “o bom senso é a coisa
melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que
são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais
do que o têm” (Descartes, 1987, p. 29).
O conhecimento do senso comum, por ser obtido a partir da nossa experiência de
vida e se basear em qualidades ou comparações, sendo, portanto, valorativo, pode
também ser passado por alguém que reconheçamos como autoridade, como nossos
pais, parentes, amigos influentes e professores.
Assim, observando o sol e as estrelas no firmamento, o senso comum nos dirá que o
sol é maior que qualquer estrela e, pelo senso comum, ou seja, pela percepção trazida a
nós pelos sentidos, menor que a Terra.
O senso comum pode nos levar, por exemplo, a concluir que, se tivermos uma bola
de ferro e uma bola de algodão do mesmo diâmetro e massa, se as soltarmos da mesma
altura, a de ferro deve chegar ao solo mais rápido; pelo mesmo senso comum, sabemos
que não devemos tocar nos fios de alta tensão porque podemos morrer eletrocutados,
mas, observando os pássaros pousados neles, podemos concluir que os pássaros não
levam choque. Estes são conhecimentos que formamos pelo senso comum.
Dizermos que manga com leite dá dor de barriga e que dormir de barriga cheia dá
indigestão são também conhecimentos que muitas vezes aceitamos e que, não raro, nos
vêm de alguma autoridade (da avó, por exemplo).
O conhecimento dado pelo senso comum, além de valorativo (baseado em valores,
estados de ânimo e emoções) (Marconi e Lakatos, 2017, p. 71), é inexato (carece de
exatidão), falível (pode falhar nas suas conclusões) e assistemático (não existe um
método específico para a sua elaboração), embora possa ser obtido por reflexão
(reflexivo). “O senso comum não argumenta nem justifica” (Buzzi, 1983, p. 102); ele
simplesmente é dado.
O segundo tipo de conhecimento, o religioso ou teológico, tem como fonte as
informações reveladas ao homem por Deus. É um conhecimento dito inspirado,
obtido pela inspiração que vem àquele a quem o conhecimento é revelado. É
valorativo, pois não é baseado em fatos, uma vez que “se apoia em doutrinas que têm
proposições sagradas (valorativas)” (Marconi e Lakatos, 2017, p. 72).
Por se tratar de um conhecimento revelado pelo sobrenatural, não se pode
considerar as verdades por ele afirmadas como falhas, sendo, portanto, um
conhecimento infalível e que não pode ser discutido, tornando-se, neste último
sentido, exato. Por ser um conhecimento cujas evidências não podem ser verificadas,
têm sempre a fé como atitude daquele que o adquire. Finalmente, podemos dizer que,
“é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino)
como obra de um criador divino […]” (Marconi e Lakatos, 2017, p. 72).
São desta classe conhecimentos como o de que Deus é o criador de todas as coisas,
ou de que as encarnações sucessivas do homem o conduzem à perfeição e ainda o de
que Maomé é um profeta.
O conhecimento religioso, partindo da fé daquele que o aceita, possui abordagem
diversa do conhecimento científico e do filosófico, os quais serão comentados a seguir,
e que se baseiam, um na evidência dos fatos, e o outro na evidência lógica. Assim, a
discussão sobre se a espécie humana passou ou não por um processo de evolução, por
exemplo, que tem dentro do conhecimento científico uma resposta afirmativa, poderá
ter no conhecimento religioso uma resposta negativa, uma vez que, dentro da visão
religiosa, Deus já criou o homem assim como ele é hoje, não cabendo afirmar que ele
descende de um animal primitivo.
O terceiro tipo de conhecimento é o filosófico. O que é filosofar? Podemos entender
filosofar como “formar ideias do mundo”.
Em linhas gerais, o mundo real nos é dado pelas ideias que dele formamos. As ideias
são o “contato do pensamento com a realidade” (Buzzi, 1983, p. 142). Na forma de
imagens (carros, máquinas, pedras) ou conceitos (bem, mal, feliz), as ideias se dão ao
pensamento. Se este pensamento se espantar com estas ideias e indagá-las, procurando
explicar-lhes as relações e buscando uma ordem entre elas, que se apresente lógica,
verossímel e razoável, podemos dizer que aquele que pensa está filosofando.
A filosofia busca entender, elucidar aquilo que é. Sua busca lembra uma coruja,
tomada como símbolo da sabedoria, a qual sai no escuro da noite, voando por onde os
demais pouco enxergam, descobrindo o que foi feito de dia, enxergando através da
“escuridão”. Ela só aquieta sua angústia de voar com a luz da aurora do dia, com a
sabedoria.
O conhecimento filosófico tem como fundamento a racionalidade do discurso que
o constrói. É, portanto, de fundo racional e, assim como o religioso, organizado
sistematicamente. Como os conhecimentos religiosos e do senso comum, ele é
valorativo. É valorativo porque “seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não
poderão ser submetidas à observação” (Marconi e Lakatos, 2017, p. 71), sendo de
fundo subjetivo. Sua subjetividade vem da percepção do sujeito que filosofa, da sua
experiência com o mundo: de sua forma e capacidade de compreensão deste mundo.
Dentro de sua lógica e de suas premissas, o conhecimento filosófico é considerado
exato e infalível.
O conhecimento filosófico é aquele gerado pelos chamados “filósofos”. Foram
filósofos: Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Leibniz e até mesmo Newton, que
escreveu um livro de filosofia que virou ciência, dada a sua fundamentação empírica.
São desta classe de conhecimentos afirmativas como “a essência do homem precede
sua existência”; “a melhor sociedade é a capitalista”; “a prática da engenharia é um
benefício para a sociedade”; “a felicidade é o resultado de um viver ético”; “a natureza
do homem é pecaminosa”, e outros de mesmo estilo.
Finalmente, o conhecimento científico é o que importa de forma mais direta aos
engenheiros. Os conhecimentos que eles recebem na faculdade são, na quase
totalidade, desta natureza. É o conhecimento científico que dá corpo às ciências. Este
conhecimento é baseado na experiência e, portanto, é dito ser real ou factual.
O conhecimento científico pode ser visto como uma forma de gerenciamento das
experiências humanas. “Nossa época decidiu gerenciar a experiência humana pela
racionalidade da razão” (Buzzi, 1983, p. 89).
A ciência, embora se assemelhe ao conhecimento do senso comum por se apoiar na
experiência, tem uma grande descontinuidade com este, por ter um método para se
apropriar do conhecimento e pela linguagem particular que utiliza, a qual só é
inteligível àqueles que já são iniciados na ciência.
Imagine um quadro cheio de integrais duplas, derivadas, limites e funções olhado
por um estudante de psicologia, não iniciado neste tipo de linguagem matemática. No
mínimo atribuiria tais desenhos esdrúxulos ou a um extraterrestre ou a um psicótico.
O conhecimento científico é, portanto, uma forma de se apreender o mundo real,
mas ele não é o mundo real: é um modelo. Este modelo é aceito como válido até que as
previsões e explicações que ele pode dar ao mundo real não se verifiquem pela
experiência. Se não se verificarem, os conhecimentos deixam de ser válidos e, portanto,
perdem seu valor científico.
O ambiente, o entorno no qual as experiências se desenvolvem – sejam no campo
ou no laboratório –, tem condições conhecidas para sua realização, e as observações são
feitas em algumas variáveis previamente escolhidas para serem observadas. Busca-se
com a observação uma relação entre estas variáveis. Sendo assim, como o resultado do
experimento depende das condições que envolvem a experiência ou o seu desenrolar,
dizemos que o conhecimento científico é um conhecimento contingente.
Por ser organizado sistematicamente por meio de uma metodologia que lhe é
própria para demonstrar a validade das suas afirmativas (metodologia científica),
dizemos que é um conhecimento sistemático e que pode ser verificado pela repetição
das experiências que o validaram.
O conhecimento científico não é infalível, ao contrário, é falível: basta uma
experiência que contrarie as suas conclusões gerais para colocar em cheque o valor do
conhecimento.
Vejamos quando um conhecimento científico falha:
Os raciocínios que sustentam as conclusões obtidas pelas experiências e que
validam o conhecimento científico são baseados em métodos indutivos ou dedutivos.
Métodos indutivos partem de experimentos particulares para concluir leis gerais.
Métodos dedutivos de raciocínio partem de leis gerais para concluir verdades
particulares.
Podemos dizer, por exemplo, usando o método dedutivo, que, com base na segunda
lei de Newton, na qual se fundamenta a mecânica dos corpos, dois corpos se atraem na
razão direta das suas massas e na razão inversa do quadrado de suas distâncias.
Este conhecimento científico será falho se uma experiência evidenciar que existem
corpos, em Marte ou em uma outra galáxia, que se atraem na razão inversa de suas
massas, por exemplo. Neste caso, a lei não será mais válida de uma forma universal,
ficando restrita, quando muito, ao planeta Terra.
De certa forma, foi o que ocorreu quando Einstein fez as suas propostas para a
mecânica. Ele demonstrou que as conclusões de Newton não valiam para corpos que se
movimentam com elevadas velocidades. Desta forma, as leis de Newton continuaram
válidas para corpos que se deslocam em baixas velocidades em relação aos seus
referenciais de análise, mas não para os que o fazem em grandes velocidades.
Podemos dizer, portanto, que o conhecimento científico elaborado a partir das leis
de Newton, embora válido, é inexato para velocidades altas de deslocamento dos
corpos (próximas à da luz), onde se torna falho. Dizemos, assim, que o conhecimento
científico é falível e inexato.
Um conhecimento científico obtido por indução e que, portanto, parte das
experiências singulares para concluir as leis gerais, como discutimos no tema 1 deste
livro, é sempre passível de falhar, uma vez que basta uma experiência que não dê certo
para desmontar uma teoria construída a partir de fenômenos particulares.
Assim, se descobrirmos um satélite que gravite em torno da Terra com uma órbita
quadrada, teremos que refazer a teoria que nos diz que as órbitas dos satélites que
gravitam em torno da Terra são elíticas.
O conhecimento científico, desta forma, valerá até que seja descoberta alguma
experiência que o invalide. Na sua teoria da seleção natural, Darwin afirmou que
tivemos evoluções na espécie para chegarmos, por exemplo, ao homem de hoje. Como
nem todos os elos da cadeia de evolução são conhecidos, aceitamos a conclusão,
observando que os casos encontrados validam essa lei geral da qual partimos para
analisar os fatos, mas não podemos dizer que esta lei sempre valerá infalivelmente, uma
vez que nos baseamos nos fatos analisados, os quais não esgotam as possibilidades de
experimentos.
Os conhecimentos científicos organizados por áreas de interesse, definidas pelo
objeto que têm no seu foco, criam as ciências. O que é a ciência? É o corpo de
conhecimentos em torno de um objeto definido, como os corpos materiais (Física), os
compostos químicos (Química) e os organismos vivos (Biologia). É, no fundo, uma
teoria do mundo real, um modelo, um esquema ou sistema inventado pela razão e
validado pelos que são da mesma classe do seu criador, os cientistas, e que, aplicado à
realidade, produz uma nova. “Nesta nova realidade estão o homem de ciência e a
sociedade técnica” (Buzzi, 1983, p. 114).
Para criar e explicar a realidade a partir de seus modelos, a ciência submete a
realidade ao chamado princípio da casualidade. Com base neste princípio, a ciência
busca causas para os efeitos que observa nos fenômenos. Assim, se um corpo
abandonado no espaço aumenta a sua velocidade à medida que vai caindo, este
aumento de velocidade é explicado pela existência de uma entidade do campo das
ciências físicas, chamada de aceleração da gravidade, aceleração esta que é a causa do
aumento da velocidade do corpo em queda livre.
São conhecimentos científicos afirmativas como: “matéria atrai matéria na razão
direta de suas massas e na razão inversa do quadrado das distâncias entre elas”, ou “o
fenômeno eletromagnético é ao mesmo tempo ondas e partículas”, ou “uma fração de
matéria contém uma energia igual à sua massa vezes o quadrado da velocidade da luz”.
Apesar da existência de várias classificações para a ciência, a mais comum consiste
em dividí-la em ciências formais, empírico-formais ou naturais e ciências sociais ou
factuais-sociais (Marconi e Lakatos, 2017, p. 76).
As ciências formais são a matemática e a lógica. Aqui, a razão impõe suas leis para
validar os conhecimentos, por meio de deduções lógicas.
As ciências naturais ou empírico-formais são sempre experimentais, porém seus
dados são processados pela formalidade da razão; suas conclusões são baseadas na
lógica.
Como já comentado no Tema 1 deste livro, as explicações das ciências naturais são
primeiramente hipóteses que, uma vez verificadas pela experiência, se tornam válidas.
Validadas as hipóteses, elas se convertem em teorias ou conhecimentos científicos.
Numa linguagem mais física, podemos dizer que se a teoria tem ressonância com a
realidade, ela é validada.
As ciências sociais, ou factuais-sociais, como a psicologia, o direito, a economia, a
política e a sociologia, estudam as diversas atividades humanas. A diferença destas para
as empírico-formais é que as “qualidades” com que elas trabalham nos seus
experimentos são repletas de significações e valores.
O conhecimento do engenheiro é, de fato, em sua maior parte, técnico-científico.
São conhecimentos dados pelas ciências naturais ou factuais, como a física, a química e
a biologia, e pelas chamadas ciências aplicadas (técnicas), que são voltadas para a
aplicação dos conhecimentos mais específicos envolvidos na prática da engenharia.
A linguagem de expressão destas ciências é, de forma geral, a matemática. Esta é
considerada uma ciência formal, uma vez que sua verificação pode não se dar no
mundo real, e sim por meio de processos lógicos.
Por sua capacidade de trabalhar com um mundo criado, não real, como, por
exemplo, o espaço pentadimensional (fisicamente, só se pode ir à quarta dimensão,
incluindo aqui as três dimensões espaciais e o tempo), a matemática pode criar teorias
novas, que se tornam científicas quando demonstradas, e estabelecer previsões do que
poderá acontecer no mundo físico, sendo de grande importância para a ciência e para a
engenharia.
Finalmente, de forma sumária, podemos dizer que o conhecimento científico é
obtido pela aplicação da metodologia científica que, em linhas gerais, passa pelas fases
de observação, coleta de dados, proposição de uma explicação para o fenômeno
observado (hipótese), validação da explicação por meio da experiência e da extensão da
conclusão para outras experiências, levando à uma formulação geral válida para os
ensaios feitos, e mesmo aos não realizados. Se algum experimento contraria a
explicação (lei, regra etc.), teremos que considerar o conhecimento como não válido.
Em engenharia, também são importantes os conhecimentos ditos instrumentais,
tais como o desenho e a informática, que são de cunho técnico para quem os
desenvolve e ferramental para quem os utiliza.
São importantes ainda para o exercício da profissão os conhecimentos legais e
normativos (leis, resoluções, normas etc.), além dos conhecimentos tecnológicos
(como os de funcionamento de máquinas existentes, sistemas elétricos, equipamentos
de medição, entre outros), que são, em essência, técnico-científicos. Um bom
engenheiro deve ter, ainda, conhecimentos que são considerados gerais do ponto de
vista da engenharia, como, por exemplo, os de economia, administração, comunicação
escrita e falada e humanidades.

Sobre as habilidades

Habilidades são caracterizadas pela destreza que temos para fazer bem alguma
coisa. O termo vem do latim “habilitas” (English, [201-]), que significa exatamente
aptidão, ser hábil para executar alguma atividade; destreza para fazer algo.
Quando alguém faz algo, demonstrando capacidade de fazer com perícia, precisão,
qualidade, agilidade e rápido aprendizado, dizemos que este alguém tem habilidade
neste fazer.
Assim, se uma pessoa aprende rapidamente um novo programa de computador, o
utiliza para executar tarefas com rapidez e precisão e é capaz de resolver problemas
novos utilizando o programa aprendido e demonstrando destreza e perícia no seu uso,
diremos que esta pessoa tem “habilidade em informática”, pelo menos no que diz
respeito ao uso desse ou de outros programas.
As habilidades têm componentes natos, mas podem também ser aprendidas e
desenvolvidas se nos dedicarmos ao seu aprendizado e desenvolvimento.
São exemplos de habilidades a matemática, a sensibilidade para perceber a emoção
de outros (empatia), a comunicação, a capacidade de planejamento, a capacidade de
organização do espaço e das ideias, a capacidade de dançar, jogar futebol bem, conhecer
seus próprios sentimentos, desenhar, pintar, tocar instrumentos, aprender músicas,
dominar idiomas com facilidade, entre outras tantas.
As habilidades dão distinção a quem as possui e são um diferencial na formação
profissional. Um profissional, engenheiro ou não, se distingue dos demais se tiver
habilidades de interesse para as atividades que deverá desenvolver ou se essas
habilidades trouxerem benefícios ou admiração por parte dos que convivem com ele.
Assim, pouco adianta a alguém ter a habilidade de jogar muito bem futebol se sua
atividade não for ou se relacionar com este esporte, muito embora possa angariar bons
amigos e admiradores que poderão ajudar, abrindo alguma oportunidade de interesse
profissional.
Um engenheiro capaz de se comunicar em vários idiomas é, em geral, considerado
mais qualificado que outro que não tem tal habilidade, principalmente se um dos
idiomas for de interesse da empresa em que trabalha ou do grupo de pesquisas do qual
participa.
Quando se disponibiliza um curriculum vitae (CV) para uma empresa, deve-se
procurar descobrir quais as habilidades que ela está buscando nos candidatos para a
vaga oferecida, pois aí poderá estar o diferencial na escolha do profissional.
Habilidades podem ser desenvolvidas. Pesquisas mostraram que algumas estão mais
relacionadas ao hemisfério direito do cérebro, e outras, ao esquerdo. Embora não haja
consenso absoluto sobre tal especialização, aceita-se que algumas funções humanas são,
preferencialmente, realizadas por áreas mais especializadas do nosso cérebro.
Desta forma, numa pessoa destra, o lado esquerdo do cérebro é mais lógico,
matemático, preciso. O lado direito é aceito como cuidando mais das funções
intuitivas, emocionais e poéticas.
Assim, atribui-se ao hemisfério esquerdo do cérebro a habilidade de manipular
números, bem como a faculdade de elaborar raciocínios com clareza, lembrar e
organizar fatos vividos em uma sequência correta. Por sua parte, no hemisfério direito,
parece se situar a habilidade de reconhecer fisionomias, melhorando nosso
relacionamento social, a habilidade de desenhar e as capacidades artísticas.
A ideia mais corrente hoje, no entanto, é de que, embora a dominância de algumas
habilidades seja de um dos hemisférios do cérebro, algumas funções, como o raciocínio
lógico, o reconhecimento de imagens e a habilidade musical, entre outras, são divididas
entre os dois. A habilidade com a linguagem, a de controlar e planejar, por exemplo,
que se concentram de forma dominante no hemisfério esquerdo, também não são
exclusivas dele, sendo aceitas pelos teóricos como divididas entre os dois hemisférios.
Por esta não exclusividade dos hemisférios na execução de atividades, uma pessoa que
tenha tido um acidente vascular cerebral (AVC), danificando um dos hemisférios do
cérebro, pode recuperar as funções típicas deste hemisfério exercitando e
desenvolvendo mais o outro.
Algumas habilidades foram relacionadas com as chamadas inteligências. Estudos do
psicólogo Howard Gardner28 identificaram sete tipos de inteligências que estão
associadas às habilidades específicas.
Historicamente, o termo inteligência se referia à inteligência racional e à
capacidade de raciocinar e juntar partes logicamente. Gardner estendeu o conceito. Na
sua visão, exposta no seu primeiro trabalho importante, Frames of Mind: The Theory of
Multiple Intelligences, de 1983, Gardner (1994) identificou, além da inteligência
lógico-matemática, medida pelos tradicionais testes de Quociente de Inteligência (QI),
mais seis tipos, estendendo e discutindo o conceito de inteligências em outro trabalho
posterior (Gardner, 2001).
Partindo de oito critérios ou sinais de validação das inteligências, explicitados no
seu livro, Gardner (1994, p. 47-50 e 2001, p. 46-56) reconheceu sete tipos de
inteligências relacionadas com algumas habilidades. A primeira delas é a linguística.
Esta “envolve sensibilidade para a língua falada e escrita, a habilidade de aprender
idiomas e a capacidade de usar o idioma para atingir certos objetivos” (Gardner, 1994 e
2001). A segunda inteligência, a lógico-matemática, “envolve a capacidade de analisar
problemas com lógica, de realizar operações matemáticas e investigar questões
científicas”.29
Seguem-se três tipos de inteligência muito relacionadas à arte: a musical; a físico-
cinestésica, a qual envolve a capacidade de usar o corpo para resolver problemas ou
produzir coisas, habilidade que também é muito útil em profissões como médicos-
cirurgiões, mecânicos, dançarinos e outras de cunho técnico; e a inteligência espacial,
que é apresentada por aqueles que têm habilidade para se orientar no espaço e
trabalhar nele, como escultores, navegadores e pilotos (Gardner, 1994 e 2001, p. 57).
As outras duas inteligências são relacionadas com as pessoas. A interpessoal permite
a quem a possui entender melhor intenções, motivações e desejos das pessoas com
quem se relaciona, e a intrapessoal, que denota a capacidade da pessoa ter
autoconhecimento (Gardner, 1994 e 2001, p. 57-8).
Depois de 1983, Gardner (2001) sugeriu a inclusão da inteligência naturalística,
que se refere à capacidade de se relacionar com a natureza – fauna, flora, minerais – de
forma produtiva, como fazem caçadores, biólogos e agricultores.
O sucesso profissional parece depender da adequada associação das inteligências e
das habilidades resultantes, o que resultaria em algo que poderíamos chamar de
“inteligência social” e que se relacionaria com a habilidade do indivíduo ser bem-
sucedido socialmente.
O que observamos dentro de sala de aula nos cursos de engenharia e no trabalho
profissional do dia a dia é que, de forma comum, muitos alunos brilhantes, capazes de
fazer rápidas inferências, têm dificuldade de se motivar para o trabalho prático e de
definir qual será o seu papel dentro da sociedade, começando cursos diversos, muitas
vezes sem terminá-los, tendo de forma geral dificuldade de achar seu espaço no tecido
social.
Esta “inteligência social” não exige dominância de nenhuma das oito inteligências
anteriormente citadas, mas da habilidade de perceber necessidades, da capacidade de se
automotivar, de enfrentar dificuldades, de saber se estimular por desafios e de
ambicionar um espaço distinto dentro da sociedade.
Como já dissemos, as habilidades podem ser natas ou aprendidas e desenvolvidas.
Podemos destacar algumas habilidades valorizadas socialmente e que devem fazer parte
da formação dos engenheiros e dos profissionais, de forma geral.

Comunicação

Esta é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Uma comunicação eficaz não
necessariamente exige domínio de um idioma ou da forma escrita de uma linguagem,
mas da capacidade de transmitir ideias e levar emoção associada ao discurso ou ao que
se escreve. Sem dúvida, o domínio do idioma e da escrita enaltece a comunicação e a
facilita. A sociedade valoriza profissionais que são capazes de dizer o que querem, de
transmitir suas ideias, de apresentar suas propostas de forma simples, numa linguagem
adequada ao público ao qual se direciona, utilizando uma forma atraente, inteligível e
motivadora de se comunicar.

Habilidade de negociação

Negociar é uma arte. Em muito envolve a inteligência interpessoal. Saber o que se


pode ceder, manter o essencial daquilo que se quer, renunciando ao que não é tão
importante. Buscar não a derrota da parte com a qual se negocia, mas o ganho das duas
partes, é uma habilidade de grande valor no mundo profissional, no qual os impasses
de interesses impedem, muitas vezes, a realização de projetos e a efetivação de bons
negócios. A habilidade de negociação é diferente da atitude negocial. Embora muitos
aceitem transigir, tendo, portanto, uma atitude negocial, a inabilidade de negociar
pode pôr em risco ganhos de suas empresas e mesmo renunciar a direitos
incontestáveis.

Organização

Saber onde as coisas estão, saber priorizar e resolver cada coisa a seu tempo,
apresentar cálculos de forma ordenada, utilizar bem o espaço de trabalho, manter as
informações catalogadas e acessíveis, encontrar os contatos, as fotos, os papéis que
procura, listar o que precisa para começar e terminar algum trabalho e planejar as
atividades que serão executadas são características de um profissional organizado. Esta
habilidade tem relação com a inteligência espacial. A capacidade de organização tem
sido valorizada, pois melhora a eficiência do trabalho e o fluxo de informação dentro
da empresa. Organização não é neurose. Ter momentos de amontoar papéis e permitir
algumas exceções na ordenação de coisas é salutar. A habilidade de organização não
deve inibir a flexibilidade, que é uma habilidade desejada dentro das empresas para que
estas possam acompanhar as mudanças de forma rápida.

Habilidade de autodesenvolvimento

Conhecimentos novos aparecem em profusão na nossa sociedade. Conhecimentos


valiosos hoje se tornarão ultrapassados em poucos anos. Equipamentos, programas de
computador e formas de se fazer modificam-se com as mudanças das tecnologias, com
as novas pesquisas e com os novos conceitos, de forma tal, que nunca estaremos
completamente atualizados sobre os temas profissionais com os quais lidamos. Saber
buscar conhecimento e se atualizar, prescindindo de cursos e de constantes
esclarecimentos por parte de outros, é uma qualidade profissional valorizada. Por
certo, podemos ter tutores nos temas novos do nosso trabalho diário, que nos orientem
sobre onde procurar informações e que nos passem soluções que somente com muito
tempo de experiência foram descobertas. Porém, perceber o que necessitamos para o
aperfeiçoamento profissional e tomarmos ações para superar estas carências é uma
habilidade. Sabermos estudar sozinhos, pesquisar e selecionar o que de melhor temos
disponível para o autoaperfeiçoamento, buscando o contínuo autodesenvolvimento, é
uma habilidade desejada.

Trabalho em equipe

Como já tivemos oportunidade de destacar, a maioria das realizações dos


engenheiros não são da responsabilidade de um único profissional e nem mesmo de
uma única especialidade. A capacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais
produtivos, como ocorre em produções coletivas, a partir de saberes diferenciados, é
uma habilidade de grande valor. Um aparelho de tomografia computadorizada, por
exemplo, é obra de muitos especialistas, não só em programação, eletrônica, mas
também da área de saúde, profissionais especializados em ergonomia e muitos outros.
Assim são desenvolvidos aviões, navios, aparelhos eletrônicos e quase tudo a que temos
acesso: em equipe. Daí ser valorizada a capacidade de trabalhar em equipe,
principalmente nas empresas em que a produção exige conhecimento e relacionamento
multidisciplinar.

Habilidade matemática

A habilidade matemática cresce de valor nos trabalhos de engenharia. Nem todas as


áreas sentem a importância desta habilidade. Saber manipular números, entender
análises matemáticas, ter facilidade de aprender métodos matemáticos e conceitos a
eles vinculados é uma habilidade muito desejada entre os engenheiros, principalmente
para aqueles que vão trabalhar em áreas de modelagem ou pesquisa científica, e que no
seu dia a dia vão lidar com modelos matemáticos, equações complexas e vão ter que
traduzir fenômenos físicos na linguagem matemática. Esta habilidade tem relação com
a inteligência lógico-matemática e pode ser desenvolvida com muito estudo,
concentração e exercício.

Habilidade computacional

A habilidade de operar, desenvolver, criticar, aperfeiçoar e aplicar sistemas


computacionais nas atividades diárias é cada dia mais valorizada. Com o mundo sendo
povoado por esses sistemas, com a inserção de inteligência em todos os equipamentos e
instrumentos, com o desenvolvimento de softwares e hardwares capazes de executar
tarefas fundamentais ao funcionamento da sociedade, a habilidade com os sistemas
computacionais vem sendo tratada como requisito cada vez mais importante para os
profissionais que são admitidos nas empresas. Mesmo para quem pretende trabalhar
como profissional liberal, esta é uma habilidade-chave. Seu desenvolvimento está
relacionado com a habilidade espacial e com a lógico-matemática e pode ser
incrementado a partir do interesse e empenho no aprendizado e constante atualização.

Habilidade de entender diferentes pontos de vista

As divergências de opiniões e de entendimentos sobre os temas discutidos no dia a


dia do trabalho são comuns. Muitas vezes, são caminhos dialéticos que podem levar as
discussões para posições novas e melhores do que as defendidas por cada parte
independentemente. Para se construir sínteses de ideias, para se entender diferentes
pontos de vista, para se extrair de cada posição defendida seu melhor conteúdo, é
necessário que se escute e se tenha o espírito aberto para pensar outros pontos de vista.
No entanto, só esta atitude não é suficiente. Para se tirar proveito real desta escuta, é
necessário que se tenha a habilidade de entender, considerar outras posições, olhando
do lugar do outro e percebendo os sentimentos das outras partes, sentimentos estes
que as impulsionam à defesa de seus pontos de vista. É a isto que chamamos “entender
outros pontos de vista”. Esta habilidade viabiliza a criatividade, o avanço das ideias e a
síntese de diferentes pontos de vista, sendo valorizada na maioria das empresas.

Habilidade de liderança

Alguns consideram que os líderes nascem prontos. A posição mais aceita hoje em
dia é a de que a liderança é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Embora a
liderança seja entendida nas empresas como situacional, onde cada situação exige um
diferente tipo de líder, e também exista diferentes estilos de liderança, a habilidade de
liderar pode ser desenvolvida. A capacidade de expressar ideias com clareza e tomar
decisões nos momentos certos, assumindo riscos possíveis, pode ser adquirida com a
experiência e o aumento da autoconfiança. Nas empresas, os gerentes funcionam como
líderes. Muitos técnicos que conduzem equipes de pesquisa, de projetos e de outras
atividades funcionam como líderes, sendo esta habilidade mais ou menos valorizada
em função da posição a ser ocupada pelo profissional.

Resiliência

Esta habilidade se refere à capacidade que algumas pessoas apresentam de se


adaptarem às novas situações. Assim, quando são submetidas às mudanças que as tiram
da chamada “zona de conforto”, rapidamente se recompõem. Em geral, os que têm esta
habilidade são dotados de uma grande capacidade de trabalhar os fatos de forma a vê-
los positivamente e de enxergarem oportunidades por trás das adversidades.

Sobre as atitudes

Cada indivíduo reage de diferentes formas às situações que a vida lhe impõe. Assim,
por exemplo, alguns alunos, quando reprovados em uma disciplina, podem entender
que não têm condições de vencer esta dificuldade e abondonam o curso que fazem;
outros, diante da mesma situação, decidem que vão estudar exaustivamente e se
destacar como o melhor; outros adotam uma postura passiva de deixar a coisa
acontecer e aguardar que passem quando o professor entender que eles devem passar.
Muitas são as reações que temos diante da mesma realidade.
Estas reações às solicitações da vida diária, ou seja, como nos comportamos em
nossas atividades – profissionais ou não – do dia a dia, são as “atitudes” que adotamos e
praticamos. As atitudes têm sua gênese em predisposições natas, em hábitos adquiridos
e em experiências vividas. Nós as desenvolvemos conforme caminhamos nas nossas
experiências. Do ponto de vista comportamental, os estímulos reforçam atitudes e as
punições as enfraquecem.
Se buscamos, por exemplo, a solução de um problema profissional que transcenda
nossas atribuições profissionais – porque entendemos que seria bom fazê-lo e o “chefe”
nos parabeniza, elogiando nossa atitude –, tendemos a repetir a atitude adotada. Se,
por outro lado, somos punidos por agir fora de nossas atribuições, nos desestimulamos
a adotar atitudes da mesma natureza.
Com o passar do tempo e a sua repetição, as atitudes acabam passando a ser traços
do caráter do indivíduo; traços da sua personalidade.
Nos ambientes profissionais, algumas atitudes são desejadas; outras, nem tanto. As
atitudes valorizadas e as não valorizadas dependerão da atividade que exercemos.
Listamos, a seguir, alguns exemplos de atitudes.

Cooperativa
Cooperar é operar junto. Fazer com os outros, contribuir com a nossa parte na
construção do todo. A atitude cooperativa nos predispõe a trabalhar junto com outros
na solução de problemas ou na realização de tarefas de interesse de um grupo ou da
coletividade da qual participamos, seja ela profissional ou não. Atitudes cooperativas
costumam ser bem vistas. A atitude individualista pode ser vista como a contrária à
cooperativa.

Realizadora

Esta é a atitude de quem faz acontecer. Usando um neologismo, é a atitude de


quem tem a iniciativa e a “acabativa”, começando e acabando o que começa, tornando
reais ideias, projetos e visões. Quem propõe e não faz não é visto como realizador.
Quem deixa as coisas inacabadas não é realizador. Não se deve pensar que aquele que é
capaz de ter boas ideias não é tão importante quanto aquele que as realiza. Contudo,
dependendo da cultura, o que pensa pode ser mais importante do que o que realiza, ou
vice-versa. Sem dúvida, os que pensam e realizam são mais bem avaliados do que os que
só pensam ou só realizam. O realizador, porém, é sempre imprescindível em qualquer
empreendimento.

Flexível

Modificações de hábitos ou de formas de fazer e organizar atividades podem ser


facilmente absorvidas e aceitas por quem tem uma atitude mais flexível. Assim, por
exemplo, se meu horário de trabalho vai das 8 às 17 horas e a empresa na qual trabalho
decide, por razões as quais não tenho acesso, modificar este horário, indo das 9 às 18
horas, posso reorganizar minha vida para atender, com boa vontade, o novo horário,
ou posso ficar reclamando desta modificação pelos impactos que ela causará em minha
vida, prejudicando, com minhas reclamações, o clima da organização. Pessoas flexíveis
são, em geral, bem vistas nas organizações. A atitude de buscar soluções negociadas,
aceitando soluções intermediárias às desejadas, é também uma atitude flexível. Não se
deve confundir flexibilidade com falta de opinião ou firmeza. Assim, o chefe
“bondoso”, que aceita os erros dos seus subordinados e se adequa às deficiências
daqueles, pode não ser bem visto como gerente. O contrário da pessoa flexível é a
inflexível.

Reativa

A atitude reativa é, em geral, mal vista pelas organizações. A atitude desta natureza
leva a quem a adota a dizer “não” antes de pensar na possibilidade do “sim”. Se o
gerente, por exemplo, leva ao seu subordinado a proposta de reorganizar seu espaço de
trabalho, o gerenciado pode simplesmente aceitar a sugestão sem reclamar ou pode
criticá-la, buscando adequar suas necessidades às do seu gerente, ou pode, simplemente,
justificar com inúmeros argumentos o porquê de não poder mudar o lay-out do seu
espaço de trabalho. Estes argumentos, em geral, possuem aspecto racional, mas de
fundo emocional (o que se chama em psicologia de racionalização). Desta forma,
adota, portanto, na situação descrita, uma atitude que pode ser interpretada como
reativa à mudança.

Pró-ativa

Esta atitude é a de antecipação de soluções para problemas que ainda vão surgir. É
ainda a atitude de quem busca solução e age sem necessidade de comando externo
diante das dificuldades, no sentido de resolvê-las. Se, por exemplo, meu computador de
trabalho enguiça, me impedindo de executar minhas tarefas, posso simplesmente parar
de trabalhar e esperar que alguém venha consertá-lo. Outra atitude possível é pedir a
alguém competente que venha consertá-lo enquanto eu uso o computador do colega
que está em férias. Posso ainda tentar sanar o defeito, buscando ajuda no local onde
fica o técnico competente, tentando assim agilizar o reparo, e procurando um
computador reserva para executar as minhas atividades enquanto não tenho o meu
consertado. São muitas as atitudes que podem ser tomadas. Algumas, passíveis de
espera, de passagem de responsabilidade e de aguardo de orientações; outras, de ação na
direção da solução, ainda que ninguém tenha assim solicitado. A adoção desta última
atitude caracteriza uma atitude pró-ativa. O contrário da atitude pró-ativa é a atitude
passiva.
Busca de excelência

Buscar excelência é buscar fazer o melhor possível. Não é ser perfeccionista, uma
vez que perfeito é algo ideal e inatingível e, provavelmente, nosso perfeito poderá ser
superado. Tentar fazer como os melhores fazem, buscando sempre aprimorar aquilo
que se faz, é buscar excelência. A atitude de buscar excelência é valorizada e é, no
fundo, uma atitude pró-ativa de quem quer fazer o melhor. Deve-se observar que o
perfeccionista, em geral, não termina suas tarefas (tende a não ser realizador), pois não
se satisfaz com o resultado que tem, não o considerando um resultado final. Aquele
que busca excelência procura fazer o melhor dentro das suas possibilidades,
considerando o que conhece e entende como melhor, no tempo de que dispõe, fazendo
e concluindo o que começa.

Objetiva

A atitude objetiva se identifica naquele que não foge do foco das discussões.
Quando a discussão se desvia do tema em debate, aquele que tem a atitude objetiva a
traz para o eixo central dos interesses, levando a discussão a conclusões e resultados
práticos. A falta de objetividade nos locais de trabalho dá espaço para longas reuniões
que terminam, em geral, sem desfecho, sem atas e sem resultados que possam ser
aplicados. Começam motivadas por dificuldades a serem resolvidas e acabam com as
mesmas dificuldades e, por vezes, outras adicionais geradas durante os debates.
Discussões conduzidas por pessoas sem objetividade falam de temas alheios ao tema
central em debate, tais como esporte, situações de vida, dificuldades passadas por
outras áreas da vida que não a profissional e a apresentação de exemplos e comentários
sem relevância para o que se tem como foco de interesse. A atitude objetiva é
valorizada nas empresas. Se exagerada, porém, pode abortar o aparecimento de novas
ideias e de posições diversas, principalmente se quem coordena a discussão é
exageradamente objetivo.

Criativa
A atitude criativa busca soluções novas para os problemas e procura diferentes
caminhos para discussão. É uma atitude que considera as opiniões, os antagonismos, as
diferenças e busca as soluções capazes de resolver a “equação” composta por estes
fatores. A criatividade tem sido valorizada nas empresas em razão de estas estarem
sempre buscando a simplificação dos seus processos e produtos, bem como novos
produtos que possam lhes conferir um diferencial competitivo positivo em relação aos
seus concorrentes.

Humanista

Ter o ser humano como centro das decisões é a atitude humanista também
chamada de antropocêntrica (o homem no centro). Se um engenheiro faz um projeto
buscando somente o melhor resultado econômico, sem considerar os benefícios que
este projeto trará para o ser humano, não está adotando uma atitude humanista.
Buscar este benefício, tendo o ser humano como primeiro valor nas decisões, evitando
impactos prejudiciais à espécie humana, caracteriza essa atitude. A sociedade
contemporânea, embora tenha, muitas vezes, práticas que não podem ser
caracterizadas como humanistas, valoriza esta atitude. As obras de engenharia devem
considerar o homem como parte do projeto se quiserem ser bem sucedidas.

Otimista

A atitude otimista é valorizada na vida. Olhar o futuro com esperança, buscar


sempre oportunidades, acreditar nas possibilidades e trazer ânimo para as equipes é
uma prática desejada na profissão e na vida. A atitude otimista não deve ser
confundida com a ingênua, que acredita em tudo e em todos, abolindo o senso crítico.
Deve trazer consigo propostas de soluções para os problemas que levam os outros ao
desânimo e ser acompanhada de ações que realizem tal tipo de visão.

Ousada

A atitude ousada é aquela que corre grandes riscos em busca de grandes prêmios.
Para que a ação de alguém seja considerada ousada, este alguém deve, em caso de
insucesso, assumir todos os ônus da ousadia. Este é o risco. Tomar atitudes extremas e
deixar as consequências dos riscos para outros não é uma atitude ousada, sendo mais
próxima da irresponsável. Buscar a última solução quando todas parecem esgotadas,
arriscar a vida por um propósito, investir todos os recursos numa oportunidade que
possa reverter em grandes ganhos são atitudes ousadas. A ousadia é valorizada em
empresas com alto nível de concorrência, podendo não ser bem aceita naquelas onde a
tradição e as regras rígidas são parte da sua estrutura de valores.

Reflexiva

Re (para trás) flexiva (que se dobra, que se flete) é a atitude que considera a história
passada, vivida, para decidir e construir novas ideias. Refletir é agir com ponderação e
prudência na tomada de decisões, nas discussões e nos embates profissionais e pessoais.
É falar com base em argumentos pensados e avaliados criticamente. A atitude reflexiva
é valorizada nas empresas, não devendo ser confundida com a indolência, o imobilismo
ou a procrastinação de ações gerada pela falta de ação em face das infinitas avaliações
sobre riscos e outros possíveis caminhos de decisão.

Prática

A atitude prática, também chamada de pragmática, é a de resolver no dia a dia, com


os recursos disponíveis, os problemas que surgem nas atividades que se desempenha. A
atitude prática busca soluções, nem sempre as mais eficientes, mas sempre exequíveis.
Enquanto outros pensam, o prático está agindo e procurando no mundo real meios de
avançar nas ações. A atitude prática tem sido valorizada e não deve ser confundida com
a atitude inconsequente de quem age sem pensar, de quem busca resolver os problemas
sem avaliar as consequências futuras das soluções propostas. Também se difere da
atitude “braçal”, que abandona o conhecimento e a experiência construída no passado
em prol de uma solução improvisada.

Crítica

A atitude crítica é aquela que busca separar as ideias, entender suas fundamentações
e julgá-las de forma embasada e consequente. A atitude crítica argumenta e separa o
que deve do que não deve ser feito, o que é melhor naquele momento do que não é
adequado; desconstrói verdades mostrando a falta de sustentação nas argumentações.
Na sua ação, a crítica busca identificar problemas e oportunidades de melhoria e
propiciar o encontro de novas soluções, sendo uma atitude valorizada nas empresas.
Não se deve confundir a atitude crítica com a atitude “queixosa” de quem se habitua na
vida a reclamar das novas soluções, criando argumentos que dificultam o avanço das
ideias, atitude que vem, em geral, acompanhada de uma visão pessimista e que defende
o status quo, focalizando o problema, e não a solução.

Apaixonada

A atitude apaixonada, num sentido vinculado ao exercício profissional, é aquela


que deixa fundir a razão e a emoção no desempenho da atividade produtiva. A paixão
pelo trabalho significa fazê-lo com alegria, se sentir estimulado a fazê-lo melhor, com
mais cuidado e mais entrega. Não se deve deixar, no entanto, confundir a paixão com a
atitude que não é adequeda profissionalmente, pelo menos no médio e longo prazo,
que é a do “vício pelo trabalho”. O viciado suprime o prazer de fazer trocando-o por
uma incapacidade de se desligar do trabalho, de abandonar as sensações de desafio que
este lhe provoca. Não raro, o viciado em trabalho se coloca distante do resto das
atividades que uma pessoa com uma vida equilibrada constuma ter, ou seja, do
convívio com amigos, família, das horas de lazer, das leituras diversas e outras
atividades importantes para a manutenção de uma vida saudável, efetivamente
produtiva e criativa.

Ética

A ética será tratada no tema 10. Uma atitude ética leva em conta o respeito às
instituições e às pessoas. Demonstra este respeito por meio de decisões e ações
respeitosas e que não acarretam a perda de confiança. Ser ético é, em linhas bem gerais,
fazer com os outros como gostaríamos que fizessem conosco. A atitude ética, embora
seja transgredida muitas vezes na nossa sociedade, é um valor admirado até pelos que
não agem eticamente.

Empreendedora

Uma atitude empreendedora é aquela que busca transformar problemas em


soluções lucrativas, que busca espaços para transpor as dificuldades que impedem a
execução de um projeto; é a atitude de quem “faz acontecer”. Uma atitude
empreendedora lida, em geral, com grandes ideias – quando comparadas ao contexto
de ideias em que o “empreendedor” está inserido. Assim, o cidadão que funda uma
comunidade ou agremiação, aquele que cria uma cooperativa para coletar produtos
agrícolas dos pequenos produtores, o aluno que se empenha e executa um protótipo de
alguma ideia de projeto que apareceu no seu grupo, aquele empregado que se empenha
em criar uma lanchonete na empresa quando os outros funcionários se empenham em
reclamar da falta de um local para lancharem, são pessoas com atitudes
empreendedoras.

Determinada

Uma atitude determinada é aquela que não se deixa desanimar pelas derrotas
pontuais que ocorrem na busca dos objetivos finais. Uma pessoa determinada, por
exemplo, se deseja passar em um concurso e for reprovada na primeira prova, vai seguir
fazendo as provas tantas vezes quantas forem necessárias para conseguir seu intento. A
atitude determinada envolve persistência, paciência e esperança. É importante que seja
acompanhada de bom senso, de forma que o indivíduo possa avaliar quando é hora de
parar, evitando que a determinação se transforme em obsessão.

Sobre as competências

Podemos dizer que estar formado, em um sentido pleno do termo, é ter


competência. Esta é direcionada a algo que se vai fazer. Ser competente no
desempenho de uma atividade é ser capaz de apreciar os problemas relacionados a ela,
resolvendo-os.
A competência em algum tema envolve, como vimos, conhecimentos acerca deste
tema, as habilidades necessárias para atuar junto a ele e as atitudes que permitam
resolver o que se quer resolver. Abreviadamente, se diz que ter competência é ter
“CHA”: conhecimentos, habilidades e atitudes.
O CONFEA (2005) define competência como “capacidade de utilização de
conhecimentos, habilidades e atitudes necessários ao desempenho de atividades em
campos profissionais específicos, obedecendo a padrões de qualidade e produtividade”.
Desta forma, podemos dizer que um engenheiro é competente para analisar, por
exemplo, a resistência de uma estrutura de suportação de uma ponte que se mostrou
com problema, se ele tiver domínio dos conhecimentos que lhe permitam analisar tal
estrutura. Nesse caso, deverá dominar temas como resistência dos materiais, projeto de
estruturas, materiais de construção e outros correlatos. Além disto, não estará apto a
analisar a estrutura se não for capaz de juntar esses conhecimentos de forma a
encontrar uma resposta embasada tecnicamente.
Um profissional experiente é aquele que já viveu situações semelhantes à que está
analisando. Assim, se um engenheiro é encarregado de resolver problemas relacionados
à estrutura de uma ponte, ainda que não tenha feito este tipo de trabalho, pode se
utilizar de sua experiência em resolver problemas de estruturas prediais e, por analogia,
concluir sobre como deve analisar a estrutura da ponte.
Podemos pensar que sabemos fazer algo, mas só saberemos se somos capazes de
fazer, fazendo; aí sim, demonstraremos nossa competência e nos sentiremos seguros de
possuí-la. É fazendo e criticando o resultado do seu fazer que o engenheiro desenvolve
as competências necessárias para a execução de suas atividades. Além disto, o fazer lhe
dá autoconfiança e senioridade.
Observemos que a habilidade de fazer não se dá só depois do profissional estar
formado. Durante seu curso de formação, o estudante pode atuar em laboratórios
dentro de sua instituição de ensino, resolver problemas simulados, realizar estágios que
lhe deem vivência prática e fazer projetos que desenvolvam suas competências. Pode
também participar de programas de iniciação científica e de outras atividades
semelhantes, que lhe darão competência no trato de muitas atividades que encontrará
depois de ter concluído seu curso de engenharia.
Mesmo que o engenheiro tenha as habilidades e os conhecimentos necessários para
enfrentar uma determinada situação, não será competente em atuar junto a ela, se não
tiver atitudes adequadas, como, por exemplo, a vontade de enfrentá-la. A atitude de
determinação, por exemplo, é necessária em todas as atividades que coloquem desafios
diante dos problemas a resolver. Atitudes flexíveis de ajuste de comportamento,
atitude empreendedora, cooperativa, prática, de liderança e objetiva podem ser
fundamentais para resolver problemas do dia a dia do engenheiro.
Da mesma forma que as habilidades, algumas atitudes podem e devem ser
desenvolvidas durante o curso de formação do engenheiro. A cooperação, por exemplo,
pode ser exercitada em trabalhos de grupos; a flexibilidade pode ser exercitada na
discussão de problemas com os colegas de turma; atitudes práticas, objetivas, são
algumas das muitas que podem ser exercitadas dentro das instituições de ensino, desde
que estejamos atentos às oportunidades que se nos apresentam de exercitá-las.
Algumas competências típicas desejáveis para os engenheiros são:

a capacidade de reconhecer e analisar as necessidades dos usuários em relação a


problemas relacionados com a engenharia, verificando que ferramentas devem ser
utilizadas na sua resolução e buscando soluções otimizadas e criativas;
ser capaz de fazer o modelamento de fenômenos e sistemas físicos e químicos,
utilizando modelos matemáticos, computacionais ou físicos análogos, que possam
ser validados por experimentos, pela utilização de ferramentas matemáticas,
recursos computacionais e simuladores, envolvendo ou não conhecimentos de
estatística;
competência para enxergar os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais,
ambientais e culturais dos problemas que busca resolver, implementando
soluções que considerem estes aspectos além dos aspectos técnicos;
criticar e refletir sobre os impactos das soluções de engenharia no contexto social,
econômico, cultural e ambiental dos usuários;
supervisionar e avaliar a implantação, a operação e a manutenção de sistemas de
engenharia, utilizando técnicas de planejamento e coordenação;
administrar tanto a força de trabalho quanto os recursos materiais e da
informação envolvidos nas suas atividades;
comunicar-se de maneira efetiva e eficaz nas formas escrita, oral e gráfica, tendo
domínio dos meios de comunicação existentes e mantendo-se atualizado em
termos dos métodos e tecnologias de comunicação disponíveis;
ser capaz de interagir com diferentes culturas, mediante trabalhos em equipe
presenciais ou a distância, de modo a facilitar a construção coletiva, trabalhando
junto ou liderando estas equipes;
interpretar e aplicar com ética a legislação e os atos normativos no âmbito do
exercício da profissão;
ser competente para aprender de forma autônoma, para lidar com situações e
contextos complexos, atualizando-se em relação aos avanços da ciência e da
tecnologia.

As competências vão sendo acrescentadas no dia a dia e amadurecem com o tempo.


São as práticas na execução das atividades que permitem que sejam identificadas como
existentes e que se tornem efetivamente competências.
Muitas vezes, as empresas não procuram um profissional desta ou daquela
especialidade, mas profissionais competentes, por exemplo, em manutenção de
equipamentos de automação, competentes em planejamento, qualidade, gestão de
pessoas e que detenham outras específicas para o exercício de determinadas funções.
Não se espera que um curso de engenharia entregue ao mercado profissionais
formados com os conhecimentos, habilidades e atitudes amadurecidas.
O importante é ser competente em cada momento da vida profissional. Assim, por
exemplo, ser competente quando se termina o curso de graduação é saber lidar com os
conhecimentos básicos da especialidade que se escolheu, conhecendo-os e aplicando-os
porque já se viu tal aplicação ser feita ou porque alguém mais experiente, ou mesmo
manuais especializados, recomendaram sua utilização. Para tal, deve-se dominar a
linguagem da especialidade e saber trabalhar com as ciências nela envolvidas.
Se, depois de cinco anos de formado, o profissional de engenharia ainda não
ganhou autonomia para saber quais os conhecimentos que deve aplicar nas atividades
que desempenha, pode ser que já esteja sendo incompetente para o seu exercício.
Por exemplo, se não sabemos gerenciar pessoas quando temos cinco anos de
formação, mas nossa atribuição profissional são as atividades técnicas, isto pode não ser
sinal de incompetência. Contudo, se depois de quinze anos de formados ainda não
desenvolvemos a capacidade de liderança de pequenas equipes, isto pode ser entendido
como incompetência.
De forma geral, devemos estar capacitados e ser competentes para vivermos nosso
momento profissional.

Qual a formação desejada para os engenheiros brasileiros?

De forma a orientar a elaboração das grades curriculares dos cursos de engenharia,


aqueles que elaboram os currículos produzem, antes da grade, um projeto pedagógico,
onde se define o perfil do engenheiro e o que se espera que ele tenha de conhecimentos,
habilidades e atitudes, ou seja, de competências, ao final do curso.
No Brasil, por meio do Ministério de Educação, são elaboradas Diretrizes
Curriculares para os cursos de Graduação Superior, que orientam a elaboração dos
currículos, os quais, por sua vez, são direcionados pelo perfil desejado para o
engenheiro que se quer formar.
O Conselho de Educação, por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Curso de Graduação em Engenharia (Brasil, 2019a), orienta a formação profissional
para um perfil com visão holística e humanista, crítico, reflexivo, criativo, cooperativo
e ético, com capacidade de pesquisar, desenvolver, adaptar e utilizar novas tecnologias,
com atuação crítica e criativa, o que pressupõe uma atuação inovadora e
empreendedora.
No perfil desejado para os engenheiros, espera-se que estes considerem, nas análises
dos problemas de engenharia a eles encaminhados, aspectos políticos, econômicos,
sociais, ambientais e culturais, sendo isentos de discriminações e preconceitos nas suas
análises e que ajam com responsabilidade social, buscando o desenvolvimento
sustentável na execução dos seus projetos.
Na visão curricular, há cada vez maior preocupação com a competência, em
detrimento da simples absorção de conteúdos, e com a multidisciplinaridade e
transdisciplinaridade na prática da engenharia.
É certo que, para poder adquirir competência no exercício da profissão, o
engenheiro deverá ter conteúdos que lhe permitam analisar e compreender fenômenos
físicos, químicos, usar modelos matemáticos, elaborar experimentações e implementar
as soluções de engenharia. Atuando como profissional, não só a visão técnica e
científica se faz importante, mas também a capacidade de avaliar os impactos da sua
atuação na sociedade dentro da qual exerce sua profissão, de entender a legislação que
regula suas atividades e a consciência da importância de agir eticamente. Neste sentido,
colabora este trabalho, que procura olhar a engenharia do ponto de vista das
humanidades, das ciências sociais e da cidadania.
O valor do engenheiro formado estará na sua capacidade de atender às expectativas
e demandas da sociedade onde atua. Neste sentido, discutiremos, no tema 8, com base
na percepção psicossocial da sociedade contemporânea, alguns conhecimentos, bem
como habilidades e atitudes que se fazem requisitadas na formação do engenheiro na
sociedade contemporânea.

Exercícios de avaliação de conteúdo

7.1. Como distinguir conhecimentos, de habilidades e de competências?


7.2. Cite dois conhecimentos, duas habilidades e duas atitudes que você considera
importantes para o engenheiro de software que ingressa numa empresa que desenvolve
modelos matemáticos.
7.3. Quais os tipos puros de inteligências identificadas por Howard Gardner?

Exercícios vivenciais

7.4. Leia o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em


Engenharia, de 24 de abril de 2019, e identifique três competências que o MEC espera
que sejam desenvolvidas pelas Instituições de Ensino nos profissionais de engenharia
por elas formados.
7.5. Identifique três de suas habilidades e três de suas atitudes que você explicitaria
para o gerente de uma empresa que procura engenheiros para atuarem na área de
manutenção de equipamentos relacionados à sua especialidade (ou seja, a manutenção
pode ser mecânica, elétrica, civil, sistemas de navegação etc.).
–8–
Demandas da sociedade contemporânea na formação dos
engenheiros: uma visão psicopedagógica

A sociedade contemporânea é a Sociedade da Informação

Os historiadores recortam a história em diferentes períodos, sendo clássico o


recorte em Idade Antiga, Média, Renascimento, Idade Moderna e Contemporânea.
Outra forma de recorte é levando em consideração algum fator importante na
estruturação das sociedades, como a tecnologia e os sistemas econômicos.
Olhando pelo aspecto tecnológico, a descoberta da possibilidade técnica de se
plantar e colher, ou seja, a descoberta da agricultura, permitiu que as sociedades
deixassem de ser nômades e passassem a se estabelecer em locais fixos, viabilizando,
assim, a construção dos primeiros aglomerados que vieram a se tornar as grandes
cidades antigas.
Às sociedades que se formaram e viveram com a vida econômica centrada na
agricultura podemos chamar de Sociedades agrícolas. A agricultura predominou por
muitos séculos como a forma mais importante de produção na sociedade ocidental,
perpassando o regime feudal e indo até a organização do que podemos chamar de
Sociedade industrial.
De forma muito resumida, podemos dizer que, na civilização ocidental, a
intensificação do comércio e a capacidade de acumulação de capital por algumas
“famílias” permitiram que os mais abastados comprassem a força de trabalho de outros
menos favorecidos, o que resultou na estruturação da sociedade em moldes que
criaram uma economia capitalista. Isso levou as sociedades ocidentais à era industrial,
na qual o aumento da produção de manufaturados se fez presente. As relações
políticas, econômicas e sociais passaram a gravitar em torno do que chamamos de
Sociedade industrial.
Enquanto a Sociedade agrícola obtinha sua energia, principalmente, a partir da
energia humana e animal, a Sociedade industrial aprendeu, de início, a retirar energia
da água, dos ventos e do vapor para acionar motores de máquinas e moinhos. Com a
evolução da ciência e da tecnologia, passou-se a utilizar motores de combustão e
motogeradores elétricos. O sucesso da eletricidade como forma de suprimento
energético evoluiu, levando à consolidação de uma ciência e de uma tecnologia
voltadas para a eletricidade e para a sua especialidade mais fina, a eletrônica.
Com a evolução da ciência e da tecnologia eletrônica, a sociedade, a partir da
década de 1940, pôde ingressar em novas formas de executar as tarefas do dia a dia,
utilizando, de forma crescente, os computadores. Estes aparelhos passaram a ocupar
quase todos os segmentos da vida social, permitindo, entre outras coisas, o aumento da
capacidade de se comunicar e de acessar e gerar informações, colocando um imenso
valor em tudo o que se pode chamar de informação.
Entre as informações relevantes para o desenvolvimento das sociedades que
passaram a utilizar os sistemas computacionais como ferramenta no seu dia a dia, a
tecnologia, como uma destas informações, ganhou destaque. Outras, como as
estratégias empresariais, passaram a ser informações confidenciais. As políticas de
Estado passaram a ser tratadas como informações relevantes.
Devido à importância que ganharam as várias formas de informação e à
possibilidade de serem trocadas em quantidade e velocidade nunca antes
experimentadas por nenhuma outra sociedade, essa sociedade ganhou, entre muitos
historiadores e sociólogos responsáveis pelas nomenclaturas históricas, o nome de
Sociedade da informação.
A referência à Sociedade da informação como Sociedade globalizada também se fez
usual em razão da abrangência que as informações assumiram em todo o mundo, o que
levou a padrões culturais semelhantes entre culturas distantes fisicamente, ao aumento
da velocidade nas transações comerciais e econômicas e à abrangência dos impactos das
decisões de um país em outros dele distantes.
As diferenças culturais, sociais e econômicas entre a Sociedade agrícola e a
industrial são notáveis; entre a Industrial e a “da Informação”, maiores ainda.
A Sociedade da informação é uma sociedade com valores, conceitos e demandas
diferentes das sociedades que a precederam. Sendo assim, aqueles que pretendem
ingressar no mercado de trabalho e galgar melhores posições devem estar preparados
para responder às demandas desta sociedade.
Antes de discutirmos com mais profundidade os conhecimentos, habilidades e
atitudes que a sociedade contemporânea demanda por seu momento histórico,
apresentamos, em forma de tabela, uma visão sumária das características das três
Sociedades citadas:

a Sociedade agrícola é aquela cuja economia tem seu foco na agricultura e que
nasce com a descoberta da possibilidade de cultivo, o qual permitiu a fundação de
sociedades fixas geograficamente, com a criação das primeiras civilizações;
a Sociedade industrial tem sua economia baseada na produção industrial e
começa a surgir por volta do final do século XVII;
a Sociedade da informação tem sua economia assentada no domínio da
informação, principalmente da informação tecnológica, sendo a sociedade
estabelecida no lastro dos computadores e dos sistemas de comunicação.

Quadro 3 – Características das Sociedades Agrícola, Industrial e da Informação


SOCIEDADE SOCIEDADE SOCIEDADE DA
AGRÍCOLA INDUSTRIAL INFORMAÇÃO
modo de agricultura Industrial tecnologia e informação
produção
organização do feudos fábricas/áreas agropecuárias / escritórios escritórios virtuais, fábricas e
trabalho atividades com operações
remotas
marco descoberta da revolução industrial primeiros computadores
histórico de agricultura
fundação
datação para 12.000 a.C. ~1700 1946
referência
pontos descoberta do cultivo uso do vento e vapor para trabalho útil computador ENIAC (digital)
marcantes agrícola
organização feudos estados-nação organizações mundiais (ONU,
política FMI, etc.)
centros de patriarca/nobreza líderes de nações grandes empresas
poder multinacionais
símbolo de posse de terras posse das fontes de matérias-primas domínio tecnológico e da
poder informação
consciência de regional sociedade desenvolvida (produtora) x visão holística (tudo interfere
mundo subdesenvolvida (fornecedora de matéria em tudo); visão ecológica e
prima) social
aspectos clãs/patriarcas casais fixos e héteros recasados/casais homo e
sociais poder e riqueza amor burguês héteros/trans/pai-mãe solteira
constituição sistema de trocas de monetário prazer (hedonismo)
familiar mercadorias virtual
motivador das bits (deslocados de uma conta
uniões corrente para outra)
moeda
circulante
aspectos individual/artesanato por empregados em fábricas terceirizados/montadoras
tecnológicos artesanais/manuais máquinas motorizadas robôs/computadores
métodos de humana/animal vapor/petróleo/eletricidade renováveis
produção pedra/argila/madeira metais sintéticos/cerâmicos/bio-
ferramentas em silos armazém/almoxarifado lógicos
energia falada escrita just-in-time
materiais digital
estoques
comunicação
percepções do criação de Deus criação individual criação social
mundo imutável progresso provável e possível
visão do solar relógio vivencial (curto se prazeroso;
homem cavalo automóvel/avião longo se entediante)
visão de futuro luz
visão do tempo
velocidade de
referência

Fonte: Autor.

No Brasil, a era da informação se faz presente. Para quem quer competir num
mercado mundial, pensar como se pensa na Era da Informação, ter os conhecimentos
que são úteis, as habilidades e atitudes que fazem a diferença, tendo as competências
para resolver o que se precisa resolver, é fundamental.

Cada sociedade demanda diferentes competências


Dependendo de suas características, as demandas de conhecimentos, habilidades e
atitudes profissionais de cada sociedade serão diferentes. Assim, uma sociedade
agrícola, onde a principal atividade econômica é a agricultura, exigirá conhecimentos
de plantio, colheita e aproveitamento do solo. Vai demandar, também, habilidade para
arar e sensibilidade para saber o que, onde e quando plantar, atitudes reflexivas sobre o
clima, época de colheita e atitude investigativa sobre o porquê das perdas de produção.
Uma sociedade industrial, com estrutura fabril, demandará profissionais com
conhecimentos sobre os processos industriais, ou seja, como fabricar, que máquinas
utilizar e como proceder para obter o produto final desejado a partir da matéria-prima
disponível; habilidades como liderança de equipes, organização e planejamento;
atitude empreendedora, obediente às normas, prática e determinada.

A modificação dos valores e expectativas de cada sociedade

Por suas características particulares, como comentado, cada sociedade tende a


valorizar mais alguns conhecimentos, habilidades e atitudes em detrimento de outros
que já foram importantes nesta mesma sociedade. A análise das razões para estas
mudanças de padrões de valores cabem aos filósofos, psicólogos e sociólogos.
O que se observa nas sociedades é que o que achamos bom, estético e o que
valorizamos e desejamos em um dado momento não será necessariamente olhado da
mesma forma em tempos futuros. O modo como as pessoas veem o mundo se modifica
com as mudanças da sociedade e as pessoas, como parte do sistema social, também
atuam no sentido de modificar o que se acha bom, estético, valorizado e desejado.
Um exemplo disto é a mudança de valores, desejos e forma de encarar o trabalho
nas diferentes gerações.
Sociólogos identificaram características diferentes, incluindo padrões de
comportamentos, desejos e valores, nas gerações humanas dos anos recentes, indicando
que em cada momento as sociedades constroem pessoas diferentes.
Em uma das suas classificações, identificaram gerações com comportamentos
típicos, às quais denominaram geração de “veteranos” (nascidos de 1935 a 1945), baby-
boomers (1946 a 1964), geração X (1965 a 1980), geração Y (1981 a 1995) e geração
Z (1996 até data recente), por exemplo.
Nesta classificação, os sociólogos identificaram nuances de gostos, valores e
comportamentos (Pati, 2016).

veteranos: enxergam valor na experiência das pessoas; buscam empregos para toda
a vida; demonstram respeito às instituições; são recompensados com a qualidade
do seu trabalho; têm respeito à autoridade;
baby-boomers: têm dificuldades com aparatos tecnológicos; são fiéis às
organizações em que trabalham; concentrados nos valores sociais; exercem
liderança enfocada no comando e no controle; são recompensados pelo dinheiro
e orientados aos processos e aos meios de se fazer;
geração X: fácil trato com a tecnologia; busca estabilidade no trabalho; atenta aos
valores sociais; exerce liderança enfocada no comando e no controle; preza a
liberdade; comunicação por e-mail;
geração Y: fácil trato com a tecnologia; gosta do desafio de novos conhecimentos
e novas atividades; é individualista; concentrada em valores individuais; gosta de
estruturas mais horizontalizadas sem comandos e controles; se sente gratificada
com o reconhecimento; se comunica por redes; prioriza interesses pessoais em
detrimento dos interesses da empresa; orientada a resultados;
geração Z: já nasceu conectada; é nativa digital e multifuncional; individualista;
concentrada em valores individuais; não gosta de comandos e controles;
comunicações por sistemas mais diretos; seus participantes são mais críticos,
exigentes e dinâmicos que os da geração Y; criativos e empreendedores; sensíveis à
necessidade de sustentabilidade das atividades e dos processos.

A adequação das pessoas – e dos profissionais, em particular – aos anseios e


momento da sociedade em que vivem também ocorre. Alguns sociólogos entendem
que independentemente da geração à qual uma pessoa pertença, suas atitudes são
fortemente influenciadas pelo momento social. No campo profissional, por exemplo,
identificam que, independentemente da geração, alguns profissionais têm
características de rápida adaptação e de boa atuação em ambientes de trabalho e de
negócios caóticos e confusos. Estes profissionais podem ser denominados de “geração
flux” (Bourroul, 2016).
A geração flux não tem relação com a idade, mas com a mentalidade e a atitude. São
aptos a sobreviver a situações de mudanças e a pressões contínuas. Para tal, acumulam
habilidades, procuram aperfeiçoamento constante e recorrem a todas as mídias para
obterem informações e novos conhecimentos.
A sociedade contemporânea não é e não será, por certo, a final. Outras sociedades
virão e outras características serão demandadas.

Alguns conceitos que influenciam as demandas de conhecimentos, habilidades e


atitudes

Conceitos recentes, de cerca de um século para cá, vêm exercendo grande influência
nos padrões de expectativas dos conhecimentos, habilidades e atitudes desejadas nos
profissionais contemporâneos. Podemos destacar alguns, cujos impactos serão melhor
analisados quando avaliarmos as demandas que trazem àqueles que se formam em
engenharia.
Um conceito que ganhou espaço na sociedade contemporânea é o de que o ser
humano não é tão racional, tendo um forte comportamento de origem inconsciente,
ao contrário do que se pensava em épocas anteriores.
Propostos de forma sistemática por Sigmund Freud (1856-1939) nos últimos anos
do século XIX, os estudos do inconsciente impactaram o pensamento do século XX e,
até hoje, ecoam seus efeitos no pensamento das sociedades contemporâneas.
A descoberta de que a conduta humana é fortemente influenciada por desejos e
emoções não revelados à consciência e de origem desconhecida levou à valorização
daqueles que conseguem entender o comportamento do outro, dirigindo-lhe as
energias de forma adequada e, no caso dos profissionais, de forma produtiva.
Valoriza-se, assim, a habilidade de se inter-relacionar, de se conseguir criar novas
ideias nas interfaces das diferenças e de se ter uma atitude flexível, entendendo que há
várias formas de se perceber o mundo, que as ações humanas não são guiadas, de forma
geral, pela racionalidade e que as pessoas têm desejos e sentimentos diferentes, o que,
em alguns casos, podem levá-las a resultados muito criativos.
Outro conceito importante foi o da evolução dos organismos vivos, que muito deve
à Charles Darwin (1809-82) e sua obra principal, A Origem das Espécies.
O conceito de evolução impactou as expectativas sobre as habilidades profissionais.
Dentro desta visão, “não são os mais fortes nem os mais inteligentes da espécie que
sobrevivem, mas os que se adaptam melhor às mudanças ambientais” (Chiavenato,
2013, p. 396). Assim, a flexibilidade e a criatividade são atitudes esperadas dos
profissionais.
A visão de evolução também impactou a administração das empresas em que
muitos profissionais de engenharia vão atuar. As empresas são vistas como organismos
vivos, passíveis de sofrerem solicitações do ambiente em que desenvolvem suas
atividades, exigindo um corpo de profissionais não apenas dedicado, mas também
criativo e flexível, capaz de levar a empresa a se adaptar às mudanças dos mercados, da
tecnologia e do ambiente econômico. Ser criativo e flexível tornam-se atitudes
desejadas nos profissionais contemporâneos.
O indeterminismo é outro conceito que impactou as expectativas da sociedade e
deve seu desenvolvimento à física moderna. Se relacionando com as teorias quânticas e
da relatividade, passou a enxergar a natureza como mais probabilística e menos
determinística.
O indeterminismo na ciência, inicialmente identificado pelo físico alemão Werner
Heisenberg (1901-76), trouxe de forma definitiva a visão de que não se pode
determinar precisamente, em um mesmo experimento, a posição e a velocidade de uma
partícula. “Se conhecemos uma destas grandezas com alta precisão, a outra não poderá
ser conhecida com esta mesma precisão” (Heisenberg, 1998, p. 74). Com esta visão, o
determinismo newtoniano, que pretendia prever com exatidão comportamentos
futuros, fica abalado.
Nesta visão probabilística da física, as partículas atômicas deixam de ser matérias e
passam a ser tendências probabilísticas, levando o mundo a ser visto como formado por
ondas de energia que se movimentam continuamente.30 Estes conceitos vão trazer para
a sociedade contemporânea sentimentos de possibilidades maiores que aqueles que
traziam a física determinista de Newton. A probabilidade de algo acontecer pode ser
pequena, mas existe.
Além da visão não-determinística, a física quântica traz o conceito de identidade
entre a matéria e a energia, trazendo também a percepção da fluidez e da mutação das
substâncias. Neste bojo, de forma análoga, vem a volatilidade dos conceitos e da
tecnologia, que desaparecem, se transformando ou se recriando a cada momento. O
profissional trabalha sempre no novo, tem que estar sempre se atualizando para escapar
da volatilidade do mundo, deve ousar para aproveitar as probabilidades e navegar pela
criatividade para encontrar novos caminhos.
Não menos impacto traz a Teoria da Relatividade proposta inicialmente por Albert
Einstein (1879-1955). Nesta física do século XX, o tempo deixa de ser uma grandeza
física absoluta, como era na física de Newton, e passa a ser uma variável dependente da
velocidade relativa entre o observador e o objeto observado.
A percepção da relatividade no mundo ganha força como um conceito válido. O
tempo, em particular, passa a ser percebido como duração. Uma tarefa pode demorar
muito do ponto de vista do tempo físico, mas, se for agradável de se executar, pode ter
uma duração psicológica curta. O tempo, nas medidas de resultados do trabalho, deixa
também de ser um fator de tanta importância; no resultado, ganha peso o prazer no
fazer. Buscam-se resultados com menores gastos de energia e mais alegria.
Outro conceito assimilado pelas ciências em geral e que chegou ao mundo das
empresas, partindo da física, foi o de entropia. A entropia indica o estado de ordem dos
sistemas.
Em qualquer sistema, pela segunda lei da termodinâmica, a entropia aumenta,
levando a um estado de desordem. Porém, a visão da ciência – em particular a da
Teoria da Complexidade, atribuída a Ilya Prigogine (1917-2003), que desenvolveu a
teoria dos sistemas adaptativos – indica que os sistemas complexos são capazes de se
adaptarem por meio de redes individuais que, interagindo, criam um comportamento
organizado e cooperativo, capaz de reorganizar os sistemas complexos. Este
entendimento impactou as teorias de administração (Chiavenato, 2013, p. 395-400)
com a visão de reorganização. A vida das empresas está sempre se adaptando, e os
profissionais devem trabalhar, de forma cooperativa, em equipes e em redes de
conhecimento e atuação para manterem a empresa sempre dinamicamente organizada.
Apesar do trabalho em equipe ser valorizado, a ação individual também é
importante, e a atitude de cada um, embora aparentemente de pequeno peso dentro
das organizações, pode trazer impactos grandes ao resultado. Esta visão é corroborada
pela teoria do caos desenvolvida por Edward Lorenz (1917-2008). Lorenz era
meteorologista e foi um pioneiro na teoria do caos, cunhando o termo “efeito
borboleta” e induzindo, numa forma metafórica, que o bater das asas da borboleta
poderia causar uma imensa mudança climática, produzindo um furacão.
Além dos impactos trazidos pelos conceitos anteriormente citados na formação dos
profissionais em geral, e dos engenheiros em particular – os quais olharemos com mais
profundidade no tópico a seguir –, grandes impactos nas exigências de formação, no
que tange a conhecimentos e habilidades, ficaram por conta dos avanços em tecnologia
da informação.
A concretização da internet como meio de comunicação, ambiente de negócios,
viabilizador de junção de dados e pessoas de diferentes partes do mundo, trouxe o
encurtamento dos espaços e dos tempos, permitindo uma proximidade entre as
pessoas, sociedades e organizações nunca antes experimentada.
O domínio das ferramentas de comunicação e o domínio das formas de se
comunicar, que vão desde idiomas que aproximem mais as pessoas até softwares que
permitam tornar mais inteligíveis, agradáveis e reais os objetos comunicados, faz-se
uma exigência entre os profissionais.
A vida também se virtualizou, e os bits substituíram dinheiros, papéis, fotos e
outros elementos comuns nas sociedades precedentes, exigindo dos profissionais
conhecimentos de informática, qualquer que seja o seu ramo de atuação.
Para os engenheiros em particular, a evolução dos modelos matemáticos e a
capacidade de processamento dos simuladores vêm permitindo fazer previsões
impossíveis de serem feitas sem estas ferramentas, exigindo habilidades de modelagem
matemática e conhecimento de uso de ferramentas de simulação.

Por que é importante entendermos as características da nossa sociedade?

O esquema da figura 6 representa algumas características que mudaram na


sociedade ao longo do tempo e que trouxeram consigo demandas na formação
profissional: são conceitos e valores, habilidades e atitudes valorizadas no momento
vivido pela sociedade, novos conhecimentos da ciência, tecnologias e novos desafios
colocados pela sociedade. Estas demandas na formação servem como direcionadores
para se intuir os conhecimentos, habilidades e atitudes que deve ter o profissional para
melhor se encaixar no tecido social, dando à sociedade sua efetiva contribuição.
Preparado para atender às demandas da sociedade, terá mais oportunidades no
mercado de trabalho, e mais chances de obter melhores recompensas e reconhecimento
social.

Figura 6 – Fatores que demandam ajustes na formação profissional

Fonte: Autor.

Características da Sociedade da Informação ou Globalizada

Listamos a seguir dezenove características da Sociedade da Informação, buscando


identificar algumas demandas que estas trazem na formação profissional dos
engenheiros, características estas identificadas com base em experiências profissionais,
leitura e reflexão pessoal,

a) Globalização

a.1) O que é?

Muitas metáforas têm sido usadas para se referir à sociedade contemporânea:


“economia-mundo”, “sistema-mundo”, “shopping center global”, “Disneylândia
global”, “cidade global”, “capitalismo global”, “mundo sem fronteiras”, “tecno-cosmo”,
“planeta Terra”, “desterritorialização”, “miniaturização”, “hegemonia global”, entre
outras (Ianni, 1997, p. 15). Todas denotam que o mundo se integrou; virou uma
sociedade global: uma Sociedade globalizada.
A conexão entre as várias partes do planeta é feita pela troca on-line e em tempo
real de informações. A informação se tornou a mola mestra e o maior valor das
sociedades do planeta, daí também esta se chamar Sociedade da Informação.
A expressão “Sociedade globalizada”, ou “Sociedade da informação”, busca
explicitar uma característica, que é nova na história da humanidade, em que as pessoas
– e, consequentemente, seus grupos sociais – compartilham valores, ideias, recursos,
sentimentos ou, de forma geral, informações, em quantidade e velocidade sem
precedentes. A capacidade de transmitir informações por ondas eletromagnéticas e o
desenvolvimento de protocolos de comunicação universais permitiram o
desenvolvimento desta característica.
Muitas são as consequências da globalização que interessam às empresas e aos seus
profissionais. Destacamos algumas:

a possibilidade das empresas multinacionais tomarem decisões em âmbito


mundial, com envolvimento de executivos e força de trabalho de vários países;
a possibilidade de se organizar a produção industrial com a divisão do trabalho
não mais entre pessoas, mas entre nações;
a possibilidade de se construir conhecimento com a colaboração de atores de
diferentes centros de inteligência;
a possibilidade de se buscar informação de forma quase imediata em bancos de
dados, de acesso possível em cada canto do mundo;
a criação de um mercado para bens de âmbito mundial, exigindo um esforço de
atualização enorme por parte dos engenheiros para se manterem a par das
novidades em produtos novos para aplicação nas suas áreas de especialidade;
a criação de um mercado de serviços mundial faculta a contratação de
profissionais e empresas de diferentes países e a criação de um mercado de
empregos mundial;
a criação de um espaço para marketing de produtos e serviços de âmbito mundial,
além da possibilidade de que qualquer profissional que tenha ideias novas ou
conhecimentos específicos faça seu próprio marketing pessoal;
a criação de um espaço de concorrência de produtos, em geral, mundial.

Os impactos da “globalização” são indescritíveis na sua totalidade. As


consequências da realidade desta característica ainda estão sendo mensuradas e, a cada
dia, novas ideias e possibilidades são criadas e identificadas.
Muitas das características explicitadas a seguir podem ser tratadas como
consequências da globalização, porém, analisaremo-nas de forma independente pelos
impactos específicos que trazem na atividade profissional dos engenheiros.
Da mesma forma, muitos outros impactos fazem parte desta sociedade se a
tratarmos num sentido amplo. Contudo, aqui enfatizamos somente o seu aspecto
global no que diz respeito à troca de informações e às possibilidades de divisão e
organização do trabalho trazidas pela “globalização” para a atividade profissional.
Assim, impactos trazidos pelas redes sociais, no que tange aos aspectos psicológicos,
sociológicos, religiosos, filosóficos, éticos e outros, não estão sendo explicitados nesta
característica “globalização”.

a.2) Globalização: demandas na formação do engenheiro

A necessidade de inserção do profissional no mundo globalizado exige a sua


integração no mundo da comunicação globalizada, com bom domínio dos hardwares e
softwares que permitem a comunicação de forma eficaz. A habilidade de dominar essas
ferramentas pode ser obtida pela prática diária ou por estudos direcionados para tal
fim. Com elas, cada profissional poderá desenvolver seu próprio site para colocar suas
informações, os conhecimentos por ele desenvolvidos, seus interesses e sua capacidade
profissional.
Não menos importante é o domínio do idioma de comunicação global. O inglês
tem se consolidado como o idioma universal de comunicação e deve se manter como
tal pelas próximas décadas. Portanto, o domínio do inglês é ponto de destaque
profissional.
Com a globalização e com a incorporação do inglês pela maioria dos profissionais
de engenharia de todo o mundo, o diferencial profissional passa a ser o domínio de um
terceiro idioma, o que facilitará a entrada profissional nos países que o utilizam.
A participação em “grupos profissionais” que dividam os mesmos interesses
também se faz importante para que o engenheiro possa se atualizar, dividir
conhecimentos, ter um fórum para retirada de dúvidas, encaminhamento de questões,
expressar suas opiniões e se tornar conhecido na sua comunidade profissional.
A vivência de diferentes ambientes culturais também faz parte do repertório de
conhecimentos de interesse profissional que, se possível, deve ser desenvolvido pelos
profissionais que se propõem a trabalhar numa sociedade globalizada. A melhor forma
de conhecermos outras culturas é mergulhando nelas, vivendo os seus valores e
respirando os seus hábitos. Desta forma, um intercâmbio com profissionais de outros
países e uma boa pesquisa sobre a cultura de outros povos vai nos permitir saber que
não é polido cruzar as pernas numa conversa com uma autoridade peruana e que pode
ser apenas uma expressão de confiança andar de mãos dadas com um indiano do
mesmo sexo.
Finalmente, explicitamos como atitude profissional a de autoaprendizado, em que
a busca de informação sobre o status atualizado dos produtos, serviços e
conhecimentos são pontos de destaque e valorização do profissional.

b) Conexão 7x24

b.1) O que é?

De forma nova também na Sociedade Contemporânea, ficamos conectados às


pessoas, às empresas, aos serviços, às notícias e, de certa forma, disponíveis ao acesso
por outros, 24 horas, durante sete dias na semana.
As gerações de pessoas que nasceram até os anos 1980 sabem que a sociedade não
era assim. A comunicação mais próxima era por telefone celular que, de certa forma,
preservava as “regras de silêncio” dos tempos em que os telefones fixos, únicos
existentes até os anos 1970, tilintavam em alto volume se não fossem desligados.
Ligações de uma casa para outra ocorriam, em geral, depois das 8h e antes das 22h,
limitando o tempo de exposição aos assuntos não necessários à vida.
Nesta época, a informação vinha dos jornais, rádios e televisões. Podia chegar pelos
meios de comunicação sem fio, como fax, telégrafo, rádio, mas não era comum que
chegasse antes de transcorridas doze horas da sua ocorrência.
A vultuosa quantidade de informação à que cada pessoa que vive conectada está
exposta, consome tempo de vida no seu processamento. De certa forma, somos
obrigados a participar das redes sociais para sabermos o que ocorre no mundo e a nos
atualizarmos quanto aos fatos que são comentados no nosso grupo social e no nosso
contexto profissional. De tudo o que lemos, provavelmente mais da metade não nos
tem serventia e não nos acrescenta como informação útil, como conhecimento e nem
mesmo como humor.
Não é surpresa o fato de que quem viveu sem os confortos da sociedade
contemporânea tenha dificuldades de entender como tanta tecnologia terminou por
consumir mais tempo da vida do que economizá-lo.
Junto com o volume de informações, a exigência de rapidez nas respostas se faz
presente. Do ponto de vista profissional, tem um grande impacto: temos que estar
atentos ao que nos mandam das empresas, às informações que podem impactar nossas
atividades profissionais e às redes de informação que mantém o nosso network
profissional. O problema é que, junto com estas informações, recebemos aquelas que
não nos interessam e que dificilmente deixamos de dar uma “espiadinha”, a qual se
cada uma nos tomar um minuto para ler e/ou responder, teremos gasto em 60 delas,
uma hora do nosso dia. Será que a sociedade de “cabeça baixa”, aquela que consome
grande parte do seu tempo com a cabeça inclinada olhando seus equipamentos de
informação, gasta somente uma hora por dia nesta atividade?

b.2) Conexão 7x24: demandas na formação do engenheiro

A comunicação incessante motivada pela exigência de informação atualizada, a


necessidade prática ou psicológica de conexão e a facilidade trazida pela portabilidade
dos equipamentos de comunicação, rouba nosso tempo e nossa atenção. A atitude que
se faz necessário desenvolver para caminharmos com mais tranquilidade nesta
multidão de informação é a “objetividade”, ganhando a habilidade ou a capacidade de
foco nos assuntos de nosso interesse.
Saber filtrar o que nos é útil, seja para a construção da nossa profissão ou mesmo
para o nosso bem-estar na vida, é importante. Especialmente, se não quisermos ser
roubados do nosso tempo de sono, se quisermos manter uma disciplina de horário de
trabalho que não nos dê ocupação integral e nos prive do nosso tempo discricionário,
aquele que dedicamos para outras atividades do nosso interesse, que pode ser de lazer,
hobby, prazer, vida familiar, convívio social, atividades altruísticas ou outras quaisquer
às quais queiramos nos dedicar.
Devemos, portanto, ter mais concentração nos assuntos estratégicos, urgentes e
importantes para a nossa vida, deixando de lado aqueles que pouco ou nada
contribuem para o nosso bem-estar pessoal e bom desempenho profissional.
Desenvolver esta objetividade exige disciplina e determinação; exige senso crítico e
capacidade de julgamento que nos permita separar as coisas que nos interessam ver, ler,
responder e aquelas que vemos, lemos e respondemos por inércia reativa. Na sociedade
contemporânea, objetividade é uma atitude útil para o melhor desenvolvimento de
nossa vida profissional e do nosso bem-estar pessoal.

c) Valor da informação

c.1) O que é?

A comunicação existe desde tempos imemoráveis. Os rugidos e os primitivos


desenhos rupestres já eram uma forma de comunicação.
Ocorre comunicação sempre que partilhamos algo com o outro. A informação vem
por meio da comunicação e é com ela associada, mas com ela não se confunde.
A informação é algo novo que vai ser adicionado ao nosso conhecimento; é o que se
deseja transmitir a partir da comunicação. Para haver comunicação da informação, o
receptor da mensagem comunicada deve entendê-la, o que significa que a informação
deve se apresentar em linguagem acessível. Deve também estar relacionada com os
interesses ou a vida diária do seu receptor. Pessoas que trocam muitas informações têm,
em geral, conhecimentos diferentes.
O que podemos considerar informação? A tecnologia; as notícias que recebemos;
os indicadores que nos permitem conhecer o status ou a tendência de algo;
conhecimentos sobre um tema que entendemos; dados que nos permitem orientação
espacial, de decisão, temporal e climática, entre outras.
Para os profissionais, informações sobre temas técnicos e científicos, informações
sobre oportunidades de trabalho, sobre tendências de projeto, sobre conceitos estéticos
e sobre a tecnologia são de interesse fundamental.
Todas as engenharias necessitam de informação. O engenheiro que opera uma
planta industrial e o que dá manutenção a ela necessita de informações de como operar
a planta e do estado dos equipamentos, por exemplo. O engenheiro de projeto precisa
ter as informações sobre o funcionamento das instalações semelhantes àquelas que está
projetando, saber a que normas deve atender e quais as boas práticas de engenharia
deve seguir. O engenheiro que trabalha em pesquisa tecnológica lida com tecnologia,
que é a informação mais valiosa para ele e para as empresas que querem ganhar
mercado. Quem vende deve ter a informação de quem precisa comprar. O empresário
desenvolve melhor seus produtos se tem informações sobre o mercado, concorrentes e
oportunidades de negócio. Informação é um bem precioso na sociedade
contemporânea.
Não é novidade a utilidade e a importância da informação, mas, considerando a sua
volatilidade, o ambiente competitivo em que vivem as empresas, o custo de desenvolver
e pesquisar novas soluções tecnológicas, a necessidade de confidencialidade e sigilo das
informações, além da segurança dos locais onde as guardamos, fizeram o tema
informação tornar-se central na nossa sociedade.

c.2) Valor da informação: demandas na formação do engenheiro

Como já comentado nos itens anteriores – globalização e conexão 7x24 –, a


constante atualização do profissional na sua especialidade traz um diferencial em sua
carreira. Aqui destacamos a necessidade de o engenheiro se manter atualizado,
buscando informações sobre as oportunidades que a ciência apresenta para novos
desenvolvimentos tecnológicos e sobre o “estado da arte” da própria tecnologia que
utiliza na sua especialidade.
Para que o engenheiro possa entender as informações sobre ciência e tecnologia às
quais tem acesso em livros, on-line, ou em qualquer outro espaço de difusão de
conhecimento, como congressos e seminários, faz-se necessário o conhecimento dos
fundamentos das ciências, em especial, daquelas envolvidas na tecnologia de interesse e
que, na maior parte das vezes, está relacionada a uma especialidade em engenharia. A
informação só tem sentido se a entendemos – e sem os fundamentos das ciências, este
entendimento fica prejudicado.
Com o conhecimento dos fundamentos das ciências, o engenheiro estará apto a
absorver e desenvolver tecnologia. Faz-se também importante o domínio de programas
de simulação e cálculos matemáticos, os quais são parte dos pacotes tecnológicos em
programas de transferências de tecnologia.
Dessa forma, podemos dizer, em resumo, que para o engenheiro que quer ingressar
no mercado de trabalho da sociedade contemporânea, boa base matemática, habilidade
de manipulação de softwares ligados à sua área de atuação e conhecimentos de ciência
pura e aplicada são necessários para dar a ele distinção e colocá-lo em vantagem
competitiva no mercado de trabalho.
A base matemática, em particular, permite soluções mais precisas para problemas
de engenharia e atende à demanda de desenvolvimento e aplicação de modelos físicos e
matemáticos. Destacam-se o domínio de ferramentas capazes de resolver equações
diferenciais com muitas variáveis, método de tratamento de problemas por elementos
finitos e diferenças finitas.
Sem o domínio dessas ferramentas e dos conhecimentos científicos adequados, a
informação, principalmente a tecnológica, que é de grande valor para as empresas, não
poderá ser convenientemente absorvida.

d) Miniaturização

d.1) O que é?

Outra característica impactante na sociedade da informação é a miniaturização


trazida não só pela eletrônica, mas também pela mecânica. A possibilidade de criarmos
dispositivos cada vez menores, com o uso da microeletrônica e das nanotecnologias,
permitiu a sua inserção em todos os locais, inclusive nos seres humanos.
A difusão dos sistemas miniaturizados na Sociedade vem colocando os circuitos
eletrônicos, principalmente, em todos os bens utilizados e consumidos por ela. Das
instalações voltadas para o lazer até as próteses utilizadas pelas áreas de saúde, poucas
não têm componentes eletrônicos “embarcados”. Em nossos veículos de transporte, em
nossos sistemas de comunicação pessoal, em nossas residências, escritórios, mercados e
em todos os espaços sociais, veremos tecnologia miniaturizada.
O micromundo povoa o macromundo.

d.2) Miniaturização: demandas na formação do engenheiro

Um bom currículo de engenheiro deve incorporar conceitos de eletrônica e de


micromecânica, ainda que estes não sejam conhecimentos de sua especialidade. Eles
ajudarão no entendimento do funcionamento e na percepção do potencial dos
subsistemas embutidos nos sistemas maiores.
Fortes conceitos em eletrônica e micromecânica básica são conhecimentos que
podem trazer um diferencial competitivo para os engenheiros e uma capacidade maior
da visão de aplicação deste universo miniaturizado.

e) Digitalização/virtualização da vida

e.1) O que é?

Foi-se o tempo em que comprar, tomar empréstimos e movimentar recursos


financeiros exigia que se tivesse dinheiro físico. Os “dinheiros eletrônicos” invadiram
todos os espaços desde o comércio às instituições financeiras. A movimentação de
recursos para um país pagar ao outro, bens importados, por exemplo, se reduz à
movimentação de “bits” e não à movimentação de moedas correntes. A quantidade de
dinheiro físico existente no mundo não seria capaz de cobrir os pagamentos,
recebimentos, dívidas e juros passíveis de identificação. As moedas digitais também
fazem parte da realidade da nossa sociedade.
O mundo se digitalizou. As pessoas conversam com pessoas digitalizadas pelas redes
sociais. Fotos, cartas, contabilidades e muitos outros documentos se tornaram bits. As
relações das pessoas com os objetos e com outras pessoas se virtualizam cada vez mais.
A realidade vai perdendo a sua densidade.
De forma geral, não nos damos conta dos impactos da digitalização com a
consequente virtualização da realidade, uma vez que estamos imersos nestas práticas
sociais. O mundo virtual, digitalizado, se dá em todas as esferas da vida social: na
educação, na saúde e até em parques de diversões podemos andar de “montanha russa”
e termos a sensação de queda, subida, acelerações e freadas sem nos deslocarmos de
nossos lugares. O mundo virtual é a “realidade”.

e.2) Virtualização da vida: impactos na formação do engenheiro

Num mundo digitalizado, em que a interação com o virtual é a realidade vivida, os


simuladores e os modelos matemáticos se destacam como ferramentas de visualização
das características do mundo físico e como ambiente de experimentação da realidade.
Alguns engenheiros serão usuários dos softwares, e outros, desenvolvedores, podendo,
conforme o caso, ter níveis de conhecimentos matemáticos diferentes.
O domínio da ferramenta matemática num nível mais básico ou avançado,
conforme as atividades a serem desenvolvidas pelo engenheiro, e o domínio de
softwares de solução de problemas matemáticos e de simulação de problemas reais
devem fazer parte da formação do engenheiro contemporâneo.
De forma adicional, para aqueles que pretendem trabalhar com atividades gráficas,
as ferramentas avançadas de desenho e representação física da realidade, devem
também ser dominadas.

f) Criações multidisciplinares

f.1) O que é?

No mundo moderno, poucas realizações são da esfera de uma única especialidade


profissional. Para dar um exemplo, imaginemos como se dá o desenvolvimento de um
aparelho de diagnóstico médico, como um sistema de tomografia computadorizada ou
um simples ultrassom. Tais obras não podem ser de desenvolvimento exclusivo da área
da saúde nem da área tecnológica. Quem sabe o que interessa ver, diagnosticar e as
informações importantes para o diagnóstico são os médicos; quem conhece as
tecnologias e os sistemas físicos que podem realizar o levantamento das informações
são engenheiros e físicos. Desta forma, os trabalhos têm que ser desenvolvidos por
diferentes especialistas de diferentes áreas de conhecimento, ou seja, são trabalhos
desenvolvidos multidisciplinarmente. Não é diferente a construção de um avião, ou de
uma impressora 3D e da maioria dos sistemas, equipamentos e aparelhos com os quais
lidamos no dia a dia.

f.2) Criações multidisciplinares: demandas na formação do engenheiro

Uma das habilidades que deve fazer parte da formação do engenheiro para ser capaz
de desenvolver trabalhos multidisciplinares é a de trabalhar em equipes em que os
participantes têm conhecimentos diferentes do seu.
Para facilidade de compreensão e comunicação, o engenheiro deve entender a
linguagem do outro especialista, o que exige que, além de dominar sua especialidade,
tenha conhecimentos gerais da linguagem e dos conceitos de outros profissionais,
associados ao processo com o qual pretende trabalhar, seja este um processo humano,
industrial ou de outra natureza. Neste, em particular, a capacidade de pesquisa que
faculte seu autodesenvolvimento vem como outra habilidade que lhe favorece no
trabalho em grupo, pois pode, por sua iniciativa, avançar seu conhecimento em outras
áreas.
O engenheiro, neste contexto de trabalho, passa a ter uma demanda de formação
que podemos chamar de especialista e generalista, pois, para ter um papel de
importância no grupo, deve ser especializado em uma área de conhecimento e, para
entender e ser entendido, deve conhecer outras áreas além da sua. “Reducionismo e
holismo, análise e síntese, são enfoques complementares que, usados em equilíbrio
adequado, nos ajudam a chegar a um conhecimento mais profundo da vida” (Capra,
2006, p. 261).

g) Sociedade quântica

g.1) O que é?
A ciência que se desenvolveu a partir do início do século XX, empurrada pelas
visões de dois dos mais destacados físicos da era moderna, Einstein e Max Planck,
mudou a rota da física e trouxe olhares e valores originais para as sociedades. Dentre
eles, podemos primeiro destacar a ruptura com a visão de determinismo na física e de
continuidade na natureza.
O determinismo, ou seja, a capacidade de se prever com exatidão, o
comportamento futuro de um corpo, desde que conhecido o seu comportamento
presente, e a visão de continuidade da natureza, em que os processos e as trocas de
energia se passam de forma gradativa e sem saltos ou descontinuidades, reinaram
durante toda a Idade Moderna, até o início do século XX. Foi em 1905 que Einstein
apresentou dois trabalhos revolucionários no campo da física, um sobre a “Teoria da
Relatividade Restrita” e outro sobre o “Efeito Fotoelétrico”.
Em 1900, Max Planck havia proposto que as trocas de energia entre os corpos não
se passavam de forma contínua, mas que estes trocavam entre si quantidades mínimas
discretas de energia, ou, como ele chamou, em “quantum” de energia. Einstein
consolidou esta proposta como o seu trabalho sobre o “Efeito Fotoelétrico”.
Os trabalhos de Einstein e Planck abriram os horizontes dos físicos e inauguraram
uma nova conceituação de que a variável tempo não é absoluta e de que as trocas de
energia na natureza são descontínuas, avançando para o fim da visão determinista e
consolidando a de um mundo descontínuo. Isto deu início ao movimento que resultou
no que veio a se chamar de física quântica.
A física quântica evoluiu muito no século XX. Uma das propostas importantes
decorrente dela foi a de que não existem órbitas precisas nos movimentos dos elétrons,
mas o que percebemos como órbitas são localizações de maior probabilidade de
concentração de energia. Esta percepção trazida pelos físicos Warner Heisenberg
(1901-76) e Niels Born (1885-1962), aliada à afirmativa de que não se pode conhecer
todas as variáveis envolvidas em um fenômeno, pois, quando conhecemos uma,
alteramos outra, terminaram por trocar a visão determinista por uma visão
probabilística da realidade, dando origem à mecânica quântica.
Com a troca da ideia de existência pela de que algo é mais provável de existir, se
desenvolveu no mundo, principalmente depois da II Guerra Mundial, a ideia de que
“tudo é possível”. Tal sentimento é fortalecido pelas muitas realizações da tecnologia,
das quais os sistemas de processamento de informação e de comunicação são exemplos.
Os avanços no estudo da cosmologia também deixaram ver o humano como um ser
probabilístico dentro do universo. A Terra, um minúsculo ponto no Universo,
inexpressivo no que diz respeito à sua dimensão física, consolida a visão de que somos
seres probabilísticos e mesmo possíveis, pois resultamos, dentro de uma visão
materialista bastante disseminada na contemporaneidade, de algumas reações químicas
possíveis entre inúmeras outras.31

g.2) Sociedade quântica: demandas na formação do engenheiro

Não só do profissional de engenharia, mas também de todos os profissionais, se


espera um dinamismo que incorpore a atitude ousada. Ousadia traz a capacidade de
enfrentar problemas novos, de criar soluções e de vivenciar o valor de que o impossível
está muito nos limites que nós mesmos criamos para a realidade.
No que tange ao mundo da ciência, a física moderna, que envolve a teoria da
relatividade e a física quântica, vem desenhando as tecnologias mais modernas em
todas as especialidades. O conhecimento dos conceitos da física moderna facilita o
trânsito do engenheiro pelas tecnologias mais avançadas e pelos estudos científicos de
primeira linha.

h) Novos conceitos de distância e tempo

h.1) O que é?

As grandes dimensões cosmológicas e as grandes velocidades que envolvem os


movimentos dos astros passaram a fazer parte do conhecimento comum das pessoas,
dando a elas a sensação de que as dimensões do nosso planeta são diminutas.
Essa sensação aumenta diante da percepção do encurtamento das distâncias, trazida
pelas facilidades de comunicação e e velocidades dos meios de transporte.
Nosso sentimento de distância foi encurtado.
Da mesma forma, a velocidade da luz, passando a ser referência para as avaliações
do tempo, traz a sensação de que tudo se passa com muita rapidez. O encurtamento
das distâncias vem acompanhado do encurtamento do tempo.
Assim, o tempo de resposta de uma mensagem e o tempo necessário para que esta
percorra grandes distâncias no planeta se tornam mínimos. Quando se fala em 14
bilhões de anos luz como o tempo de vida do Universo, o tempo de uma vida humana
de 100 anos tende a ser considerado como demasiadamente curto.
Estas sensações de encurtamento das distâncias e do tempo vêm acompanhadas de
sentimentos de necessidade de urgência, pressa, ansiedade, falta de tempo e a cobrança
de eficiência (solução em tempos mais curtos), eficácia (atingir o resultado esperado de
forma mais barata e rápida), agilidade, rapidez e soluções simples e limpas.

h.2) Novos conceitos de distância e tempo: demandas na formação do engenheiro

As demandas de habilidades e atitudes reativas aos sentimentos que se apresentem


como deletérios à qualidade de vida se fazem presentes. Assim, a atitude objetiva, a
habilidade de simplificar problemas, a exigência de soluções modernas e rápidas, em
que os conhecimentos dos meios de automação e processamento de informação são de
grande valia, vêm como demanda para todos os profissionais.
A exigência de respostas rápidas para os problemas de engenharia requer do
engenheiro, mais uma vez, domínio de ferramentas de simulação de problemas
práticos.
A percepção da passagem do tempo e a sensação que experimentamos nesta
passagem podem ajudar ou prejudicar nosso desempenho profissional. Os que vivem
na Sociedade da Informação tendem a perceber mais nitidamente o transcurso do
tempo vivencial, ou seja, daquele que se sente passar, e menos nitidamente o transcurso
do tempo físico, ou seja, aquele medido pelos relógios.
Se o tempo que percebemos passar é curto, isto significa que nos falta tempo para
desenvolvermos nossas atividades, e nossa ansiedade tende a aumentar nos inserindo
nas neuroses trazidas por esta ansiedade.
Por outro lado, se estamos numa atividade envolvente, que nos toma
emocionalmente, podemos achar que as horas passam rapidamente e de forma
prazerosa, levando à sensação de um trabalho menos enfadonho.
Para evitar grande ansiedade, tornam-se convenientes habilidades de planejamento
de tarefas e organização – ou seja, a habilidade de separar as tarefas importantes
daquelas que são urgentes de serem feitas –, vindo a decorrer de um exercício diário.
Separar também tarefas necessárias de serem executadas de outras apenas convenientes
faz-se igualmente importante. A troca da atitude ansiosa por uma atitude resolutiva
que priorize e resolva, “matando um leão de cada vez”, é valor profissional.

i) Valorização do prazer

i.1) O que é?

É bíblico que o trabalho é, em parte, uma condenação para o homem em


decorrência do pecado de Adão.32 A menos que tenhamos quem nos sustente, teremos
que trabalhar para sobreviver, queiramos ou não. Ocorre que o trabalho pode ser um
castigo ou um prazer, dependendo de como nos damos a ele. Nossa sociedade, em
todas as esferas, vem valorizando a presença do prazer nas atividades laborais.
O trabalho visto como sofrimento ou como uma maneira de expiar os pecados faz
parte de um passado recente. Hoje, ele é visto mais como uma forma de sobrevivência
ou de conquista de status social ou, como é desejável, de realização pessoal. Embora o
prazer e a realização pessoal no trabalho sejam um desejo universal, numa sociedade em
que o poder e a posse de bens materiais se tornam um valor maior, podemos renunciar
ao prazer no trabalho em troca deste poder e dos ganhos por ele auferidos. Apesar
disto, o desejo de prazer e de realização pessoal no trabalho continuará presente, sendo
mais forte na sociedade da informação do que nas que a antecederam.
O prazer tende a ocupar o primeiro plano de valores em todas as esferas da
atividade humana. Se tomarmos, por exemplo, os motivadores das uniões conjugais em
tempos mais remotos, veremos que muitas uniões relatadas buscavam o aumento do
poder e da riqueza, notoriamente as uniões entre príncipes e princesas ou entre
famílias endinheiradas ou entre grandes latifundiários que queriam ampliar ou garantir
seu poder e riqueza. Nesta ótica, casais se uniam para formarem famílias que juntas
seriam mais poderosas e separadas poderiam se destruir mutuamente.
O advento do amor como força de uniões conjugais é mais recente e tem muito a
ver com as ideias da burguesia moderna e menos com a importância do poder e
riqueza. O amor superava diferenças sociais e preconceitos nas uniões conjugais que o
tinham como valor central.
Na sociedade da informação, o prazer nas uniões fala mais alto do que o amor.
Relacionamentos conjugais do século XX, por exemplo, tinham dificuldades de serem
desfeitos pelo sinal de desamor que a separação do casal poderia dar aos filhos ou
mesmo para se evitar transgressões dos valores sociais, ou ainda pela interdependência
que tinham os cônjuges dentro da estrutura de união desenvolvida por eles.
Casais contemporâneos, por outro lado, desfazem seus relacionamentos com mais
facilidade quando as relações não são prazerosas, uma vez que uma das importantes
forças de união é a busca do prazer e alegria de conviver e menos, muitas vezes, o amor
ou a busca pela riqueza. As uniões entre pessoas do mesmo sexo, no sentido biológico
do termo, e a formação de famílias com filhos de diferentes casamentos são formas de
expressão da valorização do prazer de conviver.
No trabalho, esta necessidade de busca do prazer também se faz presente.
Profissionais de todos os ramos – entre eles, os de engenharia – buscam especialidades
e atividades que lhes deem mais prazer, que tenham mais a ver com seus gostos
pessoais; atividades que tornem o tempo de trabalho menos enfadonho, diminuindo o
“castigo” do trabalho e transformando-o em horas prazerosas de vida.

i.2) Valorização do prazer: demandas na formação do engenheiro

Algumas das atitudes que denotam que o profissional tem prazer no trabalho são a
paixão pelo que se faz, o gosto pela qualidade, o dinamismo no fazer, o envolvimento
no trabalho executado e a busca constante de maior aprendizado no exercício de suas
atividades. Tais atitudes não são ensinadas na faculdade de maneira formal, mas podem
ser apreendidas com os professores que exercem seu magistério com paixão, nos líderes
de equipes que gerenciam seus liderados com dinamismo, com aqueles que nos
entregam trabalhos de nosso interesse com zelo, pontualidade e qualidade.

j) Novas formas de organizar o trabalho e a produção

j.1) O que é?
Ainda saímos de casa com frequência para estudar, trabalhar e obter o que
necessitamos para viver, mas a cada dia as tarefas ao nosso encargo podem ser
executadas de qualquer parte do mundo, se dispusermos de alguns equipamentos de
comunicação e processamento de informações.
Os sistemas de comunicação e processamento trazem, para as sociedades que deles
dispõem, mudanças nas formas de organizar o trabalho e a produção. Estas mudanças
são irreversíveis, uma vez que os ganhos que proporcionam são de grande monta e as
estruturas que sustentam modos antigos de fazer vão se tornando obsoletas e mesmo
inexistentes.
Para as empresas, os sistemas de comunicação e processamento permitem a redução
dos espaços necessários para acomodar pessoas, equipamentos, materiais e produtos;
reduzem riscos de acidentes locais, permitem gerenciamento de atividades por sistemas
desenvolvidos para tal fim, de forma automática, reduzem o consumo elétrico, de água,
esgoto e ar-condicionado, entre outros benefícios.
Para a sociedade, há a redução de trânsito de pessoas se deslocando de casa para o
trabalho, há a oportunidade de criação de mais atividades comerciais por empresas on-
line e outros benefícios menos tangíveis, como a economia de tempo e o menor estresse
no dia a dia.
A cada dia, mais empresas adotam o home office como prática. Não são raras
também as empresas que têm operações remotas de seus processos, operações estas
levadas para locais centralizados, ou mesmo para as residências de seus empregados, de
onde estes passam a controlar processos industriais a partir de seus próprios
computadores.
Os sistemas informatizados trouxeram também a possibilidade de redução de
estoques uma vez que se tornou mais fácil e rápida a realização de inventários e
encomendas de materiais e insumos, fortalecendo o conceito de “just-in-time”. A
redução de estoques diminui capitais de giro, reduz espaços necessários nas empresas e
torna-se uma prática que dá a estas competitividade. O just-in-time faz parte da ordem
do dia.
Os sistemas de informação e comunicação trazem também a possibilidade de
divisão do trabalho no espaço internacional, com o consequente aumento de liberdade
na organização da produção, podendo especializar serviços e fábricas em um
determinado país que o faça de forma mais eficiente e barata. A produção torna-se
internacional.

j.2) Novas formas de organizar o trabalho e a produção: demandas na formação do


engenheiro

O engenheiro que ingressa nesse mercado produtivo deve dominar os hardwares e


softwares de processamento e comunicação, desenvolvendo a habilidade de operá-los e
configurá-los conforme as suas necessidades.
Conhecimentos de logística também são importantes para os profissionais, pois vão
permitir que as empresas melhorem os seus planejamentos de entregas e recebimentos
de materiais, produtos e insumos necessários às suas atividades, além de viabilizar a
organização da produção envolvendo diversos atores capazes de colaborar de forma
mais eficiente para a obtenção do seu produto-final.
Soma muito, ainda na qualificação profissional, conhecimentos de automação, os
quais permitem ao engenheiro pensar em como automatizar suas atividades e as da
empresa, entendendo melhor como os sistemas produtivos automatizados funcionam.
A visão de planejamento torna-se também de destacada importância na formação.
Com ela, o profissional melhora a sincronização das suas tarefas na empresa com as dos
demais colaboradores, dos quais está separado geograficamente, bem como melhora o
planejamento do tempo necessário à execução de suas tarefas pessoais.

k) Novas forças políticas

k.1) O que é?

A sociedade contemporânea é, de certa forma, governada mundialmente. As


organizações mundiais influenciam nas tendências e nas decisões de todas as sociedades
que reconhecem o seu poder. Organismos internacionais, como o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional, podem decidir quais países conseguirão se
desenvolver melhor a partir de fundos a eles alocados.
A Organização Mundial de Comércio e a Organização Internacional do Trabalho
podem contribuir para as decisões de comércio entre países, deixando antever que
tipos de produtos e que países e empresas tendem a ser mais bem sucedidos
economicamente, colaborando para que decisões sobre novos produtos e serviços
sejam tomadas com antecedência e definindo tendências tecnológicas.
Ao lado dessas exercem influência no mundo outras organizações como a
Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a
UNESCO, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Ianni,
1997, p. 125-46).
O poder das multinacionais é outro que não pode ser desprezado e que cresceu
muito ao longo do século XX. Empresas transnacionais e multinacionais ocuparam
posições-chave e, pela sua influência nas economias mundiais, têm cadeira nos espaços
políticos dos países onde atuam, influenciando nas decisões sobre economia,
investimentos e política interna.
A tecnologia desenvolvida, dominada e tornada confidencial por muitas empresas
funciona também como um novo centro de poder, e o seu domínio permite a quem o
detém influenciar decisões de âmbito mundial.

k.2) Novas forças políticas: demandas na formação do engenheiro

A demanda trazida pelas novas forças políticas aos engenheiros é a de contínua


informação. Estar informado sobre as decisões que afetam as economias e as políticas
mundiais é fator de vantagem competitiva, principalmente para aqueles que
pretendem assumir cargos de liderança em empresas ou movimentar suas próprias
empresas.
A informação não tange somente às decisões dos organismos internacionais, mas
também aos planos de negócios e investimentos das grandes empresas e às tecnologias
que devem dominar o mundo nos próximos anos.
Desenvolver a atitude de se manter informado sobre o que ocorre na política,
economia, investimentos e tecnologia faz parte do perfil de formação desejado para o
engenheiro, focalizando, principalmente, as informações referentes à sua área de
especialidade.

l) Influência da mídia e valorização da imagem


l.1) O que é?

A mídia é composta pelos meios de comunicação destinados a difundir


informações na sociedade.
Pela facilidade cada vez maior de tornar públicas as informações e pela sua
capacidade de produzir efeitos visuais, auditivos e sensoriais em geral, as mídias vêm
ocupando, cada vez mais, o papel principal na formação de opiniões e na construção da
imagem, seja das instituições, dos espaços geográficos ou das pessoas. São opiniões
sobre política e economia, sobre certo e errado, sobre as formas de ser e, de modo mais
impactante na vida pessoal e social de cada um, na formação de valores. O que é bom,
adequado, oportuno e certo tem sido influenciado e ditado, nas sociedades, pela mídia.
Nossas ações e opiniões não são tão racionais como parecem. O substrato
ideológico domina as nossas bases racionais, deixando um suporte passional para quase
tudo o que entendemos como opiniões e ações racionais.
A mídia induz, entre outros fatores, à opinião sobre as pessoas. Sermos percebidos
como somos, ou mais do que somos, ou menos do que somos, pode ser um diferencial
para sermos incluídos ou excluídos como empregados de uma empresa ou para
ganharmos ou não uma promoção, ou para sermos ou não reconhecidos pelo nosso
trabalho. Assim, é sempre conveniente mostrarmos a nossa imagem numa moldura
que a valorize.
A imagem ganha um valor antes desconhecido. Resumindo em uma só frase, “não
basta ser, é preciso mostrar que se é”, e uma forma eficiente de mostrarmos quem
somos é pelo uso das mídias.
Mídias de acesso público, como o rádio e a televisão, são de difícil acesso para o
“homem comum” divulgar sua imagem. Desta forma, as redes sociais e as mídias de
apresentação e divulgação de informação, nas quais se pode também oferecer serviços e
colocar currículos, que são acessíveis a todos aqueles que possuem o mínimo recurso de
informática, são uma ferramenta de divulgação e formação de imagem pessoal, que não
pode deixar de ser utilizada por quem quer ganhar destaque e formar de si imagem
pessoal positiva.

l.2) Influência da mídia e a valorização da imagem: demandas na formação do


engenheiro

O domínio da utilização das mídias de comunicação pelos profissionais pode trazer


uma grande vantagem competitiva. Aquele engenheiro competente, mas que não
apresenta suas ideias ou que as apresenta mal, pode ser preterido diante de outro que
tenha uma competência técnica um pouco menor, mas que saiba se apresentar, “vender
sua imagem” com mais habilidade.
Da simples apresentação de um currículo até a apresentação de ideias para o corpo
de diretores de uma grande empresa, o profissional está construindo sua imagem.
A apresentação de um trabalho em um seminário que projete o perfil de
competência do profissional, estando bem elaborada, com desenvolvimento não
cansativo, com recursos visuais que prendam a atenção do ouvinte e com sons que
transmitam a emoção do profissional, pode vender o serviço e a imagem do
profissional melhor que a execução de um ótimo trabalho sobre a qual ninguém toma
conhecimento.
O conhecimento das técnicas de apresentação, com domínio dos softwares e
ferramentas que as apoiem é importante para quem quer se “vender” bem. A
habilidade em apresentar as ideias vem junto com este conhecimento e pode ser
desenvolvida pela realização de cursos voltados para técnicas de apresentação ou pela
prática diária de trabalho com as ferramentas de apresentação.
A boa comunicação escrita e oral deve fazer parte do repertório de habilidades que
o profissional deve desenvolver. Desde a faculdade, é adequado exercitar, realizando
apresentações e palestras para grupos de alunos ou profissionais, expondo desde cedo a
imagem e lapidando-a a cada atividade realizada.

m) Novos materiais

m.1) O que é?

Não é por acaso que a engenharia de materiais tem sido uma das especialidades da
engenharia que mais vem ganhando importância na sociedade contemporânea.
O domínio do conhecimento da estrutura da matéria adquirido desde o início do
século passado, que vem caminhando na vertente da física quântica, da química e do
desenvolvimento de inúmeros processos de obtenção de novas estruturas de materiais,
vem trazendo para o mundo dos engenheiros um maior número de materiais com
surpreendentes propriedades.
De forma um pouco diferente da tradicional, em que se buscava saber as
propriedades de um material para definir as suas aplicações práticas, o domínio da
ciência dos materiais vem proporcionando a possibilidade de se escolher as
propriedades desejadas e, a partir daí, criar o material que as vai possuir, indo numa
linha mais criativa e proativa.
Novos materiais trazem mudanças de conceito e permitem que as tecnologias
avancem. O impacto dos semicondutores na eletrônica é um exemplo disto. A invasão
dos materiais plásticos, no universo de produtos antes dominado pelo aço e alumínio, é
evidente. A utilização de materiais desenvolvidos para utilização em tecnologias de
ponta, como os desenvolvidos pela NASA para as viagens espaciais, rapidamente são
utilizados em bens de consumo diário, como travesseiros, amortecedores e sistemas de
arrefecimento. O mundo dos materiais traz um vetor de desenvolvimento muito
importante para a engenharia.
A proliferação de novos materiais e produtos cresceu com tanta rapidez e
importância que foi dado um lugar específico para esta atividade dentro das
especialidades da engenharia, com a criação da Engenharia de Materiais. Esta
engenharia, entre outras de suas atividades, é capaz de alterar propriedades dos
materiais existentes e de desenvolver outros para atenderem às propriedades
especificadas pelos engenheiros que desejam utilizá-los em novos produtos e serviços
desenvolvidos por outras especialidades da engenharia.
As possibilidades que trazem os materiais ainda em desenvolvimento, como os
biomateriais e os supercondutores, permitem enxergar tendências da engenharia futura
e propiciam ações antecipadas de qualificação e estudos que podem abrir novos espaços
profissionais para quem tiver mais conhecimento, distinção e qualificação nesta área.

m.2) Novos materiais: demandas na formação do engenheiro

A demanda para os engenheiros, em formação ou já formados, trazida por esta


característica de criação de novos materiais é a constante atualização. Como se manter
atualizado quanto aos novos estudos e desenvolvimentos? Publicações e sites
especializados são acessíveis; porém o entendimento destes artigos e informações
depende muito da boa formação em ciência dos materiais e química.
Muitos engenheiros em formação que não têm especialidade em química ainda dão
pouca importância aos estudos desta disciplina. A ciência dos materiais, por sua vez, só
é compreendida e valorizada quando nos defrontamos com a necessidade de melhor
entender as propriedades dos materiais que vamos utilizar nos nossos trabalhos.
Com o domínio dos conhecimentos de química e ciências dos materiais, pode-se ler
com mais conforto os artigos e informações sobre o tema, entender suas aplicações e
conhecer os seus potenciais.
Observemos que, com o desenvolvimento dos materiais biológicos, conhecimentos
de biologia também serão demandados dos engenheiros de materiais.

n) Novas fontes de energia

n.1) O que é?

O mundo utilizou durante sua história diversas fontes de energia. A energia


humana foi a primeira; a energia animal, a energia das águas, dos ventos e do carvão
vieram ao longo do tempo.
O petróleo dominou o século XX, e a energia originada da queima dos
hidrocarbonetos ainda é a mais utilizada no mundo de hoje. Diante da pujança e da
estruturação das sociedades para viver em função da energia fornecida pelos
hidrocarbonetos, outras fontes primárias geradoras demoraram a proliferar.
A energia elétrica, que tem como fonte primária potenciais hidráulicos, teve papel
importante, ocupando, em países como o Brasil, um papel relevante na geração elétrica.
Conforme as necessidades e a tecnologia disponível, as energias nuclear, solar e
eólica vão ganhando espaço. Outras fontes primárias de geração proliferaram menos,
como a energia geotérmica, a energia gerada por ondas do mar e a energia gerada por
marés.
Devido às consequências da queima de hidrocarbonetos para a saúde,
principalmente sua queima nos motores de combustão de automóveis e veículos que
trafegam em área urbana, além da queima nas indústrias para geração de energia, o
hidrocarboneto como fonte primária de geração de energia, em especial, o petróleo,
vem sendo tratado como vilão.
Por sua ação nefasta, a busca pela substituição dos hidrocarbonetos como fonte
primária de energia vem sendo intensificada. As crises conjunturais que ocorrem de
tempos em tempos, com impactos no suprimento de petróleo, são também
alavancadoras de iniciativas de busca de fontes alternativas aos hidrocarbonetos.
Países como Alemanha, Japão e França definiram políticas sérias de substituição de
hidrocarbonetos por fontes alternativas e têm hoje uma contribuição acentuada das
fontes renováveis em suas matrizes de energia.
A tendência do mundo é a substituição cada vez maior dos hidrocarbonetos como
fonte primária de energia. A busca do domínio da tecnologia de geração de energia
elétrica a partir de fontes não convencionais, ou seja, que não tenham como fonte
primária os hidrocarbonetos, e a utilização de energias alternativas aos
hidrocarbonetos em motores veiculares vêm sendo também intensificadas.

n.2) Novas fontes de energia: demandas na formação do engenheiro

Este cenário de busca e utilização de fontes de energia diferentes das que têm os
hidrocarbonetos como base vem trazendo para os engenheiros, principalmente para
aqueles que tratam diretamente com o tema energia, a necessidade de conhecerem os
princípios básicos da geração de energia a partir, principalmente, de fontes como a
nuclear, a solar, a eólica, a energia das marés, a energia das ondas, a energia gerada por
geotermia e as geradas por biomassa.
Estes conhecimentos colocam o engenheiro em condições de questionar as práticas
de utilização de energia e apontar para novas alternativas, trazendo para os seus
projetos uma dimensão atualizada e com grande receptividade no cenário atual, em
que o cuidado com o meio ambiente é fundamental.

o) Novas formas de passagem do conhecimento


o.1) O que é?

A passagem do saber, antes da organização e formalização do ensino nas escolas e


nas universidades, era feita por contato pessoal. O mestre ensinava ao seu aluno suas
práticas de fazer, capacitando-o, de forma efetiva, para o exercício das artes ligadas à
sua atividade profissional.
Com a estruturação das escolas e dos cursos de formação superior, a teoria tomou
conta das salas de aula, e a prática do fazer, antes dominada pelos “engenheiros”, foi
delegada a um plano secundário, deixando aos técnicos o conhecimento das operações
de máquinas, equipamentos, instrumentos e manuseios em geral.
O engenheiro não precisava saber fazer, mas conhecer os princípios que embasavam
este fazer. Os estudos em livros permitiam o entendimento dos princípios de
funcionamento dos sistemas, dos processos, das máquinas, dos equipamentos e dos
instrumentos.
A sociedade atual, no entanto, valoriza o saber fazer. Grandes empresários, grandes
desenvolvedores de sistemas e notáveis cientistas alavancaram suas realizações com sua
capacidade de saber fazer. A sociedade atual, com seus bancos de dados de
conhecimentos consultados por meio de qualquer dispositivo “inteligente”, permite
acesso imediato a informações, viabilizando estudos autônomos e sem mestre
presencial.
Para dar dimensão prática ao seu conhecimento, no entanto, o profissional deverá
executar atividades de campo ou trabalhar com simuladores que emulem as
ocorrências e os sistemas reais.

o.2) Novas formas de passagem do conhecimento: demandas na formação do


engenheiro

A habilidade no uso de simuladores torna-se importante para que se possa ter


autoaprendizado. Além disso, é por intermédio da vivência prática do funcionamento
e do comportamento dos sistemas projetados, ou a serem construídos ou modificados,
que o engenheiro aprende e testa a performance de seus projetos. Os simuladores
ensinam.
A ferramenta matemática e o domínio de uma ou mais linguagens de programação
se faz importante, também, para aqueles que tiverem por função ou necessidade a
construção de seus próprios simuladores. Portanto, domínio da matemática,
conhecimentos de programação e competência no uso de softwares de simulação são
fundamentais para quem quer se diferenciar no mercado de trabalho.
A atitude de se autodesenvolver e de buscar os conhecimentos necessários para o
bom desempenho da atividade profissional é diferencial entre profissionais, dando aos
que a adotam melhor conceito e oportunidades.

p) Nova consciência de mundo

p.1) O que é?

Quando as viagens espaciais começaram na segunda metade do século XX, o já


conhecido trouxe um novo impacto. Assim, o conhecimento de que a Terra é de forma
arredondada e que é limitada no seu espaço físico é banal e difundido. Porém, quando
as viagens espaciais permitiram “ver a Terra” com os olhos humanos, vê-la do espaço,
perceber sua pequenez dentro de um universo de bilhões de sistemas solares, a
consciência de que vivemos num planeta limitado, com recursos finitos e com uma
fragilidade notável se tornou mais acentuada.
Os problemas gerados pelas poluições e pelo uso, sem critérios, dos recursos
naturais trouxeram a consciência de que é necessário fazer algo pela preservação do
planeta. Esta consciência levou à criação de conceitos que não existiam nas sociedades
até meados do século XX.
Conceitos como o de sustentablilidade, trazendo a preocupação com as gerações
futuras em relação à disponibilidade de recursos, e como o de danos ambientais
trouxeram as exigências de estudos de impactos ambientais antes da execução de
qualquer projeto de envergadura. Outros como o de reutilização de materiais,
reciclagem e intensificação de uso de materiais biodegradáveis ganharam espaço nos
investimentos das empresas. Critérios mais rígidos de descarte de material se tornaram
obrigatórios.
A Sociedade, e a engenharia em particular, ganharam uma nova dimensão de
avaliação de projetos, muito além dos resultados econômicos dos projetos ou de suas
possibilidades técnicas de realização. Não foi à toa que os estudos, antes denominados
de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE), passaram a incorporar mais uma letra de
alta relevância, a letra “A” de ambiental, passando a se abreviar por EVTEA.
As especialidades em engenharia voltadas para o meio ambiente, como a
Engenharia Ambiental, a Bioengenharia e a Engenharia Florestal, ganharam grande
impulso e importância na sociedade moderna.

p.2) Nova consciência de mundo: demandas na formação do engenheiro

Não são só os engenheiros de especialidade ambiental e correlatas que devem se


preocupar com o meio ambiente, mas também todos aqueles que vão desenvolver
projetos e obras que possam trazer impactos ambientais.
O conhecimento dos requisitos normativos internacionais sobre gestão ambiental,
como os tratados nas normas ISO-14000, o entendimento geral do que se considera
um plano de gestão de meio ambiente e o estudo de impactos ambientais deve estar
presente na formação de qualquer engenheiro.
O conhecimento e a busca de aplicação de novas fontes de energia menos
poluentes, a utilização nos projetos de materiais que tragam o mínimo de impacto ao
meio ambiente, o uso de técnicas que evitem a perda e o desperdício de materiais e que
permitam o seu reaproveitamento devem fazer parte do elenco de preocupações do
engenheiro que atua na sociedade contemporânea. Da mesma forma, o conhecimento
geral dos processos de geração e aproveitamento de energias renováveis deve ser uma
meta na formação do engenheiro do século XXI.
O engenheiro deve ter uma atitude que podemos chamar de “ecológica”,
respeitando e se preocupando com a preservação do meio ambiente.

q) Conflitos mundiais

q.1) O que é?

Uma característica latente no nosso mundo são os conflitos. Conflitos entre tribos,
povos e nações sempre existiram e são consequência dos diferentes interesses e paixões
que movem os seres humanos. Nossa sociedade, no entanto, de forma diferente das
anteriores, vem marcada pela abrangência dos impactos que estes conflitos têm no
mundo. Numa sociedade globalizada, os impactos são mundiais. Uma crise econômica
na Bolsa de Valores de Tóquio ou da China traz impactos de flutuação nas bolsas de
São Paulo e Nova York. Uma guerra que eclode no Oriente Médio tem impactos nos
preços do petróleo, na circulação de mercadorias no resto do mundo e nos
movimentos migratórios humanos.
A intensidade dos conflitos também é grande, sendo ainda mais fermentada por
uma mídia que se esmera em detalhar as suas consequências negativas e, nos casos de
guerras, a detalhar com imagens e sons as atrocidades cometidas por cada parte em
conflito.
Os conflitos religiosos têm também marcado de forma nova as relações
internacionais. O ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, trouxe
um marco de ódio e dicotomia ideológica no mundo, reforçando os contornos de um
mundo dividido entre muçulmanos e não muçulmanos, como se as sociedades assim se
organizassem. A crescente onda de xenofobia trazida nas esteiras das migrações
desordenadas vem colocando o mundo cristalizado e sempre na eminência de uma
queda que o quebre em mil pedaços.

q.2) Conflitos mundiais: demandas na formação do engenheiro

As sociedades são tensas e assustadas, colocando-se no mesmo estado emocional do


mundo do qual fazem parte. Temerosas pelos impactos dos conflitos, as sociedades
valorizam aqueles que caminham no sentido de atenuá-los e levar ao entendimento e
conciliação. Neste sentido, a habilidade de negociação e a atitude conciliatória e
flexível têm sido valorizadas e desejadas, em particular, dentro das sociedades e das
organizações produtivas.
É esperado que as instituições que se alimentam da guerra e dos conflitos trabalhem
numa ideologia contrária. Não se espera, por exemplo, que uma empresa da indústria
bélica deseje um pacifista nos seus quadros profissionais, a não ser para entender como
pensam e se posicionam. Mesmo nestes casos singulares, a habilidade de negociação e a
atitude flexível são desejadas.
Que não se confunda a atitude flexível com a passiva. A primeira age ativamente no
sentido de estabelecer um ambiente que entenda as diferenças, as divergências de
pensamento e que as aproveitem no sentido de construir novas ideias e novas atitudes
dentro dos grupos sociais e de trabalho, enquanto a segunda deixa as coisas seguirem
seu curso sem intervir nelas.
As habilidades e atitudes que caminham num sentido conciliatório e harmonioso
têm sido valorizadas e, de forma sutil, exploradas em muitos testes de admissão das
empresas, dentro dos jogos que se realizam na fase classificatória dos candidatos.

r) Volatilidade da informação

r.1) O que é?

O que temos como certo hoje não o será mais amanhã. O que sabemos ser verdade
hoje poderá não ser amanhã. Os dados de hoje serão diferentes no futuro. Novas
informações, resultados e novos conhecimentos são adicionados à sociedade de forma
acelerada. A informação se desatualiza com rapidez. A volatilidade não está restrita ao
campo das informações. Também no campo das relações humanas, que tendem a ser
voláteis, tendo, em geral, duração efêmera e sendo superficiais.

r.2) Volatilidade da informação: demandas na formação do engenheiro

A volatilidade da informação na sociedade contemporânea torna rapidamente a


tecnologia, o conhecimento científico, as técnicas e mesmo as relações produtivas,
mutáveis. Isso exige do profissional constante atualização. A habilidade de se
autodesenvolver assume aqui, mais uma vez, papel importante.
Como não podemos estar atentos a tudo o que acontece, quase tão importante
quanto sabermos a informação é termos o conhecimento de onde ou com quem
podemos obtê-la: saber quem pode dar a informação que precisamos ou onde podemos
encontrar o conhecimento de que necessitamos para o nosso trabalho é quase tão
importante quanto o conhecimento em si.
A habilidade de pesquisa e a criação de um “network” de pessoas competentes são,
dessa forma, também de grande valia no posicionamento de qualquer profissional e dos
engenheiros em particular.

s) Misticismo

s.1) O que é?

A sociedade contemporânea tem vários defensores do ateísmo. O comunismo, na


sua essência, e muitas filosofias existencialistas pregam esta doutrina. Diante dos
argumentos racionais, a ideologia dominante tende a inibir, nas classes mais cultas, a
religião, com suas crenças, histórias e bases não provadas. A reação a este ateísmo e à
dificuldade de se encontrar uma crença que sirva como fundamento de valores leva
inúmeras pessoas a adotarem práticas religiosas independentes ou na forma de filosofia
espiritualista, em que o autodesenvolvimento, a intuição e a sensibilidade tendem a
ocupar lugares privilegiados em relação à simples fé.
Essa tendência à busca de um contato mais direto com Deus ou outro ser superior
(Natureza, Vida, Espírito) traz para o mundo uma inclinação ao misticismo e às
qualidades e práticas que o permitem, levando a considerar como mais valiosos alguns
valores que antes eram pouco relevantes na vida profissional, tais como a sensibilidade,
a intuição e uma visão mais holística do mundo.
O misticismo estimula a visão holística. Holístico vem do grego “holos”, que
direciona para a totalidade, para uma visão integrada da realidade que, dentro desta
perspectiva, não pode ser reduzida a pequenas unidades para ser compreendida.
Há, nesta perspectiva, uma passagem da visão cartesiana, com um mundo dividido
em partes simples, para uma visão holística, que leva a querer entender o todo
integrado, visão esta na qual um mais um produz um resultado maior que dois. Desta
forma, pode-se dizer que “passou-se da concepção mecanicista de Descartes e Newton
para uma visão holística e ecológica, que reputo semelhante às visões dos místicos de
todas as épocas e tradições” (Capra, 2006, p. 13).

s.2) Misticismo: demandas na formação do engenheiro


A atmosfera intuitiva e perceptiva gravitando na sociedade, na qual a sensibilidade
ganha uma dimensão de importância maior nas relações humanas, a habilidade de
perceber o outro, de saber decidir com base em poucas informações de forma mais
intuitiva que racional, e a atitude compreensiva e solidária, que pode denotar
compaixão, valorizam-se.
Profissionais que tenham sensibilidade para as pessoas e para os negócios como
habilidade desenvolvida, com capacidade para tomar decisões, ainda que disponham de
poucas informações e que busquem trabalhar com as emoções positivas dos que com
eles colaboram, tendem a ser valorizados.
A atitude de tentar considerar o todo nas análises, de integrar especialidades
fragmentadas pelas áreas de conhecimento, de trazer saberes de uma área para a outra,
exercitando uma visão holística, se torna também valor dentro das empresas e nos
negócios. A visão de considerar o ecossistema nos projetos de engenharia faz parte
desta visão integrada, em que a natureza e o ser humano, como parte dela, devem ser
levados em consideração ao lado das soluções técnicas e econômicas.

Quadro resumo

O quadro 4 apresenta um resumo das características da Sociedade da Informação e


dos conhecimentos, habilidades e atitudes por elas demandadas.

Quadro 4 – Conhecimentos, habilidades e atitudes demandadas em função das


características da Sociedade da Informação
Características Conhecimentos Habilidades Atitudes
a- globalização - softwares e hardwares - domínio de manuseio de - participativa em grupos de
para comunicação hardwares e softwares de mesmos interesses
- inglês e outro idioma comunicação profissionais
- diferentes ambientes - auto aprendizado
culturais
b - conexão 7x24 - capacidade de foco - objetividade
- disciplina
-organização
c - valor da informação - fundamentos das ciências - desenvolver tecnologia
puras e aplicadas
- simuladores
- base matemática
d - miniaturização - eletrônica básica
- micromecânica
e- -modelos matemáticos -domínio de ferramentas de
digitalização/virtualização -softwares de simulação simulação e matemáticas
da vida -uso de ferramentas de desenho
e representação gráfica
f - criações - domínio da linguagem e - trabalho em equipe - autodesenvolvimento
multidisciplinares conceitos de outras - generalista e especialista
especialidades
g - sociedade quântica - física moderna - ousadia
- criatividade
h - distância x tempo - simuladores - simplificação de problemas - objetividade
- soluções modernas e rápidas
- organização e planejamento
i - valorização do prazer - envolvimento no trabalho
- dinamismo
- aprendizado contínuo
- gosto pela qualidade
- paixão
j - novas formas de - logística - domínio de hardwares e
organizar trabalho e - automação softwares de processamento e
produção comunicação
- planejamento
k - forças políticas - se manter informado
l - influência da mídia e - técnicas de apresentação - apresentação de ideias
valorização da imagem - comunicação escrita e oral
m - novos materiais - ciências dos materiais - constante atualização
- química
- biologia
n - novas fontes de energia - princípios básicos das
gerações de energia
o - novas formas de - linguagem matemática - domínio de softwares de -autodesenvolvimento
passagem de conhecimento - conhecimento básico de simulação
programação
p - nova consciência de - requisitos normativos de - ecológica
mundo qualidade total
- geral sobre materiais
- geral sobre geração e
aproveitamento de energia
q - conflitos mundiais - negociação - negocial
- flexível
- conciliatória
r - volatilidade da - pesquisa -autodesenvolvimento
informação - criação de network
s - misticismo - percepção intuitiva do outro - visão integradora
- integrar especialidades - compreensiva
- solidária

Fonte: Autor.

Exercícios de avaliação de conteúdo

8.1) Identifique algumas características da sociedade contemporânea (ou da


Informação ou Globalizada) que a distinguem da Sociedade Industrial ou Moderna.
8.2) As pessoas da sua geração nasceram no século XXI. Você consegue explicitar
alguns valores e expectativas típicas da sua geração? O tópico “A modificação dos
valores e expectativas de cada sociedade”, incluído no tema 8, poderá lhe ajudar.
8.3) Explicite, com base nas características da Sociedade da Informação, dois
conhecimentos, duas habilidades e duas atitudes que são desejáveis para um engenheiro
que queira atuar nesta sociedade.

Exercícios vivenciais

8.4) Faça uma rápida análise das atividades que mais consomem o seu tempo
durante o período em que você está desperto, tais como o estudo, redes sociais, família,
relacionamentos e lazer. Faça, em paralelo, uma lista, ordenando as atividades
identificadas anteriormente por ordem de importância para você. Verifique se as
atividades em que você gasta mais tempo são de fato as que considera prioridades. Caso
sim, verifique se seus projetos de vida estão ligados a estas atividades prioritárias. Caso
não, o que poderia fazer para obter mais coerência entre o tempo gasto nas diversas
atividades e nas suas atividades prioritárias?
8.5) Considerando as demandas de conhecimentos, habilidades e competências
desejadas para o engenheiro do século XXI, quais as ações práticas que você poderia
tomar para obtê-las? Exemplo de ações práticas são cursos de formação, atividades a
que deveria dedicar algum tempo, modificações no seu perfil de atitudes, exercícios que
deveria fazer para ganhar as competências desejadas. (Comece identificando as
demandas para depois pensar as atividades práticas).
–9–
Desafios atuais da sociedade para a engenharia: uma visão
sociotecnológica

Para que conhecer os desafios?

Cumprindo sua missão, a atividade de engenharia vem buscando soluções para os


desafios que o dia a dia das sociedades lhe impõe. Estes podem ser convertidos em
oportunidades de realização profissional e de ganhos significativos.
Na vida, de uma maneira geral, os pioneiros podem pagar um preço alto por seu
pioneirismo, abrindo caminhos desconhecidos, que serão de mais fácil acesso para os
que vêm depois e que já encontrarão os caminhos delineados. Assim ocorre com os
desafios; os primeiros engenheiros que se especializarem nos temas mais atuais terão o
risco de altos e baixos na vida profissional, uma vez que o mercado para sua
especialidade ainda estará se desenvolvendo e estruturando oportunidades.
Os mais ousados e com maior espírito empreendedor, se preparando com
antecedência, poderão chegar na frente e se qualificar para o desempenho das
atividades, tornando-se capazes de enfrentar e vencer os desafios que serão impostos
pela sociedade.
Desta forma, buscando competência em especialidades que tratam de temas que
ainda estão se desenvolvendo, os engenheiros recém-formados, embora tendam a
encontrar um mercado de trabalho escasso, têm grandes possibilidades de se
destacarem e desempenharem um papel social reconhecido e bem remunerado.
A seguir, apresentaremos alguns desafios já identificados na sociedade
contemporânea. Muitos outros podem ser elencados, porém nosso intuito com este
tema é incentivar a reflexão sobre oportunidades de carreira e, de certa forma,
estimular o profissional em formação ou o que ainda busca seu melhor
enquadramento, a enxergar estes desafios como oportunidades.
Em alguns casos, as especialidades necessárias para tratar dos desafios ainda não
encontram cursos formais que ofereçam capacitação para tal. Nessas situações, o
autodesenvolvimento faz parte das habilidades e atitudes necessárias para que o
profissional transforme desafios em oportunidades.

Cinco grandes blocos de desafios

O mundo é repleto de dificuldades a serem vencidas: escassez de água, escassez de


energia, poluição, lixo urbano, qualidade de vida, desenvolvimento tecnológico e uma
infinidade de outros temas.
Os desafios para a engenharia dificilmente podem ser isolados. Buscando uma
forma didática de apresentá-los e com o intuito de identificá-los, eles serão separados
em cinco blocos temáticos: demografia; meio ambiente; energia; domínio das novas
tecnologias; saúde, bem-estar e lazer.

1º bloco: desafios trazidos pela demografia

Há 12.000 anos atrás, antes do domínio das práticas ligadas à agricultura, o mundo
era povoado por cerca de um milhão de pessoas (Smith, 2000, p.9). Por volta de 1800,
a população atingia a cifra de um bilhão. Decorridos mais 130 anos, em 1930, 2
bilhões. Nos 30 anos seguintes, 1960, aumentou em 1 bilhão e nos outros 30 mais 1,3
bilhões, chegando a 1990 a cerca de 5,3 bilhões de habitantes. No decorrer do século
XX a população aumentou de 1,6 para 6,1 bilhões, cifra atingida em 2000.
Conforme ONU (Nações Unidas, 2013), nos primeiros 13 anos do século XXI
somaram-se mais meio bilhão de almas ao mundo e nos 6 anos seguintes (2019), a
estimativa era o acréscimo de mais meio bilhão. Com um aumento populacional
estimado em cerca de 80 milhões de pessoas por ano, a estimativa é de termos em torno
de 8,6 bilhões de habitantes no mundo em 2033.
Embora as estimativas de crescimento populacional para o futuro sejam menores,
ou seja, menor crescimento a cada ano, estima-se que continuará a acontecer, chegando
o mundo, por volta de 2100, a algo em torno de 11 bilhões de habitantes.
A figura 7, adaptada a partir de informações das Nações Unidas no Brasil (ONU
Brasil, 2017), ilustra as estimativas de crescimento populacional até 2100.

Figura 7 – Previsão de crescimento demográfico até 2100

Fonte: Baseado nas perspectivas da população mundial, revisão de 2017 (ONU, 2017);

O maior crescimento populacional é esperado em regiões ainda em


desenvolvimento. Os países mais populosos do mundo são a China e a Índia, com
cerca de 1,6 bilhões de habitantes cada um.
O quadro 5 apresenta a projeção para as diferentes regiões do mundo para os anos
de 2030, 2050 e 2100.33

Quadro 5 – Projeção de número de habitantes em 2030, 2050 e 2100


Região População em milhões em 2017 2030 2050 2100
Mundo 7.550 8.551 9.772 11.184
África 1.256 1.704 2.528 4.468
Ásia 4.504 4.947 5.257 4.780
Europa 742 739 716 653
América Latina e Caribe 646 718 780 712
América do Norte 361 395 435 499
Oceania 41 58 57 72

Fonte: Nações Unidas, 2017.

Podemos observar da tabela que, em 2050, a previsão é de que cerca de 54% da


população mundial estará na Ásia e 26% na África. Estes dois continentes congregam
países com alto índice de crescimento populacional.
Para o Brasil, as estimativas do IBGE (2019) indicam um crescimento demográfico,
indo de cerca de 210 milhões de habitantes em 2019 para cerca de 225 milhões em
2030. Apesar da redução na taxa bruta de natalidade (a qual expressa o número de
nascidos vivos, por mil habitantes, na população residente em determinado espaço
geográfico, no ano considerado) e do crescimento da taxa bruta de mortalidade (a qual
expressa o número total de óbitos, por mil habitantes, na população residente em
determinado espaço geográfico, no ano considerado), a população brasileira vai
aumentar.
Alguns dados relevantes para o Brasil, relacionados à qualidade demográfica são
(IBGE, 2018):

estima-se que a população brasileira parará de crescer por volta do ano de 2047. O
crescimento recuará a partir daí, estimando-se que a população em 2060 será
igual a de 2034, cerca de 228 milhões de pessoas;
a população envelhecerá. Em 2060, mais de um quarto da população (~25,5%)
deverá ter mais de 65 anos;
estima-se que, em 2060, 67,2% dos brasileiros não estarão aptos a trabalhar, pois
terão menos de 15 ou mais de 64 anos. Para sobreviver, dependerão dos que serão
capazes de produzir. Em 2018, somente cerca de 44% da população vivia nesta
situação de dependência;
a maior expectativa de vida no Brasil ocorre em Santa Catarina e é da ordem de
79 anos, devendo subir até cerca de 84 anos, em 2060. Para o Brasil como um
todo, estima-se que a expectativa de vida ao nascer cresça em relação à estimativa
média entre homens e mulheres, de 76 anos em 2020, para cerca de 81 em 2060.

O que se pode concluir é que soluções para acomodação do aumento populacional


deverão ser tomadas no que tange à habitação, transporte, saneamento, suprimento de
água, produção de alimentos e serviços de atendimento ao público, entre outras
demandas.
Para atender a tal situação, a eficiência dos processos produtivos tem que ser
aumentada, e os resultados comerciais, melhorados. Isto acena para a otimização de
processos, aumento da produtividade, redução de perdas de produção, melhoria da
qualidade dos produtos e, em poucas palavras, aumento da competitividade. Isto
significa ação da engenharia.
Assim, alguns desafios já se colocam para a engenharia, muitos dos quais já têm
soluções implementadas ou em andamento.

1.1) Habitação

Quais os conceitos que deverão ser utilizados nas moradias futuras de forma que
estas utilizem materiais menos poluentes e que gerem menos resíduos de obras?
Como facilitar a construção ou a montagem predial para se ganhar velocidade e
economia?
Quais os novos “designs” de prédios a serem construídos que possibilitarão a
otimização dos espaços de terreno e a redução do consumo de energia, água e
geração de efluentes?
Como construir prédios que tragam mínimos impactos ao meio ambiente, no
que tange à poluição, aspecto visual, bloqueio de luz solar, ventilação e que
permitam o máximo aproveitamento de resíduos?
Quais as soluções para o processamento do lixo domiciliar e industrial e como
reaproveitá-lo?
Quais as soluções para o tratamento de efluentes líquidos gerados nas residências
e na indústria?
Como se pode consumir menos energia nas instalações residenciais e fabris?
Como construir prédios sustentáveis do ponto de vista de geração elétrica e reuso
de efluentes?
Como melhorar a funcionalidade das instalações?
O que automatizar nas instalações prediais em geral?
Como materializar construções prediais para deficientes e para idosos, com
sistemas eficientes, automatizados e mobília adequada?
Como reurbanizar as áreas de moradia que cresceram sem planejamento
(comunidades e favelas)?

1.2) Alimentação

Como a engenharia pode atuar de forma a aumentar a produtividade dos


alimentos (maior produção por área e menores custos unitários de produção)?
Como se pode exercer a atividade agrícola em pequenos espaços?
Como automatizar processos agropecuários?
Como tratar os resíduos orgânicos de forma a aproveitar seu potencial nutritivo e
energético?
Como reduzir os alimentos a tabletes alimentícios?
Como a engenharia genética pode ajudar na melhoria do poder nutritivo dos
alimentos?

1.3) Transportes

Quais as soluções para a melhoria do transporte urbano nas grandes metrópoles?


Quais as soluções para o transporte ferroviário?
Como os drones e outros meios de locomoção podem ser utilizados nos
transportes?
Que novos conceitos de transporte (esteiras, sistemas de transporte pneumático,
por exemplo) podem ser aplicados para movimentação de mercadorias nas áreas
metropolitanas?
É possível pensarmos em novos equipamentos de transporte não poluentes?
Quais as soluções propostas para veículos movidos com energias alternativas?
Quais os novos conceitos para sistemas de transporte, em geral?
O que a engenharia tem feito em automóveis, aviões, máquinas, equipamentos de
transporte, em geral, de forma a otimizar seus rendimentos?
Teletransporte tem futuro?
1.4) Água e Saneamento básico

Como atender à crescente demanda de água potável no mundo?


O que fazer para reduzir e melhor aproveitar os descartes de água residual?
Como tratar os diversos tipos de lixo (eletrônico, pneus, hospitalar e domiciliar,
por exemplo)?
Quais as tecnologias e desenvolvimentos em curso para sistemas de tratamento de
efluentes?
Como produzir água potável?
Quais os sistemas de tratamento e reaproveitamento de água domiciliar que
podem ser ou estão sendo desenvolvidos?
Como melhorar projetos prediais e industriais tendo em conta o
reaproveitamento e o tratamento de água, esgoto e lixo?

1.5) Serviços Públicos

Como atender à crescente demanda de hospitais?


Como melhorar a funcionalidade dos mercados e sistemas de abastecimento da
população?
Que novos conceitos podem ser utilizados para locais de acolhimento (presídios,
centros de tratamento de doenças mentais e de dependentes químicos) de forma
a trazer mais chance de recuperação, espaço mais humanizado e abrigar, com
menos gastos, os usuários?
Como melhorar sistemas de segurança pessoal, domiciliar e industrial?
Como melhorar serviços de movimentação e entrega de produtos e bens de
consumo entre fornecedor e consumidor?
Como melhorar os sistemas de comunicação?

2º bloco: desafios trazidos pelo meio ambiente

Diversas regiões do mundo, como a Floresta Amazônica, vêm sofrendo um


desmatamento acelerado. Com a redução das florestas, reduz-se também a quantidade
de umidade lançada na atmosfera, o que traz impactos ao regime de chuvas,
provocando aumento de temperatura em várias regiões da Terra.
Ao lado do desmatamento, outras atividades humanas no planeta alteram, como
defendido pela maioria dos cientistas, o “efeito-estufa”, que é o fenômeno natural
responsável pela manutenção da temperatura na Terra.
Entre essas atividades, estão aquelas que liberam na atmosfera gases denominados
“gases estufa”. Nesta classe de gases está o dióxido de carbono (CO2), gerado em
grande parte pela queima de combustíveis fósseis; o gás metano (CH4), que é gerado na
pecuária, na queima de biomassa e de combustíveis com carbono e também em aterros
sanitários; o óxido nitroso (N2O), produzido por instalações fabris; e gases com flúor,
tais como os fluorhidrocarbonos e os perfluorcarbonos. O acúmulo destes gases na
atmosfera terrestre impede a saída do calor, provocando o aquecimento do planeta.
Embora as causas das alterações do efeito-estufa não sejam um consenso entre os
cientistas, não resta dúvida de que a ação humana vem prejudicando as condições de
vida no planeta e seus efeitos nocivos devam ser minorados e, se possível, eliminados.
Além da redução das florestas e da produção dos gases estufa, agrava a estabilidade
climática do planeta a poluição das águas. Esta poluição diminui a capacidade de vida
na água de pequenos seres, que durante sua atividade vital convertem gás carbônico em
oxigênio.
Como consequência do aquecimento global, temos ainda o aumento do nível dos
oceanos, principalmente pelo acelerado degelo causado pelo aumento da temperatura.
Além disto, muitas espécies animais, inclusive a humana, têm que se deslocar,
buscando novas áreas para moradia, em função da degradação e modificação de seu
habitat que, entre outros efeitos, sofre com o aumento das regiões de seca e com a
consequente redução dos mananciais de água.
As modificações no meio ambiente também provocam mudanças climáticas com o
surgimento de ventos fortes e tempestades em várias regiões, além das ondas de calor e
de frio intenso.
A eliminação da emissão de gases poluentes, a contenção do desmatamento e o
controle da poluição tornam-se, então, desafios para vários profissionais, entre eles os
engenheiros.
Agrava a situação do meio ambiente a poluição relacionada ao descarte de lixo. O
descarte realizado de forma não planejada contamina rios, terrenos férteis, e a sua
queima agrava o problema de efeito-estufa.
O volume geral de lixo descartado no mundo cresce em grandes proporções.
Considerando dados da ONU (2019) sobre projeções de produção de lixo e de
aumento de população mundial, pode-se considerar que, em média, a produção de lixo
cresce cerca de 500 kg por ano, por pessoa. Multiplicando esse número pelo aumento
da população mundial, é possível avaliar o aumento anual de produção de lixo.
Assim, considerando-se uma taxa de crescimento populacional de cerca de 80
milhões de habitantes por ano no planeta, podemos estimar um aumento de volume de
lixo no mundo em 40 milhões de toneladas por ano, o que gera grandes dificuldades a
serem superadas pelos que procuram soluções para minorar os problemas ambientais,
incluindo os engenheiros.
O volume de produção de alguns tipos de “lixos” tem crescido de forma mais
alarmante, sem se ter para estes um destino certo, como é o caso do “lixo eletrônico”.
Apenas cerca de 20% do lixo eletrônico gerado é reciclada (Nações Unidas, 2019).
Uma estimativa de crescimento do lixo eletrônico de 3 a 4% ao ano, pode ser adotada,
levando a valores preocupantes para o seu volume, no futuro (Baldé et al., 2017).
O fato, porém, é que num aparelho eletrônico, como um computador ou um
televisor, podem ser encontrados metais como o chumbo, o ouro e a prata que, se
devidamente extraídos e reciclados, podem voltar a ser utilizados na fabricação de
novos equipamentos.
Muitos outros materiais que eram descartados podem ser, e já são hoje, reciclados.
São exemplos: sucata de carro, vidro, latas de alumínio, papel, papelão e garrafas pet. As
tecnologias para reciclagem de outros materiais ainda estão na conta dos desafios para
os engenheiros.
A adequada escolha de materiais para as fabricações pode, já de pronto, evitar a
geração de resíduos que demorem um longo tempo para se deteriorar, ou com
necessidade de serem reciclados. A utilização de materiais como os tecidos de algodão,
couro e madeiras, que são, por natureza, biodegradáveis, torna-se cada vez mais
atraente.
Estes materiais, por serem biodegradáveis, são consumidos por bactérias de forma
natural, transformando-se em gases como metano, na ausência de oxigênio, ou em
CO2 na sua presença. Buscando viabilizar novas aplicações para materiais
biodegradáveis, pesquisas sobre a possibilidade de substituição de outros materiais por
esses vêm sendo empreendidas.
Considerando o rápido aumento na produção de lixo, a gestão dos resíduos
produzidos pela atividade humana, seu adequado descarte e seu reaproveitamento
fazem-se mandatórios para a saúde do planeta. Os detritos descartados podem se
perpetuar no planeta, causando problemas de vários níveis de gravidade. Assim,
podemos estimar o tempo necessário para alguns materiais mais comumente
encontrados no meio ambiente, se deteriorarem e serem eliminados naturalmente
(Portal São Francisco, 2017). São exemplos de tempos de degradação, o de casca de
frutas: 1 a 3 meses; papel: 3 a 6 meses; pano: 6 meses a 1 ano; filtro de cigarro: 5 a 10
anos; madeira pintada: 15 anos; saco de plástico: 30 a 40 anos; lata de alumínio: 200
anos; vidro: 1 milhão de anos.
Observemos que, o que chamamos de lixo é, na verdade, material descartado por
quem não encontrou finalidade de uso. Análises mais atentas permitem identificar o
valor do “lixo” descartado.
A discussão que se abre para o tema “lixo” e para a qual a engenharia é convidada a
participar trazendo soluções, é sobre a reutilização, o reaproveitamento e a reciclagem
dos resíduos. A identificação do seu valor é o primeiro passo.
Outro problema relacionado ao meio ambiente é a disponibilidade de água.

Estima-se que um bilhão de pessoas carecem de acesso a um abastecimento de água suficiente, definido como
uma fonte que possa fornecer 20 litros por pessoa por dia a uma distância não superior a mil metros. Essas
fontes incluem ligações domésticas, fontes públicas, fossos, poços e nascentes protegidos e a coleta de águas
pluviais. (Nações Unidas, 2018).

Sendo a água um recurso vital para a sobrevivência de todos, para a manutenção do


bom funcionamento dos ecossistemas e para a vida em geral, a recuperação e
impedimento da deterioração das fontes de suprimento torna-se imperativa.

Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais ameaçada à medida que as populações humanas
crescem, atividades agrícolas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o ciclo
hidrológico global. (Nações Unidas, 2018).

É notória a degradação dos sistemas de suprimento hídrico, motivado entre outros


fatores, pelo despejo de esgoto não tratado e pelo desague de águas residuais
inadequadamente tratadas.
Alguns dados relevantes são (Nações Unidas, 2018):

dois terços da população mundial atualmente vivem em áreas que passam pela
escassez de água por, pelo menos, um mês ao ano;
cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde o consumo de água excede
os recursos hídricos localmente renováveis;
um quarto da população mundial não tem acesso a instalações sanitárias básicas;
quase 10% da população mundial não têm acesso a serviços básicos de
suprimento de água;
cerca de 29% da população não têm acesso a água para beber, com segurança de
que a terá disponível em qualidade e quantidade;
estima-se que 27% da população mundial não tenha acesso a água e sabão para
lavar as mãos.

É, portanto, grande o desafio da sustentabilidade do suprimento de água potável e


do acesso ao saneamento básico pela humanidade, desafio este que deve ser enfrentado
por engenheiros, entre outros profissionais.
O uso racional e comedido da água, com seu reaproveitamento e redução dos
processos que resultam em contaminação deste bem natural, fazem parte das soluções
que têm que ser “engenheiradas”.
Pelo exposto, pode-se ver que muitos desafios são colocados para a engenharia no
tema “meio ambiente”, suscitando algumas reflexões que estão listadas a seguir.

2.1) Aquecimento Global

Como reduzir a emissão de carbono e gases de efeito estufa para a atmosfera?


Quais as ações em andamento para inibir os impactos, ou substituir os produtos
industriais, que impactam a camada de ozônio?
Como incrementar o uso de energia limpa?
O que vem sendo feito na construção e operação de sistemas industriais
(caldeiras, sistemas de geração elétrica, máquinas e motores) de forma a otimizar e
tornar mais eficiente o seu funcionamento?

2.2) Materiais biodegradáveis

O que vem sendo feito para a substituição de materiais de uso tradicional, como
plásticos, metais e vidros, por outros biodegradáveis?
Quais as dificuldades tecnológicas a serem vencidas para implementação do uso
de materiais biodegradáveis?
Quais as aplicações em que caberia a substituição dos atuais materiais por outros
biodegradáveis?

2.3) Materiais recicláveis

Quais são as soluções e desenvolvimentos em curso para reaproveitar materiais


hoje descartados de domicílios e indústrias?
Quais são as máquinas existentes e em desenvolvimento para reaproveitar in loco
os resíduos capazes de serem reciclados?
Como reduzir o uso de resíduos de materiais radioativos, plásticos e químicos em
geral e como tratá-los?
Como garantir a sustentabilidade das indústrias poluentes, tais como a de
petróleo e a de cimento, no tocante às soluções de tratamento de efluentes,
obtenção de matéria-prima com baixo impacto ambiental, responsabilidade com
a coleta e reciclagem dos seus produtos e convívio com as comunidades?

2.4) Água

Como atuar para evitar a poluição/contaminação dos mananciais de água?


Como tratar de forma eficiente a água já utilizada?
Como produzir água a partir de reações físico-químicas?
Como levar água para locais de pouca disponibilidade?
Como aproveitar mananciais subterrâneos e outros?

3º bloco: energia
O cenário de consumo e produção de energia futuro, no curto e médio prazo, não
se alterará substancialmente. Os combustíveis fósseis ainda continuarão dominando a
matriz energética mundial e garantirão por muitos anos o atual fornecimento de cerca
de 80% da energia mundial.34
O petróleo ainda será responsável pelo fornecimento de cerca de 30% de toda a
energia consumida no mundo e continuará sendo uma fonte de suprimento
importante por muitos anos, devido, principalmente, ao aumento da produção
petroquímica e ao transporte por caminhão e aéreo. A produção de “shale gas” (gás de
xisto) nos Estados Unidos terá uma contribuição importante na produção mundial
necessária.35
Em 2040, o consumo de petróleo está estimado em cerca de 106 Mbbl/d (IEA,
2018a). Apesar do crescimento previsto para as energias renováveis dos níveis de 25%
da matriz energética mundial, no final da segunda década do século XXI, para cerca de
40% em 2040, num cenário onde as políticas de redução da emissão de carbono serão
adotadas, o consumo de petróleo seguirá subindo (IEA, 2018a).
Podemos considerar, em números redondos, as contribuições das várias fontes na
matriz energética mundial no início da década de 20, em cerca de 32% de petróleo,
27% de carvão mineral, 22% de gás natural, 5% de energia nuclear, 2% de energia
hidráulica e 12% de outras fontes (Brasil, 2017, p. 5).
O Brasil se destaca no cenário mundial por ser um dos países com maior percentual
de energias renováveis na sua matriz, em torno de 45%, principalmente pela sua
capacidade de geração de energia hidroelétrica (Brasil, 2019b, p. 4).
Em números redondos, ao final do segundo decênio do século XXI, pode-se
estimar que a matriz brasileira seja composta por 35% de petróleo, 5% de carvão, 12%
de gás, 1,5% nuclear, 12% hidráulica e 33,5% de outras fontes. São números estimados,
considerando dados existentes.36
As transformações em curso previstas para as próximas décadas podem ser
encontradas no relatório da International Energy Agency (IEA).37 As principais
transformações na matriz energética mundial se deverão ao crescimento da
eletrificação e da contribuição das energias renováveis. A evolução das matrizes
dependerá, principalmente, das políticas adotadas pelos vários países do mundo, em
termos de energia.
A IEA (2018a) considera três principais cenários mundiais futuros nas suas
análises:

Cenário de Novas Políticas (New Policies Scenario – NPS) – considera os efeitos


das políticas postas em prática, além dos efeitos desejados pelas políticas
anunciadas pelos governos dos diferentes países, incluindo os compromissos
firmados no Acordo de Paris (2017);
Cenário de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Scenario –
SDS) – representa uma aproximação supondo os acordos feitos nos diversos
fóruns internacionais com objetivos de melhoria das mudanças climáticas,
qualidade do ar e acesso universal às energias modernas;
Cenário de Políticas Atuais (Current Policies Scenario – CPS) – considera as
políticas e medidas que já estão firmemente consagradas na legislação dos vários
países desde meados de 2018. Fornece assim uma avaliação cautelosa de onde o
ímpeto das políticas existentes pode levar o setor de energia, na ausência de
qualquer nova decisão governamental.

Com estes cenários, o IEA estima a situação das matrizes energéticas do mundo em
2040. Assim, no cenário SDS, espera-se que a demanda de energia primária no mundo
esteja em torno de 13.750 Mtoe38 (Milhões de toneladas de petróleo equivalente) em
2040,39 demanda esta considerada a mesma do mundo em 2017. Esta manutenção do
valor de demanda se deverá à utilização de sistemas consumidores e geradores mais
eficientes, com maior rendimento de geração e menores perdas. Neste caso, espera-se
baixa emissão de CO2, ficando esta em torno de 17,5 Gt CO2.40
Caso o cenário futuro seja o CPS, a demanda de energia primária em 2040 deverá
estar em torno de 19.375 Mtoe, ou seja, cerca de 41% maior que a demanda em 2017.
Neste caso, a produção de CO2 deverá ser maior, sendo estimada em 42,5 Gt CO2.
Caso o cenário seja o NPS, a demanda de energia em 2040 ficará em torno de
17.500 Mtoe, e a produção de CO2 associada a este consumo, em cerca de 36 Gt CO2.
O aumento de consumo se deve ao aumento da população mundial e a algum aumento
na capacidade de consumo.
Num cenário de novas políticas (NPS), espera-se que, nas economias avançadas,41 a
geração por fontes primárias renováveis cresça. O aumento das fontes renováveis
também ocorrerá nas economias em desenvolvimento, o mesmo acontecendo com as
fontes de origem nuclear, ao contrário das economias avançadas que reduzirão a
geração nuclear até 2040.42
O consumo de gás no mundo deverá crescer de forma significativa até 2040, e a
produção de gás de xisto (shale gas) americana suprirá grande parte da demanda
energética. Nas economias avançadas, espera-se que os carros de passageiros deixem de
utilizar o petróleo como fonte de energia, reduzindo a demanda de petróleo para este
fim, enquanto, nas economias em desenvolvimento, o consumo de petróleo para
automóveis ainda continuará crescendo (IEA, 2018a).
Um prognóstico possível é de que as energias solar e eólica sejam responsáveis por
70% da matriz energética em 2050 (Brazil Windpower, 2017). Neste cenário, a energia
solar dominará como fonte de suprimento primário de energia e, em 2050, “metade da
energia primária produzida no planeta será oriunda de fontes não fósseis” (Brazil
Windpower, 2017).
Num cenário de desenvolvimento sustentável (SDS), espera-se que a geração de
energia eólica e elétrica por painel fotovoltaico tenha variado, de 2017 a 2040, cerca de
850%, indo de 1.500 TWh para cerca de 14.000 TWh. Caso o cenário seja o de novas
políticas (NPS), o crescimento das fontes de geração eólica e solar fotovoltaica seriam
menores, mas ainda teriam um aumento de cerca de 450% (IEA, 2018b).
A frota de carros elétricos também deve aumentar de forma substancial de 9,2
milhões de carros elétricos existentes em 2017 para cerca de 304 milhões em 2040,
num cenário de novas políticas (NPS), e para cerca de 630 milhões, num cenário de
desenvolvimento sustentável (SDS) (IEA, 2018b).
No que tange à geração de energia elétrica, a matriz energética mundial tem o
predomínio do carvão. Do total de energia gerada no mundo em 2016, em números
redondos, o petróleo foi responsável por 4% da geração; o carvão, por 38%; o gás, por
23%; a nuclear, 11%; a hidráulica, por 16%; e outras fontes, por 8% (Brasil, 2019).
No Brasil, os percentuais de contribuição das fontes primárias diferem bastante da
mundial, principalmente pela capacidade de geração de energia hidráulica. Enquanto a
geração elétrica a partir de óleo, carvão, gás e nuclear vale cerca de 1,5%, 2,2%, 8,6% e
2,5%, respectivamente, a hidráulica é estimada em valor próximo a 61% (Brasil, 2019,
p. 7).
O que se pode concluir é que, em qualquer cenário, a engenharia será desafiada a
construir sistemas de geração e consumo de energia mais eficientes, e que os
dispositivos com consumo de energia elétrica, notadamente os automóveis, vão crescer
como demandantes.
Além disto, pelas políticas estabelecidas no Brasil e no mundo, onde os programas
voltados para o desenvolvimento sustentável ganham força diariamente devido aos
impactos negativos que trazem para a vida no planeta, os dispositivos de geração
deverão caminhar para as fontes renováveis, sendo que a tendência é do predomínio da
geração elétrica a partir das energias eólica e solar. Estes desafios permanecerão para os
engenheiros das próximas décadas.
A superação dos problemas de suprimento de energia a partir de fontes renováveis
ainda esbarra na limitação da eficiência de armazenamento dos acumuladores. As
matrizes mundiais se modificam rapidamente, e as fontes de suprimento de energia
dividirão seu espaço com as células “fotovoltaicas e com o vento, o que requererá
reformas [em sistemas existentes], investimentos em redes de transmissão, bem como
[…] medidores inteligentes [para poderem medir a energia consumida e produzida
pelos atuais consumidores] e tecnologia de armazenamento em baterias” (IEA, 2018b).
Como algumas fontes, como a eólica e a solar, são capazes de gerar energia em uns
momentos, e não em outros, os acumuladores se fazem necessários para atender às
baixas e aos picos de demanda.
Assim, na ausência de vento, a geração eólica não acontece, e o mesmo ocorre à
noite com a geração de energia solar. Além disto, mesmo que se possa gerar energia
com estas fontes, pode ocorrer de não haver consumidores conectados no momento da
geração, exigindo que esta energia seja reduzida ou acumulada para momentos de
maior demanda. Nas situações de baixo consumo, a utilização de acumuladores faz-se
imprescindível.
Acumuladores que permitam, de forma barata, prática e sem impactos ambientais,
armazenar a energia gerada trazem, ao lado das gerações de energia, um desafio para a
engenharia.
As baterias convencionais com catodos e anodos à base de chumbo imersos em
solução de H2SO4 e as de níquel-cádmio são insuficientes, no que tange à capacidade
de armazenamento e de recarga e durabilidade, apresentando uma densidade de
energia (quantidade de energia armazenada por volume) ainda pequena. As baterias de
lítio-íon, com anodos de grafite e catodos de lítio, vêm ocupando espaço importante e
sendo muito utilizadas em pequenos equipamentos, porém estas tecnologias ainda
devem ser superadas. O uso do grafeno, uma variedade alotrópica do carbono, melhora
muito o desempenho dos acumuladores e vem como tema de pesquisa em aplicações
ainda incipientes.
O que se busca são baterias com maior densidade de energia e maior vida útil, com
maior poder de ciclagem (número de descargas e recargas possível). Outros tipos de
acumuladores, como a lítio-ar e a zinco-ar, que armazenam duas vezes mais energia que
a lítio-íon, representam possibilidades de melhorias.
Como caminho da cadeia que vai da geração elétrica ao consumidor, temos as
linhas de transmissão, com inúmeras perdas. Transmissão por corrente contínua
melhora o desempenho nas transmissões, mas ainda apresenta necessidade de
melhorias tecnológicas.
A transmissão sem fio de altas potências poderá trazer ainda melhor desempenho.
Nestes campos, mais cômodos para especialistas em engenharia elétrica, mas não
restrito a eles, muitos desafios ainda se apresentam.
O tema “energia” é de uma abrangência imensa, e muitos desafios podem ser
elencados. Algumas questões formuladas a seguir nos colocam diante destes desafios.

3.1) Fontes alternativas de energia

Quais as soluções energéticas alternativas ao uso de hidrocarbonetos (carvão,


petróleo e gás)?
Quais são os desafios ainda encontrados na fabricação de células fotovoltaicas e
geradores elétricos a partir de biomassa?
Quais são as soluções para aproveitamento da energia das ondas do mar e da
geotérmica?
Como superar os altos custos de produção de energia a partir de fontes
alternativas?
3.2) Acumuladores de energia

Como armazenar a energia gerada e não consumida de forma eficiente?


Quais os melhores e mais modernos materiais utilizados nas baterias
acumuladoras de energia?
Como descartar e reaproveitar as baterias?

3.3) Transmissão elétrica

Quais as soluções em estudo para a transmissão de energia sem fio?


Como minimizar as perdas de transmissão de grandes potências?
Como simplificar as conexões transmitindo informação e potência por um meio
físico comum?

3.4) Otimização de energia e ecoeficiência

Quais são os produtos que vêm sendo desenvolvidos para reduzir a entrada de
radiação capaz de provocar aquecimento nas instalações prediais?
A que requisitos devem atender projetos e construções ecoeficientes?
Como reduzir o consumo de energia nas instalações industriais e domiciliares?
Quais os equipamentos que estão sendo e devem ser desenvolvidos para gerar e
consumir energias limpas?
Quais as otimizações que vêm sendo feitas nos equipamentos de geração e
consumo de energia (cogeração, uso de ímãs mais potentes e sistemas novos de
geração, por exemplo)?

4º bloco: domínio de novas tecnologias

É cada vez mais rápida a obsolescência das tecnologias existentes e o aparecimento


de novas. São desenvolvimentos incrementais, feitos por pequenas melhorias,
adaptações e aplicações das tecnologias já existentes, bem como por desenvolvimentos
oriundos de rupturas tecnológicas que tornam tudo o que se conhecia obsoleto a um só
tempo.
Os desafios das tecnologias a serem dominadas vão mudando no mesmo ritmo em
que estas se renovam, mas podemos apontar alguns desafios que ainda deverão
impulsionar a curiosidade dos pesquisadores, cientistas e engenheiros por alguns anos.
Aos engenheiros, o desenvolvimento de tecnologias traz, em muitos casos, a
necessidade de descobrir aplicações novas e oportunas para elas. Assim, a
nanotecnologia, os novos materiais, os microssistemas, os novos softwares e a
inteligência artificial, por exemplo, trazem possibilidades aplicativas que desafiam os
engenheiros nas suas especialidades.
Não só a aplicação das novas tecnologias, mas também a adequação dos sistemas e
do ambiente para recebê-las faz-se muitas vezes necessária. A segurança da informação,
por exemplo, se torna um tema-chave na vida moderna. Os segredos das empresas, seus
bancos de dados e informações sobre produtos, clientes, empregados, tecnologias
utilizadas, projetos, planos de investimentos e inúmeras informações confidenciais
ficam sujeitos a invasões que podem, se perdidos ou alterados, levar ao
desmoronamento da empresa.
O grande número de dados gerados no dia a dia também traz para a engenharia o
desafio de desenvolver sistemas capazes de armazená-los e recuperá-los com segurança e
de forma rápida, além de processá-los de modo a selecionar dados úteis para avaliações,
cálculos de interesse com vistas à otimização e à avaliação dos processos produtivos.
A engenharia – e, principalmente, as áreas mais ligadas à informática e à automação
– se depara com a presença dos sistemas de inteligência artificial (IA) espalhados em
diversas aplicações, de smartphones às fábricas de grande porte.
Os desafios da chamada 4ª Revolução Industrial se fazem presentes. As indústrias
implementam dispositivos de comunicação sem fio com robôs e máquinas suportadas
por sistemas inteligentes e aptos ao aperfeiçoamento de seu trabalho, com base na
inteligência artificial, trazendo capacidade de automação nunca imaginada nas
indústrias e mesmo nos segmentos comerciais e agropecuários. A transformação digital
(TD) invade os espaços produtivos, e os BOTs vão substituindo as pessoas em
operações repetitivas.
A melhoria contínua dos processos e dos procedimentos de fazer vem também
como exigência diária para os engenheiros. A utilização das melhores técnicas de
projeto, das tecnologias e materiais mais adequados para cada aplicação, buscando
sempre mais eficiência e economia nos processos produtivos, desafiam o engenheiro
diariamente.
Destaca-se a tecnologia de produção e a aplicação de novos materiais que têm que
ser dominadas pelos engenheiros, sejam eles mecânicos, químicos, aeronáuticos, civis,
elétricos ou de outras modalidades. Muitos progressos obtidos em engenharia vêm no
rastro dos novos materiais. A busca de mais eficiência, facilidades construtivas,
atendimento às necessidades de especificação, segurança, melhoria da qualidade de
produtos, entre outros motivadores, vai impulsionando o seu desenvolvimento.
São materiais que primam por características como baixa massa específica aliada à
alta resistência mecânica, que se destacam pelas propriedades elétricas que apresentam,
que resistem ao uso, que se moldam em formas inusitadas, apresentam resistência a
temperaturas extremas e à corrosão, enfim, materiais com características que permitem
ao engenheiro pensar em criar sempre novas aplicações.
Materiais como grafeno (Teixeira, 2012), ímãs permanentes feitos de terras raras,
materiais biodegradáveis, os polímeros resistentes a altas temperaturas, aços de baixa
liga e alta resistência, compósitos de vários tipos e supercondutores são exemplos de
materiais que ainda podem ser explorados e que esperam por desenvolvimentos de
tecnologia para sua ampla aplicação.
Os biomateriais também vêm impactando a engenharia, principalmente aqueles
ligados à área médica. Tecidos do corpo humano, por exemplo, podem ser substituídos
ou completados por estes materiais.
Também desafiam a engenharia os microssistemas que funcionam como
biossensores ou computadores biológicos, por exemplo, os quais também podem
trabalhar a base de DNA, RNA e uma multiplicidade de proteínas, sendo capazes de
realizar pequenos cálculos matemáticos e tarefas simples quando manipulados pela
nanotecnologia.
A seguir, listamos alguns poucos tópicos que podem ser estendidos se
considerarmos as inúmeras tecnologias que vêm se desenvolvendo diariamente.

4.1) Modernização industrial

Que itens devem ser modernizados em fábricas antigas (escolha uma fábrica e
pense)?
Como implantar a transformação digital nas indústrias e prestadoras de serviços?
Quais são alguns bons exemplos de fábricas e sistemas automatizados?
Quais as soluções para produção em pequena escala e em grande escala,
atendendo às especificidades dos clientes?
Que modificações nos processos produtivos industriais vêm sendo feitas para
garantir a competitividade das indústrias?
Quais as tecnologias implantadas em fábricas da era da 4ª Revolução Industrial?

4.2) Segurança da informação

Quais as soluções que têm sido adotadas pelas diversas engenharias para evitar
perdas, roubos, pirataria e sabotagem de informações, considerando as várias
especialidades da engenharia (civil, elétrica, informática, refrigeração e outras)?
Como garantir a segurança das transmissões de dados?
Como garantir a segurança dos sistemas (cuidados nos projetos, redundâncias,
casamatas, sistemas de refrigeração etc.)?
Como garantir a confidencialidade, integridade e disponibilidade das
informações?
Quais as normas que regulam a segurança de informação? Cite algumas
recomendações gerais da ISO/IEC 17799.
Quais as técnicas de criptografia e decifração?

4.3) Novas tecnologias digitais

Quais são as novas propostas em termos de tecnologia de circuitos eletrônicos de


processamento de dados e armazenamento de informações?
Como funcionam os biossensores ou biocomputadores?
Quais são as evoluções e as pesquisas em robótica e quais as aplicações esperadas
para elas?
Que avanços a IA tem trazido aos sistemas automatizados?
Quais as perspectivas de uso da IA?
4.4) Portabilidade das informações

Como vem evoluindo a capacidade de processamento das máquinas?


Quais as novas tecnologias de armazenamento de informação?
Como integrar sistemas de processamento, lazer e facilidades?
Como transportar informações de forma segura?
Sistemas de back-up: o que há de novo?
Quais são as oportunidades da eletrônica embarcada?
O que se desenvolve hoje em termos de tecnologia para reduzir ainda mais o
tamanho dos sistemas de armazenamento e processamento de dados?

4.5) Nanotecnologia

Quais as aplicações atuais desta tecnologia?


Quais as oportunidades de aplicações futuras da nanotecnologia?
Quais os desenvolvimentos e aplicações de microrrobôs?
Como está evoluindo a tecnologia de micromáquinas e microssistemas?

4.6) Pesquisas de materiais

Que novos materiais estão em teste e em pesquisa no mundo?


Como as evoluções no conhecimento da matéria (aceleradores de partículas,
novos modelos de matéria) vêm afetando o desenvolvimento de novos materiais?
Quais são os novos materiais que a engenharia vem aplicando nos seus produtos?
Quais as propriedades e limitações ao uso de materiais supercondutores?

4.7 – Aplicação de novos materiais

Que aplicações existem para o Grafeno e para materiais supercondutores?


Como andam as aplicações de biomateriais?
Onde estão sendo aplicados aços de alta performance?
Quais as principais aplicações de materiais cerâmicos?
5º bloco: saúde, bem-estar e lazer

A busca pela melhoria da saúde é um desafio constante da sociedade. Aqui aparece


a necessidade de desenvolvimentos em equipamentos, instrumentos e sistemas de
diagnóstico e tratamento de doenças.
Pela natureza destes desafios, os trabalhos de pesquisa, desenvolvimento e
construção de equipamentos na área da saúde vêm demandando da engenharia
trabalhos multidisciplinares. A junção de profissionais de engenharia e de saúde
permitindo a troca de conhecimentos entre as áreas tem sido comum.
Desde conhecimentos nascidos da física quântica – como os utilizados em
aparelhos de tomografia, pet-scan e outros – até técnicas de uso de raio-laser no
tratamento de doenças demandam engenheiros que investigam oportunidades para as
novas e antigas tecnologias.
Muitas são as realizações “engenheiradas” na área médica, entre elas equipamentos
e microssistemas desenvolvidos para minorar ou eliminar incapacidades físicas ou
mentais; aparelhos de “visualização” para deficientes visuais; aparelhos para
movimentação, que vão desde cadeiras automatizadas até exoesqueletos, para os que
são acometidos de doenças neurológicas incapacitantes do pleno movimento;
microcircuitos implantados para permitir movimentos de membros danificados por
acidentes; válvulas artificias para substituir as biológicas naturais do corpo humano,
corações mecânicos, marcapassos e uma infinidade de artefatos têm sido desenvolvidos
com o apoio decisivo da engenharia.
O envelhecimento da população também traz desafios importantes. O relatório da
ONU (2017) estima que a expectativa de vida da população mundial cresça de 71
anos, que foi a média calculada no intervalo dos anos de 2010-15, para 77 anos, no
intervalo dos anos de 2045-50.
No Brasil, em 2050, cerca de 22% da população deverá ter mais do que 65 anos, o
que denota o envelhecimento da população, cujo tempo de vida médio chegará à casa
dos 80 anos para os que nascerão em 2050.
O aumento da expectativa de vida coloca em questão a qualidade de vida que será
oferecida para os idosos. Apesar dos muitos cuidados, o corpo humano, ainda que
capaz de suportar a vida por mais tempo, o fará com uma possível degeneração de
ossos, cartilagens e órgãos vitais, deixando, principalmente, aos especialistas em
engenharia biomédica a busca de soluções. As pessoas viverão mais, mas não
necessariamente com mais qualidade de vida.
Não só a vida longa mas também a necessidade de quebra das rotinas de pesadas
jornadas de trabalho, que as sociedades mais desenvolvidas vêm impondo aos seus
membros, traz a demanda de opções de entretenimento e lazer.
Muitos desafios e oportunidades surgem neste campo para os engenheiros. Novos
brinquedos, máquinas de som e imagem, novas formas de literatura, teatro e cinema de
alta tecnologia, desenvolvimento de jogos eletrônicos, produção de equipamentos de
esporte e lazer, como embarcações, equipamentos de voo de pequeno porte e
equipamentos para jogos (golfe, esgrima, esqui, patinação e outros), campismo,
montanhismo e equipamentos para uso em turismo abrirão espaço para a criatividade
dos engenheiros.
A simplificação e a automação na execução das tarefas do dia a dia, deixando mais
tempo para as atividades de entretenimento e lazer, ou outras do maior interesse de
cada um, vêm também como demanda para os engenheiros. O desenvolvimento de
sistemas de automação e de robôs que executem tarefas cada vez mais complexas fará
parte dos desafios dos engenheiros.
Algumas perguntas que contêm em si desafios para os engenheiros neste tema são:

5.1) Equipamentos médicos

Com o que a engenharia tem contribuído para o desenvolvimento e construção


de equipamentos médicos?
Quais os grandes desafios para a engenharia biomédica?
Quais os equipamentos que a microeletrônica e a microrrobótica têm
disponibilizado para a área médica?
Quais as soluções de engenharia para melhorar diagnósticos e acompanhamento
de enfermos?
Quais são alguns exemplos de trabalhos multidisciplinares executados por
engenheiros e médicos ou engenheiros e outros profissionais, na atualidade?
Quais os materiais com grandes aplicações em construção de próteses?
Quais são as aplicações da nanotecnologia na medicina?

5.2) Engenharia genética

Quais os desenvolvimentos em andamento e os produtos gerados pela engenharia


genética?
Como se pode aplicar a engenharia genética em outras especialidades da
engenharia?

5.3) Automação

O que tem sido feito, com o uso de automação, para simplificar a vida doméstica?
O que vem sendo feito na automação dos transportes?
Qual o “estado da arte” dos sistemas de automação na indústria e nos escritórios?
O que é atual na tecnologia de robôs para fins domésticos?
Cite algumas aplicações para os BOTs.

5.4) Lazer

O que a engenharia tem desenvolvido para agregar alegria à vida?


Quais as grandes obras de engenharia voltadas para o turismo realizadas pela
engenharia?
Quais as oportunidades que podemos identificar, olhando os desejos das pessoas,
na área de lazer?
Quais as soluções de equipamentos, softwares e sistemas que vêm sendo
desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida da sociedade no que diz respeito
ao conforto, diversão e simplificação do cotidiano?

Outros temas

Os blocos de desafios apresentados neste tema 9 estão longe de esgotar os que se


apresentam para os engenheiros. Novas especialidades em engenharia vão surgindo e se
estruturando conforme os objetos de estudo vão exigindo mais conhecimento e
acumulando mais experiências.
Muitos campos acenam com demandas que somente os engenheiros poderão
atender. Com as ações para conquista do espaço, por exemplo, trazendo a necessidade
de tecnologias de novos propulsores, sistemas de captação de energia, de comunicação,
de navegação e mapeamento, muitas demandas aparecerão para a engenharia nas
próximas décadas.
A engenharia biomédica e a engenharia genética têm seus campos de
desenvolvimento e aplicação cada dia mais amplos.
A reorganização das metrópoles e as possibilidades de atividades que as novas
tecnologias trazem vão deixar sempre para os engenheiros a necessidade de inovadoras
e eficazes soluções.

Exercícios de avaliação de conteúdo

9.1) No desenvolvimento do tema 9 foram identificados cinco blocos de desafios:


demografia; meio ambiente; energia; domínio das novas tecnologias; saúde, bem-estar
e lazer. Você consegue identificar mais algum bloco de desafio relevante?
9.2) Liste dois desafios da sociedade que podem ser, em grande parte, superados por
engenheiros que buscam a mesma formação profissional que você.
9.3) Identifique, pesquisando, duas soluções que caminham no sentido de atender
aos desafios identificados no item anterior.
9.4) Tem-se utilizado o termo Indústria 4.0 para descrever a inclusão de sistemas
inteligentes em quase todas os processos ligados à fabricação. Quais tecnologias estão
sendo implementadas nestas indústrias?

Exercícios vivenciais

9.5) Junte-se a outros quatro colegas, de preferência de diferentes modalidades e


especialidades de engenharia, escolha uma “sociedade” qualquer, que pode ser a
brasileira, a de algum Estado, da sua instituição de ensino, de alguma comunidade, da
sua empresa, do seu clube, da sua igreja etc., e identifique um problema existente nesta
sociedade ou uma melhoria possível, que imponha um desafio para os engenheiros.
Proponha um projeto de engenharia para solução deste desafio, que permita melhorar a
qualidade de vida, superar dificuldades, organizar, conscientizar, trazer ganhos de
forma geral para esta Sociedade. Apresente sua ideia por escrito por meio de um
pequeno relatório do qual deverá constar os seguintes tópicos:

1. áreas ou modalidades da engenharia envolvidas no projeto;


2. público-alvo (sociedade enfocada/explicitação da sociedade a ser atendida pelo
projeto);
3. desafio a ser enfrentado: explicitação do desafio identificado com a descrição da
dificuldade, melhoria a ser superada ou introduzida na sociedade considerada;
4. resumo do projeto proposto (resumo da proposta do projeto) em português e
inglês;
5. benefícios econômicos e sociais esperados com a implementação do projeto;
6. bibliografia para consulta ou consultada.

9.6) Apresente, com seu grupo, o projeto proposto no item anterior aos demais
colegas da turma. Um dos alunos do seu grupo deverá ser destacado para, ao final da
apresentação do projeto, descrever os conhecimentos que foram importantes para
concebê-lo e as habilidades que serão importantes para materializá-los. Outros dois
alunos deverão avaliar os impactos políticos, sociais, ambientais, éticos e legais da
implementação do projeto. Outro aluno deverá identificar se algum membro do grupo
exerceu mais liderança durante a elaboração do projeto e identificar que tipo/estilo de
liderança mais se aproxima da forma como o líder do seu grupo conduziu os trabalhos.
Seu grupo é capaz de apresentar o trabalho se comunicando em inglês?
9.7) O projeto apresentado no item anterior pode ser desdobrado no seu Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC)? Faça uma proposta dos itens que poderiam compor o
índice deste seu TCC (exemplo: descrição do sistema a ser projetado; definição do
modelo do sistema; revisão bibliográfica; modelagem matemática do sistema,
construção do protótipo para teste, montagem de laboratório de teste; resultado das
medições; avaliação de custos e benefícios e conclusão).
9.8) Sua empresa de desenvolvimento de produtos recebeu um cliente que deseja
que você desenvolva um sistema com base em IA para monitorar crianças que dormem
sozinhas e fora do quarto dos pais. Deseja-se um sistema que verifique os movimentos
da criança monitorada, identifique quando os movimentos a põem em perigo ou não,
chamando os pais em caso positivo; identifique possíveis ocorrências de surtos de
febre; controle as condições do quarto, como temperatura, iluminação, umidade;
identifique se a criança necessita de cuidados especiais, como alimentação, troca de
fraldas etc. Que ações você tomaria para atender seu cliente? Que softwares e
hardwares você utilizaria para desenvolver o sistema?
9.10) Junte-se a mais três colegas, de preferência de modalidades/especialidades
diferentes da sua e identifique os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS
(Sustainable Development Goals – SDG) da ONU, explicitando brevemente seus
objetivos. Para cada um deles, reflita como a engenharia poderia ajudar na sua
consecução. Quais os impactos sociais e políticos das soluções propostas? Como as
soluções afetariam o sentimento de cidadania dos que delas se beneficiariam?
– 10 –
O engenheiro-ético: visão histórico-filosófica

As questões éticas estão na nossa vida diária

Diariamente nos defrontamos com problemas éticos, mesmo sem percebermos.


Se, por exemplo, vamos a um restaurante e nos cobram uma taxa alta de serviço não
discriminada no cardápio e, apesar de contrariados com o preço cobrado, fazemos
nosso pagamento em dinheiro e recebemos de troco um valor superior ao que
deveríamos receber, o que fazemos?
Podemos adotar diferentes comportamentos: não devolvermos o troco para
compensar o fato de termos sido extorquidos na cobrança da taxa de serviço; podemos
pensar que não é justo recebermos mais do que deveríamos, fazendo a devolução do
troco em excesso; podemos devolver o troco e adicionar um discurso que pretenda
comparar o nosso gesto honesto com o gesto desonesto do restaurante… Enfim, a nossa
decisão vai depender dos nossos valores, da nossa índole e de como a nossa consciência
vai se sentir depois desse ato. A decisão vai depender do nosso caráter, da nossa
formação e, não raro, do comportamento que o nosso grupo social (família e amigos)
tenderia a adotar em tal situação.
Se agimos bem ou mal, é uma resposta que está no escopo da reflexão ética. Qual o
fundamento da nossa decisão? Por que deveríamos agir diferentemente da forma como
agimos? Agimos com liberdade, por próprio discernimento ou pressionados pelas
consequências possíveis de uma ação diferente? Estas reflexões fazem parte da Ética.
Na vida profissional, problemas da mesma natureza ocorrem. Suponhamos que,
casualmente, verificamos que um grande amigo nosso, com quem trabalhamos, fez
uma especificação mais exigente do que a necessária para um determinado sistema a ser
comprado pela empresa, e descobrimos que só um fornecedor será capaz de atender a
tal requisito e que este fornecedor é um parente do nosso amigo. O que devemos fazer?
Avisar ao responsável pelas compras na empresa que a especificação não é necessária,
deixando, assim, o nosso amigo mal? Ignorar o fato, já que não é da nossa
responsabilidade, e deixarmos as coisas seguirem seu curso? Conversar com nosso
amigo, mesmo que isto o deixe constrangido e talvez ofendido com o nosso
comentário? Enfim, nos defrontamos com um problema de natureza ética no exercício
da nossa profissão.
Problemas de natureza ética são vividos por nós cotidianamente. Eles questionam
nosso comportamento social e estão sujeitos a um juízo de valor, podendo nossas ações
em relação a eles serem consideradas “boas”, “más”, “certas” ou “erradas”.

Ética e moral

Quando tomamos decisões de natureza comportamental no dia a dia, nos baseamos


em critérios, princípios ou padrões. Em função desses, nossa decisão será tida como
certa, errada ou podemos ainda entender que o acerto ou erro dela dependerá das
circunstâncias do momento.

Figura 8 – Ética e decisão

Fonte: Autor.

Os comportamentos que adotamos no nosso cotidiano estão, em geral, no escopo


daquilo que chamamos de moral. A moral está vinculada à ação prática e nos guia no
dia a dia. Diferentes épocas e diferentes sociedades têm diferentes morais.
As condutas do comportamento humano podem ser consideradas corretas e boas
em uma época ou em uma sociedade e erradas ou más em outra. Um exemplo de
comportamento cujo julgamento moral se modificou ao longo do tempo – e pode ser
diferente quando comparamos a cultura de sociedades cristãs ocidentais com a de
sociedades muçulmanas orientais – é o uso das roupas femininas para o banho de mar.
Usar biquínis em 1910, em qualquer sociedade, seria moralmente condenado. Seu uso
nas sociedades ocidentais, no século XXI, é considerado normal e dentro da moral.
Nas sociedades mulçumanas mais tradicionais, as mulheres se banham sem expor o
corpo, sendo o uso de uma roupa menor imoral e até passível de punição.
O comportamento tido como correto dependerá, portanto, dos padrões culturais,
dos valores da sociedade e do momento vivido por esta. Cada tempo e cada sociedade
adota sua moral.
O que a moral tem a ver com a ética?
A Ética avalia questões ligadas às morais. Ela tenta responder, por exemplo, se
existem valores que permitam decidir que tipo de comportamento seria correto em
qualquer sociedade, se existem fundamentos para as decisões morais e que tipo de
ambiente ou circunstâncias históricas podem ter levado à adoção dessa ou daquela
moral.
Agir de acordo com a verdade, por exemplo, é um valor considerado ético. Quase
todas as sociedades procuram a verdade; no entanto, podemos, numa situação em que
nos foi confiado um segredo, mentir em razão de um valor que consideremos maior,
como a confiança entre as pessoas, por exemplo. Se agimos bem ou mal, esta é uma
resposta que a ética poderá se propor a buscar.
Respostas éticas não são tão simples e objetivas como as respostas matemáticas.

Entre a matemática ou o mundo da natureza, de um lado, e a vida ética do ser humano, de outro, há uma
diferença substancial ou de essência, enquanto lá vigoram o rigor do raciocínio e a precisão dos conceitos, no
campo da ética o ato de julgar supõe, necessariamente, uma margem irredutível de variações na apreciação
dos atos humanos. (Comparato, 2016, p. 98).

A ética se depara com comportamentos existentes nas diversas sociedades, frutos da


sua história de desenvolvimento e dos valores que foram construídos pelos seus
membros. Dentro destes comportamentos, ou seja, destas morais, a ética procura
determinar a essência dos atos morais, as condições objetivas da realidade de cada
sociedade que justificam os seus atos morais e as condições subjetivas – aquelas
relativas ao caráter das pessoas desta sociedade, que justificam os mesmos atos,
considerando-os no seu tempo e dentro da cultura social onde ocorrem.
Em termos gerais, podemos dizer que “a Ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, a ciência de uma forma
específica de comportamento humano” (Vázquez, 2017, p. 23). Assim, enquanto a
moral se relaciona com fatos e atos humanos, a ética, a partir destes atos objetivos,
busca descobrir, entre outras coisas, seus princípios gerais.
Etimologicamente, ética remonta à palavra grega “ethos”, que poderá ter dois
sentidos: o primeiro, o da maneira de ser de um indivíduo ou o que chamamos de
caráter de um indivíduo; o segundo, dos usos ou costumes vigentes em uma sociedade
ou dos hábitos de um grupo social.
A palavra “moral” tem sido utilizada em sentido similar ao de ética; porém, como
vimos, uma se refere à moral-prática (moral propriamente dita), e a outra, à ética, à
reflexão sobre a moral. Enquanto ética tem etmo (origem da palavra) em caráter, moral
vem da palavra latina “moris”, que quer dizer hábito ou costume. O caráter ético é
vivido em sociedade e é nela, em situações concretas, que ele se manifesta.43
Assim, ética e moral, embora na linguagem cotidiana sejam utilizadas muitas vezes
como sinônimos, têm abrangências distintas. Ética passa a ser, num sentido filosófico,
o estudo das várias morais, buscando verdades maiores sobre o comportamento
correto. Moral passa a ser a prática vigente de um determinado grupo de pessoas ou de
um grupo social e tem um sentido mais restrito.
De certa forma, muitas vezes nos deixamos enganar pelo hábito e pelo uso,
confundindo ética com moral. Uma médica, que me atendeu num momento em que o
Brasil passava por graves problemas de corrupção dos seus mandatários, me disse
durante a consulta que todos os desvios da lei deveriam ser punidos e me fez um
discurso ético durante parte da consulta, falando sobre honestidade e cidadania.
Terminada a consulta, quando eu perguntei quanto deveria pagar à secretária, a
resposta me surpreendeu: “se for com recibo, 300; se for sem recibo, 200”. Minha
médica, que defendia princípios éticos, incorreu num ato que poderíamos qualificar
como não ético: foi desonesta, mas talvez não tenha incorrido num erro moral, uma
vez que pode ser prática comum do seu meio profissional o uso de preços diferentes
para clientes que pedem ou não recibos.
De uso corrente, mas não de sentido estrito, temos nas empresas e nos órgãos de
classe o uso da palavra ética nos chamados “Códigos de Ética”. Estes “Códigos”, sobre
os quais falaremos um pouco mais à frente, são, na verdade, regras e princípios que
devem nortear o comportamento dos empregados de uma empresa ou dos membros de
uma instituição, sobre o que devem – e, portanto, é certo – e o que não devem – e,
portanto, é errado – fazer; sobre a conduta que se deve e a que não se deve ter. São
normas de conduta que não se pautam, necessariamente, em preceitos universais
(éticos) nem mesmo do grupo social, mas, de forma geral, no que se considera
adequado ou não dentro da organização que as adota.
Assim, por exemplo, o código de ética de uma determinada empresa pode definir
que os seus empregados não podem aceitar presentes acima de um determinado valor.
Este valor pode ser R$100, R$1.000, ou outro qualquer aceito e definido pela
organização ou pelo grupo decisor. Não há, de forma objetiva, consenso nesta
definição, mas uma regra “codificada” que define que este será o consenso.
Os códigos de ética são, então, códigos de conduta modelados para determinados
fins ou grupos, retratando as condutas desejadas para as pessoas que compõem a
organização. Em geral, se referenciam aos valores da organização.
A ética, por sua ligação fundamental com o caráter humano, não pode ser
obrigatória, forçada. Tem que ter em conta a liberdade de ação e o livre arbítrio. Um
ato ético é um ato de liberdade. Os atos obrigatórios fazem parte do direito e, muitas
vezes, da moral de um determinado grupo.
Assim, não é imoral receber doações caridosas de uma determinada pessoa ou
empresa, mas não é éticamente correto receber presentes de alguém que espera de nós
vantagens políticas ou pareceres técnicos favoráveis em troca dos presentes. Nesta
situação, por transgredir o código de ética e as leis do país, um engenheiro poderá ser
punido com a cassação da sua licença profissional e mesmo se sujeitar à prisão, sendo o
papel das deliberações normativas (leis, resoluções etc.) definir as punições para cada
caso, além do que deve e não deve ser feito.
A ética, como ato de liberdade, pressupõe a consciência moral. Esta consciência
supera todos os padrões de moralidade que podemos encontrar nas sociedades e
realiza-se inteiramente nos juízos particulares, tendo como pressuposto o livre-arbítrio
na avaliação do valor de cada comportamento. Assim sendo, a ética se apresenta
também como um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral.
Se adotamos um determinado comportamento porque estamos sujeitos a
julgamento ou punição ou porque estamos sendo observados, e não porque nossa
consciência nos leva a ele, este ato não será necessariamente ético. De forma mais
prática, podemos dizer que o que fazemos quando somos livres para agir, quando
estamos na nossa solidão, julgados somente pela nossa consciência, ou seja, agindo de
acordo com o nosso caráter, é o que pode ser julgado eticamente.
A ética, independentemente da dimensão em que se apresenta, social ou individual,
tem como objetivo servir à vida, pois sua razão é o ser humano e seu bem-estar, de
forma a prover a ele a felicidade.

Breve história da ética

Podemos atribuir o nascimento da ética à tentativa de solução, entendimento e


“respostas aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e, em
particular, pelo seu comportamento moral efetivo” (Vázquez, 2017, p. 269). Tais
problemas se dão quando o ser humano passa a viver em sociedade, pois seus atos, sua
conduta, aquilo que diz, defende e valoriza passam a ter impacto na vida dos demais
que partilham com ele a vida social.
A definição de condutas adequadas e inadequadas vai se estabelecendo nas diversas
sociedades, sendo construída historicamente e criando, assim, um conjunto de
princípios, valores ou normas, que podemos chamar de moral. Estes princípios, valores
ou normas podem ser apenas praticados pelo grupo social, sendo conservados e
perpetuados pela tradição, pelos costumes, chamados de consuetudinários, ou podem
fazer parte de um código escrito e objetivamente definido.
Um exemplo do que podemos chamar de “princípios éticos” primitivos são os
provérbios bíblicos. Estes provérbios já espelham uma reflexão sobre a conduta ética e
moral. Assim, provérbios como: “Meu filho, escute a disciplina de seu pai, e não
despreze o ensinamento de sua mãe, porque serão para você uma coroa formosa na
cabeça e um colar no pescoço”,44 já trazem, em si, a ideia de respeito e valorização dos
pais, definindo uma conduta tida como correta.
De forma mais estruturada, a ética aparece na Grécia antiga, especialmente em
Atenas. Os problemas éticos se fazem presentes nas cidades-estado gregas diante do
estabelecimento de uma democracia que, a esta altura, já incluía a participação de
escravizados.
A reflexão sobre o certo e o errado sobre o que se deveria ou não fazer, sobre o que
era de fato o grande objetivo dos seres humanos e como atingi-lo, passou a fazer parte
da reflexão dos pensadores gregos. São notáveis no campo ético os filósofos Sócrates,
seu discípulo Platão e o discípulo deste último, Aristóteles, além dos pensadores das
linhas filosóficas chamadas estoicas e epicuristas, estas duas últimas destacando-se já na
decadência das cidades-estado.
O primeiro movimento intelectual importante na Grécia do século V a.C. foi o dos
chamados sofistas. Sofista significa mestre, sábio. A palavra vem de sofia, ou seja, de
sabedoria, embora desde a época de Platão tenha ganho um sentido pejorativo. O
sofismo reage ao “saber a respeito do mundo porque o considera estéril e se sente
atraído especialmente por um saber a respeito do homem” (Vázquez, 2017, p. 270).
Os sofistas colocavam em dúvida a tradição e a existência de verdades e normas
universalmente válidas. Caíram, desta forma, no relativismo, em que se entende que
tudo é relativo ao sujeito e o “homem é a medida de todas as coisas”, ou no
subjetivismo, em que é impossível sabermos o que existe e o que não existe no mundo
real.
Por certo, este tipo de pensamento teve grande influência no comportamento dos
gregos da época, que passaram a relativizar o certo e o errado e a validar qualquer tipo
de ação, já que as conclusões sobre o que seria verdadeiro ou falso eram baseadas num
mundo “criado” pelo sujeito e, portanto, não real.
Sócrates não concordou com esta filosofia. Como grande fundador da “filosofia”
ocidental, Sócrates (470-399 a.C.) é o primeiro filósofo a olhar de forma mais rigorosa
a ética na antiguidade. Várias escolas que se originaram das suas doutrinas, como as
escolas megárica, platônica, cínica e a cirenaica, defendiam a supremacia do
conhecimento ou da sabedoria como a posse mais importante do homem, sendo o
conhecimento moral o principal.
Sócrates, assim, rejeita o relativismo e o subjetivismo dos sofistas. “[…] o saber
fundamental é o saber a respeito do homem (daí a máxima: ‘conhece-te a ti mesmo’)”
(Vázquez, 2017, p. 271). Para ele, o conhecimento é universalmente válido, e era o
conhecimento moral que deveria guiar a vida prática.
A ética socrática é de fundo racional; baseada em conclusões lógicas. Os elementos
importantes desta moral são a concepção do bem, que era a felicidade da alma e do
bom que é aquilo que é útil para a obtenção da felicidade. A virtude e o vício eram
tidos como conhecimento e ignorância do homem, respectivamente, e, portanto, quem
fazia o mal era porque ignorava o bem, que, como conhecimento, era passível de ser
ensinado.
“Para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçavam estreitamente.
[…] aspirando ao bem, [o homem] sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é
feliz” (Vázquez, 2017, p. 271-72). Do ponto de vista ético, portanto, a busca do
homem é a felicidade, a qual é atingida por aquele que tem ações boas e que aspira ao
bem.
Platão (428/427–348/347 a.C.), sendo discípulo de Sócrates, aderiu à orientação
filosófica do seu mestre, postulando que os homens devem ter, se não conhecimento,
pelo menos opiniões corretas quanto ao bem e ao mal na vida humana, de forma a
cumprirem os seus deveres e resistirem às seduções do medo e dos desejos. A questão
do Bem e da felicidade humana é discutida principalmente nos livros “A República” e
“Fédon”, ambos de autoria atribuída à Platão.
Sendo a polis (a cidade grega) o lugar onde a vida moral se desenvolvia, a ética de
Platão se relaciona intimamente com a política. Sua ética se baseia na sua visão
filosófica, a qual considera que existem dois mundos: o sensível, onde vivem as coisas
mutáveis e passageiras, e o mundo das ideias, onde vivem as coisas permanentes,
eternas, perfeitas e imutáveis. É nesse último mundo que existe a ideia suprema do
Bem. Além disto, importa na sua ética a visão de que a alma humana consta de três
partes: a razão (superior às outras duas), a vontade ou ânimo e o apetite, este último
relacionado às necessidades corporais e, portanto, inferior.
Para Platão, ser sábio, ter Sabedoria, conforme exposto no escrito “A República”, é
saber discernir entre mundo real, onde existem as coisas na sua expressão perfeita
(mundo das idéias), e o mundo em que vivemos, que é uma sombra do mundo real
(Platão, 2019).
É pela razão que a alma se eleva ao mundo das ideias e ali pode conhecer a ideia do
Bem. Para atingir o Bem, a alma precisa se purificar e se libertar da matéria. Para tal,
deve praticar virtudes. As virtudes são em número de quatro, sendo que três delas estão
diretamente relacionadas com as três partes da alma. São elas: a prudência, relacionada
com a razão; a fortaleza ou coragem, relacionada com a vontade ou ânimo; e a
temperança com o apetite. A quarta virtude, a justiça, é a que harmoniza as outras três.
Na ética platônica há o desprezo pelo trabalho físico e pelos que o exercem, não
havendo lugar para os escravos na sua organização do Estado ideal. A estrita relação
entre a moral e a política se reforça na visão de que “o homem se forma espiritualmente
somente no Estado e mediante a subordinação do indivíduo à comunidade” (Vázquez,
2017, p. 273).
Aristóteles (384-322 a.C.), apesar de discípulo de Platão, se opõe à visão platônica
de que existe um mundo sensível, de coisas mutáveis e transitórias, e um mundo das
ideias, ou das coisas imutáveis e permanentes. Para Aristóteles, a ideia só existe unida
aos indivíduos concretos. A mutabilidade das coisas é explicada pelos conceitos de ato
e potência. O que cada homem é atualmente, ser em ato, vai se modificando, porque o
homem, como as demais coisas mutáveis, são potencialmente outras coisas. Assim, a
semente é árvore em potência, ou seja, a semente em ato é árvore em potência. Da
mesma forma é o homem: ele deve realizar com seu esforço o que é em potência para
realizar-se como ser humano.
Nesta visão do homem, algumas perguntas de cunho moral surgem: o que é o
homem em potência? Qual o fim da sua atividade? Para onde tende este homem, hoje
em ato, no seu futuro? A resposta de Aristóteles e que dá sentido às ações humanas é:
felicidade (eudaimonia, em grego).
É, portanto, para a felicidade que o homem tende; é ela que o homem busca nas
suas ações. Para Aristóteles, a felicidade consiste na vida virtuosa, e não nos prazeres,
nas riquezas ou nas honras; consiste na vida teórica e contemplativa guiada pela razão
(Vázquez, 2017, p. 274).
A vida contemplativa, por sua vez, não é dada de graça para o homem. Para ser
vivida, ela necessita que o homem adquira, desenvolva e pratique algumas virtudes.
Aristóteles classifica as virtudes em intelectuais e éticas. As intelectuais se
desenvolvem na parte racional do ser humano (razão), e as éticas, na parte irracional,
canalizando as paixões e apetites para serem operados pela racionalidade. Este é, pois, o
fim da ética: submeter as paixões e os apetites à razão.
Para Aristóteles, ser virtuoso consiste em viver entre o muito e o pouco; viver no
meio. No meio, o ser humano é virtuoso. Assim, por exemplo, não é para ele virtuoso o
que age com absoluta temeridade nem o que age com covardia, mas aquele que
consegue viver no meio termo destas duas formas de comportamento.
Aristóteles considera também que as condições humanas, como os bens materiais, a
saúde e a liberdade pessoal, são fatores importantes para a felicidade, mas não essenciais
para atingi-la.
Assim como Platão, Aristóteles considerava que o ser humano só poderia ser feliz
em sociedade, condição necessária para que tivesse uma vida moral e pudesse, por meio
do exercício ético, atingir a felicidade. “O homem bom (o sábio) deve ser, ao mesmo
tempo, um bom cidadão” (Vázquez, 2017, p. 275).
O conceito de felicidade, como objetivo central da vida humana ética, ultrapassou
Aristóteles. Na antiguidade, a ética passou a ser a busca dos meios de se alcançar a
felicidade, e, neste sentido, estava ligada à conduta e aos sentimentos. As formas de se
alcançar esta felicidade e, portanto, viver de forma ética, eram diferentes para cada
corrente de pensamento.
Para os epicuristas (século IV a.C.), seguidores da escola antiga da Grécia criada
pelo filósofo Epicuro, e para os estoicos (século III a.C.), não há unidade entre a moral
e a política, como acreditavam Platão e Aristóteles. Estas filosofias, que nasceram com
o mundo greco-romano já no caminho de decadência, absorvem este tom das cidades-
estado gregas já desorganizadas.
Para os epicuristas, tudo é formado de átomos, inclusive a alma humana. Não há
intervenção divina nos fenômenos da natureza nem na vida dos seres humanos. A
busca do Bem deve se dar no mundo, no cosmos. Para esta corrente de pensamento, o
Bem é o prazer. Não se trata, porém, de qualquer prazer, e sim dos mais duradores e
estáveis, que não são os prazeres corporais. Os prazeres que contribuem para a paz da
alma são os espirituais.
É retirado do mundo que o ser humano encontra o Bem, retirado da vida social e
das multidões. Sozinho, encontra a si mesmo e consigo a tranquilidade da alma e a
autossuficiência. A moral dos epicuristas carece, assim, de um sentido social.
Encontrando o prazer moderado, o prazer da alma, o ser humano encontra a
felicidade.
O prazer moderado era definido como um estado de tranquilidade e de libertação
da superstição e do medo (ataraxia), assim como à ausência de sofrimento (aponia).
Já os estoicos adotam uma ética fatalista. Para esta importante corrente do
pensamento, o mundo ou o cosmos é o grande ser, sendo este governado por Deus, que
é o seu princípio. O que acontece no mundo é o que Deus quer; não existe para os
estoicos liberdade ou acaso: o homem tem um destino e, agindo como sábio, deve estar
consciente deste destino e agir de acordo com ele, para encontrar a felicidade. A
felicidade consistia, portanto, em viver de acordo com a lei racional da natureza. Para
conseguir tal intento, o homem deveria ter indiferença (apathea) em relação a tudo
que é externo, advogando a necessidade da suspensão das emoções destrutivas para o
encontro da felicidade.
A outra corrente de pensamento, a dos céticos (séculos III e IV a.C.), acreditava
que verdades absolutas não podiam ser alcançadas com a certeza de sua correção, uma
vez que nada podemos saber, pois sempre há razões igualmente fortes para afirmar ou
negar qualquer teoria, além de toda teoria ser indemonstrável (um dos argumentos é
que toda demonstração exige uma demonstração, e assim ad infinitum). Para se
aproximar da felicidade, o humano deve se abster de defender qualquer teoria, pois isto
traz sofrimentos desnecessários e inúteis.
Os sofistas (século V a.C.), mestres em oratória e argumentação, apontaram o
caráter prudencial da justiça como meio de obter prazer e evitar a dor, sendo este o seu
caminho para a virtude e, portanto, para a felicidade.
A ideia de felicidade como objetivo do comportamento correto ou ético perdurou
na Idade Média, porém, sua prática exigia uma atitude religiosa, influenciada
principalmente pelo cristianismo e pelo islamismo. O que é certo ou errado fazer não
se define ante uma comunidade, mas em relação a Deus. Assim, “a essência da
felicidade (a beatitude) é a contemplação de Deus; o amor humano fica subordinado
ao divino; a ordem sobrenatural tem a primazia sobre a ordem natural humana”
(Vázquez, 2017, p. 278).
A visão platônica dos princípios éticos também foi retomada na Idade Média por
meio das quatro virtudes cardeais: a prudência, a fortaleza, a temperança e a justiça. A
prudência (originalmente “sapientia” ou sabedoria) fazia a razão discernir nas situações
sobre o verdadeiro Bem e encontrar os meios para atingi-lo. Era considerada uma
espécie de virtude-mãe, pois indicava o caminho a ser seguido pelas outras virtudes. A
justiça é a virtude que traz a capacidade de se dar aos outros aquilo que lhes é devido. A
fortaleza garante a constância na procura do bem e a firmeza em persegui-lo.
Finalmente, a temperança, ou a moderação, proporciona equilíbrio no uso dos bens e
modera o impulso aos prazeres.
A grande novidade da ética medieval foi a introdução da ideia de igualdade dos
homens perante Deus, porém, “a igualdade é lançada num mundo social em que os
homens conhecem a mais espantosa desigualdade: a divisão entre escravos e homens
livres […] A ética cristã medieval não condena esta desigualdade social e chega inclusive
a justificá-la.” (Vázquez, 2017, p. 278-79). As discussões sobre esta igualdade passam
para o mundo ideal, pois a pregada igualdade só podia se dar no mundo espiritual,
devido às condições sociais da época.
No Renascimento e, principalmente, nos séculos XVII e XVIII, os filósofos
redescobriram os temas éticos da antiguidade. A ética voltou a ser entendida como o
estudo dos meios de se alcançar o bem estar, a felicidade e o bom modo de conviver,
tomando por fundamento, não as tradições religiosas, mas o reto pensamento humano.
Spinoza (1632-67), por exemplo, expõe, em sua obra Ética, que a felicidade consiste
em compreender e criar as circunstâncias que aumentem nossa potência de agir e de
pensar, proporcionando o afeto (o sentimento) de alegria e libertando-nos das
determinações alheias (paixões), isto é, afirmando a necessidade de nossa própria
natureza, por meio do nosso próprio esforço (conatus).
A ética vigente na Idade Moderna tem um caráter antropocêntrico (é centrada no
homem), em contraste com o caráter teocêntrico (centrada em Deus) da ética
medieval. A constituição do Estado moderno, a criação de uma classe burguesa e as
revoluções, notadamente na Holanda, Inglaterra e França, terminam por constituir
uma filosofia dominante que separa a razão da fé, o Estado da Igreja e o homem de
Deus.
Sendo o homem o centro do mundo, dotado de razão e vontade, na vida social ele, e
não Deus, é o legislador nos vários domínios do comportamento humano, inclusive na
moral. O que buscam os pensadores iluministas e os materialistas é a harmonia do
homem com a sua razão natural, aquela que lhe aflora naturalmente. O filósofo Kant
(1724-1804) foi um dos expoentes da filosofia que teve uma preocupação central com
a moral. Para ele, “o homem age por puro respeito ao dever e não obedece outra lei a
não ser a que lhe dita a sua consciência moral” (Vázquez, 2017, p. 284), sendo
legislador de si mesmo.
A ética da Idade Contemporânea é marcada pela descoberta do inconsciente, que
tira do homem a visão de um ser somente racional, tão cara aos iluministas do século
XVII. É marcada também pelos impactos de conflitos sociais, com a implantação de
regimes comunistas em alguns países e, ainda, pelos desenvolvimentos das ciências que
trazem não só os benefícios sociais, mas também a possibilidade de destruição da
humanidade pelo mau uso dessa mesma ciência.
A ética contemporânea se contrapõe também à ética kantiana e ao racionalismo de
Hegel (1770-1831), contrapondo ao ser humano pensado e ideal o ser humano real,
com seus problemas existenciais e seu mundo concreto, de fatos concretos, para ser
vivido; para ser enfrentado. O homem já não se molda tanto pela sua vontade, mas é
moldado, em grande parte, pelo seu meio social. Daí a construção do “indivíduo”, com
a sua subjetividade e a referência ao “homem social”.
Neste cenário, a ética deixa de ser transcendente, de ter verdades absolutas, e passa a
buscar suas origens no homem e nas vivências particulares: “já não se pode falar de
valores, princípios ou normas que possuam objetividade ou universalidade” (Vázquez,
2017, p. 288).
O homem considerado um ser livre, vivendo num mundo onde não existem valores
objetivos (na visão existencialista), criará as normas que vão reger o seu
comportamento. Os valores dos seus atos morais existem, não porque estes indivíduos
seguiram normas, mas porque fizeram uso de sua liberdade para se comportarem como
se comportaram.
Ao lado da visão ética existencialista que privilegia a liberdade e considera o ato
ético um ato de escolha do homem, aparece, guiada por uma filosofia utilitarista,
pragmática, a ideia de que o que é certo é o que é útil e ajuda a viver só, e em sociedade.
O que ajuda a cada um depende da situação vivida e, portanto, há uma relativização do
que é certo em cada situação. O pragmatismo, de forma geral, rejeitando, como as
outras éticas contemporâneas, os valores objetivos e as normas é marcado por uma
visão egoísta da convivência humana: o certo é o que é util para o meu viver.
Embora não haja uma ética psicanalítica, a psicanálise, criada por Freud (1856-
1939) e ampliada e criticada por outros psicanalistas, como Erich Fromm (1900-80),
que introduziu uma visão mais social na psicanálise freudiana, traz grande impacto na
moral.
A visão psicanalítica isenta de julgamento os atos considerados irracionais, frutos
de desejos e impulsos incontroláveis no ser humano. Nesta visão, se considera que “o
ato propriamente moral é aquele no qual o indivíduo age consciente e livremente. Os
atos praticados por uma motivação inconsciente devem ser excluídos do campo moral”
(Vázquez, 2017, p. 292).
O marxismo consolida a visão de uma moral relativa ao enquadrá-la como uma
“superestrutura ideológica” que procura estabelecer comportamentos de acordo com
os interesses das classes dominantes (os capitalistas). Pelo olhar marxista, cada classe
tem sua moral, que, ao final de um processo histórico, tende a se integrar em direção a
uma moral universal, definida pela classe dominante.
Nos nossos dias, o que entendemos por Ética é uma ciência específica que estuda as
morais, sendo definida como o “estudo dos juízos de apreciação que se referem à
conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada sociedade, ou seja de modo absoluto” (Ferreira, 2009).
Sentenças éticas comportam julgamentos, como “os homens devem ser honestos”,
ou “não se deve tentar interferir na criação natural da vida”. Estes e outros julgamentos
são de cunho moral e objetos da análise ética. De forma simples, como já comentado,
podemos dizer que a Ética é a área do conhecimento que se ocupa do estudo das
normas morais nas sociedades humanas.
Como um estudo que ocorre em grupos sociais dentro de determinadas culturas, a
ética busca também explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento
humano, bem como fornecer subsídios para a solução dos dilemas mais comuns destas
sociedades, sempre julgando do ponto de vista do Bem e do Mal.

A importância da ética e da moral

É comum citarmos como uma regra de ouro dentro da ética: “não faça ao próximo
aquilo que não gostaria que fizessem a você”. Com certeza, este princípio é quase
absoluto como diretriz das decisões corretas. O que é correto? Correto é o que é capaz
de gerar uma consciência individual tranquila e um convívio social harmônico.
A ética, de forma geral, se apresenta como a crítica que tenta banir da estrutura
social o que a desagrega, no sentido da confiança mútua de seus membros. Neste
sentido, passa a ser ético aquilo que não abala ou desestrutura a “confiança” social.
Tomemos um exemplo. Quando entramos num avião e nos arriscamos a fazer um
voo de longas horas, em geral, sabemos a empresa à qual a aeronave pertence, mas não
quem a projetou. Entramos no avião, em primeiro lugar, porque já vimos várias
aeronaves voando e imaginamos que a chance de ocorrer um acidente seja pequena.
Contudo, não é só por isto; entramos porque confiamos na empresa que vai nos
transportar. Acreditamos que ela fez as manutenções devidas, que contratou um piloto
habilitado, que vai pousar em aeroportos com pessoas competentes para orientar o
pouso e a decolagem, porque confiamos que os serviços de comunicação vão funcionar
e que o fabricante da aeronave tem experiência na fabricação deste tipo de
equipamento.
A confiança social é um processo remissivo, pois acreditamos que a empresa que
nos transporta foi autorizada pelo governo ou alguma instituição responsável por
emitir tal autorização. Não passa pela nossa cabeça que quem autorizou tal empresa a
funcionar recebeu algum tipo de benefício para conceder a autorização; que os
certificados de manutenção da aeronave são papéis que foram gerados sem que a
manutenção tenha sido feita; não imaginamos que o fabricante da aeronave nunca fez
uma aeronave antes, que o piloto não é qualificado para comandar e que estão nos
usando como cobaia para o teste da aeronave. Se a confiança se perde, as estruturas
sociais se desfazem.
Assim, sem muita análise, mas só para exemplificar, pode-se dizer que agir
honestamente é um comportamento ético, uma vez que todos esperam do outro a
honestidade.
Ressalte-se que não esperamos a honestidade quanto ao ato não ético, mas quanto
ao ato ético. Exemplificando, podemos confessar que sempre que temos oportunidade
de nos beneficiarmos em uma disputa, mesmo que mentindo ou trapaceando, o
faremos. Neste caso, estamos sendo honestos na nossa afirmação e, do ponto de vista
moral, agindo bem, pois o nosso grupo espera de nós a verdade. Do ponto de vista
ético, no entanto, nosso comportamento pode ser questionado, uma vez que mentir e
trapacear não é uma prática de aceitação universal, mesmo que confessemos estes atos.
Por razões análogas de confiança, nos deixamos cortar por um médico durante uma
cirurgia sem conhecermos, muitas vezes, suas habilidades, sem sabermos em que
faculdade ele se formou, acreditando que não o fez colando nas provas ou comprando
seu diploma. Por razões semelhantes, subimos em um prédio sem conhecermos o
engenheiro que o projetou e sem sabermos se recebeu autorização para executar o
projeto. Num exemplo do cotidiano, não daríamos o dinheiro para pagar algo se não
confiássemos que quem vai receber nos entregará o que compramos e nos devolverá o
troco a que temos direito.
Atitudes antiéticas são aquelas que destroem a confiança, confiança esta que
mantém a sociedade funcionando. Um auditor que se deixa subornar, age de forma
antiética; um político que, em lugar de cuidar do bem geral, se elege para cuidar dos
interesses de uma de suas empresas, não age de forma ética; um médico, um engenheiro
ou qualquer profissional que trabalhe numa área para a qual não tenha competência
socialmente reconhecida, buscando obter vantagens pessoais, age de forma não só
ilegal, mas também de forma antiética.
Portanto, a ética cuida, entre outras coisas, da manutenção das boas relações de
respeito, honestidade, cordialidade e solidariedade, como também da manutenção da
confiança nas instituições sociais.

Ética, direito e religião

Embora morando em cidades vizinhas e, muitas vezes, com domicílio comum,


ética, direito e religião têm domínios próprios.
Se formos olhar o nascimento da moral no mundo antigo, o veremos muitas vezes
ligado à religião.
Com o advento da religião monoteísta na Pérsia, por volta do século X a.C.,
monoteísmo herdado pelas religiões ditas abrahânicas, ou seja, o judaísmo, o
cristianismo e o islamismo, a mundaneidade dos deuses mitológicos, julgadores dos
homens no modelo das paixões e das casualidades humanas, ganha uma nova
dimensão, vendo reduzida sua importância como orientador das ações humanas.
“A originalidade ética do monoteísmo consistiu em introduzir um critério absoluto
e inflexível para o julgamento das ações humanas” (Comparato, 2016, p. 68), passando
Deus a ser a única fonte legítima de direito e justiça. A Torá, por exemplo, livro
sagrado dos judeus, passou a ser, para este povo, uma lei e um código de ética universal.
Com o monoteísmo, os primeiros grandes padrões de conduta individual foram
estabelecidos, sendo este um grande avanço em termos de ética e de direito. O
Decálogo45 representou um grande marco nesta evolução. As sentenças como “honra
teu pai e tua mãe”, “não matarás”, “não cometerás adultério”, “não furtarás”, “não darás
falso testemunho”, entre outras, indicavam caminhos a serem seguidos, definiam
normas de conduta, deixando à mostra algumas punições às quais estariam sujeitos os
que as descumprissem.
Não menos importante foi a Lei de Talião, que estabelecia regras punitivas para os
que as infringissem e causassem danos à sociedade, lei esta anterior ao Decálogo dos
judeus.
Com o passar do tempo e como resultado da construção de um pensamento
racional dominante, a moral, a religião e o direito foram se separando, sem nunca
deixarem de mostrar sua origem comum.
A religião passou a ter punições e sanções num mundo sobrenatural que emanavam
de um Deus que tudo vê e que premia ou pune de acordo com a sua justiça, e os seus
reflexos na vida podem se fazer presentes. As assertivas religiosas não estão sujeitas a
critérios racionais, mas emanam da fé e são originadas nas revelações que Deus fez a
alguns homens iluminados.
O direito, por sua vez, passou a ser domínio do Estado, sendo mais sistematizado
nos séculos XVIII e XIX. A criação de um sistema jurídico no qual todos os indivíduos
são submetidos a um conjunto de leis passou a permear o comportamento social. Estas
leis podem ser escritas ou consolidadas pela tradição (consuetudinárias), e todos devem
segui-las para viverem livremente em sociedade.
O direito se tornou independente da religião (principalmente após as revoluções
francesa e inglesa). “Erros” cometidos pelos desvios à conduta julgada legal ou correta
eram julgados por certos representantes das sociedades, na figura de juízes, tribunais e
juris populares. Os desvios jurídicos eram punidos pela sociedade, e não por Deus, do
qual não se excluía o direito de punir num plano espiritual.
Finalmente, a ética, como ciência da moral, encontrou seu campo de atuação nas
relações sociais que muitas vezes coincidem com o religioso e o legal. A ausência de
ética nas relações sociais obscurece as relações entre os seres humanos que pretendem
conviver num ambiente de confiança e solidariedade, em paz com suas consciências e
em cordialidade com seus pares, sendo felizes e pródigos no convívio social e no seu
bem-estar individual.
Se a religião se impõe pela fé, e a justiça pela razão, a ética se impõe pelo respeito;
pela simples percepção de que o outro sente e vivencia o cotidiano como nós o
vivenciamos, deixando subjacente a máxima de não fazer ao outro o que não desejamos
para nós.
A religião pune com o castigo da perda da felicidade eterna; o direito pune com a
pena da perda da liberdade de escolha e do direito de ir e vir. A ética pune com a perda
da tranquilidade da consciência e da firmeza do caráter daquele que procede de forma
antiética.
Os três campos da vida social – o religioso, o legal e o ético – não se distanciam e
algumas vezes se misturam. Assim, por exemplo, tirar de outrem o que lhe pertence
pode ser um ato pecaminoso, ilegal e não ético. Cada punição pode ocorrer no seu
campo, de forma independente ou não. O pecado, a ilegalidade e a imoralidade terão
seus próprios juízes: um Deus justo, uma sociedade que se pauta pela justiça e uma
consciência atormentada.
De forma geral, sentenças do campo moral são aquelas que trazem em si um
julgamento de valor, buscando distinguir o que é bom ou mau, certo ou errado, moral
ou imoral.
Exemplos de assertivas morais, que podem ser analisadas pela ética, são:

“Salomão é uma boa pessoa”;


“As pessoas não devem roubar”;
“A honestidade é uma virtude”.

Em contraste, uma frase sem conteúdo moral é uma sentença que não se presta a
uma avaliação moral. Exemplo:

“Salomão é uma pessoa alta”;


“As pessoas se deslocam nas ruas”;
“João é o chefe”.

Muitas sentenças ou atos, entretanto, não têm caráter exclusivamente moral,


podendo ter também sentido legal ou religioso, sendo, portanto, objeto de estudo de
mais de uma área de conhecimento, e não exclusivamente da ética.
Assim, por exemplo, um aluno colar na prova pode ser visto como um ato imoral e
sujeito à punição ética. O princípio ético da confiança pode ser abalado por este ato.
Tal ação poderá ser punida pela instituição de ensino, mas não será, a princípio, objeto
de punição legal por parte do Estado. Diga-se também que não se imagina que este ato
seja capaz de levar o aluno para o inferno. Colar na prova é um ato, a princípio,
antiético. Já assinar a lista de presença para um colega pode se constituir num ato
imoral e ilegal, uma vez que se assume a identidade de outro.
Na vida profissional, questões éticas estão presentes com frequência. Aceitar
favores de pessoas que querem influenciar as nossas decisões é um ato não
recomendável por deixar implícita a troca de favores. Tal ato tem punição prevista no
código de ética do CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (2014).
Denunciar um profissional da mesma área de trabalho que a nossa pode se constituir
num ato moral ou num ato de vingança, conforme a intenção subjacente ao ato.
Exercer a profissão sem ter formação adequada para fazê-lo, sem ter uma
habilitação reconhecida socialmente, é além de um ato imoral, um ato ilegal. Atos
singelos como aprovar um projeto ou assumir a responsabilidade técnica por um
trabalho que não se conhece pode se constituir num ato eticamente condenável e
ilegal.
A vida social, em geral, é, repleta de atos sujeitos ao julgamento moral e, portanto,
passíveis de uma reflexão ética. Nem sempre a democracia será ética, na medida em que
pode defender interesses que contrariem o bem-estar comum em favor de minorias
mais poderosas. O autoritarismo dificilmente edificará um comportamento social
ético, na medida em que tira do indivíduo a liberdade de escolha, necessária para que
uma decisão seja ética.
Em uma sociedade monogâmica, por exemplo, ter mais de um relacionamento
afetivo pode se constituir numa atitude imoral, por ir contra as regras tradicionais, mas
pode representar um ato ético, se for aceito e claro para todos os envolvidos. Neste
caso, não se pode falar em traição ou ato antiético, uma vez que o princípio da
confiança foi mantido, e a liberdade de escolha, preservada.
Andar com o carro no acostamento para vencer um engarrafamento, jogar lixo na
rua, perturbar a paz alheia com equipamentos sonoros em alto volume são exemplos de
atos imorais e, muitas vezes, sujeitos a punições legais. Por abalarem o respeito e a
confiança, podem ser considerados não éticos.
O ato religioso é punido com sofrimentos ou lições de vida que devem levar à sua
correção ou compensação. O ato ilegal é punido pela sociedade com a perda da vida e,
em casos mais brandos, com sofrimentos corporais e a perda da liberdade. Atos
antiéticos são punidos com o desprezo social, com a repulsa da sociedade e, não raro,
com a perda do respeito e da confiança em quem os pratica.

Ética nas empresas e instituições

As empresas e as instituições, em geral, têm seus códigos de conduta para nortear o


comportamento de seus empregados e membros. Os chamados “códigos de ética” são,
na sua essência, normas de conduta que tentam definir o que é permitido e o que não é,
o que pode e o que não pode ser feito, por aqueles que pertencem e querem continuar
pertencendo aos quadros da empresa ou instituição.
A chamada “ética empresarial” se fundamenta em valores que são definidos como
válidos e importantes para as organizações. O objetivo dessa ética é assegurar para as
empresas sua sobrevivência, reputação, funcionamento harmônico, o clima de convívio
adequado entre os seus membros e, consequentemente, bons resultados. Sua expressão
é, em geral, feita por meio dos códigos de ética das organizações. Estes espelham os
valores éticos da organização, auxiliando gerentes e funcionários a tomarem decisões.
Desta forma, orientam o desempenho das organizações em suas ações e no seu
relacionamento com seu diversificado público composto por clientes, empregados,
acionistas, comunidade, entre outros. Para atender a este propósito, faz-se necessário
que o código tenha clareza e objetividade, facilitando a sua compreensão pela sua força
de trabalho.
A existência de um código de ética na empresa é um fator de sucesso empresarial.
Este dependerá muito do comprometimento de cada colaborador com o código, o qual
permitirá o alinhamento dessa força de trabalho com os valores, os objetivos, as metas e
os projetos empresariais.

A engenharia e os códigos de ética

Instituições de ensino, organizações e entidades de classe onde atuam os


engenheiros têm, usualmente, seus códigos de ética.
A Universidade de São Paulo, por exemplo, explicita no seu site, o próprio código
de ética como um valor, deixando claro que: “Todos os estudantes da Universidade de
São Paulo (USP) são responsáveis por conhecer e aderir às disposições do Código de
Ética da USP e do Regime Disciplinar aplicável a discentes” (Universidade de São
Paulo, 2018). Das violações previstas nas suas disposições estão incluídas, entre outras
coisas, a fraude à avaliação de desempenho, o plágio, a desonestidade acadêmica, a
fabricação de dados, a mentira, o suborno e o comportamento ameaçador.
O Preâmbulo do Código de Ética da USP deixa claro seu objetivo: “Um Código de
Ética destinado a nortear as relações humanas no interior de uma universidade […]”
(Universidade de São Paulo, 2012).
O MIT (Massachusetts Institute of Technology), como outro exemplo, explicita o
valor da integridade e da honestidade de seus alunos, dando orientações de
procedimentos e recomendações para evitar ações desonestas (Massachusetts Institute
of Technology, 2018).
O IEEE, Institute of Electrical and Electronics Engineers, dos Estados Unidos, tem
em seu site seu código de ética, resumido a seguir:

Nós, membros do IEEE, em reconhecimento à importância do efeito de nossas tecnologias na qualidade de


vida por todo o mundo, e aceitando uma obrigação pessoal para nossa profissão, seus membros e as
comunidades às quais servimos, submetemo-nos à conduta mais ética e profissional e concordamos:
Em aceitar a responsabilidade de fazer as decisões na Engenharia consistentes com a segurança, saúde e bem-
estar do público, e rejeitar de imediato e tornar conhecidos fatores que possam colocar o meio ambiente e o
público em risco;
Em evitar conflitos reais ou prováveis de interesses sempre que possível, e fazê-los de conhecimento das partes
envolvidas, quando existirem;
Em ser honestos e realistas quando relatando pedidos ou estimativas baseadas em dados existentes;
Em rejeitar suborno sob todas as suas formas;
Em promover o entendimento da tecnologia, suas aplicações apropriadas e consequências potenciais;
Em manter e desenvolver nossa competência técnica e assumir tarefas tecnológicas para outros somente se
qualificados por treinamento ou experiência, ou após tornar claras as limitações pertinentes;
Em buscar, aceitar e oferecer críticas honestas a trabalhos técnicos, em reconhecer e corrigir erros e em dar
crédito apropriado a colaboradores e outros;
Em tratar com justiça todas as pessoas independentemente de sua raça, credo, religião, condição física, idade
ou nacionalidade;
Em evitar danos a outros, sua propriedade, reputação ou emprego por meio de ação maliciosa ou falsa;
Em assistir os colegas em seu desenvolvimento profissional e suportá-los no cumprimento deste código de
ética. (Institute Electrical and Electronics Engineers, [200..?], tradução nossa).
No Brasil, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), atuando por meio de seus
Conselhos Regionais (CREA), elaborou o Código de Ética do CONFEA (2014), no qual se explicitam as
condutas que devem ser seguidas pelos profissionais de engenharia.

Em seu Preâmbulo, explicita o seu objetivo de enunciar os fundamentos e as


condutas consideradas éticas.
O artigo 6º do Código estabelece os valores da profissão:

Art. 6º - O objetivo das profissões e a ação dos profissionais volta-se para o bem-estar e o desenvolvimento do
homem, em seu ambiente e em suas diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade,
nação e humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura. (CONFEA, 2014).

O artigo 8º do Código de Ética do CONFEA estabelece os princípios éticos que,


em resumo, deixam claro ser a profissão um bem social, cultural e alto título de honra,
obrigando quem a exerce a preservar, desenvolver harmonicamente o ser humano, seu
meio ambiente e seus valores, e atuando com conduta honesta, digna e cidadã a serviço
da melhoria da qualidade de vida do homem.
Como profissional, o engenheiro tem deveres explicitados no artigo 9º do Código:

Art. 9º - No exercício da profissão são deveres do profissional:


I - ante o ser humano e a seus valores:
a. oferecer seu saber para o bem da humanidade;
b. harmonizar os interesses pessoais aos coletivos;
c. contribuir para a preservação da incolumidade pública;
d. divulgar os conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos inerentes à profissão;
O artigo 10 explicita condutas vedadas:

a. descumprir voluntária e injustificadamente com os deveres do ofício;


b. usar de privilégio profissional ou faculdade decorrente de função de forma abusiva, para fins
discriminatórios ou para auferir vantagens pessoais;
c. prestar de má-fé orientação, proposta, prescrição técnica ou qualquer ato profissional que possa resultar em
danos às pessoas ou a seus bens patrimoniais;

Ainda é vedado aos engenheiros:

a. aceitar trabalho, contrato, emprego, função ou tarefa para os quais não tenha efetiva qualificação;
b. utilizar indevida ou abusivamente do privilégio de exclusividade de direito profissional;
c. omitir ou ocultar fato de seu conhecimento que transgrida à ética profissional;

Além destas proposições, o Código de Ética do CONFEA (2014) estabelece


condutas vedadas com os clientes, empregados e colaboradores, definindo ainda o que
é uma infração ética e indicando punições para comportamentos não éticos.

Ética em áreas relacionadas

Na robótica, a principal lei ética é: “Um robô jamais deve ser projetado para
machucar pessoas ou lhes fazer mal”.
Na biologia, um assunto que é bastante polêmico é a clonagem. Uma parte dos que
opinam sobre o tema considera que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser
usada, com seu devido controle, em animais e plantas para estudos biológicos, nunca
para clonar seres humanos.
Na Programação, nunca se deve criar programas (softwares) para prejudicar as
pessoas, como, por exemplo, para roubar ou espionar.
Na Internet, existe o que se pode chamar de “liberdade de expressão”, o que
possibilita a inserção de informações falsas na rede, trazendo desconfiança no uso das
informações. A ética dos usuários consiste, no mínimo, em não inserir dados falsos; se
possível, colaborar para a melhoria das informações, não buscar invadir dados alheios,
não criar e-mails falsos, não fazer comércio ilegal, não difamar pessoas e não fazer
apologia a crimes, atos ilícitos e pornografia.
Exercícios de avaliação de conteúdo

10.1) Qual a diferença entre ética e moral?


10.2) Na Grécia antiga, a ética estava relacionada com a felicidade. Na sua opinião,
com o que se relaciona a ética nos nossos dias?
10.3) O que muda da ética Antiga para a ética da Idade Média?
10.4) O que significa uma “moral relativa”?
10.5) Qual a importância da ética para as sociedades contemporâneas? Cite alguns
valores que podemos ligar à ética.
10.6) O que diferencia a ética, da religião e do direito?
10.7) O que é o código de ética de uma empresa?
10.8) Sua instituição de ensino tem um código de ética escrito ou consuetudinário?
Explicite alguma “frase” com sentido ético deste código.

Exercícios vivenciais

10.9) Junte-se a um colega e imaginem que vocês são diretores de uma empresa e
que vão definir diretrizes para um grupo de trabalho elaborar o código de ética da
empresa. Que valores vocês definiriam para o grupo, de forma a dar a ele uma diretriz?
10.10) Durante a execução de um serviço para terceiros, o CREA verificou que o
engenheiro responsável não tinha emitido a ART (Anotação de Responsabilidade
Técnica) para a execução do serviço. Notificado, o engenheiro alegou desconhecer tal
obrigação. O fiscal do CREA respondeu que a ART era obrigatória e que o engenheiro
deveria saber que, pelo Código de Ética do CONFEA, todo engenheiro é obrigado a
conhecer os seus deveres. Identifique, no código de Ética do CONFEA, a qual artigo,
parágrafo e alínea o fiscal se referia. Se tiver dúvidas sobre a ART, leia o tema 14.
10.11) No seu grupo de trabalho, verificou-se que alguns participantes se distraem,
interagindo nas redes sociais durante as discussões, que alguns conversam e fazem
piadas sobre temas gerais e não colaboram com o grupo no seu objetivo. De forma a
balizar o comportamento do grupo, você decide propor um código de ética. Que
valores (morais ou materiais) você consideraria para a elaboração deste código? Escreva
cinco assertivas que constariam dele.
10.12) Escreva um resumido código de ética que estabeleça os direitos e deveres de
alguém (a sua escolha) que se relaciona profissionalmente, ou socialmente, ou
afetivamente com você, de forma a definir comportamentos adequados e inadequados
neste relacionamento.
– 11 –
O engenheiro-administrador

Administrar é uma atividade da vida

Desde os mais remotos períodos da existência humana, o ser humano pratica a


administração dos seus recursos.
A atividade de caça executada pelos homens primitivos, por exemplo, exigia
planejamento, organização, divisão de tarefas e execução acertada. Caçar um animal e
consumi-lo não é um ato tão intuitivo quanto pode parecer numa primeira avaliação.
Tendo a caça como um meio de sobrevivência, as atividades a ela ligadas tinham, no
mínimo, que ser planejadas, ainda que de forma rústica. Quando e onde caçar, quais as
tarefas de cada um dos membros do grupo de caçadores, como dividir a caça, onde
guardar o que sobrava e outras tarefas típicas que caberiam num processo de
administração moderno. Quando se deixava algo para comer no próximo momento de
fome, quando se dividia a presa entre os caçadores ou quando se definia que parte se ia
comer primeiro, se estava administrando.
Nas nossas atividades diárias, o processo de administração se faz necessário.
Imaginemos que vamos viajar e planejamos gastar alguns dólares na nossa viagem.
As necessidades de gastos podem, no entanto, ser maiores ou menores do que as
planejadas, dando margem a desvios nos gastos executados em relação aos planejados.
A avaliação do desvio entre o que planejamos e o que executamos exige o controle das
ações. Podemos chamar esta atividade de controle da execução planejada. O
planejamento e o controle são atividades executadas por administradores. Se além do
simples controle se procura saber por que houve desvio entre o que se planejou e o que
se executou e se tomam ações para corrigir os desvios identificados, estamos fazendo
mais uma atividade de administração: atuar para melhorar o processo. Melhorar o
processo de fazer exige que se avalie os resultados e se replaneje, para evitar erros
futuros.
Assim, planejar, controlar e atuar de forma corretiva em relação aos desvios entre o
planejado e o executado são atividades do processo de administração.
Cumprimos as etapas de planejamento, execução, controle e correção dos desvios
em muitas tarefas da nossa vida diária.
Quando fazemos uma agenda diária, quando planejamos nossos gastos, quando
planejamos uma viagem e verificamos os desvios entre o planejado e o executado,
atuando para não cometermos os mesmos erros nos próximos planejamentos, estamos
fazendo a administração de atividades cotidianas.
Administramos nosso tempo, nossos gastos, nossos relacionamentos e nossos
projetos de vida e, em particular, nossos projetos profissionais, como parte desses
projetos de vida.

O que é administração nas organizações?

Nas organizações, os termos administração, ou gestão, ou gerência são tratados


como sinônimos e aparecem ligados a diferentes atividades, como administração ou
gestão de pessoas ou de recursos humanos, administração ou gestão financeira,
administração ou gestão de projetos, administração ou gestão de processos,
administração ou gestão comercial, entre outras.
Em linhas gerais, a administração das empresas envolve o gerenciamento ou a
gestão de processos, atividades e recursos, que as levarão a atingir seus objetivos com os
menores custos e tempos; podemos dizer, de forma eficiente e eficaz. Dentro de uma
organização, a administração ou gestão significa “cuidar” dos recursos financeiros,
humanos e materiais desta organização.
O administrador realiza seus objetivos por meio de outros. De uma forma geral,
podemos dizer que administrar uma organização é “trabalhar com e por meio de outras
pessoas e grupos para alcançar objetivos organizacionais” (Hersey e Blanchard, 1982, p.
4).
Podemos identificar algumas atividades no processo de administração ou gestão: a
de planejamento; a de comunicação do que foi planejado, em geral, para uma equipe
que vai executá-lo; a de controle ou acompanhamento da execução, para verificar se o
planejado está sendo atendido; a de coordenação e organização macro dos processos de
execução; e a de liderança no processo de melhoria daquilo que é gerido. Vejamos essas
atividades um pouco mais detalhadamente.
O que se planeja? Planejam-se recursos humanos necessários, recursos financeiros,
prazos, estratégias, reuniões, metas a serem alcançadas e objetivos pessoais (no caso de
uma gestão pessoal) ou objetivos empresariais (no caso de empresas), entre outros.
Estes têm como orientadores as metas e os objetivos a serem alcançados. Assim, se
queremos terminar um determinado projeto em cem dias, planejamos as atividades,
mais ou menos detalhadamente, para executá-las neste prazo.
De uma forma geral, o administrador não executa atividades operacionais, voltadas
à produção. A execução, usualmente, não cabe àquele que é responsável pela gestão.
Então, o que faz o “gestor”? Comunica a quem deve realizar o planejado ou a quem é
responsável por acompanhar o planejamento o que deve ser realizado e a forma como
foi planejado. Assim, se o gestor quer que a área de Recursos Humanos de sua empresa
contrate cinco engenheiros em um mês, isso deve ser comunicado ao responsável pelo
processo de contratação.
Embora o gestor possa planejar tarefas para sua própria execução, em geral, sua
atividade não é executiva, e sim de administração, ou seja, neste caso, de
acompanhamento do que está planejado.
A atividade de controle do que foi executado é importante para a gestão. Não se faz
gestão sem controle. Nessa atividade, o que se faz é verificar se o que planejamos fazer
foi feito, se as metas definidas no planejamento foram alcançadas, se os custos que
estimamos foram de fato realizados na medida planejada, enfim, a etapa de controle
compara o realizado com o que foi planejado. Dela é que resulta um plano de ação para
melhorar ou corrigir os desvios entre o planejado e o executado, entrando-se na etapa
de ações de melhoria.
Esta etapa exige crítica do que foi feito. Por que não se realizou o que se planejou?
As respostas devem ser levadas em consideração para se fazer um replanejamento ou
para melhorar as formas de execução. Assim, se planejarmos realizar uma obra em
noventa dias e, ao final deste prazo, quando fizermos o controle do processo,
verificarmos que as tarefas não foram concluídas, é preciso avaliar o motivo. Uma das
razões, por exemplo, pode ser a demora na obtenção de licença para implementar um
determinado projeto. Essa demora deve ser considerada nos próximos planejamentos,
de forma a dar a ele mais adequação à realidade. As ações que devemos tomar para
melhoria dos processos, atividades e utilização dos recursos geram um Plano de Ação.
É importante frisar que os planos de ação elaborados ou revisados devem ser baseados
em dados efetivamente realizados.
Para direcionar os esforços do administrador, os objetivos da organização devem ser
claros e, quando possível, traduzidos em metas a serem atingidas. Tais objetivos podem
ser apresentados de diferentes formas: como metas de vendas, prazos de realização de
projetos e redução de custos empresariais, entre outros.
O que fazemos nas empresas pode ser feito na nossa vida pessoal. Podemos definir
objetivos e metas para nossa vida particular e prazos para atingi-los. Por exemplo, com
o objetivo de nos capitalizarmos, podemos ter como meta comprar um imóvel em
cinco anos; de forma a nos capacitarmos, nosso objetivo pode ser a realização de um
curso e, como meta, obtermos o diploma de mestrado em dois anos. Uma
administração da vida pessoal exige objetivos e metas voltados para a pessoa que
planeja.
Numa empresa, o administrador deve providenciar a identificação dos processos e
das atividades por ela executados antes de qualquer atividade administrativa. Suas
responsabilidades vão além das anteriormente descritas. Assim, por exemplo, como ele
alcança resultados por intermédio da sua equipe, deve cuidar da capacitação e da
manutenção do ânimo do grupo.

Teoria Geral da Administração (TGA): breve história e princípios

A Teoria Geral da Administração (TGA) busca sistematizar, organizar e classificar


os ensinamentos e práticas construídas ao longo da história por aqueles que se
propuseram a buscar formas de tornar mais eficiente, eficaz, sustentável e estimulante
os processos necessários para que as organizações atinjam seus objetivos. Em outras
palavras, a TGA busca estudar, de forma a permitir a passagem de conhecimento, os
princípios, as práticas, os conceitos e as técnicas das várias escolas de administração que
surgiram ao longo do tempo.
Embora seja comum datar o aparecimento da atividade da administração no início
do século XX, a atividade de fato é mais antiga. Apesar de não ter sido, desde seu início,
sistematizada de uma forma mais científica, a administração existe desde os primórdios
das civilizações.
As estruturas da Igreja, por exemplo, desde o começo da Idade Média já se
moldavam de forma hierárquica; na verdade, desde os primeiros cristãos, a estrutura de
mando e decisão já estava embrionariamente estruturada no que viria a se tornar a
Igreja dos primeiros séculos depois de Cristo. De forma similar, a organização político-
militar dos exércitos romanos tinha uma estrutura hierárquica e as suas normas de
organização, ainda que não estivessem todas escritas.
Se na atividade religiosa e militar já se podia identificar estruturas organizacionais e,
portanto, funções administrativas de decisão e organização, o que não dizer das
grandes construções que caracterizaram o que podemos entender (embora sem essa
denominação à época) como engenharia da antiguidade?
Como construir as grandes pirâmides, os canais, as antigas embarcações e os
monumentos antigos sem pensarmos em construtores que planejavam, estabeleciam
logísticas de suprimento de material e organizavam a mão de obra necessária para a
execução das obras? Não seria exagero imaginar que tivemos engenheiros-
administradores, como o famoso egípcio Imhotep, que, por volta de 2980 a.C.,
construiu a pirâmide de Sakkara (Holtzapple e Reece, 2014, p. 9).
De forma mais precisa, pode-se dizer que o desenvolvimento de Teorias
Administrativas resultou da busca pela eficiência nos processos produtivos
desenvolvidos na indústria fabril.
Com o advento da Revolução Industrial, houve a transformação das pequenas
oficinas de artesãos em fábricas densamente ocupadas. Essa transformação exigiu a
organização e a adoção de procedimentos de execução e, com isso, houve o
aparecimento da atividade administrativa de forma incipiente.
A reflexão sobre as práticas e as teorias de administração gerou as chamadas escolas
teóricas de administração, que formam um conjunto de princípios e práticas de gestão.
As escolas mais importantes, com as datas marco de sua difusão e prevalência, são
(Chiavenato, 2013, p. 10): Administração Científica (1903); Burocrática (1909);
Clássica (1916); Relações Humanas (1932); Estruturalista (1947); Teoria dos
Sistemas (1951); Abordagem Sociotécnica (1953); Neoclássica (1954);
Comportamental (1957); Desenvolvimento Organizacional (1962); Teoria da
Contingência (1972); Abordagens Modernas (1990); Responsabilidade Social e
Sustentabilidade (2005).
Cada uma dessas escolas tem bases teóricas particulares e privilegia alguns aspectos
da administração. Dependendo do tipo de organização, a aplicação das teorias de uma
escola em detrimento de outra pode ser mais efetiva para a obtenção de melhores
resultados.
A chamada teoria da administração, com a busca da racionalidade e da
sistematização dos processos produtivos e das organizações, em que se tem
estabelecidos princípios para nortear o trabalho de gestão, data do início do século XX.
As duas primeiras décadas do século XX foram marcadas pela produção de
trabalhos voltados à administração. Dois nomes se destacam nesta fase: o de Frederick
Taylor (1865-1915), que é considerado o fundador da chamada Escola de
Administração Científica; e o nome de Henri Fayol (1841-1925), que deu forma à
chamada Teoria Clássica da Administração.
Taylor era um engenheiro, que, como tal, se preocupava com a melhoria dos
processos produtivos. Seu primeiro trabalho no campo da administração foi o livro
Shop Management, publicado em 1903, em que buscava a racionalização do trabalho
dos operários. A consolidação de suas teorias resultou no livro publicado em 1911,
Princípios da Administração Científica (The Principles of Scientific Management).
Vários outros engenheiros (Chiavenato, 2013, p. 35) desenvolveram, sob a
inspiração de Taylor, trabalhos que findaram por dar forma a uma “engenharia
industrial”. Destaca-se como seguidor da Escola de Administração Científica a figura
de Henry Ford (1863-1947), patrono dos automóveis e fundador da empresa Ford.
A ênfase da Escola Científica era a elevação do nível de produtividade por meio do
aumento da eficiência de trabalho dos operários. Seu foco era nas tarefas desenvolvidas
durante a produção: como desenvolvê-las em menor tempo? Como dividi-las para
aumentar a produtividade? Estas eram perguntas que as Escolas Científica e Clássica
tentavam responder e que, até hoje, fazem parte das perguntas das empresas que
trabalham em produção de bens.
O resultado dos trabalhos de Taylor foi a chamada Organização Racional do
Trabalho, na qual havia forte enfoque no estudo de tempos e movimentos das
operações ou tarefas executadas pelos operários. A especialização dos operários em
determinadas tarefas e a normatização de como as tarefas deveriam ser executadas
foram consequências naturais dessa ênfase.
Dentro da visão da Administração Científica, “toda pessoa é influenciada
exclusivamente por recompensas salariais, econômicas e materiais. Em outros termos, o
homem trabalha para ganhar a vida por meio do salário que o seu trabalho
proporciona” (Chiavenato, 2013, p. 45). Apesar dessa visão, a Escola Científica, de
forma geral, entendia que a produtividade dependia também das condições de trabalho
e da redução da fadiga do trabalhador.
Para o administrador, seja ele um engenheiro ou não, a escola científica deixou
quatro preceitos (Chiavenato, 2013, p. 45):

planejar, ou seja, substituir a improvisação e o critério individual ao executar as


tarefas por atividades planejadas, com um método de trabalho definido;
preparar operários, qualificando-os para as tarefas que devem ser executadas, bem
como selecionar máquinas e equipamentos, dispondo-os de forma conveniente à
melhor execução do trabalho;
controlar as atividades para se certificar de que estão sendo executadas conforme
planejadas;
executar, por meio da distribuição clara de atribuições e responsabilidades para a
execução de cada tarefa.

Henry Ford, criador da Ford Motor Company, em 1903, foi um dos que praticou os
princípios da Escola de Administração Científica, introduzindo métodos de trabalho e
administração que permitiram a chamada “produção em massa”. Para tal, buscou
simplificar os processos produtivos e acelerar a produção, diminuindo o tempo de
duração de cada tarefa, reduzindo estoques, de forma a evitar custos de capital, e
especializando o operário que trabalhava nas “linhas de montagem”.
A Administração Científica sofreu inúmeras críticas, muitas delas relacionadas à
sua visão mecanicista, em que pouca atenção era dada ao elemento humano. “Daí a
denominação ‘teoria das máquinas’ dada à administração científica” (Chiavenato,
2013, p. 50). A superespecialização do homem e a não percepção dos aspectos
informais das organizações também fragilizaram a proposta desta escola, na visão dos
críticos.
A Administração Clássica surge na França em 1916, pela mão de Fayol, quando
este publica seu livro Administration Industrielle et Générale. Assim como Taylor,
Fayol era engenheiro. Sua graduação era em Engenharia de Minas.
Com uma cultura menos pragmática que a da escola americana de Taylor, Fayol
buscava trabalhar mais no nível organizacional, tanto tendo como meta aumentar a
eficiência da empresa pela adequada estruturação de seus departamentos, divisões ou
partes identificáveis como tendo funções claras dentro da empresa. Tinha, assim, seu
enfoque na estrutura e nas funções da organização.
Enquanto a Escola Científica buscava o aumento da produção, atuando do campo
para a organização, modificando a atuação do operário para melhorar a produtividade,
ou seja, atuando de baixo para cima, a Escola Clássica atuava de cima para baixo, ou
seja, da parte administrativa da empresa para a sua parte produtiva. Procurava enxergar
a empresa de uma forma global e definir atribuições e linhas nítidas de comando e
decisão, para aumentar a produtividade da empresa.
Fayol identificou seis funções nas empresas (Chiavenato, 2013, p. 61):

1. Técnicas, encarregadas da produção;


2. Comerciais;
3. Financeiras;
4. De segurança, encarregada da proteção e preservação dos bens e pessoas;
5. Contábeis;
6. Administrativas, encarregada de coordenar e sincronizar as outras cinco
anteriores.

A atividade administrativa é desempenhada em todos os níveis da empresa, pelo


gerente de área, de departamento, pelos diretores e pelo presidente, cada um
desempenhando as suas atividades administrativas dentro de suas responsabilidades e
de seus níveis. Quanto mais alto o nível hierárquico na empresa, maior o tempo
despendido em atividades administrativas. Estas são, segundo Fayol: a previsão (prever
e preparar o futuro); a organização dos materiais e das funções da empresa; o comando,
para orientar os empregados e fazer as coisas funcionarem; a coordenação buscando a
harmonia entre as atividades; o controle das atividades, verificando sua adequação com
o planejado e atuando para corrigir desvios.
Fayol apresenta 14 princípios gerais da administração (Chiavenato, 2013, p. 64):

divisão do trabalho;
autoridade e responsabilidade;
disciplina;
unidade de comando, na qual cada empregado recebe ordem de apenas um
supervisor;
unidade de direção, em que as atividades com o mesmo objetivo têm uma só
direção;
subordinação dos interesses individuais aos gerais;
remuneração do pessoal, a qual deve retribuir com justiça o empregado e a
organização;
centralização da autoridade no topo de organização;
cadeia escalar em que cada nível de gerência tem sua autoridade;
ordem, na qual cada coisa tem seu lugar;
equidade onde se prega que se deve agir de forma amável e justa com os
empregados;
estabilidade do pessoal, evitando a rotatividade e a substituição dos empregados;
iniciativa, buscando um plano para a empresa ou para a atividade e garantindo
sua realização;
espírito de equipe, no qual se busca união e harmonia dos empregados.

Assim como ocorreu com a teoria Científica da Administração, a Teoria Clássica


sofreu críticas. As principais se referem à sua abordagem formal, estritamente lógica, a
qual ignora os aspectos sociais e psicológicos da organização, pretendendo prescrever
comportamentos para o administrador e normas de conduta que não levam em conta
as situações concretas vivenciadas por este.
Muitas vezes, essa falta de realismo levava a uma simplificação das situações, a
problemas administrativos e à superficialidade nas abordagens propostas. Assim como
a Teoria Científica, o modelo de administração é visto de forma muito mecânica, em
que a empresa se comporta como uma máquina composta de partes que devem se
articular adequadamente para que o todo funcione. Por fim, a abordagem Clássica não
considerava as interações da empresa com o ambiente externo, tratando-a como um
“sistema fechado”.
Em função das críticas feitas às escolas Científica e Clássica, principalmente no que
tange à falta de ênfase nas pessoas que participam da organização – já que uma dá
ênfase às tarefas, e a outra, à organização –, surgem, então, as Escolas Humanísticas da
Administração, com um enfoque mais social e psicológico.
Seu surgimento mais expressivo foi nos Estados Unidos na década de 1930 e
acompanhou o desenvolvimento da Psicologia do Trabalho e da Psicologia Industrial.
Estas buscavam olhar os aspectos psicológicos do trabalhador, procurando ajustá-lo ao
trabalho a ser executado, seja por meio da adequação das características cognitivas e
psicológicas do executante ao trabalho, ou por treinamento e capacitação que
adequasse o profissional à atividade a ser desempenhada.
O nome de referência na fase inicial da Teoria Humanística da Administração é o
de Elton Mayo (1880-1949). Mayo coordenou uma pesquisa que durou de 1927 a
1932, com notável influência sobre a teoria da administração. Sua pesquisa se
desenvolveu nos Estados Unidos, na cidade de Chicago, no bairro de Hawthorne,
onde se situava a fábrica da Western Electric Company.
A experiência de Hawthorne, como foi chamada, tinha como objetivo relacionar a
influência das condições de trabalho (iluminação, por exemplo) com a produtividade.
Suas conclusões, no entanto, foram de que quanto mais integrado socialmente, mais o
grupo produzia.
Quando havia integração, o grupo trabalhava como equipe e buscava melhorias
para o desempenho das suas atividades.
Mayo observou que as relações humanas são fortemente influentes nos resultados
da produção, mais até do que o estímulo salarial. Além disso, segundo as suas
observações, em todas as organizações formam-se grupos informais que influenciam o
comportamento dos que deles participam. A experiência de Hawthorne concluiu
também que o trabalho simples e repetitivo afeta negativamente a satisfação do
trabalhador, reduzindo sua eficiência.
Sendo assim, pode-se dizer que os humanistas deram especial atenção aos aspectos
emocionais dos trabalhadores. Essa experiência criou a visão de que a fábrica era um
sistema social. A sua própria existência dificultava a manutenção dos grupos primários
da sociedade, como a família e os grupos informais, passando a ser o espaço de
interação social por excelência.
Assim, enquanto as teorias Clássica e Científica olhavam a organização como uma
máquina, a teoria humanista olhava a organização como um grupo de pessoas. Nessa
visão, considerava-se que o empregado deveria participar das decisões e os
chefes/administradores deveriam ser pessoas persuasivas e que angariassem a simpatia
daqueles com quem trabalhavam.
A Escola Humanista foi importante por introduzir na administração conceitos
desvinculados do chão de fábrica. Palavras como motivação, liderança, comunicação e
dinâmica de grupos se incorporaram ao vocabulário dos administradores. O homem
motivado pelo salário – o homo economicus – saiu de cena e, no seu lugar, apareceu o
homem social. Os engenheiros pensadores cederam parte de seu poder aos psicólogos e
aos sociólogos.
A Escola Humanista valorizou o clima organizacional. Este traduz o ambiente
social e psicológico no qual o empregado trabalha. Um clima de satisfação e estima
elevada propicia um ambiente produtivo, enquanto o clima de insatisfação provoca o
desinteresse pelo trabalho e pela produção.
Como as outras teorias que a antecederam, a Teoria Administrativa Humanista
sofreu críticas. Entre elas, a pouca ou nenhuma consideração à organização fabril, seja
do ponto de vista das máquinas ou da estrutura. A relação entre a satisfação do
empregado e a sua produtividade foi criticada, pois verificou-se a existência de
empregados infelizes e produtivos, bem como de outros felizes e improdutivos.
Como os experimentos foram desenvolvidos em fábricas, sua aplicação a
organizações de diferentes naturezas, como hospitais, escolas e outras não fabris, era
incipiente. Entendeu-se, ainda, que a Teoria Humanista dava ênfase excessiva à
colaboração do agrupamento social na produção.
Com as críticas à escola Humanista, a partir de 1950, ressurgiram conceitos
elaborados pelas Escolas Científicas e Clássicas, criando uma abordagem que pode ser
chamada de Neoclássica da administração. A visão neoclássica volta a olhar os aspectos
econômicos e concretos da organização.
Nessa abordagem entende-se que “a administração é uma atividade essencial a todo
esforço humano coletivo, seja empresa industrial ou de serviços, no exército, em
hospitais, na Igreja, etc. […] a administração é basicamente uma técnica social de lidar
com pessoas e coordenar atividades coletivas e grupais” (Chiavenato, 2013, p. 102).
A grande ênfase da Teoria Neoclássica é nos objetivos e resultados empresariais que
são, para essa escola, a razão de ser das organizações. Nela se desenvolveu o conceito de
Administração por Objetivos (APO).
A Teoria Neoclássica se preocupou também com a estrutura organizacional. Nesta
visão, existem três níveis de gerência: o operacional, formado pelos supervisores; o
intermediário, constituído pelos gerentes de departamentos, divisões, setores; e o nível
institucional, composto pelos diretores e presidente da empresa.
Os neoclássicos discutiram também o conceito de autoridade. Nesta visão, ela não
está nas pessoas, mas na posição que elas ocupam dentro da organização. Da mesma
forma, a responsabilidade e a autoridade devem caminhar juntas: quanto maior a
responsabilidade, maior a autoridade. Com o conceito de autoridade, passam a ser
discutidos, também, os conceitos de delegação de autoridade, de centralização das
decisões e dos níveis hierárquicos intermediários.
Como na visão clássica, cabe ao administrador as funções de planejamento, de
organização – no sentido de organização administrativa –, de direção – que consiste
em “fazer as coisas acontecerem” – e de controle, atuando como mantenedor do
funcionamento da organização e de inibidor de desvios em relação aos seus objetivos e
planos.
O aspecto planejamento torna-se norteador, sendo dividido nos níveis estratégicos,
táticos e operacionais, cada um deles relacionado com um nível de gerência da
organização.
A Teoria Neoclássica, bem como a Humanista, foi deslocada pela consolidação da
abordagem Estruturalista da administração. Antes, porém, de olharmos esta última
abordagem, vamos olhar mais de perto a Teoria da Burocracia, uma vez que o
Estruturalismo olha a organização como burocrática.
Seguindo a visão de Burocracia produzida pelos trabalhos do sociólogo Max Weber
(1864-1920), parte da qual foi comentada no tema sobre engenheiro-líder (tema 6), foi
criada a Teoria da Burocracia na administração, a qual inspirou essa atividade a partir
da década de 1950.
Embora Max Weber tenha produzido seus trabalhos mais importantes no início do
século XX, é a partir dos anos 1950 que os seus estudos e teorias passam a ser
analisados de um ponto de vista mais acadêmico e com implicações práticas nas
organizações.
A Teoria da Burocracia tentava eliminar as falhas existentes nas teorias clássicas e
humanistas, baseando-se na tentativa de racionalizar as organizações e buscando
determinar os melhores meios para levá-las aos fins desejados.
A chamada Sociedade Burocrática, na nomenclatura de Weber, é aquela em que as
normas (sempre de cunho impessoal) definem quem, como e o que fazer. Elas são
elaboradas a partir do entendimento racional sobre a melhor forma de atingir os fins
da organização, ou seja, dos meios mais eficientes de se chegar aos resultados desejados.
Organizações empresariais, exércitos e estados modernos são organizados dessa
forma. A escolha dos líderes, a maneira ritualística de se fazer as coisas, por meio de
cerimônias de passagem de poder, são exemplos de ações que seguem normas aceitas
pela sociedade burocrática que as pratica.
Como já discutimos no tema sobre engenheiro-líder (tema 6), a autoridade na
Sociedade Burocrática se baseia em normas racionalmente definidas. Assim temos, por
exemplo, o governo presidencialista de um estado democrático moderno. Sendo o
presidente do Estado eleito por um processo democrático, definido de maneira formal,
tendo ele seguido as regras de votação e as demais regras eleitorais e sendo empossado
da forma como as regras exigem, sua autoridade é validada pela sociedade que ele vai
presidir. Como vimos no tema 6 sobre liderança, em outras sociedades, como aquelas
em que prevalece a liderança carismática, este líder é aceito pelo grupo em função da
devoção e admiração que se estabelece em relação a ele. Não é necessária nenhuma
regra escrita ou formalidades para aceitação da autoridade do líder carismático.
Embora para Max Weber a burocracia seja o exemplo de uma organização eficiente,
a palavra ganhou a conotação de algo moroso, cheio de procedimentos e documentos
escritos que impedem soluções rápidas e eficientes. Porém, é da forma burocrática que
funcionam as organizações, uma vez que baseiam seu funcionamento em normas e
regulamentos previamente documentados, tais como a Constituição de um país, os
estatutos de uma empresa e as normas de organização de instituições.
Dentro da estrutura burocrática de administração, privilegia-se a comunicação
formal escrita e documentada. As decisões tomadas em reuniões ou pelos decisores
isoladamente são também documentadas. Muitas vezes, a documentação é
padronizada a partir de formulários. A divisão do trabalho também faz parte dos
princípios da Administração Burocrática. Cada área ou indivíduo tem a sua atribuição
formalmente definida, bem como as suas responsabilidades.
Como uma organização impessoal, a divisão do trabalho se dá de acordo com os
cargos ocupados por cada indivíduo e, portanto, não é definida em função desta ou
daquela pessoa. O poder é impessoal; decorre da função ocupada pelo empregado. O
subordinado obedece ao seu superior não pela pessoa que ele é, não porque o admira
ou respeita a sua história, mas em função da posição que o superior ocupa na
organização.
De forma a estabelecer mandos e definir autoridades, a estrutura da organização
burocrática é hierárquica. Cada nível deve obedecer ao nível superior. Apesar disso, as
punições e avaliações de desempenho não são arbitrariamente aplicadas pelos
superiores. O subordinado está protegido pelas normas da organização que definem o
que é certo fazer, os critérios de avaliação e de punição.
Embora a estrutura de uma organização não seja definida em função das pessoas, as
melhores pessoas são escolhidas para cada posição, em função de suas habilidades e
competências. São, de forma geral, testadas quanto à sua qualificação para a função ou
cargo que vão exercer; privilegia-se a meritocracia, o mérito do profissional. O ingresso
na organização vai, portanto, depender dos resultados obtidos pelo postulante ao cargo
em concursos, testes e avaliações profissionais.
Tendo seu funcionamento definido por normas, a organização burocrática permite
que os donos das empresas, por exemplo, não sejam os seus administradores. Em
muitos casos, os donos fazem parte dos Conselhos de Administração, mas não atuam
no dia a dia da empresa.
Pela forma como a organização burocrática se estrutura, o administrador é um
profissional de administração, com formação e qualificação própria para tal. Os
profissionais, de forma geral, são especialistas no que fazem e seguem carreira dentro da
organização.
Pela sua concepção, os críticos da administração burocrática identificam nela o que
chamam de “disfunções”, ou seja, dificuldades, ineficiências e imperfeições, que levam a
resultados não desejados dentro da organização. Entre estes, podemos destacar o apego
exagerado dos funcionários às regras e aos regulamentos, inviabilizando serviços,
produtos e soluções mais adequadas à especificidade de cada cliente. Daí a irritação dos
clientes com muitas estruturas burocráticas, dando a estes uma percepção de
ineficiência na organização.
A quantidade de documentos e a formalidade exagerada nas relações dificultam
também os relacionamentos pessoais, limitando os trâmites e soluções de grupo nas
estruturas burocratizadas. A pouca flexibilidade da organização, sempre sujeita a
normas rígidas, traz dificuldade de adequação da sua estrutura e do seu
funcionamento, podendo trazer obsolescência em um mundo onde a tecnologia e as
novas demandas exigem agilidade.
A organização burocrática é voltada para dentro de si, para suas normas, para os
seus procedimentos e, dessa forma, muitas vezes não enxerga o ambiente externo,
sendo essa uma das maiores críticas que se tentará superar com as teorias
organizacionais que se seguirão, como a Estruturalista.
O estruturalismo vê na organização burocrática de Weber as suas origens. A busca
da transformação da organização de sistema fechado (com pouca ou nenhuma
interação com o ambiente externo, ou seja, outras empresas, governo e públicos
externos) para sistema aberto e interativo com o mundo externo, bem como a tentativa
de inclusão da organização informal na formal (a qual é a única considerada pela
organização burocrática), são motores para as novas teorias organizacionais.
Buscando adequar a Teoria Burocrática para ser capaz de superar os impasses da
Teoria Clássica da Organização e aproximando-se da Teoria das Relações Humanas,
surge a Teoria Estruturalista da Administração.
O movimento estruturalista corresponde a uma visão filosófica em que se busca o
relacionamento entre as ciências: a interdisciplinaridade. Seu conceito básico é o de
que a totalidade é formada por partes inter-relacionadas que formam uma estrutura
subordinada ao todo (à estrutura). Se ocorrer uma modificação em uma das partes,
haverá modificação nas demais e nas relações entre elas. Na visão estruturalista, o todo
é maior que a soma das partes.
O estruturalismo vê a sociedade como uma sociedade de organizações. Elas
interagem, contribuem e participam do todo. Embora as organizações tenham séculos,
pois existiam no Egito, em Roma e nas demais civilizações antigas há dois milênios, seu
modo de operar foi se tornando mais complexo, a ponto de termos, na atualidade,
organizações criadas para cuidar de outras organizações, como as governamentais.
A teoria estruturalista estuda, além da estrutura interna das organizações, sua
interação com outras. “As organizações caracterizam-se por um conjunto de relações
sociais estáveis e deliberadamente criadas com a explicita intenção de alcançar
objetivos ou propósitos” (Chiavenato, 2013, p. 181).
Enquanto na teoria clássica predominava o homo economicus e na teoria das relações
humanas o homem social, na teoria estruturalista privilegia-se o homem organizacional.
Este é o homem moderno. Ele tem necessidade de participar de organizações para
poder viver socialmente, atingir os seus objetivos e, de forma geral, sobreviver
socialmente. Para tal, ocupa diferentes papéis nas várias organizações: engenheiro em
uma empresa, ao mesmo tempo que é síndico em um condomínio, líder comunitário e
provedor da família, por exemplo.
Os que se pautam na teoria estruturalista para funcionarem como administradores
devem buscar as relações entre as organizações formais e as informais. Esta visão
concilia, de certa forma, a visão da teoria Clássica (formal) com a Teoria das Relações
Humanas (informal). Dentro desta mesma linha, a teoria estruturalista valoriza tanto a
recompensa material como a social, além de reconhecer o valor dos símbolos de status
(tamanho da sala, motorista, benefícios).
Na visão estruturalista, a organização se divide em níveis de responsabilidade e
autoridade, sendo eles: o institucional, o gerencial e o técnico.
No institucional, o nível mais elevado da organização, acontecem as decisões
estratégicas. Ele é responsável pelas interações com o ambiente externo e analisa a
organização como um todo.
O nível gerencial, também chamado de operacional, se ocupa de articular o nível
técnico com o nível estratégico da organização. Ele desdobra no operacional as decisões
e objetivos institucionais, distribuindo, dessa forma, os serviços e os recursos da
organização no nível técnico-operacional, nos quais são executados os programas de
trabalho. O foco do nível técnico-operacional é o curto prazo, a produção (que é o
objetivo da organização), pela execução de atividades e tarefas ao seu encargo.
Por volta de 1950, surgem nos Estados Unidos trabalhos que põem em destaque “a
maneira pela qual um indivíduo ou uma organização age ou reage em suas interações
com o meio ambiente e em resposta aos estímulos que dele recebe” (Chiavenato, 2013,
p. 102). Essa ênfase deu origem a uma nova abordagem da Teoria da Administração,
que buscava resolver os problemas das organizações de forma mais humana e
democrática e foi chamada de Teoria Comportamental da Administração.
Essa teoria, também chamada de behaviorista, por usar algumas abordagens da
psicologia behaviorista, tem em conta algumas considerações, como: a) a necessidade
do ser humano viver em relacionamentos cooperativos e em grupos ou organizações
sociais, convivendo com outras pessoas; b) ser o sistema psíquico do ser humano capaz
de organizar as informações e experiências de forma particular, utilizando a mesma
estrutura física e psíquica; c) a comunicação entre humanos prescinde do mundo real,
podendo ser feita com base no raciocínio abstrato; d) o humano é capaz de aprender e,
assim, mudar seus comportamentos e atitudes; e) considera importante o
conhecimento dos objetivos humanos básicos para entender os objetivos de cada ser
humano; f) o humano compete ou colabora, dependendo de estar diante de objetivos
que podem ser prejudicados por outros ou de interesses comuns com outros.
Com estas premissas, a Teoria Comportamental da Administração enfatiza as
pessoas dentro do contexto organizacional, procurando ser uma síntese entre a teoria
da organização formal e a teoria das relações humanas. Um dos temas fundamentais
desta teoria é o da motivação humana, o qual permite melhor entender o
comportamento individual e, com isso, explicar o comportamento organizacional. O
administrador deve entendê-lo, utilizando a motivação como meio para melhorar a
vida das organizações. Falaremos de motivação no tema 12.
Na Teoria Comportamental, valoriza-se o estilo de administração e de
gerenciamento dos empregados, acreditando que a percepção que o administrador tem
deles impactará no seu comportamento. Assim, se o administrador enxerga o
empregado como preguiçoso e indolente, como uma pessoa que não gosta de assumir
responsabilidades, resistente a mudanças e incapaz de autocontrole, terá um
empregado com comportamento diferente do administrador, que o vê como uma
pessoa que gosta de trabalhar, que pode ser motivado e desenvolvido, que aceita
responsabilidades e é criativo se adequadamente estimulado.
O ambiente criado pelo administrador gera diferentes comportamentos do seu
administrado. O administrador, de forma a conseguir melhores respostas da sua
equipe, deve delegar responsabilidades, descentralizar decisões, procurar dar visão
ampla sobre o processo produtivo para seus colaboradores, levá-los a participar das
decisões da organização e a se autoavaliar.
A organização como um todo também tem seu comportamento (comportamento
organizacional), o que impactará o comportamento do empregado.
Nela, as pessoas esperam obter um resultado que sozinhas nunca conseguiriam. Daí
a necessidade de uma divisão de tarefas racional e uma coordenação de atividades e
esforços feitos por meio de uma relação hierárquica. As pessoas esperam que a
organização atenda às suas necessidades. A organização espera que as pessoas trabalhem
e desempenhem suas tarefas adequadamente. A forma de gerenciar essas expectativas e
satisfazê-las impactará o comportamento das pessoas e da organização.
De forma resumida, na visão da Teoria Comportamental, as organizações esperam
que as pessoas realizem suas tarefas, oferecendo-lhes, em contrapartida, incentivos e
recompensas. Em troca, as pessoas oferecem seus trabalhos, desde que a organização
satisfaça os seus objetivos pessoais.
De forma a minorar os inevitáveis conflitos entre os interesses pessoais e os da
organização, a liderança do administrador aparece como fator de relevância na criação
de comportamentos desejados.
Valoriza-se a liderança que devolve às pessoas incentivos, em troca do seu apoio e
trabalho para a organização, dando a elas o sentimento de valor e de recompensa. Os
incentivos podem ser na forma de retribuição material, como remunerações, ou numa
forma que gere na equipe o sentimento de realização. A liderança que troca incentivos
por trabalho, ou seja, que transaciona, é conhecida como “liderança transacional”. Os
líderes que criam uma visão incentivadora para sua equipe, motivando-a para o
trabalho, são conhecidos como “líderes transformadores” (Chiavenato, 2013, p. 226).
Uma evolução da Teoria Comportamental na administração foi a criação do
conceito de Desenvolvimento Organizacional (DO). No DO são importantes o
conhecimento e a adequação da cultura e do clima organizacional para a obtenção de
bons resultados na organização.
A “cultura organizacional é o conjunto de hábitos, crenças, valores e tradições,
interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização. Representa a maneira
costumeira de pensar e fazer as coisas e que é compartilhada por todos os membros da
associação” (Chiavenato, 2013, p. 227). O clima organizacional, por sua vez,
“corresponde ao meio interno ou à atmosfera psicológica característica de cada
organização. Está ligado ao moral e à satisfação das necessidades dos participantes”
(Chiavenato, 2013, p. 228).
A ênfase no desenvolvimento organizacional (DO) cai na mudança da cultura
organizacional e na adequação do clima organizacional, de forma a mudar as pessoas, a
natureza e a qualidade das relações de trabalho, obtendo melhores resultados
organizacionais. O DO é, em si, “um esforço educacional complexo, destinado a alterar
atitudes, valores, comportamentos e a estrutura da organização a fim de que esta possa
se adaptar às demandas ambientais” (Chiavenato, 2013, p. 236).
Apesar das novidades das teorias humanista, neoclássica, estruturalista e
comportamental sobre as teorias clássica e científica, a visão que norteou todas estas
teorias era a que considerava o todo dividido em partes, buscando resolver problemas
da organização e de cada uma de suas áreas de forma isolada, bem como explicar as
consequências da aplicação prática de seus princípios, por meio de uma visão linear de
causa e efeito.
A mudança nesta visão foi inspirada pela Teoria dos Sistemas. Esse foi um modo de
ver a realidade tentando ultrapassar a fronteira de isolamento de cada ciência, como a
Física, a Química e a Biologia. A visão sistêmica procurou mostrar, no caso das
ciências, a interação e a ausência de limites estritos entre elas, além de buscar uma visão
teleológica dos processos, ou seja, uma visão na qual os meios são explicados pelos
propósitos ou pelos objetivos que as ações querem produzir.
Na Teoria dos Sistemas, “o sistema apresenta características próprias, que não
existem em cada uma das partes integrantes, e é visualizado como entidade global e
funcional em busca de objetivos” (Chiavenato, 2013, p. 251).
Um dos importantes modelos do qual a Teoria dos Sistema em administração fez
uso para se estruturar foi o de cibernética. Assim, conceitos inspirados na área de
cibernética, como o de sistema, retroalimentação, homeostasia, comunicação e
autocontrole, passaram a fazer parte da linguagem da administração.
Sistema é visto como um conjunto de elementos relacionados. Este pode ser o
conjunto das áreas de uma fábrica, seus processos ou o conjunto das organizações em si.
Esses elementos se comunicam entre si e com o ambiente externo, sendo a entrada de
cada um a saída de outro. Dessa forma, a modificação na entrada de um dos elementos
relacionados altera a sua saída e, consequentemente, a entrada de outros elementos,
numa rede interligada. Os elementos dos sistemas são, em grande parte dos casos,
substituídos por modelos físicos ou matemáticos análogos, capazes de simular e prever
comportamentos.
A representação esquemática de um sistema está na figura 9. Nesta figura pode-se
observar a entrada das informações, energia e recursos do ambiente, a transformação
que se passa dentro do sistema (humano ou empresarial), onde ocorrem vários
processos, e as saídas do sistema, as quais são realimentadas para a sua entrada.
Na realimentação, está representado o fato de que o ambiente impacta o sistema e a
resposta deste impacta o ambiente, num processo de mudança contínua. Pela
realimentação, o sistema pode verificar a sua efetividade em atingir os objetivos
previamente definidos.

Figura 9 – Representação do Sistema com suas interações com o ambiente externo

Fonte: Autor.

As entradas em uma organização podem ser pessoas, recursos financeiros, materiais,


energia para seu funcionamento ou legislação ambiental, entre outros. O processo é o
conjunto de operações que transformam os insumos e as matérias-primas em produtos
finais. Estes últimos são as saídas desejadas e que procuram atender aos objetivos do
sistema.
Um sistema se diz no estado de homeostasia quando, funcionando dinamicamente
e tendo o valor de qualquer entrada alterado, não sofrer modificações relevantes nos
valores dos “objetivos do sistema” desejados. Esta é conseguida por ação dos
“elementos de controle ou controladores”, que podem ser um administrador da
organização ou um dispositivo de automação, no caso de sistemas de automação de
processos, ou uma área da organização com esta função e que atue no sentido de
minorar os efeitos das modificações aleatórias das entradas do dado sistema.
Na Teoria Geral dos Sistemas aplicada à administração, os sistemas são vistos como
abertos, isto é, trocando informações com o ambiente externo (outras empresas,
clientes e fornecedores, por exemplo). Essa troca de informações exige que as
organizações estejam todo o tempo readaptando-se para não se tornarem sem
condições de sobreviver, seja pela falta de entrada suficiente de informação, energia ou
matéria-prima humana e física, ou por não serem capazes de se adaptar às novas
exigências do ambiente se “reinventando”, ou mesmo por não serem capazes de resistir
ao novo ambiente, por falta de estrutura.
Dentro da Teoria dos Sistemas, a realimentação é fator fundamental para integrar
toda a cadeia administrada. Nas organizações modernas, os sistemas computadorizados
vêm facilitar esta integração ou realimentação.
Com eles, a partir das informações internas e externas à organização, são montadas
imensas bases de dados (data warehouse e big data) que viabilizam não só o
conhecimento dos resultados da própria organização com mais precisão, como
também os dos concorrentes, das demandas e satisfação dos clientes. Além disso,
viabiliza meios para comercializar produtos via digital, o “e-business”, o ambiente
fervilhante dos negócios que hoje agiliza as operações empresariais. A Tecnologia da
Informação (TI) é a grande aliada e peça-chave da Administração moderna, bem como
a comunicação de informações.
O uso dos sistemas informatizados, que têm como parte central os computadores,
viabiliza o estabelecimento dos conceitos de cibernética nas organizações. Com o uso
desses sistemas, é possível a obtenção do processamento de muitas informações,
entregando aos administradores resultados importantes das atividades por eles geridas
de forma a facilitar suas decisões e ações. Essas informações são, em geral,
disponibilizadas por meio de sistemas de gerenciamento que as integram, chamados de
Sistemas de Gestão Integrada (SGI).
Os SGIs, também conhecidos pela sigla ERP (Enterprise Resource Planning),
suportam, nas grandes e médias empresas, as decisões dos administradores, permitindo
mais acertos, devido ao acesso aos dados dos processos e das atividades por eles
gerenciados. Os SGIs abarcam processos de diversos tipos, como os de qualidade, os de
desempenho ambiental, da segurança e saúde ocupacional, os ligados à
responsabilidade social, os processos financeiros, os de produção, suprimento, vendas,
contratação, relacionamento com os clientes e RH, entre outros, num só ambiente,
dando uma visão resumida e precisa da empresa e permitindo assim uma melhor ação
administrativa/gerencial. A figura 10 esquematiza a estruturação de um SGI.

Figura 10 – Representação de um Sistema de Gestão


Integrada (SGI)

Fonte: Autor.

Sem a utilização dos Sistemas de Gestão Integrada, os administradores teriam que


fazer uso de outras ferramentas de acompanhamento para enxergar a empresa como
um todo.
Com os SGIs, torna-se fácil para os administradores, principalmente os de nível
estratégico, enxergarem a empresa por meio dos indicadores empresariais, os quais são
acessíveis nos chamados painéis de controle. Nestes painéis são apresentados dados de
alto nível, como os indicadores financeiros e econômicos da empresa, dados de vendas,
custos, dados de volume de produção, dados relacionados ao clima organizacional da
empresa e outros que permitam um acompanhamento dos negócios, sem entrar no
mérito dos processos ou atividades que os geram. Os acompanhamentos dos processos
e atividades de produção são deixados para o nível intermediário de administradores,
sendo a alimentação dos dados também de responsabilidade destes níveis.
Com o apoio de equipamentos capazes de processar dados e modelos matemáticos,
o administrador pode também fazer uso de técnicas de apoio à decisão, como a
Pesquisa Operacional (PO), a qual tem por objetivo, por meio de modelos
matemáticos que representam os sistemas a serem geridos, subsidiar, com seus
resultados, a tomada de decisão sobre operações realizadas pelas organizações.
Como os dados para os modelos da PO são, de forma geral, estatísticos, ela toma
mão de técnicas como a Teoria dos Jogos, a Teoria das Filas de Espera, a Teoria dos
Grafos, a Programação Linear e outras (Chiavenato, 2006, p. 278-81), das quais o
administrador deverá ter noção para melhorar sua interação e confiança nos modelos
que utilizará.
Alguns resultados importantes da aplicação dos métodos matemáticos na
administração das organizações foram também obtidos com a introdução das análises
estatísticas na avaliação da qualidade dos produtos por meio da verificação das falhas
nas linhas de produção (Controle Estatístico da Qualidade – CEQ) e da verificação
das não conformidades em todas as atividades da organização (Controle Total da
Qualidade – CTQ). Os Controles Estatístico e Total têm como referência os nomes
de William Deming (1900-93) e Joseph Moses Juran (1904-2008): o primeiro
considerado o criador do CEQ e o segundo, do CTQ.
A introdução da prática de uso de indicadores de desempenho para criar resultados
objetivos passíveis de acompanhamento pelo administrador também se deve à visão
dos que trouxeram a matemática para a administração. Indicadores exemplares são o 6
(seis) sigma e o Balance Scorecard (BSC). O BSC, por exemplo, cria um “painel de
indicadores” por meio do qual o administrador pode enxergar a empresa e melhorar
seus resultados.
Os processos de certificação

Nas empresas, muitos engenheiros são incumbidos de participar da implantação


dos chamados sistemas de gestão que objetivam o reconhecimento, por parte do
público externo, de que a empresa atende a requisitos considerados importantes para a
gestão de seus processos. Esses sistemas podem ser voltados para a garantia da
qualidade, para a segurança no trabalho, para a saúde e para outros fins.
A efetiva implantação dos sistemas de gestão ou de procedimentos que os
materializem nas organizações é verificada por entidades com reconhecida
competência para avaliá-los, as chamadas Certificadoras. Caso a implantação seja
considerada adequada, a organização ganha um certificado dizendo que atende a esse
ou aquele sistema.
Os procedimentos a serem seguidos pelas empresas para serem certificadas são, em
geral, descritos em normas de aceitação internacional, como as normas produzidas pela
ISO (International Organization for Standardization). Como a implantação de
procedimentos objetivando a certificação é, principalmente, fruto de processos
administrativos, discutiremos brevemente aqui alguns aspectos da certificação.
Os processos de certificação tiveram mais ênfase, nas empresas, no final do século
XX e no início do XXI.
Uma das certificações mais conhecidas é a de implantação do sistema de garantia da
qualidade, baseados nas normas ISO da série 9000. Estas normas foram desenvolvidas
na esteira das implantações dos sistemas de qualidade de Deming e Juran, o CEQ e o
CTQ. Com base nessas práticas, foi construído um conjunto de requisitos aos quais as
empresas que pretendem se certificar devem atender, requisitos esses padronizados
pela ISO e que buscam levar as empresas certificadas a atingirem padrões de excelência
na execução dos seus processos.
A ISO é uma organização não governamental fundada em 1947, em Genebra, e
hoje presente em cerca de 160 países. Sua função é a de promover a normatização de
produtos e serviços de uma empresa, para que a sua qualidade possa ser
permanentemente melhorada.
A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um
modelo de “gestão da qualidade” para organizações em geral, qualquer que seja o seu
tipo.
A série de normas ISO 9000 não fixa metas a serem atingidas pelas organizações
que pretendem se certificar; as próprias organizações estabelecem essas metas. As
normas foram elaboradas por meio de um consenso internacional acerca das práticas
que uma empresa deve adotar, a fim de atender plenamente aos requisitos de qualidade
total.
De fato, o sistema ISO 9000 foi constituído de uma série de normas voltadas para a
padronização dos processos e atividades desenvolvidas em todos os níveis das empresas,
desde os níveis da alta administração (Presidente, Diretores das empresas) até o nível
operacional, ou, como costuma ser chamado, o “chão de fábrica”. O sistema ISO 9000
é o conjunto composto pelas normas ISO 9000, 9001, 9004 e 19011 (Gestão, [20..?]).
Esse grupo de normas descreve regras relacionadas à implantação, desenvolvimento,
avaliação e continuidade do Sistema de Gestão da Qualidade. Elas tornaram-se oficiais
a partir de 1987, baseadas em normas britânicas e, desde então, vêm sofrendo revisões.
As empresas que tiverem seus processos e atividades atendendo aos requisitos das
normas da série ISO 9000 podem, depois de auditadas por organizações credenciadas
pela ISO, as chamadas certificadoras, receber um certificado de conformidade, como o
certificado ISO 9001, em referência à norma mais utilizada do sistema. Estas empresas
terão uma vantagem adicional diante de seus clientes e concorrentes por terem mais
credibilidade.
O processo de criação de normas internacionais e seu uso foi sendo difundido entre
as empresas, e outras normas semelhantes às de qualidade e voltadas para outras
atividades da empresa foram adotadas.
Assim, algumas empresas procuram se certificar em gestão ambiental. As normas
que explicitam os requisitos para esta certificação fazem parte da série ISO 14000, que
é um conjunto de normas voltadas para a Gestão Ambiental de empresas de qualquer
nível, tamanho ou área. Estas normas têm o objetivo principal de criar na empresa um
Sistema de Gestão Ambiental, e com isso reduzir os riscos de danos causados ao meio
ambiente (Determinista, 2010).
Na área de gestão de Responsabilidade Social (RS) são referências as normas
ABNT 16000 e a ISO 26000. A ISO 26000 trata da responsabilidade social e tem
caráter internacional e mais amplo que a 16000. Ela fala de diretrizes educacionais,
como uma orientação para o alcance de resultados, mas sem o propósito de
certificação.46
A NBR 16000, por sua vez, é uma norma de responsabilidade social elaborada pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Foi a primeira regulamentação
voltada para a responsabilidade social emitida por um organismo de normalização,
fazendo do Brasil um país pioneiro no tratamento do assunto.
Na área de segurança e saúde ocupacional, a norma da OHSAS 1800147 tem sido
utilizada intensivamente. OHSAS é uma sigla em inglês para Occupational Health and
Safety Assessment Series.
A OHSAS 18001 consiste em uma série de normas britânicas, desenvolvidas pelo
BSI Group, para orientação da formação de um Sistema de Gestão e Certificação da
Segurança e Saúde Ocupacionais (SSO). Essas normas fornecem orientações sobre
como uma organização pode implantar e ser avaliada, com relação aos procedimentos
de saúde e segurança do trabalho, apresentando requisitos mínimos para a construção
de um sistema de gestão da SSO. Entre os seus requisitos está o de que a organização
deve estudar os perigos e riscos do trabalho aos quais os trabalhadores (próprios ou
terceirizados) podem estar expostos.
O envolvimento dos administradores de alto nível com a implantação destes
sistemas normativos é fundamental. Eles devem se envolver praticando a liderança pelo
exemplo e aprovando políticas para qualidade, meio ambiente, saúde e
responsabilidade social, conforme as normas que desejem seguir.
Dentro dos processos de certificação, os engenheiros da empresa, como
conhecedores dos procedimentos de trabalho e, não raro, líderes de equipes, são
chamados a participar ativamente da implementação dos sistemas de gestão, devendo
ter conhecimentos dos conceitos sobre o assunto.
Em muitas empresas são criadas áreas para cuidar da gestão dos processos de
Qualidade, Segurança, Meio Ambiente, Saúde e Responsabilidade Social, dando
origem à sigla QSMSRS, designada para o tratamento integrado desses processos.
Esses sistemas de gestão integrada objetivam trazer ganhos nos resultados das
empresas por meio da melhoria de qualidade de seus produtos e serviços e da redução
dos seus riscos operacionais. Em linhas gerais, as melhorias esperadas são:
Realização de objetivos e metas da empresa;
Economia de tempo e custos;
Transparência dos processos internos;
Fortalecimento da imagem da empresa e da sua participação no mercado;
Maior controle dos riscos com acidentes ambientais;
Satisfação de clientes, funcionários e acionistas;
Aumento da competitividade;
Assegurar às partes interessadas o comprometimento com uma gestão ambiental
demonstrável;
Redução e controle de custos ambientais;
Oportunidades para conservação de recursos e energia;
Melhoria do relacionamento com todas as partes interessadas (clientes,
acionistas, ONGs, fornecedores, governo e funcionários);
Prevenção de falhas ao invés de suas correções;
Ganhos de produtividade (redução de perdas e aumento da qualidade);
Aumento do grau de maturidade das empresas.

A escolha da melhor Teoria de Administração

A escolha e a aplicação das melhores Teorias de Administração pelo administrador


dependerão da atividade que ele administre e do tipo de organização na qual esteja
inserido.
A tendência nos dias de hoje não é o uso de uma Teoria Administrativa em
detrimento das outras, mas a escolha da melhor prática administrativa para cada
organização ou atividade que se esteja administrando. Esta prática de escolher a melhor
teoria também se tornou uma teoria em administração, conhecida como Teoria da
Contingência.
Nesta Teoria (Chiavenato, 2013, p. 319-66) não se tem um melhor caminho para
administrar (the best way). A Teoria da Contingência lança mão das diversas teorias,
buscando nelas suas contribuições. Assim, pode usar o conceito de tarefa e tecnologia
da Administração Científica e ir até ao uso das Teorias Matemáticas para apoiar o
processo de decisão.
Pode-se considerar a Teoria da Contingência um avanço em relação à Teoria dos
Sistemas, a qual é também ferramenta para aquela. A visão contingencial (contingência
significa algo que é incerto e ocorre eventualmente) procura analisar as relações dentro
dos subsistemas internos à organização e entre eles, bem como as relações entre a
organização como um todo e o ambiente externo.
A Teoria da Contingência, com base no ambiente externo e na tecnologia utilizada
pela organização, define uma melhor estrutura organizacional e os desenhos mais
adequados para a arrumação da organização, considerando sua situação específica. Para
isso, considera principalmente as demandas e características do ambiente externo à
organização e as tecnologias de hardware, como máquinas, equipamentos e materiais e
de softwares (conhecimento das pessoas, domínio tecnológico, documentos
estratégicos, entre outros) utilizados pela organização no desenvolvimento das suas
atividades.
Dentro da visão contingencial, o ambiente externo e a tecnologia são variáveis
independentes, enquanto a estrutura organizacional (desenho ou forma de organização
da empresa) e as técnicas administrativas são variáveis dependentes. A Teoria da
Contingência “afirma que não existe uma única maneira de organizar” (Chiavenato,
2013, p. 328).
A fim de estudar as estruturas mais adequadas para cada tipo de organização,
algumas tipologias de organizações são utilizadas e confrontadas como: a) organizações
mecanicistas versus orgânicas; b) empresas que têm por base processos burocráticos em
oposição àquelas que funcionam ad hoc (ad hoc significa para este fim, para isto,
adequadas para cada caso), contrapondo práticas administrativas burocráticas com as
adhocráticas;48 c) empresas voltadas para produção unitária, como oficinas e empresas
que fazem uso intensivo de instrumentos e ferramentas (quase artesanal), de um lado, e
aquelas voltadas para a produção em massa, como as indústrias automobilísticas, e
empresas de processamento, como as refinarias de petróleo; d) organizações inseridas
em ambientes homogêneos, ou seja, com pouca segmentação e diferenciação dos
mercados, e aquelas inseridas em ambientes heterogêneos, ou seja, aqueles com muita
diferenciação de mercados.
Com base nessas tipologias, os que pautam sua administração pela teoria das
contingências procuram encontrar a melhor estrutura organizacional e a teoria
administrativa que se adapte melhor à tipologia da organização.

O engenheiro administrador

Embora a arte de administrar não seja específica dos administradores, a


administração consciente e embasada por uma teoria clara se faz importante para
aqueles que fazem da administração sua profissão. Não só no ramo de engenharia, mas
também nos vários ramos de atividades, como a área médica, a de ensino e as áreas
militares, entre tantas, se exige, para o seu bom funcionamento, a presença de um
administrador.
Um profissional de saúde, um técnico ou mesmo um profissional da área de
humanas que se candidate a uma vaga técnica deve demonstrar, antes de tudo,
conhecimentos de sua área. Para os administradores, a história não é bem assim. “Ele
não é apenas analisado pelos seus conhecimentos sobre a área em que atua, mas
também por suas habilidades e competências que influenciam o comportamento e as
atitudes das pessoas que trabalham com ele” (Chiavenato, 2013, p. 2).
As habilidades de comunicação, de motivação de equipes, de coordenação e de
liderança, por exemplo, são necessárias para um bom administrador. Sua matéria-
prima são informações e conceitos com os quais opera e subsidia suas decisões, e suas
habilidades técnicas envolvem planejamento, organização, capacidade de motivar sua
equipe, controlar o que se realiza dentro do seu escopo de responsabilidade e alguma
habilidade econômica.
Para os engenheiros, em particular, à medida que progridem nas atividades dentro
da organização à qual pertencem, vão assumindo funções de supervisores, gerentes,
diretores e presidentes, sendo imperioso o aprendizado das técnicas de administração,
técnicas estas que não compõem, em geral, as disciplinas de seus cursos de formação.
Assim sendo, quando os engenheiros “são promovidos do nível operacional, no
qual executam suas especialidades, para o nível intermediário ou institucional, eles
deixam de ser engenheiros […] para se tornarem administradores” (Chiavenato, 2013,
p. 11). Nesta função, os engenheiros ocupam diferentes níveis: estratégico,
intermediário ou operacional.
Em início de carreira, o nível mais comum para exercer as suas atividades é o
operacional. Galgando posições, muitos acabam ocupando funções gerenciais elevadas.
Caso chegue ao nível estratégico da empresa, ocupado por conselheiros, diretores e
gerentes de alto nível, o engenheiro-administrador terá atribuições de alto nível, como
definir e aprovar as políticas da empresa e estratégias de médio e longo prazo.
No nível estratégico, o engenheiro-administrador lida com incertezas que nem
sempre lhe permitem colocar coeficientes de segurança, à “moda” dos engenheiros,
exigindo sensibilidade e boa intuição sobre os processos que administra, para tomar
decisões acertadas. Sua posição também exige para um bom desempenho, habilidades
comunicativas e visão sistêmica.
Quando desempenha papéis no nível intermediário, o administrador fica
responsável pela comunicação com o nível operacional, funcionando como um
reverberador da alta administração e desdobrando as diretrizes desta para o
operacional. Sua tarefa nas empresas é administrar, de uma forma geral, processos,
atividades e projetos.
Processo é um encadeamento de ações que vão transformando algo até se obter o
que se deseja. Atividades são execuções operacionais das ações ocorridas numa etapa do
processo. Assim, se tomarmos como exemplo um processo de controle de custos, nele
teremos as atividades de coleta de dados, a de avaliação de onde os recursos foram
aplicados, a atividade de determinação da origem dos recursos financeiros que foram
utilizados, a análise crítica dos custos efetuados, entre outras.
Um projeto, como discutimos no tema 4 sobre “Atividades do engenheiro e perfil
individual”, define um grande objetivo a ser atingido por uma empresa, como, por
exemplo, “implantar uma nova subestação de rebaixamento de tensão acoplada a
geradores elétricos”. Neste caso, o administrador fará “Gestão do Projeto”.
Finalmente, o administrador que trabalha no operacional cuida dos detalhes de
execução, viabilizando, por exemplo, que as planilhas de custos estejam disponíveis,
que os dados necessários à gestão estratégica sejam coletados e que as atividades
operacionais sejam executadas. Neste nível, ele trabalha com pouca incerteza e
definições mais objetivas, como o que construir, manter e operar, explicitadas de forma
clara no seu “o que” e no seu “como”. Pelo seu nível de atuação, ele se relaciona com
máquinas, equipamentos, linhas de montagem, manutenção de sistemas em geral,
tendo visão do “chão de fábrica”.
Qualquer que seja o nível ocupado pelo engenheiro-administrador, ele terá um
desempenho melhor se tiver habilidades voltadas para a área humana mais
desenvolvidas. Assim, a capacidade de liderança, a visão estratégica, o bom
relacionamento interpessoal e a capacidade de comunicação são habilidades que
ajudarão no seu desempenho.
Em qualquer nível, ele executará também os processos básicos da responsabilidade
de qualquer administrador, que, como já vimos, incluem planejamento, comunicação e
organização das tarefas a serem executadas, controle de execução e ações de melhoria
dos processos.
Para caracterizar esta rotina de planejar (P), executar (Do), controlar (C) e atuar na
correção dos erros (A), é comum dizermos que o administrador tem que “manter
rodando o PDCA”. O círculo do PDCA mostrado na figura 11, também é conhecido
como o círculo/ciclo/roda de Deming ou ciclo de Shewhart.

Figura 11 – Círculo PDCA

Fonte: Autor.

Os engenheiros que se tornam administradores/gestores, como qualquer


profissional, devem ser treinados para exercer tal função. Um engenheiro recém-
formado dificilmente estará pronto para ser um administrador/gestor. Nesta condição,
terá dificuldade de orientar sua equipe e, na maior parte dos casos, de apresentar
características de liderança suficientes para que seja aceito como líder. Os
administradores, por executarem as suas ações por intermédio de outras pessoas,
embora possam ter níveis hierárquicos diferentes, têm um “denominador comum cuja
importância permanece constante em todos os níveis: é a habilidade humana”
(Chiavenato, 2013, p. 7),

A administração das nossas vidas e das atividades profissionais

É interessante observar que, embora a maioria das grandes e médias empresas façam
planos para o futuro – os chamados Planos Estratégicos –, definam metas e objetivos a
alcançar e que isso seja conduzido pelo seu alto escalão gerencial, os gerentes
responsáveis por delinear esses planos e definir as metas e objetivos empresariais não
adotam o mesmo procedimento para as suas vidas.
Poucos definem com clareza seus objetivos de vida em cada um dos processos que
constituem o seu macroprocesso, que é “viver”. As metas nem sempre são óbvias, e a
visão de futuro, com as ações que podem levar à sua concretização, ou não existem ou
são muito mal delineadas.
Temos muitos processos na vida para administrar: nossas finanças, nosso tempo,
nosso convívio familiar, nossas relações com os amigos, nossa saúde, nosso sono, nosso
lazer e nossa formação e atuação profissional, entre muitos outros processos que
podemos identificar. São processos que têm metas a serem atingidas, objetivos que
podem ser definidos e realizações futuras que podemos explicitar com maior ou menor
clareza, mas devemos explicitar.
Curiosamente, não nos habituamos a parar vez por outra para planejar e verificar se
o que realizamos, se o que executamos na nossa vida, foi o que de fato planejamos. Não
identificamos os desvios entre o planejado e o executado e, assim, não traçamos um
plano de melhoria mais consciente daquilo que fazemos; não gerenciamos nossa vida.
Algumas pessoas aproveitam épocas especiais, como a Páscoa, o Natal, o Ano Novo
e o aniversário, para refletirem sobre a vida e organizarem alguns projetos, buscando
renovar suas energias para conseguir realizá-los. Administrar a vida sem planejamento é
surfar em qualquer onda. Como diz o ditado popular, “pra quem não sabe onde quer
chegar, qualquer caminho serve”.
Dos processos da vida, nos interessam aqui aqueles que têm relação com nossa
atividade profissional de engenheiros. Nossa vida profissional é repleta de ações que
devemos tomar para que sejamos bem-sucedidos na profissão.
Ainda estudantes de engenharia, somos levados a escolher a modalidade que
queremos abraçar; dentro dela, a especialidade. Ao nos formarmos, definimos uma área
de subespecialidade dentro da especialidade que escolhemos. Assim, se definimos ser
engenheiros civis, na especialidade de projeto de estruturas, ainda temos que definir se
atuaremos na subespecialidade de edificação, estradas, sistemas de tratamento de
efluentes, pontes e viadutos ou outras em que a especialidade possa se dividir.
Cada escolha levará a um caminho, muitas vezes sem volta, uma vez que o tempo
disponível para novos acertos é cada vez menor.
Dessa forma, as ações que teremos que tomar para conduzir a nossa vida
profissional devem ser planejadas, controladas, redefinidas ou, em uma palavra,
administradas. Nossas escolhas futuras devem ser claras para podermos concentrar
energia nelas, aumentando nossa chance de sucesso.
Para administrarmos nossa vida profissional, podemos organizá-la em atividades
como, por exemplo, estudo, cursos, experiências de trabalho, relacionamento
(network), investimentos na profissão e na carreira.
Traçamos metas e objetivos para cada uma dessas atividades do nosso processo de
formação profissional e passamos a gerenciar nossa profissão, verificando se o que
planejamos, o que almejamos para o futuro, está sendo realizado como planejado. Que
correções devemos fazer em nossas ações para atingirmos nossas metas e objetivos?
No tema 13, que trata de Plano Estratégico, nossa proposta é a elaboração de um
Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP). Para sua elaboração, vamos propor que
seja seguida a mesma metodologia utilizada pelas empresas para elaboração dos seus
Planos Estratégicos.
Quanto mais detalhados os nossos planos, quanto mais eficaz a gestão de nossa vida
profissional, mais chances de sucesso profissional teremos. Administração é uma
atividade da vida!
Como engenheiros, temos que administrar processos e atividades que transcendem
nossas responsabilidades técnicas: temos que gerir nossa ética, nossa imagem, nossas
relações humanas e sociais, entre outras.

Exercícios de avaliação de conteúdo

11.1) Como você definiria administrar?


11.2) Explicite algumas atividades básicas do administrador.
11.3) Do que trata a Teoria Geral da Administração?
11.4) Cite três Escolas de Administração e descreva duas ênfases ou princípios ou
características de cada uma das escolas citadas.
11.5) A experiência de Hawthorne é considerada um marco na administração
humanista. Pesquise sobre o tema e explicite algumas das conclusões tiradas a partir
desta experiência. Você concorda com as conclusões que você explicitou?
11.6) Explicite três características da chamada Teoria da Administração
Burocrática elaborada a partir dos estudos de Max Weber.
11.7) A administração baseada na Teoria Estruturalista propõe dividir a
organização nos níveis institucionais, gerenciais e técnicos. Do que devem cuidar cada
um destes níveis organizacionais?
11.8) A escola de administração com base na Teoria Comportamental trabalha
com a visão da Escola de Psicologia Comportamental (behaviorista). Explicite,
pesquisando, três visões (conclusões) da Escola Behaviorista que impactaram a Teoria
Comportamental da Administração.
11.9) Qual a importância de Joseph Moses Juran na Administração?
11.10) Do que tratam as normas ISO 9000, ISO 14000, ISO 16000 e ISO 26000?
11.11) O que você entende por um Sistema de Gestão Integrada?
11.12) Cite dez benefícios que podem ser esperados para uma empresa que
implante um Sistema de Gestão Integrada?
11.13) O que propõe a Teoria das Contingências em administração?
11.14) O que significa “rodar o PDCA” em administração?
11.15) Quais conhecimentos e habilidades deve desenvolver um engenheiro que se
propõe a assumir atividades de administração em uma empresa?

Exercícios vivenciais

11.16) A Teoria Comportamental enfatiza os aspectos motivacionais e de


liderança. Suponha que você é o diretor da sua faculdade e, portanto, um líder
importante na instituição. O que você faria para motivar mais os estudantes de
engenharia e que ações você tomaria como líder? (O tema 12 poderá ajudar com a
motivação, e o tema 6, com a liderança).
11.17) Junte-se a outro colega e explicite, tendo como enfoque a sua Instituição de
Ensino, qual o “clima da sua organização”. (Pesquise um pouco sobre o que significa
“clima da organização”).
11.18) Pesquise e descreva, de forma geral e sumária, o que é “sistema”, dentro da
visão da Teoria dos Sistemas, e cite duas características dos Sistemas.
11.19) É comum dizermos que os processos de certificação nos levam a “escrever o
que fazemos e fazer o que escrevemos”. Esclareça melhor o significado desta frase,
pensando sobre os objetivos dos processos de certificação.
– 12 –
Importância da motivação e dos paradigmas nos nossos
Planos de Vida: visão psicológica

Precisamos de motivação para agir

Nosso comportamento é motivado pelo desejo de alcançarmos algum objetivo, seja


ele consciente ou inconsciente. Apenas uma pequena parte da motivação é consciente.
“Um segmento considerável da motivação humana encontra-se de tal modo oculto que
nem sempre é evidente para o próprio indivíduo” (Hersey e Blanchard, 1982, p. 18).
As pessoas se comportam de maneiras diferentes porque têm motivações distintas.
Os motivos podem ser entendidos como necessidades, desejos ou impulsos originados
no indivíduo e direcionados para objetivos.
“Os motivos ou necessidades são as molas propulsoras da ação” (Hersey e
Blanchard, 1982, p. 18).
Os objetivos estão, em geral, fora da pessoa e são também referenciados como
recompensas. A motivação depende não só destas recompensas, mas também do
ambiente externo, pois é nele que os indivíduos são capazes de realizar os seus objetivos
(satisfazer as suas necessidades, os seus impulsos e desejos).
Motivação é, de forma simples, o que motiva a nossa ação. Perguntas como: por que
agimos? Por que empregamos nosso tempo em determinadas tarefas e não em outras?
Por que estudamos engenharia e por que continuamos estudando, mesmo depois de
formados? Tais perguntas têm uma resposta simples: motivação.
O que nos motiva? Como nos motivamos? Perguntas desta natureza foram e são
objetos de reflexão das pessoas que quiseram e querem tornar as suas vidas mais
interessantes.
O que se passa é que, a cada momento de nossa vida, em cada movimento nosso,
estamos inelutavelmente gastando tempo de vida, estejamos motivados ou não para
fazê-lo, consumindo algo que temos em valor limitado, embora não saibamos quanto:
tempo de vida.
Podemos deixar o tempo se esvair de forma errática, vivenciando estados de apatia,
ou podemos gastar o tempo de forma consciente e consequente, com ânimo e emoção.
A forma como gastaremos o tempo depende muito de estarmos motivados ou não. A
partir das nossas escolhas, daquilo que nos motiva, direcionaremos o uso do tempo,
nosso maior tesouro.
Muitas ações da nossa vida são executadas pela necessidade que temos de fazê-las,
como respirar, comer e dormir. Outros motivos, porém, nos levam ao gasto do tempo
por decisão individual. O uso de uma boa parte do tempo está na esfera da nossa
vontade. Podemos ir ao cinema, ler, conversar, visitar pessoas, praticar um esporte,
estudar, participar de cursos, eventos, ver televisão e dar ao nosso tempo muitos outros
destinos conforme decidamos.
Na vida, a motivação nos torna atentos, empenhados e apaixonados. Na esfera das
organizações não é diferente. Nestas, a motivação impacta o tipo de desempenho dos
empregados ou o nível de empenho que cada um tem para atingir seus objetivos. Por
esta razão, muitos pensadores de diferentes profissões estudaram a motivação dentro
das empresas, chegando a conclusões que são muito úteis para elas e não menos úteis e
aplicáveis ao dia a dia da pessoa comum.
Perguntas que nos interessam mais de perto, como: que fatores nos impulsionam às
ações (como ao estudo de engenharia, por exemplo)? Por que mudar de atividade
profissional? Enfim, questões que interessam à vida em geral e à profissional, em
particular.
Apresentaremos um pequeno resumo das conclusões a que chegaram alguns
autores interessados no assunto motivação para que possamos avaliar as nossas próprias
motivações e ter ferramentas suficientes para uma reflexão de como aumentá-las.

Teorias motivacionais

Embora a motivação seja, em última análise, um fenômeno psicológico, e cada ser


humano tenha diferentes razões para se motivar a tomar ações como trabalhar, estudar,
viajar, casar e outras, alguns fatores foram identificados como estimuladores e
orientadores das motivações pessoais.
Os estudos dos chamados fatores motivacionais tiveram destaque na chamada
Escola de Administração com enfoque nas relações humanas. Esta escola partiu do
princípio de que os trabalhadores são, em primeiro lugar, seres humanos dotados de
desejos, valores, sentimentos e medos, que se comportarão de formas diferentes, se
motivando mais ou menos para suas atividades, conforme percebam no ambiente com
o qual interagem maiores ou menores possibilidades, respectivamente, de atingir seus
objetivos, satisfazer seus desejos, reforçar seus valores e conseguir vencer seus medos.
Com estas considerações, a escola das relações humanas colocou a motivação em
destaque dentro da Teoria Geral da Administração.
Na concepção dos primeiros administradores-empresários, como Henry Ford
(1863-1947), o dinheiro, as recompensas materiais e salariais no trabalho eram os
únicos motivadores para os trabalhadores. Esta visão, de certa forma, se aplicava à vida,
em que os prêmios materiais eram os motivadores das ações das pessoas em qualquer
atividade.
Desde cedo, porém, foram feitas nas indústrias experiências demonstrando que
outros fatores motivacionais existiam. Uma das primeiras experiências sistemáticas
buscando fatores que poderiam influenciar na produção fabril foi feita por Elton Mayo
(1880-1949), na fábrica da Western Electric Company, situada no bairro de
Hawthorne, na cidade de Chicago (Chiavenato, 2013, p. 76-8). Tal experiência, que
começou buscando relacionar o nível de iluminação do ambiente de trabalho com a
eficiência dos operários, terminou por concluir que o nível de integração social dentro
do grupo de trabalhadores que cooperavam na produção era de grande importância na
motivação do grupo e, consequentemente, na sua produção.
Quanto maior a integração do grupo, maior a inclinação a produzir com mais
eficiência. Verificou-se que as regras de produção também eram definidas de forma
sutil pelo grupo que interagia produzindo, ou seja, o grupo se comportava
favoravelmente ou com atitudes punitivas caso o indivíduo a ele pertencente se
enquadrasse ou não nas “regras” do grupo. Assim, produzir pouco ou trabalhar com
desleixo podia levar a reações de crítica do grupo. Da mesma forma, produzir muito
acima da média do grupo poderia ser visto de uma forma negativa, como “puxa-saco”
ou algo similar, desqualificador da eficiência.
Desta forma, o que a experiência de Hawthorne concluiu foi que o grupo oferece
recompensas sociais ou sanções sociais para aquele que se desviar de seus padrões,
sendo este um fator importante na eficiência do trabalhador. Comportando-se como
um grupo social durante a produção, os grupos de trabalho criam regras, atitudes,
expectativas e motivações definidas de maneira informal dentro do grupo, mas que
acabam tornando-se conhecidas pelos seus integrantes.
Assim, uma das importantes conclusões dos experimentos de Hawthorne foi que a
motivação não era só trazida pelo dinheiro, salários e ganhos materiais, mas também
era influenciada por fatores psicológicos importantes, criados pelo ambiente, pelo
grupo que partilhava as atividades e pela natureza de cada pessoa. Embora a experiência
tenha tido o viés de produção, as conclusões podem ser extrapoladas para as atividades
que se realizam dentro de grupos em geral: as pessoas são motivadas por estímulos
materiais e por recompensas sociais e simbólicas.
Além da motivação depender do impulso interior de cada indivíduo para exercer
esforços, visando alcançar seus objetivos e satisfazer suas necessidades, ela dependerá
também de fatores externos; entre eles, do chamado clima social, que é o ambiente
social e psicológico no qual a pessoa está imersa.
A identificação de que existem fatores internos e externos que levam as pessoas a se
motivarem mais ou menos levou alguns estudiosos a se debruçarem sobre a tentativa de
explicitá-los. São referências clássicas nos estudos sobre motivação os nomes de
Abraham Maslow (1908-1970), Frederick Herzberg (1923-2000) e David McClelland
(1917-98). Vejamos brevemente o que pensou cada um deles.
Maslow se tornou notável pelos trabalhos que apresentou, analisando o que passou
a ser chamado de Hierarquia de Necessidades de Maslow.
São atribuídas a Maslow as frases: “Se você planeja ser qualquer coisa menos do que
aquilo que você é capaz, provavelmente você será infeliz todos os dias de sua vida” e “o
que chamamos de ‘normal’ em psicologia é na verdade a psicopatologia da média, tão
pouco dramática e tão extensivamente comum que nós geralmente nem a percebemos”
(O Explorador, 2015).
O modelo da Hierarquia de Necessidades foi desenvolvido por Maslow entre 1943-
45 e publicado pela primeira vez em 1954 no livro Motivation and Personality. O que
Maslow (1954) chamou de necessidades são os motivadores das pessoas nas suas
atividades. Quando da publicação do livro, o modelo compreendia cinco necessidades.
Embora Maslow tenha sugerido o acréscimo de mais níveis de necessidades às cinco
do seu trabalho original, a versão original de cinco níveis continuou a ser a mais
referenciada.
Em linhas gerais, os cinco níveis de necessidades identificados por Maslow e que
motivam as pessoas a usarem o seu tempo de vida, da forma como o usam nas várias
atividades que executam, entre elas as de estudar e trabalhar, são, em resumo: 1)
fisiológicas, onde se localizam as necessidades de ar, água, comida, sexo; 2) segurança e
estabilidade; 3) afeto (amor e pertencimento); 4) estima; e 5) autorrealização.
Embora não seja regra geral, é comum que cada uma das necessidades seja satisfeita
em diferentes momentos da vida e atendida uma antes da outra: a fisiológica antes da
segurança, esta antes do afeto e o afeto antes da estima, indo até a autorrealização.
O resumo das cinco necessidades, que pode ser encontrado em várias fontes,49 é
apresentado a seguir.

Necessidades Fisiológicas

São as necessidades básicas para a vida, como necessidades de oxigênio, água,


proteínas, sais, açúcares, cálcio e outros minerais e vitaminas. Outras necessidades,
como a de manutenção do pH do organismo e da temperatura (36,5 ºC), de ter
atividades, de descansar, dormir, livrar-se de substâncias tóxicas ou inúteis (CO2, suor,
urina, fezes), de evitar dor e de fazer sexo, fazem parte desta lista de necessidades. Esse
seria, pois, na visão de Maslow, o primeiro nível de necessidade que nos motiva a
trabalhar, estudar, em troca basicamente de criar possibilidade para a nossa própria
existência.

Necessidades de segurança e estabilidade

Nesta classe de necessidades, vamos encontrar aquelas que nos trazem a sensação de
segurança e de que estamos menos sujeitos a ameaças à nossa vida.
Nem sempre os motivos são evidentes para as pessoas. Entre eles, podemos citar
nossas expectativas de não termos a nossa vida ameaçada por possíveis acidentes,
guerras, doenças e instabilidades econômicas. Daí vem o desejo de nos empenharmos
mais para progredir no trabalho, ou estudarmos mais para buscar melhor preparo e
melhores empregos que nos permitam dispor de seguros saúde, planos de
aposentadoria e ter acúmulo de recursos para eventuais emergências. Esta necessidade
se relaciona com a de autoproteção, segurança e a de se ter uma estrutura estável de
suporte à vida.

Necessidades de amor, associação e pertencimento

Em situações mais comuns, após atendidas as necessidades fisiológicas e de


segurança, as necessidades sociais se tornam importantes e passam a ser dominantes na
motivação humana.
“Como o homem é um animal social, a maioria dos indivíduos gosta de interagir
com os outros em situações em que se sente participante e bem aceito” (Hersey e
Blanchard, 1982, p. 41).
A necessidade advinda do desejo de socialização pode ser um fim em si mesmo e,
nos tempos mais recentes, vem se tornando um imperativo na vida das pessoas que
necessitam participar das redes sociais e atividades congêneres. São exemplos de tais
necessidades de amor, de associação e de pertencimento ter amigos e ser aceito por
estes, namorar, ter filhos, bons relacionamentos em geral, pertencer a um grupo
religioso, pertencer a um time e mesmo ter um senso de comunidade.
A necessidade de amor, associação e pertencimento frustrada pode levar a
comportamentos limites, como apatia, e à formação de grupos de pessoas
desmotivadas, que passam a ter uma postura pessimista e de crítica não construtiva
dentro de seus grupos sociais, que reagem de forma anônima, procurando causar danos
ao grupo, e mesmo as que se tornam cada vez mais sensíveis à solidão e às ansiedades
sociais, levando, em muitos casos, a comportamentos pouco saudáveis, como
agressividade e depressão.

Necessidades de estima ou autoestima

A necessidade de estima, autoestima ou de reconhecimento pode se manifestar de


várias maneiras, entre elas, de forma mais comum, pela busca de prestígio e poder. As
manifestações da necessidade de estima vão desde a necessidade de reconhecimento de
qualidades pessoais até o sentimento de superioridade emanado de um sentimento de
poder exagerado. Em forma mais comum, vem a necessidade de ser respeitado.
A necessidade de prestígio, respeito e reconhecimento é limitada. “As pessoas
tendem a procurar prestígio somente até um nível predeterminado. Quando julgam ter
atingido esse nível, a intensidade dessa necessidade tende a declinar. Trata-se então,
apenas de manter o prestígio sem a preocupação de aumentá-lo” (Hersey e Blanchard,
1982, p. 43).
O poder, que pode ser entendido como a capacidade de influência de uma pessoa
sobre outra é, segundo o psicólogo Alfred Adler (1870-1937), contemporâneo de
Freud, uma capacidade que “começa bem cedo na vida, quando os bebês percebem que
chorando influenciam o comportamento dos pais” (Hersey e Blanchard, 1982, p. 44).
A falta de satisfação das necessidades de estima é o que gera a baixa autoestima – ou
o que Adler chamou de complexo de inferioridade.
A incapacidade de ser respeitado e reconhecido, quando percebida pela pessoa,
pode levá-la ao puro sentimento de inferioridade, trazendo comportamentos típicos de
inferioridade, ou a formas de reações em que a pessoa empreende esforços extremos
para atingir metas e objetivos audaciosos.
A necessidade de estima pode ter duas versões: a inferior e a superior. Na inferior, a
necessidade de estima se manifesta pelo desejo de ter o respeito dos outros, pela
obtenção de status, fama, glória, reconhecimento, atenção, reputação, apreciação,
dignidade ou mesmo dominância. A versão superior envolve a necessidade de
autorrespeito, incluindo sentimentos como confiança, competência, capacidade de
realização, maestria, independência e liberdade. A forma superior, diferentemente do
respeito que os outros têm por nós, significa o respeito que temos por nós mesmos, e
este é muito mais difícil de perder do que a versão inferior.

Necessidade de “autorrealização”

A necessidade de autorrealização refere-se ao contínuo desejo de se desenvolver


potencialidades; de “ser tudo que se pode ser”.
O autorrealizador pode renunciar às recompensas materiais em prol da realização
de seus projetos. Sente-se, de forma geral, competente para realizar as tarefas às quais se
propõe, não necessitando do reconhecimento de outros para prosseguir na busca dos
seus objetivos.
As pessoas que atingem esse nível de necessidade foram chamadas por Maslow de
“autorrealizadoras”.
Essa necessidade, uma vez acionada, continua a ser sentida por tempo indefinido, e
não há como atendê-la plenamente. O autorrealizador tem sempre vontade de ser e
realizar mais do seu potencial, se sentindo mais competente à medida que vai
conquistando realizações. As necessidades se tornam mais fortes quanto mais são
alimentadas. Elas o impelem a se tornar tão completo quanto pode ser, daí o termo
autorrealização.
De forma geral, apenas uma pequena porcentagem da população mundial é
verdadeira e predominantemente autorrealizadora.
Em geral, os que pertencem a este grupo têm um modo diferente de se relacionar
com os outros. Embora não seja uma regra, tendem a apreciar a solidão, sentindo-se
confortáveis em estar sozinhos; apreciam relações pessoais profundas com alguns
poucos amigos próximos e membros da família, mais do que relações superficiais com
muitas pessoas; apreciam a autonomia e uma relativa independência das necessidades
físicas e sociais; tendem a resistir à aculturação, ou seja, não são suscetíveis à pressão
social de serem “bem ajustados” ou de se adequarem ao padrão.
As cinco necessidades de Maslow são, em geral, apresentadas empilhadas na forma
de uma pirâmide conhecida como “Pirâmide de Maslow”, representada na figura 12.

Figura 12 – Pirâmide de Maslow


Fonte: Autor.

A partir da proposta de Maslow, é possível tentar descobrir o que motiva cada um


de nós a estudar engenharia, a trabalhar como engenheiros e a continuar se
capacitando.
Pode-se querer somente sobreviver e talvez ter alguma segurança no emprego, um
plano de saúde pessoal e talvez para a família. Com o passar do tempo, a vontade de
fazer parte dos grupos, de pertencer a um setor, uma divisão, um grupo de trabalho, de
preferência que seja considerado de ponta, aparece na maioria dos profissionais.
Os cursos de mestrado e de especialização costumam fazer parte da formação do
engenheiro já com mais maturidade, de forma a dar a ele destaque e papel relevante
dentro dos seus grupos de trabalho.
A estima também aparece. Já não somos mais aprendizes da profissão; queremos ser
reconhecidos como profissionais competentes, ter nosso trabalho reconhecido. A
autorrealização, por sua vez, pode ser o principal objetivo da profissão e pode aparecer
desde as primeiras investidas profissionais. Muitos engenheiros trabalham com
desprendimento, atuando em regiões onde a necessidade e o sentimento de valor pelo
trabalho prestado são mais importantes do que a remuneração.
Outro estudioso da motivação que citamos anteriormente foi Frederick Herzberg.
Herzberg propôs dois fatores macros para explicar a motivação das pessoas em situação
de trabalho: os fatores higiênicos ou extrínsecos e os fatores motivacionais
propriamente ditos ou intrínsecos.
Os fatores higiênicos ou extrínsecos são fatores externos que afetam a motivação
das pessoas e não são por elas escolhidos; fazem parte do ambiente no qual elas agem.
No caso do trabalho, são salários, benefícios sociais, estilo de líder ao qual o
trabalhador está ligado, políticas definidas pela organização e regras formais da
empresa, entre outras.
Na vida em geral, o ambiente de estudo, o ambiente familiar, os estímulos que
recebemos para estudar e para trabalhar são fatores higiênicos. Assim, por exemplo,
uma pessoa que convive com uma família que se interessa por leitura tende a ter mais
motivação para ler do que outra que não conhece este tipo de ambiente.
A abordagem de Maslow e de outros estudiosos focalizava nesses fatores
extrínsecos. Na visão de Herzberg, estes fatores só evitam a insatisfação e a
desmotivação, mas não provocam necessariamente a motivação. Herzberg chamou a
estes fatores de higiênicos, exatamente por esta característica: são fatores profiláticos,
que higienizam o ambiente, permitindo, mas sem necessariamente gerar motivação.
Os fatores intrínsecos ou motivacionais propriamente ditos, relacionados ao
trabalho, e que foram o objeto da reflexão de Herzberg, estão relacionados com o
conteúdo da tarefa que se executa e com a sua natureza. No caso do trabalho, as tarefas
podem trazer para o trabalhador sentimentos de crescimento pessoal, autorrealização e
reconhecimento de outros pelo que faz. Com estes sentimentos, que são próprios e
dependentes da pessoa (intrínsecos), esta se torna mais ativa e criativa no exercício de
suas tarefas. Da mesma forma, na vida, atividades que nos desafiam e nos trazem bons
sentimentos, como crescimento pessoal e distinção, são motivadoras.
Herzberg propõe ainda que as tarefas devam ir se modificando com o tempo para
terem a capacidade de manter as pessoas motivadas. Assim, pode ser motivador
modificar o tipo de tarefa a ser executada, mesmo que não se aumente seu nível de
complexidade, ou, se não for modificada a tarefa, esta deve ir se tornando mais
complexa de se executar. É como uma tarefa que, a princípio, era executada por
ferramentas manuais e passa a ser executada com tecnologia mais moderna, exigindo
mais estudo e desenvolvimento pessoal do seu executante, dando a ele, assim, o
sentimento de mais nobreza na execução da mesma tarefa.
Cuidado deve ser tomado com a capacidade do executante de assumir a nova tarefa
e de ser capaz de novos aprendizados para evitar que ele se desmotive por se sentir ou se
perceber incapaz.
Embora estes fatores tenham sido estudados em ambientes de trabalho, as
conclusões desses estudos podem ser consideradas para a motivação pessoal na vida em
geral: para o estudo, para as atividades lúdicas e para aceitar como motivadores os
desafios que a vida coloca para cada um de nós.
David Clarence McClelland (1917-98), outro estudioso da motivação, foi um
psicólogo americano que, como outros de sua época, debruçou-se nos estudos para
entender melhor os fatores motivacionais. Desenvolveu a chamada “Teoria das
Necessidades Adquiridas”.50
Para McClelland, a motivação é uma preocupação recorrente para se atingir um
objetivo, a qual dirige, direciona e seleciona o comportamento de um indivíduo. Ele
identificou três tipos de necessidades comuns às pessoas e desenvolvidas pelos
indivíduos a partir de suas experiências vividas, sua interação com o ambiente onde
vive e com as pessoas com as quais se relaciona: a necessidade de realização, a
necessidade de afiliação e a necessidade de poder.
A necessidade de realização significa o desejo de exceder um conjunto de padrões;
ser bem-sucedido. A necessidade de afiliação é o desejo de estabelecer relacionamentos
próximos. A necessidade de poder é o desejo de exercê-lo e influenciar pessoas. Nas
organizações, a necessidade de poder se manifesta na busca de influenciar as decisões e
o comportamento organizacional.
Os motivadores de McClelland aparecem misturados nos nossos relacionamentos,
podendo um deles predominar. Olhando as organizações e os motivadores dos que
nela atuam, a predominância da necessidade de afiliação faz com que a pessoa tenda a
trabalhar e participar de grupos e a ser mais influenciada por eles. A predominância da
necessidade de poder pode levar a alguns comportamentos dominantes, como a
assumir papéis de liderança. A necessidade de realização atrai a pessoa para situações
onde ela passa a assumir responsabilidades.
Algumas abordagens posteriores a estes três estudiosos, notadamente a da chamada
Escola Comportamental (Chiavenato, 2013), relativizaram as teorias de Maslow,
Herzberg e McClelland.
Olhando do ponto de vista das organizações, a Escola Comportamental vê
conflitos entre os objetivos individuais e os da organização, conflitos esses que exigem
mudanças comportamentais da organização para serem superados. Mudanças como a
participação dos trabalhadores nas decisões, comunicação eficiente e estruturas mais
informais para produção, mais centradas nos objetivos do que nas hierarquias, se
mostram eficazes dentro das organizações como motivadores para a sua força de
trabalho.
A vida social, em geral, é parecida, sendo mais motivadora quando participamos das
decisões do nosso grupo social, nos comunicamos com mais facilidade e nos
relacionamos com mais naturalidade.
Mais recentemente, as chamadas Teorias da Contingência (Chiavenato, 2013)
olharam o ser humano como um sistema complexo de valores, interesses, necessidades
e percepções, passando este a ser visto como um sistema.
Olhando o ser humano como um sistema, não se pode ver causas para sua
motivação, mas a interação de diversos fatores internos e externos que a afetam,
modificando valores, interesses, necessidades e percepções, ao mesmo tempo que a
motivação se modifica e exige novas entradas motivacionais para manter o estado de
ânimo do ser humano. Assim, o sistema humano se desenvolve em resposta à
necessidade de resolver problemas que o ambiente, o trabalho e a família, por exemplo,
lhe colocam.
Nessa visão, a motivação é um processo e como tal está sempre em movimento.
Para manter seu equilíbrio, a reposição de energia no ser humano deve ser constante. A
motivação é consequência da ação humana, e não sua causa, necessariamente
(Chiavenato, 2013, p. 351).
A visão de que o ser humano moderno é um sistema único, que desenvolve seus
próprios padrões de percepções, valores e motivos, dirigindo seu comportamento para
seus objetivos pessoais, coloca as motivações, às quais o ser humano é suscetível, como
sendo função da sua história de desenvolvimento como pessoa e do ambiente no qual
viveu e vive.51
Com esta visão, as ideias de necessidades humanas universais e de hierarquia de
necessidades vêm sendo substituídas por uma visão que não se curva a ideias
preconcebidas, mas reconhece que os fatores motivacionais dependerão da interação
destes com o sistema humano, o qual tem suas diferenças individuais, e com as
diferentes situações colocadas pelo contexto em que este vive (Chiavenato, 2013, p.
353).
No que tange à atividade produtiva dentro das organizações, outras formas de
entender as motivações humanas foram desenvolvidas. O elemento “expectativa”
ganhou seu destaque.52 São expectativas os retornos (as recompensas) que as pessoas
que produzem dentro das organizações esperam receber em troca dos seus esforços. As
pessoas vão produzir mais se perceberem que existe uma relação direta entre os seus
esforços e a recompensa positiva recebida.
O dinheiro como sintetizador da capacidade de satisfazer as necessidades também
foi considerado como um importante fator motivacional, na visão moderna. Este
permite satisfazer as necessidades elencadas por Maslow, ou seja, as fisiológicas, as de
segurança, as sociais, as necessidades de estima, e facilitam a autorrealização. Se as
pessoas associarem o seu desempenho dentro das organizações aos maiores ganhos
pecuniários, tenderão a aumentar o seu desempenho.53

A importância da motivação para nossa vida

Podemos adaptar as observações sobre motivação feitas pelos estudiosos de


psicologia social dentro das organizações para as atividades do dia a dia e, com isto,
refletir sobre os motivos que nos levam a agir na vida da forma como agimos. Em
particular, refletir sobre o que nos motiva a estudar, para que queremos nos formar, em
quais atividades temos mais motivação para trabalhar, quais as modalidades da
engenharia que nos motivam mais, com quais especialidades temos mais afinidade,
identificando que tipo de motivação nos impulsiona em cada uma de nossas ações. Por
exemplo, a necessidade fisiológica de Maslow pode ser nosso motivador.
As perguntas do tipo que motivações gostaríamos que nos impulsionassem na nossa
profissão (por exemplo, autorrealização), que fatores externos podemos procurar
melhorar (por exemplo, o local de estudo), qual o grupo ideal com o qual devemos nos
relacionar de forma a termos mais incentivo para o estudo e como podemos
reorganizar nosso tempo para estudarmos mais, nos ajudarão a definir rumos mais
claros para nossa formação.
Os fatores motivacionais identificados pelos estudiosos podem nos ajudar nesta
reflexão. Cada um dará suas respostas a estas perguntas, porém, as visões de Maslow,
Herzog, McClelland e das demais teorias podem nos ajudar a identificar e alinhar as
nossas ações com as motivações mais focalizadas e mais estimulantes.
De forma geral, os indivíduos tendem a ter vários motivos, guiando suas ações.
Neste caso, espera-se que satisfaçam primeiramente os motivos mais intensos. Uma vez
satisfeitas as necessidades, cessam os motivos. A intensidade de um motivo tem forte
relação com as expectativas do indivíduo e com a percepção que este tem de que pode
realizá-lo com as ações que vai tomar.
O atingimento gradativo dos objetivos, ou seja, a sucesso nas atividades
direcionadas para a sua realização, tende a ser um fator que reforça a motivação. O
impedimento de seu atingimento bloqueia a satisfação, podendo gerar frustração ou
outros sentimentos capazes de provocar, muitas vezes, comportamentos de
agressividade e apatia, comportamentos imaturos ou processos de racionalização, nos
quais são colocadas razões para o insucesso que não são reais, mas criam uma explicação
racional para o fracasso na satisfação do objetivo (Hersey e Blanchard, 1982, p. 21-4).
Importante também para a motivação pessoal é se estabelecerem objetivos factíveis
e desafiadores. “Os objetivos devem ser colocados num nível suficientemente alto para
que a pessoa tenha de ‘esticar-se’ para alcançá-los, mas ao mesmo tempo
suficientemente baixo para que a pessoa de fato possa atingi-los” (Hersey e Blanchard,
1982, p. 28).
Embora não seja o fator suficiente para termos sucesso na profissão, a motivação é
muito importante na nossa mobilidade profissional e nos mantém sempre com
disposição para novos conhecimentos e novos desafios profissionais.
Para nos tornarmos melhores profissionalmente é importante que, além da
motivação, saibamos no que queremos nos tornar e onde queremos chegar. Os projetos
que fazemos para a nossa vida e que direcionam nossas energias liberadas pela nossa
motivação têm fundamental importância. Nossos projetos de futuro, entretanto, têm
como estrutura para suas construções os nossos modelos mentais, ou seja, as formas
como nós concebemos o mundo, as ideias que temos da realidade, nossa visão de
mundo e das suas possibilidades.
Costumo perguntar para os meus alunos quem já pensou em ser presidente da
república, ou mesmo um senador ou deputado. Poucas vezes escutei, e sempre de
forma tímida, a resposta positiva. Meu comentário é de que “dificilmente alguém
daquele grupo se tornará presidente ou senador ou deputado, simplesmente porque
não tem isto como objetivo, como visão de futuro”. Por outro lado, o filho de um
deputado ou de um senador, em geral, também pensa em se tornar um, tendo mais
chances de vir a ser.
Quando não nos propomos um objetivo claro que possa nos motivar a realizá-lo,
dificilmente teremos realizações conquistadas de forma consciente e motivada. Na
profissão, se não temos um modelo mental do que queremos ser, dificilmente seremos
um profissional brilhante.
Como discutiremos brevemente no próximo item, intitulado “paradigmas”, esse
modelo mental, ou paradigma, como vamos nos referir a ele, existe formando nossos
modelos de mundo e direcionando nossas visões de futuro.
De forma resumida, a motivação é necessária para que levemos a curso nossos
projetos, e sua realização gradativa vai reforçar nossa motivação, num processo
realimentado dentro do sistema humano.
Para fazermos bons projetos e os realizarmos, no campo profissional, e mesmo
pessoal, é necessário que, além da motivação, definamos ações a serem tomadas, com
ideias que nos impulsionem, dentro de uma visão clara e ousada do futuro que
queremos construir e que nos leve a tomar a dianteira na condução de nossas vidas. É
assim que desejamos construir um projeto estratégico para a nossa própria vida:
motivador.
Assim, além da motivação, é importante, para realizarmos novos e motivadores
projetos, que possamos pensar além de nós, pensar com grandeza e com ousadia;
pensarmos “fora da caixa”. Para isso ajuda muito rompermos com os paradigmas que
nos foram inculcados e que nos levam a formular propostas de vida e visões de futuro
para nós mesmos, com pequena capacidade de nos motivar para a ação.
De forma a liberar um pouco mais nossa capacidade de pensar fora da caixa,
discutiremos brevemente, em complemento a este tema da motivação, a importância
dos paradigmas na formação de nossos modelos mentais e, consequentemente, de
nossos projetos de vida.
Com motivação e com paradigmas mais ousados, teremos mais chances de
construir um Projeto Estratégico Pessoal Profissional (ver tema 13) para orientar
nossas ações de vida futura, com foco na profissão e que nos dê mais chances de
sucesso. Vejamos então o que são os paradigmas e como eles influenciam nossos
projetos de vida e, em particular, nossos projetos profissionais.

O conceito de paradigma

O termo paradigma vem dos gregos e significa padrão, modelo. Platão, que pregava
a existência de um mundo, o Mundo das Ideias, onde as “coisas perfeitas” existiam,
propunha que paradigmas eram modelos daquele mundo, a partir dos quais o real se
construía. Assim, o homem perfeito existente no mundo das ideias, como forma, ou
seja, essência, servia de modelo, paradigma, para a criação dos homens concretos e que
de fato existiam no mundo real (Lacerda, 2004).
O termo paradigma se consagrou após a publicação, em 1962, do livro de Thomaz
Kuhn (1922-1996), A Estrutura das Revoluções Científicas.
Como o próprio Kuhn explica, ele se apropriou do termo que era usado na
gramática: “amo, amas, amat é um paradigma porque mostra o padrão que se usará
para conjugar um grande número de verbos latinos […]” (Kuhn, 2006, p. 88, tradução
nossa). Ele manteve o sentido do termo: padrão ou modelo, porém, focalizou os
modelos de pensamento seguidos pelos cientistas de um determinado campo ao
desenvolverem suas teorias.54
Assim, existem vários exemplos de modelos de pensamento, de formas de se ver o
mundo, que vão sendo usados para explicar diferentes fenômenos nas ciências. Por
exemplo, o modelo mecanicista de Descartes, desenvolvido a partir do século XVII,
quando as ideias mecanicistas, sob forte influência da mecânica de Galileu e de
Newton, tinham dominância.

Descartes introduziu a rigorosa separação de mente e corpo, a par da ideia de que o corpo é uma máquina que
pode ser completamente entendida em termos da organização e funcionamento de suas peças. Uma pessoa
saudável seria como um relógio bem construído e em perfeitas condições mecânicas (Capra, 2006, p. 132).

Modernamente, o termo paradigma vem sendo usado de forma mais ampla, no


sentido de modelo de pensamento, seja na ciência ou na vida cotidiana. São entendidos
como modelos psicológicos a partir dos quais formamos uma visão de mundo e que
servem de base para enfrentarmos problemas, fazermos projetos e elaborarmos mapas
mentais. “Paradigmas são simplesmente padrões psicológicos, modelos ou mapas que
usamos para navegar na vida” (Kuhn, 2006, p. 45).
A educação, o convívio social e nossas experiências de vida trazem para nós formas
de perceber e de interpretar o mundo. Nossa interpretação da realidade, do mundo em
que vivemos, é determinada, em grande parte, pelos padrões que assimilamos nas
nossas vivências e que contribuem para a formação de nossos paradigmas pessoais.
Os engenheiros, por exemplo, profissionais habituados a pensar logicamente
quando colocados diante de um problema que envolva números, tendem a pensar
dentro dos paradigmas da matemática, somando, multiplicando, operando
logicamente com base na matemática. Assim, num exemplo já bem conhecido, que é o
da descoberta do próximo número da sequência 2 – 10 – 12 – 16 – 17 – 18 – 19 – ?,
um problema de aspecto matemático, levará, com grande probabilidade, uma pessoa
treinada em matemática, que esteja habituada ao pensamento lógico-matemático, a
tentar descobrir o próximo número da série executando operações como somar os dois
primeiros obtendo 12 e tentar a mesma operação entre 10 e 12, verificando que não é a
lógica correta para a série. Procurará multiplicar os números e fazer outras operações
antes de tentar outra alternativa que não siga modelos matemáticas. Pouco
provavelmente observará que todos os números da série começam com a letra D (em
português) e que, assim, o próximo será o número 200.
Assim, coisas simples, das quais nem sempre nos damos conta, podem evidenciar
como nossa mente já tem padrões e modelos predefinidos, dos quais temos muita
dificuldade de nos libertar. Por exemplo, parece banal, para nós que somos educados
no alfabeto latino, dizermos que um rabisco que apareça na nossa frente com a forma
“OBRIGADO” é uma forma de agradecimento. Diremos que está escrito obrigado, uma
forma de agradecimento em nossa cultura, e provavelmente não haverá discussão
quanto a isto.
Se fizermos a mesma pergunta para uma pessoa árabe educada no alfabeto árabe e
que não conheça o alfabeto latino, é possível que ela diga que são rabiscos. No entanto,
se apresentarmos para ela os rabiscos ‫( ﺷﻜﺮا‬chequerá), ele dirá, no seu idioma, que
está escrito obrigado. Um chinês diria o mesmo diante de 謝謝 (xiéxié), um grego, ao
se deparar com Ευχαριστώ (eukaristo), e um japonês, ao ler ありがとう(arigatô). Se
não conhecermos as escritas nesses idiomas, provavelmente diremos que o que temos
diante de nós são rabiscos e nada mais.
Somos, assim, condicionados a enxergar o mundo e a interpretá-lo de formas
predefinidas. Essa situação não ocorre só em relação às palavras. Temos muitos padrões
interpretativos que assimilamos pela nossa educação e pela cultura dentro da qual nos
criamos. Nem sempre é fácil enxergarmos além deles.
Podemos dizer que vemos o mundo por meio de modelos preconcebidos; de
padrões que assimilamos de forma inconsciente. A estes padrões ou modelos é que
usualmente damos o nome de paradigmas. Podemos dizer que vemos o mundo por
meio de nossos paradigmas.
Os paradigmas funcionam como filtros que selecionam o que percebemos e
reconhecemos, e que nos levam a recusar e a distorcer os dados que não combinam
com as expectativas criadas por eles.
Por duas pessoas terem paradigmas diferentes em relação a um determinado tema,
pode ocorrer o “efeito paradigma”, no qual o que é percebido por uma será
imperceptível para a outra.
Buscamos explicar o mundo com base nos modelos que aceitamos como válidos.
Quando interpretamos a realidade, ou seja, o mundo em que vivemos, o fazemos
buscando encaixá-lo segundo modelos que já conhecemos. Talvez por isto, as crianças
sejam mais livres na interpretação do mundo: elas têm poucos ou nenhum paradigma.
Observemos que, embora esses modelos possam orientar nossas decisões racionais,
nossos projetos e nossas ações, sua construção quase nunca é racional. Os modelos de
engenharia, como os físicos e matemáticos, são ditos racionais, mas os modelos que
temos do mundo e das pessoas quando sozinhas ou em sociedade são, em geral,
formados sem muita racionalidade, dando margem a preconceitos e superstições sem
fundamentos, aos quais nossas crenças e opiniões nos ligam.
Os paradigmas que temos para interpretar o mundo são importantes porque
acabam definindo nossos planos, nossa forma de encarar a vida, nossos preconceitos,
nossas superstições e muitos de nossos medos. Os paradigmas formam nossos modelos
mentais e nós não funcionamos sem eles.
O simples deslocamento que fazemos de um local para outro no lugar onde
moramos exige que tracemos um modelo de trajeto em nossa mente. Imaginemos que
estamos indo de nossa casa para um local mais distante da cidade onde moramos, para
encontrar alguns amigos, dirigindo um veículo que tenha que seguir as mãos de direção
das ruas. Suponhamos que não há disponível GPS ou outros auxiliares de navegação e
que tenhamos que definir o caminho a partir do conhecimento que temos da cidade. O
que deveríamos fazer?
O procedimento geral consiste em imaginarmos o caminho que nos leve até o local
desejado, o que pode ser feito definindo, em primeiro lugar, uma direção, e depois
imaginando as ruas que já percorremos alguma vez e que nos levaram à direção
desejada. Em outras palavras: para nos orientarmos, desenhamos um trajeto mental e
tentamos segui-lo. Este é traçado por meio do “modelo mental” que temos da cidade.
Se as mãos das ruas forem modificadas, talvez fiquemos confusos pela incapacidade de
criarmos um modelo do trajeto a ser seguido.
Nesta situação, há necessidade de construirmos outro modelo. A construção
poderá causar desconforto e insegurança num primeiro momento, mas certamente nos
levará a descobrir caminhos errados e corretos e a conhecer melhor a cidade onde
vivemos. Assim são os paradigmas. Quando “quebrados”, quando passamos a trabalhar
com paradigmas novos, fazemos descobertas que podem nem sempre ser agradáveis,
mas que nos conduzirão a caminhos novos. Estes podem nos levar a descobrir outras
paisagens, novos lugares e talvez formas mais fáceis para chegarmos ao destino. Podem
nos levar também a lugares perigosos e a caminhos sem saída e sem comunicação com o
destino desejado.
Seja como for, vivemos imersos em paradigmas e, com eles, construímos nossos
modelos mentais e nossos projetos de vida, o que é mais relevante. No tema 13,
conversaremos sobre Planos Estratégicos e, dentro deste tema, em como construir uma
visão de futuro para a vida profissional. Para esta construção, pensar com liberdade,
com modelos e propostas novas é importante. Na vida da engenharia e na criatividade,
de uma forma geral, quebrar paradigmas é permitir que coisas novas e criativas
aconteçam.

Como se formam os paradigmas?

A história do banco do quartel que era vigiado para que ninguém se sentasse nele é
ilustrativa. Os soldados se revezavam, vigiando o local dia e noite, durante muitos anos,
garantindo que ninguém se sentasse no banco. Quando alguém questionou por que
não se podia sentar no banco, um soldado respondeu que havia recebido ordens do
sargento, e este disse que as havia recebido do tenente, e assim por diante, até se chegar
ao general. Quando este último foi questionado, ele perguntou: que banco?
Identificado o banco, ele se lembrou de que havia sentado no banco que estava com
tinta fresca, ainda quando era capitão, e estragou sua farda, ordenando a prisão do
sargento que deu ordens para pintar o banco e não colocou nem uma placa nem uma
pessoa para evitar que os desavisados sentassem no banco. O então capitão deu ordens
para que se colocasse uma sentinela que impedisse que alguém se sentasse no banco. A
ordem não foi retirada e ninguém a questionou. O banco ficou sendo vigiado por
quinze anos, e ninguém se sentou nele até o general retirar a ordem que nem ele sabia
que ainda estava valendo.
História semelhante é a dos cinco macacos (YouTube, 2013). Enjaulados, tinham
no centro da jaula uma escada. Sobre esta, havia um cacho de bananas. Toda vez que
algum macaco tentava subir na escada para pegar as bananas, um chuveiro era ligado na
jaula, molhando com água fria os cinco macacos. Com o passar do tempo, os macacos
não subiam mais a escada para pegar as bananas e, se algum tentava, era duramente
reprimido pelo grupo, até com agressões físicas.
Nesta situação, um dos macacos foi trocado por um novo na jaula. O novo tentou
subir na escada para pegar a banana e foi duramente atacado pelos demais. Nas
repetidas vezes que tentou subir, o mesmo ocorreu. Um segundo macaco foi trocado e
o mesmo aconteceu, sendo que o primeiro macaco que substituiu o antigo participava
do espancamento e das represálias à tentativa do segundo macaco novo subir a escada.
Assim, foi com o terceiro, o quarto e, quando o quinto macaco foi substituído, embora
os cinco nunca tivessem recebido uma chuveirada, não permitiam que qualquer um
subisse a escada para pegar as bananas. Seguiam o paradigma estabelecido.
Um exemplo usualmente citado de paradigma que não foi quebrado, e sim
incorporado em novas criações, é o da colocação do volante do lado direito dos carros.
Bem sabemos que os carros foram uma continuidade das carruagens, em que os
“cavalos” foram substituídos por motores elétricos ou à combustão.
A maioria dos condutores de carruagens era destro e, portanto, chicoteava os
cavalos com o uso do braço direito. Para evitar que passageiros ao seu lado fossem
atingidos pelo chicote, os condutores os colocavam ao seu lado esquerdo, passando a
ser o lado direito o do condutor. Quando os carros substituíram as carruagens, o
condutor continuou do lado direito do veículo.
A história prossegue dizendo que os americanos questionaram este modelo,
observando que a passagem das marchas e a frenagem exigiam força e que os membros
direitos eram mais fortalecidos nos destros e mais aptos para efetuarem as manobras
necessárias. Desta forma, passaram o condutor para o lado esquerdo do veículo,
quebrando o paradigma.
Muitas criações exigem quebra de paradigmas. Estes podem se apresentar na forma
de preconceitos ou premissas pouco racionais que, em geral, não questionamos.

Substituindo paradigmas

Romper paradigmas não é fácil. Na visão de Thomas Kuhn, aqueles que seguem um
paradigma lutam para mantê-lo e justificá-lo, mesmo quando este começa a apresentar
anomalias,55 ou seja, a não explicar corretamente os fatos e a não resolver os problemas
que os fatos apresentam. Assim é na ciência e assim é na vida. Em geral, nos agarramos
a modelos de pensamento, que nos levam a formar modelos mentais com os quais
costumamos interpretar, perceber e justificar os nossos atos e guiar a nossa vida.
O avanço do pensamento, no entanto, vem quando quebramos os paradigmas.
Devemos sim explorar os paradigmas já consolidados e verificar sua adequação para
avançarmos com o conhecimento e ajustarmos as nossas atitudes. Uma vez que
apareçam alguns paradoxos, alguns conflitos importantes, é hora de pensarmos em
abandonar os antigos paradigmas, principalmente quando eles limitam nosso
desenvolvimento pessoal, nos limitam nas nossas atividades e nos tiram a motivação
para uma caminhada mais ousada.
Os paradigmas podem ser identificados em tabus, preconceitos, justificativas de
limites, falta de flexibilidade e fechamento cultural. Esses, não raro, levam a erros que
são muitas vezes explicados como: “Sempre foi feito assim, então, não vejo porque
mudar!”.
Como réplica, podemos dizer que “seguindo o mesmo caminho chegaremos ao
mesmo destino”. Se quisermos mudar nosso destino, é importante pensarmos em
mudar os nossos paradigmas.
Como mudá-los, ou romper ou quebrar nossos paradigmas? O primeiro passo é
questioná-los. Por que questionar? Porque eles parecem insensatos, irracionais, não
respondem às nossas perguntas, não nos dão conforto para agir na vida de forma
espontânea, porque não nos explicam os questionamentos, porque não se adequam às
nossas experiências e expectativas.
A ruptura com um paradigma antigo não se mantém, entretanto, se não tivermos
um novo paradigma que nos permita a construção de novos modelos mentais para
agirmos no mundo. Precisamos nos orientar, tomar decisões e agir no dia a dia. Para
formarmos novos paradigmas, muito ajuda conhecer outros pontos de vista sobre o
mesmo assunto.
O que dizem os cientistas sobre um determinado material ou sobre a tecnologia de
captação de energia solar? Diferentes opiniões podem nos ajudar, num processo muitas
vezes dialético, a movimentar as ideias em direção a uma nova proposta, um novo
paradigma, que pode não ser nem o antigo nem o outro que alguém propôs, mas um
paradigma próprio, desenvolvido conforme nossa criatividade e impulsionado pelas
diferentes posições dos diferentes paradigmas já propostos. Para se romper com um
paradigma, é necessário que se construa um novo.
Para garantirmos a consolidação de um paradigma novo, precisamos praticá-lo, ou
seja, aplicá-lo aos casos em que as suas explicações se adequem à nossa percepção da
realidade. Explicar e agir de acordo com o novo paradigma o consolida e ratifica seu
conceito.
O paradigma geocêntrico, por exemplo, serviu de modelo para as explicações
científicas por muitos anos. Com apoio nele, que vê a Terra e o homem como criação
acabada, não havia lugar para a elaboração de uma teoria desenvolvimentista no
modelo de Darwin, nem para se pensar a física e a química como “processo”, em que as
transformações ocorrem gradativamente, em que as trocas de energia são possíveis e em
que as mudanças de estado são uma “evolução” do estado anterior.
A ideia do paradigma geocêntrico é aquela que coloca a Terra no centro do
universo. Sendo assim, o homem, a figura central do universo que nela habita, só
poderia ter sido criado na forma em que se apresenta, não cabendo seu
desenvolvimento, ou qualquer processo que o modificasse. O paradigma heliocêntrico
foi adotado e praticado para explicar, com melhor resultado, os fenômenos observados
nos céus. Ele também mudou a explicação das criações. A partir dele pode-se chegar à
teoria do “big-bang”.

A ciência e os paradigmas

Não só os engenheiros, mas também as pessoas em geral tendem a ser seduzidas pela
expressão “a ciência prova que…”. Se uma afirmativa é objeto de dúvida, esta expressão
pode decidir de vez quem está com a verdade. Nossa sociedade “crê” naquilo que a
ciência diz.
A história nos mostra, porém, que a ciência não é algo tão confiável assim, tendo
em vista que as suas afirmativas, mesmo aquelas demonstradas com as ferramentas
disponíveis no seu momento de validade e provadas com os experimentos que as
justificam, têm ao longo do tempo modificado o seu entendimento sobre a verdade,
por este se tornar inadequado ou ultrapassado.
Foi refletindo sobre estas mudanças das visões nas ciências e outras questões
relacionadas, que o físico, filósofo e historiador das ciências, Thomas Kuhn, colocou
em evidência a importância e a existência dos paradigmas para a ciência.
O que ele observou foi que a ciência se desenvolve apoiada em paradigmas. Estes
aparecem pela aceitação da comunidade científica de verdades, que logo se
transformam em modelos de pensamento para os cientistas e que passam a ser seguidos
até que deixem de explicar convenientemente a realidade.
Os modelos da ciência ganham mais importância porque, não raro, se passam para
o cotidiano das pessoas, muitas vezes, de forma metafórica. Quando dizemos que a vida
passa com a velocidade da luz, estamos usando uma metáfora que tem seu significado
para quem sabe o que significa “velocidade da luz”.
Na visão de Kuhn, os paradigmas são os impulsionadores da ciência, mas não são
aceitos com facilidade.
A explicação sobre a natureza da luz, por exemplo, já passou por algumas
modificações, sendo entendida em diferentes épocas, de diferentes maneiras, pela
ciência.
Os antigos tinham vários entendimentos sobre a natureza da luz, não conseguindo
chegar a uma visão unificada. Para um dos grupos daqueles que poderiam ser
referenciados como “cientistas antigos”, entendia-se “que a luz constava de partículas
que emanavam dos corpos materiais; para outro grupo, era uma modificação do meio
interposto entre o corpo e o olho; outro grupo explicava a luz em termos de uma
interação entre o meio e uma emanação do olho” (Kuhn, 2006, p. 73-4, tradução
nossa). Desde os tempos antigos, as escolas, do que se podia entender como ciência, se
apoiavam em princípios que não eram exatamente científicos, mas que buscavam
argumentos para justificarem suas visões.
O primeiro consenso em relação à natureza da luz foi sobre a proposta do filósofo
cientista Isaac Newton. Seu modelo foi aceito pela comunidade de pessoas
consideradas cientistas, cristalizando os primeiros conceitos da física óptica. A partir
de Newton, aqueles que estudavam a luz partiam das conclusões dele para avançar nos
seus estudos. Em outras palavras, o modelo de pensar a luz, estabelecido na física óptica
de Newton, estabeleceu o modelo de pensamento que guiou os cientistas que seguiram
no estudo do tema nas décadas posteriores a Newton.
A estes modelos, que direcionam a forma de pensar dos cientistas, Kuhn chamou
de paradigmas da ciência. Dito de outra forma, na visão deste pensador, Newton
estabeleceu o primeiro paradigma para o estudo da ciência óptica.
Kuhn deu ao termo paradigma um sentido próprio dentro do campo das ciências.
Para ele, estes são “as conquistas científicas universalmente aceitas que durante algum
tempo fornecem modelos de problemas e soluções a uma comunidade de profissionais”
(Kuhn, 2006, p. 50, tradução nossa).
Assim, Kuhn mantém o conceito original de paradigma como modelo, padrão, mas
dá a ele um sentido de premissa assumida pelos cientistas que o aceitam na realização
dos seus trabalhos. Os paradigmas estão na base das conclusões científicas dos que o
seguem. Os cientistas de um determinado campo da ciência partem deles para concluir
as suas leis e definir os seus métodos de investigação.
Thomaz Kuhn buscou, em suas análises, explicar como as ciências se estabelecem
como tal. De como os paradigmas são aceitos e servem de guia para a constituição das
ciências durante algum tempo.
Na acepção de Kuhn, os paradigmas “fornecem modelos dos quais surgem tradições
particulares e coerentes de investigação científica” (Kuhn, 2006, p. 71, tradução nossa).
Os que já aceitaram os paradigmas de um determinado ramo da ciência, de certa
forma, convertem os que estão estudando temas com eles relacionados. A formação do
estudante de ciências o prepara para “converter-se em membro da comunidade
científica particular na qual haverá de trabalhar mais adiante” (Kuhn, 2006, p. 71,
tradução nossa). Aqueles cientistas e estudantes que, comprometidos com o paradigma
da ciência, seguirão as normas, regras e práticas ditadas pelo paradigma a que aderiram,
reforçarão, assim, de forma aparentemente natural, o consenso quanto às conclusões
obtidas pelo seu campo científico.
Facilitando a consolidação dos paradigmas, esses cientistas e estudantes também
direcionam os dados que são relevantes para a retirada de conclusões, influenciando
grandemente nos experimentos que são considerados válidos para um determinado
campo de estudo e contribuindo para manter os paradigmas aceitos.
Tendo em conta um paradigma para se guiarem, os cientistas trabalham
reforçando-o com suas experiências, artigos e estudos em geral. Falando de uma forma
fria, a atividade dos cientistas que aderem a um paradigma parece ser a de “meter à
força a natureza nos compartimentos pré-fabricados e relativamente inflexíveis
fornecidos pelo paradigma” (Kuhn, 2006, p. 89-90, tradução nossa). Assim
procedemos muitas vezes na vida quando assumimos um modelo de verdade para
explicar fatos do nosso mundo cotidiano.
Um paradigma na ciência tem implicações além das científicas. Em torno dele, de
forma geral, também acontecem fenômenos sociais como a “formação de revistas
especializadas, a fundação de sociedades de especialistas e a exigência de um lugar
especial nos currículos” (Kuhn, 2006, p. 83-4, tradução nossa)
Os paradigmas, porém, só permanecem válidos se se ajustarem bem à realidade.
Assim, no exemplo da luz, o primeiro paradigma que Newton criou na óptica veio a ser
questionado. A óptica de Newton, que ensinava que a luz era composta de corpúsculos
materiais, não explicava as experiências de Yong e Fresnel (Kuhn, 2006, p. 73;
Beléndez, 2015). As experiências destes induzem à natureza ondulatória da luz,
criando um novo paradigma que só vai ser quebrado com o desenvolvimento das
teorias quânticas que entenderam a luz como onda e partícula a um só tempo.

Como se quebram os paradigmas

Quando algum experimento ou acontecimento não é explicado adequadamente


por um paradigma existente, ocorrerá ou a exclusão deste experimento, uma vez que
será entendido como fora do campo de estudo da ciência guiada pelo paradigma ou, no
mínimo, este será questionado.
Questionado o paradigma, este pode ser substituído por outro que melhor explique
os dados existentes e observados. Dizemos, neste caso, que o paradigma foi quebrado e
substituído por um novo paradigma.
“Para ser aceito como paradigma, uma teoria deve parecer melhor que seus
competidores” (Kuhn, 2006, p. 81, tradução nossa). Em ciência, “quando no
transcurso do desenvolvimento da ciência natural uma pessoa ou um grupo produz
pela primeira vez uma síntese capaz de atrair a maioria dos profissionais da geração
seguinte, as escolas mais antigas desaparecem gradualmente (Kuhn, 2006, p. 82).
Os membros da antiga escola se convertem ao novo paradigma. Os que não se
convertem são gradativamente “eliminados da profissão”.
Durante o período em que um paradigma tem êxito em resolver os problemas que
são de seu campo de conhecimento, muitos avanços são feitos pela ciência. Quando
um paradigma deixa de funcionar, os cientistas tendem a buscar alternativas em outros,
e o antigo se enfraquece como orientador dos pensamentos. As dificuldades de um
paradigma em orientar a solução de problemas relacionados com seu campo de
conhecimento é o prenúncio de que serão procurados novos para substituí-lo.
Kuhn se refere aos fatos não explicados ou problemas não resolvidos com o auxílio
dos paradigmas existentes, como o surgimento de anomalias na solução dos problemas
orientados por eles. A anomalia não é explicada pelo paradigma vigente.
Algumas anomalias são analisadas por Kuhn (2006). A primeira delas é a ocorrida
na astronomia ptolomaica com o aparecimento da astronomia copernicana. A teoria
de Ptolomeu explicava com pouca precisão as posições planetárias e a precessão
(antecipação) dos equinócios (quando os dias e as noites têm a mesma duração). As
discrepâncias foram se acumulando a tal ponto que, “ao final do século XVI, um
número cada vez maior dos melhores astrônomos europeus reconhecia que o
paradigma falhava na aplicação dos seus próprios problemas tradicionais” (Kuhn,
2006, p. 153, tradução nossa). A crise trazida pelas anomalias não explicadas pelo
sistema ptolomaico abriu caminho para a aceitação do paradigma copernicano com o
sol no centro do sistema solar.
Kuhn analisa, ainda, a crise no paradigma químico no século XVII, quando a teoria
do flogisto, que era entendido como uma substância desprendida dos materiais
combustíveis quando estes se queimavam, se mostrou ineficaz para explicar o aumento
de peso dos materiais que ocorria com sua queima.
Os conhecimentos adquiridos pela compressão do ar nas “bombas de ar”, que era o
de que este fluido era composto de diferentes substâncias, e os experimentos de
Lavoisier sobre a combustão de materiais levaram a conclusões sobre a presença de um
material no ar que reagia com as substância que se queimavam, ou seja, do oxigênio
presente no ar, e não do flogisto presente nos materiais combustíveis. Isto levou à crise
no paradigma do flogisto e à sua substituição.
Finalmente, Kuhn apresenta o exemplo da crise na física, no final do século XIX,
que preparou o caminho para a teoria da relatividade.
O que ocorreu foi que, ao final do século XIX, a teoria do físico e matemático
James Clerk Maxwell (1831-79) pôs em xeque a física de Newton. Esta não explicava o
movimento das ondas eletromagnéticas de forma adequada. Por exemplo, o conceito
de um “éter” no qual se assumia que estas ondas se movimentavam passou a ser
questionado e, finalmente, superado. O grande questionamento, no entanto, que
deslocou o paradigma newtoniano com a discussão sobre a velocidade da luz.
Para Newton, se a luz fosse emitida por um observador em movimento, se
deslocando na direção do raio luminoso emitido, aquele deveria ver o raio com uma
velocidade igual à da luz no seu meio de propagação menos a sua própria velocidade de
deslocamento, ou seja, seria enxergada a velocidade relativa da luz. As equações de
Maxwell, por outro lado, concluíam que a velocidade da luz seria constante,
independentemente do observador estar se movendo ou não.
Assim, pela física de Newton, um observador que estivesse se movimentando no
vácuo, numa dada direção, com uma velocidade de 100.000 km/s e acendesse uma
lanterna também no vácuo, onde a luz tem velocidade de 300.000 km/s, apontando-a
na direção do seu deslocamento, deveria ver o raio de luz se deslocando com 200.000
km/s. Se a acendesse deslocando-se a 300.000 km/s, veria a luz parada. Entretanto, tal
observação na variação da velocidade da luz não ocorria. A anomalia identificada só foi
resolvida com o aparecimento de um novo modelo, que se tornou o paradigma
dominante na física, que foi a teoria da relatividade de autoria de Albert Einstein
(1979-55), publicada em 1905.
A conclusão de Einstein, que solucionou a anomalia observada, foi a de que o
tempo não era uma grandeza absoluta como pensava Newton, mas uma grandeza que
variava com a velocidade. Esta conclusão não foi aceita de imediato; na verdade, sequer
foi entendida de imediato. Contudo, uma vez aceita e sendo capaz de explicar tudo o
que havia sido explicado por Newton, além de dar explicações aos fenômenos
observados e sem nenhuma explicação adequada até então – como muitos dos
fenômenos cósmicos –, este modelo, chamado “Teoria da Relatividade de Einstein”, se
estabeleceu como o paradigma da mecânica.
Outro expoente da física, Max Plank, contemporâneo de Einstein, propôs, de
forma a resolver anomalias observadas nas radiações emitidas por corpos negros, que a
energia não era emitida nem absorvida de forma contínua, mas em pacotes de energia,
os quais denominou “quantum” de energia. Assim, rompeu com o paradigma das
variações contínuas na natureza e possibilitou o estabelecimento de uma linha nova na
física para explicar a natureza da matéria, viabilizando a criação de um modelo atômico
que funcionava, possibilitando o trabalho com a matéria no seu estado micro e
permitindo outros grandes avanços na física e na tecnologia que trabalha com a
matéria no nível atômico.
Embora tenhamos focalizado exemplos da física, muitos paradigmas foram
quebrados em outras áreas da ciência, e novas ideias e interpretações de mundo se
tornaram possíveis. Na psicologia, por exemplo, Sigmund Freud (1856-1939) mostrou
que o ser humano agia de forma inconsciente em grande parte de seu tempo,
demonstrando na prática que o “homem não é um ser tão racional” quanto pensava
Aristóteles na antiguidade e como foi pensado ao longo de muitos séculos.
Como uma das esteiras que movimenta a engenharia é a tecnologia, a qual por sua
vez caminha no rastro da ciência, a quebra de paradigmas nas ciências é importante
para a engenharia se desenvolver.
Os novos paradigmas nas ciências influenciam também a forma como enxergamos
a vida. Pelo valor que damos ao conhecimento científico, as mudanças nos paradigmas
das ciências impactam muito a nossa visão de mundo. Os novos modelos se
popularizam e se tornam paradigmas para pensarmos nossas vidas, nosso mundo e a
nossa relação com ele. Quando falamos, por exemplo, em “aumento de entropia” para
falarmos do aparecimento de atividades desordenadas em ambientes sociais, estamos
usando um conceito da física. São também comuns as explicações, com base na física
quântica, de fenômenos naturais e sobrenaturais, por exemplo.
Sobre os paradigmas, Kuhn (2006) ainda sublinha que as discrepâncias entre
teorias e observações aparecem muito antes da formulação de novos paradigmas, mas
que não são importantes num primeiro momento porque os cientistas tentam ajustar a
teoria às discrepâncias identificadas, não assumindo sua falibilidade na explicação
destas, mas buscando encontrar onde a sua aplicação está levando a observações
erradas. Tentam, em último caso, ajustar as teorias. Não conseguindo, começam a
elaborar novos paradigmas que vão sendo testados até que um passa a ser o dominante
e a guiar a ciência daí para a frente.
Na nossa vida, algo assim acontece. Acreditamos em verdades muitas vezes aceitas
pelo senso comum de forma generalizada, que, diante de modificações na percepção
social, no amadurecimento de nossa consciência, não servem mais de modelos para
guiar as nossas conclusões sobre o mundo. Ainda assim, procuramos, nestas situações,
ajustar as nossas crenças às novas realidades e, somente na impossibilidade de ajustes,
adotamos outros paradigmas para nossas vidas.
Em ciência e na vida, o que podemos identificar é que um paradigma substitui
outro existente diante de algumas ocorrências: 1) se houver insatisfação com o vigente,
o que em geral ocorre quando ele não responde às novas perguntas ou se mostra
conflitante com outros paradigmas igualmente aceitos; 2) se o novo paradigma for
inteligível, resolver os problemas que o antigo não resolvia e for capaz de gerar
resultados e 3) se o novo paradigma der coerência ao resto do que era explicado
convenientemente pelo antigo paradigma.
Um novo paradigma na ciência inicia novos programas de pesquisas, novos
experimentos e leva ao desenvolvimento de teorias e propostas de trabalhos científicos
inéditos. Na vida, novos paradigmas levam a novos projetos de vida, novas atitudes,
novas formas de olhar o mundo em que vivemos e a novas motivações para realizarmos
o que planejamos.

Importância dos paradigmas nos nossos projetos pessoais

Os paradigmas ditam nosso modo de agir no mundo, nossa interpretação desse


mundo e nossos projetos de vida. Quando alguém pensa em ser um engenheiro é
porque este modelo de formação profissional lhe foi apresentado em algum momento
da vida, e ele considerou melhor, mais factível, mais próximo das suas capacidades que
outros modelos profissionais. Quantos pensam em se tornar astronautas? Ou
presidentes de seus países? Ou jogadores de futebol famosos? São paradigmas, modelos,
com menos penetração nos grupos universitários. Talvez alguns tenham pensado em
ser músicos, atores teatrais e escritores, uma vez que são modelos com os quais temos
mais contato no cotidiano.
Os paradigmas são importantes para podermos traçar Planos de Vida. No tema 13,
quando conversaremos sobre “Plano Estratégico Pessoal Profissional”, perceberemos
como quebrar paradigmas pode ser importante para nos lançarmos em novos e
desafiantes futuros.
Nossos sonhos, nossa visão de mundo e nossos projetos se apoiam nos nossos
paradigmas. Seguindo a máxima “ninguém ama aquilo que não conhece”, não podemos
nos apaixonar por um objetivo se não o conhecemos, se não o delineamos ao menos
como modelo no nosso pensamento. Este objetivo pode ser a realização de uma
pesquisa de ponta, o desenvolvimento de um produto de grande utilidade social, a
edificação de um projeto de engenharia, o ingresso como professor nos quadros de uma
universidade, ou mesmo o trabalho em um local distante em busca de autorrealização.
Seja qual for o objetivo que queiramos atingir, ele deve ser pensado, devemos ter dele
um modelo mental, ainda que tosco, para caminharmos na direção da sua realização.

Motivação e paradigma

Motivação e paradigma são dois fatores de sucesso importantes que traçamos aqui
para um engenheiro que pretende se desenvolver na sua vida profissional, galgar
posições de destaque na sociedade e se realizar como profissional. A motivação é o
motor que impulsiona as ações; os paradigmas são as estruturas de base que vão
orientar nossas decisões, a definição de nossas metas e de nossas ações. Os dois se
complementam; os dois dialogam e trocam entre si energia. Energia esta de que
necessitamos para caminhar como profissionais no século XXI.

Exercícios de avaliação de conteúdo

12.1) Pesquise e explicite porque os nomes de Abraham Maslow, Frederick


Herzberg e David McClelland são importantes no que se relaciona às Teorias da
Motivação.
12.2) Do que trata a Hierarquia das Necessidades de Maslow?
12.3) O que são fatores higiênicos e motivacionais na visão de Herzberg?
12.4) Numa visão mais moderna, que vê o ser humano como um sistema, o que
muda em relação à visão clássica (Maslow e outros) no que diz respeito à motivação?
12.5) Como você definiria paradigma? Por que são importantes para a nossa vida?
12.6) Explicite três paradigmas que inspiraram mudanças no comportamento
humano ou em alguma sociedade.
12.7) Por que é importante tentarmos quebrar alguns paradigmas? A quebra de
paradigma tem relação com a criatividade? Qual é a relação?
12.8) Pesquisando, encontre algum exemplo de paradigma, diferente dos
apresentados no tema 12, que, uma vez quebrado, levou ao desenvolvimento de pessoas
ou empresas, ou que por não ser quebrado, levou a algum insucesso empresarial ou
pessoal.
12.9) Por que Thomaz Kuhn é considerado um pensador importante no que se
relaciona ao tema “paradigma”? Quais foram algumas de suas afirmativas com relação
às ciências?
12.10) O que é necessário para que um novo paradigma possa se estabelecer, na
visão de Thomaz Kuhn?
12.11) O que Kuhn chama de anomalias nas ciências?
12.12) De que forma os paradigmas influenciam nossos projetos de vida?

Exercícios vivenciais

12.13) Trabalhando com a visão da teoria da motivação de Maslow, que fator(es)


motivacional(is) – necessidade(s) – mais o motivam a continuar estudando para se
formar em engenharia? É possível que a engenharia lhe dê autorrealização? Como?
12.14) O texto do tema 12 fala que é importante, para nos motivarmos, que
estabeleçamos objetivos factíveis e desafiadores. Liste numa coluna cinco dos seus
principais objetivos de vida ou profissionais e, em outra, os desafios que eles
representam para você. Você considera os desafios motivantes?
12.15) Olhando para a engenharia, identifique um paradigma que foi quebrado em
uma área do conhecimento (ciência, filosofia ou religião) ou de comportamento ou de
ideias, em geral, e que permitiram dar um passo no desenvolvimento da engenharia.
12.16) Junte-se a um colega. Vocês foram convidados pelo presidente dos Emirados
Árabes Unidos para fazer o projeto básico de uma cidade nova e revolucionária que ele
quer construir para ser a sede dos Emirados. Ele espera que vocês proponham para a
cidade conceitos e tecnologias modernas de comunicação, até mesmo que proponham
conceitos não existentes. Espera também construir uma cidade com mobilidade
eficiente para pessoas com ou sem deficiências e conceitos de meios de transporte,
geração de energia, abastecimento de alimentos e de água arrojados, além de poluição
zero. Espera que a cidade estimule os que passam ou nela residem a se comunicarem,
além de terem lazer disponível em qualquer parte, facilidades e rapidez para
atendimento de saúde e emergências em geral, que as atividades de manutenção da
cidade possam ser simplificadas e de preferência executadas de forma automática.
Pensando dentro de paradigmas novos e próprios, descreva como a cidade funcionaria
e quais os sistemas, equipamentos e artefatos em geral, que a engenharia poderia suprir,
bem como a tecnologia que deveria ser desenvolvida para viabilizar a construção de tal
cidade. Pense sem considerar as limitações tecnológicas, ou outras, que possam existir
hoje.
12.17) No tema 12, discutimos paradigmas. Para pensarmos com novidade e
criatividade, é necessário percebermos os paradigmas que limitam nossa forma de
conceber o mundo. Estes paradigmas limitantes vão influenciar nossos projetos de vida
e, consequentemente, os limites de “sonharmos” com um futuro novo e desafiante,
pelo qual possamos nos apaixonar e no qual possamos concentrar nossas energias e
esforços. Ultrapassando seus paradigmas, proponha uma “visão” de futuro para a sua
carreira. Se tiver dificuldades, dê uma rápida leitura no tema 13, no tópico que trata da
“visão”.
– 13 -
Pensando o futuro profissional: um plano estratégico

O que é um Plano Estratégico?

Estratego era a designação dada ao “general superior, ou generalíssimo, na Grécia


antiga.”56 Estratégia vem da palavra grega “estratego”. O estratego tinha, entre suas
responsabilidades, que definir as estratégias de guerra – planos que levavam à execução
de movimentos de tropas e navios e visavam atingir objetivos de guerra pré-definidos.
As estratégias definiam, portanto, o caminho que as tropas e os navios deveriam seguir
nos ataques aos inimigos de forma a terem mais chance de sucesso no ataque e melhor
capacidade de se defenderem.
Estratégia passou, assim, a ser o sinônimo de caminho a ser seguido para se atingir
um determinado ponto ou situação desejada, a partir do ponto ou situação em que nos
encontramos.
Traçamos estratégias simples no nosso dia a dia. Quando vamos de casa à faculdade,
ou ao trabalho ou à casa de outra pessoa, andando ou dirigindo um veículo qualquer,
definimos em nosso pensamento o mapa a seguir ou o roteiro de transportes que
utilizaremos para ir de onde estamos até onde queremos ir. Traçamos também uma
estratégia quando estabelecemos um caminho, uma forma ou um conjunto de ações
para conseguir um benefício de alguém de maneira sutil, quando queremos fazer a
conquista do afeto de outra pessoa ou quando planejamos a forma de conseguirmos
recursos para adquirir um determinado bem, enfim, navegamos em estratégias.
As empresas traçam para si, por meio de seus executivos, visões de como querem ser
no futuro, em geral, cinco anos depois da elaboração de uma estratégia empresarial. Os
executivos fazem, por exemplo, a pergunta: como queremos que a empresa seja daqui a
cinco anos?
Com base no que desejam, ou seja, na visão de futuro que eles constroem para a
empresa, com base em cenários que esses podem prever para o ambiente em que a
empresa desenvolverá seus trabalhos e de outras avaliações, traçam Planos, definindo
como chegar da situação que estão na data da elaboração da estratégia até a situação
desejada no futuro, de forma coerente com a visão que construíram para a empresa.
Esta formulação da visão com o conjunto de outras informações e avaliações a serem
feitas constroem os Planos Estratégicos empresariais.
Os Planos Estratégicos contemplam também objetivos a serem atingidos. Para
atingi-los, as empresas tomam algumas ações, constroem Planos Táticos de Ações que
devem permitir, de forma concreta, que se atinjam os objetivos estratégicos. Não raro,
estes objetivos definem metas a serem alcançadas em determinados momentos,
criando, assim, marcos de tempo para que o objetivo seja atingido, e com isto, uma
forma de se ver se a empresa está ou não caminhando na direção definida pela visão de
futuro.

Objetivo de se construir um Plano Estratégico Pessoal (PEP)

O objetivo de uma empresa ao construir um plano estratégico é planejar o futuro,


ou as ações futuras, ações estas que levarão, na visão do Plano, a uma condição futura
desejada. No caso de um plano empresarial, a visão será aquela construída por seus
administradores.
Embora o futuro seja imprevisível, a realização de um Plano Estratégico que seja
seguido aumenta as chances de melhorar resultados, uma vez que define ações
controláveis, focalizadas e possíveis. Assim, o Plano Estratégico Empresarial é uma
ferramenta de gestão empresarial.
No caso de um Plano Estratégico Pessoal (PEP), a visão futura será a que a pessoa
que o elabora deseja concretizar. O PEP passa a ser uma ferramenta de gestão da vida,
no caso das pessoas. As empresas e as pessoas se preocupam com seu futuro e, por isto,
investem tempo na elaboração de um Plano, e seus “gerentes” (diretores das empresas
ou quem traça para si uma visão de futuro) procuram segui-lo.
Construindo uma visão de futuro, direcionando as ações que levarão a empresa ou
a pessoa à visão desejada, estas passam a ser focadas nesta visão e na realização dos
objetivos, otimizando os investimentos de tempo e recursos financeiros e permitindo
tomar ações com mais segurança.
Fazendo um bom planejamento podemos “trabalhar para construir uma situação
que não resultaria da simples evolução dos acontecimentos presentes” (Maximiano,
2000, p. 180).
Muitos são os exemplos que demonstram o valor de uma visão e de um Plano
Estratégico claro. Por exemplo, a decisão do então presidente dos Estados Unidos, no
início da década de 1960, de levar o homem à lua, que foi concretizada no final da
mesma década; a decisão do presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, de transferir a
capital do Brasil do Rio de Janeiro para Brasília, realização concretizada em 1960.
Fica a pergunta: e nós, pessoas físicas, qual a visão que construímos para o nosso
futuro? Temos um Plano Estratégico para as nossas vidas? Como pensamos nosso
futuro? Em particular, traçamos um Plano Estratégico para nossa vida profissional
como engenheiros que estamos prestes a ser ou que já somos?
A urgência de um PEP torna-se maior se tomamos consciência de que, ao contrário
das empresas que podem conseguir recursos adicionais por empréstimos ou abertura de
capital, por exemplo, nós, as pessoas físicas, temos um recurso para investimento que
não poderá ser reposto: nosso tempo de vida.
Este recurso tão importante é, talvez, o único que não podemos repor. Até a saúde,
que temos como bem maior na vida, quando abalada, pode ser restabelecida. O tempo
gasto não pode ser reposto ou recuperado.
Olhando o aspecto profissional de nossa vida, podemos, nos moldes das empresas,
construir um Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP), elaborando para nós uma
visão de como queremos ser no futuro, como queremos ser vistos, definindo objetivos e
ações a serem tomadas por nós para sairmos de onde estamos (estudantes de
engenharia, por exemplo) e nos tornarmos o profissional que queremos ser (a maior
referência em engenharia cartográfica do país, por exemplo).

Um Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP)

O objetivo deste tema é, seguindo o modelo de elaboração de um Plano Estratégico


Empresarial, discutir como elaboramos um Plano Estratégico Pessoal, com foco
Profissional.
A empresa, neste caso, é cada um de nós: é o leitor. O Plano elaborado servirá para
que pensemos o futuro profissional, definindo ações práticas que poderão ser tomadas
para acelerar a nossa formação, economizar tempo na nossa vida e otimizar os nossos
recursos, não só de tempo, mas também materiais, que sempre são escassos. Um plano
que nos prepare para que estejamos “prontos” quando uma oportunidade profissional
aparecer.
Espera-se que, elaborando um PEPP, os retornos dos investimentos de tempo feitos
nessa elaboração sejam devolvidos em forma de sucesso profissional, pessoal e de
autorrealização.
Como discutido no tema 12, devemos buscar com o Plano motivação e
direcionamento para os esforços profissionais que vamos empreender. No tema 12,
discutimos fatores motivacionais e sublinhamos que devemos buscar em nós os que
nos impulsionam.
O PEPP elaborado deve ser não só inspirador e motivador, mas também ousado, no
sentido de nos levar além do lugar ao qual chegaríamos apenas atendendo às demandas
do dia a dia ou, falando metaforicamente, sendo empurrado pelas ondas, e não
surfando nelas. Devemos procurar quebrar paradigmas que possam limitar o
pensamento sobre nosso futuro e estabelecer ideias novas, ainda que sejam diferentes
das ideias da maioria, desde que essas estejam firmemente integradas em nós e que nos
sintamos capazes de tomar ações concretas para realizá-las.

Como elaborar o Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP)

Como vimos, o termo estratégia se referia “à arte e à ciência de dirigir forças


militares durante um conflito […] o termo tem hoje uma concepção mais abrangente,
tendo sido incorporada à terminologia dos negócios a partir da década de 60” (Tavares,
1991, p. 165).
A forma de elaborar Planos Estratégicos Empresariais é discutida amplamente na
literatura (Maximiano, 2000; Tavares, 1991; Chiavenato, 2013, p. 367-94). Nas
empresas, como vimos no tema 11 sobre engenheiro-administrador, eles são definidos
pelos altos escalões. Depois de elaborados, eles são desdobrados nos Planos Táticos e
Operacionais.
No caso do PEPP, ele será decidido pessoalmente por cada um de nós que o está
elaborando, de acordo com nossos sonhos, projetos e percepções da vida profissional.
Ele se referirá à pessoa do profissional que o elabora, sendo este o único nível de
decisão.
Da mesma forma que nas empresas, podemos pensar em desdobrar o PEPP em
Planos Táticos e Operacionais. Levaremos a nossa discussão aqui até a elaboração de
um Plano Tático de Ação, o qual será feito com base na técnica 5W2H, que
apresentaremos no desdobramento deste tema 13.
Estruturaremos o PEPP por meio de perguntas que devem ser formuladas na
primeira pessoa do singular (eu), como, por exemplo: em que tipo de negócio eu quero
atuar como profissional? Que visão de futuro eu tenho sobre a minha profissão? Estas e
outras perguntas, quando respondidas, orientarão a elaboração de um PEPP.
Vejamos a seguir, mais detalhadamente, cada um dos passos a serem seguidos para
construirmos nosso PEPP.

Elaborando o PEPP passo-a-passo

De forma ilustrativa e seguindo as etapas sugeridas por estudiosos da administração


(Maximiano, 2000, p. 200-34; Tavares, 1991, p. 73-8; Chiavenato, 2013, p. 369),
serão apresentados por nove perguntas os passos que devemos seguir para a construção
de um PEPP.

1º passo: Em que tipo de negócio eu quero atuar como profissional?

O primeiro passo para a elaboração do Plano é a explicitação do negócio em que


queremos atuar. Em linhas gerais, esta explicitação deve responder às perguntas como:
o que eu quero fazer para garantir minha sobrevivência? Que atividade profissional me
fará feliz? O que eu farei para ganhar dinheiro? Que atividade pode me trazer
realização pessoal? O que eu posso fazer como profissional para ajudar a sociedade?
Estas perguntas, olhadas de forma simples, parecem triviais de serem respondidas
para quem está se formando em engenharia. Ora, o negócio é engenharia!
Ocorre que, muitas vezes, nossos interesses são mais amplos ou mais restritos.
Assim, podemos querer ser engenheiros ao mesmo tempo que temos interesse em
música, ficando em dúvida em que área vamos investir nossa energia e dedicar nosso
tempo: engenharia ou música.
Conheci estudantes de engenharia que queriam fazer medicina, que largaram a
engenharia para fazer direito, que ingressaram em cursos de áreas humanas a fim de
ganhar uma formação mais geral e, de forma mais comum, engenheiros que se sentiam
mais confortáveis trabalhando como administradores do que como técnicos.
Em situações como estas, podemos tentar buscar uma engenharia que seja mais
conciliadora. Aqueles que gostam da engenharia e da medicina talvez consigam
combinar seus interesses, escolhendo para sua formação a engenharia biomédica, por
exemplo. Caso não encontremos uma área de engenharia mais conciliadora,
precisamos parar e refletir sobre o que mais nos motiva, lembrando que, em geral,
poderemos concluir uma das áreas, buscando meios de mantermos nossas vidas sociais,
e nos engajarmos, em seguida, em outra que nos dê uma realização mais ampla.
Caso tenhamos certeza de que a engenharia é a formação desejada, o que devemos
fazer é escolher a área de engenharia mais próxima à nossa vocação, como Civil,
Mecânica, Produção, Naval, Cartográfica ou Química, por exemplo. Se já tivermos
definida a área, podemos buscar a especialidade dentro dela, mais adequada aos nossos
interesses.
Podemos assim ser mais específicos na escolha do nosso negócio: Engenharia Civil
Predial, Engenharia Civil de Estradas, Engenharia Mecânica de Automóveis ou
Engenharia Mecânica de Aviação. Podemos avançar mais na precisão da explicitação
do nosso negócio, caso tenhamos melhor visão de nossas aptidões, gostos e habilidades.
Podemos responder, por exemplo, Engenharia Civil especializada em construções
habitacionais; podemos acrescentar: atuando na atividade de Projeto, ou algo assim.
Quanto mais precisa a definição do nosso negócio, mais fácil será definirmos nosso
PEPP.
Podemos refinar ainda mais o exemplo dado: Engenharia Civil especializada em
projetos habitacionais ecossustentáveis, avançando, assim, mais na definição do nosso
negócio. Desta forma, daremos o primeiro passo para a construção do nosso PEPP.
Quanto maior o nível de detalhamento que conseguimos dar para o nosso negócio,
melhor será a definição dos nossos objetivos.
2º passo: Quais são meus valores como pessoa e profissional?

Valores são princípios e crenças que nos guiam na escolha de comportamentos,


atitudes e decisões. Na busca dos nossos objetivos e para a realização dos nossos
projetos, devemos tomar nossos valores como critérios de decisões, de escolha, de
como, onde e quando agiremos.
Alguns exemplos de valores são: respeito, confiança, comprometimento,
responsabilidade, status, dinheiro, qualidade, reconhecimento e família, entre muitos
outros.
Os valores que temos na vida nos guiarão na elaboração do nosso PEPP e servem de
premissas para sua elaboração. Assim, podemos ter como valor os ganhos materiais
recebidos e passíveis de serem adquiridos como fruto do nosso trabalho. Podemos ter
como valor nossa família, nossos filhos, nossa projeção social, o status que teremos
como profissionais, a ética nas relações, o meio ambiente, a inovação, a tecnologia, a
competência, a qualidade do que fazemos, o uso do nosso tempo, o nosso crescimento
pessoal e o servir ao próximo.
Muitos são os valores que podemos considerar importantes. Devemos listá-los para
termos uma orientação sobre o que decidiremos a seguir, ou seja, nossa missão, nossos
objetivos e nossa visão.
Outros direcionadores de decisões, além dos valores, são as premissas que podemos
adotar para nortear e limitar a abrangência do nosso Plano e nos ajudar em algumas
outras decisões mais práticas.
Nas empresas, estes outros direcionadores podem se espelhar nas chamadas
políticas da empresa. No nosso caso, chamaremos simplesmente de direcionadores. São
exemplos: tomar como prioridade a nossa formação; que devemos ter uma incursão
para nossa formação fora do nosso país; que os investimentos na nossa formação não
poderão exceder 30% dos nossos ganhos. Podemos ainda decidir que o prazo
considerado razoável para definição dos nossos planos será de cinco anos; definir que a
ética e o cuidado ambiental são valores maiores na nossa vida, enfim, decisões que,
embora envolvam valores, são mais objetivas na sua formulação e na sua capacidade de
direcionar ações e decisões futuras.
3º passo: Qual a minha missão profissional?

Quando se trata de uma empresa, a missão procura deixar evidente o propósito da


empresa, sua vocação, o produto que ela deseja entregar e que justifica sua existência. A
missão explicita a razão de ser da empresa e a delimitação de seu campo de ação dentro
do negócio ao qual ela se dedicará. Serve, portanto, como balizador na tomada de
decisões e base para escolha dos objetivos estratégicos. Assim, por exemplo, a missão de
uma empresa de informática pode ser “permitir às pessoas e empresas, em todo o
mundo, a concretização do seu potencial”;57 a missão de uma empresa de transporte
aéreo pode ser “fornecer produtos com qualidade e pontualidade; buscando eficiência,
satisfação e fidelidade de nossos clientes; contribuir com a sociedade na geração de
empregos, com o ser humano no crescimento profissional […]”.58
Tratando-se de um projeto pessoal, a missão deve estar relacionada com o papel
social que se deseja exercer, com o sentido de vida que iremos dar à nossa profissão e
com a nossa contribuição para a sociedade como profissionais de engenharia. Assim,
podemos pensar na nossa missão como aquilo para o que nos sentimos vocacionados,
para o que percebemos como sendo o nosso chamado profissional dentro da sociedade
em que atuaremos profissionalmente.
Missões profissionais são, por exemplo:

“contribuir para a construção de uma sociedade sustentável e moderna”;


“fornecer projetos de engenharia que incorporem os mais modernos conceitos de
automação à sociedade brasileira”;
“contribuir para a melhoria das tecnologias utilizadas em engenharia civil”;
“educar novos profissionais de engenharia com foco nas questões éticas,
econômicas e políticas”.

Quanto mais clara e motivadora for a missão, maior será o valor do PEPP. Para ser
motivadora de fato, a missão deve ser factível e coerente com os interesses e o negócio
de quem elabora o Plano; deve trazer sentimento de realização, se atingida, e, sempre
que possível, o sentimento de grandeza.
Por sua natureza, a missão orientará a definição dos objetivos estratégicos que
vamos entender como importantes de serem atingidos para concretizarmos nossa
missão.

4º passo - Qual a minha visão sobre o meu futuro profissional?

No Plano Estratégico Empresarial, a visão explicita a situação futura que a


organização quer atingir. Diferentemente da missão, a visão pode mudar ao longo do
tempo, de acordo com o momento da organização.
Exemplo de visão empresarial é: “Ser o melhor varejista do Brasil na mente e no
coração dos consumidores e funcionários”.59
No Plano Pessoal, o propósito de definirmos uma visão não é diferente. A visão
explicita a situação futura que queremos atingir; como nos vemos e como queremos ser
vistos pelo ambiente externo, no futuro.
Futuro pode ser daqui a 2, 3, 5, 10 ou 20 anos, conforme nossa capacidade de
planejar. Em geral, empresas fazem planos para cinco anos. Três anos para uma visão
profissional já é um bom horizonte.
A construção da visão pessoal de futuro deve levar em conta fatores como a nossa
história pessoal, os conhecimentos acumulados ao longo desta história, o que
desejamos ser de uma forma ideal, como os relacionamentos existentes no momento
do planejamento podem ajudar ou prejudicar o atingimento da visão futura e quais são
nossas vocações, entre outras considerações.
Assim, na história, perguntamos coisas como: que desafios foram superados ao
longo da vida? Que áreas de conhecimento foram dominadas ao longo do tempo e que
competências foram desenvolvidas? Quais oportunidades foram deixadas para trás?
Como não cometer os erros do passado?
Os desejos dizem respeito àquilo que sonhamos de forma ideal, por exemplo, “ser o
melhor engenheiro químico do país”, “ser uma referência na área de projetos de
Engenharia Civil” ou “ser o maior empresário do ramo de construção civil do Estado”.
Enfim, os desejos ajudam a definir, de forma ideal, a visão futura.
Os relacionamentos indicam os “degraus” que podem nos impulsionar para cima;
com quem podemos contar ou quem pode nos ajudar a atingir nossa visão?
No caso do PEPP, as vocações dizem respeito àquilo que gostamos, ao que nos atrai
de forma espontânea ou ao que gostamos de estudar e pesquisar.
A visão deve sempre ser arrojada. Em geral, ela expressa o desejo futuro, começando
com palavras como “vir a ser”, “ser no futuro”, e palavras que projetam para uma visão
arrojada, como “o primeiro”, “o melhor”, “a referência” etc. Assim, uma visão pode
começar com “vir a ser o melhor…”; “ser”, “daqui a cinco anos”, “o primeiro…”.
Exemplos de visões profissionais são:

“ser o melhor engenheiro civil especialista em construções habitacionais


ecossustentáveis do Estado do Rio de Janeiro, atuando na atividade de Projetos”;
“ser um professor universitário com uma didática adequada às demandas
contemporâneas, daqui a cinco anos”;
“ser um engenheiro preparado para o mercado de trabalho de perícias”;
“ser o maior construtor de imóveis da cidade do Rio de Janeiro”;
“ser o engenheiro do Brasil mais experiente na área de simulação matemática”.

Para poderem ser realizadas, tanto a missão quanto a visão devem levar em conta o
que chamamos de “cenário futuro”, ou seja, como pensamos que o mundo, as
demandas, os problemas, a tecnologia etc. estarão no futuro. Estes acontecimentos
esperados são externos a nós e não dependem de nós. Podemos chamá-los de fatores
ambientais, externos. Em geral, por serem do ambiente externo e não dependerem de
nós, mas impactarem de forma positiva ou negativa nosso Plano Estratégico, os
chamamos de Oportunidades e Ameaças, como veremos no 6º passo.
Se o cenário que vejo para o mundo é de recessão, por exemplo, projeto um futuro
em que serão ofertadas menos oportunidades de trabalho. Se projeto para o futuro um
cenário em que as ideias ecológicas proliferarão, posso decidir seguir uma linha
profissional que me coloque com competências para fazer projetos ecossustentáveis.
Minha visão deve considerar um ou mais cenários futuros, podendo ser construída
uma visão para cada cenário.

5º passo – Quais os meus objetivos estratégicos?

De acordo com minha missão e visão, considerando os meus valores, posso tentar
definir objetivos futuros, ou seja, metas que são convenientes atingir e que indicarão
que estou caminhando com o meu Plano. Numa organização, objetivos estratégicos são
as metas globais da organização e devem estar diretamente relacionados com a missão
da empresa. Atingir um objetivo estratégico deve indicar que estamos mais perto de
atingir nossa visão.
Alguns exemplos de objetivos estratégicos empresariais são:

aumentar a satisfação dos clientes em 10%;


reduzir os custos de produção em 5%;
capacitar 100% dos empregados nos sistemas da empresa, em 2 anos.

A quantificação dos objetivos estratégicos permite-nos avaliar se os atingimos e


quanto nos falta para atingi-los, permitindo a “calibração” contínua do Plano.
Num PEPP, alguns exemplos de objetivos que podemos traçar são:

conseguir rendimento superior a 70% na prova de avaliação de domínio do


idioma inglês;
concluir 80% dos créditos totais do curso de engenharia em 3,5 anos de curso;
juntar o valor equivalente a 100% dos custos do intercâmbio de estudos, a ser
feito nos Estados Unidos, em 3 anos.

6º passo – Que avaliação eu tenho das oportunidades e das ameaças que podem ajudar
ou dificultar, respectivamente, a realização do meu Plano?

A análise de cenários é objeto de consultorias dadas por empresas especializadas, e


não é de fácil delineamento. Sua origem foi, como o Planejamento Estratégico, na
teoria militar.
Como não podemos prever o futuro especulando sobre uma variedade de futuros,
escolhemos alguns futuros esperados para basearmos nosso plano estratégico.
Apesar das mudanças rápidas – e muitas vezes inesperadas –, devemos nos prevenir
contra os impactos negativos que os acontecimentos do nosso ambiente externo
(sociedade, economia, política, enfermidades e falta de recursos materiais, entre
outros) possam trazer ao nosso Plano. A estes acontecimentos, que podem ameaçar o
sucesso de nosso planejamento, damos o nome de “ameaças”.
De forma contrária às ameaças, alguns acontecimentos futuros no nosso ambiente
externo poderão impulsionar nosso Plano, dando a ele maior chance de sucesso. A
estes acontecimentos damos o nome de “oportunidades”.
As perguntas a serem formuladas para elaboração do PEPP são: quais
oportunidades e quais ameaças (dificuldades) a vida nos coloca e quais devemos
aproveitar ou evitar, respectivamente, para fortalecer as chances de atingirmos nossa
visão de futuro?
Lembrar que oportunidades não são qualidades, habilidades ou competências
nossas, mas, fatores externos, que aumentam as chances de sucesso do nosso Plano, ou
seja, características do ambiente social e acontecimentos esperados que permitirão que
as ações que serão propostas como resultado do PEPP tenham maior probabilidade de
acontecer.
As oportunidades, se bem aproveitadas, maximizam os nossos pontos fortes e
podem servir para minimizar o impacto na profissão dos nossos pontos fracos.
Oportunidade é tudo aquilo que influencia positivamente o desempenho do Plano,
mas sobre o que não se tem controle. Exemplos de oportunidades são:

criação pelo Governo do Estado de um projeto de recuperação urbana;


criação do curso de mestrado em conservação de energia;
oferta de bolsas no exterior para cursos de simulação matemática;
oferta de cursos de idiomas para alunos da Universidade.

Ao contrário das oportunidades, as ameaças são situações (forças externas do


ambiente) que podem influenciar negativamente o desempenho do Plano. Uma
ameaça deve sempre ser tratada com muita cautela, pois pode prejudicar não somente a
estratégia traçada, mas diretamente em seu resultado. Conhecendo as ameaças, pode-se
evitar enfraquecer os aspectos positivos dos nossos pontos fortes e aguçar o impacto
negativo dos pontos fracos. As ameaças são sempre do ambiente externo e sobre elas
não temos controle. Exemplos de ameaças são:

engenheiros com melhor formação concorrendo no mercado de trabalho;


doenças na família que nos obrigam a dedicar tempo fora da nossa formação
profissional;
falta de equipamento de informática disponível para processamento dos
simuladores que estudamos;
inexistência no Brasil de cursos que sejam adequados à experiência que desejamos
adquirir.

Veremos que, com o levantamento dos pontos fortes e dos pontos fracos,
poderemos relacioná-los às ameaças e às oportunidades que possam impactá-los. Isto
será feito com o uso da chamada matriz FOFA. Esta matriz, que veremos mais adiante,
permite uma visão de pontos fortes (F), oportunidades (O), pontos fracos (F) e
ameaças (A). Com esta visão podemos definir Planos Táticos mais eficientes.

7º passo – Quais são os meus pontos fortes?

Todos nós temos pontos fortes. Estes são qualidades, habilidades, conhecimentos
específicos e atitudes que temos e que nos diferenciam positivamente em relação aos
nossos concorrentes no mercado de trabalho, no caso, os outros engenheiros.
A identificação dos pontos fortes é importante para a definição do que nós temos
de melhor em relação aos outros e do que devemos aproveitar e desenvolver, para nos
tornarmos o profissional que desejamos ser.
Exemplos de pontos fortes ou forças que podem aparecer no PEPP são:

possuir competência em gestão;


habilidade em matemática;
ter alta capacidade de estudo;
interesse por informática;
facilidade de comunicação.

8º passo – Quais são os meus pontos fracos?

Os pontos fracos também fazem parte da nossa vida. Todos nós temos e, algumas
vezes, os valorizamos demais. É importante também identificá-los sem arrogância ou
sentimento de pequenez, mas tentando olhar aqueles comportamentos, hábitos e
sentimentos em relação a nós, que gostaríamos de modificar para nos sentirmos
melhor em relação à vida, em geral, e a profissional, em particular. Neste ponto, a
sinceridade é importante.
A identificação dos pontos fracos também é importante para que possamos saber
em que “arenas não devemos jogar”. Jogar em arenas que dependam de nossos pontos
fracos nos coloca em desvantagem em relação aos outros engenheiros que disputam
conosco o mercado de trabalho.
Exemplos de pontos fracos, ou fraquezas, que aparecem no PEPP são:

preguiça;
falta de ambição;
timidez excessiva;
falta de domínio do idioma inglês;
dificuldade de comunicação.

9º passo – Como construir a minha Matriz FOFA (ou matriz SWOT): Forças
(Strengths)-Fraquezas (Weekness)-Ameaças (Threats)-Oportunidades
(Opportunities)?

Com a definição das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças no PEPP que está
sendo desenhado, é conveniente construirmos uma tabela resumo chamada Matriz
FOFA, ou Matriz SWOT, em inglês, na qual aparecem as forças e fraquezas nas linhas
e as oportunidades e ameaças nas colunas.
O objetivo desta tabela é apresentar o quadro geral destes fatores, permitindo, de
forma consolidada, enxergá-los e relacioná-los, identificando que oportunidades
podem fortalecer ainda mais as nossas forças ou diminuir os riscos das nossas fraquezas
e que ameaças podem diminuir o potencial das forças ou enfraquecer ainda mais as
fraquezas.
Um exemplo de uma matriz FOFA (SWOT) está apresentado no quadro 6, onde
as linhas com “+” identificam as Forças e Fraquezas que se fortalecem com as
oportunidades, e as linhas com “-”, as Forças e Fraquezas que se enfraquecem com as
Ameaças.

Quadro 6 – Exemplo de matriz FOFA ou SWOT


OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Oferta de Assinatura de Mudança de Falta de Falta de Grande
curso de acordo de parente para laboratório de simulador para concorrência
idioma alemão intercâmbio com os Estados informática na elaboração de na área de
na universidade Unidos universidade projeto de trabalho
universidade americana pesquisa
FORÇAS
Domínio do
+ + + +
idioma inglês
Habilidade
- -
matemática
Foco nas ações + +
Determinação nos
+ +
objetivos
FRAQUEZAS
Preguiça + + - - -
Formação ruim
-
em redação
Desconhecimento
de um terceiro +
idioma
Pouca habilidade
- -
em informática
Fonte: Autor.

A partir da observação da matriz FOFA (SWOT), pode-se verificar que o ponto


forte “domínio do idioma inglês” permite aproveitar a oportunidade de “intercâmbio
no exterior”, que a fraqueza “pouca habilidade em informática” pode ser agravada pela
ameaça “falta de equipamento de informática”, e assim por diante.
Com estes nove passos, podemos dar por concluído nosso PEPP. Se quisermos
avançar na reflexão e no planejamento sobre nossa profissão, devemos construir um
Plano Tático.

Construção de um Plano Tático - definição das ações a serem tomadas


Com base na visão, missão e na tabela FOFA/SWOT, podemos traçar algumas
ações para o futuro. Podemos, por exemplo, propor ações como:

realização de cursos na área ambiental;


inscrição em curso de simulação matemática;
realização de intercâmbio no exterior;
inscrição no curso de idiomas;
estudo por conta própria de técnicas de redação e comunicação;
inscrição em curso de comunicação na Universidade.

Construção de um Plano de Ação

Um Plano de Ação é um mapa que define ações para o futuro. Nele aparecem não
só as ações que serão realizadas (what), mas também os momentos, ou “quando” as
ações serão realizadas (when), onde serão realizadas (where), por que serão realizadas
(why), quem as realizará (who), como serão realizadas (how) e quanto custará para
realizá-las (how much).
É comum, para a construção do Plano de Ação, utilizarmos a técnica chamada de
5W2H, que são as iniciais das palavras inglesas what, when, where, why, who, how e
how much.
Estas palavras fazem parte das perguntas que serão respondidas na elaboração do
Plano de Ação. Observamos que a pergunta “who?” para um Plano de Ação, derivado
de um PEPP, onde se supõe que o próprio autor do plano executará todas as ações,
pode não caber.
O quadro 7 apresenta um exemplo de Plano de Ação.

Quadro 7 – Exemplo de Plano de Ação


O que? (what?) Quando? Onde? Por que? (why?) Quem? Como? Quanto? (how
(when?) (where?) (who?) (how?) much?)
Realizar intercâmbio Até 2030 Inglaterra Capacitar em projetos O intercâmbio bolsa
sustentáveis próprio
Inscrição em curso de 2025 a UERJ Desenvolver habilidade O inscrição bolsa
simulação matemática 2028 em simulação próprio
inscrição em curso de 2027 Curso G Aprender alemão O inscrição R$
idiomas próprio 12.000,00/ano

Fonte: Autor.

Ações para garantir o sucesso do Plano

Pensando ainda nos modelos empresariais, os Planos de Açõe são acompanhados


pelo andamento da realização de objetivos táticos. No caso do Plano de Ação derivado
de um PEPP, como o exemplificado anteriormente, podemos na ação “realizar
intercâmbio”, por exemplo, estabelecer como objetivos: 1) identificar a instituição
onde será feito o intercâmbio, até 2028; e 2) enviar carta à instituição até dezembro de
2029.
É comum também o uso de indicadores, como, por exemplo, a nota obtida em um
teste simulado de inglês. Se esta for, por exemplo, maior que 7, será considerada
satisfatória para início da ação de intercâmbio, caso não, a ação estará prejudicada.
A atualização periódica dos Planos também deve ser realizada. As grandes
empresas, não raro, redefinem seus Planos Estratégicos e, com isto, seus Planos de
Ação.
Para a realização efetiva dos Planos Estratégico e Tático, deve-se ainda atuar como
seu próprio “coach”. O coach é a pessoa que ajuda não só a acompanhar o andamento
das ações, como também verifica se estamos dedicando, de fato, tempo ao que achamos
prioritário e se estamos nos preparando para as ações previstas; é alguém que, nos
indagando se ainda estamos focados nos nossos objetivos e tomando outras ações, nos
empurra na direção que decidimos ir.

Exercícios de avaliação de conteúdo

13.1) Qual a importância de um Plano Estratégico?


13.2) Quais as perguntas que devem ser feitas para a elaboração de um Plano
Estratégico?
13.3) Quais são suas respostas para as perguntas identificadas no item anterior,
considerando a elaboração de um Plano Estratégico Pessoal Profissional (PEPP)?
13.4) Que ações você tomaria para garantir a realização do seu PEPP?

Exercícios vivenciais

13.5) Em entrevistas de emprego, algumas perguntas são comuns e têm respostas


pensadas por quem já se preocupou em fazer um Plano Estratégico Pessoal (PEP) para
a sua vida. Pense nas respostas que você daria para as perguntas seguintes: Quais são
seus objetivos a curto prazo? Quais são seus objetivos a longo prazo? Como você
poderá contribuir para o desenvolvimento e crescimento da empresa na qual você
gostaria de trabalhar? Quais são seus pontos fortes pessoais? Quais são os seus pontos a
desenvolver? Qual é o seu maior sonho? O que você considera importante em uma
empresa? Por que você escolheu essa carreira? Como você se comporta quando algo
não sai como planejou? Escreva suas respostas.
13.6) Escolha duas empresas que atuam na sua área de formação e que tenham um
Plano Estratégico elaborado. Explicite, pesquisando, a missão, os valores e a visão
destas empresas.
13.7) Quando tentamos enxergar oportunidades profissionais futuras, imaginamos,
implicitamente, um cenário de futuro para o local onde pretendemos trabalhar. Qual
sua visão da Cidade, Estado ou País em que você pensa em atuar profissionalmente no
que diz respeito aos valores, situação econômica e demandas sociais? O tema 15 poderá
lhe ajudar nesta tarefa.
13.8) Elabore um PEPP, incluindo um Plano de Ação (modelo 5W2H) que lhe
permita melhor se preparar para se destacar no mercado de trabalho no negócio que
escolheu.
– 14 –
O engenheiro-legal

Acabei a faculdade: posso trabalhar?

O engenheiro é um profissional qualificado. Foi treinado para ter habilidades e


competências bem características, entre elas, a de ter um pensamento racional, lógico,
organizado e olhar o mundo numa perspectiva de quem vai ajudar a encontrar soluções
para problemas, com a utilização de conhecimentos centrados nas ciências naturais e
na matemática.
Mesmo tendo estes conhecimentos ao final do seu curso, e ainda que tenha a
competência necessária para a solução de problemas de engenharia pertinentes à sua
habilitação, não poderá trabalhar se não for reconhecido pela sociedade como um
profissional preparado.
A nossa sociedade reconhece os profissionais, de forma geral, pela evidência da sua
competência. Com as profissões que exigem curso técnico e superior, o
reconhecimento não é tão simples. Dessa forma, uma pessoa hábil no trabalho em
madeira pode ser reconhecida como um marceneiro, e um profissional capaz de fazer
pequenas obras civis como um pedreiro. O engenheiro, de forma mais complexa, é
avaliado e reconhecido de maneira formal perante a sociedade, por um sistema que
valida a sua competência.
Não basta um profissional saber executar serviços de engenharia para ser
qualificado como engenheiro. Um prático em obras, por exemplo, pode saber construir
uma casa de três andares de forma segura, porém não poderá aprovar um projeto de
construção civil por não ser reconhecido como capaz para tal, de maneira formal.
A formalidade de reconhecimento da profissão de engenheiro no Brasil passa pelo
registro do profissional em um dos Conselhos de Engenharia. O Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia – CONFEA – e os Conselhos Regionais de Engenharia e
Agronomia – CREA – são os responsáveis pela condução do processo de
regulamentação da profissão.
Esses órgãos também são responsáveis pela fiscalização do exercício da profissão,
explicitando, por meio de normativos, os procedimentos que devem ser obedecidos
por aqueles que querem exercer a profissão.
Normativos são leis, normas e regulamentos. Eles dizem se, quando, como e onde
um profissional poderá atuar e quais atividades está autorizado a exercer. Citam, por
exemplo, que, embora o engenheiro esteja diplomado, sendo considerado apto para o
exercício da profissão, não poderá executar qualquer obra de engenharia que deseje,
mas somente aquelas autorizadas pelo CREA e compatíveis com a área na qual se
habilitou. Assim, um engenheiro civil pode construir estradas enquanto um eletricista
não é reconhecido como hábil para executar tal construção.
Conhecer alguns normativos que regulamentam o exercício da profissão de
engenheiro e como funciona o sistema que reconhece a competência do profissional de
engenharia são os objetivos deste tema.

O sistema de reconhecimento profissional

Na nossa sociedade, as Escolas de Engenharia (EE), junto com o Conselho Federal


de Engenharia e Agronomia (CONFEA) e seus Conselhos Regionais de Engenharia e
Agronomia (CREA), são as instituições que, de forma determinante, podem validar a
profissão de engenheiro
As EEs fornecem ao futuro engenheiro os conhecimentos e as principais
habilidades e atitudes para esse começo da vida profissional. As suas principais funções
são o ensino da profissão e as pesquisas tecnológicas. Para o ensino da profissão, elas
disponibilizam cursos de formação com currículos que obedecem a requisitos mínimos
estabelecidos pelo Ministério de Educação e Cultura e cujas aplicações são aprovadas e
legitimadas não só pelo Ministério, mas também pelos Conselhos de Engenharia.
As EEs com funcionamento autorizado pelo MEC fornecem aos alunos que
atendam aos seus requisitos de aprovação diplomas com o título da modalidade em que
a Escola tem competência para formar. Assim, cabe às Faculdades (ou EEs), por meio
de suas ações, a formação do profissional.
Para terem os seus cursos aprovados pelo MEC, as EEs devem apresentar os
chamados Projetos Pedagógicos de seus cursos e os currículos das várias modalidades
(Civil, Mecânica, Produção, entre outros) e especialidades (Civil Estradas, Civil
Pontes, Elétrica Telecomunicação, Elétrica Informática, por exemplo) nas quais
desejam formar seus alunos. Esses Projetos e currículos dos cursos são elaborados com
base nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN),60 em particular, com aquelas
especificamente direcionadas para os Cursos de Engenharia.61

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)

Esse documento é emitido sob a responsabilidade do Ministério da Educação, por


intermédio do seu Conselho Nacional de Educação e, dentro deste Conselho, pela
Câmara de Educação Superior.
As DCN orientam como os Projetos Pedagógicos devem se organizar e fornecem
recomendações e obrigações que devem ser atendidas não só pelos Projetos
Pedagógicos, mas também pelos currículos das várias escolas de ensino superior.
Essas DCN são emitidas a partir de Resoluções e revisadas periodicamente de
modo a atender, de forma atualizada, às demandas da sociedade com relação às várias
profissões, adequando os currículos aos novos conceitos pedagógicos e às novas
disciplinas tornadas importantes pelo desenvolvimento da tecnologia e das várias áreas
de conhecimento. No caso da engenharia, servem também para orientar o processo de
criação de novas modalidades e especialidades que se façam necessárias para a
sociedade.
O Projeto Pedagógico, elaborado com base nas DCN pelas escolas de ensino de
engenharia, é o documento que, além de outros dados relevantes para a elaboração da
grade curricular dos cursos de engenharia, define o perfil do engenheiro que se quer
formar, a lógica de construção da grade curricular, as competências e habilidades que o
engenheiro deve ter ao concluir a formação, as formas de avaliação dos alunos e cursos,
descrevendo como os conteúdos ou os blocos de disciplinas vão contribuir de modo
efetivo para que o engenheiro formado tenha o perfil e as competências esperadas.
As diretrizes curriculares orientam também sobre a quantidade de aulas práticas e
de aulas de laboratório que os cursos devem atender, bem como orientam sobre a
duração dos cursos e dos estágios dos que vão se formar.
Em resumo, as DCN, no caso da engenharia, definem os princípios, fundamentos,
condições e procedimentos que devem ser seguidos na organização, desenvolvimento e
avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Engenharia, das
Instituições do Sistema de Ensino Superior.
Uma vez elaborados e aprovados os currículos e os projetos pedagógicos, esses
devem ser entregues ao CONFEA/CREA para que esta instituição, que, como
veremos, é a responsável pela fiscalização da atividade de engenharia no Brasil, possa
verificar se as modalidades e as especialidades pleiteadas pelos cursos de formação de
engenheiros, ministrados pelas instituições de ensino, estão coerentes com os
requisitos necessários para que os formandos das escolas de engenharia tenham os seus
diplomas registrados e possam, com esse registro, exercer suas profissões.
Assim, existe uma relação de confiança importante dentro do sistema de formação
que não pode ser quebrada, sob risco de desorganizá-lo e desacreditá-lo, levando à
perda da confiança que a sociedade tem nos engenheiros. Por esta razão, a ética
profissional é importante, o cumprimento das ementas por parte das Escolas de
Engenharia (EE) é fundamental, as avaliações dos alunos e cursos devem ser cuidadosas
e a fiscalização da atividade deve ser permanente.
Mas, se a Universidade atendeu aos requisitos curriculares e o diploma foi
fornecido pela faculdade ao aluno, ele pode atuar como engenheiro?

O CREA e o registro profissional

Se a EE tiver o currículo aprovado no CONFEA/CREA, este órgão registrará o


profissional que a entidade de ensino considerar diplomado.
É a Lei 5194/66 que regula o exercício da profissão de Engenheiro, definindo em
seu artigo 10 que:

Cabe às Congregações das escolas e faculdades de Engenharia, Arquitetura e Agronomia indicar ao Conselho
Federal, em função dos títulos apreciados através da formação profissional, em termos genéricos, as
características dos profissionais por elas diplomados. (Brasil, 1966b).

Diz ainda em seu artigo 11 que:


O Conselho Federal organizará e manterá atualizada a relação dos títulos concedidos pelas escolas e
faculdades, bem como seus cursos e currículos, com a indicação das suas características. (Brasil, 1966b).

Concluir a graduação significa estar preparado para exercer a função de engenheiro


na modalidade e especialidade que a escola de formação concedeu. Porém, só estará
apto para exercer a profissão, de forma legal, quando o CONFEA/CREA fornecer o
número de registro do profissional.
O artigo 55 da Lei 5194/66, que embasa a criação do CONFEA e dos CREAs,
vincula o exercício da profissão ao registro do diploma no Conselho Regional.

Art.55 – Os profissionais habilitados na forma estabelecida nesta Lei só poderão exercer a profissão após o
registro no Conselho Regional sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. (Brasil, 1966b).

O artigo 56 da mesma lei versa sobre a concessão da carteira profissional do


Conselho. Essa carteira substitui o diploma e nela estará explicitado o número de
registro profissional do engenheiro, a natureza do título vinculado à sua formação,
especializações que eventualmente existam e os demais elementos necessários à
identificação do profissional.
Além disso, o engenheiro terá limitado o seu campo de atuação profissional pelo
conjunto de competências que o CREA reconheça que sua formação lhe confere.
O CREA define campo de atuação profissional, formação profissional e
competência na Resolução 1073, de 19 de abril de 2016, no seu capítulo 1, artigo 2º,
itens V, VI e VII:

V – campo de atuação profissional: conjunto de habilidades e conhecimentos adquiridos pelo profissional no


decorrer de sua vida laboral em consequência da sua formação profissional obtida em cursos regulares, junto
ao sistema oficial de ensino brasileiro;
VI – formação profissional: processo de aquisição de habilidades e conhecimentos profissionais, mediante
conclusão com aproveitamento e diplomação em curso regular, junto ao sistema oficial de ensino brasileiro,
visando ao exercício responsável da profissão;
VII – competência profissional: capacidade de utilização de conhecimentos, habilidades e atitudes
necessários ao desempenho de atividades em campos profissionais específicos, obedecendo a padrões de
qualidade e produtividade. (CONFEA, 2016).

Assim sendo, antes de iniciar as atividades no seu campo de formação, o


profissional deverá registrar-se no CREA, do qual receberá sua carteira numerada com
o seu registro profissional. O número deste registro deverá ser explicitado nos projetos
e documentos em geral produzidos pelo profissional.
Atendidos a todos os requisitos, seja pela Escola de Engenharia, seja pelo
profissional, os direitos e deveres do engenheiro estão definidos, sendo regulamentados
pelas Leis, Resoluções e demais normativos que regulamentam a profissão.

O sistema CONFEA/CREA: o que são essas instituições?

O CONFEA surgiu oficialmente com esse nome em 11 de dezembro de 1933, por


meio do Decreto nº 23.569, promulgado pelo então presidente da República, Getúlio
Vargas. Esse Decreto é considerado marco na história da regulamentação profissional e
técnica no Brasil.
Em sua concepção atual, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, que
representa milhares de profissionais de engenharia, é regido pela Lei 5.194 de 1966,
que regula o exercício da profissão de engenheiro no Brasil
O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) e os Conselhos
Regionais de Engenharia e Agronomia (CREA) são autarquias que, por atribuição
legal, são responsáveis, em nome do Estado, pelo controle da atividade de engenharia,
cabendo a eles a verificação, orientação e fiscalização do exercício profissional,
associado às obras de engenharia, com o objetivo de coibir práticas ilegais dos ofícios
abrangidos pela sua responsabilidade legal.
O artigo 24, do Título II, Capítulo I, Dos Órgãos Fiscalizadores, da Lei 5194/66
explicita:

Art. 24 – A aplicação do que dispõe esta Lei, a verificação e a fiscalização do exercício e atividade das
profissões nela reguladas serão exercidas por um Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA),
e Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREA), organizados de forma a assegurarem unidade de
ação.

Em particular, os CREAs têm a função de garantir a aplicação das Resoluções e


Decisões Normativas aprovadas pelo Conselho Federal, fiscalizando as atividades dos
engenheiros na sua região de responsabilidade.
O sistema CONFEA/CREA também cuida de valorizar os profissionais a ele
vinculados, evitando práticas profissionais que desvalorizem ou tragam uma visão
negativa das profissões sob sua responsabilidade.
Dentro dos CREAs, ainda existem as chamadas Câmaras Especializadas, que são
responsáveis por questões específicas de cada área ou modalidade de engenharia. A
essas Câmaras cabe, conforme artigo 45 da Lei 5194/66, “julgar e decidir sobre os
assuntos de fiscalização pertinentes às respectivas especializações profissionais e às
infrações do código de Ética”.
No artigo 27 da referida Lei estão definidas com mais clareza as atribuições do
Conselho Federal de Engenharia. Entre elas, estão: organizar os regimentos internos;
examinar e decidir em última instância os assuntos relativos ao exercício das profissões
ligadas ao CONFEA; dirimir dúvidas suscitadas nos Conselhos Regionais; julgar em
última instância decisões e penalidades impostas pelos Conselhos Regionais; publicar
resoluções para regular e executar a Lei 5194/66; publicar anualmente a relação de
títulos, cursos e escolas de ensino superior e, periodicamente, a relação de profissionais
habilitados; promover reuniões entre o CONFEA e os CREAs; julgar, em grau de
recurso, as infrações do Código de Ética Profissional; e aprovar a criação de novos
CREAs.
A Lei 5194/66 define ainda, no Capítulo III, Dos Conselhos Regionais de
Engenharia e Agronomia, Seção I, Da Instituição dos Conselhos Regionais e suas
Atribuições, as responsabilidades (artigo 33) e as atribuições (artigo 34) dos Conselhos
Regionais de Engenharia.
O artigo 33 explicita que “os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CREA) são órgãos de fiscalização do exercício de profissões de
engenharia, arquitetura e agronomia, em suas regiões” (Brasil, 1966b).62
O artigo 34 insere, entre as atribuições dos CREAs, a elaboração dos seus
regimentos internos, a criação de Câmaras especializadas, o exame de reclamações e
representação acerca de registros, o julgamento e a decisão sobre os processos de
infração à Lei 5194/66 e ao Código de Ética. Também cabe aos CREAs a atribuição de
julgar as penalidades e multas para infratores; organizar o sistema de fiscalização do
exercício profissional; publicar os relatórios de seus trabalhos, de profissionais e firmas
registradas no Conselho; de expedir as carteiras profissionais e de documentos de
registro; de tomar ações, junto com as sociedades de classe e as escolas de engenharia e
agronomia, nos assuntos relacionados com a Lei 5194/66. Compete ao CREA
também a deliberação sobre assuntos de interesse geral e administrativo e sobre casos
comuns a duas ou mais especializações profissionais; a organização, disciplina e
manutenção atualizada dos registros dos profissionais e pessoas jurídicas que, nos
termos da 5194/66, se inscrevam para exercer atividades de engenharia e agronomia na
região de jurisdição do CREA; a organização e manutenção atualizada do registro das
entidades de classe e das escolas e faculdades de engenharia e do registro das tabelas
básicas de honorários profissionais.
O sistema CONFEA/CREA ainda tem associado a ele a chamada MÚTUA. Esta
não entra na legalização da carreira. A MÚTUA – Caixa de Assistência dos
Profissionais dos CREAs – é uma sociedade civil sem fins lucrativos criada pelo
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, pela Resolução nº 252, de 17 de
dezembro de 1977, conforme autorização legal contida no artigo 4º, da Lei 6.496, de 7
de dezembro de 1977. Ela tem por objetivo oferecer aos seus associados planos de
benefícios sociais, previdenciários e assistenciais, de acordo com sua disponibilidade
financeira, respeitando o seu equilíbrio econômico-financeiro.
Como vimos, o título profissional concedido pela graduação é somente uma
indicação de que o profissional está capacitado a desenvolver atividades compatíveis
com a sua formação. Somente o registro no Conselho Regional de Engenharia
(CREA) o habilitará a exercer sua profissão.
Sendo o objetivo principal do sistema CONFEA/CREA garantir que os trabalhos
prestados à sociedade pelos profissionais a ele vinculados sejam projetados e executados
dentro da melhor técnica e dos princípios éticos, o sistema tem o registro de todos os
profissionais autorizados a exercer as profissões por ele acolhida.
As exigências para registro profissional podem ser obtidas nos CREAs.63 Em seus
cadastros, o Sistema CONFEA/CREA tem registrados cerca de um milhão de
profissionais, que respondem por grande parte do PIB brasileiro e que movimentam
um mercado de trabalho cada vez mais acirrado e exigente nas especializações e
conhecimentos da tecnologia, alimentado intensamente pelas descobertas técnicas e
científicas do homem.
O CONFEA, por meio dos seus CREAs, fiscaliza mais de 300 habilitações
reconhecidas em diferentes níveis e modalidades profissionais (Ferreira, 2015).
Por suas funções e atribuições, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia é a
instância máxima à qual um profissional de engenharia pode recorrer no que se refere
ao regulamento do exercício da profissão.

Das obrigações legais dos engenheiros

Os engenheiros, assim como todos os cidadãos, devem obedecer aos normativos


que regulam a vida social e individual: a Constituição do País, as leis, os decretos e os
decretos-leis.
A Constituição é o documento maior, pois contém as normas supremas que
regulam as relações políticas e sociais do país. Nela se definem os direitos e deveres
fundamentais dos cidadãos, como o Estado e os poderes que o administram devem
funcionar e ser fiscalizados, se explicitam as regras gerais de tributação e definição do
orçamento do Estado e as de funcionamento do sistema econômico e financeiro do
país, bem como regras gerais da ordem social. É o regulamento ao qual todos os
cidadãos devem obedecer e seguir.
Além da Constituição, o engenheiro deve obedecer às Leis de seu país. A Lei é uma
norma geral de conduta que disciplina as relações de fatos incidentes no direito, e cuja
observância é imposta pelo poder estatal, sendo elaborada pelo Poder Legislativo, por
meio de procedimentos adequados.
Numa escala mais baixa na hierarquia dos normativos está o Decreto. Este é um ato
do Presidente da República para estabelecer e aprovar o regulamento de lei, facilitando
a sua execução.
O decreto-lei, por sua vez, é uma norma baixada pelo Presidente da República, que
se restringe a certas matérias e está sujeita ao controle do Congresso Nacional.
Além dessas normas que devem ser obedecidas por todos os cidadãos, os
engenheiros, como membros de uma classe profissional, devem atender às Resoluções,
Decisões Normativas e Decisões Plenárias emanadas pelo CONFEA/CREA.
Uma Resolução é um ato normativo de competência exclusiva do Plenário do
CONFEA, destinado a explicitar a lei, para sua correta execução e para disciplinar os
casos omissos.
Uma Decisão Normativa é um ato de caráter imperativo, de exclusiva competência
do Plenário do CONFEA, destinado a fixar entendimentos ou a determinar
procedimentos a serem seguidos pelos CREAs, visando à uniformidade de ação.
Uma Decisão Plenária é um ato de competência dos Plenários dos Conselhos para
instrumentar sua manifestação em casos concretos.
Os normativos que regulamentam e regem o exercício profissional da engenharia
podem ser encontrados nos sites do CONFEA e dos CREAs.64

Alguns normativos importantes

O CONFEA e o CREA não têm competência para criar Leis, porém, pelas
atribuições de sua competência são capazes de emitir decisões de grande impacto na
vida dos profissionais devidamente registrados nos seus cadastros.
Entre outras importantes decisões das quais o sistema CONFEA/CREA participa
estão as que regulamentam as atividades que podem ser desenvolvidas por cada
modalidade de engenharia, as que estabelecem os pisos de remuneração, as que regulam
a Ética Profissional e as que definem a necessidade de Anotação de Responsabilidade
Técnica (ART) para execução de serviços de engenharia.
A seguir, comentaremos brevemente cada uma delas.

Remuneração dos profissionais

Com relação à remuneração dos profissionais, esta é estabelecida, de forma geral,


pelas entidades de classe (associações e sindicatos) e é registrada no CREA. Com isso,
visa-se assegurar limites remuneratórios por meio da fixação de pisos para remuneração
da atuação profissional e, consequentemente, os valores mínimos a que os clientes dos
engenheiros estão obrigados a atender.
A Remuneração é tratada, na sua definição geral, pela Lei 5194/66, no seu artigo
82, e é mais bem detalhada na Lei número 4950-A, de 22 de abril de 1966.
A Lei 5194/66 fixa a remuneração mínima inicial dos profissionais em valor
mínimo de 6 vezes o salário mínimo da região. A Lei 4950-A vincula esse valor ao tipo
de formação e à jornada de trabalho. No seu artigo 5º é fixado o valor do salário
mínimo dos engenheiros como de 5 a 6 vezes o maior salário mínimo comum vigente
no País, conforme o enquadramento do profissional na Lei.
O Código de Ética do CONFEA (2014), conforme apresentado na Resolução
1002, de 26 de novembro de 2002, deixa claro no seu artigo 10, item III-a, que é
vedada e, portanto, passível de punição, a “formulação de propostas de salários
inferiores ao mínimo profissional legal”. O item III do mesmo artigo 10, letra (b),
explicita que é vedado ao profissional “apresentar propostas de honorários com valores
vis ou extorsivos ou desrespeitando tabela de honorários mínimos aplicáveis”
(CONFEA, 2002a).

Atividades e atribuições profissionais

O que cada engenheiro pode fazer (sua atividade) e quais responsabilidades pode
assumir (suas atribuições) dependerão da sua formação.
As diversas modalidades reconhecidas pelo CONFEA são objetos da Tabela de
Títulos Profissionais, Resolução 473/02 (CONFEA, 2002b). Esta Tabela é
periodicamente revisada de forma a incluir novas modalidades de engenharia que
sejam criadas. Dependendo de sua formação (de seu Título), um profissional de
engenharia poderá desempenhar atividades e ter atribuições diferentes de outro
profissional.
A Resolução 1073, de 19 de abril de 2016, define “título profissional”, e
“modalidade”, no artigo 2º, itens III e IX, respectivamente, como:

título profissional: título constante da Tabela de Títulos do Confea, atribuído pelo Crea ao portador de
diploma de conclusão de cursos regulares, expedido por instituições de ensino credenciadas, em
conformidade com as diretrizes curriculares, o projeto pedagógico do curso e o perfil de formação
profissional, correspondente a um campo de atuação profissional sob a fiscalização do Sistema Confea/Crea;
modalidade profissional: conjunto de campos de atuação profissional da Engenharia correspondentes a
formações básicas afins, estabelecido em termos genéricos pelo Confea […] (CONFEA, 2016).

A Resolução 218, de 29 de junho de 1973, do CONFEA, discrimina as atividades


das diferentes modalidades profissionais de engenharia, sendo complementada por
outras Resoluções65 para definir atividades de engenharias posteriores à Resolução
218.
O CONFEA define o conceito de “atividade” no artigo 2º, item IV, da Resolução
1073, de 19 de abril de 2016, como:
atividade profissional: conjunto de práticas profissionais que visam à aquisição de conhecimentos,
capacidades, atitudes, inovação e formas de comportamentos exigidos para o exercício das funções próprias
de uma profissão regulamentada […] (CONFEA, 2016).

Nesse tema, em particular, o Capítulo II, seção II, da Resolução 1073, explicita
dezoito classes de atividades que podem ser desenvolvidas pelas várias áreas de
engenharia, sendo mais específico em outros de seus artigos, sobre as atividades de
algumas áreas e modalidades. As dezoito atividades listadas são (CONFEA, 2016):

Atividade 01 – Gestão, supervisão, coordenação, orientação técnica.


Atividade 02 – Coleta de dados, estudo, planejamento, anteprojeto, projeto, detalhamento,
dimensionamento e especificação.
Atividade 03 – Estudo de viabilidade técnico-econômica e ambiental.
Atividade 04 – Assistência, assessoria, consultoria.
Atividade 05 – Direção de obra ou serviço técnico.
Atividade 06 – Vistoria, perícia, inspeção, avaliação, monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria,
arbitragem.
Atividade 07 – Desempenho de cargo ou função técnica.
Atividade 08 – Treinamento, ensino, pesquisa, desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio, divulgação
técnica, extensão.
Atividade 09 – Elaboração de orçamento.
Atividade 10 – Padronização, mensuração, controle de qualidade.
Atividade 11 – Execução de obra ou serviço técnico.
Atividade 12 – Fiscalização de obra ou serviço técnico.
Atividade 13 – Produção técnica e especializada.
Atividade 14 – Condução de serviço técnico.
Atividade 15 – Condução de equipe de produção, fabricação, instalação, montagem, operação, reforma,
restauração, reparo ou manutenção.
Atividade 16 – Execução de produção, fabricação, instalação, montagem, operação, reforma, restauração,
reparo ou manutenção.
Atividade 17 – Operação, manutenção de equipamento ou instalação.
Atividade 18 – Execução de desenho técnico.

As definições dos conceitos de “atribuição”, de “formação” e de “competência” são


apresentadas no artigo 2º, itens I, II, VI e VII, da Resolução 1073, de 19 de abril de
2016:
I – atribuição: ato geral de consignar direitos e responsabilidades dentro do ordenamento jurídico que rege a
sociedade;
II – atribuição profissional: ato específico de consignar direitos e responsabilidades, na defesa da sociedade,
para o exercício da profissão de acordo com a formação profissional obtida em cursos regulares, junto ao
sistema oficial de ensino brasileiro;
[…]
VI – formação profissional: processo de aquisição de habilidades e conhecimentos profissionais, mediante
conclusão com aproveitamento e diplomação em curso regular, junto ao sistema oficial de ensino brasileiro,
visando ao exercício responsável da profissão;
VII – competência profissional: capacidade de utilização de conhecimentos, habilidades e atitudes
necessários ao desempenho de atividades em campos profissionais específicos, obedecendo a padrões de
qualidade e produtividade.

As atribuições e competências dos engenheiros são tratadas, de uma forma geral,


em diversas Resoluções. Algumas engenharias mais antigas, como a civil, a mecânica-
eletricista e a eletricista são objeto de leis e decretos como o Decreto Federal 23569, de
11/12/1933, e Lei 5.194, de 24 de dezembro de 1966, no seu artigo 7º.
As atribuições e competências das várias modalidades de engenharia mais recentes
são definidas em outros normativos existentes e que são gerados à medida que as
modalidades vão sendo criadas, devido ao avanço da tecnologia e dos conceitos de
engenharia.
Assim, as engenharias mais recentes, como a aeroespacial, a automotiva, a
biomédica, a de software e a engenharia nuclear têm suas atribuições, competências e
sua inclusão na Tabela de Títulos Profissionais por meio das Resoluções 1106, de
28/09/2018, 1105, de 28/09/2018, 1103, de 26/07/2018, 1100, de 24/05/2018 e
1099, de 24/05/2018, respectivamente.66

Ética profissional

Na relação entre pessoas, entre empresas e pessoas e empresas entre si, é


fundamental o respeito e a confiança mútua. Um dos fatores-chave para o
desenvolvimento do respeito e confiança é a relação ética. Relação ética significa, de
uma forma prática, estabelecer comportamentos adequados, saber quais são os
inadequados e evitá-los.67
No que tange à Ética Profissional a ser seguida pelos engenheiros, o tema é tratado
na Resolução 1002, de 26 de novembro de 2002. Esta Resolução apresenta o Código
de Ética Profissional (CONFEA, 2014) ao qual devem obedecer aos engenheiros
ligados aos CREAs.
Como citado no seu Art. 1º, o Código de Ética deixa claro o seu propósito: “Art. 1º
- O Código de Ética Profissional enuncia os fundamentos éticos e as condutas
necessárias à boa e honesta prática das profissões da Engenharia […]”.
O objetivo da profissão é explicitado no artigo 8º, item I:

A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos
maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores;

A preocupação social é espelhada no artigo 6º do Código de Ética:

Art. 6º - O objetivo das profissões e a ação dos profissionais volta-se para o bem-estar e o desenvolvimento do
homem, em seu ambiente e em suas diversas dimensões: como indivíduo, família, comunidade, sociedade,
nação e humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura.

O corpo central do Código de Ética explicita os Princípios Éticos no seu artigo 8º.
No artigo 9º, Dos Deveres, sob os subtítulos: I - ante o ser humano e a seus valores; II -
ante a profissão; III - nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores; IV -
nas relações com os demais profissionais; e V - ante o meio (ambiente e sociocultural),
são explicitados os deveres do engenheiro, do ponto de vista ético.
No artigo 10 do Código de Ética discutem-se as condutas vedadas aos profissionais
ante os mesmos subtítulos anteriormente citados no item “Dos Deveres”. Os artigos
seguintes avançam para a discussão dos direitos dos profissionais (artigos 11 e 12), na
caracterização da infração ética (artigo 13) e na possibilidade de aplicação de processo
disciplinar para aqueles profissionais que desrespeitarem as disposições do Código
(artigo 14).

A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)

Sempre que o engenheiro prestar qualquer serviço técnico, desde uma consulta
técnica até uma obra de grande porte, na qual assuma a responsabilidade técnica pelo
serviço executado, antes do início da prestação do serviço, ele deverá fazer junto ao
CREA de sua região, uma Anotação de Responsabilidade Técnica (conhecida como
“ART”). Os engenheiros só podem executar qualquer serviço após a emissão da ART,
o que vale também para engenheiros lotados em órgãos públicos.
A ART foi criada pela Lei 6496/77, de 07 de dezembro de 1977, que institui a
necessidade de Anotação de Responsabilidade Técnica pelos Engenheiros.
No seu Artigo 1º, a Lei 6496 diz que “todo contrato, escrito ou verbal, para
execução de obras ou prestação de quaisquer serviços profissionais referentes à
Engenharia fica sujeito à ‘Anotação de Responsabilidade Técnica’ (ART)” (Brasil,
1977).
Sua função e forma de elaboração são tratadas em normativas específicas, como a
Resolução 1025, de 30 de outubro de 2009, que dispõe sobre a anotação de
responsabilidade técnica e sobre o acervo técnico profissional.
Na ART, o profissional deve explicitar os dados principais do seu contrato, em
formato próprio definido pelo CREA da região onde vai prestar o serviço. Os dados de
contrato incluem o nome do profissional, a indicação do local de serviço, o nome do
cliente, a indicação dos responsáveis técnicos pelo serviço e a descrição sumária dos
serviços a serem executados.
Após pagamento de uma taxa, o profissional registra sua ART no CREA e somente
após a expedição do número de registro pode começar a prestar os serviços
contratados.
Conforme Artigo 1º da Resolução 425, de 18/12/1998, do CONFEA, a Anotação
de Responsabilidade Técnica deve ser feita no CREA da região onde o profissional
executante desenvolverá sua atividade.
É prescrita multa para quem executar serviços sem a ART. A Resolução 425 dispõe
sobre a multa, dizendo em seu Artigo 10:

Art. 10 - A falta de Anotação de Responsabilidade Técnica sujeitará o profissional ou a empresa contratada à


multa prevista na alínea “a” do artigo 73 da Lei nº 5.194, de 24 DEZ 1966, e demais cominações legais, sem
prejuízo dos valores devidos.

Conforme mencionado no Manual do Profissional (CREA, 2005, p. 11), a ART,


relacionando o executante ao serviço, permite elaborar o acervo técnico dos
profissionais, acompanhar a efetiva participação do responsável pelo registro ao
trabalho em execução e manter atualizados os cadastros dos profissionais e empresas
nas suas especialidades e atividades, sendo assim um importante instrumento de
fiscalização do CREA.
As taxas pagas nas ARTs custeiam atividades dos CREAs e permitem que estes
órgãos mantenham atualizados os acervos de serviços técnicos executados pelos
profissionais. Com esses acervos, o CREA fica apto a emitir a Certidão de Acervo
Técnico (CAT). Esta funciona como um “Curriculum Vitae” do profissional.

O exercício ilegal da profissão de engenheiro é falta grave

A Lei 5194/66, que regula, em linhas gerais, o exercício da profissão de Engenheiro,


explicita uma das faltas mais graves do ponto de vista profissional: exercer a profissão
ilegalmente.
O Artigo 6º dessa Lei destaca que é exercício ilegal da profissão de engenheiro, seja
realizado por profissionais ou empresas de engenharia: realizar atos ou prestar serviços
públicos ou privados sem estar registrado no CREA; se incumbir de atividades
estranhas às atribuições discriminadas no registro profissional do CREA; emprestar o
nome a pessoas, firmas, organizações ou empresas executoras sem a real participação
nos serviços; e realizar serviços quando estiver com o registro suspenso.
Profissionalmente, o engenheiro pode atuar como autônomo, empregado ou
empresário, desde que esteja em dia com as exigências da legislação para a sua atuação
profissional e pague as suas taxas na forma da lei.
O autônomo presta serviços de natureza eventual ou não, gerando um vínculo
contratual temporário entre ele e o cliente pelo tempo em que perdura a prestação do
serviço. O empregado é aquele que tem vínculo contínuo com a empresa, seja ela
pública ou privada, e o empresário é o engenheiro que ocupa a função de sócio ou
diretor de uma empresa de produção de bens ou prestação de serviços.
Seja qual for a atuação do engenheiro, ele é responsável por todos os trabalhos que
sejam, formalmente, de sua autoria ou onde aponha sua assinatura e registro
profissional. Essa responsabilidade lhe sujeita não só a punições por infrações ou erros,
mas lhe confere também direito de autoria.
No que tange à autoria, o artigo 17 da Lei 5194/66 regula: “Os direitos de autoria
de um plano ou projeto de Engenharia, […] respeitadas as relações contratuais
expressas entre o autor e outros interessados, são do profissional que os elaborar”
(Brasil, 1966b).
No parágrafo único do artigo 17 fica explicitado que os prêmios e distinções
honoríficas concedidas a projetos, planos, obras ou serviços técnicos, são também do
profissional que os elaborou, ficando ainda explicitado no Artigo 18 da mesma Lei que
“as alterações do projeto ou plano original só poderão ser feitas pelo profissional que os
tenha elaborado”.
O sistema CONFEA/CREA registrará os projetos, planos, obras ou serviços
técnicos, assegurando o direito de autoria, como reza o artigo 23 da Lei 5194/66: “Os
Conselhos Regionais criarão registros de autoria de planos e projetos, para salvaguarda
dos direitos autorais dos profissionais que o desejarem” (Brasil, 1966b).
Um sumário das responsabilidades profissionais dos engenheiros pode ser
encontrado no Manual do Profissional (CONFEA, 2005, p. 8), que, além dessas
informações, relaciona Leis e Resoluções de interesse dos engenheiros e os orienta
sobre sua atuação legal.
Com relação às responsabilidades pelas quais responde o engenheiro, este pode
responder legalmente por várias condutas indevidas, como falhas técnicas, condutas
não éticas no exercício da profissão, transgressão do direito civil e enquadramento no
direito penal e trabalhista.
O enquadramento em termos técnicos pode ocorrer por razões simples, como
executar uma obra sem licença ou sem a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica, indo até casos graves que possam caracterizar negligência, imprudência ou
imperícia, como a execução de um projeto ou obra para a qual a sua área de formação
não o qualifica ou, ainda, a execução de uma obra com erros de projeto.
As condutas não éticas na profissão são tratadas no Código de Ética Profissional. A
ação ética gera respeito e confiança e, como discutimos no tema 10, sobre Ética, o
comportamento ético traz confiança social e a coesão da sociedade. Dessa forma, o
Código de Ética explicita as condutas vedadas do ponto de vista do relacionamento
com clientes, empregadores e colaboradores (art. 10 item III), bem como na relação
com os demais profissionais (art. 10, item IV).
Conforme o artigo 72 da Lei 5194/66, “[…] as penas de advertência reservada e de
censura pública são aplicáveis aos profissionais que deixarem de cumprir disposições do
Código de Ética […]” (Brasil, 1966b).
Transgressões ao direito civil são aquelas julgadas indevidas por desatenderem ao
conjunto de normas reguladoras dos direitos e obrigações de ordem
privada, relacionados às pessoas, aos seus direitos e às suas obrigações, aos bens e às suas
relações, como membros da sociedade. As transgressões são apresentadas no Código
Civil Brasileiro,68 o qual contém mais de 2000 artigos onde são tratadas as várias áreas
civis, como o direito das empresas, da família e das sucessões.
O dano civil pode exigir reparação por parte do engenheiro responsável, caso se
caracterize a sua culpa no dano. A responsabilidade do engenheiro, em geral, não se
esgota no prazo de execução da obra, mas pode se estender por prazos maiores, como
de 5 a 20 anos depois da entrega do serviço. Tal responsabilidade pode se relacionar
com a execução do projeto ou da obra, com a solidez e segurança do que executou, com
a escolha errada de materiais e métodos de cálculo e danos em geral causados a
terceiros.
O direito penal pode ser aplicado ao engenheiro quando, no exercício da profissão,
cometer atos sujeitos à punição, conforme legislação penal. Assim, por exemplo, a
emissão de um laudo de vistoria de um equipamento, sem ter visto o equipamento,
pode levar este ato à consideração de um ato criminoso caso alguém se acidente e
morra em função de falha do equipamento. A atribuição de culpa ao engenheiro pode
levá-lo à perda da liberdade, multas ou restrições ao exercício da profissão.
Caso não haja culpa comprovada, ou seja, não se prove que o engenheiro agiu com
consciência dos erros que cometeu, e ainda que não tenha havido imprudência,
imperícia ou negligência relacionada aos danos causados, o engenheiro pode ser
enquadrado em crime culposo (crime que ocorre sem a intenção do autor),
respondendo pelos danos causados. Caso se comprove sua culpa, poderá ser
enquadrado em crime doloso (onde há dolo, culpa).
Em caso de atos considerados ilegais, poderão ser aplicadas diferentes penalidades
ao engenheiro infrator. No artigo 71 da Lei 5194/66 são explicitadas as penalidades
por infração desta Lei, que varia com a gravidade da falta. Estas penalidades podem ser
uma simples advertência reservada, uma censura pública, multa, suspensão temporária
do exercício profissional e cancelamento definitivo do registro. A advertência
reservada ou censura pública são aplicáveis às infrações éticas.
Outras punições são esclarecidas nos artigos 75 e 76 da Lei 5194:

Art. 75 - O cancelamento do registro será efetuado por má conduta pública e escândalos praticados pelo
profissional ou sua condenação definitiva por crime considerado infamante.
Art. 76 - As pessoas não habilitadas que exercerem as profissões reguladas nesta Lei, independentemente da
multa estabelecida, estão sujeitas às penalidades previstas na Lei de Contravenções Penais (Brasil, 1966b).

O direito trabalhista pesa principalmente sobre os engenheiros que vierem a se


tornar empresários e estabelecerem contratos de trabalho com outros profissionais.
Pode pesar também sobre aqueles que, sendo profissionais liberais, subcontratem
serviços e desrespeitem as determinações da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
ou obrigações previdenciárias, quando aplicadas.
Os engenheiros no exercício de funções de gestão nas empresas públicas poderão
ser ainda enquadrados em atos administrativos, como a Improbidade Administrativa
objeto da Lei 8429/1992.
Assim, não exercendo com responsabilidade as suas funções, o engenheiro pode
sofrer punições em nível profissional, seja por descumprir a legislação ou o Código de
Ética profissional. Nesses casos, terá que reparar os prejuízos causados por erros no seu
trabalho, sofrerá punições criminais, caso seja comprovada culpa ou dolo no exercício
de sua profissão, e terá que indenizar empregados que venham a sofrer qualquer tipo de
dano, seja econômico, à saúde ou pessoal.

As entidades de classe e sua importância

Ainda participam da atividade profissional dos engenheiros entidades de classe e


organizações que, embora não sejam diretamente ligadas à legalização da profissão,
colaboram para a sua organização e legitimação, bem como para a formação dos
profissionais (Padilha, 2013). Essas entidades são sociedades de empresas ou de pessoas
com forma e natureza jurídicas próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos e não
sujeitas à falência, que são constituídas para prestar serviços aos seus associados.
As entidades de classe influenciam nas decisões legais sobre a atividade dos
engenheiros, complementando, muitas vezes, na esfera operacional, decisões políticas
ou mesmo Resoluções do sistema CONFEA/CREA, como, por exemplo, a de fixação
de pisos mínimos salariais para uma dada categoria de profissionais. Na esfera política,
podem atuar, por exemplo, decidindo paralisações de atividades temporárias ou greves
da categoria representada.
Exemplos de entidades de classe e organizações são os sindicatos, as confederações,
as associações e as cooperativas.
Os sindicatos são organizações que procuram defender os interesses dos
profissionais a eles vinculados, atuando principalmente na busca da observância dos
direitos trabalhistas e de benefícios para os seus representados. Suas ações envolvem,
muitas vezes, a esfera política e, dependendo de sua força, são capazes de influenciar as
decisões em tal esfera decisória.
Os sindicatos, para serem representações profissionais válidas, têm que ser
reconhecidos não só pelos seus associados, mas também pelo poder Judiciário e pelas
áreas administrativas do Estado.
As associações são instituições de natureza política e cultural. Do ponto de vista
cultural, visam ao aprimoramento das profissões a elas associadas por meio da
realização de cursos de atualização e de debates em seminários, congressos e fóruns de
associados, sobre questões importantes para o exercício e o bom andamento das
profissões em torno das quais se constitui.
Do ponto de vista político, as associações defendem os interesses de seus associados.
Essas instituições funcionam de forma independente do Estado, tendo recursos
próprios obtidos pela contribuição de seus associados ou pela realização de eventos
relacionados aos seus objetivos. Sua criação e formalização deve seguir os artigos 120 e
121 da Lei 6015/73, sobre Registros Públicos.
As confederações69 são associações sindicais de grau superior sediadas na capital da
República, que reúnem pelo menos três federações, ou seja, três sindicatos
representativos de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas. As
confederações permitem singularizar as decisões destas entidades, sendo delas
representantes e porta-vozes, que, sem retirar a livre ação dos sindicatos confederados,
passam a representá-los, assumindo muitas vezes a forma de uma “confederação
nacional”.
“As cooperativas são organizações constituídas por membros de determinado grupo
econômico ou social que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada
atividade” (SEBRAE, 2013, grifo nosso). Para tal, os membros devem ter identidade de
propósito e interesses, ação conjunta, voluntária e objetiva de contribuição e serviços,
assim como obtenção de resultado útil e comum a todos.

Exercícios de avaliação de conteúdo

14.1) Quais os normativos, em ordem de abrangência (Constituição abrange todo


o país; resoluções do CREA, só os seus membros), que regulam as relações de direitos e
deveres do cidadão-engenheiro com a sociedade?
14.2) Qual o normativo que levou à criação oficial do CONFEA e dos CREAs e
qual dos seus artigos define que a fiscalização do exercício da engenharia será executada
pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura e pelos Conselhos Regionais?
14.3) Pesquise e explicite quais os requisitos que o CREA exige para conceder a
“carteira profissional” efetuando o “registro profissional” do engenheiro que se forma.
14.4) Cite algumas funções do sistema CONFEA/CREA.
14.5) Com relação à remuneração profissional, qual o valor mínimo de
remuneração para os engenheiros? Cite dois normativos que tratam do assunto.
14.6) Quais os “títulos” das engenharias, entre aquelas listadas na Tabela de Títulos
do CONFEA, que estão incluídos na modalidade na qual você atua ou pretende atuar?
14.7) Como o CONFEA define competência?
14.8) Liste os tópicos tratados nos diversos artigos do Código de Ética do
CONFEA.
14.9) O que é a ART? Quais as utilidades e objetivos deste documento?
14.10) Encontre um modelo de ART, procurando este documento no CONFEA
(no site ou na instituição ou onde disponível) e explicite as informações que têm que
ser fornecidas no preenchimento deste documento.
14.11) O que é a Certidão de Acervo Técnico (CAT) do CREA?
14.12) Como o engenheiro pode atuar profissionalmente, considerando a forma
como receberá sua remuneração?
14.13) O que são entidades de classe? Cite três.

Exercícios vivenciais

14.14) Com relação às responsabilidades pelas quais responde o engenheiro, cite


três das “condutas indevidas” que podem levá-lo a responder legalmente? Qual a
instância responsável por julgar e punir (se for o caso) o engenheiro infrator? Dê
exemplos objetivos para as situações de condutas indevidas que você citou.
14.15) Junte-se a mais dois colegas, de preferência de modalidades diferentes da
sua. Consultando a legislação, opine sobre a possibilidade de um engenheiro da sua
modalidade, assinar, como responsável por pequenas obras civis, ou se sua modalidade
for civil, sobre a possibilidade dele assinar como responsável pela manutenção de
elevadores prediais.
– 15 –
E o futuro da engenharia?

Profissões do passado e do futuro

Contava meu pai que, quando não existia luz elétrica na cidade do Rio de Janeiro,
homens portando tochas andavam pelas ruas ao cair da tarde, acendendo lamparinas
para iluminar as principais vias públicas. Estes profissionais há muito não encontram
mais mercado de trabalho. As empresas que produziam lamparinas também tiveram
seus mercados drasticamente reduzidos ou precisaram se atualizar na tecnologia.
É natural que, com as modificações dos meios de produção, o desenvolvimento de
novas tecnologias e a demanda de novos produtos e serviços, profissionais de todos as
áreas desapareçam com suas profissões obsoletas, trazendo para a sociedade a demanda
de outros perfis profissionais.
Assim, não encontramos mais os tipógrafos que montavam as letras de metal,
chamados tipos, que eram utilizados como carimbos para imprimir jornais, revistas e
livros, nem os engenheiros que criavam e mantinham estas máquinas de impressão
funcionando. Não encontramos mais os maquinistas de trens a vapor nem os
engenheiros que criavam e cuidavam destes equipamentos; já se foi o tempo das
telefonistas de média e longa distância que faziam as interconexões dos telefones
manualmente; e os engenheiros que criavam e mantinham os equipamentos de
telefonia desta época também não existem mais.
As engenharias, assim como as demais profissões, tiveram que ir se adaptando às
demandas da sociedade e às novas tecnologias. Para atender a estas demandas e prover a
sociedade com tecnologias atuais, novas modalidades e especialidades de engenharia
foram e vão sendo criadas. Dessa forma ocorreu com as primeiras engenharias, tais
como a mecânica, química, agronômica, de minas e assim aconteceu nas últimas
décadas com a formação de engenheiros biomédicos, genéticos, de meio ambiente e
aeroespaciais, entre outros. Embora o desaparecimento e a criação de novas profissões
seja um fenômeno antigo, sua velocidade tem se incrementado com o aumento da
velocidade da criação e da obsolescência das tecnologias.
Diante deste quadro, algumas perguntas naturalmente são feitas pelos que
pretendem seguir o caminho da engenharia: que modalidade de engenharia (civil,
química etc.) melhor se encaixa nos meus gostos e tem mais chance de me propiciar
realização, reconhecimento, retorno social e econômico? Dentro da modalidade
escolhida, quais as especialidades mais promissoras no mercado de trabalho em que
pretendo ingressar? O que a sociedade futura a qual atenderei demandará?
Se pudéssemos prever o futuro, seria fácil responder a estas perguntas.
Muito embora não possamos dizer com precisão o que a sociedade demandará e no
que os engenheiros poderão ajudar no futuro para o atendimento destas solicitações,
podemos pensar, a partir do que temos no presente em termos de valores sociais, linhas
de pesquisa científica e demandas previsíveis da sociedade, o que será exigido dos
profissionais de engenharia no futuro. Assim fazendo, as nossas chances de acerto nas
previsões aumentam.
Embora muitas ocorrências inesperadas possam impactar o cenário futuro, como,
por exemplo, a queda de um grande meteoro na Terra, uma epidemia de proporções
maiores que a ocorrida em 2020 ou uma guerra de grandes dimensões, vamos supor
que o mundo continuará viável no futuro, de forma a podermos construir um cenário
vindouro.

Como desenhar o futuro?

Para tentarmos desenhar, com algum grau de precisão, o futuro que os engenheiros
vão encontrar como desafio para o exercício da sua profissão, tomaremos mão de três
dimensões que consideramos relevantes. A partir delas, poderemos esboçar uma visão
de como estes profissionais vão atuar no futuro e quais as demandas que serão
colocadas para as engenharias, inclusive para aquelas que ainda serão criadas. As
dimensões são:

a. os paradigmas que nortearão os valores, as formas de se enxergar o mundo futuro


e as necessidades físicas e psicológicas das sociedades. Eles determinarão como os
profissionais devem agir, os valores que devem considerar nos seus projetos e as
necessidades a que deverão atender;
b. a tecnologia capaz de ser desenvolvida a partir dos conhecimentos científicos
atuais e das pesquisas em andamento e que se mostram viáveis para o futuro;
c. as demandas de bens e serviços que serão criadas por forças que se imporão à
sociedade no futuro.

Para analisarmos estas dimensões, tomaremos por base trabalhos de autores que, no
final do século XX e início do XXI, se interessaram em entender as tendências do
pensamento (Capra, 2006), as das tecnológicas, que desenharão muitas décadas do
século XXI (Kaku, 1998b), bem como as demandas que serão impostas às sociedades
que se estruturarão no futuro (Smith, 2010). Apesar de suas previsões terem sido feitas
há alguns anos, destacaremos aquelas que se mostram válidas e atuais nos nossos dias.
Buscaremos, a partir do olhar desses autores, amalgamado pela nossa visão e
experiência profissional, entender o legado que o conhecimento humano e científico
até então acumulado disponibilizou para os profissionais de engenharia. Partindo deste
legado, buscaremos delinear a que novos horizontes de necessidades as três dimensões
impulsionam as sociedades e a pensar em que competências os profissionais de
engenharia deverão ter para atender a estas necessidades.
Deve-se considerar que as três dimensões – paradigmas, tecnologias e demandas –
são elementos que interagem continuamente, alterando um ao outro a todo tempo, de
forma sistêmica. Assim, mudanças no pensamento e nos valores socioculturais trarão
demandas sociais novas e vão permitir a criação de tecnologias. Essas novas tecnologias
trarão novos valores socioculturais e demandas sociais; as novas demandas sociais
estimularão o pensamento e as pesquisas tecnológicas, num processo continuamente
realimentado.
Para se alinhar com as novas formas de pensar e agir, para atender às demandas
tecnológicas e sociais, novas modalidades e especialidades de engenharia deverão ser
estimuladas e criadas. Algumas destas já estão em pleno funcionamento, outras dando
os seus primeiros passos e outras ainda serão gestadas.
Dimensão Paradigma

Os paradigmas orientarão as atitudes, as habilidades os conhecimentos e as formas


de trabalhar que deverão ter os profissionais do futuro e os engenheiros em particular.
Discutiremos nesta dimensão a evolução do paradigma mecanicista que dominou, por
cerca de quatro séculos, o pensamento da sociedade ocidental, comparando-o com o
paradigma que se coloca na posição dominante neste século XXI: o sistêmico.

Paradigma mecanicista

“Antes de 1500, a visão do mundo dominante na Europa, assim como na maioria


das outras civilizações, era orgânica” (Capra, 2006, p. 49). Na visão orgânica, o mundo
tende ao equilíbrio e os excessos não são desejados; há equilíbrio entre as coisas
materiais e aquelas ditas espirituais, sendo estas ligadas e dependentes.
Nessa visão de mundo, as necessidades dos indivíduos eram ligadas às necessidades
materiais da comunidade (como alimentação), a necessidades de se aproximar de Deus
(com a conquista de uma vida santa, por exemplo) e da Natureza (fonte da vida e
criação de Deus). Dentro desta visão, não podia ser outra a ciência, senão aquela
baseada na fé e na razão, sendo que a fé estabelecia as premissas da razão. “Buscava-se
entender o significado das coisas e não exercer a predição e o controle” (Capra, 2006,
p. 49).
Com o advento da Idade Moderna, a visão orgânica cedeu lugar a uma nova visão: a
mecanicista. Construída sob as batutas de Bacon, Copérnico, Galileu e Newton, nela,
o mundo passou a ser visto como uma máquina.
A estrutura teórica para a construção desta nova visão de mundo foi inicialmente
montada por Francis Bacon (1561-1626), que desenvolveu os fundamentos do
chamado método científico. Este método permitiu a consolidação, na Idade Moderna,
da “Revolução Científica”. Com ela, o paradigma orgânico foi substituído pelo
paradigma mecanicista.
A ciência que levou à Revolução Científica, e daí ao paradigma mecanicista, tem na
sua concepção ideias de personagens como Nicolau Copérnico (1473-1543), que, se
opondo à visão “geocêntrica” de Ptolomeu e da Igreja, propôs a hipótese
“heliocêntrica” publicada pela primeira vez em 1543. Galileu Galilei (1564-1642),
outro personagem importante, com mais coragem que Copérnico, estabeleceu como
teoria científica a hipótese de Copérnico, com a necessária base empírica.
Galileu foi “o primeiro a combinar a experimentação científica com o uso da
linguagem matemática para formular as leis da natureza por ele descobertas” (Capra,
2006, p. 50). Galileu deixou uma marca na ciência que até hoje perdura: a abordagem
empírica e a descrição matemática da natureza.
O método científico trouxe a convicção de que a Natureza podia ser dominada e de
que a Terra, que era vista como a fonte da vida, era uma máquina a ser controlada pelo
ser humano. Como diz Capra (2006, p. 51), a visão da “Terra como mãe nutriente foi
radicalmente transformada nos escritos de Bacon e desapareceu por completo quando
a revolução científica tratou de substituir a concepção orgânica da natureza pela
metáfora do mundo como máquina”. Estava delineada a “visão mecanicista” do
mundo.
O paradigma mecanicista se consolidou nos séculos XVI e XVII. René Descartes
(1596-1650) e Isaac Newton (1643-1727) completaram esta visão mecanicista, que
levaria à primazia da ciência como forma mais acreditada de conhecimento.
René Descartes propôs que só seriam verdadeiras as coisas que se colocassem ao
nosso pensamento de forma clara e distinta, o que, segundo ele, seria a intuição da
verdade. Esta, com a ferramenta mental da dedução, levaria aos conhecimentos
verdadeiros. Com estas premissas, Descartes criou um método analítico de conhecer o
mundo, buscando dividir as coisas, os problemas e as ideias complexas em coisas,
problemas compartimentados e ideias simples que pudessem ser entendidas de forma
clara e distinta e organizadas de maneira lógica.
A consequência do método analítico foi a fragmentação do conhecimento. Esta
fragmentação levou às grandes realizações científicas, desde o século XVI até os dias
atuais. Seu prestígio ainda se mantém e ainda se manterá. Como subproduto,
fragmentou o pensamento, e as disciplinas acadêmicas e o entendimento da unidade da
vida.
A divisão da unidade da vida e do ser humano se espelhou no famoso “penso logo
existo”. O pensamento, produto da mente, foi separado do corpo, a residência do Eu
pensante. Assim, a mente, coisa pensante (res cogitans) se separou do corpo, da matéria,
da coisa extensa (res extensa).
A obra de Descartes foi completada por Isaac Newton, nascido em 1643 na
Inglaterra, um ano após a morte de Galileu. Entre as realizações de Newton está o
desenvolvimento do método de cálculo diferencial, extremamente útil para os
matemáticos e engenheiros, e a consolidação da sua teoria sobre o mundo, no seu
famoso livro “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, base para o estudo da
mecânica.
Assim, Descartes e Newton consolidaram no mundo uma forma de olhá-lo, de
interpretá-lo; um modelo ou paradigma que passou a ser conhecido como mecanicista.
O paradigma mecanicista passou a ser utilizado para explicar quase todos os
fenômenos daquilo que se constituiria como ciência. Esse paradigma, inicialmente
utilizado pelas ciências, foi extrapolado para a sociedade e para as organizações,
estabelecendo um estilo de ação e pensamento mecanicista, também chamado de
Cartesiano.

Questionando o paradigma mecanicista

Novidades no campo da física surgem no século XIX com James Clerk Maxwell
quando, em 1861, ele unificou com suas equações os trabalhos de físicos como André-
Marie Ampère (1775-1836) e Joseph Henry (1797-1878), descrevendo os fenômenos
elétricos e magnéticos como um só fenômeno eletromagnético. Ao conceito
newtoniano de força foi adicionado o conceito de “campo de força”.
Ao mesmo tempo que a visão do eletromagnetismo disputava espaço com a física
newtoniana, surge a ideia de evolução, a qual se consolidou como paradigma dentro da
geologia. A teoria da evolução das espécies foi impulsionada pelos estudos de Jean-
Baptiste Lamarck (1744-1829), que, invertendo a visão de um mundo no qual
imperava a ideia de uma hierarquia estática entre as espécies, hierarquia esta que
começava com o homem e terminava nas formas mais inferiores de vida, propôs que o
homem fosse o último elemento a ser criado na cadeia e que esta começava com os
animais primitivos.
A partir da teoria de Lamarck, Darwin (1809-82), com seu espírito observador e
com dados objetivos, pode desenvolver o conceito de seleção natural e de sobrevivência
dos mais capazes de se adaptarem, resumindo e organizando suas ideias no livro
“Origem das Espécies”. Daí era natural a dúvida quanto a um mundo construído de
forma acabada como uma máquina pronta para funcionar, pondo em xeque o
paradigma mecanicista.
Se a biologia caminhou para a ideia de um sistema organizado e evolutivo, a física se
direcionou para uma concepção de crescente desordem. A ideia de “entropia” foi
proposta pelo físico Rudolf Clausius (1822-88) para explicar os processos irreversíveis,
que, conhecida como a segunda lei da termodinâmica, dá conta de que, embora a
energia total se conserve durante um processo termodinâmico, a energia útil, aquela
capaz de se transformar em trabalho útil, diminui, dissipando-se em variadas formas de
perdas, como ruídos, calor e fricção.
Os processos físicos, dentro da visão de entropia, caminham da ordem para a
desordem, ou de outra forma, para o aumento da entropia. A explicação matemática da
entropia só foi adequadamente possibilitada com a introdução do conceito de
probabilidade elaborado pelo físico e matemático Ludwig Boltzmann (1844-1906).
Boltzmann permitiu, assim, que a mecânica newtoniana se apresentasse como uma
mecânica estatística. Na sua visão probabilística, pode acontecer de não haver perdas
em sistemas microscópicos compostos de poucas moléculas, mas, em sistemas
macroscópicos, a entropia continuará aumentando até que o sistema atinja seu estado
de máxima desordem, ou máxima entropia.
Com a ideia de probabilidade, de um mundo em constante evolução e de
fenômenos eletromagnéticos não completamente explicáveis pela física newtoniana, o
predomínio da divisão cartesiana entre espírito e matéria, a ênfase no pensamento
racional como forma de se obter o verdadeiro e preciso conhecimento foi perdendo sua
forte influência. A visão do mundo como um sistema mecânico em que, se as peças
funcionarem corretamente, o sistema também funcionará, vai sendo superada.
Assim, o mecanicismo que “levou à bem conhecida fragmentação em nossas
disciplinas acadêmicas e entidades governamentais e serviu como fundamento lógico
para o tratamento do meio ambiente natural como se ele fosse formado de peças
separadas a serem exploradas por diferentes grupos de interesse”. (Capra, 2006, p. 37)
foi dando lugar a outras visões. Ganhou-se o sentido de que “os cientistas não lidam
com a verdade, eles lidam com descrições da realidade limitadas e aproximadas”
(Capra, 2006, p. 45).
Assim, do início do século XX para o início do século XXI, a visão dominante no
mundo passou “da concepção mecanicista de Descartes e Newton para uma visão
holística e ecológica” (Capra, 2006, p. 13).
A visão holística leva à ideia de que “vivemos hoje num mundo globalmente
interligado no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são
todos interdependentes. Para escrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de
uma perspectiva ecológica que a visão do mundo cartesiana não nos oferece” (Capra,
2006, p. 14).
O pensamento cartesiano não se mostra adequado para tratar os problemas do
nosso tempo, como a fome e a pobreza, que são problemas sistêmicos. Estes problemas
estão interligados e são interdependentes e não podem ser “entendidos no âmbito da
metodologia fragmentada que é característica de nossas disciplinas acadêmicas e de
nossos organismos governamentais” (Capra, 2006, p. 23).

Novo paradigma: a nova física

A física teve um importante papel na mudança do paradigma que define novas


formas de pensar o mundo. “A exploração do mundo atômico e subatômico colocou-
os [os cientistas] em uma estranha e inesperada realidade que parecia desafiar qualquer
descrição coerente” (Capra, 2006, p. 13).
A nova física que se estrutura no século XX é devedora a um grupo de iminentes
cientistas, como Max Planck (1858-1947), Albert Einstein (1879-1955), Niels Bohr
(1885-1962), Louis De Broglie (1892-1987), Erwin Schrödinger (1887-1961),
Wolfgang Pauli (1900-58), Werner Heisenberg (1901-76) e Paul Dirac (1902-84).
Em 1905, a publicação de dois artigos de Einstein – um sobre a teoria especial da
relatividade e outro sobre o fenômeno fotovoltaico – mudaram a forma de se olhar o
mundo físico.
Einstein conseguiu, de certa forma, unificar a física eletromagnética de Maxwell
(ou eletrodinâmica) e a mecânica newtoniana. Na primeira, a física de Maxwell, podia-
se concluir, por exemplo, que a luz tinha velocidade constante, independentemente do
referencial de observação estar ou não se deslocando. Da física newtoniana, por outro
lado, se concluía que a velocidade da luz variaria com a velocidade do observador. Tal
contradição entre as físicas, além de outras explicações de fenômenos físicos, foi
resolvida por Einstein com sua teoria da relatividade.
Além dos trabalhos de Einstein, foi importante para a criação de novos paradigmas
a proposta de Planck sobre a forma de se transferir energia entre corpos.
As transferências de energia, antes vistas como sendo feitas de forma contínua,
exigiram uma nova explicação diante dos experimentos que não podiam ser explicados
por aquela visão. A proposta de Planck foi de que a energia se transferia de um corpo
para outro, não de forma contínua, mas em forma de pequenos pacotes, que foram
chamados de “quantum” de energia. As transferências de energia entre corpos, desta
forma, só poderiam ser feitas num valor mínimo igual a um “quanta” de energia.
A construção da nova física se valeu também das observações feitas pelos físicos do
início do século XX sobre a emissão de raios-X e sobre a radioatividade. A partir delas,
pode-se concluir que os átomos não eram indivisíveis, mas formados por partículas
menores, como os elétrons, neutros, prótons e partículas alfa. Estas últimas, as alfas, se
desprendem de substâncias radioativas. A ideia do quanta serviu para, junto com a
descoberta do interior atômico, construir um modelo adequado do átomo e, com isto,
se entender melhor a constituição da matéria.
A nova física que veio a se desenvolver no século XX, em consequência destas
descobertas, exigiu formas originais de se ver a realidade, modificando conceitos como
os de espaço e tempo, causa e efeito e matéria e energia.
Coisas surpreendentes foram propostas como explicações para os fenômenos,
como, por exemplo, que os elétrons são ondas eletromagnéticas e partículas ao mesmo
tempo, dependendo do modo como os observamos. Esta natureza dual também foi
atribuída à luz.
A estranheza que encontramos em explicações como as da natureza da luz tem
muito a ver com o fato de estarmos operando com uma linguagem desenvolvida dentro
do paradigma mecanicista e no modelo de campos de força. No paradigma da nova
física, por exemplo, “nem o elétron ou qualquer outro ‘objeto’ atômico possui
propriedades intrínsecas, independentes do seu meio ambiente. As propriedades que
ele apresenta dependem da situação experimental à qual é submetida, ou seja, do
aparelho com que o elétron é forçado a interagir” (Capra, 2006, p. 74).
O físico Heisenberg conseguiu expressar de forma matemática, por meio do
chamado “princípio da incerteza”, as limitações dos conceitos clássicos. Esta forma
matemática limita a extensão em que os conceitos clássicos podem ser aplicados aos
fenômenos atômicos.
Avançando na nova física, na linguagem de Niels Bohr, se estabelece a noção de
complementariedade, na qual a imagem da partícula e a imagem da onda são duas
descrições complementares da mesma realidade, cada uma delas só parcialmente
correta e com uma gama limitada de aplicações. Ambas as imagens são necessárias para
uma descrição total da realidade atômica, e ambas são aplicadas dentro das limitações
fixadas pelo princípio da incerteza (Capra, 2006, p. 74). O princípio da
complementariedade da física se mostrou também “útil fora do campo da física”
(Capra, 2006, p. 74).
A visão de incerteza de Heisenberg levou os físicos a entenderem que a realidade da
matéria no nível atômico se descreve como uma probabilidade. Neste nível, a matéria
não existe com certeza em lugares definidos, e sim mostra tendências para existir, assim
como os tempos de ocorrência também mostram tendências a ocorrerem. Assim,
“nunca podemos predizer com certeza um evento atômico, apenas podemos prever a
probabilidade de sua ocorrência” (Capra, 2006, p. 75). Os objetos sólidos da física se
dissolvem em ondas de probabilidades.
Olhadas do ponto de vista atômico, as partículas não têm significado como
entidades isoladas, só podendo ser entendidas como interconexões entre os vários
modos como podemos observá-las. Na física quântica não lidamos com “coisas”, mas
com interconexões. “As partículas subatômicas não são ‘coisas’, mas interconexões
entre ‘coisas’, e estas ‘coisas’, por sua vez, são interconexões entre outras ‘coisas’, e assim
por diante” (Capra, 2006, p. 75).
Esta visão se contrapõe à visão cartesiana de um mundo que deve ser dividido em
pedaços para ser entendido, pelo menos no nível atômico. Levado o paradigma para o
universo, vemos este como uma unidade, que pode ser dividida em partes separadas,
até certo ponto. Assim, a visão muda de objetos para relações; de um mundo cartesiano
para um mundo sistêmico.
Outra noção da física quântica que abalou a abordagem clássica e trouxe reforço à
visão de um mundo conectado foi a de ligações não locais. Este conceito se apresenta em
situações experimentais, entre as quais se enquadra o experimento com elétrons de
spins contrários. No modelo dos elétrons, estes têm rotação em torno de um eixo, e o
eixo em torno do qual giram não é fixo. Sempre que um elétron gira em um sentido,
em torno de um eixo alinhado em uma determinada direção, outro elétron, que forma
com este um par, gira em torno de um eixo com a mesma direção, em sentido contrário
ao do outro elétron do par.
A direção do eixo, embora variável, se fixa no momento em que a medimos. Assim,
se medimos a rotação num eixo vertical, a rotação se dará em torno deste eixo; se
medimos em torno de um eixo horizontal, a rotação se dará em torno deste eixo.
É possível mostrar de forma experimental que, se temos dois elétrons que formam o
mesmo par, assim que medimos o spin (a rotação) de um deles em relação a uma
direção, horizontal, por exemplo, o outro elétron do par passará a girar em torno de
um eixo com a mesma direção horizontal, no caso exemplificado. Caso a medida seja
feita na direção vertical, o outro elétron do par passará a girar em torno do eixo
vertical. Esta comunicação entre os elétrons se dá de forma instantânea, e não com a
velocidade dos sinais, limitada à velocidade da luz.
O que se pode concluir da experiência anterior é que os elétrons de um mesmo par
estão conectados, em detrimento da distância que separe um do outro, deixando
explícito que no mundo atômico há sempre conexão, o que é mais que comunicação
por sinais. O conceito de conexão pode se estender ao mundo macro, uma vez que este
é formado por elétrons.
A existência de ligações não locais retira de cena a relação causal, vista na forma
cartesiana. Dentro do paradigma cartesiano, dividimos o mundo em partes e podemos
encontrar uma relação causal entre algumas delas. Na visão quântica, ou do
micromundo, não se pode separar para concluir; as conclusões são retiradas de um
universo que se conecta todo o tempo e onde as relações são interativas e contínuas.
No mundo macro, com a noção de probabilidade podemos tratar os corpos como se
comunicando por sinais. De fato, na visão quântica, as percepções que temos do
mundo macro são as dos eventos do mundo micro que têm maior probabilidade de
ocorrer.
Outra observação de impacto no pensamento contemporâneo que vem da física
quântica é a de que a mente e a intenção do observador interferem no resultado dos
fenômenos observados.
Como vimos no exemplo dos elétrons com spins contrários, o eixo de rotação em
relação ao qual os elétrons vão girar dependerá do eixo que o observador escolha para
realizar a sua medição. O paradigma cartesiano de separação entre mente e matéria,
diante deste fato, entra em crise também, deixando espaço para uma nova integração
desses dois conceitos: observador e objeto observado.
Além disto, como o observador interfere no resultado da observação, a
subjetividade na ciência entra em cena. “Ao transcender a visão cartesiana, a física
moderna não só invalidou o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza, mas
também desafiou o mito da ciência isenta de valores” (Capra, 2006, p. 81).
Outra observação importante da física quântica é a de que “não existe matéria em
repouso”. Os elétrons, prótons, nêutrons e as demais partículas estão sempre em
movimento a velocidades altíssimas. Quanto menor o espaço em que estão confinados,
maior o seu nível de agitação. Na natureza não existe o repouso, e sim o equilíbrio
dinâmico. A percepção de corpos sem movimento que temos do mundo macro é
apenas aparente, e um mergulho de aproximação no mundo micro desse corpo macro
mostrará o nível de movimento existente dentro da matéria.
Dadas as velocidades das partículas atômicas, seu estudo deve ser feito com o uso da
teoria da relatividade, dentro de uma abordagem em que o tempo e o espaço não são
percebidos como grandezas absolutas. As análises devem ser feitas no “continuum”
chamado espaço-tempo, que compreende as quatro dimensões, três de espaço e uma de
tempo e onde tempo e espaço não são variáveis absolutas.
Outros conceitos que ganham novas visões são os de energia, matéria e força. A
noção de que a energia tem total relação com o conceito de matéria é expressa na
equação E=mc2, que relaciona massa e energia. Na visão da física moderna, partículas
são feixes de energia, e não necessariamente matéria no sentido clássico.
O conceito clássico de força também passa no mundo atômico e subatômico a ser
diferente. Neste, a força é uma troca de partículas entre outras partículas. Assim, a
força pode ser vista como tendo origem comum com a matéria dentro dos modelos de
movimento de partículas atômicas.
Muitas teorias têm sido desenvolvidas para permitir o entendimento do mundo
subatômico, e alguns autores concluem que “as estruturas do mundo material são
determinadas, em última instância, pelo modo como observamos esse mundo; e que os
modelos de matéria são reflexos de modelos da mente” (Capra, 2006, p. 88).

Impactos do novo paradigma nas sociedades e nas profissões

As visões da ciência transbordam para o mundo. A sociedade tem que desenvolver


uma nova linguagem para dar conta das aplicações no dia a dia das descobertas sobre o
mundo trazidas principalmente pela física, mas difundida em todas as áreas de vida
social. O resgate de palavras como “holístico”, “homeostasia”, entropia no sentido de
desordem, “quântico”, interconexão em lugar de comunicação, e outras, passaram para
a linguagem corrente da sociedade e das organizações, em particular.
A visão cartesiana-newtoniana é ultrapassada por outra, baseada na consciência de
um estado de interrelação e interdependência essencial de todos os fenômenos, sejam
eles físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Para dar conta destas
interrelações, toma-se mão da teoria dos sistemas, que vê cada parte se inter-
relacionando com as demais, numa troca permanente e num estado de equilíbrio
dinâmico, também conhecido como homeostasia.
“A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e integração. Os
sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às
unidades menores” (Capra, 2006, p. 260). A interação simultânea e mutuamente
interdependente entre os vários componentes do sistema é conhecida como
“transação”.
A análise do sistema por partes, com base numa visão mecanicista, leva a resultados
incompletos, uma vez que, na visão sistêmica, o todo é sempre diferente da mera soma
de suas partes, exigindo para o seu entendimento uma análise integrada da realidade.
A visão sistêmica traz impactos para o exercício das profissões: dividindo a cena
com o especialista está a figura do profissional integrador, aquele que faz as conexões,
que ativa o fluxo das informações, que realimenta e aprimora com base nesta
realimentação: o generalista. O conceito de complementariedade se aplica: especialista-
generalista.
Para se pensar sistemicamente, tem que se pensar em termos de processos; sempre
em movimento. Neste movimento, os opostos se complementam e são unificados em
conceitos maiores. Dentro desta mesma visão, portanto, não se pode desprezar a parte,
porque a visão da parte e do todo, a análise e a síntese não são enfoques excludentes,
mas complementares, como o do especialista e o do generalista.
Na busca de modelos que melhor representem o que se passa na sociedade, toma-se
mão dos modelos da biologia que mais se adequam às visões metafóricas da realidade: o
mundo é visto como um sistema vivo, um organismo, e não como uma máquina.
Comparando a visão do “mundo-máquina” com aquela que o vê como um
organismo, percebemos diferenças importantes. Organismos crescem, se modificando
todo o tempo; máquinas são feitas acabadas. Os organismos têm um elevado grau de
flexibilidade que lhes permite se adaptarem a mudanças do ambiente; as máquinas têm
suas relações de causa e efeito determinadas pela sua construção inicial.
Uma avaria num organismo pode ser causada por múltiplos fatores e pode se
propagar por todo o sistema por meio dos laços de dependência. As ligações entre as
partes são não lineares. Os organismos têm capacidade de auto-organização. Além
disso, eles estão sempre caminhando para novas organizações, diferentemente dos
mecanismos que, gerando entropia em suas ações, caminham da ordem para a
desordem.
Desse modo, os sistemas orgânicos estão sempre em atividade num estado de
estabilidade ou de equilíbrio dinâmico, enquanto os mecânicos atingem um estado de
equilíbrio estático.
Outra característica dos organismos é a sua renovação contínua. Organismos vivos
substituem suas células de tempos em tempos; a renovação faz parte das características
do sistema. No limite, faz parte das estruturas orgânicas a total renovação por meio da
sua substituição por um novo organismo, assim como os seres humanos se substituem
nas proles. Os mecanismos, num sentido em que o termo tinha na Idade Moderna, e
não nos tempos atuais, não têm capacidade de aprendizado.
Os organismos, trabalhando como sistemas nos quais ocorrem transações, são
continuamente realimentados sobre suas ações no ambiente, podendo se reajustar para
se adaptarem às novas condições. Nas interações com o meio ambiente e com outros
sistemas, os organismos são capazes de criar estruturas, mesmo que não haja pressão do
ambiente ou necessidade de se adaptar. A visão de criação por livre iniciativa, e não
para se adaptar, complementa a visão darwiniana de adaptação por pressão do meio.
A metáfora do organismo levada para a vida profissional e social traz atitudes
flexíveis, resilientes, renovadas, criativas, oxigenadas, capazes de se adaptar antes de
qualquer pressão, integradora, em contínua reorganização e sempre em equilíbrio
dinâmico.
Dentro do paradigma atual, que privilegia a integração das partes, meio ambiente é
organismo, e o organismo humano é parte dele e em contínua interação com ele. A
mente humana não se forma separada do corpo nem do meio ambiente. O meio
ambiente está vivo e faz parte do nosso corpo como dele nosso corpo faz parte. Numa
visão mais arrojada, “as mentes humanas individuais estão inseridas nas mentes mais
vastas dos sistemas sociais e ecológicos […]” (Capra, 2006, p. 285). Esta é a visão
integrada do mundo que se translada para as práticas sociais e profissionais em
particular: a visão da unidade das partes, da interação contínua, ou, de outra forma, a
visão ecológica.
Ainda dentro de paradigmas atuais, na percepção de pensadores mais atentos, a
civilização ocidental passa por uma grave crise que abrange todos os setores da vida. Há
neste século XXI uma coincidência de pontos de baixa performance para os fatores que
impactam na vida humana, como o sistema social, o econômico e o político (Capra,
2006, p. 27). Isto leva a uma perda de flexibilidade das sociedades e da capacidade de
elas se adaptarem às novas situações por meio da construção de ideias e
comportamentos criativos, capazes de superar as crises. São “crises de dimensões
intelectuais, morais e espirituais [que nos colocam diante da perspectiva da
possibilidade] da extinção da raça humana e de toda a vida no planeta” (Capra, 2006,
p. 19).
A crise, no entanto, mantém suas duas facetas. Olhando-a dentro da ótica chinesa,
“o termo que usam para ‘crise’, wei-ji, é composto dos caracteres: perigo e
oportunidade” (Capra, 2006, p. 24). Assim sendo, a oportunidade de novas formas de
pensar vai ocupando pouco a pouco a posição social dominante. Este é o momento em
que vivemos.
Nas sociedades em crise aparecem minorias que tentam conduzir as mudanças e
que, muitas vezes, são rechaçadas pelas lideranças existentes, que não admitem que não
são capazes de obter soluções para as suas crises. Com o tempo, estas minorias se
tornam protagonistas e assumem a condução da sociedade. Vivemos esse momento que
impacta o pensamento, os valores e as ações em todos os campos da vida, inclusive o
profissional. Neste cenário, a ousadia para vivenciar valores novos aparece como
atitude relevante.
Podemos entender que estamos em um processo de mudança dos valores culturais.
A revolução científica, marcada em seus primórdios pelas ideias de homens como
Francis Bacon, Newton e Descartes, o Humanismo característico do Renascimento e a
Revolução Industrial, que reorganizou o sistema produtivo e as classes sociais, parecem
ter esgotado seu potencial criativo.
A crença de que o conhecimento científico é a única abordagem válida está
perdendo a sua força; “a concepção do universo como sendo um sistema mecânico
composto de unidades materiais elementares; a concepção da vida em sociedade como
uma luta competitiva pela existência; a crença de um progresso material ilimitado, a ser
alcançado através do crescimento econômico e tecnológico” (Capra, 2006, p. 28), estão
em decadência.
Com a mudança de paradigma, o que se observa nas sociedades ocidentais é que os
valores sociais vão se tornando mais tênues e o que era admirado é hoje olhado com
reserva. Os valores associados à sociedade do século XX, como a expansividade, a
exigência extrema, a agressividade, a competitividade, a racionalidade e o espírito
analítico, são gradativamente substituídos, no século XXI, por valores como a
contratilidade, o conservadorismo, a receptividade, o cooperativismo, a intuição e o
espírito de síntese.70 Estas mudanças criam novos paradigmas (Capra, 2006, p. 28) e
exigem novos comportamentos sociais e profissionais.
A inserção na sociedade de uma abordagem do conhecimento mais intuitivo, a
percepção do universo como um sistema em que cada parte é um todo composto de
outras partes, em que a junção efetiva e cooperativa dessas resulta maior que a soma das
partes, a concepção de uma vida onde a cooperação faz a diferença, se contrapondo à
visão clássica de luta competitiva, de que o ecossistema é limitado e com recursos
finitos, muda os valores sociais e as formas de sentir e de pensar. Colocam a certeza de
que precisamos trabalhar com visão ecológica e que os novos paradigmas impactarão as
demandas da sociedade e o trabalho de todas as profissões, inclusive a dos engenheiros.
As atividades destes profissionais deverão levar em conta os sentimentos das
pessoas e o ser humano como peça central das decisões, praticando efetivamente uma
visão técnico-humanista. Os engenheiros, em particular, deverão buscar enxergar o
todo, ou seja, ter uma visão holística (“todo”, do grego holos), considerando nos seus
projetos, além dos aspectos técnicos e econômicos das soluções de engenharia, os
benefícios e malefícios efetivos para a humanidade, para o planeta e para a vida
humana, deles advindos.
Engenheiros terão que ser mais generalistas, considerando não só os aspectos de sua
formação, mas também aspectos gerais que envolvam a vida como um todo. Os
trabalhos serão cooperativos, e a habilidade de trabalhar em equipe, em redes de
conhecimento e em grupos de trabalho será valorizada.
A cooperação não se esgota nos trabalhos humanos. No século XX, “nossa ciência e
nossa tecnologia [baseavam-se] na crença seiscentista de que uma compreensão da
natureza implica sua dominação pelo homem” (Capra, 2006, p. 41). A visão atual é de
que o homem não deve domar a natureza, mas cooperar com ela e buscar cooperação.
Projetos de engenharia serão multidisciplinares e integrados. Nestas atividades, se
faz conveniente entender as implicações e as necessidades dos projetos, os seus
resultados. É preciso empreender esforço para entender os detalhes por meio de uma
abordagem reducionista que olhe as partes de forma separada, sem descuidar, no
entanto, de uma abordagem holística que considere a integração do sistema como um
todo, no qual a parte está inserida. Em outras palavras: uma abordagem especializada
com uma visão generalista.
Em termos neurológicos, os profissionais, de forma geral, e os engenheiros, em
particular, têm que se esforçar para pensar de forma integrada com as funções mais
afins ao lado direito do cérebro e as mais afins ao lado esquerdo do cérebro. Agir de
forma a interagir nosso mundo interior com o mundo exterior.
Esta expansão da consciência é fator importante, levando o profissional a perceber
necessidades e limites éticos, em que ético tem sentido interpessoal, social e ecológico.
O profissional, na execução das suas atividades, deve considerar “não só suas dimensões
físicas e psicológicas, mas também suas manifestações sociais e culturais” (Capra, 2006,
p. 291).
Importante também recuperar a noção de ritmo e harmonia.
O ritmo é a dimensão sensível que permite acompanhar as alternâncias entre o
processo dinâmico e a estabilidade e, com isto, a ordem na mudança, a fixação na
oscilação, compreendendo a vida e a natureza de uma forma mais holística, mais
abrangente, mais sistêmica. “O ritmo desempenha um importante papel nas várias
maneiras como os organismos vivos interagem e se comunicam entre si” (Capra, 2006,
p. 295).
A harmonia, por sua vez, aguça a percepção, permitindo a criação de soluções
adequadas às necessidades, afinadas com a cultura e com a sociedade, e enriquecendo a
vida de forma harmoniosa.
Observamos, finalmente, que as modificações de paradigmas que ocorrem na
ciência física são percebidas em outras áreas do conhecimento.
A psicologia, por exemplo, evoluiu de uma visão mecanicista, clássica na teoria
freudiana, para uma psicologia sistêmica. O próprio psicólogo Carl Jung (1875-1961)
profetizou que a física nuclear e a psicologia do inconsciente iam se aproximar cada vez
mais. Jung71 preferiu a expressão “energia psíquica” para falar sobre os impulsos que
podem levar a comportamentos neuróticos. Energia psíquica é algo semelhante a um
fluxo em curso, que envolve todos os elementos do sistema psíquico, inclusive o
externo ao ser humano. Por outro lado, Freud se referia à libido, algo semelhante a uma
força newtoniana (Capra, 2006, p. 253).
As novas psicologias integram o indivíduo ao seu meio ambiente social, cultural e
psicológico (Capra, 2006, p. 360), entendendo que o sofrimento mental se origina
frequentemente no colapso das relações sociais. A pessoa humana valorizada é aquela
que consegue congregar atributos pessoais, como calor humano, autenticidade,
capacidade de ouvir, e, ao lado desses atributos, mostrar empatia e a disposição para
participar de experiências intensas com outras pessoas. As que adotam estas atitudes
costumam se destacar nos seus grupos profissionais.72
A visão sistêmica deve se propagar para todos os ramos da ciência em
complementação à visão linear de causa e efeito.
Na economia, por exemplo, a visão de maximização de funções como o lucro, o
PIB, o rendimento mecânico, entre outros parâmetros da economia clássica, está sendo
ultrapassada. As formas de cálculos dos resultados econômicos, que levam em conta
somente os custos operacionais e os gastos diretamente envolvidos nas produções,
também tendem a ser ultrapassadas. Os custos sociais com doenças, contaminações,
aumento de criminalidade e danos ao meio ambiente devem ser incluídos nos cálculos
dos custos dos produtos, de forma a trazer para eles seu real valor social.
Dentro da visão sistêmica, a economia é vista com um sistema vivo, o qual interage
com as sociedades, o meio ambiente e precisa trabalhar com o entendimento da
sabedoria e inteligência da natureza (Capra, 2006, p. 381-82). As flutuações em
economia são consideradas naturais, com altas e baixas de indicadores, mas a
“economia, como qualquer sistema vivo, será saudável se estiver num estado de
equilíbrio dinâmico, caracterizado por flutuações contínuas de suas variáveis” (Capra,
2006, p. 283), ou seja, se se comportar como um sistema em que as variáveis oscilam e
se ajustam continuamente, se auto-organizando, num processo homeostático.
Ainda olhando a economia, cuidados devem ser tomados com a garantia do pleno
emprego e com a busca de soluções que tenham custos sociais menores.
No que tange à tecnologia, a visão de que ela deve ser adequada à nova sociedade
que se forma deve orientar soluções. A tecnologia dita “pesada”, a qual envolve
consumo perdulário de energia e matéria-prima, com uma rápida exploração dos
recursos naturais, será substituída por uma tecnologia “leve”, em que o
reaproveitamento de material, o uso de fontes renováveis e de sistemas otimizados
serão privilegiados.
As tecnologias também têm que ser desenvolvidas com pouca complexidade, baixos
custos e esforços de manutenção. Devem também ter baixos custos operacionais e
burocráticos para operarem, reduzido impacto no ecossistema e flexibilidade para se
adaptarem às situações novas, serem substituídas sem muito esforço e, em caso de falha,
de permitirem o funcionamento dos sistemas a elas ligados por procedimentos
alternativos viáveis.
As variáveis em consideração para a avaliação dos benefícios dos sistemas
produtivos, dos equipamentos e das máquinas deverão ser não só os lucros monetários,
mas principalmente a sua capacidade de satisfazerem às necessidades humanas básicas.
Portanto, “a mudança para um sistema social e econômico equilibrado exigirá uma
correspondente mudança de valores – da autoafirmação e competição para cooperação
e justiça social, da expansão para a conservação, da aquisição material para o
crescimento interior” (Capra, 2006, p. 387). As tecnologias deverão incorporar
princípios ecológicos e ser compatíveis com o novo sistema de valores.73
Entre os valores a serem considerados nas atividades profissionais, e nas
engenharias em particular, estão as alegrias trazidas pelo lazer e pela contemplação
íntima e reflexiva, a ausência de preocupações com a manutenção ordinária da vida, o
desenvolvimento da vida gregária e cooperativa e a autorrealização de cada indivíduo.
Isto implica a primazia do valor de uso em detrimento do valor de mercado (Capra,
2006, p. 402). É necessário também que se associe desenvolvimento, não ao industrial,
mas ao desenvolvimento dos seres humanos.

Dimensão Ciência

Em ciência e tecnologia, tomaremos como orientador da nossa reflexão as ideias do


físico Michio Kaku74 sobre a evolução da ciência para os próximos 80 anos (Kaku,
1998b). Michio fez, no final do século passado, previsões para 2020 que se mostraram,
em quase toda a sua totalidade, acertadas. Suas previsões chegam até o ano de 2100, de
forma especulativa, mas embasadas nos fatos e nas visões dos que trabalham nos
principais laboratórios de ciência do mundo.

As áreas da ciência que impactarão as tecnologias futuras

Três são as áreas que impactarão todo o século XXI (Kaku, 1998b, p. 7-9):

a área das ciências da computação, a qual colocará inteligência em todas as partes


do mundo, devido à miniaturização e ao barateamento dos processadores e
circuitos eletrônicos em geral;
a área das ciências biomoleculares, as quais, por meio do conhecimento dos
códigos genéticos e do domínio da manipulação das moléculas e células, vão
permitir interferir no curso de doenças, na programação de características
pessoais, na qualidade dos produtos que consumimos, alterar seres existentes e
mesmo sintetizar novas formas de vida;
a área da física quântica, iniciada a partir das ideias de Max Planck, em 1900, e de
Einstein, em 1905, e desenvolvida a partir do primeiro quarto do século XX, área
esta que vem trazendo impactos fundamentais na compreensão da constituição
da matéria.
Estas áreas da Ciência têm como objetos três elementos que marcam a história
atual e marcarão a história futura da ciência: o computador, o gene e o átomo.
Considerando que o conhecimento científico dobra a cada dez anos (Kaku, 1998b, p.
4), podemos supor que os avanços científicos continuarão a ser relevantes.
“Porque as leis por trás da teoria quântica, dos computadores e da biologia
molecular são agora bem estabelecidas, é possível para os cientistas predizerem em
geral, os caminhos do progresso científico futuro” (Kaku, 1998b, p. 6-7, tradução
nossa).

Os computadores na nossa vida diária

“A revolução quântica deu nascimento à revolução computacional e à biomolecular


por meio do transistor, laser, raio X, cristalografia e a teoria das fronteiras moleculares”
(Kaku, 1998b, p. 11, tradução nossa).
O conhecimento da estrutura da matéria abriu campo para o desenvolvimento dos
transistores, em 1948, que, junto com a descoberta do raio laser, uma década antes,
foram decisivos para a avanço da ciência dos computadores e da internet.
Os chips se tornaram cada vez mais potentes e mais baratos. O barateamento destes
vem permitindo que praticamente todos os produtos manufaturados que as sociedades
modernas consomem tenham em seu conteúdo algum tipo de inteligência.
O final do século XX e o início do século XXI contemplaram a realização da lei de
Moore sobre o crescimento da capacidade computacional: “a potência dos
computadores dobra, grosseiramente, a cada 18 meses” (Kaku, 1998b, p. 14, tradução
nossa).
A lei de Moore já está, provavelmente, em fase de esgotamento, uma vez que as
dimensões dos chips já chegaram à casa das moléculas, deixando claro o limite da
possibilidade de virem a diminuir ainda mais. Esta constatação indica que novas
formas de tecnologias devem aparecer para substituir as da Idade do Silício (Kaku,
1998b, p. 15).
Antes de chegarmos ao esgotamento do potencial da tecnologia de circuitos à base
de silício, a tecnologia de computadores permitirá a colocação de microprocessadores
em praticamente todas as partes do planeta. A inteligência estará nas “paredes” e nas
“ruas”. A onipresença dos computadores (também chamada ubíqua) permitirá que nos
comuniquemos uns com os outros por meio de óculos-tela, de relógios, de comandos
de voz, de aparelhos auriculares, de forma transparente para o usuário, que terá no seu
entorno inúmeros microcomputadores ao seu serviço, de forma invisível.
Com a ubíqua, práticas ainda incipientes na sociedade serão popularizadas. Assim,
poderemos nos guiar sem necessitarmos de equipamentos à mão, como necessitamos
nas duas primeiras décadas do século XXI; pedir orientações de caminhos e direções;
colocar veículos em comunicação direta com mapas eletrônicos (GPS); pedir ajuda a
tradutores eletrônicos para nos comunicarmos com falantes de outros idiomas que não
o nosso; escutar músicas; e ver filmes, em qualquer lugar ou ambiente, sem a
necessidade de portarmos nada mais do que nossos objetos de uso diário.
Os sistemas computacionais nos entenderão e reconhecerão por nossos traços
físicos, nosso humor, nossos gestos faciais e corporais, nossa voz e pelas características
do nosso corpo.
A adição da Inteligência Artificial (IA) aos equipamentos permitirá usos hoje
impensáveis e a antecipação de soluções para problemas comuns no exercício de nossas
tarefas diárias. Poderemos conversar com nossas máquinas, que, até mesmo a partir de
nossas expressões de humor, poderão antecipar soluções para situações indesejáveis que
vivenciaríamos sem sua ação preventiva.
A vida social vai sofrer uma grande modificação; o ritmo da vida será mais intenso
ainda; e a atividade de controle de tarefas tomará o espaço das atividades de execução
destas tarefas, demandando capacidades novas da pessoa comum e dos engenheiros, em
particular.
Avançando no que já temos nos dias de hoje, os ambientes por onde passaremos
nossas vidas serão “smarts” (inteligentes); as nossas roupas serão “smarts”; nosso
dinheiro, nossos veículos, o comércio em geral, a prestação de serviços, tudo será
“smart”.

Desafios para a engenharia no campo computacional

Com o esgotamento da Idade do Silício, novas tecnologias serão exploradas, como


computadores ópticos, computadores moleculares e computadores quânticos.75 Sem
novas tecnologias, “o princípio da Lei de Moore, a qual, como um oráculo, tem predito
com sucesso o crescimento da potência dos microprocessadores, não pode durar muito
mais” (Kaku, 1998b, p. 99, tradução nossa).
Atingido o limite de desenvolvimento do silício, os computadores poderão ser
modernizados e substituídos por computadores ópticos. O Bell Labs já criou
transistores ópticos que regulam o fluxo de luz (Kaku, 1998b, p. 103). A transmissão
óptica levará os computadores a funcionarem com a velocidade da luz. Pela troca dos
fios de cobre por feixes de laser, as informações serão carregadas nos sistemas com
velocidades superiores às que temos hoje nas máquinas.
A Intel já criou conexões ópticas para dados baseadas em silício e lasers integrados.
Além das vantagens de velocidade de processamento de informações,

as correntes elétricas encontradas nas máquinas atuais geram calor dentro dos computadores e, conforme a
velocidade de processamento aumente, também é necessário ter ainda mais eletricidade […] o calor excessivo,
totalmente prejudicial ao hardware, é eliminado com o uso de lasers. (Hecke, 2012).

Além da facilidade de resfriamento, estas máquinas consumirão menos energia que


os computadores convencionais.
A outra opção de computadores para substituição dos circuitos à base de silício são
os computadores que utilizam memórias holográficas. Estas poderão guardar um
grande número de dados. “Os sistemas com memórias holográficas poderão armazenar
centenas de bilhões de kbytes de informações” (Kaku, 1998b, p. 104, tradução nossa).
O espaço ainda ocupado pelas memórias holográficas não as torna competitivas com os
computadores baseados em silício, sendo este um desafio ainda presente para a
tecnologia.
Na linha de novas tecnologias temos ainda os computadores por DNA. “Os
computadores por DNA representam poder combinado da revolução biomolecular e
computacional” (Kaku, 1998b, p. 104, tradução nossa). Embora a tecnologia destas
máquinas ainda caminhe lentamente, poderão ser criados computadores capazes de
superar a performance dos computadores de silício em cálculos matemáticos.
As pesquisas buscam colocar organismos vivos para realizarem processos físicos sob
o comando de informações digitais. As semelhanças existentes entre a máquina de
Alan Turing (1912-54) e as máquinas biomoleculares indicam a forte possibilidade da
utilização dos ácidos DNA e RNA para processamento de informações (Kaku, 1998b,
p. 104-07 e Ehud, 2006). Estes ácidos seriam utilizados como matéria-prima para esta
nova tecnologia de computadores, os computadores por DNA.
A primeira demonstração no mundo real do poder computacional das moléculas
surgiu em 1994, quando Leonard M. Adleman, da Universidade da Califórnia do Sul,
usou DNA para solucionar um problema que é sempre incômodo para algoritmos de
computadores tradicionais. Conhecido como o problema do caixeiro-viajante, seu
objetivo é descobrir a rota mais curta entre cidades ligadas por avião, passando por cada
cidade uma só vez. Ao criar moléculas de DNA para representar, simbolicamente, as
cidades e voos e depois combinar trilhões delas em um tubo de ensaio, ele se aproveitou
das afinidades de emparelhamento das moléculas para obter resposta em cerca de um
segundo.

A vantagem dos computadores constituídos de moléculas biológicas vem de seu potencial de funcionarem
em um ambiente bioquímico (até mesmo dentro de um organismo vivo) e interagir com ele através de
entradas e saídas em forma de outras moléculas biológicas. Um computador biomolecular poderia agir como
um ‘médico’ autônomo dentro de uma célula, por exemplo. Ele poderia perceber sinais do ambiente
indicando doença, processá-los usando seu conhecimento médico pré-programado e gerar um sinal ou um
remédio terapêutico como saída. (Scientific American, 2018; Ehud, 2006).

As máquinas de DNA não serão, necessariamente, substitutas dos computadores


eletrônicos; deverão coexistir com estes. A possibilidade das máquinas moleculares já
foi demonstrada em laboratórios (Ehud, 2006). Estas ainda serão desafios nas
próximas décadas para os engenheiros biomédicos.
Os chamados computadores quânticos são outra aposta para o futuro. Os grandes
fabricantes que atuam na área de informática estão trabalhando na produção de
processadores quânticos, que são capazes de fazer cálculos milhões de vezes mais rápido
do que qualquer outra máquina já criada. Os chips com base quântica já estão no
mundo real com capacidades de dezenas de qubits (Época, 2019).
Os qubits são os bits quânticos. Os qubits, diferentemente dos bits, podem existir
em estados intermediários a 0 e 1, permitindo a realização de operações matemáticas
mais complexas que as executadas pelos computadores de Turing.
Com a efetiva utilização comercial dos computadores quânticos espera-se que a
inteligência artificial possa se beneficiar da maior capacidade de cálculos para criar
ferramentas autônomas cada vez mais eficientes. Além disto, os pesquisadores poderão
fazer simulações virtuais muito mais realistas que permitirão, por exemplo, prever
catástrofes climáticas, entender o funcionamento de novos remédios no corpo humano
ou criar materiais usando a química quântica (Igor, 2018).
Este é mais um desafio para a engenharia de computação, pois muitas barreiras
tecnológicas ainda têm que ser ultrapassadas para que os computadores quânticos
sejam de fato uma realidade. A natureza instável da partícula subatômica exige que os
computadores quânticos operem num ambiente livre de qualquer interferência
externa, inclusive ondas de rádio. A exigência dos computadores operarem em baixas
temperaturas, da ordem de -270 ºC, é outra barreira a ser vencida (Igor, 2018).
No encontro da tecnologia de computação e da biomolecular estarão presentes as
conexões entre sistemas eletrônicos e neurônios cerebrais. A conexão entre chips e
neurônios vivos já foi demonstrada em laboratórios (Kaku, 1998b, p. 112). O
crescimento de neurônios, em chips feitos de microtubos de germânio e silício, dentro
dos quais cresceram os prolongamentos dos neurônios, os dendritos, indica a
viabilização dos circuitos neuronais. Com esta tecnologia pode-se pensar em “achar
uma forma de fazer com que alguma espécie de componente elétrico ajude a
restabelecer conexões interrompidas em células nervosas – como, por exemplo, em
pessoas que tiveram rompimento da medula espinhal” (Rothman, 2011).
Experiências com o resgate da capacidade de enxergar também tiveram resultados
positivos, indicando que, no futuro, os “homens biônicos” serão uma realidade. No
futuro, espera-se que braços, pernas, olhos e outras partes do corpo tenham seus
comandos nervosos conectados diretamente a sistemas microprocessados, recuperando
movimentos e funções perdidas por acidentes e disfunções genéticas.
As aplicações práticas dependem, ainda, da decodificação detalhada dos milhões de
neurônios da corda espinhal. Como temos cerca de 200 bilhões de neurônios, cada um
deles conectado a outros 10.000 neurônios, a decodificação ainda demandará muito
trabalho.
A inteligência artificial (IA), que mostrou suas primeiras potencialidades quando o
computador Deep Blue venceu o campeão de xadrez russo Gary Kasparov em 1997
(Kaku, 1998b, p. 61), veio facilitar a vida dos internautas e permitir que seus interesses
sejam mais bem atendidos, direcionando-os para os temas e produtos que procuram.
Esta tecnologia ainda continuará a ocupar espaços significativos nos trabalhos dos
engenheiros e o desenvolvimento de autoconsciência nas máquinas estará em curso no
século XXI.
Tendo vencido a fase de desenvolver a capacidade operativa de máquinas
eletrônicas, a tecnologia de IA avança para máquinas cada vez mais autônomas,
produzindo “robôs verdadeiramente automatizados, que tenham senso comum,
possam entender a linguagem humana, possam reconhecer e manipular objetos em seu
ambiente e possam aprender com seus erros” (Kaku, 1998b, p. 16, tradução nossa).
Com o desenvolvimento da autoconsciência dos robôs, eles terão aumentadas sua
utilidade na sociedade, sendo capazes de tomar decisões independentes e atuar como
secretárias, serviçais, assistentes e cuidadores.
Sistemas de IA já são utilizados em atendimento médico para triagem de pacientes
que dão entrada em centros de saúde, no tratamento de diversas doenças, com a
indicação de medicamentos e procedimentos a serem adotados pelo doente, primeiros
diagnósticos e outras atividades da área médica (MediLab, 2018).
Os desenvolvimentos de IA seguem duas vertentes: a primeira é a “up-botton”, em
que se tenta criar um banco de memória para os sistemas inteligentes de tal forma que,
pela investigação deste banco, eles possam decidir o que fazer, ou reconhecer objetos e
pessoas. Dentro do cérebro dos robôs com IA é colocada uma representação completa
do mundo externo e um manual, descrevendo as regras para viver no mundo real.
A segunda vertente é a “botton-up”. Nesta filosofia, busca-se desenvolver os sistemas
tomando mão de muitos conhecimentos da biologia. Aqui, o sistema aprende seguindo
passos gradativos de tentativa e erro. Nesse desenvolvimento, os sistemas tornam-se
aptos a aprender, podendo realizar tarefas novas, como contornar obstáculos, por
exemplo.
Os trabalhos de engenharia convergiram para a unificação destas duas filosofias de
IA. O uso intensivo das chamadas redes neurais permitirá cada vez mais aumentar a
capacidade de decisão e de ação dos sistemas com base em IA. Engenheiros com bom
domínio da ciência e das técnicas de IA tendem a ter um espaço profissional de
destaque no futuro.
Com a disponibilidade da inteligência artificial, os robôs poderão ser utilizados em
tarefas mais nobres. Nos dias de hoje, os robôs com inteligência up-botton podem
executar tarefas mais automáticas e repetitivas, como as das linhas de fabricação em
geral. Associada a inteligência do robô com um controle remoto, ele passa a executar
tarefas perigosas e ousadas, como mergulhar a grandes profundidades, realizar
salvamento em incêndios e levar suprimento a locais de difícil acesso, desde que
incorporados a sistemas de deslocamento eficientes.
Olhando o desenvolvimento destas máquinas, parece indubitável o seu ingresso
cada vez maior nas residências, nos hospitais e nos escritórios. Assim, a engenharia em
geral atuará no seu desenvolvimento. Embora convirja para as transformarem em
máquinas multitarefas, ainda passarão algum tempo trabalhando com atividades
especializadas.
Com o entendimento e o domínio dos processos biológicos, espera-se que as
atividades desenvolvidas pelos engenheiros de IA sigam as etapas seguidas pela
natureza para o desenvolvimento da estrutura do cérebro humano (Kaku, 1998b, p.
78-9).
No cérebro humano podemos identificar quatro níveis de estruturas (Kaku, 1998b,
p. 79), com funções cada vez mais complexas e desenvolvidos gradativamente ao longo
do desenvolvimento da espécie humana.
O primeiro e mais profundo nível, que pode ser chamado de “chassi neural”, é
responsável pelo controle das funções básicas da vida, como respiração, batida cardíaca
e circulação do sangue. O segundo nível, o cérebro reptiliano ou complexo R, controla
os comportamentos agressivos, o domínio territorial e as hierarquias sociais. Os répteis
possuem este cérebro.
O sistema límbico forma o terceiro nível do cérebro e é composto pelo tálamo,
hipotálamo, amígdalas, pituitária e hipocampo, sendo responsável pelo controle das
emoções e pelo comportamento social, além do olfato e da memória. É o cérebro típico
dos mamíferos. A última parte do cérebro é o neocórtex, composto pelos lóbulos
frontal, parietal, temporal e occipital. Esta parte controla a razão, a linguagem, a
percepção espacial, além de outras funções mais humanas.
Olhando o desenvolvimento do cérebro e comparando-o com o dos robôs,
podemos concluir que estes ainda estão num estágio primitivo. Um robô pode fazer
um autodiagnóstico de defeito e, de certa forma, controlar suas “funções vitais”, como
se já tivesse um chassi neural. O que se espera, no entanto, é que o desenvolvimento da
IA siga etapas que possam criar áreas de orientação dos robôs e que consiga performar
os comportamentos e as emoções humanas. Os avanços tecnológicos ainda dependem
da compreensão do cérebro humano com seus bilhões de neurônios.
A estrutura cerebral permite ainda executar inúmeras operações ao mesmo tempo,
o que ainda não acontece, de forma plena, com os sistemas computacionais. O cérebro
humano pode também se danificar e recuperar sua capacidade de executar tarefas antes
executadas pela parte destruída. Esta capacidade ainda não existe nos sistemas artificias
de inteligência.
As redes neurais também têm muito a aprender com a física quântica, “usando as
leis da teoria quântica para sondar os segredos do cérebro” (Kaku, 1998b, p. 82,
tradução nossa). Assim, por exemplo, a partir da observação de que um átomo pode
existir no estado discreto com spin “up” ou “down” e que os neurônios podem, de
forma semelhante, estar “iluminados” ou “não iluminados”,76 permitiu postular que os
circuitos neurais atuam de forma a minimizar energia, tal como os átomos se
organizam. Esta simples lei permitiu – e ainda permite – pesquisas que vão avançando
nas similaridades entre as ciências e nas conquistas tecnológicas daí advindas.
Outro grande desafio para a inteligência artificial é a capacidade de compreender o
senso comum, uma vez que o computador pode executar tarefas lógicas com facilidade,
mas não tem a faculdade de aprender as coisas cotidianas que não são concluídas
logicamente. Assim, se informamos ao computador que o cão morde e que Bob é um
cão, ele poderá concluir que Bob morde. Se adicionarmos que Bob morreu, ele
concluirá que Bob morde e que morreu, mas não que Bob não poderá mais morder
porque morreu. Esta informação vem do senso comum.
O outro desafio é o desenvolvimento de sentimentos nas máquinas; de como
transformá-las em seres capazes de perceber as emoções. Este desafio ainda estará
presente para os engenheiros desta primeira metade do século XXI. Superados, eles nos
levarão a interagir com computadores inteligentes, verdadeiros assistentes de vida,
durante grande parte do nosso dia.
A capacidade de interagir com os humanos por meio das expressões faciais, das
emoções expressas na voz e dos gestos corporais, bem como a capacidade de atuar de
acordo com o senso comum desafiarão, portanto, a engenharia por alguns anos à
frente. A facilidade de interação entre humanos e robôs será fundamental para a
difusão destes na sociedade.
Assim, robôs poderão ser desenvolvidos para entender gostos, sentir afetos, ciúmes,
inveja, irritação, raiva e medo. A capacidade de rir, numa interação plena com os
humanos, também pode ser alcançada em alguns anos.
As expressões faciais e corporais são de fato as primeiras formas de comunicação
entre os seres vivos. “Antropólogos, estudando os estados emocionais possíveis dos
primatas, descobriram que eles também utilizam complexos gestos, expressões faciais e
movimentos de mãos para transmitir seus sentimentos” (Kaku, 1998b, p. 92).
Os robôs ganharão níveis de consciência cada vez mais complexos. O nível mais
baixo de consciência dos animais é o do próprio corpo e o do seu ambiente. Podemos
considerar que sistemas inteligentes, que podem fazer autodiagnósticos e explicitar
mensagens de erros, podem ser vistos como tendo este tipo de consciência. Um nível
mais elevado de consciência é aquele que permite a realização de determinados
objetivos, como a sobrevivência e a reprodução. Robôs capazes de se mover, detectar
perigos e se dirigir para objetivos pré-definidos sem comandos humanos podem ser
enquadrados neste nível de consciência, o qual será mais refinado quanto mais
complexas forem as metas a serem alcançadas. O terceiro nível de consciência permite
que o robô defina os seus próprios objetivos. Robôs neste nível serão autoconscientes.
Neste momento, vem a pergunta sobre o que pode acontecer se os robôs se
tornarem superiores aos humanos física e intelectualmente. Seremos dependentes dos
computadores? Nossa dependência será tal que nos tornaremos submissos a estas
máquinas inteligentes?
Antes disto, os robôs deverão ser capazes de “imaginar”, ou seja, ser capazes de
simular suas atividades antes de executá-las e de raciocinarem, se deslocarem e
funcionarem de forma livre no mundo real.
Até chegarem neste nível, os robôs já terão substituído boa parte dos advogados,
engenheiros, médicos, professores e muitos outros profissionais, deixando aberta a
necessidade do engenheiro pensar com visão abrangente sobre as implicações do seu
trabalho, como discutiremos no item sobre “Questões éticas”.

A ciência biomolecular
O domínio da ciência biomolecular trará estupendo desenvolvimento no domínio
das doenças e da vida. A ciência do século XXI será capaz de manipular com destreza o
curso da vida.
As técnicas de raio-X em amostras cristalizadas, aliadas à técnica de cortar a
molécula de DNA em pedaços com a utilização das “enzimas de restrição” e o uso dos
supercomputadores, permitiram o sucesso do projeto de decodificação do genoma
humano (Human Genome Project), com o mapeamento dos 100.000 genes humanos
escondidos nos 23 pares de cromossomos das células humanas.
Este conhecimento possibilitará que redesenhemos nossas vidas e a de outros seres
vivos. O conhecimento da sequência dos ácidos nucleicos denominados de A, T, C e G
permitirá o conhecimento dos códigos genéticos de todas as espécies vivas e sua
eventual manipulação (Kaku, 1998b, p. 96-8).
Com este conhecimento genético, muitas doenças geneticamente originadas serão
eliminadas pela substituição dos genes degenerativos por genes saudáveis. O domínio
do conhecimento dos processos celulares avançará no século XXI, indicando a
possibilidade de tornar os cientistas capazes de criar, em laboratório, órgãos críticos
para a vida, como fígados e rins, os quais hoje pacientes doentes só obtém por doações.
O domínio da medicina molecular permitirá a eliminação de muitas doenças
provocadas por vírus, hoje de difícil tratamento, como a AIDS e o Ebola. A técnica
“engenheirada” consiste em identificar pontos fracos nestes invasores.
O “HIV é o primeiro vírus a ser atacado pela força da medicina molecular. Ele foi
sistematicamente dividido, proteína por proteína, quase átomo por átomo, até que
todos os seus pontos fracos moleculares tivessem sido expostos” (Kaku, 1998b, p. 182,
tradução nossa). O AZT (azidothymidine), por exemplo, atua impedindo a conversão
do RNA do vírus da imunodeficiência humana (HIV) (que é a fôrma para reprodução
dos genes do seu DNA) em DNA, impedindo que o vírus faça um modelo de si
mesmo.
A ideia é que os médicos do futuro tenham um catálogo contendo os genomas dos
vírus e bactérias e nossos DNAs pessoais, de forma a prever os mecanismos de
contaminação por doenças e, efetivamente, atuar contra eles.
A maior aplicação da física quântica aos equipamentos de diagnóstico médico,
como os MRI (magnetic resonance imaging), o CAT (computerized axial tomography
scan) e o PET (Positron Emission Tomography) scan, permitirão melhor visualização de
microtumores do cérebro e do corpo no seu real funcionamento. A tarefa de construir
e aprimorar os equipamentos de diagnóstico médico caberá, em grande parte, aos
engenheiros eletrônicos e biomédicos.
A genética vai se tornando uma ciência da informação. A descoberta da função de
cada gene e a análise da interação entre os genes, identificando seus impactos nas
doenças poligenéticas, poderá ser objeto de análises de engenheiros genéticos e de
engenheiros de simulação.
Estas análises serão fundamentais para solucionar as doenças crônicas, que incluem
as doenças do coração, arritmias, doenças autoimunes, esquizofrenia, e outras similares.
Até mesmo as doenças somáticas poderão ser desvendadas pelo domínio da ciência
genética.
A decodificação genética vai permitindo, também, melhor entendimento da
evolução da vida na Terra e a origem dos povos no mundo por meio de relações e
simulações genéticas. A reconstrução genética, técnica já aplicada pelos arqueólogos e
antropólogos, permite reconstruir detalhes das pessoas, como o tipo de corpo, olhos,
cor de cabelo, sexo, doenças genéticas, forma do corpo e outros dados já perdidos. A
reconstrução de animais extintos a partir do DNA, ainda no nível da ficção
cinematográfica nas décadas iniciais do século XXI, poderá vir a ser realidade.
Na tarefa de decodificação e aplicação prática que os conhecimentos genéticos
permitirão aos seres humanos, são fundamentais a ajuda dos supercomputadores, dos
robôs e dos sistemas inteligentes, trazendo um forte laço entre a engenharia e a área
biomédica.
Coisas que interessam mais de perto à área de saúde, mas também à área de IA,
como a origem dos sentimentos, talvez ainda fiquem por ser decodificadas no século
XXI. Porém doenças de origem hereditária e a cura de doenças que trazem ainda
grande mortandade, como o câncer e a AIDS, deverão ser dominadas.
A identificação de nosso DNA pessoal permitirá que coloquemos num
computador nosso mapa genético pessoal e, com ele, saibamos se estamos sujeitos a
uma das centenas de doenças genéticas identificadas e qual a chance matemática delas
se manifestarem durante nossas vidas. Com o domínio da codificação genética, poder-
se-á saber a probabilidade de uma pessoa vir a desenvolver algum tipo de doença,
atuando antes de sua ocorrência.
Os avanços na biogenética devem ser tais que é de se supor que os cientistas serão
capazes de criar novos tipos de organismos, envolvendo a transferência de grande
número de genes, e não poucos como fazemos hoje, permitindo assim aumentar o
suprimento de alimentos e melhorar a nossa saúde. Questões éticas permitirão ou não
a interferência nos gostos e na inteligência das pessoas e mesmo definir como serão as
crianças que gestaremos.
A união dos conhecimentos médicos com os conhecimentos da engenharia, como o
da técnica de análise cristalográfica por raio-X, será fundamental para avanços na área
de saúde.
Existe uma grande esperança de que o mundo fique livre das doenças infecciosas no
século XXI, graças à ação da medicina molecular. Como foi feito com o vírus HIV que,
desmontado sistematicamente, proteína por proteína, permitiu ações para a sua
destruição, atuando nos seus pontos fracos, assim será com outros vírus.
Avanços são esperados também no campo das doenças psicossomáticas, por
exemplo, estabelecendo relação entre o estresse e as doenças que hoje são de difícil
diagnóstico (Kaku, 1998b, p. 197). Desafios para a medicina e engenharia são o
entendimento preciso de como a ligação mente-corpo opera no nível molecular. Os
avanços na medicina dependerão dos avanços tecnológicos, reforçando, assim, a
necessidade de novos equipamentos de diagnósticos, com grandes complexidades
técnicas e tecnológicas, que desafiarão os engenheiros que os criarão e os manterão
funcionando.
A expectativa na área de saúde é de que cheguemos ao domínio dos genes do
envelhecimento e consigamos aumentar, de forma significativa, a duração da vida
humana. A interrupção e a reversão do envelhecimento continuam sendo um projeto
humano.
Tratamentos com hormônios como o estrogênio, a progesterona, a testosterona e a
melatonina; redução do nível do metabolismo corporal, por meio de dietas ou ações de
remédios e redução dos radicais livres liberados nos processos de oxidação do nosso
organismo, por intermédio do uso de antioxidantes, são técnicas aplicadas na
contenção do envelhecimento, pois propiciam a redução do que se pode considerar a
razão do envelhecimento: a reprodução das células com erros.
Ocorre que estas ações, embora possam reduzir os efeitos aparentes do
envelhecimento, poucos resultados têm no aumento da extensão da vida, uma vez que
a degeneração dos órgãos internos do corpo é ainda inevitável. Neste sentido, novas
esperanças aparecem com a capacidade de se fazer crescer novos órgãos do corpo a
partir de células adequadamente tratadas, sejam células maduras ou células-tronco.
Neste caminho, podemos esperar que sejam “cultivados” fígados, rins e até mesmo
mãos, pés e outros órgãos.
A capacidade de se fazer crescer órgãos em laboratórios já foi demonstrada. A
colocação de uma célula tronco dentro de um molde feito de material biodegradável
permitiu que se criassem formas de organismos em laboratórios. À medida que a célula
se reproduz, ela vai tomando a forma desejada, e o material que a formata se dissolve,
deixando o tecido livre. Técnicas de crescimento celular direcionadas a determinadas
funções já são praticadas na criação de peles para cobrir danos de acidentes de
queimaduras, por exemplo.77
A expectativa é que, por meio do controle do crescimento das células, os
engenheiros biomédicos possam criar novos órgãos, fazer crescer ossos danificados e
resgatar a memória de células que atualmente não apresentam capacidade de
regeneração, como as da medula vertebral e demais fibras nervosas. Estas técnicas,
criando órgãos novos, permitirão que não venhamos a ter o destino de Titono,78 a
quem foi dado o dom da vida eterna, mas não foi dado o dom do não envelhecimento.
A influência genética no envelhecimento parece ser evidente. Observa-se na
natureza, por exemplo, a capacidade de se criarem formas mais resistentes de animais
por cruzamentos daqueles que vêm de famílias mais longevas: filhos de pais longevos
tendem a ter vida mais longa. “Cientistas descobriram, por exemplo, que 87 por cento
das pessoas que chegam à idade de noventa a cem anos tiveram no mínimo um dos pais
que viveu além da idade de setenta” (Kaku, 1998b, p. 213, tradução nossa). Isto parece
indicar uma ligação entre longevidade e hereditariedade. Doenças que provocam o
envelhecimento prematuro também dão pistas da existência de algum ou alguns genes
responsáveis pelo acompanhamento do tempo, os “genes relógios”. A solução para o
bloqueio da ação da “segunda lei da termodinâmica” no corpo humano, porém,
continua desafiando a ciência.
Questões que envolvem discussões éticas, como as da possibilidade de definirmos as
características das crianças que vão nascer – o seu sexo biológico, a sua capacidade
mental, as suas características físicas – e até mesmo a possibilidade de criarmos formas
de vida por meio de modificações genéticas, permearão o futuro e os pensamentos de
cientistas e esperarão por novas tecnologias desenvolvidas e dominadas pelos
engenheiros.
Embora as práticas de cruzamento, que são, em última análise, mutações genéticas,
já sejam praticadas pelos humanos há milênios, a sua aplicação em laboratórios,
gerando produtos transgênicos ou humanos geneticamente modificados, ainda espera
por resultados seguros e aceitação social, caso a tecnologia se desenvolva até a
maturidade destas discussões. Apesar disso, muitos progressos já foram alcançados na
área de engenharia genética. São exemplos: a produção de pesticidas pelas próprias
plantas, a maior resistência dos vegetais a doenças típicas obtidas por modificações
genéticas e o aumento da resistência das plantas a herbicidas.
Na área de saúde, são exemplos de aplicações dos cruzamentos genéticos a obtenção
de plantas capazes de produzir substâncias medicinais, obtidas pela inserção de genes
humanos em organismos vivos. É o caso da insulina, obtida desde 1978 pela injeção do
DNA humano na bactéria E. coli, e o hormônio do crescimento produzido pela
pituitária, que só era obtido em cadáveres humanos e que hoje pode ser produzido por
processos semelhantes à fermentação (Kaku, 1998b, p. 223).
No futuro, espera-se que a clonagem de plantas e animais, inclusive humanos, seja
uma prática corrente. Seja a partir da remoção da célula de embriões e sua cultura com
modificações genéticas e a criação em “mães substitutas”, seja por meio de células
maduras, provocando sua reversão para o estado embrionário, como foi pela primeira
vez realizado, em 1997, com a criação de um clone de ovelha, batizado como Dolly
(Kaku, 1998b, p. 226). A clonagem de seres vivos deve se desenvolver. No campo da
reprodução genética, “a promessa da engenharia genética é a habilidade para mudar o
genoma humano e, consequentemente, a raça humana” (Kaku, 1998b, p. 227,
tradução nossa).
No campo da reabilitação de funções, as dificuldades hoje existentes para se fazer
regeneração de tecidos da espinha dorsal, cérebro e sistema nervoso em geral, é
entendida como devida ao “esquecimento” de alguns genes presentes nas células
maduras de como se multiplicar, como fazem no estado embrionário. A capacidade de
“lembrar” os genes sobre como se multiplicar e se diferenciar ainda é um desafio para
os cientistas genéticos e servirá de ferramenta para trabalhos de engenharia genética –
que poderão reabilitar pacientes em cadeiras de rodas e imobilizados em hospitais.
Fora estes “genes esquecidos”, ainda temos muitos genes que foram desligados nos
milhões de anos e que contém informações de nossos ancestrais primitivos.
Assim, os avanços da genética vão se consolidando no século XXI. Por exemplo, a
identificação dos genes arquitetos, aqueles que definem a estrutura geral dos seres
vivos, e dos genes mestres, que são os “organizadores” da construção de diferentes
órgãos, foi de grande importância, uma vez que estes controlam a forma do corpo,
definindo, por exemplo, a altura, o peso e as características da face dos seres humanos.
Genes que têm relação com o comportamento também estão na lista de busca da
ciência e se tornarão matéria-prima para os engenheiros do futuro. A descoberta de
que “um simples gene, chamado fru, controlava quase inteiramente o ritual de
acasalamento do macho da mosca de fruta” (Kaku, 1998b, p. 232, tradução nossa) foi
uma importante descoberta da relação gene-comportamento. Outros estudos levantam
a hipótese de genes que controlam a “felicidade” e a atitude violenta de seres humanos
e talvez até a inteligência.
Outra importante descoberta, que permitirá avanços no tratamento do mal de
Alzheimer, é a descoberta, feita por cientistas do MIT, de que, em um pequeno
camundongo, desligando o gene do hipocampo do cérebro que recebe a proteína
quinase, responsável pelo armazenamento de informações espaciais neste hipocampo,
se retira a sua capacidade de orientação espacial, tornando-o incapaz de reconstruir os
caminhos já explorados. A perda de orientação e de memória recente são características
do mal de Alzheimer.
Para se ter melhor dimensão dos impactos da revolução molecular, podemos refletir
sobre os impactos de uma guerra atômica, comparando-os com os das manipulações
genéticas.
Se os malefícios de uma guerra atômica são incalculáveis, trazendo inclusive
degenerações genéticas, uma guerra genética, com armas de guerra obtidas pela
modificação genética, ou o estímulo a alguma função especial, é muito diferente.
Podemos pensar em eliminar as armas atômicas do mundo, mas pensar em reverter
mudanças genéticas é um trabalho muito mais árduo e talvez inalcançável.
A revolução genética nos permite pensar em criar humanos diferentes, com asas,
por exemplo, como os anjos das histórias religiosas. Antes disto, porém, temos que
achar não só os genes das asas, adormecidos pelo tempo, mas também aqueles que
produzem asas de seis metros de envergadura, ou que tornam os ossos ocos, de forma a
diminuir o peso a ser levantado para reduzir a possível envergadura das asas, os genes
que construirão os sistemas circulatórios e nervosos destas asas, enfim, temos que
dominar a “poligenia”.

Questões éticas relacionadas à revolução biomolecular

Criar seres e modificar os existentes ainda é uma questão que será discutida no
futuro, impactando o trabalho dos engenheiros. Os riscos da mutação genética, da
clonagem e dos cruzamentos genéticos em alimentos ainda estão em discussão, muito
além das discussões técnicas. Questões morais, éticas, legais, sociais serão debatidas no
curso dos avanços tecnológicos.
A atitude ética dos engenheiros é cada vez mais importante para o futuro,
considerando os impactos que a tecnologia tem e terá sobre a sociedade. Se várias
conquistas na engenharia genética foram obtidas, como controle de doenças
hereditárias, tratamento do câncer, produção de drogas para tratamento de
enfermidades humanas, domínio da ação de vírus e bactérias pela ação da medicina
biomolecular e produção de alimentos com propriedades mais ricas e desejáveis, muitas
ameaças pairam sobre a humanidade com o domínio da engenharia genética.
Se os bebês Alfa, Beta, Gamma, Delta e Epsilon pensados por Aldous Huxley
(1894-1963) e descritos no seu livro de 1932, Brave New World, se tornarão uma
realidade ou não, dependerá não só do domínio técnico, mas também da decisão das
sociedades que venham a ser impactadas por essas tecnologias. A criação do primeiro
bebê de proveta, na Inglaterra, em 1978, abriu a possibilidade de criarmos bebês por
processos alternativos à fecundação uterina. Esta conquista não pode ser revertida.
Muitas ameaças genéticas vêm também de alimentos transgênicos que são, muitas
vezes, lançados no mercado sem serem testados à exaustão, como foi o caso da soja
americana, na qual foram enxertados genes de soja brasileira, trazendo problemas de
alergia a muitos consumidores (Kaku, 1998b, p. 244). A pressão do agronegócio pode
acelerar a aceitação de alimentos diários, como cenouras, cevada, amendoins, brócolis e
outros, sem os devidos testes, o que coloca em risco a sociedade.
Questões de privacidade também vêm à mesa das discussões: pode o código
genético de um indivíduo ser tornado público? Mesmo em casos como o de
identificação de assassinos, é legal a apropriação de informações pessoais e sua
divulgação? Como garantir a segurança e a proteção de nossos genes individuais?
Quem gostaria de ter sua suscetibilidade a diferentes tipos de enfermidades reveladas
publicamente? Nesta última situação, por exemplo, um artista famoso poderia perder
seu carisma e passar a ser visto como uma fábrica de possíveis doenças genéticas.
Companhias de seguro, por outro lado, gostariam de fazer seguro saúde e de vida
para clientes com códigos genéticos que indicassem baixa probabilidade de contraírem
doenças ou de morte prematura.
É bom para a sociedade escolhermos o sexo de nossos bebês? Qual o impacto social
se todos escolherem ter filhos do sexo masculino? Qual o risco de criarmos estereótipos
e preconceitos relacionando origens genéticas como inteligência e tendência à
violência? Podemos nos lançar a movimentos eugênicos, que acreditam na purificação
genética da raça, como ocorreu no nazismo da segunda guerra? A resposta a estas
perguntas delinearão os limites da revolução biomolecular.

Desafios e promessas da física quântica

A importância da física quântica no mundo contemporâneo é imensurável. O


movimento iniciado por Max Planck, em 1900, e consolidado por Einstein, em 1905,
permitiu a elaboração de um modelo atômico da matéria que, por sua vez, viabilizou
invenções fundamentais para a estruturação da sociedade moderna.
O conhecimento da estrutura atômica, das partículas e subpartículas formadoras
do átomo, das propriedades destas e dos riscos e possibilidades advindas destes
conhecimentos construiu o que de mais relevante e moderno temos em termos de
tecnologia: raio-X, raio laser, computadores, sistemas de comunicação, equipamentos
de diagnósticos, robôs, aparelhos eletrônicos diversos e uma infinidade de
equipamentos de laboratório que permitiram e vêm permitindo aprofundar o
conhecimento da matéria e, com isto, novos avanços tecnológicos.
Os resultados esperados do domínio da física quântica deverão ser sentidos por
todo o século XXI. Muito do que há pouco tempo era somente peça de ficção, hoje é
realidade. Muito do que hoje consideramos ficção, como carros que flutuam,
desafiando a lei da gravidade, e máquinas de fusão, capazes de gerar enormes
quantidades de energia em um reduzido espaço, poderão ser realidade em poucas
décadas. “A teoria quântica deu nascimento à ciência das partículas subatômicas e
ajudou a impulsionar a atual revolução da eletrônica” (Kaku, 1998a, p. 316, tradução
nossa).
A miniaturização dos sistemas deve levar a um domínio do micro e à consolidação
da engenharia de pequenos corpos. Atuarão nestas áreas os engenheiros
nanotecnólogos e os engenheiros envolvidos na microestrutura da matéria, entre os
quais um segmento dos engenheiros nucleares pode vir a fazer parte.
As ferramentas básicas para os trabalhos no micromundo estão disponíveis e
deverão ser aperfeiçoadas. Os microscópios de corrente de tunelamento, baseados em
princípios quânticos, são as ferramentas que hoje permitem a visualização e manuseio
de átomos. A aplicação das técnicas de manuseio de moléculas já deram resultados,
como a criação de estruturas de uso em microeletrônica, como nanotubos condutores e
transistores moleculares.
Os avanços tecnológicos na direção do vetor nanotecnológico levarão ao uso das
máquinas moleculares que manipularão estruturas de dimensões atômicas. Alguns dos
desafios que se colocam para os engenheiros são: como fabricar estas máquinas, seus
sistemas de processamento inteligentes e modificar as estruturas materiais, animais e
vegetais com as quais interagirão? As respostas práticas a estas perguntas serão
respondidas e gerarão atividades que serão escopo de trabalho de novas engenharias do
futuro.
Um dos campos ligado à área nanotecnológica, já em pleno desenvolvimento e que
deverá crescer no século atual é, portanto, o das máquinas de dimensões moleculares
(máquinas moleculares).79 Estas já gravitam de forma tímida ao nosso redor e serão
apostas para o futuro.
As apostas são de que as micromáquinas poderão ser capazes de se replicar em um
futuro mais distante e poderão trafegar, por exemplo, dentro do corpo humano,
permitindo a execução de tarefas como destruir micróbios, matar células cancerosas,
monitorar nosso sistema circulatório, removendo plaquetas das artérias e veias, reparar
células danificadas e reverter em alguma medida os efeitos da idade.
As micromáquinas poderão ainda executar serviços úteis aos humanos, como
eliminar impurezas do ambiente, construir novos tipos de micromáquinas, servindo
como ferramentas, atuar na melhoria dos nossos alimentos e viabilizar a construção de
supercomputadores de tamanho diminuto.
Não se pode deixar de considerar o grande potencial destas micromáquinas para
uso militar, sendo capazes de invadir campos inimigos sem serem notadas. As
aplicações para a engenharia da nanotecnologia são tantas, que talvez o criador do
termo, o prêmio Nobel, Richard Feynman (1918-1988), não tivesse sido capaz capaz
de pensá-las quando vislumbrou o potencial de miniaturização das máquinas.
Em resumo, muitos desafios colocam a nanotecnologia para a engenharia como
programar as micromáquinas de forma conveniente para executarem suas tarefas,
desenvolver seus meios de movimentação e fontes de suprimento de energia, entre
outras.
Os sistemas microeletromecânicos (MEMs)80 também vão ocupar muitos
engenheiros. São microssistemas inteligentes constituídos por dispositivos mecânicos e
elétricos, montados de forma geral num substrato de silício. Os dispositivos são
comumente do tipo microssensores ou microatuadores.
Estes dois tipos de microssistemas trabalham integrados. Os microssensores
coletam informações do ambiente que são processadas por componentes
microeletrônicos que tomam decisões, enviando estas para os microatuadores, que
atuam, filtrando, bombeando e posicionando microelementos.
As tecnologias devidas à engenharia e envolvidas na construção destes elementos
passam pela fotolitografia, implantação iônica, deposição de micromateriais e técnicas
de microusinagem. Aplicações para os MEMs não faltam. Eles já são utilizados, por
exemplo, como sensores em carros com airbags, na medicina de precisão e mesmo em
computação.81
Outra área de promessas futuras para a engenharia e de origem quântica é a de
supercondutividade. Supercondutores são capazes de conduzir eletricidade com
resistência zero e de produzir o fenômeno da levitação quântica.82 A
supercondutividade permitirá o uso das grandes forças magnéticas para movimentar
cargas e pessoas, por exemplo, fazendo do magnetismo um dos importantes campos de
aplicação tecnológica.
Os magnetos usuais produzem muito calor e consomem muita energia para gerar
campos magnéticos mais fortes, em função de apresentarem resistência à circulação da
corrente elétrica (mesmo os metais mais condutores como a prata e o cobre). Os
supercondutores não apresentam esta dificuldade. Com o seu uso é possível, com
pequenas correntes e sem liberação significativa de calor, a criação de fortes campos
magnéticos.
As aplicações em engenharia, com a transformação destes princípios em tecnologia,
vão de sistemas de elevação de carga por campos magnéticos (um pequeno disco de 2
mm de espessura e 80 mm de diâmetro pode suportar cargas de cerca de 1 tonelada
com consumo de energia muito menor que o de um guindaste de magneto comum), a
veículos de transporte de alta eficiência; da construção de partes internas de motores
elétricos a cabos de transmissão com baixíssimas perdas de energia, uma vez que os
supercondutores não têm perdas por efeito Joule. Supercondutores podem ser
utilizados em uma infinidade de aplicações com grande resultado em eficiência e, com
certeza, desafiarão os engenheiros de todas as áreas.
Os chamados veículos maglev (magnetic levitation), por exemplo, que se deslocam
sobre campos magnéticos, se beneficiarão de forma exponencial com o uso dos
supercondutores para criar o campo magnético capaz de levantá-los dos seus apoios,
permitindo que pequenos motores os movimentem.
A tecnologia de supercondutores ainda está por se tornar econômica em função da
necessidade de se levar os materiais capazes de apresentarem supercondutividade a
temperaturas próximas ao zero absoluto (-273 ºC). O desafio é a descoberta de
materiais produzidos em laboratórios que apresentem propriedade de
supercondutividade à temperatura ambiente. Neste momento, a engenharia fará
efetivo uso dessa propriedade.
Avanços na redução das temperaturas em que os materiais apresentam
supercondutividade vêm acontecendo. Quando Heike Kamerlingh (1853-1926), em
1911, descobriu a propriedade supercondutora do mercúrio, este tinha que ser levado à
temperatura da ordem de quatro graus acima da temperatura absoluta. Hoje materiais
cerâmicos manifestam esta propriedade em temperaturas da ordem de -180 ºC,
havendo relatos de materiais que apresentam esta propriedade em valores próximos a
-23 ºC (Kaku, 1998b, p. 275). A tendência é que estes valores se aproximem mais das
temperaturas ambientes.
Com a temperatura da ordem de -180 ºC, o nitrogênio líquido já pode ser utilizado
para obtenção das baixas temperaturas necessárias, diminuindo em muito, os custos de
resfriamento do supercondutor, uma vez que, com temperaturas mais baixas, é
necessário o uso do hélio líquido.
Considerando o potencial da física quântica, ainda teremos muitos desafios na área
de computação e de eletrônica, como a criação de novas gerações de computadores, de
raios laser capazes de nos fornecerem imagens holográficas precisas e aparelhos de TV
em três dimensões, tornando os “3Ds” baseados em programação, ultrapassados.

Desafios na área de energia para a física quântica

A geração de energia para as diversas utilizações (domésticas, industriais,


comerciais, transportes e tantas outras) será um desafio com o qual os engenheiros do
futuro se defrontarão. Engenheiros especialistas em energia já são uma realidade e vão
ter, com o passar do tempo, especializações nas diferentes alternativas de geração de
energia. Teremos provavelmente Engenheiros de Energia Solar, outros de eólica e
assim por diante, como hoje temos os Engenheiros de Petróleo e Engenheiros
Nucleares.
As fontes com origem em hidrocarbonetos, que hoje fornecem a maior parte da
energia que move o mundo, têm seus dias contados. O futuro mais promissor, porém,
parece estar na energia solar. Hoje, esta é captada ou por trocadores de calor, que
aumentam a eficiência da absorção da energia pelos fluídos por eles aquecidos, ou pelas
células solares ou fotovoltaicas. Nestas células, num processo semelhante ao da
captação da imagem do sistema de TV, produz-se a liberação de elétrons quando elas
são expostas à luz, produzindo eletricidade.
No futuro, a área de produção de energia será grandemente influenciada pelas
teorias quânticas. Dentre as formas de geração de energia mais eficientes, porém, não
disponíveis tecnologicamente, estão os geradores de fusão. Estes, quando disponíveis,
poderão funcionar às custas do deutério, o isótopo pesado (número de massa igual a 2)
e estável do hidrogênio (Kaku, 1998b, p. 279-80; Revista Galileu, 2018).
O deutério é encontrado na água do mar na forma D2O. Os hidrogênios, no
entanto, não se fundem naturalmente porque têm carga positiva. Para se fundirem,
têm que ser aquecidos e aproximados de forma forçada. A fusão de dois hidrogênios,
quando ocorre, forma hélio, liberando uma imensa quantidade de energia. É assim que
o sol e as estrelas obtêm sua energia.
As soluções para se conseguir as temperaturas necessárias para a fusão do
hidrogênio existem e podem ser pensadas. Sabemos que detonando bombas atômicas,
por exemplo, pode-se obter a energia necessária para se iniciar a fusão do hidrogênio,
chegando a temperaturas da ordem de dezenas de milhões de graus. Se na bomba
funciona, na geração de energia útil precisaremos de materiais que resistam às
temperaturas altíssimas geradas na fusão, sendo este um dos desafios da tecnologia.
Soluções para detonar a fusão dos hidrogênios já foram testadas (Revista Galileu,
2018), mas os investimentos nestas pesquisas ainda não se mostram atrativos diante
das alternativas possíveis de geração de energia.
Comparada com a fissão nuclear, a fusão apresentará algumas vantagens quando for
tecnicamente viável. A fissão apresenta o problema do descarte de material
contaminado, para o qual ainda não se tem uma solução adequada. O problema da
possibilidade de danos nos materiais do reator, com escapamento de material
radioativo é outra ameaça dos reatores por fissão. No caso da fusão, se o invólucro for
rompido, a reação despressuriza e é interrompida. Além disto, reatores por fusão não
atingem estado supercrítico, capazes de gerar explosões atômicas. A liberação de
nêutrons, tanto nos reatores de fusão quando de fissão, pode gerar fragilidades nos
metais que os contém.
O fato, no entanto, é que reatores de fissão estão em funcionamento, enquanto os
de fusão não estão, deixando aos engenheiros a oportunidade de desenvolver esta
tecnologia.
No tema energia, aplicações de antimatéria ainda estão por vir num futuro bem
mais distante. A descoberta de que a equação de Einstein, E=mc2, tem também um
par, E=-mc2 permitiu a identificação da existência da antimatéria.
Muito longe ainda de ser aplicada praticamente e dessa ciência se transformar em
tecnologia, não se pode desprezar os esforços que vêm sendo feitos para aumentar os
conhecimentos na área de antimatéria, tornando-a útil socialmente. Somente em 1995
pesquisadores da OERN (Organisation Européenne pour la Recherche Nucléaire),
localizada na Suíça, obtiveram a primeira amostra de anti-hidrogênio no laboratório,
amostra esta que durou somente 40 bilionésimos de segundo (Kaku, 1998b, p. 291).
Não é um resultado tão animador, mas indica uma possibilidade.
Caso a Terra continue a consumir energia de forma crescente, novas fontes de
suprimento serão necessárias. No limite, as civilizações poderão consumir não só
energia do nosso Sol, mas também de outras estrelas e mesmo galáxias, no entanto isto
ainda é especulação, embora possível do ponto de vista científico.
O astrônomo russo Nikolay Kardashev introduziu categorias convenientes de
civilizações, as quais ele chamou de tipo I, II e III, para classificar civilizações
eventualmente existentes além das terrestres, com base no natural progresso de
consumo de energia (Kaku, 1998b, p. 273-85; 323). Uma civilização do tipo I
dominará todas as formas de energia do planeta, como as disponíveis em oceanos,
atmosfera e interior da Terra. A Tipo II obterá energia diretamente do seu próprio sol,
podendo aproveitar quase a totalidade da energia gerada por este astro. A Tipo III
obterá energia de estrelas próximas às de seu sistema solar. Num Universo de 15
bilhões de anos, é possível que existam civilizações do Tipo I, II e até mesmo III, com
diferentes níveis de tecnologias e culturas e mesmo formas vivas, que nós, vivendo
numa civilização do tipo zero, nem podemos imaginar. Num futuro distante,
passaremos, com o apoio da engenharia, para civilização tipo I.

Outros desafios para a engenharia

Simuladores

O avanço da capacidade de processamento computacional vem trazendo o


aumento da possibilidade de resolução de complexos sistemas de equações diferenciais
com grande número de variáveis e muitos graus de liberdade.
O emprego de métodos numéricos diversos na modelagem de problemas físicos
(método dos elementos finitos e das diferenças finitas, entre outros), vem viabilizando
o rápido desenvolvimento da modelagem computacional e, com ele, a grande difusão
do uso de simuladores em áreas como pesquisa aplicada, projetos em geral, ensino,
treinamento e previsão de ocorrências perigosas.
Com os modelos, o engenheiro pode pesquisar soluções, analisar o resultado de
diferentes possibilidades de respostas para um mesmo problema de forma simulada,
substituindo de certa forma atividades antes realizadas em laboratórios ou só
vivenciadas em momentos críticos.
A modelagem também permite que a atividade de engenharia se aproxime da arte.
Com essas ferramentas, os engenheiros podem avançar na estética, nas formas e no
design, avaliando a performance de diferentes designs de produtos e buscando a
conciliação entre a estética e a performance.
O uso de simuladores também vem crescendo na área de entretenimento,
reproduzindo situações de movimentos diversos em brinquedos e jogos, simulando
situações de vida que nos colocam diante de conhecimentos sobre as emoções e sobre
como reagirmos a elas em cada cenário. Com simuladores podemos, ainda, ensaiar
arranjos genéticos e sintomas clínicos de doenças, que poderão fornecer diagnósticos
mais rápidos e precisos sobre a presença das doenças e sobre o seu tratamento.
Os simuladores, por terem base matemática, vão exigir dos engenheiros que vierem
a atuar nos seus desenvolvimentos o domínio do ferramental matemático e dos
softwares capazes de resolver os problemas matemáticos.
O que vemos, olhando as habilidades e competências dos profissionais de
engenharia, é que o domínio dos softwares de solução matemática e de simulação, e dos
equipamentos que os fazem funcionar, os diferenciam, fornecendo aos que dominam
estas técnicas e tecnologias mais oportunidades no mercado.
Vem se tornando mais importante para os engenheiros saberem operar e configurar
os diversos equipamentos e softwares do que entender como funcionam; mais
importante saber onde está e como utilizar o conhecimento do que produzi-lo.
Enquanto um engenheiro produz conhecimento, milhões o consomem.
Com os simuladores, o número de autodidatas crescerá. Os simuladores ajudarão a
esses, por meio de práticas simuladas, a consolidarem o que aprenderem, podendo
testar seus conhecimentos antes de aplicá-los praticamente.
Os engenheiros de simulação devem, assim, ganhar terreno e se consolidar em
diversas áreas da engenharia.
Novos veículos e motores terrestres

A engenharia automotiva também trará desafios para os futuros engenheiros. Os


carros elétricos já são realidade em vários países. Empresas do porte da Volvo,
comprometendo-se a produzir somente carros elétricos, são um forte indicativo de que
os motores elétricos dominarão os mercados no futuro.
A opção de carros híbridos com motores elétrico, e de combustão são apostas
factíveis e correntes, que poderão permanecer para o futuro.
O desenvolvimento das células de hidrogênio (fuel cell) vem permitindo o uso desta
tecnologia para propulsão de veículos. Grandes empresas, como a Toyota, vêm
apostando nesta tecnologia. Os motores que trabalham com hidrogênio gerado por
células de hidrogênio produzem, como resultado final, energia e água, sendo, portanto,
zero-poluentes. Os riscos do uso do hidrogênio nos motores já estão contornados e
estes veículos já estão circulando com segurança.
O design dos veículos e sua dirigibilidade também são desafios para engenheiros
futuros. Novos estilos de veículos devem ser desenvolvidos com arquitetura e materiais
de construção mais aerodinâmicos, leves e seguros. O nível de automação dos veículos
deverá ainda se elevar e o transporte tenderá a ser feito com conceitos como o de
veículos aéreos leves e rápidos.
Motores mais sofisticados podem ser pensados para um futuro mais distante, mas
exigem desenvolvimento tecnológico desde já. A tecnologia de motores com
“propulsão iônica”, por exemplo – motores estes sem partes mecânicas móveis –, já foi
testada preliminarmente em protótipos de veículos aéreos pelo MIT (Massachusetts
Institute of Technology), em setembro de 2018 (Eler, 2018). Estes motores poderão
caminhar no rastro dos foguetes iônicos que também deverão ser desenvolvidos para
viabilizar as viagens interplanetárias.

Conquistando o espaço

A conquista do espaço interplanetário, num primeiro momento, o interestelar,


num segundo e, finalmente, do intergaláctico, desafiará a engenharia. Conceitos de
moradias fora da Terra já estão pensados, e iniciativas já estão sendo tomadas para
viabilizar tais feitos (MSN, 2009).
Desafios para a engenharia no tema ocupação do espaço extraterrestre não faltarão.
Os nanotubos, por exemplo, permitiram pensar nos elevadores espaciais capazes de
permitir movimentar cargas e pessoas entre a Terra e o espaço (estações espaciais e lua,
por exemplo) (YouTube, 2016).
Os programas que geraram missões espaciais, principalmente as dos Estados
Unidos, Rússia, Japão e China, indicam que haverá movimentos importantes na
direção do espaço extraterrestre.
O Projeto Mercury, o primeiro empreendido pelos Estados Unidos, seguido pelos
projetos Gemini e Apollo levaram o homem à Lua em 1969, com a Apollo 11. Desde o
Projeto Marcury, inúmeras sondas e satélites foram lançados no espaço pelos Estados
Unidos, obtendo feitos como o sobrevoo a Vênus pela sonda Mariner 2, em 1962, e
das Vikings, na década de 1970, a exploração de Júpiter pela sonda Galileo e Saturno
pela sonda Pioneer, além de importantes explorações pela nave espacial não tripulada
Orion e pela sonda Deep Space, entre outros feitos.
As sondas americanas Osiris Rex, New Horizons e Juno iniciam novas experiências
em 2019 e espera-se que cheguem ao limite do que era conhecido no Universo até sua
decolagem. Os chineses também exploram, com a sonda Chang e-4, o lado oculto da
Lua, ajudando na conquista deste satélite terrestre.
Os esforços internacionais de conquista do espaço podem ser ainda exemplificados
pela construção da Estação Espacial Internacional, com a montagem concluída em
2011, quando da viagem do ônibus espacial Atlantis a ela. A Estação Espacial é fruto da
cooperação entre várias nações, representadas pelos órgãos responsáveis pelos seus
programas espaciais: a NASA, nos Estados Unidos, a Agência Espacial Europeia, a
Agência Japonesa de Exploração Espacial, a Agência Canadiana e a Agência Espacial
Federal Russa, que uniram seus esforços para a concretização da estação espacial.
Visitas de turistas a estações espaciais deste tipo, num futuro não muito distante,
deverão ser comuns.
A descoberta de que, há alguns bilhões de anos, houve vida microbial em Marte e
da existência de gelo na Lua em crateras com sombras permanentes, acende a discussão
sobre essas futuras expedições e sobre a possibilidade de construção de colônias em
outros astros.
A colocação em órbita de instrumentos de observação, como o telescópio Hubble
(HST – Hubble Space Telescope), na última década do século passado, pelo ônibus
espacial Discovery, abriu os olhos da pesquisa para as fronteiras do Universo. Na Terra,
o grande telescópio do Mont Palomar, com espelho de 200 polegadas, recordista de
acuidade de observação do espaço por muitos anos, cedeu lugar ao telescópio Twin
Keck, no Havaí (Wikipédia, 2019b), que ultrapassou em muito a capacidade de
observação do Mont Palomar, aumentando a dimensão do nosso universo conhecido.
Para que o objetivo de levar turistas e mesmo colônias ao espaço seja alcançado,
muitos esforços da engenharia devem ser empreendidos, como, por exemplo, o
completo desenvolvimento de novos materiais, como resinas leves e resistentes para
construção de cascos de aeronaves, e novos propulsores capazes de empreender rápidas,
longas e seguras viagens.
Os propulsores químicos, responsáveis por grande parte dos impulsos das aeronaves
espaciais, encontram substitutos, como os motores de íon, os propulsores tipo railgun,
os foguetes nucleares e os propulsores de vela solar. Embora fisicamente possíveis, a
tecnologia para produzi-los não está totalmente dominada e ainda precisa ser
desenvolvida, desafiando a engenharia futura.
O risco de acidentes com os foguetes nucleares, a necessidade de materiais mais
resistentes para trabalharem com os motores railgun e as dificuldades de manutenção e
construção das velas solares são desafios para os engenheiros do futuro.
O motor solar a íon, que utiliza a energia elétrica gerada pelo sol para ionizar gases
como o xênon e o césio, é a aposta mais provável e vem sendo utilizado com sucesso. A
sua capacidade de produzir impulso é pequena, se comparada com foguetes químicos,
porém o seu longo tempo de impulso tem incentivado a sua utilização em longos
percursos. Como o que importa nas grandes viagens espaciais é o “impulso específico”,
que é o produto do impulso pelo seu tempo de permanência, os motores iônicos se
apresentam como opção adequada para estas (um motor químico tem impulso
específico de cerca de 500 segundos, enquanto um motor iônico tem impulso
específico de cerca de 10.000 segundos) (Kaku, 1998b, p. 305). A combinação de
motores químicos e iônicos vem se apresentando como a solução mais adequada para
as longas viagens espaciais.
A busca por planetas com um ambiente semelhante ao da Terra também tem
motivado investimentos nas pesquisas espaciais. O futuro da civilização pode depender
disto.
Estima-se que, dentro da nossa galáxia, podem existir cerca de 10.000 planetas com
condições de vida semelhantes à Terra (Kaku, 1998b, p. 319). Daí o crescente interesse
pelas estrelas próximas ao nosso sistema solar, que possam oferecer condições de vida
humana. Embora nenhum sinal objetivo de vida fora da Terra, procurado por meio de
ondas de rádio que possam ter sido emitidas por estas civilizações extraterrestres, esteja
confirmada, a probabilidade de sua existência, num Universo cujas origens remontam
a 15 bilhões de anos, é grande.
A vida em planetas do sistema solar, como Vênus e Mercúrio, onde as altas
temperaturas predominam, e em Saturno e Júpiter, onde as baixas temperaturas
dificultam a criação de seres vivos, tornam pouco esperada a presença de vida
semelhante à humana. Marte é o planeta que se apresenta como melhor, mas a
tecnologia humana está ainda longe de conquistar o intento de habitá-lo. Especulações
para mudar rota de cometas gelados de forma a que colidam com Marte criando assim
lagos e oceanos neste planeta, são fisicamente possíveis, mas até então puro exercício
especulativo.
Se as viagens espaciais ainda precisam de muito desenvolvimento de tecnologia para
vencer as distâncias entre a Terra e os demais planetas, para chegarmos às estrelas mais
próximas, necessitaríamos de demasiado tempo, quando comparado com nosso tempo
de vida. Para se atingir uma estrela próxima, como Alfa Centauro, necessitaríamos de 4
anos-luz de viagem (Kaku, 1998b, p. 311). Isto demanda um impulso específico dos
motores das aeronaves ainda inviável tecnologicamente.
Viagens com longas durações poderiam exigir congelamento dos corpos dos seus
tripulantes e passageiros, congelamento este que também não é tecnologia dominada.
Se considerarmos as equações de Einstein, o tempo de viagem para tripulantes das
naves espaciais seria vivido de forma mais reduzida, em função dos efeitos da
velocidade das aeronaves. Assim, uma viagem de 400 anos-luz com tempo medido na
Terra poderia corresponder a uma viagem de cerca de algumas dezenas de anos para os
relógios dentro das aeronaves. Ainda assim, um grande desafio.
Aos desafios de conquista do espaço devem se somar, como desafios para a
engenharia, a minimização das ameaças que vêm deste mesmo espaço. Milhares de
objetos próximos à Terra (NEOs – Near Earth Objects) podem exterminar a vida no
planeta em poucos segundos. Os asteroides e pequenos corpos celestes são de difícil
detecção a partir da Terra. Estima-se que cerca de 1000 a 4000 deles, com dimensões
da ordem de 800 m, cruzam a órbita da Terra, impondo grande risco ao planeta, até
porque são tardiamente detectados.
Há cerca de 65 milhões de anos, os dinossauros podem ter sido extintos devido ao
impacto de um destes cometas ou asteroides que caiu em Yucatan, no México, abrindo
uma cratera de cerca de 300 metros.
Além das ameaças de queda de asteroides e cometas, uma outra Era do Gelo é
esperada nos próximos 10.000 anos, ameaçando a vida na Terra. Igualmente, mas no
outro polo de temperatura, a criação de uma estrela supernova poderá inundar a Terra
com uma chuva de raios-X, extinguindo a vida no planeta. Para a sobrevivência da
humanidade, o espaço tem que ser conquistado.

O domínio do hiperespaço

“Em junho de 1988, três físicos (Kip Thorne e Michael Morris, do Instituto de
Tecnologia da Califórnia – California Institute of Technology – e Ulvi Yurtsever da
Universidade de Michigan) fizeram a primeira proposta séria para uma máquina do
tempo” (Kaku, 1998a, p. 245, tradução nossa). Usariam para atingir este objetivo um
buraco de minhoca (wormholes) que conectaria o passado com o futuro.
Será mesmo possível conectar dois mundos paralelos através dos buracos de
minhoca? Estes atalhos no tempo, que permitem viajar do passado para o futuro,
existem de fato e podem ser utilizados?
A existência dos buracos negros pode ser observada a partir de observatórios
espaciais, como o Telescópio Hubble e mesmo rádio-telescópios baseados na Terra.
Será que, ao final do funil central destes buracos celestes, para os quais tudo é sugado,
inclusive a luz, existe de fato um universo paralelo, como permite prever a matemática
da física moderna?
Estas perguntas poderão ser plenamente respondidas quando a ciência caminhar
com passos firmes no domínio espaço-tempo, desvendando segredos que ainda
intrigam a mente humana. A conquista do domínio espaço-tempo poderá levar a
ciência, a tecnologia e a engenharia para rumos nunca desbravados. Sem transgredir as
leis físicas, pode-se pensar em artefatos e realizações que ainda são objetos de filmes de
ficção, como a máquina do tempo e as viagens a outros universos. Realizações por certo
muito distantes, mas que, se acontecerem, levarão a humanidade para caminhos não
pensados.
Geometrias não euclidianas, como a fundada por George Bernhard Reimann
(1826-66), dão conta de estudar matematicamente espaços de maiores dimensões que
as três espaciais tradicionais: altura, largura e comprimento (Kaku, 1998a, p. 22).
Com a geometria não euclidiana, a euclidiana e seu desenvolvimento no espaço
tridimensional foi ultrapassada. A menor distância entre dois pontos deixou de ser
uma linha reta, pois “isto omite a possibilidade de que o espaço pode ser curvo, como
sobre uma esfera” (Kaku, 1998a, p. 33, tradução nossa). A soma dos ângulos de um
triângulo também deixou de ser, necessariamente, 180º. Em triângulos construídos
sobre superfícies curvas, a soma dos ângulos internos pode ser maior ou menor que
180º. A matemática Euclidiana só se aplica a espaços planos. A nova geometria foi de
grande valia para o desenvolvimento das teorias de Einstein e dos físicos que lhe
sucederam.
Entre os exercícios teóricos destes físicos está a procura da Teoria do Tudo. Esta
permite unificar em uma só equação as forças que estruturam o Universo. O Universo,
tal como o entendemos hoje, é estruturado por quatro forças: a eletromagnética (que
permite o funcionamento de sistemas como radares, rádios e TVs), a gravitacional (a
qual mantém as sistemas solares em funcionamento), as forças nucleares fortes (que
fazem o sol e as estrelas brilharem) e as forças nucleares fracas (responsáveis pelo
decaimento da radioatividade dos materiais radioativos). A integração destas forças em
uma só equação tem desafiado os cientistas desde Einstein.83
A conceituação das forças como sendo criadas pela troca de pacotes de energia, ou
na linguagem quântica, de “quanta” de energia, impulsionou a ciência e a tecnologia
para caminhos nunca imaginados. Esta conceituação permitiu a redução do número de
partículas subatômicas de dezenas para sete: os quarks, W e Z bósons, Gluons,
partículas Higgs, letrons e neutrinos (Kaku, 1998b, p. 347). Permitiu também a
melhor aproximação teórica para a Teoria do Tudo: a Teoria das Cordas.
A Teoria das Cordas elabora suas soluções num Universo decadimensional (um
hiperespaço de 10 dimensões), sendo esta a dimensão teórica do Universo. O que se
passa nas seis dimensões, além das quatro que conhecemos (três de espaço e uma de
tempo), ainda está por ser explicado. Uma das explicações é a de que as dimensões além
da quarta teriam formado outros universos (multiuniversos) que coexistiriam com o
nosso. Estes teriam sido formados no Big Bang e poderão ou não ter sobrevivido após
esta grande explosão.
A Teoria das Cordas permitiu à ciência entender vários paradoxos colocados pela
física moderna. Assim, por exemplo, “o elétron, o qual parece ser partícula pontual, é
atualmente uma pequena corda vibrante” (Kaku, 1998b, p. 349, tradução nossa).
Desta forma, o Universo seria uma sinfonia de cordas vibrantes: “árvores e montanhas
até as estrelas, são nada mais que vibrações no hiperespaço” (Kaku, 1998a, p. x,
tradução nossa).
“A essência da teoria das cordas é que ela pode explicar a natureza da matéria e do
espaço-tempo” (Kaku, 1998a, p. 152, tradução nossa). “Começando com a teoria das
cordas vibrantes, pode-se extrair as teorias84 de Einstein, Kaluza-Klein, teoria da
supergravidade, o Modelo ‘Standard’ e mesmo a teoria GUT (Grand Unified Theory)”
(Kaku, 1998a, p. 155).
Segundo Mikio Kaku (1998a), o hiperespaço será o grande desafio para a ciência,
tecnologia e, consequentemente, para a engenharia. Os desafios tecnológicos ainda
virão a médio e a longo prazo. Hoje, porém, mesmo sem sabermos bem como funciona
o hiperespaço, já atuamos dentro dele. Em cinco dimensões, por exemplo, a luz tem
uma simples explicação: “vibrações da quinta dimensão” (Kaku, 1998a, p. 8, tradução
nossa).
Avanços na Teoria das Cordas ainda são esperados. “Modelos originados desta
Teoria apontam para dimensões maiores, como a décima segunda dimensão (universo
duodecadimensional). A teoria mais aceita é a “teoria M””.85 “A maioria dos líderes da
física no mundo agora acredita que dimensões além das usuais quatro dimensões de
espaço e tempo podem existir” (Kaku, 1998a, p. 9 ).86
A Teoria das Cordas, rigorosamente, não pode ser comprovada porque não temos
como gerar a energia necessárias para testá-la. “[…] a teoria decadimensional não é uma
teoria no sentido usual, porque ela não é testável, dado o atual estado tecnológico do
nosso planeta” (Kaku, 1998a, p. 179).
Mesmo sem tê-la testado de forma plena, no entanto, podemos operar no
hiperespaço. Assim como trabalhamos com as ondas eletromagnéticas, sem bem
entendermos seu meio de propagação, se é que existe algum meio, podemos prever e
operacionalizar comportamentos típicos de fenômenos além dos tetradimensionais,
permitindo à engenharia realizações neste campo pelos engenheiros que vierem a
estudar e melhor dominar conhecimentos do hiperespaço.

A união das três áreas: computação, genética e quântica

É esperado que, com os grandes avanços nos temas precedentes, ocorra a unificação
de vários campos do conhecimento. A interligação de conhecimentos dos campos de
computação, genética e física quântica, principalmente, deverá dar grande impulso às
pesquisas científicas e às novas tecnologias. Engenheiros vão unir habilidades técnicas,
criatividade e arte para construir um mundo novo de artefatos para a sociedade.
Assim como o reducionismo cartesiano – que dividiu o conhecimento em pedaços
para melhor dominá-lo – permitiu os avanços obtidos até o início do século XXI,
espera-se que os desenvolvimentos futuros sejam obtidos por meio da visão integrada e
colaborativa dos vários campos de ciência, em particular, dos três aqui discutidos:
computação, genética e física quântica.
Os avanços da ciência já indicam este caminho de integração. A compreensão do
DNA, por exemplo, permitiu e permitirá novas arquiteturas computacionais, o
entendimento dos processos de pensar, da inteligência em si, e novas formas de
organizar a inteligência artificial. As máquinas e os aplicativos mais desenvolvidos
permitirão entender melhor os processos orgânicos e aprofundar mais nosso
conhecimento a respeito da matéria, numa visão sistêmica, que hoje domina o mundo
tecnológico.
Dentro desta visão, algumas disciplinas identificadas como motoras para o
desenvolvimento das empresas e das nações podem ser listadas: microeletrônica,
biotecnologia, ciência de materiais, telecomunicações, aviação civil, máquinas
ferramentas e robótica, softwares e hardwares para computação. Estas áreas estão
firmemente ancoradas nos três temas: física quântica, computação e genética.
Nesta linha de integração vemos também a moderna medicina substituindo várias
funções do corpo por meio do uso de próteses e órgãos artificiais e atuando em várias
funções biológicas por meio de dispositivos como implantes cerebrais e marca-passos.
Neste caminho, vemos crescer a biônica, que é um campo específico da ciência que se
dedica ao estudo dos implantes sintéticos em sistemas naturais.
A medicina, ocupando-se do estudo do funcionamento do corpo humano, ainda o
vê como uma máquina biológica, em que o coração, por exemplo, atua como uma
bomba hidráulica, o esqueleto como uma estrutura e o cérebro na produção de sinais
elétricos. Esta visão vem se atualizando para uma mais sistêmica e com ela vão se
adaptando ferramentas analíticas tradicionalmente usadas na engenharia, tais como a
modelagem de sistemas e a análise computacional, para a descrição de sistemas
biológicos.
A crescente aplicação dos princípios da engenharia à medicina vem desenvolvendo
a engenharia biomédica, que usa conceitos de ambas e toma mão de conhecimentos da
área de engenharia genética, computação, inteligência artificial, redes neurais, lógica
difusa e robótica nas suas soluções para o bem estar humano.
Embora extrema, não é ficção a visão de que, assim como os circuitos eletrônicos
são capazes de captar sinais eletromagnéticos quando devidamente projetados e
ajustados, os circuitos biológicos também serão capazes de captar os sinais da vida se
devidamente projetados e ajustados. O corpo humano é um dos mais complexos
circuitos biológicos. Se conseguirmos montar circuitos de elementos formados por
células, capazes de captar a energia vital, teremos um corpo vivo.
Neste caminho, embora o humano não controle a vida, poderá fazê-la aparecer
num circuito biológico, assim como, ao plantar uma semente, obtém uma árvore, sem
dominar a criação da vida. Um circuito eletrônico bem projetado por um engenheiro
eletrônico pode receber um sinal remoto e funcionar; um circuito biológico bem
projetado por um bioengenheiro poderá funcionar e receber sinais vitais da natureza.
Antes disto ocorrer, a mescla de sistemas eletrônicos com sistemas biológicos será o
passo mais próximo: teremos as máquinas eletrobiológicas. A integração de circuitos
eletrônicos e biológicos já é tarefa dos engenheiros. Alguns trabalhos de interconexão
de sistemas eletrônicos a partes componentes dos organismos vivos (pernas, mãos,
olhos e ouvidos) já são uma amostra do que poderá ser o futuro.
Como muitas realizações ainda vão acontecer sem o completo domínio tecnológico
de seus princípios, fornecendo soluções para problemas do mundo real sem a completa
compreensão do fenômeno no mundo científico, a experimentação e o conhecimento
empírico são competências que devem ser adquiridas pelos profissionais de engenharia.

Dimensão demandas sociais

Se os paradigmas, que norteiam nossas formas de pensar e dar valor às coisas, e os


desenvolvimentos da ciência, que viabilizarão as tecnologias futuras, são fundamentais
para apontar os destinos futuros da engenharia, quem definirá de fato o que será feito
pela engenharia serão as demandas sociais.
Que demandas as sociedades futuras terão para a engenharia? Como desenhar a
partir do nosso momento o que a sociedade necessitará no futuro?
Muitos fatores podem ser considerados para desenhar as demandas da sociedade
futura. Seguiremos aqui um dos autores que pensou o mundo em 2050 (Smith, 2010),
o qual adotou como pressuposto que quatro forças importantes “demografia, a
demanda por recursos naturais, a globalização e as mudanças climáticas, modelarão o
futuro”.
A primeira força, a demografia, é o resultado da diferença entre o número de pessoas
que nascem e as que morrem. A demografia gera, por si só, inúmeras demandas, como
vimos no tema 8, “Desafios da Sociedade Contemporânea”. Ali, explicitamos
demandas por moradias mais versáteis, materiais que agridam menos o meio ambiente
e que facilitem a execução das construções, que reduzam resíduos gerados e que possam
ser reciclados; demandas por meios de transportes mais eficazes que deem mais
agilidade às populosas megacidades e as destruam menos por meio da geração zero de
poluentes e de gases de efeito estufa, impactando ao mínimo o meio ambiente em
geral; o aproveitamento de efluentes de forma eficaz e a otimização do uso dos recursos
naturais. Estes são desafios demandados pela engenharia no presente e que se manterão
como desafios para a ciência e a engenharia por algumas décadas.
O crescimento demográfico foi exponencial e assim foram também suas demandas.
Estima-se que, antes da invenção da agricultura, cerca de doze mil anos antes de Cristo,
viviam no mundo em torno de um milhão de pessoas. Em 1800, cerca de doze mil anos
depois, os humanos já somavam um bilhão e, em 1930, já atingiam dois bilhões.
Quando ocorria o movimento militar no Brasil, em 1964, a população mundial atingia
seu terceiro bilhão. Quando Bill Gates e Paul Allen fundavam a Microsoft, em 1975, a
população mundial atingia 4 bilhões. Quando o muro que dividia Berlim em Berlim
Oriental e Ocidental foi demolido em 1989, a população mundial já ultrapassava os
cinco bilhões e, quando as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York,
foram demolidas pelo impacto de aviões a elas direcionados, em 2001, a população
mundial ultrapassava seis bilhões. Nos dias de hoje, a população caminha para os 8
bilhões, e em 2050, segundo a ONU (2017), seremos quase 10 bilhões de pessoas
povoando o planeta (Jornal de Negócios, 2017).
Com o crescimento populacional do mundo e a concentração desta população nos
centros urbanos, as megacidades proliferarão com os impactos previsíveis. Em 2025, as
cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, ultrapassarão a marca de 21 e
13 milhões de habitantes, respectivamente (Smith, 2010, p. 33-4).
Se não adotarmos soluções de engenharia inteligentes, as megacidades serão
rodeadas de favelas, e o tempo para translado de um de seus extremos ao outro
consumirá grande parte do tempo de vida de seus habitantes. Assim também, o lixo, se
descartado na forma como fazemos hoje no Brasil, trará problemas imensos.
Soluções para tornar os aglomerados urbanos, que crescem desordenadamente nas
favelas e periferias das grandes cidades, desafiarão arquitetos, paisagistas e engenheiros
de várias especialidades. Engenheiros civis, mecânicos, elétricos, sanitários e de
materiais, entre outros, serão demandados. Conhecimentos de química e de
eletricidade serão importantes nas estações de tratamento de resíduos sólidos e
líquidos. Conhecimentos de logística continuarão sendo fundamentais para permitir a
movimentação de pessoas e o suprimento, a tempo, dos víveres necessários para a vida
das megacidades. Conhecimentos nas áreas de transporte, embalagens e alimentação
serão valorizados.
As megacidades trarão, portanto, demandas para a engenharia, como projetos e
obras de saneamento, tratamento de efluentes, de regeneradores de lixo e de
transportes eficazes. Sistemas que consigam retirar energia do lixo, como, por exemplo,
as usinas do Japão e da Noruega, são projetos inspiradores (YouTube, 2017 e BBC
News, 2013).
Outra demanda ligada à demografia vem do envelhecimento da população: a idade
média das pessoas tende a aumentar. No Brasil, espera-se que a idade média da
população atinja patamares próximos a 41 anos em 2050, quando, em 2010 esta média
era de cerca de 28 anos (Smith, 2010, p. 47).
A demografia, sendo em parte resultado do aumento da expectativa de vida,
demanda atividades ligadas a projeto, construção e manutenção de próteses, aparelhos
e instrumentos de diagnóstico e tratamento. Além disto, dispositivos artificiais ou
geneticamente desenvolvidos, que permitam suprir as deficiências dos órgãos e partes
diversas dos corpos dos seres humanos, terão alta demanda.
Intervenções genéticas que tendem a evitar doenças degenerativas e conservar por
mais tempo a saúde vão demandar esforços das áreas de engenharia, como a de
engenharia genética. Engenheiros biomédicos já são uma realidade, e outras
especialidades com objetivos de melhorar a saúde e bem-estar vão se desenvolver. Os
engenheiros genéticos devem ter demanda crescente, bem como os engenheiros
biólogos. Assim, a biologia passa a ser uma área de conhecimento importante para uma
grande classe de engenheiros que vierem a trabalhar nas áreas de saúde e bem-estar.
A segunda força, a demanda por recursos naturais, é também muito afetada pela
demografia, mas não só por ela. O aumento do número de bens necessários para uma
vida social confortável e com bem-estar vai aumentando com o desenvolvimento da
sociedade. Necessitamos de sistemas informatizados, aparelhos eletrodomésticos,
veículos para transporte, mais alimentos de vários tipos e em diversas embalagens,
necessitamos de aparelhos de diagnósticos que atendam às demandas da medicina
ocidental e de outros serviços cujo consumo se torna maior a cada ano, gerando uma
crescente demanda de recursos naturais para produzi-los e mantê-los funcionando.
Neste cenário, pelo menos por algumas décadas, necessitaremos de recursos
naturais, como os hidrocarbonetos, para gerar energia, fertilizantes e novos materiais,
necessitaremos de rios, terras aráveis, madeira e minerais dos mais variados tipos. Para
as mentes mais atentas existe uma “percepção de que a energia e os recursos naturais –
ingredientes básicos de toda a atividade industrial – estão sendo rapidamente
exauridos” (Capra, 2006, p. 22).
Um exemplo do aumento da demanda de recursos naturais é o do consumo de
carvão nos Estados Unidos, que cresceu cerca de três vezes de 1850 a 1900, e em torno
de trinta vezes, de 1900 a 2000. De forma análoga, o consumo de óleo aumentou cerca
de 18.000 vezes no mesmo período (Smith, 2010, p. 15).
É inevitável que o consumo de bens leve a um aumento de consumo de energia,
trazendo neste item a demanda de soluções de engenharia para economia e geração.
Isto significa que a engenharia buscará tecnologia para desenvolver novos conceitos de
máquinas motrizes, novas fontes energéticas, novos acumuladores, e muitos
engenheiros devotarão suas habilidades para cuidar destes equipamentos e operá-los.
Os dispositivos eletrônicos devem, por muito tempo, se manter como necessários à
vida social contemporânea. A automação de tudo o que for possível para simplificar a
vida humana deve ser implementada, deixando engenheiros eletrônicos e de
automação por muito tempo no mercado e mantendo alta a demanda de materiais
diversos para a construção dos dispositivos eletrônicos.
Além dos recursos naturais, necessitaremos também de “serviços naturais incluindo
os essenciais à vida como a fotossíntese, a absorção de dióxido de carbono pelos
oceanos, e do trabalho das abelhas para polemizar nossos cultivos” (Smith, 2010, p. 13,
tradução nossa).
A terceira força importante no delineamento das demandas futuras é a globalização,
onde podemos conceituar globalização como “um conjunto de processos econômicos,
sociais e tecnológicos que estão fazendo o mundo mais interconectado e
interdependente” (Smith, 2010, p. 17, tradução nossa).
No contexto da globalização, as disputas por postos de trabalho, bem como as
ofertas, serão no nível global. Isto exigirá engenheiros preparados e diferenciados. O
domínio do idioma será considerado uma trivialidade, e o analfabetismo no idioma
inglês será deficiência impeditiva para a participação nas ofertas mundiais de serviço.
Os tradutores eletrônicos estarão disponíveis no futuro, mas a comunicação direta,
face a face, no idioma do cliente, sempre será um diferencial nas relações humanas.
Num mercado global, os engenheiros terão que interagir com pares de outras
nações e gerar conhecimentos em conjunto com outros engenheiros e outros
profissionais de especialidades e profissões diferentes da sua. Os produtos tendem a ser
cada vez mais globais: “longe são os dias em que a General Motors podia importar
borracha e aço e exportar automóveis. O projeto, as matérias-primas, componentes,
montagem e marketing dos carros de hoje vêm de mais de cinquenta países diferentes
ao redor do mundo” (Smith, 2010, p. 18, tradução nossa).
A globalização fatalmente tornará alguns países mais pobres e outros mais ricos: a
expectativa é de que o Brasil se torne mais rico. Espera-se que o Produto Interno Bruto
do Brasil em 2050 chegue a US$ 6,1 trilhões aumentando em cerca de três vezes o
valor do PIB de 2018, que foi de US$ 1,87 trilhões (The World Bank, 2020).
As mudanças climáticas, como a quarta força modeladora das demandas futuras,
também têm relação com a demografia, a demanda de recursos e serviços naturais e
com a globalização.
O fato é que não é certo, porém muito provável, que a atividade industrial,
modificando a composição química da atmosfera, esteja aquecendo o planeta. O efeito
estufa, que mantém o clima na Terra adequado para o desenvolvimento das várias
formas de vida animal e vegetal, pode perder sua efetividade.
Ele é o responsável pela manutenção da temperatura na Terra. Por meio dele o
clima do planeta se mantém adequado à vida, conforme foi observado por Jean
Baptiste Fourier (1768-1830). Ocorre que, desde 1859, o irlandês John Tyndall
(1820-93) já sabia que alguns gases, como o dióxido de carbono e o metano,
aprisionavam a radiação infravermelha. De forma mais definitiva, em 1896, o físico
suíço Svante Arrhenius (1859-1927) apontou a queima de combustíveis fósseis
(petróleo, gás e carvão) como responsável pela produção de dióxido de carbono (CO2),
identificando este gás como um dos grandes responsáveis pelas disfunções do efeito
estufa. Além da concentração de CO2, óxidos nitrosos e metano também foram
identificados como contribuindo para estas disfunções (Smith, 2010, p. 21; Globo,
2009).
Com a presença destes gases, o calor entra pela atmosfera. Por meio de ondas de
alta frequência, tem seu retorno impedido, uma vez que vem incorporado às ondas de
baixa frequência que não conseguem passar pelos gases da troposfera, retendo boa
parte do calor que chega à Terra.
A engenharia com certeza vai continuar a ser instada a dar conta de soluções para o
efeito estufa, mais do que já vem sendo. A busca por máquinas com melhores
rendimentos, de ciclos térmicos mais eficientes, de fontes de suprimento energético
que reduzam a emissão de gases que prejudicam o efeito estufa desafiará os engenheiros
nas próximas décadas.
As mudanças climáticas orientarão, assim, a formação dos engenheiros que,
especializados em fontes alternativas, meio-ambiente, reflorestamento, materiais
ecossustentáveis, novos conceitos de transporte e de formas de reaproveitamento de
materiais e de efluentes em geral, serão capazes de atender às demandas das sociedades
futuras.

Novas engenharias

Muitos desafios para os engenheiros estão em gestação na mão dos cientistas. Assim
como muitas ideias inicialmente criadas com fins estratégicos militares pelos Estados
Unidos, na época da guerra fria, visando garantir a segurança do Estado, como as
teleconferências, o GPS (Global Positioning System) e o email, vieram a se popularizar
nos anos subsequentes, vários outros inventos e sistemas que estão em
desenvolvimento e pesquisa hoje também serão colocados no mercado nos próximos
anos. Estes deverão incluir novos materiais, novos sistemas de orientação e
acionamento remoto, redes e sistemas de comunicação, tecnologia de robótica, novas
formas de alimentação para os humanos, formas de produção e armazenamento de
energia e sistemas de propulsão.
Estas ideias que estão em pesquisa e desenvolvimento manterão algumas
modalidades e especialidades de engenharia existentes no presente, mas certamente
criarão novas especialidades e novas modalidades de engenharia.
Se considerarmos que o termo engenharia tem sido cada vez mais utilizado em
vinculação com novas áreas de conhecimento não relacionadas à engenharia do século
XX, a expectativa é que muitas “novas engenharias” apareçam.
O termo tem se referido, cada vez mais, ao tratamento sistematizado da realidade, à
visão racional para a análise de problemas, ao uso, mesmo que esporádico, de
ferramentas matemáticas, abrangendo assim outras atividades.
Termos como Engenharia Social (Gestão da Segurança Privada, 2017) e
Engenharia Política aparecem para caracterizar práticas que se utilizam dos métodos
lógicos, organizados e racionais dos engenheiros, ainda que passem distante dos
conhecimentos das ciências naturais. Campos como a política, a sociologia e a
psicologia deverão, cada vez mais, aparecer organizados pela metodologia da
engenharia.
Os novos materiais que vão sendo desenvolvidos também trazem para a engenharia
possibilidades de projetos e soluções completamente diferentes. Sempre foi assim, mas
a velocidade com que os novos materiais são disponibilizados e as propriedades que
apresentam, como flexibilidade, esbeltez associada a resistência, supercondutividade e
propriedades elétricas, colocam a engenharia diante de possibilidades impensadas. Os
materiais biológicos também fazem parte deste cenário.
Por fim, cabe dizer que, se o conceito de engenharia for aplicado, como vem sendo,
a um número cada vez maior de atividades nas quais o emprego da matemática se
mostra eficaz, onde os processos de otimização são relevantes, naquelas em que o
potencial da natureza é direcionado conforme a vontade humana, onde o método
racional e analítico de solução é empregado e as soluções ordenadas são privilegiadas,
enfim, em atividades nas quais se mostre vantajoso o uso dos métodos de domínio de
engenharia, seja qual for o objeto de atenção e interesse, as engenharias se
multiplicarão, tornando-se, talvez, uma das profissões mais importantes da sociedade.
Com a ampliação dos conhecimentos das diversas áreas de especialidades de
engenharia, haverá a necessidade de se criarem subespecialidades, que logo se tornarão
novas especialidades. Talvez as modalidades denominadas hoje como mecânica, civil,
elétrica, entre outras mais convencionais, cedam lugar de importância para o que hoje
consideramos subespecialidades, como a engenharia de inteligência, engenharia
nanotecnológica e outras ainda inexistentes.
A tendência crescente à dependência entre especialidades da engenharia, e entre a
engenharia e outras áreas profissionais, para o desenvolvimento de projetos
multidisciplinares, também levará à criação de engenharias com títulos novos. Como
exemplo, destacam-se as já existentes engenharia mecatrônica, engenharia física,
engenharia genética e engenharia biomédica.
No futuro, uma boa parte dos projetos não serão mais de engenharia, mas, projetos
com engenharia… e aí o conceito do que é ser engenheiro talvez abrace não só as forças
da Natureza, mas também todas aquelas que contribuem para o bem-estar humano e a
preservação da vida.

Exercícios de avaliação de conteúdo


15.1) No tema 15 foram escolhidas três dimensões da realidade para tentarmos
melhor enxergar o futuro. Quais foram estas dimensões e por que foram consideradas
importantes? Você propõe outras dimensões para melhor se tentar prever o futuro?
15.2) Na sua visão, cite duas áreas da engenharia que devem ter sua demanda
diminuída e duas que devem ser criadas ou ter a demanda de profissionais aumentada,
em função das mudanças tecnológicas previstas para o futuro.
15.3) Explicite os dois grandes paradigmas, um que norteou o pensamento humano
e a administração das organizações no século XX, e outro que os norteia neste século
XXI. Quais suas filosofias gerais e que impactos eles geram na forma de organização do
conhecimento?
15.4) Cite algumas ideias ou conceitos que vêm colaborando para o deslocamento
do paradigma mecanicista no mundo.
15.5) Qual a importância de Erwin Schröndinger e Werner Heisenberg no
desenvolvimento da física moderna e no pensamento moderno?
15.6) Pesquisando, diga em poucas palavras o que a chamada Escola de
Copenhague discutiu e apresentou como ensinamentos gerais. Qual sua relação com a
física quântica?
15.7) O que é visão holística? Diga de forma resumida como se pode praticá-la em
engenharia.
15.8) Quais as três áreas da ciência consideradas “em desenvolvimento” que
deverão aumentar sua interação para permitir o desenvolvimento das ciências e,
consequentemente, da engenharia?
15.9) Cite três desafios para os sistemas de IA e as redes neurais.
15.10) Cite alguns impactos éticos que deverão ser discutidos diante dos
desenvolvimentos das novas engenharias.
15.11) Que desafios a engenharia enfrenta para empreender a tarefa de entender o
espaço interplanetário e extraplanetário?
15.12) Cite três demandas que se espera que a sociedade faça para a engenharia no
futuro.
Exercícios vivenciais

15.13) Pesquise sobre o que se passa nos laboratórios das universidades e dos
centros de pesquisa e explicite algumas das áreas que estão no núcleo destas pesquisas
científicas.
15.14) No que as pesquisas científicas em curso poderão impactar sua área de
engenharia?
15.15) Faça uma proposta de áreas de conhecimento que melhor lhe capacitariam a
exercer, com competência, a atividade de engenharia que você escolheu ou escolherá,
considerando as tecnologias que deverão ser demandadas no futuro.
15.16) Junto com um colega, com a ajuda das discussões do tema 15 e por meio de
pesquisa, tente listar, como ensaio, os desafios que a sociedade colocará para a
engenharia nas áreas das ciências computacionais, da ciência biomolecular e da física
quântica.
15.17) Avalie, junto com outro colega, quais novidades tecnológicas a engenharia
poderá realizar se os conhecimentos sobre o hiperespaço forem de fato dominados.
15.18) Pensando no tema “Futuro da Engenharia”, proponha novas engenharias
que poderão ser criadas no futuro.
Notas

1 – Uma visão da engenharia pelas ciências sociais e humanas


1. Ver Conselho Nacional de Pesquisa (2017), Ciências Sociais Aplicadas.
2. Etapas adaptadas de propostas metodológicas, conforme Marconi e Lakatos (2017)
e Demo (1995).
3. para mais detalhes quanto aos métodos utilizados em ciências sociais ver Marconi e
Lakatos (2017), cap. 7 e Demo (1995), Parte II.

2 – Engenharia: uma breve visão filosófica e histórica


4. ver Ferreira (2009), onde -eiro vem do latim ariu e significa o que exerce certo ofício
profissão, atividade ou -aria, sufixo que significa “ramo de negócio” e “atividade”.
5. ver Ferreira (2009), onde “In-1” equivale a “em-2” e “em-2” [do lat. In.] como
prefixo significa “movimento para dentro”.
6. ver Ferreira (2009), onde Gênio. [do lat. Geniu.] […] 2. Espírito inspirador ou
tutelar 3 […] de capacidade mental criadora.
7. ver Ferreira (2009), engenho: do latim ingeniu 1. Faculdade inventiva; talento. 2.
Habilidade; destreza. 3. Sutiliza; argúcia. 4. Pessoa engenhosa, que tem talento e
saber.
8. Consultar, por exemplo, os endereços eletrônicos
https://www.eecis.udel.edu/~portnoi/academic/academic-files/eng-whatisit.html
ou http://www.senaicimatec.com.br/blog/o-que-e-engenharia/. Acesso: 23 ago.
2019.
9. Para mais detalhes, ver Snow (1993, p. 32).
10. ver significado de know-how em Ferreira, 2009.
11. conforme informações disponíveis em Telles (1994, p. 2).
12. Para mais detalhes, ver Ducassé (1962, p. 140).
13. Para mais informações sobre as primeiras escolas de engenharia no mundo, ver
Telles (1994), notas na p. 87.
14. Para mais informação sobre José Alpoim, ver também
http://emjalpoim.blogspot.com/p/historico-de-jose-alpoim.html. Acesso em: 22
ago. 2019.
15. Criada por intermédio de publicação no Diário Oficial em 27/04/1961. Ver
Mancebo, 1995, p. 103.

3 – Contribuições Sociais da Engenharia


16. Ver página do CONFEA, dis ponível em: http://www.confea.org.br/, acesso em:
11 de julho de 2019.
17. Ver Guia da Carreira (2010) e Guia do Estudante (2019).
18. Procurar em “consulta avançada” no site do MEC. Disponível em:
http://emec.mec.gov.br/. Acesso em: 28 ago. 2019.

4 – Atividades do Engenheiro e Perfil Individual


19. Artigo 2º, parágrafo IV.
20. Ver Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, 1973, 2013, resolução 218,
Artigo 1º; resolução 1010, Artigo 5º e resolução 1048, Artigo 3º, respectivamente.
21. Ver site do PMI, disponível em https://brasil.pmi.org/. Acesso em 10 jul. 2019.

5 - Engenheiro Cidadão – uma visão sociológica


22. Ver o texto bíblico I Samuel 8:10-18.
23. Ver Atos dos Apóstolos 22:22-29.
24. Ver Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (2014), artigos 9º e 11º.

6 – O engenheiro-líder
25. Ver “carisma” em Ferreira (2009).
26. Ver Chiavenato (2013): grupos informais (p. 79) e liderança (p.85).

7 – O que é formação?
27. Ver “competência” em Ferreira (2009), verbete 2
28. Ver, principalmente, Gardner (1994), parte 2, e Gardner (2001), cap. 3.
29. Ver Gardner (1994), parte II, cap 7 e Gardner (2001, p. 56).

8 - Demandas da Sociedade Contemporânea na Formação dos Engenheiros - uma


visão psicopedagógica
30. Mais detalhes sobre este tema podem ser apreciados em Heisenberg (1998).
31. Uma visão nesta perspectiva é apresentada em Dawkins (1979).
32. Ver Gênesis, capítulo 3, versículo 17.

9 - Desafios atuais da sociedade para a engenharia: uma visão socio tecnológica


33. Dados retirados de Executive Sumary (Nações Unidas, 2017, p. xix).
34. Ver Brasil (2017), item Destaques de Energia no mundo em 2016, na apresentação
do documento.
35. Para estimativa da contribuição dos combustíveis fósseis, ver a soma de energias de
óleo, carvão e gás em Brasil (2017), matriz energética do mundo em 2016. Os
fatores de aumento foram tirados de International Energy Agency (2018a).
36. Valores estimados a partir das informações fornecidas por Brazil Wind Power
(2017, p. 5).
37. Ver “overview” em International Energy Agency (2018a).
38. 1Mtoe = 41,87 x 109 joule
39. Dados extraídos de International Energy Agency (2018ª), no item “scenarios”.
40. 1 Gt de CO2 = 109 toneladas de CO2

41. Como economias avançadas podemos considerar os países membros do OCDE


(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
42. ver gráficos e comentários na INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2018a,
no tópico “Overview”.

10 – O engenheiro-ético: visão histórico-filosófica


43. Sobre a etimologia de ética e moral, ver Comparato (2019, p. 101) e Vázquez
(2017, p. 24).
44. Citação bíblica do Livro dos Provérbios, capítulo 6, versículo 20.
45. Ver Deuteronomio capítulo 5, versículos de 7 a 21.

11 – O Engenheiro Administrador
46. Ver norma 16001 em Certificação (2014).
47. Para normas OHSAS 18001, ver British Standards Institution ([20..?]).
48. Para adhocracia, ver Chiavenato (2013, p. 327).

12 – Importância da Motivação e dos Paradigmas nos Nossos Planos de Vida:


visão psicológica
49. ver Hersey e Blanchard (1982, p. 35-50), Chiavenato (2013, p. 208-11), Maslow
(1954) e Brasil (2018b).
50. Para um sumário sobre a teoria das necessidades de McClelland, ver Feijó et al.
(2015, p. 3-6).
51. Para melhor discussão do assunto, ver Chiavenato (2013, p. 351-52).
52. Ver Harsey e Blanchard (1982, p. 46) e Maximiano (2000, p. 367), efeito
pigmaleão.
53. Ver modelo de Lawler em Chiavenato (2013, p. 354).
54. Para discussão mais ampla do significado de paradigma, ver Amorim (2011).
55. Ver Kuhn (2006, p. 146) sobre aparecimento das anomalias, sobre ajustes no
sistema ptolomaico (p. 153) e “modificações ad hoc” para eliminar anomalias (p.
166).
13 - Pensando o futuro profissional: um plano estratégico
56. Ver estratego em Ferreira (2009).
57. Ver missão da Microsoft, Disponível em:
https://www.microsoft.com/investor/reports/ar02/shareholder_letter/mission_por.htm
Acesso em: 23 set.2019.
58. Ver missão da companhia de aviação Iberia, disponível em:
https://www.iberiaembalagens.com.br/missao-visao-e-valores. Acesso em: 23 set.
2019.
59. Ver visão do Walmart, Disponível em:
https://missaovisaovalores.wordpress.com/tag/walmart/. Acesso em: 23 set. 2019.

14 – O Engenheiro Legal
60. Para Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação, ver Brasil (2018a).
61. Para processo de encaminhamento e diretrizes curriculares dos cursos de graduação
em engenharia, ver Brasil (2015).
62. desde dezembro de 2011, os arquitetos não fazem mais parte do sistema
CONFEA/CREA, tendo criado seu próprio Conselho, o CAU/BR.
63. ver Cartilha do Novo Profissional. On-line. Disponível em:
http://www.confea.org.br/media/CARTILHA-NOVO-PROFISSIONAL.pdf.
Acesso em: 09 abril 2019.
64. A legislação do CONFEA pode ser acessada on-line. Disponível em:
http://normativos.confea.org.br/ementas/index.asp. Acesso em 25 set. 2019.
65. Modalidades de engenharias mais recentes como a engenharia aeroespacial, a
engenharia automotiva, a engenharia biomédica, a engenharia de software e a
engenharia nuclear têm suas atribuições, competências e sua inclusão na Tabela de
Títulos Profissionais através das Resoluções 1106 de 28/09/2018, 1105 de
28/09/2018, 1103 de 26/07/2018, 1100 de 24/05/2018 e 1099 de 24/05/2018,
respectivamente.
66. Ver também o artigo 1º da Resolução no 1073 (CONFEA, 2016), Disponível em:
http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=59111. Acesso
em: 10 abr. 2019.
67. Para uma discussão mais detalhada sobre Ética, ver o tema 10 deste livro.
68. o Código Civil Brasileiro pode ser acessado online pelo endereço
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 15
abr. 2019.
69. Ver confederação em Ferreira (2009).

15 - E o futuro da engenharia?
70. Para valores e atitudes culturais associados aos paradigmas, ver Capra (2006, p. 36).
71. Para detalhes, ver Capra (2006, p. 351).
72. Para mais detalhes, ver Capra (2006, p. 378).
73. Para o tema tecnologia, ver Capra (2006, p. 390-99).
74. Para biografia de Mikio Kaku, ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Michio_Kaku.
Acesso em 01 set. 2019.
75. Ver KAKU (1998b, p. 15-6 e capítulo 5).
76. Para mais detalhes, ver Kaku (1998b, p. 83).
77. Para saber mais sobre o laboratório de produção de peles, ver Época (2019).
78. Personagem da mitologia grega cuja amante, Aurora, pediu a Zeus que concedesse a
ele a vida eterna, esquecendo-se de pedir também a juventude eterna. Desta forma,
Titano sofreu os males de uma velhice extrema, incluindo o afastamento da
amante.
79. Para mais detalhes sobre máquinas moleculares, ver Kaku (1998b, p. 266-67).
80. Para uma conceituação básica sobre os sistemas microeletromecânicos, ver
Wikipédia (2019a).
81. Informações gerais sobre os MEMs podem ser encontradas em Kaku (1998b, p.
269-70) e em Wikipédia (2019a).
82. Informações gerais sobre supercondutores podem ser obtidas on-line. Disponível
em: https://www.ted.com/talks/boaz_almog_levitates_a_superconductor. Acesso
em: 26 set. 2019.
83. Para discussão das forças, ver cap. 5 de Kaku (1998a, p. 112-35).
84. Para detalhes, ver capítulos 6 e 7 em Kaku (1998a, p. 136-77).
85. Para mais detalhes sobre a teoria M, ver Kaku (1998b, p. 349-50).
86. Ver também Kaku (1998b, p. 348)
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Sobre o autor

José Carlos Vilar Amigo é engenheiro mecânico, graduado pela UFRJ, em 1976,
licenciado em Filosofia, pela UERJ, em 1982 e Mestre em Educação, pela UERJ, em
1998. Especializado na área de Automação Industrial e com formação gerencial, o
autor trabalhou na Petrobras nas áreas de Projeto Básico de Automação, Negócios
Internacionais, Manutenção e Operação Industrial, foi o responsável pela construção
do novo Centro de Pesquisas da Petrobras, foi gerente da área Petroquímica do
COMPERJ, gerente responsável pelas empresas da Petrobras na América Latina,
tendo atuado, interinamente, como Diretor da área Internacional. Participou como
palestrante em vários seminários internacionais representando a Petrobras. Ministrou
na UERJ as cadeiras de Introdução à Engenharia do Petróleo, Controle de Processos,
Instrumentação e Controle, Mecânica Técnica e Engenharia na Sociedade, lecionando
atualmente as três últimas. Recebeu, em 2019, o prêmio Anísio Teixeira, como o
segundo melhor professor da área Tecnológica da UERJ. Como profissional de
engenharia, atuou como técnico, empresário, perito e gerente de diversas atividades
técnicas e não técnicas, dedicando-se atualmente ao magistério.

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