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UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO HUAMBO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA

M INERALOGIA E G EOLOGIA GERAL

MATERIAL DE APOIO

2º ANO _ ANO LECTIVO:2022-2023

ENG.ª CIVIL

O docente: Eng.º Kelon de Brito, MSc.

CADEIRA: Mineralogia e Geologia Geral 2º ANO ENG.ª CIVIL


O docente: Eng. Kelon de Brito, MSc. HUAMBO, OUTUBRO DE 2022
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Bibliografia básica:

Texeira, et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de textos, 2000.

Introdução a geologia de Engenharia, 5ª Edição.

Bibliografia complementar:

Geologia estrutural aplicada - Yociteru Hasui e José Augusto Mioto ABGE – Votorantim.

Geologia geral- José Henrique Popp- Livros Técnicos e Científicos.

Geologia Aplicada Vol. 2

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Índice

Capítulo I: Introdução à Mineralogia e Geologia geral - estudo da terra


Introdução à mineralogia e geologia geral .................................................................................... 1

Definição de conceitos .................................................................................................................. 3

O planeta da terra ........................................................................................................................ 13

Estudo dos Minerais ................................................................................................................... 29

Utilização dos minerais na Engenharia Civil

Estudo das Rochas ..................................................................................................................... 37

Intemperismo e estudos dos solos ............................................................................................. 44


Uso das rochas e dos solos como material de construção ........................................................... 37

Capítulo II: Estruturas geológicas


Elementos estruturais das rochas ................................................................................................. 37

Mapas e perfis geológicos ........................................................................................................... 44


Atitude e projeção estereográfica ................................................................................................. 37

Capítulo III: Investigação geológica


Investigação do subsolo .............................................................................................................. 37

Capítulo IV: A água em subsuperfície


O ciclo hidrológico ........................................................................................................................ 44
Movimentos da água subterrânea ................................................................................................. 44
Aquíferos, aquicludos e aquitardos ............................................................................................... 37

Bacias hidrográficas ..................................................................................................................... 37

Capítulo V: Geologia e meio Ambiente


Erosões dos solos ......................................................................................................................... 44
A Geologia de Engenharia e o meio ambiente ............................................................................. 37

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1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA MINERALOGIA E GEOLOGIA GERAL • BREVE
HISTÓRICO
A geologia começou a ser utilizada no século XVIII, por meio da obra de Horace-Bénédit de
Saussure (1740-1799), que se dedicou ao estudo dos aspectos estruturais dos Alpes suíços. Johann
Gottlob Lehmann, mineralogista e geológo Alemão (1719-1767), um dos primeiros a visualizar a
possibilidade de ordenar a disposição e idade das rochas da crosta terrestre que resultaram no
desenvolvimento da estratigrafia. Durante este século e o seguinte, destacam-se vários outros
pesquisadores, como Hutton (1726-1797), Lyell (1797-1875), Darwin (1808-1882) entre outros, que
criaram as bases da geologia como ciência moderna. (Leinz e Amaral, 1989).
O Princípio do Uniformitarismo foi expresso por James Hutton, quando publicou em 1785 a
“Teoria da Terra” (Legget, 1939), conceito este que diz que os processos naturais actualmente
vigentes, embora actuem em velocidade aparentemente lenta, são os mesmos que ocasionaram ao
globo terrestre todas as profundas mudanças ocorridas ao longo de sua história, devido a sua
atuação por um longo intervalo de tempo. Foi Hutton, também, que distinguiu pela primeira vez, os
três grupos de rochas em que se baseia a moderna teoria de constituição da Terra: rochas ígneas,
sedimentares e metamórficas (Figura 1.6). É de Charles Lyell (1797-1875), grande defensor das
ideias de Hutton, outro conceito importante das geociências, que diz que o presente é a chave para
entender o passado.
A moderna Geologia sofre influência da publicação “A origem das espécies” de Charles
Darwin (1859). Em meados do século XIX, o progresso da sociedade industrial europeia motivou
grandes obras, possibilitando o desenvolvimento da Geologia.
Na década de 1950, houve um grande ímpeto de desenvolvimento após a 2ª Guerra Mundial,
exigindo a utilização de especialistas em todas as áreas de conhecimento científico e tecnológico,
resultando no acelerado crescimento das Geociências.
Na história da geologia, destacam-se ainda os contributos de Karl Von Terzaghi (1883-1963)
e outros grandes autores, como Arthur Casagrande (1902-1981), que desenvolveram as bases
teóricas e conceituais da Mecânica dos Solos. Terzaghi enfatizou, ao longo de toda sua obra, a
importância da Geologia na compreensão dos fenômenos ocorrentes nos terrenos, tendo ele próprio
exercido a Geologia de Engenharia ao longo de sua vida profissional, o que permite ser citado como
engenheiro e geólogo. São de sua autoria alguns trabalhos clássicos, como o “Efeito de detalhes
geológicos secundários na segurança das barragens”, publicado em 1929, e “Mecanismo de
escorregamentos”, de 1950, em que enfatizou a importância da compreensão dos processos
geológicos para a resolução de problemas de Engenharia.

1.1 Principais conceitos


A etimologia da palavra Geologia é do Grego geo- que sgnifica terra e logos- que significa
estudo, ciência, conhecimento.
A Geologia é definida como a ciência que trata da origem, formação, evolução e estrutura da
Terra, por meio do estudo dos minerais e das rochas. Compreende um vasto campo, que pode ser
dividido em dois grupos gerais: Geologia Teórica ou Natural e Geologia Aplicada, e um grande
número de subdivisões, como demostrado no esquema a seguir:

Mineralogia
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Petrografia
| |
Geologia Física Sedimentologia |
Teórica ou natural Estrtural
Geomorfologia
| | Paleontologia
Geologia Histórica |
Estratigrafia
Geologia
Mineração
Economia |
| Petrólio
| Projectos e construção em Engenharia Civil:
Aplicada túneis, barragens, estradas, canais, metrô, aguás |
|Engenharia | subterrâneas, fundações,materiais de construção etc.
Meio ambiente:resíduos sólidos, deslizamentos,
saneamento básico, etc.

Esquema 1: Adaptada de Nivaldo José Chiossi (2013)


1.1.1 Geologia Física

Aborda a composição da Terra em termos dos materiais que a compõem, isto é, os minerais
e rochas, bem como os principais processos que operam em seu interior e superfície.

Elas podem ser:


• Mineralogia: trata das propriedades cristalográficas (formas e estruturas) físicas e
químicas dos minerais, bem como da sua classificação;
• Petrografia: descrição dos caracteres intrínsecos da rocha, analisando sua origem
(composição química, minerais, arranjo dos grânulos minerais, estado de alteração,
etc.);
• Sedimentologia: estudo dos depósitos sedimentares e sua origem. As inúmeras
feições apresentadas nas rochas podem indicar os ambientes que existiam no local
no passado e assim entender os ambientes atuais;
• Estrutural: investiga os elementos estruturais presentes nas rochas e aqueles
causados por esforços;

Geomorfologia: trabalha com a evolução das feições observadas na superfície da
Terra, identificando os principais agentes formadores dessas feições e
caracterizando a progressão da acção de agentes como o vento, gelo, água, que
afectam bastante o relevo terrestre. De modo resumido: estuda a maneira como as
formas da superfície da Terra são criadas e destruídas.
1.1.2 Geologia Histórica

Centra-se no estudo da origem da Terra e a sua evolução, isto é, as mudanças que nela
ocorreram ao longo do tempo, como a formação dos oceanos e continentes, atmosfera e o
surgimento da vida. Elas são subdivididas em:

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• Paleontologia: estuda a vida pré-histórica, tratando do estudo de fósseis de animais
e plantas micro e macroscópicos, sendo conhecidos através de seus restos ou
vestígios encontrados nas rochas. Os fósseis são importantes indicadores das
condições de vida existentes no passado geológico, preservados por meios naturais
na crosta terrestre;
• Estratigrafia: trata do estudo da sequência das camadas (condições de sua formação
e a correlação entre os diferentes estratos ou camadas).

1.1.3 Aplicada à Economia: envolve a aplicação de princípios geológicos para o estudo do solo,
rochas, água subterrânea e sua influência no planejamento e construção de estruturas de
engenharia, ou seja, é o estudo dos materiais do reino mineral que o homem extrai da Terra
para a sua sobrevivência e evolução (substâncias orgânicas e inorgânicas). • Mineração;
• Petróleo.
1.1.4 Aplicados à Engenharia: emprego dos conhecimentos geológicos para a solução de certos
problemas de Engenharia Civil, principalmente na abertura de túneis e canais, implantação
de barragens, construção de estradas, obtenção de água subterrânea, projecto de
fundações, taludes, etc.

De acordo com a (AIGE) Associação Internacional de Geologia de Engenharia:


A geologia aplicada a engenharia é definida como “a ciência dedicada à investigação, estudo e
solução de problemas de engenharia e meio ambiente, decorrentes da interação entre a Geologia
e os trabalhos e atividades do homem, bem como à previsão e desenvolvimento de medidas
preventivas ou reparadoras de acidentes geológicos”
1.2 A Geologia de engenharia

Como apresentado anteriormente, praticamente todas as actividades de um engenheiro


envolvem elementos do nosso planeta e, sendo assim, é útil conhecê-lo. Apenas como exemplos,
são citados alguns usos relevantes do estudo da geologia para a engenharia:

• A escolha de materiais mais apropriados, isto é, mais económicos, depende do


conhecimento de sua disponibilidade na composição da Terra, bem como sua facilidade
de extração. Em especial, a escolha de materiais com características específicas
depende de sua existência na quantidade desejada e com acesso disponível.
• A definição de processos de extração de materiais, como ferro, cobre e outros, depende
do conhecimento de como esses minerais ocorrem na natureza.
• O uso de rochas como material de construção civil depende do conhecimento de suas
propriedades físicas, que dependem diretamente de seu processo de formação.
• O projecto de estrutura de qualquer obra civil depende das características do solo e das
rochas que o compõem, sendo necessário seu conhecimento para que soluções
adequadas sejam adotadas para cada tipo de solo. Se a região sofre abalos sísmicos,
estes precisam ser conhecidos e compreendidos para que possam ser considerados.
• O projecto e construção de túneis, em especial, depende do conhecimento da
estrutura do solo, incluindo sua composição e a existência de fraturas.
• A identificação de novos poços de petróleo é feita, em grande parte, a partir do perfil
geológico do terreno, isto é, do conjunto de rochas que compõem uma determinada
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região, visto que os depósitos de petróleo usualmente estão em regiões como mesmo
tipo de formação (formaram-se em épocas similares ou por processos similares).
• A definição de características externas de construções tem o objectivo de fornecer
proteções contra a acção do intemperismo e, sendo assim, estes agentes devem ser
estudados.

Assim, ainda que esta lista não seja nem remotamente completa, é essencial que o
engenheiro, em especial os Civis, Ambientais e de Petróleo e Gás tenham o conhecimento básico
de Geologia. Adicionalmente, o estudo da Geologia traz também as respostas para muitas
curiosidades comuns aos engenheiros, como os mecanismos de ocorrência de vulcões, a origem
dos abalos sísmicos, as técnicas usadas para o estudo das camadas mais profundas dos terrenos,
o que existe no fundo dos oceanos e tantas outras que serão respondidas ao longo do estudo desta
cadeira.

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2. O PLANETA TERRA
• INTRODUÇÃO
A origem do Planeta Terra está ligada intrinsecamente à formação dos demais planetas e de todas
as estrelas do sistema solar. Por isso, na investigação da origem histórica e evolução do planeta,
há a necessidade de uma análise do espaço exterior mais longínquo e, às evidências que temos do
passado mais remoto. Também com base nas informações decorrentes do estudos dos diversos
campos da Ciência (Física, Química, Astronomia, Astrofíca, Cosmoquímica), bem como estudando
a natureza do material terrestre (composição química, fases minerais, etc.).
A terra é terceiro planeta do Sistema Solar, apresenta uma massa aproximada de 6 × 1029𝑔 e
densidade de 5,52 g/cm3. O raio equatorial terreste é de 6.378,2 Km e o seu Volume 1,083 × 1012Km3
. Embora tenha perdido seus elementos voláteis na fase de acresçao do Sistema Solar, a Terra
apresenta uma atmosfera secundária, formada por emanações gasosas durante toda história do
planeta, e constituída principalmente por nitrogênio, oxigênio e argónio. A temperatura de sua
superfície é suficientemente baixa para permitir a existência de água líquida, bem como de vapor
de água na atmosfera, responsável pelo efeito estufa regulador da temperatura, que permite a
existência da biosfera. Por causa dos envoltórios fluidos que a recobrem, atmosfera e hidrosfera, a
Terra quando vista do espaço assume coloração azulada. Esta visão magnifica foi relatada por Yuri
Gargarin, o primeiro astronauta a participar de uma missão aeroespacial.
A característica principal do planeta Terra é seu conjunto de condições únicas e extraordinárias que
favorecem a existência e a estabilidade de muitas formas de vida, sendo que evidências de vida
bacteriana abundante foram já encontradas em rochas com idade de 3.500 milhões de anos. A Terra
é um dos oito planetas que orbitam à volta do Sol, curiosamente no mesmo plano (Figura 2).
Os quatro primeiros – Mercúrio, Vénus, Terra e Marte – mais pequenos e rochosos, formam o grupo
dos planetas telúricos (Figura 2). Os outros quatro – Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno – mais
afastados, maiores e em grande parte gasosos, formam o grupo dos planetas jupiterianos
(Figura 2).

Figura 2: Representação do Sistema Solar. Fonte(...)

Infelizmente é muito difícil saber, com exatidão, como se formou o Universo. Especialistas
(sobretudo físicos e astrónomos) criaram um cenário ‘‘hipotético’’ bastante credível com base em
dados hoje disponíveis, designando-o de Hipótese Nebular.

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‘‘Com a condensação de uma névoa primitiva de gás e poeira há 4,6 mil milhões de anos,
surgiu o Sistema Solar. A gravidade fez com que esta névoa sofresse uma contração, num
processo que durou dezenas de milhões de anos, até que a parte de sua massa se concentrou
no centro do sistema. Devido a turbulência, o núcleo original começou a girar com velocidade
cada
vez maior, dando ao restante da nuvem a forma de disco. A temperatura do centro da nuvem foi
aumentando à medida que ela se comprimia, até se tornar quente o suficiente para que o sol
começasse a brilhar, devido à energia liberada do seu núcleo.

Enquanto isso, a periferia do disco foi se resfriando, permitindo que a matéria se


solidificasse. À medida que as partículas se colidiam, elas foram se unindo, formando corpos cada
vez maiores. Dessa forma, ocorreu a formação dos planetas que actualmente giram em torno do
sol, entre eles, o Planeta Terra.

Com a solidificação dessas matérias que se colidiam, formou-se uma bola incandescente
que, com o tempo, foi resfriando-se lentamente. À medida que resfriava, alguns gases eram
liberados de seu interior como amônia, hidrogênio, metano e, junto com eles, vapor d’água. Esses
gases se acumularam ao redor da terra, formando grandes nuvens escuras. Esta foi,
‘possivelmente’, a origem da atmosfera primitiva.’’

-Hiótese Nebular-

2.1.2 Estrutura interna da terra


A estrutura e a composição da parte superficial da Terra podem ser observadas e estudadas de
formas directas. No entanto, não é possivel conhecer as partes mais profundas da terra devido as
limitações tecnológicas para lidar com características comuns nestas zonas (por exemplo, altas
pressões e temperaturas). Assim, por meio de investigações indirectas é possivel estudar a
estrutura interna do Planeta.

• Estudo das propiedades físicas (gravidade, magnetismo)


• Simulação em laboratórios (petrologia expermental)
• Estudo da propagação das ondas sísmicas
A da propagação das ondas sísmicas, são geradas pelos terremotos. Essas ondas são
propagações de energia que produzem vibração na crosta. Por meio de sismógrafos, é possível
medir a velocidade de propagação das ondas de energia dos terremotos.

A análise de ondas sísmicas P (longitudinais) e S (transversais) registradas na superficie permite


deduzir várias características das partes internas da Terra atravessadas por essas ondas. A
velocidade das ondas P (primárias) é maior que das ondas S (secundárias). Nas ondas sísmicas, a
velocidade muda ao atravessarem camadas com densidades diferentes. Mas nos líquidos as ondas
S não se propagam.

Ao longo de várias décadas a análise de milhares de ondas sísmicas provocadas por terremotos
sugere que a Terra é constituida por várias zonas concêntricas:

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1- Crosta 2- Manto 3- Núcleo externo 4- Núcleo interno
As camadas estão separadas por descontinuidades que são limites definidos por mudanças na
densidade e composição dos materiais, como mostra a figura 2.1.
A crosta encontra-se separada do manto pela descontinuidade de Mohorovicic, localizada a
profundidades que variam entre 30 e 70 quilômetros, ou seja, em média 25 a 60 Km nos
continentes e 5 a 10 Km nos oceanos. Nesta camada a velocidade da onda P varia entre 5,5 Km/s
(na crosta superior) até 7 Km/s (na crosta inferior).

O manto está separado do núcleo pela descontinuidade de Wiechert-Gutemberg, aqui a velocidade


aumenta repentinamente de 8 Km/s atingindo cerca de 13 Km/s até os 2.950 Km. Nesta
profundidade as ondas S param de se propagar e a velocidade das ondas P diminue abruptamente.
Apartir da discontinuidade de Gutemberg a velocidade das ondas P volta a crescer lentamente e na
proundidade de 5100 Km sofre um acréscimo repentino, o que indica que foi atingida uma zona no
interior da terra que está no estado sólido. Zona essa que é denominada núcleo interno.

Figura 2.1: Constituição do planeta terra (Fonte: Mundo da Geografia).

A crosta terrestre é a camada sólida, a mais externa, onde vivemos e também chamada de
superfície terrestre ou litosfera. É dividida em continental e oceânica. Na zona continental a
espessura varia entre 30-40 Km em regiões sismicamente estáveis até 60-80 Km nas cadeias
montanhosas como os Himalaias e os Andes; na zona oceânica, o modelo geofísico sugere a
existência de três camadas. Na camada superior predominam sedimentos inconsolidados. Na
camada intermédia a velocidade sísmica é mais alta e compatível com a presença de rochas
vulcânicas máficas no topo e diques máficos na base. Já na camada inferior a presença de rochas
plutônicas máficas.

Constituída por placas tectônicas, que se encaixam e estão em constante movimento e


pode ser dividida em duas camadas: SiAl, segmento de rochas a base de silício e alumínio mais
leves, predominantes na parte superior da litosfera, e também chamadas de crosta continental;
SiMa é a camada rochosa a base de silício e magnésio mais densa, predominando na parte
inferior da litosfera, no fundo dos oceanos.

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Figura 2.2: Composição das camadas; fonte: Mundo da Geografia.

O manto é formado por materiais silicáticos em estado pastoso, chamado de magma. Ocupa
cerca de 80% do volume do planeta e fica logo abaixo da litosfera e chega até a 2900 km
abaixo da superfície. Sua temperatura varia de 100ºC, na região em contato com a litosfera,
até a 3500ºC próximo ao núcleo. Estas diferenças de temperatura são responsáveis pelas
correntes de convecção formadas no manto, que vão provocar o movimento das placas
tectônicas na superfície terrestre.

O núcleo é a camada existente no centro da esfera terrestre, formada principalmente por níquel
e ferro, sendo por isso também chamado de NiFe. As temperaturas chegam até a 5000ºC.
As pressões exercidas sobre a camada são tão elevadas que, mesmo a altas temperaturas,
o núcleo interno se encontra em estado sólido. O núcleo interno é isolado do resto do planeta
pelo núcleo externo, o qual se apresenta em estado líquido ou plástico.

Portanto em resumo:

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2.2 Processos geodinâmicos internos

Os processos geológicos que agem no interior da Terra, e, portanto, dependem da energia do seu
interior para o desenvolvimento, são denominado processos endogenéticos ou geodinâmicos
internos.

A movimentação da matéria do interior para o exterior do planeta e vice-versa é contínua e constitui


o ciclo das rochas, onde massas rochosas impulsionados para a superfície acentuam o relevo e
impedem o aplainamento generalizado produzido pelas forças exógenas.

Os processos geodinâmicos internos, envolvem movimentos e transformações químicas e físicas


da matéria existente dentro do planeta. Relacionam-se então à geodinâmica interna, os fenômenos
magmáticos vulcânicos e plutônicos, os terremotos, os dobramentos, os falhamentos, a orogênese
e a epirogênese, a deriva continental e a tectônica de placas. Porém, todo esse processo originase
de uma dinâmica interna denominada correntes de convecção.

2.2.1 Teoria das correntes de convecção

Várias ideias relactivamente novas procuram explicar os fenômenos orogenéticos pelas supostas
correntes de convecção do substrato da crosta terrestre. Tais idéias têm em comum que os
movimentos verticais e horizontais da litosfera são originados por correntes e deslocamentos de
massas que se substituem mutuamente nas profundidades, situadas abaixo da delgada crosta
terrestre. Os blocos siálicos seriam afectados por estas correntes, podendo ser arrastadas pelo fluxo
horizontal que se desliza por baixo, o mesmo soerguidos ou abatidos, conforme a direção dessas
correntezas.

Muitos autores acreditam que são correntes convencionais térmicas, sugerindo sua origem
proveniente do calor produzido pela radioactividade e da conversão da energia gravitacional em
térmica, com a formação do núcleo a mais de 4 bilhões de anos. Alguma energia calorífica, derivada
dos processos iniciais de formação da Terra, restou, em parte, porque as temperaturas internas são
mantidas pelas transformações radioativas de isótopos instáveis.

Não considerando os radioelementos de vida curta, presente nos primórdios da história do planeta,
o calor produzido pela desintegração do urânio 238 e 235, do tório 232 e do potássio 40 é
responsável pela manutenção de uma dinâmica interna até os presentes dias. A radioatividade
liberta calor que, por sua vez, se transforma em trabalho, gerando forças que movimentam placas
litosféricas e erguem imensas cordilheiras.

Tectônica de placas (do grego: relactivo à construção) é uma teoria da geologia, desenvolvida para
explicar o fenômeno da deriva continental, sendo a teoria actualmente com maior aceitação entre
os cientistas que trabalham nesta área.

Na teoria da tectônica de placas a parte mais exterior da Terra está composta de duas camadas: a
litosfera, que inclui a crosta e a zona solidificada na parte mais externa do manto, e a astenosfera
que inclui a parte mais interior e viscosa do manto. Numa escala temporal de milhões de anos, o
manto parece comportar-se como um líquido super-aquecido e extremamente viscoso, mas em
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resposta a forças repentinas, como os terremotos, comporta-se como um sólido rígido. O conceito
das Placas Tectônicas é relactivamente recente, e revolucionou a Ciência do século 20. Este
conceito propõe que todos os terremotos, actividades vulcânicas, e processos de construção de
montanha são causados pelo movimento de blocos rígidos chamado placas que compõem a capa
da superfície da Terra, ou litosfera (lithosphere).

Em 1912, Alfred Wegner colocou sua teoria que a crosta terrestre era segmentada em doze
grandes zonas que denominou de placas tectônicas, que estão em contínua modificação, e que os
continentes se haviam formado a partir de um único continente chamado Pangea. Os movimentos
de deriva foi o que deu lugar a formação dos actuais continentes que se formaram a partir do
Pangea.

Figura 2.2.1: Massa continental Pangea.

Pela Teoria das Placas Tectônicas, a superfície da Terra está composta de uma dúzia de grandes
placas e outras várias de menor tamanho. Wegener publicou seus estudos em 1915 “A origem dos
continentes e oceanos”, mas não conseguindo explicar que forças seriam capazes de mover
imensos blocos continentais, e com a sua morte em 1930, a Teoria da Deriva Continental foi posta
em esquecimento.

2.3 Razões que levaram a formação do conceito das placas tectônicas e da deriva dos
continentes
• No alargamento dos mares, quando o magma esfria e se solidifica no solo submarino, os
minerais magnéticos do material novo se solidificam de acordo com a polaridade do campo
magnético da Terra na ocasião de seu resfriamento.
• Quando o campo magnético da Terra reverte sua polaridade, o novo magma se solidifica
adquirindo a polaridade inversa.
• A crosta oceânica possui o registro da própria formação, com a primeira mudança de polaridade
registrada próximo ao limite entre as placas, onde a lava atinge a superfície e as mais antigas,
próximas das margens continentais, formadas quando o oceano era jovem em torno de 180 a
200 milhões de anos. Isso demonstra que os continentes devem ter-se movido em direções
opostas abrindo espaço para o oceano desde a Era Jurássica.
• Outra confirmação do conceito veio do estudo da distribuição de estruturas geológicas que
passam de um continente para outro. Geólogos da Universidade de Cambridge usaram o
computador para colocar todos os continentes e ilhas da Terra juntos como num quebracabeças,
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considerando contornos submarinos. O resultado foi impressionante, apresentando muito
poucos buracos e sobreposições.

Figura 2.2.2: Representação do Super Continente (Fonte Wikipédia 2020)

• Comparando a estrutura e composição das rochas e solo dos continentes que o modelo indica
terem sido um só, confirmando que o modelo é bem próximo ao correcto.
• Finalmente o estudo da fauna marinha e flora das diferentes áreas durante os anos também
apresenta provas do movimento dos continentes.

Desde então tem sido universalmente aceite pelos cientistas, tendo revolucionado as Ciências da
Terra (comparável no seu alcance com o desenvolvimento da tabela periódica na Química, a
descoberta do código genético na Biologia ou à mecânica quântica na Física).

Abaixo listam-se as principais placas tectônicas, existindo ainda várias numerosas placas menores.

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Figura 2.3: Mapa tectônico atual da terra; fonte: NASA

Tabela 2.1: Principais Placas.


1 Placa do Pacífico

2 Placa de Cocos

3 Placa de Nazca

4 Placa das Caraíbas

5 Placa Sul-Americana

6 Placa Norte-Americana

7 Placa Africana

8 Placa Arábica

9 Placa Indo-Australiana

10 Placa Antártica

11 Placa Filipina

12 Placa Eurasiana
Fonte: NASA

As placas contactam umas com as outras ao longo dos limites de placa, estando estes comumente
associados a eventos geológicos como terremotos e a criação de elementos topográficos como
cadeias montanhosas, vulcões e fossas oceânicas. A maioria dos vulcões activos do mundo situase
ao longo dos limites de placas, sendo a zona do Círculo de Fogo do Pacífico a mais conhecida e
activa

As placas tectônicas podem incluir crosta continental ou crosta oceânica, sendo que, tipicamente,
uma placa contém os dois tipos. Por exemplo, a placa Africana inclui o continente africano e parte
dos fundos marinhos do Atlântico e do Índico. A parte das placas tectônicas que é comum a todas
elas, é a camada sólida superior do manto que se situa sob as crostas continental e oceânica,
constituindo conjuntamente com a crosta a litosfera.

A distinção entre crosta continental e crosta oceânica baseia-se na diferença de densidades dos
materiais que constituem cada uma delas; a crosta oceânica é mais densa devido às diferentes
proporções dos elementos constituintes, em particular do silício. A crosta oceânica é mais pobre em
sílica e mais rica em minerais maciços (geralmente mais densos), enquanto a crosta continental
apresenta maior percentagem de minerais fílmicos (em geral menos densos).

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Como consequência, a crosta oceânica está geralmente abaixo do nível do mar (como, por exemplo,
a maior parte da placa do Pacífico), enquanto a crosta continental se situa acima daquele nível.

2.4 Os modelos de Interação entre as Placas Tectônicas

São quatro de alteração entre as placas tectônicas:


• Subducção

Ocorre onde duas placas de espessura semelhante entram em contato entre si.

• Deslizamento
Se produz quando duas placas oceânicas entram em contato, ou também uma placa continental e
uma oceânica.

• Extrusão

Este fenômeno ocorre quando se juntam duas delgadas placas tectônicas que deslizam em direções
opostas, como é o caso do contato de duas placas do fundo oceânico.

• Acrescência

Acontecem quando há um leve impacto entre uma placa oceânica e uma continental.

McAlester associa os movimentos das placas com a energia calorífica concentrada abaixo da
litosfera.

Rikitake indica que o esquema general de desarranjo das placas, está relacionado com os
movimentos de convecção das camadas inferiores, as quais estão em estado viscoso devido ao
calor.

Nas zonas de extrusão aparece uma ”nova crosta”, enquanto nas zonas de subducção as placas
que penetram por baixo se fundem, por efeito do calor liberado na interação entre as placas baixas
sob condições de elevada pressão, dando lugar ao magma. O que explicaria a frequência de vulcões
ativos situados nestas zonas de subducção.

Os movimentos das placas são devidos às “correntes de convecção” que ocorrem na astenosfera
(camada logo abaixo da litosfera): as correntes de convecção são causadas pelo movimento
ascendente dos materiais mais quentes do manto em direção à litosfera, que, ao chegar à base da
litosfera, tende a se movimentar lateralmente e perder calor por causa da resistência desta e depois
descer novamente dando lugar à mais material aquecido.

No meio dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico existem cordilheiras que chegam a atingir até 4000
mil metros acima do assoalho oceânico chamadas de Cordilheiras “Meso-oceânicas”. Estas
cordilheiras se originam do afastamento das placas tectônicas nas chamadas “zonas de
divergência”. São locais onde as correntes de convecção actuam em direcções contrárias
originando rupturas no assoalho oceânico pelas quais é expelido o magma da astenosfera. Dessa
forma, ao esfriar, o magma (ou lava basáltica) causa a renovação do assoalho oceânico.
Outro tipo de movimento das placas tectônicas acontece nas chamadas “zonas de convergência”
onde as placas se movimentam uma em direção à outra. Nesse caso, pode acontecer de uma placa
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afundar sob a outra nas “zonas de subducção”. Isso acontece entre uma placa oceânica e uma
placa continental porque a placa oceânica tende a ser menos densa que a placa continental o que
faz com que ela seja “engolida” por esta última.
Um exemplo é a zona de subducção da Placa de Nazca em colisão com a Placa continental
SulAmericana e responsável pela formação da Cordilheira Andina.
Quando o movimento de convergência ocorre entre duas placas continentais, ou seja, de igual
densidade, ocorre o soerguimento de cadeias montanhosas como o Himalaia, por exemplo, que
está na zona de convergência das placas continentais Euroasiática e Arábica.
Portanto existem fundamentalmente 3 tipos de contactos entre as placas tectônicas proporcionados
por movimentações:

• Sentido divergente

• Convergente de deslocamento horizontal

• Falha transformante

2.4.1 Movimento entre Placas Divergentes

Ocorre quando as placas se movimentam para direções contrárias entre si. Esse processo acontece
principalmente nas áreas ao longo das cadeias meso-oceânicas. Essas cadeias são extensas
elevações submarinas, cuja topografia é muito mais acentuada e exuberante do que as tradicionais
zonas montanhosas existentes nos continentes – podem alcançar mais de 1.000 km de largura e
20.000 km de extensão e sua crista é marcada por profundas fendas ou fissuras.

Quando as placas se afastam uma da outra, o material em estado de fusão – o magma – existente
no topo da astenosfera, sobe através das fendas, situadas na crista das cadeias submarinas, e
extravasa-se formando um novo fundo oceânico.

2.4.2 Movimento de Placas Convergentes

Este caso ocorre quando duas placas se chocam. Na maior parte das vezes, uma delas desliza por
debaixo da outra, formando profunda trincheira que penetra pelo fundo oceânico. A placa inferior
desliza no interior da astenosfera segundo um plano inclinado – entre 40º a 60º com relação a
horizontal. Essa região de junção de placas recebe o nome de Zona de Subdução ou Zona de
Benioff-Wadati. Mais de 3/4 dos terremotos do mundo ocorrem nesse tipo de limite de placas. É aí
também que se encontram os sismos de foco profundo, com 300 a 700 km de profundidade.

Ao subsidir para zonas mais profundas da astenosfera a placa rígida encontra altas temperaturas
podendo ser parcialmente fundida. Esse novo magma, que é menos denso que as rochas
circunvizinhas, sobe através de zonas de fraqueza da crosta e extravasa-se sob a forma de vulcões.
Aproximadamente 2/3 das erupções vulcânicas conhecidas ocorrem nesse tipo de limite de placas.

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2.4.3 Movimento Horizontal ou de Falha Transformante

Separa placas que estão se deslocando lateralmente. O atrito entre as placas é grande de modo
que podem ocorrer grandes esforços e deformações nas rochas que, periodicamente, são liberados
por meio de grandes terremotos.

Para esse caso, o melhor exemplo é a falha de Santo André, na California, limitando a Placa
Americana, com movimento geral na direção SE, da Placa do Pacífico, com movimento geral na
direção NW.

As placas apresentam uma densidade menor (em média 2,8) que a do magma (em média 3,2) e por
isso as placas “flutuam” no magma da astenosfera que é tão quente (geralmente mais de
1.000ºC) que se apresenta derretido, portanto quase líquido, mas muito viscoso.
Como todo líquido quente, o magma gira e ao girar empurra as placas em um certo sentido.

Então, elas podem se chocar:

Figura 2.3.1: Zona de convergência, que resulta na formação de dobramentos modernos e fossas oceânicas.

Ou, ao se afastar:

Figura 2.3.2: Zona divergente no centro da figura, que resulta na formação da crista médio-oceânica.

Os dois processos vão provocar resultados diferentes na superfície terrestre. Uma grande parte da
actividade vulcânica e dos abalos sísmicos mais fortes (terremotos) estão localizados nas bordas
das placas tectônicas. Se compararmos os mapas abaixo para relacionar esses fenômenos,
perceberemos que os limites das placas tectônicas e a localização dos terremotos e vulcões

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coincidem e se concentram em volta do oceano Pacífico (por isto esta região é chamada de Círculo
de Fogo do Pacífico).

2.5 Causas do movimento das placas

Conforme foi referido acima, as placas movem-se graças à fraqueza relactiva da astenosfera.
Pensa-se que a fonte da energia necessária para produzir este movimento seja a dissipação de
calor a partir do manto. Imagens tridimensionais do interior da Terra (tomografia sísmica), mostram
a ocorrência de fenômenos de convecção no manto.

A forma como estes fenômenos de convecção estão relacionados com o movimento das placas é
assunto de estudos em curso bem como de discussão. De alguma forma, esta energia tem de ser
transferida para a litosfera para que as placas se movam.

Há essencialmente duas forças que o podem conseguir: o atrito e a gravidade.

Atrito do manto: As correntes de convecção do manto são transmitidas através da astenosfera; o


movimento é provocado pelo atrito entre a astenosfera e a listosfera. Sucção nas Fossas: Correntes
de convecção locais exercem sobre as placas uma força de arrasto friccional, dirigida para baixo,
em zonas de subducção nas fossas oceânicas.

2.5.1 Espessura e Mobilidade

As placas tectônicas tem espessura variável, nas regiões oceânicas são mais finas, as espessuras
variam entre 10 km nas dorsais (cordilheira submarina), até algumas dezenas de quilômetros. Já
nas regiões continentais são mais espessas e podem chegar a 250 km de espessura.
É interessante reconhecer que as placas tectônicas estão assentadas sobre o manto que tem um
comportamento viscoso, isto é pastoso, fazendo com que as mesmas se movam (escorregam),
afastando-se ou chocando-se nas zonas de contato com as outras placas.
2.5.2 Consequências dos movimentos das placas

O movimento das placas tectônicas que se deslocam sobre a astenosfera (parte pastosa)
interagindo ao longo do tempo entre si em um processo geodinâmico que tem como consequência
a origem das montanhas e bacias geológicas, provocando terremotos, vulcanismo, magmatismo e
outros eventos geológicos todos decorrência desses movimentos das placas.
• Terremotos
Os terremotos são tremores ou abalos causados pela liberação repentina da energia acumulada
durante longos intervalos de tempo em que as placas tectônicas sofreram esforços para se
movimentar.

Os maiores terremotos já registrados no planeta ocorrem em áreas de subducção, onde uma placa
afunda abaixo de outra. Entre esses incluem-se o o maior de todos os terremotos, ocorrido no Chile
em 1960, que alcançou a marca de 9.5 graus Richter, o terrremoto de 9.2 graus, em Prince William
Sound, Alaska, em 1960, o de Andreanof, também no Alaska, em 1957, com 9.1 graus e o de
magnitude 9.0 graus, ocorrido na península de Kamchatka, na Rússia, em 1952.

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O devastador terremoto do dia 26 de Dezembro de 2004, que alcançou a marca de 9º (graus) na
escala Richter , provocando as ondas gigantes na Ásia, ocorreu na interface entre as placas da
Índia e Burma e foi causado pela liberação de energia que se desenvolve na subducção da placa
Índica sobre a placa de Burma.

Portanto, a principal explicação para o movimento das placas tectônicas é que em função da
desintegração radioativa de átomos que ocorre no interior do planeta gerando o calor, que mantém
o magma em estado fluido e um processo denominado correntes de convecção tenderia a levar o
magma para a superfície, pressionando as placas, explicando também a origem do vulcões.

3 ESTUDO DOS MINERAIS


• INTRODUÇÃO

A mineralogia é o ramo das Ciências Geológicas que se dedica ao estudo dos minerais, através
das suas propriedades, constituição, estrutura, gênese e modos de ocorrência.
Considerada inicialmente como um meio prático para chegar ao conhecimento de substâncias
minerais úteis, tinha uma característica puramente utilitária, não constituindo uma verdadeira
ciência mas "uma arte de distinguir os minerais".
Este conceito foi, naturalmente, evoluindo e atualmente a Mineralogia preocupa-se:
• Não só com os minerais úteis, ou com importância econômica (minérios) mas com todas as
substâncias mineralizadas;
• Não só com as suas formas cristalinas mas, também, com as suas propriedades físicas,
químicas e estruturais;
• Procura, para além disso, a relação entre as formas cristalinas e essas propriedades, lugares
de origem e associações mais características para, a partir de todos estes elementos procurar
reconstituir a sua gênese.
Os minerais exerceram sempre atração especial sobre o Homem primitivo cuja atenção teria sido,
naturalmente, despertada pelas cores brilhantes, transparência e outras propriedades físicas dos
minerais.
Actualmente existem cerca de 4.714 espécies de minerais catalogadas pela International
Mineralogical Association. Destes, talvez 150 possam ser chamados "comunsʺ, outros 50 são
"ocasionais," e os restantes são "raros" ou "extremamente rarosʺ.

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3.1 Conceito
Um mineral pode ser definido como:
• Uma substância natural,
• Homogênea
• Sólida,
• Com composição química bem definida (ou variando dentro de certos limites),
• Arranjo atômico ordenado, que pode estar expresso numa forma geométrica externa
(poliedros mais ou menos perfeitos)
• Formada por processos inorgânicos

Natural: porque exclui os minerais formados em laboratório (sintéticos).


Assim, por exemplo, a substância química CaSO4 ocorre na Natureza sob a forma de um
mineral denominado anidrita mas, se a mesma substância for preparada em laboratório já não é
interpretada como mineral, sendo denominada apenas por sulfato de cálcio.
Isto não significa que alguns minerais não possam e não sejam, obtidos artificialmente, e em
grandes quantidades, para usos comerciais. São os denominados "minerais sintéticos" como, por
exemplo, os rubis e as safiras para gemas, e o corindon para abrasivo e fins refratários.

Homogênea: substância que não pode ser fisicamente subdividida em componentes químicos mais
simples, o que depende dos meios de observação.
Sólida: exclui gases e líquidos.
A água sob a forma de gelo é um mineral, mas a água líquida não. O mercúrio (Hg) líquido também
não é considerado mineral.
Estas substâncias, semelhantes a minerais, quer quimicamente, quer quanto à ocorrência, são
denominados mineralóides.
Composição química bem definida ou variando dentro de certos limites: embora haja minerais, como
o quartzo (SiO2) que, geralmente, têm composição química bem definida, outros têm composição
variável.
Assim, por exemplo, a dolomita CaMg (CO3)2 nem sempre contém apenas Ca e Mg. Pode conter
Fe, Mn em substituição parcial do Mg.

O conhecimento dos principais minerais formadores das rochas e suas características mais
importantes permite ao engenheiro civil caracterizar o comportamento químico e mecânico de
determinada rocha quando utilizada como material de construção civil, ou quando é escavada
em túneis ou em taludes de cortes ou como suporte de fundações.

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3.2 Estrutura interna dos minerais

Os minerais possuem, com raríssimas exceções, uma caraterística notável: são edifícios de
átomos (ou elementos) perfeitamente alinhados. Os geólogos chamam a estes alinhamentos
estrutura cristalina e distribuem-nos por seis ou sete tipos principais: os sistemas cristalográficos.
Quando um mineral se forma (“nasce” e “cresce”), os seus átomos (ou elementos) vão ocupar
os seus lugares na rede cristalina própria do mineral: a isto se chama cristalização. Assim,
por exemplo, a galena cristaliza no sistema cúbico, enquanto o quartzo cristaliza no sistema
hexagonal.

Figura 3: Sistemas cristalográficos. Fonte ()

Nem sempre esta ordem interna se reflete na forma externa dos minerais. Mas sempre que
isso acontece estamos em presença de um cristal. Muitas vezes falamos indistintamente de
minerais e de cristais, como se fossem termos sinónimos. Não é grave. Mas fixemos desde
já que, se todos os cristais são minerais, nem todos os minerais são cristais.
A forma como os geólogos têm representado a estrutura interna dos minerais vem evoluindo ao
longo do tempo. Por exemplo, a representação da halite (cloreto de sódio) no séc. XX não é a
mesma da do séc. XIX.

Figura 3.1: Evolução da representação esquemática de um cristal de halite, desde o séc. XVIII ao séc. XX.

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3.3 Reconhecimento e classificação dos minerais

Os mineralogistas identificaram já alguns milhares de minerais existentes na crosta. Mas, felizmente


para nós, só algumas dezenas são frequentes. Há pelo menos duas maneiras de o fazer:
Por observação directa, algumas propriedades dos minerais podem ser notadas (a forma, a cor,
a risca, o brilho, a dureza, a densidade, a clivagem, a reação aos ácidos, o magnetismo
ou o sabor).
• A forma pode ser útil, sobretudo quando reflete a estrutura interna. Por exemplo, cubos
de galena ou de halite.
• A cor nem sempre ajuda, pois há muitos minerais com cores variadas. Por exemplo, a
fluorite pode ser incolor, verde, amarela, púrpura ou azul.
• A risca é a cor do pó do mineral. Podemos apreciá-la riscando o mineral numa placa não
esmaltada. É útil nos minérios metálicos. Por exemplo, a hematite, com mais que uma cor
externa, tem risca vermelha escura.
• O brilho é o modo como reflete a luz. Pode ser metálico como na galena, vítreo como no quartzo,
baço como na malaquite. Já agora, apreciemos o modo como os minerais se deixam
atravessar pela luz: podem ser transparentes, translúcidos ou opacos.
• A dureza é a maior ou menor facilidade com que o mineral se deixa riscar. Podemos
utilizar as unhas ou um canivete. Ou então a chamada escala de Mohs, um conjunto de
10 minerais-padrão, desde o mais macio (1– talco) até ao mais duro (10 – diamante).

Figura 3.2: Escala de Mohs e balança de Joly. Fonte()

• A densidade é a massa por unidade de volume: d = m/v. Como o volume dos minerais pode ser
difícil de medir, é mais prático avaliar (com uma mola graduada; o peso de um mineral no ar e
na água e usar a fórmula d = peso no ar/ (peso no ar – peso na água).
• Clivagem e fratura: o termo clivagem designa planos de fraqueza por onde o mineral tende
a partir. A clivagem origina formas geométricas que refletem a ordem interna, umas vezes

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diretamente (ex.: galena), outras vezes indiretamente (ex.: fluorite). Os minerais sem
clivagem fraturam, por vezes de forma caraterística (ex.: fratura concoide no quartzo).
• Reação aos ácidos: uma gota de ácido clorídrico diluído basta para provocar efervescência na
calcite ou um cheiro a ovos podres na galena.
• O magnetismo é uma propriedade que certos minerais têm de atrair outros, é útil para
identificar a magnetite.
• Sabor: o sabor a salgado da halite é útil na sua identificação. Mas não é conveniente “saborear”
muitos minerais, sobretudo os metálicos.
• Flexibilidade: é a propriedade que o mineral possui de, após dobrado ou torcido, voltar a
posição original. Exemplo: MICA.

Figura 3.3: Mica e traço dos minerais

• Traço: propriedade que um mineral possui de, quando atritado sobre uma superfície áspera,
produzir um traço sem riscar.
Os geólogos falam muitas vezes de elementos, ou de átomos, mas poucas vezes de
compostos. Preferem falar de minerais. Um mineral não é mais do que um elemento ou um
composto, mas com uma condição: deve ser formado naturalmente na Terra e não no laboratório
químico. Por exemplo, o composto a que os químicos chamam sulfureto de chumbo é pelos
geólogos chamado galena. Cada mineral tem a sua fórmula química: a da galena é PbS.
Para os geólogos, as rochas são como associações naturais de minerais, existem, não se fabricam.
Às vezes são formadas por um só mineral (por exemplo, o quartzito é formado por quartzo).
Na maioria das vezes, são formadas por vários minerais (por exemplo, o granito é formado por
quartzo, feldspatos e micas), como a seguir se indica.

Os elementos maiores (macroelementos) existem em quantidades superiores a 1%. Os


elementos menores existem em quantidades inferiores a 1%. Há quem separe ainda, no interior
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dos elementos menores, os oligoelementos(entre 1% e 0,1%) dos elementos-traço (menos de
0,1%).

Resultados da associação de elementos mais comuns, a qual não sucede ao acaso, mas
de acordo com determinadas regras que aprenderás na disciplina de Química, originam diversos
minerais. A Tabela 3.1 mostra alguns exemplos.

Figura 3.4: relativa de conjuntos de elementos maiores existentes na Terra.

Tabela 3.1 Minerais mais comuns nas rochas

Mineral Características
Quartzo Silicato puro, frequentemente designado por sílica
Ortoclase Silicatos muito comuns contendo alumínio, sódio, potássio e cálcio
Plagioclase
Biotite
Moscovite Silicatos complexos, dispostos em lâminas
Minerais de Argila
Horneblenda Silicato complexo com aspecto frequentemente fibroso
Augite Silicatos ricos em magnésio, ferro e cálcio
Calcite Carbonato de cálcio, bastante comum
Fonte: ()
A concentração de determinados elementos químicos pode ter importantes implicações
económicas, relevando os interesses do estudo da Geologia. Os minerais economicamente
relevantes recebem a designação de minérios. A Tabela 3.2 indica alguns dos mais
comuns.

Tabela 3.2. Minerais comuns dos minérios.

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Mineral Fórmula Química Elemento extraído e sua utilização
Hematite 𝐹𝑒2𝑂3
Magnetite 𝐹𝑒3𝑂4 Ferro: mercadorias de ferro e aço (máquinas,
Pirite 𝐹𝑒𝑆2 veículos, ferramentas, vigas, …)
Calcopirite 𝐶𝑢𝐹𝑒𝑆2 Enxofre (produtos químicos): o enxofre não tem valor
Malaquite económico
𝐶𝑢𝐶𝑂3𝐶𝑢(𝑂𝐻)2 Cobre: tubulações, cabos eléctricos, ligas, etc.
também produtos de cobre usados em tintas
Galena 𝑃𝑏𝑆 Chumbo: baterias, ligas e produtos químicos
Esfalerite 𝑍𝑛𝑆 Zinco: ligas, produtos químicos e galvanização
Cassiterite 𝑆𝑛𝑂2 Estanho: ligas, produtos químicos e vasilhas
Fluorite 𝐶𝑎𝐹2 metálicas
Barite 𝐵𝑎𝑆𝑂4 Bário: produtos químicos
Halite 𝑁𝑎𝐶𝑙 Sódio: indústria alimentar, sal para as estradas
Cloreto: produtos químicos
Gesso 𝐶𝑎𝑆𝑂42𝐻2𝑂 Usado como material de revestimento (reboque) e
estuques
Fonte:()
3.4 Utilização dos minerais na Engenharia Civil

• Quartzo (𝑆𝑖𝑂2) Dióxido de Sílica: Possui grande estabilidade química, não se decompõe em
contato com agentes da natureza, sofre apenas a ação física, até se fragmentar e tornar
areia fina ou silte.
Utilização: usados como pedregulhos e areias, para concretos e argamassas. Também
empregado na fabricação de vidros.
*Nota: Ocorre em rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares.
• Feldspatos: Pertencem a um dos grupos de minerais mais importantes na composição
das rochas que ocorrem na crosta terrestre. É considerado o mineral básico na identificação
e classificação das rochas magmáticas. É o principal constituinte dos granitos e gnaisses. Com
o intemperismo sofrem alteração e meteorização, transformando em argilo-minerais por terem
temperatura de fusão relativamente baixa e assim sendo empregados como geradores de
“massa vítrea” nas massas cerâmicas e nos vidrados.
Aplicações: Fabricação de vidro, esmaltes (vidrados), placas cerâmicas, isoladores elétricos de
porcelana, sinalização de estradas louça sanitária, etc.
• Calcita (𝐶𝑎𝐶𝑂3) Carbonato de Cálcio: Ocupa cerca de 4% da massa da crosta terrestre.
Principal componente dos calcários. Calcita é um mineral de carbonato de cálcio, o carbonato
de cálcio natural é o mais comum. Portanto, calcita é um mineral amplamente distribuído
Utilização: matéria-prima para a fabricação do cimento Portland e da cal. É muito utilizada
também como corretivo de solos na agricultura.
• Dolomita (Carbonato de magnésio): Possui as mesmas características da calcita. Utilização:
matéria-prima para a fabricação de cimento e empregada como revestimentos de calçadões,
paredes, jardins e cascatas.
• Gipsita (Sulfato hidratado de Cálcio): geralmente branco ou incolor, lamelar, brilho opaco,
untuoso ao tato, ou fibroso, pH ácido.
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Utilização: na fabricação de gesso, cimento, moldes para fundição, giz, vidros, esmaltes,
aglutinantes, corretivo do solo.
Na aplicação do gesso na construção civil, como forros, placas divisórias (gesso acartonado),
molduras, sancas.
• Argilo-minerais: Denominados genericamente como argilas. Quando em contato com a água,
as argilas adquirem plasticidade e se expandem.
Ocorrem em solos, originados a partir do intemperismo químico de minerais contidos
nas rochas, principalmente o feldspatos, e em rochas sedimentares como o arenito.
De modo geral, o termo argilas refere-se às partículas do solo que possuem diâmetro
inferior a 2 micrometros e das quais podem fazer parte diferentes tipos de minerais: silicatos
lamelares de magnésio e de alumínio (filossilicatos), quartzo, feldspato, carbonatos, óxidos
metálicos e até mesmo matéria orgânica.
Utilização: Matéria-prima na fabricação de produtos cerâmicos, como tijolos, telhas e
azulejos e cimento.

4 ESTUDO DAS ROCHAS

4.1 O tempo Geológico e a formação das rochas

Para compreendermos a dinâmica do planeta, a concepção de Tempo Geológico é essencial, pois


a duração do conjunto de processos e fenômenos terrestres exerce papel decisivo nos ciclos de
transformação do sistema Terra. Qualquer feição geológica ou rocha representa uma série de
eventos naturais que estão situados em um intervalo de tempo específico da história geológica da
Terra.

O ciclo das rochas constitui um modo sintético de representar as inúmeras possibilidades pelas
quais, ao longo do Tempo Geológico, um tipo de rocha pode transformar-se em outro. Podemos
considerá-lo um conjunto de processos permanentes de reciclagem, uma vez que a quantidade de
matéria do planeta é a mesma há milhões de anos. Pensemos em alguns átomos de carbono: em
milhões de anos, eles já podem ter feito parte de vários ciclos (do ar, da água, das rochas, dos seres
vivos). Seguindo esse raciocínio, podemos imaginar que os próprios átomos que compõem o nosso
corpo já foram muitas outras coisas, inclusive estrelas e rochas.

As rochas são uma espécie de memória inanimada do planeta, porque guardam registros das
alterações e dos fenômenos ocorridos ao longo da história geológica. Por meio das rochas podemos
deduzir as condições atuantes no sistema Terra na época em que foram geradas. Tomemos um
exemplo: areias de deserto são muito particulares. Seus grãos bem arredondados e foscos de tanto
colidir uns com os outros acabam acumulados em dunas. Dessa maneira, podemos reconhecer
como os climas do passado foram muito distintos do que os do presente.
Para explicar como funciona o ciclo das rochas podemos começar pelo intemperismo, o processo
de transformação ou modificação das rochas quando expostas à atmosfera e à hidrosfera. Alguns
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factores determinam, ao longo do tempo, o tipo e a intensidade do intemperismo, a saber: o clima,
devido ao calor do sol e à umidade das intempéries (que por sinal lhe emprestam o nome), o
crescimento de organismos (fauna e flora), e os acidentes de relevo, devido à infiltração e drenagem
da água ou sua movimentação superficial, que pode ser mais ou menos rápida, dependendo da
inclinação das encostas. O último factor essencial a ser considerado é o tempo, pois quanto mais
longo o tempo que a rocha fica exposta a esses agentes, mais intensas e profundas serão as
transformações.
O calor, a humidade, os organismos e o relevo determinam o grau de atuação de cada um dos três
processos básicos de intemperismo: físico, químico e biológico.
O intemperismo físico, ou desagregação, altera o tamanho ou a forma dos minerais sem mudar
radicalmente a composição mineralógica.
Denominamos intemperismo químico, ou decomposição, toda ação que altera a composição
química da rocha, transformando os minerais primários da rocha em minerais secundários. A acção
dos seres vivos contribui para acentuar o intemperismo físico ou químico, tanto mecânica quanto
quimicamente, por meio de substâncias produzidas pelos organismos, ou geradas a partir de sua
decomposição. De uma região para outra da Terra, dependendo das condições climáticas, de
distribuição da vida e das formas de relevo, acima citadas, há predomínio de modificações
físicas, químicas ou bioquímicas.
A rocha, quando passa por processos intempéricos, forma camadas de materiais desagregados
onde se formam os solos, processo que recebe o nome de pedogênese. o material solto torna
possível desenvolver-se a vida de plantas e pequenos animais que por sua vez contribuem para a
decomposição, ao formar o húmus. A moderna preocupação com uma Terra sustentável levou as
Geociências a migrar do conceito de solos como “materiais inertes e inconsolidados” utilizados na
engenharia para a ideia dinâmica dos solos como a pele viva do planeta, ou pedosfera. Essa visão,
mais próxima da dos ecologistas (warshall 2000), reúne ainda os pontos-de-vista da fertilidade,
resistência à erosão e suporte físico, tão importantes para uma agricultura sustentável.
Nessa concepção focalizam-se os quatro componentes do solo:
(a) Materiais inorgânicos resultantes do intemperismo dos minerais;
(b) Gases procedentes da atmosfera e da atividade química e biológica no solo;
(c) Líquidos na forma de soluções que participam de todos os processos; (d) Materiais orgânicos
representados por seres vivos e matéria orgânica morta.

Com efeito, além da matéria orgânica, cuja presença pode ser extremamente variável, devemos
levar em conta os gases e líquidos que compõem o solo, essenciais para a sustentação da vida. O
húmus nos solos, além de representar nutrientes armazenados de modo seguro para sustentar a
vida, são também um modo de reter carbono na forma de moléculas complexas, e evitar seu retorno
à atmosfera como um dos principais gases-estufa. Quanto maior a quantidade de húmus, menor o
risco de aquecimento global (warshall 2000, p. 193).
A cadeia de processos de intemperismo pode actuar sobre qualquer rocha (ígnea, metamórfica,
sedimentar) exposta à superfície da Terra. O intemperismo faz com que as rochas percam a coesão,
factor que facilita o papel da erosão em promover desgaste desses materiais e seu transporte.
Ao serem deslocadas, as partículas recebem o nome de sedimentos.
Estes são transportados e depositados em depressões do relevo ou levados até o fundo do mar
(como James Hutton havia correctamente avaliado). O principal agente de erosão são os rios e

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córregos que denudam os continentes. Na superfície da Terra o processo de erosão tem início pelos
chamados movimentos de massa, que são deslocamentos de grandes volumes de materiais pelo
efeito gravitacional, em direção à base das encostas.
Outro tipo de deslocamento muito comum ao longo das encostas são os movimentos de partículas
isoladas, levadas pela água da chuva e pelas enxurradas. Os rios constroem canais, que podem ter
tamanhos grandes ou pequenos, dependendo da inclinação do trecho de encosta e do volume de
água disponível. Ao longo desses canais os rios movimentam sedimentos, muitas vezes com grande
turbulência.
Rios com grande volume de água e alta declividade possuem grande capacidade de transporte
e movimentam partículas sedimentares de todos os tamanhos. Nos trechos onde a declividade se
reduz, a velocidade das águas se reduz também. Mesmo que o volume de água seja grande, a
competência do fluxo diminui, e determinadas partículas de maior tamanho acabam sendo
depositadas. A capacidade de transporte de muitos rios pode ser extremamente grande, como
é o caso do amazonas, que leva até o mar grandes volumes de argilas, siltes e areias todos os
anos. O gelo é outro agente de erosão que promove desgaste nas rochas pela chamada erosão
glacial.
Nas montanhas cobertas pela neve, quando a capa é muito espessa, a geleira se move para
baixo, removendo todo o material mole (solos ou sedimentos) do caminho. O vento, por sua vez,
é capaz de selecionar cuidadosamente os sedimentos e ao mesmo tempo remover partes menos
resistentes da superfície das rochas.
Sua acção, concentrada sobretudo nos desertos e em zonas litorâneas, onde as velocidades dos
ventos são maiores e o fluxo é relativamente contínuo, consegue nivelar a superfície das encostas
e formar dunas e outras feições muito características.

4.2 Definição de conceitos


As rochas, são produtos consolidados, resultantes da união natural de minerais ou mineraloides. As
rochas possuem cristais ou grãos constituintes bem unidos e com forças de ligação variados,
resultando em rochas duras e rochas brandas. A camada externa sólida da Terra, conhecida por
litosfera, é constituída por rochas. A rocha mais antiga da Terra, uma lasca de 2 centímetros
coletada pelos astronautas da Apollo na Lua, é um fragmento de 4 bilhões de anos.

O estudo científico das rochas é chamado de petrologia, um ramo da geologia. Os termos populares
pedra e calhau se referem a pedaços ou fragmentos soltos de rochas. Para ser considerada como
uma rocha, esse agregado tem que ter representatividade à escala cartográfica (ter volume
suficiente) e ocorrer repetidamente no espaço e no tempo, ou seja, o fenômeno geológico que forma
a rocha ser suficientemente importante na história geológica para se dizer que faz parte da dinâmica
da Terra.
As rochas podem ser classificadas de acordo com sua composição química, sua forma estrutural,
ou sua textura, sendo mais comum classificá-las de acordo com os processos de sua formação.
Pelas suas origens ou maneiras como foram formadas, as rochas são classificadas como:

• Magmáticas ou ígneas,
• Sedimentares, e
• Rochas metamórficas.

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As rochas magmáticas foram formadas de magma, as sedimentares pela deposição de sedimentos
e posterior compressão destes, e as rochas metamórficas por qualquer uma das primeiras duas
categorias e posteriormente modificadas pelos efeitos de temperatura e pressão. Nos casos onde
o material orgânico deixa uma impressão na rocha, o resultado é conhecido como fóssil.

4.2.1 Rochas magmáticas ou ígneas


Rochas ígneas (mais conhecidas como Magmáticas) são resultado da solidificação e consolidação
do magma (ou lava). O magma é um material pastoso que, há bilhões de anos, deu origem às
primeiras rochas de nosso planeta, e ainda existe no interior da Terra. As rochas ígneas podem, de
maneira geral, ser classificadas sob dois critérios: texturais e mineralógicos. O critério textural é
especialmente útil na identificação do ambiente onde a rocha se cristalizou, enquanto o mineralógico
é baseado na proporção entre seus minerais principais. A classificação da maior parte das rochas
ígneas, segundo o critério mineralógico, é feito com base no diagrama QAPF, usado para rochas
com menos de 90% de minerais máficos.

Podem ser de dois tipos, a saber:

• Vulcânicas (ou extrusivas): são formadas por meio de erupções vulcânicas, através de um rápido
processo de resfriamento na superfície. Alguns exemplos dessas rochas são o basalto e a pedra-
pomes, cujo resfriamento dá-se na água. O vidro vulcânico é um tipo de rocha vulcânica de
resfriamento rápido.
• Plutônicas (ou intrusivas): são formadas dentro da crosta por meio de um processo lento de
resfriamento. Alguns exemplos são o granito e o diabásio.

Figura 4(a): Representação de uma rocha Arenítica; (b): Sal-gema; (c): Carvão Mineral

Na superfície da terra, as rochas sofrem a ação de diversos fatores, como o calor, frio, chuva, vento,
neve e gelo. Durante milhares de anos, uma rocha vai se partindo em pedaços e vão ficando cada
vez menores e sendo arrastados para outros lugares. Então, esses pequenos fragmentos vão se
acumulando, se apertando e se depositando uns sob os outros, formando novas rochas que, por

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serem constituídas por sedimentos acumulados, recebem o nome de Rochas Sedimentares. Fazem
parte de 80% da superfície dos continentes.

Classificam-se em:

• Detríticas - são as rochas formadas a partir de detritos de outras rochas. Alguns exemplos são
o arenito, o argilito, o varvito e o folhelho.
• Quimiogénicas - resultam da precipitação de substâncias dissolvidas em água. Alguns exemplos
são o sal-gema, as estalactitese as estalagmites.
• Biogénicas - são rochas formadas por restos de seres vivos. Alguns exemplos são o calcário
conquífero, formado através dos resíduos de conchas de animais marinhos. Possui o mineral
cálcite; e o carvão, formado a partir dos resíduos de vegetais.
4.2.2 Rochas metamórficas
São as rochas formadas através da deformação de outras rochas, magmáticas, sedimentares e até
mesmo outras rochas metamórficas, devido a alterações de condições ambientais, como a
temperatura e a pressão ou ambas simultaneamente. Alguns exemplos são o gnaisse, formado a
partir do granito; a ardósia, formada a partir do argilito; o mármore, formado a partir do calcário, e o
quartzito, formado a partir do arenito.

As rochas mais antigas são as magmáticas seguidas pelas metamórficas. Elas datam das eras
PréCambriana e Paleozoica. Já as rochas sedimentares são de formação mais recente: datam das
eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica. Essas rochas formam um verdadeiro capeamento, ou
seja, encobrem as rochas magmáticas e as metamórficas quando estas não estão afloradas à
superfície da Terra.
A sedimentação é o processo de acumulação dos sedimentos em depressões, chamadas bacias
sedimentares, onde, dependendo das condições e da profundidade a que os sedimentos são
submetidos, o peso dos sedimentos acumulados e a movimentação de fluidos provocam
compactação e cimentação dos materiais. A transformação de um sedimento em rocha sedimentar
é chamada diagênese.
Tabela 4.1: Classificação das Rochas Sedimentares

Rocha de origem mecânica Rocha de origem orgânica Rocha de origem química

1. Grosseiras: 1. Calcárias: 1. Calcárias:


Conglomerados, Brechas Calcários, Dolomitos Estalactites e Estalagmites,
Mármores travertinos
2. Arenosas: 2. Silicosas: Sílix 2. Ferruginosas:
Arenitos, Silicatos Mineiros de ferro
3. Argilosas: 3. Ferruginosas: 3. Salinas:
Argilas, Argilitos, Folhelhos Depósitos ferruginosos Cloretos, Nitratos, Sulfatos
__________ 4. Carbonosas: 4. Silicosas: Sílex
Turfas, Carvões

As principais características distintivas entre os três grupos de rochas são mostradas na tabela 4.2.
Tabela 4.2: Principais características dos três grupos de Rochas
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MAGMÁTICAS SEDIMENTARES METAMÓRFICAS
1. Aspecto maciço e compacto 1. Geralmente friáveis e 1. Aspecto foliado ou maciço
riscáveis com o canivete.
Aspecto maciço ou em
camadas
2. Grãos imbricados, sem 2. Grãos não-imbricados, 2. Grãos imbricados ou
deixar poro s (exceto em apresentando poros ou firmemente justapostos
algumas rochas vítreas, cimento, fragmentado (alguns
vulcânicas, como pedrapomo) casos maciços)

3. Constituintes de formas 3. Constituintes com formas 3. Constituído com formas


irregulares ou geométricas arredondadas ou ovaladas. geométricas ou irregulares,
devido a cristalização Por vezes angulares. raramente arredondados
Raramente com formas
geométricas
4. Distribuição espalhada e 4. Distribuição espalhada e 4. Distribuição dos
homogénea; ausência de homogénea dos grãos; é componentes em bandas. Por
camadas ou estratos comum em suas camadas, vezes dobradas
estratificação e fosseis
5. Ausência de orientação ou 5. Grãos não orientados 5. Frequentemente há
foliação dos grãos orientação dos componentes,
por foliação da rocha

Quando as placas litosféricas se movimentam durante o Tempo Geológico, as rochas sedimentares


(assim como outras rochas metamórficas e ígneas) podem ser levadas a ambientes muito
diferentes daqueles sob os quais se formaram.
Qualquer rocha submetida à ação de altas pressões e temperaturas, além da percolação de fluidos,
passa por transformações dos minerais que as constituem, além de modificar sua estrutura,
tornando-se orientadas. Essas propriedades definem uma rocha metamórfica. Rochas
sedimentares, enterradas a profundidades suficientes e submetidas ao calor interno da Terra e a
pressões dirigidas, terá como consequência a reorientação dos minerais, no processo denominado
metamorfismo. As rochas metamórficas são formadas por transformações na mineralogia, química
e estrutura de rochas já existentes, devido a mudanças nos parâmetros físicos (pressão e
temperatura principalmente) e químicos diferentes das condições diagenéticas. As rochas
resultantes do processo de metamorfismo dependem do tipo de rocha e sua composição
mineralógica, e as principais transformações são a recristalização de minerais e, ou, formação de
novos minerais e deformações na estrutura das rochas (dobras, foliação, lineação etc.).
Durante a deposição, diagênese e metamorfismo progressivo de um sedimento argiloso (tamanho
do grão menor que 0,002 mm), ele passa por uma série de etapas. As rochas envolvidas nessas
transformações permanecem no estado sólido, e podem formar rochas sedimentares, como o
argilito ou folhelho, ou podem dar origem a rochas metamórficas, como a ardósia, filito, xisto e
gnaisse. Se as condições de metamorfismo forem muito intensas, as rochas podem se fundir, parcial
ou totalmente, e gerar magmas. Estes, ao se solidificar, darão origem a novas rochas ígneas.
Somente rochas que tenham atingido alta temperatura, equivalente à dos gnaisses, poderiam atingir
condições extremas capazes de realizar a fusão parcial ou total do material.

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Os continentes se desenvolveram ao longo do Tempo Geológico, sendo muitas vezes receptores
de materiais do manto, graças à atividade magmática, que os transfere para a superfície da Terra.
O ciclo das rochas, idealizado pelo naturalista James hutton, representa o conjunto de processos
cíclicos que atuam na geração e transformação de rochas, bem como suas relações com os
processos de soerguimento e exposição de rochas na crosta, a partir da ação de esforços internos.
O entendimento de conceitos subjacentes aos processos relacionados ao ciclo das rochas continua
a desafiar a capacidade e a engenhosidade de investigação dos geocientistas.
Ademais, o ciclo possui ligações que podem ser estabelecidas com outros ciclos interligados, como
os da água e do carbono. Uma consequência do ciclo das rochas é o fato de que os processos
envolvidos determinam a existência de bens minerais úteis ao homem, ou responsáveis por
diversos desastres ambientais, relacionados às dinâmicas interna e externa do planeta. Além
disso, em paralelo a esse ciclo, desenvolve-se o ciclo de formação e destruição de montanhas
(orogênese).

As rochas dos continentes e dos fundos dos oceanos constituem registros das transformações
relacionadas ao ciclo das rochas, que funciona desde os primórdios da história geológica da
Terra, e acompanham a evolução do planeta. Para entender qual é o motor que realiza as
transformações, é preciso tratar das fontes de energia dos processos terrestres. As fontes são,
essencialmente, três: a energia proveniente do sol, a energia (calor) proveniente do interior do
planeta e a gravidade.

O ciclo envolve, pois, as três fontes de energia mencionadas. Os materiais terrestres estão
continuamente sob a ação de um ou mais agentes que provocam desequilíbrios. As transformações,
por sua vez, representam respostas a fluxos de energia na Terra.
Se por um lado é bem aceita a constatação de que o sol constitui a fonte primária de energia dos
processos intempéricos, erosivos e de sedimentação, o reconhecimento da fonte dos processos
internos do planeta não foi uma tarefa assim tão simples. Admitindo a influência do calor interno da
Terra, Hutton introduziu o conceito de plutonismo (de Plutão, deus do fogo na mitologia
grecoromana) a partir de observações de metamorfismo de contato entre rochas ígneas e
sedimentares, bem como detalhadas descrições de amostras examinadas ao microscópio. A
relação dinâmica entre os agentes e as configurações da parte mais externa do planeta, interligadas
naturalmente à Tectônica Global, constitui o motor do ciclo das rochas.

5 INTEMPERISMO E ESTUDO DOS SOLOS

5.1 Intemperismo
Intemperismo é representado pelo conjunto de modificações físicas (desagregação) e químicas
(decomposição) que transformam as rochas na superfície da Terra, através de fatores como clima,
relevo, rocha-mãe, tempo, fauna e flora. Como produtos do intemperismo, tem-se a rocha alterada,
a formação do solo e do sedimento.

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A Zona Crítica é denominada como um ambiente heterogêneo próximo à superfície, no qual
interações complexas entre rocha, solo, água e seres vivos regulam o habitat natural e determinam
a disponibilidade de recursos que sustentam a vida.
O intemperismo está directamente influenciado a factores como natureza da rocha e tempo de
exposição aos fatores intempéricos. Porém a variação sazonal de temperatura e distribuição de
chuvas, associados ao relevo da região podem contribuir intensamente para acção do
intemperismo. Em ambientes Tropicais, a acção do intemperismo é muito mais acentuada do que
em ambiente áridos.

O intemperismo pode ser de três tipos:

• Intemperismo Físico – consiste na desagregação da rocha, com separação dos grãos


minerais que a compõem e fragmentação da massa rochosa original. É causado pela
variação de Temperatura (termoclastia) que geram dilatação dos minerais, pela cristalização
de sais em poros e fissuras e congelamento, pelas tensões internas devido ao aumento de
volume de certos minerais (hidratação de minerais), pelo alívio de pressão causado pelo
alívio de peso, fendilhamento. E, por fim pelas atividades físico-biológicas que são ações
mecânicas das raízes e de organismos.

• Intemperismo Químico – ocorre uma série de reações químicas que transformam os


minerais originais de uma rocha em novos minerais mais estáveis no ambiente superficial.
Os agentes causadores são as temperaturas e as pressões da superfície da terra, junto com
a água e o oxigênio desequilibram minerais formados em condições muito diversas.
Regionalmente, é possível quantificar ambientes na superfície dos continentes, atingidos ou
não pelas alterações químicas, 86% e 14%, respectivamente.

• Intemperismo Biológico: formado pela decomposição da rocha devido ação mecânica


provocada por raízes de vegetais, escavações animais, atividades de microorganismos e
ação humana. Pode ocorrer pela liberação de substâncias agressivas quimicamente
oriundas da decomposição de corpos.
A resistência da rocha ao intemperismo químico está diretamente relacionada à sua composição
mineralógica. Desta forma, podemos afirmar que a estabilidade geralmente é oposta à Série de
Bowen.

5.2 Conceito e formação dos Solos


O solo é um corpo natural composto de sólidos (minerais e matéria orgânica), líquidos e gases que
ocorre na superfície terrestre, ocupando espaço e caracterizado por apresentar horizontes ou
camadas distinguíveis do material de origem como resultado de adições, perdas, transferências e
transformações de energia e matéria com capacidade de suportar raízes de plantas em um
ambiente natural (Soil Survey Staff, 2010).
O estudo detalhado dos horizontes presentes nos solos se faz oportuno e necessário para o
entendimento e compreensão do comportamento dos solos, desta forma seu estudo pode ser
aprofundado a partir da leitura complementar da Classificação dos Horizontes Diagnósticos
Superficiais e Subsuperficiais, proposto pela EMBRAPA, 2006.

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Através dos processos e ambientes geológicos de formação, é possível classificar os solos em:
solos residuais ou autóctones, solos transportados ou alotóctones e solos de origem Orgânica ou
Orgânicos.
Os solos residuais ou autóctones são solos que permanecem no local de decomposição da rocha.
Para que eles ocorram, é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do
que a velocidade de remoção do solo por agentes externos. Os solos transportados ou alotóctones
são solos que passaram pela ação de agentes transportadores. Exemplos: solos aluvionares,
eólicos, glaciares ou coluvionares.
Os solos de formação Orgânica - possuem origem essencialmente orgânica, seja natureza vegetal
(plantas, raízes), seja animal (conchas)

5.2.1 Origem e constituição do solo


Todo solo tem sua origem imediata ou remota na decomposição das rochas pela acção das
intempéries. Quando o solo, produto do processo de decomposição permanece no próprio local em
que se deu o fenômeno, ele chama-se “residual”. Quando em seguida é carregado pela água da
chuva, rios, vento ou pela gravidade — ou por vários desses agentes simultaneamente — ele é dito
“transportado”.
Mas existem outros tipos de solos, nos quais aparecem elementos de decomposição orgânica
que se misturam ao solo transportado. Há ainda as terras diatomáceas, constituídas por
carapaças de algas ou infusórios. Finalmente, existem os solos provenientes de uma evolução
pedogênica, tais como os solos superficiais que suportam as raízes das plantas ou os solos
“porosos” dos países tropicais.
Dentro dessa perspectiva o mecanismo da formação dos solos, a partir do processo físico-químico,
de fragmentação e decomposição das rochas, através do transporte, sedimentação e evolução
pedogênica é o seguinte:

• Expansão e contração térmica alternada das rochas sãs — levando ao seu fraturamento
mecânico. Esse é o primeiro estágio da decomposição, o qual pode ser associado às
forças expansivas de certos minerais constituintes da rocha, ou da água que penetra pelas
fissuras ou, ainda, finalmente das raízes de plantas. Tais fatores isolados ou associados
levam à decomposição física das rochas maciças em grandes blocos ou, até mesmo, em
pequenos fragmentos.

• Alteração química das espécies minerais que formam a rocha, transformando-as em areias
ou argilas. A oxidação e o ataque pela água acidulada, por ácidos orgânicos, são os
principais agentes da decomposição química — que comumente se designa por “alteração”.
O caráter e a amplitude da alteração dependem, de um lado, da natureza da rocha, isto é,
de sua composição química, sua estrutura e textura, e, do outro, do clima da região, isto é,
das alternâncias de chuvas e temperaturas.
Por exemplo, um granito, rocha constituída pelos minerais: quartzo, feldspato e mica, em
clima tropical húmido, sofre o seguinte processo de decomposição: depois de formada e trazida à
superfície da crosta, é fraturada pela alternância de calor e chuva. Depois de suficientemente
fraturada começa o ataque químico pela água acidulada, geralmente com gás carbônico

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agressivo, proveniente da decomposição de vegetais. Essa acidulação é nitidamente crescente
com a temperatura e, portanto, bem mais efetiva nos países tropicais.
Os feldspatos presentes são atacados, a rocha desmancha-se e os grãos de quartzo, embora não
sejam atacados, soltam-se, formando os grãos de areia e pedregulho. Os feldspatos, decompostos
pela água acidulada, vão dar o mineral denominado “argila” e sais solúveis, os quais são carregados
pelas águas e levados ao mar. Algumas das espécies de mica sofrem processo de alteração
semelhante ao dos feldspatos formando argila, enquanto outras resistem e vão formar as palhetas
brilhantes presentes nos, assim chamados, solos micáceos.
Do processo acima descrito resulta o solo residual de granito — que comumente é chamado pela
expressão contraída “alteração de granito”. Fazem parte dele, eventualmente, grandes blocos
ou fragmentos pequenos da rocha original que resistiram à decomposição.
Para os técnicos de solos os blocos ou fragmentos de rocha, os grãos de quartzo, o mineral argila,
as palhetas de mica e outros elementos acidentais têm tamanhos de grãos diferentes. De forma
que as frações constituintes dos solos residuais diferenciam-se entre si, não só pela espécie
mineralógica, mas também pelos tamanhos de seus diferentes grãos.
De uma forma estatística, seria pedregulho ou cascalho a fração dos solos constituída pelos
fragmentos de diâmetro médio superior a 2 mm; areia, a dos de 2 mm a 0,02 mm. Argila seria a
fração dos solos constituída pelos microcristais de diâmetro médio inferior a 2𝜇𝑚. Aos elementos
esporádicos de diâmetro médio ente 0,06 mm e 0,002 mm são denominados de siltes conforme
classificação ABNT, NBR 6502 (1995), entre outras classificações normativas usuais.

5.2.2 Solo transportado


O transporte e sedimentação dá-se por um agente transportador, desde a simples gravidade, que
faz cair as massas de solo e rocha ao longo dos taludes, até uma enxurrada, por exemplo, que
carrega o material constituinte dos solos residuais acima descritos.
Nas escarpas abruptas, como as da Serra da Leba, os mantos de solo residual com blocos de
rocha podem escorregar, sob a acção de seu próprio peso, durante chuvas violentas, indo
acumular-se ao pé do talude em depósito de material detrítico, geralmente fofo, formando os
“talus”. Tais depósitos são formados por grãos de tamanho muito variável, inclusive blocos de rocha.
Em geral, os grãos de argila são levados pela enxurrada e carreados pelas ribeiras que descem a
serra. Tais “talus” são sujeitos a movimento de rastejo (expansões e contrações periódicas, pelo
efeito de temperatura, que resultam num lento movimento talude abaixo). Esse é o transporte
por gravidade ou coluvial.
Quando o transporte é feito por grandes volumes de água, aparecem os solos aluviais que, quando
recentes, formam os terraços aluvionais das margens e as planícies recentes dos deltas dos
grandes rios. A princípio as grandes torrentes carregam consigo todo o detrito das erosões,
mas logo depositam os grandes blocos e depois os pedregulhos. Ao perder sua velocidade e,
portanto, sua capacidade de carrear os sedimentos, os grandes rios passam a depositar as
camadas de areia e, em seguida, os grãos de menor diâmetro, formando os leitos de areia fina
e silte.
Finalmente, somente os microcristais de argila permanecem em suspensão nas grandes
massas de água dos lagos ou das lagunas próximas ao mar. A sedimentação da argila dáse,
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então, ou por floculação das partículas em suspensão, devido à neutralização de suas cargas
elétricas de mesmo sinal, pelo contato com água salgada do mar, ou por efeito da radiação solar
nas águas doces dos lagos interiores.
Assim a enxurrada e as águas dos rios em seu caminho para o mar transportarão os detritos de
erosão e os sedimentarão em camadas, na ordem decrescente de seus diâmetros. Inicialmente
sedimentamse as camadas de pedregulhos, depois as de areias e siltes e, por fim, a camada de
argila. Essas camadas constituem os solos transportados aluvionares, formando o seu conjunto,
“ciclos de sedimentação”. Em cada camada predominam, ordenadamente, os tamanhos de grãos
correspondentes aos pedregulhos, areias, silte e argila.
Os termos pedregulho/cascalho, areia, silte e argila têm, portanto, três significados diferentes,
em Mecânica dos Solos. Em primeiro lugar denotam espécies mineralógicas diferentes; em
segundo, “frações de solo” com tamanhos de grãos diferentes; e, em terceiro, “camadas” de solo.
O termo argila não pode ter, em Mecânica dos Solos, o significado de rocha que tem em Geologia,
pois se referirá sempre a um solo. Uma camada de argila que exigisse dinamite para seu desmonte
seria chamada de argilito.
Assim, um pedregulho é aquele solo no qual o tamanho dos grãos é superior a 2 mm; mas é também
a camada onde predomina a “fração” pedregulho. Na fração de solo areia, a espécie mineralógica
é, comumente, o quartzo, e na camada de areia predominam os grãos do tamanho da fração
areia. Nos solos argilosos, entretanto, não é necessariamente a fração de argila dominante
que os caracteriza. É possível que um solo tenha adquirido um caráter argiloso pela presença de
uma fração de argila que, embora não predominante, é suficientemente ativa para emprestar
ao solo plasticidade e coesão típica das argilas.
Transporte eólico — nas regiões desérticas, ou ao longo das praias oceânicas, ventos fortes sopram
sobre as areias e as carreiam indo depositar seus grãos mais além dos montículos ou dunas. Como
a direção dos ventos é cambiante as camadas depositadas não têm sempre a mesma orientação.
Esse é o fenômeno da “estratificação cruzada” que caracteriza os depósitos eólicos. Outra
característica é a uniformidade dos grãos de tais depósitos de areia, pois a força do vento seleciona
muito mais do que a água, os pesos dos grãos que podem ser transportados.
Há que considerar aqui a sedimentação subeólica das praias, onde concorrem tanto a água como
o vento, da qual resulta também, e mais nitidamente, a “estratificação cruzada”.
As partículas muito finas de areia podem ser levadas muito altas pelos ventos e depositadas
a distâncias muito grandes. Os depósitos eólicos de tal natureza são chamados de “loess”.
Formação dos solos orgânicos — dá-se ou pela impregnação de matéria orgânica em sedimentos
preexistentes, ou pela transformação carbonífera de materiais, geralmente, de origem vegetal
contida no material sedimentado, ou, ainda, pela absorção no solo de carapaças de moluscos,
diatomáceas ou infusórios. Nos dois primeiros casos estarão os solos orgânicos e, no último,
as camadas de fragmentos calcáreos de origem animal e os solos diatomáceos.
Os solos orgânicos são de muito maior importância técnica que os depósitos de fragmentos
calcáreos e as terras diatomáceas. Portanto, eles serão aqui os mais considerados. Uma parte dos
produtos da decomposição da matéria orgânica é um produto escuro e relativamente estável que
impregna os solos orgânicos: o húmus. Por ser facilmente carreado pela água, em solução ou

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suspensão, o húmus só impregna permanentemente os solos finos: as argilas e os siltes e,
em menor extensão, as areias finas. Existem, assim, argilas, siltes ou areias finas orgânicas.
São os solos de cor escura das baixadas litorâneas ou das várzeas dos rios interioranos. Mas
não existem areias grossas ou pedregulhos orgânicos, pois sua alta permeabilidade permite
velocidades de percolação d’água suficientemente grandes para carrear toda matéria orgânica
estável.
Quando a matéria orgânica provém da deposição sobre o solo de grande quantidade de
folhas, caules e troncos de florestas há um processo insipiente de carbonificação. Então forma -se
um solo fibroso essencialmente de carbono, que se chama “turfa”. A diferença entre argilas e siltes
orgânicos e a turfa está em que as primeiras são mais pesadas, pois que a turfa, constituída de
grandes teores de carbono, é de densidade específica menor. Por outro lado, a turfa é combustível
quando seca e os soloshb orgânicos não o são.

5.2.3 Perfil do Solo


Denomina-se perfil do solo a seção vertical que, partindo da superfície do terreno, aprofundase
até onde chega a ação do intemperismo, na maioria das vezes, uma série de camadas dispostas
horizontalmente, denominadas de horizontes, paralelas à superfície do terreno, que possuem
propriedades resultantes dos efeitos combinados dos processos de formação do solo
(pedogênese). A natureza e o número de horizontes variam de acordo com os diferentes tipos de
solo. Os solos geralmente não possuem todos esses horizontes bem caracterizados, entretanto,
pelo menos possuem parte deles.
Apresenta-se no esquema nº1 um perfil hipotético de um solo:

Diagrama 5.1: Horizonte do solo: Fonte: Adaptado de ( )

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Tabela 1: Descrição dos perfis de um solo
Horizonte O Camada orgânica superficial, constituído por detritos vegetais e substâncias
húmicas acumuladas na superfície (camada drenante). Distinguem-se pela
coloração preta e pelo conteúdo orgânico (~20%)
Horizonte A O horizonte onde ocorre grande actividade biológica. São diferentes
dependendo de seus ambientes de formação
Horizonte B Apresenta menor quantidade de matéria orgânica e acúmulo de compostos de
ferro e argilo-minerais, minerais resistentes de quartzo em pequenas partículas
(areia e silte); possui bom desenvolvimento estrutural.
Horizonte C Camada mineral de material não consolidado; apresenta detritos que
apresentam características da rocha mãe.

Horizonte R Camada mineral de material consolidado, que constitui substrato rochoso


contínuo ou parcialmente contínuo, a não ser pelas poucas e estreitas fendas
que pode apresentar (rocha)
Fonte: Adaptado de ( )

A presença dos vários tipos de horizontes mencionados está condicionada a formação e evolução
do solo que o regulam. Como as condições variam de acordo com as circunstâncias dos ambientes
(material de origem, vegetação, clima, relevo, tempo) o tipo e número de horizontes de um perfil de
solo são diferentes.

5.3 Fatores de formação do solo


A pedogênese ou formação do solo é estudada pela Pedologia, cujas noções básicas e conceitos
fundamentais foram definidos em 1877, pelo cientista russo Dokuchaev . Até esta época, prevaleceu
a visão geológica que considerava o solo apenas como sendo um manto de fragmentos de rocha e
produtos de alteração, que reflete unicamente a composição da rocha que lhe deu origem. Com a
constatação da existência de solos diferentes desenvolvidos a partir de uma mesma rocha de
origem, a concepção sobre o que é o solo passou a ter uma conotação mais genética, onde o solo
é identificado como um material que evolui no tempo, sob a ação dos fatores naturais ativos
na superfície terrestre.
Em 1898, Dokuchaev consolidou a concepção de que as propriedades do solo são resultado
dos fatores de formação do solo que nele atuaram e ainda atuam, a saber: material de origem,
clima, organismos, topografia (relevo) e tempo.
Assim, temos que clima e organismos, controlados pelo relevo, atuando sobre um material de
origem, ao longo do tempo, geram uma situação de desequilíbrio que resulta em intemperismo e
formação de solos (pedogênese). Dentre os fatores de formação do solo, o material de origem
e o tempo são considerados fatores passivos, clima e organismos são fatores ativos, e o relevo
é fator controlador. Fator passivo de formação do solo é aquele que não adiciona e não exporta
material, nem gera energia que possa acelerar os processos de intemperismo e pedogênese. Aos
fatores ativos, se atribue o provimento de energia e compostos químicos que promovem os
processos de formação do solo.

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a) Material de Origem
O material de origem de um solo pode ser uma rocha ou um sedimento inconsolidado, aluvial
(depósito de rio), ou coluvial (depósito de material no sopé das elevações). A influência do material
de origem nos solos é discutida com detalhe nos tópicos anteriores desse capítulo.
b) Tempo
A rigor, o início da formação de um solo ocorre quando uma roch a sã começa a ser alterada, ou
um evento de sedimentação se encerra, e a partir daí começam a ocorrer os processos de
formação do solo. Mas como existe a erosão atuando em sentido contrário à pedogênese, é
difícil precisar o início exato da formação do sol o. Embora a sucessão de eventos modeladores
da superfície do planeta, estudados pela geomorfologia, nos dê uma idéia de seqüência
temporal dos materiais de solos dispostos na paisagem, não é comum se pesquisar a idade de
um Latossolo ou de um Cambissolo, até porque provavelmente esses solos já passaram por
várias fases de pedogênese, considerando a dinâmica da superfície do planeta. O uso do termo
tempo/idade em pedologia normalmente está relacionado à maturidade, ao grau de
desenvolvimento de um solo, e não ao tempo cronológico.
Assim, quando se diz que um solo é jovem, isto significa que a pedogênese foi pouco intensa
(condições de relevo plano, clima frio ou seco), ou que a taxa de erosão foi maior que a
taxa de pedogênese (relevo acidentado), formando um solo pouco espesso, podendo
apresentar minerais ainda passíveis de intemperização. Ao contrário, a referência a um solo
velho, indica tratar-se de um solo espesso, quimicamente pobre, com minerais profundamente
intemperizados e acúmulo de óxidos.

c) Clima (precipitação e temperatura)


O clima é o fator que, isoladamente, mais contribui para o intemperismo. Mais do que qualquer outro
fator, determina o tipo e a velocidade do intemperismo em uma dada região. Os dois parâmetros
climáticos mais importantes são a precipitação e a temperatura, regulando a natureza e a
velocidade das reações químicas. Para que as reações químicas de intemperismo ocorram, é
necessário que exista água no sistema. Dessa forma, a água está envolvida diretamente no
processo, seja como solvente, seja indiretamente, favorecendo a instalação de seres vivos que
irão acelerar o intemperismo.
Uma vez processadas as reações, a circulação de água exerce importante papel na remoção
de partículas sólidas (erosão) e produtos solúveis (lixiviação) do intemperismo. Quanto maior
a disponibilidade de água (pluviosidade total e distribuição ao longo do ano) e mais freqüente for
a sua renovação (drenagem), mais completas serão as reações químicas do intemperismo.
A temperatura desempenha um papel duplo, condicionando a ação da água: ao mesmo
tempo em que acelera as reações químicas, aumenta a evaporação, diminuindo a quantidade de
água disponível para a lixiviação dos produtos solúveis. O elevação da temperatura em 10°C,
aumenta de duas a três vezes a velocidade das reações químicas. As condições climáticas
condicionam a ocorrência do tipo de vegetação adaptada. Entretanto, o solo pode alterar o clima
atmosférico localmente. Um exemplo disto é a ocorrência de floresta caducifólia (folhas
caducas) em algumas partes da Serra de São Geraldo, próximo a Viçosa, mostrando que
mesmo em um local com pluviosidade média de 1300 mm/ano, o solo raso não é capaz de
armazenar água durante o período seco.
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d) Organismos
Compreende os vegetais, animais, bactérias, fungos, liqu ens, os quais têm influencias dinâmicas
nos processos de formação do solo. Estes organismos exercem ações físicas e químicas sobre o
material de origem e continuam a atuar no perfil do solo. Estas ações podem ser classificadas
como conservadoras e transfor madoras. Ações conservadoras são por exemplo, a
interceptação da chuva pela parte aérea dos vegetais, o sombreamento da superfície (diminuindo
a amplitude térmica), assim como a retenção de solo pelas raízes das plantas. Entre as ações
transformadoras se destacam a ação dos organismos no intemperismo físico e químico das
rochas, a mobilização de sólidos (minerais e orgânicos) por animais, e a reciclagem de nutrientes
e incorporação de matéria orgânica pelos vegetais.
e) Topografia (relevo)
A topografia regula a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais (o que também
depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a quantidade de água que se infiltra nos
perfis, de cuja eficiência depende o fluxo vertical de solutos e colóides, assim como o fluxo
lateral de partículas sólidas pela erosão.
Dessa forma o intemperismo se acentua quanto mais a água se infiltrar pelo perfil do solo, levando
os produtos mais solúveis do intemperismo. Por outro lado, se as partículas sólidas da
superfície do solo forem arrastadas pelo escorrimento lateral (erosão), o equilíbrio
pedogênese/erosão se deslocará no sentido de manter o solo com menor espessura, ou seja, mais
próximo do material de origem. Além do controle do fluxo de água, o relevo também exerce
um importante papel no controle da intensidade de insolação das encostas. Dessa forma, no
hemisfério sul, a face de uma encosta que estiver voltada para o norte recebe maior quantidade
de energia incidente também durante o inverno, produzindo maior aquecimento, e resultando em
um intemperismo maior do que na face voltada para o sul.

5.3.1 Processos gerais de formação do solo


São processos que produzem as modificações que ocorrem no solo devido à atuação dos fatores
de formação do solo. Consistem de adição, remoção ou perda , transformação e translocação.
A ação mais ou menos pronunciada de um ou mais desses processos gerais conduz aos
chamados processos específicos de formação do solo

• Adição
Compreende qualquer contribuição externa ao perfil do solo. Entre estas, consideramse a adição
de matéria orgânica (restos orgânicos de animais e vegetais), poeiras e cinzas trazidas pelo
vento, materiais depositados tanto por enchentes como por movimentos de massa nas encostas,
gases que entram por difusão nos poros do solo (CO2, O2, N2), adubos, corretivos, agrotóxicos,
adição de solutos pela chuva, etc.

• Remoção ou perda
Compreende as perdas de gases, líquidos ou sólidos sofridas por uma determinada porção
de solo, podendo ser em superfície ou em profundidade. As primeiras compreendem a
exportação de nutrientes pelas colheitas, perdas de compostos voláteis por queimadas, perdas
por erosão hídrica ou eólica, etc. As perdas em profundidade compreendem lixiviação de
solutos pelo lençol freático, perdas laterais de soluções com íons reduzidos (Fe, Mn), etc.
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• Translocação
É caracterizada pelo movimento de materiais de um ponto para o outro dentro do perfil do
solo. São processos de translocação, entre outros, o movimento de argilas e/ou solutos de
um horizonte para o outro no perfil, o preenchimento de espaços deixados por raízes
decompostas, cupins, minhocas, formigas, etc., o movimento de materiais promovido pela
atividade agrícola, e o preenchimento de vazios provocados pela contração de solos ricos em argilas
expansivas, como a montmorilonita).

• Transformação
São processos que consistem na transformação física, química ou biológica dos constituintes
do solo, envolvendo síntese e decomposição. Tranformações físicas incluem quebras de
minerais e rochas, umedecimento e secagem do solo com quebra de agregados, compressão
provocada pelo crescimento de raízes, etc. Transformações químicas consistem dos processos de
intemperismo químico jáconhecidos, assim como a neoformação de minerais da fração argila do
solo.

5.3.2 Processos específicos de formação do solo


São caracterizados como processos específicos de formação de solos, aqueles em que ocorre
atuação destacada de um ou mais dos processos gerais de adição, remoção, translocação
ou transformação, de formação do solo. Os principais process os específicos de formação do
solo são: latossolização, podzolização, hidromorfismo, salinização.

5.3.2.1 Latossolização
É o processo específico de formação dos latossolos, no qual sobressaem os processos gerais de
remoção e transformação. Nesse processo, os fatores ativos de formação do solo (clima e
organismos) apresentam uma ação intensa por um longo tempo, em uma condição de relevo que
propicia a remoção de sais solúveis e a transformação acentuada de minerais, em busca
de uma condição de equilíbrio, resultan do no acúmulo de minerais mais estáveis como
argilominerais 1:1 (caulinita) e óxidos de Fe e Al.
No processo de latossolização, com a perda de sais básicos (mais solúveis), o solo vai se tornando
mais ácido, aproximando o seu pH ao pH onde ocorre a neutral idade de carga das argilas. Esta
aproximação da neutralidade de cargas no solo diminui o movimento das argilas, provocado
pela repulsão entre cargas de igual sinal, leva à floculação, e em seguida à formação de
agregados pequenos e de forma granular, que passam a ser fortemente cimentados por óxidos de
Fe e Al. Esta estrutura permite que os latossolos apresentem uma alta permeabilidade e arejamento,
semelhante a solos arenosos, mesmo que contenham elevados teores de argila.
Os latossolos ocupam extensos chapadões planos onde a água em abundância se infiltrou
profundamente, causando intensa lixiviação e acentuado intemperismo. Estas condições podem
não mais existir atualmente, fazendo com que se encontrem latossolos associados a relevo
acidentado em condições climáticas que favorecem menos a latossolização. Sendo estes
solos muito intemperizados, as evidências do material de origem são mais difusas do que em
solos jovens. O material intemperizado foi intensamente revolvido pelos organismos vivos (formigas,
cupins, raízes mortas etc) e transportados a grandes distancias na paisagem por ação dos

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agentes erosivos (vento, chuvas, cursos d´água etc.). Esses agentes promovem mistura de
substratos de diferentes origens.

5.3.2.2 Podzolização
Este processo específico é caracterizado pela translocação de argila e de compostos
organominerais dentro do perfil. Mesmo que a translocação seja um processo de destaque,
os processos de adição, perda e transformação também ocorrem.
Dois grandes grupos de solos apresentam a podzolização: os Argissolos (antigos podzólicos),
Espodossolos (antigos Podzóis). Além destes temos os Luvissolos (antigos Bruno não cálcicos) e
Planossolos. Nos Espodossolos é notável a translocação de complexos de matéria orgânica
e óxidos de ferro e/ou alumínio de um horizonte eluvial (E) para um horizonte espódico (Bhs)
onde estes complexos se precipitam.
Estes solos são formados a partir de material arenoso e sob condições que facilitam o
acúmulo superficial de matéria orgânica e a acidólise (baixas temperaturas ou hidromorfismo
acentuado). Os solos Argissolos apresentam translocação de argila dos horizontes mais
superficiais para um horizonte mais profundo (horizonte de acumulação de argila translocada,
Horizonte B Textural – Bt). São bem mais argilosos do que os podzóis e são formados em
condições de alternância de ciclos de umedecimento e de secagem (clima com estações seca e
úmida definidas, ou posição na paisagem que permita tal alternância, tal como sopé de
encostas). O movimento descendente da argila no perfil, leva ao entupimento de macroporos no
horizonte Bt, facilitando a erosão no horizonte superficial.

5.3.2.3 Salinização (ou halomorfismo)


É o processo específico de formação de solos que apresentam acumulação de sais no perfil. É
comum nesses solos o processo de adição de sais pelo lençol freático ou pela erosão das
elevações circundantes. Esses solos estão associados a planícies ou depressões onde a
drenagem é deficiente e a precipitação pluviométrica é menor do que a evapotranspiração. Os solos
formados por esse processo tem suas características diferenciadas conforme a assembléia de
cátions (principalmente Ca+2, Mg+2, Na+, H+) que satura as cargas de suas argilas e são
reconhecidos pelos atributos: caráter sódico: saturação das cargas por Na > 15%.

caráter solódico: saturação das cargas por Na > 6% e < 15%.

caráter salino: condutividade elétrica > 4 ds/m2 e < 7 ds/m2. caráter

sálico: condutividade elétrica > 7 ds/m2.

Exemplo de classes de solos: Gleissolos Sálicos (antigos Solonchaks) e Planossolos Nátricos


(antigos Solonetz solodizado). São solos encontrados no Nordeste brasileiro e no Pantanal
Matogrossense. Antigos nomes referem-se aos termos utilizados em versões anteriores do
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.

5.3.2.4 Hidromorfismo
Neste processo específico de formação de solos, alguns horizontes do solo estão sujeitos à
submersão contínua ou durante a maior parte do tempo. Os processos gerais de formação do solo
que mais se destacam são a transformação de minerais passíveis de redução, e a adição de matéria
orgânica, que se acumula devido à menor taxa de decomposição.
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A menor quantidade de oxigênio do solo, causada pelo excesso de água, permite a proliferação
de organismos anaeróbicos que, neste ambiente de baixo potencial de oxi-redução, reduzem o
Fe3+ dissolvido na solução do solo, usando -o como receptor de elétrons no processo de
oxidação dos compostos de carbono. Essa forma solúvel do Fe está em equilíbrio químico com os
óxidos de ferro (Fe(OH)3 ↔ Fe3+ + 3OH-) e, uma vez consumida na solução, desloca a reação
para dissolução das formas minerais cristalizadas (hematita e goethita).
Assim, as argilas oxídicas ferruginosas vão sendo consumidas e o solo vai perdendo as cores
vivas (vermelha e amarela) dessas argilas. A cor esbranquiçada e acinzentada dos solos
hidromórficos reflete a redução do ferro férrico presente nos óxidos. Estes solos são freqüentemente
escurecidos pela pigmentação da matéria orgânica que se acumula, uma vez que os organismos
anaeróbicos são menos eficientes na mineralização da matéria orgânica, do que os aeróbicos.
Os solos onde o hidromorfismo é marcante são denominados Organossolos, Gleissolos e
Planossolos Hidromórficos. Os Neossolos Flúvicos, formados pela deposição de sedimentos
ao longo das margens dos rios, e por isso denominados sedimentos aluviais antigos, estão
muito freqüentemente associados na paisagem a esses solos hidromórficos. Entretanto, eles
não são considerados solos hidromórficos por terem melhor drenagem ao longo do perfil
(geralmente arenoso), e apresentarem horizonte A sobre uma sucessão de camadas de
sedimentos que não têm relação pedogenética entre si.

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Figura 5.1: Versão simplificada da Carta Generalizada dos Solos de Angola-Aproximacao

CAPÍTULO II: ESTRUTURAS GEOLÓGICAS Tema


1: Elementos estruturais das rochas Tema
2: Atitude e projeção estereográfica Tema
3: Mapas e perfis geológicos

1. ESTRUTURAS GEOLÓGICAS

A estrutura geológica é a classificação da litosfera terrestre conforme as suas diferentes origens


e as composições de suas rochas. Assim, todo o relevo terrestre foi dividido a partir de seus três
principais tipos como o mapa abaixo:

Figura 1 :Estrutura geológica da terra

Como mostra o mapa, existem três tipos principais de estruturas geológicas:

• Os crátons;
• As bacias sedimentares; e
• Os dobramentos modernos
Os crátons, também conhecidos como escudos cristalinos ou maciços antigos, são formações
geológicas consideradas antigas, formadas nas primeiras eras geológicas do planeta, durante a sua
formação. São compostos por rochas ígneas, ou magmáticas, e metamórficas, apresentando uma
elevada quantidade de grandezas minerais (como o ouro, o ferro, o alumínio e muitos outros). São
áreas geologicamente estáveis, ou seja, com poucos terremotos e vulcanismos, originando regiões
planálticas.

As bacias sedimentares são composições rochosas formadas a partir de extensas e inúmeras


camadas de rochas sedimentares, que surgiram a partir da deposição de sedimentos ao longo das
eras. São as mais extensas das estruturas geológicas, recobrindo cerca de 70% do relevo terrestre.
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São importantes por apresentarem, dependendo das condições locais, uma grande quantidade de
fósseis e até petróleo.

Os dobramentos modernos, também chamados de cadeias orogênicas, são formações


geológicas consideradas recentes, cujo início ocorreu na era Cenozoica, no período Terciário (há
cerca de 250 milhões de anos). São resultantes das acções do tectonismo, geralmente do choque
ou conflito entre duas placas tectônicas. Essas formações são originárias das grandes cadeias de
montanhas da Terra, como a Cordilheiras dos Andes (América do Sul) e a Cordilheira do Himalaia
(Ásia), onde se encontra a montanha mais elevada do planeta, o Everest.
As forma e posicionamento dos corpos rochosos, e suas estruturas geológicas são representadas
por dobras, falhas, fraturas, xistosidadee das rochas sedimentares e provocam zonas de fraqueza
ou ruptura.

1.1 Deformações das rochas


Qualquer variação da forma e/ou de volume quando sujeita à acção de pressões, tensões, variações
de temperatura, etc. Podem ser elásticas, plásticas ou por ruptura (ou fratura). Normalmente, as
variações de temperatura causam deformação elástica, e as dobras, falhas, fraturas causam
deformações plásticas e de ruptura.

1.1.1 Zonas de plasticidade e de fratura


• Plasticidade: mudança gradual na forma e na estrutura interna de uma rocha efetuada por
reajuste químico e por fraturas microscópicas, enquanto a rocha permanece rígida (não
produz fusão);
• Zona de plasticidade: a grande profundidade, dando origem às dobras, estruturas
gnáissicas, xistosas, etc; • Zona de fratura: próxima à superfície, produzindo fraturas, falhas
e fendas.

1.1.2 Atitude dos planos estruturais Dividem-se


em dois:
• Direção: é a orientação em relação ao norte, da linha resultante da interseção do plano da
camada com o plano horizontal;
• Mergulho: é o ângulo diedro formado pelo plano da camada com o plano horizontal, tomado
perpendicularmente a sua direção. Camadas horizontais apresentam um mergulho de 0º.
1.1.3 Dobras
São ondulações, convexidade ou concavidades, que aparecem em rochas originalmente planas,
com amplitudes variando de cm a centenas de km. Ex.: a Cordilheira do Himalaia.

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Figura 1.1: Cordilheira do Himalaia. Foto tirada pela NASA à partir da Estação Espacial Internacional
(2004).

1.2 Causas dos dobramentos Quanto


à origem:
a) Tectônicas : resultam de movimentos da crosta terrestre;
b) Atectônicas: resultante de movimentos localizados (deslizamentos, acomodações,
escorregamentos, etc) sob influência da gravidade e na superfície terrestre. São de âmbito
local e inexpressivas.

1.2.1 Constituição de uma Dobra


a) Plano ou superfície axial: é o plano ou superfície imaginária que divide uma dobra em duas
partes similares, que pode, ou não, ser simétricas. Podem ser vertical, inclinado ou
horizontal;
b) Eixo axial ou charneira: é a interseção da superfície axial com qualquer camada ou é a linha
em torno do qual se dá o dobramento. O ângulo que esta linha forma com a horizontal é o
mergulho ou inclinação da dobra;
c) Flancos ou limbos: são os dois lados da dobra;
d) Crista: é a linha resultante da ligação dos pontos mais elevados de uma dobra, podendo ou
não coincidir com o eixo da mesma;
e) Plano da crista: é o plano que, numa dobra, passa por todas as cristas.

Figura 1.2: Representação de uma dobra

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1.2.2 Terminologia geral das dobras
• Aspecto geométrico
a) Antiforma: convexidade voltada para cima;
b) Sinforma: convexidade voltada para baixo.
1.2.3 Tipos de dobras
a) Anticlinal: é a dobra alongada, na qual os flancos abrem -se para baixo e a convexidade
está voltada para o alto, podendo ser simétrica ou não;
b) Sinclinal: é a dobra alongada, cujos flancos abrem -se para cima e a convexidade está
voltada para baixo, podendo ser simétrica ou não;
c) Simétrica: é a dobra em que os dois flancos possuem o mesmo ângulo de mergulho;~
d) Assimétrica: os flancos mergulham com diferentes ângulos;
e) Deitada: é a dobra em que o plano axial é essencialmente horizontal;
f) Isoclinal: os dois flancos mergulham a ângulos iguais na mesma direção.
Podem ser: simétrico ou vertical, inclinado e recumbente.
g) Em leque: representada por dois flancos revirados;
h) Homoclinal: um grupo de camadas que apresentam um mergulho regular, segundo uma
mesma direção;
i) Monoclinal ou flexão: é a dobra em que se dá o encurvamento de apenas uma parte das
camadas, permanecendo as demais na sua posição original;
j) Domo: é uma estrutura ampla, com convexidade vo ltada para cima, onde as camadas
mergulham em todas as direções, de maneira mais ou menos igual, a partir de um centro
comum;
k) Bacia estrutural ou tectônica : é uma dobra ampla cuja convexidade aponta para baixo,
sendo que as camadas mergulham de todas as direções p/um centro comum.

Figura 1.3: Tipos de dobras

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Figura 1.4 Dobra Simétrica

1.3 Falhas

São rupturas e deslocamentos ao longo de um plano, e pelo qual as paredes opostas se movem
uma em relação à outra, com dimensões que variam de mm até dez e nas de km. Sua atitude ou
posição é dada pela direção e mergulho. Exemplo: a falha de San Andreas.
1.3.1 Elementos de uma falha
a) Plano de falha: é a superfície ao longo do qual se deu o deslocamento;
b) Zona ou espelho de falha: é uma faixa que acompanha o plano de falha, representada por
um fraturamento ou esmigalhamento mais intenso das rochas;
c) Linha de falha: é a linha formada pela interseção do plano de falha com a topografia;
d) Rejeito: é a medida do deslizamento linear resultante do movimento que ocasionou a falha;
e) Capa ou teto: é o bloco que fica acima do plano de falha (inclinado)
f) Lapa ou muro: é o bloco que fica abaixo do plano de falha (inclinado).

Figura 1.5: Descrição de uma falha

• Rejeito vertical (D–C): é o afastamento vertical de pontos contíguos, medido em um plano


perpendicular à direção do plano de falha.
• Rejeito horizontal (A–D): é o afastamento de pontos contíguos, medido horizontalmente em
um plano perpendicular à direção do plano de falha.
• Rejeito direcional (C–A’): é o afastamento de pontos contíguos, medido paralelamente à
direção do plano de falha.
• Rejeito total (A–A’): é o afastamento de pontos contíguos, medido no plano de falha.
• Rejeito de mergulho (B–A’): é o afastamento de pontos contíguos, medido paralelamente à
direção de mergulho do plano de falha.
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1.3.2 Tipos de falha
a) Baseado no movimento aparente:
• Falha normal ou directa: capa ou teto se movimenta para baixo em relação à lapa ou muro; •
Falha inversa: capa ou teto se movimenta para cima em relação à lapa ou muro;
b) Baseado na classificação genética:
• De empurrão: teto sobe realmente em relação ao muro, havendo compressão horizontal;
• De gravidade: teto desce em relação a o muro, ocasionando alívio de pressão na horizontal
e o bloco cai por gravidade;
• De rejeito direcional ou falhas transcorrentes: movimento dominante na horizontal, através
de compressão e alívio de tensões.
1.4 Fraturas

É uma deformação por ruptura. É um plano que separa em duas partes um bloco de rocha ou de
uma camada, e ao longo do qual não se deu deslocamento. O espaçamento entre elas pode ser de
cm a metros. Podem ser abertas ou fechadas, com ou sem preenchimento (pode ou não favorecer
na recuperação da coesão entre os blocos). A atitude e o espaçamento é importante para a
qualificação do maciço, e representam o enfraquecimento.
1.5 Orogênese

Conjunto de fenômenos vulcânicos, erosivos e diastróficos (conjunto de movimentos tangenciais,


verticais que acarretam na superfície terrestre o aparecimento de dobras e falhas) que levam à
formação de montanhas (elevações superiores a 300 m sobre o terreno circundante).

1.5.1 Montanhas de origem vulcânica


São formadas pelo acúmulo de material expulso, provenientes de partes profundas da crosta
terrestre. Às vezes predominam larvas (vulcões havaianos), outras vezes o material piroclástico
(Paracutin) e, finalmente, ambos associados (Vesúvio). Têm forma cônica, com o material
acumulando-se em torno da cratera.
Outros exemplos: Etna (Itália) e Aconcágua (Cordilheira dos Andes).
1.5.2 Montanhas de origem erosiva
c) Isoladas pela erosão: são restos de camadas horizontais que ficaram isoladas pelos efeitos
da erosão. Quando possuem o topo plano são chamadas de mesas.
d) Nos divisores de água: formadas devido à erosão fluvial.
e) Erosões diferenciais: formadas quando as rochas mais fracas são destruídas, restando as
rochas duras que se sobressaem no relevo.
Exemplos: Serra Geral do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina
1.5.3 Montanhas de origem tectônica
Formam as grandes cadeias de montanhas e se originam por dobramentos, falhas ou ambos.
Exemplos por falhamentos: Serra do Mar; As montanhas formadas por dobramentos constituem as
maiores cordilheiras. Exemplos por dobramentos: Alpes, Himalaia, Andes e Montanhas Rochosas.

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TEMA 2: ATITUDE E PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA

2. Projeção Estereográfica
A projeção estereográfica constitui um processo gráfico que, através de diagramas especiais,
permite a representação (locação) de elementos estruturais, principalmente retas e planos, para
que posteriormente possam ser determinadas suas relações geométricas.
Esse tipo de projeção tem diversas aplicações no campo da geologia estrutural, constituindo-se um
método prático de representar, no plano, elementos planares e lineares situados no espaço, com
preservação de suas relações angulares.
2.1 Fundamentos Básicos
Considerando-se uma esfera de raio R, conforme a mostrada na Figura 01, por cujo centro O passe
um plano não horizontal (Pi). A interseção desse plano com a esfera descreve um círculo de raio
R e diâmetro AB. A reta AB representa, também, a direção do plano . O plano equatorial (PE)
divide ao meio o círculo de interseção entre o plano e a esfera de referência.

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Figura 2: Elementos fundamentais dos fundamenmtos da Projeção
Estereográfica.

Eliminando-se o hemisfério superior da esfera de referência e imaginando um observador postado


no ponto V, a uma distância R verticalmente acima do centro O (Figura 2.1), o semicírculo formado
pela interseção do plano com a esfera será visualizado pelo observador segundo o arco AB,
projetado no plano equatorial.
Cada ponto do semicírculo 1,2,3 etc., será projetado no plano equatorial segundo os pontos 1’, 2’,
3’, etc. Diz-se, então, que o arco AB representa a projeção estereográfica do plano considerado e a
linha AB corresponde à direção do plano.

Figura 2.1: Projeção estereográfica do plano sobre o plano equatorial da esfera


A Figura 2.2 mostra a projeção de todos os planos que possuem direção AB e que mergulham de
10 em 10 graus para direita e esquerda.

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Figura 2.2: Projeção de todos os planos com direção AB com mergulhos sucessivos de 10 em
10 graus.
Pode-se, também, variar a direção da reta AB, dividindo-se o plano equatorial em intervalos de 10
graus (Figura 2.3). Obtém-se, então, uma rede de projeção estereográfica (Figura 2.4) com a qual
pode-se projetar quaisquer feições planares e lineares de interesse.

Figura 2.3: Variação na direção do plano 0.

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Figura 2.4: Diagrama de projeção estereográfica.

Existem vários tipos de rede estereográfica para serem utilizadas em geologia estrutural, as mais
comuns delas são as redes de Wulff (Figura 2.5) e a rede de Smith-Lambert ou rede de igual área
(Figura 2.6)

Figura 2.5: Rede de Wulff.

Figura 2.6: Rede de Igual Área

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A rede de igual área é mais apropriada para a representação de feições lineares e planares de forma
estatística, onde tem-se interesse na distribuição desses elementos na área do diagrama. A rede
de Wulff, por sua vez, é mais utilizada para exercícios de relações angulares.
Resta, agora, aprender a utilizar a rede estereográfica, na plotagem de elementos estruturais. Antes
que se comece a manipular a rede de projeção, faz-se necessário que se lembre das nomenclaturas
utilizadas para representar planos e retas.
2.2 Atitude de Feições Planares
A atitude de uma feição planar é a sua representação espacial, através de suas coordenadas
geológicas e pode ser expressa através de sua direção, seu mergulho e do sentido do mergulho.

Figura 2.7: Desenhos ilustrativos da atitude de uma feição planar(Segundo Loczy & Ladeira, 1976)

A) Afloramento ilustrando, em pontilhado, a direção do plano, enquanto a seta indica o sentido do


mergulho. B) Bloco diagrama mostrando geometricamente a relação entre a direção e o mergulho
(ângulo ), e na parte inferior a representação em mapa. C) Modo de traçar no mapa, em referência
ao norte, o símbolo da direção e do mergulho de um plano (Segundo Loczy & Ladeira, 1976)
• Direção de um plano: é a orientação em relação ao norte de uma linha resultante da
interseção desse plano com um plano horizontal imaginário. Representa o orientação de
uma linha horizontal contida no plano em questão (Figura 2.7).

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• Mergulho de um plano: é o ângulo diedro entre o plano em questão e um plano horizontal.
Esse ângulo deve ser tomado perpendicularmente à direção do plano. A linha de mergulho
representa a linha de maior declive do plano considerado (Figura 2.7)
Para se representar a atitude de um plano em mapas utiliza-se o símbolo mostrado na Figura 08B,
semelhante ao sinal utilizado em geometria para indicar o perpendicularismo (⊥). A linha maior
representa a direção da camada, sendo traçada paralela a mesma no mapa. A linha menor indica o
sentido do mergulho, sendo perpendicular à direção. O número disposto entre as duas linhas é o
valor angular do mergulho em graus. Para o caso de planos horizontais e verticais usam-se os
símbolos mostrados na Figura 2.8.

Figura 2.8: Blocos diagramas e mapas ilustrando os símbolos de coordenadas geológicas para planos: A)
inclinados, B) verticais e C) horizontais (Segundo Loczy & Ladeira, 1976).

Em diversas situações práticas tem-se mergulhos aparentes de feições planares segundo variadas
direções (Figura 2.9).

Figura 2.9: Relação entre mergulho verdadeiro e mergulho aparente em uma determina direção.

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Diversas são as nomenclaturas existentes para se escrever a atitude de uma feição planar. A seguir,
alguns exemplos.
N 200 W 350/NE: representa um plano que tem a direção de 200 com o norte, no sentido antihorário
e tem um mergulho de 350 para o quadrante nordeste . 350/700 Az: a mesma atitude acima escrita
de uma outra forma
200 Az 350/NE: outra maneira de escrever a mesma atitude acima
350 / N70E: outra maneira de escrever a mesma atitude acima
S200 E 350/NE: outra maneira de escrever a mesma atitude acima
1600 Az 350/NE: outra maneira de escrever a mesma atitude acima
2.3 Atitude de Feições Lineares
As retas podem ser representadas, basicamente, de duas maneiras:
• Pelo mergulho da reta e o rumo ou azimute da direção desse
mergulho:
Ex. = 140 /330 0 Az
• Pela direção da reta, acrescida do valor do mergulho e do seu sentido:
Ex. = 330 Az 140 /NW

3. Mapas e Seções Geológicas

Um mapa é uma representação, no plano horizontal, das informações geológicas de uma


determinada área. Um mapa representa o projeção dessas informações sobre um plano horizontal.
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Tem-se diversos tipos de mapa de interesse para o aluno de geologia.
• Mapas Topográficos: são aqueles que mostram as características topográficas de uma
determina área. Para tanto são utilizadas as curvas de nível, que representam linhas que
unem pontos de mesma cota topográfica (Figura 3.1 )
Como cota topográfica entende-se a distância na vertical do ponto considerado até uma base de
referência (datum), normalmente considerada o nível do mar local.
Para se obter o mapa de curvas de nível procede-se como mostrado na Figura 3.2. As curvas de
nível representam projeções, no plano horizontal, das linhas de interseção da topografia com planos
horizontais imaginários tomados em intervalos de cota específicos.

Figura 3.1: Exemplo de um mapa topográfico.

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Figura 3.2: Esquema de mapa topográfico obtido de um bloco

• Mapas Estruturais: são aqueles que mostram as principais feições estruturais de uma
determinada área (Figura 3.3), independentemente de outras informações geológicas.
• Mapas Geomorfológicos: são mapas que mostram as principais características
geomorfológicas de determinada área, incluindo formas de relevo, aspectos das bacias de
drenagem, etc.
• Mapas de Ocorrências Minerais: mostram as principais ocorrências minerais de uma área.
• Mapas Geológicos: são aqueles que mostram as informações geológicas de uma área,
incluindo, principalmente as unidades litológicas e/ou estratigráficas (Figura 3.4)
*De interesse especial para os objetivos desse estudo são os mapas topográficos, estruturais e
geológicos.
3.1 Seções
• Seções Topográficas
Seção ou perfil topográfico é a representação das características topográficas de um local no plano
vertical. Normalmente é construindo a partir de um corte vertical sobre mapas topográficos conforme
ilustram as Figuras 23 e 24.

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Figura 3.3: Exemplo de mapa estrutural.
• Seções Geológicas

São seções que mostram, além da topografia, os contatos entre as diversas unidades litológicas ou
estratigráficas. A Figura 25 ilustra o processo de construção dessas seções.

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Fig. 22 - Mapa geológico.

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Fig. 23 - Esquema de construção de mapa topográfico.

Fig. 24 - Esquema de construção de perfil topográfico.

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Fig. 25 - Método de construção de seção geológica a partir de mapas.

Obs.: Em todos esses desenhos de mapas e seções geológicas deveos seguintes dados: -se sempre observar a necessidade de serem incluídos

1- Título do desenho : Ex.: Mapa estrutural da região de Araçá


2- Escalas Horizontal e vertical: Ex.: 1:20 000 3- Orientação: NW - SE
4- Legenda : deve esclarecer a que se referem as principais referências contidas
no mapa.

Cálculo de Profundidades e Espessuras de Camadas


Muitas vezes o geólogo se depara com a necessidade de fazer cálculo de espessura e
profundidades de determinadas feições geológicas, partindo de dados de afloramentos.
Espessuras de Camadas • Camadas horizontais

Fig. 26 - Exemplo de camada horizontal.

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Espessura = Cota do Topo - Cota da Base

• Camadas inclinadas

a) Topografia horizontal
L
e
e= L Sem

Fig. 27- Camada inclinada em topografia


horizontal
b) Topografia inclinada no mesmo sentido da camada

L
e
e = L Sen ( - )

Fig. 28 - Camada inclinada no mesmo sentido da inclinação da topografia.


c) Topografia e camadas inclinadas em sentidos contrários

e e = L Sem ( + )

Fig. 29 - Camada inclinada no sentido oposto à inclinação topográfica.


• Profundidades

a) Terreno horizontalizado
L
A B

P = L tg
P

Fig. 30- Exemplo de terreno horizontalizado.

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b) Terreno com inclinação em sentido oposto à camada

A
L
p

M B

Fig. 31 - Camada inclinada no sentido oposto à inclinação topográfica.

P = AB + BC

AB = L Sem

MB = L Cos
P = L (Sem + Cos tg )

BC = MB tg

BC = L Cos Tg

c) Terreno com a mesma inclinação da camada

A
B L

Fig. 32 - Camada inclinada no mesmo sentido que a topografia

P = AC - AB
AB = L Sen
AC = MB tg
P = l (Cos tg - Sen)
MA = L Cos
AC = L Cos tg
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P = L Cos tg - L Sen

• Atitude de camadas em mapas


Para se determinar a atitude de uma feição estrutural planar em um mapa geológico parte-se,
inicialmente, para a determinação de sua direção. Para tanto, utiliza-se a definição de que a direção
de um plano representa uma linha horizontal contida no plano considerado. Em um mapa geológico,
para de encontrar uma linha horizontal de uma superfície basta se encontrar dois pontos,
pertencentes a essa superfície e que estejam sobre curvas de nível de mesmo valor (Fig. 33)

Figura 33 – Esquema de obtenção da direção de um plano em mapa.

A linha obtida da forma mostrada acima é denominada de linha de contorno estrutural (strike line).
Tem uma conotação semelhante à linha de nível para caracterização da topografia. No caso da
strike line, porém, ela se refere à um horizonte estratigráfico ou estrutural e não topográfico ( Figs.
34 a 36)

Fig. 34- Determinação das linhas de contorno estrutural de uma camada

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Fig. 35 - Esquema de obtenção da linha de contorno estrutural.

Fig. 36 - Esquema de construção de mapas de contorno estrutural


Pode-se construir mapas de contorno estrutural que possibilitará interpretações de estruturas
geológicas em mapas (Fig. 37)

200m 300m 400m


100
N
200

300

400

500

Fig. 37 - Mapa de contorno estrutural, mostrando um sinforme assimétrico, com eixo na direção
NW - SE
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Para se determinar o mergulho do plano no mapa, traça-se duas linhas de contorno estrutural para
a mesma superfície e, geométrica ou graficamente, determina-se o mergulho (Fig. 38)
d
200m
e
400m

Tg = d/e , onde

d = distância, na escala do mapa, equivalente a diferença de cota


entre as duas linhas de contorno estrutural;
e = menor distância entre as duas linhas de contorno estrutural;
= ângulo de mergulho da superfície

Figura 38 - Determinação do ângulo de mergulho de uma superfície.

O ângulo de mergulho pode ser obtido graficamente, através do desenho da Figura 38,
em escala, lendo-se diretamente o valor angular

• Problema dos 3 Pontos


O problema dos 3 pontos constitui uma técnica bastante útil na resolução de diversos problemas de
geologia estrutural.
Suponha que seja necessário se determinar a atitude de uma camada geológica e suas linhas de
afloramento em um mapa com curvas de nível. Será necessário que se conheça as cotas de, pelo
menos, 3 pontos diferentes.

A (400m)

400m

B(300m)
300m

C(200m)
200m
Fig. 39 - Determinação da direção de uma camada pelo problema dos 3 pontos.

Consideremos os pontos A, B e C na Figura 39, os quais estão em cotas conhecidas (400m, 300m
e 200m, respectivamente).

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Fecha-se o triângulo através dos 3 pontos e encontra-se a posição da cota de valor intermediário
na linha que une os pontos de maior valor de cota com o de menor cota. No caso do exemplo da
Figura 39, encontra-se a linha de contorno estrutural de valor de cota igual a 300m. Passa-se,
então, paralelas por essa linha para que sejam encontradas as linhas de contorno estrutural de
valores 200m e 400m (Fig. 39).
Para se obter o mergulho dessa superfície procede-se da mesma forma explicada no item 4,
anterior. Ele pode ser obtido gráfica ou analiticamente.
Para se encontrar os pontos em que essa superfície afora ao longo de todo o mapa, deve-se
encontrar todos os pontos em que a linha de contorno estrutural encontra curvas de nível de mesmo
valor de cota.

A Figura 40 exemplifica esse método. Nela, as linhas pretas representam curvas de nível, as linhas
azuis se referem às linhas de contorno estrutural para uma determinada superfície. A linha vermelha
mostra o afloramento da superfície e foi obtida unindo-se os pontos em que curvas de nível e linhas
de contorno estrutural apresentam os mesmos valores de cotas.

Fig. 40 - Esquema de obtenção da linha de afloramento de uma superfície pelo problema dos 3
pontos.

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