Você está na página 1de 71

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

RODRIGO ALBUQUERQUE CAMARGO

INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA AUDIOVISUAL BRASILEIRA:

As ações de cooperação internacional e estímulo às coproduções audiovisuais.

Rio de Janeiro
Fevereiro/2012
2

RODRIGO ALBUQUERQUE CAMARGO

INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA AUDIOVISUAL BRASILEIRA:

As ações de cooperação internacional e estímulo às coproduções audiovisuais.

Monografia apresentada ao Programa de Especialização MBE -


Analista Internacional do Núcleo de Estudos Internacionais – NEI do
Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas – CCJE, Universidade
Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

Orientador: Professor Leonardo Valente

Rio de Janeiro
Fevereiro/2012
3

RESUMO

O papel da cultura na economia e no desenvolvimento dos países tem obtido cada vez

mais relevância em diversos fóruns internacionais, resultando em um número crescente de

tratados de cooperação internacional, tais como a Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais adotada pela UNESCO no ano de 2005. Partindo deste

arcabouço, este trabalho busca apresentar os principais tratados multilaterais na área da

cultura, com enfoque nos acordos internacionais de coprodução audiovisual. A partir de dados

sobre o comércio internacional contidos no relatório da UNCTAD (2010), procuramos

destacar também a importância da economia dos setores criativos e culturais e,

especificamente, do audiovisual, na inserção do Brasil na nova dinâmica do comércio mundial

e como forma de transmitir sua cultura e seus valores. Dentro da perspectiva de ampliação das

possibilidades comerciais do produto audiovisual, analisamos as principais ações de

internacionalização do cinema nacional desenvolvidas pelo Estado brasileiro.

Palavras-chaves: indústria audiovisual, cinema, cooperação internacional, cultura e economia


criativa.
4

ABSTRACT

The role of culture in the economy and in the developing of countries occupies more and

more an relevance space in several international forums, resulting in an increasingly number

of international cooperation agreements, such as the UNESCO‟s convention on the protection

and of the diversity of cultural expressions in 2005. From this framework, this paper aims

to present the main multilateral treaties in the area of culture, focusing on international

agreements on audiovisual co-production. Using as a source international trade data on

UNCTAD‟s creative economy report (2010), we also highlight the economic importance of

cultural and creative industries, specifically audiovisual, for the insertion of Brazil into the

new dynamics of global trade and as a mean of transmitting culture and values. From the

perspective of expanding the commercial possibilities of audiovisual product, we analyse the

main actions developed by the State for internationalization of brazilian cinema.

Key-words: audiovisual industry, cinema, international cooperation, culture and creative


economy.
5

LISTA DE ILUSTRAÇÕES E GRÁFICOS

Gráfico 1 – Participação dos grupos econômicos nas exportações de bens criativos (2002 /
2008) ........................................................................................................................................42

Gráfico 2 – Exportações de bens audiovisuais por grupos econômicos, em 2002, 2005 e 2008
...................................................................................................................................................46

Gráfico 3. Importação e exportação de serviços audiovisuais no Brasil de 2002 a 2011 (US$


milhões) ....................................................................................................................................48

Gráfico 4 - Coproduções Cinematográficas realizadas entre 1995 e 2009 ..............................60

Gráfico 5 - Filmes brasileiros lançados comercialmente / filmes em coprodução internacional


(1995-2009) ..............................................................................................................................62
6

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exportação e Importação de bens e serviços criativos em 2008, por grupos


econômicos (US$ milhões).......................................................................................................41

Tabela 2 – Bens criativos: Exportações por grupos econômicos regionais, 2002 e 2008. (US$
milhões).....................................................................................................................................43

Tabela 3. Importação e exportação de serviços audiovisuais no Brasil de 2002 a 2011 (US$


milhões).....................................................................................................................................47

Tabela 4 - Quantitativo de coproduções cinematográficas em realização ...............................61

Tabela 5 - Filmes co-produzidos x filmes brasileiros lançados comercialmente (1995-


2009).........................................................................................................................................61

Tabela 6 - Quantitativo de coproduções cinematográficas realizadas por ano e país...............63


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 9

CAPÍTULO I – POLÍTICAS COMERCIAIS E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ... 14

I.1 - Políticas comerciais e industrialização ............................................................ 14

I.2 – Negociações comerciais e Cooperação internacional ................................. 18

CAPÍTULO II – CULTURA E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ............................. 21

II.1 – O papel da cultura na sociedade moderna..................................................... 21

II.2 - Cooperação internacional na área cultural ................................................ 25

II.3 – Cooperação cultural em âmbito regional ................................................. 30

II.4 – Coprodução internacional audiovisual: vantagens e desvantagens.............. 34

CAPÍTULO III – FLUXO DE COMÉRCIO DE BENS E SERVIÇOS CRIATIVOS E


AUDIOVISUAIS................................................................................................................. 40

CAPÍTULO IV – O BRASIL E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NO


AUDIOVISUAL ................................................................................................................. 49

IV.1 - Políticas de proteção e desenvolvimento do audiovisual no Brasil............ 49

IV.2 - A Política externa do Brasil para o audiovisual........................................ 51

IV.3 – Atual cenário da coprodução internacional audiovisual no Brasil............. 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 65

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 67
8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALADI - Associação Latino Americana de Integração


ANCINE – Agência Nacional do Cinema
APEX-BRASIL - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD – Banco Mundial
CAACI - Conferência das Autoridades Audiovisuais e Cinematográficas Ibero-Americanas
CNC - Centre national du cinéma et de l‟image animée
EBOPS – Extend Balance of Payment Services Classification
FMI – Fundo Monetário Internacional
GATS – Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (sigla em inglês para General Agreement
on Trade in Services)
GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (sigla em inglês para General Agreement on
Tariffs and Trade)
ICA, I.P. - Instituto de Cinema e do Audiovisual (Portugal)
ICAU - Instituto do Cinema e do Audiovisual do Uruguai
INCAA - Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales (Argentina)
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
NAFTA – North American Free Trade Agreement
OMC – Organização Mundial do Comércio
OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual
ONU – Organização das Nações Unidas
RECAM - Reunião Especializada das Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do
Mercosul
SAV – Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura
TRIPS - Acordo sobre direitos de Propriedade Intelectual (sigla em inglês para Agreement on
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights)
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
9

INTRODUÇÃO
Neste trabalho buscamos apontar para a importância dos setores culturais e criativos e,
especificamente, do audiovisual, na inserção do país na nova dinâmica do comércio mundial e
como forma de transmitir sua cultura e seus valores, por meio de ações externas, dentro de um
contexto de expansão de sua influência global e regional.

Esperamos que este trabalho, fruto de um despertar para o campo das relações
internacionais aliado à experiência profissional com o universo do audiovisual, possa
introduzir o leitor na dinâmica internacional das políticas culturais e para o audiovisual.

Temos acompanhado nos últimos anos diversas alterações no fluxo de comércio


internacional, com destaque para a emergência de novas potências globais e regionais e para o
aumento das trocas comerciais entre os países, seja entre os países desenvolvidos com os
países em desenvolvimento, seja entre os próprios países em desenvolvimento, o chamado
comércio Sul-Sul.

A evolução das relações internacionais gerou ao longo dos últimos 65 anos a criação
de organismos e tratados multilaterais, que impactaram no ordenamento jurídico das nações.
Com o advento da crise econômica em 2008, as correntes pelo livre-mercado e pela
desregulamentação das transações financeiras internacionais foram colocadas em cheque. A
integração entre os países passou a ser vista mais do que nunca como uma âncora para a
estabilidade da economia mundial. Os flagelos da crise têm gerado revoltas e revoluções nos
países árabes, protestos nos países desenvolvidos e a acentuação dos fluxos migratórios
provenientes de países em extrema pobreza ou sob ditaduras. A cooperação internacional é
uma oportunidade fundamental para a coordenação de ações conjuntas e a busca por novas
formas de desenvolvimento social e econômico.

A cooperação internacional ganhou força no pós-guerra, a partir da criação de


instituições multilaterais como o Banco Mundial - BIRD e o Fundo Monetário Internacional –
FMI em 1944 e Organização das Nações Unidas – ONU em 1945, no nível global e, em nível
regional, a Organização Européia de Cooperação Econômica – Oece em 1948 e a
Comunidade Econômica Européia – CEE em 1957.

Os principais acordos multilaterais de comércio ocorreram durante rodadas de


negociações entre países, desde a criação na primeira rodada de Genebra em 1947 do Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT (sigla em inglês para General Agreement on Tariffs
10

and Trade), culminando na oitava rodada (“Rodada Uruguai”), iniciada em 1986 e concluída
em 1994, com a criação da Organização Mundial do Comércio – OMC.

A rodada do Uruguai instituiu também o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços


(GATS) e o Acordo sobre direitos de Propriedade Intelectual (TRIPS), inserindo na pauta
comercial os bens e serviços culturais e criativos. Em contrapartida, iniciou-se um caloroso
debate nos fóruns internacionais acerca da defesa da especificidade cultural (“exceção
cultural”) dos bens e serviços culturais encabeçada pela França, tendo os Estados Unidos no
papel de antagonistas.

A cultura possui abordagens em diversas áreas. A pesquisa mesclou a leitura de seus


principais teóricos com estudos contemporâneos. Sua importância simbólica é destacada pelo
seu papel na própria formação do conceito de nação, conforme apontado por Eric Hobsbawn
(apud ABEL, 2001) e pelo seu poder de influência, “invisível” para Pierre Bourdieu (2010).
Recentemente, Joseph Nye Jr. (2004) cunhou o termo “poder brando”, em oposição ao poder
bruto econômico e militar, para designar o poder de cooptar mediante a capacidade de
modelar o que os outros desejam pela atratividade de uma cultura. Sua dimensão econômica
emerge com a revolução industrial, dando origem ao conceito de indústria cultural, cunhado
por Adorno e Horkheimer na década de 30, como uma crítica à massificação da cultura,
conceito que evoluiu ao longo do século XX, conforme apontado por Teixeira Coelho (1980).
Na década de 90 surge um novo conceito denominado indústrias criativas, termo que se
popularizou na Inglaterra e que passou a englobar além dos segmentos da indústria cultural,
outros segmentos da economia que também se utilizam de capital intelectual para sua
produção, tais como os setores de moda, arquitetura e software. (UNCTAD, 2010;
BENDASSOLI, 2009; YÚDICE, 2004).

O papel e a importância da cultura na economia e no desenvolvimento dos países


passou a ocupar um espaço vital em diversos fóruns internacionais, tais como a Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD, e a Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO. Neste sentido, a pesquisa no
âmbito da cooperação internacional ocorreu principalmente por meio de consultas aos sítios
eletrônicos dos organismos internacionais.

As trocas comerciais de bens e serviços culturais e criativos têm cada vez mais sido
objeto de convenções internacionais e acordos multilaterais, tornando-se instrumentos de
políticas públicas para os países atuarem na regulação destes setores, como opção para o
desenvolvimento econômico.
11

O apoio às indústrias culturais insere-se dentro da atuação do Estado na indução ao


desenvolvimento econômico das indústrias nacionais, por meio de políticas públicas de
proteção combinadas com ações de fomento, fundamentais para o desenvolvimento de
qualquer campo da atividade humana. Atualmente, os setores e os produtos desta ampla
indústria cultural adquiriram fundamental importância para os países, tanto pelo seu caráter
simbólico como econômico. O setor audiovisual em específico se destaca tanto em “termos de
empregos e desenvolvimento econômico, como em termos de criação de reputação e auto-
estima, que beneficiam a sociedade, o aparato produtivo e a exportação de produtos nacionais
diferenciados, em seu conjunto” (LANDERRETCHE, 2005, p. 117). Neste contexto, o apoio
estatal é vital para o desenvolvimento, sustentação e até mesmo sua existência, sendo, salvo
raras exceções, uma característica mundial da indústria cinematográfica.

No âmbito da política nacional, analisaremos as ações aplicadas pelo Estado brasileiro


para a proteção e estímulo às atividades audiovisuais no país, com foco no atual marco
regulatório do audiovisual. No Brasil, as primeiras intervenções no setor audiovisual surgem
durante o Estado Novo, com a introdução de políticas protecionistas para a exibição de filmes
brasileiros. Com a criação da Embrafilme em 1969, em pleno regime militar, o Estado
brasileiro consolida sua atuação ativa no setor audiovisual por meio de financiamentos e
coproduções, passando a operar diretamente como agente da cadeia econômica
cinematográfica com a criação da divisão de distribuição em 1973 (AMANCIO, 2000). Após
a extinção da Embrafilme em 1991 durante o governo Collor de Melo, emergem as políticas
voltadas ao livre mercado, introduzindo leis de incentivos fiscais para o patrocínio e
investimentos voltados à atividade cultural. A partir da criação da ANCINE em 2001, o
Estado volta a intervir diretamente na atividade audiovisual, por meio da regulação e, a partir
da criação do Fundo Setorial do Audiovisual em 2006, mediante o fomento direto, entre os
quais o investimento com participação nos resultados, estabelecendo uma “sociedade” com os
agentes econômicos do segmento audiovisual. Recentemente com a promulgação da Lei
12.485/11, que estabelece o marco regulatório do serviço de acesso condicionado (TV por
assinatura), cria-se uma nova perspectiva de desenvolvimento da indústria audiovisual no
Brasil.

O Brasil é um dos poucos países que possui condições de enfrentar o desafio de ter
uma indústria audiovisual auto-sustentável, em função de sua população, mercado interno e
concentração demográfica, assim como Estados Unidos, China, Índia e Rússia. Como
resultado da atual política governamental de distribuição de renda aliada ao período de
12

expansão econômica mundial pré-crise de 2008, vimos a classe C surgir como um novo
mercado consumidor em expansão. Este consumo, no entanto, não atingiu o mercado
cinematográfico, retraído em termos de oferta de salas de exibição.

Enquanto as receitas decorrentes da exibição em salas de cinema permanecem


limitadas pelo reduzido número de salas por habitante no Brasil, surgem outras perspectivas
de receitas para o produto audiovisual nacional, além do outrora forte mercado de vídeo
doméstico. As parcerias com as emissoras e programadoras de televisão vem ampliando a
participação da produção independente na grade televisiva e nas mídias eletrônicas,
possibilitando novas formas de exploração do produto audiovisual.

As fronteiras estão se abrindo cada vez mais para o produto brasileiro, reconhecido
pela criatividade artística e crescente qualidade técnica, inclusive por meio das cada vez mais
constantes coproduções internacionais que facilitam a inserção de produtos brasileiros nos
mercados internacionais. Nesta perspectiva de ampliação das possibilidades comerciais do
produto audiovisual e buscando estimular o desenvolvimento de um modelo auto-sustentável,
a internacionalização da indústria brasileira vem ganhando importância com o crescente
número de ações de estímulo à coprodução internacional e à participação do produto
audiovisual brasileiro no mercado internacional.

Isto posto apresentamos a estrutura e súmula dos conteúdos desenvolvidos nos


capítulos deste trabalho:

O capítulo I pretende traçar um panorama histórico dos processos de políticas


comerciais entre os países, abordando o desenvolvimento das políticas econômica e industrial,
a criação de organismos internacionais e tratados multilaterais de comércio. Utilizamos como
referencial teórico o manual de economia internacional de Paul Krugman e R. Obstfeld
(2001).

No capítulo II abordaremos a questão da cultura no plano internacional, seu papel


simbólico e econômico e sua introdução no sistema político internacional a partir da criação
de organismos internacionais e tratados multilaterais dedicados ao tema. Por fim, trataremos
mais especificamente da integração no âmbito do segmento audiovisual, por meio de acordos
internacionais de coprodução e cooperação.

O capítulo III se declinará sobre o fluxo do comércio internacional de bens e serviços


criativos e, especificamente do audiovisual. Optou-se por utilizar os dados relativos à
economia criativa em função da escassez de dados circunscritos à economia da cultura e pelo
13

excelente trabalho de compilação desenvolvido pela UNCTAD em seu “Creative Economy


Report 2010”.

No capítulo IV abordaremos as políticas desenvolvidas pelo Brasil para o


desenvolvimento e a internacionalização do setor audiovisual. Para o desenvolvimento deste
capítulo, foram utilizadas obras de referência do registro das relações entre Estado e Cinema
no Brasil (SIMIS, 1996), pesquisa junto aos sítios eletrônicos de órgãos do governo,
associações profissionais e de Programas específicos, além da experiência profissional pessoal
de 10 anos atuando na Agência Nacional do Cinema (ANCINE).
14

CAPÍTULO I - POLÍTICA COMERCIAL E COOPERAÇÃO


INTERNACIONAL

I.1 – Políticas comerciais e industrialização

As políticas comerciais adotadas por cerca de 30 anos após a II Guerra Mundial na


maioria dos países e, em especial naqueles em desenvolvimento, tiveram como estratégia a
utilização do Estado como articulador de um projeto de industrialização e de protecionismo,
influenciados pela crença de que a chave para o desenvolvimento econômico era a criação de
um forte setor industrial, cujo modelo foi chamado de substituição de importações.
(KRUGMAN E OBSTFELD, 2001).

Houve ainda a particularidade de que a industrialização se destinava essencialmente ao


mercado interno e de que as exportações estavam limitadas devido ao menor crescimento do
mercado mundial de produtos primários e à concorrência internacional nos produtos
industrializados:

Na maioria dos países em desenvolvimento, a estratégia básica da


industrialização tem sido desenvolver indústrias orientadas na direção do
mercado doméstico, utilizando restrições comerciais como tarifas e cotas que
estimulam a substituição de manufaturas importadas por produtos
domésticos. (KRUGMAN E OBSTFELD, 2001, p. 265)
As idéias cepalinas sobre deterioração dos termos de troca e relativa inelasticidade da
demanda por produtos primários influenciaram as políticas econômicas na América Latina
que, segundo a crítica de economistas ortodoxos, teriam subsestimado a capacidade de
exportações da região.

Isso explicaria a persistência das taxas de câmbio valorizadas e o controle das


importações via barreiras alfandegárias – reduzindo o custo de importação de bens de capital,
fazendo com que as exportações tradicionais com demanda inelástica financiassem essas
importações e estimulassem o processo de industrialização regional.

No Brasil, segundo Renato Ortiz, a partir do governo Juscelino,


[...] se instaura uma segunda revolução industrial no Brasil na medida em
que o capitalismo atinge formas mais avançadas de produção. 64 é visto,
tanto pelos economistas quanto pelos cientistas políticos, como momento de
reorganização da própria economia brasileira que cada vez mais se insere no
processo de internacionalização do capital. (ORTIZ, 1985. p. 80, grifo
nosso)
15

É neste período que ORTIZ afirma ocorrer a criação de um mercado de bens


simbólicos no Brasil:
Essas transformações mais amplas, por que passa toda a sociedade brasileira,
tem conseqüências imediatas no domínio cultural. Pode-se afirmar que, no
período em que a economia brasileira cria um mercado de bens materiais,
tem-se que, de forma correlata, se desenvolve um mercado de bens
simbólicos que diz respeito à área da cultura (ORTIZ, 1985. p. 81).
A partir dos anos 60, “o crescimento da classe média e a concentração da população
em grandes centros urbanos vão permitir ainda a criação de um espaço cultural onde os bens
simbólicos passam a ser consumidos por um público cada vez maior”. Prossegue Ortiz
salientando que “é nesta fase que se dá a consolidação dos grandes conglomerados que
controlam os meios de comunicação de massa (TV Globo, Abril, etc.); Gabriel Cohn associa
este processo de monopolização à centralização de poder no plano nacional”. (ORTIZ, 1985,
p. 84)

É neste período que o mercado brasileiro adquire proporções internacionais, inclusive


na área cinematográfica.

Mesmo na área cinematográfica, que sofre concorrência direta da televisão,


os números são significativos: em 1971 o Brasil possui 240 milhões de
espectadores, o que lhe confere a posição de quinto mercado interno
cinematográfico do mundo ocidental . (ORTIZ, 1985. p. 84)
Nas décadas de 60 e 70, as grandes transformações que ocorreram na economia
mundial impactaram fortemente a América Latina e estabeleceram restrições ou abriram
janelas de oportunidade para seu desenvolvimento e projeção no mundo contemporâneo.

Desde os anos 1970, estabeleceram-se dois movimentos de longa duração no


capitalismo contemporâneo, os quais se desenvolveram de forma
interdependente: a crise de hegemonia dos Estados Unidos e a
mundialização da revolução técnico-científica, que supera a Revolução
Industrial, tornando-a um paradigma tecnológico e civilizatório superado e
decadente. (ORTIZ, 1985. p. 85)
Já a partir dos anos 60, um novo modelo para industrialização foi desenvolvido pelas
atualmente denominadas pelo Banco Mundial como economias de alto desempenho da Ásia –
EADAs, por meio das exportações de manufaturados. A política de promoção de exportações
foi originalmente um modelo coreano. Após um período de substituição de importações, a
política de promoção de exportações iniciou-se no período 1963-71, quando se verificou que,
nas condições coreanas, essa era a única opção de crescimento. Foi promovida com subsídios
diretos para exportação e mantinha forte controle sobre importações e investimento
estrangeiro.
16

Estas economias de alto desempenho da Ásia (EADAs) se industrializaram


não por substituição de importações, mas por meio da exportação de bens
manufaturados. Elas são caracterizadas tanto por ter altas proporções de
comércio em relação à renda nacional como por taxas de crescimento
extremamente altas. As razões do sucesso das EADAs são muito
controversas. Alguns observadores apontam o fato de que, enquanto não
praticaram o livre comércio, elas tiveram taxas mais baixas de proteção que
outros países em desenvolvimento. Outros assinalam o papel-chave das
políticas industriais intervencionistas perseguidas por algumas das EADAs.
Pesquisas recentes sugerem, entretanto, que as raízes do sucesso podem estar
nas causas domésticas, especialmente nas altas taxas de poupança e na
rápida melhoria na educação. (KRUGMAN & OBSTFELD, 2001, p. 280)
O processo de substituição de importações perdeu dinamismo a partir da década de 80
e o relativo sucesso de alguns países (Brasil, México, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e
Hong Kong) levou os países latino-americanos a realocar o mercado externo no centro de uma
estratégia de crescimento econômico.

No final dos anos 80, a crítica à industrialização pela substituição de


importações era amplamente aceita, não só pelos economistas, mas também
por organizações internacionais como o Banco Mundial e até mesmo
formuladores de política econômica nos próprios países em
desenvolvimento. As evidências estatísticas parecem sugerir que os países
em desenvolvimento que seguiram relativamente, na média, políticas de livre
comércio cresceram mais rapidamente que aqueles que seguiram políticas
protecionistas (apesar de a evidência empírica ter sido questionada por
alguns economistas). Esta mudança intelectual leva a uma considerável
guinada das políticas atuais, dado que muitos países em desenvolvimento
retiraram cotas de importação e reduziram tarifas. (KRUGMAN &
OBSTFELD, 2001, p. 269)
Com o advento dos choques do petróleo, em 1973 e 1979, a tecnologia tornou-se fator
crítico na competitividade industrial e nos setores de serviços, incluindo comunicação,
informática e serviços financeiros, tornando-se elemento decisivo no plano concorrencial,
cujas características afetam, praticamente, todo o sistema industrial concebido no sentido mais
amplo.

O aumento do valor do petróleo ocasionou uma reestruturação industrial, pois sendo o


combustível usado para movimentar as principais indústrias de transformação no mundo, fez
com que indústrias que gastavam muita energia, por unidade de valor adicionado, perdessem
rentabilidade e fossem fechadas ou sucateadas (tais como as indústrias têxteis, de couro,
material de transporte, construção, automobilística, siderúrgica e metalúrgica).

Por outro lado, as indústrias que utilizavam tecnologias de ponta e com baixos níveis
de consumo de energia apresentam muito maior rentabilidade, dado que sofrem pouca
transformação de matérias primas (informática, telecomunicações e eletrônica). No entanto,
exigiam alto investimento em tecnologia e mão de obra especializada.
17

Conforme aponta Luiz Costa Ribeiro,

[...] esta reestruturação industrial provoca gravíssimas conseqüências nas


economias dos países desenvolvidos: enorme desemprego, recessão, perda
de receitas tributárias e aumento de despesas sociais, financiamento às
indústrias para reestruturação, reciclagem de mão de obra e fortes
investimentos em pesquisa tecnológica. (RIBEIRO, 2010)
A reestruturação industrial provocou uma mudança radical no paradigma da própria
organização industrial, do modelo Fordista para o Toyotismo, desenvolvida pelo Japão, que
foi um dos países mais afetados com a crise do petróleo devido à escassez de fontes de
energia no país.

A política do Japão desde a metade da década de 1970 passou a ter o


objetivo de promover um novo grupo de indústrias, as “intensivas em
conhecimento”, ou indústrias de alta tecnologia. As ferramentas da política
estratégica têm sido uma combinação de subsídios modestos para pesquisa e
desenvolvimento e promoção de projetos de pesquisa feitos conjuntamente
pelo governo e indústria, visando desenvolver tecnologias novas e
promissoras. (KRUGMAN & OBSTFELD, 2001, p. 295)
Ainda segundo Luiz Costa Ribeiro,

[...] a qualificação dos recursos humanos exigidos pela produção toyostista


tornou-se o principal fator de competitividade na produção industrial nas
décadas seguintes. [...] O novo paradigma de organização industrial exige
elevados níveis de qualificação e subentende, um sistema nacional de
inovação tecnológica ativo e atuante, capaz de reduzir significativamente o
tempo necessário entre uma nova invenção e sua implementação industrial.
(RIBEIRO, 2010)
De acordo com BECK (2000, 2002 apud BENDASSOLI, 2009) a economia pós-
industrial surge da mudança de uma economia fundamentada no uso intensivo de capital e
trabalho, e orientada para a produção em massa (industrial), para uma economia na qual o
capital tem base intelectual, fundamentando-se no indivíduo, em seus recursos intelectuais, na
capacidade de formação de redes sociais e na troca de conhecimentos. Essa mudança vem
associada a uma nova retórica, que ressalta os imperativos da originalidade e da criatividade,
e celebra o culto das mudanças, das rupturas e da inovação (HOWKINS, 2001 apud
BENDASSOLI, 2009).

É neste contexto de evolução das telecomunicações e convergência tecnológica, que se


sobressaem as economias baseadas no conhecimento, fazendo com que as indústrias culturais
e, num contexto mais amplo, as indústrias criativas, ganhem importância como uma real
alternativa para o desenvolvimento das nações.
18

I.2 – Negociações comerciais e cooperação internacional

A partir da década de 30 houve uma liberalização progressiva do comércio mundial,


ocorrida em parte por meio de negociações internacionais. A vantagem destas negociações
reside no fato de que um acordo mútuo ajuda a mobilizar apoio ao comércio mais livre e
também auxiliam os governos no sentido de não entrarem em guerras comerciais.
(KRUGMAN E OBSTFELD, 2001, p. 241).

As negociações internacionais também favorecem um comércio mais livre ao levarem


os exportadores domésticos a atuarem como um contrapeso à assimetria de informações
existentes entre os produtores concorrentes das importações e os consumidores. (KRUGMAN
E OBSTFELD, 2001, p. 242).

Embora as guerras comerciais não sejam graves como as guerras de armamento, o


problema em evitá-las é semelhante, e em ambas as situações aplica-se o dilema dos
prisioneiros da teoria dos jogos. “Cada governo estará melhor ao limitar sua própria liberdade
de ação, uma vez que o outro país também limita sua liberdade de ação. Um tratado pode
trazer vantagens a todos.” (KRUGMAN E OBSTFELD, 2001, p. 243).

No mundo real, existem muitos países e muitos graus de política de


comércio entre o livre comércio e a proteção total contra as importações. No
entanto, o exemplo sugere que existe a necessidade de coordenar as políticas
de comércio por meio de acordos internacionais e que tais acordos podem
realmente fazer a diferença. Com efeito, o sistema atual de comércio
internacional é construído em torno de uma série de acordos internacionais.
(Krugman e Obstfeld, 2001, p. 243).
Os tratados1 na área de política comercial intensificaram-se após a II Guerra Mundial,
a partir da constatação de que a para preservar a paz mundial seria necessário aprofundar a
cooperação econômica e financeira internacional. Inicialmente foi proposta a criação de uma
organização internacional do comércio, de forma a regular as relações comerciais entre os
países. Esta tentativa falhou, segundo alguns autores pela difícil implementação do acordo na
prática. (VALLS, 1997). Ocupando este espaço, foi estabelecido em 1947 o General
Agreement on Tariffs and Trade (GATT), dando origem a diversas rodadas de negociações
comerciais em busca de reduções multilaterais de tarifas.

1
Uma das definições jurídicas de tratado é apresentada a seguir: “Tratado é todo acordo formal, concluído entre
sujeitos de direito internacional público e destinado a produzir efeitos jurídicos. Não é relevante que o acordo se
exprima em um único documento ou em dois ou mais instrumentos conexos.” (AMARAL JUNIOR, 2008, p. 47)
19

Apesar de ter havido algum progresso nos anos 30 no sentido de


liberalização do comércio por meio de acordos bilaterais, desde a II Guerra
Mundial a coordenação internacional vem ocorrendo principalmente por
meio de acordos multilaterais sob a proteção do General Agreement on
Tariffs and Trade. O GATT, que compreende a burocracia e um conjunto de
regras de conduta, é a instituição central do sistema de comércio
internacional. O mais recente acordo mundial do GATT também estabelece
uma nova organização, a Organização Mundial do Comércio (OMC), para
monitorar e pôr em prática o acordo. (Krugman e Obstfeld, 2001, p. 254)
Desde 1945, ocorreram oito rodadas de negociações que originaram os principais
acordos multilaterais de comércio. “Os primeiros cinco tomaram a forma de negociações
bilaterais „paralelas‟, em que cada país negociava aos pares, ao mesmo tempo, com diversos
países”. A oitava rodada (“Rodada Uruguai”), iniciada em 1986 e concluída em 1994, tratou
de diversos temas relativos ao comércio internacional, cujos resultados mais importantes
podem ser reunidos em dois grupos: liberalização comercial, principalmente nos setores de
agricultura e roupas, e reformas administrativas, dentre as quais a criação da Organização
Mundial do Comércio – OMC. (KRUGMAN & OBSTFELD, 2001, p. 244-246).

Destacamos ainda no âmbito do GATT, o subacordo denominado Acordo Geral sobre


Comércio e Serviços (GATS), que passou a regular o comércio mundial em serviços, dentro
do qual se inserem grande parte da economia da cultura e do audiovisual, isto é, em coisas
intangíves, que nunca haviam sido sujeitas a nenhum acordo sobre um conjunto de regras.
(KRUGMAN E OBSTFELD, 2001)

A cooperação internacional desenvolvida ao longo da segunda metade do século XX,


no entanto, já não atende aos desafios postos para o mundo atual, tais como o
desenvolvimento sustentável, a redução das desigualdades sociais, da pobreza e da fome.
Conforme afirmam Marcio Pochmann e Marco Farani, “o progresso obtido por países das
diferentes vertentes de cooperação internacional confirmam haver chegado o momento de se
rever velhos conceitos e estratégias.” (ABC, 2010, p. 9). E prosseguem:

Neste sentido, mais do que testemunhas, os países em desenvolvimento


precisam assumir a responsabilidade de propor novos caminhos para a
cooperação internacional, nos quais os princípios de solidariedade e
atendimento às reais necessidades desses países, sem condicionalidades, se
constituam na principal referência para a mobilização de recursos físicos,
humanos, técnicos e tecnológicos em escala global. O amadurecimento dos
países em desenvolvimento lhes assegura autonomia para conceber
estratégias de desenvolvimento plenamente aderentes a políticas de longo
prazo, concebidas a partir das necessidades específicas de suas respectivas
sociedades. (Pochmann e Farani apud ABC, 2010, p. 9)
20

Dentro deste contexto, a cooperação internacional amplia-se para novos fóruns, tais
como o G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, que ganhou
importância após a crise mundial de 2008, eclipsando o G-8, e o BRICS2, agrupamento
Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul.

No âmbito regional, destacamos as instâncias das quais o Brasil possui participação


ativa, tais como a União das Nações Sul-Americanas - Unasul, o Mercado Comum do Sul -
Mercosul, o Sistema Econômico Latino-Americano – Sela, a Associação Latino-Americana
de Integração - Aladi e a Organização dos Estados Americanos – OEA. (ABS, 2010)

Em prefácio ao estudo da Agência Brasileira de Cooperação – ABC, o então


presidente da república do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, ao defender o entendimento de
seu governo sobre a cooperação internacional destaca que:

A Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional busca,


portanto, contribuir com o movimento de renovação da agenda do
desenvolvimento no século XXI, marcado pela busca por modelos de
desenvolvimento que possam conjugar crescimento econômico com inclusão
social e prosperidade nacional com sustentabilidade e estabilidade global.
(SILVA apud ABC, 2010, p. 7)
Dentro deste novo paradigma da cooperação internacional, acreditamos que a cultura
desempenha um papel vigoroso neste campo, sendo um instrumento para este novo modelo de
desenvolvimento, já estando presente nas novas relações estabelecidas a partir das alterações
dos centros de poder mundial, conforme procurarmos demonstrar no próximo capítulo.

2
“A idéia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O´Neil, em estudo de 2001,
intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-
financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento,
propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III
Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS”. Disponível em: <
http://www.itamaraty.gov.br/temas/mecanismos-inter-regionais/agrupamento-brics>; Acesso em 15 fev. 2012.
21

CAPÍTULO II – CULTURA E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

II.1 – O papel da cultura na sociedade moderna

O papel da cultura na constituição da sociedade moderna e do sistema de nações tem


sido cada vez mais discutido e valorizado. Sua importância é destacada pelo seu papel na
própria formação do conceito de nação, conforme apontado por Eric Hobsbawn (apud ABEL,
2001).

A existência das „economias nacionais‟, dependeu da existência dos


„estados-nação‟, como observa Hobsbawn, isto é, macroestruturas de
instituições interconectadas nas quais aquelas ligadas à educação e à
cultura (incluindo a imprensa) assumiram particular importância na
construção de um sentido nacional de “identidade coletiva”. Essas
instituições foram o principal local de uma concepção discursiva da nação
“como um sistema significação cultural [...] (ABEL, 2001, p. 258, grifo
nosso)
Para Richard Abel, em ensaio no livro “O cinema e a invenção da vida moderna”, o
surgimento da cultura de massa e, mais especificamente, da industrialização do cinema no
início do século XX é o cenário propício para investigar a relação entre o desenvolvimento da
sociedade moderna de consumo e a “ambivalência ideológica” do “estado-nação”.

Foi então que o cinema como um fato específico da modernidade – uma


nova tecnologia de percepção, reprodução e representação; uma nova
mercadoria cultural de produção e consumo em massa; um novo espaço
de congregação social na esfera pública – foi inscrito nos discursos do
imperialismo e do nacionalismo e de suas pretensões conflitantes,
respectivamente, de supremacia econômica e cultural (ABEL, 2001, p. 258,
grifo nosso).
A cultura possui uma forte dimensão simbólica, expressa por um poder simbólico
conforme expressão destacada por Pierre Bourdieu, que o define como um poder invisível, “o
qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão
sujeitos ou mesmo que o exercem.” (BOURDIEU, 2010, pp. 7-8).

No campo sociológico, a cultura também atua como estratégia de batalha ideológica


pela conquista da hegemonia, conforme aponta Dênis de Moraes:

Na perspectiva de Gramsci (2002a e 2002b), o conceito de hegemonia


caracteriza a liderança ideológica e cultural de uma classe sobre as outras. É
obtida e consolidada em embates sociais que não comportam apenas as
questões vinculadas à estrutura econômica (ainda que esta interfira na
organização política; englobam também visões de mundo que ambicionam
conquistar consentimento a saberes, práticas, modelos de representação e
concepções de autoridade e poder. As disputas por posições incluem assim o
22

plano ético-cultural, as orientações ideológicas que querem legitimar-se


socialmente e universalizar-se. (MORAES, 2009. p. 35)
O papel da cultura na política externa dos países é analisado por Edgar Telles Ribeiro
no livro “Diplomacia Cultural: seu papel na política externa brasileira” 3, onde o autor afirma
que “nenhum instrumento de aproximação entre povos será tão diversificado, tão dotado de
recursos simbólicos e riquezas, ou de matizes em permanente estado de renovação, quanto as
manifestações culturais”. (2011, p. 37)

No mesmo sentido, Ribeiro destaca que “nenhum outro instrumento trará implícita a
noção de prestígio que geralmente está associada à cultura”, importante para a construção de
uma imagem e transmissão de um pensamento e, portanto, maior influência e prestígio,
conforme corroboram Suppo & Lessa:

A cultura pode ser considerada como “um elemento que, em maior ou menor
medida, condiciona a política exterior dos países e, para tanto, é
instrumentalizada pelo estado em busca da influência e prestígio no cenário
internacional. (2004, p. 156)
Este poder de influência e sedução foi traduzido por Joseph Nye Jr. (2004) pelo termo
“poder brando”, em oposição ao poder bruto econômico e militar, que tende a intimidar.

O poder de cooptar seria a capacidade para modelar o que os outros desejam


pela atratividade de uma cultura. [...]
Como a cultura é um dos recursos que podem ser usados como geradores de
poder brando, é importante apresentar seu entendimento ou definição “como
um conjunto de valores e práticas que criam significado para a sociedade.”
(NYE, 2004, apud SCHNEIDERMAN, 2007, pp. 29 e 31)
A cultura não é só importante por causa dos valores simbólicos de que ela é portadora
e sim também pelo fato de que ela é absolutamente essencial para o desenvolvimento e a
preservação da paz. (AZULAY apud FARANI, 2009)

Além da transmissão da cultura por meio simbólicos, a cultura também pode ser
transmitida pelo comércio, intercâmbios, contatos sociais e turismo, entre outras formas de
difusão. No âmbito da diplomacia cultural, Ribeiro relaciona-a aos seguintes temas ou idéias,
entre outros: “a) intercâmbio de pessoas; b) promoção da arte e dos artistas; c) ensino de
língua, como veículo de valores; d) distribuição integrada de material de divulgação; e) apoio
a projetos de cooperação intelectual; f) apoio a projetos de cooperação; g) integração e
mutualidade na programação.” (2011, p. 31)

3
Editado originalmente em 1989, derivado de tese apresentada ao Curso de Altos Estudos do Instituto Rio
Branco, ganhou nova edição em 2011, disponibilizada no sítio eletrônico da Fundação Alexandre Gusmão.
Disponível em: <http://www.funag.gov.br/>. Acesso em 30 jan. 2012.
23

Regina Schneidermann, em sua tese de mestrado, cita o exemplo do intercâmbio de


estudantes:

Um exemplo para esse tipo de poder brando são as idéias e valores


americanos absorvidos pelos mais de meio milhão de estudantes estrangeiros
que todo ano vão estudar nas universidades americanas. Esses estudantes
muitas vezes retornam para seus países e tornam-se líderes em seus governos
e isso vai influir quando tiverem que fazer negociações ou tomar decisões.
(SCHNEIDERMAN, 2007, p. 31)
No campo das expressões culturais, a produção de imagens, pelo cinema e televisão,
principalmente, representa um dos mais fortes exemplos de poder brando. Scheneidermann
também explora os conceitos de poder brando defendidos por Joseph Nye em seus livros:

Nye entende que o “poder brando não está nas mãos do governo e que a
cultura popular norte-americana tem alcance global independente do que
fizerem. Não há como escapar à influência de Hollywood, da CNN e da
Internet. Os filmes e TV americanos exprimem a liberdade, o individualismo
e a mudança tanto quanto ao seco e à violência. Geralmente, o alcance global
da cultura dos EUA contribui para aumentar o poder brando, ou seja, a
atração ideológica e cultural que exercem” (NYE, 2002 apud
SCHNEIDERMAN, 2007, p. 32)
Ainda para NYE,
“O jogo político na era da informação sugere que a importância relativa do
poder brando está crescendo. Os países que são provavelmente mais
atrativos e ganham poder brando na era da informação são aqueles que
multiplicam os canais que ajudam nos debates; que dominam a cultura e as
idéias e estão mais próximos das regras globais que estão em voga (nas quais
enfatiza o liberalismo, o pluralismo e a autonomia); cuja credibilidade é
aumentada pelos seus valores e políticas domésticas e internacionais. Essas
condições sugerem oportunidades para os Estados Unidos, mas também para
a Europa e outros.” (NYE, 2002 apud SCHNEIDERMAN, 2007, p. 32)
Os Estados Unidos tornaram-se mais atuantes em termos de poder brando
com a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. Nesse período eles
criaram a CIA, a Voz da América, o programa Fullbright, e etc. Entretanto,
muito do poder brando americano não está diretamente vinculado ao
governo. Mesmo antes da Guerra Fria as empresas, os publicitários e os
diretores de cinema americanos vendiam para o resto do mundo não apenas
produtos, amas a cultura e os valores americanos. “O poder brando é criado
em parte pelo Estado, em parte à revelia dele”. (NYE, 2002 apud
SCHNEIDERMAN, 2007, p. 33)
Na era da globalização, o papel da cultura tem sido destacado tanto do ponto de vista
sociopolítico como econômico, conforme defende George Yúdice em seu livro “A
Conveniência da Cultura”:

A desmaterialização característica de várias fontes de crescimento


econômico – por exemplo, os direitos de propriedade intelectual segundo a
definição do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) – e a maior
distribuição de bens simbólicos no comércio mundial (filmes, programas de
televisão, música, turismo etc.) deram à esfera cultural um protagonismo
24

maior do que em qualquer outro momento da história da modernidade. Pode-


se dizer que a cultura simplesmente se tornou um pretexto para a melhoria
sociopolítica e para o crescimento econômico, mas, mesmo se fosse esse o
caso, a proliferação de tais argumentos nos fóruns onde se discutem projetos
referentes à cultura e ao desenvolvimento locais, bem como na UNESCO, no
Banco Mundial e na assim chamada sociedade civil globalizada que reúne
fundações internacionais e ONGs, todos esses fatores têm operado uma
transformação naquilo que entendemos por cultura e o que fazemos em seu
nome.
[...] hoje em dia é quase impossível encontrar declarações que não
arregimentem a instrumentalização da arte e da cultura, ora para melhorar as
condições sociais, como a criação de tolerância multicultural e participação
cívica através de defesas como as da UNESCO pela cidadania cultural e por
direitos culturais, ora para estimular o crescimento cultural urbano e
concomitante proliferação de museus para o turismo cultural, culminados
pelo crescente número de franquias de Guggenheim. (YÚDICE, 2004, p. 27)
Sua dimensão econômica emerge com a revolução industrial, dando origem ao
conceito de indústria cultural, cunhado por Adorno e Horkheimer na década de 30, como uma
crítica à massificação da cultura, conceito que evoluiu ao longo do século XX, passando a
abranger toda a indústria relacionada à economia da cultura.

A importância adquirida pela cultura na área sociopolítica e econômica gerou um


campo prolífico de estudos e análises, transformando a noção de cultura e criando um novo
campo de conhecimento, cunhado como economia da cultura, ou como economia criativa,
conforme esclarece YÚDICE:

As tendências artísticas como o multiculturalismo, que enfatizam a justiça


social (talvez compreendida como uma representação visual equitativa nas
esferas pública) e as iniciativas para promover a utilidade sociopolítica e a
econômica foram fundidas numa noção daquilo que eu denomino a
“economia cultural” e aquilo que a retórica New Laborite de Blair intitulou
“economia criativa”. (YUDICE, 2006, p. 34)
O termo indústrias criativas originou-se na Inglaterra na virada do milênio, ampliando
o conceito de indústrias culturais, passando a englobar além dos segmentos da indústria
cultural, outros segmentos da economia que também se utilizam de capital intelectual para sua
produção, tais como os setores de moda, arquitetura e software, sendo incorporado pelos
organismos internacionais como a UNESCO e a UNCTAD:

Em 1998 e 2001, o departamento de cultura, mídia e esportes do governo


britânico divulgou um a série de estudos intitulada Creative Industries
Mapping Document (CIMD 1998 e CIMD 2001), em que definiu “industrias
criativas” como sendo aquelas que “tem sua origem na ciratividade,
habilidade e talento do individuo e que tem potencial para criar riqueza e
empregos por meio de ageração e exploração da propriedade intelectual”. A
terminologia foi prontamente adotada no ambito das organizações
internacionais. A UNESCO deu um pouco mais de concretude ao conceito,
delimitando-o às atividades de criação, produção e comercialização de
25

conteúdos que são intangíveis e culturais por natureza e podem tomar a


forma de bens e serviços (“indústrias culturais”), além das atividades não
propriamente culturais, porém criativas, como a publicidade, por exemplo. A
UNCTAD e a OMC seguiram textualmente a definição dos CIMDs e
adotaram um quadro sinótico que divide as industrias criativas em seis
categorias: (a)... (d) audiovisual – cienam, TV, rádio, internet e fonogramas.
(VASCONCELOS, 2010 - p. 80)
Segundo o Creative Economy Report 2008, a economia criativa “implica um
deslocamento dos modelos convencionais para um modelo multidisciplinar que abarca a
interface entre economia, cultura e tecnologia, com foco na predominância dos serviços de
conteúdo criativo. Por sua estrutura multidisciplinar, a economia criativa oferece uma opção
factível de ser incorporada na estratégia de desenvolvimento de países em vias de
desenvolvimento”. (UNCTAD, 2008, tradução nossa)

II.2 – Cooperação internacional na área cultural

A globalização traz consigo uma ocidentalização da cultura mundial, com novos


aspectos que se manifestam e desenvolvem pelo mundo. Nos estudos sobre o mundo moderno
e contemporâneo, na busca de esclarecer a formação e desenvolvimento de nacionalidades e
nações, predomina o empenho em esclarecer o que é, o que pode ser ou o que deverá ser
“nacional” (IANNI, 1997, p. 1)

Octavio Ianni defende a adoção de outra perspectiva na análise da cultura em geral, a


partir da perspectiva aberta pela idéia de contato, intercâmbio, permuta, aculturação,
assimilação, hibridação, mestiçagem ou, conforme denomina mais propriamente,
transculturação.

Talvez seja possível dizer que a história das culturas e civilizações,


compreendendo naturalmente a literatura e a sociologia, ou seja, as artes e as
ciências sociais, seja também uma história de um longo, complexo,
surpreendente e fascinante processo de transculturação.
Para Octavio Ianni, a globalização não deve levar à suposição de que anula as
diversidades e singularidades das nações, por serem as culturas construídas a partir do
processo de transculturação, por meio da qual se mesclam e transfiguram instituições e idéias,
modos de ser, agir, pensar e imaginar (IANNI, 1997, pp. 16 e 17)

A transculturação pode ser resultado da conquista e dominação, mas também


da interdependência e acomodação, sempre compreendendo tensões,
mutilações e transfigurações. Tantas são as formas e possibilidades de
intercambio sócio-cultural, que são muitas as suas denominações: difusão,
assimilação, aculturação, hibridação, sincretismo, mestiçagem e outras, nas
quais se buscam peculiaridades e mediações relativas ao que domina e
26

subordina, impõe e submete, mutila e protesta, recria e transforma. (IANNI ,


1997. p. 4)
O processo de cooperação entre as nações adquire impulso a partir das grandes
navegações de fins do século XV. Desde então, quando os povos iniciam um intenso ciclo de
contatos, intercâmbios, trocas, tensões, lutas e transformações, são muitas as transculturações
que ocorrem em todo o mundo. (IANNI, 1997)

A rigor, toda a história moderna e contemporânea (...) é uma história de


contatos, intercâmbios, trocas, tensões, lutas, conquistas, destruições e
transformações. Nesse sentido é que essa história (...) pode ser vista como a
história de um imenso e longo experimento cultural, ou mais propriamente
civilizatório. (IANNI , 1997. p. 5)
A cooperação entre as nações insere-se dentro do papel precípuo da diplomacia em
conter a guerra. Em seu ato constitutivo, a Organização das Nações Unidas declara que "dado
que as guerras nascem no espírito dos homens, é nesse mesmo espírito que se deve cultivar a
defesa da paz" e que essa deve basear-se na solidariedade intelectual e moral da humanidade 4.

A cultura, neste sentido, é um instrumento precioso para a preservação da paz


mundial, e o intercâmbio cultural cumpre papel fundamental na promoção da compreensão
mútua entre as nações. Conforme apontado por Regina Schneidermann:

O intercâmbio cultural facilita a troca de experiências, idéias e patrimônios


entre os povos cultivando e preservando um clima favorável de
entendimento entre eles. Por mais simples que as formas de cooperação
intelectual possam ser, esses momentos irão sempre proporcionar uma maior
comunhão, contribuindo para a aproximação de povos e culturas.
(SCHNEIDERMANN, 2007, P. 46)
No atual contexto de globalização de mercados destaca-se a importância de ações que
preservem as indústrias culturais diante da liberalização do comércio mundial, que acarreta a
eliminação de medidas de proteção e estímulo ao desenvolvimento das manifestações
artísticas produzidas localmente.

Os instrumentos de proteção à cultura também têm sua origem após a II Guerra


Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – UNESCO, em 1945, cujo primeiro acordo multilateral (Agreement For Facilitating
the International Circulation of Visual and Auditory Materials of an Educational, Scientific
and Cultural) foi aprovado em 1948.

4
Disponível em: < http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/cultura/coop96.htm>. Acesso em 15 fev. 2012
27

A cooperação cultural foi objeto de uma declaração específica da UNESCO em 4 de


novembro de 1966, a Declaração dos princípios da cooperação cultural internacional 5, pelos
quais as relações internacionais devem se guiar para atingirem os objetivos de paz e
prosperidade definidos na Carta das Nações Unidas:

Proclaims this Declaration of the principles of international cultural co-


operation, to the end that governments, authorities, organizations,
associations and institutions responsible for cultural activities may
constantly be guided by these principles; and for the purpose, as set out in
the Constitution of the Organization, of advancing, through the educational,
scientific and cultural relations of the peoples of the world, the objectives of
peace and welfare that are defined in the Charter of the United Nations .
(UNESCO, 2012a)
Em seu artigo primeiro, a Declaração considera que “toda a cultura tem uma dignidade
e um valor que devem ser respeitados e salvaguardados” e que “todos os povos têm o direito e
o dever de desenvolver as respectivas culturas”. Para a UNESCO, a cooperação abrange todos
os domínios das atividades intelectuais e criadoras, relacionadas à educação, da ciência e da
cultura. E em suas diversas formas ((bilateral ou multilateral, regional ou universal) deve
atender os seguintes objetivos:

1. To spread knowledge, to stimulate talent and to enrich cultures;


2. To develop peaceful relations and friendship among the peoples and
bring about a better understanding of each other's way of life;
3. To contribute to the application of the principles set out in the United
Nations Declarations that are recalled in the Preamble to this
Declaration;
4. To enable, everyone to have access to knowledge, to enjoy the arts and
literature f all peoples, to share in advances made in science in all parts
of the world and in the resulting benefits, and to contribute to the
enrichment of cultural life;
5. To raise the level of the spiritual and material life of man in all parts of
the world. (UNESCO, 2012a)
Ainda no âmbito das Nações Unidas, destacamos a Convenção do Patrimônio cultural
e natural, cuja aprovação ocorreu durante a Conferência Geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, reunida em Paris de 17 de Outubro a 21 de
Novembro de 1972. O texto da convenção considerou que a degradação ou o desaparecimento
de um bem do patrimônio cultural e natural constitui um empobrecimento efetivo do
patrimônio de todos os povos do mundo. Para fins da proteção internacional do patrimônio

5
Disponível em: <http://portal.unesco.org/en/ev.php-
URL_ID=13147&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em 15 fev. 2012.
28

mundial, cultural e natural a Convenção estabeleceu a criação de um sistema de cooperação e


de assistência internacionais que visasse auxiliar os Estados parte na Convenção nos esforços
que dispensem para preservar e identificar o referido patrimônio. Foi criado ainda, junto da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, um comitê
intergovernamental para a proteção do patrimônio cultural e natural de valor universal
excepcional denominado Comitê do Patrimônio Mundial.

Com o desenvolvimento tecnológico e a formação de grandes conglomerados


internacionais de comunicação, as indústrias culturais passaram a ser cada vez mais objeto de
disputas internacionais, motivando a adoção de políticas de fomento e proteção. “O apelo ao
arbitramento internacional e a criação de instrumentos legais e institucionais que protejam e
desenvolvam suas culturas vêm sendo os recursos mais empregados pelos países emergentes
para enfrentar a voracidade dos países industrializados e das grandes corporações (...)”
(MORAES, 2006, p. 7).

[...] O que há de novo é que o espaço da cultura é agora ele mesmo um


objeto de disputa e também que a diluição das fronteiras substituiu a antiga
defesa da identidade nacional – típica de um período em que os limites e o
conceito de nação eram bem definidos – pela consciência de que é preciso
preservar a multiplicidade e a diferença. Não se trata mais de cada um
proteger seu espaço com argumentos nacionalistas, mas de todos atuarem
juntos em defesa da diversidade cultural.
O conflito de interesses em torno da cultura tornou-se ainda mais acirrado
desde que ela adquiriu status de indústria e seus bens e serviços passaram a
ser objeto de comércio em escala cada vez maior. A evolução das
telecomunicações, a internet, as tecnologias digitais, o mega crescimento das
corporações e, enfim, o avassalador processo de convergência tecnológica,
deram o toque que faltava para que a disputa assumisse inédita
agressividade, ao mesmo tempo em que se aprofundava a mundialização dos
sistemas de comercialização de bens culturais. (MORAES, 2006, p. 7-8).
A aplicação de políticas neoliberais no início dos anos 90, voltadas para o livre-
comércio, levaram à vulnerabilidade das culturas nacionais, especialmente dos países em
desenvolvimento. Utilizando como exemplo o audiovisual, tais políticas causaram a retração
das cinematografias nacionais na América do Sul e, no Brasil especificamente, a retirada do
Estado das políticas culturais, com a extinção de órgãos como a Embrafilme e o Concine e a
perda, pela cultura, do status de ministério, passando a ser uma secretaria do ministério da
educação. Alijada do suporte financeiro e de políticas de proteção no mercado nacional, a a
participação do cinema brasileiro ficou restrita a 0,05% do mercado entre 1992 e 1994.
(MORAES, 2006)
29

Na contra-corrente, a comunidade européia, encabeçada pela França, e um crescente


número de países em desenvolvimento, passaram a liderar o movimento de preservação da
diversidade cultural, resultando na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural em
2001 e na Convenção Sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais
aprovada no âmbito da UNESCO em outubro de 2005.

A Convenção enfatiza que a diversidade cultural constitui um dos principais motores


do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações, destacando “a necessidade
de incorporar a cultura como elemento estratégico das políticas de desenvolvimento nacionais
e internacionais, bem como da cooperação internacional para o desenvolvimento, e tendo
igualmente em conta a Declaração do Milênio das Nações Unidas (2000), com sua ênfase na
erradicação da pobreza”.

Constata ainda que:

[...] os processos de globalização, facilitado pela rápida evolução das


tecnologias de comunicação e informação, apesar de proporcionarem
condições inéditas para que se intensifique a interação entre culturas,
constituem também um desafio para a diversidade cultural, especialmente no
que diz respeito aos riscos de desequilíbrios entre países ricos e pobres.
[...] as atividades, bens e serviços culturais possuem dupla natureza, tanto
econômica quanto cultural, uma vez que são portadores de identidades,
valores e significados, não devendo, portanto, ser tratados como se tivessem
valor meramente comercial. (UNESCO, 2012b)
Dentre os objetivos da Convenção está o fomento à interação cultural, no espírito de
construir pontes entre os povos e ainda o fortalecimento da “cooperação e a solidariedade
internacionais em um espírito de parceria visando, especialmente, o aprimoramento das
capacidades dos países em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade
das expressões culturais” (UNESCO, 2012b)

A importância da integração entre os países é ressaltada no artigo 14 da Convenção,


pelo qual “as Partes procurarão apoiar a cooperação para o desenvolvimento sustentável e a
redução da pobreza, especialmente em relação às necessidades específicas dos países em
desenvolvimento, com vistas a favorecer a emergência de um setor cultural dinâmico [...]”.
(UNESCO, 2012b).
30

II.3 - Cooperação cultural em âmbito regional

A integração das políticas de cooperação em nível regional, que se fortaleceram na


Europa no pós-guerra, mediante a formação de blocos econômicos regionais, também foi
incorporando a cultura dentro de seus ordenamento jurídico. Analisaremos a seguir as
principais ações de cooperação internacional na área de cultura em âmbito regional na
Europa, na América do Sul e entre os países iberoamericanos, com foco nas ações
relacionadas ao setor audiovisual.

Cooperação cultural - Europa

Após a criação da Comunidade Européia, buscando-se a adoção de uma política de


fomento e desenvolvimento da cultura européia, que permitisse uma união mais estreita entre
os membros, foi aprovada em 1954 pelo Conselho da Europa a Convenção Cultural
Européia6, voltada para o estudo das línguas, da história e da civilização dos Estados-parte.

Ainda no âmbito europeu, a Comissão Européia (European Comission)7, corpo


executivo da União Européia, possui políticas para diversos setores, entre eles o segmento
denominado Cultura, Educação e Juventude8. A agenda para a cultura proposta pela Comissão
em 2007 fundamenta-se em três conjuntos comuns de objetivos: diversidade cultural e
diálogo intercultural; a cultura como um catalisador para a criatividade; e a cultura como um
componente-chave nas relações internacionais 9.

Para o setor cinematográfico, os Estados membros do Conselho Europeu e os Estados-


parte da Convenção Cultural Européia celebraram a Convenção Européia para a Coprodução
Cinematográfica.10 A Convenção se aplica às coproduções que reúnem ao menos três países
europeus signatários. De acordo com relatório do órgão francês responsável pelo audiovisual
(Centre national du cinéma et de l‟image animée – CNC), desde a ratificação pela França da
Convenção em 2002, o número de coproduções reunindo no mínimo três países signatários
está em progressão: “Parmi les 118 films de coproduction agréés en 2010, 41 sont coproduits

6
Disponível em <http://conventions.coe.int/Treaty/en/Treaties/Html/018.htm>. Acesso em 20 jan.2012.
7
Disponível em <http://ec.europa.eu/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.2012.
8
Disponível em <http://ec.europa.eu/policies/culture_education_youth_en.htm>. Acesso em 20 jan. 2012.
9
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/our-policy-development/european-agenda_en.htm>. Acesso em 20
jan. 2012.
10
Disponível em <http://conventions.coe.int/Treaty/EN/Treaties/Html/147.htm>. Acesso em 20 jan. 2012.
31

dans le cadre de la Convention, soit plus d'un tiers. 16 sont des films d'initiative française et
25 des films à majorité étrangère.” (CNC, 2011, p. 25)

No sub-segmento de mídia e audiovisual, destacamos ainda o programa MEDIA,


criado em 1991 para apoiar a indústria de filmes e programas televisivos, de forma a torná-la
mais competitiva e para promover a circulação e produção de produções audiovisuais
européias.

Over the past 20 years, MEDIA, the EU's support programme for the
European audiovisual industry, has supported the development and
distribution of thousands of films as well as training activities, festivals and
promotion projects throughout the continent. From 2001-2006, more than
half a billion euros were injected into 8.000 projects from over 30
countries11.
Em âmbito inter-regional, destacamos o Acordo-Quadro de Cooperação Inter-
Regional12 entre os países membros da Comunidade Européia e do Mercado Comum do Sul –
MERCOSUL, assinado em Madri em 15 de dezembro de 1995, que prevê em seu art. 21 a
cooperação em matéria de comunicação, informação e cultura, de forma a aprofundar as
relações culturais entre os países incluindo a realização de atividades culturais em conjunto.

Cooperação cultural – América Latina e países iberoamericanos

No âmbito da América Latina e dos países ibero-americanos, diversas ações de


cooperação e acordos comerciais vêm sendo firmados, ganhando força com a
redemocratização nos anos 80.

A partir da criação da Associação Latino Americana de Integração – ALADI, pelo


Tratado de Montevidéu em 1980, foi gerado o acordo regional de Cooperação e Intercâmbio
de Bens nas Áreas Cultural, Educacional e Científica, que tem por objetivo a:

[...] formação de um mercado comum de bens e serviços culturais destinado


a dar amplo âmbito à cooperação educacional, cultural e científica dos países
signatários e a melhorar e elevar os níveis de instrução, capacitação e
conhecimento recíproco dos povos da região. 13
Assinado em 1989 por Argentina, Brasil, Colômbia, México, Peru, Uruguai e
Venezuela, posteriormente recebeu a adesão dos demais países-membros da ALADI. O

11
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/media/programme/overview/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.
2012.
12 Disponível em: <http://eur-
lex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=en&ihmlang=en&lng1=en,pt&lng2=da,de,el,en,es,fi,fr,it,nl,pt,sv,&val
=211770:cs&page=>. Acesso em 15 fev. 2012.
13
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/media/programme/overview/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.
2012.
32

Acordo prevê a “livre circulação dos materiais e elementos culturais, educacionais e


científicos, obras de arte, objetos de coleção e antiguidades, registrados em seus anexos, desde
que cumpram disposições neles expressas e sejam originários de seus respectivos
territórios”.14

Na área audiovisual, os organismos oficiais do audiovisual e do cinema ibero-


americano, reunidos na cidade de Caracas em novembro de 1989, assinaram três tratados
internacionais:

i) Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana15, que busca


contribuir para o desenvolvimento da cinematografia dentro do espaço
audiovisual dos países ibero-americanos, e para a integração dos referidos
países, mediante uma participação eqüitativa na atividade cinematográfica
regional;
ii) Acordo para criação do Mercado Comum Cinematográfico Latino-
Americano16, que tem por objetivo criar para as obras cinematográficas
certificadas como nacionais pelos Estados signatários do Acordo um sistema
multilateral de participação nos espaços nacionais de exibição de obras
cinematográficas, com a finalidade de ampliar as possibilidades de mercado e
de preservar os laços de unidade cultural entre os povos ibero-americanos e do
Caribe; e
iii) Acordo latino-americano de coprodução cinematográfica17, que estabelece
que as obras cinematográficas coproduzidas nos termos do Acordo serão
consideradas nacionais pelas autoridades competentes de cada país coprodutor
e serão beneficiadas pelas vantagens previstas para as obras nacionais na
legislação vigente em cada país coprodutor. Em 2006, foi realizado o Protocolo
de Emenda ao Acordo18, que passou a se denominar, com a adesão da Espanha,
“Acordo Iberoamericano de coprodução cienmatográfica.
A partir da assinatura destes acordos e inspirada pela criação do programa MEDIA no
mercado europeu, foi criado o programa IBERMEDIA no âmbito dos países iberoamericanos,
que se constitui em um fundo multilateral no âmbito da CAACI, que opera mediante
financiamento a projetos de desenvolvimento de projetos de obras audiovisuais, coprodução,

14
Disponível em <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=447>. Acesso em 20 jan.
2012.
15
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/acordos-multilaterais/conv-nio-
de-integra-o-cinematogr-fica-ibero- >. Acesso em 20 jan. 2012.
16
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/acordos-multilaterais/acordo-
para-cria-o-do-mercado-comum-cinemato>. Acesso em 20 jan. 2012.
17
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/conteudo/acordo_latino_americano_co-
producao.pdf>. Acesso em 20 jan. 2012.
18
Disponível em:
<http://www.caaci.int/static/documentos/Enmienda_al_Acuerdo_Latinoamericano_de_Coproduccion.pdf>.
Acesso em 20 jan. 2012.
33

distribuição e promoção de filmes no mercado regional e à formação de recursos humanos


para a indústria audiovisual.

De acordo com o produtor e diretor de cinema e ex-superintendente de Assuntos


Estratégicos da ANCINE Jom Tob Azulay, que acompanhou o processo de integração
audiovisual por meio de sua participação na Federação Ibero Americana de Produtores
Cinematográficos e Audiovisuais – FIPCA, a criação do programa IBERMEDIA “só toma
ímpeto a partir do momento em que se desenvolve o programa MEDIA na Europa, quando os
instrumentos são postos em prática, como, por exemplo, o „Cribs Fund‟, que é um projeto de
elaboração, preparação de projetos e desenvolvimento de roteiros (...)” (AZULAY, 2012). Ao
citar como exemplo a participação de Porto Rico no programa, defende ainda que o
IBERMEDIA “não é um programa de cinema de integração de países, ele é de integração de
cinematografias, independente se é para uma nação, para um país soberano” (AZULAY,
2012).

O estreitamento das relações audiovisuais entre os países do Mercosul, levou seus


membros à criação da Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e
Audiovisuais do Mercosul – RECAM, em dezembro de 2003, com o objetivo de criar um
instrumento institucional para avançar no processo de integração das indústrias
cinematográficas e audiovisuais da região 19.

No âmbito bilateral também são muitos os acordos de cooperação na área cultural e do


audiovisual. Um exemplo internacional é a França, que possui acordos com mais de 40 países.
O Brasil possui acordos internacionais bilaterais de coprodução audiovisual e cinematográfica
com 11 (onze) países e protocolos de cooperação com Argentina, Uruguai, Portugal e com a
região da Galícia, Espanha. Maiores detalhes sobre os acordos assinados pelo Brasil serão
explorados no Capítulo IV.

19
Disponível em: < http://www.dc.mre.gov.br/cinema-e-tv/cinema-no-mercosul>. Acesso em 29 jan. 2012
34

II.4 – Coproduções internacionais na área audiovisual: vantagens e desvantagens.

As políticas de cooperação internacional na área do audiovisual focam nos acordos


internacionais de coprodução, pelos quais os países buscam estimular o intercâmbio de
culturas mediante parcerias entre os produtores para realização das obras audiovisuais.
Trataremos nesta seção das vantagens e desvantagens que estas parcerias representam.

Dentre os fatores que motivam a articulação de coproduções internacionais entre


empresas de dois ou mais países, podemos destacar: o caráter de bi-nacionalidade ou
plurinacionalidade da obra audiovisual, conferindo à mesma tratamento nacional em dois ou
mais países, o acesso às diversas fontes financiamento nestes países e em fundo
internacionais, o compartilhamento de riscos, estímulo ao intercâmbio de pessoal técnico e
artístico, além da criação de condições favoráveis à circulação das obras audiovisuais tanto no
mercado interno quanto externo.

Conforme apontado por Steve Solot, em “O Conceito da Co-produção


Cinematográfica Internacional” (2012):

[...] além da ampliação de mercados, das fontes alternativas de


financiamento e do acesso à projetos de produtores e roteiristas de outros
países, as co-produções internacionais, através das ferramentas de
incentivos legislativos e financeiros disponíveis, são cada vez mais atrativas
para promover o objetivo comum de expandir a indústria cinematográfica
nacional e difundir a natureza colaborativa da produção cinematográfica no
globalizado ambiente audiovisual.
Ao pesquisar as vantagens e desvantagens das coproduções, partindo do processo de
comparação entre coproduções domésticas e internacionais realizadas no mercado audiovisual
canadense, HOSKINS, MCFADYEN e FINN 20 (1996, tradução nossa), identificam o
seguinte:

Vantagens:
a) compartilhamento de recursos e riscos financeiros
b) acesso aos incentivos e subsídios do governo do país coprodutor
c) acesso ao mercado do país coprodutor
d) acesso a um terceiro mercado - a depender dos benefícios extendidos
por outros países ao coprodutor;
e) acesso a um determinado e potencial projeto iniciado pelo parceiro
benefícios culturais;
f) facilidade de acesso a locações desejadas;
g) acesso a insumos de menor custo aprendizado em termos de
marketing, produção e gestão

20
Disponível em: <http://www.cjc-online.ca/index.php/journal/article/view/924/830>. Acesso em 20 jan. 2012.
35

Desvantagens:
a) aumento dos custos de coordenação
b) aumento dos custos de filmagem
c) perda do controle e da especificidade cultural
d) aumento dos custos de transação administrativo-governamentais
e) comportamento oportunista do parceiro
f) criação de um concorrente mais forte
Segundo Alfredo Bertini, ao analisar a relevância das coproduções no âmbito das
estratégias empresariais no setor audiovisual,

[...] tem sido muito comum a construção de parcerias na produção, uma vez
que esse processo ajuda a reduzir riscos que emanam das incertezas da
demanda, sobretudo em razão do acesso aos mercados externos. Afinal, a
adoção desse tipo de experiência serve também para evitar as barreiras
protecionistas existentes em muitos países. Nessa mesma linha de raciocínio,
a estratégia também auxilia na redução das barreiras culturais, haja vista a
realização de produções que partem de roteiros mais alinhados com a
realidade e com atores de maior dimensão nos mercados.” (BERTINI, 2008, p.
143)
Neste sentido, Rodrigues Matta observa que:

Co-produções realizadas em âmbito internacional também facilitam que


produtoras ampliem sua carteira de projetos. Além disso, têm a vantagem de
reduzir as incertezas da demanda e os riscos associados na medida em que
melhoram a condição de acesso a mercados externos. Dessa forma, pode
evitar-se barreiras protecionistas nacionais e ganhar maior condição de
ultrapassar barreiras culturais de uma região, produzindo histórias e
narrativas de maior aceitação, junto com profissionais locais. (MATTA,
2004, p. 79.)

De acordo com manifestação de agentes do mercado brasileiro, publicada em matéria


especial ao provedor de informações FILME B (2008):

“Muitas vezes, a co-produção é uma forma de dividir custos e atrair recursos


privados”, diz Maurício Ramos. De fato, entre as vantagens do modelo está a
divisão de tarefas práticas e criativas em todas as etapas: desenvolvimento,
captação, produção e distribuição. Mas o que mais impele produtores ao
formato, num universo de opções limitadas de financiamento, é a
possibilidade de acessar outras fontes de recurso. Eduardo Valente21, que
atualmente finaliza seu primeiro longa, „No meu lugar‟ (co-produção da
Videofilmes com Portugal), concorda com seu produtor: “A vantagem
principal é conseguir se „desestrangular‟ das restrições do modelo de
produção brasileiro, que, ao menos no que se refere ao chamado cinema de
autor, é restritivo ao extremo”, diz. “A co-produção abre portas, permite que
a gente fuja do gargalo dos editais”.
Quase todos os filmes brasileiros são realizados, hoje, com recursos 100%
incentivados, mas uma parte dos filmes autorais, justamente, já conta com
recursos privados graças à co-produção”, afirma Maurício. A dupla (ou
múltipla) nacionalidade de um filme garante a ele, ainda, o acesso a

21
Atualmente Assessor Internacional da ANCINE.
36

mecanismos públicos de financiamento e vantagens para a comercialização.


“Uma vantagem é o direito à cota de tela”, diz Flávio Tambellini, produtor
de Mutum. “Na Europa, por exemplo, existe uma garantia de exibição que
aumenta as possibilidades de retorno”.
“Ajuda muito que o filme exista em outros mercados”, concorda Karim
Aïnouz, o consagrado diretor de Madame Satã e O céu de Suely (duas co-
produções com países europeus). “Principalmente se você tiver um bom
agente de vendas”. Karim, que prepara Praia do Futuro, co-produção entre
Brasil e Alemanha, diz ainda que “o lançamento em cinema no Brasil é só
vitrine. A existência de um mercado internacional foi o que fez com que os
filmes se tornassem rentáveis – afinal, eles deram mais dinheiro fora do
Brasil. Não foram blockbusters, mas fecharam as contas direitinho”.
Além da ampliação de mercado, o ganho em know-how e a exposição
internacional também são elementos atraentes numa co-produção. Sandra
Kogut, outra realizadora experiente no assunto, resume as vantagens e
desvantagens das co-produções: “Dá trabalho, em todos os níveis, até nas
diferenças culturais, na maneira de lidar com o trabalho. Envolve também
muitos aspectos burocráticos e técni-cos. Às vezes é enlouquecedor.... Mas
acho que vale a pena. Sempre. Traz outra dimensão a um filme, abre mui-tas
outras perspectivas, confronta o filme a outros olhares desde cedo, o que
também é interessante”. E completa: “é sempre enriquecedor lidar com
diferenças”.
O acesso aos estímulos públicos do setor audiovisual, desde a obtenção de
financiamentos à habilitação para utilizar os mecanismos de exceção cultural (cota de tela),
fundamenta-se pela certificação de origem da obra (“nacionalidade”), de acordo com critérios
e parâmetros estabelecidos na legislação interna de cada país ou flexibilizados, sob condição
de reciprocidade, nos termos dos atos internacionais bilaterais ou multilaterais (“acordos
internacionais” e outras modalidades de instrumentos jurídicos válidos), que certificam a
“binacionalidade” ou “plurinacionalidade” da obra.

Analisando o mercado audiovisual latino-americano, Octavio Getino aponta que


“comumente, a co-produção cinematográfica foi uma das alternativas empregadas por
empresários e realizadores latino-americanos para enfrentar a limitação de seus mercados
locais”. (2007, p. 32)

Conforme examinaremos no próximo capítulo o aumento dos fluxos de comércio


internacional e de acordos comerciais têm estimulado parcerias entre os países no
investimento de produtos audiovisuais, tornando a coprodução internacional cada vez mais
um meio importante de viabilizar as produções. Neste sentido, afirma Steve Solot22:

“Os incentivos fiscais nacionais e os tratados de co-produção internacionais


operam como duas ferramentas essenciais para a concretização dos objetivos
políticos de diversas nações em criar uma indústria cinematográfica

22
Disponível em: <http://www.latamtrainingcenter.com/?p=2134>. Acesso em 29 jan.2012.
37

sustentável e promover a cultura e a educação audiovisual. Os incentivos


fiscais e os subsídios para a produção cinematográfica e televisiva estão
previstos no Acordo Geral de Tarifas e Comércio internacional (GATT) da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Hoje, os incentivos e os tratados
de co-produção possibilitam a produção da maioria dos filmes voltados para
o público internacional e são componentes significativos e crescentes na
criação de políticas regulatórias audiovisuais.
Conforme mencionado por Solot, um dos poucos estudos técnicos sobre a importância
das coproduções foi publicado pelo Observatório Audiovisual Europeu em 2008. O relatório
compara o desempenho comercial de mais de 5.400 filmes europeus, realizados em
coprodução com os de nacionalidade única. As três conclusões mais importantes do estudo
são:

1) As co-produções “viajam” melhor que os filmes de nacionalidade única:


em média, as co-produções são lançadas em duas vezes mais mercados.
77% das co-produções são lançadas em pelo menos um mercado não-
doméstico comparado com 33% de filmes de nacionalidade única.
2) As co-produções faturam, em média, 2.78 vezes mais do que filmes de
nacionalidade única.
3) Em termos de ingressos vendidos, os mercados internacionais são mais
importantes para co-produções do que para filmes de nacionalidade única.
Ingressos de mercados internacionais para co-produções representam 41%
do total, comparado com 15% para filmes de nacionalidade única. 23
Em outro estudo disponibilizado pelo Observatório Europeu do Audiovisual, é
destacada a importância da coprodução para a abertura de mercados, dando como exemplos a
inserção da produção latino-americana e africana no mercado europeu:

The generally positive role played by co-productions with regard to market


access is worthy of note: 54% of Latin American films and 42% of African
films that have made their way onto the European market are majority co-
productions with Europe. If the co-productions where Latin American or
African countries are minority co-producers are also taken into account, the
proportions rise to 64% and 74% respectively. (KANZLER & LANGE,
2008)
O estudo também destaca que o desempenho comercial de filmes realizados por países
não membros da União Européia é superior quando realizado em regime de coprodução com
produtoras européias, mesmo quando a participação destes países é majoritária.

In addition, an analysis of the findings in terms of the number of admissions


clearly suggests that films co-produced between third countries and EU
countries are more successful than those that have not been co-produced.
For example, the average number of admissions in the EU for a purely
Canadian film is 58 281, while co-produced films where the Canadian co-
producer was a majority partner averaged 377.818 admissions and European

23
ibid.
38

films with Canadian involvement averaged 211.235 admissions. (KANZLER


& LANGE, 2008)
Por este estudo, fica demonstrada a importância das coproduções para abertura
de novos mercados e para o desempenho comercial dos filmes nestes mercados. Ou seja, para
um filme nacional ser exibido e obter resultados superiores, a coprodução com produtoras dos
países almejados é essencial. Na Europa, os países mais abertos a filmes estrangeiros (de fora
da União Européia) são a França, Reino Unido e Irlanda, Espanha e Itália:

An analysis by country of distribution in the 5 larger markets shows that it is


in France that the largest number of films from third countries were
distributed during the reference period (525), followed by the United
Kingdom and Ireland (520), Spain (344) and Italy (206). France is also the
country in which these films obtained the best market share (3.6%), followed
by Spain (3.1%), the United Kingdom and Ireland (2.9%) and Italy (2.3%).
(KANZLER & LANGE, 2008)
Uma outra forma de coprodução é a chamada “coprodução financeira”, prevista
inclusive em determinados acordos internacionais, que flexibilizam a participação da empresa
do país minoritário, para percentuais inferiores ao mínimo estipulado para as demais
coproduções. Esta forma de parceria, no entanto, não deve ser considerada como uma efetiva
cooperação cultural, sendo mais caracterizada como uma cooperação financeira que poderá,
no limite, oferecer bens e serviços. Estas coproduções tem gerado, inclusive, questionamentos
e preocupação entre produtores culturais e governos. Na Europa, “existe uma certa polêmica
entre as chamadas coproduções financeiras ou „europullings‟ e o que viria a ser as
coproduções reais, („europuddings‟)”. 24 (CABEZÓN y GOMES-URDÁ, 1999, p. 56, tradução
nossa)
Conforme definição dada pelo Centre National du Cinéma et de l‟Image Animée –
CNC, as coproduções financeiras são “coproduções sem aporte artístico e técnico do país
minoritário, contrariamente às coproduções tradicionais” (2011, p. 25, tradução nossa). A
França possui acordos autorizando este tipo de coproduções com três países: Itália, Espanha e
Grã-Bretanha.
A coprodução pode, no entanto, acentuar assimetrias entre dois países. Conforme
apontado pela UNCTAD, o Caribe se tornou uma popular locação para filmes americanos e
europeus, gerando empregos, trazendo recursos externos e ajudando a revitalizar a economia
local. No longo prazo, no entanto, esta situação pode inibir produções de cineastas locais, por
terem menos acesso ao financiamento e à infra-estruturas modernas e serem incapazes de

24
“Existe uma cierta polémica entre las llamadas coproducciones financieras o „europullings‟ y lo que luego
resultan ser lãs coproducciones reales („europuddings‟).” (CABEZÓN y GOMES-URDÁ, 1999, p. 56)
39

competir com produtores estrangeiros. O relatório cita o exemplo do acordo de coprodução


assinado entre a Jamaica e o Reino Unido em 2007:

In principle it is a win-win situation, with British film producers benefiting


from tax breaks, funding and support, and the free movement of production
equipment, and Jamaicans gaining opportunities for professional and
technical training, possibilities for shooting and editing facilities, better
understanding of distribution channels, and tax revenues from foreign film
investment.
However, a recent study25 suggests that such treaties can undermine local
film industries, in part by tying up resources in foreign productions. Co-
production treaties therefore should not be seen as a substitute for
comprehensive national policies to enhance local creative industries.
(UNCTAD, 2010, p. 151, grifo nosso)
Portanto, naturalmente, é importante que os formuladores das políticas públicas, ao
formularem tratados de coproduções com outros países, analisem os possíveis impactos na
indústria local, assim como os produtores devem se cercarem das devidas precauções ao se
relacionarem com empresas estrangeiras. No entanto, cremos que a internacionalização do
mercado audiovisual e a busca por parcerias além das fronteiras, por todas as vantagens
expostas, é um caminho natural e desejável para o fortalecimento da indústria audiovisual.
Analisaremos a seguir dados sobre o comércio internacional de bens e serviços criativos e,
especificamente do audiovisual, que demonstram a importância desse segmento para as
economias dos países.

Conforme apontado por Steve Solot, “além da ampliação de mercados, das fontes
alternativas de financiamento e do acesso à projetos de produtores e roteiristas de outros
países, as co-produções internacionais, através das ferramentas de incentivos legislativos e
financeiros disponíveis, são cada vez mais atrativas para promover o objetivo comum de
expandir a indústria cinematográfica nacional e difundir a natureza colaborativa da produção
cinematográfica no globalizado ambiente audiovisual.”26

25
Price and Martin (2009)
26
SOLOT, Steve. O Conceito da Co-produção Cinematográfica Internacional. Disponível em: <
http://www.latamtrainingcenter.com/?p=2134>. Acesso em 29 jan.2012.
40

CAPÍTULO III – FLUXO DE COMÉRCIO DE BENS E SERVIÇOS CRIATIVOS E


AUDIOVISUAIS

De forma a ressaltar a importância econômica das indústrias cultural e criativa,


apontaremos alguns dados constantes do Creative Economy Report 2010 da UNCTAD –
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, que revelam os números
do comércio internacional de bens e serviços criativos.
Conforme destacado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimento – Apex-Brasil, o setor de serviços é responsável por 65,3% do Produto Interno
Bruto (PIB) do Brasil, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). Em 2008, as exportações brasileiras de serviços atingiram o valor
recorde de US$ 28,8 bilhões, com crescimento superior ao da média mundial. Entre os
segmentos de serviços apoiados pela Apex, está a Economia Criativa:

A Apex-Brasil é uma importante parceira nos resultados obtidos no exterior


pelo setor de Economia Criativa e Serviços, por meio de mais de dez
Projetos Setoriais (PS) realizados em conjunto com entidades representativas
do setor. Esses projetos têm o objetivo de fortalecer a produção cultural
brasileira no mercado internacional, assim como o setor de serviços, por
meio de ações que estimulem a venda de livros, filmes, músicas, artes
plásticas, projetos arquitetônicos e a abertura de franquias de empresas
brasileiras em outros países 27.
Os bens e serviços criativos inserem-se nas regras universalmente aceitas que regem o
comércio multilateral entre os membros da OMC e outras disposições legais de acordos de
livre-comércio, união aduaneira e acordos de parceria econômica. Regras de comércio para a
indústria criativa podem também ser influenciadas por outros instrumentos legais, tais como a
Convenção da UNESCO sobre a Diversidade Cultural, em nível regional por
acordos específicos acerca de trocas comerciais culturais e pelos regimes de direito de
propriedade intelectual. (UNCTAD, 2010, p. 125)

O comércio internacional de bens e serviços criativos obteve um crescimento de 14,4


% ao ano entre 2002 e 2008, atingindo um resultado de $ 592 bilhões em 2008. Conforme
demonstra a tabela abaixo, o volume de recursos movimentados em 2008 pela economia
criativa, somadas exportações e importações, ultrapassa 1 trilhão de dólares em trocas
comerciais. A participação dos países desenvolvidos é dominante, com 64% das exportações e
76% das importações. Na área de serviços, o domínio é ainda maior, com 83% de participação

27
Disponível em: <http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan. 2012.
41

nas exportações e 79% nas importações. As exportações de bens criativos por países em
desenvolvimento mais que dobraram de 2002 para 2008, de 76 bilhões para 176 bilhões de
dólares, representando a maior participação deste grupo econômico com 43% do total de bens
criativos exportados no ano.

Tabela 1 – Exportação e Importação de bens e serviços criativos em 2008, por grupos


econômicos (US$ milhões)

Total Bens Serviços


Grupos econômicos
$ % $ % $ %
EXPORTAÇÕES 592.079 100% 406.992 100% 185.087 100%
Economias desenvolvidas 380.517 64% 227.103 56% 153.414 83%
Economias em desenvolvimento 197.393 33% 176.211 43% 21.182 11%
Brasil 6.331 1% 0,03 0% 6.331 3%
Economias em transição 14.169 2% 3.678 1% 10.491 6%
IMPORTAÇÕES 589.452 100% 420.783 100% 168.669 100%
Economias desenvolvidas 451.101 76% 317.058 75% 134.043 79%
Economias em desenvolvimento 117.168 20% 93.721 22% 23.447 14%
Brasil 4.089 1% 0,13 0% 4.089 2%
Economias em transição 21.182 4% 10.003 2% 11.179 7%
Fonte: UNCTAD, 2010 e http://unctadstat.unctad.org (elaboração própria)

A participação dos países desenvolvidos no total de exportações de bens criativos é


notável, tendo no setor audiovisual sua maior participação com 89,5%, seguido pelas artes
cênicas (86,2%), mídia impressa (80,3%), artes visuais (75,9%). Conforme aponta o relatório,
“os dados do comércio mostram claramente a importância das indústrias criativas para ambos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. E espelham o fato de que os setores de alto
crescimento e com alto valor agregado, como audiovisual e novas mídias, são exportados
principalmente pelas economias avançadas.” (UNCTAD, 2010, p. 129, tradução nossa)

No entanto, a participação dos países em desenvolvimento está crescendo em todos os


segmentos, já tendo superado em 2008 a participação dos países desenvolvidos nos segmentos
de design e novas mídias, além de superá-los com folga no segmento de artesanato com 65%
de participação. “A tendência de aumento das exportações de bens criativos das economias
em desenvolvimento se deve principalmente a um aumento substancial no subgrupo
design, onde as exportações subiram de 53,4 bilhões dólares em 2002 para 122,4 bilhões
dólares em 2008, refletindo principalmente o crescimento da China.” (UNCTAD, 2010, p.
129, tradução nossa) A tabela abaixo demonstra a divisão da participação entre os grupos
econômicos em 2002 e 2008:
42

Gráfico 1 – Participação dos grupos econômicos nas exportações de bens criativos (2002 /
2008).

Dentre as regiões que obtiveram maior crescimento de exportações destaca-se a Ásia


ocidental com 311% e os países menos desenvolvidos (LDCs), com 359%. A América Latina
foi a região das economias em desenvolvimento que apresentou menor crescimento, com 63%
de 2002 a 2008. (UNCTAD, 2010, p. 130)

Dentre os maiores exportadores de bens e serviços criativos destacam-se a China e os


Estados Unidos como primeiro e segundo colocados e a Índia, que obteve o maior
crescimento entre os 20 maiores países exportadores, com 15,7% entre 2002 e 2008.

As importações cresceram ainda mais no período 2002-2008, passando de US$ 226 bi


para 421 bi. A participação dos países desenvolvidos é muito mais significativa, embora tenha
reduzido de 83% para 75%. O setor de design ocupa majoritariamente a pauta de importações,
tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, com participação de 59% do total.
Na comparação do crescimento de importações destaca-se novamente a Ásia Ocidental, com
518% de variação entre 2002 e 2008. A América Latina supera neste aspecto a China e a Ásia
oriental e sudeste, com 161% de crescimento. Conforme aponta o relatório, “esta é uma clara
evidência de que, apesar da abundância de talentos criativos, os países em
desenvolvimento são importadores líquidos de produtos criativos.” (UNCTAD, 2010, p. 130,
tradução nossa).

Em termos de balança comercial, a China possui o maior superávit, que saltou de US$
29,41 bi em 2002 para US$ 78,73 bilhões em 2008. Este resultado reflete o déficit
comercial dos Estados Unidos com China, que é o maior entre todos os outros grupos na
economia. Dentre os 10 países mais superavitários, a Ásia aparece com 7 (sete) países,
43

aumentando sua participação em comparação com 2002 quando possuía 5 (cinco) países. Em
resumo, o Relatório aponta que “com a exceção da Ásia, as outras regiões em
desenvolvimento, particularmente África, Pacífico, Caribe e América Latina, tem consumido
cada vez mais produtos criativos importados.” (UNCTAD, 2010, p. 134)

Em termos de blocos econômicos regionais, a participação na exportação mundial de


bens criativos é liderada pela União Européia, conforme demonstra tabela abaixo:

Tabela 2 – Bens criativos: Exportações por grupos econômicos regionais, 2002 e 2008. (US$
milhões)

Apesar do ligeiro crescimento registrado, atingindo $ 1,6 bilhões em 2008, o fluxo de


comércio de bens criativos no Mercosul está muito aquém do potencial criativo da região,
conforme deduz o relatório: “the potencial of creative industries in Latin America and the
Caribbean has not benn fully explored.” (UNCTAD, 2010, p. 135) O relatório destaca ainda a
importância do comércio Sul-Sul, que se constituiria em uma:

[...] vibrante avenida para o crescimento do


comércio futuro”. Conforme aponta o relatório, “as exportações do
Sul para o resto do mundo aumentaram significativamente, de 76
bilhões em 2002 para 176 bilhões de dólares em 2008, representando
cerca de 43% do total do comércio de indústrias criativas. Mais
importante, as exportações de bens criativos aumentaram 13,5% ao
ano, ainda mais rápido que a média mundial durante este período. Isto
indica claramente um crescimento dinâmico e uma crescente
participação de mercado dos países em desenvolvimento”. (UNCTAD,
2010, p. 136, tradução nossa)
44

O emergente comércio e a dinâmica da economia dos países do Sul têm criado um


novo conjunto de relações com as economias do Norte, refletido no aumento das exportações
para estes países, que saltou de 1,4 trilhões para 6,1 trilhões de dólares entre 2002 e 2008, a
uma taxa de 10,5% ao ano. As exportações entre países do Sul têm crescido a uma taxa ainda
mais rápida, de impressionantes 20% ao ano, chegando a um volume total de 60 bilhões de
dólares em 2008, “revelando novas oportunidades para os países em desenvolvimento se
engajar em relações comerciais uns com os outros”. (UNCTAD, 2010, p. 136, tradução nossa)

Corroborando esta análise, a secretária executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, no


prólogo do documento “India and Latin America and the Caribbean: Opportunities and
challenges in trade and investment relations” aponta a reformulação das alianças estratégicas
entre os países do Sul:

A la luz de los recientes eventos económicos internacionales, India y los


países de América Latina y el Caribe deben repensar sus alianzas
estratégicas tanto global como regionalmente. Deben reposicionarse en la
economía mundial y aumentar la cooperación en innovación y capital
humano, de manera de diversificar el comercio, agregar más valor y aplicar
nuevo conocimiento a las exportaciones, ayudando así a crear condiciones
más estables para el crecimiento28
A dinâmica de comércio de bens e serviços criativos descritos pelo relatório da
UNCTAD confirma as boas perspectivas para um aumento dos fluxos de comércio regional
entre os países em todas as regiões. De acordo com o estudo Trends in Audiovisual Markets:
Regional Perspectives from the South, os acordos comerciais regionais (regional trade
agreements - RTAs), os acordos de livre comércio (free trade agreements – FTAs) e as uniões
econômicas estão estimulando o comércio e o investimento em produtos audiovisuais entre
os seus países membros (UNESCO 2006 apud UNCTAD, 2010, p. 138). Destacamos abaixo
trecho das conclusões da seção relativa ao comércio internacional de bens e serviços criativos,
que destaca a importância dos acordos multilaterais e bilaterais para a expansão do comércio
internacional:

In North-South trade, numerous bilateral agreements as well as the Central


American Free Trade Agreement are reinforcing this trend. Such agreements
help account for the sharp increase in imports of creative industry products,
especially television and radio programmes, films, books and educational
materials, including educational software. With the consolidation of FTAs
and RTAs, new forms of coproduction are emerging in the field of film
and television, including joint ventures in both the South-South and the

28
Disponível em: <http://www.eclac.org/cgi-bin/getProd.asp?xml=/prensa/noticias/comunicados
/0/45270/P45270.xml&xsl=/prensa/tpl/p6f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xsl>. Acesso em 29 jan.2012.
45

North-South spheres. Creative services such as architectural services


constitute one of the best examples of joint ventures.
Further grounds for trade liberalization can be found in the Economic
Partnership Agreement between the European Union and the ACP States; the
FTA with others countries, including the Euro-Mediterranean countries; and
the European Union bilateral treaties with other countries. These agreements
provide stronger grounds for trade liberalization than WTO agreements do
through the application of Article XXIV of the General Agreement on
Tariffs and Trade (GATT) and Article V of the General Agreement on Trade
in Services (GATS).
The growth in South-South trade of creative goods has tripled in just six
years, now accounting for 15 per cent of world trade of creative goods.
Developing countries would therefore do well to conclude their negotiations
under the Global System of Trade Preferences to spur further expansion of
South-South trade in this promising area. Despite this impressive gains
already seen, particularly in Asia, the other developing regions are not
achieving the full potential of their creative economies to foster
development. A combination of domestic policy weaknesses and global
systemic biases are the main obstacles 29. (UNCTAD, 2010, pp. 138-139,
grifo nosso)

Comércio internacional de bens e serviços audiovisuais

O relatório da UNCTAD dedica uma sub-seção para análise dos dados relativos ao
audiovisual. Após mencionar a falta de definições claras para o campo do audiovisual,
principalmente com o advento das novas ferramentas do comércio internacional (International
Trade Center – ITC) e da emergência das novas mídias e conectividade, o relatório aponta a
escassez de dados a respeito do comércio audiovisual, que não demonstram a real
contribuição deste setor para o comércio global e a economia mundial:

It is hoped that the limitations in data for audiovisuals will point towards the
need to improve the quality and coverage of statistics on trade in services for
the sake of market transparency since they are an essential tool for policy
formulation. (UNCTAD, 2010, p. 150)
Feita esta importante ressalva sobre o comércio de bens e serviços audiovisuais, que
apresentam volume muito inferior aos demais segmentos da economia criativa, os dados
disponíveis também apontam forte crescimento neste segmento, praticamente dobrando o
volume de exportações entre 2002 e 2008. Nos países em desenvolvimento, o volume saltou
de 35 milhões para 75 milhões de dólares em 2008, uma variação de 114%. No entanto, na
região da América Latina, não houve variação no volume de exportações de 2002 para 2008,

29
The key creative industries are the music and film industries, TV and radio broadcasting, performing arts, and
trade of digitalized creative content. For a sense of the magnitude of the creative economy and its overall
economic impact, see PricewaterhouseCoopers (2008), which forecasts that the global entertainment and media
industry alone will inject around $2.2 trillion in the world economy in 2012.
46

mantendo-se em 19 milhões, após uma redução para 16 milhões em 2005 (UNCTAD, 2010,
p. 309).

Gráfico 2 – Exportações de bens audiovisuais por grupos econômicos, em 2002, 2005 e 2008.

A forte e crescente participação das exportações audiovisuais provenientes dos países


desenvolvidos reforça as características de dominação cultural dos estados hegemônicos. Este
domínio limita a expansão da indústria audiovisual nos países em desenvolvimento e limitam
seu papel no comércio global. Algumas nações têm se esforçado em construir políticas
públicas de proteção e estímulo das produções nacionais, mas reivindicam a necessidade
de espaço político para agir sob o escopo das leis da OMC. (UNCTAD, 2010, p. 150).

A América Latina recebe destaque a partir do revigoramento das produções


cinematográficas, especialmente na Argentina, Brasil e México que têm produzido em média
80 filmes ao ano. A integração regional por meio do Mercosul é apontada como responsável
por um efeito positivo na área cinematográfica, conforme já destacados anteriormente neste
trabalho ao se analisar as ações de cooperação internacional na área cultural e audiovisual.

Os dados referentes ao Brasil refletem basicamente as exportações e importações de


serviços audiovisuais constantes da balança de pagamentos, classificados de acordo com o
EBOPS (Extended Balance of Payments Services Classification). Os dados relativos aos bens
audiovisuais por país, embora não constem do relatório, são encontrados no sítio eletrônico de
47

estatísticas da UNCTAD, no entanto, os dados relativos ao Brasil são insignificantes 30,


demonstrando não haver um sistema de coletas destes dados pelos órgãos públicos.

Conforme apontava o então diretor da ANCINE, Mário Diamante,

Hoje temos dificuldade para acompanhar o desempenho comercial do


cinema brasileiro fora do país. Temos o Siscomex (Sistema Integrado de
Comércio Exterior, que faz um acompanhamento da balança comercial), mas
lá existe apenas o item “audiovisual”, e o licenciamento está desagregado.
Não temos um “sisconserv”, que seria um órgão semelhante para
acompanhar a balança de serviços31.
Não à toa, o relatório da UNCTAD reforça a necessidade de melhorar a transparência
do mercado, particularmente na área do audiovisual e novas mídias. (UNCTAD, 2010, p. 137)

Extraindo-se os dados da série de balança de pagamentos do Banco Central do


Brasil32, verifica-se que as importações de serviços audiovisuais pelo Brasil vêm crescendo
num ritmo exponencial, ultrapassando 1 bilhão de dólares em 2011. Por outro lado, as
exportações permaneceram praticamente estagnadas no patamar máximo de 30 milhões de
dólares, sofrendo uma queda para 13 milhões de dólares em 2011, conforme demonstram a
tabela e gráfico abaixo:

Tabela 3. Importação e exportação de serviços audiovisuais no Brasil de 2002 a 2011 (US$


milhões)

Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Exportações (receita) 28 29 15 16 21 17 26 26 32 13
Importações (despesa) 215 250 300 314 387 456 589 725 957 1043

30
O valor máximo encontrado para exportação de bens audiovisuais pelo Brasil entre 2002 e 2010 foi de apenas
US$ 49.395 em 2007. Já em 2010, o valor registrado foi de insignificantes 994 dólares. Disponível em:
<http://unctadstat.unctad.org>. Acesso em 29 jan. 2012.
31
Em entrevista à revista “Filme B – Festival do Rio”, em setembro de 2008.
32
Série Histórica do Balanço de Pagamentos, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG>.
Acesso em 29 jan. 2012.
48

Gráfico 3. Importação e exportação de serviços audiovisuais no Brasil de 2002 a 2011 (US$


milhões)

1200
1000
US$ (milhões)

800
600
400
200
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

Fonte: Banco Central do Brasil

A partir do exposto nesta seção, fica clara a necessidade de aprimoramento da coleta


de dados relativos aos bens e serviços criativos e, especialmente, no segmento do audiovisual,
dada a sua grande importância para formulação de políticas públicas que, ao fortalecerem o
comércio internacional de bens e serviços criativos e audiovisuais, estimulam o
desenvolvimento das economias dos países.

No caso brasileiro, fica ainda mais exposto o déficit comercial em relação aos
produtos e serviços audiovisuais importados e o sub-aproveitamento do potencial deste
segmento. Neste sentido, analisaremos a seguir as políticas públicas desenvolvidas pelo Brasil
para proteção e estímulo de sua indústria audiovisual e as ações no sentido da cooperação
internacional.
49

CAPÍTULO IV – O BRASIL E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NO


AUDIOVISUAL

IV.1 – Políticas de proteção e desenvolvimento do audiovisual no Brasil

O atual marco regulatório da atividade cinematográfica e audiovisual foi introduzido


pela Medida Provisória no 2.228, de 6 de setembro de 2001, que preconiza entre seus
principais objetivos as ações de estímulo e proteção, tais como promover a cultura nacional
mediante o estímulo ao desenvolvimento da indústria audiovisual; aumentar a
competitividade desta por meio do fomento à produção, distribuição e à exibição nos diversos
segmentos de mercado e; garantir a participação das obras audiovisuais de produção nacional
em todos os segmentos do mercado interno. Como podemos ver, a legislação brasileira
demonstrou claramente a preocupação com a proteção da cultura nacional e com a
competitividade da indústria audiovisual nacional, procurando preservá-la da forte
concorrência estrangeira.
A regulação do cinema pelo Estado remonta ao início da década de 30 com o governo
de Getúlio Vargas. Conforme apontado por Anita Simis:
A intervenção do novo governo ocorreu no plano da produção, distribuição,
importação e exibição e, consequentemente, o cinema deixava de ser uma
atividade regulada apenas pelas leis de mercado. O Estado passou a regular a
atividade, atendendo a reivindicações dos diversos setores agora organizados
em entidades corporativas e projetando-se como árbitro acima dos interesses
particularistas. (SIMIS, 1996, pp. 92-93)
Com a edição do Decreto no 21.240, de 1932, institui-se a política protecionista de
reserva de mercado à produção brasileira, prevendo a exibição de um filme de curta-
metragem educativo brasileiro a cada sessão. Durante o Estado Novo, a reserva é estendida
aos filmes de longa-metragem, com o Decreto-lei 1949/39, que previa a exibição de no
mínimo um filme brasileiro de longa-metragem anualmente (AMANCIO, 2000). Atualmente,
conforme preconizado na MP 2.228/01, as salas de exibição devem exibir obras audiovisuais
brasileiras por um número de dias fixado anualmente por decreto, a chamada cota de tela. A
cota de tela é um instrumento regulatório adotado em diversos países para promover o
aumento da competitividade e a sustentabilidade da indústria cinematográfica nacional. O
Decreto 7647/2011 define para o exercício de 2012 que os cinemas terão que cumprir uma
cota de tela mínima entre 28 e 63 dias por sala, dependendo do número de salas de exibição
do complexo, e exibir no mínimo entre 3 e 14 filmes nacionais diferentes.
50

No entanto, para que esta reserva de mercado possa se traduzir em participação de


mercado há a necessidade permanente de estímulo à indústria audiovisual nacional, por meio
de ações de fomento.
Com a criação da Embrafilme pelo Decreto-Lei no 862 de 1969, em pleno regime
militar, o Estado brasileiro consolida sua atuação ativa no setor audiovisual por meio de
financiamentos (empréstimos com juros) e coproduções (com participação na renda em
proporção equivalente ao investimento em relação ao orçamento), passando a operar
diretamente como agente da cadeia econômica cinematográfica com a criação da divisão de
distribuição em setembro de 1973 (AMANCIO, 2000). Com a redemocratização, surgem as
primeiras políticas voltadas ao livre mercado, com a edição da Lei no 7.505, de 2 de julho de
1986 (“Lei Sarney”) 33, que dispõe sobre benefícios fiscais na área do imposto de renda
concedidos a operações de caráter cultural ou artístico. No entanto, em 1990, o governo
Collor revoga a Lei Sarney extingue todas demais políticas e órgãos culturais então existentes,
incluindo a Embrafilme pelo Decreto-Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990. Conforme
menciona ALMEIDA e BUTCHER (2003, p. 37), “a mudança traumática e desmoralizadora
dos anos Collor levou a atividade cinematográfica no Brasil à estaca zero. O setor de
produção permaneceu com vários títulos inconclusos, enquanto que os filmes prontos não
encontravam uma distribuidora que possibilitasse que a atividade retomasse seus passos.”

A retomada do apoio estatal à cultura e à atividade audiovisual ocorreu ao longo da


década de 90, inicialmente a partir da entrada em vigor da lei de apoio à cultura (Lei
8.313/91), que criou o Fundo Nacional de Cultura – FNC, instituiu mecanismos de incentivos
fiscais e autorizou a constituição de Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart). O
setor audiovisual foi contemplado ainda com a chamada “lei do audiovisual” (Lei no
8685/93), que permite investimentos à atividade mediante dedução integral dos valores
investidos34 do imposto de renda e também por meio de co-produções com empresas
estrangeiras contribuintes do imposto de renda na remessa de recursos ao exterior decorrentes
da exploração comercial de obras audiovisuais no território brasileiro.
Em 2006, foi criado pela Lei 11.437/06 e regulamentado pelo Decreto 6.304/07, o
Fundo Setorial do Audiovisual - FSA, uma categoria de programação específica do FNC, que

33
Chamada Lei Sarney, devido à autoria do projeto de lei que a originou, apresentado pela primeira vez pelo
ainda senador José Sarney em setembro de 1972. (http://www.sinprorp.org.br/Memorias/memoria86-88-18.htm)
34
Até o limite de 3% do imposto de renda devido para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas.
51

além de introduzir novas formas de aplicação dos recursos, apresenta uma possibilidade de
ação sistêmica na cadeia audiovisual, conforme texto do ministro da cultura Juca Ferreira:

[...] o FSA é o primeiro dos fundos setoriais que pretendemos por em


operação no FNC. O modelo de sua atuação, combinando gestores públicos e
representantes do setor; os mecanismos de financiamento diversificados e a
capacidade de atuar nos diversos elos da cadeia, são características da
mudança de paradigma que pretendemos para o financiamento da cultura no
Brasil. (AMANCIO, 2000)
Dentre as diretrizes do FSA, que tem como premissa a busca por uma maior
efetividade da política pública de fomento e o crescimento sustentado da indústria, destaca-se
a preocupação com a competitividade das empresas e da produção nacional nos mercados
interno e externo:
Melhorar a posição competitiva das empresas brasileiras
independentes do cinema e do audiovisual nos mercados interno e externo;
Estimular a produção de conteúdo cinematográfico e audiovisual com
alto grau de competitividade nos mercados doméstico e internacional 35;
Uma das formas de internacionalização da indústria audiovisual brasileira é por meio
do estímulo às coproduções internacionais, cujas ações vêm se fortalecendo e diversificando
nos últimos anos, conforme análise realizada na próxima seção.

IV.2 - A política externa do Brasil na área do audiovisual

A política cultural externa brasileira é exercida em diversos fóruns internacionais, com


destaque para a região sul-americana. Dentre os organismos e iniciativas nos quais ocorrem
negociações multilaterais na área cultural, o sítio eletrônico do Ministério das Relações
Exteriores36 elenca os seguintes:

(i) Mercosul (implantação do selo Mercosul Cultural;


itinerários/corredores culturais; cooperação na área de patrimônio);
(ii) Unasul (coordenação entre Mercosul Cultural e Convênio Andrés
Bello; inclusão de Guiana e Suriname nas iniciativas do Mercosul
Cultural);
(iii) OEA (Comissão Interamericana de Cultural; diversidade cultural;
financiamento da cultura);
(iv) Cúpula Ibero-americana (cooperação audiovisual; iniciativa
Ibermuseus; cooperação na área da promoção de idiomas);
(v) CPLP - Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (portfolio de
projetos de cooperação cultural).
O Ministério das Relações Exteriores possui em sua estrutura o Departamento
Cultural, que possui como objetivo auxiliar a promoção da cultura brasileira na exterior, em

35
Disponível em: < http://fsa.ancine.gov.br/principaisdiretrizes.htm>. Acesso em 29 jan. 2012.
36
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/negociacoes >. Acesso em 29 jan. 2012.
52

particular da língua portuguesa. Além disso, ocupa-se do relacionamento do País com as


instituições multilaterais de natureza cultural.

Por meio de suas Divisões, o Departamento Cultural negocia acordos,


desempenha atividades de organização e estabelece contatos com vistas à
realização de eventos culturais.
[...] No âmbito das relações bilaterais, cabe ao Departamento Cultural
negociar, nas comissões mistas periódicas, os programas de trabalho para
implementação dos acordos culturais existentes. Também é da sua
competência o acompanhamento e a orientação da rede de Institutos
Culturais e Centros de Estudos Brasileiros no exterior e o repasse dos
recursos necessários às atividades de divulgação cultural. No âmbito
multilateral, cabe destacar a atuação brasileira na Unesco. 37
No âmbito do audiovisual, destaca-se a Conferência das Autoridades Audiovisuais e
Cinematográficas Ibero-Americanas (CAACI), organismo multilateral criado sob o Convênio
de Integração Cinematográfica Ibero-americana que entrou em vigor em maio de 1991, após
ter sido assinado no Foro de Integração Cinematográfica celebrado em Caracas em 1989. A
CAACI é formada pela maioria dos países latino-americanos, além de Portugal e Espanha e,
como observadores, Canadá e Costa Rica. “Seu objetivo é a de promover o desenvolvimento
do setor audiovisual na região e incentivar o intercâmbio cinematográfico por meio do
fortalecimento da identidade cultural íbero-americana. Este é o primeiro passo para a
integração ibero-americana no setor”38.

O Estado brasileiro vem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso trabalhando


numa política externa de fortalecimento da presença do cinema brasileiro no exterior, por
meio do apoio às ações de promoção e participação em festivais e mostras internacionais e por
meio da intensificação da cooperação com outros países. De acordo com o sítio eletrônico do
departamento cultural do Ministério das Relações Exteriores,

O mercado internacional, embora hegemonizado pela produção dos Estados


Unidos e sua estrutura globalizada de distribuição, encontra-se em
permanente expansão de demanda por obras audiovisuais. O estabelecimento
de novos serviços audiovisuais ao consumidor, somados às janelas pré-
existentes, requer mais horas de programação, estratificando cada vez mais o
consumo. Embora o mercado interno seja o elemento principal para a
sustentação da capacidade do Brasil enquanto centro produtor de conteúdos
audiovisuais, o mercado internacional desponta como fonte
complementar de financiamento e receitas para a produção, via a
possibilidade de ampliação dos rendimentos auferidos pela exploração da
obra.

37
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/outras-noticias/conheca-o-departamento-cultural>. Acesso em 29
jan. 2012.
38
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/cinema-e-tv/cinema-iberoamericano. Acesso em 29 jan. 2012
53

Considerando a estratificação do consumo audiovisual e a forma própria


com que produtores e distribuidores armam a equação financeira de
sustentabilidade e retorno de cada obra, faz-se indispensável a superação do
insulamento da produção audiovisual brasileira. Nesse sentido, o Brasil deve
atuar para intensificar os laços com os mercados sul-americano,
europeu e outros emergentes, estabelecendo parcerias permanentes para
co-distribuição e co-produção entre empresas, estreitando relações
econômicas entre os agentes de vendas e atuando em cooperação com as
autoridades audiovisuais destes países para um ambiente de promoção
conjunta das obras audiovisuais em seus territórios. 39 (grifo nosso)
A política externa brasileira para o audiovisual possui ações em quatro áreas do
governo, em três ministérios diferentes. Ainda no Ministério das Relações Exteriores,
vinculado ao Departamento Cultural, encontra-se a Divisão de Promoção do Audiovisual
(DAV), que tem como função auxiliar no âmbito do audiovisual, a divulgação, no exterior, da
cultura brasileira e ocupa-se do relacionamento do País com as instituições multilaterais de
natureza cultural.

Por meio de contatos com a comunidade audiovisual no País, o


Departamento Cultural do Itamaraty trabalha junto a entidades públicas e
privadas de fomento ao setor (Secretaria do Audiovisual do Ministério da
Cultura, Agência Nacional do Cinema, APEX, por meio de seus programas
setoriais, ABPI-TV, Cinema do Brasil), para fortalecer a presença de filmes
e programas televisivos brasileiros no mundo40.
No Ministério da Cultura, que possui dentro de sua estrutura a Diretoria de Relações
Internacionais, a Secretaria do Audiovisual participa dos fóruns internacionais, como
a Reunião Especializada das Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul, a
RECAM, que congrega esforços entre países para integrar e fortalecer suas indústrias
cinematográficas e audiovisuais.

O MinC, em sua de atuação externa na área da cultura, tem como foco a


valorização da cultura brasileira e a intensificação das atividades de
intercâmbio e cooperação com outros países e organismos internacionais
multilaterais, sob a ótica da diversidade cultural, da inclusão social e do
fortalecimento da economia da cultura41.
Também no âmbito do Ministério da Cultura, a Agência Nacional do Cinema -
ANCINE, criada em 2001 pela Medida Provisória no 2.228-1, de 6 de setembro de 2001,
possui entre seus objetivos estimular a participação de obras brasileiras no mercado externo.
Conforme competências estabelecidas pelo Decreto no 4.456/02, a ANCINE passou a ser

39
Texto disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/negociacoes>. Acesso em 20 jan. 2012.
40
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/outras-noticias/conheca-o-departamento-cultural>. Acesso em 20
jan. 2012.
41
Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/2007/11/05/politica-externa>. Acesso em 20 jan. 2012.
54

responsável pelo gerenciamento dos projetos de obras audiovisuais e pelo fomento de ações
internacionais, por meio de programas de apoio ao desenvolvimento, produção e difusão de
obras audiovisuais realizadas em coprodução internacional. Inicialmente prevista para estar
vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio, passou a ser vinculada ao Ministério da
Cultura pelo Decreto no 4.858, de 13 de outubro de 2003.

Dentro de sua estrutura, a ANCINE possui uma assessoria internacional, que de


acordo com o regimento interno42 possui as seguintes atribuições:

7.1.23 São atribuições da Assessoria Internacional:


I. assessorar a Diretoria Colegiada na representação da Agência em fóruns e
instituições estrangeiras e internacionais;
II. acompanhar e desenvolver ações com entidades estrangeiras e organismos
internacionais da atividade cinematográfica e audiovisual;
III. encaminhar, para as diversas áreas da Agência, as demandas oriundas da
ação internacional da ANCINE;
IV. propor à Diretoria Colegiada acordos internacionais para o
desenvolvimento das atividades audiovisuais brasileiras; e
V. acompanhar e difundir internamente informações relativas ao cenário
internacional do cinema e do audiovisual.
As ações de internacionalização do audiovisual brasileiro, incluídas as participações
na RECAM43 e CAACI, são concretizadas mediante a celebração ou revisão de acordos
internacionais de coprodução, convênios bilaterais e multilaterais para o financiamento às
obras audiovisuais, além das ações diretas de apoio à difusão de obras brasileiras no exterior.

Atualmente, o Brasil possui acordos bilaterais com Argentina, Alemanha, Canadá,


Chile, Espanha, França, Israel, Índia, Itália, Portugal e Venezuela, além de ter participação em
atos multilaterais como o Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana e o
Acordo Latino-Americano de Co-Produção Cinematográfica44, estes últimos assinados
durante encontro dos organismos oficiais cinematográficos dos países ibero-americanos em
Caracas, Venezuela, em novembro de 1989.

O Brasil participa ainda de programas de fomento direto com o eixo ibero–americano,


por meio do programa IBERMEDIA, descrito anteriormente no capítulo II.3. De acordo com

42
Disponível em <http://www.ancine.gov.br/media/Normacomplementar.pdf>. Acesso em 20 jan. 2012.
43
O Brasil contribui anualmente à Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do
MERCOSUL (RECAM), no valor equivalente a 48 mil dólares norteamericanos, dos quais 50% são
desembolsados pela SAV/MinC e 50% pela ANCINE.
44
Em 2006, por meio do Protocolo de Emenda ao Acordo Latino-Americano, este passou a se denominar
“Acordo Iberoamericano de coprodução cinematográfica”.
55

Jom Tob Azulay45, a partir da criação da ANCINE em 2001 o Brasil dobrou sua participação
financeir, tornando-se o segunda maior contribuinte do Programa.

Além da revisão do acordo com a França (2010) e da recente promulgação do acordo


de coprodução com a Índia 46 (Decreto no 7597/2011), o país também negocia novos acordos
com países emergentes, como China e Rússia, e continua o processo de revisão de acordos
antigos cujos textos são considerados ultrapassados no atual cenário internacional ou em
decorrência dos avanços tecnológicos da produção audiovisual.

Por meio da Agência Nacional do Cinema – ANCINE, o Brasil possui protocolos de


cooperação bilaterais47 com Portugal, Argentina, Uruguai e com a região da Galícia na
Espanha, que estimulam as coproduções audiovisuais entre os países, por meio do
financiamento ao desenvolvimento de projetos, produção e distribuição de obras audiovisuais
realizadas em coprodução entre os países.

A cooperação mais profícua em termos de quantidade de coproduções realizadas é


com Portugal, cuja origem remonta ao acordo de coprodução cinematográfica assinado em 03
de fevereiro de 1981 (Decreto no 91.332/85) e que resultou em um protocolo de apoio
financeiro aos filmes de longa-metragem, assinado em Gramado em 12 de agosto de 1994
(“Protocolo de Gramado”), revisado em 24 de abril de 1996 e, recentemente, substituído pelo
protocolo celebrado entre o Instituto de Cinema e do Audiovisual (ICA, I.P) e a ANCINE, em
17 de julho de 200748.

A cada ano, uma comissão mista com representantes brasileiros e portugueses


seleciona quatro projetos audiovisuais de coprodução de longa-metragem luso-brasileiro,
sendo dois majoritariamente brasileiros e dois majoritariamente portugueses. A seleção dos
projetos obedece aos critérios de relevância das relações culturais entre os países envolvidos,
da qualidade técnica e artística do projeto e da relevância da participação técnica e artística
nacional do país minoritário na coprodução.

45
Entrevista ao autor.
46
O Acordo Brasil-Índia foi firmado em Nova Déli, em 4 de junho de 2007, aprovado pelo Congresso por meio
do Decreto Legislativo n o 492, de 2009 e entrou em vigor, no plano jurídico externo, para a República Federativa
do Brasil, em 3 de novembro de 2010.
47
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/protocolos-cooperacao>. Acesso
em 29 jan. 2012.
48
Disponível em:
<http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/conteudo/protocolo_luso_brasileiro_julho_2007.pdf>. Acesso em
29 jan. 2012.
56

O Protocolo de Cooperação entre o Instituto do Cinema e do Audiovisual do Uruguai


– ICAU do Uruguai e a ANCINE, celebrado em 15 de outubro de 2010, representou a base
legal para a execução em 2011 da primeira edição do Edital de Concurso que selecionou um
projeto de coprodução cinematográfica uruguaio-brasileira de longa-metragem, apresentado
por produtora brasileira que participou do projeto na qualidade de empresa coprodutora
minoritária.

Celebrado em dezembro de 2010, o Protocolo de Cooperação entre o Instituto


Nacional de Cine y Artes Visuales – INCAA da Argentina e a ANCINE representou a base
para a implementação em 2011 do apoio à coprodução cinematográfica entre esses países, por
meio da primeira edição do Concurso que selecionou dois projetos de coprodução
cinematográfica argentino-brasileira de longa-metragem, dos gêneros ficção, documentário ou
animação, apresentados por produtoras brasileiras, que participaram dos projetos na qualidade
de empresas coprodutoras minoritárias.

Também com o INCAA foi celebrado o Protocolo Brasil-Argentina Para o Fomento à


Distribuição de Filmes de Longa-metragem, em agosto de 2003, que resultou em editais para
concessão de apoio financeiro para distribuição de obras argentinas no Brasil e de obras
brasileiras na Argentina. A ANCINE lançou dois editais, em 2003 e 2005, que contemplaram

A partir do exemplo do Protocolo Luso-Brasileiro, foi firmada em 21 de setembro de


2007 uma parceria com a região da Galícia, na Espanha, por meio de Protocolo de
Colaboração entre a ANCINE e o Consórcio Audiovisual da Galícia. O objetivo deste
mecanismo de fomento é ampliar a atuação das empresas produtoras nacionais no mercado
internacional e favorecer o intercâmbio cultural e econômico entre os signatários.

A ANCINE também possui um Programa de Apoio à Participação de Filmes


Brasileiros em Festivais Internacionais 49, de acordo com atribuição disposta no âmbito da MP
no 2.228-1/2001, que estabelece entre os objetivos da Agência o estimular a produção
audiovisual brasileira no mercado externo; e ainda que “é competência da ANCINE promover
a participação das obras audiovisuais brasileiras em festivais internacionais”. O Programa
contempla os filmes oficialmente convidados a participar de um dos diversos festivais
internacionais incluídos em uma lista aprovada anualmente pela Diretoria Colegiada da

49
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/fomento/apoio-participacao-festivais-internacionais>. Acesso em
29 jan. 2012.
57

ANCINE. Em 2010, os filmes brasileiros apoiados pelo Programa participaram de 44 festivais


internacionais50.

Foi no âmbito deste Programa que a ANCINE contribuiu para as ações previstas no
evento Ano do Brasil na França, que na área do cinema, disponibilizou cerca de 400 cópias de
filmes brasileiros, legendados em francês, para cerca de 40 mostras e festivais de filmes
brasileiros, ocorridas em 36 cidades da França, ao longo de 2005. Para execução destas ações
foi criado um Grupo Técnico de Cinema que elaborou o projeto que definiu as diretrizes e
monitorou a sua execução. A ANCINE participou deste Grupo a partir de um convite do
Comissariado Brasileiro, composto por especialistas do Ministério da Cultura, Ministério das
Relações Exteriores e Secretaria de Comunicações da Presidência da República. (ANCINE,
2005)

No âmbito de iniciativas privadas apoiadas pelo governo federal, destacam-se o


Programa Cinema do Brasil e o Brazilian TV Producers, articulados por associações e
sindicatos da área audiovisual e que contam com apoio da Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos – Apex-Brasil51, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio e do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual e da
ANCINE e do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores.

De acordo com seu sítio eletrônico, o Programa Cinema do Brasil “tem por objetivo
ampliar a participação do audiovisual brasileiro no mercado internacional, oferecendo às
cerca de 140 empresas associadas apoio logístico e estratégico para que elas possam realizar
coproduções e abrir mercados para a distribuição da sua produção, valorizando assim a
imagem da indústria cinematográfica nacional no exterior.”52 As principais ações de
promoção em nível internacional ocorrem durante a realização dos festivais de Berlim,
Cannes, Locarno e Ventana Sur (Buenos Aires). No Brasil, o Programa realiza seminários,

50
“outros números relativos ao Programa: foram confeccionadas 28 cópias de filmes de curta-metragem, sete
cópias de média-metragem, 40 cópias de longa-metragem; foram realizados 71 envios de cópias e emitidas 96
passagens aéreas”. Relatório de Gestão da ANCINE 2010, disponível em
<http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/processos-de-contas-anuais/Relatorio_de_
Gestao2010_ANCINE.pdf>. Acesso em 29 jan. 2012
51
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) apoia 81 setores da
economia brasileira, por meio de projetos realizados em parceria com as principais entidades setoriais do país,
atendendo a empresas de todos os portes. “A Agência atua estrategicamente para inserir mais empresas no
mercado internacional, diversificar e agregar valor à pauta de produtos exportados, aumentar o volume
comercializado, consolidar a presença do País em mercados tradicionais e abrir outros mercados para os
produtos e serviços brasileiros.” Disponível em: < http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan.
2012.
52
Disponível em: < http://www.cinemadobrasil.org.br/pt/programa/>. Acesso em 29 jan. 2012.
58

cursos, rodadas de negócio e encontros de produtores brasileiros com de outros países, como
o II Encontro de Produtores Brasil-Espanha, ocorrido em 2010 em São Paulo.

Uma ação de fomento voltada à divulgação das obras no mercado internacional é


programa de Apoio à Distribuição Internacional, idealizado em 2009, que concede apoio
financeiro para que filmes brasileiros sejam comercializados em salas de cinema
internacionais. Idealizado em 2009, o programa também é viabilizado pela parceria do
Cinema do Brasil com a Apex-Brasil e o Ministério das Relações Exteriores53. Recentemente,
durante a realização do Festival de Berlim, foi anunciada quarta edição da programa, que
prevê a premiação de US$ 25 mil (vinte e cinco mil dólares) para até dez projetos de empresas
que queiram distribuir filmes brasileiros em salas de cinema fora do país. “Desde a criação do
prêmio, 30 empresas já foram contempladas. Dentre os filmes lançados estão Tropa de elite 2
(distribuído na Polônia pela Gremi Film Production), Os famosos e os duendes da morte
(Alambique, em Portugal) e Era uma vez (Maya Entertainment, nos Estados Unidos)”.
(FILME B, 2012)

Voltado ao segmento de produção audiovisual para televisão e mídias eletrônicas, o


Projeto Setorial Integrado de Exportação Brazilian TV Producers (BTVP) tem como meta
“promover novas oportunidades de coprodução, desenvolver parcerias internacionais e
estimular o setor de produção audiovisual brasileiro”54.

Também fruto de uma parceria com a Apex-Brasil e a Sav/MinC, o BTVP nasceu em


2004 a partir da iniciativa da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão
(ABPI-TV) Desde 2010, o BTVP também tem como parceira a emissora pública EBC/TV
Brasil.

De acordo com seu sítio eletrônico,

O BTVP atua em diversos eventos internacionais como MIPTVP, MIPCOM,


Realscreen, Kidscreeen, BANFF dando suporte para a participação do
produtor brasileiro. Em seis anos de projeto, já promoveu mais de 75 ações
em diferentes países, como Canadá, Estados Unidos, Espanha, França, entre
outros, que resultaram em aproximadamente 7.000 reuniões de negócios.
No Brasil, o BTVP realiza ações de treinamento e capacitação, além de
organizar missões e rodadas de negócios com produtores internacionais.

53
Disponível em: <http://www.cinemadobrasil.org.br/pt/atualidades/noticias/id/89>. Acesso em 15 fev. 2012.
54
Disponível em: <http://braziliantvproducers.com/sobre.php>. Acesso em 29 jan. 2012.
59

Feito este compilado de ações do Estado brasileiro e do setor nacional no âmbito da


internacionalização da cultura e do audiovisual, analisaremos a seguir o atual cenário de
coproduções internacionais audiovisuais realizadas por empresas produtoras brasileiras.

IV.3 – Atual cenário da coprodução internacional audiovisual no Brasil.

O cenário de internacionalização da economia, aumento do fluxo de comércio


internacional de bens e serviços criativos, ampliação da cooperação internacional na área
cultural e audiovisual aliado às políticas culturais externas desenvolvidas pelo Brasil, refletem
também na internacionalização do setor produtivo do audiovisual brasileiro, que tem
apresentado uma trajetória ascendente em número de coproduções internacionais realizadas
desde 1995. Conforme destacado no sítio eletrônico da APEX-Brasil,

[...] o número de coproduções internacionais vem crescendo em ritmo


constante, possibilitando a circulação de conteúdo televisivo e de
filmes brasileiros no exterior. Nos últimos anos, vários filmes
brasileiros foram premiados internacionalmente, entre eles Central do
Brasil, Tropa de Elite (Festival de Berlim) e Linha de Passe (Festival
de Cannes). Além disso, séries para a televisão produzidas no Brasil
circulam mundialmente.55
As informações sobre a quantidade oficial de coproduções cinematográficas realizadas
por empresas brasileiras são disponibilizadas no Observatório brasileiro do cinema e
audiovisual – Oca, no sítio eletrônico da ANCINE. De acordo com o último relatório gerado
em outubro de 201056, referentes às coproduções realizadas até o ano de 2009, verifica-se que
as realizações em parcerias com empresas de outros países cresceram de uma média de quatro
operações anuais entre 1995 e 2005 para uma média de 10 operações a partir de 2006.

55
Disponível em < http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan. 2012.
56
Disponível em <http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/2010/OutrosRelatorios/1301.pdf>. Acesso em 29 jan.
2012.
60

Gráfico 4 - Coproduções Cinematográficas realizadas entre 1995 e 2009

(*) Edição do Decreto 4.456, de 4 de novembro de 2002, que transfere à Ancine a competência pela gestão dos
projetos audiovisuais apoiados com recursos federais.
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
O relatório também apresenta a quantidade de co-produções cinematográficas em
realização em outubro de 2010, que haviam sido submetidas à análise da ANCINE 57. Vale
destacar que outras co-produções podem estar em andamento sem a necessidade de serem
comunicadas previamente à ANCINE. Todas as produções somente serão oficializadas como
coproduções internacionais no momento da emissão do Certificado de Produto Brasileiro –
CPB58, quando será verificado o atendimento à definição de obra brasileira prevista no artigo
1o, V, da MP no 2.228/0159.

57
Devem ser submetidos à análise prévia da ANCINE (“reconhecimento provisório”) as obras audiovisuais
realizadas em coprodução internacional que solicitem captação de recursos por meio dos mecanismos de
incentivo fiscal federal e/ou que solicitem enquadramento nos termos dos acordos de coprodução realizados pelo
Brasil com outros países.
58
Em virtude da oficialização das coproduções internacionais ocorrer somente mediante a emissão do
Certificado de Produto Brasileiro – CPB, quando a obra está concluída, há uma defasagem na informação entre o
momento da efetiva produção (filmagens) e o momento da conclusão das obras. Desta maneira, os dados de 2009
podem sofrer um aumento e os dados de 2010 e 2011 ainda não foram compilados.
59
V - obra cinematográfica brasileira ou obra videofonográfica brasileira: aquela que atende a um dos seguintes
requisitos:
a) ser produzida por empresa produtora brasileira, observado o disposto no § 1o, registrada na ANCINE, ser
dirigida por diretor brasileiro ou estrangeiro residente no País há mais de 3 (três) anos, e utilizar para sua
produção, no mínimo, 2/3 (dois terços) de artistas e técnicos brasileiros ou residentes no Brasil há mais de 5
(cinco) anos;
b) ser realizada por empresa produtora brasileira registrada na ANCINE, em associação com empresas de outros
países com os quais o Brasil mantenha acordo de co-produção cinematográfica e em consonância com os
mesmos.
c) ser realizada, em regime de co-produção, por empresa produtora brasileira registrada na ANCINE, em
associação com empresas de outros países com os quais o Brasil não mantenha acordo de co-produção,
assegurada a titularidade de, no mínimo, 40% (quarenta por cento) dos direitos patrimoniais da obra à empresa
produtora brasileira e utilizar para sua produção, no mínimo, 2/3 (dois terços) de artistas e técnicos brasileiros ou
residentes no Brasil há mais de 3 (três) anos.
61

Tabela 4 - Quantitativo de coproduções cinematográficas em realização

Etapa Quantidade
Em Finalização 13
Em filmagem 4
Em preparação 1
Em captação 9
Total geral 27
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
Este crescimento relaciona-se a diversos fatores, além das ações de internacionalização
do setor audiovisual brasileiro. Inicialmente, impulsionado a partir da própria retomada da
produção do cinema brasileiro, que após a estagnação com a extinção da Embrafilme em
1990, recupera a capacidade produtiva com o advento das leis de incentivo à cultura (Lei
8.313, de 1991) e da lei do audiovisual (lei. 8685, de 1993), chegando a um patamar de 30
filmes lançados ao ano no final da década de 90. A partir de 2004, o aquecimento do mercado
brasileiro eleva a produção cinematográfica brasileira para uma média de 80 filmes por ano.

Tabela 5 - Filmes brasileiros lançados comercialmente / filmes em coprodução internacional


(1995-2009)

Coprodução
Ano Lançamentos
internacional
1995 14 1
1996 18 0
1997 21 1
1998 23 3
1999 28 3
2000 23 5
2001 30 2
2002 29 4
2003 30 4
2004 49 8
2005 45 5
2006 72 9
2007 78 9
2008 79 15
2009 84 10
Total 623 79
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
62

Gráfico 5 - Filmes brasileiros lançados comercialmente / filmes em coprodução internacional


(1995-2009)

90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Coprodução Lançamentos

Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.

Conforme podemos observar, o aquecimento do mercado nacional e o conseqüente


aumento da quantidade de lançamentos comerciais dos filmes nacionais, foi acompanhado
pelo aumento das obras brasileiras realizadas em coprodução internacional, que mantém uma
correlação aproximada de 10% do volume total de filmes brasileiros lançados ao ano.

Se, durante o processo de desregulamentação e diminuição do fomento ao cinema


nacional, praticado entre 1990 e 1993, as coproduções internacionais eram uma das poucas
alternativas de financiamento à produção nacional, atualmente, com a re-regulamentação do
setor, acompanhada de uma política constante e ativa de mecanismos de fomento, as
coproduções internacionais apresentam-se como elemento de diversificação na engenharia
econômico-financeira da produção nacional e na formulação das estratégias de lançamento,
sendo relevante tanto para produções alternativas (ditas “autorais”) quanto para pretensos
blockbusters (sucessos comerciais), em razão da mitigação de riscos e alcance de novos
mercados.

Com relação aos resultados relacionados aos convênios e protocolos de fomento às


coproduções internacionais, a parceria mais efetiva até o momento é com Portugal, país com o
qual o Brasil mantém protocolo de cooperação financeira desde 1994, resultando em 35
produções realizadas até 2009.

A aproximação com nossos vizinhos argentinos iniciou-se na última década com o


edital de distribuição de filmes argentinos no Brasil e de filmes brasileiros na Argentina, cujas
63

únicas edições ocorreram em 2004 e 2005. A partir do Protocolo de Cooperação com o


INCAA assinado em 2010, espera-se que a quantidade de coproduções, que desde 2006 têm
registrado ao menos uma obra realizada em parceria bipartite ou multipartite, ganhe
relevância.

O segundo país com o qual o Brasil possui maior número de coproduções audiovisuais
realizadas é o Chile que, embora não possua um acordo de coprodução bilateral com o Brasil,
utiliza-se do fundo IBERMEDIA como principal indutor das parcerias entre produtoras
nacionais e chilenas. Analisando as empresas coprodutoras chilenas, verifica-se a constante
parceria com os estúdios Filmesonido, responsável pela pós-produção de diversas obras
brasileiras. Este dado nos leva a crer que as obras coproduzidas com o Chile decorrem em
grande parte em função do investimento chileno na finalização das obras audiovisuais, em
razão aos custos inferiores e à especialização do estúdio chileno, caracterizando-se como uma
coprodução financeira, conforme descrito na seção II.4.

Abaixo podemos observar a evolução da variedade de países com os quais as


produtoras brasileiras têm se associado nos últimos anos, embora quase metade (44%) das
coproduções concentram-se com Portugal

Tabela 6 - Quantitativo de coproduções cinematográficas realizadas por ano e país

Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.


64

Buscando aprimorar os mecanismos de apoio à coprodução internacional e atenta a


questões tais como a participação de artistas e técnicos em obras brasileiras, a ANCINE
colocou em consulta pública 60 em 2011 uma proposta de instrução normativa que dispõe
sobre os procedimentos necessários para a obtenção pelos produtores do reconhecimento
provisório de que a obra audiovisual está sendo realizada em regime de coprodução
internacional e que atenda aos critérios para obtenção do Certificado de Produto Brasileiro.
Espera-se que a publicação desta Instrução Normativa torne mais clara as normas para as
coproduções internacionais, estimulando-as.
Aliada às já existentes políticas externas de apoio ao audiovisual e ainda ao bom
momento da economia nacional e conseqüente fortalecimento da indústria nacional, espera-se
que a realização de coproduções internacionais mantenha-se em expansão, proporcionando
acesso a novos mercados, impulsionando a participação do Brasil no comércio internacional
de bens e serviços criativos e, especificamente, do audiovisual.
Para isso, é importante que as ações de fomento às coproduções sejam continuadas e
novas parcerias sejam criadas, a exemplo dos protocolos de fomento estabelecidos com
Portugal, Argentina, Uruguai, Itália, região da Galícia na Espanha e com os países
iberoamericanos a partir do programa Ibermedia.
Dentro do contexto de novos fóruns de cooperação internacional e da nova dinâmica
do comércio internacional, acreditamos ainda que a política do audiovisual deva buscar
parcerias e explorar os mercados dos países em desenvolvimento, de forma a incrementar o
intercâmbio de culturas entre os chamados países emergentes. O acordo de coprodução
audiovisual firmado com a Índia é um exemplo dos novos paradigmas da cooperação
internacional no século XXI. A eficácia destas ações dependerá, entretanto, do fortalecimento
e constante aperfeiçoamento dos mecanismos existentes.

60
“ANCINE abre Consulta Pública sobre coprodução internacional até 13/10”, disponível em <
http://www.ancine.gov.br/sala-imprensa/noticias/ancine-abre-consulta-p-blica-sobre-coprodu-o-internacional-
1310>. Acesso em 29 jan. 2012.
65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações internacionais têm passado por grandes mudanças na virada do século XX


para o XXI, com a alteração das relações de poder e do fluxo de comércio mundial. Nos
novos paradigmas da cooperação internacional, a cultura e o setor criativo tornam-se uma
opção real para o desenvolvimento sustentável dos países, assumindo um protagonismo na
economia mundial, com expressiva taxa de crescimento anual de 14% (catorze por cento) nos
últimos seis anos, na contramão da recessão mundial. Neste contexto, a cultura passou a
desempenhar papel fundamental na atuação dos países nos diversos fóruns internacionais tais
como a UNESCO e a UNCTAD e, especialmente nos fóruns e associações regionais,
refletindo as novas relações de cooperação entre os países.

A expansão da economia brasileira que se refletiu no crescente fluxo de investimentos


externos proporcionou a acentuação da internacionalização das empresas brasileiras que estão
se aproveitando dos conhecimentos disponíveis da economia mundial e das oportunidades de
maior rentabilidade.

A evidência do Brasil no plano internacional devido ao crescimento econômico e em


virtude da realização de grandes eventos esportivos, aliada à diversificação das fontes de
financiamento para produção audiovisual no país e às ações realizadas pelo governo federal
de estímulo à internacionalização do cinema nacional, permitem visualizar uma oportunidade
ímpar de fortalecimento da participação do Brasil no mercado internacional do audiovisual e,
conseqüentemente, do setor criativo, propulsor de um novo desenvolvimento econômico e
social.

Preocupa-nos, no entanto, a atual tendência verificada no setor audiovisual de


crescimento acentuado das importações de serviços audiovisuais, que ultrapassaram um
bilhão de dólares em 2011, contribuindo para o déficit na balança comercial do setor de
serviços, e a carência e deficiências dos dados, prejudicando uma análise mais consistente
para a formulação de políticas públicas.

Consideramos, portanto,de suma importância para os gestores culturais do Brasil, a


consolidação e aprimoramento dos instrumentos de política pública voltadas para a integração
econômica e cultural, entendendo o segmento cultural e criativo como chave para um novo
desenvolvimento que permitirá a entrada do país na nova economia do século XXI.
66

Temos ciência de que este trabalhou abordou um campo vasto e dinâmico, em


constante evolução, tanto das políticas de integração, como do setor criativo, fortemente
influenciado pelas inovações tecnológicas. Isto é um grande estímulo para a continuidade dos
estudos nesta área enriquecedora, desenvolvendo o tema em outros programas de pesquisa.
67

REFERÊNCIAS

ABC – Agência Brasileira de Cooperação. Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento


Internacional: 2005-2009. Brasília: Ipea: ABC, 2010.

ABEL, Richard. Os perigos da Pathé ou a americanização dos primórdios do cinema


americano. In CHARNEY, Leo e SCHWARTZ, Vanessa R. O cinema e a invenção da vida
moderna. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001.

ALMEIDA, Paulo Sérgio e BUTCHER, Pedro. Cinema desenvolvimento e mercado. Rio de


Janeiro: Aeroplano, 2003.

AMANCIO, Tunico. Artes e manhas da Embrafilme: cinema estatal brasileiro em sua


época de ouro. Niterói: EdUFF, 2000.

AMARAL JUNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo:
Atlas, 2008.

ANCINE. Relatório de Gestão 2010, disponível em:


<http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/processos-de-contas-
anuais/Relatorio_de_Gestao2010_ANCINE.pdf>. Acesso em 29 jan. 2012

______. Relatório de Gestão 2005, disponível em: <


http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/processos-de-contas-
anuais/REL_GESTAO_2005.pdf>. Acesso em 29 jan. 2012

AZULAY, Jom Tob. Entrevista concedida ao autor deste trabalho. Rio de Janeiro, 07 fev.
2012.

______. Por uma política cinematográfica brasileira para o século XXI. In: MELEIRO,
Alessandra (org.). Cinema no mundo: América Latina. São Paulo, Escrituras Editora, 2006.

BENDASSOLI, Pedro F. Indústrias Criativas: Definição, Limites E Possibilidades –


Revista de Administração de Empresas – RAE: São Paulo - v. 49 - n.1 - jan./mar. 2009. p.
10-18.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas – 6ª ed. – São Paulo: Perspectiva,
2009.

______. O poder simbólico. Tradução: Fernando Tomaz (português de Portugal) – 13ª ed. -
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

CABEZÓN, Luis A. y GOMES-URDÁ, Félix G., La producción cinematográfica. Madrid:


Ediciones Cátedra,1999.

CARVALHO, Maria Auxiliadora de Carvalho & SILVA, César Roberto Leite – Economia
Internacional – 2. ed. – São Paulo, Saraiva, 2002.
68

CNC - Centre national du cinéma et de l‟image animée. La production cinématographique


en 2010. Disponível em:
<http://www.cnc.fr/web/fr/etudes?p_p_id=ressources_WAR_ressourcesportlet>, acesso em
20 dez. 2011.

CUELLAR, Javier Pérez de (Org.). Nossa Diversidade Criadora – Relatório da Comissão


Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas, SP: Papirus, Brasília, DF: UNESCO,
1997.

FARANI, Marco. Cinema e Política: A política externa e a promoção do cinema


brasileiro no mercado internacional. In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema e Economia
Política. São Paulo: Escrituras Editora, 2009.

FILME B. Cinema do Brasil renova prêmio de distribuição no exterior. Edição nº 744.


Disponível em:
<http://www.filmeb.com.br/portal/BOLETIM/html/BOL_exibe_Materia.php?get_edicao=744
&get_num=1&>. Acesso em 23 fev. 2012.
______. Coproduções criam alternativas de financiamento. Disponível em:
<http://www.filmeb.com.br/portal/html/materia3.php>. Publicado em set. 2008.
FIRJAN – Federação das Insdústrias do Estado do Rio de Janeiro. Estudos para o
Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil.
Rio de Janeiro: FIRJAN, 2008, 32p.

GETINO, Octavio. As cinematografias da América Latina e do Caribe: indústria,


produção e mercado. In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no mundo: indústria,
política e mercado: Europa (vol. V). São Paulo: Escrituras Editora, 2007.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M.A.S.; JÚNIOR R.T.; Economia brasileira


contemporânea – 6ª Ed. – São Paulo: Editora Atlas, 2005.

HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança


cultural. São Paulo: Loyola, 1993.

HIRATUKA, Célio. Internacionalização de atividades de pesquisa e desenvolvimento das


empresas transnacionais: análise da inserção das filiais brasileiras. Disponível em: <
http://www.sep.org.br/artigo/xcongresso115.pdf> Acesso em 11 out. 2010.

HOSKINS, Colin; MCFADYEN, Stuart e FINN, Adam. A Comparison of Domestic and


International Joint Ventures in Television Program and Feature Film Production.
Canadian Journal of Communication, Vol 21, No 1 (1996). Disponível em: <http://www.cjc-
online.ca/index.php/journal/article/view/924/830>. Acesso em 04 set. 2010.

HOWKINS, J. The Creative Economy: How People Make Money From Ideas. London:
Allen Lane, 2001.

______. The mayor’s commission on the creative industries. Em: HARTLEY, J. (Ed),
Creative Industries. London: Blackwell, 2005. p.117-125.

KANZLER, Martin and LANGE, André. The place of third country film and audiovisual
works in European markets. European Audiovisual Observatory. Disponível em:
69

<http://www.obs.coe.int/online_publication/reports/thirdcountry_av_works.pdf.en>. Acesso
em 15 fev. 2012.

KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice: Economia Internacional: Teoria e Política.


Quinta Edição. São Paulo: Makron books, 2001.

LANDERRETCHE, Oscar. “La CORFO y las industrias culturales”. In: Industrias


Culturales, un aporte al desarrolo. Santiago: LOM Ediciones, 2005.

LANGE, André e WESTCOTT. “Les aides publiques aux oeuvres cinématographiques et


audiovisuelles em Europe – Une analyse comparative” - Strasbourg : L'Observatoire
Europeen de L'audiovisuel, 2004.

LIMA, Fernando Carlos Cerqueira G. de – Apostila de aula: Finanças Internacional, Rio de


Janeiro: UFRJ, 2010.

LIMA, Mário S. Matéria Prima deve liderar exportações. Folha de São Paulo, São Paulo,
p. B5, 18/09/10.

MANI, S. Exports of high technology products from developing countries: is it real or a


statistical artifact, INTECH, 2000. Disponível em:
<http://www.intech.unu.edu/publications/discussion-papers/2000-1.pdf>, Acesso em 16 nov.
2010.

MATTA, João Paulo Rodrigues. Análise competitiva da indústria cinematográfica


brasileira no mercado interno de salas de exibição: de 1994 a 2003. Dissertação de
Mestrado. Faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia: Salvador, 2004.

MELEIRO, Alessandra (Org.). Cinema no mundo: indústria, política e mercado: Europa


(vol. V). São Paulo: Escrituras Editora, 2007.

_________ (Org.). Cinema no mundo: indústria, política e mercado: América do Sul (vol.
III). São Paulo: Escrituras Editora, 2007.

MIGUEZ, Paulo. Economia criativa: uma discussão preliminar. In: NUSSBAUMER,


Gisele Marchiori (Org.). Teorias e políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador:
EDUFBA, 2007-a. Coleção CULT, 1. p.95-113.

______. Repertório de Fontes Sobre Economia Criativa. Salvador: Universidade Federal


do Recôncavo da Bahia, 2007-b. 86p.

MORAES, Dênis de. A Batalha da Mídia: governos progressistas e políticas de


comunicação na América Latina e outros ensaios. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2009.

NASSIF, Luís. As perdas maiores com o câmbio. 16/09/2010. Disponível em


<http://www.brasilianasorg.com.br/blog/luisnassif/as-perdas-maiores-com-o-cambio>.
Acesso em 27 set. 2010.

NETTO, Delfim. Conta Corrente e poupança interna. Carta Capital, São Paulo, p. 42, 15
set. 2010.
70

OLIVEIRA, Marcos de. Investimento Emergente – Empresas instalam centros de P&D


no Brasil para ganhar mercado. Revista Pesquisa FAPESP, São Paulo, edição 175, p. 16-
20. Set. 2010.

PIRES, Vladimir S. Idéias-força no pós-fordismo e a emergência da economia criativa.


Rio de Janeiro: Liinc em Revista, v.5, n.2, setembro, 2009, p.215-230.

PORTAL BRASIL – Investimento e corte de juros podem conter dólar, sugere


economista do Ipea. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2010/10/08/investimento-e-corte-de-juros-
podem-conter-dolar-sugere-economista-do-ipea>. Acesso em 11 out. 2010.

RAMOS, José Mário Ortiz. Cinema Estado e Lutas Culturais - Anos 50/60/70. São Paulo:
Paz e Terra, 1981.

REIS, Ana Carla Fonseca. Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável: O


Caleidoscópio da Cultura. Barueri, SP: Manole, 2007.

______, (Org.) Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento: uma visão dos
países em desenvolvimento. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. 277p.

RIBEIRO, Edgar T. – Diplomacia cultural: Seu papel na política externa brasileira,


Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2011.

RIBEIRO, Luiz A. L. C. – Apostila de aula: Comércio Internacional, Rio de Janeiro:


UFRJ, 2010.

SCHNEIDERMAN, Regina. O cinema brasileiro e a política cultural externa do governo


Luis Inácio Lula da Silva (2003-2006). Orientador, Prof. Dr. Hugo Rogério Suppo. Niterói:
[s.n.], 2007.

SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo, SP: Companhia das
Letras, 2000.

SERRANO, Franklin e FERREIRA, Sandra – Commodities, câmbio e inflação de custos no


Brasil 1994-2009. Revista Versus, Rio de Janeiro, n. 4, p. 48-55, abr. 2010.

SIMIS, Anita. Estado e cinema no Brasil. São Paulo: Anna Blume, 1996.

SOLOT, Steve (coord.). Incentivos Fiscais para a produção e a co-produção audiovisual


na Ibero-América, Canadá e Estados Unidos. Rio de Janeiro: LATC/Egeda, 2009.

______O Conceito da Co-produção Cinematográfica Internacional. Disponível em: <


http://www.latamtrainingcenter.com/?p=2134>. Acesso em 29 jan.2012.

UNCTAD, United Nations Conference on Trade and Development. Creative Economy


Report 2008. United Nations, 2008. 357p.

______. Creative Economy Report 2010. United Nations, 2010. 392p.

UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Declaration
of Principles of International Cultural Co-operation. Disponível em:
71

<http://portal.unesco.org/en/ev.php-
URL_ID=13147&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em 15 fev.
2012a.

______. Convenção Sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões


Culturais. 20 out. 2005. Disponível em: <
http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001502/150224por.pdf>, acesso em 20 jan. 2012b.

VASCONCELOS, Cláudio Lins de. Mídia e propriedade intelectual – a crônica de um


modelo em transformação. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010.

VASCONCELOS, Yuri. Centros Multinacionais Brasileiros. Revista Pesquisa FAPESP,


São Paulo, edição 175, p. 21-23. Set. 2010.

VELLOSO, Joao Paulo dos Reis (org.), Teatro Mágico da Cultura. Crise global e
oportunidades do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio , 2009.

XAVIER, Clésio Lourenço, AVELLAR, Ana Paula Macedo, CUNHA, Samantha Ferreira:
Desempenho das Exportações da Indústria Intensiva em P&D: comparação entre o
Brasil e países selecionados no período 1994-2005. Revista Brasileira de Inovação - RBI,
Rio de Janeiro, n. 7, p. 409-443, julho/dezembro 2008.

YUDICE, George. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo


Horizonte: Editora UFMG, 2004.

SÍTIOS ELETRÔNICOS

Agência de Promoção à Exportação – APEX BRASIL: www.apexbrasil.com.br

Programa Cinema do Brasil: www.cinemadobrasil.org.br

Ministério da Cultura: www.cultura.gov.br.

Agência Nacional do Cinema: www.ancine.gov.br.

Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br.

Você também pode gostar