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Rio de Janeiro
Fevereiro/2012
2
Rio de Janeiro
Fevereiro/2012
3
RESUMO
O papel da cultura na economia e no desenvolvimento dos países tem obtido cada vez
Diversidade das Expressões Culturais adotada pela UNESCO no ano de 2005. Partindo deste
cultura, com enfoque nos acordos internacionais de coprodução audiovisual. A partir de dados
e como forma de transmitir sua cultura e seus valores. Dentro da perspectiva de ampliação das
ABSTRACT
The role of culture in the economy and in the developing of countries occupies more and
and of the diversity of cultural expressions in 2005. From this framework, this paper aims
to present the main multilateral treaties in the area of culture, focusing on international
UNCTAD‟s creative economy report (2010), we also highlight the economic importance of
cultural and creative industries, specifically audiovisual, for the insertion of Brazil into the
new dynamics of global trade and as a mean of transmitting culture and values. From the
Gráfico 1 – Participação dos grupos econômicos nas exportações de bens criativos (2002 /
2008) ........................................................................................................................................42
Gráfico 2 – Exportações de bens audiovisuais por grupos econômicos, em 2002, 2005 e 2008
...................................................................................................................................................46
LISTA DE TABELAS
Tabela 2 – Bens criativos: Exportações por grupos econômicos regionais, 2002 e 2008. (US$
milhões).....................................................................................................................................43
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 65
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 67
8
INTRODUÇÃO
Neste trabalho buscamos apontar para a importância dos setores culturais e criativos e,
especificamente, do audiovisual, na inserção do país na nova dinâmica do comércio mundial e
como forma de transmitir sua cultura e seus valores, por meio de ações externas, dentro de um
contexto de expansão de sua influência global e regional.
Esperamos que este trabalho, fruto de um despertar para o campo das relações
internacionais aliado à experiência profissional com o universo do audiovisual, possa
introduzir o leitor na dinâmica internacional das políticas culturais e para o audiovisual.
A evolução das relações internacionais gerou ao longo dos últimos 65 anos a criação
de organismos e tratados multilaterais, que impactaram no ordenamento jurídico das nações.
Com o advento da crise econômica em 2008, as correntes pelo livre-mercado e pela
desregulamentação das transações financeiras internacionais foram colocadas em cheque. A
integração entre os países passou a ser vista mais do que nunca como uma âncora para a
estabilidade da economia mundial. Os flagelos da crise têm gerado revoltas e revoluções nos
países árabes, protestos nos países desenvolvidos e a acentuação dos fluxos migratórios
provenientes de países em extrema pobreza ou sob ditaduras. A cooperação internacional é
uma oportunidade fundamental para a coordenação de ações conjuntas e a busca por novas
formas de desenvolvimento social e econômico.
and Trade), culminando na oitava rodada (“Rodada Uruguai”), iniciada em 1986 e concluída
em 1994, com a criação da Organização Mundial do Comércio – OMC.
As trocas comerciais de bens e serviços culturais e criativos têm cada vez mais sido
objeto de convenções internacionais e acordos multilaterais, tornando-se instrumentos de
políticas públicas para os países atuarem na regulação destes setores, como opção para o
desenvolvimento econômico.
11
O Brasil é um dos poucos países que possui condições de enfrentar o desafio de ter
uma indústria audiovisual auto-sustentável, em função de sua população, mercado interno e
concentração demográfica, assim como Estados Unidos, China, Índia e Rússia. Como
resultado da atual política governamental de distribuição de renda aliada ao período de
12
expansão econômica mundial pré-crise de 2008, vimos a classe C surgir como um novo
mercado consumidor em expansão. Este consumo, no entanto, não atingiu o mercado
cinematográfico, retraído em termos de oferta de salas de exibição.
As fronteiras estão se abrindo cada vez mais para o produto brasileiro, reconhecido
pela criatividade artística e crescente qualidade técnica, inclusive por meio das cada vez mais
constantes coproduções internacionais que facilitam a inserção de produtos brasileiros nos
mercados internacionais. Nesta perspectiva de ampliação das possibilidades comerciais do
produto audiovisual e buscando estimular o desenvolvimento de um modelo auto-sustentável,
a internacionalização da indústria brasileira vem ganhando importância com o crescente
número de ações de estímulo à coprodução internacional e à participação do produto
audiovisual brasileiro no mercado internacional.
Por outro lado, as indústrias que utilizavam tecnologias de ponta e com baixos níveis
de consumo de energia apresentam muito maior rentabilidade, dado que sofrem pouca
transformação de matérias primas (informática, telecomunicações e eletrônica). No entanto,
exigiam alto investimento em tecnologia e mão de obra especializada.
17
1
Uma das definições jurídicas de tratado é apresentada a seguir: “Tratado é todo acordo formal, concluído entre
sujeitos de direito internacional público e destinado a produzir efeitos jurídicos. Não é relevante que o acordo se
exprima em um único documento ou em dois ou mais instrumentos conexos.” (AMARAL JUNIOR, 2008, p. 47)
19
Dentro deste contexto, a cooperação internacional amplia-se para novos fóruns, tais
como o G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, que ganhou
importância após a crise mundial de 2008, eclipsando o G-8, e o BRICS2, agrupamento
Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul.
2
“A idéia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O´Neil, em estudo de 2001,
intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-
financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento,
propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III
Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS”. Disponível em: <
http://www.itamaraty.gov.br/temas/mecanismos-inter-regionais/agrupamento-brics>; Acesso em 15 fev. 2012.
21
No mesmo sentido, Ribeiro destaca que “nenhum outro instrumento trará implícita a
noção de prestígio que geralmente está associada à cultura”, importante para a construção de
uma imagem e transmissão de um pensamento e, portanto, maior influência e prestígio,
conforme corroboram Suppo & Lessa:
A cultura pode ser considerada como “um elemento que, em maior ou menor
medida, condiciona a política exterior dos países e, para tanto, é
instrumentalizada pelo estado em busca da influência e prestígio no cenário
internacional. (2004, p. 156)
Este poder de influência e sedução foi traduzido por Joseph Nye Jr. (2004) pelo termo
“poder brando”, em oposição ao poder bruto econômico e militar, que tende a intimidar.
Além da transmissão da cultura por meio simbólicos, a cultura também pode ser
transmitida pelo comércio, intercâmbios, contatos sociais e turismo, entre outras formas de
difusão. No âmbito da diplomacia cultural, Ribeiro relaciona-a aos seguintes temas ou idéias,
entre outros: “a) intercâmbio de pessoas; b) promoção da arte e dos artistas; c) ensino de
língua, como veículo de valores; d) distribuição integrada de material de divulgação; e) apoio
a projetos de cooperação intelectual; f) apoio a projetos de cooperação; g) integração e
mutualidade na programação.” (2011, p. 31)
3
Editado originalmente em 1989, derivado de tese apresentada ao Curso de Altos Estudos do Instituto Rio
Branco, ganhou nova edição em 2011, disponibilizada no sítio eletrônico da Fundação Alexandre Gusmão.
Disponível em: <http://www.funag.gov.br/>. Acesso em 30 jan. 2012.
23
Nye entende que o “poder brando não está nas mãos do governo e que a
cultura popular norte-americana tem alcance global independente do que
fizerem. Não há como escapar à influência de Hollywood, da CNN e da
Internet. Os filmes e TV americanos exprimem a liberdade, o individualismo
e a mudança tanto quanto ao seco e à violência. Geralmente, o alcance global
da cultura dos EUA contribui para aumentar o poder brando, ou seja, a
atração ideológica e cultural que exercem” (NYE, 2002 apud
SCHNEIDERMAN, 2007, p. 32)
Ainda para NYE,
“O jogo político na era da informação sugere que a importância relativa do
poder brando está crescendo. Os países que são provavelmente mais
atrativos e ganham poder brando na era da informação são aqueles que
multiplicam os canais que ajudam nos debates; que dominam a cultura e as
idéias e estão mais próximos das regras globais que estão em voga (nas quais
enfatiza o liberalismo, o pluralismo e a autonomia); cuja credibilidade é
aumentada pelos seus valores e políticas domésticas e internacionais. Essas
condições sugerem oportunidades para os Estados Unidos, mas também para
a Europa e outros.” (NYE, 2002 apud SCHNEIDERMAN, 2007, p. 32)
Os Estados Unidos tornaram-se mais atuantes em termos de poder brando
com a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. Nesse período eles
criaram a CIA, a Voz da América, o programa Fullbright, e etc. Entretanto,
muito do poder brando americano não está diretamente vinculado ao
governo. Mesmo antes da Guerra Fria as empresas, os publicitários e os
diretores de cinema americanos vendiam para o resto do mundo não apenas
produtos, amas a cultura e os valores americanos. “O poder brando é criado
em parte pelo Estado, em parte à revelia dele”. (NYE, 2002 apud
SCHNEIDERMAN, 2007, p. 33)
Na era da globalização, o papel da cultura tem sido destacado tanto do ponto de vista
sociopolítico como econômico, conforme defende George Yúdice em seu livro “A
Conveniência da Cultura”:
4
Disponível em: < http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/cultura/coop96.htm>. Acesso em 15 fev. 2012
27
5
Disponível em: <http://portal.unesco.org/en/ev.php-
URL_ID=13147&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em 15 fev. 2012.
28
6
Disponível em <http://conventions.coe.int/Treaty/en/Treaties/Html/018.htm>. Acesso em 20 jan.2012.
7
Disponível em <http://ec.europa.eu/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.2012.
8
Disponível em <http://ec.europa.eu/policies/culture_education_youth_en.htm>. Acesso em 20 jan. 2012.
9
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/our-policy-development/european-agenda_en.htm>. Acesso em 20
jan. 2012.
10
Disponível em <http://conventions.coe.int/Treaty/EN/Treaties/Html/147.htm>. Acesso em 20 jan. 2012.
31
dans le cadre de la Convention, soit plus d'un tiers. 16 sont des films d'initiative française et
25 des films à majorité étrangère.” (CNC, 2011, p. 25)
Over the past 20 years, MEDIA, the EU's support programme for the
European audiovisual industry, has supported the development and
distribution of thousands of films as well as training activities, festivals and
promotion projects throughout the continent. From 2001-2006, more than
half a billion euros were injected into 8.000 projects from over 30
countries11.
Em âmbito inter-regional, destacamos o Acordo-Quadro de Cooperação Inter-
Regional12 entre os países membros da Comunidade Européia e do Mercado Comum do Sul –
MERCOSUL, assinado em Madri em 15 de dezembro de 1995, que prevê em seu art. 21 a
cooperação em matéria de comunicação, informação e cultura, de forma a aprofundar as
relações culturais entre os países incluindo a realização de atividades culturais em conjunto.
11
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/media/programme/overview/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.
2012.
12 Disponível em: <http://eur-
lex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=en&ihmlang=en&lng1=en,pt&lng2=da,de,el,en,es,fi,fr,it,nl,pt,sv,&val
=211770:cs&page=>. Acesso em 15 fev. 2012.
13
Disponível em <http://ec.europa.eu/culture/media/programme/overview/index_en.htm>. Acesso em 20 jan.
2012.
32
14
Disponível em <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=447>. Acesso em 20 jan.
2012.
15
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/acordos-multilaterais/conv-nio-
de-integra-o-cinematogr-fica-ibero- >. Acesso em 20 jan. 2012.
16
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/acordos-multilaterais/acordo-
para-cria-o-do-mercado-comum-cinemato>. Acesso em 20 jan. 2012.
17
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/conteudo/acordo_latino_americano_co-
producao.pdf>. Acesso em 20 jan. 2012.
18
Disponível em:
<http://www.caaci.int/static/documentos/Enmienda_al_Acuerdo_Latinoamericano_de_Coproduccion.pdf>.
Acesso em 20 jan. 2012.
33
19
Disponível em: < http://www.dc.mre.gov.br/cinema-e-tv/cinema-no-mercosul>. Acesso em 29 jan. 2012
34
Vantagens:
a) compartilhamento de recursos e riscos financeiros
b) acesso aos incentivos e subsídios do governo do país coprodutor
c) acesso ao mercado do país coprodutor
d) acesso a um terceiro mercado - a depender dos benefícios extendidos
por outros países ao coprodutor;
e) acesso a um determinado e potencial projeto iniciado pelo parceiro
benefícios culturais;
f) facilidade de acesso a locações desejadas;
g) acesso a insumos de menor custo aprendizado em termos de
marketing, produção e gestão
20
Disponível em: <http://www.cjc-online.ca/index.php/journal/article/view/924/830>. Acesso em 20 jan. 2012.
35
Desvantagens:
a) aumento dos custos de coordenação
b) aumento dos custos de filmagem
c) perda do controle e da especificidade cultural
d) aumento dos custos de transação administrativo-governamentais
e) comportamento oportunista do parceiro
f) criação de um concorrente mais forte
Segundo Alfredo Bertini, ao analisar a relevância das coproduções no âmbito das
estratégias empresariais no setor audiovisual,
[...] tem sido muito comum a construção de parcerias na produção, uma vez
que esse processo ajuda a reduzir riscos que emanam das incertezas da
demanda, sobretudo em razão do acesso aos mercados externos. Afinal, a
adoção desse tipo de experiência serve também para evitar as barreiras
protecionistas existentes em muitos países. Nessa mesma linha de raciocínio,
a estratégia também auxilia na redução das barreiras culturais, haja vista a
realização de produções que partem de roteiros mais alinhados com a
realidade e com atores de maior dimensão nos mercados.” (BERTINI, 2008, p.
143)
Neste sentido, Rodrigues Matta observa que:
21
Atualmente Assessor Internacional da ANCINE.
36
22
Disponível em: <http://www.latamtrainingcenter.com/?p=2134>. Acesso em 29 jan.2012.
37
23
ibid.
38
24
“Existe uma cierta polémica entre las llamadas coproducciones financieras o „europullings‟ y lo que luego
resultan ser lãs coproducciones reales („europuddings‟).” (CABEZÓN y GOMES-URDÁ, 1999, p. 56)
39
Conforme apontado por Steve Solot, “além da ampliação de mercados, das fontes
alternativas de financiamento e do acesso à projetos de produtores e roteiristas de outros
países, as co-produções internacionais, através das ferramentas de incentivos legislativos e
financeiros disponíveis, são cada vez mais atrativas para promover o objetivo comum de
expandir a indústria cinematográfica nacional e difundir a natureza colaborativa da produção
cinematográfica no globalizado ambiente audiovisual.”26
25
Price and Martin (2009)
26
SOLOT, Steve. O Conceito da Co-produção Cinematográfica Internacional. Disponível em: <
http://www.latamtrainingcenter.com/?p=2134>. Acesso em 29 jan.2012.
40
27
Disponível em: <http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan. 2012.
41
nas exportações e 79% nas importações. As exportações de bens criativos por países em
desenvolvimento mais que dobraram de 2002 para 2008, de 76 bilhões para 176 bilhões de
dólares, representando a maior participação deste grupo econômico com 43% do total de bens
criativos exportados no ano.
Gráfico 1 – Participação dos grupos econômicos nas exportações de bens criativos (2002 /
2008).
Em termos de balança comercial, a China possui o maior superávit, que saltou de US$
29,41 bi em 2002 para US$ 78,73 bilhões em 2008. Este resultado reflete o déficit
comercial dos Estados Unidos com China, que é o maior entre todos os outros grupos na
economia. Dentre os 10 países mais superavitários, a Ásia aparece com 7 (sete) países,
43
aumentando sua participação em comparação com 2002 quando possuía 5 (cinco) países. Em
resumo, o Relatório aponta que “com a exceção da Ásia, as outras regiões em
desenvolvimento, particularmente África, Pacífico, Caribe e América Latina, tem consumido
cada vez mais produtos criativos importados.” (UNCTAD, 2010, p. 134)
Tabela 2 – Bens criativos: Exportações por grupos econômicos regionais, 2002 e 2008. (US$
milhões)
28
Disponível em: <http://www.eclac.org/cgi-bin/getProd.asp?xml=/prensa/noticias/comunicados
/0/45270/P45270.xml&xsl=/prensa/tpl/p6f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xsl>. Acesso em 29 jan.2012.
45
O relatório da UNCTAD dedica uma sub-seção para análise dos dados relativos ao
audiovisual. Após mencionar a falta de definições claras para o campo do audiovisual,
principalmente com o advento das novas ferramentas do comércio internacional (International
Trade Center – ITC) e da emergência das novas mídias e conectividade, o relatório aponta a
escassez de dados a respeito do comércio audiovisual, que não demonstram a real
contribuição deste setor para o comércio global e a economia mundial:
It is hoped that the limitations in data for audiovisuals will point towards the
need to improve the quality and coverage of statistics on trade in services for
the sake of market transparency since they are an essential tool for policy
formulation. (UNCTAD, 2010, p. 150)
Feita esta importante ressalva sobre o comércio de bens e serviços audiovisuais, que
apresentam volume muito inferior aos demais segmentos da economia criativa, os dados
disponíveis também apontam forte crescimento neste segmento, praticamente dobrando o
volume de exportações entre 2002 e 2008. Nos países em desenvolvimento, o volume saltou
de 35 milhões para 75 milhões de dólares em 2008, uma variação de 114%. No entanto, na
região da América Latina, não houve variação no volume de exportações de 2002 para 2008,
29
The key creative industries are the music and film industries, TV and radio broadcasting, performing arts, and
trade of digitalized creative content. For a sense of the magnitude of the creative economy and its overall
economic impact, see PricewaterhouseCoopers (2008), which forecasts that the global entertainment and media
industry alone will inject around $2.2 trillion in the world economy in 2012.
46
mantendo-se em 19 milhões, após uma redução para 16 milhões em 2005 (UNCTAD, 2010,
p. 309).
Gráfico 2 – Exportações de bens audiovisuais por grupos econômicos, em 2002, 2005 e 2008.
Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Exportações (receita) 28 29 15 16 21 17 26 26 32 13
Importações (despesa) 215 250 300 314 387 456 589 725 957 1043
30
O valor máximo encontrado para exportação de bens audiovisuais pelo Brasil entre 2002 e 2010 foi de apenas
US$ 49.395 em 2007. Já em 2010, o valor registrado foi de insignificantes 994 dólares. Disponível em:
<http://unctadstat.unctad.org>. Acesso em 29 jan. 2012.
31
Em entrevista à revista “Filme B – Festival do Rio”, em setembro de 2008.
32
Série Histórica do Balanço de Pagamentos, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SERIEBALPAG>.
Acesso em 29 jan. 2012.
48
1200
1000
US$ (milhões)
800
600
400
200
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES
No caso brasileiro, fica ainda mais exposto o déficit comercial em relação aos
produtos e serviços audiovisuais importados e o sub-aproveitamento do potencial deste
segmento. Neste sentido, analisaremos a seguir as políticas públicas desenvolvidas pelo Brasil
para proteção e estímulo de sua indústria audiovisual e as ações no sentido da cooperação
internacional.
49
33
Chamada Lei Sarney, devido à autoria do projeto de lei que a originou, apresentado pela primeira vez pelo
ainda senador José Sarney em setembro de 1972. (http://www.sinprorp.org.br/Memorias/memoria86-88-18.htm)
34
Até o limite de 3% do imposto de renda devido para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas.
51
além de introduzir novas formas de aplicação dos recursos, apresenta uma possibilidade de
ação sistêmica na cadeia audiovisual, conforme texto do ministro da cultura Juca Ferreira:
35
Disponível em: < http://fsa.ancine.gov.br/principaisdiretrizes.htm>. Acesso em 29 jan. 2012.
36
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/negociacoes >. Acesso em 29 jan. 2012.
52
37
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/outras-noticias/conheca-o-departamento-cultural>. Acesso em 29
jan. 2012.
38
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/cinema-e-tv/cinema-iberoamericano. Acesso em 29 jan. 2012
53
39
Texto disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/negociacoes>. Acesso em 20 jan. 2012.
40
Disponível em: <http://www.dc.mre.gov.br/outras-noticias/conheca-o-departamento-cultural>. Acesso em 20
jan. 2012.
41
Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/2007/11/05/politica-externa>. Acesso em 20 jan. 2012.
54
responsável pelo gerenciamento dos projetos de obras audiovisuais e pelo fomento de ações
internacionais, por meio de programas de apoio ao desenvolvimento, produção e difusão de
obras audiovisuais realizadas em coprodução internacional. Inicialmente prevista para estar
vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio, passou a ser vinculada ao Ministério da
Cultura pelo Decreto no 4.858, de 13 de outubro de 2003.
42
Disponível em <http://www.ancine.gov.br/media/Normacomplementar.pdf>. Acesso em 20 jan. 2012.
43
O Brasil contribui anualmente à Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do
MERCOSUL (RECAM), no valor equivalente a 48 mil dólares norteamericanos, dos quais 50% são
desembolsados pela SAV/MinC e 50% pela ANCINE.
44
Em 2006, por meio do Protocolo de Emenda ao Acordo Latino-Americano, este passou a se denominar
“Acordo Iberoamericano de coprodução cinematográfica”.
55
Jom Tob Azulay45, a partir da criação da ANCINE em 2001 o Brasil dobrou sua participação
financeir, tornando-se o segunda maior contribuinte do Programa.
45
Entrevista ao autor.
46
O Acordo Brasil-Índia foi firmado em Nova Déli, em 4 de junho de 2007, aprovado pelo Congresso por meio
do Decreto Legislativo n o 492, de 2009 e entrou em vigor, no plano jurídico externo, para a República Federativa
do Brasil, em 3 de novembro de 2010.
47
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/legislacao/acordos-internacionais/protocolos-cooperacao>. Acesso
em 29 jan. 2012.
48
Disponível em:
<http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/conteudo/protocolo_luso_brasileiro_julho_2007.pdf>. Acesso em
29 jan. 2012.
56
49
Disponível em: <http://www.ancine.gov.br/fomento/apoio-participacao-festivais-internacionais>. Acesso em
29 jan. 2012.
57
Foi no âmbito deste Programa que a ANCINE contribuiu para as ações previstas no
evento Ano do Brasil na França, que na área do cinema, disponibilizou cerca de 400 cópias de
filmes brasileiros, legendados em francês, para cerca de 40 mostras e festivais de filmes
brasileiros, ocorridas em 36 cidades da França, ao longo de 2005. Para execução destas ações
foi criado um Grupo Técnico de Cinema que elaborou o projeto que definiu as diretrizes e
monitorou a sua execução. A ANCINE participou deste Grupo a partir de um convite do
Comissariado Brasileiro, composto por especialistas do Ministério da Cultura, Ministério das
Relações Exteriores e Secretaria de Comunicações da Presidência da República. (ANCINE,
2005)
De acordo com seu sítio eletrônico, o Programa Cinema do Brasil “tem por objetivo
ampliar a participação do audiovisual brasileiro no mercado internacional, oferecendo às
cerca de 140 empresas associadas apoio logístico e estratégico para que elas possam realizar
coproduções e abrir mercados para a distribuição da sua produção, valorizando assim a
imagem da indústria cinematográfica nacional no exterior.”52 As principais ações de
promoção em nível internacional ocorrem durante a realização dos festivais de Berlim,
Cannes, Locarno e Ventana Sur (Buenos Aires). No Brasil, o Programa realiza seminários,
50
“outros números relativos ao Programa: foram confeccionadas 28 cópias de filmes de curta-metragem, sete
cópias de média-metragem, 40 cópias de longa-metragem; foram realizados 71 envios de cópias e emitidas 96
passagens aéreas”. Relatório de Gestão da ANCINE 2010, disponível em
<http://www.ancine.gov.br/sites/default/files/processos-de-contas-anuais/Relatorio_de_
Gestao2010_ANCINE.pdf>. Acesso em 29 jan. 2012
51
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) apoia 81 setores da
economia brasileira, por meio de projetos realizados em parceria com as principais entidades setoriais do país,
atendendo a empresas de todos os portes. “A Agência atua estrategicamente para inserir mais empresas no
mercado internacional, diversificar e agregar valor à pauta de produtos exportados, aumentar o volume
comercializado, consolidar a presença do País em mercados tradicionais e abrir outros mercados para os
produtos e serviços brasileiros.” Disponível em: < http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan.
2012.
52
Disponível em: < http://www.cinemadobrasil.org.br/pt/programa/>. Acesso em 29 jan. 2012.
58
cursos, rodadas de negócio e encontros de produtores brasileiros com de outros países, como
o II Encontro de Produtores Brasil-Espanha, ocorrido em 2010 em São Paulo.
53
Disponível em: <http://www.cinemadobrasil.org.br/pt/atualidades/noticias/id/89>. Acesso em 15 fev. 2012.
54
Disponível em: <http://braziliantvproducers.com/sobre.php>. Acesso em 29 jan. 2012.
59
55
Disponível em < http://www.apexbrasil.com.br/portal/>. Acesso em 29 jan. 2012.
56
Disponível em <http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/2010/OutrosRelatorios/1301.pdf>. Acesso em 29 jan.
2012.
60
(*) Edição do Decreto 4.456, de 4 de novembro de 2002, que transfere à Ancine a competência pela gestão dos
projetos audiovisuais apoiados com recursos federais.
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
O relatório também apresenta a quantidade de co-produções cinematográficas em
realização em outubro de 2010, que haviam sido submetidas à análise da ANCINE 57. Vale
destacar que outras co-produções podem estar em andamento sem a necessidade de serem
comunicadas previamente à ANCINE. Todas as produções somente serão oficializadas como
coproduções internacionais no momento da emissão do Certificado de Produto Brasileiro –
CPB58, quando será verificado o atendimento à definição de obra brasileira prevista no artigo
1o, V, da MP no 2.228/0159.
57
Devem ser submetidos à análise prévia da ANCINE (“reconhecimento provisório”) as obras audiovisuais
realizadas em coprodução internacional que solicitem captação de recursos por meio dos mecanismos de
incentivo fiscal federal e/ou que solicitem enquadramento nos termos dos acordos de coprodução realizados pelo
Brasil com outros países.
58
Em virtude da oficialização das coproduções internacionais ocorrer somente mediante a emissão do
Certificado de Produto Brasileiro – CPB, quando a obra está concluída, há uma defasagem na informação entre o
momento da efetiva produção (filmagens) e o momento da conclusão das obras. Desta maneira, os dados de 2009
podem sofrer um aumento e os dados de 2010 e 2011 ainda não foram compilados.
59
V - obra cinematográfica brasileira ou obra videofonográfica brasileira: aquela que atende a um dos seguintes
requisitos:
a) ser produzida por empresa produtora brasileira, observado o disposto no § 1o, registrada na ANCINE, ser
dirigida por diretor brasileiro ou estrangeiro residente no País há mais de 3 (três) anos, e utilizar para sua
produção, no mínimo, 2/3 (dois terços) de artistas e técnicos brasileiros ou residentes no Brasil há mais de 5
(cinco) anos;
b) ser realizada por empresa produtora brasileira registrada na ANCINE, em associação com empresas de outros
países com os quais o Brasil mantenha acordo de co-produção cinematográfica e em consonância com os
mesmos.
c) ser realizada, em regime de co-produção, por empresa produtora brasileira registrada na ANCINE, em
associação com empresas de outros países com os quais o Brasil não mantenha acordo de co-produção,
assegurada a titularidade de, no mínimo, 40% (quarenta por cento) dos direitos patrimoniais da obra à empresa
produtora brasileira e utilizar para sua produção, no mínimo, 2/3 (dois terços) de artistas e técnicos brasileiros ou
residentes no Brasil há mais de 3 (três) anos.
61
Etapa Quantidade
Em Finalização 13
Em filmagem 4
Em preparação 1
Em captação 9
Total geral 27
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
Este crescimento relaciona-se a diversos fatores, além das ações de internacionalização
do setor audiovisual brasileiro. Inicialmente, impulsionado a partir da própria retomada da
produção do cinema brasileiro, que após a estagnação com a extinção da Embrafilme em
1990, recupera a capacidade produtiva com o advento das leis de incentivo à cultura (Lei
8.313, de 1991) e da lei do audiovisual (lei. 8685, de 1993), chegando a um patamar de 30
filmes lançados ao ano no final da década de 90. A partir de 2004, o aquecimento do mercado
brasileiro eleva a produção cinematográfica brasileira para uma média de 80 filmes por ano.
Coprodução
Ano Lançamentos
internacional
1995 14 1
1996 18 0
1997 21 1
1998 23 3
1999 28 3
2000 23 5
2001 30 2
2002 29 4
2003 30 4
2004 49 8
2005 45 5
2006 72 9
2007 78 9
2008 79 15
2009 84 10
Total 623 79
Fonte: ANCINE. Dados até 01/10/2010.
62
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Coprodução Lançamentos
O segundo país com o qual o Brasil possui maior número de coproduções audiovisuais
realizadas é o Chile que, embora não possua um acordo de coprodução bilateral com o Brasil,
utiliza-se do fundo IBERMEDIA como principal indutor das parcerias entre produtoras
nacionais e chilenas. Analisando as empresas coprodutoras chilenas, verifica-se a constante
parceria com os estúdios Filmesonido, responsável pela pós-produção de diversas obras
brasileiras. Este dado nos leva a crer que as obras coproduzidas com o Chile decorrem em
grande parte em função do investimento chileno na finalização das obras audiovisuais, em
razão aos custos inferiores e à especialização do estúdio chileno, caracterizando-se como uma
coprodução financeira, conforme descrito na seção II.4.
60
“ANCINE abre Consulta Pública sobre coprodução internacional até 13/10”, disponível em <
http://www.ancine.gov.br/sala-imprensa/noticias/ancine-abre-consulta-p-blica-sobre-coprodu-o-internacional-
1310>. Acesso em 29 jan. 2012.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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