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Niterói
2021
IOHANNA ROQUE DA SILVA
Niterói
2021
IOHANNA ROQUE DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
ABSTRACT
The present work aims to understand the effects of hypersexualization on the mental
health of black women, through literature review in qualitative research, characterized
as having descriptive and reflective nature, being divided into three chapters; the first
one approaches historical construction, the second one addresses the relationship of
race and gender in the reproduction of this stigma and the third one discusses such
effects on mental health. In this context, this work discusses how the objectification of
these women’s bodies occurs, bringing reflection on this historical mark of oppression
and sexualization. From this work, it can be observed that such phenomenon brings
negative consequences for the subjectivity of this group and that it can cause
psychological vulnerability, and it also contributes to the conservation and perpetuation
of racial and gender violence. Lastly, this study demonstrates that this distorted
representation of the black woman's body is still a current issue and that it brings
perceptions to the imaginary that influences psychosocial, historical, cultural, political,
and economic aspects.
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
2. CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA HIPERSEXUALIZAÇÃO EM MULHERES
NEGRAS ................................................................................................................... 15
3. SOLIDÃO NAS LUTAS, NAS DORES E NOS AMORES ................................. 19
4. SAÚDE MENTAL VERSUS MULHER NEGRA ................................................. 23
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 27
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 28
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1. INTRODUÇÃO
Um exemplo dos estigmas impostos aos corpos das mulheres negras que
demonstra como funciona a imposição do lugar que devemos ocupar é o caso
da chamada Vênus Hotentote, cujo nome verdadeiro era Sarah Baartman.
Nascida em 1789 na África do Sul, foi levada, no início do século XIX, para a
Europa. Ela deu um corpo à teoria racista, sendo exibida em jaulas, salões e
picadeiros por conta de sua anatomia considerada “grotesca, bárbara,
exótica”: nádegas volumosas e genitália com grandes lábios (uma
característica presente nas mulheres do seu povo, os khoi-san). Seu corpo
foi colocado entre a fronteira do que seria uma mulher negra anormal e uma
mulher branca normal, a primeira considerada selvagem. Por fim, o corpo de
Baartman não recebeu nem um enterro digno. Após o falecimento, esqueleto,
órgãos genitais e cérebro foram preservados e exibidos em exposição em
Paris, no Museu do Homem. Até depois de morta ela foi manejada e
experimentada como espécime, peça de coleção a serviço da pesquisa e do
cientificismo branco europeu. Somente em 2002, a pedido de Nelson
Mandela seus restos mortais foram devolvidos à África do Sul. Mais de
duzentos anos depois, ela não foi considerada gente (RIBEIRO, 2018, p.95).
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foi legitimada pela ciência no estudo da evolução biológica, assim tendo o conceito de
racismo biológico tentando provar uma suposta inferioridade natural da mulher negra
(RIBEIRO, 2018).
No período que imediatamente se sucedeu à abolição, nos primeiros tempos
de “cidadãos iguais perante a lei”, coube à mulher negra arcar com a posição
de viga mestra de sua comunidade. Foi o sustento moral e a subsistência dos
demais membros da família. Isso significou que seu trabalho físico foi
decuplicado, uma vez que era obrigada a se dividir entre o trabalho duro na
casa da patroa e as suas obrigações familiares. Antes de ir para o trabalho,
havia que buscar água na bica comum da favela, preparar o mínimo de
alimento para os familiares, lavar, passar e distribuir as tarefas das filhas mais
velhas no cuidado dos mais novos. Acordar às três ou quatro horas da
madrugada para “adiantar os serviços caseiros” e estar às sete ou oito horas
na casa da patroa até a noite, após ter servido o jantar e deixado tudo limpo
(GONZALEZ, 2020, p.33).
A situação atual da mulher negra ainda não é muito diferente, mesmo com o
avanço de políticas públicas de igualdade de direitos e de participação política e
combate à intolerância e à violência. A pobreza, o analfabetismo, os homicídios e a
solidão afetiva têm cor, são exceções as conseguem romper essa barreira do
preconceito e discriminação racial (CARNEIRO, 2011).
O feminismo é o movimento social e político de mulheres que promove o
enfrentamento do machismo, luta pelo direito igualitário de todas as pessoas (sua
atuação não é sexista, ou seja, não busca impor a superioridade feminina), reivindica
a libertação dos padrões patriarcais. Entretanto, na prática acaba mais uma vez
inviabilizando as causas de mulheres negras (DAVIS, 2018).
corpos dessa população. Segundo Davis (2018, p.22), “o feminismo negro emergiu
como um esforço teórico e prático de demonstrar que raça, gênero e classe são
inseparáveis nos contextos sociais em que vivemos”.
sobre si mesmo. A baixa autoestima não é uma doença em si, é um sintoma. E, está
presente em algumas doenças psíquicas como depressão, transtorno de ansiedade e
transtorno de personalidade (MARTINS; LIMA; SANTOS, 2020).
Um dos impactos do racismo gerados em mulheres negras é a diminuição/falta
de confiança em si mesma, algo que por sua vez atravessa diretamente a autoestima
dessas mulheres. Ao estar em contato com ataques racistas, é possível que essas
mulheres desenvolvam sentimentos relacionados ao não reconhecimento da sua
importância enquanto pessoa, tendo uma convicção de que não mereçam ser
amadas, gerando uma visão negativa sobre si, tendo como consequência a baixa-
autoestima (MARTINS; LIMA; SANTOS, 2020).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em Movimento. Estud. Av. n.49, São Paulo, set. 2003.
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142003000300008. Acesso em: 05 mar. 2021
DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. São Paulo; Boitempo Editorial,
2018.
DAVIS, Angela. Mulher, Raça e Classe. Tradução Livre, Plataforma Gueto, 2013.
Dourado GonçalvesF. T.; e Silva MenegonV. G.; Santos de OliveiraM. M.; SilvaR. R.;
CarneiroM. S.; LemosA. V. L.; GuimarãesL. D. A.; AraújoZ. A. M.; ConceiçãoP. W. R.
da; SilveiraC. A. S. Imagem corporal feminina e os efeitos sobre a saúde mental:
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GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Ciências Sociais Hoje,
Brasília, 1984.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Zahar, Rio de Janeiro,
2020.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: Caderno de
formação política do Círculo Palmarino n.01 Batalha de Ideias. 2011.Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um
% 20feminismo%20Afro-latino-americano.pdf. Acesso em 15.fev.2021
HOOKS, Bell. E eu não sou eu uma mulher?: mulheres negras e feminismo. Rosa
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