Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
...
2
— Você...! Como?!
Ao que tudo indica, o homem tinha conseguido penetrar uma barreira que ia muito
além da física. Usando métodos inexplicáveis, ele era cada vez mais um mistério.
— Esse espaço é... a sua “alma”. A parte física do espírito.
— Alma? Espírito?
Aquela explicação fazia pouco ou nenhum sentido para Lied, que ainda se perguntava
como ele tinha conseguido entrar ali.
— Em outras palavras, a sua consciência. A sua própria mente.
— A minha... mente...?
O indivíduo começou a caminhar vagarosamente até à cesta.
— O que é que está pensando em fazer?!
Antes que ele pudesse colocar a mão na maçã, esta começou a reluzir. De imediato,
pequenas raízes pontiagudas começaram a crescer da cesta.
Ao notar a reação imediata, o homem entendeu... que não lhe era permitido tocar
nela. Perante a ameaça, preferiu não seguir em frente com a sua ação. Voltou-se para Lied.
— Como eu esperava, parece que... não sou bem-vindo aqui.
...
5 minutos se passaram. Susumu fora informado que o seu pai estava ocupado com
outros assuntos, motivo pelo qual não podia vir imediatamente para aqui. Dito isto, os
reforços foram garantidos e isso é que importa.
O homem ressurge de repente. Assim como ele, também Lied regressa e desperta de
seu “transe”.
“V-Voltaram!”, pensava Susumu.
O detetive não entendia a situação. Não só Lied havia começado a se mover
novamente, como o indivíduo também retornara. Mas... de onde exatamente?
— Ei! Está bem?! — Susumu pergunta a Lied.
O sujeito misterioso fitava-os agora da escadaria. Sirenes de carros da polícia
começaram a se fazer ouvir – os reforços requisitados por Susumu estavam prestes a chegar.
“Cá estão eles!”, pensava Susumu, não tirando o olhar da situação atual.
Lied deu um passo em frente.
— Quem… e o que… é você?
— O nome é... Varius. Sobre o que sou… sim…
3
O homem, que também já tinha sentido a aproximação dos terceiros, finaliza:
— …um dos escolhidos.
Após dizer isto desapareceu... sem deixar rastos. Os reforços chegaram, infelizmente,
relativamente tarde.
Lied seria levado sob custódia. Antes de abandonar a casa, Susumu notou a bala do
seu tiro perfurada na parede. Ela não tinha mesmo acertado no alvo...
...
Final da tarde. O sol fechava-se à medida que os alunos restantes da escola local de
Ganeden iam-se deslocando para casa.
Os cães ladravam, os pássaros cantavam, os gatos miavam. E no edifício da Câmara
Municipal, numa sala fechada pouco utilizada pelos seus funcionários, um grupo de
escolhidos reúne-se.
Cada um deles sem exceção tem um papel nesta história para cumprir... pois assim o
destino ditou.
— Oi, não havia mesmo um lugar mais agradável para termos as nossas reuniões? É
que esta sala está cheia de pó! Não tem graça nenhuma! — um tom de voz acriançado.
— Se está insatisfeito, então vai procurar um lugar novo. Ah, por que é que ele
também teve de vir? Só vai nos atrapalhar — responde um tom de voz feminino e aborrecido.
— Eu vou o quê?! Diz isso mais uma vez!!
— Vá, vá, vocês dois, acalmem-se — tenta acalmar um tom de voz masculino e
grosso.
— Aaaaaaah, quanto barulho! CALEM-SE TODOS! — exalta-se um tom de voz
masculino e ordinário.
A porta da sala abre-se no meio de tanta comoção, revelando um novo rosto.
— Oh, Varius. E então, como é que correu? A tua “missão de reconhecimento”.
O homem com a voz mais grossa pergunta ao recém-chegado, um sorriso no rosto.
— Oi! Por quê tanta demora?! — o rabugento queixa-se.
4
— Entendo. Então é assim mesmo. — o dono da voz grossa, Zechariah de 36 anos,
não se revela surpreso com o desfecho.
Varius desloca-se para o canto superior esquerdo da longa mesa de madeira, onde se
senta e se junta ao resto dos seus companheiros.
Finalmente, todos os cinco estavam reunidos. O mesmo padrão de cores das vestes
de cada um, amarelo e preto, causava uma impressão agradável.
— Tch. Intocável? Não pode afirmar isso sem realmente tentar! — o danado Martyr
de 25 anos, não consegue aceitar a conclusão.
Geralmente bastante fácil de se irritar, Martyr tem mais um dos seus “ataques”. Ele
põe-se de pé e dá a volta para o outro canto da mesa. Aí, coloca-se inteiramente em cima
dela.
— A maçã está bem à nossa frente. É perfeitamente tocável!
Martyr tentava convencer os seus colegas, nunca ocultando a sua própria ganância,
que vinha ao de cima sem mesmo ele perceber.
Core, de 16 anos, não consegue deixar de ficar incomodada com a atitude dele,
principalmente porque se encontra pisando o livro dela.
Por ser uma moça muito serena e reservada, Core não se irrita com essas
ocasionalidades. Não deixa de ficar por vezes descontente, ainda que nunca demonstrando
esse descontentamento.
— Hum... está pisando no livro.
— Bahahahahaha! Isso, pisa mais nele! — o endiabrado Nemo, de 12 anos,
incentivava.
— Cala-te, criança estúpida.
— Criança?! Como se fosses muito mais velha do que eu! Daqui a quatro anos terei
a mesma idade que tu! Hahahaha!
Nemo tentava replicar com a sua lógica distorcida… Core suspira, não querendo
acreditar na burrice daquele ser.
— Que idiota.
Zechariah, que devia estar a meio de uma conversa entre os adultos do grupo, desvia-
se dela para intervir na discussão entre eles.
— Ouve, Nemo: quando você for quatro anos mais velho, a Core também será
quatro anos mais velha. No fim, você será sempre mais novo do que ela. É assim que
funciona.
— Eh? EEEEEEH?!
5
Esta informação entristece Nemo. Uma revelação que abateria o rapaz até o final do
capítulo.
— Silêncio! Ei, Zechariah, não fuja da conversa! — Martyr estava cada vez mais
maldisposto.
Oportunamente, Core consegue arrancar o livro da sola do calçado de Martyr. Ela o
limpa e imediatamente retoma a leitura.
Zechariah volta a atenção novamente para o assunto que eles discutiam.
— Não há o que fazer por agora, Martyr. Não é só a questão da obstrução dentro do
Lied, o líder também nos disse para aguardar pelo desenvolvimento do espírito dele. E aí é
que entra o nosso trabalho atual: alimentar esse crescimento. É só nisso que devemos nos
focar por agora.
Varius atentava, não acrescentando nada ao depoimento de Zechariah.
A realidade enfurece, mas Martyr tem de aceitá-la, pois foi essa a ordem do líder, a
qual deve seguir... O loiro, menos tenso, desce tranquilamente da mesa e, ao invés de
regressar ao seu assento, abandona a sala.
Ninguém diz nada, o silêncio predominando. A única passível reação foi a de Varius,
que fixamente continuou a olhar para Martyr.
Martyr fecha a porta e encosta-se a ela. Ergue levemente a cabeça - um convicto
sorriso traiçoeiro. Uma sede de sangue inabalável contida despertava.
Por um momento a íris dos seus olhos adotou uma forma demoníaca, condizendo
com a expressão na face. Exatamente como... se fosse de uma cobra.
[FIM DO CAPÍTULO]