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Na era do consumidor:
uma visão do mercado lácteo brasileiro
Juiz de Fora, MG
2021
–1–
Supervisão editorial e revisão do texto
Kennya Beatriz Siqueira
Editoração impressa
Rodrigo Henriques
Normalização bibliográfica
Inês Maria Rodrigues (CRB-6/1689)
Capa
Rafael Dorneles
1ª edição
Online (2021)
Na era do consumidor: uma visão do mercado lácteo brasileiro / Editor Técnico, Kennya
Beatriz Siqueira. – Juiz de Fora, MG : edição do autor, 2021.
CDD 338.1
–2–
Autores
–3–
Emerson Wendelin Alves Moreira Campos
Estudante de Engenharia Mecatrônica, IF Sudeste MG, Juiz de Fora, MG
–4–
Mairon Neves de Figueiredo
Engenheiro-agrônomo, mestre em Solos e Nutrição de Plantas,
pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG
–5–
Regina Maria Maciel Braga Villela
Bacharel em Informática, doutora em Engenharia de Sistemas e
Computação, professora titular, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Juiz de Fora, MG.
–6–
Apresentação
Não faz muito tempo que o consumidor é o centro das atenções. Henry
Ford criou toda a lógica de produção em alta escala para a indústria
automobilística e dizia que “o cliente pode escolher a cor do carro, desde
que seja preta.”
Aqui no Brasil frases como “o cliente tem sempre razão” são muito
mais retóricas de venda que propósitos das empresas. Além da
inspiração fordista, o modo artificial com que criamos a indústria no
Brasil explica este comportamento do nosso mercado. A indústria
no Brasil, desde o final dos anos quarenta até o Governo Collor, foi
baseada em protecionismo externo e baixa competição interna. A partir
daí evoluímos, mas ainda somos um país em que a oferta empurra a
demanda e não a demanda puxa a oferta.
Este livro preenche uma lacuna até então existente no setor de leite e
derivados. É o primeiro que aborda, de modo amplo e profundo, um
personagem ainda pouco conhecido, mas que movimenta R$ 100 bilhões
ao ano com o que adquire. E é isso que encontraremos nas páginas a
seguir. Vamos entender quem é o consumidor de leite. Organizados em
cinco grupos temáticos, o livro analisa o consumo de leite e derivados
–7–
de modo estrutural e aprofunda ao detalhe, por se valer de informações
relevantes obtidas nas redes sociais.
–8–
Índice
Prefácio........................................................................................................ 13
SEÇÃO I
Um panorama do consumo de lácteos no Brasil
Reflexões sobre o nível de consumo de leite do brasileiro................ 17
Um retrato do consumo de lácteos no Brasil......................................20
A geografia brasileira do consumo domiciliar de leite...................... 23
A evolução do consumo domiciliar de leite e derivados
no Brasil sob a ótica do Novo Guia Alimentar Brasileiro................. 27
O desempenho dos produtos lácteos em 2018................................... 31
O mercado consumidor de lácteos brasileiro em 2019..................... 35
SEÇÃO II
Uma análise do consumo de derivados lácteos no Brasil
Comportamento do consumo de leite UHT em diferentes
classes sociais.......................................................................................... 41
Análise do consumo de leite UHT no Brasil...................................... 46
O consumo de queijos pelos brasileiros.............................................. 53
O mercado de queijos artesanais no Brasil......................................... 56
Evolução do consumo de queijos fundidos no Brasil........................ 61
Evolução do consumo de queijos finos no Brasil............................... 67
Consumo domiciliar de leite em pó integral nas
diferentes regiões do Brasil................................................................... 72
A popularização dos leites fermentados no Brasil............................. 76
O leite condensado brasileiro............................................................... 83
Novos horizontes e mercados da manteiga......................................... 89
O mercado de produtos imitadores de lácteos no Brasil.................. 95
–9–
SEÇÃO III
Fatores que afetam o consumo de lácteos no Brasil
O impacto da renda no consumo de lácteos no Brasil................... 103
É cringe consumir lácteos?.................................................................. 108
A confiança do consumidor brasileiro de leite................................ 112
O poder das marcas............................................................................ 116
Webrooming para leite e derivados.................................................... 120
Alimentos Lácteos Funcionais............................................................ 123
O empoderamento do consumidor.................................................. 127
Valorização do bem-estar animal pelo mercado consumidor....... 134
O que podemos aprender com o mercado de café?........................ 129
Tendências para o mercado lácteo em 2021.................................... 137
Quanto os consumidores de lácteos estão pagando a
mais por saudabilidade?..................................................................... 140
Estudos mostram potencial dos lácteos no tratamento
de Artrite Reumatoide........................................................................ 144
Teor de sódio nos queijos brasileiros................................................ 148
SEÇÃO IV
O consumo de lácteos no Brasil durante a pandemia de Covid-19
Características do consumo de lácteos durante a pandemia......... 153
Efeitos da pandemia no mercado de lácteos em Minas Gerais..... 157
O efeito renda no consumo de lácteos no Brasil –
uma análise do período da pandemia.............................................. 163
O que aprendemos com o coronavírus?........................................... 167
A evolução do consumo domiciliar durante a pandemia.............. 170
– 10 –
SEÇÃO V
Uma análise do consumo de lácteos no Brasil sob a ótica
das redes sociais
Análise dos sentimentos expressos na rede social
Twitter em relação ao queijo.............................................................. 177
Quais os tipos de queijos mais comentados no Twitter................. 182
Análise exploratória de leite e derivados mais
comentados no Twitter e Google Trends......................................... 187
Tendências de consumo de queijo coalho no Nordeste................. 192
Análise exploratória da imagem dos lácteos em
tempos de coronavírus....................................................................... 195
O que mudou no consumo de lácteos com a pandemia?
Uma visão das redes sociais............................................................... 203
O impacto da pandemia no consumo de lácteos no Brasil -
uma abordagem das redes sociais..................................................... 209
Covid-19 e o impacto no consumo de leite e derivados................. 214
– 11 –
– 12 –
Prefácio
Assim, esta obra foi criada com a finalidade de abordar esta lacuna
nos estudos de comportamento do consumidor brasileiro de leite e
derivados, bem como nas tendências de consumo neste mercado. Ela
é composta de uma coletânea de textos publicados em revistas e sites
especializados no setor lácteo brasileiro (Milkpoint, Revista Indústria
de Laticínios, Revista Leite Integral, Revista Balde Branco) discorrendo
sobre questões relativas ao consumo de leite e derivados no Brasil entre
meados de 2019 e meados de 2021.
– 13 –
mudanças de comportamento ocorridas neste período. Finalmente, são
apresentados resultados da ferramenta Observatório do Consumidor,
desenvolvida pela Embrapa em parceria com UFJF e IFSudeste para
monitorar o comportamento do consumidor e as tendências de consumo
de lácteos por meio de informações das redes sociais. Essa ferramenta
começou a ser usada no início da pandemia do novo coronavírus no
Brasil e permitiu acompanhar as mudanças de consumo de lácteos neste
período.
– 14 –
SEÇÃO I
Um panorama do consumo
de lácteos no Brasil
– 15 –
– 16 –
Reflexões sobre o nível de consumo de
leite do brasileiro*
*
Publicado em Milkpoint
– 17 –
a serem consumidas de alimentos. A única recomendação apresentada
é “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e
preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”.
Obs: O tamanho das porções varia de um país para o outro. Em alguns países, uma
porção equivale a 200 ml de leite, em outros equivale a 250 ml.
– 18 –
Dentre os alimentos in natura ou minimamente processados es-
tão o leite pasteurizado, ultrapasteurizado ou em pó e iogurtes (sem
adição de açúcar). A manteiga é considerada preparação culinária. Já os
queijos são considerados alimentos processados e os sorvetes, iogurtes
e bebidas lácteas adoçados e aromatizados são tidos como alimentos
ultraprocessados.
Portanto, não se pode afirmar que o brasileiro não atende às re-
comendações de consumo de leite, já que o País não possui este tipo de
recomendação. Ademais, considerando que 1 xícara ou 1 porção de leite
é equivalente a 200 ml, o nível de consumo de leite de um adulto brasi-
leiro (455 ml/dia) está até superior ao de alguns países apresentados na
tabela, como por exemplo África do Sul, Argentina e Austrália.
Mas e se analisarmos apenas o consumo de leite fluido? Conside-
rando leite fluido como a soma de leite UHT e leite pasteurizado (sem
incluir o leite em pó reconstituído), a Pesquisa Industrial Anual (PIA)
do IBGE mostra que o brasileiro consumiu 73 ml de leite fluido/dia em
2017. No mesmo ano, o USDA informou que os americanos consumi-
ram 64 ml/dia. Portanto, os brasileiros têm nível de consumo de leite
fluido equivalente ao dos americanos e a ideia de que o nosso nível de
consumo é baixo está ultrapassada.
– 19 –
Um retrato do consumo de lácteos no Brasil*
Fonte: IBGE.
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 20 –
A Tabela 1 também permite observar diferenças regionais no con-
sumo. A região Sul se destaca como a maior consumidora de leite e deri-
vados, consumindo, em média, 48,271 kg/ano. Isso é quase 4 vezes mais
do que a média de consumo de lácteos da região Norte, que é a que me-
nos consome estes produtos. No entanto, a região Norte se destaca no
consumo de leite em pó integral, consumindo, 2 vezes mais que a média
brasileira e quase 6 vezes do que o Sul, região que menos consume esse
derivado do leite.
Já, para o leite em pó desnatado, o maior nível de consumo se en-
contra na região Nordeste, seguido pelo Norte e Sudeste. Este último, se
sobressai no consumo de queijo parmesão, queijo prato e outros queijos
(que engloba queijos finos e artesanais).
O leite fluido, chamado pelo IBGE de leite de vaca pasteurizado,
é mais consumido no Sul do País. Essa região também se sobressai por
um nível de consumo superior de queijo prato, creme de leite, leite con-
densado, queijo mozzarella, iogurte e leite fermentado, dentre outros
lácteos. Por fim, o Centro-Oeste é a região que mais consome manteiga
e queijo não especificado.
Além das diferenças regionais, os dados do IBGE discriminam
ainda diferenças significativas de consumo provocadas pela renda fa-
miliar. A Figura 1 mostra como o consumo de lácteos se comporta à
medida que a renda familiar varia. É possível notar incrementos signi-
ficativos na aquisição domiciliar a cada faixa de renda, de modo que no
nível de rendimento mais elevado (acima de R$ 14.310,00) consome-se,
em média, quase 3 vezes mais leite e derivados do que na menor faixa de
renda (até R$ 1908,00).
– 21 –
TOTAL DE LÁCTEOS
56,212
45,614
38,284
Unidade (kg)
32,659
27,370
20,377
– 22 –
A geografia brasileira do consumo
domiciliar de leite*
*
Publicado em Milkpoint
– 23 –
Figura 1. Distribuição do consumo domiciliar de lácteos per capita no Brasil (2017-
2018).
Fonte: IBGE, 2020. Elaborado pelos autores.
– 24 –
Tabela 1. Ranking de consumo domiciliar per capita de lácteos no Brasil
Produtos/ranking 1o. 2 o. 3 o. 4 o. 5 o.
Total de lácteos SC RS MG SP PR
Creme de leite SC PR DF SP GO/RN
Leite condensado RS SC SP RJ PR
Leite de vaca pasteurizado SC RS SP MG PR
Queijos RJ SC PE SP RS
Iogurte RS SC SP MS PR
Leite fermentado SC PR SP RS RN
Manteiga GO AP BA AC SE
Leite em pó AM RR PI PA PE
– 25 –
sil, cabe ao setor identificar estas variáveis e trabalhar em conjunto
para ofertar os seus produtos de modo a atender às necessidades des-
sa população tão heterogênea.
– 26 –
A evolução do consumo domiciliar de leite
e derivados no Brasil sob a ótica do
Novo Guia Alimentar Brasileiro*
*
Publicado em Milkpoint
– 27 –
De acordo com o Novo Guia Alimentar para a População Brasilei-
ra, os lácteos in natura ou minimamente processados são leite pasteuri-
zado, leite UHT, leite em pó e iogurte (sem adição de açúcar). Dentre os
alimentos processados, tem-se os queijos. Já, os lácteos ultraprocessados
são sorvetes, iogurtes e bebidas lácteas adoçados e aromatizados, leite
condensado, leite fermentado e creme de leite. A manteiga é considera-
da ingrediente culinário. A Figura 1 apresenta a evolução do consumo
de lácteos segundo a classificação do guia alimentar.
60
44,4
45
37,4
kg per capita
30
25,6
15
– 28 –
da muito presentes na alimentação brasileira, os queijos se mantiveram
praticamente no mesmo patamar de 2008-2009, representando 15% do
consumo domiciliar de lácteos no Brasil. No entanto, este é um segmen-
to em que o consumo fora do domicílio é muito significativo.
Pela Figura 1 também é possível perceber que os produtos ultra-
processados vêm ganhando cada vez mais espaço na alimentação domi-
ciliar do brasileiro. Um exemplo, é o leite condensado, que apresentou
um incremento de consumo de 30% em relação à pesquisa de 2008-
2009, respondendo por 2% do consumo de lácteos em 2017. O leite
condensado é o derivado do leite que mais se enquadra na categoria
de alimentos indulgentes, ou seja, aqueles que promovem prazer. Neste
sentido, é importante ressaltar que os brasileiros, assim como os povos
latinos, têm como característica marcante no consumo, a busca por ali-
mentos indulgentes, mesmo nos momentos de crise.
Outros produtos ultraprocessados que se destacaram foram o
leite fermentado e o creme de leite, que tiveram um aumento de con-
sumo de 28% e 22%, respectivamente, entre as POF’s de 2008-2009 e
2017-2018. O leite fermentado enquadra-se na categoria de alimentos
funcionais ou que promovem a saúde e o bem-estar e que está em
franco crescimento no País. Já o creme de leite é ingrediente muito
usado no setor de confeitaria, que também apresenta tendência de
crescimento nos últimos anos.
O iogurte, outro derivado do leite, apresentou queda no consumo
domiciliar, de 25% em relação à POF de 2008-2009. Após ser considera-
do um dos símbolos do ganho real de renda do brasileiro na implanta-
ção do plano real, a indústria do iogurte vem sofrendo com a crise eco-
nômica instaurada no Brasil nos últimos anos. Por ser um produto de
valor agregado maior, a tendência do consumidor é substituir o iogurte
em momentos de perda de poder aquisitivo.
Por último, na categoria de ingrediente culinário, o consumo do-
miciliar de manteiga cresceu cerca de 10% em relação à pesquisa de
2008-2009, muito em função dos avanços científicos apontando os seus
– 29 –
benefícios à saúde. Após estudos demonstrarem que a manteiga oferece
mais benefícios à saúde do que a margarina, a substituição desses pro-
dutos vem ocorrendo, o que provocou queda de consumo de margarina
de 27% no período.
Portanto, os dados de consumo de lácteos no Brasil mostram que
está havendo uma substituição parcial dos produtos in natura pelos
ultraprocessados, considerando a alimentação dentro do domicílio, o
que evidencia um processo de transição nutricional. Essa substituição
é muito influenciada pelos novos estilos de vida da população que en-
volvem a maior urbanização, mais mulheres no mercado de trabalho,
envelhecimento da população, entre outros fatores. Além disso, vale
ressaltar a habilidade da indústria de alimentos em atender às novas de-
mandas dos consumidores: praticidade, conveniência, saudabilidade e
funcionalidade, criando sempre produtos cada vez mais atrativos e que
oferecem inúmeros benefícios.
– 30 –
O desempenho dos produtos lácteos em 2018*
*
Publicado em Balde Branco
– 31 –
as 70 categorias analisadas no estudo, a classe C foi a responsável pelo
maior percentual de compras (49%).
Tabela 1. Características do consumo de derivados do leite em 2018
Tamanho Criança Gasto Frequência Tíquete
Penetração Classe da até 12 médio
Produto de compra médio (R$) /
(%) econômica família anos anual
(pessoas) (%) (R$) (vezes/ano) Compra
Requeijão 64,5 A/B 3a4 41,6 34,10 5,1 5,2 6,60 6,61
*O iogurte líquido foi incluído na pesquisa apenas em 2018 e por isso não apresenta
dados para 2017.
Fonte: Abras. Elaborado pelos autores.
– 32 –
categorias analisadas no estudo, os demais produtos tiveram aumento na
frequência de compras entre 2017 e 2018. As maiores frequências de com-
pras ocorreram para leite longa vida, creme de leite e leite condensado.
O leite condensado foi o único produto com queda no tíquete mé-
dio (-4,3%) e o requeijão manteve o tíquete médio estável. Já os outros
produtos tiveram incrementos que variaram de 2,7% (iogurte grego) a
7,4% (iogurte funcional). Outra informação interessante que se pode
tirar da Tabela 1 é que os produtos lácteos que tiveram incremento tanto
na frequência de compra quanto no tíquete médio são produtos mais
consumidos pela classe A/B, ou seja, menos suscetíveis a crises econô-
micas. Além disso, as classes A/B foram as únicas que registraram cres-
cimento da massa de renda no início de 2019, com expansão de 7,2%
na classe A e 7,4% na classe B considerando os dados do 1º trimestre de
2019 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do
IBGE. As classes C (0,2%) e D/E (-0,9%) continuam com restrição de
renda em função do fraco desempenho da economia e do elevado nível
de desemprego, mas são exatamente as classes com maior contingente
de famílias e que são de grande relevância nos produtos de consumo em
massa (Figura 1).
Classe A;
3,9%
Classe B;
14,7%
Classes
D/E;
55,7% Classe C;
25,7%
– 33 –
Os três últimos indicadores analisados (gasto médio anual, fre-
quência de compras e tíquete médio) mostram que, no geral, os lácteos
tiveram um bom desempenho, destacando-se mais do que outros pro-
dutos típicos da dieta brasileira. Apesar do cenário econômico intimi-
dador que provocou redução na frequência de compras da maioria dos
produtos pesquisados, os lácteos, especialmente aqueles que têm um
apelo para a saúde e bem-estar, ampliaram tanto a frequência de com-
pras quanto o tíquete médio, evidenciando que esta tendência da busca
por alimentos saudáveis, nutritivos e funcionais deve continuar.
– 34 –
O mercado consumidor de lácteos
brasileiro em 2019*
*
Apresentado no XXV Workshop de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Leite
– 35 –
Paulo (1,1%), interior de São Paulo (1,2%) e Leste e interior do Rio de
Janeiro (1,1%). Já, nas regiões Centro-Oeste e Grande Rio de Janeiro, os
índices de volume de compra caíram ainda mais.
Tabela 1. Variação de unidades compradas por região do País até maio/19 (em %).
Ano móvel (últimos 12 Janeiro a Maio
Trimestre
Região meses terminados em (comparação com o
(Mar/Abr/Maio)
maio) ano anterior)
N+NE 0,3 -1,1 2,6
Centro-Oeste -2,6 5,8 -6,4
Leste+Interior RJ 0,1 -0,4 -0,7
Grande RJ -3,5 -4,7 -5,4
Grande SP -2,5 -1,6 -0,6
Interior de SP -3,2 -3,2 1,4
Sul -4,4 -4,5 -4,4
Fonte: Kantar.
– 36 –
ressaltar o papel das crianças no consumo. Elas são as principais respon-
sáveis pela maior penetração de iogurtes nos lares brasileiros (60% do
consumo é de indivíduos até 12 anos), já que 28,7% optam pelo produto
no café da manhã e 37,8% no lanche da tarde. O petit suisse é o preferi-
do pelo público até 6 anos. Os iogurtes, assim como as bebidas lácteas
também se destacaram nas lancheiras escolares nos 12 últimos meses
terminados em junho de 2019, sendo esta escolha associada à saudabi-
lidade em 41% dos casos.
Já o sorvete conquistou 4,2 pontos de penetração entre agosto de
2018 e o mesmo mês deste ano, o que corresponde a 2 milhões de novos
lares consumindo sorvete no País. Com isso, o consumo do produto
cresceu 12,9% em volume e 7% em valor. A Tabela 2 apresenta mais
informações sobre o consumo de sorvete no Brasil.
No Lar 1,5 L
Formato
Fora do Lar Picolé 60%
Sabor No Lar Napolitano -
Tipo de família No Lar Com 3 pessoas 53%
Idade No Lar Mais de 50 anos 40%
No Lar ABC 87%
Classe social
Fora do Lar C -
No Lar Grande RJ 63,6% de penetração
Região
Fora do Lar SP -
Ocasião No Lar Jantar -
No Lar R$ 8,35 -
Ticket médio
Fora do Lar R$ 21,17 -
Fonte: Kantar.
– 37 –
vezes por semana) e pela Região Sul. No entanto, é interessante notar
que o valor gasto com essa sobremesa fora de casa é bem superior ao do
consumo doméstico: R$ 21,17.
Já, o leite longa vida, presente em 91,5% dos lares brasileiros,
tem encontrado dificuldades de expansão. O que não aconteceu com al-
guns dos produtos concorrentes. O leite pasteurizado apresentou 10,3%
de aumento de volume vendido nos últimos 12 meses terminados em
março de 2019. Os produtos sem lactose também estão se fortalecendo
no mercado brasileiro. Só em 2018, 20% dos lares compraram pelo me-
nos uma vez este tipo de produto.
Diante do exposto, é possível notar que alguns derivados do leite
têm conseguido se manter e até apresentar crescimento mesmo neste
cenário econômico instável. A base deste crescimento está muito ligada
às tendências de saudabilidade, conveniência e indulgência (esta última,
é uma característica marcante do consumidor brasileiro), assim como o
direcionamento para públicos específicos.
– 38 –
SEÇÃO II
– 39 –
– 40 –
Comportamento do consumo de leite UHT
em diferentes classes sociais*
*
Apresentado no XXV Workshop de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Leite
– 41 –
rentes classes sociais do Brasil, como forma de entender melhor esse
mercado.
Para isso, foram coletados dados do consumo de leite UHT por
classe de renda no período de 2010 a 2019. A fonte de dados foi o estudo
“Consumidores e Categorias”, elaborado pela Kantar Worldpanel para a
Abras. O estudo descreve a frequência de compra, gasto médio, tíquete
médio, classe social do consumidor e penetração do leite longa vida nos
lares brasileiros. Já os preços do leite longa vida, foram coletados do
Instituto de Economia Agrícola (IEA).
O leite longa vida é o produto lácteo mais consumido nos lares
brasileiros, registrando 91,6% de índice de penetração no último ano. Os
dados mostram que a classe econômica de maior representatividade na
categoria leite ultrapasteurizado no Brasil é a classe C. Em 2019, essa clas-
se respondeu sozinha por 52% das vendas de leite longa vida, seguida pela
classe A/B com 33% e, por último, a classe DE, com 16% (Figura 1).
60
50
40
(%) 30
20
10
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Classe Econômica A/B Classe Econômica C Classe Econômica D/E
– 42 –
A classe C representou, em 2010, a maior parcela da população
brasileira, composta na época por 94,5 milhões de pessoas (50,5% da
população) e manteve o posto com 115,3 milhões de pessoas em 2018,
ou 55,3% da população (Valor Econômico, 2019). Durante todo o pe-
ríodo analisado, a classe C manteve-se na liderança na aquisição de
leite longa vida. No entanto, a sua representatividade nesse consumo
aumentou consideravelmente, passando de 40,8% em 2010 para 52%
em 2019.
A classe econômica A/B é caracterizada por certa estabilidade
em relação a sua representatividade nas vendas de leite longa vida com
o decorrer dos anos. Já a classe D/E apresentou redução de 21,8 pon-
tos percentuais (pp) no período analisado. É importante destacar que
a maior redução da representatividade dessa classe ocorreu em 2011,
caindo 11,8 pontos percentuais. A partir daí, a classe D/E deixou de ser
a vice-líder nas compras de leite UHT.
Com relação ao tíquete médio, em todas as classes houve aumen-
to no valor gasto por ocasião de compra do leite. O tíquete médio prati-
camente dobrou entre o período de 2010 a 2019, saindo de R$ 7,67 para
R$ 14,09, representando aumento de 83,70%. As classes sociais A/B,
C e D/E aumentaram as despesas em 70,97%, 81,90% e 90,89%, nessa
ordem.
Já o preço do leite longa vida no varejo cresceu em 52,83%, de
R$ 2,12 para R$ 3,24 por litro no mesmo período. Além disso, a frequ-
ência de compras diminuiu para todas as classes no período considera-
do. Com isso, pode-se inferir que a quantidade de leite adquirido por
ocasião de compra, por família, diminuiu mais expressivamente para a
classe A/B, que consumia 100,77 litros/família/ano e passou para 92,02
(Figura 2), reduzindo o consumo em 8,75 litros/família/ano. A classe
D/E e C, apresentaram decréscimo de 1,44 e 0,43 litros/família/ano, res-
pectivamente, ao longo do período analisado.
– 43 –
Tabela 1. Evolução do consumo de leite longa vida por classe econômica.
A/B C D/E
2010 2019 2010 2019 2010 2019
Tíquete (R$) 9,13 15,61 7,68 13,97 6,26 11,95
Frequência 23,4 19,1 21,9 18,3 19,1 14,9
(vezes/ano)
Preço/litro (R$) 2,12 3,24 2,12 3,24 2,12 3,24
Consumo 100,77 92,02 79,33 78,90 56,39 54,95
Total/família/ano (L)
Fonte: Abras. Elaborado pelos autores.
– 44 –
Referências Bibliográficas
ABLV – Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida.
Relatório Anual 2017. São Paulo, [2018]. 30 p.
– 45 –
Análise do consumo de leite UHT no Brasil
*
Publicado em Balde Branco
– 46 –
no faturamento total do setor reduzida de 33% para 23,74% no perío-
do analisado, os queijos saltaram de 12,9% para 23,8%. Em volume de
vendas, o leite ultrapasteurizado registrou crescimento de 24% no perí-
odo analisado, chegando a 4,8 bilhões de litros vendidas em 2016. Já os
queijos tiveram um crescimento de 124% no volume total vendido no
mesmo período, atingindo a marca de 785 mil toneladas em 2016.
Algumas variáveis de mercado foram determinantes para a dife-
rença de comportamento nas vendas de leite UHT e queijos ao longo
do período analisado. Apesar do fraco desempenho econômico do País
após 2012, a renda real média efetiva do trabalho, medida pela Pesqui-
sa Mensal do Emprego do IBGE, teve crescimento de 22,6% de 2005 a
2016. Além disso, houve um aumento de cerca de 14% no número de
famílias com rendimentos entre 3 e 5 salários mínimos mensais e de
9% daquelas com rendimentos maiores que 5 salários mínimos. É im-
portante salientar que a elasticidade consumo-renda, definida como a
variação na quantidade consumida proporcionada por um incremento
de renda, é alta para os queijos, especialmente para a população de baixa
renda. Isso porque, nesta parcela da população, os incrementos de renda
aumentam o consumo daqueles que já compram o produto, mas tam-
bém fazem com que aqueles que não tinham o queijo como alimento
comum na dieta passem a ter. A Figura 1 ilustra o comportamento das
vendas per capita de leite UHT, queijos e a evolução da renda no Bra-
sil. Pode-se observar que, ao longo do período analisado, as vendas de
leite longa vida tiveram crescimento inferior ao da renda, enquanto os
queijos registraram desempenho bem superior. Há de se destacar que,
mesmo no período de crise enfrentado pelo País a partir de 2014, o mo-
vimento do consumo de queijos permaneceu ascendente, evidenciando
que outros fatores têm afetado este mercado.
– 47 –
220,00 Leite UHT
Queijos
200,00
Renda Real Média Efetiva do Trabalho
180,00
160,00
140,00
120,00
100,00
80,00
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Figura 1. Evolução do volume de vendas per capita de leite longa vida e queijos e da
renda real média do trabalhador (Índice base 2005 = 100).
Fonte: IBGE: Elaboração dos autores.
– 48 –
140,00
132,88
130,00
120,00
110,00
100,00 102,72
100,00
90,00
80,00
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Tendências
– 49 –
Tabela 1. Ranking dos países com maior consumo per capita de queijos no mundo em
2016.
Países Consumo per capita (kg/hab)
Dinamarca 28,1
Islândia 27,7
Finlândia 27,3
França 27,2
Chipre 26,7
Alemanha 24,7
Suíça 22,2
Holanda 21,6
Itália 21,5
Áustria 21,1
União Européia 18,6
Argentina 11,6
Uruguai 8,7
Brasil 3,8
Fonte: The International Dairy Federation (IDF).
– 50 –
250
227
196
200 184
160
150 140
ml/dia
100
50
0
1970 1980 1990 2000 2010
Figura 3. Consumo diário de leite fluido por geração nos Estados Unidos - em
mililitros (2013).
Fonte: USDA (2013).
– 51 –
Outra possibilidade de diferenciação é por meio das embalagens.
Embalagens que se utilizam de materiais com apelos mais sustentá-
veis têm ganhado a preferência dos consumidores modernos na hora
da compra, já que os consumidores conscientes estão dispostos a pagar
mais. Neste mesmo quesito, entra também a praticidade e conveniência
do consumo. Por isso, mercados internacionais já investem em leites em
embalagens menores (de 180 a 240 ml), muito práticas para as crianças
levarem à escola.
Uma tendência que vem se consolidando entre os consumidores
é a informação mais detalhada sobre a origem do produto. Os consumi-
dores querem saber de onde vem o leite que estão consumindo e como
ele é produzido. Por isso, contar a história por trás do produto e mostrar
preocupações com bem-estar animal e meio ambiente podem também
ser um diferencial no mercado de leite UHT, assim como também, apre-
sentar um rótulo “limpo”, com menos ingredientes adicionados ou arti-
ficiais. Uma pesquisa sobre o tema no mercado americano mostrou que
69% dos consumidores acreditam que é importante ou extremamente
importante que os fabricantes forneçam informações detalhadas sobre
os alimentos, 83% querem mais informações sobre os produtos con-
sumidos e 80% são mais propensos a ser leais a uma marca que é mais
transparente.
Portanto, pode-se observar que existe oportunidade de amplia-
ção do mercado de leite UHT no Brasil, tanto em função da melhoria
de renda da população, mas principalmente por meio de inovações nos
produtos para atender a um consumidor cada vez mais exigente, infor-
mado e excêntrico.
– 52 –
O consumo de queijos pelos brasileiros*
Tabela 1. Percentual de consumo per capita por região brasileira comparado com a
média nacional.
Produto NO NE SE SU CO
Total de 29% 71% 128% 119% 94%
Queijo minas 16% 119% 131% 20% 102%
Queijo mozzarella 37% 52% 130% 133% 114%
Queijo não especificado 76% 96% 93% 120% 141%
Queijo parmezão 20% 47% 162% 82% 62%
Queijo prato 37% 44% 94% 303% 26%
Outros queijos 9% 61% 142% 115% 80%
Requeijão 20% 57% 141% 116% 83%
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
*
Publicado em Milkpoint
– 53 –
Em relação ao total de queijos, a região brasileira que mais con-
some é a Sudeste, com um nível de aquisição do produto 28% acima da
média do País. Logo em seguida, vem a região Sul. Por outro lado, a re-
gião que possui um nível de consumo mais discrepante de todos e, com
isso puxa a média nacional para baixo, é a região Norte. O consumo per
capita do Norte equivale a menos de 1/3 da média nacional.
O Sudeste se destaca com o maior consumo por habitante de qua-
se todos os queijos citados na pesquisa, com exceção de queijo moz-
zarella, queijo prato e queijo não especificado. Para o queijo prato, os
maiores consumidores estão localizados no Sul do País, com média de
consumo 3 vezes maior do que a média nacional.
No entanto, os habitantes do Sul do Brasil não são grandes apre-
ciadores do queijo minas, assim como no Norte. As maiores médias de
consumo para o queijo minas estão no Sudeste, Nordeste e Centro-O-
este, nesta ordem.
O Centro-Oeste tem consumo per capita superior ao nacional
para queijo minas, queijo mozzarella e queijo não-especificado. No en-
tanto, a sua média de consumo de queijo prato é a menor do País. A
Figura 1 ilustra melhor essas preferências de consumo de queijo por
região do Brasil.
– 54 –
É possível perceber que não existe um tipo de queijo que seja pre-
ferência brasileira, isto é, que seja o mais consumido em todas as regi-
ões. Além disso, nota-se um nível de consumo de queijos bem inferior
na região Norte.
Dentre os estados, em termos de consumo per capita, os maiores
consumidores de queijos são, nesta ordem: Rio de Janeiro, Pernambuco,
São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Goiás,
Paraíba e Mato Grosso. Ao contrário do esperado, o estado que mais
consome queijo minas, não é Minas Gerais, e sim, Pernambuco. Minas
Gerais é o 6º. no ranking.
No caso do queijo mozzarella, os maiores consumidores estão nos
estados de São Paulo, Mato Grosso e Distrito Federal. Os paulistas tam-
bém são os principais compradores de queijo parmesão, seguidos por
moradores do Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O estado do Rio de Janeiro também está na liderança do consumo
per capita de queijo prato. Na segunda colocação, está a Bahia, seguida
de perto por São Paulo e Pernambuco. Por fim, no consumo de requei-
jão se destacam as três unidades da federação da região Sudeste, nesta
ordem: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Em resumo, os dados evidenciam algum efeito da renda e de pre-
ferências regionais no consumo de queijo no Brasil. No entanto, não é
possível identificar uma característica regional específica que determine
este consumo. Assim como apresentado no Novo Guia Alimentar para
a População Brasileira, do Ministério da Saúde, a população brasilei-
ra possui características alimentares que são muito peculiares de cada
região. Neste âmbito, os queijos levam vantagem em comparação com
outros lácteos, devido a sua diversidade. O fato de haver uma variedade
grande de queijos, com texturas, sabores, odores e características orga-
nolépticas distintas, permite ao brasileiro diversificar no consumo e as-
sim buscar o tipo de queijo que se adapte melhor não só ao seu paladar,
mas também aos seus hábitos de consumo.
– 55 –
O mercado de queijos artesanais no Brasil*
Queijos fundidos
Queijos ralados ou em pó
Figura 1. Participação por tipo de queijo no valor total das vendas – 2016
Fonte: IBGE (2019).
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 56 –
Pela Figura 1, pode-se observar que os queijos Minas frescal e pa-
drão são preferências nacionais. Apesar disso, os produtores de leite têm
como alternativa a fabricação de queijos artesanais, cujo consumo tam-
bém tem crescido. A produção artesanal agrícola no Estado de Minas
Gerais caracteriza-se por sua simplicidade e localização típica, dispersa
nas diversas regiões, sobrevivendo às pressões da modernização sobre
os processos de produção, não só pelo apego às tradições, mas também
pelo isolamento das propriedades rurais. Esses fatos fizeram com que
se preservassem produtos de características próprias, de imenso valor
cultural e econômico, dentre eles, os queijos artesanais, a exemplo do
Queijo do Serro e da Canastra, conhecidos não só no Estado, como
em outras regiões do País e cuja produção se iniciou no Século XVIII
(EMATER, 2004).
A fabricação do Queijo Minas Artesanal (QMA) é reconhecida
como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patri-
mônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2019). Além da sua im-
portância cultural, o tradicional jeito de fazer o QMA, também é fun-
damental para geração de renda de 9.500 famílias produtoras de queijos
artesanais, distribuídas em sete regiões do estado que dão a denomi-
nação de origem ao produto: Serro, Cerrado, Serra do Salitre, Araxá,
Campo das Vertentes, Serra da Canastra e Triângulo Mineiro. Em 2018,
a produção do queijo artesanal nestas regiões, chegou a movimentar
cerca de R$ 370 milhões, mediante o comércio de aproximadamente 35
mil toneladas do produto (EMBRAPA, 2018).
No entanto, apesar dos diversos estudos históricos, edafoclimáti-
cos e técnicos realizados para caracterizar o produto e normatizar a fa-
bricação, este segmento produtivo carece de análises econômicas, con-
siderando o grande número de famílias produtoras e o fato da cadeia de
produção ser pouco estruturada. Para avaliar a agregação de valor no
QMA, foi realizada uma coleta de preços em mercados virtuais de cinco
produtos: Canastra, Araxá, Serro, Serra do Salitre e Cerrado. Além dos
preços destes QMA, foram coletados também dados de preços do queijo
– 57 –
Minas padrão nos mesmos mercados. Os resultados são apresentados
na Figura 2.
Na análise dos preços, empregou-se o gráfico Boxplot que é com-
posto por: uma caixa (box), que contém 50% dos dados; uma linha den-
tro da caixa que indica a mediana, ou seja, o valor do meio do conjunto
de dados; uma marcação representando a média dos valores; hastes ou
caldas inferiores e superiores que se estendem até o último ponto da
amostra dentro do limite de 1,5 vezes a altura da caixa; círculos pretos
que representam os outliers, ou seja, valores atípicos ou discrepantes.
Esse tipo de gráfico é ferramenta descritiva útil para se avaliar a varia-
bilidade dos dados.
Variação de preços do queijo Minas artesanal e Minas padrão no mercado virtual
120
100
80
60
40
str
a
ax
á
rr
o re ad
o
rã
o
Se lit
na Ar .S
a er
r
Pa
d
Ca Sr C as
in
M
Figura 2. Variação de preços do QMA e queijo Minas padrão no mercado virtual, em
reais.
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 58 –
Os resultados apontam grande variabilidade dos preços em alguns
QMA, sendo que os produtos de Araxá e Serra do Salitre têm varia-
bilidade menor quando comparadas com os demais queijos artesanais.
Observa-se ainda que a variação do preço do QMA em geral, é conside-
ravelmente maior que a do queijo Minas padrão.
O queijo do Serro foi o que apresentou maior preço disponível
no comércio virtual (R$ 119,00/kg), porém com maior concentração
de preços abaixo de R$ 74,00/kg. Por outro lado, os preços do queijo
artesanal Araxá estão mais concentrados entre R$ 63,00 a R$ 93,00/kg,
chegando a ser comercializado ao máximo de R$ 109,00/kg.
O menor preço registrado (R$ 26,80/kg) foi do queijo Serra do Sa-
litre, sendo que nenhum preço deste produto ficou acima de R$ 78,00/kg.
Este resultado pode estar associado ao fato de a Serra do Salitre ser a mais
nova microrregião produtora de QMA, sendo que o produto conquistou
a denominação de origem apenas em 2014.
Ao analisar o gráfico, é possível verificar que os cinco QMA
selecionados neste estudo são vendidos, a preços mais altos quando
comparado ao preço médio do queijo Minas padrão no mercado vir-
tual. No entanto, pelo gráfico Boxplot só é possível afirmar que exis-
te diferença estatisticamente significativa entre os preços médios do
queijo de Araxá e Serra do Salitre, já que as caixas (box) dos dois quei-
jos artesanais previamente citados, encontram-se em níveis distintos
(deslocadas no eixo vertical) da caixa do queijo Minas Padrão. Neste
caso, fica evidente que alguns produtores e comerciantes de QMA es-
tão conseguindo agregar valor ao produto, conquistando nichos de
mercado que pagam um “preço prêmio” pela diferença do produto ar-
tesanal em relação ao industrializado. No entanto, os resultados indi-
cam também que ainda há QMA no mercado que não conseguiram se
diferenciar e estão sendo comercializados ao mesmo preço do queijo
industrial. Portanto, a questão que fica é: o que falta para estes queijos
conseguirem agregar mais valor?
– 59 –
Referências Bibliográficas
– 60 –
Evolução do consumo de queijos fundidos no Brasil*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 61 –
A importância do requeijão também é evidenciada quando se
analisa dados do aplicativo Desrotulando, que funciona como uma bi-
blioteca colaborativa, tendo em sua memória, rótulos de diversos ali-
mentos encontrados em supermercados brasileiros. Considerando os
691 queijos disponíveis na base de dados do aplicativo em agosto de
2019, 24,5% dos queijos eram requeijão e 6,8% eram queijo muçarela,
indicando a existência de um volume maior de marcas de requeijão no
mercado brasileiro. Além disso, o requeijão é encontrado no portfólio
de dez das treze maiores indústrias de laticínios do Brasil.
Diante da representatividade dos queijos fundidos no mercado
lácteo nacional, torna-se oportuno analisar a evolução do consumo des-
se produto no Brasil no período de 2008 a 2017 de forma a identificar
alguns fatores que afetaram este consumo. Para isso, foram utilizados
dados da série histórica da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE e
dados relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período.
Assim como ocorreu com outros derivados do leite, o consumo de
queijo fundido apresentou crescimento constante até por volta de 2010.
A partir daí ocorreram oscilações até 2017, apresentando seu pico de
consumo no final do período avaliado. Para analisar melhor este com-
portamento, a Figura 1 apresenta, na forma de índice, uma relação entre
a evolução do consumo per capita de queijo fundido e a variação do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
É possível observar forte simetria de movimentos entre as duas
variáveis no período analisado. Naturalmente, é esperado que não
haja total simetria entre os gráficos, pois existem outras variáveis
que afetam o consumo de lácteos e, portanto, de queijo fundido no
período avaliado. Entretanto, pela análise da Figura 1, fica eviden-
te o impacto que o PIB, ou seja, a variação de renda da população
brasileira, exerce sobre o consumo de queijos fundidos, podendo ser
assim considerado, um dos principais fatores que afetam o consumo
desse produto. Isso corrobora com Siqueira (2019) que mostra que
a renda e o crescimento econômico são alguns dos fatores que mais
– 62 –
afetam diretamente o consumo de produtos de origem animal, in-
cluindo o leite e seus derivados.
250 130
200 125
120
150
115
100
110
50 105
0 100
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Além dos fatores citados, outro que merece destaque como im-
portante driver do consumo de lácteos, é o preço desses produtos. Si-
queira (2019) afirma que o impacto dos preços tende a ser maior que
o de variação de renda nos produtos de origem animal. Para analisar
o impacto dos preços no consumo de queijos fundidos, empregou-se
dados do Milkpoint Mercado (2019), da variação de preços do requeijão
(principal queijo fundido brasileiro) e da muçarela no período de no-
vembro/17 a outubro/19 (Figura 2).
De acordo com a Figura 2, pode-se observar que o preço do re-
queijão (de qualquer tipo) é menos volátil do que o preço da muçarela.
Além disso, pode-se notar que o requeijão em bisnaga apresenta preços
menores que todos os demais, em especial o requeijão em bisnaga com
amido. Ainda, é importante ressaltar que os dados acima referem-se à
muçarela em peça, enquanto o consumo maior no mercado brasileiro é
da muçarela fatiada, que normalmente tem preço maior que o da peça.
De acordo com Rabelo (2015), a muçarela e o queijo prato são os
queijos mais populares entre os consumidores de baixa renda, enquanto
– 63 –
o requeijão é consumido pela população em geral. Em levantamento da
Abras (2019) verificou-se que o requeijão tem penetração (percentual
de lares compradores da categoria) de 64,5%, sendo que 90% do consu-
mo está concentrado nas classes A, B e C.
25,00
20,00
15,00
R$/Kg
10,00
5,00
0,00
17 8 8 18 18 9 9 19
/1 /1 8 8 /1 /1 9 9
v/ ar ai/ l/1 t/1 v/ ar ai/ l/1 t/1
no jan m m ju se no jan m m ju se
– 64 –
Em vista da grande diversidade de tipos e marcas de requeijão dis-
poníveis no mercado brasileiro, a estratégia de preços pode trazer bons
resultados. No entanto, o fortalecimento da marca não pode ser esque-
cido como importante estratégia para este mercado, visto que estudo da
Fiesp (2017) mostrou que entre 2010 e 2017 aumentou o percentual de
brasileiros que afirmaram que a marca é o principal driver do consumo
de requeijão.
– 65 –
Referências Bibliográficas
– 66 –
Evolução do consumo de queijos finos no Brasil*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 67 –
da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE (2020) e dados relativos
ao Produto Interno Bruto (PIB) para o período 2007 a 2018 (Figura 1).
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Ano 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
-5%
-10%
-15%
-20%
-25%
-30%
– 68 –
e derivados. Para os queijos, de acordo com Carvalho e Chaves (2020),
a elasticidade renda do dispêndio pode chegar a 1,22, ou seja, sendo
superior a da maioria dos lácteos.
O preço dos produtos também é um aspecto que merece ser res-
saltado, pois é um importante determinante no consumo de lácteos. A
Figura 2 apresenta o preço médio de venda de queijos finos no Brasil.
16
14,38
13,79
14 13,54
12,49
12 11,48
10,31 10,33
10,06
10
9,06
8,29 8,09
7,65
8
6,91
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Figura 2. Preço médio de venda de queijos finos (em R$/kg).
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 69 –
durante o período analisado, os brasileiros aumentaram o consumo
do produto.
Esse crescimento do consumo pode estar atrelado a algumas ten-
dências do mercado de alimentos. Uma delas é a busca do consumidor
por produtos gourmet, exóticos e sofisticados. Isso foi evidenciado por
Pinto et al. (2013) em pesquisa realizada com consumidores de queijos
finos. Na época, os aspectos identitários dos consumidores brasileiros
de queijos especiais eram: ousadia, polidez, requinte, poder aquisitivo e
vínculos sociais. Isso indica que o consumo do produto está associado
com status e sofisticação. Para este tipo de produto, o preço mais elevado
tende a ser mais um atrativo para o consumo.
Portanto, pode-se notar que os queijos finos se caíram no gosto do
brasileiro, de modo que o consumo deve permanecer em crescimento.
Apesar da atual crise econômica gerada pela pandemia, os dados do
segmento refletem um produto que se estabeleceu no mercado, poden-
do até se sair fortalecido dessa crise.
– 70 –
Referências Bibliográficas
– 71 –
Consumo domiciliar de leite em pó integral nas
diferentes regiões do Brasil*
*
Publicado em Revista Balde Branco
– 72 –
Aquisição alimentar domiciliar per capita 2,5
2,0
anual (kg/pessoa/ano)
1,5
1,0
0,5
0,0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
2002-2003 2008-2009 2017-2018
Figura 1. Variação da aquisição alimentar domiciliar per capita anual (kg) de leite em
pó integral nas regiões do Brasil durante os períodos de análise.
Fonte: IBGE (2020). Elaborado pelos autores.
– 73 –
Norte e Nordeste têm grande parte da população com baixa renda, ou
até, em situação de vulnerabilidade, a possibilidade de armazenamento
em temperatura ambiente caracteriza-se como uma vantagem para o
leite em pó.
Entretanto, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste é possível ob-
servar índices inferiores de aquisição alimentar domiciliar de leite em
pó integral. Em 2017-2018, o nível de consumo per capita de leite em pó
integral na região Norte (2,089 kg), equivale a quase 6 vezes o nível de
consumo na região Sul (0,368 kg), demonstrando uma diferença signifi-
cativa no perfil de consumo domiciliar deste produto no Brasil.
Assim, os dados de consumo de leite em pó integral no Brasil
evidenciam que as diferenças de consumo estão relacionadas com as
diferenças de renda, visto que as regiões de maior consumo (Norte e
Nordeste) são as de menores Produto Interno Bruto (PIB). Por outro
lado, as regiões de maior PIB (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) são as que
têm menores níveis de consumo per capita de leite em pó integral.
Quando se analisa as faixas de renda nas diferentes regiões, têm-
se indícios de que o consumo de leite em pó integral associa-se posi-
tivamente com a renda. No entanto, essa análise foi realizada com um
número reduzido de dados, de forma que não é possível afirmar sobre a
existência de um padrão de consumo associado à renda em todo o País
(Figura 2).
– 74 –
Aquisição alimentar domiciliar per capita anual 3,5
3,0
2,5
(kg/pessoa/ano)
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
Até Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de
1,908 1,908 a 2,862 2,862 a 5,724 5,724 a 9,540 9,540 a 14,310 14,310
Classse de rendimento total e variação patrimonial mensal familiar (R$)
– 75 –
A popularização dos leites fermentados no Brasil*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 76 –
(2020) estima que, em 2018, o mercado dos produtos à base de leites
fermentados movimentou cerca de US$ 264,77 bilhões no mundo e pro-
jetam que em 2026 esse mercado chegará a US$ 396,87 bilhões.
Apesar de atender a essa tendência de consumo de alimentos sau-
dáveis e benéficos à saúde, o consumo de produtos lácteos, de um modo
geral, é bastante sensível às variações de renda do consumidor. Assim, o
presente artigo visa avaliar a evolução do consumo de leite fermentado
no Brasil, elucidando diferenças regionais, bem como a influência da
renda nesse mercado.
Para isso, foram analisados dados extraídos das Pesquisas de Or-
çamentos Familiares (POFs) realizadas pelo IBGE. O instituto coletou
dados por meio de amostragens residenciais por todo o País, nos anos
de 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018. Assim, foram obtidos dados re-
ferentes à aquisição e consumo de leites fermentados por regiões, bem
como as médias para o Brasil nos referidos períodos.
Por meio da POF também foram obtidos valores da aquisição de
leites fermentados por classe de rendimento do domicílio. Essas classes
de rendimento ajustadas e categorizadas, foram classificadas atendendo
critérios estabelecidos pela FGV Social (2014), com valores aproximados
para classes econômicas no período 2018-2019. Dessa forma, foram clas-
sificados como classe econômica A/B, aqueles domicílios com rendimen-
to familiar mensal total acima de R$ 9.540, classe C entre R$ 2.862,00 e
R$ 9.540,00, e as classes D/E com rendimentos inferiores a R$ 2.862,00.
As classes definidas pelo IBGE nas POFs foram organizadas e
agrupadas para cada pesquisa, formando três níveis categóricos: infe-
rior, médio e superior. Logo, infere-se que as diferentes POFs associem
os mesmos níveis categóricos, ou seja, as mesmas classes de rendimento,
após ter sua renda ajustada ao período em que foi avaliado. Deste modo,
foram avaliadas a aquisição de lácteos por região do país, assim como a
distribuição da aquisição de lácteos por classe econômica.
Em 2003, os quase 180 milhões de brasileiros consumiram cerca
de 50 milhões de quilos de leites fermentados. Já em 2018, com 210
– 77 –
milhões de pessoas, esse valor saltou para quase 200 milhões de qui-
los. Nestes 15 anos, o consumo de lácteos fermentados teve aumento
de aproximadamente 400%, diante do aumento populacional de apenas
16,5 %. Com isso, o consumo per capita de leites fermentados, em 2003,
que era de 0,27 kg atingiu, em 2018, quase 1 kg (Figura 1).
1,6
Consumo per capita (kg/hab)
1,4
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0
Brasil Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
– 78 –
se torna cada dia mais abrangente e diversificado. Com isso, o aumento
na aquisição e consumo de leite fermentado já engloba todas as classes
sociais.
Em 2003, o acesso ao consumo de leites fermentados se restringia
às classes A/B, em grande parte devido ao seu maior poder aquisitivo
(Figura 2). O consumo nacional ainda era baixo e as classes A/B já con-
sumiam 70% mais que todas as outras classes somadas. No mercado, os
produtos comercializados se resumiam a alimentos especiais e gourmet
de pouca acessibilidade a maior parte da população. Ao longo dos anos,
as classes A/B passaram de 0,5 kg de consumo per capita ao ano, em
2003, para 1,7 kg em 2009, chegando a cerca de 2 kg consumidos em
2018, ou seja, o dobro da média nacional. Entretanto, as classes A/B
incluem cerca de 30 milhões de pessoas, o que representa apenas uma
pequena parcela da população brasileira (14,4%).
2,5
Consumo per capita (kg/hab)
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
2002/2003 2008/2009 2017/2018
– 79 –
rando estes produtos na sua dieta. As classes D/E por exemplo, que em
2003 apresentavam consumo per capita anual de 0,02 kg, apresentaram
um incremento de consumo de 20 vezes, chegando a consumir 0,45 kg/
hab. em 2018. Com o maior acesso aos lácteos fermentados, o consumo
das classes C, D e E que antes era irrisório, atualmente representa quase
65% do mercado brasileiro.
Portanto, a aquisição média nacional não segue mais puxada ape-
nas pelas classes de renda mais elevadas. Quando analisada isoladamen-
te, neste período, a classe C representava 116 milhões de brasileiros com
consumo de 1,12 quilos de leite fermentado/hab/ano, valor que supera a
média nacional de 0,95 kg/habitante. Logo, os fatores consumo e repre-
sentativa das classes, reafirmam a importância das classes mais baixas
na formação da crescente demanda por esses produtos.
Com isso, os leites fermentados, antes pouco conhecidos, hoje re-
presentam um grande segmento dentro do mercado lácteo brasileiro.
As últimas décadas, colaboraram para a incorporação dos leites fermen-
tados na dieta e seu consumo segue crescendo. Assim sendo, essa ten-
dência de crescimento da demanda hoje atinge todas as classes sociais,
ainda que as classes A/B apresentem maior consumo per capita. Este
aumento pode estar atrelado às maiores exigências nutricionais pelos
consumidores e às tendências para incorporação de hábitos mais sau-
dáveis na dieta.
Esses consumidores preocupados com saúde e saudabilidade de-
vem se manter fiéis ao leite fermentado mesmo durante a crise econô-
mica gerada pela pandemia de Covid-19 no Brasil. Pesquisa da Embra-
pa (SIQUEIRA, 2020) realizada entre abril e maio de 2020, evidenciou
que 69% dos consumidores de leite fermentado mantiveram o consumo
desses produtos durante a pandemia. Portanto, a expectativa é que o
segmento não sofra muito com a crise econômica.
– 80 –
Referências Bibliográficas
– 81 –
IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares. Brasília, DF, 2020.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 fev. 2020.
– 82 –
O leite condensado brasileiro*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 83 –
Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE (2020)
mostram que o leite condensado respondeu por 2% do consumo domiciliar
de lácteos em 2017-2018. De acordo com a Associação Brasileira de Su-
permercados (ABRAS, 2020), em 2019, o leite condensado esteve presente
em 90% dos lares do País, o que mostra o elevado nível de penetração do
produto. Apenas 11 alimentos têm índice de penetração maior que o leite
condensado. Dentre os derivados do leite, somente o leite UHT e o creme
de leite estão presentes em mais lares brasileiros do que o leite condensado.
A região Sudeste possui maior importância em relação às vendas
de leite condensado nos supermercados, representando 52,3%, o que
equivale a 6 vezes mais a importância da região Centro-Oeste. Isso de-
monstra uma diferença significativa no perfil de compra deste produto
nas diferentes regiões do Brasil.
Os dados da Abras (2020) também mostram que a classe econô-
mica de maior representatividade no total de vendas na categoria leite
condensado no Brasil é a classe C. Em 2019, essa classe respondeu so-
zinha por 48,6% das vendas do produto, seguida pela classe A/B com
32,7% e, por último, a classe D/E, com 18,7% (Figura 1).
60
50
40
30
%
20
10
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
– 84 –
A representatividade da classe C aumentou 19% do ano de 2012
para 2019. Esse aumento pode ser explicado tanto pela mobilidade so-
cial das pessoas que migraram da classe D/E para a C devido ao au-
mento de renda, quanto pela mudança de hábitos dos consumidores da
classe C.
A classe econômica A/B é caracterizada por certa estabilidade no
decorrer dos anos em relação a sua representatividade nas vendas de
leite condensado. Durante o período analisado, a classe D/E obteve re-
presentatividade nas vendas inferior às outras classes. Além disso, esta
classe apresentou uma redução significativa de 26% entre 2014 e 2015.
O principal foco dos consumidores na compra de leite condensa-
do é o abastecimento da despensa, sendo que 60,1% do produto com-
prado é direcionado para essa missão de compra, o que sugere maior
organização e planejamento por parte das famílias, e pode estar atrelado
à redução do número de vezes que essas famílias vão ao supermercado
para adquirir este produto. No que se refere aos dias de compras do leite
condensado, há maior concentração aos sábados, seguido pelas sextas-
feiras.
Em relação ao tíquete médio, ou seja, quanto cada consumidor
gasta por ocasião de compra do produto, em termos reais, houve va-
lorização do leite condensado. Assim, o padrão médio por compra do
brasileiro em 2019 foi R$ 7,74 gastos com o produto, que representa o
dobro do tíquete médio de 2008. Além disso, vale ressaltar que em todas
as classes sociais houve aumento do tíquete médio no período de 2009 a
2019. No entanto, o aumento do tíquete médio, em alguns períodos, está
relacionado com o aumento do preço do produto e da inflação e não
ao fato dos consumidores estarem adquirindo e consumindo maiores
quantidades de leite condensado.
Já a frequência de compra, ou seja, o número de vezes que os con-
sumidores vão aos pontos de venda para comprar leite condensado au-
mentou 9% entre 2008 e 2019. É interessante notar que entre 2018 e 2019
houve aumento da frequência de compra apenas na classe social D/E, de
– 85 –
17%. Apesar disso, essa classe continua com frequência de compra me-
nor que as demais. A classe social A/B manteve liderança em relação à
frequência de compra do ano de 2009 a 2019. No último ano, essa classe
foi 8,1 vezes ao supermercado para comprar leite condensado.
Com os dados da ABRAS (2020) de tíquete médio e frequência
de compra média, bem como o valor do IPCA divulgado pelo IBGE
(2020a) foi possível calcular o consumo médio de leite condensado por
família ao longo dos anos (Figura 2).
13,00
12,57
12,50
Consumo t ota l/ fa mília (kg)
12,06
11,96
12,00 11,73
11,66
11,47 11,49
11,50
11,15 11,06 11,15
11,00 10,89
10,64
10,50
10,00
9,50
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Figura 2. Evolução do consumo médio de leite condensado por família de 2008 a 2019
(em kg).
Fonte: Elaborado pelos autores.
– 86 –
brasileiros tendem a se reunir em casa ou em bares e restaurantes para
assistir aos jogos. Nestes momentos, o consumo de alimentos indulgen-
tes como por exemplo, cerveja, refrigerantes, snacks, chocolate e leite
condensado, tende a aumentar.
Os produtos indulgentes são aqueles que promovem bem estar
e prazer. Estão muito associados com momentos de festividades, mas
também tendem a ter seu consumo mantido ou aumentado nos mo-
mentos de crise, quando as pessoas buscam aliviar a tensão por meio
da ingestão desses alimentos. Isso aconteceu também neste período de
pandemia, quando as indústrias viram as compras de leite condensado
aumentar significativamente. E, considerando que a crise ainda não pas-
sou, essas vendas ainda podem continuar elevadas por um tempo.
– 87 –
Referências Bibliográficas
– 88 –
Novos horizontes e mercados da manteiga*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 89 –
regular. Além disso, surge agora como um produto com novas versões
funcionais e propriedades consideradas vantajosas para a saúde. Rica
em ácidos graxos considerados essenciais ao organismo humano, a
manteiga está voltando aos lares brasileiros como uma proposta de ex-
celente fonte de gorduras boas para a dieta e também fonte de proteínas
e vitaminas. Além disso, o produto que era apenas comercializado nas
versões com e sem sal, atualmente já pode ser encontrado em diversas
outras composições no varejo: temperado, aromatizado, orgânico, sem
lactose, com baixo teor de sódio, entre outros.
Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo avaliar a
evolução do consumo da manteiga no Brasil ao longo dos últimos anos.
Para isso, analisou-se o consumo per capita de manteiga no Brasil e a
variação dos preços médios de venda no período de 2006 a 2017, com
base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2019). Os valores médios de venda foram calculados pela divisão do
valor de venda do produto pela quantidade produzida. Analisou-se
também dados que correlacionam o consumo per capita de manteiga à
renda da população.
O consumo per capita de manteiga no Brasil passou de 290 gra-
mas/habitante em 2006 para 460 gramas/habitante em 2017, ou seja, um
crescimento de 75%. Apesar dessa taxa de crescimento representativa,
a manteiga não ficou entre os maiores aumentos de consumo per capita
dentro do segmento de lácteos, perdendo para muitos queijos, creme de
leite, iogurte, bebida láctea, leite condensado, entre outros.
Já a margarina apresentou declínio de 4,3% no consumo no mes-
mo período, passando de 2.330 gramas/habitante para 2.220 gramas/ha-
bitante. Apesar da queda no consumo per capita da margarina, pode-se
perceber que o nível de consumo desse produto ainda é muito superior
ao nível de consumo da manteiga.
Para avaliar melhor o mercado de manteiga, a Figura 1 apresenta,
em conjunto, a evolução de duas variáveis: consumo per capita de man-
teiga e preços da manteiga.
– 90 –
R$ 16,00 0,5
0,45
R$ 14,00
0,4
R$ 12,00
0,35
R$ 10,00
0,3
R$ 8,00 0,25
0,2
R$ 6,00
0,15
R$ 4,00
0,1
R$ 2,00
0,05
R$ - 0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Valor médio de venda Per capita (kg)
– 91 –
de renda, o consumo aumenta quase 3 vezes. Dados da Abras (2015)
reforçam a importância da renda neste mercado, mostrando que, em
2014, a classe A/B respondia sozinha por quase 50% das vendas de man-
teiga no Brasil. De acordo com a FGV (2019), em 2018, a classe A/B era
composta por cerca de 30 milhões de pessoas, representando 14,4% da
população brasileira.
0,8
Aquisição per capita anual em Kg de
0,7 0,753
0,6
0,5
manteiga
0,4
0,3 0,23 0,257
0,222
0,172 0,275
0,2
0,1
0
até 830 Mais de 830 Mais de Mais de Mais de Mais de
a 1.245 1.245 a 2.490 a 4.150 a 6.225
2.490 4.150 6.225
Classes de rendimento (em reais)
Figura 2. Variação da aquisição alimentar per capita anual (2008-2009) em quilograma
por classes de rendimento em reais.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados de REGO (2017).
– 92 –
fatores relacionados à nutrição, saúde e bem-estar. Com isso, opções al-
ternativas de consumo, como uso direto da manteiga na culinária e sua
supervalorização no mercado gourmet também levam ao consumidor
novas experiências e sabores. Atento às novidades, muitas vezes ele está
disposto a pagar um preço mais elevado para experimentar produtos
inovadores e que tragam também praticidade e funcionalidade.
Diante desse cenário, pode-se concluir que o futuro parece ser
promissor para a manteiga no Brasil, seja nos moldes tradicionais, seja
na oferta de variedades mais sofisticadas. Poucos produtos atualmente
conseguem ficar isentos das variações de renda e preço, como foi ob-
servado para a manteiga, além de atender a várias novas tendências de
consumo. Com isso, a indústria de manteiga no Brasil encontra-se em
posição privilegiada, podendo atacar outros entraves do setor, como lo-
gística e distribuição, gerenciamento, custos, entre outros.
– 93 –
Referências Bibliográficas
– 94 –
O mercado de produtos imitadores de
lácteos no Brasil*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 95 –
as opções de produtos prontos para o consumo nessa categoria eram
bem menores (RIBEIRO, 2019). Atualmente, a indústria de bebidas ve-
getais vem buscando ampliar a oferta de novos sabores e melhorias na
qualidade dos produtos, visando uma popularização do consumo dos
mesmos. É importante também destacar que o mercado de produtos à
base de plantas se abriu para outros alimentos, além das bebidas, como
por exemplo, queijos, iogurtes e manteigas, todos feitos a partir de ma-
térias-primas vegetais.
Porém, há uma diferença significativa entre as proteínas encon-
tradas em alimentos de origem animal e vegetal, que está relacionada ao
conteúdo dos aminoácidos. Alimentos vegetais não possuem proteínas
com todos os aminoácidos essenciais em sua composição, ao contrário
do que ocorre com alimentos de origem animal. Além disso, a diges-
tibilidade das proteínas vegetais é menor quando comparada com as
proteínas animais (JOHNSON, 2018).
No entanto, pouco se sabe sobre o tamanho e características desse
mercado concorrente dos produtos lácteos. Portanto, o objetivo desse
artigo é analisar os produtos imitadores do leite disponíveis no mercado
brasileiro, como forma de identificar tendências e características desse
segmento que vem crescendo tanto.
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de informações
coletadas no aplicativo Desrotulando. Esse aplicativo foi desenvolvido
por nutricionistas e fundamentado no Guia Alimentar para a Popu-
lação Brasileira, do Ministério da Saúde, visando auxiliar o usuário a
fazer uma melhor escolha nutricional. O aplicativo apresenta o rótulo
de produtos disponíveis no mercado brasileiro, apresentando as infor-
mações nutricionais desses produtos, bem como a lista de ingredientes
dos mesmos. Para este feito, foi realizado um levantamento de todos os
produtos imitadores de lácteos, como iogurtes, bebidas, queijos e man-
teigas, disponíveis na base de dados do Desrotulando. Foram coletadas
as seguintes informações: nome do produto, segmento em que ele está
inserido, descrição do produto, ingredientes, link onde o produto é en-
– 96 –
contrado, imagem e afirmação ou apelo que o fabricante disponibiliza
sobre o produto, como por exemplo, a ausência de glúten e lactose.
A coleta de dados foi realizada em novembro de 2020, chegando a
um total de 225 produtos imitadores dos lácteos, podendo-se notar, en-
tão uma diversidade de matérias-primas para a fabricação dos mesmos,
principalmente das bebidas vegetais. Pode ser visto na Figura 1 que a
maioria das bebidas é feita a partir de soja, seguido por arroz.
80
70
60
Quantidade de produtos
50
40
30
20
10
0
Soja Arroz Amêndoa Coco Castanha Aveia
de Caju
Figura1. Matérias-primas dos produtos à base de vegetais no mercado brasileiro.
Fonte: Dados da pesquisa.
– 97 –
O sabor também é outro fator preponderante, pois bebidas à base
de castanhas, amêndoas e coco, por exemplo, possuem sabor mais agra-
dável em relação às bebidas de soja (CORDOVA, 2019). Assim, para
se ter uma experiência sensorial mais satisfatória, o consumidor acaba
pagando um valor mais elevado no produto, visto que essas matérias
-primas são mais caras (CORDOVA, 2019).
Outro fator que foi observado durante a pesquisa, é que a dis-
ponibilidade de bebidas vegetais no Brasil é bem maior que de outros
produtos à base de vegetais. Na Figura 2, é possível notar que existe no
mercado brasileiro: queijos, iogurtes e até manteigas vegetais, porém na
comparação com bebidas, a diferença ainda segue discrepante.
250
211
200
Quantidade de produtos
150
100
50
5 5 3
0
Bebidas Iogurtes Queijos Manteigas
Figura 2. Produtos à base de vegetais disponíveis no mercado brasileiro.
Fonte: Dados da pesquisa.
– 98 –
bidas vegetais. No levantamento realizado, foram encontradas 6 empre-
sas tradicionalmente do setor lácteo, que possuem atualmente em seu
portfólio de produtos, as bebidas e produtos à base de vegetais também.
No mercado nacional, existem ainda aquelas empresas cujo nome
no setor de bebidas vegetais já aparece há anos, como é o caso da Ades.
Inúmeros são os sabores disponíveis das bebidas de soja oferecidas pela
empresa. Outra grande empresa que possui um relevante portifólio no
nicho de bebidas de soja é a Yoki, que da mesma forma que a Ades,
tem diversos sabores disponíveis. A americana Almond Breeze é outra
companhia do setor que ocupa uma grande parcela no mercado nacio-
nal, mas, oferecendo aos consumidores, bebidas à base de amêndoas.
Além dessas, vários outros nomes foram observados ao longo do estu-
do. Alguns focados em bebidas vegetais de um cereal específico, outros
desenvolvendo além de bebidas, também iogurtes e outros produtos
imitadores de lácteos.
De maneira geral, todos os produtos e empresas possuem o mes-
mo apelo comercial que têm como foco destacar a ausência de lactose
nos alimentos oferecidos, bem como a ausência de ingredientes de ori-
gem animal. Alguns itens ainda destacam a ausência de açúcares e o
baixo teor de colesterol dos produtos à base de plantas. Tudo isso, bus-
cando atingir seu público-alvo e captar cada vez mais os consumidores
que preferem um estilo de alimentação saudável e diferenciado.
Por fim, com esse estudo, pode-se concluir que o mercado se
abre cada vez mais para produtos feitos à base de vegetais, uma vez que
a procura por eles, aumenta dia após dia. Seja por motivos de saúde, por
questões ambientais ou até mesmo por convicções individuais, o con-
sumidor brasileiro se mostra cada vez mais adepto a esses produtos, de
modo que várias empresas de laticínios já desistiram de competir com
eles, passando a produzi-los.
– 99 –
Referências Bibliográficas
– 100 –
SEÇÃO III
– 101 –
– 102 –
O impacto da renda no consumo de lácteos no Brasil*
*
Publicado em Milkpoint
– 103 –
Outra questão interessante que pode ser observada nos dados da
POF é a influência que a renda exerce sobre o consumo de lácteos. A
Figura 1 apresenta como o consumo de lácteos se comporta à medida
que a renda familiar varia. É possível notar incrementos significativos
na aquisição domiciliar a cada faixa de renda, de modo que no nível de
rendimento mais elevado (acima de R$ 14.310,00) consome-se 176%
mais leite e derivados do que na menor faixa de renda.
Laticínios
60
50
40
kg/hab
30
20
10
0
Até R$1908,00 de R$1908,00 de R$2862,00 de R$5724,00 de R$9540,00 Mais de
a R$2862,00 a R$5724,00 a R$9540,00 a R$14310,00 R$14310,00
Figura 1. Aquisição domiciliar per capita de lácteos por faixa de renda no Brasil (2017-
2018) (em kg).
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
– 104 –
Leite em pó integral
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
Até R$1908,00 de R$1908,00 de R$2862,00 de R$5724,00 de R$9540,00 Mais de
a R$2862,00 a R$5724,00 a R$9540,00 a R$14310,00 R$14310,00
Figura 2. Aquisição domiciliar per capita de leite em pó integral por faixa de renda no
Brasil (2017-2018) (em kg).
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
– 105 –
Tabela 2. Aquisição domiciliar per capita por faixa de renda no Brasil (2017-2018) (em kg/hab).
Variação percentual
De De De De
Até Mais de da última faixa em
Produtos R$1908,00 a R$2862,00 a R$5724,00 a R$9540,00 a
R$1908,00 R$14310,00 relação à penúltima
R$2862,00 R$5724,00 R$9540,00 R$14310,00
faixa de renda
Creme de leite 0,183 0,286 0,484 0,615 0,975 1,021 5%
Leite condensado 0,324 0,510 0,776 1,006 1,300 1,385 7%
Leite de vaca
pasteurizado 11,678 16,882 21,382 24,663 28,341 32,642 15%
Leite em pó
desengordurado 0,035 0,039 0,044 0,047 0,119 0,220 85%
Leite em pó
integral 1,130 1,020 0,852 0,878 0,850 0,859 1%
– 106 –
Queijo minas 0,288 0,340 0,428 0,637 1,395 1,817 30%
Queijo mozarela 0,222 0,457 0,782 1,199 1,699 2,126 25%
Queijo parmesão 0,017 0,026 0,052 0,095 0,181 0,350 93%
Queijo prato 0,080 0,165 0,217 0,370 0,735 0,724 -1%
Outros queijos 0,017 0,026 0,052 0,117 0,204 0,556 173%
Requeijão 0,062 0,147 0,221 0,443 0,761 0,906 19%
Iogurte 0,787 1,057 1,435 2,023 2,700 3,913 45%
Leite fermentado 0,334 0,564 0,983 1,271 1,766 2,333 32%
Manteiga 0,185 0,200 0,243 0,421 0,579 1,486 157%
– 107 –
É cringe consumir lácteos?*
*
Publicado em Milkpoint
– 108 –
atualmente, dita as regras, gerando mais impacto sobre o consumo de
alimentos no mundo.
A geração Z engloba os nascidos a partir de 1995 até 2009-2015
e são indivíduos ansiosos, ainda mais individualistas que a geração an-
terior e não são influenciados por marcas. Já a geração alpha envolve
os nascidos a partir de 2009 e 2015. Por ainda se encontrarem na fase
infantil, ainda não se tem muitos estudos sobre estes indivíduos.
De acordo com os dados do IBGE, hoje a maior parte da popu-
lação brasileira é composta das gerações Y e Z (Figura 1). A geração Z
representa quase 34% da população do País e a geração Y representa
pouco mais de 31%. Juntas, as duas gerações mais materialistas, indivi-
dualistas e multitarefas, respondem por quase 70% da nação.
Geração
Silenciosa;
6,56%
Geração Baby
Bommers;
13,48%
Geração Z;
35,93%
Geração X;
12,51%
Geração Y;
31,52%
– 109 –
Devido a essa grande representatividade e também por seu po-
der de influenciar nas redes sociais, essas duas gerações têm sido o foco
das empresas no lançamento de produtos. No entanto, há alguns dias,
o termo cringe tornou-se popular para descrever a vergonha alheia que
a geração Z sente da geração Y e outras que vieram antes dela. Assim,
neste conflito de gerações, como ficou explícito na internet nas últimas
semanas, para a geração Z é cringe tomar café da manhã, tomar cerveja
de litrão, etc. Mas, será que é cringe consumir lácteos?
Para responder a essa pergunta, foram empregados dados da Pes-
quisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017/18 do IBGE. Utilizou-se
os dados de consumo de 5 grupos de lácteos: leite fluido, queijo, iogurte,
outros laticínios e total (soma de todas as outras categorias). Em outros
laticínios considerou-se o total de lácteos menos leite fluido, queijo e
iogurte. Assim, em outros laticínios encontram-se manteiga, leite fer-
mentado, leite condensado, creme de leite. Etc. Os valores de consumo
médio e seus respectivos desvios padrões foram determinados por uma
regressão linear não paramétrica que utilizou como variável categórica
preditora a geração do informante.
Para a análise das gerações foram consideradas as seguintes datas
de corte: geração silenciosa (nascimento anterior a 1951), baby boomers
(entre 1951 e 1965), geração X (entre 1966 e 1975), geração Y (entre
1976 e 1995) e geração Z (entre 1996 e 2008). A Figura 2 apresenta os
resultados.
– 110 –
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
Leite fluido Queijo Iogurte Outros laticinios Total
Silenciosa Baby boomers X Y Z
Figura 2. Consumo anual estimado em gramas por geração.
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 111 –
A confiança do consumidor brasileiro de leite*
*
Publicado em Milkpoint
– 112 –
Diferença
2019 2019 de Confiança
Público Informado População Geral Confiança (60-100)
Neutralidade
64 Global 27 50 Global 27 14 (50-59)
88 China 76 China 12 Desconfiança
84 Arábia Saudita 69 Indonésia 14* (1-49)
83 Índia 69 Arábia Saudita 15
83 Indonésia 68 Emirados Árabes 15
83 Emirados Árabes 66 Índia 17*
74 Canadá 60 Singapura 9
70 Malásia 58 Malásia 12
69 Singapura 54 Canadá 20*
68 México 54 México 14
67 Holanda 54 Holanda 13
66 Hong Kong 52 Hong Kong 14
64 Reino Unido 51 Colômbia 5
61 Coreia do Sul 47 EUA 13
60 Alemanha 46 Austrália 13
60 EUA 46 Itália 7
59 Austrália 45 Argentina 8
59 França 44 África do Sul 9
56 Colômbia 44 Coreia do Sul 17*
53 Argentina 43 Brasil 8
53 Itália 42 Alemanha 18*
53 Japão 41 França 18
53 África do Sul 41 Irlanda 7
* maior
53 Turquia 41 Turquia 12 desigualdade
51 Brasil 40 Reino Unido 24* na confiança já
48 Irlanda 39 Espanha 8 registrada
47 Espanha 37 Japão 16
35 Rússia 28 Rússia 7
1
O índice de confiança foi construído a partir da pergunta: Segue abaixo uma lista de instituições. Indique o quanto você
confia que cada uma dessas instituições atua corretamente, utilizando uma escala de nove pontos, em que um significa
que você “não confia de forma alguma” e nove significa que você “confia bastante”. Escala de 9 pontos; 4 primeiros, confio.
Público informado, média global de 27 mercados.
– 113 –
público informado está com um índice de confiança neutro enquanto
a população geral apresenta desconfiança. Este cenário é desfavorável
para a indústria em geral, setor de serviços e, para a economia como um
todo. Mas não para a indústria de alimentos e bebidas, conforme mostra
a Figura 2.
Porcentagem de confiança Mudança de 2018 para 2019
83
82
80
78
77
74
74
74
73
73
71
71
69
68
68
67
66
65
65
64
64
64
58
57
54
47
45
16
11
11
10
9
9
7
7
6
6
6
5
5
4
3
3
3
2
2
2
1
0
-1
-1
-3
-5
– 114 –
se tornou mais importante, com crescimento de 11 pontos percentuais
entre 2010 e 2017.
Corrobora com essa informação, resultado da pesquisa de Brei-
tenbach e Brandão (2019) realizada no Rio Grande do Sul que entrevis-
tou 1015 consumidores para identificar variáveis que influenciam a de-
cisão de compra de leite fluido. A Figura 3 mostra que a marca foi o item
mais valorizado pelos consumidores, estando acima inclusive de preços.
Ou seja, mais de 90% dos entrevistados consideram a marca como um
fator importante na hora da compra de leite fluido.
PROMOÇÃO DE VENDAS 20 33 34 13
EMBALAGEM/RÓTULO 25 34 32 9
RECOMENDAÇÃO DE AMIGOS 23 34 36 8
PREÇO 10 23 47 20
ORIGEM DO LEITE 20 25 32 24
MARCA 4 5 40 51
– 115 –
O poder das marcas*
*
Publicado em Milkpoint
– 116 –
2010 2017
Arroz 44 +13p.p.
57
Feijão 36 +18p.p.
54
Café 32 +16p.p.
48
Leite 24 +11p.p.
35
Iogurtes 19
16
Bolachas e biscoitos 14 +7p.p.
21
Alimentos semi prontos 13
10
Macarrão 12 +13p.p.
25
Queijos 12
13
Suco pronto para beber 12
9
Chocolates e bombons 11
9
Óleos para cozinhar 10 +11p.p.
21
Achocolatados em pó 9 +4p.p.
13
Requeijões 9
10
Embutidos 8
9
Suco em pó 6 +4p.p.
10
Peixe e drutos do mar 6
8
Pães 5 +5p.p.
10
Produtos diet e light 4
4
Barras de cereais 3
4
Goiabadas, marmeladas e geléias 3
3
Chás prontos para beber 3
3
*Molhos prontos 15
Nenhum deles 4
11
NS / NR 1
1
– 117 –
Tabela 1. Ranking das 20 marcas mais escolhidas no Brasil.
Posição Marca CRP (em milhões)
1 Coca-Cola 489
2 Ypê 485
3 Colgate 304
4 Italac 293
5 Tang 253
6 Nissin 245
7 Nescau 231
8 Soya 232
9 Piracanjuba 229
10 Vitarella 225
11 Qualy 221
12 Sadia 213
13 Omo 210
14 Itambé 204
15 Perdigão 195
16 Sorriso 195
17 Maratá 189
18 Marilan 185
19 Nestle 183
20 Sazon 176
Fonte: Meio e Ambiente.
– 118 –
Além disso, Italac e Itambé figuram também no ranking das 10
marcas que mais cresceram em CRP dentro das Top 100. Ambas apre-
sentaram crescimento de 12%, num ano em que as vendas de supermer-
cados cresceram 2,07% e o faturamento teve crescimento nominal de
0,7%.
As estratégias dessas 5 marcas de produtos lácteos são distintas,
mas vale ressaltar que as duas primeiras (Italac e Piracanjuba) têm se
destacado em campanhas televisivas, assim como nas mídias digitais.
Aliás, as mídias digitais, apesar de amplamente utilizadas por outros se-
tores da economia como o principal canal de comunicação atual com os
consumidores, ainda têm sido ignoradas ou menosprezadas por muitas
empresas de laticínios.
Nas suas últimas campanhas publicitárias, a Italac destacou que é
a marca de lácteos mais comprada do Brasil, construindo, assim, uma
relação de confiança com o consumidor através da diferenciação da
marca. Já a Piracanjuba investiu no marketing dos produtos sem lactose
e em um dos símbolos da geração Y (Bruna Marquezine) para se dife-
renciar no mercado. Com isso, a empresa tornou-se uma das marcas de
lácteos mais bem inseridas nas redes sociais, mostrando que a constru-
ção de uma marca de confiança tem sido uma estratégia eficiente num
mercado tão pulverizado e competitivo como o de leite no Brasil.
– 119 –
Webrooming para leite e derivados*
*
Publicado em Milkpoint
– 120 –
venda, e cerca de 75% dessas vendas são feitas na loja física, às vezes no
mesmo dia.
À medida que a webrooming se generaliza, a indústria de alimentos
não pode mais se permitir ignorar a influência da tecnologia nos hábitos
de compra dos consumidores, Dentro do segmento de alimentação, o
webrooming funciona, além da comparação de preços, para examinar
listas de ingredientes e verificar requerimentos nutricionais online antes
de comprar o produto na loja física. Um estudo recente indica que 48%
dos entrevistados em toda a Europa, Oriente Médio e África já estão
usando a internet para comparar alimentos e bebidas e 17% freqüente-
mente mudam de opinião sobre a compra de alimentos e bebidas depois
de verificar as informações online.
Dentro da prática do webrooming, destaca-se também a rede so-
cial Instagram. Pesquisa realizada em abril de 2018, mostra que 50% dos
brasileiros já compraram produtos ou contrataram serviços que desco-
briram no Instagram, sendo que 83% dos entrevistados segue alguma
empresa ou marca na rede social.
Dentre os principais praticantes dessa estratégia de compras está o
público jovem. Pesquisa do Urban Land Institute mostrou que mais da
metade dos milênios (nascidos do início da década de 1980 até o final da
década de 1990) buscam informações na internet antes de ir à loja física
e comprar o produto desejado, em comparação com 11% desse público
que opta pelo showrooming. A tendência é maior entre os clientes com
mais de 25 anos. Os estudos mostram que, tanto o webrooming, quanto
o showrooming são realizados porque as pessoas buscam uma experiên-
cia de compra que seja rápida, confortável e conveniente.
No entanto, poucas indústrias de laticínios brasileiras parecem es-
tar atentas a este comportamento. Considerando as maiores indústrias
de laticínios do país, uma busca na rede social Instagram mostra que
nem todas possuem um perfil ativo na rede e apenas duas empresas têm
um perfil com mais de 100 mil seguidores: Nestle e Laticínios Bela Vista
(marca Piracanjuba).
– 121 –
Por outro lado, não é difícil encontrar empresas do setor que já
vislumbraram o potencial do Instagram para o webrooming. A Ghee Me
More, por exemplo, ainda não tem 100 mil seguidores, mas tem uma
taxa de engajamento muito significativa, com elevado número de curti-
das, visualizações, compartilhamentos e até marcações. Outro exemplo
de laticínios que tem usado a rede Instagram com sucesso é a Verde
Campo. São mais de 230 mil seguidores só na página da empresa e eles
ainda contam com muitos digital influencers pra divulgar a marca. Além
de oferecerem produtos diferenciados e de maior valor agregado, essas
empresas estão conquistando, principalmente o público mais jovem e,
com isso, estão se tornando referência no seu segmento.
Apesar de o Brasil ter uma população que ainda tem na televisão,
a sua principal mídia influenciadora, vale ressaltar também que os in-
vestimentos em marketing na internet tendem a ser bem menos dispen-
diosos do que os investimentos na mídia televisiva. Assim, parecem ser
uma grande alternativa para a indústria de laticínios especialmente nos
momentos de crise que o país vem vivendo.
– 122 –
Alimentos Lácteos Funcionais*
*
Publicado em Anuário do Leite
– 123 –
Cereais e Confeitaria
Lácteos
Carnes, Peixes e Ovos
Derivados da Soja
Óleos e Gorduras
Outros
– 124 –
digestivo em algumas pessoas, como por exemplo, a lactose. Os lácteos
que têm baixo teor de FODMAP e podem chamar a atenção dos con-
sumidores são: leite sem lactose, iogurte sem lactose, manteiga e queijos
curados como cheddar, parmesão, brie e camembert. Nesta categoria, en-
tram também os leites alternativos ou leites vegetais.
Com o envelhecimento da população mundial e brasileira, além dos
alimentos funcionais com ação intestinal, os consumidores têm buscado
também os alimentos nootrópicos, ou seja, aqueles que têm efeito sobre o
desempenho cognitivo, através da memória, concentração, motivação ou
atenção. Foi neste contexto que surgiu o interesse pelo canabidiol (CBD).
Diferente do THC (Tetra-hidrocanabinol), que é o principal componente
psicoativo da maconha, o CBD não produz euforia, dependência, nem
intoxicação e ainda tem potencial para aliviar a dor, estimular a memória
e controlar a ansiedade. Mas, por enquanto, os chefs de cozinha têm usa-
do mais este ingrediente do que as indústrias. Mesmo assim, já é possível
encontrar sorvete e outros lácteos com CBD.
Também no quesito alimentos funcionais, despontam as chamadas
“gorduras boas”. Assim como ocorreu com o ovo, a manteiga já foi uma
das principais vilãs quando o tema colesterol começou a ser debatido,
mas na última década voltou a ser valorizada e reconhecida como ali-
mento recomendado para consumo regular. Com isso, surge agora como
um produto com novas versões funcionais e propriedades consideradas
vantajosas para a saúde. Rica em ácidos graxos considerados essenciais ao
organismo humano, a manteiga está voltando aos lares brasileiros como
uma proposta de excelente fonte de gorduras boas para a dieta e também
fonte de proteínas e vitaminas. Além disso, o produto que era apenas co-
mercializado nas versões com e sem sal, atualmente já pode ser encontra-
do em diversas outras composições no varejo: temperado, aromatizado,
orgânico, sem lactose, com baixo teor de sódio, entre outros. Outro de-
rivado do leite que também está aproveitando essa onda das “gorduras
boas” é o ghee. Produto típico da culinária indiana, o ghee é um tipo de
manteiga clarificada, muito semelhante à manteiga de garrafa brasileira,
– 125 –
que é considerado uma gordura mais saudável do que a manteiga e que
tem baixo teor de FODMAPs.
Por fim, no quesito alimentos funcionais é interessante falar de cor.
Em 2020, a cor que remete aos alimentos funcionais é o roxo. Sinônimo
de saudável, o roxo é a cor natural de alguns dos considerados supera-
limentos como mirtilo, amora e couve roxa. Com isso, já é possível en-
contrar muitos lácteos roxos no mercado, como, por exemplo, sorvete,
iogurtes e até queijos.
Portanto, é possível observar que no mercado de alimentos funcio-
nais, os lácteos se destacam. Alguns já são naturalmente reconhecidos pe-
los consumidores como produtos funcionais. Outros, com pouco esforço
da engenharia de alimentos, podem se tornar lácteos funcionais. Mas, no
fim, todos eles são produtos de maior valor agregado e que atendem a
uma das principais tendências no consumo: alimentos que forneçam be-
nefícios à saúde.
– 126 –
O empoderamento do consumidor*
*
Publicado em Milkpoint
– 127 –
dos consumidores, que deixaram de ouvir apenas conselhos de médicos
e profissionais de saúde. Atualmente, pesquisas médicas recém publica-
das são amplamente divulgadas nas diversas mídias e os influenciadores
digitais se encarregam de tornar o conteúdo digerível, de fácil acesso e
muito mais atrativo para todos. Com isso, dados da PwC mostram que
77% das decisões de compra hoje no Brasil são influenciadas pelas redes
sociais. De acordo com uma pesquisa da Spark, entre os itens mais com-
prados a partir da indicação de um influenciador digital estão os pro-
dutos de beleza (52%), seguidos por livros e acessórios de moda (42%),
alimentos e bebidas (30%) e smartphones (29%).
Há uma mudança visível no comportamento do consumidor em
sua independência e determinação em participar ativamente na co-cria-
ção de valor das empresas. Com isso, as pessoas estão buscando aquilo
que mais se adequa ao seu estilo e perfil e formando inúmeras tribos.
Tem as tribos dos que amam leite e a dos que odeiam. A tribo dos aman-
tes de plantas e dos cultivadores de micróbios do intestino. A tribo dos
que buscam saúde acima de tudo e a dos que não dispensam o prazer
proporcionado pela alimentação. Alguns consumidores vêem o valor
no preço, ou na qualidade. Outros na honestidade da marca. Mas todos
esperam que as empresas entendam e atendam suas necessidades. No
entanto, pesquisa da Salesforce aponta que 63% dos consumidores acre-
ditam que as empresas não os conhece, enquanto um levantamento da
Wantedness encontrou que 79% dos americanos considera ter relações
com marcas que, de fato, os compreendam e que demonstrem preocu-
pação com o seu público. Isso sugere que o relacionamento entre marca,
produto e cliente deve ser estreitado. Indica também que não importa
se você vende o produto X ou Y, mas sim se você vende o produto que
atende às exigências do consumidor da tribo A, B ou C.
A boa notícia é que há espaço para todo tipo de produto, desde
os mais excêntricos, até os mais naturais e tradicionais. O que mudou
é o tamanho dos mercados. As grandes empresas que estavam, antes,
acostumadas a ter um produto de massa que atenderia a grande parcela
– 128 –
da população, agora precisam ter vários produtos distintos para aten-
der a essa mesma parcela da população. Mas não significa que os lucros
serão menores. Os lucros podem até ser bem maiores, dependendo da
agregação de valor percebidos pelos consumidores. E mudou também
o marketing desses produtos, que devem ser direcionados para a tribo
ou nicho específico a que ele se destina, especialmente nas redes sociais.
E como tudo isso se encaixa no universo dos lácteos? Como
existem muitos nichos, eles são menores em tamanho e o sucesso das
marcas será medido pela habilidade de se atender duas, três ou mais
tribos aos mesmo tempo. Assim como no mercado financeiro, o mo-
mento é para as empresas de laticínios apostarem na diversificação,
ofertando tanto o leite in natura até o leite vegano, ou até mesmo um
blend dos dois. Existe consumidor para os lácteos com sabores exóti-
cos. Mas também existe aquele que quer mesmo o sabor da roça, da
infância, da fazenda. Assim, inovar ou diferenciar o seu produto (seja
na forma, sabor, textura, embalagem, etc) tornou-se tão importante
quanto o gerenciamento de custos ou de lucro, pois as tribos são mu-
tantes e buscam sempre novidades.
– 129 –
Valorização do bem-estar animal pelo
mercado consumidor*
*
Publicado em Anuário do Leite
– 130 –
produto com o selo de garantia. Além disso, os resultados mostraram
que somente cerca de 14% dos respondentes não estariam dispostos a
pagar mais caro pela certificação. Os demais:
• 31,8% pagariam um adicional de até 20%;
• 21,8% pagariam até 40%; e
• 32% estariam dispostos a pagar um adicional superior a 40%.
Esses dados dão uma dimensão do valor agregado que o leite e
seus derivados certificados podem ter no mercado brasileiro.
Outro estudo científico realizado em 2017, avaliou a preferência
dos brasileiros pelo tipo de produção (confinado ou não) para dife-
rentes animais (bovinos de corte, frangos de corte, galinhas poedeiras,
matrizes suínos ou leitões em amamentação). Os resultados indicaram
preferência significativa pelos métodos que proporcionam mais liber-
dade aos animais. Apesar de também não incluir a produção de leite
na análise, este estudo reforça a ideia de que as práticas de criação de
animais que são associadas às restrições de movimento podem não estar
alinhadas com as expectativas de grande parte consumidores.
Encomendada pela World Animal Protection, pesquisa da Ipsos
realizada em 2016 no Brasil mostrou que 82% dos consumidores com-
prariam produtos que tivessem um selo de bem-estar animal (Figura 1).
Desse total, 47% pertence à classe A e 45% têm entre 40 e 45 anos. Ou
seja, o grau de preocupação com o bem-estar animal no Brasil varia de
acordo com a renda e idade.
– 131 –
Com certeza não compraria 4%
– 132 –
sustentabilidade, estabelecendo um parâmetro de diferenciação destas
em relação aos concorrentes.
A criação desse índice é um incentivo à adoção de boas práticas
ambientais pelas empresas, além de permitir mensurar a influência po-
sitiva dessas práticas no desempenho financeiro das empresas. Os dados
da B3 mostram que empresas da carteira ISE têm valor de mercado 10-
19% maior que o grupo controle.
No entanto, não há nenhuma indústria de laticínios com capital
na B3. Além disso, apesar de, no Brasil, já haver certificação e selo para
bem-estar animal, poucos agentes do setor lácteo têm esta certificação,
já que isso exige um certo grau de investimento. Isso sugere que, apesar
do interesse e demanda do consumidor, o setor lácteo ainda não está
investindo nisso. Mas, num futuro próximo, provavelmente as empresas
serão mais cobradas e precisarão pensar na certificação não como uma
agregação de valor, mas sim como uma necessidade para se manterem
no mercado, pois a medida que o consumidor vai ficando mais informa-
do, ele exige mais das empresas.
– 133 –
O que podemos aprender com o mercado de café?*
*
Publicado em Milkpoint
– 134 –
mais distante, como 1980, o aumento foi mais significativo: 74%. Nesse
período, o número de marcas de leite longa vida (derivado lácteo mais
consumido) se multiplicaram nos supermercados, fazendo com que o
produto se tornasse praticamente uma commodity. Isso, se parece muito
com a primeira onda de consumo do café.
110
100
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Figura 1. Evolução do consumo aparente per capita de leite e derivados no Brasil.
Fonte: Embrapa.
– 135 –
cional também tem se sobressaído recentemente, com lançamentos de
produtos com embalagens mais atraentes, que remetem a saudabilidade,
ou regionalismo, ou conveniência. Conhecer a história por trás do pro-
duto consumido, já é uma demanda dos amantes dos lácteos.
Com isso, o slogan “Da semente à xícara” usado no mercado cafe-
eiro, pode ser transformado para “Da vaca ao copo de leite”. No entan-
to, vale ressaltar que ainda estamos no início dessa onda de consumo
do leite. O mercado ainda não atingiu um nível de maturação. Mas, já
se observam mudanças de comportamento, no sentido de consumo de
produtos mais gourmet, mais especiais. Neste caso, os produtos espe-
ciais podem ser com mais nutrientes, com mais história, com mais pra-
ticidade, com mais excentricidade. Enfim, com algum valor agregado
que faça o consumidor querer degustar esse derivado lácteo, como se
degusta um bom café ou um bom vinho.
– 136 –
Tendências para o mercado lácteo em 2021*
*
Publicado em Milkpoint
– 137 –
imune. Com a pandemia, a busca por este tipo de produto aumentou e
isso deve continuar em 2021. De acordo com Innova Consumer Sur-
vey, 6 de cada 10 consumidores no mundo está buscando alimentos e
bebidas para aumentar a sua imunidade. Assim, pelo menos no início
do ano, as inovações e oportunidades para os lácteos devem focar na
adição de ingredientes para aumentar a imunidade, como por exemplo,
vitaminas C, B6 e ômega 3.
Isso reforça a oportunidade para alimentos de alta densidade nu-
tricional, como os lácteos. Os iogurtes, em especial, devem se beneficiar
dessa tendência, visto que já são reconhecidos como alimentos que au-
mentam a imunidade. A empresa de pesquisa de mercado Technavio
estima uma taxa composta de crescimento anual de mais de 5% para o
mercado de iogurte.
Ainda na tendência de fortalecimento da imunidade, as cores e sa-
bores se tornam atrativos para os consumidores, pois, por exemplo, cores
vibrantes e sabores cítricos remetem à vitamina C, enquanto o roxo está
associado aos superalimentos (batata doce, mirtilos, couve-roxa, etc).
Ainda neste sentido, a preocupação com a saúde intestinal e cere-
bral deve permanecer em alta, numa abordagem mais holística da saúde.
A busca por alimentos que beneficiem a saúde intestinal já vem há algum
tempo, com produtos direcionados para atuação na microbiota intestinal,
mas que resultam em melhorias de problemas metabólicos, controle de
peso, melhoria da imunidade e bem-estar emocional. Nesse sentido, os
lácteos têm uma vantagem, já que são ótimos veículos para prebióticos,
probióticos e simbióticos, atuando assim, na saúde intestinal.
Além do intestino, a saúde cerebral começa a ganhar destaque
desde o ano passado. Mesmo antes da pandemia, os alimentos nootró-
picos estavam no radar da indústria de alimentos. Alimentos nootró-
picos são aqueles que têm efeito sobre o desempenho cognitivo, seja
através da memória, concentração, motivação e atenção. Como os ido-
sos se tornaram a atenção da sociedade durante a pandemia, este tipo
de alimento que fortalece e previne um dos problemas relacionados à
– 138 –
velhice, ajudando a envelhecer bem, deve se sobressair, embora em pro-
porção muito menor do que os alimentos destinados ao fortalecimento
do sistema imune.
Outra questão que está no centro das atenções dos consumidores
atualmente é o ganho de peso extra durante a quarentena. Os ameri-
canos criaram até um termo para se referir a esse ganho de peso: Qua-
rantine 15. Assim, para perder esses Quarantine 15, os consumidores
devem buscar os exercícios físicos associados a alimentos que auxiliem
na perda de peso, ou que forneçam mais benefícios em menos calorias.
Nesse sentido, os lácteos, em especial, os lácteos funcionais, se sobres-
saem oferecendo proteínas, além de muitos outros nutrientes essenciais.
Por fim, a pandemia fortaleceu uma tendência que já existe há
um certo tempo: a sustentabilidade. Estudos mostram que cerca de dois
terços dos consumidores desejam ter um impacto positivo no meio am-
biente por meio de suas ações diárias. E isso inclui as compras de ali-
mentos e bebidas. Assim, as indústrias de laticínios devem demonstrar
seu compromisso com a sustentabilidade em todo o ciclo do produto,
pois os consumidores querem conhecer os bastidores da produção. Nes-
se setor tão rotulado pela emissão de gases de efeito estufa e maus tratos
aos animais, a chave para o sucesso pode estar na forma de comunicar
os esforços de sustentabilidade para o consumidor final.
Em suma, existe muito espaço para inovação no setor de laticínios
em 2021. Essa inovação pode se dar por novos produtos, incorporação
de ingredientes, comunicação com o consumidor, investimentos em no-
vas cores, sabores, benefícios e formatos. Mas, no fim, o que consumi-
dor de 2021 está buscando são produtos de maior valor agregado.
– 139 –
Quanto os consumidores de lácteos estão
pagando a mais por saudabilidade?*
*
Publicado em Revista Leite Integral
– 140 –
tam que, com o consumo regular de iogurte probiótico, há a regulação
do trânsito intestinal, limitação da resposta à estimulação química, que
ocorre na musculatura lisa do ceco e atividade anticarcinogênica do có-
lon, com a inibição da formação de células tumorais. A ação probiótica
também atua sobre doenças autoimunes, problemas da pele e transtor-
nos de humor. Quando se trata de transtornos de humor, as formulações
probióticas atuam ainda de forma positiva no aumento dos níveis de
serotonina, podendo ser adjuvantes à terapia padrão do tratamento de
depressão moderada.
Todas essas vantagens do iogurte probiótico se refletem em um
valor agregado maior para o consumidor. Para analisar o quanto o con-
sumidor está pagando a mais por essa saudabilidade do iogurte probi-
ótico, nós avaliamos 123 produtos nos meses de fevereiro e março de
2021. Foi realizada uma coleta de preços de iogurtes tradicionais e pro-
bióticos, em embalagens econômicas (a qual chamamos de G) e emba-
lagens individuais (a qual chamamos de P), por meio do site Bluesoft
Cosmos, que apresenta preços médios para o Brasil.
Para comparar os preços foi empregado o gráfico Boxplot. Este
gráfico é composto pelos seguintes elementos: uma caixa (box), que
contém 50% dos dados; uma linha no interior que representa a mediana
(valor do meio desse conjunto de dados em questão); marcação que re-
presenta a média dos valores; limitado por hastes ou caldas inferiores e
superiores, com característica de extensão até o último ponto da amos-
tra dentro do limite de 1,5 vezes a altura da caixa ; outliers representados
por um círculo preto, sendo estes valores atípicos ou discrepantes. Este
gráfico é uma ferramenta de análise descritiva, que permite comparar
os preços que o consumidor pagou pelo iogurte probiótico, em relação
ao iogurte tradicional, em ambos os tipos de embalagem. A Figura 1
apresenta os resultados.
– 141 –
4
– 142 –
que para o iogurte probiótico, o preço pago foi, em média, R$ 2,32/100
gramas. Com isso, a população está pagando quase 90% a mais para
adquirir o iogurte probiótico.
Como o preço reflete o equilíbrio entre oferta e demanda, os va-
lores mais elevados do iogurte probiótico indicam que realmente, a
tendência de saudabilidade está em alta no País, visto que, mesmo em
um momento de crise econômica, as pessoas estão pagando mais por
produtos que ofertam mais benefícios à saúde. Além disso, a diferença
de preços entre as embalagens analisadas evidencia que a conveniência
também é um fator importante para aqueles consumidores que buscam
a saudabilidade, pois o preço pago pelo iogurte probiótico em embala-
gem individual encontra-se em um patamar bem superior ao dos de-
mais produtos.
Assim, a empresa que souber posicionar seus produtos dentro
dessas tendências de mercado pode auferir lucros significativos, ape-
nas atendendo às necessidades do consumidor neste período tão de-
safiador.
– 143 –
Estudos mostram potencial dos lácteos no
tratamento de Artrite Reumatoide*
*
Publicado em Milkpoint
– 144 –
Neste sentido, várias cepas de probióticos já foram testadas em
laboratório para avaliar o impacto sobre a evolução da AR. Algumas
cepas que apresentaram resultados positivos sobre o tratamento da AR
foram:
• Lactobacillus rhamnosus GR-1 em associação com L. reuteri
RC-14
• Lactobacillus casei 01
• Lactobacillus helveticus HY7801
• Bacillus coagulans GBI-30
• B. coagulans e o prebiótico inulina
Entretanto, os melhores resultados clínicos e na resposta meta-
bólica em pacientes com AR foram obtidos por Zamani et al. (2017),
que administraram um produto simbiótico contendo Lactobacillus aci-
dophillus, Lactobacillus casei e Bifidobacterium bifidum e inulina. Após
8 semanas, os pacientes apresentaram redução significativa nos níveis
de proteína C reativa, melhora no escore de atividade da doença e na
Escala de Avaliação Visual de Dor.
Assim, há indícios de que os probióticos, prebióticos e simbióticos
tenham uma ação imunomoduladora com redução do processo infla-
matório na AR e estão sendo propostos como uma alternativa para ma-
nipular a microbiota intestinal e, consequentemente, reduzir o risco de
desenvolver e, ou tratar a AR. Sabe-se também que, no ramo alimentí-
cio, uma das melhores bases para adição de probióticos, são os produtos
lácteos e, em especial, os produtos lácteos fermentados. Por serem ali-
mentos fáceis de serem fortificados ou enriquecidos, muitos derivados
do leite servem de base para adição de probióticos, sendo mais comum a
presença de probióticos nos bioiogurtes e leites fermentados. Entretan-
to, os queijos também podem ser veículos de probióticos e no mercado
internacional, encontram-se até sorvetes com adição de probióticos.
Isso, somado ao fato de que o consumo de alimentos funcionais
e a busca por alimentos que se traduzam em benefícios à saúde têm
aumentado entre os consumidores do mundo todo, faz dos probióticos
– 145 –
em base láctea, uma alternativa interessante para se alcançar melhorias
no tratamento da AR. Soma-se a isso, estudo recente de Bordoni et al.
(2017) que evidenciou que produtos lácteos, de um modo geral, exibem
uma atividade anti-inflamatória em humanos. Quando analisadas as ca-
tegorias de produtos lácteos, os derivados fermentados se destacaram,
apresentando uma resposta anti-inflamatória única. Pei et al. (2018)
reforçaram isso, ao demonstrar que o consumo de iogurte desnatado
reduz alguns biomarcadores de inflamação crônica.
Diante do exposto, os avanços recentes da ciência mostram-se
animadores para a cadeia produtiva do leite, visto que reforçam o papel
dos lácteos como alimentos funcionais. Com isso, abre-se um universo
de possibilidades para os lácteos, pois os alimentos funcionais represen-
tam uma tendência de mercado que veio para ficar e têm apresentado
franco crescimento de vendas nos últimos anos.
– 146 –
Referências Bibliográficas
– 147 –
Teor de sódio nos queijos brasileiros*
Iogurte; 5,9%
Outros; 6,4%
Queijos; 22,1%
Leite
condensado;
6,7% Leite em pó;
13,1%
Figura 1. Participação por categorias de produtos lácteos no valor de vendas em 2017.
Fonte: IBGE (2019). Elaboração Embrapa Gado de Leite.
*
Publicado em Milkpoint
– 148 –
Mas, este produto tem sido incluído dentro do grupo de alimen-
tos que mais contribui para a ingestão de sódio por grama de alimento
consumido. Isso acontece porque o sal (sódio) é adicionado a todos os
tipos de queijo, já que a salga do queijo é uma etapa essencial durante o
processamento do produto.
Como os estudos mostram que a ingestão de sódio na dieta se cor-
relaciona com a pressão arterial sistólica e diastólica e um risco maior de
comorbidades e mortalidade cardiovascular, o teor de sal nos alimentos
tem sido um dos principais focos de atenção da indústria de alimentos
e dos governos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda
uma ingestão diária de sódio <2 g, correspondente a <5 g de sal.
Com isso, muitos países ao redor do mundo já implementaram
políticas para redução do consumo de sódio. No Brasil, em 2013, o Mi-
nistério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
assinaram um acordo de redução voluntária do teor de sódio de 16 ca-
tegorias de alimentos processados, até 2020.
No entanto, a pergunta que fica é: no caso dos queijos, como existe
uma grande variedade de tipos, será que todos podem ser considerados
alimentos com alto teor de sódio e que devem ser minimizados na dieta?
Para responder a esta pergunta, tabulamos as informações nutri-
cionais dos rótulos de 607 queijos disponíveis nos supermercados brasi-
leiros. Para comparar os produtos usamos a classificação do Ministério da
Saúde (MS). O MS define produtos com alto teor de sódio como aqueles
com mais de 400 mg de sódio por 100 g de produto; produtos de sódio
moderado como aqueles com teor de sódio variando de 80 a 400 mg por
100 g de produto; produtos com baixo teor de sódio, como os que variam
de 40 a 80 mg de sódio por 100 g de produto; e teor de sódio muito baixo
como aqueles com menos de 40 mg de sódio por 100 g de produto.
Entre as diferentes categorias de queijos, a análise mostrou que a
maioria dos queijos brasileiros foram classificados como produtos com
alto teor de sódio, com níveis de sódio superiores a 400 mg / 100 g de
produto (Figura 2).
– 149 –
muito baixo baixo moderado alto
0% 4%
32%
64%
– 150 –
SEÇÃO IV
– 151 –
– 152 –
Características do consumo de lácteos
durante a pandemia*
*
Publicado em Milkpoint
– 153 –
Tabela 1. Porcentagem de variação no consumo de lácteos durante a pandemia,
segundo os participantes da pesquisa.
Produto Aumentou Diminuiu Manteve
Leite Pasteurizado 15,1% 15,4% 69,6%
Leite UHT 20,7% 9,3% 69,9%
Leite em pó 18,5% 11,8% 69,6%
Leite Condensado 24,7% 11,2% 64,2%
Leite Fermentado 13,8% 17,6% 68,6%
Queijos 27,9% 10,5% 61,6%
Iogurte 20,2% 13,8% 66,0%
Manteiga 22,9% 6,6% 70,5%
Bebida Láctea 13,9% 16,6% 69,5%
Doce de Leite 14,8% 19,7% 65,5%
Sorvete 15,6% 30,0% 54,4%
Creme de Leite 22,9% 10,3% 66,8%
Petit Suisse 12,7% 25,3% 62,0%
Média 18,8% 15,2% 66,0%
Fonte: resultados da pesquisa.
– 154 –
Tabela 2. Média da porcentagem que a mudança no consumo representa por classe de
rendimento, contando todos os produtos.
1 SM 2 a 5 SM 6 a 10 SM acima de 10 SM
Aumentou 15,1% 14,3% 13,1% 15,6%
Diminuiu 21,1% 12,0% 10,3% 7,7%
Manteve 41,7% 47,4% 49,9% 48,3%
Não tenho o hábito
de comprar 22,1% 26,3% 26,8% 28,3%
– 155 –
Leite Pasteurizado
Santa Catarina
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Minas Gerais
Mato Grosso
Pernambuco
Amazonas
Maranhão
Rondônia
São Paulo
Tocantins
Roraima
Alagoas
Paraíba
Sergipe
Amapá
Paraná
Ceará
Goiás
Bahia
Piauí
Acre
Pará
2.98
Aumentou 2.49
2
1.51
Diminuiu 1.02
0.53
Manteve 0.04
-0.45
-0.94
Não tenho o hábito de comprar -1.43
-1.92
Sorvete
Santa Catarina
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Minas Gerais
Mato Grosso
Pernambuco
Amazonas
Maranhão
Rondônia
São Paulo
Tocantins
Roraima
Alagoas
Paraíba
Sergipe
Amapá
Paraná
Ceará
Goiás
Bahia
Piauí
Acre
Pará
2.43
Aumentou 1.93
1.44
0.94
Diminuiu 0.45
0.04
Manteve -0.54
-1.03
-1.52
Não tenho o hábito de comprar -2.02
-2.51
– 156 –
Efeitos da pandemia no mercado de lácteos
em Minas Gerais*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 157 –
os fatores determinantes da compra de lácteos neste período. Na pesqui-
sa, foram investigados 13 derivados lácteos.
Quanto à renda familiar, 6% dos mineiros entrevistados têm ren-
da mensal de até 1 salário mínimo (SM), 36% entre 2 e 5 SM, 26% entre
6 e 10 SM e 32% acima de 10 SM. De acordo com o IBGE, 25% das famí-
lias mineiras possuem renda superior a 6 SM e 19% têm renda até 1 SM.
Com isso, observa-se que a amostra teve um peso maior das classes de
renda mais altas em relação à realidade do Estado. No entanto, os dados
levantados estão alinhados com outros estudos de mercado e refletiram
o momento atual.
Com relação à disponibilidade dos produtos lácteos nas pratelei-
ras dos mercados, 84% das pessoas que responderam essa questão afir-
maram encontrar esses itens com facilidade, o que mostra que o abaste-
cimento continuou ocorrendo normalmente.
A pesquisa mostrou que a maioria dos consumidores mante-
ve o volume consumido de lácteos considerados na pesquisa, com
exceção do leite fermentado, leite pasteurizado e petit suisse. Nesses
casos, a maioria dos respondentes relatou que não tem o hábito de
consumir. Os queijos, a manteiga, o leite condensado e o creme de
leite obtiveram incrementos consideravelmente acima da média de
14,1%, correspondentes a 27%, 22%, 20% e 20%, respectivamente. É
interessante notar que esses produtos se constituem em ingredientes
de receitas de comidas típicas mineiras. De acordo com pesquisa da
Opinion Box, durante a pandemia, 33% dos brasileiros começaram a
cozinhar. Com isso, a demanda por ingredientes de receitas aumen-
tou significativamente.
Já, a porcentagem de respondentes que afirmou ter reduzido a
quantidade consumida dos produtos lácteos foi menos significativa,
com média de 10,4% para todos os produtos analisados. A exceção é o
sorvete, cujo consumo reduziu em 23% das famílias que participaram
do questionário, resultado que vai ao encontro de pesquisa da Nielsen
mostrando queda no consumo de sorvete. Dois fatores podem ter con-
– 158 –
tribuído para essa queda. Primeiro, sorvete não é um bem essencial e,
segundo, o início do inverno geralmente reduz a demanda por este pro-
duto sazonal, especialmente em época de combate a uma doença viral
relacionada às vias respiratórias.
Ao analisar a relação entre a mudança no consumo de lácteos e a
renda das famílias, verifica-se que para a maioria dos produtos analisados
houve uma associação significativa entre essas variáveis, com exceção do
leite fermentado, do sorvete e do petit suisse. Em geral, a associação mais
forte se deu entre a redução do consumo dos produtos e as famílias que
recebem até 1 SM. A Tabela 1 ilustra melhor isso. Ela apresenta a média
da porcentagem da modificação no gasto por classe de rendimento. A re-
dução nas compras foi reportada por 18% das famílias com renda de até
1 SM. Apesar de ser um percentual relativamente baixo, foi o grupo com
maior redução de compras, indicando que aqueles com a renda menor
se encontram com maior necessidade de conter os gastos com produtos
lácteos durante essa crise econômica gerada pela pandemia.
– 159 –
mais forte for o azul, maior é a associação. Ou seja, nos queijos, as famílias
com renda mais elevada estão mais associadas ao aumento de consumo
enquanto as famílias de menor renda estão mais relacionadas com a res-
posta “não tenho o hábito de comprar”, seguido da redução no consumo.
Resultado semelhante foi observado para os iogurtes.
É interessante também analisar os resultados para dois importan-
tes produtos lácteos: o leite UHT e o leite em pó. Para ambos, verifi-
cou-se uma associação forte entre a queda do consumo e as famílias
com renda de até 1 SM, além da ausência de ligação com aquelas que
recebem mais de 10 SM, como esperado. Para o leite em pó, também se
observou uma associação forte entre a redução do consumo e aqueles
com renda de 2 a 5 SM.
Queijos Iogurte
acima de 10 salários mínimos
6 a 10 salários mínimos
2 a 5 salários mínimos
2 a 5 salários mínimos
1 salário mínimo
5.45
1 salário mínimo 2.35
Aumentou 4.63
3.8
Aumentou 1.93
1.5
2.98 1.08
Diminuiu 2.16 Diminuiu 0.66
1.33 0.24
Manteve 0.51
-0.31
Manteve -0.18
-0.6
-1.14 -1.02
Não tenho o hábito de comprar -1.96 Não tenho o hábito de comprar -1.44
-2.78 -1.86
6 a 10 salários mínimos
2 a 5 salários mínimos
2 a 5 salários mínimos
1 salário mínimo
1 salário mínimo
2.77 2.59
Aumentou 2.27
1.77
Aumentou 2.06
1.53
1.27 1.1
Diminuiu 0.77 Diminuiu 0.48
0.27 -0.05
Manteve -0.23
-0.73
Manteve -0.58
-1.11
-1.23 -1.64
Não tenho o hábito de comprar -1.73 Não tenho o hábito de comprar -2.16
-2.23 -2.69
– 160 –
Os fatores determinantes da decisão de compra de lácteos tam-
bém foram analisados no questionário. Em geral, os fatores que mais in-
fluenciaram foram o preço, a qualidade do produto e a marca. Enquanto
isso, os benefícios nutricionais dos alimentos, as atitudes das empresas
durante o isolamento social e a preferência por empresas locais foram
considerados por poucas famílias na compra de lácteos, o que chama a
atenção em um momento de pandemia, em que manter a imunidade
elevada e uma alimentação adequada é desejável. Apesar disso, para al-
guns produtos, esses fatores se mostraram relativamente importantes.
A média das pessoas que dão preferência a empresas locais foi de 5%,
porém, para o leite pasteurizado, os queijos e o doce de leite, essa por-
centagem simboliza 11,8%, 8,9% e 7,2% respectivamente. Isso mostra
que para esses produtos em específico, as empresas locais parecem ter
um peso maior na hora da compra.
Avaliando-se estatisticamente a relação entre o que é importante
na hora de adquirir os lácteos e a renda das famílias, verificou-se rela-
ções significativas entre essas variáveis para todos os produtos. As asso-
ciações mais fortes dizem respeito à importância do preço para as clas-
ses de renda de até 1 SM e de 2 a 5 SM. Outra associação que também
chama atenção é a da influência que a qualidade do produto e a fideli-
dade às marcas que já compram tradicionalmente têm nas pessoas que
recebem acima de 10 SM. Isso fica claro ao analisar a tabela da média
de porcentagem do que é importante na hora das compras por classe de
renda (Tabela 2). Observa-se que para aqueles que recebem até 1 SM, o
preço representa 56% do total. Enquanto isso, para aqueles que recebem
mais de 10 SM, a marca e a qualidade do produto, juntos, retratam 72%
das decisões de compra.
– 161 –
Tabela 2. Média de porcentagem que os fatores de importância representam por classe
de rendimento, contando todos os produtos.
1 salário minimo 2a5 6 a 10 acima de 10
Atitude da empresa durante a crise 3% 3% 4% 2%
Benefícios nutricionais 2% 2% 3% 2%
Empresa local 4% 5% 5% 4%
Marca que já compro tradicionalmente 26% 35% 44% 47%
Preço 56% 38% 24% 19%
Qualidade do produto 9% 17% 21% 25%
100% 100% 100% 100%
Fonte: Elaboração própria dos autores a partir dos dados do questionário.
– 162 –
O efeito renda no consumo de lácteos no Brasil –
uma análise do período da pandemia*
87,14%
83,65%
80,17%
63,09%
25,32%
14,22%
11,85%
7,68%
6,87%
5,38%
5,06%
4,72%
4,03%
0,47%
0,23%
0,12%
1 SM 2 -5 S M 6 -1 0 S M ACIMA DE 10 SM
Figura 1. Nível de acesso aos produtos lácteos durante a pandemia, de acordo com a
faixa de renda familiar (em salários mínimos).
Fonte: Siqueira (2020).
*
Publicado em Milkpoint
– 163 –
O percentual daqueles que têm renda familiar de até 1 salário
mínimo e encontravam lácteos com facilidade foi de 63,09%. Quando
a renda familiar passa para de 2 a 5 salários mínimos esse percentual
já muda para 80,17%. E na faixa de renda mais elevada (acima de 10
SM), o percentual dos que encontravam os lácteos com facilidade foi de
87,14%. Ou seja, há um crescimento gradual conforme as faixas de ren-
da familiar vai aumentando, com uma diferença de mais de 20 pontos
percentuais entre a primeira e última faixa de renda neste estudo.
Quando os entrevistados foram perguntados se diminuíram,
mantiveram ou aumentaram o consumo de lácteos durante a pandemia,
para todos os produtos analisados, a maioria respondeu que manteve o
consumo. No entanto, pode-se também observar diferenças nesta esta-
bilidade do consumo quando a renda varia (Tabela 1).
– 164 –
De acordo com a Tabela 1, o produto que apresentou menor va-
riação de estabilidade de consumo conforme a faixa de renda foi o petit
suisse, que também foi o produto com menor estabilidade de consumo
dentre todos os analisados. Já as maiores variações de estabilidade do
consumo entre a primeira e a última faixa de renda ocorreram para leite
UHT: 21,72 pontos percentuais (pp). Em seguida, tem-se iogurte (13,56
pp), creme de leite (11,25 pp), queijos (10,75 pp) e manteiga (9,46 pp).
Para todos os produtos, a menor faixa de renda foi a que menos manteve
estabilidade de consumo, com exceção do leite em pó e bebida láctea.
No entanto, a influência da renda fica mais nítida quando se com-
para os dois fatores mais decisivos na hora da compra de lácteos na
pandemia: preço e marca (Figura 2). Neste caso, é possível perceber a
relação direta entre o aumento da renda e a importância do fator marca
na compra de lácteos durante a pandemia, e a relação inversa do fator
preço com a renda. Ou seja, para as famílias que ganham até um salário
mínimo, o preço é o fator determinante na aquisição de derivados do
leite durante a pandemia, enquanto para aqueles que ganham acima de
10 salários mínimos, o preço perde importância para o fator marca.
Fator Preço
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
1 SM Acima de 10 SM
– 165 –
Fator Marca
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
1 SM Acima de 10 SM
Figura 2. Relação entre a renda salarial e os fatores preço e marca na hora da compra
de lácteos durante a pandemia.
Fonte: Siqueira (2020).
– 166 –
O que aprendemos com o coronavírus?*
*
Publicado em Milkpoint
– 167 –
taurantes, bares, etc) devido ao fechamento do comércio. E, para alguns
tipos de queijos houve aumento das vendas.
Por outro lado, as redes com foco em saladas viram suas vendas
declinar substancialmente, saindo como um elo perdedor nessa pande-
mia. Na competição pelo consumidor, as bebidas vegetais, que vinham
em franco crescimento antes da pandemia, perderam espaço para os
lácteos. Esse comportamento foi reportado em diversos países ao redor
do mundo.
O que aprendemos com isso? Primeiro, que, apesar de estarmos
vivendo uma crise de saúde, a saudabilidade alimentar não é o fator de-
terminante de decisão do consumidor atualmente. Conveniência, prati-
cidade e preço são fatores mais decisivos na escolha do consumidor de
alimentos durante essa crise. Por isso, os restaurantes de comida saudá-
vel viram suas vendas declinarem. Por outro lado, os deliveries de fru-
tas e vegetais in natura cresceram consideravelmente, visto que é muito
mais prático e barato preparar estes alimentos em casa.
O preço também pode ter sido fator decisivo para a queda no
consumo de bebidas vegetais. No entanto, é interessante notar que o
fato desses alimentos serem considerados saudáveis pelos consumido-
res, não manteve e nem impulsionou o seu consumo durante a crise de
saúde vivenciada.
Portanto, o que aprendemos com o novo coronavírus é que os lác-
teos entregam muito mais do que benefícios nutricionais e funcionali-
dade. Os lácteos estão entre os alimentos que melhor se sobressaíram
nesta crise pela sua diversidade de produtos e funcionalidades. O setor
lácteo é um dos segmentos mais amplos da indústria de alimentos. É
difícil pensar em um setor que tenha uma variedade tão ampla de pro-
dutos. Dentre os lácteos, tem-se produtos da cesta básica, sobremesas,
produtos salgados, ingredientes culinários, produtos funcionais, produ-
tos gourmet, produtos premium, etc. Apesar de algumas empresas ainda
não terem percebido, isso dá ao setor um dinamismo muito grande para
lidar com diversas situações.
– 168 –
Além disso, essa diversidade de produtos, torna os lácteos essen-
ciais. É difícil imaginar uma cozinha sem lácteos, uma receita sem ne-
nhum derivado do leite, um lanche matutino sem qualquer resquício de
laticínios. Os lácteos estão presentes em mais de 90% das casas brasilei-
ras. E isso não é mérito apenas da sua riqueza de nutrientes. É mérito de
uma indústria que soube se diversificar. Que oferece nutrientes, sabor,
textura, praticidade, conveniência, saudabilidade, indulgência, regiona-
lismo e sustentabilidade.
– 169 –
A evolução do consumo domiciliar
durante a pandemia*
*
Publicado em Milkpoint
– 170 –
Pode-se observar um incremento real de 7,06% (deflacionado
pelo IPCA) no primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo perí-
odo do ano anterior. Isso mostra que as pessoas estão comprando mais
este ano nos supermercados do que compravam nos meses anteriores ao
início da quarentena no País.
Em relação ao mês de fevereiro de 2021, a alta foi de 11,11%. No
entanto, deve-se considerar o efeito do calendário, com três dias a mais
de consumo em março, comparado com fevereiro. Na comparação com
março de 2020, ou seja, exatamente o mês em que o isolamento social se
iniciou em grande parte do País, a alta foi de 4,31%. Vale ressaltar que
março de 2020 foi marcadamente um período de tensão e histeria, em
que a população se direcionou para os supermercados com o intuito
de estocar alimentos e bens de primeira necessidade. Portanto, este nú-
mero indica que em março de 2021, o consumo domiciliar aumentou,
mesmo se comparado com o período de pânico vivenciado no mesmo
mês do ano passado. A Tabela 2 mostra mais alguns dados do setor su-
permercadista.
– 171 –
O primeiro dado da Tabela 2 reforça o que foi dito anteriormen-
te. O índice de tíquete médio aumentou consideravelmente no início
do isolamento social no Brasil, ou seja, no de março abril. No mesmo
período, as idas ao supermercado diminuíram. O tíquete médio é uma
medida de quanto em valor monetário, em média, as pessoas gastam,
cada vez que vão ao supermercado. Este índice é uma parceria da Kantar
Wordpanel com a Abras e considera os gastos com 96 categorias de lar-
go consumo, das cestas de alimentos, bebidas, higiene e limpeza. Apesar
de ter apresentado algumas quedas ao longo do ano passado, o índice
de tíquete médio voltou a subir em janeiro de 2021. No mesmo mês,
pode-se observar também ligeiro aumento do número de idas ao PDV
(Ponto de venda).
Esses dados indicam, ainda que preliminarmente, um consumo
domiciliar ainda aquecido. Para os próximos meses, o fator pandemia
e o contínuo isolamento social devem potencializar, nos supermer-
cados, a procura por itens da estação mais fria do ano. No caso do
setor lácteo, os produtos que se favorecem mais com o inverno são
os queijos. Os fondues e os queijos consumidos com vinho devem se
sobressair. Aliás, vale ressaltar o desempenho do vinho durante a qua-
rentena. A bebida foi alçada ao status de preferida durante a quarente-
na. Isso pode favorecer o consumo de queijos também, especialmente
os finos e artesanais.
Outros itens que devem se beneficiar do inverno são leite con-
densado, creme de leite e demais lácteos usados como ingredientes de
receitas típicas de festa junina. Além das tradicionais festas juninas, du-
rante o inverno brasileiro acontecerá as Olimpíadas de Tóquio. Nestas
ocasiões, os brasileiros já têm tendência de valorizar a premiunização e
a indulgência. Com a permanência do isolamento social, estas caracte-
rísticas devem ser ressaltadas. Porém, como estas categorias de produtos
já tiveram um salto de consumo no ano passado, este ano não deve ha-
ver um crescimento acentuado. No entanto, elas devem permanecer em
patamares superiores aos observados antes da pandemia.
– 172 –
Com isso, e lembrando das incertezas no âmbito econômico, o
grande desafio do setor no momento é equilibrar as diversas variáveis
deste período ainda tumultuado da história brasileira para acertar na
previsão de demanda.
– 173 –
– 174 –
SEÇÃO V
– 175 –
– 176 –
Análise dos sentimentos expressos na rede social
Twitter em relação ao queijo*
*
Apresentado no XXV Workshop de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Leite
– 177 –
Uma plataforma popular nos dias de hoje é o Twitter que, sozinho,
possui mais de 200 milhões de usuários, que compartilham cerca de 400
milhões de tweets por dia (CHA et. al., 2010). Nessa rede, pesquisadores e
empresas conseguem coletar dados para análises de conteúdo em grande
escala (CELEBRATING, 2020). Por meio desses dados, pode-se acompa-
nhar um determinado fluxo de posts para identificar oportunidades de
vendas de um produto baseados nas opiniões de seus consumidores.
Métodos para análise de sentimentos estão cada vez mais popu-
lares visando desenvolver aplicações que tem como objetivo apresentar
informações sobre as necessidades de diversos tipos de consumidores
no mercado. Porém, no segmento de queijos do Brasil não se tem co-
nhecimento de pesquisas que se aprofundam em avaliar a opinião dos
usuários do Twitter. Portanto, nesse trabalho, objetiva-se elucidar esse
contexto, aplicando técnicas de inteligência artificial para analisar os
sentimentos de raiva, desgosto, medo, alegria, tristeza e surpresa dos
usuários do Twitter em relação ao queijo.
Para a realização do estudo, fez-se o uso do software Orange Can-
vas. O Orange Canvas é um software desenvolvido na Linguagem Pyton
para visualização e análise de dados. Após a coleta das informações, foi
realizado um pré-processamento desses dados para melhor selecioná
-los, eliminando nessa etapa informações irrelevantes para o estudo. Em
seguida, as informações obtidas foram mineradas com o uso de algorit-
mos de agrupamento, criando clusterização das mensagens de texto em
grupos específicos por ordem de relevância ao que cada usuário escre-
veu. Com as informações tratadas, fez-se o uso de padrões de filtragens
para melhor compreender e visualizar o sentimento dos usuários quan-
do se referiam a assuntos relacionados ao tema queijo.
A pesquisa analisou informações expressas em mensagens de tex-
to no Twitter sobre a palavra queijo, com a finalidade de descobrir a
existência de algum padrão entre as informações contidas no mesmo.
A aplicação Orange Canvas nos permite também trazer outras análises,
como o uso do widget Word Cloud, como já descrito, para visualização
de dados. A WordCloud ou Nuvem de Palavras é formada com base na
periodicidade das palavras no conjunto de tweets que após processada
nos mostra a maior incidência delas escritas pelos usuários.
– 178 –
Figura 1. Nuvem de palavras apresentando os itens que mais se relacionaram com o
tema queijo no Twitter.
Fonte: Resultados da pesquisa.
48,68%
26,34%
19,43%
3,94%
1,00% 0,62%
1
Surpresos Alegres Medo Tristeza Desgosto Raiva
Figura 2. Análise de sentimento dos usuários do Twitter sobre queijo.
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 179 –
Os resultados indicam que a maior parte dos usuários que escre-
veram sobre queijo no Twitter demonstraram sentimentos positivos
(75%). Cabe salientar que resultados pontuais podem ser afetados por
recursos computacionais e o seu poder de processamento das informa-
ções. Tais resultados devem ser analisados apenas como um indicador
de emoções em constante transição e não como parâmetro decisivo so-
bre o tema estudado.
Neste trabalho foi feita a análise de sentimentos dos usuários do
Twitter quando pesquisados pelo tema queijo. Como conclusão foi pos-
sível identificar a importância da mineração de dados junto ao mercado
atual no apoio à tomada de decisão. A análise observou grande acei-
tação dos usuários quando se referiam a palavra queijo, porém é im-
portante ressaltar que as informações pós processadas não só remetiam
propriamente ao queijo como um todo, mas também como componente
base para outro alimento de grande destaque pelos usuários do Twitter,
como o pão de queijo.
Como trabalho futuro, sugere-se uma análise mais aprofundada
utilizando outras técnicas de mineração, com amostras maiores de da-
dos a fim de poder comparar e discutir os métodos mais adequados para
evidenciar o tema abordado neste estudo.
– 180 –
Referências Bibliográficas
– 181 –
Quais os tipos de queijos mais
comentados no Twitter*
*
Apresentado no XXV Workshop de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Leite
– 182 –
Assim, as redes sociais podem ser uma alternativa às pesquisas de
mercado tradicionais, que, muitas vezes, são dispendiosas, demoradas
e sem representatividade num país de dimensões continentais como o
Brasil. Neste contexto, o presente trabalho visa analisar o mercado de
queijos brasileiros por meio do Twitter. Os queijos estão em segundo
lugar no ranking dos derivados lácteos mais consumidos no Brasil em
2017, e por isso se apresentam como uma boa oportunidade para análi-
se de conteúdo. Em volume total de vendas, os queijos obtiveram cres-
cimento de 124% no período de 2005 a 2016 (SIQUEIRA, 2019). Assim,
este estudo propõe o desenvolvimento de uma arquitetura que permita
identificar os tipos de queijos mais comentados no Twitter, como forma
de captar as preferências dos consumidores de queijo no Brasil.
Este trabalho apresenta a construção de uma arquitetura por meio:
(i) da mineração de dados textuais que continham as palavras “queijo”
e “#queijo” no Twitter; (ii) do processamento de linguagem natural dos
textos extraídos; e (iii) da criação de uma ontologia para organização
semântica do conhecimento no setor de produção de queijo.
O resultado do processo de coleta se deu em 82.868 tweets da lín-
gua portuguesa do Brasil durante o período de 10 dias. Por meio do pré
-processamento do conteúdo, foram removidos 33.269 tweets duplica-
dos e extraídos 3.590 tweets que citam, pelo menos uma vez, as palavras
que correspondem aos tipos de queijos mais conhecidos.
Considerando o conjunto de palavras dos tweets extraídos, a Fi-
gura 1 apresenta um histograma contendo a distribuição de frequências
das 10 palavras mais frequentes. Por meio desta, foi possível observar
que a palavra correspondente ao tipo de queijo mais citado foi a palavra
coalho, ficando à frente de requeijão e cheddar.
Torna-se importante ressaltar que a palavra coalho, não necessaria-
mente refere-se ao queijo coalho. Ela pode se referir ao coalho usado na
produção de queijo artesanal. No entanto, as palavras requeijão e cheddar
referem-se aos tipos de queijos consumidos. Neste ponto, é interessante
ressaltar que, apesar do curto período de tempo analisado, a pesquisa re-
fletiu a realidade, já que o requeijão é, atualmente, o principal queijo do
mercado de commodities, assumindo o lugar da muçarela a partir de 2012.
– 183 –
reino
Frequência
brie
gorgonzola
suico
muçarela
parmesão
prato
cheddar
requeijão
coalho
Queijo
– 184 –
De acordo com a taxonomia do queijo organizada, a ontologia foi
capaz de classificar indivíduos na classe “QueijoMinasArtesanal”. Além
disso, ela ainda infere relação com a classe “SemTratamentoTermico”,
que corresponde ao processo de produção do QMA. Um exemplo des-
sas relações pode ser observado na Figura 2, onde “QMASerraDaCa-
nastra” é o indivíduo exemplo em questão.
A abordagem desenvolvida permitiu a coleta de tweets sobre o
queijo em tempo real. Porém, para concluir o tipo de queijo mais consu-
mido no Brasil, é necessária uma mineração de dados variada, ou seja,
em diferentes repositórios e coletados em diferentes períodos do dia e
tempo. Contudo, este primeiro passo sugere que a arquitetura desenvol-
vida está em conformidade com a realidade.
A ontologia desenvolvida organiza o conhecimento baseado na
árvore genealógica do leite em linguagem OWL. Trabalhos futuros de-
vem focar no desenvolvimento de uma API para processar as informa-
ções dos queijos retiradas dos tweets.
– 185 –
Referências Bibliográficas
– 186 –
Análise exploratória de leite e derivados mais
comentados no Twitter e Google Trends*
*
Apresentado no XXV Workshop de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Leite
– 187 –
do tempo. Com ela é possível analisar e entender o que usuários buscam
no site do Google.
Diante disso, o objetivo geral deste trabalho foi realizar uma aná-
lise exploratória do leite e seus derivados mais comentados no Twitter e
Google Trends como forma de entender melhor as tendências do mer-
cado lácteo nacional.
Utilizando a técnica de mineração de dados (Cortês, 2002), foi
desenvolvido um script em R para a realização de uma busca no Twitter
utilizando 16 palavras-chave como “queijo” e “sorvete”, obtidas a partir
de Árvore do Leite (2020) e de Siqueira (2019). Utilizando o Google
Trends, foi feita uma comparação dos quatro derivados do leite mais
comentados no Twitter no período de 12 a 19 de fevereiro de 2020.
A pesquisa identificou 91.202 postagens no Twitter referentes a
leite e derivados. Os derivados com maior número de comentários são
apresentados na Figura 1.
Manteiga (3.099)
3%
Iogurte (3.848)
4%
Requeijão (4.521)
5% Queijo (46.314)
51%
Doce de Leite (5.128)
6%
Sorvete (12.398)
14%
– 188 –
Pela Figura 1, pode-se observar que dentre os principais trends, a pa-
lavra “queijo” apresentou maior destaque com 50,8% em aparições nos co-
mentários dos internautas, seguido de sorvete, leite condensado e doce de
leite. Esses quatro produtos mais comentados foram analisados no Google
Trends e apresentados na Figura 2. Nessa figura, valores mais próximos de
100 indicam maior interesse dos usuários por um determinado tema.
100 Queijo
Sorvete
Leite Condensado
80 Doce de Leite
60
Interesse
40
20
0
13/02/2020 14/02/2020 15/02/2020 16/02/2020 17/02/2020 18/02/2020 19/02/2020
Dias da semana 12 a 19 de Fevereiro de 2020
Figura 2. Gráfico apresentando o percentual de interesse pelos produtos lácteos por
dias no intervalo de 12 a 19 de fevereiro de 2020, de acordo com o Google Trends.
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 189 –
pode-se observar que as regiões que mais comentaram sobre os deri-
vados do leite foram as regiões Sul e Sudeste, que coincidem com as
regiões de maior renda e consumo per capita do Brasil.
– 190 –
Referências Bibliográficas
– 191 –
Tendências de consumo de queijo coalho
no Nordeste*
*
Publicado em Milkpoint
– 192 –
senvolvida pela Embrapa, UFJF e IFSudeste para identificar o perfil do
consumidor e tendências de consumo de leite e derivados por meio das
redes sociais. No seu primeiro ano de funcionamento, o OC estudou as
publicações sobre queijos artesanais na rede social Twitter.
Entre 30/04/20 e 18/02/21, foram publicados 43.339 tweets sobre
queijo coalho no Brasil. Desse total, 19.071 tweets possuíam a localiza-
ção ativada, o que permitiu realizar uma análise separada do queijo co-
alho tradicional ou regional do Nordeste. Assim, foram estudados 8.873
tweets provenientes da região Nordeste, representaram 46,5% do total
de postagens sobre queijo coalho no Brasil. Os restantes (10.198 posta-
gens ou 53,5% dos tweets) eram provenientes das demais regiões, e não
foram considerados nesta análise.
No Nordeste, Pernambuco foi o estado que apresentou o maior
número de publicações sobre queijo coalho. O maior número de posts
referia-se a acompanhamentos e receitas que empregam o queijo coalho
(1.451). Dentre essas receitas, as mais citadas foram: tapioca (27,3%),
carne de sol (23,5%), pizza (9,7%) e arroz (7,3%). Nas postagens que
envolviam a tapioca, geralmente havia a combinação desta com queijo
coalho e outros produtos que remetem à indulgência, ou seja, ao con-
sumo por prazer, como por exemplo, mel e doce de leite. Já em relação
aos acompanhamentos para este tipo de queijo, a carne (14,1%) e o pão
(9,8%) foram os mais citados enquanto o café (38%), seguido de leite
(28,2%), suco (13,2%), cerveja (6,5%) e chá (6%) representaram as be-
bidas que frequentemente acompanharam o queijo tipo coalho. Com
relação à textura, a maioria das postagens fazia referência à cremosidade
(35%) e com relação à composição, o orégano foi o ingrediente mais
citado, referindo-se principalmente ao consumo de dadinhos de queijo
coalho com orégano.
O conteúdo publicado no Twitter sobre queijo coalho nas demais
regiões do Brasil apresentou algumas similaridades com o conteúdo pu-
blicado no Nordeste. Nas demais regiões, o maior número de postagens
também foi de acompanhamentos e receitas. Para os acompanhamen-
– 193 –
tos, o pão ficou em primeiro lugar com 22,3% das citações, seguido por
carne (12,9%) e tucumã (7,4%). Para as receitas, novamente a tapioca fi-
cou em primeiro colocado, com 29,9% das postagens, seguido por carne
sol com 11,7%, pizza com 8,7% e arroz com 7,7% das citações. Porém, as
associações da tapioca com o queijo coalho nas demais regiões do País
foram acompanhadas de manteiga ou banana e tucumã, o que difere do
consumo indulgente observado para o queijo coalho no Nordeste. No
quesito bebidas para acompanhar o queijo coalho nas 4 regiões do Bra-
sil (Norte, Sul, Sudeste e Centro-Oeste), o café foi novamente o mais ci-
tado com 28,6% das menções. Na sequência, observou-se leite (21,1%),
cerveja (15,3%) e suco (14,1%). No entanto, não foi possível analisar ou-
tros atributos relacionados ao consumo deste tipo de queijo devido ao
reduzido número de publicações a este respeito. Portanto, nota-se uma
tendência de consumo indulgente do queijo coalho na região Nordeste.
Apesar do estudo não ter avaliado os momentos das refeições, podemos
inferir que o queijo coalho é consumido preferencialmente no café da
manhã ou no lanche da tarde, visto que pão e café apareceram como
acompanhamentos muito citados. Além disso, tem o leite também que é
uma bebida mais relacionada a este tipo de refeição. As demais citações,
como arroz, carne de sol, pizza, etc., podem se referir tanto a almoço
quanto jantar. A tapioca também pode ser consumida em qualquer re-
feição, inclusive como sobremesa. Isso indica que o queijo coalho apre-
senta grande versatilidade de consumo no Brasil. Apesar das diferenças
regionais, o produto tem sido consumido amplamente nas mais diversas
formas, refeições e acompanhamentos. Com isso, é possível entender a
sua popularidade de Norte a Sul do País.
– 194 –
Análise exploratória da imagem dos lácteos em
tempos de coronavírus*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 195 –
cerca de 48% da população utilizando essa plataforma. O Brasil tem o se-
gundo maior número de usuários da rede, logo atrás dos Estados Unidos,
com mais de 27,7 milhões de contas ativas (EMARKETER, 2016).
Segundo Pak & Paroubek (2010) e Araújo et al. (2014), analisar os
conteúdos compartilhados em redes sociais pode auxiliar no entendi-
mento da opinião das pessoas sobre diferentes assuntos, e, a partir desta
análise, dentre diversas outras aplicações possíveis, empresas podem sa-
ber mais sobre o que os seus consumidores pensam sobre determinados
produtos e serviços (Pushpam & Jayanthi, 2017).
Assim, as redes sociais são no momento, uma alternativa às pes-
quisas de mercado tradicionais, já que há um maior número de pesso-
as em casa, se comunicando, gerando maior tráfego de informações na
web e principalmente nas redes sociais. De acordo com levantamento
da Fundação Dom Cabral (FDC, 2020) realizado nas redes sociais, na
última semana, os posts relacionados ao coronavírus ultrapassaram 226
mil/dia no Brasil. Isso indica um grande número de pessoas publicando
e expressando suas opiniões na internet. Diante disso, torna-se oportu-
no avaliar esse conteúdo para analisar o que os consumidores de leite e
derivados têm expressado no Twitter como forma de identificar com-
portamentos e tendências de mercado neste período de crise.
De acordo com o último post da ComScore (24 de março de 2020),
foi possível observar que grandes marcas de produtos diminuíram suas
ações em redes sociais em cerca de 9%, mostrando que as marcas não
estão sabendo como engajar o público para os seus produtos durante
esse período de pandemia. Mas como será que o mercado do leite e de-
rivados está se saindo diante deste cenário?
O Twitter disponibiliza gratuitamente uma Application Program-
ming Interface (API) para mineração de dados públicos criados por seus
usuários, facilitando a obtenção dessas informações. Neste trabalho, fo-
ram minerados posts através de um script na linguagem de programação
R (R Core Team, 2013), 5 grupos de palavras-chave combinadas como é
mostrado abaixo no período de 20 a 27 de março de 2020:
– 196 –
1. quarentena + {leite}
2. coronavirus + {leite}
3. pandemia + {leite}
4. covid + {leite}
5. isolamento social + {leite}
em que {leite} refere-se aos seguintes termos: creme de leite, doce
de leite, iogurte, lactobacilos, leite condensado, leite em pó, leite UHT,
leite, manteiga, queijo, requeijão, sorvete, leite longa vida, bebida láctea,
leitinho, ghee, leite pasteurizado, leite de saquinho, leite barriga mole,
lácteos, laticínios, derivados do leite, derivados lácteos, ricota, mussa-
rela, muçarela, brie, gorgonzola, lactose, leite fermentado, kefir. Alguns
nomes de queijos também foram inseridos nas buscas que são: provo-
lone, queijo artesanal, queijo canastra, parmesão, camembert, roquefort,
cottage, mascarpone, queijo prato, pecorino, gruyere, edam, estepe, em-
mental, queijo do reino e gouda.
Além disso, foi empregado o software Orange Canvas desenvolvido
na Linguagem Pyton, aplicando técnicas de análise de sentimentos para
analisar os sentimentos associados às postagens no Twitter. O Orange
Canvas é um conjunto abrangente de software baseado em componentes
para mineração de dados e aprendizagem de máquina, desenvolvido no
Laboratório de Bioinformática, da Faculdade de Computação e Ciência
da Informação da Universidade de Ljubljana, Eslovénia, juntamente com
a comunidade de código aberto (ERJAVEC, 2013). O Orange Canvas tra-
balha com blocos de construção de fluxos chamados Widgets para análise
de dados que são montados no ambiente de programação visual do siste-
ma. Os Widgets são agrupados em classes de acordo com sua função.
A combinação das palavras visa identificar as opiniões de con-
sumidores que publicam conteúdos lácteos associados à pandemia do
novo coronavírus. A Figura 1 apresenta o total de tweets. No total foram
buscados 14.537 tweets no intervalo de 20 a 27 de março de 2020 (dados
puros). Realizando a remoção de tweets duplicados foi contabilizado
um total de 12.185 tweets (dados tratados).
– 197 –
Quantidade de tweets minerados de 20 a 27 de março de 2020
Dado puro Dado tratado
15.000
12.768
10.583
Quantidade de tweets
10.000
5.000
Palavras Chave
Figura 1. Total de tweets minerados no período de 20 a 27 de março de 2020.
Fonte: Elaborado pelos autores.
– 198 –
Quantidade de menções dos derivados do leite nos tweets
Outros 635
4,4%
Creme de Leite 200
1,4%
Leite em pó 243
1,7%
Requeijão 312
2,2%
Queijo 421
2,9% Leite 6.796
Iogurte 485 47,1%
3,4%
Doce de leite 495
3,4%
Manteiga 498
3,5%
Lactose 786
5,4%
Leite condensado 1.237
8,6%
Sorvete 2.325
16,1%
A palavra leite foi retirada da análise por retornar muitos tweets com
conteúdo não relacionado, o que corrompe os resultados. Assim, os cinco
derivados do leite mais comentados em tweets relacionados ao coronavírus
foram: sorvete, leite condensado, lactose, manteiga e doce de leite.
É interessante notar que três desses derivados são produtos re-
conhecidamente indulgentes: sorvete, leite condensado e doce de leite.
Alimentos indulgentes ou com apelo à indulgência são aqueles consu-
midos pura e simplesmente por prazer. De acordo com a ciência, isso é
natural de ocorrer, pois o hormônio cortisol, conhecido como hormô-
nio do estresse, é liberado em situações de emergência, medo e peri-
go. Ele gera um aumento de um neurotransmissor chamado NPY que
estimula o apetite. Além disso, há a redução de dopamina e serotonina
que fornecem a sensação de bem estar e prazer. Assim, a consequência
em situações de estresse como a que estamos vivendo no momento é a
busca por alimentos que forneçam essa sensação de prazer, ou seja, os
alimentos indulgentes.
– 199 –
Com os dados coletados do Twitter foi gerada uma nuvem de pa-
lavras mais mencionadas nos posts no intervalo de tempo considerado
(Figura 3).
– 200 –
6.036
6K
5K
4K
Número de registros
3K
2K
1.027 1.124
1K
0K
N NEU P
Negativo, neutro e positivo
– 201 –
Referências Bibliográficas
– 202 –
O que mudou no consumo de lácteos com a
pandemia? Uma visão das redes sociais*
*
Publicado em Milkpoint
– 203 –
Utilizando a técnica de mineração de dados foi desenvolvido um
script para a realização de uma busca no Twitter utilizando 14 derivados
do leite nos seguintes períodos:
- 12 a 16 de fevereiro: antes da pandemia
- 21 a 28 de março: primeiras semanas de quarentena
- 14 a 21 de abril: um mês de quarentena
A pesquisa identificou um aumento no número de tweets sobre
leite e derivados durante a pandemia (Figura 1).
Comparação do número de tweets
200.000
160.348
150.000 125.266
Quantidade de tweets
100.000 85.157
50.000
0
12 a 19 de Fevereiro 21 a 28 de Março 14 a 21 de Abril
Semanas
Figura 1. Evolução no número de tweets sobre leite e derivados entre fevereiro e abril
de 2020.
Fonte: Resultados da pesquisa.
– 204 –
citado, o qual está na categoria de produto indulgente, ou seja, aque-
les que proporcionam prazer, especialmente nos momentos de estresse,
como o pânico inicial gerado pela pandemia. Em abril, o terceiro produ-
to mais citado passou a ser a manteiga, que já é um produto mais ligado
à saúde e culinária.
O doce de leite, que também se enquadra na categoria de produto
indulgente, ocupou a quarta colocação nos produtos lácteos mais men-
cionados no Twitter em fevereiro. Mas em março, o leite em pó foi o
quarto produto mais falado nessa rede social. É interessante notar que
o interesse pelo leite em pó aumentou nas redes sociais, justamente no
início da pandemia, quando os dados de mercado também mostram au-
mento da demanda por este produto, muito associado a sua maior vida
de prateleira, preço mais acessível e facilidade de estocagem.
Por fim, em abril, a quarta posição no ranking dos produtos mais
tweetados foi ocupada pelo leite condensado. Neste ponto, é importan-
te notar que a queda do leite condensado no ranking, de terceiro para
quarto colocado entre março e abril revela uma mudança de comporta-
mento do consumidor. No início da pandemia e quarentena, o nível de
estresse estava elevado com as incertezas e o desconhecido futuro que
viria. Neste momento, já era de se esperar que os alimentos indulgentes
tivessem maior apelo pois, sem muitas opções de lazer e bem-estar, o
consumidor busca prazer na alimentação. Já em abril, após um mês de
quarentena, os brasileiros já estão mais adaptados à rotina e, com isso,
os produtos indulgentes perdem um pouco a relevância.
Assim, no mês de abril, os produtos lácteos mais comentados no
Twitter foram: queijo, sorvete, manteiga, leite condensado e doce de lei-
te. A Figura 2 mostra a variação percentual no número de tweets dos
derivados lácteos pesquisados.
– 205 –
Fevereiro Março a Abril
Queijo -25.46%
73,94%
Sorvete 167,08%
6,68%
Leite Condensado 95,50%
-11,05%
Doce de Leite 49,24%
36,99%
Requeijão 42,91%
14,64%
Iogurte 45,50%
-20,81
Manteiga 339,63%
31,66%
Leite em Pó 224,49%
-39,23%
Creme de Leite 107,00%
4,02%
Farinnha Láctea 62,84%
-10,14%
Leite Desnatado 2,73%
-20,9%
Leite Integral 29,05%
31,60%
Leite Pasteurizado -31,25%
-54,55%
Leite UHT -57,89% 171,43%
– 206 –
sumidor durante toda a quarentena foram: sorvete, doce de leite, requei-
jão, manteiga, creme de leite e leite integral.
A nuvem de palavras formada em cada período também fornece
informações interessantes sobre o mercado lácteo.
– 207 –
rente a coca-cola, brigadeiro) quanto produtos do dia a dia (arroz, feijão,
carne, frango) e alimentos mais saudáveis (fruta, banana, morango).
Essa pesquisa revela certa mudança de pensamento, perspectiva e
interesse dos consumidores brasileiros de lácteos. Sugere que no início
da quarentena os produtos indulgentes e os de maior vida de prateleira
(ligados ao estoque em casa) chamaram mais a atenção da população
brasileira. No entanto, este comportamento parece estar mudando. Da
estocagem e busca por prazer pelos alimentos, os consumidores agora
parecem estar deslocando sua atenção para os itens essenciais (o que
pode estar relacionado à queda na renda) e busca por saudabilidade
(fato ligado ao aumento dos casos da doença no Brasil e preocupação
com manutenção da imunidade elevada).
– 208 –
O impacto da pandemia no consumo de lácteos no
Brasil – uma abordagem das redes sociais*
*
Publicado em Revista Indústria de Laticínios
– 209 –
250000
200000
150000
100000
50000
– 210 –
primeiros picos. As oscilações também diminuíram, mas, na média, o
interesse dos consumidores ficou num patamar menor do que no início
da pandemia e maior do que antes da pandemia.
No âmbito dos produtos mais comentados no Twitter, o queijo
ficou em primeiro lugar ao longo de quase todo o período. Ele perdeu
para o sorvete, segundo colocado no ranking, em apenas 3 semanas. Ao
contrário dos demais produtos, as postagens de queijo caíram na pri-
meira semana de isolamento social, quando comparado com antes da
pandemia. No entanto, nas semanas que se seguiram, as postagens sobre
queijos se consolidaram em um patamar muito superior ao verificado
antes da pandemia (Figura 2). O mesmo aconteceu com o sorvete, a
manteiga, o leite condensado e o doce de leite.
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
fev mar abr mai jun jul ago set out nov
– 211 –
Tabela 1. Variação percentual nas postagens dos derivados lácteos mais comentados
no Twitter (mês comparado com fevereiro de 2020).
Produto mar abr mai jun jul ago set out nov
Queijo -25% 30% 52% 57% 59% 45% 44% 52% 32%
Sorvete 167% 185% 320% 260% 259% 374% 335% 372% 250%
Manteiga 340% 479% 524% 443% 462% 411% 383% 355% 334%
Leite condensado 96% 74% 132% 77% 73% 48% 34% 32% 56%
Doce de leite 49% 104% 134% 93% 97% 75% 45% 91% 72%
Fonte: Dados da pesquisa.
Obs: os dados acima refletem variação de postagens e, portanto, de interesse dos
consumidores pelos derivados lácteos. Não refletem a magnitude do aumento do
consumo.
– 212 –
No caso dos queijos, os dados da Figura 1 e Tabela 1 já mostram que
no mês de novembro, as postagens voltaram para o patamar de abril de
2020. Com o fim da pandemia, as pessoas não devem continuar prepa-
rando tantas receitas em casa, com isso os produtos indulgentes muito
provavelmente devem retornar aos níveis de consumo da normalidade,
já que o seu consumo está atrelado ao estresse.
No entanto, alguns hábitos realmente mudaram. Isso provavel-
mente ocorreu para queijos e manteiga. Principalmente para os queijos.
Os brasileiros conheceram mais tipos de queijos durante a pandemia.
Experimentaram inúmeras formas de consumi-los. Surgiu um gosto
mais apurado para o produto. Isso é uma mudança de hábito que deve
se perpetuar. Com o fim do isolamento social, o consumo domiciliar de
queijos certamente não será tão elevado quanto foi durante a pandemia.
Mas, provavelmente, se manterá em um patamar superior ao que era
antes da pandemia, se o brasileiro não sofrer com quedas significativas
de renda.
– 213 –
Covid-19 e o impacto no consumo
de leite e derivados*
*
Publicado em Anuário do Leite
– 214 –
Entre 01 de maio de 2020 e 29 de abril de 2021, foram minerados
posts através de um script na linguagem de programação R (R Core
Team, 2013). Foram empregadas 293 palavras-chave relacionadas com
os seguintes derivados lácteos: leite, iogurte, leite condensado, mantei-
ga, queijos, doce de leite, sorvete, creme de leite, leite fermentado e bebi-
das lácteas. A Figura 1 apresenta a evolução do número de tweets sobre
leite e derivados durante o período citado.
2020 2021
1.000.000
818.176 853.937 812.065
773.392 802.308 752.483 807.916
750.000 672.641
622.527 658.653
Total de tweets
546.975 551.592
500.000
250.000
0
Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr.
– 215 –
caiu para cerca de 640 mil/mês, evidenciando a queda de interesse pelos
lácteos neste período à medida que as medidas de isolamento social fo-
ram sendo flexibilizadas. Assim, de novembro de 2020 a abril de 2021,
com exceção do mês de janeiro, houve um conteúdo menor de posta-
gens sobre os produtos lácteos no Twitter. Vale ressaltar, que em janeiro
de 2020, foram divulgados dados de compra do governo federal que, en-
globavam grande volume de leite condensado, o que repercutiu na mí-
dia nacional e elevou os tweets sobre este produto e, consequentemente,
sobre o total de lácteos neste mês. Os derivados lácteos mais citados
no período todo foram: queijos, sorvete, leite condensado e manteiga
(Figura 2).
Leite Condensado
10,5%
Sorvete 2.421.528
27,9%
– 216 –
brasileiro, que inclui sanduíches, pizzas e outros pratos de fast food que
têm queijos como ingrediente. Assim como ocorreu em outros países,
o consumo deste tipo de alimento aumentou durante a pandemia, seja
pela praticidade de preparo dessas receitas em casa, seja pelo aumento
dos deliveries, ou simplesmente pela indulgência que eles oferecem.
Os alimentos considerados indulgentes, ou seja, aqueles que são
consumidos unicamente pelo prazer que eles proporcionam, geral-
mente apresentam incremento de consumo durante os momentos de
estresse e crise. E não foi diferente durante a pandemia de Covid-19.
O segundo e terceiro lácteos mais comentados na rede social Twitter
durante a pandemia, são considerados alimentos indulgentes: sorvete e
leite condensado.
Isso nos mostra que, em termos de consumo de lácteos, a pande-
mia do novo coronavírus no Brasil se resumiu a aumento de consumo
de produtos indulgentes. Apesar de ser uma crise de saúde pública, a
indulgência, e até a conveniência, falaram mais alto do que a saudabili-
dade.
– 217 –
– 218 –