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UNIVERSIDADE FEEVALE
Novo Hamburgo
2019
1
Novo Hamburgo
2019
2
3
Aprovado por:
_______________________________________
Prof. Dr. Dusan Schreiber (Orientador)
_______________________________________
Prof. Dra. Moema Pereira Nunes (Coorientadora)
_______________________________________
Prof. Dr. Serje Schmidt (Banca Examinadora)
_______________________________________
Prof. Dra. Tamara Cecília Karawejcyk (Banca Examinadora)
AGRADECIMENTOS
Agradeço de forma especial à minha família, aos meus amigos, colegas de profissão e
professores orientadores, pelo aprendizado e apoio concedidos durante o processo de
construção do presente estudo.
6
RESUMO
ABSTRACT
The competition in severals economic sectors contributes to the complexity of the current
economic organizations context. The transformations in the society and the increasing
competitiveness indicate for a necessity of adopting new strategic positions by the
organizations for their differentiation. Thus, innovation becomes imperative along robust
knowledge management and ideation structuring processes, which support organizations in
the ability for acquiring and generating knowledge to innovate. From this context, the
objective of this study is to identify how the investigated organization conducts the
knowledge management process focused on innovation. The dimensions of knowledge
management focused on innovation were identified in the literature, and it was allowed to
evaluate the context from the dimensions of the knowledge management process and the
ideation to innovation, analyzing each of its stages as analysis categories. The approached
methodology was a unique case study in a company of the automotive segment and
machinery industry located in Rio Grande do Sul State. Through the case study with
triangular analysis – content analysis of semistructured interviews, statistical analysis of
empirical data obtained from the application of survey research and documentary research – it
was possible to identify the actions focused on knowledge management taken by the
company, to characterize the innovation process in the organization from the ideation until to
the application, and to analyze how the employees of the organization interact with the
knowledge management process focused on innovation. The results contribute to a better
understanding of the knowledge management and innovation process, as well as for the
improvement of management practices aimed at gaining competitiveness and better
organizational performance.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 12
2 GESTÃO DO CONHECIMENTO .......................................................................... 16
2.1 CONHECIMENTO ..................................................................................................... 16
2.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO .............................................................................. 21
2.3 GERAÇÃO DO CONHECIMENTO .......................................................................... 31
2.4 CRIATIVIDADE E IDEAÇÃO .................................................................................. 37
2.5 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO .................................................. 49
2.6 APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO ....................................................................... 54
3 PROCESSOS DE INOVAÇÃO ................................................................................ 60
3.1 INOVAÇÃO ................................................................................................................ 62
3.2 TIPOS DE INOVAÇÃO.............................................................................................. 63
3.3 PROCESSO DE INOVAÇÃO .................................................................................... 68
4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 76
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO PARA O ESTUDO DE CASO ........................ 77
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................................................... 79
4.3 COLETA DE DADOS ................................................................................................ 82
4.4 FORMA DE ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS .............................................. 85
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................................................. 89
5.1 PROCESSO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO .................................................. 90
5.1.1 Geração e aquisição de novo conhecimento ............................................................ 91
5.1.2 Identificação e codificação do conhecimento existente........................................... 94
5.1.3 Armazenamento e recuperação do conhecimento .................................................. 96
5.1.4 Compartilhamento e distribuição do conhecimento ............................................... 97
5.1.5 Exploração e implementação do conhecimento em processos, produtos e serviços
................................................................................................................................... 101
5.2 DA IDEAÇÃO À INOVAÇÃO ................................................................................ 106
5.2.1 Ideação ...................................................................................................................... 106
5.2.2 Seleção de ideias ....................................................................................................... 109
5.2.3 Implementação de ideias ......................................................................................... 112
5.2.4 Processo de inovação ............................................................................................... 114
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 119
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 122
12
1 INTRODUÇÃO
um relatório executivo como trabalho técnico do estudo realizado para sugerir uma forma de
gerir o conhecimento organizacional direcionado para a inovação de produtos e processos.
O estudo justificou-se pela relevância da inovação para as organizações (SILVA
FILHO; SILVA, 2005; PIERACCIANI, 2008; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; DICKEL;
DE MOURA, 2016). Além disto, a teoria aponta o indivíduo como elemento central para a
inovação organizacional (PROBST; RAUB; HOMHARDT, 2002; BES; KOTLER, 2011; DE
SORDI, 2015; ROJAS, 2017;), o conhecimento como elemento estruturante para a inovação
(TEIXEIRA FILHO, 2000; DAVENPORT, MARCHAND; DICKSON, 2000;
DAVENPORT, 2003; TAKEUCHI; NONAKA, 2008; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008;
BESSANT; TIDD, 2009; DICKEL; DE MOURA, 2016) e a ideação como princípio fundante
do conhecimento (NONAKA, 1998; VAN DIJK; VAN DEN ENDE, 2002; JOHNSON, B.,
2005; COOPER; EDGETT, 2008; PIERACCIANI, 2008; TAKEUCHI; NONAKA, 2008;
SCHERER; CARLOMAGNO, 2009; BROWN, 2010; ARBOLEDA-POSADA, 2016).
Além da justificativa da pesquisa para o ambiente acadêmico, o estudo pode ser
considerado relevante também, para a performance organizacional. As interações entre
conhecimentos no âmbito dos sistemas de inovação apontam para a necessidade de estudos
teóricos e empíricos mais aprofundados para verificar como as interações entre
conhecimentos ocorrem e a importância delas no processo de inovação (SCHMITZ et al.,
2015). As organizações que conseguem gerenciar o seu conhecimento e aplicar em seu
negócio, geram bons resultados e performance organizacional (BESSANT; TIDD, 2009;
YUAN et al., 2017). Há evidências claras de que a integração de estratégias e processos de
gestão do conhecimento aumentam a criatividade e performance. Organizações que desejam
melhorar a criatividade e o desempenho precisam se concentrar no envolvimento adequado
dos colaboradores em diferentes processos da gestão do conhecimento (SHAHZAD et al.,
2016). Desta forma, procura-se entender, por meio deste estudo, as interações entre os
indivíduos colaboradores e a empresa para a promoção do conhecimento. A viabilidade desta
pesquisa é realçada pelo valor dado pela empresa Alpha em pesquisas acadêmicas que podem
contribuir para o seu conhecimento organizacional.
Assim, esta pesquisa busca, por meio do estudo de caso único e com análise triangular
– análise de conteúdo de entrevistas semiestruturadas, análise estatística descritiva de dados
empíricos obtidos a partir da aplicação de pesquisa do tipo “survey” e pesquisa documental –,
ilustrar o fenômeno da aplicação do conhecimento para a geração de inovação, de forma a
contribuir para as teorias da gestão do conhecimento e da inovação, por meio do estudo na
empresa Alpha no estado do RS. Esta pesquisa espera contribuir com a organização para
16
2 GESTÃO DO CONHECIMENTO
Este capítulo contempla seis seções, o qual inicia com a seção Conhecimento, a
matéria mais ampla, até a sua especificidade, que é a Aplicação do Conhecimento.
A primeira seção, a do Conhecimento, ilustra o conceito de conhecimento, o
diferenciando de dado e informação e analisando sua origem e formação. A seção Gestão do
Conhecimento explora a gestão do conhecimento como estratégia organizacional para ganho
de performance, a qual abrange as fases de identificação e codificação do conhecimento,
armazenamento e recuperação do conhecimento, compartilhamento e distribuição do
conhecimento e exploração e implementação do conhecimento em processos, produtos e
serviços.
O tópico que se propõe a refletir acerca da Geração do Conhecimento aprofunda os
processos abordados pelas organizações para gerar conhecimento sustentável, ou seja, o
conhecimento acessível e útil. A seção da Criatividade e Ideação é introduzida para conectar a
criatividade ao conhecimento, de forma a conciliar que o conhecimento é gerado unido ao
resultado da criatividade e de boas ideias. O item Compartilhamento de Conhecimento
explana a forma de geração de conhecimento por meio de canais de compartilhamento,
sabendo que a união de conhecimentos diferentes gera mais conhecimento.
O capítulo é concluído com a seção da Aplicação do Conhecimento, que foi construída
com o intuito de pesquisar as orientações e resultados da gestão do conhecimento para aplicar
conhecimento aos processos, produtos e serviços para gerar inovação.
2.1 CONHECIMENTO
O conhecimento tem a sua origem diretamente conectada aos indivíduos, que é criado
a partir da criatividade empregada no processo de interpretação de dados e informações sob o
filtro perceptivo e idiossincrático de cada indivíduo, bem como é construído a partir de
experiências, valores, intuição, insights e expertise. O conhecimento provido do indivíduo e
aliado a uma estratégia pode gerar conhecimento orientado a resultados.
O conhecimento resulta da cognição e habilidade que os indivíduos utilizam para
solucionar problemas e gerar algo novo, desde a teoria até a prática. O conhecimento é
baseado em dados e informações que estão diretamente ligados às pessoas (PROBST; RAUB;
HOMHARDT, 2002, 2002). Conhecimento não é dado nem informação, mas está relacionado
com ambos. Conhecimento é um conjunto formado por experiências, valores, informação de
18
O conhecimento é uma diversidade de vários elementos. Ele reside nas pessoas e faz
parte da complexidade e imprevisibilidade humana. Para que a informação se transforme em
conhecimento, os seres humanos precisam fazer todo o trabalho por meio da comparação
(como as informações da situação atual se comparam a outras situações já conhecidas?),
consequências (quais os impactos destas informações para a tomada de decisão?), conexões
(qual a relação deste conhecimento para o conhecimento já acumulado?) e conversão (o que
as outras pessoas pensam desta informação?) (DAVENPORT; MARCHAND; DICKSON,
2000).
Além de o conhecimento ser um recurso ilimitado, é um ativo que se valoriza com o
uso. Cada vez mais líderes falam do conhecimento como o principal ativo das organizações e
19
O conhecimento tácito pode ainda ser técnico, que engloba habilidades informais e de
difícil detecção e que é adquirido ao longo do tempo pelo aprofundamento e determinada
atividade. Este conhecimento é também conhecido como know-how. Também pode ter
dimensão “cognitiva”, conhecimento consiste de modelos mentais do indivíduo (TAKEUCHI;
NONAKA, 2008).
20
Uma das principais razões pelas quais as empresas fracassam é a sua tendência de
eliminar os paradoxos. Isto ocorre, muitas vezes, por intermédio de métodos usados para
21
Por intermédio deste diagrama, os autores reúnem os determinantes para uma boa
performance organizacional por meio de dois pilares – a gestão do conhecimento e a gestão da
inovação. As variáveis de gerenciamento de conhecimento (F1) medem a capacidade da
organização de usar expertise interna e externa para melhorar seu desempenho. O critério de
pessoas (C1) aborda como a organização atua na gestão de pessoas para melhorar a gestão do
conhecimento. Já o critério de estrutura (C2) mede como a empresa investe e utiliza a
infraestrutura necessária para gestão de conhecimento. Por sua vez, as medidas de critério de
processo (C3) mede se os processos da empresa são focados na gestão do conhecimento
(DICKEL; DE MOURA, 2016).
Nessa mesma lógica, as variáveis da gestão da inovação (F2), por meio da qual os
processos de inovação são identificados, medem a capacidade da organização de direcionar
seus esforços para a inovação, bem como os resultados que obtém com foco nisso. Critérios
de alinhamento organizacional foram levantados (C4) neste fator, cuja função é medir se a
organização possui sua estratégia alinhada aos objetivos de inovação; o apoio e os recursos
28
1
Um contexto compartilhado em movimento, no qual o conhecimento é partilhado, criado e utilizado
(TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
29
de inovação da empresa (FAN, 2017). Por tal motivo, existe a importância de avaliar e
entender a posição do conhecimento nas organizações para a implementação das práticas de
gestão do conhecimento e os resultados que elas podem ter na geração de ideias novas e úteis,
elementos fundamentais para a sobrevivência e obtenção de vantagens competitiva
(ECHEVERRI; LOZADA; ARIAS, 2018).
Uma pesquisa com especialistas em gestão do conhecimento mostrou que, no
ambiente de negócios, a organização baseada em conhecimento é sustentável, ou seja,
documentado, disponível, utilizável e atualizado, quando suportada por gestores de diretrizes
de inovação, e que estas organizações podem ser descritas como uma entidade econômica que
se concentra em maximizar seu valor de mercado a curto, médio e longo prazo com
conhecimento, questões econômicas, sociais e ambientais (LEON, 2018).
Organizações buscam a gestão do conhecimento como estratégia para a inovação. A
gestão do conhecimento promove cinco princípios que contribuem para o conhecimento se
tornar bem aplicado, produtivo e aplicado em inovação:
2
Obra narrativa criada por derivação, originada a partir de uma ou mais obras já existentes.
34
das demais é dar aos pesquisadores a liberdade de explorar ideias sem as limitações impostas
pela preocupação com lucros e prazos.
Takeuchi e Nonaka (2008) afirmam que a conversão do conhecimento tácito em
explícito é um mecanismo fundamental subjacente entre conhecimento individual e
organizacional, pois todo o conhecimento origina-se de um indivíduo, e que este, por meio de
diálogo, discussão, troca de experiência e observação, permite que o conhecimento seja
ampliado ao nível grupal e organizacional. Além disto, a criação de conhecimento na empresa
deriva da reunião de pessoas com experiências e conhecimentos diferentes, criando um caos
criativo.
Uma organização cria e utiliza conhecimento convertendo o conhecimento tácito em
conhecimento explícito, e vice-versa. Neste âmbito, identificam-se quatro modos de
conversão de conhecimento nas organizações: socialização (de tácito para tácito),
externalização (de tácito para explícito), combinação (de explícito para explícito) e
internalização (de explícito para tácito) (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
A socialização compartilha e cria conhecimento tácito por meio de experiência direta e
ocorre de indivíduo para indivíduo. A externalização articula conhecimento tácito por meio do
diálogo e da reflexão e ocorre do indivíduo para grupo. A combinação sistematiza e aplica o
conhecimento explícito e a informação, sendo do grupo para a organização. A internalização
permite o aprendizado e aquisição de novo conhecimento tácito na prática, ocorrendo da
organização para o indivíduo (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
Na Figura 4, Takeuchi e Nonaka (2008, p. 24) sintetizam o processo SECI, que
significa Socialização, Externalização, Combinação e Internalização, “[...] o que impulsiona
esse processo de amplificação do conhecimento é a interação contínua, dinâmica e simultânea
entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. A síntese do conhecimento tácito e
do conhecimento explícito cria novo conhecimento”.
35
A ideação ou o fato de gerar ideia tem como matéria prima a criatividade. No entanto,
a criatividade sem conhecimento não evolui. A criatividade e o conhecimento são uma
combinação poderosa, consagrando “[...] capacidades de representar, alocar e controlar o
conhecimento associado às tecnologias, a fim de promover a colaboração entre diferentes
disciplinas e perspectivas” (KAO, 1997, p. 9). A criatividade é originada de um processo
social relacionado à informação e ao conhecimento, que por sua vez gera inovação (GALUK
et al., 2016).
Amabile (1998) destaca três elementos como itens basilares na criatividade: expertise,
raciocínio criativo e motivação. Para introduzir a criatividade ao contexto do conhecimento,
Kao (1997, p. 18) afirma que:
especificamente em ideias direcionadas a temas estratégicos. Eles podem buscar ideias para
inovações e melhorias em geral. As empresas destacam o grau de criatividade, inovação e
fundamentação técnica da proposta para a avaliação das ideias coletadas, bem como a
percepção de benefícios para a empresa, mesmo que não sejam mensuráveis (QUANDT et al.,
2014).
A partir de uma dimensão epistemológica e ontológica da criação do conhecimento,
Takeuchi e Nonaka (2008) destacam o movimento do eixo vertical e horizontal no modelo
espiral da criação do conhecimento organizacional, conforme a Figura 5. A dimensão
epistemológica representa o eixo vertical e a transferência do conhecimento tácito em
conhecimento explícito, e a dimensão ontológica o eixo horizontal, no qual o conhecimento
criado pelos indivíduos é transformado em conhecimentos nos níveis de grupo e
organizacional.
O movimento dos eixos horizontais e verticais não são independentes um do outro,
mas interagem de forma iterativa e contínua. É neste processo de trocas de um eixo para outro
que ocorre a criação do conhecimento. O nível epistemológico eleva-se na direção vertical,
enquanto que o nível ontológico se move à esquerda e à direita, em um movimento cíclico. É
nesta dinâmica que a inovação emerge (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
conhecimento deve criar um ambiente propício à efetivação desse processo. Para isso, dentre
facilitadores e barreiras, é necessário: oferecer uma estrutura de trabalho que abasteça seus
colaboradores com o conhecimento necessário; qualificar e diversificar a base de
conhecimento organizacional; criar uma cultura cooperativa que favoreça o trabalho em
equipe e ofereça as oportunidades para os indivíduos trocarem e recombinarem
conhecimentos.
As barreiras encontradas são: fragilidade da justificação social, isolamento de grupos,
hierarquia excessiva, ênfase excessiva em normas e regras, custos de oportunidade, criação de
conhecimentos não utilizados, alta depreciação dos conhecimentos criados, rotatividade,
clima excessivamente competitivo, ambiente ameaçador, punição por fracassos e medo de
julgamento, falta de tempo, capacidade de absorção/incorporação, falta de engajamento/
envolvimento, sobrecarga de informações e distância espacial (SORDI; CUNHA;
NAKAYAMA, 2017). Fraquezas também são percebidas na capacidade de gerenciar o
conhecimento ao ver a falta de capacitação do sujeito para promover o desenvolvimento de
novas ideias e torná-las inovações de serviços ou processos e conhecimento institucional
(ARBOLEDA-POSADA, 2016).
A partir da revisão da literatura sobre ideação, identificou-se uma falta de consenso
entre os autores sobre o significado dos termos geração de ideias, ideação e gerenciamento de
ideias. A pesquisa de Dorow et al. (2015) esclareceu os conceitos com foco nesses três termos
para facilitar a pesquisa acadêmica e a gestão, concluindo que tanto a ideação quanto a
geração de ideias relacionam-se com processo de geração de novas ideias, e que para auxiliar
esse processo, algumas técnicas de criatividade podem ser usadas. Já a gestão de ideias
compreende o processo de inovação, com um caráter mais amplo de gerar, engajar, e
selecionar as ideias. Contudo, o termo ideias é usado em toda a organização, não apenas no
processo de inovação.
A primeira fase do processo de inovação, a ideação, consiste na captação de ideias
advindas tanto do interior como do exterior da empresa. Como as ideias são a matéria-prima
da inovação, deve-se estimular constantemente a alimentação de novas ideias (SCHERER;
CARLOMAGNO, 2009). Para avaliar como está a fonte da inovação das empresas, aponta-se
um diagnóstico inicial de perguntas que avalia a fase inicial, a ideação: Onde nascem as ideias
para a inovação na sua empresa? Que etapas se sucedem até que isso vire um negócio ou um
resultado de inovação? Quem, como e onde faz o quê? Seria possível mapear os processos de
inovação na sua empresa? Situar as fontes de ideias e mudanças? (PIERACCIANI, 2008).
44
Criar cultura de inovação não é uma tarefa fácil. Somente a criatividade não gera a
inovação. Não basta ter uma ideia, ela precisa ser nova e valiosa para uma sociedade e
também potencial para ser realizada. A criatividade realmente ocorre quando as pessoas agem
de acordo com o ambiente ao redor e dentro da sociedade. A sociedade é que define se a ideia
é nova e valiosa. Caso contrário, seria impossível determinar se as ideias de uma pessoa são
inovadoras se elas nunca foram vistas, usadas ou avaliadas (JOHANSSON, 2008). Inovação é
valor percebido (BROWN, 2010).
Há ferramentas que auxiliam na geração de ideias, contudo, para estabelecer um fluxo
adequado, a organização precisa desenvolver determinados atributos que incentivem as
pessoas a darem a sua colaboração. Uma estratégia organizacional que valorize a inovação,
uma cultura inovadora, uma estrutura apropriada, líderes que incentivem a criatividade e a
participação, forma um contexto organizacional com capacidade de gerar boas ideias
(COOPER; EDGETT, 2008; PIERACCIANI, 2008).
A interseção por meio de áreas multidisciplinares é boa para a geração de ideias, no
entanto somente isso não fará uma empresa inovar. É preciso estimular e ouvir muito. Fala-se
constantemente de inovação como revolução ou quebra de paradigma, mas na rotina,
empresas acabam aplicando uma forma mais direcional de ideação, resultando em
refinamentos e ajustes em processos e produtos (JOHANSSON, 2008). Para Brown (2010), é
necessária uma abordagem à inovação poderosa, eficaz e amplamente acessível, que possa ser
integrada a todos os aspectos dos negócios e da sociedade e que indivíduos e equipes possam
gerar ideias com implementação e que façam a diferença.
McKinney (2012, p. 61) afirma que a “[...] criatividade é um trabalho árduo”. As
pessoas imaginam que as ideias surgem facilmente e somente para aquelas pessoas com
capacidade criativa. Os profissionais que trabalham com a criatividade também esboçam e
rejeitam ideias. Para negócios e produtos ocorre da mesma forma (MCKINNEY, 2012).
Para Brown (2010), há ponto de partida e pontos de referência úteis ao longo do
caminho da solução de problemas com criatividade. A inovação pode ser vista mais como um
sistema de espaços que se sobrepõe do que uma sequência de processos ordenados. Assim, o
autor denomina três espaços da inovação – inspiração, ideação e implementação. Brown
(2010, p. 16) aponta que “[...] os projetos podem percorrer esses espaços mais de uma vez à
medida que a equipe lapida suas ideias e explora novos direcionamentos”.
No início da fase de geração de ideias, a quantidade de ideias é mais importante do
que a qualidade, uma vez que a etapa seguinte permitirá o aprimoramento e a seleção das
ideias mais promissoras. A junção das informações coletadas externamente à empresa ao
47
A pesquisa The Global CEO Study, realizada pela IBM em 2006 e publicada por Bes e
Kotler (2011) aponta que, de acordo com os CEOs entrevistados, as três principais fontes de
inovação são funcionários, parceiros e clientes – a entrevista havia três opções de escolha.
Contudo, as demais fontes mencionadas também podem ser importantes para otimizar seus
resultados em inovação. Os resultados da pesquisa com as principais fontes de inovações são
apresentados na Figura 7, abaixo:
O cenário altera para pequenas empresas, pois estas, por terem um quadro de
funcionários menor, se torna mais dependente dos agentes externos, sendo os consumidores
50% da fonte de ideias, seguido por 18% de marketing e vendas, e 11% dos funcionários
(SCHERER; CARLOMAGNO, 2009).
Para a geração de ideias instantâneas, ao longo de muitos anos a principal maneira foi
a “caixinha de sugestões”. Atualmente, as empresas contam com uma estrutura mais
informatizada para armazenar, organizar e disponibilizar as ideias, podendo assim, ser um
bom método para auxiliar a gerar ainda mais ideias. Já o processo de geração de ideias por
indução utiliza de técnicas específicas, que são utilizadas para fomentar a criatividade, como
sessões de “brainstorming”, análise de lista de atributos, engenharia reversa e a construção de
mapas mentais, estes são alguns exemplos que auxiliam na geração de ideias. Aliada a estas
ferramentas deve-se abordar temáticas específicas de inovação que estejam conectadas a
estratégia da empresa, como, por exemplo, redução de custos, aumento da experiência de
49
Fonte: Adaptado pela autora (2019) Van Dijk e Van den Ende (2002).
50
como as pessoas pensam sobre a adoção e o uso da tecnologia, como usam redes sociais e
outras plataformas virtuais para compartilhar e disseminar informações e dados, e como esses
dados podem ser usados para um bem maior (WETTEMANN, 2015).
Explorar também significa identificar as lacunas de conhecimento e as capacidades
dos indivíduos para enfrentar as incertezas relacionadas a ações de inovação, exigindo mais
ênfase na capacidade em lidar com o desconhecido. A exploração exige participantes com
pontos de vista heterogêneos, ao usar artefatos (simbólicos ou materiais) que permitam uma
representação da realidade, mas ao mesmo tempo mantendo uma distância dela, oferecendo
aos participantes a oportunidade de adaptar artefatos durante o processo. Os artefatos devem
permanecer abertos e flexíveis (por exemplo, permitindo a redefinição de critérios de
desempenho da organização), a fim de ajudar as pessoas a pensarem "fora da caixa" em
diferentes níveis ou em diferentes aspectos (BERTHET et al., 2016).
A transferência de conhecimento é facilmente executada mediante a utilização de
ferramentas ágeis e de fácil uso. Frente a uma pesquisa sobre a utilização de dispositivos
móveis para a geração de ideias, soluções de problemas e compartilhamento de informações,
foi identificado que uma interface bem projetada pode facilitar a utilização desses dispositivos
pelos funcionários e por consequência gerar conhecimento. Na prática, quando os
funcionários utilizam equipamentos móveis, mais pontos de contato são criados com os
clientes, produtos e serviços, gerando mais informação, conhecimento e, por consequência,
possibilitado gerar ideias, melhorias e inovação (YUAN et al., 2017).
A conexão e conversão de conhecimento podem acontecer a partir de diferentes partes
de uma organização por meio de processos de conversão de dados e informações em
conhecimento, conversão de texto em conhecimento, conversão de conhecimento individual
em conhecimento de grupo, conexão de pessoas com conhecimento, conexão de pessoas com
pessoas e conexão de conhecimento com conhecimento. Estes processos são sustentados por
comunidades práticas que são um grupo de pessoas ligadas por tarefas compartilhadas,
processos ou pela necessidade de resolver um problema, não estando ligadas por
relacionamentos estruturais formais ou funcionais (BESSANT; TIDD, 2009). Bessant e Tidd
(2009) destacam formas de compartilhamento e distribuição de conhecimento nas
organizações:
a) variedades de conhecimento;
b) profundidade de conhecimento;
c) fonte de conhecimento interna e externa;
d) avaliação do conhecimento e conscientização de competências;
e) práticas de gestão do conhecimento, capacidade de identificar, compartilhar e
adquirir conhecimento;
53
pensamentos não apenas verbalmente, mas também visual e fisicamente” (BROWN, 2010, p.
29).
Além da conversa e dos meios de tecnologia e redes, a troca de conhecimento pode se
dar por: workshops, treinamentos, relatórios técnicos, licenças de terceiros, produção, feiras,
fóruns e intercâmbio de funcionários entre unidades (DAVENPORT, 2003). As empresas que
focam na aprendizagem e valorização do comportamento inovador e de troca de
conhecimento de seus colaboradores juntam esforços para absorver e internalizar o
conhecimento externo. Desta forma, apoiadas por mecanismos que promovam a disseminação
e o compartilhamento interno do conhecimento, as empresas obtêm resultados efetivos de
inovação que contribuem para o desempenho dos negócios (QUANDT et al., 2014).
A organização é um ambiente propício para geração do conhecimento, pois é um
ambiente com grande interação entre pessoas. As organizações conseguem gerar, adquirir,
explorar, compartilhar e conectar conhecimento de diversas formas. Além disto, a
organização, com uma gestão que promova o aprendizado organizacional, possibilita a
abertura para geração de ideias e compartilhamento de conhecimento. O conhecimento
acessível e útil é um ativo estratégico para as organizações atingirem os objetivos congruentes
entre o indivíduo e a organização.
3 PROCESSOS DE INOVAÇÃO
atingir bons resultados com a inovação de forma consistente e contínua, inovando de forma
cíclica.
3.1 INOVAÇÃO
1. A inovação deve ser um processo contínuo. A inovação não é geração de ideias sem
uma estratégia de implementação e valorização concebida. Inovar significa buscar o
crescimento com criatividade, persistência, gestão e risco;
2. A inovação dever ser um processo gerenciado, tendo seu início na criatividade, com
processo estruturado, definições de estratégia, de avaliação de ideias e de gestão de
projetos e resultados, e;
3. A indução à inovação e a gestão da inovação deve ser feita por métodos e ferramentas
específicas. Não se pode esperar apenas por um espasmo criativo (SCHERER;
CARLOMAGNO, 2009).
• 1P – Inovação de produto, que indica mudanças nas coisas (produtos e serviços) que
uma empresa oferece;
• 2P – Inovação de processo, que é a mudança da forma onde os produtos e serviços são
criados e entregues;
• 3P – Inovação de posição, que aponta mudanças no contexto onde produtos e serviços
são introduzidos; e,
• 4P – Inovação de paradigma, que são mudanças nos modelos mentais subjacentes que
orientam o que a empresa faz (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).
carro totalmente novo não tem a mesma complexidade. Por meio dos tipos de inovação
definidos, pode-se inovar por meio de níveis mais ou menos agressivos. Segundo Schumpeter
(1934), há as inovações radicais e incrementais. Inovações radicais geram rupturas mais
intensas onde inovam, enquanto inovações incrementais dão continuidade ao processo de
mudança.
A inovação é conceituada com melhorias incrementais menores até mudanças
realmente radicais, que transforma a forma como são vistas ou utilizadas as coisas (TIDD;
BESSANT; PAVITT, 2008). Assim, a Figura 9 ilustra as dimensões da inovação para elucidar
a inovação incremental e radical nos níveis de componente e de sistema.
Todavia, a inovação descontínua sai destas regras usuais, deslocando-se do padrão, criando
novas regras e com desafios maiores. Esta é a teoria central de Schumpeter, quando o
pensador apresenta a “destruição criativa”. Segundo ele, os empresários procurarão fazer uso
de inovação tecnológica – um novo produto/serviço ou um novo processo para produzi-lo – a
fim de obter vantagem estratégica. Ele menciona que, por certo tempo, esse será o único
exemplo de inovação, e o empresário pode esperar ganhar um bom dinheiro com ele. Mas,
obviamente, outros empresários verão o que foi feito e tentarão imitá-lo, disso resultando que
outras inovações surgirão e o aumento de novas ideias reduzirá os lucros de monopólio até
que um novo equilíbrio seja alcançado (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).
A maior inspiração para a descontinuidade é o surgimento de um novo mercado ou de
uma nova tecnologia. A Figura 10 elucida as iniciativas de inovação, que quando mapeadas
pelas organizações por um eixo vertical, representado pelas ofertas existentes a ofertas novas,
e um eixo horizontal, representado pelos usuários existentes a usuários novos, obtém-se uma
boa visão do equilíbrio e de suas iniciativas (BROWN, 2010).
Segundo Brown (2010, p. 152), “[...] além dos projetos incrementais que garantem a
base de uma empresa, é vital investir em projetos evolucionários que expandam essa base a
novas direções” (1º quadrante). Esta ação mais empreendedora pode ser atingida ao estender
as ofertas existentes para satisfazer as necessidades não atendidas de clientes atuais (1º
quadrante) ou adaptando-as para satisfazer as necessidades de novos clientes ou mercados (4º
quadrante). Já a inovação mais desafiadora consiste em criar quando a oferta e o usuário são
novos. Uma inovação revolucionária cria mercados totalmente novos (2º quadrante).
mercado. Esta fase não é uma ação isolada, a qual compreende outras quatro fases: aquisição,
execução, lançamento e sustentabilidade (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).
Pieracciani (2008) descreve o fluxo geral das ideias nas empresas, de forma que este
fluxo se origina da geração de ideias e termina em implementações. Para Pieracciani (2008, p.
11), “[...] os meios para inovar não são apenas criatividade exacerbada”, pois a inovação é
composta também por processos estruturados, com indicadores de desempenho estabelecidos
para gestão consistente da inovação. Segundo a análise do autor a inovação é composta por
10% criatividade, 20% organização e 70% realização.
74
4 METODOLOGIA
A empresa Alpha, objeto deste estudo de caso único, tem este nome fictício para
proteger e não expor a companhia. A empresa Alpha, uma empresa multinacional do
segmento automobilístico, tem presença global, atuando na América do Norte, América do
Sul, Europa, Oriente Médio, Ásia-Pacífico e África. Na América do Sul, a maior
administração está localizada no Brasil, com fábricas presentes em diversos Estados. No
entanto, a unidade federativa com a maior planta industrial em área construída, produção e
com maior número de funcionários está localizada no Rio Grande do Sul (RS).
A Alpha possui em torno de 3 mil funcionários no Brasil. A fábrica do Rio Grande do
Sul é a maior do Brasil em números de funcionários, representando 39,50% em relação às
demais filiais. Os números de funcionários foram consultados em 19 de novembro de 2018.
Sendo a fábrica do Rio Grande do Sul a que possui maior representatividade, foi definida
como foco deste estudo.
O plano de carreira da companhia está distribuído em cargos estratégicos e táticos. Os
cargos estratégicos são supervisor, gerente, diretor e vice-presidente, e os cargos táticos são
assistente, analista júnior, pleno e sênior, e especialista, assim em ordem do menor nível ao
maior nível. Como requisito de padronização da empresa, exige-se graduação completa para
cargos de analista júnior para cima.
O processo de escolha do objeto de estudo ocorreu a partir dos critérios de
acessibilidade e conveniência, e pela empresa dirigir iniciativas de inovação nacionais e
internacionais, como é possível interpretar com base na revisão teórica sobre o tema. Segundo
Yin (2005), o estudo de caso é ideal quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
79
“ideação” por “geração de ideias” e “organização” por “empresa”. A sugestão foi acatada
antes da coleta de dados. A validade externa da pesquisa por generalização dos resultados não
será possível, sendo realizada somente por meio de percurso metodológico.
O critério de confiabilidade é replicado ao estudo, seguindo o método, mas sem
garantia de obtenção dos mesmos resultados, devido a especificidades organizacionais.
Assim, a confiabilidade é atendida pelas validações previamente realizadas no percurso
metodológico, com respaldo em autores revisados que versam sobre metodologia. O Quadro 4
apresenta os critérios de validade abordados.
tático; 4) Descrição dos objetivos específicos a ser atendido para cada pergunta. Contudo,
somente o item 3 foi realizado após a análise do conteúdo coletado com as entrevistas. O
Quadro 5 apresenta, de forma resumida, a base para a construção dos instrumentos.
A coleta de dados foi realizada por meio de cinco entrevistas, um questionário e coleta
documental. Optou-se por realizar as entrevistas semiestruturadas, de forma presencial, com
cinco funcionários de cargos de nível estratégico e com áudio gravado para posterior
transcrição e análise. Cooper e Schindler (2011) confirmam que a entrevista é uma técnica
básica na coleta de dados em pesquisa qualitativa. A análise dos dados coletados estuda
motivações, atitudes, valores, tendências e crenças, “[...] desvenda ideologias que podem
existir em dispositivos legais, princípios, diretrizes entre outros” (TRIVIÑOS, 1987, p.160).
O Quadro 7 apresenta os entrevistados sem a divulgação dos nomes e por ondem de data da
entrevista, do primeiro ao quinto entrevistado.
Quadro 7 – Entrevistados
Entrevistado Cargo Função Departamento
E1 Gerente Gerente de Projetos Projetos
E2 Vice Presidente VP de Finanças Finanças
E3 Diretor Diretor de Marketing Marketing
E4 Diretor Diretor de Novos Produtos Engenharia
E5 Gerente Gerente de Comunicação Recursos Humanos
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
os processos, produtos e serviços, dentro do escopo da sua área ou em qualquer outro setor da
empresa, criando novas práticas, produtos ou serviços. Esta iniciativa motiva os funcionários
a terem ideias, oferecendo 15% sobre o valor da economia prevista e comprovada em até 12
meses por meio de pagamento ao funcionário, limitando-se a um certo valor por grupo. Cada
ideia deve ter no mínimo quatro participantes e no máximo seis, e elas são registradas por
meio de fichas em papel físico mediante assinatura do gestor.
Todos os funcionários da Alpha podem participar do programa de ideias, com exceção
de cargos estratégicos (vice-presidentes, diretores, gerentes, supervisores) e terceiros e
estagiários. O programa também não permite registrar uma ideia que é de responsabilidade da
função do funcionário participante, incentivando ver processos fora de sua área de escopo
com visão multidisciplinar.
As ideias registradas da organização estão disponiveis na intranet na seção “Programa
de ideias”. Para avaliar se houve ideias com participação multidisciplinar, ou seja, mais de
uma área envolvida, registradas nos últimos cinco anos (de 2013 a 2018), foi consultado os
registros da sede da Alpha no RS em 24 de novembro de 2018. As ideias estão registradas em
planilha Excel e possui 54.731 ideias registradas de 01 de janeiro de 2008 até 31 de outubro
2018, sendo 36.325 ideias de 01 de janeiro de 2013 até 31 de outubro 2018.
O Quadro 8 apresenta a análise documental dos registros das ideias, por meio do qual
foi verificada uma média de 12% de ideias de grupos multidisciplinares registradas. E quanto
a categoria da ideia, identificou-se que 99,5% são ideias direcionadas para melhorias de
processos e 0,5% são ideias focadas para o produto.
Ao aplicar a Lei de Pareto 3 para verificar em quais áreas estavam concentradas 80%
dos resultados, identificou-se que 80% das ideias estavam diretamente ligadas com a
manufatura/linhas de montagem, o que apresenta a falta de interação das áreas administrativas
na iniciativa. Entretanto, foi identificada a geração de ideias em grupos multidisciplinares,
funcionários de diferentes áreas e conhecimentos, oportunizando pesquisar a motivação da
geração das ideias nestes grupos na organização investigada.
Desta forma, a mistura de disciplinas foi mantida para esta pesquisa e foram
selecionadas áreas pilares da sede da Alpha no RS: Financeiro, Recursos Humanos,
Tecnologia da Informação, Engenharia, Qualidade, Vendas, Compras e Manufatura. O estudo
não especificou apenas uma área da organização para aplicação dos instrumentos
metodológicos, pois o estudo analisou a gestão do conhecimento e o processo de inovação em
um ambiente organizacional, onde possibilita as ideias nascerem de diferentes disciplinas e
perspectivas, o caos criativo, a valorização das ideias inesperadas e o benefício da interação
entre os indivíduos colaboradores.
A área de P&D não será envolvida nas aplicações das entrevistas e questionários visto
que sua administração é global e não tem sua base no RS. A área que tem intermédio próximo
com P&D é a área de Engenharia, Desenvolvimento de Novos Produtos e Marketing, que está
contemplada nas entrevistas e questionários.
Ao concluir a descrição de como os instrumentos metodológicos foram aplicados, a
seguir, será descrita a forma como os dados coletados por meio dos instrumentos
metodológicos foram analisados.
O método utilizado para a análise dos resultados foi análise de conteúdo para a
pesquisa qualitativa com o instrumento de coleta roteiro de entrevista, análise estatística
descritiva para a pesquisa quantitativa com o instrumento de coleta questionário (“survey”) e
pesquisa documental. A análise dos resultados foi realizada de forma triangular com os três
métodos indicados, a fim de atingir os objetivos específicos deste estudo de identificar quais
são as ações realizadas pela empresa com foco na gestão do conhecimento, caracterizar o
processo de inovação na organização desde a ideação até a sua aplicação e analisar como os
3
A Lei de Pareto, nascida dentro da economia, quando levada para o campo pessoal, adverte que 80% dos
resultados que se alcança é consequência de apenas 20% dos esforços empregados (KOCH, 2000).
87
A seguir, nas próximas seções, será apresentada a análise dos resultados da pesquisa.
Esta se encontra separada por dimensões: processo de gestão do conhecimento e processo de
inovação da ideação à inovação, e categorias de análise.
Para identificar as ações realizadas pela empresa com foco na gestão do conhecimento
foram analisadas cinco categorias de análise, que abrangem cada etapa da gestão do
conhecimento e que foram definidas com base no referencial teórico: 1) Gerar e adquirir novo
conhecimento; 2) Identificar e codificar o conhecimento existente; 3) Armazenar e recuperar
conhecimento; 4) Compartilhar e distribuir conhecimento na organização; 5) Explorar e
implementar conhecimento em processo, produtos e serviços.
A empresa cresce por aquisição. Então ela compra tecnologia e inovação, não é de
forma orgânica. Se preciso melhorar nesse segmento, vou procurar expertise para
atender isto [...]. Então temos o auxílio formal de uma consultoria que está nos
perguntando como a gente pode fazer diferente. Como a gente faz alguns processos,
como a gente lida com alguns clientes e como a gente implementa algumas coisas
novas.
Aquelas pessoas que estão iniciando dentro da cia, que estão iniciando as suas
carreiras, poderem participar de projetos. A participação em projetos acho que é bem
interessante e que vem acontecendo muito dentro da companhia. A Alpha4 é uma
empresa que está em constante mudança, em constante transformação, então há
muitos projetos!
4
Alteração realizada visando manutenção do sigilo do nome da empresa.
93
“A Alpha é uma empresa muito aberta com as pessoas e estimula muito a criatividade
através destas ideias e de projetos. Os projetos oportunizam reunir as pessoas diferentes para
ouvirem suas ideias e planejá-las”. O E1 destacou a frequência de novos projetos na empresa,
o que gera oportunidades e a reunião de diversos colaboradores para interagir, gerar ideias e
planejar a implementação.
“Então, por exemplo, na próxima semana tem feira, a gente tem uma task bem clara
ao fazer o tour na feira, visitar a concorrência, analisar, a gente vai voltar com estas
informações vai discutir e isso sempre tem impacto no nosso road map de produtos”. O E5
destacou a importância e influência das informações das feiras de negócio nas decisões de
novos produtos que se concretizam em conhecimento organizacional.
Para esta categoria, foram analisadas as perguntas 3 e 6 do questionário respondido
pelos colaboradores de nível tático, o qual representa a perspectiva do indivíduo.
Considerando as respostas para estas perguntas foi percebido que há um canal interno de
geração de conhecimento por meio do registro de ideias, um programa lembrado pelos
colaboradores, pois 35% concordam parcialmente e 48% concordam totalmente que a
empresa estimula a geração de ideias por meio de programas de incentivo, como o Programa
de Ideias, por exemplo, o qual registra ideias e os envolvidos recebem benefícios financeiros
quando a ideia é implementada e incorporada pela empresa.
A geração e aquisição de conhecimento por meio de treinamentos foi outra forma de
geração de conhecimento percebida pelos indivíduos colaboradores. Os treinamentos são
vistos como forma de gerar e adquirir conhecimento. Conforme apresenta o Quadro 11, 48%
dos colaboradores concordam parcialmente de que a empresa fornece conhecimento por meio
de treinamentos – internos ou externos – para auxiliar nas rotinas de trabalho. Contudo, há
uma fatia de 23% dos colabores que discordam parcialmente desta afirmação, atingindo uma
média de 3,45 (entre indiferente e concordam parcialmente) e também atingindo um desvio
padrão significativo.
Nas entrevistas, foram mencionadas mais de uma vez as feiras de negócios. Por meio
da pesquisa documental, investigou-se que há um calendário de feiras de produtos e
tecnologias que é rigorosamente seguido e que os colaboradores utilizam para pesquisa e
desenvolvimento. Até mesmo feiras internas já foram organizadas dentro da empresa, onde
nelas haviam espaços para registrar ideias que utilizassem as tecnologias apresentadas, e o
responsável pela ideia implementada ganhava prêmios. Além disto, foram registrados
workshops internos com profissionais terceiros e internos, e o programa interno de educação,
que organiza e planeja treinamentos presenciais e on-line.
Segundo Davenport (2003), a maneira mais direta de se adquirir conhecimento é por
meio da aquisição de uma empresa ou contratação de indivíduos que o possuem, como as
consultorias e experts para treinamentos. Criar unidades ou grupos para determinada
finalidade (como projetos e departamento de P&D) também é uma alternativa de gerar
conhecimento com direcionamento e foco para atender as demandas do negócio. Além disto, a
gestão do conhecimento nas organizações promove a geração de ideias novas e úteis,
reconhecendo que a implementação de práticas concretas estimula o ambiente organizacional,
fornece recursos e desenvolve processos que promovem a criatividade e facilitam o processo
de inovação (ECHEVERRI; LOZADA; ARIAS, 2018). As consultorias, os treinamentos e o
incentivo para ideias foram mencionados na pesquisa.
Takeuchi e Nonaka (2008) afirmam que a conversão do conhecimento tácito em
explicito é um mecanismo fundamental subjacente entre conhecimento individual e
organizacional, pois todo o conhecimento origina-se de um indivíduo. Este, por meio de
diálogo, discussão, troca de experiência e observação, permite que o conhecimento seja
ampliado ao nível grupal e organizacional.
Assim, é percebido que a geração do conhecimento ocorre na interação entre
indivíduos colaboradores, podendo ser na conexão de ideias ou conhecimentos diferentes,
gerando novos conhecimentos. Os ativos do conhecimento aumentam com o seu uso, ideias
geram novas ideias e o conhecimento, quando compartilhado, gera mais conhecimento,
enriquecido pelo recebedor (DAVENPORT 2003). Parcerias com universidades e instituições
de pesquisas também são consideradas estratégias valiosas para a criação e circulação de
novos conhecimentos (SILVA FILHO; SILVA, 2005).
Desta forma, foi identificado que a empresa investigada realiza as seguintes ações para
gerar e adquirir conhecimento: por aquisições de novas tecnologias, por aquisições de
empresas/marcas, contratação de consultorias; workshops internos para apresentar novos
95
Todas estas entregas e esses gates está em uma estrutura global, o sistema fica no
Share Point, e todas as informações estão lá seguras, para todos avaliarem e
acessarem, e há restrição para acesso, quem pode acessar ou não [...]. E depois que o
produto amadurece mais, a gente faz a voz do cliente, oficinas, questionários de
avaliação, antes de passar para a próxima fase [...]. E registra as lições aprendidas e
um formulário template e com ações (E4).
“Então falando mais de infraestrutura, temos as nossas pastas na rede, o servidor que
está compartilhado, nos próprios sistemas que a gente utiliza tem histórico, tem informação”.
O E5 também afirmou que há armazenamento de conhecimento codificado dentro da
organização e histórico de informações registradas e acessíveis para análises.
A forma de armazenar e recuperar conhecimento apontada pela empresa é o
arquivamento dos documentos do conhecimento dos processos em locais disponibilizados
pela empresa, nos diretórios de redes administrados pelas áreas e com controle de acesso e a
intranet, quando o conhecimento deve ser visto por todos da organização. Além disto, tem os
sistemas que compõe uma grande massa de informações de um longo espaço de tempo, os
quais podem ser analisados, recuperados e transformados em conhecimento. E existe a prática
de “job rotation” (rotação de colaboradores entre as áreas, em Inglês) em algumas áreas, na
qual são trocadas pessoas entre áreas, oportunizando armazenagem de conhecimento de uma
área e podendo ser recuperada em outra diferente por meio dos colaboradores e processos de
trabalho.
Ao questionar sobre o acesso fácil às políticas, procedimentos e instruções de trabalho
da empresa, foi observado que os colaboradores de nível tático concordam parcial com esta
afirmação; 55% concordam parcialmente e 29% concordam totalmente. Assim, é analisado
que há armazenamento de conhecimento em local adequado, o qual também é possível de ser
recuperado quando preciso.
A preocupação da alta gerencia é percebida na tarefa de realizar a gestão do
conhecimento com o armazenamento adequado do conhecimento formal, o qual está presente
em normas, procedimentos e instruções de trabalho (BESSI et al., 2017). A base de dados e
redes de trabalho das organizações auxilia no armazenamento, recuperação e
compartilhamento de dados e informações (BESSANT; TIDD, 2009).
Assim, foi identificado que a empresa Alpha realiza as seguintes ações para armazenar
e recuperar conhecimento: arquivo de documentos na rede na companhia com acessos
compartilhados, ou se necessário, restrito a um determinado grupo; conhecimento registrado
por meio do canal Intranet; portal interno por meio da Intranet para acessar todos os arquivos
passados; arquivo em diretório da rede de lições aprendidas de projetos anteriores;
compartilhamento de recurso entre as áreas; “job rotation” (rotação de colaboradores entre as
áreas); e, históricos de registros de informações informatizadas em sistemas.
O E2 afirmou que:
Bom, nós temos aqui até algumas trocas daqui para aqui, outras reuniões que
acontecem, ou através de workshop, ou reunião de trabalho [...]. A gente já fez uma
renovação grande no marketing também de job rotation com a área de produto,
então isto de certo modo estimula ainda mais a visão (E3).
A grande sacada de inovação e que a Alpha tem feito alguns movimentos e colocar
todo mundo em uma mesa redonda, promove momentos em círculo, quebrando as
hierarquias, e se todos tiverem espaço de fala se atinge a inteligência coletiva e
acessar o mundo lá fora. Seja onde for, consegue colocar no jogo junto e todo
mundo cresce. É esse o movimento de desapegar, de desprender e sair da caixa.
média mediana 4 e uma média maior que 3,5, concluindo concordância parcial para o
compartilhamento de conhecimento na empresa por parte dos indivíduos.
funcionais (BESSANT; TIDD, 2009). Assim, esta afirmação relaciona-se com os projetos
com pessoas de conhecimentos diversos e a rotação de recursos de uma área para outra, de um
processo para o outro.
Espaços mais abertos promovem equipes interdisciplinares. O espaço físico e
psicológico de uma organização funciona em conjunto para definir a eficácia das pessoas
dentro delas (BROWN, 2010). Além da tecnologia e ambientes compartilhados, o
compartilhamento de conhecimento pode ocorrer por meio de conversas, workshops,
treinamentos, relatórios técnicos, licenças de terceiros, produção, feiras, fóruns e intercâmbio
de funcionários entre unidades (DAVENPORT, 2003). As comunidades virtuais também
podem contribuir apoiando o negócio na obtenção de novos conhecimentos, na distribuição
das informações, estimulando a reflexão para novos modelos mentais e funcionando como
interconexão entre os núcleos de conhecimento (TEIXEIRA FILHO, 2000). A intranet é um
exemplo de comunidade virtual interna da organização.
Foi identificado na empresa Alpha a realização das seguintes ações para
compartilhamento e distribuição do conhecimento: projetos com áreas diferentes envolvidas;
eventos organizados dentro da organização para compartilhar conhecimento de algum
produto, processo ou tecnologia nova, como workshops, feiras, palestras e treinamentos;
canais como e-mail, portal web Share Point, intranet, grupos de WhatsApp, documentos
salvos em diretórios da companhia; reuniões frequentes de trabalho para o desdobramento de
temas nas áreas; apresentação de lições aprendidas em projetos; “job rotation”; ambientes de
trabalho abertos e compartilhados.
Pois no início entramos no workshop com uma ideia de criar uma política e depois
mudando totalmente. E o resultado foi muito mais inovador e criativo do que a gente
imaginava. E aí o ponto que para mim é importante, de não matar a ideia sem antes
colocar dentro de um processo de análise e de validação porque se não você fica
dentro de uma caixinha e nunca sai.
manuais, procedimentos e políticas. No entanto, não há uma política interna que abranja e
suporte a importância do registro do conhecimento organizacional. A empresa busca mapear o
conhecimento organizacional e o indivíduo colaborador registrar em documentos sempre que
possível.
O armazenamento e recuperação do conhecimento têm perspectivas comuns entre
empresa e indivíduos, em que as políticas, procedimentos e instruções de trabalho são
facilmente acessíveis. Contudo, foi apontado pelo cargo estratégico que há falta de
armazenamento de conhecimento para as tomadas de decisões. O compartilhamento e
distribuição do conhecimento foram igualmente analisados, com uma diferença para o não
reconhecimento igual dos indivíduos na iniciativa da organização em promover a interação
interna e externa de pessoas para inovar.
Deste modo, ocorre a exploração e implementação de conhecimento em produtos,
processos e serviços com uma perspectiva equilibrada entre empresa e indivíduo, pois a
interação interna e externa entre pessoas da empresa para inovar não foi muito percebida,
contudo foi percebido que a empresa estimula a resolução de problemas por meio de grupos
multidisciplinares para inovar.
Desta forma, a seguir será apresentada a seção da análise dos resultados da dimensão
do processo de inovação, desde a ideação até a inovação.
5.2.1 Ideação
A Alpha é uma empresa muito aberta, e a criatividade está nas pessoas. O que há de
mais formal aqui é o programa de ideias, em que as pessoas da empresa registram as
suas ideias e concorrem a prêmios [...]. A empresa está investimento em ambiente e
estrutura para proporcionar um ambiente mais agradável e com este viés de criação,
inovação e interação entre pessoas (E1).
Para as áreas administrativas, o grande ponto está quando a gente lança um projeto,
lança uma nova diretriz na companhia e assim você provoca a geração de ideias [...].
Então a geração desse conhecimento, a geração de novidades é mais interna do
indivíduo e que tu tens que provocar [...]. É incentivar o time, dar liberdade, com
grau de tolerância, com grau de responsabilidade, de compartilhamento, de
liberdade, de tolerância, de apresentar as dificuldades, de colocar o problema na
mesa [...]. Se tiver conhecimento, quanto mais adverso, com uma boa gestão que
consiga interagir com discussões maduras de diversidades e ideias a gente gera
conhecimento (E2).
A empresa tem sede de fazer diferente. Então isso é incentivado e motivado no meu
ponto de vista a partir das lideranças, de cima para baixo, demandando que a gente
pense diferente, que busquemos ideias mais inovadoras, mais ideias e propostas que
sejam mais interessantes para a companhia, e que para isso a gente desafie o status
quo. Eu entendo que também a partir do nosso público, que é tão diverso e que a
gente está buscando cada vez mais diversidade na companhia, seja por orientação
sexual, raça, gênero, gerações, enfim, estamos diversificando cada vez mais o nosso
grupo de funcionários, e isso permite pensar diferente também.
O E3 descreveu que ele, como gestor, não tem preconceito com as ideias e não as
descartam antes de analisá-las. Contudo, percebeu que não há um processo institucionalizado
para gerar a ideia, selecionar e aplicar na organização:
todos da companhia. Esta pergunta resultou em média 2,77. E na pesquisa documental foi
observado que as ideias estão disponíveis na intranet, porém controladas e registradas em
planilha Excel por meio de formulário impresso.
Na empresa investigada, o processo de seleção de ideias não se apresenta como algo
bem definido e rotineiro, pois a seleção ocorre no planejamento do dia-a-dia, na área de
pesquisa e desenvolvimento ou pelo mercado. Um exemplo relatado foi de um projeto que
estava em construção para o desenvolvimento de um novo produto. Durante a realização
desse projeto, a equipe visitou uma feira e foi observada a concorrência com algo diferente do
que estava fazendo, algo que haviam julgado necessário desenvolver dois anos à frente. Com
esta informação do mercado, a Alpha retornou aos projetos em desenvolvimento e reconstruiu
as ideias de forma que a informação nova recebida do mercado fosse implementada, para
assim, não ficar atrás da concorrência. Foi mencionado pela engenharia que os inputs de
fornecedores, clientes, mercado, tecnologia e regras governamentais devem estar sempre
atualizados junto as equipes de projeto, pois isto é seletivo para as ideias da empresa. O tripé
engenharia, marketing e produto estão sempre conectados.
Os resultados derivados do processo de inovação são fomentados pela geração de
ideias inovadoras por meio de um contexto e ambiente adequado para tal. Envolve a seleção
de ideias promissoras, o desenvolvimento de novos projetos e a sua implementação, levando a
geração de resultados (SCHERER; CARLOMAGNO, 2009). As ideias geradas são
consolidadas para posterior seleção. E, após a seleção delas, a organização deve investir,
aplicar metodologia de implementação por meio de projetos e apoiar a ideia para que ela traga
bons resultados à organização. A seleção é uma fase de decisão, a qual é considerada a
estratégia da empresa, definindo quais são os resultados que cada ideia identificada deve
responder (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).
Todas as etapas e atividades da inovação são importantes estarem bem estruturadas,
definidas e institucionalizadas para a inovação de fato acontecer. As etapas sendo realizadas
continuamente levam a um resultado final. Um conjunto de processos ligados à inovação,
acontecendo sistematicamente, é que pode garantir inovação sustentável. Isto significa ter
processos de inovação estruturados e medidos sistematicamente (PIERACCIANI, 2008).
A seleção de ideias é realizada de duas formas dentro da Alpha. Por meio de uma
forma mais informal, rotineira e prática, pelo programa de ideias e por insights dos
colaboradores, onde os colaboradores registram as ideias e eles mesmos aplicam,
comprovando o resultado retornado ao negócio da empresa. Isto também ocorre por
intermédio do plano estratégico da companhia, segundo o qual a alta gestão recebe um
113
objetivo a ser atendido e por meio deste direcionamento instiga ideias da equipe ou apresenta
alternativas para escolher a melhor solução. Após a seleção da ideia, é investido tempo e
dinheiro nos projetos para que o resultado esperado seja apresentado.
A implementação de ideias pode ser definida como a etapa que antecede a viabilidade
de uma inovação por meio de uma ideia previamente selecionada. Sem criar um cenário
organizacional propício, com liberdade para errar e com liberação de recurso financeiro para
implementar uma ideia, prototipar, testar e viabilizar, a organização estará restringindo as
possibilidades de criar algo novo. Nesta fase, a gestão do processo de inovação consiste em
errar coisas novas e assumir riscos.
Com o objetivo de verificar como ocorre o referido processo no âmbito da organização
Alpha foram destacadas algumas afirmações que identificam as ações que a empresa adota
para implementar ideias. O E1 apresentou a importância de gerar conhecimento
organizacional, mas também a grande importância que tem para a empresa aplicar o
conhecimento adquirido para gerar resultados e inovação:
“Nossa! Há muitas fontes. Hoje em dia vem informação de tudo que é lado. Mas é
cliente, fornecedor, feiras, órgão de pesquisa, time global”. O E5 registrou que as fontes de
inovação atuais são muito diversas, tendo um trabalho grande em capturar a grande
quantidade de informações existentes e transformá-las em conhecimento aplicado ao negócio.
“Então quando a gente tem uma série de lançamentos, a gente seleciona alguns clientes para
apresentar os nossos protótipos, para eles serem as nossas cobaias e testarem os nossos
produtos. Eles testam o produto e cria uma parceira”. O E5 completou que então as
informações, insights e conhecimento das fontes de inovação são aplicados ao negócio e
implementam nos novos produtos para gerar os protótipos e testarem com os clientes
parceiros.
114
5
Metodologia ágil de planejamento e gestão de projetos de desenvolvimento de softwares.
6
Metodologia japonesa voltada para melhoria e otimização de processos.
7
Ferramenta que permite visualizar de forma intuitiva todos os aspectos fundamentais do negócio.
8
Metodologia japonesa para solução de problema de forma rápida e com foco das pessoas envolvidas.
Normalmente com duração de uma semana.
9
Termo em Inglês que significa um tipo de metodologia voltada para o consumidor e com implementação ágil.
115
A gente cria um road map de produto que cria um olhar de no mínimo 7 anos para
frente. Como vai ser o produto de 2026? De 2025? Então isto também é considerado
como demanda para um novo produto. Se tem uma lei nova que deveremos atender,
entra como demanda junto neste pacote. E então isto é discutido e alinhado com a
presidência, e isso é a base para o nosso plano. E é aqui que define as tendências,
aloca volumes, e vira projeto. E tudo isso é registrado em um sistema local e global.
Então o time global, coleta todas as informações, existem ciclos de alinhamento
duas vezes por ano. Então duas vezes por ano todos os caras de produto se reúnem
analisam o plano futuro. Então aqui também vem parte das ideias e que o time de
engenharia também participa, e é o mesmo time que também está olhando fora do
mercado. Inovação pura. Então algo totalmente disruptivo é engenharia que cuida.
Por isso que o tripé mencionado trabalha junto e define isso. Porque a gente pega
inputs de engenharia, marketing e produto e monta uma estratégia de produto.
E tem outro grupo que já está mais maduro e evoluído que sempre buscar fazer
seções de lições aprendidas ao final de cada processo, e projeto principalmente, e
sempre ao começar o próximo utiliza isso como conhecimento e de legado para
iniciar um novo processo e vamos errar coisas novas!
116
O E2 ressaltou que errar faz parte de assumir risco, e inovar e fazer diferente é
arriscado, pois é desconhecido. Contudo, é preciso assumir risco para sair do comum:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
inovação, ora sendo puxado por diversas frentes, ora consolidando várias iniciativas dentro de
uma diretriz comum.
Após identificar o processo de gestão do conhecimento e inovação, foi analisado como
os colaboradores da organização interagem com as principais evidências identificadas da
gestão do conhecimento com foco na inovação. Dentro das ações e etapas caracterizadas na
empresa, foi percebida uma interação maior e, por vezes, menor dos colaboradores,
identificando oportunidades nas interações internas e externas à empresa entre pessoas de
diferentes conhecimentos para gerar inovação. A interação dos colaboradores é percebida
quando a empresa menciona que as ideias estão nas pessoas, contudo para estas pessoas
gerarem ideias criativas e inovadoras, elas devem estar engajadas à estratégia de inovação
organizacional, evidenciando as iniciativas de inovação e instigando a participação na
construção da inovação desde o início.
A presente pesquisa contribuiu para um melhor entendimento da caracterização prática
do processo de gestão do conhecimento e inovação, colaborando com o desenvolvimento de
práticas gerenciais para o ganho de competitividade e performance organizacional. Além
disto, essa pesquisa contribuirá com o relatório executivo que será apresentado à empresa,
para identificar oportunidades.
A pesquisa teve como limitação restringir-se a um estudo de caso único, com o
objetivo de entendimento da teoria proposta. Desta forma, os resultados obtidos a partir do
método aplicado permitem a generalização dos resultados analisados em grau, sendo a
generalização possível para empresas de porte, indústria e intensidade tecnológicas similares a
da organização investigada. Como limitação, destaca-se a não inclusão na pesquisa das
demais subsidiárias da empresa, localizadas em outros estados e países, além da área de
pesquisa e desenvolvimento, que fica centralizada fora do Brasil.
Sugere-se, também, que futuras pesquisas ampliem o escopo desta pesquisa para
outras empresas e com níveis nacionais e internacionais. Assim, pode-se incluir a
possibilidade de haver processos mais globais e abrangentes, que possibilitem mais conexões
a serem analisadas. Além de estudar o conhecimento e o aprendizado organizacional na
perspectiva da memória organizacional.
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Caracterizar o Tidd; Para a inovação contínua, além de 11) Quais são as 15) A empresa
processo de Bessant; inovar, a organização deve-se manter principais fontes de registra as ideias
inovação na Pavitt com frequentes estímulos/choques inovação de dos colaboradores
organização (2008) para o novo. Eventos inesperados produtos e em um sistema
desde a ideação podem acontecer, além das ideias que processos na informatizado e
até a sua podem proliferar, retrocessos e ciclos organização? visível a todos da
aplicação. viciosos desenvolvidos, mudanças no companhia.
quadro de pessoal e revisão no 16) A empresa
modelo de inovação pela possui fontes
organização. internas de
inovação.
Pieracciani Uma empresa constantemente 11) Quais são as
17) A empresa
(2008) inovadora por meio de “fatores principais fontes de
inova
facilitadores”, são eles: pessoas, inovação de
constantemente
cultura, clima, ambiente físico, produtos e
em produtos.
tecnologia e processos e fluxo de processos na
18) A empresa
informações, todos estes com organização?
aplica melhoria
frequentes choques para estimular o
contínua em seus
novo.
processos.
Scherer; O sucesso da inovação não depende 11) Quais são as
Carlomagno somente do investimento em P&D, e principais fontes de
(2009) sim da boa estruturação do processo inovação de
de inovação dentro da organização, produtos e
por meio do foco dado a toda a cadeia processos na
da inovação, desde a geração de organização?
ideias até sua efetiva implementação,
com alinhamento da estratégia da
inovação com a estratégia
corporativa. É necessário estabelecer
processo de inovação continuado
visando reduzir riscos e incertezas,
otimizar a alocação de recursos e
aumentar a probabilidade de sucesso
de uma iniciativa inovadora.