Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O Brasil, reconhecido por sua extraordinária biodiversidade, abriga mais de 350 mil
espécies catalogadas, sendo apenas uma fração da estimativa total de 1,8 milhão de
espécies na flora brasileira. A riqueza biológica do país destaca-se, especialmente, na
diversidade da flora, que desempenha um papel significativo na saúde, sendo
frequentemente utilizada como recurso terapêutico pelas comunidades. Atualmente, as
plantas medicinais têm múltiplas aplicações, desde fornecer insumos para a indústria até
servir como alternativa farmacoterapêutica para diversas enfermidades. Essa prática,
enraizada na história da humanidade, reflete a tradição e o cuidado das comunidades,
evidenciando-se como uma forma de amor ao próximo. Ademais, o presente trabalho busca
identificar espécies, seus usos terapêuticos, modos de preparo e partes utilizadas,
contribuindo para a documentação e preservação dos saberes tradicionais na Região do Vale
do Guaribas, no Piauí. Considerando a importância dessas práticas para a compreensão das
condições de vida das comunidades, a pesquisa visa auxiliar estudos nas áreas biológicas,
agronômicas e farmacêuticas.
A Região do Vale do Guaribas compreende uma área total de 22.693,41 km2 e uma
população total de 340.229 habitantes. Essa região é composta por 39 municípios: Acauã,
Alagoinha do Piauí, Alegrete do Piauí, Aroeiras do Itaim, Belém do Piauí, Betânia do Piauí,
Bocaina, Caldeirão Grande do Piauí, Campo Grande do Piauí, Caridade do Piauí, Curral
Novo do Piauí, Dom Expedito Lopes, Francisco Macedo, Francisco Santos, Fronteiras,
Geminiano, Itainópolis, Jacobina do Piauí, Jaicós, Marcolândia, Massapê do Piauí,
Monsenhor Hipólito, Padre Marcos, Paquetá, Patos do Piauí, Paulistana, Picos, Pio IX,
Queimada Nova, Santana do Piauí, Santo Antônio de Lisboa, São João da Canabrava, São
José do Piauí, São Julião, São Luis do Piauí, Simões, Sussuapara, Vera Mendes e Vila Nova
do Piauí, conforme figura a Figura 01, segundo o Projeto Viva o Semiárido (2024).
Figura 1. Mapa geográfico da Unidade Vale do rio Guaribas com seus correspondentes municípios,
Piauí, Nordeste brasileiro.
2.1 Procedimentos
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 2. Lista de plantas medicinais conhecidas na Região do Vale do Guaribas, Piauí, Nordeste do
Brasil.
Famílias Nome científico Nome popular Partes Formas de Indicações Fonte
utilizadas uso
Adoxaceae Sambucus nigra L. 1. Sabugueira Folha - - 4
Nas obras revisadas foram obtidas 167 espécies com indicações terapêuticas (tabela 01) das
quais destacam-se as cinco mais citadas: Hortelã (Melissa officinlis L.) é preparada nas formas de
chá, lambedor e suco e utilizada no tratamento de cólicas, gripe, dor de barriga, falta de ar, febre e
mal estar, o Eucalipto (Eucalyptus globulus Labill) é utilizado para febre, gripe, dor e vômito, sendo
feito o chá, inalação ou banho com o mesmo, Limão (Citrus limon L.) destacou-se como útil no
tratamento da gripe, mal estar, diarreia e febre, onde é utilizado na forma de chá, sumo ou lambedor,
o Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) é utilizado para dor de barriga, dor de estômago,
vermes, gripe, hematomas entre outras indicações e a Malva do Reino (Plectranthus amboinicus)é
útil para dor de estômago, gripe, tosse etc, onde é preparado o chá e lambedor.
Figura 02. Partes morfológicas das plantas mais utilizadas no uso medicinal.
50 47
45
40
35
30
30
25
20 18
16 16
15 12
10
5
5 3
0
Fruto Flor Fruto Raiz Caule Casca Bulbo Semente
Fonte: Autores, fevereiro 2024.
Em estudos realizados por Freitas et al., (2012), por Liporacci e Simão (2013), Silva
(2002) e por Oliveira e Menini Neto (2012), também observaram que a folha era a parte da
planta mais utilizada no processo de preparação do remédio a partir da planta medicinal,
podendo esta condição está relacionada ao fato da maioria das plantas medicinais utilizadas
pelas pessoas serem herbáceas e assim esta parte da planta é mais facilmente obtida,
estando presente durante todo o ano e sempre se renovando.
A escolha da parte a ser utilizada pode estar ligada com a disponibilidade, como por
exemplo, as espécies exóticas que apresentam folhas durante todo o ano (Freitas et al.,
2012). Enquanto que, para as espécies nativas da Caatinga há uma maior procura pelas
cascas, visto que a maioria é decídua ou semidecídua (Cartaxo et al., 2009; Albuquerque;
Andrade, 2002b).
Em relação aos modos de preparo, foram obtidos os seguintes: chá (48,50%),
infusão (22,15%), beberagem (2,39%), consumo direto (1,79%), dentre outros. Conforme já
anteriormente observado por Veiga Júnior (2008), no Estudo do consumo de plantas
medicinais na Região Centro-Norte do Estado do Rio de Janeiro, 60,2% dos seus
entrevistados utilizam plantas por meio de chás e infusões, mostrando que a forma de
preparo pode também estar ligada com as características da planta.
Vale ressaltar que nos estudos analisados, a população relata obter essas plantas a
partir do cultivo direto em quintais ou no mato, o que nos permite concluir que a obtenção
de tais plantas medicinais é simples, por isso o uso desses meios como fonte de
medicamento se perdura até os dias de hoje, o fácil acesso, juntamente com a “cura” das
enfermidades relatadas pela população fazem com que essa prática milenar continue sendo
passada de geração em geração.
Quanto as indicações terapêuticas das comunidades, foi para gripe (15,56%),
inflamações diversas (6,58%), ansiedade (1,19%), câncer (2,99%) e dores em geral
(14,37%).
4. CONCLUSÃO
Por meio dos dados coletados nesta pesquisa, fica evidente a importância dos
conhecimentos tradicionais sobre o uso de plantas medicinais, essa riqueza de
conhecimentos e informações possibilitam aos moradores das comunidades da Região do
Vale do Guaribas – PI, o acesso rápido a plantas medicinais para o tratamento de diversas
doenças, em essencial aquelas que mais acometem a população local como resfriados,
febre, inflamações, dentre outras. Além disso, a realização desse trabalho permitiu compilar
uma diversidade de espécies etnobotênicas, que são utilizadas cotidianamente pela
população, a quantidade de plantas catalogadas deixa evidente que essas práticas milenares
ainda vivem, e que a medicina tradicional é um meio eficaz.
Portanto, esse estudo nos possibilitou visualizar a necessidade e a importância de
tais práticas milenares, vale ressaltar que como citado pela população em vários estudos
realizados nesta localidade, os moradores afirmam que sentem alivio ao utilizarem essas
plantas como fonte de tratamento, ou até mesmo conseguem curar suas enfermidades. Sob
essa ótica, podemos constatar a importância de trabalhos que promovem essas práticas para
que assim possamos desenvolver os conhecimentos de pequenas comunidades,
contribuindo assim para a qualidade de vida dessas comunidades. Sendo assim, a
recuperação do saber local acerca das propriedades terapêuticas das espécies vegetais pode
oferecer valiosas contribuições para a preservação e administração sustentável dos recursos
naturais. Além disso, esse conhecimento ressalta a riqueza cultural das práticas empregadas
no uso de plantas medicinais, fortalecendo os laços entre os membros da comunidade e os
recursos naturais locais.
A recuperação do conhecimento local sobre as propriedades terapêuticas das
espécies vegetais não apenas pode enriquecer as práticas de conservação e manejo dos
recursos naturais, mas também destacar a valiosa herança cultural presente nas abordagens
para o tratamento com plantas medicinais. Essa reconexão fortalece os laços entre os
membros da comunidade e os recursos naturais ao mesmo tempo em que contribui para a
preservação desses preciosos conhecimentos.
5. REFERÊNCIAS
BADKE MR, BUDÓ ML, ALVIM NAT, ZANETTI GD e HEISLER EV. 2012. Saberes e
práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais. Texto e
Contexto – Enfermagem, 21(2): 367-70;
CARTAXO, S. L. Diversidade e uso de plantas medicinais em uma área de Caatingaem
Aiuabe CE, Brasil. Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa de Mestrado em
Bioprospecção Molecular da Universidade Regional do Cariri – URCA, 103p, 2009.
PILLA MAC, Amorozo MCM, Furlan A. 2006. Obtenção e uso de plantas medicinais no
Distrito Federal do Martim Francisco, município de Mogi-Mirim, SP, Brasil. Acta
Botanica Brasilica, 20(4):789-802.
SILVA, R. B. L. A etnobotânica de plantas medicinais da comunidade quilombola de
Curiaú, Macapá-AP, Brasil. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade
Federal Rural da Amazônia, Belém 2002