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LIVRO DO

PROFESSOR
AQUAPONIA

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GPEnSE
LIVRO DO
PROFESSOR
AQUAPONIA

PROJETO GREEN PARK


Economizar também é coisa de criança
Álef Kevin de Oliveira Pontes
Analis Yusmar Carrizales Sanchez
Heloisa Piano Ghellere
Jiam Pires Frigo
Loise Rissini Kramer
Nuri Esperanza Sarango Sarango
Oswaldo Hideo Ando Junior

Livro do professor: aquaponia


Foz do Iguaçu: Madrepérola, 2019. 31 p. : 25 cm

577 Ecologia; Meio ambiente; Biodiversidade

ISBN: 978-85-69839-97-2

Coordenação editorial — Rafael Silvaro


Projeto gráfico — Editora Madrepérola
Diagramação — Danielle Cardoso
Organização e revisão ortográfica — Loise Rissini Kramer e
Oswaldo Hideo Ando Junior
SUMÁRIO

1 SUGESTÃO DIDÁTICA PARA O PROFESSOR........8


2 CONTEÚDOS.............................................................9
2.1 Histórico da aquaponia............................................... 9
2.2 Aquaponia e a sustentabilidade.............................. 12
2.3 Principais componentes do sistema.......................14
2.4 Princípios de funcionamento do sistema................ 17
2.5 Particularidades de cultivo: plantas e peixes......... 22

REFERÊNCIAS....................................................... 29
“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas.
Pessoas mudam o mundo.”

Paulo Freire
Apresentação
Caro (a) professor (a),
O presente material oferece situações de aprendizagem planejadas
no intuito de auxiliar no desenvolvimento das suas aulas de Ciências
de maneira que o ensino e a aprendizagem estejam voltados para o
conhecimento científico.
Você irá encontrar, ao longo do livro, uma sequência
didática que pode ser adaptada para a real
necessidade de cada sala de aula considerando
o ritmo de aprendizagem de cada aluno e suas
especificidades.
As estratégias para tal desenvolvimento
foram fundamentadas com base nos
conteúdos específicos de Ciências, de modo
a valorizar a participação ativa dos alunos e
instigar uma postura investigativa.
Lembramos que o uso desse livro deve
ser concomitante com os outros recursos
didáticos elaborados pelo Projeto Green Park,
ou seja, o livro do aluno “Dani e Guerina em:
Os Peixinhos Agricultores” e o manual técnico
“Mini sistema aquapônico escolar”, além de
outros recursos e ações definidas e orientadas
pelo(a) professor(a) como, por exemplo, pesquisas
virtuais, visitas técnicas, etc..
CONHECENDO OS AUTORES
Álef Kevin de Oliveira Pontes
graduando em Engenharia Civil na Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA) e bolsista PIBIC-
Unila do projeto.

Analis Yusmar Carrizales Sanchez


graduação em Engenharia Elétrica pela Universidad Central
de Venezuela (2011), com especialização na área de
Potência. Tem experiência na área de Energia Renováveis,
Eficiência Energética e Projetos de Habitabilidade. Estuda
Filosofia na Universidade Federal da Integração Latino-
Americana (UNILA) e é bolsista PIBIC-CNPq do projeto.

Heloisa Piano Ghellere


graduanda em Engenharia de Energia na Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e
bolsista PIBIC-CNPq do projeto.
Jiam Pires Frigo
bacharel em Engenharia Agrícola pela Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Santiago/RS
(2009). Mestre em Eng. Agrícola (área de concentração:
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE
(2012). Doutorado em Eng. Agrícola (UNIOESTE – Cascavel/
PR). Professor do Curso de Engenharia Civil de Infraestrutura-
ECI no Instituto Latino Americano de Tecnologia, Território e
Infraestrutura –ILATIT UNILA – Foz do Iguaçu – PR. Atua na área de
Engenharia, com ênfase em Hidráulica, Engenharia de Água e Solo, nas subáreas de Reuso de
Água na Agricultura, Irrigação e Drenagem.

Loise Rissini Kramer


graduanda em Engenharia Química na Universidade
Federal da Integração Latino-Americana, bolsista PIBIC-
CNPq do projeto.

Nuri Esperanza Sarango Sarango


graduanda em Engenharia de Energia na Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e bolsista
PIBIC-FA do projeto.

Oswaldo Hideo Ando Junior


graduação em Engenharia Elétrica (2006) com Especialização
em Gestão Empresarial (2007) pela Universidade Luterana
do Brasil – ULBRA, Mestrado em Engenharia Elétrica (2009)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul –UFRGS e
Doutorado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul –UFRGS (2014).
Atualmente é professor do curso de Engenharia de Energias
Renováveis da Universidade Federal da Integração Latino-
Americana – UNILA e atua como consultor da FAPESC e de Periódicos.
1 SUGESTÃO DIDÁTICA
PARA O PROFESSOR
Temática Aquaponia

• Histórico da aquaponia;
• Aquaponia e a sustentabilidade;
Conhecimentos • Principais componentes do sistema;
• Princípios de funcionamento do sistema;
• Particularidades de cultivo: plantas e peixes.
• Livro didático infantil: “Dani e Guerina em: Os
Peixinhos Agricultores”;
Recursos
• Manual técnico: “Mini sistema aquapônico escolar”;
• Quadro negro.

• Incentivar o uso de histórias infantis para


tornar o processo de aprendizagem mais
prazeroso e lúdico, bem como, informar sobre
Competências novas tecnologias como o cultivo integrado
de peixes e plantas, procurando incentivar os
alunos na busca de conhecimento científico
que agregue proteção dos valores naturais.

• Compreender a importância e os benefícios da


implementação de sistemas aquapônicos;
Habilidades • Proporcionar um ambiente mais interativo;
• Despertar o interesse pela leitura e manejo de
sistemas naturais.

Atividade • Construção do mini sistema aquapônico


complementar proposto no manual técnico.

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LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


CONTEÚDOS
2.1 Histórico da aquaponia
Embora as origens da aquaponia não sejam claras, há indícios de
que nos séculos XII e XIII, na América Central e do Sul, os Astecas, um
povo nômade, às margens do lago Tenochtitlan criavam as chinam-
pas (figura 1). Como as margens do lago eram de colinas íngremes,
eles construíam ilhas flutuantes de arbustos, galhos e fibras feitas
de plantas, cobriam com terra dragada do fundo do lago e plantavam
suas hortaliças. As plantas cresciam nessas ilhas flutuantes e a medi-
da que suas raízes se expandiam, alcançavam a água, na qual havia a
produção de peixes (CROSSLEY, 2004).

Figura 1 – Sistema de chinampas.


Fonte: Aquaponia Brasil - Breve história da aquaponia

Utilizando o mesmo princípio, os chineses criavam peixes em arro-


zais (BOCEK, 2009), conforme visualizado na figura 2, e os egípcios
também cultivavam arroz em locais alagados junto com os peixes.
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Figura 2 – Cultivo de peixes em arrozais.
Fonte: Aquaponia Brasil - Breve história da aquaponia

Com necessidade de encontrar métodos para diminuir a depen-


dência de terra, da água e minimizar o descarte de efluentes no meio
natural as pesquisas em aquaponia somente começaram a apresentar
seus resultados mais relevantes na última década com os trabalhos
de NAEGEL (1977), LEWIS et al. (1978). A literatura acadêmica brasi-
leira ainda é pobre e incipiente sobre tema, contendo apenas algumas
publicações (Abreu, 2012; Hundley & Navarro, 2013; Jordan, et al.,
2013; Braz Filho, 2014), entretanto, pesquisadores de algumas uni-
versidades brasileiras, tais como a Univerdidade de Brasilia, Udesc,
Universidade de São Paulo e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa) iniciaram suas pesquisas.
Porém nas últimos três décadas, a aquaponia entrou em foco desde
que surgiu a tendência do desenvolvimento da aquicultura em grandes
lagoas escavadas, utilizando sistemas menores de fluxo de água. Nesse
sistema a densidade de peixes criados é maior, reduzindo a necessida-
de de espaço. Devido a maximização da produção em menores espa-
ços, os aquicultores se deparam com uma grande quantidade de resí-
duos produzidos pelos peixes. A partir dessa tendência de produção
aquícola, entraram em destaque as pesquisas relacionadas a capacida-
de de plantas aquáticas filtrarem a água dos peixes. Durante o desen-
volvimento as áreas de pesquisa se expandiram englobando também
as plantas terrestres, que se provaram capazes de purificar a água.
10
Na aquaponia os peixes disponibilizam 10 dos 13 nutrientes essen-

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ciais para as plantas, exceto cálcio, potássio e ferro. Isso permite uma
redução considerável nos custos com fertilizantes e ainda fornece
uma nova fonte de alimento. Os peixes alimentam as plantas, que de-
volvem a água limpa para os peixes, em um ciclo fechado, com baixo
consumo de água e energia elétrica.
A aquaponia é considerada a evolução de duas tecnologias de pro-
dução de alimentos, a hidroponia e a aquicultura, e trouxe a esperança
do cultivo orgânico aos grandes produtores comerciais como a Aus-
trália, Canadá e Estados Unidos (BACKYARD AQUAPONICS, 2012) que
já são empresas que fornecem equipamentos e consultoria especiali-
zada a quem quer produzir seus alimentos em sistemas compactos de
aquaponia instalados em suas próprias residências, comumente cha-
mados nas famílias brasileiras de “aquaponia de quintal” (figura 3).
Fonte: Pinterest.

Figura 3
Um exemplo
de sistema
compacto de
aquaponia.
11
2.2 Aquaponia e a sustentabilidade
Atualmente a aquaponia apresenta-se como uma solução viável
em relação aos métodos mais tradicionais como aquicultura, hidropo-
nia e agricultura, apresentando uma série de vantagens tanto ao nível
de qualidade dos produtos obtidos, bem como da economia dos re-
cursos que utiliza. A aquaponia preconiza a reutilização total da água,
evitando seu desperdício e diminuindo significativamente a liberação
de efluente ao meio ambiente. Nesse sistema ocorre pouca reposição
de água, pois as perdas ocorrem basicamente por evaporação, eva-
potranspiração e durante a remoção das plantas (CANASTRA, 2017).
A aquaponia em pequena escala é relativamente simples e tem feito
parte de projetos de conscientização sobre a sustentabilidade em escolas e
renda extra para pequenos agricultores do interior. O conhecimento dessa
forma de produção de alimentos pela população permitirá, por um lado cha-
mar a atenção dos consumidores aumentando a confiança e o sentimento
de segurança dos alimentos e por outro lado chamar a atenção da indústria
para produções mais sustentáveis (CELESTRINO & VIEIRA, 2018).
De maneira simplificada, o sistema é constituído por um tanque onde
são produzidos os peixes alimentados por ração, eles liberam dejetos ricos
em nutrientes que, por sua vez, bombeados para uma parte superior, nu-
trem os vegetais. As raízes, ao retirar os nutrientes, purificam a água que
retorna por gravidade para o local onde são produzidos os peixes, como es-
quematizado na figura 4. No procedimento de reciclagem de nutrientes as
bactérias nitrificantes presentes no substrato e nas raízes das plantas são
decisivas para garantir o bom funcionamento do sistema transformando a
amônia excretada pelos peixes em nitrato para as plantas (DIVER, 2006).

Figura 4 – Esquema simplificado do funcionamento do sistema de aquaponia.


Fonte: AQP Brasil - Aquaponia

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Em muitos países a aquaponia vem sendo adotada por um núme-

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ro crescente de pessoas que buscam alternativas de produzir seus
próprios alimentos de maneira mais saudável e por acreditarem estar
assim contribuindo com a sustentabilidade do planeta. A criação de
peixe com hortaliças pode economizar até 90% de água comparado
com a agricultura, tornando-a um método mais sustentável (EMBRA-
PA, 2015). No quadro abaixo, estão sintetizadas algumas vantagens
da produção integrada de peixes e plantas e algumas desvantagens
da aquaponia em comparação a aquicultura e horticultura.

Vantagens Desvantagens
utilização de quantidade dependência contínua de
mínima de água; energia elétrica;
facilidade de produção de
alimentos orgânicos, inclusive restrições quanto à utilização
no meio urbano, sem impactos de agrotóxicos e antibióticos
ambientais, ocupando pouco em função dos diferentes seres
espaço e tornando o lugar vivos envolvidos no sistema;
decorativo;
desenvolvimento de duas cadeias pouca tecnologia difundida no
produtivas em um único sistema; Brasil;
aproveitamento de excretas necessidade de conhecimento
produzidas por peixes e que básico em algumas áreas-chave
seriam descartadas no meio como engenharia, hidráulica,
ambiente; biologia, fitotecnia e piscicultura;
geração de um produto
diferenciado, padronizado
alto custo de investimento inicial;
e de alta qualidade, livre de
agrotóxicos e antibióticos;
possibilita uma escala a produção de plantas é
comercial com baixo custo de limitada dependendo do
produção; número de peixes;
requer monitoramento e
diminuição do uso de
controle de parâmetros como
fertilizantes, agrotóxicos e de
temperatura, pH, oxigênio
contaminação ao meio ambiente.
dissolvido, nitrogênio total.

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2.3 Principais componentes do sistema

Os componentes básicos de um sistema de aquaponia são: ambien-


te para criação de peixes, bombas de água, filtro biológico, sistema de
aeração e ambiente de cultivo das mudas e dos alimentos, podendo ser
hortaliças que frutificam, hortaliças folhosas e raízes tuberosas (CAR-
NEIRO et al., 2015a). Para um sistema em grande escala, devem ser
acrescentados filtro de sólidos decantáveis e de sólidos em suspensão.

Ambiente de criação dos peixes e bombas de água


Esse ambiente pode ser composto por um ou mais tanques, que
podem ser de diversos materiais, formatos e volumes. O material uti-
lizado deve ser resistente e durável, e não pode liberar substâncias
na água. Além disso, deve-se bloquear a entrada de luz sol no tan-
que, para evitar a proliferação de algas. Caso o bloqueio for realizado
por meio de pintura externa do tanque com cor escura, é importante
passar uma segunda mão com cor clara, pois a cor escura pode su-
peraquecer a água do tanque prejudicando os peixes (CARNEIRO et
al., 2015a, 2015b). Quanto ao volume, para estações de pequeno porte
(densidade de peixes em torno de 10kg/m3) varia de 100 L a 1000 L,
sendo comum o uso de tonéis de 200 L e containers (intermediate
bulk container - IBC) de 1000 L (CARNEIRO et al., 2015b).
Outros fatores que devem ser levados em conta nesse ambiente
são a velocidade e a taxa de renovação da água dentro do tanque, as-
sim como a densidade de peixes no tanque. Apesar de ser um sistema
fechado, há perdas de água por evaporação e ao retirar as plantas,
assim também é necessário repor algumas quantidades de água para
manter o volume ideal (CARNEIRO et al., 2015a, 2015b).
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A velocidade deve ser o suficiente para auxiliar na remoção de de-

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jetos dos peixes do fundo do tanque. Caso for muito rápida, prejudi-
cará o desenvolvimento e bem-estar dos peixes devido ao excessivo
esforço natatório (CARNEIRO et al., 2015b).
A renovação de água e densidade de peixes estão diretamente re-
lacionadas (CARNEIRO et al., 2015b).
• densidade de até 10 kg/m → renovação de meio tanque/hora
3

• densidade maior que 10 kg/m → renovação de um tanque/hora


3

A bomba deve ser silenciosa e colocada no fundo do tanque, com


uma vazão maior ou igual a taxa de renovação requerida (CARNEI-
RO et al., 2015b).

Filtros de sólidos e filtro biológico


Os filtros de sólidos não são necessários em sistemas peque-
nos, com densidade de peixes abaixo de 10 kg/m3 (CARNEIRO et al.,
2015b), pois os resíduos produzidos são normalmente capturados e
degradados no próprio filtro biológico. O filtro biológico pode ser tan-
to um filtro separado, quanto estar contido na cama de cultivo dos
alimentos, e se refere ao filtro que contém a colônia de bactérias que
transforma a amônia excretada pelos peixes em nitrito e depois em
nitrato, composto essencial para o crescimento das plantas. Além dis-
so, o filtro biológico também é importante para os peixes, pois a água
recirculada deve ser livre de nitrito e amônia, pois são compostos tó-
xicos aos peixes (CARNEIRO et al., 2016).
Já em sistemas maiores deve haver retirada constante dos dejetos e
outros resíduos sólidos presentes no interior do tanque, pois ocasionam
entupimento dos sistemas, sobrecarga e colmatação do filtro biológico.
Vale lembrar que serão necessárias bombas adicionais a do tanque dos
peixes para cada recipiente extra pelo qual há passagem de água, a me-
nos que o processo possa ser realizado pela força da gravidade.
Os resíduos mais densos (sólidos decantáveis) podem ser sepa-
rados por sedimentação ou decantação, e os sólidos em suspensão
devem ser retirados por meio de filtros de telas ou peneiras finas ins-
taladas (CARNEIRO et al., 2015b). Além disso, os sistemas de sepa-
ração de sólidos devem ser verificados com frequência para evitar o
entupimento.
Os resíduos recolhidos são ricos em dejetos de peixes, podendo
ser utilizados como adubo orgânico no solo, geração de gás, energia e
biofertilizante em um biodigestor (CARNEIRO et al., 2015b).
15
Sistema de aeração
A aeração é essencial para o funcionamento do sistema, já que o oxigê-
nio é requisitado pelos peixes, raízes das plantas e bactérias nitrificantes
do filtro biológico. A quantidade de oxigênio dissolvido na água do tanque
de criação dos peixes, assim como na área de cultivo dos vegetais deve ser
superior a 3 mg/L, podendo ser proporcionada por aeradores de aquário,
compressores, sopradores de ar, gravidade (CARNEIRO et al., 2015b).

Ambiente de cultivo de vegetais


A cama de cultivo dependerá da configuração do sistema de
aquaponia assim como dos vegetais e hortaliças que serão cultiva-
dos. Em geral é composta por um suporte recheado, que se diferencia
dos demais pelo tipo de recheio empregado. Alguns materiais utiliza-
dos nas camas de cultivo são: cascalho, pedra brita e argila expandi-
da. Genericamente, o ambiente de cultivo deve fornecer suporte aos
vegetais e pode ou não, conter o filtro biológico.
A cama de cultivo é considerada filtro biológico quando o recheio é
colonizado pelas bactérias nitrificantes responsáveis pela nitrificação da
amônia excretada pelos peixes (CARNEIRO et al., 2015b). Nos próximos
tópicos será explanado mais a fundo sobre o ciclo biológico da aquapo-
nia, as diferentes configurações do sistema e espécies de peixes.
Vale ressaltar que apesar de ser um sistema contínuo de passagem
de água, as raízes das plantas não permanecem o tempo todo enchar-
cadas. Há ciclos de inundação e drenagem que atuam disponibilizando
água e oxigênio continuamente para as raízes das plantas. É por isso
que o sistema radicular das plantas provenientes desse tipo de cultivo
é menor, pois como os nutrientes, água e oxigênio estão sempre dispo-
níveis, a planta investe menos energia no crescimento das raízes, con-
vertendo isso em crescimento foliar e dos frutos (CANASTRA, 2017).
Os ciclos de inundação e drenagem são produzidos pela utilização
de um auto sifão (CANASTRA, 2017). O auto sifão é composto por
dois tubos, o tubo externo é tampado e perfurado na parte inferior
para a entrada de água, e o tubo interno possui a altura desejada para
o nível de água na cama de cultivo.
A medida que as camas vão inundando, também sobe o nível de água
no interior do sifão, e ao ultrapassar o nível máximo, a água é derramada
no tubo interior, criando uma área de baixa pressão. Como a pressão in-
terior é menor, toda a água da cama de cultivo é drenada até que ocorra a
entrada de ar no sifão, igualando as pressões no interior e exterior. Assim,
a cama volta a encher e o ciclo recomeça (CANASTRA, 2017).
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LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA
2.4 Princípios de funcionamento do sistema
Os seres crescem em um sistema simbiótico, um ciclo contínuo de
funcionamento no qual atividade depende da outra: a água dos peixes
que contém as excretas e decomposição dos restos orgânicos passa
por um sistema de separação e processos biológicos que resulta em
alimentos para as plantas, que por sua vez purificam a água, possibi-
litando sua recirculação no sistema, conforme exemplificado na figura
5 (CANASTRA, 2017).

Figura 5 – Ciclo de funcionamento do sistema e organismos responsáveis.

Princípios biológicos
Os filtros biológicos tem o objetivo de transformar biologicamente
as excretas dos peixes e os restos de alimentos em nutrientes para
as plantas, esse processo, denominado nitrificação, é realizado por
grupos de bactérias alojadas nos filtros biológicos, que transformam
amônia (NH3) produzida pelos peixes em nitrito (NO2-) e depois em
nitrato (NO3-), conforme visualizado na figura 6 (CALÓ, 2011). Por-
tanto, para a filtração de água que retorna aos peixes, o consumo de
nutrientes pelas plantas e a ação das bactérias são essenciais (CAN-
DARLE, 2016).
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Figura 6 – Interação entre os componentes biológicos em aquaponia
Fonte: Canastra, 2017.

A principal característica dessas bactérias é que são aeróbicas e


autotróficas, utilizando como fonte de carbono CO2 e HCO3-, e como
agente oxidante o O2. Podem surgir no filtro de forma natural, ou seu
crescimento pode ser estimulado pela introdução de água onde já ha-
bitam essas bactérias. As bactérias nitrificantes crescem em biofil-
mes aderidos a superfícies inertes ou em partículas orgânicas.
Para a introdução de plantas no sistema é necessário esperar de
20 a 40 dias após da produção de peixes, devido a que o ciclo de ni-
trificação tem que estar em equilíbrio. A primeira bactéria atuante no
sistema é do gênero Nitrosomonas, e em geral começa a atuar após
a primeira semana, conforme pode-se observar na figura 7. O indício
do surgimento dessas colônias é que após o aumento dos níveis de
amônia produzidos pelos peixes, nota-se que o elemento decresce a
concentração e ao mesmo tempo se consegue acompanhar os níveis
crescentes de nitrito. Na seguinte semana se percebe a presença de
bactérias do gênero Nitrobacter, pois os níveis de nitrato começam a
aumentar enquanto que os de nitrito diminuem (CARNEIRO, 2015c).
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LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA
Figura 7 – Compostos nitrogenados durante as primeiras semanas em um
sistema de grande escala.
Fonte: CANDARLE, 2016.

Equilíbrio do sistema
Para alcançar o êxito do sistema produtivo é importante manter um
equilíbrio de cargas entre as principais comunidades do sistema (peixes,
plantas e bactérias) (CANASTRA, 2017). Para tanto, deve-se realizar um
manejo adequado de densidade de produção de peixes e plantas e corre-
to dimensionamento do biofiltro. O biofiltro é fundamental para manter
saudável a comunidade bacteriana, e para avaliar seu desempenho são
realizados monitoramentos periódicos de qualidade de água.
Os principais cinco parâmetros que definem a qualidade de água
são: temperatura, oxigênio dissolvido, pH, compostos nitrogenados e
alcalinidade. Sendo recomendado que a temperatura, oxigênio dissol-
vido e pH sejam ser controlados diariamente.
• Temperatura
- Medida por meio de termômetro diariamente;
- Seus valores devem estar entre 20 e 28 °C;
- Esse parâmetro determina a taxa metabólica dos peixes: com o
aumento de temperatura aumenta a taxa metabólica dos organis-
mos envolvidos resultando em aumento de consumo de oxigênio e
emissão de CO2, alternado os gases na água (QUEIROZ, 2017).

19
• Oxigênio dissolvido
- Pode ser quantificado a partir de análise química ou por equipa-
mentos portáteis denominados oxímetros;
- Devem ser buscadas concentrações altas de oxigênio no sistema
pois é vital para os peixes, plantas e bactérias;
- Se deve evitar flutuações térmicas, com o fim de manter o oxigê-
nio em níveis estáveis;
- Se recomenda manter esse parâmetro em torno de 5 mg/L, sen-
do normalmente fatais para os peixes exposições a 2 mg/L ou me-
nos (QUEIROZ, 2017).
• pH
- Mede a concentração íons de hidrogênio na água, sendo quantifi-
cado a partir de pHmetro portátil, sendo essa uma verificação diária;
- É importante manter o pH numa faixa satisfatória devido às ne-
cessidades requeridas pelos diferentes organismos convivendo no
mesmo meio: peixes, plantas e bactérias. O pH adequado em um
sistema aquapônico deve variar na faixa de 6,0 a 7,0, pois o pH óti-
mo para as bactérias nitrificantes está no intervalo de 7,0 a 8,0, já
para as plantas cultivadas em hidroponia o pH em geral deve estar
entre 5,5 e 6,5 e para os peixes entre 6,5 e 9,0, como se mostra na
figura abaixo (CARNEIRO et al., 2015c).’

Figura 8 – pH ideal para os organismos presentes na aquaponia.


Fonte: CARNEIRO et al. (2015c).

- Se for necessário aumentar o pH, em geral utiliza-se hidróxido de


cálcio e hidróxido de potássio e carbonato de cálcio. Para acidificar
o meio, utiliza-se o ácido fosfórico, vinagre ou sulfato de alumínio
(QUEIROZ, 2017).

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• Compostos nitrogenados

LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


- O nitrogênio amoniacal dissolvido na água, possui duas formas
em equilíbrio do sistema, amônia (NH3) e amônio (NH4+), cuja
concentração no sistema deve ser monitorada quinzenalmente
(QUEIROZ, 2017).
- A amônia é extremamente tóxica para os peixes, sua quantida-
de também depende dos parâmetros pH e temperatura, sendo que
valores acima de 0,2 mg/L já são tóxicos aos peixes em exposição
por longo período, enquanto que níveis acima de 0,7 mg/L podem
ser letais em curtos períodos. A concentração ideal é inferior a 0,05
mg/L. O nitrito é um produto intermediário do processo de nitrifi-
cação e também é tóxico aos peixes em valores acima de 0,5 mg/L.
Se isso ocorrer, é um indicativo que o filtro biológico não está fun-
cionando como deveria. Pode-se adicionar cloreto de potássio 100
mg/L para evitar a intoxicação dos peixes (QUEIROZ, 2017).
- Os nitratos são a forma nitrogenada menos tóxica para os peixes,
sendo prejudicial a partir de 300 mg/L. Caso a concentração esti-
ver elevada durante muitas semanas (> 150 mg/L), uma parte da
água deve ser removida e substituída por água limpa.(CALÓ, 2011;
CANASTRA ).
• Dureza e alcalinidade
- A dureza representa a concentração de minerais de cálcio e mag-
nésio dissolvidos na água e alcalinidade é uma medida dos carbo-
natos e bicarbonatos presentes na água, e se mede em mg/L de
carbonato de cálcio (CaCO3), utilizando um medidor portátil ou por
análises químicas. A alcalinidade total e dureza total devem ser
mantidas em torno de 50 mg/L, processo que pode ser mantido
por meio da adição de calcário agrícola ou hidróxido de sódio e hi-
dróxido de potássio (QUEIROZ, 2017).

21
2.5 Particularidades de cultivo: plantas e peixes
Para entender seu funcionamento, a aquaponia pode ser dividida em
três partes: produção de peixes, produção de plantas e recirculação de
água. Essas características do sistema são baseadas na hidroponia e aqui-
cultura, que se referem ao cultivo de plantas e de peixes respectivamente,
que são unidos mediante a recirculação de água (BERMÚDEZ, 2017).

Produção de plantas
No sistema hidropônico geralmente são cultivadas hortaliças, uti-
lizando diferentes técnicas de fixação das raízes para que entrem
contato com os nutrientes necessário para seu crescimento. O tipo de
material para a fixação da raiz deve permitir alojar raízes, brindar su-
porte e armazenar umidade (CANDARLE, 2016; CALÓ, 2011).
No quadro abaixo, podem ser vistos alguns dos principais tipos de
cultivos utilizados na aquaponia (CALÓ, 2011; BERMÚDEZ, 2017).

Técnica do filme nutriente (NFT)


É mais utilizada para a produção de vegetais,
neste tipo de cultivo não é necessário colocar
material nos canais para a fixação das raízes,
nos canais se encontra somente a raiz e a
solução nutritiva.

Cultivo flutuante
São utilizados na produção de folhosas onde
as plantas ficam apoiadas em placas com
orifícios espaçados entre si, que podem ser
de poliestireno.

Cultivo em cascalho
Neste sistema se utilizam materiais com elevada
razão entre superfície e volume, e a cama de
cultivo funciona também como filtro biológico,
sendo colonizada pelas bactérias nitrificantes.

No início dos estudos com aquaponia pensava-se que apenas


plantas menos exigentes como as folhosas poderiam ser cultiva-
das neste sistema. Porém hoje já se sabe que é possível produzir
22
uma gama muito grande de espécies vegetais em aquaponia como

LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


alface (Lactuca sativa), manjericão (Ocimum basilicum), agrião
(Nasturtium officinale), repolho (Brassica oleracea), rúcula (Eruca
sativa), morango (Fragaria vesca), pimenta (Capsicum spp.), to-
mate (Solanum lycopersicum), quiabo (Abelmoschus esculentus),
pepino (Cucumis sativus) e muitas outras. Algumas destas são re-
presentadas na tabela abaixo, juntamente com as condições para
sua produção.

Tabela 1 – Condições para a produção de algumas plantas utilizadas em aquaponia.


Tempo de Tempo de crescimento
Espécie pH Planta/m2 Temperatura (°C) Exposição solar
germinação (dias) (semanas)

Manjericão 5.5-6,5 8-40 6-7 5-6 20-25 Moderada/alta

Alface 6,0-7,0 20-25 3-6 4-5 5-22 Moderada/alta

Pepino 5,5-6,5 2-5 3-6 7-9 18-26 Alta

Tomate 5,5-6,5 3-5 4-7 8-12 15-25 Alta

Brócolis 6,0-7,0 3-5 4-7 8-12 10-20 Moderada/alta

Couve flor 6-6,5 3-5 4-7 2-4 meses 10-20 Alta

Berinjela 5,5-7 3-5 8-10 3-4 meses 15-25 Alta

Repolho 6-7,2 4-8 4-7 6-10 15-20 Alta

Acelga 6-7,5 15-20 4-5 4-5 15-25 Moderada/alta

Salsa 6-7 10-15 8-10 3-4 15-25 Moderada/alta

Fonte: Adaptado de Somerville et al., 2014.

Espécies vegetais adaptadas a hidroponia são sempre recomen-


dadas para a aquaponia, uma vez que a maioria delas toleram al-
tos teores de água em suas raízes e oscilações nos teores de nu-
trientes dissolvidos na solução nutritiva sem apresentar sintomas
graves de deficiência nutricional. Portanto, a seleção das espécies
de plantas a serem cultivadas em sistemas de aquaponia comer-
cial deve ter como critério primeiramente o mercado. Com base
nas necessidades do mercado é possível desenhar um sistema
de aquaponia capaz de produzir, teoricamente, qualquer vegetal
de pequeno e médio porte. Basicamente, o desenho dos sistemas
deve observar as necessidades e limitações das plantas relaciona-
das a espaço, nutrição, aeração, hidratação, temperatura, radiação
solar, dentre outros fatores. Na figura abaixo podem ser observa-
das plantas que convivem bem juntas.

23
Figura 9 – Esquema relacionando as plantas que se desenvolvem bem juntas.

24
Nutrição das plantas

LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


Para seu crescimento, as plantas precisam de 16 macronutrientes
sendo eles carbono (C), oxigênio (O), hidrogênio (H), cálcio (Ca), ni-
trogênio (N), magnésio (Mg), fósforo (P), potássio (K) e enxofre (S).
E também micronutrientes, que são encontrados em concentrações
menores, como boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), mo-
libdênio (Mo), zinco (Zn) e alumínio (Al).
Esses nutrientes são obtidos pelos processos biológicos que ocor-
rem no sistema, transformando as excretas dos peixes em nutrição
para as plantas (CANDARLE, 2016). Dessa forma, a entrada de insumo
mais importante na aquaponia é a ração dos peixes. Os peixes ao se-
rem alimentados são capazes de produzir excretas que como já dito são
convertidos em nutrientes para as plantas (CARNEIRO et al., 2015c).

Produção de peixes
Dependendo da densidade de produção de peixes, os sistemas em aquicul-
tura se classificam em extensivos e intensivos, envolvendo quatro categorias.
Sistemas de águas abertos

Sistema de recirculação de
aquicultura (SRA)
Cultivo em tanques
Cultivo em esteiro

O sistema mais comum é o SRA, no qual a água escoa desde os


tanques de cultivos até os sistemas de tratamentos onde permite se-
parar e remover os resíduos sólidos em suspensão para depois voltar
novamente aos tanques de cultivos (CALÓ, 2011). Esses sistemas po-
dem ser adaptados para o cultivo aquapônico, assim como a hidropo-
nia também pode ser adaptada a aquaponia.
25
Para a seleção da espécie aquática deve ser definido o objetivo a
mesma, pode ser ornamental ou comestível. Ressalta-se que a es-
pécie de peixe deve ser tolerante a altas densidades de estocagem e
a manejos frequentes. Algumas espécies já avaliadas em sistemas
intensivos e que podem apresentar bons resultados em sistemas de
aquaponia estão disponíveis na tabela 2.

Tabela 2 - Níveis de temperatura, nitrogênio, oxigênio dissolvido e exigência de


proteína para algumas espécies aquáticas utilizadas na aquaponia.
Temperatura Nitrogênio Oxigênio Proteína no Tempo de
Nitrito
(°C) total dissolvido alimento crescimento
Espécie de cultivo
gramas/
Vital Ótima mg/L mg/L mg/L %
mês
Carpa comum
4-34 25-30 <1 <1 >4 30-38 60
(Cyprinus carpio)
Tilápia do Nilo
14-36 27-30 <2 <1 >4 28-32 85,7
(Oreochromis niloticus)
Bagre do canal
5-34 25-30 <1 <1 >3 25-36 50
(Ictalurus punctatus)
Truta arco-íris
(Oncorhynchus 10-18 14-16 <0,5 <0,3 >6 42 66,7
mikyss)
Cabeça chata
8-32 20-27 <1 <1 >4 30-34 75
(Mugli cephalus)
Camarão de água doce
(Macrobrachium 18-34 26-29 <0,5 <2 >3 35 7,5
rosenbergii)
Fonte: Adaptado de Somerville et al., 2014.

Como a aquaponia ainda está apenas iniciando no Brasil, pouco se


conhece sobre o comportamento de nossas espécies nativas neste
sistema. Portanto, ao avaliar uma espécie nativa é importante con-
siderar alguns fatores como temperatura da água do sistema, densi-
dade de estocagem, disponibilidade de alevinos/juvenis e de ração e
preferências do consumidor final (DUARTE, 2018).
O uso de peixes ornamentais é outra excelente opção em aquapo-
nia. A carpa colorida, também conhecida como Koi ou Nishikigoi, é uma
espécie muito resistente a variações nos parâmetros de qualidade da
água e tolerante a altas densidades de estocagem (DUARTE, 2018).
Apesar de também poder ser destinada ao abate, a carpa colori-
da pode alcançar preços muito mais elevados quando comercializada
como peixe ornamental. Muito mais do que seu peso ou tamanho, seu
valor de mercado é ditado em função de seus padrões de coloração.
Essa particularidade confere uma grande vantagem à criação da carpa
colorida em aquaponia de pequena escala, pois possibilita a criação de
peixes de diversos tamanhos em um mesmo tanque. Adicionalmente,
26
o uso da carpa colorida e de outros peixes ornamentais em aquaponia

LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


também pode ser interessante para fins educacionais e em exposi-
ções por criar cenários mais atrativos (DUARTE, 2018).
Algumas espécies de crustáceos de água doce são criadas comer-
cialmente em muitos países e poderiam gerar expectativas sobre
sua possiblidade de criação em aquaponia. Porém, geralmente essas
espécies não são criadas em sistemas de recirculação e são pouco
tolerantes a altas densidades de estocagem. Portanto, a criação de
crustáceos de água doce em aquaponia apresenta restrições por não
produzir excretas em quantidade suficiente para fornecer nutrientes
necessários ao cultivo de vegetais (DUARTE, 2018).
Várias espécies de peixes de água salgada são criadas comercial-
mente em sistemas de recirculação e em altas densidades de estoca-
gem, o que as colocaria como candidatas ao sistema de aquaponia,
porém os vegetais normalmente cultivados em aquaponia são pouco
tolerantes a altas salinidades (DUARTE, 2018).

Nutrição dos peixes


A alimentação dos peixes em geral ocorre por meio da ração, mas
também devem ser considerados os hábitos alimentares das espécies
(CANASTRA, 2017):
• Peixes carnívoros: utiliza-se alimento comercial de elevada qua-
lidade; não se deve misturar com outra espécie e nem com ida-
des diferentes;
• Peixes onívoros: coexistem com outra espécie; tem uma alimen-
tação variada, podendo utilizar ração e plantas aquáticas como a
lentilha de água ou castanheiro de água.
Quanto a quantidade de ração para os peixes, Duarte (2018) revi-
sou algumas literaturas, apresentando as relações encontradas entre a
exigência nutricional das plantas e a quantidade de ração que deve ser
consumida pelos peixes, considerando cerca de 20 ou 25 plantas/m2:
• para a nutrição de 1 m2 de plantas folhosas: 40 a 50 gramas de
ração por dia;
• 1 m2 de vegetais frutíferos: 50 a 100 gramas de ração por dia.
Além disso, é estimado que os peixes consumam entre 1 a 2% de
seu peso ao dia, ou seja, 10 kg de peixes consumirão em torno de 150
g de ração por dia.

27
Controle de pragas
Não é recomendada a utilização de pesticidas tradicionais, pois o uso deste me-
canismo levaria à morte dos peixes (CANDARLE, 2016). Existem vários métodos
para minimização do uso de pesticidas, destacando-se entre eles o controle integra-
do de pragas: um conjunto de métodos de controle e desenvolvimento de critérios
que apontem a minimização de pesticidas (CANASTRA, 2017).

5. Eficiência do
controle
4. Medidas de
controle • Monitorar o ní-
3. Grau de vel da infestação
infecção • Avaliar o uso após aplicação
2. Biologia e e impacto das do controle.
comportamento • Avaliar a exten- medidas
1. Identificação são da infecção
Coletar auxiliará a definir • riscos,
• Identificar a informações: benefícios,
as medidas de
praga. eficácia.
• alimentação; controle.
Exemplos:
• reprodução;
• controle bio-
• temperatura;
lógico, remoção
• umidade; mecânica, arma-
dilhas, etc.
• entre outros
dados.

Leitura adicional recomendada


• Para saber mais sobre boas práticas de manejo de sistemas de aquaponia. Para
saber mais sobre boas práticas de manejo de sistemas de aquaponia, sugere-
-se a leitura de Queiroz (2017) e, em relação aos parâmetros físico-químicos
do sistema, peixes, plantas e tipos de sistema, podem ser encontradas mais
informações em Canastra (2017);
• Para saber mais sobre os parâmetros físico-químicos do sistema, peixes, plan-
tas e tipos de sistemas, ler Canastra (2017).

28
• CARNEIRO, P. C. F.; MARIA, A. N.; FUJIMO-

LIVRO DO PROFESSOR: AQUAPONIA


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NUNES, M. U. C.; MARIA, A. N.; FUJIMOTO,
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gestor/aquaponia - produção sustentável • Rome, FAO. 262 pp. 2014.

30
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AGRADECIMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - N° 424888/2016-5

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