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"A Vida que Ninguém Vê", uma obra brilhante da jornalista brasileira Eliane Brum, se

destaca como uma coletânea envolvente de narrativas que explora a realidade de vidas
marginalizadas e esquecidas. Ao longo de sua trajetória como colunista no jornal Zero Hora,
de Porto Alegre, Brum compila relatos que proporcionam uma visão crua e penetrante das
injustiças sociais entranhadas no cotidiano de indivíduos comuns. Esta experiência não
apenas me permitiu refletir sobre as possíveis consequências trazidas pela engenharia, mas
também destacou a importância de ser um profissional comprometido com a causa social.

Ao mergulhar nas páginas do livro, é impossível se conectar profundamente com as


histórias narradas. Eliane Brum revela uma habilidade ímpar em desvelar a humanidade por
trás das frias estatísticas, conferindo voz às experiências de pessoas muitas vezes
invisíveis aos olhos da sociedade. No mosaico dessas narrativas, emergem lampejos de
resiliência, superação e da capacidade humana de enfrentar adversidades.

Contudo, é inegável que a maioria das histórias é permeada por uma atmosfera de tristeza
e desesperança. Brum não hesita em expor as profundas feridas sociais, evidenciando as
cicatrizes deixadas por um sistema que negligencia seus cidadãos mais vulneráveis. A
leitura, por vezes, transforma-se em um exercício doloroso de reflexão sobre as injustiças
persistentes em nossa sociedade.

A autora conduz o leitor por um caminho de desconforto, instigando-o a confrontar


realidades cruas e incômodas. A obra, apesar de não proporcionar uma experiência
agradável, é inegavelmente valiosa. São 21 histórias de pessoas e personagens
encontrados pelas ruas de Porto Alegre e cidades próximas, e em todas elas, Eliane Brum
desempenha com maestria a importante função de questionar preconceitos e desafiar
concepções arraigadas, fomentando uma reflexão profunda sobre a condição humana e a
sociedade contemporânea.

Entretanto, em minha opinião, as mais marcantes são as histórias de pessoas como Israel,
que "descobriu nos olhos da professora que era um homem, não um escombro", e Adail,
que trabalha em um aeroporto, mas nunca viajou de avião. Este último, a menos de uma
centena de passos das asas do avião, jamais conseguiu alcançá-las, expressando que "me
chateia quando aquele povo exibido que vai pros Estados Unidos desembarca falando mal
do Brasil" e "eu não conheço outros lugares, mas sei que não tem melhor que o Brasil".
Assim, as palavras de Eliane e de seus personagens, como Alverindo, o Sapo, um pedinte
do Centro que não anda e vive no chão, "lambendo com a barriga as pedras da rua", são
incríveis. Questionado sobre como é ver o mundo de baixo para cima, ele responde que "é
mais bonito de baixo para cima do que de cima para baixo. A gente vê muita beleza…".

Em suma, "A Vida que Ninguém Vê" é uma leitura necessária e impactante, capaz de
despertar a consciência do leitor para as mazelas sociais frequentemente negligenciadas.
Mesmo diante da tristeza que permeia grande parte das narrativas, a obra ressoa como um
chamado à ação e à empatia, incitando os leitores a refletirem sobre seu papel na
construção de um mundo mais justo e igualitário.

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