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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PRÁTICAS INTEGRATIVAS I / TURMA C

ADRIAN LUCCA DA SILVA GOMES

DIÁRIO DE BORDO

MACEIÓ-AL
DIÁRIO DE BORDO

Diário de bordo apresentado à disciplina de Práticas


Integrativas I, para requisito parcial de obtenção de
nota do curso de Psicologia da Universidade Federal
de Alagoas Campus A.C. Simões.

Docente: Profª. Ma. Mariana Costa Falcão Tavares

Maceió-AL
Visita a Superintendência de Medidas Socioeducativas - 18/12

No dia 11 de dezembro, segunda-feira, foi feita minha visita à SUMESE


(Superintendência de Medidas Socioeducativas). É difícil saber por onde começar
mas é certo dizer que o local é completamente diferente do que eu imaginava. A experiência
foi transformadora e eu gostaria de compartilhar um pouco sobre ela. Já havia passado pelo
local várias vezes a caminho de outras partes da cidade, mas jamais olhei para ele
atentamente. Quando cheguei para a visita junto de meus colegas, acabamos por cometer um
engano e errar a entrada do lugar, por ser uma grande instalação fui impactado pela vasta
quantidade de entradas e pelas dimensões do lugar. Não muito tempo após nossa chegada
fomos capazes de nos informar e junto de meus colegas segui para a entrada correta onde
esperamos para sermos atendidos e guiados na visita. Inicialmente fizemos nossa verificação
de inscrição, demos nossos documentos e assinamos nossa presença. A posteriori seguimos
para uma sala onde havia a mulher responsável por proporcionar essa visita a nós, e outros
três profissionais, dois psicólogos e uma advogada. Um dos profissionais, o psicólogo
responsável por atender os jovens e lidar diretamente com a sua terapia, nos disse sobre a
extensão do trabalho que todos eles faziam ali, e durante essa conversa fiquei bastante
surpreso ao me defrontar com a realidade daquelas pessoas. Uma das primeiras informações
chocantes que nos foi passado é que em termos práticos, a reabilitação é um processo difícil e
que infelizmente a recuperação efetiva e reintegração na sociedade daqueles jovens acontece
em poucos casos, principalmente pela segunda informação que recebemos: a grande parte
deles, apesar de ainda menor de idade, chega para a superintendência já sendo faccionados a
algum tipo de organização ou facção criminosa; uma triste realidade enfrentada pelos internos
e pelos profissionais que tentam ajudar eles. A instituição é uma instituição voltada para
cuidar e reabilitar jovens garotos em conflito com a lei, e por esse fato eles chegam tendo
cometido os mais variados delitos, o que apesar de não ser uma surpresa acabou se mostrando
uma perspectiva difícil de trabalho para os psicólogos. Depois dessa conversa fomos levados
para um tour onde visitamos algumas alas do local, fomos conduzidos para as salas de aula
onde pudemos ver de perto o local onde os jovens têm suas aulas, segundo o profissional que
nos conduzia eles precisam frequentar a escola e isso é parte importante do seu processo de
reabilitação.

Também fomos levados até uma ala onde ficam os internos e pudemos ver eles
passando tempo fora do cárcere, os agentes acompanharam o processo enquanto o psicólogo
nos disse o quão importante foi a evolução que houve nos últimos anos no que tange ao
tratamento dado a esses jovens. Segundo ele, em tempos passados infelizmente ocorriam
casos onde abordagem agressiva mesmo que repreendida ainda ocorria, e atualmente
felizmente com a atuação da psicologia esse tipo de situação não ocorre mais. Por conseguinte
a atitude dos jovens e as situações de violência entre eles próprios e para com os profissionais
diminuíram drasticamente. Eu perguntei ao psicólogo se ele atribuía essa mudança, se era a
mudança geracional ou a inserção prática da psicologia e sua atuação efetiva, ele me
respondeu que era um pouco dos dois e isso fez bastante sentido para mim.
Depois de algum tempo nós fomos levados por um corredor que levava até uma área
aberta onde eles praticam esportes, semelhante a uma quadra, havia mais a frente um campo
de futebol também para atividades recreativas. Pudemos ver uma instalação de atuação direta
da polícia, ao indagar ao profissional responsável, ele disse que apesar das ressalvas dele e de
outros profissionais, ainda é necessário que se mantenha uma força especial de prontidão
dentro das instalações, pois alguns dos jovens só respeitam aqueles profissionais. Fomos
levados até um local interessante após isso; era uma enfermaria onde os jovens eram tratados
e lá pudemos conhecer um pouco mais da forma como eles trabalham. Infelizmente eles não
podem trazer mais de um jovem para ser tratado de imediato sem fazer a checagem sobre eles
serem ou não faccionados, pois isso gera atritos que acabam desaguando em atos agressivos e
às vezes violência. Lá nessa enfermaria havia um corpo médico equipado e preparado para
lidar com as demandas dos jovens, algo que me deixou contente, foi uma surpresa ver o quão
bem preparada era a ala médica local.
Entretanto foi difícil ouvir algumas histórias sobre a realidade daqueles jovens, o
psicólogo nos contou sobre um garoto bem jovem que havia cometido um crime realmente
chocante mas que agia como criança, e que aparentava não compreender a natureza de seus
atos, e ainda sim estava preso com jovens mais velhos que ele que cometeram delitos graves e
que poderiam influenciar ele de alguma forma negativa. Talvez naquele caso a
superintendência não fosse o local ideal para tratar da situação daquele jovem.

Também foi difícil ouvir sobre a ala para jovens que cometeram crimes como abuso e
estupro, uma ala separada pois os outros internos não os aceitam entre eles e cometem atos de
violência se são mantidos juntos. Alguns deles chegaram até o local com histórias que
embrulham o estômago, mas aprendemos que isso não faz eles menos merecedores de ajuda
psicológica.
Fomos conduzidos então após isso para uma ala que continha a biblioteca da
instituição, um local maravilhoso, extremamente bem preparado, equipado e agradável. Uma
das mais gratas surpresas ao visitar a SUMESE. Lá fomos apresentados a área recreativa onde
eles podem ler e estudar, diversos títulos muito interessantes estavam naquelas prateleiras e
eu me peguei pensando que o mundo da literatura muito poderia fazer para o processo de
tratamento e reabilitação daqueles jovens, visto tantas informações duras de ouvir que recebi
sobre suas realidades. Foi bom perceber que eles estão tendo o melhor suporte possível para
serem reintegrados na sociedade. Toda a equipe do local nos recebeu muito bem e ouvimos
um pouco sobre como muitos dos jovens infelizmente não aderem a terapia de forma gentil,
alguns deles acabam por pedir para ver o psicólogo apenas para sair um pouco de suas celas.
Ainda sim eles estão em contato com um profissional de psicologia, e apenas isso já é algo
positivo.
Aquele local é definitivamente um lugar de aprendizado, e eu gosto de pensar que pode
ser uma porta para um recomeço, uma vez que os débitos dos internos para com a sociedade
sejam quitados. Eu não esperava encontrar um local de tanta empatia e cuidado. Todos os
profissionais foram solícitos para conosco e também foram em suas interações com os jovens
lá detidos. Eu pude perceber quanto amor há envolvido nos profissionais de psicologia e
medicina que estão responsáveis por cuidar daqueles jovens. Foi uma experiência
transformadora que abriu meus olhos para muitas formas de se fazer psicologia.
Depois de passarmos pelas mais diversas alas, infelizmente chegou ao fim a nossa
visita. Retornamos para onde havíamos deixado nossas coisas, peguei minha mochila e pude
agradecer pela experiência, educação e profissionalismo dos profissionais que me atenderam
e me guiaram durante minha estadia lá. Junto de meus colegas eu parti, com o interesse de
retornar lá em algum momento, para uma nova visita e ansioso para ouvir novas boas notícias
e mudanças positivas para os profissionais e para os internos.

Cada momento lá foi uma subversão de minhas ideias pré estabelecidas sobre uma
instituição desse tipo, me ensinou a não julgar as coisas antes de conhecê-las de perto, algo
que não me esquecerei nunca mais. Durante minha formação como psicólogo pretendo ter
mais experiências assim e espero que elas sejam tão transformadoras quanto.

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