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Resumo
O objetivo deste artigo é analisar uma experiência de ensino-aprendizagem centrada na
técnica do grupo operativo, em um projeto de extensão universitária denominado Formação
de Agentes Sociais de Mudança (ASM), proposto para os estudantes da Universidade
Federal da Bahia, Brasil. A partir da caracterização do contexto social, econômico e
político, sob a égide das políticas neoliberais de estado, que atravessam progressivamente as
universidades públicas, analisamos a convivência universitária em sua reprodução do
padrão competitivo e produtivista e sua repercussão nas atividades acadêmicas, em especial
no ensino. Emerge a partir desse contexto, a necessidade de promover um espaço de
acolhimento, reflexão e de delineamento de estratégias de ação em relação às consequências
desestruturantes da subjetividade dos estudantes decorrentes das dimensões da cultura
universitária que dificultam criação de uma ambiência adequada ao aprendizado. Foi
utilizado como referencial central a Psicologia Social de Pichon-Rivière, e a técnica dos
grupos operativos.. Os resultados demonstram a efetividade da técnica do grupo operativo
no contexto do ensino universitário no sentido da criação de um ambiente de compromisso
e confiança através da explicitação de contradições, dos conflitos e histórias de vida, da
reflexão coletiva sobre os problemas enfrentados na universidade e delineamento de
projetos de mudança institucional
Nessa formação, a técnica dos grupos operativos é assumida como uma potente
estratégia pedagógica, que será objetivo de descrição e análise em uma das turmas do
curso, composta de trinta os estudantes de cursos diversos de Bacharelados
Interdisciplinares, uma modalidade nova de curso superior, que se caracteriza por
promover uma formação incial em humanidades, artes, saúde e tecnologia, durante três
anos, para em seguida o estudante poder optar por um curso tradicional de natureza
profissional tal como: engenharia, medicina, psicologia etc.
Eu tive um trauma na infância, pois quase morri, a forma que minha mãe me
podava. Não que ela era ruim, mas ela tinha medo de me perder. Meu irmão
falou que eu era queixo duro para aprender. Na Pratinha eu superei o medo.
Quanto esse trauma é forte. Todos mergulharam e eu falei que ia ficar ali. O
instrutor falou porque não vai? Então vou deixar que a figura de mainha, com
os medos dela, para eu superar. Acho que aprender é isso, é você se permitir.
Eu senti muita falta do encontro, pois quando você não tem uma terapia em si,
aqui é como se fosse uma terapia em si, aqui é como se fosse uma terapia
grupal. Eu li o livro. Será que vale a pena você ficar no seu tempo e deixar as
coisas passarem? Eu quando entrei no BI nunca mais tinha feito uma resenha,
tinha que correr com o tempo real e não o meu, e agora fiz do livro de Denise.
Eu achei longe demais, aqui é como se fosse um casulo. Faz uma falta!
Conclusões provisórias
A experiência evidenciou que o estudante universitário na atualidade, precisa de
um espaço de acolhimento de suas vivências que possibilite uma reflexão crítica e a
expressão de sentimentos, para que possa seguir fortalecido e atuante no seu contexto
educativo e social. A crise que vivemos tem atuado, principalmente, no
constrangimento da possibilidade de nos constituirmos como sujeitos, como produtores
da nossa própria forma de ser no mundo. A importância de processos formativos da
natureza deste, ora descrito, é que ele tem o potencial de ativar o protagonismo
individual do estudante universitário, mas, sobretudo de colocar em evidência a força do
grupo para o enfrentamento dos contextos e situações adversas, provocados pelo
modelo neoliberal que insiste em colocar nas costas do cidadão a responsabilidade pelo
seu fracasso como ser humano.
Dessa forma, torna-se fundamental que o docente universitário contribua para o
desenvolvimento da atitude protagonista dos estudantes, apostando em experiências
grupais e na articulação entre as dimensões do pensar, sentir e agir no sentido de que
eles sejam comandantes do seu destino e atores do processo social, contribuindo para a
melhoria das políticas institucionais, seja na observância da efetividade das mesmas,
seja na proposição de novas formas de conviver e promover o processo de ensino-
aprendizagem.
No horizonte da nossa utopia essa ética de ação social solidária inicia-se dentro
da Universidade, mas vai além dos seus campi. Ao estimular a mudança cultural
universitária, e sendo a Universidade, enquanto lócus do conhecimento, uma referência
para a sociedade, ele poderá alcançar as possibilidades do ser humano onde quer que ele
esteja, e onde quer que exista a necessidade.
Referências
BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana Maria. (Des) fetichização do produtivismo
acadêmico: desafios para o trabalhador-pesquisador. São Paulo, RAE, v.51, n.3,
maio/jun, 244-254, 2011.
DARDOT, Pierre e LAVAL, Christian. A nova razão do mundo- ensaio sobre a
sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
FERNANDEZ VELLOSO, Marco Aurélio e MEIRELES, Marilúcia. Seguir a
aventura com Enrique José Pichon-Rivière: uma biografia. São Paulo: Casa do
psicólogo, 2007.
CUNHA, Carlos Henrique e LEMOS, Denise. Grupos: o poder da construção coletiva.
Rio de Janeiro: Qualitymark, 2011.
CUNHA, Maria Isabel. O professor universitário na transição de paradigmas. São
Paulo: JM Ed., 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e terra,1996.
QUIROGA, Ana. Crisis, procesos sociales, sujeto y grupo. Buenos Aires: Ediciones
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