Você está na página 1de 4

1

UM OLHAR ÀS POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO DE MOÇAMBIQUE 1


por Euclides Daniel 2

O cenário histórico Moçambicano é uma natural referência da necessidade contínua de


um debate profundo relactivo às políticas de informação. Isso porque o país desenvolve por
inerências externas, tais como a globalização, a informática às tecnologias globais, onde aqui
são considerados outros e novos elementos, tais as forças naturais externas das quais sempre
dependemos, nesta ordem de ideias, embora a palavra política esteja sendo usada com certo
preconceito. Ou seja, atribuída ao espírito partidário, todos os cidadãos são políticos na
medida em que, para além da sua reflexão em torno das dimensões directivas e promulgativas,
a sua aceitação como ser natural e gregário da sociedade é uma marca dominante na aceitação
da sua dimensão política.
Neste sentido, importa antes de mais nada aceitar que eternas fraquezas estão no
encalço de Moçambique com maior firmeza para a questão estrutural das políticas sociais ou
públicas com referência à informação, considerada o maior elemento e dinamizador da
essência liberativa do ser humano ou do desenvolvimento governamental, mas que no fundo é
este olhar governamental que a relega, em termos documentais e reais para uma posição
secundária, aliás, como uma plataforma ao serviço da comunicação social o que decerto
parece-nos errada esta proteção.
Basicamente a sociedade moçambicana enfrenta atualmente transformações
significativas em termos econômicos, políticos e sociais, assim como mudanças relacionadas
aos problemas ambientais aos quais se precisa de informação, que o governo parece não
preparado e capacitado adequadamente a satisfazer/explicar. Neste contexto, a informação
torna-se um instrumento crucial da gestão pública diante da complexidade e das dimensões
dos problemas actuais.
O país carece de legislação que indica o grau de institucionalização de determinadas
ações no panorama da informação como, por exemplo, o decreto 33/92 do Conselho de

1
Texto publicado originalmente no Facebook do MURAL INTERATIVO DO BIBLIOTECÁRIO. Seção Mural
Internacional, 08 jul. 2015.
2
Bibliotecário em Maputo, Moçambique.
2

Ministros, que criou Sistema Nacional de Arquivos (SNA) como uma mera miragem durante
longo período, fruto de descomprometimento governamental e falta de mecanismos assentes à
realidade nacional (formados, líderes, analísticas) que tão bem poderiam aqui intervir de
forma mais consistente a fim de fazer da questão arquivística nacional um campo certo e
potencial para as transformações e necessidades de informação social.

Institucionalização do Sistema Nacional de Arquivos (SNAE)

A nossa realidade arquivística se legitima até certo ponto no Arquivo Histórico


Moçambicano (AHM) como uma unidade bem estruturada e com uma dimensão nacional em
termos do seu acervo, mas que não se faz competência maior por conta dos defeitos e
diferentes atropelos relativamente a objetivos do Centro de Documentação de Moçambique
(CEDIMO). Enfim, as falhas de ordem governamental corrente (falta de um Arquivo
Nacional com uma representação nacional, pois o AHM pertence à Universidade Eduardo
Mondlane – UEM ).
A institucionalização do SNA abria espaço à criação e inauguração dos arquivos
provinciais. Mas não houve institucionalização/implantação, o que nos leva dizer que temos
lei, mas não existe infraestrutura. A considerar o decreto 36/2007, que revoga o decreto 33/92
e institui o chamado Sistema Nacional de Arquivos do Estado (SNAE), tem o CEDIMO seu
proponente e executor, sob a direcção central do Ministério da Função Pública, e ao mesmo
tempo “órgão director central do SNAE com regulamentos centrados em políticos e sem
profissionais da área, o que nos leva a pensar numa lei somente para a acomodação da
comunicação ou mesmo para a pura expressão” para o inglês ver.
Assim, a situação que caracteriza a questão da informação no âmbito dos programas
governamentais aparenta um real controle governamental, na sua relação com a sociedade,
mas que no fundo é uma reflexão da desconexão entre os diferentes vetores legítimos de
políticas, informação e da sociedade em si. Um dos momentos mais avassaladores refere-se
maturamente no que concerne aos ditames da Constituição da República (2007), actualmente
em vigor. Refere-se à dimensão da comunicação da informação inscrita no âmbito do
preceituado da liberdade de imprensa e do direito à informação, excluindo a questão que diz
respeito à gestão e disseminação da informação, bem como do acesso do cidadão à
informação. É assim que têm se manifestado os programas quinquenais do governo. Falamos
concretamente dos de 2000/2004 e o 2005/2009 como uma lacuna, do mesmo contexto, isto é,
3

mais virado para as questões da comunicação como se da informação houvesse algum


elemento central ou árbitro regulador das acções e aplicações políticas.
A Resolução n.º 12/97, do Conselho de Ministros, que aprova a Política Cultural e sua
estratégia de implementação, concebe as poucas Unidades de Informação que o País possui na
estrutura do Estado, como agências culturais do mesmo e não como agências de informação,
como o mais gritante cenário integrado aos arquivos e bibliotecas a sua expressão cultural e
não como plataformas integradas nas dimensões informacionais nacionais, isto é, como
elementos da identidade da informação. Por exemplos: arquivos não são concebidos em sua
dimensão informacional onde assumiriam papel de liderança na gestão da informação e na
definição de políticas de informação arquivística, tão pouco como instrumentos ao serviço da
administração e de apoio à tomada de decisões, mas sim, concebidos em sentido cultural com
função de preservar a memória institucional e ações de pesquisa histórica.

A falta de políticas públicas de acesso à informação

A constituição da república no seu Artigo 48°, n° 1 diz: “Todos os cidadãos têm


direito à liberdade de expressão, liberdade de imprensa, bem como o direito à informação”.
Sobre o acesso à informação, o cenário não se difere do já referenciado artigo acima. O acesso
à informação e às Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), conforme
apresentado na reflexão do Jardim (?), coloca-se como questão central para os tempos atuais
visto estarmos vivendo na chamada era da informação. A emergência das TICs e os avanços
científicos se impõem nos países desenvolvidos. Isto permitiu que a Arquivística ganhasse
uma autonomia, deixando assim de ser uma disciplina auxiliar da história e valendo-se da sua
relação de interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.
O acesso à informação tem deparado com obstáculos de natureza legal e não legal. Os
legais relacionam-se com a criação de mecanismos capazes de contribuir para a diminuição
das barreiras que às vezes concorrem para os problemas do acesso. No caso moçambicano,
podemos dar o exemplo do decreto 36/2007 que contém instrumentos para a implementação
do programa da gestão dos documentos administrativos. Os não legais são vários, desde a
existência das massas documentais acumuladas até à falta de infraestruturas.
De forma sumária, no campo político se realça a necessidade duma reestruturação de
raiz política pública da informação que deve abranger em primeiro plano o profissional (da
informação) como sujeito e como objeto. Isto significa que este profissional deve participar na
elaboração dessa política e ser beneficiado pela mesma como seu objeto. Depois de uma
4

análise ao cenário moçambicano no âmbito das políticas públicas de informação, chegou-se a


uma conclusão de que o profissional não figura como peça fundamental na elaboração das
políticas públicas (da informação), por razões que não são tornadas conhecidas, o que talvez
seja a razão da falta de harmonia entre a legislação, realidade e os programas do governo
nesta área.
A falta de interacção entre o governo e a sociedade civil faz com que o que se
pretendia como Política Pública da Informação se transformasse numa política governamental
de informação e, neste caso, de cultura e de comunicação social. Considerando o cenário
acima descrito, concordamos com o reportado no dia 1º de outubro de 2014 pelo “Jornal
Notícias” citando o Relatório do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA),
publicado a 30 de agosto de 2010: “No país não existe nenhuma instituição pública aberta e
transparente no tocante ao acesso à informação”. E nós diríamos que no país não temos
políticas públicas de informação devido à falta de vontade política à valorização e
reconhecimento da área.

Você também pode gostar