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Título: Biocombustíveis: estratégia de

desenvolvimento ou de mercado
lucrativamente sustentável?

AUTORES

PROF. DR. LAZARO CAMILO RECOMPENSA JOSEPH


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
PROF.DR. PEDRO RAMOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Titulo: Biocombustível: estratégia de desenvolvimento ou de mercado lucrativamente
sustentável?

Introdução.

O mundo se encontra diante da uma enorme campanha global cujo objetivo é incorporar, de forma
imediata, diferentes matérias primas como: a cana de açúcar, soja, milho, colza, beterraba, etc. à produção
de biocombustíveis como substitutos dos derivados do petróleo. As principais justificativas encontradas para
este fenômeno fundamentam-se no aquecimento global e na contaminação do meio ambiente.
Pretende-se substituir todo o consumo de energia fóssil (petróleo) a partir do uso dos
biocombustíveis via o agronegócio ou agribusiness, modelo de produção agropecuária que tão “magníficas”
colheitas tem oferecido e que possui um conjunto de peculiaridades tais como: a) altíssimo consumo de
energia fóssil, b) a necessidade de grandes estabelecimentos agropecuários e concentração fundiária; c)
utilização intensiva de tecnologias e máquinas em detrimento ao trabalho humano; d) danos ambientais em
grande escala; e) utilização de grandes quantidades de água no cultivo irrigado; f) presença de modificações
genéticas para melhoria de sementes ou rebanhos; g) concentração de capitais -mesmo sabendo-se que a
maioria dessas matérias primas a serem utilizadas para este fim apresentam balance energético baixo
(entendido como a relação entre o gasto de energia fóssil utilizado para obter uma unidade de biodiesel e a
energia obtida em forma de biodiesel).
Nesse sentido, devemos destacar as diferenças entre a energia que se pretende extrair hoje da
agricultura e a contida na energia fóssil (petróleo, gás, natural e carvão) que representam 80% da energia
consumida no mundo. A primeira é obtida como resultado da fotossíntese: sol, água e nutrientes que a cada
ano se obtém com as colheitas; já a energia fóssil apresenta a mesma origem com a diferença de que é
resultado da poupança da fotossíntese produzida ao longo de milhões de ano. Ou seja, espera-se que a
natureza nos dê, cada ano, o equivalente poupado durante esses milhões de ano.
Portanto nem o biodiesel nem o biomas poderão ser substitutos energéticos, pois a fotossíntese que
os origina é limitada e terá de ser utilizada prioritariamente como substitutos na produção atual dos
fertilizantes e da atual mecanização agrícola pilar do modelo do agronegócio.
Ainda assim, as principais economias do mundo, aliás as maiores contaminadoras do planeta, estão
realizando uma aliança na qual participam as multinacionais petroleiras, biotecnológicas, montadoras de
autos, os grandes produtores de grãos, bancos etc.- agentes que decidirão o destino e uso das terras e as
paisagens rurais de algumas regiões da América Latina.
O trabalho tem como objetivo analisar a incompatibilidade teórica existente entre o conceito (e/ou
princípios) do desenvolvimento sustentável e a produção de biocombustíveis baseado no modelo do
agronegócio ou agribusiness. Para isto, no primeiro ponto descrevem-se os principais alertas emitidos pelos
Relatórios do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, ou Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática) sobre: a)a influência e o papel das atividades humanas no processo do aquecimento
global e a contaminação ambiental, b) o custo de oportunidade de reduzir as emissões de CO 2, c) as
principais características do mercado dos biocombustíveis (etanol de cana de açúcar e biodiesel) no Brasil.
No segundo item analisam-se os principais investidores estrangeiros interessados na produção dos
biocombustíveis e colocam-se algumas reflexões acerca de este negócio “lucrativamente sustentável”. A
seguir levanta-se uma reflexão entre o balanço energético dos biocombustíveis, a problemática da sua
contabilizarão e registro, e coloca-se algumas cifras que relacionam a superfície agrícola disponível no
mundo e o consumo de fertilizantes com o intuito de alertar que, se o programa dos biocombustíveis for
levado a escala global, será necessário o uso de 64% da terra cultivada, o que geraria uma tensão entre a
alocação das terras dedicadas à produção de alimentos e/ou a produção de biocombustíveis.

2
1- Desenvolvimento sustentável: o bom do etanol e dos biocombustíveis à luz dos câmbios
climáticos - A solução “O remédio pode ser pior que a doença”.

A primeira parte do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera, produzido pelo IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change, ou Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), é
precisa e contundente ao não deixar dúvida de que a maior parte do aquecimento dos últimos 50 anos se
deve exatamente às emissões de gases-estufa provocadas e geradas pelas atividades humanas.
Segundo o IPCC1 a concentração inédita de gases do efeito estufa na atmosfera, (dióxido de carbono
(CO2) e metano) são produzidos pela queima de petróleo e derivados, carvão, agricultura e destruição
de florestas tropicais. No entanto, as emissões humanas desses gases só fazem aumentar. Elas
cresceram de 6,4 bilhões de toneladas anuais em 1990 para 7,2 bilhões nesta década.
O relatório supracitado originou e gerou a reação dos diferentes governos do planeta, com destaque
para as palavras do presidente francês Jacques Chirac que comentou: é hora de uma "revolução" nos
padrões de produção e consumo de energia. Justo no momento em que o mundo mais consome petróleo. O
consumo global está prestes a equiparar-se à oferta, no patamar de 86 milhões de barris por dia. Uma frase,
de um recente anúncio publicitário do grupo norte-americano Chevron Texaco, ilustra o dramático aumento
do consumo de petróleo no planeta nos últimos anos: “foram necessários 125 anos para que o mundo
consumisse o primeiro trilhão de barris de petróleo, mas bastarão 30 anos para consumir o segundo”.
Sendo que a multinacional Exxon, a maior petrolífera do mundo, teve no ano 2006 o maior lucro da
história do capitalismo: US$ 39,5 bilhões. Enquanto o planeta depender de cifras e objetivos como esse,
não terá sossego e por conseguinte as altas temperaturas e aumento do nível do mar continuarão a espiral em
ascensão. Assim o desafio é saber "Como o mundo vai lidar com isso num espaço de tempo curto, até 2020
ou 2030?".
Evidentemente é de consenso geral que para todos aqueles agentes e atores do desenvolvimento,
sejam empresários, políticos etc. que assumem uma postura cética e que argumentam que o aquecimento
global é "bobagem" e que o(s) relatório(s) são excessivamente alarmantes, devem ter presente que na
percepção da sociedade, o conceito das mudanças climáticas é um fato real e são coisas do presente,
constituindo-se o aumento do aquecimento global um processo irreversível.
Assim a questão aponta para a análise do “custo de oportunidade” de atuar ou não atuar, na
minimização dessa problemática. Segundo Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, há dois novos conceitos
ou termos que passam a dominar o debate internacional sobre o clima: mitigação (como diminuir emissões
de CO2 ou retirá-lo da atmosfera) e adaptação (proteger as populações dos efeitos inevitáveis).
É no primeiro, o da mitigação que se dão os embates políticos. Países ricos, os que mais contribuem
para o aquecimento global, a poluição e contaminação ambiental querem que nações em desenvolvimento
também aceitem compromissos de redução.
O próprio relatório do IPCC argumenta que uma possível solução seria diminuir pela metade a
emissão de CO2 (que representa um enorme desafio), que como veremos a seguir, torna mais complicadas e
sensivelmente mais difíceis as negociações entre países ricos e pobres para se tentar desacelerar o
aquecimento global. (Ver gráficos 1 e 2).

1
Ver, Intergovernmental Panel on Climate Change Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Climate
Change 2007: The Physical Science Basis, February, 2007.

3
Grafico No. 1 Onde estão concentradas as
oportunidades de redução de emissões até
2030
Leste
Europeu
11%
Países
Países em
industrializa
desenvolvim
dos
ento
28%
61%

Gráfico no. 2. Emissões de CO2 per capita em


toneladas
Fonte: IPCC Working Group III Fourth Assessment Report. Climate Change 2007: Mitigation of Climate
Change. Bangkok – Thailand, May 2007.

Dos gráficos podemos inferir que:

 O maior volume de oportunidades mais fáceis para tentar frear a mudança climática encontra-se nas
nações pobres, que por sua vez são as que menos CONSOMEM, emitem CO2, contaminam e
poluem o meio ambiente. Ou seja, deter o aquecimento global vai ser difícil, os resultados vão
demorar a aparecer e vai ser preciso negociar muito para que o potencial de redução na emissão de
gases-estufa nos países em desenvolvimento possa ser aproveitado;
Segundo Meinrat Andreae, climatologista do Instituto Max Planck de Química, da Alemanha, para
tentar diminuir o aquecimento a 2 0C devem ser expulsas à atmosfera aproximadamente 750 bilhões
de toneladas de CO2 neste século. (Vale lembrar que um acréscimo de +2 0C na temperatura do
planeta significará menos água e mais seca, 20% a 30% das espécies estarão em risco de extinção,
20% da Amazônia sofrerá savanização, a produtividade agrícola começará a declinar em baixas
latitudes e aumentar em altas latitudes, etc). Caso não se faça nada para evitar que se cumpra esta
ameaça natural, serão emitidos, no fim do século, até 1,4 trilhão de toneladas de CO2. Para ter uma
idéia do tamanho do problema que é evitar a emissão de 750 bilhões de toneladas de CO 2, basta
saber que o Protocolo de Kyoto -tratado assinado em 1997 para conter cortes de emissão, previa só 5
bilhões em emissões até 2012.
 Para piorar o cenário, a segunda parte do relatório do IPCC é enfático quanto à combinação das
mudanças climáticas e a ação destrutiva do homem deve superar a capacidade dos ecossistemas de
absorverem esses impactos e as regiões que mais sofrerão serão justamente as mais pobres por serem
onde as pessoas são menos capazes de “adaptação à mudança climática”, ou seja, o aquecimento
tornará um mundo desigual ainda mais desigual ! (Ver IPCC Working Group II Fourth
Assessment Report. Climate Change 2007: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Brussels,
April 2007.)

O relatório aponta três pontos chaves:

 A primeiro deles é que não vai adiantar tentar concentrar mudanças apenas na política de geração de
energia, a indústria e a agricultura têm uma grande contribuição a dar;

4
 O segundo se refere aos custos para cortar emissões. Uma boa parte do trabalho pode ser feita por
meio de investimentos que retornam, resultando em custo zero ao final. Em geral são melhorias em
eficiência energética (Ver Tabela no. 1);
 O terceiro e mais complicado aspecto apontado é que as melhores oportunidades para cortar
emissões estão nos países em desenvolvimento, argumentando que "a razão desse potencial, de maneira
geral, é que a infra-estrutura desses países ainda não foi totalmente construída", ou seja, quem ainda está
por fazer usinas e indústrias ainda têm a opção de “escolher“ tecnologias mais limpas. Para quem
já tem tudo instalado, como os países desenvolvidos, fica mais difícil.

TABELA NO. 1 CUSTO DE OPORTUNIDADE "APROXIMADO" DE REDUZIR DA


ATMOSFERA 40 BILHÕES DE TONELADAS DE CO2 (O QUE REPRESENTA OITO
VEZES A META DO PROTOCOLO DE KYOTO) EM 2030)
DE GRAÇA BAIXO CUSTO ALTO CUSTO
4,2 bilhões 10,7 bilhões 25 bilhões
Medidas a serem tomadas
 Troca de lâmpadas por  Substituição de  Incluem máquinas para
fluorescentes; maquinário industrial; capturar CO2 de termelétricas
 Leis que proíbam a  Uso de tecnologias e injetá-lo no sub-solo;
produção de carros que agrícolas menos agressivas.  Desenvolvimento de
consumam muito tecnologias como a de carro a
hidrogênio.
Fonte: IPCC Working Group III Fourth Assessment Report. Climate Change 2007: Mitigation of Climate
Change. Bangkok – Thailand, May 2007.

Perante esse cenário, nada mais lógico que os países industrializados tentem eximir-se da sua
responsabilidade histórica no problema, uma vez que eles são os principais EMISSORES do CO 2 e apostam
em reverter esta situação obrigando e impondo metas aos países menos industrializados. Na realidade, a
problemática da mitigação somente será resolvida uma vez que os principais emissores assumam as suas
próprias metas, que significa em última instância a redução do seu padrão de consumo e portanto uma
mudança radical nos seus privilégios, formas e estilo de vida (viciados no uso do veículo automóvel,
especificamente no transporte individual).
No entanto, no caso do Brasil, como atenuante a esta problemática (entenda-se a redução das
emissões) resta o radical decréscimo dos desmatamentos amazônicos, pois é assinalado como um dos países
que mais emitem gás carbônico por essa via.
A preocupação com o meio ambiente entra na agenda de escala mundial a partir dos anos 70, com o
reconhecimento de que o modelo de desenvolvimento produtivista do período de pós-guerra havia
originado problemas de “outra” natureza como: níveis de contaminação altamente comprometedores da
qualidade de vida em geral, e alto risco de esgotamento dos recursos naturais.
Entre outros trabalhos, o estudo que mais se destacou no ambiente internacional, na década de 80,
foi “Nosso Futuro Comum2”, de 1987, o qual acolhe a idéia de desenvolvimento sustentável e assim o
define: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
em atender suas próprias necessidades”.

2
Este estudo também é conhecido como “Informe Brundtland”, denominação derivada do nome Gro Harlem Brundtland, primeira ministra de
Noruega, que presidiu a comissão encarregada por este tema.

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Em síntese, o debate mundial sobre meio ambiente encaminha-se à adesão de um novo estilo de
desenvolvimento, que combina eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica, cujo alcance
somente pode ser viável por um esforço conjunto de países ricos e pobres, ou seja, a “chave mágica” para
chegarmos a um futuro melhor denominou-se “desenvolvimento sustentável”.
Esta definição, segundo Moreira (2007), derivada do paradigma da globalização que é de onde
provêm essas noções ambientalistas de se resgatar a natureza, é vaga o suficiente para não ferir os interesses
hegemônicos de nações, corporações nacionais e transnacionais, de classes sociais, de domínios territoriais e
tecnológicos. O que ganha status é um conceito de desenvolvimento sustentável hegemônico, adequado à
lógica dos mercados globalizados.
Nesse contexto, é questionável a forma de como obter consenso político para construir o futuro que
consideramos mais adequado para o planeta se o que impera é a lógica e a dinâmica do capitalismo, que
são sempre da maior lucratividade no menor tempo possível. Na realidade, essas questões sobre o que
fazer empurram, cada vez mais, para decisões de curto prazo, de um maior imediatismo. Não se trata
unicamente de uma questão de discurso, mas de domínio numa relação de poder. (Ver Moreira, 2007).
No caso de Brasil, pensar que o desenvolvimento sustentável (via monoculturas como a cana e a
soja) vai resolver os problemas do meio ambiente, da desigualdade e exclusão social é como acreditar no
Maná, porque o capitalismo é capaz de transformar o meio ambiente e o ecossistema em mercadoria, para
manter o dito “status quo”. Ou seja, sob a existência da propriedade privada e da lucratividade, essa
ecologia capitalista apóia-se numa utopia de mercado, que pressupõe a igualdade de todos como se fosse
possível um mercado livre e perfeito. Mas na realidade da globalização e da ordem transnacional
contemporânea, no domínio dos oligopólios e das multinacionais, isso não existe. Esse discurso mascara
os fundamentos sociais e políticos da desigualdade, e esconde assimetrias de poder. (Idem).
Uma questão é inevitável: por que isto é importante para uma discussão do Etanol e os
Biocombustíveis? Diferentes considerações devem ter-se presente:

a) Com as alertas emitidas nos recentes Relatórios do IPCC em relação ao aquecimento


global, as mudanças climáticas e a sobrevivência do globo terráqueo, as maiores economias
“contaminadoras do planeta”, com o pretexto de salvar o meio ambiente (entenda-se via
mitigação), tem se lançado num novo negócio altamente lucrativo que ameaça seriamente a
produção dos alimentos. Perceba-se que estamos perante uma grande campanha global dirigida
(pela União Européia, EUA e alguns países da América do Sul e Ásia) à produção de
biocombustíveis a partir de diferentes matérias primas como: soja, milho, cana de açúcar, girassol,
palma, colza, etc. como substitutos dos derivados do petróleo ou, pelo menos, como
complemento para utilização nos veículos automóveis. Em tese, isto permitiria um certo
amortecimento do choque petrolífero no nível dos preços, e, simultaneamente, seria uma
contribuição para o combate ao onipresente "aquecimento global". Estes tipos de combustíveis
são apresentados como “limpos”, “biodegradáveis”, “renováveis”, “não poluentes”, "verdes", e
"sustentáveis", e visam “sobretudo” o mercado automóvel;
b) Na realidade, está se produzindo uma aliança inédita na qual participam as multinacionais
petroleiras, biotecnológicas, de autos e os grandes produtores de grãos, os quais decidirão quais os
destinos das terras e as paisagens rurais da algumas regiões da América Latina. Vale lembrar que
EUA (o maior produtor de etanol de “milho” do mundo) apresentam os cálculos baseados no
melhor dos cenários de produções irrealistas de grandes colheitas e de alto aproveitamento de
biocombustíveis, desde o seu processamento até à utilização final, o que acabam por exigir 121 por
cento de toda a terra arável do país, para produzir biomassa suficiente para substituir o consumo
anual dos combustíveis fósseis. Ou seja, para poder substituir e suprir suas necessidades de
petróleo e derivados deveria cultivar seis vezes sua superfície.

6
c) Já a União Européia, em maio de 2003, adotou uma diretiva para promover o uso de
biocombustíveis nos transportes, com uma previsão de 5,75 por cento de quota de mercado em
2010, a atingir a sua oitava percentagem (8%) em 2015. Na realidade, é muito pouco provável que
estas metas sejam alcançadas segundo essas projeções, já que exigirá pelo menos 14 a 19 por cento
da terra arável total para serem dedicadas à produção de culturas energéticas, o que significa que
não restaria nenhuma terra reservada para proteger a biodiversidade natural, que na União
Européia é de apenas 12 por cento do total da terra agrícola. Portanto, fica claro que isto será
realizado nos países menos desenvolvidos, especialmente na América Latina onde, dizem
agora, há muito solo "livre" para o cultivo da “bioenergia”, o sol brilha mais durante todo o ano,
portanto as colheitas crescem mais depressa, rendem mais e a mão-de-obra é mais barata.

d) Em outras palavras, se procurarmos soluções dentro do paradigma atual de “consumo”


crescente de combustível (seja fóssil, seja verde), só poderemos esperar mais crises ambientais e
sociais, cada vez piores no futuro. Entende-se que neste sentido o Pico do Petróleo tem alguma
vantagem, enquanto fenômeno que irá fazer a humanidade passar por tempos duros e difíceis, essa
vantagem é que compreendamos que o paradigma do crescimento está errado. É errado continuar a
fazer planos econômicos para níveis de consumo energético crescentes ignorando que se esgotarão
os principais combustíveis fósseis (petróleo e gás) durante a primeira metade deste século.
Segundo Rocha (2007) vários especialistas e estudiosos do Pico de Hubbetr3 comprovaram
exaustivamente que não há nenhum substituto do petróleo, ou combinação de substitutos, que nos
permita continuar a consumir mais e mais energia a cada ano que passa, seja combustível para
transportes, seja eletricidade, seja até insumos agrícolas.

Segundo Alves, (2007) perante esta realidade incontornável, e mergulhados num sistema econômico
caracterizado pela intrínseca necessidade de crescer para viver, explorando sempre mais intensamente a
natureza e a humanidade, é compreensível que sintamos diversos sinais de perturbação e desorientação nos
centros de decisão políticos. Tornou-se vulgar nos depararmos com decisões políticas que encerram claras
contradições entre os objetivos anunciados e os conteúdos deliberados. Ora, isto não acontece por
incompetência dos governos, mas sim devido à pressão dos todo-poderosos chefes econômicos e financeiros
que, com grande capacidade de influenciar os governantes, e mestres que são na arte de sobreviver, vão
ditando as suas receitas para a crise, com as quais conseguem o ouro sobre azul, ou seja, continuarão com o
aumento dos seus lucros.(ALVES, D. Bioconfusão, 10 março de 2007)

1.1 Características gerais do mercado de Etanol. Perspectivas

O Brasil é o maior produtor mundial no complexo sucroalcooleiro, exercendo a liderança em todos


os segmentos: cana de açúcar (39%), açúcar (18,4%) e álcool (35,5%) (Ver gráficos 3 e 4 ). A produção
brasileira de álcool expandiu-se muito a partir do Proalcool e da mistura obrigatória do produto com a
gasolina. Este fato somado à evolução da pesquisa proporcionou uma elevada vantagem competitiva ao
Brasil em açúcar e álcool.

3
Hubbert, um geofísico, criou um modelo matemático da extração do petróleo que previu que a quantidade total de petróleo extraída ao longo
do tempo seguiria uma curva logística (inicialmente a função logística tem um rápido crescimento, depois abranda até que acaba por parar). Isto
implica que, a determinada altura, a taxa prevista de extração do petróleo seria dada pela taxa de mudança da curva logística, que segue uma
curva com a forma de um sino conhecida agora como a curva de Hubbert.

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Gráfico no. 3 Gráfico no. 4

Fonte: UNICA Fonte: UNICA

Tabela no. 2 Comparação de custos de Tabela no. 3. Comparação de custos de


produção de açúcar em (U$/tonelada) 2003 produção de etanol (Euros/litro) 2004

Países U$/tonelada Elementos de EUA Alemanha Brasil


Nordeste 150 custos (milho) Trigo Beterraba (Cana)
(Brasileiro) Prédios 0,39 0,82 0,82 0,21
equipamentos 3,40 5,30 5,3 1,15
São Paulo 130
Mão-de-obra 2,83 1,40 1,4 0,52
Austrália 335 Seguro-taxas 0,61 1,02 1,02 0,48
Europa 710 Matéria prima 20,93 27,75 35,10 9,80
Tailândia 335 Outros custos 11,31 18,68 15,93 2,32
operacionais
Fonte: CARVALHO, G.R. O setor sucroalcooleiro CUSTO TOTAL 39,48 54,96 59,57 14,48
em perspectiva. Boletim de conjuntura
agropecuária. Campinas: Embrapa Monitoramento Fonte: PAULILLO. L. & VIAN. F. C. Análise da
por Satélite, março de 2006. Disponível Competitividade das Cadeias de Agroenergia no
In:http://www.cnpm.embrapa.br/conjuntura/0603_S Brasil. In: BUANAIM, A. M.; BATALHA, M. O.
ucroalcooleiro.pdf. Acesso em: 11/04/2007 Análise da competitividade das cadeias
agroindustriais brasileiras. Projeto MAPA/IICA –
UFSCar/UNICAMP. 2005

Tabela
Nasno.últimas
4 – Variação da área (1993/1994
10 safras de cana colhida Tabela
a 2003/2004) no. 5 de
a área Evolução da produção
cana no Centro-Sulde cana em
aumentou em 1,4
nos estados da região4 Centro-Sul nas últimas 10 milhões de toneladas.
milhões
safras.
de hectares (49%) distribuídas de acordo com a Tabela 4. O Estado de São Paulo foi o principal
responsável
ESTADO
por1993
este crescimento
2003
(64% do total) ocupando oCENTRO-
VARIAÇÃO
espaço de lavouras
NORTE- anuais e pastagens. A
região Centro Sul é responsável
São Paulo 1.895.750 2.776.232 por mais
64% de 80% do total
SAFRA da produção
SUL do setor sucroalcooleiro
NORDESTE BRASIL (sendo o
Estado de São Paulo
Paraná 190.169o principal
369.836 pólo 13 de produção). Já 90/91
no final170.194
do ano de 2004/2005
52.234 a produção
222.428 de cana na
própria
Matoregião Centro
69.829 Sul190391
passou de 170.194
9 para 328.727
91/92milhões
179.031de toneladas
50.191 (aproximadamente
229.222 51,77%
de acréscimo).
Grosso Ver Tabela 5. 92/93 176.218 47.164 223.382
Goiás 95.981 164.861 5 93/94 183.914 34.421 218.335
Mato 62.103 125.002 5 94/95 196.083 44.629 240.712
Grosso do 95/96 204.414 17.413 221.827
Sul 96/97 231.604 56.205 287.809
Minas 260.685 304.119 3 97/98 248.775 54.282 303.057
Gerais 98/99 269.781 45.141 314.922
Espírito 33.851 58.039 2 99/00 263.949 43.016 306.965
Santo 00/01 207.099 50.523 257.622
4
O equivalente
Rio de a: 166.856
uma Bahamas, uma Jamaica0ou 1.296.296 campos
161.839 de futebol.
01/02 244.218 48.832 293.050
Janeiro 02/03 270.407 50.243 320.650
Outros 48.607 49.438 0 03/04 296.167 60.194 356.361
Centro 2.823.831 4.197.757 100% 8
04/05 328.727 54.518 383.245
Sul Fonte: UNICA
Fonte: IBGE
No Brasil, a venda dos veículos flex fuel (que rodam com qualquer proporção de mistura de gasolina
e álcool) apresentam uma evolução surpreendente atingindo em 2006 o valor de 1.425.177 unidades (ou
seja, o equivalente à venda de mais de 1.415.177 de veículos em relação ao ano 2000). ver tabela no .6.
Porém, a competitividade do álcool em relação à gasolina diminui bastante neste período de entressafra.
Entre junho de 2005 e fevereiro de 2006 o preço do álcool ao consumidor subiu 54%.

Tabela 6: Evolução das vendas de veículos biocombustível e a álcool no Brasil

MÊS/ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006


Jan 960 1.364 2.489 4.646 16.082 29.497 92.100
Fev 1.068 910 2.889 3.770 18.432 35.200 95.755
Mar 772 1.208 3.175 3.028 20.844 53.310 114.212
Abr 457 1.140 3.426 3.623 27.170 57.371 100.273
Mai 459 1.041 3.781 3.449 26.763 70.320 120.298
Jun 807 1.042 2.815 4.115 31.183 75.013 114.105
Jul 840 847 4.396 4.480 34.619 78.246 116.686
Ago 1.212 952 4.643 5.559 37.002 90.334 134.046
Set 856 1.394 5.839 6.979 41.714 91.210 124.003
Out 338 1.712 8.739 12.276 35.942 88.166 132.292
Nov 647 2.510 7.024 15.194 40.709 106.523 144.047
Dez 1.714 4.215 6.745 17.339 48.511 112.544 137.360
TOTAL 10.130 18.335 55.961 84.458 378.971 887.734 1.425.177
Fonte: ANFAVEA
Segundo alguns autores, a grande vantagem do álcool (ou etanol) em relação a seu principal
concorrente, a gasolina, está na forma como o combustível é obtido. O etanol pode ser obtido a partir da
fermentação dos açúcares contida em certas espécies vegetais, principalmente a cana-de-açúcar e a beterraba

9
sacarina, embora também já se utilize muito milho, trigo e a cevada em certos países, seguida por uma
destilação para separar o etanol. Argumenta-se também que no caso do etanol, trata-se de uma fonte
renovável, isto é, que pode ser produzida “indefinidamente” desde que haja condições mínimas, como a
disposição de sol, chuvas e terra para a plantação e pode ser utilizado como uma alternativa para a redução
da emissão de CO2 a atmosfera e diminuir o efeito estufa.

Gráfico no. 6. Fonte de energia usada no Brasil em Gráfico no. 7. Fontes de energias no mundo.
2006 (em % da matriz energética)

Fonte de energia usada no Brasil em 2006 (em % da Fontes de energias no mundo


matriz energética)
As novas Hidrelétrica
RENOVAVEIS 44,3% NÃO RENOVAVEIS 55,7% opções 1,7%
Energia 3,4%
hidráulica e Biomassa
eletricidade 8,5%
Produtos cana 14,6% Gás natural
açúcar Nuclear 20,4% As novas opções (%)
Petróleo
14,4% Biodiesel e outras 1.91
38,9% 6,3%
Geotérmica 0,23
Vento 0,32
Lenha e
Solar 0,53
carvão
TOTAL 3,4%
vegetal Carvão
12,4% Gás natural Petróleo 24,6%
Outras Carvão 9,5% 35,0%
renováveis Urânio mineral
2,9% 1,5% 5,8%

Fonte: GOLDEMBERG J. Ethanol for a Sustainable


Fonte: JANK, M. Dinâmica e perspectiva dos
Energy Future. In: Science Vol. 315. no. 5813, 9
Biocombustíveis no Brasil e no mundo. São Paulo, 8 de
February 2007, pp. 808 – 810.
março de 2007. Disponível in:
http://www.iconebrasil.com.br/pt/. Acesso 31-05-
2007.

No caso da gasolina, ela é derivada do petróleo, uma fonte de energia não renovável (o que equivale
a dizer um recurso mineral finito) que, segundo analistas e especialistas do Pico de Hubbert, pode-se esgotar
em cerca de 50 anos, enquanto as fontes de gás natural esgotar-se-ão em aproximadamente 64 anos, e as de
carvão nos próximos 100 anos. Estas fontes de energia não renovável (petróleo, carvão e gás) representam
aproximadamente 80% do total do suprimento de energia mundial, a energia nuclear, 6,3% e as fontes
renováveis, 13,6%. (Ver gráfico no. 6.)
Assim, segundo Goldemberg (2007), desde uma perspectiva do “desenvolvimento energético
sustentável”, as fontes renováveis estão amplamente disponíveis, garantem maior segurança do suprimento
de energia e reduzem a dependência das importações de petróleo de “regiões politicamente instáveis”. As
fontes renováveis são menos poluidoras, tanto em termos de emissões locais (como particulados, enxofre e
chumbo) como de gases do efeito estufa (dióxido de carbono e metano), que causam o aquecimento global.
Elas também requerem mais mão-de-obra por unidade de energia do que os combustíveis fósseis
convencionais. Destacando o programa de produção de etanol (a partir da cana-de-açúcar) no Brasil como o
melhor exemplo no uso de fontes renováveis de energias, dado que a matriz energética do Brasil é
considerada limpa (ver gráfico 5), e dado que a competição pelo uso da terra entre alimento e combustível
não tem sido substancial, para este autor, o modelo brasileiro para produzir etanol (a partir da cana de

10
açúcar) pode ser replicado em outros países sem que isto constitua sérios prejuízos para os ecossistemas
naturais.
Acrescentando novas vantagens, o Brasil, além de grandes “vantagens competitivas” dispõe de
vastas porções de terra agriculturáveis (Ver Tabelas 7 e 8) e se encontra situado numa posição geográfica
que permite a exploração de plantas como a cana-de-açúcar, ideais para a produção do etanol.
Segundo o IBGE, a evolução regional das áreas dedicadas a culturas anuais e permanentes no
período de 1994-2004 teve como maior destaque a região Centro Oeste, com um acréscimo de 88,7% das
áreas, sendo esta região de fato a principal fronteira agrícola do país. Ou seja, foi a única região do Brasil
onde a área de produção foi duplicada em dez anos.
As áreas de cultivo agrícola totalizam hoje 61 milhões de hectares (Mha), sendo cerca de 23 Mha
com soja e 11 Mha com milho. As áreas de “pastagens” correspondem a cerca de 200 Mha, incluindo uma
parcela com certo nível de degradação; áreas de florestas (incluindo a produção comercial de madeira)
totalizam 464 Mha (Ver tabela 9).
Estimativas da EMBRAPA (analisando a situação da expansão de soja) já indicam que existem ainda
aproximadamente 100 milhões de hectares aptos à expansão da agricultura de espécies de ciclo anual.
Adicionalmente estima-se uma liberação potencial de área equivalente a 20 milhões de hectares proveniente
da elevação do nível tecnológico na pecuária. Outros especialistas, com a ajuda de técnicos do Ministério da
Agricultura e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que cerca de 30% do
território é ocupado por lavouras e criações, restando 106 milhões de hectares, uma das maiores “reservas
agrícolas do planeta”, com terras férteis, praticamente toda localizada em regiões de cerrado.
Assim, na atualidade (diante das exigências do mercado “mascaradas” com a necessidade de redução
do efeito estufa e as emissões de CO 2), os Cerrados continuam a ser a fronteira agrícola natural de expansão
das regiões Sul e Sudeste do país, com enorme potencial para desenvolver e ampliar a produção de cana de
açúcar, de etanol e outros biocombustíveis perante qualquer aumento da demanda desses produtos.
Os Cerrados possuem solos altamente intemperizados, profundos, bem drenados, com baixa
fertilidade natural e forte acidez; mas há abundância de calcário nas regiões de Cerrado, e a topografia
favorece a mecanização. Os principais sistemas produtivos desenvolvidos em 2000 incluíam: a) a pecuária
(corte), com pastagens cultivadas (50 Mha) com estágios variáveis de degradação, b) a produção agrícola:
grãos (arroz, feijão, milho e soja), café e mandioca são as mais importantes, com participação expressiva na
produção brasileira etc.
Os Cerrados estão localizados em áreas extensas, não contínuas, como mostra a Figura 1 e sua
localização é bem próxima dos principais biomas florestais do país, a Floresta amazônica, a Mata Atlântica
e o Pantanal, para os quais há restrições ambientais severas ao uso do solo para qualquer empreendimento,
mostrando que as áreas de maior concentração de cana-de-açúcar estão distantes destas unidades de
vegetação.

11
Tabela. 7. Distribuição da cobertura Tabela 8. Áreas de cultivo no Brasil no
vegetal do Brasil (2002). período de 1994-2004 (milhões ha).

ÁREA ÁREA DISTRIB. REGIÃO/ANO 1994 2004 VARIAÇÃO(%)


(MHA) Norte-Nordeste 16,0 14,4 -10,0
Agricultura e 297 35% Sul-Sudeste 28,8 30,9 7,3
pastagem Centro Oeste 8,0 15,1 88,7
Florestas 464 55% Brasil 52,8 60,4 14,4
Campos e 73 9% Fonte: TETTI LAURA. A Experiência dos
savanas Produtores de Etanol. In: Macedo Isaias
Cidades rios e 17 2% (org). A Energia da Cana-de-Açúcar. UNICA
outros 2005.
Total 851 100%
Fonte: TETTI LAURA. A Experiência dos
Produtores de Etanol. In: Macedo Isaias
(org). A Energia da Cana-de-Açúcar. UNICA

Figura 1 – Áreas onde são localizados Figura 2. Áreas de cana na região Centro-Sul
Cerrados e dos principais biomas no Brasil.

Visando converter o etanol em commodity foi aprovada a parceria com os EUA cujo objetivo é
incentivar a produção e o consumo de etanol em nível mundial, criando inicialmente nas Américas uma
região produtora e consumidora com o intuito de expandir posteriormente o setor para outras regiões como
África e Ásia.
Sendo assim, os diferentes especialistas e analistas favoráveis ao desenvolvimento da produção de
etanol em grande escala e da sua conversão em commodity, acreditam que com 850 M ha, o Brasil tem uma
grande fração do território em condições de sustentar economicamente a produção agrícola, mantendo
grandes áreas de florestas com diferentes biomas, pois a agricultura utiliza hoje apenas 7% (a metade com
soja e milho); pastagens utilizam cerca 35%, e florestas 55% (Ver Tabela 9). Argumentam que a expansão
agrícola da cana nos últimos 40 anos nas áreas originalmente ocupadas por cerrados foi pequena e deu-se

12
principalmente sobre áreas de pastagens degradadas e “campos sujos”, e não nas áreas de florestas (Ver
Tabela 4). A área ocupada pela cana de açúcar hoje é de apenas 0,7% do território, e as áreas aptas (hoje)
para expansão deste tipo de cultura são de 12% pelo menos.

Tabela 9. Potencial para a expansão da produção. Figura 3. Expansão da área agrícola


brasileira.
Milhões de hectares (ano 2005)
Brasil 850
Total de terras aráveis 340 % do % das
(40%) total terras
aráveis
1. Terra cultivada total 61 7,2 17,9
Soja 23 2,7 6,8
Milho 11 1,3 3,2
Cana de açúcar 6 0,7 1,8
Cana de açúcar etanol 3 0,4 0,9
Laranja 1 0,1 0,3
2. Pastos 200 23,5 58,5
3. Terras disponíveis (água 80 9,4 23,5
e gado)

Fontes: IBGE e UNICA


Representa as áreas onde a cana irá crescer

A “equação” expressa o seguinte o raciocínio: o maior entrave para a expansão da cana no Brasil
será a logística e não a disponibilidade de terras, ou seja, para abastecer 5% do mercado mundial de álcool
combustível, o Brasil precisará aumentar a sua produção de etanol em seis vezes mais, atingindo 100 bilhões
de litros. O dobro disso seria necessário para substituir 10% do consumo mundial de gasolina. Essas áreas
estão localizadas nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, sudoeste de Minas Gerais, Goiás,
Tocantins, sul do Maranhão, sudoeste do Piauí e oeste da Bahia. A estimativa é de que o Brasil poderia
produzir 50% da oferta ao mercado mundial e o restante seria desenvolvido por uma soma de países, como
Peru, Colômbia, El Salvador, Honduras, Haiti, Guatemala, São Cristóvão e Nevis e República Dominicana,
ou seja, trata-se de um negócio lucrativamente sustentável.

1.2. Características gerais do mercado do biodiesel. Perspectivas

O biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais puros (fundamentalmente de soja, colza, girassol,
palma, e a mamona) ou usados e de gorduras animais. Tais óleos e gorduras sofrem uma reação com um
álcool (etanol ou metanol), chamada de reação de transesterificação, resultando os compostos conhecidos
como ésteres de ácidos graxos (etílicos ou metílicos). Biodiesel é o nome dado a esses ésteres quando
utilizados como um combustível. Portanto, a reação é: Óleo vegetal (novo ou usado) ou gordura animal +
Álcool e Catalisador ⇨ Biodiesel + Glicerol e Catalisador. Portanto implica a existência de unidades
industriais que, para além da extração do óleo contido nas sementes (comum à indústria alimentar),
promovem a transformação química referida, e que podem custar muitas dezenas de milhões de dólares.

Apesar de sua simplicidade, demonstrada pelas seguintes características: a) ser realizado em


temperatura ambiente e pressão atmosférica; e b) total domínio tecnológico, visto que seu ensino é tema das

13
aulas do 1º período de graduação em Engenharia Química; ao ser usado para gerar combustível, este
processo requer monitoramento e controle de qualidade apuradíssimos, para garantir segurança aos
consumidores sobre os custos de manutenção de seus veículos.
O uso dos biocombustíveis alternativos é uma realidade em diversos países, como Alemanha,
Austrália, Bélgica, Canadá, Espanha, EUA, Estônia, França, Índia, Malásia, Reino Unido, República
Tcheca, Tailândia, Taiwan etc. o biodiesel é usado puro ou misturado ao óleo diesel em proporções de 5% a
20%, sendo Alemanha o maior país consumidor, com 2 bilhões de litros.
No Brasil, a corrida de investimentos para o biodiesel foi motivada pela Lei 11.097 de 13/01/2005,
que criou o Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB) em 2004, com definição de
obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel na proporção de 2% do biodiesel no óleo diesel do
petróleo em 2008 e 5% em 2013, com demanda anual de 2 bilhões de litros de biodiesel.
O programa concede redução de tributos federais para fabricantes que utilizam matérias primas de
pequenos produtores rurais. A produção brasileira de biocombustíveis concentra-se em pequenas unidades
de produção localizadas no Norte e Nordeste do país, sendo que na atualidade um número crescente de
grandes empresas entrou no negócio. (Voltaremos a este assunto mais adiante).
A capacidade de produção das usinas em funcionamento alcançará 1,2 bilhão de litros (numa área de
1,5 milhão de hectares) até o final de 2007 e ultrapassará os 800 milhões necessários para cobrir o consumo
previsto. Para isto prevêem-se investimentos de cerca de 515 milhões de reais até 2008 e 1,2 bilhão de reais
até 2013. A Tabela 10 mostra as principais matérias primas das quais pode-se obter o biodiesel.

Tabela 10. Principais matérias primas Tabela no 11. Custo de produção por litro
para obter biodiesel no ano de 2005.

Espécie Origem Teor de Meses Rendimento (ton. Espécie R$ Litro


do óleo óleo (%) de óleo/há) Dendê / Palma nd
coleita/
ano Coco nd
Dendê / Amêndoa 22 12 3,0-6,0 Babaçu nd
Palma Girassol 0,57
Coco Fruto 55-60 12 1,3-1,9 Colza / Canola nd
Babaçu Amêndoa 66 12 0,1-0,3 Mamona 1,35
Girassol Grão 38-48 3 0,5-1,9
Amendoim 1,68
Colza / Grão 40-48 3 0,5-0,9
Canola Soja 0,70
Mamona Grão 45-50 3 0,5-0,9 Algodão nd
Amendoim Grão 40-43 3 0,6-0,8
Soja Grão 18 3 0,2-0,4 Fonte: Biodiesel primeiros passos. Mercado &
Algodão Grão 15 3 0,1-0,2 Negocios In: Revista Agroanalysis da FGV.
Fonte: Fonte: PAULILLO. L. & VIAN. F. C. No. 9. Vol. 26. Set. 2006.
Análise da Competitividade das Cadeias de
Agroenergia no Brasil. In: BUANAIM, A. M.;
BATALHA, M. O. Análise da competitividade
das cadeias agroindustriais brasileiras. Projeto
MAPA/IICA –UFSCar/UNICAMP. 2005

Estágio atual dos Programas de Biodiesel no mundo

14
Estados Unidos: 2% de mistura em Minnesota, autorização de Estados Unidos de 20% no país, com
possibilidades de tornar obrigatória a porcentagem já usada em caminhões e tratores.
Alemanha: Lei exige pelo menos 5% de mistura, dando permissão para usar o combustível em
qualquer proporção. França: 5% de mistura devendo aumentar para 8%. Os ônibus urbanos utilizam mistura
com até 30% de biodiesel, Canadá: Programa em desenvolvimento, algumas companhias de ônibus estão
fazendo testes com biodiesel importado com uma mistura de 20%. O governo canadense concedeu isenção
fiscal de 4% sobre a produção e uso do biocombustível e estabeleceu uma meta de produção de 500 milhões
de litros/ano até 2010.
Argentina: O governo iniciou um programa em 2001, oferecendo vantagens fiscais para a produção
do biocombustível. Atualmente, há 7 unidades de produção de biodiesel, com uma capacidade de produção
no país, entre 10 entre 10-50 toneladas/dia, mas apenas 1 fábrica está 50 toneladas/dia, efetivamente
produzindo em baixa escala, em função da falta de capital gerada pela recente crise econômica. Japão:
Empresas locais produzem biodiesel a partir da reciclagem do óleo de cozinha usado (5 mil litros/dia). O
produto é utilizado nos veículos das próprias empresas, nos veículos governamentais e em caminhões de
lixo de algumas cidades japonesas, numa proporção de mistura de 20%. Falta ainda regulamentar leis sobre
o assunto, sendo que o país está considerando a possibilidade de adição de 1% em 2006, com possibilidade
de aumentar para 5% e 10%, posteriormente.
Malásia - Programa para a produção do biodiesel está em fase de implementação, utilizando como
principal matéria-prima o óleo de palma de dendê (maior produtor mundial desse produto). A construção da
primeira usina mundial desse produto deve terminar em 2008, e terá uma capacidade instalada de 5 mil
toneladas/mês. O país visa à exportação do produto, principalmente para a Europa.
Austrália - Já possui algumas usinas de biodiesel produzindo em larga escala (a partir do óleo de
cozinha reciclado), com uma capacidade de produção de 20 milhões de litros/ano. Pretende iniciar a
produção do etanol para o biodiesel.
Tailândia - Possui programa aprovado para promover o uso do biodiesel no diesel de petróleo nos
próximos sete anos. A porcentagem de mistura deve ser de 10%, gerando uma demanda interna de 3,1
bilhões de litros por ano. A matéria-prima principal é o óleo de palma.
Índia - Está em construção a primeira unidade de produção de biodiesel. Para a elaboração do
programa nacional de biodiesel, vem fazendo parcerias com a Alemanha na questão tecnológica.
Coréia do Sul - Duas pequenas fábricas de biodiesel estão em operação no país, somando uma
capacidade de produção de 8 mil toneladas/ano. Percentual de mistura é de 20%.
Taiwan - Possui lei aprovada para adição de 20% no diesel de petróleo desde o ano 2000. Em 2004
foi construída a primeira fábrica, produzindo em baixa escala a partir do óleo de cozinha reciclado.
Filipinas - O país possui três plantas industriais de biodiesel, com produção de 33 milhões de litros.
Este volume
Gráficodeve aumentar
7. Evolução da para 150 milhões
produção mundial em 2007, Tabela
com pretensões de exportar
12. Comparação dos ocustos
produto de para o Japão.
A partirdedeste ano, Principais
biodiesel. será exigida adição de 1% de biodiesel
produtores. no óleodediesel
produção (demanda
biodiesel de 70 milhões
(competitivos com de litros),
com possibilidades de aumentar o percentual para 5%preço até do
2008 barril de petróleoestimada
(demanda a U$ 60) de 350 milhões de
litros). País Custos do biodiesel Matéria prima
(U$ litro)
0,50 Soja Refinadaa
0,38 Soja não refinadab
BRASIL
1,00 Mamonac

UNIÃO EUROPEIA 0,58-0,94 Vários tipos

Nota: “a” e “b” significa que a produção no Brasil é


viável a uma cotação do óleo de soja a U$ 480/ ton.
“C”: Existência de muita área no Nordeste com boa
produtividade mais praticas e tecnologias de manejo são
Fonte: PAULILLO. L. & VIAN. F. C. Análise inadequadas.
da Competitividade das Cadeias de Fonte: PAULILLO. L. & VIAN. F. C. Análise
Agroenergia no Brasil. In: BUANAIM, A. M.; da Competitividade das Cadeias de
BATALHA, M. O. Análise da competitividade 15 Agroenergia no Brasil. In: BUANAIM, A. M.;
das cadeias agroindustriais brasileiras. Projeto BATALHA, M. O. Análise da competitividade
MAPA/IICA –UFSCar/UNICAMP. 2005 das cadeias agroindustriais brasileiras. Projeto
MAPA/IICA –UFSCar/UNICAMP. 2005
Os principais fabricantes de equipamentos para plantas de biodiesel no mundo são os seguintes:
1) Lurgi (Alemanha): fabricante tradicional que oferece plantas com capacidades entre 40 mil e 250 mil
t/ano. Fornece tecnologia para produção de diferentes combustíveis além de biodiesel;
2) Ballestra (Itália): desenvolveu um processo contínuo de transesterificação de óleos vegetais, como
canola, girassol e soja, para produzir biodiesel. A empresa oferece plantas com capacidade de até
200 mil t/ano;
3) Energea (Áustria): utiliza processo produtivo contínuo para processar, via transesterificação,
diversos tipos de matéria-prima. A capacidade anual das unidades é de 40 mil, 60 mil, 100 mil e 250
mil t/ano;
4) Crown Iron (EUA): tradicional fornecedora de plantas de processamento de óleo bruto e de refino de
óleo comestível. A empresa tem produzido plantas de 30 milhões de galões por ano (100 mil t/ano)
para empresas americanas e também para processar óleo de palma na Ásia;
5) No Brasil, a Dedini S.A. Indústrias de Base, em parceria com a empresa italiana Ballestra S.P.A.,
utiliza a tecnologia para implantação de usinas com capacidade para a produção entre 10 mil e 200
mil t/ano de biodiesel. A joint-venture prevê a substituição do metanol por etanol. A Dedini já
instalou plantas de 50 mil e de 100 mil t/ano usando tecnologia da Ballestra e uma planta de 15 mil
t/ano com tecnologia nacional, esta última fornecida para Agropalma;
6) A Intecnial, fabricante tradicional no ramo da soja, fez parceria com a empresa americana Crown
Iron para desenvolver plantas de biodiesel. A Intecnial instalou a planta piloto da Petrobrás no Rio
Grande do Norte e tem fornecido plantas com 100 mil t/ano de capacidade;
7) A Lurgi e a Energea têm escritórios em São Paulo, mas ainda não forneceram plantas no Brasil. A
Westfalia tem uma fábrica no Brasil que já está fornecendo equipamentos para a produção de
biodiesel;
8) A Tecbio desenvolveu tecnologia nacional e tem feito acordos com vistas à exportação de tecnologia
para a Ásia. Por estar localizada no Nordeste, a empresa se especializou na produção de biodiesel
com base na mamona;
9) Existem ainda outros produtores nacionais independentes, alguns utilizando tecnologia bem simples
de produção, como o processo de extração a frio, com controles precários. Em geral, o processo de

16
extração a frio apresenta baixo rendimento. Controles de processo precários colocam em risco a
qualidade do combustível e, conseqüentemente, a sua aprovação pela ANP.

2. Principais investidores estrangeiros na produção de etanol de cana de açúcar no Brasil

No Brasil, mesmo apresentando uma conjuntura favorável, o setor sucroalcoleiro ainda é


tradicionalmente dominado por empresários com hábitos coloniais, sendo a maioria das usinas empresas
familiares, com controle exercido pelo patriarca e sucessão também dentro da família, de médio porte e
100% nacionais, tendo como fonte de investimento os lucros extraídos da própria atividade (Salomão,
2006). Segundo uma pesquisa realizada com os usineiros dos 70 maiores grupos no Brasil, pela Business
Cunsulting Services/IBM 90% deles não querem executivos envolvidos na gestão e não têm estruturada a
forma de relações com acionistas, cerca de 60% não têm planejamento estratégico de longo prazo e os donos
centralizam as decisões, 53% não se acham preparados para enfrentar o futuro e 13% não consideram o
álcool uma grande oportunidade.
No comando das 80 maiores entre as mais de 300 usinas do país, estão sobrenomes de elite. O grupo
Tércio Wanderley — que controla, em Alagoas, a Coruripe, maior usina do Nordeste — tem hoje três
unidades em Minas Gerais. Entre os grupos que mais cresceram está o J. Pessoa, de José Pessoa de Queiroz
Bisneto, descendente de usineiros de Pernambuco. Os Ometto, clã mais tradicional do interior paulista,
comandam as duas maiores usinas: a Da Barra, cujo dono é Rubens Ometto, o grupo Cosan, a maior
companhia de açúcar e álcool do Brasil, com 17 usinas do grupo, e a São Martinho, administrada por
Homero Corrêa de Arruda Filho.
Os Junqueira estão por trás da comercializadora Crystalsev, parceira da norte-americana Cargill em
portos, usinas no Brasil e fábricas no exterior. Trata-se de uma das maiores famílias rurais do mundo, com
quase 100 mil descendentes do casamento de Elena Maria e João Francisco Junqueira, que, no século XVIII,
eram donatários de sesmarias em Minas Gerais. Os Balbo criaram a Native, marca de açúcar orgânico de
Sertãozinho, interior de São Paulo, exportada para mais de 30 países. Os Zillo, do grupo Zillo Lorenzetti,
detêm três usinas e cultivam cana em 15 municípios no centro-oeste do Estado de São Paulo. Do interior da
França, onde mora, o líder familiar José Luiz — um empresário que nos anos 80 presidiu a Copersucar —
palpita nos negócios do grupo.
Os investidores estrangeiros que estão de olho nas vantagens e no potencial de crescimento do
mercado dos biocombustíveis do Brasil (mercado por enquanto projetado sem barreiras à entrada de
concorrentes e sem intervenção do governo, entenda-se “sem interferências diretas ou indiretas nos seus
lucros”) dividem-se em dois tipos: de um lado estão consórcios de empresários e fundos de investimento
internacionais, interessados em aplicar recursos num negócio promissor, mas sem envolvimento direto na
operação; e de outro estão empresas que já atuam no setor sucroalcooleiro lá fora e tradings que participam
ou querem participar mais ativamente do comércio internacional de álcool. Segundo especialistas o retorno
sobre o capital investido neste mercado não será menor do que 20%. (Ver Quadro 1.)
Na realidade, pesados investimentos na construção de usinas já estão sendo projetados. O Brasil vai
ganhar em média uma usina de álcool e açúcar por mês nos próximos seis anos. Hoje com 336 unidades,
deve chegar a 409 até o final da safra 2012/2013. Ou seja, o Brasil vai construir uma usina por mês até
2013. Fora as 73 usinas confirmadas, há hoje no Brasil 189 consultas em andamento, tanto para construção
como para ampliação de unidades.
Para colocar o Brasil nos trilhos de maior produtor de etanol do mundo, o dinheiro está vindo de
todos os lados. O BNDES está decidido a financiar até R$ 10 bilhões do montante necessário para a
instalação das novas unidades de produção. O restante dos recursos deverá vir da iniciativa privada nacional
e internacional, além de bancos regionais de fomento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) e o Japan Bank for International Cooperation (JBIC).

17
QUADRO 1. PRINCIPAIS INVESTIDORES ESTRANGEIROS

Grupo Perfil Negocio do Etanol


Adeco Originária da Argentina, proprietária de fazendas Comprou uma área de 150 mil hectares em MS para implantar
de soja, algodão e cafés especiais no Brasil, que uma gigantesca empresa de etanol, projeto que deve gerar
tem como um dos seus principais sócios o mega uma receita anual de R$ 500 milhões
investidor George Soros.
Cargill Empresa originária dos EUA maior comercializa- Assumiu o controle direto da usina Cevasa no Brasil. Produz
dora de alimentos do mundo e quarta maior apenas álcool combustível e comprou a Açucareira Corona. Dona
produtora de etanol dos EUA. de duas usinas paulista
Louis Empresa brasileira do grupo francês Louis Comprou as atividades de açúcar e álcool do Grupo Tavares de
Dreyfus Dreyfus, produz e comercializa açúcar e álcool Melo. O negócio envolve transferência das unidades produtoras
Usina Estivas (RN), Agroindustrial Passa Tempo (MS) a Usina
Maracaju (MS) e a destilaria de álcool Giasa (PB), além da Usina
Esmeralda (MS), em fase de construção com essa aquisição. O
grupo passa a ocupar a segunda posição no ranking
brasileiro de produção de açúcar e álcool.
Noble Group Multinacional com sede em Hong Kong e ações Adquiriu por o valor de US$ 70 milhões a usina Petribu Paulista
negociadas em Cingapura ,o grupo é um dos instalada em Sebastianopolis do Sul (SP) pretende investir cerca
maiores fornecedores de soja e derivados, café, de U$ 200 milhões para ampliar a capacidade de moagem da Petribu
cacau, mineiro de ferro, alumínio carvão, crédito Paulista, dos atuais 2 milhões para 10 milhões de toneladas de
de carbono e biocombustíveis. cana de açúcar anuais destinadas à produção de açúcar e etanol.
Responsável por 10% das exportações de Tem previsto a compra de empresa Meridiano, que possui terras e
etanol do Brasil no ano de 2006. várias licenças.
Infinity Originária do Reino Unido e Europa com ações Em 2006 comprou as usinas: Alcana, em Nanuque (MG) a
bio-energy negociadas em Londres, é uma das empresas de a Usinavi (ex- Coopernavi), em Naviraí (MS) da qual detêm 91%
produção de etanol, financiadas por fundos de participação e a Cridasa, em Pedro Canário (ES) com controle
Europeus. de 51%. O grupo possui US$ 800 milhões disponíveis para
investimentos e pretende construir seis novas usinas em MT (já
comprou 4 mil hectares em ES e BA.
A empresa terá capacidade para processar 16 milhões matéria prima
de toneladas de cana. Aproximadamente 70% dessa produção
será destinada à exportação de álcool.
Tereos O Grupo Tereos está estruturado em forma No Brasil atua por meio de três empresas:
de cooperativa e reúne 14.000 agricultores a) Açúcar Guarani S.A (empresa produtora de açúcar e etanol
Franceses. É o principal produtor de açúcar e detêm integralmente o controle da empresa Olímpia, a qual tem
na França e na República Tcheca, o segundo por objeto a exploração de atividades agrícolas como plantio e
maior produtor na Europa e no Brasil e o cultivo da cana de açúcar), b) a Franco Brasileira S.A que produz
quinto na produção mundial de etanol. açúcar e álcool e a Tereos Brasil sociedade holding que é a atual
denominação da União DAS Brasil. É proprietária de 6 usinas e
fatura aproximadamente mais de R$ 400 milhões por ano.

(continuação)

18
QUADRO 1. Principais investidores estrangeiros
Grupo Perfil Negocio do Etanol
Tereos O Grupo Tereos está estruturado em forma No Brasil atua por meio de três empresas:
de cooperativa e reúne 14.000 agricultores a) Açúcar Guarani S.A (empresa produtora de açúcar e etanol
franceses é o principal produtor de açúcar e detêm integralmente o controle da empresa Olímpia, a qual tem
na França e na República Tcheca, o segundo por objeto a exploração de atividades agrícolas como plantio e
maior produtor na Europa e no Brasil e o cultivo da cana de açúcar), b) a Franco Brasileira S.A que produz
quinto na produção mundial de etanol e o açúcar e álcool e a Tereos Brasil sociedade holding que é a atual
terceiro produtor de glicose na União Européia. denominação da União DAS Brasil. Fatura aproximadamente
mais de R$ 400 milhões por ano.
A Usina Guarani ampliou neste ano (2007) sua participação no
mercado de açúcar e álcool do Brasil adquirindo sua sexta usina,
a Usina Andrade município de Pitangueiras junto com outras
usinas do grupo Cruz Alta (Olímpia); Severínia (Severínia);
Usina São José (Colina); Usina Cardoso (Pedranópolis);
Usina Tanabi (Tanabi), as duas últimas em fase de construção.
Tem grande projeto, em parceria com a Petrobrás, que entraria
Mitsui Empresa originaria do Japão 15% dos investimentos. As duas empresas projetam aplicar
com US$ 8 bilhões na construção de 40 usinas com o objetivo de
exportar para o Japão 3,5 bilhões de litros do combustível em
2011
BRENCO Fundo de investimento com capitais nacionais Com US $ 2 bilhões para investimentos , a empresa tem
e estrangeiros. É comandado pelo ex-presidente como meta instalar dez destilarias de álcool, que juntas terão
da Petrobrás Henri Phillipe Reichstul e tem capacidade total para processar 44 milhões de toneladas
como investidores o indiano radicado nos EUA de cana-de-açúcar por ano e produzir 3,7 bilhões de litros de
Vinod Khosla, sócio da firma de capital de risco álcool por ano. Para se ter uma idéia, a Copersucar, maior
Kleiner Perkins Caufield & Byers. Também cooperativa de açúcar e álcool do mundo, produziu, na
participam James Wolfenson, ex-presidente do safra 2006/07, 2,78 bilhões de litros de álcool e processou 58,6
Banco Mundial, e o ex-diretor geral da Agência milhões de toneladas de cana. Brenco vai se dedicar
Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn exclusivamente à produção de álcool e não terá negócios
com açúcar
Global O Global Foods Holding, uniu-se ao grupo Com investimentos no valor de R$ 2 bilhões, nos próximos
Foods Santa Elisa para a constituição da CNAA 2,5 anos, A CNAA nasce como uma das maiores companhias
Companhia Nacional de Açúcar e Álcool no setor sucroalcooleiro do Brasil, Os projetos englobam o plantio
de uma área de cultivo, estimada em 120 mil hectares.
Três projetos já foram incorporados à CNAA envolvendo a
produção de cana-de-açúcar e etanol.
Dos investimentos necessários, R$ 504 milhões serão aportados ,
por fundos de EUA, sendo que destes R$ 392 virão do Carlyle
Riverstone Fund.

Bioenergy aCriado
primeira etapa
pelo banco deste
francês aporte
Société deverá serPlaneja
Générale concluído
investiraté o final
até US$ deste
1 bilhão ano, com
em usinas recursos
de açúcar e álcool de
no US$ 500
Developmentem janeiro de 2005, com 7,5% de participação Brasil. Esse investimento deverá ser feito em duas etapas e
Fund (BDF) do banco. deverá ser concluído até o final de 2007. Numa primeira fase o
fundo destinara US$ 500 milhões na aquisição e participação
em usinas de açúcar e álcool entre 20% e 25%. Na segunda fase,
outros US$ 500 milhões serão investidos em novos grupos de
açúcar e álcool com localização estratégica no país.

Truenergy Do grupo americano Upstreamcap Anunciou investimento de US$ 300 milhões na instalação de três
usinas de açúcar e álcool em Goiás o grupo avalia a aquisição ou
o arrendamento de 60 mil hectares para o plantio de cana
nos municípios (mais prováveis são) Posse, São Domingos,
Alto Paraíso, Campos Belos e Cavalcante, no nordeste do Estado

Fontes: Elaboração própria a partir das informações seguintes: a) Soros mergulha no etanol. In: Revista Isto

19
é dinheiro. Edição 506. 31/5/2007. b) Alexa Salomão & Marcelo Onaga. Etanol o mundo quer. O Brasil tem. In:
Revista Exame. 15.06.2006; c) Louis Dreyfus Compra usinas do Grupo Tavares de Melo. In: Ethanol Brasil.
Quarta-feira, Fevereiro 21, 2007, d) SISTEMA ECONOMICO LATINOAMERICANO Y DEL CARIBE (SELA).
Noble Group centra o foco no Mercosul e estuda aquisições. Tomado de la Selección de Noticias del MRE de
Brasil. 12/2/2007. Disponível In: http://www.sela.org/sela/ImpNoticia.asp?id=9414; e) JORNAL FOLHA DE SÃO
PAULO. Grupo compra usina no Brasil por US$ 70 milhões. In: Caderno Dinheiro. 09 de fevereiro de 2007, f)
MÔNICA MAGALHÃES. Noble Group reforça internacionalização do açúcar e álcool e promete ampliar
espaço no país. In: JORNALCANA. 26 Mercados & Cotações. São Paulo Fevereiro/2007. Disponível In:
http://www.jornalcana.com.br/pdf/158/%5Cmerccot.pdf. Acesso; 16-06-2007; g) GESTOR DIGITAL DE
INFORMAÇÕES (GDI). Infinity Bio-Energy acerta investimentos no Panamá. 28/05/2007. Disponível In:
http://www.eletrosul.gov.br/gdi/gdi/cl_pesquisa.php?pg=cl_abre&cd=gekdge9;AXfig. Acesso 16-06-2007; h)
JORNAL CANA . Infinity Bio Energy incorpora o fundo Evergreen. In: Mercados & Cotações. Agosto 2006.
Disponível in: http://www.jornalcana.com.br/pdf/152/%5Cmerccot.pdf; Acesso 16-06-2007; i) Informações gerais do
grupo Tereos e a usina Guarani, Disponíveis In: http://www.acucarguarani.com.br/br/institucional/Unidades.aspx. J)
Brenco instalará quatro usinas no centro-oeste. In: Global Research. 21/5/2007. Disponível In:
http://www.globalresearch.com.br/novo/conteudo.asp?conteudo=8435 k) Europeus começam vencendo a guerra.
In: Açúcar Ético Disponível In: http://www.sucre-ethique.org/Europeus-comecam-vencendo-a-guerra ; l)
JORNALCANA. Fundo internacional planeja investir US$ 1 bi no Brasil. Agosto/2006. Disponível In:
http://www.jornalcana.com.br/pdf/152/%5Cmerccot.pdf

Entre outros investidores estrangeiros no negócio do etanol temos o consórcio encabeçado pela
norte-americana Sempra Energy, uma das maiores empresas de gás natural dos EUA, e pela alemã
Manferrostal, do grande grupo Man, que atua em mais de 60 países. O projeto prevê investimentos de US$
8,4 bilhões na construção de 24 usinas de álcool, que exportarão toda sua produção por um período de 20
anos, para isto utilizarão 700 mil hectares de terra no Tocantins e outros 800 mil hectares já foram
arrendados no Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, se aproximando das áreas protegidas da
Amazônia e do Pantanal mato-grossense. Caso o grupo atinja a produção pretendida (de 5,7 bilhões de
litros anuais) no ano de 2010 produziria 20% do total de álcool produzido no Brasil. Os empresários
brasileiros do grupo Etalnac vão administrar as destilarias e entregar toda a produção de álcool para a
Sempra, que exportará para os EUA e o Japão. (Ver, Etanol Brasil, 21-02/2007 Disponível In:
http://ethanolbrasil.blogspot.com/2007/02/grupo-alcooleiro-quer-investir-us84.html).

2.1. Principais investidores estrangeiros na produção de biodiesel no Brasil

O avanço do capital estrangeiro nos setores de biodiesel é cada vez maior e mais diversificado. Por
exemplo, a empresa brasileira Brasil Ecodiesel, a maior produtora de biodiesel no país, nos leilões de
biodiesel realizados até agosto de 2006, assegurou fornecimento de 58,1% do volume total comercializado
e tem como principal acionista o fundo BT Global, administrado pelo Deutsche Bank. Este, na emissão de
ações no ano de 2006, reservou 3,5 milhões de seus papéis (recibos conhecidos pela sigla ADS) para
investidores do exterior. Os principais investidores estrangeiros destacam-se a seguir no Quadro 2.

QUADRO 2. PRINCIPAIS INVESTIDORES ESTRANGEIROS

20
Grupo Perfil Negócio do Biodiesel
Global Empresa originária da Espanha Iniciou a instalação de uma usina em Catalão, que irá produzir 20 milhões
Energy de litros do biocombustível por ano. A empresa vai investir R$ 50 milhões
no projeto, que inclui reforma da unidade esmagadora de grãos e a usina
de biodiesel. Para isso, a Global Energy arrendou a unidade fabril da
Caramuru. A unidade terá capacidade para produzir 100 mil toneladas
de óleo bruto por ano. A produção será feita à base de soja, girassol,
pinhão-manso e mamona.

Allbio Associação do grupo alemão Lurgi AG e o francês Pretendem instalar uma usina de biodiesel que terá capacidade para
Menaa Finance com a Cooperativa dos Produtores produzir 100 milhões de litros de biocombustível por ano. Recebeu
de Algodão do Estado de Goiás (All Cotton) em investimento 56 milhões de euros e deve iniciar as operações
em 2008.Trabalhara com caroço de algodão e com soja como matéria
prima.
Archer Sediada em Decatur Illinois é um dos maiores No Brasil, a empresa já possui 4 unidades de processamento de soja,
Daniels processadores mundiais de soja, milho, trigo e e inaugura em agosto uma unidade de produção de biodiesel, ao custo de
Midland cacau. A ADM também é líder na produção de 20 milhões de dólares em Rondonópolis (MT) e está negociando
(ADM) óleo e farelo de soja adoçante e farinha de milho. a aquisição de usinas brasileiras.
Produz ingredientes para alimentos e para a
nutrição animal, e é a maior produtora de etanol
dos EUA.

Bunge Multinacional com matriz em Nova York. É uma Anunciou investimentos de US$ 20 milhões em uma planta de biodiesel
das maiores empresas de agronegócios do mundo. no Brasil. Adiou o projeto por conta dos incentivos fiscais que o
Graças principalmente aos negócios com soja, governo brasileiro está concedendo aos agricultores familiares e que não
a Bunge é a principal exportadora do agronegócio são estendidos para eventuais grandes produtores.
brasileiro.

Fonte: Elaboração própria a partir das seguintes informações: a) DIARIO COMERCIO INDUSTRIA & SERVIÇOS.
Capital estrangeiro avança nos setores de etanol e biodiesel. 21/11/2006. Disponível In:
http://www.webtranspo.com.br/cargas_noticias2.asp?offset=343&Registro=11727., b) Informações da Brasil Ecodiesel
Disponível In: http://www.brasilecodiesel.com.br/.

Os números são claros e o interesse das organizações financeiras por investir no mercado dos
biocombustíveis no Brasil pode ser visto como uma analogia a(s) bolha(s) da(s) empresas Ponto.Com que
estorou ao final do século passado, ou seja, a semelhança radica no “capital, tudo é movido pelo capital” e
como em todo novo mercado aparecem os especuladores, pois é assim que funciona o livre mercado e,
como muito bem diz e defende o empresário Roberto Rodrigues 5: “(...) é um mercado sem interferência do
governo (...) pois estes grupos financeiros e especuladores sabem e muito bem o que fazem e como fazem”.

5
Além de grande produtor agrícola, além de ex-ministro da agricultura de Lula, é membro de um grupo internacional
intitulado “Comissão Hemisférica de Bioenergia”, cujo objetivo é usar a iniciativa privada, junto com recursos públicos, num
projeto de produção e comércio mundial de energia renovável. Curiosamente, um dos criadores de tal comissão Hemisférica, por
uma incrível coincidência, é justamente o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, que também, por incrível coincidência, é irmão do
presidente americano George Bush. Como se vê, os bons negócios em bioenergia são realizados mesclando-se, sem grandes
escrúpulos, os interesses estatais e familiares.

21
Algumas observações em relação ao mercado dos biocombustíveis (etanol e biodiesel) e as grandes
empresas interessadas em investir no negócio “lucrativamente sustentável” no Brasil, são colocadas a
seguir:

a) As empresas multinacionais e os grupos financeiros internacionais não participam (nem respondem)


em discussões que envolvam políticas públicas sociais de desenvolvimento sustentável, elas
simplesmente tomam decisões;
b) Seus investimentos são realizados após estudos, análises e reflexões de caráter sigiloso, análises que
envolvem abordagens visadas à obtenção de lucros no menor tempo. Esses estudos não incluem as
questões ambientais e sociais, e se o fazem é de forma incorreta;
c) Qualquer análise cuidadosa do sistema capitalista (e suas multinacionais) revela que a possibilidade
de maximizar a taxa de lucro sempre depende da capacidade política de não assumir os passivos
sociais e ecológicos, sendo essa a base do sistema e por isso o mundo está na situação de crise global
extrema, ou seja, os sentimentos que primam nessas empresas são: o individualismo e o
imediatismo;
d) A grande verdade é que o Brasil não tem como atender à demanda do mercado dos EUA e de outros
países, sem desmatar a Amazônia. O Japão quer passar a ser um comprador do produto brasileiro,
mas quer garantias de que o fornecimento do produto não será interrompido;
e) A expansão da produção dos biocombustíveis é de grande interesse para empresas que produzem
“Organismos Geneticamente Modificados” como: Syngenta 6, Monsanto7, Dupont, Dow, Bayer e
BASF. Neste quesito devemos lembrar duas questões básicas de princípios: a primeira diz respeito a
“umas” das justificativas dadas para a existência da produção (dos OGM) consistia na escassez de
existências de terras suficientes para combater a fome no mundo, daí a necessidade de produzir
alimentos e cereais (GM) que são rejeitados esmagadoramente em todo o mundo,
fundamentalmente nos países africanos para onde os alimentos e as rações GM estão a ser escoados
como "ajuda alimentar" e a segunda que constitui uma nova estratégia e oportunidade de dominação
destas empresas ao difundirem os produtos transgênicos como fontes de energia "limpa" esperando
assim menos regulamentações e uma maior aceitação pública, visto que não virão a ser usadas como
alimentos ou rações. Isto, segundo Mae Wan Ho (2007) faz com que o nosso ecossistema e as
culturas alimentares fiquem amplamente expostas à contaminação das culturas GM que estão longe
de ser seguras;
f) Segundo Eric Holt-Gimenez, coordenador da organização Food First, o que se percebe, dadas as
facilidades oferecidas pelo mercado brasileiro de biocombustíveis é: a) as três grandes empresas
multinacionais (ADM, Cargill e Monsanto) estão forjando seu império: engenharia genética,
processamento e transporte -uma aliança que vai amarrar a produção e a venda de etanol e do
biodiesel, e b) que outras empresas do agronegócio como Bunge, Sygenta, Bayer e Dupont, aliadas
às transnacionais de petróleo como Shell, Total e British Petroleum, e também às automotoras como
6
A Syngenta é uma empresa transnacional do agronegócio com sede na Suíça. A empresa tem operações em mais de 90 países.
Em 2006, suas vendas foram de US$8,1 bilhões, tendo 80% de sua receita proveniente de agrotóxicos e 20% da produção de
sementes. A Syngenta é a terceira maior empresa do setor de sementes no mundo e no de 2006 a empresa faturou US$ 8,1 bilhões
no mundo.
7
A Monsanto (multinacional de EUA) dedicada ao desenvolvimento de tecnologias transgênicas para grãos e algodão, criou (nos
Estados Unidos, junto com a também americana Cargill) a Renessen. Uma joint venture criada para o desenvolvimento de grãos
adaptados à produção de biocombustíveis. A Renessen recebeu investimento de US$ 12 milhões na instalação de uma planta-piloto
no Estado de Iowa. No Brasil, a empresa fechou parceria com uma empresa de capital nacional para desenvolver variedades de
cana transgênica. Em 2005, a Monsanto faturou no Brasil R$ 2,251 bilhões e teve lucro líquido de R$ 182,354 milhões, contra R$
18,521 milhões no ano anterior. (Ver, http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=42947)

22
Volkswagen, Peugeot, Citroen, Renault e SAAB, formando uma parceria inédita visando grandes
lucros com biocombustíveis e não ao desenvolvimento sustentável do Brasil;
g) As ações e propostas de coordenação de políticas que hoje tem haver com as mudanças climáticas a
nível mundial incluídas as formas de combate-las estão praticamente todas em mãos do “famoso
grupo dos oito”, suas empresas multinacionais e de grupos de especuladores financeiros. Ações que
pelo bem da humanidade deveriam ser coordenadas e supervisadas pelas Nações Unidas como uma
estratégia mundial de um problema que concerne a todo o planeta.

3. Balanço energético dos biocombustíveis: a problemática da sua contabilidade ou registro e


sua influencia no desenvolvimento sustentável?

Segundo Alves (2007) é necessário esclarecer que o resultado (output) energético na análise dos
biocombustíveis deve ser a partir da energia contida no “produto final” e nos “subprodutos ou resíduos” do
processo produtivo, sendo calculado de formas diferentes em relação ao uso final, seja este para:
Alimentação, Adubo, ou Combustível. Como alimento, o cálculo é baseado na Energia Metabólica
disponibilizável ao animal ou homem que a desfruta; como adubo, tem em conta o consumo de energia não
renovável (petróleo, gás ou carvão) utilizada na cadeia de produção; como combustível, tem-se em
consideração a energia calorífica disponível no combustível final (o PCI).

Enquanto à medição ou avaliação do resultado (output) energético dos biocombustíveis existem


fortes discrepâncias entre os diferentes métodos utilizados destacando-se dois tipos diferentes de avaliações:
a primeira contabiliza o resultado energético mantendo as hipóteses da conversão em termos energéticos na
obtenção dos fatores de produção da agricultura (como fertilizantes, maquinaria, adubos, pesticidas, etc) e a
segunda que contabiliza (ou não) toda a energia que diretamente ou indiretamente é utilizada na produção de
etanol ou biodiesel, ou seja, inclui na avaliação o ciclo de vida completo incorporando: a energia necessária
para produzir e reparar a maquinaria agrícola (e não só o combustível que utiliza para funcionar); os
investimentos em infra-estruturas, tais como os custos em energia e em carbono das instalações de refinaria,
as estradas, armazéns necessários para transporte e distribuição, os custos de exportação para outro país e,
evidentemente os estudos dos impactos ambientais das culturas “bioenergéticas intensivas” como a perda de
solos e a poluição ambiental pelo uso de fertilizantes ou praguicidas (elemento este ausente em quase todos
os trabalhos de avaliação energética dos biocombustíveis) não incluem os custos do tratamento de
desperdícios e dejetos, entre outros.

No Quadro 3 apresenta-se uma compilação das estimativas de equilíbrio de energia de algumas das
matérias primas destinadas à produção de biocombustíveis. Calcula-se que o etanol da cana-de-açúcar no
Brasil tenha um equilíbrio de energia superior a 8,0 em média (isto é, por cada quilocaloria gastada de
“energia fóssil” na produção do biodiesel obtém-se 8 quilocalorias na forma de etanol). Quantidade muito à
frente do etanol produzido com beterraba, trigo ou milho, que são produzidos em regiões temperadas, cujas
estimativas oscilam entre 2,0 e 1,0, equilibro de energia considerado negativo.
Isto significa que na atualidade, dado os elevados graus de consumo energéticos da agricultura
procedentes de combustíveis fósseis (entenda-se petróleo), ainda que esta eficiência energética seja superior
a uma unidade, trata-se tão só de “trocar”, por exemplo, 1 tonelada de petróleo (energia não renovável) pelo
equivalente a 8 toneladas de petróleo em etanol obtidas a partir da biomassa. Portanto, segundo Carpintero
(2006), o ponto mais débil no desenvolvimento da agroenergia à base dos biocombustíveis nomeados
“limpos” é a sua dependência dos combustíveis fósseis, o que significa que em definitiva o processo
apresenta como resultado final um pequeno aumento do rendimento do petróleo.

23
Segundo Mae-Wan Ho (2007) salvo duas exceções, todas as estimativas de contabilização incluem a
energia nos subprodutos e excluem os custos de infra-estruturas. Nenhuma delas inclui prejuízos ambientais
ou esgotamento e de reposição do solo, ou custos de exportação para outro país. Como se pode ver, com a
possível exceção do etanol da cana-de-açúcar brasileira, nenhuma das fontes bioenergéticas tem um retorno
suficientemente bom para os investimentos em energia e emissões de carbono mesmo com os melhores
disfarces. Quando forem feitas contas realistas, podem todas elas vir a dar um equilíbrio de energia e uma
poupança de carbono negativo.
Há características que contribuem para o relativo êxito do etanol da cana-de-açúcar. Para além da
produtiva taxa de crescimento das culturas no Brasil tropical, a produção envolve um ciclo fechado, em que
a energia para a refinaria e processo de destilação provém da queima dos resíduos da cana-de-açúcar;
portanto não são necessários combustíveis fósseis. A refinação e a destilação são grandes consumidoras de
energia, em especial para o etanol. O grande saldo positivo de energia ficaria substancialmente reduzido se
fossem incluídos os custos de infra-estruturas e de exportação, embora pudesse continuar a ser positivo.
Mas mesmo com um resultado positivo em energia e carbono, há sérias dúvidas de que o etanol da
cana-de-açúcar seja sustentável. Entre as principais preocupações estão os impactos ecológicos e sociais,
incluindo a segurança alimentar, que são especialmente importantes num país em que os direitos humanos e
o direito à terra são muito problemáticos. (Isto será analisado a posteriori).
Há muitas contas falsas que inflacionam as poupanças de carbono. Por exemplo, não foi tida em
consideração a enorme libertação de carbono do solo orgânico provocada pela cultura intensiva da cana-de-
açúcar que substitui florestas e terras de pastagem nem o fato de que as florestas naturais, se fossem
regeneradas, poupariam mais 7 toneladas de dióxido de carbono por hectare por ano do que o etanol poupa
num hectare de cana-de-açúcar . E esta não é a única forma de falsear a contabilização. (Idem)

Quadro 3. Balanço Energético das matérias primas utilizadas na produção de biocombustíveis.

Balanço energético (Energia contida no combustível/Energia fóssil


usada para produzi-lo)

ETANOL BIODIESEL
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Cana-de- Trigo Beterraba M ilho Óleo de Sobras Soja Colza
açúcar palma óleos
vegetais

Fonte: JANK, M. Dinâmica e perspectiva dos Biocombustíveis no Brasil e no mundo. São Paulo, 8 de março de 2007. Disponível
in: http://www.iconebrasil.com.br/pt/. Acesso 31-05-2007.

Dentro do grupo das matérias primas destinadas à produção de biodiesel, o óleo de palma apresenta
um equilíbrio de energia de aproximadamente 9,0 em média, muito à frente das restantes matérias primas,
como as sobras de óleos vegetais, soja e colza. No caso específico desta matéria prima, os maiores

24
produtores são a Malásia e a Indonésia, cuja produção conjunta representa 80% do total mundial deste óleo,
que é o mais barato e mais competitivo para a produção de biodiesel.
Derivado do boom dos biocombustíveis, o óleo de palma que se utiliza amplamente na indústria
alimentar e cosmética substituiu a soja como primeiro óleo comestível mundial. Assim, caso a tendência de
aumentos dos preços do petróleo e do gás seja mantida, o óleo de palma deverá ocupar o lugar de principal
cultura energética. Isto é, com produções de 5 toneladas (ou 6000 litros) de óleo bruto por hectare por ano, o
óleo de palma produz muito mais do que qualquer outra cultura oleaginosa como, por exemplo, a soja e o
milho, que geram apenas 446 e 172 litros por hectare por ano.
O óleo de palma é agora chamado o "diesel da desflorestação". A ONU acaba de publicar um
relatório que estima que 98% da floresta tropical natural da Indonésia estará degradada ou destruída em
2022 (Ver UNEP e UNESCO, Nellemann, C., Miles, L., Kaltenborn, B. P., Virtue, M., and Ahlenius, H.
(Eds). The Last Stand of the Orangutan. State of Emergency: Illegal Logging, Fire and Palm Oil in
Indonesia's National Parks (pdf). Fevereiro de 2007.10). Apenas cinco anos atrás, as mesmas agências
previam que tal não iria acontecer antes de 2032. Mas não tinham contado com a produção de óleo de palma
destinado ao mercado europeu de biocombustíveis. Esta é agora a principal causa de desflorestação naquele
país e provavelmente será responsável, em breve, pela extinção do orangotango selvagem.
Ou seja, na medida em que as florestas são queimadas, quer as árvores, quer a turfa em que
assentam, são transformadas em dióxido de carbono. O relatório 8 da consultora holandesa Delft Hydraulics
mostra que cada tonelada de óleo de palma resulta na emissão de 33 toneladas de dióxido de carbono, ou
seja, dez vezes mais do que o petróleo produz. Portanto biodiesel produzido a base de óleo de palma causa
DEZ VEZES mais alteração climática que o diesel convencional. (MONBIOT GEORGE, Uma solução
letal, In: Informação Alternativa. 27 de março de 2007 Disponível
http://infoalternativa.org/autores/monbiot/monbiot047.htm Acessado 14-06-2007).

Por último e para desmistificar o argumento dos defensores dos biocombustíveis de que sua
produção não prejudica a alimentação de quem deva produzi-los, destacam-se as seguintes informações
obtidas da organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) (Ver Tabela 13)

Da Tabela 13, podemos inferir o seguinte:

a) A superfície agrícola per capita no capitalismo desenvolvido é quase o dobro da existente nos países
periféricos em vias de desenvolvimento: 1,34 hectares por pessoa no Norte versus 0,66 no Sul, isto
se explica pelo fato de que na periferia em desenvolvimento encontram-se aproximadamente o 80%
da população mundial;
b) No caso do Brasil seu valor (1,5 hectares per capita) é levemente superior aos registrados nos países
desenvolvidos (1,34) e na América Latina (1,46). Sendo o Brasil o principal promotor da estratégia
dos biocombustíveis deverá destinar grandes extensões de terra do seu território para cumprir com o
novo paradigma energético, isto de fato colocará em risco a sustentabilidade econômica, social e
ambiental da produção dos biocombustíveis;
c) A China e Índia (que juntas aglutinam a quarta parte da população do planeta) detêm 0,44 e 0,18
hectares por pessoas respectivamente. Ambas economias em plena expansão demandam cada vez
mais alimentos, o que por sua vez se traduz numa maior pressão sobre aqueles países com
capacidade para produzi-los, o que geraria uma tensão entre a alocação de terras dedicadas para a
produção de alimentos e/ou a produção de biocombustíveis.

8
Ver, Wetlands International, Bio-fuel less sustainable than realised, 08/12/2006.

25
d) No caso dos países do Caribe que tradicionalmente têm se dedicado à monocultura da cana, a Tabela
13 mostra o extraordinário consumo de fertilizantes por hectare que se necessita para sustentar a
produção. Nos países desenvolvidos se consomem 82,6 quilogramas de fertilizantes por hectares,
nos países em desenvolvimento 114,3, em Guadalupe 973,7, Santa Lucia, 335, Martinica 177,0,
Jamaica 128,7, Colômbia 301,6. Ou seja, quem diz fertilizantes diz consumo intensivo de petróleo,
de modo que parece ser mais ilusória que real a tão propalada falácia dos biocombustíveis em
relação à redução do consumo de energia fóssil.

Sendo assim, se desejáramos substituir o 5% do consumo do petróleo do mundo necessitaríamos


sacrificar 20% da superfície total dos cultivos e pastos. Entretanto, se esta mesma análise for feita
utilizando-se a superfície cultivada, trocar estes 5% significaria dispor de 64% da terra cultivável disponível
no mundo. Ou seja, a disponibilidade de terra é limitada (entenda-se um recurso finito).

26
Tabela 13. Superfície agrícola per capita e consumo de fertilizantes em diferentes países.
PAÍSES Superfície agrícola Consumo de fertilizantes
per capita (kg/há superfície
(ha/pessoa)
2002 2002
NO MUNDO 0,8 100,8
PAÍSES DESENVOLVIDOS 1,34 82,6
PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 0,66 114,3
ÁSIA E PACÍFICO 0,31 171,6
AMÉRICA LATINA E O CARIBE 1,46 89,3
Antiga e Barbuda 0,19 0
Argentina 4,66 21,9
Aruba 0,02 0
Bahamas 0,05 100
Barbados 0,07 50,7
Belize 0,61 67,1
Bermudas 0,01 100
Bolívia 4,27 4,7
Brasil 1,5 130,2
Ilhas Caimán 0,08 0
Chile 0,98 229,6
Colômbia 1,05 301,6
Costa Rica 0,7 673,6
Cuba 0,59 45,7
Dominica 0,28 108,6
República Dominicana 0,43 81,8
Equador 0,63 141,7
El Salvador 0,27 83,8
Ilhas Malvinas (Falkland) 376,67 …
Guayana francesa 0,13 100
Granada 0,16 0
Guadalupe 0,11 973,7
Guatemala 0,37 136,9
Guiana 2,28 37,2
Haiti 0,19 17,9
Honduras 0,43 47
Jamaica 0,2 128,7
Martinica 0,08 1 770,0
México 1,05 69
Montserrat 1 0
Antilhas Neerlandesas 0,04 0
Nicarágua 1,31 27,9
Panamá 0,73 52,4
Paraguai 4,32 50,7
Peru 1,17 74,1
Porto Rico 0,08 0
Sant Kitts e Neves 0,24 242,9
Santa Lucia 0,14 335,8
São Vicente e Granadinas 0,13 304,7
Suriname 0,2 98,2
Trinidade e Tobago 0,1 43,4
Ilhas Turcas e Caucus 0,05 0
Uruguai 4,39 99,2
Ilhas Virgens 0,09 150
Venezuela, República Bolivariana de 0,86 115,5
CERCANO ORIENTE E ÁFRICA DO 1,11 73,1
NORTE
ÁFRICA SUBSAHARIANA 1,47 14,6
ECONOMIAS DE MERCADO 1,24 118,2
DESENVOLVIDAS
PAÍSES EM TRANSIÇÃO 1,54 31,5

Fonte: FAO. El Estado Mundial de Agricultura y la Alimentación 2005. Disponível In:


http://www.fao.org/docrep/008/a0050s/a0050s15.htm#C5. Acessado 10/09/2007.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na realidade, o desafio lançado à humanidade através dos Relatórios do IPCC de substituir (e


rapidamente) a dependência de fontes de energia não renováveis por alternativas verdadeiramente
sustentáveis coloca em xeque “a sabedoria tradicional”, fundamentalmente aquela promovida pelas
transnacionais e multinacionais dominantes, no que diz respeito à crença no livre mercado como a melhor
fonte de inovação e aprendizado para desenvolver alternativas energéticas viáveis e sustentáveis
ambientalmente.
O trabalho chama atenção nessa questão, já que o livre mercado ignora soluções que não possam
resultar num lucro. Qualquer firma que deixe de seguir este princípio simples não permanecerá no negócio
por muito tempo, o que vale também para as firmas produtoras de biocombustíveis. Ou seja, o livre mercado
ignora qualquer solução que não possa ser controlada, tanto através dos interesses da propriedade
(propriedade intelectual forçosa, licenças de monopólio, etc) como através da operação centralizada exigida
pelas economias de escala. Isto significa que o livre mercado é estruturalmente incompatível com uma
enorme porção do universo de possíveis soluções energéticas.
O livre mercado gosta das fontes de energia não renováveis porque elas são facilmente controladas.
Em países onde os direitos mineiros são de propriedade privada (como nos EUA e o Canadá), estes recursos
podem ser controlados via direitos de propriedade. No resto do mundo, eles podem igualmente ser
controlados facilmente através de contratos exclusivos com governos.
No caso da produção de biocombustíveis isto não é diferente para as grandes multinacionais que
tentam “adaptar e utilizar” a sua ferramenta habitual, a propriedade, à solução do problema. Tome-se como
exemplo o etanol e outros biocombustíveis brasileiros. Esta tentativa de solução para os nossos problemas
energéticos estão sendo controlados tanto através da propriedade ou arrendamento real (da terra que produz
as matérias-primas) como via propriedade intelectual (processos proprietários de destilação, micróbios
patenteados que convertem substâncias em açúcares, etc). Não importa que os biocombustíveis
proporcionem um fraco retorno energético sobre o investimento, ou que eles criem mais problemas
fundamentais como o crescimento em curso da procura de energia, esgotamento dos solos férteis,
contaminação ou competição entre alimentos e energia. Eles podem fazer muito dinheiro, e é isto o
que importa.
Em relação à preservação ambiental, qualquer caminho efetivo que leve à redução do consumo de
energia não renovável se esbarra com a mesma dificuldade: a diminuição do lucro, o que negaria a essência
do livre mercado.
Deve-se deixar claro que o livre mercado pode ajudar e inovar alguma coisa para vender (como por
exemplo os biocombustíveis) que o ajudará a “conservar”, mas o ato real da preservação ambiental mata
lucros. Isto, como muito bem diz Jeff Vail, não deve se confundir com a eficiência acrescida ao uso de
energia (a qual, como explica a ciência econômica clássica, reduz custos e liberta o consumidor para gastar
o dinheiro poupado em consumos alhures, elevando portanto o padrão de vida total - pelo menos quando
medido em função do consumo). No trabalho estamos nos referindo à preservação ambiental real, aquela
que simplesmente significa: utilizar menos.
Isto de fato é um pensamento amaldiçoado para a ciência econômica do livre mercado. A idéia de
que poderíamos utilizar menos energia no total, e então investir as poupanças em bens não econômicos tais
como tempo de lazer, segurança, saúde, educação etc. através-da-auto-suficiência é altamente problemática
porque ela causa um decréscimo acumulativo no PIB e nos padrões de consumo (tempo de lazer não conta
como um “produto”). É como um gerente de uma firma dizer: “Aqui está o meu plano de negócios. Não
pretendo vender nada e, quando tudo for dito e feito, as pessoas nos utilizarão menos. Vamos ficar ricos!”.
(Jeff Vail, 2007)

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É certo que o livre mercado pode proporcionar o serviço de ajudar as pessoas a preservar, mas isto é
um bocado como um vírus que mata o seu hospedeiro antes que ele se possa reproduzir.
Ao confiar-se no livre mercado como a solução do problema energético num mundo em que a
produção fóssil está a ponto de atingir o pico, existirá apenas um resultado garantido: suas soluções jamais
nos libertarão da dependência energética ou da escassez de energia. Isto significa ou equivale a dizer
que, o livre mercado nunca produzirá uma solução para este problema porque os consumidores dependem
de firmas para os produtos que compram e é assim que se “produz” o lucro. Analogamente, o livre mercado
nunca terá a motivação econômica para tornar a energia mais barata (no longo prazo) - seria, por definição,
comportamento econômico irracional produzir energia de forma tão barata que o valor total do mercado
mundial de energia viesse abaixo.
Percebe-se que o sucesso dos biocombustíveis dependerá do seu uso obrigatório, das isenções e
subsídios do Estado, da taxação aos consumidores, do desconhecimento dos direitos dos trabalhadores e das
mil e uma formas de tirar das comunidades rurais o uso real e efetivo de suas terras.

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