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JOSEPH CONRAD NO BRASIL

A obra de Joseph Conrad (1857-1924) é até razoavelmente traduzida no Brasil: talvez


cerca de um terço dela. Apresento a seguir um levantamento das traduções publicadas
entre nós, mencionadas apenas em sua primeira edição. Tirando uma ou outra,
praticamente todas elas tiveram maior ou menor número de reedições na editora de
referência e, em alguns casos, o licenciamento para outras editoras.

Foi por iniciativa da Livraria do Globo que Joseph Conrad chegou ao país, numa
sucessão relativamente rápida. Em oito anos, saem pela Globo quatro romances e uma
coletânea de contos de Conrad:
• 1934, O agente secreto, trad. Pepita Leão;
• 1936, Tufão e outras histórias (com “Tufão”, “Amy Foster”, “Falk” e “Amanhã”),
trad. Queiroz Lima;
• 1939, Lord Jim, trad. Mário Quintana; reed. Abril Cultural, 1971, 1982; Círculo do
Livro, 1995
• 1940, A flecha de ouro, trad. Marques Rebelo; reed. L&PM, 1984, 2001
• 1942, Vitória, trad. Leonel Vallandro.

Ainda em 1942, sai “Uma guarda avançada do progresso” na coletânea Contos ingleses,
organizada por Jacob Penteado, pela Edigraf. Embora não constem os créditos, trata-se
da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento.

Em 1944, sai “Juventude”, trad. Edison Carneiro na coletânea Os ingleses: antigos e


modernos, organizada por Rubem Braga e publicada pela Editora Leitura.

Segue-se uma calmaria de vinte anos, até que, em 1964, a Editora Boa Leitura lança
Perdição e contos de inquietude, trad. Virgínia Lefèvre. Perdição corresponde a
Almayer’s Folly e os cinco contos (Tales of Unrest) são “Karain, uma lembrança”, “Os
idiotas”, “Um posto avançado de progresso”, “A volta” e “A laguna”. [Diga-se de
passagem que a Boa Leitura havia publicado um Lord Jim em 1960, mas não consegui
descobrir se era uma retradução ou um licenciamento da tradução de 1939.]

Passa-se mais algum tempo, até que:


• em c. 1978 sai A linha de sombra: uma confissão, trad. Maria Antonia van Acker, pela
Hemus; reed. Biblioteca Folha, 2003
• em 1978 temos “Por causa dos dólares” (integrante da coletânea Within the Tides), na
edição revista e ampliada da antologia Mar de histórias, trad. Aurélio Buarque de
Hollanda e Paulo Rónai, pela Nova Fronteira;
• em 1982 vem Vitória: uma história das ilhas, trad. Marcos Santarrita, pela Francisco
Alves; reed. Abril Cultural, 1986.
• no mesmo ano, sai uma nova tradução de Lorde Jim, também por Marcos Santarrita e
também pela Francisco Alves;
• no ano seguinte, 1983, sai Nostromo, trad. Donaldson Garschagen, pela Record.

Note-se que, nesses cinquenta anos de publicação de Conrad no Brasil, entre 1934 e
1983, não há nem sinal daquela obra que, hoje em dia, é a mais espantosamente
traduzida e retraduzida entre nós, Heart of Darkness (com nada menos que 13 traduções
MAIS/ adaptações diferentes).

É em 1984 que se inicia o surto, provavelmente na esteira do sucesso do filme


Apocalypse Now, com três traduções lançadas no mesmo ano:
• Coração das trevas, trad. Regina Régis Junqueira, pela Itatiaia;
• O coração da treva, trad. Hamilton Trevisan, pela Global;
• O coração das trevas, trad. Marcos Santarrita, pela Brasiliense; reed. Ediouro, 1996.

A partir daí, a onda conradiana ganha impulso e avança com uma razoável variedade de
novos títulos e mais algumas retraduções:
• 1984, Sob os olhos do Ocidente, trad. Marcos Santarrita, pela Brasiliense;
• 1985, A força do acaso, ou Chance, trad. Francisco da Rocha Filho, pela Marco Zero;
• 1985, O cúmplice secreto, trad. Marilene Felinto e Heloísa Prieto, pela Max Limonad;
• 1985, Tufão & outras histórias (com “Tufão”, “Amy Foster” e “Amanhã”), trad.
Albino Poli Jr., pela L±
• 1986, Juventude, trad. Flávio Moreira da Costa, pela Marco Zero;
• 1987, Lord Jim, adaptação de Cordélia Dias d'Aguiar, na Coleção Elefante, Ediouro;
• 1991, Nostromo, trad. José Paulo Paes, pela Companhia das Letras;
• 1994, Mocidade e O parceiro secreto, trad. Maria Ercília Galvão Bueno, pela Imago;
• 1995, O agente secreto: uma história singela, trad. Laetitia Vasconcellos, pela Imago;
• 1997, O coração das trevas, trad. Albino Poli Jr., pela L±
• 1999, Espelho do mar, seguido de Um registro pessoal, trad. Celso Mauro Paciornik,
pela Iluminuras;
• 1999, A loucura do Almayer, trad. Julieta Cupertino, pela Revan.

Aqui vale a pena citar rapidamente o caso de Julieta Cupertino: nascida em outubro de
1907 e atualmente com 104 anos de idade, com amorosa dedicação começou a traduzir
as obras de Conrad já nonagenária. Ao longo dos anos, a Revan vem publicando esse
seu paciente trabalho, e assim é que, na sequência de A loucura do Almayer, que saiu
em 1999, temos as seguintes traduções de Cupertino, sempre pela Revan:
• 2000, O fim das forças
• 2001, Juventude: uma narrativa (edição bilíngue)
• 2001, Lord Jim
• 2003, Freya das sete ilhas
• 2004, Dentro das marés
• 2004, Duas histórias (“Karain: uma memória” e “Um posto avançado do progresso”)
• 2005, A linha de sombra
• 2007, Amy Foster
• 2008, O duelo
• 2009, Vitória
• 2011, Coração das trevas

Em 2002, entre essa sequência acima listada, a mesma editora publicou também O
agente secreto, trad. Paulo Cezar Castanheira.
Retomando a ordem cronológica das traduções e retraduções de Conrad no Brasil, e já
apresentados os 12 títulos que saíram pela Revan desde 2000, prossegue a onda
conradiana, agora com predomínio maciço de retraduções, sobretudo de Heart of
Darkness, e apenas uma ou outra coisa que ainda estava inédita entre nós:
• 2001, Coração das trevas, trad. Juliana L. Freitas, pela Nova Alexandria;
• 2002, O coração das trevas, seguido de O cúmplice secreto, trad. Celso Mauro
Paciornik, pela Iluminuras; reed. Clássicos Abril, 2010
• 2002, “Por causa dos dólares” em A selva do dinheiro, org. XXX Roberto Muggiati,
pela Record;
• 2003, Juventude: uma narrativa, e O parceiro secreto, trad. Valéria Medeiros, pela
Paz e Terra;
• 2004, “Juventude”, em De primeira viagem: antologia de contos, em organização e
tradução de Heloísa Prieto, pela Companhia das Letras;
• 2004, Freya das sete ilhas, trad. Eduardo Marks de Marques, pela Grua;
• 2005, “A fera” (integrante da coletânea A Set of Six), em Contos de horror do século
XIX, tradução de Laetitia Vasconcellos, pela Companhia das Letras;
• 2005, Coração das trevas, em adaptação de José Vicente Bernardo, pela Nova
Alexandria;
• 2007, O coração das trevas, em adaptação de Rodrigo Espinosa Cabral, pela Rideel;
• 2007, O coração das trevas, trad. Luciano Alves Meira, pela Martin Claret;
• 2007, “O duelo”, em Mestres-de-armas – seis histórias sobre duelos, trad. Cláudio
Figueiredo, pela Companhia das Letras;
• 2007, Os duelistas, trad. André de Godoy Vieira, pela L±
• 2007, “Um posto avançado do progresso”, em Os melhores contos que a história
escreveu, trad. Maria Luiza X. de A. Borges, pela Nova Fronteira;
• 2008, Coração das trevas, seguido de Um posto avançado do progresso, trad. Sergio
Flaksman, pela Companhia das Letras;
• 2008, No coração das trevas, trad. José Roberto O’Shea, pela Hedra;
• 2009, Um anarquista e outros contos (“Um anarquista”, “O informante”, “Il conde” e
“A bruta”, extraídos da coletânea A Set of Six), trad. Dirceu Villa, pela Hedra;
• 2010, A linha de sombra: uma confissão, trad. Guilherme Braga, pela L±
• 2010, O agente secreto, trad. Eduardo Furtado, pela Landmark (edição bilíngue).
• 2011, O coração das trevas, trad. Fábio Cyrino, pela Landmark (edição bilíngue).

2007 https://www.worldcat.org/pt/title/817103515
2010 https://www.worldcat.org/pt/title/1313667697
2012, O agente secreto, trad. Fernando Santos, pela editora da UNESP
2014 https://www.worldcat.org/pt/title/995384376
• 2014, Coração das trevas, adapt. De XXX, pela Scipione
• 2015, O passageiro secreto, trad. Sérgio Flaksman, pela Cosac Naify.
• 2016, Vitória, trad. Hilton Lima, pela Dublinense e TAG – Experiências Literárias (para
seus associados)
• 2016, Um pária das ilhas, trad. Jorge Ritter, pela Artes e Ofícios.
• 2018, Amanhã / To-morrow, trad. Mario Bresighello, pela Coleção Folha. Inglês com
clássicos da literatura (edição bilíngue)
• 2019, Coração das trevas, trad. José Rubens Siqueira, pela Antofágica
• 2019, Coração das trevas, trad. Paulo Schiller, pela Ubu
• 2019, O duelo, trad. Eduardo Marks de Marques, pela Grua
• 2020, Vitória, XXX, pela Dublinense
• 2020, Lorde Jim, XXX, pela LeBooks
• 2020, Notas sobre a vida e as letras, trad. Luiz Felipe Ribeiro, pela Danúbio
• 2021, Nostromo, XXX, pela LeBooks
• 2021, Narrativas inquietas – sete contos e duas peças, trad. Alcebíades Diniz Miguel,
pela Perspectiva
• 2021, Coração das trevas, trad. Paulo Raviere, pela Darkside
• 2022, Linha de sombra, XXX, pela Lafonte

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Encontrei menção a um conto de Conrad A LAGUNA MARIA LUIZA X. em Contos


de amor e desamor, pela Agir, mas não consegui maiores informações. Entre as
ausências incompreensíveis, destacam-se The Nigger of the "Narcissus" e “Gaspar
Ruiz”, este integrante de A Set of Six, coletânea do autor inexplicavelmente
desmembrada entre nós.

Cabe ainda lembrar o lamentável descaminho da Editora Nova Cultural em sua coleção
“Obras-Primas”, lançando em 2003 um Lord Jim com pretensa tradução atribuída a uma
“Carmen Lia Lomônaco”, que, em verdade, constituía mera cópia da decana tradução de
Mário Quintana.

II
Segue-se a tabela Editora Ano
dos escritos de
Conrad publicados
no Brasil, em escala
decrescente do
número de
traduções, em
blocos dispostos
internamente em
ordem cronológica:

Heart of Darkness

Tradução
Coração das trevas Regina Régis Itatiaia 1984
Junqueira
O coração da treva Hamilton Trevisan Global 1984
O coração das Marcos Santarrita Brasiliense 1984
trevas
O coração das Albino Poli jr. L&PM 1997
trevas
Coração das trevas Juliana L. Freitas Nova Alexandria 2001
O coração das Celso Mauro Iluminuras 2002
trevas Paciornik
O coração das Luciano Alves Martin Claret 2007
trevas Meira
Coração das trevas Sergio Flaksman Cia. das Letras 2007
No coração das José Roberto Hedra 2008
trevas O'Shea
O coração das Fábio Cyrino Landmark 2011
trevas
Coração das trevas Julieta Cupertino Revan 2011

Coração das trevas José Vicente Nova Alexandria 2005


Bernardo
O coração das Rodrigo Espinosa Rideel 2007
trevas Cabral (adaptação)
Tradução Editora Ano
Youth
Juventude Edison Carneiro Leitura 1944
Juventude Flávio Moreira da Marco Zero 1986
Costa
Mocidade Maria Ercília Imago 1994
Galvão Bueno
Juventude: uma Julieta Cupertino Revan 2001
narrativa
Juventude: uma Valéria Medeiros Paz e Terra 2003
narrativa
An Outpost of Tradução Editora Ano
Progress
Uma guarda Cabral do Edigraf 1942
avançada do Nascimento (port.)
progresso
Um posto avançado Virgínia Lefèvre Boa Leitura 1964
de progresso
Um posto avançado Julieta Cupertino Revan 2004
do progresso
Um posto avançado Maria Luiza X. de Nova Fronteira 2007
A. Borges
do progresso
Um posto avançado Sergio Flaksman Cia. das Letras 2008
do progresso

Artigo originalmente publicado em Belas Infiéis, v. 1, n. 1, 2012.

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