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Acta de la XXXVI Reunión de Trabajo de la Asociación

ASADES Argentina de Energías Renovables y Medio Ambiente


Vol. 1, pp.10.01-10.08, 2013. Impreso en la Argentina.
ISBN 978-987-29873-0-5

UMA ANÁLISE DA INSERÇÃO DE CONCEITOS DE ENERGIA EÓLICA NO ENSINO DE FÍSICA

Ana Paula Picolo1 e Alexandre J. Bühler2


1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, IFRS - Câmpus Bento Gonçalves
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, IFRS - Câmpus Feliz
Tel. 55 (51) 3637-4400 e-mail: alexandre.buhler@feliz.ifrs.edu.br

Recibido 15/08/13, Aceptado 24/09/13

RESUMO:
Este artigo discute a proposta de inserção do tema de energia eólica no ensino de física para nível médio, técnico e também
para os cursos de licenciatura em física. A energia gerada a partir do vento é uma área do conhecimento que vem se
expandindo consideravelmente nos últimos anos, por apresentar diversas vantagens, sendo um combustível limpo que não
emite gases poluentes na atmosfera. Uma abordagem no ensino desse tema auxilia no enriquecimento do conteúdo da
disciplina estimulando o ensino e proporcionado uma maior ligação entre a escola e o cotidiano do aluno, além de estimular
uma consciência ecológica dos estudantes em relação ao meio ambiente.

Palavras chave: Energias renováveis, energia eólica, ensino de física.

INTRODUÇÃO
O ensino de física permite a exploração de diversos fenômenos que estão presentes no cotidiano das pessoas. Entretanto esse
conhecimento não é estático. Constantemente novos conceitos são incorporados aos já existentes. Para acompanhar essa
evolução de ideias, o sistema de ensino deve estar em constante atualização devido ao fato de a sociedade em si estar sempre
em constante transformação. O mundo globalizado trás consigo mudanças para a educação da sociedade do futuro, que por
sua vez deve estar preparada para acompanhar esse desenvolvimento social e tecnológico.

Um assunto que tem ganhado muito destaque nos últimos anos está relacionado com a produção de energia elétrica, cuja
demanda aumenta constantemente a cada ano para suprir as necessidades oriundas de uma população que também aumenta
no mundo, além da questão envolvendo economias emergentes como é o caso da China e do Brasil. Contudo, muitas das
fontes utilizadas atualmente para obtenção de energia elétrica são prejudiciais ao meio ambiente por inúmeras razões. Como
exemplos de fontes com problemas sérios inerentes ao seu funcionamento têm-se as termoelétricas movidas a carvão e a
outros combustíveis fósseis e as usinas nucleares. Por esses e outros motivos há atualmente um grande foco no estudo de
energias renováveis e limpas, como é o caso da energia eólica.

No caso do Brasil, é importante ressaltar que a matriz elétrica é uma das mais limpas do mundo, já que cerca de 65% do total
provem de hidrelétricas. Atualmente, do total da capacidade instalada no Brasil, cerca de 127 GW, aproximadamente 83 GW
é devido a hidrelétricas (Aneel, 2013). Porém, como aponta um trabalho de Rüther e Zilles (Rüther e Zilles, 2010), embora o
Brasil ainda possua recursos hídricos para aumentar a sua matriz energética baseada nessa fonte de energia, a instalação de
novas usinas hidrelétricas será dificultada por questões ambientais. Além disso, as grandes distâncias das centrais aos centros
de consumo farão com que os preços da energia se tornem maiores.

A qualidade de vida da população está sendo afetada por fatores como as mudanças climáticas, fato já evidenciado por
inúmeras pesquisas e oriundo do uso de fontes energéticas convencionais baseadas em combustíveis fósseis. Assuntos
relacionados a forma como a energia elétrica é obtida, bem como da possibilidade e limite na inserção de diferentes fontes
renováveis na matriz energética de um país é um assunto altamente relevante e que precisa ser discutido com alunos de
ensino médio e técnico a fim de fomentar o pensamento crítico nestes e torná-los pessoas capazes de possuírem uma opinião
sólida a respeito desses assuntos.

Em um cenário baseado no desenvolvimento sustentável, é apropriada a conversão da energia solar e eólica em energia
elétrica, fato justificado pela não emissão de gases poluentes e pela utilização de uma energia renovável e abundante. Essa
utilização se justifica ainda mais no fato do custo dessas fontes de energia ter baixado muito nos últimos anos. A energia
eólica já apresenta no Brasil um custo competitivo ao menos com as termelétricas e a solar, segundo um trabalho publicado
por Breyer e Gerlach (Breyer e Gerlach, 2012), atingirá a paridade de rede (quando o custo da energia por fonte fotovoltaica
se equivale ao custo das fontes convencionais) para sistemas fotovoltaicos já no ano de 2013 para sistemas residenciais no
Brasil.

A geração de eletricidade a partir da energia eólica e solar é uma área que vem crescendo muito nos últimos tempos no
mundo inteiro, o que inclui o Brasil. O conteúdo que se relaciona com o entendimento a respeito dessas fontes de energia
limpa abrange diversas áreas do conhecimento tradicionalmente apresentado aos alunos de ensino médio, como eletricidade,
aerodinâmica e física quântica (no caso da solar fotovoltaica). Baseado nisso, este trabalho tem como objetivo uma discussão
sobre o cenário atual mundial e brasileiro da energia eólica, seu histórico e previsões para o futuro. É também abordado o

10.01
papel que o estudo dessa fonte de energia teria, uma vez inserido no ensino de física em nível de ensino médio, técnico e
superior (nos cursos de licenciatura em física), uma vez que traria interdisciplinaridade por meio de um tema bastante atual.

A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA


No cenário mundial onde prossegue o crescente uso da energia elétrica e o previsível esgotamento das fontes
tradicionalmente utilizadas para a obtenção da eletricidade, como o carvão, por exemplo, é gerado um debate a respeito das
questões ambientais. Este debate possibilita a criação deum espaço para o mercado que utiliza fontes alternativas de energia.
As chamadas fontes renováveis como a energia solar e eólica, ganham muito importância e cada vez mais diversos países
estão engajados em utilizá-las em suas matrizes energéticas.

A matriz elétrica brasileira, que possui sua base na energia hidráulica, está representada na Figura 1 onde é apresentado o
percentual de cada fonte de energia elétrica no total de produção.

Figura 1:Percentual de cada fonte de energia na matriz elétrica brasileira


Fonte: Aneel, 2013.

Apesar da ampla participação de renováveis na matriz elétrica brasileira (devido a grande participação das hidrelétricas), uma
boa parte da energia gerada no país ainda provém de termoelétricas. De acordo com a Aneel, o Brasil tem hoje 1.652 usinas
termoelétricas, movidas a combustíveis como gás natural, óleo, carvão e biomassa, com potência de 36,4 GW, representando
27,9% do total da energia gerada no país.

A termoeletricidade é muito prejudicial ao meio ambiente, pois lança na atmosfera grandes quantidades de poluentes que
contribuem para o aquecimento global por meio do efeito estufa e da chuva ácida. A eliminação total do uso de termoelétricas
não é o ponto em questão, visto que essa fonte possui a grande vantagem de fornecer a energia necessária no momento exato
em que existir demanda. Isto não ocorre com outras fontes de energia, como no caso da solar, quando não há luz e no caso da
eólica, quando não há vento. Por outro lado, é importante ressaltar que quanto mais diversificada for a matriz energética,
menor a necessidade do uso de termoelétricas, que sabidamente causam um grande dano ambiental.

Devido a esse grande impacto ambiental se reforça a importância da inserção de renováveis com o objetivo de diminuir ao
máximo a necessidade de termoelétricas. É necessário haver uma mudança a fim de estimular as energias renováveis já que o
Brasil apresenta uma condição muito favorável em relação a essas fontes e estimular o desenvolvimento de tecnologias que
buscam reduzir essas agressões ao planeta através da avaliação dessas opções. Devido à questão da previsibilidade, é sabido
que eliminar todas as termoelétricas da matriz energética brasileira não é nada óbvio, visto que o potencial eólico e o solar
nem sempre estão disponíveis no momento onde a demanda existe. Por outro lado, a diminuição no uso de termoelétricas em
troca de mais fontes limpas é algo perfeitamente possível e plausível.

Uma das fontes renováveis de muito destaque no panorama atual é a energia eólica onde a eletricidade é obtida a partir do
vento. A energia eólica desempenha um papel central em um número crescente de planos de energia de diversos países a
curto e longo prazo. Ela tem muitos benefícios ambientais, incluindo a eliminação da poluição do ar local e consumo de água
quase zero. No entanto, o maior benefício é a contribuição da energia eólica para a redução das emissões de dióxido de
carbono do setor de energia, que é o maior contribuinte antropogênico para o problema da mudança climática global (GWEC,
2012).

Apesar de atualmente a energia eólica representar apenas 1,56% na matriz elétrica brasileira, este é um mercado que está
crescendo muito no país. A produção de eletricidade a partir do vento no Brasil alcançou 2.705 GWh (em engenharia o Wh é
uma unidade muito utilizada, embora no SI a unidade correta é o Joule) em 2011. Isto representa um aumento de 24,3% em
relação a 2010. Em 2011, a potência instalada para geração eólica no país aumentou 53,7% (EPE, 2012).

O CENÁRIO MUNDIAL ATUAL DA ENERGIA EÓLICA


Desde os anos 1980, quando os primeiros aerogeradores comerciais foram implantados, a sua capacidade, eficiência e design
visual melhoraram substancialmente, principalmente no aumento do tamanho e do desempenho. Há anos atrás as máquinas
eram de apenas 25 kW, hoje a faixa de tamanho comercial vendido pode estar de 750 até mais de 7 MW. Desde o ano de
2008 a empresa ENERCON, uma das maiores fabricantes de turbinas e componentes para geração de energia eólica, fabrica a
turbina E-126. Trata-se de um gerador com torre de 138 metros de altura e com um rotor com 126 metros de diâmetro capaz
de fornecer 7,5 MW de potência pico (Enercon, 2012). A Figura 2 apresenta duas fotografias desse colossal gerador eólico.

10.02
(a) (b)
Figura2: (a) Gerador eólico E-126 produzido pela empresa ENERCON, atualmente o maior gerador eólico do mundo. (b)
Detalhe da base da torre do E-126.

Um aerogerador na faixa de potência de megawatt têm uma expectativa de vida mais longa do que uma pequena turbina de
50 kW. Por isso, há uma concessão de prazos de pagamento mais longos para aerogeradores maiores como em projetos de
parques eólicos (Hau, 2006). Nesse sentido, cada vez mais se busca aperfeiçoamento das técnicas utilizadas nestes
dispositivos para que se obtenha a melhor eficiência possível aliado a uma relação custo-benefício adequada.

Nos últimos anos, a capacidade de geração de energia eólica mundial se expandiu amplamente. No ano de 2011, a capacidade
eólica mundial atingiu 237.016 Megawatts, depois de 196.986 Megawatts em 2010 e 159.762 MW em 2009. A Figura 3
mostra a capacidade total mundial instalada em MW de 1997 a 2011.

250000 16
70
23

86
69
200000 19

62
97
15
150000
3
0 91
MW

12
9
91
100000 93
2
4 11
1 2 7
90
81 5
9 5 476
50000 1 92
2 31 18 3
0 3 9 2432
0 67 70 180
7 48 96 13

0
9 7 98 9 9 00 01 02 03 04 05 0 6 07 0 8 09 1 0 11
19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

Figura3: Capacidade eólica total mundial instalada.


Adaptado de EWEA, 2012.

Vários países estipularam metas e definiram programas de incentivo, com a finalidade de criação de um ambiente mais
favorável para que as fontes alternativas de energia elétrica pudessem ter uma participação mais efetiva na matriz de geração
de energia elétrica reduzindo também a dependência de combustíveis fósseis. No caso da União Europeia, o Parlamento
aprovou a Diretiva 2001/77/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Setembro de 2001 (conhecida como Diretiva
das Renováveis) referente à promoção da eletricidade produzida a partir de fontes renováveis de energia no mercado interno
da eletricidade. O objetivo principal era criar um quadro que facilitasse o aumento significativo a médio prazo da eletricidade
produzida a partir de fontes renováveis de energia, onde foi exigido que os Estados–Membros estabelecessem metas
indicativas nacionais para o consumo de eletricidade produzida a partir dessas fontes compatíveis com os compromissos
nacionais assumidos no Protocolo de Quioto. A evolução constatada nesses países é associada ao desenvolvimento desses
objetivos. A Figura 4 mostra o potencial nos 10 países com maior capacidade total instalada entre 2010 e 2011 em MW.

10.03
in a
Ch

60000

50000 EUA
2010
2011

40000

nha
MW

ma
30000 Ale

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20000 a
Índi

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10000 Itá li Fra U ni ad á
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Por

Figura 4: Potencial nos 10 países com maior capacidade total instalada (MW)
Adaptado de EWEA, 2012.

Além dos parques eólicos convencionais onde a instalação das turbinas é feita em terra firme (onshore) os aerogeradores
podem ser fixados sobre o fundo do mar (offshore). A tecnologia offshore está crescendo bastante nos últimos anos devido a
diversas vantagens e principalmente a falta de espaço em alguns países. É importante ressaltar que como a fixação das torres
no sistema offshore é mais complexa e custosa os custos de sistemas desse tipo são mais elevados do que nos parques
convencionais.

Atualmente, 4.620 MW de energia eólica offshore já foram instalados mundialmente, o que representa cerca de 2% da
capacidade instalada de energia eólica total. Mais de 90% está localizado no norte da Europa, no Mar do Norte, Mar Báltico e
o Mar da Irlanda, e no Canal Inglês. A maior parte do restante está em dois projetos na costa leste da China (A China é o
maior mercado mundial de energia eólica, mas apenas o terceiro em termos de parque marítimo instalado, atrás do Reino
Unido e da Dinamarca). No entanto, há também grandes expectativas para implantação em outros lugares como Japão,
Coréia, Estados Unidos, Canadá, Taiwan e até mesmo na Índia, país que têm mostrado interesse para o desenvolvimento
offshore em suas águas (GWEC, 2012).

Em 2011, a participação eólica offshore de instalações totais foi de 9% na União Europeia. A Figura 5 mostra as instalações
anuais onshore e offshore na União Europeia em MW.

12000

582

10000 883 866


Onshore
Offshore 318
373

8000 93

90
259 9929
MW

51
6000
170
8764 8750
4 8201
7935
4000 7526

6114
2000 5743 5749
5203

4377

Figura 5: Instalações anuais onshore e offshore na União Europeia em MW.


Fonte: EWEA, 2012.

10.04
O CENÁRIO BRASILEIRO DA ENERGIA EÓLICA

A produção de energia elétrica a partir do vento passou a fazer parte do cenário brasileiro a partir da década de 90. A Figura 6
mostra a capacidade instalada de geração elétrica no Brasil de 1974 a 2010.

Figura 6: Capacidade Instalada de Geração Elétrica no Brasil. Fonte: EPE, 2012.

A energia eólica é uma fonte de geração de energia elétrica que cresce bastante no Brasil. Em abril de 2013, a Aneel já
registrava a existência de 92 empreendimentos em operação a partir da energia eólica com uma potência associada de
2.044.538 KW, sendo que existem muitos projetos em construção. Além deles, outros já estão registrados como outorgados,
porém sem que as obras tivessem sido iniciadas.

Em termos de ventos o Brasil é um país muito favorecido, possuindo uma média duas vezes superior à mundial e com
volatilidade de 5% (oscilação da velocidade), o que proporciona uma maior previsibilidade ao volume a ser produzido. Além
disso, a velocidade costuma ser maior em períodos de estiagem, o que possibilita a utilização das usinas eólicas em sistema
complementar com as hidrelétricas, preservando a água dos reservatórios em períodos de poucas chuvas (Aneel, 2008). O
maior potencial eólico foi identificado na região litoral do Nordeste e no Sul e Sudeste. A Figura 7 mostra um mapeamento
das velocidades médias anuais e fluxos de potência eólica no território brasileiro, determinados para uma altura de 50 metros.

Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (Amarante et al., 2001), o Brasil possui um potencial de 143 GW a 50 metros
de altura. Esse potencial é, entretanto, muito maior se for considerado uma altura mais elevada, onde os aerogeradores são
geralmente posicionados. Estudos apontam que o potencial eólico do Brasil pode ultrapassar os 350 GW com medições entre
80 e 120 metros de altura (Freire, 2012).

O Brasil é um dos mercados mais promissores para a energia eólica em terra, ao menos pelos próximos cinco anos. A
estrutura de apoio do país e a experiência do setor foram adaptadas para atender às condições locais, colocando o Brasil em
uma posição excelente para ser o líder regional em geração de energia eólica e desenvolvimento. No entanto, alcançar o
desenvolvimento sustentável exige um novo quadro regulamentar que proporcione segurança a médio e longo prazo.
Projeções atuais do governo preveem 16.000 MW de potência eólica instalada no país até o final de 2021 (GWEC, 2012).

Em agosto deste ano, o Ministério de Minas e Energia promoveu um leilão exclusivo para energia eólica. Foi um leilão
rápido, onde em cerca de 40 minutos, o governo contratou 66 projetos de geração de energia pelos ventos. No total, os
projetos corresponderão a uma potencia instalada de 1,5 GW. O governo brasileiro pagará um preço médio de R$ 110 por
MWh (aproximadamente 50 dólares americanos). A grande maioria dos 62 projetos contratados está no Nordeste, nos
Estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.

10.05
Figura 7: Mapeamento das velocidades médias anuais e fluxos de potência eólica a 50 metros de altura.

IMPORTÂNCIA DA ENERGIA EÓLICA NO ENSINO DE FÍSICA

A abordagem do conteúdo de energia eólica no currículo da disciplina de Física e o contato com o tema referente às energias
renováveis podem trazer benefícios de formas variadas. As questões ambientais são alvo de preocupação para a sociedade
atual e devido ao consumo excessivo de energia elétrica, escassez dos combustíveis fósseis, bem como a emissão de gases
poluentes provenientes desses combustíveis e problemas relacionados à instalação de novas usinas hidrelétricas, isto sem
entrar na questão da energia nuclear com seus resíduos e gigantesco impacto ambiental, no caso de acidentes. Cada vez mais
se buscam alternativas para a produção de energia elétrica que não agridam o meio ambiente. Com isso, as fontes de energia
renováveis limpas se tornaram uma área de alto interesse mundial e por isso é primordial que se busque conhecer o
funcionamento desses sistemas.

Em diversos momentos os alunos não conseguem compreender os temas trabalhados no ensino de Física devido à separação
entre o assunto e o mundo que os cercam, o que acaba ocasionando, muitas vezes, na falta de interesse do estudante pela
disciplina e por outras áreas relacionadas a esta. A inserção de conteúdos que sejam contemporâneos e que tenham
importância para o aluno pode incentivá-lo a seguir uma carreira nesta área além de favorecer a opção do mesmo por um
curso de graduação nas áreas científicas e ou tecnológicas como física ou engenharia. Cabe ressaltar que o Brasil se encontra
carente de profissionais nessas áreas.

O conhecimento a respeito das fontes de geração de energia elétrica pode ainda estimular o estudante e/ou o professor a ter
um próprio gerador eólico ou de outra fonte alternativa em sua casa. A regulamentação para tal empreendimento foi
estabelecida pela ANEEL recentemente.

A resolução normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, da ANEEL, (ANEEL, 2012) estabeleceu as condições gerais para o
acesso a micro geração, com potência instalada menor ou igual a 100 kW, e mini geração, com potência instalada superior a
100 kW e menor ou igual a 1 MW, que utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração
qualificada distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica para consumo próprio e criou também o sistema de
compensação de energia elétrica. Com isso, agora consumidores/geradores podem injetar energia na rede de distribuição,
reduzindo tal quantia do valor que é faturado pela distribuidora mensalmente.

A disseminação de tal conhecimento pode além de tudo contribuir para a economia na renda da família dos envolvidos nesse
ensino, visto que em um tempo ao tempo de vida da instalação o dinheiro investido para a obtenção do dispositivo elétrico é

10.06
compensado. Dessa forma, estes investidores estarão contribuindo para a preservação do meio ambiente optando pela própria
produção de energia através de uma fonte renovável.

Além disso, se comparado com outros países, o Brasil possui muito pouco material referente às fontes renováveis de energia
elétrica principalmente voltado para o ensino. No caso, por exemplo, dos Estados Unidos, através do seu departamento de
energia (US DOE, 2011) são desenvolvidos diversos projetos nesse sentido, como o Mapa de Carreira Solar que
disponibiliza ferramentas para a visualização de carreira em energia limpa. Ainda, visando atualizar o currículo escolar são
publicados planos de aula, projetos de ciência e outras atividades que podem ser feitas em sala de aula ou em casa sobre
energia limpa, e também é promovida a organização de desafios escolares e competições. Estas atividades são apoiadas por
ferramentas de aprendizagem de tecnologias avançadas, incluindo simulações interativas e jogos de aprendizagem.

A maioria do material disponível em energia eólica está em língua estrangeira. Nesse sentido reforça-se a ideia da
necessidade do desenvolvimento de atividades no Brasil para que sejam acessíveis aos professores e possam servir como
ferramentas de aprendizagem para disseminação dos conceitos de energias renováveis, assim como a energia eólica.

Analisando do ponto de vista do ensino de física, o estudo da energia eólica trás uma série de conceitos físicos que são
trabalhados normalmente pelos docentes de forma separada e podem ser mais bem compreendidos e outros que, se não foram
estudados, podem ser relacionados, ampliando o campo conceitual da disciplina no ensino médio, técnico e mesmo superior.
A abrangência dos conteúdos em relação à energia eólica se dá em várias áreas dentro da disciplina de física como dinâmica
de fluidos, mecânica, termodinâmica, eletricidade e aerodinâmica. Além disso, esse assunto é tão amplo que se relaciona
também com outras áreas do conhecimento possibilitando uma abordagem interdisciplinar do tema. No caso, por exemplo, da
geografia pode-se estudar a região mais adequada para posicionamento dos aerogeradores a fim de obter um melhor
aproveitamento da energia eólica, ou então, na biologia onde poderia se analisar relações entre o ser humano e o meio
ambiente e a preservação da natureza.

Os benefícios que vem junto com o ensino a respeito das energias renováveis podem se estender também aos professores e
futuros professores que estudarem o assunto na graduação. Esta é uma forma de possibilitar ao aluno um ensino mais atual
em relação aos conteúdos trabalhados na física, entrando em contato com o mundo a sua volta e, assim, aperfeiçoar a sua
formação acadêmica.

CONCLUSÃO

Dentro do contexto atual que procura conciliar o crescimento econômico com a proteção ambiental, a inserção da energia
eólica no ensino se torna viável, por trazer diversos benefícios para os estudantes como o enriquecimento e aprimoramento do
conteúdo da disciplina de física e a preparação para a formação de um cidadão consciente dos seus atos em relação ao meio
ambiente. Essa seria uma forma mais produtiva e motivadora de ensinar física, possibilitando também a chance para chamar a
atenção dos alunos para as questões ambientais relacionadas à geração de energia elétrica. Ainda é interessante avaliar que
conduzir o ensino de física através de assuntos como a geração de energia elétrica por fonte eólica pode funcionar como um
estímulo ao estudo da física e de áreas correlatas.

Essa é uma área de grande importância global que demanda um grau de conhecimento tanto por parte do estudante como por
parte do docente responsável por apresentar as energias renováveis e articular com estas no processo de ensino-
aprendizagem.

O Brasil, por ser um país rico em recursos renováveis que podem ser utilizados para gerar energia, necessita investir mais
nessa área. Para isso, nada melhor do que estimular as pessoas desde a escola a pensarem sobre o futuro do planeta, sobre
fontes de energia limpas e não convencionais, sobre a importância de uma matriz energética diversificada. Os alunos de hoje
serão os profissionais de amanhã, que poderão contribuir para o progresso científico e tecnológico da nação, porém é
importante que tenham esclarecido os ônus e bônus de cada fonte de energia, como no caso da eólica.

REFERÊNCIAS

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em: www.aneel.gov.br.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica (2012). Resolução normativa nº 482, de 17 de abril de 2012. Disponível em:
www.aneel.gov.br.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica (2008). Atlas de Energia Elétrica - 3ª Edição. Brasília, 2008. Disponível em:
http://www.aneel.gov.br

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1030, DOI: 10.1016/j.enpol.2010.12.021.

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10.07
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Instituto Superior Técnico, Lisboa.

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2012. Disponível em: http://www.jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=10714&id_secao=9.

ABSTRACT

This article discusses the proposal for inclusion of the wind energy topic in physics teaching to secondary and technical
school and also for physics graduation courses. The energy generated from wind correspond to an area that has been
expanding considerably , since it has several advantages, being a clean fuel that does not emit greenhouse gases in the
atmosphere. An approach to teaching this subject helps in enriching the content of the course stimulating teaching and
providing better links between the school and the student's daily life in addiction to stimulating an ecological awareness of
the students in relation to the environment.

Keywords: Renewable energy, wind energy, teaching of physics

10.08

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