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MESTRADO EM MEDICINA LEGAL

Determinação analítica de Fentanil e seus


análogos com fins forenses – o Estado da
Arte
Ana Sofia Esteves Abreu dos Santos

M
2023
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR
Ana Sofia Esteves Abreu dos Santos

Determinação analítica de Fentanil e seus análogos com fins


forenses – o Estado da Arte

Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre


em Medicina Legal submetida ao Instituto de
Ciências Biomédicas de Abel Salazar da
Universidade do Porto.

Orientador: Doutor André Castro


Categoria: Professor Auxiliar Convidado
Afiliação: Instituto de Ciências biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto

Coorientador: Engenheira Sónia Tarelho


Categoria: Especialista Superior de Medicina Legal
Afiliação: Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses

3
Índice
Agradecimentos ............................................................................................................................... 5
Lista de abreviaturas ....................................................................................................................... 6
Lista de Figuras ................................................................................................................................ 7
Lista de tabelas................................................................................................................................. 8
Resumo ............................................................................................................................................. 9
Abstract ........................................................................................................................................... 10
Introdução ....................................................................................................................................... 11
1. Opiáceos ................................................................................................................................. 11
1. Fentanil .................................................................................................................................... 12
2.1 Contexto histórico ................................................................................................................... 12
2.2 Estrutura química e propriedades farmacodinâmicas ............................................................ 13
2.2.1 Estrutura química e principais propriedades ....................................................................... 13
2.2.2 Mecanismo de ação ............................................................................................................ 14
2.2.3 Efeitos farmacodinâmicos e achados na autópsia .............................................................. 15
2.2.4 Toxicocinética ...................................................................................................................... 17
Absorção .................................................................................................................................. 17
Distribuição ............................................................................................................................... 18
Metabolismo de ação ............................................................................................................... 18
Eliminação ................................................................................................................................ 20
2.3 Interações medicamentosas .................................................................................................. 20
2.4 Análogos do fentanil ............................................................................................................... 21
2.5 Prevalência e padrões de consumo atuais ............................................................................ 24
Europa ...................................................................................................................................... 24
Estados Unidos da América ..................................................................................................... 26
2. Métodos de análise ................................................................................................................ 27
3.1 Amostras biológicas ............................................................................................................... 27
3.2 Métodos portáteis para amostras não biológicas .................................................................. 33
3.2.1 Análises colorimétricas .................................................................................................... 33
3.2.2 Análise colorimétrica automatizada ................................................................................ 33
3.2.3 Imunoensaio de fluxo lateral (LFIA) ................................................................................ 34
3.2.4 Espetroscopia .................................................................................................................. 34
3.2.5 Cromatografia gasosa – espetrometria de massa (GC-MS) portátil ............................... 35
3.2.6 Espetrometria de mobilidade de iões (IMS) .................................................................... 36
3.2.7 Espetrómetro de Massa Portátil (HPMS) ........................................................................ 36
Discussão e Perspetivas futuras .................................................................................................. 37
Conclusão ....................................................................................................................................... 44
Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 46

4
Agradecimentos

O primeiro agradecimento é dirigido ao meu orientador, Doutor André Castro, por aceitar o
convite e por toda a sua disponibilidade, ajuda incansável e paciência inesgotável.

Agradeço também à minha coorientadora, Engenheira Sónia Tarelho, por todo o apoio
prestado e pela sua disponibilidade.

Um agradecimento à Prof. Doutora Maria José Pinto da Costa que me orientou na escolha
da pessoa para desenvolver esta dissertação e por todo o conhecimento transmitido ao
longo destes dois anos.

Aos meus pais que sempre me apoiaram e incentivaram ao longo da minha vida académica
e que fizeram o esforço e sacrifício para me proporcionarem a oportunidade de atingir os
meus objetivos.

À minha melhor amiga pela confiança, amizade e por ter sido o meu pilar durante toda esta
jornada.

5
Lista de abreviaturas

cAMP – Monofosfato cíclico de adenosina

CYP3A4 – Citocromo P450 3A4

DEA – Drug Enforcement Administration

EMCDDA – European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction

FDA – Food and Drug Administration

GC-MS/MS – Cromatografia gasosa acoplada à espetrometria de massa em tandem

GDP – Guanosina difosfato

GPCRs – Recetores acoplados das proteínas-G

GTP – Guanosina trifosfato

HHS – U.S. Department of Health and Human Services

LC-HRMS – Cromatografia líquida acoplada à espetrometria de massa de alta resolução

LC-MS/MS – Cromatografia líquida acoplada à espetrometria de massa em tandem

LOD – Limite de deteção

LOQ – Limite de quantificação

NPF – Fentanil não farmacêutico

NSOs – Novos opioides sintéticos

PKA – Proteína quinase A

SPE – Solid Phase Extraction

UHPLC-MS/MS – Cromatografia líquida de alto desempenho acoplada à espetrometria de


massa em tandem

IMS – Espetrometria de mobilidade de iões

HPMS – Espetrometria de massa portátil

6
Lista de Figuras

Figura Nº. 1 – Estrutura química do Fentanil

Figura Nº. 2 – Mecanismo de ação do Fentanil

Figura Nº. 3 – Diferentes metabolitos do fentanil

Figura Nº. 4 – Estrutura química do Alfentanil

Figura Nº. 5 – Estrutura química do Remifentanil

Figura Nº. 6 – Estrutura química do Sufentanil

Figura Nº. 7 – Estrutura química do Carfentanil

Figura Nº. 8 – Estrutura química do 3-metilfentanil

Figura Nº. 9 – Estrutura química do α-metilfentanil

Figura Nº. 10 – Estrutura química do β-hidroxifentanil

7
Lista de tabelas

Tabela 1 – Métodos de análise de amostras de cabelo

Tabela 2 – Métodos de análise de amostras de urina

Tabela 3 – Métodos analíticos de fluídos e tecidos biológicos

8
Resumo

O consumo de fentanil e dos seus análogos tornou-se uma grande preocupação para a
saúde pública devido à sua elevada potência, ao seu consumo ilícito crescente e à
constante produção e introdução de novos análogos no mercado ilícito.

O fentanil foi desenvolvido para utilização em anestesia e para analgesia da dor. No


entanto, atualmente, existe um grande consumo ilícito desta substância. Foram
desenvolvidos análogos de fentanil, legais e ilícitos, devido à existência de grande procura
por esta substância.

O fentanil e os seus análogos são compostos difíceis de detetar na análise de amostras


biológicas. Os métodos analíticos disponíveis não apresentam a sensibilidade necessária
para a deteção destes compostos porque a concentração do fentanil e/ou dos seus
análogos presente nas amostras é muito baixa.

Outra situação que dificulta a identificação e análise dos análogos de fentanil é o constante
desenvolvimento de novos compostos. Os novos análogos são compostos desconhecidos
com estrutura química alterada e, consequentemente, nem todos os métodos analíticos
utilizados têm capacidade para identificá-los.

O objetivo desta revisão bibliográfica é descrever os obstáculos existentes na identificação


e análise dos novos análogos de fentanil e compilar informação, de forma a obter mais
conhecimento sobre as características do fentanil e dos seus análogos para, num futuro
próximo, se desenvolver um método acessível para a sua identificação e análise, tornando
possível a identificação prematura de novos análogos de fentanil, favorecendo o combate
ao seu consumo ilícito e diminuindo o seu risco para a saúde pública.

Palavras-chave: fentanil; análogos de fentanil; novos opioides sintéticos; Inteligência


Artificial

9
Abstract

The consumption of fentanyl and its analogues has become a major concern of public health
due to its high potency, its increasing illicit consumption and the constant production and
introduction of new analogues on the illicit market.

Initially, fentanyl was used for anesthesia and pain analgesia. Currently, there is a large
illicit consumption of this substance. Fentanyl analogues, legal and illicit, have been
developed due to the high demand for this substance.

Fentanyl and its analogues are difficult compounds to detect in the analysis of biological
samples. The available analytical methods do not have the necessary sensitivity for the
detection of these compounds because the concentration of fentanyl and/or its analogues
present in the samples is extremely low.

Another situation that hinders the identification and analysis of fentanyl analogues is the
constant development of new compounds. New analogues are unknown compounds with
altered chemical structure and, consequently, not all analytical methods are able to identify
them.

The aim of this bibliographic review is to describe the existing obstacles in the identification
and analysis of new fentanyl analogues and to compile information, in order to obtain more
knowledge about the characteristics of fentanyl and its analogues in order to, in the near
future, develop an accessible method for its identification and analysis, making possible the
premature identification of new fentanyl analogues, favoring the fight against its illicit
consumption and reducing its risk to public health.

Keywords: fentanyl; fentanyl analogs; novel synthetic opioids; Artificial Intelligence

10
Introdução

1. Opiáceos

Os opiáceos são um importante grupo de substâncias que têm sido utilizados no tratamento
e controlo da dor há centenas de anos.1,2 Estes atuam nos recetores opioides, que se
encontram localizados ao longo da via nociceptiva.1, 2

Ainda que os opiáceos sejam eficazes contra praticamente todos os tipos de dor, a dose
necessária para o alívio da dor pode, por vezes, ser elevada e, por isso, podem ocorrer
efeitos adversos problemáticos após a sua utilização.3

A ligação dos opiáceos, em contexto analgésico, ocorre principalmente no recetor μ-


opioide, mas não se ligam todos ao mesmo subtipo, o que conduz à existência de diferentes
respostas analgésicas consoante o tipo de opiáceo analgésico administrado.2,3 Desta
forma, os opiáceos não apresentam uma potência/eficácia uniforme entre si e entre
diferentes contextos clínicos.3 Um exemplo desta afirmação é a grande diferença de
potência que existe entre a morfina e o fentanil, sendo que este último é 50 a 100 vezes
mais potente que a morfina e 25 vezes mais potente que a heroína.4

Atualmente, a morfina é utilizada como analgésico para a dor severa.4,5 Esta substância
sempre apresentou um grande potencial de adição e, em 1898, foi desenvolvida outra
substância para a substituir: a heroína.5,6 A heroína começou por ser utilizada como
substituto da morfina, com o objetivo de aliviar os sintomas da abstinência causados pelo
consumo desta.6 Porém, ficou provado que a heroína era muito mais viciante e que podia
criar dependência em apenas algumas semanas.6 Assim, em 1924, a sua produção tornou-
se ilegal.6

Atualmente os opiáceos são utilizados em contexto clínico. Porém, existe um mercado


ilícito destes compostos para consumo de forma recreativa. Um dos compostos mais
utilizados de forma ilícita é o fentanil. Esta substância e os seus análogos apresentam
dificuldades na sua identificação através de exames toxicológicos porque a sensibilidade
de alguns métodos não permite a deteção de pequenas quantidades destes compostos
presentes nas amostras biológicas, sendo também necessário reconhecer os análogos que
estão a ser analisados.7 Outro problema que surge através do consumo de fentanil e dos
seus análogos é que apenas é necessária uma quantidade baixa destas substâncias para
provocar uma overdose, devido à sua alta potência.8 Por estas razões, o fentanil e os seus

11
análogos representam uma ameaça para a vida, o que os torna uma preocupação especial
para a saúde pública.9,10

1. Fentanil

2.1 Contexto histórico

Antes da descoberta do fentanil, o principal composto usado para anestesia era a morfina.11
Porém esta causava uma grande mortalidade no bloco operatório e vários efeitos adversos,
tais como hipertensão e recuperação de consciência durante a intervenção cirúrgica.10,11
Apresentava também um efeito aditivo relevante a médio prazo, com todas as
consequências individuais e sociais diretamente associadas ao fenómeno de adição. Estes
fatores conduziram à necessidade de desenvolvimento de alternativas mais seguras e mais
potentes.11

O Dr. Paul Janssen, fundador da Janssen Pharmaceutical, tinha um grande interesse por
esta temática e, a partir de 1950, propôs-se descobrir um analgésico mais potente.11,12,13
Inicialmente, descobriu a dextromoramida, o que estimulou o seu interesse pelos
narcóticos sintéticos.11 O desenvolvimento destes estudos permitiu verificar que a
solubilidade lipídica é o fator chave para a travessia da barreira hematoencefálica por parte
das substâncias medicamentosas (ou outras).11

Janssen começou por analisar a estrutura da meperidina, um opioide, considerado por ele
simples o suficiente para testar a sua estrutura.12 Porém, este mostrou-se inadequado
devido à sua baixa potência, ou seja, eram necessárias grandes quantidades desta
substância para se obter o efeito necessário.12 A conclusão deste estudo sugeria que a
alteração da estrutura básica da meperidina aumentaria a sua solubilidade lipídica,
aumentando, consequentemente, a sua potência e, talvez, a sua especificidade.12 O
aumento da especificidade é um fator importante, uma vez que o aumento desta permitiria
uma utilização mais segura do composto.11

A síntese do fentanil concretizou-se em 1960.12 Após a sua síntese, este composto foi
estudado em contexto clínico.12 George DeCastro, um anestesiologista, terá sido um dos
primeiros clínicos a avaliar o uso de fentanil.12 Com os relatórios positivos que DeCastro
forneceu, iniciaram-se estudos na Europa, o que conduziu à aprovação do uso de fentanil
como anestésico em contexto clínico hospitalar nos países da Europa Ocidental em
meados do ano 1960.11,12,14

12
Nos Estados Unidos era necessária a aprovação pela Food and Drug Administration
(FDA).12 Colocaram-se vários entraves à aprovação do uso de fentanil, nomeadamente, o
receio do seu efeito aditivo, com potencial de abuso.12 Assim, tornava-se necessário
averiguar se a substância traria mais riscos do que vantagens. Inicialmente, a aprovação
do uso do fentanil implicava a sua administração em conjunto com outro anestésico, o
droperidol, que causava efeitos psíquicos muito negativos.7,12,13 Esta técnica de anestesia
não se tornou muito popular e, em 1968, a FDA aprovou o uso único de fentanil.15,16

Durante os anos 80, o fentanil passou também a ser usado como analgésico na terapia da
dor em contexto oncológico e em contexto pós-operatório.10,11,13

Assim, o fentanil passou a ser o principal agente analgésico e anestésico devido à sua
elevada potência, à sua absorção rápida e ao tempo mais curto para início dos efeitos.4
Outro ponto a favor do uso desta substância envolve os custos de produção inferiores
comparativamente à morfina devido à biodisponibilidade de percursores sintéticos.10

Com o aumento da disponibilidade e da popularidade do fentanil, começou a ser reportado


o abuso intencional de fentanil farmacêutico por profissionais de saúde, sendo que esta
situação ocorria por terem fácil acesso a este opioide.10

2.2 Estrutura química e propriedades farmacodinâmicas

2.2.1 Estrutura química e principais propriedades

O fentanil é um opioide agonista sintético do grupo da fenilpiperidina.1,14 Apresenta


propriedades analgésicas e anestésicas, sendo usado em contexto clínico em diversas
circunstâncias, tais como: composto anestésico no bloco operatório, analgesia da dor no
contexto pós-operatório, terapia de controlo da dor crónica e da dor de origem oncológica.17
A sua fórmula química é C22H28N2O.16

13
Figura Nº.1 - Estrutura química do Fentanil (pubchem)

É um composto altamente lipofílico, ou seja, apresenta grande afinidade lipidica.1 Esta


característica permite uma rápida difusão através das membranas celulares, incluindo a
barreira hematoencefálica, e através dos compartimentos ricos em lípidos.10,18

Apresenta um rápido início de ação, curta duração e uma elevada potência.4 É, também,
eliminado do plasma com rapidez, após a sua distribuição pelos tecidos. Posteriormente,
é redistribuído do tecido adiposo e do tecido músculo-esquelético para o plasma,
prolongando a duração da sua eliminação.10 Este processo encontra-se detalhado mais
abaixo.

O seu uso está associado a um alto risco de dependência, de abuso e de overdoses


acidentais, o que é caraterístico do grupo dos opiáceos.7

2.2.2 Mecanismo de ação

O fentanil atua no recetor μ-opioide no cérebro.5 Existem três tipos de recetores opioides:
μ, κ e δ, que pertencem à família dos recetores acoplados das proteínas-G (GPCRs – G
protein-coupled receptors).19

A atividade dos recetores μ-opioide é expressa através dos sistemas nervoso central e
periférico e está associada à analgesia e ao desenvolvimento de dependência,
apresentando efeitos de sedação, euforia, vasodilatação e insuficiência respiratória.4,10,19

A ligação do fentanil ao recetor μ-opioide vai ativá-lo, fazendo com que a guanosina
trifosfato (GTP), presente no complexo da proteína-G, se altere para guanosina difosfato

14
(GDP).4,19,20 Esta alteração regula negativamente a adenilato ciclase, reduzindo as
concentrações de monofosfato cíclico de adenosina (cAMP) intracelular.4,19 A molécula
cAMP ativa a proteína quinase A (PKA), que é responsável pela fosforilação de várias
proteínas, de canais de iões e de enzimas, resultando na sua ativação/inibição.19 Portanto
a redução de cAMP faz com que a proteína quinase A fique inativa levando, assim, à
inibição do influxo de iões de cálcio para dentro da célula.4,19,20 Este processo resulta na
hiperpolarização da célula e subsequente redução da libertação de vários
neurotransmissores, reduzindo, assim, a excitabilidade neuronal que, consequentemente,
vai reduzir a neurotransmissão de impulsos nociceptivos (Figura 2). 4,19,20,21 Este processo
vai resultar num efeito analgésico e eufórico.22

Figura Nº. 2 - Mecanismo de ação do Fentanil

2.2.3 Efeitos farmacodinâmicos e achados na autópsia

Como já referido anteriormente, o fentanil é utilizado em contexto cirúrgico como


anestésico ou em contexto pós-operatório como analgésico.10,12,14 É utilizado, também, no
controlo da dor de pacientes oncológicos.3

Os efeitos do fentanil incluem euforia, redução da ansiedade, analgesia, sonolência, dor


de cabeça, náuseas, bradipneia e insuficiência respiratória.4,10,23,24

O fentanil não deve ser utilizado em simultâneo com álcool e/ou benzodiazepinas.25 A
causa de morte mais comum devido a overdose fatal por várias substâncias é a

15
combinação de opioides e benzodiazepinas.5,25 A causa destas overdoses acidentais
serem mais recorrentes deve-se ao facto de que a combinação do álcool e/ou de
benzodiazepinas com opioides potencia e/ou prolonga os efeitos de depressão respiratória
causada pelos opioides, uma vez que as benzodiazepinas são fármacos depressores do
Sistema Nervoso Central, ou seja, diminuem a sua atividade.25

Caso o paciente necessite de tomar opioides em conjunto com benzodiazepinas, é


necessário manter um registo, monitorizar e ajustar o tratamento e as respetivas doses
consoante as necessidades clínicas, de maneira a obter o melhor resultado possível.25 É
indispensável realizar um exame à urina e ao soro regularmente para monitorizar a
terapêutica e manter a segurança dos pacientes.25 Contudo, é necessário ter em mente
que a quantificação das substâncias na urina não permite uma extrapolação direta da
concentração no sangue e, por isso, os exames ao soro são essenciais.10,25

Outro comportamento que aumenta o risco de efeitos adversos é a utilização de fentanil


em simultâneo com inibidores do Citocromo P450 3A4 (CYP3A4) como, por exemplo,
antirretrovirais, uma vez que a inibição do CYP3A4 resulta num aumento da concentração
do fentanil no sangue.1,18

Devido à alta potência desta substância, facilmente é consumida uma quantidade tóxica
inadvertidamente, fazendo com que as overdoses de fentanil ocorram rapidamente.4 Em
diversos relatórios de casos médico-legais, nos quais a causa de morte foi overdose, são
descritos episódios nos quais o cadáver é encontrado com a agulha ainda no braço,
indicando que o consumidor faleceu antes de conseguir retirar a agulha.4 Estes episódios
demonstram a rapidez de atuação da substância no corpo. Esta circunstância, associada
à dose tóxica e à potência da substância, poderá contribuir para a justificação do contexto
descrito anteriormente.

Durante a realização de autópsia a cadáveres em que a morte ocorreu devido à intoxicação


por estes novos opioides, é possível encontrar achados consistentes e semelhantes aos
encontrados em mortes por heroína e outros opiáceos, nomeadamente edema pulmonar,
edema cerebral e congestão do fígado.5

Em alguns casos, observou-se hemorragia alveolar difusa em consumidores de fentanil


através da via intranasal.5 Outro caso foi o de um consumidor regular de heroína que, após
consumir butirfentanil, um análogo do fentanil, desenvolveu uma hemoptise significativa,
lesão pulmonar aguda, insuficiência respiratória e hemorragia alveolar difusa.5

Apesar de todos estes achados nos exames postmortem, o mais consistente é o edema
pulmonar porque os opiáceos são depressores do sistema nervoso central, resultando na

16
morte por depressão respiratória.5,18 Porém, tal como noutras fatalidades com outros
opioides, os achados patológicos não são totalmente específicos de um só tipo de
opioide.5,18 Assim, é necessário realizar uma análise toxicológica para auxílio na
determinação da causa de morte.5,18

2.2.4 Toxicocinética

Absorção

A absorção do fentanil pode ser realizada através de várias vias.

A via intravenosa apresenta uma ação mais rápida do fentanil.26 Porém a duração da
analgesia é mais curta.26 É usada, geralmente, na dor pós-operatória e é, também, indicada
para a indução, manutenção e recobro da anestesia.26

A via intramuscular proporciona uma analgesia mais prolongada do que a via anterior, mas
a sua absorção poderá ser irregular.27 É recomendada quando é necessária apenas uma
única dose.27

A via oral é recomendada para uso prolongado, sendo que é realizada através da toma de
comprimidos, bucais ou sublinguais, e pastilhas sublinguais.13 Esta via é utilizada para o
controlo da dor oncológica.28

A via de administração cutânea é realizada por meio de sistemas transdérmicos, como os


adesivos de fentanil.18 Estes são contraindicados no acompanhamento pós-operatório e na
dor aguda em pacientes que não estão familiarizados com o uso de opioides, uma vez que
este sistema tem associado um aumento de overdoses acidentais.9,10 É necessário ter em
atenção que, após a remoção do adesivo, se mantém uma reserva subcutânea de fentanil
que continua a ser libertada e que pode demorar 24 horas até à absorção total.1,13,18 A
libertação de fentanil pelos adesivos transdérmicos e a permeabilidade destes dependem
da temperatura.29 Assim, teoricamente, a concentração de fentanil no soro pode aumentar
em pacientes com a temperatura corporal mais elevada.29 A presença de calor no sistema
transdérmico aumenta as concentrações plasmáticas de fentanil em 60%, o que resulta
numa sobredosagem fatal.18,29 Como consequência desta ação é necessário observar de
perto os pacientes que apresentem um quadro febril enquanto utilizam o adesivo de
fentanil, ajustando a dosagem de acordo com a situação.

A via nasal é realizada através de sprays.30 A sua utilização é indicada para o tratamento
da dor em pacientes que já estejam a realizar uma terapêutica opioide de controlo da dor

17
oncológica crónica.31 O uso de sprays nasais não é recomendado a pacientes que nunca
tenham recorrido à utilização de outros analgésicos narcóticos.32

Em relação à biodisponibilidade de cada via de administração, sabe-se que o spray nasal


apresenta 64% de biodisponibilidade, os comprimidos sublinguais de fentanil apresentam
54%, os comprimidos bucais têm 65% e as pastilhas transmucosas apresentam uma
biodisponibilidade de 50%.16,33

Distribuição

O fentanil apresenta um modelo de distribuição de três compartimentos, ou seja, é


distribuído em primeiro lugar no compartimento inicial, neste caso no sangue, depois pelo
compartimento central que são os tecidos ricos em vasos sanguíneos e, por fim,
distribuídos pelos compartimentos periféricos, neste caso pelo tecido músculo-esquelético
e pelo tecido adiposo.34 Estudos em animais mostram que, após a absorção, o fentanil é
distribuído rapidamente no cérebro, coração, pulmões, rins e baço, uma vez que atravessa
facilmente a membrana hematoencefálica.34,35 De seguida, é redistribuído lentamente para
a corrente sanguínea através do tecido músculo-esquelético e do tecido adiposo.10 Isto
acontece porque o fentanil tem uma alta lipofilicidade, o que leva à fácil passagem pelas
membranas e à formação de um depósito deste fármaco em diversos órgãos-alvo no
organismo.1,18

Metabolismo de ação

O fentanil é metabolizado no fígado, pela CYP3A4, através de N-desalquilação oxidativa


no anel de piperidina.8,18,36 O fentanil é, assim, transformado num composto inativo, o
norfentanil, que é o principal metabolito, e em outros metabolitos farmacologicamente
inativos, como por exemplo o hidroxifentanil e o hidroxinorfentanil.1,8,18,37

Grande parte da sua metabolização é em norfentanil, através de N-desalquilação


oxidativa.8,36,37 Esta ocorre no fígado e nos microssomas duodenais.8,36,38

A metabolização do fentanil tem vários caminhos e a sua transformação noutros


metabolitos ocorre através de reações de hidroxilação, combinadas com N-desalquilação
ou com a hidrólise de aminas, formando-se, assim, o hidroxifentanil, o hidroxinorfentanil e
o despropionilfentanil.33,36,37

18
Por norma, a metabolização apresenta 2 fases: a fase I envolve oxidação, redução ou
hidrólises, e a fase II engloba a conjugação.8,39 A metabolização do fentanil, que foi descrita
anteriormente, apenas engloba a fase I, não existindo fase II na metabolização deste
composto.8,39

O processo de metabolização de alguns análogos do fentanil também é conhecido. A maior


parte dos análogos é metabolizado de maneira diferente, porém existem dois deles com
processo de metabolização igual à do fentanil.36 Estes são o alfentanil e o sufentanil.36 Uma
vez que vão originar metabolitos iguais aos do fentanil, a utilização de métodos que
detetam, apenas, os produtos da transformação biológica, não têm capacidade para fazer
a distinção do composto ingerido, entre o fentanil, o alfentanil e o sufentanil.36

Com o aparecimento constante de novos análogos de fentanil é necessário compreender


e descrever a sua metabolização. Em alguns casos, os metabolitos originados pelos novos
análogos do fentanil quase que podem ser calculados, com base no conhecimento atual
do metabolismo de alguns análogos do fentanil.40 Por exemplo, existirá uma prevalência
de um metabolito nor- ou de um ou outro metabolito hidroximetoxi.40 Contudo alguns
análogos apresentam uma diferença significativa no seu metabolismo, logo é crucial
confirmar as previsões com estudos de identificação de metabolitos.40 Um dos metabolitos
já identificado é o despropionil-fentanil, mais conhecido como 4-ANPP, e, por isso, existe
a hipótese deste ser utilizado como marcador da presença de diferentes análogos.8,41

Na imagem seguinte poderemos observar o metabolismo do fentanil e a sua transformação


em vários metabolitos.

Figura Nº. 3 – Diferentes metabolitos do fentanil. (Retirada de nº 85)

19
Eliminação

As vias de eliminação do fentanil são a urina e as fezes.8 Cerca de 75% do fentanil é


eliminado pela urina, sob a forma de metabolitos, e menos de 10% eliminado pela urina
encontra-se na sua forma inalterada.18,36,42 Cerca de 9% é eliminado pelas fezes,
maioritariamente sob a forma de metabolitos.36,42

Paralelamente, de notar que o fentanil tem a capacidade de atravessar a placenta e pode


estar presente em pequenas quantidades no leite materno.36

2.3 Interações medicamentosas

A utilização de fentanil juntamente com outros depressores do sistema nervoso central


pode levar à ocorrência de hipoventilação, hipotensão, sedação profunda, coma e até
morte, devido à potenciação de efeitos depressores.39 Dentro desta categoria encontram-
se os relaxantes musculares, os ansiolíticos e os tranquilizantes, os anti-histamínicos
sedativos, entre outros.39

Como tal, o uso de inibidores potentes do CYP3A4 não deve ser realizado em conjunto
com o uso de fentanil, uma vez que a utilização de ambos pode provocar um aumento das
concentrações plasmáticas de fentanil.13,18 Esta ação pode aumentar as reações adversas
do fentanil provocando depressão respiratória grave.13,18 Isto ocorre porque o fentanil é
metabolizado pelo CYP3A4 e a sua inibição faz com que esta metabolização não ocorra,
aumentando os seus níveis. Dentro dos inibidores potentes de CYP3A4 encontra-se o
ritonavir, um medicamento antirretroviral.10

A coadministração de fentanil e indutores da CYP3A4, ou seja, de substâncias que


promovam o aumento da produção de CYP3A4, poderá reduzir a eficácia do fentanil, uma
vez que o fentanil será metabolizado mais rapidamente pelo CYP3A4 devido ao aumento
da sua produção.43

Do mesmo modo, a utilização conjunta de derivados do ácido barbitúrico com fentanil deve
ser evitada, uma vez que a depressão respiratória causada pelo fentanil pode ser
aumentada.44

A administração simultânea de fentanil e de medicamentos com ação serotoninérgica, tais


como inibidores da monoaminoxidase, inibidores de recaptação de serotonina-
noradrenalina e inibidores seletivos de reabsorção de serotina, pode causar a síndrome
serotoninérgica.43 Esta é uma reação potencialmente fatal que provoca aumento da

20
temperatura corporal, espasmos musculares e ansiedade ou delírio.45 Estes medicamentos
são, maioritariamente, antidepressivos.

2.4 Análogos do fentanil

Do composto inicial, o fentanil, surgiram análogos, tais como o alfentanil, remifentanil e o


sufentanil. Estes são análogos de curta duração e são usualmente utilizados para a
indução da anestesia.5 O desenvolvimento destes compostos teve como finalidade ajudar
a reduzir a elevada quantidade de fentanil que era solicitado, em contexto clínico, para uso
na anestesia.10 Os pedidos crescentes desta substância deviam-se a todas as suas
qualidades para ser utilizado em contexto operatório, comparativamente com a morfina.

O alfentanil, comparativamente ao fentanil, apresenta um menor volume de distribuição,


uma melhor ligação com as proteínas plasmáticas e uma menor lipossolubilidade.8 Estas
caraterísticas levam a considerar o alfentanil apropriado para a infusão contínua por via
intravenosa.8

O remifentanil é o único análogo do fentanil que é 95% metabolizado no sangue e nos


tecidos por enzimas não CYP.8

Figura Nº.4 - Estrutura química do Alfentanil (pubchem) Figura Nº. 5 - Estrutura química do Remifentanil
(pubchem)

21
Figura Nº. 6 - Estrutura química do Sufentanil (pubchem)

Existe, também, um análogo adequado ao uso veterinário, o carfentanil. Este é,


possivelmente, o derivado mais potente (100x a potência do fentanil) e é utilizado para a
analgesia de animais de grande porte.5,10,46

Figura Nº.7 - Estrutura química do Carfentanil (pubchem)

Após o referido aumento de popularidade do fentanil e com a larga disponibilidade de


opioides na população, tanto de fentanil como dos seus análogos, começou a existir uma
produção ilícita de fentanil e, em adição a esta, começaram a ser, também, produzidos
análogos ilícitos de fentanil.10 Este grupo de compostos ilícitos é referido genericamente
como fentanil não farmacêutico (NPF).10 Os primeiros análogos ilícitos de fentanil a serem
produzidos foram o 3-metilfentanil, o α-metilfentanil e o β-hidroxifentanil.5,40

Os análogos ilícitos de fentanil foram desenvolvidos através da modificação ou da


substituição da cadeia propionil do fentanil ou pela substituição da parte etilfenil, de modo
a alterar a sua potência.5,47,48 Esta modificação ou substituição pode ser observada nas

22
imagens abaixo, nas quais a seta laranja indica onde a sua estrutura difere da estrutura
química do fentanil.

Figura Nº.8 - Estrutura química do 3-metilfentanil (pubchem)

Figura Nº. 9 - Estrutura química do α-metilfentanil (pubchem)

Figura Nº. 10 - Estrutura química do β-hidroxifentanil (pubchem)

Os produtos finais desta produção ilícita são vendidos e usados como substitutos de
medicamentos opioides prescritos, permitindo a automedicação ou tratando os sintomas

23
de abstinência causados pela cessação do uso de opioides legais.9,49 Também podem ser
encontrados como agentes de corte em amostras de heroína.50,51

O aumento do uso de fentanil não farmacêutico e dos seus análogos produzidos


ilicitamente também poderá estar, em parte, relacionado com a redução temporária da
disponibilidade de heroína durante a crise do Afeganistão, uma vez que este país é,
tradicionalmente, um dos maiores produtores de ópio a nível mundial.5,52 Esta crise ocorreu
porque os lucros deste comércio contribuíam para financiar grupos considerados terroristas
e, após o 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos da América, liderando uma
coligação de vários países, invadiram o Afeganistão, sendo um dos objetivos acabar com
a produção de ópio.52,53

A facilidade com que se receitam opioides (nos quais se incluí o fentanil) nos Estados
Unidos da América poderá ser outro dos motivos para o crescente consumo de fentanil
ilícito e dos seus análogos.51 Sabe-se que, só em 2015, nos Estados Unidos da América,
foram prescritas 6,5 milhões de receitas de fentanil.54 A facilidade na obtenção de receitas
de fentanil resultou na dependência de muitos indivíduos. Para combater este grave
problema, as autoridades federais desenvolveram processos de controlo de prescrição e
de obtenção do composto mais exigentes.4,54 Esta situação conduziu a uma maior
dificuldade de acesso ao fentanil por parte dos utentes, o que conduziu a uma
impossibilidade de comprar fentanil farmacêutico.4 Consequentemente, acabavam por
procurá-lo na sua forma ilícita ou aos seus análogos.4,51

Outro motivo para o aumento do uso de fentanil não farmacêutico é o facto destas
substâncias serem fáceis de esconder e de transportar, sendo que, com pequenas
quantidades, é possível produzir milhares de potenciais doses de rua. Apresentam também
maior potência comparativamente à heroína, o que faz com que esta seja uma mercadoria
cativante para o crime organizado, uma vez que é mais rentável.55,56,57

2.5 Prevalência e padrões de consumo atuais

Europa

Na Europa, a maior incidência de consumo de fentanil e dos seus análogos ilícitos


encontra-se associada a alguns países específicos, tais como Suécia, Estónia, Alemanha
e Finlândia.58

24
Segundo dados fornecidos pelo European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction
(EMCDDA), em 2016 e 2017 existiram treze países que reportaram casos de mortes que
envolviam o fentanil e os seus análogos.58 Os países responsáveis pela maioria dos casos
reportados foram a Estónia, a Alemanha, a Suécia, o Reino Unido e, com números mais
baixos, a Finlândia. Na Europa, em 2016 e 2017 havia, respetivamente, 326 e 333 mortes
que envolviam o fentanil, e 141 e 242 mortes que envolviam análogos de fentanil.58

Entre 2017 e 2018, a Suécia reportou uma diminuição significativa no número de mortes
associadas ao fentanil e aos seus análogos.59 Esta diminuição poderá estar relacionada
com a implementação da classificação de vários análogos do fentanil como narcóticos,
tornando-se puníveis por lei.59 Esta classificação resulta na possibilidade de acusar os
traficantes que vendiam novos opioides sintéticos (NSOs) que ainda não se encontravam
criminalizados pela lei.59

Em 2019, na Estónia foram apreendidos 33kg de um percursor ilícito do fentanil, o N-fenetil-


4-piperidona.60 Atualmente, a Estónia tem sido o país da Europa com maior prevalência de
consumo de fentanil e dos seus análogos, sendo este o opiáceo que apresenta um maior
consumo neste país.61

O European Union Early Warning System on New Psychoactive Substances foi criado pela
EMCDDA, para detetar rapidamente e responder a problemas de saúde pública causados
pelas novas substâncias psicoativas.62 Através deste sistema já foram detetados cerca de
50 novos opiáceos sintéticos e, desde 2017, o EU Early Warning System já identificou sete
novos derivados de fentanil que apresentavam problemas para a saúde pública a nível
europeu.58,63

Para controlar a produção e o tráfico de novos derivados de fentanil, a China, de onde são
provenientes a maior parte dos comprimidos contrafeitos de fentanil, também introduziu
técnicas para controlo destes.54,61,64 Inesperadamente, em 2020 e 2021 na Europa, não
foram detetados novos derivados de fentanil, sugerindo, assim, que a legislação criada na
Europa e em países fora da Europa poderá ter contribuído para este desfecho.56,61

Desde 2020 que as mortes associadas ao fentanil e aos seus análogos têm vindo a
diminuir.61 Poderá ter ocorrido devido à diminuição do consumo ou devido à dificuldade de
identificar, nas amostras, o fentanil e os seus novos análogos produzidos ilegalmente.
Neste último caso, a dificuldade de detetar o fentanil e os seus derivados em baixas
concentrações pode levar a uma diminuição da notificação de casos relacionados com o
fentanil e os seus análogos.58

25
Na Suécia foram introduzidos rastreios mais abrangentes e foi aumentada a sensibilidade
das análises realizadas, o que resultou na deteção de fentanil em amostras analisadas de
casos de mortes relacionadas com drogas e no aumento do número de casos relacionados
com o fentanil e os seus análogos. Contudo, existem laboratórios que não têm a
capacidade de detetar substâncias menos comuns.63

Recentemente, segundo o relatório europeu de drogas, existe um derivado de fentanil em


particular que apresenta uma maior disponibilidade na Europa e um maior risco de dano,
principalmente nos países bálticos, como a Estónia, Letónia e Lituânia.56 Este derivado
trata-se do carfentanil, já citado anteriormente.56 Um motivo para o aumento do consumo
deste poderá ser pelo facto do carfentanil ser extremamente potente sendo possível ser
traficado em quantidades mais pequenas, equivalentes a milhares de doses individuais,
tornando-se, assim, mais difícil de detetar.63

Estados Unidos da América

A atual epidemia de opioides nos Estados Unidos está a avançar rapidamente devido ao
consumo de opiáceos sintéticos, nomeadamente do fentanil e dos seus derivados.63 Estes
últimos tornaram-se um motivo de grande preocupação devido ao seu papel central no
problema dos opiáceos na América do Norte.61

Para dar resposta à epidemia de opiáceos, que já vem de anos anteriores, o Departamento
de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS) declarou, em 2017, o problema
dos opiáceos como uma emergência de saúde pública.65 Em 2019, a China proibiu a
exportação de fentanil para os Estados Unidos, sendo esta uma decisão celebrada pelo
Governo norte-americano. Porém, continuaram a fornecer os precursores químicos do
fentanil, nomeadamente ao México e à América Central, sendo que é nestas regiões que
os cartéis produzem a droga, exportando-a, posteriormente, para os Estados Unidos.66

Entre 2018 e 2021, a apreensão de comprimidos que continham fentanil aumentou


exponencialmente.67 Só em Agosto e Setembro de 2021, a Drug Enforcement
Administration (DEA) apreendeu 1.8 milhões de comprimidos de fentanil contrafeitos e
712kg de fentanil em pó.67 Em 2022, foram apreendidos mais de 57.9 milhões de
comprimidos de fentanil contrafeitos pela DEA.63

Durante a pandemia de Covid-19, contrariamente ao que era esperado, as apreensões de


fentanil continuaram a aumentar. Apesar desse aumento de apreensões, a disponibilidade

26
de fentanil não sofreu um grande impacto durante a pandemia e registou, ainda, um
aumento.67

O fentanil está envolvido num maior número de mortes em pessoas com menos de 50 anos
nos Estados Unidos do que qualquer outra causa de morte, incluindo doenças do coração,
cancro, homicídios, suicídios e outros acidentes.68

Várias organizações consideram que 2 miligramas de fentanil já é uma dose letal, sendo
particularmente perigoso para pessoas que não têm tolerância a opioides.68

Segundo várias estatísticas, no período entre Março de 2018 e Fevereiro de 2019, 47%
das overdoses registadas envolviam o fentanil.54 Nos últimos anos, as overdoses causadas
pelo fentanil e os seus análogos têm vindo a aumentar 2.5 vezes mais rápido do que
overdoses devido a heroína.65 Em 2020, as estatísticas indicam que houve 42 700 mortes
por overdose de fentanil e que existiu um aumento de 26% das overdoses entre 2020 e
2021.69

Os diversos casos de overdoses causadas por fentanil e/ou os seus análogos cingem-se
a mais do que um Estado. No Estado de Delaware foi reportado que em 72% das overdoses
ocorridas em 2018 foi detetado fentanil nas amostras pos-mortem.54 E, segundo relatórios
realizados pelo National Drug Early Warning System, no estado da Flórida existiu um
aumento de overdoses fatais causadas pelo fentanil e pelos seus análogos, sendo que os
que apresentam maior prevalência na Flórida são o acetilfentanil e o fluorofentanil. Neste
relatório consta também que no estado de St. Louis existiu um aumento do consumo de
fentanil em pó e que em San Francisco, entre 2017 e 2019, o número de mortes
relacionadas com o fentanil e os seus análogos tem sofrido um aumento significativo.70,71

2. Métodos de análise

3.1 Amostras biológicas

A produção clandestina dos análogos de fentanil introduz pequenas modificações na


estrutura química da molécula, como já foi referido anteriormente.10 Estas modificações
potenciam os efeitos destas drogas ilícitas e também tornam a sua deteção mais complexa
pelos métodos de rastreio habituais.10

O aparecimento de novos análogos ilícitos de fentanil faz parte de uma preocupação


crescente, uma vez que estas novas substâncias psicoativas podem escapar aos testes de
rastreio, o que cria um conjunto de desafios para os laboratórios de toxicologia

27
forense.7,10,47 Estas dificuldades ocorrem devido à frequente similaridade das estruturas
químicas dos análogos e à falta de disponibilidade de padrões de referência, uma vez que
estas substâncias se encontram em rápido desenvolvimento e mudança constante nos
mercados ilícitos.36 Existe uma necessidade urgente de desenvolvimento de métodos de
determinação e análise para os novos análogos de fentanil, uma vez que estes são
utilizados como drogas de abuso ílicitas.7,36

É fundamental quer para a determinação da causa de morte quer para a avaliação do


estado de influenciado in vivo que sejam utilizados métodos com a sensibilidade necessária
para detetar os limites relevantes do potencial tóxico e que sejam específicos, permitindo
identificar e diferenciar o número crescente de análogos e os seus isómeros com um alto
grau de certeza.7 É necessário, por isto, desenvolver métodos analíticos apropriados para
a determinação e confirmação destes novos opioides sintéticos, focando-se na
identificação inequívoca dos compostos presentes nas amostras, dos eventuais
metabolitos e na capacidade de se obter uma quantificação representativa da realidade
das amostras analisadas.36,47

Uma grande variedade de métodos analíticos é utilizada frequentemente na deteção e na


quantificação de fentanil e dos seus análogos ilícitos. Esta variedade inclui os
imunoensaios, a cromatografia gasosa acoplada à espetrometria de massa (GC-MS), a
cromatografia líquida acoplada à espetrometria de massa (LC-MS/MS), a cromatografia
líquida de alto desempenho acoplada à espetrometria de massa (UHPLC-MS/MS) e a
cromatografia (líquida ou gasosa) acoplada à espetrometria de massa de alta resolução
(HRMS) .47,48,72

Os imunoensaios são métodos normalmente utilizados na triagem de drogas de abuso em


amostras biológicas.48 Porém, muitos análogos de fentanil ou os seus metabolitos podem
não produzir uma reação cruzada com os anticorpos de deteção, o que vai limitar a sua
aplicação.48,72 Outras duas grandes desvantagens desta técnica é que não fornece
informação estrutural sobre os analitos e necessita de reagentes especiais para cada
classe de droga.48,72,73,74 Este método tem vindo a deixar de ser utilizado em contexto
forense, uma vez que apenas é utilizado para identificar o grupo da substância analisada,
por exemplo se pertence aos opioides, às benzodiazepinas, aos canabinoides, entre
outros, e não tem capacidade para identificar o composto em si.74 Contudo, continua a ser
utilizado em contexto clínico porque proporciona rapidamente uma resposta sobre o grupo
da substância presente na amostra e, neste contexto, é essencial a rapidez.

A GC-MS é essencial para a identificação de drogas psicoativas em toxicologia forense e


nas análises realizadas ao consumo de doping.48 A cromatografia gasosa acoplada à

28
espetrometria de massa pode diferenciar-se entre quadrupolo simples (GC-MS) ou triplo
(GC-MS/MS), sendo que este último apresenta uma maior sensibilidade.75 As
desvantagens deste método incluem limites de deteção relativamente altos, conduzindo a
eventuais resultados de falsos negativos, e o consumo elevado de tempo devido ao número
de passos de preparação e derivatização aplicados a cada amostra.48,72,73

O método LC-MS/MS apresenta várias características positivas, tais como a sua alta
sensibilidade e o seu alto rendimento. Porém, o custo para obter esta tecnologia é
extremamente elevado e não tem capacidade para detetar compostos
desconhecidos.47,48,73,74,76

O UHPLC-MS/MS apresenta as mesmas vantagens que o LC-MS/MS, porém,


comparativamente com este, a sua rapidez de tempo de resposta é mais elevada.36 Este
método tem a capacidade de apresentar a sensibilidade necessária de deteção e
demonstrou uma grande competência na separação de isómeros estruturais, o que é de
grande importância na diferenciação de numerosos fentanis disponíveis com diferente
potência, toxicidade e conceito legal.7,77 Em simultâneo, permite o processamento de casos
em que estão envolvidos múltiplos análogos, usando apenas este método, e, assim, reduz
o tempo de resposta.7

Estas três metodologias encontram-se limitadas pela necessidade de existir disponibilidade


de padrões de referência para a deteção e para a análise dos compostos e, uma vez, que
os novos análogos ilícitos de fentanil ainda desconhecidos não têm ainda disponíveis os
referidos padrões de referência, pode conduzir a falhas de deteção dos mesmos.47,48,36

Existe um método que oferece vantagens neste aspeto porque permite a identificação do
desconhecido sem a necessidade de um padrão de referência: a cromatografia líquida
acoplada à espetrometria de massa de alta resolução (LC-HRMS).7,47 Contudo, esta
tecnologia não se encontra prontamente disponível para ser utilizada na maior parte dos
laboratórios forenses ou clínicos porque se trata de uma tecnologia extremamente cara,
necessita de um técnico experiente para a sua utilização e o volume de dados obtido em
cada análise é tão elevado pelo que a sua interpretação se pode tornar morosa.36

Assim, é possível concluir que os métodos de deteção e de análise destes compostos


apresentam limitações, devendo estar em constante atualização de modo a incluir todos
os novos análogos ilícitos de fentanil que continuam a surgir no mercado.22,47

As tabelas 1, 2 e 3 apresentam o resumo dos dados obtidos através da análise e


quantificação do fentanil, dos seus análogos e dos seus metabolitos utilizando diferentes
métodos analíticos. Nas tabelas está descrito o limite de deteção (LOD), que é o valor mais

29
baixo de concentração do analito que é detetado pelo método, e o limite de quantificação
(LOQ), ou seja, o valor mais baixo de concentração do analito que é possível quantificar
pelo método, de uma maneira fiável.78

Referência Tecnologia Tipo de Substância(s) Preparação LOD LOQ


bibliográfica utilizada amostra detetada (s) da amostra

48 GC-MS Cabelo Fentanil e 8 0.02-


humano análogos* 0.05ng/mg

48 LC-MS/MS Cabelo Fentanil e 8 0.05- 0.25-


humano análogos* 0.1pg/mg 0.50pg/
mg
41 UHPLC- Cabelo Fentanil, furanil 0.1- 0.3-
MS/MS humano fentanil e 4-ANPP 0.3pg/mg 0.9pg/m
g

79 UHPLC- Cabelo 37 análogos de Extração 0.5-2.5 2-


MS/MS humano fentanil líquido-líquido pg/mg 5pg/mg

80 UHPLC- Cabelo Fentanil, 22 Extração em 0.003- 0.011-


MS/MS humano análogos e fase sólida 0.007 0.021
metabolitos*2 (SPE) pg/mg pg/mg
Tabela 1 – Métodos de análise de amostras de cabelo

*Norfentanil, Acetil fentanil, Para-fluorofentanil, Isobutiril fentanil, Thiofentanil, 4-fluoroisobutir fentanil,


Ocfentanil e Tetrahidrofurafentanil

*2Ciclopropilfentanil, Ciclopropil norfentanil, Methoxiacetilfentanil, Acetil fentanil, Acetil norfentanil, Norfentanil,


Furanil fentanil, Furanil norfentanil, Sufentanil, 4-ANPP

30
Referência Tecnologia Tipo de Substância(s) Preparação LOD LOQ
utilizada amostra detetada(s) da amostra
73 LC-MS/MS Urina Fentanil Extração 0.10ng/ml 0.1ng/ml
líquido-líquido
73 LC-MS/MS Urina Norfentanil Extração 3.6ng/ml 0.102ng/ml
líquido-líquido
80 UHPLC- Urina Fentanil, 22 Diluição 0.0007- 0.002-
MS/MS análogos e 0.002ng/ml 0.006ng/ml
metabolitos*2
81 GC-MS/MS Urina Acetil fentanil Extração 0.1-1ng/g 10-20ng/g
líquido-líquido
82 HR-LC-MS Urina Fentanil e Acetil Extração Fentanil:5- Ambos:
fentanil líquido-líquido 10ng/ml 10ng/g
Acetil
fentanil:20-
100ng/ml
Tabela 2 – Métodos de análise de amostras de urina

* Acetil fentanil, Acrilfentanil, 4-fluoro-isobutirilfentanyl, Furanil fentanil


*2 Ciclopropilfentanil, Ciclopropil norfentanil, Methoxiacetilfentanil, Acetil fentanil, Acetil norfentanil, Norfentanil,
Furanil fentanil, Furanil norfentanil, Sufentanil, 4-ANPP

31
Referênci Tecnologia Tipo de Substância(s) Preparação LOD LOQ
a utilizada amostra detetada(s) da amostra
7 UHPLC- Fluídos e Fentanil e 6 SPE Todos:0.5ng/ Todos:1ng/ml
MS/MS tecidos análogos *2 ml Carfentanil:0.2
biológicos Carfentanil:0.1 ng/ml
postmorte ng/ml
m*
46 LC-MS/MS Sangue Fentanil e Centrifugação Todos:0.1 Todos:0.2ng/
humano análogos *3 ng/ml ml
Acetil fentanil, Carfentanil:
fentanil e 10pg/ml
carfentanil:
0.2ng/ml

50 GC-MS Sangue Fentanil e SPE 1ng/ml


humano norfentanil
72 GC-MS Plasma de Fentanil 1ng/ml 4ng/ml
coelho
73 LC-MS/MS Plasma Fentanil Extração 0.02ng/ml 0.1-50ng/ml
humano líquido-líquido
80 UHPLC- Sangue Fentanil, 22 Extração 0.0007- 0.002-
MS/MS humano análogos e líquido-líquido 0.002ng/ml 0.006ng/ml
metabolitos*4
81 GC-MS/MS Sangue Acetil fentanil Extração 0.1-1ng/g 10-20ng/g
humano líquido-líquido
e
centrifugação
82 HR-LC-MS Plasma Fentanil e acetil Extração Fentanil:10- Ambos:10
humano fentanil líquido-líquido 20ng/ml ng/ml
Acetil
fentanil:50-
200ng/ml
83 LC-MS/MS Sangue 24 análogos de SPE 0.017- 0.1-0.5ng/ml
humano fentanil e 0.056ng/ml
metabolitos
83 GC-MS Sangue 24 análogos de SPE 0.08- 0.5ng/ml
humano fentanil e 0.351ng/ml
metabolitos
84 GC-MS Sangue Furanil fentanil Precipitação 0.3ng/ml 1ng/ml
humano e ocfentanil proteica e SPE

84 GC-MS Sangue Acetil fentanil e Precipitação e 1ng/ml 100ng/ml


humano butirfentanil SPE

Tabela 3 – Métodos analíticos de amostras de fluídos e tecidos biológicos

*Sangue, plasma, tecido hepático e cerebral

*2 Acetil fentanil, Furanil fentanil, Carfentanil, Butiril fentanil, β-hidroxithiofentanil e Para-fluoroisobutiril fentanil

*3 Acetil fentanil, β-hidroxithiofentanil, Butiril fentanil, Carfentanil, furanil fentanil


*4 Ciclopropilfentanil, Ciclopropil norfentanil, Methoxiacetilfentanil, Acetil fentanil, Acetil norfentanil, norfentanil,
Furanilfentanil, Furanil norfentanil, Sufentanil, 4-ANPP

32
3.2 Métodos portáteis para amostras não biológicas

Historicamente muitos métodos portáteis eram utilizados no campo pelos primeiros


socorros e por utilizadores de campo para detetar várias substâncias como, por exemplo,
materiais perigosos.86 De maneira a prevenir a exposição não intencional e overdoses
causadas por fentanil ou os seus análogos, estes métodos portáteis começaram a ser
aplicados na deteção e identificação destes opioides sintéticos, nomeadamente em
amostras não biológicas.86

O uso de espetrómetros portáteis no campo tem-se expandido significativamente nas


últimas décadas.86 Estes sistemas são confiáveis para a deteção e identificação de muitos
químicos, incluindo drogas ilícitas, e incluem métodos baseados em várias tecnologias.86
Estas análises podem ser utilizadas para apoiar investigações e processos por crimes
relacionados com drogas, avaliar a natureza perigosa dos químicos nos locais de
laboratórios clandestinos, testar drogas para segurança contra doses perigosas, e para
determinar se substâncias letais como o fentanil, mesmo que em pequenas quantidades,
estão presentes.86

Recentemente, a elevada presença do fentanil e dos seus potentes análogos trouxe a


importância dos espetrómetros portáteis para a vanguarda devido à necessidade de
deteção de fentanil no local, de forma a proteger a saúde pública.86 De seguida são
descritos os diferentes métodos utilizados para a deteção de fentanil e dos seus análogos.

3.2.1 Análises colorimétricas

Neste tipo de análise os reagentes químicos reagem com o analito e a reação cria uma
certa saturação de cor dependendo da substância testada.86 Dentro deste tipo de análise
podemos encontrar dois métodos.

3.2.2 Análise colorimétrica automatizada

A análise colorimétrica automatizada utiliza a camara de um smartphone ou de um tablet


para analisar e decifrar as reações do kit de teste colorimétrico de drogas e, de seguida,
automatizar e reportar os resultados.86 Foram incorporados algoritmos para determinar se
as alterações de cor são indicativas da presença de fentanil ou dos seus análogos.86 A cor
resultante pode variar dependendo da concentração do analito e da existência de

33
contaminantes ou diluentes adicionais presentes na amostra.86 Os testes colorimétricos
automatizados de fentanil podem ser sensíveis, com limites de deteção geralmente na faixa
dos microgramas.86 No entanto a precisão de deteção e o limite de deteção é altamente
variável consoante o análogo.86

3.2.3 Imunoensaio de fluxo lateral (LFIA)

O método LFIA tem sido utilizado para deteção de fentanil em amostras de droga ilícita,
através do uso de tiras de teste que contêm anticorpos específicos para o analito alvo e
que são conjugados com partículas coloridas ou fluorescentes.86,87 O reconhecimento do
analito resulta no aparecimento de uma resposta na linha de teste.86,87

As tiras de teste de fentanil através da tecnologia LFIA utilizam o comportamento


imunológico para detetar baixos níveis de fentanil nas misturas das amostras.86 Como as
tiras de teste são sensíveis, é suficiente uma quantidade mínima de resíduos da substância
para obter um resultado.86

Inicialmente foram comercializadas para os indivíduos com transtornos de abuso de


substâncias testarem a pureza da heroína e terem a confirmação de que não continha
fentanil.86 Mais tarde, tornaram-se extremamente populares nos Estados Unidos pelas
equipas de materiais perigosos e, atualmente, são largamente usadas no combate ao
tráfico de substâncias estupefacientes, fiscalização rodoviária, entre outros.86,87

3.2.4 Espetroscopia

A espetroscopia Raman e infravermelhos têm um grande poder discriminativo quando a


análise é realizada nas condições ideais.86 No entanto, é necessário ter em conta que
vários fatores podem reduzir o poder discriminativo destes métodos.86 Adicionalmente, a
performance analítica do espetrómetro portátil utilizado pode impactar o potencial
discriminativo uma vez que o equilíbrio analítico tem requisitos operacionais.86

A espetroscopia Raman e de infravermelhos é, essencialmente, uma impressão digital


molecular que pode ser utilizada para identificar a substância desconhecida.86 A
espetroscopia Raman tende a caraterizar a estrutura geral molecular, enquanto a
espetroscopia de infravermelhos é mais característica de grupos pendentes ou
substitutos.86 Esta identificação é realizada através da comparação do espetro obtido com
referências conhecidas, usando uma biblioteca de dados.86

34
A identificação de amostras desconhecidas usando métodos de pesquisa na biblioteca
espetral é a função primária de espetrómetros portáteis Raman e Fourier Transform
Infrared (FT-IR), ou seja, de infravermelhos por Transformadas de Fourier.86

Existe, no entanto, um grande desafio na atualização constante da base de dados nos


casos de apreensões de rua.86

A utilidade da espetroscopia aplicada à ciência forense, incluindo análises de drogas


apreendidas no local, foi recentemente revista.86 São necessárias novas ferramentas para
combater o aumento significativo de overdoses e mortes relacionadas com o fentanil, e no
surto de importação de fentanil.86 A seletividade e a portabilidade da espetroscopia de
infravermelhos proporciona aos analistas de campo, expostos a estes materiais tóxicos,
uma grande vantagem.86 Vários estudos demonstraram o potencial de instrumentos FT-IR
portáteis para identificar análogos de fentanil em amostras de rua.86

A espetroscopia Raman portátil tem aproximadamente o mesmo limite de deteção que o


FT-IR portátil.86

3.2.5 Cromatografia gasosa – espetrometria de massa (GC-MS) portátil

O GC-MS portátil é útil na análise de campo de materiais que contêm fentanil ou os seus
análogos devido à variabilidade de concentrações presentes nas amostras, uma vez que
tem a capacidade de separar o analito da sua matriz.86,89

Este método portátil, além de oferecer um grande valor comparativamente a outros


métodos, ainda complementa os resultados fornecidos por eles.86,89 A análise de fentanil
através do uso de GC-MS portátil tem grande valor por várias razões.86,88 Primeiro, a
separação frontal proporcionada pela parte GC da análise reduz os limites de deteção,
permitindo uma análise eficaz em amostras com baixas concentrações de fentanil.86,88
Segundo, o GC-MS é um método de análise confirmatório e, por último, a possibilidade de
pesquisa automática na sua biblioteca de dados recolhidos anteriormente, permite, além
da identificação do fentanil, a identificação de vários análogos deste.86,88

35
3.2.6 Espetrometria de mobilidade de iões (IMS)

A técnica de IMS pode ser utilizada na deteção e identificação do fentanil e dos seus
análogos quando incorporada com resultados de outras técnicas analíticas, como por
exemplo o espetrómetro de Raman ou de infravermelhos.86

Os sistemas portáteis de IMS têm sido implementados na deteção de agentes químicos e


de resíduos de droga ou explosivos.86 Estes sistemas têm capacidade para detetar e
identificar estas ameaças numa questão de segundos a partir de vestígios de amostras. 86
São também adequados para a deteção e identificação de fentanil e dos seus análogos
uma vez que têm a capacidade de detetar quantidades na ordem dos nanogramas.86,88
Adicionalmente, o IMS tem sido explorado como método para a deteção de fentanil através
de N-fenilpropanamido (NPPA), um analito alvo do fentanil.86,88

Na ciência forense, o IMS pode ser usado para detetar vestígios de droga num local
suspeito de ser um laboratório clandestino para estabelecer a presença destas nessa
localização, mesmo que a substância tenha sido removida do local.86

3.2.7 Espetrómetro de Massa Portátil (HPMS)

Este método oferece um conjunto de vários pontos fortes para a análise rápida de
opioides potentes em campo, comparativamente a outras tecnologias.86 Uma das
vantagens que este método oferece é a recolha e introdução de amostras ser realizada
através de cotonetes de baixo custo.86 Apresenta, também, um espetro de massa mais
simples devido à utilização de ionização à pressão atmosférica e uma maior
seletividade.86

36
Discussão e Perspetivas futuras

O consumo de fentanil e dos seus análogos apresenta um perigo para a saúde pública
devido ao aumento do número de consumidores e das overdoses causadas por estes
opioides.9,10 Um dos novos desafios no combate a esta epidemia é o aparecimento regular
de novos análogos de fentanil no mercado ilícito.7 Este desafio é causado pelo facto de os
novos análogos não serem identificados através das técnicas já utilizadas para a
identificação do fentanil e dos seus análogos mais conhecidos porque, por um lado, ainda
não se encontram padrões analíticos de referência e, por outro, porque os seus processos
de metabolização são desconhecidos e complexos de estudar.40 Outro desafio para a
deteção destes novos análogos é que a concentração destes em matrizes biológicas é
normalmente muito baixa.90 Paralelamente, estes novos análogos poderão apresentar
metabolitos que ainda não se encontram referenciados, não sendo possível associá-los à
presença e consumo dos referidos análogos de fentanil.40

Relativamente às dificuldades associadas à sua baixa concentração, as três tabelas


apresentadas com os valores respetivos de limite de deteção e limite de quantificação de
métodos descritos e publicados mostram valores variados. É possível observar que o GC-
MS apresenta limites mais altos, demonstrando que poderá não detetar concentrações
muito baixas como acontece em amostras reais. Tal é explicado pela inferior sensibilidade
do espetrómetro de massa do tipo quadrupolo simples, comparado com os espectrómetros
de massa em “tandem”. Tanto o LC-MS/MS como o UHPLC-MS/MS apresentam limiares
analíticos mais baixos nos vários tipos de amostras (cabelo, urina, fluidos e tecidos
biológicos) sendo, talvez, os métodos que terão maior capacidade de detetar o fentanil, os
seus análogos e os seus metabolitos em condições reais.

No total, já foram descritos mais de 1400 análogos de fentanil na literatura científica,


tornando complexa a capacidade das forças policias e dos laboratórios toxicológicos
manterem-se a par das novas tendências de produção de análogos.91 Destes 1400, apenas
cerca de 42 análogos encontram-se registados como substâncias controladas.91

Existem vários caminhos a seguir que poderão ser considerados e nos quais se poderá
investir para ultrapassar estas dificuldades e, assim, estar um passo mais perto do controlo
da epidemia crescente de fentanil e dos seus análogos.

Primeiramente, a utilização da espetrometria de massa de alta resolução é um passo que


deve ser dado para a identificação dos análogos de fentanil porque não necessita da
utilização de um padrão de referência.36 Ou seja, é possível identificar os análogos de
fentanil ainda desconhecidos e não identificáveis através de outras técnicas. Esta técnica

37
aparenta ser uma ajuda neste problema de saúde pública que é a identificação dos
análogos que são produzidos e ainda desconhecidos, oferecendo uma hipótese no controlo
da utilização destes pelo público.

Apesar desta possibilidade, esta tecnologia apresenta algumas dificuldades, pois é


extremamente cara e necessita de técnicos experientes para a sua utilização, sendo
necessário realizar um grande investimento nesta técnica.36 Deve ser tido em conta que as
vantagens que este método apresenta superam as suas desvantagens. Assim, esta, é a
técnica que, até agora, apresenta a maior possibilidade de identificar o desconhecido,
neste caso, de identificar os novos análogos de fentanil que surgem no mercado ilícito.

A utilização de equipamentos portáteis para a deteção de fentanil e dos seus análogos no


local traz, também, grandes vantagens como a possibilidade de deteção e identificação de
pequenas quantidades ou vestígios de fentanil e dos seus análogos, mesmo que estes
apresentem uma baixa concentração, a prevenção da exposição não intencional a estas
substâncias pelas equipas que se encontram no local e, também, a presença destas
substâncias nas misturas de drogas. Contudo ainda não existe uma tecnologia portátil que
detete os análogos de fentanil que estão constantemente a ser originados.86 A utilização
destes métodos poderia ser considerada para outras finalidades, como por exemplo a
diminuição do risco de overdose através da utilização de métodos portáteis mais simples
pela população consumidora, num contexto de consumo com minimização de riscos, para
identificação da presença de fentanil ou dos seus análogos na droga consumida e evitarem,
assim, o consumo de misturas de substâncias com uma maior potência.86

Outra dificuldade que existe é que o fentanil e os seus análogos apresentam um curto
tempo de semi-vida e, consequentemente, apresentam uma curta janela de deteção destes
compostos em amostras biológicas, dificultando a análise à sua presença.92 Porém, a sua
janela de deteção poderá ser prolongada através do conhecimento do metabolismo do
fentanil e dos seus análogos e da possibilidade de determinar os seus metabolitos em
matrizes biológicas, contribuindo, assim, para a identificação exata da substância original.
A determinação da proporção entre um metabolito e o medicamento original, poderá ser,
também, essencial para a distinção entre uma morte rápida ou tardia.92

A identificação dos metabolitos originados pelo fentanil e pelos seus diversos análogos é
essencial para a identificação destas substâncias. Por vezes, quando não é possível
identificar a substância presente, a presença de certos metabolitos comuns, como nor- ou
hidroximetoxi-, irá indicar que se trata de fentanil ou de um dos seus análogos.40 Porém
existem algumas variantes, sendo que já foram detetados novos metabolitos em alguns
análogos, sendo um deles o 4-ANPP.8,81 Por esta razão, é essencial conhecer os

38
metabolitos originados por todos os seus análogos pois quando analisadas amostras
biológicas em casos de overdoses, a presença de metabolitos como biomarcadores pode
ser crucial para a identificação dos compostos. Adicionalmente, o 4-ANPP também foi
considerado um percursor químico intermediário utilizado no processo de sintetização na
produção de fentanil ilícito, logo a sua presença também poderá indicar que o fentanil
identificado foi produzido ilicitamente.93

Os análogos de fentanil poderão apresentar diferenças nas vias metabólicas e na atividade


e propriedades fisiológicas, comparativamente ao fentanil.92 Para alguns destes, incluindo
os análogos utilizados em contexto médico, estas características já foram identificadas.
Porém, os análogos ilícitos de fentanil são desenvolvidos com o objetivo de apresentarem
uma maior potência. Logo, os seus processos metabólicos e as suas estruturas
apresentam diferenças comparativamente ao fentanil e aos seus análogos mais
conhecidos.92 O aparecimento recente de novos análogos anualmente torna necessário
efetuar estudos suplementares para a identificação dos seus processos de metabolização
e dos seus metabolitos. Em 2018, no mercado europeu apareceram três análogos ilícitos
de fentanil: 3-methilcrotonilfentanil, furanilbenzilfentanil e 4-fluorociclopropilbenzilfentanil,
dos quais ainda não existe informação sobre as suas ligações a recetores, a sua potência
e o seu metabolismo.92 É o exemplo de como ainda são necessários estudos
suplementares para a total compreensão da envolvência de cada composto.

Os estudos já publicados lançam alguma luz sobre os processos metabólicos aqui


abordados. O alfentanil, utilizado em contexto médico, apresenta um menor volume de
distribuição, menos solubilidade lipídica e um tempo de semi-vida mais curto comparado
com o fentanil, resultando numa potência inferior.92 Este é metabolizado de maneira
semelhante ao fentanil e apresenta dois metabolitos, norsufentanil e noralfentanil. 92 O
sufentanil apresenta, também, estes mesmos metabolitos não sendo possível distinguir
entre os dois utilizando métodos que apenas detetam produtos de transformação
biológica.92

O furanilfentanil, um análogo ilícito, apresenta maior potência que o fentanil e, através da


análise a amostras de urina retiradas a pacientes intoxicados, foram identificados quatro
metabolitos que mostram a presença deste.92 O metabolito mais comum encontrado nas
amostras foi o 4-ANPP. Porém foi encontrado um metabolito específico através da
formação do dihidodiol.8

O ciclopropilfentanil sofre uma extensa metabolização, tendo sido identificados onze


metabolitos, como por exemplo 4-hidroxifenetil ciclopropilfentanil, 4-hidroxi-3-metoxifenetil

39
ciclopropilfentanil, entre outros.92 O metabolito mais abundante é o norciclopropilfentanil,
formado por N-desalquilação oxidativa.8

O noracrilfentanil foi identificado como o principal metabolito do acrilfentanil, porém


apresenta outros tais como monohidroxi- e dihidroxi-.8

O isofentanil foi sintetizado clandestinamente e, após vários estudos, foram identificados


metabolitos nor- através de metabolização por N-desalquilação.8

Através do conhecimento destes vários metabolitos é possível identificar os análogos


presentes nas amostras quando estes são desconhecidos ou já não se encontram
detetáveis, devido ao seu curto tempo de semi-vida. Assim, a utilização do máximo de
metabolitos formados por diferentes vias de metabolização como alvo nos métodos
analíticos irá permitir maior facilidade na identificação e confirmação de consumo e
presença.

Para estudar a metabolização do fentanil e dos seus análogos foram utilizadas diferentes
tecnologias, mas o uso destas é caro, consome muito tempo e, uma vez que é impossível
replicar exatamente os ambientes biológicos in vivo, os métodos não são precisos. Uma
solução para este problema poderá passar pela utilização de métodos in silico e algoritmos
de Inteligência Artificial (IA), de forma a prever a metabolização e os metabolitos originados
por estes compostos, até porque apesar da informação sobre as vias metabólicas dos
novos análogos de fentanil que emergiram no mercado ser escassa, tornando a sua
identificação em amostras biológicas difícil, o facto do metabolismo do fentanil farmacêutico
se encontrar bem caraterizado poderá permitir a previsão das vias de metabolização
destes.8 Ou seja, a metabolização destes novos análogos, geralmente, poderá envolver
reações de hidrólise, N- e O- desalquilação, entre outras.8

Existiram numerosos avanços na previsão do metabolismo e metabolitos de compostos


utilizando abordagens in silico que incluem a utilização de ferramentas com base nas
interações destas substâncias com enzimas do citocromo P450 (CYP450), como é o caso
do fentanil e dos seus análogos.94 As abordagens in silico são consideradas a melhor
estratégia de “falhar cedo e falhar barato” e permitem uma redução de custos e economizar
tempo.94 Uma das vantagens dos métodos in silico é que para a sua aplicação não é
necessária a utilização de amostras físicas das substâncias.95 Além disso, estes métodos
podem ser úteis na previsão de compostos que ainda não foram sintetizados e na previsão
de vários parâmetros toxicológicos, espetrais e físico-quimicos de grupos e compostos num
curto período de tempo.95 Outra vantagem destes métodos é o seu baixo custo de
utilização, não necessita de testes em animais, da utilização de material laboratorial e nem
de padrões analíticos.95 Assim, esta abordagem poderá, numa perspetiva futura, permitir a

40
obtenção de mais conhecimento sobre a metabolização e os metabolitos originados pelos
novos e diferentes análogos do fentanil.

Um exemplo da utilização de métodos in silico é a identificação de metabolitos do


carfentanil. Este é um análogo do fentanil utilizado na medicina veterinária e apresenta
uma potência 30 a 100 superior ao próprio fentanil.92 Não foi publicado nenhum estudo
sobre as vias metabólicas do carfentanil in vivo em humanos, porém recorreu-se a métodos
in silico para prever a sua principal biotransformação, sendo esta a N-desmetilação, e foi
confirmado através da utilização de espetrometria de massa de alta resolução.92 Com esta
previsão foi possível identificar 12 metabolitos do carfentanil.92

O β'-fenilfentanil é um análogo de fentanil que foi identificado pela primeira vez em 2017,
na Suécia, e, recentemente, surgiu no mercado ilícito americano.90 O seu metabolismo não
foi estudado e os dados disponíveis sobre os seus efeitos e toxicocinética são escassos.90
O seu metabolismo nos humanos tornou-se um alvo de estudo para identificação e
utilização de potenciais metabolitos biomarcadores. Para ajudar na identificação de
metabolitos deste análogo foi gerada uma lista de reações, recorrendo a métodos in silico
e a análise por LC-HRMS-MS para confirmação.90 Foram identificados 26 metabolitos,
sendo sugerido como principal o β'-fenilnorfentanil. Porém, estas previsões encontravam-
se, maioritariamente, erradas e o destino metabólico do β'-fenilfentanil era
substancialmente diferente.90 Apesar do sucedido, os resultados obtidos poderão ser úteis
na identificação de casos positivos deste análogo pelos toxicologistas em amostras reais.90

O fenilfentanil foi detetado pela primeira vez em 2017, após uma apreensão de droga.96 O
conhecimento sobre este novo análogo e sobre o seu metabolismo é muito reduzido e, por
isso, recorreu-se a métodos in silico.96 A sua metabolização foi estudada através destes
métodos e por LC-HRMS/MS e foram identificados 13 metabolitos, sendo a maior parte
produzidos por N-desalquilação.96 Dentro destes 13 metabolitos, o fenilnorfentanil foi
sugerido como marcador biológico para a presença de fenilfentanil.96

Dentro do conjunto dos métodos in silico destaca-se o planeamento fatorial, que pode
ajudar na coordenação estatística das condições utilizadas numa experiência.95 O
planeamento fatorial já foi utilizado em vários estudos como, por exemplo, do fentanil
transdermal, administração de fórmulas de citrato de fentanil como anestésico e em
pesquisas, de um modo geral, sobre medicamentos que utilizam planeamento no seu
desenvolvimento.95

Outro conjunto de métodos in silico que pode ser aplicado na caraterização de substâncias
conhecidas e desconhecidas, baseado em mecânica quântica, é o Density Functional

41
Theory (DFT).95 Este é um dos mais utilizados no campo da caraterização de substâncias
e já é utilizado para entender propriedades moleculares e de espetroscopia.95

A vantagem destes é que permite a previsão de propriedades e de comportamentos de


moléculas desconhecidas.95

Algoritmos de IA são cada vez mais utilizados na previsão da metabolização de


medicamentos, sendo uma hipótese a utilização dos mesmos na previsão do metabolismo
dos novos análogos de fentanil.97 Estas previsões podem ser mais precisas do que aquelas
feitas utilizando abordagens mais convencionais, uma vez que as técnicas de IA são
treinadas através de enormes quantidades de dados experimentais, e fornecem
informações úteis utilizando menos dinheiro e tempo que os necessários para experiências
in vitro e in vivo.97

Num estudo realizado, foram utilizados dois modelos generativos de inteligência artificial:
o SeqGAN e o MoldGTP.98 A primeira opção, através da utilização do modelo generativo
SeqGAN, tem como objetivo gerar potenciais análogos de fentanil.98 Este é treinado
através de dados existentes de fentanil e dos seus análogos e utilizado para gerar
moléculas.98 Com este modelo foram obtidas 546 moléculas válidas.98 A segunda opção é
utilizar o MoldGTP e as informações sobre estruturas do fentanil e dos seus análogos para
gerar potenciais análogos.98 Com este modelo foram obtidas 10495 moléculas.98 Após
estes estudos, foi verificada a interseção de moléculas entre ambos, resultando num total
de 164 moléculas em comum.98 Estas foram confirmadas como análogos de fentanil não
reportados através da utilização das técnicas de NMR, MS e IR.98 Estes resultados indicam
que os dois métodos são capazes de aprender através dos dados originais de fentanil e
dos seus análogos e gerar potenciais análogos.98

Recentemente, está a ser estudado o desenvolvimento de vacinas para transtornos do uso


de opioides, prevenindo overdoses.91 Estas vacinas são concebidas acoplando um hapteno
estruturalmente semelhante ao opioide alvo, por exemplo o fentanil, a uma proteína
transportadora capaz de provocar uma resposta imunológica.91 Os anticorpos produzidos
pela administração destas vacinas especificas para opioides irão atuar no opioide ingerido,
impedindo-o de atuar no sistema nervoso central e noutros órgãos, impossibilitando a
produção dos efeitos negativos associados ao uso de opioides.91,99 Vai permitir, também,
ao corpo que evite o desenvolvimento de dependência pelo opioide.91 Os vários benefícios
que estas vacinas oferecem são não necessitar de grande supervisão médica para a sua
utilização e a longa duração de ação dos anticorpos comparativamente com outras opções
de tratamento de dependências, o que poderia resultar numa maior adesão por parte dos
pacientes.91,99 Estas vacinas de opioides contra o fentanil, carfentanil e combinações de

42
drogas têm sido ativamente estudadas e podem ser uma solução mais eficiente que pode
ser administrada a indivíduos em risco, pacientes em programas de reabilitação ou
socorristas que tenham contacto acidental com substâncias absorvidas pela pele.91,99 No
entanto, existem alguns desafios como, por exemplo, estas vacinas serem desenvolvidas
para atuarem em estruturas químicas especificas de opioides e, no caso do fentanil, este
apresenta diversos análogos alterados quimicamente.99

43
Conclusão

O fentanil e seus os análogos são um risco para a saúde pública devido à dificuldade em
analisar a sua presença nas amostras biológicas, por causa da curta janela de deteção que
apresentam, e devido ao aparecimento constante de novos análogos que não são
identificados pelas técnicas de análise utilizadas diariamente em laboratório. O
conhecimento da metabolização dos novos análogos e dos seus metabolitos é essencial
para ultrapassar estas dificuldades de identificação e deteção, existindo a possibilidade
que o combate a estes opioides seja bem-sucedido.

Com esta revisão é possível concluir que há uma grande necessidade de investir na
identificação dos novos análogos e no estudo dos seus processos de metabolização e
metabolitos de forma a ser possível identificar de forma exata a substância original
presente nas amostras biológicas. É necessário, também, criar melhores condições para a
utilização de técnicas que tenham uma maior sensibilidade e capacidade de analisar
amostras biológicas com baixas concentrações de fentanil e dos seus análogos como por
exemplo a LC-MS/MS e a UHPLC-MS/MS. Entre os dois, a vantagem da UHPLC-MS/MS
é fornecer uma resposta com maior rapidez.

É necessário existir um investimento em tecnologias capazes de identificar a presença de


análogos sem o uso de padrões de referência de forma a identificar compostos ainda
desconhecidos. A utilização da espetrometria de massa de alta resolução deve ser
considerada como um investimento essencial para alcançar esta meta.

A utilização de métodos portáteis na análise de amostras não biológicas é importante para


a prevenção de exposição não intencional e overdoses por fentanil ou os seus análogos.
É essencial, também, para apoiar as investigações e os processos de crimes relacionados
com drogas e para avaliar a presença de fentanil e dos seus análogos em apreensões,
laboratórios clandestinos ou, até mesmo, nas fronteiras. Recentemente, a importância da
utilização de espetrómetros portáteis aumentou consideravelmente, sendo o seu uso
considerado como uma forma de proteção da saúde pública. Esta situação ocorre porque
este método portátil identifica a presença de fentanil nos locais de forma rápida e eficaz.
Alguns destes métodos portáteis permitem, também, a identificação de fentanil ou dos seus
análogos nos locais mesmo que estes já tenham sido removidos.

A utilização de métodos in silico e de Inteligência Artificial é útil para o estudo do


metabolismo e das propriedades dos análogos de fentanil. Estes métodos utilizam dados
já obtidos para prever as vias metabólicas e os metabolitos originados pelos novos
análogos de fentanil. Com estas previsões, se corretas, torna-se mais esclarecedor o

44
caminho a seguir para a identificação destes análogos em amostras biológicas. A utilização
destes também poderá ser útil na previsão de análogos ainda não produzidos ilicitamente
e que poderão surgir, eventualmente, no futuro, facilitando a sua deteção. Os métodos já
provaram ser úteis na previsão de metabolitos, como no caso do carfentanil. Porém, é
sempre necessário existir uma confirmação dos dados obtidos.

O estudo de vacinas como método de tratamento de opioides e prevenção de overdoses


poderá ser uma enorme ajuda contra o problema crescente que é o consumo de opioides,
nomeadamente do fentanil e dos seus análogos, e contra as mortes acidentais por
overdoses.

Existe um longo caminho a percorrer de maneira a ser possível combater o crescente


perigo associado à utilização destas substâncias pela sociedade, porém já existiram muitos
avanços nesse sentido. Com o devido investimento e os vários estudos que decorrem
poderá ser possível controlar esta epidemia.

45
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