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Análise de Conjuntura da

Restauração
O que conseguimos, onde estamos e como avançar

Caros amigos, seguidores e Restauracionistas: Saudações a todos!


Escrevo esse texto a partir da necessidade de nos reorganizarmos. Sinto que é necessário
fazermos essa avaliação para melhor avançar a nossa causa. Este é o momento de nós repensarmos
as nossas ações e atitudes, reavaliarmos nossas conquistas, nossas forças e nossos pontos de
melhoria. Tomarmos consciência de nossa situação e planejarmos o nosso avanço e progresso.
Espero com esse texto que possamos assumir uma idéia compartilhada da nossa situação como um
todo para que cada um dentro de suas possibilidades melhor possa contribuir com o progresso e
avanço da Restauração.

Uma restrospectiva
Nos últimos meses nós conseguimos uma solidificação dos fundamentos intelectuais de
nossa causa. A Restauração tem hoje um entendimento bem claro do que é a política católica, da
necessidade de uma firme aliança entre Poder Espiritual e Temporal, com este subordinado aquele.
Da necessidade de um trabalho não somente de propagação do sedevacantismo em seu aspecto
religioso, mas também do fomento de uma Ação Política. Ambas tem que ser vistas em conjunto,
sempre de mãos dadas e inseparáveis. Temos já como princípio amplamente difundido em nossos
círculos a necessidade da intransigência doutrinal e o repúdio ao acordismo. E também já temos
desenhados uma visão geral de nossa visão histórica quanto a Identidade Nacional Brasileira, e mais
ou menos os problemas políticos que nos trouxeram até os dias de hoje.
Tivemos uma purificação dentro do movimento sedevacantista. Houve a separação entre o
time “Catolibã” e “Ralliement”. O Laicato conseguiu estabelecer sua autonomia, não sendo mais
um mero espectador das decisões do Clero, mas um agente de voz ativa. E essa autonomia já é
inquestionável, sendo que dificilmente a geração atual de Restauracionistas voltará aos grilhões da
escravidão em que outrora vivíamos.
Dentro do círculo do Seminário São José, o triunfo Restauracionista foi completo. Todas os
objetivos foram alcançados. Dentro do cenário mais amplo do sedevacantismo, também:
conseguimos consolidar a hegemonia da ULB frente aos demais apostolados, sendo que agora nós
ditamos os rumos e não mais reagimos a eles (Non Ducor Duco).
No Cenário Tradicional nós conseguimos o nosso inegável espaço. Todos os Trads nos
conhecem, por bem ou por mal. Cavamos as trincheiras e estabelecemos as nossas diferenças. A
Montfort sofreu um duro golpe com nosso trabalho jornalístico e a Resistência mais ainda. Talvez
nossos ganhos virtuais não tenham ainda sido plenamente quantificados, mas a semente foi plantada
e o golpe foi desferido. Já há muito os havíamos refutado intelectualmente, agora nós os atingimos
em seu campo moral e os desmascaramos em seus planos práticos (especialmente com o “dossiê”
Resistência e os vídeos sobre Dom Williamson e a querela com o Carlos Bezerra).
Para além de tudo isso, também ressaltamos nossa influência no meio libertário.
Estabelecemos uma boa diplomacia com a ala mais conservadora, somos incômodos aos mornos e
progressistas e cooperamos com a redução da influência Kogosiana nestes meios, bem como nos
nossos.
Nossos aliados da Editoral Cardeal já tem significativa presença no mercado editorial,
especialmente com o Código de Direito Canônico. Estamos próximos de iniciar a nossa própria
editora e o Dr. Yuri breve estará lançando o seu próprio livro também.

Nossos Presentes Pontos de Melhoria


E agora a pergunta que todos os movimentos efetivos se fizeram repetidas vezes, sempre ao
concluir de um ciclo: Que Fazer?
Embora a nossa circunstância atual já começou a ser desenvolvida nas conclusões do nosso
capítulo anterior, faz-se necessário nos delongarmos um pouco mais nessa questão. Mais ênfase
precisamos ter em nossos pontos de melhoria do que em oportunidades presentes, e explico o
porquê: Trabalho não nos falta, o que mais nos faltam hoje são Restauracionistas empenhados E
capacitados.
Vejo com grande preocupação em nossos meios pessoas dispostas mas com pouca
capacitação e pessoas capacitadas que têm outras prioridades na vida que não a Restauração. Hoje a
necessidade prioritária da Restauração não é nem dinheiro e nem visibilidade, mas
Restauracionistas capacitados. Claro que dinheiro e publicidade nunca são demais, mas como diria
Warren Buffet: “Nove mulheres gravidam não fazem um bebê em um mês”. Dinheiro e publicidade
podem ser aceleradores de um processo quando se tem quadros1 precisando de recursos, o que não é
o nosso caso.
Que podemos fazer hoje a nível político? Nada. Vale a pena tentarmos fazer mídia voltada
para a política? Não, o risco é muito grande (se é que vocês me entendem).
Então em que é que podemos atuar? Hoje nós podemos muito bem atuar na arena
intelectual. Quantos e quantos “Alessandros Lima” não aparecem frequentemente para falar
bobagens quanto ao sedevacantismo? Poderíamos dar listas e listas de pessoas desse tipo. E por que
essas refutações não são feitas? Uma andorinha só não faz verão...
O que acontece hoje na Restauração é que poucos Restauracionistas fazem quase todo o
trabalho, ainda que diariamente nosso número de seguidores cresça. Infelizmente nós não temos
hoje quadros o suficiente para aproveitar todas as oportunidades que nos aparecem.
Vejam: Somos alguns milhares de Restauracionistas no Brasil. Quantos padres nós temos?
Nenhum! E dentro dos nossos meios há dezenas de jovens rapazes que sabem do problema, que
concordam com as idéias da Restauração, que também sofrem da escassez que os outros sofrem,
que não tem outras responsabilidades, em suma: que não tem nenhuma única razão para não se
voluntariarem para o sacerdócio e ainda assim não temos praticamente nenhum interessado.

1 - Pessoas, mão de obra.


Outros exemplos: a Restauração tem todo o potencial para conduzir uma cruzada contra o
gnosticismo e ser referência mundial no assunto. Para isso precisamos de intelectuais capacitados e
colaboradores para auxiliar com traduções e outros serviços editoriais. E aí pergunto: onde estão os
voluntários para essa tarefa? Vejo uma miríade de voluntários “corajosos” que são os primeiros a se
“sacrificarem” para “arduamente” estudarem para um bom concurso público de alta remuneração ou
conseguirem um emprego que pague um bom dinheiro. Voluntários para enriquecer e “contribuir”
com a Ação nós temos vários, para trabalhar não há nenhum.
Quantos Restauracionistas se esforçaram por elaborar um roteiro contra um desses que
atacam o sedevacantismo? Quantos escreveram um artigo em refutação? Quem aqui se dispôs e se
encarregou de fazer uma biografia de Monsenhor Thuc, ou então de passar a limpo a história do
catolicismo no Japão? Quem se voluntariou para combater as influências Hegelianas na
intelectualidade brasileira, ou para revisar sob a ótica tradicional as obras de Olavo de Carvalho?
Quem está trabalhando para fazer aulas sobre Antônio Conselheiro ou então sobre os Católicos
Contra-Revolucionários do Século XIX e XX? Quem está fazendo traduções e legendas dos
Sermões do Padre Cekada e de Monsenhor Dolan para os fiéis com fome espiritual?
A liderança da Ação Restauracionista, refletindo sobre a presente circunstância, se coloca na
seguinte questão: ou, apesar dos poucos frutos, continuar a insistir na formação dos
Restauracionistas ou então focar as energias em fazer o trabalho que precisa ser feito junto com
aqueles poucos que de fato trabalham.
Penso que esse Sermão se fez necessário para que se despertem os Restauracionistas. Claro
que aqui não quero menosprezar nem os nossos benfeitores e nem nossos colaboradores que têm
trabalhado e cooperado pela Glória da Santa Madre Igreja e Construção de um governo Católico em
nosso País.
Tenho ciência que falo por meio desta carta com uma audiência heterogênea. Converso tanto
com jovens rapazes quanto com pais de família. Não quero que estes confundam os avisos dados
àqueles, e vice-versa. A Restauração virá de cada um cumprir com sua vocação e necessidades de
estado. Quem descumpre seu papel atrasa só por isso a Restauração. Então aqueles que tem vocação
de enriquecer que enriqueçam, a Restauração precisará de recursos. Os que tem vocação de serem
intelectuais que o sejam, a Restauração precisará de seus intelectos. Os que tem as mais diversas
vocações que as cumpram, a Restauração precisará de suas habilidades. E os que não tem vocação
alguma que sumam, nós não perderemos nosso tempo com vocês.

Nosso Momento Atual


Ainda não estamos maduros o suficiente para termos ações concretas fora do mundo virtual,
nem o estamos prontos para um trabalho extensivo de mídia e cobertura jornalística. Aqui e aculá
continuaremos atuando, mas não como o foco principal. Nosso foco principal hoje é e precisa ser o
fortalecimento intelectual. Temos conteúdos a absorver, ideias para refutar e livros para escrever. A
Restauração não pode dar o que ela ainda não tem. As Aulas são lecionadas na medida em que os
assuntos são aprendidos pelos Restauracionistas da Ação e este é justamente o maior gargalo do
momento. Temos muito que fazer ainda sobretudo no campo historiográfico, campo esse que já
temos nosso espaço e que já tivemos boas vitórias, mas que ainda precisamos conquistar a
hegemonia. Tudo a seu tempo.
Sacramentalmente nos encontramos desamparados. Precisamos ser diligentes em nossa vida
espiritual e rezarmos muito pelo surgimento de um bom clero e para que os católicos do Brasil
mantenham a fé. Nos esforçarmos em nossa radicalização por Cristo, em nós e em nossas famílias.
Muitos ainda podem apostatar e trair o movimento, retornando para os apostolados “ralimados” e
liberais.
Já temos a certeza de que diante dessa escassez outros apostolados tentarão concorrer para
tomar uma fatia desse espaço que ficou vago pelo SSJ e novos participantes em breve darão as caras
e mais problemas se avizinham. Não nos resta nenhuma alternativa que não a da vigilância
incessante, encarando a situação de frente como ela é. Sem rodeios e nem floreios.

Conclusão:
Estamos satisfeitos com o progresso até aqui e vemos que há um bom ambiente para
continuarmos progredindo no futuro. Há muito trabalho a ser feito nesse estágio de consolidação. O
momento é de semearmos e plantarmos. “Há anos em que nada acontece e há semanas em que anos
acontecem”. Se nos dedicarmos e formos fiéis a Deus o futuro nos recompensará. O momento é de
trabalho calmo, sereno e constante. Precisamos rezar para que o fogo do catolicismo não se apague
nos corações dos fiéis nesse momento de deserto sacramental que atravessamos. Ora et labora,
trabalhar como se tudo dependesse de nós e rezar como se tudo dependesse de Deus.
Fogo no mundo, Só Cristo É Rei!

Mateus Larsan, S.C.R.E.

26/03/2024

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