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Gonçalves Dias

I-Juca-Pirama

Publicado originalmente em 1851.

Antônio Gonçalves Dias


(1823 — 1864)

“Projeto Livro Livre”

Livro 133

Poeteiro Editor Digital


São Paulo - 2014
www.poeteiro.com
Projeto Livro Livre

O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que


propõe o compartilhamento, de forma livre e
gratuita, de obras literárias já em domnio p!blico
ou que tenham a sua divulga"#o devidamente
autori$ada, especialmente o livro em seu formato
%igital&

'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais do
autor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequente
ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos
%ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o
direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a morte
do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgada
postumamente&

O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol da
divulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhum
direito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por alguma
ra$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,
a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&

:speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejam
repensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectual
uma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidor
ao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;

3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento da


educa"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obras
sob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro <on"alves %ias= “ I Juca-
Pirama”&

> isso;

5ba ?endes
iba@ibamendes.com
BIOGRAFIA

Gonçalves Dias (Antônio G. D.), poeta, professor, crítico de história, etnólogo,


nasceu em Caias, !A, em "# de agosto de "$%&, e faleceu em naufr'gio, no
aiio dos Atins, !A, em & de novemro de "$*. + o patrono da Cadeira n. ",
por escolha do fundador -lavo ilac.

/ra filho de 0o1o !anuel Gonçalves Dias, comerciante portugu2s, natural de


3r's4os4!ontes, e de 5ic2ncia 6erreira, mestiça. 7erseguido pelas ealtaç8es
nativistas, o pai refugiara4se com a companheira perto de Caias, onde nasceu o
futuro poeta. Casado em "$% com outra mulher, o pai levou4o consigo, deu4lhe
instruç1o e traalho e matriculou4o no curso de latim, franc2s e filosofia do
prof. 9icardo :e1o ;aino. /m "$&$ Gonçalves Dias emarcaria para 7ortugal,
para prosseguir nos estudos, <uando faleceu4lhe o pai. Com a a=uda da
madrasta pôde via=ar e matricular4se no curso de Direito em Coimra. A
situaç1o financeira da família tornou4se difícil em Caias, por efeito da alaiada,
e a madrasta pediu4lhe <ue voltasse, mas ele prosseguiu nos estudos graças ao
auílio de colegas, formando4se em "$*. /m Coimra, ligou4se Gonçalves Dias
ao grupo dos poetas <ue 6idelino de 6igueiredo chamou de >medievalistas?. @
influ2ncia dos portugueses vir' =untar4se a dos romnticos franceses, ingleses,
espanhóis e alem1es. /m "$*& surge a >Canç1o do eílio?, um das mais
conhecidas poesias da língua portuguesa.

9egressando ao rasil em "$*, passou rapidamente pelo !aranh1o e, em


meados de "$*, transferiu4se para o 9io de 0aneiro, onde morou atB "$*,
faendo apenas uma r'pida viagem ao norte em "$". /m *, havia composto o
drama :eonor de !endonça, <ue o Conservatório do 9io de 0aneiro impediu de
representar a preteto de ser incorreto na linguagem em *E saíram os
7rimeiros cantos, com as >7oesias americanas?, <ue mereceram artigo
encomi'stico de Aleandre Ferculano no ano seguinte, pulicou os ;egundos
cantos e, para vingar4se dos seus gratuitos censores, conforme registram os
historiadores, escreveu as ;etilhas de frei Ant1o, em <ue a intenç1o aparente
de demonstrar conhecimento da língua o levou a escrever um >ensaio
filológico?, num poema escrito em idioma misto de todas as Bpocas por <ue
passara a língua portuguesa atB ent1o. /m "$*, foi nomeado professor de
:atim e Fistória do ColBgio 7edro HH e fundou a revista Guanaara, com !acedo
e 7orto Alegre. /m ", pulicou os Iltimos cantos, encerrando a fase mais
importante de sua poesia.

A melhor parte da lírica dos Cantos inspira4se ora da naturea, ora da religi1o,
mas soretudo de seu car'ter e temperamento. ;ua poesia B eminentemente
autoiogr'fica. A consci2ncia da inferioridade de origem, a saJde prec'ria, tudo
lhe era motivo de tristeas. 6oram elas atriuídas ao infortJnio amoroso pelos
críticos, es<uecidos estes de <ue a grande pai1o do 7oeta ocorreu depois da
pulicaç1o dos Iltimos cantos. /m "$", partiu Gonçalves Dias para o Korte em
miss1o oficial e no intuito de desposar Ana AmBlia 6erreira do 5ale, de "* anos,
o grande amor de sua vida, cu=a m1e n1o concordou por motivos de sua origem
astarda e mestiça. 6rustrado, casou4se no 9io, em "$%, com -límpia Carolina
da Costa. 6oi um casamento de conveni2ncia, origem de grandes desventuras
para o 7oeta, devidas ao g2nio da esposa, da <ual se separou em "$. 3iveram
uma filha, falecida na primeira infncia.

Komeado para a ;ecretaria dos Kegócios /strangeiros, permaneceu na /uropa


de "$* a "$$, em miss1o oficial de estudos e pes<uisa. /m , via=ou para a
Alemanha e, na passagem por :eipig, em E, o livreiro4editor rocLhaus editou
os Cantos, os primeiros <uatro cantos de Os Timbiras, compostos de anos
antes, e o Dicion'rio da língua tupi. 5oltou ao rasil e, em "$" e %, via=ou pelo
Korte, pelos rios !adeira e Kegro, como memro da Comiss1o Científica de
/ploraç1o. 5oltou ao 9io de 0aneiro em "$%, seguindo logo para a /uropa, em
tratamento de saJde, astante aalada, e uscando estaç8es de cura em v'rias
cidades europBias. /m % de outuro de &, emarcou em ordBus para :isoa,
onde concluiu a traduç1o de A noiva de Messina, de ;chiller. 5oltando a 7aris,
passou em estaç8es de cura em Ai4les4ains, Allevard e /ms. /m "# de
setemro de "$*, emarcou para o rasil no Favre no navio 5ille de oulogne,
<ue naufragou, no aiio de Atins, nas costas do !aranh1o, tendo o poeta
perecido no camarote, sendo a Jnica vítima do desastre, aos *" anos de idade.
3odas as suas oras liter'rias, compreendendo os Cantos, as Sextilhas, a
Meditação e as peças de teatro ( Patkul, Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça),
foram escritas atB "$*, de maneira <ue, seguindo ;ílvio 9omero, se tivesse
desaparecido na<uele ano, aos &" anos, >teríamos o nosso Gonçalves Dias
completo?. - período final, em <ue dominam os pendores eruditos, favorecidos
pelas comiss8es oficiais e as viagens M /uropa, compreende o icion!rio da
l"n#ua tu$i , os relatórios científicos, as traduç8es do alem1o, a epopBia Os
Timbiras, cu=os trechos iniciais, <ue s1o os melhores, datam do período anterior.
;ua ora poBtica, lírica ou Bpica, en<uadrou4se na tem'tica >americana?, isto B,
de incorporaç1o dos assuntos e paisagens rasileiros na literatura nacional,
faendo4a voltar4se para a terra natal, marcando assim a nossa independ2ncia
em relaç1o a 7ortugal. Ao lado da naturea local, recorreu aos temas em torno
do indígena, o homem americano primitivo, tomado como o protótipo de
rasileiro, desenvolvendo, com 0osB de Alencar na ficç1o, o movimento do
>Hndianismo?. -s indígenas, com suas lendas e mitos, seus dramas e conflitos,
suas lutas e amores, sua fus1o com o ranco, ofereceram4lhe um mundo rico de
significaç1o simólica. /mora n1o tenha sido o primeiro a uscar na tem'tica
indígena recursos para o arasileiramento da literatura, Gonçalves Dias foi o
<ue mais alto elevou o Hndianismo. A ora indianista est' contida nas >7oesias
americanas? dos 7rimeiros cantos, nos ;egundos cantos e Iltimos cantos,
soretudo nos poemas >!ara'?, >:eito de folhas verdes?, >Canto do piaga?,
>Canto do tamoio?, >Canto do guerreiro? e >H40uca47irama?, este talve o ponto
mais alto da poesia indianista. + uma das oras4primas da poesia rasileira,
graças ao conteJdo emocional e lírico, M força dram'tica, ao argumento, M
linguagem, ao ritmo rico e variado, aos mJltiplos sentimentos, M fus1o do
poBtico, do sulime, do narrativo, do di'logo, culminando na grandea da
maldiç1o do pai ao filho <ue chorou na presença da morte.

7ela ora lírica e indianista, Gonçalves Dias B um dos mais típicos


representantes do 9omantismo rasileiro e forma com 0osB de Alencar na prosa
a dupla <ue conferiu car'ter nacional M literatura rasileira.

Academia Brasileira de Letras


AO MEU CARO E SAUDOSO AMIGO
DR. ALEXANDRE TEÓFILO DE CARVALHO LEAL
OFFERECENDO-LHE ESTE VOLUME DE POESIAS.

Eis os meus últimos cantos, o meu ultimo volume de poesias soltas, os últimos
harpejos de uma lira, cujas cordas foram estalando, muitas aos balanços
ásperos da desventura, e outras, talvez a maior parte, com as dores de um
espírito inferno,— fictícias, mas nem por isso menos agudas,— produzidas pela
imaginação, como se a realidade já não fosse por si bastante penosa, ou que a
espírito, afeito a certa dose de sofrimento, se sobressaltasse de sentir menos
pesada a costumada carga

!o meio de rudes trabalhos, de ocupaç"es est#reis, de cuidados pungentes, —


inquieto do presente, incerto do futuro, derramando um olhar cheio de lagrimas
e saudades sobre o meu passado—percorri este primeiro estádio da minha vida
literária $esejar e sofrer—eis toda a minha vida neste período% e estes desejos
imensos, indizíveis, e nunca satisfeitos,—caprichosos como a imaginação,—
vagos como o oceano, — e terríveis como a tempestade% — e estes sofrimentos
de todos os dias, de todos os instantes, obscuros, implacáveis, renascentes,—
ligados a minha e&ist'ncia, reconcentrados em minha alma, devorados
comigo,— umas vezes me dei&arão sem força e sem coragem, e se reproduzirão
em pálidos refle&os do que eu sentia, ou me forçarão a procurar um alivio, uma
distração no estudo, e a esquecer(me da realidade com as ficç"es do ideal

)e as minhas pobres composiç"es não foram inteiramente inúteis ao meu país%


se algumas vezes tive o maior prazer que me foi dado sentir — a mais lisonjeira
recompensa a que poderia aspirar,— de as ouvir estimadas pelos homens da
arte, daqueles, que segundo o poeta, porque a entendem, a estimam, e
repetidas por aquela classe do povo, que s* de cor as poderia ter aprendido,
isto #, dos outros que a compreendem, porque a sentem, porque a adivinhão—
paguei bem caro esta moment+nea celebridade com decepç"es profundas, com
desenganos amargos, e com a lenta agonia de um martírio ignorado

elhor que ningu#m o sabes- podes a teu grado sondar os arcanos da minha
consci'ncia, e não te será difícil descobrir o segredo das minhas tristes
inspiraç"es .s meus primeiros, os meus últimos cantos são teus- o que sou, o
que for, a ti o devo,— a ti, ao teu nobre coração, que durante os melhores anos
da juventude bateu constantemente ao meu lado,— a aragem benfazeja da tua
amizade solicita e desvelada,—a tua voz que me animava e consolava,— a tua
intelig'ncia que me vivificava— ao prodígio de duas índoles tão assimiladas, de
duas almas tão irmãs, tão g'meas, que uma delas rematava o pensamento
apenas enunciado da outra, e aos sentimentos uníssonos de dois coraç"es, que
mutuamente se falavam, se interpretavam, se respondiam sem o au&ilio de
palavras $uplicada a minha e&ist'ncia, não era muito que eu me sentisse com

1
forças para abalançar(me a esta empresa% e agora que em parte a tenho
concluído, # um dever de gratidão, um dever para que sou atraído por todas as
pot'ncias da minha alma, escrever aqui o teu nome, como talvez seja o
derradeiro que escreverei em minhas obras, o ultimo que os meus lábios
pronunciem, se nos paro&ismos da morte se poder destacar inteiramente do
meu coração

)er(me(ia doloroso não cumprir os teus desejos,— não satisfazer as esperanças,


que em mim tinhas depositado,— não realizar a e&pectação da tua
desinteressada amizade Entrei na luta, e procurei disputar ao tempo uma fraca
parcela da sua duração, não por amor do orgulho, nem por amor da gloria% mas
para que, depois da morte de ambos, uma s* que fosse das minhas produç"es
sobrenadasse no olvido, e por mais uma geração estendesse a mem*ria tua e
minha /ssim passa a onda sobre um navio que soçobra, e atira á praias
desconhecidas os destroços de um mastro embrulhado nas vestes dos
navegantes

Entrei na luta, e por mais algum tempo continuarei nela, variando apenas o
sentido dos meus cantos / f# e o entusiasmo, o *leo e o pabulo da l+mpada
que alumia as composiç"es do artista, vão(se(me esfriando dentro do peito% eu
o conheço e o sinto% se pois ainda persisto nesta carreira # por teu respeito-
continuarei — at# que satisfeito dos meus esforços que digas- basta0 — Então,
já to hei dito, voltarei gostoso á obscuridade, donde não devera ter saído, e —
como um soldado desconhecido— contarei os meus triunfos pelas minhas
feridas, voltando a habitação singela, onde me correrão, não felizes, mas os
primeiros dias da minha inf+ncia

inha alma não está comigo, não anda entre os nevoeiros dos 1rgãos, envolta
em neblina, balouçada em castelos de nuvens, nem rouquejando na voz do
trovão 2á está ela0 — lá está a espreguiçar(se nas vagas de ) arcos, a
rumorejar nas folhas dos mangues, a sussurrar nos leques das palmeiras- lá está
ela nos sítios que os meus olhos sempre virão, nas paisagens que eu amo, onde
se avista a palmeira esbelta, a cajazeira coberta de cip*s, e o pau d3arco coberto
de flores amarelas /li sim, — ali está—desfeita em lagrimas nas folhas das
bananeiras — desfeita em orvalho sobre as nossas flores, desfeita em harmonia
sobre os nossos bosques, sobre os nossos rios, sobre os nossos mares, sobre
tudo que eu amo, e que em bem veja eu em breve0 /í, outra vez remoçado e
vivificado de todos os anos que desperdicei, poderei en&ugar os meus vestidos,
voltar aos gozos de uma vida ignorada, e do meu lar tranquilo ver outros mais
corajosos e mais felizes que eu afrontar as borrascas desencadeadas no oceano,
que eu houver para sempre dei&ado atrás de mim

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1850


/ 4.!5/26E) $7/)

2
I-JUCA PIRAMA

7
!o meio das tabas de amenos verdores,
8ercadas de troncos — cobertos de flores,
/lteiam(se os tetos d9altiva nação%
)ão muitos seus filhos, nos +nimos fortes,
:emíveis na guerra, que em densas coortes
/ssombram das matas a imensa e&tensão

)ão rudos, severos, sedentos de gl*ria,


;á pr#lios incitam, já cantam vit*ria,
;á meigos atendem < voz do cantor-
)ão todos :imbiras, guerreiros valentes0
)eu nome lá voa na boca das gentes,
8ondão de prodígios, de gl*ria e terror0

/s tribos vizinhas, sem forças, sem brio,


/s armas quebrando, lançando(as ao rio,
. incenso aspiraram dos seus maracás-
edrosos das guerras que os fortes acendem,
8ustosos tributos ignavos lá rendem,
/os duros guerreiros sujeitos na paz

!o centro da taba se estende um terreiro,


.nde ora se aduna o concílio guerreiro
$a tribo senhora, das tribos servis-
.s velhos sentados praticam d9outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
$erramam(se em torno dum índio infeliz

=uem #> — ningu#m sabe- seu nome # ignoto,


)ua tribo não diz- — de um povo remoto
$escende por certo — dum povo gentil%
/ssim lá na 4r#cia ao escravo insulano
:ornavam distinto do vil muçulmano
/s linhas corretas do nobre perfil

?or casos de guerra caiu prisioneiro


!as mãos dos :imbiras- — no e&tenso terreiro
/ssola(se o teto, que o teve em prisão%
8onvidam(se as tribos dos seus arredores,

3
8uidosos se incubem do vaso das cores,
$os vários aprestos da honrosa função

/cerva(se a lenha da vasta fogueira


Entesa(se a corda da embira ligeira,
/dorna(se a maça com penas gentis-
/ custo, entre as vagas do povo da aldeia
8aminha o :imbira, que a turba rodeia,
4arboso nas plumas de vário matiz

Entanto as mulheres com leda trigança,


/feitas ao rito da bárbara usança,
. índio já querem cativo acabar-
/ coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
@rilhante enduape no corpo lhe cingem,
)ombreia(lhe a fronte gentil canitar,

77
Em fundos vasos d9alvacenta argila
Aerve o cauim%
Enchem(se as copas, o prazer começa,
Beina o festim

. prisioneiro, cuja morte anseiam,


)entado está,
. prisioneiro, que outro sol no ocaso
;amais verá0

/ dura corda, que lhe enlaça o colo,


ostra(lhe o fim
$a vida escura, que será mais breve
$o que o festim0

8ontudo os olhos d9ign*bil pranto


)ecos estão%
udos os lábios não descerram quei&as
$o coração

as um martírio , que encobrir não pode,


Em rugas faz
/ mentirosa placidez do rosto
!a fronte audaz0

=ue tens, guerreiro> =ue temor te assalta

4
!o passo horrendo>
Conra das tabas que nascer te viram,
Aolga morrendo

Aolga morrendo% porque al#m dos /ndes


Bevive o forte,
=ue soube ufano contrastar os medos
$a fria morte

Basteira grama, e&posta ao sol, < chuva,


2á murcha e pende-
)omente ao tronco, que devassa os ares,
. raio ofende0

=ue foi> :upã mandou que ele caísse,


8omo viveu%
E o caçador que o avistou prostrado
Esmoreceu0

=ue temes, * guerreiro> /l#m dos /ndes


Bevive o forte,
=ue soube ufano contrastar os medos
$a fria morte

777
Em larga roda de nov#is guerreiros
2edo caminha o festival :imbira,
/ quem do sacrifício cabe as honras,
!a fronte o canitar sacode em ondas,
. enduape na cinta se embalança,
!a destra mão sopesa a iverapeme,
.rgulhoso e pujante — /o menor passo
8olar d9alvo marfim, insígnia d9honra,
=ue lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
8omo que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
$os vencidos :apuias, inda chorem
)erem gl*ria e brasão d9imigos feros

DEis(me aquiD, diz ao índio prisioneiro%


D?ois que fraco, e sem tribo, e sem família,
D/s nossas matas devassaste ousado,
Dorrerás morte vil da mão de um forteD

5
6em a terreiro o mísero contrário%
$o colo < cinta a muçurana desce-
D$ize(nos quem #s, teus feitos canta,
D.u se mais te apraz, defende(teD 8omeça
. índio, que ao redor derrama os olhos,
8om triste voz que os +nimos comove

76
eu canto de morte,
4uerreiros, ouvi-
)ou filho das selvas,
!as selvas cresci%
4uerreiros, descendo
$a tribo tupi

$a tribo pujante,
=ue agora anda errante
?or fado inconstante,
4uerreiros, nasci%
)ou bravo, sou forte,
)ou filho do !orte%
eu canto de morte,
4uerreiros, ouvi

;á vi cruas brigas,
$e tribos imigas,
E as duras fadigas
$a guerra provei%
!as ondas mendaces
)enti pelas faces
.s silvos fugaces
$os ventos que amei

/ndei longes terras


2idei cruas guerras,
6aguei pelas serras
$os vis /imor#s%
6i lutas de bravos,
6i fortes — escravos0
$e estranhos ignavos
8alcados aos p#s

E os campos talados,
E os arcos quebrados,

6
E os piagas coitados
;á sem maracás%
E os meigos cantores,
)ervindo a senhores,
=ue vinham traidores,
8om mostras de paz

/os golpes do imigo,


eu último amigo,
)em lar, sem abrigo
8aiu junto a mi0
8om plácido rosto,
)ereno e composto,
. acerbo desgosto
8omigo sofri

eu pai a meu lado


;á cego e quebrado,
$e penas ralado,
Airmava(se em mi-
!*s ambos, mesquinhos,
?or ínvios caminhos,
8obertos d9espinhos
8hegamos aqui0

. velho no entanto
)ofrendo já tanto
$e fome e quebranto,
)* qu9ria morrer0
!ão mais me contenho,
!as matas me embrenho,
$as frechas que tenho
e quero valer

Então, forasteiro,
8aí prisioneiro
$e um troço guerreiro
8om que me encontrei-
. cru dessossego
$o pai fraco e cego,
Enquanto não chego
=ual seja, — dizei0

Eu era o seu guia

7
!a noite sombria,
/ s* alegria
=ue $eus lhe dei&ou-
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
=ue filho lhe sou

/o velho coitado
$e penas ralado,
;á cego e quebrado,
=ue resta> — orrer
Enquanto descreve
. giro tão breve
$a vida que teve,
$ei&ai(me viver0

!ão vil, não ignavo,


as forte, mas bravo,
)erei vosso escravo-
/qui virei ter
4uerreiros, não coro
$o pranto que choro-
)e a vida deploro,
:amb#m sei morrer

6
)oltai(o0 — diz o chefe ?asma a turba%
.s guerreiros murmuram- mal ouviram,
!em pode nunca um chefe dar tal ordem0
@rada segunda vez com voz mais alta,
/frou&am(se as pris"es, a embira cede,
/ custo, sim% mas cede- o estranho # salvo

:imbira, diz o índio enternecido,


)olto apenas dos n*s que o seguravam-
s um guerreiro ilustre, um grande chefe,
:u que assim do meu mal te comoveste,
!em sofres que, transposta a natureza,
8om olhos onde a luz já não cintila,
8hore a morte do filho o pai cansado,
=ue somente por seu na voz conhece
— s livre% parte
— E voltarei

8
— $ebalde
— )im, voltarei, morto meu pai
— !ão voltes0
 bem feliz, se e&iste, em que não veja,
=ue filho tem, qual chora- #s livre% parte0
— /caso tu sup"es que me acobardo,
=ue receio morrer0
— s livre% parte0
— .ra não partirei% quero provar(te
=ue um filho dos :upis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
$a morte o passo glorioso afronta

— entiste, que um :upi não chora nunca,


E tu choraste0 parte% não queremos
8om carne vil enfraquecer os fortes

)obresteve o :upi- — arfando em ondas


. rebater do coração se ouvia
?recípite — $o rosto afogueado
4#lidas bagas de suor corriam-
:alvez que o assaltava um pensamento
;á não que na enlutada fantasia,
Fm pesar, um martírio ao mesmo tempo,
$o velho pai a moribunda imagem
=uase bradar(lhe ouvia- — 7ngrato0 7ngrato0
8urvado o colo, taciturno e frio
Espectro d9homem, penetrou no bosque0

67
— Ailho meu, onde estás>
— /o vosso lado%
/qui vos trago provis"es% tomai(as,
/s vossas forças restaurai perdidas,
E a caminho, e já0
— :ardaste muito0
!ão era nado o sol, quando partiste,
E frou&o o seu calor já sinto agora0
— )im demorei(me a divagar sem rumo,
?erdi(me nestas matas intrincadas,
Beaviei(me e tornei% mas urge o tempo%
8onv#m partir, e já0
— =ue novos males
!os resta de sofrer> — que novas dores,

9
=ue outro fado pior :upã nos guarda>
— /s setas da aflição já se esgotaram,
!em para novo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta
— as tu tremes0
— :alvez do afã da caça
— .h filho caro0
Fm qu' misterioso aqui me fala,
/qui no coração% piedosa fraude
)erá por certo, que não mentes nunca0
!ão conheces temor, e agora temes>
6ejo e sei- # :upã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios
?artamos0 —
E com mão tr'mula, incerta
?rocura o filho, tateando as trevas
$a sua noite lúgubre e medonha
)entindo o acre odor das frescas tintas,
Fma id#ia fatal ocorreu(lhe < mente
$o filho os membros g#lidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
8onhece estremecendo- — foge, volta,
Encontra sob as mãos o duro cr+nio,
$espido então do natural ornato0
Becua aflito e pávido, cobrindo
Gs mãos ambas os olhos fulminados,
8omo que teme ainda o triste velho
$e ver, não mais cruel, por#m mais clara,
$aquele e&ício grande a imagem viva
/nte os olhos do corpo afigurada
!ão era que a verdade conhecesse
7nteira e tão cruel qual tinha sido%
as que funesto azar correra o filho,
Ele o via% ele o tinha ali presente%
E era de repetir(se a cada instante
/ dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha%
/li no coração se concentrava,
Era num ponto s*, mas era a morte0

— :u prisioneiro, tu>
— 6*s o dissestes
— $os índios>
— )im

10
— $e que nação>
— :imbiras
— E a muçurana funeral rompeste,
$os falsos manitHs quebraste a maça
— !ada fiz aqui estou
— !ada0 —
Emudecem%
8urto instante depois prossegue o velho-
— :u #s valente, bem o sei% confessa,
Aizeste(o, certo, ou já não foras vivo0
— !ada fiz% mas souberam da e&ist'ncia
$e um pobre velho, que em mim s* vivia
— E depois>
— Eis(me aqui
— Aica essa taba>

— !a direção do sol, quando transmonta


— 2onge>
— !ão muito
— :ens razão- partamos
— E quereis ir>
— !a direção do ocaso

677
D?or amor de um triste velho,
=ue ao termo fatal já chega,
6*s, guerreiros, concedestes
/ vida a um prisioneiro
/ção tão nobre vos honra,
!em tão alta cortesia
6i eu jamais praticada
Entre os :upis, — e mas foram
)enhores em gentileza

DEu por#m nunca vencido,


!em nos combates por armas,
!em por nobreza nos atos%
/qui venho, e o filho trago
6*s o dizeis prisioneiro,
)eja assim como dizeis%
andai vir a lenha, o fogo,
/ maça do sacrifício
E a muçurana ligeira-
Em tudo o rito se cumpra0

11
E quando eu for s* na terra,
8erto acharei entre os vossos,
=ue tão gentis se revelam,
/lgu#m que meus passos guie%
/lgu#m, que vendo o meu peito
8oberto de cicatrizes,
:omando a vez de meu filho,
$e haver(me por pai se ufane0D
as o chefe dos :imbiras,
.s sobrolhos encrespando,
/o velho :upi guerreiro
Besponde com torvo acento-

— !ada farei do que dizes-


 teu filho imbele e fraco0
/viltaria o triunfo
$a mais guerreira das tribos
$erramar seu ign*bil sangue-
Ele chorou de cobarde%
!*s outros, fortes :imbiras,
)* de her*is fazemos pasto —

$o velho :upi guerreiro


/ surda voz na garganta
Aaz ouvir uns sons confusos,
8omo os rugidos de um tigre,
=ue pouco a pouco se assanha0

6777
D:u choraste em presença da morte>
!a presença de estranhos choraste>
!ão descende o cobarde do forte%
?ois choraste, meu filho não #s0
?ossas tu, descendente maldito
$e uma tribo de nobres guerreiros,
7mplorando cru#is forasteiros,
)eres presa de vis /imor#s

D?ossas tu, isolado na terra,


)em arrimo e sem pátria vagando,
Bejeitado da morte na guerra,
Bejeitado dos homens na paz,
)er das gentes o espectro e&ecrado%
!ão encontres amor nas mulheres,

12
:eus amigos, se amigos tiveres,
:enham alma inconstante e falaz0

D!ão encontres doçura no dia,


!em as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
!unca possas descanso gozar-
!ão encontres um tronco, uma pedra,
?osta ao sol, posta <s chuvas e aos ventos,
?adecendo os maiores tormentos,
.nde possas a fronte pousar

D=ue a teus passos a relva se torre%


urchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
ais te acenda o vesano furor%
)uas águas depressa se tornem,
/o contacto dos lábios sedentos,
2ago impuro de vermes nojentos,
$onde fujas com asco e terror0

D)empre o c#u, como um teto incendido,


8reste e punja teus membros malditos
E oceano de p* denegrido
)eja a terra ao ignavo tupi0
iserável, faminto, sedento,
anitHs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
:raga sempre o cobarde ap*s si

DFm amigo não tenhas piedoso


=ue o teu corpo na terra embalsame,
?ondo em vaso d9argila cuidoso
/rco e frecha e tacape a teus p#s0
)' maldito, e sozinho na terra%
?ois que a tanta vileza chegaste,
=ue em presença da morte choraste,
:u, cobarde, meu filho não #sD

7I
7sto dizendo, o miserando velho
/ quem :upã tamanha dor, tal fado
;á nos confins da vida reservara,
6ai com tr'mulo p#, com as mãos já frias

13
$a sua noite escura as densas trevas
?alpando — /larma0 alarma0 — . velho pára0
. grito que escutou # voz do filho,
6oz de guerra que ouviu já tantas vezes
!outra quadra melhor — /larma0 alarma0
— Esse momento s* vale a pagar(lhe
.s tão compridos transes, as angústias,
=ue o frio coração lhe atormentaram

$e guerreiro e de pai- — vale, e de sobra


Ele que em tanta dor se contivera,
:omado pelo súbito contraste,
$esfaz(se agora em pranto copioso,
=ue o e&aurido coração remoça

/ taba se alborota, os golpes descem,


4ritos, imprecaç"es profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Bevolve(se, enovela(se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende
E os sons dos golpes que incessantes fervem,
6ozes, gemidos, estertor de morte
6ão longe pelas ermas serranias
$a humana tempestade propagando
=uantas vagas de povo enfurecido
8ontra um rochedo vivo se quebravam

Era ele, o :upi% nem fora justo


=ue a fama dos :upis — o nome, a gl*ria,
/turado labor de tantos anos,
$erradeiro brasão da raça e&tinta,
$e um jacto e por um s* se aniquilasse

— @asta0 8lama o chefe dos :imbiras,


— @asta, guerreiro ilustre0 /ssaz lutaste,
E para o sacrifício # mister forças —

. guerreiro parou, caiu nos braços


$o velho pai, que o cinge contra o peito,
8om lágrimas de júbilo bradando-

DEste, sim, que # meu filho muito amado0


DE pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
D8orram livres as lágrimas que choro,

14
DEstas lágrimas, sim, que não desonramD

I
Fm velho :imbira, coberto de gl*ria,
4uardou a mem*ria
$o moço guerreiro, do velho :upi0
E < noite, nas tabas, se algu#m duvidava
$o que ele contava,
$izia prudente- — Deninos, eu vi0

DEu vi o brioso no largo terreiro


8antar prisioneiro
)eu canto de morte, que nunca esqueci-
6alente, como era, chorou sem ter pejo%
?arece que o vejo,
=ue o tenho nest9hora diante de mi

DEu disse comigo- =ue inf+mia d9escravo0


?ois não, era um bravo%
6alente e brioso, como ele, não vi0
E < f# que vos digo- parece(me encanto
=ue quem chorou tanto,
:ivesse a coragem que tinha o :upi0D

/ssim o :imbira, coberto de gl*ria,


4uardava a mem*ria
$o moço guerreiro, do velho :upi
E < noite nas tabas, se algu#m duvidava
$o que ele contava,
:ornava prudente- Deninos, eu vi0D

15
BREVE ANÁLISE
7ba endes

INTRODUÇÃO

?oema desenvolvido em dez cantos, tendo como tema central o drama vivido
pelo último descendente da tribo tupi

 sabido que o índio teve papel relevante no romantismo brasileiro )abe(se


tamb#m que esse mesmo índio dentro da vertente rom+ntica possui atributos
de perfeição, um ser idealizado, cujo comportamento seria refle&o do modelo
ideal da Jnobre civilizaçãoK branca !a Europa essa idealização deu(se atrav#s
da mitificação dos her*is da 7dade #dia, tida como uma #poca de gl*rias,
período pelo qual se formaram as grandes naç"es

!o Bomantismo brasileiro o índio # eleito para e&ercer a função do nobre e


ostentoso cavaleiro medieval $e acordo com o ensaísta Eug'nio 4omes, #
especificamente no poema I - Juca Pirama que o índio perde a sua
JselvatiquezaK /firma ele- Jé atribuído à tribos dos Timbiras um sentimento
que ees n!o ti"eram #amais$ a com%ai&!oK

BREVE ANÁLISE

. título, obviamente de origem indígena, em tupi(guarani significa Jaquele que


há de morrerK :ípico her*i romantizado, perfeito e sem mácula, que melhor
representa os sentimentos do leitor burgu's no período da escola rom+ntica
brasileira

I - Juca Pirama # o último descendente da tribo tupi )abe(se que havia no @rasil
inúmeras tribos indígenas Lo pr*prio poema fala da tribo dos :imbirasM =ual
então a razão pela qual 4onçalves $ias elegeu especificamente um guerreiro da
tribo tupi> . que havia de tão especial nessa tribo>

?ara os historiadores, houve basicamente dois ramos da linhagem indígena- os


tapuias Los que primeiro passaram os /ndes e subiram pelo interiorM e os tupis
Los que subiram pelo litoralM $os povos indígenas que aqui se estabeleceram, os
tupis, por esforço pr*prio, foram os únicos que culturalmente se mantiveram
com e&tremo vigor $essa forma, na visão rom+ntica, os tipis seriam os
legítimos representantes da tradição secular dos índios brasileiros /inda hoje,
nacionalistas e&tremados, os novos J?olicarpos =uaresmasK, v'em ainda na
cultura tupi, a lídima representante da cultura brasileira

16
8/!:. 7-

/presenta e descreve a tribo dos timbiras

JLM 'teiam-se os tetos d(ati"a na)!o*


+!o muitos seus ios, nos .nimos ortes,
Temí"eis na guerra, que em densas coortes
'ssombram das matas a imensa e&tens!oK

.s índios aqui são retratados como seres fortes, soberanos da imensa terra
brasileira% são os verdadeiros senhores desta terra, que reinam majestosa e
livremente sobre o solo que lhes pertenciam legitimamente

J+!o rudes, se"eros, sedentos de g/ria


LM
+!o todos Timbiras, guerreiros "aentes

/ tribo da qual pertenciam os timbiras praticava o canibalismo de maneira


ritual Eles não sacrificavam o inimigo por gula .s rituais de sacrifício não
significavam para eles sacrílegos banquetes, mas cerimHnias de culto :rincava a
carne do inimigo como se fizesse um desagravo, e uma honra < tribo
desagravada  o que se poderia denominar de Jantropofagia her*icaK, algo
bastante distinto da antropofagia religiosa ou dom#stica, que era comum entre
os índios tapuias

2o centro da taba se estende um terreiro,


onde ora se aduna o concíio guerreiro
3a tribo senora, das tribos ser"is$
4s "eos sentados %raticam d(outrora
6 os mo)os inquietos, que a esta enamora,
3erramam-se em torno dum índio inei

/ tribo senhora # e&atamente a tribo dos timbiras que se preparava para


praticar o ritual canibalístico . índio infeliz # 7 ( ;uca ?irama, que fora feito
prisioneiro por essa tribo !esse ínterim, os velhos índios recordavam os
grandes feitos do passado

9uem é: - ninguém sabe$ seu nome é ignoto,


+ua tribo n!o di$ - de um %o"o remoto
3escende %or certo - dum %o"o genti*
LM

17
. narrador utiliza o adjetivo nob! para definir o prisioneiro /presenta(o como
um guerreiro especial, que descende de igual modo de uma tribo especial 
relevante notar que, ao narrar a cerimHnia de preparação do sacrifício, o poeta
incorpora inúmeros elementos da cultura indígena, tais como- derrubar o teto
da prisão do índio% convidar as tribos vizinhas para a cerimHnia% adornar a maça
LarmaM com penas% raspar a cabeça do prisioneiro etc

Por casos de guerra caiu %risioneiro

/ causa da prisão do guerreiro tupi foi e&atamente a guerra . tupi vivia para a
guerra :inha, da sua força e da sua coragem, profundo orgulho, associado a
uma verdadeira pai&ão de gl*ria 6encer um inimigo era a maior ufania de um
guerreiro tupi

'eitas ao rito da b;rbara usan)a

!esse trecho o poeta revela que as mulheres da tribo estavam acostumadas ao


ritual de sacrifício do inimigo

8/!:. 77-

/qui o narrador revela a festa canibalística dos timbiras e a aflição do guerreiro


tupi, que logo seria sacrificado

6m undos "asos d(a"acenta argia


er"e o cauim*
6ncem-se as co%as, o %raer come)a,
reina o estim

. ritual está sendo preparado conforme os costumes das tribos )egue(se


JreligiosamenteK os costumes dos antepassados .bserva(se aqui uma mudança
na m#trica dos versos, realçando o evento que pretende consumar /
antropofagia praticada pelos índios e&istia como conseqN'ncia dos e&cessos de
bravura e de vingança vividos por eles /s cerimHnias confundiam(se com as
celebraç"es da guerra

4 %risioneiro, cu#a morte anseiam,


sentado est;

7 ( ;uca ?irama aguarda o momento pelo qual será sacrificado !ão fosse o fato
de seu velho pai ser cego e doente, haveria por parte do guerreiro aceitação do
ritual com toda a normalidade que era pr*pria das tribos

18
9ue temes, / guerreiro:

!ão era comum entre os índios o fato de um guerreiro temer a morte :al
atitude era considerada um ato de covardia

8/!:. 777-

/presentação do último remanescente tupi- 7 ( ;uca ?irama

3ie-nos quem és, teus eitos canta,


ou se mais te a%ra, deende-te

/ntes de ser e&ecutado cerimonialmente, o guerreiro # convidado a entoar o


seu canto de morte, o que # feito no 76 canto

8/!:. 76-

7 ( ;uca ?irama, aprisionado pelos timbiras, declara o seu canto de morte e pede
ao cacique dessa tribo que o dei&e ir para cuidar do seu pai que padece
enfermidades L)* o narrador fora preso, o pai ficará distanteM

<eu canto de morte,


=uerreiros, ou"i$
+ou io das se"as,
2as se"as cresci

/presentação do narrador #pico 8omo se trata de uma e&peri'ncia


essencialmente pessoal e familiar, emocionada e dolorida, pode(se esperar
tamb#m por um clima trágico e lírico

3a tribo %u#ante,


9ue agora anda errante
Por ado inconstante,
=uerreiros, nasci*
+ou bra"o, sou orte

E&istiram tribos que em lutas contra os brancos e os pr*prios índios se


e&tinguiram /qui, o narrador # um remanescente tupi, tribo que, como muitas
outras foram e&terminadas, principalmente pelos brancos, e mais
especificamente, pelos portugueses e espanh*is

'os go%es do inimigo

19
<eu >timo amigo,
+em ar, sem abrigo
?aiu #unto a mi
?om %;cido rosto,
+ereno e com%osto,
acerbo desgosto
?omigo sori

 interessante notar aqui certo Jpre+mbulo narrativoK qualificando o narrador,


que se refere diretamente a decad'ncia final dos tupis

<eu %ai a meu ado


J; cego e quebrado,
3e %enas raado,
@irma"a-se em mi$
2/s ambos, mesquinos

)omente a partir desta estrofe # que se tem início realmente a hist*ria


M!"#$%n&o" nesse conte&to tem o sentido de JfracosK, JabandonadosK

4 "eo no entanto
+orendo #; tanto
3e ome e quebranto,
+/ qu(ria morrer
2!o mais me conteno,
2as matas me embreno,
3as recas que teno
<e quero "aer

Aaz(se mister realçar o pequeno número de sílabas !arrativa elaborada com


esse tipo de metro # algo bastante comum na #pica popular da ?enínsula
7b#rica- a isso se chamava o'(n)!, que, nesse caso, era um tipo de poesia
narrativa de inspiração her*ica e popularesca

3ei&ai-me "i"er

/titude desse tipo não condizia com um verdadeiro guerreiro, por esse motivo,
os que o aprisionara viram nesta súplica um sentimento de temor e covardia

LM
=uerreiros, n!o coro
3o %ranto que coro*
+e a "ida de%oro,
Também sei morrer

20
?ara os inimigos que o preparava ao sacrifício ritual, o her*i ( ao chorar (
mostrava covardia Lnão parecia um guerreiro tupi, senão um tupiniquimM $essa
forma, o guerreiro a ser sacrificado não era digno das galas da morte como J7 (
;F8/ ?7B//K

8/!:. 6-

/o escutarem o canto de morte do guerreiro tupi, os timbiras entendem ser


aquilo um ato de covardia e dessa forma o desqualifica Lcomo já fora citadoM
para tão nobre morte

As i"re* %arte

.s timbiras o libertam, e imediatamente o guerreiro tupi corre para o seio do


pai

8/!:. 67-

. filho encontra(se com o pai que, ao pressentir o cheiro de tinta que os


timbiras costumavam utilizar para rituais de sacrifício, desconfia da conduta do
filho, e decide, ambos, partir para cessa tribo na tentativa de provar aos tais que
a tribo tupi # verdadeiramente honrada

8/!:. 677-

)ob alegação de que os tupis são fracos, o chefe dos timbiras não quer aceitar a
consumação do ritual no qual se provaria a honra dos tupis

8/!:. 6777-

. pai maldiz o suposto filho covarde

Tu coraste em %resen)a da morte:


2a %resen)a de estranos coraste:
2!o descende o cobarde do orte*
%ois coraste, meu io n!o és
Possas tu, descendente madito
3e uma tribo de nobres guerreiros
Im%orando cruéis orasteiros

21
+eres %resa de "is 'imorés

!os quatro primeiros versos, a estranheza do pai 8omo poderia seu filho
chorar, se era um bravo guerreiro> !os quatro versos seguintes começa a
admoestação ao filho JmalditoK

Bm amigo n!o tenas %iedoso


9ue a teu cor%o na terra embasame,
Pondo em "aso d(argia cuidoso
'rco e eca e taca%e a teus %és
+C madito, e soino na terra
Pois que a tanta "iea cegaste,
9ue em %resen)a da morte coraste,
Tu, cobarde, meu io n!o és

/ maldição paterna reúne o conjunto de tudo aquilo que significava horror para
os selvagens, especialmente a transformação da natureza em punição e solidão

8/!:. 7I-

Enraivecido o guerreiro tupi lança o seu grito de guerra e derrota valentemente


a todos em nome de sua honra

 - Dasta cama o cee dos Timbiras,


Dasta, guerreiro iustre assa utaste

8/!:. I-

. velho Lo narradorM rende(se frente ao poder tupi e diz a c#lebre frase-


<eninos, eu "i

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22
O LIVRO DIGITAL – ADVERTÊNCIA

O Livro Digital é – certamente - uma das maiores revoluções no âmbito


editorial em todos os tempos. Hoje qualquer pessoa pode editar sua
prpria obra e disponibili!"-la livremente na #nternet$ sem aquela
imperiosa necessidade de editoras.

%raças &s novas tecnologias$ o livro impresso em papel pode ser


escaneado e compartil'ado nos mais variados (ormatos digitais )*D+$ ,,$
,+$ entre outros/. ,odavia$ trata-se de um processo demorado$
principalmente no âmbito da reali!aç0o pessoal$ implicando ainda em
(al'as aps o processo de digitali!aç0o$ por e1emplo$ erros e distorções na
parte ortogr"(ica da obra$ o que pode tornar inintelig2veis palavras e até
(rases inteiras.

3mbora todos os livros do 4*rojeto Livro Livre5 sejam criteriosamente


revisados$ ainda assim é poss2vel que alguns desses erros passem
despercebidos. Desta (orma$ se o distinto leitor puder contribuir para o
esclarecimento de algumas dessas incorreções$ por gentile!a entrar em
contato conosco$ no e-mail6 iba@ibamendes.com

7ugestões também ser0o muito bem-vindas8

#ba 9endes
São Paulo, 2014

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