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Parque Ribeirão Preto

Letícia Lovo
PÁGINA 19
Suplemento exclusivo do Jornal A Cidade de 20 de maio de 2008 - Distribuição gratuita somente para o Parque Ribeirão Preto

Lições de cidadania
em meio a problemas
O jardim de ervas Bar da Baiana serve A garimpeira Adelina
medicinais de Jacob até buchada de bode é ‘treinada por Deus’
PÁGINA 16 PÁGINA 18 PÁGINA 23
2 A CiDADe Maio de 2008

nossa opinião
Cartas
A voz daqueles
Retorno mal-feito
que não têm voz Moro há 24 anos na aveni-
da Cásper Líbero e, há cerca
de quatro, há um grave

S
ão mais de 50 mil e praças para as crian- problema no trânsito aqui.
habitantes, na zo- ças. Todos direitos do ci- No cruzamento das ave-
na oeste de Ribei- dadão consagrados pela nidas Cásper Líbero com
rão Preto. É uma po- Constituição, mas, nes- a Professor Pedreira de
pulação maior que os te caso, tão distantes. Va- Freitas fizeram um retorno
municípios de São Jo- mos também ouvir os mal-feito. Quem desce a
aquim da Barra e Vi- responsáveis pelo aten- avenida Pedreira de Freitas
radouro. São trabalha- dimento aos pedidos e para entrar na Cásper Líbe-
dores que lutam diaria- acompanhar sua execu- ro fica sem visão. Infeliz-
mente para transformar ção. Trata-se de tornar mente, acontecem muitos
sua história e seu desti- a imprensa instrumento acidentes ali, há sempre
no. O Parque Ribeirão não só de fortalecimento corpo estendido no chão
Preto se reinventa to- da cidadania, mas tam- daquele cruzamento.
do dia, com instrumen- bém de pilar da demo-
tos muito simples, co- cracia. Luiz Geraldo Fernandes,
mo solidariedade, fra-
ternidade, cumplici-
Ao lançar este suple-
mento Bairros – que se-
O bairro precisa de mais atenção da 64, autônomo

dade, disponibilidade, rá semanal e se propõe polícia, das autoridades públicas.


força e trabalho.
O bairro já tem co-
a fazer um amplo e pro-
fundo raio X de Ribeirão
Precisamos de mais patrulhamento,
mércio estruturado, for- Preto –, o jornal A Cida- de mais segurança. Até o momento,
te, com opções. Mas ain-
da sofre, assim como
de quer fazer dele a voz
daqueles que não têm
ninguém fez nada. Alcir da Mota Bezerra, 26, vigilante
tantos outros da cidade, voz, apontar caminhos,
com a ausência do Esta- contar a história de gente
do, do poder público. As
reivindicações são con-
que constrói a cidade e a
cidadania todos os dias,
A melhor coisa que fizeram aqui no
tundentemente simples: dar rosto a quem, ano- Parque Ribeirão Preto foi instalar
mais segurança, mais va- nimamente, edifica uma brinquedos para crianças em uma
gas em creches e em es-
colas, mais áreas de lazer
sociedade mais justa, fra-
terna e igualitária. praça do bairro. Maria Luiza de Oliveira, 52, cozinheira Terrenos baldios
A minha casa fica em fren-
te a dois terrenos baldios

sua opinião abandonados, com mato


alto e lixo, na rua Floriano
Leite Ribeiro nº 32. Há oito
Lixo nas praças Áreas de lazer anos a situação é a mesma.
O abandono estimula as
Há muitos lixos nas Morar aqui é um privilé- pessoas a despejar lixo
praças e terrenos gio. Vim da Bahia há seis e entulho no local. Isso
baldios do bairro. Falta meses e escolhi viver no causa muito mau-cheiro e
educação ao povo, mas Parque Ribeirão. Há dois o aparecimento de bichos.
também há descaso meses, vieram meu filho É horrível.
por parte da prefei- e minha esposa tam-
tura. Acho que estes bém. Encontrei um lugar Célio Sozza, 42, pedreiro
problemas devem ser muito decente e bonito
rapidamente solucio- nesse bairro. Além disso,
nados, porque o bairro sinto a presença das
já melhorou 1.000%, pessoas, elas são amigas.
mas ainda carece de É muito bom.
atenção.
Henrique Gomes Limas,
Izabel Rodriguez 48, lavrador
Guedes 65, costureira

Edição Mário Evangelista • Reportagem e textos Angela Pepe (especial) e Jucimara de Pauda • Fotos /Especial, F.L. Piton e Weber Sian • Edição de arte Daniel Torrieri
Tratamento Joyce Cury • Departamento Comercial (16) 3977 2172 • comercial@jornalacidade.com.br • Vendas Diego Marcon (16) 9235 5188 • comercialdiego@jornalacidade.com.br
Maio de 2008 A CiDADe 

A gente ia lavar roupa no rio a um quilômetro.


Era tudo escuro. Não tinha nada.
Tereza GonçaLves de souza, 81 anos
a moradora mais antiga do Parque ribeirão Preto

a moradora mais antiga

No começo,
era a escuridão
e a falta de água
mãe de 18 filhos, tereza não está cansada de
guerra: ‘hoje, a gente está no céu, temos de tudo’ 100 netos e bisnetos Tereza de Souza: há 40 anos no bairro

T
ereza Gonçalves de tra os moradores do bairro. queno tamanho da casa se ca coisa boa foram os filhos o transporte coletivo não
Souza, 81 anos, é a “A gente ia lavar roupa no revezam nas visitas a ela. porque o marido era baia- atendia o bairro. “Era pou-
moradora mais antiga rio que fica a um quilôme- “A casa tem cinco cômo- no e bravo. Achava que tudo co ônibus e não tínhamos
do Parque Ribeirão Preto. tro daqui. Era tudo escuro dos pequenos. Fizemos pe- se resolvia na pancada. Foi asfalto, escola, saúde, ou
Chegou por ali quando e na cidade falavam que a quenas reformas, mas ela é muito sofrimento”, conta. melhor, na verdade a gen-
os moradores ainda conhe- gente era favelado e pobre. como era em 1963, quando A filha de Tereza, Ma- te não tinha era nada. Hoje
ciam o lugar como Vila Fra- Hoje, a gente está no céu. O foi construída. Meu povo risa Mariano de Souza, 44 temos tudo”, disse.
ternidade. Guarda até ho- bairro cresceu e temos de não cabe aqui dentro”, diz. anos, também se recorda
je lembranças da falta de tudo”, afirma. Tereza está viúva há 30 dos primeiros dias na anti-
água encanada, da escu- Mãe de 18 filhos, tem anos e não se casou de novo. ga Vila Fraternidade e das Na ausência do poder públi-
ridão, do uso de lampari- mais de 100 netos e bisne- Ela garante que o casamen- caminhadas que a família co, a comunidade se mobiliza
veja como nas PáGinas 4 e 5
nas e do preconceito con- tos, que por causa do pe- to só lhe deu tristeza. “A úni- era obrigada a fazer porque

Recém-chegados
f. L. piton

Bem-vinda, Camila, bem-vindo, Vinícius


A pequena Camila Beatriz é marido está exageradamen- na Mater. Nasceu no dia 29
um dos mais novos mora- te bobo. Em 2006, perdi o de abril, às 16h22. Chegou
dores do Parque. Nasceu bebê. Deus nos recompen- na condição de primeiro
no dia 8 de maio, às 9h57, sou. Estamos muito feliz”, neto e primeiro sobrinho na
na Santa Casa de Ribeirão. diz Meire. família.
Pesou 3,1 kg e mediu 49 cm. Por enquanto, Camila dorme Elaine conta que pintou o
A mãe, Meire Carla Siqueira no quarto com os pais. quarto do filho, onde ela
da Silva Rocha, 24, e o pai, Vinícius também é um vai dormir com o bebê, de
Junior César Dias Rocha, 26, recém-chegado ao Parque. A azul e pendurou na porta
ainda celebram o nascimen- mãe, Elaine Gomes Rodri- um quadro artesanal de
to da primeira filha. “Era gues, 23, conta que o filho madeira com um boneco e o
tudo o que eu queria. Meu nasceu com 3,1 kg e 50 cm, nome dele. Meire e Junior com Camila Beatriz Elaine com o filho Vinícius
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Quero melhorar de vida e aqui no Parque


Ribeirão Preto tive esta oportunidade.
Leidiane aLves
dona de um salão de beleza no bairro

longo prazo

A comunidade do Parque
Elas ajudam
As entidades assis-
tenciais oferecem
no bairro curso de

de olho no futuro
computação, como
o Cesomar (Centro
Social Marista) ou a
Sociedade Espírita
Obreiros do Bem, com
moradores assumem o destino do bairro na ausência do estado o curso de tear.
Zaqueu Oliveira dedi-
ca-se ao voluntariado.

O
Parque Ribeirão Pre- ta a mão do Poder Público. Ele recebe doações de
to vive um momento Não há área de lazer sufi- verduras e as distribui
de expansão econô- ciente para atender a popu- todas às segundas-fei-
mica. A estabilidade eco- lação carente de esporte e
ras. “É uma maneira de
nômica do país e a melho- atividades físicas. O bairro
ria de renda dos trabalha- oferece apenas cinco cam- oferecer alimentação
dores contribuem para a al- pos de futebol. diferente para a co-
teração do perfil do bairro. “Precisamos de área de munidade.” A presi-
Até pouco tempo estig- lazer e de um lugar onde dente da Seob, Maria
matizado por ser violen- as crianças e os jovens pos- Apparecida da Costa,
to, o Parque Ribeirão ga- sam brincar e aprender ao resume: “Se cada um
nha ares de modernida- mesmo tempo. Sem op- fizer um pouco vamos
de com casas bem cons- ções, nossas crianças ficam fazer a diferença”.
truídas, comércio dife- nas ruas à mercê de coisas A Seob atende 160
renciado e uma comuni- ruins”, diz Zaqueu Rodri-
crianças de 7 a 14 anos
dade que tem o olho no gues de Oliveira, presidente
futuro. da Associação de Bairros do que freqüentam a
“Quero melhorar de vi- Parque Ribeirão Preto. entidade em períodos
da e aqui no bairro tive esta A falta de espaços públi- alternados à escola.
chance”, diz Leidiane Alves, cos fez com que uma pra-
21 anos, dona de um salão ça recém-inaugurada na
de beleza. rua Júlio Ribeiro com Eu- Zaqueu Oliveira:
Ao lado do expansionis- gênio Basile virasse o point veduras e legumes
mo progressista ainda fal- da garotada. “Venho aqui para os vizinhos
todos os dias e fico o dia
inteiro. Tem bastante sol,
Venho aqui [na mas eu agüento para po-
der brincar”, diz Larissa Al-
praça recém- ves, 8 anos.
inaugurada] Em agosto, o céu do bair-
ro se colore com as pipas
todos os dias e e é possível sentir nas ruas
fico o dia inteiro. a excitação entre os jovens
na disputa pelo título de “o
Tem bastante sol, grande cortador de linhas”.
mas eu agüento “Eles não têm onde brincar
e por isto soltam pipa. Pra-
para poder ça só tem uma”, afirma Ma-
brincar ria Helena de Souza, dona-
de-casa e avó de um menino
Larissa Alves, oito anos que não pára em casa du-
rante as férias. teia da cidadania Daniela Martins de Oliveira: aulas de tear e renda
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O papel dos municípios deveria ser


matheus urenha

efetivo na educação, saúde e saneamento.


cLáudia souza Passador
socióloga e coordenadora do centro de Gestão de Políticas Públicas da usP

povo abandonado

Estado não resolvido


A
socióloga e coorde- “Os municípios não es- um nicho de mercado que
nadora do Centro tão fazendo a lição de casa. gera empregos. “Há uma
de Gestão de Políti- O papel deles deveria ser mescla de Estado não-resol-
cas Públicas Contemporâ- efetivo em questões bási- vido e, por outro lado, um
neas da USP, Cláudia Sou- cas como dar acesso à edu- terceiro setor que passou a
za Passador, diz que a par- cação, saneamento básico, existir. Ficamos sem grandes
tir da Constituição de 1988 saúde. O que deveria con- políticas sociais como resul-
os municípios passaram a tribuir para os bairros para tado do fim da ditadura em
ser autônomos para gerir haver melhor qualidade de que vivemos no Brasil”, diz.
recursos repassados direta- vida para o cidadão”, diz.
mente do governo federal. No Parque, o 3º setor se
O objetivo, diz, seria aproxi- fortaleceu e, hoje, além de Sem segurança, moradores
mar o poder público da po- fazer a diferença para quem têm medo de andar na rua
mas a vioLência caiu PáGina 6
pulação. precisa, diz, também virou
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pauLo Liebert/ae

O Parque
Havia muita organização para a ocupação em números
das casas. O trabalho foi tão bonito que
criamos o nome de Vila Fraternidade. 5.872
residências
dom anGéLico sândaLo Bernardino, 75
Bispo de Blumenau, que iniciou em 1963 o povoamento do Parque ribeirão

1.595
estabelecimentos
um direito dos cidadãos comerciais,

Segurança para todos


indústrias,
prestadores de
serviços

1(Unidade
UBS Básica de
moradores confessam: ‘tem rua que a gente tem medo de passar’ Saúde Waldemar
weber sian 12/05/2008 Barnsley Pessoa

M
elhorar a seguran- Rua Guy Saad Salo-
ça do Parque Ribei- mão, 225.
rão Preto. Esta é a Fone 3919-4300.
reivindicação mais comum
dos moradores do bairro,
dos mais novos aos mais
idosos.
“Moro aqui há 12 anos
1CentroCras
de Referência
e a polícia raramente vem de Atendimento So-
ao bairro. Precisamos mais cial). Avenida Osvaldo
policiamento”, diz o vigi-
lante Zeferino Barbosa, 60
Aranha, 488.
anos. Fone 3964-0819.
A dona-de-casa Jucile-
ne Aparecida Mendonça,

5de ônibus
linhas
39 anos, tem a mesma opi-
nião. “Tem muito furto e
drogas. Tem rua que a gen-
te tem medo de passar.”
Balanço feito pelas Polí- (Parque Ribeirão-
cias Civil e Militar demons- Shopping, Parque
tra que a violência no bair- Ribeirão Preto, Jardim
ro caiu 30% este ano, em Centenário, Jardim
comparação ao mesmo pe- Marchesi, Jardim
ríodo do ano passado.
“Nós conseguimos bai-
Maria da Graça.)
xar o índice de violência
no Complexo Oeste, que
abrange o Parque Ribeirão
Preto. Não demos trégua
é brincadeira Crianças se divertem na base da PM fechada no Parque Ribeirão: por mais segurança 6.763
Ligações de água e
aos jogos de azar, lan-hou-
ses clandestinas e assaltan- Um empurrãozinho esgoto
tes. Fazemos o que é possí-
vel com os meios de traba- O bairro que já nasceu com o nome de Fraternidade
lho que o Estado nos ofe-
rece”, diz o delegado Sérgio
Siqueira, do 6º Distrito Po-
O atual bispo de Blumenau
(SC), Dom Angélico Sândalo
120 casas desabitadas
no local. Eram os imóveis
pessoas carentes para lá”,
diz. As casas foram ocupa-
35
Telefones públicos
licial. Bernardino, 75, iniciou o construídos para os fun- das por famílias carentes.
A base da Polícia Mili- povoamento do Parque cionários do Instituto de “O trabalho foi tão bonito
tar que atende a comunida- Ribeirão. Aposentadoria e Pensão dos que criamos o nome de Vila
Fontes: Secretaria da Fazenda,
de do Parque Ribeirão está Conta que ele e José Said, Industriários. Fraternidade”, diz. Secretaria da Assistência
localizada na Vila Virgínia. corretor já falecido, soube- “Nos apossamos delas e Dom Angélico residiu na Social, Secretaria da Saúde,
Ela fica na avenida Pio XII, ram em 1963 que existiam passamos a encaminhar cidade de 1960 a 1974. Transerp, Daerp e Telefônica
1.015 (Fone: 3919-6979).
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sangue bom

Zangão manda Faço o


bem, ao doar
bem no sacolão verduras
para uma
dono de dois varejões no bairro, creche e
ele emprega oito moradores moradores
do bairro,
D e recebo
epois de 16 anos tra- “Comecei devagar e ho-
balhando como fun- je estou com oito funcioná-
cionário, Marcos An-
tônio Alcântara Silva, mais
rios. É melhor trabalhar pa-
ra a gente”, diz. Ele trabalha
o bem
conhecido como Zangão,
resolveu abrir o próprio ne-
no varejão ao lado da es-
posa Eliete e mais oito fun-
de volta
gócio no Parque Ribeirão cionários e atribui o bom
zanGão,
Preto e, garante, levou sor- andamento dos negócios à
o empreendedor
te. Primeiro, foi um varejão caridade. de bom coração
na rua Benedito Fernandes “Toda segunda-feira eu
Ferreira e o sucesso do em- dôo verduras para uma cre-
preendimento motivou o che e moradores do bairro.
comerciante a abrir uma fi- Faço o bem e recebo o bem No Parque, tem vestido de
lial do Varejão Real na ave- de volta nos negócios e na noiva usado por R$ 20
veja onde achar na PáGina 8
empreendedor Zangão em um de seus varejões: solidariedade nida Cásper Líbero. família”, afirma.
8 A CiDADe Maio de 2008

tudo em perfeito estado

Brechó da Rô
tem vestido
de noiva
a peça tem 25 anos, mas está
perfeita e custa somente r$ 20

O
s brechós de roupas de tecido. Custo: R$ 20.
e calçados usados se O vestido tem mais de 25
multiplicam pelas ru- anos, mas está em perfeito
as do Parque Ribeirão. Há estado. Em 1982, ele foi usa-
de tudo nos cômodos das do por Irene Morais de Car-
casas improvisados como valho, 51. Há pouco mais de
lojas. É possível até mes- um ano, ela se desfez dele e
mo encontrar um vestido deu para Rosilda vender no
de noiva por R$ 20. brechó. “Não poderia dei-
No Brechó da Rô, na xar o vestido embalsamar
avenida Professor Pedrei- no armário. O mundo evo-
ra de Freitas, é possível en- lui”, diz Irene, ainda casada
contrar os vestidos de noi- com o mesmo marido.
va em oferta. A comercian- Nos brechós do Parque
te Rosilda Maria de Barros, Ribeirão, os preços das pe-
47, diz que, ao contrário da ças e sapatos variam entre
maioria das mulheres, al- R$ 0,50 a R$ 2, a maioria em
gumas preferem não guar- bom estado.
dar o objeto do casamento.
Apesar de haver poucas
opções, quase únicas, Ro-
silda conta sempre ter um O vestido ia
vestido de noiva no esto-
que. Atualmente, ela tem embalsamar
um de renda com transpa-
rência no colo, babado, bo- no armário.
tões forrados nas costas,
estoque Rosilda Maria de Barros, a Rô, sempre tem um vestido de noiva no estoque de seu brechó véu, grinalda, cinto e buquê irene morais de carvaLho,
que pôs seu vestido de noiva à venda
divuLgação

A noiva do Nelson
O Anjo Pornográfico Rodrigues
A peça “Vestido de Noiva”, do maior dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, foi encenada pela primeira vez em
1943, dirigida por Ziembinski. Tem, em seu cenário, três planos que se intercalam – o da alucinação, o da reali-
dade e o da memória. Nelson nasceu da cidade do Recife (PE), em 23 de agosto de 1912. Mudou-se para o Rio.
Como cronista esportivo, Nelson escreveu textos antológicos sobre o Fluminense. Jornalista, escreveu 17 peças
teatrais (Anjo Negro, A Falecida, Os 7 Gatinhos, entre outros), nove romances (Asfalto Selvagem, O Casamento),
contos e crônicas. Teve seus trabalhos transformados em novelas de tevê e em filmes, todos de sucesso.
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O pessoal gosta porque conheço O figura


remédios e explico tudo direitinho. Viu o Pezão por aí?
ivo francisco da cunha, 52 Claudinei Pereira de Souza,
foi ele quem montou a primeira farmácia no bairro, há 16 anos Pezão, promove campeo-
natos de futebol e eventos.
É o morador mais conhe-
cido do Parque. No último
mais que um balcão torneio, o campeão foi o

Lojas revivem ‘estilo interior’


Internacional JP. Este mês
começa a Copa Progresso,
com 12 times.“Temos gente
boa de bola.” Na região, são
cinco campos de futebol,

e personalizam atendimento
três oficiais.“Precisamos da
ajuda do poder público”, diz.
É ele quem promove o baile
dos aposentados (sexta-
feira, 22h) e o baile Funk
(sábados, 23h).
empresários e comerciantes investem e diversificam centro comercial

C
omércio em expan-
são e capaz de suprir
todas as necessida-
des da comunidade. Essa
é a principal característi-
ca apontada pelos mora-
dores do Parque Ribeirão
Preto que elogiam a faci-
lidade de realizar compra
no bairro.
“O comércio de bairro
cresceu apoiado na estabi-
lidade do país, baixa infla-
EZéMáriodoSkate?
ção e o acesso das classes José Mário da Cruz, 32
C e D a uma renda melhor”, anos, começou a cantar
diz o economista José Rita com 10 anos. Deficiente, ele
Moreira. se locomove em cima de
Segundo ele, o comér- um skate. Ficou conhecido
cio dos bairros revive o es- como“Zé Mário do Skate”.
tilo das cidades de interior, “Tive paralisia infantil
porque personifica o aten- diversificação Nenê vende móveis usados no Parque Ribeirão: agora, se dedica a reformá-los também com seis anos de idade,
dimento e proporciona ao mas superei. A música me

eles se deram bem


cliente mercadorias que ele ajudou a encontrar um
precisa comprar de imedia-
to e não tem tempo para
O comércio dos novo rumo para a vida”,
diz. Canta do rap ao pop
buscar em outros locais.
Oportunidade de negócios para todos bairros cresceu romântico. Já gravou
“As classes C e D estão
com dinheiro no bolso e
nos últimos anos 2 CDs com músicas
próprias. Vendeu
os comerciantes estão atrás A comerciante San- rua Manoel de Macedo e complementa o mil cópias para os
desse cliente”, afirma.
A primeira farmácia do
dra Novaes, 40 anos,
montou uma acade-
e o pai montou outro na
avenida Cásper Líbero.
da área central. amigos. “Já
abri o show
bairro foi montada por Ivo mia de ginástica. “Aqui, “Aqui me sinto feliz e São novas dos Racio-
Francisco da Cunha, 52
anos, há 16 anos na ave-
além de mim, também
trabalham meu marido
estou fazendo a minha
vida”, conta a jovem que
oportunidades nais em
Ribeirão
nida professor Pedreira de e meus filhos”, afirma. mantém a casa. de negócios para Preto.”
Freitas. “O pessoal gosta
porque conheço remédios
Elidiane Alves, 21
anos, cabeleireira, e o
Lindalva Garcia, 45,
ficou 10 anos fora. “Vol-
empresários e de
e explico tudo certinho.” pai dela Rildo Alves, ca- tei e resolvi tocar o bar compra para os
Hoje, Cunha tem mais
sete concorrentes. “Hoje
beleireiro, cresceram
juntos. Há um ano, ela
porque o poder aquisi-
tivo das pessoas melho-
consumidores.”
temos infra-estrutura, mas herdou do pai o salão da rou.” Lino Strambi, da Acirp
falta segurança”, diz.
Maio de 2008 A CiDADe 11
f.L.piton

Nosso objetivo é contribuir para o


ela se foi desenvolvimento das crianças.
Tchau, Divina sidinei aveLino dos sanTos,
coordenador do Programa ‘atletismo e cidadania’
Ela viveu entre pratos e
pratos de quibes. Bem f.L.piton

temperados, com hortelã, cidadania

Os atletas
como manda a receita
árabe. Divina Aparecida
da Silva, 65 anos, reinava
na cozinha. Do arroz e
feijão e bife, ao espaguete,
sabia fazer de tudo um

do Parque
pouco. Seu prazer era fazer
quibes. Foi na casa de uma
família árabe, onde traba-
lhou, que dominou os se-
gredos da cozinha repleta
de temperos e cheiros. Ana
Cristina sente falta da mãe,
principalmente das brigas.
“Nosso amor resistia a
tudo.” Divina tinha Mal de
programa ‘atletismo e cidadania’
Chagas. Um dia antes de
morrer se queixou de dor
atende 200 crianças no bairro
no coração. No domingo,

C
4 de maio, não acordou. A rianças do Parque Ri- por semana. “A gente sente
rua B-17, no Parque, onde beirão Preto são pro- a pista”, diz William Bruno
Divina morava, não terá messas para o atletis- da Silva, 13 anos.
mais os pratos de quibes, mo brasileiro, garante o fi- Entre os destaques, estão
cheirosos e deliciosos. sioterapeuta Sidinei Aveli- os adolescentes Miriele dos
no dos Santos, coordenador Santos Anacleto, 12 anos,
do programa “Atletismo e campeã estadual na corri-
Cidadania”, que atende 200 da de 600 metros. “Me sinto
crianças no bairro. O proje- realizada com as medalhas
to funciona com o apoio da que eu ganho”, afirma.
prefeitura e de voluntários. Maurício de Brito Fil-
“O nosso objetivo é con- gueiras, 13 anos ganhou a 1ª
tribuir para o crescimento e prova em Batatais e já sonha
desenvolvimento da criança com novas medalhas. “Que-
dando oportunidade a elas ro ser bom no esporte.”
de ter contato com o espor-
te, novos espaços e cama-
das sociais”, disse Santos. Faltam vagas em creches.
As crianças treinam na Povo bota boca no trombone.
as recLamações nas PáGinas12e13
campeões Miriele e Maurício: realização pessoal com vitórias Cava do Bosque duas vezes
12 A CiDADe Maio de 2008

Dez minutos de reclamação

Não pode é ficar


cachorro solto. Tem até
porco e cavalo soltos.
Isto tem que acabar.
duLce hiPóLiTo saBino de Lima,
43 anos, técnica em podologia

Ninguém quer
De 54 áreas destinadas para animais soltos
praças, só 4 foram construídas pelas ruas
Cães soltos pelo Parque tem que acabar”, afirma
Das 54 áreas verdes nidade assumiu o trabalho ruas João Dias de Arruda e Ribeirão incomodam Dulce Hipólito Sabino
destinadas à implanta- e implantou três praças. Manoel de Macedo, as má- os moradores e causam de Lima, 43 anos, técni-
ção de praças no Parque Logo surgiram campos de quinas apenas revolveram temor entre as famílias, ca em podologia.
Ribeirão, apenas quatro futebol com traves e redes a terra. Na praça das ruas desde que em 2007 foi Segundo a chefe do
foram construídas e equi-
compradas com o dinheiro Conde de Irajá, Alberto de registrado no bairro um Controle de Zoonoses
padas até hoje, segundo rateado pelos moradores. Oliveira, Franco da Rocha caso de raiva em morce- da Secretaria da Saúde
estudo realizado pela As praças estão sempre lo- e Jorge de Lima, as obras go. O animal foi encon- de RP, Eliana Coluc-
Secretaria Municipal de tadas. Nos finais de sema- estão adiantadas. trado na rua Renato ci, a carrocinha não
Infra-estrutura. na, recebem campeonatos. Na terceira, nas ruas Lúcio Jardim, em novembro captura mais animais
A reclamação mais co- São mais de 40 times. de Mendonça, Mário de de 2007, e, na época, errantes. “Fazemos o
mum dos moradores do O faxineiro Edilson Luiz Andrade e Medeiros de todos os cães e gatos recolhimento seletivo
bairro é a falta de áreas
Ferreira, 35, organiza os Albuquerque, as obras da vizinhança foram e capturamos apenas
verdes, praças e espaços80 jogadores entre 6 e estão no começo. vacinados. os animais que repre-
para lazer. 14 anos, que disputam “Vacinaram os animais sentam risco para a
Na ausência do poder peladas nos campos do de quem tem cuidado população”, diz.
público, a própria comu-Parque. Infelizmente, estão com a sua cria. Quem “Vamos fazer campa-
“Brinco aqui desde os 7 começando a construir não tem cuidado larga nhas em toda a cidade
anos. Infelizmente, estão uma praça aqui e parece solto pela rua. Meu filho para que as pessoas
No máximo em 60 dias, começando a construir quase foi atacado”, diz evitem abandonar os
uma praça aqui e parece que terão que tirar as Lúcia Rodrigues de Oli- animais e que o dono
vamos entregar três praças à que terão que tirar as nos- nossas traves. veira, 44 anos, faxineira. tenha consciência que
população do Parque Ribeirão. sas traves”, diz o servente “Aqui tem também por- o seu cão precisa ser
O orçamento destinado a elas é Edson Carlos dos Santos Edson Carlos dos
co e cavalo soltos. Isto vacinado.”
de mais de R$ 600 mil. Gonçalves, 17, um dos
Santos Gonçalves,
atletas de final de semana.
17, servente
O secretário de Obras Pú-
blicas, José Aníbal Laguna,
disse que no máximo em
60 dias três praças serão
entregues à população.
O orçamento destinado a
elas é de R$ 601,9 mil.
Na área localizada na
avenida Cásper Líbero e

José Aníbal Laguna, secretário


municipal de Obras Públicas
Maio de 2008 A CiDADe 1

Lixo e mato em
terrenos baldios
incomodam bairro
Moradores do Parque Vanderci Faustino, chefe
Ribeirão Preto querem da Fiscalização Geral da
que os donos dos terrenos prefeitura, afirmou que
baldios sejam multados os fiscais vistoriaram o
pela prefeitura. bairro durante a operação
“Em todos os quarteirões “Terreno Limpo”e 55% das
do bairro, existe pelo 5,1 mil notificações dadas
menos um terreno cheio para os proprietários de
de mato e lixo”, diz a cabe- terrenos que estavam sem
leireira Miraci Moreira Reis calçadas e muretas, com
Lima, 31. lixo e mato alto foram
A dona-de-casa Lurdes para os proprietários de
de Arruda Gonçalves, 42 imóveis do Parque Ribei-
anos, também reclama. rão Preto. A multa para
“O nosso bairro é bom, quem estiver em desacor-
mas os moradores preci- do com a lei é de R$ 213. liXo na rua Terreno baldio no Parque é usado como depósito de lixo: imóveis sem cuidado
sam ter consciência e não
jogar lixo na rua. Por causa
disso já peguei vários es-
corpiões em casa”, afirma. Tem bastante terreno baldio e cheio de lixo no bairro, principalmente aqueles que
“Há terrenos da prefeitura pertencem ao Poder Público. Acho que a prefeitura deveria cuidar mais desses imóveis.
cheios de lixo”, diz Durval
Gonçalves Viana, 43 anos, durvaL GonçaLves viana, 43 anos, Pedreiro
pedreiro.

A gente dá o nome da
Mães reclamam falta
de vagas em creches do bairro
Não é possível atender
criança e a diretora manda toda a demanda do bairro
esperar que assim que tiver vaga este ano. O Parque Ribeirão
chama, mas nunca deve ser atendido nos
isto acontece. Mães do Parque Ribei- consegui vagas para meus rezinha Souza, 33 anos, re-
próximos anos. rão reclamam da falta de filhos”, diz Ana Alice Medei- clama que as creches do
vagas em creches no bair- ros, 24 anos. bairro oferecem vagas para
ro. Este ano, a Justiça de- Sem vagas na creche, quem já tem filhos no colé-
terminou que a Secretaria a manicure Maria Cecí- gio. “Nunca tem vaga”.
da Educação de RP matri- lia dos Santos trabalha em O secretário de Educa-
Terezinha culasse nas creches todas casa para não deixar as ção José Calegari Lopes afir-
Souza, as crianças de zero a três crianças sozinhas. “Se não ma não ser possível atender
33 anos, anos do bairro. fosse isso passava fome.” a demanda do bairro es-
doméstica “Já arrumei emprego Maria das Graças da te ano.
e não pude ir porque não Silva, 47 anos, leva o ne- “Estamos construindo
to até a creche do bairro creches nos locais mais ne-
Solar Boa Vista. “Só lem- cessitados e o Parque Ribei-
José Calegari Lopes, bram da gente em época rão Preto deve ser atendido
secretário de Educação de eleição.” A doméstica Te- nos próximos anos”, diz.
de Ribeirão Preto
1 A CiDADe Maio de 2008

Somos do Parque
Muitos eu até ensino porque eles
precisam aprender a fazer alguma coisa.

Ditinho reina entre magrelas


B
enedito Correia de no porque eles precisam ciou a faculdade de peda-
Moura, 38 anos, é um aprender a fazer alguma gogia. No entanto, a estabi-
comerciante em as- coisa”, afirma. lidade não foi suficiente pa-
censão no Parque Ribeirão A oficina foi montada ra segurá-la longe do casa-
Preto. Ele ficou desempre- em um salão na frente da mento.
gado há 10 anos. Sem pers- casa do comerciante, que “Ele me escreveu e disse
pectiva, começou a remen- conta com a companhia da que não agüentava a distân-
dar câmaras de ar, em uma esposa Gilcéia de Freitas cia. Larguei tudo para casar
casa do recém-criado con- Moura, 34, pedagoga. e hoje não me arrependo,
junto habitacional Jardim Ela conheceu Ditinho deveria ter feito antes”, disse.
Progresso. “Hoje conserto durante uma visita a Ri- O casal tem uma filha,
20 bicicletas diariamente e beirão Preto e se encan- Gleiciane Moura, de 3 anos,
ainda vendo peças”, afirma. tou com a simpatia do ra- a alegria da casa. “Ela me
Os negócios cresceram. O paz. De volta a Alagoas, ela abraça, é carinhosa e é a
dia todo a loja fica repleta de se limitou a trocar cartas paixão da minha vida. Fa-
jovens que observam o con- de amor com ele duran- ço tudo por ela e os negó-
serto dos equipamentos ao te cinco anos. Nesse perí- cios vão crescer para ela ter
som de música evangélica. odo, passou em um con- uma vida melhor do que eu
“Muitos eu até ensi- curso para professora e ini- tive”, disse Ditinho. duas paiXões Ditinho com a filha Gleiciane: ‘faço tudo por ela’

Já sonhei muito com o sucesso, mas fico


feliz só com o reconhecimento da cidade.

e Jesuíno, entre hortifrútis


H
á 28 anos, Jesuíno lopeira” e “Menino da Por- já abriu shows de Carmem
Vicente da Silva, 72 teira” e atrai a atenção dos Silva, Chitãozinho e Choro-
anos, canta nas fei- freqüentadores. ró e Mato Grosso e Matias
ras livres de Ribeirão Preto. Silva já gravou o CD na década de 70.
O ritmo diminuiu apenas “Sanfoneiro das Multidões” “Eles me deram força,
no ano passado, quando ele e afirma que fica feliz de falavam o meu nome e aí
passou a fazer apenas a fei- ser conhecido apenas em o povo também começou
ra da Vila Virgínia, aos sá- Ribeirão Preto. “Já sonhei a me ajudar. Na feira, eles
bados, por causa de um fe- muito com o sucesso, mas me dão verduras e frutas e
rimento na perna. fico feliz só com o reconhe- em algumas firmas onde eu
“Não conseguia mais an- cimento da cidade”, diz. canto, eles também me dão
dar como antes e tive que Ele afirmou que come- uma caixinha”, diz.
sossegar um pouco, mas só çou a fazer sucesso graças a A dona-de-casa Rosalina
Deus sabe a falta que eu ajuda dos locutores das rá- da Silva é da Vila Tibério, e
sinto”, afirma. dios AM de Ribeirão Pre- para ela, Silva é o represen-
Morador da rua Júlio de to. Ele participou dos pro- tante do “verdadeiro” artis-
Mesquita, na divisa entre gramas dos prefeitos Wel- ta.
Vila Virgínia e Parque Ri- son Gasparini, e dos políti- “Sempre vi ele cantando e
beirão Preto, há quase 50 cos Vicente Seixas, Sebas- fico admirada da disposição
anos, ele vai para as feiras e tião Xavier e Wilson Toni e dele para estar sempre na fei-
entre legumes e frutas Jesuíno, 72, solta a voz nas feiras canta canções como a “Ga- de José Carlos Caparelli e ra, faça sol ou chuva”, diz.
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1 A CiDADe Maio de 2008

tudo dá
cred

Iolanda, o terço, a
oração e a benção
para quem precisar
Tirar o mau-olhado, quebran- em movimento constante,
te, livrar dos males. É quando ela inicia a bênção com uma
entra em ação a benzedeira oração. Na seqüência, oferece
Iolanda de Souza Dias, 71. Ela o ato ao Divino Espírito Santo.
mora na rua Ângelo Egydio Faz o sinal da cruz com o terço
Pedreschi e atende de segun- e finaliza a bênção.
da a segunda. “Geralmente, não precisam
A maioria das pessoas vai à nem me falar qual o problema,
casa de Iolanda para pedir pois percebo”, diz ela, que não
melhora no relacionamento cobra para fazer o trabalho.
homem da terra Jacob Ciscati, 77 anos: ‘como a praça vai demorar, plantei ervas medicinais’ familiar, abandono de vícios e “Não cobro para benzer, pois

Mãos que curam


a cura de doenças. já recebo o bem de Deus.”
Eliana de Souza Dias, 41, uma Iolanda diz ser católica e es-
das filhas de Iolanda, diz que pírita. Descobriu sua vocação,
a mãe já chegou a atender após um desmaio.
50 pessoas num mesmo dia. “Uma das minhas irmãs falava
“Não há um dia em quem ela para os meus pais que teriam
não benza”, diz. Até mesmo uma filha com o dom da
tem plantas para curar males do fígado, para vereadores, como Fátima Rosa vidência”.
(PT) buscam as bênçãos dela. Dona Iolanda gosta de
expectorar e até mesmo para inflamações “Minha avó mal tem tempo receber as notícias de que as
para almoçar”, diz a neta pessoas se curaram, livraram-

J
acob Ciscati, 77 anos, pai até instalou um chu- Moretti visitou o jardim de Karoline, 11. se de vícios e estão se relacio-
transformou parte da veiro, ligado a uma man- Jacob. Ela alerta que a ar- O ritual dura entre 5 e 10 mi- nando melhor com a família.
praça Dr. Sylvio Ribei- gueira de água, para as ruda é tóxica e não deve nutos. Com o terço nas mãos, “Fico feliz de ver o outro feliz.”
ro, na frente da Cadeia Fe- crianças se molharem em ser ingerida. “O que o se-
minina, em uma farmácia dias de calor”, diz. nhor Jacob faz aqui é mara-
ao ar livre. Plantou ali er- A plantação de ervas vilhoso, um exemplo. Essa
vas medicinais. É referên- medicinais começou quan- ação ajuda a resgatar as es-
cia no Parque Ribeirão. do ele ganhou mudas. Ela pécies, além de a comuni-
“Como vai demorar reúne mais de quinze espé- dade poder usufruir delas”,
muito para se construir cie do cerrado e raridades diz Áurea.
uma praça aqui, cultiva- como a hortelã baiana. Áurea diz que a maioria
mos e cuidamos da terra Jacob diz que muita das espécies de ervas fito-
onde moramos”, afirma. gente procura as ervas, pa- terápicas está em extinção
O local é conhecido co- ra tratamento ou preven- na região de Ribeirão.
mo “sítio do Jacob”. ção de doenças.
O catador de sucatas Mas a campeã é a ar-
Cícero Ciscati, 49, filho ruda, usada em ritos reli-
de Jacob, conta que todos giosos.
brincam na área verde. “O A farmacêutica Áurea

Além do jardim
RANkiNg DAS eRvAS DO PARqUe
Em Extinção As MAIs
Jurubeba do cerrado pRocURAdAs:
Solanum paniculatum L
Alivia problemas do fígado Arruda - Ruta graveolens L
Usada em ritos religiosos
Poejo - Mentha pulegium
Incomum em Ribeirão
Usado em chás, tem ação expec-
( Típica do Nordeste)
torante
Hortelã baiana Folha da batata doce - Ipomoea batatas
Coleria aromaticus
Gargarejo com a folha tem ação antiinfla-
Mascar a folha para expectorar
matória
secreções. Usada na culinária árabe.
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direito básico

Por uma unidade de saúde


comunidade fez abaixoassinado reivindicando uma ubds; prefeitura diz não ter recursos
cred

M
oradores do Parque que não foi suficiente para
Ribeirão Preto fize- atender a população.
ram um abaixo-as- “Melhorou, mas ainda
sinado, no início do ano, não é o ideal”, diz.
pedindo a construção de Segundo Oswaldo Cruz
uma Unidade Básica Distri- Franco, secretário de Saú-
tal de Saúde no bairro. de, não existe projeto para
A UBS fica aberta até às a construção de UBDS no
22 horas e não tem plantão bairro.
aos domingos. “Por enquanto, a da Vi-
“Precisamos de pelo me- la Virgínia atende o bairro
nos um plantonista no fi- e não temos recursos para
nal de semana para atender outra UBDS”, diz.
os casos mais graves”, dis- Atendimento à saúde é
se Claudia Aparecida Bevi- direito do cidadão, previsto
lacqua. na Constituição do país.
O presidente da Associa-
ção de Bairros, Zaqueu Oli- Aprenda a fazer uma
veira, disse que a UBS pas- buchada de bode
a receiTa esTá na PáGina 18
emergências Cláudia Aparecida Bevilacqua diz que o Parque precisa de pelo menos um médico-plantonista sou por uma reforma, mas
18 A CiDADe Maio de 2008

Tá na mesa
A carne de bode vem de Ipirá [cidade próxima ARECEITADABAIANA

à Feira de Santana, a 1.800 quilômetros de RP]. Buchada de bode


GicéLia mendes da siLva, 44 Ingredientes:
a baiana que dá nome ao bar • 1 bucho de bode
• 1 tripa de bode
• 1 mocotó (1 pé de bode)
para quem gosta • 1 língua

O dia da buchada
•Vísceras de um bode (fígado e rins)
• Vinagre
• Suco de 1 limão

Para o molho
• 8 tomates
• 3 cebolas
• 5 dentes de alho
baiana abre restaurante no parque e oferece carne de bode e comidas • 1 pimentão verde
• meio maço de coentro
típicas do nordeste, como sarapatel e moqueca; mas tem frango também • meio maço de cebolinha
• pimenta do reino
• sal

H
á cinco meses, o Par- célia conta que, semanal- • colorau
que Ribeirão passou mente, compra uma mé-
Modo de fazer:
a ter diariamente um dia de 40 quilos de carne de Limpe bem todas as vísceras,
bar que oferece comida tí- bode que vem de sua cida- retirando a cartilagem e o sebo.
pica baiana. O Bar da Baia- de natal, a 1.800 quilôme- Limpe o bucho, lavando-o várias
na, como é conhecido, fica tros de Ribeirão. vezes e esfregando o limão por
na avenida Oswaldo Ara- “Meu irmão, Rosinaldo, dentro e por fora. Deixe-o de
nha, em frente à rotatória, a tem uma fábrica de cartei- molho em água fria com o suco
praça Dr. Sylvio Ribeiro. ras lá e vem para Ribeirão de 1 limão por pelo menos 5
A proprietária é a baiana toda semana para vender horas. Pique em tirinhas as tripas
Gicélia Mendes da Silva, 44, seus produtos. Ele é quem e demais vísceras. Tempere-as
natural de Ipirá, município traz a carne para mim, pois com sal, pimenta-do-reino, alho,
próximo à Feira de Santa- aqui não se encontra igual cebola, cheiro verde. Junte o
na, no interior da Bahia. para a culinária típica baia- vinagre e deixe tomar gosto.
Buchada de bode, sara- na”, diz. Rechear o bucho com a mistura,
patel, carne de sol, coste- A baiana conta que, enrolar bem firme e amarrar com
la de porco e de boi, fran- eventualmente, quando o a tripa. Escaldar em água bem
go assado são oferecidos irmão não viaja, ela solicita quente. Escorrer e temperar com
sal e pimenta. Em outra panela,
diariamente no local. Além o frete para vans que fazem refogue o pimentão, tomate
disso, segundo Gicélia, às viagens entre a Bahia e Ri- a cebola e o alho, até formar
quartas fazem moqueca de beirão Preto. molho. Juntar o bucho recheado
peixe ao molho e, aos finais Alguns moradores do e cozinhar sob pressão por pelo
de semana, feijoada. bairro afirmam gostar de menos 25 minutos. Servir com
A base principal dos comer os pratos típicos co- arroz branco, vinagrete e farinha
pratos mais requisitados no mo opção de petisco acom- de mandioca. Acompanha pinga.
bar é a carne de bode. Gi- panhado por cerveja. cardápio para todos Gicélia, a Baiana: R$ 5 o prato de buchada
Maio de 2008 A CiDADe 1

CONSTRULIDER
A REDE DA CONSTRUÇÃO
Modas e acessórios

Av. Luzitana, 645 - Parque Ribeirao

DISK
ENTREGA
3637-2294

ra charia
r
Bo lão
Ba
20 A CiDADe Maio de 2008

Se eu não estivesse aqui estaria na rua


aprendendo o que não deve.
TaLiTa crisTina araújo, 13

uma conquista

Dos livros ao tear, entidades


constroem a cidadania ‘Crescer Tecendo’
A Seob oferece aos alunos
educação complementar dá perspectiva às crianças e aos pais aulas de tear onde são feitos
tapetes, caminhos-de-mesa
e toalhas. A venda desses

A
s entidades benefi- produtos proporciona verba
centes integram-se à para entidades e muitos ex-
comunidade do Par- alunos são chamados para
que Ribeirão Preto. Socie- ajudar e com isto também
dade Espírita Obreiros do ganham um complemento
Bem (Seob), Cesomar e Nú- na renda mensal.
cleo São Francisco de Assis “Estou aqui desde a funda-
atendem crianças carentes ção da entidade e me sinto
da comunidade e oferecem gratificada, principalmente
a elas uma educação dife- quando nossos ex-alunos
renciada. vem nos visitar e eu percebo
“Deveria ter mais enti- que eles seguiram o que
dades assim no bairro para ensinamos”, disse Rosa
que todos tivessem oportu- Maria Siqueira Ferreira, 69,
nidade de freqüentar e não professora de tear.
apenas aqueles que tiram É o caso de Davi Newton
boas notas”, sugere Zaqueu Cardoso, 16 anos, que ficou
Oliveira, presidente da As- uma semana na sociedade
sociação de bairros. ajudando a fazer uma enco-
A Seob foi criada na dé- menda de tapetes para uma
cada de 80. Distribuía en- grande empresa de Ribeirão
tão alimentos e medica- Preto.“Estou no segundo
mentos à população. O tra- colegial e aprendi tudo o
balho com crianças come- consciência Crianças brincam na Obreiros do Bem: o trabalho é centrado na educação complementar
que eu sei aqui. Adoro tecer
çou na década de 90. e complementa a renda da
A entidade sobrevi-

O Parque na internet
minha família”, afirmou.
ve com a ajuda dos sócios, Para Daniela Martins Olivei-
verba da prefeitura e vo- ra, 12 anos, aprender a arte
luntários. O local mais pro-
curado é a biblioteca que
conta com o apoio do Ins-
‘História da Biblioteca’ de tecer não foi uma tarefa
fácil, mas hoje ela agradece
as horas de tentativa frustra-
tituto EPTV. São 4,5 mil li- O livro História da Biblioteca quer coisa, basta se dedicar”, ela disse que pensa em das em cima do tear.
vros e quatro computado- com ilustrações e história diz Rafael Santos, 12 anos, seguir a carreira de desenhis- “Hoje, eu não sei pensar
res. “Damos reforço de alfa- dos alunos da Sociedade que usa a biblioteca diaria- ta.“Quem sabe achei o que em outra coisa. Me distrai
betização, aulas de leitura e espírita Obreiros do Bem foi mente para fazer pesquisas. poderei ser no futuro”, disse. muito”, afirmou. O próximo
redação. É gratificante para lançado no ano passado com “Pesquiso tudo aqui”, disse o Thaylan Santos de Oliveira, passo da entidade é montar
nós”, disse Juliano Ribeiro, o apoio do Instituto EPTV e menino. 12 anos, também gostou um curso de culinária para
26 anos, estagiário. fez parte do projeto“Abrindo Talita Cristina Araújo, 13 da experiência.“Eu nunca ensinar os alunos o ofício de
Talita Cristina Araújo, 13, a Biblioteca. anos, fez a ilustração que pensei que fosse capaz de garçom, barman ou copeira.
da sétima série, usa a biblio- “Fazer o livro mostrou que a acompanhou o texto de desenhar tão bem. Minha fa- Projeto com o curso já foi
teca. “Se eu não estivesse aqui gente é capaz de fazer qual- Santos. Após a experiência mília ficou orgulhosa”, disse. enviado à Petrobras.
estaria na rua aprendendo o
que não deve”, afirmou.
Maio de 2008 A CiDADe 21

âncora firme

Cesomar, porto seguro


para o homem de amanhã
irmãos maristas atendem 450 crianças e adolescentes no bairro; nota é critério de admissão

O
Cesomar, o Centro cial, apontados através dos
Social Marista Irmão dados do Censo 2000, co-
Rui Leopoldo Depi- mo uma das prioridades na
né, inaugurado em novem- urgência de ações sociais
bro de 2000, atende 450 para melhoria da qualida-
crianças e adolescentes de de de vida de seus mora-
6 a 17 anos. Para ser acei- dores.
to na instituição, elas pre- A instituição foi monta-
cisam freqüentar a escola da com jardins, gramados,
e ter boas notas. Os alunos galpões para oficinas, sa-
podem participar de proje- la de aula, capela, anfitea-
tos teatrais, leitura, comu- tro, biblioteca, centro de In-
nicação e informática. formática, cozinha, refeitó-
“É uma das melhores rio, quadras poliesportivas,
coisas que já aconteceu ao campo de futebol, pista de
bairro”, diz Ângela Maria atletismo e prédios admi-
dos Reis Soares, que vive nistrativos e de apoio.
no Parque Ribeirão Preto Todo o trabalho é ofere-
há 30 anos. cido gratuitamente à popu-
Para implantar o Ceso- lação do complexo Parque
mar, a instituição Marista Ribeirão Preto: Cohab Adão
fez uma pesquisa em toda do Carmo, Jardim Centená-
a cidade para verificar qual rio, Jardim Progresso, Jar-
o bairro que mais necessi- dim Branca Sales, Jardim
tava de atendimento social Marchesi, Jardim Maria da
e o Parque Ribeirão Pre- Graça e o próprio Parque
to apresentou altos índices Ribeirão Preto.
de exclusão, analfabetismo,
baixa remuneração, condi-
ções insalubres de mora- As condenadas dão lição de
dia, entre outros indicado- vida em projeto de teatro
veja onde achar na PáGina 20
educação para todos Estudantes do Parque Ribeirão no Cesomar: teatro, leitura, comunicação e informática res de vulnerabilidade so-
22 A CiDADe Maio de 2008

a vida como ela é


fotos cesar muLati/divuLgação
A cadeia
Das rebeliões
sangrentas ao
escândalo da
pizza e do chope
A única penitenciária
feminina de Ribeirão fica
no Parque Ribeirão Preto,
na rua Alfredo Condeixa,
1.666. De acordo com
informações da SAP (Se-
cretaria de Administração
Penitenciária), a unidade
prisional foi instalada no
bairro em 24 de março de
2003.
Antes disso, o local
abrigou a cadeia pública
(masculina) de Vila Bran-
ca que foi inaugurada em
1976. O Parque Ribeirão
improviso Detentas participam de encenação dirigida por Bucci: ‘escrevo em cima daquilo que elas me trazem a cada semana’
Preto teria sido escolhido
para instalar a cadeia por

O teatro das 12 condenadas


ser um bairro relativa-
mente periférico e pouco
habitado na época.
No período em que
funcionou a Cadeia de
Vila Branca, contam
projeto do diretor magno bucci tem repercussão nacional ex-funcionários, a cadeia
passou por diversas re-
beliões. Na mais violenta

D
oze mulheres de 25 “O meu trabalho tem o obje- O diretor afirma que o
delas, em 1994, foram
a 30 anos, que cum-
prem pena na peni-
tivo de dignificar um pouco
a vida delas lá dentro e pon-
trabalho extrapola o teatro
e toma outras dimensões.
Meu trabalho quatro dias de motim. O
tenciária feminina de RP, to. Se servir para algo além Quando é possível, trans- tem o objetivo investigador Luiz Carlos
Molina foi mantido refém
no Parque Ribeirão, parti-
cipam do Projeto Teatro Fe-
disso, é lucro”, diz.
Bucci explica que traba-
forma o teatro em outras
linguagens, como a foto-
de dignificar durante toda a rebelião.
minino, idealizado e reali- lha com o teatro de impro- grafia e textos, para exposi- um pouco a Dois presos morreram.
Há também outro
zado pelo diretor de teatro
Magno Bucci.
viso, uma técnica, diz, que
demanda a adaptação de
ções, artigos e palestras fo-
ra da penitenciária.
vida delas lá caso famoso, em 2002,
O projeto existe desde textos, feita por ele, para a Bucci é voluntário e con- dentro e ponto. quando presos pediam
e recebiam dentro das
2006. Bucci conta que pen- realidade de suas alunas. ta com apoio da Unaerp
celas pizzas e chope. A
sou no projeto para atender “Escrevo em cima daquilo (Universidade de Ribeirão maGno Bucci superlotação e as condi-
com exclusividade às reedu- que elas me trazem a cada Preto) para executar seu diretor de teatro ções precárias do prédio
candas do sistema prisional. semana”, conta. projeto.
teriam culminado no
pedido de fechamento da
cadeia. Foi, então, trans-

Para sacudir o esqueleto formada em penitenciária


feminina.
Todos os sábados, tem baile eventos acontecem ao ar f. L piton

Funk no final da avenida Cás- livre e são gratuitos.


per Líbero, no Parque Ribeirão Às sextas-feiras, uma das ro-
Preto. O evento começa às 20 tatórias da entrada do bairro,
horas e vai até o sol nascer. A na avenida Cásper Líbero
animação é do DJToninho. transforma-se em ponto de
No mesmo local, toda sexta- encontro de jovens, moto-
feira, a partir das 20h, quem queiros, roqueiros e outras
anima a festa dos aposen- tribos do bairro. É parada
tados é o Zezinho do Forró. obrigatória para a moçada
O baile vai até as 2h. Os dois mais jovem.
alcance Cena do espetáculo das detentas: trabalho extrapola teatro
Maio de 2008 A CiDADe 2

em nome do pai A prova weber sian

É uma ironia o nome Jardim Progresso,


porque no bairro não tem praças
Padre joão ríPoLi

Padre João Rípoli eXemplo Adelina exibe seus troféus: ‘nunca tive dor’

virou referência
‘Treinada por Deus’, Adelina
garimpa troféus e medalhas
Adelina da Silva Ferreira, troféus”, diz.
72 anos, atleta do Parque No domingo, dia 25 de

O
padre João Rípoli é mento para a reforma dos “A maioria dos mora- Ribeirão Preto, começou a maio, às 8h30, as ruas do
uma das referências prédios. dores é gente séria que sai vida como mensageira de Parque Ribeirão trans-
do Parque Ribeirão. “Hoje em dia, estou en- muito cedo e volta tarde do um capitão, foi garimpei- formam-se em pista para
Hoje, é pároco da igreja do volvido em muitos projetos trabalho”, diz. ra no rio Sapucaí e hoje a prova atlética da 5ª
Jardim Progresso. e não tenho mais condições O padre diz que o poder conquista medalhas e Corrida da Solidariedade,
Ele conta que, quando físicas de fazer o que fiz”, diz. público abandonou o bair- troféus em campeonatos promovida anualmente
chegou ao Parque, há 20 Há no bairro as igrejas ro. “O Jardim Progresso, por de corridas de todo o país. na região.
anos, se deparou com igre- N. S. de Lourdes, Jesus Cru- exemplo. É uma ironia es- Com disposição de dar O percurso é de 8 quilôme-
jas em estado de abandono. cificado, São Brás, N. S. da se nome. Os demais bair- inveja em qualquer tros e passa pelas princi-
Moradores testemu- Penha, N. S. do Jubileu Mãe ros serem chamados de jar- adolescente, ela levanta pais vias do bairro. A lar-
nham que o padre botou a da Divina Graça e a capela dim também, porque não todos os dias e vai para gada será na rotatória das
mão na massa, misturou ci- dos irmãos maristas. há praças aqui”, diz. o campus da USP correr avenidas Cásper Líbero e
e garante tem o melhor Luzitana. A corrida passa
treinador do mundo. pelas avenidas Monteiro
“Sou treinada por Deus. Lobato, Pio XII e Caramuru.
Sempre corri, faço A renda arrecadada será
exercícios e nunca tive revertida para entidades
um problema, uma dor filantrópicas. A região
sequer”, afirma. recebe atletas da cidade
Dona de 50 medalhas e até gente de renome
e 11 troféus, um deles internacional. De acordo
conquistado durante ma- com informações da or-
ratona de 42 quilômetros, ganização, para este ano
em Blumenau, ela sonha está confirmada a presen-
com um patrocínio.“Para ça do corredor Anoé dos
comprar um tênis melhor, Santos Dias (terceiro lugar
pagar hospedagem. na São Silvestre de 2007).
Represento bem nossa A inscrição custa R$ 15
cidade”, afirma Adelina. e deve ser depositada
Ela começou a correr há em conta poupança do
25 anos e nunca mais Banco do Brasil e 2 kg de
parou. Os cinco filhos e os alimentos não-perecíveis.
onze netos dão a maior A organização espera
força para a atleta.“Eles a participação de 400
só me incentivam e me atletas divididos em sete
colocam para a frente. categorias masculinas,
Sou muito feliz com a cinco femininas e duas
sacerdócio O padre João Rípoli: ‘é uma ironia chamar de jardim, um bairro que não tem uma praça sequer’ minha família e os meus infantis.

jARDIM PAuLISTA
Na próxima edição, a história do bairro que nasceu de uma fazenda de café
2 A CiDADe Maio de 2008

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