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NOVENA

da
MILAGROSA G
do
SENHOR
ECJCJE - HODO

que se venera no mosteiro de


Nossa Senhora da Esperança
da Ilha de S. Miguel

PONTA DELGADA

1979
Nihil obstat.
A ngrae, 24 aprilis 1933.

Botelho, cens.

lmprimatur

Angrae, 24 aprilis 1933.

t G. A. Ep. Angrensis

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()ração preparatória que se repetirá
todos os dias desta novena

Amor divino da minha arma, glória


eterna do meu coração, a vossos sagra­
dos Pés se prosta esta vil e ingrata cria­
tura, reconhecendo-Vos e adorando-Vos
por Deus, e por Senhor Supremo, ainda
nesse lastimoso estado, a que por amor
dos homens estais reduzido. Oh l e como
está desfigurada a vossa formosura, como
está abatida a vossa grandeza, e como
está humilde a vossa Magestade I Esta é
a transformação que na vossa inocência
obrou a minha má vida; a este estado Vos
reduziu a minha culpa; pois tanto me amais
que pelos meus pecados padeceis. Mas.
Deus e Senho,r meu, Jté agora fui ingrato,
até agora fui desagradecido, porque não
puz os olhos no muito que Vos devo. EIT;l-

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pregava os meus olhos na terra, e como


a terra mos trazia cegos para Vos não
ver, por isso Vos não soube amar. E quem
Vos verá nesse doloroso estado, que Vos
não ame arrependido? Eu pelo menos con­
fesso que me atraistes o coração para
amar-Vos, depois que cheguei a ver-Vos;
quero contemplar essas penas que repre­
sentais, para que a minha alma tanto se
er)terneça das vossas finezas, que não tor­
ne a Ofender-Vos com minhas culpas. Este
é o fim para que chego a Vossos Pés; e
pela benignidade que em Vós reconheço
espero que ilustrareis o meu entendimen­
to, e inflamareis a minha vontade, para
que este meu desejo se faça frutuoso e
Vos seja grato. Ámen.

Humilclade
Considera como o Filho Unigênito de
Deus quis ser neste Passo tão cruelmente
atormentado para nele\nos dar um univer­
sal exemplo; pois quantos são os martírios
que nele padecem, tantos são os docu7

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mentos com que nos instrue. Que outra


coisa é, que o verdadeiro Deus, o Senhor
dos Céus, o Criador da Terra e o Autor
da natureza, a cujo aceno o Sol se move,
a cujo império a Terra treme, a cujo im­
pulso o Mar se abate. a cuja vista todo o
Universo se humilha e o mesmo inferno
se ajoelha, sendo respeitado de Anjos, e
servido dos Celestiais Espíritos, e está tão
desprezado dos mais infames verdugos,
tão afrontado dos mais perversos inimigos,
e tão escarnecido dos mais cruéis algozes,
senão instruir-me, e ensinar-me, que sen­
do eu uma criatura, por natureza vil, e por
condição frágil, toda pó, toda cinza e toda
nada, não devo elevar-me e ensoberbe­
cer-me, mas à sua imitação confundir-me,
reconhecendo que, se assim se humilha a
Magestade Suprema, se deve também hu­
milhar a criatura abatida; se assim é hu­
milde o Senhor, com mais razão o servo
o deve ser.

Reze ou cante as jaculatórias que se se­


guem, hoje e todos os dias da novena; e ,10 fim

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de cada uma o Padre Nosso, e a Ave Maria


e Glória Patri.
1 .a

Pela vossa formosura,


Meu adorado Senhor,
Fazei minha alma formosa
Ardendo no vosso amor.
2. a
Pelas vossas cinco chagas
Vos peço, meu Deus formoso,
Para este Reino a paz,
Já que sois Pai amoroso
3.ª
A todos quantos veneram
A vossa Imagem formosa,
Dai-lhes nesta, e noutra vida
Uma sorte venturosa.
Concluindo com a seguinte :
Oração
Deus, e Senhor meu, que com o vos­
so exemplo me ensinais a mais perfeita

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-- 7 ,..-

Humildade, como fundamento e base da


virtude até agora foi a minha soberba tão
altiva, porque não olhava para a vossa Hu­
mildade tão heróica, mas de hoje em dian­
te, atraído de tão alto documento, faço
firme propósito de me humilhar ern tudo.
E como pode elevar-se, ou que tem de
que ensoberbecer-se quem Vos chegou a
agravar 7 Só tem que se confundir quem
Vos chegou a ofender I Se as minhas cul­
pas me precipitam no abismo, como pos­
so considerar-me elevado? Se os meus a­
fectos são terrenos, como podem os meus
pensamentos ser altivos? Se as minhas
palavras são da Terra, e as minhas obras
tão inferiores, como me poderei exaltar
agora, que as chego a reconhecer? Não.
Senhor, não o haveis Vós de permitir; an­
tes com a vossa graça me haveis de aju­
dar, para que converta a minha altivez em
abatimento; a minha presunção em conhe­
cimento próprio, e a minha soberba em hu­
mildade profunda, para que assim imite o
documento que me dais neste doloroso

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Passo, e mereça por este meio um eficaz


auxílio, com que persevere em vosso di­
vino agrado. Ámen.

SEGUNDO DIA
Paciência
Considera como o pacientíssimo Se­
nhor, no meio de tantos tormentos, tão
constantemente se portou, como se os
mesmos escárnios fossem obséquios. Aque­
la sacrílega ousadia, com que se atreveu
a barbaridade insolente cuspir na sua Di­
vina Face, afeando o espelho sem man­
cha, em que se desejam ver os Espíritos
Angélicos; aquela zombaria, com que o
saudaram Rei, dando-lhe golpes com a mes­
ma cana que constituíram cetro, para si­
gnificarem que era vão o seu Reinado,
não alteraram a sua invictíssima Paciência,
nem puderam mover a sua constância;
mostraram, sim, aqueles toques os quila­
tes da sua Paciência, para que à vista dela

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seja nosso sofrimento também heróico,


quando Deus nos tocar com algum traba­
lho, ou quando nos suceder algum infor­
túnio, acomodando-nos a sofrê-lo anima­
dos com este exemplo Santíssímo.

Três jaculatórias, etc., como na pág. 4,


e a seguinte

Oração
Amabilíssimo Senhor meu, adoro nes­
sa vossa Imagem Sacrossanta essa Pa­
ciência invicta com que sofreis tantas a­
frontas, e com que padeceis tantas injú­
rias; pois sendo por essência impassível,
assim Vos sujeitais aos escárnios, assim
Vos acomodais com os opróbrios, e assim
sofreis os tormentos, como se não fôs­
se vossa a Divina Natureza, ou como
se os merecesseis por alguma culpa e
sendo eu o que Vos ofendo, sendo eu o
que devia padecer por meus pecados,
tão mal sofrido sou, tão pouca paci­
ência tenho, que com qualquer leve

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tribulação me aflijo, com qualquer ténue


trabalho me impaciento, sem reparar e sem
advertir, que assentam bem as tribulações
sobre as minhas culpas e são os meus
trabalhos justos castigos nas abomináveis
ofensas com que vos agravo. Mas, meu
Senhor, nunca mais Vos hei-de ofender,
e com a vossa graça nunca mais Vos hei­
de agravar; antes à vossa imitação hei-de
padecer em todas as ocasiões as molés­
tias que Vossa Divina Magestade me per­
mitir, para que se logre em mim o fruto da
Paciência, que me ensina essa vossa Ima­
gem dolorosa, e por meio deste exercício
mereça a felicidade de Vos gozar eterna­
mente. Ámen.

TERCEIRO
Caridade
Considera a ardentíssima Caridade
em que se abrasa aquele Amorosíssimo
Senhor, quando pelos homens tanto pa-

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dece. Este foi o mais empenhado lance,


em que a sua Caridade se acreditou por
excessiva, e em que se coroou por extre­
mosa. Pintaram os antigos ao amor huma­
no despido e coroado; e esta é a forma
em que agora se representa o Amor Di­
vino, porque o amor dos homens o faz
estar coroado, e o faz estar despido. Os
espinhos, com que se cobre a sua Sacros­
santa Cabeça, são a Coroa com que a
sua Caridade triunfa, porque neles se pu­
blica o excesso com que nos ama. Nós
coroamo-nos de rosas para o ofender, e
o Senhor foi coroado de espinhos para
nos amar; nós vestimo-nos com demasia
em sua ofensa, e o Senhor é despido com
afrontosa ignomínia para nos merecer a
preciosa vestidura da divina graça. Mas
já que a sua Caridade se mostra tão ar­
dente, mostre-se a nossa igualmente abra­
sada, para que lhe não falte tão merecida
correspondência.

Tr�s jaculatórias, etc., e a seguinte:

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Oração

Amabilíssimo Deus, e Senhor meu,


que nesta Figura sem figura representais
à minha alma a Caridade com que me
amais, e o incendido amor com que me
quereis; e assim mesmo tão pouco pode
comigo essa força, que rende a minha
maldade obstinada! Tão pouco pode essa
suave violência, que não atrai a minha re­
beldia I Bem conheço eu que é ela pode­
rosíssima para me atrair, e também para
me render, mas está o meu coração tão
pegado ao amor terreno, e tão cheio de
amor mundano, que não dá lugar ao Vos-
so Amor Divino. E tanta a tibieza e frial-
dade que tem ocupado a minha alma, que
nem ainda cobra calor à vista de tamanho
incêndio, como me representa esse doloroso
estado, a que o amor Vos tem reduzido.
Mas se Vós sois fogo consumidor, porque
me não consumis, e porque me não abra­
sais, pegando à minha alma esse mesmo
fogo de amor, que viestes trazer à Terra?

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Ateai, pois, Senhor, ateai no meu coração


o fogo da Caridade ardente, para que Vos
ame como merece essa fineza que obrais,
quando por meu amor tanto padeceis; e
também para que amando ao meu próxi­
mo, como a mim mesmo, por amor de Vós
seja fiel imitador desse Vosso excesso, e
não acabe de Vos amar com o fim da vida,
antes depois dele Vos an1e eternamente
na Glória. Ámen.

QUART:0 DIA

ediênc1a

Considera a heróica Obediência que


neste Passo exercita o Salvador do Mun­
do. Ele é o que por essência é Senhor
de tudo, e superior a todos, independen­
te e absoluto, a quem o Universo e a
quem o Empíreo aclama e reconhece por
Autor Supremo; e não obstante esta
Grandeza, e esta Magestade, e esta

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Independência, e esta Soberania, tanto se


abate e tanto se humilha, como se fosse a
mais vil criatura I Ao mínimo império dos
ministros, ao mais leve aceno dos algozes,
profundamente humilhado obedece rendi­
do, e se sujeita obediente, não deixando
de executar o que lhe mandam, inclinan­
do a Cabeça para os espinhos e cruzan­
do as Mãos para as cordas e ligaduras,
como em protestação da obediência com
que se rendia, e da reverente submissão
com que a tudo se acomodava. E que
mal concorda esta Obediência com a mi­
nha I O Senhor de tudo obedecendo aos
preceitos da iniquidade e aos ministros
da tirania, e eu desobedecendo às leis
de Deus e aos suaves preceitos do Evan­
gelho I Deus ensinando-me obediência
com o seu divino exemplo, e eu des­
prezando o exemplo e não fazendo ca­
so da obediêndia I Mas se até aqui como
cego atropelei os preceitos divinos, de
hoje em diante, com a graça de Deus,
tratarei de obedecer em tudo a olhos fe-

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chados, rendendo obediente o meu juízo em


obséquio do mesmo Senhor, que assim o
manda e assim o ensina.

Trê.'> jaculatórias, etc.� e a seguinte

G>raçã,o

Soberano Criador meu, Glória e fim


da minha alma, agora que, pondo os olhos
nessa vossa Magestade Suprema e nessa
vossa Grandeza Suma, a vejo abatida a
uma Obediência tão heróica, se confunde a
minha alma da cegueira em que até , aqui
me trouxe a minha má vida, porque deso­
bedecendo à vossa Lei, não tive outra mais
que a dos meus apetites desordenados,
que sempre me desviaram daqueles cami­
nhos por onde os Vossos conselhos guiam
os justos, rebelou-se a vontade e faltou
com rebeldia a tudo que a razão propu­
nha e a vossa divina lei mandava. Lá me
levou aos precipícios em que certamen­
te se despenham os que desobedecem

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aos Vossos preceitos; e se não fôra Vos-­


sa Misericórdia, já há muito que esta mi-­
nha malícia fôra castigada. Esperastes mi­
sericordioso, para que a minha confusão
tivesse novo motivo de arrependimento.
Eu o protesto, quanto posso; juntamente
prometo obedecer-vos em tudo, para que
pelo exercício de uma obediência exacta
mereça o prémio da vossa companhia na
Glória. Ámen.

UINTO DIA

Mansidão

Considera a rara Mansidão que res­


plandece naquele Divino Cordeiro, Cristo
Jesus Salvador nosso. Quanto mais se
empenhou a ferocidade dos ministros, co­
mo dos lobos carniceiros, contra o Cor­
deiro de Deus que veio tirar os pecados
do Mundo, tanto mais claramente se viu a
sua exemplaríssima Mansidão. Não foi

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bastante a crueldade com que neste Pas­


so o trataram, nem a zombaria com que o
escarneceram, para que a sua divina Bo­
ca se abrisse e se queixasse ou (como
justamente pudera) os repreendesse. Mul­
tiplicaram as irrisões, os despresos e os
e'scárnios; mas o Mansíssimo Cordeiro os
sofreu como se fossem obséquios. Os al­
gozes empenharam-se na tirania mais de­
clarada, e o Senhor desempenhou-se na
Mansidão mais sofrida. Os ministros da
maldade apuravam cada vez mais a sua
paixão diabólica, e o Senhor cada vez
mostrava a Mansidão mais pacífica, dan­
do-nos este divino exemplo, para que a­
prendessemos dele a ser mansos como o
mesmo Senhor nos disse. Mas não se dei­
xou persuadir a nossa maldade de tão so­
berano exemplo, porque até agora em tudo
mostrou desconhecê-lo, pois nunca chegou
a segui-lo e imitá-lo.

Três jaculatórias, etc., e a seguinte

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Oração

Amorosíssimo Jesus, Deus e Homem


verdadeiro, eu adoro e venero nesse do­
loroso estado a mansidão que represen­
tais, e me persuadis. Não pode a minha
curta caridade compreendê-la, porque to­
das as minhas potências e sentidos se
elevam, e se suspendem em admirá-la 1
Mas ainda assim, nesta mesma admiração
advirto, e nesta mesma suspensão reco­
nheço, por isso mesmo que cabalmente
não a compreendo, que é a mais rara, a
mais sublime e a mais heróica. Oh I e se eu
soubesse emitar ao menos deste modo que
chego a conhecer I Se eu soubesse ser
manso do coração, como me ensina o Vos­
so exemplo, como viveria de outro modo 1
Mas até agora não soube; de hoje em dian­
te, com a vossa graça, de Vós mesmo
hei-de aprender e seguir o exemplo que
me dais para Vos imitar, para que desta
sorte mereça nesta vida o prémio que pro-

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meteis aos mansos, e na outra a felicida­


de dos bem-aventurados. Ámen.

EXTO DIA

Pobreza

Considera a grande Pobreza, a que


neste Passo se representa reduzido o Se­
nhor de tudo; Aquele mesmo, em cujas di­
vinas mãos depositou o Eterno Pai os seus
Tesouros, e em quem estão verdadeiras
riquezas. eternas e inexauríveis; Aquele
mesmo Senhor, que é rico para os que o
invocam e de quem procedem e emanam
os bens todos, assim neste mundo, como
no Empíreo. Aquele rnesmo que com uma
palavra criou tudo, e com a sua altíssima
Providência sustenta até o mais vil bichi­
nho, agora reduzido à maior penúria, des­
pido, pobre e necessitado. Lá está na ter­
ra, cobrindo de lã os animais que nela ha­
bitam; lá está no ar, matizando de plumas
as aves que nele voam, e lá dentro das

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águas engastando em conchas os mesmos


peixes que nelas moram. E sendo para os
viventes tão pródigo, em si está tão ne­
cessitado; sendo tão rico, por nosso amor
está tão pobre que está despido, porque
a tamanho extremo chegou o seu amor
extremo! E nem assim acaba a nossa vai­
dade e demasia de imitar a sua exempla­
ríssima pobreza.

Três jaculatórias, etc., e a seguinte

Oração
Meu Senhor e Deus meu amabilíssi­
mo, louvem-Vos os Espíritos Bem-aventura­
dos e engrandeçam-Vos os coros angéli­
cos pelo singular exemplo com que nos
quisestes instruir na suma pobreza, a que
vos quisestes abater. A minha alma se ele­
va, porque a contempla, e já atraída reco­
nhece a vossa grande Misericórdia em es­
colher este meio, para que nos servisse
de eficaz estímulo com que desapegásse­
mos os nossos corações de tudo o que é

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terreno, e os inclinássemos só a vós que


sois o Sumo Bem. Em reconhecida protes­
tação de tão grande benefício, proponho
firmissimamente desprezar as riq,uezas mun­
danas e as vaidades desta vida, caducas
e transitórias; e só ter a vossa Pobreza
pela maior delícia, e a vossa desnudez
pela melhor gala, porque não ,quero para
mim senão o que quiserdes para Vós, nem
é bem querer para si a criatura senão
aquilo mesmo que quere o Criador. Com
a vossa graça espero efectuar-se este
propósito, e que pelo seu exercício Vos
agrade de tal sorte a minha vida que, de­
pois de acabar, me permitais a posse da
eterna Bem-aventurança, em que logre a
vossa clara vista. Ámen.

S É'FI M

Considera a grande conformidade que


exercita neste Passo Cristo Senhor Nosso.

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Era vontade do Pai Eterno que Cristo re­


dimisse o Mundo padecendo, e por isso
estimava ter muito que padecer, para ter
muito em que se conformar. Daqui veio a
dizer o Profeta que o Senhor se satisfaria
de opróbrios, porque os desejava com tan­
ta ânsia como o sequioso desejava a água.
E agora satisfez o Senhor esta sede que
padeceu, porque agora satisfizeram os al­
gozes a que tinham de o atormentar. Mas
quão diversos são os desejos humanos
dos Divinosl Cristo deseja tormentos, a­
frontas e opróbrios; e os homens desejam
gostos, delícias e regalos I Cristo satisfaz­
-se quando o atormentam, e conforma.. se
muito quando o afrontam; e os homens
irritam-se, desesperam e incapacientam-se,
quando se julgam ainda levemente oprimi­
dos ou afrontados; devendo à vista de tão
rara Conformidade, fazerem-se nela seme­
lhantes ao Divino Mestre, que neste Pas­
so lhes dá tão raro exemplo.

Três jaculatórias, etc .. e a seguinte :

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Oração

Deus, e Senhor meu, cuja Divina Con­


formidade tão exemplar se mostra, que
arrebata a quem atentamente considera a
angústia, que representa essa vossa dolo­
rosa Figura I Nela chegastes a propor-nos
o ditame mais persuasivo para também nos
conformarmos no que padecermos. E quem
haverá, já agora, que deixe de se confor­
mar, vendo que Vó.s assim padeceis, e as....
sim Vos conformais! Eu pelo menos já me
ofereço a padecer gostoso e a conformar­
-me em tudo o que Vos fordes servido.
Multiplicam-se muito embora as tribulações,
aumentam-se e repitam,se cada vez mais,
que este propósito há-de ser em mim per­
pétuo; e com a vossa graça, assim como
agora o cheguei a conceber, o hei-de exe­
cutar. Ainda que a minha fraqueza repu­
gne, e a minha miserável condição se não
acomode, levantarei os olhos a esse lasti­
moso Retrato, em que Vos considero, e
logo me conformarei em tudo, de tal sorte,

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que, conforme a Vós mesmo, mereça a


glória do predestinado. Ámen.

OIJA"'O
ilêncio

Considera o admirável Silêncio com


que o Bom Jesus neste Passo fez mani­
festa ostentação da sua Divindade. A quem
não excitariam a queixar-se tantas penas
e tantas angústias, como as que Deus so­
fria para nosso remédio, e se calava para
nosso exemplo? Ocasião houve em que o
Senhor, quando sobre a sua Divina Face
descarregou a cruel bofetada um sacrílego
verdugo, rompeu o Silêncio, e lhe pergun­
tou por que o fazia. Mas agora, sendo tan­
tas as injúrias, os escárnios, as afrontas,
não consta que dissesse a mínima palavra,
ou que rompesse na mais leve insinuação
de queixa Este foi o Passo, em que pa­
rece o considerava David, quando disse que

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o Senhor, como se fosse mudo, não abria


a sua boca; mas este mesmo silêncio, com
que se cala, é o que mudamente condena
a loquacidade humana. Deus a sofrer e
a calar I E os homens, sobre não sofrerem
não se acomodam nem se calam I A pala­
vro de Deus emudecida, o Verbo Divino
em silêncio, e os homens falando tantas
palavras escusadas, ilícitas e murmurado­
ras I Oh ! se déssemos ouvidos ao que nos
diz este silêncio do Salvador, como seriam
outras as nossas palavras I como seriam
moderadas I e como seriam comedidas 1
Mas se até aqui foram tão soltas, peça­
mos ao Senhor que prenda as nossas lín­
guas para que, calando-se a tudo o que
for do Mundo, só falem o que for do seu
divino agrado.

Três jaculatórias, etc., e a seguinte

G>ração
Deus e Senhor da minha alma, a cu­
ja divina presença chego, para louvar do

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modo que posso, esse exemplar Silêncio


que em Vós admiro, e para Vos pedir que
planteis em minha alma este dom singula­
ríssimo, que tanto nos assemelha convos­
co. Bem sei que o mundo, em que estou
metido, é que me traz tão enganado, e me
impede ser silencioso, porque se vos trou­
xesse a Vós no coração, e nessas vossas
angústias andassem embebidas as minhas
potências, seriam muito poucas as mínhas
palavras. Mas, para que assim seja, tomai
posse da minha alma, e não vos aparteis
jamais dela, recolhei-vos no interior do
meu coração, que dentro dele Vos quero,
para também eu andar recolhido. Então
falarei só convosco, porque só nesta so­
lidão e retiro dissestes Vós que falarieis
ao coração humano. Falai, pois, Senhor,
à minha alma aquelas palavras que são
fogo que abrasa, ao mesmo tempo que
alenta, ilustra e vivifica. Falai que eu
ouvirei, e com o vosso auxílio me não
farei às vossas divinas vozes surdo; an­
tes responderei a todas, porque não

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quero já dar ouvidos às criaturas. Para


Vós hão-de ser as minhas atenções, e as
minhas palavras. Ao vosso obséquio as
hei-de dirigir, e ao vosso agrado as hei-de
encaminhar, para que o silêncio, que ob­
servar nesta vida, me faça merecedor de
dizer os vossos louvores eternamente na
Bem -- aventurança da Glória. Ámen.

NONO DIA
Perseverança
Considera a consumada Perseveran­
ça que o Salvador do mundo exercita e
nos persuade. De todas as virtudes foi
Mestre, porque neste Passo todas quis
exercitar, e em todas nos quis instruir;
mas a coroa de todas, que é a Perseve­
rança, essa é em que mais se empenha,
e que com maior eficácia nos ensina. No
Horto pediu ao Eterno Pai que, se era
possível, lhe dispensasse o cálice da sua
paixão amarga, porque então se lhe repre­
sentou o muito que tinha que padecer;

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mas agora que padeceu na realidade aqui­
lo mesmo, que então o fez temer, não se
quis dispensar. Continuou as obras come­
çadas com admirável Perseverança; não
disistiu da empresa, porque queria consu­
mar a Redenção humana, e deste modo
pôr às suas raras finezas a última coroa,
querendo juntamente com esta Perseve­
rança ensinar-nos qual deve ser a nossa,
não afrouxando jamais no caminho da vir­
tude começada, nem nos santos exercícios
c3 que nos dermos, ou bons propósitos que
concebermos, para que, coroando também
com perseverança e virtude, alcancemos
a coroa permitida a quem persevere.

Três jaculatórias, etc., e a seguinte

Oração
Eterno Deus e Senhor meu, que em­
penhado no amor das criaturas, assim per­
severastes padecendo, como perseveras­
tes amando; por essência Vos confes-

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sa imutável a nossa fé, e não se podia es­


perar da vossa Imutabilidade, senão esta
imutável Perseverança. Gloriosa Coroa foi
para o vosso amor, assim como a nossa
vida é utilíssimo documento, para que não
descaia do que começa, desistindo das
empresas do vosso divino agrado pelas
sugestões do demónio, que, como sabe
que na perseverança se assegura a nossa
coroa, que as suas astúcias se encami­
nham a privar-nos dela. Oh I e quem se
soubera aproveitar do vosso Exemplo, e
perseverar constantemente no começado!
Quem imitara a Perseverança, com que pa­
deceis, e perseverara em vosso santo ser­
viço, assim como Vós por meu amor per­
severais I Mas na vossa Divina Bondade
espero que me haveis de conceder esta
virtude para que se não esfrie este meu
desejo, e sempre persevere nas obras do
vosso divino agrado, até que continue, na
glória de vos ver, Felicidade dos Bem-a­
venturados que há-de perseverar por to­
dos os séculos. Ámen.
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Oferecimento desta

Meu Deus e meu Redentor, a Vossos


Divinos Pés prostrado, e humildemente
rendido, chego a oferecer-vos este obsé­
quio; eu bem reconheço que pela tibieza
e imperfeição, que lhe misturei, Vos não
pode agradar; mas que outra coisa podia
ser, sendo coisa minha? Como havia de
ser obra perfeita, sendo de uma tão im­
perfeita criatura? Bem sabeis Vós a minha
natural miséria; e bem sei eu a vossa ina­
ta Misericórdia. Este conhecimento, meu,
e Vosso, me dá ânimo para Vos consa­
grar um obséquio tão imperfeito, tão tíbio e
tão pouco fervoroso. Feriu-me o coração a
vista dessa Vossa dolorosa Imagem, cujas
insígnias estão pregadas na minha alma.
E comtemplando essas vossas finezas, não
atinei bem a ponderá-las, porque a minha
curta capacidade não chega a compreen­
dê-las. Grande era o meu desejo, mas é
mui limitado o meu discurso; por isso
não alcançou o meu fervor tíbio, onde

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se eleva o vosso afecto amoroso. A mi­


nha frouxidão me impediu, a minha fra­
queza me entibiou. E entorpecido com tan­
tas culpas, não pude dignamente chorar
as vossas penas. Porém, meu Senhor e
meu Deus, das culpas já estou arrependi­
do, e tão bom sois Vós, que tendes este
meu arrependimento pelo vosso maior ob­
séquio. Chorar eu as minhas culpas, sendo
utilidade minha, é a melhor recompensa
vossa; e sendo em mím dívida, é para Vós
fineza; pois dai-me esta verdadeira contri 9

buição., para que o meu arrependimento seja


juntamente obséquio vosso. Dai-me uma
dor tão excessiva, como foi a vossa ofen­
sa; e para obrardes com esta Misericór­
dia não olheis para a minha ·vida, mas
para esta Imagem dolorosa. Bem sei eu,
que não sou merecedor que me perdoeis,
se para mim olhais; e que só pondo os
olhos neste lamentável estrago, que exe­
cutou em Vós o ódio maís pertinaz, por
amor do género humano, me não negareis
o perdão, por que se não se malogre um
fruto tão copioso. Assim o espero, e assim
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