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A literatura
como sistema
Alcance social da obra de Antonio Candido
foi além da universidade
m 7 de dezembro de 2015, o grupo da cultura hip hop. Para os poetas e es- como independentes de uma articulação
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MADALENA SCHWARTZ / ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES
PESQUISA FAPESP 257 z 87
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O crítico começou
a escrever na
imprensa em
revistas como Clima
tituição desse sistema. Para Candido, e no Suplemento
a palavra “formação” era central para Literário do Estadão 2
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bate literário brasileiro, a questão do ca-
ráter nacional, o que conduziria à exclu-
são da produção anterior ao movimento
literário ligado à luta pela independência
do país. O argumento foi rebatido por
Schwarz no texto já citado, que apontou
o internacionalismo das ideias de Candi-
do – o que não o impediria de perceber a
relevância da constituição de um espaço
literário nacional.
Formação “se encerra” na década de
1880, com os projetos realistas dominan-
do a cena literária. Machado de Assis é
capaz de dar um salto estético porque já
há uma produção e circulação de obras
e leituras que permitem a reelaboração
dessa tradição. E os escritores naturalis-
tas já contam com uma rede de leitores,
críticos e publicações que dão uma espé- 4 5
preferência à narrativa e não à poesia. LINGUAGEM SOCIAL ma análise próxima da feita por Roberto
Essa seria uma das razões da difícil inter- Tenório da Mota faz referência a dois Schwarz, vê Candido como alguém que
locução com os recortes propostos pelo textos incluídos no celebrado livro O escreve num momento em que o sistema
grupo de Haroldo e Augusto de Campos, discurso e a cidade (1993), que discu- literário descrito em Formação está em
em que a poesia tem centralidade. Um tem romances de recorte realista. “Não crise, mas ainda preserva alguma força.
dos legados de Candido, para Chagas, há denominador comum possível entre “Candido escreve muito antes da disper-
seria a do trabalho exaustivo de pesqui- esse enfoque e as leituras formais dos são do sistema atual: hoje, o sistema lite-
sa, a ideia de que não se pode construir representantes da outra corrente que, rário tornou-se orgânico nas universida-
uma história literária apenas com os lei- estes sim, leem linguagem”, diz ela se des; fora delas, morreu”, avalia. Candido
tores e escritores excepcionais: para ele, referindo ao grupo da Noigandres. Para a começou a escrever em revistas como
é preciso pesquisar os textos críticos e professora, o legado de Candido foi “uma Clima, em jornais e participou da edição
a produção literária “menores” para en- história da literatura brasileira com co- de suplementos literários, como o de O
tender, inclusive, os grandes autores. meço, meio e im, o im sendo o moder- Estado de S. Paulo, quando a literatura
A relevância da história e da sociologia nismo paulista, mais do que o advento ainda era, de algum modo, uma ques-
na análise de Candido é um dos alicerces do realismo machadiano”. A leitura da tão quotidiana de leitores não especia-
da rejeição de Campos e dos críticos li- obra de Candido por Tenório da Motta lizados. Ele seria, assim, um dos autores
gados à revista Noigandres à ideia de sis- extrapola Formação e inclui a forte liga- que marcam essa passagem, deixando de
tema literário. “Mesmo quando se sabe ção com as ideias do movimento literário publicar regularmente em jornais e pas-
que há um Antonio Candido posterior de 1922, especialmente com as posições sando a fazer circular seus ensaios mais
[à Formação], o dos chamados ensaios de Mário de Andrade. relevantes nos anos 1980 e 1990 inicial-
‘deinitivos’, como ‘Dialética da malan- Essa posição é contestada por Ma- mente em revistas acadêmicas e depois
dragem’ e ‘De cortiço a cortiço’, que se ria Elisa Cevasco, do Departamento de em livros, não mais em publicações vol-
voltam para uma certa leitura formal das Letras Modernas da FFLCH-USP. Ela tadas para o público geral. n