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Universidade Federal do Maranhão

Prof.: José Dino Cavalcante


RESENHA CRÍTICA:
PRIMÓRDIOS CULTURAIS DA LITERATURA NACIONAL

Jéssica Natália Anjos Silva

CANDIDO, Antonio, Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed.


[S/.] Editora Itatiaia Ltda, 2000. 283-327 p. v. 1.

O texto “A consciência literária”, que será objeto de análise da presente


resenha, trata-se de um estudo feito a partir de concepções críticas sobre a
formação do Romantismo no Brasil, seus precursores e como ele se desenvolveu.
Escrita pelo professor premiado, crítico literário e sociólogo Antonio Candido, o texto
faz parte de sua obra mais conhecida, Formação da Literatura Brasileira (Momentos
Decisivos). Ela é dividida em oito capítulos, sendo o último a base para o estudo
dessa resenha.
O objetivo do autor no texto é mostrar os primórdios da sistematização literária do
nosso país por meio de análises de obras, os autores que se destacaram e como
suas ideias influenciaram na formação da literatura nacional.

Inicialmente, Antonio Candido expõe os fundamentos da crítica romântica. Há


uma necessidade de analisar como a obra era recebida na época em que era
publicada, sendo então, Romantismo o movimento no qual a crítica literária se
estabelece no Brasil. Baseada na teoria do nacionalismo, o historiador Ferdinand
Denis inicia os trabalhos no País, assim como Almeida Garrett, que após Denis
também expressou suas ideias. Garrett se funda em Chateubriand, Madame de
Stäel, Augusto Schlegel e Sismonde de Sismondi, retomando-os em sua obra, o
mesmo faz Denis, que aplica princípios da crítica.
O primeiro citado dos autores que servem como alicerce é Guilherme
Schlegel, responsável pelo Romantismo alemão que com a ajuda de seu irmão
Frederico, distingue “poesia espontânea” de “poesia sentimental”, assim como o que
é clássico e romântico; define características estéticas do movimento, traça o perfil
ideal do artista romântico, tendo suas ideias propagadas por toda Europa e é por
meio dele que a literatura assume um caráter condicional local, no qual exprime um
espírito nacionalista, dependente da raça e das tradições.

A segunda é Madame de Stäel. Ela compactua com a teoria de Schlegel,


arrebatando o misticismo germânico seguindo os modelos clássicos franceses. É por
meio dela que vários outros escritores tomam conhecimento da distinção
clássico-romântica feita por Augusto e prega a supremacia do sentimental sobre o
racional, e constrói a evolução literária, fazendo da literatura um reflexo e veículo do
aperfeiçoamento humano.

Depois fala brevemente sobre Chateaubriand, o qual leva mais longe as


ideias que Schlegel desenvolveu e considera o cristianismo o principal fator de
grandeza das obras de arte, valoriza o que é medieval e opõe o moderno ao antigo.
Em uma de suas obras, exemplifica concretamente a força poética e psicológica da
angústia interior e da vida primitiva.

Após isso, retoma Denis, e faz um longo comentário acerca de sua


contribuição. Ele escreve sobre os brasileiros e portugueses, influenciando-se por
meio de Chateaubriand o interesse pelo índio como fonte de poesia, de Saint-Pierre
o fervor da natureza. Ferdinand interessa-se pelo problema da literatura nacional
aqui existente, ansiando autonomia e progresso, já que as artes e a sociedade
andavam lado a lado. Sua presença é importantíssima no Brasil, já que ele prega a
deixa na imitação dos clássicos, justificando que o País tem de procurar uma
expressão literária própria que revele seu gênio. Expõe ainda sobre as ideias do
escritor a respeito de suas considerações culturais, mais especificamente sobre
questões de ordem racial, social e ideológica. Por fim, retoma Garrett, que fica em
um meio termo das ideias românticas e clássicas, tornando-se então, conciliador
equilibrado.

No tópico 2, intitulado de “Teoria da Literatura Brasileira”, Candido começa


caracterizando o Romantismo no Brasil como medíocre, justificando que as ideias
básicas ficam em “looping”, porque as indicações iniciais vêm de escritores
franceses. Por outro lado, no entanto, considera que a importância histórica do
Romantismo é enorme, porque ampara os escritores brasileiros de forma a
desenvolver o romantismo no país de forma acentuada. Isso favoreceu os escritores
do passado, que ficaram conhecidos após sua morte.

Destaca a crítica de Schlegel e Stäel sobre a percepção da dualidade


classicismo-romantismo, resultando na identificação de clássico como colônia e
romântico como independente. À princípio, o conceito crítico é pouco explorado,
porque há dificuldade de caracterizar com precisão o que é a literatura brasileira,
então as posições de Denis são retomadas, constituindo na “Teoria geral da
literatura brasileira”. Neste ponto, o texto levanta a contribuição de quatro nomes
com suas opiniões sobre alguns dos temas enumerados por ele.

Os dois primeiros são Magalhães e Pereira da Silva. Eles acreditam que para
ter uma poesia original, basta rejeitar a imitação dos antigos e observar o meio em
que vivemos com liberdade de espírito. Magalhães ressalta a ideia de que a
literatura e a evolução histórica do país estão estreitamente relacionados;
posteriormente declara que a religião é um dos elementos básicos da sociabilidade,
estuda a cultura dos índios e lamenta que a influência clássica tenha impedido aqui
o desenvolvimento de uma literatura embasada nas peculiaridades locais.

Os dois últimos, Joaquim Norberto e Santiago Nunes Ribeiro, reforçaram a


teoria inicial do nacionalismo literário. Joaquim é apontado como possível figura
central da crítica romântica, e infelizmente Santiago morre antes de confirmar o que
seus estudos sugerem: que ele seja, talvez, o melhor dos críticos da sua geração.
Após isso, cita-se os que negavam um caráter distinto à nossa literatura,
como Álvares de Azevedo, que acredita na dependência da individualização literária
por meio da linguística, ou o Prof. Fernandes Pinheiro, quando diz que não há
literatura brasileira antes do Romantismo, porque antes disso nossos autores não
exprimiam nada de diferente dos portugueses.

No próximo tópico, o autor critica os poetas neoclássicos, referindo-se às suas


obras como código da escravidão literária e fala sobre a aversão que o Romantismo
e o Nacionalismo possuem em relação ao Neoclassicismo.
Ademais, cita Lafayette Rodrigues Pereira, o conselheiro diz que a demora cultural é
caracterizada por uma crítica na qual eram aplicadas as regras aristotélicas e
horacianas. Não consistia em nada além do que comparar o texto isolado de suas
afinidades históricas com as máximas recebidas. À posteriori, o autor critica os
críticos românticos, dizendo que eles deveriam ter explorado as raízes românticas
para a elaborar uma estética moderna, fugindo do tradicional.

No tópico seguinte, “Formação do Cânon Literário”, o autor assinala a crítica


que tende para um apelo ao ponto de vista do que o faz, e na análise da obra, para
o escritor, a época e a sequência das produções. Novamente cita o Conselheiro, o
qual percebe a apologia ao relativismo, ao gosto pessoal e à liberdade de
apreciação.
Como o Romantismo brasileiro foi fundado em meio à crítica, cria-se uma
expectativa deturpada de que ele tenda a ser, para o terreno crítico, a informação e
a sistematização histórica com um vista do que foi nossa literatura no passado - a
qual o autor chama de “bosquejo”. Ao contrário disso, é feita uma elaboração de
uma história literária que exprima uma imagem da inteligência nacional. O grande
problema na análise das obras é a falta de conhecimento delas, que na maioria das
vezes são inacessíveis, raras, assim como a história dos escritores, por isso
sente-se também a necessidade de estudar as biografias. As informações, nesse
contexto, são vagas, inferem-se conclusões rápidas e arriscadas, porque há pressa
em ter uma crítica romântica e a partir disso, levantaram a vida de grandes nomes.
No ponto em seguida, “A história literária”, o autor cita algumas obras que falam
brevemente sobre um panorama histórico da literatura no Brasil, como o “Curso
Elementar de Literatura Nacional”, “Curso de Literatura Portuguesa e Brasileira” e
fala sobre o autor da última, Sotero dos Reis, cujas ideias parecem às de Garrett.

No último tópico, “A crítica viva”, enfatiza-se alguns autores orientados para


outros gêneros. “A confederação dos Tamoios”, poema de Gonçalves Dias, dá início
ao indianismo, movimento romântico mais importante. A obra é impressa à custa do
Imperador, e recebe crítica de José de Alencar, em um artigo, que manifesta sua
concepção de literatura e sua opinião sobre as correntes nacionalistas. Os artigos
escritos por ele “são admiravelmente escritos, severos[...] não raro injustos.” (p.
321). Após esse fato, seguindo ordens de D. Pedro II, outros nomes como Monte
Alverne, por exemplo, escreveram artigos em defesa de Alencar, mas sem muito
sucesso. Posteriormente, há um longo comentário sobre o último, ele reconhece a
legitimidade nacional das pesquisas essenciais do romance, levando a uma visão
mais exótica do País, negando de vez o Neoclassicismo.

Durante todos os tópicos desse capítulo, o autor mostra o conteúdo numa


linguagem rebuscada, por isso, deve-se ter cautela e total atenção na leitura. O
autor traz à luz alguns nomes indispensáveis para dar embasamento a algumas
questões, mas não dá importância a eles de forma homogênea. Candido critica
certos pontos, usando uma parcela de ironia, fato que torna o texto ainda mais
interessante. É nítido que para entender todos os conceitos e fatos apontados por
ele, é preciso ter um conhecimento maior sobre o contexto histórico e os
movimentos analisados. Como propõe o título, o escritor nos possibilita uma viagem
pelo panorama literário brasileiro, mostrando a importância de valorizar-se a
literatura nacional e os escritores que ela possui, proporcionando uma leitura
enriquecedora. O texto é indicado para aqueles que tenham interesse no assunto,
por questões relacionadas às Ciências Humanas como Literatura, História, Filosofia,
Sociologia e para os estudantes de Letras, visto que o conteúdo oferece grande
contribuição acadêmica.

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