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Processo de Tombamento de bem material Município de Machado | MG
“Imagem de São Benedito” Ano 2022 | Exercício 2024
MUNICÍPIO DE MACHADO – MG
QUADRO Q II B – PROTEÇÃO
B) Processos de Tombamento de Bens Materiais
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Sumário
1. Introdução ............................................................................................................................... 6
2. Caracterização do bem cultural .............................................................................................. 9
2.1. Histórico do bem cultural ................................................................................................ 9
Dos primeiros povoadores à emancipação ................................................................... 10
Economia, transporte e comunicação na trajetória machadense................................... 16
Suportes de memória .................................................................................................... 24
2.1 Os templos religiosos em Machado .................................................................................... 26
2.2 A lenda de Chico Rei e a devoção a Nossa Senhora do Rosário e os chamados “santos
pretos”....................................................................................................................................... 30
2.3 Iconografia de São Benedito............................................................................................... 35
2.4 A contextualização histórica da imagem de São Benedito ................................................. 40
3. Justificativas para o tombamento ......................................................................................... 49
4. Descrição do Bem Cultural................................................................................................... 50
4.1 Descrição detalhada do Bem Cultural ............................................................................ 50
4.2 Análise técnica e estilística ............................................................................................. 54
4.3 Condições de Segurança ................................................................................................. 55
4.4 Análise do estado de conservação................................................................................... 55
5. Documentação fotográfica .................................................................................................... 57
6. Notícias da Mídia e publicidade do bem .............................................................................. 70
7. Diretrizes Intervenção e Restauração no Bem Tombado ..................................................... 77
8. Documentação Cartográfica ................................................................................................. 81
9. Referências bibliográficas e fontes de pesquisa ................................................................... 84
10. Ficha Técnica do Processo de Tombamento de Bem Móvel “Imagem de São Benedito” . 86
11. Notificação do tombamento................................................................................................ 87
12. Cópia da ata do Conselho aprovando o tombamento definitivo ......................................... 89
13. Cópia da homologação do tombamento e declaração de publicidade ................................ 91
15. Cópia da inscrição do bem no livro de Registro Municipal .............................................. 92
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1. Introdução
São Benedito
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residem no município e aqueles ausentes, que vem para o município especialmente para a
festividade de agosto. Segundo definição do site do Iphan, Congado ou Congada é uma
forma de celebração da devoção a Nossa Senhora do Rosário e/ou São Benedito, Santa Efigênia
e outros santos da devoção católica. Como em outras experiências religiosas no Brasil, o
Congado também guarda relações com as formas expressas na religiosidade africana. Muitos
congadeiros preferem dizer Reinado de Nossa Senhora do Rosário.
Certo é que a congada, os ternos de congo e a devoção a São Benedito são seculares
entre os católicos no município de Machado e, fundamentalmente, entre a comunidade negra.
A Festa de São Benedito de Machado é Registrada como Patrimônio Imaterial do município
desde 2012 e está em processo de revalidação em 2022.
A imagem de São Benedito em tombamento é considerada um Santo Relíquia entre os
devotos e pelos seus valores histórico, simbólico, artístico, estético, de afetividade e de
religiosidade está sendo tombada.
A metodologia aplicada para a elaboração desse dossiê se baseou em pesquisa história,
etnográfica, com entrevistas orais e pesquisa bibliográfica. Para tanto, um trabalho de campo
foi realizado pela equipe de pesquisa no município de Machado, entre janeiro a julho de 2022,
cujas atividades de pesquisa ocorreram em sua zona urbana. A pesquisa e redação desse
documento foi concluída em julho de 2022.
Adiciona-se à metodologia de trabalho, a conjugação entre pesquisa de campo e de
gabinete, com o cruzamento desses dados à pesquisa bibliográfica e documental, para a
construção da narrativa apresentada nesse dossiê. A elaboração desse estudo também se pautou
nos parâmetros técnicos exigidos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de
Minas Gerais (IEPHA/MG), seguindo a Deliberação Normativa do Conselho Estadual do
Patrimônio Cultural (CONEP) em vigência.
Desse modo, são apresentadas nas páginas desse dossiê as informações concernentes
aos dados históricos tanto da região quanto do bem objeto de acautelamento, além da descrição
detalhada da imagem sacra, as diretrizes de tombamento e restauro, fotografias do bem,
documentação cartográfica e referências bibliográficas e documentais utilizadas, além da
documentação burocrática que efetivou o tombamento da imagem de São Benedito.
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Por todos esses motivos, o bem “Imagem de São Benedito” foi indicado para
tombamento e o pedido foi acolhido pelo Conselho do Patrimônio local. O seu tombamento
definitivo como “Imagem de São Benedito” foi aprovado pelo Conselho Municipal do
Patrimônio Cultural de Machado em sua 48ª. (quadragésima oitava) reunião, ocorrida no dia 1
de agosto de 2022, e homologada pelo Decreto Municipal n. 7.664, de 17 de agosto de 2022,
nos termos da Lei Municipal n. 2755/17. O bem foi inscrito no Livro de Tombo Municipal.
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Afirmar que Vila Rica, por exemplo, tinha como base econômica a extração aurífera não significa dizer que
na localidade não havia atividades agropastoris. Geralmente, as diferentes atividades acontecem
concomitantemente. Tanto que período de destaque do ouro se deu até a década de 30 do século XVIII, sofrendo
um ligeiro declínio na década de 40 que se intensificou, culminando em 63, data onde, pela primeira vez, o
quinto não atingiu a cota de 100 arrobas anuais (SOUZA, 1981, p. 75). Entretanto, é justamente a partir da
década de 40, em pleno declínio do ouro, que, segundo Adalgisa Arantes Campos (1996), surgiram nas
principais vilas da capitania mineira as Ordens Terceiras de São Francisco da Penitência e de Nossa Senhora
do Carmo. Foram essas ordens leigas que, durante a segunda metade do século XVIII, promoveram o mecenato
artístico nas Minas Gerais, através de seus próprios recursos financeiros. A partir disso é possível perceber que
nas áreas de mineração havia outras atividades econômicas que também sustentavam as vilas e arraiais.
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instituída em 1714, tendo como sede a Vila de São João Del Rey. Compreendia os termos de
Jacuí, Baependi, Campanha da Princesa, Barbacena, Queluz, Nossa Senhora de Oliveira, São
José do Rio das Mortes e Tamanduá.
Os colonizadores que adentraram o sul de Minas nas cercanias do município de
Machado ocuparam as faixas de terra banhadas pelo ribeirão “Jacutinga” e pelo Rio “Machado”.
Segundo João Rodrigues de Carvalho2, foi nesse local, devido às boas terras, que teve início a
colonização de toda região. Dessa forma, está presente nos discursos proferidos pelos
machadenses que pesquisam sobre sua história e seus fundadores que os primeiros registros
históricos relativos à Machado datam de 1750. Nesse período suas terras passaram ao domínio
definitivo da capitania de Minas Gerais, depois de inúmeros conflitos com os paulistas
motivados por demarcação das fronteiras. Durante o período relatado, Machado era apenas
ponto de parada de tropeiros e de boiadeiros que por aqui passavam com suas tropas de muares
ou de bois, seguindo para outras localidades.
2
CARVALHO, João Rodrigues. História de Machado. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de
Machado,1985.
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Como tantas outras cidades, Machado não surgiu num momento exato,
predeterminado. Não é fruto da ação isolada de uma pessoa, mas resulta do
esforço contínuo e anônimo de muitas. Entretanto, quiçá pela capacidade
de liderança e empreendimento, o Tenente Antônio Moreira de Souza
Ribeiro e Joaquim José dos Santos são tradicionalmente considerados os
seus fundadores, ao lado de Ana Margarida Josefa de Macedo, doadora das
terras à capela4.
Embora Ana Margarida tivesse doado parte do seu patrimônio para a construção da
capela, foi necessária a licença do Bispo D. Mateus de Abreu Pereira, da diocese de São Paulo,
3
CARVALHO, João Rodrigues. História de Machado. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Machado, 1985.
p. 23-24.
4
REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio. Machado: 2006, p. 55.
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para que ela pudesse ser erguida. A licença foi concedida em entre 1816- 181855 e veio a
oficializar a fundação do arraial dentro das normativas eclesiásticas vigentes no período.
Segundo Rebello,
José Rodrigues de Carvalho aborda em seu livro a temática da saúde. Segundo o autor,
5
Existe uma imprecisão no que toca a data de fundação de Machado. Os dados presentes no site da Prefeitura e
nas obras de Carvalho (1985) e Rebello (2006) inserem a fundação entre os anos de 1816- 1818.
6
REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio. Machado: 2006, p. 53.
7
Padre José Antônio Martins foi o primeiro capelão de Machado.
8
REBELLO, op. cit. p. 59.
9
Termo religioso, derivado de cura ou padre. Utilizado para designar aldeias e povoados com as condições
necessárias para se tornar uma freguesia - ou seja, tornar-se distrito de um município.
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o maior impacto na saúde de Machado se deu com a epidemia da gripe Espanhola – época da
Primeira Guerra - que afetou todo o país; depois, aconteceu um surto de varíola.
Na década de 1920, Machado já contava com melhores condições de higiene e com a
Santa Casa de Misericórdia fundada pelo Dr. Antônio Cândido Teixeira. Outro provedor da
instituição em 1925 foi o farmacêutico Francisco Elísio Ferreira Braga. No ano de 1936 foram
executadas 186 operações de pequeno e alto porte; 4468 consultas; 1269 exames de laboratório,
etc10. Embora a Santa Casa de Misericórdia tenha sido fundada em julho de 1920, data de 1911
o termo de compromisso da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia e Caridade de Santo
Antônio do Machado.
Imagem 01: Santa Casa de Misericórdia de Machado. Sem data. Acervo da Casa da Cultura.
Imagem 02: Santa Casa de Misericórdia de Machado. Sem data. Acervo da Casa da Cultura.
10
CARVALHO, João Rodrigues. História de Machado. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Machado,
1985, p. 105.
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Imagem 03: Santa Casa de Misericórdia de Machado. Sem data. Acervo da Casa da Cultura.
Imagem 04: Imagens da antiga Santa Casa de Misericórdia de Machado – fachada e interior, atual Casa
da Cultura de Machado, onde a Imagem de São Benedito está guardada e exposta. Sem data. Acervo da Casa da
Cultura.
No que diz respeito à educação, Machado teve seus primeiros professores em 1870,
eram eles: Joaquim Martins de Souza, José de Araújo Brito e Mariano Severo Romano. A
chamada “Casa da Instrução” já existia no início da década de 1880 e era composta por duas
salas de aula, separadas por gênero. O professor dos “meninos” era o Carlos Alberto Ferreira
Lopes; e a professora das “meninas”, Dona Mariana Teófila de Oliveira. Anos mais tarde, em
1911, criou-se uma sala destinada a ensinar ambos os sexos. Primeiramente a cadeira foi
ocupada por Dona Hortência Bressane de Araújo, que lecionou apenas aquele ano.
Sobre o processo de instrução particular, foi instalado em 1882 o primeiro colégio:
Colégio Lustosa. Havia também um colégio para meninas na Rua da Mococa. Em 1884 foi
instalado por Francisco Rafael de Carvalho e Anastácio Vieira Machado um Externato e
Internato que aceitava meninos e meninas, situado na Rua Barão do Rio Branco. Entre os anos
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Imagem 05: Desfile cívico das alunas do Colégio Imaculada Conceição, 1957. Acervo da Casa da
Cultura.
Estabelecimento Nº Matrículas
Escolas Municipais 2 50
Particulares 3 124
Total 9 974
11
Dados extraídos de: CARVALHO, João Rodrigues. História de Machado. Belo Horizonte: Prefeitura
Municipal de Machado, 1985, p. 67.
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TOLLEDO apud REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio, Tomo 2.
Machado: 2006, p. 653.
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O principal produto agrícola de Machado é o café. Devido ao seu destaque, deu origem
a inúmeros trabalhos, dentre eles dois realizados pela FUNDAMAR: “A História do Café em
Machado” (1994) e “A Cafeicultura Machadense: 1889-1912 – uma análise da Ação Econômica
e Política dos Principais Fazendeiros e dos Agentes de Café” (1997), ambos escritos por Maria
Lúcia Prado Costa. No ano de 1935 foi criado o Campo Experimental do Café e o Campo de
Monta – iniciativa da chefia do Serviço Técnico do Café do Estado de Minas Gerais. Nos
últimos anos o município tem produzido cafés orgânicos e especiais, exportados,
principalmente, para o Japão, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.
No que toca ao desenvolvimento de serviços, a primeira metade do século XX foi rica
na inauguração de estabelecimentos comerciais de atacado e varejo, casas de tecidos, ferragens,
13
MONITOR SUL MINEIRO apud REBELLO op. cit., p.649.
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joias, secos e molhados, hotel. O comércio seguia, principalmente, as bases tipo “armarinhos”.
Já na segunda metade desenvolveram-se inúmeras padarias, postos de gasolina, bares, boates,
restaurantes e lanchonetes.
Imagem 07: Hotel Central (atual Hotel Colinas), 1924. Na Praça Antônio Carlos. Acervo da Casa da
Cultura.
Sobre as vias de acesso do município, ainda enquanto arraial havia uma estrada que
atuava como via principal, de onde “nasciam” caminhos diversos para suprir as necessidades
da época. Havia a estrada boiadeira, que fazia ligação aos sertões de Goiás e Mato Grosso; a
estrada dos tropeiros, rumo à corte; a estrada de viajantes que dava acesso aos pontos comerciais
da província de Minas Gerais. O crescimento do povoado dava-se sempre em direção ao alto
da colina, o que fez surgir um novo caminho saindo da Rua da Máquina até encontrar a Rua da
Santa Cruz. Segundo a tradição, a Rua Santa Cruz, uma das principais da cidade, leva esse nome
por seus moradores terem carregado uma grande cruz em procissão inserindo-a,
aproximadamente, onde se encontra a Igreja de São Benedito. Carvalho, ao traçar uma análise
do surgimento das principais ruas e estradas de Machado verificou “encontrar-se na estrada, a
estrada real, a origem das primeiras ruas da cidade: Rua do Ramo, Rua da Máquina, Rua da
Mococa”14.
Os primeiros meios de transporte eram rudimentares; o transporte de mercadorias era
realizado por tropas de muares. Somente anos depois, com o desenvolvimento da região,
14
CARVALHO, João Rodrigues. História de Machado. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Machado,
1985, p. 43.
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apareceram os carros de bois e as carroças. As viagens longas eram feitas à cavalo, assim como
as viagens locais necessárias à comunicação.
Há na segunda metade do século XVIII a abertura de importantes caminhos na região
que passava pelos arredores de Machado. Existiram três caminhos que, embora atravessassem
o Vale do Rio Machado, não cortavam as terras hoje pertencentes ao município. Dentre elas
temos a Estrada de Ouro Fino a Cabo Verde, a Estrada de Santana do Sapucaí a Cabo Verde, e
a Estrada de Santana do Sapucaí ao Registro de Caldas.
No século XIX foram inúmeras as trocas de carta falando sobre as péssimas estradas ou
sobre a necessidade de abertura de outras. A lei orçamentária 1009, de 02 de julho de 1859,
autorizou a abertura de estrada partindo da Freguesia de Santo Antônio do Machado e
atravessando a de São João Batista do Douradinho. Já em 1866 ocorreu a autorização para
iniciar a estrada de Conceição do Rio Verde, pela Campanha, à Machado e a Alfenas 15.
Imagem 08: Primeira mulher a dirigir um automóvel em Machado, 1927. Acervo da Casa da Cultura.
15
REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio. Machado: 2006.
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Imagem 10: Posto Texaco – Avenida Santa Cruz, 1942. Acervo da Casa da Cultura.
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Imagem 11: Locomotiva que transportou o material para a construção da estrada de ferro de Machado,
1923. Acervo da Casa da Cultura.
16
REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio Tomo 2. Machado: 2006,
p. 538.
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Sobre os sistemas de comunicação, o serviço dos Correios em Minas Gerais teve seu
início em 1798 com agências nas comarcas de Sabará, São João del Rey, Serro e Vila Rica. Em
1869 foi notificado que as malas do correio em Santo Antônio do Machado chegariam às oito
horas da noite a cada três dias, e partiriam as seis horas da manhã a cada três dias, iniciando-se
pelo dia 2. Em 1886 a linha de Campanha a Machado possuía três empregados, que faziam
viagens de dois em dois dias. Estima-se que o custo mensal da linha era de 268$000.
O primeiro jornal da província de Minas Gerais surgiu em Ouro Preto em 1823.
Machado foi 39ª localidade mineira a publicar um periódico. O primeiro jornal foi o “Correio
de Machado”, de 1885, e teve a duração de cinco anos. Em 1886 surgiu o segundo Jornal,
intitulado “O Binóculo”. Existiram no município no século XIX vários outros jornais, semanais
ou quinzenais, como: “O Discípulo”, “O Patriota”, “O Novo Estado”, “Sexto Districto”, “O
Futuro”, “O Operário”.
Fora os periódicos de circulação ampla no município, havia jornais e boletins de
circulação restrita, pertencentes aos colégios. Em 1937 editou-se a “Gazeta Escolar” da Escola
Estadual Dom Pedro I. Também na década de 1930 surgiu “A Esmeralda”, do Colégio
Imaculada Conceição; “O Ginasiano”, do Ginásio São José; o “Agrovisão” da Escola
Agrotécnica Federal, entre muitos outros.
Machado também teve um considerável número de almanaques e revistas, além de
jornalistas machadenses atuando em outras localidades. “O Sul de Minas” foi um almanaque
fundado por Manoel Francisco Pinto Pereira, que residiu durante alguns anos em Machado.
Editado pelo Centro Sul Mineiro de Propaganda e Estatística, tinha sua sede na Vila de Silvestre
Ferraz. Seu segundo fascículo publicado em 1913 foi inteiramente dedicado à Machado,
contendo informações históricas, geográficas, políticos, culturais, administrativos. A Revista
do 1º Centenário de Machado17 estava relacionada à Comissão de Propaganda dos festejos do
1º centenário. Foi uma revista mensal como total de nove números produzidos, de fevereiro a
outubro.
17
Anteriormente, a emancipação da cidade de Machado era relacionada ao ano de 1857. Todavia, depois de
analisar outras documentações, o município alterou a data que passou a ser 1881. Por isso a Revista do Centenário
foi produzida no ano de 1957.
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A primeira linha telefônica foi construída por Sylvio Monteiro dos Santos. A linha
ligava a Estação do Pontalete à Fazenda Pedra Grande, passando por Carmo da Escaramuça
(Paraguaçu) e Machado. Em 1905 foi concedido o auxílio de cinco contos de réis para a obra.
No ano de 1948 foi fundada a Empresa Telefônica Machadense Ltda. A sede foi construída na
Rua XV de Novembro, sendo transferida, posteriormente, para a Praça Antônio Carlos e para a
Rua Sete de Setembro. Em virtude da TELEMIG, no final de 1987 foram inauguradas três
cabines individuais no posto telefônico público construído entre a Prefeitura e o Fórum. Seu
funcionamento era das 7 às 22h, onde dois funcionários se revezavam.
Em 1999 ocorreu a privatização das telecomunicações do Brasil, e a TELEMAR
adquiriu o controle das operadoras de 16 estados, inclusive Minas. Assim, a partir de outubro
de 2000, o prefixo de todas as cidades mineiras obteve o acréscimo do algarismo 3.
Em 1921 Machado possuía dois cinemas, ambos pertencentes à empresa Dias &
Moreira. O Cinema Ideal oferecia quatro sessões por semana, contando com 350 lugares, além
de realizar bailes; e o Cinema Brasil comportava 500 pessoas e possuía duas sessões semanais.
Na década de 1970, o cinema recebeu o nome de Cine Vogue, todavia, apesar das reformas, a
frequência diminuiu, fechando suas portas em 1979.
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Pouco depois voltou à atividade de acordo com a Prefeitura, sofrendo nova paralisação
pouco tempo depois. Em 1984 houve a reabertura para a exibição de dois filmes por semana.
Depois disso, o cinema fechou e reabriu mais algumas vezes, voltando a funcionar no final do
século XX no Machado Shopping, localizado na Praça Antônio Carlos, em uma sala pequena.
Atualmente encontra-se fechado.
A primeira montagem de um aparelho radiofônico foi feita por Estevam Pereira dos
Santos. O aparelho foi apresentado ao público em 1937, em uma Exposição Regional. Em 1945
foi fundada a Rádio Difusora de Machado, ainda existente. Em 1991 entrou no ar a Rádio
Montanhesa que em 1999 teve um aumento da sua potência, permitindo que atingisse mais de
40 municípios. A primeira rádio comunitária surgiu em 1995, pertencente à Associação
Comunitária Bhetel. Entrou no ar sem autorização e foi fechada dias depois.
Suportes de memória
Machado possuía uma vida cultural intensa, com diversas bibliotecas pertencentes aos
centros educacionais do município e com clubes de leitura. É de conhecimento que a Sociedade
Amantes da Leitura já existia em 1874, com mais de mil volumes e vários sócios. Em 1875 foi
criado o Club Literário Bernardo Guimarães. Este clube tinha entre seus fundamentos instruir
seus membros e ensinar as classes menos abastadas em aulas noturnas, além de fundar um
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teatro.
A Biblioteca Municipal foi inaugurada em 1918, todavia, no mesmo período havia
outras bibliotecas no município, como a Biblioteca do Apostolado Coração e a Biblioteca do
Centro Machadense. Nos anos posteriores foram fundadas as bibliotecas dos principais centros
educacionais da cidade, como a da Escola Dom Pedro I, do Ginásio São José, do Colégio
Imaculada Conceição.
Na década de 1950 já existia o Museu do Ginásio São José. Rebello acredita que esse
tenha sido o primeiro museu da cidade. Seu acervo era pequeno, abordando a temática da
história natural.
Em 1981 foi inaugurado o Museu Histórico Municipal no porão do Colégio Municipal.
Em 1986 foi criada a Casa da Cultura e determinado que o Museu a integrasse. Houve também
a inauguração do Museu da Congada, pertencente e localizado na Associação de Congadeiros,
em 1988. Foi desativado depois que Maércio Caetano transferiu para o local seu forró, não
sendo reaberto posteriormente.
A Casa da Cultura, que incorporou o acervo do Museu Histórico Municipal, está
localizada no prédio da antiga Santa Casa. Está integrado a ela, também, o Arquivo Público
Machadense. Ela tem por finalidade “ser um espaço para o homem se expressar como elemento
de cultura através de atividades criadoras e recriadoras e de apoio às áreas culturais,
redimensionando sua atuação”20. Além de abrigar um interessante acervo a respeito da história
de Machado, a Casa da Cultura desenvolve, atualmente, exposições temporárias com artistas
locais, recitais, além de oferecer aulas de pintura e de música.
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A capela primitiva de Machado foi edificada no início do século XIX, em terras doadas
por Ana Margarida. Essa capela era simples, pequena e de taipa. Localizava-se na parte superior
da atual Praça Antônio Carlos, situada onde depois se instalou a primeira fonte luminosa. Ou
seja, num dos pontos mais altos das terras, no topo de uma colina. Erigida em devoção à Sacra
Família adquiriu sua imagem apenas em 1833. Não se tem conhecimento sobre o tempo de
duração dessa edificação que se tornou matriz com a criação da Freguesia. Todavia, consta que
em 1874 essa capela não mais existia, pois no período a Igreja do Rosário servia como matriz
enquanto os alicerces da nova estrutura estavam sendo construídos.
Imagem 14: Jardim da Praça Antônio Carlos, 1908. Acervo da Casa da Cultura.
Não se sabe quanto tempo durou a construção da matriz que substituiu a capela
primitiva. Entretanto, sua demolição teve início em 02 de abril de 1917. Foram contratados para
a obra Jesualdo Rugani, pelo preço de 48:500$000, e seu construtor Valentim Romanelli. A
primeira missa foi celebrada em 02 de junho de 1918, quando o templo estava em período de
finalização. Os trabalhos religiosos se iniciaram em agosto de 1918.
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Imagem 15: Quermesse na Praça Antônio Carlos, 1917. Acervo da Casa da Cultura.
Em 1925 a Igreja Matriz passou por reforma de sua fachada, realizada pelo padre
Ricardo Franck. A torre foi levantada alguns metros. Em agosto de 1926 foi adicionado um
novo relógio, este reformado em 1933. Em dezembro de 1926 foram concluídas as obras na
fachada, a inserção de ladrilhos internos e o passeio ao redor. No ano de 1929 houve a
remodelação da torre e da sacristia. Ao longo da década de 1930 foram realizadas as seguintes
intervenções na matriz: adquiriram bancos e um harmônio; o pintor libanês Pedro Zogbi
realizou pinturas artísticas em seu interior. No início da década de 1960 foram substituídos seus
vitrais e portas, e em 1967 foi demolida.
Imagem 16: Praça Antônio Carlos e vista parcial da segunda Igreja Matriz. Sem data. Acervo da Casa
da Cultura.
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Imagem 17: A nova Igreja Matriz de Machado no centro da imagem, na década de 1980. Sem data.
Acervo da Casa da Cultura.
18
BRETTAS, Aline Pinheiro; FROTA, Maria Guiomar. O registro do Congado como instrumento de preservação
do patrimônio mineiro: novas possibilidades. Revista Eletrônica do Programa de Pós- Graduação em Museologia
e Patrimônio – PPG-PMUS Unirio | MAST - vol. 5 no 1 – 2012.
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Imagem 18: Festa de São Benedito, 2014 – 100 anos de tradição. Acervo pessoal de Gustavo Ambrósio.
Por volta das décadas de 1910 os grupos do congo dançavam sem muita regularidade
na Grama, atual Praça Rui Barbosa, ao redor de um cruzeiro. A Irmandade do Rosário, que
possuía os ternos mais antigos, chegou a construir ali uma capelinha para celebrar sua festa.
Algum tempo depois a festa foi transferida para o adro da Igreja Santa Cruz, na pracinha da
velha caixa d’água. No ano de 1923 trocou-se o nome de “Festa do Rosário” para “Festa de São
Benedito”, mudando-se para o ponto atual, a Praça de São Benedito onde foi edificação a Igreja
de São Benedito.
Segundo Rebello, “no primeiro livro de tombo da Paróquia da Sacra Família e Santo
Antônio encontra-se o registro da celebração de uma festa em louvor a São Benedito, no dia 13
de maio de 1914, “devido principalmente aos esforços da população de cor”19. Em 1948 Dom
Hugo havia interditado a capela de São Benedito sendo vedado qualquer ofício religioso. À
pedido do Vigário, a polícia proibiu a festa que voltou a ser realizada em 1952 quando acabaram
os processos judiciais.
Como pode ser observado por meio dos documentos das irmandades e ternos de devoção
à São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Ifigênia, a cultura africana em Machado é
muito forte e se mostra nas práticas sincréticas dentro do catolicismo popular. Todavia, existe
no município outras devoções e doutrinas, como o protestantismo, o espiritismo, a umbanda e
19
REBELLO, Ricardo Moreira. O município do Machado até a virada do milênio, Tomo 2. Machado: 2006,
p.184.
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a quimbanda.
As tentativas de colonização protestante no Brasil datam de 1555, quando huguenotes
se instalaram no Rio de Janeiro com o intuito de fundarem a França Antártica. Em 1903,
inúmeros pastores e leigos abandonaram a Igreja Presbiteriana Unida e fundaram a Igreja
Protestante Independe que se caracterizou como o primeiro ramo protestante nacional. Machado
foi a terceira localidade de Minas Gerais a fundar um núcleo presbiteriano, em 1874.
Machado também possui igrejas evangélicas tais como a Assembleia de Deus, o
Ministério de Santos, o Ministério Visão Mundial, Ministério Jardim dos Ipês. Além dessas,
possui cerca de vinte outras igrejas e associações evangélicas como Sara Nossa Terra,
Adventista, Batista, Quadrangular, Universal do Reino de Deus, Testemunhas de Jeová e
diversas associações religiosas autônomas. No entanto, umas das mais fortes denominações do
protestantismo em Machado é a Igreja Presbiteriana, que possui número elevado de membros
no município.
Há poucas referências sobre a prática da doutrina espírita no município de Machado nos
séculos XIX e XX, possivelmente devido à intolerância e preconceito. Segundo Rebello (2006),
em 1881 o espírita Alferes Manoel Eloy da Silva Passos sofreu investidas, tendo sua casa
apedrejada, arrombada e invadida por aproximadamente duzentas pessoas. Os centros espíritas
que foram instalados posteriormente são o “Paz, União e Caridade”, “Segunda Casa de
Caridade”, “Humberto de Campos”, “Estrela do Oriente”, “Allan Kardec”, Grupo Espírita
Beneficente “Os Samaritanos” e Associação Espírita Beneficente “Allan Kardec”.
Os centros de umbandas atuais são o Centro Espírita “São Jorge”, “Pai Jacob”, Centro
Espírita de Umbanda “Ogum Yara”, Tenda Umbandista “Caboclo Lage Grande”, Tenda “São
Sebastião”, Grupo Ilê Axé Ogum e Oxum. Da Quimbanda existe a Tenda de Pai João.
2.2 A lenda de Chico Rei e a devoção a Nossa Senhora do Rosário e os chamados “santos
pretos”
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minas da antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, chegando ali em 1740. No batismo cristão, recebeu
o nome de Francisco, e logo ficou conhecido como Chico Rei. Há versões sobre como ele teria
conquistado a alforria. Uma conta que ele e demais escravos escondiam nos cabelos ouro fino.
Dessa forma, teria conseguido ouro suficiente para comprar a sua própria alforria e a de seu
filho, tornando-se, posteriormente, dono de mina.
Outra versão conta que após se instalar em Vila Rica, com o passar do tempo, conseguiu
a alforria de seu filho. Posteriormente, comprou a sua e de outros escravos. Com o apoio de
outros, adquiriu uma riquíssima mina chamada Escandideira que teria sido comprada do Major
Augusto. Conta-se que a mina estava em decadência e com a compra de Chico Rei passou a
prosperar. Com o ouro extraído dessa mina obteve mais alforrias, ficando conhecido como rei
dos escravos.
Chico Rei junto dos escravos libertos teriam construído a Irmandade do Rosário e Santa
Efigênia. Nas datas de festas dos reis magos e Nossa Senhora do Rosário, havia grandes
solenidades que foram chamadas popularmente de “Reisados”. Nelas, Chico Rei ia de coroa e
cetro, e sua corte aparecia pouco antes da missa cantada. Havia rainha, príncipes, todos
ornamentados com mantos. Havia também a presença de músicos e dançarinos, tocando
pandeiros, caxambus, marimbas, canzás. Dessa forma vemos que as histórias de Chico Rei estão
intimamente ligadas ao que conhecemos por congado ou congada, que essa fé performática em
devoção a São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia.
A congada é uma festa de devoção, um ritual. O registro mais antigo de sua ocorrência
em Minas Gerais é do padre João Antonil, durante a sua passagem pelo território de 1705 a
1706. Em sua obra de 1711, relatou o costume dos negros de criarem reis, juízes e juízas em
virtude das festas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. O padre Antônio Pires, em
1552, faz referência a participação de negros em Pernambuco em Confraria do Rosário. Conta-
se também que em visita de missionários em território africano, eles confundiram Nossa
Senhora do Rosário com Ifá, orixá da adivinhação. Sobre a devoção a Nossa Senhora do Rosário
e aos chamados santos preto, conta-se que:
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Cavaleiros de São Jorge e Caboclinhos (em certos lugares, estes últimos são
denominados tapuios, caiapós, botocudos ou caboclos)(Revista Congadas,
2004).
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escravizados dançar e cantar em dias de festejos dos santos. Segundo fontes orais, os primeiros
ternos do congo em Machado teriam surgido nas festas de São João. Posteriormente, eles teriam
passado a dançar em outros dias santos, como: São Sebastião, Nossa Senhora do Rosário, Santa
Efigênia, São Benedito, Santa Cruz.
Não se sabe ao certo a data em que surgiram as congadas e a Festa de São Benedito em
Machado. Todavia, há registros de que aconteceu em 13 de maio de 1914 uma festa em louvor
a São Benedito. Este registro refere-se a uma festa, e não à primeira festa, o que deixa margem
para se pensar que ela já ocorria há mais tempo, embora não se tenha encontrado registros
oficiais (Revista Congadas, 2004). Em 1923, a festa do congado em Machado ocorreu no mês
de setembro; em 1930, em novembro; em 1938 e 1939, no mês de julho, voltando a ocorrer em
setembro em 1940. Como podemos perceber por meio dessas datas levantadas por Ricardo
Moreira Rebello (2006), a festividade não possuía uma data fixa no calendário, o que só veio a
ocorrer posteriormente, definindo o mês de agosto, devido ao término da colheita de café.
Festa de São Benedito na década de 1950, o Adro da antiga Igreja de São Benedito, ainda de terra batida. Acervo
de Edward Garcia.
Entre as décadas de 1910 e 1920, as congadas costumavam dançar na Grama, atual Praça
Rui Barbosa, em torno de um cruzeiro, todavia, dançavam sem uma regularidade definida. A
Irmandade do Rosário, inclusive, chegou a construir uma capelinha no local, junto da qual
realizava sua festa. Posteriormente, a festa foi transferida para o adro da Igreja de Santa Cruz
que estava localizada na pracinha da velha caixa dágua. Já em 1923, a festa foi transferida para
o local onde ocorre atualmente, trocando o nome de Festa do Rosário para Festa de São
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Benedito.
A Festa de São Benedito é marcada por dois importantes aspectos: o litúrgico, presente
na doutrina da Igreja Católica, e os rituais de comportamento popular. O segundo é variado e,
de alguma forma, se afasta das normatizações da Igreja, sendo conduzido pela tradição. O
catolicismo popular é considerado por alguns estudiosos como uma “religião prática”. Em
alguns locais, ela foi perdendo sua autonomia para a Igreja, que passou a caracterizar muitos
aspectos da prática religiosa popular como profana, levando a algumas proibições ou restrições.
Dentre as atividades rituais litúrgicas, pautadas na ação da Igreja Católica, está a novena
dedicada ao Santo de Devoção.
Embora São Benedito não seja o Santo Padroeiro de Machado, ele é um santo muito
cultuado e adorado pelos machadenses e a Festa de São Benedito é uma das mais importantes
celebrações do município, tanto que foi Registrada como Patrimônio Imaterial de Machado, em
2012.
Na Igreja de São Benedito, localizada Av. Santa Cruz, 592 - Vila Novo Horizonte,
Machado - MG, CEP: 37750-000, ocorre a celebração da novena, as missas e orações dos fiéis
e congadeiros. Já na Praça São Benedito, ligada à Igreja, são montadas estruturas de barracas
de alimentação, jogos bem como a Tenda do Congo. Na Rua Airton Rodrigues Leite, próxima
à Praça de São Benedito, são montadas barracas que, vistas em seu conjunto, formam uma feira
de produtos diversos. Como se pode notar, a Festa de São Benedito envolve diversas entidades
gestoras, atuando cada uma em aspectos diferenciados que compõe a festividade.
A imagem de São Benedito aqui em estudo, é levada anualmente para a Tenda do
Congo, desde sua criação, em 2002.
A Tenda do Congo é montada na Praça de São Benedito desde 2002. O seu objetivo é
resgatar e apresentar em imagens e texto a história da Congada em Machado. Para atingir esse
objetivo, a Associação de Congadeiros, responsável pela Tenda do Congo, coleta o material
produzido na Festa do ano anterior e expõe na Tenda. A Tenda do Congo sempre tem um tema
de reflexão que também fica presente no Cartaz do evento. Cada ano é um tema e eles buscam
trabalhar em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade.
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Fotografia do interior da Tenda do Congo com a Imagem de São Benedito no centro, no altar. Acervo da
Prefeitura de Machado.
De acordo com dados levantados por Ivan Cavalcanti Filho, São Benedito teria nascido
por volta de 1524, era filho de escravizados negros de origem etíope, de propriedade dos
Manasseri, família siciliana que lhe deu a liberdade logo ao nascer, em consideração aos seus
genitores, honestos empregados e piedosos cristãos. Aos dezoito anos, deixou sua atividade de
lavrador, se recolhendo numa comunidade de franciscanos eremitas sob a tutela de frei
Jerônimo Lanza, em Santa Domênica, perto de S. Filadelfo, onde foi admitido como religioso
leigo. Vinte anos depois, com a dissolução da comunidade pelo Papa Paulo IV, ingressou no
convento franciscano de Santa Maria de Jesus, localizado a 6 km de Palermo, onde, também na
aludida condição canônica, exerceu diferentes ofícios: cozinheiro, porteiro, faxineiro e sacristão
(CAVALCANTI FILHO, 2020).
Ivan segue descrevendo que apesar da ascendência ‘impura’ de São Benedito, aos olhos
da Regra, e do seu analfabetismo, já que no modelo escravocrata em que vivera não lhe foram
permitidos os estudos, por meio de seu testemunho de caridade, humildade e fé, mesmo sendo
frade leigo, impedido de exercer o sacerdócio, foi eleito superior na assembleia trienal do
convento supracitado – o capítulo provincial realizado em Palermo em 1578. Faleceu onze anos
depois, fiel aos princípios cristãos e à normativa da Ordem que o acolhera. A partir do
testemunho exemplar e dos prodígios a ele atribuídos, foi beatificado em 1743 pelo Papa Bento
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14, e canonizado sessenta e quatro anos depois em 24 de maio de 1807, pelo Papa Pio VII,
consumando processo iniciado em 1780. A partir de 1807 passa a ser chamado de São
Benedito. Benedito tornou-se, então o primeiro africano negro reconhecido como santo
pela Igreja Católica Romana (CAVALCANTI FILHO, 2020).
Para Ivan Cavalcanti Filho, não obstante a santidade de São Benedito só ter sido
oficializada em 1807, sua fama de milagres se espraiara na Espanha e Portugal já no século
XVI. Afinal, a Sicília estava, desde o início da citada centúria, sob o domínio da Casa de
Aragão, sendo os espanhóis e os portugueses os principais fornecedores de escravos no mundo
cristão. Essa relação comercial teria, portanto, estreitado as redes de comunicação entre a Sicília
e as nações ibéricas, contribuindo para que, no capítulo provincial de 1581, realizado em
Agrigento, Sicília, houvesse um grande afluxo de lusitanos e espanhóis ávidos por conhecer
Benedito, pois como guardião de convento, ele não podia faltar à importante reunião trienal
(CAVALCANTI FILHO, 2020).
Desse modo, de acordo com Ivan Cavalcanti Filho, tais evidências explicam a
introdução do culto à figura de Benedito pelos portugueses no Brasil já no início do século
XVII, poucos anos após o seu falecimento, sem ter passado pelos processos de beatificação e
canonização. A literatura destaca a devoção ao africano já em 1613 no Rio de Janeiro, e dez
anos depois no convento franciscano de Salvador. São Benedito teve grande aceitação na
colônia brasileira, sobretudo no âmbito das comunidades de escravizados, que com ele se
identificavam, tanto pela cor da pele como pela condição de subalternidade que lhes era imposta
no sistema escravista (CAVALCANTI FILHO, 2020). Em Guaratinguetá, desde 1726, há
cavalaria em louvor a São Benedito, tradicionalmente no domingo de Páscoa. No final do século
XVIII em Pirenópolis, foi criada e estabelecida na Igreja do Rosário dos Pretos uma Irmandade
dedicada a São Benedito.
Ivan Cavalcanti Filho escreveu, ainda, sobre a devoção no Brasil a São Benedito:
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Com relação à iconografia do santo, Ivan Cavalcanti Filho considerou que as principais
versões foram adotadas, a exemplo do modelo italiano, onde Benedito apresentava roupa
franciscana, segurando o menino Jesus nos braços, este, via de regra, com roupa clara em tecido
verdadeiro; e o modelo português, cuja imagem trazia flores na mão esquerda, fazendo alusão
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ao ‘milagre dos pães’ que foram transformados em flores – uma aproximação com o
hagiológico de Santa Isabel de Portugal, onde moedas foram transformadas em rosas. O atributo
de um coração ou um tecido manchado de sangue na mão direita do santo consistia a
contribuição espanhola à iconografia, alusiva à passagem do desperdício de pão, cujos restos
quando cingidos na esponja com a qual ele lavava os pratos no convento, se transformaram em
sangue – o sangue dos pobres que necessitavam do alimento (CAVALCANTI FILHO, 2020).
No Brasil, é mais comum encontrar São Benedito com uma criança no braço esquerdo,
simbolizando o menino Jesus. É o caso da imagem tombada em Machado, objeto desse Dossiê.
Ele é conhecido também como São Benedito, o Mouro; Benedito, o Africano; e
Benedito de Palermo.
Os dados a seguir, sobre a descrição dos elementos de sua iconografia foram retirados
do site Cruz Terra Santa, e estão disponíveis em: https://cruzterrasanta.com.br/significado-e-
simbolismo-de-sao-benedito/129/103/.
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Imagem 19: A cabeça fora do corpo da Imagem 20: O local onde a cabeça encaixa, e são colocados
imagem. Fotografia de Luis P. Grande Sarto, pedidos de milagres. Ainda tem papeizinhos lá dentro, que
março de 2022. está há décadas. Fotografia de Luis P. Grande Sarto, março
de 2022.
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Imagem 21: Imagem de São Benedito, Imagem 22: Imagem de São Benedito com o menino Jesus.
mostrando os detalhes do entalhe no cabelo, Fotografia de Luis P. Grande Sarto, março de 2022.
no rosto, orelha, olho e boca. Fotografia de
Luis P. Grande Sarto, março de 2022.
A história da imagem tem algumas versões que vamos enfatizar aqui, não tomando
nenhuma delas como verdade absoluta, mas como narrativas e versões de uma mesma história.
A antiga Igreja de São Benedito foi construída no ano de 1930, quando era pároco o
holandês Padre Cristiano Pilzecker, e demolida em 1965, quando o Cônego Walter Maria
Pulcinelli (1928-2017) chegou a Machado. Em 1928, Irineu Machado de Andrade ofereceu à
Capela uma imagem de Nossa Senhora do Rosário. Em 1939, Oscar de Paiva Westin e esposa
doaram o altar. Luiz Sabóia e Maria Juntolli ofertaram, respectivamente, um turíbulo e uma
campainha. Oscarina Pereira Lima deu um cálice. Em abril de 1942, o Vigário pediu ao Bispo
licença para benzer a imagem de São Benedito, destinada ao Culto Público (SILVA, 2014, pp.
18-19).
Presume-se que a imagem benzida em 1942 tenha sido a de São Benedito de madeira.
No entanto, não temos qualquer registro da procedência, dados de doação ou de datação dessa
imagem aqui evidenciada. Também não sabemos se de fato a imagem benzida em 1942 é a que
está sendo tombada. O que se sabe é que ela integrava o acervo da antiga Capela de São
Benedito, junto com uma imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo relato do Cônego Walter, concedido em 2015 a Bárbara Mançanares, a antiga
igrejinha de São Benedito “cheirava a morcego”, por este motivo quando ele chegou a
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Machado, em 1965, demoliu o templo para construção de uma nova. Desde sua chegada à
cidade, Cônego Walter esteve envolvido nos festejos de São Benedito, santo do qual era devoto.
Imagem 23: Festa de São Benedito, na década de 1930, vendo-se a fachada da antiga Igreja de São Benedito.
Acervo de Edward Garcia.
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Imagem 24: Festa de São Benedito na Capela de São Benedito, década de 1930. Acervo de Edward Garcia.
Imagem 25: Imagem antiga do Terno de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. In: Imagem &
Conteúdo, 2014, p. 29.
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Joaquim Santana, que teve a guarda da imagem de 1965 até o seu falecimento, em 1984,
contou a Murilo Carvalho, autor do livro “Artistas e Festas Populares”, que era chamado assim,
de Joaquim Santana e não Joaquim Ricardo da Silva, por causa do pai e do avô, que tinha
Santana no sobrenome.
Eu sou o rei do meu povo preto. Aqui no Machado eu nasci nas bandas dos
Caixetas. A primeira vez que eu dancei era menino ainda e foi no largo do
Rosário, eu lembro que nem fosse hoje. Tudo dançando e cantando, uma festa
bonita que nunca mais É com o nome do padre, do Filho e do Espírito Santo
que eu, Rei Congo dessa cidade de Machado, conto que tenho seguido meu
caminho até essa idade em que estou, muito satisfeito e contente, sempre
desejando o bem do meu povo, andando com a verdade do lado direito,
arrenegando o injusto e a mentira. Nesses anos tudo eu só tive satisfação, até
mesmo nas minhas tristezas do meu povo, que sempre precisa muito da
proteção de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário que é um povo
sofredor, mas que um dia vai encontrar de novo seu verdadeiro e certo destino.
Ave Maria.
Murilo Carvalho relata em seu livro uma fábula ouvida do Rei Perpétuo Joaquim
Santana, sobre a origem do congado em Machado:
Joaquim Santana era uma liderança entre os congadeiros e muito respeitado entre os
congadeiros de Machado. Por este motivo, ele foi Rei Perpétuo por décadas. Após a morte de
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Joaquim, em 1984, quem assumiu a Coroa de Rei Perpétuo foi seu filho Paulino Ricardo, que
ficou com a coroa poucos meses, pois faleceu no mesmo ano que o seu pai. Depois desses
acontecimentos, ninguém da família quis ficar com a coroa e foi feita uma eleição entre os
capitães dos ternos em 15 de junho de 1985, promovida pela Associação de Congadeiros com
o apoio do Vigário.
Disputaram a Coroa Deca e Geraldo Pereira Domingues, o José Dico, ficando Deca com
29 votos e José Dico, com 30. José Dico, então, ficou por quatro anos como Rei Perpétuo,
quando renunciou em 1989. Em julho de 1989, a Associação de Congadeiros fez nova eleição.
Nesta ocasião, Vitor Ricardo da Silva, mais conhecido como Vitor Santana, foi eleito e é até
hoje o Rei Perpétuo. Sobre o papel do rei no Reinado, Vitor Santana afirmou que é “tradição,
coisa de raiz, que vem de pai para filho”. Vitor é filho de Joaquim Ricardo da Silva, o antigo
Rei Perpétuo, e se recorda da imagem que ficou sob a guarda do pai durante décadas.
O presidente da Associação de Congadeiros de Machado, Cláudio Aparecido de
Carvalho, se recorda que a avó, dona Benedita de Souza Carvalho, já falecida há mais de uma
década, contava que a imagem tinha sido esculpida por negros, mas não sabia contar quando e
por quem ela teria sido esculpida.
Márcia de Paula Souza se recorda que uma das tristezas do Cônego Walter era não ter
localizado a imagem de São Benedito quando a nova Igreja foi construída. Ele acreditava que
ela tinha se perdido. Segundo Márcia, começou-se, então, uma saga para tentar localizar a
imagem de São Benedito, nos anos 2000.
A história da redescoberta da imagem é inusitada. Conta-se que enquanto ela esteve sob
a guarda de Joaquim Santana, a imagem era usada com rituais de benzeção. Não era uma
imagem para contemplação, ao contrário. Nos rituais de benzer, Joaquim Santana e seus
familiares usavam a imagem e, com o tempo, ela foi se deteriorando. Quando Joaquim Santana
faleceu, em 1984, não se sabe ao certo se ela foi levada para o cemitério junto com o Joaquim
Santana e depositada em seu túmulo, como narram algumas versões, ou se ela foi jogada aos
pés de um Cruzeiro, chamado Cruzeiro das Almas.
O que se sabe é que as imagens danificadas, que foram quebradas ou perderam partes,
na tradição católica, são levadas para os pés de um cruzeiro. No caso de Machado, os fiéis
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levam as imagens danificadas para os pés de um Cruzeiro que existe dentro do Cemitério da
Saudade.
No Cemitério da Saudade, trabalhou uma senhora, durante décadas, de nome Maria
Aparecida dos Santos (1940-2017), conhecida como "Maria do Cemitério". Personagem popular
em Machado, Maria faleceu em 2017, aos 77 anos. Desde criança Maria acompanhava o pai,
coveiro, ao cemitério. Quando cresceu, ela própria se tornou coveira e foi morar dentro do
cemitério.
Maria tinha o hábito de enterrar as imagens que eram depositadas aos pés do Cruzeiro.
Ela contou para Márcia que encontrou aos pés do Cruzeiro uma imagem de madeira, sem
cabeça, não se sabe a época, talvez final dos anos 1980. Não se sabe também o porquê, ao invés
de enterrá-la, como as outras, Maria pegou a imagem e a guardou numa salinha onde as pessoas
iam rezar e deixar velas, e que tinham outras imagens. Em outra sala, em que ficavam muitas
imagens, Maria teria encontrado a cabeça da imagem ora em tombamento. Maria então juntou
corpo e cabeça e a deixou nessa salinha onde ficavam as velas e as pessoas iam rezar. Essa sala
não existe mais, no seu lugar foi construído um memorial onde estão depositados os restos
mortais do Cônego Walter. Maria teria dito a Márcia que a imagem era muito bonita e ela
mesma não sabia explicar o porquê, mas se sentiu tocada a guardar aquela imagem de madeira,
mesmo sem cabeça, num primeiro momento.
Segundo Márcia, esse fato teria se dado no final dos anos 1990 início dos anos 2000,
quando ela era professora e entrou para a Associação de Congadeiros. Naquele momento, ela e
outras professoras realizavam o projeto “Renascer a Congada”, que tinham três frentes: 1)
Resgatar a autoestima dos Congadeiros, com o Projeto dia do Congo; 2) Levar a Congada para
a Educação, criando o Prêmio Congadas, foi nessa época que foram criados os ternos mirins
das escolas de Machado; e 3) o Congadeiro retomar o espaço dele na Praça de São Benedito e
foi criada a Tenda do Congo durante a Festa de São Benedito.
Foi nessa época que começaram a procurar pelas imagens perdidas da antiga Igreja de
São Benedito e então chegaram à imagem que estava no cemitério. Maria teria então entregue
a imagem de São Benedito para a Prefeitura de Machado, que a enviou para restauro, dado o
seu estado de conservação precário. Segundo Rosa Signoretti, a imagem passou por restauro e
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limpeza por volta de meados da década de 1990, mas os dados do restaurador não foram
localizados e nem a data correta. É possível que ela tenha sido restaurada nos aos 2000.
As datas em que a imagem foi deixada e encontrada no cemitério, e depois enviada para
restauro e chegou à Casa da Cultura, são confusas. O que se sabe, é que ela foi deixada no
cemitério nos anos 1980, depois do falecimento de Joaquim Santana, e que desde que a Tenda
do Congo foi criada, nos anos 2000, ela é levada para culto nesse local, durante as edições
anuais da Festa de São Benedito.
Quando a imagem voltou do restauro, semelhante a como está agora, com a pintura
retocada, o douramento em destaque, entre outros, os Congadeiros a reconheceram e a
requisitaram para eles novamente, já que a imagem é considerada um santo relíquia e adorada
por eles. Foi feito então um acordo: que a imagem ficasse guardada na Casa da Cultura de
Machado e que todo ano, durante a Festa de São Benedito, ela fosse levada para a Tenda do
Congo para que os congadeiros pudessem reverenciá-la.
Desde então, a imagem permanece na Casa da Cultura de Machado, onde está guardada
em segurança e local apropriado, e anualmente é levada para a Tenda do Congo, durante a Festa
de São Benedito. Quando a Festa termina, ela é levada de volta para a Casa da Cultura.
A seguir inserimos imagens do Cemitério da Saudade, em Machado, com o túmulo de
Joaquim Santana e o Cruzeiro para onde são levadas imagens danificadas e onde foi localizada,
pela Maria do Cemitério, a imagem de São Benedito que está sendo tombada.
Imagem 26: Fotografia de Joaquim Santana, Imagem 27: Tumulo de Joaquim Santana no Cemitério da
como Rei Perpétuo da Festa de São Saudade, de Machado. Cristiane Magalhães, 27 jun. 2022.
Benedito de Machado. A fotografia está em
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Imagem 28: Cruzeiro chamado de Cruz das Imagem 29: Cruzeiro chamado de Cruz das Almas, no
Almas, no Cemitério da Saudade, em Cemitério da Saudade, em Machado, onde a imagem foi
Machado, onde a imagem foi encontrada, encontrada, e onde são depositadas imagens quebradas.
sem a cabeça. Cristiane Magalhães, 27 jun. Cristiane Magalhães, 27 jun. 2022.
2022.
Imagem 30: Imagens danificadas aos pés do Imagem 31: Sala com velas e imagens no Cemitério. Foi numa
Cruzeiro do Cemitério da Saudade, em sala assim que a imagem foi colocada pela Maria do Cemitério
Machado. Cristiane Magalhães, 27 jun. durante vários anos. Cristiane Magalhães, 27 jun. 2022.
2022.
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MUNICÍPIO Machado / MG
ACERVO
Casa da Cultura de Machado
(Acervo Cônego Walter Maria Pulcinelli)
DESIGNAÇÃO Imagem de São Benedito
TEMÁTICA Religiosa
FUNÇÃO Adoração e prece
PROPRIEDADE Privada; Associação de Congadeiros de
Machado
ENDEREÇO Rua João Miguel da Silva, n°64, centro
Machado/MG. Casa da Cultura de Machado.
LOC. ESP.Oratório de madeira, localizado na sala de
exposição principal da Casa da Cultura
ÉPOCA Primeiro quartel do século XX
ORIGEM Desconhecida
AUTORIA Desconhecida
MATERIAL/TÉCNICA Escultura em madeira, com talha e
policromia.
PROCEDÊNCIA Machado / MG
MARCAS/DESCRIÇÕES N.C.
CONDIÇÕES DE SEGURANÇA Boa
DIMENSÕES
Altura = 50cm
Largura = 21cm
Profundidade = 15cm
ESTADO DE CONSERVAÇÃO Regular
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Descrição da Imagem
A escultura de São Benedito, que está alocada em oratório de madeira e vidro, repousa
em pedestal de mármore, a aproximadamente 70 cm do piso. O oratório, localizado em sala de
exposição principal da Casa da Cultura de Machado, localizada no subsolo da edificação
,encontra-se em posição de destaque, de acesso direto para o observador que adentra o recinto.
Composição
EIXO Vertical;
VOLUME Volume distribuído de forma equitativa, de forma
equilibrada; Cabeça e Menino Jesus encaixados no eixo
principal;
LINHA Usada para definir feições, assim como o movimento das
vestes;
COR Policromia, com destaque para o preto, o marrom e o
dourado;
LUZ Jogos de luz e sombra evidenciados pelos sulcos e
reentrâncias.
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A imagem em posição frontal; representação de suas dimensões, ao centro; esquema de encaixe da cabeça,
separada do eixo principal. Adaptação e fotografia: Luís Sarto; maio/2022.
A figura, em posição frontal, com a cabeça levemente inclinada para a direita, mostra-
se plena, equilibrada, e serena, com vãos direcionados principalmente entre o volume das vestes
superiores – manto -, e da estrutura principal - corpo. De feição masculina, com carnação negra
levemente irregular, perceptível em toda a escultura, traz postura completamente ereta, com
leve movimento apenas nos pés e nos braços, que por sua vez, sugerindo leveza e precisão,
encontram-se flexionados à frente do corpo e destacam-se pela forma como as mãos se
comportam. A mão esquerda arqueada, segurando o menino Jesus (figura infantil, de carnação
bege clara e cabelos escuros, com precisão nos contornos dos olhos, nariz e boca); e a mão
direita livre, mostrando movimento principalmente nos dedos, que são longos e bem
demarcados, sugerindo proteção ao menino.
De feição leve e esboçando um sorriso sutil, com boca semiaberta, o rosto, de formato
arredondado, tem glabela larga, assim como o contorno nasal, proeminente na altura mediana
e raso na altura dos olhos que, por sua vez, em tons de preto, expressam-se arredondados,
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marcados nas pálpebras inferior e superior, sem cílios. As sobrancelhas seguem o contorno dos
olhos, pouco arqueadas, finalizadas nas têmporas. De boca pequena, com traço simples e lábios
levemente abertos, segue a coloração do restante da face. O rosto possui contorno bem
delineado, com bochechas e queixo levemente proeminentes, arredondados e seguindo a
harmonia do restante, com carnação lisa, uniforme, sem barba ou bigode. A testa, larga, com
boa parte exposta e descoberta, possui cabelos consideravelmente ondulados e na mesma
coloração do restante da cabeça, em tons de preto. O contorno dos cabelos, curtos, segue a talha
da madeira.
Todo o corpo é encoberto por uma grossa túnica, claramente sobreposta pelo manto,
indo até a altura dos pés - que estão expostos, com dedos e sandália bem demarcados -,
encobrindo-os parcialmente. Por sua vez, tal panejamento, bastante característico e significativo
para a iconografia da imagem, tem sulcos e reentrâncias, sugerindo o movimento das vestes e
gerando drapeados nas ondulações. Os mesmos motivos presentes no manto se repetem na
túnica, em sua parte inferior, sugerindo um barrado decorado com motivos fitomorfos e
arabescos, também na cor dourada.
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De forma geral, toda a escultura possui policromia com destaque para os tons escuros,
do preto ao marrom, e detalhes de ornamentação em dourado. Pode-se dizer que sua
característica principal, no que tange à policromia, é que tanto o panejamento quanto a carnação
seguem com o mesmo tom escuro, estando os elementos na cor dourada, em destaque.
Diversos materiais foram usados na produção escultórica no decorrer dos séculos. Desde
o mármore, o metal, a cerâmica, a madeira, até o gesso, estes materiais foram empregados na
produção da estatuária desde a Antiguidade até a idade contemporânea.
A madeira, em especial, destaca-se por ser um material com que muitos artistas, artífices
e artesãos, utilizam como suporte para a imaginária, utilizando-se da técnica do entalhe – ou
talha -, que tem como definição, de acordo com o dicionário Aurélio: “obra de arte feita a partir
de madeira, de pedra ou usando outros materiais; ação de entalhar, de recordar ou de esculpir
em madeira.”
Trata-se, portanto, de uma escultura que apresenta o entalhe em madeira como sua
principal característica. A técnica possibilita, através de sulcos, reentrâncias e volutas, a criação
de elementos e formas pelas quais a imagética se revela. Isso permitiu com que, historicamente,
as esculturas fossem disseminadas pelas igrejas, capelas e oratórios domésticos e, então,
perpetuadas não apenas o tradicionalismo de adoração e devoção, como também a imagética e
os diferentes elementos iconográficos constituintes das imagens.
Além da talha, como descrito, foi utilizada policromia para a ornamentação das vestes
e do manto, em tons de dourado, com desenhos de arabescos e com motivos fitomórficos,
simulando rendilhados e bordados. A baixa expressão volumétrica e de ornamentação na porção
posterior da imagem sugere uma escultura de nicho de altar, ou de oratório doméstico, com
caráter de adereço para devoção imediata dos religiosos.
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Considera-se como regular seu estado de conservação. A peça apresenta-se com algum
desgaste, contando com pequenas abrasões e sujidades, porém, não há lacunas, partes faltantes
ou comprometimento de sua imagética. A escultura foi dividia em três partes, sendo elas:
cabeça, a estrutura com eixo principal e o menino Jesus. Nota-se que, tanto a cabeça quanto o
menino Jesus são separados do restante, não havendo ligação fixa, apenas encaixe. Tais partes
mostram-se com deterioração tal como as demais, com leves abrasões, descascamentos
pontuais, presença de sujidades aderidas e esbranquiçamento da policromia. Salienta-se, ainda,
a presença de ataque de insetos xilófagos na base do pescoço. Entretanto, não apresentam partes
faltantes ou desprendimentos.
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De forma geral, mostra-se afetada por patologias comuns à madeira, como danos
oriundos da ação de agentes bióticos, como insetos xilófagos, além de craquelês na policromia,
evidentes principalmente na ornamentação na cor dourada, entretanto, não há deteriorações que
interfiram no manuseio do bem, nem mesmo a perda de suporte ou instabilidade estrutural da
imagem.
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5. Documentação fotográfica
Imagem 32: Perspectiva frontal da imagem. Imagem 33: Perspectiva posterior da imagem.
Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 34: Perspectiva lateral direita da imagem. Imagem 35: Perspectiva lateral esquerda da
Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22. imagem. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 44: Detalhe da peanha e dos pés. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 48: Perspectiva frontal com detalhe para as mãos e o menino Jesus. Fotografia: Luís P. Sarto;
maio/22.
Imagem 49: Perspectiva frontal da escultura com a cabeça encaixada. Fotografia: Luís P. Sarto;
maio/22.
Imagem 50: Perspectiva frontal da escultura sem a cabeça. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 53: Detalhe da cabeça em perspectiva lateral. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 54: Perspectiva lateral da escultura sem a cabeça. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 56: Perspectiva da sala em que a escultura se encontra. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 57: Perspectiva da sala em que a escultura se encontra, com detalhe para o oratório em sua
base de mármore. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 58: Corredor de acesso à sala em que a escultura se encontra. Fotografia: Luís P. Sarto;
maio/22.
Imagem 59: Detalhe da placa inserida na sala que contém o acervo da Casa da Cultura. Fotografia:
Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 60: Detalhe da escultura no oratório de madeira. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 61: Detalhe da parte superior do oratório de madeira. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 62: Detalhe da parte lateral do oratório de madeira. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
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Imagem 64: Perspectiva exterior do edifício da Casa da Cultura. Fotografia: Luís P. Sarto; maio/22.
Imagem 65: Prefeito de Machado, Maycon William, assina o Decreto de Tombamento da Imagem de
São Benedito. Agosto de 2022.
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Imagem 66: Prefeito de Machado, Maycon William e Secretário João Alexandre, com a Imagem de
São Benedito na abertura da Tenda do Congo. Agosto de 2022.
Imagem 67: A Imagem de São Benedito conduzida para a Tenda do Congo pelos Congadeiros, em
agosto de 2022. Acervo da Prefeitura de Machado.
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Imagem 68: A Imagem de São Benedito conduzida para a Tenda do Congo pelos Congadeiros, em
agosto de 2022. Acervo da Prefeitura de Machado.
Imagem 69: Os Ternos de Congo reverenciam as imagens na Tenda do Congo, em agosto de 2022.
Acervo da Prefeitura de Machado.
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Imagem de São Benedito na Abertura da Tenda do Congo, em 2022, e assinatura do decreto do seu tombamento.
Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=450194890484347&set=pcb.450210057149497
Imagem de São Benedito na Abertura da Tenda do Congo, em 2022, e assinatura do decreto do seu tombamento.
Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=450196287150874&set=pcb.450210057149497
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Além dos objetivos gerais da conservação dos bens culturais, como os prescritos pelas
Cartas de Veneza (1964) e do Restauro (1972) que sustentam que os bens devem ser
conservados tendo em vista a sua transmissão às gerações futuras, o estabelecimento de
objetivos específicos para determinado objeto é de fundamental importância para a execução
das atividades de conservação.
Neste contexto, os objetivos são os resultados que se deseja obter através de uma ação,
ou de um conjunto de ações específicas. É importante destacar que estes objetivos estão tão
ligados aos valores e à significância atribuídos aos objetos, quanto à própria matéria ou processo
que os conformou. Assim, os objetivos de intervenção na estrutura física do objeto devem estar
ao lado com aquilo que se deseja que o objeto expresse ao fim da ação. Neste sentido, os valores
e a significância reconhecidos no objeto são de essencial importância para a determinação dos
objetivos das ações que incidirão sobre ele.
Como existe o imperativo legal de se estabelecer diretrizes para intervenção em bens
tombados, dado o interesse de sua preservação, um primeiro fator a considerar consiste em
respeitar todos os seus aspectos, decorativos e técnicos, e adotar procedimentos de acordo com
as diretrizes nacionais e internacionais de preservação. Não se deverá proceder a nenhuma
intervenção no Bem Cultural sem um detalhado levantamento e registro dos elementos
existentes no mesmo.
7.1 Este bem cultural deve ser respeitado em sua totalidade e, qualquer que seja o projeto de
intervenção e/ou restauração no bem, exige que o mesmo deverá ser analisado e aprovado,
previamente, pelo órgão competente;
7.2 Qualquer intervenção ou manutenção neste bem deverá ser previamente aprovada pelos
órgãos de preservação, Setor de Patrimônio do Município de Machado – MG. Além disso,
é essencial a participação de técnicos especializados na elaboração e execução de tais
projetos;
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7.1.9 Durante a inspeção, deverão ser verificados possíveis pontos de umidade, focos de
cupins ou brocas. Eles poderão ser detectados por meio de montículos e asas de insetos
ao redor do oratório de madeira, assim como no piso ou na própria escultura;
7.1.10 Também deverá ser verificado o perfeito estado das instalações elétricas da sala em que
o Bem está inserido, que deverão ser embutidas e não poderão estar apoiadas ou
próximas à imagem;
7.1.11 Deverão ser adotados cuidados para que objetos cortantes, velas, castiçais ou outros de
mesma natureza, que possam colocar sua segurança em risco, não sejam colocadas
próximo à escultura, evitando assim, possíveis danos à talha ou à policromia;
7.1.12 Tecidos húmidos, produtos químicos como detergentes ou abrasivos são prejudiciais à
escultura, por isso, a higienização da mesma deverá ser realizada a seco, por meio de
uma trincha e/ou escova de pelo macios. A referida ação objetiva reduzir a poeira,
incrustações, resíduos de excrementos de insetos ou outras sujidades de superfície;
7.1.13 Deverá ser observado se há incidência de luz solar direta sobre a imagem, assim como
a presença de infiltrações, vazamentos, goteiras e outras fontes de umidade no ambiente
em que está inserida;
7.1.14 O controle da temperatura e da umidade relativa do ar é de importância fundamental na
preservação dos bens móveis. Devem-se evitar as mudanças bruscas de temperatura e
umidade, uma vez que os materiais inseridos no ambiente já estão adaptados às
condições existentes no local. Assim, a manutenção de condições estáveis no ambiente
é de grande importância para a conservação da escultura e também dos demais objetos
do acervo da Casa da Cultura;
7.1.15 Em caso de identificação de pragas ou infestações no ambiente, ou no próprio oratório
que abriga a escultura, não utilizar fungicidas ou pesticidas para combater as pragas,
pois são nocivos à saúde e também causam danos à obra e aos usuários do espaço;
7.1.16 Em caso de detecção de sinais de infestação (fezes, resíduos, etc.), contratar
profissionais especializados para providenciar a desinfestação;
7.1.17 Manter sempre que possível uma rotina de imunização contra insetos xilófagos (brocas
e cupins) de três em três anos.
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8. Documentação Cartográfica
Outro Mapa de Localização do município de Machado, no Sul Mineiro. Autores: Jhonatan Silva Corrêa e
Flamarion Dutra Alves. 2020.
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ARAUJO, Rosa Maria Signoretti. O Fermento Popular: Cem anos Festa de São Benedito -
Patrimônio Cultural, Imaterial do Povo de Machado, 2014
CAVALCANTI FILHO, Ivan. São Benedito e sua devoção nos conventos franciscanos do
Nordeste colonial. Portal Vitruvius, 238.04 nordeste colonial ano 20, mar. 2020.Disponível
em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/20.238/7662. Acesso em julho de 2022.
CHING, Francis D. K. Dicionário visual de Arquitetura. [2. tiragem]. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. ISBN: 85-336-1001-7.
Cruz Terra Santa. Santos e ícones católicos: significado e simbolismos de São Benedito.
Disponível em: https://cruzterrasanta.com.br/significado-e-simbolismo-de-sao-
benedito/129/103/.
PORTAS, Nuno. Notas sobre a Intervenção na cidade existente. Espaço & Debates, ANO
VI, 1986, n. 17, p. 94-104.
PRADO, Maria Lúcia Souza. Fontes para a História Social do Sul de Minas. Os
trabalhadores de Paraguaçu e Machado (1850-1900). FUNDAMAR, Paraguaçu, 2002.
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REVISTA IMAGEM & CONTEÚDO – Centenário da Festa de São Benedito, ago. set. 2014.
TEIXEIRA, Manuel C.; SILVA, Maria Manuela C. G. da. A construção da cidade brasileira.
Coleção Estudos de arte. São Paulo: Livros Horizonte, 2004.
Entrevistas
Entrevista com Arnaldo da Silva, ex-Presidente da Associação de Congadeiros, concedida a
Bárbara Pereira Mançanares em novembro de 2015.
Entrevista com Arnaldo da Silva, ex-Presidente da Associação de Congadeiros, concedida a
Cristiane Magalhães, em junho de 2022.
Entrevista com Carlinhos, atual coveiro responsável pelo Cemitério da Saudade em Machado,
concedida a Cristiane Magalhães, em junho de 2022.
Entrevista com Cláudio Aparecido de Carvalho, atual Presidente da Associação de
Congadeiros, concedida a Cristiane Magalhães, em junho de 2022..
Entrevista com Cônego Walter Pulcinelli concedida a Bárbara Pereira Mançanares em
novembro de 2015.
Entrevista com Gustavo Ambrósio concedida a Bárbara Pereira Mançanares, out. 2015.
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10. Ficha Técnica do Processo de Tombamento de Bem Móvel “Imagem de São Benedito”
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