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RESUMO: Trata-se de um estudo bibliográfico no qual se discute a Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas - EPEJA,
tomando como base os estudos de Paulo Freire, em particular sua obra Conscientização. O resumo intenta discutir a
alfabetização como processo de transformação, conscientizando homens e mulheres, na perspectiva se se politizarem
e inferirem no mundo com sujeitos da sua história. Para tanto, fundamentamo-nos no próprio Freire (1979), além de
Marx (1987) e Arroyo (2017). Compreendemos que alfabetizar por meio da EPJA é um processo de redemocratização da
cultura, que possibilita aos sujeitos lerem as palavras em consonância com a leitura de mundo.
Palavras-chave: Alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas. Leitura da palavra. Leitura do mundo. Conscientização.
1 INTRODUÇÃO
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Adultas46 - EPJA. Nesse sentido, esta produção, em particular, intenta contornar as concepções de
conscientização e alfabetização, que perpassa pela relação educador/a x educando/a, considerando
as perspectivas emancipatória e da alfabetização crítica. Dessarte, visamos o fomento de ponderações
acerca da atuação dos/as educandos/as no meio social e a ressignificação de pressupostos ideológicos
presentes nas salas de alfabetização, assim como as posturas dos educadores/as, uma vez que são
esses os interlocutores/as entre os alunos/as e o mundo.
Em sua tessitura metodológica, o resumo foi estruturado a partir de uma revisão bibliográfica,
de modo que, por nossa própria postura e visão de homem/mulher, seres e de sociedade,
percorreremos a trilha da abordagem qualitativa, almejando a compreensão da ressignificação
dos homens e mulheres alfabetizados/as frente ao mundo também ressignificado por eles/elas.
Em especial, para este artigo, estruturamos como objeto de estudo a conscientização de Pessoas
Jovens e Adultas no decurso educativo, tendo como interrelação o mundo, o trabalho, os homens e
mulheres semelhantes e diferentes em sua formação inteira.
Neste caminhar, apoiamo-nos em Triviños (1987), quando traz uma concepção acerca do
materialismo filosófico, que se sustenta na ideia das conclusões a partir da cientificidade para
explicar o homem, o mundo, a vida. Nesse turno, a iluminação teórica foi estruturada a partir das
discussões trazidas por Arroyo (2017), Freire (1979 / 2005 / 2013) e Marx (1987 / 2001).
De acordo com a perspectiva de Paulo Freire, ler o texto escrito requer, do leitor, a leitura
do contexto, a leitura com o texto num amplo processo. Não há como ler apenas a palavra, faz-se
necessário, a partir da junção de grafemas e entendimento dos fonemas, associando-os em palavras,
a visão além de significados - também a sua aplicabilidade social, para que assim, dar sentido às
histórias individuais e coletivas. Por esta compreensão, a alfabetização de Pessoas Jovens e Adultas
precisa ser aprioristicamente centralizada no contexto entorno do educando, considerando suas
experiências acumuladas nas vivencias e desafios para sobreviver, como o trabalho, os modos
de vida nas relações e modelos de família, a cultura, as festas e lazer. Centrada nessa premissa a
alfabetização, vem carregada de entendimento do real, da leitura de mundo. Lê-se o mundo antes
mesmo da apropriação da leitura do texto, visto que a leitura primeira, dos espaços, das coisas,
do homem é diferente da interpretação dos escritos em sistematização ortográfica. Nesse aspecto,
reiteramos com Freire (1989, p. 09):
A leitura de mundo ela precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura não pode
prescindir da continuidade da leitura daquele (a palavra que eu digo sai do mundo que
46 Optamos pelo termo Educação para Pessoas Jovens e Adultas – EPJA, acompanhando a tendência dos pensamentos latino
americanos e dos documentos oficiais internacionais.
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estou lendo, mas a palavra que sai do mundo que estou lendo vai além dele). [...] Se for
capaz de escrever minha palavra, estarei, de certa forma transformando o mundo. O ato de
ler o mundo implica na relação que eu tenho com esse mundo.
De acordo com Freire, as narrativas dos aprendizes revelam a maneira como os mesmos
compreendem o contexto, assim, quando escrevem as palavras, manifestam o seu modo de
conhecer e reconhecer o mundo - numa relação dialética homem-mundo. O modo como leem a
realidade está diretamente associado ao seu lugar na comunidade que pertencem, à posição que
ocupam. Desta forma, ao terem contato com a alfabetização ou com a educação defendida por
Paulo Freire, têm a oportunidade de perceber que são seres do mundo, homens e mulheres sujeitos
de direito e cognição, portanto podem modificar a forma como esse mundo lhes é apresentado,
sejam esses sujeitos trabalhadores, desempregados, pessoas desassistidas, todos podem alcançar
essa mentalidade. Isto porque a alfabetização crítica não se configura como um curso de aprender,
mas de apreender, retomando discussões acerca dos valores e significados do próprio percurso,
consagrando essas ações alfabetizadoras como uma forma de política cultura, na busca pela
redemocratização da cultura e educação.
De acordo com os pensamentos basilares de alfabetização crítica, pontua Freire e Macedo
(2013a, p. 33) “[...] em um sentido específico, a alfabetização crítica é tanto uma narrativa para ação,
quanto um referente para a crítica”. Quando se refere em ação, alfabetização desenvolve a busca
pelo resgate dos traços históricos, além das experiências e a narração convencional das disposições
que dominam o meio social, nesse aspecto, alfabetizar pessoas jovens e adultas, com teor para
a criticidade, é permitir que se situem numa posição histórica e assumam posturas subversivas,
tornando-se agentes de luta para proliferação de ideias que possibilitem a vida e a liberdade.
A conscientização se torna evidente quando o sujeito aprendiz faz uma reformulação de si, há
um reconhecimento de sua pessoa, do outro, da realidade em que vivencia, em adição à medida que
se alfabetiza tornando pessoas jovens e adultas sujeitos do processo educativo com uma percepção
crítica, política. Assim sendo, algumas recomendações ao/à alfabetizador/a são necessárias:
• Primeiramente, não se colocar frente aos seus alfabetizando como alguém detentor do
conhecimento, mas se permitir a aprender nas experiências com os educandos;
• Não coisificar os sujeitos-alunos como objetos por meio de depósitos verbais de conteúdo,
mas estabelecer diálogos na perspectiva de extrair temas culturais das suas vivencias
para, assim, iniciar a tematização das palavras geradoras retiradas do contexto e iniciar a
junção das silabas, e desse modo, concomitantemente iniciar a problematização;
• A última recomendação trata da relação de empatia entre educador/a e o/a educando/a,
a fim de entender os/as educandos/as como sujeitos de direito, sujeitos de esperança, de
potência, dotados de capacidades e empoderamento, em que todos são iguais, para além
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Entendemos como Freire, que o ato de alfabetizar, é revolucionário, pois despertar nos
sujeitos a curiosidade epistemológica e a condição de se inquietarem com as injustiças sociais, a partir
do conhecimento que suscitamos ao problematizar o seu entorno e a sua própria condição social e
humana, é chocalhar esses educandos para almejarem e iniciarem a partida para as transmutações
sociais. Há nessa revolução a formação omnilateral47 tornando-os homens e mulheres livres de
posições subalternas, de inferioridade e apenas da relação com o trabalho a partir do que possuem
e produzem. Os sujeitos com esta formação, rompem as concepções unilaterais decorrentes da
alienação e constrói indivíduos que não podem ser definidos apenas pelo que possuem, sabem, mas
pela percepção de inacabamento, incompletude da disponibilidade para a coletividade, interrelações
com o mundo.
Ensinar e aprender são ações indissociáveis que, tampouco, acontecem em momentos
distintos, mas intercala-se entre educadores/as e educandos /as na construção e reconstrução do
conhecimento, sempre mediado pelo diálogo. Ratificamos que o diálogo é imprescindível nesse
contexto de alfabetização, pois a dialogicidade permite aqueles que educam uma percepção de
incompletude; não há soberania do saber ou o entendimento de que os educadores são maiores
que os aprendizes, nessa conjuntura alfabetizadores e alfabetizandos estão interligados.
A propósito do que tratamos, Álvares Pinto (1987, p. 91), por meio dos seus pressupostos,
reafirma a discussão acerca da compreensão de pessoas jovens e adultas analfabetas e o
analfabetismo, ao fazer a distinção afirma que o ponto de partida deve ser o sujeito enquanto
analfabeto, não o analfabetismo, uma vez que o último é abstrato, não contemplando de fato o
analfabeto, a realidade concreta dos homens e mulheres iletrados que devem ser vistos numa
perspectiva humanista e secundária, sendo o analfabeto fruto de uma sociedade letrada, construído
a partir de uma realidade sociológica. O analfabetismo tem raízes profundas no âmbito social e nos
modos de estratificação do sistema capitalista, que expande as desigualdades sociais por meio das
47 O termo omnilateral não é um conceito definido exclusivamente por Marx e Engels, na obra Escritos da Juventud 1897
(reimpressão, México), os autores deixam claro que a propriedade privada nos deixou estúpidos, unilaterais, pautando-se no
homem apenas naquilo que o mesmo possui, produz, a formação oposta a essa posição seria a omnilateralidade que visa o
homem que mesmo se diferenciando dos animais a partir do trabalho, não pode ser fruto unicamente do trabalho alienado.
Uma educação na vertente omnilateral se configura com a ruptura radical em vários aspectos da formação em diversos
aspectos, evidenciando os homens com expressões no campo da moral, da ética, da produção intelecto al, da arte e relações
afetivas que desenvolvem no âmago social. La propiedadad privada nos há vuelto tan estúpidos y unilaterales, que un objeto
solo es nuestro cuando lo tenemos y, por tanto, cuando existe para nosotros como capital o cunado lo poseemos directamente,
cuando lo comemos, lo bebemos, lo vestimos, habitamos en él, etc., en una palabra, cuando lo usamos (Marx; Engels, 1987, p.
620).
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A forma como os sujeitos são educados é determinante também nas posturas e atuações
no mundo. Não há como serem apenas reprodutores unilaterais das percepções ideológicas
predominantes, a educação, nessa conjuntura, não pode ser apartidária, ou de forma simplista. De
acordo com Freire (2013b, p. 122-123), ensinar requer o reconhecimento da educação e ideologia,
sendo a primeira a ruptura da segunda e nesse ritmo conceitual ideológico, o mesmo vem para
amansar e torna os sujeitos míopes sem capacidade de enxergar a realidade como de fato acontece,
a ideologia é ainda a ocultação dos fatos na opacização das verdades, já a educação é a rompimento,
possibilitando aos homens e sujeitos uma visão total do mundo.
A educação por si não concebe uma ou mais neutralidades, haja vista que não há nas
organizações sociais homogeneidade de classes, não há igualdade de oportunidades ou divisão
igualitária de bens e serviços, a forma como se direciona os sujeitos em alfabetização é para suas
ações sejam estruturadas a partir das inquietações ao se depararem com a fome, ausência de casa
ou a falta de saneamento básico. Ainda neste sentido, as posições de Freire (2013a, p. 108-109) que
discorrem que para que a educação se apresente de forma neutra asseguram que seria necessário
que houvesse convergência entre as pessoas nos modos de vida individuais e sociais e visões políticas.
Neste segmento, alfabetização na EPJA deve considerar os homens e mulheres em sua
verdadeira essência com um olhar mais amplo, profundo considerando a existência dos sujeitos
que produzem e integram a cultura, arte e literatura que emergem de realidades que os formam
e que trazem saberes necessários para o ambiente escolar. Uma visão ontológica compreende os
aprendizes desse segmento educacional supracitado, como as pessoas jovens e adultas que são,
que sabem, numa assunção homem-mundo, não apenas como mero espectadores, mas como
componentes ativos da tessitura social, seres humanos essencialmente reconhecidos e valorizados.
A base ontológica se estrutura, na visão de Marx e Engels (1968), acerca do homem que
se difere dos outros animais, pois é no trabalho, por ele e partir dele que homens e mulheres
desenvolvem mecanismos de existência, é no trabalho que há a relação com a consciência, que são
estruturados a partir da sociabilidade, que integram a liberdade e universalidade. Tais elementos
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são atributos humanos fundamentais em sua atuação no campo social. A perspectiva ontológica
concerne, aos educandos, uma visibilidade não só como trabalhadores, mas essencialmente como
sujeitos dotados de cultura, que leem o mundo, não apenas produzindo nas fábricas, empresas, mas
são fundamentados a partir das relações culturais, afetivas que desenham no percurso de existência.
Oriundos do trabalho, informalidade, baixa remuneração e longas jornadas de atividades, a
educação não tem uma postura imparcial diante de cenários da desigualdade, esses indivíduos que
trazem para o âmbito escolar as marcas e histórias que são incorporadas ao longo desse itinerário.
Trabalhadores, desempregados e informais são os perfis que compõe essa educação, as ações dos
mesmos no mundo é baseada numa concepção de subsistência, não há uma vivência, mas sim uma
sobrevivência. De acordo com Arroyo (2017, p. 52-53), os sujeitos que emergem do trabalho vêm
de uma estigmatização e segregação social, não partem de uma realidade que visa a integração em
trabalhos dignos48 e justos a redução da desigualdade está mais lenta do que a própria tentativa da
redução da pobreza, são jovens, adultos e trabalhadores que sofrem a opressão em limitações de
possibilidades de liberdade, vive-se em um condicionamento social opressor.
As ações na associação homem-mundo na formação desses sujeitos coisificados49 durante o
longínquo trajeto de supervivência são imprescindíveis para alfabetizá-los, são sujeitos que nunca
estiveram ausentes na teia social, mas foram apagados na ausência das aplicações sócio-políticas
exequíveis, que englobassem todos os níveis da população. Ademais, partindo dessa premissa, não
se concebe aos alunos como aqueles que estão ou foram marginalizados, mas sim pessoas que
foram vedadas de usufruir direitos básicos. Nesse turno, traz-se Freire pontuando que:
O analfabeto não é então uma pessoa que vive à margem da sociedade, um homem
marginal, mas apenas um representante dos extratos dominados da sociedade, em oposição
consciente ou inconsciente àqueles que no interior da estrutura, tratam-no como uma coisa
(FREIRE, 1979, p. 75).
48 Segundo a Organização Internacional do trabalho – OIT, a concepção de trabalho digno está centrada nas absorções de homens
e mulheres no domínio profissional que abrange alguns elementos em seu desenvolvimento, desde a condições exequíveis de
trabalho, remuneração adequada, segurança, proteção social para as famílias, fomento para desenvolvimento pessoal e social,
liberdade para manifestação de inquietações, possibilidade de participação e organização na tomada de decisões que afetam
as suas vidas e igualdade tanto de oportunidades quanto de tratamento.
49 Termo cunhado por Karl Marx para designar alienação característica do modo de produção capitalista, que desconsidera o
estado emocional e psicológico dos indivíduos nivelando-as aos objetos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
ARROYO, M. Passageiros da noite: do trabalho para a EJA. Itinerários pelo direito a uma vida justa.
Petrópolis: Vozes, 2017.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores
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. Educação como prática da liberdade. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979a.
. A ideologia Alemã. Trad. Castro e Costa, L. C. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
OIT, Organização Internacional do trabalho. Trabalho digno. Disponível em: https://www.ilo.org/
global/lang--en/index.htm. Acesso em: 20 jul. 2021.
PINTO, A. V. Sete lições sobre educação de jovens e adultos. São Paulo: Cortez Editora, 1985.
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