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São
Paulo: Paz e Terra. 1996.
FREIT AS, Ana Lúcia. Pedagogia da conscietuizeçêo. Porto Alegre: EDIPUC/RS, ZOO I.
MELLO, Thiago. Faz escuro, mas eu canto - Porque o amanhã vai chegar. Rio: Civili-
zação brasileira, 1965.
SNYDERS, Georges. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
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ALF ABETIZAÇÃO
Liana da Silva Borges
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verticalmente - ou para - assistencialmente - o homem, mas com o homem, com os
educandos e com a realidade" (FRElRE, 2006, p. 124).
Sem sombra de dúvida, as intervenções de Freire passam a demarcar, critica-
mente, sua concepção de alfabetização-educação, ou seja, de que há duas possibili-
dades de fazer pedagogia: uma, a partir de uma prática alienante e universalizante;
outra, a partir de uma prática libertadora e dialógica, pois não há neutralidade em
alfabetização-educação.
O ano de 1962 foi marcado pela criação do Serviço de Extensão Cultural da
Universidade do Recife (SEC) que, de acordo com Ana Maria Freire, era um desejo
de Freire, já que este compreendia a Universidade como espaço de, além de outros
aspectos, formar professores para trabalhar com educação popular.
Sendo o SEC um lugar importante para o pensamento e para o planejamento
das práticas de educação popular, Ana Maria Freire recorda que nas "primeiras
horas do golpe militar de 1964, nada sobrou na sua sede de documentação e dos
trabalhos educativos do SEC e da atuação dos idealizadores e do seu primeiro
diretor Paulo Freire" (FREIRE,
2006, p. 105).
No livro A importância do ato de ler, Freire retoma com muita clareza sua
compreensão sobre o conceito de alfabetização, acentuando que seu caráter deve
ultrapassar os limites da pura decodificação da palavra escrita, pois ''a compreen-
são crítica do ato de ler se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da leitura daquele" (FRElRE1982, p. 9).
Desta forma, apreender o texto exige a apreensão das relações entre este e o
contexto, por isto, a alfabetização é um "ato político e um ato de conhecimento, por
isto mesmo um ato criador" (p. 9), em que o alfabetizando é sujeito e não o objeto da
alfabetização. •
Ensinar não é transmitir, mas estabelecer condições para sua construção, sendo
que quanto mais crítico for este processo (ensinar e aprender) tanto mais se amplia
a vontade de saber, a curiosidade epistemológica diante dos desafios que o mundo
apresenta.
Esta relação texto-contexto-texto e mundo-palavra-mundo está presente no
cotidiano, sendo que a isto Freire chama de movimento, visto que "a leitura da
palavra não é apenas precedida pela leitura de mundo, mas por uma certa forma
de escrevê-Ia ou de reescrevê-Ia", ou seja, de transformá-Ia a partir de uma prática
consciente (FRElRE, 1982, p. 13).
Nesta perspectiva a alfabetização que é compreendida como ato criador não
pode ser vista como um simples processo de memorização mecânica das palavras e
das "coisas mortas ou semi-mortas" mas como um processo que se encharca de atos
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de criação e de recriação. Para tanto, o papel do alfabetizador(a) deve ser o de "dialogar
com o "analfabeto" (aspas minhas) sobre situações concretas, por isto a alfabetização
não pode fazer-se de cima para baixo, nem de fora para dentro" (FRElRE, 1979,p. 41).
A centralidade da alfabetização está em garantir que as palavras geradoras que
organizarão o processo de ensinar sejam oriundas da realidade dos alfabetizandos( as),
dos grupos populares, sendo assim, forma-se o que Freire denomina de universo
vocabular, carregados de experiência existencial.
O debate em torno das palavras geradoras busca o conceito antropológico de
cultura, alfabetizando e conscientizando simultaneamente. Freire afirma que são
"situações locais que abrem perspectivas para análise dos problemas regionais e
nacionais" (FRElRE,1979, p. 43),porque uma palavra geradora pode envolver uma
situação de um indivíduo ou de uma coletividade.
Entretanto, para melhor explicar um processo de alfabetização que dialogue
permanentemente com a realidade dosías) educandosías), Freire faz importante
ressalva ao retomar esta idéia em Pedagogia da esperança, urna vez que ele percebe
que há uma visão reducionista entre alguns que compreendem que levantar as
palavras geradoras significa nelas permanecer, entretanto, Freire nunca disse que
"este universo vocabular deveria ficar absolutamente adstrito à realidade local. Se o
tivesse dito não teria da linguagem a compreensão que tenho" (FRElRE, 1982, p. 45).
Neste sentido, "a função do educador não pode ser a do repassador ou a do
consulente especialista, mas sim a de um parceiro, a de um articulador de um
movimento formativo, de uma liderança política e intelectual" (BRITTO,
2006, p. 16).
Aprender a ler e escrever, mesmo que seja um desejo individual legítimo (para
melhorar de vida) e uma necessidade imposta socialmente, não pode esgotar-se
nesses dois aspectos, ao contrário, a alfabetização precisa ser compreendida como
um conhecimento ampliador, pois alfabetizar-se "é participar, junto com outras
pessoas, de um universo ampliado da't'rópria curiosidade humana. Essa matriz da
consciência, junto com o conhecimento e o sofrimento" (BRANDÃo, 2006, p. 441).
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular na escola cidadã. Rio de Janeiro:
Vozes, 2002.
BRITTO, Luiz Percival Leme. Ler e escreverpara ja"{er-leitura e escrita na educação de
adultos. São Paulo: Pancolor fotolito e gráfica, 2006.
FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire - uma história de Vida. São Paulo: vilIa das
Letras, 2006.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1982.
FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. I. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
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