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Organizadoras

Gislaene Moreno
Tereza Cristina Souza Higa

Geografia de Mato Grosso

Território • Sociedade• Ambiente

Colaboradora
Gilda Tomasini Maitelli

Autores
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
Cornélio Silva no Vilarinho Neto
Cristina Maria Costa Leite
Gilda Tomasini Maitelli
Gislaene Moreno
Jurandyr Ross
Lunalva Moura Schwenk
Mário Diniz de Araújo Neto
Prudêncio Rodrigues de Castro Júnior
Tereza Cristina Souza Higa
Tereza Neide Nunes Vasconcel os

~(. entrelinhas]
l
Cuiabá 2017

Scanned by CamScanner
,-ervado para EntreDnhaS EdltOfa

Editora• Designer G"flco


Maria Teresa Carri6n Carracedo

ao na Publicaç o (CIPl Revisão dos originais da 1 • edlçlo


Dados Internacionais dl! caialogaç SP eraslll e Luiz Vicente da SIiva Campos FIiho
(CJmara Brasllf'lra do Livro. Dora Le mes
Pesquisa e seleçlo lconogriflca
1
Geografia dfo M,to Grosso · ierr1tt ;~~o~~1:ndo, Tereza Maria Teresa Carrlón Carracedo
ambiente organizadora< Gls G Ida Tomas1no
Cristina Souza Higa colabol ,ad;•:ab~ Entrelinhas capa e tratamento de imagens
Mall Ili 2 d ,ev. e atua . . u Helton Bastos
Editora 2017
Diagramação e desenho de gr.1iflcos
Vânos autores
MaikeVanni
Blbhoorafoa
ISS 978-85•79ª2• 100· 1
Mapas, lnfográficos e ilustrações
Geografia - Maio
1 Geografia · Mato Grosso 2· 11 Higa. Marcus Lemos
Grosso iMTl - Descrição 1. Moreno. G1slaene. i'n.
Tereza Cristina Souza. Ili. Ma1tell1. Gilda Tomas o. Revisão cartográfica da 1 • edição
Leodete Miranda
CDD-9 18.172
17 01482 Revisão de textos
Índices para catálogo sistemático:
Henriette Marcey Zanini e Walter Galvão
1 Geografia Mato Grosso: Cidade 918.172 Fotos
918 72
2. Mato Grosso: Cidade: Geografia ·1 Ednilson Aguiar. Edson Rodrigues• Franco Venâncio.
Guilherme Filho. José Medeiros• Laércio Miranda• Marcos
Bergamasco (Agência Phocus) • ~arcos Lopes• Marcos
Negrini. Maria Friedlander • Maunc10 Barba~t • Otma_r de
Oliveira. Raimundo Reis• Rafael Manzuttt • Ricardo Miguel
Nota da revisão e abreviaturas
Esta obra utrliza o singular para designar povos indígenas carrión carracedo. Silvio Esgalha • Wagner Castro• Arquivos
por adotar a grafia convencronada pela Antropologia, públicos e acervos particulares· Banco de Imagens C&C
como por exemplo: "os Apiacá': "os Paresi~•os Bororo".
ANI : autor não identificado.
Produção Gráfica
Ricardo Miguel Carrión Carracedo
Ilustrações da Capa
1
• Imagem de satélite da Província Serrana, LandSat 5 (p.23 l Suporte administrativo para a edição
• Mapa de los confines dei Brasil con las tierros de _la carona de Carlos Alberto Ozelame
Esparia (p. 17) • Ouro de aluvião, de Mano Fnedlander (~- _238)
• Grãos de soja, de José Medeiros• Mapa do Atlas H1stonco- Assistentes de produção na 1 • edição
Geográfico: para uso das escolas do Brasil,_de _
1925 (p. 22) • Angela Carrión Carracedo Ozelame • Marcelo Galvan •
o encontro do Juruena-Arinos, de Ma rio Fnedlander (p. 284) Rafael Manzutti • Rosane Campos• Walter Galvão
• Jaguatirica, de Mario Friedlander (p. 275).
Impressão
Gráfica Print

Agradecimentos da Editora a ...


• Lenice Amorim (in memoriam) • Leodete Miranda, pela
revisão cartográfica dos mapas e infográficos da lª edição
deste livro.• Mario Friedlander e José Medeiros, pela
Todos os direitos desta edição reservados paciência e atenção às nossas constantes solicitações
ENTRELINHAS EDITORA de fotos para os diversos capítulos.• Henrique Meyer, da
Av. Senador Metelo, 3.773 • Jardim Cuiabá Conomali, que cedeu e identificou as imagens de Walter
CEP.: 78.030-005 • Cuiabá, MT, Brasil lrgang documentando a colonização de Porto dos Gaúchos.
Distribuição e vendas: (65) 3624 5294 • 3624 8711 • Roger Sebastian da Silva Silveira, pela cessão da imagem
e-mail: vendas@entrelinhaseditora.com .br do satélite LandSat S, da Província Serrana, em Cáceres.
www.entrelinhaseditora.com.br • Júlio César Maciel de Jesus, pelas sugestões de revisão
nesta 2• edição.
Impresso no Brasil
2• edição: março de 2017 Instituições que cederam imagens para esta publicação
2.000 exemplares • Arquivo Histórico Ultramarino• Casa da lnsua •
Casa Barão de Melgaço. Arquivo Público do Estado de
Reprodução proibida
Mato Grosso• Arquivos do lntermat e Empaer •
Art. 184 do Código Penal e Lei 9.61 O, de 19 de fevereiro de 1998.
Nenhuma parte desta edição pode ser repreduzida ou utilizada - em quaisquer Biblioteca Pública Municipal do Porto, Portugal • Cedoc/SES/
meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia ou gravação, etc, - APMT • Fundação Biblioteca Nacional • Museu do 9º BEC •
nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem expressa Museu da Imagem e do Som de Cuiabá • Prefeituras municipais
autorização da editora. de Sinop, São José do Rio Claro e Tangará da Serra.

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Apresentação

Pensando no presente e f
. . no uturo de Mat 0 G
no inquestionável poder de t & rosso e e 4. Quadro natural e a natureza transformada. São 15 capí-
_ rans,ormaçã O I E
çao, apresentamos a segunda ed· _ d pe a duca- tulos e 11 autores com formações em áreas especificas da
Grosso: Território Sociedade A b,~ao e Geografia de Mato
' , m 1ente obra q - Geografia ou áreas afins, da Universidade Federal de Mato
a nossa coleção didática de refe . . , ue compoe Grosso, Universidade de São Paulo e Universidade de Bra-
nhecer Mato Grosso Acred,·tam renc,a para estudar e co- sil!ª· Foram produzidas 109 figuras, entre mapas, gráficos
. os que a com -
realidade mato-grossense a exp . _ d preensao da e ilustrações, e inseridas 250 fotografias, totalizando 368
. . ' os,çao as contradi -
impasses socioespaciais que nela çoes e imagens. A edição conta com textos complementares e su-
- b. . se apresentam é condi
çao asrca para que todos possam i . ' - gestões de atividades que ajudam o estudante a analisar
·d d · 'e et,vamente exercer a
sua o a anra. A partir desse conh . . ' . cada tema tratado a partir da sua própria experiência em

ti nrr . ecimento e possrvel de-
que ambrentes/espaços queremo . d . sua localidade/bairro/município/Estado.
. s aJu ar a construir/
conservar/ modrficar: e como quer . Considerando Geografia e História como ciências arti-
. . . . emos que seJa o Estado/ culadas, este livro apresenta chamadas interdisciplinares
crdade/vr la/d1strrto/bairro ou a nossa d
_ ' ru a. Os esafios do encerradas em pequeno box, que remetem a conteúdos
nosso tempo sao muitos.
~m~ grande equipe de autores acreditou na im- relacionados publicados no Atlas Geográfico de Mato
Grosso, de Leodete Miranda e Helton Bastos e no livro
portancra desta_ º?ra e sob a coordenação das profes-
História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias
soras Tereza Crrstina Souza Higa e Gislaene Moreno
;;;
:.,
atuais, de Elizabeth Madureira Siqueira, pertencentes
e organizo u conteúdos e produziu textos inéditos de ,
,."' à mesma coleção. Estamos atentos ao fato de que
o uma forma didática e abrangente. Os autores
"'
õ acompanharam o processo de produção de não existem ciências realmente independen-
~

,
.)
tes, uma vez que a realidade é uma só em
mapas, gráficos, ilustrações e seleção de
,' sua diversidade e cada ciência estuda um
imagens ilustrativas do conteúdo. Agra-
dos seus aspectos, com multiplicidade de
decemos a paciência, a compreensão e
olhares.
o espírito colaborativo de todos. Agrade-
Este livro mostra um Estado dinâmico,
cemos, especia lmente, à professora Gilda
em permanente transformação - já que a
Tomasin i Maitelli, que fez parte do corpo
única certeza que temos é a impermanên-
de organ izadoras da publicação no pri- cia de tudo -, com grande diversidade cul-
meiro momento do projeto, quando o plano tura l e socioambiental e que vive momentos
inicial da obra foi elaborado, e hoje figura como cruciais nas relações do homem com a natureza.
colaboradora. Entender como o processo se dá é o desafio.
Geografia de Mato Grosso: Território, Sociedade, Ambien- A nossa visão é de que gestores públicos comprome-
te oferece aos estudantes e interessados em conhecer o tidos com a sociedade atenderão ao direito que o cida-
Estado informações e dados atuais, com análises críticas, dão mato-grossense tem de conhecer o seu território, as
destacando o processo de produção do território - seu relações que nele se estabelecem, as forças que atuam na
desenvolvimento e contradições - nas relações estabele- dinâmica da sua construção, disponibilizando obras como
cidas entre os homens e entre estes e a natureza. Mostra o esta nas bibliotecas públicas e escolas de todo o Estado,
papel da geopolítica e das políticas públicas nas diferentes para que alunos e professores tenham acesso. Grandes
formas de apropriação do território e sua vinculação com transformações somente virão quando tivermos gestores
a expansã o do capitalismo nas áreas de fronteira agrícola, públicos e da iniciativa privada com a percepção de que o
para a integração dos chamados 'espaços vazios' ao territó- conhecimento e a cultura têm a mesma importância que
rio nacional. as obras de infraestrutura. A formação do homem em con-
Está dividido em quatro unidades temáticas: 1. Contex- dições plenas para o exercício da cidadania é fundamental
tualização; 2. Expansão ocupacional e construção geográ- para que ele tenha os instrumentos necessários para trans-
fica do território; 3. Políticas de desenvolvimento regional; formar o seu ambiente.

Maria Teresa Carr\ón Carracedo I Editora

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çã no século XX .............."".............. 52
Capítulo 4 - A coloniza o
G,slaene Moreno
Sun,ário
A~rt~1, 1 estadual e federal de colonização.
em M at o Grosso_ 1900/1990, 52 • A coloni-
. o f'1c1•ai como política de povoamento
zaçao . do•
Unidade 1 - Contextualização 'tório - 1900/1 960 '
53 • Política federal
.
de colonizaçao
ternMato Grosso e exp ansão espacia l do capital - 1970/1990,
·
Capítulo 1 - Cotidiano e Modem,'d ade .....................................S em . • ficial , 62 • A atuação do E5tado Nacional
6 1 A colonIzaçao o
• • A atuação do governo estad ual at,a-
través do Incra, 62 . • . l
r nJ _,,,. H,cn
ªé d Codemat e lntermat· 66 • A colonizaçao partIcu ar,
Contextualizando Mato Grosso, 8 • Moder- v s ª FI resta dão lugar aos campos de grãos e às
6 7 • Cerrado e O ••
nidade, neoliberalismo e mundialização, 9 .
cidades, 70 • Sugestão de At1v1dades, 71
O sécu o XX. JO • Inserção no mercado globa- ,
Capitulo 5 - 0 .ma• mica populacional de Mato Grosso ......... 72
• d 1' • 1d ce de Desenvol\ Imenro rlumano - IDH no
, do 14 • Sugestão de Atividades, 1 S Gislaene Moreno . Tereza Cristina Souza Higa

Crescimento populacional, 72 • Carac-


Unidade 2 - Expansão ocupacional e /r', ,, .ft,,,... terísticas gerais do crescimento popula-
construção geográfica do território ,/ / ✓-- cional, 73 • Distribuição e crescimento da
populaçao - ur bana e rural ' 75 • Densidade demográfica,

Capítulo 2 - Processo de ocupação 79 • A migração na composição e estrutura da popula-


ção (197012000 ), 80 • A migração no contexto atual da
e formação territorial ........................................................... 18
· agri'cola mato-grossense (2005/2010),
f ronte,ra . . 82
. • Estru-
0
e 3 C.1•sí nà Souza H1ga
tura popu lac ·,onal·· distribuição por faixa. etaria,
. . sexo e
Expansão portuguesa para o oeste, força de trabalho, 85 • Distribuição por faixa etana e sexo,
18 • Vias de acesso, 19 • Formação da uni- 85 • Força de trabalho, 87 • Distribuição por setores
dade político-administrativa, 20 • Política da economia, 87 • Diversidade cultural, 88 • Sugestão de
portuguesa de ocupação, 21 • A economia do século XVIII Atividades, 89
e seus reflexos na formação do território, 24 • A economia
Capítulo 6 - A reordenação do território ............................... 90
no século XIX e seus reflexos na formação do território,
2S • O 1° ciclo do diamante, 25 • A expansão da pecuária, Tereza Cristina Souza Higa
~
25 • Formação territorial no final do século XIX e início
do século XX, 26 • Ciclo de exploração vegetal, 26 • A A integração de Mato Grosso na economia
e ·a-mate 26 • A poaIa, 26 • A borracha, 28 • Os ciclos eco- nacional, 90 • O processo de divisão muni-
nômicos do início do século XX e seus reflexos na formação cipal, 92 • A interiorização da economia,
territorial, 29 • O açúcar, 30 • O 2° ciclo de exploração do 93 • Divisão regional, 97 • Sugestão de Atividades, 101
o amante, 30 • Política ocupacional da primeira metade do
Capítulo 7 - Os povos indígenas em Mato Grosso ............. 102
século XX, 31 • Sugestão de Atividades, 33
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
Capítulo 3 - Políticas e estratégias de ocupação .................. 34
Territórios e expropriação, 102 • Mato
G,s aene Moreno
Grosso: os territórios índios, 103 • O sul e
A inserção de Mato Grosso na economia o centro mato-grossense, 104 • Os Bororo,
nacional, 34 • Mato Grosso integra-se à 104 • Os Bakairi, 105 • O norte mato-grossense, 106 , Os
economia nacional, 36 • O impacto dos Pro- Apiaká, 106 • Os Kayabi, 106 • Os Panará, 106 • O oeste
gramas Especiais de Desenvolvimento Regional em Mato mato-grossense, 107 • Os Paresi, 107 • Os Umutina,
Grosso (1970/1980), 37 • Mato Grosso compõe a Amazô- 108 • Os Nambikwara, 109 , Os Myky, 11O • Os lrantxe,
~a b ;,e E 'd 37 • Programa de Integração Nacional - PIN, 11 O • Os povos Tupi-Mondé, 11 O • Os Suruí, lll • Os Cinta-Larga,
.39 • Prcrerra, t.O • 0 rodoeste, 40 • Programas integra- 112 • Os Zoró, 112 • Os Arara do rio Aripuanã eos Arara do rio Guariba, 112 , Os
dos de desenvolvimento regional, 40 • Poloamazônia, Rikbaktsa, 113 • Os Enawenê-Nawê (Salumã), 114 • índios
40 • PoiocPr ro, 4 1 • Prodepan, 41 • Outros programas
isolados, 114 • O nordeste mato-grossense, 114 • Os Karajá,
setoriais de desenvolvimento regional, 42 • Polonoroeste
114 • Os Tapirapé, 115 • Os Xavante, 116 • Parque Indígena
42 • Corexport, 43 • Prodecer, 43 • Probor, 44 • Prodiat·
do Xingu, 118 • Sugestão de Atividades, 119
45 • Prodien, 46 • Prode,. 46 • Promat, 46 • Programas d~
desenvolvimento sustentável, 46 • Prodeagro, 46 • Pro- Capítulo 8 - Dinâmica urbana regional ................................ 120
grama Pantana,, 47 • As bases de um novo território
Cornélia Silva no Vilarinho Neto
4_8 . • Texto. complementar: Síntese dos relatórios par~
C1a1s e finais do Prodeagro, 49 . Sugestão de Ativida- A formação das cidades e a urbaniza-
des, 51
ção, 120 · Agentes produtores do espaço
urbano, 122 • A urbanização brasileira
123 Ub · '
• r anização em Mato Grosso, 124 • Rede urbana
e formação de reg · - . .
ioes, 127 • Cu1aba: metrópole em for-

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mação, 128 • Cidade
130 • Tiextos compleme campo·
t ·
un·d
1 d
ª e e diversidade•
en ares· A 9 ti
Estatuto da Cidade, 133 . Re • es o democr6tlca no
Unidade 4 - Quadro natural e a natureza
do rio Culab6, 134 • S ' ~ 1ão metropolitana do vale transformada
ugestao de Atividades, 135
Capitulo 12 - Estrutura e formas de relevo ......_ .._ ...... 222
Unidade 3 - Políticas de d .
esenvolv1 mento .11J1Jndyr Ho~· - 1Pri>.:J Nf'll1, • u , ./,1vor lo\•
regional F- ,ud, r1r 10 l~rdr111un, dt· ( -:i (ro JtJf1 c~r

Capítulo 9 - Agricultura· transfo _ O relevo no processo de produção do


. rmaçoes e tendências .... 138 espaço, 222 • Compartimentação geo-
Litslaent Mueno morfológica de Mato Grosso (unidades geomorfológicas),
227 • Recursos Minerais de Mato Grosso, 236 • Texto
A apropriação do território, 138 • Uso da complementar: A importância dos solos na evolução e
terra e produça- 0 ,
. . agropecuaria, 141 • Pnn- expansão ocupacional de Mato Grosso, 239 • Glossário
c,pa,s produtos agropecuários, 143 •
144 • Milho, 148 • Algodão 150 G
"º a
J •
do capítulo, 240 • Sugestão de Atividades, 241
· • llilSSOI 15 ~ • Arroz
153 • Cana-de- açLJcar 54 A · Capítulo 13 - Interações atmosfera-superfície .........._....... 242
, . · • pequena produção,
157 • Pecuaria, 159 • Estrutura fund·, .
1aria e relaçoes de
_ r,,lda 1( as, ,· 11a11e1 ,
trabalho,
. 165 . • Textos complement ares. . A b'1otecno-
log1a na agricultura, 170; Uma alternat·ava eco 1ogaca, , • O clima, 242 • Clima e mudanças climá-
_ ticas, 242 • At1v1dades humanas e clima,
172 • Sugestao de Atividades, 173
244 • Clima e vegetação, 245 • Clima e
Capítulo 1O - Políticas públicas de infraestrutura altitude, 246 • Massas de ar e frentes, 247 · As chuvas,
e de desenvolvimento regional ........................................ 174 248 • A temperatura, 248 • Tipos de climas, 250 • A
00

"'
ô classificação de Kõppen. 250 • ,-.. r,a,< · -arão rle .,·rarler
G1slaene Moreno
"'
e,; 251 • Texto complementar: Classificação climática deta-
.:
,.;
. O setor industrial, 174 • Retrospectiva h is-
tórica, 174 • O processo após 1970, 176 • A
lhada, 252 • Sugestão de Atividades, 253

~ Capítulo 14- Domínios Biogeográficos ............................... 254


e..
o indústria mato-grossense, 177 • Programas
C7'
'ô estaduais de apoio ao setor industrial, 181 . Energia e Lunalva Moura Sch.- e,.,,
-o
u
e transportes, 182 • Energia elétrica, 182 • Transporte, Interações entre Fitogeografia e Zooge-
"O
V
co 187 • Complexo rodoviário, 188 • Eixos de Integração ografia, 254 • A importanc,a dos domí-
Nacional e Desenvolvimento, 190 • Corredor de Exporta- nios biogeográficos, 254 • Classificação
ção ~oroeste - Eixo Pacífico (Mato Grosso-Bolívia-Peru-Chi le), e distribuição dos domínios biogeográficos, 256 • '-er-
191 • Corredor Centro-Sudeste - Eixo Sul 1 (Ferrovias Norte rad o, 256 • Floresta s, 261 • Pantana 26., • Glossário do
Brasil - Ferronorte), 191 • Eixo Sul li (Hidrovia Paragua i-Pa raná), capítulo, 273 . Texto complementar: A importância
192 • Corredor Centro-Norte - Eixo Leste-Norte (Hidrovia Rio estratégica da biodiversidade da Amazônia Brasileira,
das Mortes-Araguaia-Tocantins), 193 • Corredor Noroeste 274 • Sugestão de Atividades, 275
_ Eixo Oeste-Norte (Hidrovia Madeira-Amazonas), 193 • O Capítulo 15 - Hidrografia ........................................................ 276
comércio e os serviços, 194 • O comércio externo,
194 • Turismo, 198 . Os Planos Nacionais de Desenvol- Gilda Tomas,ni Ma,te"'
vimento do Turismo - PNTs, 199 • Aspectos históricos do A hidrografia no contexto regional, 276 · A
Turismo em Mato Grosso, 199 • Potencialidades e at~at1vos importância da hidrografia, 276 • Carac-
turísticos, 202 • Turismo de eventos, 202 • Sugestao de terísticas da hidrografia, 278 • terações
Atividades , 209 com O relevo e o cl ima, 278 • As bacias hidrográficas, as
sub-bacias e os problemas ambientais, 282 • Rac.,a A,'la·
Capítulo 11 - Desenvolvimento socioeconômico 1O zônica, 282 • Bacia do Tocartins, 28b • Bac·a do Pa,aná (Pla-
no contexto da região Centro-Oeste ............................... 2
tina), 287 • Planejamento em micro-bacias, 289. •. Te~to
Mário Diniz de AraúJO Neto. Crisnna Maria Cosia Leite complementar: Águas subterrâneas e a s~a ut1hz.a~ao,
290 . Glossário do capítulo, 291 . Sugestao de At1v1da-
· 1 210 • Espa-
A estrutura do espaço regiona , . .
ços estruturados sem a intervençao direta de des, 291
• 211 • Espaços rees-
políticas governarnen t ais, . ,
,. rnarnentais a partir da decada . .........................................··········· ............................ 292
truturados por politicas go~e d ção política do Estado Referências
O 214 Os espaços antes a a
de 197 , • ,. , overnarnentais e reestrutura-
Nacional, 215 • Pol1t1Cas g d Bra sília 216 • A1ea de
216 • o
ento rn o e ,
ção do espaço, _ _ d d 216 • Area de fronteira
~
1
agropecuária cap1tal1sta c;nso an;~gração regional, 217 • A
capitalista recente, 2 17 •
rea e i'usões, 219 • Sugestão de
ação do Prodeagro, 218 • Cone
Atividades, 219

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M.,10 Gro r
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u ndo p. \ trmulos p ra
u ,, 1111 r, r I rsos progr
u, , , pt . o tr nsfor ram m u
dut u, rro o

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Figura 1.1
MATO GROSSO - LOCALIZAÇÃO NO BRASIL E NA -.
AMcRICA DO SUL

.. Modernidade

Conjunto de mudanças técnicas e socioculturais


e desencadeadas pelo Iluminismo racionalista europeu que
COLÔMBIA revolucionou as concepções, valores e formas de vida das
..._ e sociedades. Dentre os valores e novas concepções que
EOUAOOR
conduziram a sociedade, destacam-se: a separação entre
Estado e Igreja, entre religião e ciência; adoç.ão de novos
padrões arquitetônicos; busca de objetividade e exalta-
,.. PERU
(!)
ção da racionalidade sobre a emoção e a sensibilidade.
A modernidade se fez sentir, sobretudo, pelo avanço da
0 ""' sociedade industrial e padrões de conforto da vida urbana,
BOLMA embora não estivessem acessíveis a toda a sociedade.

Fonte: Adaptado de Gomes, 2003; Haesbaert, 2002.

0 Ao rianópolts
OCEANO transformações urbanas em suas capitais, com melhorias
PAdACO ARGENTINA
,.. Af
URUGUAJ
,.(!) @ _,.,
na infraestrutura e instalação de unidades industriais, e
ly\c,n1ev1déu muitas outras alterações - conferiam-lhes a condição de
precursores da modernidade no Brasil. Na Europa e nos
OC!ANO
ATZ/,tmco Estados Unidos, este processo estava em adiantado curso.
Em Mato Grosso, os primeiros reflexos dessa moder-
nização surgiram ainda na segunda metade do século
llh.u f~nd CMaMNs) XIX. Alguns aspectos da modernização relacionavam-se a
(RUH)
O J SO 700km
medidas burocráticas e administrativas que constituíam a
... ... "" 50' ..,. ,.,. base para futuras transformações. Nesse contexto, mere-
fonte: 18GE. 2000b.
cem destaque as primeiras alterações ocorridas no sistema
educacional, que objetivavam, através da escola, preparar
Mato Grosso
os cidadãos para os novos tempos. A escola era concebida
Outros estados
como um "templo de luz", cujo principal papel era irradiar
D Território internacional ideias que conduzissem os habitantes do interior do Brasil
® Capitais ao "mundo civilizado", conforme os padrões culturais da
® Capital do país Europa ocidental.

Modernidade, neoliberalismo Educação e Modernidade

e mundialização Os pressupostos da educação pública mato-grossense


mantiveram consonância com aqueles veiculados na
Até o final do século XIX, poucos eram os indicadores da Corte, onde a trilogia obrigatoriedade, gratuidade e liber-
dade de ensino representava a base segura e o norte no
modernidade observados no cotidiano mato-grossense,
encaminhamento da proposta educacional para o Brasil
diferentemente do que ocorria em outras áreas do Brasil,
moderno. Num movimento igualmente ternário - Europa,
a exemplo da cidade do Rio de Janeiro, que era a capital Rio de Janeiro e Mato Grosso -, o discurso iluminista,
do país. Destaca-se que, nos estados do Rio de janeiro e emoldurando a política no campo da instrução pública,
de São Paulo, a expansão e melhoria na rede de transpor- fará do Estado seu propugnador e majoritário condutor.
tes - inclusive instalação de ferrovias que vinham sendo
construídas desde meados do século XIX, assim como as Fonte: Siqueira, 2000.

9
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to Marechal Cândido Rondon, em
A construção do aer~~-~;ou a partir de 1951, antes mesmo
Essas primeiras medidas de inspiração moderna não
Várzea Gra~de, poss;a' ~ li 'ação regular de Cuiabá com o
chegaram a marcar significativamente o meio urbano e,
da conclusao da ob ' . guguração em 1956, novos voos
menos ainda, o espaço rural de Mato Grosso. A rigor, ª J • Apóssua1na '
maioria dos aspectos sociocultu rais e econômicos do c~t,- Rio de aneir 0 · ração consolidando um novo
regulares entraram em ope ,
diano mato-grossense no final do século XI X tinha feiçoes d odernização no Estado. • .
tipicamente coloniais. A cidade de Cu iabá, principal centro marco a m , d d sob a influenoa dos
A partir da deca a e 1950, . b'
urbano do Estado, se expandia, mas manti nha os traços 'd de a paisagem urbana de Cuia a
d ões da mo erni ª '
d ·
básicos do colonialismo no traçado das ruas, de suas cons- pa r sso de demolição de seus antigos
assou por um proce . ,
truçôes e estilo de vida da população (Figura 1.2). Dentre os p 'd dos importantes marcos de sua traJeto-
sinais que atestavam a chegada da modernidade em Mato casa ri os, cons1 ~r~ . d , lo XVIII Assim antigas cons-
. advi nd a do ,nic10 o secu . ,
Grosso, podem ser citadas algumas construções urbanas, o na, - dobe imponentes casarões, e mesmo casas
serviço de navegação a vapor (Figura 1.3) e a Usina de ltaici, truçoes em a ' d
. . les baixas e compridas, adorna as por peque-
em Santo Antônio de Leverger. Esta usina, embora con- ma1~ s1mlp d'e madeira fora m demolidas pa ra dar lugar a
servasse o sistema colonial de traba lho, o seu maq uiná- nas Jane as ' t
edifícios de padrão arquitetônico moderno. 1mportan es
rio de funcionamento a vapor era exemplo da tecnologia
moderna importada da Europa. mudanças oco rreram, t ambém, em mu itas da~ pequenas
praças, nas antigas ruas t ort uosas e nas est~e1tas po~tes
sobre o córrego da Prainha. Dentre as m uit as m edidas
O século XX tomadas em busca de adoção de pad rões m od ernos, de~-
t aca-se a demolição da antiga Catedral, importante patri-
Na década de 1910, Mato Grosso foi integrado ao sis- mônio da sociedade mato-grossense, que deu lug ar a uma
tema nacional de comun icação pela rede de telegrafia - nova igreja.
através de Cuiabá e algumas cidades do interior - , cujos A partir das décadas de 1960 e 1970, Mato Grosso con he-
trabalhos fo ram coordenados pelo Marechal Cândido ceu signifi cativas muda nças nos meios rural e urbano, em
Mariano da Silva Rondon . busca da modernização. Dentre elas, destacam-se:
Na década de 1920, foi const ru ído em Cu iabá, no • implantação dos grandes eixos rodoviários;
atua l ba irro Campo Velho, o primeiro cam po de pouso • crescimento da urbanização;
para aviões, o que significou um avanço nos sistemas de • expansão agropecuária;
transporte e com unicação do Estado. Alguns anos depois, • mecanização ag rícola;
com a construção de um segundo campo de pou so, • desenvolvime nt o in d ustrial, em especial
Cu iabá passou a ser servida por companhias aéreas como da agroind ústria;
a Pana ir do Brasil, Cruzeiro do Sul, e Real Aerovias, con- • ava nço do set or de serviços e de informática;
t ando, também, com o serviço do Correio Aéreo Nacional. • desenvolvimento d o setor d e telecomunicações.

e
¾
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"C
g
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zs:

Figura 1.2 - Intendência Mun ici pal, na rua Pedro Celestino


centro de Cuiabá . Década de 1920 ' Figu ra 1 3 -
rn a d
. . , rque e esembarque de mercadorias no
Porto de Cu1aba. Início do século XX

10

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Cotidiano e Moei
ernfdade
· -. ~~ Capítulo 1
As transformações ocorr"d
. ' as a part' d
foram importantes para dar a M rr a década de 1960
de participar da dinâmica d ato Grosso as condiç·
· a Polític • oes
dral atual, e truturada sob a .d . ª economica mu _
• • 1 eolog,a n l'b n ~lassi~ca ão dos países sob a ótica
relem cap,tah ta, cuja princip l eo ' eral e a nova
. . . a característic , da acumi1iação capitalista
1,za a e n mJCa, apoiada pel , a e a mundia-
. fi as rnovaçõ .
recn l 91 as e e cientes rede d , es científicas e
p ibilitado relações comer ~ . e comunicação, que têm
• Países . pobres ou sub desenvolvidos - Caracte-
c,a,s e din . rizam-se pelo estado de acentuada pobreza de
e apitai . am,zado os fluxos : xpresslva parte de sua população, cujos principais
Participar da economia m . dindicadores
. sa· º·• b aixa
· renda per capita, condições
• ~dral zada - .
nece anamente, garantir lucros~ ai ao significa, eficie~tes de saneamento, altas taxas de natalidade,
mares na escala do desenvof . cança novos pata- ~ortahdade e analfabetismo, bai;co nível de instru-
vrme to É .
çao, serviços de saúde deficitários, baixo consumo
derar que o model econõ . . · r rso consi-
.h erallzaçao
. . comercial que emrco . vrgent "- ~ es upõe a e altos índic s de dese mprego e subemprego. No
.. ' xrge uma P O • plano Prod uti ~ e econôí(lico, os países subdesen-
etittva, em condições 'tie ass çao com- v 1 'd '
, egurar mercad O . 0 vi ~5 _aprese tam baixos íveis de poupánça,
ue parses emergentes, a em I d
0
. · <i'. rre industnahzação\e xporta~ s restritas a poucos pro- 1
p lítica de protecionismo dos p? Brasil, e azão da dutos primários.\ /
de recursos financeiros e defic•,'-pa,_ses desenvolvidos fal a • Países Emergen es - Apresentam, ainda, muitas das
re era tecn 1· ·
minados setores, não estão com t: d o ogrca em•é!~ e características dos ·países subdesenvolvidos, porém 1
°
condições no mercado global. pe rn em igualdade "de co'.11 menor intensidade. Corresponde ao grupo de
pa1s s que conseguiram, nos últimos anos alca nçar
As medidas protecionistas adotªdas por muitos · 7
melhorias no_Çg_mpo econômico e na qua lidade de
desenvolvidos, pautadas, em geral ,. parses
. • • . ' em po1rtrcas de subsí- .vida de stras- opuiaç'ôes. Assim, estes países apre- 1
dros, tem dificultado a inserção dos , ,+.,,
parses e ..\ergentes no sentam maior nível de escolarização da população, ~
mercado global, pois estes perdem competiti idade ao dim inuição da pobreza e garantia de acesso a servi-
ofertarem seus produtos com preços que re fl etem O'Eusto ços básiécís, crescimento da oferta de emprego e da_
__r:..enda per capta; aumento da produção e da produti-
real da produção. Diferentemente, nos países em h,
b 'd· que a vidade agropecuária, crescime nto do setor industrial
~u s~ ,os para o setor agropecuário, o preço de comercia- e outros.
lrzaçao de seus produtos apresenta-se significativamente • Países desenvolvidos - Apresent'cim e levado níve l
menor, o que lhes garante a preferência dos mercados em ~e renda per capita e alto pa91ão de vida, compar-
detrimento dos que produzem sem os benefícios desÍeais tilhado por amplas camadas da sociedade. Quanto
dos subsídios. à estrutura econômica, são países industria lizad os,
Os problemas de acesso justo ao mercado externo con- com me nor dependência tecnológica.

tribuem para o déficit da balança comercial, o que pode


causar dificuldades para a economia do país e, especifica- Fonte: Adaptado de Sandroni, 2000.

mente, do Estado, inviabilizando os investimentos focais.


Esta situação pode gerar, também, problemas financeiros formas estratégicas de inserção na economia global que
internos, dependência tecnológica, desemprego e muitas lhes permita vencer a pobreza e superar seus agudos qua-
outras mazelas de caráter socioeconômico. dros de desigualdade ocial. O Brasil, e particularmente
Contudo, é importante diferenciar o avanço da moder- Mato Grosso, têm trabalhado em duas frentes: a primeira,
nidade do uso de sua estrutura para a promoção e sus- de caráter interno, di respeito à implementação de polí-
tentação dos injustos quadros de desigualdade social. Em ticas sociais e econô icas objetivando dota r o Estado de
outras palavras, o moderno não se contrapõe à justiça, e condições produtivas competitivas; a segunda, de carac-
trouxe inúmeros benefícios para a humanidade. Assim, as terística externa, refere-se à busca de mercados e acor-
assimetrias econômicas observadas entre os povos não dos comerciais visando à ampliação de oportunidades e
são oriundas do conhecimento científico e nem do avanço quebra de protecionismos. Nesta perspectiva, a produção
no uso das técnicas, mas sim do processo de expansão mato-grossense vem conquistando posições destacadas
do capitalismo, que encontrou nas inovações advindas no país, na América do Sul e no mundo.
da revolução científico-tecnológica condições excelentes 4c Com sua extensa área, Mato Grosso encerra grande
variedade de ambientes físicos e biogeográficos - Amazô-
para a sua reprodução, ignorando, na lógica da sua trajetó-
nia, Cerrado e Pantanal-. os quais, aliados às regularidades
ria, o rastro de destruição e exclusão social.
climáticas, relevo pouco acidentado e disponibilidade de
Nesse contexto, o grande desafio enfrentado nos últi-
água, compõem um quadro de condições que tem via-
mos anos por muitos países e regiões tem sido a busca de

11
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bllizado o processo de ocupação, especialmente p~la
agropecuária, assegurando retorno lucrativo do capital
empregado. . .
A localização de Mato Grosso, situado no hm1te oeste
do pais e distante do mar, dificultou, até os anos de_19~0,
O Neoliberalismo representa uma postura polftica-
-econõmica que busca a adaptação constante da econo- 0
processo de crescimento econômico de seu ternt~no.
mia às regras e e igências do capitalismo contemporâneo. Assim, as relações comerciais, inicialmente estabelecidas
As principais características do Neoliberalismo dizem res- entre este Estado e o restante do país, eram quase ~~clu-
peito ao papel deci ivo atribuido ao Estado que, segundo sivamente de oferta de produtos agrícola~ e extrat1v1stas
esta ideologia, deve promover a observância e o monito- de baixo valor agregado. Até meados do seculo XX, coub~
ramento constante dos mecanismos de preços, dinâmica a Mato Grosso O papel estratégico de assegurar o dom1-
do mercado, adoção de políticas de estabilidade finan- nio territorial da fronteira internacional oeste, ao mesmo
ceira e monetária e estímulo à formação de mercados
concorrenciais regionais, a exemplo do Mercosul, Comu-
i mpo em que era mantido como reserva de va.lor para os
p~os de intensificação ocupacional e produtiva para as
nidade Europeia e outros. Algumas correntes concebem
o Neoliberalismo de forma diferenciada, postulando a décadas seguintes. .
Nesta perspectiva, gradativamente, a partir do final d.a
mínima intervenção do Estado na dinâmica do mercado
e em todo contexto empresarial, defendendo o máximo década de 1950, as relações de Mato Grosso com as demais
de privatizações, inclusive de alguns setores do serviço regiões da Federação ampliara~-se, passan?o o ~stado a
público. Defende, também, a abertura irrestrita da econo- ser considerado uma nova opçao para os _1"f~t1m:nt.o s
mia ao mercado mundial. nacionais. A partir da década de 1970, a expansao e signifi-
cativas melhoras do sistema viário estadual viabilizaram a
interiorização da população e intensificação da atividade
prote(1on1 tas agropecuária, o que, efetivamente, propiciou grandes
mudanças na economia mato-grossense.
São medidas relativas à política de importação de
um país ou bloco econômico, com o objetivo de proteger
setores produtivos dos efeitos da concorrência internacio-
Inserção no mercado globalizado
nal. Em geral, são requisitadas por diferentes segmentos
econômicos e viabilizadas pelo Estado, consistindo na
adoção de tarifas ou cotas especiais de importação, esta- Mato Grosso entra no século XXI ainda como fornece-
belecidas com o objetivo de reduzir determinados fluxos dor de matérias-primas, porém destacando-se pela alta
de comércio. produtividade obtida em alguns setores e pela expressiva
e crescente participação no volume de exportações bra-
sileiras na área do agronegócio, o que elevou , conside-
Fonte: Adaptado de Sandroni, 2000. ravelmente, o crescimento de seu Produto Interno Bruto

Figura 1.4 - Terminal de embarque de grãos de Alto Araguaia


Figura 1.5 - Colheita de algodão em Rondonópolis
- PAG da Ferronorte

12 \

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r tant d
rti ui rm nt pai · AI m dl
rte pan ã n~ a agrolndú trla v ~ o tor
rma pre iva ultimo ano )(perl-
. 1.s 1 l - na captaç o d dl , participando
F,ourl
. . .. -. vi a pa ra o Bra li
ndr a d t rrit ri O f
d ront irl 0
taque fr nte à pol . conf re a M
ul-am ricana O nt rtrca nacionais de I ata
· e to políf ntegra-
i nte na atualid de cara , rco e socio conô 1
• • cterrzado m co
rta 1 cimento de bloco . pela forma ,.
'- d • . r granais Çao e
altan gana e integração d e m rcad • quebra de ba rre 1ras
que tem locado Mato Gro os, consiste em fat
. . . so no plano d or
1nter-reg1onars no contine nt e. Muitos . d as negociaçoes ·
ta d os para a e pansào econô . os projetos vol-
tê · 1 mica e afirm -
como po nc1a su -americana tê açao brasileira
lizaçào o envolvimento de M m como estratégia de rea - Figura 1.6 - Canal do panam á: via
. que possibilita a grandes navios
- ato Grosso cargueiro I
A construçao do Gasod u t O 8rasrl. -Bol· ' · exportação s a cançarem O oceano pac íti co. É um dos corredores de
s bre a ativação da hidrovia d . ivia, as discussões para os produtos de Mato Grosso
- d o no Paragu 1 .
taçao e rodovias para fun c1onarem . ª
com O e a implan-
exportador em direção a portos do um corredor
r~s, s~bretudo os litorâneos, cuja melhor infraestrutura e
e emplos de pol íticas federa· oceano Pacífico são
d 1vers1dade
. . - f avorecram
de pr o d uçao . os relacionamentos
com os países da América dois elm ~usca de integração
necessariamente, pela particip açao
5u CUJa v·1 bTd
_' ativa
. de
11
ª MatadeG passa, 1
ma1 rntens?s com outras nações.
- medida que Mato Grosso foi incorporado ao
Por outro • lado,
. nos últimos anos, o governo do o Est
rosso.
d padrao da
do , . prod uç_ao
- agropecuária . nacional, os setores
em consonancra com os interesses d os setores da indústª º•· . comercio, serviços e indústria foram impulsionados
e do
1 -
comércio, tem
• .
envidado esforços para ·
,nt 'fi
ens1 car na
as e, Junto~, desencadearam uma nova dinâmica para a
re açoes comerc1a1s.
. Assim
. ' com o obJ·et1·vo d e promover econ~m1a do Estado. Assim, tendo na agropecuária um
? set~r produtivo regional, ampliar as oportunidades de dos pilares de sustentação de sua economia, Mato Grosso
,nvestrmentos e expandi r mercados , te· m sr·do rea 1·1za d as passo~ a destacar-se, na última década do século XX,
, . .
varias feiras de negócios e reuniões técnicas e comerciais como i~portan~e unidade agroexportadora do país, cuja
pr~duçao tem sido comercializada para os mais distantes
entre esses países e entidades representativas de Mato
pa~ses do mundo, articulando-se com a economia global.
Grosso. Alem de produtos agropecuários, o Estado também tem
Embora as relações comerciais de Mato Grosso com os
exportado madeiras e produtos minerais.
países sul-americanos tenham se intensificado nos últimos
A globalização tem ampliado e fortalecido os vínculos
anos, com alguns países elas ainda são pequenas e irregu-
d_e -~ato Grosso com outras nações, o que tem sido pos-
lares e, às vezes, até ausentes. O fraco desempenho indica s1brl1tado pela expansão do sistema de comunicação e
a ausência de políticas de integração continental que pro- informação, que aproxima lugares e pessoas, favorecendo
movam as potencialidades econômicas do Estado, esti- as relações comerciais. Como exemplo pode-se citar a
mulem a competitividade e garantam, assim, expansão de ampliação do Canal do Panamá (Figura 1.6), que tem reflexos
mercados, oportunidades de investimentos em diversos nas exportações mato-grossenses.
setores econômicos e sociais, como a indústria, educação, Nesse sistema de comunicação global, algumas das
cultura, turismo e serviços em geral. formas mais difundidas e presentes no cotidiano da socie-
As relações de Mato Grosso com países de outros conti- dade mato-grossense são: o acesso a canais de televisão
nentes remontam ao Período Colonial, quando o território conectados por cabo e via satélite, a expansão da telefo-
que hoje integra o Estado tornou-se produtor de riquezas nia convencional e móvel, e a internet. Com relação aos
minerais que eram enviadas para a Europa. Nos séculos modernos sistemas de transmissão televisiva, destaca-se a
seguintes, suas relações comerciais com outros países possibilidade de acompanhar acontecimentos longínquos
continuaram pautadas na exportação de produtos extra- em tempo real, a exemplo dos jogos da Copa do Mundo,

tivistas, principalmente vegetais, e alguns subprodutos


do atentado terrorista nos Estados Unidos, em 2001, as
guerras no Oriente Médio, o ataque anglo-americano ao
do setor pecuário. Em termos nacionais, a participação ?e
Mato Grosso no total das exportações do país esteve muito Iraque, em 2003, as Olimpíadas, e muitos outros.
aquém do nível mantido pelos demais Estados brasilei-
13

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Ainda no âmbito das telecomunicações, os equipa-
mentos multimídia vêm ampliando as possibilidades de Ameaças ao equil ibrio dos biornas
comunicação com outras sociedades. Através da internet,
por e emplo, o grande produtor rural e entidades repre- . d·ce
• Gran dem 1 de substituição da vegetação nativa .
sentativas podem conectar-se on-line com a bolsa de Chi- e desmatamento desordenado, com per~a de b10-
cago para se inteirar da cotação da soja, do algodão e de d.N ersidade vegetal e animal, comprometimento do
1 -
outros produtos, possibilitando efetuar transações comer- meio ambiente e saúde da popu açao; .
ciais sem que se afastem de sua propriedade. . nto desordenado• com sérios danos ao meio
• cresc,me _
No que se refere à articulação do mercado regional ~mbiente e à saúde da população. Por essa razao,
ao mercado internacional, a instalação de filiais, repre- é importante o ordenamento territorial a partir de
sentações autorizadas e franqu ias são expressões das estudos técnico-científicos;
redes transnacionais em expansão em Mato Grosso. Entre • estrutura fundiária baseada em latifú ndios e produ-
essas, pode-se apontar como exemplos as lanchonetes ção agrícola voltada para monoculturas; . _
Me Donald's e Bob's, que se constituem em símbolos do • contaminação de recursos hídricos, polu,çao do ar
imperia lismo americano, presentes em praticamente e solo pelo uso de defensivos agrícolas na atividade
todos os países ocidentais e alguns do Oriente. A Coca- agropecuária e pelo processo de urbanizaçã_o'. , .
-cola é, ta mbém, um exemplo de produto mundializado, • diminuição da vazão e extinção de mananc1a1s h1dr1-
que conta com uma unidade produtiva em Mato Grosso. cos, entre outros. oô
a,

O capital internacional também se faz presente em o


mu itas obras e prog ramas de desenvolvimento coorde- "'"'
nados pelo Governo do Estado, muitas vezes articulado -;;;
com o Governo Federal, cujos financiamentos provêm il
fndice de Desenvolvimento Humano - /OH, o.
a
de convênios e empréstimos de organismos financeiros no Estado
a
'ii
internacionais. Uma outra forma de vinculação ao capital i'.l
e
estrang eiro é observada na instalação de grupos financei- O IDH é uma medida que serve para ava li ar o progresso .
-e
a:
ros no Estado.
de uma nação a longo prazo, baseada em três variáveis: .,
renda, saúde e educação. É elaborado anua lmente pelo
Programa das Nações Un idas para o Desenvolvimento
- PNUD/ONU, desde 1990, levando e m conta outros indi-
Van agens competitivas de Mato Grosso cadores, além do econômico. Foi criado com a finalidade
no contexto nacional e internacional de medi r o níve l de dese nvolvi mento humano mundial
po r países, pelo economista paq uistanês Mahbud ui Haq
Grande biodiversidade nos três domínios biogeográ- com a colaboração do economista indiano Amartya K. Sen,
ficos - Amazônia, Cerrado e Pantanal -, com o seu prêmio Nobel de Economia de 1998.
patrimônio genético pouco conhecido e aproveitado; Muitos países da América Latin a, inclusive O Brasi l,
diversidade sociocultural;
passa~am ~ adotar a metodologia utilizada para medir
reservas de água doce e grande potencial hídrico;
grande potencialidade turística; tambem o lndice de Desenvolvime nto Humano Municipal
clima com duas estações bem definidas; - IDHM de suas unidades político-adm inistrativas - esta-
solos com potencialidade agrícola e ou possibilida- dos, municípios, cidades, províncias, ajustando o IDH às
des de correção para diversas culturas; ~ua_s realidades. O IDH é calcu lado com base nos seguintes
topografia plana em grandes extensões do Cerrado md1cad~res: Educação (alfabetiza ção e taxa de matrícula),
propícia para a agricultura mecanizada; ' Longevidade (expectativa de vida ao nascer), e Renda
posição geográfica: localização estratégica no centro (PIB ~er capita). Os índices variam de O a 1, nas seguintes
da América do Sul.
class1ficaç~es: de 0,000 a 0,499 - muito baixo nível de
dese nvolvi mento hu ma no· de O 500 a O 599 b . ,
' , • - a1xo n1vel
de dese nvolvime nto humano· O600 a O699 ' d· .
' • , - me 10 nivel
de desenvolvime nto humano· O700 a O799 1 ,
d • ' ' , - a to n1vel de
ese nvolv1mento humano· e O800 a 1 oo·o .
Sobre o IDH, veja no Atlas Geogrdfico • 1 ' ' , - muito alto
nive de desenvolvimento humano.
de Mato Grosso o tema
fndlce de Desenvolvimento Humano. O Relatório de Desenvolvimento Humano (R
confere ao Brasil a 790 posição no k. . DH), 2014,
IDH de O744 A .. 1 ran mg mundial com um
, . vanave Longevidade puxou essa pontua-
14

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o:e MOdem1da:de · Capitulo,

ção com 0,816, índice considera·d 0 .


indicadores Renda, com o 739 c mu,to .d alt0 , seguido· dos
- a dimensão Educação foi a que menos cresceu, contra-
, ' ons1 erado lt0
ção, com 0,637, considerado médio. C ª , ~ Educa- pondo-se ao crescimento do IDHM Renda, considerado
o Brasil foi incluído no grupo de P . om eS t a classificação, alto, e ao IDHM Longevidade, considerado muito alto.
a,ses avar1 d 0
nível de desenvolvimento humano
,
ª com alto
, ocupando a 2• p · - Os municípios Barão de Melgaço, Cotriguaçu, Santa
na lista dos pa1ses emergentes _ Bras·i R. . f _ osiçao Terezinha, Colniza, Gaúcha do Norte, Lambari d'Oeste e
1, uss1a nd1a Ch·
e África do Sul - os chamados BRICS ,' '. ina Jangada foram considerados de médio desenvolvimento
Chile, Argentina, Cuba e Uruguai P . ' porem abaixo do humano, com IDHM entre 0,600 e 0,699. Já os municípios
. , a1ses sul-ame ·
Embora apresentando melhora nos 1-nd· d ricanos. de Campinápolis, Nova Nazaré e Porto Estrela apresen-
- ica ores avaliad
como a reduçao da desigualdade reg·i o I os, taram os piores índices de desenvolvimento humano,
. . na entre as regiõe
Norte e Sul, o pais ainda apresenta um s ficando com IDHM entre 0,500 e 0,599.
- d d . , a grande concen-
traçao a ren a, superior a média mundial - .
. . . , implicando em
pro bfemas soc,a1s importantes.
Segundo dados do Atlas do Desenvol .
. v1mento Humano
no Brasil (2013), baseado em dados dos u·it· . Sugestão de Atividades
, imos tres Censos
Demograficos do IBGE, Mato Grosso apare
. _ ce, em 2010, na
11ª pos1ça~ entre os Estados brasileiros com um IDHM de
1. O seu município tem passado por processos de
0,725, considerado um alto índice Dentre as v · · ·
· anave1s ana- transformação urbana? Analise e relacione exemplos
lisadas, o lDHM Educação cai para médio índice com O 635 desse processo. Se não passou, justifique.
ficando abaixo dos indicadores de expectati~a de VI ' ·d a,'
representado pelo quesito Longevidade, com índice de 2. Faça uma visita ao site da Federação das Indústrias do
0,821, considerado muito alto, e pelo quesito Renda, com Estado de Mato Grosso - Fiemt (www.fiemt.com.br), e
índice de 0,732, considerado alto. Comparando com as identifique os principais produtos de exportação de
outras unidades do Centro-Oeste, Mato Grosso perde para Mato Grosso. Veja também quais os principais países
importadores destes produtos.
Mato Grosso do Sul (10ª), Goiás (8ª) e Distrito Federal, com
Brasília ocupando a P posição no ranking nacional. No 3. Visite o site da Secretaria de Planejamento e Coor-
Estado vive uma população de 3.035.122 habitantes (IBGE, denação Geral do Estado de Mato Grosso - Seplan
2010), sendo a maior parte (81,80%) nas áreas urbanas de (www.seplan.mt.gov.br). Pesquise na última edição
suas cidades. No que se refere à renda média per capita, do Anuário Estatístico e relacione os setores da indús-
entre os anos de 2000 e 201 O Mato Grosso cresceu cerca de tria mais importantes em Mato Grosso.
73%, passando de R$ 582,62 para R$ 762,52, com uma taxa
4. O seu município está entre os produtores de culturas
média anual de crescimento de 30,88%. A proporção de para exportação? Pesquise os dados sobre a produ-
pessoas pobres no ano de _2010, com renda domiciliar per ção municipal atual, comparando-a com a produção
capita inferior a R$ 140,00, foi de 10,52%. estadual.
Dentre os municípios do Estado, Cuiabá, com uma
popu lação de 551.098 habitantes e densidade demográ- s. Discorra sobre as vantagens competitivas de Mato
fica de 155,19 hab/km 2 (IBGE, 2010), aparece em 1° lugar no Grosso no cenário internacional.
ranking estadua l, com um IDHM alto de 0,785. No ranking
6. Fale sobre as ameaças ao equilíbrio do biorna em que
nacional ficou na 92ª posição. O IDHM Educação alcan-
o seu município está inserido.
çou um índice de 0,726, saindo de baixo índice (0,5:7 ~m
2000), para alto índice em 2010. A capital obteve md'.ce
de desenvolvimento considerado muito alto no quesito Para saber mais ...
longevidade (f DHM 0,834), aumentando a esperança de Site
vida ao nascer de 70,67 anos em 2000, para 75,01 anos em • Governo do Estado de Mato Grosso (www.mt.gov.br)
2010. Também no IDHM Renda, conquistou um índice de
0,800 em 2010, considerado muito alto, com uma renda
per capita de R$ 1.161,49. , .
No ranking dos dez municípios com alto md,:e de
Veja os principais aspectos e caracterlsticas da
desenvolvimento no Estado em 20l O, com exc_e~a? de modernidade em Cuiabá, no final do século XIXe
Cuiabá e Lucas do Rio Verde, nos demais mun,cip,os - início do século XX, nos capítulos 21, 26, 27 e 28 do
livro de História de Mato Grosso.
Nova Mutum, Rondonópolis, Sinop, Primavera do LJe~tl_e,
· e Campos de u 10
Campo Verde, Barra do Garças, 5omso

15

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U/1/IA F:QUINOCIA_L

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A,_,...
~- -'à- e- t"'-7' .J-1,• -t?._
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ll- •r ~ _·, -
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Expansão portuguesa para o oeste
O processo de ocupação do território que hoje constitui Ao explorar as regiões oeste e sul do atua l território
Mato Grosso remonta ao século XVI, quando, por força do brasileiro, expedições paulistas puseram em prática os
Tratado de Tordesilhas, toda a área oeste do Brasil, onde se objetivos da Coroa portuguesa de ampliar seus domínios
insere o atual território de Mato Grosso, pertencia à Coroa além da faixa litorânea e da Linha de Tordesilhas, para pos-
espanhola, que empreendeu expedições de reconheci- terior ocupação, garantindo, assim, a expansão das frontei-
mento, com algumas tentativas de ocupação (Figura 2.1). No ras através da interiorização da população e da econ omia.
entanto, o maior interesse desses exploradores, na época, Motivados pelas necessidades e pelos desejos de posse
estava voltado para as ricas minas do México, Peru e Bolí-
e poder, habitantes do povoado de São Paulo em preende-
via, o que os levou a se afastarem das terras, hoje brasilei-
ram expedições exploradoras que chegaram à região que
ra s, viabilizando o avanço português.
hoje corresponde ao território de Mato Grosso e g radativa-
Por outro lado, o estado de abandono e as inúmeras
mente, de acordo com os interesses da Coroa, efetivaram
dificuldades vividas pelos habitantes das capitanias de São
sua ocupação, definindo, ao longo do tem po, seus limites
Vicente e São Paulo levou-os a organiza rem, no final do
políticos e ad ministrat ivos.
século XVII e início do século XVIII, expedições com o obje-
Nesse processo, os povos indígenas não foram respei -
tivo de descobrir ríquezas no inte rior do país e ca pt urar
tados enquant o sociedades auto-organizadas, com direi -
índios para comercializá-los como escravos. Foi o período
das Entradas e Bandeiras. tos aos territórios que ocup avam . A rigor, o interesse pelos
ind ígenas limitava-se à sua exploraçã o como mão-de-obra

18

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Figura 2. 1
BRASIL - UNHA DIVISÓRIA Vias de acesso
DO TRATADO DE TORDESILHAS

A entrada dos bandeirantes em Mato Grosso deu-se


principalmente através do rio Paraguai e afluentes, em um
percurso que envolveu longos trechos fluviais e alguns
pequenos trechos terrestres. Estes acessos ficaram conhe-
cidos como percursos das monções.
Entre 1718 e 1724, os bandeirantes avançaram sobre os
territórios que hoje constituem Mato Grosso do Sul e Mato
Grosso pelos rios, cruzando os Campos de Vacaria, sendo
continuamente sujeitos ao confronto com os indígenas,
e eventualmente com os espanhóis. Posteriormente, a
opção para as viagens até as minas de Cuiabá passou a
incluir a travessia do Planalto de Maracaju, que é o divisor
de águas das bacias hidrográficas dos rios Paraná e Para-
guai (Figura 2.2).

Figura 2.2

ROTEIROS DE ACESSO AO TERRITÓRIO DE MATO GROSSO


SÉCULO XVIII
fonte: Sra.sft 1980. Adaptado sobre base cartogr.ifka atulil {IBGE. 2000).

- linha do Tratado de Tordesilhas


- limites políticos atuais (não definidos na época)
Possessão portuguesa
- Possessão espanhola

20'

escrava, ou a utilização como guias nas expedições de


reconhecimento do território e de exploração de minérios.
Foram frequentes os confrontos que resultaram na dizima-
ção de algumas etnias.
O território que constituía a colônia portuguesa na
América tinha dimensões e configuração muito diferentes
25'
do território que hoje constitui o Brasil. A expansão até a €> ASSUNÇÃO

configuração atual é resultado do processo de interioriza- Fonte: V•lverd•. 1972; Siqueira, Cosu • C.,,valho, 1990. Adaptado sob« base unogránca •tual (IBGE, 2000).
ção dos exploradores portugueses, que buscavam produ-
tos para atender o comércio mercantilista nos séculos XVI, - · limite internacional
XVI/ e XVI//. ~ Rios
Assim, Portugal, através dos ciclos econômicos desen- e Capital
volvidos no Brasil Colônia, buscou, na exploração vege- E> Capital do país
tal e mineral e na produção agrícola comercial, formas • Cidades
de abastecer o mercado europeu e de se impor perante Percurso fluvial (Campos de Vacaria}
a comunidade internacional. Esses ciclos possibilitaram a Percurso fluvial (Camapuã}
exploração do tráfico de escravos, considerado na época ........ Trechos terrestres
como um negócio a/tamente lucrativo, já que a expansão ....... Caminho por terra
territorial da Colônia garantia mercado para a absorção da
mão-de-obra escrava.

19

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. bá era O caminho feito totalmente por
. nte a cuia , . ) .
mpos de c1same ) través de Goiás (Figura 2.2 . Esse caminho
. bá através dos Ca 1726
A viagem até alcanç~r ~ui_a , ho·e São Paulo, de onde terra (ap~s .t' ªpara a entrada e expansão da pecuária
contribuiu mui o
"acaria tinha início em P1rat1nrnga, ~ de Nossa Senhora M to Grosso.
v, , da Freguesia ) A
em ª. d passagem pelo Planalto de Maracaju,
caminhavam até o porto . ba hoje Porto Feliz (SP .
Mãe dos Homens de Arantagu~ , '. brangendo trechos .
Utihzan° ª 1
edi ões se dirigiram ao Pantana e para Cu1abá

. 1tinha inicio, a .
partir daí, a viagem ti uv1a o e Anhandui, o qual subiam vánas exp ç O obJ'etivo de explorar metais preciosos,
rredores com . ,
dos rios Tietê, Paraná, Pard . ue eram cruzados por eª 'tório e aprisionar 1nd1genas. Com a desco-
até atingir os Campos de Vacaria, ~ Miranda e depois os dominar o tem . . . -
s margens do no Cox1pó, as exped1çoes
longa caminhada até alcançar o no b ta de ouro na . .
er sformaram-se em mineradoras, consoh-
ficantes tran . ,
rios Paraguai e Cuiabá. ·u utilizado após tra J·o que deu origem a Cu1aba, fundada em 8
O percurso pelo Pl~nalto d~ MaracaJo~ viajantes, pois, dando o Iugare
1725, consistiu em opçao vantaJosa para s indígenas e de abril de 1719.
além da menor suscetibilidade aos ataque . da com
h , · contavam ain
enfrentamento com os espan ois, iciado
maior facilidade de abastecimento da tropa, prop d es Formação da unidade
. 1 d los desbrava or
Por uma antiga fazenda .insta a a· pe · ntes
,
açucar carne, político-administrativa
irmãos Leme, que fornecia aos viaJa • . '
aguardente, fumo e produtos de subsistenc1a. . .
Utilizando este percurso, os viajantes desciam o n~
O tem·t on
, ·0 que hoJ·e constitui Mato Grosso foi, jun-
.
Tietê e o Paraná até a confluência do rio Pardo, o qua atuais territórios dos Estados de Mmas
tamente co m Os •.
subiam até atingir o Planalto de Maracaju. Para alc~nçar .
Gerais, T
,oca nt·ins , Goiás' Rondonia, Mato Grosso
, do Sul, .;
.,e
o Taquari e prosseguir viagem, os bandeirantes faziam a , san ta Catarina e Rio Grande do Sul, area de expan- o.
pé e com o auxílio de animais a travessia de parte do Pla- Parana, o
são e exploração da Capitania de São Paulo, conforme "'

nalto de Maracaju, designado localmente de Varadouro de ô
mostra a Figura 2.3. Em 1748, em razão de dificuldad:s admi- o
Camapuã, numa extensão aproximada de 14 quilômetros: "O
....
nistrativas e da necessidade de fortalecer a fronteira, Mato
Após descerem o rio Taquari, alcançavam o rio Paraguai
em pleno Pantanal e, por este rio, subiam até encontrar Grosso foi desmembrado da Capitania de São Paulo, vindo
o rio Cuiabá, que lhes dava acesso à então Vila Real do a constituir a Capitania de Mato Grosso, que abrangia a
Senhor Bom Jesus de Cuiabá (Figura 2.2). maior parte do atual Estado de Rondônia e todo o atual
Esse itinerário, designado de "caminho das monções", Mato Grosso do Sul (Figura 2.4). Nessa mesma ocasião, foi
apresentava inúmeras dificuldades, como 113 cachoeiras e criada a Capitania de Goiás.
a difícil travessia de Camapuã, em que canoas e bagagens Em 1824, com a Constituição do Império, Mato Grosso
eram carregadas em lombo de animais ou por escravos. e tod as as capita nias brasileiras foram transformadas em
Além do mais, havia sempre a possibilidade de confrontos províncias. Com a proclamação da República, em 1889,
com os indígenas ao longo de todo o trecho. Contudo, o e a promulgação da primeira Constituição Republicana,
cam inho das monções consistia, na época, no meio mais em 1891 , as p rovíncias passaram à condição de Estado
seguro para alcançar as terras mato-grossenses e chegar Federativo.
até Cuiabá. Após o desmembramento da Capitania de São Paulo,
O percurso totalmente fluvial, ao longo dos rios Tietê, o território de Mato Grosso foi gradativamente sendo defi-
Paraná e Paraguai, apresentava obstáculos intransponí- nido. Manteve a mesma configuração até 1943 (Figuras 2.4 e
veis, como o Salto de Sete Quedas e um outro de caráter
2.5), quando foram criados os territórios federais de Ponta
político, que era a obrigatoriedade de passar em frente a
Porã, extinto com a Constituiçã o de 1946, e do Guaporé,
Assunção, capital do Paraguai, o que denunciaria o avanço
atual Estado de Rondônia. Estas alterações deram a Mato
dos bandeirantes sobre as terras de domínio espanhol.
Grosso a configuração mantida até 1977, quando dele foi
Uma outra alternativa de acesso a Mato Grosso, mais pre-
desmembrado o Estado de Mato Grosso do Sul.
Sobre esse processo, merece registro a ação vinculada
à Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932,
Veja mais informações sobre o processo de quando houve a tentativa de emancipação da região sul
ocupaçao e formação territorial em Mato Grosso,
do antigo território de Mato Grosso. A nova Unidade Fede-
no livro de História, capítulos 3 ao 7.
ra~iva manteve-se por apenas 82 dias, após os quais foi
reintegrada ao território de Mato Grosso.

20

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Capitulo 2

Política portuguesa de ocupação


Figura 2.4
MATO GROSSO - DOMINIO TERRITORIAL
O ?rocesso de produção do espaço mato-grossense 1748-1943
compoe-se de duas fases distintas: a primeira, de carac-
terísticas pré-capitalistas, foi centrada no extrativismo
mineral e posteriormente vegetal, com o desenvolvimento
paralelo da agricultura de subsistência e da pecuária exten-
siva, o que perdurou, aproximadamente, até a metade do
século XX. A segunda e atual refere-se à inserção de Mato
Grosso na economia de mercado, caracterizada pela dis-
seminação dos projetos de colonização e modernização
agropecuária. Um traço comum permeia as duas fases: os
fluxos migratórios que dinamizaram a ocupação de Mato
Grosso.
A rigor, o processo de ocupação de Mato Grosso, que
foi iniciado nos séculos XVI e XVII, primeiramente por espa-
nhóis e depois por bandeirantes, só foi efetivada no início
do século XVIII com a descoberta de ouro nas minas de
Cuiabá. Posteriormente, com a decadência dessas minas,
a população mineira se dirigiu mais para oeste, vindo a
descobrir uma nova área aurífera situada nas proximida-
f des do rio Guaporé. Ali, em 1752, foi fundada Vila Bela da
e
"' Santíssima Trindade, que se tornou a capital da Capitania
.)
o Fon te: Mato Grosso, 1923.
e

Figura 2.3 D Território internacional

RASIL - ÁREA DE EXPANSÃO E EXPLORAÇÃO DA CAPITANIA DE D Território mato-grossense


~ÃO PAULO - FINAL DO SÉCULO XVII - IN ÍCIO DO SÉCULO XVIII
0 Capital

75'
,,. Cidades

..
J
s•

Base cartográfica atual

Os mapas apresentados na discussão desta tem~-


IS•
tica foram elaborados com base em mapas atuais, re-
ob·etivo de fornecer referências para a c~mp
com o J . so de ocupação colonial.
ensão espacial d~ proce~ d território de Mato Gros o
A configuraçao atua o acional à época, em dire-
é decorrente do avanço ocup
ção ao oeste. "d ue na maioria das
É . rtante cons1 erar q '
impo . , . são definidos com base no jogo
30'
~UI\ vezes, os terntonos • m·1cos onde o princip 1
I' · se econo ,
de interesses po it1co d ·n·o de áreas e povos
. . d cesso é o om1 ,
Ada tado sobre base ca
rtogrâfica atual (IBGE, 2000). obJet1vo o pro d xploração de riqu zas
. Mirador Int ernacional, 1976.
Fonte: Enclclopéd ,a
P para o exercício de po er e e
não os interesses da sociedade.
. ada de expansão e exploração
Área aprox1m 1
da Cap1tan1a d e São Pau o
. • , )
. - definidos na epoca
Limites políticos atuais (nao

Scanned by CamScanner
;;;
.,,,::
o..
o
'e
-o

Figura 2.s - Mapa do "Atlas Histórico-Geográfico - Para uso das Escolas do Bra sil".
João Soares, Instituto Geográfico de Agostini, 1925. Novara, Itália

de Mato Grosso até 1825, quando o poder executivo da Na viabilização dessa política, a Coroa port uguesa pro-
província foi transferido para Cuiabá. curou melhorar as condições de seg urança das expedi-
A exploração aurífera do século XVIII fez surgir outros ções ao longo do percurso utilizado nas viagens para Mato
núcleos populacionais, que mais tarde foram transforma- Grosso, bem como procurou consolidar os núcleos recém-
dos em municípios, como Poconé (1781) e Nossa Senhora -criados, como Cuiabá e Vila Bela, e fomentar a expansão
do Livramento (1730). para novas áreas com a criação de outras vilas. Para tanto,
Ao mesmo tempo em que os bandeirantes avança- teve início, no século XVIII, o processo de distribuição de
vam para o oeste, Portugal perdia possessões na Ásia e terras através da cessão de sesmarias para aqueles que se
Africa. Isso estimulou a Coroa portuguesa a buscar reco- dispusessem a explorar as consideradas longínquas terras
nhecimento dos seus direitos de posse sobre as terras que
mato-grossenses. Nesse período, foi viabilizada, também,
ocupou a oeste da linha de Tordesilhas. Assim, incent ivou
a ent rada de gado e a con sequente formação das primeiras
expedições em suas viagens para Mato Grosso e pa ra a
fazendas, o que contribuiu para a manutenção e expansão
região Norte do Brasil, via Mato Grosso, inicia lmente feitas da população migrante.
através dos rios Guaporé, Mamoré e Madeira.

22

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- - ~ _ Capitulo 2

Figura 2.6
MATO GROSSO _ Figura 2.7
DOMINIO TERRITORIAL
1943 MATO GROSSO - FORTES MILITARES E NÚCLEOS DE
POVOAMENTO IMPLANTADOS NO StCULO XVIII

.,;
J
) r ,_
(

tt ~ '
·~ ~
BOLIVIA

Fonte· Brasil, 1980. Adaptado sobre base cartogrãflca atual (IBGE. 2000).
Font~ ~toGrosso.1 923: Póvoas, 1992.

D Território internacional
D Território internacional
D Território mato-grossense
D Área remanescente de Mato Grosso - Limites políticos atuais (não definidos na época)
Território Federal do Guaporé (área desmembrada de Mato Grosso) - Linha do Tratado de Tordesilhas

D Território Federal do Guaporé (área desmembrada do Amazonas) -t- Fortes militares


D Território Federal de Ponta Porã (extinto em 1946) <!) Núcleos de povoamento

No século XVIII, a Coroa instalou redutos militares ao • em 1778, os núcleos de Vila Maria (hoje Cáceres), em
longo dos rios Paraná, Paraguai e Guaporé com o objetivo Mato Grosso, e Albuquerque (hoje Corumbá), em Mato
de conter a reação espanhola e indígena à expansão colo- Grosso do Sul (Figuras 2.6 e 2.7).
nizadora portuguesa, bem como propiciou a formação de
núcleos populacionais, assegurando a expansão das fron- Todas essas medidas foram essenciais para a dilatação
da fronteira da Colônia portuguesa, pois a almejada sobe-
teiras políticas.
rania política passava a ser discutida não mais à sombra
Em cumprimento a essa determinação, foram criados:
dos acordos mediados pela Igreja, a exemplo do Tratado
de Tordesilhas, mas sim de acordo com o princípio Uti
• em 1754, às margens do rio Guaporé, o Forte Nossa
Possidetis, que partia do pressuposto de que um território
Senhora da Conceição, posteriormente designado de
deveria pertencer a quem efetivamente o tivesse povoado
Bragança, hoje em Rondônia;
e ocupado. As sesmarias, que começaram a ser concedidas
• em 1767, às margens do rio Paraná, o Forte de lguatemi,
hoje em Mato Grosso do Sul;
• em 1775, às margens do rio Paraguai, o Forte de Coim- -
bra, hoje em Mato Grosso do Sul; Leia, no livro de Hlst6tfa •• é$i)~·,:"
• em 1776, às margens do rio Guaporé, o Forte Príncipe sesmarias em Mato ... ,(!-i •
~

da Beira, hoje em Rondônia;

23

Scanned by CamScanner
houve a produção de outras culturas,
Nesse per ÍO do, •
em 1741 pela Coroa portuguesa, foram de grande impor- dão em Corumbá - hoJe Mato Grosso do
tais como o a1go ' .
t3ncia na concretização dessa política expansionista. Ch ada dos Guimarães; o fumo, em V1 1a Bela da
Sul-, e na ap , · · 1 t á
Foi exatamente sob a argumentação do Uti Possidetis . T ·ndade· e o cafe prinopa men e em reas ao
santíssima n ' ' . . .
que Portugal e Espanha discutiram a questão da possessão ·t n·ia Essa produção teve singular 1mportânc1a
sul da Capi a · . .
portuguesa nas áreas de domínio espanhol, resultando na tenção dos núcleos populac1ona1s da época.
para a manu d
assinatura do Tratado de Madrid, em 1750, que redefiniu Em meados do século XVIII, começ~u _ ª e~~nvolver-
os limites do oeste brasileiro e, por consequência, os limi - • a atividade comercial esporad1ca e itinerante,
-se tam b em
tes da então Capitania de Mato Grosso. Posteriormente, . t·camente de porta em porta, ou em pontos
feita pra , . . ,
outros tratados foram assinados e que vieram, finalmente, , · s ao longo do no Cu1aba. Duas vezes por ano,
estrateg1co . b. d. _ .
a definir as fronteiras brasileiras como as conhecemos hoje. · damente chegavam a Cuia a e a Jacenoas
aproxima , . _
É interessante destacar que o princípio do Uti Posside- mados de tropeiros, provenientes de Sao
merca d or es Cha . .
tis, que respaldou frente à Espanha o processo de reconhe - Paulo e outros locais, trazendo mercad?nas d1v~rsas par~
cimento dos dom ínios portugueses a oeste da linha de ·- das minas A atividade comeroal tambem contn-
Tordesilhas, não teve nenhuma validade para o reconheci - a reg1ao · _ .
. para a expansão e fixaçao populacional. , .
mento do direito dos índios sobre as terras que ocupavam. b UIU
Na segunda metade do século X~III, a pecuana come-
çou a destacar-se, viabilizando, atr~ve~ da venda de gado,
uma relação comercial entre a Capitania de Mato Grosso e <D
a,
A economia do século XVIII e seus reflexos outras regiões da Colônia. Todavia, o suporte econômico e
C)
"'e,;
na formação do território principal fator de atração populacional continuou sendo :§
.,
o ouro. "'e
~
A decadência das minas auríferas de Mato Grosso no o
Paralelamente à exploração da atividade aurífera, .5!
teve início o desenvolvimento da atividade agrícola para final do século XVIII gerou a em igração da população. Por 'O
i3
volta de 1800, algumas cidades, como Cuiabá e Vila Bela, e
atender as necessidades de sobrevivência dos peque- ..,
"C
ex
nos núcleos populacionais formados junto às minas. Esta contavam com uma população substancialmente redu-
agricultura de subsistência desenvolveu -se com maior zida (Figuras 2.8 e 2.9).
expressão nas áreas do Rio Abaixo, hoje Santo Antôn io de
Leverger, e na Serra Acima, hoje Chapada dos Guimarães.
Nessas áreas, eram produzidos milho, feijão, mandioca,
batata-doce e cana-de-açúcar.
Ru ínas da Igreja Matriz,
Figuras 2.8 e 2.9 -
em Vila Bela da Santíssima Trindade

24

Scanned by CamScanner
A econom ·
no secu/o
,
na forma -
XIX 'ª
e seus reflexos
çao do território
O 70 ciclo do diamante
No início do século XIX MATO GR Figura 2.10
osso- l'E RCURSO FLUVIAL PA
mento e expansão popul acronal '. uma nova fase de d esen 1 • StCULO XVIII . INICIO DO ~A O NORTE DO BRASIL
S1:CULO XIX
com a exploração de dº ocorreu em M vo v1-
. , . ia mante ato Gr
m,gratonos, contribuind s, que atraiu n osso,
, 1 o para f ovos fluxo
nuc eos populacionais · Esta ex 1 ª armação d e no s
~
_
mente na área do atual . oraçao floresce . . ~os
.. municrpi 0 d u 1nic1al
dem1va para que a exp ansao _ da e Diamant·ino e foi-
O
para o norte _ do território mato-grocupação se desl ocasse
as re, 1açoes . comerciais de M ato Gros ssense. Nesse p enodo ,
Para, part,cularmente a Sant , so se estenderam at , ,
. . arem e Bel , eo
comerciais,
., utilizando os nos . Arinos
. J em, através de rotas
TapaJOS. Ampliou-se, assim O ' uruena, Teles Pires e
, - f . , acesso pa
ate entao eito apenas pel o Rº10 Gua , ra . a região No rt e,
A exemplo do ocorrido pore (Figura 2.10).
com o our •
mante logo decaíram p o, as minas de dia-
- , rovocando .
populaçao. Contudo a expio _ nova dispersão da
' raçao d O dº
de não ter gerado riquezas p M ,amante, apesar
. ara ato Gr
para a d ifusão da atividade a osso, contribuiu
- gropecuária ·
relaçoes comercia is e expansa- d ' incremento das
, o a ocupação
Na pohtica que marcou o fim do Br . _P~ra o ~o!te.
do Brasil Império, Mato Grosso _as,I Colonia e o inicio
. , . . , continuou a ser conside-
ra d o um . terntono penferico, cuJ·a f unçao _ era defender e
garantir parte . da fronteira brasileira e a d e pro d uzir . metais.
ou º,utras riqueza~ extrativistas que contribuíssem para
o. acumulo
. de capital na Europa que, naquele momento
v1v1a a Revo lução Industrial. ' Fonte-: Barão de Melgaço, 1975. Adaptado sobro bast artográflc.a atual (ISGE. 2000~

Com a decadência do ouro, no século XVIII, e do dia-


_ Limites políticos atuais
mante, em meados do sécu lo XIX, e sem contar com uma (não definidos na época)
alternativa lucrativa de exploração extrativista, Mato Rios
G:os~o atravessou um longo período de estagnação eco-
Percurso fluvial
nom,ca (quase toda a segunda metade do século XIX).
e Capitais
V:rificou-se o declínio da produção e retração da popula-
• Cidades
çao, em algumas áreas.

A expansão da pecuária Com o término da guerra, em 1870, reiniciou-se o


povoamento e reconstrução da economia. A pecuária
A guerra do Paraguai (1865-1870) desestruturou a orga- voltou a se expandir, tendo sido registradas, por volta de
nização estabelecida em grande parte do território mato- 1880, as primeiras charqueadas na área do Pantanal, que
-grossense. As forças paragua ias avançaram do sul para o vinha se destacando como detentor de condições excep-
norte até Cáceres e grande parte da população se viu obri - cionais para esta atividade. A importância das charqueadas
gada a abandonar suas terras, deslocando-se para Cuiabá. na economia do Estado perdurou até, aproximadamente,
A economia das áreas invadidas e ocupadas pelos para- 1920 (Figura 2.11).
guaios, onde prevalecia a pecuária, foi em parte dizimada.
25

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UNIDADE 2 _ ~

Formação territorial no final do século XIX


e início do século XX
Figura 2.11 Ciclo de exploração vegetal
MATO GROSSO - DISTRIBUIÇÃO DE CHARQUEADAS NO INTERIOR
DO PANTANAL - FINAL DO stCULO XIX - INICIO DO stCULO XX Ainda no final do século XIX e início do século XX,
desenvolveu-se em Mato Grosso um novo cicl o econô-
mico: 0 da exploração vegetal, cujos principais produtos
foram: erva-mate, poaia e borracha.

A erva-mate
,. ~ No antigo território mato-grossense, os bosques nati-
vos de erva-mate eram encontrados no sul do atual Mato
Grosso do Sul (Figura 2.12), tendo sido inicialmente explo-
-~ l~ rados com fins econômicos pelo brasileiro Tomás Laran-
jeira, através de sistema de arrendamento de terras, cujo
, . primeiro contrato data de 1882. O negócio, que logo se
mostrou lucrativo, contou, já na década seguinte, com a
participação de capital estatal e particular, propiciando
BOLIVIA
a formação de uma empresa registrada em 1890, com o
nome de Companhia Matte-Laranjeira.
A prosperidade do negócio atraiu capital estrangeiro,
particularmente argentino, vindo esta companhia a consti-
tuir-se, no início do século XX, em uma empresa com renda
muito maior que a do próprio Estado de Mato Grosso. A
situação de prosperidade da Companhia Mate Laranjeira

ttr {. perdurou até a década de 1930, quando encerrou suas ati-

~ª=" ,'
Miranda
vidades.
~úãna
:=:= ~ \... Relacionada à exploração do mate ocorreu o desen-
21•

? volvimento das cidades de Ponta Porã, Porto Murtinho,


Bela Vista, Dourados, Amambai, ltaporã e Rio Brilhante
onde a erva era beneficiada e comercializada. Entre estas'
:orto Murtinho e Ponta Porã foram transformadas e~
importa_n~es p~ntos de comercialização da produção e
de admm1straçao da atividade. No âmbito geral, a erva-
-mate r~presentou, para o sul de Mato Grosso, um fator de
grande importância para a reestruturação e valorização de
seu espaço.
PARAGUAI

O HlOkm

A poaia
Fonte: Valverde, 1972 Adaptado sobre base cartográfica atual (IBGE. 2000).

A poai~'. ta~bém conhecida como ipeca e ipecacua-


D Território internacional
e Charqueadas
nha, de ut1lizaçao na indústria farmacêutica é um b
do est t · f • , ar usto
D Território mato-grossense
® Capital
ra o m enor de matas cu1·a ocorre· nc·a
d - 1 concentrava-
[~:=~j Áreas inundadas
• Cidades
-se nas epressoes do Guaporé e do Alto Para .
o Planalto do p • gua1, entre
s arem e a Planície do Pantanal (Figura 2.13).

26

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Figuro 1.lJ
MATO GROSSO - AREA DE
FINAL DO SlCULO XIXE~~LOIRAÇAo DA ERVA•
CIO Do S"C MAT
"' ULO XX

BOLÍVIA

PARAGUAI

.,, f)l2.n
MATO GROSSO - ÁREA DE EXPLORAÇÃO DA POAIA
PARANÁ FINAL DO SÉOJLO XIX . I (OO DO SÉOJLO JCX

AMAZONAS
Fonle: Slq~ 1,.,Cos1. . Carvalho, 1990 Ad•pi.,dosobre ba"' cartogr~ÍI(;, "'"'' IIBGE, 2000/.

D Território internacional
Território mato-grossense
- Área de ocorrência da erva-mate
_ _ Limites políticos atuais
(não definidos na época)
--. Rios
s Capital
• Cidades
• Cidades relacionadas à
.r
expansão da erva-mate BOÚVIA

Embora a exploração da poaia em Mato Grosso tenha


I
sido iniciada no século XVIII, foi somente no século
seguinte que despontou como produto de exportação 'I~/ >,PJ.úU

para a Europa, tendo atingido o auge de sua produção -1~·


entre 1885 e 1890.
A exploração da poaia, caracterizada por métodos
artesanais e em condições adversas, tinha por base o sis- D Territóno internacional
tema de arrendamento de terras, com participação de Território mato-grossense
• Área de exploração da poaía
capita l nacional e estrangeiro. O transporte da produção
- Limites políticos awais (nbo definidos na época)
era feito pela via fluvia l at ravés do rio Paraguai, chegando
Rios
aos portos marítimos brasileiros, de onde era exportada
e capital
ou distribuída ao mercado interno, cujo desenvolvimento • Cidades
ocorreu no século XX, por volta de 1940, quando se instala· • Cidades oriundas da etplorai;.w da poaia

ram no país as primeiras indústrias farmacêutica s.

27

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U 1\JIDADE ;, _ -

Muitos foram os reflexos da exploração da poaia na


produção do espaço mato-grossense. Apesar de ter sido
responsável diretamente pelo surgimento de apenas um
núcleo urbano, Barra do Bugres (Figura 2.13), a poaia estimu-
lou relações comerciais internas e externas, atraiu popula-
ção e interiorizou a economia e os interesses do Estado em
direção ao norte do território.

A borracha

Os primeiros registros sobre a ocorrência e expe-


riências de exploração da borracha em território mato-
-grossense remontam ao século XVIII. No entanto, a
exploração comercial deu-se na segunda metade do
século XIX. Aobtenção da borracha se dá a partir da coleta
do látex, colhido da seringueira e da mangabeira, árvores
que ocorrem nas matas e cerrados nativos de Mato Grosso
(Figura 2.14) e da Amazônia brasileira.
Inicialmente, a exploração da borracha se restringiu
às matas próximas dos grandes rios, como o Guaporé, do
Sangue, Sacre, Arinos, Teles Pires e outros. O caráter sazo-
nal da coleta do látex, feita no período de estiagem, per- Fonte: Siqueira, 1997a. Adaptado sobre base car1ogrifica atual {IBGE. 2000) .
"'
00
mitiu a utilização da mesma mão-de-obra empregada na
coleta da poaia, que só era explorada no período chuvoso. D Território internacional <,.
'O
A exploração e comercialização da borracha atingi- D Território mato-grossense :õ
õ
ram seu auge no final do século XIX e início do século XX, Área de exploração da borracha õ.
o
quando então perdeu im portância no mercado interna- 'e.
- Limites políticos atuais (não definidos na época) ::,
'O
cional em função da concorrência da produção asiática. """"1 Rios
eo.
O transporte da mercadoria era feito no local da extração, "'
a:
• Cidades
com a ajuda de animais. Para chegar a outros mercados • Cidades beneficiadas com o comércio da borracha
era utilizada a via fluvial, através do rio Paraguai, às mar-
gens do qual localizava-se o porto de Corumbá. De lá, a
produção alcançava o estuário do rio da Prata e o oceano
Atlântico. Com a decadência da borracha, a maioria desses tra-
A exploração da borracha foi responsável por um balhadores não voltaram para as suas terras de origem,
importante fluxo migratório para Mato Grosso, ocorrido permanecendo em Mato Grosso. Muitos deles contribuí-
no final do século XIX e início do século XX, constituído por ram para o povoamento do centro-norte mato-grossense,
migrantes provenientes principalmente do Nordeste do enquanto outros migraram para o nordeste do Estado,
Brasil. Já naquela época, massacrados pelas secas e pelas fixando-se no Vale do Araguaia.
dificuldades de acesso à terra, procuraram na exploração A exploração da borracha nesse período não deu
da borracha uma alternativa de sobrevivência e condições origem a novos núcleos urbanos, mas contribuiu para o
dignas de vida, o que, entretanto, não propiciou melhorias fortalecimento de alguns núcleos já existentes, como Dia-
de vida para esses trabalhadores.
mantino, Cáceres, Rosário Oeste, Cuiabá e Corumbá, por
ter incrementado o comércio com a implantação de com-
panhias de exportação da borracha tFigura 2.14).
A borracha ainda voltou ao cenário econômico de
Veja no livro de História mais informações sobre
o cenirio mercantil e produtivo, no capitulo 19. Mato Grosso no período da Segunda Guerra t1939/1945),
quando a exportação asiática foi suspensa em função dos
conflitos internacionais. Todavia, com o final da guerra, e

28
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-
r
• --:-:· • •"f'

Figura 215- Seringais plantados em Dom Aquino (l00 4)

a regularização do mercado asiático, a borracha brasileira Apogeu e crise na produção


saiu outr~ vez da pauta ~e exportações. o fator de peso
de borracha no Bra il
nesse penodo, que tambem contribu iu para a desvaloriza-
ção da borracha natural brasileira no mercado internacio-
No final do século XIX e início do século XX, a região
nal, foi o aperfeiçoam ento da tecnologia de produção da Norte do Brasil conheceu um surto de desenvolvimento
borracha sintética, que já era conhecida desde a década propiciado pela exploração e exportação de borracha
de 1920. natural, cujo sucesso económico atraiu empresas estran-
Na década de 1970, o cultivo da Hevea brasi/iensis, geiras e milhares de migrantes para a região. O volume
planta que produz o látex, foi estimulado por programas dos negócios e a entrada maciça de capitais refletiram o
oficiais de financiamento e motivado pelas perspectivas crescimento urbano de Manaus e a adoção do estilo de
vida europeu, chegando esta cidade a ser designada de
promissoras de mercado. Assim, algumas áreas do Centro-
"Paris dos Trópicos''. Contudo, esse período de pujança
Norte de Mato Grosso receberam o incentivo do Probor
não durou muito e, por volta de 1920, a economia regional
- programa governamental para o cultivo e exploração entrou em declínio pela "concorrência" do mercado Inter-
tecnológicas da borracha. O município de São José do Rio nacional.
Claro surgiu a partir desse programa (Figura 2.15). A borracha, que fomentou a economia do pai no final
do século XIX e início do século XX, é oriunda do láte reti-
rado da seringueira (Hevea brasilien is), árvore nativa d
Os ciclos econômicos do início do século Amazônia de cuja casca, a partir de incisõe uperticiai ,
é recolhida a abundante seiva que forma a borracha. Ori-
XX e seus reflexos na formação territorial ginária dos trópicos sul-america nos, na d cada de 1870,
cerca de 70 mil sementes de seringueira foram contraba n-
deadas para a Inglaterra, que as cultivou em suas colônias
No mesmo período da extração vegeta l, outras ativi- asiáticas, especialmente no Ceilão, atual Srl Lanka, e na
dades econômicas foram desenvolvidas em Mato Grosso. Malásia, onde, dadas as excelentes condições pedológicas
Destacaram-se a produção de açúcar e uma nova fase de e climáticas, os seringais se desenvolveram rapidamente,
exploração de diamantes. Paralelamente a essas ativida- suplantando as condições de produção e comercialização
des, a pecuária continuou a se expandir e a manter a lide- brasileiras nas primeiras décadas do século XX.

rança sobre os prod utos exportados.

29
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UNIDADE 2 "

: .,...,
Figura 2.16 - Usina Maravilha, em Santo Antônio de Leverger Figura 2.17 - Administração da Usina Ressaca

O açúcar A produção do açúcar foi uma importante at'.v'.dade


econômica da primeira metade do século XX. A at1v1dade
A produção de açúcar em Mato Grosso teve inicio entrou em decadência na década de 40 do século XX, oca-
na primeira metade do século XVIII, em pleno ciclo do sionada pela concorrência das grandes usinas do Sudeste,
ouro. Nessa época, as técnicas de obtenção do produto diminuição da produtividade dos canaviais e insufici ência
eram artesanais e a produção atendia exclusivamente a dos equipamentos industriais.
demanda local. Outro fator de grande importância que concorreu
Posteriormente, a produção açucareira em Mato para o fim dessa atividade foi a política empreendida pelo
Grosso concentrou-se ao longo do rio Cuiabá, em áreas Governo Vargas de combate ao coronelismo - represen- <
~
que hoje correspondem aos municípios de Cuiabá, Santo tado em Mato Grosso principalmente pelos usineiros -, :,;
o
Antônio de Leverger e Barão de Melgaço (Figura 2.16). Con- que resultou em inspeções federais nas usinas e punição õ..
tudo, existiram também usinas e engenhos menores ao aos proprietários pelo descumprimento das leis trabalhis- ~
::,
v
o
longo do rio Paraguai e em Chapada dos Guimarães. A tas. A política de centralização do poder de Vargas privile- õ..
produção máxima obtida e o período de sua maior impor- giou os usineiros do Sudeste, desarticulando a atividade "'
a:

tância econômica ocorreram entre 1890 e 1950. em Mato Grosso e resultando em perda da oferta de tra-
A partir de 1856, com a assinatura do tratado que per- balho.
mitiu a livre navegação pelo rio Paraguai, o comércio e
as comunicações se intensificaram, particularmente com
Cuiabá, o que permitiu importar e exportar produtos O 2° ciclo de exploração do diamante
diversos com mais facilidade. A guerra do Paraguai (1865-
1870) interrompeu esta comunicação, reativada apenas Na primeira metade do século XX, ocorreu a descoberta
com o término dos conflitos. de depósitos de diamantes às margens dos rios das Garças
Com o tratado de navegação, máquinas modernas e Cassununga, no leste mato-grossense, e o retorno às
foram importadas da Europa para implementar a produ- antigas minas no Alto Paraguai (Figura 2.18). A descobert a da
ção de açúcar nas usinas de Mato Grosso. Entre as usinas de pedra preciosa atraiu um significativo fluxo de migrantes e
maior destaque desse período, pode-se citar Flexas, Taman- fez surgir alguns núcleos populacionais que mais tarde se
daré, Santana, São Miguel, Conceição, Aricá e ltaici, todas tornaram cidades e sedes de municípios.
situadas às margens do rio Cuiabá. Em Cáceres, às margens Na área leste do Estado, o diamante fez surgir os
do rio Paraguai, teve destaque a usina Ressaca (Figura 2.17). núcleos urbanos de Guiratinga, Poxoréo, Dom Aquino, lti-
quira, Barra do Garças, Ponte Branca, Tesouro, Alto Garças,
Pontal do Araguaia, Alto Araguaia e Torixoréu. A reativação
Veja, no livro de História, textos sobre as d_a exploração do diamante levou ainda à formação das
usinas de açúcar (capítulo 19), os coronéis e cidades de Alto Paraguai, Nortelândia e Arenápolis, além
outras explorações diamantfferas (capltulo 25).
de t~r provocado um novo fluxo migratório para as áreas
rurais e urbana do município de Diamantino (Figura 2.18).

30
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Figura 2.18
MATO GROSSO - ÃREA
_ Inicialmente, a melhoria no sistema de comunica·
DO DIAMA~~EEXPLORAÇÃO
PRIMEIRA METADE çoes beneficiou diretamente o sul do antigo território de
DO S{ CULO X.X Mato Grosso, par t'1cu1armente em razao - da construçao
- da
Estrada
_ de Fe N . . ._ a
rro oroeste do Brasil, que hgou a reg,ao
5~0 Paulo, chegando a Corumbá e Campo Grande. A ferro-
via eS t imulou ª expansão agropecuária e a migração para a
sua área de abrangência. Algumas cidades do sul conhece-
ram um rap, , 'do crescimento,
• como Corumbá, Aquidauana,
Campo Grande e Três Lagoas (Figura 2.19).
Nas três primeiras décadas do século XX, teve início
GOIAs 0 processo de colonização implementado pelo Estado
BOLÍVIA sen d o ·implantadas as colônias de Porto Murtinho, Campo'
Grande e Terenos, no território que hoje corresponde a
Mato Grosso do Sul, e no atual Mato Grosso as colônias
de ~ª~ª- Grande e Ponte Alta, ambas, naquela época, no
mun1cip10 de Cuiabá. Dadas as condições de infraestrutura
• c.mPQ.Gronde no sul, essas colônias apresentaram melhores resultados
que as do norte .
SÃO . A_partir de 1930, frente ·à crise na comercialização do
3 PARAGUAI
e,
PAULO ~rinc1pal produto brasileiro de exportação, o café, a polí-
-;;;
e tica econômica nacional foi redirecionada, passando a
J:. llibn
o ~rivilegiar basicamente a hegemonia do capital urbano
J!'
:g PARANÁ 1~~u_str~al, o que provocou mudanças na ocupação do ter-
V
o
'O
.," ntono, incluindo Mato Grosso.
Fonre: Siqueu·a. 1997a; Ferreira. 1997. Adaptad0 sobre base c.artográfia atual (IBGt 2000).
As estratégias da política econômica do governo reser-
varam para Mato Grosso um novo papel no processo de
"'
"O
1i
õ
D Território internacional crescimento econômico do Brasil: produzir alimentos e
õ. D Território mato-grossense ab~orver_mão-de-obra excedente de outras regiões do
~
:, pais. A_ss'.m, na década de 1930, foi iniciada a implantação
"O Área de exploração do diamante
o
õ. _ Limites políticos atuais ~e colonias em Mato Grosso, que deveria contribuir para a
"'"' (não definidos na época) interiorização da população e elevar a produção agrícola
~ Rios do Estado.
0 Capital _Embora sem conseguir o êxito esperado com as pri-
• Cidades
meiras colônias implantadas, os governos federal e esta-
~ Cidades originadas ou beneficiadas
dual deram continuidade ao processo na década de 1940,
com a exploração do diamante em que se destacaram a Expedição Roncador-Xingu e a
Fundação Brasil Central. Todavia, o sucesso da colonização
só foi conseguido nas décadas seguintes, particularmente
a parti r da década de 1970.
Nesse contexto, até a década de 1960, o antigo Mato
Política ocupacional da primeira Grosso foi menos impactado e recebeu poucos investi-
mentos para a melhoria das comunicações e crescimento
metade do século XX agropecuário. Eram perceptíveis as diferenças socioeconô-
micas entre as duas áreas: o sul contava com maior con-
tingente populacional, maior número de núcleos urbanos,
Ainda na primeira met ade do século XX, muitos outros
rede viária mais densa e maior produção agropecuária. O
fatores foram d e suma im port ância na produção do
norte não dispunha de ferrovia e possuía menor número
espaço mato-grossense, como a melhoria no sistema de
de núcleos urbanos, que se concentravam ao sul do para-
comunicações, o desenvolvimento comercial, a expansão
lelo 14° S. A produção baseava-se na pecuária extensiva
agropecuária e a continuidade da colonização. A melhoria
e na agricultura de subsistência, exceto as plantações de
nos meios de comunicação permitiu relações comerciais
cana-de-açúcar. A densidade demográfica da região era
mais frequentes e, consequentemente, estimulou os inves-
menor que a do sul.
t im entos na atividade agropecuária.

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UNIDADE 2

Rgura 2.19
SISTEMA BÃSICO DE CIRCULAÇÃO
1923

D Território internacional
l
D
\
Território mato-grossense

-
Limites políticos atuais
(não definidos na época)
)\ ~ {
r
Caminhos
~

~
Estrada de ferro
1 Rios ...1.. ·····,.. \
®

Capital
Cidades l~. l ······.......:.~·_-~~r:~
. .. • Clíiõ~".-<""'.
IAB~ • . ·,·; "'YI" ... ,..
15• rid. \ Barra 1
·•JJondo
GOIÁS
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\ BOL!VIA
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~ '"\~.Nioaque :, 'õ
o { • • i3
1 ,•···•ÍardiJ"Q._ ;-...... . o
"O
Em síntese, pode-se afirmar Parto · ho : •. .,.
"'
que a formação do território
mato-grossense é resultado do
processo político e econômico
PARANÁ
brasileiro, em que Mato Grosso,
em cada momento da História,
Fonte: Mato Grosso. 1923. Adaptado sobre base cartogrâfica atual (IBGE, 2000).
desempenhou um papel espe-
cífico:

• Assegurou a expansão das fronteiras nacionais, no final reg1oes brasileiras impulsionado pela melhoria nas
do século XVII e primeira metade do século XVIII; comunicações, que permitiram a exportação regular
de seus produtos, como o açúcar e o charque, atraindo
• Na primeira metade do século XVIII, foi objeto da maior fluxo de migrantes;
expansão da Coroa portuguesa e do mercantilismo
europeu, com a produção de ouro das minas de Cuiabá, • Na primeira metade do século XX, o redirecionamento
Vila Bela e áreas adjacentes; da política econômica do país atribuiu a Mato Grosso
um novo papel, segundo o qual deveria se transformar
• Na segunda metade do século XIX e início do século em produtor de alimentos e absorver mão-de-obra
XX, Mato Grosso contribu iu com a arrecadação nacio- excedente de outras regiões. Diante dessa decisão, o
nal e com a expansão da revolução industrial europeia, território mato-grossense passou a ser alvo da política
exportando matéria-prima, a exemplo da poaia e do de integração nacional, a qual, à medida em que se
látex, de interesse do capital industrial europeu emer- intensificou, modificou a secular estrutura econômica
gente. Nesse período, a erva-mate foi produto de des- vigente.
taque econômico na pauta de exportações para países
vizinhos e também para o atendimento do mercado
nacional;
Veja, no livro de História,
sobre o processo de
• No plano interno, na segunda metade do século XIX, mato-g
Mato Grosso ampliou suas relações com as demais

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Conceitos complementares
Sugestão de Atividades

1. Analise os fatores que contribuíram para o desloca-


mento dos bandeirantes em direção a Mato Grosso.
E ta itua õe moldaram a form ç o do e paço
mato--gro .en~e atravé dos suce Ivo r ord namentos 2. Explique os Interesses da Coroa Portuguesa em avan-
de eu ~ rnt no em sua i .
' ma ona re ultantes das d mt1n- çar na ocupação do oeste brasileiro.
da do poder constituído em cada P rlodo histórico Este
p~ ce o de con tru ão do espa o é d" i . 3. Discuta a importância do ciclo do ouro no processo
manente moviment0 C ,n m co, e em per-
. . . · ertamente, outra situações virão de formação do território mato-grossense.
,mpnm,r nova feiçõe ao e paço g ográfico mato-gros-
~~I~~- :el~ menos teoricamente, o cidadãos têm a pos- 4. Elabore um resumo, considerando o papel da pecuá-
s '. ' a e e planejar o seu futuro a partir dos interesses ria no processo ocupacional de Mato Grosso.
ma,ore da sociedade e estabelecer uma relação dialética
com ~s forças sociais, políticas e econômicas - em bora s. Faça uma análise do ciclo da exploração vegetal em
se verifique, cada vez mais, interdependência com o pro- Mato Grosso.
cesso global do planeta.
6. Analise o segundo ciclo de diamantes em Mato
Grosso e os seus reflexos no processo ocupacional.
Processo dialético
7. Organize um grupo de discussão sobre a divisão do
Para ~ ~losofia, em sentido bastante genérico, signi- território mato-grossense em 1977, que deu origem à
fic_a ~p?s,çao'. ~onflito originado pela contradição entre criação de Mato Grosso do Sul. Aponte os seus refle-
prmcip1os teoncos ou fenômenos empíricos. Segundo xos na produção recente do espaço de Mato Grosso.
Hegel, é a lei que caracteriza a realidade como um movi-
mento incessante e contraditório, condensável em três 8. O seu município está inserido de que forma no
momentos sucessivos (tese, antítese e síntese) que se assunto estudado neste capítulo? Comente.
r
manifestam simultaneamente em todos os pensamentos
humanos e em todos os fenômenos do mundo material.
Para saber mais ...
No marxismo, é a versão materialista da dialética hege-
liana aplicada ao movimento e às contradições de origem
Livro
econômica na história da humanidade (Houaiss, 2001) .
• Leia O cotidiano dos viajantes nos caminhos fluviais de
Moto Grosso (1870-1930), de Edil Pedroso da Silva. Edi-
Crescimento econômico tora Entrelinhas, 2004.

É o aumento da capacidade produtiva da economia e,


portanto, da produção de bens e serviços de determinado
país ou área econôm ica . É definido basicamente pelo
índice de crescimento anual do Produto Nacional Bruto
(PNB) per capita. O crescimen to de uma economia é indi-
cado ainda pelo crescimento da força de trabalho, pela
proporção da receita nacional poupada e investida e pelo
grau de aperfeiçoamento tecnológico (Sandroni, 2000).

Desenvolvimento econômico

É o crescimento econom1co (aumento do Produto


Nacional Bruto per capita), acompanhado pela melhoria
do padrão de vida da população e por alterações funda-
mentais na estrutura de sua economia (Sandroni, 2000).
Nas primeiras décadas do século XX, o transporte de
mercadorias e passageiros era realizada, principalmente,
através dos rios Cuiabá e Paraguai

33

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.,)

<.
-o
ii
o
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-o
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.,ã.
a:

Pioneiros da colonização do norte de Mato Grosso, na primeira metade do século XX

A inserção de Mato Grosso na economia nacional

Considera -se que a passagem da economia colonial foi responsável pela dinamização das regiões prod ut o-
para a economia primária exportadora capitalista se deu ras, cujas economias articulavam-se aos centros econô-
com a abolição da escravatura e a substituição do trabalho micos dominantes do país e do exterior: pela aceleração
escravo pelo trabalho livre, em 1888. Do Período Colonial da urbanização, ao estimular a imigração estra ngei ra, for-
até o final da Primeira República (1930), a economia bra - mando um mercado de trabalho para as lavoura s cafeeiras
sileira apoiava-se na produção de bens primários, voltada e para o nascente setor industrial; pela consol idação das
quase que exclusivamente ao mercado externo, tendo relações assalariadas de trabalho; e pelo desenvolvimento
sempre o domínio econômico de um produto liderando a comercial, com a implantação de uma rede d e t ransportes,
pauta de exportações, como a cana-de-açúcar, nos séculos permitindo o escoamento da prod ução e a circulação de
XVI e XVII; os metais e pedras preciosas, no século XVIII; e o pessoas e de mercadorias. Enfim, a cafeicultura permitiu a
café, nos séculos XIX e XX . formação, nas regiões produtoras (oeste e norte paul istas,
Desses produtos, o que mais impulsionou a economia sul de Minas Gerais e norte do Paraná), de uma sociedade
brasileira foi o café, que se tornou durante muito tempo agrária de base ca pital ista, que permaneceu hegemônica
a sua principal cu ltura de exportação e maior fonte de até 1930, quando novos componentes urbanos industriais
divisas, constituindo uma "economia mon etá ria". O café ascenderam à vida econômica e política do país.

34

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Dependente da demanda dO .
economia brasileira sof mercado internacional, a
oscilações e com o reu constantes crises com as suas
comportamento da d - A crise de 1929
periodicamente abal d pro uçao cafeeira,
ocorrência de geadas ªo a dpela superprodução ou pela
do período de predom~ . edsecas prolongadas, ao longo Após a Primeira Guerra Mundial, em 1918, os Estados
rnro essa cultura Co d Unidos tornaram-se a nação mais poderosa do mundo. A
crise econômica mundial ecl d'd . m a gran e
sua produção industrial alcançou mais de 40% do total
consequência das crises int o r a em fins de 1929 e em
mundial e a agricultura expandiu-se, atingindo índi-
mente pela super d ernas provocadas, principal -
' pro ução as exp t - b . . ces extraordinários. Havia crédito em abundância e um
caíram vertiginosa ' or açoes rasrlerras grande mercado consumidor representado, principal-
"ciclo do café". mente, apontando o fim do chamado
mente, pela Europa em reconstrução. A movimentação na
Principal produto na paut d bolsa de valores refletia o clima de euforia, mas também
ª as exportações e por denunciava a enorme onda de especulação em tomo do
tant~, ~aior gerador de divisas, o café teve sua de~and;
mercado de capitais. O boom econômico, porém, gerava
rep:r~rda _Pelo merc_ado internacional, causando enormes contradições que levariam o mundo a uma crise sem pre-
preJurzos a economia nacional o· d
, . . · rante esse quadro, foi cedentes na História do capitalismo: a concentração da
necessano diversificar a produ - .
. . . çao e reorganizar a eco- renda, a superprodução e a especulação, em larga escala,
nomia br~srlerra, alterando as bases do seu padrão de em torno das sociedades por ações. O colapso da econo-
acumulaçao ~ustentado, naquele momento, pela mono- mia norte-americana ocorreu em outubro de 19291 com o
e cultura _cafeeira. ~:sim, estimulou-se a diversificação da crack da Bolsa de Valores de Nova York: bilhões de dóla-
g res foram perdidos e milhares de "investidores"' ficaram
õ
V
produçao nas regr oes de cultivo de café, introduzindo-
.g arruinados. A Grande Depressão vivida nos anos 1929-1932
-se a cana-de-açúcar e o algodão. As atividades artesa-
afetou profundamente a economia mundial. Com o declí-
nais e_ fabris qu~ surgiram em função dessa diversificação
nio do comércio internacional, o café, principal produto
tambem foram impulsionadas, abrindo perspectivas para das exportações brasileiras, teve sua demanda reprimida,
o fortalecimento do comércio interno. Isso favoreceu a for- gerando altos estoques com a consequente queda de
mação, nos centros urbanos, de uma classe média e uma preços. Milhares de sacas de café foram queimadas pelo
classe operária constituída por imigrantes liberados das governo brasileiro na tentativa de recuperar os preços e
lavouras de café. Por sua vez, as redes de estradas de ferro diminuir a oferta do produto, mas a crise de 1929 marcou
e de rodagem, criadas para dar suporte ao escoamento também o fim do predomínio do café na economia bra-
sileira.
da produção cafeeira, criaram as bases para a circulação
das novas mercadorias, como matérias-primas e produtos
manufaturados, fortalecendo o mercado interno. Fonte: Marques; Berutti; Faria, 1994; Vicentino, 1997,

No decorrer dos anos 30, a produção agrícola para o


mercado interno superou a produção destinada à expor-
tação. Estava em curso o processo de "substituição das
importações", que visava romper com o modelo agroex- Novo (1937-1945), implementou o processo de centraliza-
portador, tornando a economia brasileira menos depen- ção político-administrativa iniciado em 1930, inaugurando
dente do mercado externo. Esse modelo, que iniciara com uma fase de intervenção do Estado brasileiro na economia.
a grande crise de 1929, permaneceu até o final da Segunda Para viabilizar esse novo modelo, era necessário criar as
Guerra Mundial, quando a indústria tornou-se o polo condições indispensáveis ao novo padrão de acumulação
dinâm ico da nova fase do processo de desenvolvimento de bases urbano-industriais, fortalecendo o desenvolvi-
do capita l no país, destituindo a posição hegemônica da mento do sistema capitalista no país. Para tanto, Getúlio
classe rural na economia e na política brasileiras. promoveu o desenvolvimento industrial e a diversificação
O cenário político também havia mudado com a ascen- da agricultura. Nesse momento, o campo passou a ter
são de Getúlio Vargas à Presidência da República, após uma nova função: fornecer matéria-prima para a indús-
coma ndar a Revolução de 1930. Vargas privilegiou um tria e abastecer os centros urbanos com alimentos a baixo
mod elo nacional de desenvolvimento industrial baseado preços. Foi o tempo da "Marcha para o Oeste", política
na ideologia do nacionalismo, com o fortalecimento do territorial de integração dos "espaços vazios" à economia
poder central. Durante o período conhecido como Estado nacional.

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UNIDADE 2 _ _ ~ - - - -

Figura 3.1
ÃO DA REGIÃO SUL DO ANTIGO ESTADO
Mato Grosso integra-se MATO GROSSO - INTEGRA~DUTIVO NACIONAL - PÔS 1920
AO PROCESSO PR
à economia nacional

A inserção de Mato Grosso na economia brasileira no


século XX se deu, num primeiro momento, no contexto
da expansão cafeeira e do crescimento dos centros urba-
nos da região Sudeste, sobretudo de São Paulo e das
cidades do oeste paulista (1920-1930). Face às necessida-
des alimentares desses centros urbanos, o sul do então
Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul) e o sul de Goiás
foram incorporados ao núcleo do mercado nacional em
desenvolvimento naquela região. Assim, naquela década,
começou a se desenvolver nessas áreas uma agricultura
comercia l em pequenos estabelecimentos agrícolas.
Configurou-se o início de uma divisão regional do traba-
lho, que se firmou com a aceleração do desenvolvimento
industrial pós 1930.
A dinamização do setor urbano-industrial na região BQLÍ'{IA
)
Sudeste e o avanço da fronteira agrícola para o oeste,
incentivada por Vargas por meio da implantação de Colô-
nias Agrícolas Nacionais (1937-1945), impulsionou a inte-
gração da região meridional de Mato Grosso, que hoje ·20"

comporta o atual territóri o de Mato Grosso do Su l, ao pro-


cesso capitalista de produção. Esta área passou a ser pro-
dutora e abastecedora do mercado nacional, numa nítida
transformação das atividades agrícolas tradicionais em llSkm

uma agricultura comercial (Figura 3.1).


A porção setentrional do antigo Estado, que hoje cor- ~
responde a Mato Grosso, vivia da pecuária extensiva e da Fonte: Adaptado sobre base cartográfica atual (l8GE, 2000).
agricultura de subsistência e, não obstante a presença de
muitos povos indígenas, essa área aparecia, nos progra-
D Território internacional
mas federais de desenvolvimento e integração nacional,
como 'enormes espaços a serem ocupados demográfica e D Território mato-grossense

economicamente'. Ao final da década de 1940, a região foi D Área produtiva (fluxo do comércio da produção)

alcançada por essas políticas de integração, uma vez que 0 Ca pita l


a agricultura deveria se expandir para atender o mercado
interno, em crescimento, e gerar divisas para apoiar as Nas décadas de 1930/1940, as áreas do' sul
do antigo Estado passaram a produzir
importações de bens de cap ital, essenciais à consolidação alimentos para abastecer os mercados do Sul
do modelo econômico brasileiro. e Sudeste do pais.

•• A expansão do capitalismo brasileiro no campo


também fazia parte da estratégia utilizada pelos países
capital istas hegemônicos para promover a "moderni-
zação" da agricultura nos países em desenvolvimento e
Os propagados "ideais" da "revolução verde" tradu-
pobres. Instituições poderosas, como as fundações Rock-
ziram-se, porém, na industrialização do campo por meio
feller, Ford e o Banco Mundial, financiaram a chamada
da transferência de tecnologias e produtos (fertilizantes,
"revolução verde", a pretexto de superar os obstáculos
agrotóxicos denominados defensivos químicos, máquinas,
tecnológicos e "solucionar" os problemas de fome e misé-
tratores, caminhões) produzidos pelas grandes empresas
ria nesses países, aprofundados após a Segunda Guerra
transnacionais, sobretudo norte-americanas, ligadas à
Mundial.
agropecuária. O interes·se dessas empresas, muitas delas

36

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-- ~ - . . · . , ' , _ Capitulo 3
~~ -- - =-

com subsidiárias instaladas no 8 .


ras, 1, estava na moderniza- As estratégias para a implementação dessa política
ção d o campo para sua transform -
midor desses prod u t os. açao em mercado consu- foram traçadas nos Planos Nacionais de Desenvolvimento
Assim, motivos de O d Econômico e Social (1 PND-1972/74 e li PND-1975/89) dos
- . r em externa conjugados a fato - governos militares. Basearam principalmente na expan-
res internos, como a d,versificaç - d .
e • ao o parque industrial e o são da fronteira econômica nacional no Planalto Central
,orte crescimento urbano verificad , .
de 1950 e 1960 . os no pais nas decadas e vales úmidos do Nordeste e Amazônia, para ampliar o
- . , passaram a impor novas formas de inser-
çao da agricultura no circuito doca .t 1. • •
mercado interno com a incorporação de novas áreas e, ao
Além de abastecer . p1 a ismo internacional. mesmo tempo, aproveitar a mão-de-obra abundante.
0
- mercado interno e gerar divisas com Nesse sentido, a tônica da ação governamental prio-
a exp~rt~çaol de produtos, a ag ricu ltura brasileira deveria
ser, pnncipa mente, consumidora d b d - rizava as periferias, que apresentavam baixa densidade
. e ens e produçao e demográfica, notadamente a Amazônia e Centro-Oeste,
insumos modernos fornecidos pela . d . . .
s in ustnas estrangei- dentro de um ideário político e ideológico de "segurança
ras do setor agroindustrial.
e desenvolvimento" para justificar a intervenção direta do
A construção de Brasília em 1960 . . . d . 1
_ . . , , e o in 1c10 a 1mp an- Estado brasileiro nessas regiões. Definidas como polos
taçao de rodovias de integração (Bele' m - 8ras,·1,a· e Bras,·1,a-
·
agropecuários e agrominerais, essas regiões foram aber-
-Acre) representa ram um avanço no processo de integração
tas ao capital nacional e estrangeiro visando à ocupação e
do Centro_-Oes~e e da Amazôn ia à economia nacional. Mas
exploração dos seus recursos naturais, bem como à absor-
a estratégia de integração nacional - iniciada na década de
ção dos excedentes populacionais do Nordeste, desesti-
1940 c~m a "~archa para o Oeste" - teve impulso definitivo
mulando a migração para o Sul e o Sudeste, regiões que se
c~m a intensificação do processo de modernização indus-
encontravam economicamente saturadas e que também
tria l no Centro-Su l articu lado às ações de expansão agrí-
vinham se transformando em áreas de expulsão em decor-
cola pa ra o Centro-Oeste e Amazôn ia durante os governos
rência da modernização no setor agroindustrial.
milita res (1 964-1 985). Nesse contexto, Mato Grosso ocupou
.g posição peculiar, verificando-se a expansão acelerada dos
:e
espaços ocupados pela atividade agropecuá ria, enquanto Mato Grosso compõe a Amazônia brasileira
se dava, ao m esmo tem po, ace ntuada "modern ização" do
setor ag rícola.
Para viabilizar esses objetivos, o Governo Federal, atra-
vés da Lei nº 5.178, de 1966, extinguiu a Superintendência
do Plano de Valorização Econômica da Amazônia - SPVEA,
O impacto dos Programas Especiais criada em 1953, substituindo-a pela Superintendência do
de Desenvolvimento Regional em Desenvolvimento da Amazônia - Sudam, com a função de
coordenar a ação federal nessa região. A ela competiu a
Mato Grosso (1970/1980) elaboração e execução do Plano de Valorização da Ama-
zônia, diret amente ou mediante convênios com entidades
A partir dos anos 1970, a economia brasileira, inserida pú blicas ou privadas, tendo o Banco da Amazônia - Basa -
no processo de internacionalização do capitalismo, passou como agente financeiro. A atuação da Sudam ficou delimi-
a requerer a incorporação de novas áreas ao processo tada a uma área de quase 5 milhões de km 2, definida pela
p rod utivo nacional, para atender, de um lado, a demanda Lei nº 5.173/66 como Amazônia Legal. Essa região, criada
de matérias-primas e alimentos dos mercados internos e especificamente para fi ns de planejamento governamen-
externos e, de outro, a diversificação do parque industrial tal, abrange atual ment e os Estados do Acre, Amapá, Ama-
do país. zonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e
A redefinição de novos espaços econômicos foi orien- parte do Mara nh ão, a oeste do meridiano 44º, conforme
tada pe la "política de integração nacional ", a partir da indicado na Figura 3.2.
dinamização de setores das economias regionais. A rede- A Sudam, pa ra pôr em prática a "Operação Amazônia",
finição desses esp aços pautou-se na criação dos "polos de contou co m recursos financeiros nacionais e estrangeiros,
desenvolvimen to ", concentrando investimentos em deter- sendo 2% proven ientes da receita dos impostos da União
minadas regiões, susceptíveis de crescimento planejado, e 3% dos Est ados e municípios, além de empréstimos con-
capazes de alavancar reg iões vizinhas sob sua influência. traídos no país e no exterior. Também pôde contar com os
Assim, a atenção do governo federal vo lto u-se p rioritaria- recursos do Fundo para Investimentos Privados no Desen-
mente para as regiões periféricas e sua inserção à econo- volvimento da Amazônia - Fidam, criado pela mesma Lei
mia nacional. nº 5.173/66.

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1JNlrMDE _,

. - eo ráfica estratégica em relação à


A #Operação Amazônia• baseava-se em três ações prin- ocupando posiçao g g nde potencial econômico, Mato
cipais e interligadas:
f
região Sudeste e nc~: :portante função no processo ~e
Grosso dese mpe . rícola uma vez que a ocupaçao
• aplicação da Política de Incentivos Fiscais, elaborada expa nsão da fronte,_ra ag dar a' partir do Planalto Central
para estimular o empresariado privado a investir na d Amazônia deveria se
região e se tornar o agente de desenvolvimento local ª
mato-grossense. Bafzado
1 pelos governos militares

como
(criada pela Lei n° 5.174/66); _
"Portal da Amazonia • . ,, Mato Grosso passou
• •a integrar do
ex ansão territorial do capitalismo, sen o
• criação do Fundo de Investimentos da Amazônia - processo. de p te pelas ações dos Programas Fede-
ati ngido intensamen d 1
Fidam, operado pelo Banco da Amazônia S.A. - Basa, rais de Desenvo 1vim . ento Regional e outros cria os pe os
agente financeiro complementar do sistema (instituído governos estaduais.
pelo Decreto-Lei n° 1.376/74); . d s esses programas deveriam promover e
Associa o , • - · ada
expan 1r o setor agropecuário e a co. 1on1zaçao
d . • fipnv · '
• implementação dos Programas Especiais de Desenvol-
ten d o como estratégia a oferta de incentivos ,, sca,srae
vimento Regional geridos pela Sudam e/ou Sudeco. facilitado à terra aos empresários para a exp 1o -
acesso .. " Definiam
ção de terras devolutas em bases e'.11~~esan a1s .
Essas ações eram complementadas pela política fede- a geopolítica de ocupação do terntono mato-grossense
ral de acesso à terra devoluta/pública, executada pelo Ins- pelo grande capital, por entender que o _set?r agrope-
tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, cuário seria um instrumento que favoreceria, s1mult~ne~-
por meio da política de regularização fundiária, com- mente, 0 cumprimento dos grandes objetivos nac1ona1s
preendida como "reforma agrária", e da política de coloni- e a "vocação estadual". A colon ização privada favorece-
zação pública e privada. Como parte da Amazônia Legal,
ria a ocupação "por um processo seletivo", baseado no
recrutamento de pequenos e médios proprietários,_rela- "O
-o
u
tivamente capita lizados e com experiência na agricultura o
"O
Figura 3.2
mecanizada.
BRASIL - ÁREA DA AMAZÔNIA LEGAL - 2001
A rentabilidade dos empreendimentos era ga ra ntida
,,,. .
, .
OMa,
.,. ... ,,. por incentivos fisca is para projetos agropecuários, isen-
ções tributárias para a exportação de alguns produtos
,:,


o..
o
. regionais e impo rtação de máquinas e equipamentos sem
similar no país. Facilitando a aquisição de terras devolu-
';';.
:,
"O
eQ.
tas, Mato Grosso se transformou em mercado de terras e "'
o:
,.
grandes extensões foram adquiridas, por meio de compra,
de atos de "grilagem", ou de outros mecanismos de burla
à legislação. A terra, que já era alvo de especulação e dis-
puta, passou a ser abertamente franqueada aos grandes
; · IOiJYIA
,,. grupos econômicos através da regularização fundiária
que privilegiava a implantação dos chamados projetos de
"colonização empresarial" (projetos privados para a explo-
ração agropecuária, agroindustrial e mineral) e de coloni-
zação oficial e particular (projetos de povoamento).
Com apoio ostensivo do Governo Federal, Mato Grosso
passou a contar com vários programas e projetos destina-
~- » dos basicamente à agropecuária e à exploração de recursos
me: Adaptado sobre base canogrMica ><uai OBGE. 2000).
minerais financiqdos pela Sudam com capital nacional e
internacional. A colonização foi estrategicamente implan-
tada para aliviar as tensões sociais no campo, provocadas
- Área da Amazônía Legal
limites de Estados e países
pela forte_ co~~en~ação da terra em outras regiões do país
e para a v1ab1ltzaçao desses projetos.
Capítais
• Capital do país Considerado como um polo estratégico de desenvolvi-
me~to, Mato Gross? f?i inserido na política de integração
~acional. O seu obJet1vo foi o de incorporar vastas áreas
tidas como desocupadas e populações marginalizadas no

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Capitulo 3

processo de desenvolviment 0 d 0
namental se apoiou em t . país. Essa política gover- 1987, pelo Decreto-Lei nº 2.375), colocou sob a tutela da
res grandes p União as faixas de terras devolutas situadas até 100 km de
tégias operacionais de . _ rogramas e estra-
tntegraçao do N N cada lado das rodovias federais já construídas, em constru-
Centro-Oeste e Centro-Sul· 0 PIN orte, ardeste,
0 ção ou projetadas. Federalizando a maior parte das terras
destinados à Amaz · . · ' Proterra e o Prodoeste
on,a, ao Nordeste e c devolutas, situadas nos Estados componentes da Amazô-
Esses foram os programas que ~o entro-Oeste.
· • . causaram impactos econô- nia Legal, o Governo Federal pôde efetivamente controlar
micos e soe1oamb1entais
- em Mat0 Grosso. Para .integrar
0 a distribuição dessas terras por meio dos "projetos fundiá-
Va 1e d o Sao Francisco' foi criado O Prova 1e.
rios" implantados pelo Incra nesses territórios. Em Mato
Grosso, mais de 60% das terras devolutas situadas sob
sua jurisdição foram federalizadas como condição para a
Programa de Integração Nacional - PIN implementação dos empreendimentos idealizados para o
seu território pelo Governo Federal.
~riado pelo Decreto-Lei nº 1.106, de 16/06/ 70 foi Assim, como resultado do Programa de Integração
considerado o .ma is im po rtante .in st rumento de açao ' _ Nacional, foram implantadas em Mato Grosso, na década
no
,, processo
. de
,, inte gração da Amazo · . . . _
nta as reg,oes ma,s . de 1970, as seguintes rodovias federais: BR-163, trecho
desenvolvid as d o país , du ra nte O peno , d o m,. .1tar. Fo,.
1 Cuiabá-Santarém; a BR-364, trecho Cuiabá-Porto Velho; a
lan. çado com. uma cam pan ha ufa ni· sta , t e nd o como foco BR-070, trecho Rio Araguaia-Cuiabá; a BR-080, trecho Rio
o . ideal naetonalista para co nve ncer a sociedade brasi- Aragu aia-Cachimbo; a BR-158, trecho Barra do Garças-São
leira d~ que era necessári o "integ rar a Amazô nia para não Félix do Araguaia; e a BR-174, t recho Cáceres até a fronteira
entreg~-la aos es:~ang ei ros", ou sim pl esme nte "Integ rar com Rondônia (Figura 3.3).
pa ra nao Entregar . O Programa visava fi nanciar ob ras de
infra estrutura, sobretudo a abe rtura de rodovias federais e Figura 3.3
a implantação da "reforma agrária" ao longo dessas rodo- M ATO GROSSO - PRINCIPAIS RODOVIAS FEDERAIS
o
-o
vias, nas áreas de atuação da Sudene e da Sudam. O PIN IMPLANTADAS NA DÉCADA DE 1970

contemplou, inicialmente, o Plano de Irrigação do Nor-


deste e a construção de duas rodovias federais de integra-
,,. 60'
,.. ,,. ...
ção nacional: a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém, com AMAZONAS
PARÁ
.
a implantação de "projetos de colonização e reforma agrá-
ria" às margens dessas rodovias, numa faixa de terra de
- 10 km de cada lado. Ao construir, em prazo recorde, essas
rodovias, o governo federal objetivava também aliviar as
tensões sociais provocadas pela concentração fundiária
nos campos nordestinos e sulinos, redirecionando os exce-
dentes populacionais dessas áreas para a Amazônia, bem
como facilitar o acesso a novos mercados e às fontes de
matérias-primas e alimentos no interior do país.
Em seguida, o PIN foi ampliado, tornando-se um com-
plexo projeto de implantação de malha viária na Amazô-
nia Legal, associado à concessão de incentivos fiscais e
financeiros para grandes projetos agropecuários e mi~~-
rais nas áreas de atuação da Sudam, e de projetos 01ic1a1s ,..
e particulares de colonização implantados às m~rgens das
nova s rodovias. No mesmo ano (1970), o ProJeto Radar
Fonte: Mato Grosso, 1974. Adaptado sobre base cartogrc\lica atual {IBGE. 2000).
da Amazônia - Radam, criado pelo Departamento Nacio-
nal d e Produção Mineral, do Ministério de Minas e .Ener- - Limites políticos
gia, fo i in corporado ao PIN, com o objetivo de realiza~ o - Rodovia federal
mapeament o d os elementos básicos (s.olos, veget~çao, Rodovia estadual
topografia, e t c.) nece ssário s a um p laneJamento rac1?na l
0 Capital
para o ap rove ita m e nto integrad o dos re cursos natura is da
• Cidades
Amazônia.
Para ampliar o seu ra io d e açã o nos Est ados, o Governo
. do Decreto nº 1.164/71 (revogado em
Federal, por meio

39

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_ áreas de contato entre
fonizaçao em 1
t s particulares de co s regiões centro-norte e este
- contempladas o ta e os cerrados, na
Essas medidas, junto com outras açoes a flores
favoreceram e
por outros programas, como o Proterra, do Estado.
, d terras devolu-
estimularam o acesso a grandes areas e .
, . á.
tas e publicas a empres nos naciona1
. ·s e estrangeiros, em
Prodoeste
tamanhos superiores aos módulos fixados no Estatuto da
0
Terra (1964) para cada região, abrindo perspectivas para ·menta do Centro-Oeste foi
de oesenvo Iv, d
grande capital investir na implantação de projetos agrop~- o Programa . 0 1192 de 8 de novembro e
cuários, agroindustriais e no atrativo mercado de terras, via criado pelo Decreto-Lei n des~nvolvimento do Centro-
especulação ou em projetos de colonização privada. . ·ncrementar o . . . 1
1971, e visava I em Mato Grosso, abrangia pnnc1pa -
O governo brasileiro esperava, com esse programa, -Oeste, sendo que, . Estado dotando-a de rede
transferir cerca de 300 mil famílias, principalmente nor- .. sul do antigo '
mente a reg1ao d b rtura pavimentação e de cor-
destinas, para os projetos oficiais de colonização às mar- viária, com t rabalho e a de troncos ' estaduais e fe d era1s·
gens das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém. - d do de estra as- . -
reçao o traça . . . O objetivo era sua interhgaçao aos
Entretanto, as 6 mil famílias assentadas ao longo da Tran-
e de estradas v1e1na1s.', . para canalizar o escoamento
samazônica, até 1974, estavam muito aquém do número · os rodov1anos . . .
gran d es eix . . ais centros de comerc1ahzaçao,
previsto. Com o fracasso dessa investida, aliado a objeti- d -o até os pnnc1p .
vos políticos e econômicos, o Governo Federal estimulou a da pro uça . . _ e xportação. o programa v1a-
industnallzaçao e .
instalação maciça dos chamados projetos de "colonização c~~sumo, b , obras de infraestrutura rural, como a ms-
b11lzou tam em d dora
empresariat (agropecuários, agroindustriais e de minera- - d f . 'ficas expansão da re e armazena '
talaçao e ngon ' . •
ção) e de colonização privada. Mato Grosso c·oncentrou, saneamento básico e de eletnficaçao.
nas décadas de 1970/1980, o maior volume de recursos e
de projetos empresariais destinados aos Estados da Ama-
zôn ia Legal. Foram 243 projetos empresariais, 92% dos Programas integrados de
quais foram destinados somente ao setor agropecuário; e
mais 87 projetos de colonização particular, sendo conside- desenvolvimento regional .;
<.;
rado, na época, o "paraíso da colonização particular". -o


Na programação do Governo Federal para o desen- ã.
o
volvimento da Amazônia, no período de 1975-1979, foram ""u-:,
Proterra -o
o
criados também programas setoriais geridos por institui- ã.
<li
a:

O Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à ções públicas, nas esferas federal, estadual ou municipal.
Agroindústria do Norte e Nordeste, criado pelo Decreto-Lei Numa ação coordenada, a Sudam e a Sudeco implemen-
n° 1.179, de 06/07/71, em complementação ao PIN, visava taram os chamados "programas integrados" de grande
facilitar o acesso à terra, criar melhores condições de impacto sobre "áreas prioritárias" do Centro-Oeste, esco-
emprego da mão-de-obra no campo e fomentar a agroin- lhidas para receber investimentos maciços pelas suas
dústria nas áreas de atuação da Sudam e da Sudene. Os potencialidades e capacidade de responder rapidamente
recursos financeiros do programa destinavam-se à aber- às ações. Em Mato Grosso, os programas Poloamazônia,
tura de linhas de crédito agrícola, à infraestrutura básica Polocentro e Prodepan causaram impactos econômicos,
e à aquisição de insumos e equipamentos para a agroin- sociais e ambientais, contribuindo para a reordenação do
dústria. No Nordeste, o programa tinha como objetivo espaço territorial do Estado.
promover a "reforma agrária", com desapropriações de
parcelas dos latifúndios improdutivos, incentivando o
acesso à terra por meio de "prévia e justa indenização em Poloamazônia
dinheiro" e, em áreas da Amazônia Legal, a implantação
de agroindústrias. Entretanto, o programa trouxe poucos O Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da
benefícios aos trabalhadores rurais, sendo quase nulos os A~azônia foi criado pelo Decreto nº 74.607, de 25/09/74.
efeitos da redistribuição de terras aos pequenos produto-
Tinha c_o mo propósito promover a ocupação dos "espa-
res e muitos dividendos aos latifundiários daquela região,
ços vazios" na Amazônia Legal por meio de um aproveita-
com as indenizações feitas em dinheiro, quando o Estatuto
men:o inte~r~do das suas potencialidades agropecuárias,
da Terra (1964) previa desapropriações somente mediante
agroindustriais e florestais Junto com o Pol • .
o pagamento com títulos da dívida agrária - TDAs. Em PND . . · oamazonia, 0 11
. ~revia a ~m~lantação do Complexo Minero-metalúr-
Mato Grosso, o Proterra financiou a implantação de proje-
gico a Amazon1a oriental - compreendend
o o esquema

40

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lnt r do r J, 1l ,1qul Crnlnt,
o~Junto b u>1lt, ,ilurnlr,,, '1IIJ~;:;;,;,' ,
1
f, rrtJ ,, • ld1•nir,1f,1) ,,
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tnum ro outro•, ••tririr, •1·nrJ rn1 ( lrmnt,,.I1 • ,~ 1,,,.1••rn
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program-, n•,1· tíu n t;I ' • r,,t 91~ ttJÇ,, d 0 1 lrn 1,m t, d"., •'• 1'-'•''
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1
r ndc1 âpl all't dd ·rr, d da proprlaç da
' . tJ Intr•n ,lfi 0
d cone ntraç o fun l~rl ~ tJ (fi gur,i M). , e.lo pr ,.~, _,,

,..
Polocen ro
GOIAS

O Programo de D s nvofvfm nto d


pelo D cr to n" 75.320, d
29101175
mllh ,o de km1 dos . rrl ó rios d • Mi~ bG r~av c rca d um
:s C :rodos foi criado / MATO GBOSSO 00 SUL <'
,..

e Goiás, prat icam n e atingindo todo o :: , Mato Grosso


cob r o pelos c rrados. Tinha como ob,í t ' analto e ntral ~ Prod pan
, ivo a xploração - Poloama,-Onla
d essas .,terras através
, da agrícu ltura m ean Iza da, com o Poloccntro ~ Capital
uso d e t enologias d corr ção d solo" Para a ad qua-
ção da sua fertilidade, em busca de maior produtividade.
A topografia plana, propícia mecanização das lavouras
em todas as suas :ases, aliada às técnicas de "corr ção" terras no sul do pais, colocando para os colonos a alterna-
dos solos, favorecia a ocupação do Cerrado em scala tiva da migração, que passou a se dar em direção aos Cer-
empresarial. Para incentivar as ativídad s agropecuárias rad~s de Mato Grosso, Goiás, Triângulo Mineiro, Tocantins,
empresariais, o prog rama previa a implantação de obras ~ah1a, Maranhão e Piauí. Este programa causou um grande
de infraestrutura, como armazenamento, estrada vícínais e imp~cto n~ avanço da fronteira agrícola, pela orientação
eletrificação, conjugando assisténcia técnica, crédito agrf· dos investimentos de forma integrada e pela dimensão
cola e pesquisa de sementes, além de projetos de floresta· d~s ~reas atingidas, promovendo a incorporação de 2,5
m1lhoes de hectares, ocupados principalmente com soja e
mento e reflorestamento.
Na área d e pesquisas, desenvolvidas príncipalmente pastagens (Figura 3.4).
pela Empresa Brasileira de P squisa Agropecuária -
Ernbrapa, o t serva-se que o programa alcançou resultados
Prodepan
positivos com a introdução de variedades de sementes,
sobretudo nas culturas de arroz e de soja, e na formação de
O Programa Especial de Oesenvolvímento do Ponta·
pas agens. Isso favoreceu o aumento da produtividade no
na/ foi criado em 1974 e inserido no li Plano Nacional d
campo, e..<pandindo a cu ltura da soj a pelo Cerrado. Com
Desenvolvimento, li PND (1975-1979), como compl mento
isso, o programa estimulou a agricultu ra empresarial, que às ações federais no Centro-Oeste, visa ndo ao fortal ci-
s beneficiou do créd ito agrícola su bsidiado e da assistên· ment o dos polos econômicos sit uados em áreas conside·
eia técnica oficial, favor cend o a concent ração do ca pital radas prioritárias. Estava voltado para a compl m ntação
e da r nda fundiária, possibilitando ao ca pitalista/ proprie· de obras de infraestrutura de transporte terr str flu-
tárío da t rra auferir maiores lucros e elevação da renda vial da região, principalmente através da implantaç o d
da terra. O programa tam bém cont ribuiu para amenizar rodovias e do aproveitamento da rede hidrogr fie . O
os problemas sociais causados pela reconcent ração das

41

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Agura 3.S ESTE
AREA DE ATUAÇÃO 00 pOLONORO
programa previa a regularização dos cursos d'água,_ com
MATO GROSSO - 1980/1981
vistas ao controle de enchentes, ao sanea mento básico, à
expansão da oferta de energia, melhoria nas pastagens, ... ... ...
introdução de tecnologias . de maneJo· pecu ário, defesa .,. .,,. ...

sanitária e estimulo ao desenvolvimento ·md ustna· 1, sobre- PARA

tudo de carne (Figura 3.4).

Outros programas setoriais de


desenvolvimento regional

Outros programas fora m criados pelo Governo Fede-


ral, superpondo ações e estratégia s espaciais de desenvol-
vimento, numa nítida opção pela política de abertura ao
capital estrangeiro na Amazônia e sua inversão por empre-
sas que já dispunham de mecan ismos para ampliar e con -
.
,
quistar novos mercados externos. Dentre os programas GOIÁS
federais criados nas décadas de 1970/1 980 que afetara m
, .
diretamente Mato Grosso, ainda podem ser destacados:
o Polonoroeste, o Corexport, o Prodecer, o Probor, o Pro-
dien, o Prodei e o Promat.
Fonte: Mato Grosso, 1973, 1983. Adaptado sobre
ba
se can
ográfica atual (IBGE, 2000).
-
V
a,

Polonoroeste Area de atuação do Polonoroeste

0 Capital
Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do
Brasil - Criado no início da década de 1980, teve vigência
até 1988, sendo destinado a fi nanciar obras de infraestru-
tura e a implantar projetos de colonização nas áreas de
influência da BR-364 - Cuiabá-Porto Velho (Figura 3.5). Previa disso, as invasões de garimpeiros, posseiros e d e colo nos,
a reconstrução e a pavimentação da rod ovia Cuiabá-Porto incitados por madeireiras e empresas de loteamento de
Velho, a construção de estradas vicinais e a implantação parte dessas terras, provocaram a diminuição d e seu s terri-
de projetos de colonização em Mato Grosso e Rondônia. tórios e a desorganização de sociedades indígenas na área
Também tinha como objetivo a regularização de terras do programa.
indígenas, proteção à saúde e defesa dos índios e do meio Cerca de 80 grupos indígenas e uma populaçã o esti-
ambiente. mada em 10 mil pessoas vivia na região coberta p elo Polo-
Em Mato Grosso, esse programa contribuiu pa ra ace- noroeste. Muitos desses povos, com culturas e línguas
lerar a apropriação capitalista da terra por grupos empre- diferentes, viviam isolados na floresta e só foram contata-
sariais, bem como para o aumento do flu xo migratório dos nos anos 70, como os Cinta-Larga, Gavião, Zoró, Su ru í,
de colonos que se dirigiram aos projetos de colon ização Pacaas-Novas, Rikbaktsa, Urueuwauwau e outros, de con -
implantados ao longo da rodovia asfaltada. tato ma is antigo, como os Nambikwara, Paresi, Bakairi e
No componente indígena, o programa contribuiu para Bororo. "O Programa Polonoroeste acelerou muito o cerco
a demarcação e homologação de algumas áreas indígenas, colonial às terras indígenas. Se não pode ser acusado por
como Nambikwara, Rio Branco, Urueuwauwau e a demar- todas as mudanças na condição de vida d os índ ios, foi a
cação de outras áreas, como Rikbaktsa, Zoró e Roosevelt. continuação e o apoio da apropriaçã o empresarial do terri-
Porém, o aumen to de pressões por grupos de poder eco - tório brasileiro no Centro- Oeste" (Mind lin, 1991).
nõmico e político imped iu a implementação dessas ações.
_ Ao con:rário ~o que p revia o p rograma pa ra a prote-
A construção de estradas ma rgeando ou cortando terras
ça o ao me1~ am biente, observou-se a implementação de
indígenas facilitou o avanço sobre elas por empresas
cult~ ras agncol as s:m os cuidados previstos para a conser-
agropecuárias, de mineração e madeireiras, mu itas vezes
vaçao dos solos, alem da ocorrência de invasões em áreas
apropriadas com a conivência de membros da Funa i. Além
de reserva florestal, queimadas e desmatarne t . .
nos I1egaIs.

42

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Capítulo 3
Devido às várias irreg 1 .
execuçao- do programa _ u andad . es constatadas
promisso político no cumde~v1os de dinheiro faltaddurante a
.
am b 1enta1, de apoio , Pnmento das ações' d e com- Figura 3.6
MATO GROSSO
as com 'd e proteç-
de supervisão pelos 6 _ uni ades indígen
rgaos gest
ªº
as e falta
PE;Oc~~=:~iRES DE EXPORTAÇÃO ARTICULADOS
ORT - DtCADA DE 1970
Polonoroeste tornou-se a Ivo de aores . e financiad ores - 0
mentas da sociedade c· .1 crrradas críticas '
_ 1v1 organiz d Por seg-
pensao temporária do fin . a a, ocasionando
anc1ame t a sus-
°
em 1985. Mais tarde, do·1s progr n Pelo Banco M un d'1al
noroeste: o Plano Agro . _amas substituíram O P 1 '
pecuar, 0 e FI o o-
proposto pelo Governo de R d . . arestal, Planafloro
em 1989, e o Programa d Don on1a em 1986 e aprov d ,
e esenvol . a o
tal do Estado de Mato Gr vimento Agroambi·e
osso - Prod n-
Governo de Mato Grosso em 1988 eagro, proposto pelo
e aprovado em 1992.

Corexport

Os Corredores de Exporta ão f .
Decreto-Lei nº 5.727, de 041111~ o~am criados pelo
97
tivos diversificar e aumenta 1. Tinham como obje-
r as exportaç - d
agropecuários "modernizar" oes e produtos
' a economia pela · 1
tação de uma infraestrutura de d - imp an-
pro uçao e com . r Fon1e: Maio Grosso, 1973, 1983. Adaptado sobre base canogfifica atual (IBGE. 2000)

zação dos produtos agrícolas e aumentar o erc,a i-


d . consumo do
merca o interno, ampliando assim . Limites políticos
d ' , as oportunidades
e emprego nos setores de produção O .
2• d · programa tinha Corredores de exportação
;' uas metas prioritárias para o país: aumentar e . ..._, Porto
i de 4 ·ih- d m mais
. . ~• oes e toneladas a capacidade de exportação e 0 Capitais
v1ab1l1zar o acesso aos quatro portos principais de escoa- (i)
Capital do pais
mento. A análise sobre as condições do mercado interna-
cional permitiam concluir que, dadas as características das
épocas de colheitas, o Brasil poderia aumentar as exporta-
ções de grãos (milho, soja e outros) a preços competitivos, Prodecer
desde que possuísse um eficiente sistema que permitisse
exportar esses produtos, na época certa. Assim, foi estabe- Programa Nipo-brasileiro de Cooperação do Desenvolvi-
lecida a implantação de quatro "corredores": 1. Goiás-Minas mento do Cerrado - Associado ao Polocentro, foi criado em
Gerais-Espírito Santo, com saída pelo Porto de Tubarão, 1974 através de um acordo nipo-brasileiro para o desen-
em Vitória; li. Mato Grosso-São Paulo, com saída pelo Porto volvimento agrícola em áreas de Cerrado, visando ampliar
de Santos; Ili. Paraná, com saída pelo Porto de Paranaguá; o comércio internacional do Brasil com o Japão e a Comu-
IV. Rio Grande do Sul, com saída pelo Porto do Rio Grande nidade Econômica Europeia. Este acordo foi viabilizado
(Figura 3.6). no Brasil por uma empresa multinacional, a Companhia
Para Mato Grosso, previa-se outra opção de escoa- de Promoção Agrícola (Campo), constituída por duas ho/-
mento, através do Porto de Paranaguá. Este programa dings, a Japan-Brasil Agricultura/ Development Corporation
vinculava-se ao Prodoeste, cabendo aos Estados do (Jadeco) e a Companhia Brasileira de Participação Ag rícola
Centro-Oeste implementar o sistema viário, de armazena- (Brasagro), respectivamente com 49% e 51 % do capital da
mento e de agroindustrialização (frigoríficos) nas regiões Campo. Esta empresa foi responsável pela expansão da
incluídas nos "corredores". O programa também recebia sojicultura em todas as áreas de Cerrado do Brasil Cen-
o apoio do Projeto de Fomento Agrícola do Ministério da tra l, abrangendo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
Agricultura, para ga ra ntir a oferta dos produtos agrlcolas, Tocantins e Bahia, chegando até o Maranhão ao longo da
sendo que 70% dos municípios incluídos no "corredor" se ferrovia Carajás. Mato Grosso se destacou no conjunto
localizavam em Mato Grosso (ainda não dividido), a exem- desses Estados, colocando-se como o maior produtor de
soja do país.
plo de Rondonópolis e Guiratinga.

43

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UNIDADE 2 -

~
õ
;;;
.,;
, hamado de "capital da borracha" _,õi
. · · · e chegou a ser e
Figura 3.7 - Seringais de cultivo em São José do Rio Claro, municip,o qu _ d dução de borracha natural ,."'
nas décadas de 1970/1980, com incentivos do Probor, que visava a revitalizaçao ª pro
e
"'o
e..

"'
~
-o
u
o
Probor ..,.
"O
C0

O Programa de Incentivos à Produção da Borracha Vege-


tal foi instituído em 1972 pelo Decreto-Lei nº 1.232. Visava
financiamento e assistência técn ica permanente aos inves-
tidores para assegurar a revitalização da atividade e maior
aproveitamento da borracha vegetal e de seus derivados,
face ao declínio da produção natural e à demanda cres-
cente do setor industrial. O aumento do consumo interno
no país, que atingia na época 70% de produto sintético e
30% de produto natural, criou no mercado uma expec-
tativa de demanda e de elevação de preços em relação à
borracha natural e seus derivados, uma vez que a produ-
ção brasileira indicava queda anual do produto. A queda
na oferta interna de borracha natural e a perspectiva de
demanda pelos mercados nacional e internacional leva-
ram o Governo Federal a criar e estruturar o programa em
5 subprogramas específicos no litoral sul da Bahia e na
Amazônia, para:
retomar a exploração nos seringais nativos;
recuperação de seringais de cultivo;
• formação de seringais de cultivo;
• instalação de usinas de beneficiamento de borracha·
• oferecer assistência técnica e formação de pessoal. '

Em Mato Grosso, o programa buscava revita lizar a ati-


vidade nos seringais nativos, abrangendo o eixo da rodo-
via Cuiabá-Santarém, Aripuanã, e bacias dos rios Juruena
Figura 3.8 - Produçã d '
e Arinos, enquanto os seringais de cultivo seriam recupe-
em::::VilaºBe~a~sesnta~e_n to da Gleba "Seringai",
a ant1ss1ma Trindade

44

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Prodiat
O Programa de Desenvo/vímento Integrado do Araguala-
-Tocantíns pretendia desenvolver estudos e pesquisas que
permitissem gerar e sistematizar conhecimentos técnicos
e científicos sobre as bacias hidrográficas dos rios Ara-
guaia e Tocantins, para definir estratégias de desenvolvi-
mento regional integrado, com o apoio da Organização
dos Estados Americanos - OEA, através de um convênio
de cooperação técnica. O programa abrangia uma área de
776 mil km 2, 9% do território nacional e incluía áreas dos
Estados de Mato Grosso, Goiás, Pará e Maranhão. A área
de Mato Grosso correspondia a 227 mil km 2, localizando-se
na região leste, no raio de influência das rodovias federais
BR-O7Oe BR-158 (Figura 3.10).

Figura 3.10
MATO GROSSSO - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS
Figura 3.9 - Produção do assentamento d GI b
a e a ,,Seringai"
. PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO PRODIEN E PRODIAT
D~CADAS DE 1970/1980

rados, para
,.. ... ,,. ,...
. exploração em Diamantino, Barra d o 8 ugres,
Arenapol1s, Chapada dos Guimarães e Porto dos Gaúchos. PARÁ
..
O Probor entrou em declínio com a extinção da su _
. d. . pe
rmten encia Nacional da Borracha (Sudhevea) em feve-
reiro de 1989, órgão responsável pela coordenação do
programa. Assim, o cultivo da borracha perdeu estímulo
TO
financeiro, inviabilizando sua produção em escala comer-
,,.
cial nas regiões produtoras do país que se beneficiavam
do programa, além de sofrer concorrência com os maiores
produtores mundiais do sudeste asiático: Malásia, Tailân-
dia e Indonésia.
,..
No Estado, o programa priorizou os municípios que,
desde a década de 1950, desenvolviam a cultura da serin-
gueira. Empresas privadas de colonização, como a Coloni-
,..
zadora Noroeste Mato-grossense 5.A. (Conomali), deram BOlÍVIA GOIÁS

início à experiência na região da Gleba Arinos, atual Porto


225km ,..
dos Gaúchos. Na década de 1970, já com incentivos do MATO GROSSO DO SUL

Probor, empresas particulares se beneficiaram do pro- Fonte: Mato Grosso, 1973, 1983. Adaptado sobre base canográllca atual (IBGE, 2000).
grama, a exemplo da Imóveis e Colonização Ltda. (lmcol),
motivando a colonização da Gleba Massapé, atual municí-
- Area de atuação do Prodien
pio de São José do Rio Claro que, na época, ficou conhe-
cido como a "capital da borracha", alcançando, em 1979,
D Area de atuação do Prodiat

0 Capital
24% do total da área plantada no Estado (Figuras 3.7, 3.8 e3.9).
Na atualidade, os maiores produtores de borracha
em Mato Grosso são os municípios de ltiquira, Pontes e
Lacerda, Querência, Santa Terezinha, Porto dos Gaúchos,
Cáceres e Porto Esperidíão. Em 2012, o cultivo dessa cultura
Veja no Atlas Geográfico de Moto Grosso
abrangeu uma área de 23.350 hectares, e a produção total
o tema Evoluçjo Polltico-admlnistratlva.
do Estado foi de 23.328 toneladas. (Mato Grosso, Seplan,
Anuário Estatístico, 2012)

45

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de desenvolvimento financiados com recursos nacionais
Prodien
e estrangeiros: o Prodeagro, negociado entre o governo
brasileiro e O Banco Mundial na esteira do encerramento
O Programa de Desenvolvimento Integrado Eixo Norte
do Polonoroeste, em 1988, mas só definido em 1992, e o
. to·1 ena
- BR-163 · d o em 1984 pelo governo estadual com
BID-Pantanal, proposto pelos governos de Mato Grosso e
~ fin~hdade de dotar de infraestrutura viária a região sob
influencia da BR-163 • sua estrateg1a
· · baseava-se na adoçao- Mato Grosso do Sul, em 1995, e definido somente em 2001.
de uma po l'f ·
1 1ca agncola A tônica desses projetos recaiu sobre o desenvolvimento
com incentivos à agroindústria,
sustentável do Estado, através do gerenciamento e da
~ara O aumento de produtividade e de produção nas novas
conservação dos seus recursos naturais. As pressões das
areas de ocupação e frentes de colonização (Figura 3.10).
organizações não-governamentais, nacionais e estrangei-
ras, concorreram para a mudança nas políticas públicas de
desenvolvimento regional/nacional: o foco centrou-se nos
Prodei
processos de degradação socioambientais º:º~ridos em
O Programa de Desenvolvimento Industrial de Mato várias regiões do plan eta, sobretudo na Amazonia.
Grosso foi criado em 1988 pelo governo estadual para
fomentar, por meio de incentivos fiscais, a implantação
e a expansão do setor industrial, que tinha uma restrita Prodeagro
partici~a_ç~o na economia e nas transformações espaciais
~o ter~1tono regional. Para viabilizar o programa, o Estado o Programa de Desenvolvimento Agroambiental do
~nvest1u em infraestrutura para a instalação de "distritos Estado de Mato Grosso foi criado em 1992 e teve vigência
industriais" em alguns municípios, a exemplo de Cuiabá, até 2003. Foi financiado com recursos do Banco lnterame-
Rondonópolis, Barra do Garças e Cáceres, configurando ricano para a Reconstrução e o Desenvolvimento - Bird,
uma concentração espacial do setor. com contrapartida da União e do Estado de Mato Grosso.

Promat

O Programa Especial de Desenvolvimento do Estado de


Mato Grosso foi instituído pela Lei Complementa r nº 31/77,
que dividiu Mato Grosso. Teve como objetivos consolidar a
organização administrativa e com plementar as ações dos
demais programas especiais, com a dotação de recursos
financeiros voltados à infraestrutura, dada a redução subs-
tancial da receita do Estado com a sua divisão territorial.
Este programa, com uma vigência de 10 anos, teve, por
um lado, significativa importância, diante do seu alcance
e do volume de recursos investidos no desenvolvimento
urbano, transportes, saneamento, agricultura, edificações
públicas e outras áreas, porém gerou pesado ônus ao
Estado pelo não cumprimento integral dos repasses por
parte do governo federal.

Programas de desenvolvimento
· sustentável

Com o término do regime militar no país, os gran-


des programas de desenvolvim ento regional e de inte-
gração nacional, marcados pela aliança entre Estado e
grande empresa, praticamente foram encerrados. Em
Mato Grosso, foram implantados apenas dois programas Figura 3.11 - Vista aérea da Transpantaneira, em julho de 2004

Scanned by CamScanner
, , Cc1p1tulo -l

Teve como objetivo principal o desenvolvimento susten-


Encerrado em setembro de 2002, o Programa teve uma
tável do Estado, por meio da gestão criteriosa de seus
duração de dez anos, o dobro do tempo inicialmente pre-
recursos naturais, para evitar erros ocorridos em décadas
visto. Ao longo desses anos, foram aplicados cerca de 80%
passadas. O programa só teve início em 1993, depois de
0 do total de recursos mobilizados, sendo estes da ordem de
Governo do Estado resolver questões pendentes, exigidas
US$ 270,7 milhões de dólares (US$ 190,0 milhões prove-
pelo Bird, como as d esi ntrusões das áreas indígenas Zoró
nientes de empréstimo do Bird, US$ 40,7 milhões da União
e Sararé, que haviam sido invadidas na época da vigência
do Polonoroeste. e US$ 40 milhões do Estado de Mato Grosso).

Na sua origem, o programa foi estruturado em cinco


#componentes básicos", que comportavam diversos sub-
Programa Pantanal
componentes definidores de ações a serem viabilizadas
através de projetos executivos. Em 1996, o programa foi
O Programa de Desenvolvimento Sustentável do Panta-
avaliado e reestruturado, passando a contar com oito com-
nal foi criado com o objetivo de promover o desenvolvi-
ponentes, mantidos até o seu encerramento, conforme
mento sustentável na bacia do Alto Paraguai, incentivando
consta no Prodeagro - Síntese dos Relatórios Parciais e Final atividades econômicas compatíveis com o ambiente pan-
(Seplan, 2002).
taneiro mediante o gerenciamento conservacionista dos
O programa foi constituído de diversos subprogramas, seus recursos naturais. A estratégia do programa estru-
ligados a quatro componentes básicos: tura-se em duas grandes ações, sendo a primeira centrada
na recuperação do ambiente físico degradado, como solos
• zoneamento socioeconômico-ecológico; e águas, e a segunda, de cunho social, prevê projetos sani-
• regularização fundiária; tários em cidades da bacia, o impulso à pecuária, pesca
• conservação ambiental; e ecoturismo - atividades produtivas características da
• proteção e controle de áreas indígenas. região pantaneira.
As negociações para o financiamento externo do pro-
grama t iveram início em 1995, por iniciativa dos governos
de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e o contrato só foi
assinado em junho de 2001 , no valor de U$ 400 milhões,
para atender os dois Estados.
Tendo como diretrizes as propostas do Plano de Con-
servação da bacia do Alto Paraguai - PCBAP e a integração
com outros programas em desenvolvimento nos Estados
de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Programa Panta-
nal, em 1999, foi estruturado em quatro componentes a
serem operacionalizados a partir de um modelo de gestão
participativa no gerenciamento e conservação dos seus
recursos ambientais:

• manejo de bacias hidrográficas;


• ambiente urbano;
• promoção de atividades sustentáveis;
• unidades de conservação.

Em 2001, o programa foi incluído no Plano Plu_rianual -


PPA 2000-2003 como prioridade do "Avança Brasil", tendo
iniciado sua implementação por meio de projetos cujos
temas se definiam por agendas: Agenda Verde, Agenda
Azul, Agenda Marrom e o Projeto Indígena.
Embora este programa tenha gerado grandes expec-
tativas no meio em presarial, principalmente entre grandes
construtoras e no trade turístico, poucos _
p rod_u t~s result~-
ram até 2005, gerando somente alguns d1agnosticos relati-
vos aos componentes previstos.

47

Scanned by CamScanner
alterações nas relações de produção e ~~ tr~balho, bem
As bases de um novo território como na paisagem física. O Estado bras1le1ro incentivou a
apropriação capitalista da terra por grandes grupos eco-
Em 1953, o Governo Federal criou a Superintendência nômicos (empresas agropecuárias, colonizadoras, madei-
do Plano de Valorização Económica da Amazônia - SPVEA, rei ras, mineradoras) e também incentivou a migração de
visando promover o desenvolvimento dessa região. Em pequenos e médios agricultores para projetos oficiais e
1966, o órgão foi extinto, dando lugar à Superintendência
particulares de colon ização. Com~ oc~rre em toda área
do Desenvolvimento da Amazônia - Sudam, que coorde-
de expansão de fronteiras, a colonizaça~ prov?cou a alte-
nou o Plano de Valorização da Amazônia . Esse Plano tinha
ração de formas tradicionais de produçao, seJa nas gran-
como objetivo o desenvolvimento da economia e o bem -
des fazendas, nas pequenas comuni dades rurais ou nas
-estar social da região Amazônica, "de forma harmônica
áreas indígenas. Conflitos e mortes foram registrados pela
e integrada à economia nacional ". A Sudam, através do
posse da terra e domínio do territ ório. Antigos po~oados
Fundo para Investimentos Privados no Desenvolvimento
e pequenos núcleos col oniais crescerar:n, dando origem a
da Amazônia - Fidam, teve um aporte financeiro superior
novos municípios. Cidades foram surgin do na selva e no
a seis bilhões de cruzeiros, para gerir os empreendimen-
Cerrado, antecipando a ocupação do cam po e sua explo-
tos empresariais da região. Entretanto, conforme dados
da Comissão de Incentivos Fiscais (Comif), apenas 3% dos ração capitalista. A falta de assistência técnica e financeira,
projetos aprovados tiveram alguma rentabi lidade, sendo a além das dificuldades de adaptação ao am biente natural e
maior parte dos recursos desviada para outros fins, carac- cultural, levou muitos pequenos produtores a vender ou
terizando um comércio dos incentivos recebidos. Muitos abandonar as terras que adquiriram . Verifica -se, hoje, forte
projetos fracassaram ou foram abandonados por inviabi- tendência à reconcentração de pequena s propriedades
lidade econôm ica ou por desinteresse dos beneficiados, e em muitos municípios originários da colonização oficial e
outros sequer foram iniciados. particular. O crescimento da pecuária exten siva, bem como
Uma avaliação dos incentivos fiscais na Amazôn ia Legal a expansão de monoculturas, têm ocasionado degradação
mostra como resultado "um eficiente" mecanismo de cor- ambiental e consolidado a concentração da terra. Decor-
rupção, concentração de renda e da terra, além da degra- ridas mais de quatro décadas de intensa m ovimentação
dação ambiental provocada pelos desmatamentos para a humana e de capital na fronteira mato-grossense, cons-
implantação dos projetos agropecuários. Dados divulga- tata -se que a convivência do tradicional e do "moderno",
dos em 1988 pelo Banco Mundial mostraram que a área das nas diferentes formas de viver e produzir, m arcou um novo
fazendas havia aumentado de 313 mil km 2, em 1970, para reordenamento do território, em um processo ainda em
900 mil km 2, em 1985, enquanto a extração de madeira formação, cuja tendência aponta para o domínio d o ag ro -
havia aumentado de 4,5 milhões de metros cúbicos, em negócio no Estado e a sua expansão para o Bi o rna Amazô-
1975, para 19,8 milhões em 1985 (Mato Grosso, 1998). nia, bem como, a especialização de espaços produto res de
Segu ndo a Secretaria de Planejamento e Coordenação commodities - soja, milho, algodão.
Geral-MT (Mato Grosso, 1973), nas décadas de 1970/1980
foram implantados em terras mato-grossenses 234 pro-
jetos de "colonização empresarial", dos quais 215 (92%) Figura 3.12

eram projetos agropecuários, 14 (6%) industriais e 5 (2%) MATO GROSSO - PROJETOS APROVADOS PELA SUDAM,
VALOR PERCENTUAL POR SETOR DA ECONOMIA - 1970/1 980
de serviços básicos. Dos recursos financeiros da Sudam,
31,12% foram destinados a projetos em Mato Grosso,
representando, na época, quase dois bilhões de cruzei ros.
Deste total, 85,89% foram captados para o setor agrope-
cuário, 10,25% para o industrial e 3,86% para o setor de
serviços básicos (Figura 3.12). A área média de cada um dos
projetos agropecuários foi calculada em 31 .400 hectares,
sendo ocupada basicamente por rebanhos bovinos, daí a
expressão cunhada para definir a colonização das terras no
Esta do, no século XX: "Mato Grosso foi ocupado pela pata
do boi". Fonte: Mato Grosso, 1973.

Ana lisando os resultados da política federal de desen -


~o_lvimento :m. Mat o Grosso, em relação aos impactos • Setor agropecuário
f1s1cos: ~conom,cos e sociais decorrentes dos programas Indústria
espec,a,s de desenvolvimento, verifi cam-se profundas
• Serviços básicos

48

Scanned by CamScanner
Síntese dos relat,onos
· parc1a1s
· · e finais
. do Prodeagro

Veja uma avaliação sintética dos p . . .


nnc1pa1s
componentes do Programa de Desenvolvimento cação de área indígena, a formação indígena de au-
Agroambiental do Estado de Mato Grosso _ Pro- xiliares de enfermagem (Projeto Xamã) e a formação
deagro, baseada no documento "Sínteses dos Re- Os resultados, no âmbito de professores indígenas (Projeto Tucum) são apon-
latórios Parciais e Finais': apresentado pela Secre- geral do Programa, tados como resultados satisfatórios e de longo al-
taria de Planejamento e Coordenação do Estado foram considerados cance. Contudo, inúmeras situações conflituosas,
de Mato Grosso: satisfatórios, porém como a permanência de invasores em terras indl-
ainda não é possível genas e a exploração ilegal de madeiras, não raro
Zoneamento socioeconômico-ecológico e re- avaliar seus efeitos para com o envolvimento de membros da comunidade
gularização fundiária: neste componente, des- o conj unto da sociedade indígena, continuam a demandar soluções pollti-
mato-grossense. cas, inclusive mudanças nas estratégias de desen-
taca-se a rea lização de um diagnóstico socioeco-
volvimento econômico do Estado.
nômico-ecol ógico que serviu para identificar e
caracterizar 'unidades socioeconõmicas-ecológi-
Programa de apoio direto à iniciativas comu-
cas' (USEE) agru padas conforme 'regiões de plane-
nitárias - Padic: com o objetivo de apoiar finan-
j amento'. O objetivo inicial deste co mponente não foi totalmen-
ceiramente pequenos projetos comunitários de caráter inovador
te alcançado, pois a metodologia que se queria obter como um
e de geração e difusão de tecnologias agroindustriais em comuni-
parad igma para definições de planeja m ent o das política s de de- dades rurais e indígenas, este programa ganhou força, superando
senvolvimento ficou prejudicada. Na meta regularização fundiá- as expectativas de demanda. Vários municípios foram beneficia-
ria, o projeto piloto denominado Varredura, criado para moderni- dos com projetos de infraestrutura, que permitiram a aquisição de
zar o t ra balho de regularização fundiária pelo Instituto de Terras equipamentos, a implantação de fábricas de farinha e de ração, e
de Mato Grosso (lntermat), tornando-o mais eficiente e com me- outras obras. O Padic também contemplou ações na área da edu-
nor custo não prosperou, dando-se preferência ao procediment o cação e saúde, vÕltadas ao treinamento e à qualificação de profes-
usual, considerado mais moroso e susceptível a negociações in- sores e agentes de saúde.
terna s e ingerências políticas. As metas de identificação e levanta-
ment o de áreas potenciais à implantação de Unidades de Conser-
vação (UC's) pelo Estado junto à Fundação Estadual do Meio Am-
biente - Fema, não foram cumpridas.
MATO GROSSO
Gerenciamento, proteção e monitoramento dos recursos REGIÕES DE PLANEJAMENTO
natura is: contemplou temas diversos da área ambiental, incluin-
do o 'fortalecimento institucional da Fema' e a temática indígena.
Destaca-se a adoção, pela Fema, de mecanismos técnicos e opera-
cionais nas atividades de licenciamento, monitoramento e fisca-
lização de queimadas e desmatament os no Estado e o fortaleci-
mento deste órgão como gestor dos recursos ambientais no Esta-
do. São apontadas como falhas a falta de
metas direcionadas à proteção do Cerra-
do e às nascentes de rios pertencentes às 1- Noroeste 1 - Juína
bacias hidrográficas brasileiras, bem como 2- Norte - Alta Floresta
uma política estadua l de desapropriação 3 - Nordeste - Vila Rica
das áreas p rotegidas (UC's). No que tange 4 - Leste - Barra do Garças
às desintrusões das áreas ind ígenas Zoró e s - Sudeste - Rondon6polls
Sararé, os resultados foram parciais e mo- 6- Sul - Culabá e Várzea Grande
mentâneos, pois os colonos e garimpei- 7- Sudoeste - Cáceres
ros que haviam sido retirados dessas áreas 8- Oeste - Tangará da Serra
9 _ Centro-Oeste - Diamantino
voltaram a ocupá-las em maior número.
Como estratégia foi destinada, através do 1O- Centro - Sorriso
1 1 - Noroeste 2 - Juara
Plano de Ação Sararé- PAS, uma pa rte d es-
12 - Centro-Norte - Sinop
sa área para atividade garimpeira, ficando
a mesma sob o controle da Funai. A demar-

49

Scanned by CamScanner
Saúde e desenvolvimento
Contudo. alguns projetos apresentaram re- as ações nas áreas de saúde e ed
ltados fligeis. pondo em dúvida sua sus- A avaliação do compon:nte voltadas ao treinamento, qualifi
:,tabllidade. Ademai por agir diretamente •Gerenciamento, proteçao e citação de professores e profissionais
com as comunidades, o Padic foi amp~ament~ monitorização de recursos de saúde. Muitas das ações foram con
utilizado com fins políticos e eleitora is por li- natu ra 1s"aponta como falha s das através do Padic, podendo-se ae-tac•
Projeto Tucum, destinado à formação de
deranças estaduais e municipais. a falta de metas di recionadas
.
à proteção do Cerrado e as fessores indígenas, oportunizando O ingres.
Fomedmento de água, eletrificação ru- nascentes de rios pertencentes às 50 de mais da metade dos 176 formados no
ral e recuperação de rodovias: tendo como três bacias hidrográ ficas brasilei ras ensino superior de licenciatura, específico
objetivo apoiar investimentos de infraestru- - Amazônica, Araguaiaffoca ntins e para professores indígenas, da Universidade
tura ocioeconômica em áreas rurais ocupa- do Prata -, bem como uma política do Estado de Mato Grosso - Unemat; 0 Pro-
das por pequenos produtores para evitar o estadual de desapropriação das j eto Xamã, voltado à qualificação de agentes
êxodo rural, este componente apresentou re- áreas protegidas (UC's). de saúde, propiciou a formação de 117 aUXilia-
sultados apenas parciais e, em alguns casos,
res ind íge nas de enfermagem, favorecendo
até nulos. Diversos postos de saúde constru-
o ate ndime nto qual ificado direto nas aldeias
idos, por exemplo, ficaram sem manutenção,
e a melhoria salarial desses profissionais; e 0
desativados e ocupados com outra finali da-
Projeto GerAção, destinad o ao tre inamento de professores rurais
de, ou abandonados. A principal causa apontada reside na fal:a de
não habilitados, atendend o 778 profess ores, muitos dos quais in-
uma política de saúde direcionada aos pequenos prod utores,_a fal-
ta de pessoal qualificado na área e o elevado custo de operaçao do gressaram posteriormente em cursos de nível superior e de espe-
sistema descentralizado de saúde. Algumas escolas rura is constru- cia lização. Já as atividades de educação info rmal ambiental coor-
ídas também foram desativadas ou abando nadas ou encontram- denadas pela Fema aprese ntaram fal has na sua organização e con-
-se funcionando precariamente. O motivo pode estar na adoção, d ução, tendo pouca repercussão na sociedad e.
por parte das prefeituras, do programa federal de estím ulo ao uso
de transporte escolar às crianças do meio rural, para as escolas mu- Recursos financeiros: os recursos financeiros deixaram de ser
nicipais situadas nas sedes ou em áreas mais equipadas com servi- utilizados na sua totalidade, por limitações inte rnas referentes à
ços urbanos. As metas de abastecimento de água, de eletrificação estrutura, organização e competência fu ncional d os órgãos execu-
rural e de expansão e manutenção de trechos da rede viária esta- tores, bem como a fatores conjunturais da política econômica bra-
dua l e municipal tiveram resultados satisfatórios, beneficiando di- sileira, principalmente entre os anos de 1998 a 200 2. Ademais, ore-
versas comunidades rurais. passe dos recursos estaduais sofreu atrasos e cont e nção. A União
deixou de repassar 14,98% dos recursos previstos, enq uanto restou
Desenvolvimento agroflorestal: voltado às atividades de pes- ao Bird um saldo financeiro da ordem de 6,8%. Os atrasos no re-
quisa na área agroflorestal, este componente sofreu distorções na passe dos recursos orçamentários foi apontado no Re latório Rnal
sua execução, sobretudo por problemas internos e político-insti- do Programa (Seplan, 2002) como um dos maiores entraves na sua
tucionais, motivando mudanças no método de execução de algu- execução física e financeira, provocando visível perda de qua lida-
mas ações previstas e restrições financeiras. Contudo, muitas pes- de e eficácia das ações programadas em cada com ponente.
quisas foram realizadas, ainda que pontuais ou temáticas, voltadas
à diversificação e melhoria da pequena produção e à agricultura Os resultados, no âmbito geral do Programa, foram considera-
empresarial, gerando diversos trabalhos científicos e publicações. dos satisfatórios, porém ainda não é possível avaliar se us efeitos
Outras ações, como o desenvolvimento de projetos pilotos em mi-
para o conjunto da sociedade mato-grossense. Este é um exem-
crobacias hidrográficas - unidades de planejamento espacial-am-
plo de como é importante o acompanhamento, por parte da so-
biental - mostraram ser viáveis, porém tiveram pouco alcance. O
ciedade civil organizada, na execução de programas e projetos
programa apoiou a criação de dois Centros Tecnológicos Regionais
oficiais, pois os recursos financeiros contraídos por emp réstimos
de Pesquisa, um em Sinop, onde foi instalado um Laboratório de
serão pagos por toda a sociedade por meio de trib utos impostos
Solos, e outro em Cáceres, onde foi instalado um Laboratório de
pelo Estado.
Fitopatolog ia, ambos em funcionamento; e a implantação de Re-
des de Estações Meteorológicas, as quais se encontram em fun -
cionamento precário. De um modo geral, as experiências inova-
doras desenvolvidas junto aos produtores rurais tiveram boa acei-
• MATO GROSSO. Secretaria de Planejamento e Coordena , o d b tJdo d M to
tação, mas carecem de continuidade, com assistência permanen- Grosso. Slnteses dos relatórios parciois e finais. Dlspo11fv I m: http://www. ~n.
te da Em paer. mt.gov.br/html/prodeagro_aíl-sl ntese.htm >. Ace so m: 16 jti l oo .l to d pt d
por Gislaene Moreno.

50

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Sudam

A Sudam foi extinta pela Medida Provisória n• 2.157-5,


de 24/08/2001, por improbidade, denúncias de corrupção
Amazônr L gal
e abuso no uso dos recursos públicos. A mesma medida
criou a Agência de Desenvolvimento da Amaiõnia - ADA.
Ou ndo a Sup rintend ncia do Plano de Valorização uma autarquia vinculada ao Ministério da Integração
Económiu da Amazónia SPVEA foi criada, em 1953, parte Nacional. A Câmara Federal aprovou, em 12 de agosto de
dos l stado~do M.iranhAo (oeste do meridiano de 44•), de 2004, o projeto de lei Complementar que recria a Sudam.
Go1 (norte do parai lo d 13•) de Mato Grosso (norte A Sudam foi restabelecida pela l ei Complementar nº 124
do parai lo 16"), foram incorpo rados à Amazónia brasileira de 3 de janeiro de 2007, substituindo a ADA. O Decreto
com a finalidad strat gica de se planejar o desenvolvi- nº 6.218 de 4/10/2007, aprovou sua nova estrutura, como
mento conómico d ssa · reg1áo programa~ uma Autarquia Federal vinculada ao Ministério da Integra-
Em 1966, com a cnaç o d a Superintendência do ção Nacional (www.sudam.gov.br).
D s nvolvim nto da Amazônia (Sudam), a região pro-
grama d interv nçao, definida como Amazónia Legal,
passou a abranger os Estados do Acre, Amazonas e Pará,
os tertitó rios fed rais do Amapá, Roraima e Rondônia, e
part das áreas dos Estados de Mato Grosso, Goiás e Mara-
nhao, já incorporadas à Amazónia em 1953, :.· Sugestão de Atividades
Com a divisão, em 19n, todo o território do atual
Estado de Mato Grosso passou a fazer parte da Ama-
zônia Legal. Com a criação do Estado do Tocantins, des- Leia o texto atentamente e responda:
membrado da porção setentrional do Estado de Goiás, e
a transformação dos territórios federais de Roraima e do 1. Como se deu a inserção de Mato Grosso na economia
Amapá em Estados federados, pela Constituição de 1988, brasileira, antes de 1970?
a Amazónia Legal passou a ter a seguinte composição:
Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondôn ia, 2. Explique as ações de intervenção do Governo Federal
na Amazônia, no período militar.
Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, abrangendo
uma área aproximada de 5.217-423 km', que corresponde
3, Por que a localização geográfica de Mato Grosso foi
a 61% do território brasileiro.
importante na política de integração da Amazônia às
A Amazónia Legal não se confunde com a região
demais regiões brasileiras?
Norte, uma das cinco regiões político-administrativas em
que está dividido o Brasil. Fazem parte da região Nort~
4. O que é Amazônia Legal?
brasileira os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Para,
Rondônia, Roraima e Tocantins. Essa região ocupa quase
5. Analise os programas especiais de desenvolvimento
a metade do território nacional, sendo a mais extensa do
e verifique o que eles têm em comum. Indique suas
país, com mais de 3,8 milhões de quilômetros quadrados.
principais ações de intervenção na reordenação do
A Amazônia Legal também não se confunde com a Ama-
território mato-grossense.
zonla internacional, que abrange parte dos territórios de
nove países: Brasil, Bolívia, Peru, Colômbi?, E_quador, V~ne-
6. Cite quais programas de desenvolvimento alcança-
zuela. Guiana Francesa, Suriname e Republica da Guiana,
ram o seu município, como eles atuaram e se os resul-
correspondendo a cerca de um terço da superfície da
tados foram positivos. Comente.
América do Sul.

Para saber mais...

Livro
OLIVEIRA, Ariovald o Umbelino de.Amazônia - mono-
pólio, expropriação e co nflitos. Campinas: Papirus,
1987.

Filmes
Veja a comédia Bye Bye Bras/1 (1979), d irigida por Cacá
DI g ues. Uma caravana de art istas mambembes
cruza a Amazô nia, até chegar a Brasília.
Amaz6nl• Legal

Internet
• Procure na internet informações sobre os projetos
geopolíticos na Amazô nia: Calha Norte e Sivam.

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1 n dera/ de colonização
A política estadua e e 900/1990
em Mato Grosso - 1

TJ

Chegar às áreas destinadas aos projetos de colonização era uma verdadeira aventura. Estes pioneiros faziam parte da
Colonizadora Noroeste Mato-grossense Ltda., em 1955, a caminho de onde hoje está o município de Porto dos Gaúchos.
Próximo ao rio Arinos, o caminho foi aberto a facão, foice e machado

A colonização é definida pelo senso comum como pro- Como o desenvolvimento capitalista do campo no Brasil
cesso de ocupação e valorização de áreas disponíveis para tem se dado de forma desigual, o processo de expropria-
o povoamento e exploração econômica. Como processo ção tem características diferenciadas nas regiõe s em que
de povoamento dirigido, emana de uma decisão política ele ocorre. As regiões de elevada concentração fundiária
governamental que define o seu planejamento com base ou onde a propriedade das terras entra no processo de
na iniciativa oficial ou privada. A colonização é, também, concentração têm comandado a expulsão de pequenos
um processo indissociável da migração. A migração produtores e impulsionado o seu deslocamento para
envolve múltiplos condicionantes de natureza econômica outras localidades, que naquele mesmo momento se
e social, e também causas subjetivas, de difícil avaliação.
apresentavam como áreas de atração. Impedidos de terem
Dentre os aspectos estruturais, a concentração da terra
acesso à terra nas suas áreas de origem, os pequenos pro-
e da renda, traços marcantes da sociedade brasileira, apa -
dutores partem em busca de novas terras, onde possam
recem na origem do processo de expropriação/migração.
reproduzir as relações de produção, baseadas no trabalho

52

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familiar. Outro aspecto a seco ns1.d erar diz
. resp ·t · •
zação da terra com . e1 o a va 1on-
o mercadoria motiva d O que é colonização?
produtores a venderem suas pr~priedadn o os pequenos
rem outras maiores e mais baratas em les para co'.11p~a-
• Sob o ponto de vista sociológico, Santos (1993) define
tan t es, que d espontam com o avan o ugares .mais d1s-
colonização como um processo social, complexo e multi-
oeste ou norte do país. ç da fronteira para o
dimensional, uma vez que envolve grupos e forças sociais
Nesse movimento a 1 . - em tensão e conflito, com suas representações ideológi-
. . , co on1zaçao se apresenta como
alternativa poss1vel de acesso . t cas e diferentes práticas sociais, econômicas e políticas.
a erra, tanto aos peque-
nos trabalhadores rurais expropriad . Entende o autor que a colonização "não é apenas uma
· · b·1· os, aos quais o acesso estratégia de expansão capitalista em novos territórios~
e via I izado por meio dos proJ·etos ofi . .
•d . c1a1s, quanto aos mas é também "uma forma de produção do social num
~e ios P:odutores ma is capitalizados, por meio dos pro-
certo meio natural': intrinsicamente ligado a outro pro-
Jetos particulares. Por sua vez grandes gr . .
, upos econom1cos cesso social: o processo migratório.
passam a ~tuar nas novas áreas como empresários, implan-
tando. .proJetos agropecuários ou de colo n1zaçao
. - em terras • No pensamento de Singer (1973), uma análise sobre
adquindas ~ ~reços baixos, à espera de valorização ou que migração deve levar em conta os grupos sociais e as
foram adquindas aproveitando as facilidades proporciona- causas estruturais e subjetivas que impulsionam o seu
das pelas polít icas govername nta is. deslocamento de um lugar para outro, bem como os
fatores de expulsão e de atração da população, definido-
res do fluxo ou da corrente migratória, em determinadas
condições de espaço e de tempo. Nesse sentido, como
A colonização oficial como política de processo social, a colonização será sempre um fenômeno
povoamento do território - 7900/7 960 complexo, onde forças antagônicas de diferentes agentes
sociais se confrontam na esperança de realização de seus
interesses e projetos de vida especificas.
Em diferentes mo mentos da formação histórica bra-
sileira, a colonização tem sido utilizada como estratégia • Em sentido econômico, Oliveira (1987) entende a colo-
gove rnamental para promover a ocupação de novas áreas, nização como um fenômeno do processo de expansão
seja por motivos políticos, como impedir a reforma agrá- capitalista, funcionando como "viveiro" de mão-de-obra
nas regiões de fronteira, para suprir os projetos agrope-
ria, seja por motivos militares, para garantir as fro nteiras
cuários ali instalados pelos grandes grupos econômicos
territoriais, ou ainda para dar uma resposta à sociedade
e, também, para servir de "válvula de escape'; aliviando
aos problemas socioeconômicos causados, sobretudo, as tensões sociais geradas pela população expulsa das
pela exacerbada concentração da terra no país. Associada regiões de elevada concentração fundiária. Inerente à
à política de colonização, o Estado define uma política de lógica capitalista, este processo possibilita o acesso à
mig ração dirigida para suprir de mão-de-obra os empreen- terra aos pequenos produtores expropriados, ativando a
dimentos agropecuários implantados nas novas áreas ou colonização agrícola fundada na produção camponesa ou
para a remoção da força de trabalho excedente de uma familiar.

região com pouca capacidade de geração de emprego e


renda.
Mato Grosso, nesse contexto, tem seguido os princí- So mente após a criação do Serviço de Povoamento do
p ios da política nacional de colonização para promover a Solo Nacional pela União, em 1906, objetivando incentivar
o cupação do seu território. Como área de fronteira nacio- a migração e a t ransferência de mão-de-obra para o inte-
nal, recorreu à colonização no século XVIII para resguardar rio r do país, é que os governos estaduais, seguindo diretri-
e ampliar seus limites territoriais e, mais recentemente, zes do governo federal, regulamentaram a implantação de
como área d e fronteira econômica, para a expansão capi- "núcleos coloniais" mediante acordo com a Viação Férrea
talista em seu território. O fato é que a colonização aparece SI Noroeste do Brasil e outras companhias particulares. Con-
sistematicamente na história oficial d e acesso à te rra e m tudo, ta is tentativas redundavam em fracasso e as terras
Mato Grosso, como fo rma d e distri buição da te rra a peque- acabavam sendo negociadas à revelia do Estado pelos
nos trabalhadores imigrantes, visando estimula r o povoa- concessionários. Os fluxos migratórios não ocorriam de
mento do território e a expansão da pequena produção. forma espontânea para a região, ainda que os lotes fossem
fJ.
53

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tou os mesmos prindplos a
ue naquele susten lodo Vargas, como forma de fi
05 quase que gratuitamente, porq-se
• d
em atlvl a-
dos no per • d
elo de aproveitamento as terras p
momento a economia do Esta d o b aseava campo por m
ndo-se preferência aos trabalhador
des que ~ueriam grandes extensões de terra, como/ devo 1utas, da d .
criação extensiva de gado e a extração vegetal (borrac a . • cipalmente os desemprega os e os s1tuad
na1s, pnn . •
. - empobrecidas. Assim, a co1onizaçao passou a
e poaia). olftica ~ reg1oes
Somente a partir da década de 1940 é que a p . •pai estratégia do Estado (1945/1964) para resol
a princi
• _ ·mplementada com t das contradições no campo, que se manifestavam
estadual de colomzaçao vo 1tou a ser ' - d s •espa- par e . . ,_ d .
a •Marcha para o Oeste", política de ocupaçao o . através da luta pela terra em varias reg1oes o pais.
• i posta em prática Nesse contexto e diante da grande quantidade de
ços vazios" do oeste e da Amazon a .
pelo governo ditatorial de Vargas (193011 945 ), v,sa~do_ à terras devo
lutas no norte de Mato Grosso, os governos
. ..
expansão da fronteira agrícola nacional a partir~~ criaçao es t a duais passaram a redefinir .uma_ poht1ca fundiária e
de •colónias agrícolas nacionais". Com essa polltica, pr~- de colonização, revisando a 1eg1s 1açao e estruturando os
tendia-se diversificar a produção necessária ao abaS t eci- órgãos estaduais dedicados à questão da terra. Assim, foi
mento alimentar dos centros urbanos e ao fornecimento criado, em 1946, o Departamento de Terras e Colonização,
de matérias-primas para o desenvolvimento industrial DTC. em substituição à Diretoria de Terras e Obras Públicas,
em curso no país desde a ascensão de Vargas ao poder, DTOP, que havia sido criada em 1902 e, no ano seguinte,
em 1930. em 1947, a Comissão de Planejamento da Produção, CPP,
Para explorar essas "regiões desconhecidas", o governo destinada a orientar a colonização no Estado. Em 1950, foi
federal criou, em 1943, a Expedição Roncador-Xingu e a criado O primeiro Código de Terras do Estado, que previu
Fundação Brasil Central (FBC), com o objetivo de implantar
núcleos de povoamento a partir do Vale do Araguaia até o
Xingu, em terras povoadas por etnias indígenas do Brasil Figura 4.1
Central e da Amazônia. O posto-base, fundado às margens BRASIL - FLUXOS MIGRATÓRIOS PARA O SUL DE MATO GROSSO
do rio das Mortes, deu início ao planejado povoamento da DÉCADAS DE 1930/1940
região com a implantação do povoado de Xavantina, em
1944, que mais tarde deu origem ao município de Nova
Xavantina. Mas o projeto de colonização idealizado para
essa região, embora tenha provocado o adensamento de
pequenos núcleos de povoamento, não obteve sucesso
...
0

em razão de conflitos pelo domínio legal e posse das .


terras. Algumas dessas áreas já se encontravam tituladas,
outras estavam ocupadas por população relativamente
numerosa de garimpeiros ou eram territórios indígenas,
.
,
ocupadas por muitas etnias que vieram a ser conhecidas
após os contatos da Expedição. , .
Na região sul do antigo Estado de Mato Grosso (atual
Mato Grosso do Sul), o governo federal, por questões pol í-
ticas e militares, atuou diretamente e estimulou a vind a d e
migrantes gaúchos para resguardar a fron te ira e queb ra r
o monopólio da empresa Mate Laranjeira que, po r muito
tempo, manteve o domínio sobre vastas extensões da
região. Assim, em 1943, foi implantada a Colônia Agrícol a
Nacional de Dourados dentro do programa oficial de colo-
nização, que visava impulsionar a fronteira agrícola para 0 Fonte: Base ca" ográfica (IBGE. 2000).
oeste do país (Figura 4.1).
O fim do Estado Novo foi marcado pela promulgação D Território mato-grossense
da Constitui?~º de 1946 e o restabelecimento das liberda-
Area de ocorrência do mate
des democrat,cas, que haviam sido suprimidas com a Carta
de 1937. Respondendo às pressões dos trabalhadores do + Direção do fluxo migratório
campo:, o n~vo text~ ~revi_a a desapropriação de proprie-
Limites políticos
dades -~ed1ante previa e Justa indenização em dinheiro"
e cond1c1onou O se ,,
u uso ao bem-estar social", porém
° Capital

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a implantação de colônias a .
aproveitadas às margens d g;colas em áreas lavradlas não
Brasil e das grandes rodovt str~da de Ferro Noroeste do
truídas. as existentes ou a serem cons-

A partir da regulamentação fund · .


desses órgãos, a política estadual diária e d~ est~uturação
um novo impulso, sendo im I e colornzaçao tomou
. . . p ementada por meio d . .
oat1vas oficiais e privadas vis d . . e m1-
ção dos e cedentes de~ og r~~ o e:hotam ente à absor-
país, para promover o rápido in~r~~e~toutra s regiões do
0
ao norte do paralelo 16• do povoamento
, que corta o su l do atual E t d d
Mato Grosso, e O aumento da sa o e
dação das colónias deveria ob:dequena produçã~. A fun -
prévio elaborado pela Comissão ~ce;I a u~ planeJamento
dução, CPP. e aneJamento da Pro-

o período de 1940 a 1966 fo ram i I d


de 30 n · 1 ti · · ' mp anta os cerca
uc eos o
. • . c1a1s de colon i2ação, sendo 23 ,
em areas
d o atua 1tem to rio de Mat o Grosso, ab rangendo aproxi ma-
amente·1 400 1 mil hectares,
. que foram ocupado s por cerca
de 69 m1 co a nos (Figura 4.2). o Estado tamb em . ti rmou con-
Primeiro fo lh eto publicitário da Co nomali (1956), Colonizadora da
tratos
_ com cerca de 29 em presas part ·,cu 1ares de co lorn-.
Gleba Arinos, onde hoj e fica o municíp io de Porto dos Gaúchos
zaçao,
, estabelecendo
,d º con cessões de terras pu. blº,cas, com
area~ me ,as de 200 mil hectares. Ofereceu, ainda, lotes de Figura 4.2
10 mil hectares a pessoas físicas, co lonizadores individuais MATO GROSSO - MUNICÍPIOS EM QUE FORAM IMPLANTADOS
como estímulo à ocupaçã o dessas terras por meio do se~ PROJETOS DE COLONIZAÇÃO - DÉCADAS DE 1940, 19SO E 1960
lotea mento e a distribuição de lotes de 20 hectares como
incent ivo às ocupações individuais, sobretudo por garim -
peiros provenientes de áreas de garimpo em decadência,
no Estado.
Com essas iniciativas, contingentes de agri cultores·
foram atraídos de outras regiões do país, impulsi onando
a fronteira agrícola em direção à região que compreende
o atual Mato Grosso do Sul, onde cerca de um milhão de
hectares, antes ocupados pela exploração ervateira, foram
liberados ao povoamento espontâneo e à colonização
ofi cia l e particular.
Na região sul do atua l Estado de Mato Grosso, imple-
mentou-se, a partir de 1947, a colon ização no vale do rio
São Lourenço, onde ocorria grande afluência de mão-de-
-obra ociosa, principalmente nordestina, procedente de
São Paulo e do Paraná; mineiros e capixabas, procedentes
das áreas de cafezais erradicados, e antigos garimpeiros de
Cuiabá, Alto Araguaia e Poxoréo. Também emigraram para
essa região, em menor proporção, descendentes de ita-
lianos, j aponeses e espanhóis, vindos da zona cafeeira do Fonte: Mato Grosso, 1992; Moreno, 1993. Adaptado sobre base cartográfica atual (IBGE. 2000).

nordes te de São Paulo, paranaenses do noroeste do Paraná


e goianos do sudoeste e do planalto de Goiás (I BGE, 1977). Municlpios com projetos de colonização

Foi im plantada nessa região a co lônia agrícol a est adual de - Limite municipal
Fátima de São Lourenço e as col ônias agrícolas particulares - Limi te político atual (não definido na época)
de Jaciara, Santa Elvira e São Pedro da Cipa, fundadas pela
e Ca pital
Colon izadora Ind ustrial Pastoril e Agríco la Ltda. (Cipa).

55

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Este conjunto de fotoS
históricas das ~lnas S6 a 59,
do jornalista Walter lrgang e
do acervo de Walter Erbach,
registram a chegada dos
primeiros colonos na Gleba
Arinos, com 220 mil hectares,
que deu origem ao munrcíplo
de Porto dos Gaúchos


Em 23 de março de 1955, os
vrnte homens que integraram
a caravana pioneira da
Conomali, em frente à firma
Irmãos Mayer Ltda., em Santa ~
Rosa (RS). Liderados por ~ ~
e;.
Guilherme Meyer, à esquerda, .1( e:
teve inrcio a longa viagem até '! ~

a Gleba Arrnos, a noroeste de 1ll E


.,
Mato Grosso
j ~
'--
?
ffe ..,º
~ ?
.)
,:
..,o
..,.t ..
;!:
7'
Dois caminhões, um jipão } .;
e um jipe: a caravana
desbravadora atravessa de
~
"',:g ]
barca o rio Paraná, divisa de ~
~
São Paulo com Mato Grosso, :'
na altura das cidades de i
!
Presidente Eprtácio e Porto 15 o''
de Novembro

Primeira refeição da caravana


junto ao rio Arinos, em 18
de abril de 1955. Aqui, os
pioneiros da Conomali ficaram
acampados por sete dias
atarefados na construçã~ de
dois batelões de madeira

56

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EmbarcaCdo GerTrvde•, a primeira da Conoma li const .d
,.~ Ca h , ru, a
por Fran z , 1· ,.e ria e oeira. do Pau • no rio Ar·,nos, para o
_ _ ,.
· anspo e a.,5 ,
f.,m r ,as da primeira carava na que a
. , portou em
Po o dos Gauchos EIT' '9 oe abr• de 1956 Da esquerda para a direita, os diretores da Conomali
Guilherme Meyer, Alfredo Leandro Carlson e o
jornalista Walter lrgang, que documentou a viagem e o
processo inicial de colonização da Gleba Arinos

O j ornalista Nalter lrgang e Guilherme Meyer (Willy), em


o•iiç,;das para derT'ostrar o tamanho da figueira próxima
ao rio 1- rinos e da sede da Gleba. Quantos anos teriam sido No vau de um rio, o caminhão Austin "apagou". Só saiu empurrado ...
r; ecessários p ara al mentar tal diâmetro?

O "jeep-trator", modelo
Unimog, fabricado na
Alemanha pela Mercedes
Ben z, em 1954, e importado
pela Conoma li. Este foi o
primeiro veículo a rodar
em Porto dos Gauchos.
Desceu o rio em uma balsa
improvisada, em uma
viagem de 8 dias.
Guilherme Meyer, à direita,
junto a uma esplanada de
madeira em toras, para a
serraria

57

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À esquerda, Henrique Augusto
Klaus, e, à direita, Guilherme
Meyer e Gertrudes Klaus Meyer.
Ao centro, o padre austríaco
João Evangelista Dornstauder,
considerado o pacificador dos
índios Canoeiros {Rikbaktsa) da
região, por eles ladeados

Walter Erbach com índios


Canoeiros (Rikbaktsa). Erbach
fez parte da primeira expedição
de localização da Gleba Arinos,
área adquirida pela Conomali,
com aproximadamente 220 mil
hectares, para fins de colonização,
dentro do atual perímetro do
municíp io de Porto dos Gaúchos

"":õ"'
õ
ã.
·[:,

""oã.
.
o::

índios Beiço -de-Pau

Índio Canoeiro ou Rikba ktsa

58

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Walter Erbach e Arnaldo
Maletz são homenageados
com diplomas pela Conomali,
por terem completado um
ano de residência em Porto
dos Gaúchos, em 13 de maio
de 1956

Os cinco "Walter's" em frente ao primeiro barraco de Porto dos


Gaúchos, próximo ao rio Arinos, em 1955: da esquerda para Chegada da caravana de fami lias a Porto dos Gaúchos,
a direita: Walter Erbach, o médico Walter Gualterius Zahn, o no dia 19 de abril de 1956. A viagem difícil é compensada
agrimensor Walter Von Eye, o enfermeiro Walter Beno Knecht e o pela alegria do reencontro. Uma nova vida começa ...
jornalista Walter lrgang

Os carros de boi foram muito utiliza dos


No caminh ão, uma parte da floresta

59

Scanned by CamScanner
Na região médio-norte, registrou-se um grande fluxo
d lavradores do Sul do país atraídos pela propaganda
d: fácil acesso à terra, mas poucos núcleos de povoa•
mento resultaram dessa ofensiva, podendo-se destacar a
Gleba Rio Ferro, implantada pela Colonizadora Rio Ferro,
em terras que pertenciam ao município de Chap~da dos
Guimarães; a Gleba Arinos, implantada pela Colonizadora
Noroeste Mato-grossense (Conomali), que operou no
município de Diamantino, da qual originou, em 1955, o
município de Porto dos Gaúchos. . .
No sudoeste, foi implantada pelo Estado a colônia Rio
Branco, em parceria com a Cia. Agrícola Colonizadora Ma_di
s.A., na região de Cáceres. Na década de 1960, por nao
ter cumprido o contrato estabelecido com o Estado, es~a
empresa perdeu a concessão das terras para a Companhia
de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso (Codemat).
Criado em 1966, esse órgão passou a atuar como agente
colonizador oficial, respondendo pelos projetos iniciados
Oração, após a chegada da caravana das famílias (Gleba Arinos)
pela antiga CPP e não concluídos, tendo em vista o fecha-
mento do DTC, ocorrido naquele ano.
Embora os programas oficia is de colonização, reali-
Fig ura 4.3
zados em conjunto ou por iniciativa particular, tenham
MATO GROSSO - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS PROJETOS
gerado grande afluência de migrantes, a avaliação geral
PARTICULARES DE COLONIZAÇÃO IMPLANTADOS do processo permite inferir que os resultados ficaram
NAS D~CADAS DE 1970/1980 aquém dos objetivos de povoamento, diversificação e
expansão da pequena produção, bem como de amplia-
.,. ,. ,.. ,,.
ção do mercado interno. Devido às dimensões do antigo
AMAZONAS
PARÁ
. Estado de Mato Grosso, os resu ltados pouco significaram
no processo de ocupa ção e desenvolvimento do espaço
rural, mas certamente foram criadas as condições jurídicas
e institucionais necessárias à apropriação privada da terra,
que foi sendo adquirida em grandes extensões ao longo
desses anos e reservada para futuras negociações.
As avaliações mostram que, além de o Estado não ter
proporcionado assistência técnica e finan ce ira à produ-
ção, muitos contratos realizados com empresas particula-
,.. res foram acordados com bases em interesses de grupos
econômicos e/ou políticos/partid ários/eleitorais a preços
irrisórios ou até mesmo como forma de barganhar favores
.
, políticos, dispensando-se inclusive a concorrência pública
GOIÁS e garantias de execução. A maior parte dos contratos não
BOUVIA
foi cumprida, principalmente no que se referia à implan-
225 >.m
,. tação de infraestrutura física e social, com o medição e
demarcação dos lotes, abertura de estrada s, prestação de
Fonte: Brasil, t 994.
serviços educacionais e de saúde (Figura 4.3) . A terra adqui-
rida acabou sendo vendida aos colonos a preços mais ele-
Estrada/rodovia

t:,, Projetos particulares


de colonização
0 Capital Mais informações sobre a rnkiinb.lldf!.'-i
Mato Grosso no século XX. no livro
Cidades capitulo 33: "lena e

60

Scanned by CamScanner
vados e u_ma grande parte foi negociada co
Estado e incorporada ao patrimôn,·o . m O governo do
. . particular dos g rupos Desse modo, a colonização foi estruturada e regula
concess1onános, formando condom/ .
n1os ou grand 1 • mentada pelo Decreto Federal n° 59.428/66, de forma a
fúndios. A venda de terras a particul . es at,- conciliar a polltica de ocupação das terras com a expan-
diversos governos estaduais, sempre e
ares, realizada
• •
em
. .1• . _ nvo 1veu denuncias são espacial do capital na Amazônia, através da Interven-
de pnv, eg1os e corrupçao mas nas décad d ção direta do governo federal no ordenamento terrltorlal
. .. '_ ' as e 1940, 1950
e m1c10 de 1960, foram tao fraudulentas dos Estados da região. Através dos Decretos-leis Federais
· d e que acabaram
determman o o ,echamento do antigo
. _
oepartamento de
no 1.164/71, já revogado, e nº 1.414/75, o governo federal
Terras e Colonizaçao, em 1966. declarou indispensáveis à segurança e ao desenvolvi-
mento nacional as terras devolutas ao longo das rodovias
federais, numa faixa de 100 quilômetros de cada lado do
Política federal de colonização seu eixo, e as faixas de terras situadas ao longo das fron-
teiras internacionais, passando o controle dessas áreas ao
em Mato Grosso e expansão Conselho de Segurança Nacional (CSN). A implantação
espacial do capital - 7970/7 990 dos projetos oficiais e particulares de colonização nessas
áreas federalizadas ficou sob a responsabilidade do Ins-
A polí~ic~ federal de ocupação dos "espaços vazios" tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),
da Amazonia e do Centro-Oeste teve início com a órgão criado em 1971, em substituição aos criados em
•marcha para o Oeste", objetivando diversificar a agricul- 1964, para dar suporte à execução da "reforma agrária",
nos termos do Estatuto da Terra (Figura 4.4).
tura para dar sustentação ao p rocesso de in dustrialização
concentrado na reg ião centro-sul do país. A Superinten-
dência do Plano de Valorização Econômica da Amazô- Figura 4.4
nia (SPVEA), criada em 1953, apontava áreas das regiões MATO GROSSO - AREAS DE JURISDIÇÃO DA UNIÃO E DO ESTADO
Norte e Cen tro-Oeste como fronteiras a serem incorpora - DECRETOS-LEIS 1.164/71 * E 1.414/75*

das ao processo produtivo nac ional, o que se concretizou


com a pol ítica federal de colonização, a partir de 1964.
,,. 60' ,.. ... ,,. ,..
AMAZONAS
Assim, a política de colonização foi retomada durante PARA •
o reg ime militar, fazendo parte de uma ampla estratégia
de integração da Amazônia e do Centro-Oeste a outras
regiões do pa ís, alicerçada na ideologia de segurança e
desenvolvimento nacional, para abrir espaço à entrada
do capita l nacional e interna cional e garantir o desenvol-
vimento do cap italismo no país, em sua fase monopolista.
Todo um aparato jurídico, consubstanciado no Estatuto da
Terra (Lei nº 4505/ 64), foi preparado para legitimar as ações
de reg ularização fundiária e de colonização pelo governo
federal nos Estados. Essas ações se desenvolveram articula-
das aos diversos programas de desenvolvim ento regional
(PIN, Proterra, Poloamazôn ia, Polocentro, Polonoroeste)
.
,
GOIÁS
im plantados nas áreas componentes da Amazônia Legal.
,.
BOlÍVIA
Politica m e nte, essas ações foram definidas e apresen- O 225 km
tadas como programas viabilizadores da "reforma agrária"
e de promoção da política agrícola, embora estivessem Fonte: Brasil, 1992. ln: Moreno, 1993. .
•o Decreto-lei l .164fl 1 foi revogado em 1987 e o Decreto-lei 1.414nS foi alterado pela Le, 6.925/81 .
associadas à expansão da fronteira econômica baseada
na concessão de incentivos fiscais e financeiros a grandes
empreendimentos capitalistas estabelecidos na regi~o. D Área de jurisdição do Estado
Mas, nesse momento, essa política de colonização tambem D Área de jurisdição da União (Incra)
tinha como objetivo desmob ilizar os movimentos-e orga-
Estrada/ rodovia
nizações socia is de luta pela reforma agrária e pôr fim aos
0 Capital
conflitos que vinham se acirrando no campo, em fins da
• Cidades
década de 1960 e início de 1970, com a transferência dos
trabalhadores rurais para areas , • · Le gal ·
da Amazonia

61

Scanned by CamScanner
A primeira "derrubada da
mata", para a instalação de
colonos em áreas de projetos
oficiais de colonização

A colonização oficial
Nessa estratégia de ocupação da Amazônia, a União,
A atuação do Estado Nacional
representada pelo Incra, passou a ter o domínio sobre
mais da metade do território mato-grossense, dispondo através do Incra
sobre cerca de 60% das terras devolutas existentes no
Estado, naquele momento. Obedecendo as orientações Durante a vigência do regime militar, o Incra desenvol-
da política agrária estabelecidas nos Planos Nacionais de veu em Mato Grosso quatro modalidades de projetos de
Desenvolvimento (PNDs), o Incra desenvolveu diversos colonização, objetivando resolver situações de conflito no
projetos oficiais de colonização em "áreas de desbrava- Estado ou fo ra dele, como foi o caso do Projeto Especial
mento". Também incentivou, sobretudo após meados da de Assentamento (PEA Lucas do Rio Verde), bem como
década de 1970, a participação de empresas particulares promoveu a regularização fundiária em áreas de ocupa-
de colon ização e cooperativas agropecuárias como ação ção espontânea ou posses. Com a implantação do Plano
complementar aos programas oficiais de colonização. Nacional de Reforma Ag rária (PNRA), em 1986, os projetos
Essa medida visava atrair uma clientela mais capitalizada - não emancipados passaram a integrar o Plano Regional
os colonos do Sul do pa ís-, onde o processo de ampliação de Reforma Agrária (PRRA/MT), como projetos de assenta-
da pequena prop riedade, através da compra pelos médios mento, numa perspectiva de regularização das situações
e grandes proprietários, dete rminava a expropriação ou a preexistentes. Na concepção do governo federal , esses
migração para outras regiões do pa ís.

Tabela 4.1
MATO GROSSO - INCRA: PROJETOS DE ASSENTAMENTOS RÁP IDOS (PAR) - DÉCADAS OE 1970 E 1980

Area (ha) Nº de familias assentadas


Município
----------
Projetos "PAR"

Cafezal Colider
Colider
20.000,00
14.440,00
749
326
Carapâ
9.520,00 318
Paraná Colíder
97.00,00 1.160
Teles Pires Colíder
63.000,00 1.098
Canaã Nova Canaã
29.977,00 448
Cerro Azul Pontes e Lacerda
9.021 ,00 189
Bocaina Santo Antônio de Leverger
Santo Antônio de Leverger 990,00 46
Praia do Poço
Aripuanã 26.000,00 208
Sete de Setembro

TOTAL 269.948,00 4.542


Fonte: lncra/MT. Dívisc\o de Colonização -1996.

62

Scanned by CamScanner
s constituíam uma forma lá
reforma agrária•. v vel de se efetivar a Flgura4.S

Os projetos de colonização implant d MATO GROSSO - MUNICIPIOS ENVOLVI


décadas de 1970 e 1980 . ª os pelo Incra, nas COLONIZAÇÃO OFICIAL NAS MODALI
, antes da vigência do PRRA/MT DlCADAS DE 1970
foram: •
PAR - Projeto de Assentamento Rá ld . .
· i ·d P o. este tipo
d~ ~roJeto _01 esenvolvido em áreas que já possuíam o
mrnrmo de infraestrutura, com O apoio d E d
. , . .d o sta o e dos
~unrc1p1os envo_1v1 os. ~abia ao Incra efetuar a delimita-
çao, a demarcaçao e a titulação dos lotes q . .
, ue, em media
possu1am cada um, 50 hectares Essa aç · · h '
. . , . . · ao trn a como
obJet1vo a rap1da eliminação dos focos d t - .
e ensao soC1al
nessas áreas. Nessa modalidade foram impl t d
• an a os 9 pro-
jetos em Mato Grosso abrangendo 269 948 h t
· ec ares, onde
foram assenta~as 4.542 famíl ias (Tabela 4_1 e Figura 4_5).
PAC - ProJeto de Ação ConJ'unta· este p . t
. _ · roJe o se
caracterizou pela açao conj unta desenvolv'i d 1
. a pe o 1ncra e
U?7~ coo~erat1va. Ao Incra, competia colocar infraestrutura
bas1ca e t itular as parcelas• enquanto a coop era t ·1va d ev1a
responder pela administraçã o e manutenção do pro· t
· ..
· b·1· d · 1 · 1e o, BOlÍVIA
via 11zan o rnc us1ve a assistência técnica e financeira .
Nesta modalidade, foram desenvolvidos 3 projetos em 225km ..
Mato Grosso, abrangendo 51 4.186 hectares, onde foram
assent adas 7.459 famílias, confo rme mostra a Tabela 4.2 e a Fonte: Brasll, 1996.

Figura 4.5.
PAC-Ranchão: foi implantado em Nobres, em 1981 , Municípios abrang idos pelo PAR (Projeto de Assentamento Rápido)

em conjunto com a Cooperativa Mista Agropecuária de D Municípios abrangidos pelo PAC (Projeto de Ação Conj unta)
Município abrang ido pel o PEA (Projeto Especial de Assentamento)
Juscimeira Ltda. - Comajul, para abrigar os colonos que
0 Capital do Estado
se encontravam em Juscimeira, sendo alguns de origem
sulista e a maioria nordestina. O projeto.já emancipado, foi
implantado em área s de Floresta e Cerrado, abrangendo
23.931 hectares, onde foram assentadas 120 famílias. região, abrigando cerca de 4 mil fam ílias. Carlinda foi ele-
PAC-Carlinda: foi desenvolvido à margem esquerda vada a município em 1994.
do rio Teles Pires, em Alta Floresta, numa área de 89.986 PAC-Peixoto de Azevedo: foi implantado no extremo
hectares, em parceria com a Cooperativa Agrícola de Cot ia norte do Estado, em terras do município de Guarantà do
- CAC, e foi planejado para atender, prioritariamente, co lo- Nort e, no entroncamento da BR-080 com a Cuiabá-Santa-
nos do Sul do país. Com as mudanças ocorridas na política rém, tendo sido desenvolvido em conj unto com a Coope-
agríco la voltada para a Amazônia, muitos cooperados e rativa Tritícola de Erechim Ltda. - Cotrel. Este projeto foi
co lonos não aderiram ao projeto e, assim, a área foi send o desti nado ao assentamento de colonos, em grande parte
ocupada espontaneamente por posseiros e agricultores da procedent es do Rio Grande do Sul, que haviam sido desa-

Tabela 4.2

MATO GROSSO - INCRA: PROJETOS DE AÇÕES CONJU NTA (PAC) - DÉCADAS DE 1970 E 1980

Projetos "PAC" Município Área (ha)

Ranchão Nobres 23.931

Braço-Sul Guarantã do Norte 213.200

Carlinda Alta Floresta 89.986 4.000

Peixoto d e Azevedo Guarantã do Norte 2 11 .000

1'01'Al S38.217

Fonte: lncra/MT. Divisão de Colonização - 2000.

Scanned by CamScanner
propriados de suas terras devido à construção de uma
barragem no rio Jacuí (RS). Numa área de 211 mll hectares, Brasiguaios
antes ocupadas pelos índios Kreen-Akarore - transferidos
para o Parque Nacional do Xingu, em 1974 -, foram assen- "Braslgualos· foi uma expressão criada para designar
tadas 1.230 famílias. Com a descoberta de ouro na região, os colonos brasileiros que migraram para o Paraguai nas
a atividade agrícola, que daria sustentação ao projeto, não décadas de 1960 e 1970, em decorrência das transfor-
prosperou e a cidade teve o seu crescimento retraído com mações ocorridas no campo no Brasil provocadas pela
a decadência da mineração na década de 1990. Peixoto de industrialização da agricultura. Vítimas desse processo,
Azevedo foi elevado a município em 1986. trabalhadores rurais "sem-terra• foram atraídos por uma
PAC-Braço-Sul: Este projeto foi implantado em con- propaganda de terras fartas e baratas naquel~ país, que
junto com a Cotrel, em 1981, em terras situadas no extremo tinha interesse numa mão-de-obra especlahzada para
norte do Estado, e abrigou os colonos conhecidos como promover a colonização em suas terras. Muit~~ em~resá-
rios brasileiros também passaram, nessa ocas1ao, a inves-
"brasiguaios", cerca de 400 famílias brasileiras que retorna-
tir na compra de terras no Paraguai. Na década de 1980,
ram do Paraguai em meados daquele ano e que estavam
desiludidos, os brasileiros ou "brasiguaios" começaram
acampados em Mundo Novo (MS). Este projeto ocupou
a retornar ao Brasil, diante das inúmeras dificuldades e
213.200 hectares, onde foram assentadas 2.229 famílias.
situações de conflitos vividas, sobretudo por não terem
Este projeto deu origem ao município de Guarantã do tido acesso à propriedade da terra tão almejada. No Brasil,
Norte, desmembrado de Colíder em 1986, em território deram início a uma nova forma de luta pela terra, mon-
antes ocupado pelos índios Kreen-Akarore. tando acampamentos em diversos pontos do território.
PEA - Projeto Especial de Assentamento: consistiu
em projetos emergenciais destinados a atender popula-
Fonte:Wagner, 1990; Olívelra, 1988.
ções removidas compulsoriamente de áreas de conflito,
por decisão do governo federal. A responsabilidade pela
implantação era do Incra, desde o loteamento, colocação
de infraestrutura e administração técnico-financeira . Em infraestrutura básica. Assim, o Incra promoveu a regulariza-
Mato Grosso, foi implantado apenas o PEA Lucas do Rio ção das parcelas, redimensionando-as para receber novos
Verde, à margem da BR-163, no município de Diamantino. trabalhadores rurais sem-terra. Esses projetos continuam
Este projeto foi destinado inicialmente aos "sem-terra" do sendo desenvolvidos pelo Incra, dentro do programa de
acampamento da Encruzilhada do Natalino, em Ronda Alta reforma agrária do governo federal. A maior parte das
(RS), como forma de desmobilizar esse movimento de luta áreas destinadas a esses projetos foi adquirida mediante
pela terra. Em 1981, foram transferidas 252 famílias dessa desapropriação, com prioridade para as áreas de conflito.
região para Mato Grosso. Entretanto, poucas ficaram. Vários Outra parte foi adquirida pela União mediante compra.
fatores concorreram para o retorno dessas famílias, como De 1980 até 2014 o Incra havia implantado no Estado
a mudança na política federal de incentivos à agricultura, 383 Projetos de Assentamento Federais - PAs, locali-
antes disponíveis para a Amazônia e também casos de cor- zados em 102 municípios, abrangendo uma área de
rupção ocorridos na implantação do projeto. Muitos lotes 4.168.848,2346 hectares. Com esses projetos foram benefi-
foram vendidos indiscriminadamente, quando muitos dos ciadas 63.195 famílias, assentadas nesse período de tempo.
colonos ainda não possuíam o documento provisório de Desse total, 60.844 famílias assentadas (96,2%) ainda
titulação que, inclusive, proibia a sua venda . aguardam a titulação definitiva da terra, portanto, apenas
Em 1982, com a entrada da Cooperativa de Lucas do 3,75% dessas famílias receberam o documento que lhes
Rio Verde (Cooperlucas) na região, o projeto passou a ser confere a propriedade legal da terra. Esses projetos foram
desenvolvido com a sua participação e foi ampliado para todos incorporados e reconhecidos pelo Programa Nacio-
972 lotes, objetivando atender os seus associados, bem nal de Reforma Agrária (PN RA) do governo federal. A maior
como proceder a regularização das áreas griladas durante parte desses projetos foram criados nas décadas de 1990
a implantação. Em 1985, Lucas do Rio Verde foi elevado (41,8%) e de 2000 (50,4%) e, do total, encontravam-se con-
à categoria de distrito e, em 1988, tornou -se município. solidados e, em fase de consolidação apenas 14,8% (MOA/
Hoje, destaca-se pela sua forte participação na economia lncra/Sipra, 2013; lncra/MT-SR-13, 2015).
agrícola do Estado (Figura 4.5). No rol desses projetos, 58 resultaram de acampamen-
PA - Projeto de Assentamento: foi concebido para a tos, que foram transformados em assentamentos pelo
regularização de áreas já ocupadas por posseiros, cabendo governo federal, em resposta à luta pela terra, coorde-
a~ Incra consolidar essas ocupações com vistas à emanci- nada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
pação do projeto a curto prazo, uma vez que já existia uma (MST), num total de 42 e pelo Movimento dos Trabalhado-

64

Scanned by CamScanner
MATO Tabela 4 3
GROSSO - SITUAÇÃO GERA .
L DOS PROJETOS DE ASSENTAMENTOS (PAS), 1t97·201 4

lnlt'rmat
122 1.057.423,3820 11.423
Fot,t~ Mi!tO Grouo lns-urvto dt> Terras de Mato Grosso _ lntemiat
00 Estildo de Mato Grmso- SRC,3), Culab.1-MT 2.5/o Cul.iba-MT, 06/01ho1s; BRASJL Mlnhtbio do
20
· 31 ,s. ~ m t n t o Agrirk> - MO4. lnm1u10 NA(ton•t df' Colonlt"'(.40 t RtfOl'm Aor.6,1.t lnt 11, ~p.rlr,t•ndtne6' AaQloNI

res Rurais Acampados e Assentados de Mat G


o rosso, num a fruticultura, olerlcultura e criação de pequenos animais,
total de 16, conforme dados do MST/ MT e MTAA/ MT
Alé d . f ,2015. sendo a prod ução destinada ao comércio local e reg io-
. m os proJ_etos ederais implantados no Estado, 122
proJetos estaduais de assentamento foram · d nal. Após 1977, em Mato Grosso, foram implantados 16
, erra os pe 1o projetos nos municípios de Cuiabá, Poxoréo, Gulratlnga,
Instituto de Terras de Mato Grosso (l ntermat) e reconhe-
Alto Pa raguai, Sorriso, Santa Carmem, Novo Horizonte do
cidos pelo Incra, entre os anos de 1997 e 2008 E
. sses pro- Norte, Juara, Nova Maringá e outros, abrangendo uma
j etos são admin istrados pelo lntermat, até a consolidação
área tota l de 2,7 mil hectares, beneficia ndo 662 fam ílias
e emancipação de cada um. Todos esses projetos rece -
(lncra/MT, 2005) (Figura 4.7).
beram aporte financeiro do governo federal. Abrangem
Considerando todos os projetos implantados no
1.057.423,382 hectares e abrigam 11.423 famílias, locali- Estado pelo Incra e lntermat de 1978 até 2014, num total
.
-;
e
Q.
o
O'
zados em 122 municípios, conforme Tabela 4.3. (lntermat,
2015)
de 505, foram atendidas 74.618 famílias, assentadas em
5.226.271,6165 de hectares. Isso produziu uma acentuada
-õ Em 1997, foi lançado pelo governo federal uma nova redução no número de estabelecimentos controlados por
i5
o
'O
modalidade de assentamento, denominado Projeto ocupantes sem legalização das terras, com a transforma-
"'"' Casulo, visando gerar emprego e renda através do "apro- ção das posses ou ocupações em propriedades privadas.
veitamento da mão-de-obra disponível na periferia dos (Incra, 2015; lntermat, 2015). Contudo, segundo o MST e o
núcleos urbanos". Este projeto é desenvolvido de forma MSTAA/MT ainda existem no Estado mais de 400 famílias
descentralizada, em parceria com as prefeituras munici- de "sem terra " acampadas em barracos improvisados, à
pa is, tendo por princípio a "gestão compartilhada" para a espera de uma área onde possam viver com dignidade. De
sua viabilização socioeconômica. Destinado à exploração 2013 a abril de 2015, estavam sob a liderança dessas orga-
agropecuária em áreas ociosas no entorno dos núcleos nizações, 13 acampamentos localizados nas re giões Norte,
urbanos, este projeto vem alcançando algum sucesso com Médio Norte, Sul e Sudeste. Em 2013 foram registradas 5

Figura 4.7 _ o Projeto Casu lo se distingue dos dem~is assentamentos


. 4 6- A conquista da terra representa a rea izaç . r ãode
por ser impla ntado na periferia das cidades, obJet1vando gerar
F,gu ra . . . d e seJa em
um projeto de vida para muitos posseiros, atn a qu emprego e ren da com a pequena produção agrícola
precárias condições de infrae st rutu ra

65

Scanned by CamScanner
Até o final da década de 1980, a Codemat deu conti-
ocupações em fazendas dos municlpios de Jaciara, São
nuidade à execução dos projetos e regularização das colô-
José do Povo, Rosário Oeste, Novo Mundo e Nova Ubiratã,
nias agrícolas estaduais implantadas pela antiga CPP, nas
totalizando 398 famílias, sendo 2 coordenadas por esses
décadas de 1940/1950. Regularizou o assentamento em
movimentos, 2 pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e
algumas áreas já ocupadas por posseiros em situação de
1 sem identificação. (CPT, 2015}
conflito e implantou, dentro do Programa de Coloniza-
A demanda por terra, portanto, ainda é bastante alta,
ção Aripuanã-Roosevelt, os projetos Juína, Filinto Müller e
mesmo tendo em conta o fato de que muitos dos assen -
Panelas. Desses, o projeto Juína, implantado em 1978, foi 0
tados vendem as terras recebidas do Estado ou da União
e voltam a engrossar a fila dos "sem-terra ". Este ato é único que teve êxito. Localizado na região do Alto Aripuanã
praticado pelos chamados "grileiros profissionais", que e Juína-Mirim, na altura do paralelo 11º S, abrangeu quase
descaracterizam o sentido do movimento. Porém, muitas 400 mil hectares, antes ocupados pelos povos indígenas
famílias desiludidas frente às dificuldades encontradas, Cinta-Larga, Rikbaktsa e Salumã. Com a descoberta de jazi-
como a baixa fertilidade dos solos e a falta ou insuficiência das de diamante na região, em 1976, o município sofreu
de apoio técnico e financeiro, desistem de seus projetos de impactos socioambientais, como a retração na produção
vida e também vendem os lotes a outras famílias (Figura 4.8). agrícola. Juína foi elevada a municíp io em 1986 (Figura 4.9).
Na década de 1980, a Codemat divulgou a implantação
do projeto Filinto Müller no município de Aripuanã, divisa
A atuação do governo estadual com o Estado do Amazonas, em 307 mil hectares, visando
através da Codemat e lntermat assentar mais de cinco mil famílias de trabalhadores sem-
-terra, no prazo de 4 anos (1987/1990). Em 1986, o projeto
O Estado, através da Codemat, também desenvolveu foi incorporado ao Plano Regional de Reforma Agrária _
projetos de colonização e de assentamento, durante o PRRA/MT, passando sua administração e execução para
regime militar, em áreas de jurisdição estadual, situadas, o Incra e lntermat. Poucas famílias permaneceram nessa
em grande parte, no antigo município de Aripuanã. Como área, tendo a maioria abandonado seus lotes por fa lta de
as transações de terras estavam suspensas pelo fecha- infraestrutura e assistência social, técnica e financeira.
mento do DTC (em 1966), esse órgão recebeu a incumbên- O projeto Panela-Roosevelt, no município de Aripuanã,
cia de promover o programa de colonização/alienação de com mais de 550 mil hectares, não prosperou como pro-
terras públicas via projetos de colonização e agropecuá- jeto de colonização. Foi loteado com áreas de 1.000 a 3.000
rios. Quando o lntermat, criado em 1975 em substituição hectares, que foram vendidas pela Codemat a grup os que
ao DTC, começou a atuar (em 1978), a destinação das terras se formaram e se inscreveram como "colonos". Muitos
devolutas/públicas passou para a sua competência. compraram lotes contíguos, evidenciando procedimentos
especulativos.

Figura 4.8 - Os acampamentos representam uma forma de luta dos "sem -terra" , . .
Manifestação na BR-070, a 30 km de Cáceres, em pela reforma agrana, assim com o os bloqueios de rodovias.
2003

66

Scanned by CamScanner
Figura 4 .9 - Juína nasceu de um projeto de coloniza ção implantado pelo Est ado

Com a extinção da Codemat, o lntermat deu conti- res méd ios ou grandes, situados no entorno dos assenta-
nuidade aos projetos de assentamento e regularização mentos, para não perderem a terra conquistada. Outros
fundiária do Estado. Os 122 projetos admin istrados pelo vendem ou abandonam os lotes quando estão no limite
lntermat atende 11.423 fam ílias, seg undo a moda lidade das condições materiais de sobrevivência. Essas situações
dos projetos:
indica m que o modelo da reforma agrária sustentado basi-
camente na distri bu ição da terra não é eficiente para resol-
a. Projetos de Assentamento Convenciona;s - destinados a ver as graves questões econôm ico-sociais que afligem
trabalhadores rurais sem-terra; importante parcela da população brasileira .
b. Projetos de Assentamento de Comun;dades Tradiciona;s -
destinados à revitalização de comunidades originadas
de ocupações antigas, com tradição agrícola e ca rentes A colonização particular
de recursos. Atende principalmente as comunidades
rurais, identificadas pelo Projeto Varredura de regula- O período áureo da colon ização pa rti cu lar em Mato
rização fundiária; Grosso teve início em meados da década de 1970 e pros-
e. v;/as Rurais - projetos destinados à criação de vilas segu iu até o final da década de 1980, quando empre-
rurais localizadas nos entornos dos centros urbanos, sários das reg iões Su l e Sudeste, aproveitando-se das
para atender trabalhadores desempregados acima de vantagens finan ceiras e da s facili dades de acesso à terra
45 anos e com aptidão para o trabalho agrícola. ofe recidas pelos "prog ramas especia is de desenvolvi-
mento regiona l", e da infraestrutura física imp lantada
Todos os projetos são cadastrados e registrados no pelos governos fed e ral e estadual, adquiriram grandes
Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária extensões de terras públicas ou de terceiros - alguns,
(Sipra/lncra), tornando-se habilitados à concessão de cré- in cl usive, por meios ilícitos - , e investiram na implantação
ditos à agricultura familiar e a reforma agrária. de projetos de col o nização ou agropecuários. Durante
Contudo, a sobrevivência dos parceleiros nas áreas dos esse período, fo ram reg istradas no lncra-MT 33 empre-
proje tos d e assentamento depende muito da persistência sas privadas que imp lanta ram no Estado 88 projetos de
das fam ílias em superar as dificuldades econômico-sociais, colon ização particular. Estes abrangeram 3,25 milhões
ainda que receba m apoio técnico e financeiro do Estado, de hectares, cujas áreas fo ram ocupadas por cerca de
através d e programas como o Programa Nacional de Agri- 19.550 família s de colonos, a grande maioria procedente
cu ltura Fa mil iar - Pro naf, o Programa Especia l de Crédito da região Sul do pa ís.
para Reforma Agrária - Procera, e o Prog rama d e Geração O suce sso da colonização particular, quando compa-
de Emprego e Re nda - Proger. Grande parte dos assen- rad a à co lon ização oficial, é atribuído à condição econô-
tados descapita lizados depende totalmente de recursos mica da sua clientela, composta por camponeses mais
públicos para se ma nte rem na terra. Alg uns utilizam de capitalizados e com tradição agrícola, em grande parte
estratégias como o arrendamento da te rra pa ra produto- pequenos proprietários nas suas áreas de origem, que

67

Scanned by CamScanner
•su·, generis' de colonização empresarial
#processo .
venderam suas terras para comprar áreas maiores em Mat~ resariais - lndeco, Colmza, Juruena e
grupos emp
áreas de coloni-
Grosso. Porém, assim como ocorreu e m . d -, ad qu
iriram essas terras, na época ocupadas por
. d . 1
zação oficial muitos colonos, atraídos pelos proJetos • e indígenas, firmando compromisso e 1mp antar os proje-
colonização ~articular, tiveram dificuldades de adaptaçao tos em 5 anos.
às novas condições ambientais, além de sofrerem com ª A empresa Integração, Desenvolvimento e Colonização
falta de assistência técnica e financeira e outras promes~as (lndeco), adquiriu 400 mil hectares dessas terras e implan-
não cumpridas por algumas colonizadoras. Alguns, desilu- tou O projeto Alta Floresta, conc~bido para integrar colo-
didos, retornaram às suas áreas de origem. . ça·o , produção e transformaçao de
niza . produtos
, agricolas.
A colonização particular deu origem a muitas cidades, lm lantou também os projetos de Ap,acas e Paranaíta, que
cujos núcleos urbanos, implantados na floresta e no Cer- p . , . AI
deram origem aos mumop1os com o mesmo nome. ta
rado, possibilitaram a apropriação capitalista do campo e Floresta viveu momentos de apogeu, tornando-se um dos
a aceleração da reestruturação espacial do território mato- municípios mais prósperos do norte de Mato Grosso, na
-grossense. A maior parte dos projetos foi implantada na
década de 1980. Os colonos praticavam a agricultura fami-
região norte do Estado, drenada pelos rios da bacia Ama-
liar e também exploravam culturas perenes, como o cacau,
zõnica. Ma is conhecida como "Nortão", abrigava diversos
guaraná, castanha-do-pará e seringueira. Entretanto, a
povos indígenas e alguns poucos povoados, formados
descoberta de ouro na região descaracterizou o projeto
por posseiros que viviam principalmente da coleta da
inicial e mudou a fisionomia da cidade, que foi invadida
seringa e castanhas. A população da região, sem a popu-
por uma leva de mais de 10 mil garimpeiros provenientes,
lação indígena, que à época não era recenseada, somava,
até 1970, 62.139 habitantes, distribuída nos municípios de principalmente, do Norte e Nordeste do país. Muitos colo-
Nobres, Luciara, Barra do Garças, Chapada dos Guimarães, nos deixaram as atividades agrícolas e aderiram à minera-
Porto dos Gaúchos, Diamantino e Aripuanã. Alguns destes ção. Outros venderam ou abandonaram suas terras pelas
municípios possuíam territórios que se estendiam do sul dificuldades na produção agrícola, sobretudo de café, que
ao extremo norte de Mato Grosso. Nessa época, o Estado não apresentou os resu ltados esperados. Com a decadên-
cia da mineração, novas alternativas de produção foram ...
contava com 34 municípios e uma população rarefeita de "'
598.879 habitantes. desenvolvidas, principalmente as culturas perenes, como
Na região de Aripuanã, a colonização particular foi o dendê, seringueira, mam ona, acerola, algodão arbóreo,
estimulada pelo govern o do Estado, usando a terra/mer- amendoim e a pecuária de corte, que vem se destaçando
cadoria como atrativo. Em 1973, o governo do Estado, na economia do município. O turismo, atividade do setor
autorizado pelo Senado Federal, colocou à venda, através de serviços, desponta como uma alternativa importante
da Codemat, dois milhões de hectares de terras públicas, para o desenvolvimento do município, aproveitando o
com preços bem abaixo aos praticados pelo mercado, para potencial da região.
empresas privadas de colonização, prometendo ser um As outras empresas não cumpriram o contrato fir-
mado com o governo do Estado, a exemplo da Rendanyl,
- - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - a.
g
vi
que revendeu as terras adquiridas (1 milhão de hectares)
~

";;;a. à Cotriguaçu. Essa empresa, da Cooperativa Paranaense,


ü
·e obteve prorrogação dos prazos, vencidos em 1978, e, na
~
década de 1990, implantou o projeto que deu origem ao
município de Cotriguaçu. As empresas Juruena e Colniza
lotearam parte das terras adquiridas (200 e 400 mil hecta-
res) no mercado imobiliário, dando origem aos municípios
de Colniza e Juruena.
No município de Chapada dos Guimarães, a coloniza-
~ora Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná (Sinop),
1_m plantou, em 1972, o "Núcleo Colonial Celeste", em uma

area ~e aproximadamente 200 mil hectares adquirida de


terceiros. Através de sucessivas aquisições, essa área foi
aumen~ada para mais de 600 mil hectares, passando a ser
~enommada "Gleba Celeste", onde foram implantados na
area d · f1 • · ,
e m uenoa da BR-l 63, os projetos de Vera, Sinop
Santa Carmem e CI , d' 0 '
Figura 4.10 - Sinop
plano de" b ·
au 'ª·
traçado das cidades seguiu o
ur an1smo rural" projetado pelo Incra, tendo

68

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. Ccip,tulo 4

um centro maior, denominado ururópol"i • (S' )


s inop , congre-
gando à sua vol~a centros menores, as Hagrópolis" (Vera,
Carmem e Cláudia), seguidos dos centros rura · .
. ,s, as agrovI-
las. Houve rápida transformação dessas á .
reas em nuc1eos
urbanos, tendo Sinop alcançado a condição de município,
em 1979 (Figura 4.10); Vera, em 1986; Cláudia, em .e
Santa Carmem, em 1991. 1988'

N~ área do antigo município de Barra do Garças, atua-


ram ~,versas empresas privadas, como a Conagro se Ltda.,
que ,mplant~u, entre outros, os projetos de Água Boa Ili e
Nova Xavantina, que deram origem aos mun· , .
,cIpIos com o
m~smo nome, em 1979 e 1980, respectivamente. A Coope-
rativa 31 de Março (Coopercol), implantou nessa região os
projetos Canarana 1, li e Ili para assentar os colonos "sem-
-terra " de Tenente Portela (RS). Como ocorreu no projeto
Terra Nova da Coopercana, no projeto Canarana também
houv_e inter_venção do Incra no processo de implantação,
para 1mped1r o seu fracasso. Além de estar situado em uma
Figura 4.11 - Sorriso
área de conflitos entre posseiros e grandes proprietários,
0
proj eto passou por várias crises, sobret udo pela baixa pro-
dutividade da cultura do arroz, introduzida na região pelos
índios Paresi, formando a Gleba Tangará, visando implan-
colonos. Com isso, muitos colonos venderam suas terras e
tar um "polo agrícola", aproveitando as boas condições
se retiraram, possibilitando a vinda de colonos mais abasta-
e naturais dessa região para o desenvolvimento da agricul-
"C dos, que compraram as terras dos que se evadiram e/ou da
tura. O adensamento populacional se deu a partir do lotea-
Conagro, que também atuava nessa região. A partir desse
mento dessa área. Em 1976, do núcleo urbano aí formado
momento, o projeto prosperou, com mudança no uso da
nasceu a cidade de Tangará da Serra, considerada, hoje,
terra e uma diferenciação social dos novos proprietários,
ª
e
a. que adqu iriram terras acima de mil hectares. A consolida-
importante polo regional do Sudoeste Mato-grossense.
Sua economia se baseia na produção de soja, cana-de-
ção do projeto deu origem ao município de Canarana, des- -açúcar e na agroindústria (Figura 4.12).
membrado de Barra do Garças em 1981, tendo a pecuária Outras empresas particulares de colonização atuaram
como principal atividade econômica, seguida da produção no norte do Estado, como a Colonizadora Agropecuá-
tecniticada de soja, milho e arroz. ria Cachimbo, cujo projeto deu origem ao município de
No médio-norte, no eixo da Cuiabá-Santarém, BR-163, Matupá, desmembrado de Guarantã do Norte, em 1988.
em área que antes pertencia a Diamantino, a empresa
Eldorado implantou vários projetos, destacando-se Tapu-
rah, que deu origem ao município com o mesmo nome,
emancipado em 1988. Sua economia baseia-se numa agri-
cu ltura tecniticada, tendo como principais culturas a soja,
o milho e o arroz. Nessa mesma região, a empresa Mutum
Agropecuária S.A. fundou Nova Mutum, que se tornou
município em 1988. Com economia baseada na mono-
cultura da soja, chegou a ser chamada "capital da soja" de
Mato Grosso, pela alta produtividade alcançada na década
de 1980. Hoje, busca diversificar a produção. Destaca -se
ainda, às margens da BR-163, o projeto Sorriso, implan-
tado em 1977 pela Colonizadora Sorriso/ Feliz Ltda., dando
origem à cidade de Sorriso, elevada à categoria de municí-
pio em 1986. Sorriso se tornou g rande produtora de grãos
do Estado, ocupando, desde 2002/2003, o primeiro lugar
na produção de soja, no Estado e no país (Figura 4.11).
Na década de 1960, a Sociedade Imobiliária Tupã para
a Agricultura (Sita), adquiriu várias áreas no território dos Figura 4.12- Tangará da Serra

69

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estruturais no campo e manter a ordem econõmico-so
A Colonizadora Maiká fundou Marcelândia, elevada à cate-
dominante, os governos criam condições de acesso à terra
goria de município, em 1986. A Colonizadora Líder S.A.
aos trabalhadores expropriados, através da colonização ou
promoveu a colonização de Colíder em terras griladas, pos-
dos projetos de assentamento, sejam oficiais ou particula-
teriormente regularizadas pelo Incra. Colíder foi elevada
res, mediando a relação entre o capital - financeiro, indus-
à categoria de município, em 1979. Nesse município, em
trial, comercial - e o trabalho.
terras que antes pertenciam ao município de Chapada dos
A especificidade da ação das empresas particulares de
Guimarães, foi implantado, em 1978, o projeto particular
colonização em Mato Grosso, assim como das empresas
Terra Nova I e li pela Cooperativa Agropecuária Mista Cana-
agropecuárias (colonização empresarial), residiu na espe-
rana Ltda. (Coopercana), para resolver o confli to criado pela
culação fundiária possibilitada pela facilidade na aquisição
expulsão dos colonos das reserva s in dígenas de Nonoai e
de gra nd es extensões de terra, oferecidas a baixos preços
Guarita, no Rio Grande do Sul, e atender outros migrantes
do Paraná e do próprio Estado. O Incra acabou assumindo a pelos govern os estad ual e federal.
co m a valorizaçã o da s terras pela infraestrutura
adm inistração e a execução desse projeto em decorrência
implantada pelo Estado e pe lo tra balho dos colonos, os
do seu esvaziamento, pelas dificuldades enfrentadas pelos
colonos, sobretudo financeiras. Na época, foram assenta- grupos econômicos fize ram da colonização um negócio
das cerca de 3.200 famílias, grande parte const ituíd a por alta mente rentável. Mu itas terras fo ram adquiridas de "ter-
posseiros que ocuparam a área destinada à reserva fl o- ceiros", com vícios na titulação de d omínio, caracterizando
restal. Esses proj etos deram origem ao município de Terra atos de grilagem legalizada.
Nova do Norte, emancipado em 1986. Grande pa rte dos projetos foi implantada em territórios
de diversos povos indígenas, quase sem pre com o conheci-
mento dos governos estadual e federal, qu e não só aprova-
Cerrado e Floresta dão lugar aos ram os projetos particulares de colonização como também
implanta ram projetos oficiais nessas áreas. Populações indí-
campos de grãos e às cidades genas foram extintas no contato com as frentes de expan-
são e frentes pioneiras, por confrontos e doenças cont raídas
A presença desses proj etos no Estado pode ser expli- dos co lon izad ores. Os que sobreviveram foram t ransferidos
cada, em parte, pela sua tra nsformação em área de fron- para os "parques" ou "reservas" ind ígenas, m igraram ou
teira agrícola, dentro do processo de desenvolvi mento do permaneceram em frações do seu antigo território, reco-
capitalismo no país. No cam po, esse processo provoca a nhecidas como áreas indígenas pelo governo federal.
concentração da terra, q ue se ca racteriza pela implantação Deve-se considerar, entretanto, que dentro da lógica
de monoculturas e pela expulsão de pequenos prod utores do processo de construção capitali sta do territóri o, a colo-
e trabalhadores rurais que vão migrar para a periferia das nização - agrícola e empresaria l - foi o gra nd e agente da
cidades ou para as áreas de fro nteira. Para evitar reformas t ransformação do território mato-grossense.

Abertura de clareira na Amazônia mato-grossense para implantação do então Projeto Ju ína, que deu origem ao município.
Acervo do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso, em Cuiabá

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Frentes de e pansào e frentes p 1one1ras
· .

Diferentemente
.• do que ocorre u na ocupação de
,. Entre no site do Incra (www.incra.gov.br) e faça uma
outras reg1oes brasileiras em épocas passad
· to·
posseiro I reconhecido como um amansad or da terra
as, onde o pesquisa sobre o programa de reforma agrária do
governo federal. Após a obtenç:io dos dados, faça
ou desbravador
. do território• na ocupaçao . recente da
um texto sobre o assunto, levando em conta o atual
Amazónia, este . agente social foi mu·i to u 11zad o, também
t·i·
contexto de Mato Grosso.
para desaloi ar os grupos indígenas e a551. •
• . • • m, avançar sobre
os. terntónos
. .Já ocupados por so . d d . .
cie a es tribais. Este 2. Identifique, no texto, os principais agentes sociais
primeiro• movimento de ocupação co nst·tI u1. a f rente de
envolvidos no processo de colonização no Estado.
e~n~o, ~nde o posseiro, pressionado pelos grupos Faça um apontamento sobre suas ações e objetivos
capitalistas interessados em avançar, .md'1st1ntamente
.
e dê a sua opinião sobre o papel desempenhado por
sobre terras de posseiros e indígen as, ab re o caminho
. •
esses personagens.
para o segun_do movimento de ocupação, constituído
pela frente pioneira.
.
A frente p'ione·ira, portanto, é a 3. Sob a orientação do professor, organize uma entre-
forma empresarial e capitalista de ocupaça· o d o terntono.
... vista com representantes do Incra e do lntermat em
As duas forma s de ocupação são distintas• porem,. con t1·1- seu município sobre a situação dos assentamentos
tuosas entre si quando superpostas. no Estado e, se possível, faça uma visita a um acam-
pamento dos "sem-terra" situado na sua cidade ou
nas proximidades, para conhecer a realidade em
Fonte: Martins, 1982, p. 74-75.
que vivem. De posse das informações colhidas e do
que foi observado, faça um painel sobre o assunto,
expondo em sala de aula. Esta atividade também
O Estado, que no início da década de 1970 contava com pode ser feita em grupo.
34 municípios - antes da sua divisão territorial, em 1977 _ e
uma população próxima de 600 mil habitantes, compor- 4. Alguns autores entendem que o programa de colo-
nização dos governos militares foi um "p rograma
tava, em 2005, 141 unidades territoriais e 2.803.274 habi-
contra a reforma agrária". Dê a sua opinião e justi-
tantes, segundo o IBGE.
fique a sua posição, concordando ou discordando
Vasta área do território mato-grossense foi anexada desses estudiosos.
ao processo produtivo, onde pequenas, médias e grandes
propriedades engendraram diferentes relações de pro- s. O agronegócio abriu uma nova fronteira econômica
dução e de trabalho, bem como a estruturação de novos no Brasil' Central. Contudo, o predomínio dessa ati-
espaços, antes ocupados pela Floresta e pelo Cerrado, vidade potencializa a concentração da terra e pode
que foram cedendo lugar a campos de grãos e às cidades. inviabilizar a pequena produção. Como você analisa a
Impactos ambientais, a fragmentação étnica e cultural e a posição de Mato Grosso nesse contexto? Que impac-
tos o agronegócio gera com o predomínio de mono-
construção de uma nova identidade regional revelam con-
culturas no território mato-grossense?
tradições na dinâmica do processo de construção capita-
lista do território mato-grossense. Após uma década, Mato
Grosso mostra uma nova dinâmica territorial, capitaneada Para saber mais ...
pelo desenvolvimento capitalista no campo, onde os espa-
ços se organizam em função da racionalidade econômica Filme
do mercado agrícola mundial, comandado pelo agrone- Sob a coordenação do professor, organize um debate

gócio. Campo e cidade se fundem num mesmo espaço, em sala de aula sobre o filme Terra para Rose, um
documentário sobre a Reforma Agrária, realizado em
configurando uma nova feição geográfica, marcada pelas
1987 sob a direção de Tetê Morais. O filme se passa no
alterações físicas na paisagem com o predomínio de
período de transição política, pós ditadura militar e
monocultu ras nos lugares antes dominados pelo cerrado início da democracia no país. Mostra a lut a dos sem-
e floresta e pela diversidade sociocultural, resu lta nte dos · t erra dura nte a Nova República, na conquista de uma
processos de ocupação no século XX. A população recen- nova terra, a partir da ocupação, em 1985, da Fazenda
seada em 2010 somou 3.035.122 habitantes, distribu ída Anon i, no Rio Grande do Sul, por mais de mil famílias
em 141 municípios, com uma densidade demográfica de de camponeses.
2
3,36 hab./km 2, numa área territorial de 903.378.292 km
{IBGE, 2010).

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Dinâmica populacional de Mato Grosso

o
"
~e
.
"tl
a:

\
Detalhe do primeiro censo populacional do Período Republicano em Mato Grosso, em 1890. Acervo do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso

Crescimento populacional

O ritmo de crescimento da população de uma determ i- da terra, foi adotada, como estratégia governamental, a
nada área, bem como sua distribuição espacial, vincula-se inte nsa colon ização na área designada de Amazôni a Legal,
mais à dinâmica do sistema econômico e produtivo reg io- da qual fa z parte, em sua íntegra, o t erritório de Mato
nal do que às causas de ordem biológica, como epidemi as, Grosso.
ou natural, como terremotos, ou ainda por guerras, por Diversos projetos de colonização foram implantados
exemplo. Desse modo, as razões das alterações no cresci- em toda a Amazônia Legal na década de 1970, tendo ocor-
mento da população mato-grossense ao longo da sua his- rido a maior concentração em Mato Grosso, onde, já nos
tória~ assim como sua distribuição desigual pelo território, primeiros anos do processo, foram implementados mais
devem ser buscadas nas relações sociais que a produziram, de 80 projetos de iniciativa part icular, além de 14 projetos
as quais superam os fatores vegetativos. oficiais para resolver situações emergenciais de conflito.
Nos séculos XVIII e XIX, o crescimento da população O Estado de Mato Grosso t orn ou-se área de atração para
teve um ritmo lento, va riável conforme o apogeu e declí- milhares de pessoas que migrara m de diferentes regiões
nio da mineração, que fo i a prin cipal atividade econômica do país em busca de tra balho, oportunidades de adquirir
do período. Soment e a partir do sécu lo XX, mais precisa- terras e de realiza r seus projetos de vida. A migração cons-
mente a partir de 1950, o crescimento se deu de fo rma titui u, portanto, o principal componente do crescimento
mais acelerada, sob o estímulo da política de expan são da populacional do Estado de 1970 até 1990, perdendo
fronteira agropecuária fomentada pelo governo federal. volume a partir de 1991, à medida que a expansão da fron -
Visando ao atendimento dessa política e à elimina- teira agrícola se tornou mais lenta .
ção de focos de tensão social criados no país pela posse

72
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Car~cterísticas gerais do
Tabt!la S.1
cresomento populacional MATO GROSSO - POPULAÇÃO TOTAL E TAXAS GIOMITRICAS
ANUAIS M i DIAS DE CRESCIMENTO 1940-3010

A Tabela 5.1, referente à popul _ --..,, ,- .


e seu trescimento no período e taçao total de Mato Grosso .,( Õfal-z-.J '
. n re 1940 e 2010 .d Anos , -.~tfí,C'1.9t"'•
o incremento ocorrido na segu d , ev1 encia Total
~· • 1

.'.~r,.i '
especialmente após 1960, estim~l:d:etade do século XX, !..!"l"'!(___-~-~- -

1940 193.625
incentivos governamentais que f pelos programas de
1950 212.649 0,94
do Norte e Centro-Oeste do país. omentaram a ocupação
1960 330.610 4,SI
O número de habitantes registrad
1970 598.879 6,12
1960 foi rapidamente superado a ~s em l940, 1950 e
. . . partir de 1970 d 1980 1.138.691 6,64
Já se fazia sentir, no total da popul _ d • quan o
. . açao e Mato Gr 1991 2.027.231 S,38
força da partIcIpação das corrente . , . osso, a
. s mIgratonas o grand 2000 2.504.353 2,35
crescimento demográfico nas últi mas d ecadas , · pode sere
2010 3.035.122 1,94
constata d o na Tabela
. 5,1 e Figura 51 _ 1 b
· em rando que em Fonte: IBGE. 19Sl, 19S6, 1967, 1971, 1981, lOOOI, 1010.
1-977, o, Esta d
.. o- foi dividido. Ressalta-se que os dados ante-
' Otn.: Os dados anttriorrs à dl\ll~ do Estado, refe,em-ie somtntr ~ 11 ....11~16'lo de Mito Grouo..
riores a d1v1sao do Estado referem-
Estado de Mato Grosso. se somente ao atual
Figura 5.1
, ~o período_ de 1940 a 1950, a taxa geométrica anual MATO GROSSO - CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL - 1940-2010
media de cremmento da população total do Estado foi de {,mmllhõts)
0,94%. A construção de Brasília, no final da década de 1950 3,5
a~iada ª?s primeir~s ~~ogramas de interiorização e integra~ 3,0
çao nacional, deu 1nIO0 a mudanças econômicas e sociais
2,5
nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Os primeiros
resultados puderam ser constatados no recenseamento de 2,0
1960, quando foram registrados, em Mato Grosso, 330.610 1,5
habitantes, significando uma taxa geométrica anual média
1,0
de crescimento de 4,51% em relação a 1950.
O censo de 1970 apontou grande crescimento popula-
cional, com taxa geométrica anual média de crescimento
de 6,1 2% em relação a 1960, Dentre os fatores que con-
0,5

o ...
1940
..1.
1950
&
1960
t
1970 1980 1991 2000 20 10
Fonte IBGE. 1952, 1956. 1967, 1971 , 1982, 2000., 2010
tribuíram para esse significativo aumento da população
e estimulara m um grande fluxo migratório de todas as
regiões do Brasil para Mato Grosso, destacam-se: mento regional vinculados ao I e li Planos de Desenvolvi-
a construção das rodovias federais: BR-163 (Cuiabá- mento Nacional, como Proterra, Poloamazônia, Polocentro
-Santarém), BR-070 (Cuiabá-Brasília) e BR-364 (Cuiabá- e outros, bem como os projetos de colonização e o preço
relativamente baixo da terra foram os fatores responsáveis
-Porto Velho);
pelo incremento populacional nas décadas de 1970 e 1980.
os projetos de colonização, de iniciativa privada e pública;
Em 1991, o IBGE apontou que a população total chegou
o baixo preço da terra agricultável;
a 2.027.231, o que representou um crescimento geomé-
os programas federais, de incentivos fiscais e de desen-
trico anual médio de 5,38% em relação a 1980. Apesar
volvimento regional,
desta taxa ser considerada elevada, quando comparada
Em 1980, o censo registrou mais um recorde de cresci-
às duas décadas anteriores, já denota a desaceleração
mento da população, com a taxa geométrica anual média
do processo, que se repetiu de forma mais acent uada no
d e 6,64% em relação a 1970, totalizando 1.138.691 habitan-
período de 1991 a 2000 e de 2000 a 2010. Assim, em 2000 a
tes. Est es resultados refletiram as políticas governamentais
população total de Mato Grosso, segundo o IBGE, chegou
às quais Mato Grosso foi submetido na década de 1970.
a 2.504.353, o que significou uma taxa geométrica de cres-
Os incentivos fiscais e financiamentos concedidos pela
cimento anual médio de 2,35% ao ano. Ent re 2000 e 2010, a
Sudam, o apoio d a Sudeco e os programas de desenvolvi-

73

Scanned by CamScanner
população cresceu em um ritmo mais lento do que o regis- para a população migrante. Em muitos municípios, tem
trado nas décadas anteriores, com ta xas médias anuais de sido constatada a diminuição efetiva de sua população.
1,94%, o que levou o Estado a totalizar, em 2010, 3.035.122 o crescimento populacional não se dá uniformemente
habitantes. em toda a extensão do território, mas sim de forma descon-
O decréscimo observado nas taxas geométrica s anuais tínua e muitas vezes polarizada. Esta forma de distribuição
médias de crescimento da população nas últimas duas é resultado do crescimento diferenciado da população e
décadas pode ser explicado pela diminuição dos incenti- proporcional aos atrativos produtivos oferecidos por cada
vos governamentais, valorização das terras ag ricultáveis, reg ião. Logo, aquelas áreas dotadas de maior infraestru-
mudanças na estrutura produtiva do Est ado - na forma de tura e, conseq uentemente, onde há maiores investimen-
produzir e na articulação com o mercado -, o que provo- tos, são também aquelas que conseguem atrair maiores
cou mudanças nas relações de trabalho no campo e, por contingentes populacionais.
consequência, o desemprego, o êxodo rural e a diminui- Desta forma, o cresciment o populacional verificado
ção do fluxo migratório. em Mato Grosso nos últimos anos não foi um processo
Assim, as alterações no sistema produtivo decorren- espacial homogêneo, mas concentrado em algumas áreas
t~~ das inovações tecnológicas têm aumentado a produ- e menos intenso em outras. Na Figura 5.2 e Tabela 5.2 veri-
tividade, de um lado e, do outro, diminuído a oferta de fica -se, por exemplo, que a microrregião de Primavera do
empregos, o que, por consequência, diminuiu os atrativos Leste apresentou a maior taxa anual méd ia de crescimento
a;
i<c
o
Figura 5.2 ;;;
Tabela 5.2
MATO GROSSO - TAXA ANUAL MÉDIA DE CRESCIMENTO DA "'
MATO GROSSO - POP ULAÇÃO TOTA L E TAXA ANUAL ~
POPULAÇÃO POR MICRORREGIÃO - 201 O "'
MÉDIA D E CRE SCIMENTO PO R M ICRORREGIÕES, ,;;
NO PERÍODO D E 2 0 0 0 A 20 1 O
.,e:
Q.
,,. .,. o
"'

. Microrregiões
População total Taxas geométricas
anuais médias de
·O
u
o
2000 2010
"...!!:'
crescimento(%)
518 - Aripuanã 97.016 137.668 6,83 <
'O "'
519 - Alta Floresta 77.544 99.141 li
1,38 'õ
520 - Colíder à.
129.327 143.650 0.33 o
~
::,
521 - Pareeis 65.829 -o
89.344 10.74 e
Q.
522 - Arinos 67.447 75.635 4,46 a:•·

@
]
523 - Alto Teles Pires 95,979 191.228 14,17
,..
524 - Sinop 137.076 173.189 8,84
525 - Paranatinga 28.591 32,896 1,63
/ ,. 526 - Nova Araguaia 94.545 112.238 6,91
527 - Canarana 71812
GOIÁS 99.416 4,19
528 - Méd io Araguaia
,. 61.073 65.247 1,82

Footo: IBGl. 2010. - 529 - Alto Guaporé

530 - Tangará da Serra


531 - Jauru
54.251

112.086
67.774

144.911
3.45

6,96
106.458 107.434 ·0.43
MICRORREGIÕES 532 - Alto Paraguai
Habitantes/ km' 32.866 32.760 -2,80
l -Aripuanã 12 · Alto Guapon!
2 - Alta Floresta
3 -Colíder
13 · Tangará da Serra D -0,28 a 0,43 533 - Rosário Oeste 31.347 30.891 0,10
4 -Parf'CIS
14 · Jauru
15 · Alto Paraguai
D 0,10 a 0,33 534- Cuiabá 740.648 851.587 3,50
5 -Arinos
6 - Alto Teles Pires
16 · Rosário Oeste D 1,21 a 1,82 535 - Alto Pantanal 123.141 132.178 1,21
17 -Culabá
3,45 a 4,46

•••
7 -Sinop 18 · Alto Pantanal 536 - Primavera do Leste 56.959 83.655 16,29
8 - Paranatlnga 19 · Primavera do Leste 6,83 a 8,84
9 · Norte Araguaia
537 - Tesouro
20 -Tesouro 54.142 54.507
l O· Canarana 10,74 a 14,17 -1,12
21 · Rondonópolls 538 - Rondonópolis
11 · Médio Araguaia 223.741 275.707
22 · Alto Araguaia 16,29 3,92
539 -A lto Araguaia
Fonte: --
IBGE, 2oooa. 2010 _
24.117
-
34.066 4,43

74

Scanned by CamScanner
f ,, ' "' '
Alt,, I' r ,,u 1( J,150)
A ,,,,,11,"
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r lticJ 'i.

consid , dln
p los lr llVOS du D1stribuicão PaPscirrento da
ç o agr(col , grolndú ria din mlsm
população urbana P rural
vtços. D st e s a mlcrorr gl, o d ui
taxa anual m d, d e nto. [m s<'gu ,x
g om trlca s anuais m d cr • clm nLo n r 1,87 1mbor conomi d Mo o Gror'o '.;"'J;,, ru• ·da
0,10%, est ão s mícrorr glõ s do M dlo Ar ar na- p la lvld d rop cu' ri , qu v m cre cendo co tin a-
tinga, Alta Flor sta, Alto Pantandl e Ros rio s t xas m nt n s últlm s d •e das, a par ícípação da população
mais discr l as d cr sclm nto populaclondl apr rur I no tot I d populaç o do Estado ,em, parado1.al-
por estas m,crorr gio s r su ltam, ntre outros, d m nt , diminuindo, dando lugar ao crescímen o da popu-
políticas públicas d stímu lo ocupdcional , por cons laç o urb na.
qu ncia, da falta de int r ss do capita l mpr saria l inv s A Tab la 5.3 mostra os dados relativos á população
total urbana rural de Mato Grosso, entre 1940 e 2010.
tir mais em seus l rritórios.

ídbf•ld 5.3

MATO GROSSO - PARTICIPAÇÃO E CRESCIMENTO RELATIVO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL, NO PERIODO DE 1940 A 2010

Taxas g tCaS anuaes ~


l'opul,1ç o de crescimento ~
Ano~ Urbana Rural
% Rur,11 %
Tot 1 Url1an
74,9~ 145 315 75,05
1940 193.675 48 310
69,77 2,90 0.21
64 785 30,23 148.364
19S0 717.C,49 3,47
708.694 63,12 6,61
1/1.916 36,87
1960 3..l0.610 5,99
60,91 6,99
739 574 39,08 373.363
1970 612.887 2,62
483./39 42,49 10,58
6~4.9~7 51,5 1
1980 1.138.691 1,04
54212 1 26,75 7.73
1.485.110 73,75
1991 2.027.231 -O,S3
516.627 20,65 3.29
1.987.166 79,JS
2000 2.504.353 2,25 0,67
81,8 552.321 18,20
3.035.122 2.482.801
2010
'º'º
íonte; IBG(, ll)jJ, 19$6, 196)', 1~11, tQfU, JQOO,t, l d
0
,,ld• _,m t'Jn, r ·trlnçJMn o1oo1ui1I lf'ffl ô,k, ,n.,to qtoU.tnY.
Ob•,.: Ot d/Jdo, rt•(Cr<'nl \ 110~ nnM unlttdot1•j Adlvh, O do \l.t O0C

75
Scanned by CamScanner
RguraS.3
1
MATO GROSSO - CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL - 1940-l0 0
2,5 <• m111es1

2.0
it
Rural UrbaN
1,S

1,0

o,s

o .- .- 1 • l .a. ti t t 2000
t 2010
1940 1950 1980 1991
1960 1970
Fonte: IBGE. 1952.1956, 1967, 1971, 1982.2000.,2010. oó
g:
Obs.: Os dados referentes aos anos anteriores à dlvl.sAo do Estado, ocorrida em 1977, se restringem ao a1ual território mato-grossense. o

.,;
·.;
_,
.,
Fig ura 5.4 oi
Pode-se observar que, ao longo desse período, houve BANA E RURAL
.,e:
e,.
uma inversão na participação da população rural e MATO GROSSO - POPULAÇÃO TOTAL: UR o
POR MICRORREGIÃO - 1970 "'

urbana no total da população, fenôme no que se veri- ·O
u
fica também nos outros Estados do país. Assim, pode-se ,,. SO' o
-o
.,.
56'
,,. 60' ~
constatar que, em 1940, a população urbana correspon- .;

dia a 24,95% do total da população, e a rural 75,05%. Em AMAZONAS PARÁ .a:


«i
-o
2000, a população urbana chegou a 79,37% da popula - 1i

ção tota l, enquanto a rural restringiu-se a 20,62%. Essa ã.
10' o
tendência co ntinuou em 2010, registrando -se 81 ,8% da '"'..,.:,
-o
o
popu lação urba na e 18,2% da população rural, no total .,ã.
a:
estadua l (Figura 5.3). 12•

Outro aspecto importante observado é a dinâm ica de


crescimento da populaçã o rural. Até 1970, ela apresentou
taxas crescentes e, a partir de então, diminuiu o seu per- 1••
centual de participação. Entre 1970 e 1980, embora o ritmo
de crescimento tenha diminuído, a popu lação rural cres-
ceu em números absolutos. Esta situação mudou entre as
16'
décadas de 1990 e 2000, quando a população rural abso-
luta diminuiu, apresentando taxa geométrica anual média · BOLÍVIA
GOIÁS

de crescimento negativa (-0,53%). Em 2010 a população


rural voltou a crescer, tendo sido registrada a taxa geomé- 225km

trica anual média de crescimento em 0,67%.


MATO GROSSO DO SUL ·e_,
A distribuição e o crescimento da população urbana e Fonte: IBGE, J 971. Representação reslrita à área atual do território de Mato Grosso.

ru ral podem ser analisados nos cartogramas das Figuras


5.4, 5.5, 5.6, 5.7 e 5.8, respectivamente, sobre a população
População urbana
total, urba na e rural, por microrregião, nos anos de 1970,
População rural
1980, 1991, 2000 e 2010. MICRORREGIÕES
1 - Norte Mato-grossense
A Figura 5.4 mostra que, em 1970, a população con- 2 • Alto Guaporé
centrava-se na região centro-sul do Estado, em aproxima- 3 -Alto Paraguai N<' dt habli-antes

4 · Baixada Cuia bana - - - - - - - - 201.063


damente 30% da sua área total, onde a maior incidência - - - - - - - - 114964
5 - Rondonópolis
ocorria na microrregião Baixada Cuiabana. Apenas nesta 6 -Garça5
-------- 50299

riicrorregião a população urbana se sobrepunha, ligeira-


nente, à rural, pela presença de Cuiabá, capital do Estado,

Scanned by CamScanner
melhor -infraestrutura e mais condições de atrair e
:fi,car popu1açao.
1:0fl'
Na Figura s.s verifica-se, além do crescimento
Embora abrangesse quase 70% do território estadual, a
lação total do Estado em 1980, o crescimento da popul
icf()rregião Norte Mato-grossense era a menos populosa
,n Estado, onde a população ção urbana e a menor participação da populaç o rural no
do d . rural
d era bem maior que a total da população de cada microrregião.
urbana, representan o aprox,~a am~nte 75% do total _ a
mplo de quase todas as m1crorreg1ões de Mato Grosso, A partir da década de 1970, Mato Grosso tomou-se
e~ exceção da Baixada Cuiabana. receptor de fluxos migratórios. Os projetos de colonização
co O predomínio da população rural sobre a urbana, que propiciaram a formação de muitos núcleos urbanos que,
impulsionados pela crescente demanda de bens e servi-
nesse período caracterizava a distrib_uição da população
0 ços, foram se tornando pequenos centros polarizadores,
na• só em Mato· ·Grosso,
L t· mas na maior1 parte do Brasil e com capacidade de reter população e se transformar em
esmo da Amenca a ma, era o resu tado do pequeno
cidades. Esta é uma caracterlstica Importante do processo
m
poder de atraçãobque os pequenos
1 -
e médios núcleos urba-
de ocupação em áreas de fronteira agrlcola, onde a forma-
nos exerciam so re a ~opu açao, quase sempre em função
ção de cidades se dá concomitantemente, ou antecede,
dos insuficientes serviços urbanos de que dispunham e
à ocupação do campo. As dificuldades de acesso à terra
d s escassas oportunidades de emprego. Por outro lado,
0 e de permanência da população migrante no meio rural
:eio rural representava a possibilidade de acesso à terra,
ao trabalho e sustento familiar. e o início do processo de liberação de mão de obra com
a mecanização da agricultura contribuíram para o incre-
mento da população urbana.
Figura 5.5
MATO GROSSO - POPULAÇÃO T~TAL: URBANA E RURAL Figura 5.6
POR MICRORREGIAO - 1980
MATO GROSSO - POPULAÇÃO TOTAL: URBANA E RURAL
.,. ,,,.
.,.
POR MICRORREGIÃO - 1991
SI'
,.,.
AMAZONAS ... ... ,.. ...
~ PARA .. AMAZONAS
...
"'
"O
li
õ
ã.
%:,
"O
o
a.
"
o:
,,.

,..

11,

GOIÁS

,..
Fonte: IBGE. 1982.
Fonte: IBGE, 1996a.

População urbana MICRORREGIÔES - População urbana


MICRORREGIÕES População rural 1 - Aripuanã 12 . Alto Guaporé População rural
2 • Alta Floresta 13 . Tanga@ da Serra
1 • Norte Mato-grossense
3 • Collder 14 - Jauni
N"dthtbllant •
2. Alto Guaporé 4 - Parecls 15 . Alto Paraguai
3 • Alto Paraguai 5 · Artnos 16 . Ros~rlo Oeste
4 . Baixada Cuiabana
s . Rondonópolis
6 . Alto Teles Pires
7 - Slnop
8 . Paranatlnga
17 -Cul•b.l
l 8 • Alto Pantanal
19 • Primavera do Leste
- ·--_-._---~~ ~:.::
6 ·Garças 9 • Norte Araguaia 20 • Tesouro
• - 141~
1 o-Canarana 21 • Rondonópollsla
11 - Médio Araguaia 22 • Alto Aragua
"""

77

Scanned by CamScanner
FlgulaS.S
ftplS..
POPULAÇÃO 101'AL: URBANA E IIUIIAL
IUIO G110UO - POPULAÇÃO 10TAL: E MA10 GROSSO~ Ml(IIOIUIE@ÃO - 2010
POII MICROIIMGilAO - 2000

Foru,c l8Gl 2000,_ Fonte: ISGE. 2010.

- População urbana
- População urbana
MICRORREGIÕES - População rural
MICRORREGIÕES - População rural
1 -Anpuanl 12 -Alto Gu.lpM
1 •Anpu,nâ 12 • AltoGwporê 13 • Tangara da S<m
2 · AlUAo<,m
2 • Alta f1omG
13 - Tangar.idaSem 14 •JIUN
3 -Colód«
l -Colider
4 · P>l<ds
14- ~uru
1s - Atto Piraguai - -- ______ , ..... 4 . p,r,cis
S· AnnoS
1S • Afro P,ragwi
16 -Ras.lrio Oesn!
S - Ar,nos 16 • Rosário Oeste
6 - AltoT~Plres 17 - Cuiabi
6 -AltoToles Pfr., 17 -Cuiabâ 7 . Sioop 16 • Afro P>ntanal
7 • Sinop 18 • Alto Pantana!
a . Paranatinga 19 -PritMVeri do~
8 - Parana~ 19 · PrirN\lefil do Lestt - - - - - 223.141
9 - None Araguaia 20 · Tesouro
9 - NooeAragua.ia 20 •Tesouro
----- 95.JJ'I 10 • ÚNllN 21 • Rondonópol•
10 - Canar.1n.a 21 • Rondonópolo
11 • M!dlo Araguaia 22 • Afro Araguaia
11 - Médio AragiR~ 22 - AltoAraguaia ----- N.111

A expansão ocupacional e o aumento da população A intensa urbanização em Mato Grosso é consequência


criaram uma nova realidade socioeconômica-espacial em das políticas e estratégias governamentais, nas década de
Mato Grosso, e levaram o IBGE, em 1990, a dividir o terri- 1970 e 1980, para a expansão da fronteira agropecuária nas
tório estadual em 22 microrregiões (Figura 5.6). Estas uni- regiões Centro-Oeste e Amazônica. Os projetos de coloni-
dades permitem avaliar a distribuição e o crescimento da zação, que representaram o mais forte componente desse
população registrados em 1991, com expressivo aumento processo, motivaram a vinda de milhares de migrantes
da população total, bem como o avanço da urbanização para o Estado e a formação de numerosos núcleos urba-
no Estado, excetuando-se a microrregião Norte Araguaia, nos que, em pouco tempo, se tran formaram em cidades.
onde o efetivo rural predominava. Com a criação de novos municípios, foram criadas novas
No decênio seguinte, o processo de urbanização se áreas urbanas. Contribuiu, também, para o crescimento
consolidou, como mostra a Figura 5.7, referente ao ano de vegetativo nas áreas urbanas e, principalmente, o e odo
2000. Pode-se observar o predomínio absoluto da popu- rural dentro do Estado, com destino urbano.
lação urbana sobre a rural, destacando-se a microrregião Ocontingente populacional que não tem acesso à terra,
de Cuiabá, com a maior taxa de urbanização do Estado. Em de trabalhadores rurais e desempregados que migram
2010, conforme consta na Figura 5.8, o comportamento de para as cidades comumente instala-se em suas periferias,
predomínio da população urbana é mantido em todas as criando ou expandindo áreas de favela. O crescente surgi-
microrregiões. mento e expansão de bairros carentes em cidad como

78

Scanned by CamScanner
Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis com fo
' rmas Ilegais Barão de Melgaço, ao sul do Estado, apresentava
e desordenad as d e ocupação espacial e a e •
. d • ' pro11 1eraçao de dade abaixo de 0,85 hab./km2•
atiVldades no merca o mformal de trab Ih
· d . a o retratam as ~m 1980, significativas mudanças Já se config
consequências esse tipo de crescimentO d
a população Assim, constata-se que a mais baixa densidade d e ~
urbana. Esse f en Ômeno, que tem como . .
• . . prmctpal causa a fica municipal em 1970, de 0,02 hab./km2, alcançou 0,14 em
rnigraçao internae no sentido
_
rural-urban0;, decorre, sobre-
tudo, das trans,ormaçoes na estrutura pro dutIva . e na 1980, o que reflete um grande crescimento populacional.
relações de trabalho no campo. s Houve, também, incremento nas regiões de classes Inter-
mediárias e expansão espacial da população tanto em
direção ao oeste como para leste. Houve, também, cresci-
Densidade demográfica mento da densidade na última classe mapeada, que saltou
de 26,69, em 1970, para 112,97 hab./km2 em 1980.
Até o início da década de 1970 a dens·d O censo de 1991 indica o crescimento da densidade em
' 1 ade demogra- ,
todas as classes e a interiorização da população (Figura 5.11).
fica de Mato Grosso era pequena e aprese nt ava menos de
2
A menor densidade na região centro-norte foi de 0,21 hab./
1 hab,/km (Tabela 5.4). A partir dessa décad f . . .
. , . a, 01 intensifi- 2
km • Destaca-se a densidade no município de Cuiabá, que
cada a• marc h a m1gratona para as regiões e
. entro-Oeste e foi de 101 ,08 hab,/km 2, e a de Várzea Grande, que chegou
Amazonta.
a 179,01 hab./km 2• O centro-norte do Estado, que até 1980
apresentava densidade menor que l hab./km2, passou
Tabela 5.4
a ter, em alguns municípios, densidade de 1,04 até 8,12
MATO GROSSO - POPULAÇÃO TOTAL E DENSIDADE
hab./km 2• No centro-sul, alguns municípios apresentavam
DEMOGRAFICA - 1940-2010
densidades significativas para a média estadual, variando
Anos População total entre 4,04 e 35,32 hab./km2•
Densidade
A tendência de crescimento e interiorização da popu-
1940 193.625 0,21
lação em direção ao norte de Mato Grosso manteve-se
1950 212.649 0,23 durante a década de 1990, ampliando o número de muni-
1960 330.610 0,36 cípios com densidade superior a 1 hab./km2• As Figuras
1970 598.879 0,66 5.12 e 5.13, relativas à densidade demográfica de Mato
1980 1.138.691 1,25 Grosso em 2000 e 2010, evidenciam este processo, princi-
1991 2.027.231 2,23 palmente no que se refere ao aumento populacional no
2000 2.504.353 2,76 centro-norte, com destaque para o município de Sinop
2010 3.035.122 3,36 que, em 2010, alcançou a densidade de 28,69 hab,/km2•
Fonte: IBGE. 1952.1956, 1967, 1971, 1982. 2000a; 2010. Nos municípios do centro-sul do Estado a densidade
demográfica também aumentou, com destaque para
Várzea Grande, Cuiabá e Rondonópolis, cujas densida-
As vanaçoes na dinâmica demográfica, particular- des passaram, respectivamente, para 240,98, 157,66 e
mente no crescimento, distribuição e densidade, ace- 47,00 hab./km2• (IBGE, 2010)
leraram a partir da segunda metade da década de 1960, Nesse processo de interiorização e crescimento popu-
culminando, em 1970, com a elevada taxa de crescimento lacional, as rodovias foram importantes não só por per-
2
de 85,38%. A superação da densidade de 1 hab./km só foi mitirem o movimento da população, mas também por
registrada no censo de 1980, quando atingiu 1,25 hab./ viabilizarem o escoamento da produção, vital para o
2
km • Os levantamentos subsequentes do IBGE indicam sucesso dos empreendimentos de colonização e para a
crescimento contínuo da densidade demográfica esta- fixação das comunidades.
2 A Figura 5.14, referente aos principais eixos rodoviários
dual, com 2,23 hab./km 2 em 1991; 2,75 hab./km , em 2000;
2 de Mato Grosso, permite verificar, quando comparada às
e 3,36 hab./km , em 2010.
A densidade demográfica por município tem sido irre- Figuras 5.9 a 5.13, que há uma relação entre as maiores
gular, com áreas de baixa densidade ao lado de outras com densidades populacionais com os principais eixos rodo-
viários do Estado. Ao longo das rodovias federais BR-070,
densidade mediana e elevada (Figuras 5.9 a5.13).
BR-364 e BR-163, bem como das estradas secundárias que
Observando-se as Figuras 5.9 e 5.10, constata-se que
se articulam com estas rodovias, se concentram os municí-
as áreas de maior densidade demográfica se encontra-
pios de mais alta densidade e os principais núcleos urba-
vam localizadas no centro-sul do Estado, incluindo Cuiabá,
nos de Mato Grosso, a exemplo de Cuiabá, Rondonópolis,
Várzea Grande, Rondonópolis e municípios adjacentes. A
Barra do Garças e Sinop.
extensa área do centro-norte e os municípios de ltiquira e

79

Scanned by CamScanner
. . .'5.t Figura 5.10
--IDlm'DIMoGRAFlcA POII MUNICIPIO - 1970 MATO GROSSO - DEN5IOADI

,.
SOLIVIA BOLIVIA
GOIÃS

225 km ,. 225km

Fonte: IBGE. 1982.


Fonte: IBGE. 1971. Rtpresent.ç.ão restrita~ área atual do território de Mato Grosso.

Figura 5.14 A migração na composição e estrutura


MATO GROSSO - PRINCIPAIS EIXOS RODOVIARIOS da população (1970/2000)
.,. ... ... ... ,,. .,.
AMAZONAS
PARA
.. No Estado de Mato Grosso tem-se caracterizado a pre-
dominância do processo imigratório sobre o emigratório,
ou seja, o fluxo de entrada de pessoas tem sido muito
maior do que o de saída.
O fluxo imigratório para Mato Grosso teve início com
o povoamento colonial português, no final do sécu lo XVII
e início do século XVIII, estimulado pela descoberta das
minas de ouro que fomentaram a instalação dos primeiros

Tabela S.S
MATO GROSSO - TOTAL DE POPULAÇÃO IMIGRANTE, SUA PARTI-
CIPAÇÃO NO TOTAL DA POPULAÇÃO DO ESTADO E CRESCIMENTO
RELATIVO NOS ANOS DE 1970, 1980, 1991, 2000 E 201 0

Anos 1970 1980 1991 2000 2010


População total 598.879 1.138.691 2.027.231 2.504.353 3.035.122

Pop. imigrante 188.660 473.400 926.772 1.067.650 1.150.859

Fonte: Mato Grosso, Sinfra, Mapa Rodovl~rio, 2012. Pop. imigrante(%) 31,50 41 ,57 45,71 42,63 37,91
Taxas geométricas
de crescimento 9,64 6,30 1,58 0,75
- Eixos rodoviários 0 Capital • Cidades anuais médias(%)
Fonte: IBGE, 1971, 1982. 2000a, 2oooc, 2010.

80
Scanned by CamScanner
Font~ IBGE. 2000a

Figura 5.13
MATO GROSSO - DENSIDADE DEMOGRAFICA POR MUNldPIO - 2010
núcleos P?pulacionais. Nos dois séculos e meio seguin-
tes, aproximadamente até o início da segunda metade
do século XX, os fluxos migratórios tiveram alterações de
intensidade, com períodos em que predominou a emigra-
ção, como ocorreu com Cuiabá, Vila Bela, Alto Paraguai e
outras localidades que sofreram redução temporária de
sua população absoluta, pela decadência da mineração,
no final do século XVIII.
A partir da década de 1960, a política nacional de incen-
tivo à ocupação das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil
para a formação de uma extensa fronteira agropecuária
estimulou grandes fluxos migratórios para Mato Grosso,
que apresentou um dos maiores índices de crescimento
demográfico do país e provocou im portantes alterações
em sua composição populacional.
A Tabela 5.5 - relativa ao total de população imigrante,
sua participação no total da população do Estado e seu
crescimento no período entre 1970 e 2000 - , permite veri-
ficar a importâ ncias destes fluxos para a estrutura e com-
Fonte: IBGE, 2010 Base da d1v1sio territorial: Seplan-MT, ln: Mato Grouo. 2011.
posição da população mato-grossense.
Na Tabela 5.5, percebe-se que, entre 1970 e 2000, o
co ntingente imigrante apresentou significativo incre-
mento, registrando, em 1970, 188.660 pessoas nesta con-
dição, passando para 473.400, em 1980. Em 1991, eram
926.772 e, em 2000, 2.504.353 habitantes. A importância
o
O Menos de 1
6 1 a menos de 2
t) 2 a menos de 5
0 5amenosde10
-----
Habitantes/ km'

0 10 a menos de 30
0 30 a menos de 100
f) 100 a menos de 200
0 Mais de 200

s,
Scanned by CamScanner
destes fluxos vldenclad na partlclpaç o da populaç o A populaç o do nordeste de Mato Grosro
mlgrani no rotai d populaç o. m 1970, a populaç o Imi- clsamente do Norte Araguaia, apresenta f~
grante representava 31,50% da populaç o total do Estado. cultura nordestina - a exemplo do seu voca
Em 1980, passou a compor 41,57% e, em 1991, chegou a núncla, gastronomia - , fruto da Imigração 0Contda
45.71%, totalizando, em 2000, 43,37% (Figurd 5.15). primeiras décadas do século XX, provenientes das
Entre 1970 e 1980 ocorreu a maior taxa geométrica de exploração de borracha nativa da AmaZ6nla ,.. •
anual média de crescimento da população Imigrante, . da.
dade foi desat1va ,cu,.. atlv(..
calculada em 9,64%, coincidindo com os maiores Investi- Nos últimos anos, em razão do Interesse eco õrn
mentos públicos e privados em infraestrutura física para de setores ~elacionados à agropecuária e à agroin~ústr1:
a colonização. Entre 1980 e 1999, mesmo a população os municfpios do nordeste de Mato Grosso, no vale d '
migrante tendo crescido, constata-se uma queda em seu 'tó nos
Arag ua_la, tiveram seus tem_ ' 1ncor~orados
. o rio
à dinam1ca
ritmo, passando para 6,30%. Em 2000 e 201 0 as taxas produtiva_ ~o Estado. Assim, n~vos ~nvestimentos Vêm
geométricas anuais médias de crescimento da popula- sendo dirigidos para as áreas, dinamizando a economia
ção imigrante ficaram, respectivamente, em 1,58 e 0,75%. local e atraindo pessoas.
(Tabela 5.5).
A distribuição da população mig rante no Estado não
é uniforme, chegando a ser maioria em alguns mun icípios A migração no contexto atual da fronteira
e quase inexistir em outros. Em gera l, essa população é
menos expressiva em áreas de ocupação antiga e não inse- agrícola mato-grossense (2005/2070)
ridas na dinâmica produtiva de larga esca la. Desta forma,
municípios como Poconé, Barão de Melgaço, Alto Paraguai
Após 1990, a migração perdeu volume no Estado, com
e Diamantino não apresentam a presença marcante de
o esgotamento das terras devolutas ou "terras livres" e
migrantes em sua estrutura populacional.
a estabilização da ocupação da fronteira agrícola, ocor-
O contrário ocorre nas áreas de expansão agropecuária,
rida com gra nde intensidade nas décadas anteriores,
particularmente no norte do Estado, onde a população é,
1970/1980, conforme mostram os dados do Censo Demo-
em grande parte, migrante, apresentando cultura e costu -
gráfico de 2010 e a análise dos resultados da amostra para
mes relacionados com suas áreas de origem, a exemplo de imigração, do IBGE.
Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Colíder, e
A fronteira agrícola mato-grossense, nos tempos atuais,
muitos outros. Nestes municípios, os imigrantes são pro-
se apresenta de acordo com as mudanças ocorridas com a
venientes, em sua maioria, do Sul do país, principalmente
do Paraná e Rio Grande do Sul, além de expressivo número expansão do agronegócio e sua estrut ura sustentada por
ser oriundo do Estado de São Paulo. Alguns municípios de aportes tecnológicos e suporte essencialmente urbano. As
ocupação antiga, mas que tiveram suas economias expan- mudanças ocorridas na relação urbano-rural no território
didas nas últimas décadas, apresentam expressiva partici- resultaram desse movimento, cara cterizando uma fron-
pação de migrantes, como Rondonópolis, no sul do Estado. teira onde não há separação entre os espaços ocupados
pelo campo e pela cidade. Assim, a atração de migrantes

Figura 5.15

MATO GROSSO - PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO IMIGRANTE NO TOTAL DA POPULAÇÃO DO ESTADO - 1970-201 0


(populaÇiO em mílhõe!)

::: t-
2,5

2,0

1,5

1,0 i i
População População

i
total imigrante

1980
Fome: IBGE. 1971, 1982.2000a,2000c, , 1991
2010 2000
2010

82

Scanned by CamScanner
para O EStado decorre em funçao da necessidade de uma
mão de ob_ra ~ais qualificada nas regiões onde prospe-
ram ª agroinduStria e ª agropecuária mecanizada, com 0 Migra olnte
emprego de avançadas tecnologias. Haitianos em Cu1abá
. .Nos momentos de picos das safras nas lavouras comer-
c1a1s, de grande escala, ocorre uma migração temporária Após o terremoto que acometeu a Repúbllca dói
c~m a chegada de pessoas com menos qualificação. Á em 2010, destruindo parte daquele pars e
cidade/campo, tida como . ururbana", é o cen tro receptor milhares de pessoas, centenas de haitianos mltfataM
atu~~· que ac~lhe o migrante vindo de outros estados e para outros palses em busca de sobrevivência. A (he.
reg1oes do pais ou mesmo de um pais estrangeiro. Por sua gada desse povo no Brasil iniciou em 2010 e, desde então,
vez,_ª c~n~en~ração da terra, potencializada pelo agrone- vem ocorrendo de forma permanente, porém em menor
número. Uma das formas de entrada desses imigrantes,
gócio, d_1m1~u1 as possibilidades de expansão da pequena
quando feita de forma irregular, sem o visto de entrada
produçao, dificultando a permanência do pequeno produ-
no pais, tem sido por via aérea. Saindo do pais de origem,
tor na te~ra, motivando sua saída do campo para a cidade eles chegam ao Equador e daí seguem em direção ao
ou para areas rurais de outras regiões do país, onde ainda Peru. Deste país, entram no Brasil por Tabatinga (AM) e
oferecem condições à sua reprodução ou, ainda, o retorno Brasiléia (AC). Em 2015, entraram no Brasil 7.000 pessoas,
para o seu lugar de origem, caracterizando uma rotativi- através do Acre. Daí seguiram em direção a outras cida-
dade migratória de natureza inter-regional. des, principalmente São Paulo. Em Cuiabá, a grande maio-
Nos dois últimos quinquênios, de 1995/2000 e de ria chegou por essa via e, embora alguns tenham seguido
2005/201 O, verifica-se que houve uma redução do volume para outras capitais do país, um grande número perma-
e do ritmo de entrada de migrantes em Mato Grosso neceu na cidade, principalmente após conseguir traba-
lho. O maior contingente chegou à capital por ocasião da
porém manteve-se um saldo positivo no número d~
Copa do Mundo, em 2014, motivado pelas perspectivas de
migrantes, com 42.575 pessoas e 22.365 pessoas, nos dois emprego, demandado, sobretudo, pelas obras de constru-
períodos respectivamente. Observa-se também que, no ção civil. Naquele ano, somaram 2,3 mil pessoas vivendo
período 2005/2010, o fluxo de saída do Estado foi maior, na cidade. Com o término ou a paralisação de algumas
alcançando 84,46% contra 74,39 em 1995/2000 (Tabela 5.6). obras, a oferta de emprego diminuiu nessa área, e a capa-
cidade de absorção dessa mão de obra em outros setores
Tabela 5.6 também ficou reduzida, pelas dificuldades de comunica-
MATO GROSSO - MIGRAÇÃO: 199S/2000 E 2005/2010 ção, qualificação e burocracia na obtenção da carteira de
trabalho. O governo brasileiro, para agilizar a regulariza-
1995/ 2000 2005/2010 ção da situação ilegal desses migrantes, tem concedido
Saldo Saldo
o Visto Humanitário (Resolução Normativa 97/2012), com
Imigrantes Emigrantes Imigrantes Emigrantes validade de 04 a os anos, o que lhes permite, com esse
migratório migratório

166.299 123.724 42.575 143.954 121.589 22.365 documento, a obtenção da carteira de trabalho e do CPF.
1
Contudo, a empregabilidade depende também da oferta
Fonte: IBGE. Censo Demogdiflco 2010. Mtgraçâo.
disponível e da capacidade de absorção pelo mercado
de trabalho local. A maioria desses migrantes, cerca de
Outra característica observada no Censo de 201 O 90%, são homens, com idade entre 20 e 40 anos. Alguns
(IBGE) foi a mudança ocorrida na mobilidade espacial do deles _têm curso superior, mas devem cumprir as exigên-
cias legais para trabalhar no Brasil. Desse modo, algumas
Estado, que saiu do movimento de baixa absorção para
medidas foram tomadas, por órgãos oficiais de assistência
um movimento de rotatividade migratória, de natureza
social, com programas estaduais e municipais, para pos-
inter-regional (IBGE, Migração, 2010). Do total da popula- sibilitar a absorção daqueles que optaram em permane-
ção recenseada (3.035.122), o maior percentual, de 69,16%, cer na capital, como a capacitação dessa mão de obra em
corresponde a pessoas domiciliadas no Estado, com nas- cursos de língua portuguesa e o treinamento profissional.
cimento na Região Centro-Oeste, sendo a maioria deste A Casa do Migrante, em Cuiabá, sob a Coordenação da
percentual (38,32%) do próprio estado de Mato Grosso, Pastoral do Migrante, instituição da Igreja Católica, atua
enquanto 31 ,74% corresponde ao percentual de pessoas no sentido de acolher o migrante, oferecendo-lhe mora-
dia e alimento, até que arrume emprego e possa se sus-
nascidas nas demais regiões e em outros estados bra-
tentar. De 2013 até meados de 2014, esta casa recebeu da
sileiros, e 0,01% nascidas em outros países (IBGE, 2010) República do Haiti cerca de 2.300 imigrantes haitianos.
(Tabela 5.7). Com relação ao domicílio, 57,25% corresponde
a pessoas não nascidas no município de domicílio, contra
Fonte: Alves, 2013; Araújo, 2014; Centro de Pastoral para Migrantes, 201s;
42,75% de pessoas naturais do próprio município. (IBGE,
Fernandes, 2014.
2010; IBGE in: Mato Grosso em Números, 2013)

83

Scanned by CamScanner
Tabela 5.8
Tabeta.S.7 MATO GROSSO - IMIGRANTE
MATO GROSSO - POPULAÇÃO RESIDENR 1995/2000: 2005
POR UGAR DE ASOMENTO - 2010

Fonte IBGE. Censo o.n,ogr ficO ,o10. M,qraç.k>.


6,09
~~ 20H22
Ragllo 255025 8,40

376.162 14.14
~Sul No cômputo geral da população residente em Mato
(@nfrO-Oeste 2 099103 69,16
Grosso, em 2010 foram recenseados 3.035.122 de habitan-
0,56
Bras f sem e~uç~ 17052 tes, sendo a grande maioria ~e ?rasileiros natos (99,S%) e
5.935 O.OI uma pequena parcela de brasileiros naturalizados (0,09%).
S.OSS.122 100 Já os estrangeiros representaram O,10% do total (Tabela s.9).
o maior contingente dessas pessoas vive em áreas urba-
nas (81,8%), enquanto nas áreas rurais encontram-se
18,2%. Embora em 2010 tenha havido perda na participa-
O Censo também levantou dados sobre a migração ção relativa da população rural em relação ao ano de 2000,
de retorno, tomando por base a informação daqueles que em termos absolutos houve ganhos, passando de 516.62?
moravam na unidade da federação em 2010, mas que em habitantes, para 552.321 habitantes (IBGE, 2010).
2005 residiam em outra. Para Mato Grosso, os dados indi- .,
-;;;
e
cam aumento dos retornados de 8,5%em 2010, em relação e,
Q.
o
a 2005, quando foi de 6,5%. O movimento de retorno de Tabela 5.9 "'
'5
-o
pessoas para o Estado pode ser motivada pela oportuni- u
MATO GROSSO - POPULAÇÃO RESIDENTE POR NACIONALIDADE o
't)

d~~e de melhores ganhos salariais nas regiões agroindus- 2010 V


a,

tnaIs, que apresentam novas oportunidades ocupacionais,


Brasileiros Brasileiros <
com capacidade de maior geração de emprego, bem População Estrangeiros ,i
'tl

total natos naturalizados :õ


como a demanda por mão de obra qualificada no campo õ
3.035.122 3.029.187 2.852 3.083 e.o
em função da mecanização agrícola, com o emprego de '=,5-
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010.
modernas máquinas e avançados equipamentos tecnoló- 't)
o
gicos. (Tabela 5.8)
e.
"
a:

MATO GROSSO - PIRÃMIDE ETARIA, POR SEXO - 1970, 1980, 1991, 2000 E 2010

Figura 5.17
Figura 5.16
POPULAÇÃO - 1980
POPULAÇÃO - 1970
IDADE
~ao
75 · 79
i"O· 74
70• 74
65 ·69
65-69
Mulheres Homens 60 64
Homens 60 6"
55-59
.,. 55 59
50-54
50-54
45 .49
-45 --49
40 44 40-44

35 39 35-39
30-34
.. 30 3'
25 29
t 25 · 29
20-24 .. 20- 24
15 · 19 IS· 19
10 14 10· 14
5 9 5•9
r
o ~ o
o•
6 4 2 o
0-4

% o 2 4 6 8
ron,~, ~BGE. 1971 Fonte; IBGE. 1982.

84

Scanned by CamScanner
Estrutura populacional: distribuição por Essas informações permitem, também, a dedução sobre
faixa etária, sexo e força de trabalho uma série de características relacionadas às condições de
vida da população, como, por exemplo, longevidade, taxa
de natalidade e mortalidade, que são indicadores sociais
Distribuição por faixa etária e sexo importantes e mostram o nível de assistência médica e
social dispensada pelo Estado à população.
As características da popu lação relativas à distribuição No caso de Mato Grosso, que recebeu um grande con-
por faixa etária e sexo têm importância relevante no pla- tingente de força de trabalho nas décadas de 1970, 1980
nejamento econômico das sociedades contemporâneas, e início de 1990, e que ainda apresenta um crescimento
principalmente por definirem a composição da força de populacional positivo, o conhecimento da estrutura etária
trabalho. Expressam, também, as condições econômico- e sexual oferece as informações necessárias à análise de
-sociais em que elas vivem e a sua função nos diversos sua dinâmica, fundamentais ao planejamento socioeconó-
ramos de atividades dos setores produtivos. mico e à implantação de políticas públicas para o desen-
Os dados da estrutura etária e por sexo permitem o volvimento regional.
conhecimento da situação momentânea da população e
também a elaboração de projeções de situações futuras
pertinentes às condições socioeconômicas da sociedade,
tais como: Figura 5.20
estimativa da força de trabalho masculina e feminina; POPULAÇÃO - 2010
dimensão da população inativa; IOADE
+80
planejamento da estrutura necessária para atendi- 75-79
70 - 74
mento das necessidades da população infantil e jovem; 65 - 69
mecanismos de atendimento previdenciário; Homens 60-64 Mulheres

geração de empregos; e muitos outros. S5 - 59 - - - - -


50 - 54 ~!::!!!!;I=:..
45.49
40 . 44
Informações sobre a estrutura etária e por sexo_p~ssi-
<,o
35 - 39
30 - 34
"O bilitam o planej1mento e a alocação ~e rec~r~os publicas
li
ºõ de forma a ate der às diferentes faixas etanas_ em ~uas
õ.
o necessidades e aspirações com relação à educaçao, saude,
e
.,,
:,

ee. previdência, e outras .


.
"' 2 O % O 4 6
8 6 4
Fonte: IBGE, 2010.

Figura 5.19
Figura 5.18
POPULAÇÃO - 2000
POPULAÇÃO - 1991 IDADE

IDADE +80
, 80 75 · 79
70- 74
75 · 79
65 - 69
70· 74 Mulheres
60 - 64
65-69 Homens
Mulheres 55 - 59
60-64
Homens 50 - 54
55 59
45-49
50- 54
40-44
45-49 -i=ó==,..., 35-39
40-44 ~:=-~ 30-34
35 - 39 -1===-=-i 25 - 29

m-34
25- 29 t::::~~~~~
-l'
20-24
15 - 19

W-N
15 19 -1:+::::::::::Jj 10 - 14
5 -9

10-
S-914 1i
0-4
1:::::::~~· 8 6 4
o
0-4

'llt o 2 4

8 Fonie: IBGE. 1999a.


.---...-----r---r2---:º % o 2 4 6

8 6 4 Fon1e: iBGE, 1996a.

Scanned by CamScanner
papel da mulher com a sua cre cente partlcl 0
mercado de trabalho. A pirâmide et ria de 2010, Flgu
análise da estrutura da popula ã por idade e e ,
_ o, mostra, de forma mais nltida, o decréscimo das
é muito utilizada a pirâmide etária. ela. o ei o horizontal
ta2a de fecundidade, o que observado pelo estreita•
5
represen a o tamanho da população ou a sua proporção, e
mento da ba e da pirâmide, abrangendo as faixas etária
o ei o vertical os dados relati os às fai a etárias conside-
de oa 9 anos de idade. A pirâmide evidencia, também, ~
radas. O lado direito do gráfico indica o número de mulhe-
crescimento da populaçao com mais de 70 anos, 0 que é
res e o lado esquerdo o dos homens.
As Figuras 5.16 a 5.20 referem-se às pirâmides etárias
um indicativo de melhores condições de vida da socie-
de a o Grosso, nos anos de 1970, 19 O, 1991, 2000 e 201 O, dade.
Na distribuição por se o, verifica-se uma singularidade
elaboradas com base no percentual de cada fai a etária
em Mato Grosso, com a predominância masculina em
no total da população. As pirâmides de 1970 e 1980 são
semelhantes, com a base larga e um estreitamento contí- todas as fa i as etárias, com exceção da superior a 80 anos
nuo em direção ao topo, significando uma população pre- relativas a 1970, 1980 e 1991, o que pode ser explicad~
dominantemente jovem, com reduzido número de idosos, pela maior participação de homens nos fluxos migratórios
dirigidos às áreas de fronteira agrícola ou de mineração.
0 que é uma característica de países pobres ou onde o
processo de desenvolvimento econômico não se encon- Em 2010, o Censo Demográfico registrou uma melhor dis-
tra estabilizado. A predom inância de jovens pode mostrar tribuição da população masculina e femini na no conjunto

que a expectativa de vida é baixa, um indicativo de que as da população, embora a participação masculina conti- e,"'
nue a predominar com 51 ,1% do total, e a feminina com :;;
condições de vida da população não são boas e provocam
"'§
morte precoce. Mas pode indicar, quando essa população 49,0%, uma tendência verificada também na distribuição .
;;;
tem participação significativa de migrantes, que o fluxo foi da população urbana e rural, conforme é evidenciado na e
"'
o..
o
constituído por jovens. Tabela 5.10. CI
ii
. As pirâmides etárias de 1991 e 2000 mostram algumas Nos demais Estados brasileiros, em geral, a proporção ·O
u
o
diferenças em relação às pirâmides de 1970 e 1980, como de mulheres é ma ior que a dos homens, como reflexo do "~.,
~ queda da taxa de fecundidade, motivada pelo plane- comportamento feminino que, em geral, dispensa maiores ~

Jamento familiar, que tende a se adequar às mudanças <


.
cuidados com a própria saúde.
econôm icas e sociais contemporâneas, inclusive ao novo "
1i
ee.

Tabela 5.1 0
%:,

MATO GROSSO - POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL, DISTRIBU ÍDA POR SEXO - 2010 "õ.o
"'
o:
População rural por sexo
População urbana por sexo
População total e por sexo
Homens % Mulheres %
Homens % Mulheres %
% Mulheres %
Total Homens 44,7
1.239.024 49,9 305.759 55,3 246.562
49 1143.777 50,1
1549.536 51 1.485.586
3.035.122
Foote: f8Gf. ú,n,o Demogr.!fico 2010. Migração.

Figura 5.21
MATO GROSSO - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL POR FAIXAS ETA. RIAS - 1970-2010

i
[populaçio em milhões)
2,0 ,-

60+
1,5 '"

i20-59

- 1991
• • ~
i0 -19
Idades
1970 1980 2000 2010

fonte: IBGf, 1971, 1981, 1996a, 2000a, 2010.

86

Scanned by CamScanner
Tabela 5.11
MATO GROSSO - DISTRIBUIÇÃO E PA
RTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL POR FAIXAS ETÃRIAS EM 1970, 1980, 1991, 2000 E 2010

54,68 989.383
20-59 235.715 39,36 48,80 1.072.953 43,07 1.1)63.285 35,o.t
47 1.01 9 41,36
60emais 225 44 949.768 46,85 1.288.211 51 ,71 1.731.421 S7,()4
3,76 45.054 3,95
S9l.ffl 99,99 1.,,.,.,, 99,99
88.080 4,34 129.739 5,21 240.416 7/J2
Fonte: IBGE. 19n, 1982, 1996a. 2oooa: Censo Oemogrifico 20 ,
0
2.027.231 99,99 ~

Tabela 5.12
MATO GROSSO - POPULAÇÃO ECONOMICAMEN
TE ATIVA (PEA), DISTRIBUÍDA POR SETORES DE ATIVIDADE DE TRABALHO - 2009, 2012 E 2014

População economicamente ativa

PEA Setor Agrícola


PEA Setor não Agrícola
Totais
367.000
2009
%

23,87
Totais
324.000
2012

20,56
Totais
293.000
1 V

.:_,.
•1

17,72
_:

1.172.000 76,13
PEATotal 1.252.000 79,44 1.361.000 82.28
1.539.000 100,00
Fonte: IBGE. Tabelas Sidra, n° 1.913, referentes a 2009, 2012 e 2o, .
1.576.000 100,00 1.654.000
4

Força de trabalho
Distribuição por setores
A análise das pirâmides etárias perm ite verificar que da economia
a proporção da população adulta tem apresentado um
crescimento cont ínuo ao longo das décadas consideradas,
Até meados da década de 1980, parte expressiva da
o que pode ser constatado na Tabela 5.11 e Figura 5. 21 . A
força de tra balho mato-grossense estava ligada ao setor
popu laçã o adulta e, portanto, teori camente ativa, além de
primário, uma vez que, por imposição da divisão regional
ter apresentado crescimento absoluto contínuo, também
do trabalho, a economia estadual estava vinculada, princi-
apresentou aumento em sua taxa de participação no total
pa lmente, ao setor agropecuário e extrativista. Contudo,
da população, que em 1970 era de 39,36%, chegando no
conforme consta na Tabela 5.12, a importância do setor
ano 2000 a 51,71% e, em 2010, a 57,046%. Este resultado
pri mário na absorção da PEA tem diminuído gradativa-
pode representar um bom indicador para a produção de mente em termos relativos e absolutos. Assim, em 2009 o
riquezas no Estado. Entretanto, a população em idade percent ual da força de trabal ho nesse setor correspondia
ativa se torna efetivamente produtiva quando há um con- a 23,87% do total da população economicamente ativa
texto favorável, consol idado por equilíbrio social e dispo- (PEA), caindo para 20,56% em 2012 e 17,72% em 2014.
nibilidade de recursos financeiros para investimentos que A popu lação ocupada no setor primário vem também
gerem oportunidades de trabalho. apresentando significativos decréscimos em termos abso-
A classificação da população em ativa e inativa pode lutos. Em 2009 o total da população ativa no setor agrícola
levar a erros de interpretação da realidade, uma vez que era de 367.000 trabal hadores, passando para 324.000 em
boa parte da população considerada inativa ou im pro- 2012 e 293.000 trabalhadores em 201 4. Parte da força de
dutiva trabalha em atividades informais (a exempl o dos trabalho do setor pri mário é composta por colonos do
vendedores ambulantes), ou empregados sem re gistro centro-sul do país, pri ncipalmente do Paraná, que vieram
oficia l, recebendo baixos salários e, muitas vezes, sob para Mato Grosso na década de 1970. A agricultura, porém,
intensa exploração. Essa situação abrange um número não é a única responsável pela absorção de trabalhadores
significativo de crianças, jovens e idosos. O empreg o dos nesse setor. As atividades ligadas ao extrativismo vegetal
term os ativos/i nativos pod e, muitas vezes, encobrir as e mineral também ocupam parte dessa população, que
re lações antagônicas e conflituosas de traba lho existen- chegou às áreas de garimpo ou de extração de madeira
tes em sociedades organ izadas sobre uma base econô- atraída pelos projetos de colonização.
mica capitali sta.

87
Scanned by CamScanner
. ~ais recentemente, a for a de Diversidade cultural
at1v1dades não agrícola ç trabalho vinculada às
· s, envolvendo
no e terciário, têm assum,·d . os setores secundá- Os fluxos migratórios dirigidos para Mato Grosso pro-
na economia mato-gross
º1mportâ ·
. nc,a cada vez maior
n ense. A maior p rt· . venientes das mais diferentes áreas do país contribuíram
o setor terciário mas nas . lt·
' , u 1masd · d s
ª iopação está para a incorporação de novos valores e modalidades de
dário destacou-se em ai eca ª ' o setor secun- uso da terra, com formas diferenciadas de produção do
guns mu · , ·
Várzea Grande Rondono· 1· nic1p1os, como Cuiabá espaço. Assim, formas tradicionais de organização social e
' po 1s Cam v '
Leste e Sinop. ' po erde, Primavera do produtiva, oriundas das culturas indígenas e dos primei-
A redução da população ativa ros exploradores que aqui se fixaram, passam a conviver
agrícolas e o cresciment . . no setor de atividades com outras identidades culturais e formas de produção
• 0 nas at1v1dad - ,
seJa, nos setores secund , . es nao agncolas, ou que hoje caracterizam a diversidade sociocultural mato-
, ano e t · · · -
dos a mecanização a . erciano, estao relaciona -
gnco 1a que le -grossense.
menos pessoas e ao . 1' vou o setor a empregar As diferentes paisagens culturais produzidas ao longo
, 1mpu so do s t ., .
pela expansão comercial e : or terciano, motivado da formação do território contam a história do povoa-
dadas pelos setores ag , 1prestaçao de serviços, deman- mento mato-grossense e evidenciam as trad ições e os
nco a e secundário.
interesses de cada grupo colonizador. Assim, os estilos
arquitetônicos das moradias, igrejas, praças, prédios públi-
cos, o traçado das ruas, entre tantos outros, são aspectos
das diferentes práticas culturais dos grupos socia is.
As formas de trabalhar a terra e, muitas vezes, as espé-
cies cultivadas relacionam-se com a história cu ltural dos ]
~
o..
grupos colonizadores que, ao migrarem, levam consigo os oa,
~
costumes e as tradições, e procuram reproduzir a sua iden- -o
u
o
tidade na nova área ocupada. "'
Neste contexto, o território mato-grossense é um
mosaico cultural. Mun icípios ao norte do Aragua ia e alguns
do sudeste do Estado apresentam ca ract erísticas da cu l-
tu ra nordestina do pa ís. No leste e sudeste, são encon-
t radas cu lturas ca racterísticas de Goiás e Mi nas Gerais. Na
reg i_ão norte, nos municípios orig inários de colonização,
cu ltivam-se as manifestações cult urais do Sul e Sudeste
~ a~ça "Tatu de Castanhola " no Centro Mato-grossense de Tradições brasileiros.
auchas, CMTG Bento Gonçalves, em Cuiabá (1998)

Dança do Kuarup, no Xingu

88

Scanned by CamScanner
Nos municípios do centro-sul e sudoeste, abrangendo 1· Expllqu o proc no qu 1 ,ou, con d tN lmente,
egião pantaneira, ocorrem identidades culturais relaci _ a dlstrlbulç o d n ldad d população no terr1~
ar . . d. d o rio mato •gro~s nse, no p rlodo compr endldo entre
nadas com os primor ,os a ocupação do território mato-
-grossense, em que se sobressaem as culturas indlgenas 1970 e 2010. Utillz como r fPr nela d observação os

negras e dos colonizadores europeus. No vale do Guaporé' cartogramas constantes no texto, r latlvos à densí•
dad demogrMica por munídpio, nos anos de 1970,
em especial em Vila Bela da Santíssima Trindade, destaca~
1980, 1991, 1000 e 2010.
-se a cultura negra.
contudo, é importante considerar que, embora as 2. Pesquise sobre os fatores que têm contribuído para a
áreas referidas ostentem uma certa individualidade, elas diminuição da populaç o rural em Mato Grosso, nas
se vinculam em torno dos interesses produtivos e comer- últimas décadas.
ciais e das políticas públicas e privadas de apoio às diferen-
tes formas de produção do espaço. A diversidade cultural 3. Explique os fatores que contribuíram para a ocorrên·
mostra-se, portanto, como algo propício e desejável não eia do forte fluxo migratório para Mato Grosso, nas
só em razão da_ri~u~za de conhecimentos e costumes que décadas de 1970 e 1980.
formam o patnmon10 de cada comunidade, mas também
4. Os dados estatísticos apontam para uma queda do
porque a diversidade cultural gera demandas e produções fluxo migratório para Mato Grosso a partir da década
diferenciadas, oportunizando maior dinamismo para 0 de 1990. Explique as causas deste fenómeno.
mercado regional.
s. Pesquise sobre a importância das rodovias para o
processo de interiorização da população e da econo-
mia em Mato Grosso.
Veja no Atlas, os temas: Aspectos Sociais e
Demográficos, População (Densidade Demográfica),
Fluxos Migratórios Interestaduais e Economia. 6. Observe as pirâmides etárias de Mato Grosso, cons-
tantes no texto, entre 1970 e 2010, e faça um comen-
tário sobre as principais mudanças na estrutura da
população mato-grossense.

7. Pesquise e aponte os fatores que contribuíram para


as mudanças ocorridas na distribuição e participação
da população economicamente ativa (PEA) nos diver-
sos setores de atividade, nos últimos 30 anos.

8. Faça uma pesquisa no site da Secretaria de Planeja-


mento do Estado de Mato Grosso, Seplan-MT (www.
seplan.mt.gov.br) e do IBGE (www.ibge.gov.br) sobre
a dinâmica populacional de seu município, a partir
dos dados relativos à população total, urbana e rural,
por sexo.

Dança dos Mascarados de Poconé, em junho de 2004

Scanned by CamScanner
<,,;
'O

·e
a.
o
·~
:,
'O
e
.,a.
a:

Equipe de terraplanagem do 9° Batalhão de Engenharia e Construção do Exército (9° BEC), na abert ura da BR-163

A integração de Mato Grosso na economia nacional

Mato Grosso, um dos maiores Estados da federação As diversas fases econômicas vividas pelo Estado fo-
brasileira, localiza-se na região Centro-Oeste do país e no ram definidas e moldadas por agentes públicos e priva-
centro do continente Sul-americano (Figura 6.1). Com exten- dos em consonância com a política nacional, na qual Mato
sa área (903.378,29 km 2) o território mato-grossense envol- Grosso desempenhou, em cada momento de sua História,
ve uma grande variedade de ambientes físicos e biogeo- o papel definido pelos programas de desenvolvimento
gráficos e diferenciadas formas de ocupação. do país. Assim, mesmo no período em que não integrou
Contudo, embora as primeiras incursões oficiais por- o sistema produtivo do país, contri buiu para o acúmulo de
tuguesas datem do início do século XVIII, só na segunda capital em outras áreas, antecedendo a fase em que veio
metade do século XX, Mato Grosso despontou como uma a constituir uma expressiva frente pioneira extrativista e
das opções ma is promissoras do país para a expansão do agropecuária.
sistema produtivo vigente, o que resu ltou em novas mo- O desenvolvimento do setor econômico brasileiro, até
dalidades de produção do seu espaço, marcadas por fortes a metade do sécu lo XX, contribuiu para o prolongamen-
contradições socioeconômicas, as quais vieram a im primir- to da situação de quase isolamento do interior do país.
-lhe características próprias. A regiã o Centro-Oeste do Brasil não conheceu, portanto,

90

Scanned by CamScanner
ao fa o de. a e 930, er perdurado no Brasil a h,flO@lmo-
. oexportadora, cuja política econômica dlreci4:>na-
a. desde meados do século anterior, para a reproduç~
e ra ·ca e u · o se or: a produção de café. As·
s· . cl · corporação de novas áreas ao sistema produtivo
e e -se aos los produ ores de café, representados
os Esta os de São Paulo e Rio de Janeiro, permanecen-
pra ·ca e e estagnado o avanço sobre novas áreas no
resta e o país, sendo e ceçào os Estados da região Sul e
i as Gerais.
CE
o nal da década de 1950, o governo brasileiro ado-
ou estra égias que e pandiram a fronteira económica do
país. Com a udança da capital federal para o Planalto
Central, iniciou-se a construção de rodovias em direção ao
Centro-Oes e e orte do Brasil. Essas regiões começaram a
ser consideradas como alternativas para o avanço do capi-
tal e crescimento económico.
Em 1963, a economia brasileira enfrentou séria crise
nas exportações, insuficiente crescimento do setor agrí-
'.FOClll,I cola, deficiências estruturais no setor industrial e inflação
acelerada, o que exigiu medidas imediatas para reverter o
caos econômico. A partir desse marco, tiveram início a mo-
dernização da agricultura e o avanço contínuo da fronteira
agrícola em direção ao Centro-Oeste e à Amazônia.
A concessão de créditos rurais, incentivos fiscais, sub-

--- ,,,. .,.


sídios na compra de insumos e equipamentos e garantias
à propriedade fundiária foram os fundamentos da política
o:. w
r, Z1' governamental. Esses Planos de Desenvolvimento atraí-
ram os empresários e investidores do centro-sul do país e
multinacionais, que adquiriram terras nas regiões Centro-
-Oeste e Norte a preços irrisórios, vendidas pelo próprio
Região Centro-Oeste
governo, o que garantia a rentabilidade do investimento.
= Outros estados Nesse período, foram tomadas várias medidas para
~ Território in emacional acelerar a ocupação e valorização das regiões Centro-Oes-
'---'
te e Norte:

Em 1964 (ano da implantação da ditadura militar no


Brasil), foram criados o Ministério de Planejamento e
até por volta da década de 1950, quase nenhuma altera- Coordenação Geral, e o Ministério do Interior;
ção significativa nos diversos setores econômi~_os .. Mato
Grosso, em particular, apesar de algumas expenencias no Em 1966, foi criada a Superintendência de Desenvolvi-
setor agropastoril, não se destacou no cenário nacional. mento da Amazônia (Sudam) e, em 1967, a Superinten-
Faltava-lhe infraestrutura básica, meios de transporte efi- dência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco),
cazes que permitissem o escoamento da produção e rela- destinadas à gestão dessa política;
ções comercia is regulares com outros centros. Além dis_s~,
.- , .. d. ham de uma m1n1- Houve a abertura de estradas pioneiras, como as BRs
muitas outras reg1oes do pais Ja 1spun .
. d - 0 do que eram mais e , que ligam Cuiabá a Brasília e a Porto Velho,
ma infraestrutura organiza a, em raza 364 070
atrativas aos investidores. b 'd e a BR-l 63, que liga Cuiabá à cidade de Santarém, no
. ue foi su meti o
A situação de quase isolamento ª q . , Pará .
. , . b ·1 ·ro deveu-se tambem
grande parte do terntono ras, e,

Scanned by CamScanner
Além de contar com os · .
pação do seu t . . . mcent1vos federais para a ocu- Proterra, Prodoeste, Prodepan, Poloamazônia, Polocentro,
erntono O G
adotou med·,da ' . overno do Estado também Proalcool e Promat (veja mais detalhes sobre políticas eestratégias de
s que estimula ·
cesso de ocu - ram amda mais esse pro- ocupação no capítulo 3).
paçao, como a disp ·b·I· -
patrimônio fundiár" . on, 11zaçao do seu Com o último desmembramento territorial, em 1977 _
buscaram na ,o, atraindo muitos empresários que que deu origem à criação do Estado de Mato Grosso do
a longo p, compra das terras, um rentável investimento Sul-, todo o território de Mato Grosso passou a fazer parte
razo.
da Amazônia Legal e a receber estímulos dos programas
No início da décad d
P ela front e1ra
. a e 1970, acentuou-se o interesse criados para as regiões Amazônica e Centro-Oeste. Os
e novas pol't·
1 icas f oram .implantadas visando
• incentivos criados para a Amazônia Legal restringiam-se,
efetIvar o processo ,
_ e aumentar a produção agrícola para antes da divisão do Estado, às terras ao norte do paralelo
exportaçao, através d
. d
V 1ncu 1a os à Sud
e programas e planos de incentivo 16º s.
d
N . eco e 5u am, associados ao I e li Plano Durante o Governo Geisel (1974/1978), no âmbito das
acional de Desenvolvimento (1 e li PND), a exemplo do políticas de integração e desenvolvimento regional, foi
estudada, planejada e implantada a divisão do territó-
rio mato-grossense. O Governo de Mato Grosso do Sul
Figura 6.2 foi instalado em 1° de janeiro de 1979, no governo do
MATO GROSSO - DIVISÃO DO ESTADO - 1977 Gen. João Batista Figueiredo. Assim, o antigo território
2
mato-grossense, com área total de 1.264.965,6 km , deu 00

55•
origem a duas unidades federativas, mantendo o Estado ~
AMAZONAS "'a-
de Mato Grosso, com capital em Cuiabá, com área total de 3
PARA
903.378,29 km 2 e criando Mato Grosso do Sul, com capital ]"
2
em Campo Grande, com 358.158,7 km (Figura 6.2). ~
o
o,
'0
·O
u

Oprocesso de divisão municipal .


o
"tl
00

RONDóNIA :;
~
A divisão de Mato Grosso, em 1977, não representou "tl
ii
apenas uma cisão territorial e instalação de novas admi- eo.
MATO GROSSO nistrações. Muito mais que isso, significou um marco his- -~o
:,
"tl
o
tórico no processo de ocupação e crescimento dos novos a
0 CUIABÁ territórios, particularmente Mato Grosso, onde a expansão "
a:

da ocupação e da economia foram mais evidentes. Incen-


f' GOIAS tivos fiscais, programas de apoio, melhoria e expansão da
BOLÍVIA infraestrutura básica, principalmente estradas, foram estí-
mulos às frentes agropecuárias pioneiras, fortemente sub-
sidiadas pelo Governo Federal.
MATO GROSSO MG Os efeitos dessa política foram sentidos, sobretudo, no
DO SUL crescimento e interiorização da população e da economia,
0 CAMPO GRANDE
na intensa urbanização e na criação de novas unidades
SÃO municipais. A política pós-divisão de incentivo à ocupação
I PARAGUAI

22Sbn
PAULO
provocou o reordenamento do território mato-grossense,
o que oportunizou sua efetiva inserção na economia
nacional e mundial.
PARANÁ
Ao ser efetivada a divisão, em 1° de janeiro de 1979,
Mato Grosso contava com 38 municípios (Figura 6.3), a
Fonte: Adaptado sobfe base cartogr.16a atual (18GE, 1000).
maioria concentrados em um raio de 250 km em torno de

D Area de Mato Grosso

- Limite Mato Grosso/Mato Grosso do Sul Veja, no Atlas, os cartogramas e o gr6fico


do tema Evoluçao Polltlco•admlnlstrltlv1,
e Capital com destaque para a dlvlsao do Estado

92
Scanned by CamScanner
3-
inten a di\i à
munic1pio , ap a
proce e treitamente rei,.,.,,,_,...,,,.,,
econàmicas no terri ri m
pelos planos fi iai de de en
regional.
,a,:o 37 -\~Gra."'lde
U - ~ ocsGu..-.araes lS - •Sebd.,SS.Tmdodo
o penado anteri r a 1 ~
mato-grossenses oltaram--e'
eia e ao extrati i n Ie
-govername
a defesa da f
e pan
C iabá. Essa situação se modificou rapidamente nas déca- contribuir
das seguintes. Em 1980, o número de municípios chegou -gros ense
a 55; em 1990, a 95 unidades municipais, chegando, em 31 movimento
de janeiro de 2000, a 142 municípios juridicamente criados mecanizada
F, ·as 6. a6.6. Destes, até 2005, havia 141 instalados. Os muni
É importante destacar que a criação de um municí- ladas a ati idades
pio requer o atendimento de requisitos previstos em lei,
que estabelecem critérios mínimos para que a nova uni- e ploração mineral: e
dade administrativa tenha as condições necessárias para (c ntro- ui), Guiratin a e
manter-se como unidade autônoma e crescer. No entanto,
agricultura f
Sant

p cu ri e tensiva: re
ma,5 ,nf01ma óes sob,~ a d, , o do t o
(sudoe te).
em 19n, no ca 1ulo 30-

Scanned by CamScanner
UNIDADE 2
- ----~-- - -

Flgura 6.4 Flgura 6.5

MATO GROSSO - DIVISÃO MUNICIPAL MATO GROSSO - DIVISÃO MUNICIPAL


1980 1990

Fonte: Mato Grosso. 1980. Fonte: Mato Grosso, 1990.

Municfpios Municípios
1 - Aconzal 20 - Dom Aquino 38 - Pontes e Lacerda 1 - Acorizal 33 - Figueirópolls d'Oeste 65 - Peixoto de Azevedo
2 - Agua Boa 21 - General Carneiro 39 - Porto dos Gaúchos 2 • Água Boa 34 • General Carneiro 66 - Poconê
3 • Alta Floresta 22 - Guiratlnga 40 - Poxoréo 3 • Alta Floresta 3S - Guarantã do Norte 67 - Ponte Branca
4 - Alto Araguaia 23 - lllquira 41 - Rio Branco 4 • Alto Araguaia 36 - Guiratinga 68 - Pontes e Lacerda
S • Alto Garças 24 -Jaciara 42 • Rondonópolls 5 • Alto Garças 37 - lndiavaf 69 · Porto Alegre do Norte
6 - Alto Paraguai 25 -Jauru 43 - Rosário Oeste 6 • Alto Paraguai 38 - lta llba 70 • Porto dos Gaúchos
7 - Araguainha 26 - Jusdmeira 44 · Salto do Céu 7 • Alto Taquari 39 · ltlqulra 7 1 - Porto E.speridiâo
8 - Araputanga 27 - Luciara 4S - Santa Terezinha 8 • Aplacás 40 - Jaciara 72 -Poxoréo
9 • Arenápolls 28 • Mlrassol d'Oeste 46 - Santo António de L.everger 9 • Aragualana 41 -Jangada 73 - Primavera do Leste
10 -Aripuanâ 29 -Nobres 47 - São Félix do Araguaia 10 • Aragualnha 42 - Jauru 74 · Reservado Cabaçal
11 • Barão de Melgaço 30 • Nortelãndia 48 - São José dos Quatro Marcos 11 - Araputanga 43 • Juara 75 - Ribeirão Cascalheira
12 - Barra do Bugres 31 - Nossa S,.. do Livramento 49 • São José do Rio Claro 12 • Arenápolis 44 - Julna 76 • Rio Branco
13 - Barra do Garças 32 - Nova Brasilándia SO -Sinop 13 - Arlpuanã 4S - Juruena 77 • Rondonópolis
14 -Cáceres 33 - Nova Xavantina S1 - Tangará da Serra 14 · Barão de Melgaço 46 • Juscimeira 7 8 • Rosário Oeste
15 - canarana 34 • Paranatlnga S2 • Tesouro 1S • Barrado Bugres 47 - Lucas do Rio Verde 79 • Salto do Céu
16 · Chapada dos Guimarães ]S • Pedra Preta S3 - Torixoréo 16 - Barra do Garças 48 • Luciara 80 - Santa Terezinha
17 -Collder 36 · Poconé 54 - Várzea Grande 17 · Brasnorte 49 • Marcelândia 81 · Santo Antônio de Leverger
18 -Cuiabá 37 - Ponte Branca 55 • Vila Bela da 55.Trindade 18 • Cáceres 50 - Matupá 82 · Sáo Félix do Araguaia
19 - O,amantmo 19 - campinápolis S1 · Mirassol d'Oeste 83 • São José dos Quatro Marcos
20 - Campo Novo do Pareeis S2 - Nobres 84 · São José do Rio Claro
21- CampoVerde S3 • Nortelàndia 85 - Sinop
22 • Canarana S4 - Nossa Sr' do livramento 86 - Sorriso
23 · Castanheira 55 · Nova Brasilàndia 87 • Tangará da Serra
24 · Chapada dos Guimarães S6 · Nova Canaã do Norte 88 - Tapurah
25 -Cláudia 57 • Nova Mutum 89 • Terra Nova do Norte
Alguns municípios tiveram origem na política colonial 26 · Cocallnho S8 • Nova Olímpia 90 • Tesouro
de expansão das fronteiras, como foi o caso de Vila Bela 27 - Colrder 59 · Nova Xavantlna 91 - Torixor~
28 · Comodoro 60 - Novo Horizonte do Norte 92 - Várzea Grande
da Santíssima Trindade, Cáceres e Poconé, e nas políticas 29 - Culabã 61 • Novo São Joaquim 93 -Vera
30 -Denlse 62 • Paranaíta 94 • Vila Bela da 55. Trindade
oficiais de interiorização da primeira metade do século XX, 31 · Diamantino 63 • Paranatinga 9S - Vila Rica
32 • Dom Aquino
como Pontes e Lacerda, Barra do Garças e Aripuanã. 64 • Pedra Preta

A partir do final da década de 1970, os programas de


colon ização e os projetos de assentamento respaldaram a
criação de novos municípios, cuja origem se deu a partir
do loteamento e formação de um núcleo urbano e da ção migrante, via bilizando, ainda, a entrada da grande
implantação de atividad es agropecuárias nos arredores. empresa agropecuária.
Embora num primeiro mom ento essas atividades tives- Ainda na Figura 6.7, percebe-se que a colonização com
sem o caráter de subsistência, contribuíra m para dotar a implantação de projetos de assentamento predominou
a área de infraestrutura mínima e assim atrair popul a- no centro e norte de Mato Grosso, onde se concentram

94

Scanned by CamScanner
Agura 66

MATO GROSSO - DMsAo MUNIOPAL os municípios criados após a divisão do Estado. No leste e
2000 E 2010 nordeste, há municípios com origem relacionada a proje-
tos de colonização, onde grupos dos programas coloniza·
dores vislumbraram, nas áreas adjacentes, oportunidades
de exploração econômica, como o extrativismo vegetal e
mineral ou a agropecuária, dando origem a núcleos que
mais tarde vieram a formar novos municípios.
Embora o avanço ocupacional tenha se dado de forma
muito rápida em todo o Estado, as atividades económicas
introduzidas em algumas regiões não se consolidaram na
mesma velocidade. Em alguns municípios do norte mato-
-grossense, constatam-se mudanças no sistema produ-
tivo, como em Alta Floresta e Colíder, em que a atividade
agrícola foi gradualmente substituída pela pecuária, vindo
esta a tornar-se um dos principais esteios econômicos
desses municípios.
A rigor, verifica-se que a pecuária se encontra difun-
dida por todo o território, concentrando-se no sudoeste,
C'
no Pantanal e adjacências, no noroeste e norte do Estado.
Apresenta características de atividade extensiva em todo
e
o território, embora em alguns municípios já ocorra uma
<,

" pecuária semi-intensiva e intensiva.


"' fonte Mito Grosso. 2011
A agricultura familiar constitui-se, em alguns muni-
cípios, em importante atividade econômica para a
Munkfplos
1 •Aconul 4 8 - Guarantã do Norte 9S - Pontal do Araguaia
população local. Esses municípios caracterizam-se pela
2 · Agua Boa 49 - Gulratlnga
SO - lndiavai
96 - Ponte Branca diversidade produtiva, mesmo que em pequena escala,
3 Alta Floresta 97 - Pontes e Lactrda
4 . Alto Ar,gua,a S 1 - lplranga do Norte 98 - Porto Alegre do Norte cuja produção atende às necessidades alimentares das
5 ,\lto Boa Vista 52 · ltanhangá 99 - Pono dos Gaúchos
6 Alto Garças S3 - lta\Jba 100 - Porto Espendráo famílias produtoras e chega às feiras locais, onde os inú-
S4 - lt1qu1ra 101 - Porto Estrela
7 • Alto Paraguai
55 -Jaciara 102 - Poxoréo
meros produtos comercializados conferem diversidade e
1 Alto Taquan
9 -Aplacas 56 -Jangada 103 - Pnmavera do leste colorido a essas vendas. Destaca-se que, mesmo os muni-
1O• Aragualana 57 -Jauru 104 - Querenc,a
11 - Aragu•1nha 58 -Juara 105 - Reserva do Cabaçal cípios em que a agricultura familiar é expressiva, ocorrem
12 - Araputanga 59 Jutna 106 - Ribeirão Cascalheira
13 Arenápoll, 60 - Juruena 107 - Ribeirãozinho outras modalidades ocupacionais e econômicas, como a
108 - Rio Branco
14 -AripuanA 61 Jusome1ra
62 - Lambari cfOeste 109 - Rondolândia
agricultura intensiva, a pecuária moderna e extensiva, o
15 • Barao d• M<lgaço
16 . Barra do Bugres 63 - Lucas do Rio Verde 11 O- Rondon6polis extrativismo mineral e vegetal, e a exploração madeireira.
17 • Barra do Garças 64 - LucIara 111 - Rosáno Oeste

18 Bom Jesus do Aragua"' 65 Marcelándia 112 • Sa~o do Céu A agricultura mato-grossense produzida atualmente,
66 -Matup,I 113 • Santa Carmem
19 - Brasnorte
20 · a<eres 67 Mirassol d'Oeste 114 - Santa Cruz do Xingu apresenta alto nível tecnológico e de produtividade, carac-
11S-Santa Rita do TnvNto
21 • Campmápohs 68 Nobrõ
116 • Santa Te,e,,nha
terizando-se como uma agricultura moderna de cunho
22 -Campo Novo do Pareos 69 Nort<IAnd,a
23 • Campo V<rde 70 - Nossa 5,. do Livramento 117 • Santo Afonso capitalista, em franca expansão. Difundida em todo o
24 • Campos de Jubo 71 - Nova Bandeirantes 118 Santo Antõruo de Leverg<r
lS Canabrav1 do Norte 72 - Nova Br•~•lindta 119 • Santo António do L<ste Estado, embora em níveis diferentes, essa categoria tem por
73 Nova Canaã do Norte 120 · Sao~tXdoAraguaJa
26 ·Canarana
74 - Nova Guanta 121 • Sao ~ do P0\10 padrão extensos campos de monocultura, com emprego
27 Carl.oda
21 • úst.anhe,ra 7S No>1a Lacerda 122 • Sao Jose do R,o Oaro de técnicas e métodos de manejos modernos, alta produti-
29 Chapada dos Gu,maraes 76 • Nova Manláncha 123 • Sao Jost do x,ngu
30 -0iudoa 77 Nova Marmga 124 . Sao ~ dos Quatro Matcos vidade e exportação da produção em larga escala.
31 Cocahnho 78 • Nova Monn, Verde 125 • Sao Pedro da Gpa
32 · Col,der 79 • Nova Mutum 126 · Sapezal A agricultura diversificada, com emprego de tecno-
127 ·S<rn 0\/il Dourada
33 ·Coln1za 80 -NovaNawe
U8 •Sinop
logia, embora já seja expressiva em todo o território de
3" Comod010 81 Nova~imP'a
35 ·ConfrMI 82 Nova Santa Hde,na 129 ·Sorruo Mato Grosso, é mais intensa nas áreas adjacentes aos eixos
36 Conquista cfOest 83 NO\lilUbomA 130 • T1blpo,j
3 7 • Cotriguoçu 14 - Novti Xav•ntJnl 131 - Tangara da S<rn rodoviários, como as BRs 364, 070, 163 e 156. Este padrão
as Novo Honzontt- do None 1l l - T1purah
ll • Culabi
39 -Cun,elAnd,a 86 NovOMundo
1)3 • T,rrl NOYI do NOM de agricultura, com emprego de maquinários, insumos e
40 - Demse 17 • NO\IO Santo António u• T !.0010 técnicas modernas de alta produtividade, é bem represen-
88 Novo sao )o,Aqu•m l )S-Tom.Ofl-u
41 • Dlamanuno
136 Uno doSut tado em municípios como ltiquira, Rondonópolis, Campo
O · Dom Aquino 89 • Parain,ltl
90 ParanatIn9a
U7 V1I• de Sao 0omu,90>
43 · feliz Natal
4-4 · Figuelr0pohs d'Oeste 91 • Pedrt1 Preta
111 virz aGft1.ndt Verde, Primavera do Leste, Sapezal, Nova Mutum e Campo
92 • Peixoto de Azevedo 139 Vtli
45 · Gaucha do Norte
46 - General Carneiro 93 • Planalto da S<rn
140 • Vila 8tla da SS. Tnndado Novo do Pareeis.
141 -VilaRlc.l
47 • Glória d'Oeste 94 - Poconé

95

Scanned by CamScanner
Figura 6.7
ITICAS NA FORMAÇÃO DOS MUNICIPIOS - 1719-2000
MATO GROSSO - GRUPOS DE ATIVIDADES PIONEIRAS E PRINCIPAIS POL

52'
so-
54'
S6" GRUPOS DE ATIVIDADES
62'

Extrativismo vegetal
AMAZONAS
PARÁ
Extrativismo mineral

Ag ropecuária de subsist~ncla

Ag ropecuária comercial

Pecuária extensiva

o Comércio

,..
PRINCIPAIS POLITICAS

Política oficial de integração e

16"
CJ dom ínio territorial

Progra ma de colonização /
GOIÁS C] interferência das políticas
governa menta is
BOÚVIA

~
Expansão / infl uencia dos
18• programas de colonização
2251cm
MATO GROSSO DO SUL
~

Fonte:: Mito Grosso. 2000, FM"~lri. 1997.

O extrativismo mineral, que foi uma das principais ati - ritmo acelerado e que poderiam ser evitados se a extração
vidades econômicas no processo inicial de povoamento de fosse realizada com sustentabilidad e ambiental. O extrati-
Mato Grosso, perdeu sua importância ao longo do século vismo vegeta l sustentável que ocorre em alguns municí-
XX, mas foi significativo na economia de alguns municípios pios de Mato Grosso abrange a coleta e comercialização
como Guiratinga, Tesouro, Torixoréo e Alto Paraguai. Nas de plantas medi ci nais, látex de seringueira e frutos nat ivos,
décadas de 1970 e 1980, o extrativismo mineral voltou a se como a Castan ha do Brasil e sementes.
destacar como atividade de atração de fluxos migratórios, Os setores industrial, comercial e de serviços são
particul armente no norte de Mato Grosso, e contribuiu significativos e re spondem por expressiva parte da econo-
pa ra a formação de municípios, a exemplo de Peixoto de mia estadua l, mas se destacam apenas nas maiores cida-
Azevedo e Apiacás, entrando depois em decadência. des do Estado. No setor industrial, destacam-se Cuiabá,
O extrativismo vegetal, principalmente a exploração Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop, com várias outras
madeireira, tem se destacado como uma das principais cidades apresentando parques indu striais na scentes. O
fon tes de renda em muitos municípios do norte de Mato município de Nobres se destaca, no set or industri al, pela
Grosso. Esta atividade, que rende aos exploradores um exp loração e industria lização de calcário e cimento. Nos
lucro considerável, tem constituído, juntamente com os
desmatamentos para fins agropecuários, práticas agres-
sivas à natureza, com grandes prejuízos socioambienta is.
A perda de biodiversidade, o dese ncad eamento de pro -
cessos erosivos intensos e a perda da fertilidade dos solos
constituem sérios prob lemas que vêm se agravando em

96

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setores de comércio e serviços destac C .
• 1 d • am-se ulabá, prin- Agura6.8
cipal po o o Estado, Várzea Grande Ro d .
• n on 6po 11s, Sinop MATO GROSSO - DIVISÃO EM MESORRIGIÕES
Barra do ~arças, Tangará da Serra, Cáceres e Alta Floresta , E MICRORREGIÕES HOMOG!NW - 19'1-1914
O turismo vem se destacando no á. . ·
cen no econômico
estadual. Embora pouco explorado e c
. om uma estrutura
deficiente, apresenta possibilidades de cre . .
. . - scimentoe maior
part1c1paçao na economia. Dentre os m . .
• unic1pios que mais
tem se destacado neste setor estão Cui b , Ch
. . , a a, apada dos
Gu1rnaraes, Pocone, Barão de Melgaço e,
, aceres, Barra do
Garças, Alta Floresta, Jaciara e Santo Ant · . d L
. . on10 e everger
Outra at1v1dade econômica com pos ·b·i·d d d ·
s1 11 a e e cres-
cimento em Mato Grosso é a pesca com · •
. , . , maior expressao
nos munic1p1os do Pantanal e adi·ace·nc·
. , . ias e, em menor
escala, nos municip1os ao longo do rio Arag · A • .
. _ ua1a. p1sc1cul-
tura, com a cnaçao de peixes em tanques t ·d .
, em s1 o estimu-
lada e crescido nos últimos anos.

, A cidade de Cuiabá, capital do Estado , i·untamen t ecom


Var~e_a Grande, sede do município vizinho, constituem o
mais importante_pol_o e~onômico estadual, com destaque
nos_ seto_res, d_e industria, comércio e s~rviços. Além do
mais, Cu1aba e o centro político-administrativo do Estado,
por onde todas as maiores decisões passam ou são toma-
das, o que cria e sustenta fluxos contínuos entre os municí- Fonte: IBGE, 1982.

pios e a sede do governo estadual.


MESORREGIÕES MICRORREGIÕES
Ainda se pode citar como polos econômicos de influên-
cia regional as sedes dos municípios de Rondonópolis, Norte Mato·grossense 332 • Norte Mato-g rossense
333 - Alto Guaporé
Sinop, Barra do Garças, Alta Floresta, Tangará da Serra e 334 - Alto Paraguai
Cáceres, Torna-se, no entanto, importante frisar que muitas
LJ Cuiabá 335 - Baixada Cuiabana
outras sedes de municípios oferecem serviços ou mesmo 336 • Rondonópolis

possuem um setor comercial que exerce influência sobre Sudeste Mato-grossense 337 - Garças
outros municípios. No entanto, esta influência tem caráter
muito localizado, limitando-se às adjacências imediatas.
estratégica para os novos planos de integração nacional,
favorecendo o planejamento e execução das ações.
Divisão regional Essa primeira divisão foi utilizada pelo IBGE nos estu-
dos e publicações entre 1968 e 1984, como os censos
A mais difundida e utilizada divisão regional de Mato demográficos de 1970 e 1980 e censos agropecuários de
Grosso é a estabelecida pelo IBGE, que divide o território 1970, 1975 e 1980.
em mesorregiões e microrregiões geográficas. Em 1968, Em 1985, essa divisão foi revisada pelo IBGE, que ade-
no auge das políticas federais de desenvolvimento nacio- quou a regionalização às mudanças ocorridas nas áreas de
nal, foi atribuído ao território que hoje corresponde a Mato expansão agropecuária do país, caracterizadas pela rápida
Grosso a divisão em 3 mesorregiões e 6 microrregiões urbanização, surgimento de novos municípios e incorpo-
homogêneas. Essa divisão perdurou até 1984 (Figura 6.8 e ração de áreas ao sistema produtivo.
Quadro 6.1). Assim, o critério geral adotado na primeira regionali-
Essas meso e microrregiões homogêneas foram esta- zação foi mantido, acrescido de informações locais sobre
belecidas com a subdivisão do território em áreas que povoamento, colonização e migração. O setor primário foi
apresentasse m uma certa homogeneidade pela inter-rela-
ção das principais características físicas, socioeconômicas
e da organização territorial em torno da produção. Assim,
Veja no Atlas. o temi:
pode-se dizer que o processo de regionalização teve como grandes setores de a11Mcladts.;
principal critério o agrupamento de áreas cujo padrão miaonegtao. e o
ocupaciona l fosse convergente. Constituiu-se em medida

97

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Flgur 6.9 lgur 6,10
MA10 GROSSO - DMSÃO EM MESORREGIÕES MATO GROSSO - DIVI ÃO IM
E MICRORREGIÕES GEOGRÃFICAS - 1985·1989 EMICRORREGIÕ S GEOGRÃPICAS

.,. ...
AMAZONAS

BOLIVIA

225 km

Fonte: IBGE, 1991.


Fonte: IBGE, 1996.

MESORREGIÕES MICRORREGIÕES MESORREGIÕES


MICRORREGIÔES
D Norte Mato-grossense 332 • Norte Mato-grossense
D Norte Mato-grossense
362 • Norte Araguaia 51 8 • Aripuana
363 • Pareeis-Alto Teles Pires 51 9 • Alta Floresta
364 . Médio Araguaia 520 • Colide,
52 1 • Pareeis
Cuiabá 335 - Cuiabá 522 - Arinos

D Sudeste Mato-grossense 336 • Rondonópolis


523 • Alto Teles Pires
524 • Sinop
- 337 • Tesouro 525 - Paranatinga

D Sudoeste Mato-grossense 333 • Alto Guaporé D Nordeste Mato-grossense


526 • Norte Araguaia
334 • Alto Paraguai 527 · Canarana
365 • Paraguai-Jauru 528 • Médio Araguaia
366 • Alto Pantanal
O Sudoeste Mato-grossense
529 • Alto GÜaporé
530 • Tangará da Serra
53 1 • Jauru

enfatizado como principal categoria produtiva, em que a D Centro-Sul Mato-grossense


532 • Alto Paraguai
533 - Rosário Oeste
combinação de variáveis como relação de trabalho, condi- 534 - Cuiabá
ção do produtor e modalidade de produção constitu íram 535 • Alto Pantanal

os fatores básicos da concepção regiona l. D Sudeste Mato-grossense


536 - Primavera do Leste
537 - Tesouro
A seg unda regional ização teve curta duração, tendo 538 • Rondonópolis
prevalecido de 1985 a 1989. Foi utilizada como referên- 539 • Alto Araguaia

cia no censo agropecuário de 1985 e adotada por muitas


instituições no levantamento e análise de dados regionais
(Figura 6.9 eQuadro 6.2). apresentan do urna das mais altas taxas de crescimento
A rapidez e intensidade das mudanças socioeconô- populacional do país, acelerados processos de urbaniza-
micas ocorridas no final da década de 1980, na fronteira ção e expansão do setor agropecuário, o que efetivou a
agropecuá ria nacional, deram origem a urna nova reorde- sua inserção na economia nacional e globalizada.
nação territorial, com o surgimento de polos econômicos Essas mudanças levaram o IBGE a definir uma nova
e a consolidação de urna estrutura produtiva dinâmica. regionalização a partir de 1990, quando Mato Grosso
Nesse período, Mato Grosso tornou-se um dos mais des- passou a contar com 5 rnesorregiões e 22 microrregiões
tacados territórios da fronteira agropecuária nacional, geográficas (Figura 6.10eQuadro 6.3). Fazem parte dessa tabela
os municípios criados até janeiro de 2000.

98

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Uma regionalização a exem I d
capítulo, representa u~ dado m~: tas tratadas neste até mesmo a extinção devem ser consideradas como pró-
- d en o no processo de prias da dinãmica geográfica.
pro d uçao e um território a partir d . . .
' e cntenos estabeleci- Logo, essas mudanças são mais frequentes nos territó-
dos
. como relevantes.
. . . As alterações na sua estrutura espa-
cial, como d1v1soes, exclusões e incl usoes
. de temtonos
... e rios de economia não consolidada ou ainda em expansão,
a exemplo de Mato Grosso.

Quadro 6.1
MATO GROSSO - MESOR Ô
REGI ES, MICRORREGIÔES GEOGRÃFICAS E SEUS MUNICIPIOS - 1980

Mlcrorregiões Munlclplos

Agua Boa; Alta Floresta; Aripuanã; Barra do Garças; Canarana; Chapada dos Guimarães;
Norte Mato-grossense - (332)
Colíder; Diamantino; Luciara: Nobres; Nova Brasllândia; Nova Xavantlna; Paranatinga; Porto
dos Gaúchos: São José do Rio Claro; Santa Terezinha; São Félix do Araguaia e Sinop.
Norte - - - - - - - _ __J_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __

Mato-grossense
Alto Guaporé-Jauru _ (333 ) Araputanga; Cáceres; Jauru; Mirassoi O'Oeste; Pontes e Lacerda; São José dos Quatro
Marcos; Rio Bra nco; Salto do Céu e Vila Bela da Santíssima Trindade.
------+--___:__:_~=--=--=-
Alto Paraguai - (334)
Alto Paraguai; Arenápoli s; Barra do Bugres; Nortelãndia e Tangará da Serra.
C0

"'o
:õ Cuiabá Baixada Cuiabana _ (335) Acorizal; Barão de Melgaço; Cuiabá; Nossa Senhora do Livramento; Poconé; Rosário Oeste;
"'3 Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.
.
;;
.,e Rondonópolis - (336) Oom Aquino; ltiquira; Jaciara; Juscimeira; Pedra Preta e Rondonópolis .
Q.
o Sudeste
"'
'ô Mato-grossense
Alto Araguaia; Alto Garças; Araguainha; General Carneiro; Guiratinga; Ponte Branca;
8 \ Garças - (337)
o Poxoréo; Tesouro e Torixoréu.
...
"O

~ Fonte: IBGE. ,952.

Quadro 6.2
MATO GROSSO - MESORREGIÕES, MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS E SEUS MUNICIPIOS - 1985

1
Mesorregiões Microrregiões Municípios
1
Alta Floresta; Aripuanã; Colíder; Juara; Juína; Porto dos Gaúchos;
Norte Mato-grossense - (332)
São José do Rio Claro e Sinop.

Norte Araguaia - (362) Luciara; Santa Terezinha e São Félix do Araguaia.


Norte
Mato-grossense
Pareeis-Alto Teles Pires - (363) Diamantino e Nobres.

Médio Araguaia - (364) Agua Boa; Barra do Garças; Canarana; Nova Xavantina e Paranatinga.

Acorizal; Chapada dos Guimarães; Cuiabá; Nossa Senhora do Livramento; Rosário Oeste;
Cuiabá Cuiabá - (335) Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.

Alto Araguaia; Alto Garças; Dom Aquino; itiquira; Jaciara; Juscimeira; Pedra Preta e
Rondonópolis - (336) Rondonópolis.
Sudeste
Mato-grossense
Araguainha; General Carneiro; Guiratinga; Ponte Branca; Poxoréo; Tesouro e Torixoréu.
Tesouro - (337)

Pontes e Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade.


Alto Guaporé - ( 333)

Alto Paraguai; Arenápolis e Nortelãndla.


Alto Paraguai - ( 334)
Sudoeste
Araputanga; Barra do Bugres; Denise; Jauru; Mirassol D'Oeste; Rio Branco; Salto do Céu;
Mato-grossense
Paraguai-Jauru - (365) São José dos Quatro Marcos e Tangará da Serra.
1
Barrão de Melgaço; Cáceres e Poconé.
Alto Pantanal - (366)

Fonte: IBGE, 1991.

99

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Quadro 6.3
MATO GROSSO - MESORREGIÕES, MICRORREGIÕES GEOGRÃFICAS ADOTADAS EM 1990

ldplos

Aripuanã - (518) Arlpuanã; Brasnorte; Castanheira; Colniza; Cotriguaçu; Ju na; Juruena

Alta Floresta - (S 19) Alta Floresta; Aplacás; Carlinda; Nova Bandeirantes; Nova Monte Verde e Paranatta.

Colfder - (520) Colíder; Guarantã do Norte; Matupá; Nova Canaã do Norte; Nova Guarita; Novo M
Peixoto de Azevedo e Terra Nova do Norte. Uncfo;

Pareeis - (521 ) campos de Júlio; Campo Novo do Parecis~Comodoro; Diamantino; Nova Lacerda e Sa11eza1.
Norte - - -- -
Mato-grossense Arinos - (522) Juara; Nova Maringá; Novo Horizonte do Norte; Porto dos Gaúchos; São JOSé do Rio a
Tabaporã. aro e
- --- --
lpiranga do Norte; ltanhangá; Lucas do Rio Verde; Nobres; Nova Mutum; Nova Ubiratã•
Alto Teles Pires - (523)
Santa Rita do Trivelato; Sorriso e Tapurah. •

Sinop - (524}
Santa Carmem; Sinop; União do Sul e Vera.
----- -
-----
Boa Esperança do Norte; Cláudia; Feliz Natal; ltaú ba; Marcelândia; Nova Santa Helena·
'

Paranatinga - (525) Gaúcha do Norte; Nova Brasilândia; Paranatinga e Planalto da Serra.

Alto Boa Vista; Bom Jesus do Araguaia; Canabrava do Norte; Confresa; Luciara;
Norte Araguaia - (526)
Porto Alegre do Norte; Ribeirão Cascalheira; Santa Cruz do Xingu; Santa Terezinha;
São Felix do Araguaia; São José do Xi ngu; Serra Nova Dourada e Vila Rica.
Nordeste
Mato-grossense
Canarana - (527) Agua Boa; Campinápolis; Canarana; Nova Nazaré; Nova Xavantina; Novo São Joaquim;
Querência e Santo Antônio do Leste.

Médio Araguaia - (S28)


Araguaiana; Barra do Garças; Cocalinho e Novo Santo Antônio.

Alto Guaporé - (529) Conquista d'Oeste; Pontes e Lacerda; Vale de São Domingos e Vila Bela da Santíssima
_ Trindade.
J
Sudoeste Tangará da Serra - (530)
Mato-grossense Barra do Bugres; Denise; Nova Olímpia; Porto Estrela e Tangará da Serra.

Araputanga; Curvelândia; Figueirópolis d'Oeste; Glória d'Oeste; lndiavai; Jauru;


Jauru - (531)
Lambari d'Oeste; Mirassol D'Oeste; Porto Esperidião; Reserva do Cabaçal; Rio Branco;
Salto do Céu e São José dos Quatro Marcos.

Alto Paraguai - (532)


Alto Paraguai; Arenápolis; Nortelândia; Nova Marilândia e Santo Afonso.

Rosário Oeste - (533) Acorizal; Jangada e Rosário Oeste.


Centro-Sul
Mato-grossense
---- ---- - - - -
Cuiabá - (534) Chapada dos Guimarães; Cuiabá; Nossa Senhora do Livramento; Santo Antônio de Leverger
e Várzea Grande.
---- ---- ---
Alto Pantanal - (535)
Barão de Melgaço; Cáceres e Poconé.

Primavera do Leste - (536) --- t


-!-
Campo Verde e Primavera do Leste. - -- - -

Tesouro - (537) Araguainha; General Carneiro; Guiratinga; Ponta l do Araguaia; Ponte Branca; Poxoréo;
Sudeste Ribeirãozinho; Tesouro e Torixoréu.
Mato-grossense

Rondonópolis - (538) Dom Aquino; ltiq uira; Jaciara; Juscimeira; Pedra Preta; Rondonópolis; São José do Povoe
São Pedro da Cipa.

Alto Araguaia - (539)


Alto Aragua ia; Alto Garças e Alto Taquari.
Fonte: IBGE. 1996, 1997; Mato Grosso. 2000, - ------

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A criação de município Sugestão de Atividades
em Ma o Gro so
1. Discuta a última divisão do Estado de Mato Grosso
[...] ªº.nos posiciona r ºdo outro lado do mapa", resta- no âmbito das políticas de integração e desenvolvi-
-nos e phcar por que e por quem essas fronteiras são mento nacional da década de 1970.
desenhadas e redesenhadas.
Os desmembramentos municipais, a transitoriedade e 2. Discuta o processo de colon ização como fator de
mobilidade das fronteiras internas estaduais constituem reordenação do território mato-grossense.
~ois, o resultad~ da própria expansão do modo capita~
lista de produçao, que se real iza, também, entre outros 3. Explique por que o setor primário tem sido a cate-
níveis, através da ocupa ção terri to ri al. Assim, na medida goria produtiva mais considerada no processo de
em_que a~ança o cap ita l e que a produção, o consumo e divisão regional estabelecido pelo IBGE (divisão em
a c1rculaçao de bens e mercadori as necessitam de novos microrregiões).
espaços para o favorecimento do seu processo de acumu-
lação, divid e-se o territóri o em municípios para melhor 4- Enumere e explique os principais fatores que desen-
organizá-lo (lei a-se controlá-lo). cadearam o intenso processo de divisão municipal
Nesse sentido, a criação de um novo município é o em Mato Grosso.
resultado da espacialização de interesses, isto é, o produto
espacial da disputa do poder econ ômico e político entre 5. Discuta os pontos positivos e/ou negativos advindos
o grupo dominante e o dominado. Então, é na concreti- da intensa divisão municipal ocorrida em Mato Grosso
zação dessa disputa que o poder político se territoria liza. após a divisão do Estado.
Daí, cada município possuir uma área bem defin ida, repre-
sentada por limites preci sos, imutáveis, gera lmente por Para saber mais ...
um rio. A natureza, aqui, é uti lizada, t ransformada e tra ns-
vertida, pois, neste caso, o rio não é simplesmente um
Sites
rio, mas o limite onde termi na o exercíci o de um poder e
Pesquise nos sites dos principais jornais diários de
começa o de ou t ro. É a linha que separa "uns" dos "outros";
Mato Grosso e do seu município, as palavras-chave:
que "naturaliza" em cuiabanos, melgacenses, ro ndonopo-
"Produção agropecuária em Mato Grosso". Leia os
litanos, cacerenses, rioclarenses etc., pessoas socialmente
art igos e depois discuta em sala de aula o papel do
dife rentes; que homogeiniza espaços não-homogenei-
desenvolvimento econ ômico na fo rmação de novos
záveis; que coloca como inteiro o que é profundamente
núcleos urba nos, de novos municípios e na divisão
dividido; e que subordina a um só poder o latifundiário, o
re gional do Estad o.
em presário, o campon ês, o operário, para que fa lsamente
www.gazetadigital.co m.br
pa reçam iguais.
www.diariodecuiaba .com.br
Esta é a função da divisão territorial, dos desmembra-
www.fo lhadoestado.com .br
mentos municipais, da presença do poder pú blico muni-
cipal e de sua intermediação, pois, na medida em que este
fala em nome de um povo - que na verdade se divid e em
diferentes classes sociais - , deixa livre o território de seu
domínio para a pa ssagem daqueles que exercem a domi -
nação.

Fonte: Moura, 1990.

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• · · ça· o mascu1·,na da etnia lkpeng , também conhecidos como Txikão, no médio Xi ngu
A festa Moyngo, de m,oa

Territórios e expropriação

Desde tempos imemoriais, diferentes povos indígenas Portanto, a construçã o do território capitalista no Brasil
habitam a área que hoje corresponde ao território mato- foi produto da conquista e destruição dos territórios indí-
-grossense. Muito antes da ocupação portuguesa do Brasil, genas. Os povos indígenas foram sendo dizimados, seus
esses povos construíram seus territórios, desenvolveram territórios invadidos, saqueados e violentados, "cercados"
organizações sociais e criaram culturas e formas próprias e confinados em terras indígenas e parques. O espaço
de viver e se relacionar com a natureza. Mas a expansão e do universo cultural indígena sofre u a interferência do
construção do território capitalista no país instaurou uma espaço e tempo do capita l. O ritm o compassado do tic-tac
luta sangrenta de destruição dos territórios desses povos do relógio nunca foi a marcação do tempo para os povos
e os que sobreviveram têm, historicamente, resistido indígenas. Lá, o fluir da história está contado pelo passar
às agressões sistemáticas desse processo. Uns resistem das "luas" e pela fa la mansa dos mais velhos, registrando
lutando para continuar preservando seus modos de vida. os fatos reais e imagi nários. .
Alguns, evitando o avanço das frentes de expansão, fugi- Talvez, estivesse aí o início da primeira luta entre desi-
ram para regiões de difícil acesso, na tentativa de evitar guais. A luta do capital em processo de expansão, des~n-
esse contato. Outros, como estratégia de luta pela sobrevi- . ·tva
volvimento, em busca de acu mulação, ainda que pnrni 1 '
vência, adaptaram-se às novas situações, coexistindo com e a luta dos "filhos do sol" em busca da manutençao - do
a sociedade envolvente.
seu espaço de vida no território invadido. A marca contra·

102

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lnd io Bororo

Mato Gro so: os territórios índios

tlm do 5 milhõ d indlg nas que ocupavam


r li poc do d scobrím nto, hoj são cerca de 426
mil qu lut m p ra sob r vlv r. A maioria es tá na Amazônia;
ca lcu l - qu 237 mil I habitam (ISA, 2004). Território Indígena
m M to Grosso, no oeste, estão os Surul, Zoró, Gavi ões,
Arara, Rlkbakts , Enaw nê-Naw (Salumã), Nambikwara, Território indígena é "um espaço da sobrevivência e reprodu-
Par i, Umutlna lrantxe; no centro, os Bakairl; no norte, os ção de um povo, onde se real iza a cultura, onde se criou o mundo,
K yabi, Apiaká e Panará (Kreen-Akarore); no sul, os Bororo; onde descansam os antepassados. Além de ser um local onde os
índios se apropriam dos recursos naturais e garantem sua subsis-
no leste, os Xavante, Karajá e Tapirapé. No Parque do
tência física, é, sobretudo, um espaço simbólico em que as pessoas
Xingu, localizado no norte-nordeste do Estado, os Txukar-
travam relações entre si e com seus deuses. Há que se ressaltar,
ra mãe, Kayabi, Kamayurá, Kuikuru, Kalapalo, Suyá, Txikão, ai nda, que a apropriação de recursos naturais não se resume em
Trumai e Juruna.
produzir alimentos, mas consiste em extrair matéria-prima para a
A história do processo de ocupação de Mato Grosso, construção de casas, para enfeites, para a fabricação de arcos, fle-
particularmente do norte mato-grossense, foi assentada chas, canoas e outros e, ainda, em retirar as ervas medicinais que
na abertura de projetos agropecuários e de projetos de exigem determinadas condições ecológicas para vingarem.
co lonização privados e oficiais, os quais, em parte repre- Para que um povo possa sobreviver e se reproduzir, necessita
sentativa, tiveram sua base no processo de grilagem das de muito mais terras do que as que utiliza simplesmente para
te rras. plantar. E é justamente esse espaço da sobrevivência, com tudo
que ela implica, que denominamos território. E o território indí-
gena tem uma particularidade: o de ser coletivo e pertencer igual-
Rapazes Kamayurá, no Parque Nacional do Xingu mente a todo o grupo. Não existe a propriedade privada entre os
índios. Todos têm acesso à terra, e esse acesso é efetivado através
do trabalho e de ocupação de fato de uma determinada porção
do território tribal. Os grupos indígenas também têm diferentes
formas de concepção de seu território. Alguns, fundamentalmente
sedentários, estabelecem fronteiras definidas. Outros, como é o
ca so dos povos Jê do Brasil Central, t êm (ou tiveram) suas frontei-
ras em constante expansão em função de atividades guerreiras, ou
da caça e coleta" (Fernandes, 1993, p. 81).

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os Bororo Ocidentais eram formados por dois gru~.
os Bororo da Campanha (Alto Paraguai e·fronteira com
a Bolívia) e os Bororo Cabaçais (rio Cabaçal e Jauru). Os
Bororo Orientais aparecem nos relatórios dos presidentes
da província de Cuiabá, até o final do século XIX, como
"bárbaros de vida errante", "indomáveis", etc. Eram con-
siderados uma ameaça permanente aos não-índios que
estavam ocupando as áreas próximas a Cuiabá e de liga-
ção entre Goiás e Mato Grosso. Como os Bororo lutavam
defendendo seu território, foram organizadas bandeiras
com O objetivo de atacá-los, o que gerava contra-ataques.
A história dos Bororo está marcada pela resistência
contra a tomada de seus territórios pelas frentes de expan-
são capitalista, fossem elas extrativistas, pastoris e/ou agrí-
colas. Sua pacificação se deu no final do século XIX, através
de uma verdadeira "rendição" (Opan, 1987).
o território Bororo fo i quase que integralmente
tomado no início do século XX, e o povo Bororo teve que
passar a viver em aldeias com pouquíssima terra. Passaram
a conviver com a presença dos padres da Missão Salesiana
na Terra Indígena (TI) Meruri. Outros se concentraram na TI
Tereza Cristina e outras áreas, sob a interferência, primeiro,
do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e depois da Fundação
Nacional do índio (Funai).
Segundo os salesianos, os Bororo eram, em 1907, cerca
I "
fndia Bororo da aldeia Merure, em 2004 de 4.000. Com a "pacificação" e com a intensificação do
contato, a população total caiu para cerca de 1.000, em
1935, e para 626, em 1979. Nas décadas seguintes, os Bororo
passaram a conhecer um pequeno crescimento populacio-
O sul e o centro mato-grossense nal, chegando em 1998 com cerca de 1.500 índios.
A cultura Bororo é extremamente rica em rituais.
Na região sul e centro mato-grossense, estavam as Dentre eles, destaca-se o rito funeral, pela complexidade
terras imemoriais dos povos Bororo e Bakairi. e duração, que pode chegar até dois meses. Os fu nerais

Os Bororo

Os Bororo pertencem ao tronco linguístico Macro-Jê.


O território Bororo localizava-se na porção sul do atual
Estado de Mato Grosso e tinha como referência o rio
Taquari ao sul, o rio Araguaia a leste, o rio das Mortes ao
norte, e a Bolívia a oeste.
Bororo é o nome como os não-índios sempre os identi-
ficaram, mas a palavra Bororo em sua língua significa pátio,
praça, aldeia. A palavra indígena que utilizam em sua
língua para se identificarem é Boe (gente). Porém, quando
falam o português, autodenominam-se, também, Bororo,
incorporando a denominação não-índia. São conhecidos
também como Coxiponé, Coroados, Porrudos, Cu iabá ou
Bororo-Ararivá. Ritual Bororo na reserva Meruri, em 2004

04

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Cerimônia Paikum Kapa, dos Bakairi, em agosto de 2005

são momentos e espaços de novas alianças e de reforço Os Bakairi viviam na margem direita do rio Paranatinga.
da coesão tribal. Nesses momentos, os Bororo que estão Em decorrência de brigas internas e de inúmeras pressões
separados em diferentes categorizações sociais suplantam de grupos rivais, os Bakairi migraram em várias frentes.
as oposições e unem-se em papéis complementares. Uma parte foi em direção ao córrego Santana, onde está a
Para sua sobrevivência, os Bororo praticavam a coleta e TI Santana. Outra parte subiu o rio Paranatinga, onde está
caça . Porém, na atua lidade, cada vez mais têm se voltado a TI Pakuera. Uma terceira parte, a maior, foi para os rios
para a agricultura e pecuária, contrariando hábitos ances- Tamitatoala-Batovi e Kurisevu, afluentes do alto Xingu.
trais. Também vendem artesanato nas cidades vizinhas às Desde o século XVIII, há registros de contatos dos Bakairi
reservas para complementarem as necessidades advindas com os não-índios. Estiveram presentes na condição de
mão-de-obra escrava nas minas de Mato Grosso, e depois
do contato com a sociedade não-índia.
O território Bororo ficou reduzido às terras formadas na extração da borracha e na pecuária. No início do século
XX, seringalistas instalaram barracões de seringa no inte-
pelas áreas: Perigara, em Barão de Melgaço, com 10.740 ha;
rior da reserva de Santana, que havia sido criada em 1905.
Tadarimana, no município de Rondonópolis, com 9.785 ha;
Após a expulsão dos seringalistas, os Bakairi tiveram
Merure, nos municípios de Barra do Garças e General Car-
que continuar a vender sua força de trabalho aos latifun-
neiro, com 82.301 ha; Sangradouro, anexo à área Xavante,
diários da região e a fazer suas roças, pois havia pouca caça
nos municípios de General Carneiro, Poxoréo e Novo São
e peixes na área indígena. Também praticam atividades na
Joaquim, com 100.280 ha; Jarudore, em Poxoréo, com
própria aldeia, pois, como estavam na área de influência da
4.706 ha (esta área encontra-se ocupada por não-índios
BR-364, tiveram projetos de desenvolvimento comunitário
e sua população distribuída nas demais áreas Bororo);
financiados pelo projeto Polonoroeste. Receberam trator,
Tereza Cristina, situada em Santo Antônio de Leverger,
caminhão, implementas agrícolas e cabeças de gado.
com 25.694 ha. Nesses territórios, habitam cerca de 1.600
Parte deste povo, em decorrência do contato com os
índios (Funai/AER, 2004). não-índios, apresenta, atualmente, um certo desequilíbrio
populacional quanto à divisão por sexo e por idade e um
maior número de casamentos com não-índios, porém pre-
Os Bakairi servam várias características relativas à ordenação social e
realizam rituais, como o "batizado do milho", de extrema
O povo indígena Bakairi, que ocupou no passado a
importância para eles.
porção central de Mato Grosso nas nascentes dos rios O povo Bakairi vive na TI Bakairi, com 61.405 ha, em
Arinos e Teles Pires, vivem atualmente nas Terras Indíge- Paranatinga, e na TI Santana, com 35.470 ha, em Nobres.
nas denominadas Santana (35.471 ha), no município de Em 2003, totalizavam 754 índios, dos quais 198 índios se
Nobres, e Pakuera (61.405 ha), no município de Parana- encontravam na TI Santana (Funai/AER, 2004).
tinga. Falam língua que pertence à família Karib.

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•se aos trabalhos dos seringais. Osque
do rio dos Peixes, em função da lnttnslftca
dos não•fndlos em suas terras, optaram por ,:
aldeias próximas à altura do Salto dos Kayabf, no
rio. Entre os oitenta Kayabi que lá habitavam, .,,.
apenas 30 concordaram em ser transferidos para OPa
do Xingu. os que ficaram iniciaram uma luta para a con
ção na demarcação dessa área, exigindo a integração C:,
Salto às suas terras, que é considerado um lugar sagrado
na cultura Kayabi.
A TI Apiaká -Kayabi foi regularizada em 1991, abran-
gendo uma área de ~09.245 ha, por~m o referido Salto não
foi incluído na área indígena. Localizado no município de
Juara, esse território abriga as etnias Apiaká, Kayabí e Mun-
Crianças Kayabi duruku. Esses povos, em 2003, totalizavam cerca de 350
índios (Funai/AER, 2004).

O norte mato-grossense
Os Panará
O norte mato-grossense engloba os territórios dos
povos Apiaká, Kayabi, Panará (Kreen-Akarore).
os Panará fazem parte do tronco linguístico Jé. Seu
território ocupava as terras ao norte do rio Peixoto de Aze-
OsApiaká vedo, no extremo norte de Mato Grosso, até as cabeceiras
do rio lriri e a Serra do Cachimbo, no sul do Pará. Foram
OsApiaká falam a língua Tupi. Seu território ficava entre durante muito tempo, tidos como os "temíveis" índio~
o curso médio e baixo dos rios dos Peixes, Arinos, Juruena gigantes (ISA, 1996).
e Teles Pires. Os primeiros contatos com os não-índios são Em 1950, os irmãos Villas Boas tinham avistado várias
do início do século XIX. Os Apiaká sempre foram amigáveis aldeias dos Panará e, em 1967, foram vistos perto da base
com os viajantes que circulavam por esses rios, inclusive militar do Cachimbo, no su l do Pará, quando foram ten-
servindo como guias de navegação. Embora praticassem a tados os primeiros contatos em caráter oficial com estes
pesca, a caça e a coleta, já possuíam uma agricultura razoa- índios (Davis, 1978). O fra casso dessa primeira expedição
velmente desenvolvida (Opan, 1987). de contato, em 1968/1969, deixou sequelas que causaram
Entre os Apiaká existe um grupo arredio que vive iso- doenças e fome entre os Panará, pois eles, por receio do
lado no extremo norte de Mato Grosso, na área entre o contato com os não-índios, abandonaram suas roças e se
Juruena e o Teles Pires. Outros estão dispersos de Cuiabá a refugiaram na floresta do Cachim bo. Com o início da cons-
Belém do Pará; um terceiro grupo estabeleceu-se na Terra trução da BR-163, rodovia Cuiabá-Santarém, e da BR-080,
Indígena Apiaká -Kayabi, com 109.245 ha, no município de Brasília-Manaus, em 1972/1973, os irmãos Villas Boas,
Juara. Lá, vivem em duas aldeias na margem direita do rio acompanhados de índios Suyá e Txukarramãe, promove-
dos Peixes. Seu espaço na terra indígena divide-se daquela ram a "pacificação" dos Panará, em seu território originário,
dos Kayabi apenas pelo rio dos Peixes. no rio Peixoto de Azevedo, afluente do Teles Pires.
Entre 1973 e 1974, os Panará, que eram mais de 220 no
primeiro contato, ficaram reduzidos a menos da metade
Os Kayabi de sua população, e os poucos sobreviventes esmolavam
na beira da rodovia Cuiabá-Santarém. Em 11 de janeiro de
Os Kayabi fazem parte do tronco linguístico Tupi. Habi- 1975, iniciou-se seu deslocamento para o Parque do Xingu.
tavam o território compreendido entre as bacias do rio
Dos 220 índios encontrados à época da "pacificação", 79
dos Peixes, afluente do rio Arinos e o rio Verde, afluente
foram embarcados em avião para o Pa rque, abrigando-se
do Teles Pires, até o rio Peixoto de Azevedo. A partir da
nas aldeias Kayabi, Txukarramãe e Suyá.
metade .do século XX, com a pressão de seringa listas e
Os Panará estavam extre mamente enfraquecidos,
sob a ~rientação dos irmãos Villas Boas, a maior parte dos
doentes e não manifestava m nenhuma vontade de conti-
Kayabr, que habitavam próxim o ao Teles Pires, mudou-se
nuar a viver. Em 1976, estavam reduzidos a 64 índios. Com
para o Parque Nacional do Xingu e uma minoria integrou-
muita dificuldade e em função de uma assistência parti-

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passaram a se recuperar da desestruturação social.
cula:~ir de 1984, foram transferidos para um novo local,
A P ruindo uma nova aldeia, ao norte da BR-080 dando
~~ . ,
ências às mudanças que se faziam sempre na direção
seQU .ó. d
torno ao seu ternt no toma o.
dore . p·
Mudaram sete vezes, rumo ao no eIxoto de Azevedo.
Em 1989, fi ara~-se na aldeia do rio Arraia, onde resga-
sua identidade. Em 1991 , foram de ônibus rever
tara m .
u território de origem, mas encontraram no lugar da
seaior aldeia a cidade de Matupá. Do rio Peixoto de Aze-
:do foram para as cabeceiras do rio lriri, no sul do Pará,
também parte de seu território. Doze índios Panará dera m
início ao trabalho de construção da nova aldeia (ISA, 1996).
A TI Panará foi homologada em 2001 com uma área
fndias Paresi da aldeia Seringai, em Campo Novo dos Pareeis
de 494.017 ha, abrangendo os municípios de Guarantã do
Norte (MT), Matupá (MT) e Altamira (PA). Nesse território,
vivem 164 índios (Funai/AER, 2004). No início do século XX, a Comissão Rondon, ao ins-
;: talar uma nova linha telegráfica ligando Mato Grosso ao
õ Amazonas, cortou seu território. Com isso, os Paresi sofre-
.•

"' O oeste mato-grossense ram uma desorganização territorial e social. Grupos dis-
persaram-se de seus territórios originais em decorrência
•e
o.
No oeste mato-grossense, estão localizados os territó- dos novos valores e padrões de socialização introduzidos
e
a
:;; . rios dos povos Paresi, Umutina, Nambikwara, Myky, lrantxe, (Costa, 1985).
-O

o
os povos Tupi-Mondé e alguns grupos de índios isolados. A partir de 1960, seu território foi cortado pela BR-364,
.,
'O
gerando conflitos entre os índios e os fazendeiros que
~
começaram a se estabelecer em suas terras, conflitos estes
Os Paresi que foram intensificados com a vinda de grande número
de migrantes do Sul do país.
Os Paresi são um povo que pertence ao tronco Em 1991, foi homologada TI Paresi, com área de
linguístico Aruak. Se autodenominam Halíti (gente, povo) e 563.586 ha, nos municípios de Tangará da Serra e Sapezal.
se dividem em Kaxiniti, Waimaré, Kozárini, Warére e Káwali. No mesmo ano, foi regu larizada a área da TI Utiariti, com
Estes subgrupos, com dialetos distintos, habitavam territó- uma superfície de 412.304 ha, nos municípios de Campo
rios contíguos, mas com limites bem definidos. A partir do
século XIX, passaram a ser denominados Paresi.
Seu território ficava nas cabeceiras dos rios Arinos,
Sangue, Papagaio, Juruena e Alto Paraguai, no centro- Abertura dos Jogos Indígenas Paresi,
em Campo Novo do Pareeis
-oeste do Estado, onde estão até hoje. Esta área, do divi-
sor de águas da bacia amazônica e paraguaia, é composta
por um planalto arenoso que recebeu o nome deste
povo índio. Os diferentes grupos ocupavam as seguintes
áreas distintas: os Waimaré, a região dos rios Verde, Sacre
e Papagaio; os Kozárini, nos divisores de águas dos rios
Juba, Cabaçal, Jauru, Guaporé, Buriti, Juruena; os Kazíniti,
o vale do rio Sumidouro (afluente do Arinos) e o Sepotuba
(afluente do Paraguai).
As relações entre os Halíti e a sociedade não-índia
vêm do final do século XVII, quando bandeirantes paulis-
tas caçadores de índios e mineradores chegaram à área.
Depois do período áureo da mineração, a área ocupada
pelos Paresi foi tomada por levas de migrantes à procura
e extração da seringa e da poaia. Este período foi marcado
por tensão e violência (Opan, 1987).

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ovo do Pareeis e Sapezal, e a TI Rio Formoso, com 19.749
ha, também em Tangará da Serra. Em 1993, foram homo-
logadas as áreas das TI Estivadinho, com 2.032 ha, em Tan-
gará da Serra, e TI Juininha, com 70.537 ha, em Conquista
d'Oeste. Em 1995, foi regularizada a TI Figueiras, nos muni-
cípios de Tangará da Serra e Pontes e Lacerda, com 9.859
ha. Estão ainda em processo de identificação as TI Capi-
tão Marcos/Uirapuru, nos municípios de Campos de Júlio
e Conquista d'Oeste, a TI Ponte de Pedra, nos municípios
de Campo Novo do Pareeis e São José do Rio Claro, e a TI
Estação Paresi, em Diamantino e Nova Marilândia. De uma
forma geral, as aldeias Halíti apresentam baixa densidade
demográfica. Nessas áreas, viviam, em 2004, um total de
1.046 índios (Funai/AER, 2004).

Os Umutina
f
Os Umutina são uma ramificação dos Bororo. Perten- ~

cem à família Otukê do tronco Jê. É possível que a separa- .,
;.
ção do grupo tenha se dado em função de que uma parte e
"-
o
"
dos Bororo que vieram da Bolívia subiram o rio Paraguai, O\

perdendo o contato com os demais que desceram o rio. 8
Os Umutina avançaram mais para o norte, subindo o rio
.,,.,.o
~
Sepotuba e dominando as regiões do rio dos Bugres e Alto t'.
<(

rio Paraguai. .,,.,;


:i5
Na língua Paresi, "lmuti" quer dizer gente branca ou ea.
civilizada. Os Umutina são os índios que têm a pele mais o
~
clara no Brasil. Eram conhecidos como "Barbados", por .,,:,
o
possuírem barbas ou por usarem barbas postiças que õ.
Garoto da aldeia Umutina, em Barra do Bugres (2004) "
cz:
faziam de pelo de macaco bugio ou de cabelos das mulhe-

res da aldeia. O ritual do culto aos mortos é uma de suas


manifestações culturais mais importantes. Pintam-se com
jenipapo e carregam nas costas couros de animais, pois,
segundo suas crenças, eles encarnavam os espíritos de
seus mortos.
Os Umutina conheceram os primeiros contatos com os
não-índios ainda no século XVIII. Em função das invasões
que sofreram, com a corrida ao extrativismo da seringa e
da poaia, os Umutina abandonaram as aldeias próximas
do rio "Xopó" (Bugres) e do ri o "Laripó" (Paraguai). Com a
fundação da cidade de Barra do Bugres e os preços inter-
nacionais da poaia exportada para a Europa, comerciantes
passaram a financiar grupos de poaieiros para praticar cha-
cinas contra os índios. Essa tensão durou até o começo do
século XX, quando Rondon promoveu a chamada "pacifi-
cação". A TI Umutina encontra-se no município de Barra do
Bugres, onde vivem cerca de 280 índios (Funai/AER, 2004).
Aluna na aldeia Umutina, em Barra do Bugres (2004)

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-
ta
bro
ilhar
ere cuidam
:1ento de origem
daqueles de origem
e a ne e sidade do

· ma-se o comparti-
outros que ti eram
uando não é área tra- a ocupação do território Nambikwara, tentaram sem êxito
ela ontern es ,ritos desconhecidos transferir os índios do vale para uma terra indígena em
s. empre que alguém morre longe áreas de campo na Chapada. Como se não bastasse esse
eia c rp e levado para er enterrado em grave problema, o governo modificou o traçado original
a terra b a, onde r ça futuramente pos am da BR-364, fundamentalmente para favorecer os latifun-
diários e empresários que se instalaram no vale. O novo
s a i •ara e uma cultura que garante igual- traçado da rodovia, con truída com recursos do Banco
a e ec ó ica equilíbrio com o meio ambiente e um Mundial, cortou as terra que eram território Nambikwara
a p I ico que permite aos hon ens igual acesso ao no vale, sirnple mente ignorando-as. Somente depois
er esde que esses líderes sejam homens habeis. Para da construção da estrada e de seu asfaltamento é que as
rese · -la, apropriam-se de um territorio que possibilita área Nambikwara no ale foram demarcadas, limitando a
a e n i ência com muitas aldeias pequenas e temporária . ocupação de seu espaç tradicional no vale. Mesmo assim,
história da demarcação das terras Nambikwara é continuam a i er problema gra es com a ação de madei-
a istória de saques. O ale do Guaporé, área mais reiras e garimpeiro m ua terras. A TI Nambikwara, no
densa en e po oada por esses povos, foi irregularmente município de Comod ro, foi regularizada em 1990 com
li erada às empresas agropecuarias mediante e pedições 1.011.961 ha (ISA, 1996). Ne ta área habitavam, até 2003,
de certidões negativas pela Funai. Para que fosse possí el 331 índio (Funai/AER, 2004).

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OsMyky
df ena classificado como
Os Myky são um povo ln g d nenhum dos gran-
. ·o fazem parte e
grupo isolado, pois ~a ora tenham aprendido o por-
des troncos lingufsttcos. Em~ a falar sua língua Myky.
tuguês com os lrantxe, continuam t tempo esse povo se
Não se sabe exatamente há q~an ºsuas línguas apresen- ,
desmembrou dos lrantxe, por ~sso M k têm mantido
tam apenas dif~renças di~l;ta1s~I º:osti:es tradicionais,
sua cultura praticamente rn egr , , ro as
festas e rituais. Sua alimentação farta provem de suas ç
familiares, complementada pela caça e pesca. F .
O povo Myky teve seu primeiro contato com a una,
13 de junho de 1971 , quando ainda usavam machado
~; pedra lascada. Seu território está localiza~o no oes~e
de Mato Grosso, a poucos quilômetros do rio Papagaio
e pouco mais de 50 quilômetros da cidade de Brasnorte, roças todo ano. Gradativamente, os bens industrializados
:1
município a que pertence suas terras. A Men~u, com se incorporaram aos costumes lrantxe {roupas, instrumen-
tos para o trabalho agrícola, óleo, sal, fósforo, lanterna de
47.094 ha de superfície, foi demarcada apos conflito com
fazendeiros, e homologada somente em 1987. Os Myky, e~ pilha, sandálias de borracha, café, açúcar, sabão, anzol
1971, época do primeiro contato, somavam 22 índios e, ate linha de pesca, fumo, relógio, bicicleta, etc.), que procu~
2003, totalizavam 72 índios (Funai/AER, 2004). ram adquirir com recursos obtidos da venda da borracha
extraída nos seringais da área indígena. O contato cada vez
mais permanente com a sociedade envolvente levou os
Os /rantxe lrantxe a assimilarem os hábitos da cultura nacional, como
o traje, a religião católica, a dança aos pares, a música ser-
Os lrantxe formam, também, um povo de língua clas- taneja cantada e acompa nhada ao violão e a língua brasi-
sificada como isolada. Autodenominam-se Myky e vivem leira regional. Assim, apenas os mais velhos continuam a
em área de cerrado localizada no município de Brasnorte, falar a língua lrantxe. A TI lrantxe, no município de Bras-
à margem direita do rio Cravari, por isso são também cha- norte, foi regularizada em 1990, com 45.555 ha. Nela vivem
mados de Myky do Cravari. 250 índios (Funai/AER, 2004).
As primeiras referências sobre os lrantxe são da pri-
meira década século XX, mas, apenas no final da década
de 1940 estabeleceram contato mais permanente com os Os povos Tupi-Mondé
não-índios, depois que suas terras foram invadidas por
seringueiros. Pressionados, de um lado, pelos seringuei- Os povos indígenas Tupi-Mondé, com afinidades lin-
ros e por outros povos indígenas, como os Tapayuna e guísticas e culturais comuns, são formados pelos Gavião
Rikbaktsa, acabaram por se abrigar na TI Utiariti, onde a (ou Digót), Suruí (Paíter), Zoró (denominados de Cabeça-
Missão Anchieta mantinha diferentes grupos. Essa opção -Seca), Cinta-Larga, Arara do Guariba (desaldeados), Sala-
acabou por permitir uma reversão no processo de redução mãi (ou Sanamaika: extintos) e Mondé (dispersos). Seus
da população. Em 1968, Utiariti foi desativada e os lrantxe territórios estão nas bacias do ri os Aripuanã, Roosevelt e
foram para Uaporé - aldeia do capitão José. Depois dos Guariba (afluentes do rio Madeira).
problemas com os seringueiros no passado, foram os pro- Nem mesmo os desdobramentos que sucederam à
jetos agropecuários incentivados pela Sudam que gera- implantação e funcioname nto da linha telegráfica implan-
ram tensões e conflitos com os lrantxe. tada pela Comissão Rondon alcançaram de imediato os
Os lrantxe praticam uma economia autossustentada, povos Tupi que habitavam o norte dela. Os grupos Tupi-
com roças trabalhadas pelas famílias nucleares. Nelas plan- ·Mondé, dessa forma, puderam se conservar num relativo
tam arroz, mandioca brava e mansa, feijão, cará e cana- isolamento até fins da década de 1920, vivendo apenas
-de-açúcar. Complementam a alimentação com carne de
contatos eventuais com seringueiros, castanheiros ou
caça e peixe. Em suas terras, predomina o cerrado de porte
caçadores de peles. Esse quadro durou até o momento em
médio e a terra é pobre, exigindo a abertura de novas
que aquela área começou a ser tomada pelo extrativismo.

110

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seu avanço pelos rios Aripuanã e Roosevelt, come-
o oeorrer as hostilidades. a sociedade não-(ndla. Os Gavl..-
Lourdes fl au, que
"'a 'tório tradicional ocupado pelos povos Tupi- , a uente da margem direita do
O 1e;zia limites com os territórios de outros povos Rondônia, em 1953, se aproximaram vol
_,.cJé com os quais as relações sempre foram confli- uám~ turma de cauchelros. Em 1969 os a-...
,_,.,9enas, . 'b . V rlOS ataques 1 , .,..-,..-ma...,
'"" Essas relações intertri ais, marcadas por guerras e . . e a guns reveses, confraternizara
ruc,sas, visavam definir a extensão dos territórios domi- ~anmpe1ros às margens do rio Roosevelt. Em 1 ~Zor6
11anças, M . .
a par esses povos. esmo no interior de cada povo, a oram ao encontro dos Peões da fazenda Ca~nhal
~d~~uiçáo espacial dos grupos e aldeias expressa a trama marge~s do rio Branco, afluente do rio Roosevelt, o~ às
1st 1 sertanista~ _da Funai foram visitá-los. os
d r lações políticas entre eles, ainda que alianças even-
daS re d . t A poht1~a. indigenista oficial, baseada fundamental-
. ob a forma e in ercasamentos, viessem atenuar
tuais, s
nflitos permanentes. ~ente na lo~1ca dos fatos consumados, mostrou-se com-
estescO . P etam_en~e inerte e lenta para promover a necessária
A partir dos anos 1960, os atritos entre os diferentes
vos passaram para um segundo plano, em decorrên- proteçao aquelas comunidades indigenas. Nem mesmo a
transformação. de ai gumas sedes de garimpo
. em postos
P_º das invasões crescentes dos territórios indígenas, pela
eia •. bM G da F~na1, como o PIN Roosevelt e o PIN Serra Morena
expansão econom1ca so re ato rosso e Rondônia. Os modifico u a s1tuaçao.
· · Assim,
· as consequências funestas•
conflitos eclodiram em todo o noroeste mato-grossense.
Grileiros, posseiros e companhias colonizadoras passaram foram a disseminação, entre os povos indígenas, de gripes
a disputar com os índios a posse e/ou propriedade da terra. que passaram a contrair e que, talvez, tenham sido res-
Ahistória dos povos Tupi-Mondé do noroeste de Mato
pon_sáveis ~ela morte de mais da metade da população
Tupi-Monde. Na maioria das terras indígenas, o índice de
Grosso, desde os primeiros contatos, esteve marcada pela
mo_rtalidade, em especial a infantil, é muito alto. A pre-
violência. Nas décadas de 1950 e 1960, ocorreram algumas
cariedade da assistência à saúde tornou a malária uma
operações de extermínio denominadas "limpeza de área"
doença endêmica e a tuberculose, antes desconhecida
que atingiram proporções alarmantes e quase resultaram pelos índios, está disseminando-se.
no completo extermínio de todas as aldeias Cinta-Larga
Na atualidade, a questão mais grave para os vários
localizadas na região entre os rios Juruena e Aripuanã.
grupos Tupi-Mondé refere-se ao controle de suas terras
Entre esses genocídios, está o Massacre do Paralelo 11 , que contra a invasão das madeireiras e garimpeiros. O Pro-
teve repercussão internacional, provocando uma onda de grama Polonoroeste acelerou o fluxo de migrantes em
denúncias sobre práticas de genocídio de índios no Brasil. direção ao noroeste de Mato Grosso e leste de Rondônia
o "Massacre do Paralelo 11" revelou o caráter de barbárie e viabilizou a implantação de vários projetos agropecuá-
do processo de expansão capitalista na Amazônia. rios e de colonização. Em geral, a maioria desses projetos
Assim, os conflitos entre índios e os integrantes das estava respaldada por títulos de terra precários e certidões
frentes de expansão na região sucederam-se com extrema irregulares da Funai. Este conjunto de fatos colocam em
violência. Os ataques indígenas a vilas e a invasão de serin- risco a integridade dos territórios indígenas remanescen-
gueiros e de garimpeiros em terras indígenas ganharam tes e a sua própria existência (cultural Survival, 1981). Prin-
destaque na imprensa nacional. Em 1965, os Cinta-Larga cipais Grupos:
surpreenderam os habitantes da vila de Vilhena (RO).
Desarmados, cerca de 60 índios acamparam nas proximi- Os Suruí
dades do posto telegráfico, trocaram presentes e assisti-
ram a uma partida de futebol. Contudo, um ano depois, Os Suruí autodenominam-se Paiter, que quer dizer
uma nova visita dos Cinta-Larga resultou em várias mortes "Gente" ou "Nós Mesmos". Entre os povos Tupi-Mondé,
(OPan, 1987). os Suruí e os Cinta-Larga foram os primeiros a conhece-
A ocorrência desses fatos levou o Serviço de Proteção rem o processo de atração da Funai, o que ocorreu a partir
aos Índios (SPI) a estabelecer a "pacificação" dos Cinta- dos postos Sete de Setembro, Roosevelt e Serra Morena,
·Larga. Em 1966, tiveram início estas operações, que se no Aripuanã, em Mato Grosso; e da Base do Riozinho, na
revelaram sem coordenação e insuficientes num contexto BR-364, em Rondônia.
de invasão generalizada dos territórios indígenas por Os Suruí, além de praticarem atividades econômicas
garimpeiros, colonos e pelas empresas de mineração que tradicionais, tornaram-se em parte pequenos produtores
tinham alvarás de pesquisa concedidos pelo DNPM. de café para o mercado, aproveitando os cafezais aban-
O processo geral de pressão social fez com que outros donados pelos colonos retirados de suas terras pela Funai.
grupos Tupi-Mondé enfrentassem situações mais premen- Essa nova prática econômica levou muitas familias indi-
tes, que os levaram a estabelecer contatos amistosos com genas a se mudarem para os lotes que continham cultura

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de ca~. Com as terras demarcadas e a novidade da renda suas terras. Assim, os Cinta-Larga controlam, na atuali-
monetária obtida com a venda do café, os Surul passaram a dade, o PI do Aripuanã, regularizado em 1969 e 1989, com
reorganizar seu modo de vida. Como conseq uência dessas 1.609.700 ha, respectivamente, nos municípios de Jufna
transformações, a presença cada vez maior do dinheiro e (MT) e Vilhena (RO); TI Aripuanã, regularizada em 1991,
de bens da sociedade envolvente criou problemas profun- com 750.649 ha, nos municípios de Juína e Aripuanã; TI
dos na sociedade Surul. A entrega aberta das madeiras de Roosevelt, regularizada em 1991, com 230.826 ha, nos
lei aos madeireiros foi uma delas (ISA,1996). municípios de Aripuanã e Espigão d'Oeste (RO); e TI Serra
Morena, regularizada em 1990, com 147.836 ha no muni-
Os Cinta-Larga cípio de Juína. Até 2003, somavam 737 índios (Funai/AER,
2004)
Os Cinta-larga são assim denominados devido ao uso
de uma faixa de entrecasca de árvore ao redor da cintura . OsZoró
Este povo tinha seu território tradicional no alto curso dos
rios Roosevelt, Guariba e Aripuanã, cujo vales são caracte- Os Zoró, povo Tupi-Mondé, ocupam uma área locali-
rizados pela existência de solos férteis e um subsolo rico zada entre os rios 14 de Abril, Branco e Roosevelt, sendo
em minérios. Na lógica da ocupação territorial capitalista os dois primeiros afluentes do Roosevelt. A terra indígena
nesta área da Amazôn ia, estes recursos naturais provoca- Zoró, interditada por decreto em 1978, foi regularizada em
ram o interesse de garimpeiros, aventureiros, empresários, 1991, com 355.789 ha, no município de Aripuanã, o que
empresas de mineração e também pessoas que ocupavam representa apenas uma parte de seu território trad icional
cargos nos governos estadual e federal. onde realizavam suas expedições de caça e coleta. Nesse
Na atualidade, os Cinta-larga vivem dilemas e proble- território vivem cerca de 304 índ ios (Funai/AER, 2004).
mas que lhes têm sido impostos pela sociedade envol-
vente, tornando difícil prever seu futuro no interior dessa Os Arara do rio Aripuanã
lógica de ação capitalista. As questões que envolvem a e os Arara do rio Guariba
extração ilegal da madeira e a exploração mineral pelos
garimpeiros misturam-se a outros componentes de alto Inicialmente, o povo Arara ocupava os vales dos rios
risco, como por exemp lo as drogas, agora também instru- Aripuanã e Guariba, no noroeste de Mato Grosso. Estes
mento de subjugação desses povos indígenas. índios fazem parte do grupo linguístico Tup i, mas não
Os inúmeros conflitos vividos pelos povos Cinta-larga da famíl ia Mondé. Autodenominam-se "Yugapkatã". O
levaram o governo à homologação das demarcações de contato inicial destes índios foi feito com seringalistas no

Encontro de Mulheres Indígenas na Aldeia Ponte Nova, em Aripuanã (Arara do Rio Branco), em setembro de 2005

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Rikb kt e p r n m o tr nco llngufstlco M ro- Com ncía ao proekSSO e e;,:pro-
h bit m a b I do rio Juru n , no nort noro ste prlação de seus territórios, foram regularízadas à.$ TI
d Mato Gro so. Ocup v m um t rrltórlo qu s stendla, Erlkbaktsa, com 79.935 ha, no município de Bía norte, a
no ui, ar a b rr do rio Papagaio; no norte, até o Salto TI Japufra, com 152.509 ha, no município de Juara, e a TI
Augusto; a o ste, até o rio dos Peixes; e, a leste, até o rio Escondido, com 168.938 ha, no município de Cot:riguaçu,
Arlpuan . Suas ld ias se situavam, principalmente, na onde os Rikbaktsa têm enterrados seus ancestrais. O povo
•· margem direita do rio Juruena, no trecho entre o rio Papa- Rikbaktsa apresentou, nos últimos anos, expressivo aeY
" cimento populacional, contando, em 2001 , com cerca de
gaio e o rio Arinos. No norte da foz do Arinos, ocupavam as
duas margens do rio Juruena. 1.235 índios (Funai/AER, 2004).
A palàvra Rlkbaktsa quer dizer: Rik:pessoa, ser humano;
ba: reforço; tsa: plural, os seres humanos. Também são
denominados Erikbaktsa, e chamados reg iona lmente por
Canoeiros de Mato Grosso. Ficaram conhecidos no fina l
da década de 1940, quando opuseram resistência arma da
à frente extrativa de borracha que adentrava seu territó-
rio. O conflito durou cerca de dez anos, sendo "pacifica-
dos" entre 1956 e 1962 pela Missão Anchieta, momento
em que 75% da população foi dizimada por epidemias
de gripe, sarampo e varíola, e seu território reduzido à
antiga Reserva Florestal de Juruena, criada pelo governo
federal (Opan, 1987, p. 121-122). Mas, em decorrência das
pressões políticas, acabaram concentrados na Terra Indí-
gena Erikbatsa, em área pertencente ao atual município de
Brasnorte, que também abrigou várias famílias índias que
habitavam a área do Posto Escondido, localizada entre o
rio Juruena e o rio Aripuanã, mais precisamente na grande
curva do Juruena, no norte do Estado de Mato Grosso.
Mulheres Rikbaktsa da aldeia Prim avera, em Juína (2004)

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Os Enawen,-Nawl (SolumãJ • Plrlplcura - são índios Tupi Kawa
este nome dos Gavião do lgaraJ)é
Os Enawen~Nawf, também denominados Salumã, sido localizados na área entre os rios
510 um povo de língua Aruak. Enawen ê - Nawê' como . ·t se
" nha, afluentes do Roosevelt e Igarapé Dueto
autodenominam, significa •os que Possuem o espiri S ora. de Aripuanã (MT) (ISA, 1996).
Habitam o território localizado entre o rio Juruena e a e~
do No" e em Mato Grosso. Esse território estende-se o • Yakarawakta - têm s!do notados nos lgaraP'
rio Preto,' no norte, até a Reserva Nam bºkI wara, no. sul do
e Pacutinga, entre os nos Juruena e Aripuana, no
Estado; e dos rios Papagaio e Sapezal, a leste, ao no Doze cípio de Aripuanã (MT) (ISA, 1996).
de Outubro, a oeste.
As primeiras citações etnográficas referentes a esses
Isolados do Bara~ati - vivem n~ área entre 'los
índios datam do século XVII. Em 1974, foram contatados
Bararati e Maracana, afluentes do no Juruena, na05~
por membros da Missão Anchieta. Eram, na época, P?Uco
ent re Mato Grosso e Amazonas (ISA, 1996).
mais de 100 índios e, desde 1977, têm receb ido apoio da
Missão e da Opan. Os Enawenê-Nawê vivem co nce ntra -
dos em uma aldeia principal e várias al deias "secu ndárias",
distri buídas pelo território. Este grupo indígena, essen -
O nordeste mato-grossense
cialmente agricultor, se desloca co nti nuamente, pois os
solos da região são pobres. Como não con somem caça,
o nordeste de Mato Grosso conservou, até meados<fo
século XX, um co nj unto de povos indígenas que caracteri-
têm na pesca (em geral coletiva) a base prote ica de sua
alimentação. zavam a área como uma espécie de "encontro dos troneos
linguísticos". Ne la, faziam-se presentes povos descen-
Em função da posição geográfica que lhes permitiu
permanecer por longo tempo sem entrar em contato com dentes dos Tu pi, Arua k, Kari b e Jê. Na área centro-norte,
frentes de expansão, garantiram uma certa auton omia em estavam os territóri os dos Ka iapó, Juruna, Txukahamãe
refação aos não-índios. É um povo extrovertido e festivo, e Tapirapé; na área centro-sul, estavam os territórios dos
agricultores e pescadores. Mesmo depois do contato com Karajá, Xavante, Aweti, Mati puy, Txikão, Ku ikure, Kamaiurã,
os não-índios, têm mantido de forma integral seu modo Nahukuá, Waurá, Yawala piti, Kalapalo e Trumai. Estes
de vida, pois costumeiramente não se afastam de seu ter- povos, após diferentes tipos de contato, foram sendo reu-
-
<

ritório, exercendo sobre o mesmo domínio total. Poucos nidos em terras indígenas: Kai apó, no su l do Pará; Tapirapé,
produtos da sociedade envolvente foram introduzidos em Santa Terezinha; Karajá, em Luciara e Il ha do Bananal;
entre esses índios (ferramentas e medicamentos básicos), e os demais, exceto os Xava nte, est ão no Parque Nacional
permitindo o seu fortalecimento cultural. Falam apenas o do Xingu, instalado desde o início da década de 1950 e ofi-
cializado em 1961.
seu idioma e conhecem pouquíssimas palavras da língua
portuguesa .
A TI Enawenê-Nawê foi homologada em 1996, com
742.088 ha, abrangendo os municípios de Juína, Como- Os Karajá
doro e Sapezal. Na TI vivem 330 índios (Funai/AER, 2004).
Os Karajá pertencem ao tronco lingu ístico Macro-Jê.
Autodenominam-se lnã, e estã o divididos em três subgru-
fndios isolados pos: os Karajá, os Javaé e os Xa mbioá. O território Karajá
está localizado nas margens do ri o Araguaia, de Aruanã até
Os "índios isolados" ou "índios arredios" são povos Xambioá, numa extensão de ce rca de 2.000 km, inclusive
indígenas que não estão em contato permanente com a na Ilha do Bananal, em áreas dos Estados de Mato Grosso,
sociedade não-índia. Em geral, mantêm distanciamento Pará, Tocantins e Goiás.
da população envolvente através de fugas constantes Os bandeirantes caçadores de índios, depois os garim-
dos não-índios ou de grupos indígenas rivais. Muitos são peiros, comerciantes, militares e missionários, estabele-
remanescentes de povos indígenas considerados extintos. ceram os primeiros contatos com os Karajá, no inicio do
Outros são povos que ainda resistem ao avanço sobre as século XVIII. No século XIX, foram obrigados a se instalar
últimas áreas virgens da Amazônia e que se separaram na colônia mil itar D. Pedro li (Carretão) junto aos Kayapó.
em função de cisões intern as ou dispersões inesperadas seus inimigos tradicionais, em decorrência dos constantes
causadas pelas constantes f ugas e guerras. Entre os vários ataques pro movidos aos povoados que se formavam em
grupos de índios isolados, estão:
seu territ ório, O governo, por sua vez, realizava at q
"punit ivos" visando "amansá -los".
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Meninos Karajá jogam uma "pelada" no fim de tarde nas
Esses índios, na estação das secas, ocupam as praias areias do rio Araguaia, em São Félix do Araguaia (2005)
do ri~ Araguaia , alimentando-se de peixes e tracajás e, na
estaçao das chuvas, vivem nas terras mais altas, onde cul-
tivam suas roças, embora os peixes sejam a base de sua
alimentação.
A área indígena Karajá da Ilha do Bananal tem sofrido Tapirapé até a divisa com o Pará. É possível que chegaram
invasões de posseiros e fazendeiros, que, através da Funai, a esta área em decorrência dos ataques frequentes dos
"arrendam " as pastagens naturais existentes na Ilha. A Kayapó e dos Karajá, seus inimigos tradicionais. Esses três
esses problemas, somam-se os da pesca predatória, a inva- povos, há séculos, sempre mantiveram relações, através
são de turistas na ilha, o projeto de construção da Rodovia do rapto de mulheres e crianças.
Transa raguaia, que cortaria a Ilha do Bananal no sentido Com a política dos incentivos fiscais da Sudam, gran-
leste-oeste e, mais recentemente, o projeto da hidrovia des grupos econômicos e financeiros passaram a requerer
Araguaia-Tocantins. terras onde esses índios viviam, inclusive a atual TI Urubu
Em Mato Grosso, são terras indígenas Karajá: a TI São Branco, considerada cemitério de seus antepassados.
Domingos, regularizada em 1991,com 5.705 ha,em Luciara; Partes dessas terras foram loteadas pelo antigo Departa-
a TI Tapirapé-Karajá, regularizada em 1983, com 66.166 ha, mento de Terras e Colonização do Estado, ainda em 1959,
em Santa Terezinha e Luciara; e a TI de Aruanã 11, reg ula- dando origem aos conflitos com o avanço da fronteira agrí-
ri zada em 1996, com 893 ha, no município de Cocalinho. cola a partir de 1970.
A TI Cacique Fontoura foi identificada e delimitada com Desde 1951, as Irmãzinhas de Jesus atuam nessa aldeia,
32.069 ha, em 2002, nos municípios de Luciara e São Félix contribuindo para a recuperação desse povo. Para coor-
do Araguaia . Está em processo de identificação a TI Lago denar essa ação, foi criada a "Missão Tapirapé", integrada
Grande, no município de Santa Terezinha, na divisa com por missionários leigos que prestam assistência na área de
o Pará, onde há um pequeno povoado com duas casas e saúde e educação. Há, também, um posto da Funai para
cerca de 20 índios. Nesses territórios, vivem cerca de 310 atender os Tapirapé e os Karajá.
índios (Funai/AER, 2004). Após mais de 20 anos de luta, em 1983, o governo
federal destinou uma área de 66.166 ha aos Tapirapé e
aos Karajá, criando a TI Tapirapé-Karajá, nos municípios de
Os Tapirapé Santa Terezinha e Luciara. No final de 1993, os Tapirapé vol-
taram a viver em sua terra tradicional, a TI Urubu Branco,
Os Tapirapé são do tronco linguístico Tupi e se auto- homologada em 2001, com 167.000 ha, nos munidplos de
denominam "Tapi'irãpe". Seu território tradicional esten- Santa Terezinha, Confresa e Porto Alegre do Norte. Nesses
dia-se pela área que compreende as cabeceiras do rio territórios, vivem cerca de 350 índios (Funai/AER, 2004).

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Ritual da "furação de orelha", de íniclação maswlína ,cav__,

Em 1957, os salesianos mudaram os Xavante da áreacta


Os Xavante
suyá para São Marcos, em função das tensas relações com
os Bororo da Missão Merure. Assim, São Marcos tornou-se
Os Xavante são do tronco linguístico Jê. Sua autodeno-
uma área Xavante, às margens do rio das Mortes. Outros
minação é A'úwe. Vivem, atualmente, em seis terras indí-
Xavante foram levados para Sangradouro, para uma área
genas no leste do Estado de Mato Grosso, na região do
Araguaia. entre o rio das Mortes e o rio Sangradouro, onde foi aiada
No passado, os Xavante ocuparam territórios diferen- outra área indígena, localizada em um território típico e
tes, pois, face à sua resistência ao contato com os não- tradicionalmente Bororo.
-índios, migraram enquanto conseguiram. Seu último Ainda durante o começo da década de 1950, um outro
território foi a área do rio das Mortes, que fora, em parte, subgrupo dos Xavante do rio Couto Magalhães migrou
território Bororo. Nos dois últimos séculos, permanecera m na direção do rio Paranatinga, dividindo-se, por sua vez,
hostis com os não-índ ios e com qualquer tentativa de con- em dois blocos. Um estabeleceu contato com a frente de
ta to pacífico a ser estabelecido com eles. Entre 1930 e 1940, atração do Posto Indígena de Simões lopes (BakairQ, e o
tanto o Serviço de Proteção ao [ndio (SPI) como a Missão outro grupo foi mais para o oeste e manteve contato com
Salesiana tentaram, se m resultados, manter contatos com os indigenistas do SPI, no ri o Batovi. Nesta área, foi criada
eles. Em decorrência da pressão que passaram a sofrer na a Terra Indígena Xavante de Marechal Rondon. Em 1974, os
área do rio das Mortes, os Xavante se subdividiram em três dois blocos de Xavante iniciaram o retorno ao rio Kuluene,
grupos, cada um experimentando diferentes formas de seu território tradicional, onde fo i criada a área indígena
contato com a sociedade envolvente. Esses, também, aca- do Kuluene. Em 1980, as áreas indígenas de Couto Maga-
baram por ter relacionamentos históricos distintos com o lhães e do Kuluene e outras áreas de ocupação antiga
território ocupado (SILVA, 1980). deste povo, que já estavam invadidas pelos grileiros,
Em 1946, após muitos confrontos, os Xavante fizeram sobretudo a Fazenda Xava nti na, foram transformadas na
contatos pacíficos com agentes do SPI. Um primeiro grupo Terra Indígena Parabubure. Este grupo, mesmo estabele-
está, na atualidade, habitando a TI Pimentel Ba rbosa e a cendo contato com o SPI, acabou recuperando parte de
TI Areões. O segundo grupo Xavante foi para a missão seu território.
Salesiana de Merure, no rio das Garças, já ocupada pelos Em seus territórios está a maior concentração de proje-
Bororo, fugindo, assim, dos confrontos com fazendeiros e tos agropecuários. As novas fazendas, finan ciadas e incen-
buscando livrarem-se das epidemias. O terceiro grupo, em tivadas pela Sudam, se in cumbiram do contato com os
1956, abandonou seu território na área do rio Couto Maga- nativos e a consequência foi uma sucessão de genocídios
lhães e procurou, por vontade própria, a TI Merure. Outro e etnocídios.
grupo Xavante, que ocupava a região do rio Suyá Missu, foi Os Xavante, de uma forma geral, têm questionado os
coagido a abandonar seu território tradicional. Suas terras limites das áreas que habitam, a exemplo dos Xavante
fo ram transform adas em uma grande em presa ag ropecuá- de Sa ngradouro, que conseguiram recuperar e integrar
ria e os índios que não morrera m depois do contato fo ram na TI Sa ngradouro a área denominada Volta Grande. Esta
reti rados doentes e transportados de avião para Merure. área está separada das terras de Sangradouro pelo rio das

11 6

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e é étea de caça dos Xav n . a Ti a lnd a
bém ocorre proc so elhan , duas novas
MNS foram con ld ada ,ndtgenas. as, no caso dos
)(avante de São Marco , a t r:ras stão nas mãos de fazen-
deiros e suas e ~•çõ d caça, m geral, sempre gera
confh os com o nao-mdros ·v,zm os· da área ind 'gena.
O avant sempr foram caçador s e cole ores A
Fun i, durante o a o 1970, de nvolv u proje O de pl~n-
10 e gran_d cala_ d arroz, visando introduzi os í dios
a ec nom,a produtiva r gional com o intui o de de uir
o 1st ma rad1c1onal da sua conomia, baseada na caça e
a col a. Ao m smo empo, o órgão entava l'vrar-se das
d s as" razrdas pelos grandes contingen es de índios
das terras 1ndíg nas Xavante
Com os problemas advindos da monocultura do arroz
a Funai pas ou a incen ,var a diversificação de culturas:
introduzindo, nas áreas indígenas, a cultura da soja. Em
algumas áreas, os Xavante térn ampliado a roça de toco,
como alternativa as restrições impostas pelos fazendeiros
as suas xpedições de caça e coleta.
Os Xavan e tém como parte de sua cultura a prática
da cisão das aldeias. É neste momento que novos líderes
estabelec m aldeamentos independentes, reproduzindo
o sistema político do faccionalismo, tradicional na cul-
tura Xavante. A Funai tem se aproveitado desse sistema,
incentivando as cisões através da viabilização e destino
dos recursos e projetos. Assim, o número de aldeias e sua
população têm aumentado. O crescimento da população
Xavante ocorre em função de acomodação pós contato e
a melhoria nas condições de saúde. Mas traz para a socie-
dade Xavan e a consciência da necessidade de ampliar sua A "furação de orelha", ápice do ritual
área e, ao mesmo tempo, de retomar as terras pertencen- de iniciação masculina Xavante
tes aos seus territórios tradicionais.
Boa parte da cultura Xavante continua praticamente Os Xavante estão distribuídos nas seguintes t erras indí-
intacta, embora tenha incorporado inovações. Continuam genas: Areões, homologada em 1996, com 218.5 15 ha, no
correndo com suas toras de buriti e tornaram-se fanáticos município de Agua Boa; Areões 1, com 24.450 ha, também
Jogadores de futebol e torcedores dos clubes nacionais. em Água Boa; e Areões 11, com 16.650 ha, em Cocali nho,
Rádios e gravadores tornaram-se constantes na vida coti- ambas em processo de identificação; Chão Preto, homo-
diana. Continuam, também, a promover o ciclo de iniciação logada em 2001, com 12.741 ha, em Campinápolis; Marãi-
dos homens, ritual que ocupa papel central no cerimonial watsede, regularizada em 1998, com 165.241 ha, em Alto
avante. a maioria das aldeias, os meninos vivem um da Boa Vista e São Félix do Araguaia. Encontra-se ocu-
per odo de 4 a 5 anos na casa dos homens solteiros, onde pada por não-índios e sua população distribuída entre as
recebe uma educação baseada na cultura tradicional. TI Pimentel Barbosa, Parabubure e São Marcos. Marechal
Passado este período de relativo isolamento, finalizam Rondon, regulariza da em 1996, com 98.500 ha, em Para-
com uma elaborada cerimônia de iniciação, quando ocorre natinga; Parabubure, regularizada em 1991, com 224.447
a perfuração das orelhas. Com as meninas, o processo de ha, em Água Boa e Campinápolis; Pimentel Barbosa, regu-
iniciação também continua calcado na sua cultura tradi- larizada em 1986, com 328.966 ha, em Canarana e Ribei-
cional. A vida escolar faz parte do cotidiano das crianças, rão Cas alheira; Sangradouro/Volta Grande, regularizada
o que gerará transformaçoes na cultura dess s povos, em 1991, om 100.280 ha, em Genera l Carneiro, Poxoréo e
embora os Xavante sejam preocupados em não p rd r a Novo ão Joaquim; São Marcos, regularizada em 1975, com
sua identidade cultural e, ao mesmo tempo, afirmarem-se 188.478 ha, em Barra do Garças. Nesses t erritórios vivem
como um povo livre. cerca de 6.300 índios Xavante (Funai/AER, 2004).

117

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Festa do Kuarup, etnia Kuikuro, no Xingu (setembro de
2

Xingu; Diauarum, também na margem do rio Xingu d .


Parque Indígena do Xingu , M. v· ·1 · . , ep0,s
da foz do Suya Issu; 191 ancIa,. no. ponto em que a rod •
0
via BR-080 corta o Parque; Kret1re, Junto à aldeia Txuka
A área indígena conhecida por Parque Indígena do rra-
mãe; e Jarina, no norte, fica na AI Kapoto/Jarina.
Xingu inclui o Parque propriamente dito, regularizado em
1969, com 2.642.003 ha, e a TI Kapoto/Jarina, com 634.915
o principal acesso ao Parque se dá por avião, podendo-
-se aterrissar nos postos ~eonardo, Kretire, Diauarum e
ha, perfazendo um total de 3.276.918 ha. Há, também, ao
norte desta última, no limite com o Pará, TI Mekragnoti, Vigilância, em pequenas pistas de terra. Por terra, 0 único
sendo que a maior parte da superfície fica no Pará. acesso é pela BR-080, onde a travessia é feita por bals
O Parque foi implantado em 1952, por proposta dos controlada pelos próprios índios. Já por água, os acesso:
irmãos Villas Boas, sendo oficializado em 1961. É banhado são muitos, mas o rio Xingu é o principal.
no sentido sul-norte pelo rio Xingu, que nasce da con- No final do século XIX e início do século XX, os povos
fluência dos rios Kuluene e Tanguro e, também, pelos xinguanos, com línguas e culturas diferentes, habitavam
rios Batovi, Ronuro, pelo afluente deste último, Von den ininterruptamente territórios localizados nas bacias dos
Steinen, Tuatuari e Kulisevu, no sul; pelo rio Arraias e seu formadores do Xíngu, do Ronuro ao Kuluene, do Para-
afluente Manissuia-Missu, no oeste; e pelo rio Suyá-Missu, natinga ao Xingu . Havia cerca de 38 aldeias e, aproxima-
no leste. Aí vivem 17 povos: Kamayurá, Kalapalo, Kuikuro, damente, uma população de 4.000 índios. Tanto a leste
Mehinako, Waurá, Matipu, Nahukwá, Txikão, Trumai, Aweti, quanto a oeste desses territórios viviam outros povos, que
Yawalapiti, Kayabi, Suyá, Juruna e Tapayuna. Os Txukarra- mantinham contatos esporádicos e até mesmo hostis com
mãe (Kayapó Metuktire) ocupam a TI Kapoto/Jarina. Esses os povos do Xingu. Muitos desses povos desapareceram,
povos, cerca de 3.110 índios, falam Tupi, Aruak, Karib e Jê, em decorrência de doenças trazidas pelos não-índios,
ou seja, os quatro grandes troncos linguísticos indígenas como os Yaramá, povo de língua Karib que vivia a leste do
conhecidos no Brasil. Kuluene, e os Kustenau, grupo Aruak que habitava terras
No Parque, a Funai mantém cinco postos indígenas: no rio Suyá Missu.
Leonardo, em homenagem a Leonardo Villas Boas, na Na década de 1950, o governo de Mato Grosso reali-
margem do rio Tuatuari, afluente do Kuluene, no Alto zou um grande plano de loteamento e colonização, entre-

Festa do Kuarup, etnia Kuikuro, no Parque Nacional do Xingu (setembro de 2005)

118

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gando às grandes empr sas agropecuárias e Imobiliárias 1. Com base na leitura do texto, faça um coment6dô
praticamente toda a área contida no anteprojeto de cria- sltuaçao atual dosterritóriosIndígenas em Mato Grosso.
ç o do Parque, decorrendo dai sucessivas alt _
. ' · eraçoes e
reduções da área original. Em 1978 foi feita a de _ 2. Pesquise sobre os povos Indígenas do Parque Nacional do
• • fi ' marcaçao Xlngu e o significado do Kuarup, uma festa ritual de povos
defin1t1va, cando o perímetro do Parque limitado por um
xinguanos.
picadão de 20 metros de largura A Area lndl J •
· gena arma,
também demarcada, ficou fora do Parque o T k
. . s xu arra- 3. Dê a sua opinião sobre as denominadas •ações de pacifica-
máe, com o apoio dos demais povos xinguanos, desen - ção" dos povos indígenas, seja por decisão de organismos
cadearam uma longa e demorada luta para recup oficiais ou não governamentais.
. . R . . d' _ erar seu
temt 6rio. e,vin ,caçoes e pressões fizeram parte de suas
ações. A~é 1984, fora m necessárias iniciativas diplomáticas 4. Há, na atua lidade, territórios indígenas em seu município?
e agressivas po_r pa rt: dosTxu karramãe para defender suas O que você conhece sobre eles? Quais suas características
terras co~tra a invasao de_fazendeiros e madeireiros e para cu lturais e suas condições de vida?
reconquistar suas posses imemoriais garantidas pela Cons-
tituição. Nessa luta contínua, conseguiram interditar uma
s. Consulte o site da Funai (www.funai.gov.br/funai.htm), e
procure no link "Índios do Brasil" informações sobre a polí-
faixa de 15 km na margem direita do Xingu, limite norte
tica indigenista do governo federal e escreva sua opinião
da reserva. Essa área fo i declarada de interesse social, para sobre a efi cácia ou não desta política para os povos indíge-
fin s de desapropriação das propriedades particulares que nas.
tinh am se instalado nessa fa ixa, após a construção da
BR-080. Nesse mesmo ano, o governo federal declarou de 6. No mesmo site leia sobre as terras indígenas e sua demar-
ocupaçã o indígena a área. cação e expresse sua opinião sobre a importância do reco-
A maioria dos povos xingua nos vive independente dos nhecimento das terras indígenas para a manutenção ou não
mecanismos do comércio e do mercado. A sobrevivência destes povos.
é garantida pelo traba lho na roça em moldes tradicionais,
7. Leiaa Declaração das Nações Unidas sobreos direitos dos Povos
onde cultivam mandioca, milho, batata doce, amendoim,
Indígenas (eBook gratuito: <http://www.entrelinhaseditora.
ba nanas, e pela pesca, caça e coleta . Os Txukarramãe, com .b r/p rod utos/ p.asp?i d =19o&prod uto= declara cao _
Kayabi e Suyá, do norte do Parque, travam algumas rela- d as_na coes _uni das_sob re _os_d i rei t os_d os_povos_
ções com o mercado, pois vendem arroz, banana e mel nos indigenas>), em defesa da ca usa índia, sancionada pela
vilarejos próximos à BR-080. O artesanato é o mais antig o Organização da Nações Unidas - ONU, e realize um debate
e explorado meio de articulação com o mercado das gran- sob re o assunto, em sala de aula.
des cidades.
O grande problema enfrentado pelos povos do Para saber mais ...
Parque Nacional do Xingu reside no processo acelerado
Sites
de ocupação territorial das regiões vizinhas. Na porção
Fundação Nacional do Índio - Funai:
leste, está a frente formada pelos fazendeiros que insis-
www.funai.gov.br
tem no processo de desmatamento para a formação de
Associação Brasileira de Ant ropologia - ABA:
pastagens, particularmente na área norte, no município www.abant.org.br
de São José do Xingu . A oeste, os madeireiros gradativa- Instituto Socioambiental - ISA:
mente aproximam-se dos limites do Parque, enquanto as www.socioambiental.org/pt-br
estradas vindas de Marcelândia, Cláudia, Santa Carmem Conselho lndigenista Missionário - CIMI:
e Vera chegam à sua divisa. Ao sul, o problema está nas www.cimi.org.br
cabeceiras dos rios que formam o alto Xingu: todos têm
suas nascentes fora do Parque e estão em processo de Livro
Leia Nas pegadas de Rondon, de Hélio J. Bucker e lvete 8.
desmatamento e formação de área de produção de soja,
Bucker. Editora Entrelinhas, 2005.
sobretudo em Canarana. Desde 1993, com recursos da
Rainforest Foundation da Noruega e o Instituto Socioam-
biental, desenvolvem um projeto de monitoramento por
satélite dos li mites do Parque, através do projeto "Frontei-
ras Parque Nacional do Xingu". Este projeto pioneiro deri-
Veja o capitulo 9
vou do Programa Povos Indígenas do CEDI, e constitui-se História de Mato Grosso, que trata da
em instrumento poderoso de detecção de invasores em indígena frente a domlnaçlo
áreas indígenas.

119

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Vista de Cuiabá, do entorno (Jardim Florianópolis) para o centro: a ocupação desordenada circunda prédios populares, vizinhos dos edifícios de
classe média. Ao fundo, os grandes edifícios da parte nova da cidade em direção ao centro

A formação das cidades e a urbanização


O extraordinário crescimento das cidades, a partir da Urbanização é o processo de crescimento das cida-
Revolução Industrial, constitui-se em um dos fenômenos des tanto em população quanto em expansão do espaço
sociais mais marcantes do mundo contemporâneo. Con- urbano; neste caso, é o espaço urbano incorporando parte
tudo, foi no século XX, particularmente entre 1920 e 1960, do espaço rural. Ressalta-se que o espaço rural é bem mais
que a população das cidades no mundo passou de 360 extenso do que o espaço urbano, mas é menos povoado.
para 900 milhões de habitantes, tendo alcançado, no ano Nota-se que, no momento atual do contexto econômico
2000, mais de três bilhões de habitantes (Figura 8.1). capitalista, a cidade sobrepõe-se ao campo, tanto em
A expressão "população urbana" refere-se aos que população quanto em atividades produtivas.
habitam as cidades, apresentando como uma de suas A urbanização refere-se também ao processo de maior
principais características o vínculo produtivo com os seto- crescimento da população urbana em relação à população
res econômicos secundário e terciário, contrapondo-se à rural. Assim, um país, ou mesmo uma região, só é conside-
"população rural", que é a designação dada às povoações rado urbanizado quando sua população urbana se torna
que vivem no campo e que mantêm relações produtivas maior que a população rural. A urbanização é, portanto,
com o setor primário. Na atua lidade, as atividades econô- um processo de concentração espacial da população que
micas das populações urbanas e rurais são interdependen- dá conformação à cidade. A cidade é um espaço produ-
tes e se fortalecem continuamente. zido, configurado, ocupado e apropriado por um grupo de

nn
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pessoas, onde se proc sam r laç es sociais determinadas
por um si t ma on mico, social e polltico defmld forma urbana se refere ao arranjo das diferentes
O pro o d formaç o das cidades remonta ~-Anti• ras que compõem a cidade e que lhe conferem um certo
guidad , sempr st ve vinculado ao campo •Mas a part r padrão de disposição espacial. Jâ a função diz respeito ao
1 papel ou papéis desempenhados pela cidade dentro de
da Idade Mod ma, mais precisamente com a ascensão do
modelo econômico capitalista no século XVIII, o campo um dado contexto de referência e que confere uma certa
pas o~ a ser d pe~d nte da cidade, pois é na cidade que Identidade à cidade ou aos setores em que se divide. Assim,
, as lóg1Ca econôm1Co·social do espaço ru ral são definida s. pode-se falar em cidade ou setor administrativo, cidade ou
Portanto, a ur~anização é um processo de agrupamento setor comercial, residencial, industrial, portuário, e outros.
Nessa perspectiva, os processos de urbanização são
das características rurais para as características urbanas.
diferenciados, pois resultam da formação econômica e
Essa prática está associada tanto ao crescimento da socie•
social dos países ou regiões a que se vinculam e que con•
dade quanto ao aprofundamento da tecnologia.
ferem, a cada cidade, funções específicas que se espe-
O processo de urbanização, que foi intensificado com
lham na setorização do espaço urbano e na estratificação
o advento da Revolução Industrial no século XIX, carac•
social. Nesse processo, podem-se distinguir dois fenôme·
teriza·se, sobretudo, pela vinculação com o desenvolvi- nos urbanos: a) concentração espacial de uma população
mento industrial e ampliação do setor de serviços, que, dentro de certos limites de dimensão e de densidade; b)
em última instância, resultam da expansão mundial do difusão de um sistema de valores e atributos de comporta-
'i capitalismo. Assim, a urbanização reflete espacialmente mento denominado cultura urbana .
e
e..
e
as contradições da economia de mercado, marcada por De acordo com os dados estatísticos, sabe-se que é nos
desigualdades sociais manifestadas principalmente, entre gra ndes centros urbanos que o crescimento populacional
outros, pela estratificação da sociedade e pela prod ução se processa em ritmo mais acelerado. Consequentemente,
setorizada do espaço urbano, ou seja, a estrutura espacial nesses centros, os problemas decorrentes do processo de
é uma materialização da estrutura social definida pela pró- crescimento demográfico têm maior relevância, em espe-
pria sociedade de classes, que confere, para cada cidade, cial nos países pobres e em desenvolvimento, onde ocor-
forma e funções espedficas . re m amplos quadros de exclusão social. ~
A relação sociedade-espaço no meio urbano reflete-se As grandes cidades brasileiras e latino-americanas
na forma e na fun ção das cidades, as quais consistem em sintetizam esse fenômeno. Amaioria dessas cidades apre-
eficaz meio de análise que permite compreender as rela- senta crescimento demog ráfico acelerado e desordenado,
ções sociais estabelecidas, responsáveis pelas diferentes dese nvolvimento econômico desigual e forte estratifi-
modalidades de produção do espaço. Ressalta-se que a cação social, com parcelas da população com alto poder
aquisitivo e elevado padrão social e camadas pobres que
Fig ura 8.1
vivem em precárias moradias, muitas vezes improvisadas,
desprovidas de equipamentos ou infraestrutura urbana.
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO URBANA MUNDIAL - 1920-2010
Portanto, a organização das habitações na paisagem
urbana denuncia a segregação socioespacial.

1920
• Os setores urbanos de elevado padrão econômico-
-social se caracterizam por se constituírem em espaços
definidos que abrigam edificações que refletem o alto
poder político e econômico de seus ocupantes, como os
1960 centros políticos administrativos (figura 8.2), as corporações
financeiras, distrito; industriais, médias e grandes organi-
zações comerciais. Por sua vez, os bairros reside~ciais de
2000 alto padrão social são caracterizados pela suntuosidade de
suas ma nsões e sofisticados estilos arquitetônicos.
Os setores urbanos ocupados pelas camadas pobres
2010 são, em sua maioria, constituídos por residências de tra-
balhadores de baixa renda, com pouca ou nenhuma for-
3,5 4,0
mação e, muitas vezes, desempregados. Esses setores, em
2,0 2,5 3,0
o 0,5 1,0 1,5
(em bilhões) gera l, localizam-se nas periferias urbanas ou em forma de
Fontt: Com une. 1982; IBGE. 2010.

121

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ocorre em multas cidades de Mato Grosso, prlncl
em Culabá, Várzea Grande e Rondonópolls, maiores ce
tros urbanos do Estado. 1\-1
Em muitas cidades do pais, a exclusão social
desencadeado a mobilização das classes populares n tem
.d d . d
pela terra na ci a e, ocas1onan o o surgimento de
a 1uta
·t 1otea-
.
mentos clan destmos nas pen erias urbanas, bem co
formação de favelas, onde não há infraestrutura
.
b:~
a
s1ca,
equipamentos u~ b anos e serviços públicos essenciais
como escola e saude. '
Entre os dois extremos urbanos de diferencia •
• . . 1 d . çao
economico-soc1a ou e riqueza e pobreza encontra-
ª classe média, cuja luta permanente é a manutenção :
status social e eco~ômi~o ~dq~irido. Os setores espacia~
urbanos pelos quais se d1stnbu1 esta classe são dotados d
in'.ra~strutura b~s_ica e contam com o suporte de serviço:
Figura 8.2 - O Centro Político-Administrativo de Mato Grosso, publicos essenc1a1s, nem sempre de qualidade ou suficien-
em CuiabA, é um exemplo de setorização do espaço urbano tes para atender as suas reais necessidades.
Assim, o espaço urbano é produzido, estruturado e
consumido dentro de uma dinâmica vinculada ao processo
enclaves no centro das cidades de médio e grande portes, de divisão social do trabalho em que cada parcela de terra
em vias secundárias de acesso aos setores comerciais - urbana detém um valor de mercado, que lhe é dado em
situação comum nos grandes centros urbanos. O processo função de sua localização e de sua potencialidade de uso
de periferiz.ação das cidades ocorre com a procura das clas- não só em termos produtivos como também em funçã~
ses de menor poder aquisitivo por moradias mais distantes das classes sociais que detêm poder sobre o mesmo.
dos seus centros, podendo estes se configurar como uma
segregação espacial, onde a tônica dominante é a insufi -
ciência ou mesmo a falta de benefíci os urbanos a uma par- Agentes produtores do espaço urbano
cela significativa da população. A situação de periferização
A estrutura espacial das cidades resulta da ação con-
junta de fatores e agentes socioeconômicos e políticos que,
de forma articulada e contínua, definem o espaço urbano,
dando-lhe características e formas próprias, que passam a
desempenhar funções específicas no local e na região.
O Estado, os proprietários dos meios de produção, os
proprietários fundiários, os investidores imobiliários, as
construtoras, as incorporadoras e os diferentes grupos
sociais são agentes promotores da produção do espaço
urbano. Atuam na produção de novos espaços e na trans-
formação e reordenação espacial de áreas de antigas
ocupações das cidades, promovendo a estruturação e
reestruturação contínua de seus espaços. Neste processo,
as novas estruturas urbanas são forma das mediante os
interesses dos agentes produtores, que definem suas loca -
lizações em função dos objetivos pretendidos, corno, por
exemplo, a valorização imobiliária. (Figura 8.3)
Assim, a formação de um setor urbano com fins polí-
tico-administrativos, por exemplo, cujo processo inicial é
Rondonópolis é a segunda maior cidade de Mato Grosso. É chamada conduzido pelo Estado, tem também a participação de
de capital brasileira do agronegócio. Com o crescimento da sua
outros agentes, como os proprietá rios da área eleita para
importância econômica, chegaram os problemas de periferização
das classes de menor poder aquisitivo e dos camponeses expulsos do o centro administrativo e os promotores imobiliários, os
campo pela mecanização da produção ou concentração fundiária quais, numa ação articulada em defesa de seus próprios

122

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;;i.
Figura 8.3 - O AlphaVille Cu iabá, condom ínio fechad O d _ .
que mod ifica todo O entorno e alto padrao, e um exemplo de empreendimento de grandes investidores imobiliários

in~eresses, passam a estruturar e a dar características pró- A urbanização brasileira


prias a esse novo setor urbano e suas adjacências.
Em Cu iabá, o Centro Político-Administrativo _ CPA Nos primeiros séculos de povoamento e colonização
que abriga a sede do Governo do Estado e da maior part~ do Brasil, a formação das cidades e vilas ocorreu associada
dos órgãos da admi nistração estadual, é bem caracterís- com a evolução econômica e política do país, tendo os
tico dessa situação. A implantação desse setor estimulou ciclos econômicos exercido forte influência na sua distri-
a prod ução de out ros espaços urbanos em seu entorno, buição pelo território nacional. Assim, na região Nordeste,
onde hoje são encontrados setores comerciais, bairros o ciclo da produção do açúcar deu origem às cidades de
residenciais de alto poder aquisitivo, de cl asse média, bair- Recife, Olinda e Salvador, bem como a muitas outras vilas e
ros populares e, ainda, bairros constituídos por pessoas de cidades de pequeno porte.
baixo poder aquisitivo, formando os bolsões de pobreza e O ciclo da mineração originou, na região Sudeste, mais
carências no espaço urbano da cidade de Cuiabá. precisamente em Minas Gerais, as cidades de Vila Rica,
A articulação de vários agentes é também senti da na hoje Ouro Preto, São João dei Rei e Mariana. Na região
estruturação de setores residenciais, em que participam Centro-Oeste, este ciclo foi responsável, entre outras, pelo
mais diretamente os proprietários fundiários, promotores surgimento de Goiás Velho, em Goiás. Em Mato Grosso,
imobiliários - que estimulam e agilizam a venda das terra s deu origem às cidades de Cuiabá, hoje capital do Estado,
- , as construtoras, incorporadoras e o próprio Estado, que, e Vila Bela da Santíssima Trindade, no extremo oeste.
normalmente, viabiliza a infraestrutura local. O ciclo do café, por sua vez, dinamizou a economia da
A participação de diversos agentes é também obser- região Sudeste, principalmente do Rio de Janeiro e São
vada na formação de favelas e loteamentos clandestinos, Paulo, contribuindo para o surgimento de inúmeras cida-
onde, além da participação de grupos sociais excluídos, des nestes dois Estados, como Parati, no Rio de Janeiro, e
há também a de promotores imobiliários, bem como o Pi ndamonhangaba, Taubaté e Ribeirão Preto, entre muitas
envolvimento do proprietário da terra ocupada, que outras, em São Paulo. (Figura 8.4)
pode ser, inclusive, o Estado. Entre muitos exemplos A partir de 1970, mais da metade dos brasileiros já se
desta situação em Cuiabá, pode-se citar o loteame nto encontrava em áreas urbanas. Em 60 anos, a população
Pedra 90, que surgiu da ação do Estado (1992-1996), que rural aumentou apenas cerca de 12%, enquanto a popula-
atuou co mo promotor imobiliário na im plantação do ção urbana aumentou em mais de 1.000%, passando de 13
loteamento através da Cohab-MT, órgão exti nto em 1996; milhões para 138 milhões de habitantes.
da ação dos grupos sociais excl uídos, que agiram para a Na segunda metade do século XX, o Brasil passou
obtenção da casa própria através da autoconstruçã o; e da por uma significativa transformação urbana, relacionada
ação dos proprietários fundiários que, através da venda com as etapas de desenvolvimento socioeconómico do
período. Essa mudança caracterizou -se, basicamente, pela
dos lotes, auferiram renda da terra .

123

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Agura8.4 0 crescimento vertiginoso das cidades brasileiras s6
veio a acontecer a partir de 1960. At~ 1950, os dados do
IRASR. - EXEMPLOS DE NIKl.EOS URBANOS VINCULADOS
AOS aa.os EC0NÕMICOS - stCULOS XVII, XVIII E XIX IBGE mostram que a população do pais era predominante-
mente rural, sendo que, dos 51.944.397 habitantes, apenas
18 .782.891 residiam nas cidades, representando 36,16% do
total, enquanto que a população rural alcançava 63,84%.
Em 1960, os números mostravam o ritmo da urbani-
zação: 44,67% da população total. Em 1970, aconteceu
a inversão: 55,92% da população era urbana. Contudo, 0
~
(lindo crescimento urbano verificado não era uniforme, mas res-
trito às regiões de maior desenvolvimento econômico.
Salvador Assim, em 1970, o Brasil contava com 8 cidades com mais
de 500 mil habitantes e 4 delas com mais de 1 milhão de
habitantes, incluindo os centros urbanos de São Paulo e
Rio de Janeiro, que atualmente fazem parte das grandes
metrópoles do mundo. De essencialmente agrícola, 0
Brasil caminhou para a urbanização.
~ Em 1980, 67,59% do total da população brasileira já
residia em cidades. Em 1991, o Brasil tornou-se essencial-
mente urbano: 75,59% do total da população era urbana.
Fonte AdaPtido sobrt ba>< canografia atual IIBGf. 2000b). A mesma tendência verificou-se em 2000, quando a popu-
lação total alcançou 169.544.443 habitantes, dos quais
137.697.439 se encontravam na condição de população
D Área do ciclo da cana-de-açúcar Área do ciclo do ouro urbana, perfazendo 81,22% do total da população recen-
Área do ciclo do café (1 ª fase) • Núcleos urbanos seada. Os dados de 2010 confirmam a expressiva urbaniza-
ção da população do país, a qual atingiu a taxa de 84,35%,
o que correspondeu a 160.879.708 habitantes vivendo nas
cidades. (Tabela8.1 eFiguras 8.5 e8.6)
escolha estratégica da industrialização corno eixo da eco-
nomia do país, que tinha por objetivo alcançar nova fase
de estabilidade econômica, superando, assim, o período Urbanização em Mato Grosso
agroexportador do café.
Com o advento da economia urbano-industrial, ·e o O Estado de Mato Grosso é o terceiro estado do país em
intenso movimento migratório rural-urbano verificado dimensão territorial, com 903.378.292 km 2, apresentando
naquele momento, a urbanização brasileira se processou densidade demográfica de 3,57 habitantes por quilômetro
em ritmo acelerado, apresentando mudanças em seus quadrado. A partir da segunda metade da década de 1960,
aspectos estruturais e funcionais. Assim, as cidades passa- o ritmo de crescimento populacional de Mato Grosso se
ram a contar com um novo sistema produtivo e a exercer intensificou, o que se refletiu diretamente na paisagem
novos papéis no plano econômico nacional. urbana, iniciando, assim, um processo de modernização

Tabela 8.1
BRASIL - POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL - 1950·2010

Anos População total População rural % População urbana %


1950 Sl.944.397 33.161.506 63,84% 18.782.891 36,16%
1960 70.070.457 38.767.423 55,33% 31.303.034 44,67%
1970 93.139.037 41 .054.053 44,08% 52.084.984 55,92%
1980 119.002.706 38.566.297 32,41% 80.436.409 67,59%
1991 146.825.475 35.834.485 24,41% 110.990.900 75,59%
2000 169.544.443 31.847.004 18,78% 137.697.439 81,22%
2010 190.732.694 29.852.986 15,65% 160.879.708 84,35%
Fonte: IBGE. Censo,: Demogr6ficos, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 20,0.

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das cidades mato-grossenses. Em relação ao processo de
ram origem, no século XVIII, os núcleos urbanos de Cha-
urbanização, Mato Grosso segue o ritmo nacional, mesmo
pada dos Guimarães, Cáceres, Porto Esperidião, Poconé,
predominando em seu território a atividade agropecuária.
Nossa Senhora do Livramento, Diamantino, Rosário Oeste,
A formação do espaço urbano de Mato Grosso teve
Santo Antônio de Leverger, Barão de Melgaço, e outras
origem na primeira metade do século XVIII. Nesse período,
(Figura 8.6). Estes núcleos urbanos tinham inicialmente a
foi fundada a cidade de Culabá, primeiro núcleo urbano,
condição de povoados e vilas. Só mais tarde - e no caso
seguido de Vila Bela da Santíssima Trindade. Também tive- de alguns núcleos somente no século XX -, foram eman-
cipados, alcançando a condição de cidades-sede de muni-
cípio. Após esta fase inicial, Mato Grosso passou mais de
figura 8.5
200 anos com um lento crescimento urbano em razão,
BRASIL - POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL - 19S0-2010
principalmente, da incipiente economia, das dificuldades
{em mllh6tl) de acesso ao Estado e das limitações do sistema de trans-
200 portes da época.
Total
No final do século XIX e durante as primeiras décadas
l Urbana
do século XX, ocorreu em Mato Grosso um incremento
150 'I
Rural populacional, de origem migratória, que deu origem
a vários núcleos urbanos, como Poxoréo, Guiratinga
100
(antigo Lageado), Barra do Garças, Alto Araguaia, Alcanti-

l
lado, Buriti, Estrela, Tapera, Tesouro e Batovi. Inicialmente
50 conhecidos como "Currutelas de Garimpo", e tiveram suas

o 1950
t
1960
1t
1970 1980 1991 2000 2010
t
origens no processo de exploração de diamante.
No final dos anos 1960, com o esgotamento das minas
de diamante, vários desses núcleos entraram em decadên-
fonto: \BGE. Ctnso, 0.mogrdficos, 19S0, 1960, 1970, 1980, 1991 , 2000, 2010. cia e seus habitantes passaram a migrar para outros cen-
tros urbanos O\,J áreas rurais. Em alguns desses povoados,
como Buriti, Estrela e Tapera, ocorreu a migração quase
total dos habitantes, razão pela qual suas áreas territoriais
figura 8.6
foram anexadas às fazendas da região para a produção
MATO GROSSO - PRI MEIROS NÚCLEOS URBANOS
SÉCULOS XVIII E XIX
agropecuária, com destaque para a pecuária e cultivo de
soja. Os povoados de Alcantilado e Batovi ainda resistem
como currutelas de garimpo, mas já se encontram num
AMAZONAS estágio avançado de decadência, e os demais se eman-
PARA ciparam, conservando seus nomes originais. Das cidades
citadas do final do século XIX e início do século XX, Barra do
Garças figurava entre as mais populosas de Mato Grosso.
Já as cidades de Poxoréo e Guiratinga estavam entre as
médias cidades do Estado.
Devido à curta duração, o ciclo da mineração teve
RONDÔNIA
pouca influência no ordenamento territorial de Mato
Grosso. Assim, a urbanização em Mato Grosso foi forte-
mente influenciada pelo avanço da atividade agrícola, que
OlamantlnoQ
atraiu mão de obra de outras regiões do país no século XX.
ºVil• Bela o R~rlo O..te
O fluxo migratório contou com duas fases: a primeira com
Porto E,perldlão
O
CUIABA 0
O J·0Chapada dos Gu\maraos
Sr< do LNramento
o avanço da fronteira agrícola, que atraiu mão de obra
C.lt res0 0
Poconé GOIÁS dos estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás, nas décadas
de 1950 e 1960; a segunda teve início a partir da década
de 1970, e deveu-se ao fluxo migratório intenso prove-
niente principalmente do sul do país, que perdurou até
fonte: Slquelfa, Costa e Carvalho, 1990. Obs.: Base cartogr.1fica restrita aos limites atuais do Estado. .fins de 1980. O intenso processo de apropriação das terras
e-:s agricultura mecanizada reduziram a necessidade de
0 Capital
mão de obra no campo, expulsando-a para as cidades,
Núcleos urbanos
dando origem ao principal componente demográfico da

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Assim, a acelerada urbanização que vem oco
urbanização do Estado. Assim, é importante frisar que 0 rrendo
nos últimos 30 anos é decorrente do processo de exp
processo de urbanização de Mato Grosso não está liga~o ·- d ansão
do capitalismo para esta reg1ao o país, e está relaclo d
ao processo de industrialização do pais, mas à ocupaçao · tó no
com O intenso fl uxo migra · d'Ir191'do para Mato G na ª
produtiva de base tecnológica do campo, que levou ao . rosso
Esse fluxo foi estimulado pela propaganda dos ·
surgimento dos núcleos urbanos, transformad~s e~ "d 1 . Proje-
tos especiais de esenvo v1mento regional" _ a mal
seguida em cidades, através do processo de emanc1paçao orla
implementados pela Sudam -, que ofereciam excele t
municipal. .. fi . nes
vantagens atravéd s e IncentIvos scaIs e financeiros .
._ O ritmo acentuado no processo de formação e cresci-
Esses projetos, implantados em áreas da Amazônl
mento das cidades, verificado no final da década de 1960 . . ae
e início dos anos 1970, foi estimulado pela ação dos pro- do Cerrado, tinham ~orno ob1et1vo promover a ocupação
gramas federais de desenvolvimento econômico, que e O aproveitamento m_ t~grado das_potencialidades agro-
contribulram para a expansão da fronteira agropecuária, pecuárias, agroindustriais, florestais e minerais em áreas
desencadeando inúmeras transformações territoriais, polí- prioritárias da Amazônia, e foram responsáveis pela colo-
ticas, econômicas e sociais. nização do norte de Mato Grosso. Nessa região, conhecida
Dentre as mudanças ocorridas, destacam-se as decor- como "Nortão", todos os projetos de colonização privada
rentes da Lei Complementar nº 31 , de 11 de outubro de se transformaram, em curto espaço de tempo, em cidades
1977, que criou o Estado de Mato Grosso do Sul. A partir que hoje participam com 15,51% da população urbana
desse marco, teve início em Mato Grosso uma nova fase de estadual. No entanto, a infraestrutura básica nessas cida-
expansão econômica, pautada na atividade agropecuária des é deficitária, como ocorre em outras cidades do Estado
desenvolvida com o suporte dado pela implantação dos pela falta de redes de esgoto e de ág ua tratada. '
projetos de colonização e incentivos fiscais, que atraíram Esses migrantes promoveram a efetiva ocupação de
um grande fluxo migratório, nas décadas de 1970, 1980 e muitas áreas com lavoura mecanizada, dando origem a
início dos anos 1990. cidades como Primavera do Leste, Alto Taquari e Campo
Essas políticas contribuíram, fortemente, para novas Verde, entre outras. Parcela significativa dessa migração
divisões político-administrativas do Estado, afetando dire- também sustentou o crescimento em cidades já existen-
tamente o ritmo das taxas de urbanização. Assim, em 1970, tes, inclusive algumas do leste mato-grossense, originárias
o território do atual Estado contava com 34 municípios. de "currutelas de garimpo", como Barra do Garças.
Em 1980, passou para 55 unidades; em 1990, chegou a 95, Porta nto, os programas especiais de desenvolvimento
alcançando, em 2000, 141 cidades na condição de sedes constituíram-se em estratégias voltadas para a expansão
de municípios. A expansão do número de municípios e, integrada do capita lismo na região, contribuindo assim
consequentemente, de cidades, está estreitamente rela - na formação de um processo econômico que tinha como
cionada com o crescimento da população urbana que, em meta interna a consolidação de um mercado consumidor
alguns mu nicípios nos últimos 30 anos, apresentou um capaz, por si só, de determinar as necessidades da criação
dos mais altos índices de incremento do país. de um setor industria l no Estado. No momento atual, os

À esquerda vista panorâmica d B d G À· . .


' e arra o arças. direita, o Distrito Industrial de Cuiabá

126

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resultados são ·s,veis atraves dos Distrito lnd . . .
·da . s usma,s ena-
é definida com O desenvolvimento do
dos nas o. desde Cu,abá. RondonóPoli•~. Cáceres. Barra do
Garças, nop, Tangará da Serra e Várzea Gra d . determinado espaço. Inserida nesse con a
e.estau1 ma
fazendo parte do aglomerado urbano da Grande Cuiabà oferece condições para o desenvolvimento regional e.
E termos gerais. constata-se que O set .á . · . também. para o desenvolvimento das fOf'ÇaS produtivas.
or e o no e
o elhor estruturado no Estado sendo e d As cidades têm sido também o local de busca constante
· ncontra o, e
quase odas as sedes de unicipio casas c • . pela m radia, por melhor qualidade de vida. educação de
. . . . • o eroa,s de qualidade, atendimento médico e mu· as outras reivindi--
propnetanos locais. E alg u as cidades c R d
. . . , o o on o- cações. Entre an o, é importante lembrar que as cidades
nopolls. ~aceres. Barra do Garças. Sinop. 1a Floresta e
outras, sao encontradas liais de grandes loJ·as e '- · estabelecem uma relação estreita com o meio rural, fonte
. . , 11anqu1as de recursos naturais como alimento. água e insumos para
naa ona,s. Dentre as daades ato-grossenses, Cuiaba é a
a produção industrial e de cons rução. Assim, as cidades
ais estruturada o setor de comércio, pelo fa o de ser a
capit al e a maior cidade do Es ado. representam uma grande vi ória do homem moderno, que
conseguiu articulá-las formando redes urba as e impor-
antes centros que resuttam em locais de poder e de orna-
das de decisão frente ao desenvolvimen o e à organização
Rede urbana e formação de regiões espacial.
Em Mato Grosso, a formação da rede urbana e defini-
Até as duas primeiras décadas do século XX, a rede ção regional vem se tornando, nas últimas décadas, mais
urbana brasileira tinha como principal função sustentar a dinâmica e comple a, particularmente após a in egração
relação comercial do país com o exterior, refletindo, niti- do território estadual à fronteira agrícola nacional, o que
damente, o caráter econômico colonial, que foi sustentado ocasionou um intenso flu o migratório para o Estado e a
por ciclos econômicos voltados para o abastecimento do formação de dezenas de núcleos urbanos que ieram a
mercado europeu. tornar-se sedes de municípios.
Assim, o sistema urbano brasileiro foi constituído de O crescimento de muitos desses núcleos urbanos e
modo que a cidade tivesse a função prioritária de ocupar, o desenvolvimento de alguns já existentes o ibilitou a
dominar e extrair o máximo da região na qual se encon- sua transformação em centros urbanos regionais. Por is-
trava inserida. Era, portanto, um sistema urbano voltado porem de melhor infraestrutura, centro comercial esta-
para o exterior, não havendo a preocupação com a forma- bilizado e oferecerem variedade de serviços, ercem
ção de uma rede urbana interna consistente. Desta forma, influência sobre os municípios vizinhos, ao mesmo temp
a rede urbana do país contava, inicialmente, com apenas em que se articulam com outras cidades de seu porte e
dois papéis primordiais: maiores, como Cuiabá. At ravés deste pr ces o, o Estad
• A localização do poder político-administrativo; vem se estruturando na formação de regiões e na configu-
2 a centralização dos agentes das atividades econômicas. ração da Rede Urbana Estadual.

Para a consolidação da rede urbana, são necessárias as


seguintes condições:
1. A produção de uma mercadoria para ser negociada por
outra que não é produzida no local ou na região;
2. a existência de pontos fixos no território para a realiza-
ção dos referidos negócios, o que ocorre nos núcleos
urbanos dotados de comércio, serviços e atividades de
produção industrial;
3. articulação entre os núcleos de povoamento ou cida-
des para a plena realização das exportações, importa-
ções e abastecimento dos mercados consumidores;
• desenvolvimento técnico-informacional.

Com base na articulação e realização desse processo,


vem à tona a hierarquização dessas cidades, surgindo
assim a rede urbana, que é constituída por um conjunto
de cidad es articuladas entre si formando uma região, que
Sinop é um e emplo de centro urbano regional

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A história registra, também1 qu
Cuiabá: metrópole em formação manteve a fisionomia d vila, fund d ld d d
até o final do século XIX. Como afirmou Hrio ~ lo
Nos dois primeiros séculos após a sua fundação, Cuiabá
desenhista da Expedição Langsdorff r UI ,~ ~,
apresentou crescimento populacional condizente com os
períodos históricos que atravessou, ficando, em alguns
em 1828, "o sítio urbano original do có~u Vi ltou
90
ey,_.
estendera para a margem dlr lta, cont d Prainha
momentos, abaixo da média de outras áreas do território nd
brasileiro; em outros, como no século XVIII, chegou a ter
vias principais: a Rua de Baixo a Ru .. d
1
r.iOM1
º ap nas•·
"fs
uma população maior que a de São Paulo. A distância do
• •
Cima; a cidade pode ter melo quarto d
1
°
e a ~ua de
a nascente e dois terços de distância d égua d P<>erite
litoral e vias de acesso inseguro, aliado às incipientes ativi-
dades econômicas na Província, foram fatores que deses- marge_m esquer?a esbarra no relevo elevad~~rte a su1: lla
timularam a colonização na época - embora as minas de Cu1abá só veio a experimentar um cr . ·
esc1me
ouro em torno da vila de Cuiabá tenham se constituído, a a partir da segunda metade da década d nto int.enso
•• e 1960
princípio, em atrativo de exploração para a Coroa portu- Mato Grosso f01 incorporado ao proces , quando
guesa e aventureiros. do capitalismo brasileiro em direção à Aso de expansão
maZóni
A fundação e expansão inicial de Cuiabá estiveram momento, passou a ser considerada "Portal da A a. Nesse
associadas à exploração do ouro, que deixo u marcas em destacando-se como entroncamento imp ll'lazõnia--
,. _ ortante ,
seu espaço urbano - no Centro Histórico, tombado como poht1cas de expansao da fronteira agrop á . Para as
- ecu na A
Patrimônio Histórico Nacional -, embora menos suntuosas desse marco, em razao dos fluxos migratóri · Partir
do que em Minas Gerais. A quase totalidade do ouro pro- a receber, Cuiabá foi submetida a express· os que Passou
ivo Proce
duzido foi enviada para Portugal, restando apenas algu- crescimento populacional e teve a sua área d sso de
mas amostras em ornamentos de altares de antigas igrejas urbana ampliada . e ocupação
cuiabanas. O traçado das ruas antigas, que convergiam Na década de 1980, a cidade conhece
. . u as ma·15 1
para as primeiras minas no centro da cidade, testemunha taxas de crescimento populacional de sua h. . , _ ª tas
- d ,. tstona co 111
aquele período que caracterizou a fase inicial do núcleo a expansao o seu s1t10 urbano sobre as ár .'
eas periféricas,
urbano de Cuiabá.

Figura 8.8- Cuiabá, vista a partir da


Torre da Embratel, no Morro da Luz, em 2004.
Em primeiro plano, o Centro Histórico

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Figura 8.7 - Ao longo da
Avenida Historiador
Rubens de Mendonça,
a cidade moderna mostra
a sua verticalização

além do rápido crescimento vertical, que está modificando


todas as cidades mato-grossenses e em alguns municípios
radicalmente a sua paisagem urbana (Figura 8.7).
de Estados vizinhos, atendendo-os em diferentes áreas
O ritmo de crescimento das cidades vem exigindo do socioeconômicas, particularmente no setor de serviços.
setor público investimentos em infraestrutura básica e Esta condição de polo de desenvolvimento consolida a sua
ampliação de serviços que atendam às necessidades cres- função de metrópole regional.
centes da população. Esses investimentos têm ocorrido Considerando os últimos 50 anos, sobretudo a partir
em ritmo lento, muito aquém das reais necessidades da da década de 1980, Cuiabá tem apresentado inovações
população, resultando em inúmeros problemas sociais, a em seus padrões de construção, tanto residencial como
consequente insatisfação e permanente pressão por parte comercial, com a utilização de tecnologias sofisticadas,
dos desassistidos. sobretudo na construção de edifícios (Figura 8.8). À medida
Com a expansão da cidade e ampliação dos diversos que a cidade verticaliza o seu espaço, define novas paisa-
setores econômicos, Cuiabá hoje exerce influência sobre gens urbanas, contextualizadas com o processo de metro-
polização e de configuração da Rede Urbana Estadual.

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o para
ç d fav as. Da m ma forma, a
fi ono clodlda no
un
hl , urb no pod •m f tM a vida no camp0,
m Mato Gro o, - de tem se estrel-
un
t do no último nos, 1 vando os m los urbano e rural a
xlm m lo rur al urba no.
P rtllhar m probl mas soluções. Um ex mplo dessa
tlrn nlo rur I ou o om r lo
sltu ç O O ~ nôm no do cr sclm nto das periferias
d tr pol o llmlt s do c mpo,
urbanas a cons quent formação de favelas, que são
v z , om b n p rfo rm nc
em grande pa rte, resulta ntes do íluxo migratório cam~
int rn lon 1 , n s pos lbilldad s
d fin n I m nto, n pa ld d d b orç o de parq u s -cida de, alimentado pelo desemprego rural e a injusta
industriai , nfim, m funç o d toda um rtlcu lação com concentração fundiária e de renda.
o rn io urbano. Cuiabá é a cida de do Estado com maior número de
Por outro lado, o cr scim nto socioeconómico, sslm fa velas, mas não é a única. Cídades menores, como Várzea
como a cri s financ ira sociais com foco no spaço Grande, Rondonópolis, Cáceres, Barra do Garças, Sínop e
urbano, r p rcuten, no m io rura l e Interferem - chegando Alta Floresta, estão enfre nta ndo a mesma situação, que
at a ditar - nas modalidades e ritmo da produção agro- cria inúmeros problemas urbanos. As prefeituras não
pecuária. A produção Industrial, via de regra estabelecida dispõem, em gera l, dos recu rsos financeiros suficientes
nos grandes centros urbanos e arredores, depende cada para dotar essas áreas de expansão urbana de condições
vez mais do mercado consumidor rural. Assim, não só a mínimas para o atendimento às necessidades das famílias
indústria de máquinas e equipamentos agrícolas mantém carentes, particularmente refe rentes à moradia, escolas,
uma sólida relação com o meio rural, mas também a indús- serviços de saúde e segurança.
tria automobilística, de eletrodomésticos, de informática, O descontentamento nos meios rural e urbano tem
e outras do gênero. A agroindústria, a indústria têxtil e gerado movimentos sociais organizados que reivindicam
outros parques industriais mantêm uma relação recíproca ao poder público solução para os problemas sociais e eco-
com o campo, pois, ao mesmo tempo em que o meio rural nômicos vividos pelos grupos. Dentre esses movimentos
representa parte de seu mercado consumidor, é, também, está o MST, Movimento dos Traba lhadores Sem-Terra, cujo
seu fornecedor de insumos básicos. objetivo declarado é o acesso à propriedade rural.

Produção mecanizada

,i

130

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Manifestação do MST, em dezembro de 2004, em frente ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso (Cuiabá)

A insatisfação de segmentos da população urbana está


ros movimentos surgiram nos grandes centros urbanos do
relacionada a várias reivindicações não atendidas: acesso
país, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e,
a um lote urbano, construção de casas, serviços de sanea-
a partir dos anos 1980, se espalharam pelo território nacio-
mento básico e eletricidade, ruas calçadas ou asfaltadas,
nal, traduzindo as inúmeras reivindicações pelas melhorias
iluminação pública, sistema de transporte coletivo, áreas
das condições de vida urbana e atendimento dos direitos
de lazer, escolas, postos de saúde, segurança pública, e
outros. sociais e políticos da classe trabalhadora.
Todos os indicadores sociais e os graves problemas
A demora no atendimento dessas reivindicações, parti -
urbanos apontam para a necessidade urgente de uma
cularmente no que se refere à moradia, tem incentivado a
reforma fundiária urbana profunda, que contemple todos
ocupação ilegal de áreas, onde repentinamente são ergui-
os segmentos da sociedade estabelecidos nas cidades,
dos barracos improvisados, que passam a abrigar famílias
carentes que não têm onde morar. com a participação dos cidadãos nas decisões das políticas
a serem implementadas no espaço urbano, tanto em nível
A luta pela posse da terra está centrada em áreas não
local como regional e nacional. É necessário, também, o
edificadas na cidade, de propriedade particular ou do
estabelecimento de medidas que promovam uma relação
Estado (Prefeitura, Estado e União). A maioria dos inte-
equilibrada entre a cidade e o campo, capaz de permitir
grantes desses movimentos busca um lote para construir
o crescimento de ambos sem provocar o inchamento das
sua própria casa. Entretanto, é comum encontrar nesses
cidade e o esvaziamento do campo.
movimentos a figura do "grileiro urbano profissional", que
se infiltra entre as famílias de sem-teto e ocupa terrenos
com o único objetivo de negociar o seu direito de posse,
daí partindo para outra ocupação irregular, indefinida-
mente.
Inúmeros bairros em Cuiabá tiveram sua origem vincu-
lada às invasões, dentre as quais se destacam: São João dos
Lázaros, Santa lzabel, Santo Antônio do Pedregal, Jardim
Leblon, São João dei Rei, Jardim Fortaleza, Jardim Vitória,
Jardim Florianópolis, Tancredo Neves, Primeiro de Março,
Renascer, e vários outros. Alguns desses bairros existem há
mais de 20 anos, contudo, dadas as circunstâncias em que
foram estruturados com relação à sua situação fundiária,
até hoje os moradores ainda não têm os títulos de proprie-
dade dos lotes onde construíram suas casas.
Esses movimentos sociais são uma nova forma de orga-
nização da população, que passou mais de 20 anos cont ida A fa lta de infraestrutura básica, saneamento, postos de saúde
pela ditadura imposta ao país pelo golpe militar de 1964. e escolas, bem como o aspecto deplorável de muitas moradias
Com o arrocho salarial, no final dos anos 1970, teve início caracterizam o ambiente das favelas. Nesta favela, na saída de
a pressão dos trabalhadores ao poder público. Os primei- Cuiabá para Chapada dos Guimarães, tudo pode ser usado como
material de construção

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111 111, 1111 o 1 1, •,li do lt1f lo d,1th ,1 l,1 th• e;n do ,, 11111 p,t',',,Hln r1t111llh,1d11 11.tr,1 •M <Jlltr..rmw, •,1Jlur;l'>1·', p,tr,, ,lf1 w. probl ·m,1',
11, um p,tf 1lpf • 1111111, ,1q1,11lu, w 111 pr ,1tlt,1111t•111t• tlol~ l1•1 ç ', d,1 1w1• ,1lr·l,1m ,. ,111' U'> tl,,m mllh ,,, c.lr• p ,,,,,1J,1', i-rn no•.•,o p,,t, d,,,,
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11 udi, 11 , <, 1nl11h, ndoc,1cf,1v1'1111,1I p,11,1 011c1·111 r,, H'\',IIP rio 11,1111 · , r ·conht• lml'nto d • qu • o pov v•m dlrPlto d pdftlcip,ir
, um m1lh.i ou , t 1111 m v, 1111111 t '\ dt h,1bl1,1n11 \ , n,, bu\r,1 dc1• soluç •s • orgdni1,1ço s popul,H ••,, com r •pr ,, •n
l11qu, rll o 110 o qov1 rn, 1111 1 1111lr,1111 t• 11,lo llv •1,1n1 c,1p,1 1 tlvlddd ' • I •gltlmlddd • pMa, juntos, ddr m um novo rumo" qu
d dt ou v, , o dt futuro, ,1 11 , lltl,>dt lnc urnblu \l' d• ,ILlllWntt11 ,l t o urbdt1c1. O mom nto mt1is do qu1• oportuno, ndo pod mo~
u co mph ,c1d,1d1 , , xlqindo .11u,1lr1wn1t• 11ov,1, po,1u1t1,, novo~ p,1 p rd r sta oporlunldad , sob p •nd d contribuirmos p,HtJ o <l9ril
r d1c rn, p, 1, 1 nf11 111,11 o d1 1fto qut bu qu ' •m conjun vam nto dos probl m s.
lO oluç, o. • Juocy du SIivo t soclôlogo Pio/. oposttllodo do UFM 1

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·- litana do vale do rio Cuiabá
Reg,ao metropo
Rita de Cássla Oliveira Chlletto•

bitantes (IBGE, 2010a), não cumpria a ordem


1
politana (RM) do Vale do Rio da Lei nº 10.257, de 10 de Julho de 2001, deno Ti
A região ::a pela Lei Complementar (LC)
''Na expressiva mancha
da Estatuto da Cidade (Brasil, 2001). Todavia,:
C~iab\::;~e maio de 2009, abrange quatro mu-
" . 3S9, s· Cuiabá Várzea Grande, Nossa Senhora d.o
urbana de Mato
Grosso, a problemática constituição da área metropolitana, a obrigato~
dade de apresentação do Plano Diretor estend
demográfica evidencia . . . eu.
~i1i~:e·nto e S~nto Antônio de Leverger. Os d~1s -se para os demaIs munic 1pios. Assim, sob a coo,.
não somente
primeiros estão ligados pelo Rio Cula bá. O muni~f- denação do govern~ estadual, já foi dado Inicio à
0 contingente
pio de Leverger está em processo de conurbaçao elaboração dos referidos Planos.
popu lacional e
com a capital, enquanto Nossa Senho~a do L'.vr~- os movimentos Da mesma forma, foi iniciado o processo de ela-
mento desenvolve relacionamento soooeconom1- boração do Plano Diretor Participativo lntegrad
migratórios, mas
co e cultural com o município de Várzea Gran_de. (PDPl)2, que deverá identificar as demandas pri:
também as intrincadas
Concomitantemente à criação da RM, foi constitu- ritárias e definir as estratégias de intervenção para
disparidad es nos
ído o entorno metropol itano, composto de nove que se implementem e consolidem as políticas de
indicadores sociais."
municlpios: Acorizal, Barão de Melgaço, C~~pa~a interesse comum. Esta iniciativa se deve à convic-
dos Guima rães, Jangada, Nobres, Nova Brasiland1a, . ção da eq uipe técnica da Secretaria Adjunta de
Planalto da Serra, Poconé e Rosário Oeste. Os treze Planejamento Urbano e Gestão Metropolitana de que os planeja-
municípios citados Integram a região VI de Planejamento' do esta-
mentos municipal e metropolitano - elaborados de maneira con-
do de Mato Grosso. com itante para buscar soluções integradas entre os municípios_
A centralização dos bens e serviços na aglomeração urba~a
se mostrariam mais econômicos e estimuladores desta integração,
Cuiabá-Várzea Grande, principalmente na capital, reflete o feno-
assi m como teriam mais chance de serem eficientes e efetivos.
meno que se repete em grande parte do Brasil, onde é identifi-
Na expressiva mancha urbana de Mato Grosso, a problemática
cado o processo de metropolização. O(s) munid pio(s) central(is)
expande(m) além de seus limites administrativos, acarretando di- demográfica evidencia não somente o contingente populacional e
ficuldades no atendimento às demandas, enquanto a popu lação os movimentos migratórios, mas também as intrincadas disparida-
nos municípios vizin hos tem restrição de acesso à reg ular presta- des nos indicadores socia is. Enquanto Cuia bá e Várzea Grande são
ção de serviços. municípios com mais de 960/o da população morando em área ur-
As políticas públicas, cuja cobertu ra necessária o Estado tem di- bana, Nossa Senhora do Livra mento e Sa nto Antônio de Leverger
ficuldade de garantir, representa m as estratégias necessárias à ar- apresentam a menor popu lação e as menores taxas de urbaniza-
ticulação entre os espaços dinâmicos e estáticos. A complexidade ção e de fndice de Desenvolvimento Hu mano Municipal (IDH-M),
das relações intermunicipais req uer profícua análise dos aspectos abaixo da média estadual (0,773) e nacional (0,766), conforme mos-
históricos, culturais, políticos, socioeconómicos e institucionais, tra a Tabela 8.2.
na expectativa de entender a dinâmica metropolitana, ao mesmo Essa situação configura um cenário no qual os dois municípios
tempo em que se logre êxito em atender às necessidades individu- em questão, que têm sua economia baseada em agricultura de
ais e das populações envolvidas. subsistência, são responsáveis por 56,80/o da população rural da
Dentre os municípios da região metropolitana e do entorno me- região. Ambos mostram popu lação mais dispersa e com caracte-
tropolitano, Cuiabá, Várzea Grande e Chapada dos Guimarães pos- rísticas rurais, sofrendo restrições de mobilidade, reflexo do me-
suem planos diretores aprovados, visto que a lei faculta a elabo- nor acesso à prestação dos serviços de saúde, educação, assistên-
ração do instrumento basilar de política urbana para municípios cia social, emprego e renda. Os peq uenos produtores rurais ainda
com menos de 20 mil habitantes. Apenas Poconé, com 31.779 ha- têm dificuldades de escoar e comercializar a produção em condi-

Tabela 8.2

RM DO VALE DO RIO CUIABÁ - INDICADORES DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS DOS MUNICÍPIOS

População
Taxas IDH-M
Municípios 2000 2010 2000/2010 2010
Total Rural Urbana 2000
Cu labá
483.346 10.348 ---~-
541 .002
Total
551.350
Crescimento
1,325
Urbanização
Várzea Grande 98,12 0,821
215.298 3.880 248.829 257.709 1,625 96,55 0,790
Nossa Senhora do Livramento
12.141 7.345 4.247 11.592 -0.462 36,63
Santo Antônio de Leverger 0,655
Form•· IBG( (>010); Stplan (2009 t 1011~ -
15.435 11.261 7. 148
- - - - - - - - ~::.:...:.::.::_- 18.409
~:..::._
1,778 _ _: 38,82 0,717

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'

Suqe~t;io de At1v1dt1de'>

ções de retornos razo.iveis de rendimento, ainda assim destinam ,. Como você explica o extraordiMtlo aesdmento das
a maior parte de sua produção aos maiores centros consumido- cidades, a partir da Revolução Industrial até os dias
res do Estado. atuais?
Dessa forma, constatam-se duas situações distintas no âmbi-
to da Região Metropolitana do Vale do R,o Cuiabá. Por um lado, 2. Monte um trabalho em grupo que permita a discus-
em Cuiabá e Várzea Grande, a densidade demográfica caracteri- são sobre as mudanças no sistema urbano brasileiro,
za-se como a mais alta do Estado (163,88 e 284.4S habitantesf1<m2, a partir de 1950.
respectivamente), segundo dados do IBGE (2010a). Há, igualmen-
te, nesta região, a consolidação de uma rede urbana polariz;ido- 3. Organize um seminário para discutir os fatores que
ra, isto é, de um expressivo contingente populacional, quase que contribuíram para o extraordinário crescimento do
exclusivamente urbano, impulsionando as economias dos muni- número de cidades em Mato Grosso.
cípios conurbados. Por outro lado, há a baixa densidade demo-
gráfica e uma menor relevância económica particular a Nossa Se- 4. Com base na leitura do capítulo, discuta se Cuiabá
nhora do Livramento, a Santo António de Leverger e ao entorno tem condições de ser considerada uma metrópole
metropolitano, pautadas em novas ruralidades, territórios ocu- regional.
pados por atividades produtivas do setor primário, com sensíveis
alterações nos processos sociais, culturais e políticos. 5. Faça um trabalho de campo em sua cidade procu-
Ainda no tocante ao aspecto demográfico, os municípios pas- rando observar se o seu espaço urbano se encontra
saram por transformações na composição de sua população, setorizado. Em caso positivo, aponte esses setores.
apresentando taxas de crescimento negativas. Esse fenômeno
corresponde à realidade mato-grossense, em que os desloca- 6. Consulte o site do IBGE (www.ibge.gov.br) ou da
mentos foram e ainda são frequentes, acompanhando, em ge- Seplan-MT (www.seplan.mt.gov.br) e faça um estudo
ral, as regiões de oportunidades que se compõem e se descom- comparativo sobre o crescimento da população
põem. Essa tendência é acentuada devido à migração intensa, do seu município a partir da década de 1950 (ou do
:: principalmente na faixa jovem e adulta, um fato observado em momento de sua criação, se ela for recente) em cada
Santo Antônio de Leverger e Nossa Senhora do Livramento, mu- Censo, traba lhando com os dados da população
nicípios nos quais a população rural é mais numerosa e nos quais total, urbana e rural. Analise e comente os result ados.
a razão de masculinidade é superior. A região, portanto, apresen-
ta peculiaridades relacionadas às transformações na estrutura
Pa ra saber mais ...
produtiva do Estado, que trou xeram processos de esvaziamento
em algumas áreas e novas composições e concentrações nas ci-
Filmes
dades ma is urbanizadas.
• A grande cidade. 1966. Direção de Carlos Diegues.
Drama sobre nordestinos em busca de uma vida
melhor na metrópole.
• A terceira margem do rio. 1994. Direção de Nelson
• Texro exrroldo, parcialmente, da publicação do IPEA (Coordenação geral: Marco Auré- Pereira dos Santos. Drama que apresenta um pouco
lio Cosra; Coordenação local: Rito de Cássia Oliveira Chi/erro), 'Governança Metropo- do Brasil rural e urbano.
litana na Brasil: Relor6rio de Pesquisa - Caracterização e Quadros de Análise Compo-
roriva do Governanço Metropolitano no Brasil: arranjos insrirucionais de gestão me-
• Quintais Produtivos. 2003, 14'. Direção de Laércio
tropolrtana (Componenre 1) • Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiobá. Brasilia. Miranda. Vídeo-documentário que relata experiência
IPEA. 2015- Disponível em: <http://www.ipeo.gov.br/redeipea/imageslpdfslgoveman- bem-sucedida de geração de renda, melhoria nutricio-
co_merropolirano/150814_relatorio_arranjos_ valeriocuibo.pdf>.
nal e estímulo à cidadania nos bairros Jardim Vitória e
1 A5 regiões de Planejamento correspondem a uma forma de regionalização de Novo Paraíso, em Cuiabá. Realizado pelo Instituto Centro
Mato Grosso, adotada pela Secretaria de Planejamento do Estado - Seplan-MT -. de Vida, ICV. Onde encontrar: no YouTube, pesquise por
definidas com base nos estudos produzidos pelo Zoneamento Socioeconômico "Quintais produtivos, Laércio Miranda".
e Ecolôgico - ZSEE. O Estado foi dividido em 12 regiões de Planejamento. sendo
a região VI - Polo Cuiabá-Várzea Grande - integrada pelos seguintes municípios:
Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio
de Leverger, Várzea Grande, Barão de Melgaço, Poconé, Acorizal, Jangada, Rosário
Oeste, Nobres, Planalto da Serra, Nova Brasilãndia.

2 O Plano Diretor Integrado e Participativo é um instrumento de política de desen-


volvimento econômico e social integrado do Município com o objetivo de orien- Veja no Atlas. as migrações e s
tar o cumprimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, opor· nuxos, de 1950 a 2010, no tema Flux
tunizando a eficiente estruturação do território municipal, com melhores condi- Interestaduais. Analise tam~m o tema
ções de vida para sua população. (Evolução da Densidade

135

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A produção de escala, mecanizada e em grandes extensões do Cerrado, desenha novo perfil para a agricultura em Mato Grosso.
Na foto de 2001, fazenda em Tangará da Serra

A apropriação do território
As grandes transformações ocorridas na Amazônia e no No decênio de 1970/1980, o Centro-Oeste incorporou
Centro-Oeste e, particularmente, em Mato Grosso tiveram 31,7 milhões de hectares no total da área dos estabeleci-
início na década de 1950, acentuando-se a partir de 1964, mentos agropecuários situados em seu território, o que
quando novas áreas agrícolas dessas regiões foram incor- representou cerca de 44% da expansão ocorrida na agricul-
poradas ao mercado nacional no contexto da política de tura em todo o país (Mesquita, 1989). No mesmo período,
modernização tecnológica da agricultura, definida pelos segundo dados do IBGE, Mato Grosso apresentou 54% de
interesses do capital estrangeiro na economia brasileira. aumento em área ocupada por estabelecimentos rurais no
A decisão política de promover a "modernização" do Centro-Oeste. Entretanto, o crescimento do uso produtivo
campo no Brasil - considerada conservadora por empreen- da área foi bem menor, o que evidencia a compra de terras
der uma reforma agrícola sem alterar a estrutura fundiária com interesses especulativos.
- teve como consequências imediatas a expansão horizon- Esta modalidade de exploração do campo provocou,
ta l da agricultura e forte especulação de terras nas regiões em Mato Grosso, uma intensa corrida de especuladores
de fronteira agrícola e, posteriormente, a redefinição das em busca das terras devolutas e públicas. Como forma de
formas de organização da produção e das relações de tra- incentivo à ocupação empresarial do território, os gover-
balho no campo. nos estadual e federal estimularam e facilitaram a aquisi-
ção de terras, adotando medidas institucionais, jurídicas e
políticas.

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A maior concentração da terra ref
. orçou a est
agrária predominante, baseada na grande ro . rutura
o Centro-Oeste exibia, em 1985 0 ma ·i , P Pnedade. Figura 9.1

fúndios do país, com 17.682 estabelecim


' or numero d 1 ·
. e ati- E~~~O GROSSO - CRESCIMENTO DO NÚMERO E DA ÃREA DOS
entos aetma d ELECIMENTOS RURAIS - 1975, 1980, 1985, 1995/96, 2006
1.000 hectares, representando 69% da su f' . e Número (tmmllharts)
per iete region 1
Em Mato Grosso, 7% dos estabeleciment . ª· 120 Ãna/ha (ffll mih6e)
os rura is (5 575) 50
acima de 1.000 hectares somavam mais d . _· 100
. e 31 m1 lhoes de
hectares, ou seJa, 83% da área total dos e t b . 40
, . s a e1eetmen- 80
tos (IBGE, 1991). O domm10 particular sobr
e vastas exten-
sões de terras nessas regiões comumente f · 30
,. , . 01 assegurado 60
pela pratica da pecuana extensiva, atividade t·i· d
. . , u I IZa a

li
por muitos propnetarios para caracterizar O 1 . 40 20
. , va or sooal
da terra e encobrir o carater especulativo e su a ut·1 · -
11zaçao 20 10
como reserva de valor, para negociações futuras.
Sob a estratégia de "modernização" da agricultura, e o
1975 1980 1985 1995/96
o
com o aporte de capital estrangeiro, o Estado brasileiro 2006

desencadeou, a partir de 1970, diversas ações de desen- 1 Crescimento do número de


estabelecimentos rurais 1 Crescimento das áreas dos
estabelecimentos rurais
volvimento regional para dar suporte à expansão da agro-
Fonte: IBGE. Censos Agropecuários, 1995-1996, 2006.
pecuária empresarial, na Amazônia e no Brasil Central, com
o objetivo de estimula r a exportação de produtos agrícolas
(commodities). Foi nesse contexto que Mato Grosso teve a
quando houve maior estímulo à expansão da agropecuá-
sua posição redefinida no cenário econômico nacional,
ria nesses territórios, bem como a implantação de diversos
com a incorporação de enormes porções do seu território projetos oficiais e particulares de colonização, sobretudo
ao processo produtivo. em Mato Grosso.
Aanálise dos dados censitários (Tabela 9.1 e Figura 9.1) indica A análise da Tabela 9.1 mostra ainda que, no período
uma ampla e intensa apropriação privada da terra a partir de 1975 a 1995-1996, houve um incremento de 28,7% no
de 1970, sobretudo no período entre 1975 e 1985, quando número de estabelecimentos, pulando de 56.118 para
o número de estabelecimentos aumentou de 56.118, para 78.762, enquanto a apropriação das terras continuou vigo-
77.921 , e a área territorial incorporada por esses estabeleci- rosa, saltando de 37,8 milhões para 49,8 milhões de hec-
mentos rurais passou de 21,9 milhões de hectares para 37,8 tares, representando uma taxa de 55,1% da área total do
milhões de hectares, abrangendo então 41,72% da área do Estado. Observa-se que, no decênio seguinte, o total de
Estado contra 24,2%, em 1975. Esse aumento corresponde estabelecimentos aumentou de 78.762 em 1995-1996 para
ao período em que estava no auge a política de interven- 112.987 em 2006, um incremento de 30,2%, enquanto o
ção do governo federal nos Estados da Amazônia Legal, tamanho das terras apropriadas por particulares caiu de
49,8 milhões de hectares para 48,6 milhões de hectares;
ainda assim, a área ocupada pelos estabelecimentos repre-
Tabela 9.1 senta 53,89% do total da área territorial do Estado. Essa
MATO GROSSO - NÚMERO E ÁREA TOTAL DOS retração tem, como possíveis causas, a criação de novas
ESTABELECIMENTOS RURAIS E TAXAS DE OCUPAÇÃO unidades de conservação ambiental e a demarcação de
1975, 1980, 1985, 1995/96, 2006 terras indígenas (IBGE, 2006), como também a pressão da
sociedade civil organizada, dedicada a essas questões e à
Anos Estabelecimentos Area (ha) o/o área do Estado
melhor distribuição da terra. Em 2006, as terras indígenas
24,2
1975 56.118 21.949.146 somaram 20.905.066 de hectares, representando 23,1%
1980 63.383 34.554.548 38,2 da área territorial mato-grossense, sendo que novas áreas
1985 77.921 37.835.651 41 ,8 foram criadas após 1995, somando 847.828 hectares; as
1995/96 78.762 49.839.631 55,1 unidades de conservação somaram 2.386.278 hectares,
2006 112.987 48.688.711 53,8 ou 2,6% do território estadual, sendo que as áreas criadas
Fonte: IBGE. Censos Agropecu~rios, 199s-1996, 2006.
após 1995 alcançaram 1.957.777 hectares (Tabela 9.2).

139

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~"-'DADE 3

Tabela 92
MATO GROSSO
E.LEOMfNTOS AGROPECUÁRIOS,
/=:::.1;~~::~:IDADES DE CONSERVAÇÃO - 2006

Atea das Unidades de


•1•111&11111 do Estado Atea dos Estabeled,,.e,ltOS Atea das Terras indlgeflaS {ha)
agropecwnos ,
úiadas após 1995 Total
Total Total
Tdal 2.386.278 1.951.m
847828
20.905.066
90.33S (2,6%)
5 (23.·

Comparando o total de área incorporada pelos esta-


-abela9.3
belecimentos com o total de área explorada em cada
TO GROSSO
ÚMERO DE ESTABELECIMENTOS RURAIS, ÁREA TOTAL
período da série histórica, na Tabela 9.3 e _Figura 9.2, v~ri-
E ÁREA EXPLORADA CO ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS fica-se uma queda percentual da exploraçao agropecuaria
1975, 1980, 1985, 1995-1996, 2006 após 1975, de 53,50% para 47,41% em 1980, mantendo-se
estável nos dois períodos seguintes, entre 1985 e 1995-
Área Partiápação
de
rea (ha) explorada .. da área 1996, ou seja, não apresentou, em termos percentuais,
estabelecimen os (ha) explorada (%) grandes variações, embora em termos absolutos as áreas
·975 56.' · 5 2 ..9A9.1t6 11.767.758 53,61 exploradas tenham apresentado aumentos consecutivos
63.383 3-'.554548 16.383.D57 47,41 no período, bem como tenham aumentado o tamanho
·925 77.92' 37.835.651 18.559.984 49,05 das áreas dos estabelecimentos. Isso deixa evidente que
· 995 '96 78.762 49.839.631 24.471.635 49,10 algumas propriedades ainda mantinham áreas inexplora-
das ou exploradas apenas parcialmente, mesmo levando
--~~-Corronrodos~
2006

CJtg;
112.987 48.688.711

~-<D<C~ WMO-e,ç,i<nGa5acuelasldizacasa,c,~ii1Mllades~
28559.104

se-cioes:zs~nos:a,'lSOJ~arot.?.axaspemene:esecem;,ocárias.
~,_,.•~ Cen,odo>OG6.~ag,gadasamasv.,rii.,.;,~das
58,65
em conta a fração de terras destinada à reserva legal. Em
2006 observa-se uma redução no tamanho da área total
...-~ dos estabelecimentos em relação a 1995-1996, e, em con-
trapartida, aumento da área explorada, que saltou de
49,10% para 58,65%. Esse aumento pode ser resultado da
Rgura 9.2
recuperação de áreas degradadas e incorporação de áreas,
MATO GROSSO
antes inexploradas, ao processo produtivo, bem como ao
ESTABELECIMENTOS RURAIS: ÁREA TOTAL E avanço da produção sobre terras de reserva legal.
ÁREA UTILIZADA NA ATIVIDADE AGROP ECUÁRIA O total de área incorporada pelos estabelecimentos
1975, 1980, 1985, 1995/96, 2006
rurais não expressa o total de área efetivamente ocupada
Aro tatal/ha ' Álea utilizada/ha (em~) com a exploração agropecuária, resultado de duas situa-
50- - 30 ções distintas: a primeira diz respeito à exigência legal, que
é a obrigatoriedade de cada propriedade em manter uma
40- - 24
parte de sua área preservada (reserva legal), além das áreas
de preservação permanente, como as nascentes e faixas
30 - 18
naturais ao longo de córregos e rios, inclusive áreas íngre-
mes; a segunda refere-se àquelas propriedades que ainda
20- - 12
permanecem inexploradas, assumindo, portanto, o caráter
10-
de reserva de valor. Desse modo, com relação à ocupação
- 6
de suas terras, as propriedades no Estado apresentam
o três situações: com quase 100% de suas áreas explora-
1975 1980 1985
o
1995/96 2006 das, não respei tando a legislação ambiental; parcialmente
Álea total/ha na exploradas, onde ainda se encontram áreas preservadas;
1 atividade agropecuAna 1 Area utilizada/ha na
atividade agropecu~ria
e propriedades sem destinação produtiva, tomadas como
fonte IBGé. 1975, 1980, 1925, l!l'JS-19%, 2006
reservas de valor.

140

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Agricultura: transform ções e tendências

rv L Ar Pr V

Em 25 de maio de 2012, entrou em vigor o novo Código


vatórlos, nas nascentes, olhos d'água, ou seja, em todo curso
Flore tal (Lei nº 12.651 de 25/05/2012), divulgado junto com a
ou reservatório d'água. Também devem ser preservadas a
Medida Provi órla (MP) nº 571 e a MP n. 2.166-67/020 0,. Essa
vegetação no topo dos morros, montes, montanhas, etc., além
L i dispõe obre a proteção da vegetação nativa, altera leis
daquelas destinadas a fixar as dunas, evitar eros~o. proteger
anteriores (6.938/81; 9.393/96; 11-428/06) e revoga outras
as bordas de rodovias e ferrovias, etc. Considerado um avanço
(4.771/65; 7.754/89). Em apoio à ação de regularização ambien- em relação à legislação anterior, o atual código traz pontos
tal pelo novo código, foi criado o Cadastro Ambiental Rural polêmicos, não ficando isento de críticas, sobretudo por estu-
((AR) no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre diosos do assunto e ambientalistas que veem favorecimento
Meio Ambiente (Sinlma). O Código atual determina para os aos grandes produtores rurais em detrimento dos pequenos
imóveis situados na Amazônia Legal: o percentual de 8o% produtores, além do emprego impreciso de conceitos funda-
de Reserva Legal, da área do imóvel situado em área de flo- mentais na lei. As críticas referem-se, principalmente, no que
resta; 35% para o Imóvel situado em área de Cerrado; e 20% diz respeito à anistia aos produtores em geral, que fizeram
para o imóvel situado em área de campos gerais. Para imó- desmatamento irregular em áreas rurais consolidadas, ou
veis localizados nas demais regiões do pa ís, fixou o percen- seja, com ocupação humana efetivada antes de 22/07/2008;
tual em 20%. A Lei admite redução da área de reserva legal sobre a possibilidade de intervenção em áreas de reserva
de 80% em até 50%, de imóveis situados em áreas de floresta legal e de preservação permanente; sobre a isenção de se
na Amazônia Legal, em casos específicos de recomposição da constituir áreas de reservas legais em propriedades com até
vegetação e de regularização de áreas rurais consolidadas, 4 módulos fiscais (os módulos variam de tamanho - de 10 até
obedecendo aos critérios nela estabelecidos. Definidas na 100 hectares - dependendo da localização do imóvel); e sobre
Lei, Reserva Legal significa a parcela da área de floresta a ser a compensação de desmatamento feito de forma irregular
preservada obrigatoriamente na propriedade ou posse rural em áreas de reserva legal, mesmo que esta ação seja feita em
onde ela se situa, e Area de Preservação Permanentes (APP) outra região; ou, ainda, a recuperação da área, num prazo de
corresponde às diversas formas de vegetação nativa ou não, 20 anos, podendo esta ser recomposta com plantas exóticas
situadas em áreas rurais ou urbanas, como as matas ciliares em até 50% da área. Todos esses questionamentos podem
situadas ao longo dos rios, ao redor de lagoas, lagos ou reser- possibilitar ações de burla à Lei.

Fonte: Lei n• 12.651 de 2s/os/2012); Medida Provisória (MP) n• 571; MP n. 2.166-67/02001 .

Uso da terra e produçao agropecua ia A partir de 1970, observa-se acentuado incremento


no plantio de pastagens, indicando forte pecuarização
A base de sustentação econômica de Mato Grosso do sistema produtivo estadual, embora a área ocupada
esteve historicamente assentada na agropecuária desen- por lavouras também tenha apresentado um crescimento
volvida em grandes propriedades, onde a pecuária liderou gradativo no mesmo período, incorporando maior valor à
o setor até 1975. Ainda que a maior parte das terras utili- produção do Estado. Conforme os dados da Tabela 9.4 e
zadas pelos estabelecimentos rurais continue sendo com da Figura 9.3, entre 1975 e 2006, as áreas com pastagens
pastagens, como mostram os dados da Tabela 9.4, a pro- nativas e plantadas são predominantes na forma de utiliza-
dução agrícola vem liderando o setor em produtividade ção das terras em Mato Grosso, ocupando, em 2006, 45,2%
e renda. Essa tendência foi confirmada pelos dados do ou 22 milhões de hectares do total da área destinada aos
Censo Agropecuário de 2006, os quais mostram redução estabelecimentos rurais. Observa-se, contudo, um decrés-
de 1,8 milhão de hectares das áreas com pastagens natu- cimo contínuo das áreas com pastagens nativas em relação
rais e ampliação das áreas de lavouras de 2,9 milhôes de às áreas com pastagens plantadas. Em 2006, as pastagens
hectares, correspondentes à migração para essa atividade, plantadas ocuparam 36,2% do total da área dos estabeleci-
de áreas antes ocupadas por pastagens naturais e por mentos rurais, contra 9,0% do total ocupado com pastagens
matas e florestas, que também sofreram grande retração nativas. Isso indica mudanças na exploração da pecuária
no período de 1995-1996 a 2006. Essa expa nsão da área bovina, devido a novas técnicas que foram sendo impulsio-
de lavoura em direção ao Biorna Amazônia se caracteriza nadas pelas exigências e demandas do mercado externo.
como um "prolongamento da fronteira do agronegócio", Na década de 1970, a lavoura aumentou gradativa-
impulsionada pela produção de commodities - soja, milho, mente sua participação no total da área dos estabeleci-
algodão (IBGE, 2006). mentos rurais, registrando-se um contínuo crescimento,

141

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UNl()ADE 3 _

T~bela 9.4
S FORM AS DE DISTRIBUIÇÃO E USO DAS TERRAS
AATICIPAÇÃO PERCENTUAL DA NTOS _ 1975, 1980, 1985, 199S/1 996 E 2006
MATO GROSSO - p TOTAL DOS ESTABELECIME
EM RELAÇÃO AAIIEA Te,
Pastagem Matas e florestas Matas plantadas
uvouras naturais (%) •
permanentes e Nativa (%) Plantada {%)º
ternl)(rinas (%) 0,10
11.8 32,3
2.2 39,3
1975 21 9-49146 38,7 0,14 7,2
29,1 13,5 93,t
34 554 548 4,4 0,06
1980 37,3 S,8
25.5 17,7 92,o
37.835651 5,6 0,13
1985 30,6 43,0 3,0
5,9 12,4 95.o
49 839 631 39,2 0,14 1,3
9,0 36,2 98,t

Figura 9.3
!FERENTES FORMAS DE UTILIZAÇÃO DAS TERRAS
MATO GROSSO - DISTRIBUIÇÃO DAS ORAIS - 1975 1980, 1985, 1995/96, 2006
DOS ESTABELECIMENTOS RU ,

Poruntagtm da 6rt1

50 I

40 1

30 r - 30

20 t 20

10

o 1 •

197S
1, 1 1980
1.1 198S
11 1995/96
1 1 2006
1
10

1 Llvouras permanentes
e temporarias
Matas e florestas naturais'
Terras inexploradas.
degradadas ou inaproveitáveis 1 Pastagem nativa 1 Pastagem plantada"

fonte IBGl. Cenios Agrop«\.Wrkn, 1995-1996, 2006.


0t»- ºMatlS t ou florfiui n,tur1is, 1nduslve u destinacüs à preservação permanMle ou reserva legal. .. Pastagens plantadas degradadas e pastagens plantadas em boas condições.

resultado da política do governo federal voltada às áreas produtividade alcançada com a intensificação da moder-
de fronteira agrícola. No começo dos anos 80, observou- nização agrícola, que promoveu a introdução de novas
-se um crescimento moderado decorrente da redução dos tecnologias, insumos e defensivos químicos em larga
incentivos governamentais e da crise econômica, tanto escala, bem como mudanças nas formas de organização
que, entre 1985/1995, o aumento foi de 5,6% para 5,9%.
e administração, transformando os estabelecimentos em
As medidas restritivas também causaram impactos no
empresas agrícolas. Isto pode ser evidenciado pelos altos
mercado de terras, já que boa parte do crédito rural era
níveis de produtividade e de rendimento alcançados pela
destinado à compra de áreas, como também nas práticas
agricultura comercial no Estado, representada principal-
agrícolas convencionais (IBGE, 1997).
mente pela soja, pelo milho e, em seguida, pelo algodão,
Entre 1995-1996 e 2006 observou-se uma leve descon-
culturas que, após 2002 e 2003, passaram a ocupar, respec-
centração da terra, com a redução de mais de 1,1 milhão
tivamente, o 1º lugar no ranking nacional. Porém, há de se
de hectares no total da área ocupada pelos estabeleci-
mentos rurais, os quais, ao contrário, tiveram um incre- considerar que, ainda que tenha ocorrido redução no total
mento de 30,2%. Em 2006, as áreas destinadas às lavouras da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários, a
per'.11anentes e temporárias cresceram 13,1%. Há que se produção de grãos em grande escala e o uso de avançadas
registrar também que, nesse período, houve aumento da tecnologias têm potencializado o processo de concentra-
ção fundiária no Estado (I BGE, 2006).
142

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Agricultura: t r a n ~ e tendências

Confo~ e a Tabel~ 9.4, grande parte das terras dos


estabelecrmento~ rurais apresentava-se coberta por matas
e florestas naturais, uma tendência que vem se m • d
.. h" . . anLen o
ao longo d_a sene. 1sto nca de 1970 até 1995, ano em que
a vegetaç~o nativa representava 43% do total da ârea dos
estabelecimento~ ru~is no Estado. Em parte, isso pode ser
resultado da leg1slaçao que determina a manutenção de
áreas ~e reserva legal, como também da incorporação de
terras incultas

aos estabelecimentos rurais. Em 2006, os
estabe1ecrmentos rurais registraram 39,2% de suas terras
ocupadas por matas e/ou florestas, caindo de 21,4 milhões
para 19,1 milhões de hectares do total da área dos estabe-
lecimentos_rurais no Estado. Isso pode significar O avanço
da produçao sobre essas áreas, muitas vezes ultrapas-
sando o limite da reserva legal, refletindo a intensificação
do capitalismo no campo mato-grossense.
O desenvolvimento de uma região de fronteira, de O uso de máquinas na preparação do 5e,:O p;-_..ra ') ç.la ,
grandes extensões territoriais e diversificadas potencia-
lidades como Mato Grosso, embora determinado pela
lógica do capital, envolve processos sociais distintos, eia is, colocando a agroindústria co o a principal a · · ade
originados das culturas das populações migrantes, que económica no conjunto do seu sistema produ · 10. E. o.ão
também vão influir na forma de apropriação e no uso obstante Mato Grosso ainda apresentar forte p r ~
g da terra. O ambiente natural também é um elemento de numérica da agricultura familiar, verifica-se uma tefldén-
õ
u
influência nos diferentes usos da terra. cia à substituição dessa forma tradiáonal de organização
Assim, a estrutura produtiva de Mato Grosso está mar- social da produção agrícola pela agricultura capíta iz.ada.
cada pela coexistência de formas tradicionais e moder- Até 1995, a área explorada com atividades agrope-
nas de produção, prosperando a industrialização da cuárias no Estado representava 24,4 milhões de hectares
agricultura. Isso pode ser observado pelo reordenamento da área total dos estabelecimentos rurais ~~~~ S.3. E.xa:-
do espaço agrícola, que apresenta nos cerrados acelerada tuando-se as áreas de pastagens e de outras atividades
expansão de monoculturas cultivadas por grupos empre- económicas, a área cultivada, em 2000, passou para, apro-
sariais, enquanto a pequena produção familiar encontra- ximadamente, 4 milhões de hectares, contra 2,9 milhões
-se disseminada em todo o Estado. existentes em 1995, significando um aumento de 27,5%
Verifica-se, também, uma tendência à verticalização da em apenas cinco anos (IBGE/PAM). Embora em contínua
produção, pela implantação de unidades agroindustriais expansão, a agricultura é pouco diversificada, destacando-
próximas às regiões produtoras de soja, milho, cana-de-açú- -se a produção de monoculturas, representadas principal-
car e algodão, voltadas principalmente para o aproveita- mente pelas culturas temporárias da soja, do milho e do
mento de seus subprodutos ou resíduos. Secundariamente, algodão, seguindo-se a cana-de-açúcar e o girassol. Outras
constata-se a implantação do modelo pecuário intensivo, culturas ocupam menor expressão na economia do Estado,
embora a criação extensiva seja amplamente utilizada. como o arroz, o feijão, o café, a mandioca, importantes na
alimentação do brasileiro, além de outras culturas perma·
nentes, como a seringueira, castanha-do-brasil, coco e a
Principais produtos agropecuários mamona; e frutíferas, como manga, acerola, banana, aba-
caxi, maracujá e uva.
Desde a década de 1970, Mato Grosso vem apresen- O predomínio de lavouras comerciais no Estado, vol-
tando um crescimento considerado extraordinário no tadas principalmente para o mercado externo, tem impli-
setor agropecuário, pela expansão da área cultivada, pro- cado na forte redução no plantio de culturas de base
dução e produtividade. Este desempenho é resultado de familiar, cuja produção carece de incentivos financeiros
uma sensível transformação na base técnica, antes apoiada para o seu fortalecimento. Sem dúvida, isto é resultado
de um modelo de desenvolvimento que reforça a depen-
em sistemas tradicionais, que foi alterada para sistemas de
dência de importação de produtos alimentícios e indire-
produção amparados pela tecnologia. A intensificação
tamente reduz a participação da pequena produção na
da industrialização da agricultura vem respondendo por
economia. A importância da produção familiar está no
parcelas imp ortantes da produção de lavouras comer-

14

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UNIDADE 3

. d básicos na alimenta·
cultivo de produtos considera os ·mp11·cações sociais Plan 10 d reto
. . dução gera 1
ção do bras1le1ro, e sua re o âmbito regional e refle-
e económicas, que extrapolam b a de grande parte Consiste em uma técnica de prepa
tem, inclusive, no aumento da po rez êxodo rural e para o cultivo agrícola, baseada na sem ração do
.d ·st , eadura _
da população do país, no desemprego, não revo 1v1 o, 1 o e, a semeadura é feita ~,,.
'd d
palhada ou res1 uos as culturas utilizad
sem~
aumento da violência urbana.
a cobertura morta, exceto nos sulcos ou ~ para ~
sementes sao - ·introd uz1·das. Es te sistema e .ovas' nn.L.
- ·""'!

Soja
.
de plantas invasoras, sendo geralmente
~~º
· d os qu1m1cos
meto ' . com bºinad os com práticasemp~
A soja começou a ser cultivada comercial~e~~e em culturais e biológicas. As máquinas utilizadas ~'cas.
Mato Grosso no final da década de 1970, em municip1os da apropriadas a essa prática agrícola. O plantio dir;em ser
região sudeste do Estado, como Rondonópolis, ~lto Ara- tanto, um sistema de manejo e conservação do ºé.POr.
guaia e Alto Garças. Posteriormente, foi se expandindo p~r tem permitido adequar a fertilidade dos solos d SOio QUe
. 'd e(err:.,t,,.
quase todo o Cerrado, respondendo aos incentivos ~scais em grande parte const1tu1 os por latossolo ··--.
s vermelho-
vinculados aos programas de desenvolvimento regional. -amarelo com elevados teores de ferro e alum'lntO.Opla .
A expansão desta cultura visou, desde o início, atender à tio direto proporciona melhor aproveitamento d
a matéria
n-
demanda do mercado externo pelo produto e seus deriva- orgânica do solo, de suas propriedades físico ui .
. 1. . - d .d -q m1cas e
dos, principalmente pela União Europeia e Japão. b10 og1cas, retençao
-
e um1 ade, estruturação d
• e partf..
cu 1as, agregaçao e areJamento, influindo direta
Dentre as medidas econômicas tomadas pa ra a expan- .. mente na
fertilidade
. do solo e no controle
,. da erosão· Esse sistema

são dos cultives de soja, destaca-se o acordo assinado
tem sido adaptado. em varias regiões do Estado, com
entre o Brasil e o Japão, em 1974, dando origem ao Prode-
duas culturas anuais em sucessão, com o plantio
cer, programa que contribuiu decisivamente para a expan- . . 1( . precoee
d a _cu 1tura prin_c,pa soJa, arroz, milho) e, imediatamente
são do plantio desse grão em t odo o Cerrado brasileiro,
apos sua colheita, uma segunda cultura (sorgo, milheto).
onde as terras, consideradas de baixa ferti lidade, passaram
a apresentar altos níveis de produtividade depois de rece-
Fonte: Silva, 2000, p. 85-100.
berem adubação e correções de acidez do solo. A política
de incentivo à migração, sobretudo de sulistas, mais capi-
talizados e com experiência no trabalho agrícola mecani-
zado, também contribuiu para a expansão dessa cultura
em terras mato-grossenses.
A soja vem sendo cultivada em várias propriedades
rurais por meio do plantio direto, com o cultivo de gramí-
neas como o milho, o sorgo e o milheto, que apresentam
um ciclo vegetativo curto, em sucessão ao seu plantio. Os
restos culturais da planta utilizada para a cobertura morta
formam a palhada, utilizada para a cobertura do solo, evi-
tando a sua exposição ao sol e às chuvas. O plantio da soja
é feito entre o início de outubro e a metade de dezembro
conforme o tamanho da área, as variedades cultivadas ~
as condições climáticas, situações que podem retardar o
plantio em até um mês. A colheita é feita usualmente de
f~ve~eiro ao início de março. Alguns produtores utilizam Soja em Primavera do Leste: cultura predominante no Estado
tecn1~as artificiais para a secagem dos grãos, permitindo
antecipar a colheita e assegurar melhores preços. Para
obter _melhor aproveitamento da área, os sojicultores e A disponibilidade de terras, a melhoria de cultivares
os agricultores, ~e um modo geral, têm recorrido a uma adaptadas ao Cerrado, o manejo das culturas, o emprego
s~gunda p~oduçao, denominada safrinha, cujo plantio se de tecnologia e o mercado crescente favoreceram ocons-
da logo apos a colheita da cultura principal C . t tante aumento da produção de soja no Estado, conforme!
tanto . ons1s e, por-
, nu~a etapa de um sistema de produção alternativo mostram os dad os da Tabela 9.5 e Figura 9.4. Entre
que permite manter o solo protegido dim· . d ,
aumentando os rendimentos. , inuin o custos e safras de 1995 e 2005, port anto num período de dez
a área colhid a sa lto u de 1,7 milhão de hectares para

144

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Agricultura: transformações e tendências Capítulo 9

Tabela 9.5
Figura 9.4
MATO GROSSO - SOJA: AREA COLHIDA, PRODUÇÃO E
MATO GROSSO - AREA COLHIDA E PRODUÇÃO DE SOJA
RENDIMENTO - 1995, 2003·201 2
1995,2004,2006,2008,2010,2012

Area colhida Ãrta/hl (fffl mllh6!!) Pl'od~/lon (fffl millkl)


Anos Produç:to Rendimento médio 25
{ha) 8,0
obtida (t) obtido (kg/ha)
1995 1.739.291 4.435.965 2.550 6,4 20
2003 4.413.271 12.965.583 2.937
2004 5.263.428 14.517.912 4,8 15
2.758
2005 6.106.654 17.761.444 2.908
2006 5.811.907 15.954.221 3,2 10
2.683
2007 5.075.079 15.275.087 3.010
1,6 5

li
2008 5.470.149 17.212.351 3.147
2009 5.831 .468 17.962.819 3.080
o o
2010 6.226.452 18.787.783 3.017 1995 2004 2006 2008 2010 2012

2011
2012
6.454.331
6.980.690
20.800.544 3.222 1 Área colhida 1 Produção obtida
21.841 .292 3.128
Font~ IBGE. PAM. 199s. 2003-2012. ln: Mato Grosso. Seplan. Anudrio &ror/.mco, 2013, Fonte: tBGE. PAM. 1995, 2003-2012.ln: Ma10Grosso. Seplan.Anudrio&torfslico, 2013.

milhões de hectares, en quanto a produção aumentou de


4,4 milhões para 17,7 milhões de toneladas, apresentando,
no mesmo período, os maiores índices de produtividade
do país, superior a 2.980 kg/ha, em média, o que lhe valeu
a condição de maior produtor, superando o Estado do
Paraná, a partir de 2003. O aumento crescente no tamanho
da área de cultivo da leguminosa entre 2001 e 2006 deveu-
-se, sobretudo, à utilização de áreas já desmatadas, antes
ocupadas com pastagens, destacando-se que essa expan-
são se deu em direção à Amazônia. Entre 2006 e 2009, a
área colhida ficou acima de 5 milhões de hectares, alcan -
çando quase 18 milhões de toneladas, em 2009, obtendo
um rendimento médio de 3.080 kg/ha no mesmo ano.
Na safra de 2012, observou-se expansão da área colhida,
atingindo quase 7 milhões de hectares, um incremento de
17% em relação a 2009, obtendo-se mais de 21,8 milhões
de toneladas, mantendo-se o índice de produtividade em Campos de soja na Fazenda ltama rati, em Nova Olímpia.
torno de 3.128 kg/ha. Para a safra de 2014/2015, estimou-se Áreas planas do Cerrado favorecem agricultu ra mecan izada
e de alta produtividade
aumento da área acima de 8 milhões e aumento da pro-
dução em torno de 27 milhões de toneladas (lmea, 2014).
Grande parte da produção ocorrida após 2005 foi pro- ção no mercado mundial. A oscilação para baixo, no preço
veniente do cultivo de sementes geneticamente modifica- internacional da soja, por exemplo, principal produto agrí-
das, ou transgênicas, que na safra 2009/2010 ocorreu em cola na pauta das exportações brasileiras, poderá gerar
mais de 50% da área total plantada, e também do cultivo uma crise na economia mato-grossense, que tem sua agri-
de sementes certificadas. Na maior parte das áreas culti- cultura baseada, principalmente, no cultivo dessa mono-
vadas foram utilizados agrotóxicos e adubação química, cultura.
sendo a colheita feita de forma quase que totalmente A maior parte da soja produzida no Brasil é comercia-
mecanizada (I BGE, 2006). lizada em grãos para a Ásia e União Europeia. Em Mato
Contudo, o comportamento da demanda externa - Grosso, a China destaca-se atualmente como o maior
além de outros fatores, como a flutuação cambial e a polí- importador, dentre os países asiáticos, e a Holanda, dentre
tica protecionista imposta por países competidores aos os países europeus. A transação é feita através da Bolsa de
seus produtos - é que determina a colocação da produ- Chicago, nos Estados Unidos, tradicional bolsa de comer-

145

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UNIDADE 3

d't' sem escala mundial. Outra parte Tabela 9.6


ializ o d commo f11e da em óleo refinado e farelo, MATO GROSSO - RANKING Dos
dtrans orma • PRODUTORES DE SOJA (ACIMA DE 2!UNicr,,os
proce t ubproduto utilizado na fabric~ção de ra çao ,OOo TONEI.AD~
ndo t o óleo é mais consumido pelo mer-
nim 1. Enquan o . - do Municípios Area
. o farelo tem maior destinaçao ao merca (ha)
cado interno, . . -
do 7 unidades empresariais estao ope-
e erno. N0 Esta ' · 1• - 1º Sorriso 605.700
. 'dades diversas como a Industria 1zaça o
rando com at 1v1 , 2º Sapezal 362.133
dos seu derivados (Quadro 9.1). . 30 Nova Mu tum
1.1 3OJ26
354.962
O maiores municípios produtores de soJa no Estado 1.107.481
40 Campo Novo do Pareeis 336.000
na afra de 2012, estão situados na Região Norte Mato- 1.063_800
50 Nova Ubiratã 280.140
-grossense, que concentrou naquele ano 66% do tota_l 890.988
6º Querência 277.398
da área plantada e da produção no Estado (Tabela 9.6). So 882.126
70 Diamantino 280.000
a Microrregião Alto Teles Pires respo ndeu por 28% da 873,600
8º Primavera do Leste 240.000
área plantada e quase 30% do total da produção obtida, 744.00()
90 Lucas do Rio Verde 225.SOO
destacando-se nela os municípios de Sorriso, 1° lugar no 716.550
10° ltlquira 198.000
ranking estadual, Nova Mutum, Nova Ubiratã, Lucas do Rio 629.640
11° Campo Verde 179.000
Verde, lpiranga do Norte, Santa Rita do Trivelato e Tapurah . 590.700
Nessa mesma Região, a Microrregião Pareeis respondeu 12• Campos de Júlio 184.250 56356S
130 Brasnorte
por mais de 17% da área plantada e da produção total, des- 170.500 530.430
2,4
tacando-se os municípios de Sapezal, 2° lugar no ranking 14° lpiranga do Norte 158.573 494.748
2,3
estadual, Campo Novo do Pareeis, Campos de Júlio e Dia- 1s• Canarana 152.563 475.997
2,2
mantino. Portanto, essas duas microrregiões, também 16° Santa Rita do Trivelato 155.365 466.095
2.1
referenciadas como "Médio-Norte", concentraram 45% da 17° Tapurah 153.000 459.00Q
2,0
produção estadual de soja. Em seguida, destacam-se na 18° Tabaporã 135.039 417.167 1,9
Região Norte: Brasnorte, na Microrregião Aripuanã; Nova 19° Vera 128.179 41 1.492 1,8
Maringá, São José do Rio Claro e Tabaporã, na Microrre- 20° Santo Antônio do Leste 126.000 400.680 1,8
gião Arinos; Sinop e Vera, na Microrregião Sinop; Gaúcha 21° Nova Maringá 126.000 378.000 1,7
do Norte e Paranatinga, na Microrregião Paranatinga. 22• Gaúcha do Norte 107.848 355.898 1,6
A Região Sudeste Mato-grossense contribuiu com 16% do 23° Sinop 120.799 345.773 1,S
total da área plantada e do total da produção no Estado, 24° São José do Rio Claro 109.000 327.000 1,4
estando a maior parte concentrada nas Microrregiões de 25° Paranatinga 104.000 291.200 1,3
Primavera do Leste e de Rondonópolis, as quais comporta - Total do Estado 6.980.690 21 .841.292 100
ram, juntas, 90% da produção dessa Região, destacando- Fonte: Mato Grosso. Seplan. Anudr,o Esratfs rlco, 2013.

Quadro 9.1
MATO GROSSO - AGROINDÚSTRIAS - SOJA

Unidades empresariais Localização Atividades Produtos


ADM do Brasil Rondonópolis Processamento e refino e envase de óleo Óleo refinado
Agrosoja Comércio e Industrialização de cereais, adubos e insumos
Exportação de Cereais Sorriso
agrícolas Óleo de soja e farelo de soja
Amaggi Lucas do Rio Verde Indústria esmagadora - Processamento de soja Farelo e óleo
Cuiabá Fabricação de óleos vegetais e preparação de
produtos alimentícios Esmagamento - farelo de soja e óleo degomado
Bunge Alimentos S.A.
Rondonópolis Fabricação de óleos vegetais e preparação de Farelo de soja, óleo degomado, óleo refinado e
produtos alimentícios gordura vegetal
Nova Mutum Processamento de soja. Óleo e farelo de soja
Cargill Agrícola S.A Primavera do Leste Processamento de soja. Envase, comercia lização
e distribuição Produção de farelo, óleo bruto e refinado
Encomind Agropecuária Cuiabá
Processamento de soja Farelo de soja e óleo degomado
Sperafico da Amazônia S.A. Cuiabá
Foo • . Extração de óleo de soja degomado ó leo degomado
te. Sttretaria de- lndustna. Comérc10 e Energia de Mato Grosso - Skme/GFI
201

' 3. •sponfvel em: <www.carglll.com>; <www.amaggl.com.br>; <www.bunge.com.br>, Acessos em:j11n. ::1015,

146

Scanned by CamScanner
-se como maiores produtores os municípios de Primavera
do Leste, Campo Verde, ltiquira e Rondonópolis. A Região
Nordeste Mato-grossense participou com 14% do total
da área plantada e da produção no Estado, tendo como
maiores produtores os municípios de Querência, Canarana
e Santo Antônio do Leste. As demais regiões e respectivas
microrregiões tiveram produção dessa cultura abaixo de
290.000 toneladas. (Figura 9.5)
O cultivo de sementes de soja também é desenvolvido
em várias áreas de Mato Grosso, estando mais concentrado
em municípios situados na Região Sudeste Mato-gros-
sense, sendo Rondonópolis o polo comercial do setor. A
produção de sementes exige cuidados específicos, como o
uso de tecnologia para a secagem, classificação dos grãos
e assistência técnica constante, além de pesquisas para o
melhoramento genético, a introdução de novas varieda-
Soja
des e o combate às doenças. A Associação dos Produtores
A soja é uma planta originária do sudeste da Ásia,
de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) congrega empre-
possivelmente da Manchúria, na China, sendo cultivada
sas agropecuárias que controlam cerca de 80% da produ-
pelos chineses há mais de cinco mil anos. A sua expansão
ção de sementes no Estado. A produção de sementes no
para outras regiões do mundo se deu com o advento da
estado, em 2012, foi de 283.327,93 toneladas (Mapa/DFA/ era industrial moderna, tendo sido explorada de modo
MT. ln: Mato Grosso. Anuário Estatístico, 2013). racional nos EUA, a partir de 1898. No Brasil, foi introduzida
por imigrantes japoneses que se instalaram no Estado de
São Paulo no início do século XX, sendo plantada para con-
Figura 9.S sumo, é um dos alimentos tradicionais dos povos asiáticos.
MATO GROSSO - PRINCIPAIS MUNICfPIOS PRODUTORES DE SOJA A exploração da soja no Brasil teve início com a importa-
E DE SEMENTES DE SOJA - 2012 ção de cultivares e técnicas dos Estados Unidos, em 1914,
iniciando seu cultivo no Rio Grande do Sul, na região das
Missões, fronteira com a Argentina. Na década de 1970,
expandiu-se comercialmente para outras regiões do país,
com o crescente interesse de indústrias nacionais na pro-
dução de óleo e com o aumento da demanda do mercado
internacional pelo farelo de soja, destinado à fabricação
de ração. Nessa mesma época, chegou ao antigo Estado
de Mato Grosso, junto com os gaúchos que imigraram
para a região de Dourados, hoje município de Mato Grosso
do Sul. No atual Mato Grosso, teve o seu cultivo iniciado na
região sul, tendo sua exploração experimental sido divul-
gada em 1977, através do Dia de Campo de Soja, realizado
pela Empresa Mato-grossense de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater) na Fazenda Ouro Verde, município
de ltiquira. A produção da soja em caráter comercial no
Estado se deu com o apoio financeiro do programa Polo-
centro e com o desenvolvimento de pesquisas realizadas
pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja, atual Embrapa
Soja, em parceria com unidades estaduais de pesquisa,
como a antiga Emater. Embora o Brasil seja atualmente
o 2° produtor mundial de soja, menos de 30% é utilizada
Fonte: Mato Grosso. Seplan. Anudrio Esratfstico, 2013. Base da dlviQo territorial: Seplan-MT, ln: Mato G,osso, 2011 . na indústria de alimentos e na indústria química. Do total
de grãos produzidos, mais de 70% são transformados em
D Principais municípios produtores de soja farelo, usado como componente proteico de rações para o
consumo alimentar de suínos e aves.
D Principais municípios produtores de sementes de soja

- Principais municípios produtores de soja e de sementes


Fonte: Mato Grosso, 1987; Montanuci, 1994; <www.embrapa.gov.br>.

Scanned by CamScanner
pragas e doenças, conforme mostra
9.7 e Figura 9.6. rn °s dados
u No intervalo de 1995 a 2003 a
, 1avour
teve uma produtividade média acima d a de 1\'111~
As atividades de pesquisa voltadas para o cultivo da çando 3,6 kg/ha na safra de 2003 A p e 2,S knJL.ª
· artir d .p,,..,
soja e variedades de sementes desenvolvidas no Estad~ um aumento crescente na produça· o . e 2004 ....,
pela Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope ,at1ng1 d ··•
de ton/ha em 2010, um incremento de n °8,1 rn
cuárla e pelas suas várias unidades, dentre elas a Embrapa 60
a 2003. A área plantada também aum •90% em r
Soja, contou com a participação da Empaer - Empresa , d entou d
Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Exte~- no mesmo peno o, tendo um increment e tarna
s:io Rural - e, de 1993 a 2002, com a parceria da Fundaçao rendimento médio de 4.492 kg/ha. Em ~~e 56,21%,e
2
de Apolo à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso - Fun- tanto no tamanho da área plantada qu hou"e q 11
. anta na
dação MT, uma entidade privada mantida exclusivament: devido ao comportamento do mercad . Produ~
por produtores rurais. As pesquisas realizadas foram deci- o internacio '
l'laldo
sivas para a expansão e exploração de diferentes varie-
Tabela 9.7
dades de soja, adaptadas às condições geográficas do
MATO GROSSO - MILHO: ÃREA COLHIDA p
Cerrado. Outras instituições privadas de pesquisa agrope-
E RENDIMENTOS - 1995, 200l·;Ol~ODUÇÃ()
cuária atuam no Estado, como a Fundação Centro-Oeste
de Apoio à Pesquisa e a Fundação Rio Verde.
Área colhida Produção
Anos
(ha) obtida {t)
Fonte: <www.embrapa.gov.br>.
1995 471.227 1.209.486
2003 880.823 3.192.813
3.625
2004 941.092 3.408.968
A produção de sementes no Estado conta com a par- 3.622
2005 1.043.815 3.483.266
ticipação de empresas privadas nacionais e outras fran- 3.329
2006 1.079.970 4.228.423
queadas por subsidiárias de multinacionais. Os principais 2007
3.915
1.648.671 6.130.082
municípios produtores na Região Sudeste Mato-grossense 3.718
2008 1.830.447 7.799.413
são: Rondonópolis, Alto Garças, Primavera do Leste, Alto 4.261
2009 1.662.920 8.181.984
Taquari, Pedra Preta, Alto Araguaia, Campo Verde, ltiquira 4.920
2010 2.01 1.742 8.164.273
e Tesouro; na Região Norte Mato-grossense: Sorriso, Sape- 4.058
2011 1.921 .101
zal, Campo Novo do Pareeis, Campos de Júlio e Sinop; na 7.763.942
4.041
Região Sudoeste Mato-grossense: Tangará da Serra; e, na 2012 2.740.553 15.646.716
S.709
Região Sul Mato-grossense: Cuiabá. (Figura9.5) Fonte: IBGE. PAM. 1995, 2003-2012, ln: Mato Grosso. Seplan. Anuó,io fsrorfsrico,
2013
.

Milho Figura 9.6


MATO GROSSO - AREA COLHIDA E PRODUÇÃO DE MILHO
Após integrar-se ao complexo sojífero, a produção 1995,2004, 2006, 2008,2010,2012
de milho se expandiu e alcançou maiores índices de pro- Area/ha (em milhõe,) Produçio/ton (,m milóol)
dução e produtividade. É cultivado associado à soja pelo 3,0 20
sistema de rotação de culturas, contribuindo para diminuir
os efeitos de desgaste do solo causados pela monocultura. 2,4
15
Além de fornecer a palha da para a forragem do solo, o milho
tem motivado a diversificação da produção agropecuária 1,8
nas regiões produtoras de soja, com a criação integrada 10

de suínos e aves em unidades agroindustriais. Seus 1,2

11b 11
subprodutos, farinha e óleo, são destinados ao consumo
interno brasileiro e também fazem parte da pauta de 0,6
exportações do Estado, enquanto os grãos e sementes são
comercializados regionalmente. o 1.1995 2004 2006 2008 2010 2012
o
A produção de milho vem apresentando níveis cres-
centes de área, produção e rendimento, com o desenvol- 1 Área colhida ■ Produção obtida

vimento de novas variedades híbridas mais resistentes a Fonte: IBGE. PAM, 1995, 2003-2012. ln: Mato Grosso. Seplan.Anud' /oEsrorlirko' 20ll.

Scanned by CamScanner
milho que, ~m função de uma oferta maior, n O oferecia 1IIJ•lf• 'I I
preços atrativos para o cultivo do cereal naquele ano. Com MATO GIIOS O PIIIN IP~I MUN IP
a melhora do cenário econômico e condições cllrnátlcas JOI
favoráveis, em 2012 houve uma expansão da área plantada
registrando um incremento de 29,9%, e um lncr ment~ ... w

na produção de 50.4%, alcançando 15.646.716 toneladas


e um rendimento médio acima de 5.000kg/ha em uma
ár~a colhida de 2.740.553 hectares. A maior produção de J
milho no Estado ocorre na safra de inverno, ou safrlnha
cujo plantio é feito logo após a colheita da soja, em slstern~
de rotação com essa cultura, que é plantada no verão. No
\
ranking nacional, Mato Grosso ocupa a posição de maior ,,
produtor do país, destacando-se como maiores produto-
res os municípios de Sorriso, maior produtor, Lucas do Rio
Verde, segundo maior produtor, Nova Mutum, Nova Ubl-
ratã, lpiranga do Norte e Santa Rita do Trivelato, situados
na Microrregião Alto Teles Pires, responsável por 31.4% da
produção estadual; em seguida, Sapezal, terceiro maior
produtor, Campo Novo do Pareeis, Campos de Júlio e Dia- llOI IVIA
mantino, situados na Microrregião Pareeis, responsável
por 15,2% da produção estadual. Portanto, o Médio-Norte 22
..._~___, ""' / MATOGP.OSSOllOSUL "
concentra a maior parte da produção de milho (57,14%),
assim como da soja. Destacam-se também os municípios
de Primavera do Leste e Campo Verde, situados na Micror-
região Primavera do Leste, e ltiquira, na Microrregião de - Munidpios com produção aáma de 390.000 ~

<.. Rondonópolis, concentrando 10,5%. Outros municípios D Municípios com produção aáma de 200.000 ê!lé 300.000 t « ~
"0
.õ com produção acima de 200.000, e até 390.000, toneladas: D Municípios com produção aáma de 50.000 ;r~ 199.000 ~
êe. Vera, Sinop e Santa Carmem, na Microrregião de Sinop;
o
·~
~
Tapurah, na Microrregião Alto Teles Pires; Tabaporã, na
"0
o Microrregião Arinos; Brasnorte, na Microrregião Aripuanã;
..
ã.
a: e Querência, Santo Antônio do Leste e Novo São Joaquim,
na Microrregião de Canarana. (Figura 9.7) Assim corno as demais lavouras, a produção do milho
depende da política agrícola nacional e da incorporação
de tecnologias disponíveis para o seu cultivo, bem como
da demanda dos mercados interno e externo. Embora a
tendência seja de predomínio da lavoura tecnificada com
o uso de sementes selecionadas e de insumos industriais,
a lavoura tradicional do milho também é praticada nas
pequenas propriedades, onde se desenvolve a agricultura
de base familiar, observando-se urna produção signifi-
cativa em vários municípios do Estado. Em 2012, tiveram
O milho é cultivado produção acima de 50.000 até 199.000 toneladas: no Norte
nas grandes
Mato-grossense: Cláudia, Feliz Natal, ltaúba e Nova Canaã,
e pequenas
na Microrregião Colíder; Comodoro, na Microrregião Pare-
propriedades.
eis; Nova Maringá, Porto dos Gaúchos e São José do Rio
Integrado ao
complexo sojífero
Claro, na Microrregião Arinos; ltanhangá, na Microrre-
pelo sistema de gião Alto Teles Pires; Gaúcha do Norte e Paranatinga, na
rotação de culturas, Microrregião Paranatinga; no Nordeste Mato-grossense:
a produção de Bom Jesus do Araguaia, São Félix do Araguaia, São José
milho se expandiu do Xingu e Vila Rica, na Microrregião Norte-Araguaia;
e alcançou
Canarana e Nova Xavantina, na Microrregião Canarana; no
maiores índices de
produtividade Sudoeste Mato-grossense: Tangará da Serra, na Microrre-

149

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UNIDADE 3

Tabela 9.8
o-Sul mato-grossense: Chapada dos MATO GROSSO - ALGODÃO: ÃREA C
giáo Tangar~; no Centr ô . de Leverger, na Microrregião E RENDIMENTOS - 1995 l~UtlDA, p
- e santo Ant nio G · • • 2003-2012
Guimaraes M t -grossense: General Carneiro, u1-
cu,a·. ~-no
'
Sudeste a O . ·•
.b . - 'nho e Tesouro na M1crorreg1ao
p réo R1 eiraoz1 ' Anos
Area colhida Proctuçao
ratmga, oxo A, ·no Jaciara e Pedra Preta, na Microrre- (ha) Obtida (t)
Tesouro; Dom qu, '
1995 34.106
gião Rondonópolis. (Figura9.7) 46.s2s
1999 200.182 630.406
2003 290.617 1.06S.863
Algodão 2004 469.780 1.884.315
2005 482.391 1.682.839 4.011
·o Cerrado veste branco• (Maciel, 1999). Esta expressão 2006 392.408 1.437.926
3.488
resume O grande crescimento do plantio de algodão em 3.664
2007 560.838 2.204.457
Mato Grosso, a partir de 1999. Antes dessa data, seu plan- 3.931
2008 539.586 2.083.398
tio era feito em terras consideradas férteis, por métodos
2009 357.543 3.861
manuais, exigindo a contratação de mão de obra tempo- 1.415.921
3.96()
2010 420.132
rária para a colheita. A produção concentrava-se em Colí- 1.454.675
2011 719.582 3.462
der, Região Norte, em São José do Povo, Região Sudeste, 2.539.617
3.529
e em São José dos Quatro Marcos, Mirassol d'Oeste, Ara- 2012 728.645 2.804.712
putanga, Salto do Céu, Jauru, Glória d'Oeste, Porto Esperi- Fonte: 18GE. 1997; IBGE. PAM, 199 4-2001, ln: Maro Grosso. Seplan, lOOS·loio. - ~.849
dião e Barra do Bugres, na Região Sudoeste. Cultivado nas
pequenas propriedades pelas técnicas da agricultura fami-
liar, adaptado às condições ambientais, o algodão tinha Na safra de 1995, quando a produ •
çao do ai -
pouca participação na produção agrícola estadual, tanto estava concentrada nas pequenas pro . d 90dao
. Prie ades •
em área plantada quanto em rendimentos. Atualmente, é colhida no Estado era de 34 mil hectar ' ª area
. es, e a prod •
cultivado nas regiões de Cerrado, de forma mecanizada e era de 46 mil toneladas, mantendo u uçao
em escala empresarial, elevando o Estado à condição de • • • ma produtiv·d 1 ade
media aoma de 1.300 kg/ ha. A partir de 1999
maior produtor do país. A produção total no Estado em tio mecanizado e o lançamento de cult· ' comO plan-
, . _ 1vares adapt d
2012 foi de 2.804.712 toneladas, alcançando uma produ- as cond1çoes das regiões de Cerrado _ ª os
tividade de 3.849 kg/ha em urna área colhida de 728.645 . . , a produçao a 1
apresentou 1nd1ces crescentes com P nua
hectares. (Tabela 9.8 eFigura 9.8) • 1 . ' equenas variaç·
inc us1ve no tamanho da área colhida oes,
, mantendo, porém,

O plantio e colheita mecanizados de algodão são feitas em extensas área . , .


Nas fotos produ . .. s, aliadas a tecnologia de ponta e cultivares adaptados.
' çao na reg1ao de Nova Mutu m

150

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Rgura 9.8
MATO GROSSO - ÃREA COLHIDA E PRODUÇÃO com o objetivo de retomar e expandir a cultura do
1995 1999 200l
'
,.,,..
'
DE ALGODÃO
• 2vvv, 2009, 2012
dão, através de incentivos fiscais aos produtores ~
Arulh• (,m mllhar.i) trados no programa. Para estabelecer a cadela produtiva
750 Procl~iton (em mllh6t,l dessa cultura, o programa exige que o beneficiamento e a
3,0

1
classificação sejam feitos no próprio Estado. Junto com o
600 Proalmat foi criado o Fundo de Apoio à Cultura do Algodão
2,4
(Facual), com a finalidade de subsidiar pesquisas e proje-
450 tos voltados ao melhoramento da cotonicultura no Estado.
1,8
No mesmo ano, produtores que iniciaram a produção em
300 bases empresariais se organizaram e criaram a Associação
1,2

.li.
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e, em
150 2007, o Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt).
0,6
A implementação da cadeia produtiva do algodão
tem incentivado a instalação de indústrias de beneficia-
o -1995 - 1999 2003 2006 o
2009 2012 mento nas regiões produtoras e atraído investimentos
1 1
Área colhida Produção obtida
na tecnologia disponível para o setor. Em Primavera do
Leste, por exemplo, a Unicotton - Cooperativa dos Produ-
Fonte: IBGE. 1997; IBGE. PAM, 1994--2003. ln: Malo Grosso. Seplan, 2005·2Dl0.
tores de Algodão do Sudeste de Mato Grosso - , em par-
ceria com a Basf S.A. e a Syngenta Proteção de Cultivos
Ltda., instalou um laboratório de classificação tecnológica
do algodão em pluma, para diagnosticar a qualidade da
índices de produtividade acima de 3.000 kg/ha. No decê- fibra. A empresa mantém apoio à pesquisa, com atuação
nio 1999-2009 houve um incremento de mais de 55% na e aporte financeiro do Instituto Mato-Grossense do Algo-
produção, saltando de 630.406 para 1.415.921 toneladas. dão (IMAmt), órgão gestor dos recursos provenientes do
Observa-se, nesse intervalo de tempo, que o rendimento Proalmat. Outra parceria, firmada entre a Fundaç~o Mato
médio manteve-se elevado, alcançando 3.960 kg/ha, em Grosso e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), permite
"'
't)
2009. Na safra de 2012, houve expansão da área colhida,
.õ aos associados do Programa Mato Grosso Cotton Quality a
õ
ã. com um incremento de 50% e aumento de 49% na pro- classificação de sua produção nos laboratórios de análise
o
~
:, dução, em relação a 2009, mantendo-se o nível de produ- da BM&F em São Paulo.
't)
o tividade em 3.849 kg/ ha. A melhoria na produtividade é Essas medidas, aliadas às boas condições de solo,
.,ã.
o:: resultado do nível de tecnologia empregado e das condi- relevo e clima e a maior utilização de tecnologia, elevaram
ções favoráveis do clima nesse período. a capacidade competitiva do Estado em relação às demais
As variações verificadas nesse período, na área culti- regiões do país, tanto em termos de oferta quanto de qua-
vada e produção obtida, devem-se, em parte, às condições lidade do produto oferecido. Afibra produzida está entre
climáticas e ao manejo adotado para o controle de pragas uma das melhores do mundo. (IBGE, 2006)
e doe nças, com uso intenso de agrotóxicos, bem como à A maior parte das empresas beneficiadoras de algo-
política agrícola governamental adotada para o atendi- dão (descaroçadeiras) está localizada nos municípios de
mento da demanda pelo mercado interno e para expor- Campo Verde, Primavera do Leste, Rondonópolis, Pedra
tação. Deve-se considerar também o comportamento do Preta, ltiquira, Novo São Joaquim, Lucas do Rio Verde,
mercado frente à oferta e procura. Nova Mutum, Sorriso, Sapezal e Campo Novo do Pareeis.
A cultura do algodão em Mato Grosso foi viabilizada Tendo a cultura do algodão alcançado elevados índi-
pelos programas de incentivos fiscais concedidos pelo ces de crescimento, nestes últimos 15 anos, Mato Grosso
governo do Estado aos produtores, a partir de 1997, e passou a ocupar a posição de maior produtor do país, par-
também pelos resultados de pesquisas da Embrapa, que ticipando com mais de 50% da produção nacional. A pro-
realiza experimentos genéticos, selecionando cultivares dução em grande escala está concentrada nos seguintes
mais adaptados às regiões de Cerrado e de Floresta, mais municípios: na Região Norte: em Sapezal, maior produtor,
resistentes a doenças e pragas. Em meados de 1990, uma Campo Novo do Pareeis, Diamantino, e Campos de Júlio,
na Microrregião Pareeis; Nova Mutum, na Microrregião Alto
parceria entre a Embrapa, a Fundação Mato Grosso e a
Teles Pires; na Região Sudeste: em Campo Verde, segundo
Empaer propiciou o lançame nto de variedades adaptadas
maior produtor, e Primavera do leste, ambos na Micror-
ao Cerrado, garantindo a expansão dessa cultura no Estado.
região Primavera do Leste; e Pedra Preta, na Microrregião
O Programa de Incentivo ao Algodão de Mato Grosso
Rondonópolis. Esses municípios responderam por 56%
(Proalmat), criado em 1997 por Lei estadual, foi implantado

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