Você está na página 1de 144

CURSO DE

CARTOGRAFIA
~ . . . ERN~
Cêurio de Oliveira
2~ Edição

75/99
Presidente da República
Itamar Franco

Ministro-Chefe da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação


Alexis Stepanenko

FUNDAÇÃO INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA-IBGE

Presidente
Silvio Augusto Minciotti

Diretor de Planejamento e Coordenação


Mauricio de Souza Rodrigues Ferrão

ÓRGÃOS TÉCNICOS SETORIAIS

Diretoria de Pesquisas
Tereza Cristina Nascimento Araújo

Diretoria de Geociências
Sergio Bruni

Diretoria de Informática
Francisco Quental

Centro de Documentação e Disseminação de Informações


Nelson de Castro Senra
Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ·IBGE

IBQE _ Rede de BtbUotecu


Dir~ria de lni'ormát~a.

Curso
de Cartografia
Moderna
Cêurio de Oliveira
211 edição

Rio de Janeiro
1993
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Av. Franklin Roosevelt, 166- Centro- 20021-120- Rio de Janeiro, RJ- Brasil

ISBN 85-240-0465-7

©IBGE

IBGE· CDDI/DEDOC 11 edição - 1988


21 edição - 1993
IDE DE I 11 LI OTECA
1.1 de tea. •-~ s__
........

l1t11 ~.3.03 ,q<=) 0 .J?c:-l


-------'J~"'\'

EDIÇÃO E IMPRESSÃO Oliveira, Cêurio de.


Departamento de Editoração e Gráfica - Curso de cartografia moderna I Cêurio de Oliveira. -
DEDIT/CDDI, em novembro de 1993, 2. ed. - Rio de Janeiro : IBGE, 1993.
os 03.03.1.0417/93. 152 p.: il.

ISBN 85-240-0465-7

1. Cartografia- Estudo e ensino. I. Título.


CAPA
IBGE.CDDI. Dep. de Documentação e Biblioteca
Aldo Victorio Filho - Divisão de Promoção/Depar- RJ/IBGE-93119 CDU 528.9
tamento de Promoção e Comercialização-
DECOP/CDDI. Impresso no Brasil/ Printed in Brazil
Apresentação

A presente obra Curso de Cartografia Moderna


desenvolvida pelo Professor Cêurio de Oliveira, apre-
sentada à Comunidade Cartográfica na década de 80,
objetivava colocar à disposição de técnicos e profis·
sionais da área temas que abordavam assuntos espe·
cíficos de interesse de quem se utiliza da Ciência
Cartográfica.
A enorme aceitação dos conhecimentos difundidos
pelo autor superou as expectativas iniciais pela procu·
ra da publicação.
O IBGE, no intuito de atender à crescente demanda
pela obra, entendeu que sua reimpressão, certamen-
te, continuará merecendo referências muito elogiosas
pelo público usuário da área de Cartografia.

Rio de Janeiro, RJ, novembro de 1993

Silvio Augusto Minciotti


Presidente do IBGE
DO MESMO AUTOR:
As Pesquisas e os Estudos Fotogeoeconômicos (tese
de livre-docência- UERJ)- Rio de Janeiro, 1968.
Report on the 1971-1974 Cartographic Mission in
Nigeria - Lagos, 1974.
Dicionário Cartográfico (41 edição) - Rio de Janei-
ro, 1993.
Glossary of Cartographic and Photogrammetric
Terrns (em co-autoria), nos seguintes idiomas: inglês,
espanhol, fràncês e português, sob a responsabilidade do
Instituto Panamericano de Geografia e História (IPGH) -
México, 1986.
No prelo: Vocabulário Inglês-Português de Geociên-
cias.
Por que este livro
Quando, em 1958, o então titular de cartografia cientifico tremendamente dinâmico, sobretudo no
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que diz respeito à automatização da elaboração de
professor Héldio Lenz Cesar, deixou o Pais para cartas de várias espécies, aos instrumentos e pro-
trabalhar na Unidade Cartográfica das Nações cessos fotogramétricos, ao sensoriamento remoto, etc.
Unidas, eu fui indicado para substitui-lo. Verificando, ultimamente, que a bibliografia
Procurei, desde a primeira aula, esforçar-me, ao cartográfica, em nosso idioma, ainda se ressentia de
máximo, para transmitir aos estudantes um tema quase as mesmas deficiências -de há vinte anos, e,
com que tivesse intimidade, uma vez que vinha concorrendo o fato de os cursos de cartografia terem
exercendo a profissão de cartógrafo, no IBGE, desde se multiplicado em todo o território nacional,
há muitos anos. Mas ensinar cartografia visando à resolvi reestruturar a matéria num conteúdo homo-
formação de professores de geografia era uma estréia gêneo e atual, o qual espero consiga preencher a
difícil, dado que a bibliografia cartográfica para presente lacuna nos Institutos de Geociências do
fins didáticos, em língua portuguesa, era absoluta- Brasil.
mente escassa. Iniciei, então, a preparação para Visando alcançar o objetivo a que me propo-
cada aula de uma apostila mimeografada destinada nho, procurei aliar o texto a boas ilustrações, a
aos alunos. fim de que os estudantes possam sempre se valer
Nos anos que se seguiram, as apostilas foram de uma figura ilustrativa bem planejada, com o
inteiramente revistas e o conteúdo do programa propósito de que o texto fique bem elucidado. Para
cresceu em qualidade, não só devido à experiência esse mister encarreguei a maior parte das ilustrações
adquirida, como pela aquisição de farta bibliografia ao nanquim do jovem e talentoso desenhista Se-
cartográfica estrangeira que sempre pesquisei para bastião Monsores, a quem nenhuma palavra, aqui,
me manter em dia com os novos e modernos in- seria apropriada para expressar o meu reconheci·
fluxos didáticos e técnicos. Foi quando, em 1971, mento.
fui encarregado, pela ONU, duma missão carto- Resta-me um apelo aos professores e aos alunos
gráfica junto ao governo da Nigéria, encargo que que irão servir-se deste meu modesto mas muito
não pude concluir senão três anos depois. A partir suado produto. Escrevam-me sobre este livro, por-
de 1974, ao voltar da África, revi, mais uma vez, que ele pertence menos a mim do que a vocês.
aquele material, atualizando-o, dessa feita, segundo
os últimos avanços que, incorporados sob a forma
de instrumental, de técnicas, de materiais de tra-
balho, etc., vêm transformando o método técnico-

Cêurio de Oliveira

Rua Paissandu, 199/304


22210 Rio de Janeiro.
Sumário
I. - Cartografia: algumas defini- 3. 5 - Os globos . ..... .. ... . ... . . . . 38
ções .. .. .. .... · · · · · · · · · · · · · · · 13 3 .5 . 1 - Breve histórico 38
1.1 - A es~era de ação cartográfica . . . 13 3.5.2 - Sua construção ... . . .... . .. . . . 38
1.2 - Metodologia cartográfica ..... . 14
14 4. - Séries cartográficas ........... . 41
1.3 - Cartografia e geografia .... . . . .
4 .1 - Formatos . ...... . . ... . ..... .. . 41
2. - Esboço histórico .. . .. . ....... . 17
4 .2 - Séries de cartas . .. ... . . . .. ... . 41
2.1 - Os mapas primitivos ...... . .. . 17 4. 3 - Títulos e índices de referência . . . 41
2.2 - Os antigos levantamentos . .... . 18 4.3. 1 - índice de nomes 43
2.3 - Os mapas medievais .......... . 19 4 .4 - Informações marginais ........ . 43
2.4 - A cartografia moderna .... .. . . 20
- Os levantamentos modernos .. . 21 5. - Escalas 45
2.5
2.6 - Os mapas do Brasil nos pri- 5.1 - Classificação . . ........ .... .. . . 46
meiros séculos . . .. . ... . . . . ... . 25 - A escolha da escala .. .. . . .. .. . . 46
5 .2
2.7 - A cartografia brasileira do 5 .3 - Problemas ... . ........ . . .. . . . . 47
século XIX . . ... ..... . . .. .... . 27
5.4 - Construção de escalas gráficas .. . 47
2.8 - A moderna cartografia brasi-
leira ... . ... . ............... . . 28 5.5 - Ampliação e redução .. . .. . . .. . 48

2.9 O mapa de ontem e o mapa 51


de hoje .... . .. .... ..... · · · · · · 30 6. - Esfera terrestre ...... .. . .... .. .
6.1 - Meridianos e paralelos .... . . . . 51
3. - Classificação de cartas ... . .. . . 31 6.1.1 - Latitude e longitude ......... . 52
3 .1 - Mapa e carta . . .............. . 31 6 .2 - Coordenadas geográficas .. . . . . . 53
3 . 1.1 - Plantas •... .. .. .. ... . ... . .... 31 6 .2. 1 - Marcação de coordenadas .. .. . . 53
3.2 - Os mapas segundo seus obje- 6.3 - Fusos horários ...... .. . . .. .. . . 53
tivos . . . . . ..... . . . . . . .... . ... . 32
7. - Projeções cartográficas . ... ... . 57
3.2. 1 - Mapas gerais ... ....... . . .. .. . 32
3 .2.2 - Mapas especiais . ... . . .. . . . ... . 32 7.1 - O desenvolvimento da esfera . . . 57
3.2.3 - Mapas temáticos .. . . . ..... . .. . 32 7 . 1.1 - Condições que devem ser cum-
pridas pelas projeções .. . . . . .. . 59
3 .3 - Os mapas segundo a escala . ... . 33
7 .2 - Classificação das projeções .... . 60
3.3. 1 - Carta cadastral .. . . .. . .. ... .. . 33 60
7 .2 .1 - Projeções equivalentes .... . ... .
3.3.2 - Carta topográfica . .... ....... . 33 7.2.2 - Projeções conformes . .. . . . . .. . . 60
3.3.3 - Carta geográfica . . . . . .. ... . .. . 36 7.2 .3 - Projeções eqüidistantes ... . ... . 62
3.3 .3. 1 - A Carta Internacional do 7 .2.4 - Projeções azimutais ... ...... . . 62
Mundo (CIM) ao milioné- 63
36 7.2.5 - Projeções afiláticas . ....... . . . .
simo . .. .. . . ... ·. · · · · · · · · · · · · ·
7.3 - O eixo duma superfície de
3.4 Os atlas 36 projeção .............. . . . .. . . 63
3 .4 . 1 - Os atlas nacionais .... .. ... .. . 37 7.4 - Projeção de Mercátor ... ...... . 64
3.4 .2 - Os atlas de referência ... . .... . 37 7.5 - Projeção cônica conforme de
3.4.3 - Os atlas complexos . ... .. ... . . 37 Lambert . ... . . ... .. .. .. ... . · · 64
7.6 - Projeção policônica .. .. ... ... . 65 11 . 2 - Levantamentos geodésicos . . . . . . 93
7.7 - Outras projeções . .. . .... .. . . . . 66 11 . 3 - Levantamentos topográficos . . . . 94
7 .7. 1 - Projeções para o mapa do 11.4 - Levantamentos básicos . . . . . . . . 96
Brasil ........ . . .. ........... . 66 li. 4 . 1 - Controle horizontal . . . . . . . . . . . 96
7.8 - O sistema UTM .. .... .. .... . . 66 11. 4. 2 - Controle vertical . . . . . . . . . . . . . . 96
7 .9 - Coordena tógrafos .. . ...... .. . . 68 11.4 .3 - Controle terrestre . . . . . . . . . . . . . 97
11.5 Reambulação . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
8. - Documentação cartográfica ... . 71
8 .I - Organização duma mapoteca . . 71 12. Fotogrametria . . . . . . . . . . . . . . . . 99
8 . 1.1 - Arquivamento ... . .... ....... . 72 12. l - Conceito e aplicações . . . . . . . . . . 99
8 . 1.2 - Catalogação ... ..... .... .... . . 73 12.2 - Fotografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
8.1.3 - Classificação . . .. . . .. .. . ... . . . . 74 12.2 . 1 - A câmara aérea . . . . . . . . . . . . . . . 100
8.2 - Microfilmes 74 12 .3 - Vôo fotogramétrico . . . . . . . . . . . . 100
8.3 - Toponímia ..... . .. . .... .. . . . . 74 12 .4 - Cobertura fotográfica . . . . . . . . . . 101
8.4 - Informática ... . ........ ..... . 77 12 .4 . 1 - Irregularidades convencionais . . . 102
9. - Organização e planejamento 12 .4.2 - Superposição fotográfica . . . . . . . I 02
duma carta .. ... .... .... . .. . 79 12 .5 - Estereoscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
9.1 - Finalidade . . .... ... .. .. . . .. . . 79 12.6 - Aerotriangulação . . . . . . . . . . . . . . 104
9.2 - Documentação . .. .. . ..... . .. . . 79 12 .6 .I - Triangulação radial . . . . . . . . . . . 105
9.3 - Escala ..... ... .. ..... .. ... . . . 80 12.7 Restituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
9.4 - Sistema de projeção .... . ..... . . 80 12 .8 Mosaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
9.5 - Base cartográfica . .... ...... . . . 81 12.9 Fotocarta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
9.6 - Formato .. . ... .. . . .. . ....... . 81 12 . 10 - Fotointerpretação . . . . . . . . . . . . . 107
9.7 -Tiragem 82
13 . - Representação cartográfica . . . . . I 09
10 . - Sensoriamento remoto . ..... . . . 83 13 .I - Planimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
lO .1 - Generalidades ....... . ..... .. . 83 13 . I . I - Hidrografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . I 09
10 .2 - Pequeno histórico . . .... .... . 83 13 . 1.2 - Aspecto do solo . . . . . . . . . . . . . . . IIO
10.3 - Princípios físicos ... ........ . . . 84 13 . l . 3 - Vegetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
84 13.1.4 - Unidades políticas ou admi-
10.4 ·- Principais tipos de sensores . . . .
nistrativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
10.4.1 -Câmaras . . . ...... .. .. ... . . . . . 85 13 . 1. 5 - Localidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
10 .4.2 - Câmara multiespectral . . . . . . . . 85 13 . 1. 6 Sistemas viários .e de comuni-
10.4.3 - Radiômetros . . .... . ..... . ... . . 85 cação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lll
10.4.4 - Varredores .... . ............. . 85 13 . 1.7 Linhas de limites . . . . . . . . . . . . . 111
10 .4 .5 - Espectrômetros .. . . .......... . 85 13 . 2 - Altimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
10.4 .6 - Radar ........ .. ... . ........ . 86 13 .2 . 1 - Curvas de nível . . . . . . . . . . . . . . . 113
10 .5 - Radambrasil 86 13 . 2 . I. 1 - Eqüidistância .. .. .. .. .. .. .. .. . ll4
10 .6 - Sistemas de sensores conheci- 13 .2 .I. 2 - Interpolação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
dos; suas plataformas e 13 . 2 . I. 3 - Cores h ipsométricas .. .. .. .. .. . 114
veículos .. .. . ................ . 86 13 . 3 - Relevo sombreado . . . . . . . . . . . . 115
10 . 7 - Algumas aplicações .... . . . . . . . . 89 13 . 4 - Perfil topográfico . . . . . . . . . . . . . ll6
10.7.1 - Pesquisas geográficas . . .. . .... . 89 13 . 5 - Blocos-diagramas . . . . . . . . . . . . . 117
10.7.2 - Meteorologia .. . . . ... ..... .. . . 90 13. 6 - Plastificação em alto-relevo . . . . 117
10.7.3 - Outras áreas de aplicação . .. .. . 91 13 .6.1 - Modelagem .. .. .. .. .. .. .. .. .. ll8
10.8 - Sensores de posição . ......... . 91 13 .6 . 2 - Molde e maqueta . . . . . . . . . . . . . 119
10.9 - O futuro próximo .... . .... . .. . 91 13.6. 3 - Impressão e modelagem em
plástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
ll. - Levantamentos ... . . ...... . .. . 93 13 . 7 Outros métodos de represen-
li. I - Elipsóides de referência . ... . .. . 93 tação do relevo . . . . . . . . . . . . . . . 120
13.8 - Os pontos de controle ........ . 120 15.6 - Gravação ..... .. . . ...... . .... . 133
13.9 - Letreiros .................... . 120 15.7 - Máscaras ............. ....... . 134
13.9.1. - Tipos de letras .............. . 120 15.8 - Provas de negativos .......... . 135
13.9.2 - Posições dos nomes ........... . 121 15.9 - lm pressão ................... . 136
13.9.3 - Abreviaturas ................ . 122 15 .I O - Positivos ......... .... .. ..... . 136
15 . 10.1 Processo ofsete ... .. ..... .... . . 137
14 . - Original cartográfico . . . . . . . . . . 123
14 . 1 - Confecção do letreiro ...... . 123 Apêndice 139
14.2 - Compilação . . ...... ... ..... . . 124 A - Coo~d~nação e divulgação car-
14.2 . 1 - Coleta .. ... .... ....... . ..... . 124 tograflcas . ............. .. .. . . 139
11.2.2 - Seleção do material ........... . 124 Aa - O papel das Nações Unidas ... . 139
14 .2 .3 - Folha-mãe ................... . 125 Ab - Formação de uma mentali-
14.3 - Generalização ............... . 125 dade cartográfica ............. . 140
14.4 - 1\IIinuta .................... . . 126 Ac - Diretrizes e bases da carto-
grafia brasileira ...... ... . .. . 140
14.4.1 - Fotoanálise .. . . .. ... ...... .. . . 126
Ad - Sistema Cartográfico Nacional .. . 141
14.5 - Revisão (ou atualização) ..... . 126 Ad - órgãos federais de atividades
cartográficas prioritárias . ..... . 141
15. - Originais de reprodução ...... . 129 Ad 2 - órgãos federais de atividades
129 cartográficas afins ............ . 142
15 . I - M~todos de reprodução ..... . . .
Ae - órgãos estaduais . .... ..... . . . . 142
15 .2 - Laboratório fotogdfico 130
Af - órgãos nacionais privados .. .. . 143
15 . 3 - Negativos ......... ........ .. . 130 Ag - Associações cartográficas .. . . .. . 143
15.3.1 - Fotoplásticos .... ... ......... . 131 Ag I - Sociedade Brasileira de Car-
15 .4 - Preparação ...... ............ . 131 tografia ............. ..... ... . 143
15 . 5 - Separação de cores . . . . . . . . . . . . 132
15. 5. 1 - Montagem do letreiro . . . . . . . 133 Bibliografia .................. ........... 145
Prefácio
Bastante lisonjeado ao prefaciar esta obra de
grande valor para a ciência cartográfica, agradeço
ao autor pela oportunidade de poder prestar minha
colaboração a esse seu empreendimento.
Ao longo de minha carreira como Engenheiro
Cartógrafo do Exército, mantive contatos com vários
trabalhos de cunho didático, destinados não só ao
aprendizado, mas também a facilitar a execução
das tarefas afetas à Cartografia, muitos deles dignos
de todos os louvores, tanto por seu conteúdo, como
pelo excelente nível em que os assuntos eram
abordados.
Assim, apoiado nesta minha experiência, fruto
de vários anos de trabalhos e estudos na área carto·
gráfica, pude examinar este CURSO DE CARTO-
GRAFIA MODERNA, analisando-o detalhada-
mente, tecendo comparações com outros autores,
para concluir, de maneira inteiramente favorável,
pela excelência desta obra.
O trabalho do Professor Cêurio destaca-se pela
diversificação dos temas abordados, abrangendo os
vários campos de atividades relacionadas à Carto-
grafia, caracterizando-se, dessa forma, como uma
coletânea que vem suprir a comunidade cartográ-
fica de informações de alto valor para o desempenho
de suas funções, além do fato primordial de ser,
para aqueles ainda em formação, uma fonte de
conhecimentos que lhes minimizará os esforços na
trilha para alcançar uma formação profissional
efetivamente sólida.
Esta iniciativa do Professor Cêurio é, portanto,
merecedora dos mais efusivos elogios, tanto por seu
significado como obra científica, como, principal-
mente, pela intenção do autor de transmitir, de
forma clara, concisa e abrangente, os conhecimentos
adquiridos em função do esforço individual des-
prendido ao longo de sua carreira profissional,
aliado ao seu espírito de incansável pesquisador.

Brasília-DF, 1983.

Gen Div ARISTIDES BARRETO


Diretor do Serviço Geográfico do Exército
1. Cartografia: algumas definições
Como iremos ver no capítulo seguinte, o mapa fases dos trabalhos, desde os primeiros levantamen-
antigo era extremamente simples, às vezes bem tos até a impressão final dos mapas" 4 • -
esquemático (os mapas T-0, por exemplo) , no que Houve um visível exagero na fixação do campo
toca ao conteúdo informativo. isto é. aos dados de cartográfico, colocando sob a égide da cartografia,
natureza geográfica. a astronomia, a geodésia, a topografia, a fotogra-
De posse das informações fornecidas por via- metria e a oficina ofsete. Esta ambiciosa definição
jantes, pilotos, etc., o cartógrafo que, via de regra. foi criticada tacitamente pelos cartógrafos de todos
era também o gravador de seus mapas, portanto, os países, uma vez que o campo da elaboração
um artista, de par com os conhecimentos inerentes cartográfica é bem diferente. Na realidade, percebe-
a sua arte singular, compunha o mapa, embele- se hoje que os especialistas da ONU, em 1947, se
zando o e o gravava em madeira. Como se depreende referiam preferentemente ao vocábulo mapeamento,
disso, o campo cartográfico era extremamente limi- ao invés do termo cartografia. É que as discussões
tado. em Lake Success, quase sempre em inglês, giravam
em torno do problema mundial do mapping tal
O Dicioná1·io Contemporâneo da Língua Por- qual se apresentava após a li Guerra Mundial.
tuguesa define, assim, o termo cartogTafia: "Arte Ora, mapping, que, diga-se de passagem, pode igual-
de traçar ou gravar cartas geográficas ou topográfi- mente ter o sentido de cartografia, representava,
cas··. O Novo Dicionário Brasileiro Melhoramentos naquela oportunidade, um problema a ser resolvido
é mais sintético: "Arte de compor cartas geográ- no mundo de após guerra. Impunha-se um programa
ficas". E o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, racional de mapeamento.
de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, assim _,. Foi a Associação Cartográfica Internacional
explica: "Arte ou ciência de compor cartas geográ- (ACI) , por ocasião do XX Congresso Internacional
ficas; tratado sobre mapas". O Webster informa: de Geografia, reunida em Londres, em 1964, que
"Arte ou prática de fazer cartas ou mapas" t, O veio, pela primeira vez, estabelecer, em síntese, mas
Larousse avança um pouco mais: "Arte de desenhar com precisão, o campo das atividades intimamente
os mapas de geografia: Mercátor criou a cartografia ligadas à cartografia: "conjunto de estudos e ope-
científica moderna" 2 • E um léxico alemão moderno, rações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos
De1· Volks Brockhaus se estende mais ainda: "Pro- resultados de observações diretas ou de análise de
jeto e desenho de cartas geográficas, plantas de documentação, com vistas à elaboração e preparação
cidade, etc." s. de cartas, projetos e outras formas de expressão,
assim como a sua utilização". <M:
Como se vê, até os nossos dias, e no mundo
todo, o campo das atividades cartográficas perma- Ora, se o cartógrafo quinhentista, seiscentista,
nece, em geral, muito estreito, simplificado demais, ou setecentista dava cabo, praticamente sozinho,
para o grande público, conforme as definições dos das poucas etapas de execução de um original a
dicionários. E sobretudo mal caracterizado. ser reproduzido, era ele também o grava,dor, quase
sempre o impressor e, não raro, o próprio vendedor
da sua obra. Hoje a situação é profundamente di-
1 .1 A esfera de ação cartográfica versa. As fases de trabalho encerradas no campo
cartográfico, além de variadas, diferentes, se vêm
\J As Nações Unidas, através de uma comissão de tornando muito complexas e com graus de dificul-
especialistas em cartografia, reunida em Lake Suc- dade ou de responsabilidade bastante distintos. Em
cess, em 1949, no sumário do relatório assim definiu: conseqüência, o número de operadores e de auxi-
"A cartografia é a ciência que se ocupa da elabo- liares evoluiu, igualmente se diversificou, resultando
ração de mapas de toda espécie. Abrange todas as daí um trabalho que não é de um só ou de uns
poucos, mas de uma equipe, onde, além do cartó-
grafo, do geodesista e do topógrafo, participam o
I The art or practice of making charts and maps. desenhista e o gravador, o revisor tipográfico, o
2 Art de dresser les cartes de géographie: Mercator a técnico em fotografia, em laboratório, etc., além de
cre'e la cartographie scientifique moderne.
3 Das Entwerfen und Bearbeiten von Landkartes,
Stadtplãnen usw. 4 NAÇOES UNIDAS La Cartographie modeme.
outros, já situados na mapoteca, por exemplo, onde ocorrido naquele espaço de tempo, naquela parte
não se prescinde do documentalista e do arquivista, do território.
ou ainda na área do ensino, do treinamento e do Tanto no primeiro exemplo, quanto no segun-
aperfeiçoamento do pessoal técnico. do, ambos de intenção e forma tão distintas, não
-" O quadro, ora descrito, como chegou a esta podem oferecer ao usuário dois tipos de leitura.
evolução? Diríamos que a partir da Revolução O método gráfico de que a cartografia se vale é,
Industrial, as noções da divisão do trabalho repre- dessa maneira, um método científico, só podendo
sentaram o primeiro impulso. Mas foram, sobretudo, ser interpretado, racionalmente, dum modo uni-
as guerras que, pela necessidade urgente de cartas forme.
nos campos de batalha, apressaram a produção, É importante, igualmente, salientar que a forma
surgindo de tudo isso, uma racionalização nesta própria de apresentar os fatos e os fenômenos em
produção. ~- qualquer tipo de mapa é de tal natureza que o
Sabe-se que, durante a primeira guerra mun- resultado é que a cartografia, valendo-se de algumas
dial, a necessidade de cartas era tão urgente que ciências e de determinadas técnicas, não se superpõe
um vagão ferroviário, instalado para a elaboração a nenhuma ciência, seja a matemática, a geografia,
de mapas, chegou, muitas vezes, a acompanhar o a meteorologia, a geofísica, etc., nem a nenhuma
avanço ou recuo das tropas. Pode-se imaginar o arte, como o desenho ou a escultura (caso dos
desenvolvimento da cartografia ao longo da última mapas em alto-relevo, por exemplo), e nem a ne-
guerra mundial. Já aqui comentado, os Estados nhuma técnica. Tampouco, depende de qualquer
Unidos fotografaram praticamente o mundo todo daquelas ciências ou técnicas, ou do próprio dese-
e, em conseqüência, elaboraram uma diversidade nho, veículo através do qual ela se plasma.
de cartas e mapas estratégicos e táticos, náuticos, Entretanto, tem que estar associada ou vinculada
aeronáuticos, etc. Consta que se chegou à impressão a cada ciência ou técnica, ao expressar graficamente
de 150 000 mapas. fatos e fenômenos a elas pertinentes, seja por meio
do desenho ou de um computador. Neste caso, a
cartografia moderna já dispõe de muitos processos
1.2 Metodologia cartográfica automatizados. Na realidade, a cartografia compu-
A cartografia - com a sua feição e técnica, tadorizada realiza várias etapas da elaboração de
próprias, inconfundíveis - não pode constituir uma mapas, mediante o emprego de computadores e seus
ciência, como o é, por exemplo a geografia, a geo- acessórios, como digitalizadores, plotters e terminais
désia, a geologia, etc. Tampouco representa uma de vídeo, resultando numa produção incomparavel-
arte, de elaboração criativa, individual, capaz de mente mais rápida e de qualidade final muito
produzir diferentes emoções, conforme a sensibili- melhor.
dade de cada um. Não é uma ciência nem uma
arte, mas é, sem dúvida alguma, um método cien- 1 . 3 Cartografia e geografia
tífico que se destina a expressar fatos e fenômenos
observados na superfície da Terra, e, por extensão, De todas as ciências ligadas à cartografia, ne-
na de outros astros, como a Lua, Marte, etc., através nhuma é tão importante como a geografia, na
de simbologia própria. medida em que os fatos e fenômenos se originarem
Uma carta topográfica, por exemplo, explica, de qualquer ramo da geografia, quer física, quer
por via gráfica, isto é, através de traços, pontos, humana, econômica, etc. Não queremos nos referir
figuras geométricas, cores, etc., a configuração duma tão somente aos mapas temáticos de geografia. Que
parte da superfície terrestre, tal como ela é, e dentro é a carta topográfica senão a paisagem física e
duma precisão matemática, sempre compatível com humana da superfície da Terra mediante simbologia
a escala. própria?
Os dados que a cartografia utiliza para a repre- Seria inviável a construção de um mapa eco-
sentação da realidade física e humana da crosta, nômico sem o conhecimento e influxo da geografia
conseguidos, seja por levantamentos tradicionais, econômica, como inexeqüível seria a elaboração de
seja por técnicas de sensoriamento remoto, são dis- um mapa de distribuição da vegetação, sem a parti-
postos metodicamente no sentido de traduzir, com cipação da fitogeografia. E assim por diante. Por-
fidelidade, aqueles fatos e fenômenos tais como eles que, nesses casos, quem planeja e concebe tais
se apresentavam no momento da coleta dos referidos mapas só pode ser o especialista de cada tema par-
dados. As migrações, outro exemplo, ocorridas em ticular: o geógrafo, o geólogo, o pedólogo, o agrô-
determinado período do tempo, num estado ou num nomo, etc., ficando para o cartógrafo, o método
município do Brasil, são um fenômeno que o geó- de expressar, em cada caso, o fenômeno.
grafo observa e interpreta, e cujos dados o cartógrafo A fonte maior de lavor que a geografia em-
distribui, metodicamente, num mapa, retratando, presta à cartografia não se restringe tão-somente à
também, mediante simbologia própria, e com a elaboração de mapas temáticos. A carta topográfica,
assistência de regras matemáticas, aquele fenômeno oriunda de uma cobertura regular de fotografias

14
aéreas é a base inequívoca do binômio geografia- tente, muito mais do que em outras vertentes. Se
cartografia, através do qual nunca se pode deter- não o fizer, este divisor de águas vai ficar igual a
minar qual a influência que uma exerce sobre a outros divisores de águas. E isso tem que ser evitado
outra: se a geografia sobre a cartografia, se a carto- porque se trata, aqui, de uma cuesta, cujo terreno
grafia sobre a geografia. é calcário. Se não o fizer, - -repetiu -dificilmente o
Há, por exemplo, certas formas de relevo e usuário irá "descobrir" a cuesta apenas pelas curvas
determinados padrões de drenagem de uma área, de nível ou pela hidrografia.
que se distinguem fundamentalmente dos de outras Ficou-nos a lição daquele eminente cartógrafo
áreas; verificam-se coberturas florísticas inteira- francês, bem como a extrapolação do seu método
mente diversas de uma região para outra, em que de trabalho.
as causas dessa diversificação igualmente variam,
Impõem-se, como se vê, bons conhecimentos
como o clima ou o solo, ou a latitude; o homem,
grande modificador da paisagem, quase sempre geomorfológicos aos que planejam e constroem a
carta de hoje.
exerce a sua ação por meio de razões socio-econô-
micas; a exploração agrícola de uma parte do terri- E quanto aos problemas de generalização (uma
tório se evidencia muito diferente da praticada em das mais difíceis da elaboração de cartas e mapas)
outra. é forçoso possuir o cartógrafo uma base geográfica,
V ma carta topográfica, pois, não está obrigada sobretudo em geomorfologia.
a nos oferecer esse complexo de particularidades? A carta topográfica, de todos os documentos
A minuta fotogramétrica transmite-nos, em sua elaborados por uma instituição cartográfica, é a
frieza matemática, uma grande parte de todos os mais importante, não só do ponto de vista do grau
aspectos físicos e culturais da área cartografada. de responsabilidade daqueles que a utilizam direta-
Vêm com ela, paralelamente, os resultados da mente, como administradores, economistas, enge-
reambulação para complementar muitas informa- nheiros, militares, professores, políticos, etc., como
ções que a carta precisa apresentar. Faltam, entre- devido à sua condição de documento básico para
tanto, muitas vezes, determinados conhecimentos todas as outras cartas e mapas que dela se derivam
geográficos, os quais se impõem, a fim de que a mediante seleção, redução e generalização. Trata-se,
carta seja realmente uma síntese segura desse con- pois, de uma carta de caráter modelar, a qual, por
junto de fenômenos geográficos. representar, ainda, um custo muito elevado, precisa
Mostrou-nos, certa vez, no Institut Géographi- receber cuidados especiais, além da precisão métrica
que National, o cartógrafo que elaborava o relevo nela implícita e da boa apresentação. Ela deve apre-
sombreado duma folha topográfica, uma particula- sentar, para atingir a sua finalidade, um caráter
ridade muito expressiva daquele trabalho.- Veja, - mais científico, isto é, geográfico, a fim de que à
apontando para um detalhe em execução - eu sua condição matemática se justaponha um cunho
tenho, aqui, que exagerar o sombreado desta ver- científico mais amplo.

15
2. Esboço histórico
2 .1 Os mapas primitivos localidade de Bedolina. É uma enorme gravação, e,
rica em detalhes de cunho topográfico. Viviam ali,
Pode-se afirmar, com muita segurança, que o há cerca de 2 400 anos a.C., os Camônios, um povo
mapa é, de todas as modalidades da comunicação de atividades agrícolas. Representa o mapa toda
gráfica, uma das mais antigas da humanidade, nesta uma organização social camponesa (V. a fig. 2) ,
premissa: todo povo, sem exceção, nos legou mapas, e constitui, com toda clareza, uma visão cartográfica
afirmação esta baseada, hoje em dia, e aliment~da em escala grande, da área em que laboravam, dada
por abundantes evidências.
Há provas bem remotas de mapas babilônios,
egípcios, chineses, etc., provas essas que se vêm
acumulando até os dias atuais, os quais resultam
de estudos históricos, geográficos, etnológicos e
arqueológicos. ·
É, a propósito, de origem babilônia, o mais
antigo mapa que o mundo conhece. Trata-se de
um tablete de argila cozida com a representação
de duas cadeias de montanhas e, no centro delas,
um rio, provavelmente o Eufrates (V. a fig. I).
Não se sabe, ao certo, a sua idade. Calculam os
entendidos entre 2 400 e 2 200 anos antes da era
cristã, havendo quem assegure que se origina de
3 800 anos.
Fig. 2 - O mapa rupestre de Bedolina (vale do Pó).

a exuberância de detalhes das atividades agropas-


toris daquele povo.
A cartografia que os chineses, outrora, desen-
volveram é de excelente qualidade, e, sabe-se, este
desenvolvimento não teve nenhum elo com o mundo
ocidental.
Já a invenção da bússola é devida aos chineses
e aos árabes. Se a atração exercida pelo ímã era
conhecida pelos egípcios e gregos, foram os chineses
que descobriram o sentido direcional do ímã, e que
inventaram o txi-nã (carro indicador do sul), pre-
cursor da bússola. A figura 3 mostra o "carro". Sabe-
se também que o mais antigo mapa chinês é de
227 a.C.
Mas o fato sobre o qual nos baseamos para
a afirmação de que o mapa é uma das mais antigas
formas de comunicação gráfica é insofismável: todos
os povos primitivos traçar~m e continuam a riscar
Fig. I - O mapa mesopotâmico de Ga-Sur. mapas, sem que tenha havido, ou que haja, em
tais povos, o menor conhecimento da escrita. É
Num úmido penhasco do norte da Itália, no Raisz 5 quem afirma que a arte de desenhar mapas
vale do Pó, foram descobertas, há poucas décadas, é mais antiga do que a arte de escrever. Indígenas
inúmeras figuras rupestres, sob a forma de mapas,
sendo delas a mais importante a que proveio da 5 RAISZ, Erwin. General Cartography.

17
Exemplos como estes poderiam, aqui, ser cita-
dos a fim de apoiar a afirmativa em causa. O impor-
tante é, pois, que qualquer um desses mapas, no
momento em que foram elaborados, teve o caráter
da originalidade, uma vez que não houvera ainda
nenhum contacto de seus idealizadores com quais-
quer outros povos, e, por outro lado, nenhum deles
sabia escrever. Eles não copiaram nada de ninguém,
de ninguém de fora. Não sofreram influências alie-
nígenas. No momento em que idealizaram os seus
esquemas, inspiraram-se, provavelmente, em conso-
nância com a prática da tribo, numa forma de
retratar um fato local importante.

2. 2 Os antígos levantamentos
Ao yue tudo indica, não sú a matemática como
a geodésia tiveram a sua origem no Egito. Heródoto
atribuiu aos egípcios a invenção de um método de
medir os campos (a agrimensura, segundo os gre-
gos) , por causa da necessidade prática da medição
de suas terras, a fim de poderem determinar as
alterações que ocorriam com a inundação anual
do Nilo. Tão importante e vital eram estes assuntos
que, no Livro dos Mortos, a alma do defunto, no
momento em que devia justificar-se perante Osires
e os quarenta e dois juízes, tinha que jurar, entre
Fig. 3 - Representação da antiga bússola chinesa: o carrinho que
aponta para o sul. outras coisas: - Não diminuí a medida do côvado.
- Não falsifiquei a medida do campo.
das ilhas do Pacífico (é ainda Raisz que informa), É, como se vê, da mais remota antiguidade, a
rigorosamente iletrados, compuseram mapas de determinação do tamanho dos campos, através do
conchas da praia e de hastes de coqueiro; os peles- cálculo das áreas e a demarcação de limites. ~s
vermelhas traçaram mapas em couro de búfalo. De medidas lineares eram, pois, orientadas pelo côvado
um índio brasileiro, descobriu o sábio alemão Karl (a palavra se origina de cúbito, o que equivale,
von den Steinen, no século passado, um mapa em entre nós a 0,6849 m). Poucas, entretanto, são as
que o referido índio esquematizara as cabeceiras do informações do instrumental empregado. A fig. 5
rio Xingu, inclusive, com as denominações dos mostra um instrumento egípcio primitivo, com uma
afluentes na língua local, como se vê através da alidade de pínulas, usado para observações astro-
fig. 4. nômicas.

Fig. 4 - As cabeceiras do rio Xingu villtas por um índio da região. Fig. 5 - A alidade de plnulas do antigo Egito.

18
Outra invenção egípcia foi o cadastro 6 , em que
os homens encarregados do registro das proprie-

9
dades foram, mais tarde, chamados topogrammateis
pelos gregos.
Quanto à astronomia, é certo que veio do Egito,
conforme os detalhes da orientação da Grande
Pirâmide, como ilustra a fig. 6.
li
I
I

I
I
I -
o i
cn l
1

~~~
..,õ II • l o
2 1 C.
oi Estaco O lo
b J O: j C:

I I

,_,
i I

Fig. 6 - A Grande Pirâmide, de mais <ic 4000 anos.


Q, ' I I
Obaervoçõo
em Alexandria I I Oburvoçõo
em Sleno

Os gregos, que muito aprenderam com os


egípcios, organizaram e consolidaram a geodésia.,
I I
palavra que, pela primeira vez, apareceu na Meta-
physica de Aristóteles 7 • O famoso astrolábio (me-
I I
didor de astros) , que era chamado dioptra, foi
invenção grega. Foram eles, igualmente, que deram
notável impulso à astronomia e à cosmografia,_ de-
vido ao alto grau de conhecimentos científicos que
desenvolveram. Eratóstenes (275-194 a.C.), filósofo, Fig. 7 - Eratóstenes calculou a circunferência da Terra mcdiantf
astrônomo e matemático grego da escola de Ale- a altura angular do Sol, que mediu em Alexandria 7°12' (na reali·
dade, 7•o.:;• ) , e a distância em estádias entre Alexandria e Siena,
xandria, calculou a circunferência terrestre, tendo situadas em latitudes diferentes, mas não no mesmo meridiano (como
como referência a altura angular do Sol e a distância supunha), para a qual achou 978 km (na realidade, 886 "m).
entre Alexandria e Siena. A fig. 7 mostra, esque-
maticamente, o desenvolvimento dos seus cálculos mentos gregos, como a já citada dioptra e o corá-
e da operação. bato, tendo sido este instrumento sumamente útil
Hiparco, de Bitínia (190-125 a.C.), o maior no nivelamento de cidades e de edifícios. A groma,
astrônomo da antiguidade, criou o sistema de coor- entretanto, parece ter sido mais romana (V. a
denadas geográficas e descobriu o movimento de fig. 8) , uma vez que foi o instrumento responsável
precessão dos equinócios. pelo padrão quadrangular de demarcação das terras
do Império, até hoje verificado através das modernas
Ainda, com referência às atividades científicas cartas topográficas da Itália 9.
dos gregos, não se pode deixar de citar Marino de
Tiro, já ,do primeiro século da era cristã, e Cláudio
Ptolomeu, da segunda centúria. A obra de ambos 2 . 3 Os mapas medievais
foi tão marcante que pela primeira vez houve
autêntica cartografia, cuja perfeição foi tal que, só A Idade Média marcou, no que diz respeito à
passados quatorze séculos, com a projeção de Mer- concepção cartográfica, uma regressão lamentável
cátor, preludiada pela descoberta da linha loxodrô- a todo o progresso anterior, em que os gregos ha-
mica por Pedro Nunes, apareceu algo de melhor 8 • viam pontificado. Todas as conquistas científicas,
no campo da astronomia e da matemática, foram
Quanto aos romanos, sabemos que foram notáveis postas de lado, em prol de conceitos puramente
cultores da ciência grega. De espírito muito prático, religiosos, sobretudo no período medieval mais
porém, realizaram extensos levantamentos do Im- obscuro, ou seja, dos anos 300 até os . 500.
pério Romano, por meio da utilização de instru- Plínio, o Antigo, naturalista romano, do
I século d.C., escreveu a sua História Natural, em
6 CADALSO, A1ejandro Ruiz. História General de las 37 livros, uma espécie de enciclopédia dos conheci-
Ciencias Geodésicas.
7 Idem, ibidem. o OLIVEIRA, Cêurio de. :->otas sobre' Cartografia an-
8 CORTESÃO, Armando. Cartografia portuguesa an- tiga. Revista Brasileira rle Geografia, v. 33, n. 1, jan.fmar.
tiga. 1971.

19
esquematização estava em total desproporção com
a mentalidade científica de tantos antecessores seus
(V. a fig. lO).

I
I
I
I I
! Ii
~
I I

I
0
r
I
I
I
I
I
ti
H I I
Sol
o~eid.cns

....___
c..,Ftõ-
o
I
I I
r--.__
1
1
~j
J
I
I -t -, II II
k '--:-;.r..vs
I oECVIA

- _,- -V>~P \,I . . ._ ..__


"' ~ -- - Fig. 9 - O mundo-tabernáculo de Cosmr lndicopl•mtes.
Fig. 8 - A grama. um dispositi\'O romano de medição topográfica.

mentos científicos na Antiguidade, inclusive os


assuntos de natureza geográfica.
Um contador de histórias do século seguinte,
Gaius Julius Solinus, conhecido pelos seus inimigos
como "imitador de Plínio", apropriou-se, quer dire-
tamente, quer através de Pompônio Meia, geógrafo
romano, autor do De Situ 01·bis, de preciosa fonte
de conhecimentos geográficos do litoral da Penín-
sula Ibérica. Com esse material e as coisas tiradas
da sua própria cabeça, publicou uma Collectanea
rerum memorabilium (coleção das coisas que devem
ser lembradas) , que conseguiu imediato sucesso e
permaneceu conhecida por mais de mil anos, tendo
sido revista no século IV, sob o título de Polistória.
Devido, precisamente, a este livro, vários geógrafos
e cosmógrafos (cartógrafos), muito tempo depois
que os seus mitos e prodígios foram refutados,
difundiram as monstruosidades biológicas nos car-
tuchos dos seus mapas, "enquanto durou a Idade
Média, até uns duzentos anos depois" 10•
E que mapas carrearam aquelas monstruosi-
dades? Ora, precisamente os da recém-descoberta Fig. 10 - O mapa T - O de lsidoro, o mais esquemático de todo•
Terra Nova, ou Terra de Brazilia, ou Terra de os que foram concebidos em seu tempo.
Papagaios, etc., como veremos no tópico 2. 6.
Cosme Indicopleustes, do século VI, um padre 2. 4 A cartografia moderna
possuído de ódio às idéias científicas da cultura
grega, idealizou o seu mundo, do ano de 548 (ver Foi, sem dúvida, o incremento das viagens
a fig. 9), perfeitamente de acordo com o Taber- mediterrâneas e, em seguida, as navegações oceâni-
náculo. Um século depois, outro religioso, lsidoro cas, que tiraram da hibernação medieval a arte e
(570-636), bispo de Sevilha, criou, no seu Etimo- a ciência da construção dos mapas. Já viera do ano
logias, o famoso mapa conhecido como T-0, cuja de 1300 o surgimento da famosa Carta Pisana
(fig. 11 ). Trata-se duma carta portu1ano, de pro-
lO BROWN, Lloyd A. The Story of maps. vável responsabilidade do almirantado genovês, cuja

20
Mas o momento determinante da cartografia
moderna foi erigido em definitivo por um belga,
Gerhard Kremer, mais conhecido como Mercátor,
o qual, em 1569, construiu a famosa projeção que
conserva o seu nome.
Que razões induziram Mercátor a conceber
esta projeção? Os navegadores daquele tempo lamen-
tavam a falta de cartas exatas para a navegação.
Outro cartógrafo, igualmente flamengo, Miguel
Coignet, descobrira que, com as cartas existentes,
o traçado de um rumo, de acordo com a bússola,
Fig. 11 - A Carta Pisana, um portulano de 1~00. não fazia nenhum sentido. Irradiando-se de uma
rosa náutica, as retas da carta, uma vez transferidas
elaboração se baseou num levantamento sistemático para a superfície esférica do oceano, produziram
de rumos nos mares Mediterrâneo e Negro. Tão · espirais.
precisa, para a época, orientou as navegações da- Constituía, pois, o problema, em achar uma
queles mares durante três séculos. projeção em que uma linha reta na carta corres-
Mas o incompanível impulso ao progresso pondesse a uma reta de igual rumo no oceano.
cartográfico partiu do notável empreendimento que Na tentativa de resolver o enigma, começou a reti-
foi a Escola de Sagres. Ali era formado o piloto, ficar os meridianos do globo, de maneira que, ao
e ao lado deste, o cosmógrafo era chamado o cartó- invés de convergirem para os pólos, seguissem,
grafo daquele tempo 11 . Ao arrojo da navegação paralelamente entre si. e verticalmente, para o
oceânica eram indispensáveis a segurança da arte infinito. A conseqüência disso foi que provocaram
de navegar e a garantia de roteiros lançados com uma distorção nas distâncias este-oeste, e cresciam
precisão nas "cartas de marear" dos portugueses. cada vez mais, a partir do equador. Demais, reti-
A cartografia náutica <.la Espanha, Veneza e ficados os meridianos, as direções se distorciam
Gênova, da Holanda, França e Inglaterra expan- obrigatoriamente. Trazendo, entretanto, as direções
diu-se em segurança, em precisão e em beleza. dos seus rumos para a realidade, o fator distância
Cabe-nos, porém, o dever de lembrar que o papel era ainda mais retificado por meio da separação
desempenhado pela escola portuguesa não ficou ou da retificação, ficando cada grau de latitude na
atrás. O adminível Pedro 1\: unes (I 502-1577) , mesma proporção de seus meridianos, já distorcidos
com a invenção do nônio, já cedo se destacara com pelo paralelismo. Desta maneira, próximo ao equa-
o seu Tratado da Esfera (conforme a fig. 12) e dor, a distorção de disttmcia era desprezível, ao
outras publicações astronômicas. Cou he à escola passo que, nas proximidades dos pólos, os paralelos
portuguesa o aperfeiçoamento da caravela. do astro- e meridianos eram tão distorcidos e alongados que,
lábio e das cartas de marear. mesmo que uma direção de bússola fosse preser-
vada, as direções indicadas na carta, em qualquer
direção, seriam exageradas. A distorção do fator
distância significava uma dilatação de todas as
massas continentais nas altas latitudes. Mercátor,
contudo, fez o que projetava, e construiu em 1569,
uma carta com rumos e orientados na direção certa,
já que o que importava eram as direções e não as
distâncias. A fig. 13 apresenta a concepção de
Mercátor, para retratar a Terra na forma de um
cilindro.

2. 5 Os levantamentos modernos
Antes que a era dos grandes levantamentos
tivesse início, extensos esforços, na Europa, já data-
vam de um passado de atividades no sentido de
cartografar detalhes topográficos com o auxílio da
Fig. 12 - O Tratado da Esftra, de Pedro Nunes, numa edição
quinhentista. bússola e de um tipo de hodômetro.
É muito interessante a ilustração representada
11 Foi um português, o Visconde de Santarém, Quem pela fig. 14. Trata-se, como se vê, de um topó-
usou. pela primeira vez, o vocábulo cartografia. Conta grafo do século XVI. Um quadrante registrava as
Armando Cortes:! o (op. cit.) o seguinte: " .. . numa carta, em voltas executadas pelas rodas do carro, enquanto
8 de dezembro de 1839, escrita de Paris ao célebre historiador
brasileiro Francisco Adolfo Varnhagem, na qual diz: "invento
o topógrafo e seu ajudante traçavam o croqui com
esta palavra já que ai se tem inventado tantas." o auxílio da bússola.

21
NNE

NE

ENE
ENE

Fig. 13 - O raciodnio de Mercátor, em achar, numa projeção plana


quadrada (em ponttlhado), as loxodromas retas (em linhas contínuas) .

Fig. 1;, - O teodolito c.lt• j cs~ Ramsdcn tornou possívd a primeira


trianguJat;ão exata da Inglaterra.

carta idônea da França constituía uma desgraça


nacionall2.
J can Picard ( 1620-1682) , sacerdote católico e
Fig: 14 - llm car~·o topográfico do séc. XVI, em que um mostrador not~vel astrônomo, usou, em 1669, um quadrante
reg~stra a_s. re\'oluçoes das r<?das, ao mesmo tempo em que o topó·
gra.o-at!Xlhar traça o croqu1 da estrada e das imediações. mediante" eqmpa.do c~m IL.metas, mas Pierre Bouguer, famoso
uma bus.wla . geodeSISta, tdeahzou um quadrante melhor, confor-
me ilustra a fig. 16. Deixou Bouguer admiráveis
O século XVII marca o mtciO dos grandes estudos sobre a gravidade, os quais ainda hoje são
levantamentos, em que, sobretudo os franceses, mas aplicados.
também os ingleses, logo a seg·uir, c os alemães
. O conjunto de ações desenvolvido pelos cien-
realizaram extraordinários trabalhos geodésicos e tistas franceses, que, diga-se de passagem, era espo-
ca.rtográfi~os: ao lon~o dos quais foram sendo aper-
sado pela pr:ópria Académie Royale des Sciences,
fetçoados mumeros mstrumentos, como o teodolito
c~~gava ao hnal do século XVII, já com a dispo-
do inglês Jesse Ramsden (de acordo com a fig. 15) stçao de ser estabelecida uma linha de meridiano
construído no ano de 1787. no país.
Foi sob o governo de Colbert. ministro de Mas "nesse tempo o mundo científico começava
Luís XIV, que receberam todo apoio brilhantes a se preocupar com uma crescente suspeita de que
matemáticos e astrônomos, como Jean Dominique
Cassini (1625-1712) , Guilherme Delisle (I 67 5-1726)
e outros. Achava Colbert que a inexistência de uma 12 BROWN . Lloyd A . Op. c:it.

22
Fig. 16 .- O quadrante de Bouguer, que trazia o Sol para o hori·
zonte, a fim de que o observador pudesse observar o Sol e o horizon·
te, simultaneamente.

a Terra não era uma esfera perfeita" 13• Muito


bem. E se a Terra era esferoidal, qual seria o eixo
Fig. 17 - O arco de meridiano entre Cotchesqui e Tarqui (no
maior, o que pass;tva através dos pólos ou o que equador), medido entre os anos de 1735 e 1745, a fim de ser deter-
coincidia com o plano do equador? Nesse tempo, minado o tamanho e a forma da Terra.
já sob outro Cassini Oacques, filho de Jean Domi-
nique), era iniciado o levantamento do meridiano, uma ação de grande alcance prático. Coincidiu,
para cuja operação contava J acques com a coope- entretanto, uma divergência entre os astrônomos
ração de um terceiro Cassini, César François, seu franceses e ingleses, traduzida numa diferença de
filho. quase onze segundos para a longitude e quinze
Na medição de um pequeno triângulo, próximo segundos para a latitude. Foi quando César François
da latitude de Paris, verificaram que um grau de Cassini sugeriu o levantamento trigonométrico
longitude, que deveria ter 37 307 toesas 14, se se entre Londres e Dover, ou mais precisamente, entre
tratasse de uma esfera perfeita, foram encontrados o famoso Observatório de Greenwich e a costa, no
36 670 toesas, o que era demonstrado que os graus que houve absoluta concordância da parte da Royal
de latitude diminuíam cada vez mais em relação à Society. Foi encarregado da missão o general
direção do pólo. A solução que se impunha era o William Roy, que tanto se notabilizaria na Ingla-
levantamento de dois arcos de meridiano, um nas terra por seus trabalhos geodésicos e cartográficos.
proximidades do eq~ador e outro não longe de um Ver a fig. 18, em que a rede de triângulos cruza o
dos pólos. Surgiu, assim, na história da geodésia Canal da Mancha, amarrando as duas estruturas
moderna, o grande acontecimento, que foi a medi- geodésicas.
ção do arco de Quito, de 1735 a 1745, e a do arco Um certo holandês, Snellius, que, no passado,
do Golfo de Bótnia, no Ártico, iniciado em 17 36. havia feito a primeira triangulação com um instru-
Como retrata a fig. 17, a triangulação nas proxi- mento, para a medição de ângulos, usou, para tal
midades da linha equatorial estendeu-se numa fim, o teodolito, e isso se deu em 1615. Agora, na
distância de três graus. grande triangulação 15 iniciada por Roy, o teodolito
Enquanto do lado francês toda essa admirável de Jesse Ramsden, construído pela Royal Society,
atividade era desenvolvida, não apenas no sentido marcou, de fato, a primeira triangulação de alta
de dotar o país de estrutura geodésica de alto valor, precisão.
visando a uma carta básica precisa, mas de fornecer Vale acrescentar que os instrumentos usados
ao mundo um novo e definitivo padrão geodésico, no século XVIII, além do teodolito, eram a bússola
também, no outro lado da Mancha, se corporificava portátil com alidade, a prancheta equipada com
bússola e alidade, o hodômetro para a medição de
13 Ipem, ibidem.
14 Uma toesa equivale a 1,949 metro. Ui WINTERBOTHAM, H. S. L. A. Key to maps.

23
30' o• 30' ,. 30'

Fig. 18 - O Canal da Mancha, com a rede de triângulo• entre os meridianos de Greenwkh e l'aris.

linhas irregulares, como as de um rio, e um semi-


circulo para a medição de ângulos, conforme pode-
mos apreciar na fig. 19.
No que diz respeito ao continente sul-ameri-
cano, o arco de Quito foi, realmente, a primeir<:t
grande operação geodésica realizada no Novo
Mundo.
O globo todo tem, hoje, os mapas mais pre-
cisos, em todas as escalas e para todos os fins.
A França, a Inglaterra, a Alemanha, a Suíça, os
Estados Unidos, o Japão, a União Soviética, etc.
têm produzido excelente cartografia, de par com
um inusitado desenvolvimento de instrumentos
eletrônicos geodésicos, fotogramétricos e cartográ-
ficos, além de técnicas visando à excelência e à
precisao, tanto no que toca aos levantamentos,
quanto à elaboração de mapas e cartas para todas
as finalidades.
Não poderíamos, aqui, neste resumido esboço
histórico, deixar fora de registro a fotogrametria,
uma revolucionária modalidade de levantamento
do terreno, baseada nas fotografias aéreas. Decor-
rente, em grande parte, da invenção do avião, o
seu desenvolvimento tem sido extraordinário. Mas
antes do avião, as fotografias terrestres perspectivas
já eram usadas, em decorrência da invenção da
Fig. 19 - O semicírculo, um aparelho do séc. XVIII, para a me·
máquina fotográfica, à guisa de apoio de alguns dição de ângulos.

24
levantamentos fotográficos. Foi, contudo, o francês 2. 6 Os mapas do Brasil nos primeiros
Aimé Laussedat (1819-1907) quem fundou a foto- séculos
grametria, em 1851. Mas já em 1838, o físico inglês
Charles Wheatstone (1802-1875) havia descoberto "A história da cartografia brasileira segue de
o estereoscópio (alma da fotogrametria, depois que muito perto a própria história do Brasil" 17 • Mal
o alemão Pulfrich, em 1903, aplicou ao ousado haviam sido enrolados os panos das caravelas anco-
processo de levantamento a estereoscopia). radas na Terra deVera Cruz, e um certo tripulante.
A primeira vez que o terreno foi fotografado João Emenelaus, físico e cirurgião de Sua Majestade
do espaço. em 1860, nos Estados Unidos, o veículo o Rei Dom Manuel, descia a terra em companhia
usado foi o balão. No capítulo 10, este assunto será do piloto da nau capitânea e do piloto de Sancho
mais bem ilustrado. de Tovar, e aí, tomou a altura do Sol ao meio-dia,
A figura 20 apresenta um instrumento foto- e achou 17 graus, por meio do astrolábio. A
gramétrico chamado Multiplex, que foi bastante fig. 21 sugere, com essa xilogravura do século XV,
usado na restituição de fotografias aéreas estereos- a ocorrência histórica da primeira operação cosmo-
cópicas. O instrumental hoje existente é o mais gráfica sob os céus da nova terra. Era o dia 27
complexo e o mais avançado possível, uma vez qt~e de abril de 1500 ts.
a automatização, graças, em grande parte, à elctro-
nica, vem substituindo, em muitos estágios, a parti·
cipação humana na maioria das operações geodé-
sico-fotogramétrico-cartográficas.

Fig. 21 - .'\ medição da latitude por meio do astrolábio.

Daí em diante, não tardariam a aparecer os


delineamentos do litoral, com muita pobreza de
nomes. mas muito índio e florestas de pau-brasil.
Os primeiros mapas da nova terra variavam, con-
tudo, quanto à denominação: Terra de Vera Cruz,
Terra de Santa Cruz, Terra Nova, Terra Incógnita,
Terra de Papagaios, Terra de Brazília, Terra de
Antropófagos, etc. Pois que a terra era grande de-
mais e raros os conhecimentos geográficos a seu
Fig. 20 - O Multiplex. um restituidor de fotografias estereoscópicas. respeito, propiciando o surgimento de fantasias
sobre esse mundo desconhecido. Até as "monstruo-
sidades" de Solinus, aquele "contador de histórias"
Mas os vôos orbitais, sobretudo de satélites do UI século, autor da "Coleção das coisas que
artificiais não tripulados, estão desempenhando um devem ser lembradas", viriam a ser enxertadas nos
papel fora do comum no mapeamento de extensas mapas dessa terra. A figura 22 apresenta uma das
áreas da Terra, como é o caso do Landsat (land
satellite) 1a, assunto tratado também mais extensa-
mente no capítulo 1O. 17 OLIVEIRA, Cêurio de. A História dos mapas do
Brasil. In: ENCICLOPÉDIA FATOS & FOTOS. n. 60, 1967.
18 OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico
16 OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico. (apêndice I) .

25
l us'ln a.:- . - - _ - - - - -- _-;H-Eê
o ~ I'Y --~' • -

· SAB~~~Ç~E •. - .. -- -- - : . - ..---.<~ ~- ~
--
._ - -

... ·... -_ "'-::.... - .. -· ~- -· ... _ .... -........,..- .. .... ·.


- -

: -.--:
- -

: Hi.av.M-· ETJAA:tCOI.AE_· --
- -... - -...- -.. l; S~
.-".ANTiu\oPÓPKAG: .: :
.... . -·
-- ~-- ~ .-.-- ~ ..:. .-~~~
·...... ...::_·'t' .- .

f'ig. ~:l - Num mapa anterior ao descobrimento da América, algu-


mas ilhas atribuída!' ao Novo Mundo traziam a indicação de serem
habitadas por antropMagos.

Na Mapoteca do Itamarati (Rio de Janeiro)


existe, dentre tantos, um mapa bem interessante:
aparece, em primeiro lugar, o litoral do Brasil,
e para dentro, árvores c palmeiras, índios amon-
toando madeira, c uma figura de mulher branca,
Fig. 22 - Acima, dois desenhos popularilados por Solinus, no séc. 111 nua, atravessada dos pés aos ombros por um grande
d. C. e, abai><o, um trecho do rio Amazonas, do cart6gra_f~ flamengo
Hondiw (1563-1612), em que se pode ob<erYar a rcpeta~:ao de um espeto, a cabe~:a pendente, c um aborígine a giní-la
dos desenhos do me•mo Solinus.
sobre a fogueira.
Podemos apreciar outro mapa, desta feita de
origem turca, surgido apenas 13 anos após o desco-
inúmeras "monstruosidades" surgidas em plena brimento do Brasil. Referimo-nos ao mapa do almi-
Idade Média, e a mesma imagem reproduzida (doze rante turco Piri Re's, no qual, bem em cima do
séculos mais tarde) na margem esquerda do rio Brasil, est;í escrito: Este país tem animais ferozes
Amazonas, no mapa do famoso cartógrafo flamengo de pêlo branco, tendo a forma de bois de seis
Jodocus Hondius, do século XVI. chifres.
Tantas eram as fantasias, tantos os absurdos, Os mapas do século XVII, muitos dos quais
cujos ecos dominaram os espíritos europeus, famin- com características náuticas, foram feitos não só
tos de histórias fantásticas sobre o resto do mundo, por portug·uescs, como por holandeses, franceses,
sobretudo a África e a América, que um belo mapa ingleses, espanhóis etc. Das maiores coleções são,
do mundo, de 1628, viria registrar, abaixo do Medi- por exemplo, as do cartógrafo João Teixeira, de
terrâneo, um continente Antichton, uma espécie de 1627, 1630, 1631 e 1640, coligidas "das mais sertas
antiterra, em que "a vida era impossível" 19 (sic) . noticias que pode aiuntar".
Diante de tudo isto, não admira, aliás, que Um belo mapa do final do século é o do famoso
haja dúvida, hoje em dia, da antropofagia ~o índio holandês Ianne Blaeu, com a representação das ca-
brasileiro. E assim como em mapas antenores ao torze capitanias hereditárias, desde a "de Para"
descobrimento do Brasil, eram representadas ilhas até a "de Sancto Vicente".
ao sul do equador com dizeres co~o "f!ic incole
Com a finalidade de juntar uma documentação
anthropophagi sunt" e "H~rum etzam mc?le a::·
cartográfica para a questão sobre o Brasil e a
thropophagi sunt" (V. a figura 23), tambem na~
França, o Barão do Rio Branco publicou uma co-
admira que, depois de descoberto, fosse ? Brasil
letânea, onde se acham praticamente todos os
o repositório preferido de semelhantes notícias.
mapas do Brasil anteriores ao Tratado de Utrecht
Ocorre-nos transcrever a quadra de Swift, já de 1713.
glosada, várias vezes, por cartógrafos ingleses:
Quanto ao século XVIII, a documentação
So geogmphers, _in Afric~ maps~ cartográfica sobre o Brasil é incomparavelmente
With savage pzctures fzll then· gaps, melhor. Nesse século, Portugal viria dedicar im-
And o'er inhabitable downs, portantes atenções aos lim!tes do B:asil com a Am~­
Place, elephants for :want of towns":!0
- . rica Espanhola. Engenheiros, astronomos e carto-
grafos portugueses e brasileiros levantam e tra~am
enorme quantidade de documentos cartográficos
19 BROWN, Lloyd A. Op. cit. e hidrográficos. São dessa época autores de mapas
20 Assim, os geógrafos, nos mapa_s da África .. com estra- do porte de Azevedo Forte, de Manuel Gonçalves
nhos desenhos, preenchem os seus vaZios c, yor cuna t~e pla-
nJcies desabitadas, colocam elefantes ao mvés de ctdades. de Aguiar, além de outros.

26
Naquele século, aqui chegaram os padres je- toram, assim, mal sucedidos, e só na República é
suítas Carbone e Capacci, enviados pelo Rei Dom que, a partir de I 90 I, viria aparecer um plano
João V, em 1730, com o fim de determinarem a sério, como iremos ver logo adiante.
latitude e a longitude do país e, em seguida, ela- Como o Brasil se comportava como país-ilha,
borarem mapas corretos. Além das recomendações apesar das suas dimensões continentais, a carto-
prescritas, de que os padres eram portadores, pa- grafia hidrográfica teve a prevalência nas atividades
rece que a intenção abrangia a importância, do de se dotar o país duma cobertura sistemática de
ponto de vista de Portugal. em "descobrir por mapas para uma nação que começava a organizar-se.
meio das longitudes observadas a posição exata das Assim é que, com a criação da Repartição Hidro-
terras ocupadas pelos portugueses na América, em gráfica, os esforços náuticos foram de grande valia,
relação ao arquipélago do Cabo Verde, isto é, ao culminando com a obra do Almirante francês
meridiano de Tordesilhas, situado 370 léguas a oeste Amedée Mouchez, para cá contratado, que exe-
da mais ocidental das ilhas, e traçar uma carta cutou o levantamento da costa brasileira, entre
do Brasil de coordenada!> cientificamente obser- I 856 e I 868, no comando dos navios Le Brisson,
vadas, que ocultasse aquela averiguação" :!l . Recor- ])'Entrr.rastr~nux c La Motle Piquet 22.
demo-nos de que três lustros mais tarde apareceria A figura 24 mostra-nos um detalhe típico
o Mapa das Cortes (de autor desconhecido), de duma moderna carta náutica da Marinha do Brasil.
I 749, "dos confins do Brazil com as terras da Coroa
de Espanha na América Meridional", e que, no ano
seguinte, iria orientar o Tratado de Madri de 1750.

2. 7 A cartografia brasileira do século XIX


Como é sabido, a partir de 1808, com a chegada
do rei de Portugal Dom João VI, um admirável
impulso foi dado a todos os empreendimentos ar-
tísticos e científicos, em cu_jo bojo se situaria, sem
dúvida, um florescimento de todas as artes grá-
ficas, em que era propício o aperfeiçoamento e a
eclosão de novos valores na elaboração das cartas
geográficas.
Já em maio de 1808 era criada a Imprensa
Régia. Nesse mesmo ano foi confeccionada a Planta
da Cidade do Rio de Janeiro, da autoria de A. J.
dos Reis, c que passou a ser gravada por Ferreira
Souto, que a concluiu em 1812. Essa planta foi
executada no Real Arquivo Militar, que tinha atri-
buições cartográficas e de mapeamento.
Outras institmçoes criadas naquela época
foram a Real Academia Naval e a Academia de
Artilharia e Fortificação, as quais eram encarre-
Fig. 24 - Parte' da folha "'Canal de ltacuruçá"", levantada c ela·
gadas de adestrar engenheiros para as atividades de horada pt"!a Marinha do Brasil, à escala original de I :20 000, na
levantamentos e de cartografia. Projeção de Mercátor. Vêem·se um sem-número de pontos de son·
dagem, em metros, assim como três curvas batimétricas (5 m, 10 m
Em meados do século, houve tentativas para e 20 m) ; um farol na ilha ]uTubaíba, com a indicação da duração
do lampejo; um fundeadouro na Ponta do BaTTeiTo, à NO da ilha de
a construção de uma Carta Geral do Império, JtacuTuçá; uma rosa náutica (com a divisão de 10 em 10 graus c
subdivisões de grau em grau), orientada para o N, e indicando a
conseguindo os seus idealizadores iniciar a trian- · declinação magnttica de 16°15" W. relativa ao ano de 1965, com a
gulação do Município Neutro. Não houve, porém, informação do seu aument.o anual em 8°.
Observe-se que as informações sobre a terra firme são !_imitadas, c
prosseguimento algum, até que foi extinto em 1878, o rele vo ai representado t sugerido por cun as de forma e não le·
embora três anos antes tenha sido criada a Comissão vantado em curvas de ni9el; apenas alguns morros mostram as suas
respectivas cotas.
Astronômica do Observatório Imperial, que teve
por finalidade a determinação de posições geográ- Quanto à cartografia terrestre, grandes esforços
ficas, e a medição de um grande meridiano, não foram verificados no âmbito do Estado-Maior do
tendo havido, igualmente, continuidade prática. Exército, com vistas à construção de uma carta
Os vários estudos visando à criação de um básica. Em conseqüência daquela política cartográ-
órgão encarregado de executar levantamentos geo- fica militar, era criada, em 1901 a Comissão da
désicos e topográficos, e construir uma carta exata,
22 A excelente coleção de cartas de Mouchez pode ser
21 CORTESÃO. Jaime. História do Brasil nos velhos apreciada: na Diretoria . de Hidrografia c Navegação; na
mapas. Mapoteca do Itamarati (RJ) ; na Biblioteca do IBGE (Rj) .

27
Carta Geral do Brasil, projeto do Estado-Maior. A
organização da Carta competia à 3.a seção do Estado-
Maior, e o projeto foi muito bem preparado, com
detalhes sobre as operações geodésicas e astronô-
micas, as operações topográficas e as operações car-
tográficas. Constava do projeto a construção duma
carta topográfica em 1: I 00 000 e uma carta geo-
gráfica em I: l 000 000 23, Entretanto, somente após
a I Guerra Mundial, é que iria ser fundado o
Serviço Geográfico Militar, denominação que pas- PARTE DA DO
saria depois a Serviço Geográfico do Exército.
DISTRICTO FEDERJ
Rto DE JANEIRo
2. 8 A moderna cartografia brasileira
19
Em decorrência dos estudos executados no 16\ ,t c
âmbito do Estado-Maior elo Exército, e consoante o
grande desenvolvimento cartográfico atingido pelas
potências européias na Grande Guerra, o Serviço }'ig. !15 - Trecho da Cana do Distrito Federal, executada pelo Exér·
cito brasileiro, em 1922.
Geográfico do Exército contratou, em I920, a fa-
mosa Missão Austríaca, chefiada pelo engenheiro 4 X 6 graus, treinando, inicialmente, desenhistas-
Emílio Wolf, e composta de excelentes profissionais
cartógrafos, e promovendo uma coleta de mapas e
austríacos, cujos trabalhos resultaram numa pro- de levantamentos, em todo o território nacional, a
dução topográfica de alta qualidade.
fim de que a carta fosse compilada da melhor base
O primeiro resultado prático da obra dirigida de documentação cartográfica existente. Paralela-
pelo Exército foi a conclusão, em 1921 , do levan- mente, instituía aquele Conselho a Campanha das
tamento do antigo Distrito Federal na escala de Coordenadas Geográficas, a qual, até 1945, e sob a
I :50 000, em que pela primeira vez foi utilizado chefia de engenheiros bem aperfeiçoados em geodé-
o avião para uma cobertura aerofotogramétrica. 'As sia, determinou milhares de coordenadas em todos
primeiras fotografias foram tiradas sobre Copaca- os estados do Brasil.
bana, no morro dos Cabritos, tendo constado o Um dos elementos básicos de importância para
levantamento de 22 vôos realizados em 16 dias, a compilação das folhas foi a Carta em I: 1 000 000,
"num percurso aéreo de 718 km, a uma altura de igualmente em 46 folhas, organizada pelo Clube
2.500 metros em que foram expostas 948 chapas de Engenharia, em I922, comemorativa do 1.0
fotográficas tiradas com eixo ótico vertical Centenário de Independência do Brasil.
cobrindo uma área de terreno de I .345 km 2, apro- A melhor documentação surgiu, entretanto,
ximadamente" 24. A figura 25 registra um belo de-
após 1945. É que os Estados Unidos, à frente de
talhe da carta publicada. operações estratégicas em todo o mundo, visando
A Diretoria de Serviço Geográfico, deno- à vitória final contra o eixo Roma-Berlim-Tóquio,
minação atual do antigo Serviço Geográfico do havia promovido uma extensa cobertura aerofo-
Exiército, sempre se mostrou, em realização, ou togramétrica, com o sistema Trimetrogon, sobre-
produção, à altura dos seus planos. Exemplo disto tudo em áreas pouco desenvolvidas cartografi-
foi o profícuo trabalho geodésico e cartográfico camente. Como após o conflito mundial, dois ter-
levado a efeito no Rio Grande do Sul, com uma ços do espaço territorial brasileiro estavam fot_o-
cobertura topográfica em I: 50 000, I: 100 000 e grafados, aquela nação nos cedeu todo o volume
I :250 000. Como se sabe, a rede geodésica do sul, dessa cobertura através dos seus próprios negativos.
seria amarrada, a partir de I945, à estrutura ini- De posse de tal documentação, de precioso valor,
ciada pelo IBGE. em áreas como o Norte e o Centro-Oeste, até então
Em 1936, o Governo Federal criou o Instituto sem mapeamento regular, pôde o total das 46
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com folhas ser, finalmente, editado, o que se deu em
a finalidade de coordenar as atividades estatísticas, 1960.
censitárias e geográficas do país. Visando de ime- A direção do Conselho N acionai de Geografia,
diato ao Recenseamento de I940, o IBGE, através de ao término da li Guerra Mundial, não descurou
um dos seus órgãos, o Conselho N acionai de Geo- do aperfeiçoamento do pessoal técnico cartográfico,
grafia, iniciou, em 1939, a preparação do projeto o qual, após um lustro de invejável dedicação a
Carta do Brasil ao Milionésimo, em 46 folhas de uma obra, àquele tempo, de indispensável valor,
tão a fundo se empenhara. Assim, seguiu para os
23 BRASIL, Estado-Maior do Exército. A Carta do Estados Unidos um grupo de dedicados servidores,
Brasil. os quais, após um ano de estágio no Coast and
24 VIDAL, Alfredo. Cartografia. Geodetic Survey, regressou com um excelente pa-

28
drão de aprendizagem teórico-prática na totalidade
das operações que conduzem à elaboração de cartas
c mapas. Não tardaria, igualmente, que outros
cartógrafos seguissem para o estrangeiro, desta vez,
além dos Estados Unidos, alguns países europeus de
tradicional adiantamento cartográfico, como a
França, a Inglaterra 2~. Alemanha c a Itália.
Não podemos deixar de mencionar, aqui, a
participação da geodésia oficial americana no
Brasil. Acolhemos durante muitos anos o lntn
American Geodetic Survey (JAGS), que, além de
proporcionar instruções sobre métodos e técnicas
relativas ao levantamento geodésico básico do ter-
ritório brasileiro, forneceu, em várias oportuni-
dades, inestimável instrumental técnico especifico,
como torres Rilhy, mart'~grafos, teodolitos, etc. Lem-
bremos também, que, através do IAGS, dezenas
de profissionais em geodésia, cartografia e foto-
grametria, pertencentes a diversos órgãos federais e
estaduais, puderam estagiar na Escola de Carto-
grafia da Zona do Canal do Panam;í.
Após a conclusão da Carta do Brasil ao Milio-
nésimo, e percebendo a necessidade inadiável de Fig. 2ô - Esquema da cobertura topográfica do território brasileiro
executada pelo IBGE, DSG e outros órgãos de atividades cartográfica•
poder concorrer também no sentido de preencher afins.
o imenso vazio territorial brasileiro em escalas topo-
gráficas básicas ~ 6 , sentiu-se o IBGE no dever de se
A Diretoria de Rotas Aéreas do Ministério
munir, a fim de participar da cobertura sistemática
da Aeronáutica, hoje denominada Diretoria de Ele-
de cartas topográficas, indispensáveis ao desenvol-
trônica e- Proteção ao Vôo, que, até há bem pouco
vimento econômico e social do País. Como se viu,
tempo, vinha utilizando as folhas da Carta Aero-
em pouco tempo, com a aquisição de variado
náutica editada pelo Army Map Service, com uma
instrumental fotogramétrico, lançou-se ao lado da
Diretoria de Serviço Geográfico e de outros órgãos, base cartográfica já em obsolescência 28 , tomou a de-
como a Sudene, a Petrobrás etc., numa produção cisão de se aperceber do melhor suporte cartográfico
que já cobre mais de dois terços da área do país possível, e realizou um convênio com o IBGE, para
em cartas de 1:50 000, 1:100 000 e mais a de a elaboração da carta, dispondo, atualmente, de
I :250 000, que é uma carta topográfica derivada um conjunto de 46 folhas na escala de I: I 000 000,
executado de acordo com as especificações da Carta
das duas primeiras. A figura 26 apresenta, esquema-
ticamente, o desenvolvimento dessa cobertura. Aeronáutica Mundial.
Quanto aos levantamentos geodésicos de apoio O presente enfoque, sumamente resumido, do
básico, que constituem a infra-estrutura do mapea- que foi feito e do que se realizou no Brasil, no
mento das três escalas topográficas, acham-se, atual- tocante às atividades cartográficas, se apresentaria
mente, em pleno desenvolvimento, estendendo-se as falho, e ao mesmo tempo injusto, se não mencio-
suas operações pela Amazônia, com a adoção dos nássemos, embora de passagem, a participação pri-
mais modernos métodos, e com o emprego de téc- vada.
nicas e instrumental muito avançado. A rede toda, Está hoje o Brasil perfeitamente equipado,
de sul a norte, já dispõe duma área de 4,6 milhões além da área governamental (federal, estadual e
de quilômetros quadrados. A este propósito, convém municipal), para qualquer tipo de planejamento
lembrar ainda que a "rede altimétrica implantada e de execução de projetos fotogramétricos, desde
coloca o Brasil em terceiro lugar no mundo, ime- a mais exata carta cadastral até o mais exigente
diatamente após os EUA e o Canadá, e em pri- projeto de engenharia. Referimo-nos às companhias
meiro em extensão norte-sul 27". de aerolevantamento, reunidas, quase todas, hoje,
sob a denominação de Associação N acionai de Em-
presas de Aerolevantamento (ANEA) , a qual, além
2r. O autor "destas mal traçadas linhas" c de inúmeros
mal rab;scados mapas fez, em 1951 152, um estágio no
do padrão técnico, apresenta um apreciável e diver-
Ordnance Survcy, em Southampton (Inglaterra) c dois es·
tágios no Institut Géographique National (França) .
28 Jà se tornara praxe que muitos pilotos, militares
26 Até 1964, a cobertura em cartas topográficas em ou civis, preferiam usar, em vôo, algumas folhas da Carta
1:50000, 1:100000 e 1:250000 só alcançava cerca de 8% do Brasil ao milionésimo, j<í por si também desatualizadas e,
do nosso espaço territorial. sobretudo, inadequadas do ponto de vista técnico aero-
27 TRAilALHOS T~CNICOS, Rio de janeiro, IBGE, náutico, menos obsoletas, porém, do que as aeronáuticas
1979. americanas, àquele tempo, ein uso.

29
sificado volume de realizações, não só no Brasil, relevo, mediante as hachuras, magistralmente ela-
como em alguns países. boradas por italianos, franceses, alemães, etc., mas
sem dispor de meios para representar esse relevo
sob forma matemática (referimo-nos ao método das
2. 9 O mapa de ontem e o mapa de hoje curvas de nível) , o cartógrafo de hoje oferece ao
usuário o mesmo frio delineamento, e vai mais
Se o mapa antigo podia, em parte, caracteri- longe, complementa-o com outra espécie de relevo,
zar-se pelo esmero gráfico e muitas vezes artístico o sombreado, cuja máxima expressão realizou-a o
da sua apresentação, fugindo, não raro, à infor- notável cartógrafo suíço, professor Edouard Imhof.
mação precipuamente geográfica, para ceder lugar Entretanto, a mais admirável forma de expres-
a belos cartuchos ou mesmo interessantes fantasias são cartográfica dos nossos dias é o mapa plástico
de caráter decorativo 29 em detrimento, muitas em alto-relevo. Tanto o relevo sombreado, quanto
vezes, do próprio conteúdo geográfico ou toponí- . o relevo em terceira dimensão, em plástico, uma
mico, o mapa da hora que passa tem como finali- vez executados com precisão técnica, além do efeito
dade primeira a exatidão do detalhe aí represen- prático e estético, são capazes, um ou outro, de
tado, não só do ponto de vista planimétrico como transmitir a uma variedade de profissionais da
altimétrico. área das geociências, como o geógrafo, o geólogo,
Se o cartógrafo do século XIX procurava, es- o geomorfologista, o pedólogo e tantos outros, o
forçando-se ao máximo, no sentido de oferecer ao caráter exato da razão de ser, ou da origem daquele
usuário uma forma original de representação do modelado.

29 Consultem-se o nosso Diciondrio Cartogrdfico, abrindo-o no verbete Leão Belga, ou então o Mapa Geográfico de América
Meridional, de Cruz Cano, existente na Mapoteca do Itamarati, o primeiro. extremamente original, o segundo, de sóbria
beleza.

30
3. Classificação de cartas
3 .1 Mapa e carta tação gráfica, geralmente numa superficie plana
e numa determinada escala, das características na-
A palavra mapa, de provável origem cartagi- turais e humanas, acima ou abaixo da superfície
nesa, significava "toalha de mesa". Os navegadores da Terra, ou de outro planeta". A definição de
e os negociantes, ao discutir sobre rotas, caminhos, carta: "Mapa de finalidade especial, destinado, em
localidades, etc., em locais públicos, rabiscavam geral, à navegação ou a outros fins particulares,
diretamente nas toalhas (mappas), surgindo, daí, em que a informação cartográfica essencial se com-
o documento gráfico, donde a antiguidade, tão útil bina com diversos elementos decisivos ao uso pro-
a todos. A palavra carta, igualmente, parece ser posto".
de origem egípcia, e significa papel, que vem dire· A Associação Brasileira de Normas Técnicas
tamente de papiro. Num caso ou outro, é o material (ABNT) 31 dá a seguinte definição ao termo mapa:
através do qual a comunicação se manifesta. "Representação gráfica, em geral uma superfície
Nos países de língua inglesa há uma nítida plana e numa determinada escala, com a repre-
diferença entre mapa e carta. "Tanto mapa quanto sentação de acidentes físicos e culturais da super-
carta, naturalmente, se relacionam principalmente fície da Terra, ou de um planeta ou satélite". Já
com a parte sólida do terreno, mas o mapa encar- a palavra carta tem a seguinte explicação: "Re·
rega-se da parte descoberta, e a carta com a porção presentação dos aspectos naturais e artificiais da
submersa" 3o. Em suma, mapa é o termo mais geral, Terra, destinada a fins práticos da atividade hu-
enquanto carta é destinada unicamente à repre· mana, permitindo a avaliação precisa de distâncias,
sentação náutica ou marítima, lacustre c fluvial. direções e a localização plana, geralmente em média
Em francês só existe a palavra carta. A única ou grande escala, de uma superfície da Terra,
exceção é o termo mappemonde. O alemão, igual- subdividida em folhas, de forma sistemática, obe-
mente, só usa carta (Km·te ou Landkarte). decido um plano nacional ou internacional".
Em português, como os dois vocábulos coe-
xistem, carta e mapa têm, praticamente, tudo em 3 . 1.1 Plantas
comum. A tradição, entretanto, não permite que
Conquanto a palavra planta seja mais usada,
se chame mapa o documento ligado diretamente à
é, entretanto, sinônima de plano. A principal
navegação ou de cunho oceanográfico. Em decor·
característica da planta é a exigüidade das dimen·
rência do surgimento da navegação aérea, por sões da área representada. A outra é, sem dúvida, a
analogia, temos carta aeronáutica ao lado de carta ausência de qualquer referência a curvatura da
náutica. Terra. O nosso Dicionário assim define: "Carta
Há uma certa tendência, no Brasil, em em· que representa uma área de extensão suficiente-
pregar o termo mapa quando se trata de docu- mente restrita para que a sua curvatura não pre-
mento mais simples ou mais diagramático. Ao cise ser levada em consideração, e que, em conse-
contrário, o documento mais complexo, ou mais qüência, a escala possa ser considerada constante".
detalhado, tende à denominação de carta.
Já que a representação se restringe a uma área
Quando, igualmente, se trata de série carto· muito limitada, a escala tende a ser muito grande
gráfica, a propensão é para carta. Dizemos, assim, e, em conseqüência, a aumentar o número de de-
de preferência, carta topográfica ou Carta Inter- talhes. Mas é a prevalência do aspecto da área
nacional do Mundo ao Milionésimo, ou simples- diminuta que caracteriza a planta. Daí, recorde-se,
mente Carta ao Milionésimo. Do mesmo m~do, o planta de um jardim, planta de uma casa, etc. Do
mapa em escala grande, que envolve muito de- ponto de vista mais cartográfico, é a planta urbana,
talhe, é chamado, preferentemente, carta, como é sobretudo, com a sua intenção cadastral (ver adi-
o caso de uma carta urbana, que também pode ser ante, o tópico 3 . 4. I) que é mais característica. A
chamada planta. planta moderna, de origem fotogramétrica, além
O Glossary of Mapping, Charting, and Geo- da riqueza de detalhes, é de suma precisão geo-
detic Terms (op. cit.) define mapa: "Represen· métrica. Registremos, contudo, que as plantas ur-

ao WINTERBOTHAM, H.S . L. Op. cit. 31 Consultar o nosso Dicionário.

31
banas inglesas do século passado não fugiam à ri- 3. 2. 2 Mapas especiais
queza de detalhes nem à precisão. "O mínimo de- Em oposição aos mapas gerais, são feitos os
talhe das aléias e canteiros, a posição exata das ár- mapas especiais para grupos de usuários muito
vores e o plano interno das igrejas apareciam distintos entre si, e, na realidade, cada mapa es-
nelás" 32 • pecial, concebido para servir uma determinada
Queremos ainda registrar uma palavra que, faixa técnica ou científica, é, via de regra, muito
embora de recente origem francesa, já se acha específico e sumamente técnico, não oferecendo, a
perfeitamente incorporada no vernáculo. É croqui. outras áreas científicas ou técnicas, nenhuma uti-
O Aurélio explica: "esboço, em breves traços, de lidade, salvo as devidas exceções. Destina-se à re-
desenhos ou de pintura". Mas no âmbito carto- presentação de fatos, dados ou fenômenos típicos,
gráfico tem bastante uso. Na cartografia americana tendo, deste modo, que se cingir, rigidamente, aos
moderna é o sketch map, assim definido: "Mapa métodos, especificações técnicas e objetivos do as-
oriundo de levantamento aproximado, sem controle. sunto ou atividade a que está ligado. Uma carta
A informação, por conseguinte, é geralmente náutica por exemplo, precarfssima em relação à
fraca" aa. É o mesmo que croqui topográfico. No representação terrestre ou continental, é, por outro
nosso Dicionário Cartográfico aparece assim: "I . lado, minuciosa quanto à representação de pro-
Esboço de levantamento expedido entre determi- fundidades, de bancos de areia, recifes, faróis, bóias,
nados pontos. 2. Vista perspectiva esboçada". etc. É que este tipo de mapa se destina exclusiva-
~ente à segurança da navegação. Um mapa magné-
tico, em que é representada a distribuição de um
3. 2 Os mapas segundo seus objetivos dos elementos magnéticos, como linhas em isógonas
ou a sua natureza secular, é outro exemplo de mapa
De acordo com o tipo de usuário para o qual especial. Como se vê, destina-se à representação de
foram elaborados, os mapas podem ser gerais, es- fatos, dados ou fenômenos específicos, tendo, deste
peciais e temáticos. modo, que se fixar, rigidamente, nos métodos e
objetivos do assunto ou atividade a que está li-
gado. Eis alguns exemplos de mapas especiais,
3. 2 .I Mapas gerais
além dos dois citados: aeronáutico, astronômico,
Um mapa geral é o que atende a uma gama meteorológico, de recenseamento demográfico, tu-
imensa e indeterminada de usuários. É, quase sem- rístico, etc.
pre, uma espécie de mapa mural 34 • Um exemplo
particular deste tipo de mapa é a edição do IBGE na 3. 2. 3 Mapas temáticos
escala de I :5 000 000, representando o território
brasileiro, limitado por todos os países vizinhos, o Trata-se de documentos em quaisquer escalas,
Oceano Atlântico, etc., contendo, através de linhas em que, sobre um fundo geográfico básico, são
limítrofes c cores, todos os estados e territórios representados os fenômenos geográficos, geológicos,
além das principais informações físicas e culturais, demográficos, eéonômicos, agrícolas, etc., visando
como rios, serras, ilhas, cabos, cidades importantes, ao estudo, à análise e à pesquisa dos temas, no seu
algumas vilas, estradas etc. aspecto especial.
Como se vê, é um mapa de orientação ou in- A simbologia empregada na representação de
formações generalizadas, mas absolutamente insufi- tantos e diversificados assuntos é a mais variada
que existe no âmbito da comunicação cartográfica,
ciente para muitas e determinadas necessidades. As
uma vez que, na variação de tantos temas a sali-
consultas feitas sobre um mapa geral têm que ser
entar, suas formas de expressão podem ser, ora
igualmente generalizadas. Se quisermos medir com
qualitativas, ora quantitativas.
exatidão a distância, por rodovia, entre São Paulo
e Minas, corremos o risco de diminuir ou acres- O nosso colega Rodolfo Barbo~a 3 5, classifica
centar vários quilômetros em relação à distância os mapas temáticos nestes três tipos: de notação,
estatísticos e de síntese.
real. Ao contrário, se desejarmos verificar, aproxi-
madamente, a distância em linha reta entre o Rio O primeiro grupo registra os fenômenos, na
e Brasília, por exemplo, poderemos obter um resul- sua distribuição espacial, sob a forma de cores ou
de tonalidades muito variadas, complementadas,
tado aproximado.
muitas vezes, por sinais gráficos característicos. É
a faixa ideal para a caracterização dos denominados
32 WINTERBOTHAM, H . S.L. op. cit. mapas corocromáticos, onde o colorido ou os matizes
33 ESTADOS UNIDOS. Department of Defense. Glos- do preto são os mais variados. A ênfase da variação
sary of mapping, charting and geodetic lerms.
34 Mapa mural (: um documento duma finalidade es·
pedal representando uma extensa área - como um país ou 3ü BARBOSA, Rodolpho Pinto. A Questão do Método
um continente - o qual é, geralmente, exposto sobre uma Cartográfico. Revista Brasileira de Geografia, v. 29, n . 4, out.
parede. dez. 1967.

32
aparece invariavelmente no destaque das diferenças 3. 3 Os mapas segundo a escala
qualitativas de um fenômeno ocorrido numa área,
para o fenômeno que varia em outra área, e assim Conforme a escala em que são construídas,
por diante. Como exemplos de mapas temáticos as cartas e mapas podem ser divididos nestas três
de notação podemos citar os geológicos, pedoló- categorias: em escala grande, em escala média e
gicos e de uso da terra, fitogeográficos, etnográ- em escala pequena.
ficos,.oceanográficos e muitos outros.
Os mapas da relação estatística, ainda 3 . 3 . 1 Carta cadastral
que este objetivo possa sugerir que eles se afastam
do campo cartográfico, é uma questão apenas de Uma carta em escala grande, uma planta
forma. "Os elementos primários do tema que serão urbana, por exemplo, tem suas dimensões reais
elaborados cartograficamente, diz Barbosa, são ori- reduzidas à escala. É detalhada ao extremo, já que
ginários da técnica estatística, tanto no que se re· a escala o permite, e apresenta grande precisão mé-
fere aos elementos físicos, quanto aos humanos" 36 • trica. Analisemos, com toda atenção, a figura 28.
Aí está um pequeno trecho duma rua, na es-
Assim, se caracterizam, nesta área, os mapas de cala 1:5 000. A rua principal apresenta uma largura
densidade, os de distribuição por pontos, os de de 16 milímetros, ou seja, 8 metros, e a calçada I ,5
fluxo, os pluviométricos, etc. metro. Em cada uma das duas calçadas há uma
Aproveitamos a oportunidade para, nesta gama fileira de árvores, com uma distância média de 4
de mapas quantitativos, ressaltar os mapas em metros entre uma árvore e outra. Em seguida,
isolinhas 37. A isolinha, segundo o Dicionáno Mui· escolheremos uma parcela cuja área se pode medir:
tilingüe de Termos Técnicos Cartográficos, da Asso- 30,20 m~. Dentro desta parcela há uma construção
ciação Cartográfica Internacional, é a "linha for- de 12,90 m2, que a Prefeitura Municipal registrou
mada pelos pontos que possuem o mesmo vaior com o n. 0 159.
na representação dum fenômeno de valores con· Como se vê, é um tipo de escala ideal para as
cartas consagradas ao cadastro urbano. Mas as es·
tínuos".
calas grandes destinam-se também ao mapeamento
Deste tipo de mapa, todos com o prefixo grego de vários projetos de engenharia, como os de bar-
iso, há quase uma centena. São exemplos: os mapas ragens, túneis, estradas, etc.
isarítmicos, isobáricos, isotérmicos, em isoietas etc. Incluem-se entre as escalas grandes: I: 500,
O terceiro grupo temático tem , acima dt tudo, I : I 000, I :2 000 e l :5 000. Em qualquer uma se
a finalidade explicativa em que a representação pode construir uma carta urbana. A escolha da
de um fenômeno, em seu conjunto, é realizada escala depende duma série de fatores como: a) o
tipo de área urbana (sobretudo no tocante à den-
mediante as suas relações externas. Complemen-
sidade demográfica) ; b) a finalidade precípua da
tamos a explicação segundo, ainda, as palavras de carta; c) o orçamento do custo, já que, quanto maior
Barbosa. Diz ele que os mapas de síntese, que ex- a escala, mais caro o projeto.
pressam "o conjunto dos elementos de diferentes Não deve haver rigidez quanto ao ponto onde
fatos ou fenômenos", formam "uma abstração in- termina um tipo de escala e começa o outro.
telectual", "apresentando-os" (estes fatos ou fenô- Examinemos a escala 1: I O 000, exatamente a
menos) "de forma global" as. metade da última escala exemplificada acima como
Podem ser considerados de síntese os mapas escala grande. Dir-se-ia que não se trata duma es-
econômicos complexos, os de áreas homogêneas e cala grande. Deve, por conseguinte, haver uma re-
polarizadas, os morfoestruturais, os geomorfológicos, latividade quanto às possibilidades da aplicação
os históricos, etc. desta escala. Um centímetro, por exemplo, aí re·
presenta apenas cem metros no terreno. Como se
Com a figura 27 está exemplificado um desses vê, quanto detalhamento poderá ser representado
tipos de mapa. numa carta em I: 10 000! Ela poderá servir, per-
Ainda, relativamente a esta parte referente a feitamente, para o mapeamento de uma área in-
mapas temáticos, um tipo de representação carto- dustrial ou agroindustrial de alta importância
econômica, bem como para outro tipo de cadastro,
gráfica muito particular viria muito a propósito.
o rural. Já ela seria pequena, insignificante, no caso,
Trata-se do bloco-diagrama, muito usado pelos geó-
por exemplo, da Administração :Municipal do Rio
grafos. Contudo, em se tratando de assunto que diz de Janeiro precisar de uma boa carta de Copaca-
respeito a relevo, acha-se explicado no tópico 13. 5. bana!

3G Idem, ibidem. 3. 3. 2 Carta topográfica


37 OLIVEIRA, Cêurio de. Os mapas em isolinhas.
Revista Brasileira de Geografia, v. 30, n. I , jan.fmar. 1968. Quanto às escalas médias, as cartas que se pro-
as BARBOSA, Rodolpho Pinto. Op. cit. duzem, atualmente. neste âmbito. têm o s~guinte
200 o 400

Época
Glacial
Direção do Movi-
mento Glacial

Fig. 27 - O t~ma d~soe pequ~no mapa, qu~ <e liga à geografia física,
íd~ia de como ocorreu a invasão glacial du.-ante o plistoceno. Como oe
Existentes
••
·-
de um modo geral , e, mais particularmente, à geomorfología, dá uma
nota. encontram·sc, total ou parcialmente cobertas por uma imensa massa
de gelo, enormes regiões, como a Islândia, a Escandinávia, o Reino Unido, a l:nião So\'iética, a Polônia, a Alemanha, a Suíça, a França, a
Áustria, os Mar~• do Norte e Báltico etc. Obscr\'em·<e, igualmente. as direçõe< do mo\•imento glacial, bem como a.s atuais geleiras.

esquema: 1:25000, 1:50000, 1:100000 e 1:250000. deverão apresentar erro superior ao Padrão de Exa-
É dentro desta gama que se situam as cartas topo- tidão Cartográfico-Planimétrico estabelecido. 2.
gráficas. Noventa por cento dos pontos isolados de altitude,
Que é uma carta topográfica? É uma carta ela- obtidos por interpolação de curva de nível, quando
borada mediante um levantamento original, ou testados no terreno, não deverão apresentar erro
compilada de outras topográficas existentes de superior ao Padrão de Exatidão Cartográfico-Al-
escala maior, e que inclui os acidentes naturais e os timétrico estabelecido".
artificiais (a obra do homem), permitindo a de- Como, entre uma carta de 1:25 000 e outra de
terminação de altitudes, e, ainda, em que os aci- 1:250 000, há uma faixa considerável em que os de-
dentes planimétricos e altimétricos são geometri- talhes do terreno variam muito, já que, na última,
camente bem representados. qualquer distância medida é dez vezes menor do
Quanto à exatidão, o Decreto n. 0 89.817, de que a distância da primeira, as aplicações das cartas
20-6-84, que estabelece as instruções reguladoras topográficas variam, igualmente, na mesma pro-
de Normas Técnicas da Cartografia Nacional, assim porção.
determinou, no seu artigo 8.0 : "as cartas quanto Para melhor situar o problema, consideremos o
à sua exatidão devem obedecer ao Padrão de Exati- espaço físico, social, econômico e cultural do Brasil,
dão Cartográfica, PEC, o seguinte critério, abaixo in- que, como todos sabemos, é extremamente diversi-
dicado: ficado. Vamos dividir, agora, este espaço em quatro
1. Noventa por cento dos pontos bem defi- regiões fragmentadas, obedecidos os aspectos demo-
nidos numa carta, quando testados no terreno, não gráficos e sócio.econômicos.

34
Fig. 28 - Encruzilhada das ruas Uruguai e Bar:io de MC'<!IIita (cidade .do Rio de janeiro), extraída da Car ta do Di•t rito federal, em 1:5 000.
Notem·oe os detalhe•. inclu•ive o• trilho• de bonde, quando e•te tipo de tramporte <'ra ....,do. at~ a rl&ada de !70.

As folhas na escala de I :25 000, cujas dimen- públicas, com o fim de atender as necessidades eco·
sões geográficas são de 7 minutos e 30 segundos nômicas e sociais de milhões de pessoas. A menor
(de latitude e longitude), nós as aplicaríamos no parte das Regiões Sudeste e Sul bem conio enormes
mapeamento das áreas de forte densidade demo- áreas do Nordeste, Centro-Oeste e Norte necessitam
gráfica (digamos, acima de 50 habitantes por km 2 ), de uma ampla cobertura topográfica nesta escala.
onde as atividades industriais ou agroindustriais são
As folhas na escala de I :250 000, cujas dimen-
evidentes, e em que o desenvolvimento econômico
sões tanto podem ser de l por 1 grau quanto de
e social se acha em fraca aceleração.
l grau e 30 minutos de longitude por 1 grau de
As folhas na escala de I: 50 000, de 15 por 15 latitude (como é adotado atualmente no Brasil) ,
minutos, teriam uma justificativa de aplicação no iriam cobrir as áreas de atraso econômico e social
mapeamento das áreas de densidade demográfica evidente, de rala densidade demográfica, mas onde
entre 30 e 50 habitantes por km2, em que a agri- há planos governamentais em andamento, como é o
cultura intensiva é incrementada, e em que os as· caso, por exemplo do Poloamazônia.
pectos econômicos e sociais se acham em fase de
expansão. Para se ter uma idéia mais concreta, a As cartas em I :25 000 apresentam as caracterís-
maior parte das áreas das Regiões Sudeste e Sul se ticas esboçadas atrás, as quais exigem um mapea-
encontra dentro deste amplo esquema. mento mais condizente com a realidade social e eco-
nômica.
As folhas na escala de I: 100 000, de 30 por 30
minutos, seriam aplicadas no mapeamento das Estas escalas estão sendo, no Brasil, elabo-
áreas cuja densidade demográfica é compreendida radas mediante um levantamento original, ou
entre 10 e 30 habitantes por km 2. Em tais áreas, há melhor, são produzidas à base de cobertura foto·
um evidente predomínio da agricultura de subsis- gramétrica e controle terrestre plano-altimétrico.
tência, e é onde se fazem mister grandes obras São, portanto, consideradas cartas básicas, tendo

35
em vista o seu levantamento e as características da 3 . 3 . 3 . 1 A Carta Internacional do Mundo
precisão plano-altimétrica. (CIM) ao Milionésimo
O mapeamento em 1:250 000 em que o IBGE A primeira edição da carta ao milionésimo foi
se acha empenhado, e do qual já estão publicadas concluída em 1960. Contendo 46 folhas, é, até hoje,
mais de 160 (cento e sessenta) folhas de 1° 30' a única série que cobre todo o território brasileiro.
por 1o oo·. se origina da redução e generalização do Até 1946 as primeiras folhas foram inteiramente
levantamento básico em I : 50 000 e I: 100 000. Este compiladas de documentos cartográficos heterogê-
mapeamento, como se vê, é um recobrimento de neos, como poligonais isoladas, mapas diversos em
áreas já cobertas em escala maior, e que vem escalas diferentes, incluindo pouquíssimas folhas
alcançando os Estados do Rio de Janeiro, de São topográficas, sobretudo de autoria do Serviço Geo-
Paulo, do Espírito Santo e parte dos Estados do gráfico do Exército, mapas municipais, coordenadas
Paraná, de Santa Catarina, de Minas Gerais, de geográficas, pontos cotados, etc. O traçado das
Goiás, da Bahia, de Alagoas, de Sergipe, do Mato curvas de nível, necessárias para o colorido hipso-
Grosso, do Mato Grosso do Sul, do Amazonas e de métrico, só oferecia precisão em áreas onde haviam
Roraima. sido usadas as folhas topográficas, principalmente
Há circunstâncias em que se promove a ela- no Estado do Rio Grande do Sul. Fora daí, elas
boração de cartas- em escala média, com todas as davam apenas a direção geral das serras ou cor-
características topográficas, exceto no que diz res- dilheiras principais. A partir de 1946, com a
peito à altimetria, a qual é totalmente eliminada. cobertura fotográfica Trimetrogon , executada pelos
São as chamadas cartas planimétricas, oriundas, Estados Unidos, durante a guerra, a compilação
igualmente, de levantamentos topográficos ou foto- melhorou, ao mesmo tempo que a rede geodésica
gramétricos. plano-altimétrica avançava do sul, amarrada à rede
anteriormente executada pelo Exército.
3. 3. 3 Carta geográfica Em agosto de 1962, com a realização, em Bonn,
da Conferência Técnica das Nações Unidas, em que
Compreende as escalas pequenas, as cartas ou o Brasil enviou representantes, foram adotadas novas
mapas em I :500 000 e menores. A cartografia fran- especificações para a Carta Internacional do Mundo
cesa, em que pese a sua tradição e a excelência de (CIM) ao milionésimo. Uma segunda edição foi,
toda a sua produção, ainda usa a categoria de então, iniciada, e apresentou uma extraordinária
cartas corográficas, as quais colocam entre I :200 000 modificação quanto ao conteúdo cartográfico, veri-
e I :500 000. Como o termo corográfico, tanto na ficado com a publicação das novas 46 folhas em
geografia quanto na cartografia brasileira, está 1971 / 72.
inteiramente obsoleto, a partir de 1:500 000 cos- Como se vê, a CIM, pelo menos na parte que
tumamos nos referir a cartas geográficas. De acordo toca ao espaço territorial brasileiro, é uma carta
com o citado Dicionário da Associação Cartográfica derivada, isto é, não é elaborada mediante um le-
Internacional, é uma carta elaborada numa escala vantamento original. Deriva de elementos carto-
suficientemente pequena para permitir a apresen- gráficos diversos. As folhas, porém, que tenham sido
tação dos traços gerais duma região, dum conjunto elaboradas por redução e generalização de um con-
de regiões ou dum continente. A representação pla- junto de folhas topográficas (básicas) . podem ser
nimétrica é feita através de símbolos que ampliam consideradas, modernamente, topográficas, muito
muito os objetos correspondentes, alguns dos quais embora a escala 1: I 000 000 pertença a outro esca-
muitas vezes têm que ser bastante deslocados. A lão cartográfico, o que não importa, uma vez que
representação altimétrica é feita através de curvas todos os acidentes naturais e artificiais, da plani-
de nível, cuja eqüidistância apenas dá uma idéia metria, bem como os acidentes altimétricos, se
geral do relevo, e, em geral, lhe são empregadas acham geometricamente bem representados, ainda
cores h i psométricas. que resumidos, isto é, selecionados pela generali-
A partir de "1940, foi iniciada, pelo IBGE, a zação. A precisão não diminui. Apenas é compa·
produção de uma Carta do Brasil em 1:500 000, em tível com a escala e com a utilização oferecida pela
folhas de 3 graus de longitude c 2 de latitude, nova carta.
cobrindo a área de maior densidade demográfica
do país. Como estávamos empenhados no projeto 3 . 4 Os atlas
da Carta do Brasil ao milionésimo, tinham aquelas
folhas o propósito de servir de base a esta carta. O Dicionário Cartográfico registra, sobre este
Onde haviam sido elaboradas quatro folhas em tópico, o seguinte: "Atlas. l . Segundo a lenda, o
1:500 000, surgia dali uma folha em I: 1 000 000, rei da Mauritânia, filho de Júpiter. Como houvesse
por redução fotográfica. Depois que elas desem- negado a hospitalidade a Perseu, este mostrou-lhe
penharam o seu papel. e que a produção milioné- '' cabeca de Medusa, e metamorfoseou-o em mon-
sima foi avançando, a carta em 1:500 000 foi eli- tanha. 'Os mitólogos imaginaram que Atlas havia
minada. sido condenado a sustentar o Céu com os ombros.

36
2. Atlas. Coleção ordenada de mapas, com a 3. 4. 2 Os atlas de referência
finalidade de representar um espaço dado, e expor
um ou vários temas". No tempo em que o estudo da geografia era
Na última definição, o termo foi criado por puramente descritivo, o atlas que lhe dava suporte
Mercátor, na segunda metade do século XVI, com constituía-se, via de regra, de uma obra de detalhe
a sua obra extraordinária Atlas sive Cosmographicae toponimico de excelente gravação em metal, se-
Meàitatione de Fabrica Mundi et Fabricati (Atlas gundo propiciava a época. O exemplo talvez mais
ou meditações cosmográficas sobre a construção do fascinante deste tipo de representação cartográfica
mundo e a figura do construído) . foi o famoso Atlas de Stieler, editado na Alemanha,
no século passado. Outro que teve muita fama no
Antes da denominação, inaugurada pelo célebre Brasil foi o de Justus Perthes, igualmente alemão.
cartógrafo belga, as palavras tradicionais eram geo-
O maior elogio de um atlas destes constituía,
grafia, teatro e espelho. Ptolomeu, como se sabe, àquele tempo, em se afirmar: "Qualquer aldeia
notabilizou o termo Geographia; Ortélio, em 1750, do mundo se encontra aí representada".
imprimiu o seu Theatrum Orbis Terrarum (o
teatro da Terra); e quanto ao espelho, o mais fa· Com o advento da geografia moderna, os
moso trabalho se deve a Lucas J ansz W aghenaer, atlas passaram a expor, de maneira bem elaborada,
que construiu o Spigel der Seefart (espelho do os fenômenos geográficos. O próprio Vidal de La
marinheiro), gravado em 1584. Outro que usou Blache, autor da Geografia Universal, publicou o
esse termo foi Gerard de Jode, com o seu Speculum seu Atlas, já fugindo à era dos atlas puramente
orbis terrarum (espelho da Terra) , publicado em toponimicos.
Antuérpia, em 1578. Nos últimos anos surgiram atlas de fenômenos
geomorfológicos que, além de originais, são muito
3. 4. 1 Os atlas nacionais úteis do ponto de vista científico. O cartógrafo
americano Armin Lobeck 40 expõe uma série de fe-
Acabada a fase dos atlas do mundo, surgiram nômenos geomorfológicos verificados em toda a
os atlas nacionais em que os primeiros que se sali· Terra, de imenso valor para os estudos da geografia
entaram foram os cartógrafos ingleses (Christopher física. Maior, porém, e mais ambiciosa obra no
Saxton), franceses (Maurice Bouguereau) e os ita- gênero é o A tias des Formes du Relief 41 , editado
lianos (Antonio Latreri). Desde aqueles tempos na França, em 1956, com excelentes mapas, dese-
até os dias de hoje, os atlas nacionais vêm evoluindo, nhos, fotografias aéreas, muitos dos quais podem
e hoje ocupam um lugar todo especial na geo- ser visualizados através de anaglifos.
grafia e na cartografia da maioria dos países. "O No que toca aos atlas de referência, não sendo
prestígio dos Atlas Nacionais foi consolidado em propriamente didáticos, do ponto de vista geo-
razão de poder sintetizar todos os conhecimentos gráfico, constituem, entretanto, um veículo de in-
existentes do espaço geográfico dos respectivos países, formação geográfica geral. E quanto à parte topo-
possibilitando a fácil compreensão de fatos e fe- nímica, se baseiam num quadriculado de referência
nômenos físicos, econômicos e sociais de suas inte- por meio de coordenadas alfanuméricas que faci-
rações, bem como de sua comparabilidade" 39 •
litam a localização de todos os detalhes cartográficos
Atualmente, há obras de excepcional valor, naturais e culturais.
como os atlas alemães, franceses, suíços, ingleses, etc.
O Brasil sempre se preocupou com o assunto. 3.4. 3 Os atlas complexos
Haja vista o Atlas do Império do Brasil (1868), de
Cândido Mendes de Almeida, e o Atlas do Brasil A maior autoridade em atlas, no IBGE, foi
( 1909) , do Barão Homem de Mello. Em 1966, inici· Rodolpho Pinto Barbosa, onde ali se ocupou do
ou o IBGE, através da antiga Divisão de Geografia, assunto, com competência e originalidade, por
o Atlas Nacional do Brasil, publicando, em folhas muitos anos. A elaboração desta variedade de atlas,
soltas, um conjunto que enaltece a capacidade cien- explica ele que, "para fins de planejamento do tipo
tífica dos geógrafos do IBGE. Dividido em duas complexo, isto é, um determinado espaço geográfico
partes fundamentais (o Brasil Geral e o Brasil
exposto de forma cartográfica abrangendo os fatos
Regional), trata dos aspectos político-administra-
tivos, físicos, demográficos, econômicos e sócio-cultu- e fenômenos físicos, humanos e sócio-econômicos, na
rais. mais ampla gama de assuntos setoriais e integrados,
é relativamente recente no Brasil" 42,
Além do Atlas Nacional do Brasil, os atlas
estaduais vêm merecendo um destaque especial.
Citem-se, com justiça, o Atlas do Ceará, o Atlas de 40 LOBECK, .-\rmin. Things that maps do11't te/I us.
Rondônia, o Atlas do Amapá e outros que honram 41 I,:'I;STITUT Gl:OGR:\PHIQt.:E N.-\TION.-\L. Atlas
a geografia e a cartografia temática brasileira. des formes du relief.
4!! BARBOSA, Rodolpho Pinto. O Sistema de atlas
complexos de planejamento do Brasil. Revista Brasileira
39 Idem, ibidem. de Geografia. ,., 39, n. 3, jul./set. J9ii.

37
No Estado moderno, em que as políticas de Behaim (1459-1507), cosmógrato e navegador ale-
governo de enorme complexidade e de grandes mão, que o executou no ano de 1491. Para a sua
investimentos, em face de problemas sócio-econô- representação cartográfica, aproveitou um dos mais
micos, culturais e de meio-ambiente, vêm desafiando recentes planisférios de então, o de Henrique Mar-
a capacidade de sua resolução de forma cada vez tellos, atualizando-o com as últimas informações
mais técnica, os planejamentos têm que se armar das viagens portuguesas na África. '
de métodos e diretrizes próprios, no sentido de A partir daí, passaram os globos a ser conhe-
focalizar dois problemas de forma bem mais cien- cidos, e os mais eminentes cartógrafos da época
tífica. "Visando a este objetivo, os atlas complexos construíram diversos deles, não só geográficos, como
adquiriram grande importância, pois permitem celestes. Mercátor construiu o seu, em 1541, para
uma visão integrada dos fatores componentes dos aplicação náutica, incluindo uma descrição deno-
processos de desenvolvimento e de seus problemas, minada Libellus de usi globi, em que explicava,
ao mesmo tempo que fornecem subsídios para o pormenorizadamente, a forma correta de usá-los.
subseqüente planejamento econômico, setorial e Um dos mais famosos fabricantes de globos
integrado. Por isso, hoje, consideram-se os atlas foi o franciscano Vincenzo Maria Coronelli, cos-
desse tipo como um pré-investimento que resultará mógrafo oficial de Veneza. A maioria de seus globos
em diminuição de dispêndios nos investimentos media um metro de diâmetro. A sua obra-prima,
diretos, evitando erros, e direcionando-os no sentido entretanto, constou de dois atlas, um terrestre e
mais econômico" 43. outro celeste, de cerca de quatro metros de diâ-
Desta maneira, este tipo de atlas tem que metro, os quais foram executados para Luís XIV.
abranger todos os aspectos geográficos, físicos e cul-
turais da representação topográfica, dando um tra-
3 . 5. 2 Sua construção
tamento metódico e sucinto dos fatos e problemas
nacionais, mediante os mapas temáticos e especiais, Um globo pode ser definido como uma repre-
de base perfeitamente topográfica. Além do espaço sentação cartográfica da superfície terrestre, ou de
territorial nacional, ou de conjunto, os mapas têm outro astro, ou ainda do espaço celeste, através da
que descer a certos detalhes regionais caracterís- utilização de símbolos de referência, além do colo-
ticos, e daí para o plano estadual e, finalmente, rido.
para as áreas das grandes metrópoles. Como é fácil de deduzir-se, trata-se da melhor
Os atlas que já vêm cuidando desses aspectos, maneira de representação da Terra, devido à simi-
no Brasil, são: o Atlas Nacional do Brasil, o Atlas litude entre a forma do planeta e o seu modelo
Geográfico de Santa Catarina, o A tias de Rondônia, reduzido. De grande utilidade para certos estudos
o Atlas do Amapá, o Atlas do Ceará, o Atlas de geografia e cosmografia, tem, porém, a desvan-
Geográfico da Guanabara etc. tagem de não poder oferecer detalhes topográficos,
uma vez que sua escala, por maior que seja, em
termos práticos, é sempre bastante pequena, em
3 . 5 Os globos comparação com a cartografia topográfica.
Há, modernamente, globos de grande valor
3. 5. 1 Breve histórico
geográfico, inclusive com a representação em ter-
Foram os filósofos gregos, a partir do V século ceira dimensão, do relevo terrestre. E há outros de
a.C., que começaram a duvidar das teorias, àquele extrema beleza, como os luminosos, executados com
tempo em voga, sõbre a forma achatada da Terra material plástico translúcido, iluminados interior-
(lembremo-nos de que Anaxímenes de Mileto e mente. Para a construção de um globo dá-se, em
outros costumavam apresentar o mundo sob a forma última análise, uma espécie de operação de retorno.
de um plano quadrado, apoiado no espaço por ar Expliquemo-lo: quando se constrói um planisfério,
comprimido). todas as medidas da superfície do globo terrestre
Já os seguidores de Pitágoras (séc. VI a. C.) são transportadas para uma superfície plana, isto é,
acreditavam que a Terra era uma esfera, e que a para a carta. Como está explicado no capítulo 7,
sua órbita era circular, uma vez que os círculos temos que transferir tudo o que existe numa super-
formados por essa órbita eram "perfeitos". Um fície curva, que é a Terra, para uma superfície
século mais tarde, Aristóteles, de senso mais obser- plana, que é o mapa.
vador que teórico, decidiu que a Terra era "natu- Para a representação cartográfica dum globo,
ralmente esférica". E concluiu: "Além de tudo, cada as etapas podem ser, assim, esquematizadas:
eclipse da Lua não mostraria uma linha divisória a) Determinar as dimensões do globo, esco-
da forma pela qual nós a vemos". lhendo-se, de preferência, uma escala não fracio-
Como se sabe, a glória de apresentar, pela pri- nária;
meira v~z. um globo moderno, coube a Martinho b) Eleger o planisfério que irá fornecer a base
da representação cartográfica (seja, por exemplo.
43 Idem, ibidem. um mapa na pro,ieção cilíndrica de Mercátor) :

38
c) Construir uma projeção globular, na mesma
escala do globo, a qual terá unicamente um paralelo
reto (o equador), sendo os demais curvos - cur-
vaturas que vão crescendo até os pólos;
d) No que toca às extensões em latitude, formar
um determinado número de fusos ou gomos (di-
gamos doze) , cada um centrado num meridiano
reto, conforme indica a figura 29; quanto às re-
giões polares, representá-las sob a forma de dua~
calotas, como bem mostra a figura, as quais de-
verão ser limitadas pelos paralelos situad:>s entre
70 e 800;
e) Transferir toda a representação cartográfico•
do planisfério para a nova projeção;
f) Imprimir a cores o novo modelo;
Fip;. 29 - 1\ fim de ser colado it esfera. ach:~·M! pronto o mapa da
g) Recortar os fusos e as calotas; Terra recort:~do em 12 p;omo•. correspondendo, cada um, a tr~s me·
ridianos, os quai!' se coincidirão, faltando, para a cobertura da c~fera .
h) Colar tudo no globo 44 • :1~ dua~ ralot:• ~ pol:tr<'s.

44 Ptolomeu, já no 11 século, imaginava a possibilidade da construção de um globo, c em sua~ recomendações advertia:


"A linha equatorial deve ser graduada, e a numeração precisa ser iniciada, não no Meridiano de Alexandria, mas no meri-
diano mais ocidental, _que é (sic) aquele que passa pelas ilhas Afortunadas (que ele denominava Fortunato), as quais
se situam no Arquipélago do Cabo Verde". e concluía: "Daí em diante, trata-se apenas de salPicar cada lugar do globo
conforme a sua latitude e longitude, determinada previamente de acordo com um estudo comparativo dos diários de via-
jantes, dos contos de carochinha e das histórias de marinheiros fanfarrões". (ver BROWN, Lloyd A. The story of maps).

39
4. Séries cartográficas
Quando se tem que mapear, sistematicamente, unidade geográfica ou política, na mesma escala,
uma unidade geográfica, como um estado, um país, mas cada série, embora representando a mesma
um continente ou o globo terrestre, numa escala unidade, varia quanto ao assunto. Exemplo desse
de tal magnitude que se torna impossível a repro- tipo de série é o Mapa do Brasil em I :5 000 000,
dução cartográfica dessa unidade numa única folha em uma folha de aproximadamente um metro
impressa, tem-se que recorrer ao método de dividir quadrado, composta de quatro séries:
aquela área geográfica em folhas de formato uni- a) em cores básicas:
forme na mesma escala. Tais são as séries de folhas. b) político:
c) físico:
4 .1 F01·matos d) escolar.

O melhor exemplo duma sene cartográfica é As três primeiras dispõem do mesmo fundo
a Carta do Brasil na escala de I: I 000 000, em --!6 g·cogTáfico. ,\ série em cores b.ísicas, destinada
principalmente para base de estudos gerais, é im-
folhas de formato 4° X 6°, a qual, por sua vez.
integra a Carta Internacional do Mundo (CIM) ao pressa em apenas três cores (preto, azul e vermelho).
O mapa político acrescenta, além daquelas cores,
milionésimo. Trata-se, assim, duma série mundial.
O seu caráter internacional resulta de um corpo outras que mostram o seu caráter político fede-
regular de especificações, a fim de que cada país rativo, com a divisão de estados e territórios. E o
tome parte dessa série, obedecendo a esse conjunto físim, que em substituição das características, expõe,
por meio de cores, sobretudo, e por nomes, todo o
de especificações.
aspecto orognífico brasileiro, os dois grandes pla-
As outras séries atualmente em progresso são naltos e as principais planícies.
as quatro topográficas para o mapeamento regular
sistemático do Brasil: A última série difere um pouco das_ três pri-
meiras, porque o fundo geogrMico é ma1s genera-
I :250 000 lizado, a fim de facilitar a visão do aluno a uma
l: 100 000 certa dist:inria .
I :50 000
I :25 000 4. 3 Titulos c iudices de referência
Esta última série pertence ao mapeamento re- Nos mapas comuns, em folhas individuais, o
gular sistemático, e vem sendo elaborada sempre título, legenda, etc. são colocados invariavelmente
que possível. no interior da borda da folha. Nas séries de folhas,
A primeira série é cortada no sentido da lati- o título de cada folha fica fora da moldura e,
tude, em I 0 , c na longitude em l 0 ·30'. Sendo uma em geral, na sua parte superior. Vejamos, assim, a
escala quatro vezes maior do que I: I 000 000, é cabeça da folha: à esquerda está a denominação
fácil \'erificarmos que numa folha de 4° X 6° geral da carta. Exemplo: Carta do Brasil em
se encerram 16 folhas de I: 250 000. I: 50 000 ou Carta Internacional I: I 000 000 inva-
A segunda série é dividida em folhas de ri:ivel em cada folha. No centro fica o seu título,
30' X 30', as quais compõem um conjunto de 6 em maiúscula e, geralmente, em letra aberta.
folhas para cada folha de I :250 000 e de 96 folhas O título da folha é determinado pela caracte-
para cada unidade em I: I 000 000. rística topográfica que mais avulta no âmbito da
A terceira (I :50 000), que é o dobro da se- quadrícula. Desta maneira, escolhe-se, preponde-
gunda, e que é fragmentada em 15' X I5', precisa rantemente: a) a localidade de maior população;
de um conjunto de 384 folhas para perfazer uma b) o curso d'água mais importante; c) a montanha
única folha de I: l 000 000. ou pico mais alto ou mais célebre. E assim por
diante.
4 . 2 Séries de cartas À direita fica o índice de referência, este
aspecto não é o de mais fácil solução, devido, no
Ao contrário das séries de folhas, as senes de caso de países de grande extensão territorial, como
cartas representam um conjunto de cartas de uma o Brasil. a União Soviética. os Estados Unidos. a

41
Austrália etc., à necessidade da referência a centenas mostra na mesma latitude, mas não em igual lon-
ou milhares de folhas para cada série. Os diversos gitude.
países adotam, via de regra, a codificação alfanu- As folhas topográficas, segundo o critério ado-
mérica. A Diretoria do Serviço Geográfico usa para tado pelo IBGE, têm toda a sua codificação baseada
a escala de 1:100 000 um código numérico que vai na CIM. Para isso, estão sujeitos a divisões e sub-
de 1 a 3 036, número este que representa a quanti- divisões de cada folha de 1: 1 000 000.
dade aproximada de folhas calculada, para a co- Visando à numeração das folhas na escala de
bertura topográfica do Brasil nessa escala. 1:250 000, e visto que dentro de uma folha da CIM
A Carta Aeronáutica Mundial (WAC), da qual se localizam 16 folhas de 1° X 1°30', procede-se
o Brasil também participa, usa o sistema numérico. esta divisão sem nenhuma dificuldade. No entanto,
O IBGE prefere empregar, como base, ou ponto esta operação terá que ser realizada com a ante-
de partida, o índice da CIM, que é o seguinte: como visão dos índices que serão necessários às folhas em
cada folha desta carta abrange a latitude de quatro 1: I 00 000 e 1:50 000, o que não torna a referida
graus, cada faixa de latitude é representada por divisão tão simples assim. De acordo com o esquema
duas letras, N ou S, conforme a situação no norte apresentado na figura 31, a folha Araçatuba, por
ou no sul do equador. Em seguida, junta-se a letra exemplo, em 1:250 000, cujo índice é SF-22-X-C,
A, B, C e D, etc., de acordo com as faixas que deduzimos logo de qual folha da CIM ela participa,
partem, de quatro em quatro graus, do equador. bem como o retângulo a que pertence.
Assim, a folha Rio de Janeiro, que fica entre as
latitudes de 20° e 24°, recebe as letras SF. O pre-
sente esquema pode ser bem entendido através da
figura 30. - t-A I B A B- r---
I I

v I X
I
- -c D c D ---

- -A I B I
A B -
I
SI-
y
l u•
z
I I 11
- -c D c , D '----

IV i v VI

Fig. 30 - Aí estão as 46 folhas da CIM, cobrindo a área territorial


EB I
4

Fig. ~I - O retângulo grande, acima. representa uma folha qual·


quer da CIM, a qual está dividida em 16 retâ ngulo• menore•. i•to é,
16 folha• em I :250 000. Araçatuba (SF-22-X·C) correspondc no 7.~
retângulo contado da esquerda para a -direita e de cima para baixo.
brasileira. Os índices de rder~ncia sedo explicados no capitulo 4. Cada uma dessas folhas em I :250 000 é dividida em 6 quadrados, isto
é, 6 folhas em I :100 000. Londrina (SF-22-Y·D-111) corresponde ao
78.• quadrado, na mesma ordem (salientado em hachura) . Cada folha
dessas é, por sua vez, dividida em 4 outro._ quadrados, isto é, 4
Para a referência das longitudes, é iniciada a folhas em I :50 000. A outra folha (também denominada Londrina
numeração das faixas de seis graus, a partir de {SF-22·Y-D·lll·4) corresponde à 4.• subdivisão do referido 78.• qua·
drado, conforme o esquema abaixo.
Greenwich, no sentido oeste-este, sem interrupção
relativamente ao antimeridiano, até fechar o círculo.
Para as folhas em 1: 100 000, percebe-se agora
Deste modo, a mesma folha Rio de Janeiro, que
que em cada folha de 1:250 000 cabem seis folhas
se situa nas longitudes 42° e 48° (oeste de Green-
wich) , é complementada com a numeração 23. O na escala em causa. Logo, é preciso a subdivisão
em seis quadrículas, o que é muito simples, mas,
seu índice completo é, pois, SF-23. As folhas Belo para facilitar a outra escala que virá logo depois,
Horizonte e Iguape, que se situam, respectivamente,
1:50 000, a numeração dessas seis folhas é feita em
acima e abaixo do Rio de Janeiro, têm como índi-
algarismos romanos. Tomemos, como exemplo, a
ces, SE-23 e SG-23. Como se vê, pertencem a latitu·
folha em I : I 00 000, Londrina. O seu índice é
des diferentes, rll.as ficam na mesma longitude. Já
as folhas Paranapanema e Vitória, colocadas, res- SF-22-Y-D-III.
pectivamente, a oeste e a este do Rio de Janeiro, No caso das folhas em 1:50 000, que têm o
correspondem aos índices SF-22 e SF-24, com o que dobro da escala de 1: I 00 000, vê-se que esta última

42
escala abrange quatro folhas em l :50 000. Logo,
tem-se que numerar as quatro quadrículas corres-
pondentes, procedendo-se, desta vez, com algarismos
arábicos. Temos, assim, como exemplo desta série.
a folha Macaé, cujo índice é SF-24-V-A-IV-2.

4. 3 . I índice de nomes
No que diz respeito à Carta Internacional do
Mundo (CIM) ao milionésimo, cada folha traz
um tipo de índice organizado de tal modo que,
toda vez que se precisar da localização rápida de
um topônimo, por meio de duas coordenadas alfa-
numéricas, se poderá encontrar o nome e o símbolo
do detalhe desejado pelo usuário.
Desta maneira, acham-se sistematicamente dis-
tribuídas nas margens \erticais da folha as letras
minúsculas a, b, c, d, e, f, g e h. E, nas margens
horizontais, os seguintes números (em romano) : I.
li, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI e XII .
A conexão de uma dessas letras com o seu
respectivo número resulta na visualização de uma
pequena quadrícula de 30 minutos (aproximada·
mente 5 X 6 em) , onde se torna fácil a identificação
da característica procurada.
Como exemplo, destaquemos, ao acaso, no
índice de Topônimos 4 ü do IBGE, o seguinte:
Atafona (povoado), Atafona (farol) SF-24 - d-II
- RJ. Esta indicação nos aponta a folha Vitória
(SF-24), na qual, mediante as coordenadas d e Il,
pequena quadrícula de meio grau nos surge aos
olhos, onde nos deparamos com os dois nomes Fig. 32 - Se o lndirc de Topônimos fornece, em relação a Atafona,
as coordenadas d c 11, torna-se fácil encontrarmos o referido povoado
Atafona, referentes, respectivamente, aos símbolos c farol, uma vez que d corrcspondc ao eixo das absci~~a~ c 11 ao
de povoado e de farol, localizados na margem di- eixo das ordenadas.
reita da embocadura do rio Paraíba, no Estado do
Rio de Janeiro, e cujas coordenadas geográficas, as verdadeiras chaves para a leitura e interpretação
uma vez estimadas, nos dão, aproximadamente, da carta.
2l030' de latitude e 41001' de longitude. A figura 32 A mais minuciosa perquirição relativa a deta-
ilustra melhor a sua localização. lhes planimétricos acha-se aí, por meio dos símbolos
e seus títulos correlatos, perfeitamente pqssível, em
qualquer parte da folha, aliada não sd à escala
4.4 Informações marginais numérica, como às relações diretas de distâncias
oferecidas pela escala gráfica. Quanto ao relevo do
Segundo o nosso dicionário, chamam-se infor- terreno, a representação matemática das curvas de
mações marginais ao "conjunto de informações nível fornece, com toda a segurança, uma interpr~­
padronizadas e de natureza variável, por meio de tação da maioria dos fatores de que se quer inferir.
notas explicativas, símbolos e gráficos impressos nas É preciso que se afirme, sem qualquer receio
margens de mapas e cartas. Tais dados destinam-se de equívoco, que para se ter um conhecimento
a auxiliar o usuário a identificar, interpretar e suficiente da área cartografada numa folha de
determinar a precisão e a fidelidade do material 1:50 000, por exemplo, é preferível estu<far durante
cartografado, bem como fornecer-lhe outras infor- uma hora os seus 750 km2 aí repre~ntados do
mações correlatas" 46, que gastar uma semana de cansativas idas para-lá-e-
A definição é sucinta em relação a uma vasta para-cá, no respectivo terreno, a não ser que se
cópia de indicações sumamente preciosas ao usuário. precise ir lá para um determinado assunto muito
É por meio das informações marginais que se obtêm pormenorizado e perfeitamente localizado.
Quanto à representação topográ~ica estrita-
•~ IBGE. Jndice de topônimos da Carta do Brasil ao mente quantitativa, as vantagens que uma destai
milionésimo. cartas nos oferecem superam, de longe, um
46 OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário Cartográfico. período de intensas medições, duran~e um ano,

43
tempo este em que teríamos que passar diretameme A representação do rclrvo mostra as curvas de
naquele terreno representado por esta carta. nível mestras. auxiliares e aproximadas (em linha
Passemos agora a examinar o rodapé duma interrompida) , e as curvas batimétricas, além de
folha qualquer numa escala pequena. Peguemos, por um desenho convencional para os recifes. Como se
exemplo, a folha Fortaleza (SA-24) da Cli\1. É trata duma carta em cores hipsométricas c batimé-
claro que, agora, as informações são incomparavel- tricas, representa-se, igualmente, o esquema desse
mente mais generalizadas do que as de uma folha colorido, em faixas coloridas de cada cor ou tom.
de l :50 000. Observe-se, antes de tudo, que as infor- acima e abaixo de O metro (o nível do mar) .
mações marginais se acham em duas línguas: por- O item denominado "Ponto de Referência", que
tuguês e (por convenção) inglês. É preciso não corresponde a certos tipos de construção, de aspecto
esquecermos que se trata, neste particular, duma conspícuo, acha-se, assim, organizado: 1.0 - mina;
carta internacional. 2. 0 - aeroporto internacional; 3.o - outros aero-
Vejamos, em primeiro lugar, as localizações. portos; -!. 0 - farol (marítimo ou aéreo) ; s.o - usin;~.
São previstas oito ordens: a 1.a - metrópole de hidrelétrica (superior a 5 000 kW) : ().o - ruína.
população acima de l 000 000 de habitantes; a missão, templo ou monumento.
2.a - cidade de 200 000 a l 000 000 de habitantes:
Por fim, no que toca a limites, representam-se
3.a - cidade de 50 000 a 200 000 habitantes: ·l.a -
as lindes internacionais, as divisas interestaduais e
cidade de 20 000 a 50 000 habitantes: s.a - cidade
uma seleção de marcos de fronteira de certa im-
de 5 000 a 20 000 habitantes; 6.a - cidade ou vila de portância.
menos de 5 000 habitantes; 7.a - o povoado: s.a -
a propriedade rural, núcleo e lugarejo. Ainda, nesse rodapé de cada folha, ll<i três
Em seguida vem a rede viária terrestre - fer- pequenos diagramas cartográficos: 1.0 - a locali-
rovias e rodovias. Para a primeira categoria hú zaçiio da folha no Território Nacional; 2.0- o esque-
cinco ordens: 1.a - a via dupla ou múltipla, com ma desta folha, na sua articulação com as adjacentes:
bitola larga; 2.a - a via dupla ou múltipla, com 3.0 - a mesma folha, mais ampliada, fornecendo
bitola normal; 3.a- a via simples, com bitola larga; os elementos b:ísicos do controle (pontos astro-
4.a - a via simples, com bitola normal; 5.a - a nômicos, levantamentos em :írea (terrestre ou foto-
ferrovia de bitola estreita. São previstos. ainda, gramétricos) e as poligonais (quando estas têm
neste tipo de representação, os túneis. importância na folha) .
Quanto às rodovias, são oito as variedades de Como não poderia deixar de ser informado,
convenção: t.a- a auto-estrada; 2.a - a auto-estrada relativamente a cada folha, há a necess:íria relação
em construção; 3.a - a estrada principal (nacional de documentação (cartogrMica e outras) a qual
ou estadual) pavimentada; ·ta - a estrada principal foi usada como elemento básico ou complementar.
(nacional ou estadual) permanente: s.a - a estrada .\lém da escala numérica, estão registrados três
principal (nacional ou estadual) temporária; 6.a - tipos de escala gr:ífica: a t.a em quilômetros, com
a estrada secundária; ?.a - outros tipos de estradas, divisões em lO km e subdivisões em I km: a 2.a em
como a carroçável; s.a - o caminho ou picada.
milhas marítimas, com divisões em 10 mi. e sub-
Para a hidrografia, as referências são também divisões em I mi.; a 3.a em milhas terrestres. igual-
em número de oito: 1.a - o curso d'úgua intermi- mente com divisões em I O mi. e subdi\·isões em
tente; 2.a- o curso d'água permanente; 3.a - o lago 1 mi.
(lagoa, açude etc.) : 4.a - a queda-d'água: s.a - os
rápidos (corredeiras) ; 6.a - o extremo de nave- Por fim, algumas informações são prestadas no
gação fluvial, acima de 250 toneladas de carga; referido rodapé: 1.a o sistema de projeção; 2.a o
?.a - a barragem; s.a - o porto (marítimo, lacustre órgão executor da cana; 3.a o número e a data da
ou fluvial) . edição; 4.a o estabelecimento impressor da carta.

44
.5. Escalas
Antes de entrarmos na definição e explicação área de Nuremberg, do princípio do século XV,
de escala, julgamos necessário o conhecimento de que a figura 33 ilustra, com uma escala em milhas
quando ela apareceu nos mapas, e, sobretudo, as alemãs comuns.
razões do seu surgimento. Ora, percebe-se logo que
antes de se ter as dimensões de uma grandeza, é
supérfluo referir-se a qualquer medida desta gran-
deza.
Até o IniCIO dos grandes levantamentos, no
final do século XVII, as dimensões dos continentes
eram praticamente desconhecidas. É bem verdade
que havia mais ·de cem anos, antes da Era Cristã,
Eratóstenes calculara o tamanho da Terra. Mas as
dimensões das grandes massas continentais eram
pouco consideradas pelos cartógrafos. A sua pre-
ocupação maior era com a forma. E, além do mais,
os mapas daqueles tempos representavam sempre o
mundo todo (habitado) , como o theatrum orbis
terrarum. A era dos mapas regionais só iria surgir
mais tarde.
Tomando como exemplo a Geographia de
Ptolomeu, pelo menos as suas últimas edições, de
1482 e 1513, não traziam nos seus planisférios ne-
nhuma referência à escala. A única referência era
sobre os graus (mais ou menos de dez em dez)
de latitude e longitude.
Eram raros os mapas impressos do século XVI
que representavam uma escala. O Mundo da Cos-
mographia de Peter Apian, de 1545, igualmente,
não mostrava nenhuma escala. Nem, por exemplo,
a planta da cidade de Paris, de 1550, de Sebastião
Münster, em escala grande, para a época, trazia
qualquer referência de distância. As poucas exce-
ções: o mapa do sudeste da Europa, de 1566, de
autoria de Jacopo Gastaldi, o mapa da Rússia, de
Ortélio, de 1570, O Espelho do Marinheiro, de
Waghenaer, de 1558, o mapa da Virgínia, de Teo-
doro de Bry, de 1590, as Regiões Árticas, de 1598,
de Willem Barents e alguns outros. Fig. 33 - O pequeno mapa representando os arredores de N urcmberg
moura uma escala gráfica em 25 milhas alem~s comuns, subdividida~
Já no século XVII, a escala apareceu com mais de !i em 5 milhas.
freqüência . Mesmo assim ainda havia omissões,
como no caso do mapa da América, de 1635, de Somente em fins do século XVII, quando
Blaeu, ainda que fosse a representação de um conti- tiveram início as medições geodésicas nacionais, as
nente, e não de um planisfério. escalas não mais deixaram de ser representadas.
Vale, pois, ressaltar, o caso do mapa da América Quanto à definição de escala, vem a ser a
do Sul, ainda de 1596, de Linschoten,47 em que relação entre a distância de dois pontos quaisquer
do mapa com a correspondente distância na super-
há duas escalas: em milhas alemãs e em léguas
fície da Terra. Traduzida, em geral, por uma fração,
espanholas. Interessante é o mapa rodoviário da significa que essa fração representa a relação entre
as distâncias lineares da carta e as mesmas distâncias
47 Idem, ibidem, pág. 225. da natureza, ou melhor: é uma fração em que o

45
numerador (invariavelmente a unidade) representa de zero à esquerda que o segmento indica cinco
uma distância no mapa, e o denominador a dis- quilômetros, com subdivisões de um quilômetro. A
tância correspondente no terreno, tantas vezes finalidade desta última parte é a de podermos en-
maior, na realidade, quanto indica o valor repre- contrar aproximações nas medições que tivermos
sentado no denominador. Se, por exemplo, a escala que fazer.
é I: 20 000, concebemos que qualquer medida linear
na carta é, no terreno, 20 000 vezes maior. Se, na ESCALA 1: 250 000
mesma carta, tomarmos uma distância, por exemplo, 10 15 OutiOmetros

de dois centímetros, esta corresponderá, no terreno, 10 M1lhas terresHes

a 40 000 centímetros, que são iguais a 400 metros.


Fig. 34 - Nas folhas em I :250 000, do IBGE, costuma·sc representar,
além da escala gráfica em quilômetros, a escala em milhas terrestres.
5.1 Classificação
Tentemos uma experiência: no mapa mural do
As escalas podem ser classificadas em numéricas Brasil, mais comum, que é o de escala l :5 000 000,
e gráficas. No primeiro caso, é a que vem repre- e que dispõe, igualmente, da escala gráfica, vamos
sentada pelo enunciado da própria fração. São descobrir a distância em linha reta, por exemplo,
conhecidas três formas de representação. Tomemos, entre Brasília e o Rio de Janeiro. Com uma simples
como exemplo, a escala um para cem mil. A forma tira de papel, marcamos com um lápis esse alinha·
1 mento. Com essa tira, iremos marcar, sobre a escala
francesa é ; na Inglaterra dão preferência
100 000 gráfica, a distância em quilômetros. Eis que o resul-
a 1/100 000 e, no Brasil, como na maioria dos países, tado marca aproximadamente 930 quilômetros. A
escreve-se 1: l 00 000. mesma operação, desta vez, entre Brasilia e São
Comparem-se, agora, na tabela a seguir, algumas Paulo vai nos revelar cerca de 875 quilômetros.
escalas e suas relações entre centímetros e quilô-
metros:
5 . 2 A escolha da escala
Equivalência Quando se planeja uma carta, tem-se que deter-
Escala em km, minar em que escala esta carta será construída. Essa
de I em do mapa escolha varia em função de:
a) a finalidade da carta,
1:500 0,005 b) a conveniência da escala.
I :1 000 0,010 No primeiro item, a finalidade determina a
1:5 000 0,050 escala e, no segundo, a escala determina a cons-
1:10 000 0,100 trução da carta.
I :25 000 0,250 Para que uma escala seja determinada pela
finalidade, o tópico 8. 4 (Os mapas segundo a es-
1:50 000 0,500 cala) explicará que tipo de escala deverá ser feita
1:100 000 1,000 de uma planta, de uma carta topográfica, de uma
I :250 000 2,500 carta geográfica, etc. A variação da escala, aí, é
1:500 000 5,000 tão grande que cada caso particular é que irá
1:1 000 000 10,000 condicionar o tipo de escala ideal para comportar
a representação desejada, aliada à precisão reque-
1:2 500 000 25,000 rida. Trata-se de uma questão, em suma, da neces-
1:5 000 000 50,000 sidade ou não de uma exigência de detalhes. Desta
1:20 000 000 200,000 maneira, as escalas se situam em grandes, médias e
pequenas. Segundo a tabela que acabamos de apre-
sentar neste capítulo, vemos no topo, I :500, uma
A escala gráfica é representada por um seg- escala grande que comporta um sem-número de
mento de reta graduado, como indica a figura 34. detalhes; no meio da coluna, 1: I 00 000 ou l :250 000,
Como se vê, de zero a quinze há uma indicação duas escalas médias, de detalhamento topográfico
de distâncias em quilômetros, com subdivisões de regular; e na base a escala, I :20 000 000, uma escala
cinco quilômetros, mediante uma faixa centimétrica. pequena, onde não é possível o detalhe.
Usando-se, portanto, esta escala, poderemos medir Resumindo, a escala grande tem o denominador
diretamente, no mapa, quaisquer distâncias no ter- da fração, pequeno, ao passo que a escala pequena,
reno, em quilômetros. A segunda escala gráfica, aqui um denominador grande.
representada, só difere da primeira no ponto em O segundo item diz respeito, em geral, a certas
que tivermos que usar milhas. Observe-se, ainda, dimensões predeterminadas para a elaboração ou

46
impressão de um mapa. No caso dos mapas murais, Ainda sobre o Distrito Federal: sabemos que
por exemplo, temos que, de saída, determinar as a sua dimensão norte-sul é de 60 km. Se a escala
suas dimensões e, em decorrência, a escala. Ora, no do mapa for, por exemplo, 1:2 500 000, aplicando-se
caso do Brasil, um mapa mural em dimensões apro- , 60,0 km 60 000 000 mm
a formula, teremos:
ximadas de 1 metro quadrado, temos que sujeitar a 2 500 000 2 500 000
escala a essa área. Ach'!mos, por cálculo, que a escala = 24 mm.
1:5 000 000 se apropria magnificamente.
A carta do Distrito Federal nos oferece mais
Citemos outro exemplo: um m_apa estadual um motivo para o problema que nos resta. No
para as mesmas dimensões - a Bahia. Na escala rodapé da referida carta existe um pequeno gráfico
1 : 1 000 000 se encaixa perfeitamente a representação indicando a articulação das folhas em I :25 000 que
deste estado. cobrem a área do Distrito Federal. Como nesse pe-
Mas, nem sempre, no caso de sujeitarmos a queno gráfico não consta a sua respectiva escala,
escala às dimensões do papel, se conseguem escalas podemos, como exercício, achá-la, aplicando a se-
redondas. O mais comum é, neste particular, achar- 60 km 60 000 000
guinte fórmula:
mos escalas fracionárias, as quais, o mais das vezes, 35 mm 35
devemos evitar. Quando do planejamento da edição I 714 285. A escala, então, é fracionada
de um atlas é que dificilmente são possíveis as 1:1 714 285.
escalas redondas. Mesmo assim, ressalta-se o traba-
lho apresentado por Rodolpho Pinto Barbosa 48, As escalas, como se percebe, referem-se tão-
em que, dentro de dimensões rígidas, conseguiu somente a medidas lineares, isto é, a distâncias.
para os mapas regionais do Brasil escalas redondas Quando nos referimos a superfícies, impõe-se outra
e padronizadas. escala, ou seja: a escala de área. Enquanto a escala
linear indica quantas vezes foi reduzida uma medida
ou distância para ser representada na carta, a escala
5. 3 Problemas de área indica quantas vezes foi reduzida uma área
para ser representada na carta.
Na contínua utilização de mapas, surgem, vez
por outra, alguns problemas; em geral eles se refe- A redução da área é igual ao quadrado do
rem a três elementos: a medida no terreno (D) , a número de vezes da redução indicada pela escala
medida no mapa (d) e o denominador da escala linear. Ora, enquanto uma distância é reduzida pelo
(E). denominador da escala numérica, a área ficará redu-
zida por um número de vezes igual ao quadrado
Ora, sempre que se conheçam 2 termos desses
do denominador da escala linear.
elementos, o terceiro será determinado por cálculo.
Pelo exemplo gráfico da figura 35, a primeira
Eis a relação:
área, de 60 X 40 mm, foi reduzida linearmente,
a) conhecidas a distância no terreno e a escala para a metade, enquanto que, em relação à área,
(o denominador da fração) , determinar a distância foi reduzida ao quadrado.
no mapa;
60mm
b) conhecidas a distância no mapa e a escala,
determinar a distância no terreno; I
c) conhecidas a distância no terreno e a dis-
I
I
tância no mapa, determinar a escala. ~ I
Sendo, por exemplo, "E" a distância real, "d" oi-------+------
.,. I
a distância gráfica e "D" o denominador da escala, I
temos as seguintes fórmulas, respectivamente: I
I
E E
1-+ a) d = -;
D
b) D = -;
d
c) E = D X d ~1
Fig. 35 - Numa escala I :2, por exemplo, a área corresponde à
quarta parte.

Exemplificando: carta do Distrito Federal na


escala 1:100 000. Desejamos saber qual a distância 5 . 4 Construção de escalas gráficas
entre a praça dos Três Poderes e a praça Municipal,
a qual, na carta, representa 52 milímetros. Pela se- Suponhamos a necessidade da construção duma
gunda fórmula teremos: 100 000 X 52 = 5 200 000 escala gráfica para uma carta na escala (numérica)
mm ou 5,20 km. de l :50 000. Podemos estabelecer a relação de milí-
metros (ou centímetros) com metros ou com quilô-
metros. Mesmo que a escala seja fracionada, as
48 BARBOSA, Rodo!fho Pinto. Atlas Nacional do
Brasil (comunicação à Conferência Nacional de Geografia
divisões do segmento deverão ser invariavelmente
e Cartografia, 1, 1968, Rio de janeiro) . em medidas terrestres redondas, como quilômetros.

47
Escolhemos um determinado segmento, con- 5 . 5 Ampliação e redução
forme a conveniência de espaço no mapa. Agora
vamos dividi-lo de 1 em 1 quilômetro. Por meio Na prática cartográfica existe um tipo de
de um triplo-decímetro (ou escala de engenheiro), problema que ocorre com freqüência: é quando se
dividimos o segmento em cinco partes iguais de precisa ampliar ou reduzir um mapa ou um detalhe
um quilômetro. A figura 36 mostra o desenvolvi- deste mapa. Há várias maneiras de se resolver tal
mento da operação. Trata-se, primeiro, o segmento problema: a) por quadriculado, b) por pantó-
"ab" numa medida conveniente (entre dez a doze grafo, c) fotograficamente, d) pelos triângulos
cent1metros) , por exemplo. A escala numérica nos semelhantes.
forneceria 58 centímetros. É pouco. Já o dobro, Como em cartografia é preciso conservar, ao
11,6 em, não está mal. Então "ab", aí, é igual máximo, a precisão, a ampliação é muito mais
a 11,6 em. Divide-se, agora, o segmento em 5 partes susceptível de erro do que a redução. Neste caso,
iguais, por meio do conhecido método aqui demons- só o processo fotográfico deve ser usado. E mesmo
trado. Então, com o triplo-decímetro, marcamos assim, por rigorosa que seja a operação, há um
cinco partes iguais entre "a" e "b", e·, em seguida, decréscimo na precisão.
determinamos as divisões exatas entre "a" e "b".
Depois, elegeremos "c" como zero, o qual, daí para O método do quadriculado é o mais simples
a direita, indica l, 2. 3, 4 e 5 km. Falta-nos encon- e o menos preciso. Tem-se que traçar um quadri-
trar as subdivisões de "ac" para as medidas de culado no original, digamos, na escala de I : 100 000,
aproximação em metros. Pelo mesmo método ante- e um quadriculado menor (seja em 1:500 000), em
rior, marcaremos, para um quilômetro, dez subdi- tudo proporcional ao quadriculado maior. Segundo
visões de cem metros. a figura 38, o primeiro quadriculado engloba os
detalhes da carta em 1: 100 000, enquanto o segundo
representa o quadriculado da redução em 1:500 000,
por meio do qual os detalhes vão sendo cuidadosa-
mente transferidos a olho nu ou, de preferência,
com o auxílio do compasso de redução.

Fig. 36 - Eis um mdodo fácil para a construção duma escala grá-


fica.

No caso em que se precise de uma escala


gráfica para carta em escalas grandes, onde a regra
é a extrema precisão, usa-se uma escala gráfica
transversal, que proporciona medidas muito exatas.
A figura 37 apresenta essa escala (que os ingle-
ses classificam de diagonal) construída para 1:2 000.
Nesta escala, em que I em representa 100 metros,
há um método em que se encontram, por meio das
diagonais da referida figura, divisões de I O em
I O metros, e, ainda, através das medidas verticais,
chega-se à unidade. Para exemplo, observem-se as
quatro distâncias: A I 410 m, B 733 m, = =
C = 368 m e D = I 185 m.
Fig. 38 - A cidade paranaense de União da Vitória, à margem es·
querda do rio Iguaçu, apresenta esse aspecto planimétrico na escala

....
500 500 I : I 00 000, Se precisarmos reduzir a sua área para uma finalidade não
>00
""' >00
"" rigorosa, torna-se fácil a operação, mediante um quadriculado propor·

.
cional, n5o nos esquecendo, também, de que devemos generalizar al·
1 J guns detalhes supérfluos, como dá uma idéia a escala menor.
o
,.
I
J c c
O método pantográfico é, igualmente, de uso
I I comum, o qual consiste no uso do pantógrafo, que
'i o é um aparelho constituído por um paralelogramo
1,~
articulado, tendo em um dos pólos um ponteiro
500
000
""' "" "' 500 600 e no outro um lápis, o qual vai traçar a redução
(ou ampliação) do detalhe que seguimos com o
Fig, 57 - Nesta escala transversal, podemos efetuar medida. lineares ponteiro. Antes de ser adotado, o método fotográfico
de 100 a 500 metros, bem como de 10 a 100 metros, utilizando-nos da
parte à esquerda de O. foi o preferido pelos cartógrafos.

48
O método fotográfico, que é o único que se exemplo deste método se encontra na figura 39.
usa atualmente, tem as seguintes vantagens: precisão Traça-se uma linha reta "AB" ao longo do detalhe
e rapidez. Com uma câmara fotocartográfica de a reduzir (ou ampliar), e, após, as linhas de orien-
alta precisão, há regulagens que permitem uma tação, que devem passar pelas curvas ou voltas mais
redução ou uma ampliação de proporções rigorosas. acent.u adas do detalhe. Em seguida, escolhe-se um
O método dos triângulos semelhantes é mais ponto "O" e uma distância conveniente da linha.
apropriado para o caso de detalhes de forma alon- Quanto mais afastado da linha, mais aproximadas
gada e estreita, como uma estrada, um rio etc. O serão as proporções obtidas. Unam-se, agora, cada
extremidade do segmento, além de outros pontos im-
portantes do detalhe ao ponto "0". Se, por exemplo,
a redução for 2/4 do original, divide-se "AO"
em quatro partes iguais do original; dividido
"AO" em quatro partes iguais, acha-se um ponto
"C" que representa 2/4 da distância entre "O" e
"A". Traçam-se "CD" paralela a "AB" e também
outras paralelas às linhas de orientação ao longo
do segmento. A posição de todas as curvas impor-
tantes e de outros detalhes será agora traçada
ao longo de "CD", bem como os demais detalhes
poderão ser desenhados a olho nu. No caso de
ampliação, prolongar-se-ão as linhas "OA" e "OB",
em proporção, até achar-se a posição "EF", quando
Fig. 39 - Pelo método dos triângulos semelhantes, o trecho A·B os detalhes serão desenhados, como precedente·
duma estrada pode ser facilmente reduzido para C·D. ou ampliado mente 49 •
para E·F.

49 MONKHOUSE, F. J. Maps and diap;rams.

49
6. Esfera terrestre
Antes de entrarmos no problema das projeções com o calendário, se verificam em 21 de marco
cartográficas, que tem desafiado astrônomos, car- e 23 de setembro. Quando, em conseqüência, ·o
tógrafos e geodesistas, em todos os tempos, temos movimento oscilatório passa de um hemisfério para
que conhecer os aspectos inerentes à esfericidade da outro, dá-se o equinócio (noite igual) , que se ve-
Terra e algumas das suas relações com o sistema rifica em 21 de junho e 21 de dezembro. No he-
solar, sobretudo o Sol, centro deste sistema, e a Lua, misfério norte, esses dias correspondem, respecti-
satélite da Terra. vamente, ao início do verão e do inverno, ao passo
A Terra gira em torno do seu eixo em 23 horas, que no hemisfério sul representam, também, respec-
56 minutos e 4,09 segundos, e sua revolução se faz tivamente, os inícios do inverno e do verão.
em 365 e pouco mais de 1/4 de dia. Embora tivesse Como sugere a figura 40, o hemisfério sul se
havido, desde antes da era cristã, divergências sobre encontra no equinócio de 21 de março, em que os
os movimentos da Terra.. o astrônomo polonês Ni- raios solares incidem perpendicularmente na esfera
colau Copémico desfez as dúvidas nos albores do terrestre ao longo do trópico de Capricórnio, co-
século XVI. meço do outono, enquanto no hemisfério norte a
Ocupando uma posição média, em relação aos primavera tem inicio, em que os raios solares in-
outros planetas, na distância ao Sol, do qual recebe cidem obliquamente no trópico de Câncer.
luz e calor, tem a Terra dimensões relativamente
pequenas, uma vez que o seu raio médio é de
apenas 6.371 quilômetros, uma insignificância se
compararmos com as dimensões de alguns dos outros
planetas que gravitam em torno daquele astro.
Quanto à forma, é sabido que não se trata
duma esfera perfeita (V., a propósito, o tópico I I. I
- O elipsóide de referência) . Segundo medições
recentes, executadas por satélites terrestres, me·
diante raios lase1·, existe uma pequena saliência na SOL
região polar ártica e, em contrapartida, um maior
achatamento na região polar antártica, tendo-se,
como resultado, uma desigualdade, igualmente sa-
bida, entre os diâmetros equatorial e polar, em que
o segundo é menor do que o primeiro em cerca
de 22 quilômetros.
No seu movimento de revolução, ocupa o nosso
Fig. 40 - Os raios solares ao incidirem, perpendicularmente, à altura
planeta uma órbita plana de forma elíptica, e o do Trópico de Capricórnio, provocam, ao norte. o inverno e, ao sul,
círculo máximo, formado pela intersecção do plano o verão.
da órbita terrestre em torno do Sol e da esfera
celeste, vem a ser a eclíptica. O plano do equador
terrestre em relação à eclíptica tem uma inclinação 6 .1 Meridianos e paralelos
de 23°27'08", embora este valor não seja cons-
tante, uma vez que, devido à atuação da Lua Os meridianos são círculos max1mos que, em
c do Sol, que dá origem à precessão dos equinócios conseqüência, cortam a Terra em duas partes iguais,
e à nutação, estes incidem na inclinação. Precessão de pólo a pólo. Sendo assim, todos os meridianos
é uma alteração na direção de um eixo de rotação se cruzam entre si, em ambos os pólos. Quanto aos
dum corpo giratório, como um giroscópio. A nu- paralelos, que, por sua vez, cruzam os meridianos
tação corresponde às irregularidades do movimento perpendicularmente, isto é, em ângulos retos, apenas
precessional dos equinócios por motivo da variação um é um círculo máximo - o equador (0°) . Os
das posições da Lua e, em menor grau, de outros outros, tanto no hemisfério norte quanto no hemis-
corpos celestes em relação à eclíptica. fério sul, vão diminuindo de tamanho, à propor-
Essa oscilação regular durante a revolução ção que se afastam do equador, até se transfor-
anual dá origem aos equinócios, que, de acordo marem em cada pólo, num ponto, isto é, 90°. Os

51
graus dos paralelos, que, como se viu, princtptam A determinação da latitude nunca constituiu
no equador, seguem, em cada hemisfério, para o um problema sério para os astrônomos. Em pri-
norte ou para o sul, até 90°. Desta maneira, 'lO meiro lugar, sendo o equador o único círculo má-
hemisfério norte, à altura de 23° e 27' é determi- ximo dentre os paralelos, representava, com natu-
nado o Trópico de Câncer (Trópico de Capri- ralidade, a origem de todas as latitudes, tanto para
córnio no hemisfério sul) e aos 30° no pólo é o norte, positivas, quanto para o sul, negativas.
marcado o Círculo Polar Ártico (no hemisfério Assim foi que, já em meados do século XVI, havia
sul, o Círculo Polar Antártico) até o pólo (90°) . dois métodos para o estabelecimento da latitude,
Todos esses círculos se acham exemplificados na tanto em terra quanto no mar, e que constituíam
figura 41 (a). Já a figura 41 (b), assegura com respectivamente, na determinação da altura do sol
mais objetividade a compreensão dos meridianos acima do horizonte, no lugar da abservação, e na
e dos paralelos. determinação da altura da Estrela Polar. Para qual-
a b quer uma dessas observações, os instrumentos an-
tigos para medições de ângulos puderam ser usados.
Foram eles: o primitivo astrolábio e, depois, os
quadrantes, sextantes e oitantes. O astrolábio já
fora empregado no século II por Ptolomeu. Um
instrumento que, igualmente, teve muita utilidade
na determinação das latitudes foi a balestilha, que
os portugueses chamavam de "báculo de São Tiago",
a qual parece ter surgido em 1342. Até o século
XVIII foi bastante usada, sobretudo no mar. Mas
foi nesse mesmo século que apareceu o quadrante,
Fig. 41 - Eis os principais drculos da Terra. Os meridianos (parte devido ao inglês John Davis, e que não era senão
a) , como se acha evidente, sllo círculos máximos, enquanto os pa· um aperfeiçoamento da balestilha.
ralelos (parte b), são todos círculos de dimensões diferentes.
A determinação da longitude foi, ao contrário,
6. I . 1 Latitude e longitude muito mais difícil, demorada e de muitas hesita-
ções, constituindo sério problema a sua determi-
Segundo a Publicação Especial do Coast and nação no mar. Antônio Pigafetta contou que na
Geodetic Survey, denominada Definitions of Terms viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães,
used in Geodetic and other Surveys, "latitude é o de quem era oficial, o grande navegador passava
ângulo entre o fio de prumo e o plano do equador muitas horas tentando resolver o problema da lon-
celeste, ou o ângulo entre o plano do horizonte e o gitude, afirmando, ao mesmo tempo que, "satisfeitos
eixo de rotação da Terra. Longitude é o ângulo os pilotos com conhecimento da latitude, e orgu-
entre o plano do meridiano celeste e o plano do lhosos (consigo mesmo), não iriam dar ouvidos à
meridiano de origem (ou primeiro meridiano) , longitude" 50 .
escolhido arbitrariamente" (V. fig. 42). O assunto principiou a ser seriamente conside-
rado no reinado de Luís XIV, no século XVII,
através da Academia Real. Inspirados nas obser-
vações de Galileu, os cientistas franceses esforça-
vam-se no método de achar a longitude por meio
dos eclipses dos satélites de Júpiter, método este
que a custo foi aceito pelos cientistas ingleses.
Mesmo assim, não podia ser usado para o caso
da longitude no mar.
Tornava-se necessária, acima de tudo, a cons-
trução dum cronômetro. Ora, o primeiro já havia
sido inventado por Christian Huygens, em 1657, o
qual, pela primeira vez, tornou possível a deter-
minação da longitude. Mas como era baseado num
pêndulo, não podia ser usado no mar.
Somente no século seguinte foi que um habi-
lidoso carpinteiro inglês, John Harrison, construiu,
em 1726, o primero cronômetro marítimo, ganhan-
do um prêmio de 20 000 libras. Ainda insatisfeitos,
os cientistas queriam um cronômetro de precisão.
O que motivou a fabricação dum segundo modelo e

Fie. 42 - Conforme a explicação do texto, acham-se, ai, a latitude


de 40• S e a longitude de 40• W. Gr. !lO BROWN, Lloyd A. Op. cit.

52
de outro mais, em 1746, o qual tampouco contentou Tem início, agora, a operação gráfica: escolher,
a Royal Society. Harrison, finalmente, em 1759, sobre um triplodecímetro, a extensão em centíme-
construiu o quarto cronômetro. Dois anos mais tros (ou milímetros) que corresponda a um múltiplo
tarde foi usado, definitivamente, no mar provando de um gyau (conforme a carta em exemplo), ou
a sua exatidão. seja, 60 minutos, e que exceda a medida entre
Quanto aos meridianos de origem, mumeros
foram adotados. O mais antigo foi o das ilhas Afor·
tunadas, no arquipélago das Canárias, que já havia
sido usado por Marino, no I século e por Ptolomeu
no II. Cristovão Saxton, cartógrafo inglês,
usou, em 1584, a ilha de Santa Maria, também nos
Açores. Ainda no mesmo arquipélago, John Davis
utilizou, em 1594, a ilha de São Miguel. Ortélio
adotou a ilha do Fogo, no grupo de Cabo Verde, e
Blaeu, mais tarde, iria adotar o pico de Tenerife,
na mesma ilha. Vale lembrar que o meridiano de
Ferro, adotado na França, desde 1634, iria durar
até o ano de 1800.
John Seller cartógrafo inglês, foi quem pri·
meiro adotou o meridiano de Londres, tendo
William Roy estabelecido este meridiano na cate-
dral de São Paulo. Criado em 1794, o Ob~ervatório
de Greenwich iria estabelecer o meridiano de ori-
gem para todos os mapas ingleses. Foi, entretanto,
no Congyesso Internacional de Cartografia de Lon-
dres, de 1895, que este meridiano foi indicado para
origem de todos os mapas, o que acontece até os
dias de hoje, muito embora a maioria dos países
tivesse usado diferentes meridianos, ou seja, cada
Fig. 43 - Este é o método mais prático de 'm arcação de coordenadas
país usando o seu próprio. Assim, inúmeros mapas geográficas. Para um resultado de precisão, o método é pelo coor-
tiveram, como origem da longitude, os meridianos denatógrafo. Modcrnamente, o melhor método é por meio de um p/otter.
de Paris, Roma, São Petersburgo, Cracóvia, Viena,
Copenhague, Ulm, Toledo, Filadélfia, Washington, os dois paralelos (dessa carta). Vemos, assim, que
Rio de Janeiro, etc. 12 centímetros (ou 120 milímetros) são múltiplos
de 60 (minutos), isto é, 60 partes de um grau.
6. 2 Coordenadas geográficas Então, 16 minutos e 53 segundos correspondem a
33,77 mm. 16'53" = 1.013". Como, no exemplo,
A determinação de um ponto na carta, me- um minuto (60 segundos) corresponde a 2 milí-
diante a sua latitude e longitude, foi sempre um metros, temos 1.013" . X 2 = 2.026" + 60 =
processo usado em todos os tempos, no sentido de = 33,766 mm. Traça-se a linha que une este valor
situar um detalhe cartogyáfico, como o cruzamento marcado pela escala, à esquerda e à direita da
de estradas, a foz de um rio, a torre de uma igyeja, figura. Falta-nos, ainda, a marcação da longitude
o pico de um monte, etc. de 14 minutos e 38 segundos. Procedendo-se de igual
6. 2. 1 Marcação de coordenadas modo, achamos 1.756" + 60 = 29,16 mm. Traçada
a linha que une este valor marcado pela escala
No caso de se ter os valores de coordenadas, acima e abaixo da figura, temos, com o cruzamento
e de se precisar marcá-los na carta, é necessário, das duas linhas, o ponto que representa o porto de
em primeiro lugar, verificar, de acordo com os Tubarão.
valores das coordenadas em causa, quais os dois A operação inversa, isto é, achar os valores das
pares de paralelos e de meridianos que abrangem coordenadas de um detalhe na carta, não constitui
o ponto a ser determinado. Ora, conforme o exem- nenhuma dificuldade. Com o auxílio do triplo-
plo da figura 43, em que se pede a marcação, na decímetro traçam-se as duas linhas que cruzam
escala I: I 000 000, das coordenadas de 20°16'53" o centro do detalhe e, em seguida, os milímetros
e 40016'38", correspondentes ao porto de Tubarão, achados nos ajudarão a calcular os valores solici-
no Espírito Santo, os paralelos que nos interessam tados.
são, na referida escala 151 , os de 20° e 21°, bem como
os meridianos de 40° e 41o.
6. 3 Fusos horários
151 IBGE. Folha 52 - 24, Vitória, da Carta do Brasil Compreende a área que, em qualquer lugar
ao milionésimo. da faixa teoricamente limitada por dois meridianos,

53
conserva a mesma hora referida ao meridiano de
180° 165° 150°
origem. Cada fuso tem, geralmente, 15° de lon-
-11 h. -12h.+ .f.llh. +lO h. gitude, cujo centro é um meridiano cuja longitude
é exatamente divisível por 15°. Como o círculo
terrestre tem 360°, e o movimento de rotação é exe-
cutado em 24 horas, temos 360 + 24 = 15, o que
significa que cada hora do Globo se acha situada
numa faixa de 15°. Os fusos são referidos ao Meri·
diano Internacional de Origem (0°) 52, bem como
ao antimeridiano (180°), em torno do qual está
a Linha de Mudança de Data. Devido ao movi-
mento do planeta, do ocidente para o oriente, de
0° a 180° (este), as horas aumentam, e de 0° a 180°
(oeste) diminuem. Como indica a figura 44, de
Londres a Brasília são três fusos. Assim, quando
é meio-dia em Londres, são 9 horas em Brasília.
Por outro lado, havendo quatro fusos entre Londres
e Teerã, por exemplo, meio-dia em Londres equi-
vale a 16 horas em Teerã.
O sistema de fusos horários foi estabelecido
pelo Decreto n.O 2.784, de 18 de junho de 1913, o
<t
o qual define, igualmente a hora legal, a qual, também

40°
o~ c
o
E A N o chamada hora oficial, é o intervalo de tempo igual
para um determinado fuso horário. Já hora local é
::)
, a hora referida a um meridiano local, comparada
p A:! c
UJ
I F I c o com a hora referida ao meridiano dum fuso horário,
ou o meridiano de Greenwich.
o

20°
u
Ilhas Marsholl<t

•••
2:
Q:
••• UJ

oo
.
•..
1-
~
••
Salamõ~o •• 'Ilha
' s Finix
. . I .
Ilhas

Ilhas S amao •
0 '
,
N_ovas
Hebr~das
• •• '• '
20° Ilha FiJi • ••
Ilhas Tonoa


• <t
l:
2:
-1

40° Fig. 4:> - O mapa do Brasil dh·idido em quatro fusos horários, res·
IA pectivamente. 2. 3. 1 e 5 horas menos do que em Grccnwich.

É preciso que se saiba que a hora de cada fuso


tem, em seus meridianos, limites teóricos. Em outras
palavras, a hora é aparente. Nem sempre uma linha
imaginária, sobre um país, pode marcar, sem em-
-llh. -12h.+ +llh. .f.10h. +9h.
baraços, um limite-horário indiscutível. Senão, ve-
Fig. 44 - O antimeridiano, que se confunde, na prática, com a jamos: o meridiano de 45° que marca, no Br<!sil,
Linha Internacional de Mudança de Data, onde, permanentemente, o fuso de três horas (V. fig. 45), cortaria, no seu
num lado é um dia da semana e no outro é o dia seguinte, significa,
teoricamente, que aquele que ficar em pé, sobre aquela linha, virado
para o norte, terá o pé direito no domingo {por exemplo) c o pé
esquerdo na segunda-feira. A linha não coincide rigorosamente com 52 O Meridiano de Greenwich.
o meridiano de 180°, por convenção entre estados soberanos.

54
limite oriental, os Estados do Ceará, Rio Grande Xingu até encontrar a geodésica que divide o Pará
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e Mato Grosso, continuando por esta divisória até
o que significaria, para cada um destes Estados, uma o rio Araguaia, pelo qual prosseguiria, deixando os
diferença horária ao longo do meridiano de 45°. Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para
Dados os problemas que resultariam daí, para facili- o fuso de quatro horas e, finalmente, cedendo os
tar a questão, convencionou-se, neste caso, que o fuso Estados do Paraná, de Santa Catarina c do Rio
de duas horas, o qual engloba as ilhas oceânicas Grande do Sul para o fuso de três horas.
do Brasil, não incorpore aquela parte do continente, De igual maneira, muitos países resolvem
entregando-a ao fuso de três horas. Igualmente, esse as suas diferenças horárias conforme as suas pecu-
meridiano de 45°, no seu limite ocidental, cortaria liaridades e interesses. Exemplo disso é o caso da
o Amapá, o Pará, Mato Grosso, Goiás, o Paraná,
Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Ficou Argentina que, teoricamente, se acha no fuso de
também convencionado que o limite coerente dos quatro horas, mas que resolveu ficar situada no
fusos de três e quatro horas deveria passar pela fuso de três horas, igual ao tempo de Brasília.
linha que, de norte para sul, deixando todo o A figura indica, ainda, o caso de países ou
Amapá para este, e, em seguida, seguindo pelo rio regiões que preferem ter horários fracionados.

55
7. Projeções cartográficas
Um globo geográfico é a representação mais fiel conseqüência do desenvolvimento da esfera num
que se conhece da Terra. Embora saibamos que o plano.
nosso planeta não é uma esfera perfeita, nada há Em tempo, devemos lembrar que o termo de-
mais semelhante a ele do que um pequeno globo. senvolver, com referência a projeções, significa
É uma verdadeira miniatura da Terra, devido,
executar o desdobramento duma superfície ein
principalmente, à sua forma. Então, se um globo outra, sem deformá-la.
é a representação esferoidal da Terra, nos seus
aspectos geográficos, uma carta é a representação Como a esfera não se desenvolve sobre o plano,
plana da Terra. passamos a utilizar superfícies intermediárias, ou
O maior drama que existe em cartografia é, auxiliares, que tenham a propriedade de se desen·
assim, o de termos que transferir tudo o que existe volver.
numa superfície curva, que é a Terra, para uma Assim sendo, temos que procurar figuras algo
superfície plana, que é o mapa. semelhantes à esfera, e que sejam facilmente desen-
Não é difícil, pois, concluirmos, de imediato, volvíveis. O cilindro, o cone e o plano constituem
que só poderemos conseguir essa transferência, essa esses tipos de figuras. Para que se tenha prova disso,
passagem, de maneira imperfeita, infiel, isto é, basta observar a figura 46. Nos dois desenhos, a
com algumas alterações ou imperfeições. Por isso parte "a" mostra um cilindro com um corte de
é que o problema das projeções cartográficas exige, alto a baixo, e a parte "b" apresenta aquela super-
não só de nós, para sua compreensão, como dos fície plenamente desenvolvida. Do mesmo modo,
matemáticos, astrônomos, cartógrafos, enfim todos mediante os dois outros desenhos, vê-se a superfície
os que criam projeções, uma grande dose de ima- de um cone (parte "a") entreaberta, bem como o
ginação. respectivo desenvolvimento (parte "b"). Meditan-
Imaginemos uma experiência prática, muito do-se sobre esses dois exemplos, pode-se ter, perfei-
simples: se dispusermos de uma bola de borracha tamente, a noção de que qualquer curva traçada
e lhe dermos um corte de 180° (de um pólo ao em ambas as figuras, terá a mesma dimensão, na
outro), e quisermos esticá-la num plano, acontecerá, superfície desenvolvida corresponde, o que, no
fatalmente, que qualquer imagem que tivéssemos caso duma esfera, seria inteiramente impossível.
anteriormente traçado nessa bola, teria ficado in-
teiramente alterada, ou melhor, distorcida, defor- As figuras 4 7 e 48, relativas, respectivamente,
mada. O problema das projeções não é muito di- às projeções cilíndrica e cônica, ainda fornecem
ferente do imaginado aqui. a b
Pergunta-se-á: - Então um mapa-múndi é a
superfície da Terra toda alterada?
A resposta só poderá ser um veemente - Sim!

7 .1 O desenvolvimento da esfera
Toda vez que tentamos desenvolver uma esfera
num plano, ou parte duma esfera, podemos observar
que os limites externos da superfície em desenvol-
vimento são, precisamente, os mais sacrificados, isto a b
é, os mais alterados (lembremo-nos da nossa pe-
quena experiência imaginada), ao passo que tais
alterações vão diminuindo em direção ao centro da
projeção, onde, aí sim, não haverá alteração. O
centro duma projeção, dessa maneira, é a pane
da projeção - que pode ser um ponto ou uma
linha (um meridiano ou um paralelo) - em verda- Fig. 46 - Um cilindro em desenvolvimento (a), e, em seguida, o
mesmo cilindro desenvolvido (b). Na parte inferior, o mesmo em
deira grandeza, isto é, sem alteração de escala, em relação a um cone.

57
Fig. 48 - lim cone, anteriormente tangente à esfera, ao longo da
linha equatorial. acha·!K' em ,·ias de desenvolvimento.

2.0 O equador é a única linha projetada que


conserva a dimensão original.
3. 0 Os demais paralelos projetados já não con-
servam as medidas originais. Ao contrário, guardam
todos eles iguais comprimentos- um absurdo- em
relação ao equador.
4. 0 O pólo ou mesmo as áreas próximas ao
pólo não têm possibilidade, aí, de ser projetados.
5. 0 Apenas o equador é tangente à superfície
Fig. 47 - Um cilindro, anteriormente tangente à esfera, ao longo cilíndrica. Os meridianos constituem linhas retas
da linha equatorial, está em vias de desenvolvimento.
paralelas entre si, pois seus planos na esfera contêm
o eixo do cilindro, e o interceptam segundo as suas
melhor compreensão do problema do desenvolvi- geratrizes. ·
mento da esfera, por via desses dois sólidos de pro- A figura 48, representativa da projeção cônica,
priedade desenvolvível. Observe-se, pela figura 47, a exemplo da anterior, mostra a esfera projetan-
que a esfera, com alguns dos seus paralelos e meri- do-se a partir do equador, numa tangente, em um
dianos, está sendo desenvolvida de um envoltório dos paralelos (o primeiro a partir do equador).
cilíndrico que a tocava unicamente ao longo de Nossas conclusões:
uma linha - o equador, o único círculo máximo
dentre os paralelos. Então o equador, que faz parte 1.a As linhas traçadas na esfera, a partir do
da esfera, é, aí, tangente à mesma. equador, até o pólo, foram projetadas para a su-
perfície de desenvolvimento, a partir de um certo
Que conclusões pode-se tirar em conseqüência ponto do interior da esfera.
disso? 2.a A única linha de verdadeira grandeza é o
paralelo de tangência.
Vejamos:
3.a O pólo é projetado devido à forma peculiar
1.0 As linhas traçadas na esfera foram transfe- do cone, e, em razão disso, os meridianos projetados
ridas para a superfície de desenvolvimento, por se cruzam no pólo, guardando, neste particular,
meio de projeções partidas do centro da esfera. uma semelhança com a esfera.

58
O vértice do cone se encontra no prolonga· acordo com a natureza dessa superfície desenvol-
mento do eixo da esfera (projeção cônica normal). vível, as projeções podem ser cônicas, cilíndricas,
Ao projetarmos os paralelos e meridianos sobre e poliédricas. Neste caso, a projeção é representada
a superfície cônica, concluímos que os paralelos por quadriláteros, sendo os pontos de cada um
serão representados por arcos de círculos concên- destes quadriláteros projetados sobre um plano
tricos no vértice, e os meridianos, por retas, corres- tangente :'t esfera, · no centro do quadrilátero consi-
pondentes às geratrizes do cone, e, portanto, derado. Assim sendo, os divenos planos tangentes
concorrentes em seu vértice ã 3 • formam, em seu conjunto, a supedkie· de um polie-
Outra modalidade de desenvolvimento que se dro.
manifesta exeqüível é através de um plano. A
figura 49, ilustrativa duma projeção plana polar, 7 .1.1 Condições q:ue devem ser cumpridas
dá uma idéia deste tipo de desenvolvimento, em pelas projeções
que o plano é tangente à esfera no pólo. Em con-
seqüência, todas as linhas traçadas na esfera são As três tentativas de se conseguir a projeçao
de linhas ou de pontos da esfera numa superfície
plana ou na superfície desenvoldvel. nos induziram
à conclusão de que. em qualquer um dos três tipos
experimentados, são diversas as anormalidades, as
quais dificultam tremendamente a questão essen-
cial em cartog1·afia, que é a precisão métrica da
representação de detalhes topográficos.
Em razão disso. outras tentativas foram e con-
tinuam a ser feitas visando à consecução de tipos
de projeções que possam suprimir ou minimizar
deformações.· Mas o fato é que, afinal, se conseguir-
mos eliminar uma anormalidade, se superarmos
dificuldades, e chegarmos a obter um tipo de pro-
jeção absolutamente livre duma determinada in-
conveniência, esta vantagem irá determinar, em
contrapartida, o surgimento automático de outros
defeitos. Quando, contudo, achamos uma forma de
banir esses defeitos duma projeção, outros tipos de
anormalidades aparecem.
Desta maneira, não existe nenhuma projeção
Fig. 49 - Um plano se acha tangente a esfera num dos pólos. que elimine todos os tipos de deformações advindas
da transformação da esfera num plano. Torna-se
projetadas no plano, partidas de um certo ponto do possível que uma carta "conserve a mesma escala
interior da esfera. As ilações deste desenvolvimento em todas as direções e em todos os pontos; em outras
são: palavras, uma carta não pode representar com toda
precisão o tamanho ou a forma dos acidentes geo-
1.0 O pólo, ponto em que a esfera é tangem~. gráficos em todos os pontos da carta" ã4.
é projetado no centro do plano. Assim sendo, cabe-nos escolher as propriedades
2. 0 Os paralelos, em conseqüência, são arcos que possam atender ao nosso objetivo, para a cons-
de círculos concêntricos, como na esfera terrestre. trução da carta ideal:
3.0 Os meridianos, irradiando-se do pólo, são 1.0 Manutenção da verdadeira forma das áreas
projetados em linhas retas. a serem representadas (conformidade).
4. 0 À medida que se afastam da superfície de 2.0 Inalterabilidade das dimensões relativas das
tangência (o pólo), não conservam as linhas e as mesmas (equivalência).
proporções existentes na esfera. Ao contrário, tanto 3.° Constância das relações entre as distâncias
o espaçamento quanto as dimensões dos paralelos dos pontos representados e as distâncias dos seus
e meridianos crescem infinitamente. correspondentes (eqüidistância).
Do exposto, concluímos que a superfície pode 4. 0 Representação dos círculos máximos por
ser um plano ou uma superfície auxiliar desenvol- meio de linhas retas.
vível num plano. Daí a classificação em projeções
planas e projeções por desenvolvimento, que, de Deve ser destacado que se a superfície da
Terra fosse plana ou uma superfície desenvolvível,
53 As projeções cônicas podem ser consideradas cilfn·
dricas quando o ápice do cone se achar a uma distância M DEETZ, Charles H.; ADAMS, Oscar S. Elements of
infinita da esfera. map projection .

59
as propriedades tetrorrelacionadas seriam facil- adotar a seguinte classificação, a qual se restringe
mente conseguidas. A solução adotada, para a cons- a apresentar as propriedades das projeções:
trução duma carta, resume-se em escolher a projeção a) equivalentes
que atenda determinado objetivo. b) conformes
c) eqüidistantes
7. 2 Classificação das projeções d) azimutais ou zenitais
Os engenheiros americanos Charles H. Deetz e) afiláticas ou arbitrárias.
e Oscar S. Adams, do Coast and Geodetic Survey,
em seu livro Elements of Map Projection, explicam 7. 2. l Projeções equivalentes
que "não existe uma forma pela qual as projeções A projeção equivalente, que, na terminologia
possam ser divididas em classes que sejam recipro- inglesa, é denominada "de área igual", tem a pro-
camente excludentes, isto é, em que nenhuma pro- priedade de não deformar as áreas, conservando,
jeção pertença a uma classe, e somente a uma". assim, quanto à área, uma relação constante com
Os mesmos autores, contudo, oferecem a se- as suas correspondentes na superfície da Terra. O
guinte classificação: termo em português já denuncia, pela mera apre-
a) equivalentes sentação do vocábulo, a equivalência de proporção
das áreas cartografadas. Significa que, seja qual
b) conformes for a porção representada num mapa, ela conserva a
c) azimutais mesma relação com a área de todo o mapa. "Isso
d) perspectivas ou geométricas vem à mente, com toda a clareza, pelo enunciado de
e) convencionais que qualquer seção de formato quadrangular do
mapa apresentada pelos paralelos e meridianos
Já o Almirante Múcio Piragibe Ribeiro de será igual, em área, a qualquer outra área quadran-
Bakker, em seu excelente manual, Cartografia - gular do mesmo mapa ao representar uma área
Noções Básicas, publicado pela Diretoria de Hi- igual do terreno" ü11.
drografia e Navegação, as divide segundo este Para conseguir esta equivalência, o cartógrafo
esquema: terá que sacrificar a forma representada no mapa.
Em outras palavras, só conseguirá tal vantagem
J!perspectiva• .
mediante o sacrifício da forma.
geométricas

l
lfpoeudoperspectivao
As quadrículas de um mapa, formadas por
simples ou regulares
1. Quanto ao método analltic~• .
{ modificada• ou irregu-
paralelos e meridianos, só podem guardar, entre
convenmona1s
lare• si, a relação de tamanho, se modificarmos a forma
dessas quadrículas. Ora, quaisquer destas quadrí-
gnomônica
:Z. Quanto à si~uaçlio do estereográfi~a culas, na esfera terrestre, são compostas de paralelos
ponto de V>sta { e meridianos que se cruzam em ângulos retos. A
ortográfica
deformação neste caso é logo percebida pela al-
planas ou azimutaie

l
cônicas c policônica~_~; teração dos ângulos. Mas como a recíproca nem
3. Quanto à ouperfície por de•envolvimento { cillndricas sempre é verdadeira, também aqui se pode afirmar
de projeçil.o poliédrica•
polares que nem sempre uma quadricula em ângulos retos
plana.e ou azimutai! equatoriais ou meri· deixa de ser deformada.

I
{ dionais
horisontais ou obl!qul\s A figura 50 ilustra um mapa-múndi desenhado
normais
sobre a projeção de Aitoff. Trata-se duma projeção
•. Quanto AsituaçAo da cônicas e policônicas { transversas equivalente confinada numa elipse, na qual a linha
horizontais ou obllquas
superfleie de proje-
çAo equatoriais
que representa o equador (o eixo maior) é o dobro
eiHndricas
transversa! ou meri- da linha que substitui o meridiano central (o eixo
{ dianas menor). Podemos facilmente observar que qualquer
horisontais ou obllqua•
quadrícula deste mapa, embora varie enormemente
meridiana• de forma, guarda, por latitude, a mesma área.
transversai8
eqüidistantes
6. Quanto às proprie- equivalente• { azi~utaie ou ortodrô-- Note-se, ainda, que o centro da projeção (onde
micas
dadoo { conformes
afiláticao
se cruzam as únicas linhas retas aí existentes) é o
único ponto sem deformação, isto é, onde os ân-
gulos são retos.
O esquema é cuidadoso e tem a vantagem de 7. 2. 2 Projeções conformes
ser panorâmico e sem ambigüidade. Elimina possí-
veis dúvidas a respeito de qualquer tipo de projeção. A projeção conforme, ao contrário da anterior,
é aquela que não deforma os ângulos, e, em de-
De acordo com o nosso propósito de não nos
afastarmos da didática a que estão sujeitos os alunos
para os quais foi preparado este livro, preferimos 55 Idem, ibidem.

60
Fig. 50 - Na ma10rta dos planisférios, é de hábito representar-se
o meridiano de Greenwich no centro do mapa, seja qual for a
projeção. No intuito de destacar o Brasil, hem como de linar a sua
área de deformações, sugerimos esse planisfério na projeç1o de Aitoff,
de tal forma que o pais possa ocupar a parte central do mapa. O único
inconveniente será o seccionamento da Austrália, somado a uma gran·
de deformação em sua superfície, embora a equivalência de todas a.
áreas fique assegurada.

corrência dessa propriedade, não deforma, igual-


mente, a forma de pequenas áreas. Outra particu-
laridade desse tipo de projeção é que a escala, em
qualquer ponto, é a mesma, seja na direção que for,
embora, por outro lado, mude de um ponto para
outro, e permaneça independente do azimute em
todos os pontos do mapa. Ela só continuará a . ser
a mesma, em todas as direções de um ponto, se
duas direções no terreno, em ângulos retos entre
si, forem traçadas em duas direções que, também,
estejam em ângulos retos, e ao longo das quais a
escala for a mesma.
Fig. 52 - O desen\'olvimcnto da esfera, através de um cilindro, de
E, como já se viu anteriormente, os paralelos acordo com a concepç1o de Mercátor: um gomo do globo é recortado
(a) e levantado (a'}, projetando-se, conseçüentemente, conforme o
e os meridianos têm que interceptar-se em ângulos esquema idealizado por Mercátor.
retos. Igualmente, como já se sabe, sendo conforme,
não pode ser equivalente. Compare-se, desta feita, aquela figura com a
A figura 51 mostra o planisfério traçado na atual: a única coisa em comum é que, achando-se
projeção conforme de Mercátor. Como está claro ambas na mesma escala, as massas continentais, ao
aí, as quadrículas não guardam proporção em re- longo da linha equatorial, conservam enorme seme-
lação às áreas, mas a conformidade está assegurada lhança, uma vez que: a) a escala só é, de fato, a
porquanto todas essas quadrículas são represen- mesma, nessa extensão equatorial; b) sendo a linha
tadas por ângulos retos. Nada está torcido, como central de ambas as projeções, tanto áreas, quanto
na figura anterior. formas, conservam semelhanças. Quanto ao resto,
A fim de alcançarmos uma compreensão bem tudo varia.
mais elevada, a figura 52 nos oferece uma vis:io O cartógrafo americano O. M. Miller, em 1941,
bastante clara. apresentou um brilhante trabalho ü6 em que sugeriu,
para um mapa do continente americano, uma Pro·
jeção Cônica Conforme Oblíqua Bipolar, como
a melhor, não só pelo fato de preservar as formas,
como por apresentar só pequenas diferenças (em
se tratando de um continente) quanto às áreas.
No sentido de expor, aqui, as comparações entre
diversos tipos de projeções, apreSentamos, na fi·
gura 53, uma quadrícula de 28°/ 32° N e 114° f 120°
(na Califórnia) e outra de 48°f52° Se 66°/72° (na
Patagônia), na projeção proposta, bem como em
mais três outros tipos de projeção: a estereográfica,
a equivalente zenital de Lambert e a cônica con-
forme oblíqua.
160' 120' ao• 120'

56 MILLER, O. M. A conformai map projection for


Fig. 51 - A conhecida proieçâo de Mercátor. the Americas. Geographical Review, jan. 1941.

61
NORTE SUL

D D
CÔNICA OBL{QUA a
CONFORME BIPOLAR

ESTEREOGRÁFICA

D D go•

ZENITAL EQUIVALENTE
DE LAMBERT
o D
CÔNICA OBLI,QUA
CONFORME
D D
Fig. 53 - Uma comparaç5o entre a projeç5o romca oblíqua con·
forme bipolar, em dua• diferentes latitudes, c as projeções esterro·
gráfica, zenital equil•alcnte de Lamhert c .<mica oblíqua conforme.

7. 2. 3 Projeções eqüidistao tes I


A projeção eqüidistante é a que não apresenta
deformações lineares, isto é, os comprimentos são
representados em escala uniforme. Deve ser ressal-
tado, entretant-o, que a condição de eqüidistância
só é conseguida em determinada direção, e, de
acordo com essa .direção, uma projeção eqüidistante
se classifica. como vimos no trabalho .do Almirante
De Bakker. em meridiana, transversal e azimutal
ou ortodrômica. A figura 53. relativa ao tópico se- Fig. 54 - Vemos em a, a projeção estettOI(ráfica, em b, a gnomô-
nica e em C1 :1. ortográfica.
guinte, eluóda. perfeitamente. as propriedades das
pmjeções eqüidistantes.
rial, ao passo que, na estereográfica, são notadas
menores alterações nas referidas áreas.
i. 2.4 Projeções azimutais
No caso prático de se determinar azimutes
A projeção azimutal. igualmente denominada verdadeiros, aliados a distâncias exatas, o tipo de
zenital, é uma projeção que resolve apenas um pro- projeção azimutal é o único que atende à finalidade,
blema, ou seja, aquele que nem uma equivalente, desde que se consiga que, do ponto central dado,
nem uma conforme lhe dá solução, o qual é, numa partam linhas que representem distâncias verda·
carta, o dos azimutes ou as direções da superfície deiras. Cria-se, em conseqüência, uma projeção azi·
da Terra. Ela se destina, invariavelmente, a mapas mutal eqüidistante, a qual tanto pode ser polar
especiais construídos para fins náuticos ou aero- quanto equatorial ou oblíqua, que é o caso m~is
náuticos. comum, uma vez que o interesse maior coincide
Como se pode apreciar na figura 54, os três com a necessidade de se ter azimutes e distâncias
desenhos (a · b e c) mostram o esquema de cons- verdadeiras a partir duma localidade importante
trução e o respectivo desenvolvimento de três mo- da Terra, como uma capital, um aeroporto etc.
dalidades duma projeção azimutal: a) a esterco·
gráfica, em que os raios são projetados do pólo Já foram construídas, no que toca ao Brasil,
(oposto) ; b) a gnomônica, com aqueles raios pro- três desses tipos de projeção: uma centrada no Rio
jetados do centro da esfera; c) a ortográfica, em de Janeiro, outra em São Paulo e a terceira em
que os paralelos, ao invés de projetados de um Brasília. A figura 55 mostra esta última, cons·
ponto, como nos dois primeiros casos, são, aqui, truída pela Diretoria de Hidrografia e Navegação,
projetados da linha equatorial. na qual, como se percebe, a partir da Capital Fe·
É interessante examinar-se esse conjunto. A deral, qualquer linha traçada para qualquer ponto
gnomônica e a ortográfica acarretam enormes de- do mundo representa um azimute e uma distância
formações nas áreas próximas do círculo equato- correta.

62
000

~
o

f'•
\
..
·~ ~:.~!.). ·-
·' 'i

,.., 110
\70
BRAS{L..IA
L..ATITUOE: 1 ~• 47• O!;• M4 S
l.ONOITUOE: •H• 8~· 24:.' 864 W

o •ooo 1000 liOOO \1000 20000

OU: $. MOHSORf.S

Fig. 55 - A pro)eçao azimutal (ou zenital) eqüidistante do mundo, com o centro em Brasília. Todas as distâncias radiais, a partir do centro,
. para qualquer parte da Terra, são corretas.

7. 2 ~ 5 Projeções afiláticas tanto, "possuir uma ou outra propriedade que


justifique a sua construção". E, em seguida, aponta
A projeção afilática, igualmente conhecida a gnomônica, a qual, "apresentando todas as defor-
1 cormo arbitrária, nos Estados Unidos, não possui mações, possui a excepcional propriedade de re-
nenhuma das propriedades dos quatro outros tipos, presentar as ortodromias retas".
isto é, equivalência, conformidade, eqüidistância e
azimutes certos, ou seja, as projeções em que as
áreas, os ângulos e os comprimentos não são con-
7 . 3 O ezxo duma superfície de projeção
servados.
Considerando-se os eixos da esfera em relacào
O Almirante Múcio, no seu último e já citado a uma projeção, temos alguns tipos que difer~m
livro, afirma que este tipo de projeção pode, entre- entre si, motivados, exatamente, pela diver-

63
sidade de p<mçoes desse mesmo eixo. Assim sendo,
temos as projeções equatoriais, em que o eixo é
perpendicular ao equador; as projeções polares,
cujo eixo é perpendicular ao plano tangente a um
dos pólos e as projeções oblíquas em que o eixo da
projeção em causa recebe uma rotação de 90° em
azimute. Ora, para facilitar a abstração, vemos
através da figura 56, como a conhecida projeção de
Mercátor (cilíndrica, em que todos os meridianos e
paralelos são retas que se cruzam em ângulos retos) ,
ao transformar-se em transversa, adquire uma feição
inteiramente diversa, passando aquelas linhas retas
a curvas, uma vez que a rotação de 90° alcança
exatamente o pólo.

Fig. 57 - A Groenlândia, à esquerda, tal como é representada na


projeção de Mercátor, c. à direita, a América do Sul, um continente
muitas ve1.es maior do que aquela ilha úrtira.

às da América do Sul, cujo centro não está longe


do paralelo de 20°. O exagero em relação à área
não interfere, entretanto, no fator forma, não se
notando, assim, nenhuma aberração.
A grande vantagem desta projeção, em suas
aplicações náuticas, est;í no fato de que uma linha de
rumo é representada, na carta, por uma linha
reta, a qual mantém o mesmo ângulo de orientação,
em relação aos meridianos cruzados pelo navio no
seu curso em linha reta. A figura 58 apresenta
Fig. &6 - A projeção transversa de Mercátor. um trecho náutico entre Montevidéu e a Cidade
do Cabo, com três diferentes tipos de derrotas: a lo-
xodrômica. a mista e a ortodrômica.
i. 4 Projeção de Mercríto1·
Como vimos no tópico 2. 4, foi Gerhard
Kremer, nascido em 1512 e formado pela Univer-
sidade de Louvain (Lovaina) , na Bélgica, que pu-
blicou, em 1569, a sua famosa projeção, até hoje
usada para fins náuticos.
Como já vimos, os meridianos são represen·
tados por linhas retas paralelas e eqüidistantes, e
os paralelos formam um sistema de linhas em ân-
gulos retos com os meridianos. Quanto ao espaça-
mento dos paralelos, em consonância com a condição
que, em cada ponto, o ângulo entre dois elementos
curvilíneos quaisquer, sobre a esfera, é representado Fig. &8 - Entre ~lontnidéu c a Cidade do Cabo ' ·êem-se três cur-
sos: uma loxodroma - a mais longa - 3 iOO milhas; uma derrota
na carta mediante um ângulo igual entre os repre- mista - mais curta - 3 300 milhas; c a ortodromia - a mais cuna
das três - 2 920 miJhas, uma ,·ez que representa um círculo máximo.
sentados desses elementos.
No sentido de manter a conformidade, tem-se
que adotar o crescimento de cada grau de latitude 7. 5 Projeção cônica conforme de
em direção ao pólo, na ·mesma proporção em que os Lambert
graus de longitude são acrescidos pela própria pro-
jeção. Foi um brilhante alsaciano de Mulhouse,
Se é fácil a elaboração duma projeção cilíndrica Johann Heinrich Lambert, matemático e astrônomo,
por métodos gráficos, a projeção de Mercátor só que, em 1774, construiu uma projeção conforme,
é possível mediante cálculo. baseada no cone, a qual, ao invés de tangenciar a
A figura 57 registra a representação da Groen- esfera, corta-a ao longo de dois paralelos. Em outras
lândia e da América do Sul na mesma escala. Ora, palavras, o cone é secante à esfera. Ora, cortando
estando situada nas proximidades do Pólo Norte, a esfera em dois paralelos, resulta daí que, ao
a Groenlândia aparece com dimensões aproximadas longo destas duas linhas, não pode haver nenhum

64
erro de escala 57 • Estes paralelos são denominados referentes à escala: a) pode servir para cartas em
paralelos-padrão. quaisquer latitudes, ao invés, por exemplo, da pro·
Pela figura 59 percebe-se que os meridianos jeção de Mercátor que, nas altas latitudes, apre·
são retas originárias dum único ponto, fora dos senta consideráveis erros de escala; b) as direções
limites da projeção, isto é, do ápice do cone, e de bússola são traçadas em linhas retas; c) é o
os paralelos são curvas concêntricas que se cru- tipo mais indicado para as áreas de grande extensão
zam com os meridianos, em ângulos retos. Além este-oeste, como os Estados Unidos, o Canadá, a
da conformidade, os erros de área se tornam muito Austrália, o Saara etc. ·
pequenos, uma vez que, entre os limites superior É a projeção usada nas folhas da Carta Aero-
e inferior de uma faixa, digamos, de 24 graus de náutica Mundial (WAC), e a partir de 1962 na
extensão norte-sul, pode-se verificar o seguinte, con- Carta Internacional do Mundo ao milionésimo
forme apresenta a mesma figura: a) ao longo dos (CIM), com modificações.
paralelos-padrão o erro é zero; b) entre os dois
paralelos há uma ligeira contração norte-sul, e,
em conseqüência, há um erro de escala de menos i. 6 Projeçiío policônica
de I%; c) fora do primeiro paralelo-padrão, bem
como do segundo, onde se processa uma ampliação Trata-se duma.projeção do tipo cônico, só que,
de área, o erro de escala, à altura de quatro graus, em lugar de um, são usados diversos cones, cada
além de cada paralelo-padrão, mal ultrapassa 1%· um tangente à esfera, e com o seu próprio ápice.
Examinemos a figura 61 (parte A): para cada para·
\ I leio é necessário um cone, com os centros de círculos,
I
\ I a - a' - a" - a'", que determinam os paralelos
'\ I
correspondentes. O resultado dessa variedade de
cones proporciona uma distorção que, a partir do
meridiano central (este meridiano e o equador são
as únicas retas da projeção), cresce enormemente,
tornando-a, em conseqüência, absolutamente im·
própria para áreas de predominância este-oeste. A
parte B mostra o princípio dessa distorção de
escab.

Fig. 59 - A pro)eçao cônica conforme de Lamb'ft, do hemisfério C•


c,
sul. com os dois paralelos-padrão ( 29• e 1~•) , ao longo dos quai< :. c.
escala {· exata.

A figura 60 mostra com mais objetiviclatle o de-


senvolvimento da projeção.
As vantagens desta projeção são as seguinte~.
além da conformidade e da exigüidade de erros

A 8
f i~ . 6l - ~apane A estão indicados os centros C, C1, C!:, c~ dos
círculos (os paralelos) da projeção policônica; na parte B mostramos
a d istorção do meridiano exterior. a qual é motivada pela variação
d os raios d os círculos no descm·oldmcnto da projeção.

A projeção é muito conhecida devido ao fato


da existência de tabelas completas para a sua cons-
trução. Convém, entretanto, que se apresente, aqui,
uma comparação desta projeção com outras.
Fig. 60 - Segundo o esquema, entre as linhas de escala exata, isto Charles Deetz e Oscar Adams, no já citado
é, entre os paralelos-padrão, há uma diminuição de escala, uma vez Elements of Map Projection, mostram o erro mü-
que as áreas são comprimidas; por outro lado, fora das linhas de
escala exata, há um aumento de escala porq uc essas áreas tendem a ximo em escala, em área e em azimute, num mapa
expandir-se. dos Estados Unidos, em quatro diferentes proje-
ções: I. a cônica conforme de Lambert, 2. a equi-
57 Note-se a diferença entre este aspecto e aquele outro valente zenital de Lambert, 3. a de Albers, e 4. a
duma projeção cônica simples, isto é, tangente, em que, policônica.
ao longo do paralelo d.e tangência, não há erro de escala. Em escala, a primeira apresenta 2,50%, a se-
Na cônica secante, ao invés de um único paralelo livre de
erro de escala, são dois os paralelos, ao longo dos quais não gunda 1,75% , a terceira I ,25<;10 e a policônica
existe erro. 7,00%.

65
Quanto à área, a primeira oferece 5,00%, a 7. 7.1 Projeções para o mapa do Brasil
segunda 0,00%, a terceira 0,00% e a policônica
Idealizou o Prof. Allyrio Hugueney de Mattos
7,00%.
-primeiro diretor da antiga Divisão de Cartografia
Em azimute, a primeira aparece com 0000', a
do IBGE - um tipo especial de projeção para
segunda com 1°04', a terceira com 0°43' e a poli- o mapa do Brasil. Ora, sendo este país de
cônica com I 0 56'.
dimensões colossais e, ainda, de um formato cujas
Antes de 1962, a policônica modificada era a extensões norte-sul e este-oeste se equivalem, qual-
projeção adotada para a CIM. quer projeção adotada resulta em vultosos erros
Na sugestão da parte B da última figura, per- de escala, como é o caso da policônica. Muito su-
cebe-se que as únicas áreas geográficas que se adap- perior, para a representação brasileira, seria a de
tam · a esta projeção são as dos países ou regiões de Albers, por exemplo. Mas voltando à projeção do
extensão predominantemente norte-sul e de redu- Dr. Allyrio, idealizou, aquele saudoso geodesista,
zida extensão este-oeste. É o caso, por exemplo, do um cone oblíquo, de eixo NE-SO, secante, em duas
Chile, de Portugal, da Tunísia, da Córsega etc. curvas: a primeira, que viria do Amapá, passando
feios Estados do Piauí, Pernambuco e Bahia e, a
segunda, estendendo-se desde o Amazonas, Acre,
7. 7 Otttras projeções Rondônia, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
As conseqüências do desenvolvimento seriam:
Ninguém sabe, ao certo, o número atual de I. ao longo dessas duas linhas curvas não haveria
sistemas de projeções inventados. Apenas citaremos erro de escala; 2. entre as duas haveria uma pe-
as projeções mais conhecidas. Antes, porém, deve quena diferença para menos e, fora delas, um
ser exposto, aqui, um tipo algo fora do comum pequeno acréscimo.
que tem aparecido em alguns atlas modernos. Re- Ele chegou a calcular as tabelas, de cerca de
ferimo-nos a determinados planisférios que, a fim oito em oito graus, mas não pôde concluir o resul-
de proporcionarem a equivalência de massas con- tado final.
tinentais e oceânicas, trazem, interrompida, a re- Conseguimos, ultimamente, o esboço da pro-
presentação dessas mesmas massas. A figura 62, no jeção, o qual foi desenhado de acordo com o que
único intuito de mostrar os oceanos, em seu aspecto ilustra a figura 63.
global e, ao mesmo tempo, as suas áreas em propor-
ção, interrompe, corta um pouco os continentes.
Trata-se da projeção homolográfica (interrompida)
de Goode.

,•.L--+---'"'t-"Cs;.--1--\i)-TJI---\--~
•••
I
I
I
I

-·8·-
1
I
Fig. 62 - Como está evidente, a projeç§o criada por Paul Goodc I
se destina, prioritariamente, à r<prcsentaç.ão das massas oceânicas.

Além das projeções discutidas neste abreviado


capítulo, citaremos as seguintes: cônica eqüidistante
de L'Isle, de Adams, de Bartholomew, de Behrmann,
de Bonne, de Brown, de Clarke, de Eckert, de Fig. 6' - Esse é. o resultado do esboço concebido por Allyrio de
Mattos para a sua projeção destinada aos mapas do Brasil.
Euler, de Everett, de Fischer, de Gall, de Herschel,
de Laborde, de Jaeger, de Kamenestskii, de La-
grange, de Littrow, de Mollweide, de Nicolosi, de i. 8 O sistema UTM
SansonjFlamstead, de Van Der Grinten, de Zinger
etc., além, por exemplo, de vários sistemas oriundos Na realidade, a conhecida UTM não é uma
de Lambert: a cilíndrica eqüidistante, a eqüidistante projeção, mas um sistema da projeção transversa de
azimutal, a cilíndrica conforme, a equivalente meri- Mercátor (conforn1e de Gauss) . Surgiu o sistema
diana, além de outras. em 1947, para determinar as coordenadas retangu-

66
lares nas cartas militares, em.escala grande, de todo Todos os meridianos do sistema são curvos,
o mundo. excetuando-se cada meridiano central c o equador.
Estabelece o sistema que a Terra seja dividida Como o quadriculado se apóia no meridiano
em 60 fusos de seis graus de longitude, os quais têm central do fuso, os meridianos (curvilíneos) se tor-
início no antimeridiano de Greenwich (180°), e nam cada vez mais oblíquos, à medida que se apro-
que seguem de oeste para leste, até o fechamento ximam dos meridianos laterais. O ângulo y, denomi-
neste mesmo ponto de origem. nado convergência meridiana, varia, assim, do cen-
Quanto à extensão em latitude, os fusos se tro para os lados de cada fuso, como dá exemplo
originam no paralelo de 80°S até o paralelo de 84°N. a figura 65.
Se, em relação à longitude, os fusos são de nú·
mero 60, no que toca à latitude, a divisão consiste MERIDIANO DE ORIGEM
em zonas de quatro graus, e isto está vinculado ao
tamanho da carta de I: 100 000, e não à projeção.
Os fusos são decorrentes da necessidade de ~e re-
duzirem as deformações. Além dos paralelos extre-
mos (800S e 84°N) , a projeção adotada, mundial-
mente, é a estereográfica polar universal.
Se fixarmos a nossa atenção em qualquer um·a
dessas 1.200 quadrículas, verificaremos que os 6
graus de longitude apresentam as seguintes caracte-
rísticas: os dois meridianos laterais são múltiplos
de 6, assim como o meridiano central é de 6 mais 3.
A figura 64 assinala, a propósito, duas quadrículas ME R I DIA NO
localizadas na Região Sudeste: a primeira, com o
meridiano central de 51° e os dois meridianos late-
rais de, respectivamente, 54° e 48°; a segunda, com
o meridiano central de 45° e os dois laterais de,
respectivamente, 48° e 42°. Quanto aos limites em
.latitude, temos, para ambas as quadrículas, os para-
lelos de 28° e 20°. fig. 6j - · O quadriculado UTM se apóia no meridiano ~entrai de
cada fuso, daí resultando que os meridianos (curviUneos) se tornam
cada vez mais oblíquos, à medida que se aproximam do meridiano
õ"' "'o oõ"'
<D <D
C1> õ C1> lateral. O ângulo y (com·ergência dos meridianos) nria. assim. do
o C1> C1>
C1>
centro para as bordas de cada folha .
3- o
0!.
3- õ 3
-r:-- ---- 16°
ae z o na A propósito, a convergência meridiana vem a
ser o traçado angular conjunto dos meridianos geo-
o (o
o... o gráficos, passando pelo equador em direção aos pó-
c:
-
(/)
(/)
Cl> ::J los. No equador, todos os meridianos são paralelos
::J u entre si, e passando por essa linha con~ergem até se
'+- -20° encontrarem nos pólos, cruzando-se ·em' ângulos
iguais às suas diferenças de longitude.
Q)
Deve-se ter em vista, ainda, uma figura que
-o vem, normalmente, impressa na margem inferior de
cada folha topográfica, quase sempre à direita. Refe-
Q)
rimo-nos às três direções do norte do quadriculado,

- zona
o24°
c
-~
em que se acha o norte da quadrícula (NQ) e o
norte magnético (NM), este indicado pela agulha

-E
Q) -o
·;::
Cl>
imantada. Os ângulos assim formados, da direita
~ para a esquerda, representam a convergência meri-
E
diana, registrando-se, ainda, a declinação magnética,
--~'="
-28° a qual constitui o ângulo formado pelo meridiano
_j _j _J magnético e pelo meridiano geográfico, em qual-
quer lugar, expresso em graus (este ou oeste), para
54° 51° 48° 45° 42° a indicação · do norte magnético, a partir do
norte verdadeiro.
Fig. 64 - Af est~o dois fusos contíguos, ladeados pelos meridianos
Vários são os elipsóides utilizados no sistema
de 42°, 48° e 54• , e limitados pelos paralelos de 16• e 24°. Os me- UTM. O que- vimos adotando no Brasil é o deno-
ridianos centrais de cada fuso são. aí, os de 51• e 45•. No sentido
da longitude, os valores quilométricos crescem de oeste para leste. minado Elipsóide Nacional Australiano, aceito
assim como. no sentido da latitude, esses ' 'atores aumentam de sul pela União Geodésica e Geofísica Internacional.
para norte. Sote·se, ainda, que o Estado de . São Paulo se situa entre
dois fusos. enquanto Santa Catarina cabt- em apena~ um fu!õO. em 1967.

67
Devemos, ainda, observar que o cilindro da na direção sul. Assim, a mesma figura mostra, de
projeção não é tangente ao elipsóide, como se dá sul para norte, 7 560, i 562, 7 561 e 7 566 km.
com a transversa de Mercátor, mas secante, isto é, Em conclusão, observe-se a localização da fo-
o cilindro corta o elipsóide ao longo dos dois me- lha em apreço (figura 64), que se situa na fronteira
ridianos eqüidistantes do meridiano central. No- do Estado de São Paulo com o de Minas Gerais.
temos, ainda, que o fator de escala deste meridiano,
isto é, o meridiano central de cada fuso, é 0,9996.
Isto ocasiona um fator de escala de 1 à altura de 7. 9 Coo1'denatógmfos
duas linhas da quadrícula, sendo mais ou menos
180 km a leste e a oeste do meridiano central, e, Trata-se de um aparelho por meio do qual se
ainda, produz duas linhas sem deformação linear efetua a plotagem de pontos definidos pelas suas
(K =1) em cada fuso, ao invés de uma. coordenadas, ou o traçado de linhas.
As medidas quilométt·icas, em cada fuso, têm Na construção duma projeção, é possível usar-
início na interseção do meridiano central com o se um tripo-decímetro, diagonalmente. O resultado,
equador. As coordenadas de origem são: 500 km na entretanto, para merecer um bom grau de precisão,
direção leste, e, em relação ao hemisfério sul, é, além de maçante, muito lento.
1O 000 km na direção norte. Quanto ao hemisfério Para o traçado de quadriculados, pode-se usar
norte, a origem é 0,0 km. Os \alores 10 000 km e o cintel. Mas, igualmente, é lento o trabalho, e o
500 km são adicionados às coordenadas N e E, resultado pode não oferecer a precisão que se deseja.
obtidas pelas equações da projeção. V m coordenatógrafo faz o mesmo num tempo
Resta-nos acrescentar que, a partir de cada me- incomparavelmente menor e com boa precisão.
ridiano central, o valor de 500 km é acrescido, na Desta maneira, tanto para as coordenadas retan-
direção leste, dos valores relativos à longitude gulares, quanto para as polares, existem coordena-
local. 'Como se observa na figura 66, ai está mos- tógrafos apreciáveis.
trada a quilometragem referente à folha Pinhal, A fim de enfrentar os processos que, a partir
em 1:50 000, oriunda do meridiano central de 45°, de uns 25 anos até esta parte, visam a aperfeiçoar
os valores seriam, obviamente, decrescentes. No que a automatização da cartografia, os coordenatógrafos
concerne às medidas em latitude, o valor de têm sido cada vez mais aperfeiçoados. Na realidade,
10 000 km, que tem origem no equador, decresce, a complexidade de operações, sobretudo na foto-
grametria, vem forçando um enorme avanço ao
FOLHA SF-23-Y-A-111-2 encontro da automatização. Senão vejamos: todo o
apoio terrestre deve ser rigorosamente traçado antes
do início das operações fotogramétricas; os valores
oriundos das operações fotogramétricas devem
ser traçados num processo independente; há, ainda,
operações cartográficas em que a informação básica
é advinda diretamente de levantamento geodésico,
e, novamente, essa representação gráfica precisa ser
levada a efeito a partir dos dados existentes.
Antes do advento dos computadores e dos mo-
dernos plotters, quando as soluções mecânicas e

Fíg. 66 - Canto superior direito duma folha topográfica da Cana


do Brasil em I :50 000. em que se vêem: a) os valores em graus c
minutos, conespondentes ao quadriculado geográfico (tal. 22•00'. W.
Gr.); b) o quadriculado plano retangular do sistema UTM; c) os
valores conespondentes à quilometragem oriunda do meridiano cen·
trai (45•) do fuso a que pertence a folha, subtraídos de 500 km, Fig. 67 - Coordenatógrafo polar, de 40 tm de diâmetro. Possui um
para oeste: HO, 342, ~44; d) os vjilores correspondentes à çuilome- drculo transparente com um movimento de rotação numa estrutura
trallem oriunda do equador, subtraídos de lO 000 km, para o sul: d~ metal. e uma escala giratória de 20 em. com o zero no centro do
7 560, 7 562. 7 564, 7 566. circulo para marcar di,tâncioas.

6f\
matemáticas predominavam, a facilidade de cons- manuseadas tão rotineiramente quanto as fórmulas
trução de alguns tipos de projeções tinha uma im- simples do passado. Conseqüentemente, a solução
portância considerável. Por isso é que pouco~ tipos mais proveitosa para cada representação cartográfica
de projeções eram utilizados. Por que, por exemplo, pode ser escolhida e utilizada, e os resultados, evi-
foi tão usada a projeção policônica? Por que foi dentemente. são incompanh·eis.
escolhida, no passado, para ser a projeção (mocli-
ficada) da Carta Internacional do Mundo ao milio- O ploller, uma mesa traçadora automática, con-
nésimo? Por que há cerca de 40 anos os mapas do trolada por computador, assegura o traçado r;ípido
Brasil em I :5 000 000 e 1:2 500 000 \'êm sendo ela- e correto dos pontos, linhas e ;Írcas, cujas posições
borados sobre esta projeção? Exatamente devido à hajam sido definidas pelas relações matemáticas.
sua facilidade, e, como informamos no tópico
7. 6, devido à existência de tabelas completas para Entre os mais utilizados, no momento, podem
a sua construção. ser citados o Calcomp, o Gabe1·, Wild, Kern e
Atualmente, com o emprego da automatização, outros. A figura 67 mostra um sistema automati-
fórmulas matemáticas mais complexas podem ser zado Wild com o seu plotter em primeiro plano.

69
8. Documentação cartográfica
O conjunto dos documentos cartográficos con- No plano internacional, como modelo de
servados, organizadamente, numa instituição pro- organização a serviço de uma instituição carto-
dutora de cartas, ou como setor duma biblioteca, gráfica, podem ser indicadas a mapoteca do lnstitut
varia, quanto à natureza, de acordo com a finalidade Géographique National, em Paris, e a mapoteca
dessas coleções. do Geological Survey, em Reston, EUA. Para fina-
lidades gerais, são conhecidas inúmeras mapotecas
Esquematicamente, pode-se dizer que uma de instituições, como a da Biblioteque Nationale,
mapoteca se destina a dois diferentes tipos de con- de Paris, da Library of Congress, de Washington,
sulentes ou usuários. O primeiro, de interesse pu- da Biblioteca Vaticana e outras igualmente famosas.
ramente profissional, se situa, via de regra, nas or-
ganizações de elaboração de originais cartográficos.
O segundo tipo visa a um interesse mais geral, po-
8.1 Organização duma mapoteca
rém de marcado teor cultural e histórico. Os que
A documentação que orienta os trabalhos da
procuram esta documentação constituem uma am-
elaboração de mapas e cartas, que também é, às
pla gama de estudiosos ou pesquisadores, como
vezes, procurada pelo público, a fim de operar
geógrafos, geólogos, professores e alunos, escritores,
como parte auxiliar na elaboração de originais
decoradores etc. e também cartógrafos, além de um
cartográficos, deve dispor de um acervo que preen-
grupo muito especial, como os cartólogos e os cole-
cha as diversas necessidades compreendidas em
cionadores. todas as fases da produção de uma carta, desde os
Para o tipo de mapoteca que constitui a fonte levantamentos até a sua edição.
permanente de consulta e de análise de documen- Neste 'contexto, os documentos em seguida rela·
tação para a elaboração de mapas e cartas, podem cionados têm que preencher todas as exigências das
ser citadas, como exemplo, no Brasil, as mapotecas operações de execução de originais. Tais são:
da Quinta Divisão de Levantamento, da Diretoria
do Serviço Geográfico, do Ministério do Exército, si- a . Mapas impressos:
tuado no Palácio da Conceição, e do Departamento a.i . Gerais,
de Cartografia, do IBGE, que funciona em Lucas, a. i i . Topográficos,
ambas no Rio de Janeiro. Como modelo de mapo- a. iii . Cadastrais, plantas, etc.
teca de finalidade mais notadamente cultural, a . iv . Especiais,
citamos a do Ministério das Relações Exteriores, a. v . Temáticos,
localizada no Palácio ltamarati, também no Rio de a . vi . Regionais,
Janeiro. a. vii _. Estaduais,

Fi&. 68 - Parte duma mapoteca com al&uns consulentes.

71
a. viii.
Municipais, f. ix. Esquemas rodoviários, ferroviários,
a. ix.
Esboços, croquis, etc., aéreos c náuticos,
:1. x.
Mapas em alto-relevo, f . x. Rodovias (federais, estaduais, mu-
a. xi .
F o tocar tas, nicipais e outras),
a. xii.
Mapas reproduzidos (fotográficos, f. xi. Bitolas ferroviárias,
heliográficos, etc.) , f. xii . Tração ferroviária,
a. xm. Esquemas de séries de cartas, f. xiii . Estações ferroviárias,
a.xiv. Globos. f. xiv. Distâncias ferroviárias, rodoviárias,
aéreas e hidroviárias,
b. Atlas e álbuns: f. xv. Linhas telegráficas e telefônicas,
r . xv1 . Linhas de transmissão de energia
b. i. Atlas nacionais, elétrica.
b. i. i. Atlas estaduais,
b. i. ii. Atlas especiais, g-. Áreas especiais:
b. i. iii. Atlas escolares e outros,
b. ii. Álbuns cartogrMicos, g. i. Parques nacionais,
b. iii. Almanaques, g. ii. Áreas litigiosas,
b. iv. Outros. g. t.li. Áreas militares,
g .n· . Caatingas e cerrados,
c. Originais de reprodução: g. ,. . Bacias hidrográficas,
g. vi . Áreas inundáveis,
c .1. Minutas de restituição fotogramé- ({. \ ' il. Outras ;\reas.
trica,
c. ii. Folhas-mãe e manuscritos, h. Divisão territorial:
c. i ii. Folhas de nomenclatura (ou de
topônimos), h. i . Legislações e descrições de limites,
c . iv. Negativos e positivos, h. i i . Esquemas de linhas de limites.
c. v. Fotoplásticos,
c. vi. Máscaras, J. índices de topônimos.
c. vii. Provas.
8 .I . I Arquivamento
d. Fotografias:
d. i . Aéreas, Antes de arquivarmos um documento, deve-se
d. i. i. Orbitais e espaciais, proceder ao registro num livro próprio. Após
d. i. ii. Terrestres, o registro, vêm a catalogação, a classificação e o
d . i. iii. Mosaicos, arquivamento. Para a conservação de mapas e car-
d. i. i v. F otoíndices. tas impressas, é conveniente que se usem arquivos
verticais, como dá exemplo a figura 69. É um tipo
e. Posições astronômicas e outros: que facilita a consulta. Sua única inconveniência
está no tamanho dos originais. Entretanto, os ma-
e . i. Vértices de triangulação, pontos pas de dimensões superiores às do arquivo podem
astronômicos, etc., ser guardados em gavetas, que é o tipo bastante
e .11. Altitudes comprovadas e referên- conhecido e geralmente adotado.
cias de nível,
Os originais de reprodução, de cada mapa
e. iii. Pontos batimétricos, profundida-
des, etc., ou folha, devem ser reunidos em pasta, e guardados
e. i v. Marcos de fronteiras, nos arquivos horizontais.
e. v. Esquema de levantamentos básicos Todo o material de consulta freqüente deve ser
e de apoio terrestre. plastificado. Quanto ao restante dos mapas, acon-
selha-se a entelagem em pano, de manuseio cômodo
f. Elementos informativos auxiliares: e de muita durabilidade.
Portos, ancoradouros, etc., Os originais raros devem ficar em arquivos
f. i.
Aeroportos, campos de pouso, etc., especiais.
f. ii.
f. iii. Faróis, Os atlas e livros são guardados em estantes.
f. i v. Represas e açudes, As fotografias precisam de arquivos especiais,
f. v. Minas e jazidas, de gavetas, mas de forma que não fiquem amon-
f. vi Usinas hidrelétricas e termelétri- toadas, umas sobre as outras, porque, com o tempo,
cas, tendem a estragar-se. No caso de fotografias aéreas,
f. vii. Limites de navegação, guardamo-las em pastas apropriadas, separando-as
f. viii. Pontos meteorológicos, por faixas de vôo.

72
Para os órgãos de elaboração cartográfica, a
listagem que apresentamos no tópico 8. I poderia
ser usada como base para a feitura de um código
de arquivamento, porque um código dessa natureza
seria muito mais funcional, no trato de materiais
como fotografias, filmes, fichas, etc., do que as
classificações empregadas em instituições culturais,
que lidam, apenas, com mapas (impressos ou não) .
A grande vantagem da numeração progressiva.
que é a mais indicada na codificação dos assuntos.
permite mais elasticidade, isto é, no que toca a
subdivisões e acréscimos. Claro que, na adoção deste
tipo de numeração, devem ser utilizados os números
arábicos, mais simples e de notação menor, dimi-
nuindo a possibilidade de erros.
A fim de qu~ haja efetiva recuperação de
documentos, não basta que estes estejam bem clas-
sificados e arquivados. É mister que se adotem
catálogos remissivos dos assuntos-documento exis-
tentes no arquivo, além da particularização de
qualquer detalhe que facilite a busca. Exemplos:
Aeroportos, 6. 2 . ; Congonhas, aeroporto, 6. 2. ; Con-
gonhas, aeroporto, fotografia aérea, 4. I.
t preciso que haja controle rigoroso do mate-
rial retirado para consulta, a fim de que não se
verifiquem perdas ou extravios. Esta possibilidade
é eliminada mediante a adoção de fichas de em-
préstimo e consulta, semelhantes às usadas nas
bibliotecas, para empréstimo de periódicos.
Outra providência bastante salutar na organi-
Fig. 69 - Sistema vertical de arquivar mapas. zação e desenvolvimento duma mapoteca é a per-
muta de certos documentos, como é o caso de
Para o resto do material que não se apresenta algumas publicações.
sob a forma de mapas, diagramas, etc., é de toda A atualização da documentação é indispensável
importância que sejam conservados em fichas, as ao arquivo cartográfico. Ocorre-nos, como exemplo,
quais devem oferecer todas as informações, ficha um índice de topônimos. t preciso que seja atuali-
por ficha, relativas a cada assunto. zado de forma corrente, com o registro simultâneo
Somos de opinião de que não se deve guardar das formas ortográficas não adotadas. Exemplo:
mapas enrolados. t preferível dobrá-los. Tanto é Xuí - remissiva de Chuí; Chuí - V. Xuí.
mais cômodo para a consulta, quanto se estragam
A ficha catalográfica de uma mapoteca deve
incomparavelmente menos. t aconselhado, con-
fornecer todas as informações essenciais de cada ori-
tudo, que a dobragem se faça em sanfona porque
ginal. Os itens que devem constar numa ficha são:
o manuseio é mais fácil e a dobragem mais espon- autor, título, edição, projeção, dimensões, escala,
tânea. A única exceção, talvez, se trata de originais área de situação, natureza do exemplar, notas ou
ou cópias em papel vegetal, os quais, uma vez do- observações e assunto sob a forma de cabeçalho.
brados, deformam o assunto representado.
No caso de mapas antigos, são de importância,
Um exemplar rasgado deve receber de ime- além da data, a origem e o autor, também, o gra-
diato um conserto conveniente. Jamais emendá-lo vador, o editor, o tipo de gravação e o colorido.
com fitas adesivas comuns. Ainda, sobre este tipo de mapa, é preciso muita
atenção para a indicação dos itens autor, gravador
8. I . 2 Catalogação e editor. Referindo-se ao primeiro, há termos como:
auctore, delineavit, descripsit e invenit. As referên-
t um assunto controvertido, e o que é pior é cias ao gravador aparecem assim: fecit, scupsit,
que não existe uniformidade, nem internacional- callavit e incidit. E quanto ao editor ou impressor
mente, nem no Brasil. A tendência, entretanto, é há termos como: excudit, exc., formis, apud, sump-
para a utilização das Anglo-American Cataloguing tibus e ex officina.
Rules, adotadas pela American Library Association, A mapoteca da Superintendência de Cartografia
Library of Congress, Library Association (de Lon- do IBGE usa, além da ficha catalográfica, uma ficha
dres) e da Canadian Library Association. de pesquisa. Trata-se de providência muito acer-

73
tada, uma vez que esta ficha abrange todas as áreas Há, atualmente, microfilmadoras planetárias,
relativas à existência de um documento cartográ- capazes de fotografar, em cores, qualquer mapa,
fico. oferecendo um microfilme de 8 milímetros, sem
grandes deformações, fato que não importa, dada
8. 1 . 3 Classificação a finalidade desse tipo de arquivamento, uma vez
que, neste caso, não esteja em jogo a precisão
A classificação de Dewey, da Biblioteca do métrica.
Congresso (Library of Congress), e a Decimal Uni- A outra vantagem de se dispor de um documen-
versal, mais comumente empregadas, apresentam to nessas proporções é a de se poder reproduzi-lo em
notações especiais para material cartográfico, ha- seguida, havendo, para isto, uma copiadora, que
vendo, além destes, a Classificação de Sammuel além de ampliar o filme numa tela, logo após,
Boggs, elaborada especificamente para material copia-o em xerox.
geográfico cartográfico. Mesmo contando-se com Para o arquivamento dos microfilmes, dispõe-
esta disponibilidade, adaptações e classificações pró- se de microfichas de I O X 14 mm, 13 X 20 mm e de
prias são, freqüentemente, adotadas. O Museu Bri· outras dimensões, dependendo dos tamanhos dos
tânico e a Biblioteca de Paris, por exemplo, com- respectivos microfilmes.
puseram as suas próprias classificações, na organi-
zação das suas respectivas mapotecas. Concorrentemente, existem os arquivos apro-
priados, os quais, obviamente, ocupam espaços
Seja, no entanto, qual for o sistema adotado, muito reduzidos.
impõe-se uma uniformidade no processamento, e
que se torne acessível ao ustdrio a estrutura da
classificação. S . 3 Toponimia
O conhecimento da organização das coleções é
um auxiliar precioso na pesquisa da informação. É o estudo lingüístico ou histórico da origem
dos topônimos ou nomes de lugar. O termo designa,
igualmente, a relação dos topônimos de um país,
8. 2 Microfilmes estado, município etc.
"A fonte incontestável para uma relação mais
Os modernos métodos de documentação estão ou menos completa dos topônimos de um país é a
evoluindo no sentido da substituição das tarefas carta básica, de grande escala (de preferência, ou
manuais (mais pesadas, lentas e incômodas) pelas de média escala), e oriunda, diretamente, de levan-
tarefas mecânicas (mais simples e mais rápidas) . tamento regular (aerofotogramétrico ou terres-
Com o crescimento do número de documentos tre) " 59.
e, sobretudo, devido às dimensões dos mesmos, A autenticidade de um documento dessa cate-
impõe-se, modernamente, a adoção do microfilme. goria deve ser ressaltada pelo fato de que os nomes
Como expressa, com muita propriedade, a apostila dos acidentes físicos e culturais da carta básica são
Teoria e Prática de Microfilmagem ~ 8 , "o micro- escolhidos in loco, pelo processo da reambulação,
filme tornou possível a solução de problemas que assunto explicado no tópico 4. 5.
antes não podiam ser enfrentados: o acúmulo de Infelizmente, a toponímia, no Brasil, sofre
conhecimentos até o ponto de terem utilidade prá- apenas uma revisão superficial, isto é, meramente
tica, a difusão desses conhecimentos para seus usuá- ortográfica. Na França, por exemplo, a relação que
rios potenciais e, ainda, o uso ativo de informações, chega do campo passa por uma comissão que exa·
baseadas em conhecimentos completos e correntes". mina cada nome, ortográfica e etimologicamente.
No caso da documentação cartográfica, não se Após esse crivo é que os nomes são liberados à
deve pensar em método melhor para a guarda de produção cartográfica propriamente dita.
todos os originais impressos, bem como do conjunto Outra famosa comissão é a Board on Geo-
de todos os originais de reprodução de uma carta, graphic N ames, do Governo americano, fundada em
de um mapa ou de uma folha. 1890. Esta junta tem por finalidade a uniformização
Este conjunto, que é guardado, normalmente, da nomenclatura geográfica, e as normas da comis-
num grande envelope de dimensão nunca inferior são orientam os nomes, não apenas para os mapas,
a um metro quadrado, de aborrecido manuseio, e mas para os textos em geral.
ocupando grande espaço, teria incomparáveis van- Nem sempre é fácil o estudo de topônimos.
tagens em ser apresentado às mãos do _usuário sob No caso brasileiro, a maior dificuldade está nos
a forma de um pequeno envelope. com o qual, não nomes de origem tupi (também em alguns de
satisfeito o consulente, passaria a compulsar outro origem africana), devido, principalmente, ao conhe-
e vários outros, sem dificuldade e, sobretudo, ali- cimento imperfeito que nos ficou do falar aborígine,
viando o trabalho do arquivista.
39 OLIVEIRA, Cêurio de. As origens psicossociais dos
58 OLIVEIRA, Maria de Lourdes Claro de; ROSA, topônimos brasileiros. Boletim Geográfico. v. 29, n . 215, mn. /
José Lázaro de Souza. Teoria e p1·ática de microfí/magem. abr .. 1970.

74
onde "estão grafados inúmeros termos, embora por Uma reforma ortográfica · é coisa que se admite,
vários modos, mas tal como os ouviram os .oficiais porque a língua evolui 62. Se Nictheroy, por exem-
das capitanias, os juízes, os meirinhos e os tabe- plo, passou a ser Niterói, nada mais acertado, mas,
liães" 8°, além de, em inúmeros casos, não se saber de ]oinville para ]oinvile, não se justifica a su-
com certeza se determinado nome era tupi ou não, pressão do ele, pois se trata de um sobrenome, e
conforme adverte Renato Mendonça 81 . de conotação estritamente histórica.
Quanto ao aspecto cartográfico brasileiro, é Voltando, porém, à fúria revolucionária, deve-se
importante, do ponto de vista toponímico, que toda recordar que, após o 9 thermidor, Versailles se
a nomenclatura, antes de entrar para o mapa, seja tornou Berceau-de-la-liberté, e St.-Cloud virou La
submetida a uma análise, com o exame das origens Montagne-Chérie! Isso aconteceu na França, na
de cada vocábulo (ibérica, tupi-guarani, africana, conservadora Europa. Mas após a tempestade veio
religiosa, etc.) , bem como o significado de cada a bonança.
um, a fim de chegarmos, finalmente, ao ponto deci- Num continente varrido, ultimamente, por
sivo da sua ortografia. ventos não . menos tormentosos, referimo-nos à
Na Terceira Reunião Brasileira de Consulta África, o Lago Eduardo, entre a U ganda e o Zaire,
sobre Cartografia, em 1961, foi aprovada uma reso- ficou sendo conhecido, durante alguns anos, como
lução criando uma ]unta de Nomes Geográficos. Lago !di Amin Dada. Mutatis mutandis, não será
Daí, até hoje, nada foi feito. É pena, porque nunca de admirar se, qualquer dia desses, aparecer algum
ela foi tão necessária como agora, quando vários antropônimo para substituir a nossa decantada
órgãos estão mapeando o Brasil, em várias de suas Lagoa de A baeté . ..
regiões. Convém que se registre, aqui, a edição, em
Quanto à parte ortográfica, a legislação vigente 1970, do lndice de Topônimos da Carta do Brasil
tem as suas normas, não se tornando o assunto ao Milionésimo, coleção de todos os nomes de lugar
dos mais difíceis. Mas quanto à etimologia, há um que se acham representados nas 46 folhas da CIM,
mundo a resolver. Alguns exemplos: Chui ou Xuí. elaboradas e publicadas pelo IBGE. Pena é que,
Pela lei é Xuí. Resolvido. Mas quanto ao signifi- daí para cá, nada mais, praticamente, se fez; pois,
cado, quem poderá dizer, com certeza, atualmente, com uma nova edição da Carta, milhares de novos
no nosso país, o que vem a ser o nosso mais meri- topônimos foram incorporados.
dional topônimo? Por que em São Paulo o termo
Cada nome, para aquele lndice, foi, primeira·
Guarapiranga, e, no Ceará, Guaramiranga? Têm por
mente, fichado, verificado, copiado, e entregue a
acaso significados diferentes? e Araçoiaba e Ara- respectiva relação ao saudoso filólogo Antenor
coiaba? Nascentes.
Quem poderá garantir que Macaé e Maceió
É preciso que se dê, agora, um passo mais
não têm o mesmo étimo? E assim por diante. O
caso, como se vê, está à espera de cuidados. É adiante. Referimo-nos, além da atualização, à parte
filológica.
urgente.
Já ocorreram, no Brasil, vanas mudanças de No campo da toponímia, existem aspectos dife-
nomes de lugar. Há, em cada caso, ou interesses rentes a merecer consideração especial. Um deles,
nem sempre claros para tais alterações, ou simples- que avulta, sobretudo em países europeus que pos-
mente ignorância. Quanta cidade já mudou de suíram colônias em outros continentes, como a
nome neste País! Rua, não se fala! Em períodos Inglaterra, a França, a Holanda, Portugal, etc., é
revolucionários, as trocas de nome são como enxa- o da transliteração (conversão de sinais alfabéticos
mes. Nessas ocasiões, verdadeiras epidemias apare- de uma língua para outro alfabeto). Entre nós,
cem para atacar os desprotegidos topônimos. esse problema se restringe, praticamente, à organi-
zação de atlas mundiais, além dos exônimos relativos
A partir de 1938, no nosso país, em plena aos países limítrofes do Brasil, que temos que repre-
ditadura fascista, o Decreto-lei n. 0 311 agiu intole- sentar em certos mapas.
rantemente, arrogantemente. Até hoje as feridas
daquela reforma toponímica não cicatrizaram. Entretanto, o estudo dos exônimos é muito
Muitas sedes municipais, a partir de então, apenas importante no campo da cartografia e, de todo,
oficialmente têm expressão, já que o povo, autori- pertinente, na vida cultural brasileira da atualidade.
dade mais natural nestes casos, adota a denominação É na imprensa que aparecem, diariamente, referên-
local tradicional. cias a exônimos. E, quase sempre, de forma irregular
Ora, num nome de lugar, como num nome de ou desfigurada.
pessoa, não se toca (salvo em raríssimos casos).
62 La langue d'une nation évolue, comme son génie
propre, et il peut apparaitre illusoire d'en prétt'ndre fixer
60 NUNES, José de Sá. Toponímia Brasílica. Revista les termes à jamais. La toponymie d'un pays n'échappe pas
Brasileira de Geografia, v. 13, n. I, jan.; mar., 1951. aux regles générales du langage et évolue elle·même pro-
61 "Ora se dizia que era tupi em termo de diversa bablement plus vite que celui·ci ... ver BULLETIN d'IN·
origem, ou se atribuía a um termo tupi outra fonte" (ver FORMATION. Paris, Commission de Toponymie de l'IGN.
MENDONÇA, Renato. O português do Brasil). n. 35, 1978.

75
É, provavelmente, a palavra Kuwait, que mais escrevem Accm. Primeiramente, por que o c do-
se repete. O resultado da transliteração deste vocá- brado? Segundo, ao desconhecer a pronúncia do
bulo, do árabe para o inglês, e a conseqüência vocábulo, deixa-se de colocar o acento agudo onde
dessa transcrição nos órgãos de imprensa em língua é devido, já que se trata de um oxítono. Deve-se,
portuguesa se manifestam na pronúncia rigorosa- portanto, escrever Acrá, que é como se pronuncia
mente errada de tal palavra. Os outros veículos de em todo o continente africano, e não Acra.
divulgação de notícias - o rádio e a televisão -
já passaram a pronunciá-la Cuaite! Ora, a pronúncia Sabemos que qualquer estudo, qualquer refor-
é Cu-ueit. Então, não é difícil perceber-se que se ma ortográfica, não se pode valer unicamente do
torna urgente um estudo que se ocupe da ortografia aspecto fonético. Deve entrar principalmente a
dos exônimos. Na França, onde esses assuntos são pesquisa etimológica. Em se tratando, entretanto,
levados na devida consideração, a referida palavra dos exônimos, principalmente aqueles que nos
é adotada sob esta forma: Kowei't. Por que nós, no chegam por meio da transliteração, o seu tratamento
Brasil, não a transcrevemos - a título de sugestão só pode ser, salvo algumas exceções, por via foné-
- como Cueite? tica. Ocorre-nos, como exemplo, uede (curso d'água
A figura 70 reproduz um pequeno trecho do temporário, das regiões desérticas do norte saaria-
Curso Elementar de Geographia Geral (pág. 89) , de no), e que ainda não está nos nossos dicionários.
1927, de autoria de Horácio Scrosoppi, por onde Se a sua escrita em francês é oued e em inglês wad,
se vê que, pelo menos na toponímia, aquele des- só foneticamente podemos grafá-la.
pretensioso livrinho que estudávamos no nosso Outro tipo de desvio verificado em quase todos
primário se achava mais atualizado do que os os órgãos da imprensa se refere a exônimos prece-
opulentos volumes de hoje.
didos de artigo: Le Havre, Le Bourget, Le Mans,
por exemplo. Quando há referências a estes nomes,
7.o EL-Haçá. escrevem: "a cidade de Le Havre . . . ", "chegando
aLe Bourget . . . ","vencendo em Le Mans ... ",etc.,
Ficll na costa occidcntal do golfo Persico quando o certo seria: a cidade do Ham·e, chegando
SUPERFICIE. - 105.000 kms 1 • ao Bourget, vencendo no Mans.
PoPULAÇÃO. - 200.000 habs. Neste particular, não deixa de haver, igual-
CAPITAL. - CoREI:'~! EL CuEIT. mente, vez ou outra, incorreções em topônimos
nossos, sobretudo quanto a estados, capitais e outras
localidades. Assim se diz, o Amazonas, a Paraíba,
Koweit o Rio Grande do Sul, etc. As únicas unidades
federativas às quais não se antepõem artigos são:
Rondônia, Roraima, Pernambuco, Alagoas (inci-
• Pas de missiles Stinger. - Le dentemente, as Alagoas), Sergipe, Minas Gerais (às
gouvernement américain a vezes, as Minas Gerais), São Paulo, Santa Catarina
confirmé, mardi 19 juin, sa décision e Goiás.
de ne pas livrer des missiles antiaé- Igualmente, as suas capitais dispensam qual-
riens Stinger au Kowen, tout en af- quer artigo. As únicas exceções: (o, ao, do, no,
firmant que Washington n'aban- (C para o, pelo) Rio de janeiro; Salvador não precisa
donnerait pas ,, ce pays arabe de artigo, mas deve-se dizer a cidade do Salvador.
Há outras localidades onde é opcional o uso do
modéré. artigo como, por exemplo, Crato (ou o Crato),
no Ceará, e Cabo (ou o Cabo), em Pernambuco.
E, possivelmente, ainda outros casos pelo Brasil
Fig. 70 - Depois da 1.• Guerra Mundial, a então Arâbia se dividia afora.
em três partes: a Arâbia Egipcia. a Arâbia Inglesa e a Arábia Inde- Ao encerrarmos esta nota abreviadíssima sobre
pendente. Esta última compreendia o lmanado de Omll, Nedjed,
Hedjaz, Asir, Iemã, Hadramute e El·Hacâ, sendo a capital deste alguns aspectos toponímicos, é preciso que se res-
último pais, o Cueite (Corein el Cueit). Acima, o topônimo em
causa escrito, atualmente, em francês. salte que a importância do seu estudo é oportuna,
uma vez que algumas denominações antigas de lugar
Apenas para apresentar um exemplo relativo a já orientaram muita pesquisa histórica e arqueo-
esse aspecto, no qual, infelizmente, está realçado lógica. E do ponto de vista mais geográfico, a
o nosso despreparo no plano da comunicação, e toponímia "é utilizada a fim de se fazer uma idéia
que não só a imprensa, mas o ensino do vernáculo da data da localização do povoamento, fator de
e da geografia é que está em jogo, apontamos a explicação essencial para o habitat rural" 63 .
forma ortográfica da capital de Gana. Não, apenas,
os diários e periódicos, mas os atlas e compêndios 63 TRICART, Jean. Travaux pratiques de Géographie.

76
8. 4 Informática 61 Os dados relativos a quaisquer desses arquivos
serão de fácil obtenção, e se apresentarão sob a
É extremamente complexo o conjunto de infor- forma de estatísticas impressas, gráficas e outras
mações de que a elaboração de cartas gerais, topo- saídas automatizadas similares.
gráficas, urbanas, especiais, temáticas, etc., lança O Departamento Cartográfico da Defesa tem,
mão. Cada espécie de carta ou mapa, ou ainda igualmente, em funcionamento, um Sistema Carto-
um atlas, requer um acervo, não só diferente da gráfico Avançado, onde estão englobados inúmeros
coleção exigida pelos demais tipos de mapas, como equipamentos responsáveis pelo avanço verificado
cada conjunto de dados, que é, intrinsecamente, na produção sistemática da elaboração cartográfica
heterogêneo, não se torna de fácil aquisição pelo americana.
fato de provir de diferentes fontes criadoras ou
produtoras desses dados. E tais dados não só são Os principais objetivos desse sistema são:
encontrados em diferentes organizações, como em a) fornecer nova aptidão aos produtos digitais
unidades da Federação às vezes distantes. e gráficos avançados;
Se levarmos em conta, tendo, como exemplo,
b) desenvolver técnicas existentes em produ-
as informações classificadas no tópico 8. I deste tos cartográficos convencionais;
mesmo capítulo, a variedade de elementos neces-
sários à elaboração de cartas geográficas e topográ- c) resposta mais oportuna e econômica aos
ficas torna, ainda, indispensável um serviço perma- requisitos MC & G;
nente de coleta, executado por, no mínimo, um d) facilitar a troca de informação entre os
funcionário, em constante busca de novos dados, centros do Departamento;
onde quer que eles possam encontrar-se. e) aumentar a flexibilidade.
Visando à automatização dos processos carto-
gráficos, vem-se organizando, nos últimos anos, As funções desse sistema, visando à digitaliza.
sobretudo nos Estados Unidos, o sistema de banco ção, à preparação da publicação e à informação de
de dados e de equipamentos digitais, cujo desen- saída, têm, como de maior importância, realizar
volvimento levará, futuramente, à produção carto- a conversão de dados gráficos em dados digitais.
gráfica, os mais espetaculares métodos de elaboração Quanto ao resultado prático da representação
de cartas e mapas de todos os tipos. cartográfica, por exemplo, um dos maiores avanços
A fim de alcançar tal objetivo, o Departamento se tem verificado na restituição automatizada, não
Cartográfico da Defesa (Defense Mapping Agency) só de curvas de nível, como da hidrografia, da
dos Estados Unidos começou, já há algum tempo, vegetação, etc.
a automatizar todos os seus arquivos. Como exemplo
dessa modificação revolucionária, podemos citar os A cartografia brasileira já vem contando, há
tipos de arquivos básicos de dados cartográficos algum tempo, com as atividades da Diretoria de
automatizados pelo aludido órgão: Informática do IBGE, no sentido da automatização
a) Arquivo de Informação Cartográfica Auto- de algumas etapas da elaboração sistemática das
matizada, o qual se ocupa do material de infor- cartas e mapas produzidos pela Diretoria de Geo-
mação sobre mapas; désia e Cartografia. Mas é nesta última diretoria
b) Arquivo das Condições do Produto e das que se trabalha, atualmente, no desenvolvimento do
Necessidades da Area, que difere do anterior pelo Centro de Informações Cartográficas (CIC) , com
fato de dispor dos produtos ultimados pelo Depar- a finalidade de dispor de auto-suficiência na área
tamento; de informática para todas as operações que exigem
c) Arquivo Básico de Dados Cartográficos, o cálculos, sobretudo na geodésia. Na realidade, já
qual guarda os dados digitais oriundos da elabora- se conta com sistemas para ajustamento do nivela-
ção dos programas do Departamento. Tais dados mento e da triangulação, bem como da aerotrian-
diferem entre si, dependendo do programa e dos gulação, na fotogrametria.
requisitos ou necessidades do usuário;
d) Arquivo de Obstrução Vertical do Depar- Já se acha, igualmente, em linha de produção,
tamento, o qual possui numerosas indicações sobre o cálculo da posição de rastreadores, em que se
as referidas obstruções, as quais podem converter-se usam dois sistemas, o ] MR e o Geoceiver. Todos
em perfeitos potenciais à segurança aérea; os valores de campo estão contidos em cassetes, ou
e) Arquivo de Fotoíndices, que tem por fim em fi tas perfuradas. Daí, para a transferência para
a catalogação das origens fotográficas existentes, e a fita magnética, e o conseqüente cálculo, ajusta-
dos seus respectivos dados de saída, com as suas mento e impressão dos resultados, é uma questão.
características. de segundos.
Para a elaboração cartográfica propriamente
64 Informática - Ciência do tratamento racional e dita, já se encontra em funcionamento a transfor-
automático da informação, considerando-se esta como base
dos conhecimentos e comunicações. ver OLIVEIRA, Cêurio mação de coordenadas UTM para valores x e y na
de. Dicionário Cartográfico. projeção desejada (UTM, por exemplo) , o que

77
constituiu o primeiro passo na maior conquista e~pecífica, já in~orma~a, em 1975, muito a propó-
em processos gráficos no âmbito da automatização stto, o nosso anugo onentador, Professor Libault 611,
no IBGE: o traçado dos cartões de cada minuta a ser que o centro urbano de Paris representava, àquele
restituída, e os quadriculados da projeção para ano, através de um banco de dados, "um conjunto
quaisquer folhas a serem elaboradas. de mais de dez milhões de valores digitais, deta-
Para se ter uma idéia do volume de dados lhando os quarteirões ao nível 'do prédio, com as
relativos a um determinado assunto, ou a uma área características elementares dos seus moradores" 68.

6!1 Tivemos a honra, no nosso primeiro estágio na França, em fins de 1957, de tê-lo como orientador nos diversos cursos
realizados no Institut Géographique National, na Société Fran~aisc de Cartographic c nos ttablissemcnts Michelin.
66 LIBA ULT, André. Geocartografia .

78
9. Organização e planejamento
duma carta
No momento em que se chega à decisão da A sociedade moderna culturalmente organizada
elaboração de um documento cartográfico - seja (e aqui entram não apenas os setores da adminis-
uma carta, um mapa ou um atlas - é porque a tração pública e privada) não pode alhear-se do
obra, em perspectiva, ainda não existe; por exemplo: papel da escola na gestação dos problemas sociais,
o mapa duma unidade política ou administrativa econômicos e culturais da população local, bem
recém-criada ou o documento existente, que já se como o da sua divulgação pelos órgãos diários de
encontre esgotado, ou ainda, a exigir uma edição comunicação, que a população utiliza.
atualizada. Por isso é que, num país em estágio de desen-
Antes da elaboração de um documento dessa volvimento bastante avançado, há tanta variedade
natureza, torna-se imprescindível um meticuloso de tipos de mapas. Mapa de ruas, mapa rodoviário,
exame de tc:>das as características que vão ao en- mapa turístico, mapa do tempo e muitos outros.
contro da materialização do projeto. Há uma série
de indagações que concernem ao documento idea-
lizado, seja este de que tipo for, inclusive os mapas 9.2 Documentação
especiais e os temáticos. Tais indagações dizem
respeito aos seguintes assuntos: a sua finalidade, Imediatamente após a decisão da necessidade
a documentação disponível, a escala, o sistema de da elaboração de um mapa, seja este por via de
projeção, a base cartográfica, o formato e a tiragem. um levantamento fotogramétrico, em que temos,
imediatamente, de trabalhar com a estereominuta
(no caso de cartas básicas) ; seja ele por compi-
9 .1 Finalidade lação, geralmente sob redução, duma carta básica
existente (no caso das cartas derivadas) ; seja ainda
As primeiras perguntas a serem formuladas, por compilação de vários dados e, muitas vezes,
no momento de iniciarmos os estudos para a edição heterogêneos (a que se recorre unicamente na im-
duma carta. são: - Para que ou por que essa carta? possibilidade da existência duma base fotogramé-
Que tipos de usuários têm necessidade dessa carta? trica), temos que recorrer à melhor documentação
Um mapa requerido por um administrador - existente, a qual se acha numa boa mapoteca. A
um governador de Estado, um prefeito municipal nossa primeira operação é a de coligir tudo o que
etc. - poderia indicar, de saída, que o seu uso deve se refere à área a ser cartografada. De posse desse
destinar-se tão-somente às necessidades administra- volume de informações, a etapa seguinte diz respeito
tivas oficiais. A coisa, porém, não nos parece assim ao exame cuidadoso do material à nossa disposição,
tão simples. Para o administrador em causa o mapa para, em seguida, selecionarmos aquilo que, real-
é necessário e urgente. Este é, via de regra, o seu mente, irá servir ao trabalho compilatório.
ponto de vista. Mas a participação dos usuários em Se o mapa em projeto tiver o caráter básico
potencial, isto é, todos quantos vivem e produzem ou o caráter derivado, a documentação acessória
no âmbito da aludida unidade a ser mapeada, tem, exigida será pequena. Reduzir-se-á à coleta de dados
igualmente, carência do mapa. que venham complementar o trabalho executado
Surge, aí, um detalhe que seria, provavelmente, anteriormente no campo - o da reambulação -
aquele que viria no fim deste capítulo: o da tiragem. uma vez que esta operação poderá mostrar-se insu-
Mas é aqui que ele se faz presente: a estimativa do ficiente se o tipo de carta que se projeta exigir
universo representado pelos usuários, e em que certos aspectos especiais, ou se aquela reambulação
tempo deverá o produto ser consumido. tiver sido executada há muito tempo.
No tocante, ainda, aos seus objetivos, é essen- Se, entretanto, o mapa em projeto tiver que
cial indagarmos qual é o principal tipo de utili- ser compilado de dados diversos, neste caso a
zação do produto. Será, simplesmente, um documen- documentação coletada terá uma importância vital
to para atender, vagamente, a administradores e na atualização da base cartográfica compilada. Neste
administrados? Ora, isso já aconteceu várias vezes, ponto, aconselhamos o exame dos 64 itens especi-
devido, sobretudo, ao despreparo técnico ou cultural ficados no capítulo 3. bem como o tópico 13. 2 . 1 . 1,
daqueles que ainda não descobriram a necessidade onde há referências à compilação da Carta do Brasil
e as vantagens de se valerem da utilidade e bene- ao milionésimo, executada há muitos anos pelos
fícios que um mapa lhes pude oferecer. cartógrafos do IBGE.

79
9.3 Escala Existe, por outro lado, uma carta muito menos
generalizada, cujo conteúdo geográfico jamais po-
No caso pouco provável de termos que elaborar deria ser encaixado em qualquer dessas duas escalas.
um mapa em que o próprio solicitante não se cons- Trata-se da já aludida Carta ao milionésimo, a qual
. cientizou da importância de uma ferramenta que tem a vantagem de cobrir toda a área territorial,
lhe poderia ser de grande serventia, qualquer escala com muito mais detalhes do que as duas citadas
geográfica poderia ser utilizada. Mas como este anteriormente, para o que são necessárias nada
aspecto parece que, pouco a pouco, tende a desa- menos do que 46 folhas, cada uma de 75 X 54
parecer, à medida que uma certa mentalidade carto· centímetros.
gráfica se corporifica, tudo leva a indicar a conve- Examinemos agora, para efeito de comparação,
niência duma escala topográfica, a qual irá mostrar outro tipo de carta: a de 1:250 000, topográfica,
um retrato da configuração da área ocupada pela oriunda de levantamentos fotogramétricos, a qual,
coletividade, incluindo certos detalhes relativos aos para certas regiões mais densamente povoadas e de
aspectos naturais ou físicos e os aspectos artificiais desenvolvimento mais avançado, se mostra deficien-
ou humanos da unidade geográfica a ser cartogra- tíssima. Nestas regiões, existem zonas que exigem
fada. Neste caso, não é demais lembrarmos que um mapeamento em 1:25 000, como é o caso de
vantagens surgirão, para governantes e governados, certas áreas de alguns estados do Sudeste.
na esfera do comércio, da indústria, dos transportes, Pois bem. Para a cobertura total do país em
da agricultura etc., com o uso conveniente de um 1:250 000, são necessárias cerca de 550 folhas. Para
bom mapa. um mapeamento em escalas maiores, quantos mi-
A escala duma carta - seja ela qual for - não lhares de folhas!
corresponde, unicamente, ao aspecto da ocupação Em 1968, em documento oficial apresentado à
demográfica do solo. Além do fator população rela- I Conferência N acionai de Geografia e Cartografia
tiva, outros aspectos se ligam diretamente à diver- (CONFEGE), intitulada "Elaboração de cartas -
sidade das escalas. Uma floresta equatorial, um problemas inerentes à elaboração e preparo de
deserto, as áreas circumpolares não costumam ser cartas", escreveu o autor, a respeito do aproveita-
representados em escala grande, a não ~<.:1 em casos mento das cartas topográficas no território nacional,
específicos. Também sabemos de áreas de forte o seguinte: "as escalas 1 :25 000, 1:50 000, 1: I 00 000 e
densidade demográfica mapeadas em escalas peque- 1:250 000, as de maior importância para as obras
nas. Aqui, o fato se liga, especificamente, a regiões e estudos da infra-estrutura sócio-econômica do
de população sócio-econômica e culturalmente atra- país, podem ser distribuídas ou adaptadas ao espaço
sada, ou de baixa renda. brasileiro do seguinte modo (acompanhava um mapa
Um pequeno paralelo talvez venha ilustrar o anexo) : a) as regiões de forte densidade demo-
tema. Em 1951/52, quando nos encontrávamos esta- gráfica (acima de 50 hfkm2), onde as atividades
giando no Ordnance Survey, na Inglaterra, chamou- industriais são evidentes, onde o desenvolvimento
nos a atenção a edição de cartas cadastrais urbanas econômico e social se acha em franco aceleramento,
na escala I :500. No Brasil, a maior escala para uma exigem um mapeamento de 1:25 000 (cerca de
carta da cidade do Rio de Janeiro, àquele tempo, 200 folhas de 7'30" X 7'30") ; b) as regiões de
1
era apenas 1:5 000. densidade demográfica entre 30 e 50 h fkm2, em
Ora, ao se usar uma escala grande, a área fase de expansão econômica e social, onde a agri-
cartografada tende a dilatar-se. Neste particular, cultura intensiva é incrementada, justificam uma
um pequeno território representado numa escala escala de 1:50 000 (cerca de 1.500 folhas de
grande não irá caber numa folha de papel, mas em 15' X 15'); c) as regiões de densidade demográfica
duas ou mais folhas. entre 10 e 30 h f km2, onde a agricultura ainda se
Para ilustrar este ponto, nada melhor do que acha atrasada, necessitam de um amplo recobri-
usarmos, como exemplo, a escala l: l 000 000 (que mento na escala de 1: 100 000 (cerca de 800 folhas
não é uma escala grande), na qual está editada de 30 X 30) ; d) as regiões de rala densidade
a Carta Internacional do Mundo (CIM). Para demográfica, bastante atrasadas, e as regiões ao longo
territórios como a Bélgica (30 500 km 2) ou a Irlan- das grandes vias de penetração para o oeste, pre-
da (83 800 km2), apenas uma folha da CIM é cisam de cartas em 1:250 000 (cerca de 150 folhas
de 1o X I o) " 67.
suficiente para cobrir todo o espaço físico de cada
um. Portugal, com 88 700 km 2, já precisa de duas
folhas. 9. 4 Sistema de projeção
No caso do Brasil, por exemplo, a quinta área
territorial do mundo, existe, atualmente, dentre O tipo de projeção atualmente adotado para os
outros, um mapa extremamente generalizado, numa programas topográficos acha-se bem estabelecido,
única folha de papel, de cerca de um metro qua- uma vez que a adoção do sistema UTM não oferece
drado, na escala de 1:5 000 000. Outro, ligeiramente
menos generalizado, é publicado em 1:2 500 000, 67 Dezenove anos depois, o enfoque, com umas pequenas
para o que são necessárias quatro folhas. correcões, continua atua!i1.ado e, sobretudo. realista.

80
divergência, e muito menos dificuldade. No que Não apenas o volume, mas, igualmente, a forma
toca, porém, à elaboração de mapas em escalas da representação da natureza físico-humana tem
pequenas, o problema é menos fácil. . muito a ver com o espírito que norteia o documento.
Surgem aqui outras implicações. Além da fma- Uma carta que se destina, por exemplo, a uma
lidade do mapa, um aspecto muito importante na entidade do Nordeste, encarregada de analisar e
adoção do tipo de projeção refere-se, não ape_nas apontar sugestões para os problemas típicos da
à área em si, mas à sua forma a ser cartograhca- região, deverá mostrar, com uma minúcia compa-
mente coberta. Quanto menor a área e quanto mais tível com a escala, os principais aspectos relativos à
uniforme, tanto mais fácil a escolha da projeção. rede hidrográfica (salientando os cursos d 'água
Crescendo a área, obrigamo-nos a buscar a escala perenes e não perenes): a rede de canais de irrigação
conveniente. E as variedades de formas já ampliam bem como os açudes grandes e médios, os poços a
mais a escolha do tipo de projeção. vento e a motor, o relevo em curvas de nível (co,m
Não poderia haver melhor exemplo para ilus- uma eqüidistância permitida pela escala), os postos
trar este tópico do que o território brasileiro. meteorológicos, a vegetação natural da caatinga e
Já apreciado no tópico 7. 7 .1, a área brasileira. de outras zonas, os tipos de culturas agrícolas, a
mais devido às suas dimensões do que à sua forma, rede de linhas de energia hidráulica, as estradas e
constitui uma área crítica a ser convenientemente os caminhos etc.
representada numa só folha, através de q':lalquer
Convém lembrar que o que está em jogo é
dos principais sistemas de projeção. Se ~msermos
uma carta topográfica oriunda de levantamento
preservar-lhe a forma, teremos, automaucame~tc,
reaular recente. E, ao mesmo tempo, que esse pe-
de sacrificar-lhe as verdadeiras dimensões e vrce-
q;eno esboço não diz respeito a um determinado
versa. A projeção policônica, que há muitos anos
vem sendo empregada, ao contrário, sacrifica ambas. tipo de carta especial. . Trata-se, ali, duma carta
básica topográfica com a finalidade de orientar os
Outro aspecto, ainda, a ser levado em conta, estudos dos problemas típicos, visando um planeja-
no momento da adoção da projeção, é o da latitude mento regional. E devemos acrescentar, ainda, que
da área em estudo. O mais lógico, por exemplo, a entidade em causa irá precisar de uma série de
é que uma área equatorial deva ser amarrada a mapas especiais - oriundos daquela base topográ-
uma projeção equatorial, bem como para o caso fica - como o geológico, o de solos, o climático, o
da representação da Antártica, por exemplo, deva de uso da terra, o viário etc.
prevalecer um tipo de projeção polar.
E assim por diante.
9 . 6 Formato
9 . 5 Base cartográfica O tamanho relativo de um mapa ou folha,
em dimensões de altura e largura, acha-se na
Ao se tratar duma carta básica original, o dependência direta da forma da superfície . da uni-
cartógrafo já se achará de posse d~ escala _e da dade geográfica cartografada ou da própna folha
projeção, bem como da documenta~ao . ~esqursada. de papel, o que acontece, quase sempr_e, com os
Então é chegado o momento da restr,t~rçao fotog~a­ atlas. Por tais motivos, os formatos vanam tanto.
métrica para as operações cartograhcas p~opn~­
mente ditas, visando à elaboração dos ongmars Como se procura sempre a estética num pro-
cartográficos e dos originais de reprodução, _op~ra­ duto cartográfico, e devido ao fato de certos for-
ções que não podem desvincular-se dos obJetivos matos fugirem a esta regy:a - o qu~ .re~ta ao
para os quais o mapa foi planejado. cartógrafo, em tais oportumdades, é mmtmrzar os
exageros. É o caso, por exemplo, do território
Entra nesta etapa uma série de especificações
chileno, em que a extensão leste-oeste representa
que dizem respeito à natureza d? mapa em tr_a-
apenas cerca de 6,3% do seu comprimento norte-sul.
balho. Tais especificações vão onentar o arranJO
Devido a esta realidade, qualquer mapa daquele
da representação cartográfic~ e~ todos os detalhes
previstos no caso, como os smar~ e as cores_ conven- país tem que ser sec~ionad~, no ~ínimo, três vezes,
a fim de que as tres secçoes seJam representadas,
cionais, o letreiro, com a sua vanedade de tipos etc.,
uma ao lado da outra, numa folha de papel. Como
a densidade dos elementos básicos planimétricos e
se vê, é um formato atípico.
altimétricos, os quais variam como indicaremos a
seguir. O Estado de Pernambuco, ao contrário, de
O aspecto da superfície geográfica que_ o mapa maior extensão leste-oeste do que norte-sul, e que,
deve apresentar, isto é, a expressão do conJunto de nem de longe, alcança a desproporção verificada
símbolos tão diversos, varia de acordo com: a) o em relação ao Chile, obriga-nos, no momento de
objetivo principal ao qual o documento se destina; se traçar a moldura do seu mapa, a fazer_mos certas
b) a própria natureza do ma~a (se _é geral. espe- compensações entre altura e largura, a fim de que
cial, temático etc.); c) a conftguraçao d~ terreno o formato não dê o aspecto duma tira.
(urbana, rural, plana, montanhosa, desértica etc.) ; No caso de superfícies como as dos Estados do
d) o tipo de escala. Rio de Janeiro e Santa Catarina, por exemplo, que

81
apresentam formas bem especiais, qualquer que seja cultural com o norte da Africa, deixando-se ainda
o formato, haverá sempre uma grande área, fora apreciar, por inteiro, o bolsão ocidental do Medi-
dos limites estaduais, inteiramente vazia, onde, terrâneo.
invariavelmente, iremos colocar certos detalhes,
como a legenda, os tftulos e as escalas e, ainda, um
possfvel encarte para tentarmos equilibrar o aspecto
9.7 Tíragem
visual do produto gráfico.
Este tema, que já foi suscitado no tópico 9. I,
Em todas essas oportunidades existem, como se está em conexão com o número provável de usuários
nota, pequenos artifícios que o cartógrafo encon- do produto a ser elaborado, assim como o tempo
tra, não apenas no bom aproveitamento de detalhes em que deverá ser consumido.
importantes de um território, como no seu esforço
em prol da estética. O capital investido no conjunto de operações
que compõem a elaboração duma carta, desde os
t, muitas vezes, nos atlas, que surgem formatos primeiros levantamentos até a impressão final, é
tão pouco comuns que nos obrigam a buscar cert?s considerável. Qualquer mapa, mesmo aqueles que
artificios, a fim de encontrarmos a melhor soluçao não se originam diretamente dum levantamento, é
para o enquadramento do assunto em caus~. _Ness~s um produto que se divide em várias fases, de longa
atlas, em que temos sempre que_ nos su1e~tar as elaboração, que absorve, em cada uma dessas fases,
dimensões da página preestabelecida, é mmto co- uma diferente equipe de especialistas, e em que são
mum a solução da abertura de janelas na moldura, empregados diversos instrumentos, alguns importa-
como nos dá exemplo a figura 71. Ora, como o dos, bem como uma multiplicidade de materiais,
formato das folhas é rígido, este não é, propria- muitos deles igualmente importados.
mente, procurado. O que, então, se procura é uma
escala que amplie, ao máximo, o assunto cartográ- Edita-se um mapa porque é preciso editá-lo.
Isto é, as razões são determinantes. Na maioria
das vezes, as normas que regem o mm·keting não
são ou não podem ser aplicadas. Investir em carto-
grafia é, muitas vezes, o mesmo que investir, por
exemplo, na construção duma estrada. t preciso
irmos ao encontro das necessidades duma comuni-
dade. E o êxito comercial do produto nem sempre
pode ser levado em conta.
;\·lesrno assim, não se pode deixar de determinar
a tiragem e nem de se fixar o preço de venda do
produto.
O exemplo da saída das 46 folhas da Carta
do Brasil ao milionésimo nos aponta, com bastante
evidência, que o que move a procura dum mapa
é o número de pessoas que vivem e produzem numa
área, e, igualmente, o grau de desenvolvimento desse
grupo humano.
Fig. 71 - A Península Ibérica, vendo-se. pela janela, isto é, a moi·
dura interrompida, parte da África do Norte. As folhas denominadas Rio de janeiro, Para·
napanema, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte,
por exemplo, precisam duma tiragem muito acima
fico. Segundo a figura, aí estão duas páginas con- da das folhas ]uruena, ]uruá, Içá, Uaupés e Tumu-
secutivas de um atlas, nas quais se acha representada cumaque. t que o primeiro grupo de folhas cobre
a Península Ibérica, na maior escala possível para a territórios de população densa e de desenvolvimento
valorização máxima do referido assunto. Usada a econômico bastante alto, ao contrário das folhas
janela, no lad~ inferior da ~oldu.r~, a i~ten~ão é do segundo grupo, que cobrem áreas de população
de realçar a hgação geográfica, flSlca, hrstónca e rarefeita e de desenvolvimento bem atrasado.

C)
1O. Sensoriamento remoto
1O.1 Generalidades /0.2 Pequeno histórico

A realidade física nos é transmitida por meio Ao apresentar, em 1839, a primeira solução
de sensações muito variadas, advindas de cada um gráfic~ do ~roblema fotográfico, nem de longe
dos órgãos responsáveis pelos nossos cinco sentidos: podena LoUJs-Jacques-Mandé Daguerre imaginar
a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar. que a entrada ao mundo espetacular dos sensores
Cada um deles é, entretanto, no ser humano, bas- remotos, aerotransportados, estava sendo dada com
tante limitado, se o compararmos com o correspon- uma antecipação de um século, embora o inventor
dente sentido de alguns animais. da fotografia já houvesse sido, anos antes, um
químico, também francês, Nicéphor Niepce.
A bem dizer, o sensoriamento remoto nada tem
de novo, pois quatro dos nossos cinco sentidos são . Quem, entretanto, primeiro fotografou a super-
remotos, permitindo-nos obter informações a dis- fíCie do nosso planeta da frágil nacela de um balão
tância. foi, provavelmente, este outro francês Gaspar Félix
Tournachon, que no dia 23 de outubro de 1858
Segundo o Glossary of Mapping, Charting, and tirou uma foto da pequena localidade de Petit-
Geodetic Terms, do Departamento da Defesa Clamart, situada ao sul de Paris.
(EUA), sensor é "um recurso técnico para ampliar
os sentidos naturais do homem. É, igualmente, um A figura 72 dá uma idéia de como eram os
dispositivo ou equipamento que capta e registra, sob balões antigos.
a forma de imagens, a energia refletida ou emitida
pelas áreas, acidentes, objetos e acontecimentos do
meio ambiente, incluindo os acidentes naturais e
culturais, e os fenômenos físicos, e, ainda, os detalhes
os objetos e as atividades humanas. A energia pode
ser nuclear, eletromagnética, incluindo as partes
visíveis e invisíveis do espectro, como as visíveis
químicas, as biológicas, as térmicas ou mecânicas,
compreendendo o som, o trovão e a vibração da
Terra".
O qualificativo remoto se torna uma mera
questão de posição no espaço ou no tempo, sendo,
por conseguinte, relativo.
Subordinando-nos ao embaraço, ou à deficiência
em sentirmos um aspecto particular daquela reali-
dade física enunciada no princípio deste capítulo,
é preciso que estabeleçamos níveis de remoto,
situando-nos, nós próprios, ou colocando o sensor
de maneira apropriada.
O sensoriamento remoto é, portanto, a "técnica
que utiliza sensores na captação e registro da energia
refletida ou emitida por superfícies ou objetos da
esfera terrestre ou de outros astros" 68.
Aplicando-se ao estudo da superfície terrestre,
o sensoriamento nos fornece a possibilidade da
obtenção de informações de suma importância na
utilização efetiva e na conservação dos recursos
naturais.

68 OLIVEIRA; Cêurio de. Diciondrio Cartogrdfico. 2.a Fig. 72 - Desenho do final do o«. XIX, mostrando um baiJo muito
ediçllo. bem equipado, lncluaive com câmaras fotográficas.

8!1
A primeira fotografia de boa qualidade, porém,
T&cnico de
1na pertencer ao americano Wendell Holmes, que, sensortome Mo
em 186!l, conseguiu, igualmente de um balão, foto-
grafar a cidade de Boston. E, já no nosso século, 10 4 1-- Frequ.
muito
um australiano, ainda da cestinha de outro balão, alto
duma altura de 274 metros, tirou boas fotos da
1--
cidade de Sidney. Alta
Frequ.
O grande desenvolvimento da fotografia aérea 2
deveu-se ao aparecimento do mais-pesado-do-que-o- 10 r-
ar e ao uso da fotografia na guerra de 1914-18, para
Foi )tOS
obtenção de informações militares, o que iria con- f- de
verter a fotografia, dum passatempo do final do rodar lmooens de rodar
século XIX, numa técnica de documentação tão de "'soda lateral
divulgada em nossos dias. 10° '-

Nas duas últimas décadas, o incremento dos


satélites artificiais e dos sistemas de comunicação ~

viria, finalmente, proporcionar uma nova dimen- "o


são da observação aérea, com o emprego, já hoje c
corriqueiro, do sensoriamento remoto, na informa- "E
-~

ção cartográfica, geográfica, oceanográfica, meteoro- E


o
u
lógica, astronômica, geológica etc. - lnfro~J.
lmooeamento
infravermelho

1O. 3 Princípios físicos FofoQrofto em cor-falso

j::::.v!~ ~ Fatograt1o pancromático e e m cor ve rdadeira


As características de cada elemento observado
Ultro-
determinam a sua assinatura espectral: a maneira vlol
particular segundo a qual emite ou reflete energia.
No momento em que a radiação eletromagnética
atinge a matéria sólida, torna-se possível um número
de interações. A massa e a energia são conservadas,
conforme os princípios físicos básicos, podendo a
energia comportar-se da seguinte maneira: a) ser Raios X
transmitida, isto é, propagada através da matéria; 1o-• 1--
b) refletida, isto é, devolvida, sem alteração, à sua
origem; c) emitida, ou, geralmente, reemitida pela Raios "Y
matéria, em função da temperatura e da estrutura
molecular, num comprimento de onda igual ou
Fig. 73 - O sensoriamento remoto se achava, no prtnClptO, restrito
diferente; d) absorvida, cedendo a sua energia às emissões da energia vis(vel, para as quais eram utilizadas as téc-
sobretudo no aquecimento da matéria; e) dispersa, nicas fotográficas e de observação convencionais. O equipamento atual
pode captar as ondas do infravermelho e do radar. Empregando-se
isto é, deflectida, e perdida, finalmente, por absor- sensores mais sofisticados, uma ampla gama de emissões radioelétricas,
que incidem sobre a superflcie da Terra, pode ser registrada e do·
ção e por novas dispersões. cumentada. As fotografias em cor falsa são empregadas para realçar
e separar acidentes ou caracterlsticas importantes, dando·lhes cores
Esse comportamento, por qualquer tipo de distintivas e contrastantes. Nessas fotos, por exemplo, a vegetação
matéria, é seletivo em relação ao comprimento de natural apresenta-se sob um vermelho vivo , ao invés do verde.
onda, e específico para cada tipo de matéria, depen-
dendo, basiCamente, da sua estrutura atômica e Detectores - diodos fotocondutores, filmes,
molecular. Torna-se possível, assim, em princípio, cavidades ressoantes etc.
a identificação de um objeto observado por um Processadores de sinal - resistores de carga,
sensor, mediante o registro da sua assinatura amplificadores etc.
espectral.
Produtos de saída - fotografias, gravações mag-
A figura 73 mostra um esquema do espectro néticas, registros de espectrógrafos etc.
eletromagnético.
Os sensores podem ser ativos ou passivos. Os
do primeiro tipo possuem a sua própria fonte de
1O. 4 Principais tipos de sensores energia, a qual incide num alvo, para, em seguida,
captar o seu reflexo. É o caso do radar e dos dis-
tanciômetros a laser. Diz-se que um sensor é passivo
Em todos os sistemas de sensores remotos estão quando registra irradiações diretas ou refletidas de
presentes quatro componentes básicos: fontes naturais, como é o caso, por exemplo, das
Coletores - lentes, espelhos, antenas etc. câmaras fotográficas e dos cintilômetros.

84
10.4.1 Câmaras lO . 4. 3 Radiômetros

Permite a câmara a captação de dados de alta Um radiômetro é constituído pelos mesmos


resolução 61!, facilmente disponíveis e aplicáveis a componentes da câmara, embora a sua função seja
técnicas de análise e de interpretação altamente diferente. Enquanto que a câmara percebe a luz
desenvolvidas. Ela é utilizada principalmente na solar refletida, e forma uma imagem da cena, os
faixa limitada do espectro visível, produzindo uma radiômetros, por seu turno, registram a energia
imagem da área em consideração, a qual pode ser emitida pela superfície, e, normalmente, não for·
analisada e interpretada por meio da nossa visão. mam uma imagem da cena. É que todas as substân-
O coletor mais conhecido é uma lente que concentra cias (acima do zero absoluto) irradiam energia com
a energia luminosa sobre um filme fotográfico, o uma intensidade diretamente dependente da sua
qual é processado quimicamente, constituindo uma temperatura, e esta é a energia que os radiômetros
fotografia o produto final. Pode haver outras varie- percebem.
dades, nesse particular, como é o caso de, substi· Um bom exemplo de radiômetro é o que foi
tuindo um filme, adotar-se uma célula fotoelétrica, colocado em órbita em princípio de 1983, e que,
como o tubo Vidicon das câmaras de televisão. A através de registro de energia infravermelha, detec-
energia captada, aqui - a luz - é convertida em tou a presença de planetas em torno da estrela Vega.
energia, no comprimento de ondas de rádio, e
transmitida; ou transformada em pulsos magnéticos,
10. 4 . 4 Varredores
podendo ser gravada em fita ou disco. Decodificado,
o produto final é uma imagem visível num tubo O varredor é uma câmara, ou um radiômetro,
de vídeo. Existem também câmaras projetadas para cujo coletor oscila de um lado para o outro, trans-
a captação de raios gama, raios X, radiação ultra- versalmente, ao eixo de deslocamento, enquanto o
violeta, infravermelha etc. veículo se movimenta segundo uma direção. Todos
Numa câmara, todos os elementos da cena são os varredores são imageadores, e um imageador pode
captados simultaneamente, de modo que, para uma produzir uma imagem tão clara quanto uma tirada
determinada imagem, tem-se iluminação constante, por uma câmara fotográfica.
sendo o filme um excelente meio de registro. barato Os varredores são utilizados todas as vezes que
e resistente. e podendo cobrir o espectro, desde o se necessita dum amplo campo de visão e de alta
ultravioleta até o infravermelho próximo. As limi- resolução, sem os inconvenientes do volume das
tações, na faixa do ultravioleta, são causadas. prin· objetivas das câmaras métricas.
cipalmente, pelo vidro da lente e pela camada de
ozônio da atmosfera, que absorvem as radiações Conjugando-se os varredores para a faixa do
antes de chegarem ao filme. Para contornar tal visível e do infravermelho, pode-se captar uma
inconveniente, existem câmaras sem lente. No outro imagem com alta resolução espectral. Tais imagens
extremo, isto é, no infravermelho próximo, o são particularmente eficientes na captação de "ele-
mentos cuja absorção e reflectância sejam diferentes
número de fótons, neste comprimento de onda, é
da sua proximidade imediata, como é o caso da
bastante reduzido. Da mesma maneira que no filme, reflexão da luz solar pela clorofila duma planta
as válvulas fotomultiplicadoras utilizadas em tele- saudável, e a menor reflexão da planta doente.
visão têm, igualmente, limitada a faixa do espectro
O acréscimo de sensores de comprimentos de
em que atuam.
onda mais longos permite a obtenção de imagens
da cena, tanto pela energia emitida quanto pela
1O.4. 2 Câmara multiespectral energia refletida, e um sensor termal pode ser utili·
Emprega-se esta câmara quando há necessidade zado em qualquer tempo, inclusive à noite.
de se discriminarem áreas que possuem pequenas
variações espectrais das reflectâncias características. 1O. 4. 5 Espectrômetros
Sendo muito sutis as diferenças para que possam
Os espectrômetros medem o comprimento de
ser percebidas na larga faixa do espectro registrado
onda da energia eletromagnética refletida, absorvida
nas câmaras métricas, podem, todavia, ser detectadas
e emitida pelas substâncias, ao invés de registrar a
por comparação (através de manipulação de cores,
sua forma (como no caso da câmara).
em imageadores) a partir das imagens captadas nas
várias faixas espectrais. Assim como o radiômetro, o espectrômetro é
um sensor passivo que coleta toda a energia emitida
No caso dessas câmaras, a energia percebida
por um elemento da superfície, gerando um espec-
é a luz solar refletida.
trograma da área visualizada. O coletor do espectrô-
metro pode ser dotado de um filtro, com a possibi-
69 Idem ibidem: Resolução - A distância mínima lidade de selecionar unicamente faixas estreitas do
c:r·t:·e dois detalhes contíguos, ou o tamanho mínimo de um
deta.lhe, o qual pode ser detectado numa fotografia ou numa
espectro magnético. Como a resolução espectral é
in.agem de radar. maior do que a da câmara e a do radiômetro, a

85
energia relativa das faixas estreitas permite a defi- 10.5 RADAMBRASIL
nição da natureza da superfície refletora ou emissora
de energia, ou da atmosfera através da qual a Foi iniciado, a partir de 1970, um levanta-
energia passa antes de ser captada. mento a radar da Amazônia, com a finalidade da
Como se vê, são muito utilizados os espectrô- elaboração de cartas planimétricas. Para isso foi
metros, inclusive pela astronomia, que, neste caso, necesdria a determinação de posições terrestres, e
se destina ao estabelecimento dos elementos dos u~a série inicial de 30 pontos foi estabelecida pelo
astros. Sistema de Determinação de Posições por Satélite
Os espectrômetros e os cintilômetros, aerotrans- Transit, o que iria oferecer uma precisão de cerca
portados, em vôo de baixa altura, podem localizar, de 10 metros, e que, traduzido na utilização do
pela captação de irradiação gama emanada do solo, levantamento para cartas em I :250 000, e finalmente
a posição aproximada de fontes radioativas e o em I: I 000 000, apresentou excelentes resultados.
nível de radioatividade no solo, na água ou na C<_>m o emprego simultâneo do sistema Shoran,
atmosfera. o eqmpamento aerotransportado podia captar si-
nais emitidos pelo radiofarol de resposta da ordem
10.4 .6 Radar de 500 quilômetros, e recebendo, simultaneamente,
as emissões de dois daqueles pontos a posição da
O radar é um sensor ativo que opera na faixa aeronave, foi determinado com uma precisão de
de microondas, que fornece a energia que incide cerca de 75 metros, com uma verificação a cada
sobre a cena, não dependendo da energià emitida 6 segundos. Durante o levantamento, a variação de
por fontes naturais. Trata-se dum dispt>sitivo que ~osição da aeronave era registrada em fita magné-
emprega um transmissor e um receptor, e que é tica, bem como a sua altura, e ainda outros dados
capaz duma alta resolução espacial. de importância.
O sinal transmitido é dirigido na direção do Em menos de um ano o imageamento estava
alvo, mediante uma antena que igualmente serve concluído, isto é, cerca de 4 000 000 km2.
de coletor. O intervalo, entre a transmissão do O sucesso do projeto despertou o interesse para
pulso e o retorno do seu reflexo, é a medida da a necessidade de um levantamento semelhante de
distância aos vários objetos da cena, fornecendo o outras regiões brasileiras, o que culminou com a
ângulo da antena a posição angular relativamente criação do RADAMBRASIL, em 1970, com atribui-
ao plano de vôo. A intensidade do sinal refletido ções de administrar a execução do levantamento
indica a forma do objeto, seja um aeroporto, um por imageamento a radar em áreas do território
lago ou uma montanha, mediante reflexos de inten- nacional, além de outras mais, como a execução
sidade diferentes. de mapeamentos geológicos. geomorfológicos, pedo-
A polarização do sinal de radar afeta a imagem lpgicos, florestais e de uso potencial da terra etc.
(O RADAM foi absorvido pelo IBGE através do
pela ênfase dada aos detalhes do terreno, orien-
Decreto n. 0 91295 de 31 / 5 / 85). A figura 74 apre-
tados, favoravelmente, em relação à antena, como senta a cobertura a radar do território brasileiro.
se da com as montanhas, por exemplo. Com uma
antena. podem ser obtidos quatro conjuntos dife-
rentes de polarização do sinal: transmissão horizon- 10. 6 Sistemas de sensores conhecidos;
tal ou venical, e recepção horizontal ou vertical, suas plataformas e veículos
o que permite uma variedade de aplicação na me-
dição de formas e de distâncias. A fim de aperfeiçoarmos a nossa capacidade
Dispõe o radar de excelente penetração em de conseguir i!lformações, podemos tentar a melhor
utilização dos · nossos sentidos, isto é, colocando-nos
nuvens. As suas imagens. obtidas através de espes-
numa posição melhor, em relação ao alvo observado,
sas camadas de nuvens, não apresentam perda ou desenvolvendo recursos ou dispositivos que nos
aparente de dados. Deve ser observado, porém, que permitam ampliar vantajosamente a nossa sensibi-
a área de cobertura do radar, função de sua antena, lidade. A fotografia aérea é o primeiro exemplo
é, em geral, pequena, sendo notável a su.a vantagem que nos ocorre da combinação dessas duas possibi-
sobre a fotografia, apenas quando a cobertura de lidades.
nuvens impedir o emprego da cobertura fotográ- Na coleta de informações mediante sensores,
fica. torna-se importante que esses dispositivos sejam
O comprimento de onda de radar ainda tem colocados em posições apropriadas e estáveis, o que,
a possibilidade de penetrar na folhagem. forne- atualmente, se consegue com uma base de apoio
cendo, em conseqüência, uma descrição gráfica do denominada plataforma.
terreno coberto por ela. Por isso é que este sensor A primeira plataforma foi provavelmente um
é particularmente útil no estudo das estruturas tripé, recurso, até hoje. largamente empregado,
geológicas superficiais, bem como no mapeamento além de suas variações na forma de palanques e
de áreas cobertas por florestas tropicais. torres de observação.

86
As figuras 75 e 76 apresentam, respectivamente,
a nave espacial Apolo, acoplada ao seu veículo de
lançamento, Saturno V, e o desenvolvimento do
lançamento até a colocação do satélite em órbita.
Aplicados às geociências, os satélites foram
utilizados, desde o início, na captação de dados
meteorológicos, como os da série Nimbus, TIROS
e ATS, equipados com sensores de espectro visível
e infravermelho. O programa Apollo, também da
mesma.época (1960), culminou com o lançamento,
em 1979, da estação espacial denominada Skylab,
cuja primeira missão foi a da aplicação sistemática
de imageadores na obtenção de dados para estudos
das geociências, sobretudo no interesse da geografia.
A figura 77 mostra algumas faixas do território
brasileiro cobertas pelo Skylab. Do ponto de vista
dos recursos da terra, o principal desenvolvimento
no emprego de satélites artificiais, até o momento,
foi, sem dúvida alguma, o Landsat, inicialmente
denominado ERTS (Earth Resources Technology
Satellite) . O primeiro veículo da série, o ERTS I
Fig. 74 - Padrão de cobertura <lo ter ri.6rio brasileiro executado pe·
los Landsal I , 2 e J em inúmeras órbitas. O padrão executado pelo•
sat~lites 4 e ' ~ ligeiramente diferente.

Como vimos no tópico lO . 2, o uso pioneiro


do balão, no século passado, pressagiava a neces- f
NAVE ~,.......--Módulo de comando
sidade duma base de apoio estável para a fotografia 25m
ideal do terreno. ~~~ ....- Mo'dulo de serviço
Devido à sua fragilidade, foram os balões prati-
camente abandonados. Atualmente, porém, com
nova tecnologia, os balões dirigíveis, mesmo mais
lentos que os aviões, tornam-se plataformas muito
l Módulo lunar
_ _ _ _,___ _ _ _ _,_,. ..... Unidade instrumental
Terceiro estágio
estáveis e seguras, voltando a ter uma aplicação
mais real.
A fotografia aérea tirada por avião e utilizada,
até então, sobretudo para fins militares, ao fim da
11 Guerra Mundial, teve o seu uso expandido e se
tornou praticamente indispensável em aplicações
SATURNO V
científicas, políticas e econômicas, notadamente em
(Veículo de lancamento) Segundo estágio
geologia, cartografia, geografia, arqueologia, aná- 86 m ·
lise e planejamento urbano.
Apesar de seu amplo campo de aplicação, a
fotografia aérea permaneceu como uma modesta
extensão da capacidade do olho humano, e o seu
emprego tem sido mais restrito do que seria dese-
jável. A causa principal é o custo do levantamento
de grandes áreas quando se torna particularmente Primeiro estágio
importante executá-lo em tempo limitado ou com
muita freqüência. Nestes aspectos encontramos a
principal vantagem do sensoriamento a partir de
plataformas orbitais que é a de permitir a obser-
vação de vastas áreas da Terra, com uma freqüência
que possibilita o estudo de fenômenos que variem,
de modo muito significativo, com o tempo.
Iniciada a corrida do espaço com o lançamento
do Sputnik, pela União Soviética, em 1957, os
satélites passaram, i~ediatamente, a ser utilizados
para o transporte de sensores que demonstraram
ser um complemento inestimável aos levantamentos
Fig. 75 - Saturno fi, o foguete responsável pelo lançamento da nave
feitos por aeronaves, e ao nível do solo. espacial Apolo.

87
Nos anos de 197 5, 1978 e 1982 foram lançados
outros satélites da mesma série, permitindo a con-
tinuidade das operações. Até o terceiro satélite
(1978), o programa Landsat foi considerado, ofi-
cialmente, um esforço experimental, empregando o
I mesmo conjunto básico de sensores e os métodos
pelos quais as informações eram processadas e trans-
formadas em produtos. Os sistemas de sensores
utilizando válvulas Vidicon (RBV), empregados
nos Landsat 1 e 3, são semelhantes, uma vez que
utilizam câmaras que perfazem a função de câmaras
de televisão, mediante o uso de um canhão eletrô-
Fig. 76 - O desenvolvimento de um foguete, desde o disparo, na
nico para a leitura das imagens duma tela foto-
plataforma de lançamento, até a coloração do satélite em órbita. condutora. O sensor MSS, por sua vez, utiliza um
espelho basculante que permite que a energia
captada incida numa bateria de células sensíveis
à radiação eletromagnética.
O lançamento, em julho de 1982, do Landsat 4
pôs em operação a segunda geração de dispositivos
sensoriais, com utilização de unidades CCPD
(Charged Coupled Photo Device) no Mapeador
Temático.
Partindo do conhecimento acumulado em
quase uma década de utilização, e conhecidas as
limitações no desempenho dos sensores anteriores,
o novo sistema empregado no Landsat 4 apresenta
uma resolução espacial superior, ou seja, 30 metros
no terreno, ao invés de 80 metros dos sistemas
antecedentes, além duma superior separação espec-
tral, duma fidelidade geométrica e duma exatidão
radiométrica melhores.•
Além elo Mapeador Temático (TM), que
divide o espectro visível em sete faixas, o Landsat 4
dispõe ainda de um irnageador MSS semelhante
aos empregados nas missões anteriores, operando em
quatro subfaixas. Os dois sensores atuam simulta-
neamente, e a previsão é de que irão poder atender
as necessidades elos usuários de imagens terrestres,
Fig. 77 - As faixas aí esquematizadas representam o resultado geo-
gráfico parcial executado pelo radiômetro S - 19~ do Skyla/J, em suas ao que tudo indica, até o final da presçnt~ década.
três missões tripuladas. A antena desse sensor recebia 90o/r da energia
('Xistcnte no campo visual. numa pirâmide s6Iida de 36°. A I Y de março de 1984 foi lançado o Landsat 5,
numa órbita ele 705 km ele altura, a fim de suprir
(ou Landsat 1), operava a uma altura orbital de deficiências do Landsat 4, que apresentou defeitos
912 quilômetros, transportando dois tipos de ima- na transmissão de dados do Tl\I (l\I apeaclor Temá-
geadores: a) câmaras de televisão com tubos tico), e!llhora o sensor MSS continue a luncionar
Vidicom, conhecidas como RBV (Return Beam normalmente. A partir ele âbril, após estabilizada
Vidicom Cameras) e um varredor multiespectral, a órbita do novo satélite, o INPE (Instituto Nacio-
conhecido como .MSS (:Multiple Spectral Scanner). nal ele Pesquisas Espaciais) passou a recebei· e
Estes sensores tinham a capacidade de cobrir 161 gravar dados elo Tl\I sobre o território brasileiro.
milhões de quilômetros quadrados de terreno por A utilização elas imagens Landsat, em mapas,
semana, com imagens de cerca de 185 km de lado. na cartografia temática não implica em rigorosa
O MSS, em todo o seu período de operação, pôde precisão geométrica. As deformações das imagens
registrar uma média de 188 imagens por dia, em e sua definição, no caso das três primeiras missões,
cada uma das suas quatro faixas espec~rais, sendo limitam o emprego à escala de I :250 000 ou me-
duas do visível e duas do infravermelho próximo. nores. Como a precisão geométrica interna do
Ao realizar 14 revoluções diárias em torno do pla- Landsat 4 é de 30 m, e utilizando-se pontos de
neta, e completando a cobertura total a cada 18 dias, controle de campo para maior correção, a precisão
podia efetuar, ao fim de um ano, vinte vezes o poderá alcançar 15 a 10 m no terreno, o que per-
reimageamento de cada parte da superfície da mitirá a obtenção de cartas planimétricas até a
Terra. escala de 1:50 000.

88
As imagens captadas por esta série de satéljte assunto terem, como resposta, uma variedade de
são convertidas em sinais eletromagnéticos, arma- filmes com capacidade de estabelecer, extraordina~
zenados em fitas, e, depois, irradiados de volta a riamente, as cores da vegetação, sobretudo no que
uma estação terrestre, ou retransmitidos por outro toca à coloração verde. Pois o filme infravermelho,
satélite, ou, ainda, transmitidos diretamente para conjugado ao preto-e-branco e ao colorido comum,
uma estação terrestre. alcança variedades incomuns de tonalidades e de
Existe, no Brasil, uma estação desse tipo, em cores.
Cuiabá, com um raio de ação que abrange 90% Ora, conforme se pode deduzir da figura 79,
da área da América do Sul e que se encarrega de as propriedades refletivas de uma mata oferecem
rastrear objetos que se movem na atmosfera, por variações nas emissões de diferentes comprimentos
meios visuais, fotográficos ou eletrônicos. As ima- de ondas. Dois tipos de floresta, digamos, um de
gens registradas pelos sensores do Landsat são trans- coníferas e outro de folhagem comum, apresentam
mitidas para Cuiabá sob a forma de sinais magné- grandes diferenças na faixa do infravermelho, o que
ticos, que são processados por um computador, não se dá na faixa do visível, onde os dois tipos
corrigidos e transformados em sinais analógicos, os arbóreos exibem propriedades iguais. A energia
quais, mediante o emprego dum correlator ótico, refletida pela folhagem, nos comprimentos de ondas
à base de raios laser, resultam na produção dum curtas da luz visível, não apresenta, praticamente,
negativo fotográfico do qual são obtidas cópias em nenhuma diferença quando usamos os filmes pan-
várias escalas. A figura 78 mostra um desenho do cromático e ortocromático comuns, em que as duas
Landsat 4. curvas da mesma figura exibem uma superposição
nas ondas curtas do espectro visível. Já na faixa
do infravermelho, as mesmas curvas se afastam
consideravelmente. Este fenômeno, registrado em
filme preto e branco, apresenta-se como dois tons
diferentes de cinza, ou a cores, com dois matizes
distintos.
Luz
refletido
(%)
100r-------,-----,~------~,-----,--------,

Folhogem
coroom

corn'feros

Infravermelho
Próximo

7 8 9
Comprimento de ondo ( X \o-4 c m )
Fig. 78 - O Landsat 4, lançado em 16·7·82.

Fig. 79 - A energia refletida pela folhagem comum e pelas co·


nífera~ está, aí, representada mediante as duas faix as de curvas. Ob·
1 O. 7 Algumas aplicações serve·se que os dois tipos de mata apresentam uma superposiçio nos
comprimentos de onda curta do !legmento visível do espectro, dificul·
tando a separação num filme pancromático comum ou num ortocro·
O potencial oferecido pela nova geração de mâtico. Entretanto . as duas faixas se mostram bem !!eparadas nO!
comprimentos de onda longa do infravermelho próximo.
sensores dos satélites Landsat levou o CNPqJINPE
a adquirir um novo sistema de recepção, gravação e
processamento, que poderá também ser adaptado, Outro tipo de pesquisa se refere, por exemplo,
com facilidade, a sensores previstos para o futuro à imensa quantidade de massas de gelo, não só nas
próximo, como o SPOT francês e o MOS do Japão. regiões polares, sobretudo, na Antártica, mas nas
altas montanhas do globo, áreas estas já perfeita-
mente captadas, em seu aspecto global, pelos sen-
lO. 7. l Pesquisas geográficas sores, e já relativamente bem mapeadas.
O interesse dos geógrafos nos resultados alcan- Segundo observações de satélites, alterações
çados pelo sensoriamento remoto vem-se dirigindo, regulares dessas extensas massas de gelo, no registro
sensivelmente, para os estudos e pesquisas sobre o das suas características superficiais, ocorrem com
uso da terra, devido ao fato de as variações deste a presença de novos depósitos de neve. Constituem

89
aquelas massas cerca de 3/4 da água doce da Terra,
fato que não pode deixar de impressionar certos
pesquisadores, ou a política econômica de muitos
países carentes, onde a perda anual de grandes
rebanhos e, mesmo, de vidas humanas, é motivada
precisamente pela ausência .da água doce.

I O. 7. 2 Meteorologia

Outro tema que atrai a nossa atenção, e que


não deixa de ter uma conexão com o caso que
acabamos de expor, é o das temperaturas da super-
fície da Terra, cujo estudo pode ser realizado me-
diante os sistemas de varreduras em infravermelho.
Se, por um lado, o mundo já dispõe duma
vasta cobertura referente às temperaturas atmosfé-
ricas, o mesmo não ocorre com as temperaturas da
superfície, a não ser em alguns países de maior
desenvolvimento. Registros de alterações na tempe-
ratura diária e na das estações do ano têm muito
mais a explicar a respeito da relação entre o calor
e a água do que entre a Terra e a atmosfera, cujas
informações pesam diretamente nas necessidades do Fig. 80 - Imagem da Terra captada pelo satélite meteorol6cico
.~MS!GOES, e processada no gerador de imagens Vizir, pelo INPE,
homem, auxiliando-nos a identificar as áreas onde no laboratório de Cachoeira Paulista, SP.
a temperatura é mais adequada a determinadas
culturas.
Há uma pobreza muito grande no volume de
dados sobre chuvas. Pois se tais dados são colhidos
diariamente nas estações meteorológicas do mundo
inteiro, é através do sensoriamento remoto que se
conseguirá registrar, com precisão, os locais exatos
das precipitações, como elas realmente ocorrem.
Mediante conexões entre estações terrestres conven-
cionais e estações de radar podem ser aferidos o
tipo e a intensidade da chuva, ou da geada (ou da
neve) , resultando, para todos nós, em previsões mais
rigorosas.
Utilizamos, atualmente, em meteorologia, as
imagens captadas pelos satélites GOES, dois dos
quais estão em órbita geoestacionária, a este e a
oeste da América do Sul, sendo o GOES-E o mais
importante para o nosso caso, devido à sua posição.
Eles captam imagens na faixa do visível e do infra-
vermelho, além duma modalidade que registra
apenas o vapor d'água na atmosfera, transmitindo
imagens completas a cada três horas, iniciando as
do infravermelho, a O hora (GMT) e as do espectro
visível, às 12 horas (GTM). V. na figura 80 uma
feliz imagem do satélite ..
Os 150 países participantes da Organização
Meteorológica Internacional se valem, atual-
mente, de um satélite geoestacionário, denominado
Meteosat I, o qual emite imagens, constantemente,
do terreno. A permuta de informações desses paises
que utiliLam o satélite se centraliza em Paris, e
as informações fornecidas por ele são passadas aos
computadores. Esmiuçados e explicados, os dados
são transformados em mapas, de três em três horas.
A figura 81 oferece um aspecto do Meteosat 1. Fig. 81 - O sattlite meteorológico Meteosat J.

90
lO. 7. 3 Outras áreas de aplicação
Podemos mencionar ainda alguns exemplos de
estudo de fenômenos efêmeros e extremamente
mutáveis, como a poluição atmosférica urbana;
como os incêndios que ocorrem com certa freqüê~­
cia em determinadas áreas florestais; como a exis-
tência ou as migrações de animais selvagens, todas
ocorrências dinâmicas com possibilidades de registro
e explicação mediante imagens de alta resolução.

1 O. 8 Sensores de posição
As informações dos fenômenos físicos, . conse-
guidas mediante instrumentos ou por observações
diretas, necessitam ser colocadas em posição segundo
um sistema de referência, de molde a serem locali-
zadas espacialmente.
Uma série de sensores ativos e passivos, utili-
zando as faixas do espectro eletromagnético, tem
como objetivo a determinação de posiçõ~s. Os dois
sensores mais antigos, e ainda em funciOnamento,
são a bússola, que tem a propriedade de "sentir"
o campo magnético da Terra, e a lu~e!a, .que: nas
suas diversificadas versões, mede, a d1stanc1a, angu- Fig. 82 - O medidor de distância G•odím.tro, modelo 6 BL com
fonte luminosa a laser.
los verticais e horizontais. Além da luneta, empre-
gam-se equipamentos para a medição de distâncias, emitem energia em freqüência de rádio constante,
utilizando-se ondas . de rádio ou laser. Estes, qual- a qual é captada por um receptor, com a sua antena
quer que seja o sistema em apreço, baseiam-se :"a assentada no ponto (isolado), cuja posição procura-
diferença de fase entre a onda eletromagnética mos determinar.
emitida e a refletida (ou retransmitida) por um Os satélites da série Transit, descrevendo órbi-
espelho ou um segundo transmissor colocado a dis- tas a mil quilômetros da Terra, per~i~em. a deter-
tância. Há, hoje, uma variedade desses instrumen-
minação de pontos, com gr~nde prec1sao, md~p~n­
tos, sendo os mais conhecidos o Telurômetro, que dentemente da linha de vtsada ou das cond1çoes
utiliza ondas de rádio, e o Geodímetro a laser. atmosféricas. Esses dispositivos utilizam a medida
A figura 82 mostra o modelo 6-BL do Geodí- da variação aparente da freqüência da onda de rádio
metro, com fonte luminosa a laser, ao invés das emitida pelo satélite (efeito Doppler) 70 • _
lâmpadas de tungstênio ou de mercúrio, conforme O erro de localização verificado na observaçao
o uso do modelo 6, muito conhecido até agora. duma única passagem do satélite é de cerca de
Atualmente, a distância máxima que mede o 6-BL 37 metros, descontados os efeitos da refração atmos-
é de 20 a 25 km, e a mínima é de 15 km. O alcance férica. Se adotarmos o método de localização do
depende da visibilidade, das condições luminosas ponto, em que várias passagens são acumuladas, ou
e dos refletores. Os alcances com a luz solar e após quando dispusermos de mais de um rastreador, e,
o pôr-do-sol são, praticamente, os mesmos. dessa maneira, ocupando-se com um deles um ponto
. Em hidrografia e oceanografia, são usados, conhecido, estabelecendo, com maior exatidão, a
sobretudo, os ecobatímetros, os quais emitem ondas órbita do satélite, poder-se-á chegar a menos de um
sonoras, e captam o seu eco. É calculada a distância metro de erro.
em função do tempo de resposta (além de outros Este sistema é utilizado tanto em geodésia,
fatores, como a variação da temperatura da água) . quanto em navegação.
Os métodos convencionais de determinação da
localização espacial dum acidente. geográ~i~o, c;m
dum fenômeno qualquer, se base1am, ongmana- 10.9 O futuro próximo
mente, na medida das coordenadas de um ponto, a
Para a presente década, estão previstos alguns
partir de posições . conhecida~, o q~e impl.ica em
dispormos duma hnha de v1sada dueta, hvre ~e lançamentos, inclusive pelo Brasil, destinados ao
obstáculos advindos do relevo do solo, da vegetaçao mapeamento.
etc. Em certas áreas de difícil penetração, como a
Amazônia, com a sua formidável floresta equatorial, 70 ESTADOS UNIDOS Department of Defense. Op.
ou ainda áreas isoladas, como o mar, não é viável cit. : Efeito Doppler - Aparente alteração de freqüên~ia
da energia radiante, como das ondas sonoras, quando a dts·
o método tradicional. A solução encontrada foi a tância entre o ponto de origem e o observador, ou receptor,
utilização de satélites de órbita conhecida, que é alterada.

91
A França lançou, em 1984, o programa SPOT Os Estados Unidos pretendem colocar em
(Satélite Probatoire d'Observation de la Terre), o órbita, até 1988, o projeto M APSAT, destinado à
qual dispõe de dois instrumentos óticos idênticos, obtenção da cobertura estereoscópica para mapea-
mento.
de alta resolução, cobrindo, cada um, um campo de
60 km de largura. Dispõem de três faixas espectrais,
E o Brasil, por sua vez, desenvolve estudos para
uma Missão Espacial Completa (satélite e lança-
com uma resolução de solo de 20 metros e uma dor). O protótipo do sensor deverá ser experimen-
faixa pancromática com uma resolução de 10 me- tado brevemente, a bordo duma aeronave, e utili-
tros. Além duma resolução adaptada ao detalha- zará detectores CCPD (Charged Coupled Photo
mento do terreno europeu, poderá fornecer imagens Device) . O projeto nacional deverá atuar na faixa
estereoscópicas. do espectro de 0,45 a 0,90, dividida em quatro
secções. A órbita projetada é de 600 km, com um
O Japão vem contando com dois programas,
intervalo de passagem de 34 dias, sobre o território
isto é, o LOS (Land Observation Satellite) , "Satélite nacional, podendo ser reduzida para 4 dias, com
de Observação do Solo", e o MOS (Marine Obser- inclinação do espelho, recurso que pode ser utili-
vation Satellite), "Satélite de Observação Marí- zado, igualmente, na obtenção de estereoscopia.
tima". Com estes instrumentos, veículos e plataformas,
A Organização Espacial Européia já dispõe de o homem multiplica, em muitas vezes, a sua capa-
cidade de percepção, podendo, assim, conhecer me-
um satélite com rastreador de radar.
lhor os recursos da Terra, a sua forma e dimensões,
O Canadá vem desenvolvendo o SAR (Syn- a sua posição e estrutura, e, a par deste conheci-
thetic Aperture Radar) , radar a bordo de satélite. mento, pode planejar e tomar decisões.

Dimensões do cone
PROJETORES I : 125 000
~JULTIPLEX
C;~mpo d;~ folha
~~E SA I :250 000
Folha de pl;ístico
rRAÇADORA
.\rm;~çiio da prensa I ::100 000
~IODELO

Parede da prensa
ESTI!.REO I: I 000 000
;\I I~ U T .\
.\ folha modelada

Su pertície d<:
rcler(·nria da
folha

Fig. 118

92
11. Levantamentos
De acordo com o que informamos no tópico
2. 5, só a partir do século XVII, na França, sob o AUTOR ANO
SEMI-EIXO
MAIOR
I
SEMI-EIXO
MENOR EXCENTRI·
CIDADE
(m) (m)
governo de Colbert, é que tiveram início os grandes
levantamentos, quando a geodésia, na sua acepção
Everest ....... 1930 6 377 276,3 6 356 075,2 1/300,8
moderna, começou realmente, a ser empregada. Bessel. . ...... 1841 6 377 397 6 356 067,9 1/299
Airy ... ....... 1849 6 377 563 6 356 233,4 1/299
No caso brasileiro, atual, os levantamentos .Clarke . . ..... .
Helmert ...
1880
1907
6
6
378
378
206
200
6
6
356
356
585,0
796,6
1/295
1/298
geodésicos estão subordinados a Especificações e Haylord ... 1910 6 378 388 6 356 91!,9 1/297
Normas Gerais, a fim de que a execução desses
levantamentos esteja perfeitamente regularizada,
~ Sistema Geodésico Brasileiro integra o Sul-
o que está de acordo com o denominado Sistema
Ame~tcano dt; 1969 (SAD-69), definido a partir dos
Geodésico Brasileiro~ segumtes parametros:
Compreende-se por levantame:1to o conjunto
a) - figura geométrica da Terra;
de operações destinado à execução de medições
Elipsóide Internacional de 1967:
visando à determinação das posições relativas de
a (semi-eixo maior) = 6 378 160,000 m
pontos.
f (achatamento) = I /298,25
Segundo a Resolução n. 0 22 (da Presidência
h) - orientação;
do IBGE), de 21-7-83, o Sistema Geodésico Brasi-
leiro é caracterizado pela imagem geométrica da geocêntrica:
Terra, a qual é definida pelo Elipsóide de Refe- eixo de rotação, paralelo ao eixo de
rência Internacional de 1967, aceito pela Assem- rotação da Terra; plano meridiano de
bléia Geral da Associação Geodésica Internacional, origem, paralelo ao plano de Greenwich,
segundo definição do BIH (Bureau In-
realizada em Lucerna (Suíça).
ternational de L'Heure, isto é, Serviço
Internacional da Hora); '
11 .1 Elipsóides de referência topocêntrica:
no vértice de Chuá, da cadeia de trian-
gulação do paralelo de 20os:
Como todos sabemos, a Terra está longe de
ser uma esfera perfeita, devido, principalmente, ao
=
<I> 19°45'41,6257" s
à = 48°06'04,0639" W Gr.
achatamento dos pólos. Neste caso, para o objetivo
a = 271°30'04,05" SWNE para
de serem realizados os trabalhos geodésicos, em VT-Uberaba, MG
que têm de ser considerados o tamanho, a forma
N = O,Om
e a gravidade do planeta, precisa-se adotar uma
figura matemática que mais se aproxime da rea-
lidade, a qual vem a ser, especificamente, um 11 . 2 Levantamentos geodésicos
elipsóide de revolução.
Como tivemos oportunidade de ver, ainda, no Compreendem estes levantamentos o conjunto
de atividades dirigidas para as medições e observa-
citado tópico 2. 5, foi no final do século XVII
ções de grandezas físicas e geométricas, que con-
que, por ocasião da medição do primeiro meridiano,
duzem à obtenção dos parâmetros.
na França, verificou-se a forma elipsoidal da Terra.
Tais levantamentos são efetuados conforme Es-
Desde então, mediante inúmeras medições de arcos
pecificações e Normas que objetivam a unicidade
de meridianos e paralelos, chegou-se a resultados
desejável para o Sistema Geodésico, e se classificam
bastante precisos nas triangulações geodésicas, uma em:
vez que foram, afinal, calculados os parâmetros
do elipsóide, muito embora os cálculos tenham a) levantamentos geodésicos de alta prectsao;
sempre variado de -autor para autor, como se pode b) levantamentos geodésicos de precisão;
ter uma idéia no quadro a seguir, com alguns dos c) levantamentos geodésicos para fins topo-
elipsóides conhecidos: gráficos.

93
Esta classificação visa atender, respectivamente, constituída duma pequena prancha montada sobre
aos trabalhos a nível nacional, regional e local. um tripé, o que permite uma rotação horizontal,
O primeiro tipo subdivide-se em finalidades após o seu nivelamento e orientação. Para o seu
científicas - quando se trata do atendimento de emprego, deve ser coberta com papel de desenho de
programas de pesquisas internacionais - e fins boa qualidade.
fundamentais, quando se dirigem ao estabeleci- Os ingleses do Ordinance Survey adotavam o
mento de pontos primários no apoio aos trabalhos seguinte processo, resumidamente: em primeiro
geodésicos de menor precisão, bem como às aplica- lugar, eram traçadas as suas posições relativas, os
ções cartográficas. pontos fixos anteriormente medidos, os quais in-
O segundo tipo insere-se, diretamente, no grau dicavam os valores das altitudes acima do nível do
de desenvolvimento sócio-econômico regionaL mar. Em seguida, competia ao topógrafo o esboço
Quanto à terceira classificação, a sua finalidade da carta, que consistia em desenhar os detalhes
é atender aos levantamentos no horizonte topográ- do terreno sobre o esquema preexistente, e, final-
fico, correspondendo aos critérios em que a exa- mente, a posição dos nomes e quaisquer outros
tidão se coloca acima das simplificações impostas dados. Extremamente simples, exigia, contudo, uma
para a figura da Terra. prática, habilidade e senso de responsabilidade fora
do comum. A figura 83 expressa um detalhe da
imensa operação, levada a efeito pelos ingleses do
11 . 3 Levantamentos topográficos levantamento das enormes geleiras da Ásia Central,
numa região acima de 8 000 metros de altitude.
São operações através das quais se realizam Nos processos de medição direta, são indispen-
medições, com a finalidade de serem determinadas sáveis a corrente, ou a trena de aço, a bússola etc.
posições relativas de pontos da superfície da 1 erra.
Enquanto os levantamentos geodésicos, como
vimos, pela precisão, são realizados com instrumen-
tal mais sofisticado, os levantamentos topográficos
diferem, principalmente, dos geodésicos, no fato
de, ali, não ser considerada a curvatura da Terra.
Mesmo assim, há diversos processos topográficos,
como o expedito, muito rápido, generalizado e de
restrita precisão. Pode-se, no entanto, obter uma boa
precisão nos levantamentos, dependendo da natu-
reza, da extensão, do instrumental utilizado etc.
Quando se procede a levantamentos em que
existe, apenas, o intuito de fornecer ao cartógrafo
uma configuração plana, ou seja, a rede de cursos
d'água, as vias de transportes, as aglomerações ur-
banas ou o casaria isolado, as linhas de energia
elétrica, telegráfica ou telefônica, as áreas verdes
(naturais ou artificiais) ou as árvores isoladas, as
cercas, as linhas de limites (públicos ou privados)
etc., a planta ou a carta, que expõe esta configura-
ção, é qualificada planimétrica. Ao contrário,
quando há a representação planimétrica e mais as
altitudes - quer por meio de pont03 cotados,
e sobretudo, mediante as curvas de nível, ou seja,
a altimetria - a carta é chamada topográfica.
Os aparelhos usados nos processos mais simples
vão desde o podômetro até a prancheta. O primeiro,
que apresenta o formato dum relógio, funciona no
bolso do operador, e em posição verticaL Com a
vibração de cada passo do portador, um ponteiro
marca, no mostrador, o total dos passos da dis-
tância caminhada. Exige muita prática, sobretudo
no controle da velocidade do caminhar. A pran-
cheta, atualmente quase obsoleta na maioria dos
serviços de levantamentos topográficos, teve, no
século passado, enorme utilização, principalmente
nos países de língua inglesa. No Reino Unido, o seu Fig. 85 - Um aspecto da expediçllo topográfica britânica, respon-
sável, no 11<\culo passado, pela execuçJ:o, à prancheta, do levantamento
uso durou até antes da II Guerra MundiaL É das enormes geleiras do Carac6rum.

94
Para um levanti!mento regular, não se pode medições de campo (as quais são usadas no cálculo
prescindir do teodolito e · po nível. O teodolito é das posições. dos pontos, através de coordenadas
um instrumento de uso universal, uma vez que se polares).
torna indispensável na medição de ângulos, assim V ma poligonação pode determinar as posições
como nos trabalhos astronômicos. A figura 84 relativas dos pontos que ela interliga, numa série, e
ilustra, a propósito, um determinado tipo de teodo- quando é amarrada a estações de controle, num
lito que tem sido muito empregado na medição de datum adotado, as posições podem ser calculadas
poligonais, bem como nas delicadas operações de com referência a esse datum.
triangulação. Uma poligonal é uma seqüência de compri-
A poligonação é um método de levantamento mentos entre pontos da superfície terrestre, obtidos
em que os comprimentos e as direções de linhas por meio de medição de campo, e usados para a
entre pontos do terreno são obtidos por meio de determinação de posições dos pontos. Compare-se
com a figura 85, uma poligonal levantada a te-
lêmetro.

TRÊS
PAINEIRAS

• NM

r
20

21 Marco

Flg. 84 - Teodolito Universo/ WILD T2, dr rrandr ratabilidadr r Fir. 85 - Poligonal lr\'antada a trl~mrtro. no Morro de Trrrs6pOiis
pucido. ( Pono Alegrr) .

95
11 . 4 Levantamentos básicos

Este tipo de levantamento vem a ser o que


fornece posições horizontais e verticais, de pontos
aos quais os levantamentos suplementares são ajus-
tados. Este levantamento é, via de regra, realizado
por órgãos governamentais, e é levado a termo,
quase sempre, com a finalidade de cobrir grandes
áreas, como um estado, um país ou um continente.
Toda operação geodésica, em que se encontra
implícita a esfericidade do planeta, tem que se
achar intimamente ligada, ou se referir a um
datum 71 • No caso brasileiro, o datum adotado,
como já vimos, é o de Chuá.
Já o datum usado para o nivelamento é o ma-
régrafo de Imbituba (SC) , produto de observações
que se prolongam por um ciclo de 19 anos, já que
a referência altimétrica é o plano do nível médio
do mar. O nivelamento brasileiro tem apoio, ainda,
nos marégrafos de Salinópolis (PA), Belém (PA), Fig. 86 - A maior parte da rede nacional de triangulação executada
Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Cana- pelo IBGE. No encarte, um detalhe do desenvolvimento da operaç~o
de dois arcos medidos no Triângulo Mineiro.
vieiras (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Torres (RS),
entre outros.
O nivelamento básico abrange, principalmente, li . 4 . 2 Controle vertical
as duas modalidades clássicas: o controle horizontal
O controle vertical é representado pelo nive-
e o controle vertical. lamento geométrico, que é um método de medição
direta de altitudes, no qual o desnível entre dois
11.4 .I Controle horizontal pontos é determinado pela diferença de leituras
obtidas com o nível de lunetas, em miras, colocadas
Os tipos de controle horizontal são: a triangu- nos respectivos pontos. É realizado, preferentemente,
lação 72, a poligonação, a trilateração e o rastrea- ao longo das estradas de rodagem ou de ferro,
mento de satélites. Usa-se a triangulação devido ao formando circuitos, cujo fechamento é de extremo
fato de que as áreas, em levantamento, são de rigor 73 : a soma algébrica das diferenças de alti-
grande extensão e, às vezes, de medição direta muito tudes, medidas em torno de um circuito, deve ser
difícil. Na determinação dos vértices dessa trian- igual a zero, mais ou menos 4 mm vK, em K =
gulação se tornam necessárias, muitas vezes, torres dist:incia em quilômetros H.
apropriadas, tipo Bilby. Trata-se duma estrutura Já o nivelamento trigonométrico, que é um
composta de dois elementos independentes um do método de medição indireta, implica na observação
outro. No topo do elemento externo ficam os ope- dos ângulos verticais e no cálculo das distâncias
radores, e, no outro, os instrumentos de observação, verticais por trigonometria, a partir desses ângulos,
os quais não podem sofrer nenhuma oscilação. Daí e na distância da inclinação entre os pontos cuja
diferença de altitude é procurada. Se a distância
a separação das duas estruturas.
for considerável - em que o efeito da curvatura
A figura 86 mostra, esquematicamente, um de- da Terra seja significativo - e as alterações advindas
talhe da triangulação geodésica executada pelo da refração atmosférica, pode-se empregar um pro-
IBGE.
73 Figura fechada, determinada por três ou mais linhas
71 O datum é uma superfície de referência que consiste de nivelamento.
de cinco parâmetros: 1.0 o ponto do terreno; 2.0 a altura 74 Nivelamento de primeira ordem consiste no esquema
geoidal; !1.0 o elipsóide de referência; 4.0 as coordenadas de nivelamento geométrico que diz respeito a uma rede de
astronômicas de cada ponto de partida; 5.0 o azimute
polígonos que cobre, geralmente, grandes extensões do ter.
desse ponto. (
reno, e que proporciona uma estrutura homogênea e exata
72 A triangulação é um método de levantamento em de pontos de altitude. A sua finalidade científica é con-
que as estações são pontos do terreno, os quais são situados tribuir para o estudo da Terra e dos movimentos da crosta,
nos vértices duma rede de triângulos. Os ânglflos destes sendo o seu objetivo prático servir de base a todos os le-
triângulos são medidos com instrumentos, e os ) lados são
vantamentos altimétricos de ordem inferior. De acordo com
obtidos por cálculos a partir de dados escolhidos, denomi-
nados bases, as quais são conseguidas mediante ( medições as normas internacionais, o erro provável total no nivela -
diretas no terreno. mento em causa não deve superar a tolerância de 4 mm y 4 •

96
localizações aproximadas para os pontos de controle geografia e do vernáculo, além dum elevado senso
são marcadas nas fotografias, as quais seguem para de responsabilidade. Para que se tenha uma idéia
o campo no sentido de orientar a tarefa' topográfica. do volume de trabalho, até cerca de dezembro de
Os processos usados no campo, para esse fim, são 1985, foram reambulados, pelo IBGE, 3 494 805 kmll
de poligonação, intersecção 77 e irradiação 78, para de área so. A figura 90 mostra parte duma fotografia
definição da posição planimétrica. Para a altime- aérea reambulada.
tria, os processos são de nivelamento trigonométrico
e barométrico Til.

11 . 5 Reambulação

Além, ainda, do controle terrestre de pontos.


torna-se imperiosa uma operação realizada no cam-
po, com a finalidade de, auxiliada com as foto-
grafias duma área a ser mapeada, verificar e iden-
tificar detalhes que o operador, na restituição, não
seria capaz de traçar, como: a classificaç·ão das ro-
dovias, as linhas de transmissão, as linhas divisórias
intermunicipais, de limites interestaduais, ou até
mesmo certos trechos das fronteiras do país etc.,
bem como as denominações de localidades, de mor-
ros, córregos, ilhas etc, as variedades dé culturas Fig. 90 - Alguns tipos de anotações na parte superior duma ioto-
e outras coisas. grafia aérea (esc. orig. I :60 000), extraídas, in loco, por um ream-
bulador do IBGE, em 23-3-68, com as respectivas explicações no
Trata-se do que chamamos, no Brasil, ream- verso da própria foto : I. Córr. Conquistinha, diflo Ribeirão (sic), 2.
Ilha S. Geraldo, 5. Córr. Colorado, 10. Usina açucareira (Fund.
bulação, a qual, para que possa ser levada a efeito, Sinhá ]unqueira), 21. Colônia japonesa, 23. Faz. Paredão, 40. Área
sujeita a inundação, 44. Rio Grande (entre SP/MG), cc. estrada car·
exige operadores com razoáveis conhecimentos de roçhel. R4. rodo\'Ía não pa,·imentada, Vegetação baixa, ranat•ial, etc.

77 Intersecção é um processo de determinação da posição horizontal de um ponto, por meio de linhas cruzadas de duas
ou mais direções conseguidas, diretamente no terreno, de fotografias verticais, ou mediante retificação gnífica ou matemá-
tica de fotografias inclinadas.
78 Irradiação é um processo de determinação de pontos por meio do conhecimento da sua direção e distância de um
ponto conhecido. As direções podem ser azimutes ou orientações lidas num teodolito, ou direções determinadas por ali-
dade e prancheta.
79 O nivelamento trigonométrico consiste na determinação de diferenças de altitudes a partir de ângulos verticais obser-
vados. em combinação com os comprimentos de linhas. O nivelamento barométrico é baseado na determinação de diferenças
de altitude entre dois pontos, portindose das diferenças de pressão atmosférica entre ambos.
de altitude entre dois pontos, partindo-se das diferenças de presslio atmosférica entre ambos.

98
cesso de nivelamento recíproco, conforme indicado
pela figura 87.
As referências de nível mais conhecidas como
RN (V. a fig. 88) , são estabelecidas, aproxima-
damente, de três em três quilômetros. Pela figura
89 pode-se ter uma idéia da extensão dos trabalhos
já efetuados no território brasileiro.

A'

unho de n{vef

:a'
I
I
I

--
'
I' Fig. 89 - A rede nacional de nh·elamento geodrsico e>tecutada pelo
'' IBGE.

superfície da Terra, medidos de acordo com prescri-


ções geodésicas e geofísicas internacionais, as quais
f'tg. 87 - Devido ao fato de o raio terrestre ser muito longo, supõe· estão contidas na já citada Resolução n.o 22.
se que A (p/ centro da Terra) seja paralelo a B(p/centro
da Terra). Desse modo, a distância horizontal entre os pontos Ora, uma carta, que é uma representação plana
A - B = A' - B' =
h. Então, E = h (tan + tan + 2). duma superfície curva e irregular (que é a Terra),
não poderia oferecer nenhuma exatidão se o de-
senho da configuração terrestre, ali representada,
não se assentasse numa base perfeitamente conhe-
cida e controlada. No caso, porém, de levantamentos
realizados topograficamente, ou fotogrametrica-
mente, eles têm que referir-se às posições deter-
minadas por um levantamento básico anterior.
Ao se tratar, no entanto, duma carta oriunda
de fotografias aéreas, um segundo tipo de con·
trole se torna indispensável, a fim de se conseguirem
mais pontos medidos diretamente no terreno, vi-
sando a assegurar a precisão da restituição este·
reofotogramétrica 7G. Este tipo de levantamento,
que é de natureza topográfica, tanto pode ser feito
antes, como depois de ser executada ta cobertura
fotográfica. No caso de o levantamento ser anterior
à fotografia, os pontos de controle terrestre podem
ser pré-sinalizados, tornando-os identificáveis nas
fotografias. "Eles têm que ser assinalados de tal
modo que a posição de dois ou quatro pontos
identificáveis, em cada fotografia, passa a ser deter·
Fig. 88 - Tipo de marco para cada RN (referência de nlvel), o minada" 76. Se, ao contrário, as fotografias são ti·
qual é constituído duma placa de .bronze, assentada numa base de
concreto.
radas antes do levantamento ser levado a efeito, as

11.4. 3 Controle terrestre 75 A restituição é uma operação executada num ins·


trumento - denominado restituidor - que consiste na trans·
ferência da configuração terrestre representada nas foto·
Como vimos, os levantamentos básicos (hori- grafias aéreas, para uma folha na qual se acham marcados
zontal e vertical) visam a estabelecer. uma rede certos pontos do terreno previamente determinados.
rígida de pontos (de extensão e de altitude) da 76 LEGAUL T. Adrian R. Surve,·ing.

97
12. Fotogrametria
12 .1 Conceito e aplicações sejam uniformes; o filme deve possuir estabilidade
dimensional; o tempo deve apresentar as melhores
A fotogrametria é a ciência ou a arte da condições de vôo fotográfico, sobretudo no que
obtenção de medições fidedignas por meio da foto- toca a nuvens.
grafia. Ainda que se trate de definição incompleta, A fotografia aérea recebe uma classificação
ou demasiado sucinta, é a mais em voga. "Esta decorrente de alguns critérios como: a orientação
definição pode ser perfeitamente ampliada com a do eixo da câmara (vertical e oblíqua) , o sistema
inclusão da interpretação de fotografias, como uma ótico (simples ou múltiplo), além de outras par-
função de importância quase igual, vez que a ca- ticularidades (em preto·e-branco, colorida, infra-
pacidade de reconhecer e identificar uma imagem vermelha, a radar, etc) .
fotográfica é, com freqüência, tão importante A fotografia vertical 82, isto é, a que foi. tirada
quanto a capacidade de deduzir a sua posição a com o eixo ótico na posição em que se deve apro-
partir das fotografias"8 1 . É que fotogrametria passa ximar omais possível da verticalidade, é a foto-
a atender, não apenas, ao cartógrato, mas a um;j. grafia normal. As outras são as oblíquas, que
extensa série de técnicos ou especialistas, a qual variam, entre si, conforme o grau de inclinação
situaríamos, justa e confortavelmente, no amplo usado.
campo da fotointerpretação, dentro do qual, Quanto à ótica, ela pode ser simples, e é o
o engenheiro, o urbanista, o geólogo, o geógrafo, sistema mais largamente utilizado na fotografia
o oceanógrafo, o meteorologista, o agrônomo, o mili- aérea. Há, também, o sistema múltiplo, que consiste
tar, o economista etc., obtêm, com relativa facili- de duas ou mais câmaras isoladas, montadas no
dade, o equacionamento de um sem-número de ne- sentido de serem obtidas imagens simultâneas em
cessidades inerentes à organização política, econô- c!ecorrência da determinação de ângulos entre os
mica e cultural do mundo moderno. respectivos eixos óticos. A figura g1 apresenta uma
A quase totalidade, hoje, da produção carto- fotografia aérea v.ertical
gráfica de cada país, desde o mais exigente, mais
específico e mais detalhado projeto de engenharia,
até a carta topográfica mais generalizada, seja para
finalidade estratégica, como exemplo: desde a
planta cadastral de um centro urbano superpo-
puloso até o documento topográfico multicolor que
cobre vastas áreas de uma região economicamente
desenvolvida, tudo enfim é realizado por métodos
fotogramétricos, por haverem provado possuir, pelo
menos, estes requisitos: precisão, rapidez e economia.

12.2 Fotografias
A fotografia aérea é o resultado de um grande
número de especificações, normas e cuidados rela-
tivos: a) ao avião, ou ao vôo em si; b) à câmara Fig.91 - Fotografia (parcial) venical em escala &rande, de um centro
urbano.
aérea e à lente; c) ao filme; d) às condições atmos-
féricas. Em suma, o avião procurará manter-se,
durante o vôo fotográfico, na mesma altura relativa, A fotografia colorida tem, atualmente, um de-
seguir uma direção reta e uma velocidade uniforme. senvolvimento incomum, não apenas devido à pre- ·
A câmara terá que estar orientada no sentido de
que o eixo ótico permaneça vertical (no caso, ~2 "Fotografias verdadeiramente verticais devem ser
geral, da fotografia vertical) e que os disparos conslideradas "acidentes felizes", motivados por inúmeros
fatores que agem de modo que a verticalidade absoluta
seja praticamente imp6ssível, ainda que muitos progressos
81 AMERICAN SOCIETY OF PHOTOGRAMMETRY . tenham sido conseguidos no desenvolvimento de montagens
Manual of photogrammetry. de estabilidade verticais". (ver Manual of photogrammetry) .

99
ctsao, aliada a uma qualidade mais fiel possível
das cores da natureza, mas ao processo desenvolvido
da "cor-falsa", em que as cores apresentadas, na
fotografia, são convencionais, a fim de se conseguir
uma separação nítida de elementos, como a vege-
tação, a água, o solo etc. São de notável aplicação
na fotointerpretação.
A imagem a radar é um tipo em franco desen-
volvimento e de aplicação no Brasil. Resulta de
uma combinação do processo fotográfico e de
técnicas de radar. Impulsos elétricos são enviados
a direções predeterminadas, e os raios refletidos
ou devolvidos são utilizados para a a presentaçã;)
de imagens em tubos de raios catódicos. Em seguida
a fotografia é obtida da informação exposta nos
tubos. No capítulo sobre Sensoriamento Remoto
pode ser· apreciada uma imagem a radar (V. o
. tópico 10.1 . 6).
A fotografia, oriunda duma câmara moderna.
traz, ao ser revelada, várias informações posterior·
mente indispensáveis, .as quais são registradas, au·
tomaticamente, pela própria câmara, no instante
da exposição, como ilustra a figura 92, em que
podemos observar: a data e a hora da exposição,
o código do projeto fotogramétrico, o número do
rolo, o número da imagem, a escala aproximada e
o órgão responsável pelo projeto. Além disso, como
mostra a figura, verificam-se as quatro marcas de
fé 83• É por meio destas marcas que se determina,
através de duas linhas que se podem traçar, entre-
cruzadas, o ponto principal da fotografia.
As dimensões de uma fotografia aérea variam,
mas a que mais se usa é a que mede 23x23 centí·
metros.

12 . 2. 1 A câmara aérea Fig. 92 - Detalhe duma fotografia aérea em que se vêem represen·
tados, numa das suas margens, vários índices de identificaç§o da
foto, além duma das quatro marcas de fé .
Como podemos apreciar, no tópico 1O. 1 . 1, as
primeiras fotografias foram tiradas de balões, os
quais traziam a câmara amarrada à nacela, ou del.:t 12 .3 Vôo fotogramétrico
suspensa. Na atualidade, a concepção duma câmara
Um avião fotográfico só decola para a exe-
aérea se torna muito complexa, visando aperfeiçoa-
cução duma missão de cobertura fotográfica depois
mentos no sentido de se conseguir o máximo, técni-
de um planejamento da operação, a qual, por sua
camente, economizando custos. A figura 93 mostra vez, resulta dum estudo detalhado com todas as
a conhecidíssima câmara R M K, da Zeiss, muito especificações sobre o tipo de cobertura a ser exe-
utilizada nos levantamentos em escala grande, so- cutado.
bretudo para fins cadastrais, projetos de engenharia O tempo é fator importante. Conforme o país,
e mosaicos controlados. ou a região, existem áreas em que as características
Duma moderna câmara aérea exigem-se inú- atmosféricas são propícias ao vôo na maior parte
meras especificações visando às normas de precisão, dos meses do ano. Outras há, entretanto, que rara-
atualmente requeridas, não apenas no que diz res- mente favorecem a execução de um vôo, como é o
peito à sua construção, mas ao seu uso, bem como caso da região cacaueira da Bahia, quase sempre
à sua manutenção. A figura 94 registra um aspecto coberta por nuvens.
típico da calibragem duma câmara moderna. A altura a ser voada varia com a escala da fo-
tografia, com o intervalo de curvas a ser usado e com
a distância focal da câmara. A posição do Sol é,
83 Tais marcas, relacionadas rigidamente à lente, me-
diante o corpo da câmara, formam as suas imagens no- igualmente, levada em cohsideração, uma vez que
negativo fotográfico. o excesso de sombra irá prejudicar detalhes impor-

100
uma boa estabilidade durante o vôo, assim como o
raio de ação necessário, a fim de ser evitada uma
interrupção inútil de uma missão, o que resultaria
em perda de tempo e de dinheiro. Uma vez preen-
chidas todas as exigências, terá que ser adequa-
damente equipado, inclusive quanto ao conforto
da tripulação e dos operadores fotogramétricos.
Devido à condição de que cada linha de vôo foto-
gráfico tem que perseguir a mesma direção, isto é,
todas as faixas de fotografias resultantes têm que ser
paralelas entre si, a determinação da direção de um
vôo é resultante: a) do tipo do relevo da área a
ser fotografada; b) da configuração dessa área; c)
da capacidade de produção por parte da tripulação;
d) da orientaç~o dos estereomodelos em relação à
topografia e à posição do Sol.

12.4 Cobertura fotográfica


Trata-se da representação do terreno por meio
de fotografias aér.eas, as quais são expostas sucessi-
vamente, ao longo de uma direção de vôo, formando
uma faixa de vôo. Para se obter estereoscopia, as
fotos são expostas em intervalos de tempo tais
que, entre duas fotos sucessivas de uma faixa,· haja
uma superposição de cerca de 60%. Nas "faixas
expostas, paralelamente, para compor a cobertura
de uma área é mantida uma distância entre os
eixos de vôo que garanta uma superposição de
Fig. 9~ - A câmara aérea RMK 21/18, cuja lente de 210 mm quase
não tem distorção, e de extraordinária reoolução das imagens. cercá de 30% entre duas faixas adjacentes. Deste
modo, as faixas podem ser amarradas pelos pontos
de ligação determinados na área comum e devem
formar um bloco. A direção das faixas de vôo e a
superposição variam com a forma do terreno.
Uma etapa importante no processo da cober-
tura fotográfica é a revelação e copiagem do filme.
O resultado duma missão fotográfica é cons-
tituído de imagens em negativo, a partir das quais
são geradas cópias em positivos. Isto constitui um
processo importante, uma vez que estes positivos,
para serem utilizados em fotogrametria, precisam
estar de acordo com: a orientação do sistema ótico
da câmara, bem como as propriedades especiais do
original, isto é, em preto-e-branco, em cores, em
infravermelho, etc.
Numa organização cartográfica, é de alto valor
a existência de um laboratório especializado com
a finalidade de resolver todas as necessidades que
atendam a qualidade e a diversidade dos produtos
que possam originar-se dos negativos: as cópias,
Fig. 94 - Aspecto da calibragem duma câmara aérea, tendo por
por contacto, em geral de alta estabilidade dimen-
finalidade a manutenção das normas de precisão cartográfica. sional, as ampliações, as retificações etc., assim
como a transformação dos negativos em diapositivos
tailtes que vão ser restituídos. É inconveniente, de restituição.
também, o vôo com o Sol a pino, porque não haverá As figuras 95 e 96 demonstram, respectivamente:
suficiente contraste entre muitos objetos do terreno. a) o vôo de cobertura em ziguezague, mostrando ~s
Fator de muita relevância é o avião para co- faixas de vôo, no sentido paralelo; b) um aspecto
bertura fotográfica. Tem que possuir a velocidade do sistema da .cobertura em faixas, com as indispen-
prevista para o projeto, o teto de vôo suficiente. sáveis superposições de uma fotografia em relação

101
para um fotoíndice merece menção, uma vez que

/ todos os aspectos de importância da cobertura


possam ser caracterizados.
Num fotoíndice, é preciso, ainda, que sejam
representadas todas as informações marginais neces-
sárias: a latitude e a longitude, os números de cada
foto e de cada faixa e algum fator que possa con-
correr à sua utilização.
Observe-se, pela figura 96-A, um fotoíndice
do Ministério da Aeronáutica (Comando Costeiro).

12 .4. I Irregularidades convencionais


Suponhamos que uma fotografia aérea tenha
sido exposta com o eixo ótico verdadeiramente ver-
tical. Nestas condições, somente o ponto central
está livre de qualquer deslocamento. Fora daí,
porém, e quanto mais longe deste ponto, maiores
serão os deslocamentos. Ora, a fotografia aérea é
Fig. 95 - Uma perspectiva de quatro faixas de vôo, mostrando o
uma projeção cônica. Assim, os detalhes do terreno
desenho, a montagem das fotos entre si, bem cot.to das fotos de cada representados numa fotografia, salvo o ponto cen-
faixa, apresentando uma idéia aproximada das características gerais
do terreno fotografado. tral, estão fora das suas posições relativas. Se, con-
tudo, o eixo ótico estiver inclinado, o que é o mais
comum, a despeito de todas as precauções das es-

l
pecificações do projeto e das técnicas modernas,
i
T

I
..... I
uma vez que um mais-pesado-do-que-o-ar se movi-
menta em plena atmosfera, e devido à irregularidade
I do relevo do terreno, neste caso os deslocamentos são
l
maiores, e em todos os pontos da fotografia. A
figura 97 esquematiza o deslocamento da cobertura
1··----- •· ----- -- numa fotografia, motivado pela inclinação do eixo

-- ótico. Já a figura seguinte, 98, exemplifica o perfil


de uma fotografia mostrando a irregularidade do

='-----
-L~-,---- ____ j -
terreno.
Suptrposi~o lonQitudlnal
Outro tipo de anormalidade que pode ocorrer,
sobretudo em conexão com as condições meteoro-
lógicas, resulta de uma faixa que passa a não apre-
sentar uma direção reta regular, formando, em
conseqüência, uma curva, a qual poderá causar,
Fig. 96 - Como se ve, cada fotografia cobre, longitudinalmente, uma
entre uma faixa e outra, uma descontinuidade na
estreita margem da fotografia contígua, o mesmo ocorrendo entre superposição, o que é conhecido como "buraco",
cada fotografia duma faixa, em relação à fotografia contígua da
faixa lateral vizinha. tipo de anormalidade que, muitas vezes, obriga a
um novo vôo, a fim de sanar aquele defeito.
a outra, que representa a superposição longitudinal,
e de uma faixa com a outra faixa contígua, que 12. 4. 2 Superposição fotográfica
corresponde à superposição lateral.
Como vimos, há uma superposição, que é um
Uma etapa indispensável no processo que re-
recobrimento fotográfico parcial entre duas imagens
sulta duma cobertura fotográfica é a preparação
contíguas, entre uma foto e a outra que a segue, e
dos fotoíndices, os quais constituem a reunião de
entre uma faixa de vôo com a outra faixa adjacente.
fotografias aéreas individuais, nas suas posições
relativas, fotografadas, em seguida, numa escala Em ambos os casos a superposição é indispensável
no sentido de se alcançar, entre uma fotografia e
reduzida.
outra, e entre uma faixa e outra, o controle na me-
A finalidade desses fotoíndices de apresentar e dição de ângulos e distâncias, o que só se torna
a relação de qualquer fotografia com as outras,
assim como a sua relação com os acidentes do ter- possível quando há uma repetição de imagens vi-
reno e com o sistema de referência geográfica, além zinhas. O outro sentido da superposição é, igual-
de outras informações que podem ser aproveitadas mente, primordial, tanto na fotogrametria, quanto
nos reconhecimentos, estudos do terreno, em apreço, na fotointerpretação, uma vez que, sem ela, seria
planejamento do controle etc. A escala escolhida impossível a visão estereoscópica.

102
MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA
COMANDO COSTEIRO
1!!/62 GRUPO DE AVIAÇÃO

UNHARES
PROJETO 01/FAB -IBGE - 74- iREA "8" QUAORtULA: SE-24-Y-D

FOTO (NOICE

CÂMARA : RC • 9
ESCALA 00 VÔO

·+~
SUMA'RIO

OolT.t.oov&l

" '
"'
"' '"
'" ..
'"
L
"' 21-04-7!1

'"
"' '" '"
'"
01-011-7!1

I I
Olt"od•- · - - · -O. . odw
1 I
! i
Fir. 96·A Fotolndice da cobertura relativa à folha Linhorts, em 1: 100 000, de acordo com o projeto 01/FAB· IBGE, em que estSo
representadas, de norte para sul, sete faixas de vôo na escala original de I :SOO 000 , notando· se cada foto com a sua respectiva numeração.

103
cepção da forma e da cor ou do tom de cada
objeto. No entanto, a avaliação da distância e os
tamanhos dos objetos só são possíveis se usarmos
os dois olhos. É, assim, a visão binocular, que nos
fornece o relevo ou a terceira dimensão dos objetos.
Esta visão se origina do fato de que o nosso olho
esquerdo, estando situado numa posição diferente
da do olho direito, vê um objeto por meio de um
ângulo, assim como o olho direito, em outra posição,
vê o mesmo objeto através de um ângulo diferente.
A visão simultânea, combinada, é que nos dá o
sentido da profundidade. Por um mecanismo fisio-
lógico e psíquico, o cérebro faz a comparação ins-
tantânea das diferenças existentes entre a visão
esquerda e a visão direita e analisa a noção de pro-
fundidade, enxergando cada ponto do objeto em
Novel médio
do terreno
seu verdadeiro lugar. Esta é a explicação da visão
estereoscópica.
Quando uma câmara aérea vai fotografando o)
terreno em espaços uniformes, ao longo do vôo do
avião, cada fotografia é tirada de um ângulo dife-
rente do ângulo pelo qual é obtida a fotografia
Fig. 97 - O eixo ótico indica uma sensivel inclinação, provocando,
em conseqüencia, uma imagem bastante deformada, relativamente à seguinte. Então a área comum entre as duas foto-
etcala. grafias, que é superposição, repete a visão binocular
humana.
r--.,..----J- - - -- A fim de se reproduzir artificialmente a visão
estereoscópica, tomam-se duas fotografias consecu-
tivas e, mediante um instrumento ótico binocular,
chamado estereoscópio, consegue-se ver os objetos
representados em ambas, em terceira dimensão.
Como a nossa visão normal, com os dois olhos. A
figura 99 esquematiza o estereoscópio, e a figura
100 apresenta um estereoscópio de espelhos com
a adaptação dum estereômetro.
Olst3neio
inler-
pupllor

I
I I
o I I
I I
"'u I I
o I I
I I
I I
I I I I
I11I II II - ' -_ _......__ _.._
D I I I
FOTO li I I FOTO
Fig. 98 - O esquema ilustra uma fotografia aérea de eixo ótico 1\ I I
vertical, e um terreno demasiadamente irregular em relaç§o no seu I I I I
nivel médio. I 11 I
I 1/ I
, / ..... ~.....
I \
\
As percentagens da superposição variam de um I 11 I

projeto para outro. Como exemplo, apresentamos, ----------L--~--~--L-


: ../ Imagem ""\ \
entre as fotografias de cada faixa, uma superpo- 1 f (Aparente) \ 1
--J../ "'--
sição de 60%, e, entre faixas contíguas, uma super-
Fig. 99 - Esquema dum estereoscópio de espelhos.
posição de 30%.

12. 5 Estereoscopia 12. 6 Aerotriangulação


Quando usamos, apenas, um dos nossos dois Como, de acordo com o que já aprendemos, as
olhos, não deixamos de ter a possibilidade de per- fotografias aéreas são eivadas de deslocamentos.

104
guinte princípio: os ângulos verdadeiros e constantes
vão ser formados no centro de uma fotografia aérea
":erdad~iram~nte vertical, mediante o traçado de
lmhas trradtadas para os pontos-imagem da peri-
feria. Não sendo verdadeiramente vertical, o pro-
blema se avulta por causa dos deslocamentos de
imagens, sobretudo quando o relevo do terreno se
acentua. Por isso é um método apropriado, apenas,
a terrenos planos.
A figura 101 dá uma idéia desse tipo de trian-
gulação.

Pl
z- l PJ
PZ P3 P4

FOTO. FOTO 2 FOTO 3

Fig. 100 - Bom exemplo dum cstercosc6pio de espelhos da fáhrica


)ena, de Leipzig (ROA). t equipado com um estcreômctro, o qual
tem a finalidade de medir as paralaxcs horizontais, r<'~ultando num
erro menor do que ± 0,01 mm.

tanto no sentido horizontal, quanto no sentido


vertical, e visto, ainda, que a escala não é constante FOTO 1 FOTO 2 FOTO 3
entre uma imagem e a outra, torna-se necessário
um processo pelo qual as medições de ângulos ou t1g. 101 - Aí c•tão três foto• cont1guas duma mesma faixa. Foram
marcado• os pontos centrais de cada foto, assim como três pontos
de distâncias, em fotografias estereoscópicas, sejam laterais. ~m sel\uida, ;;erão ligados er.ttre si cada um desses seis pontos.
A operaçao tera segu•mento até o fmal da faixa, com a repetiç~o da
relacionadas a uma solução espacial, usando-se o operaç§o em cada uma das outras faixas. Finalmente. os pontos late·
princípio da perspectiva das fotografias, a fim de rais de cada faixa oerão interligados.
que se consiga um controle horizontal e vertical.
Trata-se, no caso em apreço, de uma operação 12 . 7 Restituição
denominada fototriangulação ou aerotriangulação.
Os pontos resultantes do controle terrestre, Segundo o Dicionário Cartográfico, a resti-
examinados no capítulo anterior, são necessários no tuição, ou estéreo-restituição, é a "elaboração de um
ajustamento da estereotriangulação através das suas novo mapa ou parte do mesmo, oriunda de foto-
coordenadas x e y. Outros pontos, porém, precisam grafias aéreas e levantamentos de controle, por meio
ser determinados para as medições deste tipo de de instrumentos denominados, geralmente, resti-
triangulação, e cuja determinação é feita no gabi- tuidores". Trata-se, em outras palavras, de trans-
nete ou em instrumento. ferir os elementos em meio-tom da imagem foto-
gráfica para a minuta, sob a forma dê traços, por
Vários são os tipos de aerotriangulação. Os
meio de um instrumento denominado restituidor
mais usados são a triangulação analógica, a ana-
ou estéreo-restituidor.
lítica e a semi-analítica. O primeiro consiste na ori-
entação relativa e absoluta de um par de fotografias Como se depreende do que sabemos quanto à
que dispõe de controle terrestre, e na orientação aerotriangulação, a restituição está livre de defeitos,
progressiva dos demais, sendo, portanto, montada uma vez que foram determinados, no campo, os
a faixa no próprio aparelho triangulador. A trian- pontos de controle terrestre, e, no gabinete, os
gulação analítica se baseia na medida das coorde- pontos de transferência, os quais formam a base
nadas x e y de cada ponio a ser triangulado, em para a triangulação das fotografias.
estereotrianguladores, sendo a terceira coordenada, Os pontos resultantes da aerotriangulação são
z, obtida analiticamente. marcados numa folha de papel, a qual vai servir
de elemento básico à restituição. Como o restituidor
12. 6. 1 Triangulação radial é um instrumento baseado no princípio estereos-
cópico, a restituição é executada por etapas, isto
É um tipo de aerotriangulação que pode ser é, de duas em duas fotos estereoscópicas, de cada
desenvolvido de diversos métodos. Baseia-se no se- vez, par por par, até o fim da área a ser restituída.

105
Antes, porém, de ser iniciada a restituição pro-
priamente dita, é preciso que o par seja orientado
·no instrumento, de acordo com o "arcabouço" da
aerotriangulação. A orientação é a recriação da
configuração natural do terreno numa escala em
miniatura, mediante a projeção ótica de fotografias
estereoscópicas. Surge, então, o modelo, no momento
em que todos os raios luminosos correspondentes,
que partem dos dois projetores, cruzam-se no es-
paço. A partir deste momento, a restituição pode
ser iniciada, e o resultado gráfico desta operação
vem a ser a minuta ou estereominuta, que é um
original desenhado, mecanicamente, pelo restitui-
dor, livre de preocupações e que irá servir de mo-
delo para a elaboração de uma carta básica, jun-
tamente com os dados e informações resultantes da
reambulação.
A figura 102 mostra um moderno restituidor
Aviograph AG 1, da Wild, para restituição gr;í.-
fica racional ou para a restituição digital. E pela
figura 103, vemos, em a, b, respectivamente, uma
fotografia aérea e a sua restituição.

Fig. 103 - Parte duma fotografia aérea, reconhecendo-se: a) a rede


de drenagem, algumas pequenas áreas ainda com matas e uma área
inundada. Quanto à ocupação humana mostrada pela imagem, pode-
mos reconhecer a r ede viária, um povoado, o casaria disperso e um
loteamento; na parte b (abaixo) temos a respectiva rellituição.

'?~

L
Fig. 102 - O Aviógrafo AGJ é de muita preCisao, além de econô-
mico na restituição estereosc6pica em e~alas médias e pequenas. A
operadora utiliza o pantógrafo pertencente ao complexo instrumental.
o qual permite uma ampliação de até 3,75 vezes.

12.8 Mosaicos
Como uma fotografia aérea, ou mesmo uma
faixa de fotografias, representa, apenas, uma dimi-
nuta porção do terreno, recorre-se (à falta de
uma carta regular) ao mosaico que é a montagem
sistemática de todas as fotografias que cobrem a
área que se precisa representar.
Como já vimos, as fotografias não são livres de
uma grande variedade de erros, os quais, entretanto,
podem ser minimizados até o ponto em que se ne-
cessite do mosaico. Se desejamos, apenas, a confi-
guração geral do terreno, com todos os seus deta-
lhes, mas sem nenhuma precisão métrica, efetuamos ·
a montagem cuidadosa das cópias, procurando, até
certo ponto, coincidir os detalhes comuns a duas

106
fotografias contíguas, e, então, este tipo de mosaico, lado. Dessa maneira, as dimensões dessa varredura,
denominado não controlado, será bastante útil. No que é feita por faixas estreitas paralelas entre si,
ensejo, porém, de se precisar de grande exatidãb, são correlativas, e, em conseqüência, as linhas var-
todas as fotografias mediante um instrumento cha- ridas são mínimas. O mosaico resultante de or-
mado retificador terão que ser reduzidas a uma tofotografias é conhecido como ortofotomosaico.
escala comum, eliminados os efeitos da inclinação Quando, por meio desta técnica, se usam imagens
da câmara. Nesta oportunidade, a montagem terá em cores, um novo processo dá nascimento ao mo-
que ser executada sobre uma seleção de pontos derno pictomapa, que é "uma reprodução a core•
de controle terrestre. Aí teremos um mosaico con- de um fotomosaico modelo, no qual as imagens
trolado. No caso, ainda, de pouca exigência quanto foram convertidas em cores e símbolos interpre-
à precisão, um mosaico oriundo de condições inter- táveis por meio de técnicas adotadas em másca-
mediárias poderá atingir a sua finalidade, e, aqui, ras" S4. A palavra pictomapa é uma abreviatura
trata-se dum mosaico semicontrolado. Com a fi. de Photographic Image Conversion by Tonal Mas-
gura 104 podemos estabelecer uma comparação king Procedw·es (P-1-C-TO-MA-P) , em inglês.
entre o mosaico semicontrolado e sua respectiva
área cartografada. 12.9 Fotocarta
Modernamente, há instrumentos que produzem,
automaticamente, ortofotografias, oriundas de fo- Quando se adota o processo de estabelecer uma
tografias aéreas convencionais, sem deslocamentos série de mosaicos de uma área maior de terreno,
de imagens, devido à inclinação e ao relevo terrestre. dentro de um siste111a de quadriculado, como o de
Os ortofotonegativos se originam de modelos este- uma carta topográfica, com as informações margi-
reoscópicos geometricamente rígidos mediante o nais e superimpressão de topônimos, linhas e li·
processo de varredura, o qual é sumamente contro· mites, pontos etc. e, às vezes, curvas de nível, a
este documento se dá o nome de fotocarta ou foto-
mapa, o que pode ser visto pela figura 105. Mo-
dernamente, um novo tipo é adotado, quando se
. empregam cores em detalhes planimétricos. Dá-se-lhe
a denominação de fotocarta em cores.

Fig. 104 - Acima, mosaico semicontrolado de radar, . na escala ori·


ginal de I :250 000. Abaixo, a mesma área cartografada em igual
escala, elaborada com base em interpretação das imagens de radar
pertencentes ao mosaico original. A prodUção é do Projeto Radam·
Brasil.

Fig. 105 - Parte da fotocarta Mossoró, em I :250 000, executada com


ittlagens de radar. A produção é da Diretoria de Serviço Geográfico
fM . Ex . ) .

12.1 O Fotointerpretação
Segundo o Glossary do Departamento da De-
f!!sa dos Estados Unidos, é "o exame de imagens
fotográficas com a finalidade da identificação de
objetos e da dedução do seu significado".
Conforme o grau de complexidade, ou a fina-
lidade de um trabalho sobre fotografias aéreas,

84 ESTADOS UNIDOS Department of Defense. Op. cit.

107
podemos classificar esse tipo de pesquisa em foto- Examinando-se o aspecto dos assuntos contidos
identificação, fotoanálise e fotoínterpretação. Como numa fotografia, a sua análise se faz por meio
sugerem, as duas primeiras palavras representam de como estes assuntos se apresentam na imagem
duas etapas do processo da fotointerpretação, pro- fotográfica. Deste modo, interessam-nos, sobrema-
priamente dita. A fotoidentificação reduz-se à pri- neira, a tonalidade, a textura, a forma, a dimensão,
meira aproximação, à primeira abordagem, uma a sombra, o padrão etc., as quais, isoladamente,
ou associadas entre si, "empurram" o fotointérprete
espécie de fotoleitura. Já quanto à segunda, a foto-
para as definições.
análise, compreende-se que, após se identificar ou
descobrir detalhes, estes são analisados entre si, Quanto às aplicações da fotointerpretação,
usam-se, hoje, fotografias aéreas (em quase toda a
donde já tiramos várias conclusões, de como eles
sua diversidade) na pesquisa de campo relacionada
se relacionam entre si. Com a fotointerpretação, com: a geografia, a geologia, a pedologia, a silvi·
há uma investigação em profundidade, e se baseia cultura, a meteorologia, a oceanografia, a hidro-
"no princípio de que os fenômenos têm relações logia etc.
espaciais entre si, e que a presença invisível de Para a cartografia topográfica, somente o as-
um fenômeno pode ser perfeitamente deduzida pecto sumário é alcançado. Nunca, praticamente,
da presença visível de outro" 8 5. O método de pes- precisa-se recorrer ao método fotointerpretativo. Já
quisa é complexo porque combina a análise geográ· o campo d:1 cartografia especial, bem como da
fica, ou associativa, com as técnicas de inúmeras cartografia temática, necessita, fundamentalmente,
outras ciências. Daí a fotogeografia, a fotogeologia, das pesquisas de fotointerpretação, as quais vão
a fotoarqueologia, a fotopedologia, a fotoengenharia dar origem a uma boa variedade de mapas especiais
etc. e temáticos.

811 OLIVEIRA, Cêurio de. As pesquisas e os estudos fotogeoeconômicos.

108
13. Representação cartogrâfica
Tanto os mapas primitivos, isto é, os oriundos e a configuração dos aspectos da superfície da Terra,
de algum grupo tribal, antigo ou contemporâneo, desta maneira, deve logo chamar a sua atenção".
quanto os mapas elaborados na Antigüid_ade, têm Outro aspecto que deve ser fixado, no que diz
algo em comum - um certo ponto de v1sta pers- respeito à simbologia cartográfica, é que, se o sím-
pectiva do terreno. Queremos dizer com isso que, bolo, seja ele qual for, geométrico ou não, é indis-
tanto no tipo de representação primitiva, quanto pensável em qualquer tipo de representação carto-
no caso dos povos antigos, era muito comum a gráfica, a sua variedade ou a sua quantidade
adoção da visão perspectiva dos objetos, em opo- acha-se, sempre, em função da escala do mapa.
sição à vista ortogonal modernamente praticada,
A não ser o caso das plantas em escala muito
sobretudo no caso da figuração do relevo terrestre,
grande, em que as suas dimensões reais são redu-
muitos mapas, relativamente novos, persistiam em
zidas à escala, onde, portanto, a simbologia é mí-
representar as montanhas sob a forma perspectiva.
nima e muito mais simples, à proporção que a
A simbologia cartográfica, que embora já ten- escala diminui aumentam os símbolos. Então, se
desse, no passado, ao geometrismo, não conseguia um mapa é a representação, numa simples folha de
libertar-se, inteiramente, do caráter associativo. papel, dos aspectos físicos e naturais da superfície
Uma cidade, por exemplo, que, numa carta geo- da Terra, toda esta representação só pode ser con-
gráfica atual, é, via de regra, representada por um vencional, isto é, mediante o ponto, o círculo, o
pequeno círculo, no passado era mostrada mediante traço, a cor, etc.
o desenho de um grupo de casas ou duma fortaleza. Há, assim, uma grande variedade de símbolos,
Era muito difícil para aqueles cartógrafos dos a saber: símbolo figurativo e símbolo geométrico,
séculos XV, XVI e XVII deixarem os objetos do símbolo pontual e símbolo linear, símbolo alfabé-
seu meio ambiente fora de uma figuração que não tico e símbolo numérico, símbolo em projeção
fosse aquela mediante a qual a sentiam com os seus horizontal e símbolo em projeção vertical etc., bem
olhos. como úma extensa gama de cores, com todas as suas
A libertação completa daquele modo natural combinações, além dos diversos matizes do preto,
. de representação cartográfica só se verificaria, em quando se trata de mapas monocromos.
definitivo, com a inauguração da topografia cien- Como, ainda, tem o mapa, por objetivo, repre-
tífica dos Cassini, nos séculos XVII e XVIII. sentar duas dimensões - o plano e a altura -
Um símbolo cartográfico - é preciso que o todos os símbolos e cores convencionais são de duas
não deixemos de c;onsiderar -, mesmo na represen- ordens: planimétricos e altimétricos.
tação topográfica da carta de hoje, não pode
abdicar, inteiramente, do seu caráter figurativo- 13 .1 Planimetria
associativo, em favor do símbolo geométrico puro,
como: o ponto, a linha, o quadrângulo ou o círculo. Em cima da base mais graficamente matemática
"Um mapa não é - não se pode permitir que o da carta, que é a rede geográfica ou a rede plano-
seja- um diagrama meramente geométrico, em que retangular, incluindo os pontos de origem geodé-
as distâncias e as relações horizontais estejam cor- sica, as coordenadas etc., assenta-se todo um con-
retas; deve, até certo ponto, sugerir a aparência do junto de variados detalhes e de rígidas posições,
assunto, como este é visto pelo observador, no representado pelos elementos naturais ou físicos,
terreno" 86 • Raiz, igualmente, é de opinião que e artificiais ou culturais. Os primeiros ·correspon-
"um bom símbolo é o que pode ser reconhecido dem, principalmente, aos aspectos hidrográficos e
sem a legenda" 87. Deetz 88 também acha que a vegetais, e os outros aos aspectos decofrentes da
"conexão" entre o homem e o seu ambiente ter- ocupação humana.
restre imediato é, em conseqüência, muito íntima,
13. I . I Hidrografia
86 KELTON, R. A. Decorative printed maps. A representação associativa tem tratado o tema
87 "A good symbol is one that can be recognizcd hidrográfico, sempre que possível, por meio de
without a lcgend" (RAIZ, Erwin. op. cit.) símbolos que · lembram a água. Os mapas em preto-
88 DEETZ, Charles, Op. cit. · e-branco mostravam os mares e lagos com linhas

109
paralelas onduladas. E nos coloridos, o azul tem
.
Carta Internacional do Mundo (CIM) ao milioné-
sido a cor escolhida para os cursos d'água e as simo, representando as cores hipsométricas, as quais
extensões hidrográficas. Até certos detalhes, como caracterizam as faixas de altitudes entre O, 100, 200,
no caso dos não-perenes, a tendência nossa é repre- 500, 1 000, 2 000, 2 500, 3 000 metros, bem como,
sentar um rio permanente sob um traço cheio, e no que toca aos oceanós, as. cores batimétricas, a
um não-perene com traços interrompidos. E que fim de determinar as faixas de profundidade entre
dizer de fenômenos como alagados, mangues etc., O, 200, 500, 1 000, 3 000 . e ,6 000 metros.
cujos símbolos, nas cartas hidrográficas, tanto suge-
rem a natureza (V. a fig. 106). E as modernas cartas 13.1.3 Vegetação
em escala grande, das altas montanhas, com seu
belo relevo sombreado em azul, lembrando, com Como não poderia deixar de ser, a cor verde
tanta fidelidade, as neves eternas? é universalmente usada para representar a cobertura
vegetal do solo 89 . Estão previstas, na folha em
HIDROGRAFIA 1:50 000, apenas quatro variedades: mata, floresta
-verde claro chapado; espécies arbustivas (cerrado,
Mangue, Salina caatinga, etc.) - a mesma tonalidade do mapa
com retícula apropriada, meio figurativa; as cultu-
Curso d'6gua intermitente /
/
ras permanentes (café, eucalipto, cacau, etc.) -
Lego ou lagoa intermitente ~~~i simbologia apropriada, em verde; as culturas tem-
Terreno sujeito a inundaçlo
porárias (trigo, soja, etc.) - outro tipo de simbo-
Brejo ou plntano
logia diferente da anterior, mas todas com o toque
Direçlo de corrente
figurativo. Nestes dois últimos casos, como cada
Poço (6gua)
uma das duas culturas tem a mesma simbologia,
Selto, cascata ou catarata
cada cultura local recebe ainda um nome, conforme
Cachoeira
a espécie agrícola (café, cana, algodão, soja, uva,
Corredeira, r6pido ou travesslo ..
etc.).
Barragens: terra. alvenaria
Ancoradouro
UI. 1 . 4 Unidades políticas ou administrativas
Areia
Fig. 106 - No rodapé das folha• topográficas do IBGE, esses s~o Nas escalas pequenas, quando se faz mister a
os slmbolos representativos dos detalhes relacionados à hidrografia.
representação de áreas políticas, administrativas, ou
.outras, a fim de salientá-las, como no caso de mapas
Tomando como base uma folha topográfica em escolares, atlas etc., sobretudo quando se precisa
1:50 000, verificamos a seguinte representação, mos- representar países, estados, municípios, e quaisquer
trada pela figura: afora os detalhes, todos na cor outras áreas geográficas, a forma universalmente
azul, as extensões de água representadas em escala usada para aquele realce é imprimi-las sob diversas
recebem um colorido azulado, conseguido mediante cores. Um mapa da Europa, por exemplo, no sentido
retícula, exceção feita a lagos e lagoas intermitentes de se poder visualizar, de um modo rápido e prático,
que são representados por meio de um tracejado os seus diversos países, deve representá-los, pois,
paralelo, inclinado de NO para SE. em cores diferentes. Nos nossos mapas estaduais,
A representação hidrográfica numa carta náu- divididos em municípios, costumamos, igualmente,
tica é a mais variada possível, não só quanto aos representar essas áreas administrativas em três ou
elementos aqüíferos propriamente dito, mas em quatro cores, o que muito auxilia a identificação,
todos os outros que lhe estão associados. a forma e a extensão de cada uma delas. Do ponto
de vista estético, parece-nos, pessoalmente, menos
11J . I . 2 Aspecto do solo recomendável. Em lugar disso, e conforme o caso,
preferimos realçar aquelas áreas, empregando estrei-
A cor da representação do terreno na carta é, tas tarjas, igualmente em cores, a partir da linha
em geral, o castanho. A própria simbologia que limítrofe de cada área. Este método é usado com
representa o modelado terrestre - as curvas de nível muito sucesso pela National Geographic Society
- é impressa nessa cor. (Washington, D.C.), em seus esplêndidos mapas
Os areais são representados por meio de um de continentes, países etc. A apresentação fica mais
pontilhado irregular, igualmente em castanho. Já leve, agrada mais à vista e surte o mesmo efeito,
os aflorallilentos, que aparecem, geralmente, associa- do ponto de vista da leitura da carta.
dos às curvas de nível, são ressaltados em preto, Mas o outro tipo de representação é mais
mediante um desenho que imita a rocha. popular, e bastante antigo.
Com o decréscimo das escalas, diminuem os
detalhes, mas a correspondente simbologia tende a 89 No caso de mapas temáticos fitogeográficos, os
se tornar mais complexa. É o caso, por exemplo, aspectos florísticos são, às vezes, tão variados que se tem
que recorrer, além dos verdes, a outras combinações cromá.
do relevo, além das curvas de nível, como se dá na ticas.

110
A escolha das cores, para qualquer um dos Acrescente-se que, dentro do perímetro urbano,
dois tipos acima expostos, é puramente aleatória, é representado, por meio de um símbolo próprio,
o que não tem impedido o aparecimento de algumas todo edifício de notável significação local, como
dúvidas ou incompreensões. um templo, uma escola, uma fábrica, um hospital,
Ouvimos, certa vez, por ocasião da impressão etc.
de um mapa político da América do Sul, esta in- O povoado, que, em geral, devido à sua expres-
gênua observação: - A cor do Brasil só pode ser são demográfica, não tem condições de ser repre-
verde! sentado em área, é indicado por um símbolo próprio
Há pouco tempo, na leitura do Tom Sawyer, (em geral um círculo). A propriedade rural é mar-
de Mark Twain, deparamos com este ingênuo diá- cada por um, ou, conforme o caso, vários símbolos
logo entre Huckleberry Finn e Tom Sawyer, a de casas.
bordo do seu barco voador, no momento em que Outras construções, como barragem, ponte,
sobrevoavam o sul do lago Michigan: aeroporto, moinho, catavento, farol, olaria, etc., têm
simbologia especial, mas quase sempre de caráter
"-Nós ainda estamos bem ·em cima de Illinois. associativo.
Você pode ver com os seus próprios olhos que
Indiana ainda não está à vista. Illinois é verde, e
Indiana é cor-de-rosa. Você vê alguma terra cor-de- 13. I . 6 Sistemas viários e de comunicação
rosa aqui em baixo?
As rodovias e as ferrovias têm a sua represen-
-Não senhor- lhe respondeu Tom- é verde. tação da seguinte maneira: a auto-estrada, que é
Indiana, cor-de-rosa? Que mentira! uma via com várias faixas de trânsito em duas mãos,
Ao que lhe contestou Huckleberry, enfatica- separadas por um canteiro central, é representada
mente: por duas paralelas em preto, e uma terceira, central,
mais fina, além de um recheio em vermelho, co-
- Não é mentira não. Eu vi no mapa! e é cor-
brindo as três linhas. O segundo tipo é, igualmente,
de-rosa!" pavimentado, mas sem canteiro central. A estrada
seguinte não tem pavimentação, mas é de tráfego
13 . 1 . 5 Localidades permanente. É desenhada com duas paralelas em
preto, mas o recheio em vermelho é interrompido
Conforme a quantidade de habitantes em regularmente ao longo da via. Vem, a seguir, a de
números absolutos, representamo-las, no Brasil, tráfego periódico, que se assemelha à anterior,
dentro do seguinte esquema: excluindo a parte em vermelho. E há, finalmente,
o caminho, indicado por um alinhamento regular-
a) Cidade com mais de 100 000; mente tracejado.
b) Cidade entre 50 000 e 100 000; Quanto às ferrovias - que são representadas
c) Cidade entre 20 000 e 50 000; em preto - são distinguidas quanto à bitola (nor-
d) Cidade entre 5 000 e 20 000; mal, larga e estreita) e à indicação das estações.
e) Cidade até 5 000 (a cidade é a sede de um As vias de comunicação ~esumem-se à linha
município); telegráfica ou telefônica e às linhas de energia
f) Vila (sede de um distrito) ; elétrica (de alta tensão ou de baixa tensão).
g) Povoado;
h) Lugarejo; 13. 1. 7 Linhas de limites
i) Propriedade rural (fazenda, sítio, granja, Numa carta geográfica, a CIM, por, ex~mplo,
etc.). • só há possibilidade do traçado dos limites inter- ·
Variando de acordo com a área, o centro ur- nacionais e interestaduais. Numa carta topográfica,
bano é representado pela forma generalizada dos entretanto, é de grande necessidade a representação
quarteirões, que compõem a área urbanizada das divisas intermunicipais, uma vez que são cartas
construída. Após este perímetro, mais ou menos muito mais de uso rural do que urbano, e, desta
com pacto, o casarit!l . vai-se aos poucos, rarefazendo, maneira, todas as atividades. rurais giram em termos
até à área rural propriamente dita. Então, o centro administrativos locais, isto é, municipais. Na carta
urbano, que é representado, na carta, por meio em I :50 000 não há lugar para a representação de
duma tonalidade rosa (o vermelho reticulado), dá divisas entre distritos. No caso, porém, da escala
lugar, após o perímetro urbano, a pequenos sím- em I :25 000, esta representação é perfeitamente
bolos quadrados, em preto, os quais representam o possível. Este tipo de escala permite, ainda, algumas
casario (a rigor, cada um destes símbolos não representações como certas cercas de expressão local
representa cada casa, numa escala topográfica) , até indiscutível, além de outros possíveis detalhes.
desaparecerem. Na realidade, um símbolo tanto Conforme as áreas, certas unidades de expressão
pode representar uma casa, como um grupo de administrativa, cultural etc. precisam aparecer,
casas, conforme a escala. como é o caso, por exemplo, dos Parques Nacionais.

111
13. 2 Altimetria
A representação das montanhas constituiu
sempre um sério problema cartográfico, ao contrário
da relativa facilidade do delineamento dos detalhe&.
horizontais do terreno Do.
As primeiras tentativas em mostrar o relevo
como visto do espaço foram através do método de
"lagartas" (Fig. 107), o qual é puramente conven-
cional, não oferecendo nenhuma idéia da forma
das elevações, exceto no caso de uma montanha
isolada ou de ser mostrada, para um determinado
fim, alguma cordilheira em relação a uma área,
como é o caso dessa figura.

Fig. 108 - A técnica que o saudoso cartógrafo Rudoll Langer ado-


tava p:tr::a. a repre~entação do relevo mcdiant<' hachuras.

Fig. I 07 - lSo sentido de mostrar a> grandes cadeias de montanhM


do continente europeu. o cartógrafo Armin K. Lobeck de!lenhou esse
padr§o em forma de lagarta.

Na segunda metade do século XVIII, começou,


na Europa, a discussão da representação cartográ-
fica do modelado terrestre, até que, finalmente, sur-
giu o método das hachuras, o qual pode ser obser-
vado na figura l 08, e que chegou ao seu máximo
acabamento· nos mapas do século XIX, em que •og :zr_-_-:.:.::.::ZJ:.::.::::::.z:c:::::::::-:..-::.;;::::r.::::::::-:..-:.::-_:.::..:::.=-:]
o b c d •
sobressaíram as organizações cartográficas da Itália,
Fig. 109 - Sendo o método da hachura sumamente artístico, a sua
da França e da Alemanha. Certos mapas, já do nosso realização só se torna exeqüível mediante um apoio técnico bastante
rígido. Vêem·se, na parte superior, duas curvas de nível de valores
século, como os do Instituto Agostini, de Novara O e 100 metros. Como o afastamento entre elas não é uniforme, o
(Itália), são primorosos, e, realmente, retratam, que significa diferentes rampas, dividimo-lo em cinco porções: de a
(a mais escarpada) até e (de moderada declividade). Na parte infe·
com fidelidade, o modelado. A figura 109 mostra rior, os declives estão representados de perfil. O esquema obriga o
desenhista a um trabalho disciplinado, no sentido de traduzir o mo·
um método que obriga o artista a trabalhar com delado através de um claro-escuro que irá mostrar, em a, uma en·
costa de cerca de 45°, em traços curtos e grossos, passando, sucessi-
uma disciplina qu$! conduzirá, com mais segurança, vamente, para traços mais longos e mais finos, até a porção entre
ao fim almejado. Mas o problema não consistia d e e, com traços longos e bem finos, revelando-nos um relevo bem
mais suave. •
apenas em representar a forma através do claro-
escuro apresentado pelas hachuras, faltava a reso- "Dêem-me um retrato fiel dos rios, regatos e lagos,
lução do problema das altitudes. Era fácil "encher" e eu traçarei as montanhas por minha conta" s1.
o terreno com montanhas tanto que, na Inglaterra, E, além de não ficar resolvido o problema da
corria antigamente esta frase entre os cartógrafos: altitude, era muito oneroso e demorado o método
técnico e artístico de hachuras.
90 Os cartógrafos do século XVI, por exemplo, for-
neciam, invariavelmente, a indicação das montanhas, de 91 "Give me a faithful picture of rivers, streams and
perfil, como nos dá idéia esse mapa de Sebastião Münster, lakes, and I will fill in the mountains for myself."
1540, o qual foi empregado até o século XVIII. (WINTERBOTHAN, H. S. L. Op. cit.)

112
13.2 .1 Curvas de nível

O método, por excelência, para a representação


do relevo terrestre é o das curvas de nível, porque
fornece ao usuário, em qualquer parte da carta,
um valor aproximado da altitude que ele precisa.
Ao contrário das hachuras, que são uma represen-
tação artística, é um método puramente matemático,
e que, em conseqüência, só pode ser traçado depois
que se obtém um sem-número de pontos de altitude
determinados geodesicamente. Com o advento da
fotogrametria, o seu traçado mecânico passou a ser
mais exato, além da rapidez da elaboração. E, nos
dias atuais, com a automatização da car~ografia, os
mais modernos instrumentos podem traçar as curvas,
automaticamente, sem a contribuição do operador.
A curva de nível, que, a rigor, e teoricamente
falando, é uma isoipsa, constitui uma linha imagi-
nária do terreno, em que todos os pontos da referida
linha têm a mesma (iso) altitude (hipso), acima
ou abaixo de uma determinada superfície de refe-
rência, geralmente o nível médio do mar.
.Para quem não está habituado a interpretar o
terreno por meio das curvas de nível, o método
se torna muito difícil à leitura da carta, no que
toca à altimetria. O principiante, na leitura e inter-
pretação de cartas, terá que possuir a noção exatà
da sua vizualização, além duma boa capacidade de
abstração.
Aquele que já esteve à margem do oceano, ou
mesmo de um lago ou açude, terá percebido a
marca que a água deixara anteriormente em alguma
margem mais íngreme. Esta marca não é outra coisa
senão uma linha ou curva, que, vista do alto, verti-
calmente, nos oferece um valor igual, permanente,
acima do nível da água que, um dia, chegou até ali.
Há, na leitura das curvas de nível, dois mo-
mentos em que o principiante se encontra desafiado.
Trata-se, primeiro, quando ele tem que "ver" um
contraforte e depois, um vale, e, então, distingui-los.
Ora, um contraforte, um esporão, tem que se mos-
trar saliente. Ao contrário, um vale, ou uma simples
ravina, tem que aparecer para dentro. Só a abstra-
ção, neste caso, é que resolve o problema. Observe-se
a figura 110 e verificar-se-á que, se um curso d'água, Fig. 110 - Observe-se esse pequeno vale e como a cur\"a de nfvel
que contraria a horizontalidade, "investe" sobre tem que ser adaptada em funç~o dessa caracterfstica geográfica.
uma curva de nível, oferece, como resultado, o
aspecto mostrado na referida figura.
Quando, em alguns terrenu5, há áreas depressas, outras, finas, denominam-se "intermediárias". Há,
as curvas, aí, denominadas curvas de depressão,
ainda, as curvas "auxiliares", explicadas no próximo
delimitam uma área de altitude mais baixa do que
o terreno circunvizinho, e contêm setas que partem tópico.
destas curvas para a direção inferior. As curvas de nível são impressas em castanho,
Para a finalidade de ser facilitada a leitura que é a cor que imita o terreno. As curvas de nível
e a identificação de cada curva, pois elas, em seu das regiões de gelo ou neve permanentes são im-
. conjunto, em uma folha, podem confundir-nos a pressas em azul.
vista, adota-se o sistema de apresentar, dentro de
um mesmo sistema ou intervalo altimétrico, deter- Abaixo do nível do mar, tais linhas, em geral
minadas curvas, mediante um traço mais grosso. chamadas curvas batimétricas, denominação esta
Tais curvas são chamadas "mestras", assim como as originária de batimetria, que trata da determinação

ll3
e interpretação das profundidades e da topografia se interpola, isto é, estima-se, aproximadamente,
oceânica. · uma cota e traçamos outras curvas.
As curvas batimétricas são impressas em preto, A figura 111 mostra as curvas de nível de 200,
a fim de realçá-las, já que, em geral, as extensões 300 e 400 metros. Entre cada uma dessas curvas
de água são impressas em tonalidade azul. Quando precisamos representar outras, isto é, as chamadas
não há esta tonalidade, as curvas podem ser em intermediárias, de 20 metros de eqüidistância. Em
azul. primeiro lugar, temos informações de que os declives
da área aí representada são mais ou menos unifor-
mes. Havendo uniformidade nas rampas, a técnica
13.2 .1 .1 Eqüidistdncia de interpolação se traduzirá num espaçamento ló-
Na representação cartográfica sistemática, a gico, isto é, não discrepante.
eqüidistância entre uma determinada curva e outra Com a ajuda de alguns pontos cotados aí exis-
tem que ser constante. A tabela seguinte apresenta tentes, a nossa operação gráfica será bastante faci-
o intervalo regular que tem que ser obedecido nas litada, uma vez que cada uma delas terá um caráter
quatro escalas topográficas e na Carta Internacional disciplinador, já que são pontos levantados no
do Mundo (CIM) ao milionésimo. próprio terreno.

ESCALAS TOPOGRÁFICAS
EQ tliDIST ÃNCIA
(em metros)
1: 25 000 1: 50 000 1: 100 000 1: 250 000 1: 1 000 000

10
20
(25)•
no
100
200

• Na escala em 1:50 000 o intervalo é de 20 metros, mas as curvas de 25 m e os seus múltiplos são representados,
a fim de haver mais facilidade na elaboração em 1:250 000, que se trata duma carta derivada de 1:100 000 e, igualmente,
de 1:50 000.

Só deve haver, numa mesma escala, duas alte- Tomaremos para exemplo apenas a vertente
rações quanto à eqüidistância. Dá-se a primeira da margem esquerda. Entre as cotas 304 e 343, tra-
quando, numa área predominantemente plana - çaremos apenas duas curvas (320 e 340) , já que
a Amazônia, por exemplo - se precisa ressaltar a eqüidistância é de 20 metros. Entre as cotas 200
pequenas altitudes, as quais, ali, são de grande e 366, terão que surgir oito curvas intermediárias,
importância. Estas são as curvas auxiliares. No isto é, as de 220, 240, 260, 280, 300 (já existente) ,
segundo caso, quando o detalhe é muito escarpado, 320, 340 e 360. Sendo uniforme o declive, dividi-
deixa-se de representar uma curva ou outra porque, remos a linha imaginária entre as aludidas cotas
além de carregar a área, poderá dificultar-lhe a em nove partes de igual espaçamento, conforme
leitura. ilustra o mapa em cima. Igual procedimento tera
Outro detalhe imprescindívoel na representação que ser executado em outras linhas imaginárias,
altimétrica em curvas de nível é a colocação, bem aproveitando-se algumas cotas da mesma margem,
disposta, dos valores quantitativos das curvas em o que nos darão nada menos do que sete alinha-
geral. Assim, de espaço em espaço, acham-se as mentos. Em conseqüência, iremos traçar as respec-
curvas com os seus respectivos valores. tivas curvas, conservando, tanto quanto possível, um
certo paralelismo em relação às curvas de 200, 300
e 400 metros, cujo resultado é o que se vê no mapa
13.2 .1.2 Interpolação embaixo.
Vem a ser este processo a determinação de
valores médios entre valores fixos existentes. No 13.2 .1 .) Cores hipsométricas
caso das curvas de nível, a interpolação de uma ou
mais curvas é conseguida com a adoção de duas Nos mapas em escalas pequenas, além das
curvas consecutivas. Entre estas duas curvas é que curvas de nível, adotam-se, para facilitar o conhe-

114
4 000 a 5 000, um violeta menos acentuado; de 5 000
a 6 000, um violeta claro; e finalmente, acima de
6 000, as áreas das neves eternas- são em branco.
Quanto às cores batimétricas, usa-se o azul,
cujas tonalidades devem crescer, no sentido da pro·
fundidade. Assim, de zero a 200 metros (em geral
a plataforma continental) , um azul bem claro; de
200 a 500, um azul um pouco mais acentuado; de
500 a I 000, um azul mais escuro que o da última
faixa; de I 000 a 3 000, um azul mais acentuado
ainda; de 3 000 a 6 000, um azul escuro, e, final-
mente, abaixo de 6 000 metros, as regiões abissais,
um azul mais forte que o da última faixa.

13 .J Relevo somb1·eado
As cartas atuais, eminentemente técnicas, isto é,
de construção matemática, cujo relevo é tão bem
s::aracterizado pelas curvas de nível, receberam, nos
últimos anos, uma contribuição que as valorizou
duplamente, completando-lhes a explicação e dando-
lhes beleza. Referimo-nos ao sombreado. Executado
diretamente em função das curvas de nível, e a elas
intimamente ligado, é a modalidade mais espe·
tacular de representação do relevo terrestre até hoje
ilustrada em qualquer carta.
Essa forma de relevo, que é feita por hábeis
e experientes artistas plásticos, os quais deverão
possuir, também, ampla experiência cartográfica, é
executada, geralmente, a pistola e nanquim diluído
de maneira que dá a idéia de ter sido desenhada a
esfuminho. t constituída de sombras contínuas
sobre certas vertentes, de modo a dar a impressão
de saliências iluminadas e de reentrâncias não ilu-
minadas. Para tanto, imagina-se uma fonte luminosa
colocada a noroeste da carta, donde emanam os
raios, fazendo um ângulo de 45° com o plano da
carta. São, então, desenhadas as sombras sobre as
vertentes voltadas para sudeste, tanto mais escuras
quanto mais forte for a escarpa. Os tons interme-
diários são executados quando se passa, lentamente,
da parte iluminada para a sombreada.
Merecem destaque especial, por sua beleza e
~feito plástico imediato, as cartas suíças, alemãs,
Fia. 111 - Comparem: (a) um pequeno trecho com um rio e seus francesas e inglesas. E nunca será demasiado lem-
afluentes, bem como alauna ponto• cotados e, ainda, trh curvas (as
de 200, SOO e 400); (b) seaundo o método deacrito, estão traçadaa brar, em relação às cartas suíças, as admiráveis
u curvas intermediárias.
pesquisas do professor Edouard Imhof, de Zurique,
sobre esse tipo' de representação do modulado
cimento geral do relevo, faixas de determinadas
altitudes em coloridos diferentes das que se situam terrestre.
abaixo e acima delas. Várias técnicas têm sido usadas para facilitar
a visualização do relevo. Já no século passado algu-
.No caso da CIM, de zero a 100, usa-se um
verde claro; de 100 a 200, um verde ainda mais mas cartas inglesas foram desenhadas por meio de
claro; de 200 a 500, um amárelo claro; de 500 a linhas brancas nos declives do noroeste, e linhas
I 000, um amarelo mais acentuado; de I 000 a I 500, negras nos declives do sudeste, Parece, assim, que
um laranja claro, porém mais acentuado que o da foi esse o método precursor do relevo sombreado.
última faixa do amarelo; de I 500 a 2 000, um A figura 112 oferece uma idéia aproximada desse
laranja mais acentuado; de 2 000 a 2 500, um laranja tipo de relevo, uma vez que, representado através
bem acentuado; entre 2 500 a 3 000, um castanho da carta propriamente dita, o efeito é incompara-
claro; de 3 000 a 4 000, um violeta acentuado; de velmente superior.

115
sinais da linha-base, marca-se, em seguida, a posição
de cada ponto, de acordo com a escala vertical, com
uma cruzinha precisa. Depois de levantados todos
os pontos, unimo-los com uma linha suave, evi-
tando-se, de qualquer modo, traços retos.
A interpretação do detalhe entre duas curvas
espaçadas xequer outras indicações do relevo, como
cotas próximas à linha do perfil, a posição dos
cur-sos d'água e outras possíveis informações.
No desenho do perfil, devem ser tomados estes
cuidados:
1. partir da altitude exata em qualquer
extremidade;
2. distinguir entre descidas e subidas, quando
Fig. 112 - Exímio trabalho de sombreado numa folha topográfica
existem duas curvas sucessivas de igual valor;
da "República Federal da Alemanha". 3. desenhar rigorosamente os contornos dos
picos (se pontiagudos, se achatados).
13 . 4 Perfil topográfico O acabamento deve ser dado com tinta nan-
Se, partindo-se de figuras de perfil, podemos quim, e devem ser colocados os nomes das locali-
levantar as curvas de nível, como mostramt>s no dades importantes.
tópico 9. 2. I . O, o contráiio é igualmente possível, A menos que um mapa de localização seja
isto é, das curvas de nível podemos construir os incluído, indicando o plano do perfil, a orientação
perfis, chamados topográficos. deve ser representada.
O primeiro passo para o desenho de um perfil Desenhado ordinariamente em papel milime-
é estender uma tira reta de papel ao longo da trado, copia-se, depois, em papel vegetal, evitando-se
linha escolhida no mapa. Em seguida marcam-se, o quadriculado inútil, pois as únicas linhas que
cuidadosamente, com um lápis afiado, os seguintes devem aparecer são as horizontais, que se referem
sinais: todas as interseções das curvas de nível com à escala vertical.
a linha básica; os pomos de altitudes (cotas), os A figura 113 nos mostra, em cima, as curvas
rios, os picos e outros pontos definidos, como cida- de nível de eqüidistância de 50 metros de uma carta
des, estradas, etc. Traça-se, depois, a linha básica
do perfil (no caso duma ilha, a linha é o nível do
mar) num papel milimetrado, e transferem-se, com
precisão, aqueles sinais para a linha básica.
Levantam-se, depois, perpendiculares no prin-
cípio e no fim dessa linha, e determina-se uma
escala vertical. Esta escala deve ser escolhida com
todo cuidado, tendo-se em mente a altitude média
do perfil, bem como a natureza da região. Sejam,
por exemplo, 10 metros para cada linha horizontal
do papel milimetrado, ou seja lO m = l mm.
Numera-se a escala vertical de acordo com
i~tervalos apropriados. A menos que a escala hori-
zontal seja grande, e a média das altitudes consi-
derável, a escala vertical deverá ser muito maior
do que a horizontal, do contrário as ondulações, ao
longo do perfil, dificilmente serão perceptíveis. Por
outro lado, uma escala vertical muito grande redun-
dará num efeito ridiculamente caricaturado da
superfície do terreno. A relação entre as escalas
horizontal e vertical é conhecida como exagero
vertical. Assim, se a escala horizontal é, por exem-
plo, 1:50 000 e a vertical l: I O000, o exagero é igual
a 5.
Para secções geológicas de precisão, não se deve
'· usar nenhum exagero, pois isso redundará em incli-
nação imprecisa dos estratos.
Quer seguindo-se as linhas verticais do mili- Fig. 113 - Perfil topográfico extraído duma carta topográfica da
cidade do Rio de Janeiro. Se a escala vertical fôsse um pouco
metrado, quer levantando-se perpendiculares dos menor, as formas do relevo estariam mais próximas da realidade.

116
de l: lO 000 do Rio de Janeiro e, em baixo, o levan-
tamento do perfil. 8

13 .5 Blocos-diagramas
Trata-se duma categoria de representação carto-
gráfica de muito fácil visualização, uma vez que
apresenta a superfície terrestre sob a forma de pers-
pectiva. Como espelha uma parte da crosta terrestre
(um bloco) , tem a vantagem de poder representar
a parte estrutural da crosta correspondente deste
bloco.
Para a sua construção, tanto pode ser executado
puramente a olho, em que as formas do relevo são
meramente esboçadas, quanto de um modo mais
rígido, isto é, por meio das curvas de nível - o
mais aconselhado, portanto, mais técnico.
A figura 114 compõe-se de cinco partes: A) a
parte da carta a ser trabalhada; B) as curvas de
nível; C) o quadriculado do bloco com as mar-
cações, sobre as linhas· horizontais dos cruzamentos
das curvas de nível com estas linhas; D) os perfis Fig. 114·B - Segunda etapa da construção de um bloco-diagrama:
topográficos resultantes das marcações anteriores; o mesmo quadriculado em perspectiva e os aspectos que se quer re·
pre~ntar.
e E) o desenho do modelado, orientado pelos
perfis, com o sombreado de acabamento. c
A

Fig. 114-C - Terceira etapa da construção de um bloco·diagrama:


o mesmo quadriculado c<;>m os pontos de passagem da configuraçlo
escolhida.

A figura 115 indica o método gráfico mais


prático para a construção da base de um bloco-
diagrama, em que os pontos de fuga e do observador
podem variar conforme a orientação que se quiser
dar à representação.
Por fim, no intento de mostrar o aspecto sin-
tético de um bloco-diagrama, a figura 116 apresenta,
além da superfície do terreno, a estrutura geológica.
-1 km O 3k m

11111111111 I 13 . 6 Plastificação em alto-relevo


Fig. 114-A - Primeira etapa da construção de um bloco-diagrama:
o trecho escolhido, numa folha topográfica, com o seu quadrtculado
O método de representação em terceira dimen-
original. são, através da utilização do material plástico,

117
Ponto do fuga """"' do fuga

Fig. 115 - Algumas opções para a perspectiva de um bloco-diagra-


ma.

Fir. I H-D - Quarta etapa da constru~o de um bloco-díarrama:


~ervindo-se dos pontos de passagem, levanta-se um bom número de
perfil.

Fíg. 116 - Bloco-diagrama mostrando uma dobra sinclínal.

13. 6. 1 Modelagem
A primeira operação para que um modelo seja
executado em terceira dimensão, só poderá ser
levado a termo se dispusermos do instrumento
apropriado, bem como do material que vai dar
forma ao referido modelo. O instrumento é consti-
tuído de um mecanismo pantográfico motorizado.
O material consiste de um bloco de gesso, cujas
dimensões devem ultrapassar as medidas da carta
a ser construída, incluindo a altura do bloco, que
tem que exceder à correspondente altitude máxima
verificada na carta.
Fir. 114-E - Quinta etapa da construçlo de um bloco-diagrama:
com o auxilio do1 perfis, e comparando-se com a etapa d, dâ-se um O pantógrafo tridimensional dispõe da ponteira
tratamento em perapectiva do trecho original. para acompanhar a curva de nível e de uma broca
constitui a maneira mais apropriada para a repre- articulada a esta ponteira, a fim de cortar a super-
sentação do modelado terrestre, porque, ao invés fície do gesso, na escala desejada (V. fig. 117).
de se apresentar o relevo mediante métodos gráficos O original cartográfico usado para a construção
- que dão uma idéia deste relevo -, como é o caso do modelo deverá ser, de preferência, a estéreo-
das hachuras e, sobretudo, do sombreado - em que minuta, quando se tratar de uma folha topográfica.
se verifica uma imitação do relevo -, reproduz este Como cada curva ·da estéreo-minuta é perse-
método, em escala topográfica, ou em escala geo- guida pela ponteira, e vai dar origem à sua corres-
gráfica, o próprio relevo tal como ele existe na pondente, na parte superior do bloco de gesso
natureza. Então, um mapa em alto-relevo torna-se cortado pela broca, começa-se a operação pela curva
uma .espécie de miniatura da superfície terrestre? que representa a isoipsa de máxima altitude. Após
Sim, sem dúvida! o corte desta (ou destas curvas) de valor igual,

118
da maqueta, como será explicado no tópico se-
guinte.

13. 6. 3 Impressão e modelagem em plástico

Em primeiro lugar, imprime-se a carta em


plástico, e não em papel, pelos mesmos processos
usados, como se fosse em papel. Em seguida, cada
folha impressa em plástico será processada através
duma prensa que a transforma, mediante aqueci-
mento e sucção, no produto final, em terceira
dimensão.
A prensa é de fékil funcionamento (V. a fig.
118) : I. 0 - o modelo é colocado na posição hori-
zontal, sobre a câmara de sucção de ar; 2. 0 - a
Fl1. 117 - Com o auxilio duma l~nt~. o operador acompanha cada folha de plástico, impressa anteriormente, é colo-
curva d~ nlvel da carta que se quer construir, em alto-relevo, com
a ponteira pertencente ao paralelogramo articulado do pant6gr_afo cada por meio de um dispositivo de registro que
tridimensional motorizado, enquanto urna broca .corta, autornauca· faz coincidi-la exatamente em cima do modelo pre-
mente, um bloco de gesso, de acordo com os mov•mentos executa~ps
com a ponteira, resultando, no final, na reproduçlo, em tercetra parado; 3.0 - mediante o aperto de um botão, um
dlmensio, da carta plana. dispositivo . com resistências distribuídas sobre a
folha, aquece-a de modo uniforme, tornando-a muito
passa-se a cortar as curvas de valor imediatamente flácida, maleável; 4. 0 - automaticamente, o dispo-
inferior, e, assim, sucessivamente, até a última curva, sitivo de sucção atrai, através dos orifícios espalha-
isto "é, a que apresenta o menor valor na estéreo- dos no modelo em gesso, o plástico, que adere
minuta. Chegando a esta parte, verifica-se que o inteiramente à superfície da maqueta. Poucos mi-
bloco foi todo recortado. Entretanto, as elevações nutos são, então, suficientes para o esfriamento da
apresentam-se, desde a curva superior .a té a inferior, folha em relevo, que sai coni facilidade para dar
sob a forma de degraus, devido aos intervalos alti- lugar à operação de outra folha, e assim por diante.
métricos constantes da estéreo-minuta. Em conse- A figura 119 apresenta a fotografia de um mapa
qüência, procede-se a um desbate normal de cada em alto-relevo plastificado.
degrau, ·igualando-se e amaciando-se as superfícies
em declive. Neste ponto, considera-se pronta a
maqueta.
Arm:~oçlo da prcmaa

l!L6.2 Molde e maqueta ~--+-----------+---i---Folho c1< plútico


Parede da prema

De posse do modelo produzido diretamente da folha modelada

estéreo-minuta, portanto, do positivo, confecciona-se ~;illldi=~~Su~rflcie


rderenda da
de

o molde desse modelo, ou seja, o negativo da ma- folha

queta, o qual, em conseqüência, tem todas as formas Fi1. 118 - Prensa especial para a modela11em de cada folha de
do relevo invertidas, isto é, as partes fundas repre- p!Aatico, anteriormente lmpr~ssa a cores.
sentando as elevações e as partes salientes cbrres-
pondendo aos vales, depressões, etc.
Muito bem distribuídos na superfície destas
últimas partes do molde, devem ser efetuados pe-
quenos furos verticais, onde serão fixados fios de
aço, de espessura de cerca de um milímetro de diâ-
metro, e de comprimento que ultrapasse a altura
do molde, os quais se destinam à operação expli-
cada a seguir: sobre o molde, com os fios em seus
devidos lugares, despeja-se gesso, a fim de se ter,
finalmente, a maqueta definitiva, indispensável
para a construção do relevo na folha em plástico.
A única diferença entre o modelo primitivo, exe-
cutado a pantógrafo, e o definitivo é que este está
perfurado perpendicularmente. Estes furos terão a
função de permitir a sucção da folha de plástico
quando amolecida pelo calor, para tal finalidade,
Fl1. 119 - A folha Chambw,, em 1:100 000, do lnslilul Géo.,-a·
até a sua completa aderência em toda a superffcie phique NationtJI (França), em alto-relevo plastificado.

ll9
13 . 7 Outros métodos de representação vez que, a rigor, o vocábulo significa o estudo dos
do relevo topônimos, isto é, dos nomes de lugar. Há, porém,
organizações ou pessoas que a empregam também
Um dos métodos mais sugestivos para fazer no sentido de letreiro do mapa.
sobressair qualquer tipo de relevo é o anaglifo. Os aspectos ligados à toponímia são tratados no
Consistt de um estereograma em que rouas imagens tópico 8. I . 3.
são impressas ou projetadas, e superpostas em cores
Ainda não se chegou a uma uniformização
complementares, geralmente o vermelho e o azul.
quanto ao uso de tipos, nem dentro dos órgãos
Vistas através de óculos com as mesmas cores suple-
cartográficos brasileiros, públicos ou privados, nem
mentares, surge a visão estereoscópica. '
nas organizações cartográficas dos diversos países.
Em fotogrametria, o processo anaglifo é utili- Até mesmo quanto ao letreiro prescrito para a CIM,
zado em uns poucos instrumentos restituidores, que tende para o reconhecimento de uma unifor-
como o Multiplex. Na fotointerpretação, é o caso mização internacional, não tem sido fácil alcançar
de se adaptar pares estereoscópicos ao anaglifo. Em este objetivo.
cartografia constitui fato incomum a edição do
Atlas des Formes du Relief, do Institut Géogra- Cumpre-nos aqui discutir: 1.0 - as diferenças
phique National, ao apresentar diversas cartas de tipos; 2. 0 - os tamanhos desses tipos; 3.0 - as
parciais em curvas de nível, mediante o processo posições dos nomes em relação aos acidentes ou
anaglifo. Aqueles que tiverem a oportunidade de símbolos que eles apresentam.
consultar essa obra, terão agradáveis sensações com Antes de tudo, a escolha de letreiros para um
a visão das cartas situadas nas páginas 2, 25 e 75, documento cartográfico deve ter um caráter estético.
além de conseguirem, por meio do anaglifo, a Igualmente, nunca se deve permitir que o letreiro
compreensão total do método das curvas de nível. sobrecarregue a carta, afeando-a, além de estabe-
lecer confusão na denominação entre acidentes, e,
finalmente, que venha prejudicar o caráter de gene-
13 . 8 Os pontos de controle
ralização que deve presidir todas as cartas, sobre-
Além dos pontos planimétricos, a carta topo- tudo as de escala pequena.
gráfica apresenta os pontos de controle vertical e
os pontos de controle horizontal e vertical. Este 13.9. I Tipos de letras
último ponto é resolvido na carta pelo símbolo
representado por um triângulo e a respectiva cota, Num mapa moderno, quanto menor a varie-
em preto. dade de tipos, mais sóbrio e de mais fácil leitura
As altitudes são de duas espécies: a comprovada, se torna esse mapa. Nunca se deve recorrer a fan-
com a cota em preto, e a não compr~vada, com tasias.
a cota em castanho. O outro símbolo de origem Selecionaríamos em quatro os tipos de carac-
geodésica é a estação gravimétrica, que se reconhece teres tipográficos que são responsáveis por toda a
por meio de um ponto e das iniciais EG. denominação topográfica duma carta: 1. 0 - as loca-
lidades; 2.0 - a hidrografia; 3.o - o relevo; 4.o -
13 . 9 Letreiros outros.
As localidades, isto é, cidades, vilas, povoados,
Numa carta, mapa, atlas ou qualquer outro lugarejos, estações ferroviárias, propriedades rurais,
documento cartogr;Hico, desempenha o letreiro uma etc., que representam a categoria que, normalmente,
função complementar da maior importância, não só mais predomina numa carta, devem ter um letreiro
na denominação em si, de toda a representação vertical fácil e leve, como o M odern 02. As sedes
cartográfica, como âtravés dos caracteres tipográficos de municípios (denominadas cidades) devem ser
que exercem um papel de hierarquização dos aci- em maiúsculas, variando o corpo, de acordo com a
dentes, uns em relação aos outros, bem como dos importância demográfica do centro. A sede de dis-
da mesma categoria. trito (chamada vila) , a fim de que, do ponto de
Para a impressão do letreiro, a cor predomi- vista administrativo,- seja distinguida da sede do
nante é o negro. A não ser em certas cartas espe- município, é representada em minúsculas. O corpo
ciais, em que a cor pode variar, nas car~as topo- deverá variar pelo fato de que, no Brasil, não é
gráficas ou geográficas a única variação se verifica o caráter demográfico que preside a eleição da
nos casos da representação hidrográfica, em que o cidade. Ocorre, em conseqüência, que uma vila pode
letreiro pode ser em azul. Mesmo assim, há várias ter uma população urbana muito mais alta do que
organizações ·cartográficas que utilizam o nome muitas chamadas cidades. Vêm, depois da vila, o
em preto para um símbolo em azul. povoado, o lugarejo e a propriedade rural. Corpos
Há quem denomine o letreiro de nomencla- proporcionalmente menores devem ser escolhidos.
tura, mas o primeiro é mais correto. Deve-se chamar
a atenção para o uso dos termos topotHmia em 92 As indicações tipográficas aqui sugeridas são do
lugar do termo letreiro. Não o aconselhamos, uma Catálogo de Tipos do IBGE.

120
Há, aqui, um aspecto particular a ser esclare- tantes, mas sem espaço para a representação, devem
cido. Que é um povoado? Que é um lugarejo? São ser adotados corpos menores em maiúsculas. Não
ambos centros urbanos de população reduzida. Mas, havendo importância e com exigüidade de espaço,
a rigor, o povoado deve apresentar, para sobrepor-se as minúsculas devem prevalecer. Os picos devem
ao lugarejo, estas características: uma igreja ou ser sempre em minúsculas.
capela, uma escola e alguma estrutura comercial, Há, por fim, uma série de detalhes físicos ou
como um mercado. O lugarejo, além de ser menos artificiais que ficam muito bem representados com
populoso, ainda se mostra embrionário em relação o tipo bâton, como é o caso da letra Univers. Nesta
à estrutura social, econômica e religiosa de um categoria de representação cartográfica de denomi-
povoado. Infelizmente, este detalhe ainda é pouco nação, o que mais sobressai são as ilhas. Ora, uma
esclarecido entre nós. Será que ninguém ainda notou ilha como a de Marajó, a não ser num mapa geral
que existem alguns "lugarejos," no Sudeste, por do Brasil, em escala muito pequena, é palavra para
exemplo, mais importantes do que muitos "povoa- ser sempre reproduzida em maiúsculas, e assim as
dos" (assim chamados), no Norte ou Centro-Oeste? demais ilhas de importância, como a do Bananal,
No tocante à hidrografia, a qual, invariavel- de São Luís, de Itaparica, Grande, de São Sebastião,
mente, é representada por caracteres tipográficos de Santa Catarina etc. É uma questão de prática, e,
em itálico ou cursivo, um tipo, portanto, tendente sobretudo, de bom senso. Os cabos terão as deno-
ao manuscrito, o mais apropriado, e que mais se minações, também, neste tipo, mas devem ser sempre
assemelha ao desenho a mão, executado, há alguns em minúsculas, variando o corpo, segundo a ex-
anos, em todo o mundo, é o Schoolbook. A hierar- pressão de cada um.
quização, neste caso, começa no letreiro relativo ao
oceano, único caso em que o nome deve ser em Para a denominação de áreas territoriais maio-
maiúscula. Mesmo o baixo Amazonas deverá ser res, como países, regiões, estados, etc., a forma em
representado em tipo grande, mas minúsculo. maiúsculas é aconselhada. O tipo Century Medium
é preferível para áreas políticas e administrativas.
Toda a toponímia hidrográfica deve, de prefe- Para áreas muito pequenas, deve-se recorrer ao
rência, ser em azul. A tabela seguinte, sem nenhum bâton.
cunho rigoroso, ou exclusivista, oferece, à guisa de
orientação, grupos hidrográficos, em ordem decres-
cente, que podem ser representados em tamanhos 13. 9. 2 Posições dos nomes
uniformes.
Variam as formas de designação do letreiro
Corpo I
Laco, baia, represa, açude, etc. Rio, queda-d'água, etc. num mapa. Há nomes que, de preferência, devem
ser representados na posição horizontal. Assim
1.• Lagoa dos Patos, Baía de Ma- baixo Amazonas ocorre com os nomes de localidades. Quando, em
rajó certos mapas, em escala pequena, impõe-se a repre-
sentação de várias localidades num pequeno trecho,
2.• Lagoa Mirim médio Amazonas, Solimõeo, o resultado é uma operação pouco cômoda, que
Negro, Tapajós, Xingu, To-
cantins requer muita habilidade da parte do operador. Em
primeiro lugar, é necessária uma distribuição dos
médio Solimões, médio Xingu, nomes em relação aos símbolos, de modo que não
3.• médio Tocantins, Araguaia,
Madeira, Puruo, Juruá, Para- haja possibilidade de confusão de um nome, colo-
oi, Paraguai. cado de tal modo que venha designar, em vez do
símbolo que lhe corresponde, outro, ou outros
Lagoa Mangueira, Bala de São Branco, Trombetas, Paru, Ja- símbolos. Às vezes, para que isso não aconteça,
4.• Marcos, de Todos os Santos, ri, Juruena, Teles Pires, alto
da Ilha Grande, Repreea de Madeira, Mamoré, Mearím, tiramos o nome da posição horizontal e colocamo-lo
Furnas ltapicuru, Paranaíba, Grande,
Tietê, Uruguai. sob uma forma curva, suave (que tanto pode come-
çar, quanto terminar no respectivo símbolo) , arti-
Represa de Três Marias, do alto Araguaia, Gurupi, Pamai- fício que, primeiro, não pode resultar em dúvida e,
S.o Sobradinho, Açude Araras, ba,Jequitinhonha,Contas,Do- segundo, não sacrifique a estética. Forma-se, assim,
01"68, Ba.fa de Parana!Iuá, da ce, Paratba, Pa.ranapanema,
Guanabara. J aguaribe, Iguaçu, Cuiabi. a distribuição do letreiro das localidades, a mais
difícil de todas. As posições do resto do letreiro,
isto é, da hidrografia, do relevo, etc., são efetuadas
Quanto ao relevo (montanhas, chapadas, pla- em função da posição do letreiro das localidades.
nícies, picos, etc.), a Grotesca Larga Clara, ou Isto acontece devido ao fato de que, na hidrografia
mesmo a Century Light, pode ser bem aplicada. e no relevo, não somente há mais sobra de espaço,
Este tipo de letreiro tanto pode ser impresso em bem como as posições dessa categoria são sempre
preto, quanto em castanho. em curvas, as quais acompanham sempre o eixo
A representação gráfica pode ser em maiúsculas desse tipo de representação topográfica. Desta ma-
ou minúsculas, conforme a extensão do acidente ou neira, o nome de um rio ou de uma montanha
a sua importância. Neste caso, e havendo espaço na vai serpenteando suavemente ao longo do próprio
folha, as maiúsculas são aconselhadas. Sendo impor- delineamento representativo do acidente.

121
Uma observação de importância ainda falta ser Os outros nomes, como de ilhas, cabos, áreas
acrescentada. Esse tipo de disposição dos nomes terá especiais, etc., são dispostos horizontalmente. Ha-
que ser executado de tal forma que nenhuma letra vendo, contudo, alguma impossibilidade, recorre-se
fique de cabeça para baixo. A figura 120 mostra, às curvas.
esquematicamente, as variadas posições nas quais
os nomes podem ser representados sem que nenhu-
ma letra deixe de estar perfeitamente legível, com 13. 9. 3 Abreviaturas
a necessidade de se virar o mapa para lê-la.

l-;.
<r
(),

.•
I
..;.
J\ ... "

~
..-;
....
\
:Ir;

..
\
\S'

·.:: '
,,
(.
-
,;;
..
•7
Os topônimos propriamente ditos não devem
ser abreviados, salvo raras exceções, nos casos em
que um nome muito extenso não caiba no espaço
conveniente. Exemplo: Nossa Senhora da Conceição,
Santa Teresinha do Menino Jesus. Em tais casos
deve ser permitido uma redução na extensão do
a € topônimo. Palavras como Nossa Senhora, Santo,
\
~
' <êot
.
~
Santa, Desembargador, etc. podem ser simplificadas,
desde que a abreviatura não ofereça dubiedade.

(,
) -•.1 Os nomes genérico~, por outro lado, podem ser
abreviados, principalmente em mapas de escala
E
I
~ pequena. Eis aqui algumas possíveis abreviaturas:
a
.c ..
...u
a
" j
~-
·~
-
a '•' "
·- ' Aç.
B.
Açude
Baía
Ig.
La.
Igarapé
Lagoa
(' C a. Canal Mo. Morro
Cach. - Cachoeira
R. Rio
,, Corr. - Corredeira
·- 'o Rch. Riacho
I c ' ft "llajr~;',j,,

Córr.- Córrego
F. Furo Rib. Ribeirão
J --: F a. Fazenda Sa. Serra
:c
.. I. Ilha Us. Usina
C ••rtolome
...."":. ~
-
. - - ?'" --·· Os topônimos, como Pindamonhangaba, Para-
Fig. 120 - Detalhe de um mapa, em escala pequena, onde vários napiacaba, Guaratinguetá, assim como os compos-
topônimos foram montados de cabeça para baixo. A rigor, as pala-
vras Baranof I., Chatham Strait, Prince o! Wales I. e C/arence Strait, tos, Freixo-de-Espada-à-Cinta (em Portugal) não
ao invés de terem sido montadas na direção sul-norte, teriam que
começar de norte para o sul.
podem ser abreviados.

122
14. Original cartográfico
O original desenhado dum mapa, carta, ou s1, a escolha da letra e a sua colocação ou distri-
folha duma série, constituiu, em todas as organi- buição em relação aos acidentes e aos outros nomes..
zações cartográficas do mundo moderno, um assunto E foi, sobretudo, o elemento de mais demorada
de grande zelo, não só no que toca à estética do elaboração em todo o período da construção do
acabamento, quanto no que diz respeito à precisão mapa. Calculamos, grosso modo, que o desenho
das medidas e à qualidade do papel, da tinta, dos do letreiro de uma carta constituía cerca de 80% do
instrumentos de desenho, réguas, penas, lápis, etc. tempo necessário a toda a operação de feitura
Mas o rigor maior se dirigiu sempre ao tipo do original cartográfico.
do papel, devido à sua capacidade de sofrer as A fim de fornecer uma idéia da concepção e
influências da temperatura e da umidade do ar. do desenho da letra dum mapa, a figura 121 mostra
Para as cartas de grande precisão, as soluções o método adotado por Rudolf Langer de desenho
adotadas por países como a França e a Inglaterra, dum estilo de letra para uso cartográfico.
por exemplo, foram: no primeiro, o zinc habillé, No capítulo seguinte, encontrará o leitor a
o que constituía em colar, numa chapa de zinco, explicação mais pormenorizada da elaboração mo-
em ambas as faces, uma folha de papel canson, derna do letreiro, bem como de toda a represen-
método esse que minimizava bastante os efeitos do tação gráfica dos elementos constitutivos do mapa
meio ambiente sobre o papel. Os ingleses, com a atualmente produzido. Esta parte, que, antigamente,
sua enamel plate, usaram também o zinco como era desenhada diretamente no original de produção,
prancha-base. Mas ao invés de vestir a chapa, como hoje é gravada, com instrumento próprio, nos
faziam os franceses, esmaltavam-na, a pistola, e, chamados fntoplásticos, ou seja, diretamente no
depois de seca, granitavam-na. O efeito era muito original de reprodução.
bom no tocante à estabilidade dimensional e, quan- Quando a preparação da folha de nomencla-
to ao desenho a nanquim, tornava-se fácil e cômodo, tura, que se origina de uma carta básica, é executada
sobretudo, quando havia necessidade de emendas, para servir uma minuta fotogramétrica (V. o tópico
rasp'agens etc.
O processo de granitagem era idêntico ao da
preparação de chapas de metal para impressão. A
única diferença era que as esferas abrasivas eram
de madeira, mais leves, o que oferecia à superfície
esmaltada a qualidade ideal para o traço a
nanquim.
Com a 11 Guerra Mundial, surgiu uma nova
base para a elaboração de originais cartográficos:
o plástico de base estável de vinyl, translúcido,
claro, ou o de aspecto opaco, conforme a finalidade.
As marcas comerciais de maior aplicação nos órgãos
cartográficos dos diversos países eram, principal-
mente, o Astralon, o Astrafoil e o Vinylite.

14 .1 Confecção do letreiro
Ao mesmo tempo em que apareceu o plástico,
surgiu a maior revolução no processo de acaba-
mento do original cartográfico: letreiro impresso
tipograficamente e, em seguida, colado, cada nome,
em seu respectivo lugar, no mapa.
O desenho dos nomes foi sempre a parte de
maior responsabilidade profissional de parte do Fig. 121 - Rudolf Langer ensinou, durante quase três décadas, a
desenhista-cartógrafo, devido à natureza deste tipo desenhistas·can6grafos do Serviço Geográfico do Exlrcito e do Conse·
lho Nacional de Geografia (IBGE), como o letreiro de um mapa
de representação cartográfica, isto é, o desenho em deve ser desenhado.

123
12. 7), este trabalho se baseia diretamente nas foto- na Mapoteca do Ministério das Relações Exteriores
grafias reambuladas (V. o tópico 11. 4). etc.
Na preparação da folha de nomenclatura, é e) Fotografias aéreas, nas Empresas de Aero-
preciso que seja feita uma relação de todos os no· levantamento, sobretudo a Cruzeiro do Sul;
mes, de acordo com o tipo de letra e os tamanhos, f) Mapas municipais censitários, no próprio
para fins de impressão de todo o letreiro, visando IBGE, fotografias comuns, croquis topográficos etc.;
à montagem no original apropriado para a repro-
dução. g) Outros, como as restituições de fotografias
Trimetrogon, da Aeronautic Chart Service (Preli-
minary Base) , as Cartas Náuticas da Diretoria de
14.2 Compilação Hidrografia e Navegação, toda a legislação relativa
à divisão territorial do País, oriunda das assembléias
Em cartografia, compilação é a elaboração de legislativas estaduais, notas ou diários de viajantes
um novo mapa, ou da revisão 9 3 de um mapa, ou etc.
carta, oriunda de um ou vários mapas existentes, A fim de se ter uma idéia da variedade da
fotografias aéreas, levantamentos, novos elementos, aludida documentação, relacionamos, ao acaso, em
bem como outros tipos de documentação 9 4. seguida, alguns elementos utilizados entre 1940 e
1950:
14. 2. I Coleta Mapa Especial do Rio Xingu - Com. Bras.
Dem. de Lim. - M.R.E. - Expedição Von den
Este termo, na definição 2 do nosso dicionário, Steinen;
vem a ser o processo de obtenção de dados exis-
tentes de uma ou mais fontes para uma mapoteca, Ilha Mexiana - Eng. 0 M. de Cocatrix -
bem como para um programa de produção de I: I 000 000 - 1906;
mapeamento, levantamento etc. Planta Geral da Serra da lbiapaba - Comissão
Como as 46 folhas da CIM, produzidas, editadas de Limites dos Estados do Norte - 1:250 000
e impressas pelo IBGE, foram todas elaboradas por 1924;
compilação (V. tópicos 2. 8 e 6. 4. 3. I) , o melhor Reconhecimento Geológico do Rio Capim
é que a adotemos, aqui, para exemplificação do Eng. 0 Renato Barroso- 1:250 000 - 1922;
processo de coleta. Iniciada a partir de 1940, a Survey of the Upper Rio Branco and Parima
primeira providência técnico.administrativa foi o - H. Rice - 1:750 000 - 1924 / 25;
envio de desenhistas-cartógrafos para a cata de toda
Rio Jari - Comandante Braz Dias de Aguiar
a espécie de documentação que pudesse existir no (Comissão Brasileira de Demarcação de Limites)
território nacional.
- 1:100000- 1937/38;
Eis alguns exemplos de tipos de documentos Alto e Médio Tocantins - Eng. 0 Adolfo
cartográficos então coligidos: Odebrecht - 1912;
a) Coordenadas geográficas, em diversos ór- Carta do Rio Purus- Eng. 0 Euclydes da Cunha
gãos como o Serviço Geográfico do Exército, o e Cap. de Corveta Pedro Buenano - I :500 000;
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas,
Exploração do Rio Grande e seus afluentes -
a Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco,
a Comissão Brasileira Demarcadora de Limites etc.; I.G.G. de São Paulo - I :50 000 - 1910;
b) Pontos de altitude, principalmente no Inspeção de Fronteiras (alto Paraguai) - Cân-
Departamento Nacional de Estradas de Ferro e dido M. S. Rondon- 1:1 000 000- 1931;
outros órgãos; Linha telegráfica Cuiabá-Corumbá - H. R.
c) Poligonais, através de autores como os Besouchet - I :50 000.
Eng. 0 Adolfo Odebrecht; H. R. Besouchet, C. M.
da Silva Rondon, Capitão Neiva de Figueiredo, no Como aconteceu algumas vezes, em um ou
Departamento N acionai de Estradas de Rodagem; outro Estado aonde fora enviado pelo IBGE, para
d) Levantamentos de área, no Serviço Geo- a busca de documentação cartográfica, teve o fun-
gráfico do Exército, no Instituto Geográfico e cionário que se demorar vários dias naquele Estado,
Geológico do Estado de S. Paulo, na Companhia a fim de copiar, a pantógrafo, algum original im-
Hidrelétrica do Vale do São Francisco, na Petrobrás, portante, uma vez que não havia outros meios de
conseguir outro tipo de cópia.

93 V. esta última operação no último tópico do pre·


14.2. 2 Seleção do material
sente capítulo.
94 A literatura cartográfica em língua inglesa usa o De posse duma variada e heterogênea documen-
mesmo termo, compilation, para este tipo de operação. tação, em que, muitas vezes, era encontrado um
Emprega, entretanto, igual denominação para a elaboração bom levantamento de área, ou um bom caminha-
da minuta fotogramétrica, a qual, em português, chamamos
restituição. (Ver tóp. 12.6). mento, havia também:

124
a) um mapa muito informativo, do ponto de d'água, nos pontos determinados pelas coordenadas
vista toponímico, mas inaproveitável quanto à geográficas;
representação planimétrica, extremamente esquema- 4.a desenho, em vermelho, das estradas e ca-
tizada, ou deformada; minhos, e, em preto, das estradas de ferro;
b) uma poligonal com todas as caxa~teríst~cas s.a desenho, em castanho, das curvas de nível
de haver sido bem levantada, contendo, mclusive, (em traço cheio) ou das curvas de forma (em trace-
inúmeras passagens de córregos ou estradas, com a jado), bem como dos pontos de altitude;
respectiva nomenclatura, mas que, em vista da não 6.a lançamento de todo o letreiro relativo à
continuidade desses detalhes em outro documento toponímia 96 ;
adjacente, tornaria impossível o aproveitamento dos
referidos pormenores; 7.a representação de outros detalhes como:
usinas hidrelétricas (ou termelétricas) , portos, aero-
c) um leva~tamento, ?astante detalhad<?, _de portos, faróis, cata-ventos, pontos de mineração,
um rio, com medidas de latitude de boa exaudao,
pontos extremos de navegação fluvial etc.;
mas em relação à longitude, com erros, às vezes,
de cerca de meio grau; s.a determinação das linhas de limites (inter-
nacionais e interestaduais) , assim como uma seleção
· d) um delineamento geral de apreciável veros-
de marcos de fronteira;
similhança, de uma grande área, mas sem a menor
indicação de altitudes, salvo a denominação de um 9.a elaboração, na parte que diz respeito às
ou outro divisor de águas. informações marginais, da simbolização relativa à
folha em trabalho, como os diagramas daArticula-
E assim por diante. ção da Folha, da Localização da Folha, dos Ele-
Em condições como estas, cada documento mentos Básicos, bem como da relação da documen-
tinha que ser apreciado separadamente, em que era tação básica utilizada na compilação.
verificado: a) o método de levantamento; b) a
Terminada esta fase, torna-se absolutamente
autoria do trabalho de campo; c) a finalidade do
indispensável uma verificação detalhada de todo o
documento; d) a data do levantamento etc.
trabalho, em comparação direta com cada documen-
Em seguida, impunha-se uma comparação de to usado, assim como a conseqüente correção.
dois ou mais elementos de uma mesma área. Como
resultado, surgiu uma seleção natural da documen-
tação a ser empregada no futuro mapa. 14 . 3 Generalização
Uma vez escolhido todo o material, o passo
seguinte era a redução (raramente havia ur~a a_:n- O nosso Dicionário define este método carto-
pliação) à escala do trabalho, ou de compllaçao, gráfico com as seguintes palavras: "Adaptação dos
que, naquele caso, era, igualmente, a mesma de elementos qualitativos e quantitativos a uma carta
derivada (em escala menor), por meio da seleção
publicação. e simplificação de detalhes oriundos da carta básica
originária". Além de a generalização ser de enorme
14.2.3 Folha-mãe importância para os mapas ou cartas derivadas em
escala pequena ou média, constitui, sem dúvida
Pela definição do nosso Dicionário Cartográ- alguma, o problema de mais difícil solução para
fico, é o original de compilação oriundo de carta um cartógrafo.
básica, ou de elementos heterogêneos, como levan-
Primeiramente, deve-se entender que uma
tamentos terrestres e fotográficos, desenhado, geral-
enorme quantidade de detalhes, representada numa
mente em plástico, e a cores. Acompanhava, passo carta em escala grande, não cabe numa redução
a passo, a elaboração da folha-mãe, o seu histó- violenta, nem interessa que a transportemos para
rico 95, elemento indispensável em todo o período um mapa em escala pequena.
de produção, o qual deverá ficar arquivado na
mapoteca, depois da impressão do mapa. Seja de uma escala, por exemplo, em 1:50 000
para a escala de I: 1 000 000. De uma para outr~,
As operações para a elaboração da folha-mãe a diminuição linear é de vinte vezes, o que Já
são, pela ordem, as seguintes: constitui uma grande diferença. Se considerarmos,
1.3 cálculo e traçado do quadriculado gráfico; entretanto, que, em relação às medidas de área, a
2.3 determinação das coordenadas geográficas; redução é de oitenta vezes, então não há nenhuma
3.a desenho, em azul, da hidrografia, com a dificuldade em concebermos a inutilidade da trans-
amarração relativa do traçado de todos os cursos ferência dum volume tão grande de elementos para
uma pequena superfície, onde o que se precisa
95 Histórico da compilação - Informações relativas ao
desenvolvimento da execuçao de um mapa, apresentando 96 Os mapas municipais censitários, muitos deles de
problemas surgidos, bem como a sua solução. É incluído o enorme precariedade do ponto de vista puramente carto·
relato de todas as fases do trabalho, desde o planejamento gráfico, constituíram, quase sempre, a melhor fonte da
até as provas em cores. (Ver Diciondrio Cartogrdfico) : informação toponímica.

125
representar é a imagem real, fiel, sem perder o seu Expressiva no conjunto, pela observação dos va-
caráter representativo daquilo que se achava em lores relativos das diferentes partes do mapa e a
grandes proporções. realização do seu justo equilíbrio, destacando-se,
Se a costa de fiordes da Noruega ou do Chile, então, as características predominantes de cada
representada numa carta topográfica de 1:50 000, região".
tiver que ser reduzida para uma página de atlas Observe-se, através da figura 122, um pequeno
em I: 10 000 000, por exemplo, e se não obedecer exemplo de como um determinado assunto deve ser
a um critério deliberado e consciente de preservação generalizado.
do aspecto que caracteriza aquele tipo de costa, o
resultado será uma representação, sem dúvida, cor-
14.4 Minuta
reta, na escala desejada, mas desfigurada, descarac-
terizada, ou caricaturada, sem demonstrar, ao Em fotogrametria, denomina-se minuta (ou
usuário, a sua verdadeira feição: o conjunto de estéreo-minuta) o traçado (em geral a lápis) exe-
fiordes, incomparável, em relação a qualquer outro cutado em instrumento fotogramétrico, conhecido
tipo de costa. como restituidor, resultante da transformação de
Quando se precisa reduzir o curso do rio Ama- fotografias aéreas orientadas no instrumento, me-
zonas, que congloba uma enorme variedade de diante os pontos nelas marcados, através da aero-
ilhas, lagos e meandros, igarapés e furos, na mais triangulação (V. tópico 4. I) .
intricada das anastomoses, em sua atividade telúrica,
Nesta fase da produção fotogramétrica, é con-
oferecendo, quase sempre, uma natureza arrasadora
Veniente que se use lápis em três cores: o azul, para
e caótica para uma pequena escala que dê ao geó-
a hidrografia, o vermelho, para as rodovias e ca-
grafo esse aspecto inconfundível da sua atividade
minhos, e o castanho, para as curvas de nível. Estas
colossal, para alcançar o oceano, é preciso que essa
cores, que não vão interferir na produção do res-
tarefa seja confiada a um experimentado e hábil
pectivo negativo (ou fotoplástico), são de extrema
cartógrafo, senão o que irá acontecer será, ou um
utilidade no exame comparativo da própria minuta,
aglomerado confuso de detalhes supérfluos, tumul-
através das fotografias correspondentes.
tuários, ou um curso d'água igual a qualquer outro
da Terra, não o do Amazonas.
14.4. I Fotoanálise
"Uma carta bem generalizada deve dar ao
usuário a impressão de simples redução, em escala, Executada a minuta, procede-se a uma verifica-
de uma carta mais detalhada, reencontrando-se nela ção geral dos pontos de controle, das altitudes com-
o caráter de conjunto e as informações essenciais. provadas e não comprovadas etc., e, em seguida, uma
Tudo o que o cartógrafo eliminou deve correspon- análise sistemática, muito cuidadosa, de toda a
der, com precisão, ao que não interessa a quem restituição. Pode haver alguns lapsos como: a omis-
a utiliza, de tal modo que ele tenha uma carta são de um curso d'água, de uma ponte, de uma
esquematizada e simplificada, porém, completa e barragem, de um trecho rodoviário, de uma curva
exata, bem adaptada ao novo destino, e não sinta de nível, ou, mesmo, algum erro de interpretação
que nela foram colocados detalhes inúteis, em detri- de algum detalhe etc. Nesta fase, é interessante que
mento de informações de valor 97 • o analista disponha também das fotografias ream-
O método consciencioso para se conseguir uma buladas.
perfeita generalização deve envolver três etapas: a
seleção, a esquematização e a harmonização. Im- 14 . 5 Revisão (ou atualização)
porta a primeira na escolha dos detalhes represen-
tativos, isto é, que possuam importância informa- Em cartografia, chama-se revisão a operação
tiva; para a esquematização, talvez a mais difícil das de renovação sistemática da totalidade de um mapa,
três, não poderá haver um embotamento ou um em que são procedidas todas as alterações possíveis,
abrandamento das formas, mas, ao contrário, um a começar da sua elaboração inicial ou da revisão
realce dos detalhes que chamam a atenção; a terceira precedente, isto é, a revisão da revisão 98 •
etapa visa salientar, proporcionalmente, a represen- Caso o mapa a ser revisto tenha sido uma
tação simbólica, em suas dimensões, formas e cores, precária compilação bastante antiga, a revisão não
de acordo com a finalidade do mapa. vai importar em alterações significativas na posição
São, ainda, do nunca esquecido mestre Alinhac, horizontal de detalhes, ou de valores relativos a
nos seus conselhos de autoridade absoluta no as- características verticais. Como a revisão é uma mera
sunto, quando do nosso estágio, em 1959, no atualização, as mudanças refletem tão-somente uma
I. G. N., as seguintes palavras: "A generalização melhoria, ou uma complementação dos elementos
deve ser expressiva no detalhe e expressiva no con- culturais, sobretudo da planimetria. Como dizem
junto. Expressiva no detalhe, pela evocação precisa
da forma dos objetivos ou dos grupos de objetos.
98 Em todos os países tem ela o sentido de atualização.
e não de verificação ou exame de falhas, erros etc., como é
97 ALINHAC, G. Rédaction Cartographique. o caso em tipografia, jornalismo etc.

126
Fig. 122 - O primeiro mapa corresponde, na escala I: 125 000, à "Grande Belo Horizonte". Nesta escala, já se procedeu a uma boa genera·
lização, uma vez que foi reduzida da escala original em 1:50 000. Para o segundo mapa, em I :250 000, a generalização é considerável. No terceiro,
em 1:500 000, nenhum detalhe da configuração flsica e humana da área pode ser representado. O último mapa, em 1:1 000 000, é o mais gene·
ralizado de todos.

os americanos, os mapas são revistos, não recom- 3.a Verificar as posições dos detalhes comum
pilados (ou restituídos outra vez). aos dois originais: o existente e o revisto, e fazer
A reprodução de um mapa existente, não im- coincidir esses detalhes.
portando em revisão, constitui a reimpressão ou
tiragem. Chama-se, entretanto, tiragem nova a reim- 4.a Transferir, em tinta preta, toda a parte re-
pressão de um mapa, incluindo a possibilidade de vista para o positivo da carta antiga.
uma modificação de algum detalhe localizado. Isto Como os detalhes a acrescentar se referem, via
é outra coisa. de regra, a loteamentos, edificações urbanas ou
O método mais prático para a revisão de uma
rurais, rodovias ou caminhos, ferrovias, novas esta-
carta deve obedecer às seguintes etapas:
l.a Obter-se um positivo da carta a ser revista. ções, à vegetação permanente ou temporária e a de-
2.a A parte revista, em geral oriunda de foto- talhes como aeroportos, portos, fronteiras etc., um
grafias aéreas recentes, deve ser restituída, ou em positivo deve ser tirado, isoladamente, de cada cor
escala maior ou na mesma da referida carta. representada na carta existente.

127
15. Originais de reprodução
A elaboração dos ongmais eartográficos está "Os mapas das edições italianas de Ptolomeu,
intimamente ligada ao tipo de material empregado do século XV, foram reproduzidos em cobre, mas
para este fim. Como a maior parte dos originais a flexibilidade ou flacidez desta técnica ainda não
elaborados diretamente pelos cartógrafos (referi- era plenamente apreciada pelos cartógrafos" 101. A
mo-nos à fase da cartografia passada) se destinavam preferência incontestável era dada à madeira, in·
à reprodução, o tipo e a qualidade do material clusive porque muitas escolas de xilogravura vinham
foram sempre motivo de interesse ou de preocu- sendo criadas na Alemanha, destinadas à ilustração
pação. de livros. Deste modo, os mais importantes mapas
Houve, a princípio, a fase em que o desenho da primeira metade do século XVI foram xilográ-
era feito sem nenhuma finalidade de reprodução. ficos. E não tardaram a ser "cortadas" em madeira
Tanto podem entrar, neste período, os mapas da famosas obras, como a Geographia, de Ptolomeu, o
Antiguidade quanto os dos povos primitivos. Como Theatrum Orbis Terrarum, de Ortélio, e a Cosmo-
padrões desse estágio podem citar-se os seguintes graphia, de Apiano.
materiais: a terracota, o papiro, o pergaminho, o A figura 123 focaliza um cartógrafo do final do
couro e a pedra (não litográfica). século XVI, em plena execução duma prancha de
Não foram essas, aliás, as únicas causas do madeira. O período xilográfico, deve-se acrescentar,
desaparecimento de antigos manuscritos. A rari- foi muito importante na reprodução de originais
dade do documento, aliada à sua fragilidade e renascentistas.
precariedade, contribuiu preponderantemente para
a perda de famosos mapas, sem que se precise
de tudo isso, é bom lembrar outros aspectos, como
mencionar o . caso dos palimpsestos. Mas, além
aconteceu no princípio da Era Cristã, a respeito
do mapa, pois "enquanto manuscritos eclesiásticos
e pagãos eram coligidos livremente, os mapas eram
feitos clandestinamente, estudados secretamente e,
em muitos casos, destruídos em seguida" 99.
Outro fato ainda ocorrido, já mesmo na fase
da reprodução, verificou-se por ocasião das des-
cobertas marítimas. "Nenhum dos mapas e cartas
originais elaboradas pelos grandes exploradores teve
a permissão de ser gravado e impresso, de modo
que, por esta ou aquela razão, os primitivos doeu·
mentos relativos a Colombo, Cortez, Magalhães e
inúmeros outros se perderam, provavelmente para
sempre" 1 00.
l'ig. 123 - Em ""Nuremberg•• (RFA), em 1958, um cartógrafo en·
talha um mapa, para, em seguida, imprimi·lo.

15.1 Métodos de reprodução


Mas a técnica de reprodução cartográfica que
Tanto a gravação em madeira quanto em mais evoluiu foi mesmo a já experimentada gravura
metal foram usadas para a reprodução de manus- em metal, e o florescimento deste tipo de gravura
critos famosos nos séculos XV e XVI. Mesmo antes aconteceu, principalmente, em Roma e Veneza.
de Gutenberg, é sabido que os primeiros tipos mó- Dali, aos poucos, toda a Europa deu tanta ênfase
vl!is foram talhados em madeira, anteriormente ao à gravura em metal (cobre e latão) que os exem-
ano de 1406, isto é, quando da invenção da im· plos dos trabalhos que iam surgindo através dos
prensa. séculos XVI, XVII, XVIII e XIX alcançaram pa-
drões gráficos inigualáveis.
99 BROWN, Lloyd. Op. t!it.
100 Idem, ibidem. 101 SKELTON, R. A. Op. cit.

129
Não nos furtamos ao impulso de registrar,
.1este pormenor, a primeira obra . de vulto r~pro­
duzida no Brasil - a Planta da Ctdade do Rzo de
Janeiro, levantada em 1808, sendo continuada por
João Caetano Rivara, e impressa, finalmente, em
1812.
A litografia que, igualmente, já vinha de mais
longe, teve a sua maior aplicação a partir do se-
gundo quartel do século XIX. Devemos acrescen-
tar que o colorido dos mapas, que era elaborado
a mão, foi, também, iniciado naquele século.
Inventada que fora em 1796, por Aluísio
Senefelder, é, a litografia, um processo de impressão
de matriz plana e baseia-se na incompatibilidade Fig. 124 - Câmara Klimsch super Autohorika KT, com focalizaçllo
toda a uto mática. O estrado mede 6,73 m de comprimento e o chassi
que existe entre a água e as tintas graxas. O termo I ,40 X 1.00 m . O alcance da ampliação é de 2: I, mas sem a auto·
foi criado pelo alemão Mitterer, de Munique. focalização vai para 5 :1. Quanto à reduçJo, é de I :5 e, sem a auto·
focalização, chega a I : I 2 .
Depois da invenção da fotografia, surgiu, em
1855, a fotolitografia, que é um processo de impres-
A chapa é exposta à ação dos raios luminosos pro-
são pelo qual a imagem é transferida para a chapa duzida pelo arco voltaico, o que vem a ser a luz
de impressão com o auxílio da fotografia, a fim de,
elétrica gerada por carvões que constituem os
após, ser procedida a impressão pelo processo ofsete.
pólos duma pilha. Trata-se duma luz de enorme
intensidade.
15. 2 Laboratório fotográfico A centrífuga, ou torniquete, é um aparelho
destinado à distribuição regular de uma emulsão
Um órgão cartográfico, governamental ou pri- sobre a chapa, sobre o fotoplástico etc. Como apa-
vado, que precise dispor de uma estrutura indepen- rece na figura 125, é montada num plano hori-
dente para a produção dos seus originais, a partir zontal, vertical ou inclinado, e um movimento de
do estágio inicial da concepção da carta até a di- rotação na chapa permite a aplicação uniforme
vulgação desta ao público, necessita do apoio das da emulsão.
seguintes áreas: geodésica, cartográfica propriamente
dita e da reprodução gráfica. Esta última, que
poderia parecer independente, ou meramente sub-
sidiária, tem que agir integradamente visando à
feitura de cada fase da elaboração de todos os
originais.
Desta maneira, a existência dum laboratório
fotográfico se insere indissoluvelmente na tarefa
cartográfica, desde o recebimento do produto bruto
até a entrega dos originais à publicação.
A câmara fotográfica é, em primeiro lugar, da
mais alta necessidade. Longe de representar uma
câmara meramente aperfeiçoada, precisa fotografar,
ampliar ou reduzir originais de grandes dimensões,
com absoluta precisão, como os de um metro qua-
drado, ou ainda maiores, sendo o seu funciona-
mento, de preferência, todo automatizado.
Além da câmara em si, é indispensável a sua
integração à parte destinada a todo o processo
fotográfico. A figura 124 reproduz a câmara Fig. 125 - O operador prepara uma chapa numa centrlfuga ver·
tical.
Klimsch, provavelmente a mais aperfeiçoada do
momento.
Outro tipo de câmara é a prensa a vácuo, para a 15 . 3 Negativos
copiagem por contacto, bem como para o transporte
da imagem nas chapas metálicas de impressão 102. De posse do original cartográfico (há alguns
anos desenhado - pronto para a reprodução), a
primeira providência consistia em fotografá-lo nas
102 Transporte, em artes gráficas, é a reprodução fiel
dum modelo, na mesma escala ou em escala diferente, medi· dimensões exatas da escala de publicação, para a
ante um processo manual , mecânico ou ótico. obtenção inicial de um negativo. Este negativo era

130
de vidro - uma chapa de cerca de 7 mm de Survey, em Washington, quando foi por eles bati-
espe!õsura, denominada chapa úmida_ ou _chapa de zado com a denominação de fotoplástico, termo que
colódio, uma vez que era preparada Imediatamente se generalizou em toda a cartografia brasileira
antes de sua exposição, no próprio laboratório foto- atual.
gráfico. Desnecessário será repetir-se que. ~ câm~ra Este tipo de material dispõe, atualmente, de
fotográfica tem que ser de extrema precisao, assim idênticas características dimensionais da chapa de
como o vidro, perfeitamente plano, e de· espessura colódio, sem contar com as incomparáveis vantagens
constante. do seu manuseio e arquivamento.
A preparação da chapa consistia em aplicar, As primeiras experiências com material plás-
depois de perfeitamente limpa, ur~a camada ~e tico foram com acetato de celulose, mas esse plástico
albumina de ovo com uma emulsao de colód10 foi logo abandonado devido à sua má estabilidade
iodetado. Esta operação, realizada na câmara es- dimensional. Utilizaram, então, um material ori-
cura, destinava-se a preparar a chapa, a qual, ainda undo de resinas vinícolas, de boa qualidade. Verifi-
úmida, era exposta fotograficamente, para a conse- cou-se, por exemplo, que este material era do:!e
qüente revelação. Estava assim pronto o _neg~tivo •. o vezes menos sensível às variações termométricas do
qual, para melhor conservação, recebia, mvana- que o primeiro. Melhor ainda é o plástico poliéster,
velmente, uma camada de goma-arábica. pois as suas características dimensionais são supe-
Ora, esse tipo de negativo tinha apenas uma riores, tanto do ponto de vista calorífico quanto
vantagem: quando se notava alguma falha, como a higrométrico.
omissão de um símbolo ou mesmo de um nome, O material que se adquire atualmente no co-
era perfeitamente possível a gravação direta, por mércio apresenta, na face não brilhante da folha,
meio de uma ponta seca, do referido nome, o que uma fina e uniforme camada de tinta fosca, geral-
exigia, do desenhista, uma grande prática no de- mente de coloração avermelhada.
senho de letras, além de uma particular habilidade,
uma vez que, tratando-se de um negativo, a opera- De acordo com as necessidades das separações
ção tinha que ser invertida, isto é, da direita para de cores exigidas pelo original cartográfico, varia
a esquerda (que em artes ~~fic~s se d~nomina o número de fotoplástico em cada mapa. Deste
leitura-errada) 103. As inconvemenCias do vidro, seu modo, para se obter qualquer um desses fotoplás-
peso, a fragilidade, o manuseio, a conservação e o ticos, torna-se preciso a aplicação de uma solução
posterior arquivamento (visando a futuras revisões), de sensibilização fotográfica à base de hidróxido
eratn muito consideradas, até que, com o advento de amônio, o que é feito com o auxílio da centrí-
de novas técnicas de reprodução cartográfica, de- fuga.
sapareceu, de vez, a chapa de colódio. Após este processamento, a solução terá que
secar para, então, conseguirmos, por via fotográfica
15.3 .I Fotoplásticos de contato, uma imagem inversa, em cada foto-
plástico, do original fotográfico, que tanto pode
Foram os americanos que, após a II Guerra ser uma folha-mãe (anteriormente descrita), como
Mundial, transmitiram a todas as organizações car- uma minuta fotogramétrica oriunda diretamente da
restituição fotogramétrica.
tográficas do mundo um novo processo de repro-
dução, o qual viria a revolucionar esta fase da car- O negativo conseguido através da gravação di-
tografia contemporânea - a reprodução, com a reta do processo fotoplástico, uma vez transportado
utilização do plástico na obtenção direta de cada para uma chapa de impressão (emulsão-com-emul-
são), fornecerá uma imagem positiva de leitura-
tipo de negativo, com exceção dos convencionais
certa, para a impressão em ofsete.
(fotográficos) usados para certo tipo de reprodução,
como letreiros e símbolos. Foi assim que o scrib-
ing 104 dos americanos foi transmitido ao Brasil 15 . 4 Preparação
através do grupo de cartógrafos do antigo Conselho
Nacional de Geografia (do IBGE), que, após a Antes de entrarmos na fase propriamente con-
guerra, hav~a estagiado no Coast and Geodetic cebida como de reprodução, que visa à edição do
original cartográfico, examinemos um aspecto a
que nem sempre se dá a devida importância, daí
103 Por ocasião do nosso estágio, em 195lf52, no
Ordnance Survey, em Southampton (Inglaterra), tivemos algumas surpresas para os que confiam de~ais na
que experimentar, no decorrer de uns dois dias, essa ingrata experiência, ou, o que é pior, no talento da Impr?-
operação, e, ao mesmo tempo, assistir à espontaneidade com visação. Isto não existe em cartografia! Cartografia
que cartógrafos e desenhistas ingleses "abriam"', com per- é um trabalho de grande originalidade, mas roti-
feiçllo, uma boa quantidade de nomes no próprio negativo.
neiro e quase sempre monótono. Voltando _à des-
104 Processo mediante o qual um tipo de negativo é
elaborado por contato, e que resulta no seguinte: partes
crição: aquele aspecto que temos que cons1der~r,
duma camada fotograficamente opaca são extraídas duma ligado diretamente à reprodução, é a prepa:açao,
base trapsparente mediante ferramentas especiais. a fim de se conseguir uma edição de boa qualidade.

131
Essa fase pode ser comparada ao conhecido boneco, ser prevista devido à possibilidade de interrupção,
nas artes gráficas, destinado a orientar todos os em estreitas faixas, deste tipo de representação,
passos da impressão de um livro, revista etc. Trata-se como pode ser o caso, por exemplo, de rodovias lar-
de um planejamento particular para cada folha, gas, representadas em cores claras ou em branco.
ou para cada mapa ou carta, de todas as suas partes
constitutivas, título e letreiros, vegetação e relevo,
extensões de água e coloridos, etc., e que tem como 15 . 5 Separação de cores
finalidade imediata, orientar, tranqüilamente, a ela-
boração de todos os originais de reprodução, até a Descreveremos, a seguir, as fases que compre-
prova final para o Imprima-se. endem o processo da reprodução, a partir do ori-
ginal cartográfico executado anteriormente (seja
Para a representação do letreiro, sobretudo do
uma minuta, uma compilação de documentação
letreiro referente à parte toponímica, é primordial heterogênea, etc.).
um plano cuidadoso do conteúdo e da disposigio
de cada nome relativo aos acidentes e elementos que É de todo aconselhável que o original seja
vão realçar a representação do documento, nesta elaborado em material plástico translúcido, de boa
fase que antecede a impressão. qualidade, como o Cronaflex. O desenho, que tanto
pode ser a tinta (especial), como a lápis de cor, não
Toda essa nomenclatura é escrita numa folha precisa ter o acabamento que se exigia outrora
translúcida, na mesma escala do original a ser re- (quando o original de acabamento ia gerar os
produzido. Para este fim, tira-se um negativo, por negativos finais) . Basta, atualmente, que os traços
contato, do original, e, em seguida, deste negativo e os símbolos sejam absolutamente fiéis em relação
produz-se um blulaine 105 , o qual, reproduzido o ori- às medidas da plani·metria (ou da altimetria).
ginal em azul-claro, facilita o plano de representa- Outra coisa que ainda é aconselhada nesta fase
ção do letreiro, com fidelidade e bastante precisão. da elaboração do original referido, é que o desenho
Preparada esta folha, e procedida a indispensável a lápis seja feito em mais de uma cor. Tal método
verificação, passa-se à listagem de cada nome, com traz a vantagem de separar certos elementos,, como
a designação do tipo apropriado, corpo etc., para a hidrografia, as curvas de nível, o sistema viário
a fotocomposição e impressão, a qual vai servir a etc., o que irá eliminar possíveis confusões de
ulterior montagem (como veremos mais adiante). traços de dois ou mais elementos interligados, além
Além da preparação do letreiro, há a necessi- de facilitar a verificação de todos os originais de
dade da preparação de certas características, como reprodução, até a prova final, em cores.
as que são reproduzidas mediante máscaras. Exe- Usa-se, atualmente, um tipo de lápis, como o
cutado cada assunto em material translúcido (admi- comercialmente conhecido Afars-Lumochrom, em
te-se, aqui, o papel vegetal) , compõe-se do seguinte várias cores. Além de se conseguir um traçado cô-
esquema, e tendo em vista as cores previstas para modo e preciso têm esses lápis a propriedade de
a edição: ser perfeitamente fotogênicos em qualquer tipo de
a) preto moldura e informações marginais; reprodução.
Para a descrição dos originais destinados à re-
b) azul - extensões de água (mares, lagos,
produção por separação de cores, usaremos, como
rios importantes e cores batimétricas) ;
exemplo, a série em I :250 000, do IBGE, que é
c) vermelho - rodovias (o recheio) e, even- impressa em seis cores, a saber: o preto (para sím-
tualmente, áreas urbanas (em retícula); bolos de localidades, aeroportos, faróis, ancora-
d) verde - tipos de vegetação, bem como cul- douros, igrejas, escolas, minas, pontos trigonométri-
turas agrícolas (em retículas). cos, posições astronômicas, sistemas viários, linhas de
transmissão, quadriculado, os letreiros correlatos
Quando se trata de um mapa em cores hipso- etc.) ; o azul (para os cursos d'água e o letreiro cor-
métricas, prepara-se uma folha para todo o conjunto relato) ; o castanho (para as curvas de nível e os
deste tipo de representação do relevo, e para cada valores correspondentes, com exceção das cotas com-
cor, separadamente. De igual modo, certos mapas, provadas); o vermelho (para as rodovias pavimen-
como os geológicos, os pedológicos, os de uso da tadas e de tráfego permanente); o verde (para a
terra e tantos outros, a preparação é absolutamente vegetação natural e culturas agrícolas) ; o amarelo
indispensável. (para as áreas urbánas de expressão), opcional.
No caso da representação do relevo sombreado, Em primeiro lugar, tira-se, por contato, um
mormente em escalas maiores, a preparação deve negativo, em filme fotográfico, do original carto-
gráfico. A principal finalidade deste negativo é a de
105 Blulaine - Imagem obtida através de um negativo,
se ter um blulaine para a preparação de todo o
a qual é conseguida com uma camada de sal de ferro que letreiro da folha, o que já foi descrito no tópico
se decompõe pela exposição à luz, resultando numa cor 13. 3.
azul. :t, em geral, reproduzida em plástico ou papel,_ e Ainda, do original, e igualmente por contato,
que é utilizada para orientar um desenho ou uma gravaçao,
ou ainda uma montagem de topônimos. obtêm-se três fotoplásticos: • um para a gravação

132
do quadriculado geográfico 1 <:6 das ferrovias, das
rodovias e caminhos, das linhas de transmissão, dos
limites e dos perímetros urbanos; um segundo para
a gravação da hidrografia; e um terceiro para a
gravação das curvas de nível.

15.5 . I Montagem do letreiro


Esta operação, igualmente denominada colagem
ou fixação, vem a ser a aplicação sistemática de
todos os nomes constantes do original cartográfico,
mediante uma fina camada de adesivo anterior-
mente aplicado no verso. Sobre uma folha transpa-
rente de plástico, e com o auxílio da preexistente
folha preparatória do letreiro, é montada a nomen-
clatura anteriormente impressa. Estes nomes são
impressos em finíssimo plástico transparente, o qual,
depois de impressos os nomes, recebe a referida ca- Fi~. 126 - Com uma ferramenta apropriada - uma U.mina 'de aço
mada de adesivo para a montagem. af1ada - e de posse da relaçllo imprrua de topilnimos - a qual
contém um adesivo no verso - o operador corta o nome certo, destaca~o
e cola·o no lugar indicado do original.
Além do letreiro, são também montados todos
os símbolos, impressos de igual maneira para esta
finalidade. Incluem-se, nesta categoria, os variados clatura hidrográfica), cobriremos todos os nomes
tipos de retículas, encontrados no comércio, pré- destinados ao preto e ao vermelho. E, finalmente,
impressos, padronizados, os quais correspondem a para termos os nomes referentes à cor vermelha,
certos tipos de representação, como alagados, areias, iremos cobrir ainda a denominação que iria servir
ao preto e ao azul. ·
mangues etc.
Uma vez terminada esta fase da elaboração Esta operação se denomina retoque, para a
dos originais destinados à reprodução, torna-se im- qual se usa, além da tinta, pincel, pena, raspadeira
etc.
perativa a verificação sistemática e rigorosa da
operação. Eis algumas anormalidades que ocor-
rem freqüentemente: a omissão de um nome, a 15. 6 Gravação
troca de um nome por outro, um nome mal impresso
anteriormente (cuja falha não foi detectada), um Para esta modalidade de gravação, precisam ser
nome mal colocado etc. e outros defeitos em re- tiradas, por contato, do original cartográfico (mi-
lação aos símbolos. Feitas as devidas correções, uma nuta ou folha-mãe) tantos fotoplásticos quantos
nova verificação é aconselhada, a fim de serem evi- forem as cores em que haja elementos representados
tadas correções numa fase posterior, como na prova a traço.
de negativos, ou, o que seria ainda pior, na própria No caso de uma folha topográfica, é necessário
prova de máquina. que o original seja exposto três vezes, pois impoem-
A figura 126 apresenta um detalhe do momento se três tipos de gravação, isto é, uma para cada
em que o operador procede à montagem de nomes. tipo de representação correspondente a estas cores:
Depois de montados os letreiros, relativos às preto, azul e castanho.
denominações de localidades em geral, títulos etc. A gravação é efetuada na face fosca do foto-
da hidrografia e de outros elementos, são tirados plástico, isto é, a que recebeu uma camada apro-
três negativos por contato, em filme fotográfico. priada, para este fim designada.
Suponhamos que serão representados esses nomes Os instrumentos de gravação denominam-se
em três cores: preto, azul e vermelho (esta cor carrinhos 101. São pequenos aparelhos, manuais, que
para as siglas rodoviárias, por exemplo). dispoem duma agulha para a gravação. Essas agu-
Impõe-se, em conseqüência, um negativo para lhas são de várias espessuras, destinadas à produ-,.-ão
os nomes que vão ser impressos em preto, outro de diferentes traços.
para os nomes em azul e um terceiro para o ver- A figura 127 mostra um tipo de carrinho, e a
melho. Para conseguirmos o primeiro negativo, te- figura 128, o momento em que um fotoplástico
remos que cobrir, com uma tinta opaca especial, está sendo gravado. Observe-se que este aparelho,
todo o letreiro referente ao azul e ao vermelho. através dum mecanismo giratório, obedece a mu-
Par~ o segundo negativo (que servirá para a nomen- danças na direção dos traços a gravar, de modo

106 O IBGE exprime, neste tipo de folha topográfica, o 107 A terminologia americana emprega os termos scriber
quadriculado plano-retangular em azul e o geográfico em ou graver, ou ainda scribing point (agulha) , swivel graver,
preto. rectagraver etc.
Resumindo, a gravação em cada um dos três
fotoplásticos corresponde aos seguintes elementos
de representação cartográfica:
a) pam o fotoplás~ico do preto - moldura e
quadriculados; rodovias e ferrovias; linhas de trans-
missão; perímetros urbanos; limites, escala gráfica,
diagramas;
b) para o fotoplástico do azul- todos os cursos
d'água, curvas batimétricas; o quadriculado plano-
retangular (caso das folhas em I :250 000) ;
c) para o fotoplástico do castanho - as curvas
de nível.

15.7 Máscaras
Vimos, até agora, que o letreiro e os símbolos
são representados por meio da montagem dos ele-
mentos impressos em material adesivo. Tomamos
conhecimento, também, de que toda a representação
em traço é executada em fotoplástico, gravada por-
tanto. Sobram ainda certas áreas, numa folha, ou
mapa, impressas por meio dum colorido unifqrme
(chapado ou reticulado). Estas são confeccionadas
neste momento, e constituem originais diferentes
dos outros até agora apresentados. Referimo-nos às
máscaras.
Segundo o nosso Dicionário, a máscara é: "I.
Fi~r. 127 - Com tstt instrumtnto, popularmtntt denominado car·
rinho, é posslvd a gravação direta de quaisquer linhas no fotoplás- Processo fotomecânico para bloquear uma área, por
tico. meio de material opaco actínico, a fim de impedir
exposição na área bloqueada. 2. Material plástico
com partes transparentes e partes em meia-tinta ou
opacas, total ou parcialmente, do conjunto, ou de
certos elementos da imagem, especialmente fora
das operações fotomecânicas".
Antigamente, a feitura de máscaras era de-
morada, quase toda manual. Hoje existe um ma-
terial, no comércio, para a elaboração rápida e
mais perfeita das mesmas. Trata-se dum tipo de
plástico, brilhante em ambas as faces, ao qual se
acha aderida uniformemente uma leve película
opaca. Se expusermos neste material, por contato,
um negativo em traço, o resultado será a repro-
dução do tracejado na referida película. Qualquer
parte dela, limitada por quaisquer traços, será fa-
Fi~r. 128 - Um tapt<:ialiata da Diretoria de Serviço Geoflráfico, do cilmente removida, se o desejarmos. Deste modo,
Ministério do Exército, executa a gravação dt curvu dt nível, na
elaboração de um doa fotopláaticos para uma carta topográfica. se expusermos um negativo, onde se acha, por
exemplo, representada uma figura simples qualquer
que tais traços não sofram interrupções, e que con- -digamos um círculo- e se levantarmos a película
servem a sua regularidade e uniformidade, como se com a ponta de qualquer pequena ferramenta,
tivessem sido desenhados com um tira-linhas curvo. junto à linha que limita esse círculo, veremos que a
aludida película é extraída com toda facilidade,
Para a gravação, por exemplo, das rodovias oferecendo, em conseqüência, um círculo transpa-
denominadas, no rodapé da folha, auto-estrada e
rente. Esta técnica é denominada "pilcote", termo
pavimentada, existem dois tipos de agulha, respec-
aportuguesado do inglês peelcoat 1 0·8. A simplicidade
tivamente, para o traçado de três e de duas para-
lelas. Outro tipo de carrinho que se distingue do
apresentado na última figura é o destinado ao tra- 108 Os franceses a denominam, com muita propriedade,
couche peliculable, isto é, urna camada descascável, a fim
çado, por exemplo, da moldura, do quadriculado de que possamos retirá-la sem dificuldade, corno fazemos,
etc. por exemplo, ao descascar urna tangerina.

134
e o lado prático da técnica tanto podem fornecer tira-se uma prova em Cromalin. Vem a ser esta
um negativo, se removermos a película entre os uma prova diferente da anterior por se tratar de
traços, quanto um positivo, se a extrairmos fora · outro tipo de material, o qual oferece uma alta
daqueles traços. qualidade no transporte dos originais, os quais, em
Exemplificando a elaboração das máscaras de seguida, serão destinados à publicaÇão. Esta prova
uma folha em 1:250 000, são necessárias, no mí- tem as características do Imprima-se. No sentido de
nimo, seis máscaras, a saber: comprovarmos a excelência deste tipo de prova,
podemos apreciar as figuras 129 e 130 (em encarte),
a ser impresso em
nas quais se acha representada, parcialmente,
Tema
uma folha topográfica.
exten.'IÕes de águà azul
recheio de rodovias vermelho
áreas urbanas amarelo
florestas verde (chapado)
cerrado, caatinga etc. verde (reticulado)
r.ulturas agrícolas verde (reticulado)

15. 8 Provas de negativos


Dispomos, até o presente momento, de todos
()s negativos destinados à confecção duma prova
em plástico fosco, branco, conseguida por meio de
transporte dos negativos (em filmes fotográficos,
em fotoplásticos e em máscaras) , relativos a cada
cor, sobre uma solução aplicada, de cada vez, na
referida folha de plástico, e revelada, quimicamente,
após cada exposição.
Esta prova, que dá uma idéia bastante
aproximada da impressão definitiva, ulterior, tem
por finalidade a verificação do conjunto, em cores.
Conforme a qualidade das t>perações relativas a
cada fase dos originais de reprodução, a prova de
negativos não deverá, normalmente, apresentar
nenhuma grande anormalidade. Verificando-se, con·
tudo, nesta prova, qualquer alteração, a respectiva
correção, no negativo, será bastante fácil. No caso
de ocorrer, digamos, a necessidade da inclusão, _j
por qualquer motivo, de um nome ou de um sím-
bolo, há o recurso do chamado estripe 100 • Trata-se
L
dum tipo de filme fotográfico em que a película
da emulsão pode ser extraída, como no .caso do
pilcote, da sua base provisória, após a exposição e
o respectivo processamento. Esta película pode,
em conseqüência, ser transferida sem nenhuma di-
ficuldade, para a sua base definitiva (no caso, o ne-
gativo).
Ora, ao necessitarmos da inclusão de um nome
no negativo, transporta-se a composição deste nome
para o estripe, e, em seguida, destacamos a pelí-
cula correspondente, e a colocamos no negativo,
através duma pequena abertura (uma janela), feité
ali, mediante a raspagem duma pequena área, sufi
ciente para a inclusão do nome em causa.
Realizada, por fim, a ·última verificação m
prova de negativos que acabamos de escrever
Fls. 129 - Pelo processo de xparaçlo de coreJ, af ettlo, em eacala
109 A este respeito, os americanos dispõem do strip reduzida, as impresoões das aesuintes chapu: 1.0 ) a hldroll'afia (em
film e do stripping. O primeiro termo refere-se ao tipo do azul); 2.•) o quadriculado plano·retaQ~Ular, o letreiro e os sistemu
viários (em preto) ; 5.•) o relevo em curvu de nlvel (em cutanho);
filme empregado, e o segundo, à técnica do seu uso. 4.•) rodoviaa principais e aa áreu urbanu (em vermelbo).

135
24'00' ~~~~~~--YW~~~~~~r-~----------~
46
='~00'
100 Km

Fi&. 1!0- Prova .,m cons duma folha topográfica (.,xtrato .,m 1:250000), para a qual, mediante o proresso de separação de cores, foram impnasas
quatro dlf.,...,ntes chapas em quatro difenntes cores.

15. 9 Impressão 15 . 1O Positivos

De posse dos negativos que representam as co- Ao transportarmos a imagem de um negativo,


res nas quais o modelo será impresso, e executadas por contato, para um filme positivo, este último
todas as correções apontadas nas provas de nega- original fornecerá, conseqüentemente, uma imagem
tivos, o processo de impressão pode ser executado em leitura-certa 111.
após a sensibilização das chapas. Para esta opera- O uso do positivo, como tipo de original a ser
ção, prepara-se, inicialmente, a solução 11(), a qual transportado diretamente para o metal, deve ser
é fixada uniformemente na chapa por meio da preferido, se se desejar uma qualidade superior de
centrífuga. Advertimos que, antes do processo de impressão, sobretudo quando a tiragem for elevada.
sensibilização, a chapa é lavada com uma solução Neste caso, a chapa passa a ser gravada. A diferença
à base de um ácido, como o acético ou o clorídrico, fundamental entre este processo e o anterior é a
o qual reage sobre o metal formando um sal solúvel seguinte: quando se emprega o negativo, ao contato
em água. Terminada a sensibilização, e perfeita- com a chapa de impressão, os únicos elementos ex-
mente seca, procede-se à exposição do negativo, postos à luz são os traços. O resto é protegido
usando-se, como fonte de iluminação, o já citado automaticamente. Uma vez revelada a chapa, os
arco voltaico. Depois de exposta, vem a revelação traços, que forem gravados, serão, através da re-
da exposição, que corresponde à aplicação manual velação, preenchidos com a tinta de revelação. Se,
duma lisa e uniforme camada de tinta de revelação. ao contrário, passarmos a usar o positivo, como
·Pouco tempo depois, estará seca esta última tinta, e veículo para a obtenção duma chapa, a conseqüên-
o seu excesso será retirado com água. A imagem cia da exposição e da revelação, resultará na gra-
representada, em conseqüência, na chapa, que é vação de toda a superfície exposta, exceto os traços.
Com a revelação, estes traços se tornarão em relevo.
positiva, irá formar uma imagem igualmente po-
Desta maneira, quando se proceder a impressão
sitiva, quando transportada para o papel, pelo
ofsete, o desgaste será menor. Daí a sua maior
processo ofsete.
perfectibilidade.
Atualmente, as chapas adquiridas comercial-
Outra vantagem observada no processo da cha-
mente já vêm sensibilizadas, prontas, portanto, para pa gravada é a de se poder reduzir o número de
a exposição. A propósito, além desse tipo de chapa, chapas. Contando-se, por exemplo, um total de 15
existe a outra modalidade, isto é, a que se consegue negativos, entre filmes, fotoplásticos e máscaras,
com outra sensibilização, para o caso da chamada conseguem-se transportar, às vezes, dois ou três ne-
chapa gravada, que veremos em seguida.
111 Até há poucos anos, denominava-se fotolito a pedra
110Como exemplo, a fórmula seguinte pode ser apli- (litográfica) ou .a chapa (por extensão) de metal com a
cada no preparo da solução: albumina, 100 gramas; bicro- imagem fotolitográfica. Mais recentemente, passou o termo
mato, 15 cc; amônia, 30 cc; água, I litro. fotolito a designar, erroneamente, o próprio positivo.

136
gativos para a formação de um único positivo,
reduzindo-se as operações de transporte da chapa --a
para cerca de 7 ou 8 positivos.
Tomando-se, ainda, como exemplo, uma folha
em 1:250 000, os positivos se reduzirão a estes, apro-
ximadamente:
Preto - os letreiros, símbolos e relevo som-
breado;
Azul - a hidrografia e o letreiro afim;
Castanho- as curvas de nível e altitudes;

-·h
Vermelho- as rodovias e caminhos;
Verde - os dois tipos de vegetação e mais as
culturas permanentes e temporárias;
Amarelo - as áreas urbanas de expressão. Fig. 131 - Esquema em perfil em que se demonstra a seqüência
das fases duma impressora ofsete: a) o bloco de papel em folhas
cortadas uniformemente; b) o conjunto de cilindros para a distribuição
e homogencização da tinta; c) os cilindros de umidificação; d) o
15 . 1O. l Processo ofsete cilindro onde é colocada. aderidamente, a chapa de impressão (rela-
tiva a uma cor); e) o cilindro cuja blanqueta recebe a imagem, p_or
contacto, da chapa de impressão; f) o ~!limo cilindro, que perm1te
que o papel, mediante pressão, receba a imagem ulteriormente re-
Este processo de impressão é uma variante da produzida na blanqueta; g) o mecanismo que transporta, folha por
primitiva impressão litográfica. Suas diferenças: o folha, o resultado da impressão; h) o conjunto das folhas impressas
na cor correspondente.
desenho na pedra litográfica era executado inver-
tidamente a fim de ser impresso em leitura-certa, foram os franceses, mas a sua aplicação em larga
ao contato com o papel. O processo ofsete, ao con- escala é devida a Rubel, um americano, no ano de
trário, é um método indireto de impressão que apre- 1904.
senta as seguintes etapas: 1. 0 a imagem (do nega-
Para a impressão a cores, o papel terá que
tivo ou do positivo) é transportada para. a chapa
entrar em máquina, um de cada vez, de acordo com
de impressão; 2. 0 esta imagem é transfenda para
cada cor. Impressoras modernas, entretanto, que
um cilindro da impressora, que dispõe duma super-
dispõem de conjuntos de cilindros perfeitamente
fície de borracha, a blanqueta; 3. 0 a imagem im- coordenados, podem imprimir algumas cores numa
pressa na blanqueta é transferida para o papel. Esse única entrada do papel. Exemplo: para uma carta
mecanismo acha-se esquematizado na figura 131. em seis cores, uma impressora, com três conjuntos,
Quem primeiro empregou o método indireto, só precisa que o papel entre em máquina duas
como alternativa do método puramente litográfico, vezes.

137
Apêndice
A . Coordenação e divulgação cartográficas b) Coordenar os planos e programas estabele-
cidos no campo da cartografia, pela Organização
das Nações Unidas e as instituições especializadas,
Aa. O papel das Nações Unidas considerando os trabalhos pelas diversas organi-
zações intergovernameutais e não governamentais,
Foi depois da I Guerra Mundial que se veri-
e relatar o assunto ao Conselho, por ocasião de uma
ficaram as primeiras tentativas para uma coorde-
nação dos programas cartográficos nacionais. Acon- das suas sessões ulteriores;
teceu, entretanto, após a II Guerra Mundial, que c) Estabelecer uma estreita cooperação com
se chegou a um reconhecimento da necessidade de os órgãos cartográficos dos governos dos Países
coordenar, nos planos regional e mundial, os ór- Membros interessados 112.
gãos cartográficos existentes. Essa tomada de posição
A relação dos especialistas é a seguinte:
chegou ao ponto de reconhecer a conveniência de
incrementar os trabalhos de topografia e de carto- I. Especialistas (constituintes da Comissão)
grafia em imensas regiões do mundo, bem como
General R. LI. Brown, do Reino Unido;
de aperfeiçoar as cartas básicas nos países mais
desenvolvidos. Sr. Christóvam Leite de Castro, do Brasil;
Auscultando esses sentimentos, encontrava-se, Sr. Robert H. Randall, dos Estados Unidos;
àquele tempo, a Organização das Nações Unidas, Sr. W. Schermerhorn, da Holanda;
através do Conselho Econômico e Social, ao oferecer
aos Países Membros a possibilidade de coordenar Sr. Robert Verlaine, da Bélgica.
aqueles trabalhos. 2. Secretário da ONU
Foi quando, em 1947, o Secretário Geral re-
cebeu comunicações sobre o assunto, dos represen- Sr. Henrí Laugier, Secretário Geral suplente,
tantes do Brasil, da Dinamarca, da França e dos encarregado do Departamento de Assuntos Sociais;
Estados Unidos, além de outras organizações, como Sr. Gustavo Durao, Chefe da Seção de Atua-
a UNESCO, o IPGH, o Conselho Internacional lidades Culturais do Departamento de Assuntos
para a Exploração do Mar e a União Geográfica Sociais.
Internacional. 3. Representantes das Instituições Especia-
Como não poderia deixar de acontecer, houve, lizadas e das Organizações Internacionais Governa-
na ONU, muitos debates em torno do assunto, e, mentais e não Governamentais:
por fim, resolvido que o Secretário Geral convo-
casse uma reunião de especialistas em assuntos car- a) Instituições Especializadas:
tográficos, no sentido da preparação de um plano Sr. L. H. Harrison, FAO;
de trabalho para a realização da resolução. Sr. S. V. Arnaldo, UNESCO;
Finalmente, a Resolução 131 do Conselho Eco- Sr. E. R. L. Peake, OA Cl;
nômico e Social, de 19 de fevereiro de 1948, aprovou Sr. G. Hill, OMS;
as seguintes recomendações: b) Organizações Intergovernamentais:
I Aos Países Membros, incrementar a exe- Almirante C. L. Nichols, Bureau Internacional
cução rigorosa de levantamentos e de mapas do de Hidrografia;
Território Nacional;
Sr. S. W. Boggs e Sr. A. C. Simonpietri, IPGH.
II Ao Secretário Geral, tomar as necessárias
medidas, no limite das disponibilidades orçamen- c) Organizações não Governamentais:
tárias, no sentido de: Comandante H. W. Hemple, UGGI e Conselho
a) Secundar os esforços, neste sentido, auxi- Internacional das Uniões Cientificas;
liando o intercâmbio de informações técnicas, e, Comandante O. S. Reading, Sociedade Inter-
por outros meios, sobretudo no preparo de um nacional de Fotogrametria;
estudo sobre os métodos modernos de mapeamento
e a elaboração de normas internacionais uniformes
sobre o assunto; 112 NAÇOES UNIDAS. La Cartographie Moderne.

139
Sr. M. S. Wright, Congresso Americano de genharia, toda desenhada, gravada e impressa na
Geodésia e Cartografia. Alemanha. Louvável, sem dúvida, foi esse empreen-
dimento, numa época em que a fotogrametria dava,
4. Observador do Governo Brasileiro: em nosso País, os primeiros passos 114 • Naturalmente,
Sr. Allyrio H. de Mattos. era uma carta ainda precária, uma vez que os va-
zios não levantados eram enormes, àquela época.
5. Secretário da Comissão:
Incomparavelmente superior foram as folhas elabo-
Sr. Te-Lou Tchang, Seção de Atividades Cul- radas e impressas pela American Geographical
turais do Departamento de Assuntos Sociais. Society of New York, entre 1928 e 1940.
O relatório apresentado pela Comissão de Espe- Depois da li Guerra Mundial, iniciou-se a for-
cialistas é muito bem feito, e aborda todos os assun- mação duma mentalidade cartográfica no Brasil,
tos de interesse cartográfico. fortalecida pelos seguintes fatos: a) a comprovada
Depois de um Preâmbulo, compreendendo um experiência e boa qualidade da produção topo-
Estímulo e uma Coordenação, trata do seguinte: gráfica do Serviço Geográfico do Exército, b) a
Capítulo I - Necessidade da Elaboração de Mapas; expressiva atuação do Conselho Nacional de Geo-
Capítulo 11 - A Situação do Mapeamento no grafia (IBGE) , ao iniciar, a partir de 1945, a Rede
Mundo (cartografia topográfica e levantamentos Geodésica de Apoio Fundamental, c) a cobertura
geodésicos); Capítulo UI - Organizações Existentes fotográfica trimetrogon, de grande parte do nosso
de Cartografia e Coordenação (Desenvolvimento território, executada, em plena guerra, pelos Estados
dos órgãos Nacionais e Estudo sobre as Organiza- Unidos, d) a presença, no Brasil, do Inter American
ções Internacionais); Capítulo IV - Reuniões Re- Geodetic Survey (IAGS) , órgão do governo ameri-
gionais (com uma Recomendação); Capítulo V - cano, prestando valiosa cooperação técnica às en-
Bureau Cartográfico das Nações Unidas (com out~a tidades cartográficas brasileiras, e) o desempenho
Recomendação, Atribuições do Bureau, Anuáno da empresa de aerolevantamento Cruzeiro do Sul,
da Situação Cartográfica Mundial, ~éto~os C~rto­ em substituição à, então, Condor, que, até o iní-
gráficos Modernos, Normas lnternacwnats Umfor- cio da guerra, era desenvolvida por capital alemão,
mes, Organizàção do Bureau); Capítulo VI - f) o surgimento de novas empresas de aerolevanta-
Grupo de Usuários (com a terceira Recomendação); mento, g) a constituição da Sociedade Brasileira
Capítulo VII - Exame Periódico (com ~ quarta de Cartografia, dando início à realização de Reu-
Recomendação), Distribuição (com a qumta Re- niões de Consulta sobre Cartografia (transformadas,
comendação); Capítulo VIII - Resumo das Reco- a partir de 1963, em Congressos Brasileiros de Carto-
mendações. grafia), h) a criação de uma comissão de normas
Quase toda a atividade cartográfica das Nações cartográficas na Associação Brasileira de Normas
Unidas, no mundo, é oriunda do Relatório daquela Técnicas (ABNT), composta de representantes dos
Comissão, visando sempre a um estímulo e a uma diversos órgãos cartográficos e afins, para o estudo
coordenação constantes. Inúmeras Conferências Re- e apresentação de normas cartográficas.
gionais já foram realizadas (a última foi na cidade Urgia, como se vê, uma ação da parte do Go-
do México, em 1979), mas a que mais de perto verno Federal, em favor de uma coordenação, a fim
nos tocou foi, sem dúvida, a Conferência Técnica de ser organizada e intensificada a produção topo-
das Nações Unidas sobre a Carta Internacional do gráfica sistemática básica do território brasileiro.
Mundo ao milionésimo, que se realizou em Bonn,
de 3 a 22 de agosto de 1962, em que o Brasil A c. Diretrizes e bases da cartografia
participou ativamente 113 e, sobretudo, devido ao
fato de que esta Carta, através das suas 46 folhas,
brasileira
tem imensa significação num país das dimensões Em 1967, no governo do Presidente Castelo
colossais do nosso. Branco, foi promulgado o Decreto-Lei n.O 243 115
fixando as diretrizes e bases da cartografia brasileira,
Ab. Formação de uma mentalidade cujas atividades seriam levadas a efeito através do
cartográfica Sistema Cartográfico N acionai, constituído pelos
órgãos nacionais, públicos e privados, que tivessem,
A preocupação de dispor-se de uma carta bá- por atribuição principal, a execução de trabalhos
sica, cobrindo todo o nosso espaço territorial, re- cartográficos ou de atividades correlatas.
sultou, já em 1922, na edição da Carta do Brasil O art. 3. 0 do capítulo III institui a Comissão
em I: I 000 000, obra admirável do Clube de En- de Cartografia, "incumbida de coordenar a execução

114 Referimo·nos ao levantamento aéreo de autoria do


113 CONFERENCIA TÉCNICA DAS NAÇõES UNIDAS
SOBRE A CARTA INTERNACIONAL DO MUNDO AO Serviço Geográfico do Exército, relatado no tópico 2. 8.
MILIONÉSIMO, 1962, BONN. Especificações da Carta ... 115 No Apêndice 2, da 2.• edição do Dicionário Carto·
(CIM). gráfico. esse Decreto-Lei.

140
da Política Cartográfica Nacional", e o art. 4. 0 - Especiais, quando registram informações
determinou os órgãos de representação dessa Comis- específicas, destinadas, em particular, a uma única
são, nestes termos: "A Comissão de Cartografia a classe de usuários;
que se refere o artigo anterior, além de represen- - Temática~. quando apresentam um ou mais
tai'lte do Secretário-Geral do Conselho N acionai fenômenos específicos, servindo a representação di-
de Geografia do Instituto Brasileiro de Geografia mensional apenas para situar o tema.
e Estatística, será integrado por membros designados
§ 2. 0 - As fotocartas, mosaicos e outras formas
pelas seguintes entidades:
de representação são admitidas subsidiária e acesso-
Ministério da Marinha, riamente.
Ministério da Guerra,
Ministério da Aeronáutica, Capítulo V - Da Cartografia Sistemática.
Ministério da Agricultura, Art. 7. 0 - A Cartografia Sistemática tem por
Ministério das Minas e Energia. e fim a representação do espaço territorial brasileiro
Associação Nacional de Empresas de Aero- por meio de cartas, elaboradas, seletiva e progTes-
fotogrametria". sivamente, consoante prioridades conjunturais, se-
gundo os padrões cartográficos terrestre, náutico e
O parágrafo 2. 0 do mesmo artigo determinava, aeronáutico.
como presidente da Comissão, o representante do
Art. 8. 0 - A Cartografia Sistemática Terrestre
Conselho Nacional de Geografia.
Básica tem por fim a representação da área terrestre
Em 1975, o Decreto n. 0 76 086 alterou a cons- nacional, através de séries de cartas gerais contínuas,
tituição da Comissão de Cartografia, pelo qual homogêneas e articuladas, nas escalas-padrão abaixo
passava esta comissão "para o âmbito da Secretaria discriminadas:
de Planejamento da Presidência da República ... ",
em substituição à Secretaria-Geral do IBGE. Série de I: I 000 000
Série de I :500 000
A outra alteração se refere à inclusão, na Co- Série de 1:250 000
missão de Cartografia, do Estado-Maior das Forças Série 1:100 000
de
Armadas, bem como da Fundação Instituto Bra- Série de 1:50 000
sileiro de Geografia e Estatística- IBGE. Série de I :25 000
Ainda, quanto à Presidência da Comissão, o
art. 2. 0 instituiu: "A Comissão será presidida pelo Parágrafo único - As senes de cartas das es-
Secretário-Geral da Secretaria de Planejamento da calas-padrão obedecem às normas estabelecidas de
Presidência da República que, nos seus impedi- acordo com o presente Decreto-lei.
mentos, será substituído pelo Presidente do IBGE". No Capítulo VIII acham-se discriminados os
Entretanto, no ano seguinte, um novo Decreto, órgãos aos quais compete o estabelecimento das
o de n. 0 78 378, de 6 de setembro de 1976, viria Normas Técnicas acima referidas.
alterar, outra vez, a referida Comissão: "Art. 1. 0 A Quanto às atividades do aerolevantamento, o
Comissão de Cartografia de que trata o artigo 1. 0 assunto está regulamentado pelos Decretos-leis n.o•
do Decreto n. 0 76 086, de 6 de agosto de 1975, passa I 177 (de 21-06-71) e 71 267 (de 25-10-72), bem
a ser integrada também por um representante do como pelo Decreto n. 0 75 779, que altera disposi-
Ministério do Interior, designado na forma indi- ções do Decreto-lei anterior.
cada para os demais membros". Existem, também, outras Portarias do Estado-
De grande relevância, consoante os assuntos Maior das Forças Armadas e do Ministério da
de que tratam, transcrevemos dois capítulos do Aeronáutica, que tratam das atividades do aerole-
Decreto-lei n. 0 243: "Capítulo IV - Da Represen- vantamento, determinando o uso de documentos
tação do Espaço Territorial (na íntegra). cartográficos, definindo instruções reguladoras dos
aerolevantamentos, etc.
Art. 6. 0 O espaço territorial brasileiro, para
os efeitos do presente Decreto-lei, é representado
através de cartas e outras formas de expressão Ad. Sistema Cartográfico Nacional
afins:
§ 1. 0 - As cartas - representação plana, grá- Fazem parte deste sistema os órgãos nacionais,
fica e convencional - classificam-se: públicos e privados que executem, prioritariamente,
a) quanto à representação dimensional, em: trabalhos cartográficos ou atividades afins.
- Planimétricas;
- Plano-altimétricas. Adl. 6rgãos federais de atividades
cartográficas prioritárias
b) quanto ao caráter informativo, em:
- Gerais, quando proporcionam informações São quatro, a saber: a Fundação Instituto Bra-
genéricas, de uso não particularizado; sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que rea-

141
liza operações de triangulação fundamental (l.a Empresas Nucleares Brasileiras S. A.
ordem), de poligonação, de nivelamento de alta (NUCLEBRAS)
precisão, de astronomia geodésica, de geodésia a Instituto Brasileiro do Café (IBC)
satélite, de apoio terrestre, reambulação e de cál- Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Flo·
culos geodésicos, destinados às operações cartográ- restal (IBDF)
ficas para a edição de originais diversos, como cartas
Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE)
topográficas e geográficas, e mapas especiais e
temáticos; a Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) , Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH)
do Ministério do Exército, que tem como meta Instituto Nacional de Colonização e Reforma
realizar operações de poligonação, de nivelamento Agrária (INCRA)
de alta precisão, de apoio terrestre, reambulação, Observatório Nacional
destinados às operações cartográficas para a edição Petróleo Brasileiro S. A. (PETROBRAS)
de cartas topográficas, além de cartas militares e Portos Brasileiros S. A. (PORTOBRAS)
outros levantamentos de interesse do Ministério do
Superintendência do Desenvolvimento da Ama-
Exército; a Diretoria de Hidrografia e Navegação zônia (SUDAM)
(DHN), do Ministério da Marinha, que tem como
objetivo a realização de operações de triangulação Superintendência do Desenvolvimento do
costeira, de gravimetria e geomagnetismo., de son- Centro-Oeste (SUDECO)
dagens e de trabalhos de gabinete, destinados às Superintendência do Desenvolvimento do Nor-
operações cartográficas para a edição de cartas deste (SUDENE)
náuticas; a Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Superintendência do Desenvolvimento da Re-
Vôo (DEPV), do Ministério da Aeronáutica, que gião Sul (SUDESUL)
visa a atividades astro-geodésicas, topográficas e de
gabinete, destinadas às cartas aeronáuticas. Ae. órgãos estaduais
Ad2. 6rgãos federais de atividades cartogrdficas afins Também no plano estadual há entidades con·
tratantes de serviços cartográficos:
Além dos órgãos que, prioritariamente, produ- Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG)
zem documentos cartográficos em consonância com
o Art. 4. 0 do Decreto-lei n. 0 243, que acabamos de Central de Comandos Mecanizados de Apoio
descrever no tópico anterior, há, no Brasil, inúmeras à Agricultura (Unidade de Geografia e Cartogra-
organizações federais, que, não tendo a primazia fia) CEMAPA RS
da produção de cartas e mapas, têm a capacidade de Centro de Pesquisas Agropecuárias dos Cer-
organizar, de acordo com as normas de que trata o rados
Capítulo VIII do Decreto-lei n. 0 243, o mapeamento Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) - BA
de áreas do Território Nacional, do interesse desses Centro de Produção da Universidade do Estado
órgãos, mediante convênio com as organizações do Rio de Janeiro (CEPUERJ)
governamentais ou privadas, de produção carto- Comissão da Lagoa Mirim (CLM) - RS
gráfica prioritária. As principais organizações con- Comissão de Desenvolvimento do Estado de
tratantes são as seguintes: Goiás (CODEG)
Centrais Elétricas de F urnas Companhia Estadual de Energia Elétrica
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A. (CEEE) - RJ
(Eletronorte) Departamento Autônomo de Estradas de Roda·
Comissão Brasileira Demarcadora de Limites gem (DAER) - RS
(CBDL) Departamento de Aerofotogrametria e Fotoin-
Companhia de Desenvolvimento do Vale do terpretação (DAF) ES
São Francisco (CODEVASF) Departamento de Aguas e Energia Elétrica de
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais São Paulo (DAEE)
(CPRM) Departamento de Estradas de Rodagem
Departamento N acionai de Aguas e Energia (DER) PR
(DNAE) Departamento de Recursos Minerais (DRM),
Departamento Nacional de Obras Contra as da Secr. de Est. de Ind., Com. e Turismo - RJ
Secas (DNOCS) Departamento de Recursos Naturais (SUDEC),
Departamento Nacional de Obras e Sanea- da Div. de Geog. e Fotoint.
mento (DNOS) Empresa Metropolitana de Planejamento da
Departamento N acionai da Produção Mineral Grande São Paulo (EMPLASA)
(DNPM) Fundação Instituto de Terras e Cartografia
Empresa Brasileira de Telecomunicações (FITC) - PR
(EMBRATEL) Fundação João Pinheiro- MG

142
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) SP A Sociedade Fotogramétrica Internacional pro-
Instituto de Desenvolvimento Urbano e Re- move os Congressos Internacionais de Fotogra-
gional (INDUR) GO metria, igualmente cada quatro anos. Foram os
Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) - MG seguintes os últimos congressos: em 1968, em Lau-
sanne; em 1972, em ótaua; em 1976, em Helsinque;
Instituto Florestal- SP
em 1980, em Hamburgo; em 1984, no Rio de Ja·
Instituto Geográfico e Geológico (IGG) SP neiro.
Instituto Riograndense do Arroz - RS Outro congresso de inten:sse cartográfico é o
Superintendência do Desenvolvimento do Congresso Internacional de Topógrafos, promovido
Ceará (SUDEC) pela Federação Internacional de Topógrafos. Suas
últimas reuniões: em 1968, em Londres; em 1971,
Af. órgãos nacionais privados em Wiesbaden; em 1974, em Washington; em 1977,
em Estocolmo; em 1980, em Montreux.
Existem no Brasil, atualmente. dezenas de em-
O Instituto Panamericano de Geografia e His-
presas privadas que se dedicam, prioritariamente, a
atividades cartográficas não sistemáticas, em escalas tória (IPGH) , de âmbito continental, promove,
grandes, visando projetos e obras de engenharia, através da sua Cbmissão de Cartografia, as Reu-
prospecção, geologia, mineração, urbanismo, etc., niões Panamericanas de Consulta sobre Cartografia.
operando também no mapeamento topográfico sis- Estas reuniões se verificaram ultimamente: em 1965,
temático quando contratadas por órgãos do Go- na Guatemala; em 1969, em Washington; em 1973,
verno. Muitas destas empresas se acham reunidas na no Panamá, em 1977, em Quito; em 1981, em
Associação Nacional de Empresas de Aerolevanta- Santiago.
mento (ANEA) , que é o órgão de representação
junto à Comissão de Cartografia (COCAR), de Agl. Sociedade Brasileira de Cartografia
que trata o Decreto-lei n. 0 243.
As principais empresas que operam no Terri- Em 1958, uma mentalidade cartográfica se
tório Nacional são: achava em franca evolução, conforme salientamos
Aerodata S. A., PR no tópico 14.2. Um dos mais importantes impulsos
Aerofoto Cruzeiro do Sul S. A., RJ no sentido de prestigiar a cartografia foi a criação,
naquele ano, da Sociedade Brasileira de Carto-
Aeromapa Brasil S. A., SP
grafia, que, a partir de então, através das reuniões
Aerosul S. A., PR de consulta dos Congressos e dos seminários e sim-
Aerofoto S. A., MG pósios, muito tem contribuído para o prestígio que
Carto-gráfica Cruzeiro do Sul S. A., RJ hoje desfruta a cartografia brasileira.
Conesplan S. A., Pl: Depois das Reuniões de Consulta sobre Car-
Coplag, SP tografia, realizadas entre 1985 e 1960, em São
Embrafoto, MG Paulo, Curitiba e Porto Alegre, a partir de 1963
Geocarta S. A., RJ até hoje foram realizados nove Congressos Brasi-
Geofoto S. A., R] leiros de Cartografia. A relação desses conclaves é
Geomapa Fotogrametria S. A., RJ a seguinte:
Hidroservice 1. 0 Em Salvador 1963; 2. 0 no Rio de Ja-
neiro 1965; 3. no Recife - 1967; 4. 0 em Belo
0
Lasa S. A., RJ
Horizonte - 1969; 5.o em Brasília 1971; 6. 0 no
Mapservice, SP Rio de Janeiro 1973: 7.0 em São José dos Campos
Projetec, PE - 1975; 8.0 em Fortaleza- 1977; 9. 0 em Curitiba -
Prospec S. A., R] 1979; 10. 0 em Brasília - 1981; 11. 0 no Rio de Ja-
Terrafoto S. A., SP neiro 1983.
No sentido de projetar e realçar o interesse e
Ag. Associações cartográficas o estímulo da cartografia no Brasil, vale registrar
o esforço da Sociedade Brasileira de Cartografia
No plano internacional, a entidade mais re- com a instituição do Prêmio Ricardo Franco, des-
presentativa dos estudos e atividades cartográficas tinado a estimular e galardoar trabalhos técnicos
é a Associação Cartográfica Internacional (ACI), ou científicos, ou ainda contribuições extraordi-
que se reúne de quatro em quatro anos, durante os nárias ao desenvolvimento da cartografia ou ao
Congressos Internacionais de Geografia, promovido mapeamento nacional. Este prêmio foi inicialmente
pela União Geodésica e Geofísica Internacional. concedido em 1963, e já atingia, em 1979, vinte
As últimas reubiões da ACI foram em 1968, premiados.
em Nova Delhi; em 1972, em Montreal; em 1976, Outra atividade de louvor é a publicação da
em Moscou; em 1980, em Tóquio. Revista Brasileira de Cartografia.

143
Bibliografia
OI - ADONIAS, Isa. Curso de conhecimentos e 18 - BULLETIN. Washington, Army Map Ser-
informações sobre cartografia. Rio de Ja- vice, n. 34, 1945.
neiro, 1968.
19 - BULLETIN D'INFORMATION. Paris,
02 - ADVANCED maps and aerial photograph Commission de Toponymie de I'IGN,
reading. 1944. n. 35, 1978.

03 - ALINHAC, G. Rédaction cartographique. 20. - CLARK, William R. Explorers of the world.


Paris, IGN, 1957. 1970.
21 - CONFERí.NCIA NACIONAL DE GEO-
04 - AMERICAN HIGHWAYS, out. 1945. GRAFIA E CARTOGRAFIA, I., 1968,
05 - AMERICAN SOCIETY OF PHOTOGRAM- Rio de Janeiro. Comunicações (sobre car-
METRY. Manual of photogrammetry. tografia), Rio de Janeiro, IBGE, 1968.
Falls Church, 1966. 22 - CONFERí.NCIA TÉCNICA DAS NAÇOES
06 - ARMY MAP SERVICE. Plastic relief maps. UNIDAS SOBRE A CARTA INTER-
Washington, 1953. NACIONAL DO MUNDO AO MILIO-
NÉSIMO. Especificações da Carta Inter-
07 - AROUND the world. London, 1969. nacional do Mundo ao Milionésimo (CIM).
Rio de Janeiro, IBGE, 1970.
08 - BAKKER, Múcio P. Ribeiro de. Cartografia;
noções bdsicas. Rio de Janeiro, DHN, 1965. 23 - CORTESÃO, Armando. Cartografia portu-
guesa antiga. Lisboa, Comissão Executiva
09 - BARBOSA, Rodo1pho Pinto. Atlas Nacional das Comemorações do Quinto Centenário
do Brasil. In: CONFERí.NCIA NACIO- da Morte do Infante D. Henrique, 1960.
NAL DE GEOGRAFIA E CARTOGRA-
FIA, 1., 1968. Rio de Janeiro [Trabalhos 24 - CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos
apresentados] Rio de Janeiro, 1968, v. 6. velhos mapas. Rio de Janeiro.
10 - BARBOSA, Rodolpho Pinto. A questão do 25 - DEACON, G. E. R. Oceans: an atlas-history
método cartográfico. Revista Brasileira de of man's exploration of the deep. Londres.
Geografia, Rio de Janeiro, 29 (4) : 117-23,
out.fdez. 1967. 26 - DEETZ, Charles H. Elements of map projec-
tion. 1945.
li - BARBOSA, Rodolpho Pinto. O sistema de
atlas complexo de planejamento do Brasil. 27 - DIBO, Dulcídio. Binômio globo-mapa. Bo-
Revista Brasileira de Geografia, Rio de letim Geográfico, Rio de Janeiro, 25 (193):
Janeiro, 39 (3) :144-50, jul.jset. 1977. 515-7, 1966.

12 - BASTOS, Zenóbia P. S. M. Organização de 28 - DIBO, Dulcídio. Carta selenogrdfica. 1962.


mapotecas. Rio de Janeiro, 1978. 29 - DIBO, Dulddio. Curso sobre relações Terra/
13 - BOLETIM GEOGRAFICO. Rio de Janeiro, Sol. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro.
IBGE, v. 29, n. 215, mar.fabr. 1970. 26 (200):69-78, set.f out. 1967; 28 (210) :
76-93, maiojjun. 1969.
14 - BRASIL. Estado-Maior do Exército. A carta
do Brasil, Rio de Janeiro, 1901. 30 DIBO, Dulcídio. Geografia do mundo con-
temporâneo. 1981.
15 - BRASIL. Secretaria de Planejamento. Car-
tografia e aerolevantamento: legislação, 31 - DIBO, Dulcídio. Significado geográfico da
Brasília, 1981. delimitação da terra. Boletim Geográfico,
Rio de Janeiro, 26 (198) :55-77, maiojjun.
16 - BRICKER, Charles. Landmarks of map- 1967.
making. 1968.
32 - ESPARTEIRO, Antônio Marques. Dicionário
17 - BROWN, Lloyd A. The story of maps. 1951. ilustrado de Marinha. Lisboa, 1960.
33 - ESPARTEL, Lelis. Curso de topografia. 1969. 52 - KARTOGRAPHISCHE NACHRICHTEN.
Bonn, fev. 1968.
34 - ESTADOS UNIDOS. Department of Defense.
Glossary of mapping charting and geodetic 53 - KORANYI, João. Dicionário de fotografia e
terms. Washington, 1973. fotoquímica. 1980.

ESTADOS UNIDOS. Department o f the 54 LAMING, Lionel. L'Astronautie. Paris, 197l.


35
Army. Map compilation, calor separation 55 - LANGER, Rudolf. O desenhista-cartógrafo.
and revision, Washington, 1962. Rio de Janeiro, 1953.
36 - ESTADOS UNIDOS. Department o f the 56 - LEGAULT, Adrian R. et alii. Surveying; and
Army, the Navy and the Air Force. Carto- introduction to engineering measurements.
graphic aerial photography, Washington, Eng1ewood Cliffs, 1956.
1956.
57 - LIBAULT, André. La cartographie. Paris,
37 - ESTADOS UNIDOS. Geological Survey. 1962.
Maps for America, Washington, 1979. 58 LIBAULT, André. Geocartografia. São Paulo,
38 - FERREIRA, Aurélio B. Holanda. Novo di- 1975.
cionário da língua portuguesa. Rio de 59 - LOBECK, Armin K. Things maps don't tell
Janeiro, 1975. us. 1957.
39 - FRACCARO, P. Opuscula-scritti di topo- 60 - MENDONÇA, Renato. O português do
grafia. Brasil: origens, evolução, tendências. Rio
de Janeiro, 1936.
40 - GOMES, F. Araujo; HELLUY, Hâmida R.
Manual de arquivo e documentação. Rio 61 MILLER, O. M. A conformai map profection
de Janeiro, 1976. for the Americas. 1941.
41 - GREENWOOD, David. Down to earth. 62 - MITCHELL, Hugh C. Definitions of terms
used in geodetic and other surveys. Wash-
42 - GUERRA, A. Teixeira. Dicionário geoló-
ington, 1948.
gico-geomorfológico. 5. ed., Rio de Janeiro,
IBGE, 1978. 63 - MONKHOUSE, F. J. Maps and diagrams.
Londres, 1952.
43 - HAGGETT, Peter. Geography, a modern
synthesis. 1979. 64 - NAÇõES UNIDAS. La cartographie mo-
derne. Nova Iorque, 1949.
44 - HINKS, Arthur R. Maps 8c Survey.
65 NASA. Skylab earth resources data catolog.
45 - IBGE. Carta do Brasil ao milionésimo. Rio Springfield, Va., USA, 1974.
de Janeiro, 1960.
66 NUNES, José de Sá. Toponímia brasílica.
46 - IBGE. Catálogo de tipos. Rio de Janeiro, Revista Brasileira de Geografia, Rio de
1952. Janeiro, 1J (I) :102-22, jan.Jmar. 1951.
47 - IBGE. Divisão territorial do Brasil: relação 67 - OLIVEIRA, Cêurio de. Dicionário cartográ·
de municípios e distritos em 1-1-1979; fico. Rio de Janeiro, IBGE, 1980, 1983.
apêndice com atualizações até 31-12-1979.
Rio de Janeiro, 1980. 68 - OLIVEIRA, Cêurio de. Elaboração de car-
tas; problemas inerentes à elaboração e
48 - IBGE. fndice dos topônimos da Carta do preparo de cartas. In: CONFERtNCIA
Brasil ao milionésimo. Rio de Janeiro, NACIONAL DE GEOGRAFIA E CAR-
1971. TOGRAFIA, 1., 1968, Rio de Janeiro
49 - INSTITUT GtOGRAPHIQUE NATIO- [Trabalhos apresentados] Rio de Janeiro,
NAL. Atlas des formes du relief. Paris, IBGE, 1968, v. 4.
1956. 69 - OLIVEIRA, Cêurio de. A história dos mapas
50- INTERNATIONAL CARTOGRAPHY AS- do Brasil. In: ENCICLOPÉDIA FATOS 8c
SOCIATION. Dicitionnaire multilingue .fOTOS, Rio de Janeiro, n. 60, 1967.
de termes tecniques cartographiques. Paris, 70 - OLIVEIRA, Cêurio de. Os mapas em iso-
1973. linhas. Revista Brasileira de Geogmfía,
Rio de Janeiro, 30 (1) :92-7, jan.;mar. 1968.
51 - INTERNATIONAL CARTOGRAPHIC AS-
SOCIATION. Glossary of terms in com- 71 - OLIVEIRA, Cêurio de. Notas sobre carto-
puter assisted cartography. Paris, 1980. grafia antiga. Revista Brasileira de Geo-

146
grafia, Rio de Janeiro, 33 (1) :41-52, jan.j 80 - REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA.
mar. 1971. Rio de Janeiro, IBGE, v. 29, n. 4, out.fdez.
1967; v. 30, n. I jan.jmar. 1968; v. 33,
72 - OLIVEIRA, Cêurio de. Origens psicossociais n. I, jan.jmar. 1971; v. 39, n. 3, jul.fset.
dos topônimos brasileiros. Boletim Geo- 1977.
gráfico, Rio de Janeiro, 29 (215) :61-70,
mar.jabr. 1970. 81 - RIMBERT, Sylvie. Leçons de cartographie
thématique. 1968.
73 - OLIVEIRA, Cêurio de. As pesquisas e os
estudos foto-geoeconômicos. 1968. 82 - RUIZ CADALSO, Alejandro. Historia ge-
neral de las ciencias geodésicas. Havana,
74 - OLIVEIRA, Maria de Lourdes C. de; ROSA, 1941.
José Lázaro de S. Teoria e prática de
microfilmagem. Rio de Janeiro, 1976. 83 - SCROSOPPI, Horácio. Curso elementar de
geografia geral. Rio de Janeiro, 1927.
75- ONTARIO INSTITUTE OF CHARTERED
CARTOGRAPHERS. The cartographer. 84 - SKELTON, R. A. Decorative printed maps
1965. (of the 15th to 18th centuries). 1967.
76 - THE OXFORD ATLAS. Oxford University 85 - SURVEYING AND MAPPING. Falls
Press, 1956. Church, USA, jul.jago.fset. 1946.

77 - PAUL, S·erge. Télédétection et stéréophoto- 86 - TRABALHOS TÉCNICOS. Rio de Janeiro,


grammétrie dans les sciences de la terre, Diretoria de Geodésia e Cartografia, 1951-
1973. 1985.

78 - RAISZ, Erwin Josephus. General cartography. 87 - TRICART, Jean. Travaux pratiques de géo-
graphie.
2. ed., New York, 1948.
88 - VIDAL, Alfredo. Cartografia.
79 - k.EVIEW OF GEODETIC AND MAPPING
POSSIBILITIES. Frankfurt. Cooperative 89 - WINTERBOTHAM, H. S. L. A key to maps.
Society for Geodesy and Cartography, 1957. 1947.

147
,.#

lndice analítico
ABNT 31 Carta planímétrica 36, 94
Abreviaturas ll8 Carta portulano 21
Aerotriangulação I 04 Carta topográfica 14, 15, 28, 33, 34, 41, 42, 67,
Alidade 18, 23 68, 94
Altimetria ll2, 113, II4, 115, ll6, ll7, 118, 119, Carta urbana 31
120 Cartografia 14, 19, 21, 25, 27, 131
Anaxímenes 38 Cartografia americana 131
ANEA 29 Cartografia automatizada 14, 68, 77, 88, 89, 113,
Antichton 26 130
Antimeridiano 54, 67 Cartografia babilônica 17
Antropofagia 25, 26 Cartografia brasileira 25, 27, 28, 77
Apian (ou A piano), Peter 45, 129 Cartografia cadastral 33
Apollo 87 Cartografia chinesa 17, 18
Arco voltaico 136 Cartografia egípcia 18, 19
Aristóteles 38 Cartografia francesa 22, 23, 24, 25, 36, 93, 112
Army Map Service 29 Cartografia italiana 19
Arquivos (ou arquivamento) 72, 73, 77 Cartografia medieval 19, 20
Aspecto do solo llO Cartografia náutica 20, 21, 27
Associação Cartográfica Internacional 13 Cartografia renascentista 129
Associação Geodésica Internacional 93 Cartografia romana 19
Astrolábio 25, 52 Cartografia temática 32, 33
Astronomia 19 Cartografia topográfica 24, 25, 38
Atlas 36, 37, 38 Cartógrafo 13, 14, 15, 21, 29, 30, 38, 48, 60, 81, 82,
Atlas complexo 37 109, ll2, 125, 126
Atlas de referência 37 Cassini 22, 23, 109
Atlas Nacional do Brasil 37 Catalogação 73, 74, 75
Balão 87, 100 Centrífuga 130, 131, 136
Balestilha 52 Chapa gravada 136
Behaim 38 Chapa úmida (ou de colódio) 131
Blaeu 26, 45 Círculos polares 52
Blocos-diagramas 33, 117, 118, ll9 Classificação de cartas 31
Blulaine (blueline) 132 Classificação de escalas 46
Boneco 132 Coast and Geodetic Survey 28, 29
Bouguer 22 Cobertura fotográfica 101, 102
Buraco 102 Coignet M. 21
Bússola 17, 21, 23 Colagem - V. Montagem 133
Cadastro 19, 33 Coleta (de documentos) 79, 124
Câmara aérea 100, 101 Comissão da Carta Geral do Brasil 27, 28
Câmara multiespectra1 85 Compilação 79, 124
Carrinho (de gravação) 133, 134 Comunicações (sistemas) 111
Carta 31 Conselho Nacional de Geografia 28
Carta Aeronáutica Mundial 29, 42, 65 Controle horizontal (e vertical) 96
Carta básica 35 Controle terrestre 97, 98
Carta cadastral 31, 33 Coordenação cartográfica 139
Carta de marear 21 Coordenadas geográficas 27, 28, 53
Carta geográfica 28, 36 Coordenatógrafo 68, 69
Carta Geral do Império 27 Copérnico, N. 51
Carta Internacional do Mundo (GIM) (ou Carta Cores hipsométricas 114, 115
do Brasil ao milionésimo) 31, 36, 41, 43, 44, 68, Cosmógrafo 21
69, 75, 80 Côvado 18
Carta Pisana 20 Cronômetro 52, 53

149
Croqui 32 Hachuras 30
Cursos d'água 44 Harrison, J. 52
Curvas de nível 112, 113, 114, 115 Hidrografia 44, 91, 109, 110
Daguerre, L. 83 Hiparco 19
Datum 96 Hodômetro 23
Desenhista - cartógrafo 123, 124 Holmes, W. 84
Desenvolvimento 57, 66 Hondius 26
Diretoria de Hidrografia e Navegação 60, 62, 124 Hora local 54
Diretoria de Rotas Aéreas 29 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 28,
Diretoria de Serviço Geográfico 28, 29, 42, 71 29, 32, 36, 42, 66, 73, 77, 93, 131, 132
Documentação (cartográfica) 26, 28, 7l, 79, 124, Imagem de radar 99, 100, 107
125 Imhof E. 30
Eclíptica 51 Impressão 131, 132, 136, 137
Ecobatfmetro 91 Imprima-se 132, 135
Elipsóide 67, 93 índice de nomes 43
Elipsóide de revolução 93 índice de referência 41
Emenelaus 25 índice de topônimos 43
Equador 46, 52 Jndicopleustes 20
Eqüidistância -de curvas de nível ll4 Informações marginais 43, 4·1
Equinócios 51 Informática 77, 78
Eratóstenes 19, 45 Interpolação ll4
ERTS 87, 88, 89 Intersecção 98
Escala 44, 47, 48, 80 Irradiação 98
Escala gráfica 46, 4 7, 48 lsidoro 20
Esfera terrestre 51, 57 Jsolinhas 33
Espectro 84, 85, 91 Laboratório fotográfico 130, 131
Espectrômetro 85 Lam bert 64, 66
Estereômetro 104, 105 LANDSAT 25, 87, 88, 89
Estereoscopia 104, 105 LASER 84, 89, 91
Estereoscópio 25 Latitude 21, 23, 27, 52, 53
Estrela Polar 52 Laussedat 25
Estripe (strip) 135 Legislação cartográfica 140, 141, 142
Ferrovias 44 Leitura certa 136
F'olha-mãe 125 Leitura de cartas 43, 44
Formatos 40, 81 Letreiros (nomenclatura) 120, 121, 122, 123, 124
Fotoanálise 126 Levantamentos 14, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 27, 45, 93,
Fotocarta 107 94, 95, 96, 97
Fotografia 24 Levantamentos básicos 96
Fotografia aérea 83, 84 Levantamento topográfico 94, 95, 96, 97
Fotogrametria 24, 28, 99, 104 Limites 111
:Fotoíndice 102, 103 Linhas de data 54
F'otointerpretação 107, 108 Litografia 130
Fotolitografia 130 Localidades 111
:Fotoplástico 131, 132 Longitude 23, 27, 52, 53
!<"usos horários 53, 54, 55, 67 Loxodrômia 6
Galileu 52 Magalhães, F. 52
Generalização 15, 76, 123, 125, 126, 127 Mapa 17, 30, 31, 32
Geodésia 18, 19, 22, 23, 24, 45, 77, 91, 93 Mapa das Cortes 27
Geodesista 13 Mapa em alto-relevo 30, ll7, I 18
Geodímetro 91 Mapa-múndi 31
Geografia 14, 15, 38, 76, 87, 89, 90 Mapa municipal 36
Geógrafo 14 Mapa mural 47
Geomorfologia 15 Mapas de síntese 32
Globo 38, 39, 57 Mapas especiais 32
GOES 90 .Mapas gerais 32
Goode, P. 66 Mapas temáticos 32, 33
Gravação 129, 130, 133, 134 Mapeador Temático 88
Greenwich 23, 53 Mapeamento 33, 36
Groma 19 Mapoteca 14, 26, 71, 72, 73, 74, 75, 79
Gutenberg 129 Marégrafo 96, 97

150
Máscaras 134, 135 Portulano 20
Mattos, A. 66 Positivos 136
Meia, P. 20 Prancheta 23, 94, 95
Mercátor 13, 21, 37, 61, 64 Precisão 59, 88, 130, 131
Meridiano central 67, 68 Projeção afilática 63
Meridiano de origem 54 Projeção azimutal 62
Meridianos 21, 22, 51, 52, 59 Projeção cilíndrica 57, 58, 61
Meteorologia 90 Projeção conforme 60
METEOSAT 90 Projeção cônica 57, 58, 64, 65
Método cartográfico 14 Projeção eqüidistante 62
Microfilme 74 Projeção equivalente 60
Minuta 15, 106, 126 Projeção gnomônica 63
Missão austríaca 28 Projeção policônica 65, 66
Modelagem 118, 119 Projeções (cartográficas) 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63,
Montagem (de originais cartográficos) 133 65, 66, 68, 80, 81
Mosaicos 106, 107 Prova de negativos 135
Mouchez 27 Ptolomeu 19, 37, 39, 45, 52, 129
Movimentos da Terra 51, 54 Quadrante 52
Multiplex 25 Quadrícula 60, 61
Münster, S. 45 Quadriculado 133
Navegação portuguesa 21 RADAR 84, 86, 87, 99, 107
Negativos 130, 135 Radiômetros 85
Niepce, N. 83 Reambulação 15, 98
Nível 95 Redução (cartográfica) 48, 127
Nivelamento 96, 97 Referência de nível 96
Nivelamento de primeira ordem 96 Relevo 44
Nivelamento geométrico 96 Relevo sombreado 115, ll6, 132
Nivelamento trigonométrico 96 Reprodução (cartográfica) 129, 130, 132
Nomes, nomenclatura- V. Letreiros 120, 121, 122. Resolução 85, 86, 88, 91, 92
123, 124 Restituição (fotogramétrica) 97, 105, 106, 126, 134
Nunes, P. 19, 21 Retoque 133
Oceanografia 91 Revisão (cartográfica) 126, 127
Ofsete 130, 131, 136, 137 Rodovias 44
ONU 13, 139, 140 Roy, W. 23, 53
Originais (cartográficos) 123 Rumo 64
Ortélio, A. 37, 45, 53, 129 Sagres 21
Ordnance Survey 94 Satélites 25, 91
Ortodrômica 64 Saturno V. 87
Paralelo-padrão 65 Seleção (de documentação) 124, 125
Paralelos 51, 52, 59 Seller, J. 53
Pee1 coat - V. Pilcote 134 Sensor, sensoriamento 14, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89,
Perfil topográfico 116, 117 91, 92
Pesquisas geográficas 89 Separação de cores 132, 133
Picard 126 Séries (cartográficas) 31, 41
Pictomapa 107 Serviço Geográfico do Exército 28, 36, 124 (V.
Pigafetta 52 também Diretoria de Serviço Geográfico)
Pilcote 134 SHORAN 86
Pitágoras 38 Simbologia (cartográfica) I 09
Planejamento (cartográfico) 79, 80, 81, 82 Sistema geodésico brasileiro 93
Planeta 51 SKYLAB 87
Planimetria 94, 109, 110 Solinus 20, 25
Planta da Cidade do Rio de Janeiro 27 SPOT 89, 92
Plantas 27, 31 Sputnik 87
Plastificação (em alto-relevo) ll7, 118 Strip V. Estripe 135
Plataformas 86 Superposições 102
Podômetro 94 Telurômetro 91
Poligonação 95 Teodolito 22, 23, !:15
Poligonal 95 Terra 23, 38, 51, 67, 93, 94
Polistória 19 Terra de Santa Cruz 25
Pontos de controle 120 Tiragem 79, 82

151
Títulos 41 Trópicos 51
Topógrafo 13, 21 Unidade (política ou administrativa) llO, 111
Toponímia 74, 75, 76 UTM 66, 67, 68
T ordesi1has 27 Varredores 85
Transporte (litográfico) 130, 131, 135 Vegetação 11 O
Triangulação 23, 24, 96 Verificação 132, 133, 135
Triangulação radial 105 Wheatstone 25
Trimetrogon 28, 36 Xilogravura 129

152
SE O ASSUNTO É BRASIL,
PROCURE O IBGE
O IBGE põe à disposição da sociedade milhares de informações de natureza estatística
(demográfica, social e econômica), geográfica, cartográfica, geodésica e ambiental, que
permitem conhecer a realidade riSica, humana, social e econômica do País.

VOCÊ PODE OBTER ESSAS PESQUISAS,


. ESTUDOS
,
E LEVANTAMENTOS EM TODO O PAIS

No Rio de Janeiro: PE - Recife - Rua do Hospício, 387 - 411 andar - Boa Vista
Centro de Documentação e Disseminação de 50050-050- Tels.: (081)221-2798 e 231-0811 - Rarna1215
Telex: 811803
Informações - CDDI
Divisão de Atendimento Integrado - DAT AL- Maceió- Rua Tibúrcio Valeriano, 125- Térreo- Centro
Biblioteca Isaac Kerstenetzky 57307-620- Tels.: (082)221-23851326-1754- Telex: 822361
Livraria Wilson Távora
Rua General Cariabarro, 666 SE - Aracaju - Rua do Socorro, 227 - 111 andar - São José
20271-201 - Maracanã - Rio de Janeiro - RJ 49015-300- Tel.: (079)221-3582- Telex: 792276
TeL: (021)284-0402 BA- Salvador- Av. Estados Unidos, 476-411 andar- Comércio
Fax: (021)234-6189 40010-020- Tel.: (071)243-9277- Rarnal28- Telex: 712182
Livraria do IBGE
Sudeste
Avenida Franklin Roosevelt, 146 - loja
20021-120- Castelo- Tel.: (021)220-9147 MG - Belo Horizonte - Rua Oliveira, 523 - 111 andar
30310-150- Tel.: (031)223-0554- Rarnall12- Telex: 312074
Nos Estados procure o
Setor de Documentação e Disseminação de ES - Vitória - Rua Duque de Caxias, 267 - Sobreloja- Centro
Informações • SDDI, da Divisão de Pesquisa 29010-120- Tel.: (027)223-2946- Telex: 272252
Norte SP - São Paulo - Rua Urussuí, 93 - 311 andar- Itaim Bibi
RO- Porto Velho- Rua Tenreiro Aranha, 2643 -Centro 04542-050- Tels.:(011)822-5252/822-0077- Ramais 281 e 296
78900-750- Tels.: (069)221-3077/3658- Telex: 692148 Telex: 1132661 -Fax: (011)822-5264

AC - Rio Branco - Rua Benjamin Constant, 506 - Centro Sul


69900-160- Tel.: (068)224-1540- Telex: 682529
PR - Curitiba - Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 625 - Centro
AM- Manaus- Avenida Ayrão, 667- Centro- 69025-050 80430-180- Tel.: (041)234-9122- Rarnal61 -Telex: 416117
Tels.: (092)232-0152/0188 - Ramal 13 -Telex: 922668
SC- Aorianópolis- Rua Victor Meirelles, 180- Centro
RR- Boa Vista- Avenida Getúlio Vargas, 84-E- Centro
88010-440- Tel.: (0482)22-0733- Rarnal256- Telex: 482250
69301-030- Tel.: (095)224-4425- Telex: 952061
PA - Belém - Avenida Gentil Bittencourt, 418 - Batista Campos RS- Porto Alegre- Avenida Augusto de Carvalho, 1205
66035-340- Tel.: (091)241-1440- Telex: 911404 Cidade Baixa- 90010-390- Tel.: (051)228-6444
Rarnal28- Telex: 511862
AP- Macapá - A v. Cônego Domingos Mal tez, 251 - Bairro Trem
68900-270 -Tels.: (096)222-312813574- Fax: 223-2696 Centro-Oeste
Telex: 962348
MS - Campo Grande - Rua Barão do Rio Branco, 1431
TO- Palmas- ACSE 01- Conjunto 03- Lote 618
Centro - 79002-174 - Tels.: (067)721-1163/1520 - Telex: 672442
77100-040- Tel.:(063) 862-1907- Fax: (063) 862-1829
Nordeste MT - Cuiabá - Avenida XV de Novembro, 235 - 22 andar
Porto- 78020-810- Tel.: (065)322-2121- Rarnall21
MA - São Luís - Avenida Silva Maia, 131 - Centro Telex: 652258
65020-570- Tel.:(098)232-3226- Telex: 982415
GO- Goiânia- Avenida Tocantins, 675- Setor Central
PI -Teresina - Rua Simplício Mendes, 436-N - Centro
74982-540- Tels.: (062)223-312113106- Telex: 622470
64000-110- Tel.: (086)222-9308- Rarna19- Telex: 862344
CE- Fortaleza- Avenida 13 de Maio, 2901- Benfica DF- Brasília- SDS .. Bl.H- Ed. Venâncio li- 1v andar
64040-531- Tel.: (085)243-6941- Telex: 851297 70393-900- Tels.: (061)223-1359/6897 e 226-9106
Telex: 612242
RN- Natal- Avenida Prudente de Morais, 161 -Petrópolis
59020-400- Tel.: (084)222-4771- Rarnall3- Telex: 842279
PB - João Pessoa - Rua Irineu Pinto, 94 - Centro O IBGE possui, ainda, agências localizadas nos
58010-100- Tel.: (083)241-1560- Ramal21- Telex: 832347 principais municípios.
Curso de Cartografia
Moderna
Resultado da experiência do autor como
cartógrafo do IBGE e professor da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, o livro aborda,
de forma clara, concisa e abrangente, temas
como classificação de cartas, escalas, projeções
cartográficas, organização da documentação
cartográfica, Sensoriamento remoto,
levantamentos geodésicos, topográficos e
básicos, fotogrametria, representação
cartográfica, elaboração e reprodução de
originais. O texto é enriquecido por numerosas
ilustrações e complementado por bibliografia,
índice e apêndice descrevendo a comunidade
cartográfica nacional e internacional.
A publicação atende a professores e alunos de
cartografia, geógrafos, cartógrafos e a todos
os que utilizam a cartografia em
sua atividade de estudo ou trabalho.

s~

ISBN 85-240-0465-7

Você também pode gostar